PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO I
Ji-Paraná/RO
2021-1
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PSICOLOGIA HOJE1
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Transcrito pelo Prof. Dr. Alberto Dias Valadão do Cap. 1 do Livro: BRAGHIROLLI, Elaine Maria et. all. Psicologia
Geral. 23. ed. Petrópolis,RJ: Vozes, 2003.
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profissões que usam basicamente a Psicologia, que podem ser consultadas, se não houver outros
meios de certificar-se da validade de tais livros, testes, palestras, etc.
Uma última advertência se refere ao vocabulário psicológico. Palavras como “inteligência”,
“personalidade”, “criatividade” e muitas outras são usadas pelo público leigo com sentido bastante
diverso (e bastante indefinido) daquele que têm no vocabulário científico. Este fato causa
dificuldades para o estudante que, precisa aprender a significação que tais termos recebem em
Psicologia.
Voltando, agora, à lista de possíveis expectativas dos que iniciam o estudo da Psicologia:
ela mostrou uma diversidade grande de concepções sobre esta disciplina. Afinal, o que estuda a
Psicologia? O que se entende por Psicologia? Esta questão não é fácil de ser respondida. Acredita-
se que uma resposta satisfatória possa ser atingida, depois de ser examinado, ao menos de forma
rápida, o histórico da Psicologia e as principais posições psicológicas atuais.
ligadas a elas sobre as diferentes funções psíquicas tornaram possível a este santo da Igreja
medieval uma união quase total da psicologia aristotélica com as doutrinas da Igreja. A força da
psicologia tomista reside uma parte nos fundamentos empíricos da psicologia já, introduzidos por
Aristóteles e nela conservados e, por outra parte, na simultânea ligação com as crenças religiosas.
Apesar disto, na Idade Média, há pouco interesse pelo estudo dos fenômenos naturais em si
mesmos, talvez pelo fato de a grande predominância dos valores religiosos levar à crença que um
interesse muito grande nos fenômenos naturais era nocivo para a salvação da alma.
Além disso, o homem é tido como criado à imagem e semelhança de Deus, e seu
comportamento sujeito, apenas, à sua própria vontade e à de Deus. Tal concepção não favorece o
desenvolvimento de uma ciência do homem, já que ele não podia ser objeto de investigação
científica.
Até seu corpo, considerado como uma espécie de “sacrário da alma” era santo, e não se
concebia a dissecação de cadáveres para o estudo do organismo.
René Descartes (1596-1650), filósofo francês, além de matemático e fisiólogo, voltou a
favorecer a pesquisa sobre o ser humano com a sua teoria do dualismo psicofísico. Para ele, o
homem seria constituído de duas realidades: uma material, o corpo, comparável a uma máquina e,
portanto, cujos movimentos seriam previsíveis a partir do conhecimento de suas “peças” e relações
entre elas (pensamento mecanicista); e de uma outra realidade, imaterial, a alma, livre dos
determinismos físicos.
Todos os organismos vivos apresentariam certa diversidade de processos fisiológicos como,
por exemplo, alimentação, digestão, funcionamento nervoso, crescimento, etc.
A mente, por outro lado, é exclusividade do homem e tem atividades próprias como
conhecer, recordar, querer e raciocinar.
Algumas atividades, como a sensação, a imaginação e o instinto, seriam produtos da
interação entre corpo e mente.
Desta concepção sobre o homem decorre que existem duas áreas de estudo: a parte material,
o corpo, a quem se deveria dedicar a ciência; e a parte imaterial, a alma ou mente, domínio da
filosofia.
Quem estudasse a alma, portanto, não se poderia valer de observação e mensuração, já que
ela é entidade sem extensão e nem localização.
Esta concepção favorece a pesquisa, porque, pelo menos, é possível estudar corpos mortos e
animais, já que ambos não possuem alma.
O pensamento de Descartes influenciou profundamente a filosofia dos dois séculos
seguintes, e foi amplamente aceita a sua teoria do dualismo psicofísico.
Os filósofos dos séculos XVIII e XIX, que tinham a mente e o seu funcionamento como
objeto de estudo de grande interesse, dividiram-se em duas escolas de pensamento: o empirismo
inglês e o racionalismo alemão.
Os primeiros valorizavam principalmente os processos de percepção e de aprendizagem no
desenvolvimento da mente. Para eles, o conhecimento tem base sensorial: as associações
fundamentam a memória e as ideias. É grande a importância do meio ambiente que estimula a
percepção, que é, por sua vez, a base do conhecimento. O cérebro desempenha papel primordial, já
que é para onde se encaminham os estímulos sensoriais e onde se processa a percepção.
Encontra-se, aqui, a raiz filosófica das investigações biológicas dos fenômenos mentais.
John Locke (1632-1704), inglês, é tido como o fundador do empirismo, comparou a mente
com uma “tabula rasa” onde seriam impressas, pela experiência, todas as idéias e conhecimentos.
Nada existiria ali que não tivesse passado pelos sentidos (“Nihil est in inteliectu quod prius non
fuerit in sensibus”).
A associação de ideias explicaria muito da vida mental, segundo Locke.
Os filósofos racionalistas, pelo contrário, acreditavam que a mente tem capacidade inata
para gerar idéias, independentemente dos estímulos do meio. Diminuíam, assim, a importância da
percepção sensorial.
Além disso, os racionalistas enfatizaram o papel da pessoa no processo de percepção,
afirmando que a percepção é ativamente seletiva e não um processo passivo de registro, como
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O Conceito de Psicologia
De acordo com a origem grega da palavra, Psicologia significa o estudo ou discurso (logos)
acerca da alma ou espírito (psique).
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Neste ponto subtraímos do Capítulo do Livro de Braghirolli et. all. Psicologia Geral as Principais posições atuais em
Psicologia, pois as trataremos separadamente adiante.
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Adaptado da obra: BRAGHIROLLI, Elaine Maria; BISI, Guy Paulo; RIZZON, Luiz Antônio &
NICOLETTO, Ugo. Psicologia Geral. 23. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2003.
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alimentar de carne de cachorro, isto porque a carne de cachorro não faz parte da dieta alimentar do
brasileiro.
Sentimento
O sentimento é uma construção histórica cujo significado está relacionado aos valores de
uma cultura. Por isso não podemos generalizar os sentimentos, ou seja, a forma como as pessoas
amam; essas emoções estão em harmonia com o conceito de amar da cultura de cada um. Por
exemplo, uma mãe brasileira raramente entregaria seu filho de seis anos para ser educado em outra
casa, outra cidade longe dos seus cuidados. Diferente da mãe brasileira, uma mãe israelita
tranquilamente entrega seu filho de seis anos para ser educado nos “Kibutz”, longe dela. E isso não
significa que ela não ame seu filho, pelo contrário, por amar seu filho ela deseja que ele tenha uma
educação considerada ideal dentro da sua cultura.
Referência
DOLLE, Jean-marie. Para além de Freud e Piaget: referências para novas perspectivas em
psicologia. Petrópolis: Vozes, 1993. (Psicologia e Psicanálise)
TEIXEIRA, Maria de Lourdes; BOCK, Ana M. Bahia; FURTADO, Odair. Psicologias. Uma
Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2007.
VIGOSTSKI, Lev. Semionovich. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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3
Disponível em: https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/205425/1/Livro%20Psicologia%20da%20Educa%C3
%A7%C3%A3o%20I.pdf. Acesso em 12 de agosto de 2021.
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Enfim, a Psicologia da Educação surge como resultado do esforço empreendido por muitos
psicólogos e pedagogos, preocupados em aplicar o conhecimento, os princípios, as explicações e os
métodos da Psicologia no campo das práticas da Educação. Assim, parece lógico que, como fruto
do trabalho de psicólogos e pedagogos, a história da origem e da evolução da Psicologia da
Educação confunde-se com a história da Psicologia científica.
Até por volta de 1890, ocorre a justificativa para o emprego do método da disciplina formal,
que, orientado pela principal finalidade que é de exercitar as faculdades humanas dos alunos como a
inteligência, memória, raciocínio, atenção, concentração etc., priorizou os conteúdos de ensino.
Nessa época, a teoria educativa vigente era a das faculdades ou funções cognitivas. Considerando
que em razão de tomar como objeto de estudo os aspectos psicológicos das vidas humanas, o estudo
do desenvolvimento pela Psicologia revela-se complexo. Ocorrendo o mesmo com a teoria
educativa.
A Psicologia da Educação, uma área historicamente recente, se delineia e se caracteriza
como uma área para onde convergem interesses e questionamentos sobre a aprendizagem e
educação. Encontramos no Brasil contribuições muito relevantes sobre a história da Psicologia da
Educação e suas relações com a história da Psicologia por Bernadete Gatti, Marli André, Mitsuko
Antunes, Maria do Carmo Guedes, entre outros pesquisadores da área.
A Psicologia da Educação estuda as diferenças individuais, as mudanças de comportamento
do sujeito em situações educativas; a análise dos processos de aprendizagem, desenvolvimento e
socialização no ambiente educacional; desenvolvimento infantil. Esses campos são fundamentais
para a compreensão de sua natureza e dimensão nos estudos da educação.
Referência
PRADO, Margareth Simone Marques. Psicologia da Educação. Cruz das Almas/BA: SEAD-
UFRB, 2017. Unidade 2. pp. 20-21.
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O DESENVOLVIMENTO HUMANO4
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Retirado do Texto Tópicos Especiais em Psicologia da Educação, produzido pela Coordenação de Educação a
Distância da Universidade Castelo Branco – UCB – Rio de Janeiro. Disponível em: http://ucbweb.castelobranco.
br/webcaf/arquivos/topicos_especiais_em_psicologia_da_educacao.pdf. Acesso em 25 de agosto de 2021.
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superiores, por exemplo, verifica-se que a criança começa por movimentar todo o braço e só depois
vai conseguir movimentar apenas a mão e, em seguida, os dedos.
O desenvolvimento progride de respostas gerais para respostas específicas. Quanto mais se
desenvolve, mais o indivíduo torna-se capaz de respostas específicas. Na aprendizagem da fala, por
exemplo, a criança utiliza uma mesma palavra para chamar uma porção de coisas, para depois
começar a utilizar uma palavra para cada coisa específica. Assim, de papá, que atribui a todos os
adultos, passa a usar papai, mamãe, titio, vovô, etc., e, depois, João, Antônio, Pedro, etc.
Cada parte do organismo apresenta um ritmo próprio de desenvolvimento. Assim, por exemplo,
enquanto o cérebro atinge 80% do peso do cérebro adulto aos quatro anos de idade, os testículos e
ovários só chegam aos 80% por volta dos 18 ou 19 anos. Outro exemplo: os jovens costumam ficar
preocupados, sem saber o que fazer com o nariz, os pés e as mãos, que ficaram muito grandes e
destoam do restante do corpo. Isso é normal. No tempo certo crescerão as outras partes e o corpo
terá proporções consideradas normais e adequadas. No desenvolvimento humano há períodos de
crescimento lento e períodos de crescimento acelerado, há órgãos que se formam e crescem em
momentos diferentes do desenvolvimento.
O ritmo de desenvolvimento de cada indivíduo tende a permanecer constante. Já vimos que cada
indivíduo tem seu próprio ritmo de desenvolvimento: uns se desenvolvem mais depressa e outros
mais devagar, o que é perfeitamente normal. Assim, há moças que têm a primeira menstruação aos
doze anos, outras aos quatorze, outras aos dezessete. O que se observa é que as crianças que têm um
desenvolvimento lento no início da vida continuarão a desenvolver-se lentamente até a idade adulta.
Embora cada uma tenda a manter constante seu próprio ritmo, é evidente que este pode ser
perturbado por influências internas, como doenças, e externas, como falta de alimentação adequada,
por exemplo. Uma criança que tenha herdado um ritmo acelerado de desenvolvimento crescerá num
ritmo lento se não tiver alimentação adequada e condições saudáveis de vida; pode ser que nunca
chegue a desenvolver-se até onde sua hereditariedade teria permitido.
O desenvolvimento é complexo e todos os seus aspectos inter-relacionados. O ser humano
desenvolve-se como um todo. Não se podem separar seus aspectos: físico, intelectual, emocional e
social; a não ser para fins de estudo. Os níveis fisiológico, psicológico e social dos seres humanos
estão em constante interação: problemas fisiológicos podem ter consequências psicológicas e
sociais, da mesma forma que problemas psicológicos, geralmente, têm repercussões sobre a
fisiologia e a sociabilidade do indivíduo. Os exemplos são numerosos: é comum o estudante suar ou
sentir calafrios no momento de uma prova, quando ele precisa obter bons resultados; o encontro
com a namorada pode acelerar os batimentos cardíacos, etc.
Por mais estudos e esforços que possamos dedicar para a compreensão do comportamento
humano e do seu desenvolvimento, devemos sempre contar com o fator surpresa e com imprevistos.
Antes de ser negativa, esta imprevisão e esta incerteza é que dão sabor, graça e beleza à vida
humana. Esse desajuste do ser humano a padrões pré-estabelecidos é que produz o avanço, o
progresso e a mudança. Segundo Piaget (1995), é o desequilíbrio que gera o desenvolvimento, pois
é através de uma equilibração progressiva, que ocorre uma passagem contínua de um estado de
menor equilíbrio para um estado equilíbrio superior.
A constante incerteza quanto ao momento seguinte estimula-nos a inventar, a criar, a
realizar, a tentar melhorar o mundo.
Vamos, agora, estudar as etapas do desenvolvimento e do crescimento humano.
Podemos verificar que tanto os livros de Biologia como os de Psicologia têm dividido a
evolução do ser humano em duas grandes fases, antes do nascimento e após o nascimento, cada uma
com suas respectivas etapas.
Antes do nascimento - pré-natal: Corresponde à fase que vai do momento da fecundação até o
parto, e dura cerca de nove meses na espécie humana. Pode ser dividida em três partes:
Período germinativo: 1ª semana; Período embrionário: 2ª à 8ª semana; Período fetal: 9ª
semana até 9º mês.
Após o nascimento - pós-natal: Compreende os períodos da infância, adolescência, idade adulta e
senilidade ou velhice.
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Infância: É o período que vai do nascimento até cerca dos 10 anos, sendo marcada pela aquisição
progressiva de múltiplas capacidades (coordenação muscular, falar, andar), que vão preparando a
criança para enfrentar as exigências do ambiente. Pode ser dividida em três partes:
Primeira infância (fase lactente): 0 a 2 anos; inicia-se com a queda do coto umbilical e
termina quando a criança aprende a falar, a andar e pode nutrir-se independentemente do organismo
materno (desmame). No fim do período, dá-se o aparecimento da primeira dentição. Nesta fase, o
período que vai de 0 a 30 dias é conhecido como período neonatal.
Segunda infância (fase pré-escolar): 2 a 7 anos; tem início com a aquisição da linguagem e
da locomoção e com o aparecimento dos primeiros dentes; termina com o ingresso na escola de
ensino fundamental.
Meninice (fase escolar): 7 a 10 anos; este período começa com a entrada na escola de ensino
fundamental e termina com o início da puberdade. Nela se dá a aquisição das técnicas de leitura e
escrita.
Puberdade e Adolescência: É o período que vai dos 10 aos 18 ou 20 anos e tem como
característica, quanto ao aspecto biológico, o desenvolvimento da capacidade reprodutiva. Pode ser
dividida em três fases: Fase pré-puberal: 10 a 12 anos; Fase puberal: 12 a 16 anos; Fase pós puberal:
16 a 18 anos.
Façamos aqui uma distinção importante entre puberdade e adolescência.
Puberdade é o conjunto de fenômenos biológicos, como o crescimento dos órgãos
reprodutores, aumento dos pelos no corpo, o crescimento das mamas e a mudança da voz, os quais
caracterizam a aquisição da capacidade de reproduzir-se; é o componente biológico da
adolescência.
Adolescência, em nossa cultura, é considerada um período emocionalmente tumultuado e é a
época em que os jovens buscam libertar-se dos pais e conquistar sua independência. As
características principais são: acentuado crescimento e desenvolvimento físico, amadurecimento
sexual, modificações em nível social, surgimento do raciocínio hipotético-dedutivo, busca de
identidade, busca de independência, criatividade e instabilidade emocional.
Idade adulta: 21 aos 65 anos; esta fase é marcada pelo término do crescimento e pela plenitude do
amadurecimento sexual. Surge o interesse pelo casamento e pelas coisas práticas de vida, como a
aquisição de bens materiais, atingindo, no final, o ponto alto da existência.
Senilidade ou velhice: após os 65 anos; nesta fase, as forças tendem a diminuir, e embora seja um
período considerado de serena contemplação, poderão ocorrer conflitos interiores de ordem
existencial, pela condição da idade avançada prejudicar a perspectiva de conquistar o que não foi
conseguido em anos anteriores e dificultar a recuperação do tempo perdido.
Convém esclarecer que a evolução humana é gradual e contínua. Estas fases embora sejam
convencionadas pela incidência, não são fixas e determinantes, deve-se, sempre, levar em conta as
características individuais, bem como as condições pessoais de cada pessoa, por isso qualquer etapa
poderá ser prolongada ou diminuída em função das circunstâncias.
Referências
BARROS, C. S. G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 1996.
BEE, H. A Criança em Desenvolvimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
BERGER P. L. e LUCKMANN T. A construção social da realidade. 9 ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
BIAGGIO, A. M. B. Psicologia do Desenvolvimento. 12 ed. Petrópolis: Vozes, 1996.
CARVALHO, V. B. C. G. Desenvolvimento e Psicologia: generalidades, conceitos, teorias. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 1997.
FALCÃO, G. M. Psicologia da Aprendizagem. São Paulo: Ática, 1996.
________. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 2002.
PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. 21ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.
RAPPAPORT, C. R. et al. Psicologia do Desenvolvimento. 4 volumes. São Paulo: EPU, 1981.
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CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO:
CORRENTES TEÓRICAS E REPERCUSSÕES NA ESCOLA
A CONCEPÇÃO INATISTA
A natureza, dizem-no, é apenas o hábito. Que significa isso? Não há hábitos que só se
adquirem pela força e não sufocam nunca a natureza? É o caso, por exemplo, do hábito das plantas,
cuja direção vertical se perturba. Em se lhe desenvolvendo a liberdade, a planta conserva a
inclinação que a obrigaram a tomar; mas a seiva não muda, com isto, sua direção primitiva; e se a
planta continuar a vegetar, seu prolongamento voltará a ser vertical. O mesmo acontece com os
homens (J.J. Rousseau, Emílio)
A concepção inatista parte do pressuposto de que os eventos que ocorrem após o nascimento
não são essenciais e/ou importantes para o desenvolvimento. As qualidades e capacidades básicas
de cada ser humano – sua personalidade, seus valores, hábitos e crenças, sua forma de pensar, suas
reações emocionais e mesmo sua conduta social – já se encontrariam basicamente prontas e em sua
forma final por ocasião do nascimento, sofrendo pouca diferenciação qualitativa e quase nenhuma
transformação ao longo da existência. O papel do ambiente (e, portanto, da educação e do ensino) é
tentar interferir o mínimo possível no processo de desenvolvimento espontâneo da pessoa.
As origens da posição inatista podem ser encontradas, de um lado, na Teologia: Deus, de um
só ato, criou cada homem em sua forma definitiva. Após o nascimento, nada mais haveria a fazer,
pois o bebê já teria em si os germes do homem que viria a ser. O destino individual de cada criança
já estaria determinado pela “graça divina”.
De outro lado, a posição inatista apoia-se num entendimento errôneo de algumas
contribuições importantes ao conhecimento biológico, tais como a proposta evolucionista de
Darwin, a Embriologia e a Genética.
A evolução, para Darwin, biólogo inglês que viveu no século passado, resulta de mudanças
graduais e cumulativas no desenvolvimento das espécies. Essas mudanças, por sua vez, decorrem de
variações hereditárias que fornecem vantagens adaptativas em relação às condições ambientais
prevalecentes. O papel do ambiente é bastante limitado. Cabe-lhe apenas determinar, dentre as
possibilidades naturais de variação, quais são as mais adaptativas para a espécie, isto é, as que
melhor permitem à espécie sobreviver num ambiente específico. Só os mais aptos de uma
determinada espécie – aqueles capazes de se adaptar ao meio sobrevivem.
Aplicada ao desenvolvimento humano, essa teoria foi frequentemente mal interpretada. Ao
servir de base para a posição inatista, não se levou em conta que o ambiente tem um impacto
decisivo sobre o ciclo de vida dos membros de cada espécie, muito embora não possa produzir neles
alterações que venham a ser transmitidas a futuras gerações. A teoria darwiniana acabou, assim,
sendo erroneamente entendida como postulando aquilo que nunca pretendeu: que os fatores
ambientais eram incapazes de exercer um efeito direto tanto na espécie quanto no organismo.
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A CONCEPÇÃO AMBIENTALISTA
Fizemos um estudo da motivação da criança não reprimida e descobrimos mais do que
podíamos usar. Nossa tarefa era preservá-la, fortificando a criança contra o desânimo. Introduzimos
o desânimo tão cuidadosamente quanto introduzimos qualquer situação emocional, iniciando ao
redor dos seis meses. Alguns dos brinquedos, em nossos cubículos com ar condicionado, são
projetados para criar perseverança. Um trecho de uma melodia de uma caixa de música, ou um
padrão de luzes faiscantes, é arranjado de maneira a seguir uma resposta apropriada, digamos,
apertar uma campainha. Mais tarde, a campainha deverá ser apertada duas vezes. É possível
construir um comportamento fantasticamente perseverante sem mostrar frustração ou raiva. Pode
não surpreendê-lo saber que alguns dos nossos experimentos falharam: a resistência ao desânimo
tornou-se quase estúpida ou patológica. Corre-se alguns riscos em trabalhos desse tipo, é claro.
Felizmente, podemos reverter o processo e restaurar a criança ao nível satisfatório. (B.F.
Skinner, Walden II)
Como se pode notar no trecho acima, a concepção ambientalista atribui imenso poder ao
ambiente no desenvolvimento humano. O homem é concebido como um ser extremamente plástico,
que desenvolve suas características em função das condições presentes no meio em que se encontra.
Esta concepção deriva da corrente filosófica denominada empirismo, que enfatiza a experiência
sensorial como fonte de conhecimento. Ainda segundo o empirismo, determinados fatores
encontram-se associados a outros, de modo que é possível, ao se identificar tais associações,
controlá-las pela manipulação.
Na Psicologia, o grande defensor da posição ambientalista é um norte-americano, B. F.
Skinner. A teoria proposta por ele preocupa-se em explicar os comportamentos observáveis do
sujeito, desprezando a análise de outros aspectos da conduta humana como o seu raciocínio, os seus
desejos e fantasias, os seus sentimentos. Partindo de uma concepção de ciência que defende a
necessidade de medir, comparar, testar, experimentar, prever e controlar eventos de modo a explicar
o objeto de investigação, Skinner se propõe a construir uma ciência do comportamento.
Na concepção do comportamento defendida por Skinner e seus seguidores, o papel do
ambiente é muito mais importante do que a maturação biológica. Na verdade, são os estímulos
presentes numa dada situação que levam ao aparecimento de um determinado comportamento.
Como isso ocorre?
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A aprendizagem, na visão ambientalista, pode assim ser entendida como o processo pelo
qual o comportamento é modificado como resultado da experiência. Além das condições já
mencionadas para que a aprendizagem se dê – estabelecimento de associações entre um estímulo e
uma resposta e entre uma resposta e um reforçador -, é importante que se leve em conta o estado
fisiológico e psicológico do organismo. Crianças com fome tornam-se apáticas: não prestam
atenção aos estímulos, não conseguem discriminá-los, não percebem as associações que estes
provocam. Como consequência, não conseguem aprender. Crianças privadas de afeto tornam-se
excessivamente dependentes da aprovação da professora: são incapazes de tomar iniciativa, por
medo de que a sua maneira de comportar-se provoque sanções e reprimendas.
Para que a aprendizagem ocorra é preciso, portanto, que se considere a natureza dos
estímulos presentes na situação, tipo de resposta que se espera obter e o estado físico e psicológico
do organismo. É ainda importante aquilo que resultará da própria aprendizagem: mais
conhecimento elogios, prestígio, notas altas etc.
Na visão ambientalista, a ênfase está em propiciar novas aprendizagens, por meio da
manipulação dos estímulos que antecedem e sucedem o comportamento. Para tanto, é preciso uma
análise rigorosa da forma como os indivíduos atuam em seu ambiente, identificando os estímulos
que provocam o aparecimento do comportamento-alvo e as consequências que o mantém. A esta
análise dá-se o nome de análise funcional do comportamento. Nela defende-se o planejamento das
condições ambientais para a aprendizagem de determinados comportamentos.
A introdução de teorias ambientalistas na sala de aula teve o mérito de chamar a atenção dos
educadores para a importância do planejamento de ensino. A organização das condições para que a
aprendizagem ocorra exige clareza a respeito dos objetivos que se quer alcançar (objetivos
instrucionais ou operacionais), a estipulação da sequência de atividades que levarão ao objetivo
proposto e a especificação dos reforçadores que serão utilizados. A concepção ambientalista da
educação valoriza o papel do professor, cuja importância havia sido minimizada na abordagem
inatista. Coloca em suas mãos a responsabilidade de planejar, organizar e executar – com sucesso –
as situações de aprendizagem. Para tanto, o professor pode fazer uso de vários artifícios para
reforçar positivamente os comportamentos esperados: elogios, notas, diplomas etc., premiando
também a entrega de lições caprichadas e corretas.
Por outro lado, as teorias ambientalistas tiveram também efeitos nocivos na prática
pedagógica. A educação foi sendo entendida como tecnologia, ficando de lado a reflexão filosófica
sobre a sua prática. A ênfase na tecnologia educacional exigia do professor um profundo
conhecimento dos fatores a serem considerados numa programação de ensino, contudo tal
conhecimento não era transmitido a eles. Programar o ensino deixou de ser uma atividade cognitiva
de pesquisar condições de aprendizagem para se tornar uma atividade meramente formal de colocar
projetos de Sala numa fórmula-padrão.
A principal crítica que se faz ao ambientalismo é quanto à própria visão de homem adotada:
a de seres humanos como criaturas passivas face ao ambiente, que podem ser manipuladas e
controladas pela simples alteração das situações em que se encontram. Nesta concepção, não há
lugar para criação de novos comportamentos. Na sala de aula, ela acarretou um excessivo
diretivismo por parte do adulto. Deixou-se de valorizar e fazer uso de situações onde as crianças
cooperam entre si para alcançar um fim comum. Tal concepção propõe que as situações de ensino
devam ser bem estruturadas e planejadas previamente, recorrendo-se, sempre que possível, à
presença de computadores, televisão e outros recursos audiovisuais.
Não há, na concepção ambientalista, preocupação em explicar os processos através dos
quais a criança raciocina e que estariam presentes na forma como ela se apropria de conhecimentos.
Outras concepções de desenvolvimento, analisadas a seguir, buscam essa explicação.
CONCEPÇÃO INTERACIONISTA
Dug (seis anos e meio), o que é um sonho? – Nós sonhamos à noite. A gente
pensa em alguma coisa. – De onde vêm os sonhos? – Não sei. O que você
acha? – Que nós mesmos é que fazemos os sonhos. – Onde está o sonho
enquanto a gente sonha? – Lá fora. – Onde? – Aqui (mostra a lua, através da
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janela) – Por que lá fora? – Porque nós nos levantamos. – E daí? – Ele foi
embora. – Enquanto a gente sonha, onde o sonho está? – Na nossa casa. –
Onde? – Na nossa cama. – Onde? – Bem pertinho. – E se eu estiver lá no seu
quarto, eu posso vê-lo? – Não...sim, porque você via estar perto da cama.
(Piaget, A representação do mundo da criança.).
Para os psicólogos interacionistas, o fato de Dug ser capaz de responder a perguntas como
essas mostra que as crianças procuram sempre, de forma ativa, compreender aquilo que vivenciam e
explicar aquilo que lhes é estranho, construindo hipóteses que lhes pareçam razoáveis. Elas vão,
portanto, construindo os seus conhecimentos por meio de sua interação com o meio. Nessa
interação, fatores internos e externos se inter-relacionam continuamente, formando uma complexa
combinação de influências. Dessa maneira os interacionistas discordam das teorias inatistas, por
desprezarem o papel do ambiente, e das concepções ambientalistas porque ignoram fatores
maturacionais.
Os interacionistas destacam que o organismo e meio exercem ação recíproca. Um influencia
o outro e essa interação acarreta mudanças sobre o indivíduo. É, pois, na interação da criança com o
mundo físico e social que as características e peculiaridades desse mundo vão sendo conhecidas.
Para cada criança, a construção desse conhecimento exige colaboração, ou seja, uma ação sobre o
mundo.
A concepção interacionista de desenvolvimento apoia-se, portanto, na ideia de interação
entre organismo e meio e vê a aquisição de conhecimento como um processo construído pelo
indivíduo durante toda a sua vida, não estando pronto ao nascer nem sendo adquirido passivamente
graças às pressões do meio. Experiências anteriores servem de base para novas construções que
dependem, todavia, também da relação que o indivíduo estabelece com o ambiente numa situação
determinada.
Especial importância é atribuída ao fator humano presente no ambiente. É através da
interação com outras pessoas, adultos e crianças que, desde o nascimento, o bebê vai construindo
suas características (seu modo de agir, de pensar, de sentir) e sua visão de mundo (seu
conhecimento)
Referência:
DAVIS, Claudia & OLIVEIRA, Zilma M. R. de. A Psicologia na Educação. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 1994.
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Ivan Petrovich Pavlov foi um famoso fisiologista russo que nasceu na Cidade de Ryazan, na Rússia Central, em 14 de
setembro de 1849 e faleceu em 1936, em Leninegrado, atual São Petersburgo. Formou-se na Universidade de São
Petersburgo, na área de Ciências e Medicina. Pavlov foi diretor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Medicina
Experimental dessa Universidade, onde iniciou as suas pesquisas. Em 1904, Pavlov recebeu o prêmio Nobel de Ciência
na cidade de Estocolmo, na Suécia. Ao receber o Nobel, Pavlov fez um discurso no qual descreveu os experimentos que
estava fazendo com cães, suas palavras despertaram o interesse de vários psicólogos, especialmente dos psicólogos
americanos. Fonte: Portfólio Biografias, 2011 (adaptado pelo autor).
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foram influenciadas pelos experimentos do fisiologista russo Ivan Pavlov (1849 -1936), no final do
século XIX e início do século XX.
A palavra behaviorismo não tem tradução para o português, sua origem vem
da palavra behavior, que significa comportamento em inglês, por isso, essa escola é conhecida no
Brasil como Psicologia do Comportamento.
O experimento que relacionou a fisiologia de Pavlov à Psicologia é chamado de
Condicionamento Clássico ou Condicionamento Respondente. A seguir, você poderá acompanhar
uma explicação sobre esse experimento.
Condicionamento Clássico
Em seu experimento sobre condicionamento Pavlov observou o reflexo6 salivar de um
cachorro e, a partir de então, pode verificar quais tipos de estímulos desencadeavam o ato de
salivar. Para tanto, acoplou um medidor de saliva às glândulas salivares de um cão. Em seguida, deu
a ele uma mistura de carne com biscoito. Nesse instante, Pavlov pode notar que com o estímulo da
comida o cão salivou. A mistura de carne com biscoito foi chamada de estímulo incondicionado
(EI). A salivação do cachorro, na presença do estímulo (carne com biscoito) Pavlov chamou de
reflexo incondicionado (RI), porque é uma resposta reflexa, não aprendida.
Em outro momento de seu experimento, Pavlov tocou uma sineta, esperando qualquer
resposta do animal. Entretanto, o cachorro não teve nenhuma reação. Essa sineta, apresentada ao
cão, foi chamada de estímulo neutro (EN) uma vez que não provocava nenhum tipo de resposta
por parte do animal.
O passo seguinte de Pavlov foi emparelhar o estímulo incondicionado (carne com biscoito) e
o estímulo neutro (a sineta), apresentando ambos ao cachorro. O experimentador fez o
emparelhamento de estímulos, várias vezes ao dia, durante mais de um mês. Pavlov observou que o
cachorro passou a encher o medidor com saliva, ao ouvir a sineta, sem a presença da carne com
biscoito. A conclusão que se pode chegar foi que o emparelhamento de estímulos levou o cachorro
a associar o som da sineta à comida, por isso sempre que ouvia a sineta respondia com salivação.
Para o animal, sineta e comida adquiriram o mesmo valor.
Dessa forma, a resposta do cachorro ao ouvir a sineta passou a ser uma resposta
condicionada (RC), e o estímulo neutro (EN) passou a ser um estímulo condicionado (EC)
porque o cachorro emite uma resposta aprendida.
O grande mérito do estudo de Pavlov, para a psicologia e para a educação, foi provar que
existe aprendizagem por associação e que essa aprendizagem pode ser observada. Até Pavlov, a
aprendizagem era um fenômeno intrapsíquico não observável. Ao ensinarmos algo a alguém, não
temos condições de prever como e quando o sujeito irá aprender. Por exemplo: uma professora de
alfabetização pode passar meses ensinando uma criança a ler sem que a criança apresente algum
rendimento, e quando menos se espera a criança começa a ler. Por vezes isso ocorre no último
bimestre do ano letivo e surpreende a todos.
O interesse pelos animais e o desconforto com o método introspectivo fez com que outro
pesquisador estudasse empiricamente o comportamento de aprendizagem: Watson7. Diferente de
6
Todo reflexo é uma resposta involuntária, ou seja, independe do sujeito. Por exemplo, retirar rapidamente a mão de
uma chapa quente ao sentir o calor com o objetivo de evitar a dor
7
John Broadus Watson, nascido em 1878, foi um psicólogo americano fundador da corrente behaviorista, dentro da
Psicologia. O pai, violento e desordeiro, abandonou a família quando Watson tinha 13 anos. Era ambicioso e persistente
e apesar de pobre conseguiu entrar para a Universidade Furman, aos 16 anos. Recebeu o diploma de mestre após cinco
anos de estudos, ingressando posteriormente na Universidade de Chicago para doutorar-se em Psicologia, em 1903.
Mais cinco anos e foi nomeado professor de Psicologia Experimental e comparada na Universidade Johns Hopkins, em
Baltimore. Watson estudou as descobertas feitas por Ivan Pavlov, na mesma época de seu doutoramento, e desenvolveu
pesquisas semelhantes em Biologia, Fsiologia e comportamento de animais. Estudou também o comportamento da
criança, concluindo que o comportamento humano era, sob muitos aspectos, semelhante ao comportamento animal. Foi
com base nesta constatação e inspirado pelas descobertas de Pavlov, que Watson inaugurou, dentro da Psicologia, a
corrente que ficou conhecida por Behaviorismo (Comportamentalismo). Fonte: Adaptado de Cobra, Rubem Queiroz -
Educação e Comportamento: Resumos Biográficos.
25
Pavlov, Watson utilizou ratos em seus experimentos e o mais famoso experimento do pesquisador
foi com um bebê humano8.
Em 1920, Watson afirmou que as reações emocionais se desenvolvem por condicionamento.
Watson pode chegar a esta conclusão através de um experimento com um bebê de nove meses,
chamado pelo pesquisador de Albert. O experimento foi realizado da seguinte forma: antes de
iniciar a pesquisa propriamente, Watson apresentou a Albert vários estímulos e observou a reação
do bebê. Mostrou ao bebê um rato branco, um coelho, um cão, um macaco, uma máscara e papel
em chamas. Albert não apresentou reações de medo com nenhum dos estímulos. O bebê só
demonstrou medo quando exposto a ruídos altos e repentinos.
Watson emparelhou dois estímulos para condicionar Albert. Colocou diante do bebê um rato
branco e toda vez que Albert tocava o rato um ruído alto acontecia. Foi então que Watson, ao final
do experimento, pode observar que o bebê apresentava o comportamento de choro e medo ao ver o
rato, mesmo que não tivesse o ruído alto.
Watson provou que o comportamento emocional do ser humano está relacionado às
situações vividas no meio ambiente, à forma como os estímulos do meio afetam o indivíduo.
Ao observarmos uma situação de sala de aula, podemos perceber também a questão do
comportamento condicionado. Você já pensou em como a conduta do professor influencia no
desempenho do aluno? Por exemplo, se um (a) professor (a) ao apresentar uma expressão de
reprovação a cada vez que o aluno perguntar algo relacionado à aula, o aluno experimentará
sensações, emoções e sentimentos negativos e tenderá a não mais fazer perguntas, mesmo que para
outro professor. Isto ocorre porque o aluno foi condicionado pelo comportamento do(a) primeiro(a)
professor(a). O comportamento de reprovação do professor faz com que o aluno generalize a
resposta a essa situação, passando a sentir as mesmas reações em aulas com professores diferentes.
Você estudou o trabalho de Pavlov sobre o condicionamento respondente e como acontece a
aprendizagem por associação. Viu também um exemplo do condicionamento de Pavlov na escola.
A seguir, você estudará outra forma de condicionamento realizada por um pesquisador nos EUA.
8
No contexto em que Watson desenvolveu suas pesquisas era permitido fazer experiências com humanos. Hoje as
pesquisas com humanos precisam passar por um comitê de ética das universidades que avalia e determina se é possível
a realização do experimento.
9
Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) foi um psicólogo norte-americano, seguidor do Behaviorismo de J. B. Watson,
mas na década de 1940, criou o Behaviorismo Radical com uma proposta filosófica sobre o comportamento humano.
Nasceu em Susquehanna, Pensilvânia, Estados Unidos, em 1904. Filho de um advogado e de uma dona de casa desde
cedo despertou o interesse sobre o comportamento dos animais. Ingressou no Hamilton College em Nova Iorque, com o
objetivo de se tornar escritor. Em 1926 concluiu o bacharelado em Literatura Inglesa e Línguas Românicas. Em 1928,
Skinner inscreveu-se no curso de pós-graduação em Psicologia pela Universidade de Harvard, embora nunca tivesse
estudado Psicologia antes. Concluiu o mestrado em 1930 e o doutorado em 1931, permanecendo na Universidade, como
pesquisador, até 1936. Nesse mesmo ano, começou a lecionar na Universidade de Minnesota, onde permaneceu durante
nove anos. Entre 1945 e 1947 lecionou na Universidade de Indiana, onde se tornou presidente do Departamento de
Psicologia. Em 1948 retornou para Harvard como professor titular.
26
O trabalho de Skinner teve como objetivo estudar o comportamento operante que são
respostas do organismo aos estímulos do meio. Tais estímulos operam e agem sobre o organismo,
entretanto, esses não são observáveis de maneira espontânea.
Para Skinner, todos os comportamentos humanos podem ser moldados através do controle
dos estímulos do meio ambiente. Para ele, é possível criar ou eliminar comportamentos, ao
adicionar ou eliminar os estímulos do ambiente.
Skinner identificou e nominou os estímulos do meio. Os principais são: o reforço positivo, o
reforço negativo e a punição. Veja a explicação sobre cada um deles:
Reforço Positivo
O reforço positivo é um estímulo que é aplicado pelo experimentador sobre um organismo
imediatamente após um comportamento desejado ou correto. O reforço positivo aumenta a
probabilidade de o comportamento acontecer novamente. Consideram-se reforços positivos os
estímulos que gratificam, causam prazer no sujeito, e que por isso eles tendem a repetir o
comportamento. Exemplo: Pedro tem nove anos, seu comportamento em sala de aula atrapalha o
trabalho do professor(a). Pedro não faz as tarefas propostas pelo professor, caminha pela sala e
conversa muito durante a aula. O ano letivo transcorre e Pedro não consegue realizar aprendizagens
significativas. O professor decide pedir ajuda ao psicólogo(a) da escola. O psicólogo observa o
comportamento de Pedro e percebe que ele se sente inseguro ao ler qualquer tipo de texto. O
psicólogo decide auxiliar Pedro através do uso do reforço positivo. A cada leitura bem sucedida o
psicólogo o elogia e em seguida lhe dá um prêmio. Após vários dias de trabalho com o psicólogo,
Pedro deixa de apresentar o comportamento de insegurança em relação à leitura e melhora
significativamente seu comportamento em sala de aula.
Muitas vezes no nosso dia a dia, reforçamos comportamentos que nem sempre são
desejados, por exemplo: uma criança em um supermercado chora e grita ao ver o seu doce
preferido, a mãe para evitar o constrangimento acaba por comprar o doce para a criança com a
finalidade de acalmá-la. Sem se dar conta, a mãe reforçou o comportamento de choro e grito
apresentado pela criança.
Reforço Negativo
O reforço negativo é diferente do positivo. Enquanto o reforço positivo é aplicado
imediatamente após um comportamento correto, no reforço negativo é a retirada do estímulo
aversivo que aumenta a probabilidade de aumentar a frequência de ocorrer o comportamento
desejado pelo experimentador. Vamos a um exemplo. Pense em uma pessoa que tem compulsão
alimentar. O desejo dela é comer mais e mais para obter prazer. Suponha que essa pessoa esteja
usando uma cinta modeladora que aperta o seu estômago e a impede de comer. Em um dado
momento ela retira a cinta e passa a comer mais. A retirada da cinta reforça o comportamento de
comer. O mesmo pode acontecer quando um barulho te impede de estudar, a retirada do objeto que
provoca o barulho aumenta o seu comportamento de estudar.
Os reforços positivos e negativos aumentam a frequência de um dado comportamento. O
reforço positivo aumenta a frequência do comportamento pela possibilidade do organismo sentir
conforto e prazer. O reforço negativo aumenta possibilidade de um comportamento ocorrer
porque cessa o desconforto do organismo, é a retirada do desconforto (estímulo aversivo) que
aumenta a possibilidade do comportamento vir a ocorrer.
Punição
A punição é um estímulo que causa dor ou desprazer no organismo, é utilizado para
extinguir comportamentos indesejáveis. Durante todo o período que vigorou o ensino tradicional, a
punição foi utilizada para moldar o comportamento de alunos indisciplinados. No Brasil, durante
muitos anos os professores utilizaram a palmatória10 para punir os alunos. Se desrespeitasse o
professor ou brigasse, o aluno apanhava com a palmatória. Essa medida tinha como objetivo
10
A palmatória, também conhecida como Férula, é um artefato de madeira que foi muito utilizado para castigar os
alunos indisciplinados, nas escolas brasileiras de outros tempos.
27
eliminar a indisciplina e colocar o aluno no caminho correto para “ser um homem ou mulher de
bem”.
Skinner foi o pesquisador que descreveu os tipos de reforços. Ele criou um instrumento
para fazer experimentos com animais que ficou conhecido como “Caixa de Skinner”, desde a sua
criação, esse instrumento passou por várias adaptações e é utilizado na maioria dos cursos de
Psicologia das universidades brasileiras.
A caixa de Skinner
O interior da caixa de Skinner possui iluminação, uma sineta, um bebedouro e um pedal.
Quando o animal empurra para baixo o pedal, sob condições estabelecidas pelo experimentador, o
alimento ou água cairá em um recipiente. Na parte externa da caixa, existe um painel de controle
em que o experimentador, ao acionar diferentes botões, pode liberar água, controlar a iluminação ou
dar choque elétrico no animal.
A caixa de Skinner é utilizada na modelagem de comportamentos e outros experimentos. Na
modelagem do comportamento, toma-se um rato em privação de alimento e água por 24 horas e o
coloca na caixa. Inicialmente observa-se o comportamento natural do rato. Depois de algum tempo,
o experimentador aciona um botão externo que libera água e toca a sineta dentro da caixa
(emparelhamento de estímulos). Pelo instinto o rato chega ao local onde está a água. O
experimentador repete essa ação por várias vezes, até que o rato associa o som da sineta com a
liberação da água. Nesse momento do experimento, o rato pode estar em qualquer ponto da caixa e
ao ouvir o som da sineta o rato se dirige exatamente ao ponto em que é liberada a água.
O passo seguinte do experimento é levar o rato a beber água sozinho. Para isso, ele precisará
abaixar o pedal interno da caixa que tocará a sineta e simultaneamente liberará a água no
bebedouro. Para alcançar o seu objetivo o experimentador faz uso do reforço positivo, ele seleciona
os comportamentos que serão reforçados.
O experimentador aplica o reforço quando:
- o rato fica parado; - o rato para próximo ao pedal; - o rato coloca as patas no pedal; - o rato abaixa
o pedal.
A cada aprendizado do rato, o experimentador abandona o comportamento aprendido para
ensinar o próximo, ou seja, é feita uma aproximação sucessiva do objetivo do experimento, que é
fazer com que o rato sozinho tome água. Observe que nesse experimento há aquisição de novos
comportamentos por meio do reforço.
Os comportamentos também podem ser extintos pelo experimentador. A extinção do
comportamento se dá quando o comportamento não é reforçado, quando o animal está saciado ou
quando o animal é punido, por exemplo, quando apresenta um comportamento indesejável aos
objetivos do experimentador.
O experimento exemplificado demonstra como ocorre a aprendizagem por meio do controle
dos estímulos do meio ambiente.
O trabalho de Skinner foi e é utilizado no contexto escolar. Na avaliação escolar, o sistema
de notas é um exemplo de uma escala de reforço para o comportamento adequado do aluno. No
sistema de ensino brasileiro, a ideia de distúrbio de comportamento e indisciplina é herança do
Behaviorismo.
Do ponto de vista do Behaviorismo, a aprendizagem é um produto da organização dos
estímulos pelo professor. O papel do professor, em sala de aula, é o de planejar rigorosamente cada
aula, organizar e controlar os estímulos do ambiente e aplicar escalas de reforços para que o aluno
adquira comportamentos adequados, que correspondam ao ambiente escolar.
Você estudou as concepções inatista e ambientalista. Observe que para o Behaviorismo o
desenvolvimento e aprendizagem são determinados pelo meio ambiente, por isso, podemos dizer
que o Behaviorismo é uma escola que representa a concepção ambientalista de homem.
Referência:
MONTE, Jaime Bezerra do. Psicologia da Educação I. Caderno Pedagógico. Florianópolis/SC:
UDESC/CEAD/ UAB, 2011. pp. 41-54.
28
3.1 Histórico
Esta “escola psicológica” surgiu na Alemanha, aproximadamente em 1910, com os trabalhos
experimentais dos cientistas Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Kofka.
A palavra gestalt não tem tradução exata nas outras línguas. Em português, corresponde,
aproximadamente, às palavras forma, figura, estrutura, todo, padrão, configuração, etc.
Os estudos de Wertheimer que deram origem à Escola Gestaltista versavam sobre o
fenômeno da percepção visual do movimento aparente, por ele chamado de fenômeno fi (de phi,
letra grega).
3.2 Teoria Gestaltista da Percepção
Para os psicólogos gestaltistas, toda percepção é uma gestalt, um todo que não pode ser
compreendido pela separação em partes. O todo é mais que a soma das partes. Uma paisagem não é
apenas relva + céu + árvores + nuvens + outros detalhes. É uma percepção única, que depende do
relacionamento especial existente entre as partes. Podemos notar partes no todo, mas as partes
existem em relações especiais definidas umas com as outras. Mudemos as relações e a qualidade
do todo mudará completamente.
Vejamos alguns exemplos:
1) Nossa percepção, ao vermos o desenho abaixo, é a de uma fisionomia, uma “caretinha”. Se
analisarmos esta percepção, teremos apenas uma circunferência e alguns traços (Rafael Grisi).
2) A percepção de uma melodia. Não são as partes separadas (as notas musicais, tomadas específica
e isoladamente) que a caracterizam; tanto que podemos reproduzi-la com notas inteiramente
diferentes das originais. “Transpor”, que significa mudar todas as notas, não altera a melodia,
porque o relacionamento entre as notas é conservado; mas a mudança de uma só nota pode fazer
grande diferença.
A percepção que temos de um objeto qualquer é um todo, tem caráter global, é uma gestalt.
Esse todo depende do relacionamento especial entre as partes.
O relacionamento que estabelecemos entre as partes do todo pode ser de vários tipos:
a) Relação de gradação
Ao percebermos as coisas, estabelecemos um relacionamento de gradação entre as várias
partes da coisa percebida.
Ex. O Professor Rafael Grisi tomou uma página impressa onde apareciam muitas palavras e,
nela, mostrou a palavra “tatu” a uma criança analfabeta de cinco anos, pedindo-lhe que mostrasse
onde apareciam outras palavras iguais àquela. A criança indicou acertadamente a palavra “tatu”,
que aparecia por três vezes naquela página, mas mostrou também as palavras “tribo” e “taba”.
Para essa criança, as três palavras eram iguais. Isso quer dizer que, em seu primeiro contato
com as palavras impressas, ela não percebera as letras uma a uma, mas as relacionara uma com as
outras, estabelecendo uma gradação entre elas.
A explicação que o Prof. Grisi dá a esse fato é de que a gestalt, a forma total desses três
vocábulos é a mesma. Isso mostra que os seres humanos regem às situações como todos
relacionados e não a partes específicas do ambiente.
O psicólogo gestaltista W. Köhler, além de ter realizado experimentos com animais,
realizou-os com crianças. Vejamos:
Köhler fez com que uma criança de três anos aprendesse que, dentre duas caixas coloridas,
somente uma delas (a de tonalidade mais clara) continha balas. Apresentava à criança as duas caixas
e pedia que abrisse apenas uma delas. Quando a criança escolhia a caixa clara, encontrava balas;
quando escolhia a outra, nada achava. Após muitas repetições dessa situação, a criança aprendeu a
29
escolher sempre a caixa mais clara. Depois de realizada essa aprendizagem, Köhler alterou a
situação: retirou a caixa escura e colocou, ao lado da caixa clara, uma mais clara ainda.
Köhler relatou que, nessa nova situação, a criança preferiu a nova caixa clara, em lugar
daquela onde anteriormente sempre encontrara balas. Isso demonstrou que a criança não havia
aprendido a escolher a caixa de “determinada cor” mas, sim, havia aprendido a escolher a “mais
clara” das caixas. A criança havia estabelecido uma gradação entre as tonalidades de cor das
caixas. Isto constitui prova de que os seres humanos reagem às situações como todos relacionados
e não a partes específicas do ambiente.
b) Relação de figura e fundo
Entre outras relações comumente estabelecidas, Köhler e Kofka notaram que ocorre
frequentemente a relação de figura e fundo.
Quando percebemos um objeto qualquer, algum aspecto dele se destaca, nos aparece mais
claramente. A esse aspecto que mais atrai nossa atenção chamamos figura, a qual emerge contra
um fundo mais vago, difuso. Em uma sinfonia, a melodia é a “figura” e o acompanhamento é o
“fundo”.
A percepção que temos de um objeto depende desse relacionamento. Conforme
concentremos nossa atenção num ou noutro aspecto de um objeto, a percepção que dele temos muda
completamente. Observando as figuras chamadas ambíguas, vemos quanto a percepção depende do
relacionamento figura-e-fundo.
Conforme nossa atenção demore mais na parte branca ou na parte preta da figura acima,
perceberemos um vaso ou dois perfis, neste exemplo de figura reversível.
A diferenciação figura-fundo caracteriza todas as experiências perceptuais: visão, audição,
tato, odor, etc.
3.3 Aplicações à aprendizagem
Os princípios sobre percepção estabelecidos pela Escola Gestaltista auxiliaram grandemente
a compreensão do fenômeno da aprendizagem De acordo com a Psicologia da Gestalt, há vários
modos de aprendizagem: por gradação, diferenciação, assimilação, redefinição.
a) Aprendizagem por gradação: um dos modos pelos quais aprendemos, pelos quais percebemos
as coisas, consiste em estabelecermos um relacionamento de gradação entre as várias partes dessa
coisa percebida.
b) Aprendizagem por diferenciação: chamamos de diferenciação o processo que realizamos de
destacar, dentre as restantes, uma parte do objeto que estamos percebendo. Os psicólogos
gestaltistas afirmam que, quando um elemento nos é apresentado em diferentes situações, nossa
mente o destaca como sendo o mais notado entre os demais, ou como sendo figura, enquanto os
demais constituem o fundo.
c) Aprendizagem por assimilação: o processo de assimilação segue o de diferenciação. Uma parte
da situação total (estrutura ou Gestalt) é destacada pelo processo de diferenciação, tornando-se
figura, a qual pode se reunir a outras figuras, diferenciadas de outros todos (estruturas), vindo a
constituir novas estruturas pelo processo de assimilação.
d) Aprendizagem por redefinição: redefinir consiste em perceber um mesmo estímulo de um modo
inteiramente novo, conforme a situação total em que ele se apresenta, sua posição em relação aos
demais estímulos e, também, conforme a natureza dos outros estímulos componentes da situação
em que ele nos é apresentado.
Toda atividade pedagógica deve começar com a apresentação do objeto ou matéria da
aprendizagem em situações totais. Essa é uma condição necessária do ato de aprender.
Os estudos da Escola Gestaltista aconselham o método que a Pedagogia atualmente chama
de global, e que leva a criança a realizar a aprendizagem de maneira eficiente e econômica11.
11
Final do capítulo A Teoria da Gestalt de Barros (1999).
30
Referências:
BARROS, Célia Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Geral. 14. ed. São Paulo: Ática, 1999.
MONTE, Jaime Bezerra do. Psicologia da Educação I. Caderno Pedagógico. Florianópolis/SC:
UDESC/CEAD/ UAB, 2011. pp. 60-61.
12
Inserção feita pelo Professor Dr. Alberto D. Valadão para o Componente Curricular Psicologia da Educação I.
31
4.1 Histórico
O fundador da Psicanálise foi o médico austríaco, Sigmund Freud, nascido em 1856, nas
proximidades de Viena, cidade onde estudou Medicina.
Terminado esse curso, Freud dirigiu- se a Paris, desejando especializar-se em Neurologia.
Tornou-se então aluno do Dr. Jean-Martin Charcot, que exerceu sobre ele influência decisiva,
principalmente em dois pontos:
a) Charcot acreditava que as doenças mentais eram originadas de certos fatos passados na infância
dos indivíduos doentes.
b) Para fazer com que seus pacientes narrassem fatos do seu tempo de criança, Charcot usava a
hipnose. O conhecimento de certos episódios emocionais da infância dos indivíduos ajudaria o
médico a descobrir as causas de suas doenças.
Voltando a Viena, Freud associou-se ao Dr. Josef Breuer. Ambos usavam o método de
Charcot, isto é, hipnotizavam seus doentes de modo que contassem fatos de sua infância.
Breuer e Freud trabalharam juntos em alguns casos, sem empregar a hipnose. Após terem
captado totalmente a confiança do paciente, levavam-no a relatar seu passado em estado normal.
A princípio suas obras passaram despercebidas. Aos poucos, porém, Freud viu-se rodeado
de estudiosos que desejavam seus ensinamentos. O número de pessoas interessadas em suas
descobertas foi aumentando a ponto de ser fundada a Associação Psicanalítica Internacional – com
apoio de psiquiatras de Zurich, na Suiça – chefiada por Carl Gustav Jung.
A doutrina de Freud difundiu-se por todo o mundo, mesmo antes de seu falecimento em
1939 em Londres (onde se refugiara quando perseguido por nazistas por ser judeu).
4.4.1 A libido
Observando doentes mentais, Freud constatou que a causa mental apresentada pela maioria
de seus pacientes era sempre um problema sexual. Observou, também, as personalidades normais, e
chegou à seguinte conclusão, que é a base de sua teoria: “o comportamento humano é orientado
pelo impulso sexual”.
Freud dá o nome de libido ao impulso sexual. A libido constitui uma força de grande
alcance na nossa personalidade; é um impulso fundamental ou fonte de energia.
Período narcisista. No início da vida, a criança dirige sua libido para seu próprio corpo. Ela
ama a si mesma. Suas reações emocionais dependem, principalmente, de seu bem-estar ou de seu
mal-estar físico. É egocêntrica.
Esta fase é chamada de autoerótica.
Período edipiano. Nesta fase, a criança dirige a sua libido para o progenitor do sexo oposto,
manifestando hostilidade para com o progenitor do mesmo sexo. Ainda, a criança se identifica com
o progenitor do mesmo sexo.
A menina, portanto, ama seu pai e hostiliza sua mãe. Da mesma forma, o menino ama sua
mãe e manifesta hostilidade para com seu pai.
É neste período que cada qual adota o papel sexual para toda a sua vida.
Período da latência sexual. Depois das dificuldades da fase edipiana, a criança passa para
um período mais calmo. Esse período corresponde aos anos da escola primária, em que a criança se
ocupará em adquirir habilidades, valores e papéis culturalmente aceitos.
Nesta fase, aparecem na criança, barreiras mentais impedindo as manifestações da libido,
barreiras essas que Freud mencionou como sendo a repugnância, a vergonha e a moralidade.
Período da puberdade. Essa fase, de duração aproximada de dois anos, se inicia mais cedo
para as meninas que para os meninos. É a época das grandes modificações físicas e, principalmente,
de grande desenvolvimento dos órgãos sexuais.
A principal característica da fase pubertária, também chamada de homossexual, é a ligação
afetiva que se estabelece entre jovens do mesmo sexo e de idade aproximada.
Adolescência. Nesta fase, a libido do jovem se dirige a um adolescente do sexo oposto.
Essa ligação emocional heterossexual, fora da família, vai exigir a emancipação do
adolescente de seus pais. A separação emocional ocasiona, pelo menos por algum tempo, rejeição,
ressentimento e hostilidade contra os pais e outras autoridades.
Há casos em que o desenvolvimento emocional não se processa normalmente, não apresenta
essa sequência de fases, devido a fatores biológicos ou a condições ambientais.
Como exemplo, citamos dois casos de anormalidade na evolução emocional: a fixação e a
regressão.
13
Inserção feita pelo Professor Dr. Alberto D. Valadão para o Componente Curricular Psicologia da Educação I.
35
autoridade na família e projeta esse conteúdo psicológico no professor, assim o aluno pode
desenvolver uma timidez excessiva, por medo. O aluno pode ainda passar a desafiar o docente,
como forma de diminuir o seu desconforto psicológico durante a aula.
A maior contribuição da Psicanálise para a educação foi à compreensão da sexualidade
infantil. A sexualidade infantil deixou de ser vista pela ótica da moral e passou a ser encarada como
um processo natural, com manifestações em correspondência à fase do desenvolvimento
psicossexual da criança. Isso levou os educadores a encarar a sexualidade da criança como objeto da
educação, a sexualidade passou a pertencer ao campo de estudo da educação.
Referências:
BARROS, Célia Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Geral. 14. ed. São Paulo: Ática, 1999.
MONTE, Jaime Bezerra do. Psicologia da Educação I. Caderno Pedagógico. Florianópolis/SC:
UDESC/CEAD/ UAB, 2011. pp. 81-83.
36
14
Disponível em: http://coral.ufsm.br/lec/02_00/Cintia-L&C4.htm. Acesso em 12 de dezembro de 2019.
15
Mestre em educação pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM (2002). Atuou como docente do Ensino
Superior e como Coordenadora do Curso de Pedagogia da UNIGUAÇU/FAESI de 2008 a 2018.
37
que ouve e começa a balbuciar em resposta à conversa ao seu redor gradualmente acomoda os sons
que emite àqueles que ouve, passando a falar de forma compreensível.
Segundo FARIA (1998), os esquemas são uma necessidade interna do indivíduo. Os
esquemas afetivos levam à construção do caráter, são modos de sentir que se adquire juntamente às
ações exercidas pelo sujeito sobre pessoas ou objetos. Os esquemas cognitivos conduzem à
formação da inteligência, tendo a necessidade de serem repetidos (a criança pega várias vezes o
mesmo objeto). Outra propriedade do esquema é a ampliação do campo de aplicação, também
chamada de assimilação generalizadora (a criança não pega apenas um objeto, pega outros que
estão por perto). Através da discriminação progressiva dos objetos, da capacidade chamada de
assimilação recognitiva ou reconhecedora, a criança identifica os objetos que pode ou não pegar,
que podem ou não dar algum prazer à ela.
Faria (op.cit.) salienta que os fatores responsáveis pelo desenvolvimento, segundo Piaget,
são: maturação; experiência física e lógico-matemática; transmissão ou experiência social;
equilibração; motivação; interesses e valores; valores e sentimentos. A aprendizagem é sempre
provocada por situações externas ao sujeito, supondo a atuação do sujeito sobre o meio, mediante
experiências. A aprendizagem será a aquisição que ocorre em função da experiência e que terá
caráter imediato. Ela poderá ser: experiência física - comporta ações diferentes em função dos
objetos e consiste no desenvolvimento de ações sobre esses objetos para descobrir as propriedades
que são abstraídas deles próprios, é o produto das ações do sujeito sobre o objeto; e experiência
lógico-matemática – o sujeito age sobre os objetos de modo a descobrir propriedades e relações que
são abstraídas de suas próprias ações, ou seja, resulta da coordenação das ações que o sujeito exerce
sobre os objetos e da tomada de consciência dessa coordenação. Essas duas experiências estão inter-
relacionadas, uma é condição para o surgimento da outra.
Para que ocorra uma adaptação ao seu ambiente, o indivíduo deverá equilibrar uma
descoberta, uma ação com outras ações. A base do processo de equilibração está na assimilação e na
acomodação, isto é, promove a reversibilidade do pensamento, é um processo ativo de auto-
regulação. Piaget afirma que, para a criança adquirir pensamento e linguagem, deve passar por
várias fases de desenvolvimento psicológico, partindo do individual para o social. Segundo ele, o
falante passa por pensamento autístico, fala egocêntrica para atingir o pensamento lógico, sendo o
egocentrismo o elo de ligação das operações lógicas da criança. No processo de egocentrismo, a
criança vê o mundo a partir da perspectiva pessoal, assimilando tudo para si e ao seu próprio ponto
de vista, estando o pensamento e a linguagem centrados na criança.
Para Piaget, o desenvolvimento mental dá-se espontaneamente a partir de suas
potencialidades e da sua interação com o meio. O processo de desenvolvimento mental é lento,
ocorrendo por meio de graduações sucessivas através de estágios: período da inteligência sensório-
motora; período da inteligência pré-operatória; período da inteligência operatória-concreta; e
período da inteligência operatório-formal.
natureza ao homem e cria, então, a cultura e a história do homem, desenvolve a atividade coletiva,
as relações sociais e a utilização de instrumentos. Os instrumentos são utilizados pelo trabalhador,
ampliando as possibilidades de transformar a natureza, sendo assim, um objeto social.
Os signos também auxiliam nas ações concretas e nos processos psicológicos, assim como
os instrumentos. A capacidade humana para a linguagem faz com que as crianças providenciem
instrumentos que auxiliem na solução de tarefas difíceis, planejem uma solução para um problema e
controlem seu comportamento. Signos e palavras são para as crianças um meio de contato social
com outras pessoas. Para Vygotsky, signos são meios que auxiliam/facilitam uma função
psicológica superior (atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos, etc.), sendo
capazes de transformar o funcionamento mental. Desta maneira, as formas de mediação permitem
ao sujeito realizar operações cada vez mais complexas sobre os objetos.
Segundo Vygotsky, ocorrem duas mudanças qualitativas no uso dos signos: o processo de
internalização e a utilização de sistemas simbólicos. A internalização é relacionada ao recurso da
repetição onde a criança apropria-se da fala do outro, tornando-a sua. Os sistemas simbólicos
organizam os signos em estruturas, estas são complexas e articuladas. Essas duas mudanças são
essenciais e evidenciam o quanto são importantes as relações sociais entre os sujeitos na construção
de processos psicológicos e no desenvolvimento dos processos mentais superiores. Os signos
internalizados são compartilhados pelo grupo social, permitindo o aprimoramento da interação
social e a comunicação entre os sujeitos. As funções psicológicas superiores aparecem, no
desenvolvimento da criança, duas vezes: primeiro, no nível social (entre pessoas, no nível
interpsicológico) e, depois, no nível individual (no interior da criança, no nível intrapsicológico).
Sendo assim, o desenvolvimento caminha do nível social para o individual.
Como visto, exige-se a utilização de instrumentos para transformar a natureza e, da mesma
forma, exige-se o planejamento, a ação coletiva, a comunicação social. Pensamento e linguagem
associam-se devido à necessidade de intercâmbio durante a realização do trabalho. Porém, antes
dessa associação, a criança tem a capacidade de resolver problemas práticos (inteligência prática),
de fazer uso de determinados instrumentos para alcançar determinados objetivos. Vygotsky chama
isto de fase pré-verbal do desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-intelectual no
desenvolvimento da linguagem.
Por volta dos 2 anos de idade, a fala da criança torna-se intelectual, generalizante, com
função simbólica, e o pensamento torna-se verbal, sempre mediado por significados fornecidos pela
linguagem. Esse impulso é dado pela inserção da criança no meio cultural, ou seja, na interação
com adultos mais capazes da cultura que já dispõe da linguagem estruturada. Vygotsky destaca a
importância da cultura; para ele, o grupo cultural fornece ao indivíduo um ambiente estruturado
onde os elementos são carregados de significado cultural.
Os significados das palavras fornecem a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo,
ou seja, como diz Vygotsky (1987), é no significado da palavra que a fala e o pensamento se unem
em pensamento verbal. Para ele, o pensamento e a linguagem iniciam-se pela fala social, passando
pela fala egocêntrica, atingindo a fala interior que é pensamento reflexivo.
A fala egocêntrica emerge quando a criança transfere formas sociais e cooperativas de
comportamento para a esfera das funções psíquicas interiores e pessoais. No início do
desenvolvimento, a fala do outro dirige a ação e a atenção da criança. Esta vai usando a fala de
forma a afetar a ação do outro. Durante esse processo, ao mesmo tempo que a criança passa a
entender a fala do outro e a usar essa fala para regulação do outro, ela começa a falar para si mesma.
A fala para si mesma assume a função auto-reguladora e, assim, a criança torna-se capaz de atuar
sobre suas próprias ações por meio da fala. Para Vygotsky, o surgimento da fala egocêntrica indica
a trajetória da criança: o pensamento vai dos processos socializados para os processos internos.
A fala interior, ou discurso interior, é a forma de linguagem interna, que é dirigida ao sujeito
e não a um interlocutor externo. Esta fala interior, se desenvolve mediante um lento acúmulo de
mudanças estruturais, fazendo com que as estruturas de fala que a criança já domina, tornem-se
estruturas básicas de seu próprio pensamento. A fala interior não tem a finalidade de comunicação
com outros, portanto, constitui-se como uma espécie de “dialeto pessoal”, sendo fragmentada,
abreviada.
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Neste estágio predominam as relações cognitivas da criança com o meio. Wallon identifica o
sincretismo como sendo a principal característica do pensamento infantil. Os fenômenos típicos do
pensamento sincrético são: fabulação, contradição, tautologia e elisão.
Na gênese da representação, que emerge da imitação motora-gestual ou motricidade
emocional, as ações da criança não mais precisarão ter origem na ação do outro, ela vai
“desprender-se” do outro, podendo voltar-se para a imitação de cenas e acontecimentos, tornando-se
habilitada à representação da realidade. Este salto qualitativo da passagem do ato imitativo concreto
e a representação é chamado de simulacro. No simulacro, que é a imitação em ato, forma-se uma
ponte entre formas concretas de significar e representar e níveis semióticos de representação. Essa é
a forma pela qual a criança se desloca da inteligência prática ou das situações para a inteligência
verbal ou representativa.
Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico, aparece a imitação inteligente, a qual constrói os
significados diferenciados que a criança dá para a própria ação. Nessa fase, a criança está voltada
novamente para si própria. Para isso, a criança coloca-se em oposição ao outro num mecanismo de
diferenciar-se. A criança, mediada pela fala e pelo domínio do “meu/minha”, faz com que as ideias
atinjam o sentimento de propriedade das coisas. A tarefa central é o processo de formação da
personalidade. Aos 6 anos a criança passa ao estágio categorial trazendo avanços na inteligência.
No estágio da adolescência, a criança volta-se a questões pessoais, morais, predominando a
afetividade. Ainda conforme Galvão, é nesse estágio que se intensifica a realização das
diferenciações necessárias à redução do sincretismo do pensamento. Esta redução do sincretismo e
o estabelecimento da função categorial dependem do meio cultural no qual está inserida a criança.
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