1) Elipse – Trata-se da omissão de um termo que pode ser facilmente identificado pelo contexto ou por
elementos gramaticais presentes na frase. Observe no exemplo abaixo a omissão do pronome EU:
Ex: “Jantei sozinho. E quando voltei a casa, fui direto ao atelier, destapei o retrato, lancei uma pincelada ao acaso,
tornei a cobrir a tela.” (José Saramago)
3) Polissíndeto (do grego: poli: “muitos”; síndeto: “conjunção”) – Consiste na repetição de conjunções
coordenativas na ligação de elementos da frase ou do período. Observe o exemplo abaixo:
Resíduo e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
Carlos Drummond de Andrade e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
(...) e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
Mas de tudo, terrível, fica um pouco, e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob as ondas ritmadas e sob os gonzos da família e da classe,
e sob as nuvens e os ventos fica sempre um pouco de tudo.
e sob as pontes e sob os túneis Às vezes um botão. Às vezes um rato.
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
4) Assíndeto (do grego: a: “ausência”, “falta”; síndeto: “conjunção”) – é a ausência de conjunções coordenativas
na ligação dos elementos da frase ou do período. Observe o exemplo abaixo:
LEMBRANÇA DO MUNDO ANTIGO outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
Carlos Drummond de Andrade o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
Clara passeava no jardim com as crianças. a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
O céu era verde sobre o gramado, o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era
a água era dourada sob as pontes, tranquilo
[ em redor de Clara
5) Hipérbato ou inversão – Como o próprio nome indica, consiste na mudança na ordem normal dos termos da
frase. O Hino Nacional é um bom exemplo de inversão:
Apresentação original: Ordem normal seria:
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas As margens plácidas do Ipiranga ouviram
De um povo heróico o brado retumbante” O brado retumbante de um povo heróico.
6) Anacoluto – Consiste na quebra da sequência lógica da frase: Inicia-se uma frase que depois é quebrada para
a introdução de uma palavra ou expressão que não tem relação sintática com a frase que se iniciou anteriormente.
Ex.s: “O homem, chamar-lhe mito não passa de anacoluto.” Carlos Drummond de Andrade.
“E a menina, para não passar a noite só, era melhor que fosse dormir na casa de uns vizinhos”. (Rachel de
Queiroz)
“A vida, não vale a pena nem a dor de ser vivida”. (Manuel Bandeira)
Segundo Manuel Bandeira, o fragmento de Violões que Choram (Cruz e Souza), é o mais longo exemplo de
aliteração da Língua Portuguesa:
Vozes veladas veludosas vozes, Vagam nos velhos vórtices velozes
Volúpia dos vilões, vozes veladas, Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
10) Paranomásia - Quando numa mesma sentença temos o emprego de palavras parônimas, ou seja, palavras
de sons parecidos, dizemos que ocorreu aí a paranomásia, figura de linguagem que consiste no emprego de
palavras parecidas, numa mesma sentença, gerando uma espécie de trocadilho.
O desconhecimento do sentido real destas palavras compromete efetivamente na não-compreensão do
que está sendo dito pelo locutor.
Observe neste poema de Manuel Bandeira:
“Neologismo”
“Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora”.
11) Catacrese – Trata-se de um tipo de metáfora que já cristalizou, perdendo, até mesmo, relação com o
significado original. Ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, coloca-se outro
"emprestado". Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu sentido original. Observe:
boca da noite / maçã do rosto / braço da cadeira / batata da perna / coroa do abacaxi / enterrou o espinho no dedo
12) Perífrase ou antonomásia ou circunlocução - Trata-se de uma expressão que designa um ser através de
alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou. Veja o exemplo:
Obs.: quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o nome de antonomásia. Exemplos:
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida praticando o bem.
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jovem.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.
13) Sinestesia – É a mistura de sensações produzidas por diferentes órgãos de sentido. Exemplos:
A merenda está com um cheiro gostoso!
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = auditivo; áspero = tátil)
No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (silêncio = auditivo; negro = visual)
14) Onomatopeia – É a repetição do som de uma palavra ou expressão que imita o som natural da própria coisa
significada. Exemplos:
A onomatopéia é presença constante nos gêneros textuais como: Charges, tirinhas e HQs.
15) Apóstrofe ou invocação – Consiste na invocação de alguém ou de alguma coisa. Sintaticamente, a apóstrofe
exerce a função de vocativo dentro de uma sentença.
Exemplos:
Vozes d'África
Castro Alves
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Observação: Não confunda apóstrofe (figura de linguagem) com apóstrofo que é um sinal em forma de vírgula
(') voltada para a esquerda, mas também reto, que, alceado a um nível superior ao das letras minúsculas, serve
para indicar a supressão de letra(s) e som(ns), como, por exemplo: mãe-d'água, Vozes d'África etc..
16) Silepse - consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que
está implícito. A silepse pode ser:
• De gênero • De número
Vossa Excelência está preocupado. Os Lusíadas glorificou nossa literatura.
• De pessoa
“O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se
derrete na boca.”
17) Gradação ou clímax - é a apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)
"O trigo... nasceu, cresceu, espinhou, amadureceu, colheu-se, mediu-se." (Vieira) - clímax
Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” Monteiro Lobato -anticlímax
18) Anáfora - consiste em repetir uma palavra ou expressão a espaços regulares durante o texto. É muito comum
nas trovas populares, cordéis e poemas.
“Noite – montanha. “Acorda, Maria, é dia
Noite vazia. de matar formiga “Vi uma estrela tão alta,
Noite indecisa. de matar cascavel Vi uma estrela tão fria!
Confusa noite. de matar estrangeiro Vi uma estrela luzindo
Noite à procura, de matar irmão Na minha vida vazia”.
mesmo sem alvo de matar impulso
de se matar”. Manuel Bandeira
(Carlos Drummond de Andrade) (Carlos Drummond de Andrade)
19) Comparação ou analogia ou símile – é a figura de linguagem que consiste em aproximar dois seres em
razão de alguma semelhança existente entre eles, de modo que as características se um sejam atribuídas ao
outro, e sempre por meio de um elemento comparativo expresso> como, tal, qual, semelhante a, que nem, igual a,
etc.
Exemplos: “Seus olhos são como luzes brilhantes.” “Lúcia é tão pura como um lírio do campo.”
20) Metáfora é a figura de linguagem que consiste no emprego de uma palavra em um sentido que não lhe é
comum ou próprio, sendo esse novo sentido resultante de uma relação de semelhança, de intersecção entre dois
termos.
Exemplos: “Seus olhos são luzes brilhantes.” "Meu pensamento é um rio subterrâneo." (Fernando Pessoa)
21) Metonímia ou sinédoque – é a figura de linguagem que consiste na substituição de uma palavra por outra em
razão de haver entre elas uma relação d interdependência, de inclusão, de implicação.
A metonímia ocorre quando empregamos:
1. O efeito pela causa ou vice-versa: “Conseguiu sucesso com determinação e suor” (trabalho).
2. O nome do autor pela obra: “Ler Guimarães Rosa é um projeto desafiador” (a obra).
3. O continente (o que está fora) pelo conteúdo (o que está dentro): “Bebeu só dois copos e já saiu
cambaleando” (a bebida).
4. O substantivo concreto pelo abstrato: “Tratava-se de um papo-cabeça” (intelectual).
5. O abstrato pelo concreto: “Era difícil resistir aos encantos daquela doçura” (pessoa meiga, agradável).
6. A marca pelo produto: “Comprei uma caixa de Gilette” (lâmina de barbear).
7. O instrumento pela pessoa: “Quantos quilos ela come por dia?
Quilos? Não sei, mas ela é boa de garfo” (o instrumento utilizado para comer). (Luiz Vilela)
8. O lugar pelo produto: “Queria tomar um Porto fervido com maçãs” (o vinho).
9. O sinal pela coisa significada: “O trono inglês está abalado pelas recentes revelações sobre a família
real” (o governo exercido pela monarquia).
10. O singular pelo plural: “O brasileiro tenta encontrar uma saída para suportar a crise” (um indivíduo por
todos).
11. A parte pelo todo: “Enormes chaminés dominam os bairros fabris da cidade inglesa”. (fábricas)
12. A classe pelo indivíduo: “Depois desse episódio, não acredito mais no Juizado brasileiro” (os juízes).
13. A matéria pelo objeto: “O jantar foi servido à base de porcelanas e cristais” (matéria de que é feito o objeto).
22) Antítese – É a figura de linguagem que consiste no emprego de palavras que se opõem quanto ao sentido.
Exemplos: Ela se preocupa tanto com o passado que esquece o presente.
A guerra não leva a nada, devemos buscar a paz.
O exemplo clássico é Gregório de Mattos: “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia; Depois da Luz se segue à
noite escura; Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas e alegrias.”
23) Paradoxo ou oxímoro – é a figura de linguagem que consiste no emprego de palavras ou expressões que,
embora opostas quanto ao sentido, se fundem em um enunciado. São ideias contráditórias.
Exemplos:
“A explosiva descoberta “Amor é fogo que arde sem se ver
Ainda me atordoa. É ferida que dói e não se sente
Estou cego e vejo. É um contentamento descontente
Arranco os olhos e vejo”. É dor que desatina sem doer”.
(Carlos Drummond de Andrade) (Camões)
24) Prosopopeia ou Personificação – é a figura de linguagem que consiste
em atribuir linguagem, sentimentos e ações próprias dos seres humanos a
seres inanimados ou irracionais.
Exemplos:
“O morro dos ventos uivantes“
“O Sol amanheceu triste e escondido.”
” A lua beijava a face do lago adormecido... “
“O fogo dançava com a chuva...”
25) Hipérbole – é a figura de linguagem que consiste em expressar uma ideia com exagero.
Exemplos:
"Rios te correrão dos olhos, se chorares!" (Olavo Bilac)
"Assim esperamos - disse a plateia, já agora morrendo de rir." (Caetano Veloso)
"Eu chorei rios de lágrimas."
"Você me faz morrer de rir."
"Estou morrendo de fome!"
"Eu quero ter um milhão de amigos e, bem mais forte, poder cantar!!" (Roberto
Carlos)
“O próprio céu chorou por mim!”
26) Eufemismo - é a figura de linguagem que consiste no emprego de uma palavra ou expressão no lugar de
outra palavra ou expressãoconsiderada desagradável ou chocante.
Exemplos: Você faltou com a verdade. (Você mentiu.)
O político apropriou-se do dinheiro público. (O político roubou.)
27) Ironia – é a figura de linguagem que consiste em afirmar o contrário do que se quer dizer.
Seu aproveitamento na escola não podia ter sido melhor: reprovado em apenas seis
matérias.
Mário de Andrade
“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente,
antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.” Charles Chaplin
ATIVIDADES:
1) Leia os fragmentos abaixo e dê a(s) figura(s) de linguagem presente neles:
a) “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus!” (Castro Alves)
b) "Cidade maravilhosa / Cheia de encantos mil / Cidade maravilhosa / Coração do meu Brasil." (André Filho)
c) Toc , Toc – bater da porta / Hmm – pensamento / Ha Ha Ha!– riso / Au! – latido / Bang! – tiro.
d)”Minha professora trabalha na escola particular; minha mãe, na pública. Ela anda de bicicleta, eu de moto.”
g) Chegou, viu; gostou, pediu; bebeu, cuspiu; pagou, saiu; tropeçou, caiu; levantou e sumiu.
j) “O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu”. (Rubem Braga)
l) “Subir para cima.”/ “Hemorragia de sangue.”/ “Entrar para dentro.” / “Adiar para depois.” / “Encarar de frente.”
m)
n) "Sou Ana, da cama / da cana, fulana, bacana / Sou Ana de Amsterdam." (Chico Buarque)
o)
O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter a coragem de ir colhê-la à beira de um precipício. Sthendal
ATIVIDADES – FIGURAS DE LINGUAGEM - (REVISÃO - 1º ANO EM)
1) Leia os fragmentos abaixo e dê a(s) figura(s) de linguagem presente(s) neles.