Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Neste trabalho será apresentado os abusos sofridos pelas mulheres e suas lutas pela
igualdade ainda não conquistada, ao decorrer dos séculos chegando a atualidade. Com a
utilização das teorias criadas por Norbert Elias, Pierre Bourdieu e Michel Foucault, ira
ser apresentado como a sociedade tem implicações com essa violência e desigualdade, e
explicar alguns dos motivos de porque esses comportamentos ainda existem no meio
social e como eles são desenvolvidos. Como, a partir destes pontos, ainda ocorre a
violência contra o gênero feminino ate os dias atuais e como isso implica na sociedade.
A violência contra a mulher sempre esteve presente na história, sendo essa violência
física ou mental, se desenvolve através da desigualdade entre os gêneros. Começando
por uma das primeiras civilizações, na Grécia Antiga as mulheres eram tratadas apenas
como objetos e utensílios de cozinha, reprodução, amamentação e governanta da casa,
enquanto os homens eram os principais das classes sociais, sendo o único cidadão
aceito, desta forma eram extremamente superiores a mulheres.
Na Idade Média ainda havia a desigualdade, já que as mulheres ainda eram controladas
por homens, tendo que obedecê-los e servi-los. Um dos maiores exemplos da
desigualdade durante essa época foi, a caça as bruxas. Este acontecimento pode ser
classificado como violência e desigualdade de gênero pois, as bruxas seriam apenas
mulheres que decidiram ir contra o patriarcado e as tradições impostas por homens
durante os séculos. Foi um dos maiores massacres contra a mulheres na Europa e
América.
Na Inglaterra não foi diferente, a autora Mary Wollstonecrat buscou contestar um dos
pensamentos decretados pelo autor Rousseau, acreditava-se que os homens pertenciam
ao mundo externo e as mulheres ao interno, devendo sempre servir o homem.
Wollstonecraft criticou esse pensamento por existirem sim diferenças naturais entre
homens e mulheres, porém ao ser inferiorizada as mulheres não tinham os mesmos
privilégios que os homens, não tendo a oportunidade de chegar em seu “patamar”.
Com isso, torna-se claro que a revolução francesa e a revolução industrial foram
grandes marcos para que as mulheres percebessem o quão inferiorizadas elas se
tornaram, com esta tomada de consciência foi um grande passo para o começo desta luta
e de suas conquistas, para serem vistas como iguais.
Essa luta continua sendo travada até os dias atuais, apesar de ter mais direitos do que na
Grécia Antiga, Idade Média e na época das revoluções, as mulheres ainda são
menosprezada, desvalorizada, lutando de forma desigualitária, recebem menos que
homens por ter a possibilidade de ter filhos, tendo uma jornada dupla e sem privilégios,
sofre do machismo que está enraizado na sociedade, do feminicídio, estupro, violência
doméstica, ainda é descredibilizada ao fazer denúncias, a mulher ainda tem muito o que
conquistar.
Atualmente a lutas das mulheres tem sido agravada e prejudicada pela chegada do
COVID-19, um vírus extremamente transmissível que fez o mundo entrar em estado de
quarentena obrigatória. Esta implementação como forma de combate contra esse vírus,
tem gerado um retrocesso nas relações sociais entre homens e mulheres, pois necessitam
que todos fiquem em casa, sem acesso a muitos lugares, o que leva em relacionamento
abusivos ao aumento da violência contra a mulher por passar mais tempo com seu
agressor. Com isso, o aumento de violência doméstica e feminicídio se tornou uma
realidade ainda mais agravada em diversos países, as mulheres seriam impedidas de
denunciarem por estarem em um sistema de vigilância constante de seus abusadores.
Poderia explicar entre Elias, Bourdieu e Foucault como a violência de gênero e sua
desigualdade é uma consequência da sociedade?
Em seu livro “O Processo Civilizador”, o autor explica a civilização como uma das
consequências das mudanças de comportamentos sociais. O casamento também se
encaixa neste sentido, sendo sempre uma forma de domínio a partir da civilização o
comportamento das mulheres principalmente deveria ser controlado, a maneira como é
tratado religiosamente além de silenciar o sexo grita a desigualdade entre homem e
mulher.
Relações fora do casamento eram silenciadas por serem erradas, isso em processo de
civilização mais avançado, como explica Elias “teve no processo civilizador, no
deslocamento da fronteira de vergonha e embaraço e no fortalecimento do controle social sobre
o indivíduo” (ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Uma história dos costumes. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1990. Pp. 183). As mulheres se guiavam a partir de estruturas
sociais, quanto mais igualdade entre os sexos mais é esperado o autocontrole em relação
as traições, por exemplo.
O processo civilizador tem então, diversas restrições, da mesma forma que limita as
relações as libertam também, sempre visando a perca do instinto e violar essas regras
faz com que perca a posição social, por ir contra comportamentos sociais. A família
nuclear é extremamente importante para manter o processo civilizador, é nela que
começa as restrições de comportamento, para expressar apenas o socialmente aceito.
Seria então a desigualdade de gênero mais aparente enquanto ao processo civilizatório,
por silenciar a voz da mulher.
O autor Pierre Bourdieu foi um dos maiores pensadores do século XX, suas obras
contribuíram para diversas áreas de conhecimento, através de suas pesquisas
desenvolveu conceitos extremamente relevantes para o campo sociológico, sendo eles o
habitus, o campo e o capital social. Em seu livro “O Poder Simbólico”, o autor busca
explicar como seria o condicionamento dos indivíduos a estrutura social na qual devem
se encaixar para fazer parte. Neste ponto, pode-se observar que o poder simbólico é
constituído como uma violência simbólica uma vez que, o indivíduo ou se condiciona a
essas regras ou ele não faz parte desse sistema. Por exemplo, a luta pela igualdade de
gênero está sempre em uma luta simbólica para impor sua definição de mundo social
conforme seus interesses, isso decorre já que o gênero dominante, homens, tem esse
poder e usufruem dele.
Com isso, as ideologias são impostas de forma mascarada para beneficiar quem a
produz, uma ideologia do campo de produção é feita naturalmente entrando na questão
de luta de classes e produções ideológicas. O poder simbólico é então construído a partir
da locução e não no sistema simbólico, sendo produzida e reproduzida.
Além disso, para o autor a definição de campos seria diferente, sendo usufruída como
uma espécie de classe, pois para ele, as classes viviam no sistema simbólico, já os
campos eram aparentes e concretos para uma melhor observação e definição. Nos
campos, assim, viviam os sistemas e estruturas simbólicas que determinavam afinal qual
classe o indivíduo se encaixaria, ou qual deveria ser o seu grau de obediência, como por
exemplo as mulheres em seu casamento. O estado que regula os diferentes campos, para
que se tenha sua unificação resultaria em algo extremamente violento.
Explica então que a ordem social é uma espécie de máquina simbólica, e esse
simbolismo acaba sendo atribuído aos corpos tendo uma visão social diferente e
atribuindo aspectos do gênero as palavras e dividindo-os em uma conotação simbólica.
Esse simbolismo, pode ser visto por exemplo em palavras femininas e masculinas, a
mulher seria sensível e o homem seria forte, pois a visão social masculina é de que o
homem tem posse, dominação e a mulher seria apenas dominada. Ainda vale ressaltar,
que uma relação de homossexualidade seria a perda de dominação de um dos sujeitos,
representando um pensamento retrógado, assim como na dominação que os homens têm
sob as mulheres.
Essa hierarquia sexual que existe na ordem social acontece desde os primórdios, como
mostra o autor em um exemplo sobre a sociedade Cabília. A diferenciação dos corpos
leva a divisão social, assim a natureza biológica se faz por uma transformação social. A
sociedade então dita como cada um deve mostrar seus corpos e os rituais que deve
prosseguir, como o homem com sua virilidade. Consegue ainda, distinguir o
comportamento através da linguagem corporal, o homem deve se fazer grande e forte e
a mulher pequena e fraca, mostrando novamente a hierarquia retrograda que
infelizmente ainda tem espaço na sociedade.
O autor impõe que essa percepção estaria incorporada nos indivíduos por fazer parte do
habitus, o que molda o indivíduo, sendo as matrizes de concepção que se deve ter no
mundo social, para ser integrado nesta ordem simbólica. Bourdieu explica que “ o ato
sexual em si é concebido pelos homens como uma forma de dominação, de apropriação, de
‘posse’”( BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina 11° ed. - Rio de Janeiro 160p. Bourdieu
tradução Maria Helena Bertrand Brasil, 2012. Pp . 22), sendo um dos exemplos que
apresenta que homem de fato, é ensinado a dominar. Dentro desse assunto, a violência
simbólica pode se desdobrar, não sendo menos que a violência física, ela afeta os
indivíduos de forma árdua e de submissão, o que acontece com as mulheres, dando uma
falsa sensação de dominação.
A violência simbólica pode comunicar com diversas esferas dentro das estruturas
sociais, uma delas é a economia. Em sociedades como na índia, as mulheres são tratadas
apenas como mercadorias, tendo somente valor de troca, o que a transforma em uma
economia de troca simbólica. A mulher assim, é apenas mais uma propriedade, mas a
diferença é que ela não necessitaria de cuidados, organizando o espaço social através
dessa divisão, excluídas de qualquer chance de igualdade.
Michel Foucault foi filosofo, professor, psicólogo e escritor francês, que revolucionou
as estruturas filosóficas do século XX, por meio de sua análise com uma nova ótica. Em
seu livro “Vigiar e Punir”, o autor mostra como decorria as formas de punição e
vigilância na sociedade e como ela se desenvolveu. Na terceira parte deste livro,
denominada como “Disciplina”, há um capítulo sobre os corpos dóceis que se encaixa
perfeitamente na violência de gênero. Desta forma, em Corpos dóceis, é discorrido
como a dominação do corpo ocorre na sociedade e pelos meios de dominação.
Esta dominação e manipulação dos corpos acontece com a mulher ao longo dos
séculos, em que a dominação de seu corpo é constituída através da dominação do
masculino sob elas, de forma que o seu comportamento seja apenas de obediência assim
como um soldado.
Para isso ser realizado, era necessário técnicas de controle, poder sob o corpo em que
eram relacionadas a partir da economia, movimentos e organizações, sendo classificado
como disciplinas. Cada disciplina estaria relacionada ao seu ambiente social, nas escolas
seriam aplicadas de forma diferente que em quarteis, por exemplo. Com isso, as
mulheres eram ensinadas desde ao ambiente familiar e nas escolas que deveria ser
submissa aos homens e satisfazerem todos os seus desejos, disciplinando-as desde
sempre.
Essa distribuição de disciplinas aconteceria para que ela, fosse mais efetiva, levando a
uma criação de espaço útil em que cada indivíduo deveria se vigiar, para que ninguém
fugisse do comportamento aceito daquele espaço e não fosse indisciplinado. O controle
dos corpos seria feito então, a partir de alguma regulamentação, como por exemplo o
horário que regulamentaria os ciclos. Para a composição das forças seria necessário a
utilização do corpo humano como uma espécie de engrenagem na máquina social,
dependendo de qual segmento estaria colocado, necessitando de uma obediência pronta
e cega.
A partir desse ponto, pode-se dissertar que a violência e desigualdade de gênero estaria
desta forma, totalmente relacionada com o comportamento que a sociedade impõe aos
indivíduos para sobrevivê-la. Torna-se claro, que se não implementado ao um indivíduo
social a forma de dominação aceita, o sujeito é excluído da sociedade. Neste caso, as
mulheres consequentemente devem permanecerem submissas, a partir do poder
civilizatório, tendo vergonha e embaraço como forma de controle, e outras instituições
para mantê-la em sua posição social, deve ser essa para se manter na sociedade, já que
silenciaria sua voz para que sobrevivesse sem ser excluída socialmente.
Seriam ainda, vítimas da violência simbólica por sem essa dominação não conseguir ter
uma posição social melhor, por ser incapaz de consegui-la sozinha, tendo uma
hierarquia sexual na qual o habitus, tornar-se-ia parte para ter a aceitação da sociedade
como todo, sempre ensinando o homem a tomar “posse” e a mulher a ser obediente e
submissa. Ainda, seriam submetidas a transformação e disciplina imposta aos seus
corpos para serem mais obedientes, se tornando apenas mais uma ferramenta para a
reprodução e criação de crianças, apenas mais um objeto social na qual não teria
importância fora de sua implicação social.
A sociedade estaria sim ligada a estrutura que faz com que a violência e desigualdade de
gênero permaneça, por começar a partir do poder civilizatório, ao ser incorporado no
habitus, que molda o individuo socialmente. Docilizando seus corpos para uma melhor
obediência e transformando-as em apenas dados estatísticos como forma de controle da
taxa de natalidade. São então, desassociados do indivíduo prioritário na sociedade, que
seria o homem, sendo utilizadas como basicamente ferramentas que não deveriam se
impor, buscar por seus direitos, por educação e trabalho, por serem parte insignificativas
do social.
Com esse surto pandêmico, o aumento de feminicídios e violência doméstica tem sido
uma realidade mundial, isso acontece devido ao isolamento de muitas famílias, levando-
as a ficarem muito mais tempo na presença de seu agressor, assim no ambiente onde a
violência decorre, o que consequentemente elevou-se 1,9% dos casos durante a
pandemia no Brasil. Ainda, o número de denúncias vem diminuindo, podendo ser ligado
ao fato de difícil deslocamento, causado pela quarentena, prejudicando ainda mais quem
sofre esse tipo de violência. Dado isso, poderia então o feminicídio e violência
doméstica serem influenciados pela sociedade, mesmo quando ela não está presente
perante a pandemia?
A dominação da mulher vem de muita antes, por já ter uma sociedade coberta de
machismos e patriarcados, é possível dizer que a violência continua, pois, esse
enraizamento de costumes pela sociedade, intrínseca em seus habitus. Com o
isolamento das famílias, as mulheres que sofriam violência doméstica foram obrigadas a
viverem 24 horas com seus agressores.
Conclusão
Bibliografia
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1990.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 10 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina 11° ed. - Rio de Janeiro 160p. Bourdieu tradução
Maria Helena Bertrand Brasil, 2012.
FOUCAULT. Michel. História da Sexualidade, vol 1. São Paulo: Paz e Terra, 1987.