Você está na página 1de 1

INTRODUÇÃO GERAL À SAGRADA ESCRITURA

A profissão da fé cristã na Bíblia, com efeito, não diz simplesmente: “Deus falou
na Sagrada Escritura”, mas: “Deus falou na Sagrada Escritura por meio de homens e de
maneira humana”(DV 12).

A história da Bíblia é história da Palavra de Deus aos homens: “Deus, que muitas
vezes e de muitos modos falou, outrora, aos Pais pelos profetas, agora nestes dias que
são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho...” (Hb 1,1-2). O AT e o NT não fizeram
outra coisa senão descrever-nos o itinerário da Palavra de Deus, a qual: cria o mundo
(Gn 1), chama Abraão (Gn 12,1ss) e Moisés (Ex 3,7ss), leva a termo a promessa da terra
(Js 1,1ss; 21,43-45), “é dirigida aos profetas” de Israel (Os 1,1; Jr 1,2 etc), assume o rosto
de homem em Jesus de Nazaré (Jo 1,1-14), “difunde-se, cresce e se afirma com força”
com a dilatação da Igreja apostólica (At 6,7; 12,24; 19,20), regula o fim deste universo e
o início do novo mundo (Ap 19,11-16; 21,1ss).

Mas em nenhum lugar da Bíblia encontramos a Palavra de Deus diretamente. Em


toda parte ela nos é dada através deste ou daquele homem, sempre segundo a maneira
e a linguagem humana; e o relato do diálogo de Deus com os seus interlocutores
escolhidos é redigido inteiramente por homens. O antigo Israel confessava o seu
estupor, porque tinha “ouvido a voz de Deus no meio do fogo e do alto céu” (Dt 4,32-
36). O estupor se torna vertigem para o novo Israel, chamado a experimentar a inaudita
aproximação entre “a Palavra de Deus que era no princípio, estava junto de Deus, era
Deus” (Jo 1,1) e “a Palavra de Deus que se fez carne” (Jo 1,14); entre “o que era no
princípio”, “a vida eterna que estava junto ao Pai”, e “a Palavra da vida que ouvimos,
que vimos com os nossos olhos, que contemplamos, que as nossas mãos tocaram” (1Jo
1,1-4).

Precisamente nisto manifestou-se “a admirável ‘condescendência’ de Deus e a


sua inefável benignidade”: “Com efeito, as palavras de Deus, expressas em línguas
humanas, tornaram-se intimamente semelhantes à linguagem humana, como outrora o
Verbo do Eterno Pai, tomando a carne da fraqueza humana, se tornou semelhante aos
homens” (DV 13). O caráter autenticamente humano das Sagradas Escrituras, já por si
só, revela o profundo segredo de Deus que é a sua “filantropia” (Tt 3,4). Deus ama os
homens. Falando na sua linguagem, Deus se comunica com eles, se faz compreender e,
ao mesmo tempo, restitui à linguagem humana a sua veracidade.

Você também pode gostar