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ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM JUuRANDYR LUCIANO SANCHES ROSS GEOMORFOLOGIA Makisa De SouTo MaTOs FIERZ, s pesquisas em Geomorfologia, como em qualquer outro ramo das ciéncias que estudam a Terra, percorrem trés etapas: trabalho de gabinete ou escrit6rio, trabalho de campo e trabalho de laborat6rio © ‘trabalho de gabinete constitui-se, sobretudo, na elaboragio do projeto, nas pesquisas € na interpretagio de dados. Para as pesquisas bibliogriticas, cartograficas e de documentacao pré-existente, podem ser utilizados diversos materiais, como livros, artigos de revistas, jornais, teses, dissertagoes, arquivos de fotos aéreas, imagens de radar, imagens de satélites, arquivos de mapas topogréficos e mapas teméticos de Geologia, Pedologia, Geomorfologia, vegetacio, usos da terra, climaticos, dados hidrol6gicos entre intimeros outros. Inclui-se no trabalho de gabinete a interpretacao de fotos aéreas ¢ de imagens para producdo de mapas teméticos preliminares, que serio confrontados com os dados obtidos em campo e em laboratério. Entre as pesquisas que podem ser consultadas, destaca-se 0 trabalho desenvolvido pela divisio de recursos naturais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, 1995), que inclui mapeamentos ¢ trabalhos de campo em Geomorfologia. Esta divisio produziu um manual técnico que oferece roteiro detalhado para abservacées, descrig6es e interpretacdes de fatos geomorfoldgicos geoldgicos e pedoldgicos e que pode servir de apoio as pesquisas sobre o relevo e sua dindmica atual e pretérita, Outra obra de referéncia € Geomorfologia:exerccios, téenicas eaplicagées, organizado por Guerra e Cunha (1996). Esse trabalho, produzido com a colaboracao de varios profissionais, foi 0 primeiro livro de aplicacao de técnicas em Geomorfologia no Brasil A pesquisa de campo pode ser dividida em trés momentos: 0 primeiro caracteriza-se pela observagio e descricao dos fatos com a maior precisio possivel; © segundo diz respeito & interpretacio de fotos e imagens de radar e de satélites para construir mapas; ¢ o terceiro refere-se & producao de ensaios de campo ¢ experimentos. Este capitulo € uma contribuicao a sistematizagao das técnicas aplicadas em Geomorfologia, sem a pretensio de abranger sua totalidade 5.1 CARTOGRAFIA GEOMORFOLOGICA COMO SUPORTE TECNICO DA PESQUISA A cartografia do relevo ganhou importancia na Europa, principalmente no Leste europeu, apés a Il Guerra Mundial por dois principais motivos. 69 PRATICANDO GEOGRARIA 70 O primeiro foi o desenvolvimento de bases tecnolégicas, avides ¢ fotografiss aéreas e — a partir da década de 1970 — a utilizagao de sensores remotos com plataforma em avides a jato ¢ em satélites, Isto permitiu a produgio de imagens de radar e de satélite, que passaram a ter ampla aplicacio em pesquisas de recursos naturais, como: relevo, solo, rochas, gua, clima, vegetagio. O segundo motivo foi a necessidade dos entao paises comunistas — com destaque para a URSS, Polénia, Tchecoslovaquia ¢ Alemanha Oriental ~ de demonstrar a utilidade da Geomorfologia como instrumento para desenvolvimento econémico ¢ social, através do uso de mapeamentos de recursos naturais e do planejamento territorial No Brasil e na Australia, paises com grande dimensao territorial, a Gcomorfologia firmou-se por sua contribuicio para projetos de levantamento dos recursos naturais com mapeamentos geomorfolégicos, utilizados no Projeto Radambrasil (Brasil, 1970/1985) e da CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization) (a partir de 1945) O mapa geomorfolégico é um importante instrumento na pesquisa do relevo e corresponde ao que Tricart (1965) apresenta como aquilo que constitui a base da pesquisa, ¢ ndo a concretizagio gréfica da pesquisa jé realizada, Ele é, ao mesmo tempo, o instrumento que direciona a pesquisa ¢ sua sintese, produto da conclus8o desta. A carta geomorfoldgica € indispensavel na questio do inventério genético dou relevo. Para claboré-la, € nccessério conhecer os elementos de deserig¢io do relevo; identificar a natureza geomorfolégica de todos os elementos do terreno & datar as formas. Para Tricart (1965) os elementos de descricao do relevo sto informagoes que devem ser obtidas em cartas topogrificas, acrescidas de informacées que estas nao fornecem, como rupturas topogréticas ¢ rebordos de pequenos patamares. A identificagao da natureza_geomorfolégica dos elementos do terreno € realizada por meio de simbologia gréfica e tem carter genético. Quando se registra um front de cuesta, ou uma crista sinclinal, fornece-se informacées ligadas & sua génese. A datagio das formas, ainda que relativa, € primordial para identificar as formas herdadas de formas vivas que continuam se desenvolvendo na atualidade; a0 mesmo tempo, ajuda na explicagao de sua génese Tricart (1965), discute a concepgao € os principios da carta geomorfolégica detalhada e lembra que a descrigio razodvel dos fatos geomorfolégicos representa categorias de fendmenos muito diferenciados e depende da escala adotada ‘Afirma que as cartas de pequena escala sao orientadas para representar fendmenos morfoestruturais ¢ lidam com ordens de grandeza superiores, acima de uma a algumas dezenas de km2, Ja as cartas de escalas maiores, de detalhe, enquadram-se em ordens de grandeza inferior ¢ seu uso é mais adequado as formas de dimensbes iguais ou inferiores a uma dezena de km?, 0 que favorece as formas esculturais assumirem maior significado. Afirma também que as cartas geomorfolégicas detalhadas devem ser compostas por dados de quatro naturezas diferentes a) dados morfométricos, obtidos a partir de carta topografica; b) informagées _morfograficas, registradas por meio de simbologia que indique no s6 o fenémeno, mas também a sua origem, como escarpa de falha ao invés de apenas escarpa; 5 ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA c) dados morfogenéticos, indicagao da génese das formas registradas no mapa por meio do uso de simbolos, como terraco fluvial, planicie fhivio- lacustre etc. Os simbolos devem oferecer, a0 mesmo tempo, a informagio descritiva e a genética, 0 que torna as informagées morfograficas estreitamente ligadas as morfogenéticas, 4d) cronologia, estabelecimento da idade das formas, distinguindo as formas funcionais das formas herdadas (paleoformas). As paleoformas indicam os processos pretéritos, enquanto as formas atuais permitem definiro sistema mortogenético operante na regiao. A cartografia geomorfolégica deve mapear o que € observavel € nao o que se deduz da anélise geomorfolégica. Em primeiro plano, os mapas devem representar os diferentes tamanhos de forma de relevo, dentro da escala compativel. Os planos secundérios tratam da representagio da morfometria da morfogénese ¢ da morfocronologia, que se vinculam diretamente a tipologia das formas, A cartografia geomorfoldgica utiliza os mesmos principios adotados nas cartografias de solos e nas geolégicas, que representam os tipos de solos ¢ as formacoes rochosas para, entio, fornecer outras informacdes relativas & sua idade, génese e demais caracteristicas de um modo descritivo no corpo da legenda A cartografacio € andlise geomorfol6gica podem seguir os pressupostos da metodologia proposta por Ross (1990 e 1992) Moroestatures« Moroescullurasno Esta de S80 Pau Morfoostuturas 1 Morfoestutura om estrturas dobradas -rochascrstalinas (no detaadas neste exemplo} 2- Morfoestutura om bacia sedimentar~rochas sedimentares. 2.-Morfoescultura em planalto (esculido em rochas sedimentares) 2.11 Tipos de formas ou padres de formas semelhantes — colinas de topos pequenos e convexos 2.12. Tipas de formas ou padrdes de formas semelhantes —colinas de topos ampls e convexos 2.13- Tipos de formas ou padres de formas semelhantes —colins de topos ampls eplanos 2.14. Formas om escarpa com patamares estuturais 2.2 Morfoescutura em depressio peifrica {LL1-Tipos de formas somelhantes~colinas de topos amplos e convexcs 122-Tipos de formas somelnantes~colinas de topos amplose planos Formas de vertontos 2112.1- Forma em colina de topo comvexo O primeiro taxon representa maior extensio em area e corresponde as unidades morfoestruturais. E identificado em imagens de radar e de satélite € controlado em trabalho de campo e cartas geolégicas. Na representacao cartogréfica, cada unidade morfoestrutural é identificada por uma familia de tons de cores. Fig. 5.1 Morfoesiruturas¢ rorfoesclturas no Estado de Sao Paulo 7 PRATICANDO GEOGRAFIA 72 O segundo téxon refere-se as unidades morfoesculturais contidas em cada morfoestrutura. Do mesmo modo que o anterior, € identificado com o auxilio de produtos de sensores remotos e controlado por meio da investigacio de campo. As unidades morfoesculturais sao identificadas por tons de determinada cor. Por exemplo, se a cor verde indica determinada morfoestrutura, 0s variados tons de verde indicarao suas unidades morfoesculturais O terceiro taxon representa as unidades morfol6gicas ou padrées de formas semelhantes contidos nas unidades morfoesculturais. Corresponde &s manchas de menor extensao territorial e so definidas por conjuntos de tipologias de formas (tipos de relevo), que guardam entre si elevado grau de semelhanga quanto ao tamanho ¢ ao aspecto fisiondmico. Esses padres caracterizam-se por diferentes intensidades de dissecacao do relevo ou rugosidade topografica, por influéncia dos canais de drenagem temporérios € perenes. As unidades morfolégicas ou padrdes de formas semelhantes podem ser, segundo sua natureza genética, de dois tipos: formas agradacionais (acumulacao) € formas denudacionais (erosio). Para sua identificacao, podem ser seguidos os procedimentos de mapeamento geomorfolégico adotados pelo Projeto Radambrasil: as formas agradacionais recebem a letra maitiscula A (de agradacao) acompanhada de duas letras mindsculas, que determinam a génese ¢ 0 processo de geracio da forma de agradacao. Por exemplo, Apf—A de agradagao ou acumulacao; p de planicie e f de fluvial. Outras formas de agradacao possiveis sao as planicies marinhas (Apm), planicies lacustres (Apl) etc. No caso das formas denudacionais, a letra maitiscula D é acompanhada de uma letra mintiscula que indica a morfologia do topo da forma individualizada, reflexo de seu proceso morfogenético. As formas podem apresentar caracteristicas de topos agueados (a), convexos (c), tabulares (t) ou absolutamente planos (p). conforme apresentado na Tab. 5.1 Tab. 5.1 Padrdes de formas de relevo D - Denudacio (erosdo) ‘A -Acumulagao (deposigao) a - Formas com topos agucados ‘Apf - Formas de planicie fluvial Dc - Formas com topos convexos ‘Apm - Formas de planicie marinha t- Formas com topos tabulares Apl- Formas de planicie lacustre Dp - Formas de superficies planas Api- Formas de planicie intertidal (mangue) De - Formas de escarpas ‘Ad- Formas de campos de dunas Dv-- Formas de vertentes AAtf- Formas de torracos fluviais ‘Atm - Formas de terragos marinhos Os conjuntos de formas denudacionais sio batizados de Da, De, Dt e Dp ou outras combinagdes que aparecam durante o mapeamento. Estas denominagGes si0 acrescidas de algarismos arabicos extrafdos da matriz dos indices de dissecacao. Por ‘exemplo, Dc31 significa forma denudacional de topo convexo com entalhamento do vale de indice 3 (20 a 40 metros) e dimensao interfluvial de tamanho médio (300 a 700 metros) 5. ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA A Timensio Beil 37800 ‘soma mena il i a ee oa e 2 @ 20840m eon Tae ® rN ea 4028m we 3 @ eNO oN 100 an © 6 EN x 100m an 8 ovat ONY aerate Va bt LOUIS © quarto téxon é representado pelas formas individualizadas indicadas no conjunto. A unidade morfolégica ou padrao de formas semelhantes tipo Dc33 constitui-se por formas de topos arredondados ou convexos ¢ vales entalhados que, individualmente, caracterizam-se como morros. A forma individualizada é um morro de topo convexo com determinadas caracteristicas de tamanho e inclinacao de vertentes, gerada por erosio fisica e quimica, ¢ faz parte de um conjunto maior, © padrao de forma semelhante (© quinto téxon refere-se as partes que compéem as formas do relevo, as vertentes. Fle s6 pode ser totalmente representado cartograficamente com auxilio de fotografias aéreas em escalas de detalhe de 1:25.000, 1:10,000, 1:5.000 Tab. 5.2 Matriz dos indices de dissecagao do relevo (escala 1:100.000) Muito Fraco(1) (< de 10m) " 2 8 “ 15 Fraco (2) (10a 20m) a 2 B a B Maio (3) (20.2 40m) 31 32 3 4 5 Forte (4) (40 a 80m) a 2 8 “4 5 3 54 5 Muito Forte (5) (> 80m) 51 82 Fig. 52 Paadroesdedissecagio do relevo (A) eexemplos de padres de disecagito aplcdoes a escalas médias (1:400.000, 1250.00) 73 PRATICANDO GEOGRAFIA Fig. 53 Setores de verte. ‘Mapa de relevo com Caplicéoe! para escalas 1:25.000, 1:10.000¢ 45.000 7 ou imagens de satélite de alta resolugio espacial. Nestes casos, as vertentes so indicadas por seus diversos setores que estabelecem determinadas caracteristicas genéticas. Os setores de vertentes podem ser identificados como: escarpado (Ve), convexo (Ve), retilineo (Vr), céncave (Vcc), em patamares planos (Vpp), em patamares inclinados (Vpi), topos convexos (Te), topos planos (Tp) ete Ve = Vertente atiines Ve - Vertante convex Ver - Vertantectncava Pe - Patamar convexo Po ~ Patamar plano Te Topo convexo Tp. - Topo plana, O sexto téxon corresponde as pequenas formas de relevo que se desenvolvem a0 longo das vertentes, geralmente por interferéncia humana. Sio formas geradas pelos processos erosivos e acumulativos atuais. Nesses casos destacam-se as ravinas, vocorocas, terracetes de pisoteio de gado, deslizamentos, corridas de lama, pequenos depdsitos aluvionares de indugao antrépica e bancos de assoreamento. Também se enquadram nesse téxon os cortes, aterros, desmontes e outras formas produzidas pelo Homem. Estas formas de relevo s6 podem ser representadas em escalas grandes nas quais € possivel cartografar detalhes dos fatos geomérlicos indicados em fotos aéreas ou no campo 5.2 MORFOMETRIA COMO RECURSO TECNICO PARA ANALISE GEOMORFOLOGICA Existem varios recursos técnicos para medir as formas do relevo, que se aplicam tanto aos mapas quanto ao trabalho de campo. As declividades das vertentes podem ser medidas em campo com o uso de clinmetro ou de buissola geol6gica, ou por meio da elaboracao de mapas clinograficos, bastante divulgados em nosso meio desde a contribuigao de De Biasi (1992) Atualmente, sistemas de informagdes geograficas como o Arcview, Spring, Idris, Ilwis etc, possibilitam a construgio de mapas isoclinograficos pelo processamento 5 ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA digital de dados numéricos topo- grificos, Antes do uso dessa tecnologia, os mapas clinogréficos ou de declividade eram elaborados manualmente, utilizando como ponto de partida mapas topograficos de diferentes escalas. Para tal claboragio, monta-se 0 ébaco (Fig. 5.5) com os intervalos de Fig 54 declividades que se deseja representar, em funcao da escala e da eqitidistancia — Esjuematopoyéico das curvas de nivel ou isofpsas. Em seguida, percorre-se com 0 dbaco as curvas de nivel do mapa e elabora-se a divisio dos espacos entre curvas por poligonos demarcaveis pelo percurso das classes de declividades estabelecidas no abaco, conforme descreve De Biasi (1992). Acetato /Fenda Hi outras técnicas de morfometria, como aquelas que tém sido utilizadas Fig. 55 para a dissccacao do relevo através da contagem de crénulas (reas amostrais Abaco estabelecidas dentro dos polfgonos de formas homogéneas separados na interpretagio das imagens) nas imagens de radar, a técnica da matriz de dissecagio do relevo desenvolvida pelo Projeto Radambrasil e modificada por Ross (1992) que opera com as dimensdes dos interflivios na horizontal ¢ com os entalhamentos dos vales na vertical, as técnicas de medidas de freqtiéncia de rios (Fr) ou canais de drenagem, e as de densidade de drenagem (Dd). Esta tiltima medigao se expressa na formula, Dd = Ctlcomprimento total dos canais de drenagem) A (area) Para calcular o comprimento dos canais de drenagem utiliza-se o curvimetro, que consiste de uma roldana com medida de diferentes escalas. LItiliza-se 0 espago adequado & escala do mapa com o qual se esté trabalhando ou software de mapeamento O comprimento total dos canais (Ct) ¢ a drea (A) podem ser calculados para determinada bacia hidrografica; sub-bacia; mancha individualizada por foto- identificagao ou por amostras circulares aplicadas no interior das manchas nas bacias hidrograficas. O célculo da freqtiéncia de rios (Fr), da mesma forma que a densidade de drenagem, pode ser utilizado para se estabelecer indices de dissecacio do relevo 75 PRATICANDO GEOGRAFA, Este célculo se expressa pela férmula Fr = NT (iwimero total de canais (area) Outro indicador que pode ser utilizado é a razao de textura (T), cujo calculo se expressa pela férmula T= —_NT (nsimero de canais) P (perimetro da bacia ou da amostra) Para calcular 0 perimetro também se utiliza 0 curvimetro ou software de mapeamento Essas formulas podem ser aplicadas com diferentes escalas de trabalho € com a utilizagdo de diferentes sensores (imagens de radar, de satélite, fotos aéreas) ou de forma simplificada, apenas com 0 auxilio de boas cartas topogréficas. Entretanto, quando se trata de areas em que a intensidade de dissecagio do relevo € elevada, as cartas topograficas tendem a apresentar a rede de drenagem simplificada, o que impede seu uso exclusivo. Nesses casos, € imprescindivel a utilizacao de fotos aéreas. Outra situagao que dificulta a aplicagao dessas medicées é em situagées com escalas pequenas, como 1:100.000 ou 1:250.000, em relevo de elevada dissecagao. Em tais escalas, tanto imagens de radar quanto imagens de satélites apresentam grande dificuldade para identificar a rede de drenagem, devido a sua clevada densidade. Isso torna praticamente impossivel a obtencao de medidas de densidade de drenagem (Dd), freqiiéncia de rios (Fr) ou razio de textura (T). Nesses casos pode-se aplicara mesma formula de razio de textura (T), substituindo-se o némero total de canais (NT) pelo niimero total de crénulas: T = NeCiwimero total de erévalas A (rea) A rugosidade topografica é representada por meio da razdo de textura, mas ao invés do niimero total de canais, utiliza-se no célculo o ntimero total dos pequenos divisores ou espacos interdrenos, que representam as formas do relevo. Para facilitar 0 trabalho, deve-se optar pela utilizagio de amostras circulares de area conhecida ¢ proceder & contagem, dentro de cada amostra, de cada uma das tipologias de padrao de forma do relevo, representadas por manchas pré- identificadas de padrdes de formas semelhantes, Tais propostas de mensuragio para estabelecimento de indices de dissecacao do relevo séo mais apropriadas para escalas pequenas e médias (1:250.000, 1;100.000, 1:50.000). Com escalas maiores, que ressaltam maiores detalhes (1:25.000, 1:10.00, 1:5.000), deve-se utilizar 0 mapeamento de elementos das formas, identificando a tipologia de segmentos de vertentes. Nesses casos, os indices de dissecacao serao dados pelas classes de declividade, nao pelos métodos anteriormente discutidos. 5 ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA 5.3 TECNICAS DE CAMPO: ENSAIOS E EXPERIMENTOS: Os ensaios € experimentos de campo constituem 0 terceiro momento das pesquisas em Geomorfologia. O primeiro é observare descrever os fatos; 0 segundo ¢ interpretar fotos e imagens de radar e de sat¢lites para construir mapas; ¢u terceinu & produzir ensaios de campo e experimentos com o objetivo de obter informagées para confrontar resultados e extrair conclusdes das pesquisas realizadas. As técnicas de campo em Geomorfologia utilizam também as empregadas nas pesquisas em Pedologia, pois ambas estdo intrinsecamente relacionadas. Desse modo, sugere-se consultar 0 Cap. 6, que trata das técnicas em Pedologia para melhor compreensao dos fatos. 5.3.1 EXPERIMENTOS DE CAMPO Entre os experimentos mais utilizados em campo estéo as parcelas para medir erosao dos materiais particulados dos solos provocada pela aco mecanica das éguas das chuvas. Esses experimentos devem ser instalados em diferentes condigdes de relevo, solos e cobertura vegetal para que os dados produzidos possam ser utilizados para comparacao ¢ andlise. Deve-se sempre tomar locais com algumas variéveis fixas ¢ investigar a variagao das demais. Por exemplo, toma-se como varidveis fixas a morfologia da vertente, a declividade fixa do sctor da vertente escolhida 0 tipo de solo — vertente cOncava, com declividade de 20% e solo de textura média (argilo-arenosa). Os experimentos sao instalados em terrenos com essas caracteristicas de relevo € solo, € variam-se os sitios em fun¢ao da cobertura vegetal ¢ do uso da terra instalam-se parcelas sob a mata natural, sob um bosque de silvicultura, em terrenos com pastagem, em terrenos com agricultura de ciclo curto (soja, milho, trigo, algodio etc.), em terrenos com agricultura de ciclo longo (citricultura, café, cacau, pimenta do reino, frutas arbéreas etc.). As variagdes do parimetro estudado podem ser realizadas em fungao das estacoes climaticas a0 longo do ano ou dos tipos climaticos regionais. Enfim, ha uma grande gama de possibilidades para se trabalhar com os experimentos de campo. i) Procedimentos técnicos para os experimentos com calhas de Gerlach A finalidade desse experimento é analisar a dinamica erosiva com remanejamento/transporte de materiais dos solos, comparando-se diferentes situacdes, como: diferentes tipos de cultivo; solos diferenciados, variagao de volume ¢ intensidade das chuvas, tipos de vertente e grau de inclinagao, Os experimentos com parcelas delimitadas e fechadas com calhas para coletas, de sedimentos e gua constituidas por laminas ou placas de metal galvanizado que fecham trés lados de um retingulo, com um quarto lado posicionando na parte mais baixa da drea de amostragem, onde se instala a calha coletora, também de lamina de ferro. A calha é concctada a um tambor através de saida lateral de Agua, conforme Fig. 5.6. O trabalho do pesquisador e seus auxiliares é coletar, a cada chuva, o volume d’égua ¢ sedimentos armazenados na calha e no tambor, medindo-os, secando-os e pesando-os em balanga de preciso Importante lembrar que, 20 lado do experimento, € preciso instalar um pluvidmetro ou pluvidgrafo, para se obter simultaneamente dados sobre o volume das chuvas que ocorreram no episédio que transportou aquela quantidade de 7 PRATICANDO GEOGRAHA Fig. 5.6 arcela bara mmonitoramento de run-off (Guerra, £996 moficado) Fig. 5.7 ino deeosio visto em perfil (Guera, 1990, modifcado} 78 a aha coletora Tevey sedimentos contidos nas aguas da calha e do tambor. Esse procedimento devers ser permanente durante toda a experimentacao, que convém ser de pelo menos um ano, para conseguir melhor percepcio da dinamica erosiva em funcao dos periodos chuvosos e secos ) Procedimentos técnicos para experimento com os pinos de erosao A finalidade dos experimentos cof pinos de erosao é semelhante & finalidade do uso das calhas, analisar a dinamica erosiva frente as diferentes condigoes de relevo, solo, usos e clima. Os pinos de erosio devem ser instalados segundo os mesmos critérios adotados para as parcelas com as calhas de Gerlach — escolhem-se os sitios para experimentagio, tomam-se varidveis fixas ¢ uma varidvel seré testada, como a vegetacio ¢ 0 uso da terra. Pode-se também utilizar como varidvel fixa a cobertura vegetal/uso da terra e variar o relevo e o solo, Depende do que se quer investigar. A quantidade ea distribuigao dos pinos de erosao nos sitios de experimentacio pode ser variével, mas recomenda- aaa se dispor de mais que trés pinos por unidade de area pré-estabelecida como cinco pinos regularmente distributdos instalados em dois metros quadrados. Os pinos devem ser graduados de um em um centimetro e introduzidos no solo por impacto até atingir a medida escolhida, Monitora-se ao longo de certo tempo pré-estabelecido (meses ou ano), para verificar 0 quanto a erosio retirou de sedimentos ou para verificar a sedimentagao, no caso de areas em que esteja ocorrendo deposicéo de material. O valor € dado em centimetros de rebaixamento ou elevacao da superficie do solo. E muito importante verificar 0 comportamento do rebaixamento erosive nos espagos entre os pinos e espacos mais afastados, porque ha uma tendéncia 5 ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA da ago de turbilhonamento da agua ao redor de cada pino que promove mais erosio ali do que nas partes em que nao ha pinos. Esse procedimento pode ser executado com uma linha nivelada nos topos dos pinos, medindo-se sua altura em relagdo & superficie du terrenu ci vérivs puntos. Com base nas medidas, extrai-se 0 valor médio das alturas, do qual se subtrai o valor inicialmente deixado acima da superficie do terreno, quando os pinos foram fixados. 5.3.2 ENSAIOS DE CAMPO: TESTES DE INFILTRAGAO_ Os testes de infiltracao indicam a capacidade do solo de receber volumes “agua e sta capacidade de armazenamento, estabelecendo relagdo com o tempo gasto no proceso. Os testes para medir infiltracgo de volumes d’égua podem scrrealizadosnasuperficic e sub-superficie do terreno. Para 05 testes de superficie utiliza-se © infiltrémetro de superficie, aes constituido por um tubo de metal ‘ua rigido ou de PVC vazado de ambos os lados, cujas dimensdes esto especificadas na Fig. 5.8 Para os testes de sub-superficie, perfura-se com trado pedolégico um orificio de até 70 cm de profundidade e pasea-se a operar as_medigdes, preenchendo-se seqiiencialmente 0 orificio com gua. Diameto da burota Disimetra da clindro i) Procedimentos técnicos para os testes de infiltracio Para os testes de infiltracao de superficie, se fixa o tubo de metal ou plistico no solo a até 5 cm de profundidade (Fig. 5.9) e passa-se a adicionar volumes pré- conhecidos de agua. Por exemplo, adiciona-se cinco litros d'égua a cada vez medem-se dois parimetros: 0 volume de gua consumido até a saturacao do solo € © tempo cronometrado para seu consumo, Procedimento semelhante é adotado para os testes de subsuperficie. Tanto nos testes de superficie como de subsuperficie pode-se medir 0 tempo total de consumo d'gua, 0 rebaixamento parcial do nivel gua € 0 tempo gasto para isso. Por exemplo, cronometra-se o rebaixamento de cada 5 ou 10 cm d’égua até 0 consumo total e adiciona-se novo volume de 5 litros até a saturagio do solo. A saturagio poderd nao ocorrer em fungao das caracteristicas texturais e da permeabilidade do solo. Quando isto for percebido, deve-se estabelecer um limite de tempo ou de volume d’égua adicionado para interromper o teste Os resultados obtidos por meio das medicées de infiltragio podem ser trabalhados com métodos estatisticos simples, como sua organizacao e comparagao Fig. 58 Infiltrometro de tubo de PVC com bureta sraduada (Coelbo Netto « Avelar, 1996, mnodificado) 79 PRATICANDO GEOGRAFIA 80 Fig. 5.9 Inftmer singles (Guer, 1996) ure em planilhas ou tabelas para elaboragao de grificos de de- CID ' monstracao. Tais resultados devem sercorrelacionadoscomosdados i subre sulos, relevo, cobertura =| yields vegetal e periodo _climatico yi (seco-timido) para _verificacao das diferengas comportamentais das infiltracbes. 5.3.3. ENSAOS DE CAMPO: TESTES DE RESISTENCIA A PENETRACAO. Os testes de resisténcia & penetragao de hastes metilicas no solo servem para medir 0 grau de resisténcia que os solos timidos, mas nio saturados d’égua, oferecem a penetracio sob impacto ou sob pressio. Estes testes indicam estado de compactagao dos solos. Os valores sio dados por kgf/cm? e podem ser obtidos com 0 uso de penetrémetro portatil ou de bolso ¢ penetrémetro de percussao. O penetrémetro portatil € normalmente utilizado para medir a resisténcia dos horizontes dos solos em cortes, perfis ou trincheiras com penetracio horizontal. O penetrémetro portétil tem uma pequena haste metilica graduada de 0.2455 kef que oferece leitura direta do resultado da resisténcia de penetracao. CS cgomis O valor indicado pelo anel medidor apés 1 Suporte para movimento do &mbolo 4 Anol mel -medigBo da presséo 2-Embolo conectado em mola interna 5 Esc 3- Haste ou pino da penetragio Fig. 5.10 Pevetrometo portstil a penetragio total da haste no perfil do horizonte do solo € o resultado do grau de resisténcia do solo, que variaré de sradadade0e4Skaion? 0 a 4,5 kgf/cm? Devem ser realizadas em tomo de cinco medidas para cada horizonte de solo para que se possa avaliar a tendéncia comportamental da resisténcia de cada horizonte de solo em cada um dos lugares selecionados, O penetrémetro de percussio ou de impacto é também conhecido como Penetrometro de Stolf, nome de seu criador. Esse equipamento foi desenvolvido Por pesquisadores do antigo IAA (Instituto do Agticar e do Alcool) Os testes com o penetrometro de percussio ou de impacto séo tealizados com a aplicagao vertical da haste metélica que recebe impactos de 4 kg através do cilindro de ago e se desloca 40 cm apoiado em vareta metilica, conforme Fig. 5.11 A haste metélica tem comprimento de 70 cm e imprimem-se quantos impactos forem necessérios para penetri-la no solo até seu limite de comprimento. A haste € graduada de 10 em 10 cm, ¢ devem ser contados quantos impactos so necessérios ara penetrar cada 10 cm, Sao realizados no minimo trés ensaios em cada local escolhido. Os testes devem ser efetuados com o solo imido, porém nao saturado de gua, preferencialmente no perfodo chuvoso de verso. 5. ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA a ih ofa ‘| Detalhe de f fT is aS ism len egal a um cr Fig. 5.11 Poverneto de § FR, toe mivl para apratarmanarne epeRINMATDA eee = Planalsucar— Sto Peaeaeeratiee, R, Ferman, J aro 6) pos0 que provera impacto Neto, Vil Kanag +) chapa para sorfxeds ne superficie do Maquina e Implements Solo, dando o nivel de referencia daleitura — Agrcolas Lida e protundiade, f Naess are Existem penetrémetros importados para medir a resisténcia dos solos, mas nao sao facilmente encontrados. © penetrémetro de percussao desenvolvido no Laboratorio de Geomorfologia da USP por Ross (1997) € montado em estrutura metélica desmontével, composto de um tripé com pernas de trés metros de comprimento, com uma delas regulavel. No vértice, possui uma roldana por onde corre 0 cordao que sustenta ¢ permite a elevacao do peso (cilindro de 16 kg). A haste é de ago, com comprimento de 1,40 me diametro de 3 cm. A seqiiéncia para sua aplicagao obedece as seguintes etapas i. selegdo dos locais dos testes a partir do mapeamento geomorfolégico, ii. escolha do ponto de instalagio do equipamento com regulagem de uma das pernas em funcao da declividade da vertente; iii fixacdo da haste a até 20 cm de profundidade, posicionada precisamente sob o prumo do martelo (cilindro); iy, aplicagao dos impactos, contando-se sua quantidade e a profundidade de penetracao da haste, graduada de 10 em 10 cm; v. altura da queda livre do cilindro deve ser constante nos ensaios experimentais utilizou-se a distancia de 1,2 m entre a base do cilindro ea topo da haste; vi. retirada da haste do solo ¢ feita mediante perfuragao lateral mesma com o trado. Os dados obtides com os penetrémetros podem ser trabalhados com métodos estatisticos simples tabulados em planilhas (tabelas) ¢ elaboracio de graficos que evidenciem as diferencas entre os resultados das medigbes de um mesmo lugar (ponto) e as diferengas entre os varios lugares (pontos) mensutados. 81 PRATICANDO GEOGRAFIA Fig. 5.12 Teste com penetrometro de perewssio (Ross, 1997) 82 a-b-c -Hastes de apoio ~3m © Haste regulével em fungo da inelinagéo do tereno 4 Haste de ago—1,20 m de didmetro3em aradvads de 10em 10cm © -Peso~martla de impacto —16kg { —-Roldanalcarretiha 9 Corda para impulsionaro martelo de impacto Pode-se aplicar testes estatisticos para verificar o desvio padrio entre os resultados das medicées. Os resultados gerais devem ser correlacionados com os tipos de relevo, solos, coberturas vegetais para se avaliar as diferengas ¢ estabelecer conclusdes. Os testes com os penetrémetros visam fornecer informagées sobre a resistencia que os solos oferecem & penetracao de hastes metélicas, permitindo perceber quais tipos de solos, em detetminadas condicGes de relevo, apresentam-se mais ou menos vulneraveis s atividades erosivas 5.4 TECNICAS DE PFSQUISAS GFOMORFOLOGICAS FM AREAS COSTEIRAS As técnicas de anélise geomorfolégicas aplicadas 3s regides litoraneas sto grandemente diferenciadas das técnicas aplicadas as éreas continentais, devido as diferencas morfodinamicas. O litoral apresenta interface com trés ambientes —o continental, 0 marinho © o atmosférico -, enquanto nas terras interiores a interagio ocorre mais entre atmosfera e litosfera. Entre as técnicas de andlise da geomorfologia costeira sero destacadas algumas das mais utilizadas. 5.4.1 ANALISE GRANULOMETRICA, Na pesquisa voltada para a anlise granulométrica de amostras de areias 0 método utilizado compreende coleta em campo ¢ andlise em laboratério. Para coleta do material em campo € necessério abrir trincheiras no sentido transversal & praia para identificar as camadas de sedimentagdo, como apresenta Muehe (1996). Podem-se aproveitar as trincheiras para estudar, desenhar ¢ fotografar a disposigao dos estratos, com a possibilidade de identificar os paleoambientes de rio, dunas e praias. Se o objetivo principal da pesquisa for apenas identificar a granulometria do material, nio seré necessério preservar as camadas. Caso contrario, € necessario utilizar um tudo de PVC ou de aluminio para testemunhar (coletar) a amostra. O tamanho do tubo vai depender da profundidade que se deseja atingir. 5 ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA Em laboratério, as amostras coletadas em testemunhos precisam ser conservadas sob refrigeragdo para que as camadas nio se desfacam no momento da abertura do tubo. O tubo deve ser partido ao meio para facilitar a observacao das camadas, porquie sas Interais ficam alteradas e ha migracéo de material Em seguida, inicia-se a observagio visual dos padrées de textura, cor, estrutura, presenga de materiais biodetriticos. Esses tiltimos podem ser datados. Procede-se, entéo, 2 andlise granulométrica do material de cada camada, Durante a observagio do testemunho € importante produzir um desenho com escala, descrever suas caracteristicas e fotografé-lo 5.4.2 PERFIL PRAIAL Outra técnica muito utilizada na anélise geomorfol6gica € a do perfil praial, porgao emersa e submersa. O uso do teodolito de nivelamento topografico é muito utilizado para determinar a variagio do perfil praial. Utiliza-se o nivel topogréfico ou teodolito em conjunto com uma mira topografica, espécie de régua graduada de até 4 m de altura, que possibilita a visualizagao com 0 teodolito. Segundo Mehe (1996), o nivelamento € feito medindo-se a diferenga de altura entre o nivel ou teodolito, cuja altura € previamente determinada, e a superficie do terreno ao longo do perfil. As distancias entre os pontos de amostragem € pré-determinada e pode ser medida em campo com uma trena, as medidas de distancia podem ser feitas por leitura dtica por meio do método de estadimetria © método é baseado na semelhanga de tridngulos, em que a relagao entre a distancia focal (altura do triangulo) e a distancia entre duas marcagoes (retfculos) na ocular do nivel do teodolito (base do triangulo) serve para a determinagio da distancia entre o aparelho e a mira. Para isso, basta determinar a altura da base do novo triéngulo na posicao da mira através da diferenca das leituras na mira, do reticulo superior e inferior. Esta diferenca, multiplicada por 100, que € a relacio distancia focal/base do triangulo na ocular, forece a distancia em metros. Equipamentos topogréficos modernos permitem a determinacao de distancias por emissao e recepcao de ondas eletromagnéticas na faixa do infravermelho, mas sio de custo relativamente elevado, Muehe (1996) Método mais simples para determinagio do perfil praial ou perfil subaéreo. citado por Muehe (1996) € 0 método das balizas de Emery, que consiste em duas balizas de 1,5 m de altura, pintadas em faixas de cores alternadas com largura de 2 cm, € montada numa base que as mantém em pé. A diferenca de altura entre dois pontos, ao longo do perfil, é determinada pelo observador da baliza de ré, obtida pela projecdo de uma linha imaginéria que liga a linha do horizonte ao topo da baliza mais baixa, que pode ser a baliza de vante ou a de ré. A diferenga de altura é determinada por contagem das faixas de 2 cm pintadas nas balizas e permite aproximacdo de até 1 cm, preciso suficiente para este tipo de ambiente. A distancia horizontal, entre as balizas, é medida com uma trena ou pelo comprimento da baliza tal como mostra a Fig. 5.13. Os dados obtidos com as medig6es em campo podem ser anotados em forma de tabela e ser transferidos para uma planilha eletrdnica, que permite a claboragio de graficos. Os graficos dotados com as cotas de altitude e distancia mostram o perfil da praia. 83 PRATICANDO GEOGRAFIA _horizonte bala Fig. 5.13, Balizas de Emery para 84 smedir perfil de praia (Komar, 1908) Para a determinacao do perfil da regiao submersa adjacente ou continuagio do perfil de praia é necesséria a utilizagdo de um equipamento chamado ecobatimetro acoplado a um barco. Para tanto, € preciso fazer uma calibragem do aparelho no ponto em que se encerrou a medicio do perfil praial com iétodo de estadimetria € apoio do equipamento instalado a montante, ou ainda, se pode utilizar equipamentos eletrnicos. As leituras angulares sio feitas em intervalos de tempo constantes, por exemplo, de 3 em 3 minutos, sendo o instante da leitura transmitida via rédio para a embarcacao, quando o operador do ecobatimetro efetua uma marcacao no perfil com registro do horario da leitura arb rvariagso de nivel corda 5.5 CONSIDERAGOES FINAIS Os procedimentos técnicos de campo € de laboratério em Geomorfologia so parcialmente interativos com os procedimentos de dreas do conhecimento como Pedologia e Geologia, pois estas especialidades pertencem as Ciéncias da Terra. A escolha de aplicacio de um experimento em detrimento de outro ocorre em fungio dos objetivos da pesquisa ¢ da escala de anélise. A preocupagio central é aplicar os experimentos mais adequados a cada tipo de pesquisa, sempre com 0 objetivo de tornar o produto da pesquisa mais consistente e menos empfrico-intuitivo, de modo a demonstrar as hipsteses ou responder 8s questdes inicialmente formuladas com os resultados Os conceitos, técnicas € aplicagdes utilizados em Geomorfologia aqui apresentados nao tém a intengao de abranger sua totalidade ou encerrar o assunto, ja que cxistem indimeras outras técnicas que podem ser aplicadas. 6 TECNICAS EM PEDOLOGIA m Pedologia, a escolha da técnica a ser utilizada € definida pela problematica abordada. As técnicas para estudar solos sao numerosas © envolvem observacao, anilise, representagio cartogréfica € abrangem diferentes niveis de complexidade, ‘As pesquisas cientificas relacionadas ao estudo de solos sio extremamente amplas € compreendem desde questées ligadas prépria Pedologia (génese, funcionamento hidrico, fertilidade, erosio, canservacio, uso, producao, gestéo, classificacdo, mapeamento), aquelas mais gerais, decorrentes do papel de interface desempenhado pelo solo na superficie terrestre — espaco de trocas entre atmosfera, litosfera, hidrosfera e biosfera Algumas questées relacionadas ao papel do solo como interface sao: produgao ¢ qualidade de agua em bacias hidrograficas, balangos hidrogeoquimicos em micro- bacias; mudancas climaticas, processos geomorfogenéticos e morfodinamica atual de vertentes; sistema solo-planta-atmostera; ciclo de CO2 no planeta através de processos de alteragdo das rochas ¢ dos processos pedolégicos de precipitagio, de carbonatos e de argilas; ciclos de elementos quimicos na superticie terrestre; poluigao ambiental e outras, relacionadas a Geotecnia e Engenharia Civil De um modo geral, as técnicas para estudos de solos sao distribuidas em trés Ambitos de trabalho distintos, mas complementares ¢ interdependentes: gabinete, campo e laboratério. H4 menor niimero de livros que tratam das técnicas de campo. Em Portugués sao apenas duas as obras de referéncia: Lepsch (2002) € Lemos ¢ Santos (1996). As técnicas de laboratério so as mais difundidas, com vasta literatura nacional e internacional. A obra de referéncia nacional € 0 trabalho publicado pela Embrapa em 1997; técnicas de micromorfologia de solos foram publicadas por Castro et al (2003) e uma referéncia basica sobre a quimica do solo €0 livro de Luchese et alii (2002). As técnicas de gabinete incluem desde técnicas de levantamentos gerais bibliograficos e cartograficos para estudo do meio fisico, até aquelas para confeccao de mapas de solos Neste capitulo, serio abordadas apenas as técnicas de base para trabalhos de campo, as que permitem realizar uma descrigio das caracteristicas morfolégicas dos solos no terreno, O solo pode ser caracterizado pela natureza de seus constituintes € por suas diversas escalas de organizacées que abrangem desde a microscépica (organizagées elementares dos constituintes) até as organizagées macroscépicas (agregados, horizontes, perfis). Estas tiltimas podem ser de dois tipos: bidimensionai expresso vertical (sucessao vertical de horizontes) ¢ expresso lateral (distribuigao com SIDNEIDE MANFREDINI SONIA MARIA FURIAN Dias JOSE PEREIRA DE Queiroz NETO DEBORAH DE OLIVEIRA ROSELY PACHECO Dias FrkkeaKa, PRATICANDO GEOGRAFIA 86 de horizontes ao longo da vertente); ¢ tridimensionais (distribuicio de solos ou de sistemas de solos numa bacia hidrogréfica e na paisagem) Cada nivel de organizag’o pode ser apreendido por parimetros mor- fologicos, fisicos, quimicos e mineralégicos. Normalmente, os parametros morfol6gicos, como cor, textura, estrutura, porosidade, feicées pedolégicas, atividades biolégicas, sio estudados e descritos em trabalhos de campo. Trabalhos de campo em Pedologia para descricao das caracteristicas morfolégicas dos solos constituem etapas preliminares basicas das pesquisas em solos. Tal descricio permite delimitar horizontes e estabelecer relacdes entre eles, isto €, permite fazer inferéncias sobre fatores e processos envolvidos em suas formagdes, seus funcionamentos atuais e suas relagdes com a dinémica evolutiva da paisagem. Sao previstas as seguintes etapas para o trabalho em campo * Escolha dos pontos de observacao do solo na paisagem © Técnicas de observagio — Tradagem — Trincheira ou barranco * Descrigao das caracterfsticas morfoldgicas do solo: cor, textura, estrutura, porosidade, atividade biolégica, feigées pedoldgicas © hurizuntes 6.1 ESCOLHA DOS PONTOS DE OBSERVAGAO A escolha dos pontos de ébservacio do solo esté totalmente vinculada aos objetivos da pesquisa ¢, sobretudo, a escala do trabalho ¢ a area de estudo. Como o solo é um corpo tridimensional que se distribui na paisagem, os pontos de observacao podem ser estabelecidos a partir de ages conjuntas de gabinete — consulta © interpretacao de cartas geolégicas, geomorfoldgicas, pedolégicas, fotos-aéreas (padréo de drenagem, estruturas geol6gicas, litologia, padroes macro-morfol6gicos do relevo, dentre outras) — e de campo — observacio das caracteristicas superficiais como cor, rugosidade, padrio de distribuigio da vegetacéo e das formas das vertentes como rupturas de declive, sinais de erosio, estado da superficie etc. Apesar do solo ser um corpo anisotrépico (apresenta variagdes de uma deter- minada propriedade conforme a diregio que se examine), a variagio espacial de suas principais caracteristicas nao sao casuais. O perfil de solo tem anisotropia vertical devido a presenca de horizontes pedogenéticos, a passagem lateral de um tipo de solo para outro produz anisotropia horizontal. (Curi et al, 1993), Os processos pedogenéticos envolvem transferéncias de matéria e energia tanto na interface solo-atmosfera quanto no interior de seu préprio corpo ¢ sao fortemente condicionados pelo relevo. Em conseatiéncia, os pontus de ubservagao devem, sempre que possivel, ser locados ao longo das vertentes na linha de maior declive (toposseqiiéncia) ou em transectos preestabelecidos ligando, por exemplo, o interflévio ao eixo de drenagem, ou dois interfiivios entre si Dependendo do grau de detalhamento descjado, pode-se proceder a descrigao das caracteristicas morfolgicas do solo baseadas em amostras coletadas com trado ou em pedolitos (trinchciras ou barrances). 6 TECNICAS EM PEDOLOGIA 6.2 TECNICAS DE OBSERVACAO No campo, a observacio do solo vale-se de instrumentos para seu exame € coleta. Sao eles: martelo pedolégico, trado de rosca (a); trado holandés (b); trado de caneco (c); enxadao; pi quadrada, pé reta € taca; fita-métrica e pedocomparador ~ caixa de madeira utilizada para organizar amostras de solo coletadas no campo, segundo sua organizacio macro-morfolégica, isto é, sucessio vertical ¢ distribuicao lateral de horizontes 6.2.1 TRADAGEM 120.om Tiadagem € a coleta de solo em profundidade com trado, utilizando com mais freqtiéncia 0 trado holandés, Em geral, a coleta é realizada de 0,10 em 0,10 m ou onde hé mudanca significativa de core textura do solo, pois a estrutura ¢ a porasidade sao dectndas pela gitn do trada no momento da coleta. As tradazens geralmente sao feitas onde nao ha cortes de estrada que permitem a visualizacao do perfil do solo. 6.2.2. TRINCHEIRA OU BARRANCO Em locais onde a coleta de solo por tradagem deixa dtividas sobre a organizagao do solo, devem ser abertas trincheiras com o uso de enxadas e pas. As trincheiras devem apresentar largura suficiente para que seja realizada a descri¢ao do solo (no minimo 1 m?) e, se possivel, atingir a rocha mae Os barrancos devem ser limpos com 0 auxilio do martelo pedolégico € da cenxada de cima para baixo antes de comecar a observagio e descricao, de forma a evitar contaminacao com materiais das camadas suprajacentes. A camada externa, sujeita & lavagem e dessecagio, deve ser completamente eliminada 6.3 DESCRIGAO E INTERPRETAGAO DAS CARACTERISTICAS MORFOLOGICAS DO SOLO Para realizar a descrigao do solo, a primeira coisa a observar € sua macro- organizac3o, seja numa secéo vertical, numa trincheira ou barranco ou nas amostras coletadas com trado, A macro-organizacio é observada pela presenca ou Fig. 6.1 Tnstrumentos atilizados para oexameecoleta de solo no campo (Lemos ¢ Santos, 1996) 87

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