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VOLUME 2 | FASCÍCULO 5 | OUT 2015 | ISSN - 2318-0021

Fechamento autorizado
pode ser aberto pela ECT

SÍNDROME
DE ZINNER

AVALIAÇÃO DE
CONTINÊNCIA PÓS
PROSTATECTOMIA
AZOOSPERMIA
OBSTRUTIVA

TOXICIDADE DA
RADIOTERAPIA PÓS
CONDUTA NA PROSTATECTOMIA
COMPLICAÇÃO DO
ESFÍNCTER ARTIFICIAL

BALANOPOSTITE
ORQUIDOPEXIA COMPLICADA

TRAUMA FIBROSE
PENIANO RETROPERITONEAL

RELATO DE CASOS | ARTIGOS CIENTÍFICOS | RESUMOS COMENTADOS


A publicação técnica desperta questionamentos
e assim promove a busca do “novo” e contribui
para as novas áreas de conhecimento científico.

A Revista Científica de Urologia, Urominas faz a sua parte.


Agora, você conta com a indexação da rede Latindex, um sistema
de informação dedicado ao registro e difusão de revistas acadêmicas
editadas nos países ibero-americanos.

O propósito é aumentar a visibilidade, elevar a qualidade


das publicações e ampliar o acesso aos diversos conteúdos produzidos
pelos associados da SBU-MG. Tudo mais fácil e prático.

UROMINAS TEM A INDEXAÇÃO LATINDEX

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PALAVRA DO PRESIDENTE

Dr. Antônio Peixoto


de Lucena Cunha,
Presidente da SBU-MG

Prezados Colegas,

Chegamos à V Edição do UROMINAS na Gestão 2014/2015, nos restando ainda mais uma para o final de 2015. Indexada,
sendo mais uma revista onde poderemos publicar, fruto do trabalho árduo, mas muito gratificante quando vemos a
edição pronta, mérito do nosso editor André Salazar e do co-editor Rogério Saint’Clair.

Cabe a cada sociedade médica proporcionar aos seus associados meios para uma constante evolução, promovendo
uma educação continuada com troca de experiências. Com este objetivo realizamos a VIII Jornada de Urologia nos dias
25, 26 e 27 de Julho de 2015 em Belo Horizonte, com o High Lights Oficial da AUA 2015, sucesso de público e crítica.

Já iniciamos a confecção da próxima edição da nossa revista, nos envie seus artigos para análise do corpo editorial.
Ela já esta a nível nacional de forma eletrônica, em breve com site próprio e estamos tentando enviá-la a todos os
urologistas da SBU de forma impressa.

Um grande abraço e boa leitura.

Antonio Peixoto de Lucena Cunha


Presidente da SBU-MG (2014/2015)

DIRETORIA SBU - MG | BIÊNIO 2014 -2015


Presidente Primeiro Tesoureiro Delegado
Dr. Antônio Peixoto de Lucena Cunha Dr. José David Kartabil Dr. Luciano Pousa Cartafina
Vice- Presidente Segundo Tesoureiro Delegado
Dr. Francisco de Assis Teixeira Guerra Dr. Fabrício Rebello Lignani Siqueira Dr. Wadson Gomes Miconi
Primeiro Secretário Delegado Suplente de Delegado Suplente de Delegado
Dr. Bruno Mello Rodrigues dos Santos Dr. Marcelo Miranda Salim Dr. Farley Carneiro e Silva Dr. Dixson Carneiro Amorim
Segundo Secretário Delegado Suplente de Delegado Suplente de Delegado
Dr. Emerson Ramos Lopes Dr. Claúdio Torres Motta Dr. Hudson J. Caram Nascif Dr. Celso Roberto Frasson Scafi

REVISTA CIENTIFICA DE UROLOGIA - UROMINAS


Belo Horizonte: Sociedade Mineira de Urologia - Secção Minas Gerais, 2014. ISSN 2318-0021

PUBLICAÇÃO | SBU-MG Conselho Editorial Projeto Gráfico /Edição/ Arte Fale com a gente
Sociedade Brasileira de Urologia Dr. André Lopes Salazar Blog comunicação & Design Tel.(31) 3213 7002
(Secção Minas Gerais) Co –Editor (31) 3309 1036 sbu-mg@sbu-mg.org.br
Avenida Professor Alfredo Balena - 189 Dr. Rogério Saint – Clair Pimentel Mafra revista@blogconsult.com.br www.sbu-mg.org.br
Sala 1707, Funcionários - BH - MG
(31) 3213-7002 Tiragem: Distribuição:
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Urominas | 3
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A revista Urominas é o periódico científico oficial da Sociedade Bra- a) Artigos originais: 10 páginas
sileira de Urologia – Secção Minas Gerais, e destina-se à publicação b) Artigos de atualização e revisão: 10 páginas
de editoriais, artigos originais, artigos de atualização e revisão, re- c) Relatos de casos: 4 páginas
latos de casos, resumos de dissertações e teses, cartas ao editor, etc. d) Cartas ao editor: 1 páginas
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Os originais encaminhados devem ser acompanhados de 2- Nome dos autores, com seu grau acadêmico mais alto e
uma carta de submissão, declarando que: sua filiação institucional
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uma análise preliminar, encaminhará ao corpo editorial. 1- Introdução 3- Resultados
2- Métodos 4- Discussão
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tendo-se em sigilo o nome dos autores.
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os cuidados serão tomados no sentido de se garantir o ano- As referencias bibliográficas devem ser numeradas e ordenadas se-
nimato de ambas as partes. gundo a ordem de aparecimento no texto, no qual devem ser identifi-
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lógica de sua aceitação. de referências não deve exceder a 30. Devem ser formatadas no estilo
Vancouver. (Quando o número de autores ultrapassar a 6, somente o
O número máximo de autores aceitável é de 6 (seis), exceto em primeiro deve ser citado, seguido da expressão et al.)
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SUMÁRIO

ARTIGOS

TOXICIDADE DA RADIOTERAPIA PÓS PROSTATECTOMIA 06


Artigo avaliação de toxicidade genitourinária da radioterapia pós-prostatectomia radical estádio T3

ORQUIDOPEXIA 13
Estudo comparativo dos pacientes submetidos a orquiopexia no Hospital Universitário
Ciências Médicas provenientes da região metropolitana de Belo Horizonte e do interior
do Estado de Minas Gerais

AVALIAÇÃO DA CONTINÊNCIA PÓS PROSTATECTOMIA 18


Avaliação da continência urinária após prostatectomia radical em pacientes com e sem preservação
do feixe vasculo-nervoso

RELATOS DE CASOS

BALANOPOSTITE COMPLICADA 24
Balanopostite complicada com retenção urinária aguda, sepse e necrose de prepúcio
Estamos esperando muito para operar?

CONDUTA NA COMPLICAÇÃO DO ESFÍNCTER ARTIFICIAL 27


Tratamento cirúrgico da erosão e extrusão de segundo “CUFF” implantado em uretra bulbar
após falha no tratamento da incontinência urinária pós-prostatectomia radical utilizando o
esfíncter artificial AMS 800

FIBROSE RETROPERITONEAL 30
Relato de Caso: Fibrose retroperitoneal: relato de três casos

TRAUMA PENIANO 34
Relato de caso – Função Sexual preservada após trauma peniano grave em acidente motociclístico

AZOOSPERMIA OBSTRUTIVA 36
Remoção transuretral de cálculos dos ductos ejaculatórios para tratamento de
azoospermia obstrutiva

SÍNDROME DE ZINNER 40
Síndrome de zinner: diagnóstico incidental num paciente vítima de trauma
ARTIGO | RADIOTERAPIA PÓS RTU

AVALIAÇÃO DE TOXICIDADE GENITOURINÁRIA


DA RADIOTERAPIA PÓS-PROSTATECTOMIA
RADICAL ESTÁDIO T3
Victor Silvestre Soares Fanni* *** Fellowship em Uro-Oncologia e Coordenador do Serviço
Flávia Luísa dos Santos Teixeira** de Urologia - Fundação Cristiano - Hospital do Câncer de
Eduardo Hilario Gomes** Muriaé - MG
Mariana Cunha Lelis**
Marina Tinoco** *** Doutor em Cirurgia e Chefe do Departamento de Cirur-
Abílio de Castro Almeida*** gia Oncológica - Fundação Cristiano - Hospital do Câncer de
Edson Augusto Pracchia Ribeiro**** Muriaé - MG

* Mestre em Oncologia e Médico do Serviço de Urologia - Endereço para Correspondência


Fundação Cristiano - Hospital do Câncer de Muriaé - MG Victor Silvestre Soares Fanni -
Rua Capitão José Justino, nº47 - 301 - Muriaé
** Acadêmicos de Medicina da Universidade Nova Iguaçu - Minas Gerais - Brasil - CEP - 36880-000
Campus Itaperuna - RJ E-mail: victor_fanni@hotmail.com

INTRODUÇÃO Junto com mudanças para o diagnóstico desta neopla-


sia, avanços nas modalidades terapêuticas vêm ocor-
O câncer de próstata (CaP) é a neoplasia maligna mais
rendo. No tratamento cirúrgico, aperfeiçoamentos da
incidente no sexo masculino, depois do tumor de pele
técnica da Prostatectomia Radical ocorreram nos anos
não melanoma1. No que se refere à mortalidade, sabe-
806 e recentemente houve o advento da Cirurgia Robó-
se que em 2010 o número de óbitos por esta neoplasia
tica e novos benefícios são esperados. Melhorias nos
no Brasil foi de 12.778.2
aparelhos de Radioterapia (RXT), de intensidade Modu-
A descoberta do PSA (Prostate-Specific Antigen) e a sua lada e a Corformacional, foram capazes de diminuir a to-
aplicação na prática clínica revolucionou o diagnóstico xicidade e aumentar a eficácia. No tratamento da doença
da neoplasia prostática, porém seus benefícios quanto sistêmica observamos melhorias na hormonioterapia e
a um aumento de sobrevida é controverso e aguarda re- nos esquemas quimioterápicos, neste último, de forma
sultados definitivos de importantes Trials em anda- mais discreta.
mento.3-4 De concreto a utilização do PSA no
rastreamento do CaP deter-minou aumento da taxa de A Prostatectomia Radical (PTR) é abordagem eficaz para
incidência mundial da neoplasia e inversão do estadio o tratamento do CaP localizado.7 No entanto, quase 30%
clínico, que antes eram na sua maioria sistêmica, atual- dos pacientes apresentam recorrência bioquímica a
mente 70% são localizadas e 88% passíveis de cura.5 longo prazo.8 O envolvimento das vesículas seminais

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constitui um dos principais fatores prognósticos nos pa- Sabemos que a radioterapia também é capaz de causar
cientes submetidos a PTR, apresentando maior incidên- morbidades nos pacientes portadores de CaP tratados
cia de metástases linfonodais e taxas de recorrência por esta modalidade, dados sobre a incidência de incon-
bioquímica em até 60% no prazo de 5 anos.9 venientes com a associação destas 2 modalidades (PTR
e RXT) são escassos na literatura, porém devem ser con-
Acometimento da Vesícula Seminal tem sido observada sideradas pelo fato de que já é sabido que parte destes
em 4,6% à 29% dos pacientes com CaP tratados com indivíduos com doença localmente avançada exibem na
PTR. Nestes casos, na maioria das vezes, a cirurgia isola- sua evolução doença sistêmica, independente da tera-
damente não é curativa e terapias adjuvantes ou de res- pêutica proposta, e que nestes casos a radioterapia pós-
gate são necessárias.9 operatória não traz benefícios para o paciente, sobrando
apenas um aumento de morbidade.
Tumores de alto risco, como da doença localmente avan-
çada, apresentam maior probabilidade de progressão e Neste estudo objetivamos avaliar a incidência de com-
de morte pelo câncer se não tratados, com sobrevida de plicações urinárias e disfunção erétil em grupos de indi-
57% no seguimento de 15 anos e mortalidade de 56% víduos submetidos a esquemas terapêuticos distintos,
nos tumores pouco diferenciados.10 bem como a eficácia de cada um desses tratamentos,
avaliando riscos e benefícios em cada grupo.
Para tumores órgão-confinados e metastáticos as dire-
trizes de tratamento são bem definidas.11O tratamento
ideal hoje para o CaP localmente avançado é, reconhe-
METODOLOGIA
cidamente, multimodal. Em parte porque a PTR ou a RXT
aplicadas isoladamente tem se mostrado insuficientes.9 Trata-se de um estudo retrospectivo com análise de
casos consecutivos de neoplasia de próstata localmente
Porém todas as modalidades terapêuticas para o CaP
avançada tratados numa mesma instituição (Fundação
têm risco de sequelas que acarretam piora da qualidade
Cristiano Varella – Hospital do Câncer de Muriaé). A mo-
de vida dos pacientes, as mais importantes são disfunção
dalidade de RXT utilizada foi a Conformacional 3D.
erétil e incontinência urinária.
Os indivíduos com neoplasia de próstata local-
A disfunção erétil que nos casos de doença localizada,
mente avançado, estadio T3 (acometimento da
tratados com cirurgia, atinge 50% dos indivíduos, pode
cápsula prostática e de uma ou ambas vesículas
chegar até 3/4 dos casos em neoplasia localmente avan-
seminais), foram divididos em 3 grupos de acordo
çadas operadas. O mesmo se observa para incontinência com a terapêutica complementar instituída:
urinária, que nas doenças localizadas ocorre em 2% e
pode chegar a 20% nos casos de doença localmente - Grupo 1– PTR Isolada ou Controle
avançada, além de uma maior ocorrência de estenose da
- Grupo 2 – RXT de Resgate
anastomose, determinando maior indicação de procedi-
mentos para tratamento de retenção urinária.12 - Grupo 3 –RXT Adjuvante

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ARTIGO | RADIOTERAPIA PÓS RTU

A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de também a realização de exames comprobatório destas
ética da Fundação Cristiano Varella – Hospital do Câncer entidades, como Cintilografia Óssea, Biópsias Ósseas, To-
de Muriaé. Realizamos revisão de prontuários e contatos mografia de Abdome e Pelve (Linfonodomegalias e le-
telefônicos com pacientes everificamos a ocorrência de sões em vísceras sólidas) e Tórax (lesões em parênquima
dis-função erétil, incontinência e histórico de retenção pulmonar).
urinária com necessidade de tratamento cirúrgico (Ure-
trotomia Interna, Cistostomia, Dilatação Uretral ou Res- - RXT: Será considerada recidiva a elevação de 2ng/dl do
secção de Colo Vesical). Além do seguimento de cada PSA após a obtenção do Nadir (menor valor de PSA ob-
indivíduo com exames de PSA seriado para verificação servado após o tratamento radioterápico) – ASTRO –
da eficácia de cada terapêutica. American Society for Radiation Oncology (Roach et al.,
2006). Sendo considerada recidiva sistêmica a ocorrência
Com intuito de padronizar a nossa pesquisa seguimos deste fato num período menor que 2 anos e ou a persis-
os conceitos abaixo, que respeitam normatizações tência da elevação do PSA apesar desta terapêutica ou
urológicas atuais, para aquisição de dados:Incontinên- os mesmos critérios radiológicos e comprovação por
cia Urinária: Perda urinária relacionada com esforços, biópsia descrita acima para PTR.
por urgeincontinência ou insensíveis, que apareceram
e persistiram após 2 (dois) anos do último tratamento Critérios de Exclusão:
instituído para o CaP,com necessidade do uso de pro-
- Presença de acometimento linfonodal
tetores (forro, fraldas, etc), realização de procedi-
mento cirúrgico corretivo (Sling Masculino, Esfincter - Hormonioterapia neo ou adjuvante;
Artificial, etc) ou tratamento para Bexiga Hiperativa
(medicações anticolinérgicas, aplicação de Toxina Bo- - RXT neoadjuvante
tulínica Intravesical, etc).
- Perda do seguimento
Disfunção Erétil: Incapacidade de obter e manter uma
- Presença de outro tipo histológico que não o
ereção com rigidez suficiente para obtenção da penetra-
adenocarcinoma
ção até a conclusão doorgasmo, independente do uso
de medicações estimuladores de ereção (Inibidores da Critérios de Inclusão:
5 Fosfodiesterase, Prostaglandinas Intra-cavernosas, etc)
ou que tiveram que fazer uso de procedimento cirúrgico Seguimento mínimo de 2 anos após a ultima terapêu-
para colocação de prótese peniana. tica instituída (Cirurgia ou Radioterapia)

Recidiva Bioquímica: - Estadiamento cirúrgico T3;

- PTR: Após obtenção de valores indetectáveis de PSA a Os dados obtidos da análise dos prontuários foram di-
elevação deste marcador atingindo 0,2ng/dl será consi- gitados e arquivados em um banco com auxílio do pro-
derada recidiva. Sendo considerada recidiva sistêmica a grama “Excel 9.0 for Windows”. Na análise estatística foi
ocorrência deste fato num período menor que 2 anos e empregado o Software Stata Statistical, versão 10.0,
após este período caracterizada como recidiva local. E Special Edition, Stata Corporation.

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Para comparação de variáveis numéricas entre os grupos controle, porém em nenhumas das comparações houve
utilizamos o Teste de T-student e foi considerado como diferença significativa.
de significante o valor de p<0,05.
Indivíduos que receberamRXTAdjuvante apresentaram
um maior índice de incontinência urinária (26,31%) em
comparação com grupo controle (15,68%) e a radiotera-
RESULTADOS
pia de resgate (18,75%), também neste caso não houve
No período de 6 anosforam realizados947PTR para tra- diferença significativa.
tamento de CaP nesta instituição, destes 141 (14,9%) pa-
cientes apresentaram estadiamento cirurgico 3 – Dos pacientes que no pré-opeartório apresentavam ere-
pT3pN0M0. Ao todo 91 pacientes cumpriam os critérios ção preservada houve evolução para disfunção erétil em
de inclusão no estudo, e dos excluídos44 pacientes 75% daRXT adjuvante, 68,75% dos que realizaram so-
foram por apresentar menos de dois anos de segui- mente PTR e 66,66% aos que receberam aRXT de res-
mento da ultima terapêutica realizada, 1 paciente por gate.
morte não relacionada com a neoplasia e 6 pacientes por
Foi observada uma diferença significativamente menor
ausência de dados.
na necessidade de realização de Uretrotomia Interna no
Com relação à terapêutica de escolha, 54(59,3%) grupo controle (5,88%) em relação aos indivíduos que
indivíduos realizaram somente PTR, e dos que se realizaram RXT, sendo36,8% na Adjuvância (p=0,004) e
submete-ram à RXT20(22,0%) foi adjuvante e 17 no Resgate 18,75% (p < 0,05). Ao compararmos os 2 gru-
(18,7%) de resgate. pos submetidos a terapêutica adicional com RXT, apesar
A idade média dos paciente foi de 66 anos, sem dife- de maior no grupo da adjuvância, não houve diferença
rença entre os 3 grupos, o mesmo se observa em relação significativa (p=0,10).
ao PSA pré-operatório, que apesar de menor no grupo
Natabela abaixo (Tabela 1)seguem os principais resulta-
controle, não houve diferença em relação aos demais.
dos desta investigação : Quanto ao Gleason da peça ci-
Quanto a recidiva bioquímica, o grupo que apresentou rúrgica, a grande maioria apresentava um Gleason de 6
maior incidência foi o da RXT Adjuvante (38,88%), se- (70,0%), seguido dos casos com Gleason de 7 (25,5%),e
guido pelo submetido ao Resgate (33,3%) e a menor no os demais (4,5%) Gleason 8-10 (Tabela 2 ).

TABELA 1

RESULTADO GERAL DE TOXICIDADE E CARACTERÍSTICAS DOS GRUPOS

N IDADE PSA UI (%) IU (%) DE (%) RECIDIV (%)

PTR 54 66 12,64 5,88 15,68 68,75 24,00


RXT-ADJUV 20 66 17,65(0,12) 36,84(0,0004) 26,31(0,15) 75,00 38,88(0,11)
RXT-RESG 17 67 19,41(0,12) 18,75(0,05) 18,75(0,38) 66,66 33,33(0,23)
TOTAL 91 66 15,00 15,38 18,60 69,57 30,00

Fonte: Arquivo pessoal

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ARTIGO | RADIOTERAPIA PÓS RTU

TABELA 2

DISTRIBUIÇÃO DO GRAU HISTOLÓGICO (CLASSIFICAÇÃO DE GLEASON) NOS GRUPOS

PTR RXT-ADJUV RXT-RESGATE TOTAL

GLEASON 6 40 (75,5%) 13 (65%) 10 (58,8%) 63 (70,0%)

GLEASON 7 11 (20,7%) 7 (35%) 5 (29,4%) 23 (25,5%)

GLEASON 8 -10 2 (3,8%) 0 2 (11,8%) 4 (4,5%)

TOTAL 53 20 17 90

Fonte: Arquivo pessoal

DISCUSSÃO A PTR é o principal tratamento para o CaP e em 2/3


dos casos a cura é obtida, porém num segmento de 10
A Neoplasia de Próstata trata-se do tumor mais fre- anos 1/3 dos pacientes apresentam recidiva.8 A reci-
quente na população masculina com excessão dos tu- diva se manifesta por elevação do PSA e se deve a re-
mores de pele não melanoma.1 Tal patologia tem corrência local, doença metastática ou por metástase
aumentado nas ultimas décadas graças a utilização do oculta no momento da PTR.
PSA e maior conscientização da população, qu através
A presença de doença localmente avançada (pT3) junto
de campanhas com divulgação em massa, observamos
com margens cirúrgicas positivas e escores de Gleason
um aumento do atendimento médico especializado para
desfavoráveis (8-10), são os principais fatores de risco
realização de preventivos.
para recidiva da neoplasia.9 A RXT Adjuvante ou de Res-
Apesar deste aumento na detecção da neoplasia de gate devem ser consideradas neste momento.Os bene-
próstata os casos de doença localmente avançado fícios destas modalidades estão sendo avaliadas em 3
mantém-se como situação presente, na qual a terapêu- grandes Trials, ainda em andamento, com resultados
tica multimodal está indicada e a presença da morbi- parciais demonstrando em todos a diminuição da recor-
rência bioquímica em relação a PTR isoladamente.13-15
dade é maior que nos casos de doença localizada,
tanto por causas relacionadas com condição local de- Em 2 dos estudos a recidiva local foi menor no grupo
terminada pela neoplasia, quanto pela toxicidade das submetido à RXT, sendo significaste no EORTC 22911.14
terapêuticas instituídas.12 A so-breviva livre de terapia hormonal e a progressão clí-

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10 | Urominas
nica foi menor nos casos submetidos à RXT, porém be- Trial (TROG 0803), porém resultados definitivos ainda
nefícios na sobreviva global foi demonstrado em apenas não estão disponíveis.16
um dos estudos (SWOG 8794), no qual observa-se uma
Um outro fator de grande importância que deve ser con-
baixa sobrevida dos pacientes submetidos à PTR, o que
parece ter sido o responsável por este achado.13 siderada pelo médico assistente trata-se da toxicidade e
impacto na qualidade de vida pela ação da RXT. As in-
Nesta investigação pudemos observar que a recidiva vestigações disponíveis sobre este assunto são inconclu-
bioquímica foi semelhante nos 3 grupos, sendo um sivos, com falhas nas coletas dos dados e utilizam-se de
pouco maior nos pacientes submetidos à RXT, o que se tecnologia antigas, pois sabemos que a RXT Modulada
deve provavelmente ao fato de que a opção por esta e Conformacional 3D apresentam maior eficácia
modalidade terapêutica está relacionada com um maior com menor toxicicdade, aguardamos resultados em
risco de recidiva local, porém a elevação do PSA em vi- especial do estudo ARO 96-02 que utiliza estas
gência de terapia adicional significa presença de metás- novas tecnologias. 15
tase oculta no momento da adjuvância ou resgate.
Sendo assim percebemos que em 33,3% (RXT de Res- Nesta nossa investigação podemos destacar a toxicidade
gate) e 38,9% (RXT Adjuvante) dos casos não houve be- da RXT Conformacional 3D, num período de seguimento
nefício curativo adicional em relação aos pacientes que (após 2 anos), avaliamos também a incidência de reci-
apenas foram submetidos a PTR. diva sistêmica da neoplasia nos 3 grupos e pudemos per-
ceber que parte dos pacientes apresentaram recidiva
Uma das questões clínicas mais discutíveis quanto a rea-
bioquímica mesmo em vigência de RXT, configurando
lização da RXT pós-PTR, encontra-se sobre a melhor hora
um risco de tratamento desnecessário ou ineficaz.
de se administrar a mesma, antes (Adjuvante) ou so-
mente após a evidência de recorrência bioquímica. Sa- Em relação a toxicidade, apenas a obstrução urinária
bemos que nos casos de RXT Adjuvante corremos o risco com indicação de Uretrotomia Interna foi maior nos
de irradiar pacientes que nunca teriam recidiva da casos de RXT em comparação PTR exclusiva, e nos casos
doença, sobrando apenas a toxicidade da terapêutica submetidos à RXT não houve diferença entre os grupos
para estes indivíduos. A idéia da realização de RXT em de Adjuvância e de Resgate.
caráter de Resgate se baseia nesta possibilidade (trata-
mento desnecessário de alguns casos), porém outra Ao avaliarmos a toxicidade genitouirnária, observamos
linha sugere que o retardo no tratamento (Resgate) de que a única diferença significativa entre os grupos ocor-
pacientes com indicação da RXT poderia acarretar pre- reu na necessidade de realização de Uretrotomia Interna,
juízos. e que tal procedimento não impactou na ocorrência de
incon-tinência urinária, sendo assim apenas o conheci-
Os estudos disponíveis até o memento não são capazes mento por parte dos pacientes seria suficiente para que
de definir a melhor conduta nestes casos, no máximo não houvesse uma maior insatisfação dos inconveniente
observa-se uma menor recidiva bioquímica no grupo de relacionados com a terapêutica.
Adjuvância, porém sem nenhum ganho na sobreviva,
sendo que tais resultados se equiparam quando a tera- Podemos concluir pela elevação de PSA nos primeiros
pêutica de Resgate é realizada precocemente dois anos, que a existência de metástase oculta ou inefi-
(PSA<0,5ng/ml). Atualmente existem 2 importantes cácia da RXT devem ser considerado na decisão de se
Trials com intuito de comparar as 2 propostas de RXT realizar ou não a RXT pós-PTR, e que tais modalidades
pós-PTR, o RADICAL (MCR PR10 / NCIC PR13) e o RAVES não interferiram na elevação do PSA.

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Urominas | 11
ARTIGO | RADIOTERAPIA PÓS RTU

BIBLIOGRAFIA cancer: outcome and contemporary morbidity. J Urol.


1995;154:1447-52.

10 Johansson, E.et al: Time, symptom burden, androgen de-


1 Jemal, A., T. Murray, E. Ward, A. Samuels, R. C.Tiwari, A.
privation, and self-assessed quality of life after radical
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prostatectomy or watchful waiting: the Randomized Scan-
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12 | Urominas
ARTIGO | ORQUIODOPEXIA

ESTUDO COMPARATIVO DOS PACIENTES SUBMETIDOS


A ORQUIOPEXIA NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CIÊNCIAS
MÉDICAS PROVENIENTES DA REGIÃO METROPOLITANA DE
BELO HORIZONTE E DO INTERIOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS

José Marx A. A. Xavier Hospital Universitário Ciências Médicas,


Belo Horizonte – MG – Brasil
Guilherme T. Apocalypse

Tiago X. Silva Endereço de Correspondência:


Edson Henrique G. Nascimento José Marx Abi- Acl Xavier.
Rua Tomás Gonzaga, 770, ap 202
Fabrício L. Carvalho Lourdes – Belo Horizonte – MG.
Antônio Peixoto L. Cunha. CEP: 30180-140
E-mail: jmxavier@gmail.com

INTRODUÇÃO MATERIAIS E MÉTODOS

A criptorquia é a patologia urogenital mais comum em Foram levantados os prontuários dos pacientes subme-
recém nascidos do sexo masculino e é definida como a tidos a orquiopexia pelo serviço de urologia pediátrica
falha na descida do testículo até sua posição intra-escro- do Hospital Universitário Ciências Médicas no período
tal. Sua incidência varia de 0,1% a 9% dos meninos ao entre agosto de 2011 e novembro de 2014. Paciente com
nascimento. Consensos atuais indicam a correção cirúr- historia de cirurgia inguinal prévia e orquiopexia por ou-
gica após o sexto mês de vida e até, no máximo, dois anos tras indicações foram excluídos do estudo. Os pacientes
de idade (1). Pacientes submetidos ao tratamento cirúr- foram divididos em dois grupos, um pertencente à região
gico após a idade recomendada podem ter o desenvol- metropolitana de Belo Horizonte e ou outro de pacientes
vimento testicular prejudicado (2). provenientes do interior de MG. Foi considerada a idade
da criança no dia da cirurgia. Os dados colecionados in-
No ambulatório de urologia pediátrica do Hospital cluíram idade, lateralidade, tipo de cirurgia realizada, pro-
Universitário São José, observamos que poucos pa- veniência, distância da capital, evolução e se retornou
cientes são atendidos com idade inferior ao indicado. para controle. Para os pacientes com criptorquia bilateral,
O objetivo deste estudo é avaliar a idade dos pacien- a idade considerada foi a da primeira cirurgia realizada.
tes encaminhados para a correção de criptorquia e se A distância das cidades do interior à capital foi coletada
há diferença entre os pacientes da região metropoli- utilizando-se de dados da Wikipédia. Para análise esta-
tana de Belo Horizonte (RMBH) e os provenientes do tística das variáveis contínuas foi utilizado o teste t de Stu-
interior de Minas Gerais (MG). dent e para as variáveis categóricas foram utilizados os

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Urominas | 13
ARTIGO | ORQUIODOPEXIA

teste do qui-quadrado e o teste de Fisher. A correlação de torção de testículo). A idade média dos pacientes foi
linear entre a distância da capital e a idade das crianças de 68,5 meses (13 a 166 meses). Foram realizadas 22
estudadas foi feita utilizando a fórmula de Pearson e o orquiopexias à direita e nove à esquerda ( 51% e 21%,
coeficiente de determinação. respectivamente). Doze pacientes (28%) foram diag-
nosticados com criptorquia bilateral. A idade médias
RESULTADOS destes pacientes foi de 60 meses (13 a 141 meses).
Trinta pacientes (70%) foram submetidos a orquiopexia
Foram identificadas 46 orquiopexias realizadas no pe- convencional e nove paciente (21%) foram submetidos
ríodo estudado, todas em pacientes do Sistema Único a laparoscopia para correção de testículos não palpá-
de Saúde (SUS). Três pacientes foram excluídos do es- veis. Orquiectomia foi necessária em 5 pacientes (12%).
tudo (um caso de herniorrafiaipsilateral no período Oito pacientes (19%) não retornaram para controle
neonatal e dois casos de orquiopexia como profilaxia após a cirurgia, quatro da RMBH e quatro do interior.

TABELA 1

PACIENTES SUBMETIDOS A ORQUIOPEXIA

Idade (meses) 68,6 (13 - 166)

Distância Média da Capital* (km) 221,4 ( 72 - 727)

Lado direito 22 (51,2%)

Lado esquerdo 9 (20,9%)

Bilaterais 12 (27,9%)

Orquiopexia Convencional 30 (69,8%)

Orquiopexia Laparoscópica 9 (20,9%)

Orquiectomia 5 (11,6%)

* Exceto os pacientes da Região Metropolitana de Belo Horizonte

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14 | Urominas
Vinte e um pacientes pertenciam à RMBH e vinte e dois lado, os pacientes com criptorquia bilateral da RMBH
eram provenientes do interior de MG ( 49% e 51%, res- apresentaram uma idade média significativamente
pectivamente). Aqueles provenientes do interior apre- menor do que os pacientes do interior ( 29 e 83 meses,
sentavam uma média de idade em meses maior do que respectivamente; p=0,01). Somente 4 pacientes da
os pacientes da RMBH( 78 e 59 meses, respectivamente), RMBH e um paciente do interior foram operados com
porém não estatisticamente significativa (p= 0,09). Com- idade inferior a dois anos ( 9% e 2%, respectivamente).
parando os pacientes da capital com os pacientes do in- Não houve diferença estatística na comparação entre o
terior somados ao restante da RMBH, também não número de orquiectomias , laparoscopias e perda de se-
foram observadas diferenças estatísticas nas médias de guimento entre os pacientes da RMBH e os pacientes do
idade (56 e 75 meses, respectivamente; p=0,1). Por outro interior (tabela 2).

TABELA 2

RESULTADO GERAL DE TOXICIDADE E CARACTERÍSTICAS DOS GRUPOS

RMBH Interior MG P

Idade (meses) 58,7 ± 46,2 78,0 ± 45,6 0,17*

Idade unilaterais (meses) 67,8 ± 49,2 75,5 ± 46,3 0,66*

Idade bilaterais (meses) 29,4 ± 13,4 83,3 ±47,3 0,03*

Orquiectomia (número de
2 3 NS**
pacientes)

Laparoscopia 4 5 NS**

Perda de Seguimento 4 4 NS**

RMBH: Região Metropolitana de Belo Horizonte * : Teste t de Student


MG: Minas Gerais NS: não significativo (teste exato de Fischer)

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ARTIGO | ORQUIODOPEXIA

GRÁFICO 1

CORRELAÇÃO ENTRE A DISTÂNCIA DA CAPITAL E A IDADE DOS PACIENTES SUBMETIDOS A ORQUIOPEXIA.


PACIENTES DE BELO HORIZONTE FORAM CONSIDERADOS COMO DISTÂNCIA 0. PARA PACIENTES DE OUTRAS
CIDADES FORAM CONSIDERADAS AS DISTÂNCIAS DA CAPITAL RELACIONADAS NA WIKIPÉDIA. (R = 0,24 ; R2 = 0,05).

Não observamos uma correlação forte entre a distância A RMBH tem uma população estimada maior que
da capital e a idade dos pacientes operados ( R = 0,24) e cinco milhões da habitantes distribuídos em 34 muni-
somente 5% da variação da idade pode ser explicada cípios. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geogra-
pela distância até a capital (gráfico 1). fia e Estatística, é a terceira maior região
metropolitana Brasileira(FONTE). No ambulatório de
DISCUSSÃO urologia pediátrica do Hospital Universitário Ciências
Médicas, observamos que frequentemente os pacien-
A criptorquia é a patologia urogenital congênita mais tes são operados com idade bem superior ao recomen-
comum em meninos. O protocolo atual da AmericanUro- dado atualmente. Somente quatro de nossos
logicalAssociation recomenda que os testículos ausentes pacientes foram operados com menos de dois anos de
do escroto até os seis meses de vida devem ser encami- idade e nenhum paciente com menos de um ano de
nhados para orquiopexia devido à baixa probabilidade de vida. Apesar da proximidade dos centros de cirurgia de
descida espontânea após esta idade (1). Em um estudo maior complexidade, os pacientes da RMBH também
entre meninos com criptorquia e meninos com os testícu- foram operados com idade superior ao recomendado.
los tópicos, Kollin C observou que pacientes operados As causas da demora até o tratamento definitivo não
após três anos de idade apresentaram crescimento menor foram avaliadas no presente estudo, mas podemos
do testículo quando comparados com pacientes operados suspeitar que os gargalos do sistema de saúde esta-
até os noves meses de idade (2 KOLLIN C ET AL). dual associados à falta de educação continuada dos

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16 | Urominas
médicos da atenção básica podem estar implicados. americano, após observar que somente 34% dos me-
Em todos as avaliações realizadas, os pacientes da ninos operado tinham menos de um ano de idade, Ag-
RMBH sempre apresentaram médias de idade inferio- garwal conseguiu reduzir a idade média dos paciente
res aos pacientes provenientes do interior de MG. En- através da educação continuada dos médicos da aten-
tretanto, não observamos uma correlação significativa ção básica .
entre a distância da capital e a idade dos pacientes.
Apesar desta relação não ser estatisticamente signifi- CONCLUSÃO
cativa, este fato expões a dificuldade ainda maior para
os pacientes do interior conseguirem uma consulta O nosso estudo mostra que, independentemente da
com especialista na capital. É relevante observar tam- distância de um grande centro médico, os pacientes
bém que 19% dos nossos pacientes não retornaram têm sido submetidos a orquiopexia em uma idade
após a cirurgia. O número alto de perda de seguimento bem acima do recomendado pelos protocolos atuais.
pode estar relacionado às dificuldades para ter acesso As causas deste atraso não foram estudadas, mas é
ao sistema de saúde, que incluem, em alguns casos, possível suspeitar que passam pela educação conti-
viagens de mais de 700 km e perda de mais do que um nuada dos médicos da atenção básica e por melhorias
dia de trabalho pelos pais do paciente. Por outro lado, nas vias de referências dos pacientes para centros es-
cabe ao profissional de saúde a obrigação de reforçar pecializados.
a necessidade do controle pós-operatório e fazer a
busca ativa dos pacientes extraviados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Em nosso estudo é interessante notar que somente os
pacientes com criptorquia bilateral apresentaram dife- 1 Virtane HE, Toppari J: Epidemiologyandpathogene-
rença significativa na idade entre os provenientes do sisofcryptorchidism. Hum ReprodUpdate. 2008: 14
interior e os oriundos da RMBH. Este fato pode ser jus- (1): 49-58
tificado pelo diagnóstico mais precoce, principalmente
quando associada a hipoplasia do escroto, nos pacien- 2 Hack WW, Van der Voort-Doedens LM, Goede J, vanDijk
tes com criptorquia bilateral. Nestes casos, apesar do JM, Meijer RW, Sijstermans K: Natural historyandlong-
diagnóstico mais precoce, os pacientes do interior es- term testiculargrowthofacquiredundescendedtestisaf-
barrariam nas dificuldades usuais para se conseguir terspontaneousdescentorpubertalorchiopexy. BJU Int.
uma consulta com especialista em Belo Horizonte. 2010; 106(7):1052-1059
Por outro lado, paciente encaminhados com idade
acima do ideal parecem ser também um problema em 3 Bradshaw CJ, Corbet-Burcher G, Hitchcock R: Age
países mais desenvolvidos. Em um estudo com 1325 atorchiopexyin UK: Hasnewevidencechangedprac-
orquiopexias realizadas em 13 anos no Reino Unido, tice? J PedUrol 2014. 10: 758
Bradshaw observou uma redução na idade média dos
pacientes operados de 2 anos e oito meses em 1998 4 Aggarwal H, Rehfuss A, Hollowell JG: Managemen-
para um ano e oito meses em 2010, ainda assim maior tofundescendedtestismaybeimprovedwitheduca-
que a meta de estipulada de 1 ano e seis meses. De tionalupdates for referringproviders. J PedUrol 2014
acordo com o autor, as possíveis causas do atraso no 10: 707
encaminhamento estariam relacionadas a falha no
diagnóstico por profissionais da assistência básica e 5 Kollin C, Granholm T, Nordenskjold A; Ritzen EM: Growt-
falhas no sistema de referência dos pacientes para os hofspontaneouslydescendedandsurgicallytreated tes-
profissionais especialistas. Por sua vez, em um estudo tes duringearlychildhood. Pediatrics 2013; 131: 1174

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Urominas | 17
ARTIGO | AVALIAÇÃO DA CONTINÊNCIA PÓS PROSTATECTOMIA

AVALIAÇÃO DA CONTINÊNCIA URINÁRIA APÓS


PROSTATECTOMIA RADICAL EM PACIENTES COM E
SEM PRESERVAÇÃO DO FEIXE VÁSCULO-NERVOSO

Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de BH Milka Azevedo Borges


Serviço de Urologia da Santa Casa de Belo Horizonte Médica especializanda em cirurgia geral do Hospital
Santa Casa BH

Rogério Saint-Clair Pimentel Mafra Lorena Silva Fonseca


Cirurgião Geral e Urologista. Membro Titular da Sociedade
Médica residente em clínica medica do hospital Semper
Brasileira de Urologia. Mestre e doutor em medicina.
Assistente do serviço de Urologia da Santa Casa de Belo
Luiz Ronaldo Alberti
Horizonte. Preceptor da residência médica em urologia do
Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia da UFMG.
Hospital Santa Casa de Belo Horizonte. Pesquisador do CNPq.
Docente Pesquisador da Santa Casa de Belo Horizonte.
Professor Titular da Faculdade de Medicina FAMINAS BH.
Cirurgião Geral e Pediátrico, Gastroenterologista.
Mestre e Doutor em Cirurgia pela UFMG.
Membro Titular da Federação Brasileira de
Luis Paulo Elizeu Lima
Médico graduado pela faculdade de medicina – IMES. Gastroenterologia e da SOBED,
Pesquisador 2 do CNPq.
Laiss Albino Gonçalves
Médica graduado pela faculdade de medicina – IMES. Endereço de Correspondência
Serviço de Urologia da Santa Casa de BH.
Gabriela Amaral Negreiros Avenida Francisco Sales, 1111, 4º andar – Ala C
Acadêmica do curso de medicina – IMES Santa Efigênia – Belo Horizonte – MG – CEP: 30150-221
E-mail: rogerioscm@yahoo.com.br

Declaramos para os devidos fins que não existem conflitos de interesse no trabalho em que foi realizado,
e também não houve recebimento de verbas ou financiamentos na execução deste trabalho.

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18 | Urominas
RESUMO CONCLUSÕES
Não houve alterações estatísticas significativas quanto à
continência urinária na prostatectomia radical com pre-
INTRODUÇÃO
servação ou não do feixe vásculo-nervoso.
O adenocarcinoma prostático tornou-se um problema
Descritores: incontinência urinária, prostatectomia radi-
de saúde pública no Brasil, configurando o segundo
cal, feixe vásculo-nervoso, câncer de próstata
câncer mais comum no gênero masculino. Há diferen-
tes modalidades de tratamento para o adenocarci-
noma localizado, sendo a prostatectomia radical a INTRODUÇÃO
mais utilizada. Relatos mostram que a incidência de in-
O câncer de próstata tornou-se um problema de saúde
continência urinária pós-prostatectomia variam entre
pública no Brasil, configurando o segundo câncer mais
3% e 60%.
comum no gênero masculino, com incidência em torno
de 60 mil novos casos no ano de 2012 (1). Nos últimos
OBJETIVOS: anos o exame digital retal (EDR) juntamente com o antí-
geno prostático específico (PSA) são os métodos mais re-
Avaliar incontinência urinária em pacientes pós-prosta- comendados para o rastreamento do câncer de próstata,
tectomia radical com a manutenção ou não do feixe vás- uma vez que o PSA orienta a necessidade de biópsia, con-
culo-nervoso. siderada padrão-ouro no diagnóstico deste câncer (2,3,4).
Segundo dados do CAPSURE (Cancer of the Prostate
MÉTODOS Strategic Urologic Research Endeavor), existem diferen-
tes modalidades de tratamento para o câncer de prós-
Avaliados 90 pacientes com adenocarcinoma prostá- tata localizado, sendo a prostatectomia radical (PR) a
tico, diagnosticado por biópsia transretal, com indi- mais utilizada, apresentando percentual de realização
cação de prostatectomia radical, no hospital Santa geral de 51,6% e de 86,3% em homens com idade infe-
Casa de Belo Horizonte. Amostra dividida em 2 gru- rior a 60 anos (5). A PR é o tratamento de escolha para
pos iguais de acordo com a preservação (Grupo 1) ou este câncer por apresentar redução na mortalidade,
não (Grupo 2) do feixe vásculo-nervoso. Análise esta- progressão local e sistêmica da doença, bem como me-
tística pelo EpiInfo; dados coletados registrados no lhores resultados quanto à preservação da função se-
Epidata. Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética da xual e da continência urinária, principais complicações
Santa Casa de Belo Horizonte, protocolo 110/2009. da cirurgia (4, 5, 6, 7). Com a elevada incidência do cân-
cer de próstata e os avanços terapêuticos, objetiva-se
reduzir as principais complicações que o tratamento
RESULTADOS oferece, uma vez que estas repercutem diretamente na
Dois meses pós-cirurgia: 15 pacientes incontinentes qualidade de vida dos pacientes.
no grupo 1 e 18 no grupo 2; 30 pacientes continentes Estudos mostram que a preservação do feixe vásculo-
no grupo 1 e 27 no grupo 2 (p=0,51). Após seis meses: nervoso, desde que este não seja lesado na operação,
8 pacientes incontinentes no grupo 1 e 10 no grupo não acarretam alterações na função sexual (8, 9, 10, 11).
2. Boa continência: 37 pacientes no grupo 1 e 35 no Em relação à continência urinária não chegamos a con-
grupo 2 (p=0,59). Comparou-se o grau de incontinên- clusões, uma vez que existem diversos estudos, porém
cia entre os dois grupos com dois e seis meses, para retrospectivos e com falhas metodológicas (12, 13). Re-
avaliarmos a evolução da incontinência, sendo que latos mostram que a taxa de incidência de incontinên-
houve melhora da continência nos dois grupos, cia urinária pós-prostatectomia são muito variáveis,
grupo 1(p=0,09) e grupo 2(p=0,06). oscilando entre 3% e 60% em diferentes séries.

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Urominas | 19
ARTIGO | AVALIAÇÃO DA CONTINÊNCIA PÓS PROSTATECTOMIA

OBJETIVOS eram submetidos à preservação do feixe vásculo-ner-


voso, e os que não apresentavam, não eram submetidos
a preservação.
Avaliar a continência urinária em pacientes após serem
submetidos a prostatectomia radical, de acordo com a A continência foi inicialmente avaliada na primeira consulta
manutenção ou não do feixe vásculo-nervoso. após a operação e nas demais consultas subsequentes; para
fins dessa investigação, utilizou-se a avaliação com dois
meses e seis meses após a operação (4). A avaliação da conti-
MÉTODOS nência foi feita ao interrogar os pacientes quanto a necessi-
dade do uso de fraldas e forros íntimos e se havia ou não
perda espontânea de urina (3, 4). A coleta de dados foi reali-
Foi realizado um estudo prospectivo, em uma amostra zada por meio do formulário padrão que cotinha informa-
de 90 pacientes, com indicação de prostatectomia radi- ções acerca da anamnese, exame físico, indicação da
cal no período de dezembro/2009 a novembro/2010, no operação, sintomas miccionais, disfunção erétil e preserva-
Hospital Santa Casa de Belo Horizonte. A população do ção ou não do feixe vásculo-nervoso.
estudo foi composta por pacientes com indicação cirúr-
gica para tratamento de adenocarcinoma da próstata, A análise estatística foi realizada com o auxílio do soft-
diagnosticado à biópsia transretal de próstata guiada ware EpiInfo for Windows e os dados coletados foram re-
por ultrassom e graduado pelo escore de Gleason (3, 4). gistrados no banco de dados do software Epidata. Foram
Foram excluídos os pacientes que apresentavam níveis utilizadas medidas de tendência central, variabilidade,
de PSA acima de 10 ng/ml, cintilografia óssea positiva médias, desvio padrão, teste de Kolmogorov-Smirnov e
para metástases, escore de Gleason maior que 7 à bió- teste t de Student. Para a revisão bibliográfica, foram le-
psia prostática, toque retal com nódulo palpável, risco vantados artigos nas bases de dados Pubmed, SciELO e
cirúrgico elevado e idade acima de 75 anos (3, 4); de LILACS. A citação bibliográfica foi realizada com o uso do
acordo com as contraindicações atuais da literatura (3, 4). software Endnote X5 for Windows.
Também foram excluídos aqueles que por qualquer mo- Com relação aos aspectos éticos, foram seguidas as reco-
tivo, não desejaram participar da pesquisa. mendações das normas para pesquisa envolvendo seres hu-
Os pacientes foram subdivididos igualmente em 2 gru- manos do Ministério da Saúde e dos principais documentos
pos de acordo com a preservação do feixe vásculo-ner- internacionais de Ética em Pesquisa (Declaração de Helsinki);
voso, sendo que no Grupo 1 foi mantido o feixe sendo aprovada em 18/12/2009 pelo Comitê de Ética em
vásculo-nervoso e no grupo 2 não. Para dividir os pa- Pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de
cientes entre os dois grupos, avaliamos a potencia sexual Belo Horizonte, protocolo 110/2009. Os pacientes pesqui-
pelo IIEF (International index erectile function), sendo que sados foram devidamente esclarecidos verbalmente e atra-
os pacientes que apresentavam potência sexual prévia vés do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

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20 | Urominas
RESULTADOS diárias, ocasionando transtorno importante em suas
vidas. A continência urinária hoje é importante fator pós-
cirúrgico de prostatectomia radical (12), pois gera para fa-
A continência urinária foi avaliada dois e seis meses após miliares e pacientes, ansiedade e estresse. Diversos
a operação. Em dois meses após a operação, no grupo 1, estudos avaliaram se a preservação do feixe vásculo-
15 pacientes encontravam-se incontinentes e 18 no nervoso melhoraria a continência urinária (12, 13, 14).
grupo 2; enquanto estavam continentes 30 pacientes no Porém existem limitações quanto ao método empre-
grupo 1, e 27 no grupo 2 (p=0,51). Após seis meses; oito gado, ao fato de diversos estudos serem retrospectivos
estavam incontinentes no grupo 1 e dez no grupo 2. (13), definições do que é incontinência, metodologia e

Apresentavam boa continência 37 pacientes no grupo


técnica da preservação do feixe vásculo-nervoso.
1, e 35 no grupo 2 (p=0,59). (Tabela 1 e 2). Comparou-se
Há estudos que mostram uma melhora da continência
o grau de incontinência entre os dois grupos com dois e
urinária com a preservação do feixe vásculo-nervoso (15,16,17,18)
seis meses, para avaliarmos a evolução da incontinência,
porém não foi demonstrado esse fato em até dois meses
sendo que houve melhora da continência nos dois gru-
após a cirurgia (p=0,51), bem como em seis meses
pos, grupo 1 (p=0,09) e grupo 2 (p=0,06). (Tabela 3).
(p=0,59). Mesmo não havendo neste trabalho uma rela-
ção entre a preservação do feixe vásculo-nervoso e a
DISCUSSÃO continência urinária, foram apresentados bons resulta-
dos de continência pós-operatória.

Mesmo sem uma definição adequada de incontinên-


A continência urinária foi avaliada após dois (TABELA 1)
cia urinária, ocorreu uma melhora dos resultados ao
e seis meses (TABELA 2) após a cirurgia, verificando-a em
longo dos anos com a evolução da técnica cirúrgica.
dois momentos distintos, em função de possível me-
Menos de 1% dos pacientes persistem com inconti-
lhora da mesma no decorrer deste período. Tal fato pôde
nência urinária grave após um ano da cirurgia de pros-
ser comprovado pela melhora da continência em quatro
tatectomia radical (4). A continência é adequada para
meses, período intermediário entre as duas avaliações.
maioria dos pacientes já em seis semanas de pós-ope-
Para realizar tratamento cirúrgico da incontinência, es-
ratório. Os resultados são melhores em hospitais com
pera-se um período de um ano após a cirurgia devido ao
maior número de operações. Mais de 70% dos pacien-
fato de, neste período, haver melhora espontânea da
tes apresentam-se continentes em 3 meses após a
continência, bem como tentativa de tratamento fisiote-
operação (4). Após um ano propõe-se injeção de colá-
rápico, o qual apresenta resultados satisfatórios (3, 4). A
geno para incontinência leve e para os casos mais gra-
maior dificuldade foi observar a existência ou não de in-
ves, a confecção de esfíncter artificial.
continência, pois não se pode aferir a continência dos
pacientes. Avaliou-se também o grau de incontinência
entre os dois grupos aos dois e seis meses pós-cirúrgicos
CONCLUSÃO
(TABELA 3), observando melhora da continência em
ambos os grupos, grupo 1 (p=0,09) e grupo 2 (p=0,06),
a fim de avaliarmos a evolução da incontinência no de- Não houve alterações estatísticas significativas quanto a
correr do período pós-cirúrgico. continência urinária ao se realizar prostatectomia radical
Enquanto a disfunção erétil é um transtorno ocasional com preservação do feixe vásculo-nervoso, quando
para os pacientes, a incontinência é um transtorno fre- comparado a não preservação do mesmo, apesar de me-
quente e contínuo, o que limita a qualidade de vida lhor qualidade de vida em relação à potência sexual pós-
destes pacientes, dificultando realizar suas atividades operatória na manutenção do feixe.

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Urominas | 21
ARTIGO | AVALIAÇÃO DA CONTINÊNCIA PÓS PROSTATECTOMIA

TABELA 1
INCONTINÊNCIA URINÁRIA DOIS MESES APÓS A OPERAÇÃO

Grupos
Incontinência Grupo 1 Grupo 2
N % N % P
Presente 15 33,3 18 39,5 0,51
Ausente 30 66,7 27 60,5

TABELA 2
INCONTINÊNCIA URINÁRIA SEIS MESES APÓS A OPERAÇÃO

Grupos
Incontinência Grupo 1 Grupo 2
N % N % p
Presente 8 17,1 10 21,1 X²= 0,135 0,59
Ausente 37 82,9 35 78,9

TABELA 3
COMPARAÇÃO ENTRE O GRAU DE INCONTINÊNCIA

Incontinência
Grupos Aos dois meses Aos seis meses
Grupo 1 n % n % p
Presente 15 33,3 8 17,1 0,09
Ausente 30 66,7 37 82,9
Grupo 2
Presente 18 39,5 10 21,1 0,06
Ausente 27 60,5 35 78,9

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22 | Urominas
REFERÊNCIAS
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12 Morash CG, Cagiannos I, Bella AJ. Improving outcomes
2 Reis JP, Ferraz J, Varela J, Romão A. Diagnóstico Precoce do
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3 Junior NRN, organizador. Urologia Prática. 5 ed. São


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of a nerve sparing template to improve urinary
4 We i n A J, e d i to r. Ca m pb e l l -Wa l s h U ro l o gy. 9t h continence after radical prostatectomy: attention
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5 BRASIL. Ministério da Saúde Secretaria de Ciência, Tec-


14 Lima CLM, Vaz FP, Muller V. Incontinência urinária
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pós-prostatectomia: tratamento. Projeto Diretrizes
cial na incontinência urinária masculina grave
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pós-prostatectomia.Brasília, 2013. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/ Acesso em: 11 abr. 2013. de Medicina,2006. Disponível em:http://www.pro-
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Hohenfellner M. Positive surgical margins after radical pros- 15 Burkhard FC, Kessler TM, Fleischmann A, Thalmann
tatectomy: do they have an impact on biochemical or cli- GN, Schumacher M,Studer UE. Nerve sparing open ra-
nical progression? BJU Int. 2008 Nov; 102(10):1413-8.
dical retropubic prostatectomy—does it have an im-
pact on urinary continence? J Urol. 2006; 176:189–95.
7 Swindle P, Eastham JA, Ohori M, Kattan MW, Wheeler T,
Maru N, et al. Do margins matter? The prognostic signifi-
cance of positive surgical margins in radical prosta- 16 Eastham JA, Kattan MW, Rogers E, Goad JR, Ohori M, Boone
tectomy specimens. J Urol. 2005 Sep;174(3):903-7. TB, et al. Risk factors for urinary incontinence after radical
prostatectomy. J Urol. 1996; 156:1707–13.
8 Nehra A. Medical and surgical advances in the radical prosta-
17 Sacco E, Prayer-Galetti T, Pinto F, Fracalanza S, Betto G, Pa-
tectomy patient. Int J Impot Res. 2000 Oct;12Suppl 4:S47-52.
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9 Nelles JL, Freedland SJ, Presti JC Jr, Terris MK, Aronson WJ, tomy: Incidence by definition, risk factors and temporal
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database. Prostate Cancer Prostatic Dis. 2009; 12(2):172-6.
18 1Toren P, Alibhai SM, Matthew A, Nesbitt M, Kalnin R, Fles-

10 Schumacher M, Thalmann GN, Studer UE. Radical hner N, et al. The effect of nerve-sparing surgery on patient-
prostatectomy in the treatment of organ confined reported continence post-radical prostatectomy.Can Urol
prostate cancer. TherUmsch. 2006 Feb;63(2):143-50. Assoc J. 2009 Dec; 3(6):465-70.

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Urominas | 23
ARTIGO | BALANOPOSTITE COMPLICADA

BALANOPOSTITE COMPLICADA COM RETENÇÃO


URINÁRIA AGUDA, SEPSE E NECROSE DE PREPÚCIO
ESTAMOS ESPERANDO MUITO PARA OPERAR?

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão 1 - Residentes de Urologia do Hospital das Clinicas da
Preto / USP (Ribeirão Preto – Sao Paulo) – Departamento de Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Cirurgia e Anatomia, Disciplina de Urologia 2 - Médico assistente da disciplina de Urologia do Hospital
das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

3 - Docentes da Disciplina de Urologia do Hospital das


Flávio G. Faria 1 Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Nilo Jorge C. L. Barretto1

Thiago C. Mourao1 Endereço de Correspondência


Andrey G. Stevanato 2 Flavio Goncalves Faria.
Rua Arnaud Capuzzo, 370, ap 64. Bairro Nova Alianca.
Carlos Augusto F. Molina3
Ribeirao Preto. CEP 14.026-594, São Paulo -SP.:
Sílvio Tucci3 E-mail: flaviogfaria@hotmail.com

INTRODUCAO de fimose, além de aumento do risco de HPV e câncer de


colo uterino, bem como de Carcinoma de pênis6. O tra-
Fimose congênita ou fisiológica é a aderência prepucial
tamento da fimose depende de fatores, como a idade da
à glande, presente ao nascimento, que costuma desapa-
criança, sintomas associados ou a presença de fimose fi-
recerao longo do crescimento da criança, até os cinco
siológica ou patológica. Trata-se antes de cinco anos
anos de idade. Estatisticamente, ao nascimento, apenas
apenas aqueles que apresentarem fimose patológica e,
4% dos meninos apresentam prepúcio retrátil, após um
uma vez indicado o tratamento, recomenda-se iniciá-lo
ano, esse índice já é de 50%. Aos três anos até 90% ex-
com o uso de corticoides tópicos, reservando a cirurgia
põem a glande1. A fimose patológica se caracteriza por
um prepúcio não retrátil, com ou sem aderência ou anel para casos graves ou refratários7.O tratamento clínico se
fibroso na extremidade do mesmo2. A retração ausente baseia no uso de medicações tópicas, principalmente
ou incompleta do prepúcio pode predispor a infecção cremes de corticoides e na realização de manobras de
do trato urinário3,4, sendo que a ausência de circuncisão estiramento prepucial. Costuma-se prescrever ciclos de
aumentou em 20 vezes o risco de ITU5. Existe uma pro- um mês de tratamento, interrompendo-o quando hou-
babilidade 4 vezes maior de contrair vírus HIV e 2,5 vezes ver a resolução do quadro ou quando atingir três ciclos
maior de desenvolver úlceras genitais entre portadores completos8.

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24 | Urominas
FOTO 1 FOTO 2

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal

Tratamento cirúrgico: podendo ser ocedimentos com RELATO DO CASO


preservação de prepúcio, como dorsotomia9, postecto-
mia: com taxa de complicações em neonatos varia entre Paciente de 14 anos, com ausência de exposição da
0,2% e 3%10 e outros dispositivoscomoPlastibell,queain- glande, em tratamento clínico com corticóide tópico
damantem-se controverso11. há 2 meses, evoluiu com balanopostite complicada
com retenção urinaria aguda e sepse , (Imagens 1 e
Métodos 2). Paciente foi admitido com grande edema prepu-
Revisão bibliográfica usando fimose, complicações, pos- cial, hiperemia e calor local, necrose prepucial ne-
tectomia como descritores, sendo utilizado fontes como cessitando de cistostomia por punção e
scielo, pubmed, bireme. Descrição minunciosa do caso, antibioticoterapia parenteral por 7 dias, quando
com fotografias do momento da admissão, evolução e após resolução do quadro sistêmico foi submetido
resultado pós operatório. a postectomia.

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Urominas | 25
ARTIGO | BALANOPOSTITE COMPLICADA

DISCUSSAO 5 Tsen HF, Morgenstern H, Mack T, Peters RK. Risk fac-


tor for penile cancer: Results of a population-based
A discussão sobre o melhor momento para se indicar a
case-control study in Los Angeles County (United
postectomia continua. Apesar do alto grau de resolução
espontânea, apos tratamento clinico ou por Plastibell, a States). Cancer Causes Control 12:267-277, 2001.
fimose pode ter consequências clinicas relevantes como
6 Bréaud J, Guys JM. Phymosis: medical treatment or
parafimose, ITU e balanopostite de repetição. Deve haver
circumcision? Arch Pediatr 12(9):1424-32, 2005.
seguimento clinico estreito em pacientes onde optou-
se pelo tratamento farmacológico no intuito de se pre- 7 Elmore, J., Baker, L., Snodgrass, W. Topical steroid
venir consequências potencialmente catastróficas como therapy as an alternative to circumcision for phymo-
a do caso descrito.
sis in boys younger than 3 years. J Urol 168(4):1746-
1747, 2002

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 8 Steadman B, Ellsworth P. To circ or not to circ: indi-


cations, risks, and alternatives to circumcision in the
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26(3):181-94, 2006.
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9 KORKES, Fernando; SILVA II, JarquesLucio; POMPEO,
2 Jorgensen, E., Svensson, A. The treatment of
Antonio Carlos Lima. Circuncisãopormotivosmédi-
phymosis in boys with a potent topical steroid
cos no sistemapúblico de saúde do Brasil: epidemio-
(clobetasolproprionate 0.05%) cream. Acta-
Dermato-Verereologica 73(1): 55-56, 1993. logia e tendências. Einstein (São Paulo), São Paulo,
v. 10, n. 3, Sept. 2012 .
3 Bonacorsi S, Lefevre S, Clermont O. Escherichia coli
strains causing urinary tract infection in uncircum- 10 SANTOS, Juliana Pascon dos. Postectomiacomdispo-
cised infants resemble urosepsis-like adult strains. J sitivoplástico versus postectomiaconvencionalpara-
Urol 173:195-197, 2005. circuncisãoemcrianças: revisãosistemática e
4 Wiswell TE, Smith FR, Bass JW. Decreased incidence metanálise. 2014. 67 f. Dissertação (mestrado) - Uni-
of urinary tract infections in circumcised male in- versidadeEstadualPaulistaJúlio de MesquitaFilho,
fants. Pediatrics 75:901-903, 1985. Faculdade de Medicina de Botucatu, 2014.

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26 | Urominas
RELATO DE CASO | CONDUTA NA COMPLICAÇÃO DO ESFÍNCTER ARTIFICIAL

TRATAMENTO CIRÚRGICO DA EROSÃO E EXTRUSÃO DE SEGUNDO


“CUFF” IMPLANTADO EM URETRA BULBAR APÓS FALHA NO
TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA PÓS-PROSTATEC-
TOMIA RADICAL, UTILIZANDO O ESFÍNCTER ARTIFICIAL AMS 800

José Marx Abi – Acl Xavier Hospital Universitário Ciências Médicas,


Belo Horizonte – MG - Brasil
Bernardo Pace Silva de Assis

Maxmillan Alkimim Dutra


Endereço de Correspondência
José Marx Abi- Acl Xavier
Vinícius Caetano de Faria
Rua Tomás Gonzaga, 770, aptº 202
Lourdes - Belo Horizonte –MG.
Fabrício Leite de Carvalho
CEP: 30180-140
Antônio Peixoto de Lucena Cunha E-mail: jmxavier@gmail.com

INTRODUÇÃO técnica não é desprezível e, na maioria das vezes,


requerem revisão cirúrgica. As principais complicações
O esfincter urinário artificial permanence até hoje são: infecção (0.5 – 10,6%); erosão uretral (2.9 – 12%);
como o tratamento padrão-ouro para a incontinência atrofia uretral (1.6 – 11,4%). (2)
urinária pós-prostatectomia. O primeiro modelo a ser
utilizado para este fim foi o AMS 721 introduzido em RELATO DE CASO
1973 e implantado por Scott num pequeno grupo de
34 pacientes e com uma taxa de sucesso de 79%. Hoje, Paciente de 61 anos em pós-operatório de prostatectomia
o modelo mais usado é o AMS 800 surgindo no mer- radical há cerca de 4 anos em outro serviço e com quadro
cado em 1983. Desde então, o modelo original sofreu de incontinência urinária e em uso de 5 forros diários.
algumas modificacões como diminuição e estreita-
mento do manguito, conectores de maior resistência Após 2 anos da prostatectomia e mantendo o quadro
e sem a necessidade de fixação com fios (“sutureless”), acima foi submetido a implante do esfíncter urinário ar-
revestimento com antibióticos e outras a fim de redu- tificial AMS 800 em outro hospital de Belo Horizonte
zir a taxa de complicações ou falha da técnica. (1) (MG). No acompanhamento de 3 meses de pós-operató-
rio evoluiu com melhora parcial dos sintomas reduzindo
Dados recentes da literatura e revisões bibliográficas o uso de forros para três ao dia. Tendo em vista a resolu-
mostram que, apesar da grande maioria dos pacientes ção incompleta do caso e por desejo do paciente, foisub-
submetidos a implantação cirúrgica do AMS 800 esta- metido a implante de um segundo cuff do AMS 800 6
rem satisfeitos e com qualidade de vida a longo prazo meses após a colocação do primeiro na mesma institui-
( uso de 1 Pad/dia), a taxa de complicações e falha da ção na qual foi realizado o implante primário. Desde

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Urominas | 27
RELATO DE CASO | CONDUTA NA COMPLICAÇÃO DO ESFÍNCTER ARTIFICIAL

então, apresentado boa evolução com remissão dos sin-


FIGURA 1
tomas, até que, 6 meses após o último procedimento, ini-
ciou com quadro de disúria, infecção urinária de
repetição e retorno da incontinência urinária necessi-
tando do uso de 6 forros/dia. O paciente foi então enca-
minhado ao nosso serviço para investigação e resolução
do quadro. Foi então realizada uretroscopia que eviden-
ciou o segundo “CUFF” erodido intra-uretral (Figura 1).

Foi planejada e realizada uretroplastia com retirada do


segmento de uretra erodido juntamente com o “CUFF”
e anastomose termino-terminal (Figuras 2 e 3). O pa-
ciente obteve alta no 2º dia pós-operatório com re-
torno no 21º para retirada da sonda vesical de demora.
Evoluiu com melhora incontinência sendo necessário 1
forro/dia, jato urinário bom e função erétil preservada.

Quanto a patologia primária do cancer de próstata, o


paciente encontrava-se assintomático, com PSA de
controle após 2 anos de 0,01 e ereção preservada. Fonte: Arquivo pessoal

FIGURA 2 FIGURA 3

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal

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28 | Urominas
DISCUSSÃO CONCLUSÃO

Atualmente, existe um consenso na literatura baseado


na análise de estudos com grandes coortes, de que o O relato de caso acima descrito e dados da literatura su-
re-implante de dispositivos do AMS-800 após erosão gerem que a colocação de um segundo cuff ou o reim-
e/ou infecção do primeiro, está associado a um risco
plante após extrusão por erosão ou infecção do esfíncter
significativamente aumentado de complicações,
como novas erosões. Além disso, a taxa de sucesso do está associado a um aumento da taxa de recorrência de
novo procedimento é menor quando comparada ao
complicações (erosão/infecção) levando muitas vezes a
implante primário. (5)
retirada do implante.
Lai and Boonecompararam 21 pacientes submetidos a
procedimentos de re-implante de dispositivos do AMS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
– 800 com 169 pacientes que fizeram implante primário
do esfíncter. A taxa de erosão foi quatro vezes maior
(14,3% vs 3,6%, p=0,02) no grupo submetido ao im-
plante secundário do dispositivo. Entretanto, quando 1 Raj GV, Peterson AC, Toh KL et al: Outcomes following
comparadas as taxas de infecção/re-infecção; atrofia
revisions and secondary implantation of the artificial
uretral, mal-funcionamento do dispositivo e vazamen-
tos, os dois grupos não mostraram diferenças significa- urinary sphincter. J Urol 2005; 173: 1242
tivamente estatísticas entre eles. (3)
2 Raj GV, Peterson AC and Webster GD: Outcomes fol-
Os estudos mostram que a causa mais comum de re- lowing erosions of the artificial urinary sphincter. J
operação após implantes secundários foram erosão
Urol 2006; 175: 2186
e/ou infecção do dispositivo em contraste com o im-
plante primário que tem como principais causas de re-
3 Lai HH and Boone TB: Complex artificial urinary
intervenção as falhas mecânicas ou atrofia uretral.
Raj et al, em análise de 46 pacientes submetidos a im- sphincter revision and reimplantation cases – how
plantes de salvamento após erosão ou infecção repor- do they fare compared to virgin cases? J Urol 2012;
taram uma taxa de sobrevida do dispositivo de 60% em
187: 951
5 anos, valor significativamente pior comparado a pro-
cedimentos de revisão ou re-implantes realizados por
4 Linder BJ, Mitra C and Elliot DS: Long-term Device
outras complicações que não a erosão. (1,2)
outcomes of Artificial Urinary Sphincter Reimplanta-
Uma revisão de séries atual mostra que a sobrevida do tion Following Prior Explantation for erosion or infec-
novo implante realizado após erosão ou infeção do im-
tion. J Urol 2013; 191: 734
plante primário é de 68 % em 5 anos comparada a 75%
a 80% quando o implante é realizado pela primeira vez.
5 Kim PS, Sarmast Z, Daignault S, Faerber GJ, McGuire

Estes valores mostram a importância de um bom acon- EJ and Latini JM: Long-term durability and functional
selhamento pré – operatório dos pacientes candidatos outcomes among patients with Artificial Urinary
a um novo implante de dispositivo do AMS-800, prin-
Sphincters: A 10-Year Retrospective Review from
cipalmente quando indicado após erosão e/ou infeção
do primeiro dispositivo.(5) University of Michigan. J Urol 2008; 179: 1912.

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Urominas | 29
RELATO DE CASO | FIBROSE RETROPERITONEAL

FIBROSE RETROPERITONEAL:
RELATO DE TRÊS CASOS

HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL Daniel Kanda Abe


Serviço de Urologia Médico assistente do setor de Urologia do HSPM-SP
Doutor em Urologia pela FMUSP
Médico Urologista do Grupo de Uro-oncologia do ICESP
Kaio Rodrigues Garcia França
Cirurgião geral pelo HSPM-SP Endereço para correspondência:
Residente de urologia (R1) da Santa Casa de Kaio Rodrigues Garcia França
Misericordia de Goiânia -GO Rua T-30, 1378/1106, Setor Bueno
Membro aspirante da Sociedade Brasileira de Goiânia/GO. CEP: 74210-060
Urologia -SBU-GO E-mail: kaio.garciar@gmail.com

INTRODUÇÃO RELATO DOS CASOS

A fibrose retroperitonial foi descrita pela primeira vez em CASO CLÍNICO 1


1905 e definida como entidade clínica em 1948 por John MFN, 36 anos, homem, negro, referia dor lombar bilateral
K. Ormond. Condição incomum (0,1/100.000 hab.) que se em cólica sem irradiação, de moderada intensidade com
caracteriza por processo inflamatório e fibrosante que en- caráter intermitente associada a oligúria com evolução
volve e pode obstruir estruturas retroperitoniais, in- de dois dias. Episódio semelhante há dois anos evoluindo
cluindo um ou ambos ureteres. É mais frequente no sexo com insuficiência renal aguda, sendo realizada biópsia
masculino (3:1) entre 50 e 60 anos1, 2. renal com diagnóstico de nefrite intersticial crônica focal.
Tratado com corticoterapia e passagem de duplo J bila-
Caracterizada pela presença de massa fibroinflamatória
teral.
retroperitonial com formas clínicas distintas: I)Fibrose re-
troperitonial; II)Fibrose perianeurismática retroperitonial, No exame físico apresentava abdome globoso, punho
e III)Inflamação dos aneurismas da aorta abdominal. percussão negativa, com dor lombar bilateral a palpação.
Os exames apresentavam hematócrito 37,20%, hemoglo-
O tratamento clássico baseia-se no tratamento cirúrgico bina 12,5g/dl, leucócitos 6900 sem desvio, creatinina
e pode ser associado com corticóides. Nos últimos anos, 8,1mg/dl, uréia 97mg/dl, PSA total 0,68ng/ml. TC de ab-
têm sido empregados outros imunossupressores com re- dome e pelve evidenciou discreta dilatação renal bilate-
sultados não tão bem estabelecidos. ral, com placa homogênea periaórtica sem plano de

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30 | Urominas
clivagem com veia cava inferior e ureteres com massa re- No exame físico encontrava-se em regular estado
troperitoneal isodensa aos músculos psoas estendendo geral, abdome globoso, ruídos hidroaéreos presentes,
do ureter proximal até pelve. Após a passagem de duplo sinal de Giordano negativo, com dor lombar à es-
J evoluiu com redução das escórias nitrogenadas. querda a palpação. Exame laboratorial com hemoglo-
bina 12,8g/dl, hematócrito 42%, leucócitos 6.300 sem
Após 1 mês foi realizado ureterólise bilateral aberta
desvio, creatinina 0,9 mg/dl. TC de abdome e pelve
(fig.1) com coleta de material para biópsia. Durante
evidenciou dilatação pileocalicial em rim esquerdo e
acompanhamento ambulatorial apresentou-se assinto-
volume aumentado com contornos focalmente bor-
mático, com função renal normal, com exame anatomo-
rados com densificações da gordura de Gerota em
patológico apresentando processo inflamatório crônico,
rim direito, com várias imagens nodulares de densi-
inespecífico, esclerosante, em partes moles, consisten-
dade cálcica em topografia pélvica compatíveis com
tes com fibrose retroperitoneal. Foi programada retirada
nefrolitíases. Borramento focal do retroperitônio, na
de duplo J após 4 semanas e mantido corticoterapia sis-
altura da bifurcação das ilíacas, à esquerda, com ima-
têmica por 8 meses com redução gradual da dose.
gem micronodular calcificada de permeio (fig. 2).

FIGURA 1 FIGURA 2

INTRAPERITONIZAÇÃO DO URETER TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE PELVE


MOSTRANDO (A) BORRAMENTO FOCAL DO
RETROPERITÔNIO, NA ALTURA DA BIFURCAÇÃO DAS ILÍACAS,
COM IMAGEM MICRONODULAR CALCIFICADA DE PERMEIO.

Fonte: Arquivo pessoal


Fonte: Arquivo pessoal

CASO CLÍNICO 2 Foi realizada passagem de duplo J e interposição


NGS, 59 anos, mulher, referia há 30 dias, dor lombar à es- ileal a esquerda com coleta de anatomopatológico
querda, em cólica, de moderada intensidade, irradiada que apresentou tecido conjuntivo fibrosado com
para abdome, sem sintomas urinários. Episódio seme- proliferação fibroblástica irregular e faixa de te-
lhante há 1 ano, quando foi diagnosticado cálculo cora- cido conjuntivo, não afastando a hipótese de
liforme em rim direito e estenose segmentar de ureter tumor desmóide. A paciente evolui com infecções
esquerdo. Realizadas duas nefrolitotripsias percutâneas. urinárias de repetição, sem sinais de recidiva.

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Urominas | 31
RELATO DE CASO | FIBROSE RETROPERITONEAL

CASO CLÍNICO 3
FIGURA 3

CCR, sexo masculino, 38 anos, negro. Referia há dois TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE ABDOME
meses, dor abdominal em região epigástrica com irra- COM JANELA PÉLVICA MOSTRANDO (A) MASSA
diação para flanco direito e esquerdo de início insidioso RETROPERITONEAL INFILTRATIVA EVOLVENDO A PAREDE
associada a inapetência e perda ponderal de 5 quilos. LATERAL PÉLVICA, AS ARTÉRIAS ILÍACAS COMUNS,
Não apresentava vômitos e alteração de hábito intesti- URETERES DISTAIS, COM INFILTRAÇÃO DA PORÇÃO
nal. Exame físico com regular estado geral, palidez cutâ- ANTERIOR DO MÚSCULO ÍLEO PSOAS.
neo mucosa 2+\4+, abdome globoso, com ruídos
hidroaéreos presentes, timpânico, punho percussão ne-
gativa, indolor a palpação. Testículo esquerdo ligeira-
mente diminuído e toque retal sem alterações. Exames
com hematócrito 31%, hemoglobina 10g/dl, leucócitos
4.200 sem desvio, creatinina 17mg/dl, uréia 184mg/dl,
potássio 5,3mEq/L, sódio 140mEq/L, alfa-fetoproteina
3,46mcg/L, beta HCG negativo, desidrogenase lática
180U/L, VHS 91mm/h, PCR 1,8mg/dl. USG de abdome:
ureterohidronefrose moderada bilateral e presença de
tecido hipoecóico em topografia de bifurcação aórtica
de limites parcialmente definidos envolvendo aorta, veia
cava inferior, artérias e veias ilíacas comum. Ultrassono-
grafia de testículo com atrofia testicular e hidrocele es-
querda e ausência de nódulos. Realizado 5 sessões de
hemodiálise com posterior passagem de duplo J bilate-
ral com pielografia ascendente evidenciando mediani- Fonte: Arquivo pessoal
zação e estreitamento ureteral segmentar e hidronefrose
bilateral, porém mais intensa a esquerda.
Após melhora do quadro doloroso e das escórias nitroge- DISCUSSÃO
nadas foi realizado TC de abdome e pelve apresentando
massa retroperitoneal de aspecto infiltrativo desde o terço
distal da aorta até a parede lateral pélvica à esquerda, en- A fibrose retoperitoneal tem apresentação clínica ines-
volvendo aorta distal e artérias ilíacas comuns, ureteres pecífica, de caráter insidioso, tendo como sintoma clínico
distais, com infiltração da porção anterior do músculo íleo mais comum dor lombar leve a moderada ou dor abdo-
psoas, medindo 130x87x110 mm (fig. 3). Realizada urete- minal em flancos associado a anorexia, perda de peso e
rólise aberta bilateral com anatomopatológico que de- mal estar. A complicação mais comum é a insuficiência
monstrou proliferação fusocelular sem atipias, com renal aguda. Nos presentes casos, a dor lombar foi o sin-
intensa fibrose e infiltrado linfocitário focal. Recebeu alta toma inicial, e em dois casos houve alterações de escó-
em uso de corticoterapia oral mantida por quatro meses. rias nitrogenadas6,7.

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32 | Urominas
Não existem critérios diagnósticos para fibrose retro- 2 Wein AJ, Kavoussi LR, Novick AC, Partin AW, et al. Campbell
peritonial sendo o diagnóstico muitas vezes difícil e Walsh Urology 10th Ed. Saunders Elsevier: Estados Unidos,
tardio, realizado por um forte fator presuntivo, asso- 2012, pp 1108-1112.
ciando-se as manifestações clínicas e indicadores in-
flamatórios inespecíficos 2,8 . 3 Liu H, Zhang G, Niu Y, Jiang N, Xiao W. Retroperiotoneal fi-
brosis: a clinical and outcome analysis of 58 cases and re-
Os estudos de imagem são fundamentais para o
diagnóstico, atualmente, a tomografia computadori- view of literature. Rheumatol Int. 2014 Apr 23.
zada (TC) e ressonância nuclear magnética (RNM) são
4 Vaglio A, Salvarani C, Buzio C. Retroperiotoneal fibrosis.
as modalidades de escolha. O exame histopatológico
Lancet, 2006; 367:241-251
continua sendo o padrão ouro para o diagnóstico 9 .
O objetivo do tratamento da fibrose retroperiotonial 5 Lepor H, Walsh P. Idiopathic retorperitoneal fibrosis. J Urol.
é interromper a inflamação, reverter a fibrose e im- 1979; 122:1-6
plementar medidas para proteger o rim de uma lesão
6 Peng LK, Jian Z, Lin ZJ, Feng H. Idiopathic retroperiotoneal
crônica. Não há um protocolo de imunossupressão e
nem estudos randomizados comparando vantagens fibrosis (RPF): clinical features of 61 cases and literature re-

da terapia clinica inicial e abordagem cirúrgica 10 . view. Clin Rheumatol 2011; 30:601-605

O tratamento clínico obtêm bons resultados com uso 7 Corradi D, Maestri R, Palmisano A, Bosio S, Greco P, Manenti
de prednisona via oral 60mg/dia com desmame pro- L et al. Idiopathic retroperiotoneal fibrosis: clinicopatholo-
gressivo ou tamoxifeno 20mg/dia 10,11 .
gic features and differential diagnosis. Kidney Int, 2007;
No tratameto cirurgico, a medida inicial é direcio- 72(6): 742-753
nada para desobstrução através de stents ureterais.
O tratamento definitivo consiste na dissecção dos 8 Caifa RO, Vinuesa AS, Izquierdo RS, Brufau BP, Ayuso Colella
ureteres envoltos por massa fibrótica realizando a JR, Molina CN. Retroperiotoneal fibrosis: role of imaging in
ureterólise dos mesmos (peritonização do ureter). diagnosis and follow-up. Radiographics, 2013; 172: 139-
Em casos de insuficiência renal aguda grave com evi- 143
dência de importante compressão extrínseca urete-
ral, sepse de origem urológica ou pionefrose tem-se 9 Scheel PJJ, Feeley N. Retroperiotoneal fibrosis. Rheum Dis
como alternativa a realização de nefrostomia percu- Clin N Am 2013, 39:365-381
tânea 2,9,12 .
10 Catanoso MG, Spaggiari L, Magnani L, et al. Efficacy of in-
Nos últimos anos um número crescente de relatos
fliximab in a patient with refractory idiopathic retroperio-
clínicos de fibrose retroperiotonial tem sido descri-
toneal fibrosis. Clin Exp Rheumatol 2012; 30: 776-8
tos, ressaltando a necessidade de reconhecer e abor-
dar de forma precoce e precisa essa doença. 11 Vaglio A, Palmisano A, Alberici F, et al. Prednisone versus
tamoxifen in patients with idiopathic retroperiotoneal fi-

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS brosis: an open-label randomised controlled trial. Lancet


2011; 378:338-46

12 Conceição P, Sousa L, Pereira B. Tratamento da fibrose re-


1 Ormond J. Bilateral ureteral obstruction due to envelop-
ment and compression by inflammatory retroperiotoneal troperiotoneal idiopatica: experiência de um Serviço de
process. J Urol. 1848;59:1072-9 Urologia. ActaUrol. 2009; 26-70

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Urominas | 33
RELATO DE CASO | TRAUMA PENIANO

FUNÇÃO SEXUAL PRESERVADA APÓS TRAUMA


PENIANO GRAVE EM ACIDENTE MOTOCICLÍSTICO

Julio Pereira Costa Junior PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC - SP
Serviço de Urologia - Sorocaba – SP
Daniel Ilias

Guilherme Valentim Endereço para correspondência:


Julio Pereira Costa Junior
Felipe Silveira Dini Rua Marechal Castelo Branco, 91. Bloco 6. - Ap. 304.
Bairro Jardim Sandra. Sorocaba - SP. - CEP.: 18.031-300
José Luis Ferreira Duque
e-mail: juliocostajr@gmail.com

INTRODUÇÃO Paciente foi encaminhado ao centro cirúrgico onde foi


realizada exploração cirúrgica da lesão e fixação da fra-
tura de pelve pela equipe de ortopedia.
O traumatismo envolvendo a genitália externa é relativa-
Após avaliação urológica, foi constatado desenluva-
mente raro quando comparado ao de outras partes do
mento total do pênis, amputação traumática do testículo
corpo.
direito, testículo esquerdo com alguns sinais de isquemia,
Deve ser sempre considerada a possibilidade de lesões porém com elementos do cordão preservados.
associadas das estruturas adjacentes, como uretra, bexiga
e reto. Corpos cavernosos, uretra e corpo do pênis não apresen-
taram lesões, sendo que o paciente foi submetido à son-
O tratamento tem como objetivo principal a manutenção dagem vesical de demora no intraoperatório sem
da função genital, preservando a sexualidade e a fertili- resistências e mantido no pós-operatório.
dade1,2.
Realizado ligadura hemostática das estruturas do testículo
direito, lavagem exaustiva das estruturas com solução fi-
RELATO DO CASO siológica, orquidopexia do testículo direito em bolsa es-
crotal, ráfia com fio Vicryl 2-0 em planos aponeuróticos e
PALR, 33 anos, sexo masculino, natural de Mairinque-SP,
subcutâneos para aproximação dos tecidos. (Figuras 2 e 3)
deu entrada no Complexo Hospitalar de Sorocaba(CHS)
no dia 23/04/2015 vítima de colisão moto versus Encaminhado à UTI no pós-operatório onde permaneceu
caminhão sendo o mesmo condutor da motocicleta. durante três dias apresentando melhora hemodinâmica
tendo alta para a enfermaria.
Apresentava à entrada sinais de instabilidade hemodinâ-
mica, FAST negativo, fratura de pelve, fratura do ante- Permaneceu internado até o dia 23/05/2015 apresentando
braço direito e desenluvamento peniano e escrotal com como única complicação infecção da ferida operatória a
explosão do testículo direito (Figura 1). qual foi tratada com antibioticoterapia e curativos diários

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34 | Urominas
FIGURA 1 FIGURA 2

FIGURA 3 FIGURA 4

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal

com equipe especializada obtendo melhora. (Figura 4) Janeiro, v. 40, n. 4, p. 351-353, Aug. 2013 . Available
Referiu ter apresentado episódios de ereção peniana algu- from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
mas semanas após o procedimento cirúrgico e negou qual- text&pid=S010069912013000400017&lng=en&nrm=is>.
quer queixa urinária. access on 19 Sept. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-
69912013000400017.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 2 CESAR NARDI, Aguinaldo et al. Urologia Brasil. São


1 CARVALHO JUNIOR, Arlindo Monteiro de et al . Fratura Paulo: PLAN MARK. SBU – Sociedade Brasileira de
de pênis com trauma uretra. Rev. Col. Bras. Cir., Rio de Urologia, 2013.

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Urominas | 35
ARTIGO | AZOOSPERMIA OBSTRUTIVA

REMOÇÃO TRANSURETRAL DE CÁLCULOS DOS


DUCTOS EJACULATÓRIOS PARA TRATAMENTO DE
AZOOSPERMIA OBSTRUTIVA

Bernardo Xavier Lima Endereço para correspondência


Membro Titular da Sociedade Brasileira de Urologia Bernardo Xavier Lima
Urologista do Biocor Instituto e da Clínica Origem Av. Contorno, 7747 - Lourdes
Belo Horizonte - MG - CEP 30110-017
Daniel Xavier Lima E-mail: bxavierl@terra.com.br
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Urologia
Mestre e Doutor em Cirurgia
Professor da Faculdade de Medicina da UFMG
Urologista do Biocor Instituto e do Hospital das Clínicas da UFMG

INTRODUÇÃO vios. Percebeu redução progressiva no volume do eja-


culado ao longo dos últimos anos. Negava história de
A infertilidade é um problema frequente, acometendo
hematospermia, sintomas do trato urinário inferior,
aproximadamente 15 % da população em idade fértil (1).
epididimite, prostatite ou trauma testicular. Ao
O fator masculino está envolvido em cerca da metade
exame físico, apresentava genitália normal, com ca-
dos casos e em torno de 10-20 % desses homens são
racteres sexuais secundários preservados. Os testícu-
azoospérmicos (2). A etiologia da azoospermia pode ser
los apresentavam consistência e volume usuais,
obstrução no trato reprodutor, que corresponde a 40 %
ductos deferentes palpáveis, sem varicocele clinica-
dos casos (azoospermia obstrutiva), ou ainda secundária
mente detectável. Não havia dilatação ou dolori-
a defeitos na espermatogênese. A obstrução dos ductos
mento à palpação dos epidídimos.
ejaculatórios (ODE) é uma causa incomum de obstrução,
estando presente em no máximo 5 % dos casos (3). Nos Espermogramas demonstravam azoospermia e vo-
casos de ODE parcial, o paciente pode apresentar oligos- lume seminal inferior a 1 mL. Em avaliação prévia
permia. em outro serviço médico, foi levantada a hipótese
de ejaculação retrógrada devido à presença de es-
RELATO DE CASO
permatozoides no sedimento urinário, tendo sido
Paciente do sexo masculino, com 36 anos de idade, feita extensa investigação neurológica, sem serem
com queixa de infertilidade conjugal primária há 3 identificadas alterações patológicas. Procurou o ser-
anos (esposa com 31 anos, hígida), sem histórico de viço para buscar segunda opinião. Foi solicitado
doenças urológicas ou procedimentos cirúrgicos pré- exame de ultrassonografia suprapúbica, que revelou

36 | Urominas
FIGURA 1

INTRAPERITONIZAÇÃO ULTRASSONOGRAFIA TRANSRETAL DEMONSTRANDO DILATAÇÃO DAS VESÍCULAS


SEMINAIS (A) E CALCIFICAÇÕES NA LINHA MÉDIA PROSTÁTICA (B) URETER

Fonte: Arquivo pessoal

FIGURA 2

calcificações prostáticas em linha média, IMAGEM ENDOSCÓPICA DA RESSECÇÃO DO UTRÍCULO


sendo complementada por ultrassonografia PROSTÁTICO E DA RETIRADA DOS CÁLCULOS IMPACTADOS
transretal, que também identificou aumento
volumétrico das vesículas seminais (Fig 1).
Levantada a hipótese de obstrução dos duc-
tos ejaculatórios, o paciente foi submetido a
cistoscopia, quando se identificou a presença
de cálculos no verumontanum. Com auxílio
do ressectoscópio, a região foi ressecada su-
perficialmente, permitindo a retirada dos cál-
culos e resultando na eliminação imediata de
secreção seminal represada (Fig 2).

No quarto dia pós-operatório, espermo-


grama de controle revelou a presença de 4
milhões de espermatozoides e volume semi-
nal de 6 mL. Novo espermograma após um
mês mostrou uma concentração de 45 mi-
lhões/mL, comprovando a resolução do qua- Fonte: Arquivo pessoal
dro obstrutivo.

Urominas | 37
ARTIGO | AZOOSPERMIA OBSTRUTIVA

FIGURA 3

VESÍCULAS SEMINAIS E DUCTOS DEFERENTES.

Fonte: Extraído de Gray H. Anatomy of the human body. Philadelphia: Lea & Febiger, 1918; Fig. 1153

DISCUSSÃO As vesículas seminais são responsáveis por aproxima-


damente 50-80% do volume do ejaculado, produ-
A ODE pode ser caracterizada por diversas formas di-
zindo um líquido que é alcalino e rico em frutose. São
cotômicas: unilateral ou bilateral; completa ou parcial; estruturas pareadas, que se situam posteriormente à
congênita ou adquirida e anatômica ou funcional. A bexiga, medindo de 5-6 cm de comprimento e de 3-
apresentação clínica pode também variar, acompa- 5 cm de largura, dimensões essas que diminuem com
nhando esse amplo espectro de possibilidades. Não o envelhecimento. Anatomicamente, os ductos eja-
há um padrão único definido para a sintomatologia culatórios derivam da confluência dos ductos das ve-
nem para as características do espermograma, que sículas seminais com os ductos deferentes, onde
mostra azoospermia nos casos de obstrução completa seguem um trajeto de 10-15 mm posterior e ventral-
(4). Nas obstruções parciais, o espermograma pode mente à próstata, para então tomarem um ângulo de
ser próximo ao normal, com a motilidade reduzida 75 graus anteriormente e continuarem em trajeto in-
sendo a única alteração. Entretanto, baixos volumes traprostático (6). Sua porção final é no veromonta-
do ejaculado (< 1mL) são sugestivos de ODE. Outras num, onde se juntam à uretra em cada lado do
formas de apresentação, especialmente quando há utrículo prostático, um resquício Mülleriano (Fig 3).
cálculos nos ductos ejaculatórios, incluem disuria dor Apesar de sua função ser aparentemente simples ao
à ejaculação e hematospermia (5). conduzir o sêmen, sua relação com as vesículas semi-

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38 | Urominas
nais é mais complexa. Parece haver certa similaridade 2) Jarow JP, Espeland MA, Lipshultz LI. Evaluation of
entre o funcionamento das vesículas seminais e o da the azoospermic patient. J Urol, 142(1):62-5, 1989.
bexiga e, alguns casos supostamente de ODE, na ver-
dade podem ser o resultado de uma disfunção dessas 3) Pryor JP, Hendry WF. Ejaculatory duct obstruction
estruturas.
in subfertile males: analysis of 87 patients. Fertil Ste-
O tratamento da ODE é feita pela ressecção transure- ril, 56(4):725-30, 1991.
tral ou pela incisão dos ductos. A melhora dos pa-
drões seminais ocorre em 60-70 % dos pacientes, 4) McQuaid JW, Tanrikut C. Ejaculatory duct obstruc-
com índices de gravidez entre 20-30 % (7). A ultras- tion: current diagnosis and treatment. Curr Urol Rep,
sonografia transretal é a investigação inicial de esco-
14:291-7, 2013.
lha nos casos de suspeita diagnóstica, pois permite a
identificação anatômica das alterações patológicas 5) Meacham RB, Hellerstein DK, Lipshults LI. Evalua-
das vesículas seminais e dos ductos ejaculatórios. A
tion and treatment of ejaculatory duct obstruction in
vasografia e a microscopia do líquido vasal incluem
propedêutica adicional em alguns casos. No caso clí- the infertile male. Fertil Steril, 59:39, 1993.
nico em questão, os achados ultrassonográficos ine-
6) Nguyen HT, Etzell J, Turek PJ. Normal human eja-
quívocos permitiram a confirmação da suspeita de
ODE e a indicação cirúrgica. É importante frisar, toda- culatory duct anatomy: a study of cadaveric and sur-
via, que uma pequena proporção dos pacientes ope- gical specimens. J Urol, 155(5):1639-42,1996.
rados pode evoluir para azoospermia novamente, o
que torna recomendável a discussão sobre a criopre- 7) Johnson CW, Bingham JB, Goluboff ET, Fisch H.
servação do sêmen (8). Transurethral resection of the ejaculatory ducts for
treating ejaculatory symptons. BJU, 95:117-9, 2005.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8) Turek PJ, Magana JO, Lipshultz LI. Semen parame-

1) Schlegel PN. Evaluation of male infertility. Minerva ters before and after transurethral surgery for ejacu-
Ginecol, 61(4):261-83, 2009. latory duct obstruction. J Urol 155:1291-3, 1996

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Urominas | 39
RELATO DE CASO | SÍNDROME DE ZINNER

SÍNDROME DE ZINNER: RELATO DE CASO


DIAGNÓSTICO INCIDENTAL NUM PACIENTE
VÍTIMA DE TRAUMA

Thiago S. Antoniassi Instituto do Câncer - Faculdade de Medicina de


São José do Rio Preto - SP
Pedro P. Polotto

Marina A.M.P. Miranda Endereço de correspondência


Thiago da Silveira Antoniassi
Luis F. Gabriotti Rua Francisco Chagas de Oliveira, 2550 - Casa 110
Fabio A. Vasilceac Higienópolis – São José do Rio Preto - SP
CEP.: 15.085-485
Fernando N. Facio Jr E-mail: tsantoniassi@gmail.com

INTRODUÇÃO RELATO DE CASO

A síndrome de Zinner é definida pela presença de cisto Paciente masculino, 30 anos, com história prévia de inves-
de vesícula seminal associado à agenesia renal ipsilate- tigação de infertilidade, sem antecedentes cirúrgicos ou
ral. Consiste numa anomalia urológica congênita extre- comorbidades, admitido no pronto-atendimento da cirur-
mamente rara, decorrente do desenvolvimento gia após trauma motociclístico (queda numa rodovia).
embriológico anormal da porção distal do ducto meso-
O paciente encontrava-se com nível de consciência 15
néfrico (de Wolff ), no primeiro trimestre da gestação. A
segundo Escala de Coma de Glasgow, queixando-se de
sua manifestação varia individualmente, desde indiví-
dor lombar apenas. Foi avaliado inicialmente pela
duos assintomáticos até aqueles com alterações na fer- equipe da cirurgia do trauma, a qual executou atendi-
tilidade. mento inicial segundo as condutas do Advenced Trauma
Life Suport –ATLS.
O objetivo deste relato é apresentar um caso raro de Sín-
drome de Zinner, que foi descoberto incidentalmente O atendimento prosseguiu com avaliação pela equipe
após a realização de uma tomografia computadorizada da neurocirurgia, que solicitou uma tomografia compu-
(TC) num paciente vítima de trauma motociclístico. O pa- tadorizada de crânio e coluna. O estudo tomográfico evi-
ciente foi avaliado inicialmente pela equipe da cirurgia denciou, além de fratura à nível da primeira vértebra
do trauma, e prosseguiu investigação com a equipe da lombar em achatamento com retropulsão de fragmento,
urologia. a ausência de rim e ureter à direita.

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botão ureteral pode ocorrer, e este não se une ao tecido
TOMOGRAFIA metanéfrico. Este erro na migração interfere com o papel
central do botão ureteral na diferenciação do tecido me-
tanéfrico, o qual não sofrerá diferenciação, resultando
em agenesia renal e atresia do ducto ejaculatório. Esta
atresia obstrui a drenagem do conteúdo da vesícula se-
minal, com subsequente distensão e formação de cisto.
O ureter também pode estar ausente ou incompleto (au-
sência do hemitrígono e do orifício uretérico) ou ainda
ter um curso ectópico para a vesícula seminal [1].

Para Pace et al.[6,7], a Síndrome de Mayer-Rokitansky-


Kustner-Hauser (caracterizada pela ausência congênita
do útero, da vagina superior e do rim unilateral), descrita
em 1829, é a correspondente da Síndrome de Zinner
para o sexo feminino. Ambas decorrem de desenvolvi-
mento alterado do ducto mesonéfrico e resultam em
malformações dos sistemas urogenital e reprodutivo.
Fonte: Arquivo pessoal
O trabalho mais completo existente na literatura sobre
a Síndrome de Zinner, realizado por Van den Ouden et
O paciente teve alta hospitalar após um dia, com progra- al.[9], analisou 52 casos de pacientes com a Síndrome.
mação de seguimento com a equipe da neurocirurgia e Destes, apenas 2 eram afrodescendentes e os outros 50
de investigação complementar com equipe da urologia. (96%) eram caucasianos. Um total de 34 (65%) pacientes
apresentava as malformações do lado direito, enquanto
DISCUSSÃO
17 (33%) deles apresentavam no lado esquerdo. Isso re-
Os cistos de vesícula seminal foram identificados pela pri- sulta numa média de direita: esquerda de 2:1. Apenas 1
meira vez por Smith, em 1872, enquanto que a associa- (2%) paciente apresentava acometimento bilateral.
ção entre cisto de vesícula seminal e agenesia renal
Os sintomas da Síndrome de Zinner costumam se apresen-
ipsilateral foi estabelecida apenas em 1914 por Zinner [1].
tar entre a segunda e terceira décadas de vida, período em
Cisto de vesícula seminal associado à agenesia renal ip- que a atividade sexual se intensifica [1,3,9]. Os cistos de ve-
silateral é uma anomalia urológica congênita rara, cons- sícula seminal menores do que 5 cm geralmente persistem
tando na literatura apenas 200 casos. Um trabalho de assintomáticos e são achados incidentais do exame físico
screening com ultrassom (US) realizado em 280 mil (apresentam-se como massa durante a palpação abdominal
recém-nascidos de Taipei-Taiwan, encontrou um total de ou como massa flutuante que emerge da próstata durante
13 casos de dilatações císticas na pelve (sendo 6 cistos o toque retal). Quando sintomáticos, causam sintomas irri-
de vesícula seminal e 7 cistos de Gartner) associadas à tativos. Já os cistos maiores de 12 cm, ditos gigantes, cursam
displasia ou agenesia renal ipsilateral, resultando em com sintomas de obstrução vesical e/ou intestinal devido
uma incidência de 0.00214% (214 a cada 100 mil pacien- ao efeito de massa que exercem. Os cistos também podem
tes) para a Síndrome de Zinner [8]. A incidência de age- ser descobertos no período pré-púbere, durante investiga-
nesia renal unilateral isolada é de o,1% [1]. ção de epididimite e infecções do trato urinário recorrentes
em garotos. Estes cistos congênitos podem ser diferencia-
A Síndrome de Zinner decorre de desenvolvimento em- dos dos cistos adquiridos, sendo que os últimos frequente-
briológico anormal da porção distal do ducto mesoné- mente são bilaterais e manifestam-se mais tardiamente após
frico (ou ducto de Wolff ) entre a quarta e a décima história de prostatite crônica ou são achados de prostatec-
terceira semana gestacional. A migração incompleta do tomia [3].

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Urominas | 41
RELATO DE CASO | SÍNDROME DE ZINNER

TABELA 1

CLASSIFICAÇÃO DE LESÕES CÍSTICAS DA VESÍCULA SEMINAL E ÁREAS ADJACENTES

GRUPO DESCRIÇÃO
Grupo 1 Cisto de vesícula seminal
Grupo 2 Cisto de ducto de Muller
Grupo 3 Ureterocele ectópica (cisto de vesícula seminal com agenesia renal ipsilateral)
Grupo 4 Dilatação cística da vesícula seminal
Outros (incluindo de origem desconhecida)
- cisto utricular
- remanescente do ducto de Muller
Grupo 5
- cisto do ducto de Wolff
- obstrução do ducto ejaculatório
- cisto de retenção prostática

Fonte: wasaki et al., 1988)

O trabalho de Van den Ouden et al. [9] mostrou que os tralateral pérveo e ainda pode dificultar a restauração da
sintomas mais frequentes são disúria (37%), polaciúria fertilidade após reconstrução [1]. No entanto, casos de
(33%), dor perineal (29%), epididimite (27%), ejaculação ducto ejaculatório pérveos ipsilaterais ao cisto de vesí-
dolorosa (21%) e dor escrotal (13%). Outros sintomas re- cula seminal já foram descritos. Portanto, o estatus de
latados são: hematúria, hematoespermia e infecção re- fertilidade deve ser investigado nos portadores da Sín-
corrente do trato urinário. drome de Zinner [1].

Várias teorias procuram justificar a infertilidade, presente Os cistos de vesicular seminal devem ser diferenciados
em até 45% dos pacientes [9]. A infertilidade pode ser de outras patologias, incluindo [1]: cistos de ducto de
causada pela obstrução do ducto ejaculatório, que re- Muller e cistos de ducto ejaculatório, ambos localizados
sulta num volume ejaculatório reduzido (menor do que em linha média. A presença de espermatozoides no lí-
1 ml), associado com azoospermia ou oligoespermia se- quido diferencia os cistos de vesícula seminal dos cistos
vera, pH alcalino, baixa concentração de carnitina e fru- de ducto de Muller. Outras possibilidades são cistos pros-
tose e alta concentração de citrato [1]. Outra hipótese é táticos (localização lateral), divertículos da ampola da vas
a de que a obstrução do ducto ejaculatório possa blo- deferens, ureterocele ectópica e abscesso. Tumores be-
quear a passagem do sêmen no ducto normal contrala- nignos ou malignos de bexiga, reto e sacro e linfonodos
teral [1]. Outros autores ainda postulam que a obstrução também devem ser descartados. Adenocarcinoma pri-
unilateral do ducto ejaculatório pode levar à produção mário da vesícula seminal, embora raro (metástases são
de anticorpos anti-espermatozoides em indivíduos que mais comuns), podem ocorrer em pacientes com idade
são imunologicamente responsivos, o que pode provo- maior do que 50 anos. Nesse caso, massas sólidas intra-
car infertilidade mesmo com o ducto ejaculatório con- císticas podem ser identificadas com tomografia (TC) ou

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42 | Urominas
ressonância magnética (RM). Existem 2 relatos de ade- [1,3]. A uretrocistografia pode mostrar o hemitrígono
nocarcinoma papilar intracístico e 1 relato de adenocar- devido ao desenvolvimento incompleto da unidade
cinoma mucinoso. Não existem marcadores tumorais uretérica ipsilateral ao cisto, ou pode mostrar um trí-
séricos para esses casos. Iwasaki et al. [2] classificou os gono completo com compressão extrínseca da pa-
cistos de vesícula seminal em 5 categorias [1,4]: (1) cisto rede posterior da bexiga. Em alguns pacientes, não é
de vesículas seminais; (2) cisto de ducto de Muller; (3) possível entrar na bexiga por causa de massa extra-
ureterocele ectópica; (4) dilatação cística da vesícula se- vesical abaixo do trígono [1].
minal ; (5) outros (TABELA 1). A abordagem da Síndrome pode ser conservadora
em casos de pacientes assintomáticos. Nesses casos,
a conduta é antibioticoterapia e aspiração transure-
A investigação diagnóstica da Síndrome de Zinner inclui teral do cisto, associada ou não à injeção de substân-
exame físico (toque retal), exames laboratoriais e exa- cias (álcool, minociclina). O tratamento invasivo é
mes de imagem. Hemograma, perfil hormonal (FSH, LH reservado para aqueles pacientes sintomáticos que
e testosterona), urina 1 e urinocultura, US transrretal não obtiveram melhora com a conduta conservadora.
pélvico e renal, urofluxometria, urografia excretora, cin- Ele consiste em desobstrução do ducto seminífero
tilografia renal, TC ou RM, uretrocistoscopia, espermo- por meio de ressecção transureteral do ducto ejacu-
grama e aspiração do conteúdo cístico podem latório, dilatação por balão ou laparotomia. Outras
confirmar o diagnóstico [1]. opções invasivas são a criação de fístula transureteral
e drenagem transvesical. A aspiração transrretal do
O US transrretal é o método mais comumente empre- cisto também é possível, porém o risco de infecção é
gado para avaliação inicial de cistos da vesícula semi- alto e apenas 30% dos pacientes se beneficiam
nal. Encontra-se massa anecoica pélvica, de parede obtem a cura com o procedimento. O padrão-ouro
espessa e, ocasionalmente, com calcificações. A para o tratamento é a cirurgia aberta. A incisão me-
massa pode conter debris, que indicam infecção e/ou diana é indicada para cistos grandes, enquanto que
hemorragia prévias. A US também pode fazer o diag- a incisão de Pfannestiel é suficiente para cistos de
nóstico pré-natal de cisto de vesícula seminífera. O pequeno volume. Porém, como as vesículas seminí-
US permite também o diagnóstico pré-natal de cisto feras têm localização profunda na cavidade pélvica,
de vesícula seminal [1]. A TC identifica anomalias re- a cirurgia aberta tem alta taxa de morbidade (disfun-
nais e dá uma visão ampla da anatomia da pelve. Seus ção erétil, lesão do ureter, da bexiga e do reto) [1,5,9].
achados incluem dilatação da vesícula seminífera ip-
silateral e massa retrovesicular da vesícula seminal, A abordagem cirúrgica por videolaparoscopia já foi
cefálica à próstata, associadas a anomalias renais realizada em 15 pacientes e, quando realizada por
[3].A RM é o melhor exame não invasivo para o diag- cirurgiões experientes, é segura e efetiva [1].
nóstico do cisto de vesícula seminífera. Os cistos apa-
recem com hipointensidade de sinal em T1 e Apesar das varias opções de tratamento, alguns pa-
hiperintensidade em T2. A RM ainda fornece um es- cientes permanecem inférteis. Esses pacientes
tudo multiplanar da cavidade pélvica e abdominal, podem se beneficiar com as técnicas de fertilização
sendo de grande valia para o planejamento cirúrgico artificial [1].

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Urominas | 43
RELATO DE CASO | SÍNDROME DE ZINNER

CONCLUSÃO 4 Narlawar RS, Hanchate V, Raut A, et al. (2003) Renal


agenesis and seminal vesicle cyst. J Ultrasound
Cisto de vesícula seminal associado à agenesia renal ip- Med 22:225–228
silateral é uma anomalia urológica congênita rara que
afeta pacientes entre a segunda e quarta décadas de 5 Ohgaki K, Horiuchi K, Oka F, et al. (2008) A case of
vida. Entretanto, a hipótese diagnóstica da Síndrome de seminal vesicle cyst associated with ipsilateral renal
Zinner deve ser considerada sempre que este quadro es- agenesis diagnosed during an investigation of pe-
tiver associado aos sintomas de irritação e/ou obstrução rineal pain. J Nippon Med Sch 75:122–126
vesical e dor perineal e/ou escrotal. A investigação diag-
nóstica da Síndrome de Zinner inclui exame físico (toque 6 Pace G, Galatioto GP, Vicentini C (2007) Mayer-Ro-
retal), exames laboratoriais e exames de imagem. A abor- kitansky-Ku¨stner-Hauser syndrome and the Zinner
dagem pode ser conservadora ou invasiva, dependendo syndrome, female and male malformation of repro-
do quadro clínico do paciente.
ductive system: are two separate entities? Lin
Chuang Yi Xue Za Zhi 2:601–607.

REFERÊNCIAS 7 Pace G, Galatioto GP, Guala` L, et al. (2008) Ejacula-


1 B. J. Pereira, L. Sousa, P. Azinhais, P. Conceição, R. tory duct obstruction caused by a right giant semi-
Borges, R. Leão, Á. Brandão,P. Temido, E. Retroz & F. nal vesicle with na ipsilateral upper urinary tract
Sobral. Department of Urology of the Centro Hos- agenesia: an embryologic malformation. Fertil Ste-
pitalar Coimbra, Hospital dos Covo˜ es, Coimbra, ril 89:390–394.
Portugal. Zinner’s syndrome: an up-to-date review
of the literature based on a clinical case. Androlo- 8 Sheih CP, Hung CS, Wei CF (1990) Cystic dilatations
gia 41, 322–330 within the pelvis in patients with ipsilateral renal
agenesis or dysplasia. J Urol 144:324–327.
2 Iwasaki A, Hirokawa M, Hosaka M, et al. (1988)
Study of cystic dilatation of the seminal vesicle and 9 Van den Ouden D, Blom JHM, Bangma C, de Spie-
its classification. Nippon Hinyokika Gakkai Zasshi geleer AHVC (1998) Diagnosis and management of
79:1385–1392.
seminal vesicle cysts associated with ipsilateral
3 Livingstone L, Larsen CR (2000) Seminal vesicle cyst renal agenesis: a pooled analysisof 52 cases. Eur
with ipsilateral renal agenesis. AJR 175:177–180 Urol 33:433–440

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