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Melkor, o Inimigo do Mundo: a


constituição do vilão em J. R. R.
Tolkien
Alline Rufo

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IX SPLIN IX Seminário de Pesquisas da Pós-Graduação em Linguística
& IV Seminário de Produção em Linguística
IV SPL Universidade Federal de São Carlos
30 de setembro, 1 e 2 de outubro de 2015

MELKOR, O INIMIGO DO MUNDO:


A CONSTITUIÇÃO DO VILÃO EM J. R. R. TOLKIEN

Alline Duarte Rufo


(UFSCar – adrufo@gmail.com)

Resumo:
O presente trabalho se propõe a compreender como nas relações dialógicas
dentro da obra estética constitui-se o sujeito valorado como vilão. Delimita-se
como objeto de compreensão Melkor, personagem presente na complexidade
narrativa da obra O Silmarillion de J. R. R. Tolkien, obra relato da criação de
Arda (mundo onde se passa as histórias de sua mitologia) e os acontecimentos
de sua Primeira Era, incluído o surgimento de seu vilão. Recorre-se a teorias
advindas da filosofia da linguagem, preconizadas pelo filosofo russo Mikhail
Bakhtin, com o intuito de estabelecer um caminho para a compreensão da
jornada que o vilão constitui nas suas relações de alteridade com discursos
verbais, e não-verbais,a sua corporeidade, constituída como feia, monstruosa,
grotesca.
Palavras-Chave: Vilão; Melkor; Silmarillion; J. R. R. Tolkien; Mikhail Bakhtin;
Abstract:
This paper proposes to understand how the dialogical relations constitutes the
subject valued as Villain. Defines as object understanding Melkor, this character
in the narrative complexity of the work The Silmarillion by J. R. R. Tolkien, the
history about Arda's (the world where goes the stories of its mythology) and the
events of his First Age, including the rise your Villain. Using to theories arising
from the philosophy of language, affirmed by russian philosopher Mikhail
Bakhtin, in order to establish a path to understanding the journey of the Villain
starting at otherness of verbal relations, his speech; and nonverbal, its
corporeality, denoted as ugly, monstrous, grotesque.
Keywords: Villain; Melkor; Silmarillion; J. R. R. Tolkien; Mikhail Bakhtin;

Muitos são os vilões que marcam as histórias das quais gostamos,


apresentados como forma antagônica aos heróis tramando e persuadindo. Esse é
apenas um olhar que se é possível ter sobre esses sujeitos e que, nesse trabalho,
não será o nosso foco. Queremos enviesar esse olhar, abraçar e compreender
esses sujeitos que são considerados vilões para alguns a partir de um determinado
olhar, que pode ser herói em uma outra perspectiva, mas que principalmente, é na
relação com os outros que ele se constituíra, como vilão ou como herói.

O vilão tem como noção de caracterização ser considerado o mal em


personificação. O mal entendido a partir de uma concepção judaico-cristã de
oposição ao Bem, criando uma associação entre Bem/Herói/Sublime e
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Mal/Vilão/Grotesco. Nesse trabalho o objetivo é traçar uma jornada desse sujeito


valorado como vilão, em contraposição a jornada do herói desenvolvida por Joseph
Campbell em sua obra O Herói de Mil Faces, no intuito de compreender como ele se
constituí em relação ao herói dentro da obra estética, mais especificamente, dentro
de O Silmarillion de J. R.R. Tolkien.

Como base teórica do nosso estudo, contamos com a colaboração do filosofo


da linguagem russo, Mikhail Bakhtin para melhor compreensão desse sujeito.
Utilizando de vários de seus preceitos teóricos, como a questão da alteridade nas
relações dialógica dos sujeitos, o corpo grotesco e o signo ideológico. Segundo
Bakhtin:

Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou


social) como todo corpo físico, instrumento de produção ou produto de
consumo; mas, ao contrário destes, ele reflete e refrata uma outra
realidade, que lhe é exterior. Tudo que é ideológico possuí um significado e
remete a algo situado fora de si mesmo. Em outras termos, tudo que é
ideológico é um signo. Sem signo não existe ideologia. (BAKHTIN, 2010b,
p. 31)

Dado o teor ideológico do signo, podemos pensar que tudo que é ideológico é
signo, então tudo que é signo é ideológico, tal fenômeno ocorre porque um produto
ideológico faz parte de uma realidade, e ao mesmo tempo reflete e refrata um outra,
pois esse produto possuí um significado e remete a algo situado fora de si mesmo.
Ainda na concepção do autor, esse signo, parte de uma realidade e está sujeito a
critérios valorativos ideológicos, ele pode distorcer, ser fiel, falso, verdadeiro,
correto, justo.

Nesse sentido, Inimigo, enquanto palavra, é um signo ideológico que se


constituí na relação entre dois sujeitos falantes, pois segundo Ponzio (2013, p. 175):
Tudo o que faz parte da realidade material pode tornar-se signo, e adquire tal valor
somente na dimensão histórico-social. Ou seja, aquele que chamamos de inimigo,
só é inimigo porque é um signo ideológico carregado com uma significação
histórico-social entre dois sujeitos falante que possuem sua ideologia e estão
socialmente organizados. E é através da palavra que podemos observar esse
fenômeno. Para uma melhor compreensão dessa relação dialógica que constitui o
Inimigo, que mais tarde se tornará Vilão, olharemos para uma obra estética, mais
especificamente O Silmarillion de J. R. R. Tolkien. A obra em questão diz respeito a
Primeira Era das Três Eras que constituem o mundo tolkeniano, que tem sua
Terceira Era mais conhecida pelo público em geral dado a amplitude de alcance
midiático a que chegaram as adaptações cinematográficas das obras O Senhor dos
Anéis e O Hobbit por Peter Jackson.
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Em O Silmarillion temos o relato da constituição do mundo, em outras


palavras o mito da criação desse mundo. No nada havia Eru, que dá para vida aos
Valar, seres criados de seu pensamento e incube a esses um tema para que
companham uma Música, nessa composição Melkor, um dos mais poderosos entre
esses seres, se rebela sendo dissonante do tom estabelecido por Eru, tendo assim
o primeiro questionamento e se constituindo como esse outro diferente, como
Inimigo. Sendo assim, podemos compreender melhor o Inimigo de Melkor em O
Silmarillion, pois é quando os sujeitos enunciam que podemos observar as palavras
que são empregadas e os sentidos que estas carregam. Melkor só é considerado
Inimigo por estar em relação com outros sujeitos que o denominam assim. No
entanto, essa denominação se dá no meio ideológico e social no qual os sujeitos
fazem parte.

Desde o início de sua criação por Eru, Melkor, considerado o mais poderoso
e com maiores conhecimentos entre os Valar, possuía, diferente de seus irmãos, o
desejo de criar por contra própria, mas para isso era necessário ter a Chama
Imperecível, que este nunca encontrou. E era nessas empreitadas em busca da
chama que ele desenvolvia seus próprios pensamentos. Quando Eru propôs aos
Valar que cantassem a Música, a dissonância surgiu a partir dos pensamentos
independentes de Melkor, e é essa dissonância que é o primeiro questionamento
das ordens de Eru. E é por questionar o discurso de Eru que Melkor então é
considerado o inimigo. Por que o inimigo é o outro, diferente do eu, que pensa
diferente de mim e me questiona.

Em realidade, é impossível falarmos do Herói, sem falar do Vilão, pois um só


existe na relação com o outro. E é na interação social que essa relação se dá. O
Vilão não é esse único sujeito, encarnação do mal, mas ele se constituí dessa forma
na interação com o Herói e com os outros sujeitos que fazem parte do seu horizonte
social, tanto na forma verbal, o seu discurso, quanto os signos não verbais, sua
corporeidade. Há então o deslocamento de uma identidade, unitária, para uma
alteridade, a construção do eu na relação com o outro.

Para que então o vilão seja considerado como tal e seu corpo e forma seja
valorado, é necessário um ponto de vista exterior que não seja aquele do eu, mas
sim do outro. Existem dois centros de valores, um eu que cresceu e viveu de uma
forma, e o outro que cresceu e viveu de outra. Mesmo que um objeto idêntico seja
colocado na frente de ambos, ele terá aspectos avaliativos diversos na relação
comigo ou com o outros. Quando pessoas diferentes veem a figura de Melkor,
podem valorado como a encarnação do mal ou como um sujeito que questionou um
sistema ideológico dominante. Assim também a valoração corpórea, seu corpo pode
ser valorado como belo e forte ou como feio e monstruoso. O eu é implicado
dialogicamente na alteridade, assim como o “corpo grotesco” (Bakhtin, 1965) é
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implicado no corpo do outro. Diálogo e corpo estão estreitamente ligados entre eles
(PETRILLI, 2013, p.54).

Referências

BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Para uma Filosofia do Ato Responsável. São


Carlos: Pedro & João Editores, 2010a.
_______. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do
método sociológico na Ciência da Linguagem.14 ed. São Paulo: Hucitec, 2010b.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 2007.
ECO, Umberto. História da Feiura. Rio de Janeiro: Record, 2014.
PETRILLI, Susan. Em Outro Lugar e de Outro Modo. Filosofia da linguagem,
crítica literária e teoria da tradução em, em torno e a partir de Bakhtin. São Carlos:
Pedro & João Editores, 2013.
PONZIO, Augusto. No Círculo com Mikhail Bakhtin. São Carlos: Pedro & João
Editores, 2013.
TOLKIEN, John Ronald Reuel. O Silmarillion. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2009a.
_______. The Silmarillion. London: HarperCollinsPublishers, 1999.

_______. O Hobbit. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009b.

_______. O Senhor dos Anéis. Volume Único. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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