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SUPLEMENTO LITERÁRIO

Exercícios
TEXTO PARA A QUESTÃO 1. Porém meus olhos
não perguntam nada.
No livro inicial, domina a ideia de que a poesia
vem de fora, é dada sobretudo pela natureza O homem atrás do bigode
do objeto poético, segundo a reconsideração do é sério, simples e forte.
mundo graças à qual os modernistas romperam Quase não conversa.
com as convenções acadêmicas. Drummond co- Tem poucos, raros amigos
meça por integrar-se nesta orientação, fazendo o homem atrás dos óculos e do bigode.
o valor da poesia confundir-se com o sentimen- Meu Deus, por que me abandonaste
to poético e reduzindo em consequência o po- se sabias que eu não era Deus
ema a um simples condutor. [...] A poesia pa- se sabias que eu era fraco.
rece (para usar uma definição sua dessa fase)
“acontecer” sob o estímulo do assunto, de tal Mundo mundo vasto mundo,
maneira que lhe é coextensiva; faz-se pelo sim- se eu me chamasse Raimundo
ples registro da emoção ou da percepção. seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
CANDIDO, Antonio. Inquietudes na poesia de Drummond. In:
VÁRIOS Escritos. São Paulo: Duas Cidades, 2004. p. 67-97. mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
1. Assinale a alternativa na qual os versos de “Al- mas essa lua
guma Poesia”, como coloca Antonio Candido, pa- mas esse conhaque
recem “acontecer” sob o estímulo do assunto”: botam a gente comovido como o diabo.
a) “A mão que escreve este poema/ não sabe o que DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Alguma Poesia: Poema
está escrevendo/ mas é possível que se soubesse/ de Sete Faces. In: DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Nova
nem ligasse.” (Poema que aconteceu) Reunião: 23 livros de Poesia - volume 1. 1. ed. Rio de Janeiro:
b) “Meu Deus, por que me abandonaste/ se sabias Best Bolso, 2009. v. 1, p. 9-10. ISBN 978-85-7799-160-0.
que eu não era Deus/ se sabias que eu era fraco.”
(Poema de sete faces) 2. No poema de abertura de “Alguma Poesia”, o
c) “O poeta municipal/ discute com o poeta estadu- sujeito é decomposto em sete diferentes faces,
al/ qual deles é capaz de bater o poeta federal.” procedimento que o estilhaça, para, em segui-
(Política Literária) da, recompor os fragmentos em um ponto de
d) “Certo me tornaria/ brinquedo nas suas mãos./ vista singular. Tal expediente é influência dire-
Apanharia, sorriria/ mas acabado o jogo/ não se- ta de uma corrente artística muito importante
ria mais joguete,/ seria eu mesmo.” (Esperteza) para os primeiros modernistas brasileiros. Assi-
e) “Casas entre bananeiras/ mulheres entre laranjei- nale a alternativa que apresenta tal corrente:
ras/ pomar amor cantar.” (Cidadezinha qualquer) a) Surrealismo
b) Impressionismo
TEXTO PARA AS QUESTÕES 2 E 3. c) Expressionismo
d) Cubismo
POEMA DE SETE FACES e) Futurismo
Quando nasci, um anjo torto 3. Sobre a visão que o eu lírico apresenta sobre si em
desses que vivem na sombra “Poema de Sete Faces” é incorreto afirmar que:
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. a) Existencialmente, o eu lírico se vê como desajei-
As casas espiam os homens tado, visão reforçada pela fala do “Anjo torto”.
que correm atrás de mulheres. b) O eu lírico é “sério, simples e forte”, pois o mun-
A tarde talvez fosse azul, do nem o espanta, nem o surpreende.
não houvesse tantos desejos. c) O eu lírico olha para si mesmo sem autopiedade,
O bonde passa cheio de pernas: numa visão marcada pela ironia.
d) A angústia existencial da quinta estrofe reflete a
pernas brancas pretas amarelas. crise de crenças e valores do início do século XX.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu e) A perplexidade é um dos atributos do desajuste
coração. experimentado pelo eu lírico.

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TEXTO PARA A QUESTÃO 4. por meio da forma como as reflexões do prota-
gonista são apresentadas, é possível observar,
Rubião mal sustinha o papel nos dedos. Passa- por meio do narrador, a seguinte característica
dos alguns segundos, advertiu que podia ser um da literatura machadiana:
gracejo do amigo, e releu a carta; mas a segun- a) Por meio de um narrador em terceira pessoa,
da leitura confirmou a primeira impressão. Não toma-se contato com profundas reflexões exis-
havia dúvida; estava doido. Pobre Quincas Borba! tenciais dos personagens.
Assim, as esquisitices, a frequente alteração de b) Apesar do narrador em terceira pessoa, toma-se
humor, os ímpetos sem motivo, as ternuras sem contato com uma descrição minuciosa do am-
proporção, não eram mais que prenúncios da ru- biente e do personagem.
ína total do cérebro. Morria antes de morrer. Tão c) O narrador em terceira pessoa penetra nas emo-
bom! Tão alegre! Tinha impertinências, é verda- ções do personagem para oferecer uma análise
de; mas a doença explicava-as. Rubião enxugou psicológica de suas ações.
os olhos, úmidos de comoção. Depois, veio a lem- d) O narrador em terceira pessoa é distante e, por
brança do possível legado, e ainda mais o afligiu, isso, permite uma observação objetiva dos fatos.
por lhe mostrar que bom amigo ia perder. e) O narrador em terceira pessoa oferece uma visão
Quis ainda uma vez ler a carta, agora devagar, determinista dos fatos.
analisando as palavras, desconjuntando-as, para
ver bem o sentido e descobrir se realmente era TEXTO PARA A QUESTÃO 5.
uma troça de filósofo. Aquele modo de o descom-
Mar Português
por brincando, era conhecido; mas o resto con-
firmava a suspeita do desastre. Já quase no fim, Ó mar salgado, quanto do teu sal
parou enfiado.12 Dar-se-ia que, provada a aliena- São lágrimas de Portugal!
ção mental do testador, nulo ficaria o testamento, Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
e perdidas as deixas? Rubião teve uma vertigem. Quantos filhos em vão rezaram!
Estava ainda com a carta aberta nas mãos, quan- Quantas noivas ficaram por casar
do viu aparecer o doutor, que vinha por notícias Para que fosses nosso, ó mar!
do enfermo; o agente do correio dissera-lhe haver
chegado uma carta. Era aquela? Valeu a pena? Tudo vale a pena
— É esta, mas… Se a alma não é pequena.
— Tem alguma comunicação reservada…? Quem quer passar além do Bojador
— Justamente, traz uma comunicação reservada, Tem que passar além da dor.
reservadíssima; negócios pessoais. Dá licença? Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Dizendo isto, Rubião meteu a carta no bolso; o Mas nele é que espelhou o céu.
médico saiu; ele respirou. Escapara ao perigo de PESSOA, Fernando. Mensagem. Cotia: Ateliê Editorial, 2015.
publicar tão grave documento, por onde se podia 191 p. ISBN 978-85-7480-702-7.
provar o estado mental de Quincas Borba. Minu-
tos depois, arrependeu-se, devia ter entregado
5. Mensagem caracteriza-se como uma das prin-
cipais obras da poesia em língua portuguesa e
a carta, sentiu remorsos, pensou em mandá-la à
é exemplar máximo da habilidade poética de
casa do médico. Chamou por um escravo; quando
Fernando Pessoa. Os significados presentes nos
este acudiu, já ele mudara outra vez de ideia; con-
versos são vários e os poemas se abrem a múl-
siderou que era imprudência; o doente viria em
tiplas possibilidades de interpretação. Ainda
breve, — dali a dias, — perguntaria pela carta,
assim, duas das principais temáticas do livro
argui-lo-ia de indiscreto, de delator… Remorsos
são evidentes no poema acima. Assinale a alter-
fáceis, de pouca dura.
nativa que as contém:
— Não quero nada, disse ao escravo. E outra vez a) Sebastianismo e modernismo.
pensou no legado. Calculou o algarismo. Menos b) Heteronímia e nacionalismo.
de dez contos, não. Compraria um pedaço de ter- c) Misticismo e Sebastianismo.
ra, uma casa, cultivaria isto ou aquilo, ou lavraria d) Reflexão existencial e História de Portugal.
ouro. O pior é se era menos, cinco contos… Cinco? e) Misticismo e pessimismo.
Era pouco; mas, enfim, talvez não passasse disso.
Cinco que fossem, era um arranjo menor, e antes TEXTO PARA AS QUESTÕES 6 E 7.
menor que nada. Cinco contos… Pior seria se o
testamento ficasse nulo. Vá, cinco contos!, A noite vai descendo. O frio aperta enquanto se
alarga um silêncio do tamanho da terra. Muidin-
DE ASSIS, Machado. Quincas Borba. 1. ed. São
Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, ga se queixa. Lhe dói o corpo da posição que a
2012. 356 p. ISBN 978-85-63560-52-0. rede lhe obrigava, dobrado pelo umbigo. A dor,
afinal, é uma janela por onde a morte nos es-
4. Uma das principais inovações técnicas do Rea- preita. Sucumbente, se encosta a Tuahir a buscar
lismo está no cuidado na elaboração do narrador um quentinho. Mas o sono não lhe chega. Por
que, por meio de suas principais características, um buraco da rede Muidinga consegue retirar
acrescenta diversos níveis de complexidade e um braço. Apanha um pau e escreve no chão.
diversas sutilezas à caracterização dos persona- — Que desenhos são esses?, pergunta Siqueleto.
gens e à elaboração do enredo. No trecho acima, — É o teu nome, responde Tuahir.

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c) “O velho desdentado se levanta e roda em volta
— Esse é o meu nome?
da palavra.”
O velho desdentado se levanta e roda em vol-
d) “— Agora podem-se ir embora. A aldeia vai con-
ta da palavra. Está arregalado. Joelha-se, limpa
tinuar, já meu nome está no sangue da árvore.”
em volta dos rabiscos. Ficou ali por tempos, ga-
e) “Passa-lhe o punhal. No tronco Muidinga grava
tinhoso, sorrindo para o chão com sua boca des-
letra por letra o nome do velho.”
provida de brancos. Depois, com voz descolorida
trauteia uma canção. Parece rezar. Com aquela TEXTO PARA A QUESTÃO 8.
cantoria Muidinga acaba por adormecer. Não faz
ideia quanto tempo dorme. Porque desperta em
sobressalto: o brilho de uma lâmina relampeja
frente a seus olhos. O velho Siqueleto armaneja
uma faca.
— Andam comigo!
Solta Tuahir e Muidinga das redes. São conduzi-
dos pelo mato, para lá do longe. Então, frente a
uma grande árvore, Siqueleto ordena algo que o
jovem não entende.
— Está mandar que escrevas o nome dele.
Passa-lhe o punhal. No tronco Muidinga grava
letra por letra o nome do velho. Ele queria aque-
la árvore para parteira de outros Siqueletos, em
fecundação de si. Embevecido, o velho passava
os dedos pela casca da árvore. E ele diz:
— Agora podem-se ir embora. A aldeia vai con-
tinuar, já meu nome está no sangue da árvore.
Então ele mete o dedo no ouvido, vai enfiando
mais e mais fundo até que sentem o surdo som
de qualquer coisa se estourando. O velho tira o
dedo e um jorro de sangue repuxa da orelha. Ele
se vai definhando, até se tornar do tamanho de
uma semente.
COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia
das Letras, 2007. 206 p. ISBN 978-85-359-2701-6.

6. Sobre o trecho acima e o contexto geral da obra,


é possível afirmar que
a) o ato de escrever, executado por Muidinga, é re-
presentativo da resistência dos naparamas, que
batalharam para que Moçambique pudesse, pacifi-
camente, se libertar da colonização portuguesa.
b) Siqueleto representa a parcela da população mo-
çambicana que, ao se aliar ao colonizador, impedia
o progresso dos avanços revolucionários e a moder- 8. O livro “Nove Noites” utiliza diferentes gêne-
nização do país. ros textuais na construção de seu enredo, seja
c) a forma como Siqueleto morre é representativa do nas fotos e documentos históricos apresentados
embate entre dois tipos de cultura, a oral e a es- nos livros, seja na alusão a artigos de jornais,
crita. Esta representada por Muidinga, o novo, e entrevistas e cartas, como é o caso do documen-
aquela por Siqueleto e Tuahir, o velho. to acima. Afirma-se com correção que o efeito
d) a morte de Siqueleto mostra o tom realista do livro principal da apresentação e da referência a do-
que, ao expor as cruezas da guerra, se afasta dos cumentos é:
momentos em que a fantasia e o onírico dominam a) A construção de uma argumentação que com-
a narrativa. prova as hipóteses do narrador sobre o suicídio
e) a palavra escrita, apesar de determinante neste tre- de Buell Quain.
cho, não desempenha nenhum papel na formação b) A sustentação da tese de que Buell Quain se
de Muidinga, que depende mais dos ensinamentos suicidou, pois se envolveu em conflitos com os
passados por meio das conversas com Tuahir. índios Krahô.
7. Assinale a alternativa que contenha um perí- c) A construção de uma atmosfera que permita ao
odo no qual a construção sintática seja pouco livro ser fiel aos eventos históricos.
comum no português brasileiro: d) A construção de um dispositivo narrativo que
a) “— Esse é o meu nome?” questiona os limites entre o real e o ficcional.
b) “ O velho tira o dedo e um jorro de sangue repu- e) A construção de uma biografia de Buell Quain.
xa da orelha.”

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TEXTO PARA AS QUESTÕES 9 E 10 b) A reflexão de “Fala aos pusilânimes” tem tanto
conotação histórica, quanto ética e metafísica.
Se vós não fôsseis os pusilânimes, c) “Fala aos pusilânimes” faz parte de um contex-
recordaríeis os grandes sonhos to maior de recriação exclusivamente ficcional
que fizestes por esses campos, dos eventos da Inconfidência Mineira.
longos e claros como reinos; d) “Fala aos pusilânimes” tem como interlocutor
contaríeis vossas conversas Joaquim Silvério e trata principalmente de seu
nos lentos caminhos floreados, caráter e personalidade.
por onde os cavalos, felizes e) No contexto geral da obra, “Fala aos pusilâni-
com o ar límpido e a lúcida água, mes” apresenta-se como exclusivamente dramá-
sacudiam as crinas livres tica, por oferecer características de personali-
e dilatavam a narina, dades históricas.
sorvendo a úmida madrugada!
(...) 10. Nas estrofes apresentadas, o eu lírico interpe-
Mas ai! fechastes vossas janelas, la os pusilânimes, para poder acusá-los e te-
e os escaninhos de móveis e almas… cer suas reflexões. Assinale a alternativa que
(...) apresenta os elementos textuais utilizados para
construir tal interpelação:
Vistes caídos os que matastes, a) Utilização recorrente de adjetivos, como “gran-
em vis masmorras, forcas, degredos, des”, “longos” e “claros”, na primeira estrofe.
indicados por vosso punho, b) Seleção de palavras que trazem consigo as ima-
por vossa língua peçonhenta, gens de julgamento e punição, como “masmor-
por vossa letra delatora… ras”, “forcas”, “degredos” e “delatora, na ter-
– só por serdes os pusilânimes, ceira estrofe.
os da pusilânime estirpe, c) Discurso direto exemplificado por “Os pusilâni-
que atravessa a história do mundo mes”, na quarta estrofe.
em todas as datas e raças, d) Utilização da segunda pessoa tanto em prono-
como veia de sangue impuro mes como em verbos, como em “vós”, “fôsseis”
queimando as puras primaveras, e “poderíeis”, na primeira estrofe.
enfraquecendo o sonho humano e) Uso recorrente de pontos de exclamação e in-
quando as auroras desabrocham! terjeições como em “Mas ai!”, na segunda es-
trofe.
(...)
Chega, porém, do profundo tempo,
uma infinita voz de desgosto,
e com o asco da decadência, Gabarito
entre o que seríeis e fostes,
murmura imensa: “Os pusilânimes!” 1. A 2. D 3. B 4. C 5. D
“Os pusilânimes!” repete 6. C 7. D 8. D 9. B 10. D
o breve passante do mundo,
quando conhece a vossa história!
Em céus eternos palpita o luto
por tudo quanto desperdiçastes…
“Os pusilânimes!” – suspira
(...)
Ó vós, que não sabeis do Inferno,
olhai, vinde vê-lo, o seu nome
é só – pusilanimidade.
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da inconfidência. Ilustração
de Renina Katz. São Paulo, SP: Edusp: Imprensa Oficial, c2004.
250 p., il. ISBN 8570602189 (enc. : Imprensa Oficial).

9. “Fala aos pusilânimes” é uma das partes mais


famosas de “Romanceiro da Inconfidência”. A
partir das estrofes acima, assinale a alternativa
que apresenta a relação correta entre elas e o
restante da obra:
a) Desprovida de conotação histórica, “Fala aos
pusilânimes” traz uma reflexão social caracte-
rística do modernismo de segunda geração.

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