Você está na página 1de 10

RETOMA | EDUCAÇÃO LITERÁRIA

PORTUGUÊS
11.º ano

Poesia Trovadoresca

Programa e Metas Curriculares de Português – 10.º ano

1. Poesia trovadoresca Contextualização histórico-literária.

- Cantigas de amigo (escolher 4)


- Cantigas de amor (escolher 2) Representações de afetos e emoções:
- Cantigas de escárnio e maldizer (escolher 2) - variedade do sentimento amoroso (cantiga de amigo);
- confidência amorosa (cantiga de amigo);
- relação com a Natureza (cantiga de amigo);
- a coita de amor e o elogio cortês (cantiga de amor);
- a dimensão satírica: a paródia do amor cortês e a
crítica de costumes (cantigas de escárnio e maldizer).

Espaços medievais, protagonistas e circunstâncias.

Linguagem, estilo e estrutura:


- cantiga de amigo: caracterização temática e formal
(paralelismo e refrão);
- cantiga de amor: caracterização temática;
- cantiga de escárnio e maldizer: caracterização
temática;
- recursos expressivos: a comparação, a ironia e a
personificação.

Fontes: Palavras 10, Areal Editores, 2018 (com adaptações)


Encontros 10, Porto Editora, 2018 (com adaptações)
I. Contextualização histórico-literária
A poesia trovadoresca situa-se na Época Medieval, tendo surgido no final do século XII, aquando da
formação das cortes senhoriais e do desenvolvimento da corte régia, o que possibilitou a produção cultural nobre,
designadamente a poesia lírica e satírica.
A poesia trovadoresca foi cultivada por trovadores na zona norte da Península Ibérica, nos reinos de
Portugal, Galiza, Castela, Leão e Aragão, entre os séculos XII a XIV.
A designação trovador é de origem provençal (região do sul de França) e designa os autores e intérpretes
que introduziram nas cortes composições poéticas de índole amorosa acompanhadas de música.
O idioma por excelência do lirismo peninsular é o galego-português.
A poesia medieval surge associada à música e ao canto e animava os serões da corte.
A poesia galego-portuguesa está compilada em vários cancioneiros: Cancioneiro da Vaticana, Cancioneiro
da Biblioteca Nacional e Cancioneiro da Ajuda.

• Tempo: entre finais do século XII e meados do século XIV (época do nascimento das
nacionalidades ibéricas e da Reconquista Cristã).
• Espaço: reinos de Leão e Galiza, reino de Portugal, reino de Castela.
• Produtores/agentes: trovadores e jograis (reis, filhos de reis, nobres, burgueses,
clérigos, elementos do povo).
• Língua: galego-português.

7Contexto de oral • Agentes: trovadores, jograis, soldadeiras (dançarinas).


produção
• Modalidade: cantiga (poesia cantada).

• Cancioneiros:
escrita – Cancioneiro da Ajuda
– Cancioneiro da Biblioteca Nacional
– Cancioneiro da Vaticana

2
II. Representações de afetos e emoções

As cantigas de amigo: origens, sentimentos, confidentes, relação com a Natureza

Origem Autóctone (noroeste peninsular)


Autor Trovador
Sujeito poético Uma donzela apaixonada
Objeto O amigo e amado
Confidentes A mãe, as amigas, a Natureza
Sentimentos Amor, saudade, nostalgia, alegria de viver
Ambiente Doméstico (a casa), rural (a fonte, o campo), a praia (junto ao mar)
Tema - As cantigas de amigo são composições poéticas, nas quais o sujeito poético é uma
donzela apaixonada, saudosa, inocente e, muitas vezes ingénua, que, dirigindo-se à
mãe, às amigas ou à natureza como confidentes, exprime os seus sentimentos face à
ausência do amado;
- São designadas cantigas de amigo, pois, em geral, a palavra «amigo» surge com o
significado de pretendente ou namorado;
- O trovador imagina os sentimentos de jovens donzelas apaixonadas e escreve como
se fosse uma mulher enamorada pelo seu amigo.

As cantigas de amor: a coita de amor e o elogio cortês

Origem Provençal
Autor Trovador
Sujeito poético Trovador
Objeto A «senhor»
Sentimentos Amor (coita de amor), saudade, nostalgia
Ambiente Palaciano
Tema - As cantigas de amor são composições poéticas, em que o trovador apaixonado presta
vassalagem amorosa à mulher como ser superior, a quem chama a sua «senhor»;
- Nas cantigas de amor, é no ambiente aristocrático que podemos entrever a aspiração
do trovador a uma mulher inatingível, a «senhor», que, por vezes, é casada ou de
condição superior. Por isso, o trovador coloca-se numa posição submissa de
vassalagem, evidenciando a coita (sofrimento) e prometendo amor à sua «senhor». A
cantiga de amor expressa, geralmente, um código amoroso artificial, baseado numa
relação de vassalagem característica da sociedade feudal. O homem assume uma
atitude de inferioridade face à mulher amada, elevando as qualidades femininas ao seu
expoente máximo, criando um elogio cortês.
- A coita de amor é a hiperbolização do sofrimento de amor que o sujeito masculino
exprime na cantiga de amor, perante a não correspondência amorosa da sua dona.

3
As cantigas de escárnio e maldizer: a paródia do amor cortês e a crítica de costumes

Cantigas de escárnio Cantigas em que o trovador troça de uma determinada pessoa indiretamente,
recorrendo ao duplo sentido e à ambiguidade das palavras, à ironia, à alusão e à
sugestão jocosa.
Cantigas de maldizer Cantigas em que o trovador ridiculariza determinada pessoa de forma direta, criticando
situações de adultério, amores interesseiros ou ilícitos, entre outros.
Sujeito poético Na poesia satírica, os trovadores satirizam o amor cortês e as mesuras a que ele
obrigava, retratam aspetos particulares da vida da corte e especialmente da boémia
jogralesa, a pobreza envergonhada de alguns nobres, a avareza de alguns ricos-
-homens, o fingimento da morte de amor nas cantigas de amor, entre outros temas
que possibilitavam a ridicularização individual e social.
Tema As cantigas de escárnio e de maldizer versam temáticas diversas da atualidade
medieval, nomeadamente a crítica de costumes. A paródia ao amor cortês concretiza-
se nestas composições na sátira à morte de amor e na crítica à hiperbolização das
qualidades da mulher amada.

4
III. Espaços medievais, protagonistas e circunstâncias

Os espaços privilegiados na cantiga de amigo estão geralmente relacionados com o quotidiano rural: a ida à
fonte, ao rio, à romaria. Na cantiga de amor, privilegia-se o ambiente da corte.
Os protagonistas das cantigas de amigo são a donzela e o amigo. Há geralmente referências a outros
intervenientes como a mãe, as amigas, as irmãs. Na cantiga de amor, o sujeito masculino e a dona ou senhor são os
protagonistas.
O universo da cantiga de amigo gira à volta dos anseios amorosos das jovens donzelas. Na cantiga de amor,
o homem presta vassalagem amorosa à sua dona, elogiando-a de forma exagerada.

IV. Linguagem, estilo e estrutura

Linguagem Cantigas de amigo


Simples e repetitiva; predomínio de alguns recursos expressivos como a apóstrofe, a
anáfora, a personificação e a metáfora. A linguagem é oralizante e recorre, com
frequência, à frase simples ou à coordenação.

Cantigas de amor, cantigas de escárnio e maldizer


Estas composições apresentam, geralmente, um vocabulário menos repetitivo,
ausência de refrão, recorrendo frequentemente à subordinação.

Estrutura Cantigas de amigo


Paralelismo (princípio da repetição e da simetria):
– repetição de palavras, versos inteiros, construções ou conceitos;
– leixa-pren – processo de encadeamento de estrofes que consiste na retoma de
versos.
• Refrão: repetição de um ou mais versos no final das estrofes.

Cantigas de amor, cantigas de escárnio e maldizer


A estrutura das cantigas de amor é variável, não havendo uma preocupação com as
regras do paralelismo, podendo a cantiga apresentar ou não refrão, como acontece
com as cantigas de mestria, um subgénero comum de cantigas de amor.

Os versos da poesia trovadoresca apresentam geralmente conformidade de sons no


final dos versos, podendo a correspondência ser apenas vocálica ou vocálica e
consonântica.

Recursos Cantigas de amigo – Predomina a comparação e a personificação.


expressivos Cantigas de amor – Predomina a comparação.
Cantigas de escárnio e maldizer – predomina a ironia.

5
O paralelismo
verso A
Paralelismo Estrofe 1 verso B
refrão
(cantigas de 1.º par ▪ No par de dísticos, os versos de
amigo) verso A’ cada estrofe repetem-se,
Estrofe 2 verso B’
refrão alterando-se apenas as palavras
finais, em posição de rima
verso B
Estrofe 3 verso C
refrão
2.º par
verso B’ ▪ O último verso de cada estrofe
Estrofe 4 verso C’ é o primeiro verso da estrofe
refrão
correspondente no par seguinte
verso C
Estrofe 5 verso D
refrão
3.º par
verso C’
Estrofe 6 verso D’ Adaptado de SARAIVA, António José, e LOPES, Óscar, 2005. História
da Literatura Portuguesa. 17.ª ed. Porto: Porto Editora (pp. 48-50)
refrão

6
POESIA TROVADORESCA EM EXAME

2015 | 734 | 1.ª FASE

7
2013 | 734 | 1.ª FASE

8
GRUPO I
2017 | 734 | 2.ª FASE

Leia a cantiga de Pero Garcia Burgalês. Se necessário, consulte as notas.

Roi Queimado morreu com amor


em seus cantares, par Santa Maria,
~
por u a dona que gram bem queria;
e, por se meter por mais trobador,
5 por que lh’ela nom quis [o] bem fazer,
feze-s’el em seus cantares morrer,
mais resurgiu depois, ao tercer dia.

~
Esto fez el por u a sa senhor
que quer gram bem; e mais vos ém diria:
10 por que cuida que faz i maestria,
enos cantares que fez, á sabor
de morrer i e des i d’ar viver;
esto faz el, que x’o pode fazer,
mais outr’omem per rem nono faria.

15 E nom á ja de sa morte pavor,


se nom, sa morte mais la temeria,
mais sabe bem, per sa sabedoria,
que viverá, des quando morto for;
e faz-[s’]em seu cantar morte prender,
20 des i ar vive: vedes que poder
que lhi Deus deu, – mais queno cuidaria!

E se mi Deus a mi desse poder


qual oj’el á, pois morrer, de viver,
ja mais morte nunca [eu] temeria.
A Lírica Galego-Portuguesa, ed. de Elsa Gonçalves e Maria Ana Ramos, 2.ª ed.,
Lisboa, Comunicação, 1985, p. 230.

NOTAS
á sabor / de morrer i e des i d’ar viver (versos 11-12) – tem gosto em morrer neles e depois voltar a viver.
ém (verso 9) – isso (o assunto).
faz i maestria (verso 10) – nisso mostra grande talento.
nono (verso 14) – não o.
per rem (verso 14) – por coisa nenhuma.
por se meter por mais trobador (verso 4) – para se mostrar melhor trovador.
qual oj’el á, pois morrer, de viver (verso 23) – que ele hoje tem, que é o de viver depois de ter morrido.
queno (verso 21) – quem o.

Prova 734/2.ª F. • Página 2/ 7


1. Com base na primeira estrofe do poema, explicite dois dos motivos pelos quais Roi Queimado é alvo da
sátiraade Pero Garcia Burgalês.

2. Refir de que modo a crítica inicial é desenvolvida na segunda e na terceira estrofes, destacando dois
a
aspetos relevantes.

3. Proceda à análise formal da d


cantiga, no que respeita à estrutura estrófic e à ri m
a.

4. Analise a importância da fina par a o sent ido ger al do poema .

Prova 734/2.ª F. • Página 3/ 7

10

Você também pode gostar