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Segurança e o Território Livre

A questão da violência na USP

N
a última quarta-feira, dia 18, o estudante Felipe Ra- comum, a segurança.
mos de Paiva, 24, foi morto com um tiro na cabeça den- Nosso Centro Acadêmico, no entanto, parece não se sensi-
tro do estacionamento da FEA, campus Butantã da USP, bilizar com a questão. Um debate amplo e  rico está em curso na
onde estudava. Manifestamos nossos pêsames pelo ocorrido e so- USP, nos meio de comunicação e na sociedade. Para citar alguns
lidarizamo-nos com a situação pela qual passam seus pais, paren- pontos importantes e polêmicos em análise: a entrada de PMs
tes, amigos e todos aqueles que eram seus colegas de Faculdade. na universidade, a instalação de mais câmeras de segurança, o
A morte de um estudante de nossa própria Universidade controle de acesso, a falta de iluminação, o pouco trânsito de
choca. O dia-a-dia é interrompido com a materialização, den- pessoas, o papel da Guarda Universitária, a descontinuidade dos
tre todas, daquela que é uma de suas maiores e mais constantes muros, entre muitos outros. Nada disso foi trazido de fato para
preocupações: a segurança. Choca, porém, pela violência que a Faculdade de Direito. Lamentavelmente, a atual gestão limi-
estava há tempos anunciada. Reporta- tou-se a reproduzir, em Informe Eletrônico,
gem da Folha de 10 de abril trazia em Iremos também nós esperar quase integralmente uma nota do DCE sobre
seu título “USP em alerta: nova onda de a chegada de uma situa- o caso, em flagrante desrespeito à gravidade
assaltos e sequestros-relâmpagos amea- ção limítrofe para começar do ocorrido. O Largo de São Francisco não é
ça estudantes; reitoria promete melho- a pensar em soluções? uma redoma separada do resto do mundo. Se
rar iluminação do campus”. No texto, distantes fisicamente do resto da USP, somos
estudantes relatavam estarem preocupados com a nova onda de ainda assim parte da Universidade. Não podemos nos furtar a
crimes no campus Butantã da USP e deixavam claro o clima de esse debate.
insegurança que vinha se impondo. A morte de Felipe Ramos A Faculdade de Direito compartilha com a Universidade o
de Paiva, ainda que trágica, foi  o ápice de um processo latente problema da segurança. A morte do estudante foi o ápice de um
de aumento da criminalidade. A reitoria já vinha há tempos sen- processo mal conduzido: o combate à violência. No Largo de
do cobrada por uma melhora. As medidas tomadas, no entanto, São Francisco, de modo semelhante, cresce a sensação de inse-
foram insuficientes para evitar a tragédia que, agora sim, está gurança. Iremos também nós esperar a chegada de uma situação
mobilizando e organizando os alunos em torno de um interesse limítrofe para começar a pensar em soluções?

O QUE É DISCUTIDO NAS


REUNIÕES DO PORÃO:
COMPARE: Ata da última reunião:
-Orçamentos a trazer para a próxima reunião:
1 – Violão
2 – Placas de masculino e feminino para os banheiros
3 – Parede na entrada do Porão e bancos de concreto

O QUE ACONTECE 4 – Iluminação da mesa de sinuca e pebolim


- Encaminhar a ata da reunião por Informe Eletrônico
NO PORÃO: - Organizar uma caixa para coleta de sugestões sobre o Porão
- Discutir com a Faculdade possível reforma que resolva o proble-
-Furtos constantes de mochilas e outros pertences
ma de infiltração
-Consumo de drogas pesadas
- Viabilizar um Microondas no espaço estudantil
-Tráfico de drogas
- Discutir com o Bar do Chico o preço da cerveja e o esquema de
-Conflitos entre alunos e não-alunos
vendas
Porão e Território Livre
A questão da segurança na São Francisco

N
o que se refere à segurança, chegou-se a um momen- problema e, mesmo assim, não fazem nada. Não oferecem medi-
to crítico para todos os franciscanos. Além de casos das adequadas para solucioná-lo. Muito pelo contrário, ilham-se
de violência dentro da Faculdade, como a tentativa de na salinha, o que não diminui os riscos aos quais está exposto o
furto dentro da sala das Teses de Láurea, os alunos são forçados resto dos alunos.
a conviver com a explosão da criminalidade no Porão.
É papel da gestão ga-
Os problemas no Porão hoje são facilmente verificáveis por rantir a segurança dos
qualquer um que o frequente, especialmente à noite. Episódios alunos dentro do Porão
como furtos, tráfico e uso de drogas pesadas tornaram-se recor-
rentes, de modo que é clara a mudança que o nosso centro de O mais grave na postura da Gestão, no entanto, é usar a tra-
vivência sofreu nos últimos meses. Esse cenário é incondizente dição do Território Livre como pretexto para que nada seja feito
com a realidade que se espera do Porão: um espaço que sempre para controlar a criminalidade no Porão. Não de deve deturpar
serviu para a descontração e democratização do debate entre os essa tradição histórica da Faculdade para atender à conveniência
alunos. de interesses próprios, como os que atualmente colocam em se-
gundo plano o bem-estar dos franciscanos. Agir assim é desres-
Embora a situação venha se agravando a cada semana, a peitar toda a história de luta política e social que o XI de Agosto
gestão Fórum da Esquerda é omissa e ignora a realidade à sua construiu sobre esse mesmo Território.
volta, demonstrando grave menosprezo aos alunos.
É papel da gestão garantir a segurança dos alunos através de
Quando indagada sobre a segurança no Porão, a Diretoria uma postura clara e efetiva. Isso não significa, de maneira algu-
do XI de Agosto tem se limitado a propor que os alunos cuidem ma, impedir o acesso livre ao Porão, mas sim coibir as diversas
melhor de seus pertences e não os exponham ao risco de serem ocorrências criminosas com a devida instrução aos seguranças.
furtados, deixando bolsas e mochilas na salinha. Reconhecem o
A gestão Fórum da Es-
O QUE É O querda é omissa e ignora
a realidade à sua volta,

TERRITÓRIO demonstrando grave me-


nosprezo aos alunos

LIVRE? A liberdade de expressão e de discussão, que embasam a


existência do Território Livre, não podem ser pretexto para aco-
A Faculdade de Direito sempre foi um ambiente de combate
bertar crimes comuns, ainda mais quando falamos do Porão, es-
à opressão das ditaduras pelas quais o Brasil passou. O fran-
paço de covivência  pertencente a todos os alunos e que, recen-
ciscano sempre usou seus ideais e sua força para combater
temente, perdeu essas duas características: ser de convivência e
as injustiças e o autoritarismo a que o país foi submetido no
ser de todos os alunos. Ressaltamos que a mudança no ambiente
Estado Novo e durante a ditadura militar. É nesse momento
se deu principalmente em função da nova política implantada
que surge o Território Livre: um território em que é possível
pela gestão, que faz vista grossa aos crimes cometidos no lugar.
debater ideias sem ter medo da repressão, em que se pode
contestar a ordem vigente, o status quo, sem temer  represá-
A Liberdade do território não pode ser a nova roupagem
lias e limitações à liberdade de pensamento. Território Livre
para o crime. Liberdade é poder debater, em um espaço livre de
significa, portanto, liberdade de expressão, liberdade ideo-
ameaças, violência e preconceitos , sobre o que achamos melhor
lógica.
para sociedade. É nisso que o Resgate acredita.

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