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Universidade Federal de Uberlândia

Discente: Letícia Maria Machado Arruda


Docente: Leonardo Soares
Disciplina: PROINTER IV
No início de 2018, notícias sobre a queda no mercado editorial e fechamento de
grandes livrarias, como Saraiva e Cultura, permearam no Brasil. Nesse sentido, a crise
literária no Brasil começou a ser debatida e surgiram dúvidas sobre seus possíveis
desdobramentos e consequências para as próximas gerações. De acordo com dados do
IBGE, 44% da população brasileira nunca comprou um livro, além disso, por volta de
30% da população brasileira nunca comprou um livro. Assim, é possível listar alguns
motivos para justificar a existência de uma população que não lê, como os preços
elevados de livros, que a população de baixa renda não tem acesso; além das novas
tecnologias (como foco nas redes sociais) que, aparentemente, são mais interessantes do
que ler. Sendo assim, é de extrema relevância analisar como o atual ensino de literatura,
que está em crise, é fundamental para formar uma sociedade leitora e capaz de
reconhecer a abrangência da literatura em seus mais variados gêneros de acesso.

A princípio, ressalto a necessidade de reflexão sobre como o texto literário está


sendo conduzido na sala de aula. O ensino da literatura é fundamental na formação de
sujeitos, já que é um conjunto de saberes, como cultura, história e ideologia, é
transmitido. Nesse sentido, a leitura pode ser considerada um processo de elaboração e
verificação de previsões que levam o leitor a construir interpretações. O texto literário é
um material que deve ser levado até a sala na forma de recurso pedagógico. “Hoje a
literatura é produzida por uma indústria tão sofisticada quando a indústria de alimentos,
que oferece molho de tomate para todos os gostos.” (LAJOLO, p.9). A partir desta
analogia que a autora faz entre literatura e indústria, considero que o texto literário,
assim como os produtos de uma indústria, é consumido por um público de diversas
idades, diversas características socioeconômicas e variadas culturas. Ou seja, o texto é
uma reprodução artística, de vários sentidos, capaz de levar o leitor, de diferentes
contextos, ao fundo e provocar sensações, despertar curiosidade e imaginação e
distribuir visões de mundo. Assim, é imprescindível citar a importância do ensino da
literatura e o papel do professor na formação de alunos, mediante a era digital na qual
estamos inseridos, e seus possíveis desdobramentos para as próximas gerações.
“Para que a literatura mereça ser objeto de um grande investimento social, como
é a sua inserção no currículo escolar, é preciso que ela tenha um diferencial, enquanto
forma de conhecimento ou elemento formativo do cidadão.” (FRANCHETI, p.2).
Tomando como base essa afirmativa, o principal papel do professor de literatura é
utilizar os textos literários como uma forma de aproximação dos seus sentidos com o
mundo que aluno está inserido. No entanto, a ausência de tal aproximação também pode
ser vista como um dos motivos pelo qual a literatura entra em crise e se dissolve e,
assim, é tratada apenas como uma matéria regular que conta com o estudo do chamado
“clássico” ou relevante. Entretanto, segundo Marisa Lajolo (2011, p.13). “E discutir
literatura é abrir os olhos e ouvidos, e olhar e ouvir em volta, ler livros, meditar sobre
frases pintadas a spray em muros e edifícios da cidade.” Nesse sentido, ao realizar a
leitura de um texto literário, o leitor deve estabelecer um auto diálogo, enxergar sentido
para sua vida e para as coisas ao seu redor. O texto literário faz com que cada leitor
tenha sua maneira de interpretar o que está lendo e possibilita que ele leve um pouco do
seu mundo para o texto.

Outrossim, o documento intitulado Base Nacional Comum Curricular (BNCC)


busca um alinhamento em relação aos objetivos e conteúdos a serem desenvolvidos no
ensino de literatura no ensino regular, a fim de direcionar todos os educadores com a
proposta governamental. No entanto, apesar de constar no currículo da educação
infantil, do ensino fundamental e do ensino médio, a literatura não é um componente
curricular único, mas sim transversal. Isso, por outro lado, reflete a transmutação da
literatura com áreas afins como artes, filosofia, história, geografia e língua portuguesa.
Nesse sentido, é visível que a literatura começa a aparecer na educação básica como
recurso básico que desenvolve a imaginação e reflexão acerca do mundo, de acordo com
o campo “Escuta, fala, pensamento e imaginação”. É fato que este campo se mostra
bastante relevante para a formação de futuros leitores, sendo o incentivo da leitura
essencial para o aprendizado, seja na esfera escola, seja na esfera pessoal.

Ainda sobre o documento, a partir do Ensino Fundamental, a escola deve


começar a trabalhar de forma mais sólida a formação do leitor, ou seja, o processo de
ensino de literatura na sala de aula consiste em muito mais do que enumerar textos ou
autores num grupo e categorizá-los num período literário. Consiste em fazer que o aluno
perceba o caráter atemporal e as características simbólicas e sociais da obra. Tal
trabalho está previsto na disciplina de Língua Portuguesa nos âmbitos da leitura,
incluindo até mesmo um desenvolvimento de um senso crítico para compreender as
obras do passado e do presente. Além disso, também é observado a tentativa de incluir
atividades de leitura no Ensino Médio para a formação dos chamados leitores
“socioemocionais”, que são capazes de exercer o diálogo. Desse modo, com esses
requisitos, é possível afirmar que a escola deve possuir o caráter formador de leitor,
mostrando-se presente desde os primeiros passos na educação, porém, diversas vezes, a
falha no cumprimento das diretrizes da BNCC pode levar a crises e dificuldades de
formar o leitor crítico no futuro.

Na última etapa da educação básica, quando se trata do Ensino Médio, este é o


período mais difícil na construção do leitor. Levando em conta as diretrizes citadas
anteriormente, e com base na realidade brasileira, vários alunos que chegam ao ensino
médio ainda possuem pontos a serem acertados em relação a literatura. Pautado no
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), durante os anos finais do ensino regular, há
um foco da BNCC para que se trabalhe conteúdos referentes a prova, apesar de o exame
se mostrar cada vez mais irrelevante quanto à literatura. Em algumas partes são
trabalhos o cânone literário e gêneros literários soltos, cultura de massa e cultura
juvenil. Pode-se concluir que há falta de planejamento para tratar de assuntos diversos
devido ao pouco tempo que a literatura dispõe, visto que a mesma não é uma disciplina
regular, mas apenas uma parte vinculada a outras. Enfim, ao final do ensino médio,
leitores e escritores não são formados como deveriam. Assim, a crise no ensino de
literatura reflete diretamente com a crise literária encontrada no Brasil e que necessita
intervenções.

Acredito que como professora em formação, a partir do momento que estou na


sala de aula, sou mediadora no que tange às práticas escolares de leitura literária. A
metodologia para ensinar literatura, considera por mim ideal, é a que tenha a
participação dos alunos como objeto principal, ou seja, um modo em que os alunos
participem da construção do conhecimento. Nesse sentido, ensino de literatura na sala
de aula é importante, pois desperta curiosidade no leitor, toca na sua sensibilidade e o
faz sonhar. Porém, é primordial que haja um modelo de leitura a partir do conhecimento
do aluno, ou seja, um modelo que realize a sua leitura. Também considero o valor
lúdico da literatura de extrema importância, e é um valor que foi deixado de lado, e que
tem por objetivo trazer o sentido da imaginação e da criatividade, o que desperta o
prazer pela leitura.
Após esta escrita, foi possível adentrar em alguns aspectos sobre o ensino de
literatura e também refleti-los. O contato com o atual cenário brasileiro mostra que a
construção de uma base sólida literária demanda diversas articulações e até políticas
para reverter o cenário. Não seria correto, portanto, que apenas o professor de Língua
Portuguesa e Literatura carregue consigo a tarefa árdua de moldar e converter os alunos
para o lado da literatura. Porém, o professor não deixa de ser um mediador importante
para a formação de leitores e, assim, é preciso que profissionais estejam conscientes do
seu trabalho e o adequem de acordo com a necessidade dos alunos.

Já citado anteriormente, novos meios de leitura chegam a todo momento,


portanto, pensar neles como um texto literário pode ser fundamental no ensino.
Mediante a BNCC, não é apresentada a relação explícita da leitura com os meios
digitais, porém, o documento sugere determinados tipos de síntese dos livros para serem
confeccionadas utilizando as mídias digitais. Tal progresso ajudaria na inserção da
literatura juntamente com outras esferas, porém, seria fundamental o documento
considerar também a produção de gêneros literários já inseridos no campo digital, que
estão se reinventando a cada dia, ou até mesmo promover debates sobre a presença do
texto literário em atividade que estão presentes na rotina dos alunos, além do eventual
trabalho utilizando os cânones para revisitar a nossa história.

Portanto, resta a comunidade brasileira, nos âmbitos educacionais, sociais e


políticos, compreender a relevância do texto literário e seu papel no desenvolvimento de
uma geração, a leitura se mostra a caminho para novos trilhos, e para dar continuidade
no progresso é imprescindível formar uma nação que além de ler, utilize a literatura
como forma de desenvolvimento, independente da área de atuação.

“Livros de todo feito, para todo feitio de leitores.” (JALOJO, p.9). Pautado
nesta afirmação de Marisa Jalojo, me recordo do meu livro preferido, O Pequeno
Príncipe. Este é um livro destinado ao público infantil, porém, me encantei com o livro
aos 20 anos de idade e ele deixou em mim uma bagagem de experiências que me define
como leitora e que reflete na minha formação humana e profissional. Acredito, também,
que fui bastante influenciada na leitura pela minha mãe. O hábito de ler foi estimulado
desde cedo pela minha mãe que também foi uma mãe leitora.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.


FRANCHETI, Paulo. Ensinar literatura para quê . Revista dEsEnrEdoS, ano I, n.
03, Teresina, nov./ dez. 2009.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa


Retratos da Leitura no Brasil. São Paulo. IBGE: 2016. Disponível em:
https://observatorio3setor.org.br/noticias/74-da-populacao-brasileira-nunca-comprou-
um-livro/. Acessado em: 19/01/2022.

LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores & leitura. São Paulo: Moderna, 2001.

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