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Questões:

CASO 1: CRÉDITO SUPORTADO POR DOCUMENTAÇÃO INIDÔNEA

A empresa Vale Tudo foi autuada em 18/08/2020 por ter escriturado créditos em 31/08/2016
fundados em documentação fiscal tida por inidônea pela fiscalização em 29/06/2018. As notas
fiscais que legitimaram a escrituração dos créditos retratavam operações mercantis ocorridas em
31/08/2016. Pergunta-se:

a) No seu entendimento inidôneo é o documento ou a empresa suposta emissora de tais


documentos tidos como inidôneos? Quais documentos devem constar do Processo Administrativo
Fiscal iniciado com a lavratura do auto-de-infração e que sejam representativos da inidoneidade?
Ambos. Empresa que simula sua existência desde a sua inscrição ou após determinado período de
atividade emite Nota Fiscal, mas outra empresa, que está oculta, fornece as mercadorias
discriminadas na Nota. Ocorre uma “simulação”, por meio da qual a adquirente apropria-se de
crédito espúrio de ICMS, igual ao valor de imposto destacado no documento, ora denominado de
inidôneo.
O processo de apuração da inidoneidade dos documentos fiscais deve estar bem instruído, ou seja,
com Relatório de Apuração objetivo, claro e preciso, acompanhado de provas da inatividade, da
simulação, ou da falsidade.

b) O processo de verificação da inidoneidade de documentos (Processo de Inidoneidade) tem


algumas características peculiares a saber:
1. Ele é produzido somente em momento posterior à emissão das notas fiscais
que teriam dado suporte ao aludido creditamento indevido.

2. Não há publicidade para o público externo do resultado do processo de


inidoneidade.

Assim sendo, há alguma irregularidade em considerar determinados relatórios confeccionados


neste processo como prova da inidoneidade das notas fiscais que foram objeto do auto-de-
infração lavrado? Por que?
Da mesma forma que a instauração e a conclusão de inquérito policial irão ocorrer depois de o
crime ter sido praticado, a apuração e a declaração da inidoneidade irão ocorrer evidentemente
após o fisco suspeitar da inidoneidade de documentos emitidos por determinada empresa, cujos
valores de ICMS neles destacados foram apropriados por empresa sob ação fiscal. Por essa razão,
não há como a autoridade administrativa envidar esforços para que sejam observados o “princípio
da publicidade” (caput do art. 37 da CF) e o “princípio da irretroatividade” ao impugnar créditos de
ICMS destacados em documentos emitidos antes de declarada a inidoneidade. Com efeito,
publicado ato declaratório de inidoneidade de documentos emitidos por determinada empresa, ele
tem de retroagir para considerar indevidos créditos de ICMS destacados em documentos emitidos
antes da data de publicação do ato.
c) Se o autuado apenas comprovar o pagamento das supostas mercadorias acobertadas pelos
documentos tidos pelo fisco como inidôneos, mesmo assim deverá ser mantida a autuação? Por
que?
Comprovante de pagamento demonstra apenas que esta transferiu dinheiro para a conta corrente
da emitente do documento, mas não que houve entre ambas o negócio jurídico representado no
documento. Mantêm-se a autuação, tendo ocorrido ou não operação de circulação de mercadorias
ou prestação de serviços, caso o valor de ICMS que foi destacado no documento inidôneo e a seguir
apropriado pela adquirente das mercadorias ou tomadora de serviços, não tenha “lastro”: a
emitente do documento não declara o débito de ICMS da (suposta) operação.

d) Como deve o contribuinte agir para saber da situação fiscal daquele com quem realiza
transações fiscais? O fato das notas fiscais tidas como inidôneas serem eletrônicas torna inócua a
verificação do SINTEGRA? Fundamente.
A Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) só pode ter “falsidade ideológica”: o documento é autêntico porque
autorizado pela Secretaria da Fazenda, mas é falso o nome da vendedora de mercadorias ou
prestadora de serviços nele indicado, ou não houve o negócio jurídico representado no documento.

e) Em eventual impugnação do contribuinte em face de auto-de-infração lavrado por crédito


indevido lastreado por documento inidôneo, como poderia ele comprovar que teria agido de boa-
fé em termos fiscais e conforme a Súmula 509 do STJ? Justifique.
Embora seja indício de boa-fé da adquirente, comprovante de pagamento demonstra apenas que
esta transferiu dinheiro para a conta corrente da emitente do documento, mas não que houve
entre ambas o negócio jurídico representado no documento. Posto isso, o órgão julgador,
administrativo ou judicial, do Auto de Infração e Imposição de Multa deve examinar provas e
valorá-las, para se convencer ou não de que a operação de circulação de mercadorias ocorreu. O
STJ, porém, não reexamina provas.

f) Suposta alegação (ou comprovação) da boa-fé do autuado, seria suficiente ao


cancelamento do auto-de-infração lavrado em relação ao crédito e à multa? Somente ao crédito?
Somente à multa? Justifique.
Se a adquirente demonstra que agiu de boa-fé, mas o fisco está convencido de que a emitente do
documento simulava sua existência, pode o fisco ainda solicitar ao banco onde a emitente tem ou
tinha conta corrente informações sobre a movimentação dessa conta, a fim de tentar descobrir a
beneficiária do pagamento feito pela adquirente. Se a beneficiária vender as mercadorias
discriminadas no documento inidôneo e não demonstrar ao fisco que negócio jurídico teve com a
suposta vendedora, será ela a real vendedora, de quem o fisco deverá exigir o ICMS que deixou de
declarar, bem como a multa por falta de emissão de documento fiscal em operação de circulação
de mercadorias.

g) O que fazer para não ser autuado nesta situação? Quais medidas preventivas devem ser
tomadas na aquisição de mercadorias para que haja uma “blindagem fiscal”?
Quando não tem ciência da ‘simulação’, a adquirente é de “boa-fé”. Pela jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) há boa-fé quando: a Nota Fiscal foi emitida antes de declarada a
inidoneidade dos documentos emitidos pela empresa; a adquirente procurou certificar-se
previamente da existência da empresa e comprova o pagamento do preço das mercadorias em
favor desta.

PARTE 2 – GUERRA FISCAL


Estado de Goiás, através de lei ordinária estadual, concede regime especial de cobrança do ICMS a
determinadas empresas localizadas em território goiano, outorgando créditos supletivos de ICMS
de 2% toda vez que houver operações interestaduais de circulação de determinadas espécies de
mercadorias.
Esta concessão fora unilateral, ou seja, não fora submetida ao CONFAZ (Conselho Nacional de
Política Fazendária).
O destaque de ICMS em nota fiscal correspondente à remessa de mercadorias para o Ceará é de
12%
O Estado do Ceará aceita somente 10% (12% - 2%) – lavra auto de infração por crédito indevido,
indicando descumprimento ao art. 155, §2º, xii, “g” da CF/88, ao art. 8º, i da LC 24/75 e ao art. 53,
IV da Lei Estadual 12.670/96 (crédito indevido de 2%)
1) Discuta e Fundamente a manutenção ou não do auto de infração em face dos seguintes
argumentos dos contribuintes:

- O Administrado goiano não tem o dever de impugnar legislação que lhe conceda o benefício e
que seja desfavorável ao Ceará.
- O Administrado cearense não tem o dever de impugnar legislação de outro Estado em face de
benefício fiscal unilateral concedido ao remetente das mercadorias.
- O art. 8º, I da Lei Complementar 24/1975 não teria sido recepcionado pela CF/88 em face do
princípio da não-cumulatividade do art. 155, §2º, I e II da CF/88. Não se trata de isenção ou de não
incidência.
- Administração judicante, por ser órgão do Executivo, não teria competência para declarar ilegal
ou inconstitucional norma válida, vigente e eficaz de outro Estado. Haveria necessidade de
declaração de inconstitucionalidade a ser dada pelo STF.
- O Estado do Ceará teria o ônus de comprovar que nas operações glosadas pelo auto-de-infração
o remetente goiano efetivamente teria se utilizado do benefício irregular lá concedido.

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