Você está na página 1de 10

Filosofia- O conhecimento

1. Três tipos de conhecimento


 Epistemologia- termo grego para conhecimento
 Conhecimento por contacto- conhecimento que obtemos por experiência
direta ao contactarmos com pessoas, coisas e lugares.
Susana conhece todas as sonatas de Chopin.
 Conhecimento prático- conhecimento ligado à capacidade, aptidão ou
competência para fazer alguma coisa. “Saber-fazer”
Sei tocar guitarra.
 Conhecimento proposicional- aquele que um sujeito tem quando sabe que uma
proposição é verdadeira. De acordo com a análise tradicional, consiste em
crença verdadeira justificada. “ Saber-que”


Muitos portugueses sabem que Fernando Pessoa era um poeta.

1. Conhecimento a posteriori e a priori

 Conhecimento a posteriori ou empírico- baseia-se na experiência- não pode


basear-se apenas no pensamento. Ex.: A água é H2O.
 Conhecimento a priori- pode basear-se apenas no pensamento- mas também
pode ser obtido através da experiência. Ex.: 123+ 37= 160

1. Descrição do ato de conhecer

 Perspetiva fenomenológica do conhecimento- compreendemos o


conhecimento como um fenómeno que “aparece/surge” na consciência.

O sujeito só é sujeito com objeto

Sujeito Relação de dualidade


Objeto
(conhece) (ser conhecido)
O objeto só é objeto com um sujeito

 Relação de dualidade- ambos necessitam um do outro para existir

 Relação irreversível- o objeto nunca pode conhecer o sujeito e vice versa

1. Crença, Verdade e Justificação (cada uma é necessária, mas não suficiente)


Crença

 S acredita que P

 Para acreditar numa proposição não é preciso estar a pensar nela, basta aceitá-
la

 Se S não acredita que P, então não sabe que P


Verdade

 É verdade que P

 Para haver conhecimento, em suma, não basta que o sujeito tenha uma atitude
de crença. Também é preciso que o objeto da sua crença esteja de acordo com
a realidade. E só as proposições verdadeiras estão de acordo com a realidade.

 S sabe que P, se P for uma proposição verdadeira


Justificação
 S tem uma justificação adequada para crer que P

 Só há conhecimento quando o sujeito tem uma justificação adequada para a


sua crença

 S acredita em P pois tem justificação lógica para crer


Esta é a definição tradicional de conhecimento: só há conhecimento quando o sujeito
tem uma crença verdadeira e justificada.

1. As críticas à definição tradicional

 Existem contraexemplos a esta análise que sugerem que ter uma crença
verdadeira justificada não é suficiente para ter conhecimento
 O problema de Gettier surge desses contraexemplos. Este é o problema de
descobrir o que, além de ter uma crença verdadeira justificada, é necessário
para ter conhecimento

 O problema de Gettier coloca-se apenas se admitirmos que a justificação pode


ser falível. Se exigirmos que a justificação seja infalível, os contraexemplos
deixarão de existir e esse problema não se colocará. Porém, a aceitação desta
exigência leva à conclusão implausível de que qualquer crença que tenha
menor possibilidade de ser falsa nunca está justificada

1. O ceticismo

 Ceticismo radical- perspetiva segundo a qual não temos crenças justificadas e,


portanto, nada sabemos
 Dogmatismo- doutrina  que defende que o homem é capaz de alcançar
verdades e certezas absolutas , não dando importância aos factos ou
argumentos que possam pôr em dúvida este princípio.

1. Fontes de conhecimento

 Para o cético radical não há conhecimento

 Uma forma de contestar o argumento do cético radical consiste em alegar que


existem crenças justificadas básicas. Estas servem de base para a justificação de
outras crenças, mas elas próprias não estão justificadas por outras crenças.

 Existem duas fontes de conhecimento, a experiência(empirista) e a intuição


racional(racionalista)

 A experiência pode ser externa ou interna. A primeira é a observação, que


resulta do funcionamento dos nossos sentidos. A experiência interna é a
introspeção. Pela observação, podemos saber- e assim acreditar
justificadamente- que está a chover. Por introspeção podemos saber que
estamos alegres

 Pela intuição racional ou intelectual, reconhecemos a verdade de certas


proposições simplesmente pensando nelas. Por exemplo intuímos que 20-2=18
1. Empirismo e racionalismo

 Empirismo- perspetiva que privilegia a experiência como forma de


conhecimento, defendendo que todo o conhecimento é à posteriori

 Racionalismo- perspetiva que privilegia a intuição intelectual como fonte de


conhecimento. Para os racionalistas algum do conhecimento é à priori

1. Justificação e erro

 Infalibilismo- perspetiva segundo à qual uma crença justificada não pode ser
falsa

 Falibilismo- perspetiva segundo a qual uma crença justificada pode ser falsa

1. A busca da certeza

 A certeza psicológica, subjetiva, consiste na convicção mais forte possível

 A certeza epistémica, objetiva, consiste na justificação mais forte possível

1. A dúvida metódica

 Descartes é um infalibilista- só temos conhecimento genuíno quando


conseguimos justificar as nossas crenças de uma forma que exclua a
possibilidade de erros

 Dúvida metódica- consiste, em Descartes, na utilização de argumentos céticos


de modo a encontrar certezas e, assim, superar o ceticismo.

 De modo a encontrar um fundamento absolutamente seguro para o


conhecimento, devemos começar por rejeitar todas as crenças que admitam a
menor dúvida

 Dúvida é o método para chegar à certeza

 Talvez muitas das nossas crenças sejam verdadeiras, mas algumas serão falsas.
Segundo Descartes, o melhor é tratar como se fossem falsas todas aquelas
crenças que sejam duvidosas
 Através da dúvida metódica, talvez consigamos descobrir algumas crenças que
resistam a todas as tentativas de as pôr em dúvida. Essas crenças serão
certezas

 A dúvida é metódica, hiperbólica, provisória e radical:


• Metódica e provisória, é um meio para atingir a certeza e a verdade, não
constituindo um fim em si mesma.
• Hiperbólica, rejeita como se fosse falso tudo aquilo em que se note a mínima
suspeita de incerteza.
• Universal e radical, Incide não só sobre o conhecimento em geral, como
também sobre os seus fundamentos e as suas raízes.
• Provisória, porque depois de respondida não existe

1. Ilusões dos sentidos

 Para por em questão muito daquilo em que acreditamos, basta encontrar


razões para duvidar de que os sentidos são uma fonte de conhecimento.

 Os sentidos não são completamente fiáveis

 – O primeiro argumento para duvidar baseia-se nas ilusões dos sentidos, que
nos enganam em diversas ocasiões.

 – Aplicando o princípio hiperbólico da dúvida, Descartes conclui que não temos


justificação para acreditar em nada que tenha origem nos sentidos.

 – Em suma:
• Os nossos sentidos enganam-nos algumas vezes;
• Se os nossos sentidos nos enganam, então não podemos fazer se nos estão a
enganar neste momento ou não;
• Se não podemos saber se os nossos sentidos nos então a enganar, então não
podemos confiar nas informações adquiridas através deles;
• Logo, não podemos confiar nas informações adquiridas através dos sentidos.

 Ex.: imagem parece mover-se e está parada

1. O argumento do sonho
 Alguns sonhos são tão vívidos que não é possível distingui-los, com toda a
segurança, das perceções que temos enquanto estamos acordados, ou seja,
podemos estar a sonhar quando julgamos estar acordados

 Para o filósofo René Descartes, o sonho seria um indicativo evidente de que


não podemos ter certeza de que nossas experiências são pautadas na
realidade, dado que não haveria, sem um parâmetro sólido, como separar
realidade de sonho. Uma questão determinante para este argumento é a da
ideia de que podemos, por exemplo, ter certeza de que estamos acordados
mesmo quando estamos a sonhar, o que impossibilita uma diferenciação
advinda da perceção.

1. O génio maligno

 Dúvida cartesiana é hiperbólica: dúvida radical, que surge sempre que


encontramos alguma razão para suspeitar daquilo em que acreditamos.

 Talvez a nossa mente esteja a ser controlada por um ser extremamente


poderoso e inteligente, que faz tudo o que pode para nos enganar

 Descartes não está a dizer-nos que ele existe. Está apenas a colocar a hipótese
da sua existência. Não temos quaisquer razões para crer que esta hipótese é
verdadeira, mas também não podemos provar que é falsa

 Descartes também afirma que não podemos estra certos que o mundo físico
seja real, pois talvez as coisas que nos rodeiam não passem de alucinações
criadas pelo génio maligno.

1. O cogito

 Pela inferência -eu penso, logo existo- que ficou conhecida com cogito,
Descartes atingiu uma 1º certeza: descobre que ele mesmo existe com ser
pensante.

 Este não pode ser fundamentado pela experiência e tem de ser claro e distinto

1. O critério de verdade
 Tudo aquilo que percebemos com clareza e distinção é verdade

 As ideias ou perceções claras e distintas levam-nos infalivelmente à verdade.

 Estas perceções são intelectuais, não sensíveis

 A intuição racional ou intelectual é uma fonte de conhecimento

1. A existência de Deus

1. Argumento ontológico: esta prova é a priori porque não recorre à


experiência nem à observação mas à simples consideração da ideia de ser
perfeito. Sendo Deus um ser sumamente perfeito, que reúne todas as
perfeições no grau máximo possível então esse ser tem necessariamente
que existir. Um ser sumamente perfeito reúne as perfeições de ser
omnipotente, omnisciente e sumamente bom. Ora, segundo Descartes a
existência é uma perfeição pois é melhor existir do que não existir, assim
Descartes refletindo sobre o conceito de um ser sumamente perfeito chega
à conclusão de que a própria existência é uma das qualidades do ser
perfeito. Logo Deus tem que existir. Esta prova ontológica consiste em
mostrar que porque existe em nós a simples ideia de um ser perfeito e
infinito. Daí resulta que esse ser necessariamente tem de existir.

2. Argumento da causalidade: é a posteriori e Descartes conclui que Deus


existe pelo facto da sua ideia existir em nós. Esta prova consiste em mostrar
que, porque possuímos a ideia de Deus como ser perfeitíssimo somos
levados a concluir que esse ser efetivamente existe como causa da nossa
ideia da sua perfeição. De facto, como poderíamos nós ter a ideia de
perfeição se somos imperfeitos? E como poderia o menos perfeito ser
causa do mais perfeito. Deste modo Descartes conclui que se nenhum
homem possui tais perfeições deve existir algum ser perfeito que é causa da
nossa ideia de perfeição. Esse ser é Deus.

3. Argumento baseado na contingência do espírito: é a posteriori e Descartes


demonstra a existência de Deus a partir do facto de que não nos podemos
conservar a nós próprios. Se não podemos garantir a nossa existência e
apesar disso existimos então existe uma entidade que é criadora do ser
imperfeito e de si mesma. Essa entidade é Deus.
 Ideias inatas- são à priori e a 1º ideia inata é o cogito. Claras e distintas, ou seja,
são aquelas que se apresentam como tal evidência ao espírito humano
(pensamento) que não podemos duvidar da sua verdade nem as confundir com
outras. São ideias aprendidas intuitivamente e tem a sua fonte exclusivamente
na razão. São, segundo Descartes, as mais importantes. Uma das ideias inatas
é a noção de um ser omnipotente, omnisciente e sumamente bom

 Ideias adventícias- têm origem na experiência sensível

 Ideias factícias- são fabricadas pela imaginação

 Indubitável- não admite dúvida, evidente

1. Validação do critério de verdade

 Dado que Deus é sumamente bom, não é um ser enganador. Ou seja, Deus não
é um ser que malevolamente induz as suas criaturas em erro. Ele seguramente
não as dotou de capacidades intelectuais para fazê-las enganarem-se.

1. A realidade do mundo físico

 Podemos estar certos de que as nossas perceções sensíveis representam


objetos físicos reais. Podemos saber que são causadas por eles
 A prova da existência permite
- Afastar a hipótese do génio maligno:
- Confiar no critério de clareza e distinção das ideias
- Procurar as ideias claras e distintas e progredir no conhecimento – a
fonte fundamental de conhecimento é a razão e não a experiência
- Ter a certeza que as nossas perceções sensíveis correspondem à
existência de objetos físicos
 1) Tenho uma inclinação muito forte para acreditar que as minhas perceções
sensíveis são criadas por objetos físicos
2) Se eu estivesse enganado sobre esta forte inclinação, Deus seria enganador
3) Mas Deus não é enganador
4) Logo, a minha inclinação para acreditar que as minhas perceções sensíveis
são criadas por objetos físicos é correta

1. Mente e corpo

 Descartes recusa-se a identificar a sua mente com o seu corpo

 Se a nossa mente fosse a mesma coisa que o nosso corpo, não haveria qualquer
situação possível em que a nossa mente existisse, mas o nosso corpo não
existisse.

 Segundo Descartes, seres humanos são compostos por dois tipos diferentes de
substâncias que estão de alguma forma ligadas entre si. Por um lado, temos
corpos e fazemos parte do mundo físico. Segundo o filósofo, o corpo é uma
máquina feita de carne e osso. Porque o corpo é uma coisa física, está sujeito
às leis da física e está localizado no espaço e no tempo. Assim como os
humanos, os animais também são máquinas, e seu comportamento é
puramente um produto das leis mecânicas.

 Os seres humanos, no entanto, são os únicos que, além de corpos, também


possuem mentes. De acordo com Descartes, a mente (que é idêntica à alma) é
o seu eu “real”. Se eu perder um braço ou uma perna, o meu mecanismo
corporal estará comprometido, mas eu ainda sou uma pessoa tão completa
quanto antes. Porém, se perder a minha mente, não serei mais eu e deixarei de
existir.

 Essa conceção de Descartes pode ser chamada de dualismo mente-corpo ou


dualismo psicofísico. Como Descartes criou uma versão clássica dessa posição,
também é comumente referida, em sua honra, como dualismo cartesiano.

1. Críticas a Descartes

 É exclusivista: se é verdade que o racionalismo destacou o papel da razão no


conhecimento humano também não é menos verdade que ao fazê-lo, se
tornou exclusivista, já que a vê com única fonte de conhecimento verdadeiro e
à priori. O projeto racionalista cartesiano é uma visão explicitamente inspirada
pela matemática pois os aspetos cruciais da sua epistemologia são claramente
desenvolvidos por meio do raciocínio a priori
 É dogmática: Descartes pretende que, unicamente a partir do cogito seja
possível ao ser humano construir dedutivamente, conhecimento
absolutamente seguro, isto é, encontrar verdades universalmente válidas e
logicamente necessárias. A confiança desmesurada da razão conduz Descartes
ao dogmatismo
 É circular: para saber que as ideias claras e distintas são verdadeiras, Descartes
tem de saber que Deus existe e é perfeito; para saber que Deus existe e é
perfeito tem de se saber que as ideias claras e distintas, ideias inatas, são
verdadeiras. Por este motivo, Descartes é frequentemente acusado de incorrer
numa petição de princípio (argumento da circularidade)
 Afirma a existência como predicado: da perfeição de Deus, Descartes deduz a
sua existência, ora, a existência não é uma propriedade, é apenas uma
condição de possibilidade para que Deus tenha uma qualquer propriedade.
Kant, objetou contra este argumento afirmando que a existência não é um
predicado, ou seja, quando dizemos que algo existe não lhe estamos a atribuir
nenhuma qualidade em particular. Diz-se por isso que este argumento passa
ilegitimamente da ordem do pensar para a ordem do conhecer, da ordem
lógica para a ordem ontológica (critica ao argumento ontológico)

Solipsismo- Só somos pensamento; A crença de que, além de nós, só existem as nossas


experiências. O solipsismo é a consequência extrema de se acreditar que o
conhecimento deve estar fundado em estados de experiências anteriores e pessoais, e
de não se conseguir encontrar uma ponte pela qual esses estados nos deem a
conhecer alguma coisa que esteja além deles.

Você também pode gostar