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Capítulo III
AMBIGÜIDADE RAÇA/CLASSE E A MESTIÇAGEM COMO MECANISMOS DE
ANIQUILAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA E AFRO-BRASILEIRA
Com base nos estudos de Carl Degler (1976), segundo Munanga (1986), a partir dos
relacionamentos entre homens brancos e mulheres negras, gerando as mestiçagens, houve
uma evolução nas atitudes raciais no Brasil, visto que o homem branco passava a ver o negro
como menos diferente e estranho.
Segundo o mesmo, nos Estados Unidos e no Brasil havia uma certa preocupação dos pais
brancos para com os filhos negros (embora não em 100% dos casos). Os mulatos eram, em
sua maioria, libertos, em números bem superiores ao número de negros em liberdade; eram
também menos escravizados.
Munanga (id.) chama atenção para o fato de que no Brasil a mestiçagem foi mais ampla e que
os libertos eram entregues “ao Deus dará”, sem manutenção e ensino de bons hábitos. O
mesmo aponta ainda que nos Estados Unidos os pais não reconheciam filhos mulatos tão
abertamente quanto aqui no Brasil.
Carl Degler, segundo Munganga (op. cit.), concluiu que no Brasil o mulato aceita o
branqueamento, gerando menos descontentamento entre as raças, diferentemente do que
ocorre nos Estados Unidos. Para Degler, esta é a razão pela qual não se tem aqui conflitos
raciais tão exacerbados quando lá.
Nos Estados Unidos, havia a One-drop rule (regra de uma gota de sangue), com a qual se
considerava como negro qualquer pessoa com uma única gota de sangue negro, ou seja, visão
de raça em esquema biológico. Consideravam o negro uma raça inferior. Degler concluiu,
segundo Munanga (id.), que no Brasil a ligação entre cor/classe foi um ponto chave na
discriminação.
Já para Marvin Harris (1967), segundo Munanga (id.), a falta de mão-de-obra branca fez com
que os senhores de escravos criassem grupos de mestiços, ficando entre eles e os escravos,
para exercer funções essenciais, inclusive militares.
Para Oracy Nogueira (1985, p. 6), segundo Munanga (id., p. 88), o “disfarçamento de traços
negroides” (diploma, dinheiro e etc.) implica que o mestiço pode ser incorporado ao grupo
branco.
Um negro bem-sucedido que casa com uma branca terá descendentes, após 3 ou 4
gerações, integrados no grupo branco. Os sucessivos cruzamentos conjugados com o
status socioeconômico levam progressivamente ao branqueamento. Nos Estados
Unidos, tanto a mestiçagem como o status socioeconômico não participam do
processo do branqueamento e da aniquilação da linha de cor. No Brasil, a percepção
da cor e outros traços negróides é "gestáltica", dependendo, em grande parte, da
tomada de consciência dos mesmos pelo observador, do contexto de elementos não-
raciais (sociais, culturais, psicológicas, econômicas) e que estejam associados -
maneiras, educação sistemática, formação profissional, estilo e padrão de vida - tudo
isso obviamente ligado à posição de classe, ao poder econômico e à socialização daí
decorrente. (MUNANGA, id., p. 88)
Munanga explica que a maior parte dos afro-brasileiros sonha em um branqueamento, mudar
de status, empobrecendo o sentimento de solidariedade com os — palavras do autor — negros
indisfarçáveis. Essa questão aparece em ditados populares, como “dinheiro branqueia”, “o
preto rico é branco” ou “o branco pobre é preto” (id., p. 88).
Capítulo IV
MESTIÇAGEM CONTRA PLURALISMO
Munanga (1986, p.90) explica que no fim do século XIX a mestiçagem implicaria numa
sociedade unirracial e unicultural, mas que isso significaria uma aculturação por parte dos
negros e mestiços, aderindo ao “modelo hegemônico racial e cultural branco”. Em outras
palavras, implicaria na criação de “uma verdadeira raça e uma verdadeira civilização”
brasileiras; em contrapartida, não se pensou em uma sociedade plural.