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Cadernos PDE
I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
FILMES, DOCUMENTÁRIOS E VÍDEOS, SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O
ENSINO DE GEOGRAFIA
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo trazer uma contribuição em relação ao uso de
filmes, documentários e vídeos como linguagem nas aulas de Geografia. Este
trabalho é o resultado da implementação do Projeto e da Produção Didático
Pedagógica, realizada através do Programa de Desenvolvimento Educacional –
PDE, desenvolvido no Colégio Estadual de Ouro Verde – E.F.M., que teve como
público alvo os alunos da segunda série do ensino médio do período vespertino. O
projeto nasceu de uma inquietação em relação ao desinteresse dos alunos pelas
aulas em especial as de Geografia. Nesse sentido, selecionamos alguns filmes, um
documentário e um vídeo, abordando temas relevantes ao conteúdo que pudessem
ser trabalhados, verificando se a utilização da linguagem fílmica poderia atrair os
alunos e ter resultados significativos no processo de ensino aprendizagem. Os
alunos também foram instigados a realizarem produções de vídeos, sendo autores
do seu próprio conhecimento. A proposta de um trabalho diferenciado abordando os
conteúdos através de produções fílmicas demonstrou-se satisfatória, percebendo-se
um maior interesse e participação por parte dos alunos nas aulas, assim como o
desenvolvimento de uma postura crítica e reflexiva em torno do conhecimento
geográfico.
Introdução
[...] é importante porque traz à escola aquilo que ela se nega a ser e
que poderia transformá-la em algo vivido e fundamental: participante
ativa da cultura e não repetidora e divulgadora de conhecimentos
massificados, muitas vezes já deteriorados e defasados [...]
(ALMEIDA, 2001, p. 48).
Como alerta Napolitano (2009), o cinema é uma obra de arte ampla, que
congrega diferentes linguagens, mas é essencialmente comercial, por isso, ao
adentrar na escola deve-se recordar que a maioria dos filmes que temos contatos
não são produzidos com a função pedagógica, então o olhar didático do professor
será fundamental para conduzir o trabalho, cabendo a este, selecionar a produção
fílmica, justificando sua escolha pela temática a ser desenvolvida. Existem diversas
produções fílmicas, que abordam desde temas mais cotidianos, reais e até os de
ficção, assim como aspectos históricos, geográficos, culturais entre outros.
Os filmes não são neutros, muitos têm implícita a ideologia de quem os
produz, e isso precisa ser observado pelos professores, exigindo assim, uma análise
prévia do seu conteúdo e de sua linguagem.
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Participaram da Implementação Didática Pedagógica 30 alunos do período vespertino do Colégio
Estadual de Ouro Verde, localizado na região oeste do Paraná no município de Ouro Verde do Oeste.
assistem filmes. Os alunos que raramente assistem filmes, afirmaram não ter tempo
para assistir, pois trabalham ou praticam esportes e estudam.
O que chama a atenção é que uma grande parcela dos alunos, 33% assistem
filmes todos os dias, isso demonstra como os alunos tem contato com essa
linguagem audiovisual. Esses alunos encontram-se na faixa etária de 15 a 16 anos,
como a grande maioria ainda não está inserida no mercado de trabalho, acredita-se
que tenham tempo para assistir filmes e programas televisivos.
No que tange aos gêneros fílmicos4 assistidos, os alunos afirmaram ter
preferência por filmes de: a) 70% ação; b) 42% romance, c) 40% comédia; d) 38%
terror e) 24% aventura; f) 15%animação g) 13% suspense; h) 13% ficção científica, i)
10% drama; j)7% Históricos, apresentando assim, uma diversidade de gêneros
assistidos, destacando-se entre eles o gênero de ação.
Quando questionados se os filmes podem ajudar na compreensão dos
conteúdos de geografia, 100% dos alunos responderam que sim. Entre as
respostas, selecionamos algumas: “podemos ver fatos e acontecimentos
relacionados ao conteúdo de geografia” (Aluno A, 2015); “Entendemos melhor
porque tem imagens” (Aluno D, 2015); “Os filmes demonstram lugares, como eram
na época” (Aluno H, 2015); “Com a ajuda do filme, a explicação do professor fica
mais clara” (Aluno J, 2015) “Sim, os documentários mostram fatos e diversos
assuntos que estamos estudando” (Aluno M, 2015).
Os alunos indicam em suas respostas que os filmes possibilitam ver fatos e
acontecimentos relacionados os conteúdos geográficos, e entendem que essa
linguagem permite visualizar as modificações que ocorre no espaço, quando
afirmam que os filmes “mostram lugares como eram na época”.
O aluno M, cita a importância do gênero documentário, pois, através deste
gênero muitos fatos históricos e assuntos são trabalhados em sala de aula
relacionada aos conteúdos estudados, para o aluno, o documentário representa uma
possibilidade de aprendizagem.
Por meio dos resultados obtidos com essa investigação inicial ficou claro que
os alunos gostam de assistir filmes e o fazem com bastante freqüência e quando
exibidos nas aulas ajudam na compreensão dos conteúdos. Por isso, é tão
importante usá-los na escola.
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Os alunos poderiam nesta pergunta assinalar mais de um gênero.
Os chamados “filmes de escola” propiciam bons debates sobre os
problemas que enfrentamos no dia a dia da atividade educacional e
como a linguagem da maioria deles é simples de fácil compreensão e
o enredo é construído de forma a torná-los acessíveis a pessoas de
todas as idades, em geral, eles podem ser exibidos a estudantes de
todos os níveis de ensino (DUARTE, 2002 p. 73).
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Direção: Wolfgang Becker. Gênero: Comédia dramática. Gênero: Comédia dramática. Ano de
produção: 2002. Tempo de duração: 121 mim.
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Direção: John Halas, Joy Batchelor. Gênero: Animação, drama, Comédia. Ano de produção: 1954.
Tempo de duração: 1h13 min. Curiosidades Segunda animação longa metragem produzida na
Inglaterra.
Constatou-se que o momento posterior à exibição do filme foi de suma
importância, pois é nele que se estabelece a verificação do entendimento do filme
pelos alunos e sua relação com o conteúdo, sendo o momento ideal para o
professor mediar o trabalho fomentando o debate e sistematizar o conhecimento.
Neste contexto, os alunos foram instigados a realizarem debates, dialogando
sobre alguns aspectos fílmicos como produção, cenário e a relação entre as
personagens do filme e as personagens da História, assim como sua relação aos
conteúdos estudados. Os alunos fizeram diversos questionamentos participando
ativamente, interagindo com o grupo e contribuindo na compreensão dos filmes.
Também realizaram produções de textos sistematizando a aprendizagem,
demonstrando que os objetivos foram atingidos resultando em produções bastante
consistentes.
Em relação ao filme A Revolução dos Bichos, alguns alunos não gostaram
deste gênero fílmico, pois acreditamos que o mesmo interfere nas emoções e na
percepção que os alunos possuem das relações de trabalho e exploração. Ele
estabelece um conflito entre o que é humano e o que é animal, isso gera
inquietações. Mesmo assim, compreenderam como a obra estabelece relações entre
a representação fictícia e os acontecimentos históricos.
Ao propormos o trabalho com documentários os alunos relataram que na
maioria das vezes só os assistem na escola ou quando querem pesquisar sobre um
determinado tema, ou seja, esse gênero não faz parte do dia a dia dos alunos,
percebendo-se assim, a importância de usá-los no espaço escolar, pois apresentam
uma gama de tipologias que muito contribuem para o trabalho pedagógico.
O documentário escolhido para o desenvolvimento do trabalho foi
“Globalização Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá” 7, em que aborda
diversos aspectos da Globalização e do Sistema Capitalista do ponto de vista do
geógrafo Milton Santos, com uma perspectiva de surgimento de uma “nova
globalização” nos países periféricos.
Antes de exibir o documentário, fez-se uma explanação para os alunos sobre
as questões de desigualdades vivenciadas pelos países subdesenvolvidos no
mundo globalizado. E em seguida a exibição, foi realizada um debate, reprisando
7
Produção brasileira do cineasta Silvio Tendler, narrada por Betlh Goulart, Fernanda Montenegro,
Milton Gonçalves, Osmar Prado, Matheus Naschtergaele com participação especial de Zélia Duncan.
Produtora: Caliban. Ano 2006. Vídeo: Disponível em <https: //www.youtube.com/watch?v=-
UUB5DW_mnM> acesso em 10/out/2014.
alguns trechos do documentário pela solicitação dos alunos para tirarem dúvidas e
entenderem melhor o contexto. Durante o debate, os alunos demonstraram entender
que à globalização do jeito que se apresenta exclui muitos países e muitas pessoas
sofrem sem acesso a tecnologia, água e alimentos. A segunda parte desta atividade
foi uma pesquisa sobre Milton Santos e sua atuação como geógrafo e suas obras.
Organizou-se também, um momento extraclasse (no período noturno), sendo
uma “seção de cinema”, intitulada Cine-Geo, os alunos assistiram ao filme Treze
dias que abalaram o mundo 8, o qual apresenta o momento histórico da Guerra Fria,
a Bipolaridade e a Corrida Armamentista e Aeroespacial. Esse momento foi
diferenciado para os alunos, houve uma grande participação, mesmo sendo em
contra turno. A atividade contribuiu significativamente para o processo de
aprendizagem. Observamos, a partir do trabalho realizado com comentários com os
alunos que o senso crítico foi despertado, e de meros espectadores passaram a
sujeitos críticos.
Em outro momento, no intuito de vivenciar o cinema em seu contexto,
propiciou-se uma visita ao cinema, onde os alunos assistiram a um filme em
ambiente próprio. Sabemos da carência, especialmente nas cidades pequenas, das
salas de projeção cinematográfica, como destaca Duarte (2009) o Brasil é um dos
países em que o ingresso do cinema está entre os mais caros do mundo, e muitas
pessoas não conseguem ter acesso a essa arte. Além disso, não se considera no
país a importância da exibição e produção de filmes como expressão artística, ao
contrário das sociedades e países mais desenvolvidos do mundo contemporâneo,
onde os seus bens culturais audiovisuais, incluindo o cinematográfico, são vistos
como recursos estratégicos para a construção e a preservação da identidade
nacional e cultural do seu povo.
O filme em cartaz era Maze Runner 2 - Prova de Fogo, um filme de ficção
científica. A maioria dos alunos relatou que só vão ao cinema em momentos
proporcionados pelo colégio. Percebe-se assim a carência de espaços específicos,
que contribuam com o desenvolvimento da cultura cinematográfica, e de maneira
geral por acesso a cultura. De acordo com Alencar (2007), o cinema possibilita o
8
Direção: Roger Donaldson. Roteiro: David Self. Gênero: Ação, Ficção Científica. Ano de produção:
2015. Duração: 130 min.
encontro entre pessoas, amplia o mundo de cada um, mostra na tela o que é familiar
e o que é desconhecido e estimula o aprender.
Com relação aos vídeos, utilizou-se um vídeo disponível no Youtube, o qual
representa com imagens e narração9 o poema Eu, Etiqueta de Carlos Drummond de
Andrade, abordando o conteúdo sobre consumismo e as necessidades que as
pessoas têm com a própria imagem, e com a busca de satisfação pessoal perante o
olhar dos outros. Na atual sociedade de consumo, o homem transformou-se em ser
industrial em “anúncio itinerante”, como afirma Drummond, movido pelos apelos
emocionais da propaganda que modela o comportamento das pessoas e a sua
identidade.
A partir do poema realizaram-se diversas atividades onde os alunos
participaram com empenho, buscando contextualizar o poema as suas experiências
vividas. Uma destas atividades foi à releitura de uma estrofe escolhida pelos alunos.
Percebeu-se claramente o entendimento do conteúdo trabalhado e das relações
deste no cotidiano. Constatou-se a grande importância do material audiovisual como
instrumento aliado da aprendizagem.
Como forma de interação entre os conteúdos estudados, buscou-se que os
alunos em grupos produzissem vídeos com a temática: Capitalismo e Consumismo.
Para isso, foram orientados a partir dos seguintes passos a seguir:
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Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/MjAyODM0/> acessado em 07/12/15.
Para a produção de vídeos é importante seguir alguns passos: primeiramente
é necessário definir a temática a ser trabalhada, é ela que norteará todo o trabalho
de produção, assim como a abordagem ou direcionamento do que será
desenvolvido. Esta escolha deve ser feita com o consenso de todos os integrantes
do grupo, por isso, é importante um tempo para o grupo amadurecer as idéias e
garantir unidade durante o processo de produção.
Definidos a temática e a abordagem da mesma, é preciso estabelecer um
roteiro do que serão filmados, como: ambientes, figurinos, assim como os recursos
(filmadoras e câmaras) que serão utilizados para as gravações. O processo de
filmagem deve acontecer com muito cuidado verificando se está sendo seguido o
roteiro e se os aparelhos estão funcionando corretamente.
Após o processo de filmagem é hora de editar em áudio e vídeo o que foi
produzido. O grupo novamente precisa estar bem entrosado para escolher as
melhores cenas, colocar introdução, trilha sonora e fazer os agradecimentos e
créditos necessários.
Os vídeos produzidos estimularam a criatividade dos alunos e os conduziram
a organizar o conteúdo proposto apresentando-o com outra linguagem, não tão
convencional. Muitos vídeos tiveram uma qualidade satisfatória. Os alunos
pensaram no formato (programa de entrevista) como podemos observar na imagem
abaixo, atribuíram titulo, inseriram som, legendas, abertura, figurino e créditos.
Considerações finais
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Claudio Aguiar. O cinema como “agitador de almas”: argila uma cena
do Estado Novo. São Paulo: Anna Blumme/Fapesp, 1999.
CORRÊA, Roberto Lobato; Zeny Rosendhal. (orgs.). Cinema, música e espaço. Rio
de Janeiro: EdUERJ, 2009.
COUSIN, Marcelo. Janela para o mundo: o cinema como ponte entre lugares reais e
imaginários. In: PORTUGAL, Jussara Fraga. CHAIGAR, Vânia Alves Martins (org.).
Cartografia, cinema, literatura e outras linguagens no ensino de geografia. –
1ed. Curitiba, PR: CRV, 2012.
LÉVY, Pierre. O que é virtual? Ed. São Paulo: Editora 34, 1996.
MORAN José Manuel. Leituras dos meios de comunicação. São Paulo, Pancast.
1993.
MOREIRA, Ruy. O racional e o simbólico na geografia. In: SOUZA, Maria Adélia (et.
all). Natureza e sociedade de hoje: uma leitura geográfica. São Paulo: Hucitec-
Anpur, 1994.
SITES CONSULTADOS
Oliveira, Ivanete Nunes de. A TV, O Vídeo e o Celular em Sala de Aula: Relato de
uma Experiência com o Projeto “Noite da Poesia”. Disponível em:
<http://meuartigo.brasilescola.com/atualidades/a-tv-video-celular-sala-aula-relato-
experiencia-com-projeto.htm> Acesso: 10 jun. 2014.