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Barbara pereira Tobias RA:770886

Resumo

Neste trabalho será apresentado os abusos sofridos pelas mulheres e suas lutas pela
igualdade ainda não conquistada, ao decorrer dos séculos chegando a atualidade. Com a
utilização das teorias criadas por Norbert Elias, Pierre Bourdieu e Michel Foucault, ira
ser apresentado como a sociedade tem implicações com essa violência e desigualdade, e
explicar alguns dos motivos de porque esses comportamentos ainda existem no meio
social e como eles são desenvolvidos. Como, a partir destes pontos, ainda ocorre a
violência contra o gênero feminino ate os dias atuais e como isso implica na sociedade.

Desigualdade ao longo da história

A violência contra a mulher sempre esteve presente na história, sendo essa violência
física ou mental, se desenvolve através da desigualdade entre os gêneros. Começando
por uma das primeiras civilizações, na Grécia Antiga as mulheres eram tratadas apenas
como objetos e utensílios de cozinha, reprodução, amamentação e governanta da casa,
enquanto os homens eram os principais das classes sociais, sendo o único cidadão
aceito, desta forma eram extremamente superiores a mulheres.

Na Idade Média ainda havia a desigualdade, já que as mulheres ainda eram controladas
por homens, tendo que obedecê-los e servi-los. Um dos maiores exemplos da
desigualdade durante essa época foi, a caça as bruxas. Este acontecimento pode ser
classificado como violência e desigualdade de gênero pois, as bruxas seriam apenas
mulheres que decidiram ir contra o patriarcado e as tradições impostas por homens
durante os séculos. Foi um dos maiores massacres contra a mulheres na Europa e
América.

No final do período medieval, com o aumento das atividades políticas e econômicas, a


mulher foi inserida nessas esferas de relações de trabalho, tendo que intercalar entre o
trabalho e cotidiano. O casamento tornaria assim um dos núcleos das atividades
econômicas. Por mais de ter sido inserida nesta esfera e poder alcançar a independência
social, ainda havia conflitos já que seu lugar deveria ser sempre na economia doméstica,
não teria então possibilidade de formação profissional.
No período renascentista, o trabalho feminino era extremamente desvalorizado, mas
isso não as impediram de continuar pois precisavam de seu trabalho para sobreviver,
apesar de ter sua mão de obra explorada. Até o século XIX, nenhuma mulher tinha
frequentado uma universidade, com todos essa desigualdade e violência, as mulheres
começaram a tomar uma certa consciência dessa submissão e constataram a
desigualdade de gênero nas esferas de trabalho e educação.

Com isso, no período da revolução francesa, as mulheres tentaram conquistar a mesma


liberdade que os homens. A autora Olympe de Gourdes escreve um livro sobre os
direitos das mulheres pretendendo acabar com os privilégios dos homens, foi morta na
guilhotina por ser acusada de tentar ser um homem de estado ao lutar pelos direitos das
mulheres. Apesar dessa situação, as mulheres continuaram lutando, alcançando o direito
do voto na França, um dos primeiros lugares a ter o sufrágio feminino, ganhando forças
se organizaram na ação política e desejava ter o direito de serem cidadãs.

Na Inglaterra não foi diferente, a autora Mary Wollstonecrat buscou contestar um dos
pensamentos decretados pelo autor Rousseau, acreditava-se que os homens pertenciam
ao mundo externo e as mulheres ao interno, devendo sempre servir o homem.
Wollstonecraft criticou esse pensamento por existirem sim diferenças naturais entre
homens e mulheres, porém ao ser inferiorizada as mulheres não tinham os mesmos
privilégios que os homens, não tendo a oportunidade de chegar em seu “patamar”.

Após o período da revolução industrial na Inglaterra, com a chegada do capitalismo no


século XIX, trouxe consequências as esferas femininas. Com as fabricas e
desenvolvimento tecnológico as mulheres passaram a trabalhar nessas indústrias, em
casa, com condições exploradoras, sempre inferior aos homens, não ganhariam mais que
os homens pois eles deveriam sustentar as mulheres.

Com isso, a chegada do movimento sufragista foi extremamente importante para o


feminismo. Ele foi implementado em diversos países após a democratização, pois o
direito ao voto estaria apenas aos mais privilegiados na sociedade por serem mais
capazes que os excluídos desta função, sendo eles negros, mulheres, analfabetos por não
se encaixarem em seu papel de cidadão. O sufrágio feminino aconteceria assim, como
forma de busca pela igualdade de direitos entre todos os homens e mulheres, sendo o
início do feminismo.
A busca pelos direitos de educação, trabalho em suas áreas de formação, ao divorcio e a
participação política já era uma realidade, mas chegou em seu estopim quando foi
negado as mulheres do direito ao voto. A ativista Emmeline Parlhurst fundou a União
Social e Política das Mulheres, fazendo com que a luta passasse de apenas judicial para
uma luta direta, se tornaram radicais o que deu a argumentação de serem apenas
arruaceiras sem um proposito. Porém, esta união gerou a força necessária para a
conquista, além de após a primeira guerra mundial as mulheres, principalmente na
Inglaterra, eram a maioria necessitando do voto feminino e que exercessem cargos
políticos.

Com isso, torna-se claro que a revolução francesa e a revolução industrial foram
grandes marcos para que as mulheres percebessem o quão inferiorizadas elas se
tornaram, com esta tomada de consciência foi um grande passo para o começo desta luta
e de suas conquistas, para serem vistas como iguais.

Essa luta continua sendo travada até os dias atuais, apesar de ter mais direitos do que na
Grécia Antiga, Idade Média e na época das revoluções, as mulheres ainda são
menosprezada, desvalorizada, lutando de forma desigualitária, recebem menos que
homens por ter a possibilidade de ter filhos, tendo uma jornada dupla e sem privilégios,
sofre do machismo que está enraizado na sociedade, do feminicídio, estupro, violência
doméstica, ainda é descredibilizada ao fazer denúncias, a mulher ainda tem muito o que
conquistar.

Atualmente a lutas das mulheres tem sido agravada e prejudicada pela chegada do
COVID-19, um vírus extremamente transmissível que fez o mundo entrar em estado de
quarentena obrigatória. Esta implementação como forma de combate contra esse vírus,
tem gerado um retrocesso nas relações sociais entre homens e mulheres, pois necessitam
que todos fiquem em casa, sem acesso a muitos lugares, o que leva em relacionamento
abusivos ao aumento da violência contra a mulher por passar mais tempo com seu
agressor. Com isso, o aumento de violência doméstica e feminicídio se tornou uma
realidade ainda mais agravada em diversos países, as mulheres seriam impedidas de
denunciarem por estarem em um sistema de vigilância constante de seus abusadores.

Poderia explicar entre Elias, Bourdieu e Foucault como a violência de gênero e sua
desigualdade é uma consequência da sociedade?

Explicação de acordo com Nobert Elias


O autor Norbert Elias buscava em sua sociologia uma maneira de entender e observar os
costumes presentes na época e como aquilo mudaria as estruturas sociais e vice-versa.
Com uma sociologia processual o autor, precisava entender como as pessoas viam, a
maneira que se comportava, para poder refletir como isso realmente se impunha na
época, claro que não seria uma estagnação, estaria sempre mudando, nunca em sentido
de linha reta, mas sim em sentido de acumulações de saberes e mudanças.

Em seu livro “O Processo Civilizador”, o autor explica a civilização como uma das
consequências das mudanças de comportamentos sociais. O casamento também se
encaixa neste sentido, sendo sempre uma forma de domínio a partir da civilização o
comportamento das mulheres principalmente deveria ser controlado, a maneira como é
tratado religiosamente além de silenciar o sexo grita a desigualdade entre homem e
mulher.

Relações fora do casamento eram silenciadas por serem erradas, isso em processo de
civilização mais avançado, como explica Elias “teve no processo civilizador, no
deslocamento da fronteira de vergonha e embaraço e no fortalecimento do controle social sobre
o indivíduo” (ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Uma história dos costumes. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1990. Pp. 183). As mulheres se guiavam a partir de estruturas
sociais, quanto mais igualdade entre os sexos mais é esperado o autocontrole em relação
as traições, por exemplo.

O processo civilizador tem então, diversas restrições, da mesma forma que limita as
relações as libertam também, sempre visando a perca do instinto e violar essas regras
faz com que perca a posição social, por ir contra comportamentos sociais. A família
nuclear é extremamente importante para manter o processo civilizador, é nela que
começa as restrições de comportamento, para expressar apenas o socialmente aceito.
Seria então a desigualdade de gênero mais aparente enquanto ao processo civilizatório,
por silenciar a voz da mulher.

Explicação de acordo com Pierre Bourdieu

O autor Pierre Bourdieu foi um dos maiores pensadores do século XX, suas obras
contribuíram para diversas áreas de conhecimento, através de suas pesquisas
desenvolveu conceitos extremamente relevantes para o campo sociológico, sendo eles o
habitus, o campo e o capital social. Em seu livro “O Poder Simbólico”, o autor busca
explicar como seria o condicionamento dos indivíduos a estrutura social na qual devem
se encaixar para fazer parte. Neste ponto, pode-se observar que o poder simbólico é
constituído como uma violência simbólica uma vez que, o indivíduo ou se condiciona a
essas regras ou ele não faz parte desse sistema. Por exemplo, a luta pela igualdade de
gênero está sempre em uma luta simbólica para impor sua definição de mundo social
conforme seus interesses, isso decorre já que o gênero dominante, homens, tem esse
poder e usufruem dele.

Com isso, as ideologias são impostas de forma mascarada para beneficiar quem a
produz, uma ideologia do campo de produção é feita naturalmente entrando na questão
de luta de classes e produções ideológicas. O poder simbólico é então construído a partir
da locução e não no sistema simbólico, sendo produzida e reproduzida.

Além disso, para o autor a definição de campos seria diferente, sendo usufruída como
uma espécie de classe, pois para ele, as classes viviam no sistema simbólico, já os
campos eram aparentes e concretos para uma melhor observação e definição. Nos
campos, assim, viviam os sistemas e estruturas simbólicas que determinavam afinal qual
classe o indivíduo se encaixaria, ou qual deveria ser o seu grau de obediência, como por
exemplo as mulheres em seu casamento. O estado que regula os diferentes campos, para
que se tenha sua unificação resultaria em algo extremamente violento.

Na relação entre os espaços sociais e espaços simbólicos, é apresentado o


substancialísmo, que seria as práticas ou consumos que independem do universo das
práticas correspondendo apenas ao social, sendo direto e mecânico, cada indivíduo deve
ser oprimido a apenas sua classe e costume. Isso ocorre, pela correspondência dos
espaços das classes com o espaço das práticas, cada uma leva ao seu habitus e costumes,
por exemplo, as mulheres devem obedecer seus maridos por estarem em uma estrutura
de dominação, ao se rebelarem a ser obediente levaria a sua exclusão do sistema social.
Existe uma distinção natural entre os espaços, que são selecionados a partir da forma de
pensamento, atribuídos de acordo com sua função e sua posição, sendo definidas então
como distancias sociais, uma hierarquia social.

Em seu livro “A dominação masculina”, Bourdieu analisa como ocorre a construção


social dos corpos, objetificação, os diferentes tratamentos entre sexos para compreender
e analisar a sociedade e suas estruturas. O autor indica que a maioria dos sistemas são
diferentes entre si, tendo divisões pré-existentes, em que a sociedade precisa legitimar
as ações sendo incorporado através dos corpos e do habitus, tendo efeitos simbólicos de
legitimação.

Explica então que a ordem social é uma espécie de máquina simbólica, e esse
simbolismo acaba sendo atribuído aos corpos tendo uma visão social diferente e
atribuindo aspectos do gênero as palavras e dividindo-os em uma conotação simbólica.
Esse simbolismo, pode ser visto por exemplo em palavras femininas e masculinas, a
mulher seria sensível e o homem seria forte, pois a visão social masculina é de que o
homem tem posse, dominação e a mulher seria apenas dominada. Ainda vale ressaltar,
que uma relação de homossexualidade seria a perda de dominação de um dos sujeitos,
representando um pensamento retrógado, assim como na dominação que os homens têm
sob as mulheres.

Essa hierarquia sexual que existe na ordem social acontece desde os primórdios, como
mostra o autor em um exemplo sobre a sociedade Cabília. A diferenciação dos corpos
leva a divisão social, assim a natureza biológica se faz por uma transformação social. A
sociedade então dita como cada um deve mostrar seus corpos e os rituais que deve
prosseguir, como o homem com sua virilidade. Consegue ainda, distinguir o
comportamento através da linguagem corporal, o homem deve se fazer grande e forte e
a mulher pequena e fraca, mostrando novamente a hierarquia retrograda que
infelizmente ainda tem espaço na sociedade.

O autor impõe que essa percepção estaria incorporada nos indivíduos por fazer parte do
habitus, o que molda o indivíduo, sendo as matrizes de concepção que se deve ter no
mundo social, para ser integrado nesta ordem simbólica. Bourdieu explica que “ o ato
sexual em si é concebido pelos homens como uma forma de dominação, de apropriação, de
‘posse’”( BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina 11° ed. - Rio de Janeiro 160p. Bourdieu
tradução Maria Helena Bertrand Brasil, 2012. Pp . 22), sendo um dos exemplos que
apresenta que homem de fato, é ensinado a dominar. Dentro desse assunto, a violência
simbólica pode se desdobrar, não sendo menos que a violência física, ela afeta os
indivíduos de forma árdua e de submissão, o que acontece com as mulheres, dando uma
falsa sensação de dominação.

Na violência simbólica, mostra como a dominação da mulher é compactuada, o autor


explica que ao se fazer submissa e dominada ela teria uma melhor posição social, isso
indica o quão forte é a violência simbólica e a ordem social, como realmente incorpora
os indivíduos para terem comportamentos extremamente machistas e opressores. Essa
violência só pode ser quebrada através da consciência da dominação e consciência da
ordem social, de como e porque ela acontece. Mesmo nesse sentido, a tomada de
consciência ainda é muito difícil por estar enraizada na sociedade, isso faz com que se
tenha uma percepção mais nebulosa do que realmente acontece.

A violência simbólica pode comunicar com diversas esferas dentro das estruturas
sociais, uma delas é a economia. Em sociedades como na índia, as mulheres são tratadas
apenas como mercadorias, tendo somente valor de troca, o que a transforma em uma
economia de troca simbólica. A mulher assim, é apenas mais uma propriedade, mas a
diferença é que ela não necessitaria de cuidados, organizando o espaço social através
dessa divisão, excluídas de qualquer chance de igualdade.

Sendo assim, a consequência de desigualdade de gênero, segundo Bourdieu estaria


intrínseca na sociedade por fazer parte das estruturas sociais, e estarem configuradas na
dominação masculina e violência simbólica. As chances de igualdade dentro desse
sistema seriam extremamente baixas, pois para que se quebre essa desigualdade seria
necessário compreender e ter consciência da dominação que a mulher sofre na
sociedade primordialmente masculina.

Explicação de acordo com Michel Foucault

Michel Foucault foi filosofo, professor, psicólogo e escritor francês, que revolucionou
as estruturas filosóficas do século XX, por meio de sua análise com uma nova ótica. Em
seu livro “Vigiar e Punir”, o autor mostra como decorria as formas de punição e
vigilância na sociedade e como ela se desenvolveu. Na terceira parte deste livro,
denominada como “Disciplina”, há um capítulo sobre os corpos dóceis que se encaixa
perfeitamente na violência de gênero. Desta forma, em Corpos dóceis, é discorrido
como a dominação do corpo ocorre na sociedade e pelos meios de dominação.

A primeira modelação do corpo citada pelo o autor é perante os soldados, seriam


levados a se comportarem iguais, fazerem os mesmos gestos, andarem da mesma forma,
seria facilmente reconhecido por um ser um soldado, todos com o mesmo
comportamento. Já com a industrialização, o homem se torna parte da máquina de
trabalho, corpo era manipulado, moldado e teria que obedecer. O corpo dócil então,
consistiria em um corpo que pode ser utilizado, transformado e aperfeiçoado, como diz
Foucault
“Houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo
como objeto e alvo de poder. Encontraríamos facilmente sinais
dessa grande atenção dedicada então ao corpo — ao corpo que
se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se
torna hábil ou cujas forças se multiplicam” (FOUCAULT.
Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1987. Pp. 163)

Esta dominação e manipulação dos corpos acontece com a mulher ao longo dos
séculos, em que a dominação de seu corpo é constituída através da dominação do
masculino sob elas, de forma que o seu comportamento seja apenas de obediência assim
como um soldado.

Para isso ser realizado, era necessário técnicas de controle, poder sob o corpo em que
eram relacionadas a partir da economia, movimentos e organizações, sendo classificado
como disciplinas. Cada disciplina estaria relacionada ao seu ambiente social, nas escolas
seriam aplicadas de forma diferente que em quarteis, por exemplo. Com isso, as
mulheres eram ensinadas desde ao ambiente familiar e nas escolas que deveria ser
submissa aos homens e satisfazerem todos os seus desejos, disciplinando-as desde
sempre.

Essa distribuição de disciplinas aconteceria para que ela, fosse mais efetiva, levando a
uma criação de espaço útil em que cada indivíduo deveria se vigiar, para que ninguém
fugisse do comportamento aceito daquele espaço e não fosse indisciplinado. O controle
dos corpos seria feito então, a partir de alguma regulamentação, como por exemplo o
horário que regulamentaria os ciclos. Para a composição das forças seria necessário a
utilização do corpo humano como uma espécie de engrenagem na máquina social,
dependendo de qual segmento estaria colocado, necessitando de uma obediência pronta
e cega.

Já em seu livro “História da Sexualidade”, Foucault analisa como a sexualidade seria


também parte do poder e dominação social, sendo ela repreendida e tratada como tabu,
como por exemplo, pelas igrejas. A sexualidade, seria tratada como apenas mais uma
função social, seria então de interesse público, o discurso sobre o sexo pelos
mecanismos de poder passa a ser essencial ao ser acrescentado a ele uma
impessoalidade, como parte do discurso da Razão, leva-se a uma política do sexo tendo
sua regulamentação a partir dos discursos uteis e públicos e não de sua proibição.
Com isso há uma mecanização do sexo, um tipo de produção para que se pudesse
analisar as taxas de natalidade, o crescimento da população, tonando apenas mais um
objeto de análise, que também abordaria ao comportamento sexuais dos casais
explicando o certo e errado, quando procriar, quando amamentar, consequentemente
entre o estado e o indivíduo o sexo se torna um objeto de disputa. Sendo assim, mais
uma forma de dominação principalmente sob o corpo da mulher, uma vez que ela não
poderia decidir quando ter filhos e como criar esses filhos, o estado, composto de
homens, seria quem a delimitaria enquanto essas funções sociais.

A integração dos três autores

Elias, Bourdieu e Foucault apesar de estarem em tempos diferentes, com análises e


formas de estudos diferentes, possuem o cerne de suas pesquisas de formas semelhantes
apesar de terem suas perspectivas divergentes. O cerne seria assim, que a forma de
comportamento social manipula o indivíduo, seja através do poder civilizador, seja pelo
poder simbólico e dominação masculina ou seja pelo sistema de vigilância e dominação
dos corpos, todos tem algo em comum.

A partir desse ponto, pode-se dissertar que a violência e desigualdade de gênero estaria
desta forma, totalmente relacionada com o comportamento que a sociedade impõe aos
indivíduos para sobrevivê-la. Torna-se claro, que se não implementado ao um indivíduo
social a forma de dominação aceita, o sujeito é excluído da sociedade. Neste caso, as
mulheres consequentemente devem permanecerem submissas, a partir do poder
civilizatório, tendo vergonha e embaraço como forma de controle, e outras instituições
para mantê-la em sua posição social, deve ser essa para se manter na sociedade, já que
silenciaria sua voz para que sobrevivesse sem ser excluída socialmente.

Seriam ainda, vítimas da violência simbólica por sem essa dominação não conseguir ter
uma posição social melhor, por ser incapaz de consegui-la sozinha, tendo uma
hierarquia sexual na qual o habitus, tornar-se-ia parte para ter a aceitação da sociedade
como todo, sempre ensinando o homem a tomar “posse” e a mulher a ser obediente e
submissa. Ainda, seriam submetidas a transformação e disciplina imposta aos seus
corpos para serem mais obedientes, se tornando apenas mais uma ferramenta para a
reprodução e criação de crianças, apenas mais um objeto social na qual não teria
importância fora de sua implicação social.
A sociedade estaria sim ligada a estrutura que faz com que a violência e desigualdade de
gênero permaneça, por começar a partir do poder civilizatório, ao ser incorporado no
habitus, que molda o individuo socialmente. Docilizando seus corpos para uma melhor
obediência e transformando-as em apenas dados estatísticos como forma de controle da
taxa de natalidade. São então, desassociados do indivíduo prioritário na sociedade, que
seria o homem, sendo utilizadas como basicamente ferramentas que não deveriam se
impor, buscar por seus direitos, por educação e trabalho, por serem parte insignificativas
do social.

Autores explicando condições dos tempos atuais

Com esse surto pandêmico, o aumento de feminicídios e violência doméstica tem sido
uma realidade mundial, isso acontece devido ao isolamento de muitas famílias, levando-
as a ficarem muito mais tempo na presença de seu agressor, assim no ambiente onde a
violência decorre, o que consequentemente elevou-se 1,9% dos casos durante a
pandemia no Brasil. Ainda, o número de denúncias vem diminuindo, podendo ser ligado
ao fato de difícil deslocamento, causado pela quarentena, prejudicando ainda mais quem
sofre esse tipo de violência. Dado isso, poderia então o feminicídio e violência
doméstica serem influenciados pela sociedade, mesmo quando ela não está presente
perante a pandemia?

A dominação da mulher vem de muita antes, por já ter uma sociedade coberta de
machismos e patriarcados, é possível dizer que a violência continua, pois, esse
enraizamento de costumes pela sociedade, intrínseca em seus habitus. Com o
isolamento das famílias, as mulheres que sofriam violência doméstica foram obrigadas a
viverem 24 horas com seus agressores.

A condição de denúncias diminui pelo sistema de vigilância já citado pelo autor


Foucault, a vigilância não seria apenas social e sim de indivíduos uns com outros, a
vigilância do abusador perante a vítima pode ser a explicação para a diminuição de
casos perante a pandemia. É possível ainda concluir, que a dominação e poder que o
agressor tem com a vítima se torna ainda mais presente neste ambiente, justamente pelo
sistema de vigilância. Elias e Bourdieu explicam que a dominação estaria presente pelo
processo de civilização, que permite que dentro de um casamento se tenha submissão,
assim como descrito em dominação masculina que essa submissão entre cônjuges é para
a melhor vida social da mulher. Desta forma, muitos casamentos ainda funcionam a
partir deste pensamento, se não submissas não seriam parte do sistema social, sendo
anormais, apanhariam para que aprendessem que o homem é superior, para se tornar
social novamente.

Conclusão

A partir da violência de gênero e sua desigualdade através dos séculos, podemos


perceber que a mulher sempre foi submissa na sociedade, independente do país. Com a
explicação dos autores pode-se concluir que é sim uma realidade social, por fazer parte
do sistema e da estrutura presente, para que se faça parte da sociedade. A partir de temas
atuais, como a pandemia, há a consequência de que a estrutura de submissão e os
aspectos apresentados por Elias, Bourdieu e Foucault ainda acontece, apesar de as
mulheres terem mais direitos do que na Grécia Antiga, por exemplo, sua submissão
ainda esta enraizada, tendo muitas lutas pela frente para que essa violência de gênero e
sua desigualdade não sejam mais uma realidade mundial.

Bibliografia

Uma análise da história da mulher na sociedade | Direito Familiar

ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1990.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 10 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina 11° ed. - Rio de Janeiro 160p. Bourdieu tradução
Maria Helena Bertrand Brasil, 2012.

FOUCAULT. Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1987.

FOUCAULT. Michel. História da Sexualidade, vol 1. São Paulo: Paz e Terra, 1987.

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