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O JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

Introdução

Noções Gerais
Juizados Especiais:
A Lei 9.099, de 26.09.95, instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, devendo os Estados e o Distrito
Federal providenciar a instalação dos mesmos.

Art. 1.° - Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Ordinária, serão
criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para
conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência.

Aplicação:
A Lei 9.099/95 não será aplicada apenas pelos Juizados Especiais. Será aplicada também pelo juízo comum,
quando para ele forem remetidas as peças dos casos de maior complexidade (art. 77, §§ 2.° e 3.°), quando o
acusado não foi encontrado para ser citado (art. 66, parágrafo único), bem como nas comarcas onde não
houver Juizado Especial. É claro que no juízo comum serão adotados os procedimentos comuns, e não as
normas processuais especiais. Certas normas especiais, porém, embora de conteúdo processual, terão que
ser aplicadas também no juízo comum, na parte em que, de alguma forma, tragam repercussão no âmbito da
punibilidade.

Normas Mistas (Efeitos Processuais e Penais):


a) renúncia tácita ao direito de queixa ou representação, havendo acordo sobre a indenização civil (art.
74, parágrafo único);
b) proposta de pena restritiva de direitos ou multa, formulada pelo Ministério Público na fase preliminar
(art. 76);
c) proposta de suspensão condicional do processo, formulada pelo Ministério Público ao oferecer a denúncia
(art. 89);
d) necessidade de representação nos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas (art. 88).

Princípios:

Art. 2.° - O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade,


informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a
conciliação ou a transação.

Art. 62 - O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade,


informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a
reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de
liberdade.

Princípio da Oportunidade:
O processo penal comum orienta-se pelo princípio da obrigatoriedade ou da indisponibilidade da ação penal
pública. A lei 9.099/95 ao contrário, adotou o princípio da oportunidade, ou da conveniência, para o início ou o
prosseguimento da ação penal, especialmente na proposta de pena consensual, na suspensão do processo e
na atribuição de efeitos processuais penais à composição dos danos. Trata-se, contudo, de oportunidade
limitada ou regrada, vinculada aos contornos dados pela lei. Neste ponto, como em outros, a Lei 9.099/95
representa verdadeira revolução nos domínios do processo penal.

Juiz, Conciliadores e Juízes Leigos:


Figuram no Juizado Especial Criminal o juiz se direito (ou juiz togado), os conciliadores, os juízes leigos e a
Secretaria.

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A tarefa dos conciliadores é a de auxiliar o juiz na obtenção de um consenso entre o autor do fato e o
ofendido quanto à indenização dos danos, bem como sobre a proposta de pena formulada pelo representante
do Ministério Público.
Quanto aos juízes leigos, a lei federal não definiu suas qualificações e funções, deixando a regulamentação
da matéria para as leis locais, de organização judiciária.

Art. 60 - O Juizado Especial Criminal, provido por Juízes togados ou togados e leigos,
tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de
menor potencial ofensivo.

Infrações Penais de Menor Potencial Ofensivo:

Art. 61 - Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos


desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial.

* Em relação à exceção de contravenções de procedimentos especial, há duas correntes:


a) Damásio entende que tanto os crimes como as contravenções de rito especial não são da
competência do Juizado Criminal;
b) Grinover, Gomes Filho, Scarance e Flávio Gomes entendem que a exceção do art. 61 refere-se tão
somente aos crimes, sendo da competência do Juizado todas as contravenções penais, inclusive as de
rito especial

Simplificação das Fórmulas:


Há uma simplificação das fórmulas no processo, apresentando algumas características peculiares:
a) no Juizado serão objeto de registro escrito apenas os atos essenciais;
b) na audiência pode ser utilizado gravador, ou equivalente;
c) dispensa-se o inquérito policial;
d) na denúncia (embora não por ocasião da sentença) o exame de corpo de delito pode ser por boletim
médico ou equivalente;
e) a citação é feita no próprio juizado, através da entrega de cópia da denúncia, sempre que possível;
f) não há citação por edital;
g) as intimações são feitas pelo correio, em princípio;
h) a sentença não tem relatório;
i) o recurso é um só: apelação;
j) a súmula do julgamento servirá de acórdão, se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos.

Competência
Art. 63 - A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a
infração penal.

Na interpretação deste artigo, há várias posições:


a) é indiferente considerar-se o local da ação ou omissão ou, ainda, aquele em que se produziu o
resultado; eventual conflito daí decorrente deverá ser dirimido pela prevenção;
b) a competência determina-se pelo lugar da ação ou omissão;
c) para Damásio, o artigo em questão não diverge do art. 70 do CPP, seguindo a regra geral do lugar da
consumação.

Atos Processuais
Art. 64 - Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário noturno e
em qualquer dia da semana, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

Art. 65 - Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para
as quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei.

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§ 1.° - Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.

§ 2.° - A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por
qualquer meio hábil de comunicação.

§ 3.° - Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais.
Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita
magnética ou equivalente.

Art. 66 - A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou
por mandado.

Parágrafo único - Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as
peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.

Art. 67 - A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal


ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado
da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de
justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio
idôneo de comunicação.

Parágrafo único - Dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes
as partes, os interessados e defensores.

Art. 68 - Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de citação do acusado,


constará a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a
advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor público.

O Procedimento

Noções Gerais
O Juizado Especial Criminal não revoga os procedimentos comuns, do CPP, vez que estes são aplicados
quando ausente o autor do fato, quando não obtida a sua citação pessoal e quando a complexidade ou as
circunstâncias do caso indicarem a conveniência da remessa para o juízo comum.

O procedimento do Juizado Criminal divide-se em três fases:


a) fase policial;
b) fase preliminar ou conciliatória;
c) fase do procedimento sumaríssimo.

Fase Policial
A fase policial é mínima. Não há inquérito. A autoridade policial lavra apenas um termo circunstanciado,
requisita as perícias necessárias e encaminha imediatamente ao Juizado o autor e a vítima, juntamente com o
referido termo.

Não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se o autor do fato for imediatamente encaminhado
ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer (art. 69, parágrafo único).

Art. 69 - A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo


circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a
vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Parágrafo único - Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá
prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.
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Fase Preliminar
Comparecimento dos Envolvidos (arts. 70 a 71):
No juizado, se vierem juntos o autor do fato e a vítima, realiza-se imediatamente a audiência preliminar, ou se
designa data próxima para tanto, cientes as partes. Não comparecendo uma das partes, intima-se a mesma.
Intima-se também o responsável civil, se for o caso, ou seja, a pessoa que deverá responder pela reparação
dos danos.
A fase preliminar tem como pressuposto que o autor do fato esteja presente, participando da audiência.

Art. 70 - Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo possível a realização


imediata da audiência preliminar, será designada data próxima, da qual ambos sairão
cientes.

Art. 71 - Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos, a Secretaria


providenciará sua intimação e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts.
67 e 68 desta Lei.

Audiência Preliminar (art. 72):


Aberta a audiência preliminar, o juiz propõe o acordo entre as partes para a composição dos danos, se
houver. Indagará também, conforme a hipótese, se o autor do fato aceita a proposta do Ministério Público de
aplicação imediata de pena não privativa de liberdade (restrição de direitos ou multa).

Art. 72 - Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor


do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados,
o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da
proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.

Composição dos Danos Civis (arts. 73 a 75):


A composição dos danos, se houver, é reduzida a escrito e homologada, valendo como título executivo. O
acordo homologado, sobre a indenização civil devida, acarreta a renúncia tácita ao direito de queixa ou
representação, por parte da vítima, se se tratar de ação penal privada ou de ação pública dependente de
representação.

Art. 73 - A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientação.

Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei


local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na
administração da Justiça Criminal.

Art. 74 - A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz
mediante sentença irrecorrível, terá eficácia a título a ser executado no juízo civil
competente.

Parágrafo único - Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal


pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao
direito de queixa ou representação.

Art. 75 - Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido
a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.

Parágrafo único - O não oferecimento da representação na audiência preliminar não


implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.

Execução Cível de Sentença Penal:


Não cabe execução no Cível de sentença criminal proferida pelo Juizado, com base em proposta do Ministério
Público, devendo os interessados, se quiserem, propor a ação de reparação de danos no Cível. A proibição
refere-se apenas a esta única hipótese, em que o Ministério Público propôs e o acusado aceitou a aplicação
antecipada de pena não privativa de liberdade.
Nos demais casos aplica-se a regra geral do art. 63 do CPP, que permite a execução direta no Cível de
sentença condenatória criminal, para a reparação dos danos.

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Proposta de Pena (art. 76):
O representante do Ministério Público pode formular proposta de pena não privativa de liberdade, desde que
não haja impedimentos. A proposta de pena só existe na ação penal pública, e não na ação penal privada,
embora haja entendimentos contrários na doutrina.
Estando a proposta em termos e sendo aceita pelo autor do fato, cabe ao juiz aplicá-la por sentença, se
entender estar ela de acordo com a lei. A pena assim aplicada não importará reincidência, impedindo, porém,
benefício idêntico no prazo de 5 anos.
A proposta de pena deve ser aprovada tanto pelo autor do fato como pelo seu defensor. Na divergência,
prevalece a vontade do autor do fato.

Art. 76 - Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública


incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na
proposta.

§ 1.° - Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até
a metade.

§ 2.° - Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:


I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação
de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

§ 3.° - Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à
apreciação do Juiz.

§ 4.° - Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz
aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo
registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

§ 5.° - Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82


desta Lei.

§ 6.° - A imposição da sanção de que trata o § 4.° deste artigo não constará de certidão
de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá
efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.

Arquivamento das Peças:


Não havendo indício de infração penal, promoverá o Ministério Público o arquivamento das peças.

Procedimento Sumaríssimo
Se não houve arquivamento nem sentença na fase preliminar, passa-se, sem interrupção, para a etapa
seguinte, do procedimento sumaríssimo.

Denúncia ou Queixa:
O representante do Ministério Público oferecerá denúncia oral, de imediato, com base no termo
circunstanciado, se não houver necessidade de diligências. Havendo necessidade de diligência, deverá ser
marcada outra data para prosseguimento.

Art. 77 - Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela
ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta
Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver
necessidade de diligências imprescindíveis.

Boletim Médico:
Dispensa-se o inquérito policial. Na denúncia, a materialidade do crime, sendo o caso, pode ser aferida por
boletim médico ou equivalente. Antes da sentença, porém, deve vir para os autos o competente laudo de
exame de corpo de delito.

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§ 1.° - Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de
ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-
se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por
boletim médico ou prova equivalente.

Questões Complexas:
Se a questão for complexa, pode o Ministério Público deixar de oferecer denúncia e requerer a remessa ao
juízo comum. Embora a lei se refira a requerimento do Ministério Público para a remessa ao juízo comum, na
realidade, não será possível o indeferimento. Porque, de uma forma ou de outra, tanto no Juizado Especial
como na remessa ao juízo comum, estará o Ministério Público promovendo a ação, e ele compete,
privativamente, a promoção da ação penal pública (art. 129, I, da Constituição Federal).

§ 2.° - Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da


denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças
existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.

Queixa:
A queixa também é oferecida oralmente. Mas, se a questão for complexa, pode o juiz remeter ao juízo comum
as peças referentes à ação penal privada (art. 77, § 3.°). Oferecida a queixa oral, deve o Ministério Público
manifestar-se, como fiscal do princípio da indivisibilidade da ação penal.

§ 3.° - Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral, cabendo
ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção
das providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.

Suspensão Condicional da Pena:


O Ministério Público, ao oferecer a denúncia, pode propor a suspensão condicional do processo, por 2 a 4
anos, nos termos e condições do art. 89, semelhantes às condições do sursis previsto no CP. Se for aceita, o
processo fica suspenso. Se não houver proposta de suspensão do processo ou não sendo ela aceita, a
denúncia só será recebida mais adiante, na audiência de instrução e julgamento.

Citação:
A denúncia ou queixa é reduzida a termo, com entrega de cópia ao acusado, se estiver presente. Recebendo
a cópia, fica o acusado automaticamente citado e intimado da audiência de instrução e julgamento, designada
no ato pelo juiz. Se o acusado não estiver presente, será citado por mandado. E, se ele não for encontrado
para ser citado pessoalmente, as peças serão remetidas ao juízo comum, pois um dos pressupostos deste
procedimento especial é a citação pessoal do réu. Não há citação por edital.

Art. 78 - Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se cópia ao


acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia e
hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o
Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados.

§ 1.° - Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos Artigos 66 e 68 desta
Lei e cientificado da data da audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer
suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias
antes de sua realização.

§ 2.° - Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos
termos do art. 67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução e julgamento.

§ 3.° - As testemunhas arroladas serão intimadas na forma prevista no art. 67 desta Lei.

Audiência de Instrução e Julgamento


Retorno à Audiência Preliminar:
No dia designado, antes de abrir a audiência, repete-se a fase preliminar, se nesta não houve oportunidade
para tentativa de acordo a respeito dos danos civis e da proposta de pena.

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Art. 79 - No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento, se na fase
preliminar não tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação e de oferecimento
de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75
desta Lei.

Art. 80 - Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando imprescindível, a


condução coercitiva de quem deva comparecer.

Audiência:
Aberta a audiência, seguem-se os atos na seguinte ordem:
a) palavra ao defensor, para responder à acusação;
b) recebimento ou não da denúncia ou queixa;
c) ouvida da vítima;
d) testemunhas de acusação;
e) testemunas de defesa;
f) interrogatório;
g) debates orais;
h) sentença.

* Como a lei é omissa sobre o tempo dos debates, deve-se aplicar a regra do processo sumário, 20 minutos
para cada parte (art. 538, § 2.°, do CPP). O acusado deve trazer as suas testemunhas à audiência, ou
requerer a sua intimação, com antecedência mínima de 5 dias. A lei não estabelece o número de
testemunhas. Na omissão, deve prevalecer o disposto no procedimento sumário, até 5 testemunhas. Embora
a lei não o exija, é intuitivo que o juiz da sentença deverá ser o mesmo da instrução (princípio da identidade
física do juiz), diante da preponderância da oralidade e da sistemática abreviada deste procedimento. Caso
contrário, corre-se o risco de passar de uma justiça sumária para uma justiça temerária.

Art. 81 - Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação,
após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão
ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o
acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da
sentença.

§ 1.° - Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento,


podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou
protelatórias.

§ 2.° - De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas
partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a
sentença.

§ 3.° - A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do


Juiz.

Recursos
No Juizado Criminal, basicamente, só há dois recursos: apelação e embargos de declaração.

Apelação:
Cabe apelação da sentença, bem como da rejeição da denúncia ou queixa, sempre no prazo de 10 dias.
Note-se aí, diferença entre o Juizado Cível e o Juizado Criminal. No Juizado Cível a lei é taxativa,
estabelecendo recurso inominado para o próprio Juizado, que será julgado por três juízes togados, de
primeira instância (art. 41). No Juizado Criminal, porém, diz a lei que a apelação poderá ser julgada por três
juízes togados de primeira instância (art. 82).

A organização judiciária local, de cada Estado, fica, portanto, livre para dispor da forma que achar melhor,
podendo, por exemplo, atribuir o julgamento da apelação criminal ao Tribunal de Justiça ou ao Tribunal de
Alçada, não sendo obrigatório o julgamento pelo próprio Juizado ou por três juízes de primeira instância.

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Art. 82 - Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação,
que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau
de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.

§ 1.° - A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença
pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão
as razões e o pedido do recorrente.

§ 2.° - O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.

§ 3.° - As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que


alude o § 3.° do art. 65 desta Lei.

§ 4.° - As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa.

§ 5.° - Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do


julgamento servirá de acórdão.

Embargos de Declaração:
Cabem embargos de declaração, por escrito ou oralmente, no prazo de 5 dias, se na sentença ou acórdão
houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida. Quando opostos contra sentença, suspendem o prazo
para recurso.

Art. 83 - Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver


obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.

§ 1.° - Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de


cinco dias, contados da ciência da decisão.

§ 2.° - Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o


prazo para o recurso.

§ 3.° - Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

A Execução
Art. 84 - Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumprimento far-se-á mediante
pagamento na Secretaria do Juizado.

Parágrafo único - Efetuado o pagamento, o Juiz declarará extinta a punibilidade,


determinando que a condenação não fique constando dos registros criminais, exceto
para fins de requisição judicial.

Art. 85 - Não efetuado pagamento de multa, será feita a conversão em pena privativa da
liberdade, ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei.

Art. 86 - A execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, ou de


multa cumulada com estas, será processada perante o órgão competente, nos termos da
lei.

Despesas Processuais
Art. 87 - Nos casos de homologação do acordo civil e aplicação de pena restritiva de
direitos ou multa (arts. 74 e 76, § 4.°), as despesas processuais serão reduzidas,
conforme dispuser lei estadual.

Lesões Corporais Leves e Lesões Culposas


A ação penal nos crimes em epígrafe passou a depender de representação.

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Art. 88 - Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas.

Suspensão Condicional do Processo


Trata-se de um “sursis processual”, que, ao invés de mera suspensão da pena, suspende logo todo o
processo, a partir do recebimento da denúncia, o que é muito mais prático.

A suspensão condicional do processo não se limita às infrações de alçada do Juizado Especial (pena máxima
até 1 ano). Vai mais além, alcançado todas as infrações penais com pena mínima até 1 ano.

Aplica-se a suspensão nos crimes e nas contravenções, embora a lei a elas não se refira, pois não teria
sentido dar a suspensão naqueles e não nestas, que são menos graves. E se aplica a suspensão condicional
também nas infrações previstas em leis especiais.

A proposta deve ser aceita pelo acusado e seu defensor. Na divergência, prevalece a vontade do acusado.

Estando em termos a proposta de suspensão e sendo aceita pelo acusado, poderá o juiz, recebendo de
imediato a denúncia, determinar a suspensão condicional do processo, sob as condições da lei.

Expirado o prazo da suspensão, sem revogação, fica extinta a punibilidade. Se a suspensão for revogada,
volta-se ao processo, a partir do ponto em que estava antes da suspensão.

A aceitação da suspensão condicional, por parte do acusado, não implica reconhecimento ou atribuição de
culpa ou confissão. Continua ele gozando da presunção de inocência (art. 5.°, LVII, da Constituição Federal),
e, em caso de revogação do benefício e prosseguimento do processo, poderá ele, até, vir a ser absolvido.

Não corre prescrição durante a suspensão do processo.

Art. 89 - Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os
demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código
Penal).

§ 1.° - Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período
de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e
justificar suas atividades.

§ 2.° - O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão,
desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

§ 3.° - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.

§ 4.° - A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do
prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.

§ 5.° - Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.

§ 6.° - Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.

§ 7.° - Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá
em seus ulteriores termos.

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Disposições Finais
Aplicação Imediata:
Sobre este aspecto há dois entendimentos:
a) no primeiro, aplica-se imediatamente e retroativamente aos processos em curso somente as normas
processuais, com reflexos sobre a punibilidade (normas mistas), por serem mais favoráveis do que a lei
anterior;
b) no segundo entende-se que a Lei 9.099 pode ser aplicada imediatamente no seu todo; os juízes das
Varas comuns deveriam, então, assumir integralmente os encargos dos Juizados Especiais, onde os
mesmos ainda não foram instalados, com as adaptações cabíveis.

Art. 90 - As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já
estiver iniciada.

Exigência da Representação:
O ofendido ou seu representante legal deve ser intimado para oferecer a representação em 30 dias, sob pena
de decadência (art. 91). Conforme o caso, devem ser intimados os dois, diante da possibilidade de contagem
de prazo em separado (Súmula 594 do STF). A intimação só se aplica aos prazos preexistentes, ajuizados ou
não. Nos crimes posteriores à vigência da lei não haverá intimação, e o prazo de decadência será o comum
ou geral, de 6 meses.

Art. 91 - Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura da
ação penal pública, o ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-la
no prazo de trinta dias, sob pena de decadência.

Aplicação Subsidiária:

Art. 92 - Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo


Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.

Quadro Sinótico:

Fase Policial:
(Termo circunstanciado e
remessa ao Juizado)

DIREITO PROCESSUAL PENAL - Cap. 20 - O Juizado Especial Criminal pág. 10


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Fase Preliminar:
Composição dos danos e
eventual proposta de pena
 

Proposta de pena Proposta de pena aceita


inexistente ou não aceita
 

Remessa ao juízo comum,  Fase do Sumaríssimo Sentença


nos casos complexos
 

Denúncia ou Queixa Execução


 

MP propõe a suspensão do MP não propõe a suspensão


processo do processo
 

Réu aceita Réu não Citação por mandado do réu


aceita não presente

  

Recebimento da denúncia e Proposta de pena e composição dos danos


suspensão do processo se nessa altura ainda não se conseguiu tratar
do assunto
 

Retomada do processo no Audiência de Instrução e Julgamento:


caso de revogação ou Palavra à defesa; recebimento da denúncia;
extinção do processo e da ouvida da vítima; testemunhasde acusação;
pena, não havendo revogação testemunhas de defesa; interrogatório;
debates orais e sentença

Eventual apelação

DIREITO PROCESSUAL PENAL - Cap. 20 - O Juizado Especial Criminal pág. 11


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