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Manual de Formação

Prevenção da negligência,
abusos e maus-tratos

UFCD 7226 ____ de __________ de 2017


Objetivos

• Identificar os conceitos e princípios fundamentais relacionados com a prevenção da negligência, abusos e maus-tratos.
• Detetar alterações do estado físico, emocional ou psicológico do indivíduo indicadores de negligência, abusos e maus-tratos.
• Propor medidas preventivas de situações de negligência, abusos e maus-tratos.
• Efetuar o registo e transmitir ocorrências.

Duração: Formador/a:
25 horas Ana Vieira

O Formador
Curso: Desenvolvimento Pessoal e Social – Técnico de Apoio Familiar e de Apoio à Comunidade
UFCD: 7226 – Prevenção da negligência, abusos e maus-tratos (25h)

Índice

Objetivos........................................................................................................................................... 3
Conteúdos ......................................................................................................................................... 4
1. CONCEITO DE MAU TRATO ............................................................................................. 5
2. CATEGORIAS DE MAUS TRATOS ..................................................................................... 7
3. FATORES DE RISCO.......................................................................................................... 10
3.1. Vítima ............................................................................................................................ 10
3.2. Agressor......................................................................................................................... 11
3.3. Maus tratos .................................................................................................................... 12
4. FORMAS DE PREVENÇÃO ............................................................................................... 14
4.1. Primária ......................................................................................................................... 14
4.1.1. Formação e sensibilização dos intervenientes ................................................................. 14
4.1.2. Promoção da autonomia e reforço das capacidades de autodeterminação ....................... 15
4.1.3. Integração social e comunitária ...................................................................................... 16
4.2. Secundária ...................................................................................................................... 17
5. TÉCNICAS DE DETEÇÃO DE SITUAÇÕES DE NEGLIGÊNCIA, ABUSOS E MAUS
TRATOS......................................................................................................................................... 18
5.1. Identificação de sinais de alerta (alterações psicológicas e emocionais; sinais físicos)....... 18
5.2. Exploração de sinais físicos ............................................................................................ 19
6. ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM SITUAÇÕES DE NEGLIGÊNCIA, ABUSOS E
MAUS TRATOS ............................................................................................................................. 22
7. ROCEDIMENTOS PARA REGISTO E NOTIFICAÇÃO EM SITUAÇÕES DE
DETEÇÃO DE MAUS TRATOS, NEGLIGÊNCIA OU VIOLÊNCIA....................................... 24
Bibliografia ...................................................................................................................................... 25

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Objetivos

• Identificar os conceitos e princípios fundamentais relacionados com a prevenção da negligência,


abusos e maus-tratos.
• Detetar alterações do estado físico, emocional ou psicológico do indivíduo indicadores de
negligência, abusos e maus-tratos.
• Propor medidas preventivas de situações de negligência, abusos e maus-tratos.
• Efetuar o registo e transmitir ocorrências.

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Conteúdos

• Conceito de mau trato


• Categorias de maus tratos
• Fatores de risco
o Vítima
o Agressor
o Maus tratos em instituições
• Formas de prevenção
o Primária
✓ Formação e sensibilização dos intervenientes
✓ Promoção da autonomia e reforço das capacidades de autodeterminação
✓ Integração social e comunitária
o Secundária
• Técnicas de deteção de situações de negligência, abuso e maus tratos
o Identificação de sinais de alerta (alterações psicológicas e emocionais; sinais físicos)
o Exploração de sinais físicos
• Estratégias para lidar com situações de negligência, abuso e maus tratos
• Procedimentos para registo e notificação em situações de deteção de maus tratos, negligência ou
violência

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1. CONCEITO DE MAU TRATO

Maus tratos a crianças:


Criança maltratada é um termo que se refere a toda a
criança ou jovem até aos dezoito anos de idade que
seja vítima de qualquer tipo de agressão física ou
psicológica, abuso sexual ou negligência, que possa
prejudicar a sua saúde e bem-estar ou interferir no seu
desenvolvimento normal.

Os maus tratos a crianças são um problema frequente


em todo o mundo, e também em Portugal, embora
não existam entre nós dados estatísticos precisos para
avaliar a verdadeira dimensão do problema. Nos Estados Unidos, em que é obrigatória a declaração dos casos
de maus tratos infantis, são registados anualmente mais de dois milhões de casos; este número, embora
elevado, é inferior ao real, principalmente pela dificuldade em identificar determinados tipos de maus tratos,
como o abuso sexual e a negligência e abuso emocional.

Os maus tratos podem atingir crianças de qualquer idade, no entanto, estudos revelam que são mais suscetíveis
de serem maltratadas as crianças com menos de três anos de idade (cerca de dois terços dos casos), em
particular o grupo de menos de seis meses de idade que representa um terço dos casos.

Maus tratos a idosos:


Maus tratos é todo ato, único ou repetitivo, ou até
omissão velada, que pode acontecer com a pessoa idosa,
onde ocorre dano ou incómodo. Atualmente, uma das
formas mais comuns é o abuso financeiro ao idoso: é
exploração imprópria e ilegal ou uso não consentido de
seus recursos financeiros. É o uso ilegal e indevido,
apropriação indébita da propriedade e dos bens
financeiros, falsificação de documentos jurídicos,
negação do direito de acesso e controlo dos bens.

O abuso psicológico, a violência psicológica e a violência física são os retratos mais tristes e inaceitáveis de
maus tratos na terceira idade. O mais aterrador é que o principal agressor é, na maioria das vezes, um familiar!
Mandar calar a boca, gritar e ameaçar são alguns dos exemplos de violência psicológica. Já a violência física
pode ser expressada tanto pela agressão propriamente dita, como pelo abuso sexual ou pela violência do
marido, também idoso.

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Os maus tratos a idosos podem ocorrer em diversos locais e contextos, nomeadamente:


✓ Na casa do próprio idoso;
✓ Na casa do cuidador;
✓ Na comunidade em que reside;
✓ Nas instituições de longa permanência;
✓ Nos hospitais.

Muitas vezes pode acontecer por um gesto impensado, mas também há casos de ações premeditadas de agredir
sistematicamente o idoso. Algumas outras causas, dentro de casa, que podem gerar os maus tratos:
✓ Relação desgastada na família
✓ Cansaço excessivo do cuidador
✓ Incapacidade do cuidador de oferecer cuidado adequado

Nas instituições de longa permanência, os maus tratos ocorrem também quando há uma administração
deficiente, com capacitação inadequada do pessoal, supervisão de enfermagem deficiente.

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2. CATEGORIAS DE MAUS TRATOS

Violência é um comportamento que causa intencionalmente dano ou intimidação moral a outra pessoa
ou ser vivo. Tal comportamento pode invadir a autonomia, integridade física ou psicológica e até mesmo
a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado. O termo deriva do latim
violência (que por sua vez o amplo, é qualquer comportamento ou conjunto de deriva de vis, força,
vigor); aplicação de força, vigor, contra qualquer coisa.
Existe violência explícita quando há rutura de normas ou moral sociais estabelecidas a esse respeito: não
é um conceito absoluto, variando entre sociedades. Por exemplo, rituais de iniciação podem ser encaradas
como violentos pela sociedade ocidental, mas não pelas sociedades que o praticam.

Maus tratos é a ação e o efeito de maltratar (tratar mal uma pessoa, sujeitando-a à violência e aos abusos).
O conceito está associado a uma forma de agressão no âmbito de uma relação entre duas ou mais pessoas.
Exemplos: “O jovem abandonou a esquadra com sinais de maus tratos”; “A Joana acabou por pedir o
divórcio face aos sucessivos maus tratos que recebia por parte do seu marido”; “A mulher, farta dos
maus tratos, não tolerou mais a situação e acabou por disparar oito tiros contra o seu companheiro”.
Não há nenhuma definição única e precisa de maus tratos, uma vez que as suas características dependem
do contexto. Os maus tratos podem abarcar desde um insulto ocasional a um vendedor cujo agressor
mal conhece às tareias e pancadas quotidianas que um abusador pratica sobre a sua esposa.

Negligência (do latim "negligentia") é o termo que designa falta de cuidado ou de aplicação numa
determinada situação, tarefa ou ocorrência. É frequentemente utilizado como sinónimo dos termos
"descuido", "incúria", "desleixo", "desmazelo" ou "preguiça".
É uma forma de conduta humana que se caracteriza pela realização do tipo descrito numa lei penal,
através da lesão a um dever de cuidado, objetivamente necessário para proteger o
bem jurídico e onde a culpabilidade do agente se assenta no fato de não haver ele evitado a realização do
tipo, apesar de capaz e em condições de fazê-lo.

Tipos de maus tratos nas crianças


O termo “criança maltratada” é um termo lato que engloba diferentes tipos de agressões que podem
lesar a criança interferindo no seu desenvolvimento normal. Assim, ao falarmos de maus tratos podemos
considerar os seguintes tipos:
✓ Negligência física
✓ Negligência educativa
✓ Negligência emocional
✓ Abuso físico
✓ Abuso emocional
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✓ Abuso sexual
A negligência e suas diferentes formas de apresentação
A negligência é uma forma de maus tratos em que o prestador de cuidados à criança não garante o
cumprimento das necessidades básicas de alimentação, higiene, cuidados médicos e de educação e
vigilância das atividades da criança.
✓ Negligência física inclui a privação de cuidados médicos básicos, a falta de alimentação e
vestuário adequados, higiene deficiente, abandono da criança ou a sua permanência sem
vigilância por longos períodos de tempo.
✓ Negligência emocional refere-se a todas as situações em que as necessidades emocionais da
criança são ignoradas, em que ela é privada do afeto e suporte emocional necessários ao seu
desenvolvimento e crescimento normais.
✓ Negligência educativa inclui os casos em que a criança não é enviada à escola na idade própria,
os casos de absentismo escolar frequente ou quando os pais facilitam ou promovem hábitos que
interferem com a educação, como o uso de álcool e outras drogas.

O abuso e suas diferentes formas de apresentação


Abuso é uma forma de maus tratos em que a criança sofre agressões que podem ser de carácter físico,
psicológico ou sexual.
✓ Abuso físico é um termo que engloba as situações que as pessoas mais facilmente associam a
maus tratos, que são aquelas em que há agressão física (bater, morder, queimar, sacudir
violentamente, empurrar, dar pontapés, etc.)
✓ Abuso emocional é uma das formas de maus tratos mais difícil de identificar, mas que pode
causar problemas graves no desenvolvimento da criança. Inclui os ataques verbais, insultos,
ridicularizar a criança ou inferiorizá-la e dar-lhe certos castigos (como, por ex., fechá-la num
quarto escuro).
✓ Abuso sexual diz respeito a todo o envolvimento de uma criança numa atividade sexual, desde
exibição dos genitais, conversas obscenas, mostrar revistas ou filmes pornográficos,
manipulação dos genitais, sexo oral ou relações sexuais.

Tipos de maus tratos nos idosos


Os maus-tratos contra idosos podem ser definidos como qualquer abuso ou negligência, em relação a
uma pessoa com 60 anos de idade ou mais, ocasionados por um cuidador ou outra pessoa cuja relação
envolva uma expectativa de confiança, ameaçando a saúde ou segurança do idoso.
O descuido (do verbo descuidar: deixar de cuidar) e a negligência também são formas de maltratar os
idosos. É a falta ou o esquecimento em providenciar os cuidados vitais ao idoso dependente, tais como
a alimentação, os medicamentos, a higiene, a mordia e a proteção económica devida. Também envolve
situações em que não se permita que outras pessoas providenciem os cuidados devidos aos idosos
dependentes.

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Tipos de maus-tratos contra idosos:


✓ Abuso físico, acarretando dor ou lesão.
✓ Abuso sexual, incluindo qualquer tipo de contato sexual sem consentimento.
✓ Abuso emocional, incluindo qualquer atitude que cause angústia mental.
✓ Não cumprimento das atribuições do cuidador, não satisfazendo as necessidades básicas do
idoso, incluindo alimentação, higiene, vestuário, habitação e cuidados médicos.
✓ Exploração financeira, incluindo a utilização não autorizada dos recursos financeiros do idoso.

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3. FATORES DE RISCO

3.1. Vítima

Fatores de risco para maus-tratos contra idosos:


✓ Idosos com problemas de memória (como a demência ou doença de Alzheimer) ou que estão
fisicamente dependentes de outros;
✓ Idosos com depressão, que vivem só ou que não tem apoio social;
✓ Cuidadores estressados por se sentirem sobrecarregados com os cuidados dispensados ao idoso;
✓ Cuidadores com antecedentes de abuso de álcool, substâncias ilícitas ou abuso contra outros
idosos;
✓ Cuidadores com alta dependência emocional ou financeira do idoso.

Prevenção dos maus-tratos contra idosos:


✓ Intervir se você suspeita de maus-tratos, procurando as autoridades competentes;
✓ Ouvir os anciãos e os seus cuidadores;
✓ Obtenha ajuda de familiares, amigos ou grupos de apoio locais;
✓ Procure ajuda para o cuidador ou responsável, caso este esteja sentindo-se estressado ou
deprimido;
✓ Procure ajuda para o cuidador ou responsável, caso esse tenha problemas com abuso de álcool
ou substâncias ilícitas.

Causas dos maus tratos infantis:


✓ Os maus tratos infantis são um problema comum a todas as raças, classes económicas ou sociais
e religiões.
✓ Embora não sirvam nunca de justificação para os maus tratos, há certos fatores que facilitam a
sua ocorrência e que são comuns a muitas das situações.
✓ Há fatores associados ao abusador, que pode ter uma baixa autoestima, estar deprimido, ter sido
abusado na infância, viver isolado sem contar com o apoio de amigos e familiares, ser
toxicodependente ou alcoólico, ter dificuldades económicas graves, problemas conjugais ou
familiares e instabilidade emocional com dificuldade em controlar os seus impulsos.
✓ Algumas características do ambiente familiar podem também facilitar a ocorrência de maus
tratos, tais como a existência de conflitos intrafamiliares, dificuldades de comunicação,
desenraizamento cultural e falta de apoio social, más condições de habitação com ausência total
de privacidade, etc.
✓ Algumas características das crianças aumentam o risco de abuso, como a hiperatividade ou a
existência de doenças crónicas ou deficiência que requerem cuidados especiais.
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✓ Os fatores descritos são apenas fatores de risco para o aparecimento de maus tratos, não são
indicativos da sua existência nem servem, em circunstância alguma, para os justificar.

3.2. Agressor

Caraterísticas do agressor de crianças:


As pessoas que maltratam crianças são pessoas vulgares, de qualquer raça, religião ou estrato social, sem
características especiais que as distingam das outras pessoas. Assim, qualquer pessoa pode, em
determinadas circunstâncias, maltratar uma criança.
Alguns acontecimentos da vida podem contribuir para que alguém se torne um abusador: consumo de
álcool ou de outras drogas, imaturidade, stress, depressão, história de abuso ou negligência na infância,
etc.

Caraterísticas do agressor de idosos:


O perfil de maior frequência do agressor familiar é o do filho homem, seguidos das noras, genros e
esposos. Característica notável é o facto de os filhos serem dependentes financeiramente dos pais idosos
ou, inversamente, os idosos dependerem da família ou dos filhos. Na maioria dos casos, constata-se
abuso de álcool e drogas, ambiente familiar pouco comunicativo e afetivo e histórico de agressividade
nas relações com seus familiares. Em algumas famílias, a história precede de violência na qual o idoso
mantinha uma personalidade dominadora e controladora sobre os filhos, torna-se uma tendência a
inversão dessas posições quando o pai ou a mãe envelhecem e se tornam dependentes. Os filhos tendem
a revidar o tratamento com o qual foram tratados anteriormente, ainda que inconscientemente.
Outros aspetos da ocorrência da violência são o stress, além da exaustão física e emocionais provenientes
dos cuidados dispensados, principalmente em casos de doença crónica e incapacidade funcional.
Comportamentos de labilidade emocional, repentinos como agitação ou rebaixamentos de consciência,
delírios e agressividade manifestados em doenças e distúrbios neurológicos e comportamentais podem
favorecer uma relação conflituosa. Tais distúrbios e contingências podem levar à sobrecarga,
predispondo ao risco de violência. Sendo assim, um suporte social ao cuidador e informações sobre
cuidados prestados garantem a diminuição deste fator de risco.
Quanto ao perfil da vítima, há predominância no sexo feminino, idade de 75 anos ou mais, viúvas,
dependentes físico ou emocionalmente e residência junto aos familiares, histórico familiar de violência,
alcoolismo e distúrbios psiquiátricos, bem como serem portadoras de doenças crónicas.
É importante enfatizar o perfil de indivíduo solitário que não procura ajuda de um suporte social na
ocorrência de violência. O medo de represália do agressor, da quebra dos laços familiares, da perda de
autonomia e do local onde reside, já que a maioria vive com o agressor, faz com que a vítima não procure
medidas legais ou suporte social, pactuando com o agressor na manutenção da violência.
A violência ao idoso está presente em lugares como instituições de longa permanência, domicílios,
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transportes públicos, centros-dias - enfim na vida em comunidade.


Em muitas sociedades, esta violência está inserida nos costumes como uma maneira "normal" e
"naturalizada" de agir, permanecendo de forma mascarada nas atitudes. No entanto, onde a violência se
expressa de forma mais prevalente é o domicílio - local que, em diversas culturas, é entendido como
ambiente de amor, acolhimento e supostamente protetor à violência externa. Nessa relação intrafamiliar,
muitas vezes emocionalmente compensada, surgem conflitos expondo o idoso ao risco de violência. Esta
relação, que nos últimos anos sofre modificações na sua composição, pode favorecer "disputas pelo
poder", já que diferentes gerações coabitam o mesmo domicílio, expandindo o núcleo familiar e os
conflitos. Este talvez seja um dos maiores impasses e fatores que podem levar à violência contra o idoso,
uma violência que na maioria das vezes é tratada com descaso e com "vista grossa", já que na mentalidade
atual das pessoas, conflitos fazem pate do cotidiano das famílias, e isso não é da conta da sociedade em
geral, um grande engano. As mudanças precisam de ser encaradas de frente, e por mais diferenças que
possam existir e dificuldade de relacionamento e enfrentamento da situação, é preciso saber respeitar a
pessoa idosa, principalmente se esta estiver em maior desvantagem (dependência e insegurança).
Do ponto de vista do idoso, a instituição de longa permanência é também considerada lugar ameaçador,
considerando-se as numerosas denúncias referentes a maus-tratos. Neste ambiente, que deveria
representar apoio ao idoso e ao seu familiar, podem ocorrer atos ou omissões na forma de violência
física, sexual, humilhações e desumanização, levando ao agravamento do quadro de saúde física e mental.
Diversos indícios caracterizam maus-tratos nas instituições de longa permanência, como cuidados
insuficientes, falta de higiene, qualidade de vida precários, pouca privacidade, condições de trabalho
ruins, configurada no esgotamento da equipa de enfermagem e dos cuidadores, no uso de medicamentos
sedativos, desnutrição, desidratação, tortura, contenção, manutenção em cárcere, suicídio e assassinato.
A violência contra o idoso apesar de ser grave e preocupante, ainda não é bem divulgada e bem
esclarecida, os dados de ocorrência ainda são muito vagos e muitos casos são simplesmente silenciados,
muitas vezes pelas próprias vítimas que não querem denunciar os seus agressores por causa dos vínculos
que possuem com os mesmos.
A família desconfigurada tende a ter maiores problemas a enfrentar uma situação de saúde-doença com
o idoso, a sociedade em si não está preparada para acolher e atender adequadamente o idoso, não sabe
lidar com o idoso, desconhece as suas atitudes e o próprio processo de envelhecimento, a violência é
uma regressão do homem, um pensamento e uma atitude ultrapassada, quando nos tempos antigos, as
coisas eram resolvidas na força do braço, através das guerras e conflitos e não pelo diálogo e pela
inteligência, a prática da violência é um retorno à idade da pedra.

3.3. Maus tratos

As crianças que vivem em instituições são "extremamente vulneráveis a maus tratos". Segundo um alerta
lançado pela Unicef, precisamente no dia em que em Portugal se comemora o Dia Mundial da Criança,
o problema é transversal a todos os países, no entanto, a falta de dados nacionais credíveis sobre o
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assunto, tornam-no muitas vezes "invisível". Apesar desta lacuna, a organização, que tem estado a
compilar estes dados no âmbito da preparação da Consulta Regional sobre a Violência Contra as
Crianças, estima que pelo menos um milhão de crianças vivem hoje em instituições, na Europa e na Ásia
Central, muitas delas marcadas por "problemas familiares" que as tornam ainda mais vulneráveis à
violência.
Independentemente do país, os fatores que ameaçam as crianças institucionalizadas prendem-se
geralmente com a falta de privacidade, a frustração, os abusos de poder não vigiados, a discriminação, a
incompetência dos técnicos e as opções disciplinares inadequadas. E, quanto mais fechada é a instituição,
maior é a probabilidade de a violência ocorrer", sem que isso se saiba. E sem que o Estado pareça dar a
resposta suficiente, de modo a "prevenir ou reagir de forma apropriada.
A violência ao idoso está presente em lugares como instituições de longa permanência, domicílios,
transportes públicos, centros-dias - enfim na vida em comunidade.
Do ponto de vista do idoso, a instituição de longa permanência é também considerada lugar ameaçador,
considerando-se as numerosas denúncias referentes a maus-tratos. Neste ambiente, que deveria
representar apoio ao idoso e a seu familiar, podem ocorrer atos ou omissões na forma de violência física,
sexual, humilhações e desumanização, levando ao agravamento do quadro de saúde física e mental.
Diversos indícios caracterizam maus-tratos nas instituições de longa permanência, como cuidados
insuficientes, falta de higiene, qualidade de vida precários, pouca privacidade, condições de trabalho
ruins, configurada no esgotamento da equipa de enfermagem e dos cuidadores, no uso de medicamentos
sedativos, desnutrição, desidratação, tortura, contenção, manutenção em cárcere, suicídio e assassinato.

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4. FORMAS DE PREVENÇÃO

4.1. Primária

As pessoas idosas são particularmente vulneráveis aos maus-tratos, uma vez que se encontram
frequentemente numa situação de fragilidade e dependência.
Como prestadores de cuidados, temos de estar preparados para:
✓ Preveni-los,
✓ Evitá-los;
✓ Saber identificar sinais e sintomas, de forma a detetá-los em tempo útil;
✓ Agir para lhes pôr termo e responsabilizar os seus autores;
É necessário fazer tudo para a recuperação da vítima mediante a superação dos efeitos. Isto implica
formação que nos torne capazes de atuar sem preconceitos e estereótipos, de conjugar os conhecimentos
indispensáveis, de articular as atuações que a especificidade da situação exija. Sempre tendo em conta o
superior interesse do idoso.
Temos de promover mudanças de comportamentos e atitudes face ao envelhecimento; ele tem de ser
aceite como um fenómeno natural, que faz parte do ciclo da vida. Só assim poderão as pessoas idosas
viver com dignidade e participar plenamente em atividades educativas, culturais, espirituais, sociais e
económicas como titulares que são de cidadania plena, fundada na sua dignidade como pessoa.
A prevenção passa também pelo planeamento dos cuidados. Este planeamento é efetuado em reuniões
multidisciplinares e tendo em especial atenção aos residentes mais dependentes ou que sofrem de
problemas mais complexos. Os colaboradores são encorajados a falar aos seus superiores ou supervisores
sobre as suas preocupações ou frustrações. Esta prática contribui para reduzir tensões.
Uma vez que prestar cuidados a pessoas idosas é uma tarefa desgastante, existe um regime de
rotatividade, para evitar a saturação dos colaboradores e a criação de vícios na intervenção

4.1.1. Formação e sensibilização dos intervenientes

Como agir em caso de maus-tratos


Os idosos podem ser maltratados ou
negligenciados pelo prestador de cuidados,
pela sua família, por si próprios ou por
qualquer pessoa que com eles tenha
contacto. Detetar uma situação de maus-
tratos nem sempre é fácil. Só através de
uma avaliação complexa e multidisciplinar
se pode chegar a conclusões seguras.
Assim, é importante ter em conta uma série
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de indicadores que apontam para a existência de maus-tratos, nomeadamente:


✓ Relativamente ao idoso:
• Físicos – ferimentos, fraturas, queimaduras, equimoses, golpes ou marcas de dedos, marcas
de ter estado amarrado, medicação excessiva ou insuficiente, má nutrição ou desidratação
sem causa clínica aparente, falta de higiene;

• Comportamentais ou psicológicos – alterações dos hábitos alimentares, perturbações do


sono, medo, confusão, resignação excessiva, apatia, depressão, desespero, angústia, tentativa
de evitar contactos físicos, o olhar ou a comunicação, tendência para o isolamento;

• Sexuais – alterações do comportamento sexual, alterações bruscas do humor, agressividade,


depressão, automutilação, dores abdominais, hemorragias vaginais ou rectais, infeções
genitais frequentes, equimoses nas regiões mamária ou genital, roupa interior rasgada ou
com manchas, nomeadamente de sangue;

• Financeiros – mudanças repentinas na forma de gerir os seus bens; alteração inesperada de


um testamento; desaparecimento de joias e outros bens; transações suspeitas na conta
bancária; falta de meios de conforto, apesar das possibilidades; falta ou insuficiência de
recurso a cuidados de saúde, que meios financeiros próprios possibilitam ou facilitam.

✓ Relativamente ao prestador de cuidados:


• Sinais de cansaço, stress ou desinteresse; recriminação injustificada de comportamentos do
residente (ex.: incontinência ou dificuldade de mobilidade); agressividade, infantilização ou
desumanização no trato; tentativa de evitar contactos do residente com terceiros;
comportamento defensivo, agressivo ou evasivo quando confrontado com a suspeita de
maus-tratos.

4.1.2. Promoção da autonomia e reforço das capacidades de


autodeterminação

Para facilitar uma queixa de maus-tratos ou negligência é necessário tomar algumas precauções,
nomeadamente:
✓ Ouvir a pessoa com toda a atenção e confirmar tudo o que ele lhe disse, a fim de verificar se
percebeu corretamente o que ele lhe contou;
✓ Fazer perguntas que deem ao residente a possibilidade de relatar tudo o que aconteceu; evitar
questões cuja resposta seja "sim" ou "não"; só assim poderá obter uma perspetiva global dos
acontecimentos;
✓ Mostrar que acredita nos factos;
✓ Explicar ao indivíduo que a situação tem de ser comunicada ao Conselho de Administração da
Estrutura Residencial para Idosos;

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✓ Explicar que, eventualmente, mais pessoas terão que tomar conhecimento da situação, mas
apenas as indispensáveis para garantir a sua segurança;
✓ Assegurar que tudo o que ouviu será tratado de forma confidencial e com todo o respeito.

4.1.3. Integração social e comunitária

O estatuto social do idoso está fragilizado e os estigmas sobre a velhice ameaçam transformar o idoso
num ser descartável.
O próprio idoso, por pressão do estigma, sente-se muitas vezes ultrapassado, acha que já teve a sua época
e que agora não serve para mais nada.
A negação social do direito à existência é uma das mais graves formas de violência e é perpetrada pelo
próprio idoso em relação a si mesmo e pela sociedade.
As diferentes formas de violência alimentam sentimentos de culpa, de solidão, de dependência, de
inutilidade, e aumentam o desamparo, a confusão e a dúvida nos julgamentos e juízos sobre mundo que
rodeia o idoso. Tudo isto se traduz numa perda da autoestima.

Auxílio a crianças vítimas de maus tratos


Todos os adultos, pais, familiares ou amigos, profissionais que prestam cuidados a crianças ou
simplesmente cidadãos têm o dever de proteger qualquer criança que seja vítima de maus tratos (abuso
ou negligência).
Uma criança maltratada que não recebe tratamento adequado será afetada no seu desenvolvimento
intelectual, emocional e físico e está em risco de morrer devido aos maus tratos.
Quando temos conhecimento de uma situação de maus tratos devemos informar as autoridades
competentes de forma a garantir a proteção da criança. Em Portugal podemos dar conhecimento da
situação às Comissões de Proteção de Crianças e Jovens em Risco (antigas Comissões de Proteção de
Menores) que cobrem quase toda a área geográfica do país, ainda com exceção das cidades de Lisboa e
Porto, onde as situações podem ser comunicadas ao Tribunal de Menores.
Para saber o contacto da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco da sua área poderá
informar-se junto da Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Risco ou através do
número de informações nacionais_118. Na impossibilidade de contactar estas instituições podemos
recorrer a outros serviços com responsabilidades no acompanhamento de menores, como os Serviços
Regionais de Segurança Social, Centros de Saúde, Serviços de Urgência Hospitalar, Polícia de Segurança
Pública ou Guarda Nacional Republicana.

Apoio Jurídico:
Da extensão das matérias relativas ao Apoio Jurídico a pessoas vítimas de crime podem apontar para três
grandes vertentes que o devem estruturar:
✓ Informar a pessoa vítima de crime acerca dos seus direitos;

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✓ Elucidar a pessoa vítima acerca das várias etapas de determinados processos judiciais,
designadamente o processo criminal, o divórcio, a regulação do poder paternal, entre outros;
✓ Auxiliar a pessoa vítima a elaborar requerimentos e peças processuais que ela possa, por si, assinar
(isto é, quando não é necessário advogado), como sejam o pedido de apoio judiciário, a denúncia,
a queixa, o pedido de indemnização civil, o pedido de suspensão provisória do processo criminal
ou, no caso de vítimas de crimes violentos ou de violência conjugal, o pedido de indemnização
dirigido ao Ministro da Justiça

Apoio Social
O Apoio Social é prestado por técnicos (as) de Serviço Social, educadores sociais e outros profissionais
de Trabalho Social devidamente qualificados. Em termos sociais, a vítima apresenta frequentemente
necessidades básicas ao nível do acolhimento, alimentação e da saúde.
O apoio social prestado tem, entre outros, os seguintes objetivos:
✓ Fazer o diagnóstico das necessidades sociais da vítima de crime e da sua família, nomeadamente
ao nível da habitação, educação emprego e formação profissional;
✓ Informar a vítima acerca dos vários recursos sociais existentes;
✓ Refletir e explorar com a vítima os recursos sociais mais adequados;
✓ Auxiliar a vítima no contacto, presencial ou não, com outros serviços e instituições (locais,
regionais ou nacionais), para otimizar os recursos mais adequados para o processo de apoio;
✓ Encaminhar a vítima para outros serviços e instituições (locais, regionais ou nacionais),
favorecendo o contacto com os respetivos profissionais; acompanhando a vítima
presencialmente; e elaborando os relatórios de processo de apoio à vítima necessários.

4.2. Secundária

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5. TÉCNICAS DE DETEÇÃO DE SITUAÇÕES DE


NEGLIGÊNCIA, ABUSOS E MAUS TRATOS

5.1. Identificação de sinais de alerta (alterações psicológicas e


emocionais; sinais físicos)

A violência doméstica representa um dos principais fenómenos de maus tratos, negligência e abusos
presentes na sociedade e, abarca comportamentos utilizados num relacionamento, por uma das partes,
sobretudo para controlar a outra. As pessoas envolvidas podem ser casadas ou não, ser do mesmo sexo
ou não, viver juntas, separadas ou namorar.
Todos podemos ser vítimas de violência doméstica.
As vítimas podem ser ricas ou pobres, de qualquer idade, sexo, religião, cultura, grupo étnico, orientação
sexual, formação ou estado civil.

Violência doméstica nas mulheres


A violência contra as mulheres é um fenómeno complexo e multidimensional, que atravessa classes
sociais, idades e regiões, e tem contado com reações de não reação e passividade por parte das mulheres,
colocando-as na procura de soluções informais e/ou conformistas, tendo sido muita a relutância em
levar este tipo de conflitos para o espaço público, onde durante muito tempo foram silenciados.
A reação de cada mulher à sua situação de vitimização é única. Estas reações devem ser encaradas como
mecanismos de sobrevivência psicológica que, cada uma, aciona de maneira diferente para suportar a
vitimização.
Muitas mulheres não consideram os maus-tratos a que são sujeitas, o sequestro, o dano, a injúria, a
difamação ou a coação sexual e a violação por parte dos cônjuges ou companheiros como crimes.
As mulheres encontram-se, na maior parte dos casos, em situações de violência doméstica pelo domínio
e controlo que os seus agressores exercem sobre elas através de variadíssimos mecanismos, tais como:
isolamento relacional; o exercício de violência física e psicológica; a intimidação; o domínio económico,
entre outros.
A violência doméstica não pode ser vista como um destino que a mulher tem que aceitar passivamente.
O destino sobre a sua própria vida pertence-lhe, deve ser ela a decidi-lo, sem ter que aceitar
resignadamente a violência que não a realiza enquanto pessoa.

Violência doméstica nas crianças


As crianças podem ser consideradas vítimas de violência doméstica em várias situações, nomeadamente
como:
✓ Testemunhas de violência doméstica: Tal inclui presenciar ou ouvir os abusos infligidos sobre a
vítima, ver os sinais físicos depois de episódios de violência ou testemunhar as consequências
desta violência na pessoa abusada;
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✓ Instrumentos de abuso: Um pai ou mãe agressor pode utilizar os filhos como uma forma de
abuso e controlo;

✓ Vítimas de abuso: As crianças podem ser física e/ou emocionalmente abusadas pelo agressor
(ou mesmo, em alguns casos, pela própria vítima).

Violência doméstica nos idosos


A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a violência contra as pessoas idosas como: “A ação única
ou repetida, ou a falta de resposta adequada, que causa angústia ou dano a uma pessoa idosa e que ocorre
dentro de qualquer relação onde exista uma expectativa de confiança.”
A violência contra as pessoas idosas tem sido classificada em diferentes tipos – violência física; violência
psicológica; violência sexual; violência económica ou financeira; negligência; abandono – podendo estes
surgir isoladamente ou combinados.

Violência doméstica nos homens


Apesar de as mulheres sofrerem maiores taxas de violência doméstica, os homens também são vítimas
deste crime. As mulheres também cometem frequentemente violência doméstica, e não o fazem apenas
em autodefesa.
Os homens vítimas de violência doméstica experimentam comportamentos de controlo, são alvo de
agressões físicas (em muitos casos com consequências físicas graves) e psicológicas, bem como também
estes receiam abandonar relações abusivas. O medo e a vergonha são, para estas vítimas, a principal
barreira para fazer um primeiro pedido de ajuda. Estes homens receiam ser desacreditados e humilhados
por terceiros (familiares, amigos e até mesmo instituições judiciárias e policiais) se decidirem denunciar
a sua vitimização.

5.2. Exploração de sinais físicos

Negligência

Sinais, sintomas e indicadores de negligência:


✓ Carência de higiene (tendo em conta as normas culturais e o meio familiar);
✓ Vestuário desadequado em relação à estação do ano e lesões consequentes de exposições
climáticas adversas;
✓ Inexistência de rotinas (nomeadamente, alimentação e ciclo sono/vigília);
✓ Hematomas ou outras lesões inexplicadas e acidentes frequentes por falta de supervisão de
situações perigosas;
✓ Perturbações no desenvolvimento e nas aquisições sociais (linguagem, motricidade, socialização)
que não estejam a ser devidamente acompanhadas;
✓ Doença crónica sem cuidados adequados (falta de adesão a vigilância e terapêutica programadas);
✓ Intoxicações e acidentes de repetição.
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Mau trato físico


O mau trato físico resulta de qualquer ação não acidental, isolada ou repetida, infligida por pais,
cuidadores ou outros com responsabilidade face à criança, jovem ou idoso, a qual provoque (ou possa
vir a provocar) dano físico.

Sinais, sintomas e indicadores de mau trato físico


✓ Equimoses, hematomas, escoriações, queimaduras, cortes e mordeduras em locais pouco comuns
aos traumatismos de tipo acidental (face, peri-ocular, orelhas, boca e pescoço ou na parte
proximal das extremidades, genitais e nádegas);
✓ Alopecia traumática e/ou por postura prolongada com deformação do crânio;
✓ Lesões provocadas que deixam marca(s) (por exemplo, de fivela, corda, mãos, chicote, régua…);
✓ Sequelas de traumatismo antigo (calos ósseos resultantes de fratura);
✓ Fraturas das costelas e corpos vertebrais, fratura de metáfise;
✓ Demora ou ausência na procura de cuidados médicos;
✓ História inadequada ou recusa em explicar o mecanismo da lesão pela criança ou pelos diferentes
cuidadores;
✓ Perturbações do desenvolvimento (peso, estatura, linguagem, …);
✓ Alterações graves do estado nutricional.

Mau trato psicológico/emocional


O mau trato psicológico resulta da privação de um ambiente de segurança e de bem‐estar afetivo
indispensável ao crescimento, desenvolvimento e comportamento equilibrados da criança/jovem ou
idoso. Engloba diferentes situações, desde a precariedade de cuidados ou de afeição adequados à idade
e situação pessoal, até à completa rejeição afetiva, passando pela depreciação permanente da
criança/jovem ou idoso, com frequente repercussão negativa a nível comportamental.

Sinais, sintomas e indicadores de mau trato psicológico/emocional:


✓ Episódios de urgência repetidos por cefaleias, dores musculares e abdominais sem causa orgânica
aparente;
✓ Comportamentos agressivos (autoagressividade e/ou hetera agressividade) e/ou automutilação;
✓ Excessiva ansiedade ou dificuldade nas relações afetivas interpessoais;
✓ Perturbações do comportamento alimentar;
✓ Alterações do controlo dos esfíncteres;
✓ Choro incontrolável no primeiro ano de vida;
✓ Comportamento ou ideação suicida.

Abuso sexual
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Sinais, sintomas e indicadores de abuso sexual:


✓ Lesões externas nos órgãos genitais (eritema, edema, laceração, fissuras, erosão, infeção);
✓ Presença de esperma no corpo da criança/jovem;
✓ Lassidão anormal do esfíncter anal ou do hímen, fissuras anais;
✓ Leucorreia persistente ou recorrente;
✓ Prurido, dor ou edema na região vaginal ou anal;
✓ Lesões no pénis ou região escrotal;
✓ Equimoses e/ou petéquias na mucosa oral e/ou laceração do freio dos lábios;
✓ Laceração do hímen;
✓ Infeções de transmissão sexual;
✓ Gravidez.

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6. ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM SITUAÇÕES DE


NEGLIGÊNCIA, ABUSOS E MAUS TRATOS

Quando estamos perante uma vítima de violência, importa ter em conta alguns aspetos não diretamente
relacionados com o atendimento, mas com regras elementares de bom trato e cortesia.
Estas ajudam-nos a mostrar-lhe que é bem-vinda, num momento difícil.
O apoio emocional deve estar presente em todos os momentos do processo. Não necessita que dele se
façam grandes explicações: devemos estar diante da vítima com sensibilidade humana, capazes de a ouvir,
de a compreender e estabelecer empatia.
O apoio emocional deve ser garantido por qualquer profissional que esteja implicado no processo. É de
natureza pessoal, não requer nenhuma especialização académica, ou profissional.
No atendimento presencial, devemos ter com a vítima uma relação de empatia, no qual a comunicação
tenha qualidade. Numa necessária interação, alternamos com a pessoa papéis de emissor e recetor,
estabelecendo por isto uma relação da qual deverá resultar o apoio de que necessita.
Existem algumas técnicas para que possamos estabelecer esta comunicação, nomeadamente:

✓ Apresentação: Em primeiro lugar, devemos apresentar-nos, sendo este o primeiro passo a


dar no início do atendimento, ao qual devemos associar sempre uma saudação agradável,
simpática.
✓ Ouvir com atenção: Quando a vítima fala, devemos prestar atenção apreendendo os
conteúdos da sua mensagem, tanto racionais, como emocionais. Devemos também
responder não verbalmente, mostrando que estamos a prestar atenção ao que está a dizer-
nos. Podemos fazê-lo através do uso de sinais, como:
o Manter os olhos fixos nos seus;
o Acenar com a cabeça;
o Utilizar interjeições.
✓ Reformular: Devemos expor os conteúdos emitidos pela vítima no seu discurso, de modo
a termos certeza de o ter apreendido adequadamente, podendo também fazer uso de
exemplos simples que os expliquem em concreto. Isto é importante também para que a
vítima tenha a certeza de que está a ser ouvida com atenção, o que a encorajará a continuar;
✓ Questionar: Devemos questionar a vítima sempre que esta não tenha emitido toda a
informação necessária ao processo de apoio e/ou ao encaminhamento, ou quando a
informação tenha sido contraditória ou menos clara. Para tal, podemos utilizar questões
abertas, que geralmente implicam conteúdos mais ou menos vastos e/ou complexos ou que
envolvem abstração e cujas respostas não serão simples e/ou curtas, como por exemplo:
o Que receio tem de ir a Tribunal?
o Como se sente agora?
o O que o preocupa?
o Questões fechadas, que geralmente implicam uma resposta de “sim” ou “não”
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✓ Encorajar a expressão de emoções e/ou sentimentos: Devemos mostrar disponibilidade,


para que a vítima se expresse espontaneamente, auxiliando-a na libertação de emoções e/ou
sentimentos, usando expressões como:
o Não se reprima;
o Chorar é natural e pode fazer-lhe bem;
o Esteja à vontade;
o É natural que se sinta assim abalado;
o Chorar não é motivo de vergonha.

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7. ROCEDIMENTOS PARA REGISTO E NOTIFICAÇÃO


EM SITUAÇÕES DE DETEÇÃO DE MAUS TRATOS,
NEGLIGÊNCIA OU VIOLÊNCIA

Linha da Criança
A Linha da Criança destina-se a acolher queixas relativas a crianças e jovens que se encontrem em
situação de risco ou perigo. As queixas podem ser transmitidas pelos próprios ou por adultos em seu
nome.
O número de telefone é 800 20 66 56 e a chamada é grátis.
A especificidade desta Linha face a outras decorre da legitimidade do Provedor de Justiça, enquanto
entidade independente do Estado, para intervir junto das entidades públicas competentes que, por sua
vez, têm um dever de cooperação para com o Provedor, o que torna a intervenção da Linha mais eficaz.
Não é uma linha de emergência, nem de conversação mas de informação, encaminhamento e
intervenção, tendo em vista a promoção e proteção dos Direitos da Criança.
Serve para tratar da questão colocada, diretamente ou em contacto com as entidades competentes. Os
casos mais frequentemente comunicados dizem respeito a situações de negligência quanto à segurança,
saúde, sustento e educação dos menores, maus tratos físicos, abandono, carências familiares, regulação
do poder paternal e problemas escolares.
A Linha funciona de uma forma muito simples. Sempre que alguém queira comunicar a situação de uma
criança ou jovem em risco ou perigo, deve ligar para a Linha da Criança, sendo a chamada grátis. O
atendimento é personalizado e direto e é feito durante os dias úteis entre as 9h30m e as 17h30. Fora
deste horário, é possível deixar mensagem e indicar um contacto, para que a chamada seja devolvida.
Através de uma atuação informal e expedita, a Linha encaminha as situações para as entidades
competentes e acompanha a sua intervenção. As entidades mais frequentemente contactadas são as
comissões de proteção de crianças e jovens (CPCJ), o Instituto de Segurança Social (ISS) e os
estabelecimentos de ensino.

Contactos Úteis:
✓ SOS MULHER 808 200 175 (Linha Azul)

✓ Solidariedade à Mulher: 808 202 710 (Linha Azul)

✓ INFORMAÇÃO MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA: 800 202 148

✓ APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima: 21 888 4732

✓ UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta): Tel.: 21 886 79 86

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Bibliografia

✓ Ramilo Teresa, Manual de psicologia do idoso, Instituto Monitor, 2000

✓ Manual do formador: Apoio a idosos em meio familiar – Maria do Carmo Cabêdo Sanches e
Fátima João Pereira, Projecto Delfim, s.d.

✓ Psicologia do adulto e do idoso – Helena Marchand, 2005

✓ Psicologia do envelhecimento do idoso – José H. Barros de Oliveira, Legis Editora, 2005

✓ Psicologia do idoso – Ana Castanho, Soforma – formação profissional, 1999

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