MEDITACOES
PARA TODOS OS DIAS
DO ANO
TOMO SEGUNDO
MEDITACÕES
PARA TODOS OS DIAS DO ANO
SEGUNDO A DOUTRINA E O ESPIRITO DE
SANTO AFONSO MARIA DE LIGóRIO, DOUTOR DA IGREJA
PARA USO DE TODAS AS ALMAS QUE ASPIRAM A PERFElçÃO:
SACERDOTES, RELIGIOSOS E LEIGOS
PELO
TOMO SEGUND_O
(DO TERCEIRO DOMINGO DEPOIS DA PASCOA A 31 DE AGOSTO)
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I M P R I M A T U R
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO.
E REVMO. SR. BISPO DE NITERôI,
D. JOSJ!J PEREIRA ALVES. PETROPO
LIS, 29 DE OUTUBRO DE, 1940. FREI
HELIODORO MULLER, O. F. M.
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QUADRO DAS VIRTUDES E DOS PATRONOS
PARA TODOS OS MESES DO ANO
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MEDITAÇÕES PARA TODOS OS DIAS DO ANO
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O poder do santo não é menor junto do Verbo incar-
nado. Os eleitos mais elevados na glória só serviram ao
Salvador no próximo; José, porém, teve a sorte de socor-
rer a própria Pessoa sagrada durante longos anos. E
se Jesus promete"u recompensar o copo d'água fria dado
em seu nome ao último dos mortais, que não fará em
benefício daquele que, à custa dos seus suores, lhe pro-
porcionou tanto tempo o alimento, habitação, veste e lhe
salvou a própria vida, libertando-o das mãos de Hero-
des? Poderia jamais hesitar em atender a algum dos seus
'pedidos?
Representante do Pai celeste, diz a Igreja, José foi
constituído senhor da casa de Nazaré. Dava ordens ao
Salvador como o teria feito o Pai celeste, e Jesus lhe
obedecia como ao próprio Deus (Lc 2, 51). Agora que
Jesus reina sobre o universo, teria acaso esquecido as prÓ-
vas de deferência por ele dadas outrora a seu pai nu-
trício? Tê-lo-ia elevado na glória para diminuir o seu po-
der em presença de todos os santos? Longe de nós sus-
peita tão injuriosa para Jesus e para José. Quando um
pai pede a seu filho, diz Gerson, sobretudo a um filho
como Jesus, o seu pedido tem a força de uma ordem e
não pode deixar de ser atendido.
Bendigamos a bondade divina, por nos haver dado em
nosso santo• Patriar.ca um protetor tão poderoso quão
caridoso. Peçamos-lhe· a- graça de imitá-lo em seu inven-
cível amor a Jesus e Maria. O amor, com efeito, é o vín-
culo, - a forma - e o auge da perfeição; abrange todas
as virtudes e as une entre si; comunica-lhes a vida, a
beleza, o vigor e o mérito, desabrocha-as aos olhos de
Deus e dos homens, até que enfim o céu as coroe na as-
sembléia dos anjos e dos eleitos. - O' glorioso são José,
obtende-me o amor, que encerra todos os bens da graça,
bens que nos prometeis pela boca da santa Igreja, nossa
mãe. Venit.e ad me, et ego dabo vobis omnia hona.
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2º O patrocínio de são José merece a nossa confiança
Como esposo de Maria e pai nutrício de Jesus, o santo
Patriarca recebeu do céu favores particulares, uma abun
dância de graças proporcionada às suas sublimes fun
ções. E com que fidelidade lhes correspondeu! Com tan
ta perfeição, diz são Bernardino de Sena, que excedeu,
por suas virtudes e seus méritos, a todos os outros san
tos, exceto a divina Mãe. Ora, no céu, o mérito é a me
dida da caridade e do poder, qualidades necessárias para
ganhar nossa confiança. Como o santo Patriarca em Na
zaré tinha autoridade sobre Jesus e Maria, e dela se ser
via segundo os desígnios de Deus que nos queria res
gatar, assim o faz ainda e com maior ardor agora que
conhece melhor os perigos que nos rodeiam.
S. Bernardo afirma que o poder de intercessão do pai
nutricio de Jesus excede na glória ao dos outros santos;
outro tanto se pode dizer da sua caridade generosa para
conosco. Os outros eleitos podem auxiliar-nos em algu
mas necessidades somente; o santo Patriarca recebeu o
insigne privilégio de assistir-nos em todas as precisões.
Quantos fatos autênticos não se poderiam citar em abono
desta asserção! Santa Teresa a confirma, invocando sua
própria experiência. - Temos pois o direito de afirmar
que a intercessão de são José é tão poderosa e benéfica
quão profundas são as nossas misérias; e que a nossa
confiança em sua proteção jamais poderia ultrapassar
o seu poder e a sua bondade benfazeja.
Tomemo-lo por nosso primeiro patrono depois da di
vina Mãe, e trabalhemos, sob a sua proteção, em nossa
santificação, isto é, em tornar-nos sempre mais interio
res, desapegados da terra, --recolhidos em nossas orações,
exatos no cumprimento dos nossos deveres, fiéis em cor
responder às graças de cada hora e de cada instante.
O' Jesus, pela intercessão de Maria e de José, dai-me
a graça de velar com cuidado pela pureza do meu cora,
ção, da qual depende o vosso reino em mim, pois que
ocupais em minha alma o lugar que vos · dou pelo des-
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apego e abnegação. Concedei-me a graça de fugir dos ob
jetos que me distraem, das afeições que me inclinam
para a terra, dos vãos desejos que me cativam e me im
pedem de me unir a vós. Fazei que eu pratique a vida
interior sob o. patrocínio do vosso pai nutrício. Proponho
conservar-me sempre, a exemplo vosso, l ° sob o olhar
santificante da divina Majestade; 2º unido em intenção
e sentimentos ao vosso sagrado Coração, na casa de Na
zaré, afim de orar, - agir, - e sofrer, - pela virtude
da vossa graça.
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excetuar o da sua vida. Que honra para nós caminhar
no séquito de majestade tão alta, poderosa e santa!
Outrossim, a lei que nos propondes, ó Sabedoria incar
nada, é inteiramente conforme à reta razão; é uma lei
que aclara, purifica e enobrece as almas. E que paz ine
fa vel para os que a observam! e que recompensa não te
mos a esperar se a guardarmos até à morte! - Que
mais? Jesus é o mais amavel dos filhos dos homens, pos
sue em grau supremo todas as perfeições do céu e da
terra; nada nos ordena que não tivesse antes praticado,
não nos coloca sobre os ombros peso algum que não ti
vesse antes carregado, e o alivia ainda com a unção de
sua graça.
"Vinde a mim, exclama, vós todos que trabalhais e
estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei; tomai meu
jugo sobre vós; aprendei de mim que sou manso. e hu
milde de coração· e achareis repouso para as vossas al
mas; pois que meu jugo é suave e o meu peso é leve"
(Mt 11, 28-30). Quem poderia resistir a palavras tão
animadoras e tão cheias de ternura para conosco? Cho
remos diante de Deus por desejarmos tão pouco pare
cer-nos com Jesus. Que digo? não nos achamos talvez
sob império da carne e do mundo? não somos ávidos dos
prazeres, pouco exatos em velar sobre os nc!ssos sentidos
e sempre inclinados a expandir-nos para fora como se
Deus não nos bastasse?
Jesus, quão longe estou de seguir os vossos exemplos!
Não tenho recolhimento, nem espírito de oração, nem
amor à mortificação! Procuro a estima das criaturas em
vez de buscar, como vós, somente a glória do Pai celes
te. Curai-me da frieza e descaso em que tenho vivido até
agora e tornai-me fervoroso, ardoroso em imitar a vós
que sois a grandeza - a sabedoria - a santidade -
e a amabilidade infinitas.
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2º Virtudes a imitarmos em Jesus Cristo
Embora devamos imitar o Salvador em tudo, detenha
mo-nos contudo a considerar o seu espírito de oração e
sacrifício. O Evangelho no-lo representa como a fazer
da oração a sua principal ocupação, que dirige toda a sua
conduta. Sem falarmos da sua vida oculta, que foi uma
contemplação contínua, reunida ao trabalho manual, não
o vemos, durante a sua vida pública, impregnar todas as
suas ações com a unção da prece? Passa quarenta dias
em retiro antes de começar o seu ministério evangélico.
Querendo escolher os seus apóstolos, prepara-se, diz são
Lucas, durante a noite, pela oração (Lc 6, 12). Ele ora
antes de multiplicar os pães, antes de ressuscitar Láza
ro, antes de instituir a Eucaristia. Parece julgar-se fra
co como nós ao ponto de recorrer sempre a Deus seu
Pai. Nada executa ou empreende senão por meio da ora
ção: a infalibilidade de são Pedro (Lc 22, 32), a santifi
cação dos apóstolos e dos fiéis, a união e perseverança
deles, a força de suportar a dolorosa paixão, a sua pró
pria ressurreição e o seu império_ sobre o universo, -
quem o creria? - tudo foi o objeto e o efeito de suas
fervorosas súplicas. - Poderemos, depois disso, come
çar uma ação qualquer, antes de a termos recomendado
a Deus?
Ousaríamos sobretudo enfrentar uma empresa dificil,
que exige rellúncla, sem reclamarmos· a sua assistência?
A nossa vida terrestre é uma luta continua conosco mes
mos, e muitas vezes os que nos rodeiam aumentam os
nossos combates, contrariando os nossos gostos, idéias,
desejos e vontades. Lancemos então um olhar a Jesus,
cuja vida inteira foi um sacrifício contínuo. Vítima do
gênero humano, recebeu por nós os golpes da justiça di
vina. Agora ainda sobre os altares em milhares de igre
jas, ele se imola diariamente: e sua presença real entre
nós não é outra coisa senão uma imolação perpétua;
ach"a-se sempre em nossos tabernáculos em estado de ví
tima para a nossa salvação.
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Vítima santa, comunicai-me a sede que vos devora, a
da oração e do sacrifíci�; dai-me a graça de rezar sem
pre e de aproveitar as ocasiões de renúncia que se me
apresentam. E essas ocasiões são frequentes: em meus
exercícios de piedade, quando penosos; - nos meus de
veres diários, quando repugnantes; - na prática da obe
diência que submete o meu juizo a condescender com a
vontade alheia; da paciência que me obriga a tudo so
frer sem queixa nem murmuração. Jesus e Maria, fazei
que a vós recorra quando me repreendem, contradizem
ou contrariam; quando, contra a minha vontade, me pri
vam do meu repouso, tranquilidade e ocupações, ou quan
do exigem de mim alguma coisa que reclama um ato de
abnegação.
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por, ele que tudo subsiste (Col 1, 14-17). Foi só a vir
tude do seu sangue que nos resgatou. Ressurgindo den
tre os mortos, reina no céu, assentado à dextra do Pai
sobre todas as legiões angélicas; de lá governa a Igreja,
de que é a cabeça (Ef 1, 20-22), e um dia virá julgar to
dos os povos e reis da terra (At 10, 42). Esse é o mes
tre que nos deve instruir! Haverá quem a ele se com
pare no universo?
O' Jesus, sabedoria incriada e incarnada! em vós se
acham reunidas todas as perfeições divinas e humanas.
De vossos lábios corre, como leite e mel, a doutrina mais
pura, suave e arrebatadora. Durante vossa vida mortal
as multidões, encantadas pela doçura da vossa comp_a
nhia, vos seguiam até aos desertos, esquecidas do pró
prio alimento por causa da vossa palavra adoravel que
as enchia de admiração!
Após a Ascensão do Redentor, que não fizeram os
apóstolos, herdeiros de seu espírito? Submeteram o mun
do inteiro à sua doutrina e conquistaram-lhe as mais
fulgurantes inteligências. Quantos sábios, filósofos, dou
tores renunciaram então às falsas máximas do mundo
para abraçar o santo Evangelho! Estimando · o Salva
dor e a sua doutrina mais do que o seu próprio gênio e
ciência, calcaram aos pés os seus preconceitos e sub
meteram-se como Jesus a uma vida simples, pobre e
mortificada.
Adoravel Salvador, quando caminharei como eles so
bre as vossas pegadas? A seu exemplo quero estudar
vos nos Livros santos, nas obras de piedade e procurar
conhecer-vos por meio da fé e da oração. Aniquilado ante
a vossa sabedoria infinita, _supli!!o-vos aclareis a minha
inteligência, dissipeis os meus erros e ilusões afim de
que, não estimando coisa alguma neste mundo, vos con
sidere como o único Mestr-.e digno de ser ouvido, admi
rado e imitado. Existimo mnnia detrimentum esse prop
ter emlnentem scientiam Jesu Christi, Domini mei. (Fil
3, 8).
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2º Para imitar Jesus é preciso a.má-lo
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pormenores da minha vida. Que meus pensamentos, ien
timentos, intenções e todas as minhas vontades sejam
inteiramente conformes a vossas disposições interiores!
Peço-vos estas graças pelos méritos de Maria e José,
que vos imitaram tão fielmente na casa de Nazaré.
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quando o fazem descer a corações manchados; o espírito
de oração e sacrifício, pelo qual advoga a nossa causa
junto a seu Pai e se imola cada dia tantas vezes pela
nossa salvação. Quem nos dirá da caridade que pratica
sem cessar, mesmo para com seus inimigos? Quem po
deria avaliar o seu devotamento nos nossos cibórios,
onde se detem para nos auxiliar dia e noite?
Estudando esses exemplos e conformando-nos a eles
segundo as nossas forças, dispor-nos-emos aos grandes
efeitos da santificação, cujo manancial é a Eucaristia.
Encontrando a nossa alma em harmonia com a sua, o
divino Mestre a fará entrar nas vias sublimes duma
santidade consumada. S. Luiz empregava tres dias ·em
preparação para a comunhão sacramental; consagremos
tambem a esse exercício todo o tempo que precede o fe
liz momento em que nos aproximaremos da mesa sagra
da. Para isso façamos frequentes atos de fé, amor, de
sejo e súplica; pratiquemos as virtudes acima mencio
nadas na intenção de nos unirmos mais estreitamente
ao Salvador.
Jesus, pão dos anjos, maná celestial de todo o sabor,
dignai-vos dispor-me para a santa comunhão, formando
o meu coração pelo vosso e pelo de vossa divina Mãe.
Dai-me a fé viva de um santo Inácio, a confiança duma
santa Teresa, o amor ardente de um santo Afonso e dum
são Felipe Neri, para eu participar, como essas grandes
almas, dos frutos imensos do vosso adoravel Sacramen
to. Amo-vos, soberano Bem, amo-vos sobre· todas as coi
sas; inspirai-me a coragem de imitar-vos no exercício da
vida humilde e oculta, - na prática da dependência e
docilidade; - da oração e da renúncia.
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mortificar o meu temperamento e carater, afim de car
regar com paciência as pequenas cruzes de cada dia e
de cada hora. Fazei-me compadecido das necessidades
do próx4D-o, das suas fadigas, de seus defeitos e até das
suas sem-razões afim de imitar a vossa caridade sem li
mites e a vossa inalteravel doçura. Pela intercessão de
vossa santíssima Mãe, tornai-me recolhido sem afetação,
- desinteressado em 'meu comportamento, - sempre
pronto como vós a sofrer, a dedicar-me e a perdoar.
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omnia ossa mea (SI 21, 17). Aclarado pelo Espírito San
to, José não teve dificuldades em descobrir os mistérios
ocultos sob o véu da profecia. Admirava igualmente a
bondade divina no grande prodígio da Incarnação. Achan
do-se na época venturosa em que ia nascer o divino Li
bertador, objeto de tantos suspiros, unia-se aos desejos
ardentes dos patriarcas e às sublimes disposições da sua
virginal esposa, a feliz Mãe do Messias; imitava já ante
cipadamente a vida pobre, humilde e padecente que o
Verbo incarnado iria levar sobre a terra.
A exemplo desse glorioso patriarca, estudemos o Re
dentor nos livros santos e nas obras de piedade, parti
cularmente no Evangelho, onde se acham divinamente
expostas a sua doutrina e as suas ações. Rapidamente
avançaríamos no conhecimento de Jesus, se, como Maria
e José, conservássemos nos corações e guardássemos no
espírito o que lemos ou ouvimos em louvor do nosso
amavel modelo! Proponhamo-nos isso doravante, acres
centando ainda à meditação a oração, atos de amor, con
trição, confiança e o exercício das virtudes praticadas
sobre a terra pela Sà.bedoria incarnada.
Jesus, Verbo eterno, sol de justiça, que dissipais as
trevas da terra, dignai-vos aclarar-me a respeito das vos
sas grandezas, vossas perfeições, vossa doutrina e exem
plos, afim de que, conhecendo os vossos caminhos, me
esforce para neles entrar. Comunicai-me o espírito de
submissão a Deus, - de condescendência para com o
próximo, - e de sacrifício para comigo. Fazei que, co
mo Maria e José, procure unir-me a vós, não só pelo re
colhimento e pela prece, mas tainbem pela suportação
das penas da vida e pelo cumprimento exato de todos
os meus deveres.
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de um Deus aniquilado entre os homens não o abando
nou mais. Dia e noite causava-lhe transportes de admi
ração, reconhecimento e amor, e ele não se cansava de
meditar esse mistério. Tendo sempre sob 0111 olhos o seu
adoravel modelo, progredia constantemente nas maià su
blimes virtudes. Com que sentimentos de devoção o con
siderava em sua infância e recebia suas ternas carícias!
A humildade, a obediência do Deus-Menino, a sua modés
tia, a simplicidade dos seus modos, a sua oração contí
nua o encantavam e extasiavam. Cada palavra de seus
divinos lábios acendia em seu coração o braseiro daquele
fogo celeste, cujos ardores mais tarde sentiram os · dis
cípulos de Emaús à voz de Jesus.
Que santidade não adquiriu José, tão fiel à graça du
rante os longos anos que viveu com a Sabedoria e San
tidade incarnadas, ouvindo cada dia as palavras de vida
eterna que saiam de seus lábios, e vendo os belos exem
plos das virtudes que tão divinamente praticava.! O Sal
vador era, a um tempo, Mestre e modelo; ainda mais, dis
pensava abundantemente as suas luzes e favores a seu
pai nutrício em retorno dos serviços quotidianos que dele
recebia. O santo patriarca foi, depois da Virgem Maria,
a mais perfeita cópia do Verbo incarnado.
O apóstolo afirma que o Salvador habita em nós pela
fé (Ef 3, 17), e o Evangelho declara que as tres divinas
Pessoas fazem em nós a sua habitação (Jo 14, 23). Sto..
Agostinho diz que Deus está no centro da nossa alma;
vê o que faz a nossa mão; conhece o que diz a nossa
língua, o que pensa o nosso espírito e quais são os mais
íntimos sentimentos do nosso coração. Na consideração
dessas verdades não encontramos nada que nos inspire
o desejo de nos tornarmos melhores à imitação de Jesus?
O' Verbo incarnado; se eu conhecesse pela fé as vossas
grandezas, sabedoria e santidade infinitas, teria como
glória e honra inefaveis unir-me a vós e ser semelhante
a vós. Concedei-me a graça de viver sob a vossa de
pendência. Fazei que constantemente apoie a minha fra-
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queza na vossa força - esclareça minhas trevas na vos
sa luz, - cure meus defeitos e vícios ao contato de vos
sas perfeições adoraveis. Peço-vos esses favores pelos
méritos de Maria e José, vossos fiéis imitadores na casa
de Nazaré.
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inocência, que irradiava de sua. face adora.vel, edificava,
tocava as almas fiéis; fazia correr os fariseus hipócritas,
sepulcros caiados, a quem o Redentor exprobrava os cri
mes secretos, sem que eles se atrevessem a usar de re
presálias.
"A vossa modéstia, diz o apóstolo, seja conhecida de
todos os homens!" Guarda da castidade, recolhimento e
oração, ela contribue imenso para a edificação do pró
ximo. Jesus mostrou-se uma vez sobre o altar a santo
Afonso Rodrigues, sem dizer palavra·; conservava, porém,
os olhos modestamente baixos, de sorte que o santo com
preendeu c:i.ue lhe queria dar uma lição de modéstia.
Essa lição, Jesus, vós a dais a todos, e os vossos dis
cípulos têm o dever de imitar a vós, seu divino Mestre.
Quando um pintor quer copiar um painel, olha sucessiva
mente do modelo para a cópia, e da cópia para o mode
lo; acrescenta, corta ou modifica até obter completa se
melhança. Assim quero proceder doravante, meu Sal
vador, representando-me a miudo vossa Pessoa adoravel
no meio dos homens, depois olhando para mim, minhas
maneiras por vezes rudes, meu interior tão pouco com
posto, dissipado, afastado daquele condimento que ca
raterizava os santos, vossos fiéis imitadores. Pela inter
cessão de vossa amavel Mãe, penetrai-me t;Iuma fé viva
e dum profundo respeito de vossa divina. presença., afim
de que guarde sempre o recolhimento interior, condição
primária da verdadeira modéstia. Fazei que vele sobre
os meus olhares, minhas palavras, meu procedimento e
compostura.
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ele o afirma, um constrangimento contínuo, que nos sub
mete a Deus, tanto na solidão como na sociedade, e mes
mo durante o sono, quando se deita modestamente na
presença da majestade divina e de toda a côrte celeste.
Quem quer ser modesto, como Jesus o foi, deve repri
mir a curiosidade de ver, ouvir e saber tudo, e ter os
olhos habitualmente baixos. E' mister que a sua con
versação seja edificante em todos os respeitos, e que não
lese nenhuma virtude. O seu sorriso, os seus passos, o
seu modo de comer e assentar-se, a sua temperança à
mesa, tudo deve assinalar o verdadeiro discípulo do mais
perfeito dos mestres. - S.' Bernardo tinha um exterior
tão composto que suas virtudes transpareciam-lhe, até
no rosto. Ninguem viu jamais são Francisco de Sales
fazer um movimento inutil não só na igreja mas tambem
no quarto onde o observavam secretamente.
"Se marcharmos sobre as pisadas desses amigos de Je
sus, grande proveito tiraremos para a nossa alma. Além
da mortificação que assim estaremos obrigados a prati
car, corrigiremos a dissipação do nosso espírito, a licen
ça dos nossos olhares e palavras; velaremos sobre nós
mesmos com mais cuidado para não desagradarmos a
bondade divina. - Qual o motivo por que faltais às vezes
às regras da polidez cristã? é sem dúvida porque vos e�
queceis de Deus e temeis incomodar-vos e renunciar
vos, ou, então, porque pretendeis viver seJD constrangi
mento para vos contentar e satisfazer em tudo.
Meu Deus, se eu tivera mais espírito de fé e abnega
ção, como seria feliz em oferecer-vos algum pequeno sa
crifício tomando posições menos cômodas, imolando os
meus gostos, bem-estar e caprichos sobre o santo altar
da modéstia. Dai-me a graça de imitar a Jesus e sua di
vina Mãe, e de conservar-me sempre com um profundo
respeito sob as vistas da vossa majestade infinita que
está presente em todos os lugares.
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SEXTA-FEIRA DA TERCEIRA SEMANA
PENSAR E AGIR COMO JESUS
PREPARAÇÃO. Não contentes de imitarmos 11. mo
déstia do Salvador, devemos ainda esforçar-nos para nos
assemelhar a ele: 1° em nossos pensamentos;. 2º em to
das as nossas ações. - Para isso renovemos os santos
desejos da perfeição que não são outros senão os de
unir-nos a Jesus, chefe dos predestinados, por uma in
teira conformidade de vistas e procedimento. Quos prae
destinavit conformes fieri imaginis Filii sul (Rom 8, 29).
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meu divino Mestre, inspirai-me essa perfeita renún.cia,
que me faça estimar e amar, pela vossa graça, o que
esmaga os meus maus instintos e a natureza.
Mas por que exige o Salvador essa morte a nós mes
mos e ao amor próprio? E' para conduzir-nos à mais
estreita união com o Bem supremo. E' -por isso que ele
ensinava, diz o Evangelho, que nada podemos sem a gra
ça na ordem da salvação (Jo ".1.5, 1), que nos é por isso
necessário orar sempre e nunca deixar de o fazer (Lc
18, 1). Ora, a oração é o vínculo que prende a terra ao
céu e a alma a Deus. Pela oração a alma humilde e fiel
atrai o soberano Bem e o faz reinar em seu interior; não
pensa, não quer, não deseja outra coisa que não esteja
de acordo com a doutrina e as inclinações de Jesus.
Meu amavel Mestre, livrai-me dos preconceitos do mun
do, das ilusões da natureza. que se estima e se procura.
Prendei-me a vossos ensinamentos sobre a humildade, a
abnegação, o espírito interior. Penetrai-me dum profundo
respeito e dum constante amor das máximas evangélicas
e fazei que meus pensamentos, afetos e desejos me tor
nem conforme ao vosso sagrado Coração. Sentlte ln vo
bis quod et in Chrlsto Jesu.
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Elevada a essa perfeição, a humildade compreende
eminentemente a abnegação própria que deve ser exer
cida até nas minúcias da nossa vida. Há muitos que sa
bem resignar-se nas enfermidades, nas adversidades e
não chegam a renunciar-se em coisas de pouca importân
cia, como, por exemplo, em ser contrariados, importu
nados, desgostados, empregados em funções que lhes
repugnam e outras mortificações semelhantes. S. Fran
cisco de Sales afirmava que guardar nesses contra
tempos a paz e a tranquilidade da almã, é uma virtude
mais rara do que a castidade.
Para lá chegarmos, apliquemo-nos ao exerc1c10 da
oração assídua a exemplo do nosso adoravel modelo. Du
rante a nossa oração da manl_l.ã, tomemos e�sa resolu
ção e unamo-nos ao Verbo incarnado a pedir por nós
desde a sua conceição até à morte. A santa Missa, recor
dando-nos a oferta que ele fez de si mesmó no templo
e a sua imolação no Calvário, inspirar-nos-á, com o es
pírito de oração, o amor do sacrifício e a resignação na:s
penas de cada dia. - E que força não nos comunicará
a comunhão para agirmos como Jesus, isto é, com cal
ma, recolhimento, mansidão, sem aquela atividade febril
que devora toda ocupação e nos impede o recolhimen
to! Todas as nossas orações, unidas às do. Salvador e
embalsamadas da sua recordação, nos tornarão, pouco
a pouco, a seu exemplo, modestos, circunspectos, des
apegados da terra, sempre unidos ao sumo Bem. Assim
estabelecer-se-á em nossos corações o reino da graça ou
a vida do Homem-Deus. Então as nossas palavras, ações
e procedimento serão o fruto da nossa união com ele.
Jesus, infelizmente não se dá isso comigo! o que em
mim domina é o amor próprio, a negligência, a indolên
cia e as más inclinações da natureza. Pela intercessão
de vossa santa Mãe, formai.· o meu coração segundo o
vosso; fazei que minha vontade e minhas ações estejam
em completa harmonia com o vosso beneplácito.
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SÃBADO DA TERCEIRA SEMANA -
RECONHECIMENTO E FIDELIDADE
PREPARAÇÃO. Duas são, sobretudo, as dil'lposiçõeB
que devemós imitar no divino Salvador: 1" o reconheci
mento; 2" a fidelidade. Curaremos assim o nosso egols
mo natural, que é ingrato, inconstante, tendo em vista
somente o bem pessoal, sem cuidar do próximo. Faremos
o propósito generoso de agradecer a Deus por tudo e de
ser fiéis a suas inspirações. ln omnibus gratias agit;e
(Tes 5, 17). Fldeles ln dilectlone acqulescent illi (Sap
3, 9).
l º Jesus modelo de reconhecimento
Admiremos o reconhecimento do nosso amavel Reden
tor, que retribue cem por um por todos os sacrifícios fei
tos em sua glória (Mt 19, 21). Ninguem pode compreen
der quanto vale um só grau de graça, o mundo inteiro
não o poderia pagar. Entretanto o Salvador deles nos en
riquece por todos os atos de virtude que fazemos para
lhe agradar. Que não concedeu à família de Lázaro em
troca dos serviços a ele prestados? Um copo d'água fria
dado em seu nome não ficará sem recompensa, muito
menos um ato de abnegação ao serviço do próximo.
Não vemos diariamente as almas caridosas favoreci
das pelo Salvador, que considera como feito a si mesmo
o bem prestado aos homens, seus irmãos adotivos? Quan
to não elevou na glória a sua divina Mãe e seu pai nutrí
cio pelos socorros temporais deles recebidos? A menor
ação feita em sua honra, a mais fraca palavra proferida
em seu louvor, até mesmo o desejo e a resolução de amá
lo, nada fica esquecido pela gratidão desse bom Mestre,
sempre atento a pagar os nossos serviços.
E que são esses serviços, ó Jesus? fracos em si mes
mos, dívidas contraidas para convosco, autor de todo o
bem. No céu coroais nos vossos eleitos antes a vossa
obra que a deles, porque a sua santificação dependeu
sobretudo da vossa graça. O vosso reconhecimento é tão
generoso - benevolente - delicado, que contais em nos-
28
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so favor as nossas ações, como se foram só nossas, tão
grande é o vosso desejo de cumular-nos de favores.
Enfim a gratidão de Jesus não diminue com os
anos. Bem diferente dos homens que depressa se dispen
sam do dever de gratidão, ele rememora continuamente
as nossas boas ações, dá-nos já neste mundo o cêntuplo
e promete-nos recompensa eterna. Quem não se sente
encantado com caridade tão constante - e tão des
interessada?
Meu amavel Salvador, o vosso modo de agir confunde
o meu egoismo, a minha frieza, indiferença e ingratidão.
Dai-me sentimentos de reconhecimento para convosco e
para com o próximo: l° Para convosco que criastes, res
gatastes e santificastes e trabalhais sem cessar -para me
dar a bem-aventurança eterna; 2º Para com o próximo,
que é muitas vezes o instrume.nto de vossas misericórdias
para comigo. Destruí em mim o orgulho, a estima pró
pria, e a pretensão, defeitos tão opostos ao espirito de
gratidão de que me dais o exemplo.
29
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serafins; a sua compaixão e eterna caridade para conosco
teria sido esteril sem as maravilhas que a ternura e a
fidelidade de Jesus fizeram efetuar por nosso amor. -
Quem, pois, não vos bendirá, Senhor, por tanta solicitude
e generosidade? Prometestes permanecer conosco até à
consumação dos séculos, eis-vos todos os clias com a vos
sa Igreja e seu Chefe para os preservar do erro; com
todos os fiéis em milhares de santuários donde os acla
rais, nutrís, santificais e conduzis à beatitude celeste.
O Salvador promete perdoar a quem se arrepende (Jo
6, 37). Qual é o pecador contrito e humilhado que não
tenha obtido o perdão no tribunal da penitência? Ele
comprometeu-se a atender-nos quando o suplicamos, a
amar-nos quando o amamos; e -qual é a alma que, im
plorando a sua bondade em nossos tempos, não se sentiu
aliviada, fortificada e animada do desejo de se tornar
melhor? Amigo sempre devotado, Jesus não desanima
com nossas misérias e infidelidades; guarda sua pala
vra, mesmo quando nos vê rebeldes às suas inspirações.
Meu divino Mestre, envergonho-me de aparecer diante
de vós depois de tantas promessas violadas, tantas re
soluções esquecidas, tantas práticas começadas com fer
vor e logo abandonadas. No batismo renunciei a Satanaz,
às vaidades do século e ao pecado; porém, mal chegado
ao uso da razão, traí os meus juramentos. Na minha pri
meira comunhão renovei-os, porém sem melhor observá
los. O sacramento da Confirmação, destinado a tornar
me mais constante e fiel, deu-me ocasião de sondar mais
uma vez a minha fragilidade e inconstância no bem. Di
gnai-vos, Senhor, fortalecer-me para o futuro e confir
mar-me para sempre no vosso amor, afim de que nem
o enfado, nem os desgostos e repugnâncias, nem as fa
digas, as dificuldades, os sacrifícios me possam afastar
de vós ou tornar-me indocil à vossa direção.
3Q
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QUARTO DOMINGO DEPOIS DA PÃSCOA -
VIDA INTERIOR DE SÃO ÍOSÊ
PREPARAÇÃO. Sta. Teresa afirma não ter visto ja
mais alguem se consagrar ao culto de são José sem per
ceber o seu avanço, a passos largos, na vida espiritual.
Meditemos: 1 º o que era a vida interior de são José;
2º qual deve ser a nossa, a exemplo da sua. A nossa re
solução será de nutrir habitualmente o nosso espírito de
santos pensamentos, e o nosso coração de piedosos afe
tos, afim de obedecermos mais facilmente à direção do
Espírito Santo. Virtute corroborari per splritum elus ln
interiorem hominem (Ef 3, 16).
1º Vida interior de são José
Homem interior é o que pensa e age interiormente
numa outra esfera do que a vida mundana ou vida dos
sentidos, numa esfera espiritual, sobrenatural e divina.
Onde achar mais belo modelo dessa vida interior meri
tória do que em Nazaré na oficina de José?
Esse homem justo, segundo o testemunho das Escri
turas, era cheio do Espírito Santo a quem devia repre
sentar sobre a terra, como esposo da Virgem sem má
cula vivendo na solidão e no silêncio, tendo sempre sob
os olhos Jesus e Maria, com que ardor e constância se
entregava à contemplação das coisas celestes! Que lu
zes não recebia sobre a divindade, o fim do homem, a
queda primitiva, a Redenção! Estas verdades tão impor
tantes ocupavam sem cessar o seu espírito e conduziam
no ao conhecimento da santidade. Era o justo de que
fala o salmista e que medita dia e noite a lei do Senhor
(SI 1, 3).
Semelhante à palmeira plantada ao longo das águas,
abeberava-se nas fontes da graça por uma oração con
tínua afim de produzir frutos em tempo oportuno. E pre
ciosos eram esses frutos diante de Deus; eram atos de
humildade, de aniquilamento, de reconhecimento para
com o Senhor que o escolhera de preferência a tantos
31
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outros para a dignidade sublime dá pai nutrício do Re
dentor; eram atos de adoração, respeito e amor ao divi
no Infante; atos de veneração, confiança e devotamento
para com sua virginal esposa, a mais santa das criaturas.
Assim se escoava a vida pacata de José. Parecia nada
fazer de grande e notavel; mas a sua ação interiormente
oculta e secreta ultrapassava em elevação e mérito os
mais celebrados feitos. Tal é a vida interior. O mundo a
ignora e a despreza, dela zomba, enquanto que o céu a
admira. Tenhamos para com ela estima e afeição sobre
tudo quanto é criado. Que ela seja o objeto dos nossos
desejos, e dos nossos pássos. Todos os bens nos virão
com ela.
O' pai nutrício de Jesus, fazei que eu compreenda a
nobreza duma vida que nos põe em relação contínua com
a majestade soberana, - nos aclara quanto aos interes
ses espirituais de nossa alma e de nossa eternidade, -
e nos proPQrciona graças mais preciosas do que todas
as riquezas perecíveis. Fazei-me sempre atento às lu
zes do Espírito Santo; inspirai-me o amor da prece e a
força de fazer frequentes atos Interiores, que me dis
ponham ao exercício das virtudes. Vlrtute corroborari
in lnterlorem homlnem.
2• Imitemos o interior de são José
"A terra está cheia de males, exclamava o profeta,
porque não há quem reflita em seu coração" (Jer 12, 11).
A reflexão deve começar em nós a vida espiritual e inte
rior, porque é a fé que fornece os motivos da prece e da
ação para chegarmos à salvação. Mas essas reflexões
deverão talvez limitar-se ao tempo da meditação matu
tina? Longe disso; devemos procurar ter sempre no es
pírito algum pensamento santo que nos conduza ao bem,
mantenha a nossa coragem e sustente o nosso fervor.
Para isso escolhamos de preferência alguma das verda
des e máximas salutares que nos tenha comovido, seja
nos retiros, seja nas leituras ou nas orações. Que elas
formem o nosso ramalhete espiritual, cujo perfume des-
32
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perte em nós o amor da oração e o desejo de obter grà
ças de salvação. E de fato como não orar sempre tendo
diante dos olhos a morte que se aproxima, a eternidade
que chega, e o tribunal supremo a que nos dirigimos?
Circundados de inimigos que nos espreitam, de perigos
que nos ameaçam, muitas vezes agitados por paixões in
dômitas que nos levam ao pecado, como escaparmos à
ruína sem um recurso frequente a Jesus e Maria?
Não temos ademais deveres contínuos a cumprir para
com a Majestade divina sempre presente em nossa alma?
Ela reclama de nós ora atos de humildade e adoração
de suas grandezas, ora atos de confiança em sua provi
dência paternal e em sua bondade infinita. Os seus inu
meraveis benefícios exigem sempre o nosso reconheci
mento. Temos -ainda de exercer a mansidão e a caridade
para com o próximo, _e a abnegação para conosco mes
mos; isso impõe-nos ainda o- dever de meditar e orar
para sermos fiéis às leis da perfeição.
Glorioso patriarca, são José, digno patrono das almas
interiores, fazei-me compreender que a vida de oração
e de reflexão é como um festim espiritual, onde a ra
zão retempera sempre suas convicções religiosas e o co
ração se fortifica contra as seduções do mundo e do pe
cado. Obtende-me a graça de reconfortar-me constante
mente a essa mesa de oração, mesa abundantemente pro
vida, onde me é dado encontrar todos os remédios para
os meus males, a força contra os meus defeitos e a cons
tância no exercício das virtudes. Tomo a resolução: 1 º
de empregar doravante, como vós, todos os meus mo
mentos livres em entreter-me intimamente com Jesus e
Maria; 2º de não agir jamais por capricho ou vontade
própria, mas por espírito de fé e submissão a Deus e
conformidade com o seu beneplácito.
Bronchain II - S 33
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SEGUNDA-FEIRA DA QUARTA SEMANA -
ARIDEZ ESPIRITUAL
PREPARAÇÃO. "Para vós é bom que eu me vá", di
zia o Salvador a seus apóstolos no Evangelho. Estas
palavras de Jesus podem aplicar-se à aridez espiritual.
1° Há dela duas espécies, uma involuntária e outra que
tem sua fonte na tibieza. 2º Com que meios poderemos
tirar proveito da primeira e remediar a segunda? -
Guardando fidelidade à graça e mais devoção nas ora
ções; dizendo frequentemente ao Espírito Santo: "Regai
o que é árido". Riga quod est aridum.
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Jado _apodera-se de nós quando nos dizem uma palavra
·de ·Jesus.
Donde provêm essas disposições? As coisas divinas não
são saborosas por si mesmas? Por que então nos pro
duzem desgosto? Apresentam a um doente iguarias fi
nas e ele as acha insípidas porque o seu paladar e m
sensivel aos sabores. O mesmo se dá com o nosso cora
. ção : perde o gosto dos bens espirituais por ser tíbio,
lasso, negligente, infiel à graça, apegado ao mundo e
às _satisfações dos sentidos, sempre pronto a dissipar
se, · inimigo da solidão, do silêncio, do recolhimento, sem
grande cuidado da perfeição. Não é tal o vosso estado?
Examinai-vos.
Meu Deus, fazei�me ver o nada da vida passageira e
a importância da salvação etern!I,. Dai-me a coragem de
humilhar-me profundamente em vossa presença para re
conhecer quanto necessito do vosso socorro e consequen
_temente da oração que mo deve obter. Tomo. a resolu
!:)ão: 1 ° de velar sobre mim mesmo pará evitar as faltas
J:leliberadas; ,2º de empregar todos, os momentos livres
em meditar e em orar ou em fazer qualquer leitura es
piritual que me desperte o fervor.
3* 35
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virtude, pode contribuir poderosamente à cura das suas
almas. Nada mais encantador, de fato, do que o belo
moral e as ações heróicas de almas generosas; nada mais
capaz de nos sacudir o torpor e inflamar o zelo. O santo
cura d'Ars derramava lágrimas de alegria e ternura ao
falar dos padres do deserto e do seu fervor no serviço
de Deus. S. Felipe �éri soluçava ao ouvir ler a história
dos santos.
Se à leitura unirmos a or�ão, mas uma oração seria,
frequentemente renovada e por vezes prolongada, a gra
ça que dela emana embeberá nossa alma com doce or
valho, arrancar-nos-á o gosto das satisfações que pas
sam, prender-nos-á aos bens duradouros, e embalsamará
o nosso interior do sabor das coisas de Deus. Digamos
pois frequentemente com santo Ambrósio: "Senhor, curai
o paladar de meu coração e fazei-me sentir a suavidade
de vosso amor; libertado de todo langor, não encontro
doçura senão em vós e em vosso serviço". Examinemos
se tomamos bastante cuidado em fazer bem os nossos
exercícios de piedade, sobretudo a oração da manhã e a
ação de graças depois da comunhão.
Meu Deus, se vós fosseis o objeto das minhas inten
ções e desejos, o que contraria as minhas idéias ou in
clinações não me distrairia tão facilmente da vossa di
vina presença para me lançar na lassidão. Dai-me a gra
ça: 1º de me propor em tudo a vossa maior glória; 2º
de procurar na oração não a minha satisfação, a que re
nuncio desde já, mas só o vosso contentamento e o vos
so beneplácito.
36
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mos cuidadosos e fervorosos em tudo e gozaremos logo
a paz e a suavidade do serviço divino. Gusto.te et videte
quoniam sua.vis est Dominus (Sl 33, 9).
37
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os impulsos do coração para a bondade divina, e logo as
doçuras espirituais virão consolar-vos, fortalecer. e en
cher de zelo no serviço de Deus.
Jesus, fazei-me provar quão suave é o vosso jugo,
afim de que a ele me submeta sem reserva. Gustate et
videte (!Uoniam suavis est Dominus.
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to de nunca desagradar a Deus e de querer contentá-lo
em tudo". - Quereis conservar a graça sensivel? acres
centa a Imitação, sede reconhecidos quando Deus vô-la
dá; - pacientes quando vô-la tira; - pedí para recupe
rá-la; - sede humildes e vigilantes para não a perder
(L. 2, c. 2).
Meu Deus, pela intercessão da Virgem do Perpétuo
Socorro, dai-me a graça: 1º de pôr a minha alegria no
cumprimento exato e constante da vossa vontade; 2º
de desejar a unção do Espírito Santo para unicamente
melhor me submeter à sua adoravel direção em todas
as minhas ações.
39
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O demônio torna-se mais audacioso à medida que nos
vê tímidos e enfraquecidos. Impele Judas ao desespero
-e por que? porque o encontra desanimado. S. Pedro, ao
contrário, levanta-se da queda por causa da sua cons
tância em esperar em Jesus. O desânimo tem arruinado
muitos cristãos, enquanto que a humilde confiança os
salva todos os dias. Santa Teresa fala elogiosamente dos
corações corajosos e generosos: estes fazem em poucos
anos mais progressos, diz ela, do que as almas pusilâ
nimes em muitos anos.
Não sois desses corações çstreitos que não ousam con
fiar em Deus e temem sempre ser por ele abandonados?
Não vos abateis com a menor dificuldade quando as vos
sas orações se tornam áridas, o aborrecimento e o des
gosto vos assaltam, a carne e Satanaz vos impelem ao
mal, e trabalhos penosos e difíceis vos são impostos?
Os santos julgavam fazer injúria a Deus se desanimavam
nas provações e lutas da vida. O Senhor nos clama a to
dos: "Estou sempre com aquele que sofre e que espera
em mim". Cum ipso sum in tribulatione (SI 90). - A
oração seja então o vosso remédio em todos os males
da vida! "Chegai-vos a Deus, diz são Tiago, que ele se
chegará a vós" (Tg 4, 8). "Confiai nele, que vos cumu
lará de bens" (SI 90). "Mesmo que me desse a morte,
dizia o santo Jó, eu sempre nele esperarei" (Jó 13, 5).
Meu Deus, dai-me a graça de orar e abandonar-me a
vós nas tristezas e desânimos. A oração e a confian!;)a di
latam-nos o coração e dão-nos a força de vencer o aba
timento causado pela tribulação. Proponho� conser
var-me, com a Mãe das dores, ao pé de Jesus crucifi•
cado para lhe oferecer as minhas amarguras e implorar
a sua assistência.
2º Remédios para o desânimo
Para remediardes a esse mal funesto, meditai frequen•
temente o que segue. Na milícia do século, a covardia
é uma vergonha; quanto mais na milicia de Deus! Um
soldado de Jesus Cristo, cuja vocação é de lutar sem tré-
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guas na vida, não deve ser sempre soldado corajoso?
Temos inimigos, mas inimigos já vencidos sobre o Cal
vário pela cruz do Salvador. E ademais não temos co
nosco Jesus, o Rei da glória, Maria, a Rainha do céu, e
milhões de anjos e santos sempre prontos a defender
nos? Por que então temer ou desanimar?
O desânimo, como o temos dito, não serve para nada;
em vez de diminuir os nossos males, aumenta-os. A ora
ção e a éonfiança., ao contrário, proporcionam remédio
para tudo. - "Debalde oro, exclama a alma abatida,
Deus não me atende; deixa-me sempre nas mesmas pro
vações, nos mesmos combates, nas mesmas dificuldades".
Mas essas penas e dificuldades, responde-lhe a fé, não
podem servir para a vossa santificação? Resignando-vos,
elas se tornam um meio de expiar as faltas, exercer a
humildade, a força de ânimo e a paciência; são para
vós ocasião preciosa de aprenderdes experimentalmen
te quão fiel é o Senhor e.m não vos provar além das
vossas forças e a vir em vosso auxilio quando o invocais.
E essa experiência não vos será um meio de curar-vos
da desconfiança e pusilanimidade?
Tomai pois a resolução de exercer a vossa crença
nas seguintes verdades: 1 º Nada escapa à sabedoria in
finita de Deus e nada pode subtrair-se à sua onipotên
cia. 2º A sua bondade sem limites é o único movei da sua
ação sobre nós.. 3º Por conseguinte, deveis evitar o des
ânimo quando esse médico caridoso trabalha em vos curar
da vaidade, pela humilhação; da cobiça, sensualidade e
egoismo, pelas adversidades, enfermidades e privações;
de todos· vossos defeitos, enfim, por remédios amargos,
incisões dolorosas, cujos efeitos tendem a santificar-vos
e a tornar-vos felizes para a eternidade.
Meu Deus, se eu vos amasse e em vós confia.ase, ja
mais a adversidade ou a tentação poderiam diminuir-me
a coragem. Dai-me a graça de esperar tanto mais em
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vós quanto mais sinto minha fraqueza para o bem. E
vós, minha terna Mãe, Maria, bani do meu coração a
tristeza. que agrava o fardo dos meus deveres - e a
desconfian!;)a que me impede de recorrer à prece e de
me apoiar em vosso socorro.
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Gênova viu um dia, por uma luz celeste,. a fealdade da
sua alma, já santa é verdade, mas sujeita às levea -im
perfeições contraídas até pelos amigos de Deus. Ficou
tão assustada, que suplicou ao Senhqr tirasse esse 4or
rendo objeto de diante dos seus olhos. Se isso se dá _com
os santos, que será de nós? Em que estado se acha a'
nossa alma tão exposta a faltar à caridade, à humildade,
ao recolhimento, à obediência e a todas as virtu'des?
Meu Deus, quantos motivos tenho para humilhar-me
e confundir-me! Quantos repentes de amor próprio, vai-'
dade, sensualidade, intenções naturais mancham num só
dia o meu coração! Dai-me a graça de velar sobre o'
meu interior e de veis suplicar constantemente a graça
de obter uma conciência pura, um espírito reto · e' uma
vontade decidida de corrigir-me dos meus defeitos e· de'
fugir até das imperfeições;
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mos em nos emendar delas, por involuntárias que nos
pareçam.
Acautelemo-nos sobretudo contra a insensibilidade es
piritual. Se apesar dos nossos esforços não notarmos em
nós séria emenda, não endureçamos o nosso coração. Os
santos derramavam lágrimas por causa das suas imper
feições e tendências naturais para o pecado. Ser-nos-ia
tambem proveitoso gemer pelas nossas misérias, fraque
zas e frieza no serviço divino; exprobrar-nos frequente
mente nossa pouca semelhança com os verdadeiros dis
cípulos do Salvador: eles tão humildes em seus senti
mentos, e nós tão pretenciosos e cheios de nossa pró
pria estima! - eles tão pacientes, mortificados, obe
dientes, e nós tão suscetiveis, amigos de nossa comodi
dade e liberdade! - eles tão recolhidos e unidos a Deus
em suas ocupações, e nós tão dissipados, ávidos das no
vidades do mundo e afastados do entretenimento habi
tual com nosso amavel Redentor.
O' Jesus, pela intercessão da Virgem sempre fiel, não
permitais que eu desculpe os meus defeitos perante vós,
perante o próximo ou diante de mim mesmo. Uni em mim
a desconfiança na minha fraqueza à mais completa con
fiança em vossa bondade e méritos infinitos.
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1 • Necessidade é efetios da constância
A inconstância no bem é uma das mais funestas cha
gas para a salvação dos cristãos.' Quantos há que co
meçaram como anjos. e acabaram como demônios! Quan
tos que, como Adão -no paraíso, viveram algum tempo
revestidos da graça santificante e, comendo depois do
fruto proibido, resvalaram àté ao nivel dos irracionais!
E entre as almas piedosas quantas decepções e ruinas
acumuladas pela inconstância! As almas dão-se a Deus
no retiro, resolvem-se a corrigir tudo e a tudo sacrificar
ao seu beneplácito divino; e apenas entradas na vida or
dinária, nos embaraços dos negócios exteriores, esque
cem-se e transtornam em. uma hora ·o que custou tanto
trabalho de espírito, tantas orações, esforços e lágrimas.
Tal é a inconstância do coração humano! Mostra quão
lndlspensa.vel nos é a virtude contrária.. Sem ela nada
de progresso, nada de perseverança, nada de salvação.
"Quem perseverar, diz o Salvador, será salvo" (Mt 10,
22). Quantos méritos não teríamos adquirido, se tivés
semos sido fiéis a nossas resoluções! Tantas vezes co
meçamos a mortificar-nos, a espezinhar nossa paixão do
minante! e pouco a pouco ficamos remissos, tendo ne
cessidade de um retiro pare. retemperar o nosso fervor.
O' Jesus, que é do tempo em que eu evitava as meno
res faltas por delicadeza de conciência; em que velava
sobre mim mesmo e vivia desapegado, longe do mundo,
só pensando em vós e só respirando para vos comprazer?
Que doces alegrias então! quantos fervorosos atos de
amor, renúncia, Obediência! que facilidade em praticar e.
oração, a caridade, o devotamento!
Onde estou, Jesus? Por ser.vir-vos alguns e.nos, auto
rizo-me a viver descuida.do, menos submisso, menos docil,
menos mortificado, menos amigo do silêncio e de. ora
ção. Não deveria eu fazer justamente o contrário? Apro
ximando-me sempre mais de. morte e do juízo final, não
deveria redobrar de zelo no cuide.do do meu aperfeiçoa-
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mento es.piritual? O' -meu Salvadór, faz.�i que assim seja.
Aumentai-me o fervor à medida que os anos passam e
me impelem para a eternidade.
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Deus. - Tudo passa, só Deus permanece" ? Estas máxi
mas e outras semelhantes, unidas à prece, vos auxiliarão
a não perderdes nada do vosso fervor habitual.
O' Jesus, que sobre a terra levastes vida dura e pe
nosa, e que permanecestes na cruz apesar das provoca
ções dos vossos inimigos que vos desafiavam, preservai
me de toda a inconstância nas práticas de piedade que
devem diariamente alimentar a minha alma e ajudá-la
a bem cumprir os seus deveres. Proponho-me: 1° com
bater a indolência, a negligência, o capricho, o mau hq
mor e todas as inclinações voluveis da mip.ha fraca, na
tureza; 2º agir sempre por princípios da razão e p.a fé,
apesar dos desgostos, enfados, dificuldades e tentações.
Fazei-me fiel a essas resoluções pela intercessão daquela
que é a Mãe da perseverança e o mais perfeito modelo
da constância no vosso amor.
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Dando frequentemente maus exemplos, abala a cons
tância dos fracos, escandaliza os fervorosos e danifica
a comunidade. Os mais uteis ao Instituto não são os que
brilham por seus talentos e sucessos, e sim os mais fiéis
à observância. Grande mal causam de fato, J1 toda a
Igreja, os religiosos caidos no relaxamento; eles a des
honram, escandalizam, ofendem e ferem assim a pupila
dos olhos de Jesus.
O doutor angélico diz ser dificil ao religioso, após a
profissão, não pecar ao menos venialmente, transgredin
do voluntariamente um ponto da Regra. Que contas, pois,
não deverá prestar quem comete faltas habituais e em
pontos importantes! A que julgamento severo nos sub
meterá Jesus no outro mundo! E esse julgament9 come
ça muitas vezes nesta vida. Se o Senhor ameaça lançar
da sua boca o cristão tíbio e negligente, que não fará
com os religiosos relaxados? Quantos não sairam da Or
dem e. pereceram miseravelmente!
Sto. Afonso dizia: "Cada qual procure evitar as mais
leves faltas plenamente deliberadas, porque o demônio
conduz ordinariamente dessas faltas a outras mais gra
ves para fazê-lo perder a vocação". "Quem é infiel nas
pequenas coisas, afirma o divino Mestre, sê-lo-á pouco a
pouco nas mais essenciais" (Lc 16, 10). A cada trans
gressão dum ponto da Regra, vos tornais mais fracos,
menos aclarados, menos fervorosos e escorregais num
perigoso declive. - "Um religioso, diz ainda santo Afon
so, que transgride habitualmente uma parte, embora
minima, da sua Regra, ainda que pratique a penitência,
a oração e as obras espirituais, não dará um passo se
quer para a perfeição". Ipse morletur qula. non habuit
disciplinam (Prov 5, 23).
Meu Deus, fazei que eu conheça as minhas faltas or
dinárias contra a pobreza, a modéstia, a obediência e a
caridade; contra o espírito da solidão, do silêncio, do re
colhimento e da oração, e dai-me a força de me corrigir
doravante.
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2º Como devemos observar as Regras
As Regras são para os religiosos vínculos salutares
que os impedem de correr na estrada da licença, e que
os livram das cadeias das paixões; são l�os de amor
que nos não tiram a santa liberdade dos filhos de Deus,
mas ao contrário a aumentam, livrando-nos do jugo do
mundo, do inferno e das inclinações viciosas.
Disso se deduz que devemos observá-las menos por
temor do que por amor. O amor inspira mais generosida
de e constância, e ajuda ao mesmo tempo para adquirir
merecimentos. Que não faz um negociante que se quer
enriquecer? Quantos cuidados, penas, vigílias e priva
ções! submete-se a tudo com alegria. Por que motivo?
Porque ama o seu estado e o lucro que lhe provém. Com
quanto mais prazer devemos levar o jugo da observân
cia, jugo tão amavel em si mesmo, e que nos garante
uma fortuna, um reino eterno! . . . O pássaro aprecia as
asas que o ajudam a fugir dos inimigos, a encontrar a
sua subsistência e a equilibrar-se nos ares. Como não
amaríamos as nossas Regras que nos preservam dos
perigos, - nos alcançam graças de salvação, e nos
elevam à união com Deus?
"Convencei-vos, diz santa Maria Madalena de Pazzi,
que elas são para vós a vontade de Deus; estimai-as e
amai-as como ao próprio Deus; e se os outros as trans
gridem, suprí as suas faltas". - J.'ião hesiteis, pois, em
guardar o silêncio quando outros o quebram sem neces
sidade; em viver recolhidos, quando outros são dissipa
dos; em pedir as pequenas permissões, quando outros
disso se descuidam. Não vos deixeis influenciar pelos
maus exemplos, mas só pelos bons. O amor filial para
com Deus, vosso Pai, não exige menos de vós. Não se
jais mercenários, escravos do respeito humano; mostrai
vos em tudo filhos devotados do Instituto que vos leva
em seu seio e ao qual deveis tanto por lhe estardes uni-.
dos pelos laços mais sagrados.
Jesus crucificado, recordai-me a miudo a palavra de
são Bernardo : Ad quid venisti? por que ingressaste na
Bronchain II - 4 1!)
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religião? Entrei para santificar-me por meio da obser
vância regular. Pela intercessão da Virgem sempre fiel,
concedei-me a graça: 1 º de estimar cada uma das minhas
Regras como um preceito evangélico; 2º de observá-las
todas com respeito, - exatidão - generosidade, como
o fazia o meu Fundador.
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Tira-lhes sua assistência sensivel, deixa-as entregues ao
desgosto, às dores do espírito, às tentações; dá-lhes fre
quentes ocasiões de fazer atos generosos de abnegação,
confiança, castidade, paciência e abandono à vontade ·di
vina. Assim são elas purificadas, exercitadas, trabalha
das como a estátua pelo estatuário até à perfeita seme
lhança com seu divino �odeio, Jesus crucificado.
Vós que desejais santificar-vos, aprovais quando o
Senhor vos humilha, vos prova e mortifica? Quantas
repugnâncias, tristezas, abatimentos, queixas, por cau
sa de uma leve contrariedade! E' isso acaso virtude só
lida que se não perturba com coisa alguma e nada teme
porque só Deus é a sua força, o seu tesouro e a sua
felicidade?
Meu Deus, quão longe estou desse feliz estado! Para
eu lá chegar concedei-me a coragem de vencer-me e apro
veitar todas as ocasiões de virtudes, afim de conseguir
o seu hábito. Disponde-me pela oração aos sacrifícios e
às dificuldades d€ cada dia, e comunicai-me a força de
aceitar o que contraria os meus gostos, idéias e inclina
ç�es no cumprimento dos meus deveres.
2º Como santificar-nos
A verdadeira santidade pode adquirir-se pela oração
e pela paciência. A oração põe-nos em comunicação com
Deus, atrai-nos suas luzes e suas graças. Como o ramo
unido ao tronco da árvore recebe abundante seiva e pro
duz flores e frutos, assim a alma -unida a Deus pela ora
ção obtem os socorros de que necessita para nutrir a
vida espiritual, produzir as flores dos bons desejos e os
atos de santas virtudes. Além disso, a oração torna-nos
vigilantes, atentos e fiéis às inspirações divinas; daí o
progresso rápido das almas verdadeiramente piedosas,
na humildade, abnegação, obediência, mansidão e outras
virtudes. Mas seremos santificados somente pela oração?
Não, é necessária a provação da paciência segundo o
pensamento de são Tiago (1, 4). Patientia opus perfe
ctum habet. A oração, diz tambem santa Teresa, aju-
4* 51
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da-nos a aofrer com pac1encia, mas é a pac1encia que
termina a obra da nossa santificação. A doçura da con
templação, segundo santo Afonso, desapega-nos do que
� criado, mas não basta, sem o sofrimento, para nos fa
zer morrer a nós mesmos. Queremos santificar-nos? Ar
memo-nos de coragem afim de suportarmos sem queixa
as provações interiores e exteriores que Deus nos envia.
"O dia compõe-se de luz e trevas, diz ainda santo
Afonso; se houvesse somente dia ou constantemente noi
te, tudo pereceria na natureza; assim compreendemos
que nossa vida deve ser um mixto de consolações e do
res, corno a tela é um tecido de fios cruzados. Os santos,
que conh.iciarn o valor da oração, a ela se dedicaram,
não em procura da própria satisfação, mas para agradar
a Deus". Assim fala nosso santo doutor.
Jesus, meu adoravel modelo, destes-me os mais tocan
tes exemplos de oração e resignação. Inspirai-me a força
de seguir as vossas pegadas. Quero doravante: 1° empre
gar todos os momentos livres na reflexão e na prece,
afim de aumentar em mim os desejos da minha santifi
cação; 2º armar-me de coragem nas contrariedades para
me calar e pedir-vos interiormente a calma e a paciência.
Coloco essas duas resoluções, ó Virgem santa, sob a vos
sa poderosa proteção, que tem santificado tantas almas
de boa vontade.
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l º Excelência da perfeição e,,angélica
Nada maior nem mais desejavel do que a santificação
da alma. A dignidade dos reis e dos próprios pontífices
não se pode comparar à grandeza dos santos, que são os
êmulos, os concidadãos dos anjos, enquanto que aqueles,
sem a graça que santifica, seriam escravos do inferno.
E que · estima não tem o Senhor de uma alma que tra
balha na sua perfeição! Com que solicitude a defende,
protege, lhe comunica luzes e graças e a impele a avan
çar no santo amor! Emprega maior cuidado em dirigir
um coração fervoroso do que em governar os astros e o
universo; para salvar e santificar uma só alma, teria
enviado seu Unigênito Filho à terra e o deixaria cra
var na cruz.
O próprio Jesus, por uma só alma, continuaria como
vítima dos nossos altares e prisioneiro perpétuo das nos
sas igrejas. Ele disse· a santa Teresa que por ela só teria
criado o paraiso. - Ele, durante a sua vida mortal, ape
sar de ser o tesouro de todas as ciências, nunca proferiu
uma palavra dos segredos da natureza, e por que? para
nos mostrar o quanto se interessa pela santificação das
nossas almas e pelas riquezas de sua graça. Toda a sua
doutrina e toda a sua vida resumem-se na ciência da
salvação.
Que lição para nós, tão ávidos de dignidade, honras,
ciências profanas, novidades políticas, e tão poucos de
sejos de progresso na virtude! Apegamo-nos à terra, a
nós mesmos e aos preconceitos do s·éculo, contrariamente
aos sentimentos do Verbo incarnado! "Até quando, cla
ma-nos o. Espírito Santo, amareis a vaidade e procura
reis a mentira?" A' perfeição vos pertence, se a quiser
d�s, e com ela a glória sólida, - impereciveis riquezas
- e a verdadeira felicidade. Por que ainda hesitais?
Meu Deus, Bem supremo, imutavel e eterno, fazei-me
compreender que, amando-vos sem partilha, possuirei to
dos os bens e terei a verdadeira beatitude. Inspirai-me a
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coragem de viver em perfeito desapego, sem nada ver e
sem ser visto, unicamente ocupado em trabalhar, orar,
obedecer, exercer a caridade, a paciência e todas as vir
tudes que formam os santos.
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se formaram os santos, esses verdadeiros heróis do cris
tianismo, senão na cruz? Meditavam dia e noite a lei
de Deus, vasando-a em seu coração, em seus sentimentos
e afetos, em toda a sua vida. Eis o segredo da sua emi
nente perfeição.
Jesus, os mesmos motivos que animavam os santos ao
fervor, exigem tambem a minha santificação; e eu te
nho, como eles, os mesmos meios para lá chegar. Donde
a causa que permaneço sempre imperfeito, sem espírito
de humildade, abnegação e sacrifício? Ah! sem dúvida
reflito muito pouco ou superficialmente nas verdades da
fé. Dai-me o. dom da oração e a força de reprimir cons
tantemente os meus defeitos, - meus apegos, - e todos
os obstáculos à minha união convosco. Beatus vir qui
meditabitur die a.e nocte.
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ção do fim. r E' fa.cll porque, doce e agradavel 11.0 co
ração piedoso, exige somente a operação do entendi
mento, que se retira dos objetos exteriores para se re
cordar da presença divina; 2º E' eficaz porque sem ele
o nosso espírito é distraido, a nossa imaginação dissi
pJl.da, o nosso coração árido quanto às coisas divinas,
enquanto que com ele podemos meditar, orar, atrair
nos a graça, agir por motivos de fé e santificar a nos
sa vida.
Para nos tornar perfeitos, o recolhimento deve pro
duzir em nós dois efeitos preciosos. O primeiro é aten
ção habitual eni Deus, e o segundo, a atenção frequen
te em nós mesmos. A atenção em Deus faz-nos conside
rar a sua glória, o aumento da graça em nós e o cum
primento de seu beneplácito até nos pormenores
da nossa vida. A atenção sobre nós mesmos adverte-nos
a purificarmos as intenções, a fugirmos da agitação e
da vaidade, e combatermos os movimentos naturais, o
mau humor, a tristeza, o capricho, o ressentimento; a
reprimirmos a impaciência, a atividade exagerada e o
seu contrário, que é o pouco caso e a indolência natu
ral. Assim os nossos desejos, elevando-se mais alto, con
centrar-se-ão só em Deus e nos deixarão em condição
de agirmos e sofrermos por ele.
Meu Deus, tomo a resolução de fomentar em mim,
quanto possivel, o recolhimento interior: 1 º cerceando
as visitas e conversações inuteis e amando a solidão e
o silêncio; 2º velando especialmente sobre os meus sen
tidos e a minha imaginação para os regrar, mortificar
e banir tudo o que não é para ·vós. Concedei-me a gra
_ça -de santificar as minhas ocupações pela pureza de in
tenção, - pela oração frequente - e pela união con
tínua convosco.
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º
110 entendimento, lhe mostra, e faz apreciar o bem; 2
ardor que leva a nossa vontade a amar a virtude e a pra
ticá-la. A docilidade a essa luz e esse ardor chama-se
fidelidade à graça. Ora essa graça, esse socorro divino
é indispensavel à nossa perfeição. Como o ar é necessá
rio à vida corporal, a graça de cada instante o é à vida
espiritual. Sem ela não podemos ter, diz o apóstolo, nem
sequer um pensamento meritório para o céu, menos ainda
querer e operar o bem com proveito diante de Deus. As
sim como é impossivel a uma planta tornar-se racional
e agir livremente, tambem o é à nossa alma viver sobre
naturalmente e guiar-se a si própria seni a graça habi
tual que comunica a vida divina e sem a graça atual que
a aclara, exorta, excita, move, inspira, dirige e fortifica
para produzir obras dignas da glória eterna. A fidelidade
à graça é, pois, a condição sem a qual não há perfeição;
porém quem a pratica faz progressos verdadeiros em
sólidas virtudes. O Espírito Santo não descansa: ora nos
mostra o nosso na.da e miséria,. e as grandezas de Deus,
afim de nos conservar na humildade; ora nos exorta in
teriormente a desprezarmos os bens passageiros para a
consecução dos eternos. Aqui nos inspira a romper com
o amor próprio e arrostar o respeito humano; alí insis
te em que renunciemos a toda a satisfação e mortifi
quemos os nossos sentidos. Ãs vezes nos consola e ani
ma ao bem pela esperança do céu; sempre nos fortalece,
mormente quando lhe suplicamos; faz-nos aptos para
vencermos as tentações do inferno, triunfarmos das nos
sas repugnâncias, cumprirmos os nossos deveres e che
garmos à perfeição dos santos, se formos perseverantes
em obedecer-lhe.
Meu 'Deus, quantas resistências tenho oposto às vos
sas inspirações em minha vida, a começar pela infância!
Se eu lhes tivesse correspondido pontualmente, já teria
adquirido as virtudes dos santos. Muitas vezes uma gra
ça é o primeiro elo duma corrente que se desenrola na
medida que se corresponde à sua ação. Dai-me a cora
gem de reparar o passado: 1° por atenção mais c.onstan-
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te às vossas luzes e atraüvos; 2º por docilidade mais
perfeita em pô-las em prática por meio da abnegação
e da prece. Peço-vos estas duas disposições em nome de
Jesus e Maria, cuja mediação nos proporciona todos os
socorros que santificam as nossas almas.
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"Vinde a mim, diz ainda o Salvador, vós que gemeis
sob o peso das vossas faltas, e eu vos aliviarei" (Mt
11, 28). Em vez de ficarmos atribulados, desolados, aba
tidos pelos pecados e infidelidades, dirijamo-nos com
confiança ao divino médico, que é o único que nos pode
consolar e purificar, curar e salvar.
Façamos o mesmo nas tribulações. A quem iríamos en
tão, ó Jesus crucificado, senão a vós, verdadeiro conso
lador dos aflitos, refúgio e modelo de todos os que so
frem? Conhecendo a nossa insuficiência, mandastes-nos
orar sempre; mas quão util e necessário nos é esse pre
ceito na hora do sofrimento! Fazei, pois, que recorra a
vós em todas as provações.
Para sermos perfeitos deveríamos orar sem inter
rupção. Sine intermissione. Segundo são Lourenço Jus"
tiniano, a ora_ção assídua transforma os homens, de ce�
gos em clarividentes, de fracos em fortes, de pecadores
em santos. E são Pedro Crisólogo acrescenta: "Ela não
só nos conserva na amizade divina, mas desapega-nos
tambem da terra, eleva-nos ao céu, faz-nos viver fami
liarmente com os anjos e com Deus". - Por que então
negligenciamos esse grande meio de salvação, ocupando
nos inutilme,,,'1te, deixando nossa imaginação vagar em
sonhos em vez de empregarmos os nossos lazeres entre
tendo-nos com Deus, fonte de toda luz, graça e santi
dade?
Jesus, ensinai-me a balsamizar todas as minhas ações
com orações jaculatórias frequentemente repetidas, mor
mente nas lutas, desfalecimentos e aflições; que por esse
meio me torne manso e paciente com os espíritos_,iras
civeis, - calmo e recolhido no meio dos trabalhos,
sempre cheio de graça e amor para convosco.
2º Qualidades da prece
"A prece, para ser eficaz, deve ser humilde". Toda a
ciência duma alma, diz santo Agostinho, consiste em
conhecer praticamente que nada é e nada pode. Por meio
desse conhecimento ora com o grito do coração, que-Deus
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não pode desprezar. "Clamai a mim do abismo das vos
sas misérias, diz ele, e eu vos atenderei" (Jer 33, 3). -
Que motivo para nós de aniquilar-nos diante de Deus
ao começarmos as nossas preces! "O pedido de quem
se humilha, diz o Espírito Santo, penetrará as nuvens,
subirá até ao trono divino e de lá se não afastará antes
de obter um olhar favoravel" (Ecli 35, 21).
A oração verdadeiramente humilde é sempre confian
te; lembra-se que Deus, sendo Pai e Pai das misericór
dias, não pode ser insensível à miséria dos filhos que lhe
pedem o pão de cada dia. Ora, esse pão consiste nas lu
zes, santos pensamentos que nos nutrem o espírito, na
graça que nos reanima, fortalece o coração para cum
prirmos os nossos deveres, suportarmos os sofrimentos
e resistirmos aos assaltos dos inimigos. Esses bens, ne
cessários à nossa vida espiritual, não nos serão jamais
recusados, se os reclamarmos pelos méritos e promessas
de Jesus e pela intercessão de Maria. "Tudo o que pedir
des, crede que Ó obtereis", diz o Salvador. Credite quia
acclpietis, et evenient vobis (Me 11, 24).
Conseguí-los-á sobretudo quem orar com perseveran
ça. Deus não se contenta de ser invocado uma ou duas
vezes ao dia e em certas épocas do ano ; para forçar
nos a trabalhar indefessamente na nossa salvação, man
da-nos orar sempre, insistir à porta da sua misericórdia
afim de o constrangermos, de certo modo, a conceder-nos
o que desejamos. Assim ele nos conserva numa depen
dência contínua da sua bondade; o que é para nós a
fonte da grandeza e da virtude.
Meu Deus, já que não posso viver espiritualmente sem
a graça, que se não obtem senão pela prece, fazei que
minha oração seja humilde, isto é, saida dum coração
convencido do seu nada; confiante: porque se dirige a
vós, autor de todo o bem, que desejais prodigalizar-me
os vossos favores; perseverante, pois a minha dependên
cia de vós é essencial e de cada instante. Inspirai-me
pois a resolução: lº de orar frequentemente, mormente
no começo de qualquer ação, ou quando soar a hora;
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2º de renovar a miudo a intenção de vos glorificar e obe
decer em tudo; 3 º de ser fiel aos meus exercícios de
piedade, mesmo quando me custarem, e de fazê-los sem
pre sem procurar a mim mesmo, mas em união com Je
sus e Maria.
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de desejo da oração e sem a ela se aplicar com cuidado
ardente e constante, penso logo, sem medo de errar, que
não possue dons excelentes nem sublimes virtudes". Si
gamos o conselho desse santo doutor: "Quando somos
obrigados a deixar a oração, escreve ele, façamo-lo com
as disposições do peixe, tirado fora da água. E de fato,
como a água é o elemento do peixe, a oração deve
ser a nossa vida".
Examinai se são esses os vossos sentimentos e se não
perdeis preciosos momentos que poderíeis empregar em
conversar com Deus; se não gastais em pensamentos
inuteis o tempo preciso da meditação, da santa missa,
da ação de graças depois da comunhão, exercícios esses
que deveríeis fazer com o. maior cuidado. Orais de ma
nhã ao levantar, antes e depois das vossas principais
ações? Recorreis a Deus quando sois tentados, humilha
dos, provados, ou quando recebeis alguma feliz nova que
vos obriga ao agradecimento ao vosso Pai celeste?
• Meu Deus, quão longe estou do espírito de oração
que animava os santos! Dignai-vos difundí-lo sobre mim
qom o espírito de graça para que sempre e em toda
parte eu caminhe à vossa luz e sob a dependência da
vo�sa vontade. Orationi instate, vigilantes in ea (Col 4, 2).
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um ato de caridade, que nos merecerá no céu uma re
compensa sem medida e sem fim.
Alhures o mesmo apóstolo recomenda que oremos pe
los sacerdotes e missionários (Rom 16, 30). "Instai e
suplicai ao céu por todos os fiéis e por mim, afim de que
eu possa pregar livremente o Evangelho (Ef 6, 18-19);
que a palavra de Deus seja honrada em toda parte,
e que sejamos libertados dos maus que a ela se opõem"
(2 Tess 3, 1-.2). - Repetidas vezes protesta que "ele
mesmo ora e sem interrupção por todos os fiéis (Rom
1, 9). Agradece a Deus por eles, e pede para eles a fi
delidade à sua vocação de cristãos, o cumprimento dos
desígnios de Deus sobre eles, a fugida de toda falta,
o progresso na fé e na caridade".
Essas graças tão preciosas, por que não as pediría
mos tambem todos os dias para nós e para os outros?
Não sejamos egoistas; recomendemos a Deus, com fre
quência, a santa Igreja e seu chefe, os bispos, o clero,
todos os justos, todas as almas do purgatório. Podería
mos, na abundância de socorros espirituais, esquecer em
nossas orações tantos pecadores, agonizantes, herejes e
infiéis que não possuem a centésima parte dos meios de
salvação que Deus nos prodigaliza cada dia? - Enfim
ofereçamos a Deus as nossas súplicas em favor daqueles
por quem o reconhecimento, a justiça e a vontade divi
na nos impõem o dever de rezar. Desejando para nós
uma graça, dizia santa Maria Madalena de Pazzi, o meio
de a obtermos é• de pedir muitas outras para os nossos
semelhantes.
Jesus e Maria, tomo a resolução: 1 ° de pensar muitas
vezes na desgraça _das almas expostas a perder-se eter
namente; 2 º de vo-las recomendar cada dia num verda
deiro sentimento de compaixão e num vivo desejo de
preservá-las do pecado e dos suplícios do inferno. Ins
pirai-me o fervor e a confiança para tratar- seriamente
convosco o grande negócio da sua eternidade.
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TERÇA-FEIRA DAS ROGAÇÕES.
A ORAÇÃO DOMINICAL
PREPARAÇ.i\O. Depois de havermos meditado por
quem devemos orar, consideremos a mais bela das ora
ções e vejamos: 1 º a excelência do Padre-nosso e o du
plo fim que Jesus nele propõe às nossas súplicas; 2º os
meios que nos indica para atingirmos esses dois fins. O
fruto desta meditação será inspirar-nos a recitação des
sa bela oração nos sentimentos do divino Mestre, deten
do-nos de preferência na terceira súplica que abrange
todos os nossos deveres. Fiat voluntas tua sicut ln cre
io et in terra.
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preces. -- "Santificado seja o vosso nome!'' como se cHs
séssemos: "Meu Deus e meu Pai, sede sempre mais co
nhecido, amado, servido e glorificado". - Venha a nós
o vosso reino! isto é, "Dignai-vos reinar sobre nós, nes
te mundo pela graça e no outro pela plenitude de todos
os bens da glória".
Que poderá haver de mais digno dos nossos desejos
e aspirações? Na qualidade de filhos de Deus, não é o
nosso primordial dever desejar antes de tudo a glorifi
cação de nosso Pai? e como esse desejo é inseparavel do
da nossa salvação, acrescentamos: "Venha a nós o vosso
reino!"
Meu Deus, que me adotastes por filho, não permitais
que me torne um mercenário que procura os seus in
teresses em vez dos vossos. Dai-me a coragem de traba
lhar sempre para a vossa honra e glória, mesmo a custo
de minha humilhação. Fazei-me procurar o vosso reino
sujeitando-me a vós. Purificai minhas intenções e des
apegai o meu coração dos bens criados. Estou resolvido:
1 º a referir à vossa glória todas as minhas ações, penas
e combates, afim de honrar as vossas perfeições infini
tas; 2º a procurar aumentar sempre em mim a vossa
santa amizade, condição essencial da minha salvação.
Sanctificetur nomen tuum ! Adveniat regnum tuum !
Bl'Onchain II - 5 65
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pedir sob o nome de pão, que designa a um tempo: a
graça atual, a Eucaristia e o alimento corporal.
Apesar da nossa boa vontade, quantos obstáculos se
opõem ao nosso progresso na virtude! São, no passado,
os pecados cometidos que impedem a nossa alma de se
chegar a Deus; no presente, as tentações que nos assal
tam e embaraçam o caminho; no futuro, os castigos que
nos ameaçam e tendem a diminuir em nós a confiança
tão necessária para o nosso progresso.
Essas tres espécies de males, passados, presentes e
futuros, estão compre.endidas nas tres últimas petições
do Padre-nosso. Suplicamos a libertação delas afim de
melhor chegarmos ao nosso duplo fim: procurar a gló
ria do Pai celeste, e gozar um dia a eterna felicidade.
Oxalá tivéssemos o fervor dos santos na recitação des
sa bela oração! Digamos com são Francisco de Assis:
"O' Deus santíssimo, Pai nosso, que estais no céu, nos
anjos e nos bem-aventurados! Santificado seja o vosso
nome! Fazei-nos compreender a generosidade dos vos
sos benefícios, a extensão de vossas promessas, a ele
vação de vossa majestade santa. Venha a nós o vosso
reino, afim de que reineis sobre todos pela vossa graça
e que assim cheguemos ao reino dos eleitos. Seja feita
a vossa vontade assim na terra como no céu e por ela
vos amemos de todo o coração, de toda a nossa alma,
de todo o nosso entendimento, de todas as nossas for
ças, e ao nosso próximo como a nós mesmos, atraindo-o
para vós. O pão nosso de cadia dia nos dai hoje, isto é,
o vosso dileto Filho, nosso Senhor Jesus Cristo.
Perdoai-nos as nossas dívidas por vossa inefavel mi
sericórdia, pelos méritos de Jesus e pela intercessão de
todos os santos. Assim como nós perdoamos aos nossos
devedores; dai-nos a graça de amarmos os nossos ini
migos. E não nos deixeis cair em tentação oculta ou ma
nifesta, súb�ta ou importuna; mas livrai-nos do mal pas
sado, do mal presente e do mal futuro. Assim seja".
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QUARTA-FEIRA DAS ROGAÇõES.
PEDIDOS DE UM CORAÇÃO CONTRITO
PREPARAÇÃO. A oração contrita é sempre aceita
por Deus. Mas que deverá pedir quem lamenta suas fal
tas? A súplica do penitente rei Daví: 1° um coração
puro e um espírito reto; 2º a graça de não ser rejeitado
por Deus nem privado da direção do Espírito Santo. -
Afim de nos dispormos para a festa da Ascensão, im
ploremos os mesmos favores com sentimentos de humil
dade e compunção, pois que Deus não rejeita um cora
ção contrito e humilhado. Cor contritum et humiliatum,
Deus, non despicies ( SI 50).
6* 67
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com o próximo. Mas por que, continua o mesmo santo,
nos deu somente um coração? E' porque o sumo Bem
que,· ser amado soberanamente e sem partilha. Amá-lo
de, outra forma, acrescenta Tertuliano, é uma espec1e
de idolatria, pois que se prestam assim homenagens e
consagram-se afeições à criatura tanto ou mãis que ao
Criador.
Quantos ídolos, meu Deus, mancham ainda o meu co
ração! quantos vícios, defeitos, más inclinações me do
minam! quantos atos de vaidade e hipocrisia se imiscuem
nos meus exercícios de piedade, sem contar as aversões,
suspeitas temerárias, maledicências e críticas que acom
panham meus deveres de estado com detrimento da vos
sa glória e do amor que vos é devido!
Ah! Senhor todo-poderoso, dignai-vos criar em mim
um coração puro e renovar no meu interior o espírito de
inocência e de retidão. Por ele procurar-vos-ei com in
teira sinceridade sem me preocupar comigo e com as
criaturas. Sereis então o único objeto dos meus pensa
mentos, intenções, projetos e desejos; porei em vós todo
o meu repouso, toda a minha glória, minhas esperanças
e minha felicidade. Sede para sempre o meu único bem
e o meu único amor. Cor mundum crea in me, Deus, et
spiritum rectum innova in visceribus meis.
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A Face divina é o Verbo eter�o, a imagem de sua subs
tância, no qual estão todos os bens. Ser lançado para
longe da Face divina quer dizer ser privado da partici
pação dos méritos de Jesus. Ser abandonado pelo Espí
rito Santo é não sentir mais os efeitos da sua presença,
não mais receber suas inspirações particulares, nem gra
ças de santificação, como ele as concede às almas boas.
Como é triste e perigoso esse estado! A escritura deno
mina-o: o abandono, o vômito de Deus que se aborrece
do coração lasso, tíbio e infiel, e que não o pode já su
portar; é isso muitas vezes um presságio da condena
ção.
Meu Deus, dir-vos-ei com o profeta-rei, não me rejei
teis da vossa sagrada Face, do Verbo eterno pelo qual
tudo foi criado, do Verbo incarnado que restaurou tudo
no céu e na terra. Não me priveis da felicidade de parti
cipar das graças que todo cristão deve haurir da prece
e dos sacramentos.
E vós, Espírito consolador, que Jesus nos enviou após a
sua Ascensão, não me recuseis · vossas viva� luzes, vos
sos preciosos dons, vossas doces consolações, vossos por
tentosos e eficazes atrativos. Comunicai-me: l ° o dc:im
do temor que me inspire o horror de tudo que vos ofen
de; 2º o dom da fortaleza que me auxilie a vencer as ten
tações e a suportar a adversidade; 3º o dom da piedade,
que me el:ltreite a Deus e ao próximo pelos fortes laços
de desinteressada caridade. - E vós Maria, esposa do
Espírito Santo e Mãe do Verbo incarnado, tornai-me fiel
a meu Criador e soberano Bem, afim de que ele jamais
me repila do meu Salvador e do Espírito do amor; mas
me una estreitamente à sua bondade infinita em virtu
de dos méritos de Jesus e da influência santüicante do
divino Paráclito. N e projicias me a facie tua, et Spiritom.
S11nctum tuum �e �ufe�s a me!
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ASCENSÃO - MISTÉRIO DO DIA
PREPARAÇÃO. Ele subiu, diz o apóstolo, ao alto dos
céus, para presidir a todas as coisas (Ef 4, lOf Medi
taremos: 1 º quão glorioso é o mistério da ascensão para
Jesus e para nós; 2º quais as preciosas lições que nos
dá. Tomaremos depois a resolução de desapegar-nos da
terra, olhando frequentemente para o céu, como os após
tolos, e recordando-nos das ricas recompensas que Jesus
lá nos prepara segundo a sua promessa. Vado parare
vobis locum (Jo 14, 2).
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antes, havíeis sofrido vossa agonia cruel, subistes ao
céu; aí nos mostrais o laço estreito que une o sofrimen
to à bem-aventurança e a humilhação à glória dos elei
tos! Fazei que eu aproveite esse ensinamento precioso,
que bem confirma vossa divina palavra: "Quem se hu
milhar será exaltado" (Lc 18, 14). Quem jamais se hu
milhou como vós? por isso a vossa elevação no céu é
acima de todo o louvor.
Após a ascensão do Salvador, dois -anjos anunciaram
aos apóstolos a sua segunda vinda como juiz dos vivos
e dos mortos. Isso era: 1 º uma nova prova da glória da
quele que Pilatos ousou julgar e condenar injustamen
te; 2º uma advertência para velarmos sobre a nossa con
duta, da qual devemos dar contas ao Senhor antes de
participarmos do seu triunfo e beatitude.
Jesus, fazei que eu ande sempre em vossa presença
. com o temor filial que abafa a presunção - aprimora
a confiança - e fortalece o amor divino.
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pleta. "Pelos frutos conhece-se a árvore", diz o Salvador.
Ex fructibus eorum cognoscetis eos (Mt 7, 20). Vede,
pois, que frutos de abnegação, castidade, paciência,
caridade produzem em nós as leituras, as meditações que
fazeis diariamente. Por esse sinal podeis verificar se
avançais de fato no caminho que conduz ao céu. Jesus
lá subiu depois de nos haver dado o exemplo de todas as
virtudes.
Ele garantiu que nos iria preparar um lugar; não o
conseguireis se não o preparardes constantemente com
ele. Seria por ventura demasiado trabalhar sem descan
so, durante esta vida tão breve, para merecer uma bea
titude sem fim? Por que cntã.o perdeis em pensamentos,
palavras e ocupações inuteis um tempo tão precioso do
qual cada momento vale uma eternidade? De que vos ser
vem esses hábitos de dissipação, essa vida toda natural
e toda humana, que vos afasta de Deus em vez de a ele
vos unir?
Jesus, desprendei-me da terra, lembrando-me sem ces
sar o céu para o qual fui criado. Estou resohido: 1º a
viver no mundo como num exílio, onde o meu corpo é a
prisão da alma; 2º a fazer da minha santificação o ob
jeto principal da minha sçilicitude e das minhas aspira
ções sob a proteção de vossa divina Mãe, que é tam
bem a minha.
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1º Importância da novena do Espírito Santo
A Igreja consagrou o uso de preparação para as festas
litúrgicas por meio de novenas. A novena ao Espírito
San to tem a maior importância; por ela honramos a ter
ceira pessoa da SS. Trindade que intervem em todas as
obras divinas e em particular na da Redenção. E' o Es
pírito Santo que nos aplica os méritos do Salvador.
"Quem não renascer da água e do Espírito Santo, diz
o próprio Jesus, não pode entrar no reino de Deus" (Jo
3, 5). E' o divino Paráclito que nos faz nascer para a
graça no batismo; que nos enche dos bens celestes na
confirmação e nos une ao homem-Deus na Eucaristia, pela
caridade que difunde em nossos corações (Rom 5, 3). In
tervem até no sacrifício dos nossos altares,. como o in
dicam as preces da Missa: "Vinde, Espírito santifica
dor ! Veni sanctifica.tor omnlpotens".
A Igreja santifica o mundo pelo Espírito Santo que
a vivifica. Ele é o seu coração, diz santo Tomaz, assim
como Jesus é a sua cabeça; difunde em todos os fiéis a
vida sobrenatural, que é como o sangue das almas, don
de tiram a força de operar o bem. Quanto reconhecimen
to lhe devemos por nos haver esclarecido com a luz da
fé, tornado filhos de Deus, participantes da sua nature
za, enriquecido de virtudes infusas e de dons preciosos,
dos quais o menÕr excede em valor todas as riquezas do
universo. Graças a ele, recebemos o poder de merecer;
podemos a cada instante aumentar o nosso tesouro es
piritual e eterno.
Façamo-lo sobretudo nesta novena com o ardor dos
mundanos que se apaixonam pelos bens perecíveis, ou
antes com o fervor constante dos maiores santos. Ten
des acaso, em vosso. coração 'ou no vosso proceder, algum
defeito a arrancar ou alguma virtude a fortalecer? A
ocasião é favoravel. O divino Paráclito, desejoso de santi
ficar-vos, dispõe-se a cumular-vos de seus benefícios; au
mentará em vossa alma a graça habitual, a viveza da
fé! 11. firqiez11, !;la esperança, e, generosidade do devota-
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mento. Se o invocardes com fervor e perseverança, far
vos-á temer mais profundamente a Deus, meditar e su
plicar com mais atenção, corresponder melhor às suas
inspirações e progredir mais rapidamente nas vias mis
teriosas da vida interior. Não achais, pois, importante pa
ra vós tornar eficaz esta novena?
Meu Deus, quero fazê-lo por meio do recolhimento e
da o�ão. Para esse fim uno-me à Virgem Mãe e aos
apóstolos em retiro no cenáculo até ao dia de Pentecos
tes. Perseverantes unanimiter in oratione.
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motivos meramente naturais e interesseiros até nas nos
sas mais santas ações! Tantas inclinações imortificadas,
sentimentos pouco nobres, pouco generosos; um recolhi
mento, uma paciência, uma abnegação que mal lançaram
cm nós as suas primeiras raizes; todas essas pobrezas
espirituais não nos forçam a chamar o autor dos dons
celestes e a fazê-lo com as disposições do mendigo que
morre de fome e reclama instantemente o pão necessário
à sua subsistência?
Meu Deus, Espírito Criador, fonte de água viva, refri
gerai meu coração consumido pelas paixões. Fornalha ar
dente da divina caridade, inflamai-me de zelo na vida
da perfeição. Proponho-me: 1 º oferecer-vos todos os dias
esta novena, atos de mortificação e alguma oração es
pecial; .2º combater melhor os meus defeitos e ser mais
fiel à minha Regra ou ao meu regulamento de vida; 3º
desempenhar com mais cuidado os meus exercícios de
piedade e recomendar-me particularmente à divina Mãe
e aos santos apóstolos, meditando e orando com eles no
cenáculo, com um fervor sempre novo.
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gundo os efeitos a produzir em nós. Assim, a sabedoria
é um conhecimento experimental de Deus, que nos faz
prová-lo e nos ajuda a julgar de acordo com esse gosto
supremo todas ns coisas criadas. O dom do entendimen
to nos faz ver cm plena luz as verdades da fé. A ciên
cia nos ensina em geral os meios de santificar-nos, e o
conselho faz-nos aplicá-los à nossa vida em cada caso
particular. Essas luzes ou dons, o Espírito Santo os in
funde em nõssas almas com a graça santificante, mas
em diferentes graus. Quem os possue eminentemente co
mo os santos, inunda-se de tanta clareza que lhe é im
possivel prender-se à terra e não procurar os bens do
céu. "Admiram-se as maravilhas do Senhor, diz !saias,
e o coração se dilata pela esperança e pela alegria" (Is
60, 5). Assim se mostraram os apóstolos no dia de Pen
tecostes: eram tidos como ébrios ou delirantes por fa
larem com ardor e arrebatamento! ...
A vossa fé é como a deles? Olhais com desprezo o que
não é duradouro, para apreciar unicamente os bens eter
nos? Podeis dizer com são Bernardo e tantos outros san
tos que vossa língua não basta ao coração pelas luzes
que recebeis sobre os dogmas revelados? Quão longe
estais desses grandes modelos, vós que não sabeis fazer
um quarto de hora de oração sem distrações!
Peci.í ao Espírito Santo que se apodere do vosso en
tendimento derramando sobre ele aquelas ondas de luz
que denominamos: sabedoria, entendimento, c1encia e
conselho. A vida de fé firmar-se-á então em vossa alma
contra os preconceitos do século, contra as máximas mun
danas e os ·vãos pretextos do respeitp humano; com
preendereis a falsidade dos bens que passam, o vácuo
dos gozos terrenos e a futilidade do amor próprio, das
suas pretensões e suscetibilidades. O mistério da cruz já
vos não será uma loucura nem um escândalo; vossos pen
samentos serão grandes, vossas vistas elevadas, vossos
sentimentos cheios de nobreza; sentir-vos-eil arrebatados
pelas belezas da religião, pelas riquezas da graça, pelas
recompensai;i çla ilóri�; e o vosso coração transborc!arâ,
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de amor, de ventura é esperánça. Mirabitur et dilatabi
tur cor tuum.
Meu Deus, dai-me essa graça pelos méritos de Jesus e
pela intercessão da divina Mãe; fazei-me fiel em corres
ponder até à morte às visitas e às luzes do Espírito
Santo.
2º Dons que aperfei�oam a nossa vontade
Os dons que aperfeiçoam a nossa vontade são uma for
ça sobrenatural comunicada à nossa alma pelo Espírito
Santo e que se aplica a diversos objetos. Assim a pie
dade é aquela· afeição firme e sincera que nos move a
prestar a Deus o amor e o culto que lhe são devidos em
si mesmo ou em suas imagens. O temor de Deus é aque
le respeito convencido da�majestade divina, aquele horror
filial de tudo que o ofende. A fortaleza é um dom que
nos faz aquí sofrer nobremente por motivos de fé, sem
fraqueza nem inconstância. Durante a paixão os apósto
los eram homens medrosos e tímidos. Apenas, porém, re
ceberam o Espírito Santo, tornaram-se corajosos-e intré
pidos. O mesmo se deu com os primeiros fiéis: fortifica
dos pelo Espírito Santo, souberam afrontar os suplícios
e correr de encontro à morte em defesa da sua fé.
Temos nós alguma parecença com essas almas fervo
rosas, que não recuam diante de nenhum obstáculo
quando se trata de agradar a Jesus? Quanta hesitação
e fraqueza, quando temos de vencer o respeito humano,
suportar uma confusão, renunciar a uma idéia, abafar
uma aversão ou perdoar uma injúria! Quão pouco luta
mos contra nós mesmos quando se trata de reprimir
nossa inclinação e suas rudezas, nosso carater e seus
ímpetos, nossa vontade própria e seus caprichos! Que
remos saber a causa dessa falta de ardor no ekercício
da abnegação, da paciência e de outras virtudes? Ei-la:
é que somos mais cheios de nós mesmos do que do Es
pírito Santo.
Humilhemo-nos, pois, profundamente diante de Deus.
Confessemos-lhe as nossas misérias. Peçamos-lhe os dons
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que aperfeiçoam nosso coração e a nossa vontade: 1•
temor filial que nos inspire o horror do pecado e o res
peito da sua divina presença; 2º a fortaleza interior que
nos ajude a suportar as nossas penas e a triunfar das
tentações; 3º a mais sincera piedade que nos faça cum
prir todos os nossos deveres para com ele e para com
o próximo.
Meu soberano Senhor, Espírito de poder e santidade,
dai-me aquela delicadeza de conciência que me afaste
até das menores faltas e me torne respeitoso para com
a vossa adoravel majestade. Concedei-me a abnegação
e a paciência em tudo que contraria o meu orgulho e
meu amor próprio. Comunicai-me aquela piedade terna
e cheia de unção que encerra o gosto da oração e das
homenagen� devidas à vossa excelência infinita e às vos
sas perfeições adoraveis.
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caução e vigilância. em- seu proceder; o homem torna-se
ora apressado ora negligente em suas ações, peca por
inconstância, seguindo o gosto, o capricho, a impressão
do momento, mais do que a luz do espírito de Deus.
Com esse dom, ao contrário, foge-se dos perigos, evita
se o pecado, escolhem-se os melhores meios de santifi
cação (Prov 2, 11�12); age-se e fala-se não por capricho
ou paixão, mas sempre com calma, circunspecção, de
pois de suficiente deliberação. - Testemunha é são Vi
cente de Paulo: quando consultado não dava resposta
senão depois de haver orado e refletido muito tempo. Os
santos contam mais com a luz da graça do que com os
recursos naturais da nossa fraca razão.
Procedamos sempre assim nas decisões a tomar. Por
esse meio faremos tudo com paz, sem pressa desorde
nada; cumpriremos nossos deveres com cuidado, sem agi
tação, sem a febre de começar e acabar tudo de uma
vez. Por que é que vossas ocupações não vos deixam
tempo para orar? Não será pela falta de ordem e de
previdência que tendes em vossos negócio1;1 ! Ah! se fos
seis recolhidÓs, submissos à conduta do Espirita Santo,
quantas impossibilidades aparentes não se esvairiam no
cumprimento dos vossos deveres! Meu Deus, dai-me a
graça de evitar todos os defeitos contrários ao dom do
conselho, isto é, a lentidão excessiva e a atividade de
masiada, a multiplicidade dos pensamentos, desejos, a
preocupação e perturbação, numa palavra, tudo que im
pede em mim a tranquilidade e serenidade necessárias à
deliberação. Dignai-vos esclarecer-me em meus caminhos,
afim de que eu cumpra em tudo a vossa adoravel von
tade.
2º Meios de aumentar em nós o dom do conselho
Esse dom ·nós o recebemos no batismo. Para o aumen
tarmos e aperfeiçoarmos em nós, não nos contentemos
de pedí-lo a Deus, mas cumpramos ainda certas condi
ções que lhe favorecem o exercício. A primeira é de re
nunciar às inclinações que impedem a calma, a madure-
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za de juizo. São Francisco de Sales fizera consigo mesmo
o pacto: "Quando meu coração se excitar, meus lábios
não proferirão palavras". Ele pensava, não sem motivo,
que, sob a impressão da cólera, impaciência ou outra
qualquer emoção violenta, ninguem se acha em estado
de falar com sabedoria nem de dar um bom conselho.
E' mister, para isso, acalmar-se ou subtrair-se à influên
cia da paixão; esta é uma nu.vem que nos impede de ver
a verdade, enquanto que a paz interior nos dispõe à re
flexão e à prece, afim de agirmos de acordo com a razão
e a fé!
Uma outra condição para a alma ser esclarecida nos
casos dificeis é consultar os que são animados do Espí
rito de Deus. "Meu filho, diz o sábio, nada faças sem
conselho e não te arrependerás" (Ecli 32, 14). E, de
fato, assim se exerce a humildade e a docilidade, atrain
do-se os raios da graça. Quando nos é impossível recorrer
a um conselheiro prudente, imploremos a assistência do
céu. Corramos, por exemplo, para perto do SS. Sacra
mento e lá peçamos luz àquele que ilumina a todo ho
mem que vem a este mundo. Seguiremos nisto o exem-
plo dos santos.
Não fazemos nós talvez o contrário, mostrando-nos
presunçosos nos juizos, teimosos nas decisões, ao ponto
de referirmos tudo a nós mesmos! não somos indiscre
tos, se!D,pre prontos a falar e a responder, incapazes de
guardar um segredo! Quantos empreendimentos têm fra
cassado devido a essa incontinência da língua, tão oposta
ao espírito de Deus! Seria um nunca terminar, se quisés
semos pormenorizar as culpas que se podem cometer por
falta de prudência e de conselho.
Meu Deus, espírito de verdade, preservai-me da falsa
prudência. do mundo e da carne, que só visa os bens pas
sageiros. Fazei que eu procure acima de tudo os tesouros
da graça e o cumprimento do vosso beneplácito. Pela in
tercessão da Rainha do Bom Conselho, dignai-vos escla-·
recer-me, instruir-me nos meus deveres, dirigir-me, con
duzir-me é governar-me nos caminhos que me levam a
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vós. Tomo a resoiução: 1 º cie desconfiar cie mim mesmà,
de orar e agir sempre com calma; 2º de pedir conselho
nas coisas importantes para não ter de me envergonhar
das minhas ações. Sine consilio nihil facias, et post fa
ctum non poenitebis.
B1·onchain II - 6 81
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admiravel quando eleva suas vagas até às nuvens; po
rém mais admiravel ainda aquele que reina no mais al
to dos céus (SI 92) .
.Tendes o santo hábito de considerar, aos olhos da fé
e da ciência sobrenatural, o que cai sob os vossos senti
dos? Ah! Ã vista doo quadro de um grande mestre, pen
sais no artista, e na presença das criaturas esqueceis o
seu autor! Entretanto todas as obras divinas são bene
fícios da sua bondade, que reclamam o vosso reconheci
mento. O sol que vos aquece, o ar que aspirais, o nutri
mento que vos sustenta, a veste que vos cobre, as cria
turas que vos circundam e vos prestam serviço, tudo
vos fala do poder, sabedoria e caridade do Senhor para
convosco. Por que permanecer insensível a tão tocante
linguagem? Em vez de vos servirdes do mundo exterior
para vos elevardes a Deus, não sois porventura daqueles
que dele abusam para o ofender? O' deploravel ingrati
dão! Espírito santificador, dignai-vos alumiar-me e mos
trai-me o Criador nas criaturas. Cada quadro ou espe
táculo da natureza seja para mim como um espelho onde
se reflitam a meus olhos vossas adoraveis perfeições. No·
uso das coisas criadas, fazei-me mortificado e reconhe
cido: mortificado, isto é, atento a vos sacrificar minhas
satisfações sensuais; reconhecido ou fiel a vos agrade
cer os benefícios, referin'do tudo à vo13sa glória.
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Quem os ensinou a humilhar-se d.essa forma? ô Espírito
Santo pela ciência infusa a eles outorgada.
"A humildade, diz são Lourenço Justiniano aclara a
alma em todos os seus caminhos, deixa-lhe ver todas as
suas misérias e a faz sentí-las; comunica-lhe a verdadei
ra ciência que consiste em conhecer que só Deus é tudo
e que nós nada somos". A humildade é, pois, a ciência de
nós mesmos em relação a Deus. Como é impossivel a uma
pedra raciocinar, a menos que não receba a razão, as
sim a nossa alma não poderia produzir um ato de fé ou
de ciência sobrenatural sem à luz do Espírito Santo.
Convencidos desta verdade poderemos ainda gloriar-nos
e comprazer-nos em nossos sucessos? Não nos inclina
remos de preferência para a vida oculta e esquecida,
mais favoravel à humildade, à perfeição e salvaçã_o?
O dom da ciência faz-nos ainda encarar todos os
acontecimentos como dirigidos por uma providência in
finitamente sábia, que tem em vista unicamente o nos
so bem; auxilia-nos a aceitar sem queixumes o que fere
o nosso orgulho, o nosso amor próprio, a nossa altivez
natural. São essas as vossas disposições? Preferis apa
gar-vos a vos exibir? E, tJUando sois humilhados, - supor
tais com paciência a humilhação? Por esses sinais po
dereis verificar a que ponto o dom da ciência aclara a
vossa alma e a submete à direção divina.
Maria, esposa do Espírito Santo, ensinai-me a humi
lhar-me, a confundir-me sob as vistas da majestade in
finita que enche o universo. Fazei-me constantemente
fiel em viver na sua presença, em agradecer-lhe os be
nefícios e em pedir-lhe sempre os socorros necessários ao
meu progresso. Estou resolvido: 1° a servir-me das cria
turas como de degraus para sair de mim mesmo e ele
var-me a Deus; 2º a receber dele, com calma e resigna
ção·, as contradições e provações de todo gênero, como
dirigidas pela providência paternal que quer unicamente
a minha felicidade ou a minha santificação.
6* 83
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TERÇA-FEIRA ANTES DE PENTECOSTES
O DOM DO ENTENDIMENTO
PREPARAÇÃO. Esse dom, segundo santo Tomaz, é
um hábito ou qualidade que nos vem do Espírito San
to e nos ajuda a penetrar as verdades sobrenaturais.
Consideremos: 1 º as vivas luzes que ele nos proporcio
na; 2º os meios de merecê-lo. - Peçamos a Deus a gra
ça de fazer todas as nossas ações à luz duma fé viva
e em espírito de oração, afim de obtermos um aumento
de dons do entendimento recebido no batismo. Da mlhi
intellectum, et scrutabor legem tuam.
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O Espírito Santo não ilumina apenas as almas fiéis
na esfera dos mistérios especulativos, mas revela-lhes
tambem o que mais contribue para a sua santificação.
Em seus últimos momentos, santa Maria Madalena de
Pazzi exclamava: "Morro sem ter compreendido corno
alguem possa jamais cometer um pecado mortal". E, com
efeito, se, como ela, compreendêssemos as grandezas de
Deus, suas perfeições infinitas, as riquezas da graça, a
importância da salvação, não poderíamos consentir nem
mesmo nas mais leves faltas. Santa Teresa achava im
possível ser seduzida pela ,·anglória, tão grande era a
compreensão que tinha do seu nada e da mentira. De
sejais, corno os santos, ter horror ilimitado mesmo das
menores faltas? Quereis conhecer os tesouros ocultos
na humildade, na vida obscura e na aceitação das cha
gas abertas no vosso amor próprio? Pedí com instân
cia a Deus o dom de que tratamos, afim de que ele le
vante a vossa fé à altura da que iluminava os santos.
Senhor, quanta treva em meu espírito, treva que me
não permite compreender o nada dos bens terrenos e a
vaidade do mundo! Minha razão está cheia de precon
ceitos terrenos e das máximas do século; estou ainda
longe de encarar antes de tudo a feliz eternidade e de
me submeter totalmente às verdades da religião. Espíri
to Santo, dignai-vos manifestar-me sem véu: lº as vos
sas grandezas, as vossas perfeições infinitas, os vossos
direitos inprescritiveis e os vossos benefícios sem núme
ro; 2º as minhas obrigações para convosco, obrigações
que dimanam de vossos divinos atributos e dos sublimes
mistérios propostos à minha crença pela Igreja, vossa
esposa. Da mihi intellectum, et scrutabor fogem toam,
ct cust{ldiam iliam in t(lto cc;,rde meo.
do entendimento
Dispor-nos-emos a receber esse dom precioso, em prla
meiro lugar por meio duma fé prática. "Crede, diz san
to Agost�nho, e �e!"eC?e:reis C?ompreend,er" i "Se não credes,
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assevera Isaías, o vosso espírito não será aclarado pelo
alto" (Is 7, 9). O ato de submissão a Deus que faze
mos, exercendo e praticando a fé, merece-nos luzes mais
vivas que nos m'ostrará, como em pleno dia, os mais ocul
tos mistérios.
Mas é sobretudo nos nossos entretenimentos com o Se
nhor que nossa fé se nutre e fortifica. O doutor angé
lico afirmava haver recebido o conhecimento das verda
des reveladas, muito menos pelo estudo do que pelas lu
zes hauridas na oração. O mesmo se deu com são Boa
ventura. Quantos santos iletrados se aprofundaram mais,
pela meditação, nos mais sublimes mistérios, do que sa
pientíssimos teólogos por seu trabalho! - Quereis, pois,
obter o dom do entendimento? Esforçai-vos por agir
sempre.por princípios sobrenaturais e pedí ao Senhor que
vos aclare com suas luzes divinas.
Ao espírito de fé e oração acrescentai a pureza de co
ração. Os raios solares exercem mais ação sobre um
cristal límpido e sobre uma atmosfera sem nuvens, do
que sobre um gelo sórdido e um céu nublado. Da mes
ma· forma o Espírito Santo exerce mais facil influência
sobre corações inteiramente purificados. Daí a palavra
divina: "Bem-aventurados os corações puros, porque ve
rão a Deus,'' e os mistérios que estão em Deus. Beati
mundi cordi quoniam ipsi Deum videbunt (Mt 5, 8).
Esmerai-vos em evitar até as imperfeições, em afastar
da vossa alma o pensamento e a afeição às criaturas;
em não viver senão da recordação do Senhor, como se
estivesseis só com ele sobre a terra? - Empregastes
todo o momento livre em orar e refletir nas verdades
da salvação, conformando com elas o vosso proceder?
Obedeceis à graça, quando ela de vós ped,e algum sacrifí
cio? Temeis talvez perder, com a renúncia de vós mes
mos, o repouso e a tranquilidade; desenganai-vos: quan
to mais procurardes a Deus sem reserva, tanto mais par
ticipareis das suas luzes e consolações.
Meu Deus, pelos méritos de Jesus e Maria, inspirai-me
a resolução: 1º de me dirigir em tudo pelos motivos
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duma fé viva; 2º de me conservar sempre sob as vistas
de vossa soberana majestade e de vos suplicar sem es
morecimento; 3 º de me não apegar a coisa alguma, mas
de me elevar sem cessar à estima e à procura de vossa
beleza infinita que encanta os anjos e os eleitos.
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se opõem, e só os homens espirituais podem saborear o
que é do espírito de Deus (Cor 2, 14). Que segue daí?
Que é impossivel aliar Deus e os sentidos, unir a vida
perfeita à vida mole e sensual; que a primeira qualidade
da ver<ladeira sabedoria é de ser casta e mortificada.
Sapientia primum pudica est (Tg 3, 17). O dom da sa
bedoria afasta-nos outrossim de tudo que cheira a orgu
lho, presunção, vanglória, inveja, dureza, aversão ao
próximo; pois, segundo são Tiago, "a sabedoria que vem
de Deus é modesta, pacífica, sempre pronta a fazer o
bem, a exercer a misericórdia" (Tg 3, 17).
São essas as vossas disposições? Procurais esmagar
em vosso coração o amor próprio, o apego a vós mes
mos, às vossas comodidades, · ao bem-estar, a tudo que
lisonjeia a carne? Tendes horror ao louvor, à paixão
de vos exibir, à ambição de ser grandes aos olhos dos
homens, tendências tão contrárias à humildade evangé
lica? De hoje em diante aborrecei tudo que é espírito
mundano, espírito de orgulho, avareza e sensualidade.
Segundo o conselho de Jesus a são Francisco de Assis,
considerai como amargo o que é doce e como doce o
que é amargo à natureza.
Meu Deus, Espírito de amor, arrancai-me das satisfa
ções dos sentidos, dos gozos passageiros, dos prazeres da
vida e de tudo que lisonjeia o amor próprio. Dai que eu
despreze como lama os bens terrenos e passageiros afim
de adquirir Jesus, o Bem supremo e eterno. Omnia ar
bitror ut stercora, ut Christum lucrifaciam (Filip 3, 8).
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pode exclamar com são Bernardo: Confesso que nenhum
livro me atrai e nenhum entretenimento me agrada se
nele não encontro o nome de Jesus; esse nome é mel na
minha boca, melodia a meus ouvidos, canto de alegria
ao meu coração. - Santo Agostinho e muitos outros
santos penitentes, longe de desejar as volúpias do sé
culo, achavam mais prazer em chorar os seus pecados
do que os mundanos em gozar suas vãs satisfações. O
dom da sabedoria comunica, realmente, tanta suavidade
ao amor divino, que nos torna doce e agradavel a prá
tica das virtudes. "Então, diz a Imitação, quem àma
corre, voa e se alegra; é livre e nada o detém; nenhum
trabalho lhe custa, jamais se excusa por impossibilida
de; executa uma multidão de empreendimentos e condú
los a bom êxito; enquanto que o homem carnal perde a
coragem e se deixa facilmente abater (L. 3, c. 5). - Os
que possuem nesse grau o dom da sabedoria exultam,
com são Paulo, no meio das tribulações.
Por que é que os exercícios de piedade e o serviço
de Deus vos parecem enfadonhos? é porque vos falta
esse dom que adoça todas as amarguras. Encontrais tan
ta dificuldade em vencer-vos, em suportar os defeitos
do próximo, em sacrificar vossas idéias na submissão a
outrem, porqbe estais privados daquele sabor celeste
que balsamiza os corações doceis.
Meu Deus, Espírito consolador, descei em mim com a
plenitude dos vossos dons. Comunicai-me o conhecimen
to saboroso das coisas divinas consideradas em vós, o
soberano bem. Vós disseste: se alguem precisa de sabe
doria, obtê-la-á abundantemente por meio da prece (Tg
1, 5). Não rejeiteis, pois, minhas humildes súplicas, e,
pela intercessão da Virgem puríssima, trono da Sabedo
ria incarnada, dai-me o gosto espiritual do que mortifi
ca os meus sentidos, contraria minhas más inclinações e
me conduz à mais estreita união com vossa bondáde in
finita.· Da mihi sedium tuarum a�!�trkem sa.pientlam,
�t mecum sit et meCUJD l11bp:ret1
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QUINTA-FEIRA ANTES DE PENTECOSTES -
DISPOSIÇÕES· PARA A FESTA
PREPARAÇÃO. Já que a festa de Pentecostes é tão
importante para as nossas almas, queremos celebrá-la
com fervor, considerando: 1 º as graças que o Espírito
Santo nos quer conceder; 2º os meios a empregar para
obtê-las. -- Tomaremos depois a resolução de repetir
a miudo com a Igreja ao divino Paráclito: "Vinde, Pai
dos pobres, vinde socorrer nossa miséria, enriquecer-nos
dos vossos dons, encher-nos de vossos esplendores!"
Veni, Pater pauperum, veni dator muncrum, veni lumen
cordium.
1" Gr�as que nos trará o Espírito Santo
"Quando vier o Paráclito, dizia Jesus a seus discípu
los, esse Espírito da verdade que procede do Pai e que
eu vos enviarei, dará testemunho de mim" (Jo 15, 26).
Jesus promete o Espírito Santo a seus apóstolos, afim
de movê-los a·se prepararem para a sua vinda. Chama-o
Espirito da verdade que procede do Pai e que por isso
no-lo fará conhecer; dará testemunho ao Filho, isto é,
far-nos-á compreender sua grandeza e a excelência da
sua doutrina. Ora, conhecer o Pai, único verdadeiro Deus,
e Jesus Cristo por ele enviado é, diz o Mestre, a vida
eterna ou o que se requer para adquirí-la. Hmc est au
tem vita mterna (Jo 17, 3).
Não contente de ensinar em geral o que é indispensavel
para a salvação, o Espírito da verdade sugerirá a cada
um de nós o que lhe concerne em particular; esclarecer
nos-á sobre o nosso nada, mostrar-nos-á nossas más in
clinações, o que é preciso corrigir e reformar em nós;
ampliará o horizonte da nossa alma e a fará ver mais
claramente a malícia do pecado, as perfeições imensas da
quele a quem devemos amar de todo o coração; ajudar
nos-á a penetrar mais os mistérios do presépio, da cruz,
do tabernáculo, a melhor compreender os benefícios da
fé, da graça, dos sacramentos, e a testemunhar ao Se
nhor sincero reconhecimento; fortalecerá nossa esperan-
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ça nas promessaiii divinas feitas à oração, à boa vontade,
ao arrependimento e às santas obras para chegarmos à
salvaçãp.
Enfim nos descobrirá, novos caminhos a explorar, no
rns progres,;os a fazer na dificil prática da humildade,
abnegação e sacrifício; no exercício do recolhimento, vi
gilância e oração; na perfeição da mansidão, devotamen
to, zelo e de tudo que a caridade sabe inspirar às almas
desejosas de santificação. Para facllitar-nos a fidelidade
à sua direção, o Espírito Santo nos comunicará sua doce
unção, destinada a t-0rnar a nossa vontade mais flexivel
e doei!; unir-lhe-á aquela força vitoriosa que provavam
os apóstolos e os primeiros fiéis, arrostando não só o res
peito humano, mas tambem os tormentos e a morte para
a glória de Jesus.
Meu Deus, espírito de santidade, mostrai-me minha
profunda miséria e fazei-me desejar vossa presença em
mim com todo o ardor dos discípulos reunidos no ce
náculo. E vós, ó Maria, pedí ao divino Paráclito que aper
feiçoe minha inteligência e minha vontade: minha in
teligência, pelos dons da sabedoria, entendimento, ciên:
eia e conselho; minha vontade, pelos dons de piedade,
fortaleza e temor de Deus.
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possuirmos o Espírito Santo, seus dons, suas graças e seu
amor, de preferência a suas consolações.
Entremos ainda, como os apóstolos, numa profunda
solidão, num sério recolhimento. "Permanecei na cida
de, disse-lhes o Senhor, até ao dia em que sereis reves
tidos da força do alto" (Lc 24, 49). E, recolhidos no ce
náculo, lá passaram dez dias em retiro, "perseverando
na oração com Maria, Mãe de Jesus" (At 1, 14). Sigamos
o seu exemplo, empregando os dias que precedem a festa
de Pentecostes no exercício da vigilância e da vida inte
rior. Repitamos muitas vezes com a Igreja:
"Vinde, Espírito Santo, Pai dos pobres; vinde, autor
dos dons celestes e luz dos corações! Consolador por ex
celência, ó doce hóspede das almas, sede-nos delicioso re
frigério contra o fogo das nossas paixões. Sede nosso re
pouso no trabalho, nossa paz na agitação, nosso conso
lo nas lágrimas. O' luz bem-aventurada, enchei os cora
ções de todos os verdadeiros fiéis; porque sem vós, sem
a vossa graça, o homem não passa de um puro nada e
·de corrupção.
Lavai as nossa manchas, regai o que é árido, curai o
que é enfermo. Humilhai os nossos espíritos soberbos
e tornai-os doceis; aquecei nossos corações frios, dirigí
os nos extravias, afim de que procurem somente a vós.
Dai enfim a todos os fiéis que confiam em vossa bonda
de os sete dons da vossa graça, o mérito das virtudes, a
perseverança final e a alegria eterna dos santos". - O'
Maria, esposa do Espírito do amor, preparai-me para a
grande festa de Pentecostes.
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mos, a seguir, a prática de repetir a miudo nestes dias:
"Vinde, Espírito Criador, visitar os nossos corações que
vos pertencem". Veni, Creator Spiritus, mentes tuorum
visita.
l ° Como o Espírito Santo nos atrai
Antes da vinda do Messias, os homens,· afastados de
Deus, recusavam obedecer-lhe; fugiam em vez de o pro
curar e voltavam-se para as criaturas. Que fez o Senhor?
Em vez de castigar-nos, resolveu ganhar-nos os cora
ções por meio do amor. "Eu os atrairei, disse ele, pelas
cadeias da caridade" (Os 11, 4). E, com efeito, foram
esses laços sagrados, isto é, os prodígios da Incarnação,
da Redenção, da Igreja, da Eucaristia, da descida do Es
pírito Santo sobre os apóstolos, que converteram o mun
do e reconduziram as almas a Deus.
E não poderia ter escolhido melo melhor. A caridade,
segundo o apóstolo, é o vínculo da perfeição evangélica
(Col 3, 14). Ela desprende-nos da terra e de nós mes
mos; faz-nos subir os degraus de todas as virtudes até à
mais estreita união com o soberano Bem. Quem recusaria
carregar a doce cadeia do amor, que produz em nós tais
efeitos? Sabemos que os laços do mundo são cadeias de
morte; mas os do Espírito Santo são cadeias de vida e
de salvação. Alligatura sa.lutaris (Ecli 6, 31). Como o
divino Paráclito une pelo amor o Pai e o Verbo eterno,
assim prende o nosso coração a Deus pelos laços da ca
ridade divina que nos dá nova vida, vida superior à de
todos os seres que Deus· poderia criar, e que nos faz par
ticipantes da natureza do ser supremo e incriado; bela
vida que nos faz participar do poder, da sabedoria, da
santidade do Senhor! Então Deus está em nós, e nós
nele; ele nos sustém, dirige e faz viver por seu Espírito.
Meu Deus, caridade por essência, fazei que a união
convosco seja o objeto contínuo dos meus pensamentos,
dos meus projetos e de todas as minhas aspirações. Até
agora, em vez de procurar unicamente a vós, andei em
busca dos interesses do meu amor próprio e das suas
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falsas satisfações. Quando uín cievét lne ê pesado e me
contraria, perturbo-me, queixo-me e me entristeço; é por
que me amo mais do que a vós e prefiro o meu contenta
mento à vossa vontade infinitamente amavel. Pelos mé
ritos de Jesus e Maria, comunicai-me, Espírito divino,
vossos preciosos dons, dons que elevarão minha alma e a
abrasarão do desejo de imolar-se por vós. Dai-me as vi
vas luzes com que iluminais os santos, afim de que, co
nhecendo vossas perfeições infinitas e vossos inumera
veis beneficias, cu me prenda a vós sem reserva até ao
meu derradeiro suspiro.
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:Espírito Santo na medida que me amardes e vos sub
meterdes aos meus preceitos, submissos à minha vontade,
doceis à minha graça, atentos a não contristá-lo por vos
sas renitências às suas inspirações. "O Senhor comunica
o seu Espírito, acrescenta são Pedro, a todos que lhe
obedecem". Spiritus Sanctus quem dedit Deus omnibus
obedientibus sibi (At 5, 32).
Espírito divino, quero ter minha alma sempre pronta
para receber-vos. Por isso timbrarei em adorná-la com
as flores que vos são agradaveis e que se cultivam na
solidão, no silêncio e na oração. Balsamizá-la-ei de fé,
pureza, devoção. Banirei dela tudo que possa desagradar
vossos olhos divinos, mormente o defeito que for mais
prejudicial e que se repete mais vezes nas minhas con
fissões. Auxiliado, enfim, pela vossa graça, propónho-me
em particular, até domingo: 1 º obedecer à voz de vossas
exprobrações e das vossas inspirações; 2" oferecer-vos
generosamente, apesar das minhas repugnâncias, os sa
crifícios que me pedirdes. Coloco essas resoluções sob a
proteção da vossa esposa sempre fiel, a SS. Virgem
Maria.
VIGILIA - DE PENTECOSTES -
MARIA E O ESPIRITO SANTO
PREPARAÇÃO. A intercessão de Maria é um dos meios
mais eficazes para nos dispor à festa de Pentecostes.
Veremos, pois, quanto a Virgem imaculada foi repleta
do Espirita Santo: 1" em seu próprio favor; 2 º em nosso
favor. Suplicar-lhe-emas nos faça entrar sempre mais
nos senti�entos de humildade e confiança que a anima
vam no dia de Pentecostes, em que recebeu a plenitude
perfeit-a do Espírito de amor. Spiritus Sa.nctus superve
niet in te (Lc 1, 35).
1º Maria foi repleta do Espírito Santo
Já em sua imaculada Conceição, a SS. Virgem recebe
ra a plenitude do Espírito divino, em grau superior à
que santificou todos os anjos e santos reunidos; ao che-
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gar, porém, o momento em que o Verbo eterno nela se
incarnou por obra do Espírito Santo, essa plenitude ex
cedeu o imaginavel. A Virgem sem mancha tornou-se en
tão Mãe de Deus, dignidade mais sublime do que toda a
grandeza criada, e que exigia perfeição indizivel, digna
de certo modo do Ser incriado. Maria recebeu ao mesmo
tempo a nobre e dificil missão de contribuir para a Re
denção do mundo perdido; isso garantia-lhe luzes, dons,
privilégios proporcionados a tão importante vocação. Daí
a palavra dum santo: "Só Deus pode conceder o cabe
dal de graças depositado na divina Mãe no dia feliz da
Incarnação" (S. Bernardino de Sena).
Entretanto, quem o creria? essa santidade incompreen
sivel de Maria cresceu todos os instantes de sua pere
grinação terrestre, sobretudo nas épocas dos principais
mistérios da vida e morte de Jesus. Quantas virtudes
não exerceu ela no tempo da paixão! Que coragem na
via dolorosa! que fortaleza e constância ao pé da cruz!
Esses atos, mais que heróicos, atrairam-lhe os mais pre
ciosos favores até ao momento solene em que o Espírito
Santo, descendo sobre Olil apóstolos, se concentrou espe
cialmente na alma de sua amavel Rainha.
Queremos, a seu exemplo, preparar em nossos cora
ções habitação agradavel ao divino Paráclito? Trabalhe
mos com ela para unir em nós a inocência à penitência,
o temor de Deus à confiança nele, a humildade à grandeza
dalma, e a delicadeza de conciência à generosidade do
sacrifício. Esforcemo-nos com Maria para subir a Deus
pelos diversos graus do recolhimento, da pureza de co
ração e da oração contínua, degraus que nos farão chegar
à morte total de nós mesmos em união com Jesus cru
cificado.
Espirita de graça e de verdade, sentis prazer nos co
rações inteiramente purificados do velho fermento das
paixões; dignai-vos comunicar-me a coragem de comba
ter a estima própria, o desejo de ser ciuerido, o amor
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das comodidades, do bem estar e da sensualidade, afim
de que possais reinar em mim, vós que reinastes com
perfeição na alma puríssima da augustíssima Mãe de
Jesus e minha.
2º Maria, canal das graças do Espírito Santo
No momento em que Maria foi elevada pelo Espírito
do amor à plenitude da santidade, tornando-se Mãe de
Deus e dos homens, recebeu de que nutrir seus filhos es
pirituais e de que formá-los à semelhança de Jesus. Ma
nifestou esse privilégio, quando sua palavra comunicou
o espírito profético a Isabel e santificou instantanea
mente a alma de João Batista. Sempre e em todas as
circunstâncias percebemos sua intervenção quando se
trata de dispensar às almas os bens da Redenção.
No dia de Pentecostes, diz um grande servo de Deus,
o Espírito Santo desceu primeiro sobre a divina Mãe e
difundiu-se depois entre os apóstolos sob a forma de lín
guas de fogo. O ministério apostólico de fato, destinado
a comunicar a graça, deveria receber seu último aperfei
çoamento pelo canal daquela que é a sua dispenseira.
Seja como fôr, os apóstolos deveram sem dúvida às pre
ces da sua amada soberana e às suas próprias disposi
ções, a plenitude da sabedoria e santidade que receberam
nesse grande dia.
Tambem nós a ela deveremos os socorros abundantes
que o divino Paráclito nos prepara. "Todos os dons, vir
tudes e graças, diz são Bernardino de Sena, são dispensa
dos pelas mãos de Maria a quem ela quer, quando e co
mo quer". Ora, ela quer cumular-nos de favores mais do
que nós poderíamos desejar receber. Outrossim, segundo
santo Ildefonso, como o fogo penetra o ferro e o abrasa
todo, assim o Espírito santificador se apoderou da alma
de Maria; basta-lhe pois inclinar-se a nós para encher
nos do mesmo Espírito.
Vede se não há em vós certos obstáculos que vos tor
nam indignos da sua benevolência maternal. Não estais
cheios do pensamento da vossa própria excelência, e em
Bronchain II - 7 97
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vez de vos humilhardes na oração, não nutris a opinião
vantajosa que tendes de vós mesmos? Não permaneceis
nela distraidos, frios, indiferentes, sem nenhum des�jo
da união com Deus?
Amavel soberana minha, pouco amor e confiança po
nho às preces que vos ouso dirigir. Lembrai-vos das
vossas misericórdias; e já que as enfermeiras são feitas
para os doentes, vós, enfermeira régia do gênero huma
no, dignai-vos pensar e curar as chagas da minha alma
e restituir-lhe a saude perfeita. Para esse fim chamai so
bre mim o Espírito consolador, que é o remédio eficaz
para todas as enfermidades e chagas. Fazei que eu re
pita hoje muitas vezes com a Igreja: "Espírito divino,
regai o que em mim é árido, curai o que é enfermo".
Riga quod est aridum, sana quod est saucium.
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Parece, entretanto, que 0 Espírito Santo ouviu essa
espécie de provocação. Apareceu nesse dia, como nunca
o fizera, sob a forma de línguas de fogo, dando a enten
der a todos que vinha difundir sobre a terra os divinos
ardores da caridade por meio da pregação. Anuncia-se
com estrépito para significar que sua ação não se limi
tará, como a do Salvador, a um povo, a uma região; mas
que se estenderá, pelos apóstolos e seus sucessores, até
às extremidades do mundo. Assim se completa a estru
tura admiravel da Igreja católica, Igreja simbolizada em
Eva desde a origem do mundo, Igreja em germe sob os
patriarcas, preconizada pelos profetas, preparada e fi
gurada pela sinagoga, aperfeiçoada por Jesus Cristo seu
Chefe e coroada pelo Espírito Santo, que é como seu
centro, seu coração e sua vida divina até à consumação
dos séculos. Heri et hodie et ln smcula.
O' sublime coroamento de uma obra que abrange to
das as idades, santifica todas as gerações e nos propor
ciona todas as graças de salvação! Por ela, a verdadei
ra doutrina, a oração, os sacramentos, o sacrifício vão
regenerar as almas. Por ela, o gênero humano vai pas
sar das trevas à luz, da corrução à pureza dos anjos, do
egoismo à perfeita caridade, e de todos os vícios à san
tidade evangélica. Vê-Ia-ão elevar-se e estender-se pelo
universo: e a jerarquia dos bispos e dos sacerdotes e
uma multidão de ordens religiosas e de instituições sem
número que aliviarão todas as misérias e consolarão to
dos os infortúnios. Não é essa uma obra mil vezes mais
admiravel que a da criação? Nesta trata-se da nature
za e das coisas do tempo; naquela, do reino da graça e
dos mistérios da eternidade!
Espírito de sabedoria e de fortaleza, excedestes toda
a nossa espectativa, completando a obra da Redenção;
dignai-vos iluminar-me e fazei que eu melhor compreenda
a imensa felicidade de ter nascido na Igreja católica,
coluna e base da verdade, reservatório inesgotavel das
graças santificadoras. ·Tornai-me sempre pronto a apro-
7• 99
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veitar os sacramentos, a santa missa, a oração e o ban
quete eucaristico, para ser um homem novo transforma
do pela fé viva e inflamado, dos puros ardores da cari
dade. Innova signa et immiita mirabllla.
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obrigados a procurar os tesouros da eternidade". Com
prazem-se em viver pobres e nas provações, isolados no
mundo, possuindo tão somente a Deus. Que fidelidade
em obedecer às inspirações divinas, quando elas reclamam
o silêncio, o recolhimento, o emprego da oração nos mo
mentos livres, a renúncia a determinada afeição, a tal
leitura, falta -ou defeito! Tendes essas disposições de do
cilidade ao beneplácito do Espírito Santo?
Meu Deus, quão longe estou delas, eu que tantas ve
zes resisto aos impulsos da vossa graça! Pelos méritos
de Jesus e Maria, concedei-me: 1º a prontidão do enten
dimento e da vontade para me submeter a vós; 2º a
coragem de vos obedecer nos desgostos, tristezas e en
fadas bem como na paz, alegria e consolações.
SEGUNDA-FEIRA DE PENTECOSTES
SANTUÃRIO DO ESPIRITO SANTO
PREPARAÇÃO. "Não sabeis, diz o apóstolo, que sois
templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?"
(1 Cor 3, 16). Consideremos amanhã: 1° a felicidade de
sermos habitação do Espírito Santo; .2º os deveres que
nos impõe tão glorioso privilégio. - O fruto desta me
ditação será recordar-nos muitas vezes da presença da
quele que estabeleceu em nós sua morada de predileção,
unicamente para nos beneficiar e ouvir as nossas pre
ces. Nescitis quia templum Dei estis, et Spiritus Dei ha
bitat in vobis?
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"Rogai ao Pai, diz-lhes, e ele vos dará um outro Pa
ráclito, que ficará constantemente convosco; o Espirito
da verdade que vos sugerirá tudo o que vos tenho en
sinado; se eu não for, esse Espírito consolador náo virá
a vós". Os profetas da antiga lei anunciaram-nos a vin
da de Jesus, aquí o divino Mestre parece tornou-se o pro
feta do Espírito Santo, certificando-nos da sua habitação
em nossas almas.
Com que reconhecimento e amor não devemos recebê
lo como nosso hóspede adoravel e render-lhe nossas ho
menagens ! Ele vem em pessoa construir-se em nós um
misterioso santuário por meio das virtudes teologais e
morais que formam o corpo do edifício, e dos sete dona
que são como as suas colunas, a sua riqueza e o seu aca
bamento. Os atos de virtudes, inspirados pelo divino Pa
ráclito, ornam sempre mais esse templo interior e o tor
nam agradavel às tres Pessoas divinas, que, segundo o
oráculo do Salvador, nele fazem a sua morada. Mansio
nem apud �um faciemus. Nada mais doce a pensar, nem
mais arrebatador a crer e meditar do que essa verdl!,de
dum Deus em tres Pessoas habitar em nossos corações
em estado de graça. Nada mais próprio para constran
ger-nos a fugir do pecado e a santificar-nos.
Meu Deus, dir-vos-ei com Daví, convém que vossa casa
seja sa.nta (SI 92, 7). Convém que minha alma, em que
habitais, seja pura de toda falta, de todo apego huma
no, de toda imperfeição. Adornai-a de humildade e re
signação à vossa vontade. Perfumai-a de castidade, ino
cência, docilidade, e fechai-lhe a entrada a toda criatura
pelo recolhimento e pela mortificação dos sentidos. Mas,
para vos garantirdes a posse dessa morada, sustentai-a
pelas colunas dos sete dons que tornem inabalaveis em
mim as virtudes teologais e cardiais, isto é, a fé, a es
perança e a caridade, a prudência, a justiça, a fortale
za e a temperança. Emitte spiritum tuum et crea.buntur.
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2º A que nos obriga a morada do Espírito Santo em nós
Em primeiro lugar a um profundo respeito e a uma
contínua confiança nesse Espírito santificador que na
vida traz consigo o Pai e o Filho dos quais é inseparavel.
Quem não viveria constantemente abnegado sob o olhar
dessa Trindade santíssima, que vê os nossos pensamen
tos, intenções e desejos, e diante da qual tremem os po
deres celestiais? Tremunt potestates. Mas, ao mesmo
tempo, que confiança não nos inspira a bondade do Se
nhor! Está em nós para nos iluminar, fortalecer e con
solar e para atender a todas as nossas preces. Seria ofen
sa não esperar tudo da sua misericórdia, a exemplo duma
cri9:nça que tudo espera do pai que a ama com ternura.
Em segundo lugar, como o templo do Senhor é desti
nado à prece e ao sacrifício, é necessário tambem que em
nosso santuário interior façamos sempre atos de reco
nhecimento, amor e submissão ao Pai e ao Filho, e so
bretudo ao Espírito Santo, a quem se atribue a obra da
nossa santificação. Digamos-lhe, pois, com Davi: "Senhor,
cantarei a vossa glória na presença dos anjos; eu vos
adorarei e louvarei no vosso santo templo" (SI 53, 8).
"Suba até vós a minha prece com as nuvens de incenso"
(SI 53, 8; 140, 2).
Unamos à prece a renúncia ou o sacrifício: 1º de todo
o sentimento de orgulho, vaidade, amor próprio, pela es
pada da humildade; 2º de todo movimento de cólera, aze
dume, impaciência, ressentimento pela força da abnega
ção; 3º de toda a sensualidade e moleza, de todo o apego
às criaturas, e de toda a satisfação própria, pelo exer
cício da mortificação e da completa fidelidade à graça.
Esses atos repetidos com frequência serão um perfume
do sacrifício perpétuo que deve honrar em nós a divinda
de, como outrora o do templo de Jerusalém.
Meu Deus, inspirai-me esse espírito de oração, que me
obtenha de vós um profundo respeito para com vossa in
finita majestade se:mpre presente em minha alma. Dai
me o temor filial de desagravar-vos e uma confiança· ina-
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balavel em vossa divina misericórdia. Estou resolvido a
'f'encer-me, a triunfar do respeito humano e a aproveitar
das ocasiões de sofrer para progredir no vosso amor.
Pela intercessão da santíssima Virgem Maria, fazei-me vi
ver estreitamente unido a vós no mais íntimo do meu
ser, onde estabelecestes a vossa morada. Et manslonem
aqud eum faciemus.
TERÇA-FEIRA DE PENTECOSTES
SúPLICAS AO ESPtRITO SANTO
PREPARAÇÃO. "Vosso Pai que está no céu, diz o
Salvador, dará o bom espírito aos que lho pedirem" (Lc
11, 13). Esse bom espírito consiste: 1 ° em ser humilde
e dependente do Espírito Santo; 2º em viver inteiramente
puro e desapegado. - Peçamos esse bom espírito com
instância e perseverança, persuadidos de que ele nos será
dado, segundo a promessa do divino Mestre: Pater ves
ter de creio dabit spirltum bonum petentibus se.
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correr ao Senhor, único autor da graça; necessito das
suas luzes e do seu concurso para avançar no caminho
do céu. Como uma criancinha não pode dar um passo
sem pegar na mão que lhe ensina a andar, assim, sem
o Pai celeste, que podemos nós? nem sequer mover-nos
no caminho da virtude, como afirma o apóstolo. Deus
est enim qui operatur in vobis et velle et perficere pro
hona voluntate (Filip 2, 13).
Agir de acordo com essa verdade, ou reclamar sempre
a assistência divina, é ainda o bom espírito, o espírito
daquele que disse: "Se não vos converterdes e não vos
tornardes como crianças, não entrareis no reino dos
céus". Ser como crianças quer dizer sentir a própria in
capacidade para o bem, procurar apoio em Deus, pedir
sempre seu esclarecimento, direção e sustentáculo; é,
numa palavra, cumprir o preceito: "E' preciso orar sem
pre e nunca deixar de o fazer" (Lc 18, 1).
Meu Deus, quem me dera possuir essas disposições em
vez da presunção funesta com que tenho enfrentado tan
tas vezes o perigo, confiando em minhas próprias forças!
Tenho negligenciado a oração, a leitura, a comunhão e
outros exercícios de piedade, como se não foram neces
sários à minha vida espiritual! Fazei-me compreender,
Senhor, que o orgulho é o princípio de todo o mal, e a
humildade a origem de todo o bem. Dai-me esta última
virtude, que me inspira a vigilância, o temor salutar,
a desconfiança em mim e a oração contínua. Que ela
me ensine a viver sempre sob o domínio do vosso santo
Espírito, que me torne em tudo submisso e docil à sua
direção.
2º O desapego . vem do bom espírito
O bom espírito acha-se nas almas que trabalham pa
ra se purüicar e desapegar. As manchas espirituais não
são como as manchas materiais. Estas desaparecem fa
cilmente sob a ação da água, ao passo que um dilúvio de
sangue humano seria insuficiente para apagar a man
cha do pecado; para isso é necessário o sangue de um
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Deue, aplicado às nossas almas pelo Espírito santifica
dor. E mesmo depois de sermos lavados no sacramento
da penitência, muito ainda nos resta a expiar nesta ou na
outra vida. E quantas trevas, fraqueza, más inclinações
não nos deixam as nossas faltas, mesmo depois do per
dão! (Ecli 5, 5). Davi não deixava de exclamar: "Se
nhor, lavai-me sempre mais de minhas iniquidades e
purificai-me dos meus pecados". Et a peccato meo mun
da me.
O mundo exterior, segundo são Leão, faz-nos contrair
muitas manchas, rebaixando as nossas afeições às vai
dades passageiras e terrenas. Aliás não somos nós mes
mos como sentinelas de corrupção? Donde nos vêm as
paixões sempre alerta, o orgulho, a sensualidade, o amor
próprio, formigueiros de instintos maus que se aninham
em nós? e a concupiscência, sempre renascente, tende a
infetar todo o nosso ser. Sem a graça, como permane
cer puro e ilibado no meio de tantos vícios e tendências
funestas? Digamos, pois, a miudo com a Igreja: "Espí
rito Santo, lavai em nós o que é baixo e vergonhoso:
Lava quod est sordidum !" e com o profeta-rei: "Criai
em mim um coração puro", um coração desprendido não
só de toda falta, mas de todo apego estranho ao Bem
supremo e eterno. Renovai no meu interior o "espírito
de inocência e retidão" o espirito que de vós recebi no
batismo e que perdi por minha malícia; o espírito que
procura em tudo a santidade e só tem a ambição de amar
e possuir a vós que· sois meu último fim e eterna beati
tude!
Jesus, que sondais todas as dobras do coração, fazei
me conhecer a falta, o defeito, o apego ou inclinação que
mais prejudica meu progresso espiritual, e dai-me a for
ça de empregar o remédio apropriado. Pelas preces da
Virgem imaculada, esposa do Espírito Santo, concedei
me a graça de repetir hoje muitas vezes: "Senhor, criai
em mim um coração puro e renovai no meu interior o
espírito de inocência e retidão.
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QUARTA-FEIRA DE PENTECOSTES -
DONS DO ESPIRITO SANTO
PREPARAÇÃO. "Concedei vossos sete dons aos fiéis
que em vós confiam". Assim fala a Igreja dirigindo-se
ao Espírito Santo. Consideremos: 1° os maravilhosos efei
tos dos dons do Espírito Santo; 2º como podemos au
mentá-los em nós. - Tomaremos depois a resolução de
suplicar ao divino Paráclito queira comunicar-se a nós,
como outrora aos primeiros cristãos. Da tuls fidelibus
in te confldentibus sacrum septenarium.
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peneamento da!! grandeza!!! de Deue, do valor ineetima
vel dos seus benefícios, e terismos, como eles, vivo de
sejo de nos devotarmos ao serviço de tão bom Mestre.
Quão preciosos são esses dons e dignos de nossa ambi
ção! Recebemo-los no batismo; a confirmação consoli
dou-os em nossos. corações. Por que é então que 11omos
tão pouco aclarados nas orações, tão fracos no combate
espiritual, tão inimigos do sofrimento, da penitência e da
abnegação? Ah! por falta de disposição, não temos au
mentado em nós os dons celestes, como o fizeram os ver
dadeiros discípulos de Jesus; poderoso motivo para o
suplicarmos com fervor, confiança e perseverança.
Meu Deus, Espírito de santidade, não me deixeis sem
pre rebelde aos impulsos da vossa graça, mas dignai-vos
inspirar-me mais submissão e dependência a vosso res
peito, afim de que, sob a vossa direção, eu conheça mi
nhas más inclinações, sua hediondez e malícia, e tenha
força para reprimi-las, abafando minhas aversões, per
doando as injúrias e exercitando-me nas virtudes sólidas,
a exemplo dos santos.
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obstáculos para nos unir ao Bem supremo. A piedade é
tambem o amor filial para com o Pai celeste, o amor fra
ternal para com os seus filhos. O temor, enfim, é uma afe
tuosa atenção a fugir da sombra de toda ofensa ao ob
jeto amado. Quanto mais amarmos o Senhor, tanto mais
os dons do Espírito Santo se aperfeiçoarão em nossas
almas. Por isso proponde-vos fugir até das mais leves fal
tas, arrancar do vosso coração os apegos demasiado sen
siveis, os desejos ardentes, os sentimentos demasiado na
turais para convosco e as criaturas. Todos esses obstá
culos ao amor sagrado impedem o aumento dos dons ce
lestes. Da mesma forma, a dissipação, o amor das como
didades, dos prazeres da mesa, das vãs satisfações, e
aquela suscetibilidade orgulhosa que se ofende com tudo
e não sabe sofrer coisa alguma; todos esses defeitos
afastam o Espírito Santo. Ele tão pouco pode suportar
o apego que conservais aos vossos hábitos, modos de ver
e agir; pois que isso vos expõe muitas vezes a resistir
às suas luzes e a seus atrativos.
O' digna esposa do espírito de graça, Virgem puríssi
ma, por vossas poderosas preces purificai o meu coração
e abrasai-o dos santos ardores da caridade. Proponho
me dizer muitas vezes e com ardor e confiança: "Senhor,
concedei à minha alma e a todos os cristãos os dons de
sabedoria e entendimento, ciência e conselho, que nos
façam conhecer vossa amabilidade infinita. Comunicai
nos a piedade, a fortaleza e o temor filial que nos tor
nem fiéis ao vosso amor e ao vosso serviço até ao nos
so derradeiro suspiro. Da tuis fidelibus ln te éonflden
tlbus sacrum septenarlum.
QUINTA-FEIRA DE PENTECOSTES -
DOM DO TEMOR
PREPARAÇÃO. Depois de termos meditado, a sema
na passada, os dons que aperfeiçoam a inteligência, ve
jamos os que santificam a vontade. E em primeiro lugar
o dom do temor que, segundo o doutor angélico, tem dois
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atos principais: 1 º inspira-nos o respeito da rnaje11tade
divina; 2 º faz-nos temer ser separados de Deus. - Exa
minemos se possuimos esse temor filial, que nos recorda
a presença de Deus e nos faz evitar todas as faltas deli
beradas. Isso é, diz a Escritura, o começo da sabedoria.
Initlum sapientire, timor Domini ( Sl 110).
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Meu Deus, dai-me sentimentos de humilda.de, temor e
respeito, mostràndo-me, dum lado, o meu nada, minha
corrução, ignorância e pecados, e de outro, o vosso Ser
infinito, sabedoria sem limites, pureza por essência e
santidade incriada. Recordai-me muitas vezes a vossa
soberana majestade que enche o universo, e concedei-me
a graça: 1 º de vos adorar de todo o coração, como o fa
zem os anjos e os santos do céu; 2º de vos testemunhar
uma veneração especial nas igrejas onde repousa o SS.
Sacramento.
2º O dom do temor nos faz evitar o pecado
O segundo ato do dom do temor, segundo são Tomaz,
é o receio de perder a Deus ou de se separar dele pelo
pecado. • Timere separationem ah ipso. O pensamento de
Deus, de sua majestade, da sua justiça, da sua santida
de, a recordação respeitosa da sua presença, deve pro
duzir diretamente em nós o temor filial de ofendê-lo.
Quem jamais ousaria transgredir uma lei, um preceito
régio sob as vistas do príncipe que a deu? Se tememos
a Deus, como ousaremos ultrajá-lo em face, ou pecar
sob os seus divinos olhares?
Os infames anciãos que tentaram Susana voltaram os
olhos para não ver o céu e se recordar dos juízos divinos
(Dan 13, 9). A casta heroína, ao contrário, respondeu
aos criminosos: "E' preferível cair inocente em vossas
mãos a pecar na presença do Senhor". O temor de Deus
teve mais força sobre seu coração, do que as ameaças
homicidas dos que a queriam seduzir; ela preferiu a mor
te ao pecado contra o seu Criador.
Essas deveriam ser as nossas disposições. Deveríamos
poder dizer com santo Afonso Rodriguez: "Senhor, an
tes sofrer todas as penas do inferno, do que cometer um
só pecado venial". E, realmente, todo pecado venial, sen
do uma ofensa à infinita majestade, é um mal maior do
que todos os suplícios da outra vida.
Segundo são Basílio, "todo cristão, que tem sentimen
tos de filho e não de escravo, teme desagradar o Senhor,
111
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mesmo nas menores coisas"; e a Escritura acrescenta
que ele de na.da. descuida.. Nihil negliglt (Ecle 7, 15); não
negligencia nenhum dever de estado, nenhuma prática
de devoção, nenhuma precaução necessária ou util para
a sua perseverança. Modesto em seus olhares, frugal em
suas refeições, desconfiante de si mesmo, com cuidado
evita os perigos e tudo que possa manchar a pureza do
coração ou inquietar a delicadeza da conciência.
Meu Deus, quantas vezes me entrego à dissipação, à
confiança em mim mesmo, à paixão de tudo ver, ouvir
e dizer com perigo de ofender-vos frequentemente! Di
gnai-vos inspirar-me mais vigilância, moderação, atenção
sobre mim mesmo, · afim de não multiplicar minhas fal
tas com detrimento da vossa glória.
SEXTA-FEIRA DE PENTECOSTES
DOM DA FORTALEZA
PREPARAÇÃO. O dom da fortaleza, como o do te
mor, aperfeiçoa a nossa vontade. Ele a fortalece: 1 º na
confiança para agir; 2º na paciência para sofrer. - Não
somos fracos e hesitantes nas ocasiões de nos vencer,
nos mortificar, repelir as tentações, enfrentar o respeito
humano? Ponhamos então nossa confiança em Deus e
peçamos-lhe nos revista do seu poder invencivel. Qui
sperant ln Domino, mutabunt fortitudinem (Is 40, 29).
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gia naturai dos pecadores a qual os auxilia a satisfazer
suas paixões e a perverter as almas. Os bons não con
tam consigo como os maus, mas haurem sua força, em
Deus pela ora.ção e pela confiança; exercem sua firme
za não para satisfação própria, _mas para a prática da
abnegação e cumprimento dos seus deveres.
Nada maior, exclama ainda são Gregório, do que sub
meter à razão todos os movimentos do coração; renun
ciar aos seus gostos, juizo e vontade; desdenhar os bens
da terra pelos tesouros do céu! Santo Ambrósio acres
centa: "Não é por ventura heróico domar-se a si próprio,
contra a cólera, privar-se das satisfações dos sentidos,
não se elevar nas honras, não se abater nas adversida
des? Sempre ocupado do próprio aperfeiçoamento, con
fiando em Deus, combate o homem com tenacidade os
seus defeitos, bane da sua conduta toda a leviandade e
moleza, contém a impetuosidade do seu carater, governa
a imaginação e não descansa antes de haver superado to
dos os obstáculos à virtude.
Quão diferentes são aqueles a quem falta o dom da
fortaleza! Incapazes de vencer-se, de refrear a natu
reza,_ as paixões e os vícios, em vez de levarem vida
austera, mortificada, laboriosa, são idólatras da sua
saude, fracos na tentação e dominados pelo respeito hu
mano. Escravos das suas idéias e caprichos, prendem-se
a ninharias, e perdem a coragem diante da menor opo
sição que encontram.
Meu Deus, quantos atos de fraqueza e inconstância
na minha vida! Desconfiado de mim mesmo, não tenho
confiado plenamente em vós. Concedei-me confiança ina
balavel que me sustenha nas dificuldades, me dê vitória
nos esmorecimentos, e me garanta a perseverança no
vosso santo amor. Qui sperant in Domino, mutabunt for
titudinem.
Bronchain II - 8 113
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2º O dom da fortaleza ajuda-nos a sofrer
A perfeição do dom da fortaleza consiste mais em
sofrer do que em agir. A natureza ama a ação, mas tem
horror ao sofrimento. Esse dom afasta a timidez e a las
sidão; faz de uma criança um gigante, como sucedeu a
Jeremias, cuja fraqueza o Senhor encorajou com as pa
lavras: "Eis que faço de ti como uma cidade fortifica
da, como uma coluna de ferro, ou uma muralha de aço,
e os reis de Judá, os seus cortesãos, os seus sacerdotes
e todos os seus súbditos se voltarão contra ti, e não po
derão abater-te porque sou eu que te sustento" (Jer 1,
12). E de fato quantas perseguições não teve o profeta
de sofrer durante quarenta anos sem ·que fosse abalada
a sua constância!
O mesmo se deu com os mártires. O exemplo do seu
Rei e Salvador Jesus Cristo, que desenvolveu tanta gran
deza dalma no meio dos tormentos e ignomínias da pai
xão, encorajava-os em suas torturas, ao ponto de mulhe
res, crianças, anciãos se tornarem heróis por sua paciên
cia. invencivel. Todos que possuem como eles o dom da
fortaleza têm as mesmas disposições; aguardam os ma
les sem inquietação, recebem-nos com submissão e su
portam-nos sem amargura ou depressão de ânimo. Como
o rochedo batido da tempestade, os santos permaneciam
t
calmos no meio das ondas da tribulação.[Que digo che
garam até a comprazer-se no sofrimento, a desejar com
ardor os tormentos e a suportá-los com alegria.
Podemos nós dizer com o grande apóstolo: "Alegro-me
nas afrontas, perseguições e angústias por amor de Je
sus Cristo" ( 2 Cor 12, 10) ?' Em vez de sermos firmes,
imoveis como o rochedo, não nos parecemos com o barco
fragil que o menor sopro agita e que o mais leve cho
que expõe ao naufrágio? Não sabemos sofrer a contra
dição, a contrariedade, nem a sombra duma censura, vi
tupério ou observação; e invejamos ainda a sorte dos
mártires! Comecemos antes por conter, os nossos trans
portes e impaciências, por abafar as nossas murmura-
114
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çôes e queixas, por suportar com caima o sermos humi
lhados, contraditos, tratados sem atenção, numa pala
vra, provados pela Providência na paciência, disposições
essas formadas em nós pela oração e pela repetição dos
atos.
Meu Deus, Espírito onipotente, não permitais que eu
me torne um membro fraco e delicado sob urna cabeça
coroada de espinhos. Pela intercessão de Maria, em pé
junto à cruz, fazei-me forte, corajoso, constante na afli
ção, humilhação e suportação dos defeitos alheios.
s• 115
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Quão nobres e desejaveis são esses sentimentos inspira
dos pela piedade!
Quem os possue interessa-se por tudo que se refere
ao culto divino. As ceremônias da missa, a pompa das
festas, o canto dos salmos e hinos, tudo que enaltece a
majestade da religão, arrebata e eleva. Com que satis
fação louvam-se e exaltam-se as grandezas de Deus, as
suas inefaveis e infinitas perfeições! Que contentamen
to experimenta-se ao pensar nas homenagens que lhe
presta a côrte celeste! E essa mesma côrte celeste é
tambem objeto de veneração especial por parte das al
mas piedosas; tudo que se acha perto do Senhor lhes é
sempre extremamente caro. Oram pela Igreja padecente
e pela Igreja militante; e nesta honram especialmente os
pontífices e os sacerdotes, e sentem afeição pelos sacra
mentos, pela doutrina e preceitos divinos.
São esses os vossos sentimentos e tendências? Não
sois talvez insensíveis à glória de Deus, à honra da SS.
Virgem, dos anjos e dos santos, às dores da Igreja vossa
mãe? Sentís-vos tocados pela beleza do culto, pelas ho
menagens prestadas ao SS. Sacramento? entristecei�vos
com as ofensas que Jesus lá recebe da parte de tantos
ímpios e maus cristãos?
Meu Deus, espírito de amor, dai-me o gosto e a un
ção da prece, afim de que em tudo e em toda parte eu
vos preste homenagens dum filho para com seu Pai
querido. Inspirai-me, sobretudo na or�o: 1 º atos de
ador�ão e de amor para com vossas perfeições infini
tas; 2º atos de reconhecimento por vossos contínuos be
nefícios; 3º frequentes invocações para obter as luzes
e os socorros necessários à minha alma.
116
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encher-nos de benc\'olência e de afeição para com todos
os homens; e por que? por serem não só os servos, mas
os amigos, os filhos do Pai celeste, os irmãos de Jesus
Cristo, Rei da glória. Revestidos da sua libré no batis
mo, sustentados com uma carne sagrada na Eucaristia,
participam das suas grandezas e méritos e são destina
dos a partilhar um dia o seu reino durante toda a eterni
dade. Essas reflexões farão necessariamente nascer em
nós sentimentos de amor para com o próximo.
Daí aqueles frutos de bondade, benignidade, mansidão,
que o dom de piedade produz em nossas almas; daí aque
las obras de misericórdia espiritual e temporal que Je
sus recompensará no último dia, quando disser aos elei
tos: "Tive fome e sede, fui estranho, sem veste, enfer
mo e encarcerado e vós me socorrestes. Vinde, pois, ben
ditos de meu Pai, possuí o reino a vós preparado desde a
origem do mundo" (Mt 25, 34-36).
Aquele a quem falta 0 dom de piedade é muitas vezes
áspero, deshumano, sem compaixão para com os outros;
os seus modos secos e desdenhosos contrastam viva
mente com a humildade e a mansidão do Salvador e dos
santos; desprovido da abnegação que espezinha seus
gostos pessoais e más propensões do carater, ele não
sabe apresentar a todos um rosto aberto, maneiras po
lidas, olhar benevolente; é um daqueles de que fala o
apóstolo: "Amadores de si mesmos, cobiçosos, vãos, so
berbos, sem afeto e mansidão, sem previdência e carida
de" ·(2 Tim 3, 2-4).
Vede se procedeis para com vossos pais e superiores,
corno um filho docil, cheio de deferência e submissão e
sempre pronto a obedecer. Vossas palavras, vosso modo
de proceder para· com o próximo não traem muitas ve
zes vossa altivez natural, vossa inclinação à tristeza, ou
vossos hábitos de impaciência, contradição e murmu
ração?
Meu Deus, .sinto-me tão pouco inclinado a perdoar, a
causar prazer, a compadecer-me dos sofrimentos alheios.
117
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Vós que conheceis minha m1sena, remediai-a: l° Curai
me da aspereza, frieza e indiferença para com meus se
melhantes. 2º Tornai-me manso, afavel, misericordioso
e condescendente para com todos.
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nosso culto. Já os primeiros cristãos o cohfessavam
diante dos tiranos; os santos de_ todos os séculos o con
templavam, e operavam milagres em seu nome como o
fez diversas vezes são Germano. Sta. Maria Francisca
das Cinco Chagas exclamava com frequência: "Quem
me dera dar a vida em testemunho de minha fé no gran
de mistério da SS. Trindaáe ! oxalá pudesse a custo do
meu sangue fazê-lo conhecido e amado de todos os ho
mens".
Essa santa não começava oração alguma sem recitar
o Gloria Patri com uma inclinação profunda. A adora
ção de Deus em tres Pessoas era a sua primeira e a úl
tima ação do dia, e anualmente se preparava para ce
lebrar com a Igreja a festa de hoje, por uma novena
de orações, jejuns e mortificações. Imitemos essa fer
vorosa franciscana em sua fé viva na verdade de Deus
tres vezes santo a habitar em nós, que ele criou, resga
tou, santificou e destinou a uma recompensa eterna.
Trindade santíssima adorada pelos anjos, pelos san
tos e por sua augusta Rainha, uno-me a eles para vos
louvar, bendizer, agradecer e exaltar para sempre. Dai�
me a força de combater, em vossa honra, as tres con
cupiscências do mundo que em mim militam: 1º o orgu
lho, por uma humildade sincera que me auxilie a glori
ficar-vos e a suportar em paz as humilhações; 2º o amor
dos bens passageiros, pelo desapego das riquezas e pela
paciência nas privações; 3º a avidez dos prazeres sen
suais, pela mortificação dos sentidos e de todas as in
clinações viciosas. Fazei que triunfe sempre nessa luta
de cada dia, afim de que encontreis em mim habitação
agradavel a vossos olhos.
119
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da nossa ·inteligência. Sim, Senhor, creio que sois um
em essência e trino em . pessoas, o Pai, o Filho e o Es
pírito Santo; creio, só porque o revelastes, sem preten
der absolutamente compreendê-lo.
Essa fé sincera conduz-me ao amor; porque nesse
mistério adoravel encontro um Deus criador, que me
adotou por filho, e ao qual cada dia dou o doce nome
de Pai; encontro um Deus Redentor, que se dignou ele
var-me à sua semelhança e fazer-me seu irmão e co
herdeiro; encontro um Deus santificador, que me dis
pôs a essas duas primeiras prerrogativas, dando ao meu
coração um amor filial e um amor fraternal em relação
a esses preciosos favores.
Quem não amaria um Pai que é Deus todo-poderoso,
infinitamente nobre, rico e generoso? Quem não se de
dicaria sem reserva ao Verbo eterno, à Sâbedoria incria
da, menino em Belém, crucificado Ílo Calvário e prisio
neiro em nossas igrejas? Quem não amaria o Espírito
do Amor, autor das grandes obras da caridade divina?
O' abrasados ardores dos serafins, avassalai os meus
afetos para que eu ame o Deus tres vezes santo. Falan
ges celestiais, uno-me a vós para exaltá-lo eternamente.
A exemplo de santo Afonso e de tantos outros santos,
recitemos o Gloria Patri em todos os acontecimentos fe-
lizes ou infelizes; lembremo-nos muitas vezes que esse
grande Deus, que enche o universo, se compraz em ha
bitar em nós como no céu com todos os seus atributos
divinos. Podemos a cada instante entreter-nos com ele;
apoiar-nos em seu poder que sustentou os mártires, ser
vir-nos da sua sabedoria que dirigiu os doutores, pedir
graças à sua bondade que santificou todos os eleitos.
. Meu Deus, Padre, Filho e Espírito Santo, que fazeis
felizes os que vos amam, iluminai-me quanto a vossas
grandezas e amabilidade infinita. Fazei-me conhecer a
extensão da vossa caridade e a multidão inumeravel dos
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vossos benefícios. Quem poderia conhecer-vos e não vos
amar? Pelos méritos de Jesus e Maria, conservai-me
unido a vós no íntimo do meu coração, para aí vos ado
rar, amar, suplicar, e me dirigir segundo a vossa luz e
o vosso beneplácito.
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amor é infinito, por isso, substancial, formando uma
pessoa, isto é, o Espírito Santo. Em nossa alma, a inte
ligência e a vontade, sendo limitadas, não podem nun
ca· formar pessoas. Somos fracas imagens da altíssima
e adorabilíssima Trindade.
Adoremo-la, pois, com os mais humildes sentimentos
do nosso nada, da nossa ignorância e baixeza. Submeta
mo-nos com . respeitosa devoção ao poder do Pai para
obedecer-lhe; à sabedoria do Filho para receber os seus
ensinamentos; à graça e ao amor do Espírito Santo
para não mais viver vida terrestre, mas a vida dos ver
dadeiros filhos de Deus.
Pai celeste, que me adotastes por filho, não só vos
adoro e me submeto a vós, mas tambem vos amo, e con
vosco amo o vosso Filho unigênito, igual a vós, o qual
se fez homem para resgatar-me. E como não amar tam
bem o Espírito Santo, esse Espírito de amor, que me en
viastes · para minha santificação? Amo-vos,· pois, ó meu
Deus, e quero amar-vos de ·todo o meu entendimento pen
sando sempre em vós; de todo o meu coração, reservan
do-vos todos os meus desejos e afetos; de toda a minha
alma e de todas as minhas forças, vivendo só para cum
prir os vossos preceitos a custo dos maiores sacrifícios.
1-22
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Afim de participarmos dela, procuremos trabalhar para
conhecer, amar e servir a Deus infinitamente perfeito
em si mesmo, isto é, feliz na sociedade do Pai, do Filho
e do Espírito Santo. Ora, tres obstáculos opõem-se-nos
à participação da sua beatitude: o orgulho, o amor das
riquezas, e a cobiça dos prazeres. O orgulho cega o nos
so espírito e impede-nos de conhecer a Deus por uma fé
humilde e viva; o apego aos bens efêmeros, tornando
nos terrenos, tira-nos a esperança dos bens do céu. Os
prazeres sensuais enervam o nosso coração e afastam
no da vontade divina. Para sermos felizes temos de com
bater em nós essas tres concupiscências, afim de melhor
podermos crer, esperar e amar: crer no Pai e em todas
as verdades por ele reveladas; _esperar no Filho e aguar
dar dele todos os bens da graça; amar o Espírito Santo
e deixar-nos dirigir por ele em todos os nossos desejos
e afeições.
Assim a nossa inteligência será elevada, esclarecida e
enobrecida; a contemplação dos mistérios da caridade
divina dilatará o nosso coração, que, olvidando as vai
dades terrenas, se prenderá sem reserva ao soberano
Bem. Ora, essa adesão plena e completa do nosso cora
ção a Deus, é a verdadeira fonte da felicidade já nesta
vida. O exemplo dos santos atesta esta verdade. Quanto
mais se sacrificavam, tanto mais o Senhor os inundava
de delícias inefaveis, a ponto de exclamarem: "Basta,
Senhor, basta". Quereis, pois, ser felizes neste mundo,
onde tantas almas gemem, se amesquinham e desani
mam? Entregai-vos a Deus sem reserva e ele saciará
todos os vossos desejos. Delectare ln Domino et dabit
tibl petitlon_es cordis tul (SI 36, 4).
O' Pai, Filho e Espírito Santo, plenitude de todos os
bens, atraí-me todo a vós como atraístes a divina Mãe,
afim de que a seu exemplo eu procure neste mundo uni
camente a vossa graça, a vossa glória e o vosso bene
plácito,
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SEGUNDA-FEIRA DA TRINDADE -
A NOSSA ALMA, IMAGEM DE DEUS.
124
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Fiiho. Ô' grandeza ta.o pouco conhecida e muitas vezes
esquecida!
Como intérpretes das criaturas privadas de razão, de
vemos, em seu lugar, louvar a Deus que as criou, e pro
curar não as desviar do seu fim que é ajudar-nos a co
nhecer e amar o nosso Criador. Mas, ah! não temos nós
feito muitas vezes o contrário, usando deles para ofén
der a Deus e satisfazer nossas inclinações? E' uma in
justiça e uma ingratidão que nos degradam e nos tornam
dignos de castigos eternos, se pecamos mortalmente.
Meu Deus, arrependo-me de ter feito servir à minha
vaidade, ao meu amor próprio tantos objetos criados
para elevar-me a vós. Dai-me a coragem de retomar o
meu lugar acima do mundo sensivel: 1º mortificando o
meu corpo, meus sentidos e paixões; 2º desprendendo
me dos bens passageiros; 3º vivendo constantemente sub
misso à vossa direção sempre sábia e sempre amavel.
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O pecado de Adão degradara-nos profundamente; _ õ
Altíssimo exaltou-nos em Jesus Cristo, ao ponto de nos
tomar por filhos adotivos ao lado de Jesus. Toda a SS.
Trindade contribue para essa filiação generosa: Deus
Padre adotando-nos; Deus Filho unindo-nos e constituin
do-nos seus irmãos e coherdeiros; Deus Espírito Santo
comunicando-nos o amor do Pai e do Filho, pelos dons
e graças que em nós difunde, e cujo menor grau excede
eni valor a todo o universo.
Quem nos dirá quanto devemos à liberalidade das tres
divinas Pessoas? Com o fim de lhes testemunhar o nos
so reconhecimento, honremos: 1º a Deus Padre por nossa
obediência e submissão completa a sua santa vontade;
2º a Deus Filho pelo aniquilamento da estima própria
em sua presença; 3º ao Espirito Santo por inteiro des
apego da terra e em constante amor do soberano Bem.
Trindade una, imutavel e eterna, eu vos adoro dentro
de minha alma; eu vos amo e me submeto ao vosso be
neplácito. Pelos méritos de Jesus e Maria, fazei que eu
respeite nas almas a vossa imagem segundo a nature
za, e a vossa semelhança segundo a graça. Tornai-me
docll aos vossos preceitos, paciente nas penas e carido
so para com todos.
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1º Em que consiste a adopção divina
A adopção, segundo santo Tomaz, é a aceitação gratui
ta de um estranho por filho e herdeiro. Quem adota al
guem não o forma à sua imagem; toma-o simplesmente
com suas qualidades e defeitos. Deus procede de outra
forma; torna capazes de adopção aos que escolhe, e pa
ra isso purifica-os da lepra do pecado, reveste-os da gra
ça santificante, comunica-lhes sua sabedoria, sua san
tidade, sua própria natureza, afim de elevá-los e torná
los dignos dele. Esses tornam-se assim irmãos de Jesus,
animados do mesmo espírito, e podem então dizer com
certeza e verdadeiro amor: "Padre nosso que estais no
céu". O' grandeza, ó sublime elevação da alma que pos
sue a adopção divina!
O mundo considera como glória ser alguem filho dum
rei, dum imperador, dum príncipe da terra; entretanto
imensamente mais sublime é a dignidade de filho do So
berano do universo. "Quem o compreende, diz são Ci
priano, não admira nada mais no mundo. Por isso, acres
centa o santo, quando a carne vos solicitar ao mal, res
pondei-lhe: "Sou filho de Deus; nascí para .grandes coi
sas e não para satisfazer os meus sentidos corrompi
dos". Quando o mundo vos tentar com seus prazeres, ri
quezas ou honras, -dizei-lhe: "Sou filho do Altíssimo, e
chamado aos prazeres, às riquezas e honras do reino
dos céus". Se o demônio procurar seduzir-vos, repeli-o
dizendo: "Retira-te, Satanaz! para longe de mim a des
graça horrorosa de tornar-me teu escravo, já que sou
filho do Rei dos reis".
Senhor, a quem posso dar o doce nome de pai, não
permitais que vos ofenda mortalmente e perca a augus
ta prerrogativa da filiação divina. Arrependo-me de a
não haver apreciado bastante até agora e de ter incor�
rido tantas vezes em vosso desagrado pelo pecado; tor
nei�me indigno de ser chamado vosso filho: Perdoai-me
agora · e recebei minha alma no seio da vossa familia.
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Confirmai em mim as resoiuçêies seguintes: 1º de veiar
sobre mim mesmo para evitar até as menores faltas; 2º
de orar sempre para obter a fidelidade aos meus deve
res para convosco e a perseverança final.
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sentimentos de reconhecimento, confiança e amor q1:1,e
animavam Jesus, nosso adoravel modelo.
Meu Deus, Pai de minha alma, pelos méritos de Jesus
e Maria, baixai sobre mim os vossos doces olhares e
dignai-vos conceder-me o amor filial que me mova a
prestar-vos muitas humildes homenagens. Proponho-me:
1º observar com exatidão os vossos preceitos e submeter
me inteiramente à vossa vontade; 2º agradecer muitas
vezes os vossos benefícios. e referir à vossa glória todo
o bem que há em mim, e que é o fruto da vossa graça,
sem a qual nada posso na ordem sobrenatural.
Bronchain II - 9 120
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mas ainda pela presença real e permanente de sua infi
nita majestade. Não é o perfume do bálsamo, mas a sua
essência, que enche e santifica os nossos corações". Vos
enim estis templum Dei vivi.
Daí segue que devemos fazer o possivel para não
manchar a nossa inteligência, a nossa vontade, o nosso
corpo e sentidos com nenhuma falta venial deliberada,
e muito menos ainda com o pecado mortal. "Não sabeís,
pergunta o apóstolo, que sois o templo de Deus e que
o Espírito Santo habita em vos? Quem ousar profanar
esse templo será punido sem misericórdia. Disperdet il
lum Deus, pois que santo deve ser o santuário divino
que sois vós". "Convem, de fato, que seja santa, exclama
Daví, a casa do Deus de santidade" (Sl 92, 7).
Examinai por isso: l" se estais disposto a evitar as
menores faltas, a corrigir-vos dos vossos defeitos, a pu
rificar-vps de vossas imperfeições por atos de contrição
e de amor para com Deus; 2º não viveis dissipados, de
masiadamente entregues aos negócios seculares, não en
trando quasi nunca em vós mesmos, para implorar o
hóspede divino que reside em vosso coração?
Meu Deus! vós me falais tantas vezes e eu mal es
cuto a vossa voz; vossa graça convida-me a viver mais
recolhido, mais fervoroso, mais fiel, e eu conservo em
muitas práticas de piedade um espírito distraido e um
coração ressequido. Remediai, quanto antes, esse deplo
ravel estado, concedendo-me o hábito da fé, do recolhi
mento e da oração, que me conservem unido sempre a
vós nc:i meu interior.
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amizade divina, embora em ínfimo grau, torna-se a ha
bitação da SS. Trindade qúe nela reside pessoal e subs
tancialmente. E' para Deus morada mais cara do que
todos os palácios dos reis.
Com razão pôde dizer são João Crisóstomo: "Elevar
ao Senhor basílicas esplêndidas é obra menos meritória
do que fazer voltar um coração à graça divina". E san
to Agostinho : "E' mais grandioso ganhar para Deus
uma alma, do que criar o céu e a terra". E, com efeito,
sendo a ordem da graça infinitamente superior à da na
tureza, nada no universo pode comparar-se à riqueza, à
beleza interior duma alma que possue a amizade divina
e que se tornou o santuário da adoravel e indivisivel
Trindade.
Esses pensamentos inspiram-nos sentimentos de res
peito a nós mesmos e aos outros. Com que veneração
não devemos nós adorar dentro em nós o Pai que nos
criou, nos conserva e sustenta; o Filho que nos resga�
tou, iluminou e colocou em sua Igreja; e o Espírito San
to, que, depois de nos santificar no batismo, nos faz usar
os sacramentos e orar com gemidos inefaveis!
Tomemos a resolução: lº de seguir o conselho de são
Paulo da Cruz: "Não tenhamos sobre a terra senão tres
lugares de predileção: o oratório, ·a cela e o santuário
de nossa. alma., que é o principal"; 2º de recolher-nos mui
tas vezes em nós mesmos para entreter-nos com as tres
Pessoas divinas sobre os nossos interesses espirituais e
temporais.
Meu Deus, Trindade santíssima, a vossa voz se faz ou
vir ao meu coração, ora por remorsos, ora por inspira
ções. Em nome de Jesus e de sua divina Mãe, disponde
me sempre a conversar convosco, a implorar o vosso so
corro e a conformar-me em tudo ao vosso ·beneplácito.
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QUARTA-FEIRA DA TRINDADE.
TRES PEDIDOS DO PADRE NOSSO
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leste, uma glória mais pura e aumento em mim o impé
rio da sua graça; unindo-me a ti encontro a paz, a san
tificação, a salvação.
O' glória, ó graça, ó vontade de Deus, sois em ver
dade de uma excelência infinita! Glorificando ao Criador,
renuncio a toda a vaidade, a toda a complacência pró
pria, e abraço, com santo Inácio e santo Afonso, a mais
digna intenção dos corações generosos. Esforçando-me
por aumentar em mim a graça habitual, santifico a es
sência da minha alma, aperfeiçoo a sua fé, esperança e
caridade; multiplico diariamente nela os dons e as vir
tudes que fazem os santos, e estabeleço em mim o reino
do Padre, do Filho e do Espírito Santo.
Mas que dizer da vontade divina? Cumprindo-a perfei
tamente em todas as coisas, morro a mim mesmo, a mi
nhas idéias e gostos particulares ; todos os meus pensa
mentos, palaVI1as e ações são regrados segundo o seu di
vino beneplácito e não há pena que eu não queira ou
não aceite para a ela me conformar inteiramente. O'
santas disposições! vinde e ficai comigo para sempre.
Tornado assim filho docil do Senhor, viverei sempre sub
misso e unido ao meu Pai adotivo, que é o rei do uni
verso.
2º Proveito espiritual a tirar das tres primeiras
súplicas do Padre nosso
Meditando seriamente e apreciando o valor dos tres
grandes bens: a glória, a graça e a vontade de Deus, -·
bens s1,1.plicados na oração dominical, - consagrar-lhe
emos o nosso coração, o que será para nós fonte de san
tos pensamentos e de _sentimentos nobres e desinteres
sados. Em vez de procurarmos a nós mesmos e sermos
sensiveis ao que lisonjeia o amor próprio e os sentidos,
anelamos, como os anjos e santos, a inestimavel vanta
gem de glorificar o Pai celeste, de viver em sua intimi
dade e de curvar-nos alegremente ao seu beneplácito.
Tendo sempre a alma élevada pelo amor de tão subli
mes bens, seremos menos alterados, menos agitados ao
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sopro dos acontecimentos. Nós os veremos todos na or
dem da glória, da graça e da vontade do Senhor, e com
esses últimos bens guardaremos facilmente a paz em
todas as ocasiões, mesmo nas mais sensiveis privações.
Assim consolavam-se os santos quando provados pela
humilhação, enfermidade, desnudamento e adversidade.
Que recursos não teríamos, se como eles amássemos so
bre todas as coisas a Deus nosso Pai e a seus interes
ses infinitamente preciosos! A vaidade não se apoderaria
de nós, a confusão não nos turbaria, se todos os nos
sos desejos se concentrassem num só: glorificar ao Se
nhor nosso Deus. Reveses, aflições, desgraças, aridez es
piritual não nos abateria jamais, se soubessemos apre
ciar e amar as riquezas e a felicidade inestimavel en
cerradas na graça santificante que é a vida, o amor e o
reino de Deus em nós. Não nos impacientaríamos tão
depressa nas contradições e nas contrariedades, se o be
neplácito do Senhor fosse ,o único objeto dos nossos pen
samentos e afeições. "Quem procura submeter-se a Deus
em todas as coisas, diz são Vicente de Paulo, pode ter
certeza de que tudo o que disserem ou fizerem contra
ele reverterá sempre em seu proveito"; a conformi
dade com a vontade de Deus transforma o mal em bem
ou tira o bem do mal.
Meu Deus e meu Pai, a exemplo de vosso filho Jesus
e de Maria, vossa dileta filha, quero trabalhar para glo
rificar vosso santo nome, para vos fazer reinar nas al
mas e executar pontualmente para convosco todos os
meus deveres de obediência e submissão. Inspirai-me a
resolução sincera: 1 º de evitar com cuidado as faltas de
liberadas e as intenções menos retas; 2º de abafar em
meu coração toda afeição estranha ao vosso amor; 3 º de
combater as repugnâncias da minha vontade própria,
afim de executar o vosso beneplácito em toda a minha
vida.
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QUINTA-FEIRA. FESTA DO CORPO DE DEUS.
MARAVILHAS DA EUCARISTIA
PREPARAÇÃO. Para reanimar nossa devoção ao
grande mistério cj.e amanhã, consideraremos: 1º quão ad
miraveis são os mistérios eucarísticos; 2º quão pouco
os admiramos. Nosso ramalhete espiritual será repetir
muitas vezes as palavras do profeta: "Que há de melhor
no poder do Onipotente e que possue ele de mais belo,
senão o trigo dos eleitos e o vinho que faz germinar os
lírios da virgindade?" Quid enim bonum ejus est et quid
pulchrum ejus, nisi frumentum electorum et vinum ger
mina�s virgines? (Zac 9, 17).
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o universo, aniquila-se, destruindo-se, por assim dizer,
pelas palavras da consagração.
Não é tudo; o Homem-Deus imolado permanece nos
tabernáculos, sobrevivendo a si próprio, ocultando-se sob
as mais humildes espécies, não em um só lugar, mas em
milhares de santuárjos ao mesmo tempo, multiplicando
se sob milhões de parcelas de hóstias consagradas, afim
de tornar-se nosso prisioneiro, o companheiro do nosso
exílio. Ainda mais, chega ao ponto de tornar-se nosso
alimento e, para isso, quantos novos prodígios. Ele en
tra em nós, e, em vez de passar à nossa substância, nos
transforma nele, age diretamente sobre as nossas almas
e indiretamente sobre o nosso corpo; as espécies sagradas,
permanecendo aparências, nutrem por milagre, como se
foram substâncias ou realidades. O' inefaveis maravilhas
dignas de enlevar um coração cristão!
Jesus, foi a vossa caridade infinita que vo-las inspi
rou. Uno-me aos anjos que louvam vossa divina majes
tade, às Doininações que a veneram humildemente pros
tradras, e às Potestades que tremem de respeito em vos
sa divina presença; uno-me a eles e a toda a côrte ce
leste para vos adorar, amar, servir, glorificar no vosso
augusto Sacramento. Dai-me: 1 º fé viva nesse mistério
adoravel, 2º a ardente devoção que ele inspira a todos
os corações doceis e fiéis.
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ricos e mais belos; mas, diz santo Agostinho, embora oni
potente, não poderia fazer nada mais admiravel do que
o Sacramento do altar. Sendo a sabedoria, a bondade por
natureza, poderia multiplicar ao infinito os bens imen
sos que nos prodigalizou, mas, diz o mesmo doutor, não
nos poderia legar outro dom igual ao da Eucaristia. O'
inefavel mistério!
Quem não pasmaria ao ver os homens tão insensiveis
para com ela? Corre-se, alvoroça-se à chegada de um rei
a uma cidade; e eis que cada dia o Rei dos reis baixa
dos céus à terra com sua côrte, estabelece-se entre nós
rodeado dos príncipes da milícia angélica, e ninguem
nele pensa, não o vai adorar, a não ser um reduzido nú
mero de pessoas piedosas e fiéis!
Procuremos ser desse pequeno número; nada admi
remos e estimemos no nosso exílio como o milagre euca
rístico, milagre permanente a eclipsar todos os que fo
ram operados e os que o forem ainda até ao fim dos sé
culos. Se compreendêssemos essas verdades, como um
santo Tomaz de Aquino, uma santa Teresa, um santo
Afonso, um são Boaventura, um são Luiz de Gonzaga,
não esqueceríamos um só instante o Deus da Eucaristia.
Com respeito e amor pensaríamos nele, em ·suas grande
zas, e perfeições infinitas; seríamos assíduos em visitá
lo, em suplicar-lhe e em prestar-lhe nossas homenagens!
e com zelo incansavel propagaríamos o seu culto.
Jesus, fazei-vos conhecer, fazei-vos amar. Tendes ope
rado tantos prodígios em favor da vossa doutrina; não
deixeis na sombra vossa Pessoa sagrada que reside tão
perto de nós.
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mas até às extremidades do mundo. Proponhamo-nos ·ir
muitas vezes haurir lá as graças que nos ·purificam, sus
têm e consolam neste vale de lágrimas. Fons patens do
mui David et habitantibus Jerusalem (Zac 13, 1).
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extinguem o fogo das pa1xoes e acalmam os desejos dos
nossos corações. Entretanto, não o esqueçamos, a graça_
exige sacrifícios, reclama vigilância e fidelidade. . . Exa�
minemos, pois, se, após a visita a Jesus Sacramentado
ou depois da comunhão, nos tornamos sérios, recolhidos,
desejosos do nosso progresso, prontos a dominar nossas
más inclinações e praticar a docilidade, a mansidão e a
condescendência para com todos. Meu Deus, muito long1;i ·
estou de aproveitar desta forma o culto eucarístico.
Transformai-me e inspirai-me mais fervor nas. muitas co
munhões, mais espírito de fé durante a santa missa e
mais devoção nos meus entretenimentos convosco. Fazei
me vigilante e fiel: vigilante para melhor regrar o meu
interior e ficar unido convosco; fiel para evitar o _que.
vos desagradar e obedecer em tudo aos convites da vos
sa graça.
2º A Eucaristia, fonte universal
Figura admiravel de Jesus Sacramentado é a fonte de
Siloé (Is 8, 6), cujas águas, partindo da montanha de
Sião, correm tranquilamente pela planície, regando O!'J.
jardins e os campos. O monte Sião, donde sai a fonte,
representa a Igreja, sem a qual não teríamos a Eucaris�
tia. As águas que correm pela terra, fecundando os cam
pos, recordam-nos os efeitos maravilhosos desse magis
tério oculto. Embora opere sem ruido e brilho, a sua ação
sobre os homens é imensa, universal e eficaz.
"Coloquei fontes no deserto, diz o Senhor, e fiz correr
mananciais em lugares quasi inacessiveis, afim de dar
de beber ao meu povo, ao meu povo elei_to" (Is 43, 19).
Multiplicando sua presença em milhares de igrejas, Je
sus colocou fontes de água viva no deserto desta vida;
fá-las correr até às extremidades do universo em regiões
inacessiveis onde só pode penetrar o zelo dos misssio
nários.
No paraiso terrestre elevava-se do solo uma fonte tão
abundante que bastava para regar toda a terra; assim,
no seio da Igreja de Jesus Cristo, jorra uma fonte de
graças que dos nossos altares leva a todas as almas a
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esperança, a força e a vida. Que ventura para nós se,
semelhantes às palmeiras plantadas ao longo das águas,
de folhas sempre virentes, permanecermos sempre, ao
menos em espirito e de coração, junto dos mananciais eu
carísticos! A nossa folhagem será sempre verde, isto é,
as nossas disposições serão sempre fervorosas; haurire
mos sem cessar do coração do Homem-Deus a seiva espi
ritual que alimentará os nossos pensamentos, purificará
as nossas afeições, fortificará a nossa vontade na procura
do soberano Bem.
Examinai se aproveitais' da vantagem inapreciavel de
possuir, tão perto de vós, o Deus da Eucaristia. Não ficais
indiferentes ao pensar em tão grande privilégio, invejado
de certo modo pelos próprios anjos? Na hora suprema
arrepender-vos-ei de haver passado tantos anos junto
das fontes do Senhor, sem crescerdes cada dia nas vir
tudes e merecimentos!
Mãe de misericórdia, obtende-me o perdão da minha
frieza e negligência no serviço de Jesus; fazei-me docil
à sua voz que me chama do fundo dos tabernáculos : "Se
alguem tem sede, venha a mim e beba". Se alguem tem
sede de sabedoria, conselho e tranquilidade de espírito;
se alguem deseja as graças que fazem os santos, venha
a mim na oração, na comunhão, na santa missa, e beba
a largos tragos tudo o que é necessário à sua felicidade,
à sua perfeição e à sua salvação. SI quis sitlt, veniat ad
me et bibat.
SÃBADO DO CORPO DE DEUS.
MARIA SANTISSIM:A E A · EUCARISTIA
PREPARAÇÃO. "Ela é semelhante à nau do ne�ocian
te que traz de longe o seu pão" (Prov 31, 14). Esse tex
to dos Provérbios é aplicavel à divina Mãe: l° a ela, de
pois de Jesus, devemos o pão eucarístico; 2º os nossos
santos mistérios recordam-nos essa verdade tão conso
ladora. Tomaremos a resolução de pedir à santíssima
Virgem nos disponha, em nossas comunhões, a receber
o pão de vida que ela nos proporcionou pela Incarnação.
Quàsl navis in�tltoris de longe po�s panem suum.
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l º Devemos a Eucaristia à divina Mãe
Maria é comparada na Escritura a uma nau, pprque
traz à terra todos os bens do céu; a uma nau de mer
cador pela sua solicitude em procurar a nossa felicida
de. Quasi na.vis institoris. Ela deu-nos sobretudo o pão
de vida, chamado "seu pão" pelo texto sagrado, por ser
formado da sua substância. "A carne de Jesus, diz san
to Agostinho, é a carne de Maria".
Ela no-lo trouxe · de longe, fazendo-o descer do mais
alto dos céus. De longe portans panem suum. O Verbo
divino era na glória o alimento dos espíritos bem-aven
turados, alimento demasiado forte para a nossa fraque
za. Ora, consentindo na Incarnação desse Verbo incria
do, a Virgem Mãe colocou-o ao nosso alcance, dando-lhe
o corpo e o sangue que nos alimentou sob as espécies
eucarísticas. Assim. se cumpriu a palavra do salmista:
"O homem comeu o pão dos anjos" (Sl 77, 25), e a de
Isaías: "Sereis amamentados como os filhos dos reis"
(Is 60, 16).
Não é, com efeito, a Mãe do Rei do universo que se
torna a nossa nutriz na santa comunhão? sob as espé
cies sagradas recebemos o Filho que ela nos deu na gruta
de Belém. Que gratidão não deveria ter sido a de santo
Antônio de Pádua, de santo Estanislau Kostka, por aper
tarem em seus braços o Menino Jesus a eles apresenta
do por Maria! Grande deve ser tambem a nossa grati
dão para com Maria santíssima, quandcr recebemos esae
mesmo Salvador, não só em nossos braços, mas no co
ração e sob a forma de alimento. O' ternura da Mãe de
nossas almas! como vos poderemos agradecer? São Pe
dro Damião exclama: "Que língua poderia Iouvaravos e
que coração amar-vos suficientemente a vós, que dais à
nossa fraqueza um alimento tão substancial e divino?"
Não será, pois, justo que de hoje em diante, recebendo
o Filho, nos recordemos de sua Mãe? e que em cada co
munhão tenhamos a intenção de crescer no amor de um
e de outra? Unamo-tos, pois, aos nossos pensamentos,
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afetos e devoções; imitemos-lhes sobretudo as virtudes,
nas nossas relações com Deus e o próximo.
Jesus, meu Salvador, pela intercessão de vossa terna
Mãe, comunicai-me a força de traduzir em minha vida
os exemplos de abnegação, de paciência, de vida interior
e oculta, que me destes durante a vossa vida mortal e
cuja edificante lembrança a Eucaristia me recorda sem
cessar, e renova cada dia sua consoladora realidade.
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Cuidemos em não os perder de vista. 1º Assistindo ao
augusto sacrifício, tenhamos os sentimentos da Mãe das
Dores ao pé da cruz; sentimentos de horror ao pecado
que causa a morte de um Deus; sentimentos de reconhe
cimento e confiança e amor para com Jesus crucificado
a renovar sua imolação sobre os altares. 2º Recebendo-o
na sagrada mesa, façamo-lo com as disposições de Maria
no Calvário, apertando ao seu coração maternal o -corpo
sacrossanto de Jesus. A seu exemplo, animemo-nos do
desejo .de devotar-nos por Jesus, como ela o fez por nós.
Virgem -santíssima, sabeis que, após a morte do vosso
divino Filho, colocaram o seu corpo num sepulcro novo,
talhado no rochedo, embalsamaram-no de perfumes e
envolveram-no num lençol branco para a sepultura. Não
permitais que meu coração, que o recebe tantas vezes,
seja manchado de faltas e repleto de apegos mundanos;
tornai-o puro, renovado e fortalecido no serviço de Deus.
Embalsamai-o de piedade, de pureza, de devoção, para
que assim se torne habitação agradavel a Jesus, que se
digna visitá-lo com tànto amor.
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o divino Salvador, que, por sua morte, se tornou o tri
go dos eleitos; e que abundantes frutos não produz ele
na adoravel Eucaristia! O pão material, o pão do corpo
passa para a substância de quem o come; isso não se
dá com o pão eucarístico. Mais poderoso do que nós,
transforma-nos nele por maravilha inaudita; sendo ele
nobre, celeste, divino, eleva-nos, desprende-nos de tudo e
faz-nos até participantes da nobreza, sabedoria e santi
dade de ·Jesus. Os seus pensamentos, intenções, luzes e
sentimentos penetram-nos como os -raios do sol atraves
sam o cristal. Suas santas inclinações comunicadas ao
nosso coração fazem-nos amar, como ele, a vida interior,
vida de fé e de graça, que santifica nossas intenções, di
rige nossos empreendimentos, regra nossas palavras e
nossa vida, torna-nos modestos em nosso porte, respei
tosos para com Deus, mansos e caridosos para com o
próximo.
Esse é o perfume celeste que trescalam as almas boas
após as suas comunhões, e de que ficam longo tempo im
pregnadas ainda depois de desapaPecerem as sagradas
espécies. Santa Maria Madalena de Pazzi, menina ainda,
nos dias em que sua mãe comungava, seguia-a em toda
parte, a dizer-lhe: "Minha mãe, tenq.es o perfume de
Jesus".
Nada de estranho nisso; pois, se existe entre os amigos
unidos pelo afeto uma harmonia, uma simpatia misteriosa
que os aproxima apesar da distância, quanto mais entre
o Redentor e as almas que o receberam sob as espécies
sacramentais, contraindo com ele laços de amizade e
parentesco espiritual, laços muito mais fortes que os da
natureza! "Quem comunga fica no coração de Jesus, diz
santo Afonso, e Jesus em seu coração; essa união não é
de puro afeto, mas real e verdadeira".
E que fonte de bens não é para nós, adoravel Salva
dor, essa união mística! Com que solicitude nos prote
geis, defendeis, cumulais de graças, mormente nos dias
em que tomamos parte em vosso divino banquete! Vós
o dissestes; a alma que vos recebe deve viver pelo im-
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puiso cio vosso espírito; não permitais que domine em
mim a vida dos sentidos, a vida natural, isto é, das pai
xões e dos instintos; fazei-me sempre agir por princípio
de fé, por motivo de virtude, mormente no exercício da
obediência a meus superiores, que são os vossos repre
sentantes, da caridade para com o próximo, vossa ima
gem viva, e da conformidade às vossas vontades, inclui
das nos meus deveres e em todos os acontecimentos que
me atingem e me exercitam na paciência. Et qoi ma.n
docat me, et ipse vivet propter me.
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acessos da cólera, da inveja, luxúria e outros vícios, agra
decei-o ao corpo de Jesus Cristo.
Outrossim, q�ando o recebemos, deposita ele em nós·
germes da imortalidade. "Aquele que me come, diz o Sal
vador, eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6, 75). E,
com efeito, a união contraida com o corpo glorioso do
Homem-Deus na Eucaristia nos merecerá a ventura de
ressuscitar com ele como os eleitos. Se compreendêsse
mos o valor do banquete eucarístico, iríamos a Jesus, co
mo o enfermo ao seu médico, como cervo. sedento à fon
te de água viva; como o mendigo faminto, a uma mesa
abundantemente servida; pedir-lhe-íamos a esmola, co
mo o pobre ao seu Rei, o escravo ao seu Senhor, a cria
tura ao seu Criador, a alma indigente e desolada a seu
soberano Benfeitor e ao seu Consolador amoroso.
Jesus hóstia, "sois remédio aos enfermos, •dir-yos-ei
com são Bernardo, fortaleceis os fracos e alegrais os
fortes; curais nossos langores e nos conservais a saude.
Por vós aquele que vos recebe, torna-se manso, paciente
nas aflições, corajoso no trabalho, ardente no vosso
amor,· vigilante sobre si mesmo, pronto a obedecer, e re
conhecido aos vossos benefícios". Maria, minha Mãe, tor
nai-me. apto para receber e saborear esses frutos precio
sos na santa comunhão, afim de santificar por ela a
minha vida.
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l° Vantagens da comunhão espiritual
"Come-se espiritualmente o corpo de Jesus Cristo, diz
o doutor angélico, quando se crê em sua presença real
sob as espécies eucarísticas e se deseja com ardor rece
bê-lo sacramentalmente". O santo Concílio de Trento diz:
"As almas que desejam comer esse Pão celeste com fé
viva animada pela caridade, ressentem-lhe os frutos e as
preciosas vantagens". E:' ela uma das práticas mais uteis,
acrescenta santa Teresa; pois que por ela se imprime
mai_s profundamente em nós o amor .de Deus. Um dia
santa Margarida Maria desejava ardentemente comun
gar. Jesus lhe disse: "Minha filha, o teu desejo alegrou
me tanto o coração, que, se eu não tivesse instituido
esse sacramento de amor, fa-lo-ia agora só por teu
amor; é-me tão agradavel es_se desejo, que, cada vez
que um coração o 'tem, eu o olho com ternura para atraí
lo a mim" .
. A comunhão espiritual faz-nos praticar inúmeras vir0
tudes: a fé na presença real, a confiança que nos move
à oração, o amor que inflama os nossos desejos; . comu
nica-nos o gosto das coisas divinas; recolhe-nos na pre
sença de Deus, aumenta o nosso fervor, torna-nos mais
fiéis à graça, fortifica nossa vontade na prática do bem,
e produz às vezes mais efeitos em nossa alma do que
a comunhão sacramental feita com menos amor.
Ela tem ainda a vantagem de poder• ser renovada a
qualquer hora, a todo instante, de dia e de noite; pode
ser feita em todo lugar sem ser notada, a não ser por
Jesus, que responde ao nosso ardor com graças inume
raveis. Digamos-lhe pois muitas vezes com o profeta
rei: "Senhor, minha alma tem sede de vós" ( SI 62, 2),
quando virei e participarei dos vossos tabernáculos, pa
ra receber-vos em mim? Quem me dera, Jesus, o amor
de um são Francisco de Assis, duma santa Teresa, dum
santo Afonso, afim de transformar toda a minha vida
em uma comunhão de desejo! Mas, ah! a frieza, a lassi
dão, a dissipação e os apegos terrenos impedem-me mui-
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tas vezes de suspirar por vós. '.Entretanto, na Eucaristia
sois o mesmo que dissestes aos leprosos: "Quero, ficai
curados", e à viuva de Naim: "Não choreis"; e a Lá
zaro: "Saí do túmulo". Não deveria eu desejar vossa
presença em mim para ser curado das minhas enfermi
dades espirituais, consolado em minhas aflições, levan
tado das minhas quedas e fortalecido no vosso amor? ·
Abrasai-me, pois, dos santos ardores que consumiam vos
sa divina Mãe e vossos fiéis servidores.
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suspiremos pelo Pão de vida, na véspera e na manhã dos
dias em que vamos comungar. A comunhão espiritual
não opera como o sacramento, por própria virtude, mas
só de acordo com a fé e o amor de quem quer unir-se
a Jesus. Para ser bem aproveitada, ela deve ser fervo
rosa, e vir a nós pela graça do Espírito Santo.
Jesus, delícia da minha vida, quem me dará o ardor
dos serafins, para me aproximar de vós com todos os
afetos da minha alma? Quero pérmanecer sempre em
espírito nas igrejas em que residís, sentar-me à vossa
mesa, não só uma vez por dia, mas a todas as horas, pelo
ardor e constância do meu amor. Vinde agora mesmo
a mim, meu Salvador, vinrle renovar no meu coração
os prodígios de graça que operastes em vossos santos,
e, pela intercessão da santíssima Virgem Maria, dai que
eu faça a comunhão espiritual durante a oração, a santa
missa, e muitas vezes ao dia, mesmo no meio das minhas
ocupações.
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irradia-se dos tabernáculos a toda a Igreja católica, co
meçando por seu representante, o soberano Pontífice,
a quem faz infalivel, e continuando pelos bispos e sa
cerdotes até ao último dos fiéis. Dele e do seu Espírito
Santo vêm-nos todas as luzes sobrenaturais da fé, os
dons de entendimento, ciência, conselho, e as boas ins
pirações que nos movem ao bem.
Todos esses esplendores deveriam exercer grande in
fluência sobre a nossa vontade; despertados, reanima
dos e aquecidos por esses raios da graça, deveríamos as
pirar com ardor à união com Deus. Santa Catarina de
Sena viu uma vez Jesus na hóstia consagrada, como nu
ma fornalha de amor. Como é possível, perguntava-se
ela, não se abrasarem de amor divino todos os corações,
sendo o nosso Deus um fogo consumidor? Ignis consu.
mens est (Hb 12, 29). E' porque a nossa alma é- dema
siado terrena, sensual, sensível ao que lisonjeia o seu
amor ·próprio. Daí, sem dúvida, a aridez, as distrações
nas orações e na comunhão; daí o pouco progresso em
sólidas virtudes.
Em vão o divino sol dardeja sobre nós os seus raios
para nos fecundar o coração e fazer crescer em santida
de e mérito; em vão mostra-nos defeitos a· corrigir, in
clinações per1igosas a reprimir, humildade profunda e re
colhimento contínuo a adquirir; pouco tocados somos por
essas luzes, por estar o nosso coração apegado a qual
quer objeto terreno.
· Jesus, fogo sagrado, que ardeis por nós em caridade
sem limites, disponde-me a receber-vos na santa ·comu
nhão. Tr·emo ao pensar nos poderosos meios de 'Santífi0
cação encerrados na Eucaristia, que eu não aprovéito
como deveria. Concedei-me fé mais viva para conhecer
vossas grandezas e humilhações nesses augustos misté
rios. Inspirai-me mais confiança e devoção quando de
vós me aproximo. Fazei que combata minhas más incli
naçQes e mortifique meus sentidos na intenção de obter
de .v� com mais abundância: as luzes, o fervor. e a for
ça de exercer as virtudes,
150
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2º . Como aproveitar o Sol eucarístico
O melhor meio de receber os influxos do astro do dia
é expor-se aos seus raios; assim nossas almas participa
rão mais das luzes e calor da fornalha, que é Jesus, na
medida que lhe prestarmos culto mais assíduo. Tomemos
pois o santo costume i:..e orar a miudo diante dos taber
náculos em que Jesus reside. Segundo santo Afonso, mui
tas vezes lucra-se mais em um quarto de hora de entre
tenimento com Jesus sacramentado do que em todos os
outros exercícios do dia. Deus ouve, ·sem dúvida em todo
tempo e lugar aos que o suplicam; entretanto, diz o bem
aventurado Henrique Suso, Jesus dispensa mais larga
mente as suas graças a quem o visita no SS. Sacramen
to, pois que na Eucaristia reuniu num só todos os prodí
gios da sua caridade por nós; de lá ele nos· clama, como
dum . trono de amor e misericórdia: "vinde
,
todos a mim
e eu, vos aliviarei".
Os fiéis que rod,�avam no Calvário a cruz do Redentor,
sentiram sem dúvida de maneira especial as impressões
divinas. Assim os cristãos presentes nas igrejas à imo
lÍl.ção do Cordeiro imaculado, participam com mais abun
dância do ·que alhures dos frutos da Redenção. Isso vale
ainda mais em se tratando da santa comunhão. Como as
trevas se dissipam diante do astro do dia, assim a es
curidão . e as . penas das alm_as fervorosas muitas vezes
se esvaem quando se nutrem de Jest�s. Confil,'ll1a-o santa
Teresa que declara ter feito repetidas experiências nes-
se sentido.
, O sol é o centro de todos os astros do sistema solar-;
t1:1-mbem Jesus deve ser o centro dos . nossos corações.
Por isso: 1" dirijamos-lhe sempre os nossos pensamen
tos, desejos e af_etos; 2º na véspera da comunhão leia
mos algum livro que trate da excelência desse ato, e nqs
disponha a fazê-lo com mais fé, fervor, confiança e cui
dado. Sta. Rosa !'.le Lima, após a comunhão, tornava-se
respla;ndecente como o astro do dia. Se nós tambem es
tivéssemos preparados, como OfVSantos, para .receber a
151
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Jesus, os raios desse sol de justiça nos transformariam
em outros homens.
Isso dar-se-ia comigo, adoravel Mestre, se eu fosse do
cil às vossas luzes, desapegado da terra e dos meus inte
resses, fiel em obedecer-vos em tudo. Pelas preces de
vossa divina Mãe, fazei-me tirar frutos sólidos e abun
dantes das minhas comunhões, da santa missa e das vi
sitas que vos faço em vosso sacramento de amor.
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Que religião sincera não nos deveria penetrar, quando
adoramos esse mesmo Deus que criou o universo? Dele
temos a existência e por ele tudo vive, tudo subsiste no
céu e na terra. Um dia ele citará ao seu tribunal os po
tentados do mundo, julgará todos os povos e todos os
monarcas. Como ousamos aparecer então em sua presen
ça com ar dissipado, olhar tudo o que se passa na igre
ja e lá permanecer sem piedade, sem modéstia? Entre
nós e Deus a distância é sem limites; se o Senhor se di
gna transpô-la em nosso favor, poderemos com isso es
quecer o nosso nada e desconhecer a sua infinita gran
deza? Como a tremer entrava santo Afonso em alguma
igreja; tomava respeitosamente a água benta, benzia-se
com fé e recolhimento, e depois dirigia-se humilde e len
tamente para o altar. Que contas não teremos de prestar
a Deus, se, por nosso porte e procedimento, damos a en
tender que não achamos quasi diferença entre as nossas
igrejas e as habitações profanas!
Jesus, quantas vezes perco de vista vossas divinas per
feições e vossa majestade soberana, mesmo quando me
disponho a adorar-vos em vosso santo templo! Todos os
homens reunidos, diz Isaías, são menos que um átomo em
comparação convosco. Quem sou eu pois, vil escravo e
ingrato pecador? Como me atrevo a faltar-vos tantas
vezes ao respeito, e isso sob as vossas vistas? Dai-me a
graça de aparecer em vossa presença sempre com humil
dade profunda e temor salutar. Inspirai-me a resolução:
1 ° · de venerar-vos publicamente e sem respeito humano,
quando vos levam em viático ou nas procissões; 2º de
conservar-me modestamente recolhido em todas as igre
jas em que habitais; 3º de lá genufletir, não por mera
ceremônia, mas pausadamente e acompanhando-o de um
ato interior de fé, adoração e �PWr, Ta.ntum ergo sacra
mentum ye�e!'«'mur �epiaj,
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2º Confiança qüe merece o SS. Sacramento
' O respeito exigido pelas grandezas de Jesus não deve
absolutamente alterar a nossa confiança em sua infinita
bondade. Os israelitas de · caminho para a terra prome
tida, não tendo no deserto rota determim:.cJ.a, receberam
de De11s uma coluna luminosa que os guia1·a durante a
noite. ·Essa coluna representa-nos a· Eucaristia. Jesus
nela desenvolve um excesso de poder e ternura, capaz de
tranquilizar-nós de todas as dúvidas e incertezas. Sabe
doria incriada e incarnada, multiplica-se em nosso favor,
de maneira espantosa, afim de se achar em toda parte
conosco nos caminhos dificeis desta vida; aclara os nos
sos. passos rumo à feliz eternidade, no meio das trevas
do nosso exílio, _:çmm mundo coberto de ciladas e cheio,
�o no deserto, de serpentes venenosas.
.Os israelitas, diz ·Orígenes, não fizeram- nenhuma fa.
wmha- bélica ant�s de receber o maná e ver correr a
água do rochedo. O maná representa-nos a Eucaristia
que é o pão vivo descido do céu. A água do rochedo re
córáasnos a morte do Redentor, renovada mistica·mente
Sóóre os altares. Sem os socorros hauridos desses misté
rios; serémos sempre fracos contra os inimigos. Eis por
que, segundo são Cipriano, é perigoso expor-se ao com
bate, sem haver recebido o J:>ão dos fortes. A santa co
:rnunhão é, com efeito, um dos principais meios para tri
unfarmos nas lutas contra o mundo, o inferno e as pai
xões. De volta, da mesa da comunhão, diz são João Cri
sóstomo, somos temiveis aos demônios, como leões a ru
gir. Tenhamos, pois, sempre, confiança nos recursos ines
gotaveis que a Eucaristía nos fornece.
· Jesus lá nos dispõe não só a vencermos as inclinações
pecaminosas, mas tambem a exercermos todas as virtu
des; tenhamos nele confiança, que é a chave de todos os
seus tesouros. Vendo a bondade com que �ica por nosso
8JDOr. nos tabernáculos, senipre atento às nossas neces
idades, sempre pronto a atender-nos, poderíamos ter re
ceio de aproximar-nos dele e pedir-lhe as suas graças?
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Ele se dá a cada um de nós como ao gênero humano em
geral; como, pois, temer que ele nos abandone? Não, não
ponhamos termos à nossa esperança em Jesus, porque
o seu amor para conosco não os tem.
O' melhor amigo da minha alma, pela intercessão de
vossa duléíssima Mãe, Maria, fazei que· a vós recorrá
em nossas igrejas com inteira segurança: 1 º quando eú
precisar de luz, conselho, direção contra as máximas e
preconceitos do mundo; 2º nas minhas lutas interiores
contra mim mesmo e minhas paixões; 3º nas dificuldades
inerentes ao cumprimento dos meus deveres. Fazei que
eu alie o respeito à confian!;a, prestan'do-vos o culto que
vos é devido sob as espécies eucarísticas.
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Ora, essa hóstia pura, predita com tanta antecedên
cia, é a de nossas igrejas. Depois de se imolar na cruz, o
Filho unigênito de Deus, o Rei dos anjos, imola-se ainda
sobre os nossos altares. Por um prodígio maior, em seus
efeitos, do que a criação do mundo, diz santo Tomaz, a
substância do pão a consagrar converte-se inteiramente
no corpo de Jesus, e a substância do vinho em seu sangue
infinitamente precioso; isso realiza-se pelas palavras do
sacerdote revestido, então, de certo modo, da onipotência
de Deus. Jesus morre misticamente sobre o altar, ani
quila-se, e por que? para confessar que só Deus é o ser
por excelência, a grandeza soberana e essencial, o bem
supremo e eterno; daí a glória infinita ao Pai celestial.
Já não são os animais que se imolam, não um homem
ou um anjo, mas o próprio Deus. Na medida que Deus
excede à criatura, a santa missa ultrapassa em digni
dade a imolação de todo o gênero humano e de todas as
legiões angélicas. Que honra para a divindade poderia ser
mais sublime? E dizer que esse sacrifício se renova não
um dia ou uma vez, mas núlha.res de vezes ao dia até à
consumação dos séculos; não é isso o auge do "laus pe
rene", devido ao Ser supremo e a seu ilimitado domínio
sobre todo o universo?
Meu Deus, se outrora aceitaveis o sangue dos animais
na previsão do sangue de Jesus, quanto mais receberet_s
hoje com amor as nossas orações e os nossos corações,
tão estreitamente unidos à hóstia de nossas igrejas!
Consagro-vos, pois, em união com Jesus e por intermé
dio de Mà.ria, todos os meus pensamentos, palavras, afe
tos, ocupações e sofrimentos, na intenção de vos glorifi
car e comprazer. Fazei-me viver no mundo como vítima,
imolada, com meu Salvador, à vossa santí�sima e ama
bilíssima vontade.
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ô doin, já o 11.cabamõ� de ver, excede tudo quanto se po
eta oferecer ao Senhor desde o começo do mundo, e se
possa apresentar-lhe até ao fim dos séculos, mesmo que
fosse a vida de todas as criatura-a.
E esse dom divinamente magnífico, por quem é ele
oferecido? por um doador tão excelso como o dom, por
Jesus, Sacerdote e vítima em nossa igrejas. Quando um
príncipe oferece uma flor ao rei, este a recebe menos pelo
valor do presente, do que em atenção ao príncipe. Aqui
não é só o doador, mas tambem o dom que, de concerto,
reclamam a benevolência divina. E que benevolência,
grande Deus! pois que o doador e o dom são o próprio
Deus.
O que acrescenta valor à oferta é a intenção que a
acompanha. Dar por interesse ou outro motivo baixo, é
tirar ao presente o seu valor, e torná-lo até digno de des
prezo. Mas dar por motivos nobres e desinteressados é
duplicar de certo modo a dádiva aos olhos de quem a
aceita. Ora, o Salvador, imolando-se sobre os altares, tem
como fins principais: glorificar seu divino Pai, agradecer
lhe por nós os seus benefícios, obter-nos o perdão das
nossas faltas e todas· as graças da salvação. Haverá in
tenção mais elevada, santa, generosa e meritória? ... Fa
zei-a em união com Jesus, sempre que por vós ou pelas
mãos do sacerdote, ofereceis o divino sacrifício.
Jesus, vítima sacrossanta, inspirai-me as disposições
que vos ·animam sobre o altar. Quero, por vós, de hoje
em diante glorificar, agradecer ao Pai celestial, e obter
da sua misericórdia, com o perdão dos meus pecados, to
das as graças necessárias à minha preseverança. E vós,
Virgem puríssima, fazei que todas as manhãs eu ouça a
santa missa com os sentimentos que tinheis ao pé da
cruz, na qual expirou Jesus.
1ú7
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,.SEXTA-FEffiA DEPOIS DA OITAVA DE CORPO
. J;)E DEUS - O SAGRADO CORAÇÃO
PREPARAÇÃO. Para celebrarmos dignamente a fes
ta do sagrado Coração de Jesus, consideremos : 1º os
motivos de amá-lo e de nele confiar; 2º as graças a tirar
desse oceano de todos os bens. - Propor-nos-emos depois
formar o nosso coração pelo de Jesus, amando o que ele
ama ._e imitando sua humildade e manl;)idão. Disclte a
me quis mitis su_m et humilis corde.
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so! Terá sido em vão que Jesus se chamou nossó irmão.?
Ora, um irmão interessa-se por ver os seus honrosamente
providos. Quando José foi colocado à frente do Egito, deu
a seus parentes a mais fertil região do país. Mais gene•
roso ainda, Jesus prometeu suas graças aos que. a supli
cam, mesmo aos maiores pecadores (Lc 11, 10); quanto
mais as prodigalizará aos seus amigos?
Vamos pois com confiança ao coração desse bom• Se
nhor. Se tend� precisões, exponde-lhas; se tendes chagas
a curar, mostrai-lhas; ele as lavará em seu sangue. s•ois
pobres, desnudados de todo o bem espiritual? Sois ári�
dos e distraidos na oração, apesar de vossos esforços?
Implorai humildemente o seu socorro e dizei-lhe: "Jesus,
ressurreição e vida, aclarai-me o espírito, purificai-me o
coração, levantai-me o ânimo abatido·; fazei-me · viver
sempre convosco, em vós e para vós.
·159
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,
se acenda; (Lc 12, Ü)). ô Saivador acende esse fogo di
vino na comunhão e nas visitas que lhe fazemos ao pé
dos altares em que ele se imola, e dos tabernáculos em
que reside dia e noite para nossa salvação.
Em vão, porém, pretendeis arder em santo amor, se vos
so coração continua impregnado de afetos às coisas ter
renas e de amor próprio. Tomai pois a firme resolução:
1º de mortificar os sentidos, mormente os olhos para vi
verdes sempre sob as vistas de Jesus; 2º de reprimir a
imaginação e de submeter as paixões ao jugo do Sal
vador. Assim chegareis à perfeição do amor divino.
Coração adoravel, tão pouco amais os bens da terra
que os deixais aos vossos inimigos, mas reservais aos vos
sos amigos os tesouros do céu. Pela intercessão da di
vina Mãe, comunicai-me a vossa sabedoria e santidade:
a vossa sabedoria que me faça compreender melhor a
vossa grandeza e o meu nada; a vossa santidade que me
desprenda de mim mesmo e do mundo, e me faça con
forme aos vossos desejos, sentimentos e virtudes. Fac
nos, Domine Jesu, sa.nctisslme Cordis tui virtutibus in
dul et affectibus lnflammari.
MEDITAÇõES SUPLEMENTARES
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1º Os emblemas do sofrimento
O Coração de Jesus é representado como uma chaga.
Essa chaga recorda-nos a morte dolorosa do Redentor
e os bens que dela dimanam. Mal expirara Jesus, um
soldado, brandindo a lança, abriu-lhe o lado. "Essa feri
da sagrada, diz santo Agostinho, foi para nós a porta
da vida". A água que dela saiu é o símbolo do batismo,
pelo qual nascemos à graça e nos tornamos filhos da
Igreja. O sangue que dele jorrou figura a Eucaristia,
nutrimento e força de nossas almas. Esses emblemas re
cordam-nos os benefícios do Salvador, e são de nature
za a recordar-nos as dores que nós lhe causamos.
Os espinhos que circundam o sagrado Coração trazem
nos à lembrança a horrivel coroa cravada na fronte de
Jesus. Orígenes assevera que a coroa só lhe foi tirada
após à sua morte cru,el. O Senhor dissera a Adão: "A
terra será amaldiçoada por tua causa; ela te produzirá
espinhos e cardos". Terrivel maldição, que nos anuncia
as tribulações merecidas por nossos pecados. Convença
mo-nos, porém: Jesus o novo Adão, arrancou-lhe o amar
gor pelas penas interiores que o atormentaram toda a
sua vida e que nos são recordadas pelos espinhos que
cercam seu sagrado Coração.
E a cruz, que encima o Coração amante, é o símbolo
do sofrimento que acompanhou a vida do Redentor.
Quantas angústias não sofreu durante trinta anos pela
previsão das nossas ingratidões e dos tormentos que o
esperavam! Se as vossas penas são diárias como as do
Salvador, de que modo as suportais? Não vos queixais
delas com tristeza e impaciência? Assim procedendo, as
aumentai e perdeis muitas vezes o merecimento. A re
signação, ao contrário, as adoçará e tornará uteis; ob
ter-vos-á a unção da graça, que ajuda a carregar a cruz;
preservar-vos-á do purgatório e proporcionar-vos-á lu
gar escolhido entre os eleitos.
Meu divino Redentor, ensinai-me a mortificar minha
suscetibilidade e as pequenas paixões que me impedem
Dronchain II - 11 161
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a resignação. Inspirai-me a resolução: 1 º de unir minhas
dores às vossas e de oferecê-las a De.us sempre que mi
nha paciência seja posta à prova; 2" de calar-me, então,
e pedir o vosso socorro para abafar em mim as impres
sões de queixa e de murmuração.
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inclinações e, para isso, consagro-vos: 1º o meu espí
rito, afim de que se encha das vossas máximas e do des
prezo dos bens terrenos; 2º o meu coração, que de hoje
em diante não mais se prenderá a coisa alguma fora de
vós; 3º a minha vontade, cujo único desejo e preocupa
ção será obedecer-vos e servir-vos na pessoa do próxi
mo, a despeito de todas as antipatias e repugnâncias.
n• 163
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terra, senão o beneplácito divino, permanecendo-lhe sem
pre inteiramente submisso; e quando, no jardim das Oli
veiras, sua alma se torna presa de mortais angústias,
um grito de obediência sai ainda do seu Coração: "Meu
Pai, não se faça a minha vontade, mas a vossa. Non mea
voluntas, sed tua fiat" (Lc 22, 42).
O Espírito Santo diz: "Ele foi obediente até à morte,
até à morte de cruz" (Filip 2, 8). E' essa, declara Je
sus, a maior pro\'a de caridade que se possa dar aos ami
gos (Jo 15, 13). Essa prova o Salvador não a recusou
nem a seus inimigos. Insaciavel de amor, foi ele insacia
vel de imolação e só se satisfez depois de se entregar sem
reserva para a salvação de todos. O' prodígio de dedica
ção!
Vendo um Deus sacrificar-se tão generosamente por
vós, poderíeis ainda hesitar em mortificar tal defeito,�tal
inclinação, fonte de tantas. faltas e imperfeições? pode
ríeis recusar a Jesus os sacrifícios que ele vos pede,
e continuar preso à satisfação dos sentidos, aos desejos
do amor próprio e a mil bagatelas que impedem o vosso
progresso?
Não, divino Mestre, nada mais quero recusar ao vosso
Coração sagrado. Queimai, cortai, quebrai tudo o que
é meu e não vosso, e fazei-me docil aos atrativos do vos
so amor. Estou resolvido a não mais me queixar das cru
zes de cada dia, dos desgostos e das penas que me con
trariam o orgulho e as más inclinações.
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cadores se tornam escravos, obedecendo às pa1xoes, as
sim a alma fiel, praticando a abnegação, se desprende de
si mesma e se submete inteiramente ao Salvador. Daí a
união íntima que contrai com o divino Coração. Nada
realmente ajuda mais para unir dois corações do que a
identidade de sentimentos, afetos e desejos. Ora, é pró
pria da abnegação a renúncia às nossas inclinações
pessoais, para prendê-las a Jesus. Como é bela a união
de uma alma que morreu para si e vive unicamente para
Jesus Cristo! Mortificando os vícios, exerce as virtudes
contrárias; e quanto mais se renuncia a si própria, tanto
mais apta se torna para receber a graça e corresponder
lhe fielmente. Concluamos disso, que a morte a nós mes
mos é a medida da nossa vida sobrenatural e da nossa
união com Jesus Cristo.
Há tantos anos que afagais um defeito; que ganhastes
com isso? mágua, remorsos, aridez; perdestes tesouros
de graça; permanecestes estacionários no caminho da
santidade. Por que não fazer hoje a Jesus Ó sacrifício
da vossa propensão para a preguiça, dos vossos hábitos
de dissipação, de vossas relações mundanas, de vossas
leituras frívolas, de vossas tendências à crítica, à quei
xa, ao desânimo nas dificuldades ? Todas essas misérias
espirituais além de prejudicarem o vosso progresso, per
turbam a vossa paz interior e impedem a vossa verda
deira felicidade.
Jesus, fazei-me triunfar de minhas repugnâncias no
cumprimento do déver e dai-me a coragem de abraçá-lo
generosamente. Pelos vossos méritos e pelos de vossa
divina Mãe, inspirai-me o espírito de renúncia, que cor
te para mim as pontas dos espinhos deste vale de lágri
mas e os transforme um dia em rosas perfumosas nos
átrios celestes, por efeito da vossa graça e da minha pa
ciência nos sofrimentos.
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III. DEVOTAMENTO DO CORAÇÃO DE JESUS
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O amor do Coração de Jesus chegou ao auge, perpe
tuando-se entre nós. Fundou a sua Igreja, fê-la depo
sitária da sua doutrina, dos seus sacramentos, de seus
sacrifícios; prendeu-se ao nosso exílio pelo maior dos
prodígios. Cada dia, cada hora, cada instante, imola-se
em qualquer parte da terra; e não há momento nem re
gião em que não renove em nosso favor o devotamento
de seu sacrifício sanguinolento, sacrificando-se mistica
mente por nós. Caridade verdadeiramente inefavel, que
deveria quebrar o gelo dos nossos corações e aniqui
lar o nosso frio egoismo tão avesso à renúncia. O' gene
rosa renúncia do Coração do meu Jesus, destruí em mim
tudo que me impede de amar-vos sem partilha, mormen
te o amor próprio, inimigo do sofrimento e da fadiga,
quando se trata de obedecer e de vos ajudar n� pessoa
do próximo. Fazei-me manso, obsequioso, sempre pronto
a consolar os aflitos, a compadecer-me das fraquezas
alheias, a esquecer as injúrias, a exercer a misericórdia
e a praticar a caridade. Tomo a resolução: l° de- abafar
as quePxas, a tristeza, as murmurações quando alguem
me reclame os meus serviços; 2º 'de mostrar-me tanto
mais feliz, quanto mais penoso e contrário aos meus gos
tos for o ato de abnegação a praticar nessas circuns
tâncias.
2º O devotamento do Coração de Jesus leva-o à união
conosco
_ Não contente de entregar-se aos suplícios da sua pai
xão e de perpetuar o sacrifício do Calvário e,n benefício
das nossas almas, Jesus quis ainda dar-se a nós como ali
mento. E por que? Afim de transformar-nos nele. A
generosidade do seu Coração não se satisfez com tantos
prodígios operados em nosso favor; atingiu o auge, tor
nando-nos outros tantos Cristas. Imolar-se por nós, o Cria
dor por sua criatura, é um devotamento capaz de fa
zer pasmar o céu e a natureza; mas como poderemos lou
var bastante esse grande Deus, por nos haver elevado,
comunicando-nos os seus bens? Não nos amou ele como
167
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a si próprio, a nós, vermes vís e abjetos? O' caridade
divina, mistério incompreensivel do amor incriado!
Mas como se realizam em nós esses mistérios? por
meio da santa comunhão, pela qual Jesus desce a nós,
dissipa as nossas trevas como o sol afugenta as sombras
da noite, aquece e fecunda os nossos corações, e, depois
de purificados pela graça, os santifica, os diviniza, lhes
comunica os seus sentimentos e os forma aos poucos à
sua imagem e semelhança. Se comungássemos sempre
com fervor realizar-se-ia rapidamente em nós a feliz
transformação da nossa alma em Jesus.
Meu Senhor, quem melhor do que vós me pode dis
por a esse insigne favor? Se um ilustre monarca pre
tendesse visitar solenemente uma choupana, mandaria
adorná-la das mais ricas tapeçarias, para ter uma rece
pção digna. Fazei o mesmo, ó Jesus, rei amabilíssimo,
quando vierdes a mim: purificai de toda mancha o meu
coração; livrai-o da imundície dos vícios; enriquecei-o
de dons celestes, embalsamai-o de fé, esperança e carida
de; colocai nele o adorno de todas as virtudes. Minha ter
na Mãe pura e santa, emprestai-me o vosso coração, ou
antes, depositai no meu peito o Coração de meu Jesus,
afim de que, recebendo-o na sagrada mesa, eu me torne
um só com ele.
Meu Deus, confesso· conpungido, em vossa presença,
que tenho comungado muitas vezes quasi sem prepara
ção: 1 º após um dia cheio de faltas leves e de infideli
dades; 2º após uma confissão feita às pressas, rotineira
mente, sem espírito de fé, arrependimento e fervor; 3 º
após uma meditação tíbia e cheia de distrações, que me
deixou frio e sem devoção junto à fornalha do amor di
vino.
IV. JESUS, VIDEIRA MISTICA
PREPARAÇÃO. Para meditarmos o devotamento do
Salvador, devemos estar unidos a ele como _o ramo da
videira ao seu tronco. Veremos pois: l ° em que sentido
Jesus é a videira mística; 2º como é que somos os ·seus
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ramos. - Essas reflexões dar-nos-ão o desejo de· rezar
sempre, convencidos de que, sem o Salvador, nada pode
mos na ordem da salvação, como ele mesmo o assevera.
Sine me nihil potestis facere (Jo 15, 5).
lGD
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Redentor, quando compreenderei o meti verdadeiro bem?
Dai-me a graça: 1 º de mortifiéar os meus sent-idos e to
dos os meus instintos que me separam da vossa doutrina
e dos vossos exemplos; 2º de abraçar sem queixas as
contradições que me vêm do próximo, e as dificuldades
inerentes aos meus deveres de cada dia. O' videira mis
teriosa, que dais à terra o vinho da salvação, inebriai
minha alma afim de que, esquecendo a criatura, procure
unicamente a vossa glória e prefira todos os suplícios à
desgraça· de ofender-vos.
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do inferno; com ele e nele, Deus nos considera como fi
lhos, enche-nos de seus bens e promete-nos a herança
celeste.
Jesus, a quem irei para 'achar a felicidade e a salva
ção? Consagro-vos os meus pensamentos e desejos, toda
a minha vida. Sede o único objeto de minhas preocupações
e do meu amor, Proponho-me: 1 º pensar muitas vezes
em vós e na vossa presença real na Eucaristia; 2º fazer
dos meus d;as de comunhão, dias de recolhimento espi
ritual, afim de merecer guardar o meu coração e conser
vá-lo unido a vós. Maria, obtende-me a graça de agir
sempre, não por natureza, inclinação e caprich_o, mas
por princípio de fé, para me conformar em tudo a Jesus.
Fazei-me praticar para esse fim o recolhimento, a abne
gação e a oração contínua.
V. DA GRAÇA HABITUAL
PREPARAÇÃO. Jesus é a videira mística: nós o te
mos meditado; é pela graça santificante que lhe somos
unidos. Importa pois considerar: l" as glórias; 2º as ri
quezas dessa graça divina. - Estima-la-emas sobre todos
os bens, se a guardarmos cuidadosamente pela fugida a
toda falta e pela oração contínua; pois ela é de valor in
finito. Inflnltus enim thesaurus est hominlbus.
1º Glórias da graça habitual
Aos olhos dos homens é honra estar no serviço dos
monarcas da terra. Que glória para nós servir ao Criador
do céu, Dominador dos povos e dos reis! Os santos con
sideraram sempre como título de nobreza o belo nome
dê servos de Deus: Domestici Dei (Ef 2, 19). Santo Agos
tinho chama-o uma realeza. Essa única vantagem, que
nasce da graça, bastaria para conservar-nos atentos em
guardá-la com cuidado contínuo e cioso.
Mas não se limitam a isso os privilégios que nos confe
re: torna-nos não só servos, mas amigos de Deus. Ora, a
amizade requer uma certa igualdade entre os que se
amam. Para estabelecê-la entre nós e ele, que faz o Se-
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nhor? purifica-nos do pecado, o que só seu poder infinito
pode operar; comunica-nos o horror do mal e o amor do
bem, e nos faz participar da sua sabedoria e santidade.
Ainda mais, quem o creria? chega a elevar-nos à digni
dade de seus filhos adotivos, e para isso, torna-nos par
ticipantes da sua natureza divina (2 Ped 1, 4). O' prer
rogativa inestimavel ! introduz-nos na família do Rei dos
reis, constitue-nos irmãos de Jesus, diviniza-nos pelo Es
pírito Santo, e, seguindo a linguagem do apóstolo, faz
nos pertencer à linhagem desse Deus a quem chamamos
"Pai nosso" e cuja herança esperamos na eternidade.
Quem reflete nesses gloriosos privilégios concedidos
às almas em estado de graça, enche-se de dor ao ver
tantos cristãos cairem em pecado mortal e tornarem-se
num instante escravos do demônio. O' deploravel tráns
torno ! Em vez da beleza encantadora recebida no batis
mo, a alma culpada contrai a horrivel fealdade dos ré
probos. Longe de ser o santuário das tres Pessoas divi
nas, como antes, torna-se hediondo antro de espíritos
maus que aguardam a permissão de precipitá-la no in-
ferno.
Adoravel Jesus, dai-me a estima e o amor à graça ha
bitual, que proporciona à nossa alma tanta nobreza, res
plendor e insignes prerrogativas. Por ela sou não só vos
so servo e amigo, mas ajuda vosso filho, e santuário do
Espírito Santo. · Participando dessa forma da vossa rea
leza divina, sinto-me obrigado a refrear as muitas pai
xões, para ser semelhante a vós. Concedei-me a vitória
sobre o orgulho que nutre em mim os vícios do espírito,
e sobre a sensualidade que entretem os da carne. Estou
resolvido a antes morrer do que perder a vossa amiza
de pelo pecado mortal; dai-me fidelidade à prática da
piedade fervorosa até ao derradeiro suspiro.
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rito Santo, virtudes e dons mais preciosos que todo o
universo e que sempre acompanham em nós a amizade
do Criador. E esses dons e essas virtudes dão-nos nume
rosos títulos à recompensa eterna. Segundo o concílio
de Trento, a alma em estado de graça, agindo por Deus,
merece por justiça o aumento da amizade divina e um
grau de glória proporcionado á esse aumento, tão dignos
dos nossos desejos. Além disso ela atrai, a título de con
veniência, graças atuais sempre mais abundantes e efi
cazes. "Um ato de amor divino, por pequeno que seja,
diz o doutor angélico, vale para ele a vida eterna", isto
é, bens que a sobreelevam a todas as maravilhas do fir
mamento.
Se os milhões de anjos e santos da côrte celeste se
unissem para recompensar a mais pequena obra meritó
ria, v. g. uma prece ou um ato de virtude, jamais o
conseguiriam, mesmo que para - isso esgotassem todas
as suas forças durante milhões de anos. O próprio Deus,
consagrando o seu poder à criação de mundos infinitos
para nos recompensar dignamente, não o conseguiria, e
por que? Porque todos os bens naturais reunidos não igua
lam em valor o menor grau de mérito sobrenatural. Eis
por que o Senhor promete dar-se todo a nós, ele o Bem
supremo e eterno, pelo que fazemos para a sua glória.
Ego merces tua magna nimis (Gen 15, 1).
Doutrina consoladora de molde a animar-nos a servir
a Deus sem reserva. Algumas polegadas de terra exci
tam a cobiça dos conquistadores, fazendo-os afrontar os
perigos e as fadigas da guerra; e .nós, soldados da cruz,
hesitaremos em lutar contra nossas paixões, em se tra
tando de conquistar o reino eterno do céu? Cegos sere
mõs, se preferirmos as satisfações passageiras e os bens
efêmeros do mundo às alegrias puras e aos tesouros duma
eternidade feliz. Esforcemo-nos doravante para fugir de
todas as faltas, para reprimir as paixões, para purifi
car nossas intenções e afeições, afim de tornarmos sem
pre meritórias as nossas ações e a nossa vida.
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Jesus, sem vossa santa amizade sou um sarmento res
sequido, incapaz de produzir frutos. Uni-me a vós como
o ramo ao tronco da videira e dai que eu produza abun
dantes frutos de salvação. Pela intercessão da Virgem
fidelíssima preservai-me da negligência e relaxamento
no vosso serviço. Dai-me a graça: 1 º de nutrir habitual
mente o meu espírito com o pensamento das verdades da
fé; 2º de fortalecer meu coração com preces frequentes
e com atos interiores que me unam a vós e me confir
mem no vosso amor.
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consolidar e aperfeiçoar aquela e fazer-nos assim parti
cipar mais largamente das grandezas, riquezas, felici
dade e natureza do Ser infinito que é Deus. Não é ainda
tudo: a graça atual põe-nos em condição de produzir
atos meritórios; por pequena que seja, tem ela mais va
lor do que todos os bens criados. Podemos a cada. ins
tante, com o auxílio da boa vontade, adquirir aumento
da graça santificante e da graça atual e um acréscimo
da glória para a eternidade. Ora, o menor grau de graça
e de glória é tão precioso aos olhos da fé, que os san
tos, parn obtê-lo, teriam padecido até ao dia do juizo
final. Poderosos motivos: 1 º para estarmos sempre aten
tos aos desejos do Espírito Santo; 2º para nunca lhe
resistirmos, mesmo nas coisas menos importantes; 3º
para estarmos sempre dispostos a obedecer-lhe; 4º para
correspondermos sempre eficazmente às suas inspirações,
apesar da repugnância. dá. natureza.
Meu Deus, reconheço que, sem o vosso socorro, nada
posso fazer na ordem da salvação. Dai-me, pois, uma gran
de desconfiança de mim mesmo, um cuidado constante
de recorrer a -vós e de colocar em vós toda a minha es
perança. Concedei-me o espírito de vigilância, recolhi
mento e docilidade, que me faça ver as vossas luzes, os
vossos atrativos, a vossa ação santificadora, e me ins
pire a coragem de corresponder-lhe fielmente.
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Isaías, vinde e comprai, sem dinheiro e sem troca, o vi
nho e o leite" (55, 1). O vinho significa a força ou a vir
tude da graça que cura as almas, as anima ao bem, as
inebria de amor na oração e lhes inspira o devotamen
to para com Deus e o próximo. O leite, diz santo Agos
tinho, é a admiravel imagem da graça porque sai em
abundância do seio materno, que o dá ao filho não só
com liberalidade gratuita, mas ainda com ternura e ale
gria. Assim o Senhor comunica-nos as suas graças, como
uma mãe aos seus filhos, com profusão que excede to
das as precisões e com um amor sem esmorecimentos.
Cada gota do leite da graça é de um valor infinito, e
Deus no-la prodigaliza com caridade divina. Ainda mais,
ele no-la concede mesmo quando a rejeitamos como coi
sa vil e sem valor. Oh! que generosidade incompreen
sivel!
Enfim a graça é comparada ao orvalho (Is 45, 87);
desce do céu sem ruido e vai até ao fundo dos corações.
Diminuindo em nós os ardores da concupiscência, facili
ta-nos o desabrochar das flores dos santos desejos, e a
madureza _das virtudes. Preparemo-nos a receber esse or
valho divino, conservando-nos calmos, vigilantes, reco
lhidos em toda parte; tornemo-lo fecundo por uma doci
lidade e fidelidade perfeitas.
Assim será, meu Deus, se me inspirardes a resolução:
1º de recordar-me habitualmente da vossa presença ado
ravel; 2 de mortificar os meus sentidos e paixões, afim
º
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fº E; preciso nos _considerarmos só em Deus
A alma que quer pertencer .deveras a Deus, deve ha
bituar-se a viver nele, como.na luz do dia que nos aclara,
como no ar que respiramos. Deus é de fato o sol e a at
mosfera das nossas almas; quem se subtrair a seu influ
xo vivificante, encontra a morte do pecado. O peixe, ti
rado da água, desfalece e morre; assim tambem a alma
quando não procura em Deus o alimento e a força. Só
dele, como do primeiro princípio, nos vêm a vida da na
tureza e a vida da graça. Não será, pois, justo e util pen
sar nele e em seus benefícios?
Ainda mais, isso é uma necessidade para nós. Meça
mos, se possivel, o abismo de ignorância, fraqueza e mi
sérias, em que somos imersos fora de Deus, e compreen
deremos quanto é indispensavel à nossa perseverança
conservar-nos unidos a ele e jamais o perder de vista.
Somos como marinheiros sempre expostos à tempestade
e ao naufrágio, sobre um mar agitado na escurii:lão da
noite. Que será de nós, se não invocarmos aquele que é
o único que nos pode socorrer contra nossos inimigos
invisiveis? Sem a sua doce lembrança, como haveremos
de reanimar nossa coragem, fortalecer nossa esperança
e reprimir a concupiscência que nos arrasta ao mal?
Não estudemos pois nossa fraqueza e corrução fora
da luz divina e do olhar da bondade de Deus, porque o
conhecimento das nossas misérias, sem a recordação da
sua misericórdia, lançar-nos-ia ao desespero. Unamos
sempre a confiança em Deus à humilde opinião de nós
mesmos; assim nos virá toda sorte de bens. Em vez de
ficarmos tão facilmente perturbados, agitados e desani
mados, apoiar-nos-emos no Todo-poderoso, e por ele se
remos invencíveis aos ataques dos nossos inimigos; nada
poderá então abalar-nos porque contamos com o poder
daquele no qual, s�gundo o apóstolo, temos a vida, o
movimento e o ser, segundo a natureza e a graça. ln ipso
enim vlvimus, movemur, et sumos.
I3ronchain II - 12 177
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Meu soberano Senhor, recordai-me sempre vossa doce
lembrança: 1 º ela me fará conhecer-vos e confiar em
vós; 2º ela me mostrará quanto dependo da vossa sabe
doria, poder, santidade, para agir em tudo conforme à
vossa vontade, regra suprema de minha vida.
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nossos fardos e cortará a ponta dos espinhos e cardos
disseminados no caminho da nossa miseravel vida.
Meu Deus e meu Pai, na medida que a vossa lembrança
se apaga em minha alma, sinto-me levado ao desconten
tamento e à murmuração. Pelos méritos de Jesus e Ma
ria, dominai os meus afetos e desejos; sede senhor de
minha imaginação, enchei a minha memória da lembrança
dos vossos benefícios, e a minha inteligência da luz be
néfica da vossa presença. Assim me será mais facil: 1"
suportar os defeitos alheios e 2 º ter paciên_cia nas con
tradições, enfermidades e enfadas.
12• 179
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do que nos sentimentos; não se muda quando tudo se
muda ao redor dela. Crendo hoje o que cria ontem, per
maneceu fiel ao dever, apesar dos obstáculos; mostra-se
a mesma sobre o cadafalso como na cela, sem variação
nem desfalecimento. Essa é a verdadeira piedade que
nos une a Deus.
Tem sido sempre essa a vossa compreensão prática a
respeito dela? Sois modesto, recolhido, quando nada atrai
a vossa curiosidade; caridoso com os que vos agradam;
obediente, q1:1anqo tudo se molda ao vosso natural, aos
vossos desejos e vontades; mas sois igualmente docil,
complacente, submisso a Deus quando vossas paixões vos
inspiram o contrário? Orais com ardor quando sentís
gosto na oração; mas não negligenciais a leitura, a me
ditação, o exame quando vos causam tédio?
Será isso servir a Jesus com coragem generosa? Se
amais unicamente os que vos amam, diz ele, que recom
pensa mereceis? os publicanos fazem outro tanto. Se
saudais somente os vossos irmãos, em que vos avanta
jais aos pagãos? (Mt 5, 46)·. Se quiserdes o belo título
de servos de Deus "amai os vossos inimigos, fazei bem
aos que vos odeiam; orai pelos que vos perseguem e ca
luniam". Assim fazendo dareis prova de virtude verda
deira.
Meu Deus, até agora, tenho tido só a aparência e o
começo da piedade, mas não a realidade e a perfeição
possuídas pelos santos. Dignai-vos pois me aclarar, pu
rificar, fortalecer e transformar, e fazer o meu coração
e o deles como o de Jesus crucificado, nosso modelo.
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mal; considerar a malícia e a fealdade dos nossos pe
cados e dos que podemos cometer sem a graça; conhe
cer a nossa fragilidade, inconstância e miséria sempre
renascente apesar de tantos meios e socorros. Esse exa
me reiterado, cada dia, inspirar-nos-á humildes senti
mentos de nós mesmos.
Daí virá o desejo de reformar a nossa má natureza, de
combatê-la sem tréguas em seus desvios, tendências e
instintos pecaminosos; de reformá-la segundo o modelo
que nos foi dado em Jesus Cristo. A vida do Salvador
foi um sacrifício contínuo. Depois de ter imolado tudo,
entregou-se a nós na Eucaristia, mostrando-nos assim
a necessidade de sacrificar-lhe tudo se quisermos per
tencer-lhe sem reserva e para sempre. Feito nossa víti
ma perpétua nos tabernáculos, tem ele o direito de exi
gir de nós, em retorno, uma contínua renúncia.
Dessa forma a nossa vontade ficará como que iden- ·
tificada com a sua, e nisso consiste a perfeição verda
deira. Esta nos move a cumprir o que Deus deseja e pode
desejar de nós; inclina-nos a aceitar todas as penas que
a Providência nos destina. Uma tal disposição propor
ciona-nos, a um tempo, o mérito das virtudes, cuja prá
tica almejamos, e o mérito das provações que estamos
dispostos a aceitar.
E', ·pois, de vantagem que nos proponhamos: 1° obede
cer ao Senhor em todas as nossas ações: por isso, me
ditar, orar, trabalhar, tomar as refeições, repousar, com
:1 única intenção de glorificar e contentar o soberano
Bem; 2º suportar com coragem as contrariedades de cada
dia, decididos, ao mesmo tempo, a aceitar os maiores so
frimentos, se esta for a vontade de Deus.
Jesus e Maria, baní do meu coração os vãos temores
e os desejos inuteis que me impedem de abandonar-me
à vossa vontade. Inspirai-me a lembrança habitual das
vossas dores, a qual me fortifique a coragem, confirme
a esperança e me faça praticar a obediência e a resigna
ção, virtudes essas necessárias ao meu progresso e à mi
nha perseverança no bem,
lSl
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IX. JESUS E MARIA
PREPARAÇÃO. Santa Isabel, na saudação angélica,
afirma que Jesus e Maria reunem em si todas as ben
çãos divinas e humanas. Motivo poderoso: 1º de estimar
mos e amarmos neste mundo unicamente o Salvador e
sua divina Mãe; 2º de os servirmos e imitarmos com
todo o fervor de que somos capazes. Proponhamo-nos in
vocar a miudo Jesus e Maria, que possuem todos os bens
da graça. Benedicta. tu in mulieribus et benedictus fru
ctus ventris tui, Jesus.
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sença e tomava em tudo a forma de sua amabilíssima
santidade.
Ah! quem nos dará as luzes e as graças desse glorio
so patriarca, para conhecermos e amarmos sem partilha
o Redentor e sua divina Mãe? Ao menos, a exemplo dos
santos, meditemos suas grandezas e suas virtudes. San
to Afonso fazia-o dia e noite, e falava deles com tocante
ternura. São Felipe Neri chamava Jesus "o seu amor" e
a Maria "as suas delícias". E nós, tão facilmente arre
batados pelas belezas da criação, não o seríamos pelas
duas maravilhas de Deus: Jesus, a beleza incarnada, e
Maria, a Virgem imaculada, a mais perfeita cópia de seu
amavel Filho?
Senhor, criastes-me para amar o que é grande, no
bre e santo; atraí-me pois inteiramente a vós e às duas
obras primas de vosso poder, sabedoria e bondade. Para
esse fim, fazei-me conhecer os numerosos motivos que
me impelem a unir-me ao meu Redenfor e à sua terna
Mãe, que é tambem a minha. Proponho-me invocar mui
tas vezes os seus sagrados nomes - fazer-me deles uma
armadura nos combates, um remédio nas minhas cha
gas, um Qálsamo de conforto nas minhas. penas, um pre
servativo contra todos os males desta vida.
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anelo. Fiel em seguir em tudo o divino modelo, Maria ti
nha as mesmas disposições que nutria por meio da oração
e de um ardente amor. O Filho e a Mãe eram como dois
espelhos que se refletiam mutuamente; Maria, recebendo
de Jesus, como de sua fonte, todas as graças e Jesus en
contrando em sua Mãe todas as virtudes aprendidas dele.
Quão felizes e santos seríamos, se nossa única ambição
sobre a terra fosse servir a Jesus e a Maria, e ser como
eles. Vemos tantos que se esgotam ao serviço dos reis e
dos grandes do mundo pelo desejo duma recompensa efê
mera; tantos que procuram imitar os homens célebres
para participar da sua fama. Seríamos nós menos ardo
rosos no serviço do Rei e da Rainha dos anjos, que nos
prometem um reino eterno em troca da nossa obediên
cia aos seus preceitos e da nossa fidelidade? Seríamos
menos desejosos de imitá�los para . participarmos da sua
glória e felicidade? E que socorros nos prometem eles
se nos resolvermos a seguir as suas pegadas!
O' santo patriarca de Nazaré, fiel imitador de Jesus e
Maria! ped.í ao Senhor me conceda o vosso espírito de
fé, recolhimento e oração, afim de me unir estreitamen
te ao meu Salvador e à sua divina Mãe. Estou resol
vido: 1 º a contemplá-los muitas vezes nos mistérios do
Rosário, recitando frequentemente o terço; 2 º de pedir
lhes com instância o dom precioso do seu amor, que en
cerra todos os bens e nos faz praticar todas as virtudes.
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M:tS DE JULHO
1 DE JULHO.
O PRECIOStSSIMO SANGUE DE JESUS
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e inefavel! quem o creria, se o próprio Espírito Santo
não no-lo tivesse afirmado! Rcdemlsti nos, Domine, ln
sangulne too. Sanguis Jesu Christl emundat nos ah ornni
peccato (1 Jo 1, 7).
Pelo mérito do seu sangue, Jesus nos dotou do dom
inestimavel da graça habitual, ornou de virtudes as nos
sas almas e fez delas santuários interiores mais ricos do
que os palácios dos reis. Tornados assim filhos do Al
tíssimo, nada temos a invejar aos anjos, a não ser talvez
o seu insigne privilégio de pertencerem a Deus sem temor
de perdê-lo jamais. Jesus tambem a isso remediou: seu
sangue abre-nos o céu, onde esperamos· ter um dia a sua
possessão e o seu reino sem fim. Et fecisti nos Deo noR
tro regnum.
O' inestimavel caridade de Jesus, o que vos retribuirei
por tantos benefícios? Agradecer-vos e amar-vos é para
mim um dever não só de reconhecimento, mas tambem
de justiça, já que meu coração é propriedade vossa; Vós
o resgatastes, purificastes, santificastes e destinastes a
possuir-vos eternamente; é vosso, pois; é coisa vossa;
como vo-lo poderia disputar voltando-o para a criatura?
De hoje em diante quero recolher-me e orar sempre,
afim de me conservar puro de toda falta e livre de todo
afeto que não for só para vós.
18ij
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pecado, a graça perdida, a alvura da inocência e a be
nevolência do Pai celeste. Por tres palavras do sacerdo
te, de inimigos de Deus tornamo-nos seus servos, amigos
e filhos; passamos do estado de pecado e de reprovação
para a amizade de Deus e a predestinação eterna. Inu
meraveis bens produz esse sacramento tambem nas al
mas manchadas só de culpas veniais. Não somente as
purifica, mas dá-lhes a força de não recair, e aumenta
lhes as graças, as virtudes, os dons sobrenaturais rece
bidos no batismo. Por isso é importante que ·a ele nos
preparemos com cuidado.
Bem mais maravilhoso ainda é o sacramento da Euca
ristia, no qual não nos são dados apenas os méritos do
Salvador, mas o seu próprio sangue, como o seu corpo
e sagrada pessoa. Sempre que comungamos, imaginemos
colocar os nossos lábios nas adoraveis chagas dos pés,
das mãos e do lado do Salvador, e bebamos a lar
gos tragos o sangue que nos resgatou.
O' banquete inefavel, cinde o justo se abebera na fonte
da vida! Eu quisera, Senhor, receber-vos com a fé e a
pureza dos santos; com o respeito, humildade, confian-
ça e amor que vos testemunhavam um são Luiz de Gon
zaga, um são Felipe Neri, um santo Afonso e tantas ou
tras almas esclarecidas de vossas luzes e abrasadas do
fogo da vossa caridade. Perdoai minha frieza e indife
rença para convosco. Inspirai-me a resolução: 1° de as
sistir ao santo sacrifício recordando-me das vossas dores
e de vosso amor; 2º de preparar-me para a confissão
sacramental e receber a absolvição colocando-me ao pé
da vossa cruz para melhor participar dos méritos do
vosso sangue; 3º de comungar com desejo ardente de
unir-me a vós e de viver desprendido de tudo que me
não vem da vossa graça e da vossa santíssima vonta
de. Redemisti nos, Domine, ln sangulne too, et fecisti
nos Deo nostro regnum,
l/37
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PRIMEIRA SEXTA-FEIRA.
OBEDIÊNCIA DO SAGRADO CORAÇÃO
PREPARAÇÃO. "Encontrei, diz o eterno, um homem
segundo o meu coração, o qual cumprirá todas as minhas
vontades". Essas palavras, ditas por Daví, aplicam-se·
perfeitamente ao Homem-Deus. Ele procura unicamente
a obediência: 1º durante sua vida mortal; 2º na sua vida
eucarística. A seu exemplo sejamos doceis às ordens dos
nossos superiores, condescendentes para com o próximo
e fiéis em obedecer às inspirações divinas. Inveni virum
secundum cor meum, qui faciet omnes voluntates meas
(At 13, 22).
:t.88
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"Parã que o inundo sa1ba, disse i.lrn dia, que o amor
Q meu Pai me leva a executar o que me ordenou, levan
tai-vos e saiamos" (Jo 14, 31). Para onde ir? à glória, ao
prazer? não, mas aonde a obediência o chamava, isto é,
à ignomínia, ao sofrimento e à morte. Não hesita: deixa
se atar, arrastar, levar de tribunal a tribunal, sem resis
tência. Submisso aos juízes, aos perseguidores, aos pró
prios carrascos, oferece o rosto aos escarros, as faces às
bofetadas, suas costas à flagelação, sua sagrada cabeça
à coroa de espinhos. O seu sagrado Coração não cessa
de repetir: "Meu Pai, não se faça a minha vontade, mas a
vossa". Nessas disposições sobe ao _ Calvário, deixa-se
desnudar, crucificar e erguer na cruz; e sua última pala
vra é um grito de abandono à vontade de seu Pai celeste.
Jesus, quem nos dirá qual foi a vossa obediência e
qual é a nossa? Um só ato dessa virtude pode elevar-nos
à mais alta perfeição. Dai-me, pois, a graça de obede
cer de hoje em diante a todos os vossos representantes
sem raciocinar, sem replicar e sem me queixar, mas com
a prontidão, simplicidade e coragem, de que me destes
o exemplo até ao derradeiro suspiro.
189
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pelos ímpios e sacrílegos! O' prodígio de sujeição dum
Deus!"
"Diante disso, que há de extraordinário, exclama a
Imitação, se vós, pó e nada, vos submeteis ao homem por
amor a Deus, quando o Todo-poderoso, que tirou do nada
todas as coisas, se sujeita humildemente a todas as cria
turas! Aprende pois a obedecer, vil pó da terra! Apren
de a romper a tua vontade e a não fugir da dependência".
De manhã, ao toque de levantar, dizer: "eis o chama
mento do grande Rei!" e obedecei prontamente. Procedei
tambem assim, sempre que conhecerdes as intenções dos
vossos superiores. Tende horror em preferir vossa von
tade cega e depravada à do Senhor, sábia e santa.
Jesus, divino modelo de obediência, fazei-me compreen
der que eu, vil escravo, devo• submeter-me a vossos re
presentantes na terra, já que vós, a grandeza infinita,
obedeceis às vossas criaturas em nossas igrejas. Pela
intercessão da divina Mãe inspirai-me a prática: l" de
ver sempre a vossa sagrada pessoa nos que me gover
nam em vosso nome; 2º de. obedecer-lhes pronta, exata
e generosamente mesmo nas coisas mais contrárias às
minhas idéias e inclinações.
1 DE JULHO (bis).
O HOMEM DEVE DEPENDER DE DEUS
PREPARAÇÃO. Antes de meditarmos a obediência,
virtude especial a praticar durante este mês, vejamos-lhe
os primeiros princípios: 1 º Devemos obedecer a Deus;
2º E' inutil e nocivo resistir-lhe. Como fruto desta medi
tação faremos muitos atos de submissão completa ao do
mínio do Altíssimo sobre nós, dizendo-lhe: "Senhor, dis
ponde de mim como vos aprouver: Non mea voluntas,
sed tua fiat" (Lc 22, 42).
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1 º Devemos obedecer a Deus
Já que Deus tudo criou tanto na ordem da natureza
como na ordem da graça, nada nestas duas ordens pode
subsistir sem ele, consequentemente nada pode subtrair
se ao seu impêrio. Ele governa os seres irracionais por
leis físicas; poderia governar-nos do mesmo modo, ou
forçar-nos a obedecer-lhe. Mas, para a nossa dignidade
e mérito, criou-nos livres e dá-nos preceitos, obrigando
nos a submeter-nos a eles não por coação, mas por de
ver. E como a grandeza do homem, segundo santo To
maz, está na proporção de sua dependência de Deus, o
Senhor que a si nos quer elevar pela união da nossa von
tade à sua, manifesta-nos os seus desejos até nas minú
cias de nossa vida.
A terra é uma, e contudo produz uma multidão de
plantas de toda espécie; assim a vontade divina, una
na sua essência, se diversifica segundo os nossos dife
rentes deveres. Semelhante ao sol que nos envia cada
dia os seus raios sem número, ele multiplica as suas or
dens em todo o universo, conduzindo os homens a seu
último fim, cada qual segundo o seu estado, vocação e
emprego. O' bondade divina que a esse ponto se digna
baixar até nós!
Mas como é que o Senhor nos faz conhecer os .seus
desígnios ou os meios de a · ele nos unirmos? Fá-lo por
suas leis, mandamentos e preceitos, pelos acontecimentos
independentes da nossa ação, por nossos legítimos su
periores, por suas luzes e inspirações. Disposição admi
ravel com nenhuma outra, digna de nosso contínuo res
peito!
Entretanto, quantas vezes ousamos ligar-lhe pouca im
portância, e mesmo a fazer-lhe oposição por queixas e
murmurações nas provações da vida! Quando recebemos
ordem contrária às nossas idéias, caprichos e gostos
manifestamos nossa repugnância e obedecemos de má
vontade. E' isso compreender os direitos do Criador e
'
seu domínio absoluto sobre todas as criaturas?
Hll
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Deus onipotente, mostrai-me a minha verdadeira gràri
deza que consiste em unir a minha vontade à vossa em
todas as coisas. Fazei-me brando e docil, sempre sub
misso à vossa vontade, pois que assim encontro o repou
so do espírito, a verdadeira virtude, o mérito real e a
felicidade perene.
l92
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Ao contrário, como é doce e consolador, Senhor, se
guir em tudo a vossa luz, confiando em vossa sabedoria
e bondade! Dai que eu experimente essa felicidade, con
cedendo-me um coração submisso. Pelos méritos de Je
sus e Maria, inspirai-me a resignação nas penas e fazei
me docil para com os que me governam em vosso nome.
Tomo a resolução sincera: 1 º de nada desejar no mundo,
guardando inteira indiferença para o que a mim se refe
re; 2º de me oferecer muitas vezes a vós, suplicando dis
ponhais em mim segundo a vossa vontade. Que vossa
vontade sempre santa, perfeita e amavel seja doravante
o objeto de todos os meus afetos e pesquisas.
Bronchaln II - 13 193
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O' verdade deliciosa! não me atrevo a apresentar-me
ao meu juiz, embora morto por mim, e não obstante te
nho de falar-lhe, suplicar-lhe, receber seus favores. Ven
do o meu embaraço, enviou-me sua Mãe; e, à.fim de que
ela me inspirasse mais confiança, fê-la tambem minha
Mãe e tornou-a minha nutriz para transmitir à minha
alma o alimento espiritual necessário à salvâção. Minha
terna mãe, que me amais com ternura e constância in
vencíveis, sois a Dispenseira das graças que me santifi
cam. Tu dispensatrix omnium gratiaram. Posso, pois,
dirigir-me a vós sem temor de ser rejeitado. O' exc_es
so de misericórdia que me facilita a confiança e me as
segura o paraisa !
O' Mãe de minha alma, todos os tesouros da Reden
ção estão em vossas mãos; ouví o vosso coração para
no-los distribuir. "Fostes feliz porque crestes" disse-vos
Isabel; felizes de nós se crermos no poder da vossa me
diação, nas riquezas das graças em vós depos_itadas, no
amor generoso que vos move a no-los prodigalizar. Ob
tende-nos o espírito de oração, que nos faça sempre re
correr a vós, de manhã, à tarde, antes e depois da cada
ação, em toda parte, em todos os momentos, em todas
as circunstâncias e mormente nos sofrimentos e nes com
bates. Por esse recurso frequente à vossa maternal bon
dade, prestamos homenagem ao desejo contínuo que
tendes de socorrer-nos, damos-vos ocasião de nos bene
ficiardes constantemente. Cercai-nos, pois, daquela es
pecial proteção, reservada aos filhos que se não cansam
de invocar-vos com confiança .e amor.
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miravel cântico que, segundo os santos doutores, é o
hino inspirado, o cântico extático da sua humilda.de. Es
quece-se completamente para glorificar somente a Deus
que nela operou maravilhas, e cujo nome é santo, e cuja
misericórdia se estende de geração em geração aos que o
temem. Maria demora-se tres mese.s na casa de Isabel,
não governando como lhe competia por sua posição e
dignidade, mas obedecendo. como a mais humilde serva.
Serva caridosa como nenhuma outra, com que ardor
não teria corrido em auxílio de todas as criaturas e de
que frutos de boas obras não tc"l'á sido assinalada a sua
estada no Hebron! Como outrora a arca levara a pros
peridade à casa de Obededom, onde permaneceu tres me
ses, assim a presença de Maria em casa de Isabel atraiu
sobre a feliz família as mais preciosas e abundantes gra
ças. A caridade, diz santo Ambrósio, foi o princípio de
todos esses bens, porque foi ela que inspirou a divina
Mãe a visitar a residência de Zacarias para fazê-la par
ticipante das primícias da Redenção.
Nós que somos a conquista bendita do Redentor e de
sua santíssima Mãe, hesitaríamos em seguir as suas.
pega.das? Eles inauguram no dia de hoje a sua missão,
dando-nos o exemplo da humildade e da caridade; e nós
continuaremos sempre soberbos, sem afeto, cheios de
amor. próprio e de desprezo do próximo? Julgamos re
baixar-nos, quando prestamos serviços ou nos humilha
mos, como se não fôra para nós glorioso imitar a Rainha
dos anjos e o Rei dos céus. Estudemos o nosso nada ab
jeto, e ponhamos a nossa grandeza em fazer-nos os ser
vos de todos, na intenção de agradar a Deus.
Maria, Mãe da minha salvação, fazei-me compreender
quão digno é de uma alma resgatada prestar serviços ao
Redentor na pessoa do próximo. Os andrajos do pobre,
os defeitos do próximo não os impedem de ser os san
tuários das tres divinas Pessoas. Inspirai-me, pois, o
desejo de fazer bem a todos sem alarde e sem egoisPno,
afim de que a humildade seja em mim a guarda da ca
ridade.
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3 DE JULHO.·
OBRIGAÇÃO DE SUBMETER-SE A DEUS
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da sua justiça, segundo o bem ou o mal de que formos
responsaveis. E como esse poder de Deus sobre nós é
ilimitado, seremos eterna.mente recompensados ou puni
dos. A morte subtrai-nos ao arbítrio dos homens, mas
não apagará jamais os direitos de Deus sobre os eleitos
e os réprobos.
Soberano Senhor, reconheço vosso poder sem limites
sobre mim e o que me pertence, e submeto-me inteira
mente ao vosso império. Estou, pois, resolvido: 1" a lu
tar contra o meu orgulho, meu espírito de insubordina
ção, contra o apego às minhas idéias, aos meus gostos
e vontades, mormente da prática da obediência; 2º a
viver sempre calmo, submisso e resignado, sem jamais
perder a calma no meio dos negócios, dos embaraços e
pE>nalidades· da vida. Aumentai cada dia a minha fé na
autoridade soberana, essencial, absoluta, universal, ir
resistivel e eterna que . vos compete exercer sobre toda
a criação e em particular sobre o meu corpo e a minha
alma.
2º E' ra.zoa.vel submeter-se a Deus
A nossa vontade é cega e caprichosa: ela quer sem
razão e contra a razão, e teima em seus sentimentos;
age muitas vezes por instinto, por inclinação e, no caso
de seguir os verdadeiros princípios, é inconstante não
distinguindo claramente o seu verdadeiro bem. Bem di
ferente é a vontade divina. que é a sabedoria personifi
cada, eterna, infinita, onipotente, santa e amavel. Sol
das inteligências, Deus é a fonte de toda a luz, e fora
dele só há densas trevas. Omnis sapientia a bomino (Ecli
1, 1). Conhecendo o elo que une o passado ao presente
e ao futuro, com prudência e justeza ele combina os
acontecimentos, de modo a proporcionar-nos o nosso
maior bem. Por que então queixarmo-nos das disposições
da sua providência e hesitarmos em abandonar-nos à
sua bondade? Estimemos e amemos sempre a ação divi
na sobre nós, porque nada é mais justo, mais bem regu
lado, nem mais conforme à nossa salvação.
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São Francisco de Sales gravara profundamente. em
seu coração o respeito dessa verdade. Ninguem . jamais
o ouviu dizer: "Está fazendo calor ou frio demais" ou
quejandas expressões que lhe pareciam desaprovação do
governo da Providência. Uma serva de Deus, Maria Diaz,
queixou-se um dia, diante do santíssimo Sacramento, do
frio intenso que sofria num rigoroso inverno. "Como!
respondeu-lhe Jesus, fui eu quem fez isso e tu te quei
xas?" Estas palavras recordam-nos as de Daví: "Calei
me, Senhor, porque vós o fizestes", vós cujas obras são
irrepreensíveis. Obmutui, et non aperui os mcum, quo
niam tu fecisti ( Sl 38, 10).
Tomemos o santo costume de submeter-nos sem dis
cussão às disposições divinas em todos os acontecimen
tos. Se um fio de cabelo não cai de nossa cabeça sem a
permissão divina, como ousaremos criticar, desaprovar
o que nos sucede, ou o que nos é. mandado contrariamente
às· nossas idéias, como se a sabedoria do Todo-poderoso
não estivesse em jogo nesses encontros? O que dizeis
contra alguma determinação ou decisão dos vossos su
periores fere ao vivo o próprio Criador.
Adoravel Mestre, os Livros santos afirmam que nos
sas murmurações contra os superiores legítimos se vol
tam contra vós, fonte primeira de toda a autoridade. Pela
intercessão da Virgem sempre doei! e submissa, conce
dei-me a vitória sobre as minhas repugnâncias em obede
cer e resignar-me nas ocasiões difíceis. Nec contra nos·
est mnrmur yestrum, sed contra Dominum (Ex 16, 8) .
4 DE JULHO
DEVEMOS AMAR A VONTADE DIVINA
PREPARAÇÃO. Não basta submetermo-nos a Deus; é
preciso ainda que o façamos com amor. Por isso medita
remos sobre a amabilidade da vontade divina: 1º em si
mesma; 2º em relação a nós. - Tiraremos daí a conclu-
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são prática de cumpri-la sempre com coragem, mesmo
quando contraria as nossas inclinações; ela merece de
fato ser preferida a todo o criado. Voluntas Dei hona, et
beneplacens, ct perfecta (Rom 12, 2).
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e oculto sob as humildes espécies; por que então reJel
taríamos a vontade divina ou o próprio Deus oferecendo
se-nos sob aparências pouco favoraveis ao nosso orgu
lho e ao nosso amor próprio?
Jesus, quantas vezes tenho preferido minhas inclina
ções e caprichos à vossa vontade sábia, perfeita e amavel!
Arrependo-me e resolvo-me a obedecer-vos em tudo, e
submeter-me à vossa vontade, como os anjos e os santos
o fazem no céu. Fiat voluntas tua sicut in coelo et in
terra.
2º A vontade divina amavel para conosco
"Deus é caridade", escreve são João (1 Jo 1); é a "bon
dade por essência", acrescenta são Leão; e, segundo a
expressão do apóstolo, é um fogo consumidor (Hb 12,
23), cujas centelhas ou vontades são benefícios para os
homens que as receberem com amor. E realmente, do co
ração divino ou de sua vontade nos vêm todos os bens
naturais e sobrenaturais.
"Mas, dirá aiguem, como explicar as penas e as tribu
lações da vida? são elas tambem benefícios?" Sim, nos
desígnios do Pai celeste são meios que convêm para a
nossa felicidade, santificando-nos, e nos conduzem à bea
titude eterna. Não é tanto a adversidade que leva a q.es
graça às almas, mas antes a sua vontade perversa opos
ta à de Deus. Mesmo quando as cruzes, que sofremos,
parecem contrárias ao nosso bem espiritual, como as
tentações, desolações interiores, donde é que nos vem
o prejuízo? da provação? não, mas das más disposições
da nossa vontade. Querendo unicamente o que Deus quer,
tarnsformamos o mal em bem e o veneno em remédio.
Nessas condições nada nos pode prejudicar, nem a raiva
dos demônios, nem os projetos dos maus; menos ainda
as aflições permitidas pela Providência e as dificuldad�s
inerentes às ordens dos nossos superiores. Por que en
tão lançar o odioso das nossas impaciências e desobediên
cias sobre determinada pessoa, carater ou ordem rece
bida? Não teríamos antes de exprobrar a nós mesmos
200
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o apego à nossas idéias e inclinações? O apóstolo diz:
"Para os que amam a Deus e sua santa vontade tudo
se converte em bens ou em meios de perfeição". Omnia
cooperantur in bonum (Rom 8, 28).
Se, pois, os acontecimentos vos contrariam, 08 defei
tos do próximo vos tiram a paz e 08 trabalhos vos amar
guram a vida, culpai disso a vossa vontade pouco flexí
vel que se não identifica com a vontade santa e benfa
zeja do Criador. O riacho é calmo quando segue a sinuo
sidade das suas margens; mas, quando quer assoberbar
o rochedo que se lhe põe adiante, espuma, entumece, atrôa
e quebra-se. O mesmo se dá tambem com o vosso cora
ção; enquanto não se curva à vontade divina, choca-se
com mil obstáculos, ficando muitas vezes ferido, confun
dido, contristado, consternado e desanimado.
Meu Deus e meu Pai, que quereis sempre o meu maior
bem, dai-me a graça de pôr a minha felicidade no a�or
e no cumprimento perfeito de todos os vossos precei
tos e na submissão à vossa providência paternal. Uno
me a Jesus e Maria para conformar-me em tudo e sem
pre à vo!fsa santa vontade.
201
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do que a meditação, a missa, a comunhão e todos· os exer
cícios de piedade; entretanto, quando praticados contra
a vontade de Deus ou contra a obediência não só perdem
o seu valor, mas tornam-se ainda ocasião de faltas dignas
de castigos.
Saul oforeceu a Deus um sacrifício que a lei proibia
aos. leigos. Ouví como Samuel o. repreendeu: "Rei, disse
ele, procedeste como um insensato; por isso o Senhor es
colheu um outro rei, que execute a sua santa vontade"
(1 Rs 13, 14). E noutra ocasião em que o mesmo rei
Saul havia desobedecido, Deus mandou dizer-lhe: "Por
ventura o Senhor quer holocaustos e vítimas é não quer
antes que se obedeça à sua voz? A obediência vale mais'
do que as vítimas; desobedecer é como um pecado de
magia; e não querer submeter-se é como um crime de
idolatria; porque, pois, tu rejeitaste a palavra do Senhor,
Deus te rejeitou a ti, para que não sejas rei" (1 Rs 15,
22). Assim falou Samuel sob a inspiração do Espírito
Santo.
A doutrina sagrada ensina-nos que o Senhor detesta
a desobediência; considera-a como homenagem prestada
ao demônio e à vontade própria, a expensas do culto
de adoração e submissão que lhe é devido. Ao contrário,
grande valor liga ele à obediência; prefere-a a todos os
holocaustos, por ser ela um sacrifício que sobrepuja o
da esmola, da penitência e da oração. Nestes damos ap�
nas os nossos bens, o nosso corpo e as nosias obras;
mas pela obediência consagramos a Deus a nossa alma
e tudo o que é nosso, isto é, não só os frutos· da árvore,
mas a árvore com todos os seus frutos.
O' virtude sublime, que identüicas a nossa vontade vil
e abjeta com a vontade do Altíssimo! não quero mais
subtrair-me ao teu império! os teus pensamentos serão
os meus, os teus desejos os meus, e o meu livre arbítrio
não seguirá outra direção senão a tua, fonte da verda
deira liberdade. Jesus, obediente até à morte da cruz,
penetrai-me do vosso espírito, espírito de humildade,
suômissão e dependência em todas as coisas.
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2º Excelência da obediência em seus eieitos
A Símtidade consiste na renúncia própria em segui
mento de Jesus Cristo; na destruição dos nossos vícios
para o exercício das virtudes. Ora, ninguem melhor re
nuncia a si próprio e às suas inclinações do que quando
combate a vontade própria, que é a fonte de todos os de
feitos; ninguem segue melhor o �alvador na prática
das virtudes, do que quando obedece fielmente aos que
o dirigem em nome de Deus. "A obediência, dizia são
Felipe Neri, é o caminho mais curto para s_e chegar à
perfeição; os que em comunidade levam vida dirigida
por outrem, santificam-se mais depressa do que os que
de motu próprio praticam grandes macerações do corpo".
Todos os santos são unânimes nesses sentimentos.
A razão é simples: nenhuma virtude pode subsistir
fora da vontade divina, .que é a única regra da santida
de; ora, o mandamento é a sua expressão mais certa e
fiel; por isso não podemos santificar-nos e_ unir-nos a
Deus de modo mais eficaz do que conformando-nos ein
tudo aos desejos e intenções dos nossos superiores. Per
guntaram a são Basílio em que consiste o perfeito amor,
e ele respondeu: "Na união perfeita da nossa vontade
à de Deus pela obediência". Nada, pois, é melhor nem
mais importante para nós do que obedecer com perfei
ção, mormente quanto à direção da nossa alma. Desper
temos a miudo a nossa fé sobre essa verdade, e esteja
mos sempre dispostos a executar prontamente todas as
vontades dos nossos superiores. Teremos assim o méri
to de todas as virtudes, pois que estaremos sempre pron
tos a praticá-las todas.
Meu Deus, renuncio desde já aos meus projetos, de
sejos e apegos que não estiverem .de acordo com os vos
sos desígnios a meu respeito. Baní do meu espírito os
pensamentos pouco conformes à perfeição da obediên
cia, os sentimentos que obstarem à inteira submissão da
minha parte à vossa vontade. Pelos _ méritos de Jesus e
Maria, inspirai-me a resolução: 1° de ser sempre docil
203
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aos pareceres dos meus confessores, mormente nas per
turbações da conciência, na luta contra mim mesmo - e
no exercício da vida interior; 2º de nunca me queixar
quando a autoridade legítima me priva de alguma satis
fação, dalgum descanso, dalgum estudo predileto, tra
balho preferido, para me impôr trabalhos contrários aos
meus gostos e inclinações. Qum placita sunt ei,-facio sem
per.
204
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dos, descobre mil meios de prejudicar-nos sem o saber
mos. Tem ainda a seu lado o mundo, a carne e as pai
xões, sem contar as legiões de espíritos infernais de que
dispõe para combater-nos. Em seu leito de morte, san
to André Avelino, como relata santo Afonso, foi ataca
do por dez mil demônios. Temiveis, pois, são os inimi
gos da nossa salvação. Como poderemos vencê-los?
Por um só meio, a união da nossa fraqueza à onipo
tência divina. Ora, essa união não se opera com tanta
certeza e eficácia, como pelo espírito da obediência. Essa
virtude, que tem para si a palavra de Deus, o ensino
da Igreja, a doutrina dos santos e a experiência dos sé
culos, possue força maravilhosa que desconcerta e põe
em fuga todos os demônios. Os santos conseguiram por
ela assinalada� vitórias. A. seu· exemplo tenhamos o sa
lutar costume de resistir aos ataques de Satanaz, empre
gando, na Intenção de obedecer, os meios prescritos pelo
confessor para repelir as tentações e praticar as virtudes
contrárias.
Meu Deus, apoiado em vossa palavra, creio na impotên
cia dos demônios quando em combate com almas que
sabem obedecer. Proponho-me: l ° não contar comigo e
não argumentar com as tentações do inferno; 2º orar
e combater então sob os auspícios e o estandarte da obe
diência. Velut fillus Altissiml obediens (Ecli 4, 11).
2º Por que a obediência triunfa do Inferno
Por que é que a submissão da nossa vontade a Deus
e aos superiores é um meio tão poderoso para vencer
os demônios? Por tres motivos: 1º por essa virtude nós
exercemos a humildade de que são incapazes os príncipes
do orgulho, e à qual eles não podem resistir; 2º a sujei
ção do nosso livre arbítrio, diz são Gregório, triunfa fa
cilmente desses espíritos rebeldes, que estão sempre em
revolta contra Deus; 3 º a obediência, como dissemos, une
nossa fraca vontade à vontade do Todo-poderoso, e isso
nos torna fortes e invenciveis como o próprio Deus, con-
20G
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t.ra os inimigos. Volunta.ti enim ejus quis resistet (Rom
9, 19).
Mas, perguntará alguem, não é a oração um meio por
excelência de repelir os ataques do inferno? sim, con
tanto que a prece reuna as condições sancionadas pela
autoridade divina, que 'nos foi transmitida pela Igreja
e pelos santos doutores. Daí são Gregório pôde dizer:
"As outras virtudes ajudam-nos a combater a Satanaz;
a obediência nos faz triunfar dele". São Paulo atribue
os efeitos da Redenção não às súplicas do Homem-Deus,
mas à suá obediência (Rom 5, 19). Alhures ele escre
ve: "Quem combate na arena só será coroado se tiver
combatido legitimamente" (2 Tim 2, 5); isto significa:
segundo as regras prescritas, as leis estabelecidas, os
meios apresentad_os pela autoridade dos superiores, e em
pregados fielmente em espírito de fé e submissão. Sem
estas condições não teremos nem vitória nem coroa.
Sondai o vosso coração: que fazeis da direção espiri
tual? não a reduzís à simples absolvição dos vossos pe
cados? São Pedro Claver, apóstolo dos pretos, prestava
diariamente a seus superiores conta exata das suas ora
ções e penitências e dos menores movimentos da sua al
ma; pedia-lhes o conduzissem e reformassem como jul
gassem preciso. Ele grande mestre na vida espiritual,
não se cria seguro quando decidia por si mesmo; e vós,
tão atrasados, pretendeis dispensar um guia espiritual?
Jesus e Maria, modelos de obediência, fazei que eu en
contre nos conselhos e decisões de meus superiores a
força que me falta: 1 º para. agir não por vontade pró
pria, mas _na intenção de obedecer; 2º para. sofrer ou
suportar as penas diárias, não a contra gosto mas com
amor e alegria; 3 º para vencer todos os inimigos da mi
nha alma, mormente os que me prendem às minhas idéias,
aos meus gostos particulares e me tornam escravos do
amor próprio, da concupiscência e do egoísmo.
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7 DE JULHO - DA VONTADE PRõPRIA
PREPARAÇÃO. O maior inimigo da obediência é a
vontade própria. Para dele triunfarmos, meditaremos:
1" o que ele é; 2 º o mal imenso que nos causa. "Afas
tai-vos da vossa vontade", clama-nos o Espírito Santo
(Ecli 18, 30), isto é, renunciai-a em toda ocasião, mesmo
a respeito dos vossos iguáis, afim de melhor cumprir a
vontade de Deus que vos quer inteiramente. A volun
tate tua avertere.
207
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como causa única das desgraças da vida presente e da
futura.
Esses motivos são de molde: 1" a fazer-nos renunciar
às nossas repugnâncias e fantasias em oposição à von
tade divina; 2º a abafar as nossas queixas nas contradi
ções e contrariedades. Deveríamos antes agradecer aos
que nos afligem, porque nos prestam com isto insigne
serviço matando o mais cruel dos monstros, que é o nos
so amor próprio.
Jesus, morto por obediência, destruí em mim o horror
instintivo do sofrimento e os desejos vãos de satisfazer
me. Inspirai-me o amor da abnegação: fazei que ponha
a minha felicidade na renúncia aos meus gostos, às más
inclinações, e- à vontade própria para cumprir a vossa
em todas as coisas.
208
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confiando sempre de si mesmo, não acham repouso neiri
segurança senão numa perfeita submissão.
Queremos, como eles, triunfar das nossas paixões e in
clinações que tiram sua força e veneno da vontade pró
prfa? Proponhamo-nos: 1º praticar obediência inteira
submetendo-nos sem reserva a todos os preceitos de Deus
e da Igreja; 2º observar pontualmente o nosso regula
mento de vida; 3º cumprir todos os nossos deveres de
estado, de piedade, decência e caridade na intenção de
obedecer; tomar, nesse espírito, as nossas refeições e
recreios; trabalhar, escrever, ocupar-nos com o desejo
contínuo de executar a vontade divina. Assim sacudire
mos o jugo do arbitrário e da fantasia; observaremos
a máxima de são Vicente de Paulo, que dizia: "Nada fa
çamos por movimento natural, por interesse, inclinação,
humor e capricho; acostumemo-nos antes a fazer em
tudo a vontade de Deus".
Jesus e Maria, fazei que me habitue a repetir sempre:
"Senhor, não a minha satisfação, mas a vossa; não o
que me agrada, mas o que vos contenta, vós só em tudo".
Non mea. volunta.s na.t, sed tua.
8 DE JULHO
E' PRECISO MORTIFICAR AS PAIXOES
PREPARAÇÃO. Sendo a vontade própria o princípio
de todas as nossas más inclinações, devemos combater
estas para melhor reprimirmos aquela. Para esse fim,
meditaremos: l º os motivos de reprimirmos as paixões;
2º os efeitos dessa repressão necessária ao nosso progres
so. - Tomaremos a resolução de velar sobre nós e de
extirpar pouco a pouco o nosso defeito dominante por
meio do exame particular. Contendite intrare per angus
ta.m portam (Lc 13, 24).
Bronchain II - H 209
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1 º Motivos de mortificar as paixões
Os vapores obscurecem o sol e as paixões depravadas,
a razão. Segundo o apóstolo, elas são a raiz de todos os
males, e por elas muitos erraram na fé (1 Tim 6, 10).
Lede a história dos heresiarcas e vos convencereis de que
as suas perversas inclinações foram a causa da sua rui
na. A paixão é como uma nuvem que se mete entre a
alma e Deus. O espírito é então aclarado só pelo vislum
bre da razão natural e, nesse estado, de quantos erros
não se torna capaz?! Daví, cego pela concupiscência, co
meteu dois grandes crimes, que lançaram a ele e a sua
família em desgraças extremas.
Sempre de acordo com o mundo e o demônio, as nos
sas más inclinações tornam-se, em suas mãos, os instru
mentos da nossa ruina. E quantas tristes vítimas não
conquistam elas todos os dias! Prometendo a felicidade
a quem as escuta, pervertem o coração humano, levan
do-lhe a perturbação, a agitação, os remorsos. "Donde
nos vêm, pergunta são Tiago, essas resistências à razão,
e esses combates sempre renascentes? - e responde: -
Das concupiscências que militam em vós" (Tg 4, 1).
Se vos não acautelardes e não lhes resistirdes cons
tantemente, a vossa vontade razoavel tornar-se-á vítima
delas; e, então, que desordem em vossa alma! A natu
reza e seus instintos a dominarão e a reduzirão à escra
vidão. Quantos desses vergonhosos cativos não se en
contram no meio do mundo! O demônio os retem presos
pelos laços das suas paixões; condú-los, à sua vontade,
como um bando de escravos e deles se serve para cor
romper e contagiar os outros. Captivi tenentur a.d lp
sius voluntatem (2 Tim 2, 26).
Examinai: 1º se não há em vós algum vício ou incli
nação não mortificada, causa ordinária dos vossos tran.s
portes, maledicências, indiscrições e do hábito de vos
louvar e rebaixar os outros; 2º se estais sempre prontos
a reprimir e regrar os vossos sentidos e carater em to
das as eventualidades, para não manchardes o vosso co-
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ração nem contrariardes o próximo. Combatei doravante
esses defeitos por meio da oração, da vigilância e da
prece no momento da luta.
Meu Deus, inspirai-me a coragem de me fazer violên
cia, afim de me chegar a vós na medida que me afasto
de mim mesmo e do meu amor próprio. Tantum profi
cies quantum tibi ipsi vim intuleris.
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graça e a submeter-nos à. vontade cie beus. Se a abne
gação nos fosse habitual não sentiríamos tanta tristeza
pela afronta, exprobração, falta de atenção, censura ou
humilhação. Não ficaríamos desgostosos quando nos
confundem, molestam, contrariam e contradizem. Don
de vêm então as nossas queixas, tristezas, murmura
ções, senão do nosso amor próprio sempre vivo, embora
devesse estar morto ou mortificado há tantos anos?
Meu Deus, estou ainda bem longe da calma impertur�
bavel dos santos, que, despojados da vontade própria,
aspiravam unicamente à ventura de viver unidos a Je
sus crucificado. Pela intercessão da Rainha dos márti
res, inspirai-me a coragem de reprimir minhas inclina
ções e de corrigir os meus defeitos mormente a minha
paixão dominante.
9 DE JULHO.
OITAVA DA VISITAÇÃO - OBEDIJ!:NCIA DE MARIA
PREPARAÇÃO. Obediente ao Espírito Santo, Maria
visitou sua prima Isabel. Desejando imitá-la, considera
remos: 1 º a perfeição da sua obediência; 2 º como Deus
a recompensou. - Se quisermos tornar muito meritórias
as nossas ocupações diárias, tomemos a resolução de fa
zê-las em espírito de humildade, submissão e dependên
cia sem nenhum apego à nossa vontade. Mens justi me
dlta.tur obedlentia.m (Prov 15, 28).
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tão solene, nada julgou melhor apresentar a Deus do que
uma alma inteiramente submissa à sua vontade.
Com que prontidão e fidelidade executa ela os meno
res desejos do céu! O anjo insinua-lhe prestar serviços
a Isabel: parte incontinenti para Hebron e vai submeter
se à vontade alheia. "Serva fiel, diz santo Tomaz de Vi
lanova, jamais contradisse ao Criador". Semelhante ao
metal fundido, sua alma tomava sempre as formas que
Deus lhe dava. "Toda a sua vida, diz são Bernardino de
Sena, passou-a em procurar a vontade do Senhor e exe
cutá-la em tudo sem a menor resistência".
Vejamo-la deixar Nazaré e dirigir-se a Belém por or
dem dum imperador pagão. Sigamo-la ao templo onde
vai cumprir as ceremônias da lei, arriscándo-se a passar
por mulher vulgar, ela, a Virgem das virgens. Acompa
nhemo-la até ao Egito, onde a desterra a vontade de
José advertido pelo anjo, e onde se demora todo o tem
po determinado por seu casto esposo, intérprete para
ela das ordens de Deus. Sempre submissa a esse guarda
fiel, passa sua vida obedecendo-lhe na casa de Nazaré.
E, chegado o tempo da realização dos desígnios divinos
quanto à imolação do seu Filho, acompanhou Jesus ao
Calvário e permaneceu em pé junto à cruz ignominiosa,
afim de sacrificar-se com ele.
Quem nos dirá quão agradavel foi ao Senhor essa obe
diência de Maria! Contribuiu, com a de Jesus, para li
vrar-nos do inferno e -para abrir-nos a porta a nós fe
chada pela desobediência dos primeiros pais.
Minha dulcíssima advogada, considerai minha extrema
miséria: em vez de imitar a vossa perfeita docilidade,
não posso receber ordem alguma sem examinar-lhe os
motivos e as dificuldades de execução; dai as repugnân
cias, a lentidão em obedecer, e muitas vezes queixas e
descontentamentos. Virgem santíssima, obtende-me mais
fé, mais prontidão e generosidade no desempenho dos
meus ofícios e na prática dos meus deveres. Que meu
espírito e meu coração sejam sempre dirigidos e santi
ficados pela intenção de obedecer. Mens jmtti meditatur
obedientiam,
213
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2º Como Deus recompensou a obediência de Maria
1
cum
lidade à vontade divina. Por ela cumpriu-se em vós a
palavra do Mestre: "Se permanecerdes em mim e
prirdes .os meus preceitos,_· pedí o. que desejardes e rece
bereis" (Jo 15, 7).
• Grande poder teríamos sobre o coração de Deus se, co
mo Maria, fôssemos sempre prontos a obedecer-lhe. To
memos a resolu�ão: lº de nunca resistirmos às or
dens, desejos, ou intenções dos nossos superiores, mas
de. executar com amor e prontidão as suas vontades com
o intuito de agradarmos a Deus; 2º de sermos doceis
aos movimentos da graça, aproveitando as luzes e ins
pirações que nos vêm do Espírito Santo que com elas
quer estabel.ecer o seu reino em nós e fazer-nos partici
pantes dos seus bens.
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Maria, minha terna Mãe, avivai a minha fé quanto aos
motivos que devem animar a minha obediência. Fazei
me docil e fiel como vós; dai-me a força de triunfar das
minhas repugnâncias e de cumprir todos os preceitos di
vinos, mormente os que contrariam os meus gostos, fe
rem o meu orgulho e fazem morrer o amor próprio.
215
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mais, arrancamos a estes a sua força e principal apoio.
Eis o meio mais seguro de nos santificarmos em pouco
tempo.
Cada manhã, pois: 1 º Proponde-vos viver recolhidos
e possuir sempre a vós mesmos, para não perderdes a
paz, que outorga à alma o império sobre suas más incli
nações. Nossa razão nunca é mais aclarad_a e capaz de
submeter as paixões do que evitando a perturbação quan
do tudo ao redor dela se manifesta confuso aos sentidos
e à imaginação; 2º decidí-vos a resistir a toda má incli
nação que durante o dia procurar seduzir-vos e vencer.
Diz a Imitação: "Se como os homens de coragem nos
conservarmos firmes no combate, veremos certamente o
socorro do céu baixar até nós e poderemos tudo executar
com facilidade".
Jesus crucificado, dai-me a força de domar o vício ou
a má propensão que me domina, seja o orgulho com suas
pretensões ou suscetibilidades; seja a cólera com suas
aversões, transportes e rudezas; seja a insubordinação
com suas fantasias, caprichos e descontentamentos; seja
enfim a sensualidade com suas lassidões, inércia, imor
tificações e perigosos apegos. Inspirai-me o espírito de
oração, para que dela tire a coragem de renunciar-me
em toda ocasião segundo o vosso preceito: Si quis vult
post me venire, abneget semetlpsu.m.
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c1p10 a tentação é quasi sem força; 'mas uma vez cres
cida e fortalecida pelo tempo, torna-se terrível e expõe
nos a graves quedas. Alguem, por exemplo, sente-se le
vado a responder com azedume quando contrariado, ou
a contemplar, em cada ocasião, uma pessoa que lhe
agrada; deve resistir imediatamente, "do contrário, diz
santo Efrém, essa pequena chaga, não fechada de iní
cio, torna-se úlcera incuravel".
última condição da vitória final é nunca pactuarmos
com o defeito que nos domina. Quando o 'julgamos ador
mecido, desperta m,uitas vezes e nos faz novos assaltos.
E' preciso repriníí-lo não só nas ocasiões importantes,
mas tambem na multidão dos pequenos encontros onde
a repressão parece menos necessária. E' até indispensa
vel prevenir-lhe os ataques, conservando-o sempre pre
so por meio de vigilância e mortificação contínuas.
E' esta a vossa tática? Não afagais, em vez de com
bater, essa má inclinação que vos é tão cara? e tão cara
porque vos é natural, ou mais conforme ao vosso tem
peramento, ao vosso carater, à estima e ao amor que
vos tendes? Acautelai-vos: ela poderá trair-vos e érive
nenar-vos quando .a acariciais.
Jesus, fazei que me vença por meio da oração e da
vl.gilância. Dai que sempre recorra a vós e a Maria na
luta contra os meus defeitos, mormente contra aquele
que fornece mais matéria às minhas acusações no tri
bunal da penitência.
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1 º Motiyos de obedecer cegamente
A perfeição da obediência exige a sujeição de toda.
a nossa alma, isto é, do nosso juizo e da nossa vontade.
Ora, controlando e censurando as disposições dos supe
riores, tiramos ou retemos parte do holocausto de nós
mesmos, sacrüício exigido pela autoridade do Criador,
autoridade absoluta e universal. Com isso, em vez de lhe
rendermos a glória que lhe é devida, deshonramos a sua
sabedoria, dando preferência às nossas idéias. Injustiça
clamorosa e presunção ruinosa!
Jesus recomendou aos apóstolos, príncipes da Igreja,
fossem simples como as crianças, que executavam as or
dens sem exame. São Felipe Neri formava os seus discí
pulos nessa obediência cega; "nada é tão perigoso, dizia
ele, como o hábito de alguem se conduzir por suas pró
prias luzes". "Fazei todo o possivel, acrescenta o vene
ravel João de Ávila, para destruir a vossa vontade, es
pecialmente o vosso juizo próprio e o vosso modo de
sentir, que é a ruina da consolação celeste, o inimigo da
paz interior, o pai da divisão, censor dos superiores, re
voltoso contra a obediência, ídolo .no_ templo de Deus.
Não provará a árvore da vida quem comer com excesso
da árvore da ciência". Essa linguagem de tão grande
Mestre condena os nossos arrazoados, murmurações e
repugnâncias no cumprimento dos nossos deveres.
E por que temeríamos confiar-nos à direção dos nossos
legítimos superiores? não têm eles a graça de estado pa
ra nos governar? A sabedoria de Jesus, cujo lugar eles
ocupam, não saberá desviar ou remediar os inconvenien
tes que se oferecem ao nosso espírito murmurador? fa
lo-á se soubermos submeter-nos humildemente. Nume
rosos exemplos provam esta asserção.
Meu Deus, é bom que nos abandonemos sem exame,
sem inquietação a vossos representantes sobre a terra.
Submetemos assim a razão à fé e agimos por luzes mais
fortes do que as da ciência. Preservai,me do funesto cps
tume de julgar, ÇJ;'!ticar, desaprovar 9 que. me mandam,
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ou de replicar e objetar aos que me dão ordens em vosso
nome. Comunicai-me o espírito de fé e a coragem de obe
decer prontamente, de bom coração e sem discutir, a to
dos que me governam. ln simplicitate cordÍs vestri, sicut
Christo.
2º Meios de conseguir a obediência
O primeiro meio é considerar a miudo o mal causado
à nossa alma pela insubordinação de nosso juizo; torna
mos assim a obediência extremamente dificil e sem mé
rito. Quando o demônio quis tentar os nossos primeiros
pais, começou perguntando a Eva por que Deus lhes ha
via proibido de comer de todos os frutos do paraisa. Em
vez de evitar a discussão, a infeliz arrazoou com o ini
migo: o que foi a causa da sua ruina e da nossa. Quan
tas vezes, por reflexões críticas, provocamos em nós mil
dificuldades e repugnâncias que nos tornam penoso o
jugo tão doce da obediência!
Outro -meio de formar o nosso espírito e submeter-se
com simplicidade é ter sempre sob os olhos o exemplo
de Jesus Cristo. Poderá alguem recusar ol;>edecer com
o abandono duma criança, contemplando o Verbo in
carnado a praticar a obediência em Belém, no Egito e
em Nazaré, no pretório,. no Calvário e na Eucaristia?
Jamais contradiz à legítima autoridade, mas mostra-se
constantemente nosso modelo no exercício duma obediên
cia cega, simples e sem reserva. Ego autem non contra
dico (Is 50, 5).
Vós que vos julgais mais aclarados do que os vossos
superiores, credes ter aprovações de Jesus Cristo quan
do, em oposição à su_a doutrina e vontade, ousais des
aprovar antes de executardes o que vos foi prescrito?
Por mim, diz o Salvador, "julgo COJDO ouço" (Jo 5, 30)
cumpre as ordens sem fazê-las passar pelo crivo do exa
me. Procedei assim, obedecei sem incomodar�vos com as
objeções do vosso espírito criticador. Sicut audio, judico.
Jesus obediente, as ordens dadas em vosso nome são
COJilO a lâmpada que açlara 911 nossos passos (Prov 6,
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23). Nada, pois, é sábio, perfeito ou meritório como a sua
execução. Dai-me a força de obedecer doravante sem es
cutar as repugnâncias da prudência humana, pois que a
prudência que jamais ilude está encerrada na obediên
cia. Prudentem me fecisti mandato tuo (SI 118, 98).
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mundanos são escravos cio orguiho, eia avareza, dos pra•
z�res sensuais que matam as almas; os verdadeiros cren
tes, porém, gozam da liberdade dos filhos do Pai celes
te, liberdade santa e sublime, que dilata o cora-ção, o en
volve, o faz superior às paixões e o une estreitamente à
infinita majestade. Não vos achais presos por algum de
feito, algum laço terreno ou pequeno fio de afeição que
vos impede de serdes somente de Deus? São Vicente de
Paulo dizia: "O amor próprio muitas vezes nos faz crer
que servimos a Deus naquilo em que procuramos apenas
a nossa satisfaçãot'.
Jesus, quantas vezes dou ouvidos às minhas inclinações
ou repugnâncias no cumprimento dos vossos preceitOB !
Fujo horrorizado da humilhação em vez de aceitá-la por
vosso amor; comprazo-me em mim mesmo e nas minhas
ações em vez de glorificar-vos em tudo. Dai que marche
sobre as pegadas dos apóstolos, dos mártires e dos san
tos que se aniquilaram e vos serviram sem interease,
sem respeito humano, sem procurar a estima própria,
mas unicamente para glorificar vossas infinitas perfei
ções. Inspirai-me os seus sentimentos e a sua fidelida
de em obedecer-vos em tudo; pois que nisso consistem
a grandeza. sólida e a verdadeira realeza. Servire Deo re
gna.re est.
2 º Felicidade de servir a. Deus
A felicidade de um servo está na vontade do seu se
nhor. Mas que senhor é comparavel a Deus, que nos per
mite dizer-lhe "Pai nosso", e que o é de fato. Nada igua
la a sua caridade para conosco. Toda a sua atividade
neste mundo e a ação da sua providência procura sem
cessar o nosso bem.
Proibe-nos o peca.do, por ver nele o maior de todos os
males, o mais contrário à nossa paz interior. Manda-nos
exercer as virtudes por serem, a seus olhos, meios efica
zes de nos fazer felizes não só na outra vida mas tam
bem nesta. Exige de nós a paciência. nos sofrimentos, por
que a resignação os adoça _e os torna meritórios. Reco
menda-nos a oração e os sa.cramento11, porque são para
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nós fontes inesgotaveis de luzes, força e consolações.
E', pois, verdadeira a palavra do divino Mestre: "O meu
jugo é suave e o meu peso é leve" (Mt 11, 29).
Sem dúvida o serviço de Deus tem aparências auste
ras; é sério, exige o recolhimento, a fuga dos prazeres
perigosos e a prática da mortificação dos sentidos e das
paixões; mas essas aparências, espantosas para o mun
dano, ocultam alegrias e suavidades inefaveis. Para com
preendermos esse mistério é necessário que entremos na
piedade sólida; Deus se nos comunica e nos faz participar
da sua felicidade na medida da nossa fidelidade. Quem
dá pouco recebe pouco; mas a beatitude e os favores
abundam nos corações dos que amam a Deus sem parti
lha. Gosta.te et videte.
Examinai o que vos impede de serdes inteiramente de
Jesus: será a vaidade, a dissipação, o amor do século, o
desejo da estima? ou talvez o apego às satisfações pas
sageiras, à vida mole, ociosa e sensual? Para servirdes
a Deus com fervor, exercitai-vos na oração, na vigilân
cia, na abnegação, sob a direção da graça e dos que di
rigem a vossa ahna.
Jesus, sou feliz no vosso serviço, porém não tanto
quanto o seria, se vos fosse inteiramente fiel e cons
tantemente desapegado. Pela intercessão de vossa san
tíssima Mãe, desprendei-me de mim mesmo e de tudo
que é criado. E se ainda não amar o sofrimento e a mor
tificação, e.amo os santos, dai que ao menos não fuja sem
pre dos incômodos e do trabalho, da fadiga e sofrimen
tos no cumprimento dos meus deveres.
13 DE JULHO
FIDELIDADE AOS NOSSOS DEVERES
PREPARAÇÃO. O serviço de Deus, ou a obediência
devida ao Senhor, impõe-nos deveres a cumprir. Quais
os motivos para desempenharmos com cuidado: l° os
deveres de piedade ; 2º os deveres de estado? - Como ra-
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malhete espiritual recordemo-nos da palavra do após
tolo: "A piedade é util para tudo. Cumprí os deveres do
vosso cargo" (2 Tim 4, 5). Unamos, pois, a oração às
ocupações quotidianas, afim de santificarmos todos os
nossos instantes. Pietas ad omnia utilis est. Ministeriurn
tuum irnple.
l" Motivos de cumprir os deveres de piedade
Deus exige com razão as nossas homenagens por cau
sa das suas grandezas, do seu domínio soberano, da sua
excelência essencial. Prestamos-lhas pelo exercício de pie
dade. Durante a oração humilhamos o nosso espírito em
sua divina presença; confessamos a nossa indigência e
miséria, glorificando assim a santidade do Altíssimo.
Pelo sacrifício da Missa prestamos-lhe honra infinita,
louvor e ação de graças ilimitados; oferecemos-lhe a ho
menagem de adoração, submissão e reconhecimento, de
vida a seus divinos atributos e inumeraveis benefícios.
Outrossim é isso um excelente meio de enriquecer-nos
dos bens do céu. "Quem pede, recebe, disse o Salvador;
qu�m procura achá, e a quem bate será aberta a porta".
Et pulsanti aperietur (Lc 11, 10). Ora, pela oração, mis
sa, comunhão e outras práticas piedosas, pedimos, pro
curamos, batemos. Reclamamos de Jesus os socorros
necessários à nossa alma; procuramo-lo como Pão de vi
ela, Bem supremo e eterno; batemos à porta do seu co
ração, afim de obtermos as graças de salvação. Se, pois,
multiplicarmos os atos de súplica nos exercícios de cada
dia, o nosso progresso acentuar-se-á cada vez mais.
Sendo os nossos deveres de piedade o cimento da nos
sa união com Deus, na medida que lhes formos fiéis, au
mentarão a luz, a força, a coragem e a confiança nos
nossos corações e ajudar-nos-ão a conformar-nos à von
tade divina. Daí a constância dos santos em entreter-se
com o Senhor para apertar os laços que a ele os uniam.
Sois· exatos, como eles, em fazer todas as manhãs a
vossa meditação com religião sincera e atenção firme,
como um ato da mais alta importância? Não negligen-
223
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cials a prãtica cio exàtrie, da ieitura espirituai, eia boa
intenção e das orações jaculatórias?
Meu Deus, que contas vos tereis de dar por não ha
ver aproveitado 'tantas ocasiões de meditar, orar, ouvir
missa, confessar-me e comungar! Fazei-me conhecer que
exercícios eu tenho praticado com menos cuidado. Au
mentai em mim o fervor do espírito e do coração e dai
me a graça de seguir pontualmente até à morte o meu
regulamento de vida, afim de que dele tire cada dia a
vontade sincera de prestar-vos minhas homenagens, de
obter a vossa assistência e de unir-me estreitamente a
vós. Picta.s ad · omnia. utilis est, promissionem ha.bens vi
tre, qure nunc est, et futurre.
224
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é que harmonizemos os nossos deveres de estado com os
nossos deveres de piedade.
Examinai, pois: lº Se não sois imprevidentes, indolen
tes, negligentes nas funções, empregos c trabalhos que
vos são confiados, ou nas obrigações do vosso estado,
da vossa vocação; 2º fazeis tudo com ordem e cuidado,
sem deixar para mais tarde o que pode e deve ser feito
no momento? 3º evitais sempre a precipitação natural?
Não é o número, mas a perfeição das ações que santifi
ca; fazei-as, pois, com calma, em espírito de oração, sob
a dependência de Deus e com a única intenção de confor
mar-vos à sua santa vontade. "Essa prática encerra, emi
nentemente, dizia são Vicente de Paulo, a mortificação,
a submissão sem reserva, a abnegação própria, a imi
tação de Jesus Cristo e a união com o soberano Bem".
Meu Deus, pelos méritos de Jesus e Maria, dai-me a
graça de unir a oração à ação, o espírito de fé às ocupa
ções e acontecimentos de cada dia, afim de cumprir to
dos os meus deveres de maneira a vos glorificar, a me
santificar, a edificar o próximo, e a vos testemunhar o
mais sincero amor.
14 DE JULHO
SÃO BOAVENTURA, DOUTOR DA IGREJA
Bronchain II - 15 225
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1º Ciência e virtude de são Boaventura
226
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nele a vossa confiança, implorando o seu socorro. Diz san
to Agostinho: "Sede como os mendigos que pedem es
mola e importunam a caridade dos ricos até a conse
guirem".
Meu Deus, a minha tão grande e contínua miséria de
veria forçar-me a recorrer sempre a vós e com fervor.
Dai-me o mais vivo desejo de santificarame, -uma grande
desconfiança de inim mesmo e uma sede ardente da
oração mesmo no meio das ocupações. Ego autem men
dicus sum et .pauper; Dominus sollicitus est mel (Sl
39, 18).
2º União de são Boaventura com Jesus Cristo
Jesus é o Verbo ,divino que ilumina todo homem que
vem a este mundo. O mais seguro meio de ser aclarado e
santificado é unir-se a ele, como o fez são Boaventura.
Esse amavel santo afirmava haver haurido todos os seus
conhecimentos das chagas do Crucificado; meditar a pai
xão era a seus olhos a mais alta sabedoria. Lá encontrou
ele a perfeição da justiça, a plenitude da ciência, a abun
dâ�cia dos méritos, as riquezas da salvação. As ocupa
ções exteriores não conseguiam afastá-lo da presença do
seu Mestre; tinha-o sempre diante do seu espírito para
se conformar com seus exemplos.
Ordenado sacerdote, oferecia com amor a augusta ví
tima e permanecia sempre unido a ela. "A comunhão, di
zia ele, dá-nos imensas vantagens: a remissão dos pe
cados, o enfraquecimento da concupiscência, a ilumina
ção do espírito, a refeição interior, a incorporação a Je
sus Crisfo, e a seu. corpo místico, a confirmação na vir
tude, a força contra o demônio, a certeza inabalavel da
fé, o aumento da esperança, o ardor da caridade".
A sua devoção ao celebrar os santos mistérios mani
festava-se por lágrimas abundantes e conservava-lhe a
impressão durante o dia inteiro. Em seu leito de morte,
docemente aflito por não poder comungar em viático, de
vido à enfermidade, pediu lhe aproximassem do peito a
sagrada hóstia, para lhe sentir os salutares efeitos. Mas,
15* 227
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ó prodígio ! a hóstia, evadindo-se da mão do sacerdote,
colocou-se sobre o coração do moribundo, e penetrou
nele, imprimindo por um instante o traço sensivel da sua
passagem. O santo enfermo prorrompeu em transportes
de ação de graças. e expirou no ósculo do Senhor.
Oxalá possamos morrer assim! Tornemo-nos dignos
dessa graça por uma devoção terna e ardente para com
Jesus padecente e Jesus imolado sobre os altares.
Salvador meu, luz do mundo e fornalha do divino amor,
aclarai-me e inflamai-me à recordação da vossa paixão e
da vossa imolação nas igrejas. Pelas preces da . Media
neira da nossa salvação e de são Boaventura, seu servo,
dai-me fé viva nesses mistérios e o cuidado de_ meditá-los
assiduamente, afim de haurir os seus abundantes frutos
de santificação para mim e para o próximo.
TERCEIRO DOMINGO.
O SANTISSIMO REDENTOR
PREPARAÇÃO. "Que seria de nós, pergunta santo
Afonso, se não tivéssemos Jesus Cristo?" Meditaremos
amanhã: l ° quem é Jesus, nosso amavel Redentor; 2º
quais os seus benefícios para conosco. - Tenhamos pa
ra com ele sentimentos de amor, reconhecimento e con
fiança; somos-lhe infinitamente obrigados pelos benefí
cios imensos da Redenção. Copiosa apud eum Redemptio
(SI 129, 7).
l° Quem é Jesus, nosso Redentor
Aquele que nos resgatou do inferno é o Messias es
perado por todos os povos e todas as gerações, durante
quatro mil anos. E' o Verbo eterno pelo qual foram cria
das todas as coisas. "Esplendor da glória do Pai, é a
imagem consubstancial de sua essência divina, e sustém
todas as coisas pelo poder .da sua p�lavra (Col 1, 15-17).
Incarnando-se, é o "Admiravel conselheiro, Deus forte,
Pai do século futuro" como fala Isaías (Is 9, 6). Pro
metido a Adão no paraíso terreal, suspirado pelos pa-
228
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triarcas e predito pelos profetas, foi a espectação das
nações e o desejado das colinas eternas.
Brilho intenso lançou ao mundo por sua doutrina, vir
tudes e milagres. O Pai celeste dá-lhe testemunho públi
co; os anjos gloriam-se em serví-lo; toda a natureza se
apresta a se lhe submeter. O seu poder cura os enfer
mos, expulsa os demônios, acalma as tempestades e res
suscita �s mortos. Com uma só palavra lança por terra
a coorte de soldados que o iam prender no jardim das.
Oliveiras. Embora cravado na cruz e nas vascas da ago
nia, manda ao sol negar a sua luz aos homens deicidas.
Em sua morte, a terra treme, os sepulcros abrem-se, os
rochedos fendem-se, os inimigos do bem confundem-se e
o inferno tremebundo é constrangido a largar a presa,
isto é, o gênero humano resgatado. O' grandeza e poder
daquele que nos eleva pelo aniquilamento e pela fraque
za! Se a sua fraqueza opera tais prodígios, que não fará
a sua força divina? se manifesta tanto brilho ao mor
rer e perdoar, que sucederá quando, triunfador e juiz,
vier pedir-nos contas do emprego da nossa vida e das
graças recebidas?
Divino Redentor, ressuscitado dentre. os mortos por
vossa própria virtude e elevado por vossos méritos às al
turas do céu, não contente de restaurardes a humanidade
perdida,. vós a fizestes sentar-se, em vossa pessoa sagra
da, à dextra do Padre eterno, acima dos querubins e dos .
serafins: Quem não bendirá a vossa bondade generosa,
e, sobretudo, quem não se entregará a vós sem reserva?
Eu, mísero pecador, vejo-me amado por vós até à lou
cura da cruz, loucura renovada e perpetuada no altar,
no tabernáculo e na santa mesa; e eu vos não amaria?
Vejo-vos vítima, prisioneiro e alimento da minha alma
e não viveria unicamente para vós? Jesus, prometestes
que, uma vez elevado da terra, atrairíeis a vós todos os
corações; atraí, pois, o meu, afim de uní-lo ao vosso e
fazer dele vítima do vosso amor pelo exercício das vir
.tudes, mormente da obediência, do desapego e da pa
ciência.
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2º Benefícios de Jesus, nosso Redentor
Para apreciarmos os benefícios feitos ao gênero hu
mano por nosso amavel Salv:;,.dor, deveríamos compreen
der os males que nos vêm do pecado original, os crimes
por ele causados há seis mil anos, e os. flagelos do gê
nero humano por ele ocasionados, sem excetuar os tor
mentos eternos. Por sua morte o nosso Redentor reme
diou a tudo. Não contente de apagar as nossas iniqui
dades, tomando sobre si os castigos que nos eram devi
dos, lavou em seu sangue as nossas almas, tornou-as be
las a seus olhos, adornou-as de virtudes e forneceu-lhes
todos os meios de se aproveitar da redenção. Os seus
méritos, qual oceano sem margem, não só bastam às al
mas redimidas, mas seriam até superabundantes para
uma infinidade de mundos.
Mas como é que Jesus nos envia as águas vivificantes
da sua graça? Por numerosos canais que são: o batis
mo, a penitência, a Eucaristia e os outros sacramentos,
o sacrifício dos nossos altares, a oração sob todas as suas
formas, a intercessão de Maria, dos anjos, dos santos,
dos piedosos fiéis e mesmo das almas do purgatório. Se
todas as gerações passadas pudessem dirigir-nos a pa
lavra, que testemunho glorioso não dariam dos benefí
cios inumeraveis do nosso divino Reparador. Há dezeno
ve séculos a Igreja os menciona, os perpetua cada dia
dum polo ao outro, e não há no céu e na terra uma al
ma que não sinta os seus preciosos efeitos. Nós, que tão
largamente participamos desses bens, somos-lhe reco•
nhecidos? Não pretendemos acaso obter o fim sem os
meios, isto é, _ os socorros celestes sem a oração e os sa
cramentos, a fé viva sem a meditação das verdades re
veladas, a humildade, a paciência sem humilhação ou
contrariedade, a caridade, a mansidão sem suportar os
defeitos alheios; numa palavra, todas as virtudes sem
o exercício da abnegação, de que Jesus nos deu o exem
plo, e que ele tantas vezes nos recomenda no Evangelho?
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Amavel Salvador meu, tudo em mim vos pertence;
disponde de mim como vos aprouver. Consagro-vos a
minha vontade, afim de que seja toda vossa; tornai-a ge
nerosa, docil, sempre pronta a sacrificar-se para agradar
vos. Tomo a resolução: 1 º de agradecer-vos cada dia por
me terdes resgatado, purificado, santificado com vosso
precioso sangue; ,2º de meditar muitas vezes vossa dolo
rosa paixão, afim de aprender as virtudes contrárias aos
meus defeitos. Pela intercessão de Maria, vos�a divina
Mãe, estabelecei em mim o vosso reino, como o fizestes
nos corações dos santos, vossos fiéis discípulos. Rl:de
misti nos, Domine, in sanguine tuo, et fecisti nos Deo
nostro regnum.
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candidam. Recebei a veste cândida e levai-a sem man
cha até ao tribunal de · Jesus Cristo". Depois acrescen
tou: Accipe lampadem ardentem: "Recebei a lâmpada
ardente e guardai o vosso batismo por conduta irrepreen
sível. Só assim o Senhor, entrando na sala das núpcias
eternas, vos encoI_1tr3:.rá entre os santos que virão adiante
dele" (Ritual Romano).
Essas recomendações feitas por Jesus e sua Igreja,
temo-las observado sempre? Satanaz, o pecado, o mun
do, banidos então do nosso coração, não se apossaram
dele novamente? Nós prometemos e juramos e não de
vemos mais relacionar-nos com eles. Mas, ai! que acon
teceu? Mal saidos da infância e de posse da razão, tal
vez já tenhamos manchado e rasgado a veste cândida
da inocência batismal; filhos adotivos de Deus, nos re
voltamos contra o nosso Pai. Quão poucos são os que
escapam a esta regra? Se, por um benefício especial da
Providência, sois desse pequeno número, dai glória ao
Senhor; se não, chorai e gemei para lavar essa veste
preciosa nas lágrimas da penitência, e restituir-lhe sua
primeira alvura.
Meu Deus, não me deixeis viver jamais na negligên
cia e lassidão, afim de que me· não torne como as virgens
loucas que chegaram tarde às nupcias do esposo. Fazei
me como- as virgens sábias e prudentes, que, pela vigi
lância, pela prática da piedade e da virtude, pelo bom
emprego dos seus momentos, estão sempre preparadas
para seguir o Cordeiro imaculado. Renovo de todo o co
ração as promessas do meu batismo, resolvido a romper
com todos os laços de pecado e a fazer-vos reinar em
minha alma. Estabelecei em mim o vosso império sub
metendo-me aos vossos desejos e vontades. Redemisti
nos, Domine, in sanguine tuo et fecisti nos Deo nostro
regnum.
2 º Votos de religião
Para aperfeiçoar em nós os votos do batismo e for
talecer mais em nós o reino de Deus, o nosso amavel
Redentor revelou-nos os conselhos evangélicos, isto é,
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a pobreza voluntária, a castidade perpétua e a obediên
cia inteira. Os religiosos empenhados pelos votos a ob
servar esses conselhos, renunciam de livre vontade à pos
se das riquezas, aos prazeres sensuais e à sua própria
vontade. Deus, a sua graça, o seu amor, a perfeição e a
salvação, eis os seus tesouros. E esses tesouros ele os
comunica aos outros de acordo com o espírito do seu
instituto.
Tem sido sempre essa a vossa compreensão da vida
religiosa? Não a considerais apenas como uma vida tran
quila e feliz, onde é facil a salvação? Todos os homens
são obrigados a trabalhar para a sua salvação, porém,·
os vossos votos exigem ainda uma tendência contínua
à santidade, um desejo constante de morrer ao mundo
e aos prazeres, cumprindo sempre a vontade divina, ma
nifestada por vossos superiores e pelas regras. Os .vos
sos votos são, em suma, meios eficacíssimos de tirar os
obstáculos à vossa união com o soberano Bem, de melhor
· assegurar o vosso progresso, de vos proporcionar mais
perfeição e méritos, e, por conseguinte, uma recompensa
eterna e duplamente rica, a das virtudes e a dos votos.
Todos esses motivos deveriam animar-vos a viver na re
ligião com sempre novo fervor.
E' assim que o fazeis? Observais o silêncio, a solidão,
o recolhimento e as práticas de piedade prescritas pe
las regras? A vossa obediência aos superiores é sempre
generosa, pontual e sem réplica? Examinai a vossa con
duta em seus pormenores a respeito da caridade, da mo
déstia, da humildade, paciêncja, mansidão, sem esquecer
o espírito de fé, a oração, que deve acompanhar todas
as nossas ações para se tornarem meritórias.
Meu divino Redentor, humildemente prostrado em vos
sa presença no Calvário, renovo os meus votos: 1 º de
pobreza, nas chagas de vossos sagrados pés; 2º de castida
de, em vossas mãos traspassadas; 3º de obediência, em
vosso Coração aberto. Comprometo-me assim a desprezar
os bens do mundo, os prazeres dos sentidos e a abnegar
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a minha vontade própria. Por vossa constância em su
portar os tormentos e a morte,- e pela fidelidade de Ma
ria em partilhar as vossas dores, concedei-me a perse
verança na observância exata das regras, que são a
fiel expressão dos meus votos. Et fecisti nos Deo nostro
regnum.
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Fazer o contrário seria da nossa parte uma injustiça
clamorosa, um roubo e uma rapina. O Senhor mesmo
declara não ceder a outrem a sua glória (Lc 42, 8), e isso
com razão, pois que ela lhe pertence essencialmente e
lhe seria impossível atribuí-la a outrem. E nós ousamos
tantas vezes arrebatar-lhe esse precioso tesouro-, que é
propriedade exclusiva dele. Esforcemo-nos antes para·
purificar-nos em tudo, repetindo sem cessar com o pro
feta-rei: "Não para nós, Senhor, não para nós, mas só
para vós a glória de todo o bem" (SI 113, 9).
Essa intenção é outrossim um meio de santificar to
das as nossas ações, mesmo as mais indiferentes. "Quer
comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa,
diz o apóstolo, fazei tudo para a glória de Deus". Omnia
in gloriam Dei facite (1 Cor 10, 31).
Estais sempre atento a cumprir este preceito? E' este
o mais nobre fim, de que é capaz uma criatura, pois que
o próprio .Criador não se propôs outro. Examinai, pois :
1º se em vez de procurardes a glória divina, não procurais
a vossa, comprazendo-vos em vós mesmos, ou na esti
ma, atenções e louvores; 2º se não vos esqueceis muitas
vezes de renovar a boa intenção e sobretudo de expur
gar-vos de todo amálgama de amor próprio e respeito
humano?
MeJI- Deus, quantas vezes procuro a mim mesmo em
meus pensamentos, palavras e ações em vez de me pro
por somente a vossa honra e vontade! Concedei-me o
conhecimento do meu nada, da minha incapacidade para
o bem; fazei que a vós me submeta e vos renda graças
em tudo, pois que só a vós, Rei dos séculos, Rei imor
tal e invisível, só a vós que sois Deus, pertencem a hon
ra e a glória para sempre._ Honor et gloria in srecula sre
culorum. Amen.
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dos, que é Jesus Cristo. Do alto do céu o Pai celeste cla
ma a todos: "Eis o meu Filho dileto, no qual pus as mi
nhas complacências: ouví-o" (Mt 17, 5). "Ouvi os seus
ensinamentos, seguí seus conselhos e exemplos".
O Redentor é, com efeito, o nosso exemplar em todos
os estados. Criança, ensina-nos a humildade, a simplici
dade, a inocência; adolescente, prega-nos a modéstia, .o
recato, a vida oculta, laboriosa e submissa; homem fei
to, mostra-nos o caminho que conduz às virtudes sóli
das, isto é, o caminho da renúncia, da paciência, do de
votamento. Quando o brilho dos seus milagres e de sua
doutrina lhe ocasiona louvores, ensina-nos a referí-los a
Deus.
Mas como os espinhos e cardos bordam ordinariamen
te as veredas da vida, quis ele ser pobre, humilhado e
triturado de dores; apenas nascido, sofre a perseguição
e o exílio, depois trabalha, ganha o pão de cada· dia com
0
o suor de seu rosto. "Em Nazaré, diz são Boaventura.
ele passa por ignorante; mais tarde tratam-no de mago,
possesso do demônio; enfim morre nos tormentos e num
patibulo de ignomínia. Quer assim servir-nos de modelo
mesmo nas posições mais difíceis. Dá-nos o exemplo do
silêncio e do abandono a Deus, entre as penas e as hu
milhações; o exemplo da generosidade na renúncia e nos
sacrifícios; o exemplo da caridade e do devotamento ao
exercício do zelo para com as almas, afim de salvá-Ias,
e com os infelizes, afim de socorrê-los. Jesus, comunicai
ao meu coração as vossas virtudes; transfundi-as na mi
nha conduta e em todas as circunstâncias da minha vida.
São Vicente de Paulo imitava o divino Mestre em seus
pensamentos, palavras e ações. Quando tiverdes de fa.
la.r ou agir, dizia ele, refletí é perguntai-vos: "Como fa
laria ou agiria nossr;i. Senhor nestas conjunturas? Jesus,
inspirai-me porque nada posso sem vós". Apliquemo-nos
este conselho: ajamos e soframos como Jesus, isto é,
por espírito de oração e de graça, em paz, retidão e sua
vidade de córação_
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Meu amavel Mestre, ensinai-me a imitar-vos como o
ensinastes a Maria e José, na casa de Nazaré. Uno-me
a eles para vos suplicar e contemplar, e obter de vós
a força de caminhar sobre as vossas pegadas. Fazei que
procure, a vosso exemplo, a glória do Pai celeste e o
cumprimento de todos os seus desejos.
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palavras: "Recebe, caro filho, este escapulário da tua ·or
dem: é o sinal do privilégio que obtive para ti e teus con
frades do Carmo". Que privilégio é esse, de que fala a
santíssima Virgem? Ouçamos a continuação do discur
so: "Quem morrer revestido piedosamente deste hábito,
será preservado do fogo eterno". O' graça das graças!
ser preservado do inferno e receber o céu em partilha! ...
A santíssima Virgem acrescentou: "Este escapulário é
um sinal de salvação, salvaguarda nos perigos, penhor
de paz e proteção especiais até ao fim dos séculos". Cada
uma dessas palavras deveria ser pesada e meditada.
Uns cincoenta anos mais tarde, Maria apareceu ao
papa João XXII e prometeu-lhe livrar do purgatório os
confrades do Carmo, no sábado após a sua morte. Onde
encontrar alhures tais promessas e vantagens? podero
sos motivos para usarmos os escapulários ou- as insígnias
da Rainha dos céus, com um respeito, uma piedade, uma
segurança que se não desmentem jamais.
Minha augusta soberana, feliz e altivo por ser reves
tido do vosso hábito, quero invocar-vos sempre com a
confiança dum vassalo a sua rainha e dum filho a sua.
mãe querida. Obtende-me a estima e o amor da devoção
aos escapulários, e a graça de torná-la util ao meu pro
gresso espiritual. Fazei-me esperar a salvação em virtu
de das promessas saídas dos vossos lábios benevolentes
em favor dos confrades do Carmo.
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filho de tão santa Mãe não deve porventura tornar-se
santo?
O escapulário da Ss. Trindade, cobrindo-me o peito,
recorda-me as palavras do apóstolo: "Sois o templo de
Deus". As tres divinas Pessoas habitam, pois, em mim,
velam sobre a minha alma e ouvem as minhas preces:
poderoso motivo de recolhimento e confiança· filial! O
da paixão traz-me à memória os tormentos e os opróbrios
do Homem-Deus; razã.o tocante de amá-lo e de sofrer
com paciência! A Mãe das dores, por sua vez, reveRtin
do-me da sua libré, assegura-me a sua proteção em to
das as minhas angústias; ora, mãe alguma soube ja
mais consolar como ela. Que dizer da santa veste da sua
Imaculada Conceição que me move a viver na castida
de, recato, modéstia? é apelo incessante à mortificação,
vigilância, oração, meios tão necessários à pureza per
feita.
Mas detenhamo-nos ainda no escapulário do Carmo.
Pelas promessas assinaladas que o recomendam, faz-me
esperar, se eu for fiel a Maria, obter os favores de que
é penhor: 1º a preservação do inferno; 2º a libertação
pronta das chamas expiatórias; 3 º uma proteção especial
da Rainha dos anjos, nos perigos, com a paz que dela
emana. Quão próprias são estas recordações para excitar
em meu coração vivos sentimentos de fé, confiança, re
conhecimento e amor!.
Meu Deus, fazei que eu veja em cada um dos escapu
lários um sinal sensivel da benevolência de Maria e, de
certo modo, uma das velas do navio da graça que deve
conduzir-me ao porto. Dignai-vos enfunar essas velas
com o sopro do vosso espírito, aumentando em mim as
graças atuais necessárias à minha perseverança. Tomo
a resolução: l" de usar sempre o escapulário com pro
fundo respeito; 2º de reanimar a minha esperança em
Maria, sobretudo nas tentações, pela lembrança de es
tar revestido, como de armadura, de suas insignias ou
da sua libré. Scapulis suis obumbravit tibi et sub pennis
ejus sperabis.
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17 DE JULHO - HUMILDADE DE MARIA
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Quão diferentes dos vossos são esses sentimentos!
Tendes tão alta opinião de vós mesmos, das vossas qua
lidades, talentos e aparentes virtudes! A menor obser
vação, a mais ligeira censura vos perturba e irrita, por
que vos julgais irrepreensiveis. Donde vos vêm _ essas
pretensões senão da demasiada estima que tendes de
vós mesmos? Julgais ser alguma coisa; mas a razão e
a fé vos clamam o contrário : nada sois, e· menos· ainda
do que o nada, porque sois pecadores.
Rainha de humildade, obtende-me o conhecimento de
Deus e de mim mesmo. Despojai-me das mentiras do
meu orgulho, para eu me revestir das luzes da verda
de, que me mostrem o meu nada, a minha ignorância,
fraqueza e indigência sob as vistas da misericórdia do
vosso divino Filho. Comunicai-me a coragem de despre
zar-me a mim mesmo, estimar os outros, recorrer sem
pre a vós e submeter-me em tudo à vontade de Deus.
Bronchain II - 16 241
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abjeção. "Em parte alguma se lê, diz santo Afonso,
tivesse ela aparecido em Jerusalém quando seu Filho lá
entrou, triunfante; mas não receou acompanhá-lo . ao
Calvário, fazendo-se conhecida como a Mãe de um conde
. nado à morte infamante".
Viram-na partilhar os ultrajes, as derisões, os sarcas
mos irrogados a seu Filho. Longe de recuar diante das
humilhações, expôs-se corajosa aos gritos da populaça,
às zombarias dos fariseus, aos maus tratos dos solda
dos e dos carrascos. O' prodígio de humildade! A Rai
nha do santos impunha-se como uma lei acompanhar ao
suplício aquele que os príncipes da nação chamavam de
sedutor, blasfemo, possesso do demônio; compraz-se em
ser desprezada, injuriada, esbofeteada com ele e como
ele.
Tal procedimento é de molde a confundir o nosso or
gulho, a nossa vaidade! Desejamos por vezes ser humil
des, porém somente em vista das honras que acompa
nham frequentemente a sincera humildade, e não pelo
desejo das humilhações que a formam e conservam em
nós. Supliquemos à Rainha desta virtude nos obtenha
a coragem de abraçar o que nos humilha. Recitemos até
o Gloria Patri quando aplicarem rem�dio à úlcera do
nosso orgulho e amor próprio.
O' Maria, a mais humilde das criaturas, apesar dos
meus numerosos pecados, sinto-me tão cheio de vaida
de e amor próprio. Vós, ao contrário, toda inocente,
aspirais ao desprezo e à confusão. Boa Mãe, dignai-vos
obter-me: 1 º o amor à vida oculta, ignorada e esqueci
da; 2º a força de guardar humilde silêncio quando for
censurado, contrariado, rejeitado, vilipendiado e ridi
cularizado.
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18 DE JULHO - DA COMPUNÇÃO DE CORAÇÃO
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Ela seria para nós uma ·fonte contínua de devoção;
pois que não se trata aquí duma contrição melancólica
que produz a desconfian�a e s abatimento, mas dum ar
rependimento cheio de amor, denominado pelos santos:
amor doloroso. Assim compreendida, a compunção cau
sa às almas imenso benefício; entretem nelas a piedade
humilde e reconhecida, que dispõe às doces lágrimas du
rante a oração, a santa missa e a comunhão; ajuda-nos
a viver recolhidos e a haurir sempre de Deus as graças
que fazem os santos. Quão vantajoso é, pois, enterne
cermos o coração, naturalmente duro, pela dor contínua
das nossas faltas !
Meu Deus, dai-me a graça de gemer interiormente à
recordação dos meus pecados, afim de entreter em mim
a humildade, o desapego, a pureza de coração, e de au
mentar assim todos os dias a sólida piedade e a verda
deira devoção. Amo-vos, soberano Bem; arrependo-me
de vos haver ofendido. Dai-me a contrição habitual ou
o espírito de compunção, que vos é agradavel por nos ser
tão salutar. Sacrificiom Deo spirltus contrlbulatus.
2º Motivos de compunção
Os santos, mesmo os mais inocentes, choraram a vida
inteira suas leves faltas e imperfeições, e nós não ge
meríamos por nossos pecados tão graves e numerosos?
Um único pecado é injúria às perfeições de Deus e ul
traje flagrante à sua s11,nta majestade. Mal mais deplo
ravel do que a destruição do universo, merece suplícios
eternos. Como poderá esquecê-lo quem o cometeu? Adão
chorou sua desobediência mais de novecentos anos; e
não foi demais: "Pecar uma só vez, diz Tertuliano, é
bastante para chorar eternamente". Satis est ad fletas
reternos. Quantos motivos para nós, que talvez tenhamos
pecado muitas vezes!
Mas, se o pensamento de havermos ofendido o Criador
e merecido o inferno é capaz de provocar os nossos ge
midos, o_uanto mais o de havermos feito sofrer e morrer
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o nosso amavel Redentor! Esta consideração desolava
santa Margarida de Cortona. Suponde que, num ímpeto
de cólera, tivesseis apunhalado os autores dos vossos
dias; poderieis jamais esquecer tão grande crime e per
versidade? E tivestes o atrevimento de calcar aos pés
o Unigênito de Deus, talvez de sangue frio e apesar dos
remorsos da conciência, e de renovar a crucifixão da
quele que, depois de vos dar a vida da alma, vos nutre
ainda com sua carne sacrossanta! O' monstruosa ingra
tidão! Tal atentado não merece acaso ser chorado toda
a eternidade com lágrimas de sangue ?
A nossa dor deve ainda acrescer pelo triste estado a
que reduzimos a nossa alma pelo pecado. Embora te
nhamos recuperado a vida da graça e os méritos pEr
didos, não sentimos ainda nos nossos membros, como
diz o apóstolo, uma lei contrária à do nosso espírito?
As tres concupiscências, de que fala são João, não mi
litam sem cessar em nós? E depois, quantas trevas em
nosso espírito, quanta fraqueza e malícia em nosso co
ração! Não nos parecemos com um formigueiro de ví
cios repugnantes, e venenosos como o escorpião? eles
nos expõem à morte do pecado e à morte eterna. O' fu
nestos frutos da queda original e das nossas próprias
faltas!
Jesus, triste até à morte no jardim das Oliveiras, dai
ao meu coração uma contrição viva, animada dos mais
puros motivos. Fazei-me chorar: l° o últraje infligido
a . vossas divinas perfeições por minhas revoltas crimi
nosas contra vós, e a desgraça de haver assim mereci
do o inferno; .2º a ingratidão com que, por meus peca
dos, renovei a vossa amarga e dolorosa paixão; 3º o mal
imenso causado à minha alma pelo pecado, que me des
pojou da graça e de todo o merecimento e me fez escra
vo das mais vís e tirânicas paixões. O' Maria, Mãe das
dores, obtende-me as lágrimas do mais sincero arrepen
dimento, mormente no e;x:ame da tarde e na confissão.
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19 DE JULHO - SÃO VICENTE DE PAULO
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falta de acolhimento gracioso, uma pequena recusa o
só pensar que não se faz caso de nós, tudo isso nos fere
ao ponto de o não podermos esquecer. Ora, a santa- in
diferença, necessária ao sagrado amor, tira-nos todo
desejo, -todo ressentimento, desapega-rios de nós mes
mos e das criaturas".
Tendes tais disposições que vos prendem a Deus? Uma
palavra, uma leve pena, um desgosto na oração, uma
impressão de tristeza e de desânimo, não basta às vezes
para roubar-vos a paz, a devoção, a submissão ao Se
nhor, e o que requer o verdadeiro amor?
Meu Deus, quão longe estou da perfeição, que, no di
zer de são Vicente, despoja o homem de toda a vontade
própria e o faz encontrar a felicidade, como os anjos,
no vosso beneplácito. Dai-me a força de morrer, dora
vante, a mim mesmo, a minhas satisfações, e de pôr mi
nha alegria no cumprimento dos meus deveres afim de
glorificar vosso santo nome e de contentar plenamente o
vosso coração. Qum pia.cita. sunt ei fa.cio semper.
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. Admiravel era a sua compaixão para com os indigen
tes; via neles o Verbo incarnado feito pobre por nossa
causa. Todas as necessidades temporais e espirituais en
contraram nele um pai cheio de ternura e ilimitado de
votamento. Quem poderia contar as obras e instituições
inspiradas e realizadas por sua ardente caridade? Quan
tos mendigos vestidos e providos do necessário por seus
cuidados! Quantas regiões nutridas em tempo de cares
tia por sua liberalidade! Fundou hospícios e hospitais,
creches e asilos, instituições para os doentes de toda ida
de e condição.
"E' o próprio Deus que recebe, dizia ele, os dons da
nossa caridade; grande ventura é para nós poder dar
Jhe o que lhe pertence e que recebemos da sua bondade".
Imitador fiel de Jesus Cristo, o santo levou a perfeição
da caridade ao ponto de amar os seus i�imigos. Quem
mais o ofendia, maiores benefícios recebia de suas mãos.
E' esse o vosso procedimento? Que repugnância não
sentis em perdoar uma injúria, uma injustiça,- em su
portar os defeitos alheios, os caracteres antipáticos, em
não falar mal dos que vos maldizem, perseguem e ca
luniam?
Jesus e Maria, formai em mim um coração como o de
são Vicente de Paulo, isto é: 1 º um coração bondoso,
manso, afavel, sempre pronto a esquecer as afrontas,
as indelicadezas, as faltas de atenção; 2º um coração
compassivo para todas as misérias� disposto a aliviar
e a servir, generoso nas esmolas, nos sacrifícios e no
devotamento; pois que tais disposições abrangem toda
a lei evangélica. Plenitudo lcgis est dilectio.
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maremos a resolução de reprimir a leviandade, a irre
flexão, a imprevidência, lembrados da palavra do Espí
rito Santo: Bem-aventurado o homem cheio de prudên
cia. Beatus homo, qui affluit pruclentia (Prov 3, 13).
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obras de zelo, mas sem se descuidar do seu interior: re
temperam-se muitas vezes em práticas piedosas; acaute
lam-se sobretudo da extrema imprudência de viver na
tibieza e inconciência com risco de escorregar aos poucos -
no abismo do pecado mortal e de nele perecer misera
velmente.
Meu Deus, quão imprevidente tenho sido nas coisas
da salvação! Entretanto a minha honra, a minha sau
de, os meus interesses temporais têm sido o objeto' de
minhas solicitudes. Dignai-vos - inspirar-me o mais vivo
desejo da minha santificação e a coragem de mortificar
os meus sentidos e más inclinações. Dai-me a graça de
agir sempre em espírito de fé, de vigilância e de oração,
persuadido, com são Bernardo, que nenhuma segurança
é demasiada quando se trata da eternidade. Nulla nimia
securitas, ubi periclitatur mtemitas.
2õO
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que essa má disposição impede o recolhimento do espí
rito, e, nesse estado, a alma não penetra nas coisas de.
salvação.
Daí nasce um terceiro defeito, assinalado pelo doutor
angélico: a inconstância. Esta não nos impede certamen
te de fazer bons propósitos, mas nos faz deplorar depois
a leviandade com que os esquecemos ou transgredimos.
Assim não procederam os santos: "Quando tomo seria
mente uma resolução, dizia santo Afonso, não volto
atrás". Não fazeis o contrário? Fazeis facilmente os
mais generosos projetos e com a mesma facilidade os
abandonais.
Remediaremos a esse defeito e aos outros dois mencio
nados acima, servindo-nos do instinto natural que nos
faz agir com cuidado, reflexão e atenção quando nos
julgamos vigiados. Ora, a fé nos mostra o olhar divino
fixo sempre sobre nós. Esta verdade é de molde a for
çar-nos a desempenhar os nossos deveres pausadamen
te, com circunspeção e constância. Cada manhã, pois, e
de tempo em tempo durante o · dia, dizei convosco: "O
Deus de majestade, de santidade, o meu Juiz e meu Pai
está aquí presente: ele me vê e observa sem cessar; devo,
pois, tornar irrepreensíveis a minha intenção, as minhas
palavras, toda a minha conduta".
Meu amado Senhor, tomo desde já a resolução de vi
ver sempre calm,o, recolhido, fiel à vossa graça em to
das as minhas ações, afim de em tudo ser dirigido e go
vernado por vossa sabedoria e conselho, e de agir sem
pre sem esmorecimento segundo as regras da prudência
cristã. Peço-vos esse favor pelos méritos do Verbo in
carnado e de sua divina Mãe.
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2º os efeitos preciosos que dela se or1gmam. - Como
fruto desta meditação suplicaremos ao Senhor, com o pro
feta-rei, queira renovar em nós o espírito de inocência
e retidão que nos desapegará de tudo e nos fará procurar
unicamente a glória e o beneplácito divino. Spiritum
rectum innova. in visceribus meis ( SI 50) .
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prio e de toda consideração humana. 2º Coloca somente
a Deus no nosso espírito, purificando nossas intenç:ões,
e no nosso coração, santificando-lhe os desejos e afei
ções. Daí a excelência dessa virtude, que nos despoja do
que é baixo e terreno para revestir-nos dos esplendores
da verdade e santidade divinas. Dessa forma- as almas
simples servem a Deus no meio do mundo como na so
lidão; na adversidade como na prosperidade. São essas
as vossas disposições? Aceitais as penas e as alegrias
com igual indiferença? Em um e outro lugar, com efei
to, achareis o Bem supremo, que deve bastar-vos em
tudo, se fordes simples e tementes a Deus como o santo
Jó, do qual fala a Escritura.
Jesus, fazei-me compreender a excelência da simplici
dade, inimiga da astúcia e do fingimento. Vós protegeis
os que a praticam e tomais a sua defesa. Quero exercê-la
para com meus superiores e meus semelhantes. Dai-me
a graça de ser todo vosso nos meus pensamentos e in
tenções, nos meus desejos e projetos, nas minhas pala
vras e ações.
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ra, sem se preocupar com o que agita tanto os munda
nos, os orgulhosos, os ambiciosos, os homens cheios de
si. Estes se conduzem por vistas baixas e interessada!;
empregam mil habilidades para chegar a seus fins. A
alma simples, ao contrário, ignora a cabala, o cálculo, o
disfarce; a sua política é de não ter nenhuma e de con
fiar em Deus, de esperar em sua sabedoria e de aban
donar-se à sua divina direção.
Eis por que caminha confiada e segura, segundo a ex
pressão do Espírito Santo. Qui ambulat simpllclter, am
bulat confidenter (Prov 10, 9). E não poderia ser de
outra forma; não se fadiga em ponderar e medir as pala
vras, ações e passos ; polida, discreta, caridosa sem afe
tação, tem o coração sempre tranquilo. Evitando retros
petos inquietos que só servem para diminuir a paz da
conciência, . sem torná-la mais fervorosa nem mais pura,
vive como uma criança bem intencionada que, confian
do na obediência, deixa a seus diretores espirituais, se
gundo a palavra do apóstolo, o cuidado de responder
por ela diante de Deus (Hb 13, 17). Ninguem a vê tris
te nem dissipada, mas sempre feliz e contente, serviçal
a todos, e esquecida de si própria para ocupar-se dos seus
deveres.
Jesus e Maria, fazei-me participar dos felizes efeitos da
retidão e simplicidade evangélicas, concedendo-me as se
guintes disposições: 1º uma franqueza cândida que afas
te de mim toda dissimulação e malícia, e me ajude a
confessar ingenuamente as minhas faltas; 2º uma paz
profunda, que nasce da sinceridade do coração que só
procura a Deus; 3º uma inteira confiança e um perfeito
abandono à Providência divina, fontes da alegria espiri
tual, que é o apanágio dos filhos do Pai celeste e o fru
to do' seu amor filial para com ele.
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QUARTO DOMINGO - A REDENÇÃO
255
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Somos ainda chamados a substituir no céu os anjos
decaídos, os quais trabalham para perder-nos. Afim de
preparar-nos para tão alto destino, o Salvador enviou
nos o Espírito Santo. Esse divino Paráclito faz-nos tirar
proveito dos sacramentos; purifica-nos do pecado no ba
tismo e na penitência; nos quais nos confere ou aumenta
a vida sobrenatural com as virtudes, os dons e os pri
vilégios que a acompanham. Pouco a pouco na oração
e na comunhão sacramental talha-nos à semelhança de
Jesus, movendo-nos a renunciar aos vícios para imitar
mos a santa vida do Chefe dos predestinados.
São esses os preciosos frutos da Redenção; abrangem
todos os tesouros espirituais da Igreja, todos os bens da
graça e da glória; fornecem-nos os meios de adquirí-los
apesar· da fúria e da inveja dos príncipes das trevas, aos
quais fomos preferidos, e que se esfqrçam para arrastar
nos à sua desgraça.
Jesus, como reconhecer o vosso amor e os vossos be
nefícios? Os demônios penam no inferno sem esperança
de libertação. Dai-me a graça de pensar dia e noite em
vossas infinitas misericórdias. Recordai-me sem cessar
os vossos sofrimentos, as vossas ignomínias e sobretudo
a vossa morte na cruz, a qual é para todo o gênero hu
mano a fonte inesgotavel da vida e da salvação.
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pios, à esperança em suas promessas. Esta é a realização
da profecia do santo velho Simeão: "Este menino está
posto para ruína e para salvação de muitos" (Lc 2, 34).
E:x;aminai a que grupo pertenceis. Imitais a conduta
da Igreja, que marcha através dos séculos sem se des
viar jamais da sua rota? Ouve os inimigos de Jesus, seu
esposo, a blasfemá-lo, maldizê-lo, renegá-lo; vê-os coli
gados COJ?-tra ela afim de atacarem ora o seu ensino ora
o seu poder, ora as suas mais santas instituições. Batida
de todos os lados ao mesmo tempo, dá-nos os mais be
los exemplos da constância invencível no bem. Em vez
de temer e ceder, afirma sempre mais as suas crenças,
exerce sem desfalecimento o seu ministério, e continua
a difundir sobre a terra os seus inumeraveis benefícios.
Não deveríamos tambem nós assim proceder contra
os nossos inimigos invisíveis? Eles trabalham para per
dermos a fé, ou a inocência ou o fervor no serviço de
Deus. Como resistir-lhes? imitando a Igreja nossa Mãe,
auxiliados pelas práticas seguintes: 1 º Consolidemos sem
pre a nossa crença lendo livros piedosos e exercendo a
nossa fé..2º Não omitamos nenhum dos nossos deveres
por negligência ou respeito humano. 3 º Sejamos humil
des, castos, confiantes, na proporção da violência dos
combates que nos fazem o orgulho, a concupiscência e
o desânimo. Não é porventura justo que meçamos a nos
sa resistência em prol da nossa salvação, pelos esforços
dos inimigos que trabalham para perder-nos?
Jesus e Maria, fazei que sempre recorra a vós na luta
encarniçada e incessante, de que depende a minha eter
nidade.
22 DE JULHO
SANTA MARIA MADALENA, PENITENTE
258
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Estais prontos a testemunhar-lhe o vosso amor a custo
dos maiores sacrifícios?
Jesus, inspirai-me sentimentos semelhantes aos de Ma
dalena. Dai-me, como ela, um coração contrito e humi
lhado, um coração animado do desejo da peniwncia e
da mortificação, numa palavra, um coração que queira
destruir em si todos os obstáculos ao vosso santo amor.
17* 259
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exílio, antegozando as alegrias da pátria celeste. A ora
ção, feita séria e constantemente, aumenta o nosso amor
a Jesus. Meditando com Madalena o Salvador a pregar,
a instruir os pobres, a curar os enfermos, ·a fatigar-se
por suas viagens e a passar noites em oração por nosso
amor, poderíamos acaso hesitar em consagrar-nos a ele
sem reserva? Contemplando-o coberto de chagas cruen
tas,- coroado de espinhos e suspenso na cruz para a nos
sa salvação, não nos sentiríamos tocados ao ponto de
nada recusar a tão amante Redentor e de tudo sacrifi
car para permanecermos fü�,is para sempre?
Jesus e Maria, fazei que minha oração produza esses
efeitos capazes de santificar a minha alma. Inspirai-me
o espírito de compunção e de fervor, o amor do recolhi
mento e da prece, a constância no devotamento a Deus
e na fidelidade à graça.
260
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melhança, da sua essência adoravel, tornar-se seu filho
adotivo e herdeiro de seu reino! Nada mais capaz de in
flamar os nossos desejos. Esta dignidade é superior à
realeza e até à natureza angélica.
Há tantos no mundo que ambicionam as riquezas pe
reciveis, riquezas desprezadas por Jesus Cristo e pelos
santos. Por que é que esses corações cobiçosos não vol
tam o seu ardor aos tesouros da graça? A menor par
cela destes vale mais do que todo o ouro do universo;
e, não obstante, nós os desejamos com pouco ardor. Po
demos obtê-los pela oração e boas obras, e pouco fervor
mostramos na procura dos bens sólidos e duraveis, pro
metidos pela rnunüicência divina!
:€-nos tambem natural o desejo da felicidade; mas onde
colocamos a nossa? muitas vezes nos prazeres, nas sa
tisfações sensíveis., O homem julga-se feliz quando não
sofre e experimenta alegrias. Mas de que valem as de-_
lícias da vida sem a paz interior? A verdadeira beatitu
de é inseparavel da santidade; por que procurá-la alhu
res? E' encontrada pelos desejos eficazes, que dão força
para a emenda das faltas e a prática das virtudes. Não
nos falta esse fervor de espírito que distingue as almas
fiéis? Esforcemo-nos por adquiri-lo por meio da leitura,
da meditação e da súplica, afim de formarmos em nós
as resoluções que animavam os santos.
Jesus, vós dissestes: "Bem-aventurados os que têm
fome e sede de justiça, porque serão saciados". Que
vossa glória, divino Mestre, seja de hoje em diante, a
minha; a vossa graça, a minha riqueza; a vossa von
tade, a minha felicidade! Só em vós posso achar o que
sacia e satisfaz plenamente a minha alma. Fazei pois que
eu sempre suspire por vós e por vosso amor, como os
mundanos suspiram pelas dignidades, pelos tesouros e
pelos prazeres da terra.
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2• · Como !'le deve desejar a perfeição
Devemos desejar a santificação da nossa alma, como
um enfermo a sua cura: ora, ele a deseja na medida. em
que compreende a gravidade do seu mal e o valor da
saude perdida. Assim, devemos aspirar à santidade com
ardor igual ao sentimento que nos é dado da nossa mi
séria e a fé viva que nos aclara sobre o bem inestimavel
da perfeição. Quanto mais virmos, de um lado, a grandeza
dos bens celestes perdidos pelo pecado, e, do outro, a ig
norância, a concupiscência, a fraqueza, a malícia, os pe
rigos da queda, provenientes da culpa original, tanto
mais desejaremos a nossa restauração espiritual e os
bens que dela emanam. Aspiraremos então à perfeição
corno o doente à saude.
· Desejemo-la como o esfaimado que quer sentar-se a
uma mesa· abundantemente servida. A mesa do Senhor é
de molde a provocar a nossa fome. Nela encontramos ali
mentos espirituais de valor infinito e de duração eterna;
alimento em relação com a natureza, a dignidade, as exi
gências, à. imortal.idade da nossa alma e seus gloriosos
destinos. Quanto mais alguern se nutre deles, tanto mais
fome sente; e essa fome, sempre satisfeita, aumenta cada
vez mais os desejos a ponto de fazer nascer nos amigos
de Deus resoluções heróicas. Santo André Avelino fez
voto de crescer em virtude cada dia; santa Teresa e
santo Afonso, de escolher sempre o mais perfeito na prá
tica do bem.
Quereis santificar-vos como eles? Sede como eles se
melhantes ao cervo sedento que suspira pela fonte de
água viva; aspira constantemente à união perfeita com
Deus. Essa união efetua-se sobretudo pelo amor. A alma
que ama o seu Criador, deseja amá-lo sempre mais; tem
sede de pertencer-lhe mesmo a custo dos maiores sacri
fícios.
Meu Deus, preservai-me da desgraça de apegar-me à
criatura e de comprazer os meus afetos à vida mundana,
sensual e terrena. Fazei-me compreender o valor da gra-
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ça, que é a saude de minha alma. Inspirai-me a estima e
o amor dos bens celestes que são como as colunas, a for
ça e o adorno do edifício interior, no qual quereis unir
vos a mim e tornar-me semelhante a vós. Pelos méritos
de Jesus e Maria, acendei em mim os santos desejos, que,
segundo a vossa palavra, nos merecem a vossa proteção
e a abundância dos vossos favores. Esurientes implevit
bonis.
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dante que se encheram duas barca!!!, que quaei se afun
daram (Lc 5).
Uma outra vez, aos apóstolos que se afadigavam no
mar com um trabalho inutil, disse o Salvador: "Lançai
as redes à direita do barco". Obedeceram e apanham iine
diatamente uma multidão de peixes (Jo 21). Assim a
nossa obediência nos enriquecerá de méritos e virtudes
se a praticarmos· constantemente e em espírito de fé.
Fazei, pois, cada manhã a intenção de agir em tudo e
sempre, não pelo desejo de vos contentar e satisfazer,
mas unicamente para obedecer a Deus e aos que o re
presentam. Renovai muitas vezes durante o dia essa in
tenção; almejai consagrar a Deus todos os vossos pen
samentos, palavras, ações, todas as pulsações do vos
so coração e todos os instantes de vossa vida, por uma
completa abnegação de vós mesmos e perfeita sujeição
à autoridade divina.
Jesus, meu divino Mestre, inspirai-me o amor da obe
diência, o espírito de submissão e docilidade. Dai-me a
força de cumprir os meus deveres, não murmurando,
mas com alegria, afim de poder dizer a vosso exemplo:
"O meu alimento é fazer a vontade daquele que me en
viou e cumprir seus designios sobre a minha alma. Sem
pre faço o que_ lhe apraz. Qure placita sunt ei facio sem
per. (Jo 8, 29).
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!e i1atisfaz sem reserva à vontade divina, sacrifício esse
que honra sobremaneira todas as obras empreendidas
para sua glória.
Que outro contentamento verdadeiro poderíamos, aliás,
procurar, senão a conformidade sem reserva aos desejos
do Deus supremo, da bondade incriada, daquele cuja pro
vidência nos quer fazer sempre felizes? A nossa felici
dade real e duradoura não consiste no gozo, mas na paz
duma conciência que cumpre o seu dever resignando-se:
"Eu quisera ver os meus eleitos mais persuadidos de que
as suas preces e ações me são agrada,·eis quando eles me
servem à custa de si mesmos, isto é, quando, privados
de toda a doçura sensível na oração, continuam a cum
prir os seus deveres de piedade, confiando em minha bon
dade, que toma em consideração a sua reta intenção e
retribue suas homenagens com benevolência".
Quando, pois, o enfado, os desgostos, as distrações, os
ataques do inferno vos atormentarem na oração, resi
gnai-vos em vez de vos abaterdes e cairdes no desânimo;
submetei-vos humildemente à vontade divina! e oferecei�
lhe o vosso sofrimento; ele aceitará a vossa paciência, e
os bons desejos do coração subirão até ele qual fervoro
sa prece.
Meu Deus, a quem os anjos e santos obedecem, a quem
estão sujeitos, embora contra a vontade, os próprios de
mônios! pela intercessão da Virgem sempre fiel, conce
dei-me o espírito de obediência e da conformidade a vos
so beneplácito. Que os meus pensamentos, gostos e in
clinações naturais não me afastem em nada da vossa
vontade sempre sábia, sempre santa, sempre perfeita,
sempre infinitamente amavel.
25 DE JULHO
OBEDIÊNCIA DO VERBO INCARNADO
PREPARAÇÃO. "Desci do céu, disse o Salvador, para
fazer a vontade daquele que me enviou". Meditaremos
amanhã a obediência de Jesus: r na sua incarnação . e
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nascimento; 2" na sua vida oculta. - Considerando um
Deus que obedeceu a suas criaturas, tomaremos a reso
lução de sujeitar-nos plenamente e sem réplica à autori
dade legítima; pois que estamos no mundo antes de tudo
para obedecer a Deus. Descendi de creio ut faciam vo
luntatem ejus qui misit me ( Jo 6, 38).
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de mim". Não, Jesul!! não uaa esta linguagem; o seu úni
co pensamento é obedecer, submeter-se sem reserva à
autoridade divina nas pessoas dela revestidas. Poderieis
ainda hesitar em submeter-vos cegamente aos que vos
governam? Não é porventura uma glória para a çria
tura marchar sobre os traços do seu Criador?
O' Verbo incarnado, vós o dissestes: Não descestes do
céu para seguir a vossa vontade. Dai que eu o compreen
da: tambem eu não estou no mundo para viver segun
do os meus caprichos, mas para praticar, todos os dias
da minha vida, uma obediência pronta, cega e genero
sa para com aqueles que me dirigem para vós. Propo
nho-me: 1 º considerá-los com respeito como represen
tantes vossos; 2º aceitar com reconhecimento, as suas
correções, censuras, avisos, mesmo quando imerecidos;
3º reprimir em mim toda réplica e toda repugnância ao
receber suas ordens. Descendi de creio, non ut faclam
volunta.tem meam, sed voluntatem ejus qui misit me.
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dos santos tabernáculos, onde Jesus se oferece como exem
plo de sujeição a todas as almas doceis e fiéis!
O- Espírito Santo resumiu a vida oculta do Salvador
nas palavras: "Era submisso a Maria e a José". Erat
subditus illis. Obedecia-lhes em tudo sem replicar, sem
fazer observações; abraçava os ofícios mais baixos, como
trabalhar, varrer a casa, desbastar a madeira. Um Deus
que serve, exclama santo Afonso, um Deus que traba
lha, um Deus que se fatiga e se humilha! Como esse
procedimento condena energicamente as nossas repu
gnâncias em obedecer, as nossas resistências às ordens
que nos são dadas, e a tendência contínua em seguirmos
em tudo as nossas idéias e a nossa vontade própria!
Jesus Menino obedece pontualmente a Maria; motivo
para obedecermos à Igreja nossa Mãe, em· seus ensina
mentos e preceitos! Jesus cumpriu exatamente os dese
jos de José; não deveremos nós executar tambem as
vontades dos nossos superiores? · Eles ocupam para nós
o lugar de Deus, como José representava o Pai celeste
aos olhos de Jesus.
O' santo Infante, preservai-me da desgraça de obede
cer de maneira meramente natural, sem espírito de fé
e de graça. A execução puramente natural duma ordem
recebida é como um corpo sem alma, úma ação sem vida
e sem mérito. Ponde-me sempre diante dos olhos o prin
cípio divino que deve animar a minha obediência e tor
ná-la sobrenatural, universal, e perseverante até à morte.
25 DE JULHO (bis).
DEVOTAMENTO DO VERBO INCARNADO
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flcios, mormente na prática da nossa suJe1çao à legíti
ma autoridade, afim de imitarmos assim o nosso divino
modelo imolado por nós. Tradidit semetipsum pro nobis
oblationem et hostiam Deo (Ef 5, 2).
26!il
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que jamais existiu e verdadeiramente digno da excelên
cia do Pai celeste, a quem se consagra e se dá sem res
trição e para sempre.
Meu Deus, considerai o devotamento de vosso divino
Filho, e, por seus méritos, concedei-me a vitória sobre o
orgulho e a insubordinação, vícios tão contrários ao res
peito da vossa: grandeza e à obediência devida à vossa
suprema autoridade. Comunicai-me o espírito de humil
dade e dependência, o qual é tão conforme ao Verbo in
carnado, que se aniquilou e me deu o exemplo da mais
perfeita docilidade desde a sua incarnação até à morte.
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incarnado! Uma só lágrima vossa, Jesus, bastava. para
resgatar-nos, e vós vos entregais a trinta e tres anos
de privações, trabalhos, fadigas, humilhações e tortu
ras até derramardes o vosso sangue infinitamente pre
cioso!
Esse devotamento do Verbo incarnado terá cessado
com a sua vida? Não, perpetua-se até à consumação dos
séculos. Enquanto o gênero humano subsistir sobre a
terra, Jesus se imolará; todos os dias os seus méritos
infinitos clamarão por misericórdia em nosso favor. O
mesmo corpo que sofreu no Gólgota reconfortará nos
sas almas purificadas em seu sangue, e a morte mística
do nosso amante Redentor será a fonte da nossa vida
divina. Mais ainda: mesmo no céu, o Cordeiro sacrificado
desde a origem do mundo ofereceu ainda as suas cha
gas ao Padre eterno para expiar os nossos pecados; elas
nos são penhor de perdão, título legítimo à herança dos
santos, e durante a eternidade gozaremos de seus bene
fícios inumeraveis e incompreensiveis.
Meu Deus, pouco reconhecido e devotado vos sou, eu
que me procuro a mim mesmo· nos exercícios de pieda
de! Dai-me a verdadeira devoção que consiste em cur
var-me às vossas vontades. Pelos méritos de Jesus e
Maria, criai em mim a piedade generosa pronta a todos
os sacrifícios; fortalecei-a em meu coração mesmo em
tempo da aridez, dos desgostos, das tristezas e das de
solações. Que nada no mundo me impeça de vos obede
cer e agradar pelo cumprimento dos meus deveres.
271.
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1• São Tiago foi grande diante de Deu■
A estima com que Deus nos honra é a medida da
nossa grandeza. Ora, Tiago Maior foi um dos tres após
tolos queridos especialmente do Salvador. Tomava-o mui
tas vezes consigo bem como a Pedro e a João, em cir
cunstâncias honrosas para o feliz discípulo de tão gran
de Mestre. Quando Jesus escolheu os doze foi ele o ter
ceiro e, por uma prerrogativa especial, recebeu, como
João, o nome significativo de Boanerges, ou filho do tro
vão. Era declará-lo solenemente um trovão pela força,
pelo brilho e prontidão de sua futura pregação; como
João o seria pela luz de seu Evangelho e pelo vigor de
seu Apocalipse, composto entre trovões e relâmpagos.
Nosso santo teve ainda o insigne privilégio de ver no
Tabor a transfiguração de Jesus; de contemplar o seu
rosto resplandecente como o sol e suas vestes brancas
como a neve; de ouví-lo palestrar com Elias e Moisés,
esses dois grandes profetas da lei antiga; e· de receber
a respeito do Homem-Deus o irrefragavel testemunho do
Pai celeste: "Eis o meu dileto filho, no qual pus .as mi
nhas complacências; ouví-o!". (Mt 17, 5). Feliz apósto
lo, por ver tão de perto a glória do Redentor antes da
sua paixão! Mais feliz ainda, por· haver recebido dele
a certeza de beber um dia o seu cálice e de partilhar as
suas dores pelo martirio. Calicem quidem meum bibetis.
No século tem-se em conta de grande glória, ser al
guem amigo dos reis e acompanhá-los em toda parte.
Que honra para nós ser, como são Tiago, amigo de Je
sus, Rei imortal; fazer-lhe companhia em nossas Igre
jas, visitá-lo nos pobres, partilhar os seus trabalhos e
privações, levar a Hbré das suas ignomínias, seritir as
punções dos espinhos da sua coroa, e vergar com ele e
como ele sob o madeiro da cruz! O' grandeza pouco
compreendida e que foi a do nosso santo!
Doce Jesus, inspirai tambem a mim o amor das penas
e das humilhações, afim de parecer-me convosco e de
pertencer-vos sem reserva. Dai-me a força: lº de per-
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manecer sempre calmo e resignado, apesar dos sofrimen
tos do corpo e das angústias da alma; 2º de ter santa
mente por honra o ser ignorado, esquecido, desprezado,
como vós sempre o fostes neste mundo passageiro.
Bl'Onchain II - 18 273
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saude não soubemos praticar?- Para isso seria necessâ
ria uma graça especial, que Deus não concede às almas
negligentes e infiéis que não querem servir. Dir-lhes-á:
"Mal vos conheço" ou então: "Não vos conheço". Nes
cio vobis.
Jesus e Maria, preservai-me dessa desgraça; fazei-me
docil à graça e fiel aos meus deveres, mormente aos de
veres reclamados pela piedade, pela obediência, pela pa
ciência e pela caridade.
.26 DE JULHO
SANTA ANA, MÃE DA SANTlSSIMA VIRGEM
PREPARAÇÃO. "A glória e as riquezas, diz o Espírito
Santo, estão em sua· casa". 1° E' uma glória para santa
Ana haver dado à luz a Virgem sem mancha, a Mãe
de nosso Deus. 2º E' uma felicidade para ela ter corres
pondido fielmente a esse insigne favor. - A seu exem
plo temamos ser infiéis à graça, pois que de nossa fide
lidade dependem a nossa glória diante de Deus e as nos
sas riquezas eternas. Gloria et divifüe in domo ejus, et
justitia ejus mauet in sreculum sreculi (SI 111, 3).
274
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Anà., sua mãe, as luzes e virtudes que o céu lhe conce
dera. Essa bem-aventurada mãe da Rainha dos anjos
participou, em grau sublime, da santidade de sua dileta
filha. Deus já lhe fizera a graça de suportar sem quei
xa o opróbrio de longa esterilidade, e de obter por suas
penitências e preces essa filha privilegiada, a honra e a
glória de todo o gênero humano. Ela soube abaixar-se
tão profundamente, orar com tantas lágrimas, que me
receu, segundo são João Damasceno, ser exaltada como
Mãe da Rainha dos santos. A sua oração, palpitante de
fervor, subiu aos céus e fez de lá descer o orvalho, don
de saiu o justo que salvou o universo.
O' gloriosa santa Ana, que destes à luz a Mãe de nos
so Deus, congratulo-me com a vossa felicidade, elevação
e poder junto ao Altíssimo. Mas a dignidade e a san
tidade que vos distinguem, fazem-me sentir a minha bai
xeza e a minha miséria. Minha alma esteril é como ter
ra árida, não orvalhada pela chuva do céu. Longe de
imitar-vos em vossa paciência e espírito de oração, aba
to-me à menor pena e me descuido de recorrer à oração·
tão necessária à salvação. Ah! pelo amor de vossa ben
dita filha, obtende-me a coragem de vencer-me, de evi
tar as faltas leves, de invocar sempre aquele que vos
fez mãe de sua Mãe, afim de dar-vos maior império so
bre o vosso coração. Tomo a resolução de orar, a vosso
exemplo, com humildade e persc\"eran�a. Fazei-me me
recer, por vossa intercessão, a abundância das graças
que santificarão a minha alma.
·275
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pensar que, dentro em breve, não mais teria consigo
aquela abençoada filha.
·Ela ·tinha poderosos motivos de diferir aquela doloro
sa separação. A amavel menina achava-se na tenra ida
de de apenas tres anos, segundo santo Epifânio; e seus
pais pouco haviam gozado da doce companhia que con
solava a todos. A longa esterilidade de santa Ana tor
nava-a ainda mais querida. Não obstante, essa mãe ad
miravel, digna de sua dileta filha, consentiu em levá-la,
apesar da dor viva e aguda de sua alma, ao doce retiro
aonde o Senhor a chamava. Facilmente alguem renun
cia ao que tem pouco a peito; mas quão doloroso não
foi a uma mãe tão amante separar-se daquela encanta
dora menina que arrebatava os anjos e o próprio Deus!
O' generosa abnegação capaz de fazer-nos corar a nós,
que costumamos oferecer a Deus somente o que para nós
não tem atrativos nem valor. Diante de um sacrifício
que custa, hesitamos; às vezes lesamos a conciência para
não contrariarmos o nosso amor próprio, e assim nos
privamos de uma multidão de graças, pois que, quanto
menos fiel alguem é, tanto menos Deus lhe prodigaliza
favores.
Examinai se nó fundo do vosso cora!,)ão não há algum
apego, alguma afeição demasiado natural, de cujos la
ços não vos queirais desfazer. Não acariciais certos de
feitos, certos hábitos nocivos ao vosso progresso espi
ritual? Talvez tenhais por virtudes o que não passa de
um efeito da vossa boa índole ou talvez de vossa apatia
ou insensibilidade. O .carater da verdadeira santidade
está na renúncia que nos faz sacrificar tudo, quando se
trata de agradar a Deus.
O' gloriosa santa Ana, pedí a Jesus e Maria me comu
niquem a coragem de servir fielmente ao Senhor nas
amarguras, tentações e reveses, como na alegria, na paz
e nos sucessos. Fazei que eu conheça as tendências e as
faltas que mais impedem o meu progresso nas sólidas
virtudes.
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26 DE JULHO (bis)
SANTIDADE DE SANTA ANA
277
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E como se aproveitou disso santa Ana? pqr uma fi
delidade que a tornou uma daquelas almas nas quais
Deus põe as suas complacências especiais e cujas virtu
des glorifica através dos séculos por numerosos e bri
lhantes milagres, como o provam os fatos prodigiosos
operados por nossa santa em seus principais santuários.
Examinai se correspondeis como ela às graças que
vos são concedidas. Sois 1·ecolhidos, atentos à voz de
Deus que vos fala interiormente? e, quando ouvís essa
voz e compreendeis o que Deus de vós exige, sois fiéis
em obedecer-lhe? quantas resistências, imperfeições e
infidelidades em vossa vida!
Meu Deus, peço-vos humildemente perdão. Fazei-me
de hoje em diante mais fervoroso em minhas orações,
mais doei! aos vossos atrativos e mais generoso nas pe
nas inerentes aos meus deveres quotidianos.
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miremos a sua generosidade em abafar os sentimentos
da natureza. Oferecendo a Deus a dor interior, consa
gra-se com sua dileta filha unicamente à vontade e à
posse do Bem supremo e infinito.
Não vos aconteceu ainda terdes de sacrificar a Deus
um parente, um amigo, arrebatado aos vossos afetos
por morte imprevista? Como tendes suportado essa afli
ção apunhalante e dura? Sois tambem resignados quan
do perdeis a saude, o repouso, quando contrariam os
vossos gostos, idéias e vontades, quando humilham o vos
so orgulho, contradizem as vossas opiniões, ferem o vos
so amor próprio e suscetibilidade? Se nessas contrarie
dades exerceis a paciência e conservais a paz, tendes
nisso sinal de virtude firme e duradoura.
O' mãe da Virgem sem mancha, obtende-me a força
de fazer a Deus o dom total de mim mesmo, consagran
do-lhe o meu espírito, o meu coração, a minha liberda
de e a minha vida. Auxiliado por vossas preces e sob
a vossa proteção, estou resolvido: 1 º a imitar a vossa
resignação e o vosso espírito de sacrifício, evitando toda
queixa nos sofrimentos e toda hesitação no exer_cício da
obediência; 2º a pôr, de hoje em diante, toda a minha
glória, repouso e delícias, no cumprimento contínuo do
beneplácito divino, como os anjos e santos no céu. Sicut
in creio et in terra.
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1 º E' preciso ver Deus nos superiores
O abade dum mosteiro, querendo edificar um estranho,
mandou chamar um de seus religiosos de oitenta anos
de idade e deixou-o duas horas inteiras em sua presença
sem ·lhe dizer palavra. Perguntaram depois a esse va
lente religioso o que pensara durante aquela longa espe
ra, ao que ele respondeu: "Julguei estar diante de Je
sus Cristo e receber dele a humilhação; eis por que nem
me veio a idéia de desobedecer" (S. João Clímaco).
Eis o meio de tornar perfeita a nossa obediência. Ver
Jesus na pessoa dos superiores. Não disse Jesus aos que
mandam: "Quem vos ouve a mim ouve e quem vos des
preza a mim despreza"? (Lc 10, 16). "Obedecei a vos
sos superiores corno a Jesus Cristo", acrescenta o após
tolo (Ef 6, 7).
Deste princípio dimanam, como que naturalmente, as
qualidades que deve ter a obediência. E, de fato, se co
nhecêssemos em verdade a Jesus nos que nos governam,
nos sentiríamos dispostos a .respeitá-los, a amá-los, a
executar suas ordens, não só sem arrazoar, sem murmu
rar, mas tambem com prontidão, exatidão, simplicidade
e generosidade.
Quando são Pedro Claver aparecia diante de seus su
periores, conservava sempre a postura mais humilde. os
olhos baixos, chapéu na mão e atento aos menores si
nais de sua vontade, para executá-la imediatamente. Pro
cedia assim para com qualquer que no momento pos
suísse direito de lhe dar ordens, mesmo que fosse o últi
mo da comunidade, vendo nele a pessoa de Jesus; era tão
perfeita a sua obediência, que chegava ao heroismo.
Quando santo Afonso Rodriguez recebia uma ordem qual
quer, dizia interiormente: "Sim, Senhor Jesus, farei o
que exigís ou desejais de mim". E logo, esquecendo a
pessoa do superior, punha-se a executar o que o Salvador
lhe havia prescrito por. seu representante. Procedei da
mesma forma e a virtude da obediência se vos tornará
facil, santificadora e meritória.
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Jesus, em vez de queixar-me das ordens que me são
dadas, deveria me alegrar com elas na certeza de ser
vir à vossa santa majestade, na pessoa dos meus supe
riores. Fazei que execute sempre as suas prescr1çoes
com prontidão e prazer, a exemplo dos mensageiros ce
lestes que correm e voam para onde a vossa vontade os
envia. ln simplicitate cordis vestri, sicut Christo.
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cutardes nenhuma ordem sem a controlar e criticar, sem
mostrar repugnância, em vez de a cumprirdes imediata
mente com pontualidade e alegria, corno se o Redentor
em pessoa saisse do tabernáculo para vos dar suas or
dens.
Jesus e Maria, inspirai-me a resolução de fazer todas
as minhas ações na intenção de obedecer: de levantar
me de manhã, de fazer a meditação, de ouvir a Missa e
comungar por obe_diência; de trabalhar, orar, tomar as
refeições e o repouso, unicamente para cumprir a vonta
de divina. Arrependo-me de no passado haver resistido
aos vossos des�jos que visam só o meu bem. Quero de
hoje em diante submeter-me a vós, afim de tornar efica
zes as minhas preces, de gozar a paz dos corações doceis,
e de imitar os vossos servidores, obedecendo, a vosso
exemplo, até à morte, em todos os pormenores da mi
nha conduta.
27 DE JULHO (bis)
A OBEDI:mNCIA E A EUCARISTIA
(Pr ópr ia par a os religiosos)
PREPARAÇÃO. Nós que comungamos tantas vezes e
consagrámos toda a vida à obediência, consideremos
as relações que existem entre o SS. Sacramento e: r a
obediência em geral; 2º a obediência regular em parti
cular. - Imitemos a docilidade do Salvador que, na Eu
caristia, não resiste jamais, mas se submete a todos os
sacerdotes sem exceção. Factus obediens usque a.d con
summationem smculi.
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�entantes; e a Igreja, intérprete fiel da doutrina do seu
esposo, manda-nos honrar o Homem-Deus nos que são
revestidos da sua autoridade.
A Eucaristia é ainda um sacrifício, isto é, do corpo e
do sangue de Jesus. A palavra do sacerdote, semelhante
a um gládio, imola a adoravel Vítima e faz assim ao Pa
dre eterno a oferenda mais capaz de glorificar suas per
feições infinitas. O mesmo se dá com a obediência: E o
sacrifício do nosso intelecto e da nossa vontade. O man
damento do superior é como o instrumento da nossa
imolação: submetendo·-nos a ele, oferecemos ao Senhor
o que temos de mais caro e precioso, a nossa liberdade,
o nosso livre arbítrio. Assim prestamos a Deus a glória
mais pura, depois da que recebe na santa missa, porque
ele mesmo declarou ser a obediência melhor do que as
vítimas da antiga lei. Melior est enim obedientia quam
victimre (1 Rs 15, 22).
Vendo o Rei da glória sujeitar-se na Eucaristia a to
dos os sacerdotes do mundo, vendo-o obedecer pronta
mente à sua voz, sem observações, sem réplica e com
o mais cordial amor, quem não tomaria a resolução de
submeter-se inteiramente aos representantes de Deus,
depositários da sua autoridade? Jesus faz-se vítima em
nossas igrejas, não somente oferecendo o seu corpo, mas
tambem prendendo a sua vontade à dos ministros do
altar, guardas legítimos das sagradas espécies. Quando,
pois, assistirmos à santa missa, ofereçamo-nos ao Pai
celeste, suplicando-lhe que disponha de nós segundo o
seu beneplácito; prometamos-lhe praticar durante o dia
a mais perfeita obediência.
Jesus-hóstia, fazei que eu viva, em espírito, de confor
midade com os meus superipres, a vosso exemplo nos
tabernáculos, onde ficais à disposição dos sacerdotes até
ao fim do mundo. Concedei-me inteira docilidade aos que
me governam em vosso nome. Que a fé, a renúncia, --0 de
sejo de agradar-vos tornem a minha obediência agra
davel a vossos olhos e semelhante à vossa, sempre :Pon
tual, ceia, pronta � generosa,
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2º Relações entre a Eucaristia e a observância regular
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permanente da vontade de Deus; obter-nos-á a força
de praticá-la pontualmente com o intuito de agradar a
Jesus e a ele nos unirmos. -
Meu divino Redentor, do fundo do tabernáculo onde
residís, ensinai-nos pelo vosso exemplo a conservar-nos
sempre prontos a cumprirmos o divino beneplácito. Dai
me a graça: 1º de conservar-me habitualmente numa
santa indiferença, disposto a executar de boa vontade o
que me for prescrito; ,2º de não declinar das dificulda
des da regra com disp'ensas, mas de Óbservá-la mesmo
que repugne. Pelos méritos da Virgem sempre fiel, ins
pirai-me o espírito de fé, amor e generosidade no exer
cício da observância regular.
285
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turais, e de restituir-lhe a vivacidade da fé e a retidão
de intenção?
Após um mês de trabalhos, estudos, negócios e con
trariedades diárias, o nosso coração torna-se por vezes
árido e debilitado, sentindo a necessidade de retemperar
se. O retiro é o melhor meio de encontrar novamente
a unção da piedade, de romper os laços que nos prendem
à terra e a nós mesmos, de fortalecer a nossa coragem,
de reanimar as nossas esperanças e de despertar em nós
os desejos de perfeição mais elevada.
Meditando e orando na solidão, a alma compreende
melhor o valor dos bens celestes; torna-se mais senhora
de si, menos escrava das paixões, menos impaciente nas
penas; e assim ela é: forte na adversidade e condescen
dente com o próximo, disposta a perdoar-lhe os erros e
desejosa de conformar-se ao beneplácito divino.
Quem aspira à vida espiritual e interior, diz o autor
da Imitação, deve com Jesus retirar-se às vezes do meio
da multidão; pois não há segurança em aparecer quan
do não se gosta de ficar oculto; não há segurança no
falar, quando não se gosta de calar; não há segurança
no brilhar e no mandar para quem na solidão não apren
deu a humilhar-se e a obedecer (L. 1, cap. 20). Nos
exercícios espirituais, com efeito, encontra-se tudo o que
é de molde a assegurar o nosso progresso, isto é, as pie
dosas leituras, a meditação, a pres:e, o divino sacrifício,
a comunhão, as santas reflexões e, mais que tudo, a gra
ça do retiro. Já que somos tão fracos e expostos a per
der-nos, imitemos o procedimento dos santos: 1º suspi
remos, como eles, pelos .dias de recolhimento; 2º apro
veitemo-los, quando os temos, afim de restaurar a nossa
alma, torná-la pura, desapegada, ardorosa no bem, uni
da à fonte de toda a -sabedoria e santidade.
Jesus, inspirai-me o horror da dissipação, da perda de
tempo, mormente durante as salutares horas do retiro.
Fazei que eu aproveite esses momentos mais preciosos dá
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que o ouro, que me proporcionam,o aumento da gra(,;a,
a aquisição das virtudes, e o crescimento dos méritos
para toda a eternidade. Renovamini spiritu mentis ves
tr1B.
2º Disposições para se fazer bem o retiro
A primeira é a convicção da necessidade de fazê-lo. E
quem não teria esta convicção, ao considerar a miséria
humana, as nossas inclinações para o mal, nossa inca
pacidade para o bem, a violência das tentações que nos
assaltam, a grandeza dos perigos que nos rodeiam? Vós
ignorais as cruzes, as dificuldades, os empregos, os car
gos importantes que talvez vos aguardem e que exigem
de vós virtude sólida. Onde achareis essa virtude, senão
na solidão, onde Deus reuniu os meios mais eficazes para
a vossa santificação?
Destas reflexões deve nascer-vos o ardor do desejo,
segunda disposição para o aproveitamento das graças
da solidão. Como um mundano corre atrás das riquezas
e dos prazeres; como o cativo deseja a liberdade, o en
fermo a saude, o conquistador o triunfo e a glória, as
sim devemos suspirar pelo retiro, mina fecunda de bens
e de felicidade, fonte da liberdade verdadeira, de forças
espirituais e de legítima grandeza.
Acrescentemos, como terceira disposição, a coragem
e confiança em Deus. Persuadido de que é o Senhor
quem nos leva ao retiro para cumular-nos dos seus fa
vores, perguntemo-nos como o fariam os santos, se es
tivessem em nosso lugar; com que recolhimento, fervor,
espírito de abnegação e de oração! Se fosse dado a um
demônio libertar-se do inferno por esse meio, com que
generosidade não aceitaria a condição! E nós por ele
podemos não só nos preservarmos do suplícios eternos
mas tambem dos do purgatório, se tirarmos proveito do
privilégio que nos é concedido.
E como não o aproveitaríamos, vendo que os peca
dores se dão mais trabalho para a sua condenação, do
que o Senhor exige de nós para a nossa salvação? Além
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disao nada há de penoso no retiro: os dias a ele consa
grados são como as horas de hospedagem nas quais o
viajante se restaura as forças. Assim, no caminho do
céu, reconfortamo-nos por exercícios mais cheios de ora
ções, leituras, reflexões, preces, exames e resoluções. E',
pois, mais um festim do que um trabalho. A alma nele
se imerge, se inebria e deles sai toda transfigurada.
Jesus, pela intercessão de vossa Mãe santíssima, dai
me a convicção da minha incapacidade e miséria; fazei
me desejar ardentemente a solidão, o silêncio, o reco
lhimento e a oração, para fortalecer minha alma con
tra as más inclinações e aumentar em mim a vida espi
ritual tão necessária à minha salvação. Estou resolvido
a passar os meus dias de retiro num isolamento com
pleto, e num contínuo espírito de oração, afim de tirar
deles os mais duradouros frutos.
29 DE JULHO
COMO SE TIRA PROVEITO DO RETIRO
PREPARAÇÃO. Bom meio de tirar proveito do retiro
mensal é dispor-se para a morte. Meditaremos pois: 1º
os motivos porque devemos estar sempre preparados; 2"
como podemos fazer cada mês o ·exercício da boa mor
te. - O nosso ramalhete espiritual será a grave palavra
do Salvador: "O Filho do homem virá, quando menos o
esperardes". Qua hora non puta tis, Filius hominis veniet
(Lc 12, 40).
288
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meses ou alguns dias; ou até se morreremos na próxima
hora; 3º não sabemos como sairemos deste mundo, se
por longa enfermidade que nos dará tempo de regular
mos nossas contas com Deus, ou se por morte repentina
que nos arrebatará no momento em que menos cuidar
mos da nossa salvação.
A conclusão impõe-se: devemos dispor-nos cada dia a
comparecer perante Deus. Ainda mais, o Salvador reco
menda-nos que estejamos sempre prontos. Estote para
ti. A morte nos surpreenderá, diz o Espírito Santo, co
mo um ladrão que escolhe a noite e o instante mais fa
voravel para não ser descoberto (1 Tess 5, 2). "Na hora
em que menos pensardes, assegura a sabedoria incarna
da, o Filho do homem virá julgar-vos". Qua hora non
putatis.
Exclama santo Afonso: "Se tivesses de morrer hoje,
ainda antes da noite, e de ver decidido o grande negó
cio da tua eternidade, encontrarias em ordem a tua con
ciência? e, então, que não darias a Deus, para conceder
te o tempo necessário para te preparares! Já que ele
te dá hoje esse tempo, aproveita-o; talvez seja o últi
mo dia de tua vida". Quem sabe é o derradeiro aviso
que o Senhor te dá?
Meu Deus, tenho lutado convosco com persistência:
eu obstinando-me em ofender-vos, e vós usando ainda
de mais misericórdia _para comigo. Aceito a morte em
expiação dos meus pecados. Até agora, tenho vivido na
tibieza e não vos tenho amado. Dignai-vos deixar-me
ainda algum tempo sobre a terra, porque quero corri
gir-me dos meus defeitos e reparar o passado por con
duta irrepreensível. Mudai-me o coração; inflamai-o do
vosso santo amor. Fazei que eu medite, vele e ore sem
cessar, afim de não ser surpreendido na última hora.
Videte, vigila.te et ora.te; nescitis enim quando tempus
slt (Me 13, 33).
Bronchain II - 11 289
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2º Exercício da boa morte a se fazer cada mês
O dia do retiro mensal é o mais próprio para essa
prática. De manhã figuremos haver recebido do céu o
anúncio certo da nossa morte para a noite seguinte. Ex
citemo-nos a passar o dia no maior fervor. E logo a me
ditação, como a faremos? Ao pé de Jesus moribundo,
assumindo as suas disposições, a sua generosidade em
. perdoar, o seu abandono a Deus, o seu espírito de ora
ção, de resignação, de submissão e de sacrifício. Forme
mos os sentimentos da mais viva contrição à recordação
dos nossos pecados, propondo-nos confessar-nos durante
o dia, como se fosse pela última vez. Ouçamos a missa
e comunguemos em viático, na mesma intenção e com
o maior fervor.
Quanto à confissão, façamo-la com a mais profunda
dor das nossas faltas e com a mais sincera resolução
de dar-nos a Deus. Seja tão bem feita, que possa pre
servar-nos do purgatório, caso morramos logo ao sair do
confessionário. Grande fervor e cuidado devemos tam
bem empregar durante o dia; as outras práticas de pie
dade, G terço, a via-sacra, o exame, a visita ao SS. Sa
cramento e à divina Mãe, todos esses exercícios devem
ser feitos como convém a uma alma prestes a deixar
esta vida e a comparecer diante de Deus. Além disso
santifiquemos pela fé as refeições, o descanso, as ocupa
ções, os entretenimentos com o diretor espiritual, de
modo a purificarmos o nosso coração, a recolhermos o
espírito e nos unirmos estreitamente a Deus.
Enfim, à noitinha, figuremo-nos receber a extrema
unção; sigamos-lhe as ceremônias, saboreemos-lhe as
palavras, acompanhando-as de sentimentos de contrição.
Depois perguntemo-nos a que grau de virtudes quiséra
mos ter chegado, se nesse momento tivéssemos de ser
julgados por Deus e fôssemos rec.eber a sentença final,
que deve fixar a nossa sorte eterna. Façamos a seguir
o propósito de aspirar à perfeição e, representando-nos
que o leito de repouso se transforma de noite em leito
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fúnebre, leiamos atentamente os atos costumados de pre
paração para a morte. No dia seguinte, ao acordarmos,
agradeçamos a Deus, que nos concedeu mais um dia para
executarmos boas resoluções, e nos ponhamos às obras
para conformarmos a nossa vida com as promessas
feitas.
Meu Deus, se, diariamente, eu me preparasse assim
para a morte, com que vigilância e fidelidade cumpriria
todos os meus deveres. Ponde-me· sempre ante os olhos
a minha última hora e dai-me a graça de preparar-me
para ela todos os dias e, por assim dizer, todos os ins
tantes.
19* 291
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um ato muito meritório. Que será arrancar os infelizes a
uma ruina total e irremediavel, e conseguir-lhe uma beati
tude que ultrapassa todas as felicidades terrestres? Uma
das vossas fervorosas orações jaculatórias pode preser
vá-los de todos os males e introduzí-los para sempre na
posse de todos os bens. Se o fizerdes, nenhuma outra ora
ção terá sido mais eficaz, nenhum outro ato de benefi
cência terá jamais produzido tão grande efeito em tão
pouco tempo e de maneira tão facil. Um único movimen
to interior de contrição perfeita, obtido em favor de tan
tas almas prestes a perecerem, assegura-lhes uma felici
dade pura e eterna.
As almas, salvas dessa maneira, serão ardorosas em
recomendar ao Senhor os fiéis éaridosos que lhes tiverem
prestado tão valioso serviço. Assisti-los-ão poderosamente
na hora da morte. Se temos, pois, a peito a salvação dos
pecadores resgatados por Jesus Cristo, sirvamo-nos des
te meio precioso de arrancá-los à tirania de Safanaz. A
sua conversão no último momento será pelo menos du
ravel e a sua sorte eterna não poderá perigar, como su
cede aos que voltam ao bom caminho quando gozam
saude. Onde encontrar ministério tão caritativo e tão ao
alcance de todos? Não tendes sido mais ou menos estra
nho a esta prática?
Jesus, inspirai-me a mais viva compa1xao para com
-os pobres agonizantes. Por minhas preces quero ajudá
los a conquistar o céu e tomo para isso a resolução: 1 º
de dar-lhes habitualmente uma parte nos meus exercí
cios de piedade; 2º de recomendá-los cada dia a vosso
Coração agonizante no jardim das Oliveiras e no madei
ro sagrado da cruz. Cor Jesu, in agonia factum, misere
re morientium.
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rante esta meia hora de oração, durante esta missa ou
esta ação de graças depois da comunhão, cerca de duas
mil mortes terão lugar sobre a terra. Quantas pessoas es
tão, pois, em agonia? e, entre elas, quantos impeniten
tes! Para a sua salvação e conversão bastaria um jato
de luz, um raio de graça. Não lho poderia eu 9bter?
Meu Deus, ofereço-vos nesta intenção, esta minha medi
tação, esta missa, esta comunhão, esta via-sacra".
Todos os dias rezamos o terço e temos às vezes mo
mentos livres, um quarto de hora, cinco minutos. Diga
mos então: "Durante este quarto de hora, morrem mil
pessoas no universo, e trezentas nestes cinco minutos;
Senhor, compadecei-vos dos que agonizam, sobretudo
dos qne necessitam de conversão. Ofereço-vos, para este
fim, todas as missas celebradas no mundo inteiro, e é
minha intenção renovar este oferecimento, a cada pul
sação do meu coração, e todos os instantes da minha
vida". Está prática vos proporcionará inumeraveis ben
çãos do céu.
Este é ainda um meio excelente de trazer-nos muitas
vezes à mente o pensamento salutar da morte e a ne
cessidade que temos de preparar-nos a ela, ou antes de
estarmos sempre prontos. Não há tempo tão bem em
pregado como aquele em que praticamos a caridade pa
ra com os infelizes ameaçados da mais pavorosa das
catástrofes, a condenação eterna. Peçamos ao Coração
de Jesus e à divina Mãe corram em seu auxílio; �ere
mos atendidos na medida do ardor dos- nossos desejos,
do fervor das nossas súplicas, ela firmeza da nossa con
fiança, e da importunação perseverante das nossas sú
plicas.
"Clementíssimo Jesus, cheio de amor pelas almas, con
juro-vos pela agonia do vosso santíssimo Coração e pe
las dores da vossa Mãe imaculada, purificai em vnc::!'n
sangue os pecadores do mundo inteiro que estão em
agonia e que hoje devem morrer" (100 dias de indul•
gência cada vez). Cor Jesu, ln agonia factum, misere
re morientium.
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31 DE JULHO - SANTO INÁCIO DE LOIOLA
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mildade, a mortificação, a oração! e nós resistimos à sua
voz! Cuidado para que ele não deixe de falar-nos...
Deixemo-nos guiar por sua luz, renunciando às nos
sas idéias próprias. Sigamos a sua direção em tudo e não
o nosso gosto, a nossa atividade natural, as nossas in
clinações e caprichos, o que nos lisonjeia os ·sentidos e
as paixões.
Jesus, a quem santo Inácio sempre teve no coração e
nos lábios, inspirai-me o desejo de tornar-me instrumen
to docil ao vosso amor e vontade. Purificai para isso a
minha alma de toda mancha, de todo apego a mim mes
mo e a meus interesses; de todo desejo de estima e sa
tisfações terrenas. Fazei que ponha toda a minha gló
ria ém glorificar-vos e em contentar-vos em todas as mi
nhas ações, em toda a minha vida. Omnia, in gloriam Dei
facite.
2º Virtudes de Inácio após a, sua, conversão
Foi sobretudo o seu espírito ele oração que o santifi
cou. Em Manreza fazia regularmente n:i. igreja sete ho
ras de oração de joelhos e imovel. Isso lhe proporcionou
vivas luzes sobre os mais altos mistérios da religião.
Estaria até pronto a derramar o sàngue para defendê
los, mesmo que não estivessem consignados no evange
lho. Nessa época teve um êxtase de oito dias, em que
recebeu comunicações celestes que não quis confiar a
ninguem. Donde tinha ele esse dom de tão sublime ora
ção? sem dúvida da generosidade em vencer-se, em re
nunciar a todo prazér, em macerar o seu corpo por aus
teridades extraordinárias, em humilhar a sua alma dian
te de Deus e dos homens, tendo-se pelo último de todos
e alegrando-se em ser desprezado pelo amor de Jesus
Cristo. Provado com penas interiores, aridez, escrúpulos,
jamais deixou a oração nem o serviço de Deus.
Tambem grande foi o seu desejo da salvação· das al
mas, desejo esse aceso em seu coração por suas fervo
rosas orações. Com o fim de socorrer o próximo, escre
veu o admiravel livro dos Exercícios espirituais, tão' elo
giado pelos soberanos Pontífices. Aos trinta e tres anos
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empreendeu o estudo das c1encias profanas e sagradas.
Inflamado sempre mais na caridade dos santos, quis per
petuar os efeitos de seu zelo até ao fim dos séculos, fun
dando a ilustre Companhia de Jesus, que tem proporcio
nado tanta glória a Deus e à Igreja no mundo inteiro.
Quem não admirará sobretudo a pureza desse zelo?
"Eu antes quisera, dizia o santo, ficar sobre a terra in
certo da minha salvação, do q_ue entrar imediatamente
no paraiso, se me fosse dado com isso converter uma
única alma". O' coração verdadeiramente generoso! Co
ração que nos lembra o do apóstolo desejoso de ser aná
tema por seus irmãos; o do taumaturgo das Gálias,
pronto a viver ou a morrer pela salvação do próximo;
o do próprio Chefe dos predestinados que se fez maldi
ção por todos nós. Factnm pro nobis maledictn.m.
Jesus, quem me dera sentimentos tão nobres e des
interessados! Mas ah! em vez de possuí-los, procuro a
mim mesmo, atendo à lassidão que me retem,. à preguiça
que se não quer incomodar, só egoismo, que éhama tudo
para si. Dignai-vos curar essas tendências funestas e
para este fim: 1º inspirai-me a mais terna compaixão
com os infelizes pecadores; 2º fazei que trabalhe em
sua conversão não somente por minhas preces, mas tam
bem tornando-me pequenino a meus próprios olhos e
atento a mortificar-me. Tornai-me até à morte amigo do
silêncio, do recolhimento e da oração; que eu esteja sem
pre pronto a renunciar a mim mesmo e a devotar-me à
salvação do próximo.
Mf;S DE AGOSTO
(virtudes especiais a exercer: a humildade e a mansidão)
PRIMEIRA SEXTA-FEIRA
HUMILDADE DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
PREPARAÇAO. "Tende os sentimentos de humildade
do Senhor Jesus". Este é o preceito do apóstolo. Para a
ele nos conformarmos, veremos: l ° quanto Jesus se hu-
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milhou diante de seu Pai; 2º como imitaremos o seu hu
milde aniquilamento. - Examinaremos a seguir quais
os pensamentos que nos ocupam de ordinário e com que
paciência suportamos· a humilhação. Assim descobrire
mos até onde é humilde o nosso coração, a exemplo do
Coração de Jesus. Sentite in Yobls quod et ln Cristo
Jesu (Filip 2, 5).
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Sim, Senhor Jesus, quero aprender de vós a aniqui
lar-me diante de Deus, e reconhecer em sua presença mi
nha incapacidade para o bem; a confessar os meus pe
cados que provocam todos os castigos. Quero sobretudo
aprender de vós a suportar com doçura e resignação as
faltas de atenções, as contradições, as zombarias, as
afrontas e os desprezos. Formai pelo vosso o meu cora
ção, tornando-o humilde, paciente, confiante em vosso
socorro e desejoso de glorificar em · tudo o Pai celeste,
mesmo a custo da minha reputação. Sentite in vobis quod
et ln Christo Jesu.
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comunicai-me a humildade que levou o vosso Coração a
abraçar toda sorte de opróbrios e desprezos. Inspirai-me
a coragem de receber em paz e até com ação de graças,
as confusões, as afrontas e tudo o que me fere o amor
próprio. Isso é para mim assinalado favor, pois que me
auxilia a curar-me do orgulho e da pretensão, fontes fe
cundas de tantos males.
O' Maria, pelo Coração humilde do vosso Filho, ob
tende-me a força de converter em humildade, segundo
a expressão de são Bernardo, todas as humilhações da
vida. Para este fim tomo a resolução: 1º de orar, de
guardar o silêncio e de resignar-me nas afrontas, nas
calúnias e em tudo o que fere a minha suscetibilidade;
2º de recordar-me muitas vezes da palavra de santo
Afonso: "A ambição dos que amam a Deus deve ser
superar a todos em humildade!"
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são, faz cair as cadeias e leva-o, sém ser visto nem ou
vido, até às portas que se abrem diante dele.
Esse milagre, sem dúvida, nos maravilha. Mas não fo
mos nós objeto de prodígio ainda maior? Estávamos perdi
dos pelo pecado, sob o jugo do mais cruel dos tiranos.
Acorrentados pelos vícios e más paixões e inclinações, tí
nhamos de esperar a execução de uma sentença que nos
condenava à morte eterna.· No momento, porém, em que
as cadeias mais pesavam, abriram-se os céus, e viu-se ...
não um anjo, mas o Unigênito de Deus descer para li
bertar-nos. Rompendo os laços dos nossos pecados e in
clinações criminosas, liberta-nos não com uma palavra,
o que lhe seria facil, mas à custa de trabalhos, dores e
opróbrios inauditos.
Que lhe retribuiremos por tão grande sacrifício? Sem
ser rogado, veio arrebatar-nos ao inferno e abrir-nos
o céu, no momento em que· previa as nossas ingratidões.
O' caridade sem exemplo, misericórdia infinita! "Senhor,
dir-vos-ei com Daví, quebrastes as minhas cadeias. Sa
crificarei uma hóstia de louvor". Vós me preservastes
dos suplícios eternos e me livrastes do pecado. Dirupisti,
Domine, vincrila mea, tibi sacrificabo hostiam laudis.
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porventura mais estimadas por todas as igrejas do que
o ouro mais puro e precioso? O próprio são Pedro, ajun
ta são João Crisóstomo, as considerou como ornamento
régio, e com elas :::e sentiu mais bem ornado do que com
colares de pérolas e vestes de púrpura e seda. Sabia que
as cadeias que o prendiam em Roma lhe dariam em bre
ve a mais nobre das liberdades, a da bem-aventurada
imortalidade; recordavam-lhe ainda as cadeias com que
foi atado o seu bom Mestre durante a paixão. Crucifica
do como ele, porém de cabeça para baixo por humildade,
julgou-se feliz por parecer-se com seu Salvador e ir re
unir-se com ele, derramando o seu sangue no martírio.
O' morte gloriosa e digna de inveja! rompeu os laços que
retinham o Chefe visivel da Igreja longe do seu Chefe
visível; abriu as portas do céu àquele que recebera as
chaves para lá introduzir todas as almas fiéis a Jesus.
"O Cristo morreu, escreveu ele, e por seu exemplo vos
convida a marchar sobre as suas pegadas. Embora fosse
a. inocência e a verdade personificada, não maldisse quan
do amaldiçoado, não ameaçou os que o cobriam de gol
pes; · mas entregou-se sem resistência ao juiz 'iníquo que
o condenou injustamente". Não somos daqueles que se
mostram calmos e pacatos quando tudo corre de acordo
com seus desejos, mas que se agitam e impacientam
quando os contrariam? Corrijamo-nos desse defeito lem
brando-nos do Salvador que se deixou atar e conduzir
por nós à morte, sem queixa nem resistência.
"Ele levou em seu corpo, acrescenta são Pedro, o cas
tigo dos nossos crimes e curou-nos por suas chagas" (1
Ped 2, 21). Tal desinteresse é de molde a fazer-nos rom
per com as nossas paixões, nossa presunção e nossa sen
sualidade, para abraçarmos a humildade e a pobreza de
Jesus.
Divinb Redentor meu, pelos méritos de vossa santa Mãe
e dos príncipes dos apóstolos, tornai eficazes as minhas
resoluções seguintes: l" de romper os laços da minha
vontade própria, que me impedem de curvar-me às exi-
301
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gências de vossa graça; 2º de aceitar 'e suportar em si
lêncio a vosso exemplo, todas as contradições e todos os
males da vida. Dirupisti, Domine, víncula mea. Tibi sa
crüicabo hostiam laudis.
2 DE AGOSTO
SANTO AFONSO, DOUTOR DA IGREJA
PREPARAÇÃO. Santo Afonso podia falar como o
apóstolo que dizia de si: "Jesus Cristd é minha vida".
Meditaremos: l" como estreitamente estava esse zeloso
doutor unido a Jesus; 2º como poderemos imitá-lo. -
Tomaremos a resolução de fazer a seu exemplo, muitos
e fervorosos atos de amor, afim de nos prendermos a
Jesus e vivermos de sua divina. Mihi enim vivere Chri
stus ·est, et mori lucrum (Filip 1, 21).
302
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de estar com ele, meditavà, ora os inartirios da sua m
fância, ora os da paixão, ou então adorava-o nas igrejas,
onde repousa o santíssimo Sacramento; lá passava lar
gas horas a conversar com seu Amigo e voltava sempre
mais apaixonado por ele, mais desejoso de imolar-se por
sua glória. Tornou-se assim como um outro Jesus Cris
to, _todo transformado em seu bom Mestre e como que
identificado com ele. Podia, pois, dizer com verdade: "Je
sus é minha vida". O' vida preciosa que faz a nossa gran
deza, o nosso mérito e a nossa beatitude! O' vida que
de terrestres nos faz· celestes, e de homens mortais nos
transforma de certo mbdo em deuses!
Queremos saber até que ponto o Senhor vive em nós?
Vejamos a que grau temos chegado de abnegação e de
renúncia própria. Se, para obedecermos a Jesus, temos
a força de violentar o nosso coração, os nossos desejos,
inclinações, hábitos de dissipação, capricho, impaciência,
desobediência e tanto as outras pequenas paixões que
impedem o nosso progresso, somos inteiramente dele.
Ainavel Mestre, operai em mim essa morte, morte to
tal ao espírito próprio, sempre inclinado a julgar e a cri
ticar; livrai-me · da vontade tão pouco submissa e tão
pouco generosa nos sacrifícios.
Tornai-me insensível ao que me lisonjeia ou repugna
e· fazei-me considerar e amar unicamente o vosso be
neplácito. Mlhi enim vivere Chrlstus est et mori lucrum.
303
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espírito do Ho�em-Deus, de pensarmos como ele, de jul
garmos como ele, de estimarmos o que ele estima e de
desprezarmos o que ele despreza. Meditando o seu Evan
gelho, os mistérios de sua vida oculta, pobre e padecente,
olharemos logo as tres concupiscências do século, como
os inimigos de Deus e da nossa alma.
Por meio da prece, dos sacramentos, das leituras pie
dosas, e de assíduas reflexões, as idéias do divino Mestre
passarão, aos poucos, aos nossos sentimentos e à nos
sa. vontade. Amaremos o que ele ama e odiaremos o que
ele detesta; para agradar-lhe, aceitaremos até o que
repugna ao nosso amor próprio. O nosso coração formar
se-á assim pelo de Jesus; e a graça, crescendo sempre
em nós, acabará por dominar a natureza. Este feliz es
tado começa em nós o reino perfeito do Homem-Deus.
Jesus então vive e manda em nós; regulariza em nós
todos os pensamentos, desejos e afetos. Nada de delibe
rado se efetua sem ele; torna-se ele a alma da nossa
alma: Pensar, julgar, amar, alegrar-se, contristar-se,
agir e querer, tudo se torna antes efeito da sua graça
do que da nossa fraca natureza. Tal será em nós, como
em santo Afonso, a vida íntima de Jesus, se formos fiéis
às suas luzes e atrativos.
Para chegardes a essa desejavel perfeição, proponde
vos: l" exercitar-vos nu.ma oração contínua, mesmo no
meio das vossas ocupações; 2º não perder jamais o tem
po em conversações e ações inuteis; 3 º permanecer sem
pre unidos ao beneplácito divino, agindo ou sofrendo.
Santo Afonso, imitador de Jesus e Maria, dai-me o
amor da oração, do trabalho e da conformidade à von
tade divina. Uní-me estreitamente ao meu amavel Re
dentor. Que ele seja doravante a luz do meu espírito, a
vida e a força do meu coração, afim de ·que, deixando o
mundo correr atrás dos bens passageiros, eu ponha toda
a minha felicidade em possuir Jesus, vivendo sempre por
ele, com ele, nele, para ele. Mihi enim vívere Christus
est, et mori lucrum.
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f
: DE AGOSTO - AS TRES CÓNCUPISC�NCIAS
Bronchain II - 20 305
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!la!:I penitências e austeridades sem tréguas, para conser
varem intata a inocência, qual lírio rodeado de espi
nhos?
Admira-vos esse procedimento dos santos? Eles estão
ainda mais pasmos de vos ver tão desassombrados no
meio dos inimigos que vos querem perder. Eles, apesar
da sua vida humilde, pobre e mortificada, temiam os jui
zos de Deus e a sua própria fragilidade. Vós, ao contrá
rio, afagando o vosso orgulho, vaidade, moleza e sensua
lidade, viveis descuidados e sempre contentes. De que
lado estão a fé, -,o bom senso, a verdade? De que lado
se devem achar a esperança, a segurança, a alegria de
uma boa conciência, mormente na morte? Certamente do
lado dos que temem o Senhor como eles.
Meu Deus, vós dissestes: "Só quem pratica o vosso te
mor gozará de doce segurança na hora da morte". Dai
me a graça de trabalhar na minha santificação e na mi
nha salvação com temor contínuo de perder-me eterna
mente. Timenti Dominum bene erit in extremis (Ecli
1, 13).
2º Como devemos vencer as más inclinações
As tres concupiscências do mundo militam em cada
um de nós. Corrompida a nossa natureza pelo pecado ori
ginal, ficamos inclinados ao orgulho, ao amor das rique
zas e dos prazeres, um mais, outro menos, mas todos de
tal forma que precisam procurar remédio a esses males
no exercício das virtudes opostas. O Redentor, querendo
curar-nos, disse a todos: "Se vos não converterdes, e
não fordes como criancinhas, não entrareis no reino dos
céus" (Mt 18, 3). "Não podeis servir a dois senhores,
a Deus e ao dinheiro" (Mt 6, 24). "Entrai pela porta
estreita, pois que larga é a porta e espaçoso o caminho
que conduz à perdição e são muitos os que entram por•
ela" (Mt 7, 13).
Estas palavras indicam-nos os remédios :inais eficazes
para nossas más inclinações. São eles: a humildade, o
desapego e a abnegação ou a mortificação do próprio eu.
306
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Por estes meios triunfaremos das concupiscências que
expõem a nossa alma à perdição. Examinemos pois: 1º
se combatemos o nosso orgulho, nossas tendências à vai
dade, a procura da própria estima, das atenções do mun
do e de tudo que lisonjeia o nosso amor próprio; 2º se
vivemos desapegados da terra, contentes com a veste e
a alimentação, sem ambicionar o luxo dos moveis, as de
lícias da mesa e a suntuosidade dos chamados felizes
do mundo; 3º se somos prontos em mortüica.r os senti
dos, a vista, os ouvidos, o gosto e mais ainda o desejo
de tudo ver, ouvir e conhecer, desejo tão perigoso para
a castidade e tão nocivo à liberdade interior dos filhos
de Deus e ao recolhimento.
Jesus, renovo os votos do meu batismo, renunciando
por vosso amor às tres concupiscências do mundo e às
faltas que delas emanam. Dai-me a graça de viver sem
pre segundo o espírito de humilda.de, de desapego e de
abnegação que sempre tivestes em vossa vida mortal e
de que me destes o exemplo em vossa vida eucarística.
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Jamais deixou esse gênero de vida nem nas viagens, nem
nas pregações, nem mesmo quando avançado em anos.
E ele mostra-se sempre jovial e amavel; é a prova de
quanto mais alguem se sacrifica no serviço de Deus,
tanto mais dele recebe delícias interiores.
E essas delícias donde a hauriram os santos? da ora
ção assídua., que era para eles o paraíso na terra. Duran
te suas excursões apostólicas, quando de caminho, man
dava adiante os companheiros afim de só e melhor se
entreter com Deus que habita em nossas almas. De vol
ta, embora fatigado e com os pés esfolados, ia logo para
perto do sacrário, onde permanecia longas horas. Lá pas
sava noites inteiras, ora com os braços abertos em forma
de cruz, ora com o rosto por terra, ora multiplicando suas
inclinações e genuflexões com o mais profundo respeito.
Ah! se conhecêssemos com são Domingos o fundo de
corrupção que há em nós, com que ardor não nos poría
mos a orar e a mortificar-nos como ele! Velando sempre,
negariamos aos sentidos, à imaginação, às más inclina
ções, tudo que os afaga e fortalece, e pediríamos sem
pre ao Senhor que nos dirigisse, defendesse e sustentas
se. Mas ah! a nossa presunção persuade-nos que nada
temos a temer: daí a lassidão em vencer-nos, a moleza
nos nossos hábitos, a falta de espírito de fé e oração,
com os quais poderíamos, como os santos, elevar-nos ao
auge da sólida virtude.
Meu Deus, ponde termo às minhas hesitações, à minha
negligência e à minha tibieza. Fazei que comece a servir
vos sem reserva por meio de uma mortificação e de uma
oração contínuas. Non impedia.ris orare semper (Ecli
18, 22).
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merosas que se contavam aos milhares entre os fiéis e
entre os cristãos. Os herejes albigenses, objeto especial
do seu zelo, resistiram-lhe por algum tempo, o que mui
to o afligiu. Porém a Rainha do céu apressou-se a con
solá-lo.
Uma vez, enquanto orava, apareceu-lhe a Rainha dos
céus e lhe disse: "Já que a saudação angélica foi o prin
cípio da Redenção do mundo, deve ser tambem a fonte
da conversão dos herejes". Recomendou a seu servo pre
gasse a devoção do Rosário. E Domingos o fez: em vez
de discutir os pontos controvertidos, explicou os quinze
mistérios do Rosário; depois, salientando as grandezas
da Mãe de misericórdia, concitou todo o mundo a rezar
com confiança e a recitar o terço em sua honra. Esses
sermões tiveram sucesso prodigioso: em poucos anos,
mais de cem mil herejes se converteram e cerca de cinco
milhões de pessoas abraçaram a nova devoção. Quem
não admirará o poder de Marja e a docilidade de seu
servo?
Não é tudo: sob sua proteção Domingos fundou a
ilustre Ordem que tem dado à Igreja tantos pontífices,
santos, mártires e doutores, tantos zelosos propagadores
da fé católica e do culto da divina Mãe. Eis o que pode
uma alma, quando submissa ao Espírito Santo e fiel a
orar com constância à Dispenseira dos dons celestes.
E vossa alma, não se tem ela esfriado sempre que di
minuistes ou negligenciastes as práticas de devoção à
Rainha dos santos? Doravante sede mais constante e
exato em suplicar-lhe e em mortificar-vos em sua hon
ra, mormente nos sábados e nas vésperas de suas festas.
Virgem bem-aventurada, sois depois de Deus a minha
esperança. Pela intercessão de vosso servo são Domingos,
obtende-me a graça: 1 º de fugir de toda negligência no
culto filial que vos devo como a minha Rainha e Mãe;
2º de invocar-vos a miudo, mormente nas penas, dificul
dades e combates; 3 º de gostar de recitar o terço, medi
tando os mistérios do Rosário e as virtudes sublimes que
praticastes.
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5 DE AGOSTO - NOSSA SENHORA DAS NEVES
º�
gina, Mater misericordim. Desde a conceição do Deus de
amor nela incarnado pela nossa salvação, o seu CoraçãQ
dilatou-se em nosso favor, como um imenso oceano
310
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compa1xao no qual podemos imergir todas as nossas mi
sérias. Os mais miseraveis são súbditos por excelência;
acolhe-os com extrema doçura quando arrependidos. Don
de, pois, as nossas desconfianças e hesitações em implo
rar a sua assistência? Como seu divino Filho, ela nos
clama: "Vinde a "mim todos que estais fatigados e sobre
carregados e eu vos aliviarei".
Virgem misericordiosa, longe de mim desconfiar de
vós. De vossa onipotente caridade espero a vitória sobre
as minhas más inclinações, a coragem e a constância
necessárias à minha perseverança e a força de construir
o edifício de minha perfeição sobre as ruinas de meu
amor próprio e em particular do meu defeito dominan
te. Rainha de santidade, obtende-me a vontade sincera
de fazer reinar a alma sobre o corpo, e o espírito sobre
a matéria, a razão sobre os sentidos, a fé sobre o juizo
próprio, a graça e a caridade sobre as inclinações natu
rais que impedem em mim a união perfeita e a seme
lhança inteira com o vosso amado Filho. Qui me inve-·
nerit inveniet vitam 1it hábJet salutem a Domino.
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pureza interior. Quanto mais amamos a Deus, pureza
infinita, tanto mais a nossa alma se desapega de todo
o criado e, devido a essa disposição, a castidade se afir
ma em nós e se nos torna facil. O apego a nós mesmos,
ao nosso corpo, às satisfações dos sentidos e às criatu
ras são como espinhos que nos expõem •a lesar a virtude
angélica. Queremos conservá-la intata? trabalhemos sob
a proteção de Maria para evitar até as menores faltas,
para unir-nos estreitamente e unicamente ao soberano
Bem.
A alma elevada acima dos sentidos e desejosa de unir
se ao Senhor, é como água límpida, como um cristal pu
ríssimo. A· luz divina penetra, mostra-lhe o nada dos
prazeres efêmeros e a solidez das alegrias da virtude.
Dai a vigilância sobre si mesma, o espírito de mortifi
cação e oração, que a afasta dos prazeres e a aproxima
de Jesus. A castidade torna-se facil e doce aos corações
verdadeiramente desapegados.
Virgem imaculada, dir-vos-ei com são Sofrônio, a alvu
ra da neve é apenas um imperfeito emblema da pureza
que vos distingue entre todas as virgens. Obtende-me a
castidade do corpo, o horror até das menores manchas,
e uma vigilância contínua sobre o meu coração, afim de
conservá-lo só para Deus. Fazei que na terra eu viva
como num deserto, onde minha única ocupação seja san
tificar minha alma e procurar a glória do vosso divino
Filho.
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l° No céu ,•eremos a Deus
O Salvador mostra-se a seus apóstolos transfigurado
no Tabor. O seu rosto torna-se brilhante como o sol, as
suas vestes, brancas como a neve. Essa visão transporta
Pedro fora de si e inebria-o de felicidade. Se a vista da
humanidade de Jesus produz tais efeitos sobre a terra,
que' será contemplar no céu a sua divindade? Vê-lo-emos
face a face, diz o apóstolo (1 Cor 13, 12), isto é, con
templaremos em êxtase de júbilo os tesouros infinitos
do Padre, sabedoria, pureza, santidade nele encerradas.
Tudo quanto há de belo, de bom, de arrebatador no
universo não é nada em comparação das perfeições do
Criador. A excelência da sua grandeza e da sua essên
cia infinitas é como um oceano sem fundo nem praias,
onde os eleitos se imergem pela luz da glória que os re
veste. A eternidade não basta à sua admiração e santo
inebriamento. "Serei saciado, dizia o profeta-rei, quando
me aparecer o vosso esplendor nos céus" (SI 16, 15).
E esse esplendor, por si só suficiente para nos fazer
felizes, com quem e em que lugar o veremos? Com a
mais augusta assembléa que jamais existiu, a dos anjos
e dos santos, e na morada mais deliciosa que se possa
imaginar, isto é, no céu. Estas últimas, vantagens, diz
santo Afonso, embora acidentais, proporcionam aos elei
tos uma felicidade que ultrapassa todos os prazeres da
terra. Oh! quem nos dará a pureza de coração requerida
para se merecer a visão beatífica?
• Examinai quais as vossas faltas, os vossos mais usuais
apegos; purificai-vos deles pelo arrependimento, pelo
desapego das criaturas. Muitas vezes, por causa de ninha
rias a que vos prendeis, vos privais de luzes e de gra
ças infinitamente preciosas.
Meu Deus, curai-me o espírito de seus preconceitos,
de seus erros, de suas máximas mais ou menos munda
,nas. Fazei que eu conheça o valor dos bens a mim pro
JQetidos na eternidade � que excedem infinitamente to-
313
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das as riquezas da terra. Dai-me a força de combater
todo empecilho à pureza interior, tão necessária à visão
beatífica. Beati mundo corde, quoniam ipsi Deum vide
bunt.
2º No céu amaremos a Deus
O amor divino é sobre a terra muitas vezes partilhado
e misturado de motivos imperfeitos. Ama-se o Senhor não
tanto por causa dele mesmo, mas pelos bens recebidos
da sua bondade; e mesmo esse amor é frequentemente
viciado pelo apego à criatura. No céu não será assim:
amaremos a Deus sem interesse, sem reserva, unicamen
te porque ele o merece, e segundo a capacidade do nos
so coração inteiramente purificado. Com que ardor en
tão a nossa alma se lançará para esse Bem supremo,
contemplando sua beleza? Com que. delícias se imergirá
na imensidade do seu amor para aí gozar tudo quanto
sua ternura divina sabe comunicar· a seus amigos, a seus
filhos privilegiados!
Os suplícios eternos do Inferno excitam a raiva dos
demônios e dos réprobos, a felicidade do céu, porém, em
proporçõés maiores faz prorromper em louvores os an
jos e os eleitos na presença da santíssima Trindade que
os cobre de tantos favores. O Rei da glória, o Deus eter
no fá-los partilhar os seus bens, suas alegrias e suas
perfeições inefaveis; dá-se-lhes como o seu último fim
e sua recompensa infinitamente grande. Ego merces tua
magna. nimis.
E' doce aspirar sempre a essa invisível beatitude,
amando a Deus de todo o coração, de todo o entendimén
to, e com todas as forças. Mas quão longe estamos nós
disso; ocupamo-nos infelizmente menos com Deus do que
conosco e com as criaturas, em vez de nos recolhermos
. e nos aplicarmos à oração, deixamos nossa imaginação
alimentar-se de recordações inuteis. Ah! se tivéssemos
uma faisca do amor que consumia os santos, todos os
nossos defeitos logo desapareceriam, todos os desfaleci
mentos se dissip�riam, a. !}O�ija inteligência seria acla-
•
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rada e a nossa conc1encia purificada; a nossa .alma ja
mais se inflamaria de orgulho nem se deixaria roer pela
inveja, turbar pela cólera, abater pela tristeza; mas, tor
nando-se humilde, pura, casta e pacata, mostrar-se-ia
moderada na prosperidaq.e e resignada nas provações;
possuiria assim todas as virtudes que nos tornam dignos
de ver e amar perfeitamente o soberano Bem.
Meu Deus, pelos méritos de Jesus e Maria, abrasai-me
do amor que santificou os apóstolos, os mártires e os
santos. Fazei-me compreender l° quanto mereceis ser
amado por causa da vossa excelência infinita e de vos
sas encantadoras perfeições; 2º quantas vantagens eu
acharia em vosso amor, que é a fonte da paz, o vínculo
da perfeição, o penhor seguro da eternidade bem-aven
turada.
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a Deus e à Igreja e nos torna doceis às disposições divi
nas. 2º Quanto mais a praticarmos, tanto maiores sere
mos no reino da glória.
Os santos procuraram com constância e ardor conhe
cer-se e desprezar-se, para exercer esta virtude. Os apó
stolos consideravam-se e deixavam-se tratar como a es
cória do mundo: tanquam purgamenta hujus mundi (1
Cor 4, 13). São Domingos atribuia a seus pecados to
das as calamidades que sucederam em seu tempo. Quan
do santa Teresa entrava numa cidade onde a despreza
vam, costumava dizer: "Aquí me conhecem e me rece
bem como mereço". São Paulo da Cruz considerava-se
sinceramente como a infecção, a peste e o escândalo de
seu Instituto.
Mas donde tinham esses heróis cristãos sentimentos
tão humildes? do conhecimento próprio e das grandezas
de Deus, conhecimento adquirido pela luz da graça in
teiramente de acordo com a verdade; pois, se nada so
mos sem aquele que nos criou e nos resgatou, que bem
podemos operar sem ele e de quanto mal não somos ca
pazes sem a sua assistência? A resposta a estas pergun
tas estabelece o princípio da perfeição e da salvação.
Quanto mais a ele conformarmos a nossa vida, tanto
mais dignos seremos da glória eterna, pois que Jesus
disse dos humildes: "Deles é o reino dos céus". Talium
est enim regnum crelorum.
Amantíssimo Redentor, dai-me a graça: 1º de cons
truir o edifício da minha predestinação sobre a base da
humildade sincera, generosa e prática; 2º de procurar
comprazer-me por vosso amor na vida obscura, ignora
da, esquecida, e de suportar em paz a abjeção e o des
prezo. Assim terei as melhores disposições, para mere
cer os vossos favores e aproveitar os vossos benefícios.
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resistirá às chuvàs, aos ventos das persegmçoes, das
tentações; mas quem construir sobre a areia expõe-se,
cedo ou tarde, à mina completa (Mt 7, 24). Ora, segun
do Ricardo de São Vitor, o homem verdadeiramente hu
milde constrói sobre. o rochedo da verdade, pelo conhe
cimento do seu nada; o soberbo, ao contrário, edifica
sobre a areia movediça da mentira ou da ignorância de
si próprio. Não há, pois, virtude sólida sem a humildade.
Sem ela não há tão pouco virtude duravel, porque, se
gundo são Bernardo, a humildade é a guarda de todas
as virtudes. Quem amontoa méritos sem referir a Deus
a glória, lança pó ao vento da vaidade que tudo dissipa,
e torna-se culpavel aos olhos do soberano Juiz; é assim
que pensa são Gregório. Já que se perde todo o mérito
por falta de humildade, é certo que esta virtude nos con
serva o que nos abre as portas do céu.
Segundo são José Calazans, ela é a medida de nossa
santidade. "Quereis ser santos? exclama ele, sêde humil
des; quereis ser muito santos? sêde muito humildes".
Daí o costume de os servos de - Deus e os diretores es
pirituais provarem por humilhações a alma cuja virtu
de querem conhecer. A humildade verdadeira é, com efei
to, a mais sólida prova de que um sacerdote, um religio
so, um cristão está animado do espírito de Deus, que é
um espírito de verdade, de renúncia e de inteira submis
são ao divino beneplácito. Se, pois, uma alma trabalhasse
sempre para desprezar-se a si mesma e estimar somente
a Deua, para desconfiar de si e confiar em Jesus 0 Ma
rh, chegaria em pouco tempo à mais alta perfeição, sem
perigo de transviar-se ; poJ.s que esse exercício a persua
diria felizmente a fugir dos perigos do mundo, a se dei
xar guiar, a orar sem interrupção, a aceitar em paz as
contrariedades, as humilhações por ela merecidas, a con
sagrar-se enfim inteiramente ao serviço de Deus e do
próximo sem se inquietar consigo e com seus negócios.
Jesus e Maria, mostrai_-níe em minha fraca natureza
os vícios a combater, os defeitos a reprimir e as chagas
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a curar. Fazei que sempre trabalhe em desprezar-me pa
ra estimar as vossas grandezas, em renunciar-me em tu
do para cumprir até os vossos menores desejos sempre
santos, sempre amaveis.
8 DE AGOSTO - A VANGLORIA
PREPARAÇÃO. Uma das principais inimigas da hu
mildade e da boa intenção é a vanglória. Consideremos
lhe: l ° os efeitos perniciosos; 2º os remédios. - Toma
remos depois a resolução de acautelar-nos contra o amor
da estima e do louvor, e _de procurar unicamente a gló
ria de Deus, segundo o preceito do apóstolo. Omnia in
gloriam Dei facite ( 1 Cor 10, 31).
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Com grande cuidado, pois, devemos velar sobre n6s
mesmos, nós que somos tão fracos e sensíveis ao menor
elogio. Quantas vezes, somos exposto a pecar: 1º por
jatância, gabando-nos ou louvando nossas boas quali
dades, talentos e ações; 2º por singularidade, distinguin
do-nos dos outros para provocar o assombro ou a admi
ração; 3 º por hipocrisia, com atos falsos ou pouco sin-
. ceros, para captar a estima e a benevolência! Esses tres
efeitos, segundo santo Tomaz, nascem diretamente da
vanglória. Há mais quatro que dela dimanam indireta
mente; são:· a teimosia que não quer ceder aos outros;
a discórdia que recusa renunciar-se por amor da paz; a
contenda que se obstina a prevalecer pela disputa; a
desobediência que se envergonha de submeter-se a ou
trem.
Jesus, fazei que eu conheça até que ponto estão arrai
gados, em minha alma, esses defeitos, e dai-me a vitória
sobre a vaidade que os produz e que tantas vezes me
escraviza.
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Ainda mais, comprazendo-vos nos louvores, cometeis
injustiça contra Deus e contra vós mesmos. Contra Deus,
cuja glória roubais; contra vós cujos méritos subtraís.
Jesus diz: "Não façais as vossas ações diante do ho
mens, para deles serdes visto; do contrário não recebe
reis recompensa alguma de vosso Pai que está nos céus'"
(Mt 6, 1); tereis somente a dos escribas e fariseus, isto.
é, os vãos louvores das criaturas, e de que servirão eles,
se Deus vos reprovar? Virão os vossos aduladores de
fender-vos, diante do seu divino tribunal, desculpar-vos
quando ele vos acusar, e absolver-vos, quando ele vos
condenar? Eles serão os primeiros a censurar a vossa
fraqueza, a vossa loucura e a maldizer-vos, na eterni
dade.
Jesus e Maria, fazei-me compreender que a vanglória
é uma paixão cega que me causa, todos os dias, imenso
mal; proponho-me combatê-la com cuidado: l° meditan
do os motivos que me persuadem a odiá-la; 2º purifican
do as minhas intenções, para banir todo o respeito hu
mano, todo o desejo de ser estimado, toda a complacên
cia comigo mesmo, afim de glorificar e contentar somen
te o Coração do Pai celestial, a quem pertencem a hon
ra de toda obra boa, perfeita e justa, e mesmo de todo
pensamento meritório.
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lº Jesus tornou-nos facil a humildade
Enquanto o homem e os anjos rebeldes clamavam, em
seu orgulho: "Serei semelhante ao Altíssimo", similis
ero Altissimo, o Verbo eterno dizia: "Descerei das al
turas do céu até ao nada, e s�rei o último dos mortais,
o mais vil dos escravos". E que escravo, com efeito, nas
ceu, jamais, num estábulo, e foi saturado de opróbrios
como o foi Jesus? E ele dá-se, pelo profeta, o nome de
verme da terra. Vermis et non homo (Sl 21, 7).
Santo Agostinho diz: O orgulho era a doença que roía
o gênero humano, doença tanto mais m.curavel, por ser
mais espiritual e menos odiosa a suas vítimas. O melhor
remédio para curá-la é a humilhação. Mas esse remédio
repugna soberanamente à natureza decaida. Que fez nos
so médico celeste? Para encorajar-nos a aceitá-la, to
mou-a primeiro, mas em grau que nos tira toda. a excusa
de queixa do pouco que ele nos apresenta.
Ainda mais, se estimamos e amamos o Redentor, sen
tir-nos-emos honrados em nos parecer com ele, carregando
a libré de suas humilhações. Adotamos as grandezas de
Jesus, e recusaríamos venerar, amar, abraçar, os seus
rebaixamentos? Não é para o homem uma glória humi
lhar-se com seu Deus? por que então tê-lo na conta de
opróbrio?
Jesus, eu o confesso, quando sou humilhado perturbo
me, irrito-me, torno-me abatido. O receio de uma confu
são abala-me ao ponto de fazer-me perder a paz. Não
sei suportar sem tristeza o olvido, o abandono, a falta de
atenção e a estima testemunhada ao próximo. Sempre
ávido de louvores, tenho horror das correções e dos avi
sos caridosos, e a sombra dum desprezo faz-me estreme
cer. Quão longe estou ainda de marchar sobre as pega
das dum Deus que procurou a abjeção toda a sua vida
até à morte na cruz. Jesus, proponho-me receber hoje
em paz tudo o que ferir a minha vaidade, a minha sus
cetibilidade e o meu amor próprio. Fazei-me aproveitar
.essas ocasiões preciosas para triunfar do meu orgulho e
da minha presunção.
Bronchain II - 21 321
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2º Luzes que Jesus nos dá para a aquisição da humildade
Se consultarmos a doutrina e os exemplos da sabedo
ria incarnada, nada nos parecerá mais aviltante do que o
orgulho. "Esse vício, diz santo Agostinho, é o princípio,
o fim e a causa de todos os outros pecados". E' uma úl
cera asquerosa que infeta o nosso espírito, corrompe o
nosso coração e as nossas mais brilhantes qualidades.
Pai de todos Ós nossos defeitos, ele os gera, desenvolve,
sustenta, em suas revoltas contra Deus, e nos torna se
melhantes ao demônio. Quem não teria horror de vício
tão monstruoso? Ora, o ódio ou o afastamento dele é o
começo da virtude da humildade. Para nela progredir
mos, consideremos a miude, à luz dos ensinamentos de
Jesus, a malícia dos nossos pecados, a fealdade das nos
sas faltas, as nossas inclinações para o mal e a nossa
incapacidade de fazer o bem e até de o querer, desejar
e pensar. Não é isso de molde a inspirar-nos a maior des
confiança de nós mesmos? Como atribuir-n(!S a execução
duma boa obra, se a idéia dela não nos vem, senão pela
assistência divina?
Não vêdes, outrossim, que tendes necessidade de so
corro, para vos conservardes no estado de graça? Quan
to mais em se tratando de chegar à perfeição sólida!
Deus mesmo vos conserva a fé, a esperança e a vida so
brenatural; dá-vos santos pensamentos, piedosos movi
mentos, convites para a solidão, o silêncio e oração. Con
cede-vos os seus anjos por protetores, a divina Mãe por
nutriz, e Jesus faz-se o vosso apoio, o vosso alimento.
Poderá haver maiores benefícios?
E entretanto qual é o vosso. progresso? quais as vos
sas virtudes? quantas faltas não cometeis ainda? quantas
imperfeições enfeiam a vossa vida! Essa consideração
confundia os santos, que se tinham na conta de grandes
criminosos, por não haverem correspondido perfeitamen
te aos apelos de Deus.
Jesus, aniquilo-me na vossa presença adoravel, e con
fesso diante de vós a minha ingratidão e infidelidade.
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Não permitais que vos roube a glória que vos é devida,
e viva escravo da vaidade, da presunção, do amor pró
prio e do egoismo. Abafai em mim todo sentimento de
vã complacência e todo desejo de ser estimado. Pela in
tercessão da mais humilde das criaturas, vossa divina
Mãe, fazei o meu coração segundo o vosso, concedendo
me profunda, sincera e constante humildade.
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S. Lourenço não encontrava melhor preparação para o
seu martírio do que o exercício da caridade, e com razão,
porque nada é mais apto para merecer-nos acolhimento
favoravel da parte do soberano juiz. As almas caridosas
dirá ele no fim do mundo : "Tive fome, tive sede, achei
me na indigência e vós me socorrestes".
Jesus, dissestes-nos: "Sede misericordiosos como o vos
so Pai celeste. Não julgueis e não sereis julgados; não
condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis per
doados·. Dai e vos será dado. E se derdes com abundân
cia, no vosso seio vos será lançada uma medida boa, e
cheia e recalcada. Porque, com a mesma medida com que
medirdes para os outros, será medido para vós" (Lc 6,
36-39). Esses oráculos, divino Mestre, devem provocar
em mim sérias reflexões. Se eu for duro, intratavel, sem·
compaixão, nem misericórdia para com o próximo, terei
de esperar de vós justas represálias. Dai-me, pois, a gra
ça: 1" de abafar em meu coração todo ressentimento,
suspeita, juízo temerário, toda aversão, frieza e maledi
cência; 2º de gostar de perdoar, de prestar serviços, ali
viar aos que sofrem e de praticar para com todos a bon
dade, a benevolência, a caridade de que me destes exem
plo. Invicem benigni miseriéordes, donantes invicem (Ef
f), 32).
2º Paciência invencivel de são Lourenço
"A paciência coroa a obra da nossa pe"rfeição", diz são
Tiago (1, 4). São Lourenço provou a sua santidade por
sua paciência heróica. Que não sofreu ele em seu martí
rio? Depois de flagelarem-no, deslocaram-lhe os ossos,
rasgaram-lhe as carnes -e bateram-lhe em todo o corpo
com azorragues guarnecidos de pontas agudas. No meio
de tantos suplícios, manso como um cordeiro, não pro
fere palavra de queixa; contenta-s� com a súplica que
faz para que o Senhor o chame a si.
Mas uma voz vinda do �éu anuncia-lhe novas torturas.
Espanta-se o santo diácono? pede ao Senhor lhe poupe
mais esses tormentos? Não, feliz de poder sofrer por.
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seu Mestre, torna-se ainda mais ardente em proclamar
se cristão, e em confundir os seus perseguidores. Com
pedradas quebram-lhe o queixo; estendem-no sobre uma
grelha e queimam-no lentamente. O amor sagrado que
consumia o seu coração, diz santo Agostinho, era bem
mais intenso do que o fogo que lhe devorava as carnes.
Assado de um lado, clama ao tirano: "Vira e come", e
continua a sofrer com alegria pelo seu Senhor.
Se tivesseis uma centelha de seu invencível amor, que
resignação não tirarieis dele? Mas, ah! pouco devotado
a Jesus, e pouco persuadido do valor do sofrimento, queL
xai-vos facilmente e não podeis suportar nem a menor
contradição nem a mais leve contrariedade. Ficais aba
tidos nas fadigas · inerentes aos trabalhos, nas enfermi
dades, nas aflições e dores inseparaveis da nossa condi
ção humana. Os embaraços nos negócios e os dissabores
quotidianos bastam para tirar-vos a calma e a paciência.
Que seria se, como Jesus e os mártires, tivesseis de so
frer os opróbrios, os maus tratos, as bofetadas, as tor
turas e a morte mais cruel?
Jesus, repito-vos tantas vezes: "Senhor, amo-vos mais
do que a mim mesmo", e quando me dirigem·uma palavra
desagradavel, ofendo-vos por meu azedume, impaciência
e murmuração! Jesus e Maria, fazei-me manso, resignado,
caridoso como são Lourenço ; dai que como ele eu tenha
paz nas dificuldades e nas mais sensíveis provações. Su
perabundo gaudio in omni tribulatione nostra.
1;1 DE AGOSTO.
A MANSIDÃO, FILHA DA HUMILDADE
PREPARAÇÃO. A humildade, virtude especial a pra
ticar neste mês, conduz-nos à mansidão, da qual meditare
mos: 1º a obrigação ou preceito; 2º as vias ou os meios
que a ela nos levam. - Propor-nos-emos depois acaute
lar-nos contra o nosso humor nas palavras e nas ações
e a respeito de todos os que nos rodeiam; pois que, se-
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gundo o apóstolo, um servo de Deus deve ser manso pa
ra todos. Servum Dei oportet ma.nsuetum esse a.d omnes
(.2 Tim 2, 24).
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flexivel e condescendente com todos nas coisas permiti
das, preferindo então, como diz são Francisco de Sales,
entrar em acordo com os outros a querer que eles sejam
constrangidos a entrar em minhas vistas. Mansuetum
esse ad omnes.
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Jesus, que padecestes em silêncio, durante a vossa
paixão, as irrisões, os maus tratos, as zombarias da par
te da vossa criatura, inspirai-me a paz e a bondade em
tudo que fere o meu orgulho e o meu amor próprio. Sob
a proteção de vossa divina Mãe, tomo a resolução: 1° de
não exigir dos outros que sejam anjos, mas suportá-los
com toda a mansidão e caridade; 2 º de estudar-me para
sofrer com suavidade de espírito as ofensas que me fa
zem, sem fazer sofrer a ninguem.
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Deus, que, sendo o Senhor do universo, não quis pos
suir coisa alguma no mundo, desde o estábulo de Belém
até ao sepulcro do Gólgota. Além disso, ela bem sabia,
a pobreza é a companheira da humildade, a mãe da
devoção, a irmã do recolhimento e a nutriz da oração. O
coração desapegado goza paz profunda e eleva-se sem
trabalho à contemplação e aos desejos dos bens celestes
e eternos.
Sentis-vos comovidos como santa Clara, pelos exemplos
de desapego dado por Jesus Cristo? Tendes as riquezas
como lama, em comparação da graça santificante, dos
méritos das boas obras e das promessa divinas? Por que,
pois, ligar as vossas afeições a um objeto de pouco va
lor e não vos prender unicamente ao soberano Bem? Ou
sais até desagradar-lhe, às vezes, para não sacrificardes
o que a sua graça de vós exige. Amais com facilidade
o que lisonjeia a vista, o gosto, o tato, e sois tão reser
vado a respeito do Bem supremo que sacia todos os
eleitos.
Meu Deus, dai-me o espírito dos santos, que no tem
po procuravam os bens da eternidade. Fazei-me viver
qual viajor que passa um dia na hospedaria e parte no
dia seguinte sem se apegar ao que viu e ouviu. Segundo
o preceito do Evangelho, quero estar sempre pronto a
deixar esta vida sem nada desejar dos bens passageiros.
Fazei que eu deseje as virtudes e os méritos que tornam
os homens digÍ1os de habitar eternamente convosco na
herança dos santos.
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franca alegria no coração. Antes de morrer pôde asseve
rar que nenhum trabalho, nenhuma penitência lhe fora
dificil, nenhuma enfermidade desagradavel; prova evi
dente de que uma alma desprendida e unida só a Deus,
participa da felicidade do próprio Deus.
Por isso morreu em delícias a nossa santa, assistida
visivelmente por Jesus, Maria e urna multidão de bem
aventurados, que em seus derradeiros instantes esten
deram sobre o seu corpo extenuado um tapete de valor
inestimavel, como para designar quão agradavel são ao
Senhor a pobreza e a pureza, sua companheira. Apren
damos com isso a desprezar os bens da terra e as satis
fações dos sentidos que nada valem no momento da mor
te, ao passo que o pensamento de haver servido a Deus,
dá ao moribundo contentamento e doce esperança.
Examinai como praticais a virtude da pobreza. Afir
mais não temer ser privado de tudo, mas quantas quei
xas fazeis quando em vossas ref�ições vos deixam faltar
alguma coisa, quando vos não servem as iguarias que
desejais, ou quando vos fazem esperar, dando-vos ocasião
de praticar a paciência que convem aos _pobres de Jesus
Cristo. Mesmo que fosseis reduzido ao desnudamento
completo, ainda assim estaríeis melhor do que aquele
que não teve no mundo onde repousar a cabeça (Mt
8, 20).
Meu amavel Salvador, descobristes aos homens o tesou
ro escondido na pobreza voluntária. Concedei-me a graça
de só me prender a vós e aos bens sólidos de que sois
a fonte. Sob a proteção da Virgem imaculada e da santa
Clara sua serva fiel, tomo a resolução: 1º De examinar
de tempos a tempos se o meu coração a nada se apega
no mundo; 2º de pôr em vossa amizade e em vossos mé
ritos toda a minha felicidade e toda a minha esperança;
3º de repetir muitas vezes com o profeta-rei: "Senhor,
que há no céu, ou que posso desejar sobre a terra, se
não vós, o Deus do meu coração e minha partilha para
a eternidade?" Deus cordis mei et pars mea, Deus, in
mternum (SI 72, 25-26).
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13 DE AGOSTO - DA HUMILDADE
PREPARAÇÃO. Sendo esta virtude especialmente pro
posta à nossa atenção neste mês, veremos: l º os motivos
de considerar-nos os últimos de todos; 2º em presença
de quem devemos humilhar-nos. - Examinaremos, a se
guir, se amamos a vida oculta, e tomaremos por rama
lhete espiritual a palavra de são Paulo: "Não sejamos
ávidos da glória que vem dos homens". Non efficlamur
inanis glorim cupidi ( Gal 3, 27).
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boas obras não são cheias de amor próprio e de mil im
perfeições? Que castigo, pois, mereço neste e no outro
mundo? Quero para o futuro descer em espírito de fé
até ao fundo do inferno e colocar-me abaixo dos demô�
nios e dos mais vís réprobos; lá se puseram os _santos à
recordação de suas infidelidades.
Meu Deus, se, como tantos outros, eu nascera de pais
inimigos da religião, se eu tivesse as paixões fortes de
tantos pecadores públicos, não teria eu me tornado talvez
como eles e peior do que eles? Esta lembrança deveria
constranger-me a conservar-me cm espírito sob os pés
de todos. Dai-me o amor sincero da minha abjeção e o
desejo de ser ignorado, esquecido, desprezado entre as
criaturas, afim de viver sempre sob os vossos divinos
olhos, ó meu dulcíssimo, santíssimo e amabilíssimo Cria
dor.
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Santo. Ficar-nos-ia mal confessar-nos vís e abjetos na.. ora
ção e depois querer dominar os nossos semelhantes, fa
lar-lhes com altivez, exprobrar-lhes as faltas, fazer-lhes
sentir a superioridade do nosso espírito, dos nossos ta
lentos, das nossas qualidades e virtudes sobre eles. O
fariseu que se julgava superior aos outros tornou-se por
seu orgulho o último de todos. Esta será a nossa sorte
se não formos humildes em nossas relações com o pró
ximo.
Vêde, pois, se tendes para com todos o procedimento
delicado e sempre benevolente que nasce dum coração
humilde, esquecido de si e devotado a seus irmãos. Estais
sempre disposto a alegrar-vos sinceramente com a feli
cidade e sucessos alheios; a suportar sem amargor a
contradição, os desden:;i, as posposições, as faltas de aten
ção? Não falais secamente com vossos subalternos? não
os repreendeis com impaciência e dureza?
Jesus, dai-'êtn sentimentos conformes aos do vosso di-_
vino Coração, sentimentos de estima, caridade e condes
cendência para com todos. Pela intercessão de Maria,
a mais humilde das criaturas, concedei-me: 1 º a humil
dade de espírito que me ensina a conhecer o meu nada,
a minha ignorância, a minha corrupção e a malícia dos
meus pecados; .2º a humildade do coração que me ins
pire o ódio salutar de mim mesmo e a paciência nas
confusões, irrisões, friezas e afrontas.
14 DE AGOSTO.
ÚLTIMOS INSTANTES DA DIVINA MÃE
PREPARAÇÃO. Para celebrarmos a vigília da Assun
ção, e nos prepararmos para essa festa, meditaremos:
1º as disposições da divina Mãe na sua hora suprema; 2º
o seu derradeiro suspiro causado pela força do divino
amor. - Propor-nos-emos depois renunciar a todo ape
go terreno, a toda espécie de imperfeição, afim de que
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nossa morte seja preciosa diante de Deus, a exemplo da
divina Mãe e dos santos que a imitaram. Pretiosa in con
specto Domini mors sanctorum ejus ( SI 115, 5).
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Jesus, pelos méritos da Virgem sempre fiel, inspirai
me a coragem de violentar-me para cumprir os meus de
veres com exatidão, afim de merecer as recompensas
prometidas aos servos vigilantes. Dai-me a força de re
nunciar-me quando a graça exigir de mim um sacrifí
cio, sacrifício duma palavra, dum olhar, duma impaciên
cia, duma inclinação contrária à 'vossa vontade.
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Virgem santa, a vossa morte foi, com razão, a mais
doce de todas, porque no Calvário sofreste� o mais cruel
dos m:i.rtírios. Assim seremos tambem nós consolados
nos últimos momentos no meio das aflições, das prova
ções, dos sacrifícios que tivermos abraçado geherosa
mente durante a vida. Rainha poderosíssima, obtende
me: 1 º a vitória quotidiana sobre as más inclinações e
instintos perversos, afim de ter a alma inteiramente
pura, após este triste exílio; 2º recordai-me sempre a
máxima seguinte: "Para se ter a felicidade de morrer
sem dor, vale a pena viver sem prazer", sem consolação
nem gozo, para se pertencer inteiramente a Deus. Virgem
bem-aventurada, assistí-me na vida e sobretudo na hora
da morte. Nos meus últimos dias vinde dispor-me ao
sacramento dos moribundos e receber a minha alma em
sua partida deste mupdo para apresentá-la a vosso di
vino Filho.
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"Quem é essa Virgem tão honrad� pelo Rei dos reis 1
perguntavam-se os habitantes do céu. Quem é essa mu
lher que caminha apoiada sobre o príncipe da paz?" E
o cortejo de Maria respondeu: "E' a Virgem imaculada,
a Rainha do universo, a Mãe do nosso Deus".
Nas abóbadas eternas ecoavam os louvores e as ben
çãos. Os anjos, os arcanjos, os principados congratula
vam-na como sua Rainha, pelos dons e privilégios com
que Deus a adornara; as potestades, as virtudes, as do
minações exaltavam o ·seu imenso poder junto ao Se
nhor; e ouviam-se os tronos, os querubins, os serafins
cantarem hinos e protestarem, com toda a côrte celeste,
inteira submissão e inviolavel fidelidade.
Consideremos tambem as emoções de ternura de to
dos os santos que a aclamaram por sua vez. Os patriar
cas que ardentemente desejaram sua vinda, os profetas
que a haviam saudado de longe, como a aurora de nos
sa libertação; as virgens e os mártires que a felicitavam
por sua incomparavel pureza e invencível constância na
dor; todos, a uma voz, proclaw.avam-na a bem-aventu
rada por excelência, merecedora de todas as beatitudes
e bençãos do céu e da terra. Depois as tres divinas Pes
soas, acolhendo-a com amor, o Pai à sua Filha, o Filho
à sua Mãe e o Espírito Santo à sua esposa, colocaram
na sobre um tron·o sublime, o mais glorioso depois do
trono do Homem-Deus.
Quem nos dera remontar em espírito até àquela gló
ria que goza nossa Rainha e Mãe! E como é que ela a
mereceu? vivendo talvez em honras e ·delícias? procuran
do os bens terrenos? Não, renunciando-se a si própria e
a tudo o que o mundo preza; amando a vida oculta, po
bre e mortificada; seguindo passo a passo o divino mode
lo dos predestinados. Correspondendo fielmente às luzes
e às graças do Espírito Santo.
Amavel soberana minha, do alto do vosso trono, bai
xai sobre mim o _vosso meigo olhar e fazei-me compreen
der a nulidade das dignidades, das riquezas e dos praze
res do mundo em comparação dos bens eternos. Inspirai-
Eronehain II - 22 33'{
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me o amor da solidão, do recolhimento e da oracão, afim
de retemperar-me cada dia no exercício das virtudes que
vos elevaram tão alto, no reino dos céus. Exaltata e;;t
saneta Dei genetrix super choros angelorum ad creles
tia regna.
338
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adoravel Filho. Sem a graça ou a caridade, todas as vir
tudes são mortas: falta-lhes o vínculo que as une, o ci
mento que as consolida, a seiva que as nutre e as faz
produzir frutos de vida.
Jesus, meu Red�ntor, agradeço-vos por terdes recom
pensado tão magnificamente a vossa e nossa Mãe. Por
sua onipotente intercessão, concedei-me a força de imi
tá-la: 1º em sua humildade, colocando-me em espírito
abaixo de todos; 2º em sua pureza de coração, evitando
toda falta deliberada, todo apego, toda imperfeição; 3º
em sua caridade perfeita, amando vossa infinita bonda
de em si mesma e nas almas criadas à vossa imagem
e resgatadas pelo vosso sangue infinitamente precioso.
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tificação excede a todas as dignidades; diante de Deus
toda dignidade é um puro nada, quando não revestida
da beleza e dos adornos da graça. Grande foi, pois, a per
feição de são Joaquim, que o tornou digno de ser pai da
Rainha dos santos.
Embora abastado, viveu sempre completamente des
apegado. Dividiu os seus bens em tres partes: uma para
o templo, outra para os pobres, e a terceira para a ma
nutenção de sua casa. A sua vida foi consagrada à ora
ção e à penitência; e, gtaças às suas preces, às suas
mortificações e às de sant'Ana, sua esposa, o Senhor an
tecipou o momento feliz em que apareceu a aurora ben
fazeja, isto é, Maria, que vinha anunciar ao mundo o
sol da justiça. "São Joaquim contribuiu, pois, para a nos
sa redenção.
Esse grande santo deseja ardentemente ajudar-nos,
quando o invocamos. E que mais util favor poderíamos
pedir-lhe do que compreender como ele o valor da vir
tude? Ele a prezou mais do que todos os bens; fê-la ob
jeto contínuo de seus ensinamentos·, desejos, trabalhos e
pesquisas. Podia dizer com Salomão: "Em parte alguma
encontrei coisa comparavel a esse precioso tesouro". En
quanto outros aspiravam ao aumento de sua fortuna ter
rena, ele procurava somente as riquezas impereciveis da
santidade.
Examinaremos se é essa a nossa preocupação. Donde
nos vem tanta frivolidade no espírito, tanta agitação no
coração pelas novidades mundanas, tanto cuidado da
nossa honra, do nosso bem-estar, das nossas satisfações,
do sucesso dos nossos trabalhos? Não antepomo"s muitas
vezes a terra ao céu, o humano ao divino, os nossos gos
tos particulares ao beneplácito divino?
Senhor, quantos momentos preciosos tenho perdido em
futilidades, em vez de empregá-los em meditar, como são
Joaquim, as verdades da salvação. Desapegai-me de todos
os bens criados, e fazei-me compreender a única coisa
necessária neste mundo, isto é, a vida santa que nos con
quistará a eternidade bem-aventurada.
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2º Glória e poder de são Joaquim
A glória e o poder que goza no céu o bem-aventurado
pai da Rainha das virgens, estão em relação com a sua
santidade. Ora, como esta está em relação com o brilho
das dignidade de que Deus o revestiu, tornando-o pai de
Maria e avô de Jesus Cristo, pode-se dizer que seu trono
na Jerusalém celeste é dos mais gloriosos e seu poder,
dos mais dilatados. Ademais, o seu crédito é sem limi
tes junto de Maria, que, na qualidade de Filha, se sente
obrigada a nada recusar a seu pai. Ora, nós o sabemos,
a divina Mãe pode tudo sobre o coração de seu Filho. Ela
apareceu uma vez a santa Gertrudes, acompanhada de
são Joaquim resplendente de luz e assentado num trono
régio. Maria apresentou-lhe, uma a uma, todas as súpli
cas das religiosas que imploravam a sua assistência ...
Essa visão mostra a deferência da Rainha dos santos
para com seu pai e o grande poder deste sobre o coração
de sua dileta Filha. O seu poder no céu emana ao mesmo
tempo de :,eu mérito e da afeição que lhe têm Jesus e
Maria. Daí segue que nossa confiança em são Joaquim
nunca será iludida, mormente em ordem à salvação.
Para a santificação, não basta somente prezar as vir
tudes cristãs: é mister ainda exercê-las. Para isso são
indispensaveis os socorros sobrenaturàis. "Precisamos co
nhecer-nos, diz santo Afonso, desprezar-nos e conformar
nos em tudo à vontade divina". Como realizar tais con
dições sem graças especiais abundantíssimas? Ora, o re
curso a são Joaquim no-las atrairá certamente. Se lhe
pedirmos, ele nos obterá aquela humildade profunda que
foi um dos caracteres de sua santidade, e que lhe mere
ceu o privilégio de ser o pai da mais humilde das cria
turas. Far-nos-á praticar, como ele a abnegação que re
grará o nosso interior pelas máximas da fé, reprimindo
nossas más inclinações e tudo que se opõe à vontade toda
perfeita e toda amavel do nosso Deus.
Senhor Jesus, bem longe estou das virtudes dos vossos
fiéis servos que mediam o seu progresso pelo amor do sa-
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crifodo e pelas vitórias alcançadas sobre as suas incli
nações. Pela intercessão de são Joaquim, concedei-me
humildes sentimentos de minha pessoa, a força de renun
ciar às minhas tendências demasiado humanas e naturais,
para obedecer à graça, afim de levantar em minha alma
o edifício do vosso amor sobre as ruinas do meu amor
próprio.
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e afasta de Deus, mas com a que nasce de uma boa con
ciência e que nos aproxima do Bem supremo.
E' com felicidade que os cortesãos servem a um gran
de monarca; é com alegria e júbilo que o herdeiro dum
trono terrestre pensa no seu porvir glorioso; e nós, fi
lhos do Rei dos reis e da Rainha dos anjos, herdeiros do
reino celeste, poderíamos ficar tristes, prevendo nossas
grandezas futuras, nosso imortal destino? Ah! doravante
não esqueçamos a glória e as delícias que nos estão pre
paradas por Jesus e Maria.
Meu Deus, tirai do meu coração todos os obstáculos
à alegria espiritual, isto é, o que lesa a conciência e im
pede a minha união convosco, única fonte de verdadeiro
contentamento. Fazei-me menos sensivel à contradição,
às censuras, às repreensões, às faltas de atenção, e a
tudo que em mim provoca o desânimo e a tristeza. Fa
zei que eu morra a mim mesmo e ao meu amor próprio,
às satisfações vãs e terrenas. Só em vós quero colocar
todos os meus afetos e toda a minha esperança; quero
sempre servir-vos e amar-vos com o coração cheio de
alegria e reconhecimento a exemplo de Maria, nossa Mãe
celeste. Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo.
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solaçõei;i celestes, pois o Senhor ama os que o servem
com alegria e de todo o coração. Hilarem enim datorem
diligit Deus (2 Cor 9, 7).
Tambem vemos que os santos, prontos a sacrüicar
tudo ao Senhor, dele recebem a plenitude do Espírito de
amor que alegra as almas. São Felipe Neri estava todo
penetrado dela; já o seu semblante consolava as almas
aflitas. Bastava alguem entrar em sua cela para se ver
livre .da tristeza e da perturbação de espírito. São Ro
mualdo, apesar de sua avançada idade e de suas ·austeri
dades, tinha sempre o rosto franco ao ponto de dilatar
os corações dos que dele se aproximavam. Se a santidade
proporciona aos servos de Deus tanto contentamento ine
favel mesmo nesta vida, que não terá sentido a Rainha
dos santos em sua assunção gloriosa? Peçamos-lhe, por
sua ventura indizivel, nos faça exultar de alegria, segun
do a recomendação do Senhor, mesmo quando nos maldi
zem, perseguem e caluniam.
E, de fato, os apóstolos e muitos santos depois deles
alegraram-se por serem achados dignos de sofrer opró
brios por Jesus. Se isto é um motivo de alegria, por que
perdeis a tranquilidade de espíríto quando vos humilham,
contrariam ou vos ocasionam dificuldades? E' duro, di
zeis, sofrer e curvar-se em toda circunstância. E' duro,
por que? porque o vosso coração, apegado às tendências
naturais, olha os sacrüícios como fontes de amarguras.
Desenganai-vos: eles, ao contrário, encerram um maná
oculto que tem todos os sabores. Fazei a experiência e
vos convencereis. Jesus e Maria, inspirai-me a coragem
de pôr em prática esta verdade. Tomo esta resolução sob
a vossa poderosa proteção.
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concluiremos que muito importa evitarmos as faltasi de
liberadas e orarmo::-, sem cessar, afim de aumentar em nós
esse inestimavel tesouro. Infinitus enim thesaurus est
hominibus (Sap 7, 14).
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pais, e ficaria eu triste? deve,-se dizer à alma em estado
de graça; tenho títulos incontestaveis à herança dos san
tos; a Rainha dos céus é minha Mãe; Jesus, o Rei da
glória, é meu irmão; os anjos e bem-aventurados são os
meus amigos, protetores e concidadãos; como não me
alegrar! Eis para mim uma fonte inesgotavel de santos
pensamentos, de paz profunda e de inebriantes espe
ranças!
Jesus, aos vossos méritos e às preces de Maria devo
a graça de não sofrer o aviltamento do pecado e os su
plícios eternos que são a sua consequência. Despertai a
minha alma do seu torpor; fazei-a sair da vida lassa, na
qual a dissipação, a leviandade, a rotina, me expõem a
tantas faltas e quedas. Dai-me exatidão em meus exer
cícios de piedade; aumentai dia a dia em mim: a vida, a
beleza e as grandezas da graça santificante.
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tranquilidade e a paz profunda qU<� gozámos pela graça
habitual. Vendo a inquietude que agita o coração culpa
do, a aflição que rói, os remorsos que torturam, como
nos felicitaríamos por escapar a essas amarguras e go
zar a do_ce ventura de ser os filhos de Deus. Em lugar
de ouvirmos a voz secreta e importuna que grita ao peca
dor: "Onde está o teu Deus? que fizeste da graça e do
seu amor?", seríamos consolados, pensando no Espírito
Santo que nos dilata o coração e nos faz dizer a Deus:
Pai! Pai! . . . Estas verdades enchem-nos de alegria e
verdadeira felicidade.
Se, pois, estamos tristes e não sentimos a doçura de
,que fal o apóstolo (Filip 4, 7), e que excede todo pra
zer sensivel, atribuamo-lo à nossa falta de fé e reflexão.
Pouco, muito pouco, nos ocupamos dos bens inumeraveis
de que nos enriquece a amizade do Criador, bens infini
tamente preciosos e que são: 1" a vida sublime, a bele
za, as grandezas que dela dimanam; 2 º a santidade, as
virtudes, as riquezas espirituais que ela nos proporcio
na; 3º a paz, a beatitude, as esperanças certas da sal
vação, das quais ela é o princípio e o penhor na vida
e na morte.
Jesus, quantos motivos de alegria santa e duravel n�s
tes pensamentos de fé! tornai-os sempre mais vivos e
consoladores para a minha alma. Não quero contentar
me com um fraco amor; estou resolvido a amar-vos cada
dia mais e sem partilha. Nesta intenção pedir-vos-ei cons
tantemente pelos méritos e intercessão da Rainha dos
santos, me façais progredir no exercício da vigilância, da
oração e da fidelidade às vossas inspirações, afim de
crescer em vosso santo amor que encerra todos os bens.
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emos, depois, fazer muitas vezes sobre nós, e sempre
com profundo respeito, o sinal augusto da nossa Reden
ção, que são João Damasceno considerava como penhor
da presença de Jesus em nós. Ubi enlm signum fuerit
crucis, ibi quoque et Christus erit.
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nasce da fé e da caridade, deve inspirar aos nossos co
raçõe:� terna compaixão para com tantos infelizes extra
viados que correm para a perdição. Do mesmo modo que
levaríamos socorro a todo homem em perigo de morte
temporal, não deixemos perecer as almas expostas à
morte eterna.
pivino Redentor meu, pela intercessão de santa He
lena, dai-me a graça de meditar, dia e noite, o que fi
zestes e sofrestes pelas almas, mormente pela minha.
Concedei-me o desejo de santificar-me e a vontade de
salvar, ao menos pelas minhas preces, todos os que me
são confiados pela vossa providência divina.
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a nossa fronte, a nossa boca, o nosso peito; revistamo
nos desta impenetravel armadura". "A cruz, com efeito,
continua são João Damasceno, é nossa defesa contra o!
príncipes das trevas. Por ela somos levantados, susten
tados, fortificados, e todos os bens da graça são conce
didos às nossas preces".
Jesus, sob os auspícios de vossa divina Mãe, e de san
ta Helena, estou resolvido: lº a meditar a miudo com re
conhecimento e amor o grande mistério da vossa cruz
ou da nossa redenção; a gravã-lo no meu peito, no meu
coração e nas minhas mais caras afeições; 2º a persi
gnar-me para me fortalecer nas penas, nas dificulda
des e nas tentações; a benzer os objetos de meu uso, a
mesa e o leito de meu repouso; 3º ao começar o dia
benzerei a fronte, a boca e o peito, convencido, com são
João Damasceno, que, onde se acha o sinal e a lembrança
da Redenção, tambem se encontra o Redentor e sua po
derosa proteção para as almas que o imploram. Ubl enlm
foerit signom crocls, ibi quoqoe et Christos erlt.
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incarnada para salvar os culpados; daquela justiça e san
tidade que de maneira tão horrivel punem e exibem re
paração sem limite. Que contraste entre nossos defeitos
e essas perfeições tão sublimes!
Ademais, nada mais odioso do que a ingratidão, mor
mente quando procede duma criatura que tudo recebeu,
e tem por alvo a caridade ilimitada do Criador de quem
saem todos os benefícios. Ora, a noss'a ingratidão para
com Deus jamais apareceu tão negra e monstruosa co
mo no Calvário, onde Deus nos outorgou o bem pelo mal,
ao ponto de sacrificar-se e derramar por nós o seu san
gue infinitamente precioso. A contemplação do crucifixo
ou de Jesus na cruz deve confundir-nos e causar-nos hor
ror dos nossos pecados.
E que são esses pecados quando os consideramo:., na
iricicência infinita, punida tão severamente pela só apa
rência dos nossos crimes? Se nossas prevaricações cau
sam tanto horror a Deus, que não pode suportar nem a
sombra delas na pessoa de seu Filho, com que olhos verá
ele a sua realidade nos :míseros pecadores? Ninguem
compreenderá quão feios e hediondos nos fazem as nos
sas faltas aos olhos do Senhor. E' o crucifixo que nos
desvenda esse mistério.
Meu adoravel Redentor, no Calvário, ao pé da cruz,
contemplo como num espelho a fealdade e a malícia das
minhas iniquidades. Vejo em vossa face humilhada a
monstruosidade do meu orgulho que vos inflige tanta
confusão e opróbrio, a vós que sois o Unigênito do Al
tíssimo. Descubro em vosso corpo ensanguentado a de
formidade das minhas inclinações sensuais, fontes de
tantos pecados que tenho cometido contra um Deus que
me tem amado tanto. Abri em meu coração uma fonte de
lágrimas que, misturadas com o vosso sangue, me lavem
das minhas manchas e restituam à minha alma sua pri
mitiva beleza recebida no batismo. Que a vista ou o pen
samento de vossas ignomínias e sofrimentos humilhe. o
meu espírito vão e pretensioso, e me im1pire o desejo da
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mortificação e da penitência. Desapegai-me de todo cria
do e fazei-me triunfar da:;; tres concupiscências, princí
pios de toúos o:;; vícios, como vós deles triunfastes pela
vossa cruz.
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poder aniquilado, de suas grandezas humilhadas, de sua
inocência injustamente oprimida, de sua sabedoria ludi
briada, e de sua caridade infinita desconhecida indigna
mente, esse espetáculo traz à luz do dia a sublimidade
das virtudes manifestadas em Jesus na cruz. Ah! se o
aspeto do justo, morrendo vítima da calúnia, pareceu, aos
olhos da antiguidade pagã, o cúmulo do belo moral, que
diremos do justo por excelência expirando de pura dor
e sem se queixar aos golpes iníquos das suas ingratas
criaturas!
Jesus crucificado, quero considerar em vós, ou na to
cante imagem do crucifixo, a beleza incomparavel da
perfeição evangélica. Lá, como em um espelho, contem
plarei os encantos da vossa humildade generosa e pro
funda, os poderósos atrativos da vossa mansidão sempre
calma e resignada, o nobre desinteresse da vossa cari
dade sem limites, que se devota para a nossa salvação.
Ah! pela intercessão da vossa divina Mãe, espectadora
compassiva de vossas últimas angústias, ensinai-me a
meditar os belos exemplos de vossas virtudes, que têm
esclarecido e santificado tantas almas em todos os sé
culos do cristianismo.
20 DE AGO�TO.
SÃO BERNARDO, DOUTOR DA IGREJA
PREPARAÇÃO. São Bernardo foi a honra da sua Or
dem, da Igreja e do seu século: 1º por sua eminente san
tidade; 2º pelos imensos serviços que prestou. - A seu
exemplo formaremos de nós os mais humildes sentimen
tos, guardando-os com cuidado mormente nas honras,
afim de sermos como nosso divino modelo, o chefe dos
predestinados. Sentlte in vobls quod et ln Chrlsto Jesu
(Filip 2, 3).
Broncha.in II - 23 353
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1º Santidade eminente de são Bernardo
São Bernardo, a maravilha do seu século, deixou o
mundo e entrou no convento aos vinte e tres anos de ida
de, levando consigo quasi toda a sua família e mais de
trinta pessoas ganhas por sua eloquência. Na solidão di
zia muitas vezes: "Bernardo, por que vieste aquí?" Ad
quid venisti? Esta palavra inflamava o seu coração dum
fervor que assombrava os mais santos religiosos. Sempre
recolhido e unido a Deus em seu coração, correspondia
à graça com a mais inteira fidelidade.
Muitas vezes era visto arrebatado em Deus e parecia
um espírito celeste num corpo mortal, pela intensa mor
tüica.ção com que reprimia a natureza. Orava, comia,
ouvia, sem perceber as impressões dos sentidos; sucedeu
lhe até beber um copo de óleo por um copo dágua sem
o notar. Exato em guardar o silêncio, ·severo para con
sigo, era manso e condescendente para com os outros.
Nunca se poupava quando se tratava do serviço do pró
ximo e, embora amasse apaixonadamente a solidão, não
hesitava em abandoná-la quando a caridade o reclama
va alhures.
Grandes foram as suas provações, mormente depois
do insucesso da cruzada preparada por suas pregações.
Suportou sem se queixar as críticas injustas, as amargas
censuras que lhe chegaram de toda parte nessa ocasião, .
mostrando assiin que era firme e inabalavel a sua vir
tude.
Essa aceitação humilde e pacata das tribulações é o
sinal menos equívoco da verdadeira santidade. Nosso
mérito e nosso progresso, diz a Imitação, não consistem
na abundância das alegrias e consolações espirituais, mas
antes na constância em sofrer muitas contrariedades e
aflições (L. 2, c. 12). Compreendeis sempre assim a ver
dadeira piedade? Não a colocais na ausência das cruzes,
humilhações, provações e combates? como se o Salvador
não houvesse dito: "Se alguem quiser vir após mim, ab
negue-se a si próprio, tome cada dia a sua cruz e siga
me" (Lc 9, 23).
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Jesus, fazei que eu compreenda sempre mais estas má
ximas, que são as de uma perfeição duradoura. A exem
plo de são Bernardo quero perguntar-me cada dia: "Por
que estou no mundo?" Não é para vos obedecer, vos
amar, vos imitar e, consequentemente, para renunciar
me, resignar-me e exercer todas as virtudes? Abneget
semetipsum, tollat crucem suam quotidle, et sequa.tur
me.
2º Serviços prestados por são Bernardo
Não contente de entreter o fervor entre os seiscentos
religiosos confiados à sua vigilância, o nosso santo sou
be ainda multiplicar-se ao ponto de prestar à cristanda
de os mais relevantes serviços. Fundou cento e sessenta
casas de sua Ordem, as quais, pelo número e regulari
dade de seus membros, rivalizavam com a casa-mãe de
Clairvaux. A frequeza de seu corpo, extenuado pela pe
nitência, não o impedia de empreender longas viagens
para combater as heresias, presidir aos concílios, apazi
guar os cismas, pacificar os reinos, abafar as guerras
entre os soberanos.
Quantas vezes não foi chamado à defesa da Igreja e
de seu chefe! Conselheiro do papa, dos bispos e dos reis,
combateu os vícios, sustentou a virtude, opôs-se ao des
regramento, manteve a ordem, pacificou as desavenças;
era como o médico geral de todos os males, e o árbitro
universal ao qual se dirigiam todas as vítimas da força
e da injustiça.
Mas como pôde ele fazer face a tantos negócios e su
portar tantos trabalhos, ele que era fraco e ocupado em
pregar e escrever? Como pôde corrigir os grandes, con
solar os pequenos, governar os seus mosteiros, armar to
da a Europa contra os infiéis, bastar, numa palavra, a
tantas missões difíceis e importantes de que estava en
carregado? E' sem dúvida um mistério! Só pode explicá
lo a sua união íntima com Deus. Humilde, mortificado,
sempre obediente à graça, não agia só, pois que Deus
operava nele e com ele. E de quantos prodígios não é
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capaz um homem nessas condições! Em todos esses tra
balhos Bernardo curava ainda os enfermos, expulsava
os demônios e penetrava os segredos dos corações. Ele
foi em verdade a glória e a edificação de seu século.
Se fôssemos mais desapegados da terra e de nós mes
mos, se vivêssemos mais estreitamente unidos a Deus,
que bem não faríamos em nós e ao redor de nós! e que
poder não teriam as nossas preces jurl"to ao Senhor tan
to para nós como para os outros!
O' clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria, inspi
rai-me a confiança de siio Bernardo em vós. Obtende-me
o que ele recebeu por vosso intermédio, isto é, a mais
estreita união com o soberano Bem, no qual estão todos
os tesouros da sabedoria e da santidade. Fazei-me em
tudo depender de Jesus, de suas luzes e de sua graça.
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Joana aproveitou as suaa instruções e levou a prática
da fé até ao heroismo.
Esposa e mãe, regeu a sua casa com sabedoria ver
dadeiramente cristã. Todo o seu pessoal tornou-se um
modelo de ordem, piedade, modéstia e atividade. Os po
bres, os enfermos e os aflitos eram tambem objeto da
sua solicitude. Via neles a pessoa de Jesus Cristo, e com
prazia-se em prestar-lhes os mais humildes serviços. Nu
ma carestia que afligiu o país, Deus recompensou a sua
fé e a sua caridade, multiplicando os víveres que ela dis
tribuia aos indigentes.
Era o mesmo espírito de fé que a: fazia vencer-se, hu
milhar-se, abnegar-se a vontade própria, e morrer a si
mesma por completo segundo a expressão de são Fran
cisco de Sales. E ela saiu-se perfeitamente bem, pois po
dia dizer com verdade: "Só quero a Deus neste e no ou
tro mundo". Eis até aonde conduz a fé viva quando se
segue a sua luz.
Essa mesma fé é o motivo das vossas ações e a regra
da vossa vida? Não obedeceis às vossas impressões, ao
vosso sentimento, ao respeito humano, de preferência
aos princípios da perfeição e duma conciência esclare
cida? Como encarais o próximo? E' ele para vós -a ima
gem da divindade, o filho do Pai celeste, o irmão de Je
sus Cristo, o santuário do Espírito Santo, um membro
do corpo místico da Igreja, cuja cabeça é o Cristo? Se
um rei enviasse o seu filho, falaríeis ao jovem ,Príncipe
com dureza e sem respeito? Por que, pois, o fazeis quan
do se trata dos pobres, dos ignorantes, de pessoas gros
seiras e rústicas que o Senhor olha como seus filhos pe
dindo por eles os vossos serviços?
Meu Deus, se eu tivesse a fé dos santos, com respeito
e deferência trataria todos os homens, mesmo quando
cobertos dos andrajos da humildade. Dignai-vos inspi
rar-me a fé viva e firme que me mostre a beleza dos nos
sos mistério.:., o valor das boas obras, a nobreza das al-
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mas, e me dê ao me3mo tempo a força de vencer-me a
mim mesmo, de procurar só a vós e de professar a minha
crença por minhas palavras e por meu procedimento.
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gar a nossa prece no momento de 1mfado, como o fez
o Senhor, nosso chefe e modelo, no jardim das Olivei
ras. Factos in agonia prolixius orabat (Lc 22, 43).
Meu Redentor, pela intercessão da vossa divina Mãe,
e de santa Joana de Chantal, inspirai-me a resolução:
l ° de suportar resignado não somente os males exterio
res, mas tambem as penas espirituais; 2º de não cessar
de orar no meio dos desgostos, tristezas e combates. Fa
zei-me constante e fiel nos meus exercícios de piedade
para que o seja tambem no fervor e na procura da per
feição.
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as suas adoraveis perfeições. Ninguem, pois, além de Je
sus, a pode preceder no reino dos céus.
Soberana nossa, como vos poderemos louvar e amar
bastante? Quisera ter a devoção e o amor do bem-aven
turado Germano José, que passava longas horas a entre
ter-se piedosamente com a vossa bondade; dum santo
Estanislau, que se deliciava em chamar-vos sua Mãe;
do bem-aventurado Henrique Saso, que sentia como um
mel na boca ao pronunciar o vosso doce nome; dum san
to Efrem, dum são Bernardo, dum santo Afonso, que es
creveram tocantes páginas sobre o amor que vos é de
vido, Rainha e Mãe nossa!
Examinemos quais são os nossos sentimentos para
com Maria. Não sentimos enfado em pensar nela, em su
plicar-lhe, em conversar com ela, em meditar suas vir
tudes, estudar suas grandezas, celebrar os seus louvo
res e agradecer-lhe os benefícios? Que cuidado temos
na recitação· do terço, do Ãngelus e da Ave-Mariá.? Re
corremos muitas _vezes, e sempre com fervor, à sua po
derosa proteção? Persuadamo-nos de que esta prática
·nos proporcionará de sua parte graças abundantíssimas.
Virgem sem mancha, purificai o meu espírito, fazei-o
idôneo para vos conhecer; santificai o meu coração que
deseja amar-vos como um filho ama sua mãe; governai
a minha vida para que seja em tudo como a vossa, pelo
exercício das virtudes.
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tou plenamente o Criador em todos os instantes da sua
admiravel vida.
Em transportes de alegria o profeta-rei celebra o tri
unfo dessa grande Rainha. Ele nô-la pinta vestida de
ouro, emblema da sua caridade, e enriquecida dos mais
esplêndidos adornos, símbolos das suas sublimes virtu
des. Os outros santos distinguiram-se em algum ponto
particular; Maria, sua soberana, avantajou-se em tudo.
É' o apóstolo dos apóstolos, a Rainha dos mártires, o
porta-estandarte das virgens; soube unir a mais perfeita
inocência à mais completa mortificação; a mais profunda
desconfiança. de si à mais filial· confiança em Deus. E que
generosidade, que grandeza dalma no sofrimento, que
caridade capaz de abrasar o mundo inteiro! Com todo o
direito, pois, ela reina com Jesus no alto dos céus.
Quereis segui-Ia na glória após esta vida? humilhai
vosso espírito soberbo, esse espírito de insubordinação
que vos induz a resistir à graça. Já de há muito o Senhor
pede-vos recolhimento mais contínuo, abnegação mais
completa, oração mais fervorosa e mais fecunda em fru
tos de salvação. E vós negligenciais e até recusais fazer
os sacrifícios necessários a um tal procedimento. Temei,
diz santo Agostinho, tornar inutil o momento precioso
da visita de Jesus, momento que passa e não volta mais.
Time Jesum transeuntem.
Virgem sempre fiel, fazei que eu corresponda sempre
à graça, especialmente quando me convida a medita.r e
a orar, porque assim obtenho dos tesouros de Deus os
frutos da oração, isto é, o que me aclara, me purifica,
me reconforta, me enriquece e me santifica.
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nosso interior, sobrR os nossos pensamentos, desejos e
afetos, afim de voltá-los para Deus. Omni custodia serva
cor tuum, quia ex ipso vita procedit (Prov 4, 23).
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do jamais resistência. Ao contrário, entre Deus e Maria
havia uma como que emulação: o Senhor comprazendo
se em prodigalizar os seus dons e a Virgem fiel esfor
çando-se por corresponder-lhe. O' docilidade fecunda que,
fazendo o coração de Maria o reservatório dos bens da
Redenção, tornou-o o palácio por excelência do Rei imo�
tal, palácio mais esplêndido do que o próprio empíreo.
Se, como a divina Mãe, tivéssemos sempre correspon
dido às luzeá e inspirações celestes, não seríamos por
ventura santos diante de Deus? Mas, ah! estamos cheios
de imperfeições e não possuimos sólidas virtudes. Por
que? porque preferimos as _nossas idéias, os nossos gos
tos, vontades e inclinações aos desejos de Jesus que tra
balha sem cessar em nossa santificação.
Meu Deus, tomo a resolução sincera de corresponder
melhor aos vossos atrativos, mormente aos que me con
vidam à oração, porque por ela posso formar no meu co
ração a humildade que vos presta glória em tudo; a
pureza. que a nada se apega sobre a terra; a devoção que
se vos consagra sem reserva ; e a fidelidade que nada
recusa à vossa graça, e se conforma a todos os vossos
desejos.
2º Caridade do Coração de Maria
O amor da santíssima Virgem para com Deus foi fi
gurado, segundo são Germano, pelo altar da propiciação,
sobre o qual o fogo sagrado não se extinguia jamais nem
de dia nem de noite (Lc 6, 12). São Jerônimo compara
Maria à sarça vista por Moisés, a qual ardia sem se con
sumir (Ex 3, 2). Coisa maravilhosa, segundo Bernardi
no de Bustis, ela amou o Criador sem interrupção desde
a sua conceição até à morte, por um ato contínuo. A sua
inteligência, sempre unida à sabedoria incriada, estuda
va-o constantemente e identificava-se de certo modo com
ela. Da[ aquela submissão sem reserva, que fazia da sua
vontade uma só vontade com a de Deus.
Com razão é a divina Mãe representada sob a fi�ura
de uma mulher revestida do sol (Apoc 12, 1), isto é,
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toda penetrada da caridade divina; tendo a lua sob os
pés para significar seu completo desapego da terra e dos
bens passageiros; em sua cabeça brilha uma coroa de
doze estrelas, símbolo das virtudes sublimes produzidas
nela pelo sagrado amor.
· A que fogo poderiam comparar o que vos consumia,
augusta soberana? ao ardor dos serafins? às chamas· re
unidas que abrasam os habitantes do céu? Não, porque
o vosso amor ultrapassa imensamente o de todas as cria
turas juntas. Na medida em que Maria, tornando-se Mãe
de Deus, participou das grandezas de seu Filho, partici
pou sua caridade sem limites. O seu coração, pois, é co
mo uma vasta fornalha; só Deus pode medir-lhe a ex
tensão, e apreciar a intensidade das suas chamas perpe
tuamente acesas.
Peçamos à Rainha da caridade uma centelha do fogo
que a devora e a faz praticar as virtudes em grau in
compreensivcl. Se o nosso coração amasse a Deus, não
seríamos remissos em seu serviço, frios na oração, na
missa e na comunhão, ávidos de distrações, de repouso,
de prazeres, de satisfações sensuais, em vez de procurar
mos o recolhimento, o trabalho e a mortificação.
O' coração verdadeiramente grande e generoso da mais
pura das virgens, coração abrasado dos mais santos ar
dores, co_municai-me: 1 ° as luzes que vos mostravam o
esplendor amavel das perfeições divinas; 2º as chamas
sagradas que, desprendendo-vos da terra, vos elevaram
à união mais estreita com a ,vontade divina. Fazei que
eu vele constantemente sobre os meus pensamentos e afe
tos, afim de dirigí-los, como vós, unicamente ao Bem su
premo, imutavel e eterno.
23 DE AGOSTO
O CONHECIMENTO DE DEUS E DE SI MESMO
PREPARAÇÃO. Sendo esse duplo conhecimento o se
gredo da grande perfeiç;:j,o de Maria e dos santos, medi
taremos: 1º como nele se acha encerrada a santidade;
2º que efeitos particulares produz nos corações. - Com-
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preenderemos assim quão necessário nos é estudar-nos
a nós mesmos na oração e dizer muitas vezes a Deus
com santo Agostinho: "Senho:c, que eu me conheça a
mim mesmo e a vós". N overim me, noverim te!
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santa Teres.a, pode tudo e ama-me". Como poderei sub
traír-me à sua direção, resistir ao seu poder, desconfiar
da sua bondade? Pequenino átomo abismado no infini
to, como ousaria eu controlar as disposições divinas,
queixar-me dos acontecimentos e considerá-los contrários
à minha salvação!
E' a sabedoria incriada que tudo rege, e eu ouso cri
ticar tudo, mesmo as ordens dos· meus superioree? E' o
poder divino que tudo tem em sua mão, e eu recuso su
jeitar-me? E' a caridade do Pai celeste que me impõe o
dever a cumprir, cruzes a carregar, e eu não os aceitaria
com amor? Senhor! que eu me conheça, para me odiar
e abnegar; que eu vos conheça para vos amar e servir!
Noverim me, noverim te!
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mentas? A luz do sol ilumina a atmosfera e permite-nos
contemplar o mundo e a natureza, assim a· 1uz da fé de
veria mostrar-nos Deus, atmosfera das almas e nele toda
a criação. Então nada amaríamos fora dele, ele seria o
único objeto dos nossos pensamentos, intenções, afeições,
não só em si mesmo, mas ainda nas criaturas. Este é o
exercício por excelência que deveria animar a nossa vida
interior.
Jesus, a quem pertenço por direito de criação e de re
denção, concedei-me a graça de respeitar vosso soberano
domínio sobre o meu espírito, o meu coração, o meu ser
e a minha vida. Os vossos direitos sobre mim são abso
lutos e infinitos; fazei que me submeta inteiramente a
todos os vossos {)receitas. Pela intercessão da divina Mãe,
dai-me a graça: 1º de aniquilar-me muitas vezes em vos
sa presença; 2º de nãÓ contar comigo mesmo no exercí
cio das virtudes, mas só com a oração e com o vosso so
corro.
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falava pela boca do ídolo de Aslarot. Querendo glorificar
o apóstolo, Deus forçou o demônio de um outro ídolo a
confessar o poder de seu servo, dizendo que "ele estava
acompanhado de anjos tutelares • e que a sua estada na
cidade era a única causa do silêncio dos oráculos".
Bartolomeu foi logo reconhecido pelã multidão; liber
tou os possessos e levou-os ao Evangelho. Com autori
dade soberana expulsou, diante da côrte, um demônio fu
rioso que atormentava a filha do rei. E donde tinha ele
esse poder? Satanaz foi forçado a nô-lo dizer pela boca
dum ídolo: "Este apóstolo dobra os joelhos cem vezes
ao dia e cem vezes à noite para orar". Era pois o espí
rito da oração que fazia· o nosso santo temível aos espí
ritos das trevas.
E com efeito, grande poder comunica-nos a oração con
tra os inimigos da alma; desperta a nossa fé, faz-nos com
preender melhor a malícia do pecado e inspira-nos mais
horror a ele. Daí a fortaleza nas tentações, que nos. faz
repelir as sugestões de Satanaz. Outrossim, meditando,
ficamos mais convencidos de nossa fraqueza e conse
quentemente mais resolvidos a velar mais sobre nós mes
mos, a recorrer mais vezes a Jesus e Maria, afim de tri
unfarmos dos assaltos do inferno. As nossas relações ín
tima_s com o Todo-poderoso tornam-nos aguerridos ao
ponto de podermos dizer com santa Teresa: "Não temo
os demônios mais do que as moscas".
Meu Deus, dai-me coragem de renunciar à vida dissi
pada que me afasta de vós; aos hábitos de distrações,
de conversações inuteis, que me tirám o tempo de me
ditar e de orar, exercício esse de que tanto tenho neces
sidade. Pelos méritos de são Bartolomeu, vosso apósto
lo, conservai-me sempre unido a vós, apesar da fúria e
dos ataques dos demônios. ln nomine meo dmmonia eji
cient.
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2º Prodígios que ocasionam o martírio de nosso santo
Admirado da cura milagrosa da sua filha, o rei da Ar
mênia, Polímio, ofereceu ricos presentes a Bartolomeu;
mas o generoso apóstolo recusou-os, e pediu ao rei se
tornasse digno dos tesouros eternos. "Para vos conven
cer da verdade evangélica, acrescentou ele, farei o ídolo
Astarot confessá-la". Polímio aceitou a proposta, foi ao
templo com o santo, e este obrigou o demônio a con
fessar os seus embustes; ordenou-lhe solenemente que
brasse todos os ídolos do templo e se retirasse para sem
pre. O' prodígio! o demônio obedeceu incontinenti, e a
ruina súbita de todos os ídolos causou tal impressão so
bre o rei e o povo da capital, que se converteram a Je
sus Cristo e pediram o batismo. Doze cidades do reino
seguiram-lhes o exemplo; e Bartolomeu teve a ventura
de os instruir, regenerar e dar-lhes sacerdotes para os
_ governar.
Mas isto foi a causa principal do seu martírio, Preso
pelo irmão do rei, o qual reinava sobre uma parte do
país, o santo apóstolo, vítima duma crueldade quasi sem
exemplo, foi esfolado vivo dos pés à cabeça, e depois de
capitado. O' morte tão gloriosa quão cruel! proporcionou
ao santo atleta de Cristo a auréola e as vestes reservadas
por Deus a seus mais caros amigos.
Nós tambem seremos recompensados de acordo com
a nossa generosidade em vencer-nos e em sacudir o jugo
das paixões. Sendo essas as cadeias de que se serve o
demônio para prender-nos ao pecado, quanto mais as
mortificarmos tanto menos o inferno terá poder sobre
nós. E, com efeito, como poderá ele tornar-nos escravos
do orgulho, da impaciência,. da cólera, da avareza, das
invejas e se estivermos sempre prontos a combater esses
vícios até em suas raizes? Como nos roubará ele o lírio
da angélica virtude se cercarmos esse lírio da sebe de
espinhos composta da desconfiança de nós mesmos, da
modéstia nos olhares, do exercício da temperança e do
recurso frequente a Deus? Tomemos pois a resolução:
Bronchain II - 24 369
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1 º de velar sobre os nossos sentidos, pensamentos e afe
tos; 2º de regrar o nosso interior pela mortificação e re
colhimento; assim seremos onipotentes contra os demô
nios.
Meu Deus, assim como esfolaram vivo a são Bartolo
meu, _ despojai-me tambem do velho homem, das suas
máximas e tendências más. Quero de hoje em diante re
nunciar-me, mormente quando me sobrevierem repugnân
cias em matéria de dever a cumprir. Fazei que eu recor
ra então a Jesus e Maria, afim de conseguir sempre a
vitória.
25 DE AGOSTO
HUMILDADE DO VERBO INCARNADO
PREPARAÇÃO. Nada nos move tanto à humildade co
mo os exemplos do nosso divino modelo. Meditaremos,
pois: 1 ° até que ponto se abaixou o Deus Salvador; 2º
quanto devemos humilhar-nos a seu exemplo. - Propor
nos-emos combater cada dia o desejo da estima, e rece
ber com·· calma as contradições, as confusões para com
prazermos aquele que se aniquilou por nosso amor. Se
metipsum exinanivit, formam servi accipiens (Filip 2, 7).
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por todas as idades, sem excetuar a infância! foi para
ele o cúmulo da abjeção:
Essa abjeção, porém, não lhe bastou. Poderia ter nas
cido filho dum rei, duma rainha, nos esplendores duma
côrte principesca, entre as festas dum reino ... Mas não,
nasce de pais pobres, duma Virgem quasi desconhecida,
perto duma povoação obscura, numa gruta abandonada
e no silêncio duma noite profunda. O' prodígio de hu
mildade!
E não é tudo: poderia ter tomado de nossa natureza
somente a sua parte nobre, isto é, a nossa alma. Por que
se reveste tambem do vil barro que é o nosso corpo? Por
que gloriar-se disto ditando a 'São João estas palavras
espantosas: "O Verbo se fez carne"º? (Jo 1, 4). E' que
ele quis humilhar-se até ao extremo, diz o apóstolo. Se
metipsum exinanivit. Coisa alguma é tão desprezível co
mo o nada; não obstante o Verbo incarnado desceu ainda
mais, e c�mo? tomando a aparência de ·pecador, tornan
do-se maldição por nosso amor, isto é, abraçando todas
as maldições e todos os castigos merecidos pelo gênero
humano prevaricador. Factos pro nobis maledictum (Gal
3, 13). O' mistérios profundos que deveriam curar-nos
para sempre do nosso orgulho.
Ao vermos um Deus rebaixado à última possibilidade
por nós, como podemos ainda pretender elevar-nos acima
dos outros, gloriar-nos de nossos talentos, qualidades e
virtudes, como se a honra de discípulo de Jesus não
consistisse em tornar-se como ele o . qiais humilde e o
último de todos? O' Verbo incarnado, fazei-me compreen
der esta salutar doutrina e dai-me a força de pô-la em
prática.
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vestiu-se das nossas humilhações, santificou-as, divini
zou-as, transformando-as em remédio amargo, sim, mas
adoçado pelo exemplo de nosso amavel Redentor. Ele foi
o primeiro a tomá-lo, incarnando-se, nascendo num es
tábulo, fugindo para o Egito, trabalhando como um ope
rário na casa de Nazaré.
A exemplo de Jesus, tambem nós deveríamos rebaixar
nos com ele. Ele revestiu-se das fraquezas da infância,
ensinando-nos a não desdenharmos a infância evangé
lica, pois que, na vida espiritual, estamos sempre no es
tado de crianças; temos sempre necessidade de sermos
instruídos, conduzidos, dirigidos, fortificados pela graça
e pelos meios oferecidos às almas na Igreja católica. A
humildade deve fazer-nos viver à maneira das crianças,
isto é, no espírito de obediência, submissão e desconfiança
dP. si próprio, que convém às crianças. Devemos banir
do coração e do nosso procedimento a resistência aos
superiores, o aferro às nossas idéias, a jatância, a inve
ja, a presunção, a malícia e todas as tendências contrá
rias aos exemplos daquele que disse: "Se não vos tor
nardes como crianças, não entrareis no reino dos céus".
Examinai-vos quanto aos sentimentos que distinguem
os humildes: sois doceis, condescendentes, prontos a per
doar, lentos a magoar-vos e irritar-vos? Fugís dos de
feitos contrários à infância cristã, à duplicidade, à in
subordinação, à suscetibilidade, à dureza, e a tudo que
cheira a ambição de elevar-nos?
Jesus, se os próprios apóstolos, príncipes da vossa
Igreja, devem ser como crianças pela humildade, quan
to mais nós que temos a obrigação de obedecer-lhes. Dai
me pois: 1 º luz necessária para conhecer-me e desprezar
me; 2º a coragem de recitar o Gloria Patri sempre que
me aplicarem remédio ao meu orgulho e tornar-me assim
semelhante a vós e à vossa santa Mãe, a mais humilde
das criaturas.
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25 DE AGOSTO (bis).
ATÉ QUE PONTO SE HUMILHOU O VERBO
INCARNADO
PREPARAÇÃO. Para levantar-nos das nossas ruinas
c curar-nos do orgulho, o Verbo divino ensinou-nos a
verdadeira humildade: l" por seu exemplo; 2º por sua
doutrina. - Estudemos, pois, cada dia esse admiravel
modelo; ouçamos esse Mestre infalivel, mormente quando·
nos diz: "Aprendei· de mim que sou manso e humilde de
coração". Discite a me quia. mltis sum et humilis corde
(Mt 11, 29).
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animais e os vermes. Como verme da terra quis o Uni
gênito de Deus aparecer no mundo". Ego autem sum
vermis et non homo (Sl .21, 7).
O' Rei do universo, foi :;i;ssim que quisestes fazer a
vossa entrada neste mundo que vos pertence e que vos
deve todas as honras de que é capaz. Mas que digo? não
só nascestes mas tambem vivestes na humilhação. Puse
ram-vos num presépio após o vosso nascimento e sobre
a palha como os animais. Pouco depois tivestes de fugir
de Herodes e mais tarde trabalhar como operário. Toda
a vossa vida passou-se na contradição da parte dos vos
sos inimigos, que por fim vos saciaram de opróbrios e
vos fizeram morrer sobre um patíbulo ignominioso. Ha
verá, Jesus, exemplo mais capaz de rebater o meu or
gulho, do que o exemplo dum Deus? E quando ess.e exem
plo é levado ao extremo, ao mais alto grau de perfeição,
é de molde a destruir a minha ambição, abater as minhas
pretensões, reprimir a minha vaidade e bafar as minhas
vãs complacências. O' Maria, remediai os meus defeitos,
obtende-me de Jesus o dom duma humildade sincera,
generosa e constante.
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reino dos céus". Dizendo estas palavras, Jesus apontava
um menino colocado no meio dos seus discípulos. Esse pe
queno recorda-nos o Menino de Belém ou de Nazaré, isto
é, aquele que, sendo Deus, tomou a nossa natureza, nos
sa condição de escravos e se colocou abaixo do mais fra
co dos mortais. E esta recordação, unida ao ensinamen
to do divino Mestre, é de molde a curar o nosso orgu
lho, a cegueira do nosso amor próprio, o vão desejo de
aparecer ou de exibir-nos, e o prurido mais vão ainda
de falar em nosso proveito para ganhar afeii,ão ou es
tima.
Em vez de nos deixarmos dominar por tão vís paixões
indignas de nossa verdadeira grandeza, ouçamos antes
a voz do Mestre que clama: "Aprendei de mim que sou
manso e humilde de coração e achareis descanso para as
vossas almas". Não é nas honras, nas dignidades, no re
nome que se acha a beatitude, mas sim na ciência da hu
mildade, que sai do coração. Essa ciência é daquelas que
se aprendem menos dos livros do que da prática. E, de
fato, tornamo-nos mais humildes à medida que sofremos
ou suportamos com mais humildade: os nossos defeitos
e os do próximo, as censuras merecidas e as correções
imerecidas, as perseguições dos maus e as contradições
dos justos, as provações providenciais, as calúnias dos
homens e as tentações humilhantes dos demônios. Se
conservarmos a paz interior ou a calma de espírito, no
meio dos espinhos que sangram em nós o amor de nossa
excelênci_a, podemos ter a confiança de não termos sido
ociosos na escola do divino Mestre.
Verbo incarnado, modelo e guia no caminho da salva
ção, não me deixeis errar pelos caminhos largos das am
bições mundanas, mas fazei-me palmilhar as veredas es
treitas da verdadeira humildade, vereda seguida por vós
e pelos santos a vosso exemplo. Pela intercessão de vos
sa divina Mãe, inspirai-me a coragem: 1° de estudar-me
para me depreciar; 2º de comprazer-me convosco na vida
oculta, esquecido, desprezado, afim de colocar só em Deus
a minha glória, a minha riqueza, a minha esperança e
felicidade para sempre.
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�5 DE AGOSTO (ter) - SÃO LUIZ, REI
PREPARAÇÃO. E' facil ser virtuoso fora dos perigos
e das ocasiões. São Luiz, porém, santificou-se apesar de
todos os obstáculos que o. mundo lhe ofereceu: l° foi
humilde nas honrarias da côrte; 2º conservou a inocên
cia no meio das seduções. Aprenderemos desse santo a
praticar a virtude em todo tempo, em todo lugar e em
toda circunstância. E para este fim procuraremos viver,
como Daví, sob as vistas divinas. Providebam Dominum·
in conspectu meo semper (SI 15, 8).
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Vós, que não sois rei e nem príncipe, que não possuís
as capacidades nem as virtudes do nosso santo, sois igual
a ele em humildade? Ah! quem sabe, vos estimais ao
ponto de querer dominar os outros; falar-lhes com al
tivez, com ar de arrogância, que pouco convem a uma
alma resgatada pelos opróbrios de um Deus. Vós vos es
queceis muitas vezes que o orgulho é a fonte de todos
os males e que, entre todas as misérias, a mais deplora
vel é a de não saberdes humilhar-vos e procurar o úl
timo lugar.
Meu Deus, que elevais os humildes e resistis aos so
berbos, concedei-me a graça de ser como criança docil
que se deixa conduzir à luz da vossa doutrina e dos vos
sos exemplos, e não resiste aos vossos preceitos nem
às vossas inspirações.
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horas canomcas em que tomava parte, recitava diaria
mente com seu capelão o ofício dos defuntos; acrescen
tava ainda o ofício de nossa Senhora e terminava o dia
com o santo Rosário.
Alguem perguntará: Tantas orações não prejudicavam
os negócios de Estado, roubando-lhes precioso tempo?
Longe disso: o nosso santo hauria delas as luzes neces
sárias, e como não perdia um instante no jogo ou na
caça, como o fazem os príncipes, achava sempre longas
horas a dar a seu povo sem deixar para o dia seguinte
o que podia fazer na véspera.
Se tivéssemos cuidado de empregar, como ele, todo
o nosso tempo com ordem e inteligência, quantos mo
mentos não poderíamos consagrar à oração! e quanto
proveito não tiraríamos para vivermos mortificados, vi
gilantes, puros de corpo e de alma, e fiéis aos nossos
deveres!
Meu Deus, pelos méritos de· Jesus e Maria, inspirai-me
o espírito de mortificaçãô e oração; assim poderei pra
ticar melhor a virtude angélica e imitar num corpo cor
ruptivel, a exemplo de nosso santo, a incorruptibilidade
dos espíritos bem-aventurados.
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1 º Glória ,a Deus no mais alto dos céus
"Os céus narram a glória do Altíssimo, diz o apósto
lo; o firmamento celebra as obras de seu poder; o dia
anuncia ao dia os prodígios de sabedoria por ele semea
dos no espaço, e a noite não cessa de repetí-los à noite.
Senhor, quão admiravel é o vosso poder no belo universo
criado por vossas mãos!" (SI 8, 18). Porém mais admi
ravel ainda é ela na incarnação do Verbo, que abre aos
homens novos céus e nos introduz num mundo sobrena
tural, onde tudo é grande, rico, esplêndido além de toda
expressão. Ora, a glória dessas maravilhas pertence ex
clusivamente ao Senhor, às suas infinitas perfeições e à
sua execelência sem limites. Gloria in altissimis Deo.
Tambem ele mesmo declarava, e em justiça, não a ceder
a ninguem (Is 48, 11). E de fato ele resiste aos sober
bos que lha pretendem arrebatar. Deus superbis reslstlt
(1 Ped 5, 5).
Congratulemo-nos por poder glorificar a Deus; não há
felicidade que possa igualar em nobreza a essa sublime
intenção. Os anjos e os santos, a divina Mãe, nosso Re
dentor, o próprio Deus não tem outra finalidade. To
dos os favores divinos, sem esse, mesmo que fosse a di
gnidc).de dos serafins, são muito inferiores a esse inapre
ciavel privilégio.
Mas corno glorificar a Deus? Por meio duma profunda
humildade. Inimiga de toda vanglória e ostentação, esta
nos mostra tais quais somos, isto é, incapazes de bem
algum e capazes de todos os pecados. Afastando de nós
a estima própria e o desejo de louvor, faz-nos dar 9-
Deus uma glória pura, reconhecer os seus benefícios,
agradecê-los e referir-lhos. como ao nosso último fim.
E' assim que agís? Não sentís complacências em -vós
por causa da vossa inteligência, dos vossos talentos e
qualidades? Não atribuis à vossa indústria, sabedoria e
prudência o bem que fazeis? Meu Deus! quantos artifí
cios, quanto amor próprio em minhas ações! Quantas ve
zes prefiro praticamente a minha honra à vossa, dese-
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jando o favor, o renome, o louvor que. vem dos lwmens,
ou atribuindo-me o que procede de vós, princípio de toda
a luz e virtude! Dai-me a pureza de intenção que me
faça glorificar-vos em tudo e viver constantemente sob
a vossa dependência.
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complacência perder d-e vez os favores divinos, o repou
so de vossa alma e vossa recompensa eterna?
Jesus e Maria, está feito: doravante direi muitas ve
zes com santa Catarina de Sena: "Jamais a vanglória;
mas sempre a verdadeira glória e a honra do meu Deus".
Dai que eu repita sempre na minha vida o belo cântico
dos anjos : Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na
terra aos homens de boa vontade, isto é, aos homens re
tos e amigos do Senhor. Gloria in altissimis Deo et in
terra pax hominibus honre \'oluntatis.
27 DE AGOSTO
TRANSFIXAO DA SERAFICA TERESA
PREPARAÇAO. A Igreja permitiu. a vários Institutos
religiosos celebrar a memória duma insigne graça. Me
ditaremos seus dois grandes efeitos sobre a santa: 1 º
um desapego total de tudo que não é de Deus; 2º um
sincero amor do sofrimento. - Inflamar-nos-emos as
sim do desejo de velar sobre a� nossas afeições e de re
ceber em paz as penas da vida, para que Deus seja sem
pre o nosso único tesouro e o nosso único amor. Deus
cordis mei, et pars mea, Deus in reternum (SI 72, 26).
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ção, e minha partilha para a eternidade?" E realmente
quando possuimos o Bem infinito e estamos feridos do
seu amor, nada no mundo é capaz de cativar os nossos
desejos. Deveríamos, pois, a exemplo dos santos, dirigir
todas as nossas aspirações a Deus, que inebria de delí
cias os anjos e os eleitos; sentiríamos logo no nosso
triste exílio um antegosto das alegrias da pátria. O
homem mundano, ferido ao vivo em sua honra ou re
putação, não pode esquecer a chaga que lhe faz sangrar
o coração; ela ocupa todos os seus pensamentos e pala
vras. Esse era o estado da seráfica santa Teresa. Deus
absorvia-a: nele encontrava a santa todos os seus de
sejos e afetos, de sorte que nada a atraía ou compra
zia senão o Bem supremo e eterno. Se o Senhor nos trans
formasse tambem com os seus dardos divinos, isto é,
dos raios da sua graça, seríamos todos presos de amor
por ele. Ã mesa, nos passeios, no trabalho, a doce re
cordação do nosso Deus, sempre presente em nossa al
ma a cumular-nos de seus bens, não nos deixaria jamais;
dia e noite, como a santa, dir-lhe-íamos palavras de ter
nura, para testemunhar•lhe o nosso reconhecimento e
amor.
O' meu soberano Bem, não permitais que meu coração,
criado só para vós, possua ainda o que o lisonjeie, aca
ricie, ou compraza sobre à terra. Desapegai-o de toda
a satisfação e inflamai-o do desejo de amar-vos como os
mais ardentes serafins. Ferí minha alma na oração e
arrancai-lhe toda lembrança e afeto que não tendam
para vós, Deus de meu coração e minha partilha para
a eternidade. Deus cordis mei et pars mea, Deus ln re
ternum.
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que sentia! Eis o fruto da caridade quando perfeita:
adoça todas as amarguras. Se tivéssemos dela apenas
uma centelha, ressentiríamos tanto horror do que con
traria as nossas inclinações?
Como amar um Deus crucificado sem amar a cruz?
"Julgas acaso, minha filha, dizia Jesus à nossa santa,
que o mérito consiste em gozar? não, mas em trabalhar,
sofrer e amar". O sofrimento é inseparavel do amor; Je
sus crucificado mostrou-nos sobretudo a s.ua caridade
sem limites, sofrendo e morrendo por nós. Querendo con
trair com Teresa a mais sublime união, mostrou-lhe um
dos cravos, dizendo-lhe: "Eis o sinal e o penhor de que
serás doravante a minha esposa". E', pois, o sofrimento
que sanciona a nossa união com Jesus. O madeiro da
cruz deve aumentar e entreter em nós o fogo do sagrado
amor.
Tendes compreendido até agora esta doutrina, vós que
quereis sempre gozar e nada sofrer? Para que o amor
divino possa existir em nós, o orgulho, a sensualidade,
todos os vícios, todos os defeitos devem ser banidos do
nosso coração. 0ra, como obtermos esse resultado sem
abnegar-nos, mortificar-nos, sem suportar pacientemente
as contradições, as privações, as enfermidades, e as mil
dificuldades da vida? As grandes provações, aliás bem
raras, são quasi só aceitas pelas almas habituadas a
carregar com paz a cruz da cada dia.
Vêde se sois pacientes: l ° nas ocasiões em que sois
lesados, contrariados, arrancados às vossas ocupações
ou sobrecarregados de trabalhos; 2º quando vos sobre
vêm acidentes, contra-tempos que contrariam os vossos
pensamentos, transtornam os vossos planos e projetos.
Todas essas ocasiões e outras semelhantes são meios
providenciais de conduzir-vos ao perfeito amor que con
siste, segundo santa Teresa, em fazer nossa vontade
uma só vontade com a de Deus.
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"0' amor, dir-vos-ei com nossa santa, vós que me amais
muito mais do que eu possa imaginar, disponde a minha
alma a servir a vossa vontade, mais do que a seu próprio
gosto. Morra em mim o "eu" e viva outro em mim; que
ele viva e me dê a vida! que ele reine e eu seja o es
cravo! a minha alma não quer outra liberdade".
28 DE AGOSTO
SANTO AGOSTINHO, DOUTOR DA IGREJA
PREPARAÇÃO. "Foi a graça divina que me fez o
que sou", disse o apóstolo. Santo Agostinho podia di
zer o mesmo. Admiremos pois nele: 1 º o poder da graça
na sua conversão; .2º o poder do amor na sua perseve
rança. - Aprendamos a não nos atribuir jamais o bem
que fazemos, mas glorifiquemos por ele o Espírito San
to. Gratia autem Dei sum id quod sum.
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dou a' ler. Ele o fez, 'e alguns versículos da Escritura de
cidiram a sua conversão. O' poder da oração, que nos
atrai a graça!
Não desesperemos jamais de avançar na virtude, se
soubermos conversar com Deus, expor-lhe as nossas ne
cessidades, pedir-lhe com confiança os dons celestes. A
oração e a confiança fazem violência a seu coração; ja
mais se ouviu dizer que alguem empregasse estes dois
meios com perseverança, sem ser atendido. Testemunha-o
a mãe de Agostinho, que, pela constância de suas súpli
cas, fez de seu filho um doutor e um santo de que se
gloria a Igreja.
Meu Deus, confesso com o autor da Imitação: não há
santidade que possa subsistir, se não a apoiardes; não
há força que não sucumba se não a sustentardes; não
há castidade que se não manche, se a não conservardes;
não há vigilância que nos preserve das ciladas, se a não
secundardes. Dai-me, pois, o dom da prece e da confiança
em vós; inspirai-me a desconfiança de mim mesmo; fa
zei que sempre recorra à vossa bondade, contando com
a vossa graça, a única que me pode mudar de pecador em
santo.
2º PerseYerança de Agostinho pelo amor
Após haver triW1fado de Agostinho pelo esplendor de
sua luz e pela força de sua unção, a graça divina fê-lo
perseverar, substituindo em seu coração o amor profano
pelo _amor sagrado. Apenas batizado, o néo-convertido
não podia ouvir o cântico dos salmos sem chorar de ter
nura; o grande mistério da Incarnação absorvia-o de tal
forma, que não se saciava de considerá-lo. Entregou-se
para sempre ao Deus de bondade, que se abaixou até nós
afim de levar-nos até ele. O amor desse Deus feito ho
mem tornou-o humilde, casto e mortificado; encheu o seu
coração das mais excelentes virtudes.
Sobretudo o zelo ateou-se em sua alma e armou a sua
pessoa para defesa da santa Igreja e das verdades da fé;
e com sucesso prodigioso. Em sua escola e sob a sua in-
Bronchain II - 25 385
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fluência, os maus se convertiam e os bons se tornavam
melhores. Exclamava: "Meu Deus, feristes o meu cora
ção com uma frecha abrasada que penetrou tão fundo
que o ferro ficou na chaga". Após quarenta anos de tra
balhos, de sofrimentos, de vida penitente, o santo q.ou
tor recebeu a recompensa de seu amor a Deus e às al
mas. Morreu a morte dos justos, deixando-nos um gran
de exemplo do poder da graça para converter e santifi
. car os corações.
Não percamos jamais o desejo e a esperança de nos
tornarmos santos; sê-lo-emos em pouco tempo, se formos
fiéis em aproveitar as luzes e socorros que nos vêm de
Deus para nos unirem a Jesus. O amor ao Redentor puri
fica-nos a alma de todas as manchas, inspira-lhe o espí
rito de penitência e de sacrüício; move-nos a mortificar
os sentidos, a reprimir as más inclinações, a praticar
todas as virtudes das quais ele é o vínculo e a perfei
ção. Para· o adquirir, esforcemo-nos: 1º em amar a soli
dão, o silêncio, o recolhimento, a oração; 2º em pensar a
miude nas perfeições, dons e benefícios do Homem-Deus;
3 º em pedir-lhe frequentemente uma centelha da sua ca
ridade divina.
Senhor, dir-vos-ei com santo Agostinho, vós, a doçura
e a bondade, dai-me a graça de amar-vos de todo o meu
coração, de toda a minha alma, de todas as minhas for
ças. Que eu vos tenha sempre em toda parte no coração,
nos lábios e ante os olhos da minha alma, afim de que
nenhuma afeição estranha me possa jamais afastar de
vós. O' Maria, obtende-me o mais ardente amor a Jesus,
meu Salvador; fazei-me docil e fiel às suas luzes, exato
no cumprimento dos seus preceitos, assíduo em meditar
a sua doutrina, as suas virtudes, os seus sofrimentos, e
a pedir-lhe o dom do seu amor.
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29 DE AGOSTO
MART1RIO DE SÃO JOÃO BATISTA
PREPARAÇAO. O Espírito Santo nos assegura que
são João Batista veio prestar testemunho à Luz do mun
do, que é Jesus Cristo. Ele prestou esse testemunho: 1 °
pelo martírio da penitência durante a vida; 2º pelo mar
tírio do sangue em sua morte. - Examinemos se, à seu
exemplo, estamos prontos a antes dar a nossa vida do
que perder Jesus pelo pecado mortal. Este o principal
testemunho que ele espera de nós. Ut testimonium per
hiberet de lumine (Jo 1, 7).
2ã* 387
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cessário para manter a conpunção, a pureza do coração
e ·a vigilância contra a recaida. A alma penitente descon
fia de si, foge do perigo, conserva-se no fervor, ora sem
cessar, mortifica-se, permanece na humildade e perseve
ra na prática do bem até ao fim do seu exílio.
Tendes tais disposições? Os santos, apesar da sua ino
cência, castigaram-se rigorosamente e ainda temiam per
der-se; vós, ao contrário, muitas vezes culpados, afagais
o vosso corpo, satisfazeis os sentidos, contentais o amor
próprio; e é com dificuldade que reconheceis vossa fra
queza e temeis as contas a prestar um dia a Deus.
Jesus, meu Redentor, dai-me os sentimentos da mais
viva compunção; inspirai-me a coragem de mortificar os
olhos, a língua, o paladar, todos os meus instintos per
versos afim de submeter-me inteiramente à vossa ado
ravel vontade. Faço desde já a intenção de unir-me à
vossa tristeza no jardim das Oliveiras, preparando-me
para a absolvição sacramental, e chorando minhas fal
tas no exame da noite.
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carnada, do que ver seu servo anunciar a verdade aos
reis e aos tiranos e morrer de boa vontade por ela. O'
generoso devotamento! ó coragem admiravel e rara!
Este exemplo deveria animar-nos a vencer o respeito
humano quando se trata do cumprimento do nosso de
ver. Por que intimidar-nos pelo que pensarão e dirão os
homens ? Eles não podem dizer ou pensar coisa alguma
que nos prejudique, quando Deus e seus anjos nos apro
vam. Mesmo que fôssemos humilhados e desprezados to
da a nossa vida, por termos feito o bem, seremos u:µi dia
rehabilitados em face do universo por aquele que foi le
vantado num patíbulo de ignomínia em retribuição de
seus benefícios. Que vergonha seria ser alguem tratado
como foram tantos santos e mártires, verdadeiros imita
dores de Jesus crucificado!? Não nos envergonhemos de
confessar Jesus Cristo diante dos homens, quando o exi
ge a nossa conciência, mesmo que por isso tivéssemos
de atrair-nos o ódio e o desprezo dos maus.
Meu Deus, defendei o meu coração do temor mundano,
que procura desviar-me da fidelidade a meus deveres.
Abafai em mim todas as vãs apreensões, e dai-me a for
ça de agir em tudo sob as vossas vistas e com a única
intenção de comprazer a vossa infinita majestade, dian
te da qual se apagam todas as dignidades da terra. Vir
gem santíssima, isenta de toda fraqueza, fortalecei mi
nha alma na prática do bem.
30 DE AGOSTO
O PECADOR E O JUSTO NA HORA DA MORTE
PREPARAÇÃO. Dispor-nos-emos amanhã, de maneira
especial, para uma boa morte. Para este fim considera
remos: l ° os sentimentos do pecador; 2º os do justo,
na hora suprema. - Apresentar-nos-emos depois os úl
timos· momentos dum impenitente, por exemplo, de He
rodes, e os de um santo,. por exemplo, são João Batista,
e pensaremos na máxima: "qual a vida, tal a morte".
Qure seminaverit homo, hrec et metet (Gal 6, 8).
389
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lº Sentimentos do pecador na hora da morte
Vêde o pobre mundano, exclama santo Afonso, vêde-o
presa da última enfermidade. Ele vai morrer. Os seus
suores são gélidos, sua respiração torna-se penosa, sofre
contínuos desfalecimentos. Mas o peior é que, em face
da morte, em vez das contas a prestar a Deus, pensa não
ter mais força senão para se ocupar de médicos e remé
dios. Em se tratando de sua alma, de seu Deus e de sua
eternidade, não sabe esforçar-se, está todo acabrunhado.
Mas o infeliz começa a suspeitar o perigo do seu es
tado; vê sua família agitada, mais frequentes as visitas
dos médicos, reiteradas as consultas, multiplicados e vio
lentos os remédios prescritos. Que aflição e desânimo se
apoderam então do seu coração! Atormentado de temo
res, inquietações e remorsos tem de dizer-se: "Ai de mim!
quem sabe já chegou o fim dos meus dias?"
E que dor para ele quando adquire a certeza da apro
ximação da morte! Desespero sombrio sucede logo à agi
tação na alma do impenitente. As suas iniquidades diri
gem-se contra ele, quais horríveis monstros para devo
rá-lo. Vê as desordens de sua vida, as graças de que abu
sou. "Infeliz que sou! :_ exclama - tive tantas ocasiões
de pôr em ordem a minha conciência e não as aprovei
tei. Agora aproxima-se a morte e já não tenho tempo
de converter-me". Nessas tristes disposições morre o in
feliz. Fim deploravel! ensina-nos a tornar mais séria a
nossa vida, menos dissipada e toda aplicada ao grande
negócio da nossa salvação, pois que ignoramos se vere
mos o dia de amanhã ou mesmo a hora que está por vir.
Jesus, espero de vós a graça de recolher-me e de me
ditar muitas vezes os meus novíssimos, mormente a morte
que ameaça sempre arrastar-me ao vosso tribunal para
ouvir a sentença decisiva de minha eternidade. Dai-me
o espírito de penitência e de compunção, a coragem de
mortificar os meus sentidos e inclinações, afim de mor
rer a mim mesmo e de viver constantemente unido a vós
por uma oração contínua.
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2º Sentimentos do justo na hora da morte
Os pecados cometidos e não expiados são a causa or
dinária da perturbação dos moribundos. O justo, porém,
viveu na inocência, ou ao menos expiou as suas faltas
por uma vida fervorosa passada no temor de Deus, na
prática da piedade e dos seus deveres. A sua conciência
dá-lhe, pois, bons testemunhos; segurança de estar em
graça com Deus. Como é doce então ter passado a vida
na abnegação e prática da obediência, oração e carida
de! Como é consolador ter vivido sempre na amizade di
vina, e haver amontoado tesouros para o céu.
A firme esperança da salvação enche de felicidade o
justo moribundo; parece-lhe ouvir uma voz celeste. que
lhe diz: "Bem-aventurados os mortos que morrem no
Senhor; vão terminar_ as suas dores, combates e angús
tias, · e entrarão logo na beatitude". Mas em que se fun
da a sua esperança? em suas obras, virtudes e méritos?
não, mas unicamente na misericórdia daquele cujas ter
nuras ele conhece pelas graças recebidas. Apoia-se ain
da nos sofrimentos do Redentor, cujo sangue precioso,
depois de o haver regenerado, pelo batismo, muitas ve
zes o purificou e o fortaleceu na Penitência e na Euca
ristia. Conta enfim com aquela que é a Mãe de sua al
ma, a Medianeira da salvação e da qual recebeu tantos
favores.
Tenhamos nós todos estes sentimentos; e para esse
fim vivamos cada dia como se fosse o último. Um jovem
fidalgo perguntou a santa Ângela, fundadora das Ursu
linas, qual o meio de se santificar no meio do mundo, e
recebeu a resposta seguinte: "Fazei agora e durante toda
a vida· tudo o que na hora da morte quererieis ter feito" .
. Estas palavras, pronunciadas com convicção, abalaram
de tal forma o jovem, que as escreveu, as leu todas as
manhãs, as traduziu na vida, e se tornou assim um gran
de servo de Deus. A seu exemplo: 1º Disponhamo-nos
cada tarde sob a proteção de Jesus e Maria, como se ti-
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véssemos de, nessa noite, comparecer ante o tribunal de
Deus; 2 º de manhã proponhamo-nos passar o dia com o
fervor de um homem prestes a morrer. O' meu Deus, dai
me a graça de pôr em prática estas duas resoluções.
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Lá estarão reis, príncipes, nobres, confundidos com a es
cória do povo e entre os celerados mais infames. Lá es
tarão sacerdotes, religiosos infiéis a seus votos, e a seus
deveres, pessoas outrora piedosas. A negligência em mor
tificar uma paixão, no princípio aparentemente inocente,
os conduziu a • esse irremediavel desgraça.
Jesus, usai de misericórdia comigo enquanto é tempo
porque, então, será tarde de mais. Quero desde já· deplo
rar as minhas infidelidades e reformar a minha vida.
Para este fim: 1 º inspirai-me a coragem de fugir dessa
ocasião, deste perigo; de desprender o meu coração de
tal afeição ou defeito, fontes da minha lassidão no vos0
so serviço; 2º dai-me a força de suportar as minhas pe0
nas com paciência e de perseverar no vosso amor; 3 º fa
zei ressoar sem cessar aos meus ouvidos a terrivel sen
tença destinada aos impenitentes, e dai-me a graça de
evitá-la a todo transe.
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zeram Deus reinar em seus corações, dominando as pai
xões.
E', pois, dominando as nossas más inclinações que me
recemos a mesma recompensa. Deus não poderá reinar
em uma alma escrava da vontade própria e "das más in
clinações. Importa-nos, pois, vencer a nós mesmos, a exem
plo dos santos, e viver como eles no fervor. Se não pu
dermos imitar suas grandes austeridades, sofràmos pelo
menos com paciência alguma palavra ofensiva, alguma
leve dor, contrariedade, privação para comprazermos a
Jesus. Sacudamos nossa indolência, nossa preguiça, afim
de exercermos a virtude. Não há sacrifício a recusar
quando se trata de merecer a sentença bem�aventurada
que assegurará a nossa· salvação eterna.
Divino Redentor, ponde sempre ante os meus olhos os
castigos que aguardam os pecadores, e as recompensas
reservadas aos justos, afim de que, temendo aqueles e
esperando estas, eu triunfe das tentações. Sob a pro
teção de vossa santa Mãe tomo a resolução: 1° de re
cordar-me muitas vezes do juizo final, a que devo sub
meter-me um dia; 2º de fazer todas as minhas ações
sob as vossas vistas e na intenção de vos aplacar e
comprazer.
Oração a Jesus Crucificado
Jesus, reconheço em vossa sagrada Pessoa, cravada
no patíbulo do Calvário, o grande Deus que criou e go
verna o universo. Um dia vireis sobre as nuvens do céu,
a julgar os vivos e os mortos. Já não sereis então o Cor
deiro indefeso, mas o terrivel Leão de Judá! Como su
portar então os vossos olhares irritados? Como ouvir
sem tremer a terrivel sentença destinada aos répro
bos?. . . Inspirai-me a confiança em vossa infinita mise
ricórdia, e pela intercessão da Mãe das Dores, imprimí
no meu coração as vossas sagradas chagas; fazei que
eu medite todos os dias a vossa sagrada paixão e os
exemplos de virtude que nela me destes. Penetrai-me
sobretudo dos sentimentos do mais vivo e sincero arre
pendimento até ao último suspiro de minha vida. A.men.
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MEDITAÇõES PARA AS FESTAS
M1tS DE MAIO
PRIMEIRA SEXTA-FEIRA
DESAPEGO DO SAGRADO CORAÇÃO
PREPARAÇÃO. Para possuirmos o amor divino, do
qual o Coração de Jesus é o eml;>lema e a fornalha, é
n_ecessário que -nos desapeguemos de tudo que não é
Deus. Meditaremos, pois: 1º o perfeito desapego do sa
grado Coração de Jesus; 2º como poderemos imitá-lo.
- Examinaremos ainda se procuramos somente a Deus
em nossos pensamentos e afetos, e se o servimos com
vontade reta e sincera. Servlte ei perfecto corde at.que
verisslmo (Jos 24, 14).
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Não contente de abraçar todas as fadigas e privações,
renuncia até à sua reputação da qual os homens são tão
ciosos, e morre sobre uma cruz, como o último dos mor
tais e o mais culpado dos facínoras. O' prodígio sem
igual! Um Deus, a quem tudo pertence, faz-se o mais po
bre de todos os homens e até dos escravos. Ele, a glória
dos anjos, torna-se a abjeção da mais vil populaça! Ele,
o monarca onipotente e eterno, é reduzido a condição
de verme da terra, e entregue à morte mais ignominiosa!
E depois da sua morte não tem um lençol, um sepulcro,
tanto se d�spojou por nós. O' amor! arrebataste a Jesus
o que ele tinha por direito de criação, e só lhe deixaste
os nossos corações reconquistados pela Redenção! ...
Mas esses corações que deveriam pertencer inteiramen
te àquele que os resgatou, não lhos roubamos, ao menos
em parte, por nossos apegos à estima, às honras mun
danas, às· comodidades, às satisfações? O' Coração de
Jesus! apoderai-vos dos meus afetos e da minha von
tade; sede o único objeto dos meus pensamentos e aspi
rações; sede o meu único Bem, o meu único amor no
tempo e na eternidade. Deus cordis mei, et pars mea,
Deus, in reternum ( SI 72, 26).
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O melhor meio de chegar alguem a esse desapego é
amar a Jesus sobre todas as coisas. Como o fogo sagra
do, que abrasava seu divino Coração, o constrangeu a
tudo imolar por nés, assim a nossa dedicação ao Homem
Deus nos fará sacrificar tudo que não é ele. Considere
mo-lo muitas vezes no Calvário, onde ele se acha redu
zido ao mais completo desnudamento. Suspenso entre o
céu e a terra, que deseja ele senão a glória de Deus e
a salvação das nossas almas? Imolando a sua pessoa,
renuncia a tudo, e se entrega a nós sem reserva. Deixa
que lhe abram depois da mÕrte o Coração para nos dar
o último resto de seu sangue.
Jesus, contempiando-vos sobre a cruz, coberto de cha
gas, coroado de espinhos, saciado de opróbrios, não pos
so duvidar do inteiro desapego do vosso Coração e da
pureza do vosso amor. Quem me dera morrer, como vós,
a tudo que é criado! Concedei-me uma fa'isca do braseiro
ardente que vos consome. Então, totalmente separado
das coisas passageiras; exclamarei com o autor da Imi
tação: "Estar sem Jesus é um cruel inferno; estar com
Jesus é. um paraisa de delícias. Que me pode dar o mun
do, se eu não tenho Jesus? Insensato e vão é aquele que
deseja outra coisa que não Jesus. Viver sem Jesus é o
cúmulo da indigência, mas possuí-lo é soberana riqueza"
(L. 2, c. 8).
Meu Deus, meu Salvador, meu tesouro e minha. vida!
pela intercessão da Virgem imaculada, dai-me a graça:
1 º de renunciar a tudo que tenho de deixar no momento
da morte; 2º de lembrar-me sempre de vós, que sois o
Bem supremo e eterno. Na minha última hora, quando
todos me abandonarem vós. só ficareis comigo. Sede pois
desde já o Deus do meu coração, o meu único amor e
minha partilha para a eternidade. Deus cordis mei et
pars mea, Deus, in reternum!
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· VIRTUDE ESPECIAL A PRATICAR NO M:8:S.
A POBREZA
PREPARAÇÃO. "Não amontoeis tesouros sobre a ter
ra, onde a ferrugem e a traça os consomem, mas ente
sourai para vós tesouros no céu", disse Jesus (Mt 6, 19).
Esse tesouro é a posse de Deus. Consideremos: 1º como
os santos o acharam; 2º a que preço o Salvador nô-lo
proporciona. Diremos muitas vezes amanhã com são
Francisco de Assis : "Meu Deus e meu tudo", isto é, Se
nhor, vós só me bastais porque em vós ·encontro tudo
quanto é necessário para a minha alma. Deus meus et
omnia.
1 º Os santos praticaram. a pobreza.
"Quem ama os bens passageiros, diz são Felipe Neri,
não se santificará jamais". E realmente, c"omo é possivel
apegar-se à matéria e tomar-se espiritual? ligar o co
ração ao que é terreno e elevar-se ao céu? amar arden
temente o que é passageiro e dedicar-se ao Deus eterno?
Como a treva e a luz não podem subsistir unidas, assim
os bens da terra e os do céu não podem harmonizar-se
num coração, nem fazê-lo feliz. "Antes de se encher de
mel um vaso, diz santo Agostinho, é preciso primeiro
esvaziá-lo do vinagre que contém". Assim os santos que
queriam pertencer a Deus sem reserva, despojaram-se
primeiro do apego aos bens do mundo. O abade santo
Antão vende o seu rico patrimônio, distríbue-o aos po
bres, e retira-se do mundo a um deserto. São Francisco
de Assis restitue a seu pai até a última veste e sujeita-se
a viver_ de esmolas. Todos os santos, mesmo os reis e
imperadores, se não abandonaram as riquezas e domí-.
nios, renunciaram-lhes pelo menos de coração, sabendo
que a santificação duma alma é incompativel com a co
biça dos bens criados.
Se, pois, não nos quisermos fazer pobres realmente,
devemos sê-lo de espírito e afeição. Pa.uperes splritu,
afim de podermos dizer com o apóstolo: "Considero co
mo limo todas as vàntagens do mundo em comparação
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às de Jesus Cristo" (Filip 3, 8). Jesus é, com efeito, o
único tesouro verdadeiro da alma fiel; nele possuimos
todos os bens. Ora, segundo a palavra do divi�o Mestre,
devemos ter o nosso coração onde está o nosso tesouro
(Mt 6, 22). Concentremos pois em Jesus todos os nossos
afetos.
De que me servirão, adoravel Salvador, os objetos a
que tanto me apego hoje e talvez sacrifico o meu pro
gresso na virtude? Que resta ao moribundo das riquezas
e prazeres que gozou na vida?. . . Fazei-me conhecer o
nada dos bens e das vantagens passageiras. Dai-me a
graça de abandonar agora de coração, livremente e com
mérito, o que a morte um dia me tirará necessariamen
te e sem mérito par::i, mim.
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procurar e a achar a Deus por meio dela, bem como a
sua graça, o seu amor, o seu reino em nós. E com efeito,
a pobreza ou o perfeito desapego dispõe maravilhosa
mente os corações a possuir o Bem supremo, fonte única
das verdadeiras riquezas e dos contentamentos duraveis.
Viveis no mundo? vêde se não sois demasiado ávidos
de dinheiro, demasiado seguros quando se trata de dar.
Sois religiosos? examinai se, não contentes de não in
fringir o voto de pobreza, sois industriosos em exercer
tudo que podeis fazer sem parejudicar a saude e lesar a
obediência.
Amavel Salvador, até agora tenho procurado a vaida
de e a mentira; para o futuro quero apegar-íne só a
vós: 1º imitando vossa divina Mãe, que, sobre a terra,
não possuiu outro bem senão vós; 2 º imitando os san
tos que amaram as privações desta vida passageira afim
de adquirir na vida futura a abundância dos tesouros que
não perecerão- jamais.
1 DE MAIO
SÃO TIAGO E SÃO FELIPE, APôSTOLOS
PREPARAÇÃO. Seguindo a doutrina de Jesus Cristo,
os apóstolos e todos os santos chegaram à perfeição e
à salvação. Temos provas disso: 1º nas virtudes de são
Tiago Menor; 2º na vida e martírio de são Felipe. - Es
forçando-nos a amar como eles o divino Mestre, pratica
remos os seus ensinamentos, pois que nisto consistem o
amor e a santidade. Si diligitis me, mandata mea servate
(Jo 14, 15).
400
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aos gálatas, une-o a são Pedro e a são João e designa-os
como as colunas da Igreja de Cristo.
São Tiago distinguiu-se por um espfrito de mortifica
ção e de oraçã.o. Jamais comeu coisa alguma pertencente
a algum ser, antes dotado de vida; e água era sua be
bida e abstinha-se de tudo que afagava a natureza. A
pele dos seus joelhos tornou-se dura e espessa como a
de um camelo, pela assiduidade em prosternar-se diante
de Deus na oração, da qual hauria as graças santifica
doras.
Por esse mesmo espírito de mortificação e oração ad
quiriu tambem todas as virtudP-s, Segundo santo Epifâ
nio, ele perm_aneceu virgem a vida inteira, e são Jerôni
mo o propõe como modelo de inocência, santidade e pe
nitência, digna da admiração dos anjos e dos homens.
O seu zelo não foi menos notavel; e as conversões ope
radas por ele entre os judeus foi a causa do seu martí
rio. Precipitado do alto do templo, lapidado e espanca
do, não só não amaldiçoou mas até orou por eles como
o divino Mestre. Ensinou-nos assim a perdoar as injúrias
e os -maus tratos, a recomendar a Deus os que nos per
seguem e caluniam.
Em sua epístola canônica exorta-nos a exercer o que
ele praticava: o amor da mortificação e da oração. l°
Mostra-nos quão necessário nos é mortificar a língua,
fonte de tantos pecados; evitar toda licença de lingua
gem e a inutilidade dos entretenimentos. 2º Convidá-nos
a unir as ações à fé, e a orar sempre com as condições
requeridas para obtermos as graças da salva�ão. Seguís
com fidelidade estes preciosos conselhos? Orais com hu
mildade, confiança e P'erseverança? Sois prudentes e
moderados em vossas conversas? é dificil falar muito
sem cometer qualquer falta.
Adoravel Jesus, os meus frequentes entretenimentos
com as criaturas diminuem em mim o fervor e me ex
põem a ofender-vos. Dai-me o amor da solidão, do silên
cio e da oração, afim de que me ocupe sempre dos in
teresses de vossa glória e da minha santificação.
Bronchain II - 26 401
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2º Vida e martírio de são Feítpe
O apóstolo são Felipe aplicou-se desde a mocidade ao
estudo da Escritura onde viu, simbolizadas, as belas ver
dades ensinadas por Jesus. Como o seu coração era reto,
creu facilmente no Salvador e seguiu sem dificuldade o
seu chamamento. A sua fé foi tão ardente que logo an
gariou para discípulo Natanael, que Jesus denominou
um verdadeiro israelita sem dolo nem astúcia. Essa fé
viva de são Felipe teve de ser fortalecida. Jesus pô-lo
a prova na multiplicação dos pães, quando perguntou
ao nosso santo donde se poderiam obter víveres para a
multidão.
Esse fervoroso discípulo levou a luz do Evangelho aos
gentios, dos quais alguns já se haviam dirigido a ele,
em vida do Salvador, pedindo lhes 11).ostrasse o divino
Mestre. Enorme zelo desenvolveu na Ásia, na Cítia e na
Frígia. Neste último país recebeu a coroa do martírio
com coragem inaudita. Enquanto o açoitavam, crucifica
vam e o apedrejavam, ele bendizia e agradecia ao Re
dentor. Dissera a Jesus: "Senhor, mostrai-nos o Pai e
isso nos basta". "Felipe, respondeu-lhe o Mestre, quem
me vê, vê tambem o Pai" (Jo 14, 8-9). O martírio pro
porcionou-lhe o privilégio inefavel de contemplar na
eterna beatitude o Pai, o Filho e o Espirito Santo, um
só e o mesmo Deus.
Tendes, como esse glorioso apóstolo, o desejo de co
nhecer e amar o soberano Bem? Podeis dizer com ele:
Só Deus me basta? Ostende nobis Patrem et suficit no
bis. Ah! o vosso espírito, o vosso coração e a, vossa ima
ginação nutrem-se muitas vezes de curiosidades, novida
des e vãs satisfações. Quereis ver tudo, saber tudo, imis
cuir-vos em tudo .e tendes ainda pretensões às vivas lu
zes, às doces consolações do Senhor?
Jesus, quantas vezes a multiplicidade dos meus dese
jos e apreensões pouco razoaveis, me tiram a tranquili
dade e me impedem de viver recolhido! Dai que eu com
preenda o nada de tudo que passa. Pela intercessão da
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Rainha dos apóstolos, fazei que eu vos repita a miude a.
palavra de são Felipe: "Senhor, mostrai-me o Pai e isto
me basta" ; mostrai-me suas perfeições, suas grandezas
e amabilidade infinita, e meu coração nada mais desejará
n:este mundo passageiro. Ostende nobis Patrem et sufi
clt nobis.
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Hoje essa cruz sagrada está em poder da lgr.e,ia, co
_mo recordação da pessoa do Salvador, prova da sua ter
nura, monumento da sua vitória sobre o pecado, sinal
de esperança, de p3rdão e de salvação. Distribuida em
parcelas pelo universo católico, nada perde do seu volu
me na Basílica de Roma, onde é venerada. Não quer as
sim o Salvador mostrar-nos que os bens t�_ue dele ema
nam, não se esgotarão jamais? A Igreja está provida
deles de m"odo superabundante no sacramento; a Igreja
padecente sente-lhes todos os dias o efeito pelo sacrifício
do altar; a própria Igreja triunfante deve as suas ale0
grias, riquezas e glórias aos sofrimentos daquele que
restaurou todas as coisas na terra e no céu (Col 1, 20).
O inferno é vergonha, suplício e desespero justamente
porque a cruz não exerce influência sobre os infelizes
co!ldenados.
Jesus, fazei-me participar das graças abundantes que
dimanam da vossa cruz. E a lembrança das vossas dores
e opróbrios me inspirem a coragem de servir-vos com
ardor, de sofrer com paciência. E se ainda não posso
amar a cruz como os santos a amaram,- dai-me ao me
nos a força de não recusar as privações, as contrarie
dades, os sofrimentos; de ser menos ávido de satisfa
c;ões e gozos terrestres, menos empenhado cm procurar
as comodidades e o que afaga as minhas inclinações em
detrimento da vossa glória e do meu progresso na vir
tude.
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que ressuscitar mortos. A cruz é um dom tão precioso
que, se ficasses prostrado por terra durante anos pe
dindo-me a graça de sofrer, não serias ainda digno de
obtê-la. E' melhor arder cem anos numa fornalha do que
ficar livre da menor cruz que eu possa e queira dar-te".
Assim falou Jesus sobre o valor dos sofrimentos.
Mas ouçamos o ci_ue ele diz da sua eficácia, Dez almas,
no gozo das delícias da graça, cairão mais facilmente no
pecado, do que uma só que geme na aflição. O inferno
não tem força sobre os que se cur,,am. amorosamente
sob a cruz. Mesmo que falasse de De1!s com a língua dos
anjos, serias aos meus olhos menos santo e amavel do
que uma alma que vive submissa à r;ruz. Quantos não
estariam hoje condenados se eu não os tivesse crucifi
cado! A adversidacle afasta-os do mundo e aproxima-os
do céu, condú-los à glória dos santos e ao triunfo dos
mártires, e os aflitos, na alegria da vitória, cantam a
Deus um cântico novo, que os anjos não podem entoar,
-porque não carregaram a cruz. "Depois como motivo e
meio de resignação, o Senhor acrescentou: "Vê-me cru
cificado, pensa em tudo quanto por ti sofrí e esquecerás
as tuas aflições".
Jesus, tomo este último conselho: Quando eu sofrei:
alguma dor, lembrar-me-ei de vós, do vosso amor e da
vossa cruz. Obtende-me essa graça, Virgem santíssíma,
Mãe das Dores. Fazei que eu medite sempre Jesus cruci
ficado e tire das suas chagas o bálsamo dos santos pen
samentos e piedosos afetos que me transforme as amar�
guras em doçura celeste. Estou resolvido: 1 ° a suportar
com resignação todas as contrariedades que hoje me so
brevierem; 2º a uní-las aos sofrimentos do _meu Salvador
e ·às vossas inefaveis angústias, ó Virgem inocente, que
sois ao mesmo tempo a Mãe dos pécadores arrependidos.
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6 DE MAIO - SÃO JOÃO ANTE PORTAM LATINAM
PREPARAÇÃO. "O que faz o mártir, diz santo Agos
tinho, não é tanto a pena como o motivo". São João foi
duplamente mártir: 1 º por sua caridade para com as
almas; 2º por sua fidelidade a Jesus Cristo. - Se de
sejais o mérito do martírio, tomai a resolução de vos de
votar e sacrificar- ao serviço de Deus e do próximo. As
sim tereis parte um dia na glória dos que derramaram
o sangue por Jesus. Martlrem non faclt pmna sed causa.
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não cessava de repetir: "Filhinhos, amai-vos uns aos em
tros", assegurando que a fidelidade a este preceito bas-
ta para a mais sublime perfeição.
Tendes tido até hoje alta estima da caridade? Não a
tendes por virtude secundária, que mal merece a vossa
solicitude? Daí, sem dúvida, a vossa facilidade em lesá
la por pensamentos, palavras, sentimentos e ações. E
que desculpa poderieis alegar? Se são João repousou
sua fronte sobre o peito do divino Mestre, não tendes
vós na santa comunhão o_ Coração do Homem-Deus, que
é a fornalha da divina caridade?
Jesus, despertai a minha fé na excelência desta virtude
divina, distintivo de vossos verdadeiros discípulos, que
deve destruir em mim o egoísmo para inspirar-me devo
·tamento sem reserva às almas criadas à vossa imagem
e resgatadas por vosso precioso sangue. Fazei o meu
coração como o vosso, a exemplo do que fizestes a são
João, vosso discípulo amado.
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seu amor o suplício da flagelação e foi depois lançado
numa caldeira de óleo fervendo. :M:as, ó prorlígio ! o Sal
vador, contentando-se com sua dedicação inviolavel, fê-lo
sair do suplício mais vigoroso que antes; e o imperador,
assombrado com o milagre, não _s0 atreveu a dar-lhe a
morte; exilou-o para a ilha de Pàtmos, onde são João
escreveu o Apdcalipse. Admiremos aquí as vias da Pro
vidência. O Senhor concedeu a seu servo o mérito do
martírio e, ao mesmo tempo, reservou-o para a nobre
missão de predizer ,o futuro da Igreja e de escrever o
sublime Evangelho que encheu· de pasmo os mais ilus
tres doutores.
Este fiel discípulo recomenda-nos em suas epístolas
especialmente a fidelidade aos preceitos do Senhor so
bretudo no que se refere à verdadeira caridade. "Quem
ama, diz ele, permanece em Deus e Deus nele. Mas não
amemos só de palavra e de língua; amemos tambem por
a:ções em to.da a sinceridade". Opere et verita.te. E' as
sim a vossa. caridade? Onde estij.o os vossos trabalhos, os
vossos atos de devotamento'?
Meu· Deus, tantas vezes protesto amar-vos, mas, à
menor contrariedade, ao mais leve sacrifício torno-me in
fiel. Dai-me: 1 º uma centelha da caridade sincera e cons
tante que animava são João, vosso discípulo amado; 2"
uma atenção contínua em procurar unicamente a vós, a
despeito das dores e das dificuldades.
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1" O q�e significa o nome Miguel para o santo arcanjo
Os anjos, primícias e obras-primas __ da criação, são
puros espíritos, imagem viva das perfeições divinas. Deus
criou-os na inocência, santids.de e perfeição. Lúcifer era
o seu chefe. A princípio cheio de sabedoria e perfeito em
beleza, diz a Escritura, teve depois a in_felicidade de pre�
varicar (Ez 28, 12-15). Cheio de si dizia em seu coração:
''Subirei ao céu, porei o meu trono acima dos outros e
sentar-me-ei sobre a montanha da aliança. Colocar-me-ei
acima das mais elevadas nuvens e serei semelhante ao
Altíssimo (Is 14, 13-14). Mal concebera seu orgulhoso
projeto, qrnmdo Miguel, infü).mado de zelo pela glória
divina clamou: "Quem como Deus?" Quis nt Deus? Este
grito ver..cedor, traduzido pela pal�vra Miguel, foi como
um raio que precipitou··Lúcifer e seus anjos nas profun
dezas do abismo.
O' palavra prodigiosamente eficaz! palavra que separou
_ os anjos fiéis dos espíritos prevaricadores! que baniu· do
céu -0s soberbos e lá conservou os humildes! que fez cair
as poderosos' dos- seus tronos, e elevou os ·pequenos!
Deposuit potentes de sede et exaltavit humiles. Um ter
ço da milícia angélica foi arrastada na revolta e na ruí
na do seu chefe. Os outros anjos, chefiados por são Mi
guel, perseveraram submissos a, Deus e partilharam a
sua glória, porque, aos ólhos do Altíssimo, a humildade
nos eleva e o orgulho nos rebaixa e avilta.
Quereis ser grandes não na aparência mas na reali
dl:!,de? dizei praticamente com são Miguel: "Quis ut
Deus?" Quem é poderoso, sábio, justo como ele? A obra
pertence ao artífice, o escravo a seu Senhor, a árvore a
quem a plantou. Com que direito vos atreveis a atribuir
vos o que é de Deus, isto é, a honra do bem que fazeis
e· do qual serieis incapazes sem a graça? · "Que tendes,
diz o apóstolo, que não tenhais recebido? e se o recebes
tes, porque vos gloriais como se fosseis o seu autor?"
{1 Cor 4., 7). Só Deus é o princípio e fim de todas ·as ccii-
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sas; a ele só, pois, a glória de todo bom pensamento, san
to desejo e ação caridosa ou louvavel.
Meu Deus, fazei que eu conheça o meu nada, a minha
ignorância, a minha indigência, a minha corrução e os
castigos merecidos por meus pecados. Fazei-me: 1º re
conhecido para convosco.; 2º sempre pronto a obedecer
vos e a executar a vossa vontade.
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tígios de eão Miguel que por sua humildade, obediência
e fidelidade, salvou-se e a uma multidão de anjos. Oh!
como é abominavel o orgulho! "E' o distintivo dos ré
probos, exclama são Gregório, ao passo que a virtude
contrária é a dos eleitos".
Senhor, concedei-nos a graça: 1º· de lembrar-nos sem
pre do nosso nada; 2º de conservar-nos em vossa pre
sença corno um abismo de indigência que implora a ple
nitude de vossas misericórdias; 3º de pedir-vos- sempre e
com profunda humildade um ardente desejo dos bens ce
lestes, uma confiança firme de obtê-los e um sincero re
conhecimento dos vossos contínuos benefícios.
Meu Deus, pelos méritos de Jesus e de Maria, de são
Miguel e dos bons anjos, dai-me a fidelidade a essa prá
tica até ao meu derradeiro suspiro.
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Desde então e'sta Mãe incomparavel está cheia de
solicitude in�essante por nossa salvaçã,o; vê em nós o
sangue de seu F.i.lho que nos regenerou e que nos dá uma
vida mais preciosa que todas as vidas corporais dos ho
mens. Esta vida, que é a de Deus nos corações, Maria
trabalha para no-la conservar e aperfeiçoar e não se dá
descanso enquanto não a recuperarmos depois de per
dida. Para este fim ela recebeu do Pai celeste, em nosso
favor, todo o depósito das graças da Redenção; por isso
vem em nosso auxílio e enriquece-nos de bens a todos
os instantes da nossa peregrinação terrestre. Daí o seu.
belo título de Mãe do Perpétuo Socorro, título inseparavel
do de Mãe das nossas almas, pois que a nossa vida so
brenatural se alimenta das fontes que a produziram, isto
é, em Jesus, plenitude dcs bens celestes e em · Ma,ria,
canal constante que no-los transmite. Como o riacho for
nece às plantas as águas necessárias à sua subsistência,
assim a divina Mãe nos comunica os socorros indispensa
veis à nossa vida espiritual; é como essa vida necessita
duma assistência contínua, o socorro de Maria é · para
nós sem interrupção, quando lhe suplicamos• sem cessar.
Non Ímpediaris orare semper.
'Ésta. doutrina é de molde a inspirar-nos confi�nça nes
ta terna M�e. Jamais ela esquecerá as angústias do seu
coração materno, as que nos proporcionaro.m a vida di
vi�a: �amais deixará perecer os que a imploram e que
lhe custaram o s�ngue de seu Filho. Guardemo-nos, pois,
de toda pusilanimidade, pensando nela; de toda hesita
ç·ão, orando; de - toda desconfiança na sua mediação, pro
teção é assistência cóntra ·os inimigos.
Mãe · querida, como poderíeis deixar-nos cair no pe
cado ·que é a morte da alma; após terdes visto o vosso
divino Filho expirar sobre · a cruz para dele nos pre
servar?
. Ah! perdí no passado a vida dà graça porque deixei
de invocar-vós. Proponho-me suplicar-vos de hoje em
diante afim de viver sempre sob a vossa direção. Fazei
que' e'u compreenda bem: 1º a felicidade de perseverar
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em vossa santa amizade e de assim ser o filho adotivo
do Pai celeste e o herdeiro do seu reino; 2 º a desgraça
dos que vivem é morrem no pecado mortal e são exclui
dos para sempre da filiação divina e da assembléia dos
eleitos. Recordai-me sempre estas duas verdades para
que sempre vos invoque e confie em vós.
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tual à preguiça, a vida mole e sensual, que nos impedem
o cumprimento exato dos nossos deveres e nos tiram 11.
coragem nas provações e afliçõe!.
Maria, minha terna Mãe, fazei-me experimentar O! pre
ciosos efeitos do vosso perpétuo socorro, desse socorro
que me afiança a amizade divina, consolida o meu fer
vor e me dá a vitória sobre o inferno, o mundo e minhas
paixões, até ao meu derradeiro suspiro. Obtende-me a
graça de invocar-vos sempre, de confiar,-vos minhas pe
nas e de entreter-me convosco em minhas preocupações,
afim de ser dirigido por vós como um filho por sua Mãe.
25 DE MAIO.
O VERBO ETERNO DE RICO SE FEZ POBRE
PELA INCARNAÇÃO
PREPARAÇÃO. Os ricos manifestam a caridade por
suas esmolas. O Verbo divino mostrou-nos a sua: 1" fa
zendo-se pobre por nosso amor; 2º ensinando-nos o des
a.pego de tudo. - A seu exemplo desprezemos de coração
as riquezas temporais; usemos delas em espírito de hu
mildade, de mortificação e desapego, dizendo com Davi:
"O meu único bem é aderir a Deus, o Bem supremo e
infinito". Mihi adhrerere Deo bonum est (SI 72, 28).
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d.ade ci.e doze portas de diamantes, cujas ruas são de
ouro, e as muralhas, adornadas de pedrarias; abandona
aquele majestoso reino, cujos habitantes são reis mais
ricos do que os mais celebrados monarcas da terra. Esse
grande Rei, que reina sobre as regiões angélicas, desce
de seu sublime trono até ao nosso limo; e, segundo a
sua própria expressão, torna-se o verme da terra assu
mindo a nossa miseravel natureza e ocultando a sua di
vindade sob a veste de lama aviltada pelo pecado. ln
sirnilitudinem camis peccati (Rom 8, 3).
Nestas condições escolherá ele por Mãe uma Virgem
rica e distinta segundo o mundo? Não, mas uma Virgem
pouco conhecida e pouco favorecida dos bens da fortu
na. Outrossim incarnar-se-á em Nazaré, cidade despre
zível na opinião dos judeus, e em uma casa de humilde
aparência, como a vemos hoje em Loreto! O' prodígio
inaudito de desapego! ó desprezo do luxo e das vaidades
do século! . . . O seu nascimento é mais pobre ainda: um
estábulo abandonado, eis o seu palácio! uma mangedou
ra de animais com um resto de palha eis o seu berço, o
seu leito de honra e de repouso! assim nasce por nós o
Rei da glória e a que hora? em pleno dia, quando os
raios solares viriam alegrar-lhe a vista e acalentar-lhe
os membros delicados? Não, na escuridão da noite e no
coração do inverno, afim de mais sentir os inconvenien
tes da pobreza. Eis como o Verbo divino nos amou! Os
ricos mostram a sua caridade por esmolas, ele nos teste
munhou a sua, abandonando tudo e dando-se a nós. Ele
quis partilhar a nossa indigência, adoçá-la por seu exem
plo e livrar-nos do eterno desnudamento no inferno.
Jesus, como agradecer-vos os sacrifícios que fizestes
por mim, senão reprimindo todo apego aos bens efême
ros? Renuncio, pois, totalmente, a esses bens, e compro
meto-me: 1 º a suportar por vosso amor todas as prova
ções; 2º a impor-me até leves mortificações, no alimento,
na mobília, nas vestes com a intenção de vos imitar.
415
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2º O Verbo ·divino, por sua pobreza, ensina-nos
o_desapego
Nada nos dispõe a procurar os bens do céu, como o
desápego das riquezas da terra. Ora, esse desapego, Je
sus nos ensina pelo exemplo da sua pobreza. Não pode
mos amar ao mesmo tempo a Deus e o século; o amor
que damos a um tiramos ao outro. Por isso, para amar
perfeitamente o Bem supremo, devemos romper, segundo
o de!>ejo do Salvador, todos os laços que nos prendem
às coisas criadas.
Conseguí-lo-emos operando a educação de nosso cora
ção, como se faz a respeito de uma criarn�a. O professor
dá aulas de leitura a uma criança; vendo-a desviar os
0P1os, voltar a cabeça para outro lido,· brincar com os
objetos que a rodeiam, obriga-a a concentrar a sua aten
ção sobre o livro. Assim, quando ·o nosso coração, agi
tado por vãos desejos, se ocupa das criaturas e dos obje
'tos, que o atraem e apaixonam, devemos endireitá-lo, re
conduzi-lo a Deus, seu último fim, fazer-lhe compreen
der que, fora do soberano Bem, não achará jamais sério
repouso nem duradoura felicidade. Para tornar agrada�
ve1 a vida ao peixe, ninguem o lança em água de rosa ou
cm licores finos e aromatizados; a água pu�a é o seu ele
mento, e só nela ele viverá feliz. O mesmo se dá com o
nosso coração; fora de Deus, seu centro e elemento, nun
ca terá paz, nem mesmo na opulência. Este é o ensina
·mento encerrado na pobreza de Jesus.
Ensina-nos ainda a perseverar nessas idéias e disposi
GÕes, pois que o Salvador jamais se afastou deles. Qpan
do a criança não retem a lição, o mestre a faz repetí-la
até sabê-la. Assim devemos agir a respeito de nos�o co
ração; é imprescindivel recordar-lhe frequentemente os
exemplos do Verbo incarnado, fazê-lo repetir atos de des
prezo dos bens passageiros e atos de amor ao soberano
·Bem. Desta forma Yiveremos na terra como estranhos
que têm alguma missão a cumprir, e que esperam cada
dia o sinal do Mestre para a prestação de contas. O Uni
gênito de Deus passou sobre ·a terra, deixando-nos gran-
4:16
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des lições de desapego que deve aclarar o nosso espírito,
penetrar o nosso coração e regularizar a nossa vida.
Jesus, nada é mais razoavel do que preferir o espiritual
ao material, o infinito ao limitado. E, entretanto, sem
a vossa graça e vossos ensinamentos, ligo-me de prefe
rência ao que é passageiro, em vez de procurar com ardor
os tesouros eternos. Curai a minha cegueira e, pela in
tercessão de vossa divina Mãe, concedei-me a força de
mortificar-me no uso das coisas criadas, que corrompem
os meus afetos; 2º de amar acima de tudo a vossa graça,
a vossa glória e o vosso beneplácito: a vossa graça que
santifica as almas; a vossa glória que enobrece a nossa
inteligência e o vosso beneplácito que eleva à mais alta
perfeição os nossos corações e as nossas vontades.
25 DE MAIO (bis)
POBREZA DO MENINO JESUS
PREPARAÇÃO. "Maria enfaixou o seu divino Filho e
o reclinou numa mangedoura", diz o Evangelho (Lc 2, 7).
Meditaremos amanhã: 1 ° A pobreza do Menino Jesus e m
seu nascimento; 2º os tesouros que essa pobreza nos pro
porciona. - Examinaremos, depois, se praticamos a má
xima do Salvador: "Procurai primeiro o reino de Deus
e a sua justiça", isto é, procurai de C':)ração a vossa san
tificação e salvação, sem vos apegardes a coisa alguma.
Qurerite primum regnum Dei et justitiam ejos (Mt 6, 33).
Brnnchain II - 27
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nasce numa gruta úmida aberta às intemperies das esta
ções, refúgio de animais. Lá tudo lhe falta. Mal o co
brem pobres paninhos; o seu berço é uma mangedoura;
repousa sobre um punhado de palhas. O' mistério, ó des
nudamento prodigioso dum Deus, a ensinar-nos o nada
das riquezas perecedoras.
"Não coloqueis a vossa felicidade nos bens criados, cla
ma-nos por seu exemplo o Rei dos povos, mas, despre
zando o que passa, procurai antes de tudo a pureza de
coração e à paz da conciência, e achareis a beatitude que
não vos poderiam dar todos os bens da terra". Assim
nos fala o Deus Menino recem-nascido.
Jesus, divina sabedoria, a guem seguiremos? ao mundo
ávido de ouro e prata, ou a vós enamorado da pobreza?
dignai-vos abrir-me os olhos e fazer-me praticar convos-·
co e com vossos verdadeiros discípulos o verdadeiro des
apego. Estou resolvido a suportar sem queixa a fome,
a sede, o calor, o frio, as fadigas, as humilhações, a ab
jeção e todos os inconvenintes duma vida pobre, laborio
sa e mortificada. Preservai-me da desgraça de tornar-me·
escravo do bem-estar e das satisfações dos sentidos.
Examinemos quais são as nossas inquietudes, a respei
to das coisas passageiras, e descobriremos facilmente
quais são os nossos apegos. 1" Não estamos demasiado
aferrados à nossa reputação, ao descanso, à saude? 2º
Não somos demasiado exigentes quanto às ve�tes, à mo
bília, aó alimento? Separemo-nos de hoje em diante, e
de coração, de tudo que não é Deus; rompamos de ante
mão, pela virtude e com mérito, os laços que a µiorte
destruirá mais tarde necessariamente e sem mérito al
gum.
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xonam sem o fazerem feliz, mas virias a mim, fonte de
água viva, matar a sede que, te devora e saciar-te para
sempre".
O Verbo incarnado, diz o apóstolo, fez-se pobre para
enriquecer-nos (2 Cor 8, 9). Mina inesgotavel dos
· hens eternos, renunciou às riquezas do mundo para dar
nos os bens da graça e, depois desta vida, os da glória.
O Espírito Santo diz serem eles tesouros de valor in
finito. E, com efeito, os bens sobrenaturais nos elevam,
enobrecem, deificam, comunicam-nos o que há em Deus,
fazem-nos participantes dos seus divinos atributos e dão
nos um direito certo à hera�ça do céu. Onde achar tais van
tagens? Que rei, que potentado do mundo, poderá sequer
prometer-nos bens que se aproximem dos eternos? A
vossa pobreza, ó Jesus, é, pois, infinitamente mais rica do
que a opulência dos maiores monarcas.
Mas, tambem, quantos nobres, príncipes, frontes coroa
das têm preferido o desnudamento do Menino Deus ao
gozo dos prazeres efêmeros da sua fortuna! São Paulino
vendeu todos os seus domínios para esse nobre fim. San
ta Paula e várias damas de Roma abandonaram os seus
palácios, para praticarem a pobreza no claustro em Belém,
sob a direção de são Jerônimo, junto à gruta onde nas
ceu em pobreza o Salvador. Lá meditavam dia e noite as
palavras da sabedoria inc!!,rnada: "Quem deixar casa,
parentes, propriedades por amor de mim, receberá o cên
tuplo e terá a vida eterna" (Mt 19, 29). Esta promessa,
unida ao exemplo dum Deus nascido na indigência, é de
molde a fazer-vos aceitar com amor os leves sacrifícios
que se vos apresentarem. Cuid.ado para não quererdes
ser tratado melhor do que o foi o Deus dos céus.
E não é isto que pretendo, Jesus, quando me queixo
do que me contraria o gosto, a sensualidade, a moleza e
a imortificação ? Será justo que eu não me queira privar
de nada neste exílio em que vós, o Unigênito de Deus, e
vossa Mãe imaculada vos pdvastes de tudo, até do ne
ces1oário?
28* 419
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26 DE MAIO - SÃO FELIPE NERI
PREPARAÇÃO. "O justo, diz o salmista, é como uma
árvore plantada ao longo das águas e que dá fruto em
tempo oportuno". Assim foi são Felipe: 1" por seu espí
rito de oração; 2º por sua fidelidade à graça. - Apro
veitemos esta meditação para renovar-nos na fé viva, no
exercício da vigilância e do recolhimento, afim de nos
unirmos estreita e constantemente a Deus. Tanquam
lignum quod plantatum est secus decursus aquarum
(SI 1, 3).
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Examinemos que frutos produz em nós a salutar prá
tica da oração. 1 º depçiis dela, saímos ordinariamente re
colhidos, penetrados da presença de Deus e do desejo
de nos entreter com ele, mesmo no meio das nossas ocu
pações? 2º após os exercícios do retiro estamos resolvi
dos a evitar certas faltas mais nocivas ao nosso progres
so; a melhor combater os nossos defeitos e más incli
nações; a obedecer prontamente e sem mostrar repugnân
cia; a suportar com mansidão e paciência as contradições
e contrariedades, os escárneos, as censuras e tudo que
fere o nosso amor próprio?
Meu Deus, quão longe estou de me aproveitar, neste
sentido, da meditação quotidiana e dos dias consagrados
à solidão e à oração? Dai-me mais vivo desejo de comu
nicar-me convosco por uma oração contínua, porque só
em vós posso encontrar, como são Felipe, a verdadeira
prudência que me faz agir segundo a vossa vontade, e
a energia necessária pará sofrer resignado, e triunfar
dos obstáculos à minha união convosco. Beatos vir qui
meditabitur die ac nocte.
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flexo da sabedoria de Deus. Nenhuma comparação podr-
ria fazer-vos compreender as maravilhas operadas pela
graça num coração docil e fiel, como o era o do nosso
santo. Todos admiravam as suas virtudes, que pareciam
ser-lhe naturais e embalsamavam a s1,rn vida com os per
fumes dum jardim interiormente cultivado pelo Espírito
Santo. A sua humildade sincera e cândida, a sua pure
za virginal, a suavidade da sua conversação, a sua pa
ciência inalteravel, a sua caridade terna, que difundia
em· todos a riaz e o contentamento, tudo nele era fruto
de sua inteira e contínua submissão ao espírito da graça,
que possuía em alto grau. Ajuntai ainda os dons de pro
fecia, de milagres e de penetração dos corações e conhe
cereis que Deus é pródigo de seus bens para os que em
tudo seguem a sua vontade.
Tomai, pois, a resolução de nunca resistir à voz da
conciência, mas de ceder com simplicidade e amor aos
avisos, aos remorsos, aos atrativos que tendem a corri
gir-vos. Muitos não se veriam condenados, se não hou
vessem correspondido a uma - primeira graça! Teriam en
tão merecido uma segu11da, depois uma terceira e uma
quarta que teriam formado neles aquela cadeia miste
riosa que os prenderia a Deus. Rompida uma vez essa
cadei!'I, pela infidelidade, a alma fica entregue às mais
loucas paixões e sem defesa alguma; e quem sabe onde
• -
irá parar ?
Jesus e Maria, a quem são Felipe chamava "o seu
amor e as suas delícias", fazei que, como ele, eu siga em
tudo o espírito interior que me obrigue a viver recolhi
do e unido à Bondade infinita. Reprimi em mim os vãos
desejos, os arrebatall}entos e as preocupações inuteis.
Qtie nada em mim impeça 2. penetração da graça em
meu coração, produzindo atos de amor ,e ações que me
santifiquem a exemplo de são Felipe, que eRtava sempre
pronto a renunciar a si mesmo e a obedecer-vos sem re
serva.
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FIM DE MAIO -- A BOA MORTE
PREPARAÇÃO. Finalizando o mês, dispor-nos-emos
par.a a morte, considerando: 1" as vantagens de uma mor
te verdadeiramente santa; 2" os meios de obtê-la. - Para
isto tomaremos a resolução de fugir até das menore�
faltas e de trabalhar para corrigir-nos dos nossos defei
tos por uma inteira abnegação da nossa vontade pró
pria. Beati mortui qui in Domino moriuntur (Aopc 14, 13).
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sóstomo, visse que um rei lhe preparava l!loberbo palá
cio e imensas riquezas, com que gosto não deixaria a sua
cabana para entrar no gozo das liberalidades· do príncipe.
E nós, cercados de tantas misérias, expostos a tantos pe
rigos, não desejaríamos entrar na pátria celeste?"
Meu Deus, estou sempre no perigo de esquecer-vos, d('
ofender-vos, e mesmo de perder-vos eternamente. Des
apegai-me, pois, da vida presente; dai-me a força de mor
tificar os meus sentidos e as más inclinações. Procurarei
morrer aos meus defeitos, sobretudo à minha vontade
própria, afim de viver do vosso amor e realizar em mim
a palavra do Espírito Santo: "Beatl mortui qui in Do
mino moriuntur".
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Que consolação para nós na hora da morte se tiver
mos praticado a piedade, vivido desapegados e desejosos
da nossa perfeição! Que alegria se tivermos cumprido
todos os nossos deveres com intenção reta, com o fim
de comprazermos a Deus e operarmos a nossa salvação!
Examinai neste sentido vossas disposições. Estais sem
pre prontos para negociar para o céu, segundo a reco
mendação do Senhor, aguardando o dia em que deveis
prestar contas àquele que vos vier julgar? Negotiami
ni dum venio (Lc 13, 13).
Jesus, concedei-me o horror de tudo que vos ofende.
Fazei que, - desde já, reforme a minha vida e trabalhe se
riamente na minha perfeição. O' Mãe da perseverança,
recordai-me sempre a palavra de santo Agosti,nho: "Sa
bereis bem morrer, se souberdes bem viver", isto é, vi
ver em estado de graça, no fervor e vigilância e na fi
delidade a todos os deveres. Disces bene mori si didis
ceris bene vivere.
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empregava na oraçã,o grande parte dos dias e das noi
tes. Inimiga da moleza e da sensualidade, vícios nocivos
à virtude angélica, tratava com extrnmo rigor seu deli
cado corpo.
Que dizer dos dons extraordinári�s que lhe foram con
cedidos pelo céu? Sem haver estudado, instruia os ig
norantes, ensinava as verdades da fé, e dava os mais sá
bios conselhos aos que a consultavam. Ainda mais, fala
va perfeitamente o latim sem o ter aprendido, explicava
as mais dificeis passagens da Bíblia, discorria sobre a
teologia escolástica e moral com espantosa precisão.
Essa ciência infusa foi sem dúvida efeito de sua pro
funda humildade e do seu espírito de oração. A humil
dade é a fonte da verdadeira sabedoria, como o dá a
entender o Espírito Santo (Pr.ov 11, 2); e a oração é,
por assim dizer, o seu canal. "Aproximai-vos de Deus e
sereis iluminados" ( SI 33, 6): Ora, ninguem mais se
aproxima do Verbo aniquilado por nós, do que humi
lhando-se na oração com ele e nele, de sorte a receber
dele as mais vivas luzes e os mais preciosos favores.
Não comeceis jamais a meditar e a orar sem exercitar
des a vossa fé mi,s grandezas de Deus e no vosso nada.
Esta prática vos atrairá muitas luzes e graças. Deus,
que ama os humildes, desce até eles, presta ouvidos às
suas súplicas e enche-os dos efeitos de sua presença.
Meu Deus, pelos méritos de Jesus e Maria, dai-me, co
mo a santa Ângela, o amor da inocência e da mortifica
ção, unida a uma humildade generosa e à sede da ora
ção. Assim obterei cada dia as graças que santificarão
a minha alma e me unirão estreitamente a vós.
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ricas coroas sob!·e a fronte; eram amparadas por outros
tantos anjos revestidos de branco, tendo na fronte uma
preciosa de arrebatadora beleza. Ao mesmo tempo fez-se
ouvir uma voz que dizia: "Ângela, coragem; antes da
morte estabelecereis em Bréscia uma companhia de vir
gens semelhantes às que acabais de contemplar".
A sua devoção a santa úrsula, bem como a sua hu
mildade, moveu a santa a dar o nome de ursulinas às
suas companheiras. "Se, como santa úrsula, não temos
a felicidade de ganhar o céu pelo martírio, lá chegaremos
com ela pela imitação das suas virtudes, pela pureza vir
ginal, pela ades1io à fé católica, pela fidelidade aos nos
sos compromissos. As suas dedicadas filhas recebera]ll
estas palavras com inteira submissào; nada faziam sem
consultar sua mãe e obedeciam-lhe cm tudo.
A obediência é com efeito o melhor esteio das Ordens
religiosas; por ela o espírito do fundador passa aos dis
cípulos. Assim Ângela formou as suas religiosas à sua
própria imagem, como ela mesma fôra formada pela
graça à imagem de Jesus e de sua amavel Mãe. Tão
grande é a força da obediência: coloca-nos na fôrma da
vontade divina, tira-nos as asperezas do carater, do ca
pricho, de todos os efeitos provenientes do amor pró
prio e imprime-nos <l semelhanç;a com a cabeça e o mo
delo dos predestinados.
Salvador meu, para que esta virtude produza em mim
frutos salutares, dai-me a força de praticá-la com fé, re
tidão e generosidade, sem argumentar, sem me queixar
nem murmurar. Peço-vos este favor pela intercessão de
vossa divina Mãe e de santa Ângela, vossa fiel serva.
MÊS DE JUNHO
PRIMEIRA SEXTA-FEIRA
PUREZA DO CORAÇÃO DE JESUS
PREPARAÇÃO. "Jesus, lírio dos vales, diz são Ber
nardo, compraz-se entre os Iírlos". Eis por que medita
remos: 1 º quanto o seu sagrado Coração ama a inocên-
427
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eia e a pureza; 2" quais os motivos de nos tornarmos
puros a seu exemplo. -- Tomaremos depois o sério pro
pósito de recorrer à prece, invocando os sagrados nomes
de Jesus e Maria, todas ·as vezes que formos tentados.
Por este meio triunfaremos com certeza. Libenter enim
inter lilia. pascitur Lilium convallium.
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servar-se do contágio do século e submeter os sentidos
à razão, e a razâo a Deus.
Jesus, sacramentado por amor de minha alma, nenhu
ma segurança melhor para mim do que refugiar-me jun
to de vós, entrar em espírito nos vossos tabernáculos,
ocultar-me no cibório, penetrar até vós e procurar um
abrigo nas vossas gloriosas chagas, sobretudo na do vos
so divino Coração tão temivel aos vossos inimigos. Dai
me a coragem de reprimir a concupiscência, de vencer
as tentações, de mortificar os-sentidos e de sempre re
correr à vossa Mãe imaculada.
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compensar-nos amplamente, em poucos dias, as penas e
combates da vida inteira.
Quereis participar das luzes e das 1lelícias inefaveis
prodigalizadas pelo Coração de Jesus aos que o amam?
Imitai o quanto possivel a sua pureza ilibada. Haurí des
se Coração divino pensamentos nobres, sentimentos ele
vados, aspirações celestes. Utlí os vossos desejos e afe
tos à beleza que arrebata os serafins e encanta no céu
todas as jerarquias dos anjos, as almas heróicas dos
santos; não teria ela a força de arrebatar tambem a
vós?
Coração adoravel, fornalha do sagrado amor, inspi
rai-me o desejo de ser puro e casto como os espíritos
bem-aventurados. Para este fim dai-me a graça: l" de
mortificar a vista e de praticar a sobriedade e a tem
perança; 2º de invocar-vos sempre e sem demora quando
algum pensamento mau se apresentar ao meu espírito;
Coração imaculado de Maria, preservai-me das manchas
contrárias à pureza.
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como uma alma se possa libertar do jugo vergonhoso das
paixões imundas, e pôr a sua alegria nos sacrifícios exi
gidos pela virtude angélica: N ou percipit et qum sunt
spiritus Dei (1 Cor 2, 14). Vê as aparências ou os es
pinhos que protegem o lírio da inocência conservada ou
recuperada, mas não tem idéia dos clarões interiores e
da paz celeste que gozam os corar;ões amigos da castida
de. Estes elevam-se como sobre asas ao conhecimento de
Deus e de seus mistérios, segundo as palavras divinas:
Bem-aventurados os corações puros porque verão a Deus
(Mt 5, 8).
Jesus compraz-se entre os lírios da castidade, diz a Es
critura. Cultiva-os e transplanta-os da terra ao céu quan
do os acha-dignos de si. Essas flores angélicas arrebatam
lhe os olhos divinos, mesmo sobre a terra, e, segundo san
to Efrêm, são objeto da sua predileção, de sorte que as
favorece em toda circunstância; e não sem motivo, pois
que a· castidade nunca está só em uma alma: arrasta con
sigo várias virtudes: e, de fato, não a poderíamos guar
dar intata sem muitos esforços, combates, vitórias; sem
praticar a moderação dos sentidos, a vigilância do espí
rito e do coração, a prudência nas relações com o século.
Ela obriga-nos a viver recolhidos, a recorrer sempre a
Deus. A humildade é a sua raiz; a oração, a seiva que a
nutre; a mortificação, a sebe que a protege e defende dos
inimigos.
Jesus, não me admiro de ver-vos amar tão ternamente
esta virtude, pois que sois a santidade infinita. Dai-me a
graça de conservá-la intata até a morte. Trazei-me à me
moria a liberdade, a sabedoria, a paz, todos os favores
enfim que ela proporciona às almas.
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sopro da concupiscência, apresenta-nos imagens perigo
sas que nos expõem a violentos combates. E', pois, neces
sário velarmos sempre sobre os pensamentos, meditarmos
diariamente as verdades da fé, penetrarmo-nos de refle
xões santas, de recordações salutares. Recordemo-nos a
miude da paixão do Salvador, da malícia do pecado ma
nifestada pela queda dos anjos, pelas calamidades da
terra, e dos suplícios eternos dos réprobos. "Lembra-te
dos teus novíssimos, diz o Espírito Santo, e não pecarás
jamais" (Ecli 7, 40).
A vigilância sobre as nossas afeições é ainda mais im
portante, porque o coração nos arrasta mais facilmente ao
mal, e em matéria de castidade somos mais frageis que
vasos de argila, que se quebram ao menor choque. "Na
guerra dos sentidos, diz são Felipe Neri, vencedores são
os poltrões, isto é, os que fogem dos perigos". E o Es
pírito Santo afirma que "quem ama o perigo nele pe
rece" (Ecli 3, 27).
E' certo que o coração do homem não pode viver sem
amor. Mas não temos em Jesus um objeto capaz de sa
tisfazê-lo completamente? Em Jesus, o mais belo dos fi
lhos dos· homens e a felicidade dos anjos; em Jesus, as
delícias de Maria e o objeto das complacências do pró
prio Deus; em Jesus infinitamente sábio, justo e pode
roso e tão generoso que dá por um copo d'água o reino
dos céus; em Jesus tão devotado a seus amigos que mor
re para lhes dar a vida? Se Jesus não nos satisfaz, quem
nos poderá contentar? Admiremo-lo, estudemos as suas
perfeições, lembremo-nos dos seus benefícios. O seu amor
abrasará as nossas almas, torná-las-á castas, fazendo
nos amar o próximo por motivos de fé, sein mescla de
amor sensual.
Amavel Salvador meu, pela intercessão da Virgem
imaculada, estabelecei em mim o vosso reino e gover
nai, vós só, o meu coração. Regei a minha imaginação,
as minhas afeições mais íntimas, concentrai em vós
Lodo e amor de que sou capaz nesta vida.
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6 DE JUNHO - SÃO NORBERTO,
FUNDADOR DOS PREMONSTRATENSES
PREPARAÇÃO. "Ã graça de Deus devo o que sou,
dizia o apóstolo, e esta graça não foi inutil em mim"
(1 Cor 15, 10). A fidelidade de são Norberto à graça di
vina prova-se: 1 ° por sua conversão e eminente santi
dade; 2" pelos serviços que prestou à Igreja. - Exami
nemos se obedecemos aos impulsos do Espírito Santo,
de modo a podermos dizer com o apóstolo: "A sua graça
jamais foi inutil em mim". Gratla ejus in me vacua non
fuit.
Bronchain II - 28 433
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Temos tambem nós a coragem de cumprir o nosso de
ver mesmo com perigo de vida? Ah! a previsão dum so
frimento, c}wna dificuldade, duma humilhação faz-nos
abandonar as mais santas empresas. E quantas inconse
quências em nosso procedimento! Procuramos a perfei
ção, mas, quando Deus nos fornece ocasião de praticar
sólidas virtudes, recuamos amedrontados. Quereríamos
uma humilhação coroada de honra, uma oração sempre
consolada, uma mansidão isenta de contrariedade, uma
paciência sem cruz e uma caridade sem sacrifícios e sem
atos de devotamento; santidade cômoda que nunca_ foi a
dos servos de Deus.
Jesus, dai-me a graça de reprimir os meus instintos
perversos, minhas pretensões de elevar-me, de rebaixar
os outros, minha pouca generosidade em suportar os ou
tros, e em cumprir os deveres que repugnam à minha
vontade. Fazei que eu possa dizer com o !'J.pÓstolo e com
são Norberto: "A graça divina não foi inutil em mim".
Gratia ejus ln me vacua non fuit.
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é o poder da santidade de um homem que se dá intei-
ramente a Deus!
Se fosseis humildes, mortificados, unidos a Jesus, fer
vorosos em vossas or2.ções e sempre fiéis à graça, gran
de bem haveríeis de operar, poderosa força teriam as
vossas palavras sobre as almas e as vossas preces junto
de Deus para a conversão dos pecadores. Muitos dentre
eles talvez, perderão a salvação e cairão no inferno, por
causa da vossa lassidão, vossa tibieza e infidelidades.
Todo coração compassivo e generoso terá nisso um po
deroso incentivo para redobrar de fervor e de zelo em
adquirir a perfeição.
Jesus, inspirai-me, o mais vivo desejo de sa.ntHlcar
me e de me tornar em vossas mãos instrumento docil
para o bem das almas. Pelo amor de vossa querida Mãe
e de são Norberto, concedei-me: 1 º a fidelidade as gra
ças de cada dia, de cada hora, de cada instante, sobre
tudo a graça da oração; 2 º a coragem de renunciar a
todo arrazoado e repugnância, quando se trata de obe
decer-vos, pois que o céu se compra por esforços cons
tantes, enquanto que um único passo em falso nos pode
precipitar no abismo.
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os seus outros atributos; ê ela que reanima a nossa co
ragem, excita a nossa confiança quando nele pensamos.
São Barnabé é chamado pelo Espírito Santo um homem
bom, Vir bonus, um homem, cujos olhos, maneiras, pala
vras e conduta respiravam a bondade. Como uma árvore
boa não pode produzir maus frutos, assim o santo não
sabia pensar nem falar, nem agir contrariamente ao
bem de seus irmãos. Amava-os cordialmente e manifesta
va-lhes o seu amor em todas as ocasiões.
Admitido na escola de Gamaliel desde a mocidade, aí
conheceu Saulo, que foi mais tarde são Paulo, e a sua
amizade para com ele o fez trabalhar para levá-lo a Je
sus. E que compaixão tinha ele dos pobres! Distribuiu
lhes todo o seu patrimônio, e uma vez apóstolo, por elei
ção do Espírito Santo, não conheceu limites em sua ge
nerosidade, recolhendo esmolas para os fiéis da Judéia,
vítimas da fome. Foi ainda a sua bondade que o fez to
mar por companheiro de seus trabalhos o jovem João
Marcos, recusado por são Paulo. O apóstolo reconheceu
mais tarde os efeitos felizes dessa condescendência, lou-
vando o discípulo formado por Barnabé.
Quereis ser bons aos olhos de Deus e dos homens?
Preferí sempre, quando a conciência o permitir, a von
tade alheia à vossa; não alterqueis com ninguem; estai
sempre prontos a agradar e prestar serviços. Falta à
bondade -quem é duro para com o próximo, não suporta
os seus defeitos, o contraria, lhe causa dor sem motivo
e se mostra frio a seu respeito, pelas menores desaten
ções recebidas. Sondai o vosso coração e o vosso procedi
mento. Não sois escravos do mau humor, dos gostos e
inclinações ao ponto de nada cederdes a vossos irmãos,
de vos não dobrardes aos seus desejos? Não tendes o há
bito de julgar e condenar facilmente os outros em de
trimento da caridade?
Meu Deus, fazei meu coração semelhante ao vosso e
tornai-me bom,· manso, benevolente, compassivo e miseri
cor·dioso para com todos, como o tendes sido para co
migo.
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2º São Barnabé cheio elo Espírito Santo e de fé viva
Alguem é cheio do Espírito de Deus, que é Espírito de
santidade, quando foge com horror até das menores fal
tas, conserva puro e desapegado o coração e se esforça
por adquirir a perfeição da alma. Assim foi são Barna
bé! Dizem os historiadores que ele, desde a adolescência,
se pôs de sobreaviso contra a corrupção do século. Do
mava a sua carne por longos jejuns, passava em oração
grande parte do dia e até noites inteiras. Evitando cui
dadosamente as companhias suspeitas, comprazia-se em
falar de Deus com os que partilhavam o seu gosto pela
piedade. Com tais disposições, era-lhe facil chegar à luz
do Evangelho. E isto s1,1cedeu. Convencido das futilidades
dos bens terrenos, fez-se pobre com Jesus Cristo e redo
hrou de ardor li.a procura d/l, santidade.
A sua fé viva fez-lhe compreender o valor das almas,
e trabalhar indefessamente em conduzí-las a Jesus. De
vido a seu zelo, g cidade de Antioquia abrigou uma co
munidade fervorosa, como a de Jerusalém. Acompanhou
o apóstolo das gentes e convérteu muitos cristãos e ju
deus. Após haver predito a seus discípulos a sua morte
próxima e haver celebrado a Missa em sua presença, foi
lapidado no momento em que anunciava as verdades que
santificaram a sua vida, fazendo dele um homem cheio
de ié e do Espírito de Deus.
Se fôssemos penetrados, como esse apóstolo, duma fé
viva e elo sagrado amor, desejaríamos ser mártires como
ele, não só da fé religiosa, mas tambem das mais práti
cas virtudes: 1º da obediência, não replicando jamais às
ordens recebidas; 2º da paciência, não nos queixando nas
contrariedades da vida; 3 º da abnegação, sacrificando
a Deus as nossas suscetibilidades, repugnâncias, desejos
inuteis; 4º da caridade, submetendo a outrem a nossa
vontade, suportando os seus defeitos, prestando-lhe ser
viços, imolando-nos por sua felicidade e salvação.
Concedei-me estas graças, Jesus meu Salvador, eu vô
lo suplico pelos méritos e preces de vossa divina Mãe e
do vosso fervoroso discípulo são Barnabé.
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DOMINGO ANTES DE 24 DE JUNHO.
NOSSA SENHORA DO PERPll':TUO SOCORRO
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há virtude sólida na ahna. Mas este combate incessante
não é possivel sem o perpétuo socorro da Mãe da perse
verança. Sempre crianças na vida espiritual, necessitamos
de uma Mãe e nutriz que não nos perca de vista e que
nos dispense sem interrupção o leite sobrenatural, ne
cessário ao nosso progresso. Sem isso nos é impossivel vi
ver contantemente recolhidos, orar habitualmente, con
servar-nos sempre calmos, animados do Espírito de Deus
e fiéis aos nossos deveres.
O' Medianeira de nossa salvação, sem o vosso intermé
dio nada poderei fazer para a minha santificação. Quando
considero a imagem em que vos representam com Jesus
nos braços, Jesus a quem dois anjos mostram os instru
mentos da paixão, parece-me ouvir-vos a dizer-me com
bondade: "Olha, mêu filho, vê o que ele quer sofrer para
provar-te o seu eterno amor. Ele e eu estamos sempre
contigo; contigo nas dúvidas, ansiedades, düiculdades e
tentações; contigo nos enfados, desgostos e tristezas;
contigo a todo momento da tua vida e mormente no mo
mento de tua morte".
O' Maria, estas palavras me consolam e animam. Vós,
que nunca me esqueceis, dirigi a Jesus e a vós os meus
pensamentos, desejos e afetos. Que cada uma das minhas
respirações seja como um vôo de fé às vossas grandezas,
um ato de confiança em vossa bondade, e uma prece fer
vorosa que me atraia sem cessar os efeitos preciosos da
vossa misericórdia. Rogamos ecce suppllces, succurre no
bis perpetim.
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tidão. Este primeiro dever exige toda a nossa atenção.
Encontramos em Maria não só uma Rainha rica em po
der, tesouros e generosidade, mas ainda uma Mãe sem
pre pronta a auxiliar-nos, disposta a compadecer-se e
perdoar, e que, longe de r,epelir as nossas misérias, pro
cura de preferência os mais miseraveis para aliviá-los.
Enfermeira universal dos filhos de Adão, não repousa
nem de dia nem de noite, mas vela constantemente à
cabeceira de quem a invoca, prodigalizando-lhe os seus
cuidados como se não tivera outra alma senão essa a
socorrer. Ela multiplica-se, diz santo Anselmo, ao ponto
de prevenir as nossas preces e atender aos nossos dese
jos. "Ela faz-se tudo para todos, acrescenta são Bernar
do, abre a todos o seu coração misericordioso, e todos
recebem de sua plenitude: o cativo, a libertação; o en
fermo, a saude; o aflito, a consolação; o pecador, o per
dão. Ninguem é excluido da sua ação benfazeja. Quan
tas ações de graças não lhe devemos em troca de. tão
contínuo e generoso devotamento!
O testemunho de gratidão que mais lhe agrada é a
fidelidade em corresponder a seus favores. Ora, corres
ponder-lhe-emos, rivalizando com essa Virgem caridosa
em zelo, sendo ardoroso em orar e tirar proveito de seus
benefícios, assim como· ela o é em interceder por nós e
em proteger-nos. E' isso que se dá convosco? Qual é
vossa assiduidade �m pensar em Maria, em invocá-la de
coração, em considerar a sua imagem, mormente nas do
res e tentações? O quadro de nossa Senhora do Perpé
tuo Socorro produz em vós aquela segurança encerrada
em seu olhar tão firme e maternal?
· O' meu Salvador e minha Mãe Maria, aos vossos pés
tomo a resolução: l° de reclamar a vossa assistência
todo quarto de hora, mesmo durante as minhas ocupa
ções; 2º de animar-me a esta prática a exemplo de san
to Afonso e pelo pensamento de que, dia e noite, sou o
objeto da vossa solicitude e amorosas atenções.
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21 DE JUNHO - SÃO LUIZ GONZAGA
PREPARAÇÃO. "Quão bela é a geração casta no bri
lho das virtudes", exclamava o sábio (Sap 4, 1). Medita
remos amanhã: 1 º a angélica pureza de são Luiz; 2º o
seu espírito de recolhimento c oração. - Tomaremos
como protetores e guardas da castidade : a vigilância e
a oraçoo, virtudes preconizadas pelo Salvador, quando
disse: "Vigiai e orai para não cairdes em tentação".
Vigilatc et orate, ut non intretis in tentationem (Mt
26, 41).
1 º Angélica pureza de !lã.o l.uiz
Já o nome de são L_uiz desperta o pensamento e au
menta a estima da virtude angélica. Quando Luiz estava
na idade de aprE:nder-a falar, ensinaram-lhe a invocar Je
sus ·e Maria, o que ele fazia com amor tão piedoso que
mais parecia um anjo do que um mortal. Aos sete anos
resolveu renunciar ao mundo e escolheu a santíssima
Virgem por sua advogada e protetora. Aos oito anos -
coisa admiravel - fez o voto de virgindade, que lhe atraiu
tantas graças, que jamais teve nem o menor pensamento
contra a pureza. Apesar disso fugia dos perigos e guar
dava a modé�tia ao ponto de não fixar os olhos na mar
quesa sua mãe. Que lição para as almas presunçosas,
que pretendem permanecer puras, dando toda a liberda
de aos sentidos.
Eram espantosas as austeridades do santo aos doze e
treze anos de idade. Convencido de que a castidade deve
ser como um lírio entre os espinhos, jejuava tres vezes
por semana e comia habitualmente tão pouco, que a sua
vida parecia mantida por um socorro extraordinário. Na
Companhia de Jesus, quando lhe negavam a permissão
de praticar qualquer penitência, supria-a por posições in
cômodas: tanto tomava a peito a sujeição da carne ao
espírito.
Trabalhais como ele para conservar a pureza da alma
e do corpo? Não temeis demais a fadiga que mortifica os
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sentidos e amortece o fogo da paixão? Talvez pensais
encontrar a paz fugindo da dor; mas essa paz, baseada
numa vida mole e sensual, só servirá para atearem-vos
a guerra. E' melhor suportar com segurança as picadas
da mortificação do que lutar contra o aguilhão da con
cupiscência, com perigo da salvação.
Meu Deus, pela intercessão de são Luiz Gonzaga, ins
pirai-me a coragem de mortificar a vista, o paladar, to
dos os sentidos, e de vigiar sempre sobre o meu interior
par.a dele afastar toda imagem, toda lembrança perigosa
e toda afeição que não seja para vós. Vlgilate et orate
ut non intretis in tentationem.
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de perfeição nem triunfar inteiramente de si próprio; pois
que a falta de reflexão é a causa da lassidão e da pou
ca abnegação que se encontram nas almas.
Aplicai estas máximas à vossa vida e vêde o que ten
des a reformar em relação à oração. 1 º Orais cada dia com
fervor? 2º Meditais seriamente as verdades mais próprias
a tocar o vosso coração e excitar atos de arrependimen
to, confiança, amor e súplica? 3" Tomais resoluções de
acordo com as necessidades atuais de vossa alma, seus
defeitos quotidianos, suas faltas, suas impaciências, há
bitos de queixa, de murmuração, maledicências e seme
lhantes?
Meu Deus, anos e anos os mesmos defeitos afeiam a
minha alma apesar de minhas meditações diárias. Pelos
méritos de Jesus, de Maria e são Luiz, concedei-me o es
pírito de oraçã:o continua que me conserve sempre re
colhido e unido a vós, e me faça imitar á pureza perfeita
do santo, cujas virtudes a Igreja hoje celebra.
24 DE JUNHO
NASCIMENTO DE SÃO JOÃO BATISTA
PREPARAÇÃO. O Espírito Santo mesmo declarou que
são João Batista seria grande diante do Senhor (Lc 1,
15). E com efeito : l ° Ele foi grande em seu nascimento;
2º ele o foi até à morte. - Sondemos bem todos os nos
sos sentimentos, e vejamos se não pomos a nossa gran
deza na estima própria ou no vão renome em vez de co
locá-la, como o apóstolo, na nossa semelhança com Jesus
crucificado. Mihl autem abslt gloriarl, nlsl bt cruce Do
mbti nostri Jesu Chrlstl (Gal 6, 14).
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de então se parecia com o Verbo incarnado. E,. com efei
to, o mesmo arcanjo Gabriel, que anunciou a Maria a
incarnação do Verbo, predisse tambem a Zacarias a con
ceição de João Batista. Jesus mesmo foi santificar o seu
Precursor, enchê-lo do Espírito Santo por intermédio de
Maria, mesmo antes de ele ter visto a luz do mundo.
João Batista nasceu, pois, puro, agradavel ao Senhor,
possuindo já então o uso da razão e o conjunto· de to�
das as virtudes. E quantos milagres est1:1pendos em seu
nascimento! O seu nome foi pelo céu revelado aos pais;
Zacarias recuperou a fala, cantou o belo hino Benedi
ctus, repetido diariamente pelos sacerdotes no mundo in
teiro. Grande, pois, é aquele cujo nascimento foi ilustra
do por tantos ·prodígios. Os vizinhos espantados pergun
tavam-se: "Que_será deste menino?" e a alegria trans
bordava dos corações. Multi in nativitate ejus ga.udebant
(Lc 1, 14). A Igreja celebra o nascimento dê Jesus e de
Maria, mas, quanto aos santos por ela canonizados, exal
ta-lhes sobretudo a morte ou sua entrada no céu. João
Batista é o único cujo nascimento é por ela honrado. E'
corno se o canonizasse desde o seu aparecimento no
mundo.
Vós que talvez vos gloriais de ser filhos de famílias
ricas ou nobres, não vos referís a isso com complacên
cia? E se vos falta essa vantagem terrena, não afetais
uma c1encia, uma piedade, de que estais mais ou menos
desprovidos? Não presumís parecer polidos, afaveis, pru
dentes, caridosos, devotados, cuidais bem das exteriori
dades sem vos inquietar do interior, como se o mérito con
sistisse nas aparências e não na realidade?
Meu Deus, não consintais que eu faça consistir a minha
grand�za na estima própria e na procura de renome, pois
que ela se encontra unicamente na imitação do Rei imor
tal que é Jesus, e Jesus crucificado. Mihi absit gloria.ri,
nisi iu cruce Domini nostri Jesu Christi.
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2º s
· ão João Ba.tlsta foi grande até à morte
Aos tres anos de idade, segundo a tradição, ele se re
tirou para o deserto, onde levou vida sobrehumana, pas
sando os dias e as noites em oração, tomando pouco ali
mento e repouso. Ao chegar o tempo de manifestar-se
como Precursor do Messias, fiel à sua vocação pregou
às multidõ