COMUNICAÇÃO
I Encontro Internacional de Literacia Familiar
Cristina do Céu almeida Queiroz Pinto
Rua dos Combatentes da Grande Guerra, 10 Rch
3150-134 Condeixa-a-Nova
crisceupinto@gmail.com
Formadora Residente do Programa Nacional do Ensino de Português
Agrupamento de Escolas de Condeixa de Condeixa-a-Nova
Envolver a Família no e através do PNEP
RESUMO
O projecto “A Escrita mensageira entre a Escola e a Comunidade”, teve
como objectivo principal promover as competências de literacia familiar, nas famílias
das crianças das turmas do 1º CEB, cujo professor estava envolvido na formação do
PNEP (Programa Nacional do Ensino de Português). No âmbito deste projecto realizou-
se um trabalho colectivo de escrita familiar, comum à nossa comunidade escolar, que
permitiu uma reflexão conjunta e a tomada de consciência que a partilha e a
cooperação entre a escola e a família são contributos-chave para o
desenvolvimento das competências de Leitura e de Escrita, descobrindo na Escola
e em Família o Prazer de Ler e de Escrever.
Pretende-se nesta comunicação apresentar os principais objectivos, estratégias e
produtos desenvolvidos ao longo deste projecto.
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INTRODUÇÃO
Falar de literacia no âmbito de um projecto relacionado com o desenvolvimento
da literacia familiar implica necessariamente uma abordagem na sua dimensão mais
abrangente, com toda a carga de natureza escolar, social e, logo, cultural que traz
consigo.
Actualmente, o conceito de literacia apoia-se numa pluralidade de competências,
pessoais, familiares e sociais, assim como de aspectos funcionais relacionados com os
modos diversos de obter e utilizar a informação na sociedade do conhecimento. Daí que
a forma plural – literacias, encontrada actualmente com maior frequência, sirva de
imediato como indicador de um conteúdo variado, complexo e flexível, permitindo cada
vez melhor a adaptação às necessidades inesperadas e imprevisíveis dos tempos e da
sociedade em que vivemos (Strecht-Ribeiro, 2006).
Hoje, graças à investigação efectuada por Ferreiro e Taberosky (1985),
sabemos que a aprendizagem da leitura e da escrita se inicia muito antes do início de sua
escolarização, pois a escrita, por ser um objecto de função fundamentalmente social, já
faz parte do quotidiano dos educandos. Nenhuma criança entra na escola sem nada saber
sobre a leitura e a escrita. E, o processo de alfabetização é longo e trabalhoso,
independente da classe social ou meio em que a criança vive. Esta virada de conceitos,
práticas e atitudes tem sido desencadeada pela compreensão do erro como erro
construtivo e pelo respeito ao processo de aprendizagem de cada educando, seja ele
adulto ou criança.
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Por todas estas razões hoje urge cultivar e desenvolver a relação escola-família
tornando esse envolvimento, de cooperação e parceria de responsabilidades
pedagógicas e educacionais, efectivo.
A relação escola-família é uma realidade existente em todas as escolas, ainda
que a sua efectivação em termos de envolvimento ou colaboração só se verifique numa
pequena percentagem das mesmas. Os estudos conhecidos sobre esta área, quer a nível
nacional quer internacional, agrupam-na em categorias como: associação de pais; as
expectativas dos pais face à frequência de contextos educativos formais, - a participação
dos pais como práticas de cidadania; as expectativas dos professores sobre o
envolvimento; a participação dos pais nos órgãos de decisão das escolas, as estruturas
de mediação escola-família.
De acordo com Sarmento e Marques (2006), esta não é a relação que a
sociedade de hoje exige. Mas, o que é certo, é que a escola da tradição republicana, não
se baseando no multiculturalismo, não se desenvolveu com base e a partir das
idiossincrasias locais. Cresceu à revelia das diferenças culturais e sociais, exercendo-se
como instrumento político de poder de um Estado centralizado. O inconveniente de o
povo saber ler não estava propriamente no facto em si mesmo, mas no uso perigoso que
dele poderia resultar” (Carvalho, 1996, p. 728).
Este período prolonga-se até aos finais dos anos 60, em que o Estado, com forte
determinação ideológica, impediu o acesso à escola dos portadores de saberes não-
escolares não se colocando, por isso, o problema da definição das relações entre a
instituição escolar e a comunidade (Correia, 1999).
Esta era uma escola que defendia uma identidade que se queria nacional e que se
impôs e sobrepôs às identidades locais. Assim, enquanto que na Europa do pós-Segunda
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Guerra Mundial, em contexto de conceptualização e de operacionalização da sinonímia
desenvolvimento como desenvolvimento económico, a educação formal surge como
factor fundamental para a promoção da mobilidade social ascendente e, como tal, um
direito que se reivindica, em Portugal só em 1960 se institui a escolaridade obrigatória
de quatro anos para ambos os sexos, de seis anos em 1964 (Cortesão, 1988) e de nove
anos em 1986 (Lei nº 46/86), alargando, deste modo, a base social de recrutamento da
escola.
Na actualidade, ainda que essencialmente numa lógica de continuidade a relação
dos professores com as famílias dos seus alunos tende a surgir em concomitância um
estreitamento de relações potencia um melhor desempenho académico das crianças.
No entanto, estatutariamente possibilitadas de participar na gestão da escola, as
famílias fazem-no essencialmente por representação. Os professores olham-nas como
recursos a quem solicitam apoio pontual para o desenvolvimento de actividades
múltiplas e são alguém a quem, normativamente, precisam de informar sobre as suas
intenções de trabalho e sobre o desempenho global dos seus alunos.
Isto é, as relações Escola – Família e vice-versa, tendem a pautar-se pela
formalidade. A informação prestada, no primeiro caso, “não significa uma verdadeira
desocultação dos sentidos das intenções educativas dos professores com vista a uma
participação pró-activa das famílias, mas tão só um procedimento formal de
comunicação de intenções. Porém, tudo isto e apenas isto, não chega a relação escola-
família que urge configura, não apenas, uma concepção de escola, mas também uma
concepção de sociedade
Assim, só é possível entender a existência de relação entre escolas - famílias,
num modelo de escola que admita, para lá dos imperativos legislativos, a relevância da
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acção educativa se inserir num projecto educativo de uma comunidade em que, como
tal, todos (pais, professores, alunos, outros actores sociais) tenham espaço de
participação, e em que às crianças, particularmente, seja assegurado o direito a uma
educação informada, “que assenta na lógica da sua participação com voz nos processos
de vida em que se desenvolvem” (Marques, 2005, p. 3). Porque “as crianças, mais do
que necessitarem da nossa acção socializadora, necessitam de oportunidades para se
exercerem como actores com direito a serem ouvidos e lidos na sua forma de olhar e
conceber o mundo” (Zaida Garcez, 2001, p. 1).
A presente comunicação centra-se, essencialmente, na apresentação de um
projecto educativo, no domínio da Literacia Familiar que visa promover a construção de
uma ponte que aproxime efectivamente a escola da família (e vice-versa) na abordagem
ao processo de aprendizagem da leitura e da escrita feita pela família e a adoptada pela
escola, desenvolvido no ano lectivo de 2008/09, no Agrupamento de Escolas de
Condeixa-a-Nova, por um grupo de professores envolvidos na Formação do Programa
Nacional para o Ensino de Português.
O PNEP é um programa da responsabilidade do Ministério da Educação,
desenvolvido em parceria com as Universidades ou Escolas Superiores de Educação.
A orientação deste programa está a cargo de uma Comissão Nacional de
Acompanhamento, coordenada pela Professora Drª Inês Sim-Sim e de uma outra
comissão mais alargada da qual também faz parte a Professora Drª Lucília Salgado. Há
em cada núcleo de formação um coordenador regional que faz a ponte entre as
diferentes instituições envolvidas, sendo também o responsável pela coordenação da
formação dos Formadores Residentes e por consequência da formação que se
desenvolve nos diferentes agrupamentos abrangidos pelo seu núcleo de coordenação.
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No nosso caso, é com muito agrado que temos como coordenador regional o Professor
Dr. Pedro Custódio.
O PNEP teve o seu início no ano lectivo de 2006/07 e tem como objectivo
melhorar os níveis de compreensão de leitura e de expressão oral e escrita em todas as
escolas do 1º ciclo, num período entre quatro a oito anos, através da modificação das
práticas docentes do ensino da língua. Surge como mais um reforço às medidas urgentes
que possam contribuir para a melhoria dos desempenhos dos alunos em competências
referentes ao domínio da língua materna, estabelecidas para a União Europeia, na
Cimeira de Estocolmo de 2001. Tudo por causa dos resultados obtidos, pelo nosso país,
em todos os estudos internacionais de literacia.
Em 2001, a taxa de analfabetismo, no nosso país, era de 9% e ainda continua a
ser uma das mais elevadas. No que diz respeito à dimensão educativa e de acordo com
os resultados publicados pela OCDE em 2006, Portugal continua posicionado ao lado
dos outros países com níveis de escolaridade mais baixos, designadamente para a
população com idades situadas entre os 25 e os 64 anos.
De acordo com o quadro 1, verificamos que Portugal é um dos países que revela
índices mais frágeis de qualificação escolar e profissional da sua população adulta e,
sobretudo, a mais lenta capacidade de recuperação no conjunto dos países europeus.
Cerca de 3.500.000 dos actuais activos têm um nível de escolaridade inferior ao ensino
secundário, dos quais 2.600.000 têm um nível de escolaridade inferior ao 9º ano.
Mesmo considerando a população mais jovem, cerca de 485.000 jovens adultos entre os
18 e os 24 anos (45% do total) estão a trabalhar sem terem concluído 12 anos de
escolaridade, 266.000 dos quais não chegaram a concluir o 9º ano.
Quadro1. Indicadores socioeducacionais. (Cruz, 2005)
HM 25-64 anos 25-34 anos 35-44 anos 45-54 anos
Sec Sup Sec Sup Sec Sup Sec Sup
PORTUGAL 6
13,0 11,4 21,2 16,1 13,9 13,9 8,9 8,9
UE15 (2000) 43,0 21,7 48,0 26,8 46,4 22,9 40,7 20,2
Na zona da União Europeia, e no período de 2002-2004, Portugal, juntamente
com Malta, apresenta as taxas mais baixas de diplomados com o ensino secundário para
o segmento etário dos 20-24 anos (abaixo dos 50%), quando a média da Europa dos 25
se situa acima dos 75% (Comissão Europeia, 2005). Também os dados da OCDE (2005)
relativos ao número médio de anos de escolarização da população adulta, em 2003,
(média da OCDE = 12 anos) vêm confirmar que o nosso país, com uma média de 8,2
anos de escolarização, se encontra ainda distante de recuperar a diferença que o separa
dos demais países da OCDE (Pinto-Ferreira, et al., 2006)
Todavia, perante estes dados do PISA 2006, em que se comparam os
desempenhos globais, a literacia de leitura, nos três ciclos PISA, por nível de
proficiência atingido pelos alunos portugueses, Portugal continua com níveis abaixo dos
desejados em comparação como os resultados dos outros países do espaço da OCDE.
OCDE(2000) Portugal 2000 Portugal 2006
0% Abaixo do nível 1 8,3% 5,8%
22% Nível 3 25,62% 25,62%
29% Nível 4 11,62% 14,9%
9% Nível 5 2,1% 2,8%
Quadro 2 – Resultados comparativos dos níveis de literacia (PISA 2006)
Portugal apresenta ainda uma percentagem superior à da OCDE e à da União
Europeia, de 22% de Leitores com muito baixo nível de literacia. Leitores que, acredito,
estão nesta condição não por convicção mas porque ao longo do seu percurso
académico não tiveram oportunidade de aprender a descobrir o prazer de ler. Também,
nos três ciclos PISA, mais de 50% da população portuguesa abrangida neste estudo se
encontra ainda no nível 1 e 2, no que diz respeito aos desempenhos globais na literacia
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de leitura. Em 2007, a EUROTAST, coloca Portugal em último, dos 27 países que
compõe actualmente a União Europeia, quanto à leitura de livros predominando por cá
os pequenos leitores, ou seja os que lêem até 5 livros por ano.
Perante esta realidade nacional, o que é facto é que no nosso caso, enquanto
professores e profissionais da educação, muito nos temos esforçado para que os
objectivos do PNEP sejam realmente atingidos. Na certeza porém que este programa
não se esgota em dois anos de formação.
Na verdade, muitas são as razões apontadas, por todos os nossos colegas, para
que não tenhamos dúvidas em afirmar que este Programa do ME, para além do seu
sucesso, era realmente imprescindível. Acima de tudo porque cativou os professores e
lhes devolveu uma boa dose de autoconfiança e segurança pedagógica. Depois porque é
consensualmente reconhecido como um impulso e um estímulo positivo à vontade de
mudar algumas rotinas pedagógicas enraizadas, até, por alguma negligência política a
que esteve sujeita a educação, em geral, e a formação de professores em especial, no
que diz respeito ao ensino da língua. Mas, mais importante que o passado é que o
PNEP, para além de tudo o que já foi dito, veio contribuir, em muito, para uma tomada
de consciência social e educativa, da necessidade de aproximar a escola da família,
criando condições efectivas para um maior envolvimento da família nas actividades da
escola.
Actualmente, a nossa escola já sente necessidade de um modelo que admita, para
lá dos imperativos legislativos, um projecto educativo alargado à comunidade em que
pais, professores, alunos e outros actores sociais tenham um espaço de participação
efectiva.
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O convite permanente à introdução precoce dos livros e à participação das
crianças em interacções com os pais relacionadas com literacia são agora também
preocupações pedagógicas diárias. Só tendo os pais e a família como parceiros a
aprendizagem da linguagem escrita poderá ser mais natural e significativa.
Tal como considera Miller (1996), os professores e educadores ao iniciarem uma
abordagem à literacia, terão que ter em consideração todo o background social e cultural
das crianças. Só assim, “conseguirão atribuir valor à literacia desenvolvida pela família
e ao contributo que cada criança pode dar para o trabalho desenvolvido na escola ou no
jardim-de-infância.” (Mata, 1999, p. 66). Hoje, os pais passaram a ser considerados
como elementos fundamentais, cuja participação deve ser mobilizada. “Só tendo os pais
e a família como parceiros a aprendizagem da linguagem escrita poderá ser mais natural
e significativa.” Hannon (1995, 1996) considera que a importância do papel dos pais no
processo de apreensão da linguagem escrita, deve ser considerada quanto a quatro
grandes tipos de experiências que podem proporcionar - ORIM :
- Oportunidades para aprender,
- Reconhecimento das aquisições da criança,
- Interacção em actividades de literacia
- Modelos de literacia
- Oportunidades quando, por exemplo, as levam a contactar e as ajudam a interpretar
os escritos do meio; ou quando lhes lêem por exemplo histórias, revistas ou notícias dos
jornais; ou quando os levam à biblioteca ou mesmo ao possuírem materiais escritos
diversificados em casa.
- Reconhecimento e valorização dos avanços que as crianças vão fazendo (estímulo).
- Interacção entre pais e filhos em torno da linguagem escrita em situações do dia-a-dia.
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- Modelos de como e quando utilizar a linguagem escrita e, de como valorizar e tirar
prazer das actividades de literacia.
Também para o nível de motivação para a leitura, a família possui um papel
relevante.
As crianças que começam a ler cedo, possuem em casa um ambiente de literacia
rico e um maior interesse em aprender a ler e a escrever (Durkin, 1966; cit, in Purcell-
Gates, 2000);
Aquelas que possuem maior interesse na leitura, têm mais livros em casa e os
pais lêem-lhes com maior frequência histórias, (Morrow, 1983, Scher § Mackler, 1997;
cit in Purcell-Gates, 2000)
Fernandes 2004, em relação às experiências de literacia, comenta que o contexto
familiar, tomado como uma só medida, não explica os níveis de desempenho nem o
sucesso posterior na aprendizagem da leitura e escrita, porém algumas características de
determinados meios ou estratos sociais parecem explicar o processo de aquisição de
determinadas competências nesta área nomeadamente:
- Formação Académica -segundo estudos de literacia realizados em Portugal (Benavente
et al., 1996 cit Fernandes, 2004) o nível de formação académica dos indivíduos é
directamente proporcional à variedade, qualidade e quantidade de comportamentos
leitores.
- Atitude face à educação - Atitude face à educação, e expectativas parentais sobre os
filhos
Num estudo realizado por Fitzgerald, Spiegal e Cunningham (1991), que
explorava a percepção parental acerca da aprendizagem da literacia emergente, em pais
com baixo e elevado nível de literacia; verificam que os pais em geral concordavam que
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a aprendizagem da literacia poderia iniciar-se durante a idade pré-escolar, no entanto, o
modo como esta se processa, é percepcionado de modo distinto; os pais com nível
literário baixo atribuem mais importância à presença de materiais de apoio no lar,
preferencialmente aqueles orientados para capacidades; os pais de nível literário elevado
percepcionavam-na como uma prática cultural, atribuindo mais importância à
modelagem de comportamentos de literacia.
Pode-se, então, concluir que para uns LITERACIA é uma capacidade de
trabalho, a ser adquirida principalmente na escola e para outros é uma transmissão
cultural, adquirida de modo indirecto e implícito no lar e comunidade, assim como na
escola.
Assim, o que as crianças aprendem acerca da linguagem escrita antes da escola
está constrangido pela forma como o impresso é utilizado pelos outros significativos na
sua família e comunidade social (Purcell-Gates, 2000).
Por outro lado, de acordo com Leseman & Jong (2001), para o desenvolvimento
das competências de Literacia as características parentais (o nível vocabular; o nível de
educação; o registo linguístico, em casa; o prazer e frequência de leitura); o ambiente
linguístico (frequência e duração da leitura conjunta de livros; número de livros em
casa; frequência de biblioteca; visibilidade de comportamentos literácitos familiares) e
ainda, o ambiente familiar podem contribuir de forma indirecta, através de
oportunidades de aprendizagem que podem estimular o desenvolvimento do raciocínio
em geral, e as capacidades de resoluções de problemas, promover o reconhecimento de
palavras, e promover atitudes sócio-emocionais favoráveis à aprendizagem escolar.
A literacia manifesta-se no ambiente físico, familiar, comunidade, trabalho e
lazer sendo a sua utilização visível às crianças, consoante os outros significativos
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recorrem a ela no seu dia-a-dia. Conscientes da importância desta relação, para que o
sucesso educativo seja uma realidade, e da necessidade de criar laços efectivos, de
cooperação e co-responsabilidade entre a nossa escola e a nossa comunidade, criámos e
desenvolvemos, no nosso concelho de Condeixa-a-Nova, um projecto que pretendia
despertar, na família, a tomada de consciência das suas competências literácitas e da sua
importância para o sucesso escolar, pessoal e social, dos seus educandos.
1. Um Projecto – Um contributo para o Desenvolvimento da Literacia
Familiar
É com os pais que as crianças começam a aprender e é também com eles que
passam mais
tempo. Assim, não se pode por um lado, esquecer as suas vivências e as suas
experiências de literacia, e por outro lado ignorar estes enquanto parceiros educativos.
Contudo, os pais têm que ser tratados como pais, devendo ser incentivados a ler e a
desenvolver outras actividades de literacia com os filhos, mas não a ensiná-los no
sentido formal do termo. Todas as orientações e intervenções com famílias, com o
objectivo de mobilizar e facilitar a sua participação deverão: apoiar-se nos seus
interesses, nas suas potencialidades e nas suas vivências; considerar as suas rotinas e
hábitos de literacia e também proporcionar oportunidades, recursos e condições para
que as estratégias e actividades possam ser postas em prática e nas suas vivências;
considerar as suas rotinas e hábitos de literacia e também proporcionar oportunidades,
recursos e condições para que as estratégias e actividades possam ser postas em prática
(MATA, 1999).
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Escola e família são parceiros co-responsáveis mas nunca se podem substituir.
Se esta cooperação e consciência dos objectivos comuns, não for aceite, vai continuar a
ser difícil estabelecer uma ponte entre a família e a escola.
Por um lado, a abordagem ao processo de aprendizagem da leitura feita pela
família é normalmente diferente da abordagem adoptada na escola. Regra geral, a
abordagem que os pais fazem é semelhante à que tiveram quando foram alunos.
Por outro lado, a escola fornece pouca informação sobre as perspectivas com
que aborda a leitura. Esta falta de conhecimento mútuo e de informação pode conduzir
ao uso de dois diferentes métodos de ensino. Se a escola tem por objectivo desenvolver
parcerias com a família, então deverá dar todas as informações relevantes e conhecer as
abordagens que a família adopta, encarando-as numa perspectiva positiva.
De acordo com estas considerações, este projecto teve como objectivo geral,
promover e criar momentos de leitura e escrita partilhada entre pais e filhos, visando o
desenvolvimento de competências de literacia familiar. Tendo como alvos de
intervenção crianças e adultos pretendeu-se, mais especificamente, promover:
1) na criança, momentos de diálogo com os seus pais e contribuir para o
desenvolvimento de competências relacionadas com a leitura e a escrita de
textos (desenvolver vocabulário, relacionar acontecimentos, desenvolver a
imaginação e criatividade, levantar questões, trabalhar conceitos, clarificar e
expandir informação, relacionar com experiências pessoais, fazer
inferências ...), desenvolver a consciência fonológica e a oralidade.
2) no adulto, competências para cativar a atenção da criança, proporcionar a leitura e
escrita interactiva, apoiar a compreensão da criança, e utilizar estratégias de
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desenvolvimento da literacia familiar partilhadas com prazer por todos os seus
membros.
1.1 – Contextualização Local
Condeixa-a-Nova, é um concelho da periferia de Coimbra que de acordo com os
dados fornecidos pela Carta Educativa de 2007, tinha em 2001 cerca de 15340
habitantes, apresenta uma localização privilegiada no Centro Litoral à curta distância de
12 Km de Coimbra.
A análise da repartição da população activa empregada por sector de actividade
económica sublinha a importância que as actividades relacionadas com o sector terciário
têm no Município, uma vez que este sector representa, no ano mais recente (2001),
69,8% dos empregados.
No que se refere ao sector secundário, actividade com marcada expressão no
Município, indica-se que apresenta uma estrutura com um número de activos inferior ao
registado no Continente em 2001 (28,1% contra 35,5%).
Por último, no sector primário, actividades ligadas à agricultura e principalmente
dedicada à produção hortícola, especialmente para auto-consumo, o número de
empregados é de apenas 2,2% dos activos, valor inferior ao verificado no Continente
(4,8%).
Na leitura da evolução e da estrutura da população residente empregada
efectivamente por grupos de actividades, em 2001 tinha o seguinte panorama:
Trabalhadores da produção industrial e artesãos 18,9% dos activos empregados,
que registou desde 1991 um reforço dos activos (5,0%, de 1191 para 1251
indivíduos), domésticos e trabalhadores similares, que se cifrou em 62,5%
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(superior ao ocorrido no Continente 18,8%) num contexto também de
acréscimo em termos estruturais (de 13,7% para 16,8%).
Trabalhadores não qualificados da agricultura, indústria, comércio e serviços
tem na estrutura da população residente empregada uma importância também
elevada, mesmo tendo ocorrido uma diminuição de 3,1% desde 1991,
representando ainda em 2001 cerca de 14,0% dos empregados.
Profissões intelectuais e científicas e empregados administrativos, apresentando
importância na estrutura de emprego do Município (12,2 e 10,7%,
respectivamente), que devem ser entendidas no quadro da dinâmica económica
(e demográfica) que descrevemos.
A taxa de analfabetismo no ano de 2001 era de 17,14%, valor acima da média
nacional. No entanto, importa referir que se observou uma diminuição da taxa de
analfabetismo, representando um decréscimo de 2,86% relativamente ao ano de 1991
(20%).
Foi neste contexto social que ousámos apresentar um desafio às famílias, utilizando a
leitura e a escrita como pretexto de diálogo entre pais e filhos.
2. Implementação de um Projecto de Escrita Colectiva
2.1 Metodologia
Ao longo destes 22 anos de práticas pedagógicas a defender uma escola aberta à
comunidade, em que esta relação se efectivasse em projectos educativos de parceria e
cooperação, deparei-me neste últimos anos com uma realidade um tanto ou quanto
diferente. Por isso, e aproveitando a formação do PNEP, resolvi desafiar os meus
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colegas que faziam parte do meu grupo de formandos a desenvolver um projecto de
literacia familiar a que chamámos “Escrita mensageira entre a escola e a família”.
Assim, todas as famílias das crianças pertencentes às turmas envolvidas, nesta
formação, foram convidadas a participar na elaboração de um texto colectivo, iniciado
na sala de aula passando depois de casa em casa, onde cada família, o lia e lhe
acrescentava mais um parágrafo contribuindo desta forma para o desenvolvimento da
história em construção. A ideia era conseguirmos um conjunto de textos “verdadeiros” e
não artefactos escolares. Em que cada família tivesse a espontaneidade, a autonomia, a
liberdade para ler o mundo à sua maneira e escrever as suas próprias palavras. Sem a
preocupação de usar frases já mecanizadas e, fundamentalmente sem medo do erro.
No final, compilámos todos os textos, fizemos apenas a sua correcção
ortográfica tentando respeitar o mais possível a estrutura do texto original e
apresentámos uma maqueta do trabalho à Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova que
de imediato reconheceu a importância deste trabalho e o apoiou, fazendo a edição de
uma pequena brochura (em anexo) que reuniu todos os textos construídos que contou
com a participação de cerca de 200 famílias.
O projecto teve a sua mais valia na aproximação que as escolas fizeram às
famílias propondo-lhes um desafio informal onde todas participaram de uma maneira
muito simples e muito peculiar. O que é facto é que para participarem, cada família teve
de se organizar, procurar um espaço, no seu quotidiano, para um tempo partilhado de
leitura e de escrita. E, este era sem dúvida o grande objectivo deste projecto. Pelo
menos durante um momento cada família dedicou à leitura do texto a sua atenção.
Juntos tiveram de ler e planear o desenvolvimento que lhe iriam dar, para finalmente
serem capazes de acrescentar por escrito o parágrafo que seria o seu contributo familiar.
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Na escola, os alunos, todos os dias, disputavam a vez de levar a “Escrita
Mensageira” para casa. Pois, nesta actividade eles sabiam que iam dar uma opinião e
partilhar com os seus pais um tempo e um espaço familiar de forma entusiasta e
descontraída para que o cunho da sua família ficasse patente naquela história.
O mais importante, é que no final, no dia apresentação do projecto, dia 1 de
Junho, na Biblioteca Municipal, uma grande parte das famílias esteve presente e quem
não esteve fez chegar, até nós, a sua imensa curiosidade em saber qual seria o resultado
da história em que tinha participado e o que seria que as outras famílias, das outras
escolas teriam feito.
Este projecto foi sem dúvida uma experiência única e diferente para todos os
Encarregados de Educação e alunos, tendo sido aceite com muito agrado.
A participação de todos foi um contributo muito enriquecedor para os
educandos, no sentido de os despertar, de uma forma diferente, para a escrita. Por outro
lado, quando cada um dos professores leu o texto da família da sua turma, foi capaz de
reconhecer, apenas pela leitura do parágrafo, a Família que o escreveu. Uns porque se
denunciaram através dos seus gostos musicais, do fascínio pela música “pimba”e pelo
bairrismo, outros porque aproveitaram para mostrar preocupações sociais e se
retratavam numa família altruísta, de poucas posses, desempregada, ou então, numa
família numerosa, num desgosto de amor que marcou toda a vida e, porque não
também, uma família feliz…. O que é certo é que em todas as histórias havia um cunho
familiar facilmente detectável para quem trabalhava naquela escola, com aquele grupo
de alunos, daquela comunidade.
Porém, foi no momento da compilação e correcção dos textos que sentimos
maiores dificuldades. Encontrámos, para além dos erros ortográficos, parágrafos
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completos com marcas de oralidade, estruturas sintácticas complexas e inadequadas e
uma falta imensa de coesão textual, com repetições daquilo que atrás já estava escrito
sem conseguirem dar continuidade ao desenvolvimento do texto, emaranhados de
sucessivos acontecimentos, repentinas alterações do rumo da história e a existência de
uma linguagem escrita pouco clara e coerente, principalmente em alguns dos textos
construídos.
O que é certo é que todas contribuíram com o seu melhor e o resultado obtido
seja motivo de congratulação geral: pais, escolas e comunidade educativa.
Guardámos para nós uma frase que ficou da intervenção de uma mãe e
encarregada de educação acerca deste projecto: “Chamem-nos mais vezes à Escola,
peçam-nos mais coisas… que nós Pais gostamos!”
Na certeza, porém de que o objectivo fundamental tenha sido o de realizar um
trabalho de escrita familiar comum à nossa comunidade escolar que permitisse, no final
uma reflexão conjunta e a tomada de consciência que a partilha e a cooperação entre a
escola e a família é a chave para ajudar as nossas crianças a desenvolverem as suas
competências de Leitura e de Escrita descobrindo na Escola e em Família o Prazer de
Ler e de Escrever.
3. Projecto: Escrita mensageira entre a Escola e a Comunidade Escolar
3.1 Alvos de intervenção
Incluímos neste trabalho todas as crianças das 11 turmas do 1º CEB, envolvidas
na Formação do PNEP, pertencentes a sete Escolas do Agrupamento de Escolas de
Condeixa-a-Nova, no ano lectivo de 2008/09
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A nossa população alvo distribuiu-se da seguinte forma:
Nº alunos da
Escola Famílias turma
Anobra 3º e 4º ano 12+4=16
Avenal 1ºe 3º ano 10+10=20
Condeixa 1º A 20
Condeixa 1ºC e 4ºD 12 +8=20
Condeixa 4ºC 21
Eira Pedrinha 1º e 4ºano 8+13=21
Ega 1ºe 2ºano 12 +6=18
Ega 3º e 4º ano 8+8=16
Sebal 1º e 2º ano 9+10=19
Sebal 3º e 4º ano 9+10=19
Venda da Luisa 3º e 4º ano 6+3=9
Total de Alunos / Famílias 200
Quadro3 – Alvos de intervenção
3.2 Estrutura do Projecto
O projecto e os seus objectivos foram apresentados aos pais em reunião de
escola e o texto em construção era sempre acompanhado por um pequeno texto
informativo, comum a todas as escolas, que apresentava algumas directrizes para esta
tarefa familiar.
As estratégias usadas para lançamento destes objectivos foram diferenciadas, de
acordo com a opção pedagógica de cada professora.
Em duas turmas, as professoras pediram o contributo do Formador Residente do
PNEP e a partir da análise das características sócio-familiares da turma preparámos “o
pontapé de saída” para a história que iria ser construída por aquelas famílias.
Na Escola de Eira Pedrinha: “O tempo estava esquisito e o nosso herói sentia-se
submerso numa enorme melancolia…”(Enquanto recordava o seu tempo de criança,
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resolveu formar um clube de futebol com as crianças que brincavam no recreio da
escola que ficava em frente a sua casa)
Na Escola de Condeixa, na turma do 4º C,: “Passaram depressa estes últimos
anos, na vida do pequeno Jaime. É o seu último dia de aulas…”
Numa outra escola, de uma aldeia onde predominam os pais jovens com baixo
nível de expectativas em relação à escola, mas que em número significativo estão agora
a frequentar os cursos das Novas Oportunidades, a professora optou por falar com uma
família que se disponibilizou a começar a história.
Na Escola de Anobra – “Há muito, muito, tempo dois guerreiros enfrentaram um
dragão de três cabeças. Um destes guerreiros seria S. Jorge…”
Nas restantes turmas as professoras optaram por propor o desafio à turma e
juntos fizeram a selecção duma personagem principal. Depois, alguns deram início à
sua caracterização, outros optaram por localizar a acção no tempo…Enfim, foram
usadas diversas estratégias e foram feitas opções pedagógicas diferentes.
Desta forma surgiram mais 11 motes diferentes que deram origem a histórias
completamente distintas.
Na Escola de Avenal a história teve este começo :
“Há muito, muito tempo, quando os teus trisavós ainda eram vivos e, em algum
lugar, havia um relógio que falava…” (Era um relógio especial companheiro e
confidente da sua dona…)
Na escola de Ega – (nas duas turmas): “Numa bela manhã, a Ritinha acordou
com uma sensação estranha…” Uma é a história do dia –a-dia de uma menina que
frequenta a escola- na outra turma uma aventura num dia de escola…)
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Na Escola do Seball, na turma do 1º e 2º ano: “Era uma vez um pónei branco de
olhos brilhantes, bem pestanudos, a cauda comprida e muito fofa…” (..que viveu
grandes aventuras, numa floresta mágica à procura de seus pais …)
Também na Escola do Sebal, na turma do 3º e 4º ano a história começava assim:
“Era uma vez dois polícias trapalhões que não sabiam como prender os ladrões…”
(prendiam sempre as pessoas erradas e só se metiam em problemas…)
Na Escola de Venda da Luisa: “Era uma vez uma menina que vivia numa casa
muito velhinha…” (… mas tinha uma paixão tão grande por livros que, por não ter
dinheiro para os comprar, resolveu semeá-los… )
Depois do mote estar dado a história começou a sua viagem de casa em casa e de
família em família sempre acompanhada de uma folha que continha as informações
necessárias para a continuação do texto, em questão.
A verdade é que em cada uma das turmas envolvidas e em cada um dos alunos,
se conseguiu criar uma grande expectativa e uma enorme ansiedade para que chegasse a
sua vez de levar a história para casa para que a sua família também desse o seu
contributo. Mas, o mais importante, para nós é que todos, em todas as escolas e em
todas as famílias se mostraram entusiastas e cooperantes durante todo o processo.
3.2 Produto
Finalmente, no dia 1 de Junho de 2009, à noite, na Biblioteca Municipal de
Condeixa-a-Nova, através da apresentação de um pequeno livro que reunia os 11 textos
construídos editado pela Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova que desde o inicio
apoiou o nosso projecto, mesmo sem ter muita certeza do seu resultado - tal como nós –
demos a conhecer o trabalho final a toda a comunidade.
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Porém, o que é realmente relevante é que as famílias responderam positivamente
ao desafio e o produto conseguido foi de uma extrema riqueza. Principalmente, porque
ao longo de todo o processo de construção das histórias foram vários os momentos em
que os professores se reuniram e reflectiram sobre o desenrolar deste desafio.
Aprendemos imenso.
Percebemos que o contributo de um simples parágrafo escrito em família, numa
história colectiva, pode ser revelador de uma maneira de ser e estar em sociedade.
Pode inclusive ajudar a um desabafo e contribuir para a resolução de um problema
pessoal ou familiar.
Tal como escreveu uma das colegas na sua reflexão “(…) Quando li a história
“Uma lição de Vida” , título escolhido no final pela turma, pela primeira vez, em voz
alta, na sala de aula, fiquei perplexa e comovida com o resultado. Em cada parágrafo
estava retratada um pedaço de vida de cda família envolvida na sua produção. Todas
tão diferentes e tão reais!(…)”
Por outro lado, um trabalho assim pode revelar, de alguma forma, a relação que
cada família tem com a leitura e com a escrita. Mas, acima de tudo contribui para a
aproximação da escola à realidade familiar e isso é sempre um dos factores mais
importante. Porque, acima de tudo, nos permite escolher o melhor caminho
pedagógico para mais facilmente responder às necessidades educativas de cada uma
das nossas crianças e simultaneamente, permite às famílias um sentimento de inclusão
que facilita a sua proximidade e confiança, na escola.
Considerações Finais
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Ao concluirmos a nossa intervenção, diremos que este Projecto de Literacia
Familiar, “A escrita mensageira entre a Escola e a Família”, nas escolas do 1º CEB,
do Agrupamento de Escolas de Condeixa-a-Nova, só foi mesmo uma realidade porque
contou, com o envolvimento e a cooperação de 12 Professores que tal como eu
acreditaram ser possível, com a participação efectiva de cerca de 200 famílias do nosso
concelho que foram sem dúvidas as personagens principais, sem elas nada disto teria
existido e, finalmente, com o apoio incondicional da Câmara Municipal de Condeixa-a-
Nova. Para todos e a cada interveniente em especial aqui deixamos o nosso
agradecimento pessoal.
Por tudo isto, continuamos a acreditar que é possível construir uma escola de
qualidade onde cada um – enquanto pessoa e membro de uma comunidade - se sinta
verdadeiramente envolvido, essencial e feliz.
Por um lado é necessário que a família não se demita das suas funções aquando
da entrada na escola dos seus educando. Por outro, é necessário que a escola abra
efectivamente as portas ao envolvimento das famílias, cooperando e co-
responsabilizando-as pelo sucesso escolar de cada um dos seus alunos.
Este foi um desafio que permitiu, a estas famílias, alguns momentos de convívio
e descontracção partilhados com a leitura e a escrita para a construção de uma história
colectiva.
Foi, apenas, um pequeno contributo para a promoção da Literacia Familiar
porque temos a consciência da sua importância para o sucesso sociocultural e
económico do futuro do nosso país.
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EB1 de Condeixa-a-Nova
Família da Turma – 4ºC
Uma lição de VIDA
Passaram depressa estes últimos anos, na vida do pequeno Jaime. É o seu
último dia de aulas…
Jaime está muito triste. Os seus pais estão desempregados porque a
fábrica onde trabalhavam fechou. A distância entre a casa e a escola é
grande e os seus pais não têm dinheiro para lhe pagar o passe do autocarro
e as outras despesas escolares. Jaime terá de ajudar os pais na agricultura.
Mas, como todas as crianças, Jaime depressa esqueceu a sua tristeza
e o problema, que tanto apoquentava a sua família; até porque, o último dia
de aulas anunciava dias de descanso e divertimento na sua aldeia.
Na aldeia do Jaime, para a festa de encerramento do ano escolar, foi
convidado um artista local famoso – Toneca Bimba – para dar um concerto
de música, que ao saber da situação deste menino resolveu dar à sua família
os lucros do evento.
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Este foi o impulso que faltava na vida do Jaime. Foi com a doação
desse concerto, que o Jaime, passou a ter uma casa decente, um
computador, que ele tanto queria, uma playstation para se divertir com os
seus amigos. Assim começava o realizar de alguns dos seus sonhos.
Um dos sonhos que o Jaime gostava de ver realizado era que os seus
Pais arranjassem um emprego, o que veio a acontecer, porque no concerto da
aldeia estava um senhor que tinha um centro hípico e que precisava de um
empregado para o ajudar nas tarefas do dia-a-dia.
Jaime, começava a saber o que era ser Feliz. Passados uns meses, sua
mãe também arranjou trabalho e as suas vidas melhoravam. Jaime regressou
à escola feliz e contente, pois seus pais já lhe podiam dar tudo o que ele
tinha direito.
Apesar de andar muito satisfeito com a sua actual sorte, não esquecia
os tempos difíceis que vivera. Por isso, na escola, tentava aplicar-se ao
máximo, estar com atenção, participar e fazer o seu melhor. Esta atitude
não era muito bem vista por alguns colegas, uma vez que ele, para além se
ser “o menino bonito” dos professores, nunca “alinhava” nas brincadeiras e
ainda por cima tinha o descaramento de lhes dar conselhos: “Sejam
responsáveis!”; “Aproveitem a oportunidade que têm!”; “Estudem!”; “A vida
dá muitas voltas…” Quem é que ele pensava que era?!
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Jaime começava a perceber que as dificuldades por que passara a sua
família fizeram com que deixasse de ser criança. A partir desse dia,
prometeu a si mesmo que nunca mais rejeitaria uma brincadeira, um jogo ou
um convívio, desde que isso não implicasse com o bom andamento das aulas e
o seu sucesso escolar. Os problemas seriam para os adultos porque ele não
abdicaria da sua infância.
É verdade que, lá no fundo, o Jaime não esquecia as dificuldades por
que haviam passado; mas essas memórias contribuíam especialmente para
que desse valor a tudo o que no dia-a-dia ia conquistando e experimentando:
as brincadeiras e traquinices próprias da sua idade; a Amizade dos seus
amigos e companheiros de escola; o Amor dos seus pais e de todos aqueles
que, de uma ou de outra forma, iam entrando na sua vida e davam o seu
contributo para fazer do Jaime aquilo que, afinal ele mais desejava ser: um
Homem bom e de nobre carácter.
Jaime foi crescendo, tornou-se um adolescente com valores muito
próprios, gostava e sentia mesmo uma enorme necessidade de ajudar as
pessoas, talvez por essa mesma razão começou a construir o seu futuro em
torno de uma profissão que lhe iria proporcionar a realização pessoal,
podendo contribuir para o bem-estar dos outros: decidiu ser médico.
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Esta seria a profissão perfeita para poder pôr em prática os seus
desejos e concretizar as suas ambições. O seu “samaritanismo” era assim
mais fácil de aplicar, a medicina proporcionava-o.
Para conseguir tal objectivo, Jaime teria que estudar cada vez mais.
A medicina implicaria excelentes notas para poder ingressar nesse curso. O
nosso protagonista está determinado a atingir esta meta. Além disso já tem
a sua escolha feita, deseja cuidar e cuidar de crianças. Ambiciona ser
pediatra!
Poder vir a ser pediatra fascinava-o. Mas Jaime não queria ser mais
um pediatra que trabalha num hospital todo equipado, ou que tem um
consultório bonito cheio de brinquedos, o seu desejo era bem maior…
Foi então que Jaime decidiu “arregaçar as mangas”…muitos outros
voluntários se juntaram a ele e assim podiam ajudar desde jovens grávidas,
crianças desprotegidas e até mesmo aqueles idosos que estavam tão
sozinhos. Jaime ajudou muitas pessoas ao longo dos anos, como costumava
dizer aos amigos “Somos Todos uma Grande FAMÍLIA!...”
E foi com essa família que o Jaime conseguiu abrir um Centro de
Apoio a Crianças, Jovens grávidas e Idosos. Então a população da Vila
decidiu dar o nome ao Centro de “Fundação Menino Jaime”.
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Sempre preocupado em ajudar os outros, Jaime esqueceu-se de si
próprio, de organizar a sua própria vida, de ter a sua própria família, mas,
essa situação iria alterar-se. Na Fundação apareceu uma rapariga, entre as
muitas que lá chegavam, que lhe chamou a atenção; tinha sido abandonada
pelo namorado quando lhe disse que estava grávida e os seus pais, muito
conservadores, também não aceitaram o facto e puseram-na fora de casa
sem nada…
Mas Jaime, com toda a sua bondade decidiu ajudar a rapariga e
acompanhou-a durante a sua gravidez. No momento em que surgiu o rebento,
Jaime abraçou a criança como se fosse seu filho e ajudou a educá-lo.
Jaime estava pela primeira vez apaixonado…
Pois não teria acontecido isso se não fosse essa rapariga que tanto o
fez pensar, e por fim, pensando ainda um pouco mais, decidiu arranjar uma
casa, onde pudesse estar junto da sua nova família, que ele tanto gostava.
A rapariga que se chamava Joana, também ficou apaixonada pelo
Jaime e começaram a namorar e a criar o bebé. Alguns anos depois casaram
e tiveram um filho, o Joel, ficando assim com dois filhos.
E assim a vida continuou…
Jaime viveu sempre para além da sua morte. Pois, os seus filhos seguiram os
seus passos e continuaram a dar significado à VIDA.
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ESCOLA DE VENDA DA LUISA
Família da Turma B (3º e 4º ano
“A Árvore dos Livros”
Era uma vez uma menina que vivia numa casa muito velhinha. Essa
menina chamava-se Daniela, tinha 21 anos, uns bonitos olhos castanhos,
cabelos ruivos, lisos e compridos, era alta e um pouco magra.
Gostava muito de estudar e ainda mais de ler. Lia todos os livros que
tinha em sua casa. Leu tanto… tanto… tanto… que um dia acabaram os
livros...não tinha mais livros para ler.
Então, começou a pensar numa maneira de resolver este problema.
Pensou… pensou… pensou… e lembrou-se de começar a cultivar livros.
Tirou da estante o seu livro preferido, pegou nas ferramentas
necessárias e foi para o jardim.
Abriu um buraco e semeou-o. Todos os dias, a menina regava o livro
que tinha semeado.
Com a chegada da Primavera, começou a nascer da terra uma pequena
planta. Dia após dia, a pequena planta começava a tornar-se numa bela e
grande árvore.
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Certo dia, como de costume, a menina, pela manhã, foi visitar a sua
árvore. Os seus olhos castanhos brilharam mais do que o Sol, pois a árvore
estava cheia de magníficos livros, que nunca tinha visto.
Sem perder mais tempo, a menina, que estava tão encantada com os
livros que a árvore lhe tinha dado, começou a lê-los.
Ao ler um dos livros, algo a fez pensar que se calhar havia muitos mais
meninos pobres, com interesse na leitura e sem livros para ler. Começou,
então, a plantar mais livros para assim poder distribuí-los pelos meninos de
todo o Mundo.
Passado algum tempo, depois de ter colhido todos os livros, a Daniela
resolveu ir pedir à sua melhor amiga, a Rita, que a ajudasse a entregar os
livros ao maior número de meninos que conseguissem encontrar.
Começaram, logo, pelos da sua aldeia. Ao entregar o primeiro livro,
sentiram-se muito contentes. Pois, sentiram que tinham feito com que
alguém ficasse feliz. Apenas com um gesto tão simples, como o de dar, e a
felicidade começava a espalhar-se!
Lá continuaram as duas a entregar livros, até à próxima paragem…
Algum tempo, depois, a Daniela sentou-se numa pedra, cansada de tanto
andar e, aí, acabou por adormecer.
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Quando acordou, correu a contar à Rita, uma ideia que tinha tido. Ela
tinha descoberto que, afinal, os meninos possuíam a maior riqueza do Mundo,
o gosto pela leitura, e elas precisavam continuar a cultivá-lo.
No dia seguinte, a Daniela pensou em fazer algo diferente… E, se
pensou, melhor o fez, formou um Clube de Leitura. Pois, sabia que o clube
também iria ajudar todas as pessoas que não sabiam ler.
As duas amigas, escolhiam, todos os dias, uma pequena história e
contavam-na para as crianças e idosos.
- Os livros dão-nos muita sabedoria - dizia a Daniela.
Noutro dia, a Daniela descobriu um livro muito interessante.
Tratava-se de uma história romântica. Ela pediu à sua amiga Rita que o lesse
no Clube de Leitura.
O Clube de Leitura tornou-se num local de encontro de todos os
habitantes da aldeia onde ouviam as histórias e contavam as suas próprias
histórias. E foi através desse clube, e das lindas histórias que a Daniela e a
Rita liam, que as pessoas daquela aldeia, aquelas que nunca tinham andado na
escola, tiveram uma grande ideia: pedir às duas amigas que as ensinassem a
ler e a escrever. Sem pestanejarem, elas aceitaram o desafio. Era
maravilhosa, a ideia, e iria dar-lhes muito prazer. Pediram, então, a todos os
que quisessem aprender, e também a quem o já sabia fazer, que
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comparecessem junto à árvore dos livros, todos os dias, depois do almoço.
Para espanto delas, logo da primeira vez, toda a aldeia estava presente!
A aldeia foi crescendo, construíram-se escolas e até universidades.
Todos querem estudar lá. Crê-se que hoje, a aldeia, que entretanto já é uma
cidade, é a mais letrada do país, onde o simples acto de ler tornou as
pessoas mais felizes e melhores cidadãos. Fim
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