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do Sheik
Do autor best-seller da Amazon
Jhonatas Nilson
Copyright © 2020 Jhonatas Nilson
Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a
transmissão total ou parcial, sob qualquer forma. Todos os personagens desta obra são
fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera
coincidência.
Querido leitor,
Comecei a escrever esse livro ainda durante as minhas férias. A ideia
surgiu em um rompante e eu simplesmente não podia esperar para escrevê-la.
A história de Ziad e Leslie é intensa, repleta de traumas e desafios.
Mas ao mesmo tempo, repleta de recomeços e oportunidades.
Certamente, me encantei com os personagens e espero que vocês
também se apaixonem por esse conto de fadas moderno.
Desejo-lhe uma boa leitura!
Com carinho,
Jhonatas Nilson.
(Autor)
Para acompanhar as aventuras do autor
Jhonatas Nilson ao redor do mundo, não deixe
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@Jhonatas1025
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completa de todos os lançamentos e muito
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Para Zaki,
por ser o amigo que eu sempre sonhei em ter.
Para Yousra,
Por ter o sorriso mais feliz de todo o Egito.
Prólogo
A saúde do rei de Ayesser estava piorando dia após dia. Qualquer um
que o visse era capaz de enxergar que o câncer estava avançando rápido
demais. Não havia mais tempo.
Por essa razão, naquela manhã quente de verão, o rei decidiu chamar
seu filho e herdeiro, o príncipe Ziad Asser El Hadidy para uma reunião
particular e íntima nos aposentos reais.
Nenhum dos assessores foi informado acerca do encontro entre pai e
filho. Naquele dia, os títulos não importavam. A verdade era que o rei
precisava conversar com a única pessoa que confiava, a única pessoa que
amava mais do que a si mesmo.
— Mandou me chamar, meu pai? — Ziad sorriu ao se sentar na cama.
Machucava seu coração perceber que Omar, o grande rei de Ayesser, já
não era o mesmo. A saúde se esvaia quase como se já não tivesse forças para
continuar existindo. Observar tudo aquilo era doloroso.
Nada era capaz de parar a natureza, de parar os anos e as suas
consequências. Ziad ouvira um milhão de vezes que estava crescendo para
substituir seu pai um dia, mas cada vez que pensava na possibilidade de
existir em um mundo sem Omar, era como se tudo dentro dele se quebrasse.
De maneira irreparável.
— Precisamos conversar um pouco, filho. — Omar sorriu de volta para
Ziad, mas já não havia brilho em seu sorriso. Havia apenas o cansaço, a
tristeza.
Segundo os médicos, Omar não teria mais do que um ano de vida. Os
meses estavam se passando e a verdade se aproximava em uma velocidade
alarmante.
— Me lembro de todas as vezes em que nos sentávamos no jardim
tarde da noite, quando todos já estavam dormindo, e o senhor me contava
histórias. E conversávamos como se tivéssemos todo o tempo do mundo... —
Ziad tocou uma das mãos de Omar e sentiu o rosto esquentar. Sua maior
vontade, naquele momento, era a de se quebrar, a de simplesmente chorar até
que todas as lágrimas se esvaíssem de dentro dele.
Mas se quebrar não era uma possibilidade, demonstrar fraqueza através
das próprias lágrimas não era uma possibilidade. Por isso, sabendo que ser
forte era a sua única opção, ele engoliu em seco e voltou a sorrir.
— Na época, tínhamos todo o tempo do mundo. — Omar balançou a
cabeça e respirou com dificuldade. Sua cama estava rodeada de aparelhos que
monitoravam seus batimentos cardíacos. O pulso estava ferido e roxo,
machucado pelas diversas agulhas que furavam repetidamente quase todos os
dias. — Quero deixar um legado antes de partir, filho.
— Mas o senhor construiu um legado durante a vida inteira. Talvez seja
hora apenas de descansar.
— Não. — Omar estalou a língua. — O povo conheceu o rei, conheceu
o poder, os planos políticos, o crescimento de um país através de um ser
inalcançável. Agora, antes de partir, preciso que o povo conheça o homem, o
pai, o marido.
— Eu não gostaria de pensar em partidas agora. — Ziad desviou o
olhar e suspirou lentamente.
Se enxergara como um homem forte durante boa parte de sua
existência. Mas agora, enquanto observava seu pai definhar em uma cama,
compreendia que apesar de ser forte, não era invencível. Que apesar de ser
multimilionário, não podia comprar todas as coisas.
Perceber-se vulnerável machucava seu coração tanto quanto destruía
um pouco o seu orgulho.
— Infelizmente não existe outra opção além dessa. Eu preciso pensar
em partidas, porque essa é a minha realidade. A nossa realidade. Logo, você
será o responsável por representar o país, por transcender todos os papéis que
eu exerci durante a vida inteira. E eu sei que você é capaz de tudo isso. Sei
que você é capaz de ir mais longe do que eu. — Mesmo tão baixa e fraca, a
voz de Omar ainda soava poderosa. — A monarquia está perdendo espaço
nos dias de hoje, mas ainda é importante para o nosso país, para o nosso
povo.
— Eu estou preparado para ser o melhor que eu puder ser. — Ziad
precisou se forçar a dizer aquelas palavras, pois não tinha certeza de nada.
Apesar de haver sido treinado a vida inteira para aquele momento, sabia que
nada seria capaz de prepará-lo para a perda e o vazio de viver sem Omar.
— Preciso que você encontre um escritor, alguém bom o suficiente, que
trabalhe rápido e que saiba o que está fazendo. Já não tenho mais tempo.
Quero deixar uma biografia, quero que o povo descubra mais do homem que
eu fui. Preciso realizar esse último desejo antes de...
— Vocês vão trabalhar juntos?
— Eu e você iremos trabalhar em conjunto com a pessoa contratada. Se
eu não viver o suficiente para terminar, quero que você conclua e publique...
— O senhor tem tempo.
— Pare de negar a realidade! — Omar esbravejou e fechou os olhos. —
Todos nós sabemos que eu já não tenho tempo. Agora me deixe sozinho, por
favor. Me sinto cansado, Ziad.
— Tudo bem. — Ziad se afastou da cama e caminhou pelo quarto
imenso sentindo o coração pesado. Antes de sair, parou na porta e segurou a
madeira com força, controlando a dor que invadia a sua alma. — Amo você.
A voz soou baixa demais, inaudível. Ao fechar a porta atrás de si, Ziad
sentiu as lágrimas escorrendo de forma involuntária.
Cumpriria o último desejo de Omar, daria o seu melhor. E a partir
daquele dia, Ziad prometeu a si mesmo que nunca se permitiria quebrar. Não
havia opção.
Seria forte pelo seu povo. Por seu país.
Capítulo 1
Leslie Sanders não esperou que o motorista abrisse a porta do carro
esportivo. Simplesmente desceu em um rompante e sentiu a rajada de ar
quente lambendo seu rosto.
Seus cabelos loiros estavam presos em um coque e ocultos por um hijab
branco e delicado. Era possível observar as gotículas de suor em sua testa e o
desconforto em sua face.
— Por favor, senhorita, venha comigo. — Um dos empregados não
esperou pela resposta. Caminhou por entre os corredores, deduzindo que ela
seria capaz de segui-lo com a mesma rapidez, ainda que estivesse com saltos
e um vestido longo.
Leslie Sanders era uma jornalista e escritora reconhecida por fazer
biografias autorizadas de celebridades e pessoas importantes no mundo da
política. Seus olhos cinza em tons de tempestade pareciam enxergar o que
quase ninguém conseguia. Iam no que havia de mais profundo e íntimo,
trazendo a verdade através de uma ótica poética e repleta de eloquência.
Ela era, sem dúvidas, uma autora best-seller. Geralmente, passava
metade do tempo viajando e realizando pesquisas, e a outra metade trancada
em seu escritório, no pequeno apartamento luxuoso que havia comprado anos
antes em Nova York.
Aos vinte e seis anos, estava muito feliz com a própria vida e não
conseguia se imaginar em outra profissão. Simplesmente amava escrever
biografias que mostravam o lado humanizado de pessoas que até então eram
consideradas inalcançáveis.
E era exatamente por essa razão que Leslie estava na capital de Ayeser,
pequeno país árabe localizado em uma região próxima ao Egito, Líbia e
Sudão.
Aquela não era a primeira vez em que ela visitava a cultura árabe, mas,
sem dúvidas, aquela seria a primeira vez em que teria a oportunidade de
conhecer um príncipe herdeiro.
Por essa razão, estava nervosa. Queria simplesmente fingir que estava
acostumada e que realmente não havia ficado em choque quando recebera
uma ligação direta do príncipe, convidando-a a visitá-lo em seu escritório
principal em Ayeser.
Apesar das tentativas falhas, Leslie não sabia exatamente a razão pelo
qual havia sido contada diretamente e tampouco imaginava como poderia
ajudá-lo.
Até onde sabia, o príncipe herdeiro não tinha um histórico
suficientemente interessante para que pudesse se transformar em uma
possível biografia. Portanto, Leslie estava tão curiosa quanto ansiosa por
descobrir o que estava por vir.
Enquanto caminhava pelos corredores do palácio, sentiu o coração
acelerar. A opulência do ambiente era tão bela quanto ameaçadora. Detalhes
em ouro nas colunas e quadros preenchiam as paredes.
— Espere aqui, senhorita. — O empregado sorriu simpaticamente em
silêncio. — Antes de visitar o príncipe herdeiro, é solicitada uma segunda
revisão. Todos os seus pertences estarão em segurança. Vossa Alteza
solicitou aposentos nos corredores principais, então não se preocupe, a
senhorita será direcionada para o seu quarto assim que terminar a reunião.
— Para o meu quarto? — Leslie ficou boquiaberta por alguns instantes.
Ela não deveria ter um quarto naquele lugar, não deveria ficar sem seu
celular, roupas e dinheiro. — Reservei um quarto em um hotel no centro da
cidade, suponho que não seja necessário...
— São ordens, senhorita. Apenas obedeça.
Leslie não teve tempo de manter qualquer tipo de conversa, pois após
isso, seguranças enormes surgiram para revistá-la mais uma vez,
comprovando que não havia nenhum tipo de arma ou possível ameaça.
Se em um segundo ela estava caminhando livremente pelos corredores
do palácio, no outro, encontrou-se em um escritório imenso, recheado de
estátuas de madeira antiga e duas poltronas confortáveis. Havia uma janela
panorâmica que dava para o jardim. O sol se infiltrava, iluminando e trazendo
um pouco de vida para a decoração obscura.
— Que honra recebê-la, senhorita Sanders. — A voz rouca se infiltrou
em seus ouvidos, fazendo-a se levantar da poltrona em um pulo e olhar para
trás. — Não foi a minha intenção assustá-la.
Ziad Asser El Hadidy, príncipe herdeiro de Ayesser, se aproximou com
passadas lentas, quase como um leão preparado para atacar. Preparado para
devorá-la.
Ele tinha a barba aparada e a pele morena bronzeada. Seus olhos tinham
tons de verde musgo, tão ameaçadores quanto sedutores. Os cabelos, negros,
eram curtos e tinham um estilo moderno.
Tudo naquele homem esbanjava poder, ainda que naquele momento ele
estivesse trajando apenas uma calça jeans e uma camisa branca simples.
Apesar da simplicidade das vestimentas, era possível perceber que não havia
nada de simples em Ziad.
— O prazer é inteiramente meu, Vossa Alteza. — Ela se aproximou e o
cumprimentou com um aceno respeitoso. Seu coração estava acelerado e
sentia-se trêmula.
— Tenho uma proposta que provavelmente será de seu interesse. — Ele
sorriu e Leslie sentiu-se um pouco tonta. Não sabia se a tontura era causada
pelo calor, pelo nervosismo ou pela beleza daquele homem. — Sente-se,
temos algumas coisas para conversar.
Em silêncio e sem saber o que dizer, Leslie apenas se sentou.
— Antes de qualquer coisa, gostaria de entender a razão pela qual eu
não possa estar com o meu celular e minha carteira.
— Quero evitar possíveis gravações ou situações indesejadas. — Ao se
sentar na poltrona ao lado de Leslie, Ziad parecia muito confortável naquele
ambiente tão caro. Aquele era o seu mundo, pensou ela. — Não estou
dizendo que você faria isso.
— Entendo. O que o senhor tem para conversar comigo? Viajei até aqui
ponderando o que um príncipe gostaria de conversar com uma jornalista...
— Devo confessar que detesto os indivíduos do seu meio. Desprezo
totalmente a profissão. — Ele voltou a sorrir como se estivesse falando algo
realmente agradável. — Mas às vezes, é necessário fazer alguns pactos com
os inimigos.
— Ah, sim? — Ela semicerrou os olhos, sentindo seu pulso acelerar. —
Ainda bem que nunca precisamos da sua admiração para trabalhar.
Ela também sorriu com ironia. Ainda não sabia se gostava daquele
homem. Na verdade, não sabia quase nada. E pela primeira vez em muito
tempo, sentiu medo. Medo do que poderia acontecer, medo do desconhecido.
Queria apenas ter a total certeza de que estaria segura.
Pois de alguma forma, ainda que não fosse capaz de explicar, enquanto
conversava com Ziad na opulência daquele palácio, Leslie simplesmente
soube que a sua vida nunca mais voltaria a ser a mesma.
Capítulo 2
Ziad soube que precisava conhecer aquela mulher no instante em que
teve a oportunidade de ler, algumas semanas antes, uma biografia autorizada
de um cantor britânico em decadência.
Ela usava as palavras como se tentasse pintar um quadro, criando arte
através das letras. Durante vários dias, Ziad ficou preso nas palavras daquela
mulher, imaginando a história do cantor, vivendo cada detalhe quase como se
aquela fosse a sua vida.
Aparentemente, o destino de fato estava colaborando para que se
conhecessem em algum momento, pois na semana anterior, Omar decidira
que gostaria de deixar uma biografia autorizada antes de partir.
Ziad não precisara pensar muito para saber que a talentosa Leslie
Sanders seria a profissional perfeita para o que ele estava precisando. No
início, imaginara uma mulher idosa, com décadas de experiência, mas quando
pesquisara acerca dela, descobrira que se tratava de uma mulher jovem e
extremamente sexy. Encantadora.
Ele sabia que não podia seduzi-la. Não tinham tempo a perder.
Trabalhariam em conjunto e terminariam a biografia antes que Omar... Antes
que o tempo passasse rápido demais.
— O seu currículo é invejável. Percebo que você trabalhou em um
canal de notícias nos Estados Unidos por alguns meses e em seguida passou a
escrever biografias em tempo integral. — Ziad levantou uma das
sobrancelhas, curioso. — Por quê?
— Infelizmente existem pessoas desprezíveis em todos os lugares e
em todas as profissões. Percebi que escrever, além de ser o meu maior prazer,
me da a oportunidade de trabalhar sem precisar lidar com pessoas o tempo
todo. — Leslie cruzou as pernas e passou a língua entre os lábios lentamente,
tentando parecer confiante o suficiente. — Não tenho paciência para machos
arrogantes que pensam que podem controlar tudo.
— Teremos um problema. — Ziad semicerrou os olhos e sorriu de
forma preguiçosa, fazendo com que Leslie duvidasse da capacidade de
controlar os próprios desejos. — Eu não acho que posso controlar tudo. Eu
posso controlar tudo. Eu mando, todos obedecem. Está disposta a obedecer?
— Não. — Leslie se levantou da poltrona em que estava sentada e
caminhou na direção da porta gigantesca do escritório.
Surpreso, Ziad agiu por impulso e simplesmente a agarrou pelo braço,
puxando-a para si e fazendo-a perder o fôlego. Era uma mistura de
nervosismo e desejo, e mais um turbilhão de sensações que nem mesmo ela
sabia explicar.
— Não terminei com você. — Ele sussurrou, olhando-a fixamente.
Parecia tão irritado quanto profano. — Esperava mais educação de uma
mulher como você.
— Não me toque sem permissão. — Leslie abaixou o olhar na direção
da mão poderosa que segurava seu braço de maneira brusca. — Vossa Alteza
pode controlar o país, mas ainda assim não tem autorização de invadir o meu
espaço pessoal. Esperava mais educação de um homem como você.
— Insolente...
— Quem? O senhor? — Leslie revirou os olhos e o afastou,
empurrando-o levemente para trás. — Acredito que estamos tendo um
choque cultural. Veja bem, sou escritora, não trabalho recebendo ordens.
Ainda não sei exatamente qual a sua proposta e sequer sei se irei aceitá-la,
mas se vamos trabalhar juntos, espero que seja um trabalho conjunto. Sem
ordens unilaterais.
— Volte a se sentar... — Ele estalou a língua de forma impaciente. —
Por favor.
— Ambos somos muito bem-educados, certamente encontraremos
uma maneira de conversar melhor. — Ela voltou a se sentar na poltrona e
uniu as mãos, esperando que ele, por fim, começasse a falar acerca da
proposta profissional. — E então, Vossa Alteza, o senhor me chamou até aqui
para...?
— Recentemente, todos os meios midiáticos divulgaram notícias
acerca do câncer de pulmão avançado que o meu pai está enfrentando há
algum tempo. Suponho que tenha ouvido sobre o assunto?
— Certamente. — Ela voltou a ficar em silêncio.
— O meu pai tem apenas mais alguns meses de vida. — Leslie
percebeu quando o semblante de Ziad se fechou, quase como se uma nuvem
de tristeza tomasse seu olhar. — Seu último desejo é trabalhar em uma
biografia, fazer com que o povo conheça o homem, o pai, o marido. Todos
conhecem o rei, mas são poucos os que conheceram quem ele realmente é.
— Interessante.
— O trabalho precisa ser concluído em até cinco meses.
Trabalharíamos em conjunto na pesquisa e construção da biografia. — Ziad
caminhou pelo escritório. Ele era um homem alto e forte, mas não podia ser
considerado musculoso. Mantinha a boa forma e preservava uma aparência
natural, sem exageros. Sua presença parecia tomar todo o ambiente. — Tenho
um contrato com todos os detalhes. Podemos assinar agora. Suponho que
esteja cansada após a longa viagem, então tire uma semana de descanso.
— Realmente, no momento estou exausta. Seria possível eu assinar o
contrato hoje à noite? Preciso descansar e só depois estarei apta para avaliar
cada cláusula.
— É claro. — Ele entregou os papéis nas mãos dela. — Preste muita
atenção nos termos de confidencialidade. São extremamente importantes.
— Sem dúvidas. — Ela apontou para a saída. — Posso me retirar
agora? Estou realmente cansada.
— É claro, senhorita Sanders. Tenha uma boa estadia e um bom
descanso. — Ziad sorriu. — Você será avisada do jantar com antecedência.
Roupas protocolares, por favor.
— É claro, Vossa Alteza.
— Ziad. — Ele voltou a sorrir e Leslie teve a mais completa certeza
de que precisaria tomar cuidado. Aquele sorriso, sem dúvidas, era capaz de
enfeitiçar. — Quero que me chame apenas de Ziad. Sem restrições formais.
— Leslie. — Ela também sorriu e deu de ombros. — Sem restrições
formais.
Um silêncio desconfortável se formou no escritório e em seguida Ziad
apontou para o hijab que cobria os cabelos femininos.
— Você é muçulmana?
— Não. Estou usando apenas por respeito...
— No palácio, você não precisa usar. Não há necessidade. Siga os
seus próprios costumes.
— Obrigada.
Ele realmente tentou se conter, mas quando deu por si, já estava
caminhando na direção dela, se aproximando rapidamente. Com uma das
mãos, tocou o tecido do hijab e esperou que ela reclamasse. No entanto, o
silêncio imperou no ambiente mais uma vez.
E sem pensar muito, Ziad seguiu em frente. Removeu o tecido
lentamente, libertando os cabelos longos e loiros. Ele queria tocá-la, senti-la.
Queria poder provar cada centímetro daquele corpo e em seguida...
Não, pensou. Não tinha tempo para a sedução, não agora.
— Devo me retirar. — Leslie estava trêmula. Sentia algo pulsando
dentro de si quase como se não fosse capaz de reconhecer a si mesma.
Deveria ter se sentido ofendida pela invasão, pela ousadia de tirar-lhe
o hijab sem permissão. E ainda assim, sentira-se grata, seduzida.
Completamente entregue apenas com o toque da mão masculina em seus
cabelos que agora se espalhavam em cascatas.
— Espero por você no jantar, Leslie. — Ele lhe deu as costas e ouviu
os passos e a porta se fechando atrás de si.
Precisava manter o controle, disse para si mesmo. Recém haviam se
conhecido e não fazia sentido desejar uma mulher tão intensamente.
Focaria nas próprias obrigações. A luxúria e todo o resto certamente
seriam esquecidos com o tempo.
Capítulo 3
Ziad sentia como se todos os pensamentos em sua mente estivessem
presos, acorrentados e direcionados à Leslie. Naquela tarde, precisava
experimentar algumas roupas para o Baile Real de Verão, que era um evento
tradicional e ocorria anualmente há quase duzentos anos.
Para a família real, era a oportunidade de esbanjar o poder e
demonstrar a unificação da dinastia. Por outro lado, para investidores e
parceiros políticos, sem dúvidas representava a chance de criar novos laços
econômicos e estreitar as diversas cooperações.
Naquele ano, o baile aconteceria em duas semanas. Os preparativos já
haviam começado há algum tempo, e Ziad sabia da importância cultural do
evento não apenas para a família real, mas também para o povo.
A população sempre aguardava ansiosamente as revistas e jornais que
soltavam fotos exclusivas um dia após o baile. Geralmente, falava-se apenas
sobre isso durante inúmeros dias.
— Você está mais silencioso do que o normal. — Emir, assistente e
um dos melhores amigos de Ziad, observou enquanto fazia algumas
anotações em seu bloco de notas no celular. — Aconteceu alguma coisa?
Ziad estava com os braços levantados enquanto as costureiras tiravam
as últimas medidas mais uma vez, tentando garantir que o corte das roupas
estaria perfeito para o baile.
— Existe algum vestido em tons de cinza e azul marinho disponível
para uso imediato? — Ziad perguntou e se sentiu patético logo em seguida.
Por mais absurdo que pudesse parecer, não conseguia parar de
imaginar Leslie em um longo vestido cinza com detalhes em azul marinho,
que combinava com seus olhos encantadores. Ele queria vê-la, naquela noite,
tão bela quanto em seus pensamentos.
Não era apenas um pedido, mas uma ordem.
Ainda não sabia se Leslie aceitaria assinar o contrato, mas ainda que
ela não aceitasse, estava disposto a pressionar e renegociar até que ambas as
partes estivessem satisfeitas. Dinheiro não era um problema, nunca havia
sido.
No entanto, durante o jantar daquela noite, Ziad desejava vê-la,
admirá-la. Não como escritora e profissional, mas como mulher.
Ele sabia que não podia seduzi-la, que não tinha tempo para a luxúria.
Mas estreitar uma possível amizade certamente ajudaria na produção da
biografia, afinal trabalhariam em conjunto.
— Está tentando seduzir alguém, Ziad? —Emir se aproximou,
sorrindo. No auge dos seus trinta e poucos anos, era um homem casado, tinha
dois filhos e servia a família real há anos. Se tornara um dos amigos mais
próximos de Ziad, eram quase como irmãos. — Você tem estado muito
comportado nos últimos meses.
— Não estou tentando seduzir ninguém. — Ziad virou de costas
enquanto as costureiras continuavam a anotar as medidas. — Hoje tenho um
jantar com uma pessoa importante e pensei que talvez ela pudesse ficar feliz
com a surpresa.
— E por que tons de cinza e azul marinho?
— Porque os olhos dela são cor de tempestade. — Ziad sorriu e deu
de ombros. — Não sei, só estive pensando que quero vê-la em um vestido
assim.
— Percebo que, de fato, a tal pessoa é realmente importante para
você.
— Na verdade, ela é importante para os interesses de meu pai. — Ele
sabia que aquela não era a única razão para tamanha atenção, sabia que havia
algo dentro dele que pulsava cada vez que pensava naquela mulher.
De forma tola, Ziad teve total certeza de que Leslie era uma bruxa
capaz de tomar inteiramente sua atenção sem nenhuma dificuldade. Admitir
aquilo era tão assustador quanto irritante.
Não se conheciam, não eram próximos. Haviam se encontrado apenas
uma vez. E mesmo assim, Ziad sentia como se conhecesse aquela mulher há
anos, há vidas.
— Suponho que as costureiras não tenham nenhum vestido com
detalhes tão específicos, mas posso conseguir, sem dúvidas. — Emir era tão
eficiente quanto inteligente. Era o responsável por lidar com os problemas de
Ziad, sempre tentando resolvê-los da melhor maneira possível.
— Você é o melhor, Emir. — Ziad sorriu em agradecimento. — Ela
tem um corpo muito bem estruturado, nada exagerado. Cerca de um metro e
setenta, magra, mas não muito. Tem curvas. Espero que consiga um vestido
que sirva.
— Eu sempre consigo.
Quando as costureiras terminaram de anotar todas as medidas, Ziad
pegou um pedaço de papel e escreveu um curto bilhete.
“Acho que começamos mal, mas podemos ser amigos. Seus olhos são
cinza como a tempestade, achei que um vestido com essas características
talvez pudesse combinar com você. O que acha de vesti-lo hoje para o
jantar?
Com estima,
Ziad.”
— Coloque isso na caixa junto ao vestido. — Ele entregou o papel
dobrado nas mãos de Emir.
— Você geralmente não é tão atencioso.
— Como eu disse, ela é importante para os planos de meu pai. Não
começamos bem e preciso consertar um pouco as coisas.
— Entendo. O vestido estará pronto antes do jantar. — Emir balançou
a cabeça de forma positiva. — Devo pedir que um dos empregados entregue?
Ou você planeja entregar em pessoa?
— Peça para que um dos empregados deixe a caixa nos aposentos
dela.
Cansado de se sentir estúpido por estar demonstrando tamanha
atenção por uma mulher desconhecida, Ziad se encaminhou para a saída.
— Tenho outras coisas para fazer, não tenho tempo a perder com uma
mulher como ela. — Ele deu de ombros como se Leslie não representasse
nada. E de fato, naquele momento, não representava tanto.
Ela era apenas uma profissional muito boa que certamente trabalharia
na biografia de Omar, nada além disso.
No instante em que se despediu de Emir e caminhou pelos corredores
do palácio rumo ao escritório, Ziad tratou de ocultar todos os pensamentos
que estavam direcionados à Leslie.
Tentou não se lembrar dos cabelos loiros que caíram em cascata
quando o hijab fora removido, tentou não se lembrar da enorme vontade de
beijá-la, que crescera de forma avassaladora em apenas alguns segundos.
Todos aqueles pensamentos e lembranças eram estúpidos e totalmente
desnecessários. Surreais.
Talvez se repetisse aquelas informações vezes o suficiente em sua
cabeça, passaria a pensar menos em Leslie e mais nas próprias obrigações.
Infelizmente, por enquanto, não estava funcionando.
Capítulo 4
Apesar de se sentir exausta, Leslie não dormiu tanto quanto planejava.
Estava ansiosa para conferir o contrato, por isso, após dormir por cerca de
duas horas, tomou uma ducha rápida e se sentou na cama com as inúmeras
páginas espalhadas nos lençóis.
O quarto era realmente luxuoso, fazendo com que ela se sentisse
minúscula no ambiente.
Enquanto lia, sequer percebeu o tempo passar. Avaliou cada detalhe,
concordou com o pagamento oferecido e todas as cláusulas pareciam
adequadas. Como aquela era uma negociação sigilosa e extremamente
especial, Leslie não podia contatar seu agente para possíveis outras
negociações.
Precisava analisar tudo sozinha. Obviamente, ficou assustada com o
valor da multa, caso existisse a possibilidade de que ela decidisse desistir do
trabalho antes de finalizá-lo. Mas o fato era que ela nunca deixava uma obra
pela metade. Sem dúvidas, a biografia abriria grande espaço profissional em
países que seu nome até então nunca havia chegado.
Era uma grande oportunidade, pensou. Trabalhar com a realeza árabe,
descobrir os segredos do homem mais poderoso de um país tão diferente dos
Estados Unidos. Seria uma imersão em um novo mundo, e ela adorava
desafios.
Quando terminou de ler todas as páginas, assustou-se ao ouvir
batidinhas à porta. Olhou no relógio e percebeu que dali não muito tempo,
precisaria estar adequadamente preparada para o jantar com o sheik Ziad
Asser.
Maldito príncipe, pensou ela. Maldito.
Mesmo sem esforço, conseguia fazê-la se perder, fazê-la desejá-lo
como até então nunca havia desejado homem algum.
Na verdade, Leslie não costumava se interessar sexualmente por
homem algum. Aos vinte e seis anos, nunca se apaixonara. Vivia a própria
vida com a certeza de que as relações amorosas eram entediantes demais para
a sua personalidade livre.
Tivera a oportunidade de namorar dois rapazes interessantes durante a
adolescência, mas, infelizmente, ser apenas interessante nunca foi o suficiente
para Leslie.
Ela precisava de mais, necessitava ser intelectualmente desafiada,
sentir que a vida podia continuar em movimento apesar de tudo. Por essa
razão, não sabia o que era amar, não conhecia as diversas sensações de estar
verdadeiramente apaixonada.
Durante a adolescência, em seus dois únicos relacionamentos, sentia
como se ambos fossem apenas amigos, que logo deixariam sua vida. O
primeiro namoro, aos quinze anos, durou apenas dois meses. O segundo, e o
último até então, alcançou cinco meses e terminou de forma totalmente
natural.
Talvez o amor fosse para todas as outras pessoas do mundo, mas não
para Leslie. Talvez estivesse destinada a viver a vida contando apenas com a
própria companhia. Detalhe, que sem dúvidas, já era o suficiente para fazê-la
feliz.
Obviamente, vez ou outra, se sentia um pouco solitária,
principalmente durante as longas viagens em que percorria países tendo
apenas a mochila, uma câmera e os sonhos ao seu lado. Mas a solidão
também era uma benção, portanto, se sentia inteiramente satisfeita com a vida
que levava.
Quando bateram mais uma vez à porta, Leslie literalmente pulou da
cama, afugentando os pensamentos.
Ziad era um homem bonito, sua presença avassaladora. Mas, assim
como todos os homens que entraram e saíram da vida de Leslie nos mais
diversos contextos, sem dúvidas, ele não seria capaz de fazê-la querer ficar.
Ela sempre partia. Sua alma era tão livre quanto seu coração.
— Desculpe o incômodo, senhorita Sanders. — A empregada sorriu e
levantou uma caixa azul com detalhes prateados. — Mandaram um presente
dos aposentos reais.
— Presente? Para mim? Quem mandou?
— O sheik Ziad Asser, senhorita. — Voltando a sorrir, ela colocou a
caixa nas mãos de Leslie. — O jantar será daqui não muito tempo. Sugiro que
comece a se preparar. Caso necessite algum tipo de auxílio, não hesite em
ativar o alarme ao lado da sua cama. Gostaria de algo para beber?
— Não... — Leslie se sentia extremamente estranha e deslocada por
ser tratada daquela maneira. — Obrigada.
Ao fechar a porta, não foi capaz de controlar a própria curiosidade.
Desfez o laço brilhante velozmente e ficou boquiaberta ao ver o longo
vestido cinza com detalhes rodados em azul marinho. Pedrinhas de diamante
haviam sido fixadas na parte superior do tecido.
“Acho que começamos mal, mas podemos ser amigos.
Seus olhos são cinza como a tempestade, achei que um
vestido com essas características talvez pudesse combinar
com você. O que acha de vesti-lo hoje para o jantar?
Com estima,
Ziad.”
Anabelle Sanders estava cada vez mais magra, cada vez mais pálida.
Continuava cuidando da casa e vendo televisão, porém era como se toda a
felicidade que um dia existira dentro dela, houvesse simplesmente
desaparecido.
— Eu quero que você me escute com muita atenção, querida. —
Anabelle deu dois tapinhas na perna de Leslie. Estavam sentadas no jardim
em um dia cinza.
— Estou escutando, mamãe.
— Um dia, você vai querer namorar. Vai se apaixonar, afinal todo
mundo se apaixona. Pessoas apaixonadas, se tornam bobas e frágeis. Nunca
se permita ser boba e frágil. — Anabelle fez uma pequena pausa, pensativa.
— Um dia, quando estiver muito apaixonada, você vai desejar ter aquela
pessoa ao seu lado, vai desejar ser feliz. Ao final do dia, você vai desejar que
a pessoa que você ama esteja ao seu lado. E tudo isso será muito bonito.
Leslie, ainda muito garota, tentou encontrar a razão pela qual sua
mãe estava dizendo todas aquelas coisas.
— Igual nos filmes... — Disse Leslie, sem saber o que dizer.
— Mas os filmes de romance às vezes não mostram que talvez amar
muito não basta. — Anabelle segurou a mão da filha e seus olhos brilharam
com as lágrimas que estava lutando para segurar. — Você não morre apenas
se alguém lhe der um tiro ou se lhe empurrarem de um prédio, você não se
machuca apenas se alguém lhe der um soco. Existem muitas formas de
morrer, Leslie. E o amor também pode matar. Nunca se esqueça disso.
— Então eu nunca irei me apaixonar? O papai está matando você,
mamãe?
Anabelle levantou o olhar para as nuvens e suspirou, tentando manter
o próprio controle.
— Eu desejo que você se apaixone um dia, desejo que seja muito feliz
ao lado de alguém que valorize tudo o que você representa. — A voz de
Anabelle estava trêmula. — Mas se algum dia, alguém gritar com você, se
algum dia essa pessoa disser palavras feias, fizer você acreditar que não é o
suficiente, vá embora. Mesmo que você ame muito, vá embora. Não importa
se essa pessoa é muito importante, apenas vá embora.
— É difícil ir embora das pessoas que a gente ama.
— Mas às vezes, as pessoas que a gente mais ama são exatamente
aquelas que nos matam aos poucos. — Por fim, as lágrimas escorreram. —
Por isso, antes de entregar o seu coração, antes de amar, tenha certeza de
que vale a pena.
— Tudo bem, mamãe. Eu amo você.
— E eu também amo você, minha querida.
Aquela, foi uma das últimas conversas que Leslie teve com sua mãe.
“Querido Ziad,
Antes de qualquer coisa, eu gostaria de dizer que sinto muito orgulho
de você. Durante o período em que estive no palácio, pude conhecer não
apenas o príncipe que tem o peso de um país nas costas. Conheci o homem,
que tem suas certezas e inseguranças, sonhos e medos. Pude conhecer
também o filho dedicado, que sempre fez questão de ser o melhor que um pai
poderia sonhar em ter.
Enquanto escrevo esta carta e relembro cada momento que passamos
juntos, percebo que tive muita sorte ao encontrar alguém como você. Aprendi
a sorrir ao seu lado, Ziad. E acredito que não existe nada mais grandioso do
que poder sorrir genuinamente sem permitir que o passado ressurja como um
tormento. Obrigada por cada gargalhada sincera, disso nunca irei me
esquecer.
Sei que errei quando decidi que precisava partir, mas espero que
entenda que eu estava com medo de não ser boa o suficiente para você, de
não merecer a sua companhia. Agora, percebo que ao decidir fugir, fui tola.
Devo dizer que você também errou ao me tratar daquela maneira. Eu havia
confiado a minha história nas suas mãos e esperei que significasse de
alguma coisa. Não sei o que se passava em seu coração, e sigo sem saber o
que se passa agora. Mas espero que você me perdoe por partir, por fazer
você se sentir decepcionado.
Sempre foi extremamente fácil ir embora. Nunca tive problemas ao
sair da vida das pessoas. Acredito que as despedidas são naturais e fazem
parte do destino. Mas com você foi diferente. Com você, eu queria ficar. Eu
precisava ficar. Admitir isso é assustador. De repente, partir já não parece
certo. É doloroso demais. Me sinto péssima por saber que estou perdendo o
único homem que um dia teve o talento de me fazer querer ficar.
Não tive a oportunidade de te dizer isso, mas eu amo você, Ziad.
Sinto que a sua presença traz luz aos meus dias, faz a minha alma sorrir.
Você é como as estrelas em um céu escuro durante a noite, retirando toda a
minha escuridão e trazendo a beleza das luzes que piscam e vivem.
Você me ensinou o que é viver. E agora que aprendi, já não parece
fazer sentido viver sem você. Sei que guardarei para sempre o seu sorriso em
meu coração, guardarei o seu toque, os nossos momentos, as nossas
lembranças e cada detalhe. Farei uma coleção de memórias para que a
saudade não vença, para que a dor que pulsa dentro de mim nesse momento
não tome toda a minha existência. Eu amo você, Ziad.
Amar você foi uma das coisas mais lindas da minha vida. E agora,
amar você se tornou o que há de mais doloroso.
Desejo que você possa ser feliz, que tenha sucesso no seu caminho. E
sinto muito pelo que aconteceu ao seu pai, mas tenho certeza de que ele foi
muito feliz por ter um filho como você.
Provavelmente, os nossos caminhos nunca voltarão a se cruzar outra
vez, mas espero que saiba que sou muito grata ao destino por ter te colocado
em meu caminho por algum tempo.
Com carinho e amor,
Leslie Sanders.”
Sentado e sozinho, Ziad sequer percebeu quando começou a chorar.
As lágrimas dele molharam o papel e se juntaram às dela, que já haviam
secado tempos atrás.
Através das palavras de Leslie, percebia que talvez ainda existisse
esperança. Tinha que lutar para tê-la ao seu lado e estava disposto a fazê-lo.
Lentamente, limpou as próprias lágrimas e olhou ao redor,
imaginando que tudo seria diferente caso ela estivesse no palácio,
enfrentando os acontecimentos da vida com ele.
Não podia perdê-la, repetiu para si mesmo.
Ele também queria que desse certo. Necessitava. Não podia deixar
que Leslie deixasse a sua vida. Mas se ela queria que desse certo e ele
também, então o que os impedia? A dúvida girou em sua mente, atingindo
seu coração.
Era necessário vencer o orgulho, concluiu. Caso não fizesse alguma
coisa, provavelmente nunca voltariam a se encontrar. E pensar na
possibilidade de não voltar a vê-la era simplesmente devastador.
Talvez o destino quisesse separá-los, mas Ziad estava disposto a
enfrentar tudo, até mesmo o próprio destino. Por isso, iria procurá-la. Seria
capaz de implorar por perdão para estar ao seu lado. O orgulho já não
importava.
Seria capaz de qualquer coisa para trazê-la de volta. Dessa vez, para
sempre.
Capítulo 26
Ziad realmente desejou largar todas as obrigações e partir ao encontro
de Leslie no instante em que lera a carta. Não desistiria de tentar, nem que
fosse uma última vez. No entanto, era simplesmente impossível deixar o país
naquele momento. O velório do rei acontecera apenas alguns dias depois, e o
povo demonstrou luto por um longo tempo.
Era possível ver tecidos negros nas sacadas das casas, e os carros
carregavam bandeiras, além das imagens do falecido rei e de Ziad, que seria o
rei dali em diante. O respeito tornou-se quase palpável.
Após o velório de Omar, Ziad tivera que viajar de cidade em cidade,
encontrando-se com alguns empresários, reforçando parcerias e tentando
manter a confiança de algumas famílias que seriam importantes para os
processos futuros. Era necessário organizar algumas coisas, afinal também
havia se tornado o CEO de muitas das empresas da família.
A verdade era que ele havia visitado tantas cidades, que às vezes se
esquecia do nome do lugar em que estava.
Somente um mês depois, — após discutir com Emir dizendo que
precisava de um tempo para si mesmo —, Ziad por fim pôde fazer o que
queria. Ordenou que preparassem o avião particular da família real, e
declarou que estaria fora do país durante alguns dias para a resolução de
assuntos pessoais.
Ele estava tão ansioso que sequer conseguiu dormir durante o voo. E
quando chegou à Nova York, sentia seu coração pesado, quase como se
estivesse prestes a perder o seu bem mais precioso.
Quatro semanas haviam se passado, pensou. Talvez Leslie já não
pensasse nele, talvez tivesse mudado de ideia.
Quanto mais pensava, mais sua ansiedade aumentava. Queria lutar
contra o tempo e contra a distância, mas se sentia impotente. Não era capaz
de prever qual seria a reação dela ao vê-lo.
A vida parecia tão cinza desde que Leslie partira que Ziad sequer
conseguia imaginar uma outra realidade em que ela não o aceitasse de volta.
Imaginar aquilo era o suficiente para fazê-lo se sentir doente.
Além disso, a saudade parecia crescer cada vez mais. Desejava senti-
la, tocá-la, podendo percorrer aquele corpo feminino por horas ininterruptas.
Ao entrar no carro que o esperava na pista de pouso, Ziad pediu aos
céus que não fosse tarde demais. Praticamente clamou em silêncio que Leslie
o aceitasse novamente, para que juntos pudessem construir um bonito final
feliz.
Conforme o carro cortava a cidade, a ansiedade chegava ao ápice.
Olhar pela janela e observar as pessoas e os carros já não parecia ser o
suficiente.
— Ainda vamos demorar? — Perguntou ele ao motorista pelo que
parecia ser a milésima vez.
— Somente mais alguns minutos. — O motorista respondeu, atento
ao trânsito.
Seguranças estavam posicionados estrategicamente, seguindo todo o
percurso para evitar possíveis atentados. Além disso, outro carro exatamente
igual estava fazendo outro percurso na tentativa de confundir paparazzi.
Quando o carro entrou no estacionamento e parou, Ziad sentiu como
se o seu coração estivesse prestes a parar também.
— Agora chegamos. — Disse o motorista quebrando o silêncio.
— Ótimo... — Ziad saiu do carro e caminhou pelo estacionamento.
Caminhou rumo ao seu destino.