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Jornal
www.jornalivros.com.br Ano XII • Janeiro de 2022• Distribuição Gratuita

O Grande Segredo
No terceiro volume de sua trilogia sobre os grandes
mistérios da vida, Maeterlinck investiga as nascentes do
misterioso rio que corre por todas as religiões, crenças e
filosofias conhecidas
(Texto de Bira Câmara)

D
ramaturgo e ensaísta, o
conjunto da obra
Maeterlinck é de uma
variedade incomum e
navegou na contra mão da
tendência dominante, explo-
rando admiravelmente sua
principal preocupação: o que
está por trás dos mistérios da
vida? Seus escritos em prosa
são combinações notáveis de
misticismo, ocultismo e inte-
resse pelo mundo da natureza
em oposição ao materialismo, à
ciência e à mecanização.
Profundamente preocupado O Grande Segredo
com questões como a imortali- Brochura, 204 páginas,
dade da alma, a natureza da formato 14 X 21 cm.
morte, o sentido da vida e a Primeira edição em
obtenção da sabedoria, Mae- língua portuguesa.
terlinck dedicou-se a especula- Tradução e prefácio de
ções místicas em boa parte de Bira Câmara.
suas obras como em O tesouro
dos humildes (1896) e Sabedoria e
Destino (1898). Seus escritos em
prosa mais lidos, no entanto,
são dois ensaios extensos, A
vida das abelhas (1901) e A
Continua na página
seguinte
2 Jornal ivros
Inteligênca das flores (1907), em que
expõe sua filosofia da condição
humana.
Figura literária consagrada,
Maeterlinck
ganhador do prêmio Nobel em
navegou na 1911, teve a coragem de aventu-
contra mão da rar-se pelas “regiões bastante
tendência depreciadas e pouco frequenta-
dominante, das” das sessões espíritas, do
ocultismo e dos fenômenos
explorando paranormais. O resultado foi
admiravelmen- esta trilogia iniciada com o livro
te sua princi- A Morte, seguida por O Convidado
pal preocupa- Desconhecido e fechada com O
Grande Segredo.
ção: o que está
Classificada levianamente
por trás dos por alguns críticos como “uma
mistérios da espécie de breve história do
vida? ocultismo”, esta última obra vai
além e investiga as nascentes do
misterioso rio que corre por
todas as religiões, crenças e
filosofias. Começando pela Índia
sagrada, essa corrente sem
dúvida se espalhou pelo Egito,
pela antiga Pérsia, pela Caldeia,
impregnou o povo hebreu, se
infiltrou na Grécia e no norte da
Europa, chegou à China e possi-
velmente até mesmo à América
onde a civilização asteca tem
Autor inusitada similaridade com a
consagrado, civilização egípcia.
ganhador do Portanto, há três derivações
prêmio Nobel de do ocultismo primitivo: a
literatura em derivação Egito-Pérsia-Caldeia-
1911, teve a Grécia (os “mistérios” religiosos
coragem de gregos); Esoterismo judaico-
cristão, com os essênios, os
aventurar-se
gnósticos, os neoplatônicos
pelas “regiões
alexandrinos, os cabalistas da
bastante
Idade Média; enfim, o ocultismo
depreciadas e
moderno, mais ou menos imbuí-
pouco
do dos precedentes, que inclui
frequentadas”
não só os teosofistas, mas
das sessões
também os espiritualistas e
espíritas, do
todos os filósofos metapsíquicos
ocultismo e dos
de hoje. Dessas várias correntes,
fenômenos
desde os textos mais antigos da
paranormais. literatura sagrada hindu até as
várias manifestações do ocultis-
vro
mo moderno com Blavatsky,
Besant, Steiner e os “meta-
psíquicos contemporâneos”, o
autor pinta um quadro muito
consistente no qual se esforça
para provar que esses rios e
correntes de ocultismo nos
transmitiram poderes, sem
dúvida muito mais espirituais
do que os da mente moderna.
Em resumo, para apreender e
dominar esses poderes, deve-
mos, portanto, espiritualizar-
nos, cultivar o jardim de nossa
alma, isto é, nosso subconscien-
te, por meio da renúncia e da
concentração espiritual.
O estilo sugestivo e poético
de Maeterlinck, a atmosfera
purificada, povoada de parado-
xos etéreos que nos escapam
antes que se tenha tempo de
apreendê-los, os sutis pontos de
interrogação e um vago idealis-
mo sentimental, difundido por
toda parte, pontuam esta obra,
eivada de reflexões poéticas
sutis e engenhosas sobre temas
que sempre fascinaram a
humanidade.
Certamente O Grande Segredo
deve desagradar a muitos
religiosos das mais diversas
correntes, bem como aos esoté-
ricos em geral, e aos ocultistas
em particular, pois não se trata
de uma obra doutrinária e tem
por objetivo tão somente a
busca da verdade. E se reconhe-
ce, ao final, a impossibilidade de
desvendar todos os mistérios de
Deus, do universo e o sentido da
vida do homem, pelo menos
serve como uma bússola, um
roteiro para quem pretende se
aventurar por este terreno
escorregadio e poupar o desper-
dício de tempo estudando uma
tonelada de livros inúteis que só
servem para espalhar confusão.
Jornal ivros
vro
Dramaturgo, poeta, filósofo
N
ascido em 29 de agosto
de 1862 em Gand, na
Bélgica, Maurice Polydore
Marie Bernard Maeter-
linck será sempre lembrado como
o único escritor deste país a obter
o prêmio Nobel de Literatura
(1911). A atribuição deste prêmio
foi um acontecimento de alcance
mundial, pois o laureado já gozava
de grande prestígio internacional.
Suas obras tinham sido traduzidas
em dez línguas diferentes e sua
reputação literária pairava acima
de discussões.
Era o filho mais velho de um
casal burguês com três filhos, uma
família católica, conservadora e
francófona. Por imposição de seu
pai, estudou Direito na Universida-
de de Gand, e chegou a exercer a
advocacia por curto período de
tempo. Mas, segundo suas
próprias palavras, seus discursos
enviavam os clientes diretamente
para a cadeia. Conseguiu conven-
cer o pai a enviá-lo para Paris,
para aprender a discursar com os
advogados dos tribunais france-
ses. Na verdade, isso era apenas
pretexto para — na companhia de
seu amigo Grégoire Leroy —,
conhecer o ambiente literário
vanguardista em torno de Villiers
de l’Isle-Adam, que seria seu
principal mentor no simbolismo.
Por sua influência descobriu as
riquezas do idealismo alemão
(Hegel e Schopenhauer), e na
mesma época a obra de
Ruysbroeck — o Admirável, um
místico flamengo do século XIV,
cuja obra traduziu (Ornement des
noces spirituelles).
A celebridade chegou para ele
em agosto de 1890, graças a um
retumbante artigo de Octave
Mirbeau no Le Figaro sobre sua
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O Convidado
Desconhecido
Maurice Maeterlinck
peça La Princesse Maleine.
Em 1895 conhece a cantora
Georgette Leblanc, irmã de
Maurice Leblanc, e junto com ela
(em 1897) mantém um salão
parisiense muito concorrido na
Villa Dupont, onde cruza com
Oscar Wilde, Paul Fort, Stéphane
Mallarmé, Camille Saint-Saëns,
Anatole France e Auguste Rodin
entre outros. Em 1902 ele escreve
Monna Vanna, cujo papel principal
foi representado por Georgette .
Vive com ela até 1918, antes de A aventura de
casar no ano seguinte com a Maeterlinck pelos
jovem atriz Renée Dahon. fenômenos
Em 1939, por causa da segunda paranormais,
guerra mundial, vai para os pelas artes
Estados Unidos e retorna à França divinatórias,
somente em 1947, falecendo na telepatia,
sua casa em 5 de maio de 1949.
fantasmas,
Maeterlinck foi um dos gran-
comunicação com
des dramaturgos, junto com
Ibsen, Tchekhov, Strindberg e
os mortos e
Hauptmann, que por volta de 1880 outras áreas
contribuíram para transformar a insólitas, regis-
concepção do drama. Sua peça de trada num livro
teatro, Pelléas et Mélisande (1892), é instigante
um dos pináculos do movimento
simbolista. L’Oiseau bleu (1908), Brochura, 268
encenada no Teatro de Arte de páginas, formato 14
Moscou, assegurou a Maeterlinck X 21 cm.
um renome internacional. Primeira edição em
Como ensaísta, também língua portuguesa.
construiu uma obra de grande Tradução, prefácio
sucesso, com a descoberta
e notas de Bira
filosófica do mundo vegetal Câmara.
(L’Intelligence des fleurs, 1907) e dos
insetos sociais (La Vie des abeilles,
1901, La Vie des Termites, 1927, e La
Vie des fourmis, 1930).
Em sua vasta obra destacam-
se também Le Trésor des humbles
(1896), La Sagesse et la destinée
(1898), L’Hôte inconnu (1917), La
Grande Féerie (1929), entre outras.
4 Jornal ivros
A Morte
Tradução portugue-
sa de Cândido de
Figueiredo, revista
e atualizada. Prefá-
cio e nota bio-
gráfica de
Maeterlinck por Bira
Câmara. Brochura,
203 páginas, forma-
to 14 X 21 cm.
PEDIDOS pelo E-mail:
jornalivros@gmail.com
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Boletim informativo de
literatura e bibliofilia
Editor: Bira Câmara
Contacto:
tel. (11) 3224-0457
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vro
Maeterlinck e a morte
O
que pode trazer de gado por ele com rara sensibilidade
novidade um livro e aguçada visão.
escrito há um século Maeterlinck não acreditava em
atrás, sobre um tema Deus, e as religiões — o catolicismo
tão controvertido e mais do que as outras —, lhe
fascinante como a morte, que pareciam concepções pueris e
sempre alimentou especulações, obsoletas. Quando se propôs a
e sobre o qual até hoje tanto os pesquisar a morte tinha a preten-
religiosos como os cientistas e são de coletar material para
filósofos jamais chegaram a um substituí-las por um edifício futuro
consenso? Por certo ele não traz mais sólido, que ele denominava
a palavra definitiva, a prova neo teosofia ou neo espiritismo.
cabal da sobrevivência da alma, Reconhece que uma tarefa de tal
nem a resposta magnitude não seria
para o grande possível em apenas
enigma da vida. trinta anos de
Mas foi escrito por pesquisa, que era na
uma das mentes época o quanto já
mais brilhantes durava as investiga-
que já se debruça- ções psíquicas
ram sobre este desde o seu início.
assunto, No final do
pesquisando-o com século dezenove e
imparcialidade e início do vinte, a
objetividade, sem teosofia e o espiritis-
resvalar para o mo despontavam
misticismo. como pioneiros
Maeterlinck, seu
autor, um dos mais
Maeterlinck neste campo, e suas
teorias seduziram
notáveis escritores muitos escritores e artistas. Se
do século vinte, prêmio Nobel de tivesse nascido nos dias de hoje,
Literatura de 1911, além de ser com certeza não seria nos centros
um poeta aclamado, teatrólogo e espíritas que Maeterlinck concen-
ficcionista, também ficou conhe- traria sua atenção, mas nos hospi-
cido pelos seus ensaios, onde a tais, a entrevistar pacientes que
filosofia serena junta a graça da sofreram morte clínica e
poesia e a precisão da lingua- retornaram contando experiências
gem. Sua prosa clara e harmoni- pós-vida. Ele seria mais um a
osa não se limita apenas à forma, engrossar o time de pesquisadores
mas é permeada de pensamen- como Elizabeth Kubler-Ross,
tos singularmente profundos. A Raymond Moody, Brian Weiss,
morte, um tema solene, eterno e Pierre Weill, Eliezer Mendes, e
sempre inesgotável, foi investi-
tantos outros.
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