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Alves Redol, deu início ao neorrealismo português, período que defendia uma
literatura engajada e voltada para os problemas concretos do país. “…que deveria não só
denunciá-los, mas contribuir para a conscientização do público leitor dos mesmos
problemas e buscar meios para a transformação da sociedade.” (GAVASSI, 2017, p.135).
E, é nesse sentido, que o conto O rapaz não gostava das mãos é um exemplo do tal
movimento, que serve como veículo de denúncia do descaso, indiferença, opressão e
exploração dos trabalhadores da época.
Se trata de um conto curto, porém, forte. A história se passa em Bucelas, que hoje
pode ser taxado como local para dormir em Lisboa, mas que, antigamente, era uma região
pequena, do interior e pobre. Conforme a descrição do autor no primeiro parágrafo do
conto, um rapaz trabalhador chega a uma taberna na madrugada, provavelmente voltando
de mais um turno longo e cansativo de trabalho e, demonstrando angústia, euforia e
tormento, pede uma garrafa de vinho. A personagem descrita é denominada personagem-
tipo, isto é, não possui nome nem tem características físicas ou psicológicas. Nesse
sentido, o problema exposto no conto é generalizado, ou seja, a crítica é ampla e se dirige
aos trabalhadores oprimidos e explorados da época.
“Agarrava-se nas mãos a dor que não cabia dentro de si.” (REDOL, 1936, p.104).
Este trecho, que remete a angústia da personagem, antecede o desabafo em que se
descobre por qual motivo o rapaz não gostava das mãos. “...onde a camisa fraldiqueira e
suja lhe saltava das calças derreadas. Tinha cara de menino assustado”
(REDOL, 1936, p.104). Neste trecho, é possível perceber a fragilidade da personagem.
“Vão jornas a dezoito malréis. E é para quem quer... Quem não quer é
madraço.” (REDOL, 1936, p.105). Há, nesse trecho, mais uma crítica ao sistema
capitalista no que diz respeito às altas jornadas de trabalho e o salário baixo. A angústia
da personagem é tanta, que ele deseja que tivesse morrido logo quando nasceu, “Mais
valia que a minha mãe me tivesse desfeito a cabeça numa parede quando me viu nascer...”
(REDOL, 1936, p.105).
“Se não tivesse mãos, nunca abalava da minha terra.” (REDOL,1936, p.106).
Com teor pejorativo e a discriminação com os trabalhadores remetem à condição precária
desse homem sem privilégio. É importante mencionar as questões políticas, sociais e
ideológicas presentes no conto. Destaca-se a cuidadosa seleção de palavras que
descrevem as características (adjetivos) e a personagem instala um ponto de tensão na
narrativa, ou seja, questiona a situação que está vivendo mesmo sabendo que não pode
melhorá-la.
Por fim, O rapaz não gostava das mãos é um conto com inquietações sociais
claras. Redol consegue descrever muito bem a vida dos trabalhadores em Portugal em
meados do século XX. Não há nada de fantástico, afinal se trata do movimento
neorrealista.
Referências