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Filosofia da Religião
A Religião e Deus Estudado à Luz da Filosofia
© Copyright 2004, Escola de Teologia do ES
UNIDADE I
A FILOSOFIA DA RELIGIÃO
Introdução............................................................................................................................................................4
O que é religião....................................................................................................................................................5
O que é Filosofia................................................................................................................................................06
O valor da Filosofia.............................................................................................................................................07
As principais disciplinas de Apoio à Filosofia.....................................................................................................07
UNIDADE II
COMO SÃO JUSTIFICADAS AS CRENÇAS?
A crença é a verdade.........................................................................................................................................09
O relacionamento entre Razão e Fé..................................................................................................................09
A Revelação somente........................................................................................................................................09
A razão somente................................................................................................................................................10
A razão sobre a Revelação...............................................................................................................................10
A revelação acima da Razão.............................................................................................................................11
A Revelação e a Razão.....................................................................................................................................12
UNIDADE III
O QUE SE QUER DIZER COM DEUS?
Introdução..........................................................................................................................................................14
O conceito Teísta de Deus.................................................................................................................................14
O conceito Deísta de Deus................................................................................................................................16
O conceito Panteísta de Deus...........................................................................................................................17
O conceito Panenteísta de Deus........................................................................................................................17
O conceito Finito de Deus..................................................................................................................................18
UNIDADE IV
DEUS EXISTE?
Conceito de Deus.............................................................................................................................................19
Argumentos a partir da idéia de Deus..............................................................................................................19
Argumentos a partir da natureza de Deus........................................................................................................19
A justificativa do Cetismo..................................................................................................................................22
Temos razão suficiente para crer em Deus......................................................................................................21
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................................................26
“A necessidade do Ser Humano de tentar explicar o absoluto levou a Filosofia a estudar a Religião”.
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INTRODUÇÃO
A religião é estudada pela história, pela psicologia, pela fenomenologia, pela psicanálise e
pela sociologia. Todas essas ciências estudam metodicamente a consciência religiosa
A palavra "filosofia" vem do grego é uma composição de duas palavras: philos, que siginifica
amizade, amor e sophia, que se traduz como sabedoria ou saber. Filosofia significa, então,
amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber; e o filósofo, por sua vez, seria aquele
que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
A Filosofia da Religião é um ramo filosófico que investiga a esfera espiritual inerente ao
homem, do ponto de vista da metafísica, da antropologia e da ética. Ela levanta
questionamentos fundamentais, tais como: o que é a religião? Deus existe? Há vida depois
da morte? Como se explica o mal? Estas e outras perguntas, idéias e postulados religiosos
são estudados por esta disciplina.
Ela tenta esclarecer ou saber sobre a religião na existência humana.
A filosofia da religião não fundamenta, nem inventa a religião, mas tenta esclarecê-la,
servindo-se da filosofia.
O QUE É A RELIGIÃO
Desde a Antiguidade, por religião entende-se a relação do homem com Deus ou com o
divino. Mas logo a consciência crítica indaga: O que é o homem? O que é Deus? O que é
religião?
A religião realiza-se na existência humana. O homem sabe-se relacionado e determinado
por algo que é maior do que ele mesmo. Assim sua existência religiosa do homem se
constitui a partir do divino. Por isso, na filosofia da religião, não se fala só do homem, mas
também daquilo que é diferente dele, que o transcende.
Religião (do latim: religare), significa religação com o divino, e é um conjunto de crenças
sobre as causas, natureza e finalidade da vida e do universo, ou a relação dos seres
humanos ao que eles consideram como santo, sagrado, espiritual ou divino. Muitas
religiões têm narrativas, símbolos, tradições e histórias sagradas que se destinam a dar
sentido à vida. Elas tendem a derivar em moralidade, ética, leis religiosas ou em um estilo
de vida preferido de suas idéias sobre o cosmos e a natureza humana.
A palavra religião por vezes é usada como sinônimo de fé ou crença, mas a religião difere da
crença pessoal na medida em que tem um aspecto público. A maioria das religiões têm
comportamentos organizados, incluindo as congregações para a oração, hierarquias
sacerdotais, lugares sagrados, e/ou escrituras.
O QUE É A FILOSOFIA
Filosofia significa literalmente ―amor à sabedoria‖ e é o estudo de problemas fundamentais
relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e éticos, à mente e
à linguagem. Ao abordar esses problemas, a filosofia se distingue da mitologia e da religião
por sua ênfase em argumentos racionais; por outro lado, diferencia-se das pesquisas
científicas por geralmente não recorrer a procedimentos empíricos em suas investigações.
Entre seus métodos, estão a argumentação lógica, a análise conceptual, as experiências de
pensamento.
De acordo com os filósofos gregos, o homem ignorante não pode ser genuinamente feliz.
Sócrates, cuja máxima: "A vida não examinada não é digna de ser vivida" é freqüentemente
citada, foi a concretização do filósofo ideal, ou amante da sabedoria. O conceito clássico da
filosofia ("conhecer o bem e praticá-lo") também fazia parte central do pensamento dos dois
maiores filósofos gregos, Platão e Aristóteles. Mesmo assim, esta abordagem filosófica tem
sido cada vez menos influente nos séculos recentes.
O VALOR DA FILOSOFIA
Devemos responder à pergunta: Para que estudar a filosofia? Alguns filósofos
considerariam tal pergunta indigna de receber uma resposta, e a indicativa da mentalidade
pragmática, norte-americana que quer saber: "Que vantagem tiro eu disto?" e "Que bem me
fará?" Tais filósofos diriam que a filosofia tem sua própria justificação inerente; não precisa
de qualquer justificativa instrumental ou externa. É possível enumerar alguns bons motivos
para se dedicar ao estudo da filosofia.
Compreender a Sociedade
A compreensão e a apreciação da filosofia ajudarão a pessoa a compreender sua sociedade.
A filosofia tem uma influência profunda sobre a formação e o desenvolvimento de ins-
tituições e de valores. Não devemos subestimar a importância de idéias em moldar a socie-
dade. Por exemplo, o respeito com que se trata o indivíduo e a liberdade são, em grande
medida, o produto do pensamento ocidental. A filosofia nos ajuda a perceber o que está
envolvido nas "grandes perguntas" que indivíduos e sociedades devem fazer.
O Desafio Cristão
O cristão tem interesse específico pela filosofia, e a responsabilidade de estudá-la. A
filosofia será tanto um desafio à sua fé quanto uma contribuição ao entendimento da fé.
Alguns cristãos sentem suspeita da filosofia porque ouviram histórias acerca doutras
pessoas que perderam sua fé através do estudo da filosofia. Foram aconselhados a evitar a
filosofia como a peste. Após reflexão séria, fica sendo claro que este conselho não é sábio
enfrentar o desafio intelectual levantado contra ele. O resultado de tal desafio não deveria
ser a perda da fé, mas, sim, a possessão, de valor inestimável, de uma fé mais enraizada e
madura.
A Epistemologia
A epistemologia, ou a investigação da origem e da natureza do conhecimento, é um dos
campos principais da filosofia. Como conhecemos alguma coisa? Quando é justificada a
alegação de que alguém sabe? É possível o conhecimento indubitável (certo) acerca de
qualquer coisa? A percepção
sensória nos dá informações fidedignas acerca de um mundo de objetos físicos? Temos
consciência direta do mundo físico? Nossas percepções dos objetos são idênticas a esses
objetos? As perguntas da epistemologia não são as perguntas da psicologia ou da ciência
natural, embora, também certos resultados destas duas ciências possam ser relevantes ao
epistemólogo.
A Metafísica
Para o novato na filosofia, a metafísica parece ser, logo de início, o mais misterioso e de mau
presságio de todos os campos da filosofia. O próprio nome traz à tona imagens de doutrinas
abstratas e difíceis. A metafísica, na realidade, recebeu seu nome de um modo muito
simples. O nome provém de uma palavra grega que significa "depois da física‖.
Através do uso do termo, este veio a significar "além" do físico. Daí, a metafísica, pelo
menos para alguns filósofos, é o estudo do ser ou da realidade.
Alguns exemplos do estoque das perguntas metafísicas tradicionais são os seguintes. Quais
são as partes constituintes fundamentais e objetivas da realidade? Qual é a natureza do
espaço e do tempo? Todo evento deve ter uma causa? Muitas das perguntas hoje estão mais
estreitamente relacionadas com a natureza e a vida dos seres humanos, perguntas tais
como: O homem tem livre arbítrio? As intenções causam alguma coisa?
“Tradicionalmente (desde Platão), para alguma coisa ser conhecida tinha pelo menos de ser crida por alguém,
e tal crença tinha de ser verdadeira”.
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Uma das questões mais básicas que confrontam o cristão na filosofia é como relacionar a
fé com a razão. Que papel tem a revelação em determinar a verdade filosófica, se é que tem
algum papel? Inversamente, que papel, se tiver algum, a razão desempenha em determinar
a verdade divina? Estas não são perguntas fáceis, e os cristãos têm respondido a elas de
maneiras diferentes. Antes de ser possível entender estes pontos de vista, os termos
revelação e razão devem ser definidos. A "revelação" é um desvendamento sobrenatural por
Deus de verdades e não poderiam ser descobertas pelos poderes da razão humana, sem
ajuda. A "razão" é a capacidade natural da mente humana descobrir a verdade. As soluções
à questão de qual método é uma fonte fiel da verdade são divisíveis em cinco categorias
básicas; (1) a revelação somente; (2) a razão somente; (3) a revelação sobre a razão; (4) a
razão sobre a revelação; e (5) a revelação e a razão.
A Revelação Somente
Alguns filósofos têm alegado que somente a revelação pode ser considerada uma fonte
legítima do conhecimento do homem. Tais pensadores revelam uma desconfiança na razão.
Sören Kierkegaard - Segundo Sören Kierkegaard (1813-1855), o pai do existencialismo
moderno, a mente humana é totalmente incapaz de descobrir qualquer verdade divina. O
que não é uma verdade.
O estado caído do homem – Para Sören Kierkegaard o homem está alienado, pelo pecado,
de um Deus santo. Realmente, Deus é uma "ofensa" a homens que estão num estado
perpétuo de rebelião contra Ele. O homem padece do que Kierkegaard chamava uma
"doença mortal" (o título de uma das suas obras). A própria natureza do pecado do homem
torna impossível para ele conhecer a verdade acerca de um Deus pessoal, visto ser este o
próprio Deus a quem está o homem está rejeitando.
A transcendência de Deus. Pela crença da ―revelação somente", Deus não somente é uma
ofensa à vontade do homem, como também Ele é um "paradoxo" à razão do homem. A
verdade cristã pode ser conhecida somente por aquilo que Kierkegaard chamava um "salto
da fé."
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 9
Conforme Kierkegaard, qualquer tentativa racional no sentido de comprovar a existência de
Deus é uma ofensa contra Deus.
As provas são desnecessárias para os que acreditam em Deus, e não convencem os que não
acreditam. A única "prova" do cristianismo é o sofrimento, conforme Kierkegaard, pois
Jesus disse: "Vem, toma a tua cruz, e segue-me" (Marcos 10.21b). As evidências históricas
não ajudam. Kierkegaard perguntou: A felicidade eterna pode ser baseada em eventos
históricos? Sua resposta era um "não!" enfático e ressoante. Como cristão, Kierkegaard
acreditava que Deus entrou no tempo em Cristo. Acreditava, também, que os eventos da
vida de Cristo eram históricos, inclusive Seu nascimento virginal, Sua crucificação, e Sua
ressurreição corpórea.
Mesmo assim, Kierkegaard acreditava que não havia meio algum de ter absoluta certeza
que estes eventos realmente ocorreram, a não ser pela fé. Sabemos que isso não verdade,
pois a existência de Jesus é comprovada historicamente. Além disto, Kierkegaard acreditava
que a historicidade destes eventos não era nem quer importante. O fato significante não é a
historicidade de Cristo (em tempos passados) mas, sim, a contemporaneidade de Cristo (no
presente) dentro do crente, pela fé.
Karl Barth
Um dos teólogos mais famosos da Igreja Cristã contemporânea é KarI Barth. Como
Kierkegaard, Barth argumentava que Deus é "Totalmente Outro" e que pode ser conhecido
somente através da revelação divina. A necessidade da revelação sobrenatural. Barth,
também, acreditava que o homem caído é incapaz de conhecer um Deus
transcendentemente santo. Barth sustentava que todas as tentativas de se chegar a Deus
mediante a razão eram fúteis
Barth, no entanto, sustentava que aquilo que o homem não pode fazer "de baixo para cima"
mediante a razão, Deus fez "de cima para baixo" mediante a revelação sobrenatural. Para
Barth, a Bíblia é a localidade da revelação de Deus. É o instrumento através do qual Deus
fala. De si só, a Bíblia é apenas o registro preposicional da revelação pessoal de Deus ao Seu
povo, mas a Bíblia fica sendo a Palavra de Deus para nós à medida em que Deus fala
através das suas palavras humanas.
Para Barth Deus não nos fala através da revelação natural, ou seja, através da natureza,
porque o homem está caído e, portanto, obscureceu e distorceu completamente a revelação
de Deus na natureza.
Temos a plena certeza de que Deus se revela ao homem também pela razão e pela revelação
natural, pois lemos na Bíblia: "Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a
obra das suas mãos". (Salmos 19:1).
Barth era enfático em dizer que a mente humana não tem capacidade alguma para conhecer
a Deus.
Emanuel Kant
Emanuel Kant era de tradição luterana, devota e piedosa. Na sua famosa Crítica da Razão
Pura, que lançou os alicerces para boa parte do agnosticismo moderno.
Kant não disse, nem acreditava, que não houvesse revelação sobrenatural da parte de Deus
na Bíblia. Insistia, porém, que devemos julgar toda a revelação sobrenatural por meio da
"razão".
Benedito Spinoza
Um exemplo ainda mais radical do conceito da "razão somente" é o filósofo judeu, Spinoza.
Espinosa não acreditava na imortalidade da alma, nem nos milagres, nem num deus estilo
juiz de última instância, de barbas brancas, sentado num púlpito. Espinosa achava que estas
eram formas humanas primitivas de representar Deus. E também não tinha em grande
conta as instituições religiosas, com os seus rituais, proibições, hierarquias e anátemas.
Para Espinosa, tudo o que ocorre está determinado pelas leis necessárias da natureza. E
Deus mais não é do que esta natureza inexorável. O pensamento modal de Espinosa é
tipicamente racionalista.
A REVELAÇÃO E A RAZÃO
A última categoria consiste naqueles cristãos que acreditam que há um interrelacionamento
entre a revelação e a razão. Dois grandes pensadores estão dentro desta tradição: Agostinho
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 12
e Aquino.
Santo Agostinho
Agostinho (354-430) veio ao cristianismo de uma tradição de filosofia platônica, ao passo
que Aquino escrevia numa tradição aristoteliana. Os dois homens, no entanto, acreditavam
na injunção Bíblica (Isaias 7:9), "Se não crerdes, não entendereis." O relacionamento básico
da razão e da revelação é que o cristão pensativo procura tornar o crível inteligível. Procura
raciocinar acerca da sua revelação, e dentro dela.
Nas palavras de Agostinho, "a fé é o caminho do entendimento." Sem ter fé primeiramente,
a pessoa nunca viria a um pleno entendimento da verdade de Deus. A fé inicia a pessoa no
conhecimento. Neste sentido, Agostinho acreditava plenamente que a fé na revelação de
Deus é prévia à razão humana.
Agostinho também sustentava que ninguém em tempo algum acredita nalguma coisa antes
de ter alguma compreensão daquilo em que deve crer. Na realidade, Agostinho pensava
que ninguém deveria acreditar numa revelação que não tiver primeiramente julgado digna
de crença à luz da boa razão.
Mas visto que Agostinho acreditava que a fé é antes da razão, parece melhor chamar seu
ponto de vista de "revelação e razão." O entendimento é o galardão da fé. Ao passo que
Agostinho acreditava que "a fé é o caminho do entendimento" também acreditava que "o
entendimento é o prêmio da fé." O prêmio pela aceitação da revelação de Deus, mediante a
fé, é que a pessoa tem um entendimento mais pleno e completo da verdade.
Tomás Aquino
Aquino (1224-1274) considerava-se um seguidor fiel de Agostinho. Muitos filósofos
sustentam que a diferença básica entre eles é que Aquino tomou a verdade cristã de
Agostinho e a colocou na terminologia de Aristóteles (ao invés da terminologia de Platão,
que Agostinho empregou). Além disto, realmente parece haver uma mudança de ênfase,
porque Aquino ressalta o papel da razão mais do que Agostinho; pelo menos fala mais
acerca deste papel. A existência de Deus pode ser comprovada.
Aquino sustentava que, com a ajuda da revelação, o homem pode chegar a entender certas
verdades de Deus e até mesmo "comprová-las" filosoficamente.
Sabemos mediante a razão que Deus existe, mas é somente pela fé que sabemos que há três
pessoas num só Deus. Somente a revelação é base para a crença em Deus.
A evidência razoável é apoio para a crença. A fé em Deus não é baseada na evidência mas
sim, na autoridade do próprio Deus mediante Sua revelação. Mesmo assim, o crente tem
apoio razoável para sua fé nas evidências e milagres experimentais e históricos.
Desta maneira, Aquino aparentemente estava de acordo com Agostinho a respeito do inter-
relacionamento entre a razão e a revelação.
”Um pouco de filosofia leva a mente humana ao ateísmo, mas a profundidade da filosofia leva-a para a
religião”.
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Embora a maioria das pessoas tenha alguma crença em Deus, seus conceitos de Deus
variam grandemente. Basicamente, há cinco maneiras diferentes de considerar a Deus:
O teísmo, que sustenta a existência de um Deus que está tanto além do mundo como
dentro d’Ele (Deus é transcendente e imanente);
O deísmo, que acredita que Deus está além do mundo mas não dentro do mundo
(Deus é transcendente mas não imanente);
O panteísmo, que acredita que Deus está no mundo mas não além d’Ele. Deus é o
mundo (Deus está imanente no universo, mas não transcendente sobre ele);
O paneteísmo, que sustenta que Deus está no universo assim como a alma está no
corpo. Ou seja: o universo é o "corpo" de Deus, e Deus é a "alma" do universo;
O deísmo finito acredita que Deus está além do universo mas não no controle
supremo d’Ele (em contraste com o teísmo).
Há, naturalmente, muitas variações dentro destas cinco categorias de crença. Por exemplo,
muitos deístas finitos acreditam que há apenas um deus finito (o monoteísmo finito); outros
acreditam que há muitos deuses finitos, com um que é supremo entre eles (henoteísmo); e
ainda outros acreditam que há muitos deuses, cada um com sua própria esfera de atividade
(politeísmo). Mas para os propósitos de classificação, podemos pensar primariamente em
cinco conceitos diferentes de "Deus".
O deísta acredita que a falta de intervenção de Deus seja devida ao fato de que ―Ele não
deseja interferir‖ com nossa vida. Alguns acreditam que seria uma má reflexão do caráter
de Deus como um Criador perfeito se tivesse constantemente de "consertar" Sua criação por
intervenções milagrosas. Outros simplesmente ressaltam o desejo de Deus no sentido de
que o homem, como criatura livre e autônoma, deva "viver por conta própria."
Seja qual for a razão, porém, os deístas negam o fato dos milagres, ou pelo menos sua neces-
sidade no relacionamento entre Deus e o mundo.
Avaliação do Deísmo
O Relacionamento entre Deus e o Mundo
O deísmo é edificado sobre um modelo mecanicista, alegando-se que Deus é o fabricante da
máquina. Mesmo assim, o teísta rejeita o modelo mecânico, preferindo um pessoal. Deus tem
relacionamento conosco mais como um pai com seus filhos. E qual pai não "interviria" para
salvar seus filhos necessitados? Quanto a isto, alguns teístas indicaram que nada é
realmente causado pela lei natural. A lei natural simplesmente descreve o que é causado por
Deus. Por exemplo, uma lei matemática nos informa que se alguém tem cinco moedas no
seu bolso e coloca mais três moedas no seu bolso, deverá então ter oito moedas ali. Mas essa
lei da matemática nunca poderá colocar qualquer moeda no bolso daquela pessoa. Da
mesma maneira, uma lei natural é apenas uma maneira de descrever como Deus faz as
coisas acontecerem de modo regular, e não é em si mesma uma causa de coisa alguma.
A natureza da criação
O panteísta crê na criação ex nihilo (a partir do nada), como no teísmo.
“A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia”.
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CONCEITO DE DEUS
O Desígnio no Universo
Imaginemos um relógio. Alguém o fez. Com certeza não existiria do nada. Alguém vir a
declarar que não existiu um engenheiro que construiu o relógio, e que este veio a existência
de repente, seria o mesmo que ridicularizar a inteligência e a própria razão humana. Da
mesma forma, é uma grande insensatez presumir que o universo simplesmente apareceu ou
―aconteceu‖.
―O exame dum relógio revela que ele leva os sinais de desígnio porque as diversas peças
são reunidas com um propósito prévio. Elas são colocadas (designadas) de tal modo que
produzem movimentos e esses movimentos são regulados de tal maneira que marcam as
horas. Disso inferimos duas coisas: primeiramente, que o relógio teve alguém que o fez, e
em segundo lugar, que o seu fabricante compreendeu a sua construção, e o projetou com o
propósito de marcar as horas. Da mesma maneira, observamos o desígnio e a operação dum
plano no mundo e, naturalmente, concluímos que houve alguém que o fez e que sabiamente
o preparou para o propósito ao qual está servindo‖.
Se o desígnio e a formosura evidenciam-se no universo, logo, o universo deve ser obra dum
Arquiteto. Este arquiteto deve ser dotado de inteligência suficiente para explicar sua obra,
da mesma forma que um relojoeiro explica a construção do seu relógio. ―Assim como um
relógio indica um relojoeiro, as evidências do plano e propósito do mundo apontam para
um Criador com propósito‖.
Existem leis no universo que invariavelmente são cumpridas. Como surgiram essas leis?
Quem as estabeleceu? Isso implica necessariamente na presença de um legislador uma vez
que existem leis. Pois sem lei, não há a necessidade de um legislador.
O corpo humano, é algo fantástico, condizendo com um Criador Sábio, todas as suas partes
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 21
se ajustam perfeitamente umas às outras e todas elas cooperam para o bom funcionamento
do corpo humano. O universo mostra sinais de ordem e desígnio; portanto, deve haver um
Planejador; e Deus, por definição, é o Criador e Planejador. Portanto, Deus existe.
―Se as coisas materiais estão sujeitas a leis, foram colocadas debaixo delas pelo Criador, e
assim aqueles processos maravilhosos que vemos na natureza são em si mesmos indicações
admiráveis da mente e do poder divino‖.
A ordem e organização útil em um sistema evidenciam inteligência e propósito na causa
que o originou; portanto, o universo tem uma causa inteligente e livre por ser caracterizado
por ordem e organização útil. ―O desenho revela o desenhista‖, e, portanto, a formação do
mundo revela a existência de um Criador.
O Fator da Intuição
Nossos próprios pensamentos implicam em um Deus que pensa, ou seja, a própria idéia de
Deus já é uma prova suficiente de Sua existência. É sugerido que todos os homens já tem a
idéia de Deus intuitivamente, e daí também encontramos prova de sua existência.
A mente humana aceita as evidências dos argumentos a favor de um Criador antecedente
ao Universo, com potência suficiente para criar a matéria do nada, com a sabedoria
necessária para governar e ordenar o universo; e com a santidade e justiça necessárias para
dar ao homem sua consciência e moralidade; pois atribuímos ao Ser que tem tais atributos
em grau sobre-humano a eternidade e a perfeição em todos os Seus atributos.
A História Humana
―A marcha dos eventos da história universal fornece evidência de um poder e duma
providência dominantes. Toda a história bíblica foi usada para revelar Deus na história, isto
é, para ilustrar a obra de Deus nos negócios humanos‖.
Na história da humanidade, notamos o surgimento de grandes nações, bem como o seu
declínio da mesma forma. O engrandecimento de uma nação se dera ao fato de que temera
a Deus e observara-lhe os preceitos; o seu declínio se dera pelo fato de afastar-se das leis
morais do Legislador, a desobediência trouxe o desaparecimento do poderio que muitas
nações tiveram no passado, como exemplo, cito: Babilônia, Grécia, Roma, etc. A maneira
pela qual Deus trata com as nações, ou com indivíduos sugere sua ativa presença nos
negócios realizados pela natureza humana. A transformação de vidas pelo poder do
cristianismo é um bom exemplo. Pessoas que estavam escravizadas ao pecado, agora vivem
vidas exemplares.
O Consenso Comum
A crença na existência de um Ser Supremo é intuitiva. Desde os tempos mais remotos, há no
coração do homem uma consciência religiosa ou uma consciência da divindade. Quase
todas as nações e povos da terra, têm a crença num Ser Sobrenatural a Quem oram e a
Quem adoram. O homem, por causa de sua constituição, em tempos de calamidade, de
aflição, de angústia, de desespero, de grande perigo, ou perante a morte, sem sequer pensar
em suas ações, busca a um Ser Sobrenatural, ora a Ele, porque é uma criatura dependente,
reconhece a existência de um Ser Supremo, a Quem, por meio de sua consciência, reconhece
como Seu Criador e a Ele recorre instintivamente.
―Em qualquer lugar onde se fale uma língua humana, por mais inculta e pobre que seja,
nela sempre aparecerá um nome: Deus. Ora, essa idéia da existência do Criador espalhada
na consciência de todos os povos leva a concluir que um sentimento comum a todos os
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 22
seres humanos não pode ser falso‖.
A crença na existência de Deus é praticamente tão difundida quanto a própria raça humana.
Alguns podem objetar a isso dizendo que certas raças não crêem em Deus. O simples fato
de existir a idolatria, ou seja, a adoração de algo, ou alguém ou de deuses, já é fator
indicador que o homem procura algo para prestar culto e que tem a consciência religiosa
em seu ser. O homem certamente possui uma natureza religiosa e por isso procura um
objeto para dirigir sua adoração.
―O homem é incuravelmente religioso‖, que no sentido mais amplo inclui: (1) A aceitação
do fato da existência dum ser acima das forças da natureza. (2) Um sentimento de
dependência de Deus (ou de um Deus) como quem domina o destino do homem; este
sentimento é despertado pelo pensamento de sua própria debilidade e pequenez e pela
magnitude do universo; (3) A convicção de que se pode efetuar uma união amistosa (com a
divindade, seka ela qual for) e que nesta união ele, o homem, achará segurança e felicidade.
Desta maneira vemos que o homem, por natureza, é constituído para crer na existência de
Deus (ou da divindade).
O CETICISMO
A palavra Ceticismo é derivada do verbo grego sképtomai, que significa ―examinar‖ ou
"observar" e é a doutrina que afirma que não se pode obter nenhuma certeza absoluta a
respeito da verdade. Ceticismo o que implica numa condição intelectual de questionamento
permanente e na inadmissão da existência de fenômenos metafísicos, religiosos e dogmas .
O ceticismo costuma ser dividido em duas correntes: O Ceticismo filosófico e o Ceticismo
científico.
Ceticismo Filosófico
O Ceticismo filosófico originou-se a partir da filosofia grega. Uma de suas primeiras
propostas foi feita por Pirro de Élis (360-275 a.C.), que viajou até a Índia numa das
campanhas de Alexandre, o Grande para aprofundar seus estudos.
O ceticismo filosófico tenta refutar a concepção absoluta de verdade e mentira e defende
que a certeza absoluta do conhecimento é impossível.
Ou seja,o ceticismo filosófico é procurar saber, não se contentando com a ignorância
fornecida atualmente pelos meios públicos, por meio da dúvida. Opõem-se ao dogmatismo,
que defende que alguns dogmas são indubitáveis e não sujeitos a qualquer tipo de revisão
ou crítica. Dogmatismo é uma atitude natural e espontânea que temos desde criança. É uma
tendência a crer que o mundo é do jeito que aprendemos.
O FINITISMO: O BEM NÃO TEM PODER INFINITO NA SUA LUTA CONTRA O MAL
Basicamente, o deísmo finito, embora não negue nem o mal nem a realidade de Deus, nega
a infinitude de Deus. Deus ou não é infinito no amor e não Se importa em vencer o mal
(chamado sadismo), ou, não é infinito em poder e não poder vencer o mal. Poucos ressaltam
o primeiro ponto de vista, mas muitos têm sustentado o último. O argumento básico em
prol do finitismo é o seguinte:
(1) Deus existe.
(2) Se Deus fosse onipotente, destruiria todo o mal.
(3) O mal não está destruído.
(4) Logo, Deus (ainda que deseje destruir o mal) não é onipotente.
Há pelo menos duas falhas sérias neste ponto de vista. Primeiramente, mesmo se Deus não
soubesse o que criaturas livres fariam, sabia, decerto, o que poderiam fazer quando as fez
livres. Em segundo lugar, se Deus é um Ser eterno, conforme os teístas tradicionalmente
têm sustentado, é, pois, incorreto falar d’Ele sabendo "de antemão." Se Deus está acima do
tempo, logo, sabe tudo num único agora eterno. Ou seja: não sabe realmente de antemão:
simplesmente sabe. E se Deus sabe no eterno presente aquilo que flui da criação, logo, sabe o
mal que flui daí. Além disto, os impossibilistas têm dificuldade em justificar o argumento
de que Deus não possa saber atos futuros livres.
Primeiramente, Deus terá compartilhado Seu amor com todos os homens ("Porque Deus
amou ao mundo de tal maneira" Jo 3.16). Em segundo lugar. Deus terá salvo tantos quanto
podia salvar sem violar o livre arbítrio d’Eles (I Tm 2.1; II Pe 3.9).
Os que não forem salvos receberão o destino que eles mesmos livremente escolheram; logo,
o bem da sua liberdade será respeitado. Finalmente, no decurso de tudo Deus será
glorificado sendo que: a) Prevaleceu Sua vontade soberana;
b) Seu amor é engrandecido, quer seja aceito, quer seja rejeitado;
c) Ele derrotou o mal por meio de perdoar o pecado (mediante a cruz) e por meio de separar
o bem do mal para sempre (mediante o juízo final);
d) Produziu o melhor mundo que é possível conseguir (onde o maior número possível de
homens é salvo, e mantido fora do alcance do mal para sempre).
Há dois aspectos muito importantes desta teodicéia que devem ser ressaltados. Primei-
ramente, é uma teodicéia da "melhor maneira" (em contraste com o "melhor mundo"). Ou
seja: este presente mundo mau não é o melhor mundo possível, mas é a melhor maneira de
se galgar o melhor mundo. Permitir o mal é uma condição prévia de produzir o melhor
mundo.
Em segundo lugar, esta solução não é uma teodicéia da alma que faz, mas sim, da alma que
decide.
Não se concebe de Deus como sendo um manipulador cósmico do comportamento, que está
programando as pessoas a entrar no céu contra a vontade delas. Deus opera com os homens
apenas com seu "consentimento informado." Deus nunca vai além da liberdade e da
dignidade para salvar os homens custe o que custar não ao custo da liberdade ou dignidade
d’Eles. Todo aquele que quiser poderá vir, mas todo aquele que não quer não será forçado a
vir. Num mundo verdadeiramente livre.
BROWN, Colin – FILOSOFIA & FÉ CRISTÃ - 2ª Edição, São Paulo, Editora Vida Nova, 1999.
ZILLES, Urbano – FILOSOFIA DA RELIGIÃO - 3ª Edição, São Paulo, Editora Paulus, 1991.
GEISLER, Norman L. e FEINBERG, Paul D. – INTRODUÇÃO À FILOSOFIA - uma perspectiva
cristã - 2ª Edição, São Paulo, Editora Vida Nova, 1996.
LANGSTON, A.B. – Esboço de Teologia Sistemática - 12ª impressão, Rio de Janeiro, Editora
JUERP,1999.
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Editora Hagnos, 2008.
BERKHOF, Louis - Teologia Sistemática - 6ª Edição, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1990.