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Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria

Capítulo IV
Natureza da Perfeita Devoção à Santíssima Virgem Maria
*Quanto mais uma alma for consagrada a Maria, mais o será a Jesus Cristo.
*Consiste numa perfeita renovação dos votos e promessas do Santo Batismo. (T. 120)

Art. 1º Uma Perfeita e Total Consagração de Si mesmo à Santíssima Virgem Maria


*Consiste em nos darmos inteiramente à Santíssima Virgem, pertencendo desta forma, inteiramente a
Jesus Cristo. Dando-lhe:
1º Nosso Corpo, com todos os sentidos e membros;

Se damos a Nossa Senhora o nosso corpo com todos os seus sentidos e membros, a
primeira coisa que neste corpo devemos fazer é a vontade d'Ela. Compreende-se pois,
desde logo, que não possamos transformar nosso corpo em instrumento de pecado.
ANTES DE MAIS NADA, COM RELAÇÃO AO CORPO, O QUE SE QUER DAQUELE QUE SE
CONSAGRA A NOSSA SENHORA É EVIDENTEMENTE A PUREZA. De nada adiantará dizermos
que nosso corpo Lhe pertence, se depois fizermos o contrário do que Ela dele quer. É como
se déssemos a alguém uma moeda, e depois a retirássemos para comprar um objeto para
nosso próprio uso. Estaríamos evidentemente roubando à pessoa a quem presenteamos.
É preciso que o coloquemos completamente a Seu serviço, começando por respeitá-lo
como algo que já Lhe demos, e que está sob Seu poder especial.
Quem se doou a Nossa Senhora nesta consagração deve abster-se de certas atitudes que
estariam fora da delicadeza respeitosa para com seu próprio corpo. Por exemplo, quanto
ao modo de se apresentar. Sabemos que nosso corpo é marcado pelo estigma do pecado
original, e devemos portanto ter o pudor, que é a vergonha ligada a essa condição. Não
devemos apresentar nosso corpo em estado de nudez nem de semi-nudez. São atitudes
contrárias ao respeito que devemos ter ao nosso próprio corpo, como coisa dada a Nossa
Senhora.
Pois, como o nosso corpo passou a pertencer a Nossa Senhora, com isso estaremos
prestando homenagem a Ela.

2º Nossa Alma, com todas as potências;

Antes de mais nada, é necessário dizer que dar a nossa alma a Nossa Senhora significa dá-la
à Fé Católica, Apostólica, Romana. Nossa alma pertencerá a Maria na medida em que
pertencer à Igreja e ao Soberano Pontífice.
Mas isso não basta. Para pertencer a Nossa Senhora, é preciso que nossa alma tenha
aquele equilíbrio interior das almas verdadeiramente consagradas a Ela. Devemos nos
lembrar de que o pecado é tudo aquilo que sai da ordem natural; a virtude, aquilo que
está de acordo com ela.
Portanto, toda operação da inteligência e todo ato de vontade ou moção da sensibilidade
contrários à ordem natural são imperfeição. Só seremos verdadeiramente de Nossa
Senhora no dia em que, dentro de nossa alma, entre a inteligência, a vontade e a
sensibilidade, reinar aquele equilíbrio das almas verdadeiramente virtuosas. 

3º Nossos bens exteriores (fortuna), presentes e futuros;

Aqui deve entender-se a fortuna e tudo quanto ela traz: a consideração social, as relações,
a influência, enfim todas as vantagens deste mundo.
É muito difícil chegar-se às últimas conseqüências a respeito da consagração da fortuna a
Nossa Senhora. Nada há de mais fraudulento nem de mais perigoso do que certa
"mentalidade de doador". Nossas fraquezas aparecem mais quando damos, do que
quando recebemos. Receber é simples, dar é que é difícil.
Se temos dinheiro e fazemos a consagração de São Luís Grignion, devemos considerar que,
na medida em que nossos deveres de estado permitam, ele pertence a Nossa Senhora. E,
portanto, cada vez que tomamos nosso dinheiro e o gastamos numa obra de apostolado,
estamos cumprindo o prometido, e não fazendo presente algum. Este, já o fizemos de uma
vez por todas. Estamos apenas cumprindo uma promessa.
Ora, a "mentalidade de doador" afirma bem o contrário: "Isto desde agora é seu. Mas olhe:
pese o presente, agradeça, dobre-se; e, quando mexer nisto, lembre-se de como sou bom;
de vez em quando, faça a isto uma pequena alusão, para me consolar, porque se eu não o
notar, não me inclinarei a dar outras coisas". Nada há de mais chocante! É a miséria da
"mentalidade de doador".
Muitas vezes vemos isto em benfeitores de paróquias. Se o vigário não se desdobrar em
agradecimentos, não cumprimentar o benfeitor em seu aniversário, não lhe mandar votos
de boas festas, e não lhe fizer sentir que ele é prodigiosamente caridoso para com Deus -
uma espécie de mendigo que muito lhe deve - então não virão outros benefícios.
Não devemos ser assim com a Causa da Igreja. E muito menos com a da ortodoxia, que é o
cerne da Causa da Igreja. Devemos considerar que, se fizemos esta consagração, o que já
está dado não nos pertence. E se nós nos entregamos nessa Consagração,  a fortiori demos
o que é nosso. Seria um absurdo dizer: "Meu Deus, meus dedos são vossos, os anéis são
meus". É portanto a renúncia, a consagração, a entrega do próprio ser com todas as
conseqüências, que essa doação que envolve. 

4º Nossos bens interiores e espirituais (méritos, virtudes e boas obras), passadas, presentes e futuras.
Esta renúncia, em certo sentido, é ainda mais difícil. Devemos estar dispostos a renunciar
a todos os deleites interiores, e até às consolações espirituais, desde que seja para maior
vantagem da Igreja Católica e para enriquecimento de seu precioso tesouro.
E devemos estar dispostos - propõe-nos São Luís Grignion - a algo que é um requinte ainda
maior. De acordo com a doutrina católica, por disposição da Providência Divina a reparação
de nossos pecados é feita, parte nesta vida, parte no Purgatório, em dosagens de que
apenas Deus é o verdadeiro conhecedor. De uma coisa entretanto estamos certos: pelos
pecados que cometemos, ainda que deles nos arrependamos e nos sejam perdoados,
iremos expiar. Mas Deus Nosso Senhor toma em consideração também as nossas boas
obras, em razão do que Ele pode nos dispensar de uma parte desses castigos.
São Luís Grignion propõe, contudo, que se faça um ato que é o fino fio da doação, o que ela
tem de mais cruciante, ato este que consiste em renunciarmos ao mérito das nossas boas
obras. Assim, ficamos expostos a receber os castigos que os nossos pecados merecem. Se
fizermos um exame de consciência, veremos quantos castigos nos estão preparados. Ora,
com essa consagração nos dispomos a que Nossa Senhora aproveite esses méritos segundo
as maiores glórias, intenções e interesses da Igreja Católica. E ficamos desnudos até do que
possa haver, naquilo que praticamos, de expiatório em nosso favor, e de meritório aos
olhos de Deus. 
* Valor satisfatório (ou impetratório) – satisfazer apena devida pelo pecado, ou alcançar uma nova graça.
* Valor meritório – uma boa ação merecer a graça e glória eterna.

É o valor que expressa o crescimento dos nossos méritos na glória eterna, isto é, o
céu.
Na consagração de nós mesmos à Santíssima Virgem Maria, todas as satisfações e méritos de todas as
nossas obras são oferecidas à Virgem Maria para que Ela as conserve, aumente e aperfeiçoe.

Conserve Ou purifique: Devido à nossa humanidade ferida pelo pecado, mesmo


as melhores obras que fazemos tendem a estar contaminadas por alguma intenção
que precisaria ser purificada. Uma pessoa muito penitente, por exemplo, poderia se
considerar muito santa pela penitencia que faz. Assim, quando Maria toma em suas
mãos as nossas obras, ela retira o que possa estar imperfeito ou estragado para
que seu filho aceite.
Aumente ou Multiplique: Maria multiplica o valor entregue em suas mãos. Ela
sendo a tesoureira de todas as graças, sabe administrar um valor para fazê-lo
render.
Aperfeiçõe: Maria mistura o valor de nossas obras com os dos méritos dela, um
valor tão grande que é para nós algo inimaginável!
* Por meio de nossa consagração voluntária não dispomos mais do valor de qualquer de nossas obras e
boas ações.
Com esta devoção damos a Jesus Cristo tudo o que lhe podemos dar, e da maneira mais perfeita,
porque o fazemos pelas mãos mesmas de Maria.

Art. 2º Uma Perfeita Renovação dos Votos do Santo Batismo


* Renuncia-se (como expresso na fórmula da consagração), ao demônio, ao mundo, ao pecado, e a si
mesmo, dando-se inteiramente à Jesus Cristo pelas mãos de Maria.

A importância da consagração a Virgem Maria está justamente no fato desta ser uma


renovação das promessas batismais, que segundo Santo Agostinho é “o maior e mais
indispensável dos votos” (TVD 127), no qual prometemos permanecer em Cristo.

São Luís Maria afirma que os concílios, os Padres da Igreja e a experiência mostram que a
melhor maneira de levar os cristãos à fidelidade é lembrar a estes as obrigações do seu
batismo e levá-los a renovar as promessas batismais. O Santo  diz que a devoção e a
consagração a Nosso Senhor por meio de sua Mãe Santíssima é a maneira mais perfeita de
renovar as promessas e votos feitos no batismo.

* Pessoal (T. 126)

Nesta consagração se faz ainda mais, porque no batismo a entrega a Jesus Cristo é feita por
intermediários, que são os pais e padrinhos, mas ela é PESSOAL. Nesta escravidão de amor
nos entregamos voluntariamente, com plena consciência daquilo que fazemos.

Algumas objeções:
1º Esta devoção não nos impossibilita de socorrer as almas dos parentes, amigos e benfeitores.
2º Esta prática não impede que se reze pelos outros (vivos ou mortos).
3º Será preciso que soframos muito tempo no purgatório, já que o valor de nossas ações são ofertados
todos à Virgem Maria, para que as aplique a quem quiser? DE MODO ALGUM!! Um ditado de
camponeses bretões à bondade de Maria Santíssima: "pour un oeuf Elle donne un boeuf" - por um ovo Ela
nos dá um boi. Se nós Lhe damos tudo, até o extremo da doação, qual é a recompensa que nos fica
preparada? É incalculável, pois é certo que Ela nunca se deixa vencer em generosidade. 

São Luís Grignion lembra que há certas pessoas pelas quais, por obrigação de estado,
devemos rezar. É bem evidente que Nossa Senhora o quer, e nós podemos fazê-lo
tranqüilamente, sem recear de entrar em choque com a consagração. Se quisermos
oferecer nossos méritos na intenção de outras pessoas, podemos pedir a Maria que os
aplique nesta direção, pois não renunciamos ao direito de pedir. Seria como se alguém nos
desse uma biblioteca e, ato contínuo, pedisse emprestado um livro. Damos todos os
méritos a Ela, e em seguida Lhe pedimos algo. Será que Ela se recusará a nos atender?

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