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INTRODUÇÃO

A cultura protestante tem como centro a pregação. Na história


percebemos que a pregação da Palavra sempre foi um marco das igrejas
reformadas, em contraposição com a igreja católica que não a tinha como
seu centro. Mas recentemente os grupos denominados evangélicos
históricos, que são os batistas, os presbiterianos, os metodistas, os luteranos
e os congregacionais, fazem da pregação um elemento forte de sua
eclesiologia.
Basicamente quando falamos em pregação pensamos nos diversos
modelos existentes, como é o caso dos sermões temáticos, textuais e
expositivos. Dentre estas formas sermônicas destacamos o que chamamos de
sermão expositivo (o que expõe as ideias do texto de uma maneira mais
profunda).
Assim, uma vez que os auditórios e os ouvintes são dinâmicos e
estão em constantes mudanças, considerando também a centralidade da
pregação, levantamos o seguinte questionamento: Qual o tipo de pregação
que mais se necessita para os dias de hoje?

I. UMA METODOLOGIA PARA O SERMÃO EXPOSITIVO


Quando falamos em “uma metodologia para o sermão expositivo”
estamos querendo dizer que existem diversos métodos que podem ser usados
para se fazer um sermão expositivo. Na verdade se um indivíduo conseguir
arrumar as idéias do texto de maneira sistemática e lógica, tendo uma boa
introdução, um bom desenvolvimento e conclusão, ele terá feito um sermão
expositivo.
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O método que será apresentado neste trabalho é o que podemos
chamar de método jiltoniano. Consiste no método desenvolvido pelo Dr.
Jilton Moraes de Castro. “Jilton Moraes de Castro é mestre e doutor em
homilética. É pregador há mais de 30 anos e professor de homilética há mais
de 25 anos”1. O Dr. Jilton Moraes faz uma adaptação do método de “H. C.
Brown Jr. e seus companheiros, em ‘Steps to the sermon’ (Passos para o
sermão), pois não se detém nos ‘passos’ ou na ‘correta interpretação do
texto’, mas sistematiza, diagrama, exemplifica, ilustra e oferece outros
subsídios indispensáveis ao novo e velho pregador”2.
O trabalho exegético feito no capítulo 2 será utilizado neste
presente capítulo para que o leitor possa acompanhar o processo que vai
desde a exegese até a elaboração do esboço.

3.1 Da ideia do texto à contextualização


Depois do trabalho exegético precisamos tirar do texto a ideia do
sermão, organizar essa ideia e depois contextualizá-la.
A ideia central do texto (ICT) deve ser uma frase breve, capaz de
traduzir a mensagem como dirigida aos seus primeiros destinatários, ou seja,
é construída no passado3.
“É possível obter-se mais de uma ICT de um mesmo texto,
dependendo da perspectiva do pregador no estudo desse texto. Esta
multiplicidade, porém, não deve significar diversidade na interpretação: o

1
MORAES, Jilton. Homilética: da pesquisa ao púlpito. p.13.
2
Ibid. p.21.
3
Ibid. p.86.
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significado do texto é um só” . Podemos dizer que esta multiplicidade vem
4

a partir da qualidade de sua exegese.


Vejamos alguns exemplos de ICT’s usando o texto de Tiago 1.12-
15:
 Tiago falou sobre suportar a provação, com perseverança e
o prêmio da aprovação é a coroa da vida.
 Tiago mostrou que o homem tenta a si mesmo, quando
levado pela cobiça.
 Tiago falou sobre o tríplice caminho da tentação: cobiça,
pecado e morte.
Depois de encontrarmos a ICT devemos agora contextualizar.
Contextualização é “a ligação da mensagem bíblica com a realidade dos
ouvintes; contextualizar é atualizar a mensagem do texto bíblico, tornando-
a relevante ao momento atual”5. Deve-se contextualizar a ideia a central do
texto, chamamos isto de tese. Tese “é o resumo de tudo quanto se pretende
transmitir no púlpito”6. A tese deve ser atual, então o texto será construído
no presente.
Alguns exemplos de tese:
ICT – Tiago falou sobre suportar a provação, com perseverança e
o prêmio da aprovação é a coroa da vida.
TESE – Nas tentações da vida somos desafiados a suportar com
perseverança e receber a aprovação divina.

4
Ibid. p.87.
5
Ibid. p.96.
6
Ibid. p.97.
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5
ICT – Tiago mostrou que o homem tenta a si mesmo, quando
levado pela cobiça.
TESE – Quem é levado pela cobiça é tentado, mas não por Deus,
mas por si próprio.
ICT – Tiago falou sobre o tríplice caminho da tentação: cobiça,
pecado e morte.
TESE – Devemos ter cuidado para não entrarmos no ciclo da
tentação: começa com cobiça, depois vem o pecado e termina na morte.

3.2 Definindo o propósito


O pregador estando com a ideia central do texto e com a tese precisa
definir aonde quer chegar, ou seja, o propósito da mensagem. E o pregador
deverá definir dois tipos de propósitos: o propósito básico e o específico.
“O propósito básico (PB) é o rumo a ser seguido na mensagem, a
linha sobre a qual os elementos funcionais (explanação, ilustração e
aplicação) caminharão para que o propósito específico seja realmente
alcançado”7.
Os principais propósitos básicos são:
 Evangelístico – Transmite a mensagem de salvação. Ajuda
os pecadores a firmarem um compromisso com Jesus,
reconhecendo-o e aceitando-o como Senhor e Salvador
pessoal.

7
Ibid. p.106.
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6
 Devocional – Serve para motivar os crentes a terem um
relacionamento mais profundo com Deus. É mensagem de
comunhão com Deus.
 Missionário – É mensagem de consagração de vidas. Os
crentes são desafiados a uma entrega de seus dons e talentos
a serviço do Senhor.
 Pastoral – É mensagem de conforto. Serve para apresentar
o conforto de Cristo nos momentos de dificuldades e crises.
 Ético – É mensagem de amor ao próximo. Enquanto que o
devocional trabalha a questão da comunhão com Deus, o
ético trabalha a questão do relacionamento, da comunhão
com o próximo.
 Doutrinário – É mensagem de instrução, de esclarecimento
com relação às verdades bíblicas. Enfoca, de modo especial,
uma doutrina bíblica8.

Durante o preparo do sermão pode-se encontrar mais de um PB. Este é


um dos motivos de beleza com relação do texto bíblico, um sermão pode ser
devocional, contudo, pode confortar o coração dos que estão aflitos e ao mesmo
tempo tocar no coração daquele que não conhece a Cristo, e assim
sucessivamente. A mensagem bíblica é riquíssima em PB’s.
“O propósito específico (PE) é o ponto de chegada da mensagem.
É o alvo a ser alcançado”9.

8
Ibid. p.107-108.
9
Ibid.
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7
Depois de escolhido o PB, deve-se então definir o PE, ou seja, deve
ser elaborada uma frase que resuma aonde você quer chegar.
Observe o exemplo abaixo:
ICT – Tiago falou sobre o tríplice caminho da tentação: cobiça, pecado
e morte.
TESE – Devemos ter cuidado para não entrarmos no ciclo da
tentação: começa com cobiça, depois vem o pecado e termina na morte.
PB – Doutrinário/Devocional
PE – Motivar os ouvintes a não entrarem no ciclo da tentação.

3.3 Do título às divisões


O título e as divisões são os próximos passos a serem tomados pelo
pregador. Título é “o menor resumo de tudo quanto o pregador tem a
comunicar”10. Bons títulos podem ser obtidos a partir do texto sagrado. O
pregador pode usar palavras do texto mescladas com suas próprias palavras.
O melhor título não é necessariamente aquele cujas palavras fazem parte do
texto, contudo é o que traduz, de imediato, a verdade bíblica11.
O título deve ser construído de tal modo que possa ser divisível, ou
seja, a partir do título tiram-se as divisões do sermão. As divisões são
importantes, pois, auxiliam o pregador na lógica do sermão e na sua
objetividade.
“Umas das maiores causas da prolixidade na pregação é a falta
de objetividade. E isto acontece quando não há uma ligação

10
Ibid. p.115.
11
Ibid. p.116.
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entre os elementos da pesquisa sermônica, formando um todo.
Em muitos sermões, o título vai para um lado, as divisões para
o outro, o texto fica de lado e o assunto proposto não é bem
apresentado. A razão desse lamentável fenômeno é a falta de
uma pesquisa séria que permita um trabalho conjunto de todos
os elementos da pesquisa. É exatamente nesse ponto que a
exegese e a hermenêutica se aliam à homilética, permitindo que
mesmo a mensagem temática seja também textual e
expositiva” 12.
Temos uma seqüência lógica que deve ser obedecida: Texto – ICT – Tese – PB
– PE – Título – Divisões. Cada um destes elementos complementa o outro. E se
tratando de divisões complementa o que o título quis dizer, ou seja, as divisões
surgem a partir do título.
Vejamos o exemplo a seguir:
ICT – Tiago falou sobre o tríplice caminho da tentação: cobiça, pecado
e morte.
TESE – Devemos ter cuidado para não entrarmos no ciclo da
tentação: começa com cobiça, depois vem o pecado e termina na morte.
PB – Doutrinário/Devocional
PE – Motivar os ouvintes a não entrarem no ciclo da tentação.
TÍTULO – O Ciclo da Tentação
DIVISÕES:
1) É iniciado pela cobiça;
2) É marcado pelo pecado;
3) É finalizado pela morte.

12
Ibid. p.133-134.
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Dentro destas divisões o pregador está livre para obter subdivisões,
que irão dar conteúdo ao seu sermão. Para se fazer estas divisões deve-se
usar o material do estudo exegético.
3.4 Um bom começo
“Quando o pregador começa bem, tem muito mais possibilidades de se haver
bem durante toda a apresentação no púlpito; ao contrário, quando começa mal,
dificilmente tem chances de reconquistar o ouvinte” 13.
A introdução serve para conquistar o ouvinte, prender sua atenção. É na
introdução onde o pregador tem o primeiro contato com seus ouvintes. O Dr.
Jilton nos dá alguns conselhos de como começar bem:
a) Comece onde o povo está – o pregador deve estar próximo de seus
ouvintes para começar bem. O pregador que começa próximo dos
ouvintes não tem dificuldades de aproximar-se deles com o sermão,
conquistando e mantendo sua atenção.
b) Estude bem o material da introdução – é importante que estejamos
seguros principalmente na introdução, mesmo que o pregador venha
a ler o seu sermão, ele deve na introdução ter um bom contato visual.
c) Procure variar na elaboração da introdução – nós somos
tendenciosos a fazer sempre aquilo que gostamos. O pregador
cuidadoso deverá variar o cardápio da introdução.
d) Considere a ocasião e o auditório – o pregador que não conhece a
ocasião e o auditório dificilmente comunicará a mensagem.
e) Evite o humor exagerado – se for usar piadas, use-as quando de
bom gosto e que tenha a ver com a mensagem pregada.

13
Ibid. p.185.
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f) Não peça desculpas desnecessárias – o pregador tem a autoridade
dada pelo Senhor para comunicar da verdade a ser pregada, não
precisa pedir desculpas e nem justificativas.
g) Não fique falando de outros assuntos – evite tudo que tome tempo
e a atenção dos ouvintes.
h) Fale com naturalidade e vida – gritos incomodam e uma voz fraca
prejudica a audição, fale com vida, ou seja, expressando os
sentimentos da verdade a ser comunicada.
i) Pregue confiado no Poder do Senhor – o sucesso do púlpito está
atrelado em Deus e não na sua pesquisa.
j) Surpreenda seus ouvintes – use sua criatividade para fazer a
introdução. Recite uma poesia, faça uma pequena dramatização,
cante, entre outros14.

3.5
Um desenvolvimento formidável (equilibrando
explanação, ilustração e aplicação)!
Um desenvolvimento formidável dependerá da capacidade do
pregador de equilibrar a explanação, a ilustração e a aplicação.
Os pregadores são tendenciosos a explanar mais do que tudo. O
pregador precisa ilustrar. As ilustrações são janelas de uma casa que precisa
ser arejada e iluminada15. Jesus foi mestre em contar histórias. Contudo
devemos ter cuidado para não tornar seu sermão um bocado de história e de
pouco conteúdo. É necessário equilíbrio. O pregador deve tomar alguns
cuidados com o uso de ilustrações:

14
Ibid. p.201-204.
15
Ibid. p.151.
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11
a) Contar sempre o mesmo tipo de história.
b) Assuntos do gabinete pastoral.
c) Assuntos da família do pregador.
d) Histórias constrangedoras.
e) Histórias miraculosas.
f) Histórias com excesso de humor 16.
O pregador deve também saber aplicar sua explanação a realidade
do ouvinte. “O sermão que alcança na atualidade é aquele cuja mensagem
fala à vida do ouvinte. Quanto mais nos aproximamos do ouvinte tanto mais
condições temos de fazê-lo aproximar-se da mensagem”17. No estudo
exegético busca-se no texto o que ele disse para a comunidade primordial
em que o texto foi endereçado. Agora deve-se trazer essa realidade aos
ouvintes. Precisa-se conhecer os ouvintes e conhecer o texto bíblico para que
se possa transmitir uma mensagem atual e sem destruir a mensagem bíblica.
3.6 Terminando com estilo
Existem pregadores que não sabem terminar com estilo, ficam
perdidos dando voltas e parece que o sermão nunca vai acabar. A conclusão
precisa ser breve e precisa. O pregador pode terminar de diversas formar:
com música, com aplicação direta, com o apelo entre outras formas. Porém
o pregador precisa ter alguns cuidados ao preparar a sua conclusão:
a) Apele sem apelação;
b) Seja breve e objetivo;
c) Considere o que já foi pregado;

16
Ibid. p.173-174.
17
Ibid. p.175.
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12
d) Pare sem medo;
e) Evite o humor;
f) Considere o propósito específico;
g) Trabalhe bem o apelo (é necessário planejar
seu apelo);
h) Não pregue uma nova mensagem.

CONCLUSÃO

Dentre tantas formas de se fazer o sermão, vemos que o sermão


expositivo é um dos que mais necessitamos para os dias de hoje. Em primeiro
lugar por que poucos pregadores têm estudado o texto bíblico para fazerem
seu sermão. Em segundo lugar porque o sermão expositivo é que melhor
transmite o que o texto quer dizer, por sistematizar de maneira coerente o
texto sagrado.
O pregador precisa ter em mente os principais tipos de sermão
(sermão temático, textual e expositivo). Tendo em mente isto, ele perceberá
que o sermão expositivo consegue transmitir a mensagem de texto que
aparentemente eram impossíveis de se pregarem no textual e que
provavelmente no temático o pregador iria dizer aquilo que o texto não quis
dizer.
O sermão expositivo consegue ser genuinamente bíblico porque o
embasamento deste tipo de sermão é o estudo rigoroso do texto sagrado. Por
esta razão é impossível que o pregador consiga fazer o sermão expositivo
sem dedicar um bom tempo para isso. Existem vários métodos exegéticos
que podem ser empregados para o estudo do texto, contudo o pregador deve
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