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Saúde Coletiva e

Promoção da Saúde
Professora Me. Andressa Lorena Ieque
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

L616s Leque, Andressa Lorena


Saúde coletiva e promoção da saúde / Andressa Lorena
Leque. Paranavaí: EduFatecie, 2021.
127 p. : il. Color.

1. Saúde pública - Brasil. 2. Sistema Único de Saúde. 3.


Promoção da saúde. I. Centro Universitário UniFatecie.
II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.

CDD : 23 ed. 614.0981


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Revisão Textual
Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Kauê Berto

Projeto Gráfico, Design e


Diagramação
André Dudatt
AUTORA

Professora Me. Andressa Lorena Ieque

● Mestre em Ciências da Saúde (Universidade Estadual de Maringá);


● Doutorado em andamento (Universidade Estadual de Maringá);
● Bacharel em Biomedicina (UEM);
● Professor de pós-graduação na Faculdade Eficaz;
● Docente de cursos de graduação Biomedicina, Farmácia, Fisioterapia
e Nutrição na UniFatecie.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4780393744371602


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!

Prezado(a) aluno(a), vamos iniciar agora uma jornada de conhecimento na disciplina


de Saúde coletiva e Promoção da saúde. Juntos, iremos compreender o modo geral o funcio-
namento da saúde pública de nosso país, algumas particularidades do sistema de saúde e
processo de construção de como os serviços de assistência à saúde chegam até a população.
Na unidade I, definiremos alguns conceitos importantes relacionados à saúde e a
história natural das doenças. Nesse contexto, será feita uma contextualização de como a
epidemiologia está intimamente interligada com a promoção da saúde. Além disso, conhe-
ceremos também um pouco da história da saúde no mundo e no Brasil, para entender o
processo de evolução sanitária até os dias atuais.
Na unidade II começaremos o estudo sobre o modo de funcionamento do nosso
sistema de saúde público, o Sistema Único de Saúde (SUS), desde a sua implantação.
Alguns movimentos históricos serão ressaltados, pois eles explicam os motivos pelos quais
o SUS atua sob alguns princípios e diretrizes. Ainda nessa unidade, serão apresentadas
algumas classificações de atenção à saúde, e como elas são organizadas na distribuição
de serviços de acordo com os princípios e diretrizes do SUS.
Na unidade III continuaremos caracterizando o serviço público de saúde, dando
destaque para uma de suas principais estratégias de assistência à saúde: a estratégia
saúde da família. Nesse sentido, vamos definir quais profissionais fazem parte dessa estra-
tégia, como eles atuam, em quais locais, suas principais fontes e formas de financiamentos
e também seus principais desafios.
Na unidade IV, complementaremos o nosso aprendizado sobre saúde coletiva atra-
vés de noções de epidemiologia. Vamos conhecer também sobre os sistemas de informação
e como eles contribuem para o funcionamento do SUS, permitem o estudo de doenças e
implantação de estratégias de saúde pública que proporcionam melhorias coletivas.
Espero contribuir para a sua formação profissional, além de proporcionar o desenvol-
vimento de uma visão crítica e reflexiva sobre o funcionamento dos serviços de saúde pública.

Muito obrigado e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde

UNIDADE II.................................................................................................... 31
O Sistema Único de Saúde

UNIDADE III................................................................................................... 53
A Equipe Saúde da Família e seus Núcleos de Apoio

UNIDADE IV................................................................................................... 84
Noções de Epidemiologia
UNIDADE I
Introdução à Saúde Coletiva
e Promoção da Saúde
Professora Me. Andressa Lorena Ieque

Plano de Estudo:
● Conceitos importantes de saúde e história natural da doença;
● Contextualização da epidemiologia e promoção da saúde;
● Cronologia histórica da saúde coletiva no mundo e no Brasil.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a saúde coletiva ao que diz respeito à
aplicação da promoção da saúde e da epidemiologia;
● Compreender os diferentes conceitos de saúde e a abordagem
de um modelo de história natural da doença;
● Estabelecer a importância de fatores sociais, políticos, econômicos e
culturais para o estado de saúde individual e coletivo;
● Conhecer os aspectos históricos da evolução da saúde coletiva no
contexto de surgimento da Reforma sanitária.

3
INTRODUÇÃO

Olá caro (a) aluno (a)! A partir de agora daremos início à disciplina Saúde coletiva
e promoção à saúde. Nesta primeira unidade, faremos uma breve introdução sobre nosso
campo de estudo através da abordagem de uma diversidade de conhecimentos que integram
a saúde coletiva. Nesse sentido, iremos destacar os principais fatores que podem influenciar
diretamente ou indiretamente o estado de saúde de um indivíduo ou de toda uma sociedade.
Para compreendermos tudo isso de forma integral, o primeiro tópico buscará de-
finir alguns conceitos e ideias importantes aplicados na área da saúde. Dessa forma será
fornecida uma base de conhecimento teórico para posterior aplicação na compreensão de
conhecimentos mais específicos e práticos de saúde pública.
Nos próximos tópicos, vamos apontar alguns acontecimentos históricos que de
alguma forma contribuíram para o progresso do campo de estudo da saúde coletiva, e
como, principalmente ideias de promoção da saúde, nortearam a implementação de novas
políticas de saúde no mundo e no Brasil.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 4


1. CONCEITOS DE SAÚDE E HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA

A saúde coletiva é um campo de estudo muito complexo, que envolve conhecimen-


tos diversos relacionados à saúde individual e da coletividade. Para compreendê-la, será
necessário levar em consideração muitos fatores que se interconectam para o estabeleci-
mento de um estado de saúde. Esses fatores comumente são chamados de “determinantes
sociais, políticos, econômicos e culturais e estão associados ao meio em que os indivíduos
se encontram na convivência como sociedade, influenciando diretamente ou indiretamente
na saúde de forma geral (PAIM e FILHO, 2014; MOTA e SCHRAIBER, 2015).
Quando falamos em saúde individual, estamos nos referindo à saúde de uma
pessoa considerando esta como um ser único e independente. Já no que diz respeito à
saúde coletiva, consideramos a saúde de todas as pessoas que estão compartilhando o
mesmo ambiente para viver em sociedade. As duas abordagens são muito importantes, de
forma que ao considerar o individual estamos valorizando as particularidades de cada um,
geralmente relacionadas a fatores biológicos, enquanto o coletivo estudará a interação de
todos outros fatores que podem implicar na saúde de um grupo de pessoas.
Neste contexto, a saúde coletiva busca assimilar todo esse conjunto de informa-
ções para estabelecer e aplicar políticas e práticas de saúde que culminem na promoção
da saúde e prevenção de doença e outros agravos. A figura abaixo representa de forma
resumida os principais componentes da saúde coletiva:

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 5


FIGURA 1 - PRINCIPAIS COMPONENTES DA SAÚDE COLETIVA

Fonte: O autor (2021).

Ao refletirmos sobre a diversidade de fatores envolvidos na definição de saúde co-


letiva, poderíamos classificá-la então como um campo de estudo muito variável e mutável.
Podemos imaginar, então, a diversidade de ambientes que existem no mundo e como cada
fator contribuirá de forma singular para estabelecer um estado final de saúde. Toda essa
reflexão é muito heterogênea e, por isso, precisamos assimilar cada um desses pontos
e como eles interagem para compreender de fato a saúde coletiva. Nesse sentido, res-
saltamos a importância de iniciar o nosso conteúdo introduzindo alguns desses conceitos
importantes que servirão como suporte para aplicação de conhecimentos práticos no futuro.
Seguindo a figura como base para definição dos conceitos mais importantes, va-
mos definir agora o que é promoção e prevenção. A promoção pode ser definida em um
conceito mais amplo ou mais restrito, no conceito mais amplo, a promoção da saúde é
um processo que tem como objetivo alcançar e manter um estado de bem-estar na vida
das pessoas e da comunidade. Já no conceito mais restrito, a promoção da saúde está
ligada à compreensão e prática de ações preventivas para evitar o surgimento de doenças
específicas (ANDRADE et al., 2017).
A prevenção representa um conjunto de medidas aplicadas de forma precoce com
fim de evitar que algo aconteça. Ao observamos o conceito mais restrito, a prevenção está
interligada à promoção da saúde, de forma que através dessas ações de prevenção pode-
mos evitar que doenças atrapalhassem esse estado de bem-estar social (ANDRADE et al.,
2017; PREVENÇÃO, 2021).

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 6


A maioria dos componentes da saúde coletiva (Figura 1) já foram definidas, mas
ainda falta pensarmos sobre a definição da palavra “saúde”. Apesar de aparecer no topo da
figura, deixamos essa definição para o final e isso não foi por acaso, mas sim por motivo de
exigir uma atenção ainda maior. Então, afinal, o que é saúde? Seria fácil ou difícil para você
defini-la? O conceito de saúde é concreto ou depende do ponto de vista?
A definição de saúde faz parte de um processo maior que representa o progresso na
área da saúde coletiva, e que foi construído com o passar dos anos principalmente através
da observação de práticas direcionadas ao combate de doenças. Esse processo contou
com a participação de muitos pesquisadores e filósofos, que contribuíram para estabelecer
com maior clareza alguns conceitos e ideias importantes no âmbito da promoção à saúde.
Nesse contexto, temos duas vertentes conceituais para definir o que é saúde, a vertente
filosófica e a de fenômeno natural, que veremos a seguir.

1.1 Vertente filosófica


O processo de definição de saúde iniciou na antiguidade e contou com diversos
pensamentos filosóficos como o citado acima. Vamos conhecer alguns desses pensamen-
tos e como eles contribuíram para o processo de definição do conceito de saúde.
Iniciando com o filósofo Platão, este defendia que a definição de saúde era uma
oposição entre virtude e vício. A virtude relacionava-se com a saúde, a beleza e uma boa dis-
posição de ânimo, enquanto o vício referia-se à doença, feiura ou fraqueza. O filósofo René
Descartes defendia que a saúde era resultado da união e confusão entre mente e corpo, em
que sensações de dor, sofrimento, sede, fome e felicidade eram tão importantes quanto o
funcionamento do corpo, considerando seus órgãos e sistemas (PAIM e FILHO, 2014).
Immanuel Kant contribuiu com duas perspectivas diferentes, a perspectiva tera-
pêutica e a dietética. A terapêutica referia-se à clínica associada à doença, de forma que
a supressão ou eliminação da doença era o ponto principal a ser levado em consideração.
Já na dietética, Kant ressalta a prevenção associada à saúde, defendendo a aplicação da
racionalidade científica para evitar a ocorrência da doença (PAIM e FILHO, 2014).
Georges Canguilhem discorreu sobre a doença estar relacionada ao patológico,
que significava o contrário de sadio. Para ele, a saúde era individual, privada e subjetiva,
sendo que sua validação deveria ser realizada através do contato entre o doente e o seu
médico. Sua linha de defesa dificultava a valorização da saúde como ciência, pois não seria
possível determinar a saúde pela aplicação de instrumentos e protocolos padronizados
(PAIM e FILHO, 2014).

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 7


O filósofo Hans-Georg Gadamer desenvolveu pensamentos similares aos de Can-
guilhem, ressaltando que a saúde tinha caráter privado, pessoal e radicalmente subjetivo,
e não poderia ser reduzida a um objeto da ciência. Em contrapartida, sua proposição de
que “A saúde é inapelavelmente totalizante porque seu conceito indica diretamente integra-
lidade ou totalidade”, contribuiu para um avanço na formulação alternativa de saúde como
ciência (PAIM e FILHO, 2014).
Apesar de considerar a saúde como subjetiva, Canguilhem também defendia que
a saúde tinha relação com a genética, história de vida e relação do indivíduo com o meio.
Neste sentido, a definição de saúde como subjetiva não impedia seu estudo como objeto
científico e daí surgiu uma visão de saúde pública (científica), como complemento da saúde
individual (subjetiva). Mais tarde, teríamos esse conceito aplicado ao que hoje chamamos
de saúde coletiva (PAIM e FILHO, 2014).

1.2 Vertente de fenômeno natural


Essas concepções filosóficas direcionaram o olhar para a saúde como fenômeno
natural que pode ocorrer em diferentes níveis, o coletivo e o individual. O coletivo refere-se
à saúde populacional e social, e o individual considera a subjetividade e a clínica do pa-
ciente. A aplicação da ciência nesse contexto coletivo depende de outro campo de estudo
denominado epidemiologia.
No próximo tópico desta unidade, veremos como a epidemiologia considera a inte-
ração de diversos fatores para determinar a instalação de saúde ou de doença, através da
aplicação de análises matemáticas.
A partir do século XIX, com a evolução científica e tecnológica, cada vez mais era
possível o estudo da saúde através da utilização de métodos de pesquisa experimentais
e também do desenvolvimento de disciplinas específicas, como por exemplo, a fisiologia e
a imunologia. Desde tempos anteriores a esse período, existia uma linha de pensamento
criada por Hipócrates, de que a saúde estava associada a um estado de equilíbrio enquanto
a doença, a um estado de descompensação.
Essa linha de pensamento foi confirmada por Claude Bernard, através de medicina
experimental na área de fisiologia sistêmica. Através do estudo das bases moleculares,
Bernard relacionou esse equilíbrio com a homeostase, um mecanismo de estabilidade
utilizado pelo corpo humano para o desenvolvimento de funções fisiológicas.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 8


Outra perspectiva interessante na contribuição do conceito de saúde foi a de Darwin,
que considerou o contexto da evolução para compreender doenças infecciosas. Para Darwin,
a infecção era um acidente na competição entre duas espécies, na qual o início seria marca-
do por uma enfermidade grave e até mesmo mortal, porém, evoluiria para um estado mais
ameno devido à adaptação natural entre dois organismos após um período longo de tempo.
Esse conceito explica algumas relações de parasitismo, oportunismo e comensalismo que
são aplicados na compreensão de saúde na medicina moderna (PAIM e FILHO, 2014).
Paim e Filho (2014) classificam as definições de saúde sob o contexto de fenômeno
natural em quatro classes: a doença como excesso ou falta, a saúde como funcionalidade,
a saúde como ausência de doença e a saúde como processo.
Na doença como excesso ou falta, para estabelecer um estado de “não saúde”,
devemos nos basear na exacerbação ou redução das funções normais. Um exemplo que
ilustraria muito bem esse caso seria a doença diabete, no qual o seu diagnóstico e te-
rapêutica baseia-se no aumento ou diminuição da concentração de glicose no sangue.
Sob condições normais, um indivíduo deveria manter uma quantidade ideal de glicose no
sangue, através de funções fisiológicas, para garantir o funcionamento de todos os outros
sistemas interligados.
Entretanto, na doença diabetes o indivíduo desenvolve alterações que impossibilita
o controle dessa concentração, de forma que a glicose ocorrerá em excesso (hiperglicemia)
ou falta (hipoglicemia) caracterizando um estado de desequilíbrio. Nesse caso, a cura da
doença para estabelecer um estado de saúde é dependente do reequilíbrio dos processos
metabólitos e sistêmicos, buscando a concentração ideal de glicose plasmática.
Na saúde como funcionalidade, temos o termo saúde associado à normalidade e o
termo doença à patologia. O termo funcionalidade relaciona-se ao funcionamento normal
do organismo de forma eficiente para culminar em um estado normal, e consequentemente,
saudável, em contrapartida, a patologia está associada à ineficiência da função normal.
No caso da saúde como ausência de doença, a saúde individual é definida como
uma capacidade ótima de desempenhar funções sociais devido à ausência de doença.
No entanto, o conceito coletivo de saúde não é valorizado, visto que a definição enfatiza
apenas os níveis individuais de saúde.
Por fim, a saúde como processo baseia-se em modelos que tentam esquematizar
as inter-relações dinâmicas entre determinantes sociais e características intrínsecas do
indivíduo. Esse tipo de abordagem da saúde é o que representa de forma mais completa
a realidade da saúde coletiva. Existem vários modelos diferentes, todos com relevante
complexidade intrínseca, e por isso, vamos selecionar apenas um destes para entender o
processo de saúde-doença: o modelo de História Natural da Doença (HND).

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 9


1.3 O modelo de História Natural da Doença
O modelo de história natural da doença ilustra a evolução dos processos patológi-
cos em dois períodos, o período de pré-patogênese e o de patogênese. O período pré-pa-
togênese ocorre anteriormente ao período de patogênese, sendo que ambos se relacionam
e se complementam. Na pré-patogênese, o sujeito está exposto a vários elementos que
são determinantes para a instalação de doença. Esses elementos (agente, suscetibilidade
e ambiente) interagem entre si para promover um estímulo ao indivíduo, que culminará na
doença no período de patogênese (Figura 2).

FIGURA 2 - DIAGRAMA DO MODELO DA HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA

Fonte: Adaptado de Leavel e Clark, 1976; Paim e Filho, 2014.

Portanto, podemos definir o primeiro período como um estágio de preparação para


a doença, em que o indivíduo se encontra não sintomático e não doente. Vale ressaltar que
dentro de cada um desses elementos existem variáveis que devem ser levadas em conside-
ração para determinar o estímulo. Por exemplo, o agente pode ser um animal, um parasita,
uma bactéria ou uma toxina produzida por esta, entre outros que diferem muito entre si.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 10


A suscetibilidade é intrínseca do indivíduo, além de em alguns casos depender
do agente envolvido. Por exemplo, uma pessoa idosa naturalmente apresenta problemas
de imunidade e consequentemente estará mais suscetível a desenvolver uma gripe grave
após contato com um vírus (agente) que pode ser inofensivo para outras pessoas.
O meio pode envolver fatores relacionados ao território geográfico e ainda fatores
sociais, políticos, culturais e econômicos que podem afetar diretamente ou indiretamente
na suscetibilidade individual. Por exemplo, um bairro pobre, condições precárias de higiene,
de moradia e/ou alimentação, podem determinar um maior risco para desenvolvimento de
doenças de cunho social.
Casos de parasitoses intestinais podem acontecer com maior frequência em am-
bientes que não apresentem condições básicas de higiene, como tratamento de água e
rede de esgoto. Porém, não bastam as condições ambientais, sendo necessária a presença
de um parasita para causar a doença. Nós poderíamos pensar em diversas situações di-
ferentes ao mudar qualquer um dos fatores dos três elementos (agente, suscetibilidade e
meio), mas não podemos nos esquecer de que um está interligado ao outro e a interação
deles pode determinar estímulos diferentes.
Todos esses fatores quando interagem criam um espaço heterogêneo e carac-
terístico de cada região ou período. O diagrama facilita a organização de ideias, mas
precisamos compreender onde cada elemento se encaixa. Após a integração de todos os
elementos e o estimulo ter sido desencadeado, podemos partir para o período de pato-
gênese, no qual observamos o início das alterações nos tecidos e sintomas da doença,
determinando o horizonte clínico.
Repare que o desfecho da doença pode ser recuperação ou cura, defeito ou invalidez
(sequela) e morte. Poderíamos adicionar ainda, os casos de doenças que evoluem para a
cronicidade. Até aqui, conseguimos visualizar a parte superior do diagrama, mas observe que
abaixo desses dois períodos ainda temos os níveis de aplicação das medidas preventivas.
A atenção primária preocupa-se com a promoção da saúde de forma a evitar o
desenvolvimento de doenças, e por esse motivo, encontra-se logo no início pareado ao
estado de pré-patogênese, no qual o indivíduo ainda não adoeceu.
Neste ponto, podemos aplicar práticas de saúde que ajudem na prevenção de
doenças. A prevenção primária nesse diagrama está dividida em promoção da saúde e
proteção específica, de forma que o primeiro termo se refere ao desenvolvimento de práti-
cas que incentivem a saúde de forma geral, como através do incentivo de uma alimentação
saudável e a prática de exercícios físicos.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 11


Já o segundo termo, a proteção específica, refere-se a medidas direcionadas a um
problema em particular. Para ilustrar essa medida preventiva específica, podemos utilizar o
exemplo da pessoa idosa que ao ter sido exposta a um vírus poderia desenvolver um caso
sério de gripe. Uma forma de evitar essa situação seria através de incentivar os idosos a
utilizarem máscara quando fossem ficar expostos à ambientes com aglomeração de pes-
soas, ou ainda, no caso da gripe temos a vacinação disponível no serviço público de saúde.
Depois que o período de patogênese se inicia, observamos que a prevenção muda
para a secundária. Isto acontece porque o indivíduo já contraiu a doença e, portanto, de-
vemos aplicar técnicas de diagnóstico e de tratamento imediato. Além disso, nos casos
em que a doença determina algum tipo de sequela ou invalidez, precisamos desenvolver
medidas que limitem essa incapacidade social.
Por fim, temos a reabilitação do paciente buscando estabelecer todas as suas
capacidades de forma mais completa possível para que ele consiga ter qualidade de vida.
Veremos nas próximas unidades que essas medidas de prevenção, diagnóstico, tratamento
e reabilitação envolvem várias características específicas, e em alguns casos, são classifi-
cadas de forma diferente.
A compreensão desse diagrama traz uma ideia de como a saúde coletiva é aplicada
de forma ampla em nosso cotidiano. Durante os próximos tópicos vamos tentar reunir todas
essas informações no contexto da área profissional da saúde. Vale ressaltar também que
desde já conseguimos perceber a importância da comunicação multiprofissional, visto que
cada elemento pode tornar-se muito complexo e lidar com eles de forma conjunta pode facili-
tar a compreensão, além de contribuir para instalação de medidas de saúde mais completas.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 12


2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA E PROMOÇÃO DA SAÚDE

Neste tópico vamos conhecer um pouco sobre a história da saúde, explorando


quais foram os principais fatores envolvidos no processo de evolução da saúde coletiva
e como a epidemiologia e a promoção da saúde surgiram nesse contexto. Essa evolução
ocorreu de forma natural e gradual com o passar do tempo, perante diferentes momentos
políticos, sociais, econômicos e culturais que contribuíram na mudança no modo de pensar
e nas ações de saúde.
Por muito tempo, as antigas civilizações associaram o surgimento de doenças a
causas naturais e divinas enviadas por Deuses como forma de punir o ser humano. Esse
pensamento começou a mudar com os gregos, que desenvolveram um olhar mais racional
e científico, e passaram a associar as causas das doenças ao clima e ao ambiente físico.
Foi nessa época que surgiu o pensamento de que a doença era resultante do desequilíbrio
entre algumas funções corporais e a natureza (ROSEN, 1994).
Os médicos desse período trabalhavam com um olhar sanitarista e acreditavam que
a saúde residia na harmonia entre o homem e o ambiente. Para eles, os fatores físicos do am-
biente tinham forte influência sobre o corpo humana, além disso, também defendiam a prática
da higiene e de uma nutrição equilibrada para manter uma vida saudável (ROSEN, 1994).
Complementando esse modo de pensar, os romanos foram os principais respon-
sáveis pelo aprimoramento de condições sanitárias através do desenvolvimento de um
sistema de suprimento de água por aquedutos, que permitia o transporte e utilização de

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 13


água à distância. Esse sistema de suprimento permitiu a distribuição de água para fontes,
banheiros e outras estruturas públicas, contribuindo para as necessidades básicas da vida
civil (ROSEN, 1994).
Graças às instalações públicas acessíveis, os romanos adquiriram o costume de
tomar banho regularmente, sendo comum encontrar ambientes com salas para banhos. In-
clusive, alguns autores defendem que algumas epidemias da época ocorreram com menor
frequência e duração devido ao sistema de suprimento de água, ao cuidado com o destino
de água de esgoto e também à prática de tomar banho (ROSEN, 1994).
O período seguinte, conhecido como Idade Média, foi marcado por um pensa-
mento baseado na cultura cristã e a pessoas buscavam combater as doenças através da
religião. Além disso, os povos enfrentaram muitas epidemias graves que tiveram grande
impacto na saúde pública, como a peste bubônica, a lepra, a varíola, a tuberculose e
muitas outras (ROSEN, 1994).
Apesar da forte crença de que as doenças estavam associadas ao pecado, outras
ideias que surgiram também contribuíram para o avanço na área sanitária. A preocupa-
ção da população em viver mais veio acompanhada de regulamentações como medidas
preventivas acerca da higiene, nutrição, inspeção de alimentos, cuidados pessoais com
habitação, limpeza e sono. Na área da nutrição, começaram a associar doenças com o
consumo de alimentos estragados e instituíram como medida preventiva a inspeção de
alimentos (ROSEN, 1994).
Nessa época, a assistência médica evoluiu com a divisão da classe médica em
clínicos, cirurgiões e itinerantes. Além disso, também surgiram construções de hospi-
tais e instituições beneficentes para atender grupos especiais como idosos, homens,
mulheres e crianças, marcando o início do que se concretizou mais tarde como grupos
de atenção (ROSEN, 1994).
O século XIX, também conhecido como Renascimento, é o período de maior
crescimento para a área da saúde. O contexto da revolução tecnológica e industrial impul-
sionou o estudo sobre o corpo humano e doenças e ficou marcado por teorias científicas
importantes (ROSEN, 1994).
A fisiologia e anatomia humana desenvolveram-se a partir de técnicas de disse-
cação, e juntamente com a epidemiologia, ofereceu suporte para a descrição de doenças.
E a partir daí, o caminho para implementação de medidas de controle de saúde pública
específicas foi aberto e cada vez mais explorado (ROSEN, 1994).

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 14


O Estado começou a considerar que o bem-estar da sociedade era equivalente ao
bem-estar do Estado, uma vez que uma população saudável representava maior produtivi-
dade, contribuindo para o crescimento da indústria e consequentemente, do país como um
todo. Nesse sentido, o Estado passou a buscar a aplicação de métodos estatísticos para
análise dos problemas de saúde. O principal ponto de investigação correlacionava taxa
de nascimentos e de mortes segundo as estações do ano e locais de moradia. Assim, a
epidemiologia começou a ganhar mais força fundamentada no grande interesse econômico
do Estado (ROSEN, 1994).
O avanço de técnicas de isolamento e manuseio de organismos microscópicos
permitiu o estudo de vários agentes e descobertas sobre mecanismos de transmissão de
doenças infecciosas. Vários pesquisadores marcaram a história com contribuições relevan-
tes, como Jacob Henle, Louis Pasteur, Antonie Villemin, Robert Koch, Joseph Lister, entre
outros. Robert Koch foi o primeiro a elucidar a história natural de uma doença, provando
todo o ciclo da tuberculose desde a sua origem microbiana e marcando o nascimento da
bacteriologia (ROSEN, 1994).
Louis Pasteur descobriu que era possível alterar a virulência dos micróbios e,
baseado nos princípios da vacinação da varíola por Edward Jenner, passou a defender a
prevenção de doenças através da produção de vacinas com cepas atenuadas de microrga-
nismos. Nesse contexto, a imunologia ganhou força com a elucidação e desenvolvimento
de testes diagnósticos e da imunização ativa e passiva, impulsionando vários estudos
experimentais de vacinação (ROSEN, 1994).
Baseado em estudos de Pasteur, Devaine e Koch, Joseph Lister associou organis-
mos vivos a causas de infecções e mortes cirúrgicas. A partir disso, os desinfetantes quími-
cos começaram a ser utilizados para assegurar um campo operatório estéril nas cirurgias,
evoluindo para o princípio da assepsia que ajudou a saúde pública no controle de doenças
transmissíveis (ROSEN, 1994).
Os conceitos de portador humano e de vetor animal preencheram uma das últi-
mas lacunas no esclarecimento de transmissão de doenças. Assim, foi descoberto que
pessoas não doentes poderiam contribuir para o contágio de doenças e que esse contágio
poderia ocorrer através de insetos e outros animais. Os ciclos de doenças passaram a ser
elucidados de forma detalhada, permitindo a atenção em focos específicos para impedir a
evolução das doenças. Essas observações permitiram desenvolver ações de promoção à
saúde e de vigilância, unificando vários pontos da saúde coletiva (ROSEN, 1994).

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 15


Agora que já contextualizamos como a epidemiologia e a promoção da saúde de-
senvolveram-se no decorrer do processo evolutivo e histórico, vamos conhecer quais fatores
influenciaram na transformação dos serviços de assistência à saúde e na criação de políticas
públicas. Apesar do enredo dessa transformação, seguir o mesmo padrão em diferentes
partes do mundo existem particularidades relevantes específicas do nosso país. Portanto,
iremos dividir o nosso estudo cronológico da história da saúde no mundo e no Brasil.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 16


3. CRONOLOGIA HISTÓRICA DA SAÚDE COLETIVA NO MUNDO

O século XIX representa o momento chave da revolução da saúde pública, sendo


marcado por mudanças na administração da saúde pública e fundação do movimento sani-
tário. O contexto histórico era o da Revolução Industrial, que ocorreu com grande força na
Inglaterra e causou muitos efeitos nocivos, desencadeando movimentos de saúde pública
de forma mais precoce nessa região. Por esse motivo, daremos ênfase aos acontecimentos
da Inglaterra para entender o início da reforma sanitária no mundo.
As fábricas e indústrias surgiram nas metrópoles e desencadearam a migração
de muitos trabalhadores para essas cidades, em busca de trabalho. As condições de den-
tro de fábricas e o desenvolvimento de centros urbanos sem planejamento trouxe novos
problemas de saúde. Os mais pobres viviam em cortiços pequenos, amontoados e mal
ventilados, em condições precárias e miseráveis. A maioria das casas não possuía privada
e as práticas de higiene tornaram-se um problema insalubre, além de o Estado demonstrar
pouco interesse em tomar medidas sanitárias.
As doenças que ameaçavam o período eram principalmente a peste, a febre
amarela e a varíola, entre estas, a varíola merece atenção especial, pois foi a principal
responsável por causar altas taxas de mortalidade infantil. Daí surgiu a necessidade de
combatê-la através da prevenção, seguindo os princípios do pioneiro da vacinação, o
médico inglês Edward Jenner.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 17


Algumas outras doenças importantes eram a cólera, a disenteria e a febre tifoide,
todas estas doenças intestinais transmitidas através de água e alimentos contaminados. A
difteria, a escarlatina e o sarampo também tinham relação com as condições precárias de
moradia e higiene, visto que aglomerados facilita a difusão e ocorrência de surtos.
A luta contra os problemas trazidos pela industrialização na maioria das vezes
surgia de um padrão que partia do reconhecimento de um mal social por um pequeno
grupo influente, que se organizavam pautados em uma iniciativa, estudos, experimentos ou
melhorias, e levava essa agitação até os olhos do governo. Desse movimento, esperava-se
que o governo agisse de alguma forma, do contrário, recorria-se à legislação.
Os primeiros movimentos surgiram da exigência de melhorias das condições de
trabalho precárias e miseráveis nas minas e fábricas, além da proteção ao trabalho infantil.
Várias associações e hospitais beneficentes foram criados com focos especiais de atendi-
mento, como por exemplo, o Hospital de Londres que atendia principalmente manufaturei-
ros, marinheiros e seus familiares, o Hospital de Middlesex para atendimento de pessoas
com varíola e o Hospital de São Lucas, voltado para pacientes com doenças mentais.
O Estado começou então a visualizar a necessidade de atenção à saúde da po-
pulação pobre, uma vez que estes não tinham condições de pagar por serviços médicos,
e representavam a mão de obra das indústrias. Em 1834, a Inglaterra aprovou a Lei dos
Pobres, na qual o governo era responsável por dar assistência aos pobres.
Com o tempo, perceberam que essa além dos custos altíssimos, contribuía para a
diminuição da oferta de trabalhadores para a indústria, já que os pobres desempregados
estavam sendo sustentados por essa lei. Assim, uma Nova Lei dos Pobres foi formulada,
e a assistência passou a ser limitada a pessoas que não tivessem capacidade física de
exercer o trabalho e aos que vivessem em situações mais miseráveis.
Dentro dessa renovação da Lei dos Pobres, Edwin Chadwick propôs o uso de
informações estatísticas para relacionar a saúde às condições sociais e físicas da vida dos
pobres, com o intuito de prevenir de doenças, e consequentemente, melhorar o aspecto
econômico. Nesse cenário de desamparo, imundície, pobreza e doença, impulsionada em
sua maior parte pelo interesse econômico do governo, iniciou-se a reforma sanitária, pois
preservar o trabalhador era essencial o crescimento industrial.
Como vimos no tópico anterior, os estudos epidemiológicos de doenças estavam
em alta e, através deles, era possível relacionar as condições de saúde com dados geo-
gráficos sobre o clima e modo de vida dos habitantes. Com esse campo já relativamente
desenvolvido, as doenças podiam ser estudadas de forma direcionada e, em seguida,
campanhas de saúde poderiam ser aplicadas com foco específico.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 18


O ponto que marcou esse início da reforma sanitário foi justamente a aplicação
de inquéritos populacionais, em que Chadwick especificou os achados e descreveu quais
ações deveriam ser tomadas para resolver os problemas. As medidas propostas resultantes
dessa análise foram as seguintes:

● O estabelecimento de corpos de saúde em comunidades urbanas;


● A nomeação de um inspetor nas cidades grandes, que fosse responsável
por exigir o cumprimento das regras sanitárias;
● A aprovação de um ato de sistema de esgotos;
● A aprovação de um ato para regular as construções futuras;
● Atenção especial para o sistema de abastecimento de água, que deveria
ser amplo e inspecionado (ROSEN, 1994, p. 174).

Após muitas investigações, foi apresentada a recomendação de uma nova legis-


lação, surgindo uma proposta de que o governo seria o responsável por regulamentar
a situação sanitária de todas as comunidades urbanas. Apesar de todo o conhecimento
adquirido sobre os problemas sanitários, a falta de instrumento administrativo impedia que
esses problemas fossem solucionados. Havia a necessidade de um departamento central
de saúde que organizasse o processo de mudança.
Assim, criaram o Conselho do Governo Local e aprovaram o Ato de Saúde Pública,
que dividiu o país em distritos sanitários que deveriam ser supervisionados pelo Conselho
do Governo Local. Esse sistema foi o primeiro a demonstrar capacidade suficiente para
combater os problemas de saúde pública (ROSEN, 1994). Concomitantemente a essa
organização da administração pública, surgiram as Associações de saúde das cidades,
que eram constituídas por um grupo de médicos e leigos, que lutaram pela correção dos
problemas da vida urbana através do apoio público.
Por fim, o sistema administrativo estava organizado de uma forma eficaz e as asso-
ciações formadas por sanitaristas tinham grande influências sobre os órgãos governamen-
tais, contribuindo com conselhos para melhorias de saúde. Foi apenas nesse momento, que
ações visando melhoria da saúde pública começaram a acontecer com maior força, pois nos
momentos anteriores, apesar do conhecimento teórico, pouco era colocado em prática.
Esse processo de reforma sanitária difundiu-se para outros lugares além da Ingla-
terra, alcançando a Europa e a América, a Alemanha, a França, Bélgica, Prússia e outros
Estados continentais. De modo geral, o desenvolvimento da reforma sanitária, nesses ou-
tros países foi impulsionado pelos mesmos problemas encontrados na Inglaterra, como as
condições insalubres das comunidades que estavam se formando nas cidades em busca
de trabalho, que levavam à disseminação de doenças (ROSEN, 1994).

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 19


A saúde moderna organizou-se no âmbito mundial sobre o fato de que o Estado
deve ser responsável pela saúde pública, contando com a participação da comunidade,
seguindo duas regras principais. A primeira diz respeito organização do Estado em depar-
tamentos e conselhos nacionais de saúde pública, para garantir a eficiência na conciliação
de recursos. E a segunda, suporta-se no planejamento de ações de saúde baseadas em
estudos epidemiológicos.
Em 1948, foi criada a Organização Mundial da Saúde (OMS) por iniciativa da Orga-
nização das Ações Unidas (ONU), com o objetivo de promover o acesso universal à saúde,
considerando o bem-estar físico, mental e social do indivíduo. As ações de saúde devem ser
voltadas para melhorias no saneamento, na área familiar, de capacitação de profissionais
da área da saúde, no fortalecimento dos serviços médicos e na luta contra doenças.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 20


4. CRONOLOGIA HISTÓRICA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL

A história da saúde no Brasil foi marcada por acontecimentos semelhantes aos


abordados na cronologia histórica da saúde coletiva no mundo. Para compilar as informa-
ções, iremos ressaltar os acontecimentos similares e destacar alguns particulares do nosso
país que são importantes para compreender o nosso modelo de assistência à saúde atual.
A proclamação da República despertou o espírito capitalista no Brasil, no qual as
decisões políticas eram fortemente influenciadas por pessoas de classe alta envolvidas
na economia. A medicina tinha um olhar sanitarista e a epidemiologia já era utilizada para
examinar o ambiente físico e social da população urbana. No contexto de epidemias de
varíola, febre amarela, peste bubônica, febre tifoide e cólera, o governo tentava promover
medidas de higiene pública intermediadas por médicos sanitaristas.
Oswaldo Cruz foi um médico sanitarista, bacteriologista e epidemiologista que repre-
senta uma das figuras mais importantes desse período, colocando-se a frente do combate
das principais epidemias que atingiam o Rio de Janeiro e contribuindo para erradicá-las.
Pautado na preocupação da economia de cidades portuárias, o serviço sanitário recebia
grande investimento. As doenças infectocontagiosas passaram a ser notificadas obrigato-
riamente e as ruas, casas, fábricas, hospitais e cemitérios passaram a ser fiscalizados.
Nesse contexto, os centros de pesquisa começar a surgir com maior força para
dar suporte ao serviço sanitário, porém, esse progresso acontecia nos estados do Rio de
Janeiro e São Paulo, enquanto o restante do país enfrentava os problemas com escassez

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 21


de recursos e de atenção do governo. Além disso, o homem do campo também vivia sob
condições precárias de atenção e essa realidade foi representada na obra de Monteiro
Lobato pelo personagem Jeca Tatu, que transparecia a situação do homem rural brasileiro
através de um homem fraco, desanimado e enfermo.
A preocupação com a mão de obra iniciou com foco em projetos voltados à saúde,
educação, alimentação, habitação e trabalho, chamados de políticas de saúde ou sociais.
Os investimentos em água tratada e esgotos ocorriam de forma lenta e gradual nos centros
urbanos, e mais adiante, refletiram na diminuição de doenças epidêmicas e óbitos.
Assim como na Inglaterra, o processo de Revolução Industrial foi determinante
para o início da reforma sanitária no Brasil. Por volta de 1930, o investimento do Estado
era focado na expansão da produção, principalmente nos grandes centros, São Paulo e
Rio de Janeiro. Esses estados, portanto, foram os primeiros a sentirem o efeito nocivo da
Revolução Industrial, e consequentemente, evoluir nas práticas de saúde.
A desigualdade social era muito evidente, de forma que os mais pobres viviam em
condições precárias de moradia e de higiene. A chegada de imigrantes incentivados pelo
trabalho agravou essas condições, surgindo cortiços e favelas marcados pelo aumento das
doenças infecciosas. A história da saúde no Brasil foi fortemente marcada por decisões
políticas dos governos desse período.
No governo de Vargas, tendo em vista a reforma dos serviços sanitários que já
ocorriam em outros lugares do mundo, surgiu o Ministério da Educação e da Saúde Pública
(MESP). As ações do MESP eram voltadas à centralização político-administrativa, na qual
os médicos foram quase que totalmente excluídos das decisões sanitárias, que ficaram nas
mãos de políticos e burocratas.
Além disso, a preocupação com a classe trabalhadora surgiu baseada na necessi-
dade do governo em obter apoio social, culminando na criação dos Institutos de Aposenta-
dorias e Pensões (IAPs). Os IAPs forneciam serviços de assistência médica e seguridade
social aos funcionários e a seus dependentes, em troca de contribuições mensais. A
concepção de seguro social vigente nesse período assegurava os seguintes benefícios:
aposentadoria, pensão e alguns outros serviços, como assistência médica e hospitalar e
socorros farmacêuticos (FILHO, 2011).
Em 1934, a nova Constituição passou a oferecer outros direitos aos trabalhadores,
entre estes a assistência médica, a licença remunerada à gestante e a jornada de trabalho
de 8 horas. Quase 10 anos depois, foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
que instituiu o salário mínimo, indenização aos acidentados, tratamento médico aos doen-
tes, férias remuneradas, entre outros benefícios à classe operária (FILHO, 2011).

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 22


As medidas de educação em saúde tornaram-se mais fortes a partir de 1938, atra-
vés de ações do MESP baseada na preocupação com os hábitos de higiene da população.
Algumas campanhas de educação popular foram feitas através da divulgação de informa-
ções pelo rádio, panfletos, cartazes, e até mesmo enfermeiras sanitárias, que percorriam
bairros ensinando sobre higiene (FILHO, 2011).
As principais doenças importantes nesse período foram: a doença de Chagas, a
tuberculose, doenças gastrointestinais, hanseníase e doenças sexualmente transmissíveis.
Essas doenças manifestavam-se na forma de endemias, pois as ações de saúde não eram
direcionadas a elas. Apesar de o governo ter incentivado algumas medidas de educação
popular para outras doenças, essas continuavam sem investimento e não recebiam atenção
suficiente para combatê-las (FILHO, 2011).
O governo seguinte, de Eurico Gaspar Dutra, ficou responsável por lidar com as
exigências por atendimento à saúde dos trabalhadores, que representavam grande parcela
da população urbana assalariada. Essa classe exigia atendimento à saúde, forçando a
Previdência a prestar serviços médicos e hospitalares aos segurados. (FILHO, 2011).
Com o aumento da demanda de atendimento médico, houve diminuição da qualida-
de do serviço de saúde e os hospitais não davam mais conta de acomodar toda a população,
que muitas vezes ficava sem atendimento ou recebia atendimento de má qualidade. O setor
privado passou a pressionar o governo para incentivar o desenvolvimento da assistência
médica privada através do financiamento por empréstimos federais e assim, formaram-se
redes de hospitais privados que atendiam os doentes que podiam pagar (ANDRADE et al.,
2017; FILHO, 2011).
Em 1953, foi criado o Ministério da Saúde (MS), agora separado do Ministério da Edu-
cação. Devido à falta de verba e à situação política do período, o MS atuou de maneira pouco
eficiente nos primeiros anos. Nesse período, os índices de mortalidade estavam altos comparados
aos de outros países e a expectativa de vida dos brasileiros, baixíssima (FILHO, 2011).
A alta taxa de mortalidade infantil exigiu atenção do MS em 1956, que voltou sua
atenção à assistência às crianças. As medidas tomadas foram o aumento de serviços de hi-
giene e postos de puericultura, que tinham o objetivo de acompanhar e vacinar as crianças,
além de oferecer assistência às mães (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011). Apesar das
ações de saúde desenvolvidas, as crianças continuavam morrendo por doenças intestinais
associadas ao consumo de água poluída, visto que ainda não existia de sistemas de trata-
mento e distribuição de água e coleta de esgoto nas regiões mais pobres.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 23


O período a seguir foi marcado pelo regime militar, e o governo focou seus
investimentos nos ministérios militares, de transportes, indústria e comércio, enquanto
os ministérios da saúde, educação e agricultura recebiam pouca atenção. As principais
doenças que acometiam a população eram a dengue, cólera, tuberculose, doença de
chagas e meningite.
O Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) foi fundado e realizou convênios
com hospitais particulares para que estes passassem a atender a classe de trabalhadores.
No entanto, esse tipo de convênio começou a mostrar problemas porque o governo pagava
muito pouco pelos serviços médicos, além de atrasar a transferência de recursos. Nesse
contexto, surgiram fraudes envolvendo serviços médicos, na tentativa de receber o paga-
mento do governo, e isso contribuiu para deterioração da assistência médica prestada aos
trabalhadores (FILHO, 2011).
A solução encontrada para melhorar a assistência médica foi utilizar a estratégia
chamada medicina de grupo, que marcou o início das companhas de seguro-saúde. As
próprias empresas incentivadas pelo desejo de diminuir o número de trabalhadores afas-
tados por motivo de doença firmaram com contratos com grupos médicos. Ao invés de
pagar a cota previdenciária, comprometiam-se a prestar assistência médica diretamente
aos funcionários, recebendo subsídios do governo (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011).
As ideias do movimento de Reforma Sanitária surgiram com maior força na década
de 70. Algumas propostas de Medicina Comunitária e de Atenção Primária à Saúde (APS)
ajudaram a estabelecer que o oferecimento de serviços de saúde devesse ser tratado de
forma institucionalizada, e não como caridade (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011).
Na década de 80, a criação do Plano CONASP (Plano de Reorientação da Assis-
tência à Saúde no âmbito da Previdência Social) e implantação dos AIS (Ações Integradas
de Saúde), o sistema de assistência à saúde passou a destinar recursos financeiros às
prefeituras municipais, facilitando a organização da assistência à saúde advinda do Estado
(ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011).
Apesar do fim da ditadura, a falta crônica de verba destinada à saúde causou con-
sequências duradouras. A volta da democracia permitiu a luta da população por direitos de
melhores condições de vida. Esse período ficou marcado pelo aumento de faculdades de
medicina e pela criação de Conselhos Populares de Saúde, que buscavam melhorias de
saneamento básico e criação de centros de saúde nas comunidades mais carentes.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 24


Em 1987, surgiu uma proposta de criar um sistema que integrasse a rede de
serviços de saúde públicos e privados e que contribuísse na consolidação dos AIS. Esse
sistema teria o nome de Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), porém,
não chegou a ser colocado em práticas principalmente devido à resistência desenvolvida
por empresas particulares que não aceitavam submeter-se a esse sistema.
A Constituição de 1988 surgiu para consolidar todas essas mudanças e completar
o movimento de Reforma Sanitária, determinando que a assistência à saúde fosse ofereci-
da pelo Estado de forma pública sem a participação de empresas particulares, através do
Sistema Único de Saúde (SUS) (ANDRADE et al., 2017). Além disso, o Estado não deixa
de ser o responsável pela saúde da população atendida pelo serviço de assistência seja
prestado pelo setor privado.

SAIBA MAIS

O processo de evolução científica contou com a participação de personagens ilustres e


muito importantes no processo de construção do serviço de assistência à saúde. O link
a seguir traz informações sobre a biografia de figuras importantes da história da saúde
coletiva: http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personalidades.html.

Fonte: Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Centro Cultural de Saúde. Revista da Vacina: Personalida-

des. 2021. Disponível em: http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personalidades.html.

REFLITA

“A sensação de bem-estar não implica que a doença esteja efetivamente ausente. Já o


sentir-se mal significaria sempre ausência de saúde”.

Fonte: (IMMANUEL KANT, 1993, In: PAIM e FILHO, 2014).

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 25


O pensamento acima do filósofo Immanuel Kant foi produzido sob o contexto de
compreensão e esclarecimento sobre o que é saúde. Reflita sobre essa frase. Como esse
pensamento pode ser interpretado utilizando termos mais técnicos e atuais?
Observe que na verdade, o filósofo fez uma analogia entre saúde, doença sinto-
mática e assintomática. Ao dizer que a sensação de bem-estar não implica que a doença
esteja efetivamente ausente, poderíamos interpretar que a ausência de sintomas implica
em um quadro assintomático, e não necessariamente de saúde. Afinal, várias doenças,
principalmente na fase inicial, não produzem sintomas evidentes. No período de pré-pa-
togênese do modelo de história natural da doença, temos essa fase inicial instalando-se.
Apesar de classificarmos tudo para facilitar os estudos, esses processos ocorrem
de forma contínua e em alguns casos simultânea. À medida que o indivíduo é exposto, as
alterações bioquímicas vão estabelecendo-se inicialmente sem sintomas até evoluir para a
doença sintomática. Isso explica a segunda parte da frase, na qual ele diz que o sentir-se
mal sempre significaria ausência de saúde, ressaltando que a presença de sintomas estará
sempre associada à doença.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 26


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da nossa primeira unidade e nela conhecemos alguns pontos


que esclarecem sobre a complexidade de estudo da saúde coletiva e promoção da saúde.
Dificilmente conseguiríamos compreender como a saúde coletiva funciona observando
apenas um ponto de cada vez, afinal, todos eles ocorrem de forma simultânea no processo
saúde-doença.
O modelo de história natural da doença ilustra muito bem como é importante pensar
com a mente aberta e voltada para todas essas possíveis conexões. Os acontecimentos
históricos pontuados aqui mostraram que a saúde coletiva foi estruturada de acordo com a
necessidade de saúde de cada época, país, dos recursos disponíveis e do comprometimen-
to do Estado, à medida que alguns avanços científicos e tecnológicos foram alcançados,
tornou-se possível esclarecimento de muitos pontos que poderiam ser melhorados.
O trabalho conjunto de diferentes filósofos, cientistas, pesquisadores e ativistas
contribuíram para explicar como as doenças estavam ligadas tanto à questão biológica
como também à situação socioeconômica. E para compilar todas essas informações foi
necessário o uso da epidemiologia, que passou a identificar os principais problemas e faci-
litar o direcionamento de soluções através da implantação de medidas de saúde. A maioria
destas resumia-se em medidas de promoção de saúde, que buscavam passar informações
essenciais à população para evitar que as doenças progredissem.
Também podemos refletir que, apesar de todos os avanços as melhorias só se tor-
naram possíveis depois do envolvimento do Estado. Ao avaliar os aspectos históricos que
abordamos, compreendemos que o envolvimento ocorreu de forma gradual e impulsionado
pelo interesse econômico. E à medida que as coisas evoluíram, a população passou a exigir
por seus direitos, forçando o Estado a desenvolver algumas políticas que proporcionavam
bem-estar da classe trabalhadora. Com a ajuda da população no direcionamento de interes-
ses e necessidades, o Estado precisou ser capaz de reunir e aplicar todo o conhecimento
de forma acessível para todos.
Essa linha de raciocínio ocorreu para diferentes lugares do mundo, canalizando o
processo em um ponto comum: a reforma sanitária. Apesar da similaridade no processo
histórico, cada região apresenta algumas particularidades que podem ser relevantes para
explicar como a política de saúde pública se desenvolveu em cada país. Considerando que
nosso principal foco de atenção é o Brasil, a partir de agora, vamos focar nossos estudos
na construção e aperfeiçoamento do nosso sistema de saúde.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 27


LEITURA COMPLEMENTAR 1

A lepra é uma doença que causou terror à humanidade, pois as medidas de saúde
tomadas para contenção de suas epidemias eram trágicas e tirou a liberdade e a vida de
muitas pessoas. A evolução da assistência à saúde contribuiu para mudar a abordagem de
controle dessa doença para melhor. Hoje em dia, é chamada de Hanseníase e o tratamento
é oferecido através da rede pública de saúde.
Acesse os links a seguir e observe como mudou a abordagem de promoção à
saúde dessa doença.

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/lepra-a-maldicao-divina.phtml
https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Hanseniase#
https://www.youtube.com/watch?v=OfCV8vLnq2o

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 28


LEITURA COMPLEMENTAR 2

O artigo a seguir discute alguns aspectos históricos da educação em saúde e como


isso ocorreu no mundo, inclusive no Brasil. Para acessar o artigo na íntegra, acesse o link:
https://docplayer.com.br/6180416-Educacao-em-saude-aspectos-historicos-no-brasil.html.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 29


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: A Saúde Coletiva - Teoria e Prática (2014)
Autores: Paim, J. S.; Filho, N. D.
Editora: MedBook.
Sinopse: O foco do livro está centrado nas necessidades e proble-
mas de saúde das populações e nas respostas sociais organizadas
para a atenção, intervenção e superação dessa problemática e
seus desdobramentos. (AMAZON, 2020).

FILME / VÍDEO
Título: A Peste Negra na Idade Média – Documentário History
Channel Brasil
Ano: Desconhecido.
Sinopse: Considerada castigo divino, a peste negra (peste bubôni-
ca) foi uma das maiores epidemias que assolou a humanidade. No
início de 1330 o primeiro foco da peste bubônica aconteceu na
China. A peste afeta principalmente roedores, mas suas pulgas
podem transmitir a doença para as pessoas. Uma vez infectada,
o contagio a outras pessoas ocorre de maneira extremamente
rápida. A peste causa febre e um inchaço doloroso das glândulas
linfáticas chamadas de bulbos, daí o seu nome. A doença pode
também causar manchas na pele que apresentam primeiramente
uma cor avermelhada e então se torna negra. Como a China era
uma das maiores nações comerciais, foi só uma questão de tempo
até que a epidemia da peste se espalhasse pela Ásia oriental e
pela Europa. Suas descobertas provocaram uma verdadeira revo-
lução do pensamento humano, com interpretações filosóficas das
mais diversas tendências. (YOUTUBE, 2017).
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=L2-HoovP-Dk.

UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 30


UNIDADE II
O Sistema Único de Saúde
Professora Me. Andressa Lorena Ieque

Plano de Estudo:
● Histórico e implantação do SUS;
● Princípios, diretrizes e atribuições do SUS;
● Níveis e redes de atenção à saúde.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar os princípios e diretrizes do SUS;
● Conhecer os objetivos, atribuições e o campo de atuação do sistema de saúde;
● Compreender o modo de funcionamento e os serviços do SUS;
● Estabelecer a importância da aplicação dos princípios no modelo de redes de atenção.

31
INTRODUÇÃO

Olá caro (a) aluno(a)! Agora que já conceituamos saúde e compreendemos o


contexto da sua aplicação para o bem da sociedade, podemos progredir para a segunda
unidade da disciplina, na qual iremos compreender toda a estrutura e funcionamento do
nosso sistema de saúde pública, o Sistema Único de Saúde (SUS).
Nesta unidade, continuaremos a linha de raciocínio da unidade anterior e veremos
a criação do SUS após todo caminho percorrido no contexto de evolução da saúde. Nesse
sentido, conheceremos os principais aspectos históricos envolvidos na criação e a estrutu-
ração desse sistema, além de todo o seu processo de implantação.
A seguir, vamos descrever as características do SUS, através da apresentação de
suas diretrizes e princípios. Também analisaremos o seu campo de atuação, ressaltando
suas atribuições, serviços oferecidos e seus principais objetivos, de acordo com os docu-
mentos de regem o modo de funcionamento desse sistema.
Por fim, estudaremos como esse sistema é colocado em prática através de uma organi-
zação que classifica o atendimento em níveis de atenção e oferece os diversos serviços através
das redes de atenção. Assim, poderemos compreender como essa ferramenta possibilita a
aplicação das diretrizes e princípios desse sistema no âmbito da assistência à saúde.

UNIDADE II
I OIntrodução
Sistema Único
à Saúde
de Coletiva
Saúde e Promoção da Saúde 32
1. HISTÓRICO E IMPLANTAÇÃO DO SUS

A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) representou um grande avanço


para a modernização do serviço de saúde no Brasil. O novo cenário foi instituído em 1990,
mas nasceu de uma sequência de acontecimentos históricos anteriores que incentivaram
a criação de um sistema capaz de oferecer assistência à saúde para a população. Vamos
pontuar alguns desses acontecimentos para entender como eles estão relacionados com
os princípios, diretrizes e modo de funcionamento do SUS.
A evolução do sistema de saúde no mundo, inclusive no Brasil, compartilha de um
momento histórico em comum que impulsionou o conhecimento tecnológico, científico e
produziu mudanças mais marcantes na administração da saúde pública. Esse momento
ocorreu a partir do início do século XIX, no contexto de ascensão do capitalismo e da
revolução industrial. Ambos incentivaram a criação de fábricas e indústrias visando o cres-
cimento econômico de cada país.
Por um lado, a industrialização trouxe muitos problemas associados à saúde,
mas por outro fez render bons frutos, pois forçou a população se organizar para lutar por
direitos e fazer exigências de assistência à saúde. De modo geral, o padrão desses pro-
blemas surgiu de um crescimento desordenado das cidades pela migração de pessoas
em busca de trabalho. Nesse contexto, foram surgindo problemas sanitários associados
às condições de moradia e higiene que impactaram a saúde de trabalhadores e também
o seu rendimento no trabalho.
Ao desviarmos nosso olhar para o Brasil, observamos esse padrão principalmente
em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que representavam os principais centros de
produtividade.

UNIDADE II
I OIntrodução
Sistema Único
à Saúde
de Coletiva
Saúde e Promoção da Saúde 33
FIGURA 1 - CONDIÇÕES PRECÁRIAS DE MORADIA

Fonte: (VASCONCELLOS e RODRIGUES, 2006).

Em seu trabalho fotográfico, Souza (1925) evidencia as condições precárias de mo-


radia, sem ventilação e iluminação (Figura 1). Além disso, ressalta no texto a seguir sobre
as deficiências no abastecimento de água e na rede de esgotos nos cortiços em São Paulo.
Nesta capital a rede de esgotos, embora ridícula, em relação à área edifica-
da, já é por demais extensa para a quantidade de água de que dispomos,
sobretudo nas estações calmosas e, assim, se explica observarem-se em
vários pontos da cidade latrinas completamente cheias de resíduos fecais,
verdadeiras fossas abertas, nauseantes e imundas, que tanto favorecem a
veiculação de moléstias. (SOUZA, 1925, p. 109)

Observe as fotos a seguir de cortiços que surgiram na cidade de São Paulo que
demonstra o espaço e forma de viver dos seus habitantes (Figura 2).

FIGURA 2 - CORTIÇO EM SÃO PAULO

Fonte: REZENDE et al., 2006.

UNIDADE II
I OIntrodução
Sistema Único
à Saúde
de Coletiva
Saúde e Promoção da Saúde 34
A Figura 2 realça as roupas estendidas, paredes desgastadas e um espaço peque-
no compartilhado por numerosas famílias, evidenciado pela quantidade de portas, janelas
e crianças descalças expostas às ruas e ao risco de contaminação por doenças pela falta
de higiene e problemas sanitários desses locais (REZENDE et al., 2006).
A situação de aglomerados em que as comunidades eram formadas facilitava
a disseminação de doenças infecciosas, associadas também à escassez de higiene e
de sistema de esgoto. Como nessa época o Estado não oferecia um serviço de saúde
público e essas pessoas não tinham condições para pagar elas acabavam não recebendo
atendimento médico, e isso culminava no aumento da morbidade e a mortalidade, princi-
palmente da população pobre.
Essas doenças impediam a população de trabalhar e prejudicava a ascensão das
fábricas e indústrias, e consequentemente, do país. A preocupação com a mão de obra fez
com que o governo começasse a dar maior atenção a esses problemas e tentasse criar
planos de combate contra as enfermidades que prejudicavam a vida produtiva. Na tentativa
de melhorar essa situação, o governo fortaleceu práticas sanitárias que visavam combater
problemas coletivos que favoreciam o desenvolvimento de doenças.
Com o crescimento da classe operária, foi necessário oferecer benefícios aos traba-
lhadores, inclusive no que dizia respeito à assistência médica. Para garantir serviços médicos
e hospitalares, os órgãos previdenciários precisaram firmar contratos com o setor privado
porque a demanda era muito alta. O atraso de recursos e fraudes atrapalhou esses convênios
e marcou o início da medicina de grupo, mais conhecidos hoje como planos de saúde.
O Ministério da Saúde desenvolveu algumas ações voltadas para crianças, mães
e puérperas visando combater a mortalidade infantil que apresentava números altos. A
intenção era oferecer serviços de higiene e realizar a vacinação de crianças, além de dar
atendimento às gestantes (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011).

FIGURA 3 - FOTO DE UMA EDUCADORA SANITÁRIA PASSANDO INFORMAÇÕES

SOBRE A EDUCAÇÃO DOMÉSTICA DOS FILHOS E FISCALIZANDO A PREPARAÇÃO DE

ALIMENTOS NAS ESCOLAS

Fonte: (VASCONCELLOS e RODRIGUES, 2006).

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Saúde e Promoção da Saúde 35
As escolas também eram foco de ações de atenção primária em saúde, na qual
foram desenvolvidas atividades que incentivavam a higiene e cuidados com a preparação
de alimentos. Uma vez que as doenças infecciosas de cunho sanitário muitas vezes são
transmitidas pela água ou alimentos não tratados, o cuidado com os alimentos mostrava ser
um ponto importante a ser melhorado (Figura 3 e 4).

FIGURA 4 - CRIANÇAS ENFILEIRADAS ENQUANTO UMA EDUCADORA ENSINA A

CUIDAREM DA HIGIENE PESSOAL COM FOCO NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS

Fonte: (VASCONCELLOS e RODRIGUES, 2006).

A volta da democracia após o período de censura da ditadura incentivou a população


a organizar-se para lutar por melhorias. O crescimento da classe médica, e a formação de
grupos compostos por profissionais da saúde, sanitaristas e outros unificou os interesses
em relação à saúde. Os Conselhos Populares de Saúde foram criados com a intenção de
desenvolver ações voltadas principalmente para melhorias relacionadas ao saneamento
básico e assistência médica em comunidades carentes.
Esse olhar voltado para comunidades que exigiam maior atenção ficou conhecido
como medicina comunitária, na qual era colocada em prática através de ações de atenção
primária. Essa atenção era focada principalmente em ações preventivas, como vinha sendo
desenvolvido também pelo Ministério da Saúde anteriormente com foco em mães e crianças.

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Saúde e Promoção da Saúde 36
A reforma sanitária foi firmada em um processo de redemocratização e de movimen-
tos sociais que buscavam construir os ideais de assistência à saúde, que se relacionavam
com algumas concepções da medicina comunitária. Esse compartilhamento idealizações
fez com que ambos os movimentos contribuíssem para o fortalecimento um do outro (PAIVA
e TEIXEIRA, 2014).
A partir da aplicação desses dois princípios (medicina comunitária e reforma sanitá-
ria), o oferecimento de serviços de saúde passou a ser tratado de forma institucionalizada,
e não mais com sentido de caridade humanitária (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011).
Em 1986 ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde que reuniu diferentes setores
da sociedade e incluiu os seguintes temas de discussão:
● Dever do Estado e direito do cidadão no tocante à saúde; a reformulação
do sistema nacional de saúde; e o financiamento do setor.
● Temas específicos, como a hierarquização dos cuidados médicos segun-
do sua complexidade e especialização, e a participação popular nos ser-
viços de saúde.
● Principais demandas do movimento sanitarista: fortalecer o setor público
de saúde, expandir a cobertura a todos os cidadãos e integrar a medici-
na previdenciária à saúde pública, constituindo assim um sistema único
(PAIM, 2008; PAIVA e TEIXEIRA, 2014).

Essas discussões culminaram na criação de um projeto de reforma sanitária, que


foi encaminhado à Assembleia Nacional Constituinte. Junto com esse projeto, foi encami-
nhado a proposta de criação de um sistema de saúde que visava integrar os serviços de
saúde públicos e privados. Esse sistema seria o Sistema Único Descentralizado de Saúde
(SUDS), porém, o seu projeto de criação recebeu forte resistência de empresas particulares.
O projeto de reforma sanitária direcionou para a criação de uma nova constituição
e de um sistema de saúde que não envolvia a participação do setor privado e, por isso,
o SUDS nunca foi colocado em prática. A constituição de 1988 implementou mudanças
significativas no papel do Estado, instituindo que a partir de então a saúde deveria ser
tratada como um direito de todos e um dever do Estado.
Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo mediante
políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação”. (BRASIL, 1988, online)

Além disso, a constituição também estabelece a criação do Sistema Único de Saú-


de (SUS) através do exposto no artigo 198:

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Saúde e Promoção da Saúde 37
As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,
sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do
art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Es-
tados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (BRASIL,
1988, online)

A criação do SUS teve seu desfecho em 1990, com a criação das leis número
8.080 e 8.142. A lei 8.080 especifica o modo de funcionamento do SUS ao dispor sobre a
direção, gestão, objetivos e atribuições, princípios e diretrizes, financiamento, planejamento
e orçamento, além de discorrer sobre os serviços privados. Já a lei 8.142 dispõe sobre
participação da comunidade na gestão do sistema e também sobre as transferências de
recursos financeiros na área da saúde, surgindo como um complemento da lei 8.080. (BRA-
SIL, 1990a; BRASIL, 1990b).
A lei 8.142 estabelece instâncias colegiadas envolvidas no controle social, que são
a Conferência de Saúde e o Conselho de Saúde, que como vimos anteriormente tiveram
papel fundamental no processo de construção do movimento de reforma sanitária e mais
tarde foram eternizadas como constituintes do SUS (BRASIL, 1990b).
No próximo tópico desta unidade, conheceremos de modo detalhado sobre todas
as características do SUS expostos nessas leis citadas anteriormente, vale destacar aqui,
que mesmo as empresas particulares não foram integradas na atuação do SUS, o estado
ficou como responsável por regulamentar e fiscalizar os serviços de saúde oferecido pela
iniciativa privada.

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Saúde e Promoção da Saúde 38
2. PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E ATRIBUIÇÕES DO SUS

À medida que conhecemos todos os pontos em que o SUS está relacionado com
a área da saúde, podemos afirmar que toda pessoa provavelmente faz uso desse sistema.
Nas situações em que não utilizamos o SUS para obter assistência médica ou hospitalar,
ainda assim estamos em contato com a assistência epidemiológica, sanitária ou ambiental.
Portanto, o simples fato de alguém beber uma água tratada já classificaria este alguém
como um usuário do SUS.
Neste tópico, iremos conhecer as diretrizes, os princípios, o campo de atuação e
os objetivos desse sistema, e a partir disso, ficará ainda mais fácil pontuar e compreender
como os serviços que utilizamos estão interligados ao SUS.

2.1 Objetivos, campo de atuação e atribuições


A lei 8.080 de 19 de novembro de 1990 estabelece que o SUS deve atender aos
seguintes objetivos:
I - A identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes
da saúde;
II - A formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos
econômico e social;
III - A assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção
e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais
e das atividades preventivas. (BRASIL, 1990a, online).

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Saúde e Promoção da Saúde 39
Esses objetivos devem ser cumpridos dentro do campo de atuação do SUS, co-
locando em prática ações de vigilância sanitária e epidemiológica, de saúde do trabalho
e de assistência terapêutica integral, incluindo a farmacêutica. Os fatores condicionantes
e determinantes de saúde estão diretamente associados com estudos epidemiológicos e
serão abordados com maior detalhamento na última unidade.
Além disso, também cabe ao SUS a participação em políticas de saneamento
básico, o incremento do desenvolvimento científico e tecnológico, a formação de recursos
humanos na área da saúde na fiscalização e controle de serviços, produtos e outras subs-
tâncias relacionadas à saúde (BRASIL, 1990a).
Considerando o interesse do SUS em promover serviços de vigilância sanitária,
epidemiológica, saúde do trabalhador e do ambiente, vamos compreender como cada um
desses atuam dentro de um serviço maior de vigilância em saúde (Quadro 1). A vigilância
sanitária é definida como um conjunto de ações que buscam diminuir os riscos à saúde
causados por problemas associados ao meio ambiente, produção e circulação de bens ou
prestação de serviços de interesse da saúde (BRASIL, 2019).
No Brasil, é representada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
que é responsável por inspecionar alimentos, bebidas de consumo humano, medicamen-
tos, cosméticos, saneantes e produtos, estabelecimentos e serviços de saúde que podem
comprometer a segurança do paciente (BRASIL, 2019).
A vigilância epidemiológica preocupa-se em realizar ações que visa a adoção de
medidas para prevenção e controle de doenças ou agravos através da observação do
perfil epidemiológico da população. As suas ações incluem: investigação das principais
causas de mortes por grupos específicos, coordenação, execução e incentivo de ações de
alimentação e nutrição, monitoramento e análise dos casos de doenças transmissíveis ou
crônicas, acidentes, violências ou agravos em geral, inclusive no âmbito hospitalar, além de
promover ações de saúde e criar planos de contingência (BRASIL, 2019; BRASIL, 2021).
A vigilância ambiental é definida como um conjunto de ações que monitoram fatores
do meio ambiente que podem interferir na saúde, buscando implementar medidas que dimi-
nuam esses riscos e previnam de doenças ou agravos. Esta vigilância preocupa-se com a
qualidade da água, do ar, do solo, desastres naturais e acidentes com produtos perigosos,
além do controle de vetores de doenças (BRASIL, 2019; BRASIL, 2021).
A vigilância em saúde do trabalhador ou ocupacional busca diminuir os riscos
que os trabalhadores estão expostos, e os casos de morbidade e mortalidade associa-
dos a esses riscos. A saúde ocupacional abrange os acidentes de trabalho ou doenças
profissionais, estudos de controle de riscos, fiscalização e controle das condições de
trabalho e informação e garantia de o sindicato intervir sob uma situação de risco (BRA-
SIL, 2019; BRASIL, 2021).

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Saúde e Promoção da Saúde 40
Alguns riscos que podemos pontuar relacionados ao trabalho são as exposições à
produtos químicos tóxicos, corrosivos ou cancerígenos, o desenvolvimento de ações repe-
titivas ou posturas que podem ocasionar problemas a longo prazo, ou ainda, os acidentes
por manusear equipamentos perigosos e exposição à ambientes com risco de queda ou
outros tipos de acidentes.
O quadro a seguir resume as ações de cada um dos tipos de vigilância compreen-
didos pela vigilância em saúde:

QUADRO 1 - PRINCIPAIS TIPOS DE VIGILÂNCIA E SUAS AÇÕES

NO ÂMBITO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE

Vigilância em saúde Ação


Vigilância sanitária Inspeção de produtos e serviços de saúde, incluin-
do alimentos, bebidas, medicamentos, cosméti-
cos, saneantes e produtos e estabelecimentos de
saúde.
Vigilância epidemiológica Investigação de causas de mortes;
Coordenação, execução e incentivo de ações de
alimentação e nutrição;
Monitoramento e análise dos casos de doenças,
acidentes, violências ou agravos;
Ações de promoção da saúde;
Criação de planos de contingência.
Vigilância ambiental Qualidade da água, solo e ar;
Controle de desastres naturais, acidentes e de ve-
tores de doenças.
Vigilância em saúde do Diminuição de riscos e dos casos de morbimortali-
trabalhador dade associados ao trabalho.
Fonte: A autora (2021).

Esses serviços de vigilância já ilustram muito bem como as pessoas utilizam o SUS
independente da busca ao atendimento médico ou hospitalar. Ao observamos cada tipo de
vigilância que é incluída no campo de atuação do SUS, podemos perceber que o conjunto
contribui para alcançar uma atenção à saúde que seja o mais completa possível.
Além disso, também, podemos usá-las de exemplo para exemplificar o cumprimen-
to de objetivos previstos na lei 8.080. Todas as vigilâncias são baseadas na investigação
dos fatores condicionantes e determinantes de saúde abordados no inciso I do artigo 5, e
contribuem diretamente para a formulação de políticas de saúde do inciso II. E por fim, o
inciso III discorre justamente sobre a atenção completa ressaltando as ações de promoção,
proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1990a).

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Saúde e Promoção da Saúde 41
No caso das vigilâncias, as ações de promoção e proteção são desenvolvidas em
maior proporção do que as ações assistenciais e de recuperação de saúde, pois estas são
oferecidas por outros tipos de serviços que envolvem o atendimento médico, de diagnóstico
ou de tratamento, ou ainda, de serviços especializados que podem ajudar a promover a
reabilitação do paciente.
No que diz respeito às atribuições SUS, algumas já foram implicitamente citadas
pois estão relacionadas com alguns objetivos, como a formulação de políticas de saúde e
sanitárias, e a ação das vigilâncias que inclui o controle, avaliação e fiscalização de ações
e serviços de saúde, a valorização do desenvolvimento científico e tecnológico por meio de
pesquisas e estudos, e ainda, o desenvolvimento de recursos humanos para a saúde. Além
destas, também podemos pontuar:
● A administração dos recursos financeiros, incluindo planejamento e orçamento;
● O acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e
das condições ambientais;
● A organização e coordenação do sistema de informação de saúde;
● A elaboração de normas e padrão de qualidade para atividades ou estabeleci-
mentos de assistência à saúde, inclusive no âmbito de serviços privados;
● A implementação do sistema nacional de suprimento de sangue, componentes
e derivados;
● A articulação entre diferentes órgãos e setores da sociedade;
● A celebração de convênios e acordos internacionais relacionados à saúde, ao
saneamento e ao meio ambiente;
● Execução de estratégias de atendimento emergencial. (BRASIL, 1990a).

2.2 Diretrizes e princípios


De acordo com a constituição de 1988 e a lei número 8.080 de 19 de novembro de
1990, os serviços do SUS devem ser desenvolvidos de acordo com diretrizes e princípios
previstos nesta lei. As três diretrizes são: a descentralização, o atendimento integral e a
participação da comunidade. A seguir, vamos definir cada uma delas para compreender
melhor o modo de funcionamento do sistema de saúde.
A descentralização está diretamente associada com a gestão do sistema e implica
que as decisões sobre a assistência da saúde devem ser tomadas seguindo uma direção
única em cada esfera de governo, partindo da esfera federal, para a estadual e por fim,
a municipal. Na prática, isso funciona através do envolvimento de órgãos responsáveis

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Saúde e Promoção da Saúde 42
por cada uma dessas esferas, sendo o Ministério da Saúde responsável pela União, as
Secretarias Estaduais de Saúde pelos Estados e Distrito Federal e as Secretarias de Saúde
Municipais pelos Municípios.
A segunda diretriz é a integralidade que pretende oferecer saúde de forma comple-
ta, através de ações voltadas para a promoção da saúde, prevenção de riscos e agravos,
assistência à doença e recuperação da saúde. De acordo com a constituição, as atividades
preventivas devem ser desenvolvidas com prioridade, porém, essa prioridade não deve
causar prejuízo dos outros serviços assistenciais.
A terceira e última diretriz é a participação da comunidade que garante o direito de
ressaltar os pontos de necessidade e ao mesmo tempo valoriza toda a luta que antecedeu a
implantação do serviço de saúde público. Essa participação é guiada principalmente pelos
Conselhos de Saúde, previstos na lei 8.142 de 28 de dezembro de 1990.
O Conselho de Saúde é um órgão composto por representantes do governo, se-
jam estes prestadores de serviço, profissionais de saúde e/ou usuários, e que atuam na
formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância
correspondente (BRASIL, 1990b). As decisões são tomadas em cada esfera do governo
a partir da divisão de poder em Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e
Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS).
Essa participação popular também é valorizada nas Conferências de Saúde, tam-
bém prevista na lei 8.142, que são espaços de saúde democráticos nos quais vários seg-
mentos sociais são reunidos para avaliar a situação de saúde e também propor melhorias
ou novas formulações de políticas de saúde. Geralmente essas conferências ocorrem a
cada quatro anos, ou podem ser convocadas extraordinariamente pelo conselho da saúde
ou pelo poder executivo (BRASIL, 1990b).
O SUS apresenta três princípios doutrinários: a integralidade, a universalidade e
a equidade que devem guiar a forma que o serviço de assistência à saúde é oferecido
à população. Além desses, também existem os princípios organizativos: regionalização,
hierarquização, participação popular e descentralização (BRASIL, 1990a).
A integralidade corresponde à diretriz do atendimento integral e reconhece o atendi-
mento de todas as necessidades do indivíduo. Além do que já foi pontuado, a atenção total
também pode ser interpretada quanto ao oferecimento de suporte ao estado de saúde física
e psicológica valorizando o contexto social que a pessoa está inserida. Nesse sentido, as
necessidades devem ser avaliadas para atender o indivíduo e também coletividade.

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Saúde e Promoção da Saúde 43
A universalidade é a garantia de acesso aos serviços de saúde do nível mais básico
até o mais complexo de assistência. Esse princípio está diretamente correlacionado com a
equidade, que pretende que as ações e serviços sejam entregues à população valorizando a
justiça social, sem qualquer tipo de preconceito ou privilégio. A equidade está relacionada com
o conceito de igualdade, porém devemos tomar cuidado para não confundir esses dois termos.
A equidade busca reconhecer quais são as necessidades de cada grupo e atuar
promovendo medidas que aproxime o usuário do que ele precisa, visando reduzir o impacto
das diferenças existentes entre outros grupos. Isso pode significar oferecer menos a um
grupo que requer menos cuidado e mais ao grupo que apresenta mais necessidades.
A regionalização e hierarquização estão relacionadas com a organização dos
serviços de assistência à saúde. A regionalização é aplicada para delimitar a área de aten-
dimento, enquanto a hierarquização dispõe sobre a classificação da atenção em níveis
de complexidade. Ambos princípios estão interligados por um sistema de funcionamento
denominado redes de atenção, que abordaremos no próximo tópico.

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Saúde e Promoção da Saúde 44
3. NÍVEIS E REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE

Os serviços oferecidos pelo SUS são agrupados de acordo com a sua complexida-
de do atendimento em níveis de atenção (primária, secundária e terciária) e oferecidos à
população através de uma organização chamada redes de atenção.
A Atenção Primária em Saúde (APS), também chamada de Atenção Básica (AB)
é o nível de mais baixa complexidade, enquanto a atenção secundária refere-se à média
complexidade e a atenção terciária à alta complexidade. O quadro abaixo apresenta as
principais diferenças entre esses três níveis de atenção que conceituaremos a seguir.

QUADRO 2 - CLASSIFICAÇÃO DA ATENÇÃO EM NÍVEIS PRIMÁRIO, SECUNDÁRIO E

TERCIÁRIOS E SUAS RESPECTIVAS CARACTERÍSTICAS

Classificação de atenção Características


Problemas iniciais
Primária ou baixa complexidade Porta de entrada ao sistema de saúde
Atividades de prevenção e promoção à saúde
Secundária ou média Problemas em estágios intermediários
complexidade Cuidados progressivos
Problemas em estágios avançados
Terciária ou alta complexidade
Assistência especializada ou hospitalar

Fonte: A autora (2021).

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Saúde e Promoção da Saúde 45
A atenção primária é considerada como a de menor complexidade porque lida com
problemas em estágios iniciais e busca interrompê-los antes que atinjam a complexidade,
através da realização de atividades de prevenção e promoção da saúde. A APS é muito
valorizada pelo sistema de saúde justamente devido a sua capacidade de resolver os pro-
blemas de forma precoce.
Como mencionado anteriormente, o SUS estabelece que no contexto do atendimen-
to integral, as atividades preventivas devem ser tratadas como prioridade. Nesse sentido, a
APS é prestigiada na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) que surgiu para revisar
todas as portarias referentes à atenção básica e estabelecer as diretrizes e normas para a
sua organização dentro do sistema de Rede de Atenção à Saúde (RAS) (BRASIL, 2017).
De acordo com a PNAB, a atenção básica é definida como:
Conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem
promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução
de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio
de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe
multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais as
equipes assumem responsabilidade sanitária. (BRASIL, 2017, online).

Além disso, este documento também define que a APS é a principal porta de en-
trada do sistema de saúde. Isso significa que o primeiro contato do usuário em busca
de assistência à saúde será através desse nível de atenção. Algumas estratégias para
fortalecer esse primeiro contato e garantir que o atendimento fosse ofertado através dos
princípios e diretrizes do SUS.
A atenção secundária envolve atendimentos de nível de complexidade médio pois
lida com pessoas que apresentam um grau de risco mais elevado que ao da atenção pri-
mária. Geralmente essa atenção está associada ao oferecimento de serviço a nível de
diagnóstico ou de cuidados progressivos.
A atenção terciária trata de problemas específicos e/ou em estágios mais avançados
e que necessariamente exigem assistência especializada ou hospitalar, sendo necessária a
atuação de profissionais especializados e tecnologias de alto custo.
Todos esses níveis de atenção, juntamente com os princípios de diretrizes do SUS
e da APS, são aplicados dentro das redes de atenção à saúde e através dessas redes, o
serviço é entregue. A Figura 5 representa um esquema dessas redes de atenção, na qual
temos como componente central a APS enquanto os círculos ao seu redor representam
serviços de outros níveis de complexidade (atenção secundária e terciária) se comunicando
através de um sistema horizontal.

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Saúde e Promoção da Saúde 46
FIGURA 5 - A MUDANÇA DOS SISTEMAS PIRAMIDAIS E HIERÁRQUICOS

PARA AS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE

Fonte: (BRASIL, 2016).

Esse sistema de redes horizontal ou transversal substituiu o sistema hierárquico,


representado pela pirâmide na imagem. No sistema piramidal, os serviços naturalmente
eram divididos verticalmente por ordem de importância conferindo a sensação de que um
serviço prevaleceria sobre o outro devido uma maior importância.
Por esse motivo, foi substituído por essa nova representação em rede, que ressalta
todos os serviços em um mesmo nível hierárquico de importância. A horizontalidade ilustra
que todos os níveis de complexidade possuem a mesma importância, comunicando-se uns
com os outros de igual para igual através de um sistema de referência e contrarreferência,
representado pelas flechas.
Esse sistema permite troca de informações nos dois sentidos e é essencial para
garantir a atenção completa e contínua, direcionando o usuário à níveis mais complexos de
atenção de acordo com as suas necessidades.
A regionalização é aplicada à essa classificação ao delimitar o território de respon-
sabilidade que cada nível de atenção tem responsabilidade de atender. Por exemplo, a
atenção primária fica responsável por atender uma microárea, enquanto a secundária uma
microrregião e a terciária uma macrorregião. Essa divisão é feita para organizar o serviço
de forma proporcional às necessidades.
Podemos compreender essa comparação ao imaginar o serviço na prática. As
ações de promoção e prevenção devem ser realizadas em alta proporção para evitar a
complexidade, e por isso, a atenção primária fica responsável por uma região pequena na

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tentativa de atingir o maior número de pessoas possível. O território de abrangência fica
maior à medida que a complexidade aumenta, pois geralmente não há a necessidade de
ter um serviço complexo por região.
Para que o sistema de rede funcione, os estabelecimentos de saúde devem for-
talecer os vínculos entre si e evitar a fragmentação da atenção, ou seja, a interrupção da
continuidade do atendimento. A fragmentação é evitada quando a interação intra e inter
equipe funciona.
A interação intraequipe diz respeito aos profissionais que atuam no serviço e va-
lorizam o trabalho em conjunto, intervindo de forma multidisciplinar para atingir o cuidado
completo. Já a interação Inter equipe tem a ver com a comunicação entre os setores que
oferecem diferentes níveis de atenção.
Ao aplicar todas as diretrizes e princípios espera-se alcançar um sistema de saúde
universal, integral, unificado e articulado em redes regionalizadas e descentralizadas. Esse
sistema inicia com a atenção no menor território sanitário, no qual encontra-se a nascente
das necessidades de saúde e partir dele os outros setores de saúde de comunicam de for-
ma dependente, buscando integrar todas as ações de saúde para atingir a atenção integral
ao indivíduo e no território (BRASIL, 2009).

FIGURA 6 - REPRESENTAÇÃO DAS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE COM OS

SERVIÇOS REPRESENTADOS EM LARANJA INTERCONECTADOS POR LINHAS DE

COR AZUL, QUE RESSALTAM A COMUNICAÇÃO HORIZONTAL E A ARTICULAÇÃO

ENTRE OS DIFERENTES ESTABELECIMENTOS

Fonte: Almeida, 2019.

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SAIBA MAIS

Em 2003 foi criada a Política Nacional de Humanização (PNH) com o objetivo de for-
talecer a aplicação de princípios do SUS na prática de atenção e gestão da saúde. A
proposta desta política é incentivar a comunicação entre os gestores, os funcionários
e os usuários do SUS. Acesse o link a seguir do Ministério da Saúde para saber mais
sobre o HumanizaSUS.

Fonte: GOV.BR. Política Nacional de humanização HumanizaSUS. Disponível em: https://www.gov.br/

saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/humanizasus. Acesso em: 27 set. 2021.

REFLITA

O movimento de Reforma Sanitária resultou em grandes mudanças na assistência à


saúde surgiu após um período de repressão do regime militar. A democracia ressurgiu e
destacou-se em um espírito de luta por direitos da saúde. Atualmente vivemos livre de
opressão, mas esse espírito encontra-se ativo ou adormecido? O que será necessário
para reativá-lo?

Fonte: A autora (2021).

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Saúde e Promoção da Saúde 49
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim da segunda unidade, na qual apresentamos aspectos importan-


tes quanto às características do SUS, sua organização e modo de funcionamento. O estudo
permitiu conhecer os princípios e diretrizes do sistema de assistência à saúde brasileira e
como eles começam a ser aplicados em um esquema de redes de atenção para oferecer
serviços de saúde à população.
Podemos ressaltar que as diretrizes do SUS, a descentralização, a integralidade
e a participação da comunidade, unificam alguns acontecimentos históricos que foram
fundamentais para a implantação do sistema e reconhecimento de que a saúde deveria ser
oferecida através do Estado de forma pública, com divisão de responsabilidade entre as
esferas governamentais, e ainda, da forma mais acessível possível.
Essa acessibilidade é valorizada pela priorização da atenção primária em saúde,
que é descrita em detalhes na Política Nacional de Atenção Básica. Essa atenção menos
complexa fica responsável por desenvolver atividades de promoção e prevenção à saúde,
buscando evitar que problemas de saúde aconteçam ou que se tornem mais complexos e
difíceis de resolver.
Além da atenção primária, também vimos a atenção secundária e terciária que estão
associadas ao atendimento cada vez mais complexo e mais especializado. O comprometi-
mento do SUS com a integralidade, ou seja, o indivíduo de forma completa é cumprido pelo
oferecimento desses outros níveis por meio das redes de atenção.
Também vimos como os princípios são aplicados sob o contexto de funcionamento
das redes de atenção. A organização do atendimento dentro das redes foi evidenciada
pela hierarquização e regionalização, através da comunicação entre setores e divisão da
assistência por regiões de acordo com os níveis de atenção.
As redes de atenção são complexas, mas quando funcionam sob os princípios e
diretrizes do SUS, juntamente com uma equipe comunicativa, devem conseguir integrar as
ações de saúde e atender todas as necessidades dos usuários.

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Saúde e Promoção da Saúde 50
LEITURA COMPLEMENTAR

ARTIGOS CIENTÍFICOS

● A fotografia como instrumento do trabalho do higienista (São Paulo, pri-


meira metade do século XX)
Fonte: VASCONCELLOS, M. da P. C.; RODRIGUES, J. A fotografia como ins-
trumento do trabalho do higienista (São Paulo, primeira metade do século XX). História,
Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 13, n. 2, p. 477-91, abr./jun. 2006. Disponível em: https://
www.scielo.br/j/hcsm/a/HfB3bjym47tkxwmYzLgQggf/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 27
set. 2021.

● Reforma sanitária e a criação do Sistema Único de Saúde: notas sobre


contextos e autores
Fonte: PAIVA, C. H. A.; TEIXEIRA, L. A. Reforma sanitária e a criação do Sistema
Único de Saúde: notas sobre contextos e autores. História, Ciências, Saúde – Manguinhos,
Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, jan./mar. 2014, p.15-35. Disponível em: https://www.scielo.br/j/
hcsm/a/rcknG9DN4JKxkbGKD9JDSqy/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 27 set. 2021.

● Princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e a humanização das práticas


de saúde
Fonte: MATTOS, R. A. Princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e a huma-
nização das práticas de saúde. Interface comunicação saúde educação, n. 13, Supl.1, p.
771-780, 2009. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resour-
ce_ssm_path=/media/assets/icse/v13s1/a28v13s1.pdf. Acesso em: 27 set. 2021.

UNIDADE II
I OIntrodução
Sistema Único
à Saúde
de Coletiva
Saúde e Promoção da Saúde 51
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: O que é o SUS
Autor: PAIM, J. S et al.
Editora: Fiocruz.
Sinopse: A luta pelo direito à saúde e pela consolidação do Sistema
Único de Saúde (SUS) tem se expressado a partir da articulação
de trabalhadores das áreas da saúde, pesquisadores e militantes
dos movimentos sociais nas últimas décadas. O livro O Que É o
SUS - um dos títulos mais procurados da Editora Fiocruz, já tendo
sido reimpresso cinco vezes - busca esclarecer o que é, o que não
é, o que faz, o que deve fazer e o que pode fazer o SUS. Pela im-
portância do tema e da obra, O Que É o SUS foi selecionado para
se transformar no primeiro e-book interativo da Editora Fiocruz,
no âmbito do primeiro edital da Faperj especialmente dedicado às
editoras universitárias. O objetivo do projeto não era mudar o su-
porte do papel para a tela, mas oferecer uma nova experiência de
leitura, onde vídeos, áudios, galerias de fotos, infográficos e outros
recursos ora complementassem, ora substituíssem partes do texto
original, criando uma nova textualidade eletrônica. O resultado é
fruto de uma construção coletiva e, antes, do consentimento do
autor, o professor da Ufba Jairnilson Silva Paim, que, generosa-
mente, seguiu “o exemplo de João Ubaldo Ribeiro de não interferir
na transformação de seus livros em filmes, novelas ou mini-séries,
pois, além de outras linguagens, na realidade, tais iniciativas ex-
pressam novas criações”, nas palavras do próprio sanitarista. Uma
nova criação que, assim como o livro de 2009, busca contribuir
para a consolidação, o fortalecimento e a expansão do SUS.

FILME / VÍDEO
Título: Documentário: SUS 30 anos – COFEN
Ano: 2018.
Sinopse: O Conselho Federal de Enfermagem lança o documen-
tário “SUS 30 anos”, em comemoração ao aniversário da Consti-
tuição de 1988, que consagrou a saúde como um direito de todo
cidadão e dever do estado.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=3FfAcgT0oys.

UNIDADE II
I OIntrodução
Sistema Único
à Saúde
de Coletiva
Saúde e Promoção da Saúde 52
UNIDADE III
A Equipe Saúde da Família
e seus Núcleos de Apoio
Professora Me. Andressa Lorena Ieque

Plano de Estudo:
● ESF: constituição e atribuições das equipes;
● Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) e
grupos de atenção;
● Infraestrutura, financiamento e desafios.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a estratégia saúde da família e seu campo de atuação;
● Definir a composição e as atribuições gerais e específicas das equipes da saúde da
família e dos núcleos de apoio à saúde da família da atenção básica;
● Compreender a atuação e objetivos do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e
Atenção Básica (NASF-AB) no território sanitário;
● Estabelecer os grupos de atenção no contexto da assistência primária em saúde;
● Conhecer sobre a infraestrutura, financiamento e desafios da atenção básica.

53
INTRODUÇÃO

Olá aluno(a)! Seja bem-vindo à terceira unidade da disciplina saúde coletiva e pro-
moção da saúde. Nesta unidade, nosso estudo será concentrado nas Estratégia Saúde da
Família (ESF) e na atuação das Equipes Saúde da Família (eSF), assim como os Núcleo
Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB).
No primeiro tópico, vamos introduzir um breve histórico sobre a implantação do
Programa Saúde da Família, que mais tarde veio a se tornar a ESF. Conceituaremos seus
princípios e diretrizes no contexto de atuação das equipes que a constituem. Além disso,
vamos descrever quais profissionais que foram essas equipes, assim como suas atribuições
gerais e específicas.
No segundo tópico, buscaremos compreender a atuação e objetivos do Núcleo
Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) no território sanitário, através
do conhecimento da equipe multiprofissionais e os principais serviços oferecidos pelas
unidades de atendimento que esses núcleos funcionam. Também vamos destacar esse
funcionamento dentro do sistema de redes de atenção de saúde.
Ainda no segundo tópico, vamos conhecer os principais grupos de atenção e como
eles são inseridos no contexto da saúde da família. No terceiro e último tópico, pontuaremos
quais são os principais componentes relacionados a estrutura física das UBS, o principal
local de atuação das equipes da saúde família.
Por fim, não podemos deixar de estudar também qual o modelo de financiamento
que é seguido para suprir os recursos necessários e possibilitar o funcionamento da es-
tratégia aqui apresentada. Além disso, vamos destacar também os principais desafios que
precisam ser superados pelo sistema de saúde, inclusive na área de atenção básica.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 54


1. ESF – CONSTITUIÇÃO E ATRIBUIÇÕES DAS EQUIPES

Concomitante à criação do SUS, surgiu o Programa de Agentes Comunitários de


Saúde (PACS) que era formado por auxiliares de saúde que desenvolviam um serviço
social focado em atividades de promoção à saúde da família. Essas ações eram voltadas
principalmente para a saúde materno-infantil, e através da transmissão de informações e
acompanhamento sobre vacinação, higiene, aleitamento e cuidados na gravidez, resultou
em impacto positivo na saúde desses grupos, com destaque para:
- Redução da mortalidade infantil;
- Aumento do acompanhamento pré-natal e puericultura;
- Diminuição dos atendimentos emergenciais.
Apoiado nesses frutos e na precariedade de acesso aos serviços de saúde, sur-
giu a proposta de criação do Programa Saúde da Família (PSF) que tinha o objetivo de
ampliar a atenção primária em saúde para a comunidade. Nesse sentido, esse programa
foi estruturado sobre os valores da atenção primária e representava a porta de entrada
dos serviços, sendo responsável pelo vínculo inicial das redes de atenção em saúde que
vimos anteriormente.
O crescimento do PSF fez o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CO-
NASS) criar a Estratégia Saúde da Família (ESF) e a Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB) com a intenção de organizar e fortalecer o serviço de atenção básica nos princí-
pios do SUS.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 55


A ESF deve funcionar pautada em princípios e diretrizes da atenção básica pre-
vistos na PNAB, que formam características próprias dessa estratégia. Os princípios são:
universalidade, equidade e integralidade, e as diretrizes são regionalização e hierarquiza-
ção, territorialização, população adscrita, cuidado centrado na pessoa, resolutividade, lon-
gitudinalidade do cuidado, coordenação do cuidado, ordenação da rede e participação da
comunidade (BRASIL, 2017). Para compreendermos a essência dessa estratégia, vamos
conceituar cada um desses princípios e diretrizes a seguir, seguindo a Política Nacional de
Atenção Básica (BRASIL, 2017):

1.1 Princípios
- Universalidade: aplicação de mecanismos que possibilitem o acesso universal
aos serviços de saúde e os acolhimentos dos usuários, de modo a promover um
vínculo que facilite o desenvolvimento de estratégias para atender as necessi-
dades.
- Equidade: refere-se à oferta de cuidado através do reconhecimento das neces-
sidades e diferentes condições pessoais, atendendo a diversidade em busca de
diminuir as desigualdades e a exclusão de grupos.
- Integralidade: conjunto de serviços que atenda às necessidades biológicas, psi-
cológicas, ambientais e sociais nos campos da promoção da saúde, prevenção
de doenças e agravos, cuidado, cura e reabilitação (BRASIL, 2017).

1.2 Diretrizes
- Regionalização e hierarquização: estabelecimento de regiões de saúde em um
território geográfico a fim de facilitar o planejamento, organização e gestão dos
serviços de saúde. Essas regiões devem comunicar-se entre si através de um
fluxo horizontal, como determinado no esquema de redes de atenção.
- Territorialização: determinação de uma unidade geográfica específico de
atendimento buscando definir as suas características sociais, econômicas,
epidemiológicas, assistenciais e culturais, possibilitando o desenvolvimento de
ações para atender as necessidades da população adscrita ou de populações
específicas.
- População adscrita: é a população que representa o território de atendimento da
unidade básica de saúde.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 56


- Cuidado centrado na pessoa: desenvolvimento de ações de cuidado para a pes-
soa de forma singularizada, construído com base das necessidades individuais
e considerando o meio (família, comunidade e coletividade) como elementos
relevantes para a vida das pessoas.
- Resolutividade: articulação de diferentes serviços, meios e tecnologias a fim de
ampliar a resolução de problemas de saúde da população.
- Longitudinalidade do cuidado: desenvolvimento de relação de cuidado entre a
equipe profissional e paciente, com responsabilidade e conhecimento da vida
do indivíduo através da criação e manutenção de um vínculo que permite ao
usuário a confiança e a segurança da atenção.
- Coordenação do cuidado: acompanhamento e organização do fluxo de usuários
através da comunicação horizontal, contínua e integrada entre os diferentes
serviços da rede de atenção à saúde e da articulação intersetorial.
- Ordenação da rede: reconhecimento e organização das necessidades da
população a fim de planejar e programar ações de saúde voltadas à essas
necessidades.
- Participação da comunidade: estimular a participação da comunidade nas ações
de saúde para melhorar a capacidade de construção do cuidado a partir do
controle social (BRASIL, 2017).

A ESF é constituída por uma equipe multiprofissional denominada Equipe Saúde da


Família (eSF) composta pelos seguintes membros:

(I) médico generalista, ou especialista em Saúde da Família, ou médico de


Família e Comunidade;
(II) enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família;
(III) auxiliar ou técnico de enfermagem; e
(IV) agentes comunitários de saúde (BRASIL, 2021a, online).

Além dos profissionais listados, também podem ser acrescentados profissionais de


saúde bucal: “(V) cirurgião-dentista generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar
e/ou técnico em Saúde Bucal.” (BRASIL, 2021a, online).
O fato de a equipe ser constituída por profissionais de diferentes áreas contribui para
garantir a integralidade do cuidado. A quantidade de cada médicos, enfermeiros, auxiliares e
agentes comunitários de saúde depende da extensão e da demanda do território que a equi-
pe possui responsabilidade de atendimento. De acordo com a PNAB (2017), recomenda-se
cobertura de 100% da população com número máximo de 750 pessoas por ACS.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 57


A equipe atua dentro da unidade básica de saúde (UBS), que representa a porta de
entrada ao sistema de saúde. Nesse modelo, o primeiro contato do paciente em busca de
atendimento à saúde ocorrerá pelo contato com essa equipe. Diante dos objetivos da atenção
básica, espera-se detectar os problemas de saúde em estágios iniciais e para proporcionar
isso é necessário oferecer fácil acesso e disponibilidade a esse ambiente. A eSF tem papel
fundamental para diminuir as barreiras de acesso entre a população e o serviço de saúde.
A acessibilidade está diretamente relacionada com a organização do serviço em
horários flexíveis, utilizando de meios de comunicação e visitas, atendendo principalmente
as necessidades de idosos e deficientes que apresentam dificuldades para deslocar-se até
o serviço de saúde. Além disso, também deve ser valorizado o acesso geográfico dos quais
exige que a unidade de saúde exista em locais não muito distantes e que possibilitem a
chegada através de meios de transporte.
A característica de porta de entrada também inclui o acolhimento através da aplica-
ção da abordagem “ver, esperar e observar”. Essa tática permite selecionar os problemas
quanto a gravidade e organizar o atendimento, controlando o custo e a demanda, e conse-
quentemente, garantindo a qualidade do serviço.
A eSF tem a responsabilidade de cadastrar todos os indivíduos que estão receben-
do atendimento no território, independente da utilização da UBS. Isso é importante porque
os serviços de vigilância em saúde precisam ser desenvolvidos pautados nas característi-
cas populacionais e esse cadastramento contribui para implementação dessas ações para
atender as necessidades da coletividade.
Nesse sentido, é comum que a eSF realize visitas domiciliares periódicas tanto
para atender a população que exige essa proximidade, quanto também para caracterizar o
território e fiscalizar quanto aos riscos de transmissão de doenças associadas às condições
de higiene e do ambiente. As informações coletadas são registradas em uma ficha de ca-
dastramento familiar e inclui dados demográficos, sociais, econômicos e sobre a utilização
do serviço de saúde propriamente dito.
Esse controle facilita o planejamento de ações de saúde e a organização do aten-
dimento da população, uma vez que estas são responsabilidades da equipe. Para facilitar o
acesso aos dados, as informações são disponibilizadas em um Sistema de Atenção Básica
(SIAB) sob responsabilidade do gestor do serviço. Esses dados são encaminhados para
as esferas governamentais superiores e são disponibilizados para a população através do
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, garantindo a transparência.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 58


Além de todas essas responsabilidades gerais da eSF, cada profissional inserido
na equipe apresenta atribuições gerais, relativas a todos independente do cargo, e atri-
buições específicas, relacionadas à classe profissional para serem seguidas durante o
exercício da profissão.
No que diz respeito as atribuições comuns a todos os profissionais ressalta-se a
participação do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe,
manter o cadastro das famílias, garantir atenção através da integralidade, participar do
acolhimento dos usuários, realizar o cuidado de saúde, notificar doenças e agravos, ga-
rantir a qualidade do serviço, promover a participação da comunidade, valorizar as ações
intersetoriais, participar de atividades de educação permanente, planejar e realizar as ações
de saúde de modo integrado com outras equipes.
Sobre as atribuições específicas podemos elencá-las de acordo com os profissio-
nais que constituem a equipe, como descrito no quadro abaixo:

QUADRO 1 - ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS DA EQUIPE BÁSICA DA

SAÚDE DA FAMÍLIA, POR CATEGORIA PROFISSIONAL

PROFISSIONAL ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS

Enfermeiro I - realizar atenção à saúde aos indivíduos e famílias cadastradas nas equipes
e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços
comunitários (escolas, associações etc), em todas as fases do desenvolvimento
humano: infância, adolescência, idade adulta e terceira idade;
II - realizar consulta de enfermagem, procedimentos, atividades
em grupo e conforme protocolos ou outras normativas técnicas,
observadas as disposições legais da profissão, solicitar exames
complementares, prescrever medicações e encaminhar, quando
necessário, usuários a outros serviços;
III - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea;
IV - planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS em
conjunto com os outros membros da equipe;
V - contribuir, participar, e realizar atividades de educação permanente
da equipe de enfermagem e outros membros da equipe; e
VI - participar do gerenciamento dos insumos necessários para o
adequado funcionamento da UBS.

Auxiliar e do I - participar das atividades de atenção realizando procedimentos


Técnico de regulamentados no exercício de sua profissão na UBS e, quando
Enfermagem indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços
comunitários (escolas, associações etc);
II - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea;
III - realizar ações de educação em saúde a população adstrita,
conforme planejamento da equipe;
IV -participar do gerenciamento dos insumos necessários para o
adequado funcionamento da UBS; e
V - contribuir, participar e realizar atividades de educação permanente.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 59


Médico I - realizar atenção à saúde aos indivíduos sob sua responsabilidade;
II -realizar consultas clínicas, pequenos procedimentos cirúrgicos, atividades
em grupo na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos
demais espaços comunitários (escolas, associações etc);
III - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea;
IV - encaminhar, quando necessário, usuários a outros pontos de
atenção, respeitando fluxos locais, mantendo sua responsabilidade
pelo acompanhamento do plano terapêutico do usuário;
V - indicar, de forma compartilhada com outros pontos de atenção,
a necessidade de internação hospitalar ou domiciliar, man-tendo a
responsabilização pelo acompanhamento do usuário;
VI -contribuir, realizar e participar das atividades de Educação
Permanente de todos os membros da equipe; e
VII -participar do gerenciamento dos insumos necessários para o
adequado funcionamento da USB.

Agente I - trabalhar com adscrição de famílias em base geográfica definida, a


Comunitário de microárea;
Saúde II - cadastrar todas as pessoas de sua microárea e manter os cadastros
atualizados;
III - orientar as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde
disponíveis;
IV - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea;
V - acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias
e indivíduos sob sua responsabilidade. As visitas deverão ser
programadas em conjunto com a equipe, considerando os critérios de
risco e vulnerabilidade de modo que famílias com maior necessidade
sejam visitadas mais vezes, mantendo como referência a média de 1
(uma) visita/família/mês;
VI - desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de
saúde e a população adscrita à UBS, considerando as características e
as finalidades do trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos
sociais ou coletividade;
VII - desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção
das doenças e agravos e de vigilância à saúde, por meio de visitas
domiciliares e de ações educativas individuais e coletivas nos
domicílios e na comunidade, como por exemplo, combate à Dengue,
malária, leishmaniose, entre outras, mantendo a equipe informada,
principalmente a respeito das situações de risco; e
VIII - estar em contato permanente com as famílias, desenvolvendo
ações educativas, visando à promoção da saúde, à prevenção das
doenças, e ao acompanhamento das pessoas com problemas de
saúde, bem como ao acompanhamento das condicionalidades do
Programa Bolsa Família ou de qualquer outro programa similar de
transferência de renda e enfrentamento de vulnerabilidades implantado
pelo Governo Federal, estadual e municipal de acordo com o
planejamento da equipe.
IX - ocorrendo situação de surtos e epidemias, executar em conjunto
com o agente de endemias ações de controle de doenças, utilizando
as medidas de controle adequadas, manejo ambiental e outras ações
de manejo integrado de vetores, de acordo com decisão da gestão
municipal.

Fonte: BRASIL, 2017.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 60


2. NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA
(NASF-AB) E GRUPOS DE ATENÇÃO

Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) forma


criados a fim de dar apoio às equipes saúde da família que constituem a ESF, auxiliando
na ampliação as ações de atenção básica e o cuidado ao usuário do sistema de saúde. O
NASF é composto por profissionais de diversas áreas da saúde, formando uma equipe mul-
tiprofissional e interdisciplinar que complementa as equipes da atenção básica. De acordo
com o Ministério da Saúde (2017):
Os diferentes profissionais devem estabelecer e compartilhar saberes, práti-
cas e gestão do cuidado, com uma visão comum e aprender a solucionar pro-
blemas pela comunicação, de modo a maximizar as habilidades singulares
de cada um (BRASIL, 2017, online).

O compartilhamento de saberes e as práticas intersetoriais contribuem para identifi-


car as necessidades da população, sejam estas clínicas ou sanitárias, e as dificuldades da
própria equipe. A partir disso, cabe ao NASF-AB participar do planejamento de ações com
as equipes das quais está vinculado.
As competências do NASF-AB são colocadas em práticas através de ações de
apoio que incluem discussão de casos, atendimento ao usuário individual, compartilhado ou
interconsulta, construção de projetos terapêuticos, educação permanente, intervenções no
território e voltadas para grupos populacionais específicos, ações intersetoriais, de prevenção
e promoção da saúde e discussão do processo de trabalho das equipes (BRASIL, 2017).

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 61


Dessa forma, espera-se que através de um relacionamento e atuação integrada
com as equipes e as redes de atenção básica, os profissionais do NASF contribuam para
melhorar a longitudinalidade e a integralidade do cuidado, além da prestação de serviços
à população.
A definição de quais profissionais irão compor o NASF- AB é de decisão do gestor
local baseando-se nas necessidades da população que está sendo atendida, sendo possí-
vel incluir as seguintes ocupações:

Médico Acupunturista;
Assistente Social;
Profissional/Professor de Educação Física;
Farmacêutico;
Fisioterapeuta;
Fonoaudiólogo;
Médico Ginecologista/Obstetra;
Médico Homeopata;
Nutricionista;
Médico Pediatra;
Psicólogo;
Médico Psiquiatra;
Terapeuta Ocupacional;
Médico Geriatra;
Médico Internista (clínica médica);
Médico do Trabalho;
Médico Veterinário;
Profissional com formação em arte e educação (arte educador);
Profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saú-
de com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente
em uma dessas áreas conforme normativa vigente (BRASIL, 2017, online).

O NASF pode atuar através de diferentes estabelecimentos além da unidade bá-


sica de saúde (UBS), como as academias da saúde, os Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS), Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência em
Saúde do Trabalhador (CEREST), ambulatórios especializados, escolas, além de outras
redes sociais e comunitárias. É importante destacar que todos esses serviços devem estar
integrados e em constante comunicação a partir dos critérios previstos no funcionamento
das redes de atenção à saúde (BRASIL, 2011; BRASIL, 2017) (Figura 1).
Os CAPS são serviços ambulatoriais de atenção básica que funcionam diariamente
e realizam atendimento interdisciplinar principalmente de pessoas com transtornos mentais
ou pelo uso de álcool e outras drogas. O atendimento inclui a atenção individual, em grupos,
em oficinas terapêuticas, à família, visitas domiciliares e atividades comunitárias. O princi-
pal foco do atendimento individual e em grupos é o oferecimento de psicoterapia, suporte
social, prescrição de medicamentos e orientações diversas que possibilitem a integração
do usuário com a comunidade e a família (BRASIL, 2002; BRASIL, 2017a).

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 62


FIGURA 1 - REDE DE ATENÇÃO REPRESENTADA PELA ARTICULAÇÃO

INTERSETORIAL DE DIVERSAS UNIDADES DE SERVIÇOS DE SAÚDE

Fonte: BRASIL, 2014, p. 09.

O tamanho e composição da equipe profissional do CAPS pode variar de acordo


com a modalidade do serviço, que depende principalmente da extensão do território, pelo
grupo de atenção, da faixa etária e do horário de atendimento. Alguns CAPS atendem pes-
soas de todas as faixas etárias e outros são focados em atender crianças e adolescente.
Em algumas situações são focados em atender pessoas com transtornos mentais graves
e persistentes e/ou em outras pessoas com transtornos do álcool de outras substâncias
psicoativas (Quadro 2) (BRASIL, 2002; BRASIL, 2017a).
Além disso, dependendo da necessidade da população os CAPS podem oferecer
serviço durante o período noturno, aos finais de semana e ainda, ofertar refeições às pessoas
que precisam ficar várias horas unidade. Todas essas estratégias contribuem para o aumento
da acessibilidade e ajudam a aproximar o usuário do serviço de saúde (BRASIL, 2002).
De modo geral, tende a ser composta minimamente por: (I) médico com formação
em saúde mental; (II) enfermeiro; (III) psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional,
pedagogo ou outro profissional capaz de dar suporte ao projeto terapêutico; e (IV) profis-
sionais de nível médico como técnica e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo,
técnico educacional e artesão. Em algumas situações dependendo do público de atendi-
mento, também são incluídos médicos pediatras e fonoaudiólogos (BRASIL, 2002).

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 63


QUADRO 2 - CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) E AS

CARACTERÍSTICAS DE SUAS DIFERENTES MODALIDADES

Modalidade Extensão do território Grupo de atenção Faixa etária Horário de


atendimento
CAPS I Cidades e ou regiões Transtornos mentais graves e Todas 8 às 18h
com pelo menos 15 mil persistentes, inclusive pelo uso
habitantes. de substâncias psicoativas
CAPS II Cidades e ou regiões Transtornos mentais graves e Todas 8 às 18h
com pelo menos 70 mil persistentes, inclusive pelo uso
habitantes. de substâncias psicoativas
CAPS i Cidades e ou regiões Transtornos mentais graves e Crianças e 8 às 18h
com pelo menos 70 mil persistentes, inclusive pelo uso adolescentes
habitantes de substâncias psicoativas
CAPS ad Cidades e ou regiões Transtornos pelo uso de álcool e Todas 8 às 18h
Álcool e com pelo menos 70 mil outras drogas
Drogas habitantes
CAPS III Cidades e ou regiões Transtornos mentais graves e Todas 24h
com pelo menos 150 mil persistentes, inclusive pelo uso
habitantes de substâncias psicoativas
Até 5 vagas para
acolhimento noturno e
observação
CAPS ad Cidades e ou regiões Transtornos pelo uso de álcool e Todas 24h
III Álcool e com pelo menos 150 mil outras drogas
Drogas habitantes
8 a 12 vagas para
acolhimento noturno e
observação

Fonte: Adaptado de BRASIL, 2017.

O CRAS funciona como uma unidade de assistência social dedicado principalmente


às pessoas que vivenciam situações de vulnerabilidade ou de risco social, e assim como
os CAPS, oferecem atendimento individualizados, em grupos, a domicílio e às famílias. A
equipe é composta por assistentes sociais, psicólogos e técnicos de nível médio.
As situações de risco ou vulnerabilidade social estão associadas às situações de
dificuldades de relacionamento na família e na comunidade, casos de violência doméstica,
de sobrevivência como pouco acesso à renda, moradia ou alimentação, cuidados com os
filhos, além de outras questões diversas do dia-a-dia em família ou no ambiente coletivo.
Tudo isso é detectado através de conversas e troca de informação com os profissionais,
por isso é muito importante o bom relacionamento pautado na confiança e segurança do
paciente para com o profissional.
De modo geral, as atividades desenvolvidas no CRAS serão direcionadas de modo
a garantir que os usuários tenham acesso à renda, serviços e programas que possibilitem
a proteção básica. A figura a seguir representa a articulação da rede de proteção social
básica que se relacionam intimamente com o CRAS. Observe que os serviços muitas
vezes são focados em grupos de atenção específicos, como crianças e adolescentes ou
idosos, por exemplo.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 64


FIGURA 2 - ARTICULAÇÃO DA REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL

BÁSICA REFERENCIADA A UM CRAS

Fonte: BRASIL, 2009.

Observe que, a aplicação das redes é variável e acontece até mesmo em focos
menores de atendimento. É importante a compreensão de que apesar de não estar ilus-
trado na imagem, esses centros estão em contato com outros serviços que não cabem em
apenas uma representação gráfica.
As academias de saúde são espaços públicos dos quais são ofertadas práticas de
atividades físicas para a população em geral. Esses estabelecimentos contribuem muito para
fortalecer as ações de promoção e prevenção da saúde, visto que incentivam um estilo de
vida mais saudável. Além do atendimento no polo, a equipe também desenvolve encontros
comunitários, nas escolas e em grupos educativos voltados para a educação em saúde.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 65


FIGURA 3 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM ACADEMIA DA SAÚDE

Fonte: BRASIL, 2021b.

Na UBS e nesses outros serviços é comum dividir o atendimento em grupos de aten-


ção, para facilitar a promoção de saúde em pontos que sejam em comum a vários usuários.
Essa organização além de direcionar as ações, também permite criar laços entre profissional
e comunidade, além de aproximar os usuários e incentivar a convivência social. A seguir,
vamos pontuar alguns grupos que podem ser formados no dia-a-dia da atenção básica.

2.1 A família
O grupo de atenção à família volta o cuidado para cada um dos seus integrantes,
considerando o convívio entre eles e o contexto familiar que estão expostos. A abordagem
deve ser complexa e envolve vários fatores e situações, como por exemplo, as condições
sociais, econômicas, culturais, de saúde mental e física, entre outros.
Também é importante valorizar os meios de sobrevivência dos membros, como
o trabalho, e o ciclo de vida que se relaciona com a idade e fase da vida que esses
usuários se encontram. Os idosos apresentarão necessidades diferentes das crianças,
que também apresentam necessidades diferentes do que as de seus pais. A interação
entre todos integrantes pode ser objeto de investigação, uma vez que pode implicar em
complicações que afetam a família.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 66


No ambiente familiar podem estar presentes situações específicas como a de
violência, violência doméstica ou uso de drogas, entre outras, e por isso, além de cada in-
tegrante precisar receber um olhar individualizado, também deve-se considerar a interação
com os outros membros uma vez que a convivência pode implicar em complicações que
afetam a família e também a comunidade externa.
A equipe da saúde da família desenvolve esse trabalho através da criação de
vínculos, que facilita a detecção de problemas e implantação de estratégias individuali-
zadas ou comunitárias. O atendimento a esse grupo é incentivado justamente devido a
sua complexidade e capacidade de trazer tantas informações para o sistema de saúde. A
partir dele, conseguimos detectar e afunilar o desenvolvimento de ações para outros grupos
específicos. Mas lembre-se que esses grupos deverão ser integrados através do serviço de
saúde, pois já vimos que a proposta do sistema não é a fragmentação e sim a integração.

2.2 A criança e ao adolescente


A atenção à criança pode ser oferecida desde o momento do nascimento, no qual
são desenvolvidas consultas periódicas com a realização de exames físicos para controle
do peso, estatura, dentição, audição, fala, locomoção, situação intelectual, entre outros
pontos envolvidos na saúde geral da criança, além de manter um contato com as mães e
observar a sua condição de vida. Nessas consultas, a equipe pode desenvolver ações de
educação em saúde orientando sobre amamentação, higiene e outros cuidados.
Os adolescentes exigem um tipo de atenção específica para as situações encara-
das nesse período da vida, que envolvem mudanças físicas, cuidados com a higiene e pes-
soais, atenção às alterações hormonais e acompanhamento para detecção de distúrbios,
atividade sexual e uso de drogas. Usualmente, por facilidade de abordar esses pacientes,
as ações de promoção e educação da saúde são realizadas nas escolas, mas também
podem ocorrer dentro da atenção à família.

2.3 O adulto
A atenção ao adulto é subdividida de acordo com necessidades específicas, sendo
comuns os mais diversos problemas de saúde como: hipertensão, diabetes, problemas
circulatórios, cardíacos, doenças da tireoide, infecções urinárias, doenças respiratórias,
alérgicas, imunológicas, infecciosas e ainda doenças que estão associadas ao sexo femini-
no ou masculino. Portanto, podemos direcionar o desenvolvimento de grupos com foco na
atenção da mulher, do homem, à hipertensão, à diabetes, e assim por diante.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 67


A atenção à mulher compreende situações associadas ao ciclo menstrual, proble-
mas hormonais, uso de contraceptivos, doenças de mama ou uterinas. A atenção ao homem
é voltada ao câncer de próstata, hábito de fumar, de beber e ainda dependência de drogas.
Além disso, o grupo dos homens exige um pouco mais de divulgação para aproximá-los do
serviço, pois geralmente eles não procuram atendimento à saúde.
É importante ressaltar que tanto na atenção à mulher e ao homem, existe um
foco nos exames preventivos como o Papanicolau e mamografias para as mulheres e o
exame de próstata para os homens, que são oferecidos e geralmente divulgados através
de campanhas. Como os adultos representam a maioria das pessoas que trabalham, a
estratégia de oferecer atendimento em horários flexíveis é muito importante para facilitar o
atendimento desses pacientes.

2.4 Gestante
A atenção à gestante é voltada para o acompanhamento da gravidez, com consultas
periódicas para acompanhamento da saúde da mulher e do bebê e compartilhamento de di-
cas sobre como se manter saudável durante o período gestacional. Além disso, também são
desenvolvidas ações de educação quanto aos direitos trabalhistas, sociais, nos serviços de
saúde e outros assuntos como a adoção, comorbidades, violência na gravidez, e informações
sobre cuidados com o recém-nascido, alimentação, amamentação, higiene e vacinas.

2.5 O idoso
A atenção ao idoso é focada principalmente em problemas associadas à velhice,
diminuição da imunidade, problemas com equilíbrio e risco de quedas, fragilidade óssea
e doenças generativas e crônicas como incontinência urinária e fecal, Parkinson, Alzhei-
mer, câncer, entre outras. Vale ressaltar que as quedas geralmente estão associadas à
necessidade de atendimento de alta complexidade, com atuação de ortopedistas, exigindo
cirurgias e hospitalizações.

2.6 Doenças infecciosas


Além do trabalho voltado para a prevenção dessas doenças, também existem os
grupos que dão suportes específicos quando existe a necessidade. As ações são realiza-
das no sentido de oferecer acompanhamento terapêutico e também suporte psicológico e
social. Alguns exemplos que podemos citar são os pacientes HIV positivos ou com AIDS,
com tuberculose e hanseníase que apresentam programas de tratamento e suporte para o
acompanhamento da doença ou do estado fragilizado.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 68


Com relação às doenças sexualmente transmissíveis, também são desenvolvi-
das atividades para prevenção, além da oferta de preservativos de fácil acesso na UBS.
A dengue também é acompanhada de perto através do serviço dos ACS que fazem na
territorialização investigam em busca de fatores de risco para o desenvolvimento de larvas
de mosquitos, inclusive nos quintais dos usuários.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 69


3. INFRAESTRUTURA, FINANCIAMENTO E DESAFIOS

3.1 Infraestrutura
As unidades básicas de saúde (UBS) representam o local de atuação das equipes
saúde da família e a estrutura física dessas unidades deve apresentar requisitos mínimos
para oferecer todo o suporte aos profissionais que nela atuam e também à comunidade que
utiliza dos seus serviços de saúde.
O estabelecimento físico da UBS deve permitir o atendimento organizado, com
infraestrutura, equipamentos e insumos suficientes para fornecer a atenção à saúde.
O porte de UBS é determinado de acordo com a quantidade de equipes atuando na
unidade, de forma que quanto mais equipes maior o território atendido e também maior a
infraestrutura requerida.
A PNAB prevê os ambientes para cada tipo de unidade, recomendando para a
Unidade Básica de Saúde:

3.1 Consultório médico e de enfermagem, consultório com sanitário:


No consultório de enfermagem são realizadas as pré-consultas ou acolhimento, nas
quais o paciente compartilha a sua situação de saúde e o(a) enfermeiro(a) com auxílio de
um técnico ou auxiliar de enfermagem realiza alguns exames físicos de triagem para avaliar
a pressão arterial, o peso corporal, a frequência cardíaca e a temperatura corporal, entre
outros. Nesse momento o profissional é capaz de triar a situação de saúde do paciente e
otimizar o atendimento médico. Dependendo da necessidade do paciente, ele é direcionado
à consulta com o médico ou esta é agendada para um outro momento.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 70


FIGURA 4 - ATENDIMENTO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM EM SALA DE TRIAGEM.

EXAME FÍSICO EM ANDAMENTO: AFERIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL

Fonte: O Município, 2021.

No consultório médico, o paciente passa pela consulta médica propriamente dita e


partir desse atendimento poderá ser encaminhado à realização de exames ou atendimento
por outras especialidades em outro serviço ligado à rede de atenção básica. Usualmente,
o médico pode direcionar o paciente à sala de medicação ou de procedimento para que
este fique em observação enquanto recebe algum medicamento ou caso seja necessário
realizar algum outro procedimento. Além destas, também há outros ambientes como a sala
de curativos, de inalação, de coleta de exame, ou ainda, a farmácia, sala de procedimentos,
sala de vacinas, sala de inalação coletiva, sala de coleta/exames, sala de curativos, sala de
observação e área para assistência farmacêutica;
Todas estas salas devem existir na UBS, sendo que em algumas situações uma
mesma sala pode servir para mais de um procedimento, por exemplo, a sala de procedi-
mentos pode ser a mesma sala que a sala de curativos. Entretanto, na maioria dos casos
é ideal ter uma sala para cada situação, como os próprios nomes sugerem. Observe as
Figuras 5 e 6 a seguir representando os serviços realizados em algumas dessas salas.

FIGURA 5 - SALA DE CURATIVOS COM PROCEDIMENTO EM ANDAMENTO À ESQUERDA E

SALA DE PROCEDIMENTOS, COM MESA PARA COLETA DE EXAME PREVENTIVO À DIREITA

Fonte: BRASIL, 2006a; BRASIL, 2008.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 71


FIGURA 6 - ÁREA DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Fonte: BRASIL, 2006a; BRASIL, 2008.

3.2 Sala de expurgo e sala de esterilização


A sala de expurgo é destinada à lavagem e desinfecção de materiais ou para ar-
mazenar pouco volume de dejetos que logo irão ser direcionados ao destino correto. A
sala de esterilização é um ambiente em que os materiais são empacotados, esterilizados e
normalmente armazenados, até o uso em algum procedimento (Figura 7).

FIGURA 7 - SALA DE ESTERILIZAÇÃO

Fonte: BRASIL, 2008; BRASIL, 2006a.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 72


3.3 Sala de atividades coletivas para os profissionais da Atenção Básica
A sala de atividade coletivas são ambientes separados para que os profissionais da
equipe de atenção básica possam se reunir para discutir e compartilhar informações sobre
a comunidade e as suas necessidades, além de realizar o planejamento de ações de saúde
e da própria rotina diária. Esse ambiente é compartilhado entre os profissionais atuantes na
UBS, como também em conjunto com as equipes do NASF (Figura 8).

FIGURA 8 - SALA DE ATIVIDADES COLETIVAS DURANTE REUNIÃO DE PROFISSIONAIS

Fonte: BRASIL, 2008.

3.4 Consultório odontológico com equipo odontológico completo


O consultório odontológico é a sala que os profissionais de saúde bucal atuam,
sendo necessário vários equipamentos e insumos específicos para atendimento da popu-
lação (Figura 9).

FIGURA 9 - CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO DURANTE ATENDIMENTO

Fonte: BRASIL, 2006a.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 73


3.5 Área de recepção, local para arquivos e registros, sala
multiprofissional de acolhimento à demanda espontânea,
sala de administração e gerência, banheiro público e para
funcionários, entre outros ambientes conforme a necessidade
A área de recepção é o ambiente que os pacientes farão o primeiro contato com al-
gum profissional atuante na UBS para relatar sobre os seus problemas, e a seguir, aguardar
pelo atendimento (Figura 10). A partir de tudo que comentamos sobre a porta de entrada
ao serviço de saúde, esta sala representa o início de todo o vínculo que será criado com
aquele paciente que direcionou-se por vontade própria à unidade.
Também é necessário um local destinado para o armazenamento de arquivos e
registros, atuação da equipe de administração e também os banheiros para a utilização
por funcionários ou pela população. A sala multiprofissional de acolhimento à demanda
espontânea é um ambiente chave para acolher pacientes que não apresentam condições
de esperar por todo o fluxo de atendimento que inicia no acolhimento, sendo de extrema
importância para dar suporte em situações mais urgentes ou de alta demanda.

FIGURA 10 - ÁREA DE RECEPÇÃO DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

Fonte: BRASIL, 2006a.

3.6 Financiamento
A Estratégia Saúde da Família já passou por vários sistemas de financiamento
desde a sua criação. No início, existia o Piso de Atenção Básica (PAB) que era transferido
do Fundo Nacional de Saúde aos municípios mensalmente de acordo com o tipo, número
e composição das equipes implantadas (CASTRO et al., 2018).

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 74


Uma nova proposta chamada Projeto de Expansão e Consolidação do Saúde da
Família (PROESF) surgiu com a intenção de ajudar na ampliação do programa nos grandes
centros urbanos e regiões metropolitanas e focava o incentivo financeiro para municípios
com mais de 100.000 habitantes (CASTRO et al., 2018).
Em 2006, o financiamento passou a ser realizado na forma de blocos de financia-
mento destinados a atenção básica, atenção de média e alta complexidade ambulatorial e
hospitalar; vigilância em saúde; assistência farmacêutica; e gestão do SUS. A seguir, foram
criados alguns programas de incentivo financeiro específicos para o NASF, questões estrutu-
rais de UBS, implementação de equipes de saúde bucal, entre outras (CASTRO et al., 2018).
A partir de 2019, o novo modelo de financiamento da APS no âmbito do SUS foi ins-
tituído pelo Programa Previne Brasil, no qual o repasse de recursos é determinado através
de três critérios: (I) capitação ponderada; (II) pagamento por desempenho; e (III) incentivo
para ações estratégicas (BRASIL, 2021c).
Na capitação ponderada é realizado um cálculo que considera a população e a
equipe cadastrada no sistema de informação, a vulnerabilidade socioeconômica da popula-
ção, o perfil demográfico por faixa etária da população e a classificação geográfica definida
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para determinar o valor do recurso que será transferido é atribuído um peso através
de um valor numérico por pessoa cadastrada. De modo geral, quanto maior a vulnerabili-
dade e dificuldade de acesso geográfico, maior é o valor atribuído, e consequentemente,
maior o financiamento destinado ao serviço ou equipe responsável por aquele território.
Aqui podemos ressaltar a importância do trabalho de cadastramento das famílias
pela territorialização e a alimentação do sistema de informação, uma vez que estas são as
duas principais fontes de consulta para determinar o financiamento. Também é importante
que as equipes estejam credenciadas ao Ministério da Saúde e cadastradas no Cadastro
Nacional de Estabelecimentos de Saúde.
O pagamento por desempenho considera o desempenho da equipe a partir de
cálculos condicionados ao cumprimento de meta para cada indicador. É importante
ressaltar que os indicadores devem ser escolhidos com base na relevância clínica e epi-
demiológica, na disponibilidade, simplicidade, baixo custo de obtenção, adaptabilidade,
estabilidade, rastreabilidade e representatividade. Observe no quadro 3 abaixo alguns
exemplos desses indicadores.
Esses indicadores podem mudar de um ano para o outro de acordo com a neces-
sidade em saúde, mas de modo geral representam ações que impulsionem o serviço de
promoção e prevenção à saúde em diversos pontos específicos.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 75


QUADRO 3 - INDICADORES DE PAGAMENTO POR DESEMPENHO PARA O ANO DE 2020

Ações estratégicas Indicadores


Proporção de gestantes com pelo menos 6 (seis) consultas pré-
natal realizadas, sendo a primeira até a 20ª semana de gestação
Pré-Natal Proporção de gestantes com realização de exames para sífilis
e HIV
Proporção de gestantes com atendimento odontológico realizado
Saúde da mulher Cobertura de exame citopatológico
Saúde da criança Cobertura vacinal de Poliomielite inavada e de Pentavalente
Percentual de pessoas hipertensas com pressão arterial aferida
em cada semestre
Doenças crônicas
Percentual de diabéticos com solicitação de hemoglobina gli-
cada
Fonte: Adaptado de BRASIL, 2020.

Para 2021 e 2022, a Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) determinou


os seguintes indicadores para pagamento: ações multiprofissionais no âmbito da atenção
primária à saúde; ações no cuidado puerperal; ações de puericultura (crianças até 12
meses); ações relacionadas ao HIV; ações relacionadas ao cuidado de pessoas com tu-
berculose; ações odontológicas; ações relacionadas às hepatites; ações em saúde mental;
ações relacionadas ao câncer de mama e indicadores globais.
Esses indicadores são avaliados sob um sistema de pontuação que gera um indica-
dor final que facilita a interpretação do desempenho do município. A instância responsável
por realizar esses cálculos e transferir os recursos é o Ministério da Saúde.
O incentivo para ações estratégicas é voltado para o custeio de ações, programas
e estratégias específicas:
I - Programa Saúde na Hora;
II - Equipe de Saúde Bucal (eSB);
III - Unidade Odontológica Móvel (UOM);
IV - Centro de Especialidades Odontológicas (CEO);
V - Laboratório Regional de Prótese Dentária (LRPD);
VI - Equipe de Consultório na Rua (eCR);
VII - Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF);
VIII - Equipe de Saúde da Família Ribeirinha (eSFR);
IX - Microscopista;
X - Equipe de Atenção Básica Prisional (eABP);
XI - Custeio para o ente federativo responsável pela gestão das ações
de Atenção Integral à Saúde dos Adolescentes em Situação de Privação de Liberdade;
XII - Programa Saúde na Escola (PSE);
XIII - Programa Academia da Saúde;
XIV- Programas de apoio à informatização da APS;
XV - Incentivo aos municípios com residência médica e multiprofissional;
XVI - Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde (ACS); e
XVII - outros que venham a ser instituídos por meio de ato normativo específico
(BRASIL, 2020, online).

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 76


Cada um destes listados apresentam particularidades quanto à organização, fun-
cionamento e financiamento, que são previstas em documento regulatórios, portanto, o
financiamento vai de acordo com cada uma destas normas. Aproveite esse momento em
que já avançamos no conteúdo e veja que já é possível perceber que esses programas e
estratégias representam uma tática para ajudar na ampliação do atendimento integral.
Quando são detectadas irregularidades no funcionamento do serviço de APS, o
financiamento poderá ser suspenso proporcionalmente ao grau da irregularidade. Alguns
exemplos de irregularidades são: a ausência do profissional auxiliar, técnico de enferma-
gem, ACS, enfermeiro ou médico na equipe, fraude ou informação irregular de cumprimento
de metas e indicadores, entre outros.

3.7 Desafios
Apesar de toda elegância teórica, o sistema único de saúde enfrenta desafios
e dificuldades consistentes em cumprir os objetivos, principalmente devido a limitações
associadas à falta de recursos financeiros, problemas administrativos e despreparo dos
profissionais de saúde.
Um dos principais desafios é o trabalho do esquema de redes, que exige a sincro-
nização entre equipes da atenção primária com os outros serviços e estabelecimento de
saúde de forma integrada. Usualmente pode ocorrer a fragmentação do sistema devido à
complexidade da rede ou pela falta de comprometimento dos profissionais.
A busca de profissionais com perfil adequado para atender a política assistencial
integralista é muito importante, e por isso, o ensino da saúde coletiva deve ser tão valorizado
durante a formação de cursos da área da saúde. Os alunos precisam ser preparados desde o
início do ensino para compreender os fundamentos, princípios e diretrizes do SUS e tornar-se
capaz de colocá-los em prática durante o futuro exercício profissional ou de gestão em saúde.
Um ponto importante a ser trabalhado para facilitar a resolução desses problemas
é o fortalecimento do relacionamento entre os integrantes da equipe. A participação do
gestor de saúde pode ser fundamental para incentivar o trabalho em equipe no fortaleci-
mento da rede de atenção.
Por fim, apesar de estar claro que o investimento da atenção primária em saúde
pode render frutos mais interessantes para o estado e à população, muitas vezes o sistema
enfrenta dificuldades em difundir as ações de promoção e prevenção de saúde. As equipes
de saúde das grandes cidades são as que apresentam maior dificuldade em planejar as
ações específicas do território para atingir a comunidade.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 77


Por esse motivo que vemos em grandes centros, os usuários procurando atendi-
mento médico diretamente em serviços mais especializados ou de urgência. Essa situação
exige atenção, pois esse esquema de funcionamento está associado à alta demanda e
sobrecarga do sistema de saúde.
Como temos estudado, o SUS prioriza a atenção primária e não as de maior com-
plexidade, justamente por ter um custo mais baixo e também proporcionar a saúde de
forma mais precoce e evitando situações mais graves. A ampliação do programa através da
implantação de mais equipes e profissionais por região poderiam contribuir para diminuir
esse problema. Entretanto, as dificuldades com o investimento financeiro podem impossi-
bilitar essa estratégia.
Concluímos que o funcionamento do sistema de saúde aos moldes da rede de
atenção é extremamente complexo e dificilmente ficará livre de desafios. O ideal é investir
nas equipes de saúde através da educação permanente para conscientizá-los sobre o
impacto positivo que um bom trabalho pode refletir na saúde da população.

SAIBA MAIS

Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social – CRAS


Acesse o link abaixo e saiba mais sobre o funcionamento do CRAS.
Link de acesso: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Ca-
dernos/orientacoes_Cras.pdf

Fonte: MDS. Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 1. ed. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Com-

bate à Fome, 2009.

REFLITA

Você já participou de alguma ação de promoção da saúde ou de prevenção de doenças?


Para realizar essas ações, não precisamos necessariamente estar inseridos em um
cargo como profissional da saúde. Reflita sobre como você poderia contribuir para forta-
lecer o serviço de atenção primária em saúde na sua comunidade.

Fonte: A autora (2021)

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 78


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final de mais uma unidade, na qual pudemos consolidar todo o


conteúdo que estudamos anteriormente através da caracterização da principal estratégia
utilizada pelo SUS para oferecer a atenção primária em saúde. Nesta unidade fomos apre-
sentados aos princípios e diretrizes, a constituição da equipe multiprofissional, aos serviços
de atendimento, à infraestrutura, financiamento e desafios da Estratégia Saúde da Família.
Um dos principais elementos estudados foram as equipes da saúde da família
(eSF), que atuam nas unidades básicas de saúde (UBS) realizando o primeiro contato com
o usuário. Este serviço deve funcionar através dos princípios da universalidade, equidade e
integralidade, que são condizentes à proposta de assistência à saúde do SUS.
Além disso, as equipes são responsáveis por colocar em prática várias diretrizes
que guiam o serviço de atendimento à família de um território definido. A equipe é constituí-
da basicamente por médicos, enfermeiros, auxiliares ou técnicos de enfermagem e agentes
comunitários de saúde (ACS), sendo estes últimos os elementos chave para aproximar a
comunidade do sistema de saúde.
Além da UBS, o serviço de atenção básica pode ser oferecido também pelos NASF-
-AB, que são suporte multiprofissional às eSF e funcionam e podem realizar atendimento tanto
nas UBS quanto em postos específicos em outros locais do território abrangido. Os CAPS e
os CRAS são postos muito importantes que oferecem serviço de atendimento psicológico e
de assistência social, respectivamente, através do sistema de redes de atenção à saúde.
O funcionamento desses núcleos de atenção em conjunto com as eSF das UBS fornece
maior variedade de assistência médica e contribuem para o atendimento integral e longitudinal
da comunidade, valorizando o contexto familiar através da comunicação intersetorial.
Também foram descritos os principais grupos de atenção: a família, a criança e o
adolescentes, o adulto, o idoso e pessoas com doenças infecciosas. Todos estes exigem abor-
dagem particulares, mas que devem ser incorporadas de forma integral com a saúde da família.
A infraestrutura mínima que uma UBS deve apresentar foi descrita, destacando
quais os principais procedimentos que são realizados por cada profissional da equipe
em cada ambiente na rotina de atendimento do serviço de saúde básica. O modelo de
financiamento e o sistema de repasse de recursos foram apresentados, destacando as
características dos critérios que são relevantes.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 79


Por fim, pontuamos as principais dificuldades que o SUS e a atenção básica
enfrentam na assistência à saúde, sendo importante trabalhar para resolver os desafios
a fim de alcançar um resultado positivo na saúde pública. As principais limitações estão
associadas ao financiamento, à sincronização da equipe da saúde da família, a educação
permanente de profissionais atuantes e ao fortalecimento da atenção básica, principal-
mente em grandes centros.

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 80


LEITURA COMPLEMENTAR

Política Nacional de Atenção Básica (2006)


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006b.
Link de acesso:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_basica_2006.pd

Política Nacional de Atenção Básica (2011)


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
Link de acesso:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2488_21_10_2011.html

Atualização da Política Nacional de Atenção Básica (2017)


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2017b.
Link de acesso:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 81


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: SUS e ESF - Sistema único de Saúde e Estratégia Saúde
da Família
Autor: Cordoba, Elisabete.
Editora: Rideel
Sinopse: A Estratégia Saúde da Família (ESF), implantada em
quase todo o território nacional, segue os princípios dos SUS e
tornou possível a democratização da saúde como nenhum outro
programa do Ministério da Saúde já havia feito. A ESF presta
cuidados na Unidade de Saúde (US), tanto onde está localizada
quantos nos domicílios de seus pacientes, realizando ações de
forma integrada a todos os componentes família. Pensando nis-
so, a obra aborda desde a história do SUS até como agir com o
paciente, de acordo com sua fase de vida ou suas doenças. Esta
obra foi elaborada a partir da experiência das autoras, a fim de
ampliar o conhecimento de estudantes e profissionais da área da
saúde.

FILME / VÍDEO
Título: Conheça a Estratégia Saúde da Família
Ano: 2012.
Sinopse: A Estratégia Saúde da Família é a Estratégia do Governo
Brasileiro que tem por objetivo a promoção da saúde, prevenção,
recuperação, reabilitação de doenças e a manutenção da saúde
da comunidade. Esse vídeo foi realizado pelo Departamento de
Atenção Básica do Ministério da Saúde (2009) e contou com depoi-
mentos de diversos profissionais da ESF e de usuários. Confira!.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=EvAbGkvf3Yw

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 82


FILME / VÍDEO
Título: Agentes Comunitários de Saúde - aprendendo com Estra-
tégia Saúde da Família do Brasil.
Ano: 2013.
Sinopse: O papel do Agente Comunitário de Saúde na Estratégia
Saúde da Família do Brasil está sendo reconhecido como um
potencial benefício tanto para os sistemas de saúde em países em
desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. Pesquisadores
do Imperial College Londres, a Universidade de Bangor, o London
School of Hygiene and Tropical Medicine, e Public Health Wales
estão colaborando com a secretaria regional de saude de Betsi
Cadwaladr com a finalidade de traduzir o modelo brasileiro dos
Agentes Comunitários de Saúde para o Norte do País de Gales.
Planos estão sendo elaborados para iniciar um projeto piloto.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=7e3BTrR-Q-I

UNIDADE III A Equipe Saúde da Família e Seus Núcleos de Apoio 83


UNIDADE IV
Noções de Epidemiologia
Professora Me. Andressa Lorena Ieque

Plano de Estudo:
● Sistema de informação e introdução à epidemiologia;
● Epidemiologia descritiva: medidas de frequência e de associação;
● Epidemiologia analítica: estudos observacionais e experimentais.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender sobre o uso de sistema de informação no contexto
da assistência à saúde;
● Apresentar a epidemiologia e a aplicação de suas ferramentas
nos estudos epidemiológicos;
● Definir as medidas de frequência e de associação utilizadas
na epidemiologia descritiva;
● Pontuar as principais características dos estudos
observacionais e experimentais.

84
INTRODUÇÃO

Olá aluno(a)! Seja bem-vindo à unidade IV do curso de Saúde Coletiva e Promo-


ção da Saúde. Nesta última unidade, seremos apresentados aos sistemas de informação
utilizados para organizar os dados de saúde e planejar medidas preventivas e de resolução
dos problemas coletivos através do emprego da epidemiologia.
No primeiro tópico, vamos buscar compreender o funcionamento desses sistemas
de informação no contexto da assistência à saúde e como eles são utilizados para coletar,
armazenar, organizar e analisar as informações de morbidade, mortalidade, características
socioeconômicas, entre outros dados das populações atendidas pelo sistema de saúde.
No segundo tópico, estudaremos a epidemiologia descritiva pontuando como ela
pode ser utilizada no estudo de um problema de saúde. Nesse contexto, pontuaremos as
medidas de frequência e de associação, conceituando-as e entendendo qual a sua função
no estudo epidemiológico.
No terceiro e último tópico, daremos enfoque à epidemiologia analítica e caracteri-
zaremos os estudos do tipo observacionais e experimentais, ressaltando a forma que eles
devem ser conduzidos passo a passo, as principais vantagens de utilizá-los e também as
suas limitações mais importantes.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 85


1. SISTEMA DE INFORMAÇÃO E INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA

1.1 Sistema de informação


Sistemas de informações constituem um modelo de estrutura organizacional que
permite a obtenção e armazenamento de dados de forma ordenada. O sistema de informa-
ções não se limita à coleta e armazenamento de dados, mas também permite e análise e
processamento de informações externas (FILHO, 1970).
No contexto do fluxo de comunicações internas e externas de uma instituição, as
informações podem ser coletadas, processadas e analisadas para subsidiar o processo de
tomada de decisões planejadas (FILHO, 1970).
Na rede de assistência à saúde, o uso dessa estratégia é extremamente importante
para organizar as ações de saúde e implantação de políticas de saúde pública. No SUS,
temos o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) desde 1998 desenvolvido como
instrumento gerencial da atenção à saúde. De acordo com o Ministério da Saúde (2021):
A disponibilização da base de dados do SIAB na internet, faz parte das ações
estratégicas da política definida pelo Ministério da Saúde com o objetivo de
fornecer informações que subsidiem a tomada de decisão pelos gestores do
SUS, e a instrumentalização pelas instâncias de Controle Social, publicizan-
do, assim, os dados para o uso de todos os atores envolvidos na consolida-
ção do SUS (BRASIL, 2021a, online).

O SIAB é utilizado para organizar os dados de cadastramento da estratégia saúde


da família e fornece informações diversas sobre a situação de saúde e condições socioeco-
nômicas da população atendida. esses dados são utilizados para a produção e composição
das equipes de saúde do território, além de ser utilizado como base para o financiamento
das unidades básicas de saúde (UBS).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 86


As informações são obtidas a partir de uma variedade de fichas, como por exemplo:
● Ficha para cadastramento das famílias (Ficha A) (Figura 1 e 2);
● Ficha para acompanhamento (Fichas B);
● Ficha de gestantes (Ficha B-GES) (Figura 3);
● Ficha de hipertensos (Ficha B-HA) (Figura 4);
● Ficha de diabéticos (Ficha B-DIA);
● Ficha de pessoas com tuberculose (Ficha B-TB);
● Ficha de pessoas com hanseníase (Ficha B-HAN);
● Ficha para acompanhamento da criança – Ficha C (Cartão da Criança);
● Ficha para registro de atividades, procedimentos e notificações (Ficha D).
(BRASIL, 2021b).
A Ficha para cadastramento das famílias (Ficha A), utilizada no processo de territo-
rialização das equipes saúde da família levanta dados demográficos, sociais, econômicos
e sobre a utilização do serviço de saúde propriamente dito (Figura 1 e 2) (BRASIL, 2003).

FIGURA 1 - FICHA PARA CADASTRAMENTO DAS FAMÍLIAS (FICHA A) FRENTE

Fonte: BRASIL, 2003.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 87


FIGURA 2 - FICHA PARA CADASTRAMENTO DAS FAMÍLIAS (FICHA A) VERSO

Fonte: BRASIL, 2003.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 88


FIGURA 3 - FICHA DE ACOMPANHAMENTO DE GESTANTES (FICHA B-GES)

Fonte: BRASIL, 2003.

FIGURA 4 - FICHA DE ACOMPANHAMENTO DE HIPERTENSOS (FICHA B-HA)

Fonte: BRASIL, 2003.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 89


A alimentação do SIAB pode ser feita por todos os integrantes da equipe, porém
a responsabilidade é principalmente do gestor do serviço. Os dados precisam manter-se
atualizados para garantir que as necessidades das populações possam ser atendidas.
Todos os dados são encaminhados para as esferas governamentais superiores e
são disponibilizados para a população através do Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde, garantindo a transparência desses serviços. Os arquivos de dados são
transferidos para o Datasus e processados com auxílio do Tabwin e do Tabnet.
O Tabwin e Tabnet são ferramentas de pesquisa de dados que permitem a
importação de tabelas e dados de saúde da internet, a elaboração de gráficos e mapas
e avaliação destes por operações estatísticas. Por isso, são extremamente importantes
no desenvolvimento dos estudos epidemiológicos que estudaremos nos próximos tópi-
cos (BRASIL, 2016).
Um sistema de informação muito importante no contexto do SUS é o Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN), que é constituído por informações referen-
tes à notificação de investigação de doenças e agravos de notificação compulsória. Além
disso, também há os Sistema de Informações de Nascidos Vivos (SINASC) e do Sistema
de Informações sobre Mortalidade (SIM) (BRASIL, 2021c).
O uso de todas essas ferramentas disponíveis fornece uma variedade de dados
de doenças e agravos, incluindo dados sobre morbidade, mortalidade, acesso a serviços,
qualidade da atenção, condições de vida e fatores. Isso permite a produção de indicadores
de saúde que podem ser utilizados na quantificação e a avaliação das informações em
saúde. Nos próximos tópicos veremos a aplicação do uso desses sistemas no contexto
epidemiológico (BRASIL, 2021d).

Introdução à epidemiologia
A palavra “Epidemiologia” vêm da definição: Epi=sobre; demo=população; lo-
gos=estudo. Portanto, de um modo resumido poderíamos descrevê-la como estudo de uma
população. Uma definição precisa do termo não é fácil, pois sua temática é dinâmica e seu
objeto é complexo. De modo geral, apresentamos a epidemiologia como a consolidação de
três áreas de estudos (Figura 5):
Clínica: considera os fatores individuais das pessoas que constituem a população;
Estatística: utiliza de ferramentas para coleta e análise de dados de doenças ou
agravos à saúde para estudar os riscos que a população está exposta;

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 90


Medicina Social: considera os diversos determinantes ou fatores envolvidos no
estabelecimento de um risco à comunidade, afim de oferecer assistência aos mais necessi-
tados (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018; ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

FIGURA 5 - DIAGRAMA REPRESENTANDO OS TRÊS CAMPOS

DE ESTUDOS ENVOLVIDOS NA EPIDEMIOLOGIA

Fonte: A autora, 2021.

Em um processo de saúde-doença, um indivíduo que se apresenta saudável evolui


para um estado doente. Os fatores de risco envolvidos nesse processo são muito diversos
e a forma como interagem e se distribuem são determinantes para a instalação de doença.
Por isso esses fatores ou determinantes são objeto de estudo da epidemiologia e, antes de
qualquer coisa, precisamos pontuar e compreender quais são eles e como estão envolvidos
no processo saúde-doença.
Os fatores de risco podem ser organizados em classes partindo de três grupos
maiores: sociais, ambientais e biológicos. Dentro do grupo de fatores sociais, podemos
ainda citar os fatores econômicos, políticos, culturais e psicossociais. O quadro abaixo
resume esses fatores de acordo com essa forma de organização (Quadro 1).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 91


QUADRO 1 - FATORES OU DETERMINANTES CLASSIFICADOS DE

ACORDO COM OS GRUPOS SOCIAIS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICOS

Fatores ou determinantes Exemplos


- Pobreza, privação ou desigualdades. Relacionado
com renda e escolaridade;

Econômicos - Fome;

- Condições precárias de vida: moradia, sanitárias

- Pouca acessibilidade.
- Leis;
Sociais Políticos - Políticas de saúde;
- Sistema de saúde.
- Preconceitos;
Culturais - Hábitos alimentares;
- Crendices e comportamentos.
- Ansiedade e depressão;
Psicossociais - Resistência dos sujeitos;
- Estresse e sono.
- Demografia;
Ambientais - Localização geográfica;
- Ocupação.
- Idade;
- Sexo;
Biológicos - Fatores genéticos;
- Comorbidades;
- Uso de medicamentos.

Fonte: A autora, 2021.

Como já vimos na primeira unidade da apostila de saúde coletiva e promoção da


saúde, esses fatores interagem de forma dinâmica no modelo da história natural da doença
para estabelecer uma doença. Portanto, precisamos trabalhar com a mente aberta para
avaliar esses fatores de forma integrada.
Um dos objetivos centrais da epidemiologia é a identificação das causas envolvidas
em um processo saúde-doença através da análise da distribuição dos fatores de riscos e
conhecimento da forma como agem ou interagem, buscando propor: medidas de preven-
ção, controle ou erradicação de problemas; proteção, promoção e recuperação da saúde
individual e coletiva; e organização do planejamento, administração e avaliação de serviços
e ações de saúde (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 92


O serviço de saúde utiliza muito a epidemiologia para conhecer as necessidades da
população e produzir medidas que contribua para a manutenção da saúde de um território.
Isso é feito através da aplicação dos estudos epidemiológicos, que dependendo das ferra-
mentas aplicadas são incluídos dentro de um de dois ramos da epidemiologia, a descritiva
e a analítica (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
De forma geral e resumida, a epidemiologia descritiva estuda a distribuição dos
eventos quanto às pessoas, o lugar e o tempo, enquanto a analítica estuda a associação
da exposição e o efeito específico. Nos próximos dois tópicos, daremos enfoque ao estudo
da epidemiologia descritiva e analítica pontuando e descrevendo esses tipos, quais as
ferramentas utilizadas, as análises que podem ser feitas e as conclusões que a aplicação
destes estudos permite alcançar (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 93


2. EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA: MEDIDAS DE FREQUÊNCIA E DE ASSOCIAÇÃO

A epidemiologia descritiva é definida como o estudo da distribuição e da frequência


das doenças e dos agravos a saúde coletiva, em função de variáveis ligadas ao tempo (dia,
mês, ano), ao lugar (ambientais e populacionais) e as pessoas (características individuais e
populacionais) possibilitando à promoção da saúde (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
O seu principal objetivo é apresentar a ocorrência de casos de doença e de óbitos
em uma comunidade, em função das variáveis tempo, lugar e pessoa. Através da sua apli-
cação, torna-se possível as variações que cada doença segue, identificar os grupos que
estejam sob maior risco, indicar as possíveis causas e produzir informações que auxiliem
no controle das enfermidades e na avaliação dos resultados das ações e serviços de saúde
(ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
A epidemiologia descritiva trabalha considerando que o padrão de distribuição das
doenças em uma população é descrito pelas respostas combinadas a três perguntas básicas:
1. Quem?
2. Onde?
3. Quando?
A primeira pergunta (Quem?) busca definir qual o perfil das pessoas que foram
atingidas, definir sua faixa etária, o sexo, a escolaridade, entre outros. A segunda (Onde?)
define em qual região de um território geográfico as pessoas foram atingidas, e a terceira
pergunta (Quando?) preocupa-se em avaliar em que período do tempo as pessoas foram
atingidas (ROUQUAYROL, 1993; ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 94


Portanto, podemos dizer que a resposta dessas perguntas tem a ver com a pessoa,
o lugar e o tempo. Nesse contexto, são respondidas pelo estudo da distribuição com relação
à pessoa, distribuição cronológica e geográfica. A seguir, vamos avaliar cada um desses
tipos de distribuição.

2.1 Distribuição cronológica – relacionada ao tempo


O estudo da distribuição cronológica pretende avaliar a relação entre uma crono-
logia de eventos e determinada frequência de uma característica de uma doença. A
partir da sua aplicação é possível avaliar como certa variável comportou-se no decorrer no
tempo, se apresenta caráter cíclico, sazonal, entre outros. Podemos classificar o estudo da
distribuição cronológica em:
a) Séries temporais (curto prazo);
b) Tendência geral (histórica ou secular);
c) Variações cíclicas; e
d) Variações sazonais (PEREIRA, 2018; ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

Nas séries temporais, são avaliadas variações que ocorrem em períodos relativa-
mente curtos (horas, dias, meses ou ano). Geralmente associam-se com mudanças bruscas
na incidência de doenças, que podem ser denominadas de atípicas ou irregulares. Alguns
fenômenos que podemos associar a esse tipo de distribuição são os desastres naturais e
os surtos de doenças infecciosas (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018; ALMEIDA FILHO e
BARRETO, 2011).

FIGURA 6 - EVOLUÇÃO TEMPORAL DAS TAXAS DE MORTALIDADE PELA DOENÇA X

(POR 100.000 HABITANTES), 1960-1995

Fonte: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 141.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 95


A Figura 6 apresenta um gráfico demonstra um exemplo de série temporal, pontuan-
do as taxas de mortalidade de determinada doença para cada 100.000 habitantes, durante
um período de estudo de 1960 e 1995. Observe que em alguns pontos há uma mudança
brusca nessa taxa, como a diminuição entre 1965 e 1970 ou o aumento entre 1975 e 1985.
Na tendência geral, as variações na frequência de doenças são avaliadas para um
longo período de tempo (anos ou décadas), por isso são relacionadas com uma tendência
histórica ou secular (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Como esse tipo de tendência leva em consideração durante um período muito longo
de tempo, está sujeita a erros porque o perfil de características da população pode alterar
e influência na avaliação dos fatores sociais, econômicos, demográficos, entre outros (AL-
MEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Um exemplo importante que ilustra essa situação é o estudo da taxa de mortali-
dade infantil ao longo do século XX. Como vimos anteriormente, o período do século XIX
foi marcado pela reforma sanitária e várias mudanças foram implantadas com relação à
assistência à saúde e também das condições sanitárias da população.
Foram implantados programas de vacinação, ampliação da cobertura de pré-natal,
medidas e promoção de saúde para as gestantes e mães, medidas de higiene nas escolas,
maior acesso à água tratada e sistemas de esgoto, entre outros.
Todas essas medidas e mudanças interagiram ao longo do tempo e influenciaram
diretamente ou indiretamente a tendência de mortalidade infantil no Brasil em diversas
regiões do Brasil. O impacto desse conjunto de ações é visto na Figura 7, na qual observa-
mos a queda progressiva da mortalidade infantil através da análise de tendência geral ao
longo de 70 anos.

FIGURA 7 - TENDÊNCIA DA MORTALIDADE INFANTIL NAS REGIÕES

DO BRASIL AO LONGO DO SÉCULO XX

Fonte: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 139.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 96


Na variação cíclica o padrão de variação ocorre de forma repetida a cada intervalo
de tempo. Geralmente esse padrão é aplicado na tentativa de prever novos surtos e epide-
mias, adiantando medidas de controle (Figura 8).

FIGURA 8 - CICLOS DA CAXUMBA DE 1962-1981 NA INGLATERRA E NO PAÍS DE GALES

ANTES DO INÍCIO DO PROGRAMA DE VACINAÇÃO EM MASSA (1988)

Fonte: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 140.

A variação sazonal ocorre em doenças que surgem respeitando uma periodicidade


e tendem a relacionar-se com uma estação específica do ano. Algumas doenças infecciosas
seguem esse padrão, como por exemplo, a gripe no inverno e a dengue no verão (calor e
umidade propícios para o vetor) (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011) (Figura 9).

FIGURA 9 - SAZONALIDADE DE NASCIMENTO DO BRASIL

Fonte: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 140.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 97


Nesse tipo de distribuição, é comum utilizar uma ferramenta chamada diagrama
de controle, um gráfico que permite acompanhar a incidência da doença durante um
período de tempo. Esse gráfico é muito utilizado na vigilância de doenças infecciosas e
transmissíveis, para determinar se a doença apresenta potencial de epidemia (ALMEIDA
FILHO e BARRETO, 2011).
O diagrama de controle é produzido através da plotagem das medidas de incidên-
cia no eixo das ordenadas (y) e o tempo no eixo das abscissas (x) (ALMEIDA FILHO e
BARRETO, 2011) (Figura 10).

FIGURA 10 - DIAGRAMA DE CONTROLE

Fonte: A autora, 2021.

No eixo y da incidência são definidos Desvios Padrões (DP) para delimitar a faixa
de endemicidade e limites para epidemia e erradicação, conforme a seguinte interpretação:
● Se a incidência se mantém abaixo do limite superior e acima do limite inferior do
canal endêmico, significa que a doença é classificada como endemia.
● Se a incidência ultrapassa o limite superior do canal endêmico, a doença é
classificada como epidemia.
● Se a incidência é menor que o limite interior do canal endêmico, significa que o
número de casos está progredindo para a eliminação ou erradicação da doença.
Esse diagrama permite avaliar se a distribuição da doença ocorreu dentro do es-
perado, além disso, quando são aplicadas medidas profiláticas ou de controle pode ser
utilizado para verificar se as medidas foram eficazes e mantiveram a doença sob controle.
Abaixo temos um exemplo de diagrama de controle no contexto de monitoramento de uma
doença, a meningite (Figura 11).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 98


FIGURA 11 - DIAGRAMA DE CONTROLE PARA MONITORAMENTO DOS

CASOS DE MENINGITE EM 2007 NO ESTADO DO PARANÁ

Fonte: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 137.

2.2 Distribuição geográfica – relacionada com o lugar


Na distribuição geográfica as diferenças são explicadas pelas características do
território e seus fatores socioeconômicos, ambientais e culturais relacionados. Os eventos
podem ser avaliados de acordo com o grau de agregação espacial (clustering), consideran-
do mecanismos de reação ou de interação de uma população (PEREIRA, 2018; ALMEIDA
FILHO e BARRETO, 2011).
Os mecanismos de reação estão associados com o acometimento de pessoas de
forma independente, de forma que a presença de doença se deve ao risco do conjunto de
exposição do ambiente (geralmente doenças crônicas). Já no de interação, a ocorrência de
doença depende da interação entre os indivíduos e geralmente relaciona-se com doenças
infecciosas pela sua forma de transmissão (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
A definição desses mecanismos é útil porque pode contribuir para detectar riscos
ambientais e implementar medidas específicas de vigilância para evitá-los e proteger a
população do aparecimento de doenças (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 99


A atenção para o espaço urbano e rural é importante na análise da distribuição geo-
gráfica, pois são territórios com características bem particulares e relevantes na ocorrência
de doenças e acesso ao serviço de saúde. Na área urbana, a população tende a estar ex-
posta aos riscos da cidade como acidentes de trânsito, doenças ocupacionais associadas
ao trabalho, promiscuidade, uso de drogas, entre outros (PEREIRA, 2018; ALMEIDA FILHO
e BARRETO, 2011).
Já a área rural, na maioria das vezes recebe menor atenção do serviço de saúde e
de outros setores, menor disponibilidade e acesso à assistência médica e baixa proporção
de saneamento. Além disso, as doenças apresentam perfil desigual das doenças urbanas,
principalmente devido à exposição da fatores de risco diferentes como o tipo de habitação,
modo de vida, presença de vetores, entre outros (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

2.3 Distribuição segundo atributos da população – relacionada a pessoa


Na distribuição relacionada a pessoa levamos em consideração e caracterizamos os
fatores individualmente, avaliando variáveis demográficas como idade, sexo e grupo étnico;
variáveis sociais como estado civil, renda, ocupação; e ainda, variáveis que expressam o
estilo de vida como o hábito de fumar ou beber, consumo alimentar, prática de exercício
físico, entre outros (PEREIRA, 2018; ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
A seguir vamos pontuar algumas características importantes relacionadas a essas
variáveis, para facilitar a interpretação de cada uma delas no contexto individual.

2.4 Idade
A idade pode ser determinante para o estado de saúde, pois dependendo do estágio
da vida alguns componentes biológicos e sociais dos quais o indivíduo é exposto podem
aumentar o risco para o desenvolvimento de algumas doenças. Por exemplo:
● As crianças estão mais suscetíveis a doenças da fase escolar devido contato
com outras crianças, sendo comum dor de garganta, disenterias e catapora.
● O adulto apresenta outro perfil de doenças infecciosas devido a maturidade do
seu sistema imunológico, e também doenças associadas ao trabalho.
● O idoso pode apresentar doenças crônicas como doenças cardiovasculares,
câncer, artrite, diabetes e outras doenças infecciosas relacionadas ao sistema
imune fragilizado como gripe e pneumonias (PEREIRA, 2018).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 100


2.5 Sexo
O sexo pode interferir no perfil de distribuição de doenças devido ao componente
biológico ou social. No componente biológico precisamos considerar as diferenças anatô-
micas e fisiológicas como os hormônios, enquanto no social, a dimensão da vida externa
como o trabalho e perfil de cuidado. O homem, por exemplo, tende a procurar assistência
à saúde com menor frequência que as mulheres (PEREIRA, 2018; ALMEIDA FILHO e
BARRETO, 2011).
Ao considerar o componente biológico podemos citar que mulheres estão susce-
tíveis ao câncer de colo de útero e mama, enquanto os homens ao câncer de próstata.
Outras doenças como câncer e doenças cardíacas podem acometer ambos sem apre-
sentar peso significativo.

2.6 Grupo étnico


O grupo étnico pode apresentar relação com diferenças do próprio organismo
biológico, ou pelo contexto histórico, socioeconômico e cultural. No caso do Brasil em que
temos uma população altamente miscigenada, a medida dessas variáveis pode ser muito
complexa e nem sempre é passível de tratamento estatístico (PEREIRA, 2018).

2.7 Comportamentos e estilo de vida


O estilo de vida geralmente está associado a posição social e podem predispor ou
proteger a doenças. O consumo de álcool, por exemplo, pode predispor a situações de violên-
cia. O hábito de fumar pode relacionar-se a uma maior predisposição para câncer de pulmão,
apesar de quase sempre existir um fator biológico (genético) envolvido (PEREIRA, 2018).
Assim como, hábitos saudáveis de alimentação e atividade física podem proteger
da obesidade. Outros comportamentos que podem apresentar implicações para o proces-
so-saúde doença são o comportamento sexual, a religião, o uso de medicamentos com
certa constância, o uso de substância ilícitas, entre outros (PEREIRA, 2018).

2.8 Fatores socioeconômicos


A classe social interfere nas experiências sociais, através do modo de vivenciar
o mundo, as oportunidades ou limitações de acesso a recursos, pelas experiências no
trabalho, no consumo de produtos, nas formas de organização política e cultural e ativida-
des cotidianas. Esses aspectos podem gerar efeitos que determinam padrões de saúde
e doença, atitudes, crenças, valores, entre outros (PEREIRA, 2018; ALMEIDA FILHO e
BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 101


As variáveis isoladas mais utilizadas são aquelas a ocupação, a renda e a escola-
ridade, devendo-se tomar cuidado com as suas limitações. Por exemplo:
● Ocupação: relacionada ao trabalho, pode apresentar problemas em indivíduos
que possuem uma formação específica, mas atua em ocupação não relacionada.
Além disso, determinadas ocupações são mais comuns em certos grupos etários
ou de determinado sexo.
● Escolaridade: relacionada ao tempo e progresso de estudo, dependendo da
geração pode apresentar um padrão, como os idosos que tendem a ter menor
escolaridade.
● Renda: relaciona-se a remuneração advinda do trabalho, sendo comum altas taxas
de não resposta em inquéritos. O ideal é classificá-la na forma de decis, quintis ou
percentis para controlar problemas operacionais e diminuir o incômodo e insegu-
rança do entrevistado (PEREIRA, 2018; ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

A medida da classe social é difícil, pois depende de inquéritos individuais e que


podem ser respondidos de forma subjetiva e pouco transparente. Por isso, é comum a
reunião de variáveis socioeconômicas na forma de indicadores que relacionam um conjunto
de informações relacionadas a dimensão social, econômica e cultural (PEREIRA, 2018;
ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
De acordo com Almeida Filho e Barreto (2011, p. 82):
Em uma perspectiva mais geral, as variáveis epidemiológicas são expressas
como dados por meio de indicadores. Indicadores epidemiológicos sintetizam
a relação entre o subconjunto de doentes (ou óbitos por uma dada doença,
ou sujeitos portadores de uma condição relacionada com a saúde) e o con-
junto de membros da população.

Geralmente, os indicadores de saúde são produzidos a partir da coleta de dados a


partir de sistemas de informação, bancos de dados, registros ambulatoriais, hospitalares ou
de inquéritos populacionais. Para análises completas, o ideal é conhecer a cobertura dos
registros, a forma que os indicadores foram construídos e que eles sejam simples e de fácil
interpretação (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018; ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Os indicadores são na verdade uma medida de frequência do tipo absoluta, ex-
pressa em número inteiro ou frequência (%). As medidas de frequência são estimativas
e projeções sobre a vida e saúde e são usadas para demonstrar eventos principalmente
de três tipos: os nascimentos, os óbitos e as doenças (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018;
ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 102


● Os nascimentos são expressos pela natalidade, que demonstra o número de
nascidos vivos em uma determinada população. O estudo dos nascimentos tem
aplicações múltiplas para avaliar a qualidade de vida, dados sobre aborto, controle
de natalidade, entre outras.
● Os óbitos são expressos pela mortalidade, que indicam o índice de mortes
registradas para cada situação e referem-se ao pior desfecho que poderia
acontecer diante de uma doença ou agravo de saúde (ROUQUAYROL e
GURGEL, 2018; ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Os eventos de doença tendem a estar relacionados com a morbidade e para avaliar
essa morbidade considera-se a incidência e a prevalência:
A prevalência expressa o número de casos conhecidos de uma dada doença até
uma data limite. No cálculo considera a soma dos casos anteriormente conhecidos e os que
ainda existem, mas não os que foram diagnosticados desde a data limite pré-estabelecida.
Por isso, é classificada como uma medida estática. A prevalência costuma ser utilizada para
medir a frequência e a magnitude de problemas crônicos, pois não surgem repentinamente
(ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
A incidência expressa a intensidade com que a morbidade ocorre em uma popula-
ção, indicando os novos que estão surgindo e sendo diagnosticados em uma população.
Por isso, é classificada como dinâmica (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Quando essas medidas são apresentadas de forma relativa representam uma rela-
ção são classificadas como coeficiente ou taxa e expressam valores em formato de razão
ou proporção. Normalmente os coeficientes e taxas são usados para comparar e fazer
cálculos de estimativas e projeções (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Os coeficientes expressam o risco de ocorrência de um evento em um intervalo
de tempo. Nessa condição, as medidas secundárias deixam de sofrer a influência do
tamanho da população e do tempo e passam a expressar apenas a intensidade dos
riscos naquela população durante o período de tempo observado. Assim, permitem a
comparação aos índices de riscos de outras populações, de outros tempos e lugares
(ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
As taxas geralmente são usadas para expressar um valor observado quando se
estima ou projeta-se um valor esperado. No cálculo das taxas, é necessário excluir do
denominador as pessoas não expostas ao risco. Enquanto os coeficientes descrevem os
fenômenos observados, as taxas auxiliam o cálculo dos fenômenos esperados (ALMEIDA
FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 103


A seguir veremos como são feitos os cálculos de taxas e coeficientes de natalidade,
morbidade (prevalência e incidência) e mortalidade. Para calcular os coeficientes e taxas,
a população deve ser estabelecida com em uma localização geográfica delimitada para o
intervalo de tempo a que se refere o coeficiente.
Além disso, deve-se definir a abrangência de acordo com variáveis de interesse,
definindo o sexo, a idade, um grupo social (escolaridade ou renda), se importante. A com-
binação dessas variáveis determina um número aberto de coeficientes de morbidade, que
devem ser selecionados de acordo com o objetivo que deseja alcançar.

2.9 Coeficiente de Natalidade


Razão que dá a ideia da incidência anual de nascimentos vivos no total de uma
população. Pode ser calculado de forma específica para nascimentos a termo, pré-termo ou
nascidos com má formação congênita, por exemplo. Nesses casos específicos deve-se ajustar
o numerador, incluindo apenas os casos de interesse (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

Cálculo 1

● Numerador: inclui número total de nascidos vivos em um período de tempo e


local definido.
● Denominador: inclui toda a população residente no local definido nesse mesmo
período.

2.10 Prevalência
Relação entre o número de casos conhecidos de uma dada doença e a população de
origem dos casos, com referência a um lugar definido, multiplicando-se o resultado pela base
referencial da população que é uma potência de 10 (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

Cálculo 2

Fonte: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 99.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 104


● Numerador: deve incluir todos os casos da doença em um ponto definido no
tempo, sejam esses casos antigos ou recentes.
● Denominador: deve incluir toda população da localidade estudada naquele
ponto definido no tempo.

2.11 Incidência
Razão entre o número de casos novos de uma doença que ocorre em uma comuni-
dade, em um intervalo de tempo determinado, e o número de habitantes de uma população
expostos durante o mesmo período. Multiplica-se o resultado pela base referencial da
população que é uma potência de 10 (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

Cálculo 3

Fonte: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 100.

● Numerador: incluir somente casos novos em um intervalo de tempo determina-


do e local.
● Denominador: deve incluir a população exposta ao risco no mesmo intervalo e
local dos casos incluídos no numerador.

2.12 Mortalidade
Quantifica a intensidade do risco de morrer que uma população de determinada
área e ano, sem especificar causas, sexo, idade ou outra característica. Usualmente cal-
culado para situações específicas de mortalidade, como por exemplo, mortalidade infantil
ou neonatal, definindo nesses casos a faixa etária específica da infância ou neonatalidade
(ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

Cálculo 4

Fonte: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 105.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 105


● Numerador: incluir número de óbitos por determinada doença.
● Denominador: população total de indivíduos saudáveis e doentes.

2.13 Coeficiente de letalidade


Expressa o maior ou menor poder que tem uma doença ou agravo de provocar a
morte das pessoas acometidas pela doença ou que sofreram agravos à saúde. Calcula-se
dividindo o número de óbitos devidos à determinada causa pelo número de pessoas que
foram realmente afetadas pela doença, multiplicando-se o resultado por 100. Difere da mor-
talidade, pois considera no denominador a população total, incluindo saudáveis e doentes
(ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

● Numerador: incluir número de óbitos por determinada doença.


● Denominador: população inclui apenas casos de doença específica.

Além das medidas de frequência, também temos as medidas de associação que


medem a força de uma associação entre variáveis epidemiológicas: o risco relativo e o
odds ratio. A associação é diferente de risco, pois não consegue expressar a probabilidade
propriamente dita (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Para calcular um risco, que expressa a probabilidade de um membro da popu-
lação desenvolver uma doença, é necessário obter a incidência da doença. Quando
temos apenas a prevalência, é possível calcular apenas uma associação (ALMEIDA
FILHO e BARRETO, 2011).
Geralmente as variáveis de interesse nos estudos epidemiológicos são classificadas
de forma dicotômica (exposto – sim e não; doente – sim e não) e plotadas em uma tabela 2x2
para fazer a análise de associação entre as variáveis (Tabela 1). A partir daí, conseguimos
calcular a prevalência, a incidência e também as medidas de associação (Tabela 2).

TABELA 1 - TABELA 2X2 PARA ANÁLISE DE ASSOCIAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS DE


ACORDO COM A EXPOSIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE DOENÇA

Doença
Exposição Sim Não
Sim a b
Não c d
Total a+c b+d

Fonte: Adaptado de: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 249.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 106


TABELA 2 - TABELA 2X2 PARA ANÁLISE DE ASSOCIAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS DE

ACORDO COM A EXPOSIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE DOENÇA COM CÁLCULO DE

PREVALÊNCIA E INCIDÊNCIA

Doença
Exposição Sim Não Total/Prevalência Incidência
Sim a b a+b a/a+b
Não c d c+d c/c+d
Total a+c b+d a+b+c+d a+c/a+c+b+d

Fonte: Adaptado de: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 249.

Odds ratio (OR) ou razão de chance é a divisão entre a probabilidade de um evento


acontecer e a probabilidade de não acontecer. Na tabela, o cálculo é resultado da razão dos
produtos cruzado (em vermelho). É considerado uma estimativa do risco relativo, uma vez
que não é calculado a partir da incidência (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

CÁLCULO 5

Fonte: Adaptado de: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 249.

O risco relativo (RR) é calculado pela divisão da incidência da doença nos expostos
pela incidência das doenças não expostas:

CÁLCULO 6

Fonte: Adaptado de: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 249.

A interpretação do RR é feita da seguinte forma:


● RR = 1 – Ausência de associação (resultado da razão entre dois riscos iguais)
● RR > 1 – Risco nos expostos maiores não expostos, quanto maior o valor numé-
rico, maior a associação entre causa e efeito.
● RR < 1 – Risco nos não expostos < expostos, indica proteção (ALMEIDA FILHO
e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 107


As medidas de associação são presumidas através de análise estatística e devem
ser apresentadas com elementos dessa análise que demonstram a validade do resultado.
Esses elementos são o valor de p que representa o nível de significância (p) e o intervalo
de confiança (IC) (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
O valor de p minimiza o efeito dos erros aleatórios e avalia se a diferença entre gru-
pos é estatisticamente significativa. Quando a associação é estatisticamente significante,
temos um alto grau de certeza de que essa associação não se deve ao acaso (ALMEIDA
FILHO e BARRETO, 2011).
Como ele representa a probabilidade de se observar uma diferença entre grupos,
varia entre 0 e 1 e quanto menor o seu valor, maior a evidência de que existe uma
associação importante. Geralmente os estudos consideram uma probabilidade padrão
para considerar um achado significativo, no qual o p deve ser menor do que 5% (p < 0,05)
(ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
O intervalo de confiança define as faixas de valores que o resultado (RR ou OR) pode
assumir, numa probabilidade (na maioria das vezes, 95%). Por exemplo, um RR de 1,8 pode
apresentar um IC de 1,2 a 2,5, indicando que há 95% de chance do risco ser encontrado
nesse intervalo. Nesse sentido o RR costuma ser representado com o IC na frente.

RR = 1,8 (1,2 – 2,5)

O IC permite conhecer a precisão com que o estudo estima certo efeito e se o achado
é estatisticamente significativo para um dado nível de significância (p). Quando a faixa de IC
passa por 1, há a chance de os riscos serem iguais em dois grupos diferentes, e, portanto, a
diferença não existe. Por isso, quando IC contiver esse valor nulo de efeito, o resultado será
inconclusivo e sem significância estatística (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 108


3. EPIDEMIOLOGIA ANALÍTICA: ESTUDOS OBSERVACIONAIS E EXPERIMENTAIS

O planejamento de ações de saúde através do conhecimento de fatores de risco


associados ao indivíduo e à coletividade pode ser alcançado pela aplicação de estudos
epidemiológicos. A epidemiologia analítica utiliza ferramentas estatísticas para analisar os
dados de saúde avaliando se as associações ou risco são significativos ou não.
Os estudos epidemiológicos podem ser classificados em observacionais e experi-
mentais, de acordo com o posicionamento do investigador. Nos observacionais o investi-
gador assume posicionamento passivo e interfere o mínimo possível no objeto de estudo.
Já nos estudos experimentais, o investigador tem um posicionamento ativo interferindo de
forma controlada para avaliar um efeito (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Os estudos observacionais costumam ser avaliados de acordo com a temporalida-
de do processo de produção de dados em:
● Transversais: quando os dados são coletados em um único momento no tempo,
como se fosse um corte transversal do processo em observação.
● Longitudinais: os dados são coletados durante um período do tempo, seguindo
uma linha que se direciona do passado ao futuro, como se fosse um corte sec-
cional do tempo (PEREIRA, 2018; ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Os estudos observacionais analíticos mais conhecidos são: estudo transversal,
caso-controle, coorte e ecológico, e dos experimentais, o mais conhecido é o ensaio clínico
randomizado. A seguir, vamos descrever as principais características desses estudos (AL-
MEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 109


3.1 Estudo transversal
Os estudos transversais avaliam uma população de risco dividindo-a em dois gru-
pos de sadios e doentes, buscando identificar dentro desses dois grupos quais indivíduos
foram ou não expostos a um ou vários fatores de risco. A exposição e efeito são observados
em um mesmo momento, em um único ponto de uma linha do tempo (PEREIRA, 2018;
ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Geralmente esse corte transversal caracteriza o estudo como retrospectivo, pois
avalia dados que já ocorreram. Nesse sentido, esse tipo de estudo consegue medir a pre-
valência de doenças baseando-se em casos passados. A principal medida de associação
aplicada é a razão de chances ou odds ratio (OR) (PEREIRA, 2018; ALMEIDA FILHO e
BARRETO, 2011).
As etapas para produção de um estudo transversal costumam ser divididas em:
● Definição da população de interesse: a população é selecionada, definindo o
período (início e fim) e o tempo (número de anos) do estudo.
● Coleta de dados: os dados são coletados principalmente de registros de siste-
mas ou prontuários de serviços de saúde ou a partir de inquéritos populacionais
(entrevistas estruturadas e padronizadas aplicada em um território ou popula-
ção definidos). Deve-se tomar cuidado com vieses de informações, associados
a qualidade e cobertura das fontes de informação, com o não preenchimento
ou preenchimento incorreto dos dados, e uso de inquéritos populacionais mau
estruturados.
● Estudo da população: diz respeito a extração de dados sobre características
individuais e coletivas da população estudada. Inclui variáveis como sexo, faixa
etária, renda, ocupação, entre outras.
● Análise de presença ou ausência do desfecho e da exposição: avaliação se os
indivíduos sadios ou doentes foram expostos ou não aos fatores de risco de
relevância (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
As vantagens de produzir o estudo do tipo transversal incluem a curta duração da
análise dos dados, baixo custo, simplicidade analítica e o fato de permitirem o planejamento
e avaliação de ações de saúde. Entre as desvantagens podemos citar que não podem
avaliar a incidência, medir causa-efeito ou avaliar a evolução clínica pois trabalham com
dados estáticos e passados (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 110


3.2 Estudos ecológicos
Os estudos ecológicos são realizados a partir da divisão da população em agre-
gados populacionais, um grupo de indivíduos de determinado território geográfico que são
avaliados de forma conjunta ou coletiva. Esses estudos tendem a comparar indicadores
de saúde em áreas, populações e tempo definidos (PEREIRA, 2018; ALMEIDA FILHO e
BARRETO, 2011).
Eles podem ser classificados em transversais ou longitudinais, de forma que nos
primeiros são avaliadas variações geográficas, enquanto nos longitudinais variações tem-
porais. As etapas aplicadas na produção de um estudo ecológico são as seguintes:
● Definição da população de interesse: a população é selecionada, definindo a
área geográfica (território), o período (início e fim) e o tempo (número de anos)
do estudo.
● Coleta de dados: os dados são coletados de registros de sistemas ou prontuá-
rios de serviços de saúde ou a partir de inquéritos populacionais. Assim como nos
estudos transversais, deve-se tomar cuidado com vieses de informações, mas
também com a autocorrelação espacial, temporal e viés escala dependentes.
*Autocorrelação espacial: áreas adjacentes de um território geográfico têm alta
probabilidade de apresentar frequências de fatores de exposição e taxas simila-
res devido às suas posições relativas no espaço;
*Autocorrelação temporal: observações obtidas sucessivamente no tempo difi-
cilmente serão independentes uma das outras;
*Escala dependentes: associações variam com tamanho dos agregados, de for-
ma que variáveis tendem a ser mais altamente correlacionadas no nível coletivo
do que no individual.
● Estudo da população: valorização de variáveis socioeconômicas e demográ-
ficas que ajudam a caracterizar a coletividade e o território, respectivamente.
● Análise de presença ou ausência do desfecho e da exposição: avaliação
direcionada para cada agregado (grupo populacional); preocupa-se com o cole-
tivo e não com o individual (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
As vantagens dos estudos ecológicos são que permitem avaliar a exposição-doença
de acordo com a coletividade, a evolução de taxas de doença no tempo e espaço, podendo
contribuir para a previsão de tendências futuras. Entre as limitações temos os vieses de
autocorrelação espacial, temporal e escala dependentes citados anteriormente (ALMEIDA
FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 111


3.3 Estudos caso controle
Os estudos classificados como caso controle dividem a população em um grupo
controle não doente e um grupo caso com doença. Preferencialmente, as características
dos indivíduos alocados nos dois grupos devem ser semelhantes para aproximar-se ao
máximo as comparações e conclusões (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Dentro dos dois grupos, caso e controle, avalia-se a exposição a determinados
fatores de risco. Esses estudos são classificados como longitudinais e retrospectivos, pois
seguem o histórico dos indivíduos por um período de tempo em direção ao passado. A
medida de associação mais utilizado é a razão de chances ou odds ratio (OR) (PEREIRA,
2018; ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
No processo de produção desses estudos seguem-se as etapas:
1. Definição da população de interesse: a população é selecionada, definindo a
o período (início e fim) e o tempo (número de anos) do estudo. Diferente dos
estudos transversais, nesses estudos o período é seguido como se fosse um
acompanhamento linear, e por isso, é classificado como longitudinal.
2. Seleção e recrutamento: os indivíduos são selecionados, recrutados e divi-
didos (randomização) em grupos caso e controle. Esse processo é feito por
amostragem aleatória aplicando critérios de inclusão e exclusão que julgarem
importantes para formação dos grupos. Além disso, os grupos podem ser parea-
dos ou não. Nos pareados uma ou mais características devem ser respeitadas,
incluindo pessoas com o mesmo perfil na tentativa de comparar os resultados
com menor interferência de uma variável específica. Por fim, são produzidos
grupos comparáveis em relação a uma variável, eliminando-se o efeito desta
variável na estimativa da associação.
3. Coleta de dados: a extração dos dados e variáveis pode ser realizada a par-
tir de sistemas de informação, prontuários e inquéritos populacionais. Nessa
etapa, os vieses mais comuns são os de informação, de resposta ou memória
e o viés de observador. O de memória relaciona-se com a precisão variável
sobre exposições entre os casos e controles, e o de observador com a coleta
de informação diferente entre casos e controles, por exemplo, questionar mais
longamente os casos do que os controles.
4. Presença ou ausência dos fatores de risco ou exposição: essa avaliação é feita
dentro de cada grupo, para comparar quais fatores estão associados à doença
ou não (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 112


As principais vantagens desses estudos é a possibilidade de avaliar eventos raros
e de latência longa, uma vez que é feita a seleção em grupos e não há a dependência
dos eventos acontecerem no momento do estudo para serem acompanhados. Além disso,
permite amostras pequenos, é rápido de ser realizado e têm um custo relativamente menor
quando comparado aos estudos de coorte (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
As limitações são que não consegue estimar a prevalência, pois não parte de uma
população geral. Também não estima incidência pelo mesmo motivo, e pelos casos não
acontecerem no momento da investigação. Pode ser encontradas dificuldades na seleção
de grupos controle homogêneos, complexidade na análise dos dados e os vieses já citados
(ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

SAIBA MAIS

Randomização é a alocação aleatória de indivíduos ou dos agregados de indivíduos nos


diferentes grupos, que receberão ou não a intervenção.
Assegura que cada um dos indivíduos selecionados para o estudo possua a mesma
chance ou probabilidade de ser incluído em qualquer dos grupos (intervenção ou con-
trole).
Evita-se, surgimento de vieses relacionados com a alocação dos participantes nos di-
ferentes grupos, por influência do investigador ou dos próprios indivíduos participantes
do estudo.
Possibilita a formação de grupos comparáveis, na medida em que proporciona a mesma
probabilidade de distribuição dos fatores de risco conhecidos, evitando-se a ocorrência
de vieses de seleção e assegurando a criação de grupos similares.

Fonte: ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011, p. 216-217.

3.4 Estudos de coorte


Os estudos de coorte partem de uma população geral e, a partir da avaliação de
indivíduos expostos e não expostos, determina-se a proporção de doentes sob cada uma
dessas situações. Esses estudos são necessariamente longitudinais e exigem o acompa-
nhamento por um período de tempo prolongado, seja em direção ao futuro (prospectivo) ou
ao passado (retrospectivo) (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 113


O diferencial de estudos de coorte é que esse acompanhamento permite avaliar
os eventos ou doenças à medida que eles surgem, ou seja, a incidência entre expostos e
não expostos é conhecida. Assim, dentre os estudos observacionais é o único que permite
avaliar a relação causa e efeito e medir o risco relativo (RR), por acompanhar a exposição
até o resultado ou desfecho (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
As etapas comuns na realização de estudos de coorte, conforme Almeida Filho e
Barreto (2011) são:
● Definição da população de interesse: é feita uma seleção de grupo de não
doentes mais homogêneo e uniforme possível, exceto quanto às variáveis de
exposições.
● Seleção e recrutamento: nesses estudos, parte-se de um grupo não doente dos
quais são aplicados critérios de inclusão e exclusão de acordo com o objetivo
do estudo. Também é importante seguir a amostragem e preparar-se quanto
à viabilidade de acompanhamento, o risco de perda de seguimento, os custos
para monitoramento e coleta de informações ao longo do tempo.
● Estudo piloto: devido tantas exigências e incertezas, recomenda-se a realização
de um estudo piloto para definir as questões mais relevantes, escolher as variá-
veis e indicadores, estruturar questionários, padronizar procedimentos, além de
refinar as hipóteses.
● Monitoramento de indivíduos: os indivíduos são seguidos durante todo o pe-
ríodo de tempo e são avaliados os desfechos com relação aos fatores de risco
ou exposição. Um problema importante nessa fase é a perda de seguimento,
principalmente por falha no contato com os pacientes.
As principais vantagens desses estudos é que permitem medir a taxa de incidên-
cia e risco relativo, além de fazer inferências causais. Eles apresentam menor chance de
conclusões falsas ou inexatas, conseguem levantar informações sobre o prognóstico de
doenças e avaliar múltiplos desfechos, proporcionando o teste de novas hipóteses além da
inicial ao longo do tempo (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
As limitações estão associadas ao custo elevado, longa duração, perda de segui-
mento, exigência de amostras grandes e operacionalização complexa. Além disso, podem
ser poucos adequados à investigação de desfechos raros ou com longos períodos de
latência (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 114


3.5 Ensaio clínico randomizado
Os ensaios clínicos randomizados são considerados estudos de intervenção, nos
quais o investigador introduz algum fator de risco que determina a transformação do estado
de saúde dos indivíduos incluídos no estudo. O objetivo desses estudos é testar hipóteses e
causa-efeito ou avaliar eficácia de procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos
(ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Alguns exemplos de perguntas comuns que esses estudos buscam responder são:
A vacina previne da doença? O medicamento reduz a doença? A atividade física contribui
para a prevenção da doença ou melhora o desempenho?
De modo geral, o estudo é feito a partir de uma amostra representativa de uma
população geral selecionada via processo de randomização. A seguir são criados grupos
teste e controle e o investigador introduz uma intervenção no grupo teste para avaliar um
efeito ou desfecho. Pelo modelo seguir a população por um período de tempo é classificado
como longitudinal e prospectivos (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
Além da randomização ser indispensável nesse estudo, deve-se também consi-
derar em conjunto o tamanho da amostra pois dependendo da doença ou desfecho e das
análises estatísticas aplicadas, será necessário um tamanho mínimo para detectar esse
desfecho e também identificar as diferenças estatísticas entre os grupos (ALMEIDA FILHO
e BARRETO, 2011).
O grupo controle deve ser o mais semelhante possível ao grupo teste e pode não ser
exposto, receber um placebo ou ser exposto a outra intervenção que apresente um efeito já
esperado. A análise é aplicada dentro de cada grupo, avaliando a melhora, estabilidade ou
piora de medidas específicas que medem a doença ou desfecho em avaliação (ALMEIDA
FILHO e BARRETO, 2011).
Os passos para realização desses estudos de acordo com Almeida Filho e Barreto
(2011) são:
1. Planejamento do estudo: inicia-se com a criação da hipótese e definição do
desfecho, que deve ser de fácil diagnóstico nos participantes, possibilitar a
comparação, sujeito a poucos erros de mensuração e ser uma medida possível
independente do grupo alocado. Nesse planejamento deve ser avaliado:
2. A identificação da população a partir da definição de critérios de inclusão e
exclusão.
3. recrutamento de participantes considerando o tempo de estudo, o custo envol-
vido e as estratégias que serão aplicadas.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 115


4. A aplicação do estudo piloto que possibilitará a revisão e adequação da popu-
lação e estratégias.
5. Criação de protocolos para reações adversas resultado das intervenções.
6. Avaliar os aspectos éticos envolvidos, respeitando a integridade do indivíduo
sob os critérios de respeito, beneficência e justiça.
7. Levantamento de instrumentos de pesquisa adequados.
8. Treinamento da equipe do estudo para padronização de procedimentos, coleta
de dados e amostras e supervisão dos procedimentos.
9. Monitoramento da produção de dados na tentativa de detectar precocemente
as falhas e corrigi-las. Isso deve ser feito preferencialmente por um comitê inde-
pendente do grupo que está à frente da parte experimental da pesquisa, através
de análises periódicas respeitando questões éticas.
10. Seleção, recrutamento dos participantes e análise: dependendo do tipo de estra-
tégia utilizada os ensaios podem ser classificados em simples-cego, duplo-cego
ou abertos (não cegos):
● Simples-cego: somente pesquisadores conhecem a composição dos grupos;
● Duplo-cego: pesquisadores e participantes desconhecem a composição dos
grupos. É o tipo mais utilizado para testagem de medicamentos e apresenta
menos risco de viés que o simples-cego.
● Abertos ou não-cegos: pesquisadores e participantes sabem a qual grupo per-
tencem. Geralmente relacionados à natureza da intervenção não passível de
cegamento. São aplicados em investigações sobre mudanças de hábitos de
vida e relacionados à prática de atividades físicas. Tendem a apresentar maior
risco de viés comparado ao simples e duplo-cego.

E uma das principais vantagens desses estudos associa-se ao fato deles permitirem
a demonstração de causalidade, sob condições de alocação aleatória e cegamento. Além
disso, apresentam alta qualidade metodológica e permitem testar novos fármacos e simular
de doenças em modelos animais (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).
As limitações relacionam-se com a alta demanda de recursos, alto custo, longo
tempo de observação, instabilidade de estrutural e administrativa e privação de benefício
ao grupo controle (ALMEIDA FILHO e BARRETO, 2011).

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 116


REFLITA

Reflita sobre uma hipótese de pesquisa e quais variáveis você poderia avaliar através
do DATA SUS. Acesse o vídeo sobre como extrair dados do DATASUS no final da uni-
dade e avalie a possibilidade de colocar este estudo em prática. Quem sabe você não
pode contribuir com achados para a organização e implementação de ações de saúde
pública?

Fonte: A autora, 2021.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 117


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da última unidade da disciplina de Saúde Coletiva e Promoção


da Saúde, no qual estudamos o sistema de informação no contexto da assistência à saúde
e noções de epidemiologia descritiva e analítica, com enfoque na caracterização de estudos
observacionais e experimentais.
Sobre os sistemas de informação, foi visto que eles são utilizados principalmente
para conhecer as características da população, organizar o planejamento de ações de saú-
de e também direcionar a composição e financiamento das equipes da saúde da família,
pois estão intimamente ligados ao processo de conhecimento do território atendido.
Vimos também que é possível utilizar a epidemiologia descritiva para estudar a dis-
tribuição e a frequência das doenças e dos agravos a saúde coletiva, principalmente no que
diz respeito às variações relacionadas ao tempo, lugar e pessoas. A partir daí, os grupos de
maiores riscos são identificados e podem ser tratados com base nas suas características.
As variáveis de tempo, lugar e pessoa determinam a cronológica, geográfica e com
relação à pessoa, respectivamente. A distribuição cronológica avalia a cronologia de even-
tos de acordo com a frequência de determinada característica de uma doença, definindo o
seu caráter (cíclico, sazonal, etc.).
Na distribuição geográfica levamos em consideração as características do territó-
rio para explicar a ocorrência de doenças, sendo muito importantes para detectar riscos
ambientais e implementar medidas específicas de vigilância contra o aparecimento de
doenças. Essa distribuição relacionada a pessoa investiga fatores individuais como idade,
sexo e grupo étnico, estado civil, renda, ocupação e o estilo de vida. De modo geral, todas
as variáveis são importantes e interagem para determinar um risco à saúde. Justamente
devido a essa complexidade é interessante o uso de indicadores de saúde para representar
o estado de uma população de forma mais completa.
As medidas de frequência são usadas para demonstrar a ocorrência de eventos
relacionados principalmente com a morbidade, mortalidade e nascimento e são represen-
tadas pelos indicadores de saúde, os coeficientes e as taxas. Os indicadores medem a
frequência de forma absoluta e os coeficientes e taxas de forma relativa.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 118


Além das medidas de frequência, também vimos as medidas de associação
representadas pelo risco relativo e odds ratio. Elas são empregadas para medir a força
de uma associação entre variáveis epidemiológicas. Na epidemiologia analítica, são
apresentadas junto com o valor de p e o intervalo de confiança (IC) para expressar a
significância da associação.
Os estudos foram apresentados através da classificação em observacionais e ex-
perimentais, sendo importante ressaltar que dependendo do tipo de estudo aplicado é mais
ideal a aplicação de certa medida de frequência ou associação. Por exemplo, no caso de
estudos que não medem a incidência não será possível calcular o risco relativo.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 119


LEITURA COMPLEMENTAR

Artigo científico – estudo observacional retrospectivo


Link de acesso:
http://revista.unilus.edu.br/index.php/ruep/article/view/57/u2011v8n15e57

Fonte: SOUZA, D. A. G.; GAGLIANI, L. H. Estudo retrospectivo da meningite me-


ningocócica no Estado de São Paulo. Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 8, n. 15, 2011.

Artigo científico: Entendendo Ensaios Clínicos Randomizados


Link de acesso: https://www.sobracil.org.br/revista/jv030304/bjvs030304_176.pdf

Fonte: OLIVEIRA, M. A. P.; PARENTE, R. C. M. Entendendo Ensaios Clínicos


Randomizados. Brazilian Journal of Videoendoscopic Surgery, v. 3, n. 4, 2010, p. 176-180.

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 120


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Epidemiologia & Saúde - Fundamentos, Métodos e Aplicações.
Autor: Naomar de Almeida Filho e Mauricio L. Barreto.
Editora: Guanabara Koogan.
Sinopse: Esta obra foi elaborada com o objetivo de explorar a
Epidemiologia mediante a articulação dos seus aspectos teórico-
-metodológicos – etapas de produção do conhecimento sistemá-
tico e validado – e tecnológicos – aplicação do conhecimento –,
distribuídos em quatro planos: 1. Níveis de determinação: mole-
cular, genético, clínico, ambiental, social e cultural; 2. Etapas do
ciclo vital: infância, adolescência, fase adulta, velhice; 3. Grupos
de problemas de saúde: doenças infecciosas, cardiovasculares,
neoplásicas, respiratórias e mentais, dentre outras; violência; uso
abusivo de substâncias psicoativas; saúde reprodutiva; nutrição;
saúde do trabalhador e saúde bucal; 4. Aplicações a sistemas de
saúde: planejamento, gestão, avaliação, vigilância, economia,
tecnologia e regulação. Desse modo, busca-se revelar a Epide-
miologia como um campo disciplinar próprio, já reconhecido como
gerador de conhecimentos e tecnologias capazes de subsidiar
avanços concretos na situação social de saúde.

FILME / VÍDEO
Título: Como coletar dados do DATASUS (tabnet) para a sua
pesquisa - SIH, SIM, SINAN, CNES, etc
Ano: 2017.
Sinopse: Tutorial de como coletar dados do DATASUS (tabnet)
para a sua pesquisa - Acessar informações do Datasus (SIH,
SINAN, SIM, CNES, etc.) - Sistema de Informações Hospitalares
- Sistema de Informações de Mortalidade - Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde - Sistema de Informações de Agravos
de Notificações.
Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=rseCB4OQ4HE

UNIDADE IV Noções de Epidemiologia 121


REFERÊNCIAS

ALMEIDA FILHO, N.; BARRETO, M. L. Epidemiologia & Saúde: Fundamentos, Métodos e


Aplicações. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

ALMEIDA, D. Saúde em rede – Você conhece o SUS? Parte 2. 2019. Disponível em: https://
www.deviante.com.br/noticias/saude-em-rede-voce-conhece-o-sus-parte-2/ Acesso em: 11
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ANDRADE, S. M. et al. C. Bases da Saúde Coletiva. Rio de Janeiro: Eduel, 2017.

ANDRADE,S.M.,et.al. Bases da Saúde Coletiva. 2. ed. Londrina Editora Eduel, 2017.

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CONCLUSÃO GERAL

Prezado(a) aluno(a),

Nesta disciplina, foram abordados os aspectos históricos de evolução do sistema


de saúde, alguns fundamentos essenciais da saúde coletiva e o processo de criação, estru-
turação do sistema de saúde, bem como seus princípios, valores e diretrizes que guiam seu
funcionamento. Além de complementar esse estudo com a epidemiologia, apresentando
como podemos utilizar suas ferramentas para estudar problemas de saúde e a partir daí
contribuir para implementação de ações de saúde fundamentadas em estudos científicos.
Para compreender toda a essência da saúde coletiva de forma integral, precisamos
conceituar alguns elementos que fazem parte desse campo de estudo, para tornar possível
sua aplicação no contexto da realidade atual. O processo histórico foi abordado e é muito
importante para compreender que é o momento da história que define as necessidades de
saúde e impulsionam avanços específicos. Foi nesse contexto que o sistema de saúde úni-
co foi estruturado e moldado, com intuito de oferecer assistência à saúde à toda população.
Portanto, espero ter esclarecido que precisamos trabalhar com a visão ampla para
entender que a saúde coletiva é um campo complexo e mutável, que precisa adaptar-se à
realidade atual. A epidemiologia pode ser utilizada como ferramenta para esclarecer sobre
o estado de saúde uma população, encontrando os principais riscos associados à determi-
nada doença ou agravo.
Uma vez compreendido tudo isto, você terá a capacidade de desenvolver de forma
crítica a criação de estratégias capazes de resolver problemas de saúde no âmbito do SUS
e de suas políticas de assistência à saúde.

Até uma próxima oportunidade. Obrigada!

127
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