Você está na página 1de 296

SENADO IMPERAL

ANAIS DO SENADO

ANNO DE 1873
LIVRO 5

ANNAES DO SENADO DO IMPERIO DO BRAZIL

Secretaria Especial de Editoração e Publicações - Subsecretaria de Anais do Senado Federal

TRANSCRIÇÃO
SESSÃO IMPERIAL
DO

Encerramento da 1ª e da Abertura da 2ª sessão da 15ª legislatura da assembléa geral

EM 3 DE MAIO DE 1873

PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ

Ao meio-dia, achando-se reunidos no paço do Graças á Divina Providencia, a epidemia que


senado os Srs. deputados e senadores, foram accommetteu algumas de nossas cidades maritimas
nomeadas as seguintes deputações: não foi das mais mortiferas, e vai desapparecendo
Para receber Sua Magestade o Imperador: em quasi todas com a entrada da nova estação. Para
Deputados os Srs.: Araujo Góes, Cardoso esse resultado muito concorreu a caridade da
Junior, Barros Cobra, Arroxellas Galvão, Fernando população nacional e estrangeira.
de Carvalho, Freitas Henriques, Moraes Rego, Pinto Molestias de diverso caracter e consideraveis
de Campos, Hollanda Cavalcanti, Siqueira Mendes, inundações teem flagellado algumas localidades,
Oliveira Borges, Gomes do Amaral, barão de mas seus estragos não são tão grandes como os
Araçagy, Deiró, Fiel de Carvalho, Gusmão Lobo, que nestes ultimos tempos experimentaram outros
Cunha Ferreira, Caminha, Alcoforado, Miranda povos por effeito de causas analogas.
Osorio, Escragnolle Taunay, Portella e Araujo Góes O governo e seus delegados nas provincias
Junior. cumpriram o dever que a lei e a humanidade
Senadores os Srs: duque de Caxias, barão da prescrevem em taes casos, unindo promptos
Laguna, Candido Mendes, Uchôa Cavalcanti, barão soccorros do Estado aos da beneficiencia particular,
de Cotegipe, visconde de Camaragibe, Jaguaribe, que no Brasil nunca deixa de manifestar-se.
Barros Barreto, Diniz, marquez de S. Vicente, Antão Permanecem inalteradas as boas relações do
e Paes de Mendonça. Imperio com as demais potencias; e o governo tem
Para receber Sua Magestade a Imperatriz: muito a peito que essas relações se estreitem cada
Deputados os Srs.: José Calmon, Henriques, vez mais, mediante uma politica justa, elevada e
Pereira Franco e Paranhos Junior. generosa.
Senadores os Srs.: visconde do Bom Retiro e Foram trocadas as ratificações dos tratados de
barão do Rio Grande. extradição com Portugal, a Grã-Bretanha e a Italia, e
A 1 1/4 hora da tarde, annunciando-se a de uma convenção postal cem a republica do Perú.
chegada de Suas Magestades Imperiaes, sahiram as A tranquillidade publica não foi em parte
deputações a recebel-as á porta do edificio, e, alguma perturbada. E’, porêm, para lamentar que a
entrando Sua Magestade o Imperador no salão, foi segurança individual e de propriedade não possa ser
alli recebido pelos Srs. presidente e secretarios, que, assaz protegida em nossos sertões, onde a
reunindo-se aos membros da respectiva, deputação, influencia da lei não impera ainda de maneira efficaz
acompanharam o mesmo augusto senhor até o na prevenção dos delictos. O remedio radical para
throno. esse estado de cousas depende de communicações
Logo que Sua Magestade o Imperador tomou mais rapidas, e de outras medidas tendéntes a
assento e mandou assentarem-se os Srs. deputados melhorar a condição moral daquellas regiões. Não é
e senadores, leu a seguinte: obra de um dia, mas releva que prosigamos nesse
empenho com a possivel celeridade.
FALLA. A liquidação do exercicio financeiro de 1871 a
1872 e os calculos do exercicio corrente confirmam
Augustos e dignissimos Srs. representantes da as previsões anteriores sobre o crescimento das
nação. – Mais uma vez agradeço com profundo rendas publicas. Tão prosperas circumstancias
reconhecimento a demonstração de vosso pesar, permittirão que continuemos a mitigar os onus dos
que me foi de tanto lenitivo, pela perda de minha contribuintes, uma vez que na decretação de novas
muito prezada madrasta, Sua Magestade a despezas, que foram reclamando as mais attendiveis
Imperatriz Viuva, Duqueza de Bragança, que deu aspirações nacionaes, consideremos sempre aquella
sua alma a Deus no dia 26 de Janeiro deste anno. necessidade e os pesados encargos que nos legou a
ultima guerra.
O augmento de soldo que concedestes ao
exercito e á armada foi um acto de justiça. As outras
ordens de funccionarios publicos, contempladas nas
recentes disposições
2 Sessão imperial de abertura

legislativas, eram tambem merecedoras do beneficio Foi transferida á companhia do cabo


que lhes fizestes. Muito convem firmar em nossa transatlantico, que ha de ligar o Brasil á Europa, a
administração o principio de um pessoal menos concessão que tinha sido feita a outros
numeroso, porém melhor retribuido e severamente emprezarios para assentamento de um telegrapho
estimulado no cumprimento de seus deveres. submarino entre o norte e sul do Imperio, com
A educação popular e a diffusão das luzes modificações que promettem a execução desse
necessarias ás differentes classes sociaes carecem de importante melhoramento dentro do menor prazo
um plano mais largo e aperfeiçoado, que vos será possivel.
proposto. No intuito de realizar este fecundo Pendem de vossa decisão dous projectos da
pensamento, objecto de constante desvelo do governo, mais reconhecida utilidade, que vos foram
tem este procurado dar o mais acertado emprego aos recentemente apresentados em nome do governo,
meios de que póde dispôr, e animar os benemeritos para reforma da guarda nacional e do nosso
esforços que por toda parte se manifestam no mesmo systema de eleições; e bem assim outros que
sentido, movimento que observo com a maior provieram de vossa illustrada iniciativa. Entre estes
satisfação, e muito abona o caracter de nossos ultimos mencionarei, pelo seu alcance, os que são
compatriotas. relativos ás promoções da armada, ao
Os interesses economicos do Brasil, que cada recrutamento, á justiça de 2ª instancia e á creação
dia mais avultam, exigem sobretudo, para maior e mais de uma nova provincia.
rapido desenvolvimento, acquisição de braços uteis, Espero que tão importantes assumptos vos
ensino profissional, estradas e linhas telegraphicas. Na mereçam especial solicitude e recebam de vossas
applicação combinada destas providencias está sem luzes as soluções mais adequadas ás actuaes
duvida a segurança futura de nossa principal industria, circumstancias da sociedade brasileira.
afim de que se effectuem sem abalo nem prejuizos as Uma nova circumscripção administrativa,
transformações que com o andar do tempo, se irão que comprehenda as ferteis margens do rio de S.
operando no seu trabalho e constituição territorial. Francisco, é um centro de vida e de progresso para
Os sacrificios que fizermos para esse fim, com o aquella extensa e afastada zona do territorio
criterio e prudencia que tanto distinguem vossas nacional, até hoje privada em grande parte dos
resoluções, serão amplamente compensados pela influxos e vantagens da civilisação.
commodidade dos povos, protecção ao trabalho Alliviar a guarda nacional do pesado onus
productivo e incremento da riqueza publica. que ha tanto tempo supporta com assignalado
Estudam-se os prolongamentos das estradas de civismo, occorrendo por outro modo ás
ferro de Pernambuco, Bahia e S. Paulo; e progride o necessidades da policia local, é providencia que
da estrada que corta os territorios do Rio de Janeiro e concilia o interesse supremo da ordem publica com
de Minas Geraes em demanda do rio de S. Francisco. a liberdade do cidadão.
Varias outras emprezas de iniciativa particular e das A reforma eleitoral propõe-se assegurar a
administrações provinciaes teem sido contratadas, primeira das condicções de nossa forma de
sem onus dos cofres do Estado, para ligarem-se governo – a genuina expressão do voto popular;
áquelles principaes ramos do nosso systema de vias alvo dos mais constantes esforços de um povo
ferreas. livre, cuja principal força deve derivar-se da opinião
Assim a situação geographica, como a publica e da autoridade da lei.
importancia da producção e commercio da provincia de Augustos e dignissimos senhores
S. Pedro do Rio Grande do Sul, requerem que os representantes da nação:
poderes Geraes a auxiliem no empenho de prover á E’ sempre com inteira confiança em vosso
sua segurança e melhor aproveitar seus elementos de esclarecido patriotismo e a mais robusta fé no
prosperidade, por meio de uma estrada de ferro que porvir grandioso do Brasil, que vos dirijo a palavra
encurte as distancias entre o littoral e a fronteira do desta posição, cujos deveres procuro desempenhar
Uruguay. Construcções da mesma natureza se estão com todo o amor que voto a nossa patria.
estendendo pelo territorio dos Estados vizinhos em Está encerrada a primeira e aberta a
direcção ás povoações limitrophes; convém, pois, que segunda sessão da presente legislatura.
os interesses reciprocos sejam igualmente favorecidos DOM PEDRO II IMPERADOR
por nossa parte. CONSTITUCIONAL E DEFENSOR PERPETUO
DO BRASIL.
Terminado este acto, retiraram-se Suas
Magestades com o mesmo cerimonial com que
foram recebidas, e immediatamente o Sr.
presidente levantou a sessão.
SENADO
1ª SESSÃO EM 5 DE MAIO DE 1873. eleito o Sr. visconde de Abaeté com a maioria
absoluta de 35 votos.
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ.
Vice-presidente.
Summario. – Ordem do Dia. – Eleição da mesa. –
Eleição das commissões de resposta á falla do trhono, Para a de vice-presidente foram recebidas 45
constituição e diplomacia, fazenda, legislação marinha e cedulas, sendo 4 em branco, e foi eleito o Sr.
guerra, commercio agricultura industria e artes, emprezas visconde de Jaguary com a maioria absoluta de 37
privilegiadas e obras publicas. votos.

Ao meio-dia fez-se a chamada, e acharam-se 1º e 3º secretarios.


presentes 46 Srs. senadores, a saber: visconde de
Abaeté, Dias de Carvalho, barão de Camargos, barão de Foram recebidas para a eleição de 1º e 3º
Mamanguape, visconde de Inhomirim, Diniz, Chichorro, secretarios, 44 cedulas e sae eleito 1º secretario o Sr.
Silveira Lobo, Teixeira Junior, Vieira da Silva, Paes de Almeida e Albuquerque por 21 votos.
Mendonça, Jaguaribe, barão de Cotegipe, Ribeiro da Luz, Tendo havido empate entre os Srs. Dias de
Barros Barreto, Nabuco, Junqueira, Uchoa Cavalcanti, Carvalho e barão de Camargos, que obtiveram 20
barão da Laguna, Fernandes Braga, visconde do Rio votos, procedeu-se ao sorteio e sahiu eleito 3º
Branco, Almeida e Albuquerque, Saraiva, visconde de secretario o Sr. Dias de Carvalho.
Nitherohy, duque de Caxias, F. Octaviano, marquez de
Sapucahy, visconde de Caravellas, Antão, conde de 2º e 4º secretarios.
Baependy, marquez de S. Vicente, Sinimbú, Mendes dos
Santos, barão de Maroim, Leitão da Cunha, visconde de Para a eleição de 2º e 4º secretarios foram
Camaragibe, visconde de Jaguary, Firmino, visconde do recebidas 45 cedulas, sendo duas em branco, e foram
Bom Retiro, barão de Pirapama, Pompeu, visconde de eleitos 2º secretario o Sr. barão de Mamanguape por
Muritiba, Nunes Gonçalves, visconde de Souza Franco, 33 votos, e 4º secretario o Sr. Figueira de mello por
Zacarias e Candido Mendes. 32 votos.
Deixaram de comparecer com causa participada os Ficaram supplentes os Srs. barão de
Srs. Figueira de Mello, barão do Rio Grande, Fernandes Camargos e Leitão da Cunha.
da Cunha, Paula Pessoa, Paranaguá, Silveira da Motta, Em seguida o Sr. presidente convidou o Sr.
Jobim e Cunha Figueiredo. Almeida e Albuquerque para tomar assento na mesa.
Deixaram de comparecer sem causa participada os
Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de ELEIÇÃO DAS COMMISSÕES.
Suassuna.
O Sr. presidente abriu a sessão. Passando-se á eleição das commissões, foram
Leu-se a acta da sessão antecedendo e, não eleitos para a de:
havendo quem sobre ella fizesse observações foi
approvada. Resposta á falla do throno.

ORDEM DO DIA. Os Srs. barão de Cotegipe por 35 votos,


Mendes dos Santos por 24 e Teixeira Junior por 23.
ELEIÇÃO DA MESA.
Constituição e diplomacia.
O Sr. presidente disse que, na fórma do regimento,
ia proceder-se á eleição da mesa, começando pela do Os Srs. marquez de Sapucahy por 36 votos,
barão de Cotegipe por 33 e Cunha Figueiredo por 32.
Presidente.
Fazenda.
Corrido o escrutinio para a eleição do presidente,
foram recebidas 45 cedulas, sendo sete em branco, e Os Srs. visconde de Souza Franco por 31
sahiu votos, visconde de Inhomirim por 27 e Teixeira Junior
por 26.

Legislação.

Os Srs. Nabuco por 32 votos, visconde de


Jaguary por 30 e barão de Pirapama por 28.
4 Sessão em 6 de Maio

O Sr. Nabuco pediu dispensa de membro da commissão Deixaram de comparecer com causa participada os Srs.
para a qual acabava de ser eleito em consequencia dos trabalhos Figueira de Mello, Leitão da Cunha, Fernandes Braga, barão de
do codigo civil que o privam de comparecer assiduamente ás Maroim, Paula Pessoa, Junqueira, Paranaguá, Ribeiro da Luz,
sessões. Fernandes da Cunha, Silveira da Motta, Saraiva, visconde de
O Sr. Presidente consultou o senado se a eleição para Caravellas, Cunha Figueiredo, Jobim, Antão, Nabuco e Zacarias.
substituir o Sr. senador devia ter logar hoje ou amanhã. Deixaram de comparecer sem causa participada os Srs.
Venceu-se que devia votar-se hoje e procedendo-se á barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de Suassuna.
eleição foi eleito o Sr. Zacarias por 24 votos. O Sr. presidente abriu a sessão.
Leu-se a acta da sessão antecedente e não havendo
Commissão de marinha e guerra. quem sobre ella fizesse observações foi approvada.
O Sr. 1º secretario leu o seguinte
Os Srs. duque de Caxias por 32 votos, visconde de
Muritiba por 28 e Jaguaribe por 26. EXPEDIENTE.

Commercio, agricultura, industria e artes. Officio do ministerio da marinha, de 3 do corrente mez,


remettendo o autographo sanccionado do decreto da assembléa
Os Srs. Sinimbú por 28 votos, Antão por 26 e barão de geral que fixa a força naval para o anno financeiro de 1873 –
Camargos por 18. 1874. – Ao archivo o autographo, communicando-se á outra
camara.
Emprezas privilegiadas e obras publicas. Officio de 30 de Abril ultimo, do ministerio da agricultura,
commercio e obras publicas, remettendo, na conformidade da
Os Srs. conde de Baependy por 26 votos, Barros Barreto requisição do senado de 1º de Março ultimo, as informações
por 23 e Uchoa Cavalcanti por 22. prestadas pelo presidente da provincia de Sergipe, acerca da
Devendo eleger-se a commissão de instrucção publica e empreza de encanamento d’agua potavel e de illuminação a gaz
negocios ecclesiasticos, reconheceu-se não haver mais quorum, na cidade de Aracajú. – A’ quem fez a requisição.
para votar-se, visto só serem recebidas na mesa 23 cedulas.
O Sr. presidente deu a ordem do dia 6: ORDEM DO DIA.
Continuação da eleição das commissões, começando pela
de instrucção publica e negocios ecclesiasticos. ELEIÇÃO DAS COMMISSÕES.
Havendo tempo:
Votação sobre as seguintes proposições da camara dos Proseguiu a eleição das commissões, que havia ficado
Srs. deputados: adiada na sessão antecedente, e foram eleitos para a de:
Concedendo loterias sob ns 248, 250 e 251.
Creando officios de tabelliães no municipio da Côrte. Instrucção publica e negocios ecclesiasticos.
Fixando, sob proposta do poder executivo, as forças de
terra para 1873-1874. Os Srs. visconde de Camaragibe por 19 votos, Jobim por
3ª discussão da proposição da camara dos Srs. 19 e F. Octaviano por 18.
deputados, mencionada no parecer da mesa n. 516 sobre
pensões. Saude publica.
Levantou-se a sessão ás 3 horas e 5 minutos da tarde.
Os Srs. Jobim por 31 votos, Chichorro por 28 e Silveira
2ª SESSÃO EM 6 DE MAIO DE 1873. Lobo por 25.

PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. Redacção das leis.

Summario. – Expediente. – Ordem do Dia. – Eleição das Os Srs. marques de Sapucahy por 29 votos, marquez de
commissões de instrucção publica e negocios ecclesiasticos, S. Vicente por 27 e Firmino 22.
saude publica, redacção de leis, estatistica catechese e
colonisação, assembléas provinciaes e orçamento. – Loterias. – Estatistica, cathechese e colonisação.
Novos logares de tabelliães. – Forças de terra. – Pensões.
Os Srs. Candido Mendes por 27 votos, barão de Maroim
Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se presentes 37 por 22 e visconde do Bom Retiro por 21.
Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté, Almeida
Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de Carvalho, Assembléas provinciaes.
Chichorro, Jaguaribe, barão de Cotegipe, visconde de Jaguary,
marquez de S. Vicente, Barros Barreto, conde de Baependy, Os Srs. visconde do Bom Retiro por 28 votos e Saraiva
Firmino, visconde de Sousa Franco, duque de Caxias, Teixeira por 26.
Junior, barão do Rio Grande, Diniz, visconde de Muritiba, Mendes Havendo empate entre os Srs. barão de Camargos e
dos Santos, Paes de Mendonça, barão da Laguna, Silveira Lobo, Mendes dos Santos, que obtiveram 17 votos, procedeu-se ao
visconde de Nitherohy, Nunes Gonçalves, Vieira da Silva, Uchôa sorteio e foi eleito o Sr. Mendes dos Santos.
Cavalcanti, visconde de Camaragibe, Sinimbú, marquez do Foram eleitos para a commissão de
Sapucahy, Candido Mendes, barão de Pirapama, visconde do Rio
Branco, visconde de Inhomirim, Pompeu, visconde do Bom Retiro, Orçamento.
F. Octaviano e barão de Camargos.
Os Srs. barão de Cotegipe por 29 votos, visconde de
Inhomirim por 28, marquez de S. Vicente por 28, Fernandes da
Cunha por 27, Antão por 27, visconde de Souza Franco por 23 e
Paranaguá por 20.

LOTERIAS.

Finda a eleição das commissões, foram successivamente


submettidas á votação e rejeitadas as proposições da camara
Sessão em 7 de Maio 5

dos Srs. deputados concedendo loterias, cuja discussão ficara Leu-se a acta da sessão antecedente, e, não havendo
encerrada. quem sobre ella fizesse observações, foi approvada.
O Sr. 1º Secretario leu o seguinte
NOVOS LOGARES DE TABELLIÃES.
EXPEDIENTE.
Foi igualmente votada e approvada tal qual passou em
2ª discussão e remettida á commissão de redacção a Officio de 6 do corrente, do ministro do Imperio,
proposição da mesma camara, creando mais quatro logares remettendo o autographo sanccionado da resolução da
de tabelliães de notas na Côrte. assembléa geral autorisando o governo para conceder ao
parocho collado da freguezia de Nossa Senhora da Guia, da
FORÇAS DE TERRA. villa de Patos da Parahyba do Norte, padre Manoel Cordeiro
Cruz, tres annos de licença com o vencimento da respectiva
Foi tambem votado e approvado o art. 3º additivo e o congrua. – Ao archivo o autographo, communicando-se á
da proposta com a emenda de numeração e passou para a 3ª outra camara.
discussão o projecto de lei, fixando as forças de terra para Officio de igual data, do 1º secretario da camara dos
1873 – 1874. Srs. deputados, communicando que a mesma camara,
A requerimento verbal do Sr. Jaguaribe foi dispensado procedendo á eleição da mesa que tem de servir no presente
o intersticio para a dita discussão. mez, elegeu:
Presidente, o Sr. Innocencio Marques de Araujo Góes;
PENSÕES. vice presidentes os Srs. Antonio José Henriques, Joaquim
Pires Machado Portella e Antonio Gabriel de Paula Fonseca.
Entrou em 3ª discussão e foi approvada para ser 1º secretario, o Sr. Joaquim José de Campos da Costa
dirigida á sancção imperial a proposição da camara dos Srs. de Medeiros e Albuquerque, 2º, 3º e 4º os Srs. Martinho de
deputados sobre pensões mencionadas no parecer da mesa n Freitas Vieira de Mello, Luiz Eugenio Horta Barbosa e Carlos
516. Peixoto de Mello.
Esgotada a ordem do dia, o Sr. presidente deu para a Ficou o senado inteirado.
de 7 do corrente:
3ª discussão do projecto de lei fixando as forças de ORDEM DO DIA.
terra para 1873 – 1874.
Levantou-se a sessão ás 2 horas da tarde. FORÇAS DE TERRA.

3ª SESSÃO EM 7 DE MAIO DE 1873. Entrou em 3ª discussão o projecto de lei, fixando as


forças de terra para o anno financeiro de 1873 – 1874.
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. O SR. PRESIDENTE: – Não havendo quem queira a
palavra vou pôr a votos.
Summario. – Expediente – Ordem do Dia. – Discursos O SR. ZACARIAS (pela ordem): – O Sr. ministro da
dos Srs. ministro da guerra, Zacarias, visconde de Nitherohy, guerra, ao encerrar-se a 2ª discussão, comprometteu-se a
Pompeu e Jaguaribe. – Emendas dos Srs. Zacarias e Vieira fallar na terceira.
da Silva. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Peço a
palavra.
Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se O SR. PRESIDENTE: – Tem a palavra.
presentes 41 Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté, O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Sr.
Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Figueira de presidente, é facto o que allega o nobre senador; comprometti-
Mello, barão de Camargos, Barros Barreto, Jobim, barão de me a responder ao illustre senador pelo Ceará quando se
Cotegipe, Ribeiro da Luz, Silveira Lobo, visconde de Muritiba, encerrava a 2ª discussão da proposta de fixação de forças de
visconde de Caravellas, Saraiva, duque de Caxias, Pompeu, terra; agora o nobre senador pela Bahia me lembra o
Chichorro, conde de Baependy, barão da Laguna, Mendes dos cumprimento da minha promessa, e eu com a melhor vontade
Santos, Candido Mendes, barão de Maroim, visconde de accedo ao seu convite para dar ligeiras explicações ao nobre
Nitherohy, Teixeira Junior, visconde de Inhomirim, Uchoa senador pela Ceará.
Cavalcanti, Junqueira, Diniz, barão do Rio Grande, Firmino, Tenho aqui as notas de varias perguntas que me
Nunes Gonçalves, Antão, marquez de Sapucahy, visconde de dirigiu S. Ex. E’ a primeira: se, não sendo preenchido o
Souza Franco, visconde de Jaguary, Vieira da Silva, visconde recrutamento em um anno, o deficit passa a ser computado no
do Bom Retiro, Leitão da Cunha, Sinimbú, visconde do Rio anno seguinte.
Branco, Jaguaribe e Zacarias. Tal não ha, Sr. presidente. Para cada anno se fixa o
Deixaram de comparecer com causa participada os numero de recrutas, que as provincias teem de dar; não se
Srs. Dias de Carvalho, Fernandes Braga, barão de Pirapama, estabelece uma conta continua de fórma tal que as provincias,
Paula Pessoa, Paes de Mendonça, Fernandes da Cunha, que não tenham dado o numero de recrutas necessarios,
Paranaguá, Silveira da Motta, Cunha Figueiredo, marquez de fiquem com aquella divida aberta e forme-se uma conta muito
S. Vicente, visconde de Camaragibe, Nabuco e F. Octaviano. grande. Por exemplo, se a provincia de Minas não der o
Deixaram de comparecer sem causa participada os numero de recrutas que lhe foi marcado, nem por isso ficará a
Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de divida aberta e ella obrigada no anno seguinte a dar mais
Suassuna. gente, a concorrer
O Sr. presidente abriu a sessão.
6 Sessão em 7 de Maio

com 3,4 ou 5,000 homens. Para cada anno é fixada a senador que esse forte precisa de reparos e seria imprudencia
contribuição; se as provincias não dão, se as autoridades não deixar cahir aquella fortificação, que ainda póde prestar
podem obter o numero de recrutas naquelle anno, não se serviços importantes, e quando nelle está collocado um
passa a conta para o anno seguinte. Seria estabelecer uma pharolete, unicamente pelo motivo de economia exagerada,
divida immensa que as provincias certamente nunca poderiam de não se poder gastar algumas quantias para conservar-se
saldar. semelhante forte.
Este facto é conhecido do senado. Eu já disse que ha Neste sentido, sob representação da presidencia
provincias que carregam com maior imposto de sangue, com daquella provincia, mandei para lá um engenheiro que orçasse
maior contribuição para o exercito; mas que é isto um facto as obras indispensaveis á conservação daquelle forte, afim de
anormal que deve ter seu remedio na reforma da lei do serem executadas. Este engenheiro foi o Sr. coronel Carvalho,
recrutamento; que o governo deve ser solicito em exigir que que, segundo affigurou-se ao nobre senador, foi retirado desta
todas as provincias concorram annualmente com o Côrte porque não convinha que aqui estivesse. Para mim,
contingente de recrutas que lhe foi marcado; e, se apesar de repito, é cousa inteiramente nova; o coronel Carvalho não
seus esforços não se preencher o numero, não se póde podia fazer o menor mal permanecendo nesta Côrte.
passar a conta para o anno seguinte. O SR. DUQUE DE CAXIAS: – E aqui é o quartel do
Parece que era isto o que tinha em vista o nobre estado maior de 1ª classe.
senador. Vê S. Ex. que não passa de um para outro anno a O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Elle pediu
conta de recrutas que deixou de dar uma provincia; nem outra uma commissão; havendo esta requisição da presidencia do
cousa praticamente se póde estabelecer. Rio Grande do Norte, mandei que o commandante do corpo
Perguntou mais o nobre senador, se bem me recordo, me indicasse um official; indicou-se primeiramente um que por
qual tinha sido o fim da organisação de uma certa força na motivos especiaes que allegou não pôde seguir; mandei que
fronteira do Rio Grande do Sul, que missão teve o barão de S. se indicasse outro; foi apresentado o coronel Carvalho que
Borja alli, se isso teve por fim augmentar a instrucção militar com effeito seguiu. Não houve razão alguma para arredal-o da
ou outro proposito. Côrte; é um militar inoffensivo, disciplinado; aqui não poderia
O nobre senador não ignora que em Agosto do anno fazer o menor mal; se foi chamado para a Côrte é porque é
passado se expediram ordens para a provincia do Rio-Grande, aqui o quartel proprio dos officiaes dos corpos especiaes
afim de que no municipio de Alegrete se concentrasse uma quando em disponibilidade.
certa força militar, chamada divisão de observação, porque os Não ha, pois, motivo para se affirmar que o coronel
negocios internacionaes assim o exigiam; o barão de S. Borja Carvalho foi de proposito mandado para fóra da Côrte.
era o commandante das armas da provincia e assumiu o Sobre a reforma do corpo de saude, eu disse, e está
commando daquella força. Com a cessação dos motivos que no relatorio de Dezembro, que este corpo precisava de
determinaram o governo a estabelecer aquella divisão, esta alguma reforma. O senado saberá que existem cerca de 30
força teve de dissolver-se, mesmo para poder-se alliviar a vagas; ultimamente tenho nomeado alguns medicos porque
guarda nacional, que tinha sido chamada a serviço de acredito que o augmento de soldo tem sido incentivo para
destacamento em varios pontos daquella provincia; mas, varios pedirem admissão. Entretanto alguma cousa ha a fazer-
como se não devia perder inteiramente a despeza que alli se se em relação ao corpo de saude; nem tudo, porém, se pode
fez com o transporte dos objectos necessarios á formação fazer de uma vez; a commissão de marinha e guerra da
daquella divisão, e porque é altamente conveniente que os camara dos deputados entendeu não autorisar o governo para
corpos do exercito se instruam nas suas respectivas armas, essa reforma, porque julgou que elle já ficava com uma
determinou-se que em Alegrete, ponto que parece somma sufficiente de trabalho, se passarem todas as reformas
estrategicamente collocado em relação ás fronteiras de que estão assignaladas. Preciso, pois, de autorisação; não se
Missões e Uruguay, permanecesse uma brigada, que tem por tratou de reformar já o corpo de saude; assignalou-se sómente
fim formar um campo de manobras para que os corpos de que elle precisa de certos retoques.
guarnição na provincia do Rio Grande do Sul vão se A respeito dos medicos, o illustre senador fez algumas
revesando e obtendo a instrucção precisa. Esta brigada, considerações que poderão ser verdadeiras, mas que me
apenas composta de dous corpos de primeira linha, terá de parecem difficeis de se traduzirem em pratica: que no corpo
dar os destacamentos necessarios para a fronteira do de saude jamais se dê promoção por antiguidade, mas
Uruguay e para as villas de Itaquy, S. Borja e outros pontos sempre seja ditada pelo merecimento dos candidatos.
que é necessario guarnecer; havendo esse revesamento de Isto pode ser exacto, porque o medico mais distincto,
seis em seis mezes, como eu determinei, todos os corpos vão aquelle que tiver exhibido as mais altas provas de capacidade
passando por aquelle campo e obtendo a instrucção precisa. durante o serviço de guerra, nos hospitaes de sangue, sem
O nobre senador sabe que no serviço de guarnição não se duvida, deve ser promovido; mas repare tambem o nobre
obtem essa instrucção, que é facil de alcançar quando o corpo senador que não podemos deixar completamente esquecido o
está collocado em um campo de manobras como Alegrete. principio da antiguidade; alguns cirurgiões de longos serviços
Assim, pois, Sr. presidente, o barão de S. Borja foi teriam muitas vezes de ficar de parte, se se quizesse sómente
commandar a divisão, porque este commando lhe competia attender ao merecimento de momento, exhibido por moços
como commandante das armas da provincia; conservou-se alli que acabassem de entrar para o corpo de saude. E’ preciso
o tempo que julgou necessario; dissolvida a divisão, recolheu- conciliar os dous principios; deixar alguma cousa ao de
se á capital da provincia para continuar na direcção da antiguidade e uma outra obras parte ao de merecimento.
repartição que lhe está confiada.
Sobre o forte dos Reis-Magos que existe na barra da
capital do Rio Grande do Norte, eu informo ao illustre
Sessão em 7 de Maio 7

Na 2ª discussão, Sr. presidente, já eu tinha fallado a entrar em maior desenvolvimento. O que me consta é que em
respeito da escola central. O illustre senador pelo Ceará, uma festa houve um pequeno incidente entre alguns
tocando neste assumpto, fez versar suas observações individuos nacionaes com alguns outros portuguezes que
principalmente sobre transferir-se a escola central para o estavam presentes, a respeito de umas bandeiras que
ministerio do Imperio, quando, segundo S. Ex., devia passar estavam içadas em mastros, facto que tomou maior vulto pela
para o da agricultura, que é o ministerio especial das publicas. exageração que lhe emprestou a imprensa local. A questão
Pareceu-me mais acertado que a escola central, como hoje está em um pé em que não ha de parte a parte o menor
todas as academias e faculdades do lmperio, ficasse sob a vislumbre de offensa á dignidade nacional; nem Portugal se
superintendencia do ministerio do lmperio, porque é este o julga offendido, nem o Brasil tambem, pelo procedimento de
ministerio da instrucção publica. O nobre senador me objecta: qualquer subdito daquella nação. Foi um incidente pequeno,
«a guerra tem a academia militar, e a marinha tambem»; eu do qual não póde provir complicação internacional.
respondo a S. Ex. que a guerra e a marinha são O SR. POMPEU: – V. Ex. leu a interpellação feita na
especialidades, que não podem ser entregues senão á camara dos deputados de Portugal?
direcção superior dos negocios militares do exercito ou da O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Sim,
armada; servem só para aquelle fim especial; estão sujeitos a senhor; mas não nos devemos guiar por essas interpellações,
regulamentos militares, e todos os estabelecimentos de feitas muitas vezes com informações inexactas. Eu repito ao
instrucção para essas classes devem reger-se pelos mesmos nobre senador que a questão não tem a menor importancia e
regulamentos. Não era conveniente, porém, que o ministerio que está em muito bom caminho de completa conclusão, sem
da guerra tivesse de dirigir uma academia que forma olvido da dignidade de ambas as nações.
engenheiros de variados conhecimentos, que podem ser Perguntou o nobre senador se os soldados de policia
engenheiros geographos, de pontes e calçadas, que se eram considerados militares. Respondo a S. Ex. que não. Não
dediquem a estrada de ferro, etc. Assim como as faculdades são considerados nem como fazendo parte do exercito, nem
de medicina e as academias de direito pertencem ao mesmo como dependentes das leis militares. Quando um
ministerio do Imperio, da mesma maneira a escola que fórma soldado de policia commette algum crime, é punido em virtude
engenheiros deve estar sujeito ao mesmo ministerio. E’ do regulamento que se organisa na respectiva provincia. Cada
preciso que haja um chefe para tudo isto, que haja um centro; corpo policial tem um regulamento especial feito na provincia
este centro deve ser o ministerio a quem incumbe a direcção que lhe pertence, pelo presidente por delegação da
da instrucção publica. Desde que uma razão especial, de assembléa provincial.
ordem mais elevada, aconselhar que se destaque da regra O SR. POMPEU: – Acha V. Ex. que as assembléas
geral, é justo que se faça uma excepção para as academias provinciaes teem competencia para legislar sobre essa
militares. materia?
O SR. VIEIRA DA SILVA: – A escola central fórma O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Pois se
tambem uma especialidade. as assembléas provinciaes teem competencia para organisar
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Se eu os corpos de policia, como não hão de ter para dar
percebo bem o aparte do nobre senador, a escola central; regulamentos pelos quaes se rejam esses corpos? Aquillo é
segundo S. Ex., fórma uma especialidade e deve ser separada um contrato, não se obriga um individuo a assentar praça, elle
do ministerio do Imperio. o faz voluntariamente sujeitando-se ao regulamento.
O SR. VIEIRA DA SILVA: – Póde estar separada. O SR. VIEIRA DA SILVA: – Estão sujeitos até ao do
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Mas a conde de Lippe em algumas provincias.
questão não é poder, a questão é saber o que mais convem. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – E’ um
Que ella pode estar não resta duvida; temos o facto. O que abuso. O que digo é que o soldado de policia é um individuo
digo é que é mais conveniente reunir todos esses contratado; este individuo devia saber as clausulas com que
estabelecimentos sob a direcção do ministerio do Imperio, que se contrata, o regulamento que rege o corpo; se assentou
é o ministerio da instrucção publico; por certo que não se lhe praça, foi porque quiz sujeitar-se ás disposições desse
dará a direcção de uma escola de marinha ou militar, mas regulamento.
desde que se trata de instituições civis, assim como as O SR. SILVEIRA LOBO: – E as transferencias para o
faculdades de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, as de exercito?
direito de S. Paulo e Recife, a escola de engenharia deve O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – A
pertencer ao ministerio do Imperio. Se a razão do nobre transferencia é tambem uma clausula expressa nos
senador prevalecesse, então dir-se-hia que as faculdades de regulamentos que a contém, e então o individuo que assenta
direito, donde saem os bachareis que vão ser advogados ou praça concorda em sujeitar-se a essa pena. Em algum
magistrados, deveriam passar para o ministerio da justiça. regulamento (creio que o da Côrte) está estatuido que, quando
O nobre senador pelo Ceará fez tambem algumas o soldado commetter certas faltas graves, poderá ser
observações a respeito da repartição ecclesiastica; penso que transferido temporariamente para os corpos do exercito; mas
S. Ex. concorda em que se faça uma reforma, que é preciso isto é uma condição expressa nessa especie de codigo.
crear um centro administrativo, o capellão-mór. O SR. SILVEIRA LOBO: – Ainda mesmo com
Quanto ás informações que S. Ex. pede a respeito dos condições legaes que o isentem de servir no exercito? Isto é
insultos feitos á bandeira portugueza no Pará, poucas um dos muitos abusos que regem este paiz.
palavras direi, mesmo porque não posso nesta discussão
8 Sessão em 7 de Maio

O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Se um transferencia forçada quando é certo que ha direitos que não
individuo concorda em assentar praça em um corpo de policia se pódem renunciar.
depois de lêr o respectivo regulamento que diz: «Se O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O nobre
commetter alguma falta grave, ha de ser transferido para um senador não attendeu ás minhas palavras.
corpo do exercito» elle tem de sujeitar-se a isto. Agora diz o O SR. SILVEIRA LOBO: – Attendi muito.
nobre senador «se tiverem isenções legaes?» Neste caso não O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Eu disse,
poderá. Sr. presidente, que quando um individuo assentava praça em
O SR. SILVEIRA LOBO: – Os factos protestam contra um corpo de policia, o fazia sempre voluntariamente, elle
isto. conhecia ou devia conhecer as causulas a que se sujeitava e
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Está se no regulamento desse corpo havia a clausula de
enganado. transferencia para o exercito, nem podia dizer que assim se
O SR. SILVEIRA LOBO: – Infelizmente não estou. violentava um cidadão brasileiro.
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O O SR. SILVEIRA LOBO: – Não apoiado, porque ha
regulamento de um corpo de policia não póde revogar a lei direitos que não se póde renunciar.
geral. Se nós temos as isenções estabelecidas nas O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Para que
instrucções de 1822 e explicadas depois por muitos avisos e o nobre senador veja que esta sua opinião não se funda em
actos do governo imperial, não é possivel que os normas strictas de justiça, eu lhe direi que S. Ex. parte de um
regulamentos provinciaes venham derogal-as. Se isto existiu falso supposto, isto é, que toda a vez que o cidadão brasileiro
alguma vez, são abusos de longa data; abusos em que não só se empenha e demitte um pouco de sua liberdade para entrar
a actualidade podia ser connivente, mas todos os governos em um corpo arregimentado, é induzido a uma violencia
passados, porque sabe o nobre senador que esses contra seus direitos imprescriptiveis; e ahi está o engano do
regulamentos provinciaes não são obra de hoje, existem, ha nobre senador, porque, a ser verdadeira sua doutrina, havia
muito tempo. de chegar á ultima consequencia e é que no exercito nunca
O SR. ZACARIAS: – A disposição de transferencia deviam apparecer voluntarios, visto que estes individuos,
para o exercito está sendo invejada pela assembléa provincial assentando praça, sujeitam-se a todo o rigor das leis militares,
do Rio de Janeiro. sujeitam-se ás penas do codigo do conde Lippe. Ora, se
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Devia o ninguem nega que um cidadão brasileiro póde assentar praça
nobre senador pela provincia de Minas ter erguido sua voz voluntariamente no exercito, como é que o nobre senador
contra esses regulamentos, devia ter usado de sua influencia nega que um cidadão brasileiro possa tomar o empenho de
no parlamento e no governo para fazel-os revogar. Não se servir em um corpo policial, sujeitando-se á condição de ser
póde agora fazer carga á actualidade pela existencia de transferido para o exercito se commetter certas e
semelhantes regulamentos que, em um ponto ou outro, pódem determinadas faltas? E’ negar o menos e conceder o mais; ha
não estar em completa harmonia com as disposições geraes. nisto uma equivocação completa.
O que é certo é que ninguem sustentará em boa fé que um O SR. SILVEIRA LOBO: – Da parte de V. Ex.
regulamento provincial possa derogar as disposições geraes O SR. VIEIRA DA SILVA: – Não ha duvida, sujeitam-
sobre recrutamento. se até á pena de carrinho...
O SR. VIEIRA DA SILVA: – Deroga até o codigo O SR. POMPEU: – E a ser fuzilados...
criminal. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Sujeitam-
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Desse se a estas penas, como se sujeita o voluntario no exercito,
modo revoga na comedia o Juiz de paz da roça a constituição como se sujeita o voluntario da patria.
do Imperio. O que quero dizer e que não ha competencia. Si Sobre as questões dos officiaes do corpo de estado-
os regulamentos provinciaes estão inçados de vicios, o dever maior de 1ª classe perguntou o nobre senador, se eu podia
dos nobres senadores é trazer para discussão esta materia... tirar esses officiaes dos outros corpos e se pretendia
O SR. POMPEU: – E’ o que estamos fazendo. restabelecer os postos subalternos. Respondo que sim. E’
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – ...e conveniente tirar dos outros corpos para o do estado-maior de
chamar sobre ella a attenção dos poderes competentes, afim 1ª classe os officiaes que tenham mostrado maior aptidão,
de serem devidamente revogados esses regulamentos. assim como é conveniente, e determina a lei que rege esta
Estamos, porém, tratando aqui da questão de principios; estou materia, uma vez que se tem de ampliar o quadro desse
dizendo que nossos corpos de policia não se regem pelo corpo, crear logares de officiaes subalternos, porque são
regulamento do conde de Lippe nem estão sujeitos ás leis aquelles que teem de servir como ajudantes de ordens e é o
militares; cada um tem seu regulamento especial approvado tirocinio melhor para semelhante classe.
pela respectiva assembléa provincial; e se algum contém Quanto ao premio de 300$ promettido aos voluntarios,
materia que possa ferir as leis e regulamentos geraes, isto é sabe o senado que o governo tem sido muito solicito em
um abuso que deve ser corrigido pelos poderes competentes; cumprir fielmente a palavra empenhada. Tem-se pago este
se bem que não me recordo de ter a secção de guerra e premio a todos os voluntarios que regressaram ao Brasil.
marinha do conselho de Estado, a cujo exame são sujeitos Apenas estabeleceu-se uma restricção que foi não considerar-
estes regulamentos, tenho encontrado nelles disposição se com direito a este premio os voluntarios que voltaram da
alguma que fira as leis geraes do paiz. guerra sem ter concluido o tempo; mas da parte do governo
O SR. SILVEIRA LOBO: – V. Ex. aceitou a doutrina da tem havido a maior lealdade a este respeito e
Sessão em 7 de Maio 9

quando digo governo refiro-me a essa entidade que tem de repente o presidio de Fernando de Noronha, é preciso
perdurado e perdurará; não me refiro somente ao governo persistencia, constancia, bom commandante, bons
actual. Eu mesmo tenho mandado pagar muitos premios, empregados, e sobre tudo muita vigilancia para que alli não se
porque os voluntarios vão se habilitando pouco a pouco; ha faça nenhuma especie de negocio.
informações a colligir, é mister mesmo ir buscar Houve ultimamente uma syndicancia, como tem havido
esclarecimentos em provincias afastadas e, a medida que vão varias; foi no tempo do commando do coronel Moraes Rego,
chegando estes esclarecimentos, vae-se realisando seu mas este commandante em conselho de guerra foi absolvido
pagamento. Nisto não tem havido absolutamente falta de porque justificou-se plenamente das accusações que lhe
cuidado; não se póde atirar ao governo a pecha de que tem faziam. Penso que esse official é muito honrado, (apoiados)
tratado com menos preço os voluntarios da patria. mas acontece a todos os commandantes de Fernando serem
O SR. POMPEU: – Não accusei, perguntei somente. accusados nos jornaes de Recife, serem arrastados á
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Estou imprensa, de modo que em pouco tempo saem dalli mettidos
informando que tem se pago e continua-se a pagar com a em processo.
maior pontualidade. Creio, Sr. presidente, que foram essas as perguntas
A respeito de pessoa do Ceará que requereram que me dirigiu o nobre senador, e acabo de responder do
pensão como fosse uma viuva cujo nome o nobre senador modo que o senado ouviu, apenas em attenção á pessoa do
citou e mais umas senhoras cujos nomes não pôde dizer... nobre senador que tem feito o obsequio de occupar-se dos
O SR. POMPEU: – Nunes. negocios da repartição da guerra de maneira que traz luz ao
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – E um debate, visto como S. Ex. procura informar-se desses
Benedicto de tal, informo a S. Ex. que mandei colligir o que negocios para poder melhor illustrar seu voto em materia tão
havia a respeito e opportunamente direi o que ha, podendo o importante.
nobre senador ficar certo de que ha da minha parte a melhor O Sr. Zacarias pronunciou um discurso que
vontade de dar andamento a esses papeis, porque reconheço publicaremos depois.
que as viuvas e outras pessoas que ficaram em posição difficil O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Sr. presidente,
pela morte daquelles que lhe serviam de amparo, devem ser constrangido ainda a entrar nesta discussão que tem corrido
consideradas pelo governo como teem sido sempre. fóra da ordem, porque, segundo o regimento, na 3ª discussão
Sobre as colonias militares e especialmente sobre das forças de terra não cabiam os desenvolvimentos que o
Fernando de Noronha, o nobre senador conhece pela nobre senador acaba de dar, tratando de objectos varios até
exposição dos relatorios que essas colonias entre nós não absolutamente destacados da proposta, como por exemplo
teem tido maior desenvolvimento, e é mister mesmo reformar das reclamações argentinas, sobre o que S. Ex. discorreu
este serviço que está mal organisado e entre as autorisações longamente negando ao governo o direito de decidil-as
está uma neste sentido que é das mais importantes, porque administrativamente por meio de arbitramento: tambem devo
nós, Sr. presidente, com uma fronteira tão longa pelo lado do acompanhar o nobre senador até porque nominalmente fui
Norte, assim como pelo lado de Matto-Grosso e Paraguay, provocado a este debate, visto como S. Ex. entende que não
precisamos ter boas colonias militares; ahi está o nucleo da me é dado tomar parte nas discussões desta casa, quando
defeza futura do Imperio relativamente a estas regiões. por acaso tenha de combater proposições suas, sem que ao
O presidio de Fernando de Noronha não tem ainda mesmo tempo irrogue-lhe como que injuria, faça-lhe uma
tocado ao ponto de melhoramento a que certamente póde affronta, e motive o acerbo reparo de que acintosamente
attingir; entretanto alguma cousa já se tem feito. Hoje o provoco a sua pessoa.
numero de sentenciados existentes alli anda em cerca de O SR. ZACARIAS: – V. Ex. é que se queixa de mim.
1,400 e o senado vê que para guardar 1,400 sentenciados é O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – O nobre
preciso haver maximo cuidado. Algumas plantações se fazem senador entende, que alcunhando-me leader do governo ou
para prover de subsistencia aos habitantes da ilha, porém da maioria, com isto me expõe a ridiculo..., ou talvez pretenda
estas plantações não tem sido sufficientes; tem sido mister que eu em troca de uma tal fineza o designe leader ou o
mandar do Recife alguns generos. Tenho muito em vista defensor ou discutidor universal de tudo quanto lhe apraz
aquelle presidio e, desde que estive em Pernambuco, tenho trazer para as discussões do senado no sentido de fazer
procurado ver se se póde melhorar-lhe o serviço, porque ha opposição á actual situação politica. S. Ex. dispõe de muito
um máo fado relativamente á sua administração; e é que recursos e, é força confessar, abusa delles; S. Ex. tem-se
sempre os commandantes são accusados e quasi sempre constituido aqui um verdadeiro autor do tratado. De todas las
mettidos em conselho de guerra. cosas e algunas cositas más...
E’ necessario conhecer a fundo as causas desse mal, O SR. ZACARIAS: – Temos hespanholada.
e como o negocio ou o commercio tem sido uma dessas O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...e entende
causas, eu, para obvial-a, determinei expressamente que da que só elle tem o direito de fazer longos e continuos discursos,
ilha fossem retirados todos os individuos que, tendo de tratar a seu modo todas as questões, e senão qualquer
contemplado seu tempo de penalidade, conservam-se alli outro membro desta casa, a minha pessoa não póde sem
como negociantes ou vivandeiros. incorrer em reparo tomar parte nas discussões. Assim porque
Esses homens meio desmoralisados eram máos tomei nessa referida por S. Ex., oppondo-me ao muito que
negociantes, introduziam a sizania entre as autoridades da disse para comprovar a accusação de illegalidade que
ilha e induziam os presos a máos habitos. Não se póde formulou contra o governo por haver promovido o tenente-
reformar coronel graduado Cardoso a effectivo, deferindo
10 Sessão em 7 de Maio

sua reclamação, julga S. Ex. que o provoquei, e lhe dou direito e foi este o que determinou a promoção do major Marques de
a dizer tudo o que lhe parecer a meu respeito! Sá.
Voltando hoje á mesma questão da preterição e Vejamos, Sr. presidente, que procedencia póde ter
despacho do Sr. tenente-coronel Cardoso, veio S. Ex. ainda semelhante argumentação. Se é certo o que expôz o nobre
reproduzir perante o senado aquillo mesmo que com tamanho senador que em dias de Dezembro do mesmo anno de 1868
desenvolvimento já dissera, concluindo em contradicção da praticara o major Marques de Sá feitos de bravura na guerra,
terminante disposição de lei das promoções, e procurando não é menos certo que isto não era constante na capital do
confundir esta especie com a muito diversa do official de Imperio nos conselhos do governo, e que decorreu, findou-se
artilheria Cantuaria, sobre que versou a resolução do conselho o anno sem que se fizesse o preenchimento da vaga com o
de Estado que tambem S. Ex. trouxe por autoridade. despacho do tenente-coronel Cardoso, o mais antigo.
Senhores, a lei de promoções é precisa e terminante; qualquer Ao governo só constou que Marques de Sá se tivera
vaga que se der deve ser preenchida dentro de um anno. Na illustrado com feitos de bravura, grangeando direitos a ser
classe dos officiaes superiores a regra é uma vaga por attendido pelo governo para uma promoção em dias de
merecimento, outra por antiguidade. Na classe dos tenentes- Fevereiro, visto que o seu despacho é de 20 de Fevereiro, e
coroneis havendo uma vaga com a reforma do tenente-coronel taes despachos não eram demorados; logo que chegava a
Isaltino, foi ella preenchida com o despacho do major Resin a noticia da benemerencia de um bravo da guerra, e a proposta
tenente-coronel por merecimento, e era a vez de ser a vaga competente do general em chefe, immediatamente era
seguinte preenchida por antiguidade. Era o mais antigo o confirmada a proposta. Ora, a data de 20 de Fevereiro do
tenente-coronel graduado Cardoso, chefe de classe dos despacho do major Marques de Sá demonstra que só em dias
majores; succedeu a nova vaga em 18 de Janeiro de 1868 de Fevereiro ou além de 18 de Janeiro chegara ao governo a
com o accesso que tivera o coronel o Sr. João de Souza a noticia dos feitos de bravura desse official.
brigadeiro; a esta vaga tinha direito perfeito, determinado pela Consequentemente estava passado o praso preciso de
lei das promoções o Sr. tenente-coronel graduado Cardoso; um anno em que necessariamente devia se effectuar o
mas era condição da mesma lei que o governo podesse despacho do tenente-coronel Cardoso; que a vaga de 18 de
preenchel-a dentro de um anno: é praso fatal estabelecido Janeiro com a condição de ser preenchida dentro do anno era
para dentro delle o governo preencher a vaga; e portanto o pertencente a esse tenente-coronel, a ella tinha perfeito direito
direito perfeito do tenente-coronel graduado Cardoso ao não mais sujeito a qualquer excepção prejudicial. E ainda
despacho pela vaga que em 18 de Janeiro se abrira era de ser mais, como o nobre senador mesmo reconheceu no correr do
elle collocado na classe dos tenentes-coroneis e sob condição seu discurso, de facto e moralmente não assistia ao digno
de que seu despacho se faria até um anno preciso. Nessas tenente-coronel Cardoso simples e puramente o direito de
circumstancias estava o Sr. tenente-coronel Cardoso e tal méra antiguidade, tinha elle tambem serviços de distincção,
devia ser a execução fiel da lei pelo governo, promover o alta benemerencia mesmo em relação á guerra na posição
tenente-coronel graduado Cardoso a effectivo até o dia 18 de activa em que na Côrte era empregado, em que tanto serviu,
Janeiro de 1869 em que se completava o praso fatal da Iei. provendo os aprestos bellicos, as remessas de gente, emfim,
Ora, outro major muito mais moderno foi despachado a havendo-se com tanta actividade, como reconhecido
20 de Fevereiro de 1869, por consequencia além do anno e de merecimento, pelo que muito se recommendara ao governo,
um mez, praso excedido em que necessariamente a vaga como deu assignalado testemunho o ajudante general, e
deveria ser preenchida com o Sr. Cardoso; logo, verificara-se sendo aliás official que por propria distincção era para ser
a preterição deste com infracção da lei, com quebra de seu qualificado sempre entre os benemeritos.
direito perfeito. E, Sr. presidente, cabe em razão accusação tão
O nobre senador, no proposito de provar (o que é aspera ao governo pela reparação de um direito perfeito, por
impossivel) que ainda fóra deste praso prescripto na lei, o haver tomado em consideração a justa reclamação do
governo podia com regularidade despachar por feitos de preterido que sendo o mais antigo, visto que ha quasi tres
bravura o major Marques de Sá, apega-se ao que? A que na annos era chefe da classe e tenente-coronel graduado, era
reclamação do tenente-coronel Cardoso, elle invoca a data de chegada a sua vez de promoção, em que ainda o official mais
18 de Janeiro como aquella em que se dera a vaga, que ipso modesto, sem merecimento, somente em virtude da
facto a elle pertencia o despacho; que não tendo argumentado antiguidade seria elevado, e quando reunia elle este titulo de
com o praso decorrido de um anno, porém sómente com a infallivel despacho ao merito que não se lhe nega?! Era por
abertura da vaga em principio daquelle anno; não tendo certo, Sr. presidente, uma razão para muito preponderar, para
tambem o conselho supremo militar na sua consulta se impôr certo comedimento nas censuras que tão asperamente
referido ao praso de um anno, mas á data daquella vaga, não são feitas ao governo, reparador de uma injustiça clamorosa,
á devida consideração ao praso largo de que dispunha o dando desaggravo a um direito perfeito, conculcado.
governo, declinavam da disposição da lei. Por quanto se de Que paridade tem o caso do tenente-coronel Cardoso
um lado a lei fixa a ordem do accesso alternadamente, com a especie referida do official Cantuaria, reclamando pela
segundo o principio de benemerencia ou antiguidade, de outro preterição que soffreu, visto que outrem por feito de bravura
estatue um praso largo para o effectivo preenchimento; e no combate de Paysandú fôra promovido e não elle o mais
quanto á mesma regra da antiguidade, está ella sujeita á antigo? Ahi subsistia o principio, que não nego, que o merito e
prejudicial excepção se por ventura outro principio concorre a benemerencia por actos de bravura em guerra é principio
que lhe sobrepuja, o dos feitos de bravura em tempo de que predomina sobre a antiguidade, e
guerra;
Sessão em 7 de Maio 11

que, com preterição mesmo da regra ordinaria da que é um meio procurado para se declinar a questão do fôro
antiguidade, deve prevalecer. O despacho do capitão Cunha contencioso, e por amigavel concordancia por-se termo
Mattos foi feito quatro ou cinco mezes depois da abertura da segundo o juizo dos louvados de uma e outra parte. S. Ex.,
vaga; não tinha decorrido o anno em que o governo entende que não é dado ao governo assim transigir com as
necessariamente devia preencher essa vaga; partes, cedendo-lhes direitos da fazenda nacional, que o
conseguintemente, o governo procedeu regularmente; nosso direito não consente que o administrador possa
indeferiu a reclamação contra Cunha Mattos; este foi transigir por parte da fazenda:
despachado em regra por actos de bravura. V. Ex., Sr. Sr. presidente, a argumentação do nobre senador é
presidente, bem o reconheceu na consulta que subscreveu. absoluta, abstracta e erronea na sua mesma generalidade:
Quanto ao caso do tenente-coronel Cardoso, o anno preciso descurou S. Ex. de considerar a propria especie, e nem era
dentro do qual necessariamente devia ser preenchida a vaga possivel alcançal-a senão á face de todos os documentos
tinha decorrido e mais um mez; portanto a injustiça estava para que tivesse o assento positivo da questão, sabendo ao
consummada, o direito perfeito do Sr. Cardoso preterido. certo como e em que se funda esse arbitramento, mediante o
O nobre senador não cessa de citar o decreto de qual o governo espera decidir a questão das reclamações
1863, como vindo muito ao caso; e não lhe descubro razão. argentinas. O principio absoluto de «que não cabe nunca o
Não é possivel suppôr que seja sua intenção ou proposito arbitramento em negocios que entendam com a fazenda
tirar deste decreto argumento para dilatar o praso da nacional, com os interesses do thesouro», é, Sr. presidente,
promoção além do anno; por quanto o decreto determina inexacto, inadmissivel, não tem por si o fundamento que
positivamente que as vagas sejam preenchidas a proporção approuve ao nobre senador assignar, suppondo-o sempre
que se forem dando, e só tem intelligencia subordinada á uma transigencia voluntaria das partes o arbitramento.
disposição da lei quanto ao praso de um anno, por virtude da Quando se trata de questão de valores illiquidos e sem
legal disposição, que prevalece e não podia ser derogada medida certa, é o arbitramento o meio mais, apropriado de se
pelo decreto; não pelo texto, porque o texto do decreto em chegar a um resultado capaz de ser aceito e digno de ser
sentido literal seria para que immediatamente ou com aquella firmado pela decisão, ou do individuo, se se trata do interesse
pausa que era de mister, nunca porém de longo espaço, privado, ou mesmo da administração, quando se trata do
fossem preenchidas as vagas á proporção que se fossem interesse publico. Nas questões de desapropriação é pelo
dando. Mas tirar desse decreto argumento, concluindo contra arbitramento que se fixa o valor; não tem por base o
a disposição da lei que prefixa o praso de um anno, e arbitramento a simples transigencia voluntaria, fonte de
sustentar que além deste praso o governo póde em regra concessões graciosas, ou de uma ou de outra parte; é de
demorar o despacho, não fazer o preenchimento da vaga, e certo meio regular para se estabelecer o verdadeiro valor e
tem a faculdade de tomar em consideração occurrencias chegar-se a uma decisão discreta.
além do anno, com alteração da ordem determinada para a Quando em questões, como esta das reclamações, o
promoção, é o que nobre senador jamais o poderá affirmar governo tem de usar de sua faculdade discricionaria, porém
sem contrariar a disposição literal e substancial da lei e do sujeita a todas as condições da responsabilidade, respeito do
mesmo decreto, cuja especial disposição é para ser direito, e observancia do contrato feito, e assim tem de tomar
observada com mais presteza pratica no preenchimento das a decisão que lhe cabe como administrador, para dar
vagas por antiguidade visto como nunca pòde haver duvida cumprimento ao contrato, mediante o qual certos serviços
que demande tempo para esclarecimento de quaes sejam os foram prestados que teem de ser remunerados pela fazenda
mais antigos nas differentes classes. publica, ou o negocio está liquidado de sua natureza com
Sr. presidente, por demais está esclarecido o acto do todos os documentos e a verdade authentica se manifesta,
governo que deu a devida satisfação da injustiça que soffreu não resta senão ordenar o pagamento; ou então se o caso
o digno tenente-coronel Cardoso; a este respeito não depende de uma liquidação, se ha mister fazer ponderações
accrescentarei mais palavra, contento-me com a illação para as quaes convém a intervenção do juizo de homens
logica que deduzo das proprias premissas apresentadas pelo intelligentes, autorisados, capazes de bem apreciar e
nobre senador perante o senado. accordemente fixarem a verdadeira importancia, que de outro
E visto que tenho a palavra, Sr. presidente, direi modo não é facil e até impossivel tirar-se a limpo, não ha
alguma cousa em relação a outro ponto do discurso com que principio algum de direito, Sr. presidente, não ha disposição
o nobre senador occupou tanto a attenção do senado, e em de lei que véde que o administrador, que tem a faculdade de
que pareceu que se empenhava com todo zelo em vingar os decidir esta questão, procure por homens competentes, os
principios de direitos desconhecidos, no seu dizer, pelo mais capazes de formar um juizo adoptavel, que estudem
governo quanto ás reclamações argentinas! essa questão especial, e a resolvam.
S. Ex. estranha e censura ao governo: porque quanto E quando se chega a isto, já previamente o governo
a esta questão das reclamações constou a S. Ex. por tem reconhecido a procedencia das reclamações, o bom
declaração do proprio ministro que o governo tratava de direito dos reclamantes que deve ser attendido.
decidir este negocio por um arbitramento; e que para isto já A doutrina que estabelecesse que o governo não
haviam designados por parte da administração arbitros muito póde applicar em taes circumstancias o meio adequado para
dignos, como o nobre senador reconhece, o Sr. duque de elle mesmo resolver administrativamente, ordenando o
Caxias e o nosso collega o Sr. Fernandes da Cunha. A pagamento devido, para o qual ha credito, por serviços que
censura do nobre senador assento: que não é dado em caso foram necessarios ao Estado, contratados e prestados; que
algum ao governo resolver questões dessa ordem por via de em todo caso cumpre ao governo declinar da facil, prompta e
arbitramento, porque a decisão por arbitros baseia-se no natural satisfação da contrahida obrigação e remetter as
principio da transigencia de partes habeis para transigir; partes ao juizo contencioso, impondo-lhes a demanda em
juizo, bem se vê, Sr. presidente, é uma doutrina inadmissivel,
12 Sessão em 7 de Maio

é contraria ao direito, é offensiva á dignidade do governo e S. Ex. põe acima da justiça; não póde subsistir conveniencia
até altamente ante economica, porque importa quebra do alguma quando se trata de satisfazer um dever de justiça,
credito do Estado, menospreço da fé dos contratos, principalmente com uma classe tão digna de protecção como
esquivança de solver as obrigações do thesouro por serviços seja a dos pobres soldados do exercito brasileiro (Apoiados).
que foram prestados ao Estado em virtude de contrato O nobre ministro me permittirá, pois, que não
solemme, em que era assegurada retribuição pecuniaria, e concordo com sua opinião quando colloca acima a justiça a
deve ser de prompto e pontualmente satisfeita. conveniencia de momento. Ainda mesmo com relação ao
Não é de certo porque se offereça alguma duvida principio de conveniencia, V. Ex. sabe, Sr. presidente, que
especial ou difficuldade de se determinar o quantum que hoje rege o mundo o principio chamado do interesse bem
effectivamente se deve pagar e a necessidade de uma entendido, e, se o nobre ministro quizesse attender a este
liquidação, que o governo é inhibido de empregar o meio principio, que aliás nem sempre é o de justiça, seria levado
adequado do arbitramento e obrigado a remetter ao juizo mesmo por elle a conceder baixas a esses infelizes que teem
contencioso, em o qual tambem depois da acção completado, seu tempo, porque assim o governo adquiriria
competente, quando se chegasse á execução havia de se mais credito, mais força moral e faria com que facilmente se
liquidar naturalmente, tambem por arbitramento, desde que a engrossassem as fileiras do exercito, uma vez que da sua
especie da reclamação requeira esse meio como o parte fosse liquida a lealdade no cumprimento de suas
adequado, o mais capaz para tirar a limpo o quantum. promessas.
Trouxe o nobre senador a disposição da lei de 1845; Além disto, o numero de soldados que teem
mas o que diz essa disposição? Que as reclamações sejam completado seu tempo, e a quem o governo não tem querido
entregues ás contadorias de guerra ou ás thesourarias ou não tem podido conceder baixas, não é tão grande que
provinciaes ou ao thesouro que depois de vistas e fosse desfalcar o exercito. Li no relatorio de Maio de 1872
preparadas, o governo resolva administrativamente. Portanto, que se havia concedido em 1871 740 baixas e as entradas
toda questão está nessa resolução administrativa, na força de voluntarios e engajados subiram a 1,143 e de recrutas e e
da faculdade que tem o governo para decidir substitutos 1,078, sommando 2,221, numero mais que duplo
administrativamente. O que sustento, Sr. presidente, com a das baixas concedidas. O relatorio actual accusa o numero
consciencia que tenho, segundo as noções do direito e de 986 soldados que completaram o tempo de serviço; se o
conhecimento da legislação do paiz, é que não ha principio governo, pois, fazenda justiça a essas praças, as excusasse
algum, nem disposição de lei positiva que arrede do governo do serviço, ainda assim não chegariam as baixas nos dous
o emprego do meio de arbitramento para liquidação do annos ultimos ao numero de praças que entraram quer como
quantum em questões, que de sua natureza devem ser voluntarios, quer engajados, quer recrutas nesse periodo.
avaliadas e decidas ex equo et bona. O governo seria Vi, Sr. presidente, que para o exercicio de 1871 –
temerario nos dous excessos, em que por ventura cahisse: 1872 foram marcados e distribuidos pelas provincias 4,500
ou se repellisse a reclamação in limine, só porque havia certo recrutas; não achei, porém, no relatorio do honrado ministro
embaraço na liquidação e assim peremptoriamente informação sobre a execução desse dever por parte das
desprezasse o direito da parte reclamante; ou se facilmente provincias, não sei quaes aquellas que satisfizeram a quota
aceitasse pelo que fosse reclamado, deixando de que lhes foi consignada, quaes as que deixaram de o fazer.
acuradamente attender aos interesses da fazenda. Ora, Achava conveniente que no relatorio da guerra se
sendo, como é, o arbitramento o meio adequado e que está mencionassem as quotas com que cada provincia satisfaz
ao alcance do governo, na sua faculdade de decidir aquelle contingente que lhe é destinado annualmente para o
administrativamente, convindo este meio pode e deve serviço da guerra. E’ a melhor maneira de sabermos quaes
empregal-o. as que cumprem com o seu dever, quaes as que deixam de
Tenho dito. fazel-o. Creio que algumas provincias ha que satisfazem mal
O SR. POMPEU: – Sr. presidente, depois das a esse dever, do que resulta um deficit de praças no numero
observações feitas pelo meu honrado collega, senador pela que o governo pede annualmente, o qual vae augmentar no
Bahia, esperava que o nobre ministro tomasse a palavra para seguinte anno a distribuição que novamente se faz para
responder-lhe, se bem que o nobre senador pelo Rio de todas as provincias.
Janeiro tomasse em consideração duas dellas deixando, Vem, pois, algumas dellas, as que são mais
porém, outras em que não tocou. promptas, a pagar mais esse tributo de sangue do que outras
Voltando a este debate em 3ª discussão, peço ao que são recaleitrantes.
honrado ministro não queira ver na insistencia de algumas Tambem me parecia, Sr. presidente, que nesta
considerações nem proposito de protelar a discussão, nem proposta o governo devia marcar o numero de praças que
tão pouco desejo de apoquentar o seu espirito. S. Ex. sabe o pede annualmente para completar o exercito. A proposta diz
meu respeito e estima para com a sua pessoa. Extranho a apenas «As forças de terra para o anno de 1873 – 1874
esta materia e tendo todavia de sobre ella proferir meu voto, constarão de 16,000 praças de pret em circumstancias
procuro esclarecer meu espirito para votar ordinarias, sendo completadas por alistamento voluntario ou
conscienciosamente. Eis o motivo porque insisto em certas recrutamento.» Entendo que se devia pedir o numero de
observações. praças que falta para completar os 16,000 homens no
Não tornarei á questão das baixas recusadas pelo exercito actual, o que era facil verificando o que falta, as
governo aos soldados, quer voluntarios, quer recrutas que baixas a conceder no anno e o que provavelmente póde faltar
teem completado seu tempo de serviço, não pelos motivos por algum accidente. Então o ministro diria que precisa de 4
allegados pelo nobre ministro, porque peço licença a S. Ex. ou 5,000 homens para completar o exercito.
para não concordar como o principio de conveniencia que
Sessão em 7 de Maio 13

Se o governo póde apresentar annualmente o recrutando um commandante militar a um pobre homem que
orçamento de receita e despeza, isto é, pedir o dinheiro dos recorreu ao habeas-corpus, e concedendo o juiz de direito
contribuintes que julga necessario para as despezas publicas essa providencia, o resultado foi um insulto formal ao proprio
e fixar esta quantia com probabilidade, com maioria de razão juiz, cuja casa foi cercada pela força publica, que ameaçou de
poderia fixar o quantum do imposto de sangue que pede arrombar as portas e de desfeiteal-o, se é que por esse facto
annualmente para o serviço militar. O limite quanto ao numero não ficara desacatado. Agora pelo paquete de hontem acabo
deste imposto e a sua maior importancia pela qualidade de receber noticia de facto quasi igual a esse, occorrido na
deviam obrigar o governo a maior circumspecção. cidade do Crato, e então verificou-se a noticia, que eu já tinha,
E a proposito de distribuição de recrutas pelas de que os commandantes militares haviam recebido uma
provincias, eu notei no relatorio, creio que do honrado ministro circular de presidente da provincia cobrindo um aviso
ou do seu digno antecessor, o mappa da força publica que reservado pelo qual o ministro da guerra, ordenara que
marchou para a guerra do Paraguay. E’ um documento muito apenas recrutassem um individuo o fizessem incontinenti
importante para nossa historia; acho que se fez um serviço, ao assentar praça, afim de obstar que elle recorresse á medida
menos ás lettras patrias, publicando esse documento. Não sei do habeas-corpus. Faço justiça ao honrado ministro suppondo
se elle é rigosamente exacto; somma em 91,288 praças, fóra que não foi S. Ex. quem expediu esse aviso, mas o aviso é
talvez o exercito de linha que supponho não estar alli incluido; exacto, porque foi mencionado em um processo de habeas-
se estivesse, elevar-se-hia a mais de 100,000 homens a força corpus.
que o Brasil mandou para a guerra do Paraguay. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Eu não
Desse mappa, Sr. presidente, eu vi que a provincia do escrevi esse aviso.
Ceará concorreu com 5,648 soldados, entretanto que a O SR. POMPEU: – E’ do antecessor de V. Ex. Vou lêr
provincia de Minas, que passa por ter o triplo da população do uma sentença de habeas-corpus proferida pelo juiz de direito
Ceará, deu apenas 4,070; eu presumo que quanto á do Crato, em que se menciona esse aviso do ministerio da
distribuição dos contingentes que se pedem todos os annos guerra, assim como a circular do presidente. Da mesma
para supprimento do exercito, a provincia de Minas faz a maneira que no lpú, um recruta interpôz o recurso de habeas-
mesma cousa, isto é, concorre com uma quota corpus, o juiz lh’o concedeu e o commandante militar quiz
comparativamente muito inferior á sua população. oppôr-se; mas como notou que o povo estava disposto a fazer
Distribue-se para o Ceará 400 ou 500 recrutas e para respeitar a ordem judicial, não se atreveu a levar por diante
Minas o dobro ou triplo; mas se Minas satisfaz apenas esse sua desobediencia e desrespeito ao juiz de direito. Vou lér a
imposto na proporção que acabo de mencionar relativamente sentença somente para provar o facto que alleguei da
á guerra do Paraguay, as demais provincias carregam com o existencia do reservado e da circular (lê):
sacrificio do imposto que lhes toca e mais com o daquella que «CÓPIA. – Vistos estes autos, etc. – Dou provimento
não satisfez o seu. ao recurso para o fim de ordenar seja posto em liberdade o
Como o nobre ministro apresentou no seu relatorio o paciente José Lopes da Silva, não obstante achar-se elle
mappa da força que marchou para a guerra, eu lembrarei preso, sob o pretexto de ser praça do exercito, como está
tambem a S. Ex. a conveniencia de addicionar outro mappa da declarado na ordem a fls. 10 e no officio a fls. 7, por quanto
força que voltou, porque só por esta maneira poderiamos estando estabelecido no art. 22 do regulamento que baixou
conhecer o sacrificio que fizemos de pessoal naquella guerra. com o decreto n. 2171 do 1º de Maio de 1858, que aos
Sr. presidente, depois das palavras com que o honrado recrutados deve ser fixado o praso de oito a 15 dias, para
ministro condemnou o recrutamento em nosso paiz, esperava apresentarem as isenções legaes que os possam isentar do
que S. Ex. não solicitasse mais esta medida para preencher serviço do exercito, isto antes dos recrutadores os remetterem
os corpos do exercito, porque não se póde dizer em poucas a seu destino, esta disposição foi burlada com o facto do
palavras, com mais precisão e eloquencia, do que disse o supposto, irregular e illegal assentamento de praça no
honrado ministro para condemnar esse barbaro recurso; de paciente, a quem foi extorquido o juramento que prestam os
sorte que o pedido da proposta para recrutar combinado com alistados, para o que se diz autorisado o recrutador da
o que se disse no relatorio é uma desmoralisação para esta freguezia desta cidade, capitão Carolino Bolivar de Araripe
lei; o ministro condemnou antecipadamente a medida como Sucupira, em virtude do officio reservado da presidencia, que
barbara, como indigna de figurar em nossas leis e todavia cobriu a cópia de um aviso do ministerio da guerra, cuja
pede que seja votada! Porém, Sr. presidente, se é forçoso materia consta das cópias que faço juntar. Se um simples
ainda recorrer ao recrutamento, se, como allega o honrado officio da presidencia, com a clausula reservado e um aviso do
ministro, não temos ainda outro meio que o substitua, o que ministro da guerra, com clausula semelhante, podessem
eu não admitti senão para argumentar, rogo ao nobre ministro invalidar quanto está disposto no decreto citado, igual defeito
que faça com que essa medida tão iniqua, tão legitimamente não produziriam tratando-se de um acto legislativo, cuja acção
condemnada por S. Ex., não se torne mais gravosa e horrivel não póde ser entorpecida por tal modo. E’ o caso que pelo art.
em sua execução, confiada a agentes ignorantes ou 18 da lei n. 2037 de 20 de Setembro de 1871 foi creado o
perversos, que nas localidades não respeitam garantia recurso de habeas-corpus a favor dos detidos a titulo de
alguma. recrutamento; sendo assim ampliada a interposição de recurso
Por mais de uma vez já tenho chamado a attenção do tão efficaz, como um meio
honrado ministro para o modo porque em minha provincia se
procede hoje ao recrutamento. Outro dia trouxe ao senado um
facto muito grave occorrido na comarca do Ipú, onde
14 Sessão em 7 de Maio

prompto de entorpecer a pratica de actos violentos e ao pagamento das custas em tres dobro. Recorro deste meu
arbitrarios contra a liberdade do cidadão, principalmente nas despacho para superior tribunal da relação, devendo o
paragens longinquas onde a acção do governo é quasi nulla, escrivão deixar traslado no cartorio e fazer remessa do
quando os seus agentes se julgam a coberto da original, juntando antes as cópias das publicas fórmas das
responsabilidade leg I. Não podendo a presidencia da peças officiaes acima apontadas. O escrivão tire cópia dos
provincia revogar os decretos do poder executivo e nem as documentos a fls. 11 e m'as apresente para remettel-as á
disposições legislativas; não podendo um aviso do ministerio presidencia da provincia afim de solicitar a responsabilidade
da guerra revogar actos taes e semelhantes; é illegal a do mencionado recrutador pelo abuso que commeteu
supposta praça do paciente (o que não liga a dever algum) prendendo ao paciente com isenção legal, morador em
recolhido, de mistura com pronunciados e criminosos, na districto da jurisdicção de outro e forçando-o a jurar. – Crato,
cadêa desta cidade, contra o disposto no art. 149 do 27 de Março de 1873. – Luiz de Albuquerque Martins Pereira.
regulamento n. 120 de 21 de Janeiro de 1842, quando nesta – Está conforme. – O escrivão interino do jury, José Freire de
mesma cidade ha uma casa que serve de quartel. A acção do Castro Jucá.»
poder judiciario, que é tão independente como a do poder O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Leia o
executivo, ficaria entorpecida por este desde que seus actos aviso.
podessem ter força de obrigar áquelle, restringindo-lhe a O SR. POMPEU: – Não o tenho aqui, a sentença,
esphera das attribuições definidas em lei, com a expedição de como viu faz referencia a elle nos autos.
um simples aviso, com a clausula – reservado – e sem O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – A
sciencia de Sua Magestade o Imperador, chefe do mesmo sentença refere-se a uma ordem reservada da presidencia
poder. Se um aviso valesse tanto, por certo que a acção dos cobrindo um aviso do ministerio da guerra. Afianço que não
outros poderes seria nulla, e toda a acção publica emanaria do expedi tal aviso.
poder executivo alguns membros do qual dão instrucções em O SR. POMPEU: – Peço a V. Ex. que indague se elle
sentido contrario como de modo precisamente frisante está existe na sua secretaria, porque de facto não consta das
declarado no aviso do ministerio da justiça datado de 22 de colleções, e nem foi publicado.
Janeiro do corrente anno, dirigido á presidencia da provincia O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Segundo
de Pernambuco, sendo certo que, só por isto, deveria ser a leitura que V. Ex. acaba de proceder, a ordem da
considerado sem mais força de obrigar o aviso reservado do presidencia é que é reservada, o aviso não.
ministerio da guerra, acima referido e expedido especialmente O SR. POMPEU: – O aviso tambem é reservado; eu já
para «fazer cessar os tropeços creados por este juizo ao o sabia por facto semelhante occorrido em Ipú.
serviço do recrutamento com repetidas ordens, digo, com O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – E a
repetidos habeas-corpus» quando é certo que todos os doutrina do aviso?
recursos providos neste juizo, por tal motivo, foram julgados O SR. POMPEU: – E' que os recrutados fossem
bem decididos. A praça forçada e supposta do paciente é um obrigados a assentar praça immediatamente, afim de que não
simulacro grosseiro e contra os regulamentos militares; pois tivessem tempo de recorrer ao habeas-corpus.
que assentar praça se diz o alistamento de qualquer homem O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Mas isso
nos livros da matricula do exercito ou armada, acto que é em termos habeis.
precede a cerimonia religiosa do juramento, sendo certo O SR. POMPEU: – Em termos habeis está a lei que
entretanto que o titulo que liga o recruta á observancia dos não precisa de avisos interpretativos para restringir a garantia
artigos de guerra é a praça no livro competente, de modo que concedida.
se um dos individuos que for preso pelo recrutador da O SR. CANSANSÃO DE SINIMBU’: – Eis ahi o
freguezia desta cidade, embora ameaças e violencias, não recurso de que tanta ostentação se fez aqui.
quizer prestar juramento, não comette crime algum, como tudo O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – E' se o
se deduz da provisão do conselho supremo militar e de justiça, individuo não allegar isenção e pedir praso; não se concede o
datada de 5 de Outubro de 1852. Verificado que o paciente praso ex-officio.
não está ainda alistado como praça do exercito, pelo que O SR. POMPEU: – Isso é um sophisma, perdôe que
acima fica deduzido; verificado que tem elle isenção legal do lhe diga. Se a lei concede ao recruta o praso de oito ou 15
recrutamento, por ser mestre de officio com loja aberta, na dias para allegar o que tiver para sua isenção, como é que se
villa de Barbalha, onde reside, documentos a folhas tres e quer forçar o infeliz a pedir expressamente o praso que a lei já
folhas quarto; tendo sido preso no dia de feira nesta cidade, lhe concede, sob pena de não se dar? Como e que o facto de
onde veio dispor de productos de seu trabalho, sendo por isso não requerer elle o praso immediatamente póde justificar o
incompetente o recrutador para o prender, em face do recrutador a fazel-o incontinente jurar bandeira? O praso é
disposto no artigo 11 do regulamento mandado executar pelo concedido para que o recruta por si e, se fôr menor, por seus
decreto n. 2,171, já citado; verificado que é o paciente incapaz parentes ou tutôr allegue a isenção legal que tiver.
do serviço do exercito por soffrer de gastrite chronica, E é notavel, Sr. presidente, que ao passo que pelo
documento a fls. 11: julgo-o soffrendo violencia em sua ministerio da guerra se expedia um aviso reservado para
liberdade e mando ao escrivão que, incontinente, passe alvará contrariar a lei que passou o anno atrazado da reforma
de soltura a favor do dito paciente José Lopes da Silva, a judiciaria ampliando o recurso em materia de habeas-
quem considero com direito a uma justa indemnisação contra
o recrutador capitão Carolino Bolivar de Araripe Sucupira, que
fica condemnado
Sessão em 7 de Maio 15

corpus até aos recrutas para o exercito e para a marinha, o a doutrina do aviso reservado do ministerio da guerra, aviso
ministerio da justiça expedisse ao mesmo tempo avisos, que que, repito, sei que não é do honrado ministro. Chamo, porém,
peço licença para ler, em opposição manifesta com essa a attenção de S. Ex. para este ponto; se o recrutamento é
doutrina que realmente é absurda. Eis aqui o aviso do honrado infelizmente uma necessidade indeclinavel, ao menos que o
ministro da justiça dirigido ao presidente do Espirito Santo de governo não o faça mais detestavel pelo modo porque
conformidade com a lei (lê). procedem em algumas partes seus agentes.
Ao presidente da provincia do Espirito Santo foi dirigido Agora, Sr. presidente, deu-se em minha provincia mais
o aviso seguinte: um grave attentado, de que fallei a principio, praticado pela
Segunda secção. – Ministerio dos negocios da justiça. força publica ainda por causa do recrutamento; apenas
– Rio de Janeiro, em 6 de Fevereiro de 1873. chegou na cidade do Crato, que dista da capital cento e tantas
Illm. e Exm. Sr. – Com o officio n. 12 de 25 de leguas, a noticia da remoção do honrado juiz de direito
Novembro do anno proximo passado, V. Ex. remetteu copia do daquella comarca, o commandante militar mandou tocar
que lhe dirigira o chefe de policia desta provincia consultando: chamada, reuniu sua força, annunciou a retirada do juiz de
1º Se a faculdade conferida aos juizes de direito pelo direito, e seus soldados, espalhados pela cidade, espancaram
art. 10 da lei n. 2033 de 20 de Setembro de 1871 e relativa á um pobre velho.
concessão da ordem de habeas-corpus em favor dos detidos O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
a titulo de recrutamento, se estende a ponto de dar-se aos Conselho): – V. Ex. crê nisso?
recrutados esse recurso dentro do praso que lhes fôr marcado O SR. POMPEU: – V. Ex. não póde deixar de crer,
na conformidade do art. 22 do regulamento annexo ao decreto porque o governo da provincia ha de participar esse facto de
n. 2171 de 1º de Maio de 1858, para apresentarem escusas notoria publicidade.
legaes do serviço militar. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
2º Se a lei da nova reforma judiciaria revogou o citado Conselho): – Qual é a prova?
regulamento de 1858, passando para aquelles magistrados o O SR. POMPEU: – Não tenho provas aqui, mas tenho
conhecimento e decisão de taes escusas. as folhas que narraram o facto, e nem ha outra maneira de
Em resposta declaro a V. Ex. quanto á primeira duvida, provar factos senão referindo-os.
que a ordem de habeas-corpus, se o recrutado ainda não O SR. CANSANSÃO DE SINIMBU': – Mande V. Ex.
estiver com praça no exercito ou na armada, póde ser indagar se é verdade.
concedida em qualquer tempo, mesmo dentro do praso que O SR. POMPEU: – Mataram um pobre homem,
pelo recrutador lhe fôr marcado para provar sua isenção. degolaram-no e a outro feriram gravemente, além de outros
Quanto á segunda duvida, que a competencia dos muitos attentados e que narram as folhas.
juizes de direito para conceder habeas-corpus, no caso de que O SR. CANSANSÃO DE SINIMBU': – Assim é inutil
se trata, não exclue a das autoridades encarregadas do fazer queixas aqui.
recrutamento para conhecer das isenções que perante ellas O SR. POMPEU: – Mas, Sr. presidente, é com effeito o
allegarem os recrutados. recrutamento uma medida necessaria, indispensavel para
O que V. Ex. fará constar ao chefe de policia dessa preencher os claros das fileiras do exercito? Será certo que a
provincia. indole do povo brasileiro é refractaria ao serviço militar de
Deus guarde a V. Ex. – Manoel Antonio Duarte de modo que só por esse meio podemos fazer exercito? Creio
Azevedo. – Sr. presidente da provincia do Espirito-Santo. que não. Penso que o povo brasileiro não tem certo ardor
Ainda outro aviso do mesmo ministerio ao presidente militar que se nota nos povos de alguns paizes da Europa,
de Pernambuco (lê): porém a ultima guerra, que tivemos com o estrangeiro, revelou
Ao presidente da provincia de Pernambuco: que no povo brasileiro, além do patriotismo que se manifestou,
Illm. e Exm. Sr. – Com o officio de 19 de Novembro do não deixa de haver mesmo um sentimento inato ou propensão
anno proximo passado o antecessor de V. Ex. remetteu cópia para a milicia; ao menos não temos exemplo de mutilações e
do que lhe dirigira, o juiz especial do commercio da capital suicidios para escapar-se ao serviço como em alguns paizes
dessa provincia, informando que, depois de ter expedido uma aliás de indole bellicosa.
ordem de habeas-corpus a favor de Alexandre Ramos de A questão não é se o nosso povo tem ou não indole
Oliveira, que fôra preso como recruta e não estava ainda com para a milicia; é saber se o exercito está em condições taes
praça, reconheceu-se incompetente, visto achar-se o mesmo que possa convidar nossos jovens para as fileiras delle. Creio,
recruta na capitania do porto á disposição dessa presidencia. Sr. presidente, que em nosso exercito ha defeitos capitaes, e
Em resposta declaro a V. Ex. para o seu conhecimento diversas causas que actuam principalmente para a
e para o fazer constar áquelle magistrado, que tendo a lei n. repugnancia de nossa mocidade a procurar as fileiras.
2033 de 20 de Setembro de 1871, no art. 18, conferido Removam-se ellas, e talvez não falte mais vocação ás fileiras,
expressamente aos juizes de direito a attribuição de conceder nem necessidade de recrutamento forçado.
habeas-corpus no caso de que se trata, cumpria-lhe tornar O primeiro defeito é isso que se chama ou que tenho
effectiva a sua ordem, requisitando a apresentação do visto chamar-se em peças officiaes escoria do exercito. Com
paciente e todos os esclarecimentos que fossem necessarios. effeito, fosse porque já havia outras causas repugnantes á
Deus guarde a V. Ex. – Manoel Antonio Duarte de milicia, fosse a necessidade imperiosa de guerra, o certo é
Azevedo. – Sr. presidente da provincia de Pernambuco. que concorreu para as fileiras do exercito muita gente ruim
Ambos esses avisos estão em opposição manifesta que rebaixou-lhe consideravelmente o nivel moral. Esta, Sr.
com presidente, é a primeira causa de repugnancia que ha de parte
dos nossos jovens para a milicia.
16 Sessão em 7 de Maio

A segunda causa é a falta da boa fé, sinceridade e maior força do que o Brasil; mas suas circumstancias são
lealdade do governo em cumprir seus contratos, quer especiaes; não ha paiz que não esteja cercado de visinhos
relativamente aos engajados que completarem o tempo do poderosos, e lá a theoria é que se deve estar prompto na paz
serviço, quer relativamente ás praças obtidas por meio do para o caso de guerra; mas esta paz armada, que aliás é mais
recrutamento, mas que teem na lei um praso certo para despendiosa do que uma guerra, não tem entre nós razão de
servirem, que cumpria respeitar. ser.
A terceira causa é a falta de uma disciplina regular ou Nós temos pelo lado do Oriente um littoral de mais de
de penalidade compativel com a civilisação e estado politico 1,200 leguas, por onde não nos avisinhamos com nação
do paiz. alguma; temos o velho mundo do outro lado do Atlantico. Pelo
A quarta causa é a falta de estimulo pecuniario, porque lado do Norte quem temos? As colonias Goyanenses, as
o governo devia convidar por maior premio aquelles que Republicas de Venezuela, os Estados da Culumbia, Equador,
quizessem concorrer para as fileiras do exercito. Ha pouco, Sr. Bolivia, Perú, separados pelo deserto.
presidente, augmentou-se o soldo do exercito com dous Temos o Paraguay, com quem estamos mais em
terços; achei que essa medida era de justiça; mas não seria contacto; porém está de tal fórma enfraquecido que por muitos
conveniente estabelecer-se uma desigualdade em favor do annos não poderá ser um visinho que nos incuta receio.
voluntario, um soldo maior do que para o recrutado? Temos mais proxima a Confederação Argentina e o Uruguay;
Convinha, pois, senhores levantar o nivel moral do mas esses Estados, além de que supponho animados de bons
exercito, expurgando delle isso que se chama sua escoria. sentimentos para comnosco, na eventualidade de qualquer
Convinha que nos contratos dos particulares com o hostilidade ao Brasil, são tão pequenos em força que não
governo presidisse a melhor boa fé e lealdade; que no dia em podem justificar um exercito permanente por causa de receios
que o soldado brasileiro recrutado ou engajado completasse da parte delles. O systema de recompensas, que tambem
seu tempo de serviço, fosse immediatamente dispensado das devia entrar em linha de conta para a boa organisação do
fileiras; este exemplo de lealdade que se désse para com os nosso exercito, não é entre nós o melhor. A recompensa deve
engajados seria um motivo de mais para que outros ser dada a duas categorias de serviços: aos serviços
procurassem as fileiras, visto como não tinham que receiar da transcendentes e extraordinarios da guerra e aos serviços
parte do governo essa falta de cumprimento de deveres. ordinarios, ou, por outras palavras, ao merecimento e
Convinha além disso um codigo penal militar que antiguidade. Quanto ao merecimento, o acesso nos postos, e
substituisse esse barbaro regulamento do conde de Lippe, que sómente para o militar que se distinguisse na guerra, ficando o
só respira castigos horriveis, degredo, carrinho e morte. Essa mais para o serviço ordinario; ficassem as pensões, reformas,
lei monstruosa, que é uma vergonha para um povo civilisado, condecorações, titulos para premio de serviços ordinarios por
existe ainda no nosso exercito, e por isso mesmo que está antiguidade.
fóra inteiramente das condições da civilisação actual, dá logar A nossa legislação militar, portanto, pecca ainda por
a muito arbitrio. Quando se quer fazer obra com ella, ou este defeito; está de tal sorte regulado o principio do
commette-se uma iniquidade se é litteralmente applicada, ou merecimento, que deu occasião ao debate que ainda ha
arbitrio quando se quer favorecer modificando seu horrivel pouco sustentou-se entre o honrado senador pela Bahia, meu
rigor. Admira que ha tantos annos que nos regemos pelo amigo, o Sr. Zacarias, e o nobre ministro a respeito do
systema constitucional, e que temos um codigo penal fundado tenente-coronel, o Sr. Cardoso, que foi promovido por
nos principios modernos, ainda não houvesse um governo que merecimento. Se a lei declarasse definisse expressamente o
se lembrasse de fazer, ainda que fosse provisoriamente, um que era merecimento, e só ao merecimento se désse accesso,
regulamento militar para substituir essa lei de sangue. não poderia mais haver equivoco, nem dar logar a accesso
Convinha, finalmente, que o governo procurasse obter dos postos superiores a officiaes que só teem serviço
voluntarios por meio de bons premios. Era melhor ter poucos ordinario em tempo de paz.
soldados bons, ainda que fossem mais caros, do que muitos Quanto a pensões e reformas faço justiça ao governo;
obtidos por via do recrutamento e que geralmente são a elle não tem sido escasso, porque li no relatorio do nobre
escoria da sociedade, salvo alguma excepção. visconde do Rio Branco que com as pensões despende-se mil
Com relação ao numero da força que o governo pede e tantos contos de réis, sendo com as praças e officiaes
de 16,000 homens, não sei, Sr. presidente, se é indispensavel reformados 290:603$875, elevando-se o numero daquellas a
esse exercito. Para que 16,000 homens em tempo de paz? 4,089 e dos officiaes a 37.
Não seria bastante que tivessemos em estado completo o Por este lado creio que o governo não tem faltado ao
material e os quadros e para as armas scientificas de artilheria seu dever. Póde ser que tenha havido preterição de alguma
e engenharia o pessoal por engajamento voluntario? E que pretenção justa, que alguma outra menos justa tenha sido
houvesse uma reserva, como acontecia antigamente na attendida; mas creio que em geral tem havido abundancia de
Prussia, onde apenas um quarto do exercito estava em pensões.
serviço activo? Ainda hoje na Suissa apenas um decimo do A respeito de condecorações e honras creio tambem
exercito está em serviço activo e o resto é reserva. Não digo que o governo não póde ser accusado de mesquinho.
que tivessemos só 3,000 ou 4,000 homens, mas parece-me O SR. ZACARIAS: – Por excesso, sim.
que 10,000 homens de tropa regular era um nucleo sufficiente O SR. POMPEU: – Tratando-se da instrucção theorica
para o exercito, que podia ser elevado a 20,000 ou 30,000, e pratica, já tive occasião de dizer que o Almanack Militar
quando fosse necessario. publicado pela repartição da guerra era um triste documento
Eu sei que, na Europa, mesmo os estados pequenos para o nosso exercito ou para sua officialidade, porque delle
teem consta que ha 671 officiaes, dos quaes só 58
Sessão em 7 de Maio 17

teem o curso da arma de cavallaria e infanteria; por pratica; de sorte que hoje os corpos ambulantes estão ora em
consequencia talvez seja o nosso exercito o que apresente um uma provincia, ora em outra, não teem tempo de se dar a esse
quadro maior de officiaes destituidos de habilitações exercicio.
scientificas. O nobre ministro não nos disse, pedindo autorisação
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Não, para ampliar o quadro dos officiaes do estado-maior de 1ª
senhor. classe e restringir o de engenheiros, de quantos officiaes
O SR. POMPEU: – Ahi está o Almanack do governo. pretende compor o quadro do estado-maior de 1ª classe.
O SR. JAGUARIBE: – A causa foi a guerra, durante a Perguntando-lhe donde tirava os officiaes subalternos para
qual a escola esteve fechada. esta classe, disse S. Ex. que dos corpos arregimentados. Mas
O SR. POMPEU: – Os alferes são por causa da senhores, os corpos arregimentados creio que são cinco ou
guerra; mas os tenentes, capitães e majores, que estão aqui oito com oito companhias, cada uma com dous officiaes,
em algarismo superior? alferes e tenente; emfim, segundo uma nota que me deu
Em todo caso, Sr. presidente, este facto, que acho pessoa competente, um nobre ex-ministro da guerra, precisam
reproduzido pelo governo em seu Almanack, demonstra a de oitenta officiaes subalternos os corpos arregimentados de
necessidade de levantar o nivel intellectual de nossos engenharia e artilheria. Ora, se não existem esses officiaes,
officiaes, para o que é de mister que tenhamos escolas em isto é, officiaes habilitados com o curso da arma para os
que elles se habilitem. Ora, a escola da praia Vermelha, corpos arregimentados, donde o Sr. ministro vae tirar para o
comquanto muito bem dirigida, é todavia mesquinha em seu estado-maior os seus officiaes subalternos? Elles já são
alojamentos; é insufficiente para conter, já não digo metade, deficientes para os corpos arregimentados; se destes corpos
mas a decima parte dos officiaes ou dos moços que se houver de tirar-se para o estado-maior, com que officiaes fica
destinam á carreira militar. o governo para supprir a falta dos corpos arregimentados?
Parece que o governo vae crear uma escola no Rio Da proposta do nobre ministro não se collige que reduz
Grande do Sul. Eu não digo que se augmente o numero das o corpo do estado maior de artilheria: Tendo, porém, lido em
escolas, mas quizera que ao menos as que existem, isto é, a um dos appendices do relatorio um parecer do nobre duque
da praia Vermelha e essa que se vae crear no Rio Grande, de Caxias, aconselhando a reducção deste corpo V. Ex. me
tivessem proporção sufficiente de alojar numero bastante de dirá se pretende estender até elle sua reforma.
jovens que se dedicam á profissão das armas. Já disse outro dia, quando aqui fallei com relação a
Uma outra observação que já tinha feito e que o este objecto, que o estado maior de 2ª classe, sendo menos
honrado ministro esqueceu-se de responder, vou repetir: numeroso que o da 1ª classe, devia ficar em condições mais
porque razão os alumnos da escola militar não formam um favoraveis para as promoções, porque consta de 18 officiaes
corpo escolar e são, pelo contrario, tirados de diversos corpos, superiores e 12 capitães, ao todo 30; por consequencia as
de maneira que consideram-se como pertencentes aos corpos promoções neste corpo devem se dar com mais facilidade do
A, B, C, entretanto que pessoalmente existem aquartelados na que no corpo de estado-maior de 1ª classe, que já tem 50
escola militar? Não seria conveniente, como acontece em officiaes, e que o nobre ministro quer ampliar.
outros paizes, que os jovens militares que frequentam a Esta desigualdade é notada pelo Sr. conde d’Eu como
escola formem um corpo escolar proprio? Haveria muita injusta e impolitica; injusta, porque realmente vae se dar mais
conveniencia, não só talvez de maior proveito para a vantagens a uma classe que se presume prestar menos
instrucção delles, como do serviço militar e mesmo da boa serviços, que está menos habilitada do que outras; impolitica,
disciplina. porque vae estabelecer uma rivalidade entre duas classes,
Ainda repetirei o que já disse de outra vez, que seria sendo a inferior mais privilegiada que a superior. Eu creio que
conveniente que o governo creasse um viveiro de soldados de o governo ha de providenciar a este respeito em ordem que
infanteria e cavallaria, como tem no de aprendizes de evite esta contradicção.
artilheria, bem como no de aprendizes da marinha. Ora, o A proposta pede a illiminação de alguns officiaes do
exemplo que temos com aprendizes da marinha, que veio estado maior de 1ª classe que, não teem o curso da arma.
resolver um difficil problema a respeito de soldados Não sei quantos são esses officiaes; ouvi aqui no debate que
marinheiros, podia muito bem servir para applicar-se ao eram sete, mas, sejam oito ou nove, entendo, como o meu
exercito, nas armas de infanteria e cavallaria. nobre amigo e collega, o Sr. Zacarias, que é uma injustiça
O Sr. conde d'Eu aconselha com effeito a creação de hoje retirar esses honrados officiaes de uma classe para outra,
um asylo ou viveiro de alumnos menores no Rio Grande do de alguma maneira rebaixando-os. Pois se elles estiveram
Sul para a arma de cavallaria, em que elles não só se tantos annos nesta classe, prestando bons serviços e quem
adestrassem no serviço militar, como tambem no serviço de sabe se com habilitações iguaes ou superiores a outros que
cavallaria, de pensar de animaes, aprendessem a ler e dahi teem titulos scientificos, hoje retirados della por inscientes,
sahissem officiaes, inferiores excellentes. Este systema póde vae-se offender, sem utilidade ou vantagem de serviço, o
dar soldados mais caros, mais despendiosos do que o actual melindre desses officiaes, fazendo-lhes uma injustiça, porque
que temos de recrutamento, porém certamente nos dará os priva de um direito adquirido, e ao mesmo tempo um desar
soldados bons, moralisados. ao seu caracter. Naturalmente esses officiaes são velhos;
Quanto á instrucção pratica ou exercicios militares, pouco teem a viver; bastava que o tempo os illiminasse e
segundo li no relatorio do Sr. conde d'Eu, o systema actual de desta maneira se pouparia um desgosto acerbo a esses
aquartelamentos na Côrte e em outras provincias obsta a que homens certamente distinctos no ultimo quartel da vida.
se possa conseguir o exercicio pratico dos soldados; assim O nobre ministro, fallando, da organisação do corpo de
como a medida do decreto que acabou com os corpos fixos saude, disse que não podia aceitar ao todo o principio do
das provincias é incompativel com essa instrucção
18 Sessão em 7 de Maio

accesso por merecimento, porque officiaes de longa pratica e honras puramente ecclesiasticas, que o chefe, por exemplo,
de bons serviços teem tambem direito a ser premiados pelo fosse um prelado, que o sub-chefe tivesse honras de
accesso. Eu entendo, Sr. presidente, que o principio do monsenhor, de conego etc., sem precisarem de fachas, de
merecimento attendido só por accesso não prejudica o que espadas e outros distinctivos militares. Esses funccionarios
allegou o nobre ministro. O cirurgião, que pela sua longa ecclesiasticos do exercito podiam ser ou vitalicios ou
pratica tem adquirido credito pelos bons serviços, ainda engajados pelo tempo que quizessem servir.
quando não tenha feito um serviço brilhante, uma cura Portanto, lembro ao Sr. ministro que na reorganisação
estrondosa na guerra, não se tenha exposto ao fogo do que tem de fazer da repartição ou corpo ecclesiastico tenha
inimigo, todavia está no caso de merecer accesso; isso não muito em attenção dotar os capellães, e seu chefe, obtendo
exclue do principio do merecimento para accesso, como em concessão da Santa Sé, dê jurisdicção para que elles
rigor se devia exigir para os officiaes combatentes. O que possam desempenhar cabalmente o serviço divino a seu
quero dizer é que a antiguidade só por si não seja um cargo.
principio remunerador para o accesso dos cirurgiões; Existem hoje 40 capellães; o governo pede
igualmente com os serviços extraordinarios o merecimento autorisação para ampliar este numero, mas não diz até
que deve dar logar ao accesso no corpo de saude, deve ser quanto; entretanto, como disse outro dia, existem não só
esse merecimento provado ou por acto extraordinario de corpos, como fortalezas e colonias em numero de 145, que
campanha, ou mesmo por serviço distincto, continuado em precisam de capellães. Eu não digo que o governo nomeie
uma serie de annos, mesmo fóra de campanha. 145 capelIães; mas de certo 60 não são ainda sufficientes,
Faltam 54 officiaes no corpo de saude; disse o sob pena de que grande parte do nosso exercito e de
honrado ministro que os vencimentos desses officiaes não estabelecimentos militares ficarão sem sacerdotes para o
convidam aos medicos a incorporar-se nas fileiras. Não sei serviço divino.
se o augmento do soldo comprehendeu tambem os officiaes E a proposito de arsenaes e fornecimentos, pergunto
do corpo de saude; creio que depois deste augmento não ao nobre ministro se é exacto o que ouvi dizer de uma
haverá razão para que os medicos deixem de procurar as encommenda feita para a Europa de um armamento, que
fileiras, de procurar praça no corpo de saude. Todavia ainda veio inteiramente imprestavel. Não sei se isto é exacto, mas
insisto em pedir a opinião do nobre ministro a respeito de um tenho ouvido pessoas competentes dizerem que com effeito
outro principio, que é o que me parece mais conveniente, não fez-se a encommenda e veio armamento imprestavel.
conceder postos militares aos officiaes do corpo de saude, O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Donde?
como a officiaes combatentes, e sim tão sómente honras, O SR. ZACARIAS: – Da Europa; armas a Comblain e
pensões. Talvez que por esta maneira o exercito fosse mais que não podem funccionar sem concerto.
bem servido de medicos do que encorporando medicos com O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Como
direito de accesso a postos, como se fossem officiaes ouvi a palavra imprestavel... Está chegando agora, e o
combatentes; o governo podia engajal-os ou por tempo governo não pôde ainda examinar.
determinado, ou mesmo vitaliciamente, mas só lhes dando O SR. ZACARIAS: – Segundo se diz, as armas
vencimentos, gratificações, honras. carecem de uma rectificação.
Quanto á repartição ecclesiastica o nobre ministro O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Se ha
disse que tratava de reorganisal-a. Esta reorganisação é com de ver se a encommenda está conforme com as ordens que
effeito necessaria, mas não simplesmente com augmento do o Sr. Luz levou.
pessoal dos capellães; é preciso que esta repartição esteja O SR. POMPEU: – Como o nobre ministro não póde
nas condições de satisfazer bem ao serviço divino, que é informar a este respeito, não accrescentarei mais nada.
necessario no exercito. Por isso lembrava a conveniencia de Fiz esta pergunta porque tenho ouvido accusações
um chefe na repartição ecclesiastica, um prelado talvez com muito graves a este respeito; e se o defeito existe, devia logo
jurisdicção ampla ecclesiastica, de quem dependesse verificar-se para obstar a continuação da remessa; mas
sómente os capellães. Ora, como o governo não póde por um passo a outro objecto.
decreto conferir jurisdicção ecclesiastica, como tambem os Diz o relatorio do nobre ministro que o fornecimento
bispos diocesanos não podem fazel-o senão dentro da de viveres concorre para leso da fazenda nacional o prejuizo
jurisdicção de seus bispados, não era difficil que o governo, da alimentação dos soldados, mas pergunto ao nobre
entendendo-se com a Santa Sé, obtivesse a concessão da ministro: para evitar isso é mister que o governo tenha
creação de um capellão-mór ou prelado no exercito, chefe da autorisação para alguma reforma? Creio que está nas
repartição ecclesiastica; e debaixo das ordens deste prelado attribuições do governo providenciar no sentido de evitar
os capellães com diversas graduações com mais ou menos esses lesos á fazenda a essa má alimentação dos soldados.
jurisdicção. Esses capellães devem ser parochos em seus Ora, Sr. presidente, a respeito de arsenaes sabe V.
regimentos, corpos, administrar não só todos os sacramentos Ex. o que se deu em 1853. Um nobre deputado, de saudosa
como fazer todos os assentamentos que fazem os parochos memoria, levantou na camara, sendo ministro um homem
em suas freguezias. Só por esta maneira o serviço muito honrado tambem de honrosa memoria, uma accusação
ecclesiastico seria bem organisado no exercito; e foi com gravissima, a respeito de faltas commettidas no arsenal, e
essa intenção que na antiga monarchia o aviso de 24 de que depois foram verificadas. Segundo ouço, o estado actual
Março de 1741 e as cartas régias de 24 de Novembro de e de ha muito não é melhor que o daquelle tempo. E este mal
1808 e 16 de Setembro de 1810 concederam certas honras é chronico, porque já em 1846, sendo eu membro da outra
aos capellães. camara, outro deputado que tambem já não existe e que foi
E nem era mister que esses sacerdotes tivessem depois membro desta casa, o Sr. Ferraz, censurando o
honras militares; acho repugnante esta mistura de distinctivos ministro da guerra Hollanda Cavalcanti,
ou honras militares com outras ecclesiasticas; bastava que
tivessem
Sessão em 7 de Maio 19

que foi um dos homens mais probos que teem governado este facto não contraria o principio sustentado pelo meu
o nosso paiz, articulou uma serie de factos gravissimos nobre amigo e collega.
dos arsenaes, e por essa occasião recordou ao ministro Não é, porém, ainda dessa especie que quiz fallar
uma anecdota oriental, que peço licença para reproduzir. ao nobre ministro; eu perguntava se o soldado de policia
Dizia o Sr. Ferraz que, segundo os historiadores gregos, por ser tal, commettendo um crime grave (não fallo de
depois da derrota de Marathonia que soffreram os persas, crime puramente disciplinar, a que possa estar sujeito em
Dario, não querendo esquecer-se nunca de tomar uma consequencia de seu officio) por exemplo, um assassinato
vingança de Athenas, mandou que um criado todos os estando em serviço, perdia por esse facto seu fôro
dias o fosse despertar dizendo: «Senhor, existe Athenas.» natural, o civil e ficava sujeito ao fôro militar, a um
O Sr. Ferraz, applicando a anecdota ás faltas que se conselho de guerra? Eu entendo que um soldado de
davam no arsenal, dizia que o ministro nomeasse um policia nunca deixa de ser um cidadão commum, e neste
empregado para todos os dias dizer-lhe: «Senhor, furta-se caso á excepção dos delictos que commette em razão de
muito». Eu acho que a anecdota ainda tem cabimento seu officio, e pelos quaes responde segundo seu
actualmente, Sr. ministro; é voz geral no paiz que ha regulamento, está sujeito em todos os outros crimes ás
enormes extravios nos fornecimentos de nossos leis ordinarias e não póde responder em tribunal militar,
arsenaes. como acontece em algumas provincias. V. Ex. parece que
O nobre ministro respondeu-me a respeito das não me comprehendeu bem.
interpellações feitas nas camaras de Portugal sobre O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): –
desacatos á bandeira portugueza no Pará. Perguntei por Perfeitamente.
esse facto, porque fez-me especie lel-o na O SR. ZACARIAS: – Neste caso tambem admitte?
correspondencia do Jornal do Commercio; não tinha O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Que
mesmo ouvido fallar nisso até então. responsabilidade tem o governo actual nessas cousas?
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente O SR. POMPEU: – Eu não disse que V. Ex. é
do Conselho): – Eu já tinha exposto esse facto aqui. responsavel; perguntei a sua opinião e a do governo.
O SR. POMPEU: – Não foi para fazer accusação O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Isso
ao governo que dirigi essa pergunta ao nobre ministro; não póde ser objecto de contrato.
fez-me impressão o facto; por isso chamei sobre elle a O SR. ZACARIAS: – E' o que se quer que V. Ex.
attenção de S. Ex. Creio que dahi não vem consequencia diga, para ao menos constar nas provincias que o
nenhuma entre as duas nações. governo se declara contra.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente O SR. POMPEU: – A opinião do governo serve de
do Conselho): – Não, senhor. doutrina. Eu não fiz censura a ninguem; figurei uma
O SR. POMPEU: – O nobre ministro disse que as hypothese aliás fundada em actos que teem acontecido
assembléas provinciaes podiam decretar nas suas leis de nas provincias, e que acho contrarios á nossa legislação.
organisação dos corpos policiaes... O SR. ZACARIAS: – São tão ariscos! Tomam
O SR. ZACARIAS: – Isso foi um lapso. como censura uma conversa amavel.
O SR. POMPEU: – ...penalidades a que os O SR. POMPEU: – O nobre ministro, respondendo
engajados nesses corpos ficassem sujeitos, sendo uma a respeito dos contingentes, que as provincias deixam de
dellas passarem do corpo de policia para o exercito ou completar, disse que no anno seguinte esse deficit não se
armada. accumula á provincia, que não cumpre seu dever.
O SR. ZACARIAS: – Seria preciso um convenio E' por isso que ha injustiça. Entendo que, feita a
entre os poderes provincial o geral para este receber os distribuição da quota de recrutas que o governo precisa
baldeados... para o exercito dentro do exercicio, as provincias que
O SR. POMPEU: – Não continúo nesta deixassem de satisfazer seu contingente deviam ficar
argumentação, porque, depois do que a este respeito obrigadas a satisfazel-o com o contingente do anno
disse o meu nobre collega e amigo, creio que o nobre seguinte, porque do contrario essa deficiencia recáe sobre
ministro não insiste em sustentar a opinião de que as as outras provincias que foram promptas em cumprir seu
assembléas provinciaes podem decretar por essa maneira dever. Por exemplo, a provincia de Minas, que é a mais
a pena do recrutamento para o exercito, arrogando-se a recalcitrante a respeito de recrutas, satisfaz por metade
uma medida, cuja iniciativa a constituição reservou á seu contingente...
camara dos Srs. deputados. O SR. ZACARIAS: – Dizem os mineiros que é a
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Hei que dá mais recrutas, porque tem seus filhos espalhados
de insistir em tempo opportuno na minha opinião, pelas provincias...
sustentada por muitos annos, e que teve o apoio do O SR. POMPEU: – ...esta differença recáe sobre
ministerio de 3 de Agosto. as outras. E’ contra esta desigualdade, que reclamo.
O SR. ZACARIAS: – Suscitou-se algum dia essa Veja V. Ex. as provincias que ficarem em
questão nas camaras? deficiencia, accumule esta deficiencia com a distribuição
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Já deste anno e ordene que em vez de, por exemplo, 400
existiam os regulamentos estabelecendo essa penalidade. que lhe cabe pela nova distribuição, dê mais aquella
O SR. ZACARIAS: – E’ outra cousa. quota, de que ficou em falta para que essa falta não vá
O SR. POMPEU: – Nas provincias ha muitas leis recahir á minha provincia, que certamente é uma das
contrarias á constituição, que continuam a vigorar até que mais pontuaes em satisfazer esse imposto de sangue.
os poderes competentes tomem conta e as revoguem,
mas
20 Sessão em 7 de Maio

O SR. ZACARIAS: – Isso é apoiado pelo Sr. O SR. JAGUARIBE: – Lembro-me de que o expedi;
Jaguaribe... e muito desejo que o nobre senador seja attendido em seu
O SR. POMPEU: – São estas, Sr. presidente, as pedido.
observações que eu tinha de dirigir a este respeito. Peço O SR. ZACARIAS: – Em que sentido?
perdão ao nobre ministro de ter abusado da sua paciencia. O SR. JAGUARIBE: – Vou dizer. Declarei ao
O SR. JAGUARIBE: – Sr. presidente, uma parte do presidente do Ceará que, como a medida do habeas-
discurso do nobre senador por minha provincia (o Sr. corpus era estabelecida somente para aquelles recrutas
Pompeu) relativa á questão de um aviso do ministerio da que ainda não tinham praça, e como os presidentes
guerra obriga-me a vir á tribuna. Tenho lembrança de que podiam autorisar seus recrutadores a sentarem praça nos
no tempo em que tive a honra de ser ministro da guerra, recrutas immediatamente, elle podia fazel-o.
expedi um aviso relativamente á materia de que se O SR. ZACARIAS: – Ora, senhores!! Está bom...
occupou o nobre senador e como por vezes insistiu S. Ex. O SR. JAGUARIBE: – Póde o nobre senador
nesse aviso, declarando que estava certo que não era do achar...
nobre actual ministro da guerra, eu acudo á citação para O SR. ZACARIAS: – Não acho nada...
explicar os motivos que me levaram a expedir esse aviso. O SR. JAGUARIBE (com força): – Peço ao nobre
O SR. ZACARIAS: – Não sabia que era de V. Ex. senador que respeite as opiniões dos outros membros da
O SR. JAGUARIBE: – Affirmo que no meu tempo casa, como eu respeito as suas; não tem S. Ex. o direito
expedi um aviso nesse sentido; é possivel que haja outro. de menoscabal-as; essas interjeições e gestos de que as
O SR. ZACARIAS: – Em que sentido foi? acompanha não são attenciosas.
O SR. JAGUARIBE: – Eu direi. Tratando-se do O SR. ZACARIAS: – V. Ex. contenha-se.
habeas-corpus, que pela ultima reforma judiciaria, O SR. JAGUARIBE: – Contenho-me devidamente,
(approvada durante minha estada no ministerio), tornou-se sem para isso precisar do conselho de ninguem; estou
extensivo ao recrutamento, naturalmente o aviso do usando de um direito.
ministerio da guerra, a que alludiu o nobre senador, e ao O SR. ZACARIAS: – Trata-se de um acto
qual referiu-se a sentença do juiz de direito do Crato, que ministerial.
aqui foi lida, dizendo que lhe fôra remettido pelo presidente O SR. JAGUARIBE: – Mas S. Ex. está tratando de
do Ceará, deve ser o que de mim partiu. um modo pouco respeitoso a quem neste momento
O presidente do Ceará me representou muito compete a palavra e eu tendo direito ao respeito de meus
urgentemente contra o procedimento do juiz de direito do collegas, porque nunca abuso da tribuna para desrespeitar
Crato, declarando que tantos recrutas eram feitos naquella ninguem.
comarca quantos eram immediatamente soltos por aquelle O SR. ZACARIAS: – Vamos ao aviso.
magistrado por meio do habeas-corpus. Não me recordo O SR. JAGUARIBE: – Já revelei ao senado qual foi
bem se a representação accrescentava que o juiz assim o espirito do aviso, não me posso recordar das suas
procedia, movido por paixão politica; mas entendi que era palavras. A' vista da admiração do nobre senador apresso-
esse o motor de seu procedimento. me a explicar meu pensamento.
Com effeito convenci-me de que, se todos os juizes Eu entendo que estava em meu direito expedindo
procedessem por esse modo; estava acabado o exercito. esse aviso, maximo, convencido como estava de que elle
O recrutamento é a fonte de renovação do exercito, e devia ser entendido em termos habeis, isto é, de accôrdo
desde que os magistrados entendam que é crime recrutar com a legislação em vigor.
e abusem da medida do habeas-corpus, aliás salvadora, O juiz de direito não é soberano; póde dar habeas-
não ha mais exercito. E não tendo o ministerio da guerra corpus sómente no caso em que o recrutamento tiver sido
jurisdicção sobre os magistrados, mandei cópia dessa mal feito, mas, quando tiver sido regularmente feito, não
representação, como sempre procedia quando de outras póde o juiz conceder habeas-corpos.
provincias recebia alguma queixa contra magistrados, e a O SR. POMPEU: – Quem é o juiz nesse caso?
remetti ao meu então collega da justiça, pedindo O SR. JAGUARIBE: – Quando o individuo
providencias. recrutado tem isenções é o caso do habeas-corpus: os
O SR. POMPEU: – As providencias que elle deu poderes do Estado devem ser harmonicos; o ministro da
são as que eu ha pouco li. guerra não póde estar em tal antagonismo com as
O SR. JAGUARIBE: – Entretanto, sendo certo que autoridades judiciarias, que estas possam inutilisar os
as providencias do ministerio da justiça não podiam ser meios indispensaveis para que a repartição da guerra se
promptas, como cumpria, por causa dos tramites, que os mantenha com devida regularidade.
papeis teem de passar, isto é, a audiencia do conselho de Assim dizia eu que, podendo aproveitar o habeas-
Estado etc., etc., e sendo urgente que, se do ministerio da corpus ao recrutado que não tem ainda praça, estava o
justiça não partisse logo alguma providencia que pozesse governo no seu direito, mandando assentar praça aos
termo ao abuso, alguma outra fosse adoptada pelo recrutados logo depois do recrutamento, na mesma
ministerio da guerra, para que a principal fonte da localidade, em que elle é feito, estando subentendido que
renovação do exercito não fosse esgotada em sua origem, isto só devia ter logar, quando não houvesse as
lembrei-me de declarar ao presidente do Ceará... necessarias reclamações, baseadas em procedentes
O SR. ZACARIAS: – Reservada ou isenções, etc.
ostensivamente? O nobre senador admirou-se da providencia, mas
O SR. JAGUARIBE: – Não me recordo bem. pergunto eu: em que é que ella prejudica ao direito de
O SR. ZACARIAS: – Hei de pedir copia. nenhum cidadão?
Sessão em 7 de Maio 21

O SR. POMPEU: – Encurtando o praso. que esse juiz de direito se tinha tornado faccioso, superior á
O SR. JAGUARIBE: – O nobre senador sabe muito lei, açulando as massas para o emprego de meios materiaes.
bem que da medida do recrutamento ha differentes recursos; O SR. POMPEU: – O aviso foi remediar isso?
se elle for illegal, se prejudicar uma isenção reconhecida ou O SR. JAGUARIBE: – Punha-se de accôrdo com os
comprovada, póde aproveitar a medida do habeas-curpus; se, anarchistas, tendo-os á mão para seus fins.
porém, este já nos poder ser interposto, o recrutador com a O SR. POMPEU: – Anarchista foi o commandante que
apresentação dos documentos, emquanto está no direito de mandou a soldadesca matar.
soltar, póde fazel-o. O SR. JAGUARIBE: – Felizmente muitos outros
O SR. POMPEU: – Pois não... magistrados da provincia não crearam conflictos, não
O SR. JAGUARIBE: – Se, porém, o recrutador não o entraram em luta com as demais autoridades; esta triste gloria
fez ha ainda o presidente da provincia para quem se póde coube sómente ao juiz de direito do Crato, e ao do Ipú, (que
recorrer, e aqui está a questão dos prasos. tambem foi removido), ao qual o nobre senador se referiu
O nobre senador, meu collega pelo Ceará, por vezes igualmente, dizendo ha poucos dias, e creio que ainda hoje,
se tem referido á legislação que estabeleceu os prasos, mas que o presidente tinha mandado ordem ao recrutador daquella
esta legislação deve entender-se de modo razoavel. comarca para alli mesmo assentar praça aos recrutados.
Seguramente se o recruta não allega isenção, o recrutador O SR. POMPEU: – Cobrindo o aviso do ministerio da
não está obrigado a saber que as tenha e, desde que esteja guerra.
autorisado a dar praça aos individuos recrutados, póde fazel- O SR. JAGUARIBE: – Esse aviso não é um mysterio.
o, ficando a estes o direito salvo de reclamar ao presidente da Desde que o individuo que foi ministro sobe á tribuna para
provincia. explicar não ha ahi mysterio.
A lei que marcou um praso para os recrutados O SR. ZACARIAS: – Agora é que creio; quando o
apresentarem seus documentos, o marcou ainda maior para nobre senador pelo Ceará lia a sentença, eu não acreditei...
os presidentes tomarem conhecimento dos documentos ou O SR. JAGUARIBE: – O mesmo nobre senador por
das isenções, isto é, concedeu para este fim o praso de oito a minha provincia, no discurso que acaba de pronunciar,
quinze dias aos recrutadores e o de dous mezes aos mencionou que o juiz de direito do Ipú, que é o 2º juiz de
presidentes de provincia, sendo que, depois deste ultimo direito da provincia, que entrou em conflicto com a autoridade
praso, só o governo central póde dar baixa ao recrutado, o recrutadora, soffreu della um grande insulto; e visto que tenho
qual deste modo ainda póde achar justiça na Côrte, se ella a palavra, devo explicar isso, declarando ao senado que
tiver-lhe sido negada na provincia. parece-me que esse juiz, segundo inferi da propria exposição
Ora, desde que o aviso não contrariasse de modo do nobre senador e até por um documento que S. Ex. aqui leu,
algum nenhuma destas disposições, visto, que acabo de é quem foi o causador de tal conflicto.
mostrar que todas ellas se podem conciliar, não vejo motivo Conforme essa exposição o conflicto deu-se entre o
para a admiração do nobre senador. juiz e a autoridade recrutadora, mais ou menos do modo
O SR. POMPEU: – Então o aviso era inutil. seguinte: o juiz de direito, em vez de exigir, como é de estylo,
O SR. JAGUARIBE: – O aviso não era inutil; tinha por informações por escripto daquella autoridade, que é ao
fim evitar que os juizes de direito por paixões politicas ou mesmo tempo delegado de policia segundo S. Ex. aqui
interesses locaes se constituissem superiores á lei, e referiu...
felizmente o caso não se deu com grande numero de juizes, O SR. POMPEU: – Creio que sim, mas não affirmo.
mas deu-se exactamente com um que tem procedido de tal O SR. JAGUARIBE: – ...mandou intimar-lhe pelo
forma; que o governo viu-se na necessidade de retiral-o dalli. escrivão a interposição do habeas-corpus para o começo do
O proprio meu nobre collega ha pouco expendeu um caso, respectivo processo. Dahi surgiu o conflicto, que se teria
para o qual chamo a attenção do senado, isto é, que, evitado, se a exigencia fosse feita ao delegado por meio de
querendo esse juiz de direito dar habeas-corpus a um recruta, officio, ou se por meio de portaria fosse o carcereiro intimado
a autoridade quiz oppor-se (foi o que do seu discurso collegi), para apresentação do paciente, que requeria habeas-corpus;
mas a opposição não pôde realisar-se, porque o povo intimado, porém, ao delegado, este, achando pouco
levantou-se e reagiu contra ella. Vê, pois, o senado que é o respeitosos os modos do escrivão, deu-lhe voz de prisão, mas
proprio nobre senador quem se encarrega de mostrar... o escrivão desobedecendo recolheu-se á casa do juiz de
O SR. POMPEU: – Como foi? direito.
O SR. JAGUARIBE: – Acabo de reproduzir, talvez Agora vamos a moraisar o facto. Sabe-se que o
mal, o que ouvi de V. Ex. V. Ex. dizia que, querendo o juiz de escrivão que serve perante o juiz de direito e tambem (alguns
direito conceder habeas-corpus... dos escrivães pelo menos) aquelle que serve perante o
O SR. POMPEU: – Tinha concedido, o commandante delegado; portanto, é individuo tão subordinado ao juiz de
quiz oppor-se, mas pela attitude do povo não levou avante seu direito como ao delegado; entretanto, pelo que leu o nobre
intento. E’ o que li nas folhas. senador, o escrivão desculpava-se que não podia obedecer ao
O SR. JAGUARIBE: – Vê o senado? E’ exactamente o delegado, porque era subordinado ao juiz de direito.
que acabo de dizer. Eu contesto esse privilegio de que o funccionario pelo
O SR. POMPEU: – O que tem isso? facto de servir perante duas autoridades possa desobedecer
O SR. JAGUARIBE: – Tem muita cousa. Isso
demonstra
22 Sessão em 7 de Maio

a uma dellas. O facto é que, sendo o escrivão sujeito ao Mas o nobre senador pela Bahia parece exigir que
delegado, como era ao juiz de direito, logo que aquelle fez eu volte á tribuna; voltarei, mas somente para fazer
a prisão devia obedecer para depois reclamar; em todo o pequenas reflexões a respeito do que acabou de dizer hoje
caso o delegado era autoridade investida do direito de o nobre senador pelo Ceará, o Sr. Pompeu.
prender e não era a um subordinado que competia decidir, S. Ex. insistiu na questão das baixas. Sobre isto já
se a ordem de prisão, que acabava de receber, era ou não tenho fallado, varias vezes, já tenho dito que não é
legal: assim da desobediencia do escrivão que faltou o possivel dal-as todas de chofre, porque o exercito ficaria
respeito ao delegado e animado pelo juiz de direito, á cuja muito desfalcado; que vae-se concedendo por ordem de
casa recolheu-se, é que proveio o conflicto. antiguidade áquelles que teem maior numero de annos;
E qual foi a solução desse conflicto? O nobre que esta não consideração ao tempo acabado ha de
senador já o revelou; depois de haver alguma luta, o que continuar em quanto perdurar o actual systema de
não approvo, visto que sempre censurei e censuro o recrutamento; que este systema não dá ao exercito o
emprego dos meios materiaes, o juiz de direito, cercando- numero de soldados necessario, e, portanto, a observação
se de amigos, como elle diz em seu officio, assentou por do nobre senador, se se traduz em censura, não toca
accordo geral de entregar o homem ao delegado, que o somente ao governo actual, mas a todos os transactos;
recolheu á prisão e depois soltou-o. que façamos votos para que termine semelhante estado de
O SR. POMPEU: – Coagido. cousas. E’ ponto sobre o qual tem-se insistido e a resposta
O SR. JAGUARIBE: – Não admitto essa coacção, tem sido sempre esta e o nobre senador está de accordo.
que em todo caso sendo pouco honrosa á coragem civica, A respeito das quotas com que annualmente devem
que deve constituir o timbre do magistrado, ainda menos o concorrer as provincias para preencher os claros nas
seria naquella circumstancia, na qual confessou o juiz de fileiras do exercito, já disse que ellas não podem passar
direito no officio que aqui foi lido, haver sido apoiado por para o exercicio vindouro; não ha transporte, por assim
toda população. Assim, se o juiz de direito fosse prudente dizer, de deficit. Se a provincia deu o numero preciso de
e grave, teria evitado tudo isto. recrutas, bem; se não deu, não se lhe póde exigir no anno
Chego a este resultado, porque elle confessou em seguinte, em que se abre uma conta nova.
uma peça official. Foi a imprudencia, a exaltação desse O nobre senador disse que eu condemnei o
magistrado, sua intervenção indebita em negocio politico, recrutamento; é exacto, condemnei, mas não tenho
em paixões exaltadas de localidades, que o levaram a remedio, como nenhum poder publico terá, emquanto ella
esse conflicto, e, portanto, ninguem póde por elle ser não fôr revogada, senão executar a lei, dura lex, sed lex.
responsavel senão elle proprio por sua imprudencia. O SR. POMPEU: – Não devia então desmoralisal-a.
Tendo sido, Sr. presidente, unicamente para O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Eu
explicar o procedimento que tive em relação a esse aviso, não tratei de desmoralisal-a mais do que está por todos os
o motivo que me trouxe á tribuna, deixo de responder a poderes publicos, como medida que não é equitativa, não
outras considerações do nobre senador, até porque o é justa, e até mesmo violenta. Dahi não se póde tirar o
nobre ministro da guerra naturalmente o fará com muito corollario de que eu quiz, do alto desta tribuna, proclamar a
mais vantagem. resistencia á lei; não, digo que é uma lei que deve ser
O SR. PRESIDENTE: – Não havendo quem queira respeitada; mas que é viciosa. Isto se póde dizer sem que
a palavra, vou pôr a votos. se a desmoralise quando se trate de sua execução. Do
O SR. ZACARIAS (pela ordem): – Se o nobre contrario, não seria possivel instituir-se um debate sobre a
ministro da guerra não quizer fallar, eu pedirei a palavra. sua reforma; havia de se fazer isso em sessão secreta,
O SR. PRESIDENTE: – O Sr. ministro não pediu a apresentando-se uma lei prompta que viesse substituir a
palavra. outra.
O SR. ZACARIAS: – Se não quizer dar Perguntou o illustre senador de quantos officiaes se
informações... compõe o estado-maior de 1ª classe. Veja S. Ex. que na
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Peço autorisação está o limite; o governo fica autorisado a
a palavra. diminuir o corpo de engenheiros e augmentar o de estado-
O SR. PRESIDENTE: – Tem a palavra. maior de 1ª classe, de modo que não seja augmentado o
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – E’ numero de officiaes que compoem actualmente os dous
somente, Sr. presidente, para demonstrar ao nobre quadros.
senador que não me furto ao dever de dar explicações; o O SR. POMPEU: – Com quantos fica cada um?
debate como está instituido, dispensava-me de voltar O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Este
agora á tribuna; o senado viu que ao discurso do nobre quantum em cada corpo não está fixado de ante-mão; nem
senador pela Bahia respondeu o nosso illustre collega pelo o nobre senador, nem ninguem o poderá fazer, porque isso
Rio de Janeiro... depende de exames posteriores; poderia dizer ao nobre
O SR. ZACARIAS: – O leader. senador que tenho em vista accrescentar 20 em um,
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – ...e, reduzindo igual numero em outro; mas póde um exame
voltando agora á tribuna, o nobre senador pelo Ceará posterior demonstrar que esse numero é pequeno, que
referiu-se a varias considerações, ás quaes já tinha dado convem ser alargado ainda mais um, ou diminuido outro.
resposta: o unico facto mais notavel em que S. Ex. insistiu O nobre senador disse que constava-lhe que o
era mesmo esse sobre recrutamento, sobre o qual acaba armamento Comblain não era perfeito, não se prestava ao
de fallar o nobre senador ex-ministro da guerra. fim a que era destinado. A commissão mandada a Europa
para
Sessão em 7 de Maio 23

effectuar essa compra levou daqui instrucções, que foram O SR. ZACARIAS: – Foi sempre; ninguem faltou-lhe
formuladas sobre trabalhos da commissão de melhoramentos ao respeito.
do exercito; o governo descansou que a commissão seguiria O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Não
aquellas instrucções e está persuadido que segue. Os exames quero dizer que lhe faltassem ao respeito, podia ser accusado
hão de mostrar o que ha; é uma questão de apreciação. Aos de menos fiscalisador; depois de reconheceu que foi um
meus ouvidos já soou que alguem dizia, talvez uma differença grande administrador e hoje a opinião é unanime a este
entre as armas Comblain que vieram e as de que resam as respeito.
instrucções, porque adoptou-se como typo essa arma com O SR. ZACARIAS: – Naquella occasião mesmo se
uma pequena modificação que a commissão de reconheceu.
melhoramentos introduziu para aperfeiçoal-a, e diz-se que o O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Já que
armamento que tem vindo não tem essa modificação. E’ estou com a a palavra não a quero deixar, mesmo por cortezia
questão que se ha de ventilar; o armamento está chegando; ao illustre senador pela Bahia; não quero que S. Ex. diga que
pouco existe ainda. deixei-lhe apenas um quarto de hora; se S. Ex. não deseja...
Eu disse em aparte que lisonjeava-me muito vêr que O SR. ZACARIAS: – Quer fazer o que eu fiz a V. Ex.
os nobre senadores estavam perfeitamente ao facto disto, que O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – ...como
apenas mal soava agora aos meus ouvidos. E’ para que vejam não quero que se queixe de mim, embora não fosse obrigado
como esses negocios são tão discutidos, como estamos tão a fallar, porque o senado vê que a discussão está elucidada,
adiantados que nem ha entre nós reserva, nem naquelles que os pontos estão conhecidos, para que os nobres senadores
a devem ter, porque em questões de armamento é ella fiquem com a vantagem de fallar quando o senado esteja
necessaria; parece que aquelles que deviam conservar todo o menos fatigado, eu me sacrificarei, para ser agradavel aos
sigillo são os primeiros a proclamarem tudo, inclusive os nobres senadores; espero que S. Ex. me levará isto em linha
defeitos que pode ter um armamento dessa ordem. São vicios de conta por qualquer cousa que no correr do meu discurso
da sociedade moderna que ninguem póde corrigir; não ha não lhe possa ser muito agradavel.
meio. Vamos á questão do recrutamento que os nobres
O SR. ZACARIAS: – Não ha mais segredos; hoje se senadores declararam estar inserida nos regulamentos dos
discute tudo. corpos policiaes das provincias sob a forma de obrigação que
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Até certo contrae a praça quando se engaja em taes corpos de ficar
ponto isso é bom; só lamento que estejamos a desmoralisar sujeita a ser removida para as fileiras do exercito se
antecipadamente um armamento que não foi ainda commetter taes e taes faltas.
examinado. Já eu hoje disse algumas palavras sobre esta questão.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Penso que os nobres senadores nesta hypothese não teem
Conselho): – São rivalidades de officiaes do mesmo officio. razão. Quando um individuo sponte sua, livre inteiramente de
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O nobre todo e qualquer constrangimento, se dirige a um quartel
senador chamou tambem minha attenção para os arsenaes. policial e diz: quero assentar praça para servir aqui; e se lhe
Direi a S. Ex. que não creio que tenhamos chegado ao estado declara quaes são as obrigações e direitos que adquire e elle
de perfectibilidade, mas acredito que estamos em posição assenta praça, está obrigado a tudo aquillo a que sujeitou-se,
melhor do que estavamos, porque hoje tudo se discute, como sem que isto entenda com outras considerações de ordem
acaba de dizer o nobre senador pela Bahia, tudo vem á téla da publica; entende sómente com seus direitos individuaes.
publicidade e á luz do maior debate; por consequencia é de Se os nobres senadores podessem demonstrar que os
crer que não haja esses grandes abusos. Não quero dizer que poderes publicos não podiam jamais aceitar a resolução de
estejamos em um estado perfeito longe de mim tal idéa, seria um individuo de assentar praça voluntariamente no exercito,
uma utopia sem merito algum, mormente quando em eu lhes daria toda razão; mas se é permittido aos poderes
nenhuma parte do mundo se chegou ainda a esse gráo de publicos aceitarem o offerecimento de cidadãos idoneos, se
perfectibilidade quanto a arsenaes; os maiores esses cidadãos em logar de se dirigem logo a um corpo de 1ª
administradores nunca poderam pôr cabo a todos os abusos e linha, vão servir em corpos de policia e ahi declaram a um
V. Ex. sabe que Napoleão, que pôde vencer e dominar a poder constituido, como é o commandante desse corpo,
Europa, não conseguiu impedir que os fornecedores os delegado do presidente da provincia, que estão dispostos a
commettessem. sujeitarem-se ao serviço no exercito se, porventura,
Por conseguinte o nobre senador citando a anecdota commetterem alguma falta, esses individuos não soffrem
do Sr. Ferraz sobre Dario presta sem duvida um grande violencia de terceiro, dispoem daquillo de que costumam
serviço ao ministerio da guerra, porque realmente devo ter dispôr em todas as circumstancias de sua individualidade para
sempre presente tudo quanto póde existir de abusivo nesses servirem ao Estado.
estabelecimentos, procurando da minha parte fazer cessar Mas, dizem os nobres senadores: elles fazem essa
esses abusos e prover de remedio... declaração perante um poder que a não podia aceitar. Notem,
O SR. ZACARIAS: – Bastava dizer barracas e linhas. porém, que o poder geral, conhecendo a existencia de
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – E’ semelhantes clausulas nos regulamentos provinciaes tem
exactamente; tornaram-se celebres essas accusações, creio tolerado, tem usado dessa faculdade, isto é, tem feito admittir
que feitas no anno de 1852, na camara dos deputados, sendo nas fileiras do exercito aquelles individuos remettidos pelos
então ministro da guerra o Sr. Manoel Felizardo, de saudosa corpos policiaes e que não reclamam isenção alguma.
memoria, que foi muito atacado até que a opinião publica veio
a conhecer que era ministro muito dedicado aos interesses
fiscaes do Estado.
24 Sessão em 7 de Maio

O governo imperial que está autorisado a aceitar voluntarios apesar de paisano, tem exhibido os mais altos conhecimentos
para o exercito, nesse caso aceita aquelles homens que vem de negocios militares, não só da nossa legislação, como
como voluntarios, porque vem em virtude de um contrato que mesmo de tudo que póde interessar em geral á organisação e
lavraram, pelo qual se obrigaram a, se commettessem alguma formação dos exercitos. Neste ponto é ainda meu mestre,
falta, ir, como pena, assentar praça, se não tiverem isenção a como o foi desde os tempos academicos.
allegar para a baixa. Onde está a violencia feita aos direitos O nobre senador disse: porque não estabeleceis para
individuaes do cidadão? Não vejo. o quadro de engenheiros a mesma disposição que quereis
Fallando assim, Sr. presidente, eu defendo um firmar para o estado-maior de 1ª classe? Porque quereis tirar
principio, porque aqui não ha cousa alguma que possa deste corpo aquelles officiaes que não teem cursos completos
entender com o actual ministerio; é facto que existe ha muitos e, entretanto, conservaes no quadro de engenheiros alguns
annos, tolerado por todas as administrações, por todas as que estão nesse caso? Mas S. Ex. mesmo estabeleceu uma
camaras que podiam ter feito revogar a lei provincial se por attenuante; no estado-maior de 1ª classe, segundo o nobre
ventura fosse considerada inconstitucional, porque esses senador, existem sete officiaes que não tem o curso completo,
regulamentos são approvados por leis provinciaes e V. Ex. ao passo que no corpo de engenheiros apenas tres e destes
sabe que o poder legislativo tem attribuição de revogar uma lei tres supponho que um é até official general graduado muito
provincial por inconstitucional; nenhuma neste ponto foi habilitado.
revogada como tal, e, por consequencia, implicitamente estão O illustre senador ha de concordar comigo que não se
approvadas. Essas leis costumam ser remettidas tambem ás dão as mesmas razões de identidade para que a commissão
differentes secções do conselho de Estado, que não tem de marinha e guerra da camara dos deputados e aquella
emittido juizo contrario; portanto, é disposição, pelo menos distincta corporação politica tivessem adoptado o mesmo
tolerada, e, emquanto não for revogada, não se pode accusar pensamento. Ha sua diversidade. Póde-se entender que no
a este ou áquelle porque use de semelhante alvitre. corpo de engenheiros a existencia de tres officiaes de
Os nobres senadores dizem ainda: se um soldado de patentes superiores, que não completaram todos os cursos,
policia commetter um crime, mesmo um homicidio, para que segundo estavam determinados para as academias daquella
tribunal e em virtude de que legislação deve ser julgado? época, não faz ao exercito o mal que faz a de sete officiaes do
Neste caso teem razão; o negocio é differente, porque os estado-maior de 1ª classe. Ha uma distincção e estabelecer,
poderes provinciaes não teem faculdade de derogar a lei porque os serviços que incumbem aos officiaes do estado-
geral, nem de crear leis juridicas para crimes. No outro caso, maior de 1ª classe são diversos, em muitos casos, daquelles
não; trata-se de um individuo que serve como voluntario, elle é que competem aos engenheiros e a causa publica não vem a
quem dispõe de si e os poderes geraes aceitam qualquer soffrer tanto com a conservação do maior numero de officiaes
cidadão, qualquer individuo que se apresente como voluntario, do estado-maior de 1ª classe não habilitados, como com a
quer tenha servido nos corpos de policia, quer não. A questão existencia apenas de tres officiaes de engenheiros que já
muda inteiramente de face. teem dado cópia valiosa de seus conhecimentos praticos.
O SR. ZACARIAS: – E’ a mesma. O SR. ZACARIAS: – Deve-se suppor o mesmo dos
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O nobre outros.
senador pela Bahia fez algumas observações a respeito do O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Não
corpo de engenheiros, assim como sobre o estado-maior de 1ª podem ser objecto da mesma consideração; o que quero fazer
classe. S. Ex. disse que se referia a um ministro paisano, se sentir ao nobre senador é essa differença; não ha a identidade
bem que tambem se declarasse paisano; tenho muita honra que quer estabelecer, isto é, que desde que o corpo legislativo
em ser paisano, assim como teria em ser militar, se tivesse adoptar a resolução de mandar eliminar do estado maior de 1ª
seguido a carreira das armas. classe os officiaes que não completaram o curso, tambem, em
O SR. ZACARIAS: – Eu estimaria muito que fosse virtude dessa determinação, deva adoptar outra quanto aos
valente. engenheiros que são em menor numero e que teem
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Estou apresentado excellentes resultados de seus trabalhos e que
persuadido que faria o meu dever, porque brio nunca me podem ser objecto, como disse, de outra resolução.
faltaria. Vamos agora ás reclamações argentinas.
O SR. ZACARIAS: – Não é isso; eu estimaria, se O illustre senador pelo Rio de Janeiro em traços largos
fosse militar, ser valente. me suggere precedentes juridicos para mostrar que o governo
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Sem podia incumbir a arbitros a decisão de questões taes. O nobre
duvida, e eu tambem, como V. Ex., porque é uma grande senador, porém, tem impugnado esta doutrina, tem dito que o
gloria e a gloria militar ainda hoje é a primeira do mundo. Mas, governo devia decidir a questão administrativamente como
o paisano assim como eu e o nobre senador tambem... determina a lei de 1845 e que, se quizesse ouvir esses
O SR. ZACARIAS: – Pode pôr no superlativo; sou distinctos cidadãos, que chamou arbitros, o fosse somente
paisanissimo. como peritos nas informações que dessem, mas a decisão
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – ...póde fosse do governo semente.
entender alguma cousa de negocios que não sejam de sua Ora, pergunto ao honrado senador: se o governo póde
especialidade, porque o estudo está ao alcance de todos. Esta decidir qualquer reclamação que lhe façam por motivo de
discussão mesmo tem provado que o nobre senador, pagamento, para cobrar qualquer divida em que esteja, não
está estabelecida a regra, a norma unica pela qual se deva
guiar, isto é, deve elucidar-se por todas as maneiras que julgar
conveniente e póde proferir a decisão como entender mais
justo ou commetter ao juizo dos arbitros,
Sessão em 7 de Maio 25

porque em nossa legislação não ha em parte alguma Mesmo nós, na questão do navio Canadá, aceitamos o
prohibição de se adoptar semelhante alvitre? arbitramento que foi commettido ao ministro inglez em
Disse o nobre senador: «O arbitramento quando é Washington, o Sr. Thornton. Em virtude de que lei houve esse
admittido, está declarado nos contratos ou nos regulamentos arbitramento? Fez-se isso porque o governo entendeu, e
que possam reger a materia», e dahi tira S. Ex. a conclusão entendeu muito bem, que, tendo sido proposto semelhante
de que em outros casos o governo não póde admittir o recurso, não podia negar-se a elle. Houve o arbitramento, o
arbitramento; mas ahi é que está o engano de S. Ex. Nesses laudo foi contra nós e o governo do Brasil pagou a quantia
em que o governo estabelece logo o arbitramento como um pedida. Era uma reclamação estrangeira, como é hoje essa
meio de resolver as questões, como estabeleceu com a dos fornecedores do exercito brasileiro no Paraguay.
companhia das dócas e como tem estabelecido para as Creio mesmo que, sendo presidente do conselho o
estradas de ferro e mesmo para outros assumptos, não se nobre senador pela Bahia, deu-se o caso de outro navio
segue que por ventura esteja inhibido de, na occasião em que americano; era então o Carolina; o ministerio viu-se obrigado a
surja difficuldade que não fosse prevista, não tendo a especie pagar a quantia que era exigida. Se nesta occasião tivessem
vertente dado logar a regulamento e nem mesmo á aceitação offerecido o arbitramento, ter-se-hia S. Ex. negado a isso?
prévia de semelhante recurso, aceital-o usando da faculdade Não era melhor aceital-o do que pagar-se naquella occasião a
de que usa quando o aceita para outros casos, como das quantia pedida, sem que o Brasil quizesse reconhecer o direito
companhias das dócas e estradas de ferro. Nestes casos o dos reclamantes? O arbitramento é, portanto, hoje o meio de
que se diz é que o governo não póde deixar de sujeitar-se á resolver estas questões.
nomeação de arbitros, mas não quer isto dizer que não haja Não vejo que o nobre senador tenha razão dizendo
arbitramento voluntario toda vez que surja uma questão que que o governo decidisse directamente por si, quando podia
deve ser decidida por esta fórma. aceitar o concurso de arbitros notaveis. Note V. Ex. que as
Se o principio invocado pelo nobre senador fosse partes reclamantes, apesar de serem estrangeiras,
verdadeiro, juridico, se o arbitramento não fosse um meio de concordaram em aceitar arbitros brasileiros; e em ultimo caso
decidir essas reclamações de pagamento feitas ao governo, é por assim dizer uma pessoa muito conjuncta aos altos
então o nobre senador havia de começar por dizer que essa poderes administrativos quem vem a dar a decisão definitiva,
disposição sobre dócas e estradas de ferro é injuridica e porque no caso de empate quem decide a questão é um
inconstitucional; mas, se o nobre senador aceita-a, é porque a conselheiro de Estado tirado á sorte. Não se podia rodear
julga perfeitamente legal. semelhante decisão de maior garantia para o governo do
O SR. ZACARIAS: – Porque a lei autorisa. Brasil.
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Pois se o Disse-nos o nobre senador: «Mas porque não se ouviu
nosso regimen estabelece já esse meio, porque razão o o conselho de Estado?» Ouviu-se sobre a reclamação mais
governo não póde usar para com analogos de uma regra que importante; e se porventura o ministro que hoje dirige a
já está na legislação? palavra ao senado, tivesse decidido a questão segundo o voto
O SR. ZACARIAS: – Em materia de attribuições não do conselho de Estado...
ha analogia. O SR. ZACARIAS: – Da secção.
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Sobre as O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): –
estradas de ferro, ainda notarei ao nobre senador, não ha lei ...conforme o parecer da secção do conselho de Estado,
estabelecendo o arbitramento, ha regulamentos do governo e talvez o nobre senador entendesse que o ministro não tinha
por conseguinte são actos que tanto valor teem como aquelle obrado bem, porque S. Ex. havia de querer por força instituir
que se praticou relativamente ás reclamações argentinas; são um debate sobre o quantum e achar que devia ser menos.
actos em que o governo, no exercicio de suas attribuições e Disse, porém, o nobre senador, e parece-me ser este o
para prover os casos que fossem apparecendo relativamente Achylles de sua argumentação, que nós temos lei, o art. 51 da
ás estradas de ferro, como agora para o caso que surgiu de lei do orçamento de 1845 em que se diz (lê): «Os documentos
uma reclamação estrangeira, empregou aquelle meio. comprobatorios das dividas militares provenientes de vendas
Veja, porém, o nobre senador ainda uma outra de generos, e de quaesquer fornecimentos á tropa,
consideração: no caso vertente, trata-se de reclamações que contrahidas de agora em diante, serão apresentados nas
teem sem duvida nenhuma o caracter de estrangeiras, são contadorias da guerra, onde as houver, e na sua falta nas
feitas por individuos pertencentes a nacionalidade estranha á thesourarias das provincias, ou no thesouro publico nacional,
nossa, são feitas por actos que se passaram em territorio que dentro de um anno da data da transacção ou contrato, sob
não era do Imperio, são feitas por fornecimentos que tiveram pena de serem havidas por perdidas. A respeito das dividas
logar por occasião de uma guerra em paiz estrangeiro; em contrahidas antes desta lei, o anno será contado da data da
vista de todos estes requisitos o illustre senador ha de sua publicação.
reconhecer que estas reclamações são originadas de fonte A liquidação de uma e outra divida será feita
que não é nacional; e eu já disse ao senado que ellas foram administrativamente, com recurso para o conselho de Estado,
apoiadas officiosamente pela legação argentina; não podia quando a parte se julgar prejudicada, precedendo, porém, a
facilmente o governo do Brasil furtar-se ao arbitramento revisão do thesouro publico nacional.»
proposto, arbitramento que está em nossos estylos e tem Chamo a attenção do nobre senador para as palavras
estado nos de todos os povos civilisados. deste artigo. Ahi se diz: «os documentos comprobatarios das
dividas militares provenientes de vendas de generos e de
quaesquer fornecimentos a tropas.» Por este simples
enunciado se reconhece que trata-se de questões que não
offerecem duvidas. São documentos comprobatorios de
despeza,
26 Sessão em 7 de Maio

não se trata de uma questão complexa, como é a questão essa de resolver-se, é questão que póde e deve ser
de reclamações relativas a fornecimentos feitos em commettida a arbitramento.
occasião da guerra fóra do paiz e a que a lettra desse art. Ha outro ponto: saber se a legua do contrato é
51 não tem applicação. legua castelhana ou legua brasileira: onde estão esses
Ahi se diz mais que o governo decidirá documentos comprobatorios de legua castelhana ou legua
administrativamente com recurso ao conselho de Estado brasileira para serem remettidos pelas thesourarias á
depois das informações do thesouro. Perguntou o nobre repartição fiscal e esta informar? Ja vê o nobre senador
senador: «Houve informações do thesouro?» que se trata de algumas cousas excepcionaes que não
O SR. ZACARIAS: – A revisão do thesouro. estavam nas regras previstas pelo legislador em 1845. São
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Ou reclamações oriundas de factos da guerra feitas por
revisão do thesouro. Hoje, Sr. presidente, tudo quanto diz cidadãos de outros paizes; portanto, estas regras
respeito á despeza do ministerio da guerra corre pela estabelecidas dentro do paiz para as questões de venda
repartição fiscal deste mesmo ministerio, e que exerce as de generos ás tropas não podem ter applicação.
funcções que antigamente pertenciam ao thesouro em Agora veja o nobre senador se teve razão quando
relação a essa despeza. Pela repartição fiscal fizeram-se disse que rebaixei a pasta commettendo a terceiro esta
todos os exames, existem alli todas as informações, ainda decisão. Não fiz senão aceitar um principio que hoje
as mais minuciosas. Por conseguinte esse artigo deve ser ninguem põe em duvida, o principio do arbitramento,
entendido hoje de accordo com a creação da repartição quando ha divergencia em questão internacional, principio
fiscal e legislação vigente que rege o caso. Não havemos aceito pelos povos mais civilisados, como a Inglaterra e os
de mandar para o thesouro aquillo que não lhe compete; Estados-Unidos.
todo o processo fiscal é feito nessa repartição annexa á O SR. ZACARIAS: – Não se póde transigir.
secretaria de Estado; o nobre senador não póde ignorar O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Que
isso. transacção ha nisso, quando se estabelece uma regra
O senado comprehende que a disposição do art. 51 conhecida como é o arbitramento em uma questão em que
da lei do orçamento de 1845, não póde ter applicação cada um, julgando ter direito até certo ponto, commette-a
literal ao caso vertente como o nobre senador inculca. A comtudo ao juizo de terceiro para que profira seu vertdict?
questão de Molina Reys & C., assim como a de Lanus & Por ventura quando nós entregámos ao
Lesica, é de sua natureza complexa, vária e difficil. Não se arbitramento do ministro inglez nos Estados-Unidos a
trata de documentos comprobatorios de fornecimentos á questão do Carolina, fizemos rebaixar a dignidade
tropa feitos dentro do paiz; não se trata de documentos nacional?
remettidos pelas thesourarias das provincias para terem O SR. ZACARIAS: – Mostrarei a differença.
uma solução definitiva; trata-se de reclamações vindas de O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O que
fóra por motivos especiaes... quero é que o nobre senador reconheça que tive e tenho
O SR. ZACARIAS: – Mas que emfim versam sobre solidas razões para aceitar o alvitre proposto, porque veja
fornecimentos. S. Ex. que o governo não foi quem propoz, aceitou; e é
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – ...e uma responsabilidade esta de que não declino, é um acto
que não podem ser formuladas por meio desses que entendo não deslustra o governo nem rebaixa a pasta,
documentos comprobatorios de despeza, isto é, não porque não está absolutamente neste caso o acto de
podem apresentar-se liquidadas, como se apresentam commetter ao criterio de cavalheiros altamente collocados
esses do art. 51, e por conseguinte a elles não se póde a decisão de questões emaranhadas e de caracter
applicar a mesma disposição. evidentemente internacional.
O SR. ZACARIAS: – Eu desejava que V. Ex. me O SR. ZACARIAS: – Se V. Ex. podesse aceitar,
dissesse se ambos versam sobre fornecimento ou não. podia propor.
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – E' O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): –
preciso que o nobre senador veja quando e como foram Attenda o nobre senador que, tendo os reclamantes pedido
feitos os fornecimentos. Quem ler esse art. 51 ficará uma certa quantia, o governo podia legalmente, não digo
comprehendendo que trata-se de divida proveniente da justamente, mandar pagar até a totalidade, e, se o governo
venda de generos e com documentos comprobatorios; e tinha esta faculdade, como desconhecer-lhe o direito de
basta que eu cite ao nobre senador uma das hypotheses delegar a terceiros o conhecimento da questão para que
de uma dessas reclamações para que S. Ex. comprehenda se pague da reclamação pedida alguma cousa? Onde está
que aqui o art. 51 não podia ter applicação litteral. ahi o acto de transigencia?
Um dos pontos da reclamação de Mulina Reys & C., O SR. ZACARIAS: – Se podesse aceitar, podia
Sr. presidente, é sobre o numero de legoas percorridas propôr.
pelo exercito em uma certa marcha; trata-se de saber se o O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Digo
fornecimento foi feito por um caminho em linha recta ou que não propuz porque este é o facto historico, não quero
por um caminho em contornação; sobre isto ha suas desnaturar aqui cousa nenhuma.
duvidas, é preciso um conhecimento especial do que se São reclamações antigas, o governo hesitava em
passava naquella occasião; é preciso um complexo de resolvel-as, não havemos de estar prolongando a decisão
circumstancias que certamente não são as cogitadas pelo indefinidamente, é da honra do governo dar uma solução,
legislador, quando disse que as thesourarias remettessem e por isso desde que semelhante alvitre foi suggerido pelos
os documentos comprobatorios da despeza. E' uma reclamantes e apoiado pela legação argentina, não era
questão difficil decoroso dizer: «Não pagamos já nem aceitamos o
recurso do arbitramento»; recurso a que ninguem se nega
Sessão em 8 de Maio 27

O SR. ZACARIAS: – O recurso a que ninguem se Junior, visconde de Caravellas, Junqueira, visconde de
nega é outra cousa; V. Ex. está confundido. Eu não sabia que Nitherohy, Zacarias, Ribeiro da Luz, barão do Rio Grande,
a legação argentina é que tinha proposto. Pompeu, visconde de Inhomerim, Uchôa Cavalcanti,
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Apoiou Fernandes Braga, F. Octaviano, marquez de S. Vicente,
officialmente esse pedido das partes. visconde de Camaragibe, barão de Maroim, barão de
O SR. ZACARIAS: – Então não foi ella que propoz? Camargos, Candido Mendes, visconde de Jaguary, conde de
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Não Baependy, barão de Pirapama, Paes de Mendonça, visconde
tomou a iniciativa. Ella apresentava a necessidade de uma do Rio Branco e visconde do Bom Retiro.
solução e, tendo as partes proposto o arbitramento, apoiou Deixaram de comparecer com causa participada os
esta proposta. Srs. Figueira de Mello, Leitão da Cunha, Nunes Gonçalves,
Creio, Sr. presidente que foram esses os pontos Paula Pessoa, Sinimbú, Paranaguá Fernandes da Cunha,
principaes sobre que versou o discurso do nobre senador e Saraiva, Cunha Figueiredo, Antão, Silveira da Motta.
por isso, estando a hora adiantada, eu me limito a estas Deixaram de comparecer sem causa participada os
considerações. Se tiver ainda occasião de fallar em Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de
semelhante materia, talvez que ainda possa adduzir novos Suassuna.
argumentos, porque estou persuadido de que em favor das O Sr. presidente abriu a sessão.
opiniões que acabo de sustentar, quer sobre o arbitramento, Leu-se a acta da sessão antecedente, e, não havendo
quer sobre a transferencia dos soldados do corpo de policia quem sobre ella fizesse observação, foi approvada.
para os de 1ª linha, os argumentos são abundantes, varios e O Sr. 1º Secretario leu o seguinte
de natureza diversa.
Foram lidas e postas em discussão conjunctamente as EXPEDIENTE.
seguintes
Officio, datado de hoje, do Sr. senador José Antonio
EMENDAS. Saraiva pedindo ao senado dispensa de comparecer por
alguns dias ás sessões por ter necessidade de ir á provincia
Supprimam-se no art. 3º § 1º as palavras: «devendo da Bahia, por motivo de molestia de pessoa de sua familia.
ser illiminados do quadro do estado-maior os officiaes que não A’ commissão de constituição.
tiverem o curso completo da arma» até o fim do paragrapho. Officio, datado de S. Paulo, em 5 de corrente, do Sr.
S. R. – Z. de Góes e Vasconcellos. – Visconde de Souza senador Silveira da Motta, participando que por se ter
Franco. – Nunes Gonçalves. – T. Pompeu. – J. A. Saraiva. prolongado a sua convalescença não pôde comparecer á
Art. 3º (additivo). sessão passada, mas que espera fazel-o no corrente mez.
3º Supprimam-se as palavras seguintes: O mesmo destino
E se passar a escola central para o ministerio do Officio, de 6 do corrente, do ministerio da marinha,
Imperio, «sem que sejam augmentados os vencimentos dos remettendo o autographo sanccionado da resolução da
lentes e mais empregados da dita escola.» – Vieira da Silva. assembléa geral que autorisa o governo para mandar contar o
Findo o debate, ficou adiada a discussão pela hora. tempo de serviço do escrevente do patrão-mór do arsenal de
O Sr. presidente deu para a ordem do dia 8: marinha da Côrte Carlos José dos Santos Borges.
Continuação da 3ª discussão do projecto de lei fixando Ao archivo o autographo, communicando-se á outra
as forças de terra para 1873 – 1874. camara.
Levantou-se a sessão ás 5 horas da tarde. Onze officios do 1º secretario da camara dos Srs.
deputados, de 7 do corrente, remettendo as seguintes
4ª SESSÃO EM 8 DE MAIO DE 1873. proposições.
A assembléa geral resolve:
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ Art. 1º São concedidas tres loterias em beneficio da
igreja matriz da parochia de Nossa Senhora da Conceição da
Summario. – Expediente. – Redacção. – Discurso e cidade de S. Luiz do Maranhão.
requerimento do Sr. Vieira da Silva. – Ordem do Dia. – Forças Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
de terra. – Discursos dos Srs. Zacarias, ministro da guerra, Paço da camara dos deputados, em 7 de Maio de
Jaguaribe, visconde de Nitherohy e Pompeu. 1873 – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
Joaquim José de Campos da Costa de Madairos e
Ao meio dia fez-se a chamada e acharam-se presentes Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
quarenta e tres Srs. senadores a saber: visconde de Abaeté, Mello, 2º secretario.
Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de A assembléa geral resolve:
Carvalho, Jobim, Diniz, marquez de Sapucahy, duque de Art. 1º São concedidas tres loterias em favor da
Caxias, Barros Barreto, barão de Cotegipe, Silveira Lobo, associação dos artistas mecanicos liberaes da provincia de
visconde de Souza Franco, Mendes dos Santos, Jaguaribe, Pernambuco.
Chichorro, barão da Laguna, Vieira da Silva, visconde de Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Muritiba, Firmino, Nabuco, Teixeira Paço da camara dos deputados, em 27 de Maio de
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
Albuquerque,
28 Sessão em 8 de Maio

1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de Mello. 2º A assembléa geral resolve:


secretario. Art. 1º São concedidas quatro loterias em beneficio
A assembléa geral resolve: das obras da igreja matriz da parochia da capital da Provincia
Art. 1º E' concedida uma loteria em favor da da Parahyba.
associação propagadora da instrucção publica, na provincia Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
de Pernambuco. Paço da camara dos deputados, em 7 de Maio de
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
Paço da camara dos deputados em 7 de Maio de Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr. Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e Mello, 2º secretario.
Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de A assembléa geral resolve:
Mello, 2º secretario. Art. 1º Ficam concedidas quatro loterias, sendo duas
A assembléa geral resolve: para as obras das matrizes das parochias das villas de
Art. 1º São concedidas duas loterias em beneficio das Benevente e Santa Cruz e duas em beneficio do hospital da
obras da igreja matriz da parochia do Ceará-mirim, na misericordia da cidade da Victoria, na provincia do Espirito
provincia do Rio Grande do Norte. Santo.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Paço da camara dos deputados, em 7 de Maio de Paço da camara dos deputados, em 7 de Maio de
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr. 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
Mello, 2º secretario. Mello, 2º secretario.
A assembléa geral resolve: A assembléa geral resolve:
Art. 1º São concedidas quatro loterias em beneficio Art. 1º São concedidas quatro loterias pelo plano das
das obras das igrejas matrizes das parochias das cidades do da Santa Casa da Misericordia da Côrte, em beneficio das
Serro e Rio Pardo, na provincia de Minas Geraes. obras do novo hospital da ordem terceira de Nossa Senhora
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. do Carmo da cidade do Rio Grande do Sul.
Paço da camara dos deputados, em 7 de Maio de Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr. Paço da camara dos deputados, em 7 de Maio de
Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
Mello, 2º secretario. Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
A assembléa geral resolve: Mello, 2º secretario.
Art. 1º São concedidas quatro loterias em beneficio A’ commissão de fazenda.
das obras das matrizes das parochias de Pouso Alegre, A assembléa geral resolve:
Caldas e Tres Pontas, e uma em beneficio do hospital de Art. 1º E’ autorisado o governo para conceder um anno
caridade da cidade de Caldas, na provincia de Minas Geraes. de licença com ordenado ao desembargador da relação da
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. Côrte Viriato Bandeira Duartes, afim de tratar de sua saude
Paço da camara dos deputados, em 7 de Maio de dentro ou fóra do Imperio.
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr. Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e Paço da camara dos deputados, em 7 de Maio de
Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
Mello, 2º secretario. Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
A assembléa geral resolve: Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
Art. 1º São concedidas quatro loterias, a saber: uma Mello, 2º secretario.
para as obras da igreja matriz da parochia de Rezende; uma A’ commissão de pensões e ordenados.
para as obras da igreja matriz da parochia de Barra Mansa; Foi lida, posta, em discussão e approvada a seguinte
outra em beneficio da casa de caridade da cidade de Angra
dos Reis; e a quarta para a casa de caridade da villa de REDACÇÃO.
Pirahy, na provincia do Rio de Janeiro.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. Emendas approvadas pelo senado á proposição da
Paço da camara dos deputados, em 7 de Maio de camara dos deputados de 6 de Junho de 1871, que crêa no
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr. municipio da Côrte mais quatro officios de tabellião de notas e
Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e dous de escrivão de orphãos.
Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de 1ª No art. 1º supprimam-se as palavras «e dous de
Mello, 2º secretario. escrivão de orphãos».
2ª Supprima-se o art. 2º.
3ª Supprima-se o art. 3º.
4ª Art. 2º (additivo) «Os tabelliães se substituam
reciprocamente em seus impedimentos».
Sessão em 8 de Maio 29

5ª O art. 4º passa a ser 3º. Se o que querem é a guerra tel-a-hão, nos salões, na
Paço do senado, em 7 de Maio de 1873. – Marquez de imprensa, nas associações, nas academias, na escola
Sapucahy. – Firmino Rodrigues Silva. mesmo.
O SR. VIEIRA DA SILVA: – Sr. presidente, a politica O programma ultramontano é hoje muito conhecido. A
religiosa dos bispos de algumas dioceses do Brasil traz de maçonaria é um pretexto. Ninguem se illude mais á respeito
tempos a esta parte o espirito publico agitado e a familia das tendencias ultramontanas e do plano concertado e
brasileira em sobresalto. assentado entre os discipulos do collegio romano. A luta
Já vimos como neste recinto pronunciou-se no voto de aberta pelos bispos é essencialmente politica. Não se dirige
graças o nobre senador pela minha provincia, cuja illustração contra a incredulidade nem contra o racionalismo ou o
muito respeito, mas de cujas opiniões neste ponto me afasto, atheismo, como se proclama, é uma luta de supremacia; é a
contra a politica religiosa do gabinete, e é notavel, Sr. luta de todos os tempos, que revive; é a luta pela
presidente, que ainda nenhuma só palavra se tenha feito ouvir omnipotencia do Soberano Pontifice; é a luta pelo poder
por parte dos membros do ministerio nesta augusta camara politico do Papa; é por tanto a invasão, a usurpação do poder
para refutar as theorias do meu distincto collega e dar-nos temporal pelo espiritual, é a sujeição do Estado pela Igreja.
explicações quanto ao procedimento que o governo pretende O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado.
ter não só em relação á politica religiosa desses bispos, como O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não apoiado.
em solução ás representações que lhe foram dirigidas contra O SR. JOBIM: – Muito apoiado.
alguns actos desses bispos e especialmente contra os bispos O SR. VIEIRA DA SILVA: – Sr. presidente, já o disse,
de Pernambuco e do Pará. o programma ultramontano é muito conhecido. De que se trata
O corpo legislativo, Sr. presidente, não póde ser hoje no Brasil senão de dar-se-lhe execução? Elle se acha
indifferente a factos de tamanha gravidade, a questões tão definido no Syllabus, onde se nega a independencia do
graves e que tão de perto interessam não só á familia e ao Estado, onde se considera um erro a doutrina do placet, o
Estado, como ao futuro da igreja brasileira, nem o governo recurso á Corôa, onde se proclama a omnipotencia do Papa e
póde por mais tempo fazer esperar as providencias que da a sujeição do poder civil.
sua sollicitude aguardam os povos. E não é só no Syllabus que se acha definido este
Os bispos das dioceses do Rio de Janeiro, Rio Grande programma; ahi está tambem a bulla Æterni Patris, em que o
do Sul, Pará e Pernambuco, attribuindo ao Soberano Pontifice Soberano Sontifice depois de declarar que reune um synodo
o direito de vigilancia e de reforma sobre todos os actos, sobre geral para remediar o estado tão triste das cousas sagradas e
todas as leis, e medidas que mesmo indirectamente possam das cousas publicas, descreve esse lamentavel estado do
interessar á fé e á moral christã, proclamam a omnipotencia modo seguinte:
do Soberano Pontifice, tanto no temporal como no espiritual, «A Igreja Catholica, sua doutrina salutar e seu poder
na ordem politica como na religiosa, omnipotencia que os veneravel, a suprema autoridade da Sé Apostolica atacados e
Papas nunca tiveram nem mesmo no tempo de Gregorio VII, e calcados aos pés; as cousas sagradas desprezadas, os bens
vão se arrogando poderes que não teem e o exercicio de uma ecclesiasticos pilhados; os bispos, os homens os mais
jurisdicção que lhes é contestada pelo poder civil. recommendaveis votados ao ministerio e as pessoas que se
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não apoiado. distinguem por seus sentimentos catholicos perseguidos de
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado. todas as maneiras; as familias religiosas supprimidas; os livros
O SR. VIEIRA DA SILVA: – O governo, sinto dizêl-o, impios de todo genero, jornaes pestilenciaes, uma multidão de
pois nesta questão estou disposto a acompanhal-o, parece seitas das mais perniciosas, se espalham por todas as partes;
que se acha estupefacto, timido, como que assombrado a dignidade e a santidade do casamento violadas; a educação
perante tão extraordinarios acontecimentos! da infeliz mocidade quasi por toda parte arrancada do poder
Até onde, Sr. presidente, pretendem esses bispos do clero e confiada aos mestres da iniquidade e do erro...»
levar a intolerancia religiosa? Até o ponto de fazerem com que E accrescenta:
os povos não enxerguem no clero senão um inimigo? «O concilio, corrigindo estas violações das leis divinas
Quererão que a liberdade em vez de procurar um apoio na fé, e humanas que abatem a religião e a sociedade civil de uma
o vá pedir á incredulidade, confundindo a sua com a causa do maneira deploravel, e estendendo o poder da Igreja e da sua
materialismo, do atheismo, das falsas opiniões? Para onde doutrina, não procurará tão sómente a salvação eterna dos
caminham? Para a fé ou para a anarchia? Porque hão-de homens, mas contribuirá para o bem temporal dos povos, para
privar a Igreja da sua melhor arma, a persuasão? a sua verdadeira prosperidade para a boa ordem e
O que pretendem esses bispos, cujo fervoroso zelo tranquillidade que devem reinar em seu seio, assim como aos
tanto exalta a admiração do nobre senador pela minha progressos e á perfeição das sciencias humanas...»
provincia? Se o que pretendem, o que querem é, com o terror Assim, o concilio do Vaticano reuniu-se para dar nova
que por ventura possam infundir em espiritos fracos com as direcção ás sciencias humanas, endireitar a sociedade civil e
penas do inferno decretadas neste mundo, plantar o seu as suas leis, corrigir os nossos males, deliberar sobre as
despotismo, a reacção não se fará esperar. Peior para a Igreja questões as mais difficeis das relações do Estado e da Igreja
do que Luthero foi incontestavelmente a philosophia do seculo e sobre ellas decidir soberanamente pelos seus decretos, sem
XVIII, e a reacção que provocam ha de transportar para o audiencia dos governos.
nosso paiz os arsenaes philosophicos do seculo passado. Foi este concilio que proclamou o dogma da
infallibilidade do Papa. E o que é o dogma da infallibilidade do
30 Sessão em 8 de Maio

Papa, Sr. presidente, senão a consagração da theocracia! «3º Só poderá casar o maçon que perjurar, isto é, que
Proclamado esse dogma, o que é o padre senão o apostolo da se reconciliar com o Sr. bispo.»
theocracia? «4º Só terá sepultura ecclesiastica, o maçon que antes
E' este programma que executam os nossos bispos; é de morrer se reconciliar com o Sr. bispo, isto é perjurar.»
este o papel que elles representam. «5º Para evitar conflictos o cemiterio fica privado da
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Fazem o seu dever. antiga benção, é um campo atôa, por já ter recebido corpos de
O SR. VIEIRA DA SILVA: – O programma é o do maçons; d'ora em diante se benzerá em particular cada
Syllabus, e está tambem definido na bulla que citei. Agora sepultura dos que não forem sinceros maçons.»
vejamos o que se passa no nosso paiz, procuremos saber «6º Só continuarão a fazer parte das confrarias e
como nelle se vae executando este programma. Merece a irmandades os maçons que perjurarem. Os que assim não
especial attenção dos altos poderes do Estado a imprensa fizerem serão expulsos como rebeldes.»
episcopal de Pernambuco. Nella se diz, combatendo o placet Chamo tambem a attenção do governo para o
cuja doutrina, segundo o Syllabus, é considerada um erro: procedimento do bispo do Rio Grande do Sul que sae da sua
«O beneplacito é lei injusta; porque nega aos ministros diocese, abandona o seu rebanho quando e como bem lhe
da religião verdadeira a independencia que reconhece nos das parece, e vae á Europa e provincias do Norte, onde demora-
falsas.» se o tempo que quer! Julgando-se desligado, pelo facto de ser
«E' lei absurda; porque subordina ao poder civil o bispo, de seu juramento ao soberano da sua nação, só se
poder ecclesiastico que lhe é superior.» reconhece subdito do Papa! Si a assembléa provincial lhe
E' lei impia; porque offende a independencia que Jesus pede informações sobre assumptos de sua competencia, elle,
Christo deu aos pastores da Igreja. fazendo praça do maior desprezo pelos poderes constituidos
«E' lei anti-catholica; porque repetidas vezes teem sido da nação, responde-lhe com descortezia sem igual...
condemnada pela Igreja.» O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado.
«E' lei prejudicial ao bem commum; porque obsta O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não apoiado.
direcção espiritual dos subditos do estado. O SR. VIEIRA DA SILVA: – ...dirige-se ao corpo
Finalmente é lei contraria a outros artigos da legislativo provincial como de superior para inferior e com
constituição, a saber ao citado art. 179 § 4, ao art. 5, que intoleravel sobranceiria!
reconhece como religião do Estado a religião que O SR. JOBIM: – Apoiado.
anathematisa o beneplacito, e ao art. 103 que impõe ao O SR. VIEIRA DA SILVA: – Está no conhecimento dos
soberano o juramento de manter aquella religião.» nobres senadores o modo porque a imprensa ecclesiastica do
E' assim que a imprensa episcopal daquella provincia Imperio se ha pronunciado, em sustentação dos actos
préga a desobediencia ás leis do paiz e á constituição... praticados pelos bispos e que excitam clamor, a parte activa
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não apoiado. que tem tomado na provocação e como procura sustentar o
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado. programma ultramontano.
O SR. VIEIRA DA SILVA: – ...em nome daquelles que O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Esse programma é
exigem para si toda a obediencia e a sujeição de todas as um sonho.
consciencias. O SR. VIEIRA DA SILVA: – Se é sonho, é o sonho
No Pará dá-se o mesmo. Donde se vê que é plano que alimenta a Igreja romana, desde que pretende ser
concertado e assentado. Provoca-se, quer-se a luta! Um universal; sim é um sonho, mas um sonho que resurgiu depois
periodico daquella provincia, O Santo Officio publicou o artigo da tomada de Constantinopla.
seguinte, que extractamos da Verdade, folha do Recife. O que se deve esperar da attitude assumida por esses
«Hontem, á hora bastante avançada em que este bispos? E' facil prevel-o. Teremos a anarchia, a desordem, a
nosso numero entrava para o prelo, recebemos a Boa Nova perturbação das relações entre o Estado e a Igreja.
datada de ante-hontem e traz publicada a conclusão da O exemplo da Italia ahi está, exemplo seguido pela
celebre e prolixa pastoral do bispo diocesano.» catholica Hespanha, onde a Igreja, abandonada a si mesma,
Aguardavamos ancioso a conclusão dessa pastoral acha-se sob o nivel do direito commum, sem autoridade, sem
que devia ter duplo fim: acarretar o odioso e a aversão sobre a principio.
maçonaria e condemnar o Pellicano, orgão official desta A respeito das relações entre o Estado e a Igreja, eu
instituição entre nós: professo opiniões muito differentes das que professa o
Não nos enganavamos, porém S. Ex. não se limitou distincto senador pela minha provincia. Ou ha de dar-se
sómente a isso. unidade entre a Igreja e o Estado, ou a co-existencia destes
Para a salvação das almas e para a gloria de Deus dous poderes. A perfeita unidade da Igreja e do Estado só
(textuaes) o nosso adoravel pastor houve por bem, depois de póde ter logar em dous casos: quando a vida religiosa e as
ter ouvido o seu conselho episcopal, decretar o seguinte: suas instituições teem uma côr politica a ponto de tornarem-se
«1º O Pellicano é reprovado, condemnado e prohibido, completamente seculares, como acontecia nos estados da
pelas heresias, blasphemias e maiores impiedades que tem antiguidade classica; ou quando o Estado serve de preferencia
publicado, assim como todos os outros papeis que propagam aos fins e ás instituições ecclesiasticas tornando-se uma
perniciosas doutrinas.» theocracia pura como por vezes se tem visto no Oriente.
«2º Só terá absolvição do Sacramento, o maçon que A existencia de uma religião do Estado suppõe a co-
fôr perjuro.» existencia das duas sociedades, a civil e a religiosa, o Estado
e a Igreja. As difficuldades que resultam da co-existencia
Sessão em 8 de Maio 31

destes dous poderes sociaes são manifestas; e assim, desde O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não apoiado; se a
que não existe entre os dous poderes um poder superior para doutrina é a mesma em toda a parte!...
o qual possa haver recurso, como manter-se a harmonia O SR. VIEIRA DA SILVA: – O accôrdo da doutrina
entre ambos? Só ha tres hypotheses. A primeira hypothese christã com o racionalismo...
verifica-se quando ha um verdadeiro dualismo, isto é, quando O Sr. Jobim dá um aparte.
as duas sociedades com os respectivos poderes existem O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Leia a Bibliotheca
completamente separadas e independentes. Em caso de maçonica.
conflicto cada qual usará como poder e quizer da força que O SR. VIEIRA DA SILVA: – ...representado, não pela
tiver. maçonaria como quer o nobre senador, mas pela sciencia,
A segunda hypothese dá-se no caso da supremacia pela philosophia, é um problema eterno. Se os racionalistas
de um sobre o outro poder, embora separados e não admittem que a intervenção divina possa perturbar a
reconhecendo-se mutuamente. Se a supremacia é exercida regularidade necessaria das leis naturaes; e chegam por este
pela Igreja, dá-se uma theocracia baseada na preferencia do meio á negação da revelação, tambem ha catholicos, Sr.
que é religioso sobre o civil... presidente, que, temendo a sciencia, desconfiando de razão,
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E sempre existiu, fecham os olhos ás verdades as mais evidentes e se fazem
porque esta é a verdade. scepticos por devoção; para estes o limite entre a razão e a
O SR. VIEIRA DA SILVA: – ...se é exercida pelo fé não é o symbolo, mas um decreto do Index.
Estado, a Igreja é considerada como uma corporação Ora, senhores, será partilha do catholico a cegueira
altamente privilegiada, mas subordinada ás leis do Estado, voluntaria? Se não é possivel para poder crer servir-nos da
pelo menos no tocante ás suas instituições externas e no que razão, onde está aqui a fé? Que merito haverá então em
interessa ao Estado. crer? Se creio, não devo raciocinar, se raciocino, não creio! A
Verifica-se a terceira hypothese pela abstenção por fé neste caso como será uma virtude? Onde está a fé repito?
parte do Estado de toda e qualquer intervenção na Igreja. Isto é antes incredulidade! Desde que fujo da razão, desde
Neste caso, o Estado não reconhece nella posição igual á que não quero raciocinar para poder crer, sou antes um
sua, não lhe concede privilegio algum, considera-a como uma incredulo...
associação particular, que póde estabelecer-se como quizer O SR. F. OCTAVIANO: – Apoiado.
e poder, sujeitos os seus membros á lei commum. Neste O SR. VIEIRA DA SILVA: – E’ antes incredulidade;
caso a Igreja é completamente livre. não ha merito nessa fé, nessa crença.
Temos na Belgica e na Prussia o exemplo do O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Com esses
dualismo puro da primeira hypothese. castellos tudo se póde atacar.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Na Prussia é agora O SR. VIEIRA DA SILVA: – A sciencia, senhores,
o contrario. não prejudica a religião; pelo contrario, quanto mais
O SR. VIEIRA DA SILVA: – Talvez. Na segunda independente for, tanto mais serviços prestará á religião.
hypothese, ao dualismo com preponderancia da Igreja O meu nobre collega deu-me um aparte a que não
aspiram os Papas; o dualismo com preponderancia do poder pude responder logo. Disse S. Ex. que a verdade eterna é a
temporal existe na Igreja gallicana. E, finalmente, os Estados da supremacia da Igreja sobre o Estado. Suppunhamos que
Unidos offerecem o exemplo da mais completa liberdade da se realise isto; que de males não se originariam! A primeira
Igreja. E’ completamente livre e tambem o Estado livre. cousa sacrificada a essa preponderancia seria a liberdade de
Não posso agora, Sr. presidente, desenvolver o meu consciencia; a Igreja preponderante havia de impor-se como
pensamento, indicando as bases em que poderia assentar a unica e verdadeira; havia de erguer-se como um embaraço
harmonia entre a Igreja e o Estado; levar-me-hia isto muito permanente para a instrucção superior do paiz; mandaria
longe, pois teria de tratar de assumptos importantissimos, o supprimir ao estudo e ás investigações ramos inteiros dos
que não cabe na justificação de um requerimento. Se os conhecimentos humanos, como já tem acontecido em relação
systemas logicos, isto é, aquelles que se apresentam como ás mathematicas e á historia natural.
conclusões de um pensamento logico, não podem ser O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Está enganado.
applicados em toda sua originalidade e rigor, o que cumpre é O SR. VIEIRA DA SILVA: – Quando, em 1815,
examinar se por combinações, excepções, se pela renuncia Fernando VII restabeleceu em Hespanha a Companhia de
ás consequencias extremas (apoiados), póde-se crear entre Jesus e mandou-lhe entregar em 1816 o collegio de Madrid,
o Estado e a Igreja relações que tenham por base a harmonia o padre jesuita professor de mathematicas abriu o seu curso
e quando ellas não se adaptem perfeitamente ás theorias, com um discurso em que além de outras cousas, dizia o
trate-se de fazel-as corresponder ao desenvolvimento seguinte: «Todos os males que pesam sobre a Europa ha 30
historico, e á variedade da natureza humana. annos são principalmente devidos á lamentavel instrucção e
Disse o nobre senador pela minha provincia quando educação do seculo anterior, que arrastavam os homens á
fallou no voto de graças sobre a politica religiosa do gabinete: rebellião e á incredulidade. Limitarei, portanto, o meu ensino
«O destino da humanidade é um grande e profundo mysterio; á arithemetica, algebra e geometria, visto que infelizmente,
duas doutrinas o explicam: a doutrina catholica e o os outros ramos das mathematicas pódem conduzir ao
racionalismo em todas as suas manifestações, que é a materialismo e atheismo.»
doutrina representada pela maçonaria». Eis o que ha de ser sempre o ensino dirigido por
A que época, e a que paiz refere-se o nobre senador? jesuitas e de conformidade com o programma ultramontano,
A maçonaria do Brasil não conspira nem contra o consequentemente desde que se der a supremacia da Igreja
Estado, nem contra a igreja. (Apoiados.) sobre o Estado, uma theocracia.
32 Sessão em 8 de Maio

Sr. presidente, os autores da nossa constituição Uma das cousas que mais dão que entender ao nobre
entenderam que a sociedade civil não podia existir sem senador e que mais o trazem impressionado são os symbolos
religião, fonte de todos os bens, de todas as consolações; e os emblemas dos maçons. O que haverá de mais
que era preciso um culto a toda associação humana; que na innocente?!
falta de uma crença estabelecida levantam-se centenares de Muitas associações que no presente como no seculo
seitas, como acontece na America do Norte, ou surgem passado se formaram e se formam sem fins maçonicos,
superstições vergonhosas, como na China; e assim, adoptaram e ainda hoje adoptam os emblemas, os symbolos
estabeleceram que a religião catholica, apostolica e romana e o cerimonial maçonico. Foi assim que no seculo passado
continuaria a ser a religião do Estado. A par, porém, da formou-se na Allemanha a loja dos illuminados em opposição
religião o Estado permittiram os outros cultos, permittiram aos jesuitas.
que funccionassem com a restricção de ser em casas Que responsabilidade póde caber ás verdadeiras
particulares e sem apparencia de templo. A religião do lojas se os illuminados e os carbonarios conspiram contra a
Estado não exclue, pois, a liberdade de consciencia, de ordem civil ou religiosa, se se associam para levar a effeito
imprensa, de reunião e de associação, e nem estas uma revolução social?
liberdades importam a liberdade de irreligião, a liberdade de Que importam esses emblemas, essas insignias
negação, de subvenção, a liberdade do mal em summa. maçonicas, e o que provam? Os missionarios jesuitas na
Ora, o nosso codigo criminal não podia deixar de ser China e na India não se faziam mandarins, não se
concebido de accordo com estes principios salutares; mas o apresentavam como brahmanes? e não confundiam a
meu nobre collega declarou-o maçon, heretico! Eu desejaria idolatria com o christianismo adoptando os ritos chinezes e
que nos dissesse o que entende, pois, o que é um codigo malabares? e não appellaram das bullas do Papa para o
criminal catholico? Será aquelle que pune o sacrilegio, isto é, Imperador da China?
os crimes contra a religião? E póde haver crime religioso O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Onde está isso?
desde que todos os cultos são permittidos? O sacrilegio para O SR. VIEIRA DA SILVA: – Veja a bulla ex illa die
com a sociedade é cousa inintelligivel. proscrevendo os ritos malabares e chinezes. Desta bulla os
Em caso contrario, faça-se reviver a Ord. do 1. 5, e os missionarios jesuitas recorreram para o Imperador da China,
processos de bruxaria e contra feiticeiros. Eu não posso assim como de outras – invocando a doutrina do beneplacito,
conceber o que o nobre senador entende por codigo criminal que contestam quando dominam!
catholico e não catholico. Senhores, onde vamos parar com Sr. presidente, se os estados da Europa adquiriram
taes doutrinas! Hoje é o nobre senador que declara-se contra maior estabilidade e depois da tomada de Constantinopla,
o nosso codigo criminal e exige um codigo catholico; a resuscitou, tambem, como eu disse ha pouco, o sonho da
imprensa ultramontana préga a desobediencia á constituição; Roma da idade média, o imperio romano universal e christão.
amanhã, principalmente desde que os jesuitas tomarem Se se realisasse este sonho (é sonho felizmente), se isto
conta dos seminarios, veremos prescrever-se a grammatica fosse, possivel esse poder exerceria a sua dominação sobre
como heretica e taxar-se de lutherana a orthographia! Pois as tres maiores instituições sociaes: a familia, a Igreja e o
não temos exemplos na historia? Estado. Na familia elle recebe o homem no berço,
Na Baviera, o conego Braun tendo feito a reforma do acompanha-o na escola, e se emancipa ao entrar na vida
ensino primario, traduziu para o allemão o Evangelho e fel-o activa é para sujeital-o a nova vigilancia no casamento, no
adoptar nas escolas. Zangaram-se com isto os jesuitas, não confissionario, na hora da morte.
só porque o estyllo não era barbaro, como estava de accordo O SR. F. OCTAVIANO: – Era melhor termos ficado
com a grammatica. Levantaram grande celeuma, declararam no céo...
heretica a linguagem do livro e lutherana a sua orthographia. O SR. VIEIRA DA SILVA: – Na Igreja constrange-o a
O bispo de Regensburgo, que era fanatico pelos abdicar a sua liberdade de pensar e de investigação para que
jesuitas, chamou a contas o pobre conego, que havia tido a se possa implantar no mundo a unidade de fé...
audacia de alterar a antiga orthographia e escrever an Gott O SR. F. OCTAVIANO: – Muito bem.
glauben em vez de in Gott glauben (in Deum), servindo-se da O SR. VIEIRA DA SILVA: – No Estado suffoca todo o
proposição an e não in! Este ridiculo processo terminou por sentimento de nacionalidade para substituil-a pela da unidade
intervenção da autoridade ecclesiastica superior; porém no christã.
eleitorado de Carlos Theodoro, em 1780, sendo outra vez a O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado.
questão do in Gott glauben decidiu-se que se escrevesse O SR. VIEIRA DA SILVA: – Exercido por um clero
como os jesuitas escreviam! separado exteriormente das outras classes da sociedade, e,
Emquanto, Sr. presidente, se não restabelece entre interiormente, resguardado do perigo de toda e qualquer
nós a censura, não se póde impedir que circulem livros e alteração, progresso ou reforma pela ordenação que faz delle
jornaes, pouco ortodoxos; mas se os vapores nos trazem uma aristocracia incrustando-se a si mesma, esse poder
esses jornaes e taes livros, tambem nos importam seria immenso.
barbadinhos, lazaristas, etc. Accresce ainda, Sr. presidente, que este clero,
A maçonaria, disse o nobre senador, representa o formando assim uma casta á parte, com um direito particular,
racionalismo. Porque? Se o racionalismo triumpha, não é a servindo se de uma lingua especial para o exercicio de suas
maçonaria que lhe dá este triumpho, é a sciencia. Se a funcções religiosas, pela sua educação, pelo celibato e pela
sciencia penetrou até á maçonaria e se é isto o que o nobre natureza toda particular de seus interesses communs, está
senador pretendia dizer, acompanhae-a lá, discuti, persuadi, collocado acima de todos os laços da familia, do Estado e da
mas não anathematiseis! patria. (Apoiados.)
Imagine-se agora este clero universal, catholico, na
dependencia absoluta do Soberano Pontifice, revestido de
um
Sessão em 8 de Maio 33

poder arbitrario e da infallibilidade de Deus e diga-se seria Foi lido, apoiado e posto em discussão, a qual ficou
possivel haver vida politica fôra do seio da Igreja? (Apoiados.) adiada por haver pedido a palavra o Sr. Jobim, o seguinte
Bem disse o meu nobre collega, o programma
ultramontano é um sonho; é irrealisavel, é impossivel com a REQUERIMENTO.
nossa civilisação, é incompativel com a vida das
nacionalidades independentes. Requeiro que se peça ao governo informações sobre
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – O melhor era acabar as providencias que tem tomado em virtude das
com a religião catholica. representações que teem sido dirigidas contra alguns actos
O SR. VIEIRA DA SILVA: – V. Ex. vae para os dos Revds. bispos de Pernambuco e Grão Pará.
extremos. Paço do senado, 8 de Maio de 1873. – Vieira da Silva.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – V. Ex. está atacando
todas as instituições da Igreja. ORDEM DO DIA.
O SR. VIEIRA DA SILVA: – O paiz nos julgará e fará
justiça. FORÇAS DE TERRA.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Ataca as
pessimas instituições, as innovações ultimas. Entrou em 3ª discussão o projecto de lei fixando as
O SR. VIEIRA DA SILVA: – Sr. presidente, com o forças de terra para o anno financeiro de 1873 – 1874 com as
desenvolvimento da civilisação moderna ás guerras e aos emendas dos Srs. Zacarias e Vieira da Silva.
interesses da religião succederam os interesses do commercio O Sr. Zacarias pronunciou um discurso que
e estes interesses, que não podiam deixar de ser attendidos publicaremos no appendice.
na arte de governar, dictaram as leis, provocaram guerras O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Sou
revoluções, e prescreveram as condições das convenções e obrigado a voltar a esta discussão, porque o senado viu que o
tratados de paz; assim como desde a independencia da nobre senador que acaba de sentar-se dirigiu-se
America, e, mais tarde, depois da edificação do novo edificio constantemente ao ministro da guerra a respeito de opiniões
politico, já não são os principios religiosos que se acham em sustentadas nesta casa; de fórma tal que a minha resposta
jogo, mas os principios politicos, que lançaram raizes nas não se deve fazer demorar. Já o honrado senador estranhou
theorias abstractas, philosophicas e tornaram conhecida a hoje que eu occupasse muitas vezes a tribuna e até attribuiu-
acção de um novo agente até então desconhecido em politica, me a vis parlandi; Iembrarei a S. Ex. que tenho usado deste
a influencia da sciencia e da litteratura. recurso obrigado pelo dever imperioso do cargo que occupo; e
A Hespanha descobriu o novo mundo, mas emquanto se hontem fallei duas vezes, a segunda foi por cortezia com o
as suas colonias, e as de Portugal, fundadas no espirito do nobre senador e com aquelles senhores que estavam
despotismo politico e religioso, definharam, como definhavam presentes, dando assim occasião a que o nobre senador,
tambem as respectivas metropoles, prosperavam as colonias estudando no remanso do gabinete esta questão, podesse
inglezas. (Apoiados). Este phenomeno produziu-se a principio hoje vir exhibir ao senado um esforço do seu talento, mas não
de um modo ainda mais notavel durante a guerra dos Paizes um esforço da verdade; por isso S. Ex.; longe de, de alguma
Baixos, e tão depressa esta nação firmou-se a sua maneira, censurar o afan com que procuro defender os meus
independencia, que foi a primeira a pôr em relações regulares actos, devia-me ser grato por ter-lhe proporcionado occasião
os diversos pontos do globo, precipitando na bancarota o de poder consultar as suas notas, e não fallar hontem, quando
Estado que havia exhaurido as minas do Perú. Annos depois, não poderia apresentar as considerações e os documentos
quando a Inglaterra rivalisou com a Hollanda, e as colonias com que hoje procurou estribar o seu discurso.
inglezes se foram transformando com seus proprios recursos Deixemo-nos, porém, de preambulos; entremos na
em novos estados e com novas fórmas de governo, e as questão. Preciso ser breve, porque este debate já vae se
companhias de commercio inglezas levaram vantagem até ao prolongando demasiadamente.
proprio estado, foi então, que a burquezia das raças do Norte O nobre senador começou o seu discurso dirigindo-se
fez as suas crusadas commerciaes, cujo exito foi ao illustre senador pelo Ceará e querendo estabelecer
incontestavelmente mais brilhante do que o da cavallaria nas argumentos que collocariam o meu nobre collega em posição
crusadas guerreiras do christianismo. difficil, se tivessem procedencia.
Taes são, Sr. presidente, as vantagens da liberdade de O SR. JAGUARIBE: – Acabo de pedir a palavra para
um povo sobre outro povo opprimido sob o peso da hierarchia responder.
clerical, taes são os resultados da liberdade politica sobre o O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Hontem,
despotismo. (Apoiados.) quando o nobre senador pela provincia do Ceará explicou o
Vou mandar á mesa o meu requerimento. (Muito bem! aviso a que se referiu outro nobre senador pela mesma
muito bem! O orador é felicitado.) provincia que tambem hontem occupou a nossa attenção, o
O SR. ZACARIAS: – Não apoiado. Estou de accordo senado ficou comprehendendo que era mister conhecer-se a
com o Sr. ministro da guerra e não com o Sr. presidente do lettra do aviso para se poder fazer um juizo verdadeiro e que,
conselho. depois das explicações dadas peIo nobre senador, ex-ministro
da guerra, não era mais licito duvidar da legalidade nem da
boa fé dessa medida.
O nobre senador pela Bahia, querendo applicar-me um
argumento ad verecundiam, disse que o ministro que quizesse
prezar a sua dignidade não devia aceitar semelhante aviso,
devia rejeital-o... Eu peço a attenção do nobre senador, que
costuma reclamar a minha quando falla, e eu
34 Sessão em 8 de Maio

estabeleço ainda a menor conversa; peço a S. Ex. a graça de corpos policiaes das provincias. A noticia que tenho a este
attender-me. respeito é que essa disposição está inserida no regulamento
O SR. ZACARIAS: – Estou ouvindo. do corpo militar de policia da Côrte; aqui esse regulamento é
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Eu dizia feito em virtude de autorisação do poder legislativo, e, por
que não era licito duvidar nem da boa fé, nem da legalidade conseguinte, tem força de lei. Se as observações do nobre
desse aviso, expedido pelo nobre senador pelo Ceará, quando senador se referem a este corpo, eu digo que S. Ex. não tem
elle explicou este seu acto, quando disse que não determinou razão, porque essas disposições são fundadas em lei geral
á presidencia do Ceará que esquecesse as normas que autorisou esse regulamento.
estabelecidas no regulamento de 1º de Maio de 1858, que Se, porém, se trata do regulamento dos corpos
consagra salutares providencias para o recrutamento; quando policiaes das provincias, a questão muda de face; mas eu
explicou que, em vista da facilidade com que, depois da continúo a pensar que o individuo, entrando voluntariamente
novissima reforma judiciaria, varios juizes de direito daquella para o corpo (porque não se admitte recrutamento para elle) e
provincia a notavelmente o do Crato concediam habeas- sujeitando-se a todos os onus e direitos que o regulamento
corpus a todos os recrutas que se apuravam. Era mister uma estabelece, tem ipso facto contrahido expontaneamente um
providencia que, sem ferir o regulamento de 1º de Maio, compromisso de servir no exercito, se commetter taes e taes
comtudo fizesse com que a lei não fosse lettra morta, ao faltas. Se é licito ao cidadão engajar-se voluntariamente nas
capricho de semelhantes juizes. Não ha disposição legal que fileiras do exercito, porque motivo não lhe será licito procurar
determine que o recrutado venha assentar praça na capital da um caminho indirecto, indo servir no corpo policial, sabendo
provincia; assim podia-se mandar assentar praça por qualquer que, se ficar incurso em certas faltas, terá de passar para a
autoridade militar, em qualquer ponto do Imperio. No acto do tropa de linha? Onde está nisto a violação flagrante dos-
assentamento da praça é que o individuo que está, incumbido direitos individuaes do cidadão?
desse serviço deve inquirir do recrutado, na fórma do art. 31 Eu disse hontem ao nobre senador que, quando se
do dito regulamento, se elle tem isenções legaes a apresentar; tratava de penalidade de outra ordem, pensava como S. Ex.
se não tem, assenta praça immediatamente; se tem, marca- Eu sustento que nesses regulamentos de corpos policiaes não
se-lhe um praso de oito a 15 dias para apresental-as; este se póde estabelecer penalidade para aquellas praças que
praso é ampliado, se o individuo mora em logar muito distante. tenham commettido delictos que nós chamamos communs,
Se os nobres senadores trouxessem documentos que por exemplo, para aquella que tiver commettido um homicidio.
comprovassem que a autoridade militar do Crato ou de outra Neste ponto estamos de accôrdo; mas no empenho de servir
comarca da provincia do Ceará, com approvação do no exercito contrahido voluntariamente pelo cidadão, não vejo
presidente da provincia, assentou praça em um recruta sem violação de lei.
lhe perguntar préviamente se tinha as isenções legaes, sem O nobre senador, Sr. presidente, voltou ainda á
que lhe marcasse o praso para as allegar, então era cansada questão do corpo de estado maior de 1ª classe e
procedente a sua censura; mas, se o aviso do meu illustre crendo descobrir contradicção em algumas palavras que
antecessor é, como eu creio, formulado nos termos de evitar o proferi na camara dos deputados a respeito desse corpo
longo trajecto do recrutado de comarcas as mais afastadas até comparado com o de engenheiros, S. Ex. quiz tirar dahi
a capital, trajecto, durante o qual os juizes partidarios podiam argumentos para demonstrar como eu não tinha razão
dar habeas-corpus em massa, como estavam fazendo; se o naquellas palavras que proferi e menos em não aconselhar
aviso é concebido nestes termos, o senado comprehende que que se eliminasse do quadro de engenheiros dous ou tres
nelle não ha a menor derogação nem violação da lei, que elle officiaes que não tem o curso completo.
deve ser entendido em termos habeis, isto é, assenta-se Eu hontem já expliquei ao senado os motivos porque
praça, conforme o regulamento de 1º de Maio, no logar em não advogava neste momento a exclusão de dous ou tres
que o recrutamento deve ser feito. officiaes do corpo de engenheiros, que não teem o curso
Além disto, como muito bem Iembra-me um meu completo. Então, assignalei a differença dos serviços que
illustre collega, esses recrutados teem outros recursos: para a pertencem a uma e outra classe, e disse que a sabedoria do
presidencia da provincia, que dentro de dous mezes póde poder legislativo nesta occasião julgava opportuno expurgar o
mandar pôl-os em liberdade, e para o ministerio da guerra, estado maior de 1ª classe daquelles individuos que não
que póde conceder-lhes baixa em qualquer tempo, verificada tiverem todos os estudos completos; e no entretanto não
a procedencia de suas allegações. julgara chegando o momento para retirar dous ou tres
Onde está, pois, essa enormidade, essa ferida no officiaes, no mesmo caso, do corpo de engenheiros, que
direito, que o nobre senador nos assignalou hontem e hoje, tinham exhibido altas provas de sua capacidade e longa
querendo estabelecer para comigo esse argumento, que ha pratica.
pouco chamei de ad verecundiam, que eu estava obrigado Mas o nobre senador, em vez de considerar esse
pela dignidade do meu cargo a revogar semelhante aviso? argumento que foi o que produzi para justificar essa
Vou vêr este aviso; hei de trazel-o ao senado e estou certo de eliminação, veio ler as palavras que eu proferi na outra
que elle está concebido em termos taes que não ha de camara, palavras que não tinham por fim justificar esta
acarretar o menor dezar ao nobre senador pelo Ceará. medida, mas sómente assignalar a grande differença que
Sobre a questão do recrutamento originada nos existe entre o serviço que incumbe aos officiaes do estado
reguIamentos dos corpos policiaes, entendo, como disse maior de 1ª classe e o que pertence aos do corpo de
hontem, que essa disposição de obrigar o individuo que engenheiros.
assentar praça no corpo policial a servir no exercito, se Eu dizia, Sr. presidente, na outra camara que o official
commetter certas faltas, póde ser admittida nos regulamentos de estado maior de 1ª classe deve ter certos requisitos que
dos não se costuma exigir do official de engenheiro, porque, para
que o official do estado maior fosse bom, completo no seu
mister, precisava ter certas qualidades, que assignalei
Sessão em 8 de Maio 35

e que o nobre senador quiz ler, extrahindo do meu discurso. qualidades que o possam tornar recommendavel. O que
Citei, depois de apresentar outras, a de possuir sangue frio entendo é que essas qualidades eram mais technicamente
necessario e de fallar varias linguas. V. Ex. sabe que esse (permitta-se-me a expressão) precisas no official do estado
official é o encarregado no momento mais solemne da batalha, maior de 1ª classe. Isto é o que o nobre senador não póde
quando a peleja está mais travada, de transmittir as ordens a contestar.
differentes generaes, para brigadas ou para divisões; esse Já vê S. Ex. que as citações que fiz na outra camara
homem, pois, precisa de uma grande coragem, de um grande eram perfeitamente cabidas, vinham inteiramente ao caso.
sangue frio para não equivocar-se no meio de tão momentoso O nobre senador insiste ainda na idéa, de que não ha
perigo. O official de engenheiros dizia eu na outra camara, não occupação a dar aos officiaes do estado maior e que, por
está nas mesmas circumstancias; se elle é incumbido de consequencia, não se deve ampliar o quadro.
trabalhos de guerra, se tem de levantar parallelas, de occupar- Eu já disse em outro dia nesta casa que bastava
se muitas vezes de trabalhos de minas, o senado sómente considerar a força extraordinaria que o projecto
comprehende que não são esses misteres pouco arriscados, é consigna, de 32,000 praças, para vér-se que o quadro actual è
certo, mas são feitos um tanto a coberto, não podem ser muito exiguo. Considerando-se que uma divisão se componha
comparados com o risco imminente que corre um ajudante de de duas brigadas e que cada divisão tenha 4,000 homens,
ordens que vae percorrer uma fileira em que se combate, em teremos emprego para 80 officiaes do estado maior de 1ª
que as balas cáem como chuva, em que a probabilidade é classe; além disso ha o grande quartel do general em chefe e
morrer e não viver. o dos commandantes do corpo do exercito, e no paiz ha
Ha, pois, uma grande differença. O official de alguns misteres mesmo em relação á guerra em que é preciso
engenheiros corre risco, mas o official do estado-maior corre empregal-os. Se o numero de 32,000 praças exige
risco mais imminente. peremptoriamente o emprego de 80 officiaes do estado maior
Eu disse mais que era conveniente que elle fallasse de 1ª classe, além dos que permanecem no paiz e dos que
varias linguas, porque era necessidade apontada pela historia pertencerão ao quartel do general em chefe, e aos dos
de nossos dias: uma das vantagens do estado-maior commandantes dos corpos do exercito, é claro que esse corpo
prussiano foi fallar perfeitamente o francez, que lhe era deve ser elevado a um numero maior do que aquelle que
familiar, no qual se fazia entender muito bem por todas as actualmente tem, numero que está muito abaixo dos 80. Já fiz
populações, ao passo que os francezes nada entendiam do ao senado essa demonstração; não a repito para não fatigar a
allemão. O nobre, senador disse a este respeito: «Quereis sua attenção.
então que o official do estado maior de 1ª classe seja um O SR. POMPEU: – Qual é o numero actual?
polyglota, um Mezzofante.» Não é isto; ha uma exageração O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): –
muito grande; entre o cardeal Mezzofante e um individuo que Cincoenta.
falle duas ou tres linguas vivas, para poder ser entendido Fallou o nobre senador pela Bahia no armamento que
quando tenha de exercer as funcções de parlamentario, se tem encommendado na Europa e que vae chegando.
quando tenha de conduzir o exercito, entrando em um paiz Em primeiro logar, Sr. presidente, V. Ex. comprehende
inimigo, ha uma distancia immensa a percorrer. Pelo menos o que, censura ou não censura, a exhibição do facto revelado
nobre senador foi muito exagerado quanto ao que disse em pelo nobre senador em nada póde tocar ao governo. Foi feita
relação ás minhas palavras na outra camara, de que um a encommenda de armamento segundo os planos approvados
grande engenheiro, um grande homem, um Newton, podendo pela commissão de melhoramentos do material do exercito;
ser um assombro de sciencia, podia tambem não possuir esta commissão introduziu na arma Comblain uma certa
qualidades para um campo de batalha; o nobre senador quiz modificação que pareceu adoptavel. Os officiaes
logo aproveitar este exemplo para demonstrar que o corpo de encarregados dessa encommenda tiveram ordem de cingir-se
engenheiros está igualmente sujeito aos mesmos perigos e a essas instrucções; é, pois, uma questão de apreciação de
azares que o corpo de estado maior de 1ª classe. Um factos. Fiquem os nobres senadores tranquillos que o governo
engenheiro póde ser muito notavel, mas não ser dotado das ha de vêr com cuidado esta questão; se o armamento não
condições necessarias para exercer seus misteres na arte estiver de accôrdo com a encommenda, hão de ser dadas
bellica. Isto não quer dizer que elle não deva ter aquellas providencias precisas.
qualidades que eu assignalei; será muito bom que tenha; elle Entretanto, desde já adianto a S. Ex. que me parece
corre certos perigos, é verdade; tem de abrir brechas, como extraordinario que um official do merito do major Luz se
em Strasburgo, como diz Moltke no seu livro que o nobre apartasse por tal fórma de suas instrucções, mandasse
senador pela Bahia teve occasião de consultar de hontem armamento Comblain diverso daquillo que lhe foi determinado.
para hoje; se os engenheiros que dirigiram minas em Quando mostrei, não admiração nem espanto do que
Strasburgo ou levantaram parallelas em torno de Metz dizia o nobre senador, porém apenas uma certa curiosidade,
correram certos riscos, ninguem negará que os officiaes do porque o armamento Comblain agora é que está começando a
estado maior prussiano correram risco dez vezes maior e que chegar, S. Ex. disse-me que tinha seus meios de informação,
para um engenheiro que morria vinham a fallecer dez ou vinte que tinha somnambulas, e que isto não era de estranhar. Eu
officiaes do estado maior. não estranhei; sei muito bem que os membros da opposição,
E’ isto o que digo; o senado comprehende que são principalmente os mais distinctos, costumam rodear-se
cousas que se harmonisam perfeitamente. Longe de mim sempre de certas somnambulas que trazem ao seu
querer adoptar a opinião, de que o official de engenheiros não conhecimento aquillo que se passa e o que não se passa nas
deva ter nem coragem, nem sangue-frio, nem outras regiões mais ou menos officiaes. Somente tive um pequeno
movimento de curiosidade, porque são questões que correm
por mãos de poucos, cujo cargo impõe
36 Sessão em 8 de Maio

o dever de não concorrer para descredito do armamento do estrangeiros por factos passados em paiz estrangeiro em
exercito de seu paiz. Quanto ao nobre senador não direi que razão de uma guerra internacional. Tudo isso não dará a
não fez bem em trazer esse facto, mas S. Ex. fará o juizo essas reclamações um cunho um pouco diplomatico e
verdadeiro daquella somnambula, que, sem ter maior internacional?
necessidade, veio officiosamente revelar aquillo que não lhe Eu citei o facto do navio Canadá, citei o laudo do Sr.
cumpria fazer: é uma creatura que não se leva pelas regras Thornton, que foi contra o Brasil, e o nobre senador sabe
do verdadeiro criterio, se é possivel qualificar assim uma muito bem que nenhuma lei obrigava o governo de então a
somnambula. entregar aquella questão á arbitragem; mas assim se fez
O SR. F. OCTAVIANO: – E’ melhor dizer porque o governo está no seu direito, fazendo decidir as
somnambulo. questões pelo modo que for mais conveniente, sem que
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Sobre a esteja adstricto unicamente a essa regra que o nobre
questão do arbitramento, eu estimo muito discutir todas estas senador quiz estabelecer.
questões, porque entendo que do debate é que provem a luz; Mas, toda a argumentação se S. Ex., quando se trata
alguma se apura nestas discussões. Sinto, porém, que o propriamente de legalidade, versa sobre o art. 51 da lei de
nobre senador, que dispõe de tantos recursos, não se orçamento de 1845. Sr. presidente, precisamos remontar um
limitasse unicamente aos que lhe assegura seu talento e sua pouco a outro tempo para ver o espirito dessa lei e o que se
logica, e queira estabelecer argumentações que realmente tem feito até hoje. O nobre senador que naturalmente leu,
collocam um individuo que está na posição de ministro em como eu li, a obra do visconde de Uruguay, Direito
uma situação difficil, o que de nenhuma maneira melhora sua Administrativo, vê que, tratando deste ponto, o illustrado
posição de argumentador, porque o nobre senador póde estadista commemora as differentes phases, porque foi
trazer todos os argumentos para mostrar que o governo está passando a legislação do paiz em tal materia; vê que até
em erro, sem dizer, por exemplo, que o arbitramento 1831 essas questões eram decididas pelo conselho de
adoptado rebaixa a pasta. Isto nada traz para a questão e fazenda; que em 1831, época em que houve entre nós uma
colloca o ministro em posição difficil, o que de certo não está aspiração geral para nivelar tudo, segundo o autor da mesma
nas intenções do nobre senador, que tem sido ministro, ha de obra, passou para o poder judicial a decisão de semelhantes
sel-o ainda e não quererá para si semelhante lei, porque será questões; mas foi tal a cópia de sentenças dadas contra a
então a pena de Talião. fazenda publica que já em 1832 se estabelecia uma
Quando, Sr. presidente, eu adoptei o alvitre, restricção dizendo que não fosse inscripta nem paga divida
suggerido pelas partes, de entregar semelhante negocio das alguma que respeitasse a perdas de partes por motivo de
reclamações argentinas a arbitramento, pensei maduramente guerra, interna ou externa, sem autorisação da assembléa
na questão, e vi que o governo lealmente não se podia negar geral.
a semelhante alvitre. O nobre senador depois de pensar E’ isso mesmo, Sr. presidente, que succedeu em
muito na questão, voltando, á tribuna tres ou quatro vezes, França no anno 8º da Republica, em que entregando o
não trouxe ainda argumento novo; pelo contrario o senado conhecimento das reclamações ao poder judiciario foi tão
acaba de observar que S. Ex., querendo trazer um grande grande o furor de condemnar a fazenda publica que medidas
argumento tirado das estradas de ferro, deu um argumento severas se tomaram e mudou-se este systema de
contra si. julgamento.
Tem S. Ex. enterreirado aqui o principio de que o Veio entre nós a lei de 1845 citada pelo nobre
arbitramento só póde ser admittido pelo governo quando senador; é oriunda de factos que o senado conhece, de
estabelecido em lei; entretanto é o proprio nobre senador reclamações estravagantes que appareceram relativas a
pela Bahia quem nos traz um regulamento de estrada de fornecimentos feitos á tropa durante nossas lutas intestinas; e
ferro, permittindo, estabelecendo semelhante recurso, então ahi se estabeleceram as regras para o pagamento
quando a lei que decretou a construcção dessas estradas de dessas reclamações.
nenhuma maneira fallou a esse respeito. Portanto, já vê o O SR. ZACARIAS: – E quaesquer outras.
senado que sem lei (este é o principio cardeal e dominante O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Bem,
da questão), que sem lei (attenda bem o senado) o governo mas veja o nobre senador pela letra desse artigo a differença
estabeleceu o arbitramento para todas as questões de immensa que ha para o caso vertente. O art. 51 da lei trata
estradas de ferro. E', portanto, contraproducente o argumento de documentos comprobativos das dividas militares
adduzido pelo nobre senador. Fiquei um tanto abalado, provenientes das vendas de generos e de quaesquer
quando S. Ex. disse lei e regulamento; mas: havendo fornecimentos á tropa, isto é, trata-se de apurar
reclamação, S. Ex. retrahiu-se e ficou em regulamento, isto é, restrictamente o alcance de documentos comprobativos no
um acto do governo, como é aquelle que se praticou fornecimento de generos vendidos á tropa; ao passo que ás
entregando as reclamações argentinas á decisão de arbitros. reclamações, de que se trata, e estão sujeitas ao juizo de
O arbitramento forçado é que não póde existir; e por arbitros notaveis, comquanto originadas de sucessos da
isso que, para a questão das docas, como para outras, se guerra, não são comtudo relativas a generos vendidos á
tem permittido o arbitramento voluntario. Este arbitramento tropa.
pedido pelas partes e aceito por ellas é de direito inconcusso Sabe perfeitamente o nobre senador que nem a
e não póde ser negado por ninguem. questão Lanus nem a questão Molina tem propriamente a
Nosso governo não só em questões internas, como sua origem em generos fornecidos á tropa; são outras
nas externas que citei hontem, tem recorrido a semelhante questões, umas de direito, e outras especiaes, e technicas,
meio; o nobre senador quiz invalidar o meu argumento, que teem de ser decididas; e por conseguinte a applicação
dizendo que nas questões externas sim. Mas, senhores, da letra dessa disposição seria muito forçada, e iria collocar o
tratamos aqui de uma questão de reclamação feita por poder executivo em grandes embaraços.
cidadãos Mas se fosse verdadeira a doutrina do nobre senador,
eu perguntaria a S. Ex. como é que se pagaram durante
Sessão em 8 de Maio 37

a guerra do Paraguay milhares de contos de réis a todos os que quer tolher-me até o enunciado da minha argumentação,
fornecedores do nosso exercito daquella Republica? Como S. pois receia ser apanhado em completo equivoco.
Ex., digno presidente do ministerio de 3 de Agosto, consentiu Toda argumentação de V. Ex., o senado foi
que se pagassem largas quantias no Paraguay, sem ser testemunha, baseou-se em que os ministros não são
pelos meios estrictos determinados no art. 51 da lei de 1845? independentes; o senado ouviu estas palavras; que era
Porventura foram ouvidas a thesouraria e contadoria geral da tendencia de todos os ministros quererem tornar-se
guerra, e deu-se essa revisão para o thesouro nacional? Não, independentes da fiscalisação do thesouro; citou-nos até um
senhores; o governo mandava pagar porque era mister fazel- aviso do anno de 1861 sobre uma questão do correio, eu
o; porque a uma guerra fora do paiz não se póde applicar agora apresento a propria reforma de S. Ex., aliás bem
essa disposição que se está referindo a negocios intra muros. pensada em que se diz que essa verificação prévia dos
Eu aqui tenho mesmo varios documentos comprovando que algarismos e das despezas não incumbe mais...
se pagaram reclamações sobre campos, sobre destruição de O SR. ZACARIAS: – Mas a revisão compete.
rebanhos; aqui estão os documentos; pagaram-se sem O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): –
estabelecer-se o processo do art. 51. Além disso, vejo no Responderei a isto, mas deixe-me proseguir. Que essa
balanço geral entre as despezas, diversas que houve no revisão prévia não compete mais á directoria de
ministerio da guerra no exercicio de 1865 – 1866 uma longa contabilidade.
serie dellas, inclusive pagamento de reclamações no valor de O SR. ZACARIAS: – A prévia; a revisão ficou.
4:370:000$000. Nada disto passou pelas repartições O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – E’ o
centraes; nada disto veio ao Brasil; vieram as letras para calcanhar de Achilles, S. Ex. não quer que eu prosiga...
serem pagas: os documentos estão chegando, mas a Dahi se segue, Sr. presidente, que até aquella época,
despeza está feita. isto é, até Abril de 1868, a directoria de contabilidade tinha o
Portanto, como não quer o nobre senador applicar a direito de verificar préviamente toda a despeza dos outros
um caso semelhante a mesma doutrina? Agora que se trata ministerios; mas S. Ex. não nos disse isto.
de averiguar a procedencia de reclamações de individuos O SR. ZACARIAS: – Revisão não é verificação
estrangeiros, apoiadas officiosamente pela legação de seu prévia.
paiz, e que disendo que está retardada a decisão desse O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O
negocio offerecem um meio legitimo, leal, o arbitramento, o dialogo é difficilimo; mas emfim continuarei.
governo havia de dizer: «Não quero o arbitramento, hei de O nobre senador trouxe toda a legislação que se
decidir quando e como quizer»? Não era justo, não era referia á materia, disse que os ministros tendiam a tornar-se
juridico, não era decorozo. independentes; que era do nosso systema que todas as
Mas, Sr. presidente, eu ainda para demonstrar que o despezas fossem verificadas pelo thesouro, que as podia até
governo andou perfeitamente dentro das raias do que lhe glosar, são palavras de S. Ex.; citando tudo quanto existia, S.
compete pela legislação, isto é, não se peando na disposição Ex. não podia emittir seu regulamento; e se este estabelece
do art. 51 que estabelece o processo e a revisão do thesouro cousa nova, torna independente da directoria de
para o pagamento das reclamações que tenham de partir do contabilidade a verificação prévia dos calculos arithmeticos
ministerio da guerra, direi que S. Ex. citando um aviso, creio de todas as despezas dos outros ministerios, ha de
que do tempo do ministerio de 1861, labora em completo concordar comigo que sua argumentação foi altamente
equivoco. Eu tenho o prazer de, nesta occasião, contrapôr ao mutilada pelo regulamento de 1868. Era o fecho que coroava
que S. Ex. disse, a propria autoridade do illustrado ministro o edificio, mas a S. Ex. não fez conta citar seu regulamento.
da fazenda em Abril de 1868 o Sr. conselheiro Zacarias de Portanto fica liquido...
Góes Vasconcellos, que em regulamento estabeleceu o que O SR. ZACARIAS: – V. Ex. não entendeu o
o senado vae ouvir. regulamento de 1868.
O SR. ZACARIAS: – A reforma do thesouro? O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Entendi
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Na como qualquer entende, não póde ser isso privilegio de
reforma feita por S. Ex. se diz o seguinte: «Art. 6º Na ninguem, é uma interpretação litteral. O que quero fazer
directoria geral da contabilidade serão supprimidos os sentir ao senado é que o nobre senador não disse uma
seguintes serviços: 1º A verificação previa dos calculos palavra sobre essa modificação radical da revisão.
arithmeticos de todos os documentos dos outros ministerios, Quando nós aqui discutiamos a questão das
e dos das collectorias e mesas de rendas por occasião da reclamações argentinas, é obvio á qualquer que nosso
entrega da renda mensal ou trimensal.» debate, nosso certamente versava sobre o seguinte. E' licito
O SR. ZACARIAS: – Perdoe-me, não entendeu a ao governo mandar pagar a esses individuos, ou mesmo
reforma. entregar a questão á solução de arbitros, sem que o thesouro
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Eu tenha sido ouvido? Esta é a questão enterreirada pelo nobre
sempre ouço a S. Ex. com religioso silencio: ás vezes tenho senador, appello para o testemunho dos honrados
impetos de responder, porque o caso é flagrante, mas, Sr. senadores; a opinião do nobre senador era que as
presidente, a ordem da argumentação impõe-me o dever de reclamações argentinas não podiam ser pagas sem
ser silencioso. Eu apresentei esta disposição... audiencia e revisão do thesouro, e menos ser entregues a
O SR. ZACARIAS: – Está enganado. arbitramento. Ora, se não se tratava ainda de uma decisão
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Se estou qualquer do governo que autorisasse o recurso para o
enganado, a illustração do senado decidirá. V. Ex. parece conselho de Estado, é claro que a questão da revisão
posterior estava fóra de combate. O recurso para o conselho
38 Sessão em 8 de Maio

de Estado é estabelecido no art. 51 da lei de 1845 para sua academia e seu regimen e vir matricular-se em uma
decisões proferidas pelo governo; não havia decisão escola que não está tão sujeita ás regras militares, de
nenhuma proferida pelo governo; logo essa questão de fórma que elle vem a perder muito: é isto o que tem em
revisão posterior estava fóra de combate. vista a reforma, não é fazer um systema de universidade
O que restava? Era outra questão, isto, é, se essas futura, é habilitar aquella escola a viver por si; mas para
reclamações podiam ser decididas pelo governo sem isto é preciso que o ministro da guerra se allivie desse
audiencia ou revisão previa do thesouro; eu sustentava peso da escola central, concentrando sua attenção na
que sim, o nobre senador sustentava que não; mas já militar e melhorando-a.
mostrei que pela sua reforma não tem mais cousa Agora, para quem passar a escola central? Para o
nenhuma o thesouro com semelhantes pagamentos. ministerio a quem cabe curar da instrucção publica.
O SR. ZACARIAS: – Eu resumo dizendo que V. Entendo que ella não deve passar, como julgam alguns,
Exa. está enganado. para o ministerio da agricultura, da mesma maneira que
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Eu não passam para o ministerio da justiça as faculdades de
tambem resumo dizendo que V. Ex. engana-se. direito do Recife e de S. Paulo. O ministerio da instrucção
O SR. ZACARIAS: – Não comprehende o que é publica é aquelle que deve superintender geralmente
revisão previa dos calculos. sobre tudo isso.
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Com estas informações creio ter satisfeito ao
Comprehendo perfeitamente e estou dizendo que na nobre senador e demonstrado que os pontos cardeas do
hypothese dessa revisão não se tratava ainda disso, seu discurso de hoje são inteiramente improcedentes, e
porque não havia decisão do governo. que, estimando muito sempre que o vejo na tribuna,
Agora temos ainda uma outra disposição do apresso-me a corresponder ao appello e repto de S. Ex.
regulamento da secretaria da guerra feita pelo honrado da maneira que posso.
Sr. Paranaguá que diz: «a liquidação das dividas passivas O SR. JAGUARIBE: – Agradeço muito ao nobre
pertencentes a exercicios findos, sua escripturação, ou Sr. ministro da guerra as poucas palavras que proferiu
assentamento compete, assim como o exame moral e hontem em sustentação do que eu havia dito; julgo-me
arithmetico de toda a despesa que tem de ser paga, á comtudo obrigado a dar ao nobre senador pela Bahia uma
repartição fiscal da Côrte.» resposta que ao menos possa convencer aos que o
O SR. ZACARIAS: – Isso pertencia á contadoria ouviram de que o acto que pratiquei, não foi esse
da guerra. attentado tão horrivel, que parecia aterrar a S. Ex., e
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – aterrar de modo que o nobre senador com a eloquencia
Deixemos os comentarios de V. Ex. que tem fallado que lhe é propria parecia transmittir a seus ouvintes esse
largamente. O que quero dizer é que hoje depois da mesmo terror. Eu mesmo Sr. presidente...
reforma do Sr. Paranaguá e de V. Ex. no pagamento de O SR. ZACARIAS: – Ficou aterrado?
qualquer divida do ministerio da guerra não tem que vêr O SR. JAGARIBE: – ...que tinha consciencia do
cousa nenhuma o thesouro. meu acto, consciencia tão pura que hontem apenas ouvi
O SR. ZACARIAS: – Está enganado pairar sobre elle alguma duvida, fui o primeiro que
perfeitamente. apressei-me a explical-o, fiquei maravilhado do modo
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O porque um acto tão simples era trazido por S. Ex. e
thesouro só póde ser ouvido no caso de decisão do revestido daquelas côres com que S. Ex. soe carregar
governo e interposição de recurso para o conselho de seus quadros, quando quer fazel-os passar por horriveis.
Estado, afim de que a questão se torne mais simples. Debaixo dessa impressão eu que esperava que S.
(Apoiados). Negar isto é negar a luz do dia. Ex. demonstrasse onde existiu o attentado, chegando a
Sr. presidente, ao que disse hoje o nobre senador seu fim para ser coherente com esse terror que procurou
tenho respondido pela maneira que posso. Agora resta- inspirar, mas que em suas palavras nada vi que podesse
me apenas tomar em consideração o que disse S. Ex. comprovar os seus assertos, não pude deixar de lembrar-
sobre a separação projectada da escola militar da central. me nessa occasião daquella celebre passagem de um
Disse o nobre senador que não comprehende orador notavel da antiguidade, orador por excellencia,
como se fazia essa separação uma vez que não fosse a Cicero, quando dizia: «Novum crimen, Cau Cœsr, et ante
escola central um dos elementos constitutivos de uma hane diem inauditum! Quintum Ligarium in Africa fuisse.»
universidade. Eu julgo esta opinião do nobre senador De facto, senhores, quando tudo parecia estar
tambem um pouco singular, porque comprehende-se aterradó, debaixo da impressão de um novo crime até
perfeitamente que a escola central possa existir sem fazer então nunca visto, conforme o annunciava Cicero, e
parte do systema universitario. aguardava a exposição de algum estupendo attentado
Até hoje ella tem existido e dado bons discipulos. contra as liberdades publicas, extrema foi a surpreza ao
O fim da reforma não é tornar a escola central saber-se que este grande crime consistia em ter Ligario
parte integrante de um systema universitario qualquer, o estado na Africa.
fim da reforma é habilitar a escola militar a ter em si como Foi exactamente, Sr. presidente, o que aconteceu
proprios todos os elementos de vida, de fórma que um com o ex-ministro da guerra; expediu uma providencia
moço entrando para alli, principiando a cursar as aulas (que hontem já foi explicada) solicitada por um presidente
preparatorias e depois passando para as aulas superiores de provincia, a quem o ministro como seu superior, sobre
possa sahir um perfeito engenheiro militar, sem que tenha materia de sua repartição devia explicar o que cumpria
de deixar fazer na circumstancia difficil que por esse presidente foi
figurada. Mas esse acto apresentado como um grande
crime
Sessão em 8 de Maio 39

de aterrar, pela propria explicação de S. Ex., não foi outra os recrutas se demoram nas localidades do interior antes de
cousa mais que a resposta do ministro ao presidente sobre a seguirem para a capital? Digo a S. Ex. que ao menos em
providencia que elle devia tomar. minha provincia este retardamento é muitas vezes de tres,
Vamos ver agora se S. Ex. teve razão para dar a quatro, cinco e até seis mezes, o que é inconveniente por
traducção que deu ao acto do ex-ministro da guerra. muitas razões, e até anti-economico; elles estão consumindo
O nobre ministro da guerra com o talento que o dinheiro no Estado sem nenhum serviço prestarem. A ordem,
caracterisa já explicou hontem o facto seguramente com portanto, que expedi ao presidente do Ceará não só podia
muito mais perfeição e profisciencia do que eu o faço, mas eu servir para obviar um inconveniente serio que não estava em
direi a S. Ex. o modo como entendo este aviso, veremos se o suas mãos remover, como trazer muitas outras vantagens,
publico que ouviu S. Ex. póde desfazer esse terror. isto é, autorisal-o a que pelo interior da provincia podessem
O SR. ZACARIAS: – V. Ex. tenha a bondade de logo ter assentamento de praça os recrutas, depois do que
explicar de maneira que eu comprehenda bem. seguramente cessava a atribuição de conceder habeas-
O SR. JAGUARIBE: – Eu peço a V. Ex. que me corpus, ao passo que o juiz de direito não ficava inhibido de
interrompa o menos possivel. Apesar de que eu era a victima concedel-o antes, se lhe fosse requerido.
desse terror com que V. Ex. descreveu o acto do ex-ministro O SR. ZACARIAS: – Mas quem mandava assentar
da guerra, não desse uma palavra, e, entretanto, era bem praça?
natural que ao menos uma palavra de protesto me podesse O SR. JAGUARIBE: – Nas localidades do interior
sahir; mas muito de proposito não o fiz na suposição de que seguramente o recrutador. Por consequencia o nobre
quando a mim, que não disponho dos recursos do nobre senador não disse uma palavra que demonstrasse que o
senador, me coubesse a palavra, e tivesse a fortuna de aviso do ex-ministro da guerra era um acto de violencia, de
explicar o meu acto, não fosse interrompido, como costuma illegalidade.
fazer S. Ex. Espero que por esta vez não me interrompa, Se o nobre senador se recordasse de que a lei que
como promette. estabeleceu habeas-corpus, serviu-se mais ou menos destas
Sr. presidente, o nobre senador pela provincia da expressões – «fica garantido o direito de conceder habeas
Bahia começou o seu discurso lendo diversos artigos da corpus em taes e taes casos, inclusive o do recrutamento,
legislação a respeito de recrutamento, eu não quero fundar a não havendo ainda assentamento de praça» devia lembrar-
minha defesa senão nesses artigos citados por S. Ex. Um se que ahi ha uma especie de condicional; o direito de
delles diz que o recrutador dará ao recrutado de 8 a 15 dias conceder habeas-corpus só existe enquanto não houver
para apresentar as provas de sua isenção, quando a allegar; assentamento e praça.
outro dispõe que se essas reclamações não tivessem sido Ora, o aviso mandando que a praça podesse ser
attendidas, o individuo for levado a presença do presidente dada no interior da provincia seguramente tinha de limitar o
da provincia, este dentro de dous mezes dará baixa se prazo, porque em vez de 8 a 15 dias de que o recruta podia
attender ás reclamações, e não o fazendo neste praso, só o gozar ficava este direito existindo por 4, 5, 6 mezes e mais.
ministro da guerra poderá attender. Esta é a legislação que Portanto, tinha ou não este avizo uma razão de ser?
regula os direitos do recruta. Parece-me evidente que sim, porque elle tratava de
Ora, o presidente da provincia communicára ao regularisar o serviço, sobretudo quando havia uma
ministro da guerra uma occurrencia que o inhibia de fazer o reclamação contra um abuzo manifesto praticado por
recrutamento ao menos em uma comarca aliás das mais magistrado.
populosas da provincia, onde por consequencia maior Se os argumentos do nobre senador podessem
quantidade... proceder, eu então diria que o habeas corpus ia absorver as
O SR. POMPEU: – Podia dizer-me a data desse aviso de mais atribuições das autoridades nullificando-as, por
ao dessa communicação? exemplo. Disposição semelhante a esta, estabelecida para o
O SR. JAGUARIBE: – Declaro que não fiquei com recrutamento existe quando se trata da pronuncia; a
nenhum assentamento de meus actos; elles estão na novissima reforma, continuando a fallar da concessão do
secretaria da guerra; por consequencia não posso satisfazel- habeas corpus accrescenta: «cessa, porém, esta atribuição
o, com pezar meu. desde que existe pronuncia», é o mesmo caso que se dava
Mas dizia eu, Sr. presidente, que era em vista da na primeira hypothese sobre o direito de conceder habeas
legislação citada pelo nobre senador que pretendia corpus aos recrutas, o qual cessa desde que elles tenham
estabelecer a minha defeza. Dizendo ao presidente da praça. Mas os nobres senadores com zelo...
provincia que para obviar os obstaculos creados por um O SR. ZACARIAS: – Para pronuncia não ha praso.
magistrado, como poderiam ser creados por outros, elle O SR. JAGUARIBE: – Lá está na lei, logo que haja
podia ordenar aos recrutadores do interior que fizessem logo pronuncia, não se pode mais conceder habeas-corpus. Mas
assentar praça aos recrutas, está subentendido (tenho dizia eu, se este direito da concessão de habeas-corpus deve
lembrança que disse ao presidente que fizesse desta minha ser tão lato como querem os nobres senadores, então a
ordem o uso que julgasse conveniente) que o presidente autoridade criminal a pezar de já ter colligido as provas do
fazia uso desta autorisação de accordo com a legislação crime, não deve proferir a pronuncia, para não inhibir o réo de
existente e a legislação é a que citou o nobre senador. usar de recurso de habeas-corpus, mas seria irrisorio dar á
Mas pergunto a S. Ex. que achou no aviso uma lei uma tal inteligencia.
revogação de um principio salutar, garantidor das liberdades Evidentemente si a latitude que os nobres senadores
publicas – sabe o nobre senador quanto tempo muitas vezes querem dar ao habeas-corpus, applicada aos presos por
motivo de crimes dá em resultado o absurdo que acabo de
figurar, elle não é menos revoltante, si uma egual
hermeneutica for applicavel aos presos por motivos de
recrutamento:
40 Sessão em 8 de Maio

della resultaria que o recrutador não deve jamais dar praça O SR. POMPEU: – Elogiei até.
ao recruta, para que lhe seja sempre permittido o recurso de O SR. JAGUARIBE: – ...entendendo que ella
habeas-corpus; o presidente de provincia por sua vez ressentia-se de grande ignorancia em sua officialidade.
tambem não o deve dar, para não tolher-lhe um tão sagrado O SR. POMPEU: – Dirigi-me pelo almanack do
e illimitado direito; e finalmente o ministro da guerra depois governo.
de chegar o recruta a Côrte ainda menos lhe deve fazer abrir O SR. JAGUARIBE: – E’ para que estejamos de
assentamento de praça, porque isto cortaria sua ultima accordo que devo dizer duas palavras quanto a esta nobre
esperança de um habeas corpus! classe; não faço censura; apenas direi que o juizo de S. Ex.
Mas isto seria logico? Não se vé que semelhante certamente por não apreciar um facto era desfavoravel á
modo de argumentar destruiria a legislação, destruiria um classe militar, julgava-a mais ignorante do que é; devo
poder estabelecido que precisa de recursos para poder assegurar ao meu nobre collega que nesta ha bastante
manter-se na sua esphera? O ministerio da guerra não póde illustração, superior mesmo aquella que geralmente se
por ora prescindir do recrutamento que é o meio da acredita.
renovação do exercito, mas pelo modo de argumentar do Primeiro que tudo não sei a que parte do almanak S.
nobre senador esta fonte esgotava, cessava. Ex. refiriu-se, mas creio que suas reflexões prendiam-se a
Assim pois, Sr. presidente, acredito que com as classe de officiaes não pertencentes as armas scientificas,
breves reflexões que acabo de fazer tenho demonstrado porque nestas não podem os officiaes deixar de ter o
evidentemente que no aviso que expedi, de cujas palavras competente curso da arma; referiu-se sem duvida a infanteria
não posso dar copia pelo motivo que já dei, não ha nada a e cavallaria.
censurar. Eu pratiquei esse acto com a melhor fé, na certeza Mas nesta classe, Sr. presidente, não ha tambem tão
de que não infringia direitos de cidadão algum, não praticava pouca illustração, como acredita S. Ex.; se não ha maior
a menor violencia. numero de officiaes com o curso da arma é pela razão que
E a este proposito declaro que não tenho receio de hontem aqui em apartes mencionei, porque estando a escola
que os nobres senadores que parecem ter feito grande pezo militar fechada por mais de cinco annos, em consequencia da
na exhibição desse aviso tenham mais amor a liberdade do guerra, deixou de ser frequentada por muitos desses officiaes
seu paiz, aos direitos de seus concidadãos do que o individuo que hoje teriam seu curso. Muitos daquelles que antes da
que neste momento tem a honra de dirigir-se ao senado. guerra tinha o curso da arma, ou pela sua idade avançada
Creio que consegui pelo menos fazer desapparecer retiraram-se ou morreram.
essa terrivel impressão que S. S. Exs. pareciam estar Mas passado algum tempo, desde que a escola está
sujeitos. funccionando com toda a regularidade, é muito de esperar
Agora, Sr. presidente, visto que estou com a palavra que o exercito recupere o numero de officiaes com o
peço ainda licença a V. Ex. para emittir mais algumas necessario curso de armas de modo a não ter que invejar aos
ponderações que se prendem a este negocio. O nobre exercitos de outros paizes.
senador a quem estou respondendo no ennunciar de suas Para provar ao nobre senador que ha no exercito uma
ideias por vezes censurou ao nobre ministro da guerra por mocidade bastante illustrada, aproveito a occasião para dizer
não se ter apressado em declarar que mandava ao senado que tive opportunidade de admiral-a por muitas
immediatamente revogar esse aviso. vezes.
Accrescentava S. Ex. que deste modo o ministro da Sabe o senado que fiz parte da junta de justiça militar
guerra acoroçoava a irregularidade nas provincias. Senhores, no Paraguay e que portanto nessa qualidade devo ter julgado
não vi motivo para isto, sobretudo depois das explicações grande quantidade de processos.
que deu o nobre ministro; mas prevaleço-me deste mesmo Pois bem, sendo sabido que esses processos em
modo de argumentar do nobre senador para fazer uma regra são acompanhados de uma defeza escripta, qualquer
consideração e é que S. Ex. com seus collegas da opposição que seja a cathegoria do réo. Eu e meus collegas do tribunal
estão sempre promptos a achar que as liberdades publicas ficavamos muitas vezes sorprehendidos, encontrando nessas
soffrem, a virem á tribuna em defeza de principios defezas bastantes conhecimentos já de litteratura, já de
seguramente muito louvaveis desde que tenham a applicação direito e interrogando-nos reciprocamente uns aos outros,
necessaria; mas devo lembrar a SS. Exs. que no como em um acampamento de guerra, onde não havia
desenvolvimento desses principios SS. Exs. se esquecem de advogados, pobres soldados achavam quem lhes fizesse
que muitas vezes acoroçoam principios perigosos, como os defezas tão bem deduzidas? Eramos informados de que ellas
da falta de respeito ao principio da autoridade, e os da partiam de officiaes de diversos corpos a quem os soldados
insubordinação, da anarchia, e da indisciplina, se se trata de pediam, e elles de bom grado por essa camaradagem propria
militares. do acampamento satisfaziam desse modo.
O Sr. Zacarias dá um aparte. Tendo assim occasião de ver que ha no exercito
O SR. JAGUARIBE: – Eu principiei dizendo que brasileiro muita illustração, acredite que elle nada tem que
applaudo o desenvolvimento dos principios invocados em invejar aos exercitos de outros paizes.
favor das liberdades publicas; mas é necessario, que na SR. POMPEU: – O almanack o contesta.
propagação de taes theorias sobretudo no senado, haja O SR. ZACARIAS: – Nem o exercito allemão!
muito cuidado para que não possa ella servir de apoio a O SR. JAGUARIBE: – Perdoe-me; o nobre senador
interpretações que vão acoroçoar os máos principios, e que deve reconhecer antes de tudo que um paiz adiantado como
podem trazer grande perigo para a ordem e tranquilidade a Allemanha deve primar a respeito de outro menos
publica. adiantado em qualquer genero de comparação; em segundo
Aproveitando-me ainda da palavra, Sr. presidente,
julgo dever dizer alguma cousa em defeza da classe militar
que o meu nobre collega senador pelo Ceará seguramente
sem querer stygmatizou...
Sessão em 8 de Maio 41

logar que um exercito numeroso deve ter muito maior logares deviam ser predispostos os viveres, e assim o foram;
quantidade de homens illustrados do que um exercito entretanto por uma circumstancia qualquer, de repente o
diminuto como o nosso. Todas as cousas se devem entender exercito declinando da marcha projectada toma outro rumo,
servatis servandis. inutilisaram-se de um lado os apprestos feitos para o
O que é verdade é que para o serviço da guerra do fornecimento, conforme o aviso dado, e de outro lado veio a
Paraguay nunca houve deficiencia de conhecimentos; os necessidade de com toda a presteza occorrer com outro
generaes que ali serviram podem dar testemunho de que abastecimento para pontos diversos, trazendo accrescida
sempre que precisaram de um serviço de intelligencia despeza extraordinaria, que deve ser indemnisada.
achavam em nosso exercito quem o satisfizesse: ou fosse Ora, mais de uma especie desta ordem está
para a passagem dos rios, ou para a locomoção de pezados envolvida nas reclamações; como determinar a quantia que é
transportes, para a construcção de trincheiras, quer de reclamada e deve ser satisfeita, porque assista direito aos
defeza, quer de attaque, nunca nossas operações foram reclamantes, a não ser por um arbitramento? Em que se
retardadas por falta de proficiencia do exercito em nenhum funda o nobre senador para a seu alante determinar que o
dos ramos da sciencia militar. recurso do arbitramento não cabe nas faculdades
Essa celebre estrada do Chaco, construida atravez de administrativas do governo, quando por lei tem a faculdade e
pantanos, que no proprio juizo do inimigo eram impossiveis o dever de ordenar os pagamentos a que por contrato está
de transpôr, é um testemunho vivo de que não faltaram obrigado? Não póde usar do arbitramento, quando
engenheiros, nem artifices de qualquer genero, que se apparecem especies desta natureza em que só pelo
incumbissem de quanto era preciso para que ella fosse arbitramento se poderá fixar a quantia devida?!
levada ao cabo, de modo a admirar a todos que della tiveram Bem vê, Sr. presidente, que nenhuma razão assiste
conhecimento vivo, denominando-a até uma obra romana: tal ao nobre senador. Qual é o principio, perguntarei a S. Ex., já
foi sua magnitude! Creio, pois, que esses factos demonstram não digo disposição positiva de lei, que arrede do governo o
que o exercito brazileiro não merece a censura que os nobres meio do arbitramento que a constituição reconhece e garantiu
senadores queiram fazer por este lado. a todas as partes para voluntariamente o empregarem nas
Tenho concluido. causas civeis, que o legislador estabeleceu como regra nas
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Sr. presidente, causas commerciaes, em liquidação das sociedades? O que
pedi a palavra unicamente para fazer um protesto; é que não da parte da administração publica repelle esse meio
me sujeito ás limitações que em sua arrogancia o nobre indispensavel em tantos casos, e ao qual se soccorre mesmo
senador pela Bahia entende que deve pôr ao meu direito de a autoridade judicial para liquidações em que até muitas
membro desta casa, de entrar em qualquer discussão, S. Ex. vezes não é possivel outro expediente? Por ventura a mesma
se julga com direito de fallar de tudo, sobre tudo, de todas as lei de 1845 que o nobre senador citou, que dá ao governo
materias em qualquer discussão, embora muito especial. faculdade ampla de administrativamente decidir reclamações
Entretanto, quer-me inhibir, cerceando o meu direito de desta ordem, veda o arbitramento? E' elle instituição que seja
membro do senado para discutir esta ou aquella materia! incompativel com o criterio e responsabilidade ministerial?!
O SR. ZACARIAS: – V. Ex. queixa-se que eu o Não; entretanto foi o ponto de partida, foi a base em
provoco; eu digo que não. que o nobre senador assentou toda a sua argumentação e
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Protestando, dahi entrou nessas amplificações, nesse exame minucioso a
portanto, contra tal limitação, entendi que devia tomar parte seu modo, de disposições taes e taes, concluindo que o
ainda nesta discussão para mais uma vez insistir na sem governo merece censura, porque quanto ás reclamações
razão com que o nobre senador censura o governo por julgar argentinas entendeu que o arbitramento era o meio azado
que na resolução da questão das reclamações argentinas era para com justiça, sem quebra dos interesses da fazenda,
conveniente o arbitramento, S. Ex. de sua autoridade creou a assim como sem quebra do credito do Estado, da honra e da
doutrina absoluta de que o governo administrativamente não dignidade do governo; satisfazer compromissos que são
pode usar do meio do arbitramento; disse que só por dividas de honra, que o governo deve pagar!!
disposição positiva da lei o governo poderia em assumptos O governo com razão reconhecendo, como
que entendem com a fazenda nacional empregar o reconhece, que ha nas reclamações algum fundamento, mas
arbitramento. Nego, Sr, presidente, o absolutismo de que cumpre com justeza apurar a verdadeira importancia da
semelhante doutrina, que não se funda em lei, é contraria ás sua divida, muito bem entendeu que cabia o arbitramento,
mais altas conveniencias do serviço, e até excluida, em era o meio mais azado e que, de conformidade a todos os
alguns casos, pela necessidade indeclinavel que ha de principios juridicos, podia ser adoptado, visto como em nada
lançar-se mão do arbitramento, como unico meio capaz de repugna a faculdade administrativa de que dispõe.
resolver certas questões. Não deixarei, Sr. presidente, de tambem dizer
E assim ê, Sr. presidente, que nas reclamações algumas palavras acerca do aviso da questão do habeas-
argentinas se dá mais de uma especie em que o corpus, visto que entende elle com uma disposição de
arbitramento, e só elle, póde terminar aquillo que reforma judiciaria o disposição do que tive a iniciativa. Seria
effectivamente deve ser reconhecido como divida a pagar caso para serio reparo que no periodo do ministerio em que
aos reclamantes. Apresentarei, por exemplo, o caso que uma tal idéa, tão garantidora dos direitos individuaes, partiu
determinaria a indemnisação que pedem os reclamantes por da iniciativa do governo e se traduziu em lei, fosse ella
prejuizos que soffreram: obrigados ao fornecimento de sophismada por um membro do mesmo ministerio; era para
viveres ao exercito em marcha, tendo recebido participação se deduzirem illações odiosas da falta de sinceridade em
do commandante que em taes e taes estabelecer-se semelhante doutrina! Direi, portanto, algumas
palavras para esclarecimento embora o meu
42 Sessão em 8 de Maio

illustre collega e o nobre ministro da guerra tenham já O SR. POMPEU: – Me disse o meu honrado collega:
respondido perfeitamente. «Tive participação da presidencia do Ceará de que o juiz de
Segundo minha lembrança, o nobre ex-ministro da direito da comarca do Crato estava abusando da attribuição
guerra antes da expedição desse aviso conversou comigo e que lhe concedeu a nova lei da reforma judiciaria, concedendo
inquiriu, se por ventura haveria alguma autonomia ou habeas corpus a todos os recrutados, de modo a inutilisar a
reluctancia com a disposição da lei de reforma judiciaria que renovação do exercito.» De duas, uma, Sr. presidente, ou
garante aos recrutados com isenção legitima o meio de se esse juiz estava em seu direito usando de uma attribuição
livrarem de detenção illegal, a expedição daquelle aviso legal, attendendo ás allegações que lhe eram feitas pelos
destinado a corrigir o abuso escandaloso que se dava em uma recrutados, e por consequencia nada tinha que vêr com isto o
comarca central do Ceará, onde havia um juiz do direito que governo; ou elle abusava da faculdade que lhe deu a lei, e,
acintosamente concedia habeas corpus a todos os recrutados. neste caso, sabe V. Ex. que ha disposição de lei para a
S. Ex. inquiriu se por ventura podia ser tomada a providencia responsabilidade dos magistrados que abusam de sua
de se fazer assentar praça e jurar bandeira no mesmo logar jurisdicção; não era, portanto, este o meio de obiviar a
do recrutamento ao que fosse recrutado e não allegasse ter inconveniencia que notou o nobre ex-ministro.
isenção legal. O aviso, pois, do nobre ex-ministro da guerra, e com o
A disposição salutar do decreto de 1858 estatue um caracter reservado, mandando limitar o tempo que o decreto
praso para provar as allegações de isenção que por ventura de 1 de Maio de 1858 concedeu aos recrutados...
articula o recrutado; mas a todos que recrutados não O SR. JAGUARIBE: – Não mandei tal.
allegaram isenção, a estes immediatamente, sem praso algum O SR. POMPEU: – ...esse aviso limitando o praso
e sem preterição das regras do docreto de 1858, se póde legal attentava contra os direitos individuaes desses individuos
fazer assentar praça e jurar bandeira. O que determina o que fossem recrutados e tambem contra a independencia do
decreto? Que seja inquirido o recrutado: «Tem você alguma magistrado que usava de um direito seu, conferido em bem de
isenção deste serviço forçado de armas no exercito ou na garantir a liberdade individual.
armada?» Se elle articular qualquer isenção legitima, tem um Se o aviso, como diz o nobre senador, não limitava
praso aberto para provar sua allegação; se, porém, não esse praso e somente explicava, era desnecessario, Sr.
allegar alguma, póde ser immediatamente alistado no exercito presidente. O que quer dizer neste caso um aviso em termos
e jurar bandeira. habeis? Era uma repetição inutil da disposição da lei existente,
Ora, a providencia era para que todo aquelle que não conhecida; além de que a innovação que trouxe o aviso do
allegasse isenção, immediatamente fosse alistado, em ordem nobre ex-ministro para fazer alistar o recrutado na localidade
a evitar que por suggestão por ardil se inventassem isenções em que é preso, parece-me estar em contradição com o
e houvesse pretexto para acintosas concessões do habeas- decreto de 1 de Maio de 1858, que presuppõe o recrutado no
corpus. quartel do corpo onde tem de jurar bandeira.
Concordei com o meu illustre collega, opinando que o Aqui está uma disposição que não se conforma com
aviso em nada contrariava as disposições da lei, desde que se esta interpretação dada pelo nobre ex-ministro. Diz o art. 3°
guardassem os prasos para aquelles que allegassem isenções desse decreto e que autorisa a minha opinião (lê):
e o magistrado competente podesse intervir no conhecimento «Art. 24. Os recrutadores remetterão com os
dellas e reconhecendo que havia a legitima isenção allegada recrutados um mappa circumstanciado, com declaração das
pela parte recrutada e não admittida pelo recrutador, podesse inquirições feitas aos mesmos recrutas, do praso que lhes foi
por meio do habeas-corpus ordenar a soltura do illegalmente concedido para exhibição dos documentos comprobatorios de
preso a pretexto de recrutamento, porque tal era a disposição isenção e o porque não foram elles attendidos; ficando os
da lei de reforma judiciaria. A providencia do aviso limitou-se mesmos recrutadores responsaveis por qualquer abuso em
ao prompto alistamento do recrutado, sem cortar, porém, as recrutarem individuos isentos, quando as provas de isenção
garantias da isenção para os que a tivessem a allegassem. lhes tiverem sido apresentadas e forem desattendidas; e neste
Tenho concluido. caso serão obrigados a satisfazer todas as despezas que se
O SR. POMPEU: – O discurso do nobre senador pela fizerem com os recrutas, se forem estes julgados
minha provincia, explicando o aviso reservado expedido pela comprehendidos nas isenções marcadas por lei. O recrutador
repartição da guerra sobre o recrutamento, obriga-me a voltar rubricará todos os documentos comprobatorios de isenção,
ao debate. que lhe forem apresentados, para se verificar se elle obrou ou
As explicações do nobre ministro e as que acabam de não com perfeito conhecimento de circumstancias do
ser dadas pelo nobre visconde de Nitherohy não satisfazem recrutado.»
ou não justificam a doutrina do aviso, que tem sido Ora, deste artigo se collige que os recrutados são
interpretado no sentido de coarctar o recurso do habeas- remettidos para a capital, afim de se alistarem no quartel
corpus. Já foi lida aqui, Sr. presidente, a disposição da lei de central como soldados; por consequencia o alistamento que o
1º de Maio de 1858, que garante um certo periodo aos nobre ex-ministro mandou fazer pelos recrutadores em todas
recrutados para dentro delle allegarem as isenções Iegaes as localidades do interior não está de conformidade com este
que tiverem; esta disposição era conhecida no Ceará como decreto e conveniencia do serviço. O recrutamento é em si
em todo o Imperio; della usavam os recrutados e eram ou não uma medida horrivel, incompativel até com o principio de
attendidos conforme suas allegações; não havia, portanto, igualdade da constituição; cumpre, pois, não tornal-o mais
necessidade alguma de explicações a respeito desta vexatorio e odioso, facilitando os recursos legaes.
disposição conhecida. Ainda outra razão tenho para apresentar, Sr.
O SR. ZACARIAS: – O aviso com essa coarctada não presidente, afim de mostrar que não podia ser allegado tal
era necessario.
Sessão em 8 de Maio 43

motivo pelo honrado ex-ministro para expedir esse aviso em sua casa. Ora, Sr. presidente, que culpa póde ter
singular. V. Ex. sabe que a lei de que acaba de fallar o nobre qualquer pessoa, V. Ex. mesmo, que na sua casa entre um
Sr. visconde de Nitherohy e diz que della teve toda a gloria, é homem, a quem queiram prender, para que o autor da prisão
de 20 de Setembro de 1871... o insulte, cerque-lhe a casa e tente deitar as portas abaixo?
O SR. ZACARIAS: – Lei aurea. O facto deu-se desta maneira: um pobre recrutado requereu
O SR. POMPEU: – ...e o respectivo regulamento habeas-corpus ao juiz de direito; este mandou seu escrivão
baixou em 22 de Novembro do mesmo anno; ora, esta lei e intimar ao commandante militar detentor que lhe mandasse o
regulamento não podiam chegar ao Ceará senão no vapor preso para ser interrogado, até não era ainda para conceder-
que sahiu daqui no 1° de Dezembro desse anno. Eu pedi ao lhe habeas-corpus; o commandante por isso prendeu o
nobre senador a data do aviso para confrontal-o com esta escrivão que lhe foi intimar a mandado; o escrivão declarou
observação que vou fazer. Não podia sahir daqui, portanto, que não podia ser preso, porque ia cumprir uma ordem do
essa lei e seu respectivo regulamento senão no 1° de juiz de direito e retirou-se; o commandante reune os
Dezembro de 1871, e chegando ao Ceará em meiados de soldados, vae em seguida do escrivão, que voltava á casa do
Dezembro, só podia chegar ao interior daquella provincia, á juiz, cerca-lhe a casa, insulta o juiz, põe em consternação
comarca do Crato principalmente, que dista da capital cento e sua familia, ameaça arrombar as portas, e o juiz, para não
tantas leguas, no anno de 1872. Por consequencia o juiz de ser victima, entrega o escrivão: eis aqui a culpa do juiz! E'
direito, inculpado pelo nobre senador, esse juiz de direito que este o estado a que se acha reduzida a independencia do
abusava de tal sorte de suas attribuições, que soltava por magistrado, e a garantia pessoal de um juiz na provincia do
habeas-corpus a todos os recrutados, só podia abusar deste Ceará, presidida aliás por um magistrado!
direito durante o mez de Janeiro até principios de Março, O nobre senador disse ha pouco que ia fazer a defeza
porque tanto tempo era preciso para chegar a noticia desse dos officiaes do exercito que eu havia taxado de ignorantes e
abuso praticado no centro da provincia do Ceará á respectiva então teve occasião de fazer a apologia de intelligencia,
capital e da capital o nobre ministro nesta Côrte para elle capacidade litteraria e juridica que S. Ex. conheceu no
cogitar e tomar essa medida importante, fazendo expedir Paraguay. Não contestei a instrucção dos officiaes do nosso
esse aviso antes de sua retirada do ministerio, que foi, como exercito.
V. Ex. sabe, em Abril de 1872. E', portanto, materialmente O SR. ZACARIAS: – De um ou outro.
impossivel que o motivo allegado para esse aviso fosse o O SR. POMPEU: – Não contestei nenhum, não sei,
abuso de um juiz de direito do centro da provincia do Ceará referi um facto official; li uma pagina do almanack em que se
em virtude da nossa lei que garantiu o habeas-corpus. diz que entre 671 officiaes só ha 58 com o curso da
Além disso, Sr. presidente, esse honrado juiz, que respectiva arma. Que culpa tenho eu do nobre ministro
tem sido accusado aqui como um reprobo, não me consta mandar escrever isso no seu almanack? Dahi conclui que
que concedesse habeas-corpus senão agora a um recrutado, com effeito era isso um triste documento para a illustração
do que ia resultando um conflicto no Crato, com o profissional do nosso exercito. Póde ser que hajam muitos
commandante militar, que pretendeu oppôr-se á sentença officiaes habeis, litteratos e até juristas, como disse o nobre
judicial; e, se ha facto sem contrario disto, se elle inutilisava a senador; porém o almanack accusa a falta de instrucção
renovação do exercito, como disse o nobre senador (de profissional...
maneira que um juiz de direito de uma povoação central, que O SR. ZACARIAS: – De certo.
póde soltar tres ou quatro recrutados, inutilisa a renovação do O SR. POMPEU: – Sou eu ou o nobre ministro quem
exercito!) mas se praticou actos desta ordem, porque o nobre quer a autorisação para riscar do quadro do estado-maior de
senador não produziu taes actos, não os demonstrou? 1ª classe officiaes que não teem o curso desta arma? Eu,
Accusações desta ordem feitas a um magistrado devem ser pelo contrario, preguei aqui em defeza desses officiaes,
acompanhadas de provas. porque teem direitos adquiridos. São officiaes antigos que
Portanto, peço ao honrado ministro que apresente bem ou mal foram collocados no corpo do estado-maior de 1ª
aqui este aviso... classe e hoje seria um dezar sem motivo algum riscal-os por
O SR. ZACARIAS: – Amanhã hei de fazer um ignorantes ou inscientes, afim de serem substituidos por
requerimento pedindo cópia. outros. Eu entendo que uma vez que elles teem assento no
O SR. POMPEU: – ...quero vel-o na sua integra e quadro do estado-maior ha muitos annos e são sómente sete
tambem sua data, porque do tempo da sua expedição resulta assim como ha no corpo de engenheiros tres em identicas
o que eu disse, que é materialmente impossivel que os circumstancias, o governo devia toleral-os até que o tempo
abusos praticados no Crato depois da promulgação da os illimine; poupa-se neste caso um dezar a estes officiaes...
reforma judiciaria fossem conhecidos aqui o tempo do nobre O SR. ZACARIAS: – Apoiado.
ministro expedir esse aviso até Abril, que foi quando S. Ex. O SR. POMPEU: – ...e até mesmo penso que elles,
sahiu do ministerio. apesar de não terem o curso da respectiva arma, podem ser
O nobre senador, accusando os juizes de direito de mais habilitados do que outros que o tenham. (Apoiados.)
minha provincia que concederam habeas-corpus Dr. Martins O nobre Sr. ministro da guerra disse, em sustentação
Pereira de quem acabo de fallar, e Dr. Leocadio de Andrade do art. 3 que promette ao governo ampliar o estado maior de
Pessoa, juiz de direito do Ipú, disse a respeito desse ultimo 1ª classe, que o quadro é insignificante, porque para nosso
que elle tinha sido o causador de um insulto que recebeu ha exercito em tempo de guerra elevado a 32,000 homens, não
pouco tempo de um official da força distacada naquella chegam 50 officiaes ao estado maior de 1ª classe. Mas
comarca, porque consentira que o escrivão do seu juizo, a porque quer o nobre ministro formar um quadro para o tempo
quem o commandante militar prendera, entrasse de guerra? Já temos 50 officiaes, isto é, tanto e mais metade
do que é necessario para o exercito em
44 Sessão em 8 de Maio

tempo de paz. Não seria mais conveniente limitar ao numero ministro, suppondo exagerado, por isso volto á essa
de 50 officiaes já excessivo do quadro actual, do que amplial- demonstração.
o na possibilidade de uma guerra? Em que occupará o nobre Sr. presidente, segundo os trabalhos estatisticos dos
ministro esses officiaes? Segundo disse o meu honrado homens mais competentes nesta materia, como Morean de
collega o Sr. senador Zacarias que leu o regulamento Jonnés, autor da estatistica official de França e outros,
ministerial vão ser occupados nos arsenaes: ora formar um calculam-se as classes comprehendidas na serie de annos
quadro dos officiaes do estado maior de 1ª classe, cujas de 20 a 30 aos diversos paizes da Europa, na seguinte
attribuições no exercito, ao menos nos paizes civilisados, são proporção:
de maior importancia, para mettel-os nos arsenaes, acho que
é pelo menos uma inutilidade e uma falta de economia. Irlanda...................................... 1 por 5,6 habitantes.
Mas ainda voltando ao aviso do honrado ex-ministro Suecia...................................... 1 » 5,9 »
da guerra, aviso que espero seja apresentado para vermos Escossia.................................. 1 » 6,1 »
sua data e em que termos foi concebido, disse S. Ex. que o Ilhas Britannicas...................... 1 » 6,1 »
expediu tambem para evitar a delonga de tres a quatro França..................................... 1 » 6,1 »
mezes, o que não contesto, que os recrutados levam em vir Inglaterra................................. 1 » 6,3 »
para a capital. A's vezes os conselhos militares ou delegados, Médio....................................... 6,1 »
quando querem tomar alguma vingança, prendem um pobre
homem durante tres ou quatro mezes, sob pretexto de Isso importa dizer que um sexto da população desses
recrutamento, e depois soltam porque receiam que o paizes se acha comprehendido nessas dez classes de
presidente na capital desapprove a prisão. Porém, se o aviso individuos. Vejamos agora em nosso paiz quanto este calculo
teve por fim cortar esse abuso, não prevalece a allegação do póde dar.
excesso de habeas-corpus concedidos pelo juiz de direito do A população livre do Brasil, segundo a estatistica
Crato. Sim, de duas uma, ou com effeito os commandantes official. (Eu tenho outra, segundo minhas investigações
militares no interior da provincia, abusando de sua particulares, mas a minha não serve, porque é trabalho
autoridade, prendiam e retinham presos por mezes alguns particular; fallo da do governo que tem o cunho de
recrutas, para depois envial-os á capital, e o aviso do nobre infallibilidade official) segundo a estatistica official, a
ministro foi expedido no sentido de remover esse mal, ou o população livre do Brasil orça por 8,627,144; a população
juiz de direito do Crato, prevalecendo-se da novissima lei da varonil deve, pois, regular por metade, como acontece em
reforma judiciaria, não consentia que se fizessem recrutas, todos os paizes do mundo; e, desta população varonil, a que
concedendo habeas-corpus a quantos eram apanhados. corresponde ás classes de 20 a 30 annos, guardada a
Uma allegação inclue outra. proporção com a regra observada em outros paizes, chega a
Se foi para refrear o supposto abuso do juiz da 718,925 individuos, sem contar as classes de 18 a 19 annos.
concessão do habeas-corpus, primeira razão allegada, então Ora, para que assignalar sob a conscripção 718,925
não se dava o do prolongamento da prisão; se foi para varões, dos quaes só tem de tirar-se annualmente 4 a 5,000?
acabar com esse prolongamento, não se dava o tal excesso Pois é mister que todos esses individuos estejam
do habeas-corpus, com que o juiz do Crato estava obstando condemnados pela conscripção para o caso de substituirem
a renovação do exercito como disse S. Ex. os sorteados que procurem escapar-se ao serviço do
Outro dia, Sr. presidente, discutindo-se esta proposta, exercito?
adiantou o meu nobre amigo o Sr. Saraiva algumas E' um vexame extraordinario e inteiramente inutil. Foi
considerações que com effeito teem mais relação com o por esta razão que o meu nobre collega senador pela Bahia
projecto de recrutamento que teremos de apreciar, do que combateu semelhante disposição, no que foi contestado,
com a proposta actual, como foi observado pelo nobre dizendo o nobre ministro que as classes de 18 a 30 annos
ministro; e por isto não insistirei nestas observações; mas não chegavam a este computo. Segundo as leis da
tocarei em um ponto que foi contestado aqui pelo nobre estatistica, fundadas na observação constante de factos
ministro da guerra. semelhantes, esse deve ser o algarismo dos varões
Meu nobre collega censurava um preceito que está pertencentes a essas classes, se o computo total da
formulado no projecto de recrutamento e nas emendas da população é exacto.
commissão, de chamar-se para o exercito pela conscripção Uma vez que estou na tribuna, Sr. presidente, farei, e
12 classes de individuos desde a idade de 18 até 30 annos; o nobre ministro responderá quando quizer, uma observação
mostrava que isto era não só iniquo como desnecessario, com relação á fabrica de ferro de Ypanema.
porque como sabe S. Ex., a decretação annual de forças Disse aqui o nobre ministro que breve jorraria ferro
para completar o exercito limita-se ao numero de 4,000 a em Ypanema; até creio que disse que já jorrou, parece-me
4,500 homens; por conseguinte, marcar 12 classes de que teve alguma communicação telegraphica; entretanto,
individuos desde a idade de 18 a 30 annos para sortear lendo eu o relatorio do Sr. Murça, vi que ainda faltavam
dentre elles sómente 4,000 a 4,500 homens é um abuso, é algumas condições bem importantes para esse desideratum.
uma cousa inteiramente desnecessaria, mas muito vexatoria V. Ex. verá das palavras delle o que é que falta. (Lendo):
para esses homens, que ficam sob o cutelo da conscripção «Concluidos os trabalhos em execução, obtendo os mestres
para o sorteio, e supprir as faltas dos sorteados. e alguns officiaes de 1ª classe para as officinas, cujos
Dizia o meu honrado collega que cada uma dessas 12 serviços são desconhecidos no paiz, algumas machinas e
classes não teria menos de 25,000 a 30,000 individuos; foi uma collecção de modelos, póde a fabrica começar a
contestado esse calculo presumivel quando o nobre produzir regularmente ferro.» Ora, deste periodo do relatorio
do Sr. Murça se vê que ainda faltam muitas condições para
Sessão em 9 de Maio 45

que aquella fabrica possa ficar em estado de produzir ferro. 5ª SESSÃO EM 9 DE MAIO DE 1873.
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Para
trabalho regular, mas algum já se faz. PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ.
O SR. POMPEU: – E a este respeito devo ainda dizer
que não aconselharei ao governo que disponha já da fabrica; Summario. – Expediente. – Parecer da commissão
é um passo muito grave, de que não tomaria a de instrucção publica. – Observações e requerimento do Sr.
responsabilidade, mesmo de aconselhar um maior exame; Zacarias. – Ordem do Dia. – Forças de terra. – Matricula de
porém penso que o governo sómente exita em passar a estudantes. – Observações e emendas dos Srs. Vieira da
particulares, seja por arrendamento, seja por qualquer outro Silva e visconde de Souza Franco. – Observações do Sr.
contrato, porque tem já empregado nella sommas presidente. – Discursos dos Srs. Leitão da Cunha e Visconde
consideraveis. Não sei ainda assim se seria mais de Souza Franco. – Observações e emenda do Sr. conde de
conveniente pôr de aparte este prejuizo e ceder a alguma Baependy. – Observações dos Srs. visconde do Rio Branco,
companhia que podesse utilisal-a em beneficio do paiz e Zacarias, Vieira da Silva e Jobim. – Observações e emenda
mesmo do governo com as condições que se julgassem do Sr. Pompeu. – Pretenção de S. B. Nabuco de Araujo. –
necessarias do que continuar ella como um sorvedouro do Pensões. – Discursos dos Srs. Junqueira, Dias de Carvalho e
dinheiro do Estado sem utilidado apreciavel para ninguem. Zacarias.
Ora ha quantos annos está aquella fabrica em
renovação? Não conheço pessoalmente o Sr. Murça; faço, Ao meio-dia fez-se a chamada, e achando-se
porém, delle muito bom conceito, mas, como costumo ler presentes 39 Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté,
esses trabalhos que vem nos relatorios ministeriaes, ha tres Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de
ou quatro annos que leio o relatorio do Sr. Murça, Carvalho, Jobim, Jaguaribe, marquez de Sapucahy, visconde
promettendo que a fabrica está em vesperas de dar bons de Souza Franco, barão de Camargos, Silveira Lobo, conde
resultados; mas acontece que ainda agora vejo no ultimo do de Baependy, duque de Caxias, Teixeira Junior, marquez de
anno findo que ella não poderá produzir esses resultados S. Vicente, visconde de Muritiba, Diniz, Candido Mendes,
senão quando forem satisfeitas as condições que elle exige, Vieira da Silva, barão do Rio Grande, Barros Barreto, Uchôa
condições que creio não estão ainda satisfeitas, e por isso Cavalcanti, Nunes Gonçalves, Mendes dos Santos, visconde
digo que não sei se seria mais prudente ceder a fabrica a de Inhomirim, Junqueira, Sinimbú, Fernandes Braga, Antão,
alguma companhia, mediante as condições necessarias, do barão de Pirapama, visconde de Caravellas, visconde de
que continuar a despender-se com ella annualmente sommas Camaragibe, Saraiva, visconde do Rio Branco, Leitão da
consideraveis sem resultado satisfatorio. Cunha, barão da Laguna, visconde de Jaguary, Paes de
O ultimo balanço daquella fabrica deu apenas como Mendonça, Zacarias e Pompeu.
renda 711$ e como despeza 48:924$; por conseguinte é uma Deixaram de comparecer com causa participada os
empreza que, a continuar dessa maneira, ha de absorver Srs. Figueira de Mello, barão de Cotegipe, barão de Maroim,
grande somma de capitaes do paiz, como já tem absorvido. Firmino, F. Octaviano, Paula Pessoa, Fernandes da Cunha,
Sr. presidente, não quero mais continuar nestas Paranaguá, Ribeiro da Luz, Cunha Figueiredo, Silveira da
observações, porque o nobre ministro está muito desejoso de Motta, Nabuco, visconde de Nitherohy e Chichorro.
que se encerre esta discussão e, como tenho para com S. Deixaram de comparecer sem causa participada os
Ex. muita attenção e estima, vou satisfazel-o, sentando-me Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de
para que fique hoje encerrada a discussão: quero ficar credor Suassuna.
do nobre ministro neste obsequio e dar-lhe mais uma prova O Sr. presidente abriu a sessão.
de quanto a opposição é condecendente. Leu-se a acta da sessão antecedente, e, não havendo
Findo o debate e não havendo quorum para votar-se, quem sobre ella fizesse observações, foi approvada.
ficou encerrada a discussão. O Sr. 1° Secretario leu o seguinte:
Esgotada a materia da ordem do dia, o Sr. presidente
deu a seguinte para 9: EXPEDIENTE.
Votação sobre o projecto de lei fixando as forças de
terra para 1873 – 1874, cuja discussão ficou encerrada. Officio de 7 do corrente, do ministerio do Imperio,
2ª discussão do parecer da commissão de fazenda remettendo a acta da eleição de eleitores especiaes da
autorisando a impressão dos Annaes do Senado de 1826 a freguezia de Macaubas do 5° districto da provincia da Bahia.
1857. – A' commissão de constituição.
3ª discussão das proposições da camara dos Srs. Officio de 8 do corrente, do 1° secretario da camara
deputados concedendo dispensas a estudantes sob ns. 211, dos Srs. deputados, remettendo a seguinte proposição:
219, 217, 215, 214, 208, 225, 231, 228, 223, 226, 239, 232, A assemblea geral resolve:
237, 238, 227, 236, 235, 234, 330, 229, 224 e 240 com os Art. 1° E' autorisado o governo para conceder um
respectivos pareceres. anno de licença com ordenado ao 1° conferente da alfandega
2ª discussão das proposições da mesma camara de Pernambuco José Ribeiro da Cunha, afim de tratar de sua
concedendo dispensa a estudantes sob ns. 241, 242, 245, saude dentro ou fóra do Imperio.
243, 246, 247 e 244 com os pareceres da respectiva Art. 2° Ficam revogadas as disposições em contrario.
commissão. Paço da camara dos deputados, em 8 de Maio de
2ª discussão da proposição da mesma camara sobre 1873 – Innocencio Marques de Araujo Góes, Presidente. –
pensão com o parecer da mesa n. 517. Dr. Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
Levantou-se a sessão ás 4 1/2 horas da tarde. Albuquerque, 1° secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
Mello, 2° secretario.
46 Sessão em 9 de Maio

A' commissão de pensões e ordenados. de direito do Recife, faltando-lhe apenas a necessaria


Requerimento de Benjamim da Gama de Souza assistencia em uma das aulas para completar o tempo de
Franco pedindo para que se lhe mande admittir a exame do frequencia exigida pelo regulamento afim de ser admittido a
1° anno da escola central depois de mostrar-se habilitado nos exame, foi accommettido do beri-beri (V. Ex. sabe que eu
exames de geographia. aqui não posso deixar de ser advogado dos atacados desta
A' commissão de marinha e guerra. molestia) e os medicos ordenaram-lhe que seguisse
O Sr. 2° Secretario leu o seguinte immediatamente para a Europa. Em virtudes disto deixou de
completar a frequencia era uma das aulas e de fazer exame
PARECER DA COMMISSÃO DE INSTRUCÇÃO PUBLICA. do 4° anno.
Regressando a Pernambuco, já restabelecido,
Matricula de estudantes. matriculou-se como ouvinte no 5° anno. Pede agora ao corpo
legislativo o mesmo favor que se tem feito a outros, o de ser
Foi presente á commissão de instrucção publica a admittido a exame do 4° anno.
proposição da camara dos deputados, datada de 26 de Abril Parece-me que elle está no caso de ser attendido,
do corrente anno, mandando admittir á matricula do 6° anno pois a causa que o levou a deixar de fazer exame foi de força
de qualquer das faculdades de medicina do Imperio, o maior.
estudante José Maria Velho da Silva Junior, que prestará o Mando a emenda.
respectivo exame depois de approvado nas materias do 5° Foi lida, apoiada e entrou conjunctamente em
anno. discussão a seguinte
Estando esta proposição no caso de outras, a que a
camara dos senadores tem-se dignado de dar o seu EMENDA.
consentimento, é a commissão de parecer que a dita
proposição entre na ordem dos trabalhos e seja approvada. Accrescente-se ao art. 1° «... e a mandar admittir a
Sala das commissões, em 30 de Abril de 1873. – F. exames do 4° anno da academia do Recife e á matricula do
Octaviano. – J. M. da C. Jobim. 5° anno o estudante ouvinte Ernesto Augusto da Silva Freire.
Ficou sobre a mesa, afim de ser tomado em – Vieira da Silva.»
consideração com a proposição a que se refere. O SR. PRESIDENTE: – Tem a palavra o Sr. visconde
O Sr. Zacarias pediu a palavra para mandar á mesa de Souza Franco.
um requerimento que julga justificado pelos debates dos O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – E' para
ultimos dias. apresentar como emenda á proposição que se discute um
O requerimento refere-se á cópia que deseja do aviso projecto vindo da outra camara, que concede identico favor a
expedido pelo ministerio da guerra á presidencia da provincia José Bernardino de Souza Ribeiro.
do Ceará, no sentido de obviar abusos na concessão de Tem elle todos os exames, menos arithmetica e
habeas-corpus a individuos recrutados. geometria que em direito não são exigidos logo no principio;
Foi apoiado e, sem debate, approvado o seguinte. pede pois ser dispensado do exame destas materias, que se
obriga a fazer antes do acto o que já obteve da camara dos
REQUERIMENTO. Srs. deputados.
Offereço, portanto, como emenda o seguinte projecto
Requeiro peça-se ao governo cópia do aviso (lê):
expedido pelo ministerio da guerra á presidencia da provincia
do Ceará, no intento de obviar abusos da concessão de EMENDA.
habeas-corpus a individuos recrutados na comarca do Crato.
– S. R. – Z. de Góes e Vasconcellos. Offereço como emenda o projecto n. 258 da camara
O Sr. Presidente nomeou os Srs. Leitão da Cunha e dos deputados em favor de José Bernardino de Souza
Jaguaribe para substituirem dous membros da commissão do Ribeiro. – Visconde de Souza Franco.
orçamento, que não se acham presentes. O SR. PRESIDENTE: – Esta emenda suscita uma
questão preliminar que o senado tem de decidir. A emenda é
ORDEM DO DIA. a materia de uma proposição vinda da outra camara. O
Senado decidirá se se pode admittir como emenda uma
FORÇAS DE TERRA. proposição da outra camara, que pende de decisão desta
casa e que tem um processo marcado na constituição.
Foi submettido á votação, salvas as emendas Tem a palavra o Sr. Leitão da Cunha para discutir a
offerecidas, e approvado para ser dirigido á sancção imperial, questão de ordem.
o projecto de lei fixando as forças de terra para o anno O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Sr. presidente, eu
financeiro de 1873 – 1874. tencionava pedir a palavra, antes mesmo das observações
Foram igualmente submettidas á votação e rejeitadas que V. Ex. acaba de fazer, para motivar o voto que pretendo
as emendas dos Srs. Zacarias e Vieira da Silva. dar contra as emendas dos honrados senadores pelas
provincias do Maranhão e do Pará, e a razão que a isso me
MATRICULA DE ESTUDANTES. levará limita-se pouco mais ou menos ás ponderações que V.
Ex. acabou de fazer.
Entrou em 3ª discussão a proposição da camara dos O SR. VIEIRA DA SILVA: – A minha emenda não
Srs. deputados, concedendo dispensa ao estudante Felippe tem nada com a camara dos deputados.
Basilio Cardoso Pires. O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Por isso mesmo, por
O SR. VIEIRA DA SILVA: – Sr. presidente, vou ser consistente em um favor inteiramente diverso daquelle de
mandar a este projecto uma emenda a favor do estudante que
Ernesto Augusto da Silva Freire.
Este estudante, tendo frequentado quatro annos a
faculdade
Sessão em 9 de Maio 47

trata o projecto da camara dos Srs. deputados, ora em de fazer exame merecem algum favor, favor que os não
discussão, é que tenho a sua emenda por dispensa de, nas academias respectivas, ser o objecto de
inconstitucional, e por isso contra ella votarei. fiscalisação...
O SR. VIEIRA DA SILVA: – Está enganado. O SR. VIEIRA DA SILVA: – Apoiado.
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Quando a O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – ...para
constituição diz que ambos os ramos do poder legislativo que se mostrem habilitados nos exames e por ultimo nas
podem emendar um projecto que venha da outra camara, materias que estudou.
é claro que quer que a emenda seja consistente em O SR. VIEIRA DA SILVA: – Apoiado.
materia identica da do projecto, ou porque elle seja O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – E
deficiente, ou porque seja abundante em suas demais, tendo-se feito este favor a tantos estudantes, ha
disposições. Neste caso a camara a quem o projecto é de se negar a este que já vem referido pela camara dos
remettido póde emendal-o em um ou outro sentido. Porém Srs. deputados? Eis ahi o motivo de minha emenda.
vir um projecto de uma das camaras para outra e nesta V. Ex. decida como entender.
apresentar-se como emenda um assumpto inteiramente Não havendo mais quem pedisse a palavra e
diverso, me parece que é inconstitucional e não tem consultado o senado ácerca da questão de ordem,
precedente autorisado nos estylos quer do senado, quer resolveu pela negativa.
da camara dos deputados semelhante natureza de Continuou a discussão da proposição com a
emendas. emenda do Sr. Vieira da Silva.
A' vista desta razão, e que me parece de muita O SR. CONDE DE BAEPENDY: – Peço licença ao
ponderação, por isto que entende com a disposição da senado para offerecer uma emenda sobre materia
constituição que se refere ás emendas dos projectos identica. E' a respeito de um estudante que está no
remettidos de uma para outra camara, vêr-me-hei na mesmo caso do da proposição de que se trata. A iniciativa
necessidade de votar contra ambas as emendas em é minha como senador, embora haja na casa proposição
discussão a menos que os seus illustrados autores da camara dos Srs. deputados sobre esse estudante, o
exponham motivos que me demovam deste proposito. que entendo não obstar a que eu use do direito de
As emendas dos honrados senadores pela offerecer como emenda a mesma idéa, redigida, porém,
provincia do Maranhão e do Pará, segundo me pareceu em termos devidos.
ouvir, são favores bem diversos daquelle de que trata o O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Está no caso da
projecto vindo da camara dos deputados. Por emenda do Sr. Vieira da Silva.
consequencia, não podemos consideral-as como O SR. PRESIDENTE: – Ninguem contesta a
emendas ao projecto nos termos da constituição porque iniciativa de um senador; a questão nada tem com isto.
tratam de materia diversa, que não tem relação nenhuma O SR. CONDE DE BAEPENDY: – Perdôe-me V.
com a do projecto da camara dos deputados. Por este Ex., eu accrescentei que, embora houvesse na casa
motivo, repito, terei de votar contra uma e outra emenda. proposição da camara dos Srs. deputados sobre esse
Attenta a consideração que me merecem os honrados e estudante, entendia não obstar isso a que eu usasse do
illustrados autores das emendas, não quiz fazel-o sem direito de offerecer como emenda a mesma idéa, redigida,
fundamentar o meu voto. porém, em termos devidos...
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – V. Ex. O SR. PRESIDENTE: – Ha projecto da camara
manda-me lêr o projecto a que mandei emenda? dos deputados no senado?
O Sr. 2° Secretario procede a esta leitura. O SR. CONDE DE BAEPENDY: – Sim, senhor.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Sr. Mas a que ora proponho é uma emenda ampliativa ao
presidente trata-se de mandar admittir a exame um projecto em discussão. Achei que V. Ex. teve alguma
estudante da escola de medicina no decreto de que se razão hesitando em aceitar a proposição da camara dos
trata. E' ordinario, é corrente, repete-se todos os dias, Srs. deputados, que o nobre senador pela provincia do
virem em um mesmo projecto differentes dispensas de Pará offereceu como emenda áquelle projecto; mas eu
exames exigidos por diversas academias: a materia é não fiz isso, e assim julgo não contrariar a decisão que o
justamente a mesma. senado acaba de dar sobre esta emenda, porque a que
O SR. VIEIRA DA SILVA: – Apoiado. apresentei é de minha iniciativa e sem referencia á
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Ora, a proposição da camara dos Srs. deputados.
circumstancia de ser a emenda um projecto approvado O SR. LEITÃO DA CUNHA: – E' a mesma cousa.
pela camara dos Srs. deputados é mais em favor do que Foi lida a seguinte
contra a minha proposição, porque é uma materia
decidida na outra camara, julgada á vista dos documentos EMENDA.
que lhe foram presentes. E se eu podia mandar uma
emenda a respeito de um estudante cujos documentos «Ao artigo accrescente-se depois do nome do
ainda não tivessem passado pelo exame da camara estudante Felippe Basilio Cardoso Pires o nome do
temporaria, com maior razão posso mandar a respeito de estudante Emilio Luiz Rodrigues Horta, que se acha nas
um que a camara reconheceu que estava nas mesmas circumstancias. – C. de Baependy.»
circumstancias de merecer este favor. O SR. PRESIDENTE: – V. Ex. offerece como
Nós estamos em uma quadra em que houve muito iniciativa
receio de ir-se do interior da provincia do Rio de Janeiro á
Côrte, ou S. Paulo por via de Santos afim de fazer exame.
Ora, aquelles que por motivo tão ponderoso deixaram
48 Sessão em 9 de Maio

sua uma emenda que forma um projecto da camara dos Srs. por um projecto, póde o senado fazer por outro; mas devolver
deputados? á outra camara um projecto que não exige emenda, que não
Declaro a V. Ex. que á vista da decisão do senado não contém em si o defeito algum, que o senado tenha de supprir
posso admittir a emenda do nobre senador. por uma emenda substitutiva ou additiva, não me parece
O SR. CONDE DE BAEPENDY: – Pois bem; V. Ex. curial.
fará o que entender. Eis aqui a razão do meu voto. Em projecto separado
O SR. PRESIDENTE: – V. Ex. póde usar da iniciativa a estarei prompto para votar pelas emendas dos nobres
que tem direito mandando um projecto seu. senadores, na fórma proposta, não posso acompanhal-os.
O SR. CONDE DE BAEPENDY: – Se a commissão de O Sr. Zacarias fez algumas observações.
instrucção publica persistir em não apresentar parecer, eu O SR. VIEIRA DA SILVA: – Quando offereci a minha
então me servirei do meio que V. Ex. tem a bondade de emenda estava bem longe de suppor que ella provocasse uma
indicar, offerecendo um projecto neste sentido, já que não se discussão tão renhida, discussão nova nesta casa, e que
me permitte fazel-o por meio de uma emenda ao projecto em nunca se deu em casos identicos, pelo menos que eu saiba.
discussão. As pretenções de estudantes, com effeito; são muitas;
O SR. PRESIDENTE: – Eu procedo conforme a mas teem uma significação, ellas importam um protesto contra
decisão do senado. Uma vez que V. Ex. declara que existe no a actual organisação da instrucção publica do Imperio.
senado um projecto da camara dos Srs. deputados sobre O SR. POMPEU: – Apoiado.
sobre o mesmo assumpto, não posso aceitar a emenda do O SR. VIEIRA DA SILVA: – E’ um protesto contra o
nobre senador. Agora o que farei é dar para ordem do dia monopolio que o governo exerce sobre a instrucção superior.
essa proposição. Contra este monopolio terei ainda em occasião opportuna de
O SR. CONDE DE BAEPENDY: – Estou satisfeito. occupar-me nesta casa, mas desde já declaro que acompanho
O SR. PRESIDENTE: – Continúa a discussão. os que pensam que se deve dar mais liberdade não só aos
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do lentes como aos discipulos.
Conselho): – Sr. presidente, senti ter de votar contra o O SR. SILVEIRA LOBO: – Apoiado.
apoiamento da emenda offerecida pelo nobre senador o Sr. O SR. VIEIRA DA SILVA: – Porque é que o governo
visconde de Souza Franco. Mas não podia proceder de outro se incumbe de fazer medicos, engenheiros, advogados, etc.!
modo, adherindo inteiramente ao pensamento de V. Ex. de O proprio governo sente a necessidade de uma
que essa emenda não estava no caso de ser aceita; assim reforma radical na instrucção superior do paiz e promette
como não tinha cabimento a que ha pouco foi apresentada e realisal-a, e no emtanto até hoje não se dignou ainda
que V. Ex. não quiz admittir. apresental-a ao corpo legislativo e nem ao estudo da nação!
A emenda do nobre senador pela provincia do Conforme o costume, as reformas ficam nas pastas até o dia
Maranhão salva a fórma, mas creio que no fundo offerece a em que são lidas no parlamento; nem a imprensa, nem o
mesma questão. corpo legislativo teem dellas conhecimento prévio. Somos
O SR. VIEIRA DA SILVA: – Perdoe-me, não consta sempre sorprendidos pelas reformas do governo; não se dá
que haja projecto da camara a respeito. tempo de examinal-as e de formar um juizo seguro a tal
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do respeito.
Conselho): – O projecto da camara autorisa o governo para E’ um protesto, pois, Sr. presidente, estes pedidos de
conceder dispensa no regulamento de uma das academias, a licenças, essas pretenções de estudantes.
respeito de exames preparatorios, em favor de um estudante. Entendo que os directores das academias deveriam
O que quer a emenda? Que este projecto seja devolvido á estar habilitados para attendel-os nos casos de força maior
outra camara, não porque contenha defeito ou deficiencia, como esse do estudante a favor de quem apresentei a
mas para que ao mesmo tempo se conceda licença a outro emenda. Estudava o 4º anno, frequentou-o, mas a falta da
estudante, que está ou não está nas mesmas circumstancias. assistencia exigida pelos regulamentos do governo para ser
Isto importa dizer á camara dos Srs. deputados: «Não approvo considerado apto para exame, falta motivada por molestia, o
o vosso projecto autorisando licença para estudando Fulano obriga a solicitar dispensa dessa formalidade...
poder matricular-se, sem que tambem approveis esta licença Aconselhado pelo medico para que se retirasse para a
que passou no senado em favor do estudante Beltrano.» Europa, alli consegue restabelecer-se, volta, quer fazer exame
(Apoiados). e acha a academia trancada! Não haverá nisto uma grande
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Apoiado; não é emenda injustiça? Pois se elle tem as habilitações e quer fazer exame,
nos termos da constituição. porque não admitil-o a exame?
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Não posso, Sr. presidente, renunciar a iniciativa, como
Conselho): – Mas isto não é regular. bem ponderou o nobre senador pelo Rio de Janeiro, o Sr.
(Ha diversos apartes;) conde de Baependy, de senador do Imperio, iniciativa que me
Trata-se de uma nova licença; que seja esta iniciada dá o direito de apresentar emendas aos projectos que vieram
em projecto distincto, mas não devolver á outra camara um a esta casa.
projecto que não carece de emenda alguma, só porque o A constituição previu o caso quando manda que
senado (dado que o senado esteja disposto a approvar a projecto emendado volte á camara que o iniciou. Por
emenda additiva) quer que tambem se conceda licença a conseguinte, se tivessem sido admittidas as emendas
outro estudante. Aquillo que fez a camara dos Srs. deputados offerecidas pelos nobres senadores conde de Baependy e
visconde de
Sessão em 9 de Maio 49

Souza Franco, eu teria votado por ellas, contra a opinião do Disse-se que o governo exerce monopolio; mas,
nobre presidente do conselho, porque, como bem disse o senhores, se ha monopolio é da lei, nem sei em que consiste
nobre senador pela provincia de Minas, a argumentação do esse monopolio. Se não se quer que haja frequencia, não
nobre presidente do conselho prova de mais. haja, mas serão nacessarias outras condições, que entre nós
O nosso regimento permitte que se mande artigos não existem. Assim na Allemanha, onde o nobre senador
additivos a qualquer projecto que venha da outra camara, estudou, não ha obrigação de frequencia nas faculdades.
caso previsto pela constituição que manda que os projectos Mas ha uma difficuldade muito grande a vencer, porque, além
assim emendados sejam submettidos de novo á do individuo obter o diploma de doutor, tem ainda de passar
consideração da camara em que teve origem e a esta fica o por um exame chamado do estado, e este exame é muito
salvo o direito de aceitar ou rejeitar, como bem lhe parecer, difficil.
taes emendas ou additivos. Não enxergo, portanto, O SR. VIEIRA DA SILVA: – E' verdade, estabeleça-
inconstitucionalidade nessas emendas, desde que o caso se o mesmo.
está previsto e que ellas voltam á outra camara. O SR. JOBIM: – Lá é que está o monopolio...
O SR. JOBIM: – Já por varias vezes tenho aqui dito O SR. VIEIRA DA SILVA: – Monopolio da sciencia.
que estas dispensas não surtem effeito algum proveitoso O SR. JOBIM: – Ninguem póde exercer a medicina
nem para as sciencias nem para os concessionarios, por que sem passar por esse exame chamado o do estado, que é
ordinariamente os estudantes que a pedem, não podendo em muito rigoroso. Entretanto, fazem negocio com a venda de
tempo matricular-se na faculdade, não se apresentam nas diplomas como tambem acontece nos Estados-Unidos e
aulas, todos o anno vadiam porque não estão sujeitos ao mesmo na Inglaterra, mas são concessões de diplomas que
ponto, sabem que não são chamados, não comparecem e por si nada valem sem aquella condição; eu podia apresentar
nada estudam e a maior parte delles são reprovados; por documentos comprovando isto; mas, entretanto, estes
consequencia havemos de conceder taes dispensas? E diplomas são aceitos, e valem muito entre nós, para seus
demais em que época nos achamos nós? Já quasi meiado do portadores passarem sem exame de sufficiencia, que pouco
mez de Maio; esses moços precisam estudar não só as prova, enchendo-se assim o paiz de curandeiros ignorantes,
materias do anno que não são faceis, e de mais a mais esses que na Allemanha não seriam tolerados.
preparatorios de que querem dispensa, e é muito difficil Portanto, hei de votar contra estas emendas.
vencer todas estas difficuldades em época do anno já tão Posta a votos a emenda não foi approvada.
adiantada; por consequencia porque havemos de fazer essas Posta a votos a proposição foi approvada para ser
concessões, occupando-nos aqui continuamente em dirigida á sancção imperial.
negocios individuaes, quando devemos occuparmo-nos de Entraram em 3ª discussão e foram successivamente
preferencia em negocio de interesse geral? (Apoiados.) No rejeitadas as proposições da camara dos Srs. deputados, sob
principio desta sessão apresentei um projecto, dispondo que os ns. 211, 219, 207, 215, 214, 208, 228, 231, 225 e 223.
estes negocios de estudantes em que póde haver um ou Entrou em 3ª discussão a proposição da mesma
outro caso de justiça que mereça attender-se, fossem camara concedendo dispensa ao estudante Francisco Muniz
decididos pelo governo ouvida as respectivas faculdades. da Silva Ferraz.
Não sei o resultado desse projecto que apresentei, porque O SR. POMPEU: – Como membro da commissão de
por incommodos de saude não tenho frequentado as sessões instrucção publica nos annos de 1869 e 1870, juntamente
com a assiduidade que desejava ter. Portanto, se passar com o meu illustrado collega o Sr. conselheiro Zacarias, dei
esse projecto está dado o remedio; o governo entende-se sempre parecer contra todas as pretenções de dispensa de
com as faculdades e dispensa nos casos que forem de exames preparatorios para matricula de estudantes.
justiça. Recordo-me de que nesses dous annos não passou uma só
Agora recorre-se a este subterfugio, esta especie de dispensa desta ordem alterando os estatutos das faculdades.
cavillação, de apresentar emendas aos projectos Era não só o cumprimento da lei, como o direito da
anteriormente vindos da camara dos deputados. A igualdade que sustentava.
commissão entendeu que devia cortar estes negocios, não Não deixo de ser coherente, votando hoje á favor
dar parecer e visto que a commissão de instrucção publica daquelles que pedem dispensa, porque entendo que o direito
agora recusa se, a estes favores, por isso recorre-se a esse deve ser igual para todos, desde que se não observa mais a
meio de apresentar essas dispensas como emendas aos lei. Recusei-me constantemente, quaesquer que fossem as
projectos que vieram da camara dos deputados, afim de razões allegadas, a conceder dispensa do estatuto que exige
passarem e voltarem outra vez para a camara, de fórma que certo numero de preparatorios para a matricula; mas uma vez
vindo da camara uma lei podemos enxertar nella outra lei e que o governo e o parlamento tem entendido ser juizo fazer
mandal-a para lá outra vez. Isto é uma irregularidade que não concessões numerosas todos os annos a estudantes, penso
devemos admittir. que não se deve fazer disto um monopolio, estabelecer um
O SR. ZACARIAS: – Apoiado; nisto V. Ex. é privilegio a favor daquelles que tem bons padrinhos e contra
catholico. aquelles que os não tem, e, como sou inimigo dos privilegios
O SR. JOBIM: – Obrigado. Cada um tem o seu e do exclusivismo, cedi do principio que entendia não poder
recommendado, o seu afilhado e quer que a dispensa passe manter com vigor, da observancia dos estatutos, para
deste modo; mas não é possivel não estamos aqui para attender a outro de igualdade sem favor de todos.
occupar-nos eternamente de negocios individuaes.
O SR. VIEIRA DA SILVA: – Melhorem a legislação.
O SR. JOBIM: – Esses interesses devem ser
tomados em consideração pelo governo ouvindo as
respectivas escolas.
50 Sessão em 9 de Maio

Ou não se conceda dispensa de preparatorios a Entraram em 2ª discussão e não foram approvadas


estudante algum, cumpra-se o estatuto e respeite-se a lei, as proposições da mesma camara, concedendo dispensa
ou então estenda-se o favor de dispensa a todos que aos estudantes Antonio Pereira Manhães de Campos,
solicitarem. E’ a minha regra. Guilherme Ribeiro Guimarães Peixoto, Francisco Ignacio
O SR. NUNES GONÇALVES: – Apoiado; a questão de Carvalho Sampaio, Francisco Gomes de Carvalho
é de coherencia. Rocha, Antonio José da Costa, Eduardo Augusto
O SR. POMPEU: – E’ este o meu principio; não Francisco da Silva e Ignacio de Azevedo Silva.
duvido que possa haver uma ou outra circumstancia muito
attendivel, para alguma excepção ao preceito legal; mas PRETENÇÃO DE S. B. NABUCO DE ARAUJO.
essas circumstancias deviam ser previstas no estatuto; o
director devia ser o competente para attendel-as, ou ao Seguiram-se em 2ª e ultima discussão, a qual ficou
menos o governo. encerrada por falta de quorum para votar-se, o parecer da
Porém conceder-se annualmente centenas de commissão de fazenda, autorisando a impressão dos
dispensas a estudantes, isto é, fazer-se da excepção regra Annaes do Senado de 1826 a 1857.
geral e da regra geral excepção é o que não comprehendo. O Sr. Zacarias disse que não podendo obter
Todo o estudante que tem um protector aqui obtem uma informações da commissão de fazenda por se acharem
dispensa e só algum desprotegido não consegue esse ausentes os membros dessa commissão, votava contra o
favor; ora eu, que não quero que prevaleça essa parecer.
desigualdade, que importaria injustiça relativa, voto por
todas, porque quero igualdade para todos; até que volte a PENSÕES.
pratica da observancia da lei.
Neste sentido, vou apresentar uma emenda a este Entrou em 2ª discussão com as emendas
projecto para que seja estendido este favor a dous offerecidas no parecer da mesa n. 517 a proposição da
estudantes do Recife, Joaquim Alcibiades Tavares de camara dos Srs. deputados, concedendo pensões a D.
Hollanda e Vicente de Faria Gurjão, que teem exames de Generosa Augusta Ramos e outros.
todos os preparatorios á excepção de um e que são O SR. PRESIDENTE: – Peço attenção.
ouvintes na faculdade juridica, para que sejam admittidos á A estas proposições refere-se um parecer da mesa
matricula da faculdade, mas não possam prestar exame no que se publicou hontem no Diario. A mesa acha uma
fim do anno sem se mostrarem habilitados no unico duvida, que poderá ser esclarecida por S. Ex. o Sr.
preparatorio que lhes resta fazer. ministro da guerra e pelo Sr. senador Jaguaribe, que
Creio que esta emenda é admissivel no projecto de tambem foi ministro da guerra.
que se trata, não se observando a opinião do nobre A primeira pensionista contemplada nesta
presidente do conselho que aqui nos veio ensinar uma proposição é D. Generosa Augusta Ramos, viuva (diz a
doutrina nova... proposição e tambem o diz o decreto do governo) do major
O SR. SILVEIRA LOBO: – Apoiado. de voluntarios da patria Joaquim Francisco Ramos, morto
O SR. POMPEU: – ...porque V. Ex. melhor do que em combate.
ninguem sabe que muitas vezes as proposições da outra Ora, dos papeis que foram presentes á meza
camara tem sido emendadas nesta e em qualquer materia consta que o marido da agraciada, alem de major em
identica e devolvidas; a minha emenda não offende de commissão de voluntarios da patria, era capitão do
modo algum o projecto da outra camara; é apenas um exercito; a viuva, como tal, estava no gozo do monte-pio
pouco mais ampliativa, em vez de um, o senado concede de seu marido, recebendo 30$ por mez. Requerendo ella a
dispensa a tres estudantes. As razões do nobre presidente pensão, o governo no decreto de concessão deu-lhe 84$,
do conselho, não procedem nem as dos que impugnaram correspondente ao soldo de major a que seu marido tinha
o direito do senado de apresentar emendas aos projectos direito, sem declarar se era com ou sem prejuizo do meio
da outra camara sobre materia identica. soldo de que ella estava no goso, quando a pensão lhe foi
Offereço pois esta emenda á proposição que se concedida. Isto constava de documentos que ella ajuntou
discute (lê). ao seu requerimento.
Foi lida, apoiada e posta em discussão O senado sabe que ha duas opiniões a este
conjunctamente a seguinte respeito; uma da mesa, e que mesa tem sustentado
constantemente, e outra que ultimamente tem apparecido
EMENDA. defendida por alguns Srs. senadores.
O SR. ZACARIAS: – E que eu impugnei.
«Sejam admittidos á matricula do 1º anno da O SR. PRESIDENTE: – A da mesa é quer a viuva
faculdade juridica do Recife os estudantes Alcibiades ou pessoa quem compete o beneficio da lei de 1827 esteja
Tavares de Hollanda e Vicente de Faria Gurjão, não no goso do monte pio, quer não, concedendo-se uma
podendo, porém, fazer acto do 1º anno antes de prestarem pensão, deve-se inserir no decreto a clausula sem prejuiso
exame de um preparatorio que lhes falta. – S. R. – T. do meio soldo, por a lei de 6 de Novembro de 1827
Pompeu. evidentemente exclue a accumulação de meio soldo e de
Posta a votos a proposição foi rejeitada. pensão. A outra opinião, porém faz uma distincção; acha
Ficou prejudicada a emenda. que quando a pensão é concedida a viuva que está no
Seguiram-se do mesmo modo em 3ª discussão e goso do meio soldo, e isto se mostra, não é necessaria a
foram tambem rejeitadas as proprosições da mesma clasula; se ella não está no goso do meio soldo quando a
camara, concedendo dispensa a estudantes sob ns. 239, pensão é concedida, é necessaria a clausula.
232, 237, 238, 227, 236, 235, 234, 230, 229, 224, e 240. Contra esta doutrina protesta esta propria
proposição, além de uma serie de precedentes.
Sessão em 9 de Maio 51

A proposição, que está sobre a mesa, comprehende respeito de todas se incluiu nos decretos a clausula de que as
duas viuvas que estavam no gozo do meio soldo de seus pensões eram concedidas sem prejuizo do meio soldo e, se a
maridos quando a pensão lhe foi concedida, e duas filhas de memoria me não falha, se estou bem certo do exame desses
um major que tambem estavam no gozo do meio soldo de seu papeis, as pensões são correspondentes a metade do soldo
pae. Vê-se entretanto que a todas estas as pensões fossem para tornar o beneficio que se faz a estas senhoras igual ao
concedidas com a clausula – sem prejuizo do meio soldo. – soldo que percebiam seus maridos ao tempo em que
Não se tendo declarado a respeito da primeira succumbiram; mas a respeito da primeira senhora houve
pensionista se a pensão era ou não concedida sem prejuizo descuido, seja elle de quem fosse.
do meio soldo, é obviu que segundo a doutrina da mesa ella Não posso culpar os Srs. ministros de Estado e menos
não tem direito ao meio soldo... accusal-os de omissões desta ordem, porque são tantos os
O SR. ZACARIAS: – Apoiado. afazeres dos nobres ministros que não é possivel que
O SR. PRESIDENTE: – ...e segundo a nova doutrina attendam a todos os detalhes. Se a mesa hoje, no
que se tem sustentado, ella tem a pensionista todo o direito ao desempenho dos seus deveres, pesquiza todas estas
meio soldo. circumstancias para trazel-as ao conhecimento do senado,
Isto é negocio sério; eu pedi a attenção do nobre ex- nem por isso estranha que não o fizessem da mesma sorte os
ministro da guerra, porque foi elle quem remetteu os papeis ao nobres ministros, antes pelo contrario tem procurado justifical-
ministerio do Imperio sem declaração alguma, dizendo que os os, reconhecendo que elles não podem prestar sua attenção a
remettia para que fossem tomados na devida consideração; todos esses detalhes. Mas o que é certo é que uma
pedi a do actual Sr. ministro que póde querer dar algumas pensionista foi apresentada simplesmente como viuva de um
explicações. major em commissão, tomando-se este major como official de
A mesa propõe uma emenda declarando, de voluntarios e não de linha; entretanto verificou-se pela fé de
conformidade com a sua doutrina, que na pensão fica officio e outros documentos presentes que esse official, não só
comprehendido o meio soldo. Se a outra doutrina é a que era major em commissão, mas tambem capitão de primeira
deve prevalecer, diz a mesa que convém para tirar duvidas linha, e que como viuva do capitão de linha essa senhora
que se declare que é prejuizo do meio soldo. obteve o meio soldo de seu marido na razão de 30$000. Tinha
Não se póde hoje votar; entendi, porém que era do ella recorrido ao governo para que lhe mandasse dar o meio
meu dever apresentar estas observações para esclarecimento soldo correspondencia á patente que seu marido tinha quando
do senado. falleceu; o ministerio, creio que de guerra, consultou ao Sr.
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Fez ministro da fazenda, e o Sr. ministro da fazenda respondeu
algumas observações. que não podia essa senhora receber o meio soldo de 42$
O SR. DIAS DE CARVALHO (3º Secretario): – como viuva do major, porque seu marido era capitão do
Senhores a mesa, quando examinou esta proposição, não exercito e major em commissão. Estes papeis acham-se
julgou, necessario pedir novos esclarecimentos ao governo, juntos á proposição que veio da outra camara. Está pois
porque os papeis que se acham juntos fornecem todos reconhecido que essa senhora era viuva de um capitão do
quantos esclarecimentos são necessarios. exercito e que seu marido era major em commissão.
Eu não me admiro de que o nobre ministro da guerra A duvida que occorreu á mesa foi a seguinte:
não esteja completamente informado desta materia, porque é Declarando-se no decreto da concessão da mercê que se
uma questão que apparece agora no senado, e não foi tratada dava uma pensão de 84$ a D. Generosa Ramos, viuva do
por S. Ex.; portanto acho que tem toda a razão de desejar ser major em commissão Ramos, não se accrescentou nenhuma
esclarecido. Tambem não me admiro de que o nobre ministro outra declaração. Pergunta-se, essa senhora terá de gosar a
da guerra, perante o qual foram processados estes papeis, pensão de 84$ accumulando-se aos 30$ que já percebe do
não esteja lembrado dessa occurencia. meio soldo como viuva do capitão do exercito Joaquim
O SR. JAGUARIBE: – Confesso que a minha memoria Ferreira Ramos?
não é das mais felizes. Eis ahi questão.
O SR. DIAS DE CARVALHO: – Por isso a mesa fez Eu entendo que não, porque estou convencido de que
publicar o seu parecer relativo á essas pensões. o governo não faria uma excepção de regra geral que tem
Trata-se de uma proposição da camara dos Srs. seguido a respeito de todas essas pensões, dando á viuva de
deputados que approva as pensões concedidas por sete um major em commissão uma pensão correspondendo ao
decretos do governo a differentes pessoas viuvas, filhas ou soldo de seu marido, quando esta senhora tinha meio soldo
mães de militares e voluntarios da patria que succumbiram na como viuva de capitão do exercito. Portanto acredito que o
campanha. Quatro dessas senhoras, as primeiras governo, se estivesse perfeitamente informado das
contempladas na proposição da outra camara são circumstancias occurrentes e tivesse reconhecido que essa
apresentadas como pertencentes a officiaes dos corpos de senhora já percebia 30$, conceder-lhe-hia sómente a
voluntarios, e como tal passou a primeira senhora, D. differença que vae de 30$ a 84$, isto é, conceder-lhe-hia a
Generosa Ramos, que está incluida no decreto do governo pensão de 54$ sem prejuizo do meio soldo, porque então essa
como viuva do major de commissão Joaquim Francisco senhora iria perceber, como percebem outras viuvas de
Ramos. Quanto ás ultimas, como seus maridos não figuraram officiaes da guarda nacional ou voluntarios da patria o soldo
nos corpos de voluntarios, mas sim nos de linha, todas ellas correspondente á patente em que falleceu seu marido.
são designadas como pertencentes a officiaes do exercito; e a Mas, como não fez menção dessa circumstancia, a
mesa julgou de seu dever expol-a ao conhecimento do
senado, para que o senado resolva. Se, com effeito, o senado
entender, como a mesa entende, que a pensão deve ser
considerada
52 Sessão em 9 de Maio

inclusive o meio soldo, convém que isto mesmo se declare e 30$. Os que pensarem de modo contrario, exponham as
neste sentido a mesa formulou uma emenda para evitar toda a razões do seu voto; e o senado decidirá o que for mais
duvida. acertado.
Pergunta-se agora: «Qual é a razão desta duvida?» O Srs. Zacarias e Junqueira pronunciaram discursos
Facil é de explicar. Disse-se aqui em outra sessão que, se que publicaremos no appendice.
uma pensionista já estivesse no goso do meio soldo, a mercê O SR. DIAS DE CARVALHO: – Depois do que acaba
concedida sendo inferior não precisava da clausula «sem de dizer o nobre senador pela provincia da Bahia, seria
prejuizo do meio soldo»; mas aqui dá-se a circumstancia escusado que eu voltasse á questão, mas não posso deixar
contraria, a pensão é superior ao meio soldo; portanto, de tomar em consideração algumas proposições do nobre
subsiste ainda a duvida. Não estando declarado no decreto, ministro da guerra. Antes, porém, que o faça, devo explicar um
nem no artigo da resolução, se é incluido o meio soldo na aparte que dei ao nobre senador pela provincia da Bahia
pensão ou se a pensão é sem prejuizo do meio soldo, ha de quando fallava.
haver por força duvida, quer se lhe dê uma, quer outra Dizendo o nobre senador que os pareceres da mesa
intelligencia. incommodam o governo, eu disse do meu logar «não é esta a
A mesa entendeu que devia trazer este negocio ao intenção da mesa.
conhecimento do senado e expol-o com toda a miudeza, como O SR. ZACARIAS: – Isto está entendido.
os Srs. senadores podem ver no parecer que está escripto O SR. DIAS DE CARVALHO: – Venho, pois, explicar o
com todos os detalhes e que contém pouco mais ou menos o meu pensamento, declarando muito terminantemente que no
que tenho dito. Si entenderem que essa senhora deve gosar exame dos papeis que são submettidos á mesa nenhum dos
da pensão sem prejuizo do meio soldo, cumpre declarar-se membros della procura hostilisar a ninguem; trata
isto, é preciso uma emenda nesse sentido para pôr esta simplesmente de examinar a verdade pelo modo porque sua
resolução em harmonia com as outras, porque, si não se razão lhe dita, e de expol-a ao conhecimento do senado para
puzer essa clausula, a propria resolução suscitará uma que este delibere com o acerto com que sempre costuma
duvida; dir-se-ha. «Tanto não foi concedida a pensão sem resolver. Longe, portanto, do pensamento do nobre ministro a
prejuizo do meio soldo que nas pensões concedidas a outras idéa de que os pareceres da mesa, notando uma ou outra
viuvas que já gosavam do meio soldo, ou tinham direito a elle irregularidade nos seus actos, são dados como meio de
si poz a clausula sem prejuizo do meio soldo.» Portanto si a opposição, como hostilidade.
este respeito não se fizer nenhuma declaração, ficará O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Nem
certamente entendido que a viuva D. Generosa não póde ninguem disse isto.
acommular o meio soldo a esta pensão de que nos O SR. DIAS DE CARVALHO: – Não é esta a nossa
occupamos. intenção, é simplesmente esclarecer a verdade.
Se esta doutrina tivesse sido constantemente seguida, Disse o nobre ministro que o senado já tinha decidido
não havia duvida alguma; mas os Srs. senadores recordam-se a questão; mas o nobre senador que acabou de fallar mostrou
de que ha pouco, tratando-se de uma pequena pensão que não ha decisão alguma do senado a este respeito; nem o
concedida a uma senhora que já gosava de meio soldo creio senado por si só poderia dar uma decisão desta natureza.
que de coronel, a mesa observou que era preciso acrescentar Seria uma interpretação de lei e o senado não póde interpretar
as palavras – sem prejuizo do meio soldo – e o senado decidiu leis, senão por meio de resoluções que passem em ambas as
que não era isto necessario. Portanto a agraciada póde dizer camaras, e nunca pela simples rejeição de uma emenda.
«Assim como a respeito daquella viuva a quem se concedeu a Disse-se que o pensamento que predominou aqui na rejeição
pensão de 12$, estando ella já no goso do meio soldo, do seu da emenda foi este, mas não ficou estabelecida doutrina
marido, se entendeu que não ficaria prejudicado o meio soldo, alguma que obrigasse a nenhum senador a cingir-se a ella.
mas seria accommodada a pensão, porque não houve O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Mas não
nenhuma declaração nem em um outro sentido, assim podia ser motivo de duvida. A minha questão é de
tambem devo eu acumular a pensão, porque não houve competencia.
nenhuma declaração a esse respeito. O SR. DIAS DE CARVALHO: – Peço ao nobre
Creio, pois que a vista destas breves explicações o ministro o obsequio de ouvir as poucas palavras que pretendo
senado estará habilitado para resolver como entender. A mesa dizer como membro da mesa, porque se não fosse membro da
não fez outra cousa mais do que expôr suas duvidas e mesa, não occuparia a attenção do senado dando esta
apresentar seu pensamento. O nobre ministro exigiu que a explicação.
mesa formulasse seu pensamento, o pensamento da mesa O nobre ministro estranhou que a mesa insistisse em
está formulado aqui (lê.) uma questão que já estava resolvida pelo senado, e eu
A mesa tinha dito tambem «se porém a opinião do declaro a S. Ex. que não ha resolução nenhuma do senado a
senado for diversa do que a mesa sustenta se entender que a este respeito, porque se houvesse uma resolução obrigatoria,
pensão deve ser paga sem prejuizo do meio soldo, neste caso a mesa seria a primeira a respeital-a; mas emquanto não
convirá que se declare isto mesmo, afim de evitar questões.» houver uma resolução legislativa que declare que as pensões
Creio que estas explicações servirão ao senado para concedidas depois de estarem os pensionistas no goso do
tomar a resolução que entender conveniente. A mesa sustenta meio soldo por morte de seus pais, maridos, etc. não
sua opinião, entende que houve engano; que a pensão foi prejudicam essa mercê anterior, devemos entender que
concedida sem attender-se a que esse official em commissão subsiste o principio até agora seguido, o principio
era tambem official do exercito; e que não se attendeu a que
viuva já estava no goso do meio soldo de
Sessão em 9 de Maio 53

observado em todas as resoluções que tem sahido do corpo O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Eu estou
legislativo, o principio sustentado ainda agora nesta mesma de accordo com o nobre senador pela Bahia.
resolução, que está sujeita ao debate, porque ahi se O SR. ZACARIAS: – Eu não disse ainda a minha
encontram 4 ou 5 decretos concedendo pensões á viuvas, opinião.
mãi ou filhas de militares todas com a clausula sem prejuizo O SR. DIAS DE CARVALHO: – O corpo legislativo
do meio soldo estando umas já no goso delle como consta tem o direito de emendar essas resoluções conforme
dos seus documentos, e outras tendo direito a elle, no entender conveniente; e noto que no caso de que se trata elle
conformidade da legislação vigente. O governo para evitar não procede arbitrariamente; procede de accordo com as
que as pensionistas ficassem prejudicadas no meio soldo leis, procede de accordo com a pratica constante e procede
pela concessão destas pensões, estabeleceu em todos esses assim principalmente para evitar os inconvenientes que
decretos a clausula de que as pensões eram concedidas sem devem resultar de semelhante doutrina.
prejuizo do meio soldo. Pois o corpo legislativo approva sete decretos do
Ora, senhores, porque não havemos de ser francos, governo, entre os quaes se acham cinco pensões concedidas
porque não havemos de ser de bôa fé? um engano foi á viuvas, mães ou filhas de militares, incluindo nestes a
commettido, e o que perde o governo em reconhecer este clausula de que as pensões serão pagas sem prejuizo do
engano? meio soldo, o que quer dizer que se accumule a pensão com
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Não o meio soldo, e só não ha de passar a clausula relativamente
perde nada. á primeira das agraciadas, que é tambem viuva de militar?
O SR. DIAS DE CARVALHO: – A questão é de Póde vir outro ministro que, entendendo differentemente do
principios, não é questão pessoal o governo não está em ministerio actual, diga: «Não, como a pensão não traz a
litigio em semelhantes casos. clausula de que é sem prejuizo do meio soldo, a pensionista
Já declarei ao nobre ministro que não estou fazendo não póde accumular o meio soldo com a pensão.» E assim
censuras ao governo. Pois então porque o engano foi ficará ella prejudicada.
descoberto pela mesa, o governo deve levar o seu capricho E’ uma opinião que tem o nobre ministro, isto é, que a
até o ponto de sustental-o, dizendo: «Está feito, ha de declaração é desnecessaria; não duvido que a execute
cumprir-se?» emquanto estiver no ministerio, mas qualquer outro ministro
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Não é não é obrigado a seguil-a.
capricho. O senado declarou outro dia que isso não é Ora, quando se vê que á respeito das duas filhas do
engano. major Conrado, que tiveram uma pensão de 84$,
O SR. DIAS DE CARVALHO: – Cada um de nós correspondente ao meio soldo de seu fallecido pae, isto é, de
pensa e vota como sua intelligencia lhe aconselha; eu penso 42$ para cada uma, se estabeleceu a clausula – sem prejuizo
desta maneira e acredito que o governo desceria de sua do meio soldo; – quando se vê que a respeito de outras
dignidade se reconhecesse que no acto da concessão dessa senhoras se procede do mesmo modo, qual é a razão porque
mercê pecuniaria a D. Generosa enganou-se dando-lhe uma não se ha de proceder assim relativamente á Sra. D.
pensão de 84$ correspondente ao soldo de seu marido como Generosa?
major, quando elle, além de major, era capitão do exercito e E’ verdade que o governo póde dar pensões como
quando sua viuva tinha direito, na fórma da lei de 1827, a ser entender conveniente, mas deve seguir uma regra, não deve
remunerada com um quantitativo igual á metade do soldo que ter o arbitrio de dar á viuva de um major, que não está nas
elle percebia no exercito. mesmas circumstancias da de um tenente coronel, o mesmo
Eis aqui a questão. Desde que se reconhece o facto que dá á viuva deste official, porque desse modo crea
de que essa senhora já tinha o meio soldo e que se lhe deu embaraços a si mesmo abrindo uma porta ao patronato. Se
uma pensão que unida ao meio soldo, prefaz uma quantia tiver um tal procedimento, ámanhã virá a viuva de um alferes
superior áquella que se tem dado a todas as outras viuvas ou de um tenente que fôr protegida, e pedirá o mesmo que se
em iguaes circumstancias, o nobre ministro bem vê que o deu á do capitão ou major, e o governo ver-se-ha
poder legislativo está em seu direito dizendo: «A pensão embaraçado pelos precedentes, que tiver creado
concedida de tanto, seja reduzida a tanto.» Nesta parte arbitrariamente.
perdôe o nobre ministro que eu descorde de sua opinião de Julgo, Sr. presidente, escusado occupar por mais
que o corpo legislativo só póde rejeitar as pensões ou tempo a attenção do senado. Fiz estas considerações porque
approva-las, mas não póde augmental-as nem diminuil-as. não é possivel passar o adiamento, como desejaria o nobre
Creio que não ha exemplo de reducções, mas sim de ministro. Se houvesse ainda numero sufficiente de Srs.
augmentos, embora não me recorde delles... senadores, eu seria o primeiro a votar pelo adiamento,
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Póde ou porque desejava que esta questão fosse tratada estando
não póde? presente maior numero de senadores a fim de que
O SR. DIAS DE CARVALHO: – Não examinei a concorressem com suas luzes para esclarecer a materia e
questão. levar o senado a dar o voto mais conveniente que for
O SR. PRESIDENTE: – Ha exemplo da 1ª legislatura, possivel. A mesa nenhum empenho tem em que suas
na camara dos Srs. deputados. Comprometto-me a propostas sejam approvadas pelo senado; cumpre o seu
apresental-o opportunamente. dever offerecendo com lealdade ao conhecimento dos Srs.
O SR. DIAS DE CARVALHO: – Eu sustento a opinião senadores os factos que collige na investigação desses
de que o corpo legislativo, a quem a constituição dá o direito documentos; o senado decidirá como em sua sabedoria
de approvar as mercês pecuniarias concedidas pelo governo entender mais conveniente. Como, porém, temos o recurso
não está limitada a approvar ou rejeitar aquella que o da 3ª discussão, nelle a materia será mais esclarecida.
governo propõe. Sentirei que o senado rejeite desta vez a emenda
offerecida pela mesa, não porque com isto se offenda o amor
54 Sessão em 9 de Maio

proprio da mesa, mas porque me parece que viola-se uma O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Nos
regra da qual o senado não deve affastar-se, guardando a corpos legislativos a ultima votação é a vigente.
igualdade para com todos, e não ser contradictorio dizendo O SR. ZACARIAS: – Como o ultimo ministro é o
em uma mesma proposição – sim – e – não – ao mesmo melhor...
tempo. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O
Voto portanto em favor das emendas que a mesa excellente é aquelle que ha de vir.
offereceu. O SR. POMPEU: – O que é que existe Sr.
O Sr. Junqueira (Ministro da Guerra) fez algumas presidente? E’ a lei de 1827 que regula as pensões
observações. concedidas as viuvas de militares e recomenda que não se
O SR. POMPEU: – Depois das explicações dadas accumule a pensão com o meio soldo; por conseguinte o
pelo illustre 3° secretario ao nobre senador pela provincia da precedente é este; é a observancia dessa lei; e o poder
Bahia, eu esperava que o nobre ministro, que aliás se mostra executivo toda vez que concede uma pensão e quer que seja
muitas vezes razoavel, não insistisse em querer perseverar esta accumulada ao meio soldo, inclue no decreto a clausula
em um erro, em que naturalmente por equivoco cahiu o sem prejuizo de meio soldo; segue-se que quando elle não
governo. S. Ex. parece querer para o governo um privilegio inclua esta clausula, entende-se que a pensão foi concedida
que ainda não foi dado senão ao poder espiritual em materia de conformidade com a lei de 1827.
de fé, isto é a inerrancia. Perguntou o honrado ministro: Póde o parlamento
O SR. ZACARIAS: – Contra o voto do Sr. presidente augmentar ou diminuir as pensões pecuniarias?» E’ outra
do conselho. questão, Sr. presidente, não é desta que se trata agora. Eu
O SR. POMPEU: – Presume o honrado ministro que o entendo que o parlamento não póde augmentar as pensões;
governo nunca erra. é uma prerogativa do poder executivo conceder mercês
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Sei bem pecuniarias, ficando ao parlamento o direito de approvar ou
que erra: V. Ex. sabe perfeitamente. rejeitar.
O SR. POMPEU: – Eu sei perfeitamente; mas V. Ex., Póde ser que haja precedentes em contrario, não
apezar da demonstração tão clara feita pelo parecer da duvido; mas eu entendo que pela letra da constituição só ao
mesa, pelo honrado Sr. 3° secretario e pelo nobre senador poder executivo pertence conceder essa graça. Pertence,
meu amigo, o Sr. Zacarias está insistindo contra a emenda porém, ao parlamento fiscalisar as mercês pecuniarias
da mesa. concedidas pelo poder executivo, vêr se ellas o foram em
Mas S. Ex. parece que não está muito seguro na sua virtude de uma lei que se tem estabelecido, para esse fim.
opinião quando, sustentando que o senado não póde votar Ora, existindo uma lei dispondo que as pensões ás viuvas
em sentido contrario á um precedente, todavia admitte a dos militares não se podem accumular com o meio soldo,
hypothese de que em 3ª discussão, melhor esclarecido si pertence ao parlamento, na approvação de taes pensões,
possa votar pela emenda da meza. O que parece desgostar e examinar se foram concedidas de conformidade com essa lei;
afligir ao nobre ministro é que se adopte logo nesta discussão porque o poder executivo póde, quando quizer sahir della,
a emenda apresentada no parecer da meza. usar da clausula – sem prejuizo do meio soldo. Portanto, Sr.
Não ha precedente, não ha resolução interpretativa, presidente, o honrado ministro que é homem muito
como entende o nobre ministro. Só pode haver uma intelligente, muito rasoavel, poderia reconhecer que isso foi
resolução interpretativa, como disse o honrado 3° secretario um engano que passou na secretaria.
depois a uma lei votada pelo parlamento. O SR. ZACARIAS: – Mas a solidariedade obriga.
O SR. ZACARIAS: – Como foi a de 1827. O SR. POMPEU: – ...no tempo do seu antecessor e
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Então o aceitar a boa doutrina que a mesa lhe offerece.
voto não dá a intelligencia da camara. Eu aproveito tambem esta occasião de render mais
O SR. POMPEU: – Qual é o precedente? O senado uma homenagem á mesa pelo serviço que ella presta ao
cem, duzentas vezes ha votado no sentido que hoje propõe a senado esclarecendo nesta materia, sinto que o governo se
mesa, ao passo que ha sómente dous factos em contrario a incommode, em vez de acompanhar o sentimento geral do
esses, como vêmos que é excepções a outros principios senado em elogiar a solicitude da
geralmente seguidos. Já disse e repetirei que o senado este mesa. O governo mostra-se incommodado infenso e parece
anno tem constantemente votado pelas resoluções que veem que até suppõe que a mesa está em hostilidade.
de outra casa autorisando ao governo a conceder matriculas O SR. JUNQUEIRA (ministro da guerra): – Oh
de estudantes; e até o proprio presidente do conselho hoje senhor, o governo não pode ser suspeito ao nobre presidente
votou por uma resolução destas e contra outras que foram desta casa.
rejeitadas pelo senado. Ora, se os precedentes valessem, se O SR. POMPEU: – Então devia reconhecer o serviço
fossem uma resolução interpretativa como entende o nobre que presta a mesa.
ministro, seguir-se-hia que o senado não poderia votar ao O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Isto é
menos em uma mesma sessão pró e contra a mesma cousa. um incidente.
Por conseguinte, Sr. presidente, não ha resolução, o nobre O SR. POMPEU: – Quando ella presta um serviço
ministro por equivoco proferiu esta proposição; e não ha desta ordem, deve o governo agradecel-o, porque aqui não
mesmo precedente, porque um ou dous actos eu contarei a se trata de politica nem de fazer opposição ao ministerio.
uma serie de outros, não estabelece um precedente quanto Por conseguinte, Sr. presidente, eu voto pela emenda
mais uma resolução. da mesa, e ainda mais com elogio pelo zelo com que ella
Sessão em 10 de Maio 55

presta esclarecimentos ao senado nesta, e noutras materias EXPEDIENTE.


desta ordem.
Ninguem mais pedindo a palavra e não havendo quorum Dous officios do ministerio da guerra, de 7 do corrente
para votar-se, ficou encerrada a discussão. mez, remettendo os autographos sanccionados das resoluções
Esgotada a materia da ordem do dia, o Sr. presidente da assembléa geral que autorisam o governo a mandar admittir á
deu a seguinte para 10: matricula na escola central os estudantes José Francisco Elione
Votação sobre o parecer e a proposição, cuja discussão de Almeida Filho e José Maria de Albuquerque Mello Junior. – Ao
ficou encerrada. archivo os autographos, communicando-se á outra camara.
1ª discussão do projecto do senado, fazendo extensiva Officio do 1º secretario da camara dos Srs. deputados, de
ao corpo policial da provincia do Rio de Janeiro a disposição do 9 do corrente, remettendo a seguinte proposição:
art. 57 do regulamento de 1858. A assembléa geral resolve:
1ª dita do projecto do senado autorisando a admissão á Art. 1º E’ autorisado o governo para conceder ao
matricula dos estudantes que tiverem deixado de fazer em tempo bacharel Francisco José de Souza Lopes, juiz de direito da
exames de preparatorios. comarca de Macapá, na provincia do Pará, um anno de licença,
Requerimentos adiados dos Srs. senadores Paes de com ordenado, para tratar de sua saude onde lhe convier.
Mendonça, Pompeu e Vieira da Silva. Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Levantou-se a sessão ás 3 horas e 35 minutos da tarde. Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de 1873.
– Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Martinho de
6ª SESSÃO EM 10 DE MAIO DE 1873. Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. – Luiz Eugenio
Horta Barbosa, 2º secretario interino.
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. A’ commissão de pensões e ordenados.
O Sr. 2º Secretario leu o seguinte
Summario. – Expediente. – Pareceres da commissão de
marinha e guerra – Ordem do Dia: – Pretenção de S. B. Nabuco PARECER DA COMMISSÃO DE MARINHA E GUERRA.
de Araujo – Pensões. – Pretenção da assembléa provincial do
Rio de Janeiro. – Observações e requerimento do Sr. Visconde Matricula de estudante.
de Muritiba – Observações dos Srs. Silveira Lobo, visconde de
Muritiba e Zacarias – Matricula de estudantes – Adiamento da A commissão de marinha e guerra, reconhecendo que a
assembléa provincial das Alagoas – Discursos dos Srs. Paes de proposição da camara dos Srs. deputados que autorisa o
Mendonça e visconde do Rio Branco – Negocios do Ceará – governo para mandar admittir á matricula do 1º anno da escola
Discurso do Sr. Pompeu. central o alumno ouvinte João Pinto de Figueiredo Mendes Antas
Junior independentemente do exame de geographia, que deverá
Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se presentes prestar antes do acto do mesmo anno, está no mesmo caso de
40 Srs. senadores, a saber: Visconde de Abaeté, Almeida e muitas outras approvadas pelo senado na sessão passada, é de
Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de Carvalho, Figueira parecer que a proposição entre na ordem dos trabalhos para ser
de Mello, marquez de Sapucahy, Jobim, Chichorro, visconde de adoptada.
Souza Franco, Silveira Lobo, Barros Barreto, Jaguaribe, visconde Sala das commissões, em 8 de Maio de 1873. – Duque
de Muritiba, Diniz, duque de Caxias, barão do Rio Grande, de Caxias. – D. J. Nogueira Jaguaribe.
Mendes dos Santos, barão de Camargos, visconde de Jaguary,
Teixeira Junior, barão de Maroim, Firmino, Antão, Nunes PARECER DA COMMISSÃO DE MARINHA E GUERRA.
Gonçalves, Uchôa Cavalcanti, visconde de Caravellas, Candido
Mendes, F. Octaviano, visconde de Inhomirim, Paes de Matricula de estudantes.
Mendonça, visconde de Camaragibe, visconde do Bom Retiro,
Sinimbú, visconde do Rio Branco, Leitão da Cunha, Vieira da A’ commissão de marinha e guerra foi presente o
Silva, Junqueira, barão de Pirapama, Pompeu e Zacarias. requerimento em que Benjamim da Gama Souza Franco,
Deixaram de comparecer com causa participada os Srs. allegando não ter podido, por molestia e por causa das febres
Fernandes Braga, barão de Cotegipe, barão da Laguna, conde reinantes, fazer exame de arithmetica e geographia para se
de Baependy, Paula Pessoa, Fernandes da Cunha, Paranaguá, matricular no 1º anno da escola central, mas haver, com
Ribeiro da Luz, Saraiva, Cunha Figueiredo, Silveira da Motta, permissão do governo, frequentado como ouvinte as aulas, pede
marquez de S. Vicente, Nabuco e visconde de Nitherohy. que seja o mesmo governo autorisado a mandal-o admittir a
Deixaram de comparecer sem causa participada os Srs. exame das materias do 1º anno da referida escola, depois de
barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de Suassuna. mostrar-se habilitado com os exames dos preparatorios
O Sr. presidente abriu a sessão. mencionados.
Leu-se a acta da sessão antecedente e não havendo Considerando os precedentes seguidos pelo senado
quem sobre ella fizesse observações, foi approvada. sobre este assumpto, é a commissão de parecer que seja
O Sr. 1º secretario leu o seguinte attendida a petição do supplicante e para isso offerece a seguinte
resolução:
A assembléa geral resolve:
Art. 1º E’ o governo autorisado para mandar admittir a
Benjamim da Gama Souza Franco ao exame das materias do 1º
anno da escola central, que frequentou como ouvinte, depois de
mostrar-se habilitado com os exames de preparatorios de
arithmetica e geometria.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Sala das commissões, em 9 de Maio de 1873. – Duque
56 Sessão em 10 de Maio

de Caxias. – D. J. Nogueira Jaguaribe. – Visconde de Muritiba. mais racional e mais curial seria votar-se contra o adiamento,
Ficaram sobre a mesa para serem tomados em para que entre em discussão o projecto e seja rejeitado. Neste
consideração com as proposições a que se referem. terreno é facil demonstrar a improcedencia, a falta de
fundamento para que se adopte uma semelhante medida, que
ORDEM DO DIA. leva o poder legislativo geral a intervir na esphera do poder
legislativo provincial e importa a ampliação do poder legislativo
PRETENÇÃO DE S. B. NABUCO DE ARAUJO. provincial, que não póde ser dada senão pelo poder constituinte.
E sobre que materia, Sr. presidente? Affectando direitos
Votou-se em 2ª e ultima discussão e não foi approvado o individuaes da maior importancia.
parecer da commissão de fazenda autorisando a impressão dos O projecto de que se trata sujeita indistinctamente todos
Annaes do Senado de 1826 a 1857. aquelles que se engajam para servir na policia da provincia ás
penas do recrutamento, embora tenham isenções legaes.
PENSÕES. Parecia-me, Sr. presidente, que esta interpretação era,
por absurda, menos digna de ser considerada. Mas sou
Votou-se em 2ª discussão, salvas as emendas da mesa, informado de que a pena de transmissão para o exercito tem
e foi approvada, a proposição da camara dos Srs. deputados recahido sobre individuos até de nacionalidade estrangeira.
concedendo pensões a D. Generosa Augusta Ramos e outros. Por estes e outros principios que são intuitivos e que
Foram igualmente approvadas as emendas offerecidas foram bellamente expostos pelo nobre senador pela Bahia,
no parecer da commissão da mesa e passou a proposição com acredito que não é possivel a adopção de uma semelhante
as emendas para a 3ª discussão. medida e, portanto, voto contra o adiamento, afim de que entre
em discussão e seja rejeitado o projecto de que se trata.
PRETENÇÃO DA ASSEMBLÉA PROVINCIAL DO RIO DE O SR. VISCONDE DE MURITIBA: – Sr. presidente, as
JANEIRO. razões allegadas pelo honrado senador que acaba de sentar-se
não me parecem procedentes, porque não está ainda decidido se
Entrou em 1ª discussão o art. 1º do projecto do senado, porventura o projecto contém iniciativa do recrutamento; isto
fazendo extensiva ao corpo policial da provincia do Rio de seria ainda objecto de discussão no senado. Podia ser que
Janeiro a disposição do art. 57 do regulamento de 1858. prevalecesse a idéa de alguns; de que não existe, com effeito, tal
O SR. VISCONDE DE MURITIBA: – Como membro da iniciativa, como se pensou na occasião em que o digno autor do
commissão de marinha e guerra concordei na apresentação regulamento em que se impõe a pena de recrutamento o
deste projecto; mas bem depressa me pareceu não ter reflectido, formulou por autorisação da assembléa geral, é verdade, mas
que é duvidosa a competencia do senado para iniciar semelhante sem expressa delegação das camaras quanto áquella pena. No
resolução. Pretendo por isso com outro meu honrado collega da meu entender o ministro, aliás digno, que assignou este
commissão offerecer um requerimento, para que o projecto só regulamento, não reflectiu maduramente sobre o caso. Eu me
seja discutido quando a outra camara enviar alguma proposição persuado de que elle não estava autorisado para isso.
no mesmo sentido, porque consta-me que a assembléa provincial O SR. POMPEU: – Apoiado.
do Rio de Janeiro não só se dirigiu a este ramo do parlamento O SR. VISCONDE DE MURITIBA: – Entretanto julgou-se
como áquelle outro. Por consequencia parece-me que ainda autorisado para tanto no regulamento de 1858, a isto passou até
mesmo aquelles que não duvidam da competencia do senado hoje como um acto que não importa iniciativa de recrutamento.
pódem concordar em que o projecto não seja agora discutido, O SR. SILVEIRA LOBO: – Importa legislar sobre
mas sómente quando a outra camara tiver iniciado uma recrutamento.
resolução neste sentido (Apoiados.) O SR. VISCONDE DE MURITIBA: – A razão principal e
Vou mandar á mesa o requerimento. que me parece excluir as que deu o nobre senador por Minas é a
Foi lido, apoiado e posto em discussão o seguinte: seguinte: Se nós rejeitassemos actualmente o projecto que foi
aqui iniciado, não poderiamos depois approvar um outro que
REQUERIMENTO DE ADIAMENTO. possa vir da outra camara.
O SR. SILVEIRA LOBO: – Não apoiado.
Requeiro o adiamento do projecto até que venha da outra O SR. VISCONDE DE MURITIBA: – E se não o
camara alguma proposição no sentido da representação da approvamos agora, porque alguns julgam que o senado não tem
assembléa provincial que, segundo consta, fez subir á mesma competencia para iniciar projectos sobre recrutamento, neste
camara pedido identico. – Muritiba. – D. J. Nogueira Jaguaribe. caso vamos prejudicar a attribuição pela qual nos incumbe tomar
O SR. SILVEIRA LOBO: – Sr. presidente, pareceu-me conhecimento dos projectos que são enviados pela camara dos
muito procedente a razão em que fundou o nobre senador pela deputados, visto como a materia rejeitada em uma sessão não
Bahia o seu requerimento de adiamento. Mas peço licença ao póde ser reproduzida durante
nobre senador para dizer-lhe que o motivo exarado no mesmo
requerimento não é procedente.
Sr. presidente, o adiamento pelo motivo allegado nada
menos importa do que a confissão e o reconhecimento da
incompetencia do senado para iniciar medidas desta natureza. E
se o senado é incompetente para a iniciativa em semelhante
materia, esse reconhecimento importa não um adiamento, mas a
retirada absoluta do mesmo projecto.
O SR. POMPEU: – Apoiado.
O SR. SILVEIRA LOBO: – Neste sentido, Sr. presidente,
Sessão em 10 de Maio 57

ella; ou pelo menos haveria certa apparencia de contradicção Essa mudança, Sr. presidente, operada no animo do
em approvar hoje o que hontem foi rejeitado. Acho, portanto, nobre presidente do conselho a meu respeito, não
que o requerimento de adiamento que propuz sana todas as sorprendeu-me, porque antes de mim outros conservadores
difficuldades. Para aquelles que entendem que o senado é mais distinctos, que tinham prestado mais serviços do que
competente, o adiamento aproveita; e tambem aproveita eu, que tinham poderosamente concorrido para a elevação
áquelles que pensam que só na camara dos deputados é que de S. Ex. ás altas posições que occupa no paiz, tiveram a
póde ser iniciado um projecto desta ordem, pois que só mesma infelicidade que eu; cahiram no desagrado de S. Ex.,
havemos de approvar ou rejeitar o projecto depois que elle pelo que incorreram na mesma qualificação, com que hoje
tiver sido competentemente enviado pela camara dos sou brindado pelo nobre presidente do conselho.
deputados. Assim é, que vemos qualificados de intolerantes, de
Não sou tão excessivo nos meus escrupulos como o apaixonados, de oligarchas o muito distincto conselheiro
nobre senador que acabou de fallar a respeito da Paulino José Soares de Souza, seus nobres amigos e
incompetencia das assembléas provinciaes acerca do que o muitos conservadores importantes, porque tiveram bastante
nobre senador chamou direiros individuaes. força de vontade para não serem subservientes, para não
Em muitos casos as assembléas provinciaes teem quererem ler pela cartilha do nobre presidente do conselho.
tanto ou igual direito como a assembleá geral para legislar O SR. SILVEIRA LOBO: – A cartilha não é delle, é
sobre materias que dizem respeito aos direitos individuaes dos emprestada.
cidadãos, os quaes, se não podem ser limitados, podem ser O SR. PAES DE MENDONÇA: – Ha poucos dias
regulados de certa maneira. ouviu o senado um pomposo elogio feito ao meu distincto
Continúo a votar pelo requerimento e parece-me que, amigo o nobre visconde de Camaragibe pelo Sr. presidente
pelas breves razões que tive a honra de expender ao senado, do conselho, elogio sem duvida muito merecido, mas que
este fará bem em dar seu assenso ao adiamento que está em não deve lisongear ao meu digno amigo, porque, se amanhã
discussão. S. Ex. tiver o arrojo, a audacia de recusar sua confiança ao
O Sr. Zacarias faz algumas observações sobre a ministerio de 7 de Março, verá o nobre presidente do
materia do projecto e conclue declarando votar pelo conselho, daquella cadeira, qualifical-o de intolerante, de
adiamento por deferencia aos membros da commissão que o exigente, de influencia repellida; veremol-o fazer côro com
propoz. os adversarios, que combatem sua supposta olygarchia.
Findo o debate e posto a votos foi approvado o (Apoiados.)
requerimento. O que prova tudo isso? E' que o nobre presidente do
conselho não quer amigos independentes, amigos que
MATRICULA DE ESTUDANTES. tenham liberdade de pensar, que possam ter outra vontade
que não seja a sua; e se algum, levado pela força de seu
Seguiu-se em 1ª discussão, e passou para a 2ª, o caracter e das circumstancias, recusa-lhe apoio, nunca o faz
projecto do senado C de 1873, autorisando a admissão á por uma razão justa; nunca o faz impellido pelos principios
matricula e exame aos alumnos que tiverem deixado de os de justiça; é sempre por motivos reprovados e por despeito,
fazer em tempo. como acaba de dar-se comigo!
O SR. FIRMINO E OUTROS: – Apoiado.
ADIAMENTO DA ASSEMBLÉA PROVINCIAL DAS ALAGOAS. O SR. PAES DE MENDONÇA: – Disse S. Ex. que
eu, que sempre prestei meu apoio ao ministerio de 7 de
Entrou em discussão o requerimento do Sr. Paes de Março, o havia retirado, porque os negocios da provincia
Mendonça, pedindo informações a respeito do adiamento da não corriam como era meu desejo. Sr. presidente, depois
assembléa provincial das Alagoas e demissões dadas pelo que nesta casa, por occasião do voto de graças, eu dei com
presidente da mesma provincia. toda a franqueza, com toda a lealdade as razões que me
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Sr. presidente, no levaram a recusar minha confiança ao gabinete de 7 de
discurso que nesta casa proferiu o nobre presidente do Março, parece que o nobre presidente do conselho não tinha
conselho em defeza do presidente da provincia das Alagoas, o direito de attribuir á paixão e a despeito minha separação.
(a quem ainda continuo a chamar desconhecido), pelas graves Por essa occasião, Sr. presidente, dei solemnemente
accusações que lhe fiz, S. Ex. attribuiu a causas pouco dignas as razões, que me collocaram em opposição a S. Ex.; disse
a minha separação do ministerio de 7 de Março... então, que entendia que o ministerio de 7 de Março tinha de
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do certo tempo para cá gerido mal os negocios publicos, tinha
Conselho): – Pouco dignas, não. intervindo directamente no processo eleitoral, e parecia
O SR. PAES DE MENDONÇA: – ...o que revela que haver tomado sobre seus hombros a triste missão de dividir,
da parte de S. Ex. ainda ha o despeito, ainda ha paixão, de estrangular em todo o paiz o partido conservador.
porque eu e meus amigos fizemos opposição aos seus dous O SR. FIRMINO E OUTROS: – Apoiado.
candidatos recommendados officialmente pelo ex-presidente O SR. PAES DE MENDONÇA: – Foram essas as
da provincia ao 2º districto, por occasião da eleição, a que se razões que me obrigaram a separar do nobre presidente do
procedeu em Setembro proximo passado. conselho, e não causas tão pequeninas como aquellas a
Até então, Sr. presidente, era eu o amigo dedicado e que S. Ex. alludiu. Eu era incapaz de recusar minha
sincero, tinha influencia legitima na provincia, havia prestado confiança aos nobres ministros a quem sempre apoiei, pelo
bons serviços ao ministerio de 7 de Março; dahi para cá fui facto de não correrem os negocios da provincia inteiramente
considerado pelo nobre presidente do conselho intolerante, a meu bel prazer.
exigente, apaixonado e como influencia repellida por querer
dominar exclusivamente a provincia toda.
58 Sessão em 10 de Maio

Disse S. Ex. que eu tinha pretenção de aterrar desta como uma qualidade extraordinaria do Sr. Romulo; o ter
tribuna os presidentes da provincia das Alagoas. Ora, sabido resistir ás enormes quantias que lhe foram offerecidas
senhores, parece-me que não devo responder a esta para ser favoravel em um processo crime de importancia, que
provocação do nobre presidente do conselho. (Apoiados) era intentado no fôro da cidade de Vassouras. Ora, senhores,
Entrego suas palavras ao juizo da opinião publica, ella não vejo aqui uma qualidade digna de um elogio tão pomposo.
que julgue qual de nós pretende aterrar, se eu desta tribuna (Apoiados). O promotor de Vassouras não fez mais do que
dizendo a verdade, fazendo graves accusações cumprir seu dever, não fez mais do que aquillo que deve
documentadas contra funccionarios publicos que deixaram de praticar todo homem de consciencia: e um elogio dessa ordem
cumprir seus deveres, eu o nobre presidente do conselho dado ao ex-promotor de Vassouras, parece que põe em
mandando pelo seu delegado perseguir, ameaçar com duvida a honestidade de nossos fuccionarios publicos
demissão aos meus amigos da provincia das Alagoas e (apoiados), parece que entre nós é muito ordinario, muito
aniquilar alli o partido conservador, creando uma dissidencia comesinho que os empregados se deixem corromper! Desde
official. Portanto, eu não direi mais uma palavra acerca dessa que o nobre senador pelo Rio de Janeiro disse que essa
insinuação, por certo demasiadamente injusta. qualidade distincta é uma razão que habilitou o Sr. Romulo
Disse mais S. Ex. que, querendo eu amesquinhar o para os empregos de primeira ordem, parece que nosso
actual presidente das Alagôas, o chamara de desconhecido; funccionalismo está inteiramente desconsiderado, só se deixa
que o presidente das Alagoas não é esse homem, que eu levar por dinheiro e não pelos principios de justiça: parece que
suppunha; que não precisava de passaporte meu para a moralidade tem desapparecido inteiramente de entre nós.
occupar cargos importantes; que era muito conhecido na (Apoiados.)
cidade de Vassouras, onde havia prestado grandes serviços No seu enthusiasmo pela defeza do actual presidente
como delegado de policia e como promotor publico. Mas, Sr. das Alagôas, disse o nobre presidente do conselho: «jogar
presidente, depois dessas palavras do nobre presidente do voltarete não é um crime.» Eu não disse que o Sr. Romulo
conselho, eu e creio que todo o senado ficamos conhecendo commettia um crime jogando o voltarete; reparei apenas que
tanto o Sr. Romulo, como o conheciamos de antes. se tinha feito recommendar por ser companheiro de voltarete
O SR. ZACARIAS: – Eu de certo não o conheço. de certa influencia politica; entretanto, S. Ex. veio declarar-nos
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Se eu quiz acerca do que tambem jogava o voltarete, comparando-se com Adam
Sr. Romulo ter algumas informações, recorri não á historia de Smith, etc.
Roma, como me aconselhou o nobre senador pela provincia O SR. ZACARIAS: – E que é pichote.
da Bahia, mas sim á historia da Republica Argentina, que sem O SR. SILVEIRA LOBO: – Felicito o paiz com tal
duvida fica mais perto; e então, fiquei inteirado de que o Sr. noticia.
Romulo é filho daquelle Estado, veio para o Brasil em O SR. PAES DE MENDONÇA: – Aproveitando a
companhia de seus paes, e fez seus estudos na faculdade de occasião, aconselho a S. Ex. que para deixar de ser pichote,
S. Paulo, onde obteve a carta de bacharel formado; pairando tome algumas lições com o seu delegado, porque na arte do
ainda em meu espirito a duvida de que o Sr. Luiz Romulo voltarete e do lasquinet ninguem o excede: e agora mesmo
Peres de Moreno seja cidadão brasileiro porque, Sr. esse presidente, indo passar á semana santa na cidade das
presidente, compulsando alguns volumes da nossa legislação, Alagôas, levou as noutes daquelle periodo de recolhimento,
não encontrei lei ou decreto algum naturalisando-o. Mas o em companhia de certa camarilha, com quem anda, não
facto é que o Sr. Romulo nasceu no Estado Argentino. abandonando a mesa do jogo e das orgias.
O SR. ZACARIAS: – Podia nascer de agente S. Ex. tratou tambem de um facto, a que não dei
diplomatico, comquanto não me conste que tivessemos alli nenhuma importancia e que eu trouxe unicamente á discussão
algum Peres de Moreno. para provar a leviandade do presidente da Alagôas; e foi a
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Posso garantir a V. historia dos musicos que S. Ex. referiu inteiramente
Ex. que elle é filho de argentinos, e seu pae é bem conhecido desvirtuada. O facto sabido na provincia, discutido nos
em Vassouras. jornaes, foi como contei nesta casa; mas S. Ex. disse que o
Além disso, senhores, tive de pessoas fidedignas major do batalhão provisorio fôra á frente de algumas
residentes naquella cidade informação de que o Sr. Romulo senhoras agradecer ao presidente ter mandado retirar a
não foi alli esse empregado tão distincto, como suppõe o musica. O presidente impôz á musica que viesse tocar na
nobre presidente do conselho. O Sr. Romulo como delegado casa onde elle estava; não obedecendo ella immediatamente,
de policia foi muito (não quero dizer relaxado) preguiçoso; o Sr. Romulo mandou prendel-a pelo seu ajudante de ordens:
cuidava pouco do serviço da policia; durante seu exercicio e o Sr. major Manoel Miranda, (e não major Fortunato),
deram-se alli diversos factos criminosos; que, se houvesse acompanhado de algumas senhoras, foi levar os musicos ao
mais actividade e vigilancia da parte da autoridade, podiam ter presidente e pedir-lhe que os relevasse da prisão. Portanto, o
sido evitados; e alguns delinquentes passeavam impunemente que se passou é muito differente do que disse o nobre
na cidade. Durante o tempo de promotor, o Sr. Romulo não presidente do conselho, o que me convence de que S. Ex.
fez mais do que cumprir seus deveres, mas sempre com sua está se deixando illudir pelos seus informantes.
habitual desidia. Contestou o nobre presidente do conselho que o
O nobre senador pela provincia do Rio de Janeiro, que presidente da provincia das Alagôas tivesse intervindo no
sinto não esteja presente, considerou uma grande virtude, ultimo pleito eleitoral que se deu naquella provincia, para
preencher a vaga de um deputado provincial, e como destruiu
o nobre presidente do conselho as accusações que fiz a S.
Ex., pela sua indebita intervenção na eleição?
Sessão em 10 de Maio 59

Disse eu, Sr. presidente, que muitas cartas haviam sido O SR. POMPEU: – As do Ceará e outras.
escriptas no palacio da presidencia sobre a mesa do O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
presidente pelo Dr. João Lopes de Aguiar Muritiba, Conselho): – Isso pertence á camara, foi quem decidiu em
procurador fiscal do thesouro provincial, em papel da seu pleno direito.
secretaria, recommendando a eleição do candidato do O SR. POMPEU: – Por ordem de V. Ex.
governo, contendo um bilhete do proprio presidente: e como O SR. PAES DE MENDONÇA: – O facto do
explicou isso o nobre presidente do conselho? Sahiu-se adiamento é sabido em toda a provincia. O adiamento foi
dizendo que era muito natural que o Sr. Muritiba, tendo baseado, é verdade, na falta do comparecimento de numero
relações em palacio, obtivesse papel na secretaria para sufficiente para haver casa durante tres dias; mas porque
escrever essas cartas; e que os bilhetes de visita eram deixaram de comparecer alguns deputados? O presidente
mandados para que o corpo eleitoral ficasse sabendo que o tendo mandado chamar a palacio cada um dos deputados de
candidato apresentado pelos meus amigos não era candidato per si, procurou com promessas e ameaças aos mais fracos,
official, e, portanto, podiam votar livremente; de sorte que S. conseguir que depurassem a eleição do Sr. Pontes de
Ex. inverteu o caso: os bilhetes que tinham por fim Miranda; e como alguns resistiram, S. Ex. vendo que não
recommendar o candidato do presidente eram mandados no podia obter a depuração almejada do legitimo deputado: o
sentido de que o corpo eleitoral ficasse sabendo que o que fez? Obteve, mediante esforços, que alguns deputados
candidato apresentado pelos meus amigos não era candidato se separassem de seus amigos; e no dia mesmo em que leu
official! Por esta fórma não ha defeza que não se possa o seu relatorio, fez-se acompanhar desde o recinto da
fazer, não ha accusação que fique em pé. (Muitos apoiados). assembléa dos sete deputados da minoria, ficando ainda
Para o triumpho da eleição do Sr. Pontes de Miranda, dous que não se queriam pronunciar, posto que fossem
candidato do partido conservador, disse o Sr. presidente do nossos amigos dedicados; mas como um era empregado da
conselho que tinha sido necessario recorrer a uma acta falsa, secretaria e o outro commandante do corpo de policia, e
fabricada na freguezia do Pilar. Tal facto, porém, não existiu, podiam esses dous concorrer para que houvesse casa,
e nunca foi allegado. O que houve, foi muitos dias depois de porque com os da maioria, presentes nesse dia, formavam
concluido o processo eleitoral, uma allegação de alguns 16, o que fez o presidente? Mandou chamar esses deputados
amigos do presidente, accusando aquelle collegio por ter a objecto de serviço, os quaes não voltaram mais.
subtrahido alguns votos do candidato official; mas, Sr. presidente, que os deputados da minoria deixaram
subtracção que não podia haver, por que a freguezia do Pilar de comparecer, instigados por promessas do presidente da
é essencialmente conservadora; alli apenas tres eleitores provincia, prova-se, além do que tenho dito, com alguns
separaram-se para o presidente; e mesmo essa reclamação actos posteriormente praticados pelo governo imperial. Um
foi feita de ordem do Sr. Romulo, que mandou tambem uma delles já foi condecorado com o habito de Christo, o bacharel
commissão ao collegio da Atalaia pedir para se reformar a João Fernandes Chaves; um outro acaba de ser
acta, tirando-se os votos que tinha obtido o Sr. Miranda, para recompensado com o logar de 1º vice-presidente da
serem dados ao seu candidato. Esse empenho reprovado e provincia.
immoral, se não realisou-se foi porque o Sr. Felippe de Mello Consta que um dos mais activos vae ser nomeado
Vasconcellos, ultimamente nomeado vice-presidente da juiz municipal da capital, e que os outros breve serão
provincia, com quanto estivesse com o presidente, soube condecorados; que a um delles está promettido o logar de
resistir. inspector do thesouro provincial. Todos teem sido, portanto,
Portanto, não tinhamos necessidade de falsificar ou hão de ser generosamente recompensados; entretanto,
actas; foi o presidente quem mandou commissões por toda a que aquelles que não quizeram apoiar o presidente estão
parte, afim de reformar as que não lhe convinham. sendo demittidos! E’ assim que está procedendo o presidente
Isto é um facto sabido, discutido e nunca contestado das Alagôas.
na provincia. O SR. SILVEIRA LOBO: – E’ discipulo aproveitado
Tratando do adiamento da assembléa provincial, do governo geral.
disse S. Ex. que os motivos que levaram o presidente da O SR. PAES DE MENDONÇA: – Ponderou ainda S.
provincia a decretar aquelle acto, foram porque a minoria da Ex. que eu, tratando do adiamento da assembléa provincial,
assembléa, tendo sciencia ou certeza de que se pretendia havia exagerado a crise financeira da provincia. Não ha tal; o
depurar uma eleição legitima, a do candidato do presidente, que eu disse provei com o relatorio que leu perante a
para dar entrada ao Sr. Pontes de Miranda, e deferindo ella assembléa provincial o presidente da provincia.
apenas da maioria em dous votos, havia declarado á Nesse adiamento descobriu S. Ex. o Sr. presidente do
presidencia que não compareceria mais ás sessões, porque conselho uma vantagem, porque, demorando-se a
não queria concorrer para o escandalo de uma depuração. assembléa para Julho, era natural que as rendas da provincia
Louvei muito que o nobre presidente do conselho hoje melhorassem. Ora, quem não sabe que de Junho em diante
esteja pensando differentemente do que pensava ha pouco a renda provincial tende consideravelmente a declinar,
tempo, isto é, que já considere escandalo depurarem-se porque é justamente quando se acaba a safra, e cessa
eleições (apoiados); mas emfim... inteiramente a exportação? Quem não sabe que a nova safra
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do da provincia só principia no mez de Dezembro? Entretanto S.
Conselho): – Onde as depurei? Ex. diz que é natural que as rendas da provincia cresçam ou
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não entremos agora melhorem até ao mez de Julho, época do adiamento da
nessa discussão; direi somente que foi V. Ex. o general em assembléa!
chefe que dirigiu as depurações que se deram ultimamente Eu, Sr. presidente, sou incapaz de trazer para a
na camara dos deputados, como todo o paiz sabe. discussão
60 Sessão em 10 de Maio

factos que não possa exuberantemente provar: e sobre a edictoriaes os escriptos do presidente, quando contivessem
crise financeira, continuarei a me servir das proprias palavras materia alheia no programma do Diario e involvessem
do presidente da provincia, no seu relatorio. Peço licença ao responsabilidade: mas, que estava prompto a publical-o, na
senado para lel-as. Fallando elle do estado da fazenda parte do expediente do governo, se este assim o autorisasse.
provincial diz: (Lê.) O presidente, como já provei, pela secretaria ordenou aquella
«Este saldo, porém, (o de 12:307$574), não póde autorisação para ser o tal artigo «publicado logo depois do
fazer face ao debito da quantia de 69:044$657, que pesa expediente» e o Diario religiosamente o cumpriu.
actualmente sobre a provincia. Conhecendo a falsa posição em que se tinha
Devo dizer-vos que o mesmo debito tende a collocado, o presidente no dia seguinte enviou uma errata ao
augmentar, visto como a receita que tem de ser arrecadada proprietario para que dissesse por parte da redacção: que
não póde, segundo a opinião muito competente do illustrado houve erro em se publicar como expediente do governo o
inspector interino do thesouro, occorrer á despeza votada. celebre escripto, indo a errata com todas as solemnidades
Nestas circumstancias, e, não só para obviar os officiaes.
serios inconvenientes que da crise financeira surgem á Ora, o presidente podia, em vista do contrato obrigar
administração, como ainda para attender ao estado da viação o proprietario do Diario das Alagôas a dizer que tinha errado
e outros melhoramentos urgentemente reclamados, solicito quando tal não havia? Não por certo. Foi justamente o que
do poder legislativo provincial autorisação para contrahir um elle quiz, isto é, pretexto para a rescisão do contrato; e assim,
emprestimo até a quantia de 200:000$, por meio, ou das multou o contratante durante oito dias na quantia de 100$,
caixas filiaes do Banco do Brasil estabelecidas em uma das maximo da multa estipulada, e pela mesmissima falta, no fim
provincias visinhas, Bahia e Pernambuco, ou de emissão de dos quaes rescindiu o contrato, o que podia ter feito logo no
apolices ao juro de 6% ao anno, no valor da quantia de que principio, sem procurar esses subterfugios.
se carecer para o restabelecimento das finanças e satisfação Commentando este facto, o nobre presidente do
daquelles melhoramentos; não se podendo, em caso algum ir conselho disse que isto provava que o proprietario do Diario
além dos limites do credito a que alludo. das Alagôas era desleal e que o Sr. Dr. João Lopes de Aguiar
Sobre tão melindroso assumpto resolvereis, portanto, Silva Muritiba era mais credor dos elogios, que eu tinha dado,
com aquella illustração e sabedoria que altamente vos do que o Sr. padre Antonio José da Costa.
distinguem. S. Ex. foi demasiadamente injusto. Quando deixou o
Ora, resta mais duvida de que ha crise financeira na poder em 1863 o partido conservador, e em quasi todas as
provincia e que não exagerei esse estado, aliás afflictivo? provincias seus orgãos na imprensa tinham desapparecido...
Do relatorio da presidencia vê-se que a provincia O SR. VIEIRA DA SILVA: – O Maranhão sempre
precisa lançar mão desse recurso extraordinario, de que até teve.
ao presente não se serviu ainda; pois não se havia dado até O SR. PAES DE MENDONÇA: – ...o proprietario do
aquella época nas Alagôas o facto de um emprestimo; Diario das Alagôas que já o sustentava ha seis annos,
appello para o nobre senador pela minha provincia. mediante enormes sacrificios, manteve o seu jornal, e nelle
O SR. CANSANSÃO DE SINIMBU’: – E’ exacto. eram advogados com vantagem e sollicitude os interesses do
O SR. PAES DE MENDONÇA: – A provincia das partido. No Diario foi calorosamente defendido o nobre
Alagôas nunca recorreu a esse meio; foi necessario ir lá o Sr. presidente do conselho, quando despedido da sua missão no
Dr. Romulo para descobrir a necessidade de um emprestimo. Rio da Prata; nessa occasião, prestou-lhe importantes
E, Sr. presidente, depois do que acabo de expender, ainda serviços, discutiu com empenho aquelle acto injusto; mas
dirá o nobre presidente do conselho que não ha crise hoje S. Ex., esquecendo este passado, tão recente, vem
financeira na provincia, que houve exageração no que eu acoimar de desleal o digno proprietario do Diario!...
disse? O SR. FIRMINO: – Conservador muito distincto, e que
Tratando de contestar o facto, que aqui referi, de ter o tem prestado relevantes serviços, não só ao seu partido,
presidente mandado publicar um artigo na parte official do como ao paiz.
Diario das Alagôas, o nobre presidente do conselho disse O SR. PAES DE MENDONÇA: – ...vem suppôr o Sr.
que tinha havido deslealdade da parte do proprietario Dr. Muritiba, que nesse tempo ainda estava no segundo ou
daquella folha. Não ha tal. E’ sabido que o presidente, não terceiro anno da academia, com mais direitos a elogios do
tendo um jornal que tomasse a peito a sua defeza, havia que o Sr. padre Antonio José da Costa, alagoano que ainda
subvencionado o Jornal das Alagôas, folha periodica, pela não se eximiu, em crise alguma, de dar provas de seu
quantia mensal de 150$, paga pela verba das despezas patriotismo, e que na questão do elemento servil distinguiu-
secretas; mas o Jornal, conhecendo a difficuldade em que se, já libertando sem onus algum escravos seus, já como
estava o presidente, por não achar outra folha que quizesse presidente da commissão emancipadora, já finalmente na
encarregar-se de defender os seus desatinos, não se imprensa de que é proprietario.
contentou com essa quantia; impoz a rescisão do contrato O SR. FIRMINO: – O grande peccado do Sr. padre
com o Diario das Alagôas para lhe ser dada a publicação do Costa foi não querer prestar-se a ser instrumento do
expediente; e o que fez o presidente? Sabendo que o presidente, do contrario já estaria condecorado.
proprietario daquelle jornal era meu amigo, era conservador O SR. PAES DE MENDONÇA: – E o nobre
de antiga data na provincia, que nunca tinha especulado com presidente do conselho fez taes elogios ao Sr. Dr. Muritiba,
a sua posição nem com a sua empreza, desceu a escrever que parecia
um artigo virulento, para ser publicado como escripto da
redacção e o enviou afim de, no caso de ser recusado, ter um
pretexto para a rescisão do contrato. O proprietario declarou
que, á vista do contrato, não estava obrigado a aceitar como
artigos
Sessão em 10 de Maio 61

referir-se a uma entidade importante, a uma grande influencia possivel é o que se dá com o nobre presidente do conselho, S.
nas Alagôas. S. Ex. até o qualificou de habil escriptor, quando Ex., que em 1871 conquistou tão grande gloria neste paiz,
não se conhece trabalho ou obra alguma escripta por elle, e o alcançando um prestigio que parecia inexpugnavel, decahiu
considerou: o meu braço direito na politica! tanto do seio de seu proprio partido e da opinião publica, que
Quando o partido estava fóra do poder, chegando logo no anno seguinte os seus amigos da camara negaram-
aquelle moço á provincia, eu, que já o conhecia desde lhe apoio, sendo forçado a recorrer á medida extrema de uma
estudante, concorri para que entrasse para a typographia do dissolução e mandar fazer uma eleição atropelada em toda
Diario, então em opposição ao governo: e alli escrevia elle, parte ter uma maioria no parlamento! (Apoiados.)
com muitos outros, alguns artigos. O que é, pois, para admirar, e muito, é que S. Ex. tão
Os conservadores da capital, depois da subida do altamente collocado, na cupola do poder, esteja hoje em luta
partido, interessaram-se por elle, e fizeram com que fosse com os partidos de opinião, esteja em luta com a grande
nomeado em 1870 procurador fiscal da thesouraria provincial, maioria do paiz! (Apoiados.) Ahi, é que se vê um phenomeno
assim como o pae, porteiro do cemiterio publico de Maceió. extraordinario e que só póde ter explicação nas mesmas
Aquelle moço, que sem duvida tem alguma habilidade, causas a que S. Ex. attribue o declinio da minha influencia na
continuou a prestar os serviços compativeis com sua posição. provincia das Alagôas. Eu direi, pois, a S. Ex., que o orgulho e
Nunca foi, como disse o nobre presidente do conselho, o meu vaidade de que se possuiu quando se viu tão elevado, o
braço direito; nem eu o considerei jámais em esphera tão predominio que quiz exercer no paiz as suas tendencias para
elevada na provincia que o tivesse como meu alter ego. O Sr. o absolutismo são as causas da decadencia de seu prestigio.
Dr. Muritiba, occupando uma posição mediocre na provincia, (Apoiados. Muito bem).
nunca tendo exercido cargo publico senão aquelle de que já S. Ex. tem, portanto, os defeitos que pretendeu
tratei, não sendo ao menos conhecido como advogado, sem attribuir-me.
familia, não póde ter esse prestigio e ser essa influencia, que Agora, Sr. presidente, passarei a responder o mais
o nobre presidente do conselho, levado por informações resumidamente que me fôr possivel ao nobre senador pelo Rio
compromettedoras, lhe attribue, a ponto de que, sempre que de Janeiro, que sinto não se ache presente, porque tinha
falla no presidente Romulo, faz ver que o Sr. Muritiba o apoia interesse que elle ouvisse minha resposta, por causa de
e não declina mais nome algum! certos factos desfigurados a que se referiu.
Finalmente o nobre presidente do conselho terminando O nobre senador pelo Rio de Janeiro julgou que eu lhe
o seu discurso, disse: «O senado vê que a imprensa liberal havia feito uma injusta aggressão sem fundamento, quando
não accusa o presidente, que dous representantes da disse que S. Ex. havia intervindo para a nomeação do Sr. Dr.
provincia que teem assento na camara defendem-n’o… Romulo, porque necessitava nas Alagôas de um instrumento
O SR. CANSANSÃO DE SINIMBÚ: – O partido liberal para vingar-se, despeitado pelos factos occorridos durante o
está fóra desta questão: é negocio de familia. ultimo processo eleitoral. Não houve tal aggressão da minha
O SR. PAES DE MENDONÇA: – …que o Sr. Dr. parte; queixei-me apenas do nobre senador, fundado em
Muritiba (essa influencia tão preconisada pelo nobre muito boas razões.
presidente do conselho) defende o presidente, e todos dizem Logo que foi nomeado o Sr. Dr. Romulo presidente
que elle está soffrendo porque não quiz servir de instrumento daquella provincia, constou nesta côrte, e até amigos
a uma olygarchia, a uma influencia, e assim o nobre particulares do nobre senador me disseram, que esse moço
presidente do conselho lamenta que a minha influencia, que era protegido de S. Ex., o qual ia, a pedido seu, para as
aliás S. Ex. por generosidade e cavalheirismo reconhece, Alagôas. Ora, tendo o nobre senador, sem motivos plausiveis,
apesar de nunca eu me ter em conta, nem alardear-me de se separado de mim, só porque talvez tinha eu contrariado os
influencia, tendia a declinar. interesses do seu recommendado predilecto, pairaram logo
Primeiramente direi que o partido liberal não tem-se em meu espirito suspeitas de que S. Ex. pretendia tomar uma
envolvido nesta questão, não obstante haver sido procurado vingança; mas até então nada podia asseverar, por que não
pelo presidente, apesar de se lhe offerecer empregos havia factos.
publicos, porque o presidente, (coitado!) no seu isolamento, Chegando, porém, o Sr. Dr. Romulo á provincia, teve a
tem até recorrido a auxilio de homens conhecidos na provincia indiscrição de, logo no segundo dia, em uma reunião em
como republicanos, sendo dous destes já nomeados para palacio, declarar solemnemente que a sua missão presidencial
cargos importantes. era apenas combater a minha olygarchia, o que elle repetiu
Não vejo nada de extraordinario que a minha influencia diversas vezes, até em um jantar na cidade do Pilar, onde se
esteja declinando, a ponto de merecer a compaixão de S. Ex.: achavam cidadãos importantes, dirigindo uma saude aos
em um paiz organisado como este, onde se sabe que o alagoanos, que teriam de ajudal-o a destruir a olygarchia
governo é tudo, não admira que depois da guerra que se me Mendonça enraizada na provincia; S. Ex. commettia mais a
tem mandado fazer na provincia a minha influencia tenda a puerilidade de dizer a seus intimos que o Sr. visconde de
declinar. Nitherohy era o mais interessado na phase nova que pretendia
O SR. CANSANSÃO DE SINIMBÚ: – Quem resiste á inaugurar na provincia, e mostrava os trechos de uma carta
influencia do governo? que depois passaram ao dominio do publico, sendo afinal
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não vejo nisso publicados em uma correspondencia liberal para esta Côrte.
phenomeno algum que careça de explicação. O que, porém, São circumstancias sabidas na provincia das Alagôas,
Sr. presidente, é digno de admiração, o que não tem commentadas hoje alli pelos jornaes.
explicação A’ vista, portanto, disso, commetti alguma injustiça
queixando-me do nobre senador como o mandante dessa
reacção
62 Sessão em 10 de Maio

que se está operando na provincia? Hoje, porém, depois das O SR. SILVEIRA LOBO: – Este não era de confiança.
explicações de S. Ex. me parece que devo acreditar que de O SR. PAES DE MENDONÇA: – Quero considerar de
sua parte nada houve; mas até então as minhas supposições confiança: foram demittidos o promotor publico da comarca do
erão baseadas em razões muito justas. Nem eu tinha o menor Porto Calvo; engenheiros empregados á serviço da provincia;
interesse em dirigir uma provocação ao nobre senador, se não destituidos majores fiscaes de batalhões de guarda nacional;
estivesse profundamente resentido por esse seu procedimento exonerados, illegalmente, supplentes de juiz municipal, um
para com uma pessôa com quem mantinha muito boas grande numero de subdelegados; e constava ultimamente, á
relações. sahida do vapor, que o contador do thesouro provincial, o Sr.
O nobre senador, em vez de defender o Sr. Romulo Dr. Arroxellas Galvão, pelo facto de ter proferido um discurso
das graves accusações que lhe fiz como presidente, dirigiu-lhe na camara dos deputados contra os arbitrios de S. Ex., estava
um pomposo elogio, que não vinha ao caso; não tratarei mais demittido, assim como o inspector daquella repartição, visto se
disto, porque já respondi. S. Ex. accrescenta que me carecer desse logar para pagar a um dos sete da minoria que
preoccupava o desejo de dirigir-lhe uma vindicta pelo concorreram para não haver casa em tres dias na assembléa
interesse que eu suppunha que elle tomava pela eleição do provincial. Um empregado da directoria da instrucção publica
Sr. Sobral Pinto, e que esta eleição era muito legitima, que e outro do thesouro tinham incorrido nas iras do presidente,
nunca foi contestada nem disputada na provincia. que chegou a demittil-os e cassar logo as demissões. Póde
Reservo-me para responder a esta parte do seu ser que tenha mudado de opinião, quanto ás demissões, que
discurso em melhor opportunidade, quando terei tambem de ficavam lavradas e que os intimos propalavam com alarde.
occupar-me com a aggressão que me dirigiu em minha Uma das injustiças que fez o nobre senador pelo Rio
ausencia, por occasião da discussão da resposta á falla do de Janeiro foi que eu era demasiadamente exigente quando
throno. tinha amigos no ministerio; e para provar essas minhas
Tratando do adiamento da assembléa provincial, o exigencias, esse meu desejo de pôr as cousas na provincia a
nobre senador suppoz que eu havia dito que o presidente da meu geito, declinou um facto que alli se deu por occasião das
provincia por esse acto devia ir parar em uma masmorra. O nomeações dos supplentes de juiz municipal, no anno proximo
que eu disse foi que o presidente, tendo adiado a assembléa passado, e com referencia principalmente á nomeação do 3º
por affeição ao seu candidato e por odio ao seu adversario, supplente do juiz municipal da capital. Disse S. Ex. que tendo
praticando um acto arbitrario, violento e injustificavel, tinha o presidente me dado todas as nomeações e recusando-me
incorrido em um crime e que devia ser responsabilisado; o aquella, eu me havia declarado em aberta opposição, e pelos
nobre senador sustentou que ainda neste caso não havia jornaes fizera constar que não tomava a responsabilidade
crime, porque era necessario que houvesse um motivo dessa nomeação, donde concluiu S. Ex. que eu tomava a das
reprovado, como peita, suborno ou outro de tal ordem. outras.
Ora, o art. 129 do codigo criminal trata da prevaricação Preciso contar este facto com todas as circumstancias,
do empregado publico que tem por movel a affeição, o odio, a porque muito me honra e servirá para desfazer essas e outras
contemplação e interesse pessoal: a responsabilidade póde apreciações erroneas, a que dá logar o pouco escrupulo de
até verificar-se pelas simples faltas de exacção no quem as faz.
cumprimento dos deveres, ainda que sejam motivadas por Quando se aproximava a época da nomeação dos
ignorancia, descuido, frouxidão, negligencia ou omissão. A supplentes de juizes municipaes (sinto que o nobre senador
peita e suborno são crimes especiaes e mais graves; não me obrigue a fazer esta declaração) um parente meu que
aceito, portanto, a theoria nova de que só se verifica caso de agitava um pleito importante no fôro, interessou-se com o
responsabilidade quando se provar que o acto da presidente da provincia para nomear o bacharel Antonio
prevaricação foi dictado pelos motivos reprovados da peita e Jacintho Sampaio, 3º supplente do juiz municipal. O
suborno. presidente tinha contra o Sr. Sampaio más informações, não
Está provado que o presidente adiou a assembléa posso dizer se com ou sem razão, mas alguns jornaes da
levado por capricho, affeição e odio e que por isto incorreu na provincia faziam-lhe graves accusações; nunca entrei nesta
sancção penal. indagação, mas o que é certo é que, atacavam até sua
Mas o nobre senador, que é membro do conselho de honestidade e sob sua responsabilidade o Dr. Floriano
Estado, que foi reformador da lei de 3 de Dezembro, que Miranda escrevia na imprensa uma longa serie de artigos
suppõe-se tão afferrado ás prerogativas constitucionaes, vem contra aquelle funccionario publico.
nos dizer que só podem os presidentes ser responsabilisados Assim, o presidente não podendo servir ao membro da
por prevaricação, quando seus actos forem motivados por minha familia, que se interessava pela nomeação, disse-lhe
peita ou suborno. que nada resolveria sobre as nomeações porque, tendo-se
O SR. FIRMINO: – A doutrina é contraria ao que entendido comigo ácerca da organisação das listas,
dispõe o codigo criminal. aguardava que estas viessem das localidades, com as
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Eu sinto, Sr. informações pedidas para de accordo decidir a questão.
presidente, estar tomando precioso tempo ao senado (não Indo eu a palacio, disse-me o presidente que o meu
apoiados) com esta discussão, a que tenho sido levado pelas parente F. se interessava pela nomeação do Dr. Sampaio para
provocações que me hão dirigido meus antigos amigos, a capital, mas que achava elle essa nomeação má pelas
membros do ministerio. noticias que tinha ácerca do seu comportamento. Declarei a S.
O nobre senador pelo Rio de Janeiro disse ainda que Ex. que tambem o acompanhava no seu modo de pensar,
não se póde legalmente fazer carga ao presidente pelo facto comquanto não tivesse documentos ou provas de factos que
de demittir empregados de confiança. Não houve empregados inhabilitassem aquelle bacharel,
de confiança demittidos, a não ser o director da instrucção
publica.
Sessão em 10 de Maio 63

accrescendo para mim uma outra razão muito poderosa, a de de servir ao Sr. ministro do Imperio que lhe escreveu da Côrte
que um de meus parentes, interessados directamente em uma recommendando o bacharel Antonio Jacintho Sampaio.
importante acção civil movida no juizo municipal, empenhara- O SR. SILVEIRA LOBO: – Que ministro!
se comigo para que conseguisse de S. Ex. a nomeação do Sr. O SR. PAES DE MENDONÇA: – E’ facto sabido,
Sampaio, porque acreditava ter assim um juiz que lhe seria porque o meu parente teve a indiscrição de andar contando
favoravel, e isto sem embargo de haver-lhe eu feito ver que pelas ruas, e todos sabem-n’o na provincia.
desejava muito que fosse feliz no seu pleito judicial, se tivesse A essa ponderação de S. Ex., observei que continuava
do seu lado o direito e justiça; mas que não havia de ser eu a achar inconveniente a nomeação, e que quanto á
quem fosse concorrer para ter um juiz ad hoc. Não satisfeito recommendação do Sr. ministro do Imperio podia eu
com esse estado de cousas, ou talvez despeitado, o meu asseverar que, conhecendo o caracter daquelle cavalheiro,
parente resolveu vir á Côrte dizendo que aqui conseguiria o era S. Ex. incapaz de fazer um pedido daquella ordem, se
que na provincia não pôde fazer. tivesse noticia das duvidas ácerca da reputação do Sr.
O presidente da provincia teve a delicadeza, é Sampaio, e das indisposições que esse acto iria despertar:
verdade, de pedir-me uma relação de pessoas de criterio, que que a carta fôra escripta provavelmente a pedido de algum
estivessem no caso, pela sua honestidade, de occupar o amigo, particularmente interessado, não ao presidente da
cargo de juiz municipal supplente. Declinei dessa missão, provincia, mas ao amigo Dr. Silvino; e que desde que S. Ex.
expondo a S. Ex. que poderia involuntariamente apresentar encontrava difficuldades não devia fazer a nomeação.
nome de quem não estivesse no caso de ser nomeado. Formei sempre, Sr. presidente, bom juizo da
Combinou-se, assim, solicitar informações a todos os honestidade e do caracter particular do Sr. ministro do
juizes de direito da provincia e ás influencias locaes. Imperio; e se trago estes pormenores á casa, é porque m’o
Recebendo as listas, pediu-me o presidente da força a indiscrição de quem trouxe a occurrencia dessas
provincia que lhe esclarecesse como amigo e não como nomeações para o senado.
homem politico, e com o conhecimento que eu tinha do Passados tres dias, disse-me o presidente que, tendo
pessoal, quaes os que estavam escoimados de faltas o reflectido, não podia faltar ao Sr. ministro do Imperio. Ainda
podiam exercer o logar de juiz municipal supplente, com ponderei que o Sr. ministro tomaria esse acto como um
proveito do serviço publico. desserviço, porque se soubesse o que ha a respeito do seu
Eu não tinha interesse em alterar as listas que foram recommendado, soubesse que os interessados nessa
ministradas a S. Ex. porque, pouco mais ou menos, pareciam- nomeação sustentam no fôro uma causa das mais
me acertadas e nenhum interesse me levava na interferencia importantes, que se tem agitado na capital, não ficaria
dessas nomeações. satisfeito em attender S. Ex. ao seu pedido.
E nesse estado, deixei a capital por ter necessidade de Infelizmente, nada dissuadia mais o presidente, que
retirar-me para a fazenda. me certificou sua resolução inabalavel de lavrar o acto da
Passados alguns dias, recebi uma carta do presidente nomeação, perguntando-me se me ficaria algum despeito.
convidando-me para que fosse entender-me com S. Ex. antes Respondi-lhe que nenhum absolutamente; mas como toda a
da publicação das nomeações, ao que respondi que tinha capital sabia de nossas conferencias e se dizia que os
pezar de não poder voltar á cidade, não só porque achava-me interessados naquella nomeação trabalhavam por ter um juiz
atarefado, como por incommodos de saude, desejando que S. de confiança para certo e determinado pleito de pessoas, que
Ex. fizesse as nomeações, como entendesse mais me eram ligadas por laços muito proximos de parentesco, e
conveniente, e limitava-me a pedir que conservasse os para arredar de mim qualquer suspeita de haver concorrido
primeiros logares da lista de Porto Calvo, comarca da minha para a dita nomeação, pedia a S. Ex. permissão para declarar
residencia (o que declaro com toda lealdade, mesmo para não pelos jornaes minha irresponsabilidade, ao que S. Ex.
omittir circumstancia alguma). cavalheirosamente accedeu, achando até muito natural meu
Recebendo o presidente esta minha resposta, mandou procedimento.
no fim de tres dias dizer-me que nada podia resolver sobre a Fez o presidente a nomeação; e eu por um jornal
nomeação dos supplentes, sem que conversasse comigo. declarei, por minha honra e dignidade, que não tinha
O SR. CANSANSÃO DE SINIMBU: – E são estes os concorrido para a do Sr. Dr. Sampaio.
delegados! Não usei das expressões «honra e dignidade» senão
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do com referencia ao interesse particular e á questão dos meus
Conselho): – Que grande crime, ouvir o presidente o Sr. parentes no fôro da capital.
senador Mendonça! O presidente da provincia, em um momento de impeto,
O SR. PAES DE MENDONÇA: – A’ vista disso, o que que não pude comprehender em vista do que se passou entre
devia eu fazer? Vim á capital e S. Ex. me fez ver que, nós, molestou-se com minha declaração.
resolvendo alterar a lista de Maceió, não podia deixar de No dia seguinte, sob sua responsabilidade, mandou
nomear o Sr. Sampaio, 3º supplente do juiz municipal. para o mesmo jornal um escripto, dizendo que eu queria
Preciso descer, Sr. presidente, a certas minudencias, dominal-o, e que, despeitado porque não tinha feito as
já que o meu nobre collega o Sr. visconde de Nitherohy nomeações que havia lhe proposto, correra para a imprensa e
chama-me para este terreno, do qual espero sahir declarára que era da minha honra e dignidade protestar; mas
airosamente. que elle presidente declarava solemnemente que não fora alli
Accrescentou S. Ex. o Sr. presidente da provincia, que para sujeitar-se á imposição de ninguem. Isto deu logar a que
estava na maior difficuldade, por ter de fazer uma nomeação eu mandasse publicar um artigo dando as razões do que
contra sua convicção; mas que não podia deixar havia, poupando então o nome do Sr. ministro do Imperio, o
qual considero inteiramente
Sessão em 10 de Maio 64

resalvado neste incidente, pois da parte de S. Ex. não a tudo isto; peço um pouco de paciencia ao senado para
houve má fé. ouvir-me.
Eis, senhores, o facto que trouxe para esta casa o O SR. POMPEU E OUTROS: – Estamos ouvindo-o
nobre senador pelo Rio de Janeiro, para provar que sou com prazer.
um homem exigente e quero ter a provincia das Alagoas O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não sei, Sr.
fechada nas minhas mãos. presidente, que qualificação dê a este procedimento de um
O SR. VIEIRA DA SILVA: – E que pedia desde o ex-ministro, trazendo para a discussão factos que se
emprego de official de justiça até o de vice-presidente da passaram na intimidade entre elle e um amigo que o
provincia. apoiava, entre um ministro que devia de alguma maneira
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Lá chegarei já. attender aos pedidos que lhe eram feitos, e um homem
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente politico que lhe prestava seu apoio. Mas nem mesmo
do Conselho): – Disse isso? assim posso ser increpado de ter feito esses pedidos ao
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Pois não! Até nobre ex-ministro da justiça, os quaes não passaram de
desfigurou factos entre mim e elle. quatro, como vou declarar ao senado.
Lerei a parte do discurso de S. Ex., que se refere a Pedi a S. Ex. a nomeação do juiz municipal de
este ponto (Lendo): Atalaia, a do commandante superior de S. Miguel, a do juiz
«O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Eram taes municipal da Imperatriz e a de um commandante de
que me levaram a dizer a S. Ex.... Sou levado a referir o batalhão. Eis os pedidos com que atormentei o nobre ex-
que se passou a sós entre nós em minha casa, sendo eu ministro da justiça, que o tem levado a vir dizer aqui que eu
ministro da justiça; o nobre senador, porém, procurou solicitava desde o emprego de officios de justiça até ao de
testemunhas, visto que S. Ex. queixou-se a varios de vice-presidente da provincia.
nossos amigos da minha franqueza rude. Cheguei a dizer S. Ex. apenas me honrou com dous daquelles
a S. Ex.: «Sr. senador Mendonça, o governo tem em muita pedidos, isto é, as nomeações do juiz municipal de Atalaia
conta a sua pessoa, estima-o como um amigo de muito e a do commandante superior de S. Miguel, e fez-me vêr
prestimo e merecendo toda a sua consideração, mas devo que não era possivel a de juiz municipal da Imperatriz: foi
ponderar-lhe: suas exigencias para as nomeações officiaes então que me disse que eu pedia muito. Não se passou,
da provincia das Alagoas não podem ser assim satisfeitas, porém, entre mim e o nobre senador em sua casa, o que
porque V. Ex. pede tudo desde o minimo officio de justiça elle ponderou ao senado no discurso e topico a que estou
até os logares de vice-presidentes da provincia... respondendo, acerca das minhas impertinentes exigencias
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Decline as desde o minimo officio de justiça até aos logares de vice-
nomeações. presidente da provincia e que o governo não podia
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...não é autorisar um fac-totum!
possivel; não ha governo que possa autorisar um fac-totum O que occorreu tão sómente a este respeito, foi
de uma provincia; o governo não póde por esse modo mesmo desta casa, e até em presença do nobre senador
armar um particular, entregar-lhe todas as nomeações da por Pernambuco o Sr. Alvaro, dizendo-me o Sr. ex-ministro
provincia.» Assim o disse ao nobre senador, e não me da justiça que eu queria que o governo estivesse
póde com verdade contestar. subordinado ás influencias de provincia, ao que não
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Hei de contar respondi com a energia, de que sou capaz, por conhecer
como se passou isso. que S. Ex. estava em um de seus momentos de máo
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Ora isso, Sr. humor, e lamento que não esteja elle agora presente,
presidente, succedeu em tempo em que nem sombras porque estou bem certo que não contestaria o que acabo
havia nem a minima suspeita de possibilidade de qualquer de dizer.
divergencia com o nobre senador; fallava-lhe com força de Como ia dizendo, Sr. presidente, só fui attendido
verdade, exprimia-me com minha habitual franqueza rude, nas nomeações de commandante superior de S. Miguel e
porque cumpria não disfarçar o pensamento. juiz municipal de Atalaia; e quanto a esta ultima, aproveito
O nobre senador (talvez nisto haja muita habilidade ainda a occasião para agradecer a S. Ex., porque tive de
da sua parte) é um homem pratico, entende que a politica, vencer os obstaculos, que me oppoz, ponderando-me o
a parte activa, que tem valor e vigor, está toda nas nobre ex-ministro que tinha informações desagradaveis e
nomeações officiaes, nos meios de effectivo predominio, terriveis contra o meu candidato, isto é, que se dava ao
nessa predisposição e facil concessão... vicio de embriaguez e ao jogo.
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Está enganado. O SR. ZACARIAS: – Mas não do voltarete...
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...de favores O SR. PAES DE MENDONÇA: – Eu contestei
e arranjos para os amigos. essas informações por serem evidentemente inexactas e
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Ninguem gosta muito injustas: S. Ex. me fez o favor de confiar nas que dei,
mais dos bons arranjos do que V. Ex.» e o juiz municipal, bacharel João Fernandes Chaves, não
Eis o que disse o nobre senador pelo Rio de só tem confirmado posteriormente o meu juizo
Janeiro depois de referir tambem que tinha feito consciencioso, como ha prestado serviços importantes,
nomeações importantes para parentes meus e amigos taes que, agora separando-se elle de mim e fazendo parte
intimos. Preciso responder da minoria da assembléa, que deixou de comparecer para
não haver casa, foi condecorado pelo governo imperial
com o habito de Christo, com as seguintes palavras:
«pelos relevantes serviços prestados ao Estado na
provincia das Alagoas», segundo consta
Sessão em 10 de Maio 65

do Diario Official destes ultimos dias; portanto, esse moço, aparte que ninguem gostava mais dos bons arranjos do que o
contra quem havia tantas prevenções, é agora distinguido nobre ex-ministro da justiça. Ficarei hoje sómente no meu
como um dos cidadãos mais conspicuos da provincia, o que aparte, porque é falta de cavalheirismo tratar de negocios
me desvanece pelas informações que prestei a seu respeito. destes na ausencia do nobre senador.
Já vê o senado que não mereço a pecha de exigente, O SR. VIEIRA DA SILVA: – Devia estar aqui.
como o nobre ex-ministro da justiça figurou-me; provoquei e O SR. PAES DE MENDONÇA: – Agora, Sr.
continuei a provocal-o, para que declare quaes foram esses presidente, ácerca das minhas exigencias, dos meus pedidos
pedidos exagerados, que lhe fiz, apresentando a lista de exagerados, ainda appello para o nobre presidente do
minhas exigencias. conselho que se acha presente; S. Ex. que declare se perante
Disse S. Ex. que fez nomeações importantes a o seu ministerio fiz algum dia pedidos, á excepção de um
parentes meus e amigos intimos. Devo dizer antes de tudo pequeno logar de uma das collectorias da provincia do Rio de
que nunca incommodei a ministro algum com pedidos para Janeiro, que não tinha significação politica. Perante os
mim. Naturalmente S. Ex. referiu-se ao meu irmão o Sr. barão ministerios da marinha, guerra e estrangeiros nunca tive
de Anadia e ao meu amigo o Sr. Dr. Casado. pretenções.
Quanto a meu irmão, sinto que não possa fallar a seu Com relação á pasta do Imperio fiz pedidos da ordem
respeito; mas de passagem direi que, reintegrando-o S. Ex. na desses, que todos os politicos dirigem aos ministros amigos, e
comarca do Passo, não fazia mais do que restituir á o nobre ministro, que actualmente occupa a referida pasta,
magistratura um juiz de direito, que estava avulso desde que prestou-me dous obsequios: um, dando uma prova de
subiu ao poder o partido liberal por não ter podido seguir para consideração a um amigo meu, e outro, satisfazendo-me no
a comarca, para onde fora removido; e os seus serviços, quer pedido, que lhe fiz, para a nomeação de secretario do
como politico, quer como magistrado, davam-lhe direito a governo, a que não posso ligar importancia politica...
alguma consideração da parte do governo, a quem prestava, O SR. SILVEIRA LOBO: – O emprego é politico, de
como representante da nação, o apoio mais sincero e confiança.
desinteressado, não precisando, portanto, de pedido meu para O SR. PAES DE MENDONÇA: – ...porque até o
um despacho de reintegração. nomeado, e que ora exerce o logar, é liberal.
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado. Portanto, como é que com justiça, Sr. presidente, póde
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Quanto ao Sr. Dr. o nobre senador pelo Rio de Janeiro emprestar-me as
Casado, deve ter querido S. Ex. alludir ao ser despachado qualidades de intolerante, exigente, insaciavel, pois é o que se
desembargador. deduz de suas «expressões, desde os officios de justiça até
Sr. presidente, o Sr. Dr. Matheus Casado não podia os vice presidentes?
tambem precisar de minha protecção; amigo constante do E ainda S. Ex. ficou muito magoado por eu lhe dizer
governo, acompanhou-o durante toda a luta do elemento que ninguem aprecia mais os bons arranjos que elle.
servil, prestando á situação os mais relevantes serviços; e não Então, S. Ex. appellou para o ministerio. O que ha de
estava no caso de merecer uma prova de consideração da dizer, Sr. presidente, o governo do seu leader, da sua vida, da
parte do ministerio, que aliás foi tão generoso com outros? sua alma, senão que tem ido muito bem, que não lhe é
Como é, pois, que se pretende lançar á minha conta actos pesado, que nada lhe pede?
desta ordem, que, sendo de toda a justiça, são elevados á Até me admirei de uma cousa, é que o nobre ministro
categoria de favores? da guerra, meu amigo particular, que se achava presente, se
O SR. SILVEIRA LOBO: – Louvo a revelação da demorasse ainda tanto a acudir ao appello do nobre senador
doutrina! pelo Rio de Janeiro, parecendo que havia da sua parte algum
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não é revelação e acanhamento, pois só veio em soccorro com um aparte depois
nem ha que estranhar; a doutrina é antiga; entendo que o que S. Ex. acabou de fallar.
governo deve attender aos pedidos razoaveis e justos O SR. SILVEIRA LOBO: – De quem são os logares de
daquelles, com cujo apoio conta. tabellião ultimamente creados?
O SR. SILVEIRA LOBO: – Refiro-me á doutrina do O SR. PAES DE MENDONÇA: – Finalmente acabou o
pagamento á boca do cofre. nobre senador pelo Rio de Janeiro seu discurso em defeza do
O SR. PAES DE MENDONÇA: – O Sr. Matheus presidente Romulo com um elogio pomposo ao ministerio.
Casado retirou-se daqui em Outubro e só no anno seguinte foi O SR. SILVEIRA LOBO: – Quem ha de gabar a
nomeado desembargador da relação do Maranhão. Quanto a noiva?
meu mano, tendo ainda a dizer que não precisava, como não O SR. PAES DE MENDONÇA: – Disse S. Ex.,
precisa, do emprego, porque não vivia nem vive da terminando o seu discurso (lendo):
magistratura. «O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Minhas
O SR. ZACARIAS: – Falla-se da outra nomeação. palavras não ficam neste recinto para ser ouvidas pela meia
O SR. PAES DE MENDONÇA: – O nobre senador duzia de pessoas que se acham presentes; hão de ecoar por
pelo Rio de Janeiro veio dizer que eu gostava de arranjos. todo o Imperio, devem chegar ao conhecimento de todos; ahi
Ora, eu, Sr. presidente, que nunca me envolvi em contratos, está o governo para dar testemunho, como ha dias deu o
nunca pedi favores ao ministerio da agricultura, nunca solicitei nobre presidente do conselho nesta mesma discussão,
despachos para mim e que tenho vivido até hoje declarando que eu era um amigo dedicado, que não pesava
exclusivamente da lavoura, a que me applico, como posso ao governo, não o importunava com pedidos, exigencias e
gostar dos bons arranjos? Isto deu logar a que eu dissesse em pretenções.
66 Sessão em 10 de Maio

E outras não tenho, Sr. presidente, se não concorrer muito, que eu suspeitasse ter havido deslealdade da parte do
com todo o meu esforço para que a administração publica do redactor do Diario das Alagôas, folha que publicava os actos
actual ministerio seja a mais digna possivel, possa prestar os officiaes da presidencia; mas o nobre senador não quiz
bons serviços, que tem prestado e ainda ha de prestar ao reparar ao mesmo tempo a falta que commettêra, com perfeito
paiz... conhecimento da pessoa, quando se exprimiu tão
O SR. ZACARIAS: – Pessimos. desfavoravelmente a respeito do Sr. Dr. Muritiba, do Sr. Dr.
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...que cada vez Muritiba, que foi amigo e auxiliar prestante de S. Ex. em outros
mais se acredite e se eleve no conceito de todos os homens tempos. Se esse conservador, proprietario do Diario das
razoaveis e capazes de fazer justiça; que cada vez mais Alagôas, merece tanto ao nobre senador, que não é possivel a
mereça da posteridade que afinal ha de fazer-lhe a justiça um ministro, chamado a defender o presidente da provincia
infallivel de reconhecer, que este ministerio se empenhou em contra o procedimento desse jornalista, deixar de tel-o na
bem servir o paiz e teve a felicidade de levar ao cabo melhor conta, porque razão não usou S. Ex. da mesma justiça,
emprezas de maior monta com gloria e o mais alto interesse e das mesmas regras de cortezia para com o Sr. Dr. Lopes
da nossa patria. Muritiba? Deixo á apreciação do senado, e daquelles que
Tenho dito. tiverem a paciencia de ler os nossos discursos, e decidir onde
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Dou está o despeito, se da parte do nobre senador, se da parte do
testemunho do apoio sincero e desinteressado do nobre ministro da fazenda e do meu nobre amigo senador pelo Rio
senador.» de Janeiro, o Sr. visconde de Nitherohy.
Sr. presidente, em contraposição a estas palavras do Quem se mostra despeitoso? Aquelles que,
nobre senador pela provincia do Rio de Janeiro, direi que no defendendo cidadãos e correligionarios prestantes, advogando
honroso posto de opposicionista ao ministerio de 7 de Março por elles a causa da verdade e da justiça, teem para com o
continuarei a empregar meus fracos esforços contra esse nobre senador toda a deferencia possivel em semelhante
gabinete, convencido, como estou, de que elle tem gerido conjunctura, ou o nobre senador que chegou ao ponto de pôr
pessimamente os negocios publicos, não tem fiscalisado em duvida o que os mais acerbos adversarios do meu nobre
convenientemente a distribuição das rendas do Estado e tem amigo o Sr. visconde de Nitherohy não poderiam recusar-lhe?
illudido de um modo ostensivo a opinião publica, apresentando Entretanto, o nobre senador apresentou aqui esse varão
reformas em sentido inteiramente contrario ás aspirações illustre como pretendente de arranjos...
nacionaes, o que prova á toda evidencia que essas reformas O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não disse tal cousa.
apenas são para ser vistas em projectos mancos e O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
defeituosos, ou ficarem trancadas eternamente nas gavetas Conselho): – Estimo que o nobre senador reclame contra
das commissões. esta proposição, e que rectifique o que lhe ouvi no seu
Tenho concluido. (Muito bem; muito bem.) discurso.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do O SR. SILVEIRA LOBO: – Mas a familia está toda
Conselho): – Sr. presidente, circumscrevo-me aos pontos arranjada.
essenciaes das accusações feitas pelo nobre senador que O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
acaba de fallar. Serei muito breve, porque a hora está Conselho): – Ha muita gente que tem parentes arranjados; e
adiantada e o senado parece já cansado deste debate. isto não é um crime. Quer então que a familia do Sr. visconde
Notou S. Ex. um grande contraste no juizo que o de Nitherohy seja proscripta? Mas não é a essa familia que
gabinete actual forma a respeito do seu inexoravel censor, pode caber semelhante censura.
confrontado esse juiso com o que formavamos quando o O SR. SILVEIRA LOBO: – Está enganado. Em quanto
mesmo nobre senador nos honrava com seu apoio, o que venta, agua na vela...
acontecia ha bem pouco tempo. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
Entende o nobre senador que somente o despeito Conselho): – O nobre senador pela provincia das Alagôas
autorisa a differença dos dous periodos que assignalou, mas tem-se dado a um trabalho que me causa pena, tem andado á
todo o senado diria com sigo que a differença entre o procura de informações contra o Sr. Dr. Romulo...
procedimento de S. Ex. em 1871 e o de hoje apresenta mais O SR. PAES DE MENDONÇA: – V. Ex. sempre anda
notavel contraste, que não se póde explicar pelas accusações com pena de mim, sou muito feliz...
que o nobre senador fez ao ex-presidente e ao presidente O SR. VISCONDE DO RIO-BRANCO (Presidente do
actual da provincia das Alagoas. Conselho): – ...não podendo descobrir informações que
Collocado na posição de defender, porque os creio desabonassem a esse distincto brasileiro, disse-nos hoje...
dignos de justiça, áquelles dous funccionarios, eu guardei para O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não quiz trazel-as
com o nobre senador todas as attenções que lhe eram para aqui; não vá me provocando, porque depois traga-as.
devidas, e não esqueci o passado de nossas relações... O SR. VISCONDE DO RIO-BRANCO (Presidente do
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Nem eu. Conselho): – ...que elle nascera no Estado Oriental, vira a luz
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do em terra estrangeira; mas nem ao menos S. Ex. nos disse se
Conselho): – ...não deixei de consideral-o conservador, esse nascimento deu-se quando o Estado Oriental era
conservador distincto na sua provincia. Apenas não puder provincia cisplatina. Não duvido, porém, que o Sr. Dr. Romulo
constituir-me complice do juizo, a meu vêr muito apaixonado, visse pela primeira vez a luz do dia no Estado Oriental, ou em
que S. Ex. tem enunciado contra alguns dos seus amigos e Buenos-Aires, onde seu pae foi victima da
correligionarios na mesma provincia.
Estranhou, por exemplo, o nobre senador, e estranhou
Sessão em 10 de Maio 67

feroz dictadura de Rosas: mais de um brasileiro tem O SR. PAES DE MENDONÇA: – E' instrumento do
nascido em territorio estrangeiro, e nem por isso deixam de governo, é quanto basta.
ser nossos compatriotas, porque a constituição garante- O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
lhes este direito, verificadas certas condições. do Conselho): – As pessoas mais gradas da provincia se
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Eu não trouxe isto mostram satisfeitas, pelo que me consta, com a actual
como defeito. administração. O partido liberal não articula queixas, pelo
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente menos queixas graves contra esse administrador.
do Conselho): – Se V. Ex. não trouxe como defeito do Sr. O SR. PAES DE MENDONÇA: – Esse deve estar
Dr. Romulo, como condição que o inhabilitava para presidir satisfeito.
á provincia das Alagôas... O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Para mostrar que do Conselho): – O lado adverso, o partido liberal não
era desconhecido. accusa a presidencia do Sr. Dr. Romulo; o conservador e
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente muitos cidadãos estranhos ás paixões politicas tambem
do Conselho): – ...ou de qualquer outra provincia do prestam-lhe apoio ou dão igual testemunho de apreço ao
Imperio, o ter nascido no territorio oriental, a que veio esta actual presidente da provincia das Alagôas: em taes
circumstancia? circumstancias, podemos crer que as informações do
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Para mostrar que nobre senador não provenham de origem suspeita?...
era pouco conhecido, não tinha familia aqui, era de fóra. O SR. PAES DE MENDONÇA: – As de V. Ex. não
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente proveem senão de origem verdadeira!
do Conselho): – Esta questão, perdoe-me o nobre O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
senador, não me parece digna do senado. O Sr. Dr. do Conselho): – ...sim, de origem suspeita, porque, de
Romulo não pretende as honras de notabilidade, é pessoa outro modo, os que não estão sob a influencia da mesma
muito conhecida, e que gosava de elevado conceito na atmosphera de odios e interesses contrariados, que não
cidade de Vassouras, onde residiu por muito tempo, onde teem empenho em defender o presidente das Alagôas, não
exerceu cargos publicos, e mostrou no exercicio desses o poupariam.
cargos intelligencia, integridade e zelo não vulgar. (Ha varios apartes.)
O SR. PAES MENDONÇA: – Não são essas as Estou ouvindo, Sr. presidente, que, quando se
informações que tenho de pessoas importantes de articulam queixas contra um presidente, o ministro, ainda
Vassouras. que esteja munido de informações prestadas por esse
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente presidente, ainda que as tenha de outras origens, ainda
do Conselho): – Essas informações de V. Ex. são que os precedentes desse cidadão o abonem, não deve
suspeitas; o nobre senador, que sabe quanto a paixão e a enunciar juizo que seja favoravel ao delegado do governo
calumnia são cegas e audaces, devia ao menos ser imperial, porque este juizo debilita desde logo as
cauteloso em aceitar taes informações, e mais ainda em accusações, tende a acoroçoar os abusos, se por acaso
tornar-se éco desses maldizentes perante o senado. abusos forem commettidos.
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Por isso não quiz Mas esta critica não resiste á menor observação.
declinal-as aqui. Não estou autorisando abusos; fallo em defeza de um
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente presidente, que procede do modo como creio que esse
do Conselho): – Que importa que o nobre senador não tem procedido, com rectidão, cumprindo a lei,
allegasse tudo o que diz constar-lhe contra o caracter e administrando justiça, curando dos interesses publicos,
procedimento do Sr. Dr. Romulo, se o nobre senador está que lhe estão confiados; se por acaso o governo se
alludindo a essas espurias informações por maneira a convencesse de que seu delegado, por quaesquer
lançar suspeita sobre o merito do cidadão que incorreu em motivos, não correspondia á confiança que nelle está
suas iras? depositada, esquecia o seu dever, não attendia ao bem
Sr. presidente, tenho conversado com muitas publico da provincia que administra, o governo sem duvida
pessoas fidedignas, que conhecem o Sr. Dr. Romulo, e alguma trataria de remover esse delegado; mas, quando
todas elIas affiançam o honroso conceito que este cidadão estou persuadido do contrario, quando tenho razões para
merece ao honrado visconde de Nitherohy, conceito que o dizer que o nobre senador está summamente apaixonado,
procedimento do Sr. Dr. Romulo na provincia das Alagoas pelo que não póde vêr e julgar com imparcialidade...
está confirmando altamente. O SR. PAES DE MENDONÇA: – V. Ex. está mais
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Perdeu na apaixonado do que eu; por isso é que não vê o
semana santa dous contos de réis no lansquenet, é facto procedimento do presidente das Alagoas.
conhecido na provincia. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Conselho): – ...não devo subscrever ás censuras do
do Conselho): – Ha de permittir que não responda a este nobre senador, ou calar-me ante ellas, devo antes oppor-
aparte: é outra historiola como a do Bebedouro. Nem a Ihe observações tão sensatas como creio que são aquellas
vida privada desse cidadão é respeitada! que tenho tido a honra de offerecer ao esclarecido juizo do
O Sr. Dr. Romulo tem administrado a provincia das senado.
Alagôas com moderação, com muito tino, sem paixão, sem Não vale a pena tocar ainda no incidente da
constituir-se instrumento de partido e menos de qualquer musica. A informação que dei ao senado, quando fallei a
acção. primeira vez sobre este requerimento, é informação que
tenho de pessoa que merece confiança.
68 Sessão em 10 de Maio

O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não é exacta; o acto addicional e usou segundo o seu prudente arbitrio;
contesto. entendeu que ou a assembléa provincial não poderia
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do trabalhar, porque a minoria se negasse a comparecer, ou, se
Conselho): – Em todo caso, Sr. presidente, a historieta da houvesse reunião, seguir-se-hiam discussões tempestuosas,
musica não tem importancia; o commandante do corpo scenas muito desagradaveis, e que estas eventualidades
provisorio destacado foi destituido, porque estava preenchida poderiam ser evitadas pelo adiamento, que daria tempo á
a sua commissão, e não sómente por um insignificante calma e á reflexão.
incidente. Este primeiro ponto do requerimento do nobre senador
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Como estão sendo está satisfeito, embora S. Ex. não concorde com os motivos
destituidos outros. que aconselharam e justificam o acto do presidente da
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do provincia.
Conselho): – Eu disse, Sr. presidente, no meu discurso O SR. PAES DE MENDONÇA: – A prova é que os que
anterior (então procedia por méra conjectura), á vista dos deixaram de comparecer para não haver casa foram
unicos dados que nos offerecia o discurso do nobre senador, condecorados.
que o Sr. padre Antonio José da Costa, proprietario do Diario O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
das Alagoas, não havia procedido bem para com o presidente Conselho): – Sr. presidente, ouvi o nobre senador sem
da provincia. O facto do artigo enviado da secretaria da interrompel-o tão a miudo; discussões como esta, que teem
presidencia e publicado naquelle jornal como artigo official, muito de pessoal, excitam-se com os apartes, e mais quando
não occorreu como o nobre senador nol-o referiu, segundo as se participa em grande dose de sangue arabe, de que fallou o
informações que dalli recebeu. nobre senador pela provincia do Espirito Santo, caso em que
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Provei com está o meu contendor, que se aquece com qualquer
documentos; como póde contestar isto? contestação. Eu, portanto, peço a S. Ex. que me deixe
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do discorrer com toda a calma, porque meu fim unico é mostrar
Conselho): – Ha dias appareceu uma correspondencia muito que o nobre senador não tem razão, quando suppõe que ha
minuciosa a este respeito no Jornal do Commercio; por ella se da parte do ministerio má vontade para com a sua pessoa, e
vê que o artigo em defeza da administração da provincia fora mais ainda para com seus parentes residentes nas Alagoas,
enviado ao Diario das Alagoas, para que sahisse como ou que temos o proposito de deprimir os meritos do nosso
publicação extra-official. Tambem se vê por esta honrado collega. Não posso acompanhar a S. Ex. na posição
correspondencia que era do contrato com o Diario que este que tomou ultimamente naquella provincia; não sou parcial
devia publicar não só o expediente da presidencia, mas contra o nobre senador, nem devo ser complice de suas
tambem quaesquer artigos e declarações que lhe fossem inimizades com os cidadãos de quem ora está separado.
enviados sob outro titulo. O delegado do governo imperial ha de ser neutro
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não como nessa contenda; se alguma differença se nota no seu
expediente; a questão foi esta. procedimento para com os dous lados dissidentes, é porque
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do os amigos do nobre senador se mostram muito apaixonados,
Conselho): – Não podia, pois, elle proceder como procedeu, a atacam com acrimonia e a todo o instante, o presidente da
despeito das recommendações que lhe tinham sido feitas; não provincia, consequentemente não se podem entender com a
podia publicar acintosamente esse artigo como peça official. E presidencia, fazer-lhe chegar quaesquer reclamações que
consta da narração do informante, a quem acabo de referir- julguem fundadas em justiça, e tendentes ao bem publico, que
me, que, antes da publicação do artigo delle tiraram-se duas deve ser o cuidado principal dos partidos politicos; quaesquer
publicas-fórmas, para convertel-as em pedra de escandalo e que sejam as dissidencias que lavrem em seu seio, é esse o
accusação contra o presidente. primeiro dever, o dever supremo de todos os partidos.
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não houve tal; isto é No 2º quisito do requerimento, o nobre senador
que é historieta. pergunta quantas demissões tem dado o actual presidente da
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do provincia das Alagoas. Eu posso responder desde já a esta
Conselho): – Sr. presidente, ha de ser difficil ao nobre pergunta. Desde 24 de Dezembro de 1872 até 25 de Abril
senador conseguir que não acreditemos senão nas ultimo tem o presidente daquella provincia dado as seguintes
informações que nos forem ministradas por S. Ex... demissões:
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Pelos documentos
que apresento. A pedido dos respectivos funccionarios.......................... 15
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Por incompatibilidade...................................................... 7
Conselho): – ...e, por consequencia, na imparcialidade, direi Por se acharem pronunciados........................................ 3
mesmo, na infallibilidade de seus informantes. Tudo quanto Por haver cessado o motivo da commissão................... 1
nos constar por outra origem, tudo quanto vier do lado Por mudança de residencia............................................ 5
contrario, tudo quanto se allegar em defeza dos accusados, A’ requisição de autoridades competentes..................... 12
provocará estas ingenuas exclamações do nobre senador: Por não aceitarem a nomeação...................................... 2
«isto é inexacto, é invenção!» «A verdade ha de ser Por serem necessarios os serviços em outro termo....... 1
unicamente aquillo que o nobre senador vier dizer na tribuna Por não solicitar o titulo................................................... 1
do senado a respeito do presidente da provincia das Alagoas Por conveniencia do serviço publico............................... 24
e de outros amigos politicos, com os quaes se acha Ao todo ................................... 71
momentaneamente em dissidencia.»
Já declarei quaes os motivos que determinaram o
presidente a adiar a assembléa provincial; é escusado repetir
o que o senado ouviu em outra occasião e que corre
impresso. O presidente usou de uma attribuição que lhe dá
Sessão em 10 de Maio 69

O SR. PAES DE MENDONÇA: – Esse pouco. E essas O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
mudanças de domicilios são celebres. Conselho): – Sr. presidente, eu não desejo tomar tempo ao
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do senado: recebi tambem uma carta do ex-presidente da
Conselho): – O nobre senador, que já administrou a provincia das Alagoas, em que se queixa amargamente do
provincia, como vice-presidente, em 1859, sabe por nobre senador e contesta todas as suas proposições de modo
experiencia que ha certos cargos de confiança que não podem convincente. Eu podia ler varios periodos dessa carta para
ser entregues a quem faz opposição aberta á administração. convencer ao senado, de que o nobre senador...
Em 44 dias de vice-presidencia deu S. Ex. outras tantas O SR. PAES DE MENDONÇA: – Póde ler; tenho
demissões em 1859. muitas tambem para ler.
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Está enganado; dei O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
11 demissões. Conselho): – ...de que o nobre senador não recebeu
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do informações exactas.
Conselho): – Eu tenho aqui a relação; porque o Sr. Dr. O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não receio ser
Romulo não só mandou as do seu tempo, como tambem as da contestado do que disse a respeito delle.
vice-presidencia do nobre senador. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Quando Sua Conselho): – Para não fatigar a attenção do senado, eu
Magestade foi ás Alagoas, houve uma representação neste pediria licença (do que ha precedentes) para inserir no meu
sentido contra mim, mas eu tive occasião de provar o discurso algumas informações que constam dessa carta.
contrario. O SR. SILVEIRA LOBO: – Neste caso é terrivel. Do
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do logar logo á defeza.
Conselho): – Não estou accusando o nobre senador... OS SRS. ZACARIAS E POMPEU: – Apoiado.
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não quero essa O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
defeza; agradeço-lh'a. Conselho): – Então VV. EEx. querem que eu leia?
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do O SR. ZACARIAS: – Ou não leia ou não publique.
Conselho): – ...tambem não estou defendendo, estou só O SR. PAES DE MENDONÇA: – Parece que estava
despertando a sua memoria, invocando os seus principios de adivinhando, pois trouxe aqui algumas...
boa administração: collocado naquella posição, o nobre O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
senador julgou necessario em 44 dias dar tantas demissões, Conselho): – Pois não publicarei, nem lerei agora ao senado,
que quasi houve uma ou mais de uma por dia. porque creio que abusaria da sua paciencia. Não faltará
O SR. POMPEU: – Como V. Ex. está certo na historia occasião para cumprir este dever. Entretanto, não presumam
da administração do Sr. Mendonça! os nobres senadores que eu esteja allegando a existencia de
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do um documento, de informações do ex-presidente, que não
Conselho): – Não é preciso que V. Ex. intervenha nesta possua ou que não possa exhibir; os nobres senadores devem
discussão com esse espirito conciliador; não receie V. Ex. que ser mais justos para com os seus adversarios; sobretudo era
a controversia se aggrave, porque eu me exceda; quero dizer, de esperar da parte de SS. EEx. mais calma, alguma
em qualquer excesso que possa haver entre nós, a victoria ao imparcialidade nestas questões que SS. EEx. dizem que são
nobre senador pelas Alagoas... questões domesticas do partido conservador.
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Obrigado por tanta O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não ha só questões
attenção. domesticas; algumas ha de interesse publico.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
Conselho): – ...porque desejo cada vez mais que elle e todos Conselho): – Em outra opportunidade, se o nobre senador
se convençam de que lado está o despeito ou a allucinação. julgar conveniente repisar aqui as suas accusações, lerei a
O nobre senador, que em 1859 julgou necessario contestação formal e persuasiva que o Sr. Dr. Silvino oppõe
collocar nos logares de confiança pessoas que Ih'a aos factos que o nobre senador articulou com o fim de mostrar
merecessem, não póde levar a mal ao actual presidente das que o ex-presidente da provincia interviera nas eleições,
Alagoas, que não tem demittido por crueldade, que não tem expedira circulares, enviara ajudantes de pessoa e ajudantes
tirado o pão a ninguem, o não conservar autoridades que lhe de ordens para irem cabalar no 2º districto.
faziam abertamente opposição, funccionarios com os quaes O SR. CANSANSÃO DE SINIMBÚ: – Ha de ser difficil
devia estar em relações frequentes, e que, todavia, se provar.
afastavam pelo seu procedimento ostensivamente hostil. O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não tenho medo
Se o nobre senador quer poupar ao presidente das desta contestação; estou munido de documentos para provar
Alagoas o desgosto que ha de sentir sempre que tenha de o que avancei; não venho dizer aqui senão o que é exacto.
destituir um conservador, aconselhe a seus amigos que se O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
deixem dessa opposição extrema, que anteponham a tudo a Conselho): – Tenho alguns documentos com que o ex-
união do seu partido, e mais do que a união do partido as presidente da provincia responde ao nobre senador. Se o
interesses da provincia. nobre senador pelas Alagoas, que me fica à direita, e que vem
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Abaixem a cabeça,
deixem o presidente fazer o que quizer. Só assim é que se
entende conciliar os interesses do partido.
70 Sessão em 10 de Maio

em auxilio do accusador do ex-presidente daquella provincia, – Dou esta grata noticia aos nobres senadores, que com ella
tem tambem factos que allegar contra esse cidadão, que os se mostram tão risonhos.
allegue por sua conta. O SR. SILVEIRA LOBO: – Parece que isto é para
O SR. CANSANSÃO DE SINIMBÚ: – Haverá tempo inglez vêr: nada mais.
para isto. O SR. ZACARIAS: – Parabens!
O SR. ZACARIAS: – Está atacado á direita e á O SR. PAES DE MENDONÇA: – Eu o felicito e a mim
esquerda. tambem.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do O SR. ZACARIAS: – E’ preciso pôr-se isto em francez
Conselho): – E’ a sorte de todos os ministros, e eu que já vi no primeiro boletim.
V. Ex. ainda mais apertado (hilaridade). O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. ZACARIAS: – Nunca me vi tão apertado como Conselho): – O francez e o inglez já eram empregados em
V. Ex.; nunca defendi Romulos. outro tempo.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Acreditando o nobre senador pelas Alagoas que eu
Conselho): – Lembre-se da historia dos pyrilampos. annunciava a declinação de sua estrella nas Alagoas,
Sr. presidente, eu não disse que a influencia do nobre retribuiu-me com usara, apregoando que o gabinete de 7 de
senador, a quem estou respondendo, decahia nas Alagoas; Março, desde o momento fatal em que o nobre senador
reconheci-lhe uma legitima influencia em sua provincia. separou-se, recusou-lhe seu apoio...
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Não tenho esta O SR. PAES DE MENDONÇA: – Isto é de V. Ex.
basofia tenho alguns amigos. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Conselho): – ...vae decahindo a olhos vistos, Sr. presidente,
Conselho): – Tolere o nobre senador que eu prosiga. O que eu appello deste juizo do nobre senador para a opinião
disse a S. Ex. é que, se essa influencia não era hoje publicar e para os representantes da nação, que são os seus
obedecida ou seguida como outr’ora, se encontrava orgãos. Não é materia esta para discussão entre mim e o
resistencias, as causas, a meu vêr, por tudo quanto me nobre senador; se temos ganho ou perdido no conceito da
constava, teem partido do nobre senador, que por nação, que o digam seus legitimos interpretes.
consequencia elle devia examinar bem os factos, consultar Mas, se deixo de defender-me contra essa sentença
sua consciencia, para conhecer se é ou não fundada e justa a tão severa quanto incompetente do nobre senador pelas
opposição que está soffrendo na provincia das Alagoas. Alagoas, não posso, Sr. presidente, deixar passar em silencio,
O nobre senador, autor dessa dissidencia naquella antes devo protestar energicamente contra aquelle seu juizo a
provincia, quer lançar a culpa ao ministerio. respeito do nobre visconde de Nitherohy.
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Foi o ministerio quem O nobre senador esqueceu-se nesse momento de que
a mandou crear; alli não havia dissidencia. fallava de um amigo politico, de um membro desta casa, de
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do um seu collega, de um cidadão que tem sido respeitado pela
Conselho): – O ministerio não tem inimigos entre os severidade do seu caracter, pela sua dedicação á causa
conservadores da provincia das Alagoas; o nobre senador é publica, que, se tem erros e defeitos, esses senões não serão
que se nos declara hoje hostil por este modo. Mas a da ordem dos que o nobre senador se abalançou a imputar-
accusação de S. Ex., pelo que respeita áquella provincia, é tão lhe. (Apoiados.)
justa como era a de outros nossos amigos, quando Ninguem mais pedindo a palavra e não havendo
accusavam o gabinete de 7 de Março, pelo que acontecia a quorum para votar-se, ficou encerrada a discussão.
outras fracções do mesmo partido, e então esse gabinete
contava com o apoio do nobre senador. Já tantas vezes tenho NEGOCIOS DO CEARÁ.
protestado contra taes inexactidões historicas, que fora inutil
renovar agora a mesma defeza. Quando o gabinete de 7 de Seguiu-se a discussão do requerimento do Sr.
Março organisou-se, essas dissidencias, que são fructa do Pompeu: pedindo informações ácerca de acontecimentos na
tempo, que não são especiaes do partido conservador (porque comarca do Ipú, da provincia do Ceará e em outras comarcas
as vejo tambem do outro lado), essas dissidencias já existiam. sobre o recrutamento.
O gabinete de 7 de Março, longe de creal-as, longe de O SR. POMPEU: – Quando ha 15 dias sujeitei á
concorrer para dar-lhes corpo, esforçou-se sempre para approvação do senado o requerimento que acaba de ser lido,
acabar com esse estado de cousas. pedindo informações ao governo sobre um attentado grave
O SR. SILVEIRA LOBO: – Por exemplo, com a que se havia dado em uma comarca da minha provincia,
dissolução da camara. esperava que qualquer dos nobres ministros que teem
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do assento nesta casa se apressasse a informar ao senado o que
Conselho): – Temos convicção de que nossos esforços não soubesse a respeito desse acontecimento; e bem que o
teem sido infructiferos; a mais grave dissidencia que governo haja dado provas de que não cura de negocios dessa
appareceu no partido conservador não é hoje o que era em ordem, que respeitam as garantias individuaes de seus
1871. adversarios, comtudo como o attentado foi, não só contra a
O SR. ZACARIAS: – Ah! vae-se abrandando? independencia de um magistrado, como contra sua propria
O SR. CANSANSÃO DE SINIMBÚ: – Não sabiamos existencia e de sua familia, e além disso perpetrado por um
disto; é uma informação importante. agente da força publica, parecia-me que ao menos por esta
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do ultima circumstancia devera merecer a consideração do
Conselho): governo. Chegamos a uma época
Sessão em 10 de Maio 71

em que a opposição nem tem garantias nem direito de ser feito de attentados commettidos naquella provincia em
acreditada! diversos annos, chamando a attenção do governo para tomar
Sabbado passado demorei-me em comparecer ao providencias que as circunstancias reclamam.
senado por imcommodo de saude; entrando, porém, no Não comprehendo, Sr. presidente, que seja
recinto desta casa depois de meio dia, encontrei o nobre desconsiderar uma provincia ou um paiz denunciar o fraco ou
senador, meu collega, pela provincia do Ceará discutindo o defeito que o prejudica, principalmente quando a exhibição se
meu requerimento, não digo bem, discutindo minha pessoa, e faz para curar o mal que existe (Apoiados). O medico que
de uma maneira, Sr. presidente, tão acerba e dolorosa… descobre a infermidade do doente para combatel-a, de certo
O SR. JAGUARIBE: – Não apoiado. que não tem em vista desacredital-o.
O SR. POMPEU: – ...que S. Ex., vendo-se obrigado a Disse o honrado senador que não era essa a missão
fazer um retrocesso em seu discurso, repetiu aquelle verso de um senador do Imperio; que a obrigação do senador era
que o poeta latino põe na bocca de seu heroe ao contar á tratar dos negocios geraes do paiz, deixando de parte as
Rainha Dido o exicio de Troya! questões de provincia. Sr. presidente, eu entendo que é
Ouvi algures contar uma anecdota de certo obrigação de um representante da nação curar e tomar
franciscano que, prégando em uma das igrejas de Lisboa interesse, não só pelos negocios geraes da communhão,
sobre a Paixão de Christo e mandando dizer-lhe a Rainha D. como muito principalmente pelos da provincia, da localidade
Maria, que chegara em meio do sermão, que desejava ouvir que o mandou representar no parlamento. Este principio
a narração do principio, repetiu o celebre verso de Virgilio resulta não só da natureza especial da missão, como da
(Riso). Não sei se a anecdota é exacta; se o é, havia ahi propria constituição que manda fazer representar o Imperio
alguma plausibilidade pela semelhança do objecto; porém no por provincias (Apoiados). E aliás os negocios das
caso presente, em que o nobre senador occupara-se de localidades e das provincias constituem o de todo o Imperio.
minha humilde pessoa para desfazer e da sua para elogiar, Para os negocios geraes do paiz sobram capacidades
só muita força de imaginação ou muito desejo de erudicção em ambas as camaras do parlamento; e para ellas concorro,
faria lembrar o verso de Virgilio com que Enéas, cheio de insuficiente como sou (muitos não apoiados) com aquella que
magoa, começa a narração dos funeraes de Troya. parte me permitte minha insufficiencia; porém não abdico a
Mas, deixando isto de parte, que não vem ao caso… obrigação que tenho de curar especialmente, de tomar
O SR. JAGUARIBE: – A applicação era quanto á interesse pelos negocios da minha provincia, porque tenho
renovação. mais razão de conhecer das causas e necessidades della do
O SR. POMPEU: – …tenho, Sr. presidente, que os representantes das outra provincias.
necessidade de acompanhar o libello que o nobre senador E quando, Sr. presidente, me desenganar de que o
articulou contra mim. Não sei se poderei fazer minha meu fraco concurso, o meu empenho no interesse de meu
contrariedade segundo as notas que tomei do seu discurso; paiz e especialmente de minha provincia, a minha fraca voz
por isso não guardarei outra ordem que a dos apontamentos nesta tribuna não concorra de modo algum para attenuar os
que tomei. males do paiz e da provincia; quando me convencesse de
Estranhei tanto mais a aggressão do honrado senador que não ha mais remedio a esperar, tambem digo a V. Ex.
á minha pessoa, quanto, Sr. presidente, nesta questão não que não me assentaria mais nesta cadeira. Por ora, Sr.
se tratava nem de leve da pessoa do nobre senador, nem presidente, ainda não perdi de todo a esperança, e,
mesmo de alguem que lhe dissesse respeito, porque sei e emquanto tiver aqui um assento, hei de pugnar, tanto quanto
costumo guardar as conveniencias. permitte meu fraco esforço, pelos interesses geraes, mas
O SR. JAGUARIBE: – Não havia aggressão; era muito principalmente pelos interesses daquelles que me
defeza á provincia. mandaram ao parlamento. Se mais não posso fazer, dou-lhes
O SR. PRESIDENTE: – Attenção. ao menos essa prova de consideração, de interesse pela sua
O SR. POMPEU: – Sabe V. Ex., e o senado é sorte, e de meu reconhecimento para com elles.
testemunha, de que eu, discutindo nesta casa, costumo O nobre senador accusou-me de um dominio
guardar attenção e respeito não só a V. Ex, e ao senado, omnipotente na minha provincia. Senhores, se eu fosse
como a todos os meus honrados collegas. (Muitos apoiados). susceptivel de vaidade ou orgulho, ficaria agradecido ao meu
Eu nunca attribuo intencionalmente a nenhum dos meus honrado collega, por me haver apresentado como o homem
collegas acto algum máo ou proposito menos justificado; por mais poderoso, que elle já conheceu no Ceará. Infelizmente
conseguinte entendia que tambem tinha direito de que meus isso é uma ficção, o nobre senador está enganado; ou quiz
collegas ainda adversarios me retribuissem da mesma divertir o senado; nunca exerci esse poder discricionario na
maneira; e obrando, assim obedeço não só aos preceitos do politica do Ceará, e nem o governo ou o partido toleraria; ou
regimento da casa, como á minha indole e educação… mesmo qualquer outro poder, até porque nunca exerci
O SR. JAGUARIBE: – Respeitei sempre as nenhum cargo publico, que não fosse de instrucção publica,
intenções. onde tal omnipotencia é inconcebivel.
O SR. PRESIDENTE: – Peço ao nobre senador que Para prova de minha omnipotencia citou o nobre
não dê apartes, senão pelo resultado da discussão não serei senador um facto que pela primeira vez ouvi referir, e foi o
responsavel. mais decisivo para confirmar sua asserção. Contou que em
O SR. POMPEU: – Accusou-me o nobre senador de 1864 um official da secretaria do governo, não tendo
desconsiderar a provincia do Ceará pela narração que tenho comparecido á repartição á hora marcada, levara ponto e
depois riscara o respectivo livro; e sendo levado esse
negocio ao
72 Sessão em 10 de Maio

conhecimento do presidente, que era então o Sr. Dr. Não tenho aqui presentes os dados estatisticos dos
Lafayette, este não quizera tomar conhecimento desse grave delictos dessa ordem praticados de 1861 até o anno de
attentado por ser o deliquente meu parente. Ora, deixo ao 1868…
criterio do senado apreciar a força da prova de minha O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
omnipotencia offerecida pelo honrado senador, ficando, Conselho): – A comparação é indispensavel.
porém, certo V. Ex. de que, se o facto deu-se, eu o ignorava O SR. POMPEU: – …tenho, porém, os dados
e sabbado passado foi a primeira vez que delle tive noticia. officiaes estatisticos de 1853 a 1861 e tenho de tres mezes
O nobre senador accusou-me mais de haver trazido deste anno. Eis aqui a estatistica official da provincia do
até conhecimento do senado attentados praticados no Ceará, Ceará, segundo relatorios da presidencia no periodo de 1853
não só no dominio da situação conservadora, como até a 1861 (Lendo).
durante o tempo em que esteve no poder o partido liberal. Se «Estatistica criminal dos homicidios da provincia do
isto é exacto, Sr. presidente, creio que prova em favor de Ceará, segundo os relatorios da presidencia, no periodo de
minha independencia e de minha impardialidade, porque não 1853 a 1861.
só denuncio actos criminosos commettidos durante a
situação dos meus adversarios como até no dominio dos Annos Homicidios
meus amigos: logo não obro assim por espirito partidario ou 1853............................................................. 31
paixão politica, porém pelo interesse que tenho de boa 1854............................................................. 28
administração. 1855............................................................. 13
Eu, Sr. presidente, tenho com effeito trazido ao 1856............................................................. 23
conhecimento do senado, desde a famosa época da 1857........................................................... 20
regeneração, em 1869, em 1870 e em 1871 uma serie de 1858............................................................ 39
attentados, principalmente contra a vida e propriedade do 1859............................................................ 20
cidadão, praticados em minha provincia, para chamar a 1860............................................................. 30
attenção do governo a dar providencias no sentido de salvar 1861............................................................ 27
importantes interesses, victimas de taes attentados, porque Em nove annos............................................ 231
estou convencido de uma cousa: que a primeira necessidade Medio annual............................................... 25,6
que temos em nosso paiz é de tornar effectiva a garantia de
vida e propriedade do cidadão (apoiados), porque em nosso Um por 17,856 habitantes, segundo a população
paiz não ha ainda nem liberdade civil, que comprehende a média presumida.
segurança da pessoa e da propriedade. De Dezembro de 1872 a Março de 1873 32
Muitos dos meus amigos entendem, encarando os homicidios, o que presumo 120 por anno e para uma
negocios pelo lado politico, que uma das principaes população presumivel de 700,000 habitantes cabe um por
necessidades do paiz é a liberdade do voto, e sem contestar 5,833.
este principio no sentido que o sustentam, tenho todavia para Vê, portanto, V. Ex. que nesse periodo praticaram-se,
mim que a primeira necessidade é a garantia de vida e de o termo medio, 25 homicidios por anno. Agora, porém, do
propriedade e com ella uma recta administração de justiça. anno passado até o fim de Março deste anno, em quatro
Procure o governo pelos seus agentes garantir esses mezes, commetteram-se no Ceará 32 homicidios.»
importantissimos direitos do cidadão, distribuir boa justiça, e O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
neste intento escolha para a administração da provincia Conselho): – Qual a base?
homens menos apaixonados, menos partidarios que não se O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Donde tirou esta
preoccupem somente de eleições, de proteger um partido e prova! De informações apaixonadas.
perseguir outro, que pelo contrario prescindam do concurso O SR. POMPEU: – Não, senhor, tirei das folhas
de partido para levar a effeito este grande principio: garantir a publicas, nem isto é constestado por ninguem, e até dos
vida e propriedade; proceda desse modo e terá feito maior relatorios dos presidentes. Que prova posso apresentar para
serviço ao paiz do que mesmo dotando-o com uma lei factos publicos senão a publicação dos jornaes e os factos
eleitoral, ao menos semelhante a esse inexequivel projecto officiaes? Póde-se dar a explicação que quizerem, mas o
apresentado na camara, porque o nosso estado é tal que em facto existe, houve em quatro mezes 32 homicidios e, só isto
qualquer governo absoluto da Europa ha mais garantia á pode servir de base para calcular o anno, o numero desses
pessoa e propriedade do cidadão, do que neste Brasil, que crimes pode chegar a mais de cem; por conseguinte,
se diz governado por uma constituição livre. suppondo-se a população do Ceará actualmente como de
O nobre senador contestou-me o facto de que na 700,000 habitantes cabe um homicidio por 5,833.
provincia do Ceará os crimes abundam mais na época actual Ora, comparando este resultado com o que se passa
do que anteriormente. Já fiz vêr em outro discurso que nos em outros paizes, encontro na estatistica da Inglaterra de
annos de 1869, 1870 e 1871; a estatistica criminal só de Moreau de Jonnes o que o senado vae vêr (Lendo):
crimes de homicidio subiu a sessenta e tantos e a setenta em
cada um desses annos, somma espantosa, Sr. presidente,
principalmente com relação ao passado de provincia e á sua
população como officialmente observou o vice-presidente em
exercicio, o Sr. Cunha Freire, no seu relatorio á assembléa
provincial.
Sessão em 10 de Maio 73

Quadro comparativo dos homicidios em alguns paizes da não tenho por fim senão despertar mais fortemente a attenção do
Europa, segundo M. de Joneés. Estatistica da Inglaterra tom. II governo para que dê as providencias que o caso requer: as
pag. 257. garantias individuaes, a administração recta da justiça devem
estar acima dos interesses partidarios; e creio que um governo
França, em 1834... 86,1 por 390,000 habitantes. bem intencionado póde separar taes interesses.
Escossia, em 1835... 9,1 por 270,000 « O nobre senador disse com relação á eleição do Crato
Grã Bretanha, em que eu havia lido de novo uma representação dirigida ao governo
1835.............................. 94,1 por 178,000 « e já apresentada ao parlamento; S. Ex. enganou-se.
Prussia, em 1824... 112,1 por 110,000 « O SR. JAGUARIBE: – E’ possivel; foi uma outra.
Austria, em 1809... 483,1 por 55,000 « O SR. POMPEU: – A representação que trouxe ao
Austria, em 1833... 422,1 por 57,000 « conhecimento do senado ultimamente, era uma replica da
Russia, em 1824... 1,530,1 por 30,000 « camara municipal do Crato ao presidente da provincia, pedindo
Wurtemberg, em que reconsiderasse o seu acto de mandar empossar como
1827.............................. 65,1 por 22,500 « camaristas individuos que não tinham sido eleitos, de quem nem
Suecia, em 1823... 199,1 por 14,000 « lá havia conhecimento.
Hespanha, em 1826.. 3,006,1 por 4,113 « Trouxe uma, duas ou mais vezes este facto ao
Napoles, em 1778... 1,500,1 por 2,750 « conhecimento do senado, e o farei ainda até que o governo
Estados Romanos, em reconheça a verdade e faça justiça; cumpro um dever
1784.............................. 1,880,1 por 750 « reclamando pelo direito postergado.
Dalmacia, em 1823... 473,1 por 700 « O nobre senador enfada-se, porque reclamo justiça do
governo em favor daquelles que são despojados de seus direitos;
Certo, a provincia do Ceará ainda não chegou ao estado quer até coarctar o direito sagrado de petição!
de falta de segurança individual desses ultimos paizes na época Por esta occasião, S. Ex., apreciando a eleição do Crato,
a que se refere a estatistica; porém, incontestavelmente, citou o nome de Domingos Lopes de Senna, presidente dessa
comparando o seu estado moral actual com o anterior, acha-se eleição, accusando-o de que fora em outro tempo, em 1849 ou
uma differença extraordinaria, porque, como já mostrei, nos 1850, denunciado como chefe de uma associação chamada dos
annos anteriores regulara termo médio 25 assassinatos por anno, serenos e accusado na folha liberal...
nos annos de 1869, 1870 e 1871 de 60 a 70 e agora só em O SR. JAGUARIBE: – Eu não accusei; recordei o facto.
quatro mezes houve 32, differença já notada no relatorio do vice- O SR. POMPEU: – A circumstancia de ter sido esse
presidente daquella provincia, que não é suspeito. individuo accusado na folha liberal nesse tempo, quando nella
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Nas Alagoas ha mais tinha parte o Sr. Dr. Tristão de Alencar Araripe, não invalida de
assassinatos do que no Ceará. modo algum o acto da presidencia desse homem como legitimo
O SR. PAES DE MENDONÇA: – Está enganado. juiz de paz do Crato o anno passado na eleição da camara e juiz
O SR. POMPEU: – Acho, Sr. presidente, que o Brasil em de paz. Já disse ao senado que o conheço apenas de nome; sei
geral de certa época a esta parte, principalmente depois da que é conservador, que foi eleito juiz de paz em 1868, quando
aurora da regeneração, resente-se muito desse grande defeito, sabe V. Ex. que, em consequencia da reacção politica, os
notavelmente no Norte do Imperio, nas provincias do Piauhy, liberaes se abstiveram da eleição em todo o Imperio.
Ceará, Rio-Grande do Norte, Parahyba, Pernambuco e Alagoas; O SR. JAGUARIBE: – Por uma liga com os liberaes.
das outras não tenho bastante conhecimento; mas nessas O SR. POMPEU: – Em 1868 o partido liberal não se
abundam com effeito os assassinatos e os attentados contra a apresentou na eleição na provincia.
propriedade. O SR. JAGUARIBE: – No Crato garanto.
O SR. JAGUARIBE: – Leia a gazetilha do Jornal do O SR. POMPEU: – V. Ex. não me poderá apresentar um
Commercio e veja o que ha nesta Corte. só liberal eleito no Crato.
O SR. POMPEU: – Tambem aqui ha desses attentados O SR. JAGUARIBE: – Affianço-lhe; vereadores e juizes
em grande quantidade, e isto mostra que o mal é indemnico e de paz.
geral e é um triste documento da situação que domina o paiz. O SR. POMPEU: – O que é certo é que esse cidadão
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do passava como chefe, e ainda é hoje, do partido conservador;
Conselho): – Venha a estatistica de 1864 a 1868; V. Ex. saltou mas fosse ou não fosse deste ou daquelle lado, isto não invalida
um periodo. a sua eleição, que nunca foi contestada; elle presidiu á eleição
O SR. POMPEU: – Não tenho presente aqui, mas posso regular, como o juiz competente, o anno passado, a que
apresental-a e até a confissão official do proprio administrador da assistiram outros juizes de paz, com todo o corpo eleitoral do
provincia. lado consevador, e todos os cidadãos votantes de um e outro
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do partido, isto é, dos dous partidos politicos historicos, o
Conselho): – Esta allegação nada aproveita a um bom conservador e o liberal unidos, no empenho de fazerem uma
estatistico. eleição pacifica; e da parte contraria, do lado do governo, que
O SR. POMPEU: – V. Ex. fará o resto; mas eu hei de conta meia duzia de individuos,
convencel-o com a autoridade do seu proprio delegado.
O SR. CANSANSÃO DE SINIMBÚ: – Apoiado.
O SR. POMPEU: – Trazendo, Sr. presidente, ao
conhecimento do parlamento este estado de cousas do meu paiz,
74 Sessão em 10 de Maio

consta que se fingira uma eleição em casa particular, como já Tambem a respeito da eleição de Quixadá, de que
demonstrei aqui com documentos irrespondiveis. Quando se fallei aqui, deu-se um facto illegal e profundamente immoral,
esperava, pois, que o presidente mandasse empossar os de que o presidente foi talvez victima em sua boa fé. Vou ler
vereadores eleitos, soube-se que o vice-presidente, então em ao senado um officio dirigido pela camara municipal dessa
exercicio, o Sr. Dr. Esmerino, mandara empossar aquelles villa, reflexionando ao presidente da provincia contra uma
suppostos eleitos em uma eleição ficticia. decisão sua, semelhante a este do Crato, mandando
Estava presente na capital do Ceará o digno coronel empossar como camaristas individuos que nunca tinham sido
Antonio Luiz Alvares Pequeno, um dos primeiros proprietarios eleitos em uma eleição de que lá nunca se ouvira fallar, de
e dos mais importantes cidadãos do Crato, que era um dos maneira que foi inutil á opposição fazer eleição na provincia,
eleitos na eleição regular; sabendo disso, levou ao porque, onde os governistas, nem se quer disputaram,
conhecimento da presidencia uma muito respeitosa fingiram depois actas, até com nomes falsos de juizes e com
representação, pedindo a S. Ex. que mandasse examinar os essas actas supplantaram as verdadeiras eleições!
documentos que deviam existir na secretaria do governo a Paço da camara municipal da villa de Quixadá em
respeito da eleição do Crato, porque o vice-presidente sessão extraordinaria em 20 de Março de 1873. – Illm. Exm.
motivara a sua portaria na insciencia das actas verdadeiras da Sr. – Foi-nos presente o officio de V. Ex. de 15 de Janeiro sob
eleição. O vice-presidente não attendeu á representação do n.1 e recebido a 17 do cadente mez, ordenando-nos
coronel Alvares Pequeno. Entretanto, no Crato, sabendo-se da positivamente o juramento e posse dos suppostos vereadores
portaria de que acabo de fallar, não só a camara, como muitos eleitos, não obstante as valiosas razões que em officio de 7 de
cidadãos, levaram ao conhecimento da presidencia igual Janeiro proximo passado allegámos a V. Ex., bem como o
representação contra essa supposta eleição. officio desta camara á presidencia em data de 13 de Setembro
Foi esta a representação que li aqui da primeira vez do anno proximo preterito e mais documentos do juiz de paz
com muitos documentos, e que está sujeita ao governo mais votado.
imperial. O presidente actual não esteve por essa Sem faltarmos ao devido respeito que tributamos á
representação e mandou que fossem empossados os primeira autoridade da provincia, entendemos de nosso
suppostos eleitos pela eleição particular; foi então que de novo rigoroso dever, ainda mais uma vez, justificar aquelle nosso
a camara do Crato, replicando á presidencia tambem muito acto, que, sem prejuizo dos avisos citados por V. Ex., que
respeitosa, lhe pediu a reconsideração do seu acto, regulam hypotheses diversas, deve prevalecer, tanto mais
motivando-o principalmente em um facto, que era para ella quando é impossivel a esta camara dar juramento e posse a
uma impossibilidade material, de dar posse a esses vereadores que não conhece, e não tem razão para conhecel-
individuos, pois que não constava de seus archivos a acta os, visto como do livro das actas nada consta a respeito dessa
dessa supposta eleição e, por conseguinte, ignorava mesmo eleição imaginaria (documento n. 1).
que esses homens tivessem tido votos. Foi esta ultima Nós bem sabemos Exm. Sr., que as camaras
representação a que tive occasião de ler. municipaes não teem competencia para conhecer da validade
O nobre senador disse que não havia da minha parte ou não validade de eleições, mas o que tambem sabemos, e
razão de queixa, de que o presidente não attendesse ás para isto não se faz necessario instrucção de direito, é que
representações da camara do Crato e dos cidadãos que sem eleição não ha eleitos. Este é o caso em questão.
haviam levado ao seu conhecimento os vicios da supposta Nesta freguezia não houve eleição de camara e juizes
eleição. Eu não tenho queixas, senão tanto quanto reclamo de paz, e nem tivemos se quer noticia que houvesse um
por um direito fraudulentamente preterido; trago somente ao arremedo della, quando recebemos o officio de V. Ex., e com
conhecimento do senado um facto dessa ordem, que é no verdadeira admiração lemos a ordem de V. Ex. para
meu entender estranhamente illegal, senão uma grande juramentar e impossar a nova camara! e que como agora
immoralidade, a eleição ficticia; e refiro não só para recusamos cumprir pelas considerações que já foram
stigmatisal-o, como para despertar a attenção do governo. presentes a V. Ex.
O SR. JAGUARIBE: – Mostrei que o presidente Sentimos que a situação anormal deste desgraçado
procedeu legalmente. paiz se vá cada vez mais abatendo em moralidade, já tão
O SR. POMPEU: – Não procedeu legal, nem cansado por essas lutas estereis e mesquinhas de uma
prudentemente. politica, que vae assalariando os melhores caracteres, máo
O SR. JAGUARIBE: – Não ha embargos. grado seu, prostituindo pela mentira e desfaçamento de todas
O SR. POMPEU: – Desde quando um presidente está as paixões insensatas e desordenadas.
inhibido de reconsiderar um acto seu, que por engano tenha E’ lamentavel este estado social que tudo poderá
praticado? significar, menos o bom desejo de acertar e obrar bem, sem o
O SR. JAGUARIBE: – Há recurso para o governo que das mais insignificantes questões nascem conflictos
geral. desagradaveis e tumultuarios da boa ordem e do direito.
O SR. POMPEU: – Desde que não estava ainda Deixando esta camara de cumprir a ordem de V. Ex.,
completado o acto, que não estavam empossados esses não faz mais do que esclarecel-o sobre um facto, que sem
suppostos vereadores e juizes de paz, o presidente podia duvida chegou ao conhecimento de V. Ex. inteiramente
reconsiderar o seu acto, mandal-o sustar até que se liquidasse falseado.
a questão. Isto se tem praticado tantas vezes! Duvidava da Portanto, em vez de desobediencia é um bom serviço
allegação dos reclamantes? Mas, certo da fraude dos outros, á administração.
podia sustar a posse da nova camara até que a eleição fosse Qualquer consequencia, que por ventura possa vir ou
julgada pelo governo geral, a quem o caso foi levado. resultar de nossa relutancia, nós aceitamol-a do modo mais
honroso e decidido, comtanto que fique V. Ex. certo
Sessão em 10 de Maio 75

que qualquer responsabilidade que nos imponha será para O SR. POMPEU: – Eu vou ler as que tenho. Eis ahi
nós uma occasião de rendermos preito á verdade, que outros como V. Ex sabe dos factos; está sempre mal informado.
procuram occultar, persuadidos de que em politica tudo é licito O SR. JAGUARIBE: – Que garantia offerecem as suas
e permittido, até a falsificação e a deshonra. informações?
E’ para nós de muito pezar semelhante luta, a qual, se O SR. POMPEU: – Tanta quanta as que o nobre
por um lado ennobrece os que defendem o seu dever e presidente do conselho póde apresentar, senão melhores
direitos com firmeza, por outro levanta a sanha dos ferozes porque não são de interessados.
dominadores, que, a par da ostentação do poder, ostentam de O SR. JAGUARIBE: – As suas pelo menos são
mais a vingança disputada. Como quer que seja, o dever não suspeitas.
conhece condições. Portanto, V. Ex., a quem foi tudo presente O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
acerca do incidente em questão, resolva-o do modo mais Conselho): – V. Ex. refere-se a noticias anonymas de jornaes
adequado e condigno com sua illustrada apreciação, na e eu a informações officiaes.
certeza de que já mais concorreremos para uma falsidade, O SR. POMPEU: – Eis aqui uma carta do Crato; que
que nos degrada e nos avilta. publica este jornal, que vale tanto ou mais que as informações
Nestes termos julgamos respondido o mencionado que recebeu o Sr. presidente do conselho:
officio de V. Ex. e aproveitamo-nos da occasião para «Crato, 23 de Março de 1873. – Temos tido um inverno
significar-lhe de nossa subida estima e consideração. copioso e as esperanças são de uma boa colheita; mas esses
Illm. Exm. Sr. Dr. Francisco de Assis Oliveira Maciel, favores que com prodiga mão vae liberalisando a Providencia
presidente da provincia do Ceará. – Laurentino Belmonte de e essas esperanças de vermos em breve reinar a abundancia
Queiroz, presidente. – Jardilino de Queiroz Barreira. – José que resume tantas gotas de suor dos nossos bons
Alves Pereira Lima. – Raymundo Joaquim de Almeida. – camponezes são contrastados pelas graves perturbações, de
Joaquim José Fernandes.» que tem sido theatro esta cidade nestes quatro dias.
Eis aqui, Sr. presidente, como se fingem eleições em Com a noticia da remoção do nosso distincto amigo e
minha provincia; como os presidentes mandam que as integro Dr. Martins, que por alta recreação da facção
camaras municipaes impossem individuos eleitos em virtude Alencarina foi passado para a comarca da Parnahyba, os
de eleições de que ninguem tem dellas conhecimento nem poucos graúdos daqui, que desde muito mordiam o freio para
ouvira fallar. dar copia de si, romperam os diques da forçada prudencia,
O SR. JAGUARIBE: – Não apoiado; são paixões. que guardar, e a explosão foi tremenda.
O SR. POMPEU: – São factos; por essa maneira Atacaram os indispensaveis foguetes quantos
responde-se a tudo. poderam, e não foi grande o numero, porque essa facção aqui
O nobre senador, justificando a distribuição do é rari nantes in gurgite vasto; choveram as costumeiras e
batalhão 14 em destacamentos pelo centro da provincia, disse nauseabundas pilherias, de sorte, diz-se-hia ter acontecido um
que essa distribuição tinha por fim a repressão dos crimes. desses factos auspiciosos que importam a salvação da patria,
O SR. JAGUARIBE: – Apoiado; a prisão dos quando tratava-se simplesmente da muda de um magistrado,
criminosos o prova. cuja unica culpa foi saber cumprir seus deveres com perfeita
O SR. POMPEU: – Mas, Sr. presidente, a estatistica isenção de animo.
que li outro dia de delitos commettidos por esses soldados Esse modo de regosijar-se dá a medida do que são
prova que em grande parte são elles autores desses crimes; taes homens.
esses instrumentos de que o governo lança mão, talvez em Isso, porém, nada importa porque traz apenas o triste
boa fé para repressão dos crimes, são os proprios que os effeito de pôr pobre gente em relevo, sem nenhum
praticam em larga escala. inconveniente para o restante da população, cuja unica
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Não é exacto isto. preoccupação consiste apenas no pesar de vêr retirar-se do
O SR. POMPEU: – Não é exacto? V. Ex. não está seu seio aquelle que com tanta firmeza lhe soube distribuir
informado nem autorisado para contestar o que estou justiça.
asseverando; basta para provar o que digo citar dous factos, O que espanta e torna o espirito publico apprehensivo
não já praticados por soldados, mas por officiaes. O capitão são os excessos e desregramentos que succederam a essa
ou tenente Caldas, commandante do destacamento de Ipú, foi explosão e que vão em um crescendo assustador.
o autor do grave attentado, que tive occasião de referir ao O capitão Carolino, digno instrumento dessa
senado, praticado contra o juiz de direito daquella comarca: pequenina facção, na effusão do desvanecimento com que
cercar-lhe a casa, ameaçar de deitar-lhe as portas abaixo para recebia a noticia da retirada do Dr. Martins, declarou
desacatal-o com seu destacamento. solemnemente aos seus soldados que não havia mais lei da
Agora mesmo, quando lá chegou a noticia de remoção reforma; o que importava proclamar a annullação do juiz de
do juiz de direito do Crato, o Sr. Dr. Martins Pereira, o direito e a faculdade de commetterem toda casta de
commandante militar, o tenente Carolino, reunindo a sua attentados.
gente, commetteu o maior attentado que é possivel a força Se bem o disse, melhor foi comprehendido por seus
publica praticar. subordinados, os quaes derramavam-se na cidade a recrutar,
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do a espancar e assassinar por uma fórma espantosa; e os factos
Conselho): – V. Ex. está mal informado; soltou recrutas para seguintes dão perfeita idéa da pontualidade com que davam
evitar o conflicto preparado pelo outro lado. Tenho aqui execução ás ordens do seu chefe.
informações. Invadiram o mercado publico no dia em que costuma
haver grande affluencia de povo á feira e ahi passaram a
recrutar em larga escala, lançando assim o terror no animo
76 Sessão em 10 de Maio

dos que concorrem a essa reunião com o fim de se prover do annos; foi juiz de direito de Ipú, onde portou-se muito bem. Em
necessario ou vender suas mercadorias; sendo que aquelles 1864 era juiz de direito do Pilar, se bem me recordo na
que cahiam nas garras dessa soldadesca desenfreada eram Parahyba, tinha relações comigo e escreveu-me dizendo que
constrangidos a jurar bandeira immediatamente como estava mal alli e desejava uma comarca á beira-mar; fazendo
soldados do exercito, isto na conformidade das ordens que delle o melhor conceito pela sua imparcialidade e honestidade,
devia ter do presidente Carolino. escrevi aos meus amigos, então no ministerio, os Srs.
No auge da sanha com que procedia-se a esse conselheiros Furtado, de saudosa memoria, e José Liberato,
recrutamento violento os espancamentos e outros desacatos lembrando a conveniencia de remover o Sr. O. Maciel para a
não foram omittidos. cidade de Aracaty, comarca de 2ª entrancia e de muita
Além de outros foi esbordoado sem a minima razão importancia, porque, dizia eu, comquanto o Sr. Maciel fosse
José Geraldo Bezerra de Menezes, homem pacifico, de uma conservador, era, todavia, um juiz imparcial e honesto; e para
das principaes familias do logar, cunhado e primo do tenente- juiz entendo que o que convem saber, não é se é deste ou
coronel Joaquim Bezerra, sendo de notar que o soldado, autor daquelle partido, porém se é honesto e imparcial. E’ o conceito
desse ousado desacato, achava-se pronunciado por crime da que eu formava e formo do Sr. Maciel como magistrado.
mesma natureza, e depois de preso em virtude dessa Nomeado S. Ex. presidente do Ceará, felicitei-me com
pronuncia, fora posto em liberdade logo que divulgou-se a essa escolha, porque contava que o Sr. O. Maciel levasse
noticia da remoção do juiz de direito. para a administração os sentimentos que tinha demonstrado
Até aqui ainda se respeita a vida. Os excessos como juiz. Infelizmente não aconteceu assim; o Sr. Dr. Maciel
continuam apenas em prisões e bordoadas. mostrou-se e tem-se mostrado apaixonado, tão intenso ao
O que veio a fechar o quadro foi o barbaro assassinato partido liberal...
de um miseravel pae de familia de nome Cosme, que um O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
soldado sangrou-o na garganta e dous minutos depois era Conselho): – Não apoiado.
cadaver; sendo de notar que o autor desse crime, depois de O SR. POMPEU: – ...e partidario...
perpetral-o, chamara diversas pessoas para verem a sua O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
victima e de seguida retirou-se em santa paz e até hoje não foi Conselho): – Não apoiado; é uma clamorosa injustiça.
incommodado! O SR. POMPEU: – ...o que prova que póde ser muito
Tal é a situação em que nos tem collocado o Sr. bom magistrado, muito honesto e, todavia, não ser um bom
Oliveira Maciel! administrador politico.
Ao passo que nos retira a unica garantia que nos V. Ex. tem uma facilidade immensa de contestar as
restava deixa-nos a braços com o grupo de homens asserções de seus adversarios...
imprudentes e provocadores e com bandos de criminosos que O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
percorrem a comarca em todos os sentidos, de cuja captura Conselho): – E V. Ex. de accusar.
não cuidam as autoridades, pois as daqui á excepção do juiz O SR. POMPEU: – Eu accuso com documentos; V. Ex.
municipal são as primeiras a abrir as prisões e franquear-lhes defende a priori; os factos constam das folhas, são publicos e
plena liberdade! patentes.
Para remate de tudo isso o successor ainda que O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Teem sido
temporario do Dr. Martins virá a ser o Praxedes, de cujos contestados e refutados.
precedentes nada ha que esperar senão que venha a fazer O SR. POMPEU: – São contestadas as demissões? O
coro com essa gente e notadamente com os criminosos de Sr. O. Maciel tem-se mostrado na presidencia do Ceará não o
Missão Velha, com os quaes se corresponde na mais perfeita que foi como magistrado...
intente cordiale; e agora é aqui esperado como o Messias, O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
porque sabem de quanto é elle capaz. Conselho): – O que se devia esperar delle; magistrado
Alguns graúdos annunciaram desde já que d’ora em integro e activo.
diante tudo é licito fazer e que elles passarão a armar-se dos O SR. POMPEU: – Nunca contestei a sua
pés á cabeça (textual), porque o que era hontem crime hoje imparcialidade como juiz; até já disse que promovi a sua
será virtude e vice-versa. remoção para Aracaty.
E’ muito apurar a paciencia dos homens pacificos! O SR. JAGUARIBE: – Veja as importantes capturas
E a quem recorrer? Ao governo, que é o primeiro a do terror da Imperatriz.
atirar-nos o cartel do desafio? O SR. POMPEU: – O que tem isto? Pois então o
No extremo é cada um e todos identificados presidente não está obrigado a mandar prender os
garantirem-se como puderem. criminosos?
Não cessaremos entretanto de levar á luz da imprensa Esse criminoso era o maior faccinora, dos mais
o que fôr occorrendo. – O noticiador.» famosos que havia no Ceará; era dever de todo o presidente
Não creio que este facto seja inexacto; em todo caso, procurar captural-o, e todos se tinham empenhado neste
elle é tão grave que merece ser averiguado. sentido, até que se capturou, graças á diligencia do tenente
O SR. JAGUARIBE: – Revela maior paixão a Weine, a quem aliás o presidente já tinha ordenado sua volta
credibilidade. e até ameaçado de conselho.
O SR. POMPEU: – Mas, se o facto for verdadeiro, que O SR. CANSANSÃO DE SINIMBÚ: – Se fizessem o
paixão póde haver nisto? Que interesse podia haver em mesmo nas Alagoas!
levantar a noticia de successo tão grave?
O nobre senador occupou-se depois com a
administração do presidente do Ceará, o Sr. Dr. Oliveira
Maciel a quem teceu elogios. Eu ainda não accusei aqui
directamente a administração do Sr. Maciel, conheço-o desde
muitos
Sessão em 10 de Maio 77

O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente O nobre senador, accusando o honrado juiz de
do Conselho): – Estimaria muito que o actual fizesse. direito do Crato, não teve nada que dizer contra a sua
O SR. POMPEU: – O nobre senador entrou administração da justiça, senão que concedia habeas-
tambem em apreciações a respeito do batalhão n. 14, de corpus; mas S. Ex. não citou mesmo esses habeas-corpus.
que fallei aqui pela desordem e relaxação em que cahiu. O O SR. JAGUARIBE: – Muitos processos, todos
nobre senador defendeu e elogiou o commandante desse adversarios eram que eram funccionarios publicos.
batalhão; felizmente o nobre ministro da guerra já O SR. POMPEU: – E’ preciso saber se esses
convenceu-se do contrario e chamo a sua attenção, não processos ou não fundados, e quantos foram.
para as minhas palavras, mas sim para as informações O SR. JAGUARIBE: – Foram annullados todos pela
officiaes, que teem sido dadas pelo general que alli está relação.
fiscalisando esse batalhão, e para os autos do conselho de O SR. POMPEU: – Citou o nobre senador o facto
guerra do official de quem fallei outro dia. São peças de ter elle sido antes juiz em Ouricury, sendo deposto por
publicas e officiaes; ao menos estas não podem ser motim popular. Eu ignoro este facto; mas, se elle se deu,
suspeitas de paixão e de parcialidade. nada prova contra o juiz; é um crime que o nobre senador
Não pedi ao governo que retirasse o commandante antes stygmatisar.
do batalhão; se julgasse conveniente, o fizesse; corria por O SR. JAGUARIBE: – Stygmatisei; os bons juizes
sua conta. Era meu dever trazer ao conhecimento do não soffrem disto.
senado e chamar a attenção do governo para o estado O SR. POMPEU: – O nobre senador devia saber
anarchico em que se achava aquelle batalhão, as que ainda ha pouco foi nomeado juiz municipal para o
desavenças entre o commandante e seus officiaes e a Crato um bacharel que foi preso e expellido do Ouricury
insubordinação dos soldados; poucos me importava que o por um parente do honrado senador e depois obrigado a
governo retirasse ou não o commandante ou seu batalhão. deixar o termo de Jaicós; e finalmente processado no
O SR. JAGUARIBE: – O commandante é um bom Crato, e que lá foi agora substituir o juiz de direito.
disciplinador ao que me consta. O SR. JAGUARIBE: – Não tenho parentes no
O SR. POMPEU: – V. Ex. leu o libello que Ouricury.
appareceu no Pedro II contra elle? O SR. POMPEU: – O Sr. tenente-coronel Leonel
O SR. JAGUARIBE: – São paixões. não é seu parente por afinidade?
O SR. POMPEU: – Desta maneira responde-se a O SR. JAGUARIBE: – Esse é; mas contesto que
tudo: as mais graves accusações, as informações mesmo tivesse parte nesse negocio, é um homem muito pacifico.
officiaes são paixões? A deportação de oito ou 10 officiaes O SR. POMPEU: – Disse o nobre senador que as
do corpo por intrigas e enredo do commandante são remoções dos juizes não foram um castigo ou uma
paixões! punição do governo contra elles, mas sim um premio,
O nobre senador, fallando da remoção dos porque eram elevados a comarcas de categoria superior.
honrados juizes de direito do Crato e Ipú, lamentou que O SR. JAGUARIBE: – Sem duvida nenhuma.
não houvesse uma pena mais severa para esses dignos O SR. POMPEU: – Sr. presidente, a remoção de
magistrados. um pae de familia, carregado de filhos, como o Dr.
O SR. JAGUARIBE: – Não apoiado. Leocadio, da comarca do Ipú para a do Serro, mais de mil
O SR. POMPEU: – V. Ex. disse que o governo não leguas distante...
tinha outro meio mais facil do que a remoção. O SR. JAGUARIBE: – Tem ajuda de custo.
O SR. JAGUARIBE: – Que deviam ser removidos O SR. POMPEU: – ...importa um verdadeiro
não por accesso; penso que podem ser bons magistrados castigo. E para fazer essas remoções, o governo não
em outra parte; faço-lhes esta justiça. duvida elevar á 3ª entrancia a comarca de Maranguape,
O SR. POMPEU: – Esses honrados magistrados afim de para ella remover um juiz de comarca de 2ª...
foram removidos por intrigas politicas contra elles. O Sr. O SR. JAGUARIBE: – Muito merecidamente.
Dr. Leocadio não interveio de modo algum na eleição do O SR. POMPEU: – ...cujo centro é uma cidade
Ipú; foi accusado pelo nobre senador de ter querido insignificante, ao menos com relação a outras de minha
conciliar alli os partidos, promovendo uma transacção provincia.
pacifica para acabar a luta; o que em vez de ser um crime, O SR. JAGUARIBE: – E’ uma cidade muito
foi uma tentativa louvavel. importante: educação, passadio e estrada de ferro.
Os partidos no Ipú chegaram ao ponto exacerbado O SR. POMPEU: – As comarcas de lcó, Aracaty e
de lutarem com as armas na mão. Sobral, cujos centros são cidades importantes, occupam
O SR. JAGUARIBE: – Sendo a casa do juiz o hoje a categoria de 2ª entrancia. A comarca de
quartel general. Maranguape, cujo centro é uma cidade pequena, poderia,
O SR. POMPEU: – Não ha tal; o honrado juiz de quando muito, occupar categoria igual a dessas; mas a de
direito, commovido com este espectaculo, propoz com 3ª entrancia teve sómente para poder remover-se para lá o
effeito, para acabar a luta, que partissem a eleição, fosse juiz de direito do Serro. Este manejo, este sophisma á lei,
de que modo fosse, comtanto que não houvesse luta de não é digno do governo.
sangue. Ora isto póde ser um crime para o juiz de direito?
Não é um acto digno de louvor, praticado por quem quer
que fosse para evitar uma luta desastrosa?
78 Sessão em 10 de Maio

O SR. JAGUARIBE: – Não apoiado; o governo os sentimentos de meus antigos amigos, estive em
obrou com toda a sinceridade, nem podia deixar de obrar. opposição neste tempo aos ministerios de que foram
UM SR. SENADOR: – Porque as comarcas de chefes o Sr. marquez de Olinda e o Sr. conselheiro
Alcantara e Maranguape hão de ser de 3ª entrancia? Zacarias; isto é exacto; o que prova ainda mais que eu
O SR. POMPEU: – O nobre senador, tratando nunca pude ter dominio absoluto na provincia do Ceará,
tambem da suspensão do coronel Alvares Pequeno, porque em quasi toda a minha vida politica tenho estado
accusou esse honrado cidadão de que fora elle autor da na opposição e V. Ex. sabe que um opposicionista neste
resistencia ou da representação que fizera a camara do paiz é synonimo de proscripto, de reprobo do poder; e a
Crato ao presidente da provincia contra decisão da mesma prova está ainda agora em meu amigo e honrado collega o
presidencia a respeito da eleição daquella freguezia. Sr. Jacintho de Mendonça, que, comquanto seja, como
O SR. JAGUARIBE: – Desobediencia formal ás reconhece o nobre presidente do conselho, uma influencia
ordens. legitima em sua provincia, do partido conservador, e haver
O SR. POMPEU: – Ha dous erros da parte do nobre sempre prestado serviços ao actual governo, todavia elle e
senador: primeiramente em acreditar e propalar que partira sua familia estão soffrendo a perseguição do presidente.
esse acto daquelle digno cidadão, e em segundo logar em Não ha, portanto, no systema actual influencia, e por mais
suppor que a representação, aliás muito respeitosa da titulos que conte, capaz de resistir ao predominio official.
camara do Crato, fosse uma desobediencia. Nem o Sr. O SR. PAES DE MENDONÇA: – Apoiado; isso é
coronel Alvares Pequeno insinuou á camara esta verdade; até me querem tirar o diploma de conservador.
representação, nem a camara, praticando esse acto, O SR. POMPEU: – O nobre senador, explicando
commetteu uma desobediencia; por conseguinte, sua sua eleição em 1866; referiu um facto, que só agora chega
suspensão não podia ser por esse motivo e, se o foi, o ao meu conhecimento, de que as autoridades locaes
governo não foi justo, praticando essa suspensão, tanto inutilisaram os eleitores por processos e prisões.
mais revoltante, quanto esse honrado cidadão é por sua O SR. JAGUARIBE: – Por exemplo, em Arneiroz,
fortuna, por sua familia e sentimentos pacificos uma Ascaré e outros pontos.
garantia de ordem naquella comarca. O SR. POMPEU: – Eu estava na Côrte, não sei
O SR. JAGUARIBE: – Houveram immensos disso; mas admira que, sendo presidente da provincia um
conflictos de que elle foi causador. cavalheiro que S. Ex. apoiou...
O SR. POMPEU: – Quaes foram esses conflictos O SR. JAGUARIBE: – Eu fazia opposição ao
de que nem se quer a imprensa adversa fez menção? governo, mas faço justiça ao caracter do presidente.
Quanto é facil qualquer pretexto, mesmo inventado, para O SR. POMPEU: – ...esse presidente consentisse
punir um liberal e difficil acreditar os factos patentes dos que aquellas autoridades faltassem ao seu dever, não só
governistas! porque era isso um crime, como porque iam prejudicar um
O SR. JAGUARIBE: – Entre as autoridades. candidato governista, como então o honrado senador.
O SR. POMPEU: – O nobre senador, occupando-se O SR. JAGUARIBE: – A' 100 leguas não chega a
ao depois com sua pessoa, de que não tratei... acção de um presidente.
O SR. JAGUARIBE: – Respondendo a um nobre O SR. POMPEU: – A hora está muito adiantada e
collega nosso, que me provocara a isso. eu não quero mais abusar da bondade de V. Ex., Sr.
O SR. POMPEU: – ...explicou seu procedimento presidente, e dos poucos honrados collegas que me
durante um certo periodo de dominação do partido liberal, ouvem; por isso vou concluir minhas observações. Creio
em que S. Ex. esteve com o governo. ter contrariado o libello do honrado senador no que me diz
O SR. JAGUARIBE: – Quando V. Ex. fazia respeito. S. Ex., porém, não occupou-se com o facto do
opposição com esse governo. meu requerimento e era para esse facto que eu chamava a
O SR. POMPEU: – E’ exacto. Respeito as attenção do governo, porque é muito grave. Repetindo,
convicções do nobre senador, nunca lhe fiz disso um portanto, peço para esse attentado ao honrado juiz de
crime, nem é; podia S. Ex. estar com o governo como direito de Ipú a attenção do nobre presidente do conselho,
entendesse, e o póde fazer em todo o tempo; mas noto que se acha presente.
que o honrado senador quizesse explicar esse facto de O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
maneira a contestar que tivesse feito alliança com o do Conselho): – Explicarei em dia posterior o
governo só por minha causa... procedimento do juiz de direito.
O SR. JAGUARIBE: – Se o apoiei... Dei os motivos O SR. POMPEU: – Peço a S. Ex. nos informe do
especiaes em que me achei, sendo V. Ex. e a perseguição attentado praticado no Ipú contra o juiz de direito daquella
de seus amigos a principal causa. comarca pelo commandante militar, quaes as providencias
O SR. POMPEU: – E’ certo que durante este tomadas pelo seu delegado na provincia.
periodo estive em opposição ao governo (o que era uma E’ este o objecto do meu requerimento: que
prova de que nessa posição não podia perseguir a seus providencia dera a presidencia do Ceará a respeito desse
amigos), porque V. Ex. ha de lembrar-se de que, desde facto, e tambem se havia alguma ordem do governo da
que appareceu aqui a infeliz scisão entre o partido historico provincia ou do ministerio tendente a coarctar ou inutilisar
e o partido progressista do poder, o partido historico o recurso de habeas-corpus. A este respeito com a
passou á opposição e eu por lealdade a esses antigos discussão passada da lei de forças de terra já fiquei
amigos os acompanhei. Não quero recordar essa época de informado de que fora o
erro para ambas as partes, que deploro; porém é certo
que, compartilhando
Sessão em 12 de Maio 79

nobre senador o autor de um aviso reservado explicando, barão de Camargos, F. Octaviano, Chichorro, Jobim, visconde
segundo S. Ex. entende, o decreto do 1º de Maio de 1858 a de Muritiba, barão do Rio Grande, barão da Laguna, Uchôa
respeito do praso concedido aos recrutados para allegarem Cavalcante, Barros Barreto, Firmino, Teixeira Junior, marquez
isenção. Continuo a pensar e a dizer que o aviso do honrado de Sapucahy, Zacarias, barão de Maroim, Silveira Lobo,
senador é attentatorio da independencia dos magistrados e visconde de Camaragibe, Pompeu, Cunha Figueiredo,
das garantias individuaes dos cidadãos, que soffrem a visconde Inhomirim, Candido Mendes, Sinimbú, visconde do
pressão do recrutamento. Todavia, como esse aviso tem de Rio Branco, Leitão da Cunha, Paes de Mendonça, Vieira da
ser apresentado ao senado em virtude do requerimento que Silva e Junqueira.
fez o honrado senador pela Bahia, eu aguardo a leitura dessa Deixaram de comparecer com causa participada os
peça para julgar se com effeito foi simplesmente explicativo da Srs. Nunes Gonçalves, Fernandes Braga, barão de Cotegipe,
disposição do decreto do 1º de Maio de 1858, ou se foi barão de Pirapama, conde de Baependy, Silveira Lobo, duque
restrictivo, como se tem entendido no Ceará. Leal sempre no de Caxias, Paula Pessoa, Paranaguá, Silveira da Motta,
meu modo de proceder e de argumentar, deixo de fazer desde Antão, marquez de S. Vicente, visconde de Caravellas,
agora uma accusação ao honrado ex-ministro a este respeito, Fernandes da Cunha, Saraiva, Nabuco, visconde de
porque isto depende da presença desse aviso, cuja copia tem Nitherohy.
de vir ao senado. Por ora suspendo o meu juizo; o que posso, Deixaram de comparecer sem causa participada os
porém, affiançar ao honrado senador é que, qualquer que Srs. barão do Antonina, Souza Queiroz e visconde de
fosse a sua intenção a esse respeito, no centro da minha Suassuna.
provincia se tem entendido pelos commandantes militares que O Sr. presidente abriu a sessão.
esse aviso tinha por fim acabar com o recurso do habeas- Leu-se a acta da sessão antecedente, e, não havendo
corpus. quem sobre ella fizesse observação foi approvada.
O SR. JAGUARIBE: – Não apoiado; não é possivel. O Sr. 1º Secretario leu o seguinte
O SR. POMPEU: – Não foi essa a intenção de S. Ex.,
como diz e quero acreditar, porém affirmo que no centro do EXPEDIENTE.
Ceará se tem entendido de outra maneira diversa do que
assegura S. Ex. Officio, datado de hoje, do Sr. conde de Baependy
São estas, Sr. presidente, as considerações que eu participando que por incommodo na sua saude não
tinha de trazer ao conhecimento do senado, esperando que compareceu na sessão de sabbado e nem pôde fazel-o hoje,
algum dos honrados ministros tenha a bondade, e então não mas sim logo que restabelecer-se – Ficou o senado inteirado.
será preciso que passe este requerimento e vá á secretaria, Officio de 9 do corrente mez, do ministerio da guerra
de explicar o facto, que nelle menciono. remettendo o autographo sanccionado da resolução da
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do assembléa geral que autorisa o governo para mandar admittir
Conselho): – Hei de responder ao nobre senador. á matricula do 1º anno da escola central o estudante Elpidio
O SR. POMPEU: – E eu aguardo as explicações de V. da Gama Bentes. – Ao archivo o autographo, communicando-
Ex. se á outra camara.
Ficou adiada a discussão pela hora. Dezesete officios da mesma data, do 1º secretario da
O Sr. Presidente deu a ordem do dia para 12: camara dos Srs. deputados, remettendo as seguintes
3ª discussão da proposição da camara dos Srs. proposições:
deputados, com o parecer da mesa n. 517 sobre pensões. A assembléa geral resolve:
1ª discussão do projecto do senado contendo diversas Art. 1º São concedidas oito loterias em beneficio das
disposições acerca dos officios de tabelliães de notas. obras das matrizes das tres parochias da cidade de Caxias da
Se houver tempo, trabalhos de commissões. provincia do Maranhão.
Levantou-se a sessão ás 4 horas e 20 minutos da Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
tarde. Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
7ª SESSÃO EM 12 DE MAIO DE 1873. Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. –
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. A assembléa geral resolve:
«Art. 1º Ficam concedidas quatro loterias, sendo uma
Summario. – Expediente. – Parecer da commissão de para cada um dos hospitaes de caridade das cidades de
constituição. – Ordem do Dia. – Pensões. – Officios de Maceió e Penedo na provincia das Alagoas.»
tabelliães de notas. – Observações e requerimento do Sr. F. Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Octaviano. – Discursos dos Srs. Figueira de Mello, visconde Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de
de Jaguary e F. Octaviano. 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. –
Ao meio-dia fez-se a chamada, e acharam-se Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario.
presentes 37 Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté, A assembléa geral resolve:
Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de Art. 1º Ficam concedidas quatro loterias, sendo duas
Carvalho, Figueira de Mello, visconde de Jaguary, visconde de para as obras da matriz da parochia de Sant'Anna e duas em
Souza Franco, Mendes dos Santos, Ribeiro da Luz, Jaguaribe, beneficio das da nova capella do arraial da parochia da
Imperatriz, na provincia do Ceará.
80 Sessão em 12 de Maio

Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. Paço da camara dos deputados em 9 de Maio de
Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino.
Martinho de Vieira de Mello, 1º secretario interino. – Carlos Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
Peixoto de Mello, 2º secretario interino. A assembléa geral resolve:
A assembléa geral resolve: Art. 1º São concedidas seis loterias em beneficio das
Art. 1º São concedidas quatro loterias em beneficio obras da Igreja de Nossa Senhora da Penha, que se está
das obras da igreja de Nossa Senhora das Necessidades da edificando na cidade de Recife, provincia de Pernambuco.
Casa Forte, parochia do Poço da Panella, na provincia de Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Pernambuco. Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario. – Carlos
1873. – lnnocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. – A' commissão de fazenda.
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino. A assembléa geral resolve:
A assembléa geral resolve: Art. 1º E’ autorisado o governo para conceder ao
Art. 1º São concedidas duas loterias em beneficio das bacharel Francisco José de Souza Lopes, juiz de direito da
obras da igreja matriz da parochia de Nossa Senhora das comarca de Macapá, na provincia do Pará, um anno de
Dores da cidade de Therezina na provincia do Piauhy. licença, com ordenado, para tratar de sua saude onde lhe
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. convier.
Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
1873 – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino. Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. –
A assembléa resolve: Luiz Eugenio Horta Barbosa, 2º secretario interino.
Art. 1º São concedidas tres loterias em beneficio do A' commissão de pensões e ordenados.
hospital de misericordia da cidade de Larangeiras, na A assembléa geral resolve:
provincia de Sergipe. Art. 1º São concedidas seis loterias em beneficio do
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. hospital da Santa Casa de Misericordia de Maceió, e igual
Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de estabelecimento da cidade do Penedo e das obras da igreja
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – matriz da parochia de nossa Senhora do Pilar, na provincia
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. das Alagôas.
Carlos Peixoto de Mello 2º secretario interino. Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
A assembléa geral resolve: Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de
Art. 1º São concedidas duas loterias em beneficio das 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente.
obras da igreja de S. Sebastião, que se está edificando na Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. –
cidade de Santarem provincia do Pará. Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. A assembléa geral resolve:
Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de Art. 1º São concedidas duas loterias em beneficio das
1873. – lnnocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – obras da igreja matriz da parochia de Villa Nova na provincia
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. – de Sergipe.
Carlos Peixoto de Mello 2º secretario interino. Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
A assembléa geral resolve: Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de
Art. 1º São concedidas quatro loterias a saber: duas 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
para as obras da igreja matriz da parochia da villa da Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario. – Carlos
Parahyba do Sul, na provincia do Rio de Janeiro e duas em Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
beneficio das obras da igreja matriz da parochia de Santo A assembléa geral resolve:
Antonio do Aventureiro, municipio do Mar de Hespanha, na Art. 1º São concedidas tres loterias em beneficio de
provincia de Minas-Geraes. lyceu de artes e officio da provincia da Bahia.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino – Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. –
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino. Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
A assembléa geral resolve: A assembléa geral resolve:
Art. 1º São concedidas seis loterias em beneficio das Art. 1º E’ concedida uma loteria em beneficio das obras
obras da igreja de Nossa Senhora da Penha, que se está da igreja matriz da parochia dos Serranos na provincia de
edificando na cidade do Recife, provincia de Pernambuco. Minas Geraes.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Sessão em 12 de Maio 81

Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. dos lavradores e outros cidadãos do municipio de Cantagallo
Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de em favor da reforma eleitoral segundo o systema directo.
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – O Sr. Presidente declarou que a representação ia ser
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. – remettida á commissão de constituição.
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino. Em seguida o Sr. presidente disse que ia officiar-se ao
A assembléa geral resolve: governo pelo ministerio do Imperio afim de saber-se o dia,
Art. 1º São concedidas duas loterias em beneficio das hora e logar em que Sua Magestade o Imperador se dignará
obras da igreja matriz da parochia da cidade do Juiz de Fóra receber uma deputação do senado, que tem de apresentar ao
na provincia de Minas Geraes. mesmo augusto senhor o decreto da assembléa geral que fixa
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. as forças de terra para o anno financeiro de 1873 – 1874.
Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de Foram sorteados para a dita deputação os Srs. duque
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. de Caxias, Leitão da Cunha, visconde de Muritiba, visconde
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario. – Carlos de Inhomirim, marquez de Sapucahy, visconde do Bom Retiro
Peixoto de Mello, 2º secretario. e Diniz.
A assembléa geral resolve:
Art. 1º São concedidas duas loterias em beneficio das ORDEM DO DIA.
obras da igreja matriz da parochia da cidade de Bom Fim, na
provincia de Minas Geraes. PENSÕES.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Paço da camara dos deputados, em 9 de Maio de Entrou em 3ª discussão e foi approvada tal qual
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – passou em 2ª, a proposição da camara dos Srs. deputados
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. – mencionada no parecer da mesa n. 517 sobre pensões.
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario. Foi a proposição com as emendas remettida á
A assembléa geral resolve: commissão de redacção.
Art. 1º Em beneficio de cada uma das igrejas matrizes
das parochias de S. João de El-Rei, Araxá, Formiga e Piumhy, OFFICIOS DE TABELLIÃES DE NOTAS
na provincia de Minas Geraes; é concedida uma loteria.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. Seguiu-se em 1ª discussão do projecto do senado
Paço da camara dos deputados, em 29 de Abril de contendo diversas disposições acerca dos officios de
1873. Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr. tabelliães de notas.
Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e O Sr. F. Octaviano considerando que o assumpto do
Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de projecto é da maior importancia pois entende com muitos
Mello. 2º secretario. actos da vida civil, julga que seria util o exame dos
A’ commissão de fazenda. conselheiros especiaes do senado como neste caso são os
O Sr. 2º Secretario leu o seguinte membros da commissão de legislação, afim de se iniciar o
debate com mais regularidade. Por isso pede licença ao Sr.
PARECER DA COMMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO senador signatario do projecto para formular um requerimento
nesse sentido.
Licença ao Sr. senador Saraiva. Foi lido, apoiado e posto em discussão o seguinte

O Sr. senador José Antonio Saraiva, em carta de 8 do REQUERIMENTO.


corrente dirigida ao Sr. 1º secretario, pede ao senado que o
dispense de comparecer por alguns dias ás suas sessões Requeiro que se ouça sobre o projecto a commissão
porque tem necessidade de ir á provincia da Bahia por motivo de legislação. – F. Octaviano.
de molestia de pessoa de sua familia. O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Quando apresentei o
O senado mandou remetter á commissão de projecto, que se acha em discussão, estava convencido de
constituição essa carta para sobre ella interpor parecer, e a sua immensa utilidade para a regularisação do tabellionato em
commissão attendendo á causa que obriga o Sr. Saraiva a nosso paiz. Pareceu-me que nesse projecto estavam
privar-nos de sua valiosa cooperação por uma ausencia que, contempladas disposições tão vantajosas e uteis que não
segundo a expressão da carta, não será longa, é de parecer poderiam escapar á intelligencia e penetração de todos os
que se conceda a dispensa pedida na fórma dos precedentes Srs. senadores cuja maior parte são magistrados,
da casa. jurisconsultos, advogados e sabem por experiencia propria
Paço do senado em 9 de Maio de 1873. – Marquez de que é necessario apresentar novas medidas sobre esta
Sapucahy. – Cunha Figueiredo. materia. Esta minha opinião sobre a utilidade do projecto e
Ficou sobre a mesa para entrar na ordem dos sua opportunidade mesmo na occasião presente robusteceu-
trabalhos. se depois que alguns Srs. senadores, a quem presto toda a
O Sr. Presidente disse que ia ler-se o autographo do consideração se dignaram de declarar-me que o projecto
decreto que fixa as forças de terra para o anno financeiro de continha medidas importantes e uteis. Ora, o alcance destas
1873 – 1874. medidas póde ser conhecido logo á primeira vista, e portanto,
O Sr. F. Octaviano mandou á mesa uma se os Srs. senadores tem lido o projecto e entendem dever-se
representação oppôr ás suas conclusões, nada mais
82 Sessão em 12 de Maio

teem a fazer de que apresentar as suas impugnações. Porêm toma sempre pelas cousas publicas, deve tambem ter no
requerer-se, que um projecto tão simples como este seja fundo do seu coração algum sentimento ou ressentimento de
desde logo remettido á commissão de legislação, me parece que a commissão de legislação não tenha dado um parecer
que não é senão um meio de addiar esta discussão. que logo no principio da sessão anterior devia ter dado sobre
Ora, que trabalhos temos nós a fazer presentemente? um projecto de aposentadoria aos magistrados do supremo
nenhuns; porque a proposta ou proposição do orçamento da tribunal de justiça que o nobre senador apresentou, sem
receita e despesa do Imperio para os annos financeiros de duvida nenhuma levado por motivos de interesse publico.
1872 – 1873 e 1873 – 1874, que ha pouco veio da camara dos Pela minha parte tambem tenho as minhas queixas da
deputados, não póde, na fórma do regimento, ser dada para a commissão de legislação, e parece-me que nisto bem devo
ordem do dia senão depois que a commissão do orçamento ser acompanhado pelo nobre Sr. visconde de S. Vicente,
tiver formulado o seu parecer a respeito. porque ambos apresenta-nos projectos sobre aposentadoria
Temos uma outra proposição para discutir, e é a que de magistrados, os quaes regulando esta materia mais ou
diz respeito ao novo modo de recrutamento para o exercito, menos extensamente attendiam a sorte dos magistrados, a
medida urgentemente reclamada, e cuja elaboração data das suas familias, e até aos interesses do thesouro; e
desde 1868. Mas este projecto tambem não póde ser dado entretanto os Srs. membros da commissão de legislação
para ordem do dia, porque é necessario fazer-se a impressão nunca se dignaram de dar o seu parecer sobre este projecto,
das emendas que as commissões de marinha e guerra, e de nunca, nunca. E, senhores, é tanto mais de sentir um
legislação reunidas offereceram, de modo a que o senado semelhante procedimento quanto eu, autor desse projecto,
tenha melhor conhecimento das innovações que ellas fizeram magistrado, e interessado portanto como tal em que as
ao projecto vindo da camara dos deputados. aposentadorias dos magistrados não dependessem
O que é portanto que havemos de fazer? em que simplesmente do arbitrio do governo, mas tambem de normas
empregaremos o nosso tempo até virem para a discussão legaes, de normas preestabelecidas na legislação, não, poude
essas proposições? Parece-me pois que em falta de assumpto ser ouvido e attendido pelos Srs. membros da commissão de
mais importante, mais urgente, ou indispensavel poderiamos legislação para que dessem seu parecer, apezar de com elles
aproveital-o, tratando do projecto em discussão, cuja utilidade instar por veses. Por consequencia se este projecto,
não escapa a penetração, ao saber, e a experiencia, de todos regulando uma materia tão simples, e cujas disposições são
os Srs. senadores. tão faceis de comprehender, preciza ir á commissão de
Porque pois havemos de mandal-o á commissão de legislação, então, perdoê-me o nobre senador que diga, o seu
legislação? O que me parece que o nobre senador somente requerimento terá como resultado, infallivel sem duvida contra
conseguirá com adiamento por elle proposto é matar o suas intenções, o matar o projecto, sepultal-o nas pastas da
projecto, porque se o adiamento por mais de seis mezes na commissão, e a consequencia será não fazermos nada
Inglaterra equivale ao adiamento indefinido, o adiamento entre amanhã, nem depois, e isto até que venha á discussão o
nós da discussão de um projecto para o fim de se ouvir a uma projecto de orçamento; porque certamente, em quanto essa
commissão da casa, tem por infallivel resultado matar esse discussão; não se der, não vale a pena vir aqui todos os dias
projecto. Com effeito se os nobres senadores lerem o elenco votar pensões, conceder dispensa de exames a estudantes;
de todos os projectos que foram apresentados na casa e teem ou licenças a empregados publicos para se curarem na
sido remettidos para diversas commissões, hão de reconhecer Europa ou finalmente approvar aposentadorias de outros.
que o que digo é uma pura verdade e que as respectivas Comparecer aqui sómente para isto não me parece de
commissões, nunca, ou somente com muitas dificuldades e grande vantagem, e portanto melhor é que eu fique em casa
instancias se abalançarão a dar seu parecer a respeito desses estudando ou descançando, como fazem alguns Srs.
projectos. senadores que não comparecem dias e dias.
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – O remedio está no O SR. F. OCTAVIANO: – Está de máu humor hoje?
regimento. O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Já que toco nesta
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – E’ verdade; o especie julgo dever abranger a todos os Srs. senadores que
regimento, se não me engano, determina que todas as vezes deixam de comparecer assiduamente ao senado
que uma commissão não der seu parecer a respeito de (reclamações).
qualquer proposição dentro de quinze dias, seja requerida a O SR. F. OCTAVIANNO: – Tem havido sessão
sua discussão. Porem, Srs.. qual é a razão, porque nem os sempre.
autores desses projectos, nem quaesquer outros senadores O SR. FIGUEIRA MELLO: – Entretanto se a nobre
que tenham nelles interesses, não tem pedido que os commissão de legislação prometter dar, dentro de poucos
membros das commissões a que elles estão affectos dias, o seu parecer a respeito do projecto em discussão, eu...
aprezentem seu parecer? O SR. F. OCTAVIANO: – Sujeita-se.
E’ porque um tal pedido encerra implicitamente uma O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – ...immediatamente
censura a desidia ou a incuria desses nossos collegas, e nós annuirei ao requerimento do meu nobre collega. Mas se não
que vivemos em uma corporação da importancia do senado prometter fazel-o, então releve o senado que eu lhe peça que
não podemos estar a fazer requerimentos ao senado para que rejeite o requerimento do nobre senador.
os projectos entrem em discussão independentemente de Se o meu projecto for rejeitado, nada tenho com isso,
parecer, sendo os membros das commissões nossos collegas, porque apenas tenho em vista o interesse publico. Formulei as
e amigos, e importando esses requerimentos o mesmo que idéas que entendi dever apresentar como magistrado, e como
dizer: «Vós não cumpris o vosso dever.» senador: como magistrado, em relação attendendo ao
Julgo mesmo que o nobre senador, que tanto interesse
Sessão em 12 de Maio 83

reclamo de necessidades publicas. Se a nobre commissão O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Perdoe-me não
de legislação, composta hoje dos Srs. conselheiros tem esse direito.
Zacarias, visconde de Jaguary e... me promette dar o seu O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Tambem não
parecer brevemente, eu, que não tenho outro interesse tem obrigação de pensar como o autor do projecto e como
além do bem da classe, á que tenho a honra de pertencer, elle achar tão boa a sua obra...
não me opporei a que passe o requerimento. Talvez que O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Diga-o claramente.
esses illustres senadores apresentem idéas novas, que O SR. PRESIDENTE: – Attenção.
tornem o projecto mais completo e muito o estimarei. Mas O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Use o autor do
quanto ao que se contém já no projecto, creio que a projecto do direito que lhe faculta o regimento de requerer
modificação será muito pequena. a discussão independente do parecer da commissão, nem
Eu quiz apresentar no meu projecto a idéa de que o podem embaraçar considerações de delicadeza de que
os tabelliães não tivessem nunca menos de 25 annos, fallou o nobre senador, que entretanto não duvidou
como maior garantia para o logar; mas deixei isto para a accusar a commissão de legislação de uma maneira pouco
discussão do projecto, e como este muitos outros conveniente.
melhoramentos. O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Depois de muita
Dada esta promessa, anuirei ao requerimento do demora.
nobre senador; no caso contrario, pedirei ao senado que O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – O nobre
rejeite o requerimento de adiamento. senador disse que era matar o projecto mandal-o para esta
O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Sr. presidente, commissão; semelhantes expressões não podem ser
tem razão o nobre senador pelo Ceará em oppor-se ao agradaveis.
requerimento do nobre senador pelo Rio de Janeiro para O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Mas são
ser ouvida a commissão de legislação sobre o seu merecidas.
projecto, porque o nobre senador o acha obra tão perfeita, O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Não são
que não precisa de exame para ser approvado... merecidas; já expliquei o motivo porque a commissão de
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Não, senhor; está legislação demorou-se em dar parecer sobre o projecto do
enganado. nobre senador a respeito de aposentadorias dos
O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – ...Não magistrados, montepio, e não sei mais o que. Pela minha
pretendo contrarial-o... parte accrescentarei que não me esforcei para que se
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Aqui é que se désse apressadamente esse parecer, além da razão
discute. exposta, porque não dou a esse projecto a mesma
O SR. PRESIDENTE: – Attenção! importancia que lhe dá o nobre senador.
O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – ...tomei a O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Perdoe-me, não é
palavra unicamente para explicar o procedimento da juiz. (O Sr. presidente tange a campa).
commissão de legislação, a que tenho a honra de O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Na commissão
pertencer accusada pelo nobre senador de modo tão sou juiz. Posso até dizer por escripto que não julgo no
desabrido. caso de ser considerado pelo senado este projecto.
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Bem merecido. O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Declare-o; tenha
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Tendo o remedio no coragem.
regimento... (ao Sr. Figueira de Mello). Porque não usa do O SR. PRESIDENTE: – Attenção!
remedio do regimento? O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Se o senado
O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – A commissão resolver ouvir a commissão de legislação a respeito do
de legislação demorou o seu parecer sobre o projecto do projecto que se discute ella o exonerará para dar seu
nobre senador pelo Ceará, porque discutia-se na camara parecer opportunamente, e se findarem-se os quinze dias
dos deputados materia analoga, que a seu tempo teria sem o ter feito, o nobre senador requeira sua discussão.
tambem de ser examinada pela mesma commissão nesta O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Muito bem!
casa, e julgou conveniente reserval-o para essa occasião. O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Pela minha
O SR. POMPEU: – Muito bem. parte não me comprometto a dar parecer dentro de quinze
O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Dada esta dias.
explicação, peço licença a V. Ex., Sr. presidente, para uma O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Os outros talvez o
vez por todas declarar o que penso a este respeito. farão.
Entendo que nenhum senador, autor do projecto, tem o O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – E procedendo
direito de queixar-se da commissão pela demora de seu assim não se leve a mal o entender que a adopção do
parecer, desde que ha no regimento a providencia de projecto não é de uma necessidade tão palpitante como
requerer a discussão, passados quinze dias (apoiados). julga seu nobre autor.
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Cada um de nós O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Não é juiz da
deve cumprir o seu dever. vantagem do projecto dos outros.
O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – E usando della O SR. LEITÃO DA CUNHA: – A commissão é juiz.
não offende a commissão nem a desaira, até porque a O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Não é, não,
demora pode provir de não dar a commissão a tal projecto senhor; ha de dar parecer.
a mesma importancia que lhe attribue o seu autor.
84 Sessão em 12 de Maio

O SR. PRESIDENTE: – Attenção! Deixaram de comparecer sem causa participada os


O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Já dei a razão Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de
porque se demorou a commissão em dar um parecer sobre o Suassuna.
projecto de aposentadoria de magistrado offerecido pelo nobre O Sr. presidente abriu a sessão.
senador pelo Ceará e foi somente para isso que pedi a Leu-se a acta da sessão antecedente e não havendo
palavra. quem sobre ella fizesse observações foi approvada.
O Sr. F. Octaviano faz algumas observações O Sr. 1º Secretario leu o seguinte
reconhecendo a utilidade do projecto e reiterando o seu
pedido para que fosse ouvida a commissão. EXPEDIENTE.
Findo o debate, posto a votos o requerimento foi
approvado. Officio do ministerio do Imperio, de 12 do corrente,
Esgotada a materia da ordem do dia, o Sr. presidente, remettendo autographos sanccionados de resoluções da
deu a seguinte para 13: assembléa geral relativas aos estudantes Joaquim Ottoni de
Discussão do parecer da commissão de constituição Araujo Maia e outros.
concedendo a licença pedida pelo Sr. senador Saraiva. Ao archivo os autographos, communicando-se á outra
1ª discussão do projecto do senado relativo ao camara.
estudante Bemjamim da Gama de Souza Franco com o Outro do mesmo ministerio, datado de 8, participando,
parecer da commissão de marinha e guerra. em resposta ao officio do senado de 6 do corrente, que Sua
2ª dita do projecto do senado autorisando a matricula e Magestade o Imperador fica inteirada das pessoas que
exame dos estudantes que tiverem deixado de o fazer em compoem a mesa da camara dos Srs. senadores durante a
tempo. actual sessão.
2ª dita das proposições da camara dos Srs. deputados Ao archivo.
relativas aos estudantes João Pinto de Figueiredo Mendes Oito officios, datados de 12 do corrente, do 1º
Antas, José Maria Velho da Silva Junior, com os pareceres secretario da camara dos Srs. deputados, remettendo as
das commissões de marinha e guerra e de instrucção publica. seguintes proposições:
Havendo tempo, trabalhos de commissões. A assembléa geral resolve:
Levantou-se a sessão á 1 hora e 20 minutos da tarde. Art. 1º São concedidas as seguintes loterias:
Duas para o collegio de meninas orphãs desvalidas da
8ª SESSÃO EM 13 DE MAIO DE 1873. cidade de Diamantina.
Uma em beneficio de cada um dos hospitaes das
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. cidades da Itabira e Arassuahy, e tambem uma em beneficio
de cada uma das igrejas matrizes de Arassuahy, Itinga, Rio
Summario. – Expediente – Parecer da commissão de Pardo e Sete Lagôas, na provincia de Minas Geraes.
constituição. – Parecer da commissão de instrucção publica. – Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Ordem do Dia. – Licença ao Sr. Silveira da Motta. – Matricula Paço da camara dos deputados, em 12 de Maio de
de estudantes. 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. –
Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
presentes 34 Srs. senadores a saber: visconde de Abaeté, A’ commissão de fazenda.
Almeida e Alburquerque, barão de Mamanguape, Dias de A assembléa geral resolve:
Carvalho, Figueira de Mello, barão de Camargos, Jobim, Art. 1º E’ autorisado o governo para mandar admittir á
barão de Maroim, Mendes dos Santos, Chichorro, duque de matricula do 1º anno da escola de marinha o estudante
Caxias, barão da Laguna, Candido Mendes, marquez de Lindolpho Malveiro da Motta, independentemente do exame
Sapucahy, visconde de Inhomirim, Firmino, visconde de Souza de inglez, que deverá prestar antes do acto das materias do
Franco, visconde de Muritiba, F. Octaviano, Teixeira Junior, mesmo anno.
visconde do Bom Retiro, visconde de Jaguary, barão do Rio Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Grande, Antão, visconde de Camaragibe, Cunha Figueiredo, Paço da camara dos deputados, em 12 de Maio de
Ribeiro da Luz, Leitão da Cunha, Nunes Gonçalves, Saraiva, 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
visconde do Rio Branco, Pompeu, Sinimbú e Zacarias. Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. –
Deixaram de comparecer com causa participada os Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
Srs. Uchôa Cavalcanti, Diniz, Fernandes Braga, Paula A’ commissão de marinha e guerra.
Pessoa, barão de Pirapama, barão de Cotegipe, conde de A assembléa geral resolve:
Baependy, Jaguaribe, Silveira Lobo, Barros Barreto, Vieira da Art. 1º E’ autorisado o governo para mandar admittir á
Silva, Paes de Mendonça, Junqueira, Paranaguá, Silveira da matricula do 1º anno medico da faculdade do Rio de Janeiro o
Motta, Fernandes da Cunha, marquez de S. Vicente, Nabuco, estudante Cornelio Augusto Figueira, independentemente do
visconde de Caravellas e visconde de Nitherohy. exame de geometria, que deverá prestar antes do acto das
materias do mesmo anno.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Paço da camara dos deputados, em 12 de Maio de
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario
Sessão em 13 de Maio 85

interino. – Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino. Officio do presidente da provincia do Rio de Janeiro,
A’ commissão de instrucção publica. de 5 do corrente, remettendo um exemplar do relatorio
A assembléa geral resolve: apresentado á assembléa provincial no dia 2 de Maio.
Art. 1º Ao 1º tenente da armada Antonio Calmon da Ao archivo.
Pin e Almeida será contado com tempo de serviço aquelle em O Sr. 2º Secretario leu o seguinte
que estudou na Europa e á sua custa construcção naval e
hydraulica. PARECER DA COMMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Paço da camara dos deputados, em 12 de Maio de Licença ao Sr. Silveira da Motta.
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. – O Sr. senador José Ignacio Silveira da Motta dirigiu da
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino. provincia do S. Paulo ao Sr. 1º secretario, com data de 5 do
A’ commissão de marinha e guerra. corrente, uma carta em que expõe que «tendo-se prolongado
A assembléa geral resolve: a sua convalescença não pôde comparecer á sessão passada
Art. 1º E’ autorisado o governo para conceder um anno desde 9 de Fevereiro, e pelo mesmo motivo, que justificou a
de licença com ordenado ao fiel de armazem da alfandega de sua ausencia para aquella provincia e pelo qual lhe concedeu
Pernambuco, Tito da Silva Guimarães, para tratar de sua o senado dispensa de comparecimento, não comparecerá já
saude onde lhe convier. na presente sessão, mas espera fazel-o no mez corrente.»
Paço da camara dos deputados, em 12 de Maio de Esta carta foi, por ordem do senado, remettida á
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – commissão de constituição para dar parecer; e ella
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. – observando que infelizmente dura ainda, e poderá durar este
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino. mez, a causa que mereceu do senado a dispensa de
A assembléa geral resolve: comparecimento do illustrado senador, é de parecer que a
Art. 1º E’ autorisado o governo para conceder ao dispensa se prorogue por esse tempo na fórma dos
bacharel José Rodrigues do Passo Junior, juiz municipal e de precedentes da casa.
orphãos do termo de Flores, da provincia de Pernambuco, um Paço do senado em 13 de Maio de 1873. – Marquez
anno de licença com ordenado, para tratar de sua saude onde de Sapucahy. – Cunha Figueiredo.
lhe convier. Ficou sobre a mesa para entrar na ordem dos
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. trabalhos.
Paço da camara dos deputados, em 12 de Maio de Foi igualmente lido, posto em discussão e approvado,
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – o seguinte
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. –
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario de interino. PARECER DA COMMISSÃO DE INSTRUCÇÃO PUBLICA.
A assembléa geral resolve:
Art. 1º E’ autorisado o governo para conceder ao 2º Pretenção dos lentes da faculdade de direito do Recife.
conferente da alfandega no Pará, Joaquim Marcellino Rosa,
um anno de licença, com seus vencimentos, para tratar de sua A commissão de instrucção publica achou em suas
saude onde lhe convier. pastas uma representação, que lhe foi submettida em 11 de
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. Maio de 1871, em que os lentes da faculdade de direito do
Paço da camara dos deputados, em 12 de Maio de Recife pedem augmento de vencimentos.
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Tendo sido attendida esta pretenção por acto
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. – ultimamente promulgado, nada mais ha que resolver sobre a
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino. referida representação e a commissão é de parecer que seja
A assembléa geral resolve: archivada.
Art. 1º E’ autorisado o governo para conceder ao Sala das commissões, em 30 de Abril de 1873. – F.
bacharel Carlos Augusto Autran da Matta Albuquerque, juiz Octaviano. – Jobim.
substituto da capital da provincia da Bahia, um anno de
licença, com ordenado, para tratar de sua saude na Europa. ORDEM DO DIA.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Paço da camara dos deputados, em 12 de Maio de LICENÇA AO SR. SARAIVA.
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. – Entrou em 1ª discussão e passou para a 2ª o parecer
Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino. da commissão de constituição concedendo a licença pedida
A’ commissão de pensões e ordenados. pelo Sr. senador Saraiva.
Tres ditos do mesmo secretario, de igual data, A requerimento verbal do Sr. 1º secretario foi
participando que a mesma camara adoptara as emendas do dispensado o intersticio para a 2ª discussão.
senado e ia dirigir á sancção as proposições relativas aos
estudantes Joaquim Alves Pinto Guedes Junior e Diogo MATRICULA DE ESTUDANTES.
Ferreira de Almeida e outros, e que concede isenção de
direitos á companhia estrada de ferro Macahé e Campos. Seguiu-se em 1ª discussão e passou para a 2ª o
Ficou o senado inteirado. projecto do senado concedendo dispensa ao estudante
Benjamim da Gama de Souza Franco.
O Sr. 1º Secretario requereu verbalmente a dispensa
do intersticio e o senado consentiu.
Seguiu-se em 2ª discussão o projecto do senado C de
1873, autorisando a matricula e exame dos estudantes que
tiverem deixado de o fazer em tempo.
O Sr. Visconde de Jaguary mandou á mesa o seguinte
86 Sessão em 14 de Maio

Requerimento de Adiamento. Floriano de Godoy, ia proceder-se ao sorteio da deputação


que o devia receber.
Requeiro que seja ouvida a commissão de instrucção Foram em seguida sorteados os Srs. senadores barão
publica. – 13 de Maio 1873. – Visconde de Jaguary. de Maroim, Pompeu e Candido Mendes, e sendo o Sr.
Foi lido, apoiado, posto em discussão e approvado. senador introduzido no salão com as formalidades do estylo,
Entraram em 2ª discussão, a qual ficou encerrada por prestou juramento e tomou assento.
falta de quorum para votar-se, as proposições da camara dos O Sr. 1º Secretario deu conta do seguinte
Srs, deputados concedendo dispensa aos estudantes:
1º João Pinto de Figueiredo Mendes Antas Junior. EXPEDIENTE.
2º José Maria Velho da Silva Junior.
Esgotada a materia da ordem do dia, o Sr. presidente Officio do ministerio do Imperio, de 10 do corrente
deu a seguinte para 14: mez, remettendo copias authenticas das actas das eleições de
Votação sobre as proposições cuja discussão ficou eleitores especiaes das freguezias de Macahubas e Brotas do
encerrada. 5º districto da Bahia. – A’ commissão de constituição.
2ª discussão do parecer da commissão de constituição Dous officios do 1º secretario da camara dos Srs.
concedendo a licença pedida pelo Sr. senador Saraiva. deputados, de 13 do corrente, remettendo as seguintes
1ª dita do parecer da mesma commissão relativo á proposições:
prorogação de licença ao Sr. senador Silveira da Motta. A assembléa geral resolve.
2ª dita do projecto do senado relativo ao estudante Artigo 1º E’ autorisado o governo para conceder á
Benjamim da Gama de Souza Franco. junta directora da associação commercial da cidade da Bahia,
2ª discussão da proposição da camara dos Sr. isenção de direitos das diversas peças e material, importado
deputados, relativa aos estudantes Francisco Raymundo da Europa para o monumento que em commemoração do
Ewerton Quadros e outro com o parecer da commissão de assignalado feito da esquadra brasileira em 1865, se pretende
marinha e guerra. erigir na praça Riachuelo, naquella cidade.
Em seguida convidou os Srs. senadores para se Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
occuparem com trabalhos de commissões. Paço da camara dos deputados, em 13 de Maio de
Levantou-se a sessão á 1 hora da tarde. 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
9ª SESSÃO EM 14 DE MAIO DE 1873. Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
Mello, secretario.
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. A assembléa geral resolve:
Art. 1º E’ autorisado o governo para conceder á
Summario. – Expediente. – Redacção. – Projecto de Companhia Guanabara isenção de direitos de importação do
lei. – Matricula de estudantes. – Licença aos Srs. Saraiva e material fixo e fluctuante, apparelhos, machinas, ferramentas,
Silveira da Motta. – Matricula de estudantes. combustivel, e qualquer outro material, que a mesma
companhia receber do estrangeiro para o fim a que se
Ao meio dia fez-se a chamada e acharam-se presentes propõe, de pesca, salga e secca de peixe nesta Côrte, fixando
33 Srs. senadores a saber: visconde de Abaeté, Almeida e o governo previamente a quantidade e qualidade dos objectos
Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de Carvalho, que houverem de ser despachados com tal isenção.
visconde de Souza Franco, Mendes dos Santos, marquez de Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Sapucahy, Barros Barreto, F. Octaviano, Jobim, visconde de Paço da camara dos deputados, em 13 de Maio de
Bom Retiro, Cunha Figueiredo, Chichorro, visconde de 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
Caravellas, Jaguaribe, visconde de Muritiba, barão do Rio Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
Grande, Teixeira Junior, Uchôa Cavalcanti, barão da Laguna, Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
visconde do Rio Branco, Antão, Leitão da Cunha, Vieira da Mello, 2º secretario.
Silva, barão de Camargos, Junqueira, barão de Maroim, A’ commissão de fazenda.
visconde de Jaguary, Pompeu, barão de Pirapama, visconde O Sr. 2º Secretario leu os seguintes pareceres da
de Nitheroy, Firmino e Zacarias. mesa:
Deixaram de comparecer com causa participada os N. 518, de 13 de Maio de 1873, apresentando o
Srs. Figueira de Mello, Nunes Gonçalves, Fernandes Braga, projecto de lei relativo ao recrutamento para o exercito e
Diniz, barão de Cotegipe, conde de Baependy, Sinimbú, Paula armada, tal como veio da camara dos deputados e as
Pessoa, Silveira Lobo, Paes de Mendonça, Nabuco, Ribeiro emendas correspondentes a cada um dos seus artigos e
da Luz, Fernandes da Cunha, Silveira da Motta, marquez de paragraphos feitas pelas commissões, de marinha e guerra e
S. Vicente, visconde de Camaragibe, Saraiva, visconde de de legislação do senado, bem como por um dos membros
Inhomirim, duque de Caxias, Paranaguá. desta ultima commissão, o Sr. senador Nabuco, finalmente a
Deixaram de comparecer sem causa participada os redacção do projecto com as emendas das referidas
Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de commissões.
Suassuna. Foi a imprimir.
O Sr. presidente abriu a sessão. N. 519, de 14 de Maio de 1873, expondo a materia de
Leu-se a acta da sessão antecedente e, não havendo uma proposição da camara dos Srs. deputados que approva
quem sobre ella fizesse observações, foi approvada. as pensões concedidas ao anspeçada Hilario de Medeiros
O Sr. presidente disse que, achando-se na sala Junior e a diversos soldados, concluindo que seja approvada,
immediata o Sr. senador pela provincia de S. Paulo Joaquim
Sessão em 15 de Maio 87

Ficou sobre a mesa para ser tomado em consideração do intersticio para a 3ª discussão e o senado consentiu.
com a proposição a que se refere. Seguiu-se em 2ª discussão, e não foi approvada, a
Foi lida, posta em discussão e approvada para ser proposição da camara dos Srs. deputados mencionada no
remettida á outra camara a seguinte parecer da commissão de marinha e guerra, concedendo
dispensa aos estudantes Francisco Raymundo Ewerton
REDACÇÃO. Quadros e outro.
Esgotada a materia da ordem do dia, o Sr. presidente
Emendas approvadas pelo senado á proposição da deu a seguinte para 15:
camara dos deputados de 23 de Janeiro de 1873, que approva 3ª discussão do projecto do senado concedendo
as pensões concedidas pelos decretos de 30 de Dezembro de dispensa ao estudante Benjamim da Gama de Souza Franco.
1871, á viuva, filhos e mães de officiaes do exercito e Dita das proposições da camara dos Srs. deputados
voluntarios da patria. relativas aos estudantes Mendes Antas e Velho da Silva
Ao art. 1º – 1ª pensionista – 1ª Emenda. – Em seguida Junior.
ás palavras: 2ª dita das proposições da mesma camara a que se
D. Generosa Augusta Ramos, viuva, accrescente-se: refere o parecer da mesa n. 519 sobre pensões.
do capitão do exercito e major de commissão do 51º corpo de Trabalhos de commissões.
voluntarios da patria. Em seguida convidou os Srs. senadores para se
2ª Depois das palavras morto em combate, occuparem com os trabalhos das commissões.
accrescente-se: ficando comprehendido na pensão o meio Levantou-se a sessão á 1 hora da tarde.
soldo que percebe.
Paço do senado, em 14 de Maio de 1873. – Marquez 10ª SESSÃO EM 15 DE MAIO DE 1873.
de Sapucahy. – F. Rodrigues Silva.
Foi igualmente lido o seguinte projecto enviado á PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ.
mesa:
Summario. – Expediente. – Ordem do Dia. – Matricula
PROJECTO DE LEI. de estudantes. – Observações e emenda do Sr. Uchôa
Cavalcanti. – Observações do Sr. Dias de Carvalho. –
Annaes do senado e camara dos deputados. Observações e requerimento do Sr. Uchôa Cavalcanti. –
Pensões.
A assembléa geral resolve:
Art. 1º Os debates e trabalhos parlamentares da Ao meio-dia fez-se a chamada, e acharam-se
assembléa constituinte e das legislaturas ordinarias desde o presentes 34 senhores senadores a saber: visconde de
anno de 1826 serão colligidos e publicados com uniformidade Abaeté, barão de Mamanguape, Dias de Carvalho, visconde
para completarem os Annaes do senado e da camara dos de Souza Franco, Jobim, marquez de Sapucahy, Mendes dos
deputados. Santos, Chichorro, visconde de Inhomirim, Nabuco, visconde
Art. 2º Cada uma das duas camaras legislativas de Muritiba, barão de Maroim, Firmino, marquez de S. Vicente,
estabelecerá o systema e condições da publicação de seus Barros Barreto, Antão, barão de Camargos, Jaguaribe,
Annaes, e ficam ambas autorisadas para as despezas com visconde de Niterohy, barão do Rio-Grande, visconde de
esse serviço, fixando-se annualmente nas leis do orçamento Camaragibe, Godoy, visconde de Jaguary, barão de Laguna,
as quotas que se calcularem necessarias. Fernandes Braga, Paes de Mendonça, visconde do Bom
S. R. – 14 de Maio de 1873. – F. Octaviano. Retiro, Teixeira Junior, Candido Mendes, visconde do Rio-
Ficou sobre a mesa para entrar na ordem dos Branco, Sinimbú, Pompeu, Uchôa Cavalcanti e Zacarias.
trabalhos. Deixaram de comparecer com causa participada os
Srs. Almeida e Albuquerque, Figueira de Mello, Paula Pessoa,
ORDEM DO DIA. Leitão da Cunha, Diniz, Nunes Gonçalves, Ribeiro da Luz,
barão de Cotegipe, barão de Pirapama, conde de Baependy,
MATRICULA DE ESTUDANTES. duque de Caxias, F. Octaviano, Silveira Lobo, Vieira da Silva,
Fernandes da Cunha, Silveira da Motta, Cunha Figueiredo,
Foram submettidas á votação e approvadas para Junqueira, Paranaguá, Saraiva e visconde de Caravellas.
passar á 3ª discussão as proposições da camara dos Srs. Deixaram de comparecer sem causa participada os
deputados concedendo dispensa aos estudantes João Pinto Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de
de Figueiredo Mendes Antas Junior e José Maria Velho da Suassuna.
Silva Junior. O Sr. Presidente abriu a sessão.
A requerimento verbal do Sr. 1º secretario foi Leu-se acta da sessão antecedente e não havendo
dispensado o intersticio para a 3ª discussão. quem sobre ella fizesse observações foi approvada.
O Sr. 1º Secretario leu o seguinte
LICENÇA AOS SRS. SARAIVA E SILVEIRA DA MOTTA.
EXPEDIENTE
Entrou em 2ª e ultima discussão e foi approvado o
parecer da commissão de constituição concedendo a licença Officio de 14 do corrente mez, do ministerio do
pedida pelo Sr. senador Saraiva. Imperio, communicando que Sua Magestade o Imperador
Seguiu-se em 1ª discussão e passou para a 2ª o digna-se de receber no dia 17 do corrente mez, á 1 hora da
parecer da mesma commissão concedendo a prorogação da tarde, no paço da cidade a deputação do senado que tem de
licença pedida pelo Sr. senador Silveira da Motta.

MATRICULA DE ESTUDANTES

Entrou em 2ª discussão e passou para a 3ª o projecto


do senado, concedendo dispensa ao estudante Benjamim da
Gama de Souza Franco.
O Sr. F. Octaviano requereu verbalmente dispensa
88 Sessão em 16 de Maio

apresentar-lhe o decreto da assembléa geral fixando as forças O Sr. Uchôa Cavalcanti offereceu o seguinte
de terra para o anno financeiro de 1873 – 1874.
Ficou o senado inteirado. REQUERIMENTO.
O mesmo Sr. 1º secretario participou que pelo Sr.
senador barão da Laguna lhe fôra communicado que o Sr. Requeiro que a minha emenda vá em projecto
Leitão da Cunha não podia comparecer á sessão por separado. – Uchôa.
incommodado. Foi lido, apoiado e posto em discussão.
Ficou o senado inteirado. O SR. PRESIDENTE: – Previno aos nobres
senadores, de que, se occorrer a apresentação de outra
ORDEM DO DIA. emenda, como a que passou, hei de offerecer ao senado
nessa occasião as duvidas, que tenho para aceital-as.
MATRICULA DE ESTUDANTES. Não desejo estabelecer máos precedentes. Em
primeiro logar vê-se que se approva um projecto com uma só
Entrou em 3ª discussão o projecto do senado discussão o que é contra o regimento; e em segundo logar
concedendo dispensa ao estudante Benjamim da Gama de emenda-se uma proposição da camara dos Srs. deputados e
Souza Franco. que não volta com a emenda para a mesma camara, como
O SR. UCHOA CAVALCANTI: – Sr. presidente, prescreve a constituição, mas é dirigida á sancção imperial.
parece que o senado vae moderando aquelle rigor com que no O SR. BARROS BARRETO: – Apoiado.
principio da sessão tratava estas pretenções de estudantes O SR. PRESIDENTE: – Pela minha parte não aceito o
attendendo a alguns; por isso me animo a offerecer uma precedente. Opponho-lhe esta declaração.
emenda ao projecto em favor do estudante Vicente Ferrer de Posto a votos o requerimento foi approvado.
Barros Wanderley e Araujo, que, tendo feito todos os seus Entraram em 3ª discussão e foram approvadas para
exames de preparatorios, não pôde matricular-se porque lhe serem remettidas á sancção imperial as proposições da
faltavam dous ou tres mezes de idade para completar a que camara dos Srs. deputados sobre matricula de estudantes
os estatutos exigem. para as quaes venceu-se ante hontem a dispensa do
Foi lida, apoiada e posta em discussão intersticio.
conjunctamente seguinte
PENSÕES.
EMENDA.
Seguiu-se em 2ª discussão, e foi approvada para
Fica tambem autorisado a mandar admittir á matricula passar para a 3ª, a proposição da mesma camara mencionada
do 1º anno da faculdade de direito do Recife o estudante no parecer da mesa n. 519 sobre pensões concedidas a
Vicente Ferrer de Barros Wanderley e Araujo, dispensados os Hilario de Medeiros Junior e outros.
mezes de idade que lhe faltavam ao tempo della. – S. R. – Foi tambem approvado o requerimento offerecido no
Uchôa Cavalcanti. parecer da mesa.
O SR. DIAS DE CARVALHO: – Sr. presidente, tenho Esgotada a ordem do dia, o Sr. presidente disse que ia
alguma duvida em que a emenda offerecida a este projecto se distribuir impressa a proposição da camara dos Srs.
em discussão possa ser approvada. deputados sobre o recrutamento para o exercito e armada,
A proposição que se discute autorisa uma dispensa a com as emendas das commissões de marinha e guerra e de
um estudante da escola central. A escola central, pertencendo legislação, e que talvez désse esse projecto para a ordem do
á repartição da guerra, o decreto depois de sanccionado deve dia de sabbado.
ser expedido pelo ministerio da guerra. Disse mais que a ordem do dia para amanhã era:
Como ha de o senado inserir em uma proposição que 3ª discussão da proposição da camara dos Srs.
tem de ser submettida a sancção imperial pelo ministerio da deputados sobre pensões, mencionada no parecer da mesa n.
guerra um estudante do curso juridico cujo decreto tem de ser 519.
expedido pelo ministerio do Imperio? Parace-me que ha Trabalhos de commissões.
alguma incoherencia na inclusão desta emenda na resolução Em seguida convidou os Srs. senadores para se
que se discute. Seria mais conveniente que o nobre senador occuparem com trabalhos de commissões.
esperasse a discussão de alguma proposição relativa a Levantou-se a sessão 40 minutos depois do meio-dia.
estudante da academia de medicina ou de direito, onde teria
todo o cabimento a sua emenda, porque aqui parece-me ACTA EM 16 DE MAIO DE 1873.
deslocada. Por isto sinto não poder dar o meu voto a favor da
emenda, o que não duvido fazer em qualquer outra resolução. PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ.
O SR. UCHOA CAVALCANTI: – Sr. presidente,
apresentei a minha emenda de preferencia a este projecto por Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se
que sendo um projecto do senado tem de ir á camara dos presentes os Srs.: visconde de Abaeté, Almeida e
deputados, não se podendo dar a mesma facilidade com Albuquerque, barão de Mamanguape, Jobim, visconde de
qualquer proposição daquella camara; entretanto se ha Muritiba, visconde de Nitherohy, Barros Barreto, Firmino,
inconveniente em ir junto a este projecto, eu a retirarei, ou Teixeira Junior, Leitão da Cunha, Paranaguá, visconde de
então pedirei que forme projecto separado. Jaguary, visconde de Souza Franco, barão de Camargos,
Posto a votos o projecto, salva a emenda, foi Jaguaribe, barão da Laguna, Godoy, Nunes Gonçalves,
approvado. Candido Mendes, Antão e Zacarias.
Foi igualmente approvada a emenda e o projecto
remettido á commissão de redacção.
Sessão em 17 de Maio 89

Deixaram de comparecer com causa participada os 11ª SESSÃO EM 17 DE MAIO DE 1873.


Srs. Dias de Carvalho, Figueira de Mello, Uchôa Cavalcanti,
Diniz, Chichorro, Fernandes Braga, barão de Cotegipe, barão PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ.
de Maroim, barão de Pirapama, duque de Caxias, barão do
Rio Grande, conde de Baependy, Mendes dos Santos, F. Summario. – Expediente. – Parecer da commissão do
Octaviano, Paes de Mendonça, Junqueira, Silveira da Motta, orçamento. – Redacção. – Discurso e requerimento do Sr.
Paula Pessoa, Silveira Lobo, Sinimbú, Fernandes da Cunha, Figueira de Mello. – Ordem do Dia. – Licença ao Sr. Silveira
Saraiva, Cunha Figueiredo, Nabuco, Visconde do Bom Retiro, da Motta. – Pensões. – Adiamento da assembléa provincial
marquez de S. Vicente, marquez de Sapucahy, Pompeu, das Alagoas. – Negocios do Ceará. – Discursos dos Srs.
visconde de Caravellas, visconde de Camaragibe, Vieira da visconde do Rio Branco, visconde de Jaguary e F. Octaviano.
Silva, visconde do Rio Branco, Ribeiro da Luz e Visconde de – Representações contra os actos dos bispos do Pará e
Inhomirim. Pernambuco. – Discursos dos Srs. Jobim, visconde do Rio
Deixaram de comparecer sem causa participada os Branco e Zacarias.
Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de
Suassuna. Ao meio dia fez-se a chamada e acharam-se presentes
O Sr. Presidente declarou que não podia haver sessão 39 Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté, Almeida e
por falta de quorum, mas que ia ler-se o expediente que se Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de Carvalho,
achava sobre a mesa. Figueira de Mello, Jobim, Mendes dos Santos, marquez de
O Sr. 1º Secretario leu o seguinte: Sapucahy, barão do Rio Grande, Teixeira Junior, visconde de
Souza Franco, Uchôa Cavalcanti, duque de Caxias, Chichorro,
EXPEDIENTE. barão da Laguna, Firmino, Barros Barreto, Leitão da Cunha,
Zacarias, Candido Mendes, Antão, F. Octaviano, visconde de
Officio de 14 do corrente, do ministerio da guerra, Nitherohy, visconde de Muritiba, visconde de Camaragibe,
remettendo, em satisfação aos do senado de 29 e 31 de Ribeiro da Luz, Junqueira, Pompeu, visconde do Rio Branco,
Janeiro ultimo, as certidões de assentamento e informações a barão de Pirapama, Paranaguá, visconde de Jaguary,
respeito das praças do exercito Antonio Raymundo da Silva e marquez de S. Vicente, visconde do Bom Retiro, Paes de
outros, e declarando que aguarda esclarecimentos já exigidos Mendonça, Sinimbú, Nunes Gonçalves, visconde de Inhómirim
a respeito de outras cujos nomes se acham consignados em e Jaguaribe.
resoluções da camara dos Srs. deputados. – A' quem fez a Deixaram de comparecer com causa participada os
requisição. Srs. Diniz, Fernandes Braga, barão de Camargos, Vieira da
Representação da camara municipal da cidade de Silva, barão de Cotegipe, barão de Maroim, conde de
Nitherohy, a favor da eleição directa. Baependy, Paula Pessoa, Silveira Lobo, Fernandes da Cunha,
A' commissão de constituição. Godoy, Saraiva, Cunha Figueiredo, Silveira da Matta, Nabuco
O Sr. 2º Secretario leu o parecer da mesa n. 520, de e Visconde de Caravellas.
16 de Maio de 1873, expondo a materia de uma proposição da Deixaram de comparecer sem causa participada os
camara dos Srs. deputados, que approva as pensões de Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de
1:200$ annuaes concedida a D. Isabel Helena Velloso de Suassuna.
Oliveira França; de 1:000$ annual a D. Irinéa Benicia Ayres do O Sr. Presidente abriu a sessão.
Nascimento, viuva do desembargador Miguel Joaquim Ayres Leram-se as actas de 15 e 16 do corrente e não
do Nascimento; de 84$ mensaes concedida a D. Maria havendo quem sobre ellas fizesse observações foram
Euphrasia dos Santos Corrêa, viuva do cirurgião-mór de approvadas.
brigada de commissão Dr. Roque Antonio Cordeiro e outras, O Sr. 1º Secretario leu o seguinte
concluindo que a proposição seja approvada.
Ficou sobre a mesa para ser tomado em consideração EXPEDIENTE.
com a proposição a que se refere.
O Sr. Presidente deu para a ordem do dia de 17: Officio de 13 do corrente, do ministerio da guerra, em
2ª discussão do parecer da commissão de constituição resposta ao do senado de 10 do mesmo mez, remettendo
concedendo prorogação de licença ao Sr. senador Silveira da cópia do aviso reservado do mesmo ministerio expedido á
Motta. presidencia da provincia do Ceará, em 17 de Abril do anno
3ª dita da proposição da camara dos Srs. deputados proximo findo, no intuito de evitar abusos de concessão de
com o parecer da mesa n. 519 sobre pensões. habeas-corpus a individuos recrutados na comarca do Crato. –
2ª dita da proposição da mesma camara sobre A' quem fez a requisição.
pensões mencionadas no parecer da mesa n. 520. Outro de 15, do mesmo ministerio, em additamento ao
Requerimentos adiados, votando-se primeiro sobre o de 14, enviando uma certidão de assentamento do anspeçada
do Sr. senador Paes de Mendonça, do qual ficou encerrada a Martinho José de Souza. – O mesmo destino.
discussão. Tres officios do 1º secretario da camara dos Srs.
Em seguida convidou os Srs. senadores para se deputados, de 15 do corrente, remettendo as seguintes
occuparem com trabalhos das commissões. proposições:
A assembléa geral resolve:
Art. 1º Ficam creadas mais sete relações no Imperio.
§ 1º As relações existentes e as novamente creadas
terão por districtos os territorios seguintes:
1º Do Pará e Amazonas, com sêde na cidade de
Belém;
90 Sessão em 17 de Maio

2º Do Maranhão, Piauhy, com séde na cidade de S. de justiça vencerão o ordenado do logar que deixam até á
Luiz; posse do novo cargo, se a tomarem no praso marcado pelo
3º Do Ceará e Rio Grande do Norte, com séde na governo.
cidade da Fortaleza; Art. 4º Os desembargadores são incompativeis, no
4º De Pernambuco, Parahyba e Alagoas, com séde na districto de sua jurisdicção, para os cargos de senador,
cidade do Recife; deputado e membro da assembléa provincial, considerando-se
5º Da Bahia e Sergipe, com séde na cidade do nullos os votos que ahi obtiverem. A elles é applicavel a
Salvador; disposição do art. 1º § 14 do decreto de 18 de Agosto de
6º Do municipio neutro, Rio de Janeiro e Espirito 1860.
Santo, com séde na Côrte; Art. 5º Ficam revogadas as disposições em contrario.
7º De S. Paulo e Paraná, com séde na cidade de S. Paço da camara dos deputados, em 15 de Maio de
Paulo; 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
8º Do Rio Grande do Sul e Santa Catharina, com séde Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
na cidade de Porto Alegre; Albuquerque, 1º secretario, – Martinho de Freitas Vieira de
9º De Minas, com séde na cidade de Ouro Preto; Mello, 2º secretario.
10. De Matto Grosso, com séde na cidade de Cuyabá: A assembléa geral resolve:
11. De Goyaz, com séde na cidade de Goyaz. Art. 1º A proposta do orçamento, de que trata o art. 13
§ 2º A relação da Côrte constará de 17 da lei n. 93 de 31 de Outubro de 1835, continuará a ser
desembargadores, as da Bahia e Pernambuco de 11, as do apresentada pelo ministro e secretario de Estado dos
Pará, Maranhão, Ceará, S. Paulo, Rio Grande do Sul e Minas negocios da fazenda, sendo porém dividida em projectos de
de sete, e as de Matto-Grosso e Goyaz de cinco. lei distinctos para cada ministerio.
§ 3º Nenhum desembargador terá exercicio fóra da § 1º Approvado em ultima discussão, pela camara dos
relação a que pertencer. deputados, qualquer dos projectos, será logo remettido para o
§ 4º Supprime-se a jurisdicção contenciosa dos senado.
tribunaes do commercio, cujas funcções administrativas o § 2º A parte relativa á despeza será submettida á
governo regulará como mais conveniente for, alterando o sancção independentemente da parte relativa á receita e ás
actual regimento. disposições geraes.
§ 5º As causas commerciaes julgar-se-hão nas Art. 2º A parte relativa á receita publica e a das
relações, sendo as appellações e os aggravos decididos por disposições geraes que o governo julgue conveniente propôr,
tres desembargadores. formarão tambem projectos separados.
§ 6º A alçada das relações no civel e no commercial Art. 3º Discutidos e votados os projectos nas duas
continúa a ser a que se acha estabelecida na legislação camaras, a commissão da redacção daquella que tiver de
vigente. (Decreto de 30 de Novembro de 1853 e lei de 16 de submetter a lei á sancção imperial, reunirá em um só
Setembro de 1854.) autographo os referidos projectos, distinguindo-os por artigos
§ 7º Nas pronuncias e recursos destas votarão o juiz numerados seguidamente, como se pratica actualmente.
relator e dous juizes sorteados, não ficando elles impedidos Art. 4º Ficam revogadas as disposições em contrario.
para o julgamento, no qual tomarão parte os Paço da camara dos deputados, em 15 de Maio de
desembargadores presentes. 1873 – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
§ 8º O governo regulará o praso para a apresentação Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
das appellações, julgando-se as deserções dellas nos termos Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
dos arts. 657 a 660 do regulamento n. 737 de 25 de Novembro Mello, 2º secretario.
de 1850. A' commissão do orçamento.
§ 9º Os escrivães de appellação do commercio A assembléa geral resolve:
escreverão perante as relações nos feitos criminaes Art. 1º E' autorisado o governo a mandar admittir o
cumulativamente com os escrivães das appellações do civel. estudante Feliciano Coelho Duarte á matricula do 1º anno
§ 10. As secretarias das relações se comporão de um medico da faculdade do Rio de Janeiro, independentemente
secretario e demais empregados, que forem determinados em do exame de geometria, que prestará antes do acto das
regulamento. materias do mesmo anno, sendo-lhe levado em conta para
Art. 2º Os actuaes desembargadores excedentes ao essa matricula o exame de historia feito na escola de marinha.
numero fixado no art. 1º § 2º serão distribuidos pelas novas Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
relações, guardadas as seguintes regras: Paço da camara dos deputados, em 15 de Maio de
§ 1ª Serão removidos os que requererem. 1873 – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr.
§ 2ª Se não se derem remoções pedidas, ou se não Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
obstante estas ainda houverem desembargadores Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
excedentes, serão removidos os mais modernos com Mello, 2º secretario.
preferencia para as relações mais proximas. Aos A' commissão de instrucção publica.
desembargadores assim removidos compete o direito de Requerimento dos professores da escola de marinha,
regresso por ordem de antiguidade á relação de onde pedindo para lhes serem augmentados os vencimentos. – A'
sahiram, quando o requeiram e nella hajam vagas. commissão de instrucção publica.
§ 3º Aos desembargadores removidos por occasião da O Sr. 2º Secretario leu o parecer da mesa n. 521 sobre
execução da presente lei se abonará uma ajuda de custo de uma proposição da camara dos Srs. deputados approvando a
2:000$ a 4:000$000. pensão concedida a D. Isabel Noya da Conceição
Art. 3º Os juizes de direito nomeados
desembargadores os desembargadores nomeados ministros
do supremo tribunal
Sessão em 17 de Maio 91

Barbosa, concluindo que seja approvada. – Ficou sobre a conivente com as autoridades policiaes, e estas com os
mesa para ser tomado em consideração com a proposição a criminosos, pois que lhes deixavam todas as enchanças
que se refere. possiveis para commetterem crimes ou satisfazerem as suas
paixões.
PARECER DA COMMISSÃO DO ORÇAMENTO. O SR. POMPEU: – Não é esta a conclusão.
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Sr. presidente, do
A’ commissão do orçamento foi presente a proposta do costume inalteravel, que tem o nobre senador como disse, de
poder executivo fixando a despeza e orçando a receita geral vir nesta casa denunciar os crimes commettidos na provincia
do Imperio para o exercicio de 1872 – 1873, convertida, com do Ceará contra as pessoas, ou contra as propriedades, ao
diversas emendas, em projecto de lei pela camara dos Srs. mesmo tempo que todos os outros nobres senadores se
deputados e mandada vigorar no exercicio de 1873 – 1874 conservam silenciosos relativamente ás suas provincias, tem
com as alterações constantes do art. 19 do dito projecto. resultado que muitas pessoas por falta de sufficiente exame
Sendo urgente que o senado delibere sobre tão suponham que na provincia do Ceará reinam os costumes
importante assumpto, visto que o primeiro dos referidos sáfaros dos beduinos, uma extraordinaria perversão, ou
exercicios expira no ultimo do proximo mez de Junho, é a desobediencia ás leis, um desejo de as infringir por qualquer
commissão de parecer que entre o projecto desde já em motivo insignificante ou ridiculo. Cearense como sou,
discussão, reservando-se para no decurso desta offerecer e representante da provincia do Ceará e amigo da terra, em que
fundamentar algumas emendas que julga convenientes. nasci, eu não podia deixar de sentir-me que o nobre senador
Sala das commissões em 17 de Maio de 1873. – Barão por esse seu inalteravel costume tenha concorrido para se
de Cotegipe. – A. Leitão da Cunha. – Visconde de Souza firmar na opinião publica aquella conclusão a que ha pouco
Franco. – J. Antão. – Marquez de S. Vicente. – J. L. da Cunha me referi, e desejaria demonstrar com documentos officiaes
Paranaguá. – Visconde de Inhomirim. que a provincia do Ceará não é aquella em que se commettem
Foi submettido ao apoiamento o projecto do Sr. F. mais crimes; e que se não occupa o primeiro logar pelo lado
Octaviano offerecido na sessão de 14 do corrente sobre a da moralidade, tambem não póde sofrer o stygma, que o
publicação dos debates parlamentares da assembléa nobre senador contra a sua vontade talvez, (faço justiça a
constituinte e das legislaturas ordinarias. – Foi igualmente a suas intenções), tem dado logar a se infligir a nossa provincia.
imprimir. Senhores, á priori, nós podemos affirmar que na
Foi lida, posta em discussão e approvada, para ser provincia do Ceará se devem commetter menos crimes do que
dirigida á outra camara, a seguinte em quaesquer outras do Imperio, porque todos sabemos que
aquella provincia dedicada ao trabalho, tem conseguido o que
REDACÇÃO. ainda não conseguiu nenhuma provincia do Imperio, nobilitar o
trabalho livre e com o trabalho livre, de que ella se honra,
A assembléa geral resolve: augmentar extraordinariamente a sua renda, a quantidade e
Art. 1º O governo é autorisado para mandar admittir qualidade de sua importação e exportação, e, emfim, o
Benjamim da Gama de Souza Franco á matricula do 1º anno movimento de sua navegação. Suas cidades, villas e
da escola central que tem frequentado como ouvinte, devendo povoações, crescem a olhos vistos...
fazer exame das materias do dito anno depois de mostrar-se O SR. JAGUARIBE: – Apoiado.
habilitado com os exames dos preparatorios de arithmetica e O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – E podemos dizer,
geographia. senhores, sem faltar a verdade, que não ha naquella provincia
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. uma só povoação que não apresente de dia em dia um
Sala das commissões, 17 de Maio de 1873. – Marquez progresso; não ha uma, para exprimir melhor o meu
de Sapucahy. – Firmino Rodrigues Silva. – A. Leitão da pensamento, que tenha retrogradado, como acontece em
Cunha. muitas outras provincias. Este movimento ascendente no
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Sr. presidente, em desenvolvimento da industria agricola e commercial da
consequencia de incommodos em minha saude não pude provincia é sem duvida o necessario resultado do trabalho a
tomar parte na discussão do requerimento, que apresentou que minha provincia se entrega com a maior efficacia possivel.
nesta casa o nobre senador pela minha provincia, o Sr. Ora, uma provincia que se acha em taes condições
Pompeu; e constando-me agora que essa discussão se acha pelo lado material, é aquella tambem, que pelo lado
encerrada, peço ao senado licença para apresentar um intellectual mereceu elogios de um nobre presidente que hoje
requerimento que é attinente á materia, de que tratou o se assenta nos conselhos da corôa, o Sr. conselheiro Manoel
mesmo nobre senador. Antonio Duarte de Azevedo S. Ex. no relatorio com que
Seguindo o invariavel costume que tem S. Ex. de vir entregou a administração da provincia ao Sr. commendador
todos os annos á tribuna do senado denunciar os crimes que José Antonio Machado, de saudosa memoria na provincia do
se commettem na provincia do Ceará, sem duvida levado por Ceará...
seu zelo pelo bem publico, e para moralisação daquella O SR. JAGUARIBE: – Apoiado.
provincia, não deixou elle de indicar tambem nesta sessão que O Sr. Figueira de Mello... deplorando que ainda na
naquella provincia se tinha commettido um grande numero de provincia do Ceará se commettessem crimes contra as
crimes, e que estes provinham não sómente da falta de pessoas e contra as propriedades, mas talvez que era de
energia das autoridades judiciarias e policiaes, mas tambem esperar,
do presidente da provincia que as tinha nomeado; de modo
que a conclusão a tirar de tudo isto era que o presidente da
provincia do Ceará era
92 Sessão em 17 de Maio

dizia ao mesmo tempo uma verdade por que no Ceará se o relatorio do Sr. conselheiro Diogo Velho á assembléa
não podia acabar com o mal moral, como não acabou em legislativa provincial. Do 1º de Novembro de 1868 a 10 de
parte nenhuma. Elle assim se exprimia: que a estatistica Agosto de 1869, commetteram-se 39 homicidios e 5
criminal se elevava ainda a uma cifra que era de admirar em tentativas, segundo o relatorio do vice-presidente, o Sr.
uma provincia rica, cheia de escolas publicas, de Joaquim da Cunha Freire; e de 10 de Agosto de 1869 a 30 de
desseminado cultivo intellectual, de população ordeira, e em Junho de 1870, commetteram-se 47 homicidios e 4 tentativas
cujo espirito predomina felizmente o sentimento religioso.» segundo o relatorio do Sr. Dr. Freitas Henriques á assembléa
Ora, senhores, se a instrucção publica, a riqueza, e o legislativa provincial desse anno. Do 1º de Julho de 1870 a
sentimento religioso muito concorrem para a diminuição dos 31 de Maio de 1871 commetteram-se 44 homicidios, e 27
crimes, a provincia que possúe estas vantagens preciosas tentativas, conforme o relatorio do presidente da provincia o
não pode deixar de perpetrar menos crimes do que outras Sr. Barão de Taquary em Julho de 1871.
que não estiverem nas mesmas condições. Do exposto segue-se, que no Ceará se commetteram
Senhores, o meu requerimento tem por fim pedir ao 201 crimes contra a segurança individual, no espaço de tres
governo que nos declare quaes os crimes commettidos annos, sete mezes e 15 dias, que tantos decorrem de 16 de
dentro de um quinquenio, a principiar do anno de 1867 até Outubro de 1867 a 31 de Maio de 1871.
1872, classificados estes crimes pela sua natural divisão de Mas suppondo-se que apenas comprehende tres
publicos, particulares e policiaes, se subdivididos nas annos e meio para tornar o calculo ainda mais desfavoravel a
especies em que os crimes publicos, particulares e policiaes provincia do Ceará isto é, sete semestres, segue-se que
se dividem. Peço isto, porque dos documentos officiaes, que divididos esses 201 crimes por sete semestres, teremos 28
tenho no meu gabinete não constam quaes fossem esses crimes por um semestre, ou 56 por anno. Mas se dividirmos a
crimes nas provincias do Imperio, no periodo, que indiquei, população do Ceará de 550.000 habitantes por estes 56
afim de que por elles se podessem fazer as convenientes crimes, teremos que a proporção será de um crime para
comparações, e do relatorio que apresentou o Sr. conselheiro 9.821 habitantes. Ora, esta proporção é demonstrativa da
ministro da justiça a assembléa geral legislativa em Maio de moralidade da provincia do Ceará se acaso a quizermos
1872, vejo que nelle se trata unicamente dos crimes comparar com o que acontece em outras provincias.
commettidos em 1870. Peço ao senado que attenda um pouco para a
No relatorio apresentado em fins de 1872 não vem o demonstração desta these, porque espero que, uma vez
mappa dos crimes commettidos no anno de 1871, e está me estabelecida, o nobre senador pela provincia do Ceará ou
parecendo que no ultimo relatorio apresentado durante a desistirá das intenções que sempre tem manifestado, cujo
sessão corrente se não evitará esta deploravel lacuna para resultado é o descredito da provincia que ambos
os crimes de 1871 e 1872, como seria para desejar-se. representamos, ou ha de trazer os seus calculos de tal
Aguardando a apresentação do relatorio do Sr. ministro da maneira especificados e justificados que possam esclarecer o
justiça, na sessão em que estamos, afim de vêr se nelle legislador e não confundil-o como sempre tem acontecido.
vinham os documentos que eu desejava, deixei de Senhores, vejamos o que se dá em relação a
empenhar-me no debate sobre o requerimento do nobre provincia do Piauhy. No Piauhy, o respectivo presidente, o Sr.
senador pela minha provincia; não sei se ainda virão; mas Dr. Manoel do Rego Barros Sousa Leão, no relatorio que
pelo mappa dos crimes commettidos em 1870 e apresentou a assembléa legislativa provincial em Julho de
especialmente pelos que attentam contra a segurança 1871 disse que se haviam commettido nos annos de 1869 e
individual, nós veremos que... 1870, 34 crimes de homicidio e 10 tentativas, e que nos
O SR. PRESIDENTE: – O nobre senador permitta mezes de Janeiro ao fim de Maio de 1871 se deram 8
que o interrompa por um momento. homicidios e 4 tentativas.
Convido a deputação que tem de apresentar a Sua Para sabermos o computo dos crimes de todo o anno
Magestade o Imperador o decreto da assembléa geral de 1871 basta fazer a proporção dos crimes commettidos nos
fixando as forças de terra para o exercicio de 1873 a 1874 a cinco primeiros mezes desse anno em relação aos sete
cumprir a sua missão. restantes e então o termo medio será de 28 crimes por anno
(Retira-se a deputação). termo medio. Comparados estes crimes com a população do
O nobre senador póde continuar o seu discurso. Piauhy, que segundo os ultimos documentos officiaes é
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Dizia eu que em face apenas de 220,000 habitantes, temos 1 crime para 9.160
do mappa dos crimes praticados em 1870 se mostra que o habitantes. Por consequencia o Piauhy está em moralidade
Ceará apresenta maior moralidade do que outras provincias, abaixo da provincia do Ceará.
por quanto se tratarmos somente dos grandes crimes que O SR. PARANAGUÁ: – Protesto contra isto.
atacam as pessoas, homicidio e tentativa de homicidio, O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Sinto muito ter de
veremos que o Ceará apresenta nestas duas cathegorias de exprimir estas asserções, mas somente o nobre senador pela
crimes 69 homicidios e 29 tentativas; e se dividirmos estes 98 minha provincia a tanto me obrigou.
crimes pela população que o Ceará tem, ou suppoe-se ter de O SR. PARANAGUÁ: – E’ uma discussão odiosa.
550.000 habitantes, da-se um crime para 5.612 habitantes. O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Perdôe-me o nobre
Se porem recorrermos aos mappas apresentados por quatro senador se esta discussão é odiosa, deve ser ella imputada a
diversos presidentes da provincia, referindo-se somente a quem a suscitou em menoscabo de sua provincia.
epoca em que elles principiaram a sua administração, a O SR. PARANAGUÁ: – A immigração do Ceará para
abrangendo portanto um maior espaço de tempo para melhor o Piauhy é extraordinaria.
fundamento do calculo colhermos o seguinte: de 16 de
Outubro de 1867 até o fim de Outubro de 1868,
commetteram-se 31 homicidios e 4 tentativas segundo
Sessão em 17 de Maio 93

O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Passemos agora a dia 7 de Fevereiro de 1872, disse que se tinham commettido
provincia do Rio Grande do Sul que tive a honra de nos annos de 1869, 1870 e 1871, 142 homicidios e 49
administrar em fins de 1871 a 1872. No relatorio que tentativas de homicidio, o que dá 191 crimes no triennio, ou
apresentei á assembléa provincial em Março desse ultimo 63 termo médio por anno; e suppondo-se que a provincia das
anno se nota que houve em o anno de 1869, 73 crimes Alagôas tenha 300,000 habitantes, dar-se-ha um destes
contra a segurança individual entre homicidio e tentativa de crimes para 4,757 habitantes.
homicidio; no de 1870, 71, e no anno de 1871, 86: o termo Portanto, a provincia das Alagoas tambem está em
médio é de 76 assassinatos e tentativas; e portanto dá-se um moralidade muito abaixo da provincia do Ceará, se são certos
desses crimes para 7,779 pessoas, suppondo que a provincia os documentos officiaes que aqui apresentara o Sr.
do Rio Grande do Sul tenha 440,000 habitantes. Quando fallo presidente Carneiro da Cunha.
da população de cada uma dessas provincias, deve-se Senhores, em vista dos documentos que tem servido
entender que eu me refiro aos documentos officiaes de base aos calculos apresentados, parece-me que não
publicados no relatorio do Sr. ministro do imperio no anno de podemos deixar de convir que o Ceará que apresenta um
1872. Por consequencia, o Rio Grande do Sul está em crime de homicidio e tentativa de homicidio para 9,821
moralidade abaixo da provincia do Ceará. habitantes, está em moralidade muito superior ás provincias
Vamos agora a provincia do Espirito Santo. Na que apresentam 1 individuo para 5 ou 7,000 habitantes e,
provincia do Espirito Santo, commetteram-se no anno de infelizmente para a bella provincia das Alagoas, de 1 para
1869, 7 homicidios e 3 tentativas de homicidio, conforme 4,757 habitantes.
consta de um mappa de chefe de policia respectivo, que O SR. CANSANSÃO DE SINIMBÚ: – Isto abona as
acompanhou o relatorio, com que o presidente Dr. Antonio administrações que as governam.
Dias Paes Leme passou a administração ao 1º vice- O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Estes documentos
presidente coronel Resende no anno de 1870. Ora, a não podem ser completos, como já disse; podem as
provincia do Espirito Santo tem 70,597 habitantes e havendo- comparações com as populações não terem toda exactidão,
se nella praticado 10 crimes da natureza daquelles a que me porque a população póde ser muito maior do que a que
refiro segue-se que ha 1 crime para 7,059 habitantes. Por apresentam os mappas, e em relação a minha provincia, não
consequencia, ainda a provincia do Espirito Santo está em ha duvida nenhuma de que a população é muito maior,
moralidade abaixo do Ceará. porque dando-se-lhe 530,000 habitantes nos mappas
Vamos a Goyaz. Na provincia de Goyaz, segundo o officiaes, hoje, segundo o recenseamento feito em 1872, a
relatorio, apresentado á assembléa legislativa provincial em provincia deve ter 700,000 pouco mais ou menos. O
1870 pelo presidente da provincia Dr. Ernesto Augusto accrescimo de crimes, portanto, que o nobre senador notou é
Pereira, se havia commettido durante o anno de 1869 – talvez resultado do accrescimo conhecido da população.
homicidios 23, e tentativas de homicidio 9; e conforme dizia o Fiquemos desde já convencidos de que as
Sr. presidente Dr. Antero Cicero de Assis no relatorio declarações do nobre senador relativamente aos crimes que
apresentado na assembléa legislativa provincial no 1º de alli se comettem não tem fundamento, quando se quer tirar a
Junho de 1871, durante o anno de 1870 foram commettidos, conclusão de que a provincia do Ceará é composta de
segundo os dados existentes que entretanto nunca eram beduinos que nada respeitam, nem religião, nem costumes.
fieis, 22 crimes de homicidios, e 6 tentativas de homicidio. O SR. POMPEU: – Mas esta conclusão; quem a tira é
Commetteram-se 60 crimes nos dous annos, ou 30 em cada V. Ex.
um, termo medio, isto é um crime de morte ou de tentativa O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – E’ a conclusão que
para 5,333 habitantes, suppondo-se que haja em Goyaz todos tiram, e é por isso que eu venho desta tribuna dizer
160,000 habitantes, como resam os mappas officiaes; logo, a estas palavras, como protesto que faço contra essas
conclusão a tirar é que tambem Goiaz está muito abaixo do conclusões de que o nobre senador tem sido causa
Ceará em moralidade. innocente.
Finalmente, senhores, desejo ainda apresentar uma O SR. POMPEU: – Provarei o contrario a V. Ex.
ultima prova para esclarecimentos dos nobres senadores que O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Aqui estão os
me ouvem e para edificação do nobre senador da minha documentos; estes são exactos.
provincia, que apresentando o seu requerimento, se espraiou O SR. POMPEU: – Provarei com documentos
em considerações sobre a segurança pessoal no Ceará. tambem desta ordem.
Na provincia das Alagoas... O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Espero que o
O SR. ZACARIAS: – Fogo nas Alagoas... senado approve o meu requerimento; é materia simples, ha
O SR. FIGUEIRA DE MELLO (ao Sr. Sinimbú): – Eu do elucidar-nos nessa questão, em que o nobre senador me
agora aprecio a moralidade da provincia das Alagoas e sinto terá sempre pela frente, porque tenho muito em mente
muito fazel-o, porque tenho pelas Alagoas e seus dignos defender a minha provincia de injustas imputações. Se os
representantes, quer nesta casa quer fóra della muitas athenienses todos os annos nomeavam um orador para fazer
sympatias. o elogio de Athenas, porque a virtude deve ser louvada e a
O SR. SINIMBÚ: – Agradeço a V. Ex. virtude louvada cresce e fortifica-se, não se deve tolerar que
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Sinto, porque isto vai o nobre senador todos os dias rebaixe innocentemente (fica
feril-os um bocadinho. Porém devo defender a terra que me entendido), sem intenção, a nossa provincia, porque os
viu nascer, o que tenho a honra de representar. cearenses em vez de verem sustentada a sua força moral, e
O Sr. Dr. Silvino Elvidio Carneiro da Cunha no apreciado seu bello procedimento, são, pelo, contrario
relatorio com que abriu a assembléa legislativa provincial, no acabrunhados pelas injustiças censuras do nobre senador.
Tenho concluido.
94 Sessão em 17 de Maio

Na occasião em que o Sr. Figueira de Mello não fazendo observar a lei, não dando protecção imparcial a
fundamentava um requerimento, o Sr. presidente pediu todos que careçam da intervenção do poder publico. E ao
permissão para interrompel-o afim de convidar a deputação mesmo tempo que o nobre senador nos descreve a provincia
encarregada de apresentar a Sua Magestade o Imperador o do Ceará com essas côres sombrias em relação ao
decreto da assembléa geral fixando as forças de terra para o presidente, a todas as autoridades policiaes e até a tropa de
anno financeiro de 1873 – 1874 para cumprir a sua missão. linha, por outro lado não vê nos magistrados que
Foi lido, apoiado e posto em discussão o seguinte commungam nas suas idéas politicas, que teem auxiliado a
parcialidade do nobre senador naquella provincia, senão
REQUERIMENTO. juizes muito moderados, amigos da justiça, todos
escrupulosamente empenhados em que as cousas corram do
Requeiro que se peça ao governo pela secretaria de melhor modo possivel nos districtos de sua jurisdicção! Os
Estado dos negocios da justiça um mappa demonstrativo de commandantes superiores, amigos do nobre senador, são
todos os crimes commettidos em cada uma das provincias do tambem politicos dos mais moderados; as eleições do Ceará
Imperio nos annos de 1867 a 1872, classificados segundo válidas são unicamente as que foram feitas pelos amigos do
sua natureza e especies. nobre senador...
Paço do senado, 17 de Maio de 1873. – J. M. Figueira Basta a exposição deste quadro para se vêr quanto o
de Mello. nobre senador foi exagerado.
Ficou adiada a discussão por haver pedido a palavra O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado.
o Sr. Pompeu. O SR. POMPEU: – V. Ex. está ainda mais.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
ORDEM DO DIA. Conselho): – ...para reconhecer-se que o nobre senador
recebe informações muito parciaes.
LICENÇA AO SR. SILVEIRA DA MOTTA. Eu não contesto, Sr. presidente, que tenha havido um
ou outro abuso da parte dos agentes do poder executivo;
Entrou em 2ª e ultima discussão o parecer da mas que a autoridade na provincia do Ceará tenha merecido
commissão de constituição concedendo a prorrogação da as censuras do nobre senador, eu não o posso crer e
licença pedida pelo Sr. senador Silveira da Motta e foi contesto com o maior fundamento; sobretudo não posso
approvado. deixar de queixar-me do juizo que o nobre senador tem
enunciado a respeito do muito digno administrador daquella
PENSÕES. provincia, o Sr. Dr. Oliveira Maciel.
O nobre senador não viu nas remoções dos juizes de
Seguiram-se em 3ª discussão, e foram approvadas direito do Crato do Ipú, os Srs. Martins Pereira e Leocadio
para serem dirigidas á sancção imperial, as proposições da Pessoa, senão motivos não confessaveis de interesse
camara dos Srs. deputados mencionadas nos pareceres da politico; esses dous magistrados, segundo o nobre senador,
mesa ns. 519 e 520 sobre pensões concedidas a D. Isabel se teem portado do modo mais louvavel. Entretanto, sinto ter
Helena Velloso de Oliveira França e outros. de informar ao senado que as participações officiaes e factos
de incontestavel notoriedade publica dizem o contrario a
ADIAMENTO DA ASSEMBLÉA PROVINCIAL DAS respeito do procedimento desses ministros da lei.
ALAGOAS. O SR. JAGUARIBE: – Apoiado.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
Votou-se e foi approvado o requerimento do Sr. Paes Conselho): – Elles deixaram-se dominar pela paixão politica.
de Mendonça pedindo informações ao governo a respeito do O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado.
adiamento da assembléa provincial das Alagôas e demissões O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
dadas pelo presidente da mesma provincia. Conselho): – ...e tomaram parte activa nas eleições daquella
provincia. Sim, não se póde negar que nas casas do juiz de
NEGOCIOS DO CEARÁ. direito do Ipú e do commandante superior se reuniram muitos
partidarios durante as eleições de juizes de paz e
Proseguiu a discussão do requerimento do Sr. vereadores, e que das janellas dessas casas partiram tiros
Pompeu, solicitando informações acerca de acontecimentos que foram empregar-se na parede do edificio fronteiro, a
na comarca do Ipú, da provincia do Ceará, e sobre o igreja, ou sobre o povo que ahi se achava, produzindo
recrutamento em outras comarcas. ferimentos de diversas pessoas e a morte de uma.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do O SR. POMPEU: – E’ inexacto.
Conselho): – Sr. presidente, se o nobre senador pelo Ceará O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
se houvesse limitado a motivar a necessidade das Conselho): – Este facto não se contesta.
informações que solicita pelo seu requerimento, sem entrar Aquelle juiz de direito e o do Crato, o Sr. Martins
em considerações geraes sobre o estado politico da sua Pereira, entenderam depois das eleições, arrastados por
provincia, minha resposta a S. Ex. seria muito breve. Mas, esses mesmos sentimentos politicos, que deviam conceder
discorrendo sempre antes sobre outros factos do que sobre ordem de habeas-corpus a quasi todos os recrutas.
esses a que se referem os seus requerimentos, o nobre O SR. POMPEU: – A quantos? V. Ex. traz a relação?
senador tem pretendido fazer-nos crêr que na provincia do
Ceará não ha garantias efficazes a bem da segurança
individual e de propriedade, que se commettem
frequentemente crimes, e que esses crimes ficam impunes;
não contente com estas observações, S. Ex. nunca deixa de
accrescentar que as autoridades, se não concorrem para a
perpetração dos delictos denunciados, mostram-se
indifferentes ou pouco activas em sua repressão.
O nobre senador não accusa sómente as autoridades
subalternas; V. Ex. nos apresenta o actual presidente da
provincia do Ceará como homem dominado pela paixão
politica,
Sessão em 17 de Maio 95

O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente tem precedentes em sua vida, que mostram quanto é elle
do Conselho): – Não trago a relação... susceptivel de taes exaltamentos. Que o digam os povos
O SR. POMPEU: – Está mal informado. de Pernambuco.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente Os mesmos magistrados, a quem me tenho
do Conselho): – ...mas são numerosos os casos. referido, com o commandante superior do Crato, Antonio
O SR. JAGUARIBE: – Apoiado. Luiz Alves Pequeno, do qual fallou o nobre senador,
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente entenderam que deviam aconselhar a algumas das
do Conselho): – Esse procedimento moveu o presidente camaras municipaes, que tinham findo o seu quatriennio,
da provincia a dirigir-se ao governo ponderando as que não dessem posse ás que foram ultimamente eleitas.
difficuldades com que lutava para preencher o contigente O SR. POMPEU: – Que é da prova disto, Sr.
que tinha sido distribuido áquella provincia. Foi então que ministro?
o nobre ex-ministro da guerra expediu o aviso, que já tem O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
sido commentado nesta casa. do Conselho): – Sr. presidente, a prova disto está na
O SR. ZACARIAS: – E que agora estou lendo. informação official do presidente da provincia.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente O SR. POMPEU: – Como soube elle?
do Conselho): – O nobre ministro recommendou ao O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
presidente da provincia que autorisasse os recrutadores, do Conselho): – Por informações de pessoas fidedignas.
onde o julgasse conveniente, a assentarem praça aos O proprio commandante superior declarou ao presidente
recrutas nas mesmas localidades em que fossem que daria este conselho aos seus amigos.
recrutados. O Sr. Pompeu dá um aparte.
O SR. ZACARIAS: – Immediatamente. O Sr. Presidente tange a campa.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO: – O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
(Presidente do Conselho): – O «immediatamente» o do Conselho): – Quando o nobre senador profere as
nobre ex-ministro da guerra, senador por aquella suas graves censuras e nós lhe perguntamos pelos
provinca, já explicou o sentido que tinha e deve ter... fundamentos de tão severo juizo, S. Ex. abre algum
O SR. JAGUARIBE: – Apoiado, em termos habeis. numero de seu jornal O Cearense e nos apresenta os
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente seus artigos como unica prova.
do Conselho): – ...não impedia que se marcasse praso O SR. POMPEU: – Como faz V. Ex. com as suas
para comprovar isenções legaes áquelles que as informações.
allegassem. Quando, porém, os recrutados não O SR. PRESIDENTE: – Attenção.
allegassem isenções legaes, ou não as comprovassem, O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
porque não assentar-lhes praça immediatamente, afim de do Conselho): – A narração destes factos corre impressa
evitar esse abuso que se estava fazendo da garantia do na provincia do Ceará. O presidente da provincia, que não
habeas-corpus? tem alli interesses politicos, que não é mesmo homem
O Sr. Martins Pereira, juiz de direito do Crato, não politico...
só imitava o Sr. Leocadio Pessoa neste procedimento O SR. JAGUARIBE: – Apoiado.
para com os recrutados, senão ainda se tinha havido com O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
tal parcialidade, que não era possivel nomear do Conselho): – ...que procura administrar a provincia
subdelegado ou delegado para aquelle districto, porque com toda a moderação e imparcialidade...
todos eram mettidos em processo. O juiz municipal O SR. JAGUARIBE: – Apoiado.
Manoel Praxedes da Silva foi por elle processado, só O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
porque, em diligencia do serviço publico, se transportara do Conselho): – ...procedendo a investigações, ouvindo
do termo do Crato, onde residia, para outro de sua a pessoas insuspeitas, estando no theatro em que esses
jurisdicção; e bem assim porque suspendera factos teem occorrido, onde ha prompta e exacta noticia,
correccionalmente a um seu escrivão. Não era possivel, esse presidente informou o que ha pouco asseverei ao
como disse, nomear autoridades de policia para aquelle senado, isto é, que algumas das camaras que tinham
logar, nem mesmo juiz municipal, que não fossem do findo o seu quatriennio não queriam deixar o logar ás
agrado do juiz de direito; desde que não se novamente eleitas.
conformassem com as paixões que dominavam aquelle Allegava-se que as novas eleições não eram
magistrado, não poderiam alli ficar sem processo. válidas, punha-se, portanto, em duvida a competencia
O SR. POMPEU: – O juiz de direito não era legal do presidente da provincia para conhecer e decidir a
partidario, pelo menos não era liberal. respeito de taes eleições. Nestas circumstancias queria o
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente nobre senador que a primeira autoridade da provincia não
do Conselho): – Sr. presidente, o nobre senador sabe tomasse providencias, não mandasse força para alguns
bem que ha conservadores ligados hoje no Ceará á pontos, onde era de receiar resistencia material ás ordens
parcialidade de S. Ex.; mas eu não estou apreciando o do presidente da provincia?
procedimento do ex-juiz de direito do Crato como liberal E quando S. Ex. nos diz que se commettem hoje
ou como conservador; o aparte do nobre senador, no Ceará muitos crimes, quando pede providencias a bem
portanto, não serve senão para mostrar que lhe estou da segurança individual e da propriedade, ao mesmo
respondendo como quem procura dizer a verdade ao tempo vem estranhar que o presidente da provincia
senado, advogar a causa dos bons principios e não os pozesse alguma força á disposição das autoridades
interesses de um partido. Esse juiz de direito policiaes, não só
96 Sessão em 17 de Maio

para frustrar a tentativa de resistencia a ordens legaes, senão «Dando conta da prisão deste famigerado criminoso,
ainda para a perseguição dos criminosos?! A’s medidas passo ás mãos de V. Ex. a correspondencia official sobre
promptas e judiciosas do energico e illustrado presidente este assumpto e rogo sua attenção particularmente para o
deve-se o resultado que o nobre senador não póde deixar de officio do tenente Costa Weyne, que, embora liberal,
applaudir, a captura de muitos criminosos. Foi assim que o confessa que os principaes liberaes da comarca da
celebre faccinoroso José Gabriel de Menezes, que era o Imperatriz, cujos nomes declinara, são os primeiros a
terror da Imperatriz... acoroçoar a pratica dos crimes, protegendo
O SR. POMPEU: – Apoiado; era uma féra. escandalosamente os seus autores e procurando fazer
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do pressão sobre o animo das autoridades locaes e
Conselho): – ...foi preso, está hoje sujeito á acção da commandantes de destacamento, com o fim de frustrar todas
autoridade e das leis. as diligencias contra elles ordenadas.»
Foi um official desse 14º batalhão de infantaria, O SR. POMPEU: – O tenente que mandou dizer isso
batalhão contra cuja disciplina o nobre senador articulou calumniou; uma das influencias da localidade foi que mandou
tantas queixas... ao logar onde estava escondido esse assassino.
O SR. POMPEU: – Não contra o official. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Conselho): – O senado dará a estas informações,
Conselho): – ...foi um official desse mesmo batalhão, cujo confrotando-as com as denegações do nobre senador, o
commandante tantas censuras mereceu ao nobre senador, apreço que ellas merecem. Não é possivel que o governo
que desempenhou tão importante e bem succedida deste paiz delibere unicamente pelo que diz o Pedro II ou o
commissão. Cearense.
O SR. JAGUARIBE: – Apoiado. Vou ler outros officios, do prestante chefe de policia
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do da provincia do Ceará e de alguns de seus subordinados,
Conselho): – E consta, Sr. presidente, das informações para mostrar que o nobre senador não tem razão, que suas
officiaes, que por esse espirito reaccionario, por esse informações não são em geral exactas. Se o estado da
exaltamento politico que domina hoje na provincia do Ceará, provincia do Ceará reclama energia da parte da autoridade,
as autoridades da Imperatriz, longe de serem auxiliadas por não é porque o presidente da provincia deixe de cumprir o
alguns dos amigos politicos do nobre senador, não seu dever, não é porque o partido governista naquella
encontraram desse lado senão embaraços. provincia seja o unico exaltado, como pretende fazer crer o
O SR. POMPEU: – Foi um dos meus amigos politicos nobre senador.
quem auxiliou o tenente na captura desse criminoso. Em data de 3 de Fevereiro communicava o presidente
O Sr. Cansansão de Sinimbú dá um aparte. da provincia (Lendo):
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do «Tenho a honra de transmittir a V. Ex. nas cópias
Conselho): – Sr. presidente, os nobres senadores não juntas as respostas produzidas por varias autoridades, ás
acreditam (não lhes devemos levar isto a mal) senão o que quaes mandei informar sobre accusações que lhes foram
póde servir de censura e o que lhes consta pelo conducto de feitas pelos jornaes Pedro II e Cearense. São outros tantos
seus amigos. documentos da sem-razão com que a imprensa
O presidente de provincia, depois de informar ao opposicionista, principalmente a liberal; tem atacado
governo sobre os meios que empregou para conseguir a administração e seus agentes, attribuindo-lhes factos
captura desse grande criminoso, diz o seguinte a respeito do imaginarios ou invertendo os verdadeiros.»
official que desempenhara a commissão (Lendo): O chefe de policia, o Sr. Manoel da Silva Rego,
«Sendo, pórem, improficuas as medidas tomadas, fiz informou á presidencia em 22 de Janeiro o seguinte (Lendo):
seguir especialmente para aquelles logares um «Em vista do que acaba de communicar-me o
destacamento de primeira linha, ao mando do tenente do 14º delegado de policia do termo de Milagres, com data de 29 do
de infantaria, Alfredo da Costa Weyne, a quem dei todas as mez proximo passado, devo fazer sentir a V. Ex., que o
instrucções para realisar a dita captura, com promessa de estado do districto de Cuncas está-se tornando anarchico
recommendar ao governo imperial o serviço relevante que pelas continuas resistencias ás ordens das autoridades, as
delle esperava.» quaes, sem força publica que de prompto as auxilie, são
Este official, interpretando fielmente as vistas da victimas da exageração politica de seus adversarios, que
administração, houve-se com tanta diligencia, que conseguiu nada poupam desde a calumnia até a provocação de
levar a effeito o fim de sua commissão, quando todos ainda conflictos, no intuito de as desmoralisar ou apresental-as
julgavam impossivel fazel-o. como desordeiras. Este systema politico manifesta-se em
Accresce ainda que esta diligencia, de si tão notavel, toda a provincia, principalmente no 3º districto eleitoral, onde
realisou-se sem despendio dos cofres publicos, quando as não póde chegar a tempo a acção das primeiras autoridades;
ordenadas por meus antecessores importarão em grandes e assim, perturbado o socego publico, procuram os inimigos
despezas, sem o menor resultado. da situação attribuir a esta esse máo estado de cousas, que
«Não posso occultar a V. Ex. a satisfação que tive só é devido a elles.»
com este acontecimento, porque, junto a outras muitas O SR. POMPEU: – De que subdelegado é esse
prisões effectuadas durante a minha administração, dá á officio?
população desta provincia a certeza de que nenhum O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
criminoso, por mais temido e protegido que seja, ficará fóra Conselho): – E’ do chefe de policia.
da acção da lei: o que principalmente tenho procurado tornar O SR. POMPEU: – Refere-se a um subdelegado.
bem saliente com minha administração.» O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
Conselho): – Eis aqui um officio do delegado de policia da
villa do Assaré, datado em 16 de Janeiro (Lendo):
Sessão em 17 de Maio 97

«Cumpre communicar á V. S., as occurrencias e em seguida dous outros do chefe de policia, do subdelegado
desagradaveis que se tem dado neste termo e o estado de e do delegado de Sobral (Lendo):
anarchia que vae apparecendo, aconselhada pelo partido da Em cumprimento ás ordens de V. S. em seu officio
opposição. Como communiquei, remetti dous recrutas desta datado de 4 do corrente, no qual sou interrogado sobre o
villa para a do Saboeiro, escoltados pelo destacamento que conteúdo de um artigo do jornal Pedro II, tendo por epigraphe
aqui se acha commandado pelo 2º sargento José Umbelino, e Vandalismo, tenho a responder o seguinte:
em caminho, ao chegar áquella villa, foi a escolta atacada por «Esta subdelegacia ignora o facto do apedrejamento
um grupo numeroso de homens armados, que, forçando a da casa de Estevão José de Almeida, morador nesta villa. E’
escolta, tomaram os referidos recrutas. Vou remetter ao Dr. verdade que, alguns dias depois, contou-se que no dia 24 do
juiz municipal daquella villa o inquerito feito á escolta e mais mez passado cahiram algumas pedras sobre a casa daquelle
diligencias, para que proceda o mesmo ao competente senhor, assim como tambem sobre a casa visinha,
processo administrativo. pertencente ao importante agricultor Antonio Cabral de Mello,
Consta ter sido assassinado um individuo de nome geralmente estimado neste districto. Comquanto fosse um
André no logar Nova Olinda. Vou entrar nas indagações facto mui simples, todavia tratou-se de indagar (visto que não
policiaes. recebi queixa) se houve proposito e qual o autor e nada pude
No districto do Brejo Grande (Cairiri) deu-se uma obter de positivo.»
tentativa de morte, sendo autor Antonio de Abreu, que está Attribuo, portanto, esse procedimento, ou a um grupo
sendo processado naquelle mesmo districto. de meninos que naquella noute percorreram as ruas desta
Houveram muitos espancamentos durante as festas, e villa, dando vivas a graúdos e a miudos, e ao proprio Sr.
nada providenciei por falta de força, já tendo sido tomados Estevão com ardil e plano, para depois ter o máo gosto de
varios presos do poder do subdelegado, e o povo continua no attribuil-o a mim e aos meus supplentes, que nos presumimos
criminoso uso de armas, sendo tudo isto com direcção de de homens prudentes e honestos.
pessoas, que se oppoem ao governo. Quanto ao recrutamento e processos injustos, de que
Antes de hontem no logar Maceió, do districto desta é accusada esta subdelegacia, nada mais erroneo, porquanto
villa, tres perversos penetraram na casa de um pobre pae de um ou outro recruta, que temos remettido para essa capital,
familia, arrastaram tres filhinhas menores, que estupraram, tem voltado por bondade de V. S. e do Exm. presidente da
deixando-as depois de tão barbaro acto. provincia, visto que não tem allegado senão isenções que
Desde hontem despachei a tropa de policia á procura procuram arranjar, e se não tem esta subdelegacia contrariado
de captural-os e serei solicito na procura de taes malvados. taes documentos, é somente porque não ha de minha parte
A’ vista de semelhante estado, cumpre-me de novo má vontade e sim o zelo de inteirar o numero de recrutas que
requisitar para este termo um destacamento, ou mais praças foi imposto a este districto. O recruta caixeiro da bodega de
de policia para reforçarem o existente, que mal chega para a João Almeida foi solto por V. S. sob a falsa isenção de ser
guarnição da prisão publica, por serem sómente cinco praças caixeiro unico de uma casa commercial, e, no emtanto, este
e um sargento.» estabelecimento não passa de uma bodega ou quitanda. No
Na mesma data de 22 de Janeiro communicava o emtanto, esse moço atrevidamente lançou á face de meu
chefe de policia (Lendo): digno supplente em exercicio um chapéo velho, que havia
«Satisfazendo a exigencia de V. Ex., constante de vendido a um freguez inexperiente, dizendo ser novo, sendo
officio n. 453 de 30 de Dezembro proximo findo, relativamente solto o recruta; esta subdelegacia pudera lançar mão do
á publicação do Pedro II de 29 do mesmo mez, sob a recurso de um processo de desobediencia na pessoa delle,
epigraphe Vandalismo, transmitto a V. Ex. a cópia do officio mas não o fez sómente para não parecer represalia ou
com que o subdelegado de policia de Pacatuba acaba de perseguição.
informar-me a este respeito. E’ mais uma accusação sem Daqui se vê muito bem que não ha, nem jamais houve
fundamento adrede fabricada contra a policia local. E’ o processo nenhum injusto. Posso afirmar a V. S. que este
menos que se póde esperar na falta de materia para sanar districto nunca gosou tanto socego publico como actualmente,
accusações em uma localidade, onde F..., politico odiento, foi e se por ventura apparece essa gritaria do correspondente
o maior protagonista no derramamento do sangue que alli dessa villa para o Pedro II, é isso um plano de pessimo gosto
houve na vespera das eleições de 18 de Agosto do anno do Sr. Estevão de Almeida, afim de que voltem áquelles bellos
proximo passado, e não perde occasião de incommodar seus tempos em que elle trazia este districto em uma perfeita
adversarios.» conflagração.»
Tenho aqui o officio do subdelegado, em que declara
que os factos de vandalismo referidos pelo Pedro II, eram Officio do chefe de policia.
imaginarios quanto ás pedradas que tinham sido atiradas
sobre as casas dos Srs. Estevão José de Almeida e outros. «Rogo a V. Ex. que se digne tomar em consideração o
O SR. POMPEU: – O Sr. Estevão José de Almeida é que me communica o delegado de policia do termo de Sobral
chefe do partido conservador. no officio, junto por cópia, e levar ao conhecimento do governo
O SR. JAGUARIBE: – Porque não diz dissidente? imperial os continuos embaraços que vão trazendo á acção
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do policial alguns juizes de direito, que na provincia esquecem-se
Conselho): – O Ceará ainda soffre os effeitos da liga eleitoral, dos sentimentos de imparcialidade e justiça para obrarem por
e o nobre senador julga que com o seu aparte destróe o valor inspirações politicas, desanimando assim os bons
das informações officiaes. funccionarios e concorrendo para que os odios e intrigas
Passo a ler o officio do subdelegado de policia de continuem a alterar a ordem publica.»
Pacatuba; No Crato e Ipú esses graves inconvenientes se fazem
sentir em grande escala, como não ignora essa presidencia.
98 Sessão em 17 de Maio

Officio do delegado de policia. causa do recruta que remetti no dia 1º deste corrente mez,
Antonio Francisco do Nascimento, que não tinha isenção, mas
«V. S. sabe, por lhe haver communicado, que o a quem o juiz lhe deu habeas-corpus, já estando em caminho,
destacamento desta cidade compunha-se de 18 praças da quando mandou-me dar o motivo da prisão. Por uma portaria
guarda nacional, inclusive um inferior, sendo sete pagas pelos classificou no art. 154 do codigo penal e outros, em que me
cofres provinciaes e 11 fazendo o serviço gratuitamente, possa achar incurso no correr do processo.»
mudaveis de tres em tres dias. Assim encontrei o serviço Ora, sendo essas as circumstancias da provincia do
quando tomei posse e entrei em exercicio do cargo de Ceará, admira como o nobre senador não vê senão abusos da
delegado a 29 de Julho do anno proximo passado.» parte das autoridades, e ao passo que pede providencias
Em consequencia do grande numero de criminosos efficazes em favor da segurança individual e de propriedade,
que havia na cadêa, subindo de 50 presos, e das S. Ex. estranha que o presidente da provincia expedisse
proximidades das eleições de 18 de Agosto, onde a ordem destacamentos para alguns pontos do interior.
publica ameaçava ser transtornada, pelos preparativos com Eu posso desde já responder ao nobre senador quanto
que se ameaçava, os boatos aterradores que corriam da parte ao facto que constitue o objecto do primeiro quesito do seu
do commandante superior, Joaquim Ribeiro, reclamei, para requerimento, e que S. Ex. qualificou de attentado praticado
poder cumprir o meu dever, no dia 1º do mez de Agosto uma na comarca do Ipú pelo delegado militar, major Honorato
força sufficiente, que pudesse, sendo necessario, garantir a Candido Ferreira Caldas, contra o juiz de direito Leocadio de
ordem e a vida dos cidadãos. Andrade Pessoa.
V. S. em officio de 13 do mesmo mez dignou-se Sr. presidente, houve com effeito a occurrencia a que
responder-me, que por ordem da presidencia, tinha sido referiu-se o nobre senador; e recrutador, que então era o Sr.
mandado augmentar o destacamento com oito praças da major Caldas, official aliás muito distincto, um dos benemeritos
guarda nacional, vindo assim a ficar com 26 praças. da campanha do Paraguay...
O commandante superior, ao dia 1º de Setembro, O SR. JAGUARIBE: – Apoiado.
mandou-me apresentar oito praças, sendo tres doentes de O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
sezões e um cabo de que não havia necessidade, aquelles conselho): – ...em conflicto com o juiz de direito Leocadio
declarando-me que não podiam fazer serviço, e era visivel, e Pessoa excedeu-se; mas este juiz tambem se tinha excedido.
este dizendo-me que não vinha fazer o serviço de soldado e O nobre senador fez carga ao major do exercito, ao
sim de cabo; já não se achava nesta cidade o commandante recrutador, mas nada soube que pudesse desabonar o
superior, estava fóra. procedimento daquelle juiz!
Em consequencia da urgencia do serviço e tendo-se- Vou ler a V. Ex. a informação imparcial que desse
me apresentado quatro guardas nacionaes, voluntariamente, facto deu o presidente da provincia em officio de 22 de Abril.
dos que já tinham feito serviço, offerecendo-se-me para O SR. POMPEU: – V. Ex. só se funda em suas peças
destacar, em logar daquelles, aceitei-os. No dia 6, porém, me officiaes.
foram apresentados, por ordem do commandante superior, O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
cinco guardas para eu os pôr em logar dos quatro que eu Conselho): – Se elle o merece por sua posição e por seu
aceitei, e que voluntariamente se prestaram ao serviço, e sem caracter, se não é movido por interesses nem paixão, como
nenhuma reclamação, e um para pôr em logar de um dos quer o nobre senador que os seus informantes valham mais?
outros quatro que me havia remettido, dizendo que era de O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado.
outro batalhão. O SR. POMPEU: – Que anjo!
Ao mesmo tempo mandou retirar os onze guardas O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
nacionaes, que faziam com outros o serviço, não querendo Conselho): – (Lendo):
dar outros, de sorte que em vez do destacamento ficar, como «Tendo o juiz de direito do Ipú feito expedir uma ordem
era a ordem superior, com 26 praças, vinha a ficar com 15, de habeas-corpus em favor do recruta Odorico da Silva
menor que o de 18, que se havia mandado augmentar! Não Cedeo, que já se achava de praça assentada, aconteceu que
era possivel o serviço assim. Então fazendo-lhe vêr isto, não o escrivão incumbido da execução da referida ordem, na
pude dispensar os quatro guardas, que voluntariamente occasião de intimal-a, portou-se por tal fórma para com o
destacaram, ficando-me com os cinco que mandara em conta delegado recrutador, que este julgou-se obrigado a dar-lhe voz
dos onze, que devia mandar, requisitando-lhe o resto que de prisão. Logrando evadir-se, o escrivão refugiou-se em casa
faltava, seis, o que não me satisfez. do juiz de direito, que o acolheu e tentou frustrar a ordem de
Em consequencia, como tudo já participei a V. S. prisão, fechando as portas e recusando entregar o
contando com o juiz de direito, pelos effeitos da coalição, deu desobediente.»
uma denuncia perante este de mim, que acaba de pronunciar- O procedimento estranhavel do juiz de direito provocou
me no art. 139 do codigo criminal, depois de cinco mezes! o não menos inconveniente do recrutador, que não se
Achando-me assim fóra do exercicio de delegado, em virtude demorou em cercar a casa daquelle magistrado, afim de levar
da justiça do Dr. juiz de direito da comarca, o participo a V. S., a effeito sua ordem; o que obteve, sendo pouco depois solto o
sentindo que não tenham havido providencias pela escrivão em virtude de habeas-corpus concedido pelo juiz de
desobediencia do commandante superior á ordem da direito, que lhe dera asylo!
presidencia, diminuindo em vez de augmentar o Quando me chegou a noticia dessa occurrencia, já se
destacamento, o que talvez désse logar a esse resultado. achava destituido o major Caldas do cargo de delegado de
«Tambem estou sendo processado pelo mesmo juiz,
por
Sessão em 17 de Maio 99

policia, por não ter sido satisfactorio seu procedimento O presidente diz que o Cearense falla de um
anterior, e expedidas as ordens precisas para a substituição homicidio, que suppunha não ter esse facto relação com o dos
do destacamento de linha por uma força de policia sob o recrutas, mas que exigira informações circumstanciadas, e
commando de um official, a quem investi da delegacia. que as esperava do chefe de policia e do novo juiz de direito
Quanto ao recruta, tendo allegado e provado isenção da comarca do Crato. Ora, em presumir o presidente que a
legal perante esta presidencia, mandei pol-o em liberdade.» morte noticiada pelo Cearense não tinha connexão com o
«Com a remoção, ultimamente decretada, do juiz de facto dos recrutas, que depois de haverem assentado praça
direito, bacharel Leocadio de Andrade Pessoa, e nomeação obtiveram, não obstante, ordens de habeas-corpus do ex-juiz
do bacharel Samuel Felippe de Souza Uchoa, é de esperar de direito da comarca do Crato, em manifestar esse juizo não
que se restabeleça o imperio da lei e o respeito á autoridade deu o presidente da provincia o menor indicio de parcialidade.
na comarca do Ipú.» O juizo a respeito do pouco escrupulo com que são
Sr. presidente, o juiz de direito, como se vê, não foi accusadas as autoridades do Ceará está confirmado por
prudente; o recrutador por sua vez descomediu-se, e seria muitos factos...
exonerado por esse facto, se já não estivesse destituido O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado.
quando a noticia chegou ao conhecimento do presidente da O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
provincia. Conselho): – ...e o presidente, convencido pela sua
O senado ha de permittir que eu leia ainda outro trecho experiencia de que são innumeras as exactidões da imprensa
do officio do mesmo presidente, onde o nobre autor do opposicionista, acaso mostra-se apaixonado, incapaz de bem
requerimento encontrará confirmadas algumas das cumprir a sua missão, quando diz que o Cearense, fiel ao seu
observações com que tenho procurado demover S. Ex. do systema de inverter os factos, narrou o de que se trata ao
demasiado credito que deposita em seus informantes (Lendo): sabor dos interesses que defende? Seguramente não.
«Em officio de 27 de Março proximo findo participou- O nobre senador referiu outro facto a que ligou grande
me o recrutador da cidade do Crato que, ao divulgar-se alli a importancia, dizendo-nos: «O juiz de direito de Baturité, o Sr.
noticia da remoção do juiz de direito, bacharel Luiz de Dr. Umbelino Ferreira Catão, foi ameaçado pelo delegado de
Albuquerque Martins Pereira, e a dispensa do exercicio do policia.» Sr. presidente, o facto é real, mas ainda aqui noto
coronel commandante superior da guarda nacional, Antonio que o nobre senador, tão bem informado das cousas do
Luiz Alves Pequeno Junior, estes funccionarios exacerbaram- Ceará, não soubesse ao mesmo tempo que o digno
se por tal fórma que protestaram lançar mão de todos os presidente da provincia, logo que, averiguadas as
meios para impedir o serviço do recrutamento, e, para logo, o circumstancias desse facto, se convenceu de que o delegado
juiz de direito fez expedir ordem de habeas-corpus em favor com effeito se excedera, fazendo ameaças ao juiz de direito,
de dous recrutas, que já se achavam de praça assentada, não apressou-se a destituil-o.
obstante ter sciencia desta circumstancia pelas informações O SR. POMPEU: – Agora é que sei dessa destituicão.
que lhe foram ministradas. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O recrutador, sabendo que o coronel Alves Pequeno Conselho): – Não só o delegado foi immediatamente
reunira de antemão, em sua casa propria, grande numero de destituido, como tambem ficou averiguado que o caso não
homens armados, afim de fazer cumprir, á viva força, a ordem passara de ameaças, não tendo o juiz de direito soffrido
de habeas-corpus, e julgando prudente evitar um conflicto em coacção alguma no exercicio de suas attribuições.
que o derramamento de sangue seria inevitavel, resolveu Sr. presidente, quem assim procede, uma autoridade
soltar os recrutas, que retiraram-se para suas casas. que não hesita em demittir agentes de sua confiança, logo que
Fiel ao seu systema do inverter os factos, o jornal se convence de que elles não eram os mais aptos para
Cearense narrou o de que se trata ao sabor dos interesses exercer o mandato que lhes foi confiado, um presidente desta
que defende, e nessa occasião deu noticia de uma morte que ordem, um presidente que procede segundo taes normas,
diz ter havido e que presumo ser a mesma a que se refere o devia, pelo menos, merecer algumas palavras de tolerancia ao
promotor publico em 27 de Março. nobre senador pela provincia do Ceará; mas S. Ex., tendo
Informações que me foram ministradas sempre palavras attenuantes, achando sempre explicações
particularmente, mas de fonte insuspeita, induzem-me a crer satisfactorias para todos os factos que se imputam a seus co-
que a morte noticiada pelo Cearense nenhuma ligação teve religionarios, pelo que respeita ao presidente da provincia, que
com a occurrencia a que alludo; entretanto aguardo o nobre senador conhece pessoalmente, não lhe ouvimos
esclarecimentos mais circumstanciados, que exigi do Dr. chefe senão palavras da mais amarga censura.
de policia e do juiz de direito ultimamente nomeado para a O SR. POMPEU: – Não o accusei; pelo contrario
comarca do Crato, bacharel Joaquim Cordeiro Coelho Cintra, resalve sempre suas boas intenções.
que já seguiu a seu destino.» O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. POMPEU: – O presidente é tão parcial, que vae Conselho): – Como o nobre senador nos lê aqui muitas vezes
logo á priori justificando este facto. jornaes como documentos de suas observações e censuras,
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do ha de permittir que eu cite tambem o que li em
Conselho): – Estas palavras tão prudentes e tão naturaes da correspondencia do Ceará, publicada no diario A Nação de 13
parte do presidente da provincia do Ceará, que vê todos os do corrente.
dias comprovada a falsidade ou exageração dos factos que se O SR. POMPEU: – Ah!
imputam á mesma presidencia e aos outros agentes do poder
publico, não podem ser acoimadas de parcialidade, como o
quer o nobre senador.
100 Sessão em 17 de Maio

O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do no meio de mil improperios: faça idéa do que serão as
Conselho): – Vejamos o que ahi se refere (Lendo): outras!...
«Depois que o Exm. Sr. Oliveira Maciel assumiu a Rompeu o Pedro II, jornal do grupo miudo, alliado dos
administração da provincia, demittiu 39 autoridades do partido liberaes, tomando por pretexto a approvação da eleição da
conservador, por serem contemporaneas das eleições; pela Boa-Viagem; ora veja se o pretexto é producente.
força publica á sua disposição foram capturados 32 criminosos Presentes á S. Ex. as actas de duas eleições relativas
de homicidio; 10 de tentativa de morte; 18 de ferimentos a que deveria ter sido feita em Boa-Viagem a 7 de Setembro
graves; 23 de ditos leves; 3 de moeda falsa; 1 de infanticidio; 1 ultimo para vereadores e juizes de paz, S. Ex., depois de
de roubo; 5 de furto; 1 de peculato, etc., etc. maduro exame, approvou a que lhe pareceu mais regular.
Quem colhe resultados tão lisongeiros, em prol dos Ora, a presidencia nestes casos procede nas
governados, não se desprestigia e pouco se importa com as condições de um juiz, que é obrigado a julgar pelo allegado e
ridiculas accusações de tyrannia e outras quejandas. provado, e o allegado e provado era em favor da eleição
No Ipú o major Caldas, delegado de policia, excitado e conservadora, que, além de tudo, tinha por si a quasi
provocado ao ultimo ponto, cercou a casa do juiz de direito, totalidade da população, não se conhecendo mesmo alli um
Dr. Leocadio de Andrade Pessoa, de triste nomeada, afim de outro partido, com probabilidade de alguma de obter uma
prender um criminoso, que lá se havia homisiado. victoria regular; alli, como em muitas outras localidades, temos
O Dr. Leocadio, creando em sua casa asylo para um ou outro adversario, rari nantes in gurgite vasto.
criminosos tendo de conceder-lhes depois habeas-corpus, Tão lisongeiro resultado é devido não sómente á
com o unico proposito de impedir a acção da justiça e de antipathia que sobre si attrahiram os ligueiros, como tambem á
desprestigiar a actual administração, não se conduzia sabia direcção que tem levado os negocios publicos com
avisadamente, dando logar a que afinal a paciencia humana applausos do povo, descrente das grandes promessas dos
se esgotasse; compartilhou assim a audacia do criminoso e liberaes e seus alliados, de modo que a este respeito o povo
provocou o procedimento do delegado. formou já um proverbio: quando alguem promette muitas
Houve manifesto desatino da parte do juiz de direito, o cousas, responde-se-lhe logo: «é palavreado de chimango.»
que não era novidade para os ipuenses, que vieram o mesmo – O recrutamento tem sido procedido na provincia
Dr. Leocadio envolvido até em processos crimes! inteira com toda moderação e calma.
O Exm. Sr. Oliveira Maciel, porém, zeloso do prestigio Em geral os recrutadores só mandam prender aquelles
da autoridade, de que o Dr. Leocadio se achava revestido, individuos designados pela voz publica.
exonerou immediatamente o delegado, que teve ordem de E’ uma lei muito dura, na verdade; mas, emquanto não
recolher-se a seu corpo. fôr revogada, é uma lei, que deve ser cumprida,
Pensa que S. Ex. teve por isto uma só palavra amavel principalmente sendo o recrutamento a fonte principal da força
da opposição?.. publica.
Qual! foi insultado atrozmente por ella, em recompensa Assim, porém, não tem entendido, o juiz de direito de
de ter procurado salvar e fraco prestigio do Dr. Leocadio de Sobral, Dr. Vicente Alves de Paula Pessoa, e outros
Andrade Pessoa!! magistrados liberaes, que, só por opposição ao governo,
São cousas deste mundo! concedem a torto e a direito ordem de habeas-corpus ao mais
Aos olhos, porém, da verdadeira opinião publica, nada digno de ser recrutado, abusando assim de uma grande
escapa, e a sabia administração de S. Ex. é geralmente prerogativa.
reconhecida digna de louvores e respeitada, malgré tout ce Era impossivel deste modo um só recruta em Sobral,
qu’on dit, em sentido contrario. Ipú, Crato, etc., com seus celebres juizes de direito, cujo fim
Dous terços das nomeações feitas pelo Exm. Sr. parecia ser sómente armar a todo momento empecilhos á
Oliveira Maciel teem recahido sobre adversarios do governo: autoridade constituida.»
como é então que o presidente é intolerante e exclusivista? Nessa mesma correspondencia o nobre senador verá
Eleição do Aracaty. – Conta-se que S. Ex. depois de muitas outras accusações de S. Ex. respondidas cabalmente.
aprofundado estudo e de muitas averiguações, resolveu-se a O nobre senador que hoje fallou a proposito de um
approvar a eleição feita pelos conservadores, sob a novo requerimento sobre os factos do Ceará, já explicou ao
presidencia do 1º juiz de paz com seu escrivão e quasi a nosso illustrado collega, autor deste requerimento ora em
totalidade do eleitorado e de votantes, em uma outra igreja da discussão, que estatisticas como as apresenta S. Ex. nada
cidade de Aracaty, que não ha matriz, por estar esta provam. Para mostrar-nos que hoje no Ceará se commettem
transformada em acampamento militar, cercada por peças mais crimes do que se commettiam ha dous, quatro ou cinco
raiadas e donde partiam tiros, ameaças e indiziveis tropelias!! annos, devia o nobre senador apreciar as causas e comparar
E’ o ultimo ponto a que um partido póde chegar, como os factos dos dous periodos...
tambem é a prova mais cabal de sua nullidade!! O SR. POMPEU: – Já li aqui o relatorio do presidente.
E podia ser approvada uma eleição feita com O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
artilheria? Conselho): – ...mas o senado viu que o nobre senador teve o
Talvez, se tivessemos algum presidente desabusado, cuidado de não passar do anno de 1864.
como os houve aqui no tempo do liberalismo e do progresso; O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado.
mas não agora, quando felizmente temos um presidente dos O SR. POMPEU: – Nem cheguei a elle.
antecedentes honrosos do Exm. Sr. Oliveira Maciel. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
«Eram as duas melhores eleições liberaes da Conselho):
provincia», dizem-nos todos os dias o Cearense e o Pedro II,
Sessão em 17 de Maio 101

– Nem mesmo chegou a esse anno. Tal era o receio que o juizes de direito, dominados pelas paixões locaes, soltando
nobre senador tinha de tocar nesse 2º periodo, que nem recrutas que não tinham isenções legaes ou que não as
chegou ao anno de 1864. Verdade é que S. Ex. podia haviam allegado, por meio de ordens de habeas-corpus;
remetter-nos: para os discursos que proferiu no senado nas tendo ao mesmo tempo apreciado as observações geraes
sessões de 1864 e 1868. com que o nobre senador nos quiz descrever a provincia do
De que serve apresentar os factos de um certo Ceará em circumstancias muito criticas, lançando toda a
periodo sem poder assignalar as causas, a identidade ou responsabilidade de taes circumstancias sobre o presidente
differença das circumstancias, e sem comparar os factos de da provincia e seus delegados, eu creio que está completa a
um periodo com os de outros? Para provar que hoje ha resposta que devia ao nobre senador.
menos segurança publica no Ceará, que esta segurança tem Não é preciso accrescentar, considerando a ultima
enfraquecido de tempos a esta parte, era mister que o nobre parte do requerimento, que não foi revogado o decreto n.
senador confrontasse o numero, natureza e circumstancias 2171 do 1º de Maio de 1858, que marca um praso razoavel
dos factos, occorridos no periodo que tomou para suas para que os recrutas possam allegar e comprovar suas
observações, com os do periodo anterior; e eu creio que, se o isenções. Já está dito, a proposito do aviso que tanta
nobre senador fizesse esta confrontação... discussão levantou nesta casa, que o governo não acabou
O SR. POMPEU: – Talvez o satisfaça. com as disposições salutares desse regulamento de 1858;
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do que sómente teve por fim evitar que se demorasse o
Conselho): – ...não chegaria ás consequencias que tirou em alistamento de recrutas e seu assentamento de praça,
detrimento do credito de sua provincia. quando não tivessem allegado isenções ou não as
Seja, porém, como for, o certo é que o actual comprovassem. Neste caso permittiu-se ao recrutador que
presidente tem sob esse ponto de vista prestado relevantes assentasse praça áquelles que fossem recrutados, nas
serviços (apoiados), serviços tão notorios, tão palpaveis, que proprias localidades em que elles se achassem, uma vez que
o nobre senador não póde desconhecel-os. Elle tem a garantia legal fosse observada, isto é, uma vez que elles
empregado o zelo das autoridades e a força policial e a de não se mostrassem isentos, evitando-se por esse modo que
linha na perseguição dos criminosos, havendo conseguido já entre o recrutamento e a chegada do recruta á capital da
resultados muito vantajosos a bem da moralidade publica, da provincia se pudessem empregar todas essas manobras, a
segurança individual e de propriedade naquella provincia. que tenho alludido, abusando-se da salutar faculdade do
(Apoiados). habeas-corpus, para contrariar a primeira autoridade da
Disse-nos o nobre senador que a comarca de provincia e o governo geral no empenho legal e indeclinavel
Maranguape fôra declarada de 3ª entrancia para remoção do de completar a força necessaria ao serviço militar do Estado.
Sr. João Salomé de Queiroga, que estava na comarca do Peço, pois, ao nobre senador pela provincia do Ceará
Serro, provincia de Minas Geraes, remoção necessaria afim que, quando apresentar os seus requerimentos, quando se
de realisar-se a do juiz de direito do Ipú, o Sr. Leocadio fizer eco das queixas de seus amigos, adopte para si o
Pessoa. conselho que não cessa de dar-nos: não aceite como
Sr. presidente, ha no senado quem conheça as verdade tudo quanto lhe disserem do Ceará, não tome o
condições da comarca de Maranguape. Pedro II e o Cearense como oraculos da verdade e da justiça,
O SR. JAGUARIBE: – Apoiado; é comarca não supponha que o presidente da provincia e todas as
importante. outras autoridades do Ceará somente são movidos por odio,
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do paixão ou motivos reprovados. Reconheça o nobre senador
Conselho): – Assim como ha informações não só do Sr. que imputações tão absolutas, tão injustas e tão frequentes
Wilkens de Mattos, ex-presidente, se não tambem do actual não podem dar em resultado senão entibiar o zelo daquelles
presidente, dizendo que Maranguape, que foi desmembrada que procuram bem servir no interesse da causa publica...
da capital, donde dista tres leguas e meia, pela importancia O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado.
de sua industria agricola, numero e riqueza de sua O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
população, por todas as condições necessarias, não podia Conselho): – ...acoroçoar as resistencias illegaes, autorisar
deixar de ser comarca de 3ª entrancia. (Apoiados). Logo, a as paixões extremas (apoiados), que não só compromettem
classificação de Maranguape não foi, como injustamente os creditos dos partidos, como causam grande damno á
suppoz o nobre senador, um meio de remover o Sr. Leocadio sociedade brasileira. (Apoiados.)
Pessoa, do Crato para a provincia de Minas Geraes. Recommende o nobre senador aos seus amigos
Tendo já respondido no primeiro quesito do prudencia, respeito á lei e á autoridade. Elles não teem o
requerimento do nobre senador, pelo que toca á falta direito de dizer que o presidente da provincia, embora
imputada ao major Honorato Candido Ferreira Caldas, exercendo uma faculdade que lhe dá a lei, não podia
recrutador; tendo já ponderado ao nobre senador que estava approvar a eleição de tal camara municipal, e que, portanto,
reconhecido por discussões anteriores que o nobre ex- não se désse posse aos novos eleitos: devem respeitar as
ministro da guerra, nosso collega o Sr. Jaguaribe, havia decisões da autoridade competente. Se teem motivos para
expedido aviso autorisando os recrutadores a assentarem representar contra taes decisões, que o façam pelos meios
logo praça aos recrutados; estando tambem manifesto que o que a constituição e as leis lhes facultam, mas não se
pensamento desse aviso não era a violação da lei, mas o seu ponham em resistencia illegal, não preguem a anarchia, o
cumprimento o mais proptamente possivel, no intuito de desacato a tudo que se chama autoridade publica.
cortar, quanto pudesse ser, o abuso que praticavam alguns E, depois de todos esses factos, não venha o nobre
senador
102 Sessão em 17 de Maio

interpôr a influencia de sua palavra e de sua alta posição para O SR. JOBIM: – Sr. presidente, tratando-se deste
dizer-nos: «o presidente da provincia do Ceará e seu agentes
requerimento, eu peço a V. Ex., que tenha alguma tolerancia,
não fazem senão injustiças e excessos; os queixosos teem dequando eu disser alguma cousa que não seja absolutamente
seu lado toda a razão e direito, são victimas innocentes dasobre a materia, mas que venha a ser relativa a ella e ao fim
autoridade e de seus adversarios da localidade.» Procedendoque tem em vista. Faço este pedido, porque ordinariamente V.
assim, o nobre senador não dá á autoridade publica o Ex. me adverte mais de pressa do que a outros, quando pensa
concurso de que ella carece, para que seja respeitada antesque estou fóra da ordem, ou quando digo alguma cousa que
pela força moral, pelo acatamento que se deve tributar ao não é immediatamente ligada á materia.
principio legal, do que pelos meios materiaes. O SR. ZACARIAS: – Está-se sangrando em saude.
Eu reconheço com o nobre senador que as O SR. JOBIM: – ...porque ás vezes é necessario
circumstancias da provincia do Ceará reclamam muita usarmos de circumloquios, para chegar melhor ao fim a que
attenção do governo e do seu delegado, mas não pelo motivo nos propomos; como quando se dirige um tiro, que é preciso
a que o nobre senador attribuiu esse estado de cousas, e sim
afastarmo-nos um pouco do objecto para melhor acertar.
pela effervescencia das paixões que o nobre senador, assim Principiarei citando estas palavras, que foram
como o governo, deve esforçar-se para que arrefeçam. reproduzidas em outro recinto:
Tenho concluido minha resposta ao nobre senador «E’ invencivel aquelle que resiste aos homens para
pelo Ceará. obedecer a Deus.»
O SR. POMPEU: – Sinto não ter mais a palavra. São palavras que li em um discurso que se distribuiu
O Sr. duque de Caxias, orador da deputação que fôracom profusão nesta casa e que são de um arcebispo que
encarregada de apresentar a Sua Magestade o Imperador o desobedeceu despiedadamente ao seu governo. E é
decreto da assembléa geral, fixando as forças da terra para o
necessario que attendamos ao sentido em que ellas foram
anno financeiro de 1873 – 1874, disse que ella cumprira a sua
proferidas. O que seu autor quiz entender por Deus? Pelo
missão, dignando-se o mesmo augusto senhor responder: contheudo do seu discurso entende-se que Deus é a curia
«Que examinaria.» romana ou o Papa, e por homens quiz dizer os governos civis,
O Sr. presidente disse que a resposta de Sua os soberanos de todas as nações. Este sentido é evidente.
Magestade o Imperador era recebida com muita especial Por consequencia, a proposição, no verdadeiro sentido
agrado. que lhe quiz dar o seu autor, é uma blasphemia, uma
Proseguiu a discussão do requerimento do Sr. impiedade. Não se póde dizer, no sentido em que elle a
Pompeu. tomou, que é invencivel aquelle que resiste ao governo de sua
O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Sr. presidente, nação, como resistiu Haneman, para obedecer ao Papa; isso
não costumo negar meu voto a requerimentos em que se é ma blasphemia horrivel.
pedem informações; procedendo assim agora devo fazer uma Isto, Sr. presidente, é inadmissivel, é anarchico e muito
declaração. perigoso, porque a historia ecclesiastica que póde ser
Conheço pessoalmente e desde muito tempo o actual estudada, e consultada por todos, nos mostra quantos papas
presidente da provincia do Ceará; em meu conceito é um tem havido que tem errado mesmo em materias de relegião;
cidadão por muitos titulos digno de estima (apoiados); pelahouve um que sustentou huma heresia horrorosa, que se
sua intelligencia, espirito de justiça e imparcialidade com que
assemelhava de alguma maneira ao atheismo, ou arianismo,
se comporta no desempenho dos cargos que lhe são que foi o papa Honorio, que sustentou o monothelismo, e em
confiados. consequencia disto não somente foi considerado hereje, mas
O SR. JAGUARIBE: – Apoiado; é muito digno destituido do poder pontifical. Não houve outros papas que
administrador. commetteram tambem erros que foram reconhecidos pela
O SR. VISCONDE DE JAGUARY: – Eu tenho por mesma igreja e banidos della.
infundadas as informações que foram prestadas ao nobre E não houve um papa, chamado Estevão VI, cuja
senador, autor do requerimento e desejava que o nobre historia é conhecida? Tendo um portuguez bispo do Porto,
senador averiguasse bem os factos em que se baseão as chamado Formoso ido para Roma, por suas virtudes
accusações feitas á aquelle presidente. Aos que se contentam
conseguio ser eleito papa, mas como fosse rival delle Estevão,
com uma administração justa e imparcial elle satisfaz que tambem pretendia então a thiára logo que morreu,
completamente. Estevão, alcançando o pontificado, mandou desenterrar o
Voto pelo requerimento, ficando, porém, entendido que
cadaver do papa fallecido, cortar-lhe a cabeça, em plena curia
em meu conceito o actual presidente do Ceará, é digno de os dedos os braços e atirar ao Tibre o corpo assim mutilado,
continuar a ter a confiança do governo. que depois foi recolhido por pescadores e enterrado por uma
O Sr. F. Octaviano, pronunciou um discurso que mulher piedosa em logar que não era sagrado. Não houve em
publicaremos no appendice. João VIII a papesse como lhe chamam os francezes, e um
Ninguem mais pedindo a palavra, e não havendo Alexandre VI, etc. etc.
quorum para votar-se ficou encerrada a discussão. Como, pois, podemos dizer que obedecer ao papa é
obedecer a Deus? deixão elles de ser homens? As
REPRESENTAÇÕES CONTRA OS ACTOS DOS BISPOS DE apparencias não são essas. E’ certo que quem vae á Roma
PERNAMBUCO E PARÁ. vê, como eu tive occasião de ver, no Vaticano, que quando
passa o papa todos se ajoelham e batem nos peitos,
Entrou em discussão o requerimento do Sr. Vieira da entretanto que quando passa o sacramento parece-me que
Silva pedindo informações ao governo sobre as providencias fazem
tomadas com relação ás representações contra actos dos
bispos de Pernambuco e Pará.
Sessão em 17 de Maio 103

menos caso. Eu não aceito, portanto, esta doutrina; o papa qual achava-se nessa occasião em Paris, aonde tinha ido
para mim não é Deus, para que se deva obedecer-lhe em aprender alguma cousa, porque até então os reis de Portugal
tudo, e por tudo, não senhor. nem assignar seu nome sabiam.
Sr. presidente, se fosse licito a qualquer em algum O SR. ZACARIAS: – Em toda a Europa assim era.
caso regosijar-se com as desgraças do seu paiz seria O SR. JOBIM: – E’ facto conhecido que Affonso III
certamente occasião para isso o procedimento que tem tido estava aprendendo a ler e escrever em Paris, onde soube
agora os nossos bispos, seria motivo para regosijo digo tambem o que se tinha passado com S. Luiz na pragmatica
daquelles, que aqui se oppuzeram com todas suas forças ao sancção, e a resistencia que outros paizes da Europa
decreto, que aboliu o recurso á corôa das decisões dos oppunham ás pretenções de dominio universal de Roma.
bispos, abolição, ainda que não absoluta, mas que muito os Tendo aprendido, veio para Portugal na intenção de resistir ás
animou como muito bem foi aqui previsto. Entre os que pretenções de Roma; resistiu com effeito, e ella não teve
fizeram essa opposição muito se destinguiu o nosso collega, remedio, senão conformar-se e calar-se, porque tambem
de saudosa memoria (apoiados), o Sr. Furtado, que em um nesse tempo se via em grandes difficuldades com a questão
discurso que todos podem ver nos nossos annaes mostrou dos Albigences, dos quaes um dos preceitos era condemnar
evidentemente a illegalidade, com que esse decreto tinha sido os padres, irmandades e ordens religiosas que possuissem
publicado, porque revogou clara e manifestamente muitas leis bens de raiz. Estas difficuldades fizeram com que Affonso III e
e não se respondeu ás objecções que apresentou aquelle depois el-rei D. Diniz seu filho conseguissem o que
nobre senador mostrando que é inteiramente nullo semelhante desejavam, libertar-se do dominio de Roma.
decreto; não se lhe respondeu senão com sophismas, com Foi tambem no reinado de D. Diniz que se estabeleceu
paralogismos e declamações ocas, com argumentos de o placitum regium, á imitação do que estava estabelecido em
contrario sensu, com argumentos de analogia, com outros paizes da Europa; e este placitum regium subsistiu até
argumentos que nenhum valor tinham, com considerações D. João II, deixando então de existir, porque nos governos
genericas que nada valem. Ninguem até hoje foi capaz de absolutos muitas vezes grandes resultados se observam, por
refutar o discurso do nosso finado collega, que podemos um motivo futil e ridiculo, relativamente aos interesses geraes
consultar em nossas colleções. das nações. Assim foi que D. João II revogou o placitum
Senhores, é necessario que nós não percamos de regium, para que o papa reconhecesse como legitimo um filho
vista a recommenação que fez um nobre portuguez, homem natural que tinha e muito amava de nome Jorge; e a
velho, experimentado nas cousas deste mundo, que foi aio de consequencia dessa revogação foi virem depois para Portugal
El-Rei D. Sebastião, até a edade de 10 annos, em que elle o os jesuitas e a santa inquisição.
entregou ao jesuita Gonçalves por ordem da avó do Rei, D. O SR. VISCONDE DE SOUSA FRANCO: – D. João II
Catharina, então regente. Elle lhe disse: «A Igreja, Senhor é a dentro de sete annos, revogou essa determinação, tantos
porta por onde tem entrado muitos desgostos para esta foram os abusos da curia romana.
monarchia.» E, com effeito, senhores, desde o principio da O SR. CANDIDO MENDES: – Tudo isso é inexacto.
monarchia portugueza, D. Affonso Henriques foi obrigado a O SR. JOBIM: – Vieram os jesuitas e a santa
constituir-se foreiro de Roma; porque? Para que Roma não lhe inquisição, que tanto se affastavam da indole da religião de
fizesse o mal que podia fazer na sua omnipotencia nesse Christo, como a terra está longe do sol, porque se Jesus
tempo de trevas, unindo-se a Hespanha; por isso obrigou-se Christo manda que amemos o proximo como a nós mesmos,
elle a pagar-lhe, como fôro todos os annos, quatro onças de como é admissivel que por differenças de religião, um por
ouro. simples pensamento, por uma só palavra se leve um homem a
Essa sujeição de Affonso Henrique ao papa animou-o, ser queimado vivo!
como animou aos bispos tambem, assim como os animou E’ o que fazia a santa inquisição, e o que se deseja
agora este decreto que revogou o direito do recurso a corôa que reappareça entre nós, é esse predominio de Roma sobre
de quem era direito soberano em todos os casos. O resultado nós, que se pretende quando sustenta-se que a igreja é
foi que os bispos assentaram que tinham em Portugal direito independente, e que é preciso revogar o que está sabiamente
de legislar como em casa sua sobre todas as cousas que estabelecido na nossa constituição, isto é o placitum regium,
tivessem a menor relação com a religião, e legislavam de tal para que toda a milicia jesuitica do papa possa fazer quanto
maneira que obrigavam aos povos a deixar em testamento quizer, e o nosso governo abaixe a cabeça. Isto não é
alguns bens de raiz aos conventos, aos bispos e as igrejas pro possivel, não é admissivel neste seculo, desenganem-se.
bono animœ suœ; de sorte que o resultado era a ruina Sr. presidente, aqui se disse que a maçonaria vinha
completa do Reino de Portugal que vinha a ficar pertencente desde o templo de Jerusalem, que foi destruido por
na sua totalidade a Roma ou ao Papa, que era o senhorio Vespasiano e principalmente, por seu filho Tito; e que os
directo daquelle paiz. maçons não tem outro fim senão restabelecer o templo de
Então o 4º rei de Portugal D. Sancho II oppoz-se a isto Salomão. E’ natural que um ou outro maçon escreva cousas
por um decreto, e contra esta opposição sahiu a campo o que não sejam exactas, porque a vaidade é natural no
arcebispo de Braga, não querendo que se cumprisse o coração humano; presume-se que a antiguidade augmenta a
decreto do rei; que determinava que nenhum sacerdote, bispo, nobreza, e que quanto mais antiga é uma instituição mais
irmandade, ou convento podesse possuir por compra ou nobre é ella. Mas a origem da maçonaria data de época mais
legado mais bens de raiz sem o seu consentimento. proxima á nossa, data da idade media. Tenho aqui uma
Despresando o rei esta representação do arcebispo de Braga escripta com muita gravidade, é a historia da
veio em soccorro o papa excommungando o rei, e desligando
o povo portuguez do juramento da obediencia que lhe devia,
de sorte que Sancho II teve de perder a corôa, e ser
substituido por seu irmão Affonos III, o
104 Sessão em 17 de Maio

igreja e da escravidão na edade media obra dedicada ao bispo droit humain, ne sont pas dans l’eglise, mais dans les Ghlides,
de S. Diniz por Armando Riviére: ahi se mostra de maneira dans le Franc-Maçonerie, dans les conjurations de ces
bem evidente qual foi a origem da maçonaria. pauvres esclaves, de ces artisants, de ces paysans asservis,
Naquella época particularmente no VIII e IX seculos qui s’unissent pour rever la conquête de leur liberté.»
bispos exerciam crueldades inauditas contra seus captivos; Eis aqui a origem verdadeira da maçoneria senhores,
eram elles, as irmandades, e os conventos que possuiam não foi outra. As demais sociedades pelas perseguições que
maior numero de escravos; e como os tinham em grande soffriam, foram-se transformando de outro modo e
quantidade, exerciam, para os conter, as crueldades que desapparecendo, mas esta pela sua discrição e pela sua
nesta obra estão transcriptas dos Capitulares de Carlos bondade foi continuando até nossos dias Em Portugal ella só
Magno e das leis religiosas de Alfredo, rei da Inglaterra. Por entrou em 1797 quando lá foi uma força ingleza destinada a
essa legislação barbara feita pelos bispos tinha o senhor assegurar a independencia e liberdade de Portugal, pela qual
sobre o escravo o direito de arrancar o nariz, de cortar-lhe a sempre os inglezes tiveram muito zelo, talvez mais por
lingua, de cortar-lhe os dedos, decepar-lhe as mãos, emfim aversão a Hespanha, do que por amor a Portugal.
tinha o direito de castigal-o de qualquer maneira, comtanto O SR. CANDIDO MENDES: – Está pouco inteirado
que o não matasse immediatamente, porque neste caso era dessa historia.
preso; mas se o escravo morria 3 dias depois do castigo, não O SR. JOBIM: – V. Ex. está mais inteirado do que o
havia motivo para prisão. Além disto o escravo não tinha o autor desta obra? Pois não! Não acredito; póde pregar quanto
diréito de queixar-se de qualquer homem livre, porque era quizer, não o creio.
considerado homo infamis, e os homens livres eram (gentis Mas, Sr. presidente, no requerimento de que se trata
homes) donde vem gentil homem e os escravos constituiam pergunta-se quaes são as medidas que o governo tem tomado
quasi metade da população da Europa. a respeito do procedimento dos nossos bispos. Eu não sei
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Houve quaes sejam as providencias que o governo possa tomar a
tempo em que constituiam mais da metade. respeito do que os bispos estão praticando, elle o dirá.
O SR. JOBIM: – Não eram escravos sómente os Em outro tempo, no tempo do despotismo, a
povos conquistados, mas tambem por muitos motivos se confiscação das temporalidades era um grande recurso, de
obrigava um homem livre a tornar-se captivo; assim se um que lançavam mão os governos para conter os bispos...
individuo contrahia dividas, e não tinha meios de pagal-as O SR. CANDIDO MENDES: – Magnifico conselho!
ficava captivo de seu credor, e este podia vendel-o porque era O SR. JOBIM: – ...mas hoje elles podem levar seu
pecunia sua. fanatismo a um ponto extraordinario, e acham apoio, porque
Tinham os bispos esse poder, e legislavam os infelizmente o nosso povo em materia de religião está muito
monarchas Carlos Magno e Alfredo de Inglaterra era com os dado ao fanatismo e ás superstições.
bispos que davam a lei, porque sómente estes eram os que O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Não é
sabiam ler, escrever e fazer alguma cousa: os proprios livres, tanto como se pensa, está resistindo por toda a parte.
que sabiam eram raros. O SR. JOBIM: – Os barbadinhos, que veem aqui
Ora, essas crueldades extraordinarias praticadas pelos vender amuletos nominas, patuás e bentinhos (apoiados e não
proprios bispos, que erão os legisladores dessa época, apoiados) estou persuadido que nos fazem grande mal,
fizeram com que apparecessem essas sociedades de mutuo promovendo o fanatismo e a superstição, sem nada
soccorro, porque no meio dessa barbaridade sempre havia ensinarem que preste. Este mal é muito maior do que algum
alguns homens que acreditassem no preceito essencial de beneficio que nos possam ter feito; um ou outro beneficio que
Jesus Christo: amarmos a Deus sobre todas as cousas e o delles tenha resultado não compensa o grande mal, que nos
proximos como a nós mesmo; sempre houve quem fazem vendendo bentinhos e patuás.
acreditasse neste grande preceito; por consequencia O SR. PAES DE MENDONÇA: – Os serviços que elles
formavam essas sociedades em que entravam alguns livres, tem prestado são bem conhecidos no paiz.
verdadeiros christãos bemfazejos, para soccorrer os O SR. JOBIM: – Aqui mesmo em cima da serra andam
desgraçados, para libertal-os, para emfim beneficial-os e elles fazendo esse negocio.
protegel-os de todo o modo que podessem. O SR. CANDIDO MENDES: – E a moral que pregam?
Permitta V. Ex. que eu leia uma passagem desta obra O SR. JOBIM: – Eu sei qual é a moral de Roma;
em que se faz referencia a esses actos. (Lê): «Quand la liberté venham com a moral tambem lá estive, e soube de muito boas
est proscrite, arretée dans son cours, et son expansion cousas, não faz differença de qualquer outra grande cidade da
naturelle, elle se creuse un lit souterrain, elle chemine dans les Europa.
tenébres par des voies tortueuses, elle devient conspiration. Se em materia de religião ha em nosso povo muito
Quand le despotisme croit l’avoir tuée et enterrée; penetrez un fanatismo, muita superstição e bem pouca religião verdadeira,
peu la couche populaire d’une nation, qui semble immobile et ha tambem em politica muita propensão para anarchia;
vouée á un morne asservissement, vous trouverez la liberté á portanto é necessario que procuremos por todos modos sahir
l’ étal latent, et menaçant le pouvoir que l’opprime. Elle das circumstancias desgraçadas em que nos o achamos, e eu
s’organise en conjuration, el s’appelle Ghilde, commune jurée, não vejo outro meio senão promovermos a instrucção publica
Franc Maçonerie, Saint Wahme, Jacquerie etc.» o mais que fôr possivel, e por todos os
É depois de descrever essas leis barbaras feitas pelos
bispos, das quaes apresenta varios extractos, como por
exemplo de arrancarem-se recipocramente os cabellos e as
barbas, quando eram apanhados nestas sociedades, continúa
dizendo: «Non, le vrai christianisme, le veriable
Sessão em 17 de Maio 105

modos possiveis, porque assim ficará o povo em para contestar a famosa oração do nobre senador pelo
circumstancias de poder resistir ás seducções do fanatismo e Maranhão, o Sr. Candido Mendes de Almeida, oração que
da demagogia. (Apoiados) corre impressa em folheto, com titulo especial, não de
Alem disso nós vemos quanto o nosso povo continúa a discurso proferido perante o senado sobre o voto de graças,
ser victima de uma avaresa muito reprehensivel, que é mas como se fôra um pamphleto contra a denominada politica
necessario tratarmos de acabar. Ouvi a um dos nossos religiosa do gabinete.
respeitaveis collegas e em quem muito acredito, que os bispos O que me cumpre fazer nesta occasião é informar ao
hoje estão recommendando a todos os vigarios que lhes senado, em nome do governo que esse assumpto ha de ter
mandem dinheiro e mais dinheiro para ser remettido para uma decisão tomada sobre o recurso que uma das confrarias
Roma. Ora, se isto é exacto, como creio que é, pois tenho da cidade do Recife interpoz para a Corôa, contra o interdicto
muita confiança na pessoa que m’o referiu, pergunto eu: Que que lhe puzera o Revm. prelado daquella diocese. Este
direito teem os bispos de levantar desta maneira um tributo? negocio foi commettido ao estudo da illustrada secção do
Se o desgraçado vigario não remette dinheiro, tem o bispo á conselho de Estado, que consulta sobre os negocios do
sua disposição a ex-informata conscientia que póde ser Imperio; provavelmente será ouvido tambem o conselho de
elastica, suspende-o, e o governo não tem mais direito de Estado pleno, e então o governo ha de proferir a decisão que
reintegral-o. Por conseguinte; ainda hoje, os bispos podem fôr de sua competencia e que o caso exigir.
deste modo estabelecer tributos. Creio, como disse ha pouco o nobre senador pelo Pará
Demais, estamos vendo as quantias extraordinarias em seu aparte, que ha recurso, e que nosso direito
que elles exigem por qualquer dispensa de casamento. O ecclesiastico não é felizmente o que expoz o nobre senador
senado deve lembrar-se do requerimento que aqui fiz ha pelo Maranhão, quando negou até a legitimidade do placet,
tempos, pedindo ao governo que mandasse perguntar ao Sr. entendendo que em conjuncturas como esta não ha outro
bispo do Rio Grande com que direito exigia 500$ e 1:000$ por remedio senão ir a Roma.
qualquer dispensa de casamento; e o bispo respondeu que Ao prestar esta informação ao senado, eu não posso
tinha direito, não sei fundado em que, de exigir 2 ½ % da deixar de accrescentar algumas reflexões, que serão muito
fortuna de qualquer pessoa por esse motivo. Ora, se o breves, porque desejo não prejudicar o discurso do nobre
individuo tem duzentos contos, o bispo tem direito a exigir senador pela Bahia, além da promessa solemne que ha pouco
cinco contos por uma dispensa; onde vae isto parar Sr. lhe fiz. As reflexões, a que acabo de alludir, são as que
presidente? e como póde elle saber ao certo que o individuo derivam naturalmente de minha posição especial
possue duzentos contos? relativamente a maçonaria brasileira...
A’ vista deste procedimento parece que alguns dos O SR. F. OCTAVIANO: – Apoiado.
nossos bispos, depois de terem estado em Roma, onde se O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
portaram de maneira pouco airosa ao nosso paiz, porque Conselho): – O nobre senador pelo Maranhão, que tomou a si
foram collocar-se ás sopas do Papa, o que foi muito reparado defender os actos dos prelados, exerceu um exame
por um vigario nosso, o qual achou extraordinario que os verdadeiramente inquisitorial sobre tudo quanto se tem
bispos allemães e de outras nações procurassem habitação publicado contra ou por parte dessas associações em todo o
sua e vivessem á sua custa, ao posso que os nossos foram mundo; e dahi concluiu que a maçonaria brasileira está
ser commensaes do Papa, para estarem por tudo quanto elle identificada com a da Europa, não só nos fins que são
quizesse; parece-me, dizia eu, que os bispos vieram com a communs a todas, mas até nos interesses especiaes das
esperança de voltar depois de arranjarem muito dinheiro para sociedades em meio das quaes ellas vivem. Por essa logica
se fazerem cardeaes. Será satisfatorio para nós vermos absoluta e fatal, o nobre senador chegou a deduzir que a
brasileiros cardeaes, e mesmo Papas, mas póde acontecer- maçonaria tem por consequencia; proxima e inevitavel, a
lhes o que aconteceu ao bispo do Porto, Formoso, a cujo communa de Paris. Proposições desta ordem, Sr. presidente,
cadaver Estevão VI mandou cortar o pescoço, como já referi, só as póde enunciar quem está allucinado por um principio, ou
(Riso). pela defeza de uma causa, e não conhece o que é a
Portanto, Sr. presidente, não sei a solução que o maçonaria no Brasil.
governo poderá dar a este requerimento nas circumstancias O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Como V. Ex., não?
em que nos achamos, visto o decreto a meu vêr nullo, relativo Peço a V. Ex. que não se exceda; eu o respeitei.
a ex-informata consciencia. Não sei se o governo terá O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
coragem como deve ter, de acabar com esse decreto Conselho): – Creio que nas palavras que acabo de proferir
inteiramente nullo, que tirou ao governo o direito de tomar não ha offensa ao nobre senador. (Apoiados.) Dizer que elle
conhecimento de todos os recursos que os padres em geral está allucinado por um principio ou pela causa que defende, e
podiam procurar, ou aquelles que são excommungados que não conhece a franco-maçonaria do Brasil, não é irrogar-
podiam ter para o governo, o poder soberano da nação. lhe uma injuria. Dizer, porém, que uma associação a que
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – O governo tenho a honra de pertencer se parece com a communa de
tem todo o direito de fazer acabar com isso. Paris, é certamente uma proposição offensiva...
O SR. JOBIM: – Não continuarei, Sr. presidente, páro O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Onde está isso em
aqui, porque para ser considerado herege como tenho sido, meu discurso?
basta o que já tenho dito no interesse do paiz e por amor da O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
verdade. Conselho): – ...não só ao orador que ora se dirige ao senado,
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do mas ainda a um grande numero de brasileiros.
Conselho): – Não me proponho discutir largamente o
assumpto de que trata o requerimento, ou antes sobre que
versou o discurso do seu autor, e menos pedi a palavra
106 Sessão em 17 de Maio

O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não proferi tal os interesses da religião no Brasil por outro modo,
cousa; V. Ex. está levantando um castello. concorrendo para que se eduque melhor o nosso clero, para
O SR VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do que se regenere o actual (apoiados), para que os prelados
Conselho): – O nobre senador disse que era consequencia edifiquem os seus rebanhos, evangelisando, diffundindo a luz
dos principios professados pelas sociedades maçonicas a e a fé religiosa com as palavras apostolicas, com o exemplo
communa de Paris ou a internacional; se isto não está no seu de sua dedicação a Deus e á sociedade, de quem são
discurso, eu creio ter-lhe ouvido. pastores. E’ assim que se deve fallar as consciencias e não
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Eu não disse isso; começando por expellir da Igreja Catholica os membros de
V. Ex. está enganado. uma associação, que existiu no Brasil ha tantos annos,
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do sempre como associação pacifica e beneficente. (Apoiados)
Conselho): – Seja assim... E’ dificil a discussão com o nobre senador pelo
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ preciso pôr as Maranhão nestas materias, porque, além de ser elle muito
cousas no seu logar. competente por sua erudicção, o que digo sem ironia, tem o
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do defeito de suppor que os outros nada sabem inteiramente da
Conselho): – ...até estimo a rectificação do nobre senador, historia e direito ecclesiastico.
isto é, que S. Ex., não maldissesse tanto a maçonaria O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Perdôe-me; é
brasileira como eu suppunha ter-lhe ouvido. defeito que só V. Ex. descobre.
Sr. presidente, eu entrei na maçonaria ha muitos O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
annos e nunca vi que ella se occupasse com a religião nem Conselho): – De sorte que nem mesmo quanto á maçonaria,
com a politica do Estado; foi sempre a meus olhos, pela que estou vendo, que estou praticando, me permitte S. Ex.
experiencia que tenho, uma associação destinada a socorrer que eu saiba alguma cousa.
os seus membros e a promover o aperfeiçoamento moral e Seja-me, porém, relevado o recordar que em outros
intellectual do homem. Se ella faz pouco neste segundo tempos foi a maçonaria muito favorecida pelos papas;
empenho, se tem creado poucas escolas, os actos de quando os maçons tinham o nome de pedreiros livres,
beneficencia são incontestaveis (apoiados); muitas familias gosaram de privilegios como corporações mechanicas ou de
recebem auxilio dessas sociedades, que se pretende artistas, e a esses obreiros se devem os grandes
estigmatisar, a que se pretende mesmo negar os fóros de monumentos do christianismo na Europa.
cidade no Brasil. O SR. F. OCTAVIANO: – As cathedraes do Meio-Dia
Ainda moço fui convidado para uma das lojas da Europa...
maçonicas, em que filiei-me; deixei depois de frequental-a O SR VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
durante muitos annos, até que em 1869 fui chamado ao Conselho): – Bonifacio IV, Nicoláo III, Benedicto XII
cargo que hoje exerço de chefe de um dos circulos protegeram os pedreiros livres, conferindo-lhes importantes
maçonicos. Nesta posição fui precedido por homens tão privilegios (Apoiados).
reconhecidamente bons catholicos, como eram os Srs. José O SR. MENDES DE ALMEIDA: – V. Ex. faz um
Clemente Pereira, marquez de Abrantes, Marcellino de Brito, descobrimento maior do que o de Colombo!
visconde do Uruguay... O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. F. OCTAVIANO: – Cayrú... Conselho): – E’ que V. Ex. conhece a maçonaria pelos livros
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do de seus detractores, interessados em quebrar o que julgam
Conselho): – ...barão de Cayrú, visconde de Albuquerque, um extenso e forte elemento do progresso social.
José Bonifacio, o patriarcha da nossa independencia, e o Sr. Depois que, no principio do seculo XVIII, a maçonaria
D. Pedro I, fundador deste Imperio. Aceitando essa posição, se converteu em associação philosophica e em alguns paizes
soube que tinha sido ao mesmo tempo eleito para o cargo de tomou parte activa na politica do dia, desde então começou a
chefe adjunto um de nossos homens mais respeitaveis, que perseguição contra ella. Essa perseguição, Sr. presidente,
hoje já não existe, o Sr. Furtado, tambem considerado como não se limitou á excommunhão; muitos maçons subiram no
perfeito catholico. Portanto, estava eu muito longe de prever cadafalso, foram victimados. O que, porém, ganhou com isso
que o que fôra permittido ao Sr. José Clemente Pereira, a religião e a politica? Triumphou a verdade; a maçonaria
provedor da Santa Casa da Misericordia, por muitos annos continuou a existir, propagou-se ainda mais e hoje é por toda
ao Sr. marquez do Abrantes, que lhe succedeu na parte respeitada; apenas em dous ou tres Estados era ainda
administração da mesma Santa Casa, fosse um crime, uma prohibida até época moderna, creio que na Austria, na Russia
heresia, uma offensa à religião do Estado, quando praticado e na Hespanha; neste ultimo paiz, o senado sabe que a
por mim. maçonaria está restaurada; em toda a Allemanha ella
Aceitei o encargo dos maçons do circulo do Lavradio, floresce.
e não me arrependo; decretem os nobres senadores, Os maçons não foram perseguidos sómente em nome
segundo a sua theologia e direito canonico, quantas do catholicismo; até o Sultão de Constantinopla os perseguiu;
excommunhões quizerem; minha consciencia está tranquilla, donde se vê que a perseguição tinha outra origem que não a
minhas relações com Deus são as de um perfeito christão. religião; provinha da influencia que elles exerceram por esses
Não julgo conveniente, Sr. presidente, defender a tempos sobre os successos politicos de alguns paizes. Sabe-
religião do Estado, como o fazem os ultramontanos; desejara se, por exemplo, que na Grã-Bretanha a maçonaria
que os espiritos illuminados, que, como o nobre senador pelo concorreu para a restauração da monarchia destruida por
Maranhão, possuem tanto saber ecclesiastico, promovessem Cromwell; Carlos II subiu ao throno de
Sessão em 17 de Maio 107

seu pae por influencia dos maçons da Inglaterra e O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
principalmente dos da Escossia. Conselho): – O nobre senador não julgue mal da maçonaria,
Mas no Brasil a maçonaria quasi que tem sido inutil porque ella professa a tolerancia religiosa, porque em seu
para a politica; tem vivido inteiramente á parte, pacifica e seio teem logar todas as crenças e todas as nacionalidades.
neutra, de sorte que politicos de todos os credos encontram- Se isto é um crime, a sociedade civil o está commettendo a
se nessas reuniões com a maior fraternidade. todo momento, porque penso, Sr. presidente, que o Brasil;
Os symbolos maçonicos, de que tanto se fallou, são por ser uma nação catholica, não deixa de ter boas relações
allegorias e tradicções que nada significam contra a religião; com as nações protestantes e até com a Turquia.
riam-se delles os nobres senadores, que com tanta piedade Desde que a maçonaria não trata nem de politica,
dizem amen á excommunhão dos maçons brasileiros, mas nem de religião; desde que sua missão é puramente moral e
não alleguem isso como prova de que somos hereticos ou beneficente, essa fraternidade é natural e muito conforme, á
heresiarcas. O templo de Salomão, cuja allegoria o nobre religião christã e aos interesses geraes da humanidade.
senador considerou como uma das suas pedras de O SR. MENDES DE ALMEIDA: – O juiz competente
escandalo, não é senão a primeira manifestação do dogma não diz isto.
de um só Deus verdadeiro, uma recordação allusiva ás obras O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Juizes
de arte dos antigos pedreiros livres, um symbolo do templo somos nós todos.
moral e universal em que a civilisação christã deve reunir O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
toda a humanidade. Todos esses symbolos são tirados da Conselho): – Eu creio, Sr. presidente, que esta materia – a
historia sagrada, e, pois, não sei como os que não se maçonaria no Brasil – está sob o dominio da razão e da
dedignam de usar da mythologia creada pelo paganismo, até censura publica, que não é um ponto de fé. (Apoiados). Deus
veem uma blasphemia na expressão «supremo archithecto nos livre de que passe semelhante principio, que nega-nos o
do universo», como se Deus não fosse o creador do mundo, direito de apreciar o caracter e tendencias de uma
e por essa formula não se adore a sua sabedoria, o seu associação civil brasileira, sob o fundamento de que o poder
poder e a sua bondade.(Apoiados.) espiritual a declarou anti-religiosa. Se hoje admittir-se esse
Enfim, Sr. presidente, tudo o que sei da maçonaria é principio em relação á maçonaria, amanhã o mesmo poder
que suas maximas são o amor de Deus, do proximo e da dirá que outra instituição civil incorre no anathema,
virtude. Penso, pois, que é não só uma injustiça, mas até um proscreverá os seus membros, e a estes não restará outro
erro, e erro grave, na politica e na religião, o querer-se recurso senão calar, obedecer e soffrer...
levantar essa cruzada perseguidora contra sociedades tão O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Como V. Ex. está
numerosas, tão radicadas no paiz, até hoje tão pacificas, ás afastado do christianismo!
quaes muitas familias devem os auxilios de que vivem, contra O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
sociedades em que a religião catholica tem adeptos sinceros Conselho): – ...e quem responderia á sociedade civil pelos
e dedicados, exemplos vivos das virtudes domesticas e profundos abalos que proviessem de tão extrema doutrina, á
sociaes. qual o nobre senador pelo Maranhão poderia com
Os actos do prelado de Pernambuco suscitaram uma propriedade chamar politica religiosa?
questão de direito ou de competencia, que está submettida Não, Sr. presidente, o caracter das sociedades
ao estudo do governo; este proferirá sua decisão a tempo, maçonicas no Brasil e em toda parte não é dogma, não é
bem considerado o negocio em toda a sua gravidade e materia de fé religiosa, é questão de facto, que está sob o
alcance. pleno dominio da razão publica. (Apoiados). Não pretenda,
Pelo que respeita á questão de facto, peço ao nobre portanto, o nobre senador impor-me silencio com a palavra
senador pelo Maranhão que, quando quizer saber o que é a de um juiz superior, que se diz ter condemnado a maçonaria.
maçonaria no Brasil... Nego que haja tal condemnação contra as sociedades
O SR. ZACARIAS: – Seja maçon... brasileiras; a maçonaria condemnada foi a da Europa em
O SR. F. OCTAVIANO: – Era o melhor meio. tempos remotos, e ainda pelo Pontifice actual, mas por outros
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do motivos e sem os effeitos civis que se quer dar entre nós a
Conselho): – ...converse com algum maçon brasileiro; não essa censura ecclesiastica. O anathema lançado sobre a
se deixe levar pelo que os inquisidores disseram dessas instituição maçonica na Europa teve por causa a confusão da
associações, ou pelo que um ou outro maçon escreve no politica com a religião; esse anathema foi modernamente
Brasil, usando da sua plena liberdade de pensamento. renovado, mas não com a intolerancia que ora se apregoa no
Quantas cousas não se escrevem sobre a religião catholica Brasil, em consequencia dos successos da Italia, successos
que os proprios catholicos rejeitam e condemnam? Quantas que estão ameaçando exercer uma perigosa influencia sobre
heresias não se dizem a respeito do nosso direito os sentimentos religiosos de toda a christandade, porque não
constitucional, sem que seus autores sejam prescriptos da ha bastante prudencia da parte daquelles que se dizem os
nossa communhão politica? Eu não seria muito temerario se, melhores interpretes e os mais estrenuos defensores do
apoiado na autoridade do nobre senador pelo Pará e em catholicismo.
outras de igual importancia, observasse ao nobre senador Tenho concluido. (Muito bem; muito bem).
pelo Maranhão que em suas theorias, que me permittirá O Sr. Zacarias pronunciou um discurso que
qualificar de ultramontanas, ha verdadeiras heresias politicas, publicaremos no appendice.
sendo que encontram com maximas expressas do nosso Ficou adiada a discussão pela hora.
direito constitucional, como a que é relativa ao placet.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Peço a V. Ex. que
releia esta parte do meu discurso.
108 Sessão em 19 de Maio

O Sr. presidente deu para ordem do dia 19: cento annuaes, sendo esta disposição applicavel ao Banco do
3ª discussão da proposição da camara dos Srs. Brasil.
deputados sobre pensões, mencionada no parecer da mesa Art. 2º O governo fica autorisado para prorogar por
n. 520. mais quatorze annos o prazo da duração do Banco do Brasil,
2ª dita da proposição da mesma camara, com o sendo este obrigado a empregar o capital de sua carteira
parecer da mesa n. 521, sobre pensões. hypothecaria em emprestimos á lavoura, effectuados nos
2ª discussão do projecto de lei do orçamento com o termos desta lei, á medida que lhe forem solicitados, e a
parecer da respectiva commissão. estender o circulo de suas transacções hypothecarias, além
Levantou-se a sessão ás 4 horas e 45 minutos da do designado nos actuaes estatutos do banco.
tarde. § 1º O Banco do Brasil em sua secção hypothecaria
não poderá nos emprestimos feitos á lavoura exigir juro
12ª SESSÃO EM 19 DE MAIO DE 1873. superior a 6% ao anno, nem amortisação annual maior de 5%
calculada sobre o total da divida primitiva.
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. § 2º Os emprestimos realisados pelo Banco do Brasil
antes da data da lei, sob garantia de hypotheca de
Summario. – Expediente. – Parecer da mesa n. 522. – estabelecimentos agricolas, ficam sujeitos a disposição do
Parecer da commissão de resposta á falla do throno. – paragrapho antecedente.
Discurso e requerimento do Sr. Visconde de Souza Franco. – § 3º No resgaste de suas notas o Banco do Brasil dará
Ordem do Dia: – Pensões. – Orçamento do Imperio. – preferencia ás que restarem das caixas filiaes de
Discursos dos Srs. Zacarias e ministro do Imperio. Pernambuco, Bahia, Maranhão e Pará.
§ 4º Recusando o Banco do Brasil acceder a qualquer
Ao meio dia fez-se a chamada e acharam-se das disposições dos paragraphos antecedentes, o governo
presentes quarenta e um Srs. senadores a saber: visconde de fixará a quota annual do resgate de suas notas no maximo do
Abaeté, Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias § 1º. da lei de 12 de Setembro de 1866.
de Carvalho, Figueira de Mello, visconde de Nitheroy, Art. 3º Ao Banco do Brasil, aos estabelecimentos de
Paranaguá, Jobim, Chichorro, visconde de Sousa Franco, credito real na execução da acção hypothecaria instituida pela
Mendes dos Santos, barão de Camargos, Jaguaribe, Godoy, lei de 24 de Setembro de 1864, são applicaveis as seguintes
Barros Barreto, Teixeira Junior, Cunha Figueiredo, barão de disposições:
Cotegipe, marquez de Sapucahy, F. Octaviano, Uchoa § 1º Os bens hypothecados que não forem licitados
Cavalcante, visconde de Jaguary, duque de Caxias, barão do com o abatimento de vinte por cento da legislação em vigor,
Rio Grande, Junqueira, marquez de S. Vicente, visconde de irão de novo a praça; antes de serem adjudicados ao credor
Camaragibe, visconde de Inhomerim, Antão, visconde de exequente, com dous abatimentos successivos de dez por
Carvellos, visconde do Bom Retiro, Sinimbú, Candido cento e intervallo de dez dias; salvo ao credor o direito de
Mendes, barão de Pirapama, Leitão da Cunha, visconde de requerer a adjudicação se não houver licitante em qualquer
Muritiba, Ribeiro da Luz, conde de Baependy, visconde do Rio das praças.
Branco, Pompeu e Zacarias. § 2º O prazo designado no art. 1º da lei de 15 de
Deixaram de comparecer com causa participada os Setembro de 1869 para as propostas escriptas nas praças
Srs. Diniz, Nunes Gonçalves, Fernandes Braga, barão da judiciaes dos escravos, fica reduzido ao marcado nas leis do
Laguna, barão de Maroim, Firmino, Paula Pessoa, Silveira processo para arrematação dos immoveis.
Lobo, Paes de Mendonça, Fernandes da Cunha, Silveira da § 3º O licitante que se propuzer a arrematar
Motta, Saraiva, Nabuco e Vieira da Silva. englobadamente os immoveis, escravos, e demais
Deixaram de comparecer sem causa participada os accessorios, juntamente hypothecados, será preferido em
Srs.: barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de todo caso, desde que offerecer preço igual á somma dos
Suassuma. maiores lances.
O Sr. presidente abriu a sessão. Art. 4º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Leu-se a acta da sessão antecedente, não havendo Paço da camara dos deputados, em 15 de Abril de
quem sobre ella fizesse observações, foi approvada. 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
O Sr. 1º Secretario leu o seguinte Dr. Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
EXPEDIENTE. Mello, 2º secretario.
A’ commissão de fazenda.
Officio de 16 do corrente mez, do ministerio do O Sr. 2º Secretario leu o
Imperio, remettendo o autographo sanccionando a resolução
da assembléa geral, pela qual foi approvada a pensão PARECER DA MESA N. 522 DE 19 DE MAIO DE 1873.
concedida por decreto de 20 de Novembro do anno passado
á ex-praça do corpo de imperiaes marinheiros Antonio José Expõe a materia de cinco proposições da camara dos
Cardoso e declarando outra concedida a Mauricio Luiz deputados, auctorisando o governo para conceder licença
Fernandes Ferreira de Oliveira. – Ao archivo o autographo com ordenado a diversos empregados publicos, concluindo
communicando-se á outra camara. que as proposições sejam approvadas.
Officio de 15 do mesmo mez, do 1º secretario da
camara dos Srs. deputados, remettendo a seguinte I.
proposição:
A assembléa geral resolve: QUADRO DEMONSTRATIVO.
Art. 1º A proporção marcada no § 3º do art. 1º da lei
de 22 de Agosto de 1860 para o resgate das notas dos Com a formula mais simples, e mais adequada para
bancos de circulação, fica reduzida a dous e meio por dar ao senado informações exactas e ao mesmo tempo
resumidas
Sessão em 19 de Maio 109

ácerca de cada uma das proposições, a que se refere a sobre as cinco proposições, que se acham sobre a mesa, e
ementa supra, e que se acham subjeitas actualmente á sua que elevarão aquelle numero a 26.
deliberação, junta-se, antes de quaesquer explicações, um Dos empregados incluidos nas cinco proposições, ha
quadro demonstrativo, contendo: dous, de que não apparece requerimento, e que não juntaram
1º A data das proposições da camara dos Srs. documento algum, que justifique a licença.
deputados; São elles – o desembargador da relação da Côrte
2º Os nomes dos empregados que comprehendem, e a Viriato Bandeira Duarte, e o 1º conferente da alfandega de
naturesa dos empregos que exercem; Pernambuco José Ribeiro da Cunha.
3º O tempo das licenças, e a designação dos Dos documentos, com que se acha instruida a petição
vencimentos, com que são auctorisadas; do juis municipal e de orphãos do termo de Flores da comarca
4º A classificação dos vencimentos em ordenado, do mesmo nome da provincia de Pernambuco, José Rodrigues
gratificação e porcentagem; Passo Junior, facil é inferir que este magistrado está
5º Os documentos annexos como justificativos das physicamente impossibilitado de continuar a exercer o logar.
licenças. Tendo-se frustrado a operação da catarata, a que se
subjeitou, é patente o seu impedimento para exercer as
II. funcções de magistrado; e assim não é certamente a uma
licença que elle póde ter direito, mas porventura a alguma
Observações dedusidas do quadro. – Como foram mercê pecuniaria, si os seus serviços em tempo e qualidade a
requeridas e concedidas as licenças – Frequencia de pedidos merecerem.
de licença, e observações que suggere. – Numero de licenças Consultando-se os pareceres da Mesa ns. 413 de 9 de
nas sessões legislativas de 1872 e 1873. – Precedente. setembro de 1871, e 122 de 8 de maio de 1872, ve-se que em
Pelo quadro que se segue, vê-se que elle circumstancias analogas, e por motivos similhantes, em
comprehende tres empregados pertencentes á magistratura, e sessão de 16 de maio de 1872, não deu o senado o seu
vem a ser – um desembargador, um juis de direito, e um juis consentimento a uma proposição da camara dos Srs.
municipal – e outrosim – dous empregados de fasenda, que deputados, datada de 23 de agosto de 1871, auctorisando o
são – um 1º conferente, e um feitor de armasem da alfandega governo para conceder ao juis municipal e de orphãos do
de Pernambuco. termo de Jaguary da provincia de Minas Geraes bacharel
As licenças foram requeridas com todos os Maximiano Augusto de Barros Cobra um anno de licença com
vencimentos; mas a auctorisação conferida ao governo é para todos os seus vencimentos para tratar de sua saude, onde lhe
concedel-as com ordenado somente. conviesse.
Nesta parte nada tem a Mesa a observar. Dos documentos, que a parte ajuntara, deprehendia-se
E’ certo porém que os pedidos de licença tem-se tambem a mesma incapacidade physica para continuar a servir
multiplicado, e este facto, que póde tornar-se muito prejudicial na magistratura, o que pouco depois foi reconhecido pela
ao serviço publico, deve despertar a attenção da assembléa demissão que pediu e obteve.
geral, e do governo, com o fim de se difficultarem taes No caso porém, de que se trata, não póde haver o
concessões, uma vez que não assentem em demonstrada mesmo rigor, não tendo a Mesa solicitado do governo, como
necessidade, e manifesta justiça. fez a respeito daquelle outro juis municipal, algumas
Durante a actual sessão legislativa, a camara dos Srs. informações, que lhe foram presentes, e que serviram de base
deputados tem auctorisado o governo para conceder licença ao seu parecer.
com todos os vencimentos a diversos empregados publicos, a Por outra parte, sendo certo que esta proposição, como
saber: as demais, contém apenas uma disposição facultativa,
evidente é que o governo, a quem se confere a auctorisação,
Empregados de fasenda de differentes cathegorias, usará della como mais convier ao serviço publico, recusando
como consta do parecer da Mesa do senado n. 498........ 7 licença aos empregados, que não provarem perante elle que
Desembargadores de relações, e juises de direito, como estão no caso de obtêl-a.
consta dos pareceres ns. 500 e 510................................. 10
Lentes cathedraticos das faculdades de direito e de III.
medicina, como consta do parecer n. 505........................ 2
Parocho, como consta do parecer n. 511......................... 1 RESUMO E PARECER.
Director da repartição fiscal do ministerio da guerra,
como consta do parecer n. 515........................................ 1 Assim que, como resumo e conclusão das observações
Soma........... 21 que precedem, a Mesa offerece o seguinte

PARECER.
O senado approvou as proposições, mas com uma
emenda, que a cada uma dellas offereceu, e com que todas 1º Que as proposições da camara dos Srs. deputados
voltaram para a camara dos Srs. deputados, no sentido de não entrem em discussão, e sejam approvadas:
perceberem os empregados mais do que o respectivo 2º Que o parecer seja impresso e distribuido na forma
ordenado. do estilo.
Além destes vinte um empregados, que já foram Paço do senado, em 19 de maio de 1873. – Visconde
attendidos pela assembléa geral, tem agora o senado de de Abaeté, presidente. – Frederico de Almeida e Albuquerque,
deliberar 1º secretario. – Barão de Mamanguape, 2º secretario. – José
Pedro Dias de Carvalho, 3º secretario. – Jeronimo Martiniano
Figueira de Mello, 4º secretario.
VENCIMENTOS

Porcentagem

DOCUMENTOS ANNEXOS ÁS PROPOSIÇÕES JUSTIFICATIVOS DAS


LICENÇAS.

Importancia annual

TOTAL
Numero de quotas

calculada a quota
em 170$410.
Gratificação
Ordenado

4:000$000 2:000$000 ................. .................... 6:000$000 Nenhum. – Não ha requerimento da parte.

Requerimento da parte com dous attestades, em que os facultativos


2:400$000 1:200$000 ................ .................... 3:600$000
declaram que o supplicante soffre de hepato-spiemte-chronica.

Requerimento da parte. – Tres attestados de facultativos, dos quaes


consta que o peticionario subjeito-seà operação da catarata em desembro
600$000 800$000 ................. .................... 1:400$000
de 1872, e della está soffrendo até agora os resultados, menos a
recuperação da vista.

1:800$000 .......................... 18 3:067$380 4:867$380 Nenhum. – Não ha requerimento da parte.

Dous requerimentos da parte, um de janeiro, e outro de abril de 1873.


O attestado que acompanha o primeiro dis que o supplicante soffre de
900$000 ......................... 5 852$050 1:752$050
endocardite chronica, e o do segundo de hepatite, que tem passado ao
stado chronico, e vae compromettendo as funcções do coração.

9:700$000 4:000$000 23 3:919$430 17:619$430

Secretaria do senado, em 19 de maio de 1873. – O official maior, Pedro Antonio de Oliveira.


Quadro demonstrativo das proposições da camara dos Srs. deputados auctorisando o governo para conceder licença a diversos empregados, anexo ao
parecer da Mesa n. 522.

DATA DAS PROPOSIÇÕES

TEMPO DAS LICENÇAS

DESIGNAÇÃO DOS
VENCIMENTOS
ANNO

NOMES DOS EMPREGADOS NATUREZA DOS EMPREGOS

1873 7 de maio..... Viriato Bandeira Duarte............................. Desembargador da relação da Côrte Um anno...... Ordenado.............

Juis de direito da comarca de Maca-


1873 9 de maio...... Francisco José de Souza Lopes................ Idem.............. Idem.....................
pá, na provincia do Pará.

Juis municipal e de orphãos do termo


1873 12 de maio.... José Rodrigues do Passo Junior............... de Flores da comarca do mesmo nome Idem............... Idem.....................
na provincia de Pernambuco.

Primeiro conferente da alfandega de


1873 8 de maio..... José Ribeiro da Cunha.............................. Idem............... Idem.....................
Pernambuco.

Fiel de armasem de alfandega de


1873 12 de maio... Tito da Silva Guimarães............................ Idem............... Idem.....................
Pernambuco.

SOMMA..........................................................................
Sessão em 19 de Maio 111

Foi igualmente lido o seguinte salutar principio administrativo que tende a limitar o pessoal
das repartições publicas, com o duplo fim de encaminhar para
PROJECTO DE RESPOSTA Á FALLA DO THRONO. outras profissões a nossa mocidade e mais largamente
remunerar os bons servidores do Estado.
Voto de graças. A educação popular e o ensino apropriado ás
differentes necessidades sociaes são objectos dignos de
Senhor. – O senado ouviu com profundo respeito e constante desvelo dos poderes do Estado; e bem merece
reconhecimento as palavras pelas quaes Vossa Magestade especial consideração de Vossa Magestade Imperial o
Imperial se dignou agradecer mais uma vez o testemunho de patriotismo dos cidadãos que cooperam espontaneamente
pezar que a todos os brasileiros causara a infausta noticia do para realisação de tão fecundo pensamento.
fallecimento de Sua Magestade a Imperatriz, viuva do Comprehende o senado toda a importancia e alcance
fundador do Imperio, e muito prezada madrasta de Vossa do patriotico anhelo que Vossa Magestade Imperial manifesta
Magestade Imperial. a respeito do auxilio devido á producção nacional em todos os
Rendendo com Vossa Magestade Imperial graças á seus ramos, e principalmente á lavoura, fonte abundante de
Divina Providencia por ter declinado a epidemia que nossa riqueza, que teem de passar por modificações
ultimamente accommetteu algumas de nossas cidades inevitaveis no seu modo de ser.
maritimas, e por não terem sido das mais assoladoras as Essa empreza, senhor, depende em grande parte da
molestias de outro caracter e as extraordinarias inundações iniciativa e deligencias dos interessados, mas o poder
que sobrevieram em algumas localidades, o senado se legislativo e o governo concorrerão efficazmente no mesmo
compraz em reconhecer quanto o governo e seus delegados sentido, animando o espirito de associação, vulgarisando os
nas provincias, auxiliados pela caridade da população conhecimentos uteis á industria, promovendo a immigração de
nacional e estrangeira, se esforçaram por soccorrer as colonos morigerados, e encurtando, por meio de estradas e de
povoações flagelladas. linhas telegraphicas, as distancias que separam os centros
O senado se associa ao louvor com que Vossa agricolas dos mercados consumidores.
Magestade Imperial assignalou essa constante manifestação Os sacrificios que exigir este plano economico serão
dos sentimentos philantropicos que caracterisam a população amplamente retribuidos pelos fructos que sóe produzir a
do Brasil e que muito contribuem para que taes calamidades commodidade dos povos, a animação do trabalho e o
não produzam entre nós tão grandes estragos como as de que augmento da riqueza publica, consequencia da prosperidade
teem sido victimas outros povos, nestes ultimos tempos, por geral.
effeito de causas analogas. Possuido destas idéas, o senado applaude o zelo com
Folga o senado de que subsista o bom estado de que o governo cura do prolongamento das actuaes estradas
nossas relações com as demais potencias, e fossem trocadas de ferro geraes, e prestará seu concurso para que se realise o
as ratificações de tratados de extradicção com Portugal, a intento de dotar a provincia de S. Paulo do Rio Grande do Sul
Grã-Bretanha e a Italia, bem como as de uma convenção com viação da mesma natureza, como reclamam sua
postal com a Republica do Perú. A politica internacional que segurança, importancia commercial e os interesses reciprocos
se inspira nos mais elevados principios de justiça, e de da visinhança com os estados do Prata.
reciproca benevolencia, á seguramente a mais propria para A concentração em uma só companhia das emprezas
estreitar os vinculos de amizade que nos prendem aos outros do cabo transatlantico, e do que tem de ligar o Norte e o Sul
povos e aos seus governos. do Imperio, promettendo a mais prompta execução desta linha
A permanencia de nossa tranquillidade interna é um submarina costeira, complemento necessario da outra, deve
facto que exalta a indole dos brasileiros, e attesta o progresso facilitar esse importante melhoramento, reclamado pelas
moral que temos obtido á sombra das nossas protectoras multiplices relações da nossa vida interior e exterior.
instituições politicas. O senado prestará mui particular attenção aos
Se a segurança individual e a de propriedade não projectos de lei que Vossa Magestade Imperial recommenda,
estão ainda assás garantidas em nossos sertões, porque a convencido de que elles teem por fim satisfazer a
pouca população e as grandes distancias tornam fraca a necessidades reaes e urgentes da sociedade brasileira.
acção do poder publico, o remedio radical para esse estado de A elevação á cathegoria de provincia das comarcas
cousas, como Vossa Magestade Imperial disse com sua alta por cujo territorio corre o rio de S. Francisco, o melhoramento
experiencia, só poderá vir do tempo e dos perseverantes da administração da justiça, que se deve esperar de maior
esforços, com que nos cumpre propagar os beneficios da numero de tribunaes de segunda instancia, a isenção de
civilisação por aquellas afastadas regiões. penoso serviço ordinario da guarda nacional, melhores regras
O senado vê com prazer o crescimento das rendas para promoção da armada e um systema do recrutamento
publicas, que permitte attender ás mais urgentes aspirações mais justo e mais consentaneo á liberdade individual, são
nacionaes, mitigando ao mesmo tempo os onus que pesam outros tantos meios de promover o nosso progresso social e
sobre os contribuintes e solvendo com a mais escrupulosa politico.
pontualidade os grandes encargos, que resultaram da ultima A reforma eleitoral é uma aspiração nacional que
guerra. instantemente reclama o estudo e a solicitude do senado. Seu
Foi muito agradavel ao senado o juizo de Vossa alvo é a verdade e livre expressão do voto popular, base sobre
Magestade Imperial sobre a melhoria de soldos e vencimentos que repousa todo o nosso edificio politico, e unica que póde
concedida pelas recentes disposições legislativas ao exercito, assegurar aos representantes da nação a iniciativa e
á armada e a varias classes de funccionarios civis. Adherindo confiança, que nos povos livres se derivam da opinião publica
ao pensamento do governo de Vossa Magestade, o senado e da autoridade da lei.
procurará quanto esteja da sua parte firmar o
112 Sessão em 19 de Maio

Com esta reforma se relacionam e completam todas as virão a acarretar ao paiz as suas ultimas tentativas, os seus
que são conducentes a resguardar os direitos individuaes e a actos invasores. Portanto, sem escusar a demora, ou
elevar o nivel intellectual e moral da população brasileira. censural-a, espero da energia do governo, energia que nunca
Senhor! E’ igualmente robusta a fé que o senado exclue a prudencia, que elle tomará as providencias
deposita no porvir grandioso do Brasil, e esta fé assenta autorisadas pela constituição e pelas leis e decretos em vigor.
essencialmente no amor que a nação vota ás instituições Senhores, a questão vae-se tornando emmaranhada
juradas e ao principe que se consagra com incessante pela confusão que se faz entre religião e igreja; pela falta de
dedicação ao bem geral do povo, de que é chefe supremo e descriminação dos actos espirituaes ou religiosos dos
defensor perpetuo. temporaes ou mixtos, attribuindo á autoridade ecclesiastica
Paço do senado, em 19 de Maio de 1873. – Barão de poderes que não tem, que por sua natureza não póde ter. A
Cotegipe. – Gabriel Mendes dos Santos. – J. J. Teixeira nação e o senado não podem consentir que contra a
Junior. constituição do Imperio, que juramos sustentar, se pratiquem
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Pedi a impunemente taes actos.
palavra, Sr. presidente, para apresentar um requerimento a O SR. TEIXEIRA JUNIOR: – Apoiado.
respeito dos actos de invasão das autoridades ecclesiasticas O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Senhores,
sobre o poder temporal, que assombram o Brasil inteiro e a luta começou na provincia do Pará. Em o dia 2 de Dezembro
poem em risco a sua tranquilidade. de 1871 appareceu publicada uma portaria do Revm. bispo do
Não é provavel que dahi resulte derramamento de Pará condemnando doutrinas de uma folha e prohibindo a sua
sangue; mas é possivel; e na minha qualidade de leitura, assim como a de outras diversas folhas ou jornaes.
representante immediato da provincia do Pará, eu me julgo O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – E fez muito bem;
duplamente obrigado a entrar na questão, sem esperar a obrou de conformidade com as leis.
discussão tardia do outro requerimento que trata de materia O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Apoiado.
religiosa, porque na provincia do Pará é que começou a luta e O SR. PRESIDENTE: – Attenção.
nella está excitado o espirito publico, talvez não menos do que O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Pois eu
em qualquer outra provincia. vou mostrar o contrario. O nobre senador sabe que não me
Reconheço a necessidade que tem o senado de entrar atrapalham os apartes, mas em uma questão destas, em que
nas discussões importantes do orçamento, que hoje começa e é preciso sustentar o fio das idéas (apoiado), elles podem ser
da resposta á falla do throno que se acaba de ler. Como, algumas vezes inconvenientes. (Apoiados.) Não é uma
porém, não costumo tomar muito tempo á casa, espero que o censura que faço ao nobre senador; dê S. Ex. quantos apartes
senado me desculpe se lhe tomar meia hora com a discussão entender; eu tomarei nota daquelles que em minha humilde
de materia tão importante. opinião mereçam immediata resposta.
O SR. JOBIM: – Apoiado. O Rev. bispo do Pará declarou na portaria «que
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Não vou condemnava as doutrinas de algumas folhas diarias ou
tratar das questões theologicas; não vou converter ou periodicas.» Nenhum catholico negará a S. Ex. Rvma. o direito
continuar a converter o senado em concilio ou sala de de reprovar doutrinas contrarias á religião de Jesus Christo.
conferencias theologicas; e a razão principal é porque essas Sou muito bom catholico para que vá até ahi. Mas a
discussões, embora importantes, não trazem resultados condemnação diz mais alguma cousa do que reprovação e
praticos. (Apoiados). O senado não decide, não resolve nada suppõe julgamento, depois da audiencia das partes. E
sobre ellas. comtudo não farei grande questão sobre esta expressão
A minha questão é outra: socegar o espirito de alguns inconveniente da portaria. Nella, porém, continúa o Rev. bispo
dos habitantes do Imperio que ainda temem pela tranquillidade dizendo: «e prohibimos aos nossos caros diocesanos a leitura
publica, demonstrando eu que na constituição e nas leis do desse jornal (o «Liberal do Pará») assim como de dous outros
Imperio tem o governo meios de conter as autoridades intitulados a «Tribuna» e o «Santo Officio»... e declaramos
ecclesiasticas na orbita das suas attribuições. que commettem peccado grave...»
O SR. JOBIM: – Apoiado. O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – E’ um santo dever.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – ...de as O SR. PRESIDENTE: – Attenção.
impedir de se envolverem nas dos poderes temporaes, O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – A
usurpando jurisdicção temporal. E devemos ter esperanças imprensa, esta salvaguarda das liberdades publicas, esta
que o governo ha de cumprir o seu dever sustentando a alavanca do progresso e da civilisação, está sob a protecção
constituição do Imperio e as leis; mesmo porque é na da constituição do Imperio. A imprensa é livre em nosso paiz,
constituição do Estado que está firmada a sua autoridade; é e embora alguns males cause, esses males cura-os a mesma
das leis que provém a sua força governativa; é com a imprensa.
execução da constituição e das leis que um governo póde O que diz a constituição? Diz no art. 179 § 4º... Vou ler
ganhar a gloria de contribuir para a felicidade do paiz. as proprias palavras: (lendo) «IV. Todos podem communicar
Alguma demora tem havido nas providencias. Não os seus pensamentos por palavras e escriptos; e publical-os
serei eu quem a censure, se bem que tenha sido dos que pela imprensa sem dependencia de censura...»
desejavam promptas decisões. Mas observo que dessa Na expressão «communicar» se comprehendem dous
demora mesmo se póde tirar argumento favoravel, e é que o elementos:
governo tem tido todas as attenções com a autoridade
ecclesiastica; tem-lhe dado tempo para reflectir nos males que
Sessão em 19 de Maio 113

escriptura e leitura. Prohibir que se escreva, é prohibir que se conclusões de sua portaria de 25 de Março do anno corrente,
leia: prohibir que se leia, é prohibir que se escreva, porque repetiu a prohibição, á que aliás não deu grande andamento, e
ninguem escreverá, ninguem fará publicações pela imprensa a luta tomou outra direcção. Escolhida a sociedade maçonica
para não serem lidas. para alvo da perseguição começou ella e muito activa contra
Conheço legislação para regular as publicações e este supposto inimigo da religião:
mesmo impedil-as; mas não ha legislação nenhuma contra a Sabemos todos que a congregação dos jesuitas é
leitura de folhas periodicas. Foi o bispo do Pará quem primeiro antiga adversaria da maçoneria, e dominando ella actualmente
lembrou-se de prohibir a leitura dos jornaes. a curia romana não quiz perder a occasião de os aggredir.
Esta prohibição é uma violação da constituição; e se Expellidos os jesuitas da Allemanha, mal vistos na
ella passasse como regra, o Revm. bispo do Pará teria riscado Italia, sem guarida na Hespanha, com o poder e a influencia
este § 4º da constituição. E tendo tentado riscar ou feito riscar diminuidas na França, na Suissa e em toda a Europa,
este § 4º do art. 179 da constituição, tinha incorrido na escolhem o Brasil como a anima vilis das suas tentativas.
disposição do art. 86 do codigo penal que diz: «Tentar O SR. JOBIM: – Apoiado.
directamente e por factos destruir algum ou alguns artigos da O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Extincto
constituição: Penas de prisão com trabalho por 3 a 12 annos. pela occupação de Roma o poder temporal do Papa, questão
Se o crime se consumar: Penas de prisão com trabalho por 20 que não nos pertence porém aos romanos, pensam os
annos no gráo maximo, por 12 no médio e por 6 no minimo.» jesuitas em restabelecel-o e em estendel-o a todo o mundo
Os bispos não são irresponsaveis e sagrados no nosso christão. E porque é que não começam pela Italia e vem
nem em nenhum paiz; teem no Brasil um tribunal para os perturbar o pacifico solo brasileiro? Mostrem primeiro lá seu
julgar, o supremo tribunal de justiça do Imperio, pela lei de 18 poder reconhecido sobre a curia romana, sobretudo depois
de Agosto de 1851. Respondem pois pelos seus actos, são que o ancião respeitavel e respeitado que occupa o
passiveis de pena pela violação da constituição e das leis. pontificado, trabalhado pelos achaques de uma grande idade,
No entretanto esta questão que não causaria e pelos pesgostos de uma longa vida amargurada, não tem
perturbação da ordem publica, se nas provincias os forças para os cohibir nos seus excessos.
presidentes comprehendessem os seus deveres, causou Neste proposito de começar pela maçonaria, e
grande barulho na provincia do Pará. O Rvd. bispo querendo escolhida a provincia de Pernambuco para seu primeiro
fazer calar a imprensa liberal o resultado contrario: sustentada theatro, expediu seu Revm. bispo diocesano a circular de 27
a folha liberal do Pará como que pela população toda, de Dezembro de 1872, em que manda aos vigarios de Santo
augmentado o numero de seus assignantes e leitores, ella Antonio do Recife, da Boa Vista, do Recife, de S. José, da
tomou mais vigor para defender as liberdades publicas e as Capunga, e ao guardião de S. Francisco e provincial do
leis do Imperio contra as tentativas de que o Revm. bispo é Carmo que dirigindo-se sem perda de tempo ás irmandades,
instrumento. ordenem a seus juizes que exortem a irmãos, cujos nomes as
Eu disse que a questão se acalmaria na provincia circulares designam, a que abjurem a maçonaria. E se esses e
dando tempo ao governo imperial para tomar qualquer mais maçons não abjurassem, mandou que immediatamente
resolução que a sua sabedoria lhe dictasse, porque houve fossem expulsos das irmandades, porquanto de taes
reclamação contra a usurpação do poder e jurisdição temporal instituições são excluidos os excommungados.
commettida pelo Revm. bispo. A imprensa é um A luta começava de novo mal, porque as irmandades
estabelecimento temporal sob a salguarda da constituição, estão, neste ponto de exclusão de seus membros, sujeitas ás
sob a protecção das leis; ninguem podia mandal-a calar: o leis e autoridades judiciarias. As irmandades, portanto, não
mesmo governo não o podia, o presidente da provincia cumpriram a ordem do Revm. bispo: se o tivessem feito,
menos; e o Sr. bispo ainda menos o podia, porque não tem incorreriam em responsabilidade, e seriam obrigadas a
jurisdicção nenhuma nos negocios temporaes. indemnisar seus irmãos, illegalmente expulsos, dos damnos,
Cabia então ao desembargador procurador da Corôa injuria e prejuizos. Talvez tambem lhes pesasse na
interpôr recurso á Corôa, ex-officio, porque o art. 10 do consciencia o conhecimento que tinham da religiosidade e
decreto n. 1711 de 28 de Março de 1857 diz que deve catholicismo dos irmãos mandados expellir. Não são só os
interpôr. bispos que teem consciencia, e a de ninguem ê isenta de
Cabia ao presidente da provincia pelo art. 3º do respeitar as leis e autoridades.
mesmo decreto decidir provisoriamente a questão como Ha até contradicção em suppôr que a maçonaria é
conflicto de jurisdicção. uma sociedade politica conspiradora no mundo inteiro, e
E dado ao recurso ex-officio ou á reclamação das entender ao mesmo tempo que ella escolhe religiões e obriga
partes o effeito suspensivo (art. 12 do decreto citado) a seus membros a deixar a catholica, perdendo assim
portaria do bispo ficaria suspensa e serenavam os animos até desnecessariamente forças. Acredita-se pelo contrario, e eu
a decisão do governo imperial. tambem acredito, que a maçonaria não tem principios
Reclamação houve e logo, porém o presidente da religiosos exclusivos.
provincia recebendo-a remetteu ao governo imperial sem Tivesse-os embora (admittamos o que dizem dos
declarar que com o effeito suspensivo como era da lei; e os maçons, os que os consideram anti-christãos), não cabia ao
animos continuaram excitados. bispo expedir a portaria para os expellir das irmandades,
A imprensa é porém adversario muito poderoso para porque esta exclusão excede as suas attribuições. As
que os bispos e a curia romana, cujas ordens dizem que irmandades são instituições mixtas, em muito pequena parte
cumprem, persistissem em lutar com ella. Parou-se ahi. Não religiosas, em quasi tudo civis.
recuou o Revm. bispo do Pará e tanto não recuou que nas Diz-se que em outro tempo as irmandades foram
meramente religiosas; ignoro. O que sei é que as irmandades
114 Sessão em 19 de Maio

precisaram sempre de alguns recursos para as despezas do logo o recurso que lhe determina o art. 10 do decreto de 28 de
seu culto. Desde que adquiriam propriedade e meios, Março de 1857, se o presidente da provincia decidisse logo a
precisavam autorisação para possuil-os. Nenhuma corporação questão provisoriamente, como conflicto de jurisdicção (art. 3º
póde possuir juridicamente e apparecer em juizo sem ser do decreto citado) ou se interposto o recurso, declarasse o
encorporada pelo poder competente. presidente que tinha effeito suspensivo por versar sobre
Outra razão havia para precisarem a intervenção do usurpação do poder temporal (art. 12).
poder temporal: o thesoureiro de uma irmandade não O effeito suspensivo repunha as cousas no antigo
encorporada pelo poder competente podia delapidar seus estado, suspendia a ordem de expulsão, as excommunhões,
bens sem receio de accusação por falta de pessoa juridica os interdictos das igrejas, até á decisão do governo imperial,
aceita em juizo em nome da associação. cessando assim a agitação dos espiritos.
As irmandades podem contrahir grandes dividas e os O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não ha de ser com
irmãos não são responsaveis senão pelas joias e esses meios, nem com outros mais.
mensalidades com que são obrigados a contribuir, porque a O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Nem com
sua responsabilidade é limitada. Ora, não é possivel que a observancia da constituição? nem com a das leis?
governo nenhum deixasse de exigir conhecimento de O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não é com esses
corporações com responsabilidade limitada capazes no meios que se ha de impedir esses actos.
entretanto de contrahir grandes dividas com prejuizo de seus O SR. PRESIDENTE: – Attenção!
credores; nem haveria individuos que incorressem em O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Oh! estas
responsabilidade illimitada entrando em taes corporações não palavras do meu nobre collega revelam cousa muito
approvadas. O resultado seria que taes irmandades não estrondosa! Ha plano de não obedecer á constituição, de não
existiriam senão com a responsabilidade limitada conferida respeitar as leis! Não seria obedecida a decisão do presidente
pelo poder temporal, unico competente para legislar sobre a da provincia, não teria effeito o recurso interposto pelo
propriedade e bens. desembargador procurador da Corôa! As leis se calarão
Desde annos immemoriaes as irmandades são civis; porque ha uma força superior que as ha de dominar.
foram encorporadas antigamente pelo desembargo do paço; O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Ainda que façam leis
passaram depois pela lei de 22 de Setembro de 1828, a ser draconias não hão de impedir uma sentença do poder
autorisadas pelo governo; com o acto addicional, que separou ecclesiastico!
das geraes as questões provinciaes e locaes, as irmandades O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Eis as
passaram para a jurisdicção das assembléas provinciaes, que palavras de um senador em pleno senado! As leis não valem
pelo art. 10 e § 10 são competente para decretarem leis sobre nada contra os actos dos bispos...
as associações politicas e religiosas da respectiva provincia. O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não disse tal cousa.
A intelligencia que dou ao acto addicional é que as O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – ...as
assembléas decretem as regras para a encorporação e as disposições da constituição, os dictames das leis, as
appliquem os presidentes das provincias. Não acho muito sentenças dos juizes legaes, não teem força contra as dos
proprio das assembléas provinciaes tomar conhecimento de bispos em materia temporal, que não lhes compete! O que
actos particulares; mas esta tem sido a pratica na falta de lei. quer dizer isto que o senado ouve de certo com pasmo?
A lei n. 1082 de 22 de Agosto de 1860, assim como o O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Para isso não tem; o
decreto n. 2711 de 19 de Dezembro do mesmo anno, nos arts. caso é muito differente. Peço a palavra.
27 e 33, firmaram e explicaram a quem compete approvar as O SR. DIAS DE CARVALHO (3º secretario): – Não ha
irmandades. requerimento apoiado sobre a mesa: não posso inscrever o
A approvação do governo abrange quasi todas as nobre senador.
disposições dos compromissos: a da autoridade ecclesiastica O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – O meu
limita-se a muito poucas, porque a parte religiosa é muito nobre collega parece ter contado com um elemento, do qual
pequena, sobre tudo nos ultimos annos, em que as se faz emprego nestas occasiões: o fanatismo da população,
irmandades se vão convertendo em associações beneficentes, a desobediencia ao governo e ás leis. Felizmente o que
de soccorros mutuos, e até em especie de montepios. Como observamos por toda a parte é que a população obedece ás
irmandades já estavam sujeitas ao poder judiciario. Seus leis e ao governo, esperando as decisões do poder
tribunaes e juizes desde tempos immemoriaes conhecem dos competente. Aquelles que contavam com esses meios
negocios das irmandades segundo o disposto nas ordenações illegaes, com esses meios capazes de fazer retrogradar a
do reino, leis e regulamentos. Quem o quizer saber leia prosperidade do Imperio, de fazer baquear as suas
principalmente o art. 46 do decreto de 2 de Outubro de 1851, instituições, esses eu creio que devem desenganar-se á vista
das correições. das provas de civilisação e de patriotismo que nesta questão
Como, portanto, em um bello dia o Revm. bispo de teem dado os habitantes das provincias e da Côrte do Imperio.
Pernambuco ousa mandar por uma circular que sejam (Apoiados).
expulsos das irmandades alguns de seus membros? Era Admittamos, porém, como verdade tudo quanto se diz
illegal o seu acto; as irmandades não podiam obedecer-lhe contra o catholicismo dos maçons. A autoridade ecclesiastica
nesta usurpação de attribuições do poder temporal, nesta
usurpação de jurisdicção temporal que póde trazer serios
disturbios.
Não era difficil acalmar a agitação em que tem estado
a provincia de Pernambuco, se o procurador da Corôa
interpozesse
Sessão em 19 de Maio 115

não podia excluil-os por acto proprio das irmandades; não O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Poder que não tem
podia fulminar interdicto contra as igrejas... força póde perseguir?
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Podia, sim senhor. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Esta
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – A confissão de V. Ex. satisfaz-me um pouco; livra-me de algum
autoridade ecclesiastica faria mesmo muito mal se, para desassocego. Não tem força, não póde ter força para impedir
corrigir um ou outro individuo que entendesse que o merecia, a execução das leis.
decretasse interdicção que privasse a maioria dos devotos O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ uma futilidade
catholicos dos officios divinos nas igrejas interdictas. essa supposta perseguição.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Pois mando V. Ex. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Vou-me
com a autoridade do governo levantar o interdicto. alongando mais do que desejo, mais mesmo do que prometti.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Estas Não pode, porém, deixar de ser assim, visto que preciso
palavras não são dirigidas a mim; são dirigidas ao governo demonstrar que não tem base a maior parte dos crimes que o
imperial cuja autoridade o nobre senador contesta. Não prelado do Pará attribue á maçonaria, não a uma ou outra loja,
procureis, diz o nobre senador ao governo, sustentar a mas a todas, fazendo responsavel, pelo menos moralmente,
constituição... todos os maçons, pelos crimes da communa de Paris, pelos
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Na igreja ha excessos da revolução de 1789 eivada por certo de grandes
recursos. attentados, mas revolução de que o mundo tem tirado muitas
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – ...não vantagens para sua civilisação e progresso.
façaes executar as leis, porque não tendes força para as Esses excessos são imputados á maçonaria na
sustentar. pastoral do bispo do Pará como se os filhos e netos devessem
Supponhamos que, como dizia, é verdade que os responder pelos actos dos paes e dos avós; como se os
maçons não são catholicos, que quem entra na maçonaria maçons se entendessem por toda a parte, fossem solidarios e
deixa de ser bom catholico; deviam os bispos esperar a o crime de um fosse o crime de todos! Todas essas
decisão do poder competente sobre a expulsão dos maçons accusações absurdas, não entram na cabeça de ninguém que
das irmandades a que pertencem pela escolha dos outros tenha senso commum. Ninguem acredita que tantos homens
membros. respeitaveis, pertencentes á maçonaria, sejam criminosos e
No entretanto, não se limitaram os bispos do Pará e de nem ainda moralmente complices de violencias, de
Pernambuco a dar como causa da expulsão os principios atrocidades e de escandalos commettidos por uma ou outra
religiosos. A portaria do Revm. bispo do Pará, quero dizer, as loja. Se mesmo nesta cidade a maçonaria não se entende
instrucções pastoraes que elle publicou, com data de 25 de entre si toda ella e nem obra de accôrdo, como se poderá
Março deste anno, trazem diversas outras razões e motivos admittir que a maçonaria de todo o mundo se entenda e
temporaes, e destes motivos temporaes tira a conclusão que concorra para actos criminosos que se dão em um ou outro
os maçons devem ser perseguidos... paiz? Era dar á maçonaria uma força de cohesão superior á
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não diz tal cousa. que ella tem.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – E’ a Em todo caso, o que tem com isso a autoridade
conclusão que tiro das proposições da longa e indigesta ecclesiastica? Donde tirou ella o poder de regular ou punir
pastoral de 25 de Março. estes actos puramente temporaes? Somos muito obrigados ao
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ cousa muito pae commum dos christãos pelo zelo que mostra prosperidade
differente. temporal dos estados; mas ninguem o incumbiu de promovel-a
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Desde que directamente, de decretar os meios, de fiscalisar-lhes a
um homem é expulso de uma irmandade como incapaz de execução, e de ter nas questões temporae influencia superior
nella permanecer em razão de suas opiniões religiosas e á dos poderes do Estado. Não lhe pertencem taes attribuições
politicas, esse homem que não póde ser supportado em uma e sim ao poder temporal.
irmandade, menos pode ser supportado nas familias, na Se fosse verdade tudo quanto diz o Revm. bispo do
sociedade, nas convivencias; é pois expulso de toda a parte, é Pará contra a maçonaria, meros conselhos deveriam partir
pois perseguido. delle e nunca sentenças e ordens. O governo tomaria as
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ conclusão que V. providencias necessarias, elle que sabe perfeitamente que
Ex. tira. nada tem a temer das lojas maçonicas do Imperio, pois que
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – São tem influencia na mesma maçonaria por agentes seus, e até
conclusões logicas: á expulsão das irmandades se faria seguir pelo presidente do conselho de ministros.
a exclusão da entrada nas familias catholicas, que os Mas diz-se: é um gremio preparado para a todo o
ultramontanos exigiriam ou somente insinuariam se tempo influir na politica. Senhores, esta doutrina é revoltante!
vencessem as exclusões das irmandades. Logo taes homens Porque póde a maçonaria tomar outros fins e conspirar no
e suas associações estão sendo perseguidos e o serão cada futuro, persigam-na desde já? A regra applicada aos
vez mais. individuos e ás associações seria intoleravel: puna-se desde já
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Por quem? os que podem commetter crimes ou conspirar daqui a 10, 20
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Pelos ou 30 annos! Porque podem alguns individuos vir a ser
bispos do Pará, de Pernambuco e do Rio de Janeiro: se o grandes criminosos ou somente perigosos ao paiz sejam
poder temporal competente não impedir taes excessos, a desde já perseguidos e punidos! Nem é verdade que estes
autoridade ecclesiastica, ou os jesuitas irão ao ponto de fazer receios se possam ter da actual maçonaria do Brasil, nem é
sahir do Imperio os maçons e todos aquelles a quem lhes justa a punição preventiva!
approuver chamar hereges.
116 Sessão em 19 de Maio

Diz-se ainda que Jesus Christo prohibiu as sociedades começar da encyclica de 20 de Novembro de 1846, primeira
secretas. Será verdade? As nossas leis as autorisam; a lei de do actual pontificado foram publicadas e vem colligidas no
20 de Outubro de 1823, que revogou a de 1818, está ainda Syllabus. Na encyclica de 8 de Dezembro de 1864, o Summo
em vigor; ellas estão muito legalmente estabelecidas, sem Pontifice, fazendo resumo de todas as disposições, ordena
duvida porque os nossos legisladores não acreditavam na que ellas tenham força e que vigorem de sorte que anathema
veracidade da prohibição divina: e que nem a Igreja acredita e sit a todos aquelles que as contestem.
prova a existencia da congregação jesuita, a mais secreta de Ora, nessa encyclica de 8 de Dezembro se diz que é
quantas associações conhecemos. tambem o bem estar temporal dos povos que Sua Santidade
Quem não sabe, porém, que a maçonaria não é promove. E não tendo essas encyclicas, lettras apostolicas
sociedade secreta entre nós no rigor do termo? A designação allocuções recebido o placet do governo do Imperio, são todos
não é bem applicada, ao menos em rigor a sociedades os seus principios, em grande parte sobre materia temporal,
maçonicas no Imperio. Sociedade secreta é aquella cujo postos em execução pelos bispos do Brasil! E’ em virtude do
chefe, cujas autoridades, cujas doutrinas são tambem Syllabus que tentam fazer calar a imprensa, expurgar
secretas; e a sociedade maçonica não está neste caso entre irmandades de alguns de seus membros a pretexto de
nós. Seu chefe é conhecido, são conhecidos os outros maçons, e se o conseguissem proscreveriam a liberdade da
membros officiaes, seus actos são sabidos, publicados até em consciencia que a constituição garante e o Syllabus
boletins. condemna.
No entretanto, o tal ou qual desgosto, a tal ou qual Como amostra do que contém o Syllabus citarei alguns
indisposição dos governos para com as sociedades secretas dos 80 numeros em que está distribuido; e devo declarar que
foi um dos motivos que fez que a guerra contra os maçons me sirvo da edição authentica da 5ª pastoral do Revm. bispo
tivesse a prioridade. do Maranhão na qual vem a encyclica de 8 de Dezembro, e o
Contando os Revms. bispos do Pará, de Pernambuco Syllabus traduzidos na lingua nacional.
e do Rio de Janeiro com o apoio do governo para inutilisar a São reprovadas, prescriptas e condemnadas pela
sociedade maçonica, ou ao menos diminuir o numero de seus encyclica as seguintes doutrinas ou principios:
membros, trouxeram a luta para este terreno: enganaram-se. «N. 24. Que a Igreja não tem poder de empregar força,
Não desejo entrar hoje na distincção entre religião e nem poder algum temporal directo ou indirecto.»
igreja, não discutirei, pois, quando foi que depois de pregada e Condemnado assim pela encyclica de 1864, com
aceita a religião santa, que nós todos seguimos, a igreja se foi referencia ás lettras apostolicas de 22 de Agosto de 1851, o
organizando e tendo pastores, bispos, patriarchas, até chegar- principio que a Igreja não tem poder de empregar a força, nem
se á sujeição ao bispo de Roma, chefe aceito poder temporal algum, o que se segue é que a curia romana
successivamente por todos os christãos. entende que a Igreja tem poder temporal e póde empregar a
O meu douto collega que fez o primeiro requerimento e força. E porque nenhum paiz civilisado lhe tem concedido este
cuja ausencia sinto... poder, deve entender-se que a curia romana o reclama: que
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E eu tambem. começou a propaganda desde 1864 pelo menos; e que os
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – ...aventou actos dos bispos do Pará, de Pernambuco e do Rio de Janeiro
a proposição que esta luta é effeito de uma propaganda, na contra as irmandades, instituições mixtas, e na sua parte
qual a curia romana tem vistas politicas e nas quaes alguns temporal, são o começo da usurpação dos poderes do Estado.
bispos do Imperio a acompanham; contestou-se, porém, esta E’ uma das provas da propaganda de que fallou o
asserção do illustrado Sr. Vieira da Silva. illustrado senador pelo Maranhão.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ propaganda que «N. 25. Além do poder inherente ao episcopado é-lhe
data do principio do christianismo. attribuido outro poder temporal, concedido expressa ou
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Data sim tacitamente pelo imperio civil que o mesmo imperio civil póde
dos seculos da idade média, dos seculos do barbarismo; teve revogar quando lhe aprouver. (Lettras apostolicas supra.)»
interrupções, e, vencida muitas vezes, se levanta de novo Da condemnação deste principio se segue que os
desde alguns annos, e com insistencia agora no Brasil com bispos não são empregados da nação; que os bispos não
esperanças de melhor resultado. Agora que o Summo podem ser incumbidos pelo poder civil do Imperio de nenhuma
Pontifice foi privado de sua soberania em parte da Italia, funcção publica que elle possa exercer; ou que conferida a
tentam os jesuitas restabelecel-a no seu interesse proprio. autoridade, não lhe póde mais ser retirada, porque o governo
Levantam, pois, de novo a questão, excitam-n’a por toda a do estado não lhe é superior e nem elle subdito brasileiro.
parte, e o Brasil foi escolhido como um dos paizes em que ella Quem admitte estas proposições, admitte que a
deve começar. soberania da nação brasileira não é completa a respeito de
O Syllabus previniu os reis e os povos de que o todos seus funccionarios; que o art. 1º da constituição que diz
Summo Pontifice é superior nas questões mesmo temporaes, que a nação é independente, não admitte laço algum de união
e as deve exercer em todos os paizes catholicos. ou de federação que se opponha á sua independencia» é
Senhores, esta propaganda vê-se pois até do Syllabus. lettra morta. Com taes principios a respeito dos funccionarios
Disse-se que o Syllabus era a cousa mais innocente do denominados bispos, o art. 1º estaria nullificado, e, seriam os
mundo. Não o lerei ao senado para seu melhor conhecimento bispos subditos do chefe da Igreja e não do Imperador. A
para não lhe tomar tempo: direi, porém, que o Syllabus é uma obediencia ao chefe do Estado nas materias temporaes
compilação de diversas peças, a saber: encyclicas, allocuções estaria coarctada e estabelecida um
do Papa, lettras apostolicas, que a
Sessão em 19 de Maio 117

especie de federação sob a suprema direcção do chefe da progresso, com o liberalismo e com a civilisação moderna;
Igreja. segue se que é melhor o atrazo, o despotismo e o barbarismo
Proclamar estas proposições e executal-as é riscar o da idade média; e que os seus agentes fieis o devem
art. 1º da constituição, é tentar pelo menos riscal-o; e se ellas acompanhar na propaganda para voltar a esses tempos
vigorassem na pratica, estaria riscado por esses que felizes da Igreja. Muitos pontifices pensaram o contrario.
proclamam e estão pondo em execução os principios do O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Com essas
Syllabus. doutrinas sim.
Ora, tentar contra os poderes do chefe do Estado, O SR. ZACARIAS: – Qual é o numero do Syllabus?
riscar artigos da constituição do Imperio, são crimes previstos O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Oitenta: se
pelo codigo criminal. V. Ex. o quizer lêr, eu lh’o entregarei.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Qual é o artigo da O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Elles já sabem isto
constituição? de cór.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Eu lhe O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Se
citarei o art. 68, o art. 86, o art. 87 na segunda parte, e o art. entendem que no Brasil é licito conspirar para privar o chefe
90 do codigo penal. do Estado, o governo, de algumas de suas attribuições
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Ahi não se diz nada. constitucionaes..
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Art. 1º da O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não ha de ser a
constituição: «O Imperio do Brasil é a associação politica de Igreja a conspiradora.
todos os brasileiros; elles formam uma nação livre e O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: –
independente, que não admitte com qualquer outra laço ...permittam ao menos que tambem proclamemos o dever de
algum. obedecer á constituição e ás leis. São membros da Igreja os
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – ...temporal. que se dizem unidos e que recebem ordens do Summo
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Oh! Pontifice, ordens que os catholicos do Imperio teem entendido
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Com o espiritual partirem da congregação dos jesuitas.
está muito e muito alliado. O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Temos o Papa
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Sujeito, subserviente!
dizem os senhores. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: –
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não temporalmente, Subserviente ou director a questão seria a mesma. Devo,
mas espiritualmente sim. porém, fazer ao Summo Pontifice a justiça de crer, porque
O SR. PRESIDENTE: – Attenção. respeito muito o chefe da Igreja, que elle não toma parte
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Não se diz nessas ordens que violam a constituição e leis do Imperio, que
só isso; e sim que os pontifices teem força e poder temporal, atacam a autoridade do governo e poem em sobresalto os
logo teem força e poder temporal sobre o Brasil e alguns habitantes do paiz.
bispos a estão exercendo em materia temporal. O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ uma grande honra
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não se diz tal cousa; que V. Ex. lhe faz.
V. Ex. então não entendeu bem o artigo. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – A grande
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Eu os li; e idade consente muitas vezes condescendencias que não se
tambem os li no senado que nos ouve. teriam no vigor della.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Tambem tenho lido O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ uma conjectura
muitas vezes. de V. Ex.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Não O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Sem
duvido. Lerei ainda alguns; o ultimo, n. 80 diz, «O pontifice duvida é conjectura, porém com bases, porque estamos vendo
romano pode e deve transigir com o progresso, com o que os jesuitas acodem em grande numero ao paiz e que os
liberalismo, com a civilisação moderna.» actos de usurpação da autoridade temporal teem coincidido
Os que tal dizem são anathematisados, e taes com a recente chegada de novos agentes jesuitas e são por
principios reprovados, proscriptos e condemnados na elles defendidos no pulpito e na imprensa.
encyclica de 8 de Dezembro de 1864, e na alloc. de 18 de Para chegar ao ponto de arrostrarem as leis começou-
Março de 1861, e pois o Summo Pontifice se declara assim se por desprezar e abertamente violar o alvará das faculdades
inimigo do progresso, com quem não póde transigir; inimigo do de 14 de Abril de 1781.
liberalismo, com quem não póde transigir; e inimigo da O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ dogma?
civilisação moderna, com quem não póde transigir e nem O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Não é
acompanhar em sua marcha triumphante. dogma, mas é lei para todos e tambem para os bispos, que
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Conforme entendem estão obrigados a cumpril-a. Estaremos, os brasileiros,
os racionalistas; nunca a Igreja se oppoz á civilisação. sómente sujeitos ao cumprimento dos dogmas, e sem leis que
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Se do n. regulem nossos actos e os actos dos funccionarios
80 se conclue que o Summo Pontifice não póde transigir com ecclesiasticos? E’ o que póde parecer do aparte do nobre
o senador.
O alvará das faculdades determina que os prelados,
assim que se der vacancia de qualquer beneficio ecclesiastico
e cura d’alma, o ponham em concurso e apresentem até o
numero de tres, os que melhor provas tiverem ao governo
para escolher um, a quem a autoridade ecclesiastica confere a
collação. A maior parte dos bispos do Imperio não
118 Sessão em 19 de Maio

poz mais em concurso as igrejas parochiaes, tentando assim no decreto de 28 de Março de 1857. A respeito do exercito,
evitar que o poder temporal tenha influencia sobre a escolha em que uma disciplina rigorosa é precisa, ninguem se tem
dos parochos. lembrado de dar aos generaes, aos chefes e aos subalternos,
Esta escolha que a lei confere ao governo supremo, os o direito de impor penas á sua vontade e nem ainda na
bispos de grande parte das dioceses brasileiras chamaram a marinha. Foi só a classe sacerdotal, alias mais illustrada e na
si para dominarem os parochos que, sendo pela mor parte qual a desobediencia é rara e sem perigo imminente, que se
encommendados ou temporarios, estão sujeitos á demissão julgou necessario sujeitar ao arbitrio dos bispos, porque esta é
ou remoção á vontade dos prelados. a verdadeira traducção da ex-informata conscientia.
E agora a regra que vê-se nos jornaes é a nomeação O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não é exacto; V. Ex.
temporaria para as parochias do Rio de Janeiro: vigario está enganado.
encommendado para tal freguezia, por um anno, para tal outra O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Se a
por um anno, é o que publicam os jornaes da Côrte. consciencia se leva pelos factos, se ella está sujeita ao juizo, a
Sempre se disse que o vigario se casa com a sua vontade tambem o está e quando se diz a vontade, pode-se
igreja, é perpétuo; hoje não. E como isto não era ainda suppôr a vontade illustrada, bem dirigida. No entretanto não
bastante começou-se a nomear para vigarios ha uma autoridade que tenha o direito de impôr penas aos
encommendados a sacerdotes estrangeiros que são hoje os seus subordinados, de os condemnar á sua vontade...
preferidos aos sacerdotes nacionaes. O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Nem ha tambem na
Senhores, eu não deixei passar desapercebida esta Igreja.
nova especie. Em pareceres do conselho de Estado, em 1863 O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – ...estava
e 1864, notei a inconveniencia da escolha de padres este arbitrio reservado aos bispos...
estrangeiros, deixando-se á margem brasileiros muito dignos, O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Está enganado; não
sacerdotes de tanto ou maior merito do que os estrangeiros apoiado.
desconhecidos, e os quaes me pareciam poder melhor O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – ...que
desempenhar os encargos de parocho. Agora accrescentarei captivaram assim o clero do Brasil...
outro argumento: o logar de parocho é emprego publico, o O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Lancem mão do
estrangeiro não pode exercer... recurso ecclesiastico.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não apoiado. O SR. PRESIDENTE: – Attenção!
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – ...não ha O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – ...onde ha
exemplo de sua collação. Tambem os padres estrangeiros tantos sacerdotes que, estou certo, se declarariam contra os
nomeados são muitos delles regulares, quando nunca regular ultimos abusos e invasões do poder temporal, se não
nenhum brasileiro foi escolhido para parocho: os regulares estivessem sujeitos ao arbitrio dos bispos, do qual não
não teem direito a empregos publicos. escapou nem o deão Dr. Faria, aliás carregado de annos, de
Como se ainda não bastasse, veio a suspensão e serviços e que tem occupado os mais altos cargos da igreja
interdicção ex-informata conscientia pôr os sacerdotes pernambucana.
brasileiros á mercê dos bispos. O deão da cathedral de Olinda, ha pouco suspenso ex-
Temos noticia de um ultimo acto do Revm. bispo de informata conscientia pelo Revm. D. Vital, diz-se que o foi
Pernambuco praticado contra um dos sacerdotes de mais porque se lhe attribuia alguns artigos a respeito dos jesuitas.
illustração, de mais respeitabilidade, de mais moralidade no Este facto, se houvesse delle recurso para o juizo
Brasil, (apoiado) suspenso ex-informata conscientia. ecclesiastico, o Revm. bispo de certo o não praticaria. Não se
E o que quer dizer suspenso ex-informata conscientia? sujeitaria elle de certo ao exame judiciario de acto, a que se
Quer dizer suspenso pelo unico juizo do bispo sem provas assignala motivo, que sendo tão condemnavel, me parece até
nem processo; suspensão a que não se dá recurso algum, e inacreditavel. Fosse porém qual fosse o motivo, o acto é
dura o tempo que o bispo quizer: até a perpetuidade!... merecedor de censura.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Tem o recurso O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Asseguro a V. Ex.
ecclesiastico. que não.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Não tem O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Senhores,
recurso nenhum; não o póde ter aproveitavel porque não ha todos respeitamos os nossos prelados. Eu acato os bons...
processo nem provas que regulem o juizo ad-quem e se O SR. PRESIDENTE: – Não desejo interromper ao
tivesse recurso deixaria de ser decisão ex-informata nobre senador. Mas peço licença para lembrar que já passou
conscientia cahindo por si mesmo o dictame da conciencia do a hora dos requerimentos.
bispo quando sujeito a outro juiz. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Vou
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não cae. acabar. Eu os acato, mas não os supponho superiores aos
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Seria outros homens, não lhes attribuo qualidades que só
tambem a negação do principio (que não adopto) que é pertencem á divindade para lhes conferir poderes de que não
preciso dar aos bispos toda a força para disciplinar o clero... haja recurso. Sobretudo nunca concorreria para que tenham
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ outra cousa; o attribuições contrarias á constituição, que não consente que
mais são pretenções do poder temporal. ninguem seja julgado senão em virtude de lei anterior,
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Pelo
contrario foi o poder temporal quem deu esta autorisação aos
bispos
Sessão em 19 de Maio 119

pelos tramites nella marcados e com as penas tambem ORÇAMENTO DO IMPERIO.


anteriormente fixadas.
O beneplacito tambem está condemnado no Syllabus Achando-se na sala immediata o Sr. ministro do
n. 20 e condemnado por todos os nossos bispos que Imperio foram sorteados para a deputação que o devia
escrevem até pela imprensa contra elle; entretanto estando receber os Srs. Leitão da Cunha, visconde de Camaragibe, e
elle prescripto no § 14 do art. 102 da constituição do Imperio, F. Octaviano, e sendo o mesmo senhor introduzido no salão
o governo tem obrigação de o sustentar. E nem se diga que a com as formalidades do estylo, tomou assento á direita do Sr.
assembléa geral, por exemplo, não é competente para presidente.
conhecer da conveniencia da publicação das bullas. A Entrou em 2ª discussão a proposta do poder executivo
assembléa geral não tem de conhecer das doutrinas fixando a despeza e orçando a receita geral do Imperio para o
theologicas ou religiosas, mas se a bulla ou cartas apostolicas, exercicio de 1872 – 1873, no art. 2º relativo ao ministerio do
respeitando as doutrinas aceitas pela Igreja, não usurpam Imperio.
poder e jurisdicção temporal. O Sr. Zacarias pronunciou um discurso que
Eis o fim do beneplacito: garantir o poder temporal publicaremos no appendice.
contra as usurpações da curia romana. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
Sr. presidente, vou cumprir a recommendação de V. – O nobre senador pela Bahia começou notando a
Ex. pondo fim ao meu discurso. Em outra occasião darei maior circumstancia de ser a primeira vez que venho ao senado.
desenvolvimento a algumas das questões de que tratei. Esta circumstancia, Sr. presidente, seria motivo para
Felizmente temos na constituição, nas leis e decretos maior acanhamento da minha parte, para um certo enleio,
em vigor os meios de conter as invasões das autoridades achando-me perante esta augusta camara, se o nobre
ecclesiasticas e todos esperamos que o governo os execute senador não concorresse com alguma justiça que me fez, e
com a energia necessaria, energia que não exclue a com sua benevolencia, que muito agradeço, para que esteja
prudencia. E não o demovam do cumprimento desse dever as tranquillo e desassombrado.
palavras ou ameaças do nobre senador, que diz: «Tentem-o O nobre senador quiz vér nessa mesma circumstancia
se são capazes, façam etc.» Desgraçado de nosso paiz se os prova de fraqueza do governo. A causa é aliás conhecida. Em
ultramontanos podessem dizer com razão ao governo: não 1871 discutiamos na camara dos deputados o orçamento, que
executae a constituição, não ponde em execução as leis, agora se acha sujeito á apreciação do senado, conjuntamente
contra as usurpações das autoridades ecclesiasticas, porque com a reforma do elemento servil, reforma que foi objecto das
sereis vencido e derrotado. maiores discussões, talvez as mais agitadas, que tem tido o
VOZES: – Muito bem. parlamento brasileiro. Aconteceu por isso que ficasse na outra
Foi lido, apoiado e posto em discussão, que ficou camara retardado o orçamento; a culpa não foi de certo do
adiada por haverem pedido a palavra os Srs. Figueira de Mello governo. Entre fazer passar uma reforma, cuja demora traria
e Mendes de Almeida; o seguinte perigos de ordem publica e discutir o orçamento, o governo
devia optar pela reforma. Se sómente esta pôde ser votada,
REQUERIMENTO. nem isso revela fraqueza do governo, nem de modo algum
pôde-se attribuir a culpa sua.
Requeiro que se peçam ao governo as seguintes Em 1872, sabe bem o nobre senador, a camara dos
informações: deputados funccionou poucos dias; foi dissolvida. O
1ª Quantos recursos á Corôa tem recebido na orçamento, que ainda não estava discutido em 2ª discussão,
secretaria de Estudo dos negocios do Imperio, interpostos não pôde vir ao senado.
pelos procuradores da Corôa ou pelas partes contra as O SR. ZACARIAS: – V. Ex. encontrou muitos artigos
autoridades ecclesiasticas nos annos de 1871, 1872 e 1873. discutidos.
2ª Quaes os effeitos, suspensivo ou devolutivo, que O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
lhes assignaram os presidentes das provincias. – Tinham-se discutido os artigos relativos aos ministerios do
3ª Se algum dos presidentes de provincia decidiu Imperio e estrangeiros, e tinha começado a discussão do
provisoriamente recurso interposto perante elle, usando da relativo ao ministerio da justiça, que concluiu-se na ultima
attribuição conferida pelo art. 3º do decreto n. 1711 de 28 de sessão.
Março de 1857. Reconheço que o orçamento podia ter vindo mais cedo
Rio, 19 de Maio de 1873. – Visconde de Souza Franco. ao senado; mas são conhecidos os factos que fizeram com
que a camara dos deputados não se reunisse sempre; a
ORDEM DO DIA. discussão foi ainda retardada, e sómente nos ultimos dias da
primeira sessão desta legislatura pôde ser votada a proposta,
PENSÕES. que hoje está submettida á apreciação da camara vitalicia.
Quiz o nobre senador vêr no procedimento da
Entrou em 3ª discussão e foi approvada para ser commissão uma prova de que o orçamento é irregular e não
dirigida á sancção imperial a proposição da camara dos Srs. merece a sua approvação. Se me é licito explicar as intenções
deputados mencionada no parecer da mesa n. 520 sobre da honrada commissão, supponho que o facto de não dar
pensões. parecer e de reservar-se para uma ou outra emenda revela o
Seguiu-se em 2ª discussão e passou para a 3ª a seu apoio ao trabalho da outra camara. Entretanto, é á
proposição da mesma camara, mencionada no parecer da
mesa n. 521 sobre pensões concedidas a D. Isabel Noya da
Conceição Barbosa.
120 Sessão em 19 de Maio

honrada commissão que compete explicar-se, e eu não posso, teria levantado tão grande opposição; mas entendeu S. Ex.
nem devo adiantar palavra sobre este ponto. Revma. que podia mandar expellir os maçons das irmandades
Honrou-me muito o nobre senador pela Bahia quando e confrarias religiosas e lançar interdicto sobre as que não
disse que, se tivesse de fazer alguma excepção dos membros quizeram cumprir suas ordens.
do ministerio, essa excepção seria em meu favor. Agradeço Uma dessas corporações, suppondo-se offendida,
tanta benevolencia; declaro, porém, que, solidario, como sou, interpoz recurso á Corôa, e esse recurso, recebido pelo
com todos os meus honrados collegas, e testemunha do zelo presidente da provincia, como devolutivo, foi submettido á
com que cada um delles se entrega aos deveres de seu cargo, secção competente do conselho de Estado. O governo dará
embora tenha no maior apreço os louvores do nobre senador, no mais breve praso a decisão que for de justiça, tendo em
não posso em consciencia aceitar tão honrosa singularidade, vista o nosso direito constituido. Permitta o nobre senador que
porque não a mereço e porque nella se envolve uma censura eu não adiante palavras sobre a decisão que está pendente.
aos outros ministros. O SR. ZACARIAS: – Peço ao Espirito Santo que o
O nobre senador tocou em uma questão illumine.
importantissima, da maior gravidade, que entende com a O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
consciencia, e em que todos nós devemos ter a maior – Declaro, porém, que, apesar do desejo ardente de ser tão
prudencia. bom catholico como S. Ex., não poderei deixar de ser executor
Declaro ao nobre senador que os meus sentimentos das nossas leis, no que ellas tiverem de applicavel ao caso,
religiosos aproximam-se muito aos de S. Ex., e que desejo ser em desfeza de direitos offendidos.
do numero dos melhores catholicos. Estou, pois, muito longe O nobre senador tocou incidentemente em um facto
de condemnar os esforços da igreja, por tornar-se universal, e notorio; referiu-se á posição que o nobre presidente do
nelles não vejo nem o contrato de Esaú e Jacob, nem o plano conselho occupa na maçonaria brasileira, e foi injusto,
de dominação odiosa, como se disse. Não, Sr. presidente; eu asseverando que é S. Ex. o causador de toda essa questão.
sei e reconheço que a Igreja, na missão que seu divino Parece-me que o nobre senador não tem razão; o honrado
fundador deu aos apostolos, mandando-os prégar por toda a presidente do conselho podia ser maçon, como tantos outros
parte e ensinar a todos os povos, recebeu a nota de cidadãos respeitaveis e benemeritos teem sido neste e em
catholicidade, significada tambem pela unidade da fé e pela outros paizes, mantendo aliás as melhores relações com a
diffusibilidade; e nunca poderei converter isso em motivo de Igreja.
censura á Igreja, nem em prova de que ella pretende a Nem eu creio que de tal facto possa resultar a
dominação no sentido que se lhe attribue. inhabilitação para governar, com que ao nobre senador
Tambem não posso acompanhar as pessoas que aprouve fulminal-o. Se a censura lançada contra a maçonaria
censuram os capuchinhos, porque, como observou o nobre em geral não póde ser applicada á do Brasil, que tem sómente
senador pela Bahia, ninguem mais do que eu está habilitado fins de beneficencia, como se diz, e não contraria a religião
para fazer justiça a esses excellentes frades, que, arriscando catholica, faltará assim justa causa para a condemnação dos
saude e vida tantas vezes, entregam-se constantemente ao maçons brasileiros, e neste caso principalmente o nobre
bem espiritual dos povos, entram pelos nossos sertões para presidente do conselho estará na posição daquelles que,
ensinar o Evangelho e teem feito verdadeiros prodigios em presos á Igreja pelos vinculos internos da fé, embora os
minha provincia, onde recolhimentos para instrucção de queiram considerar materialmente desligados, desprendidos
meninas pobres, igrejas vastissimas, casas de caridade e dos vinculos externos, continuam a ser catholicos diante de
notaveis serviços á ordem publica, attestam o seu grande Deus e melhores catholicos do que quem pertence ao corpo e
prestimo, a sua piedade e os beneficios de que são capazes não á alma da Igreja.
(Apoiados.) O SR. F. OCTAVIANO: – Esta proposição já foi aqui
Quanto ao beneplacito, ponto sobre o qual o nobre condemnada pelo nobre senador pelo Maranhão.
senador deseja ouvir a minha opinião e interrogou-me O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
positivamente, conheço a doutrina da Igreja, a origem que ella – Mas é de um escriptor, cuja autoridade o nobre senador não
dá á essa prerogativa do soberano temporal, e o modo porque póde recusar.
se defende contra os regalistas, resistindo á pretenção de que O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Bem catholico contra
se converta em diminuição e dependencia do poder espiritual as leis da Igreja? E' a primeira vez que ouço tal proposição.
o exercicio da advocacia e defeza que os principes lhe O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
prestavam antigamente; sei que é objecto de questão se o – Não foi de certo o nobre presidente do conselho quem
beneplacito póde ser illimitado. Mas, Sr. presidente, collocado levantou essa questão; os factos que se passaram nesta
no terreno do nosso direito constituido, não posso attribuir aos Côrte nada teem com o que se deu em Pernambuco.
decretos dos concilios e ás lettras apostolicas, nem a O SR. ZACARIAS: – Foi causa occasional; os factos
quaesquer outras constituições ecclesiasticas effeitos civis, da provincia foram posteriores á manifestação feita pela
que obriguem o Estado, se este pelo governo ou pela maçonaria daqui.
assembléa, conforme a materia, não conceder o seu O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Tudo foi resultado
beneplacito, como é expresso na constituição politica do da festa dos maçons.
Imperio. O SR. PRESIDENTE: – Attenção.
Com relação á questão maçonica sabe-se o que O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
occorreu. O Revm. bispo de Pernambuco entendeu que devia
mandar eliminar de algumas irmandades maçons que como
taes se revelavam e prégavam doutrinas contrarias á Igreja.
Se o bispo de Pernambuco se tivesse limitado a censurar
aquelles que assim procediam, creio que não se
Sessão em 19 de Maio 121

– O honrado presidente do conselho, aceitando a O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):


manifestação que lhe foi feita pelo grande Oriente do Lavradio, – Quer me parecer, Sr. presidente, que a occasião não é
não concorreu de modo algum para que um padre fosse o propria para entrar em um exame minucioso do projecto que
orador da festa e, publicando o seu discurso maçonico, tive a honra de apresentar, mas não quero faltar á cortezia
incorresse na censura do bispo desta diocese, menos ainda que devo ao nobre senador, e darei uma breve resposta ás
concorreu para que ao facto do Rio de Janeiro succedessem, suas observações.
tempo depois, os de Pernambuco. Como, pois, pretende o O nobre senador reconheceu que o processo adoptado
nobre senador fazel-o responsavel pela questão que se pelo projecto para qualificação é engenhoso e consagra
levantou entre os bispos e a maçonaria? algumas garantias. Eu não posso deixar de desvanecer-me
O nobre senador pela Bahia interrogou-me tambem a com esta confissão, que já revela algum merecimento no
respeito da reforma eleitoral. De quem é a iniciativa, perguntou trabalho, que apresentei de accôrdo com meus collegas. Mas,
S. Ex., do deputado ou do governo? perguntou S. Ex., porque é que o projecto, que aliás ampliou
Sr. presidente, quando eu disse que o governo, em as incompatibilidades, em sua opinião inconstitucionaes...
attenção á materia do projecto e em respeito ás opiniões O SR. ZACARIAS: – Dizem que são.
manifestadas, não quizera dar-lhe a fórma e o caracter de O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
proposta do poder executivo, não tive a intenção que o nobre – Mas V. Ex. votou contra ellas?
senador me attribue, mas sim outra muito differente. Tratava- O SR. F. OCTAVIANO: – Naquelle tempo dobrou-se a
se de uma reforma que entende com a organisação do intelligentia do parlamento.
parlamento, com a sua origem, e parece que neste assumpto O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
se devia deixar á camara dos deputados a iniciativa que – ...parou diante da difficuldade que a constituição offerece á
tambem compete ao governo, cumulativa e conjuntamente em reforma da eleição indirecta para o systema directo?
quasi todas as materias. Além disto, se bem me recordo, o Não é difficil a minha resposta. Se alguem tivesse de
proprio nobre senador tinha aqui opinado que o governo não carregar com a culpa de ter ferido a constituição em materia
apresentasse o seu projecto como proposta do poder de incompatibilidade, não seria eu que achei a porta aberta e
executivo. franca. Não acontece, porém, o mesmo a respeito da eleição
O SR. ZACARIAS: – Eu, não. directa, que offerece difficuldade séria, e cuja adopção por
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): uma lei ordinaria seria contraria ao modo porque se tem
– Pareceu-me; muitas pessoas, porém, manifestaram-se entendido a nossa lei fundamental.
nesse sentido, e então pelas razões que eu disse, embora o Em 1835 um deputado de opiniões liberaes apresentou
governo estivesse de perfeito accôrdo sobre o projecto, um projecto estabelecendo a eleição directa. Esse projecto foi
entendi que devia ser o deputado que o apresentasse e não o julgado reforma da constituição e submettido por isso ao
ministro. apoiamento de um terço dos membros presentes da camara.
Disse o nobre senador que este facto veio revelar Depois da terceira leitura não foi julgado objecto de
hesitação da parte do ministro do Imperio, porque o que elle deliberação.
apresenta como deputado é depois declarado projecto de Em 1847, se me não engano, o nobre senador por
iniciativa do governo. A falla do throno não chamou o projecto Minas Geraes, então deputado, apresentou segundo projecto
que tive a honra de apresentar para reforma do nosso no mesmo sentido e essa outra tentativa teve igual sorte.
systema de eleições, proposta do poder executivo; mas Estes dous factos mostram que nunca se entendeu a
sómente deixou de classifical-o entre os projectos de simples constituição, como agora se quer entender; e elles teem
iniciativa da camara. Não é uma proposta do poder executivo, grande importancia, porque são decisões competentes
é certo, mas tambem não se póde dizer que é um projecto de proferidas em épocas mais proximas ao juramento da
simples iniciativa da camara, que é estranho á acção do constituição, e quando era bem conhecido o pensamento dos
governo, quando parte de um ministro, na sua qualidade de seus autores.
deputado e de accôrdo com todo o ministerio. Quanto mais leio attentamente os artigos da
O SR. ZACARIAS: – De accôrdo qualquer membro da constituição que se referem ao nosso systema de eleições,
maioria póde estar. mais me convenço, Sr. presidente, de que a eleição directa
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): depende de reforma constitucional. Os defensores da opinião
– Neste ponto posso apadrinhar-me com a opinião do honrado contraria são obrigados a sustentar que o direito de votar não
Sr. conselheiro Nabuco; quando apresentou a sua reforma é direito politico. A que torturas recorrem elles, quando
judiciaria, elle disse que a apresentava como deputado, mas precisam esquecer que não ha direito tão politico, tão elevada
declarou sempre que o projecto apresentado pelo ministro e essencialmente politico como esse?
como membro de qualquer das casas do parlamento, uma vez Neste ponto confesso ao senado que a minha opinião
que tivesse por si o accôrdo dos collegas, não era da simples está formada. Se bem que não deixe de propender um pouco
iniciativa do deputado ou senador, mas devia ser considerado para a eleição directa, que aceitaria em condições sociaes
projecto do governo; e depois fez questão de gabinete, como melhores do que as nossas são actualmente...
recorda em aparte o nobre senador pelo Rio de Janeiro. O SR. ZACARIAS: – Para que as nossas condições
O SR. ZACARIAS: – Podia fazer de qualquer materia, melhorem é preciso que haja eleição directa.
até de um requerimento. OS SRS. F. OCTAVIANO E POMPEU: – Apoiado.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
– ...não a posso admittir, por evidentemente inconstitucional e
intempestiva.
122 Sessão em 19 de Maio

O SR. F. OCTAVIANO: – O nobre ministro teve outra – ...e impossivel, accrescenta o nobre senador pelo Ceará.
convicção outr’ora. Pensa S. Ex. que indicar os que pagam mais impostos não é
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): difficil, nem exige comparações odiosas; mas qualificar os 10
– Perdôe-me, nunca. maiores proprietarios é difficuldade muito grande e depende
O SR. POMPEU: – Está em documento publico. de processo inquisitorial.
O SR. F. OCTAVIANO: – Pronunciou-se pela eleição Sr. presidente, isto depende de disposições
directa em um parecer. regulamentares e eu espero que a difficuldade será bem
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): resolvida. Como havemos de procurar a prova da maior
– Resalvei a constitucionalidade; eu e o Sr. Gomes de Castro, propriedade?
deputado pelo Maranhão, resalvámos, ambos de accôrdo, a O imposto é uma das manifestações da riqueza; mas
nossa opinião neste ponto; não estou, pois, em contradicção, em muitas localidades, em quasi todo o interior do nosso paiz,
quando digo hoje que considero a eleição directa não são os homens mais ricos os que podem provar por esse
inconstitucional. meio que o são (apoiados); quasi todos os nossos grandes
O SR. F. OCTAVIANO: – Mas como podia o projecto fazendeiros, os que mais produzem, pagam impostos
ter vida e a commissão aceital-o, se era inconstitucional? indirectos; e até mesmo o imposto pessoal é para elles tão
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): limitado em muitos casos, que não se compara com o imposto
– Podiamos resalvar a nossa opinião; appellámos para a que paga o habitante das villas ou povoações.
discussão; não queriamos crear uma difficuldade de mais a Ora bem se vê que o imposto não póde ser a unica
um ministro amigo. Já tive occasião de explicar este facto. prova, e que esta ha de variar conforme as profissões, os
O SR. POMPEU: – No parecer, não. meios de vida, a natureza da fortuna e a collocação dos
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): individuos e dos seus bens. A qualificação far-se-ha por
– Expliquei depois na camara, como consta dos Annaes de diversos modos apropriados e conducentes á verificação de
1871, e observarei ainda que o projecto de que se trata não quem é maior proprietario; cada um allegará o seu direito; os
extinguia a eleição indirecta, nem tirava direito aos cidadãos, interessados serão ouvidos, e quem se julgar prejudicado
que votam nas assembléas parochiaes. provará pelos meios a seu alcance que não deve ficar excluido
Sr. presidente, pareceu-me que o nobre senador pela da lista. O que ha nisto de odioso?
Bahia notava contradicção da minha parte, porque eu disse no Manifestou-se o nobre senador contra as turmas de 25
discurso com que fundamentei o projecto de reforma eleitoral votantes, requerendo logar na eleição primaria, e crê que ellas
que não admittia que se restringisse o suffragio em uma época serão novos meios de perturbação e até de fraude ou de
em que tanto se clama pela sua extensão, e entretanto, violencia. Sr. presidente, essas turmas em minha opinião
definindo a renda, restringi o numero de votantes facilitam e pacificam as eleições. O que pretende o projecto?
Senhores, eu não crio direito novo; pugno pela fiel Facilitar a representação das minorias, garantir a eleição de
execução da lei, e esta quer que seja qualificado o individuo eleitor a quem reunir 25 votos. Ora, se alguem poder
em certas condições, com certa renda. Na pratica se tem congregar 25 amigos ou adherentes e os levar á parochia, tem
abusado muito; é frequente e quasi ordinario que individuos, desde logo segura a sua eleição; e é de esperar que esse
que não podem ou não devem ser qualificados, são incluidos candidato ao eleitorado e esses 25 votantes, depois que
na lista dos cidadãos activos e votam. Ora, desde que eu não tiverem uns exercido o seu direito e outros obtido a sua
crio direito novo e não tiro direito a nenhum dos que pretenção, não serão elementos de disturbio, agitação e
presentemente o teem por lei, mas procuro somente corrigir os cabala na assembléa parochial.
abusos que se dão na pratica, não ha essa contradicção que o Demais, Sr. presidente, é esse o meio pratico de fazer
nobre senador pareceu notar entre minhas palavras e a com que a massa dos votantes se distribua em grupos, que
disposição do projecto. correspondam ao numero de eleitores, para que estes não
Entendeu tambem o nobre senador que não tem resultem de uma maioria eventual, nem deixe cada opinião de
justificação a novidade de serem chamados para formação ter nos collegios eleitoraes representantes á proporção de sua
das mesas parochiaes os dez maiores proprietarios da força numerica.
parochia. Esta idéa eu encontro-a em quasi todos os projectos Longe, portanto, de vêr os inconvenientes que o nobre
apresentados por distinctos parlamentares e julguei-a muito senador descobriu nessa disposição do projecto, parece-me
conveniente, porque traz para as juntas de qualificação e que ella é não só uma garantia para a execução do
mesas parochiaes, que tanta importancia teem em nossas pensamento que o projecto encerra, como um elemento de
eleições, um elemento estavel, independente... paz nas assembléas parochiaes.
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Porventura Tambem notou o nobre senador que o projecto, ao
imparcial. passo que declara, quanto á renda, que póde ser qualificado
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): independentemente de outras provas o individuo que
– ...e porventura imparcial, como observa o meu respeitavel contribue com 6$ annuaes, sujeita á prova os titulares e outras
amigo. classes que notoria ou muito presumidamente teem a renda
O nobre senador pela Bahia taxou de odiosa a legal ou pagam maior imposto.
qualificação desses 10 maiores proprietarios... Senhores, a respeito dos cidadãos que pagam 6$ de
O SR. POMPEU: – Impossivel até. impostos, póde-se dizer que elles manifestam sua renda de
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): modo certo, incontestavel; mas o nobre senador bem sabe
que muitos individuos titulares ou graduados em academias e
corporações scientificas, por circumstancias infelizes, podem
reduzir-se á extrema pobreza e não ter a renda exigida para
votante. O projecto devia salvar este caso, e assim
Sessão em 19 de Maio 123

se explica a disposição censurada pelo nobre senador; mas O SR ZACARIAS: – De vez em quando ha casos e
devo observar que não é exacto que os titulares são obrigados póde recrudescer.
a provar primeiramente a sua renda; o que o projecto dispõe é O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
que sejam qualificados, salvo prova em contrario; presume-se – Virá como epidemia nova. Se acontecer que reappareça e
a renda. recrudesça, os factos posteriores virão dar-lhe uma
O nobre senador trouxe para esta discussão um topico qualificação, que presentemente não tem ainda; e dessa
da falla do throno e interrogou-me a respeito delle. Entende S. possibilidade, que Deus evite, não se póde concluir que a
Ex. que a epidemia, que está quasi extincta, foi uma das mais epidemia foi das mais mortiferas.
mortiferas. Entendeu tambem o nobre senador que ao tempo Entrando em considerações a respeito do orçamento
em que foi lido nesta casa o discurso com que a Corôa abriu a que se discute, o nobre senador observou que eu tinha
sessão finda, a epidemia era muito mais intensa do que no concorrido para o desequilibrio da receita e despeza, ou para
mesmo discurso se dizia. Eu me proponho demonstrar que a os vicios que o orçamento tem.
epidemia não foi das mais mortiferas, assim como aproveitarei Começando, perguntou S. Ex. porque ainda figura no
a occasião para demonstrar que não era justa a censura feita orçamento do Imperio a dotação que se paga á Sra. D.
ao discurso da Corôa, por dizer em Dezembro que a epidemia Januaria, assim como o aluguel de casa. Não sabe S. Ex.
não era de grande intensidade, o que aliás não excluia alguma como é que, figurando nas nossas leis uma disposição para
intensidade. que se pague o dote e cesse esse pagamento annual, o
Sr. presidente, logo pela significação da palavra – governo não a tenha executado até agora.
mortifera –, parece-me que eu posso provar ao nobre senador Sr. presidente, examinando o contrato matrimonia da
que S. Ex. não tem razão neste ponto. Quando se diz que Sra. D. Jaunaria vê-se que Sua Alteza conservou o direito,
uma epidemia não foi das mais mortiferas, isto quer dizer que mesmo depois de assegurada a successão da Corôa, de
não foi daquellas que maior numero de mortes causaram; o conservar-se no Imperio e ser tratada como princeza do Brasil,
nobre senador mesmo, lendo os apontamentos de que se recebendo sua dotação. O contrato previne a hypothese de
serviu, demonstrou que a epidemia porque acabamos de que Sua Alteza e seu augusto esposo se retirem com licença
passar, fez muito menor numero de victimas do que as do Imperador, e neste caso ainda continuam a perceber a
precedentes; logo, esta epidemia não foi das mais mortiferas. mesma dotação. Ora, o que acontece é que Suas Altezas, por
O SR. ZACARIAS: – E’ a terceira. motivos que não vem a ponto expor, teem estado na Europa
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): mais tempo do que se presumia que estivessem, e diversos
– Basta que houvesse duas mais mortiferas para se dizer que ministerios teem entendido que convem fazer cessar este
não foi das mais mortiferas a terceira, que o foi menos. estado de cousas.
Com relação á censura que se fez á affirmação de que Em 1863 esse negocio foi discutido pelo Sr. marquez
a epidemia em Dezembro não era de grande intensidade... de Abrantes, ministro de estrangeiros...
O SR. ZACARIAS: – Isto é voltar á questão finda. O SR. ZACARIAS: – A lei foi de 1862.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
– Então não lerei os apontamentos que trazia, pelos quaes – ...mas não se chegou a uma decisão. As leis que autorisam
provo que naquella occasião com effeito a epidemia não era o governo a entregar o dote de Sua Alteza a Sra. D. Januaria
intensa. Começava a manifestar-se, mas ainda não era teem esta condição: «caso ella fixe sua residencia habitual
intensa; e quando eu dirigi-me ao nobre senador como fóra do Imperio» e esta declaração nunca foi feita de modo
provedor da Santa Casa da Misericordia para estabelecer terminante.
enfermarias, foi porque reinava então uma epidemia O SR. ZACARIAS: – E’ porque continuam as licenças.
contagiosa, a variola, que entretanto não fazia muitas victimas. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
O SR. ZACARIAS: – Fez muitas, perdôe-me V. Ex. – Tratando deste assumpto, ainda não pude obter decisão
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): definitiva; parece que Suas Altezas os Srs. conde e condessa
– Mas não tantas como em outras occasiões tem feito. Emfim, d’Aquila não querem renunciar o projecto de voltar ao Brasil e
desde que o nobre senador allega que isto é materia velha, desejam conservar o direito que lhes foi garantido pelo
não continuarei. contrato matrimonial.
O SR. ZACARIAS: – Só para mim; póde ficar nova, Ultimamente tive a honra de escrever ao principe
estou sempre prompto. declarando que o governo, attentos os motivos que Sua Alteza
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): havia exposto, motivos de molestia em sua augusta esposa,
– A respeito das palavras do discurso da Corôa creio que foi o remettia nova licença de mais um anno, mas que, depois
nobre senador quem se encarregou de provar que o governo desse praso, haveria muita difficuldade em prorogal-a e assim
tinha razão. Dos apontamentos de S. Ex. consta que a se dispozessem Suas Altezas a vir para o Brasil ou receber o
epidemia porque acabamos de passar... dote.
O SR. ZACARIAS: – Ainda não acabou. As passadas O SR. ZACARIAS: – Quando acaba-se a licença?
consideraram-se em todo o anno; a respeito desta ultima O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
ainda estamos em Maio. – Acaba-se em Dezembro.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): O SR. ZACARIAS: – Bem.
– ...está quasi extincta. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
– Não me tenho descuidado e, sem faltar ao respeito e
attenção que devo aos principes, farei o possivel para que
124 Sessão em 19 de Maio

cesse tal estado, que não parece regular e tem sido motivo de O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
reparos. – Tratava de menores. Entretanto declaro ao nobre senador
O SR. ZACARIAS: – Muito bem! que inclino-me mais para a sua opinião antes de maior estudo
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): e reflexão que talvez me levem com firmeza á opinião
– Reconheço o direito dos principes á dotação, emquanto não contraria.
preferirem a residencia em paiz estrangeiro, mas bem vejo O nobre senador fallou incidentemente em monarchia
que a licença para residirem fóra do Imperio não se deve barata, mas parece-me que nestas palavras de S. Ex. não ha
prorogar indefinidamente. de certo uma referencia á nossa monarchia; portanto,
O SR. ZACARIAS: – Muito bem! Mas se os principes abstenho-me de responder-lhe e não preciso repetir o facto,
vierem? que todo o Brasil conhece, isto é, que nenhuma familia
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): reinante se tem mostrado mais cheia de abnegação e
– Senhores, emquanto a Sra. D. Januaria for considerada desinteresse do que a do Brasil.
princeza do Brasil com direito a residir aqui e receber a Sr. presidente, o nobre senador impugnou uma
dotação, parece-me que os augustos filhos participarão do seu emenda adoptada pela camara dos deputados, – a que se
estado... refere á publicação dos debates. Esta disposição não contém
O SR. ZACARIAS: – Não é esta a questão. uma idéa do governo. Não desconheço a utilidade de taes
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): publicações; todos nós sabemos quanto teem sido uteis os
– ...mas, desde que Sua Alteza preferir fixar residencia em annaes do parlamento de 1857 para cá e quanto fôra para
paiz estrangeiro e cortar assim os laços que a prendem ao desejar que elles se completassem. Se ao senado parecer
Imperio, outra será a condição dos principes seus filhos. que a despeza póde ser adiada, está no seu direito e eu nada
O SR. ZACARIAS: – Mas se elles vierem para cá? opporei.
Esta é a minha questão. O SR. ZACARIAS: – Muito bem; proporei uma
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): emenda, se a commissão não me preceder; espero que ella
– Se elles vierem para cá, quanto a um parece-me que o que corte estes babados todos, e ponha liso o orçamento. Muito
decide a questão é o art. 113 da constituição. bem! Isso é que é ser ministro; não é lá quebrar lanças por
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Apoiado. quanta cousa ha ahi.
O SR. ZACARIAS: – Fallo do que está no Brasil. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): – O nobre senador entrou tambem em duvida a respeito do
– Quanto ao outro peço ao nobre senador que não exiga de modo porque as casas do parlamento resolvem certas
mim uma resposta terminante nesta occasião. despezas. Eu por deferencia ao nobre senador o
O SR. ZACARIAS: – Deve ser decisiva, é de lei. acompanharia nesta questão, mas não tenho necessidade de
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): emittir minha opinião individual sobre o modo por que as
– Eu creio, como já disse, que, se a Sra. D. Januaria e seu camaras resolvem despezas relativas a cada uma dellas.
augusto esposo crearem uma situação nova pelo facto de O SR. ZACARIAS: – Qual é a opinião de V. Ex.?
preferirem residir em paiz estrangeiro, seus filhos terão a sorte O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
paterna. – A minha opinião é pela sujeição dessas despezas ás regras
O SR. ZACARIAS: – Logo o Sr. D. Felippe não póde geraes de todas as outras, isto é, que fossem sujeitas á
receber nada. decisão de ambas as camaras e á sancção.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): O SR. ZACARIAS: – Apoiado.
– Não emitto opinião definitiva; o caso merece ponderação; o O SR. POMPEU: – Isso é que é regular.
Sr. D. Felippe póde allegar direitos adquiridos por facto O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
proprio; a decisão não é facil. – Respondi á pergunta do nobre senador, mas respeito o facto
O SR. ZACARIAS: – Está no artigo de lei que V. Ex. e não censuro as camaras, porque teem procedido
citou. differentemente em alguns casos.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): Impugnou o nobre senador a autorisação dada ao
– Perdôe-me V. Ex. A lei de 9 de Setembro de 1862 declara governo para reformar a secretaria do Imperio; parece a S. Ex.
que no caso de entrega do dote cessam os alimentos dos que isto é um nunca acabar; que a despeza ha de ser
principes, filhos da Sra. D Januaria; mas essa lei referia-se excedida; que ha nisto uma especie de Penelope com a
então a filhos menores, que acompanhariam necessariamente differença que aquella desfazia a têa para livrar-se dos
a sorte paterna, e agora trata-se de pessoa sui juris, que tem pretendentes, emquanto o governo tem em vista attender aos
estado até hoje como principe do Brasil, pela situação em que pretendentes.
se acham seus paes e pelo facto proprio de estar residindo Sr. presidente, declaro ao senado que minha intenção
aqui e servindo no exercito. é muito differente. A observação me tem mostrado que com
O SR. ZACARIAS: – E’ expresso o artigo de lei. menor pessoal e melhor retribuição, sendo o trabalho bem
distribuido, o serviço da secretaria do Imperio póde melhorar
muito. Presentemente ha grande apparato de fórmas, muitas
secções, papeis a transitarem por diversas mesas. Eu concebi
uma reforma que simplifica esse trabalho, que apressa as
soluções, que anima e estimula os empregados, e não duvidei
pedir ao corpo legislativo a autorisação que a camara dos
deputados concedeu. Não tenho a intenção
Sessão em 19 de Maio 125

de augmentar a despeza geral, mas é certo que, de accôrdo tão importante, e eu vejo que o nobre marquez de Olinda em
com o pensamento enunciado na falla do throno, tenho em 1864... Cito com prazer o nome do Sr. marquez de Olinda,
vista augmentar os vencimentos dos empregados que forem porque, além de estadista muito notavel, foi nos seus ultimos
conservados. annos apoio e oraculo do partido liberal. O marquez de
O SR. ZACARIAS: – Resta saber se não convinha Olinda, que não podia ser considerado suspeito nesta
que essa economia fosse para o thesouro, se não estão bem materia...
pagos. O SR. ZACARIAS: – Não sabe V. Ex. que elle estava
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do em luta com a camara municipal?
Imperio): – Diz-se muito que os empregados das secretarias O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
são largamente retribuidos. Imperio): – Por outro motivo.
O SR. ZACARIAS: – Incomparavelmente mais do que ...o marquez de Olinda reconheceu e escreveu em seu
os das estações fiscaes. relatorio que, não tendo a camara municipal recursos
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do pecuniarios para semelhante obra, não hesitava em
Imperio): – Eu confesso que em relação ao que trabalham, e recommendal-a á attenção do poder legislativo. Essa obra,
tendo em vista o que podiam fazer, talvez a censura podesse que não deve ser adiada, póde ser feita do mesmo modo
passar limitada a alguns individuos, mas, se considerarmos porque os poderes geraes teem feito no municipio neutro a
empregados daquella categoria e com importantes deveres, illuminação, os cáes, os canaes, o abastecimento de aguas e
como elles teem, cumprindo-os exactamente, o pagamento é outros serviços, que são municipaes, mas que não poderiam
insufficiente, está longe de ser um incentivo, para que as ficar á espera de que municipalidade tivesse meios para
habilitações que convém reunir em casas como as secretarias realisal-os. E’ exactamente o que pretendo fazer em relação
de Estado para lá convirjam. ao matadouro.
Fallou o nobre senador de outra autorisação, – a que Notou o nobre senador que o credito é illimitado.
se refere ao matadouro. Sr. presidente, eu creio que não Senhores, agora póde-se dizer que o cretido é illimitado; mas
precisa de demonstração a necessidade de remover o as obras do matadouro serão submettidas a um orçamento, a
matadouro de logar onde está para outro. Logar improprio, uma approvação, e desde que esta condição se verificar, o
fóco de infecção, motivo para que esta cidade consuma carne credito ficará limitado. O imposto addicional que se pede é
verde menos boa do que podia consumir, o matadouro actual especial e limitado ao custo das obras.
está condemnado; mas, como sabemos, pretendentes em Accresce, Sr. presidente, que a camara municipal tem
grande numero, empregando todos os meios que elles sabem essas obras mais ou menos orçadas, foi ella quem, usando
pôr em jogo, teem difficultado sempre uma decisão a este da iniciativa ou attribuição que agora tanto se defende, propoz
respeito. Não conheço outra causa, porque a camara a creação do imposto do modo porque a camara dos
municipal tem-se manifestado muitas vezes disposta a deputados votou.
realisar tão urgente melhoramento, o governo está de Observou o nobre senador que o imposto municipal,
accôrdo, mas a obra tem sido adiada. Quando eu considero a como elle considera este imposto addicional, pedido no
enormidade de pretenções individuaes, que teem apparecido, orçamento, não depende do poder legislativo. Primeiro que
não posso deixar de attribuir a difficuldade a essa causa. tudo, permitta-me S. Ex. observar que não sei se este imposto
O SR. ZACARIAS: – Porventura não vão á secretaria deve ser considerado municipal ou geral, porque, se é exacto
do Imperio? Essa é boa. que sobre a carne verde a municipalidade cobra imposto,
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do tambem é exacto que o thesouro igualmente o cobra. Pede-se
Imperio): – Perdoe o nobre senador; não digo que a um imposto addicional, ao que presentemente se paga, de
secretaria do Imperio não tenha o mesmo embaraço, que a quatro reis em cada libra de carne; o imposto aggravado tanto
camara municipal tem... póde ser o municipal como o geral.
O SR. ZACARIAS: – Hão de ir lá. O SR. ZACARIAS: – Municipal, porque é serviço
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do municipal.
Imperio): – ...mas desculpe-me isto, se é menos modesto, eu O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
sinto-me com força bastante para resistir ás pretenções Imperio): – Mas ha serviços municipaes feitos com rendas
individuaes e fazer o que mais convém aos interesses desta geraes; impostos geraes subvencionam e ajudam obras
capital... municipaes.
O SR. ZACARIAS: – Não se trata da sua pessoa. Peço licença para contestar a outra proposição do
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do nobre senador; disse S. Ex. que impostos municipaes não
Imperio): – ...e quando peço autorisação para realisar a dependem do poder legislativo e fazem parte de um
remoção do matadouro, não pretendo esquecer e contrariar orçamento que hoje, pela lei de 26 de Maio de 1840, é
as attribuições da camara municipal; hei de respeitar a attribuição do governo alterar ou approvar. Senhores, o
iniciativa que ella tem, e procurarei o seu accôrdo para chegar orçamento municipal é hoje sujeito á approvação do ministerio
a um bom resultado. do Imperio, que póde alteral-o, mas com as rendas ordinarias
O SR. ZACARIAS: – Põe á margem... já creadas pelo poder competente. Quando, porém, se trata
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do de um imposto novo, da creação ou aggravação de impostos,
Imperio): – Senhores, impugna-se hoje esta autorisação para o governo nunca exerceu, e eu não estou disposto a exercer,
melhoramento a attribuição de approvar as propostas da camara municipal,
porque me parece pertencer exclusivamente ao poder
legislativo na Côrte e ás assembléas legislativas nas
provincias.
126 Sessão em 19 de Maio

O SR. ZACARIAS: – Pertence ás camaras propor os O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do


meios para fazer face ás despezas. Imperio): – Agradeço ao nobre senador a declaração que fez
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do de que não punha em duvida a minha probidade.
Imperio): – Isto é differente. O governo tem approvado o O SR. ZACARIAS: – V. Ex. tem de receber propostas;
orçamento da camara municipal com os impostos creados em não sabe com quem contratará.
virtude de lei, mas não crea, nem augmenta impostos; tanto O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
entendo assim que, todas as vezes que se me tem Imperio): – Fallou finalmente o nobre senador da bibliotheca
apresentado posturas que importam augmento de receita, não publica. Sr. presidente, parece-me que, apesar dos bonds que
tenho usado da faculdade de approvar provisoriamente e não facilitam a visita á bibliotheca onde ella está, o logar continúa
consentirei que tenham execução antes de uma lei que as a ser inconveniente e que se deve procurar ponto mais
approve. central. Não conhecia, antes de ouvir o nobre senador,
A creação de impostos novos não está na opinião differente; todos me indicavam a conveniencia de
competencia do governo, mas na do poder legislativo. trazer a bibliotheca para o centro da cidade e tornar assim util
(Apoiados). A lei de 26 de Maio de 1840 não deu, nem podia a maior numero de leitores aquelle thesouro, que tem estado
dar tal competencia ao governo. quasi que inutil. Agora, depois de aberta á noute, tem sido
No municipio da Côrte esta materia é até, como os mais frequentada, vae prestando alguma utilidade.
imposto em geral, da privativa iniciativa da camara dos Ora, tem me parecido que já pela collocação, já pelas
deputados sobre proposta da camara municipal. suas disposições internas, a casa em que está a bibliotheca e
Puz de lado e á margem a municipalidade, disse o que aliás é de muito valor, não é apropriada. Eu concebi a
nobre senador: Pois, senhores, aceitando a proposta da esperança de construir ou adquirir com o preço desse edificio,
camara municipal, e o meio que ella indicava como unico para se dispuzer delle, outro em logar mais proprio e com melhores
chegar ao resultado da remoção do matadouro, pôde-se dizer accommodações.
que não lhe dou a devida consideração? O SR. ZACARIAS: – Nisto está enganadissimo.
Perguntou o nobre senador: «Quem faz o contrario?» O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
Pelo art. 47 da lei de 1º de Outubro de 1828, para o contrato Imperio): – Perdôe-me V. Ex.; se alguma pequena quantia
das grandes obras a camara municipal quasi que não tem me faltasse, pela verba obras publicas, poderia supprir essa
outra attribuição que não seja a de propôr. falta. Uma bibliotheca publica de que precisa? Ser uma casa
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Apoiado. isolada, em um ponto central, onde haja silencio, salões, uma
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do fachada bonita. Bem vê o nobre senador que obras assim não
Imperio): – Ao governo na Côrte e ás assembléas nas são tão despendiosas que a priori se possa dizer vão custar
provincias compete resolver sobre as propostas. Ora, o centenas de contos de réis.
matadouro é uma das obras mais importantes, exige grande O SR. ZACARIAS: – Pelo menos, 400:000$000.
despeza, e a camara municipal não podia nunca contratal-o, O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
mas sim remetter as propostas que recebesse ao ministro do Imperio): – Ou eu ou o meu successor, acredite, teriamos
Imperio para que elle resolvesse. bastante prudencia para não emprehender a obra sem
O SR. ZACARIAS: – Podia contratar, dependendo de orçamento, sem verificar os meios. Penso e continuarei a
approvação do governo. pensar que posso obter pelo preço da casa em que está a
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do bibliotheca outra mais apropriada, e neste sentido pedi
Imperio): – Não ligo importancia á essa precedencia; o autorisação.
resultado é o mesmo. Assevero que o governo fará o contrato Sr. presidente, creio ter respondido ás observações do
dentro dos limites traçados pela lei do 1º de Outubro de 1828, nobre senador; peço desculpa ao senado pelo tempo que lhe
depois de considerar as propostas enviadas pela camara tomei. Se houver necessidade, voltarei á discussão.
municipal e escolher aquella que mais vantajosa lhe parecer. O SR. POMPEU (pela ordem): – Pergunto a V. Ex.,
Não ha nada, portanto, que offenda as attribuições da Sr. presidente, se estão sobre a mesa as emendas que a
camara municipal, nem que vá de encontro á lei do 1º de commissão prometteu apresentar ao orçamento.
Outubro de 1828, aliás reformavel em um ou em outro ponto O SR. PRESIDENTE: – Não, senhor.
por uma lei ordinaria, como é a lei do orçamento. O SR. POMPEU: – Porque V. Ex. não convida a
O SR. ZACARIAS: – A lei do orçamento póde revogar commissão a apresental-as?
a lei da organisação das camaras municipaes? O SR. BARROS BARRETO: – Não é a este artigo; é
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do do 3º em diante.
Imperio): – Em um ou em outro caso, a respeito de um O SR. POMPEU: – Então peço a palavra sobre o art.
serviço especial, que a camara municipal não podesse fazer, 2º.
uma lei geral poderia fazel-o passar para o governo, como já O SR. PRESIDENTE: – Fica a discussão adiada pela
se tem feito muitas vezes. hora.
Com quem pretendo contratar o matadouro? Retirou-se o Sr. ministro com as mesmas formalidades
O SR. ZACARIAS: – Não lhe perguntei. com que fôra recebido.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do O Sr. presidente deu a seguinte ordem do dia para 20:
Imperio): – Pareceu-me ouvir; tomei nota. 3ª discussão da proposição da camara dos Srs.
O SR. ZACARIAS: – Não. deputados mencionada no parecer da mesa n. 521 sobre
pensões. 2ª discussão do projecto de lei do orçamento, no art.
2º.
Levantou-se a sessão ás 4 horas e 50 minutos da
tarde.
Sessão em 20 de Maio 127

13ª SESSÃO EM 20 DE MAIO DE 1873. 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de Mello, 2º


secretario.
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. A’ commissão de marinha e guerra.
A assembléa geral resolve:
Summario. – Expediente. – Ordem do Dia. – Pensões. Art. 1º E’ autorisado o governo para mandar admittir a
– Orçamento do Imperio. – Emendas do Sr. Zacarias. – exame do 1º anno da faculdade de direito do Recife o
Discurso do Sr. Pompeu. – Emendas da commissão do estudante Francisco de Castro Sá Barreto,
orçamento. – Discursos dos Srs. visconde de Nitherohy e independentemente do exame de historia, que prestará antes
barão de Cotegipe. do acto das materias do mesmo anno.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Ao meio dia fez-se a chamada e acharam-se Paço da camara dos deputados, em 19 de Maio de
presentes 40 Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté, 1873.
Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de A’ commissão de instrucção publica.
Carvalho, Figueira de Mello, marquez de S. Vicente, A assembléa geral resolve:
Paranaguá, Chichorro, Jobim, visconde de Souza Franco, Art. 1º E’ autorisado o governo para mandar admittir á
barão de Cotegipe, visconde de Inhomirim, Jaguaribe, Antão, matricula do 1º anno medico da faculdade do Rio de Janeiro o
Leitão da Cunha, visconde de Nitherohy, Pompeu, Barros estudante Manoel Antonio de Moraes Junior,
Barreto, marquez de Sapucahy, barão de Camargos, conde independentemente do exame de historia, que deverá prestar
de Baependy, Teixeira Junior, barão do Rio Grande, visconde antes do acto das materias do mesmo anno.
de Caravellas, F. Octaviano, Cunha Figueiredo, Junqueira, Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
visconde de Jaguary, visconde de Muritiba, duque de Caxias, Paço da camara dos deputados, em 19 de Maio de
Paes de Mendonça, Candido Mendes, Uchôa Cavalcanti, 1873.
visconde do Bom Retiro, Sinimbú, Firmino, visconde de A’ commissão de instrucção publica.
Camaragibe, visconde do Rio Branco, Godoy e Zacarias. A assembléa geral resolve:
Deixaram de comparecer com causa participada os Art. 1º E’ autorisado o governo para mandar admittir a
Srs. Diniz, Nunes Gonçalves, Fernandes Braga, Ribeiro da exame das materias do 1º anno pharmaceutico da faculdade
Luz, barão da Laguna, barão de Maroim, barão de Pirapama, de medicina do Rio de Janeiro o alumno Luiz Torreão
Paula Pessôa, Silveira Lobo, Mendes dos Santos, Vieira da Campos, depois de approvado em geometria, unico
Silva, Fernandes da Cunha, Silveira da Motta, Saraiva e preparatorio que lhe falta.
Nabuco. Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Deixaram de comparecer sem causa participada os Paço da camara dos deputados, em 19 de Maio de
Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de 1873. – A’ commissão de instrucção publica.
Suassuna. A assembléa geral resolve:
O Sr. presidente abriu a sessão. Art. 1º E’ autorisado o governo para mandar admittir
Leu-se a acta da sessão antecedente, e, não havendo João Fernandes de Almeida, alumno paisano da escola de
quem sobre ella fizesse observações, foi approvada. marinha, á matricula do 2º anno do corpo de aspirantes da
O Sr. 1º Secretario leu o seguinte mesma escola, independente do exame de inglez, que
prestará antes do acto das materias do referido anno.
EXPEDIENTE Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Paço da camara dos deputados, em 19 de Maio de
Dous officios de 19 do corrente, do ministerio do 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. Dr.
Imperio, remettendo autographos sanccionados das Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
resoluções da assembléa geral: Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de
O 1º autorisando o governo a mandar admittir a Mello, 2º secretario.
exame do 4º anno da faculdade de medicina do Rio de A’ commissão de marinha e guerra.
Janeiro, o estudante Felippe Basilio Cardoso Pires. A assembléa geral resolve:
O 2º approvando a pensão mensal de 30$ concedida Art. 1º E’ autorisado o governo a mandar considerar
a D. Elisa Amalia da Silva Nery. valido para os effeitos do decreto legislativo n. 2190 de 29 de
Ao archivo os autographos, communicando-se á outra Março de 1873 o exame de historia feito em 1871, na escola
camara. de marinha pelo estudante Rubem Julio Tavares.
Sete officios de 19 do corrente, do 1º secretario da Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
camara dos Srs. deputados, remettendo as seguintes Paço da camara dos deputados, em 19 de Maio de
proposições: 1873.
A assembléa geral resolve: A’ commissão de marinha e guerra.
Art. 1º E’ autorisado o governo para mandar admittir á A assembléa geral resolve:
matricula no 1º anno da escola central o estudante Alfredo Art. 1º E’ autorisado o governo para mandar admittir
Bernardino Canongia, devendo elle mostrar-se habilitado em no quadro effectivo do exercito o tenente reformado José
geographia antes do exame final das materias do mesmo Ignacio Ribeiro Roma que deverá ser considerado o mais
anno. moderno no quadro de tenentes, em que for incluido.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario:
Paço da camara dos deputados, em 19 de Maio de Paço da camara dos deputados, em 19 de Maio de
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – 1873.
Dr. Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e A’ commissão de marinha e guerra.
Albuquerque,
128 Sessão em 20 de Maio

Officio da mesma data, do ministerio do Imperio, do Imperio, que manda orçar ou fixar annualmente a receita e
remettendo as actas da eleição de eleitores especiaes a que despeza publica em vista de proposta do governo. Não temos
ultimamente se procedeu nas parochias de Nossa Senhora do mais nem a sombra de regimen representativo!
Allivio do Brejo Grande e de S. Sebastião, pertencentes ao O SR. ZACARIAS: – Apoiado.
collegio eleitoral de Santa Isabel do Paraguassú, do 5º O SR. POMPEU: – Antigamente, é certo, o governo
districto eleitoral da provincia da Bahia. abusava dos orçamentos, nem sempre respeitava suas
A’ commissão de constituição. prescripções; mas ao menos fazia-os; hoje introduziu o
gabinete de 7 de Março a pratica de dispensal-os ou de fazel-
ORDEM DO DIA. os em duplicata, e post factum como agora acaba de formular
o que está em discussão, quando não tiver serviço mais
PENSÕES. importante com que deve occupar o parlamento.
Não tivemos orçamento em 1871, o governo
Entrou em 3ª discussão, e foi approvada para ser contentou-se com a prorogação do orçamento anterior,
dirigida á sancção imperial, a proposição da camara dos Srs. privando por conseguinte ás camaras do exame dos serviços
deputados mencionada no parecer da mesa n. 521, sobre e despezas. Não tivemos em 1872, e agora mesmo, Sr.
pensões. presidente, em 1873, depois de cinco mezes de sessão,
apenas chega ao senado o orçamento quando está a findar-
ORÇAMENTO DO IMPERIO. se o exercicio que elle devia reger. Mas, por cautela e para
poupar trabalho talvez, o governo introduziu um artigo no fim
Achando-se na sala immediata o Sr. ministro do deste orçamento fazendo-o vigorar para o exercicio seguinte.
Imperio, foram sorteados para a deputação que o devia Qual foi o motivo porque em 1871 o governo não fez
receber os Srs. Jaguaribe, Paes de Mendonça e Jobim, e votar o orçamento? Disse o honrado ministro do Imperio que
sendo o mesmo senhor introduzido no salão com as então o parlamento se achava occupado com uma grande
formalidades do estylo tomou assento na mesa á direita do medida da mesma alta importancia, a proposta sobre o
Sr. presidente. elemento servil.
Proseguiu a discussão do projecto de lei fixando a Esta razão do honrado ministro não procede, por dous
despeza e orçando a receita geral do Imperio para o exercicio motivos: 1º porque em 1871 o parlamento demorou-se
de 1872 – 1873 no art. 2º relativo ao ministerio do Imperio. funccionando cerca de seis mezes; havia portanto tempo
Foram lidas, apoiadas e postas em discussão sufficiente, não só para votar a medida importante sobre o
conjunctamente as seguintes elemento servil, como o preceito constitucional; e em 2º logar
porque, na collisão das duas medidas, a do elemento servil e
EMENDAS. a do cumprimento do preceito constitucional do orçamento
annual, devia prevalecer esta, porque esta é um preceito
Ao § 16, supprima-se o accrescentamento. constitucional da mais alta transcendencia, pois importa tirar
Ao paragrapho unico, supprimam-se os ns. 2 e 4 e da algibeira do contribuinte uma quota de seu peculio, seu
separe-se o n. 3 para formar um projecto á parte. – S. R. – Z. suor, pelo que não devia prescindir-se; entretanto que a outra
de Góes e Vasconcellos. medida, comquanto tambem de alta importancia, não era
O SR. POMPEU: – Sr. presidente, hontem pedi a todavia tão urgente que não pudesse ser preterida um anno
palavra no fim da sessão para que não se encerrasse o se por ventura não podesse ser votada nesse mesmo anno, o
debate sobre o orçamento, esperando, porém que algum que só admitto por argumentar.
membro da nobre commissão de orçamento se apresentasse Mas o nobre ministro nos disse que não pôde fazer-se
hoje a offerecer as emendas que esta prometteu em seu o orçamento em 1871 porque o parlamento se achava
parecer. No entretanto, começa outra vez o debate e até este occupado com negocios da mais alta importancia. De sorte,
momento não me consta que a illustre commissão tenha senhores, que só haverá hoje orçamento quando o governo
apresentado as emendas promettidas. entender que o parlamento não tem outro objecto a occupar-
O SR. PRESIDENTE: – Eu fui prevenido de que se se de mais transcendencia, e só então submetterá elle o
estava redigindo algumas emendas por parte da commissão orçamento da receita e despeza, á apreciação do parlamento
afim de serem apresentadas á discussão. para entretel-o com alguma cousa.
O SR. POMPEU: – Assim a discussão não poderia Em 1872, ainda não tivemos orçamento. A razão
correr regularmente senão depois que a illustre commissão allegada pelo nobre ministro é que nesse anno o governo
apresentasse suas emendas, visto como ella examinou o dissolveu a camara dos Srs. deputados. Não entro na
orçamento e reconheceu que elle precisava ser emendado. apreciação dos motivos da dissolução da camara, o governo
Portanto, o exame do senado, ou o debate, que já abriu-se quiz castigar os recalcitrantes de suas ordens, embora seus
sobre o orçamento, devia succeder á apresentação das amigos da vespera; mas, pergunto: porque razão o governo
emendas que a commissão se comprometteu a apresentar. não tentou primeiramente perante essa camara a discussão
Entretanto, Sr. presidente, vou offerecer algumas do orçamento, não lhe expôz os motivos que tinha para
considerações sobre o duplo orçamento, que acha-se sujeito dissolvêl-a, pedindo préviamente que lhe désse os meios de
á apreciação do senado, com relação a alguns negocios que governar? Esta pratica Sr. presidente, não é tão usada em
correm pela repartição do Imperio. outros paizes constitucionaes principalmente na Inglaterra? A
Mas antes de entrar neste exame não posso deixar de camara dos Srs. deputados de 1872, que havia dado ao
formular um protesto contra mais uma infracção do preceito governo a medida da maior transcedencia sobre o elemento
constitucional, contra a pratica abusiva ultimamente servil não negaria certamente os meios de governar,
introduzida de orçamentos biennaes e triennaes e de discutir-
se e votar-se o orçamento da despeza depois desta feita,
contra o preceito expresso no art. 15 § 10 da constituição
Sessão em 20 de Maio 129

se elle expuzesse francamente que precisava desta medida aproveitou este saldo para alliviar o contribuinte desses
para depois dissolvel-a. impostos vexatorios que as necessidades da guerra fez crear?
A demora do orçamento em 1873 tambem não parece Recordo-me, que em 1871, discutindo-se no senado a
justificado. Pois só depois de cinco mezes de sessão, quando resolução prorogativa do orçamento, daquella cadeira
este orçamento se achava iniciado e em discussão na camara levantou-se o honrado Sr. visconde de Itaborahy, de saudosa
dos Srs. deputados desde 1871 póde ser votado já no começo memoria, e combatendo o governo lembrou que se faltava até
da segunda sessão deste anno, em Maio? Que motivo, pois, á lealdade para com o contribuinte não o alimentando desses
teve o governo de fazer demorar por tanto tempo a adopção impostos vexatorios, lançados ao povo sómente por causa das
desta medida? em que occupou a camara dos Srs. deputados urgencias da guerra, e que desde que vissava a causa desses
durante este tempo? Não tem vindo ao senado outras impostos, isto é, desde que cessavam as urgencias da guerra
medidas senão de augmentos de vencimentos, de pensões e e que a receita do Imperio apresentava algum saldo, era
de dispensas a estudantes. Ora, por certo que taes medidas occasião de satisfazer a este dever de lealdade supprimindo
não deviam e nem podiam preterir aquella que tinha por fim este onus vexatorio. Portanto se o orçamento apresentado
satisfazer o preceito constitucional. Foi para este fim pelo honrado ministro da fazenda dava um saldo de alguns
principalmente que se fundou o systema representativo; e se milhares de contos, era occasião de supprimir esses impostos
elle realmente existisse entre nós tal preterição seria accrescidos para as despezas da guerra.
inadmissivel. Ainda outro fim podia ser attendido; nós temos um
Mas sobretudo, Sr. presidente, me parece injustificavel papel moeda excessivo derramado por todo paiz. Seria
o acto do governo fazer por um artigo, creio que até em 3ª occasião tambem de amortizar parte deste papel e bem assim
discussão apresentado na camara dos Srs. deputados, vigorar tambem um pouco da divida publica. Eram pois esses tres fins
este orçamento para o exercicio seguinte; o que importa não a que se devia applicar o saldo antes de cuidar de outro
só a preterição do preceito constitucional, que manda votar destino. Mas não, nenhum desses expedientes occorreu do
annualmente a receita e a despesa sob proposta do governo, governo, não obstante o exemplo que acaba de dar-lhe o
como tambem prejudica o direito do parlamento, do exame ministerio inglez. Agora mesmo consta das correspondencias
que lhe cumpre fazer minuciosamente da receita e da despesa de Londres que verificando-se um saldo de cinco milhões de
para os diversos serviços do paiz. libras, o ministro inglez, Gladstone, em vez de applical-o a
Eu sei, Sr. presidente, que na Prussia os orçamentos novas despezas, achou mais conveniente reduzir os impostos
são de 2, 3 e 4 annos; mas lá a constituição do estado assim o que pesavam sobre os contribuintes. Porém aqui o governo
permitte, e além disto o grande chanceler costuma dizer entendeu que o melhor expediente, o melhor emprego, que
francamente nas camaras que o parlamento não é podia fazer desses saldos era distribuil-os em augmentos de
representante da nação e sim representante da corôa. Entre vencimentos com os diversos funccionarios publicos.
nós, ainda quando o governo possa dizer em mente, ou entre Sr. presidente, receio que o governo se veja arrastado
os seus amigos, que o parlamento representa o proprio a seu pezar, a condescender com esse prurido que se levanta
governo; comtudo a constituição diz que elle é o representante em todo paiz e de todas as classes pedindo augmento de
da nação deixe-se ao menos ainda essa ficção. vencimentos. Não sei onde iremos para com isso. Eu não sei
Não posso deixar tambem de fazer um reparo sobre o se os recursos do Estado poderão comportar o augmento de
acrescimo espantoso da despesa nos poucos mezes que este vencimentos que pedem todas as classes de empregados
orçamento demorou-se na camara dos Srs. deputados. A publicos julgando-se cada qual com mais direito, desde que o
despesa orçada era então de 86,341:034$548, o orçamento parlamento deu exemplo por si. Não quero com isto
votado alguns mezes depois elevou a despesa condemnar em absoluto os augmentos que se tem feito em
96,654:959$520 houve um excesso, pois, de 10,313:924$072. algumas classes de funccionarios publicos; mas daqui para a
Em que o governo augmentou tão consideravelmente a extensão de todas as classes que reclamam, com razão ou
despesa, em quasi ou mais 12%? Dar-se-ha caso que o sem ella, augmento de vencimentos, ha uma distancia
orçamento apresentado pelo governo fosse deficiente na immensa, e um perigo para os recursos do Estado e para o
despesa ordinaria? Parece que não. Portanto o augmento de proprio governo, que parece não ter mais forças para resistir.
mais de 10,000:000$ resulta da despesa de serviços Feitas estas considerações geraes, Sr. presidente,
ultimamente creados, isto é augmento de vencimentos á toda passo a entrar em negocios concernentes á repartição do
classe de funccionarios em vista talvez dos saldos promettidos Imperio. Peço ao nobre ministro que não queira enxergar em
pelo nobre ministro da fazenda e presidente do conselho, e minhas palavras a menor intenção que não seja de acatal-o
para o exercicio seguinte de mais dous mil contos. E para isto, devidamente com S. Ex. merece.
é notavel tambem o elasterio que o governo deu á receita. A A leitura do relatorio do honrado ministro do Imperio
principio, ou segundo o orçamento apresentado, era de fez-me conceber para com S. Ex., não só o respeito, que já
93,370:000$; mas ao encerrar-se a discussão do orçamento, lhe tributava por seus talentos e outras qualidades, como a
ella foi elevada a 100,870:000$ para poder acompanhar o idéa de um grande reformador S. Ex. noticiando em seus
augmento da despeza. Isto é feito á vontade. Não sei, Sr. relatorios os diversos serviços publicos que correm pela sua
presidente, se este orçamento presumivel de grande receita repartição, notou em quasi todos elles defeitos que se propõe
apresentado pelo nobre ministro da fazenda se realisará. Não a remediar com projectos que S. Ex. pretende apresentar ao
entro, porém, nesta questão. Somente ella me suggere as corpo legislativo. E ao ver, Sr. presidente, esse prurido
seguintes considerações. Se havia um saldo, de alguns mil reformador do honrado ministro, entrei a pensar se S. Ex. não
contos, porque razão o governo não se achava mal collocado,
130 Sessão em 20 de Maio

por um desses erros tão communs na vida dos povos, no se posso retirar as minhas emendas, porque as da commissão
partido conservador e em um gabinete ultra-conservador, vão além da que eu queria.
deste partido, de quem, ha cincoenta annos, dizia o famozo Consultado o senado resolveu pela affirmativa.
pamphletista Paulo Luiz Courrier, que se existira no dia da O SR. PRESIDENTE: – O nobre senador pode
creação, teria gritado: «Senhor consagremos o cahos.» continuar o seu discurso.
Mas depois que o honrado presidente do conselho O SR. POMPEU (continuando): – Sr. presidente, a
andou arrancando alguns florões da bandeira liberal para leitura das emendas que a illustre commissão de orçamento
enfeixal-os no pendão do novo partido aulico governista, as acaba de offerecer ao senado é mais uma prova da razão que
couzas e os homens se acham de tal sorte confundidos que é tinha e tem a opposição de impugnar muitas das verbas, que
difficil a descriminação. E’ assim, Sr. presidente, que o passaram neste orçamento na camara dos Srs. deputados
honrado ministro do imperio, que, por suas tendencias com o assentimento do nobre presidente do conselho. Eu de
reformistas, devia pertencer ao partido do progresso ou quasi bom grado prestarei meu voto a algumas destas emendas,
radical, se acha ao lado do nobre presidente do conselho que bem que uma dellas, pelo menos prejudica um favor, ou antes
quer conservar tudo, até a lei eleitoral, porque S. Ex. tem um direito que devia ser attendido pelo corpo legislativo; fallo
medo do desconhecido, isto é que este paiz se lembre de daquelle que suprime o augmento das insignificantes
mandar ao parlamento uma representação verdadeiramente congruas dos parochos collados. Mas segundo ouvi a um dos
sua, o que seria com effeito um perigo e um desconhecido honrados membros da commissão o motivo da suppressão
para o nobre presidente do conselho. não importa o desconhecimento desse direito, e tão somente a
O SR. PRESIDENTE: – V. Ex. dá licença para que se separação desta verba do orçamento para ser a materia
leião as emendas remettidas pela commissão de orçamento. considerada em proposição separada, por não ser o
O SR. POMPEU: – Sim, senhor. orçamento logar proprio para semelhante augmento: receio
O SR. PRESIDENTE: – Vão se ler as emendas. porém que isso importe verdadeira suppressão.
O Sr. 2º Secretario procedeu a leitura das seguintes Continuando porém, Sr. presidente, as considerações
que offereço ao senado a respeito de alguns serviços do
EMENDAS DA COMMISSÃO. ministerio do Imperio, passo a apresentar a lista dos diversos
projectos que o honrado ministro se compromette em seus
Ao art. 2º em vez de 7,324:100$828 diga-se: (o que relatorios a apresentar ao corpo legislativo, e verá o senado
resultar da votação). até onde chega o espirito reformador do nobre ministro: 1º,
Ao § 6º dotação de Sua Magestade a Imperatriz viuva. sobre conselho de Estado; 2º da administração provincial; 3º
Reduza-se o que corresponde do tempo de seu fallecimento da administração municipal; 4º da interpretação de alguns
até o fim do anno financeiro. artigos do acto addicional; 5º da reforma eleitoral, seus
Ao § 16. – Camara dos deputados. systemas e processos; 6º da organisação dos estudos
Supprima-se 30:000$ destinados para a coordenação superiores, creando uma universidade e conselho superior
e impressão do annaes anteriores de 1857. com a attribuição de julgar; 7º para elevar a classe dos
Ao § 21. – Culto publico. professores primarios; 8º para aperfeiçoar o systema e
Supprima-se o augmento de congruas aos parochos methodo do ensino primario; 9º para tornar o exercicio do
collados, restabelecendo-se a verba da proposta. magisterio particular dependente só da prova de moralidade e
Ao § 30. – Estabelecimento de educandas do Pará. da sujeição á inspecção geral; 10º para preparar os meios
Supprima-se a emenda, e restabeleça-se a verba – adequados á prescripção do ensino obrigatorio; 11º para
proposta. – regular o patrimonio do instituto dos meninos cegos; 12º sobre
Ao § 43. – Directoria geral de estatistica. o serviço da saude publica; 13º para determinar as fontes de
Supprima-se a emenda, e em vez de – 25:000$ da receita das taxas locaes destinadas para as escolas
proposta diga-se: – 30:000$, sendo 5:000$ para completar os industriaes do municipio... e não sei que mais, pois esse rol é
vencimentos de 7:200$ ao director. só do relatorio de Maio passado, sem contar o que já
Paragrapho unico. – N. 2. – Substitua-se pelo seguinte: recommendava e prommettia em 1871 e o que ainda promette
A reformar dentro do praso de dous annos o nos dois ultimos de Dezembro passado, e desta sessão ainda
regulamento da secretaria dos negocios do Imperio, sem não distribuido.
augmento da despeza que actualmente se faz com a mesma Vê portanto o senado que o nobre ministro do Imperio
secretaria, dando-lhe execução provisoria e sujeitando-o á se propõe a reformar quasi todos os ramos dos serviços que
approvação do corpo legislativo. correm por sua repartição. Eu applaudo as intenções e os
Ao n. 3. – Supprima-se a emenda para ser sentimentos que dictaram ao honrado ministro este empenho;
considerado em projecto separado. sinto somente duas cousas: primeiro que nem sempre as
Sala das commissões, 20 de Maio de 1873. – Barão de medidas lembradas por S. Ex. para a reforma dos
Cotegipe. – Leitão da Cunha. – Marquez de S. Vicente. – J. L. inconvenientes, que notou nesses diversos serviços, são as
da C. Paranaguá. – J. Antão. – Visconde de Souza Franco. – mais convenientes; secundo que S. Ex. se tenha demorado
Visconde de Inhomirim. tanto tempo, mais de cinco mezes que funcciona o
O SR. ZACARIAS: – Muito bem; estamos de accordo. parlamento, em apresentar ao corpo legislativo esses diversos
O SR. F. OCTAVIANO: – Mais vale tarde do que projectos ou medidas, á excepção da reforma eleitoral que S.
nunca. Ex. ultimamente apresentou e de que me occuparei mais
O SR. PRESIDENTE: – Estão em discussão as adiante, sem mesmo contar as sessões de 1871 e 1872.
emendas.
O SR. ZACARIAS (pela ordem): – Consulto a V. Ex.
Sessão em 20 de Maio 131

Principiarei Sr. presidente pelas reformas Isso é reproduzir na publica administração a fabula da teia de
administrativas, e nessa ordem pela primeira medida que o Penelope.
honrado ministro quer apresentar, a que versa sobre o E a secretaria do conselho de estado? Pois não é
conselho de Estado. bastante que da secretaria do imperio, que regorgita de
S. Ex. quer reformar o conselho de Estado porque empregados publicos, fossem tirados alguns para escrever
entende que sua acção é demasiadamente lenta. Seu auxilio as consultas do conselho de estado e archivar os papeis? E’
ao governo muito moroso; e o mesmo conselho se embaraça de mister crear mais uma secretaria privativa do conselho de
com questões que não estavam talvez na altura daquella Estado?
repartição. Para isto o nobre ministro apresentou um plano de O que me parece, Sr. presidente, é que em tudo isso
reforma que consiste em augmentar o conselho de Estado predomina a enfermidade notavel de nosso seculo,
com mais 50% isto é, elevar a 18 o numero dos conselheiros principalmente em nossa sociedade, a de crear empregados,
effectivos, crear uma classe de auxiliares, com o mesmo de desenvolver isso que se chama burocracia, e eu não sei
numero, destinados a preparar os trabalhos que devem ser onde iremos parar com esses prurido de augmentar o
sujeitos ao conhecimento do conselho de Estado effectivo, numero de empregados publicos em todas as repartições,
formando deste modo uma especie de escola para os fazendo metade da nação comer á custa de outra metade.
aspirantes á administração; crear no mesmo conselho um E o que vem a ser esse contencioso administrativo?
tribunal intitulado contencioso administrativo; uma secretaria Tem de julgar, de applicar a lei aos casos occurentes entre
para conselho e augmentar os vencimentos dos conselheiros. particulares e o Estado? Então é uma funcção que pertence
São, em resumo, estas as medidas que S. Ex. ao poder judicial. Se, pois, se destacam de um poder
desenvolve em seu relatorio, e a respeito das quaes promette constituido como o judiciario, attribuições para a autoridade
apresentar projecto. administrativa, falsêa-se o principio da independencia dos
Creio, que o honrado ministro comquanto tenha dito poderes, crea-se uma excrescencia do poder judiciario,
em seu relatorio que apresentaria ao corpo legislativo uma estranha á constituição, crea-se um quinto poder do Estado,
medida nesse sentido ainda não o fez. uma autoridade tanto mais temivel quanto ella é creatura e
Noto, porém, que S. Ex. em seu plano de parte do executivo e para seu uso uma autoridade ou tribunal
reorganisação do conselho de Estado, esquecesse uma das que tem de julgar entre os particulares e o governo, e por
condições que julga da maior importancia, e é a conseguinte julgar em causa propria. E’ a nullificação da
incompatibilidade de conselheiro de Estado com as funcções independencia do poder judiciario, já tão mutilado e
de representante da nação afim de evitar que se achem desprestigiado.
reunidas na mesma pessôa funcções que a constituição quer Portanto, a respeito desta medida do honrado
que estejam separadas porque o conselho de Estado faz ministro, ao menos pelo modo porque S. Ex. a expoz no seu
parte do executivo, é uma peça de governo, portanto o relatorio, não posso acompanhal-o.
conselheiro de Estado que prepara para o governo as S. Ex. pretende tambem crear nas provincias novos
medidas, que este entende apresentar ao corpo legislativo, funccionarios, isto é reorganisar a administração provincial
não deve, pois, como membro do corpo legislativo, votar dar aos presidentes um conselho consultivo semelhante
essas medidas: pois não é este o espirito da constituição que aquelle que foi suprimido pelo acto addicional, para que nas
quer a discriminação e independencia dos poderes politicos. provincias separe-se a administração da politica: um
A lentidão que o nobre ministro notou nas consultas conselho de justiça administrativa junto ao presidente; e sub-
do conselho de Estado, poder-se-hia remediar combatendo e presidentes ou delegados administrativos.
o mal na sua origem, ou removendo a causa dessa lentidão Será difficil Sr. presidente que o governo consiga por
que é principalmente a lei de 1860, que faz submetter ao este meio o intento manifestado de separar a administração
governo central a approvação de todo e qualquer esforço ou da politica, porque a politica em nosso paiz faz-se e vive da
tentam em particular para realizar qualquer empreza. Desde administração. Em que consiste a politica? Em crear um
que o governo central se achasse desonerado do exame e partido para este fazer eleições, e estas deputados que
approvação de todas as emprezas particulares, desde que se apoiem e approvem tudo quanto quizer o governo geral e
deixasse inteira liberdade aos particulares a esse respeito ou provincial; ora isto consegue-se por meio da administração,
quando muito se concedesse ás administrações provinciaes por nomeações de empregados por demissões de
a approvação dessas emprezas, ficaria o conselho de Estado adversarios ou concessões de favores aos amigos e seus
desonerado de um grande serviço, que o absorve talvez mais parentes, e por ouros meios que todos nós sabemos e que o
do que qualquer outro; ficaria então habilitado sómente para nobre ministro e seus collegas ainda melhor sabem como
consultar as grandes questões do Estado e não essas pois o honrado ministro pretende realizar a idea de separar a
questiunculas de approvação de companhias e até de politica da administração, cousas que estão tão ligadas entre
sociedades que teem sómente por fim adorar a Deos; pois é nós desde a cupola do poder até a ultima classe de
tal a centralisação, e restricção que mesmo as associações funcionarios? Certo que em paiz melhor administrado essa
de caridade ou piedade precisam de decreto. separação, ao menos quanto á certos negocios existe; mas
A classe de auxiliares que o nobre ministro quer crear no Brasil com o systema eleitoral actual, é impossivel.
é a reproducção dos consultores que já existiram e foram E depois, senhores o que ha de fazer esse conselho.
suprimidos ultimamente por inuteis. Pois, senhores, é só a E’ elle meramente consultivo, o presidente póde afastar-se
mudança de nome que faz hoje julgar util e necessaria uma dos pareceres que lhe der, por conseguinte o conselho é
funcção que ha poucos annos foi suprimida por inutil? inutil. O conselho é composto de funcionarios de livre
nomeação do presidente, portanto esse funcionario, o mais
que tem á fazer é procurar advinhar o pensamento do
presidente para irem de accordo com elle.
132 Sessão em 20 de Maio

Portanto a medida do honrado ministro nem logra Corôa recommendar ao parlamento uma medida tão
realizar o fim, aliás justo, de separar a politica da secundaria como a creação de uma nova provincia?
administração, nem o conselho se presta auxiliar a O SR. ZACARIAS: – E’ verdade.
presidencia naquillo que o nobre ministro pensa, ao menos O SR. POMPEU: – Se fosse porventura uma
melhor do que pode fazel-o qualquer outra repartição provincia limitrophe com um paiz estrangeiro, o suscitasse
existente. questões internacionaes pelo que se tornasse conveniente a
Em que póde pois prestar o conselho? Em dar creação de um centro administrativo nessas paragens...
informações ao presidente? Mas o presidente não tem na sua O SR. ZACARIAS: – A questão era a Siberia...
secretaria empregados que lhe possam ministrar todas as O SR. POMPEU: – ...se fosse mesmo em uma
informações necessarias? Não tem o inspector de localidade central, mas importante por alguma circumstancia,
thesouraria, o procurador fiscal e outros funccionarios dessa onde se dessem factos de certa ordem que exigisse a
ordem? E’ de mister crear um conselho cujos membros o attenção immediata do governo, sendo por isso conveniente
presidente póde nomear hoje e demittir amanhã para ou indispensavel collocar alli altos funccionarios, ainda bem;
fornecer informações, ou guárdar as tradições do serviço? mas não me consta que o alto sertão da Bahia esteja em
Tambem o honrado ministro quer nessa reforma de nenhuma dessas circumstancias; e as interpretações
administração provincial crear uma judicatura administrativa, geralmente feitas na tribuna imprensa, por toda a parte a
nomes que parecem repellir-se, de sorte que ha no essa medida isolada são as mais desfavoraveis.
pensamento do honrado ministro a idéa de crear uma Decerto, Sr. presidente, é conveniente a creação da
especie de judicatura paralella ao poder judiciario da nova provincia assim com a de outras, mas em que não
constituição, isto é uma administração judiciaria para uso do concordo é que se faça uma medida isolada desta ordem e
governo em opposição com o poder judiciario creado pela principalmente quando o honrado ministro tem idéa de uma
constituição: quer junto ao governo central um tribunal central reorganisação de administração provincial, reorganisação em
administrativo no conselho de Estado; quer tribunaes, talvez que S. Ex. pretende dividir as provincias em provincias
de 1ª instancia, nas provincias ao pé dos presidentes. Ora o principaes e em sub provincias, como medida provisoria até
poder judiciario, já tão abalado em sua independencia por que se dividam effectivamente as provincias. Sobretudo é
diversas causas, vae ficar de todo enfraquecido, senão muito notavel que se fizesse desse pequeno negocio um
desmoralisado com essa excrescencia de judicatura artigo de recommendação da falla da Corôa.
administrativa, estranha á constituição, que não só usurpa Portanto, entendo que a medida a tomar-se, seria
áquelle poder parte de sua competencia, como faz confundir attender para a carta coregraphica do Imperio, para as suas
nas mesmas mãos o exercicio de dous poderes o executivo e circumstancias physicas ou moraes e fazer uma divisão
o judiciario, que a constituição creou independentes, e por racional das provincias...
conseguinte crea um dos peiores despotismos. Seria mais O SR. ZACARIAS: – Apoiado; o mais é puro
seguro, e, talvez chegaremos logo a esse fim, centralisar interesse particular.
todos os poderes em uma só entidade, e se é que de facto já O SR. POMPEU: – ...porém crear uma provincia
isso não existe: isso se praticava na antiga monarchia sómente em uma localidade, quando outras em iguaes
portugueza e ainda hoje na Azia. circumstancias o exigiam, não me parece uma medida
O nobre ministro tambem quer crear nas provincias prudente, e ainda menos digna de tão alta protecção.
um funccionario com attribuições abaixo do presidente, uma Mas todo esse plano do honrado ministro para a
especie de subprefeito, em quanto não se faz, disse S. Ex., organisação da administração provincial tem por fim, disse S.
melhor divisão das provincias. Primeiramente, senhores, não Ex., collocar o presidente de provincia em posição de
sei de que attribuições imcumbiria o governo a esses ministrar justiça separada da politica.
subprefeitos ou subpresidentes: se elles ficariam O pensamento de S. Ex. é louvavel, sómente acho
dependentes do presidente na capital de provincia ou que os meios não nos chegam a este resultado. Parecia-me
independentes. No caso de dependentes, era mais uma roda que S. Ex. mais facilmente conseguiria esse empenho
que viria complicar o serviço, porque de todas as suas escolhendo para esses casos homens illustrados, imparciaes,
decisões se recorreria para o presidente da provincia, e deste que fôrem ás provincias com animo de administrar justiça e
ainda para o ministro. Se ficam independentes esses não de tornarem-se chefes de partido ou instrumentos das
subpresidentes ou subprefeitos, então é uma especie de facções que rodeiam as presidencias. Isto é mais facil e
presidentes, porém mal collocados segundo a nossa menos dispendioso do que todo o plano que S. Ex.
organisação administrativa. Neste caso se serviço publico engendrou para chegar ao fim de imparcialidade
exige, como estou convencido, seria melhor uma divisão de administrativa.
provincias mais adaptadas ás necessidades publicas; seria O nobre ministro tambem quer reformar as
muito mais conveniente que o nobre ministro propuzesse municipalidades. A este respeito eu só tenho de ponderar
uma medida geral de nova circumscripção provincial, do que uma circumstancia que hontem foi trazida ao debate; é a
crear esta entidade meio presidente, cujas funções não respeito da ingerencia do governo central nos negocios
teriam cabimento em nossa legislação, e actual systema pertencentes á economia municipal. Concordo com o Sr.
administrativo. ministro em que as municipalidades precisam de reforma,
E a proposito de provincias eu pergunto ao nobre estou mesmo quasi de accordo com S. Ex. nas medidas que
ministro se S. Ex. julga tão urgente, tão importante a creação tenha para restaurar a autonomia das camaras municipaes;
dessa provincia do Rio de S. Francisco que della devesse mas noto uma grande contradição entre esse desejo
fazer menção até no discurso da Corôa? manifestado no relatorio, e a preterição que apresenta no
O SR. ZACARIAS: – Antes de publicado o projecto orçamento de
no jornal da casa.
O SR. POMPEU: – Pois senhores era o caso de fazer
a
Sessão em 20 de Maio 133

arrogar ao governo central a competencia de fazer uma obra se estabeleça um debate mais amplo a este respeito, em que
pertencente á municipalidade, o mattadouro e de incorporar ao menos se limite o credito pedido, e se dispense o imposto
no orçamento uma verba proposta pela camara desta capital proposto.
para esse serviço. Não posso concordar com isso; aceito a O nobre ministro recommenda tambem ao parlamento
emenda que acaba de offerecer a commissão para dous projectos sobre interpretação do acto addicional. Eu
separação dessa verba. O serviço do matadouro que diz pergunto a S. Ex. por que razão, membro da outra camara,
respeito á hygiene publica, é ou não de competencia ministro de Estado, julgando necessaria e de urgencia a
municipal? é e não se tem contestado e nem se póde adopção desses projectos, que tem por fim esclarecer alguns
contestar (apoiados). Qual pois a razão do governo, assumir artigos do acto addicional, não tem até hoje, promovido a
a si uma attribuição municipal para satisfazer um serviço da discussão e adopção semelhantes medidas?
municipalidade que quer e pede a approvação de sua Tambem estou de accôrdo com o honrado ministro a
proposta para realisal-o? este respeito; mas lamento que S. Ex. até hoje, não lhes
Disse, S. Ex. que, tomando a si essa attribuição não tenha dado andamento.
innovava nada, mas quer realisar um melhoramento que a Quanto á reforma eleitoral que o nobre ministro nos
camara não póde fazer, e não pôde fazel-o, accrescentou S. promette em seu relatorio, como S. Ex. já apresentou um
Ex. por causa das muitas pretenções que se apresentam projecto, na qualidade de deputado, posto que indevida ou
perante a municipalidade. erradamente considerada na falla do throno como do
Ora, senhores, esta razão allegada pelo honrado governo, na outra camara e esse projecto tem de vir ao
ministro depoe tristemente contra a independencia e senado, teremos então occasião de aprecial-o. Entretanto,
capacidade da Illma. camara municipal. Se a camara não tem não posso deixar de dizer a S. Ex. que foi para mim e para
recursos bastantes para realisar essa obra importante, tão todos os liberaes uma dolorosa decepção, o projecto que S.
util, direi mesmo, tão necessaria, porque sobre esta questão Ex. julgou conveniente para reforma dos enormes abusos,
de utilidade ou necessidade não póde haver duvida, estamos que o systema actual tem introduzido nas eleições do paiz.
todos de accordo, seria o caso do governo geral auxilial-a. Se Eu pensava, Sr. presidente, que depois de ter S. Ex.
a empreza demanda capitaes superiores aquelles de que a assignado o escripto, talvez, em o luminoso parecer sobre
camara dispõe, ella que represente ao governo, proponha a um projecto de reforma eleitoral directa do Sr. conselheiro
creação de algum recurso, imposto, ou imprestimo, como já Paulino aconselhando a sua adopção...
fez, e o governo póde ir em seu auxilio, fazendo adoptar pela O SR. BARROS BARRETO: – Era o systema mixto.
assembléa a medida solicitada, ou mesmo fazendo consignar O SR. POMPEU: – ...se appressasse em realisar
alguma quantia para esse serviço: mas a camara não pede essas idéas que tão sensatamente emittiu nesse trabalho.
auxilio; entende que póde realisar a obra mediante uma Mas o nobre ministro pensa que, com alguns toques e
imposição que propõe. Logo, o dever do governo neste caso retoques ao velho e desmoralisado systema, que complicam
seria, confiando na camara, como deve por lei, se julga que a demasiadamente o processo eleitoral, pode aperfeiçoar a
obra é necessaria, como é, pedir plano, examinal-o, qualificação, pode dar garantias de independencia aos
confrontal-o com o orçamento provavel, e approvar ou votantes, fazer com que todas as opiniões se manifestem na
reprovar, segundo lhe parecesse dar ou não seu representação nacional; acredita que esses expedientes de
assentimento ao imposto proposto, se lhe compete; ou no pluralidade simples, turmas de vinte e cinco, votação
caso contrario, submetter a proposta ao parlamento, incompleta, representação de minoria, conservando todavia
conforme o art. 47 da lei de 1828. os dous graos, ou o systema indirecto, podem restaurar o
Mas, supponho que, com effeito, razões apresentadas systema representativo, e satisfazer a grande e indeclinavel
pelo honrado ministro procedem, isto é; que a camara não aspiração nacional.
tem meios, não tem força moral bastante para realisar essa Senhores, é mais uma illusão do honrado ministro! O
empreza por causa dos muitos pretendentes. Neste caso, se seu projecto, se fôr levado a effeito, como lei, produzirá os
o governo queria assumir a si o fazimento dessa grande obra, mesmos resultados que o systema actual. Não é tanto de
fizesse propôr ou propuzesse elle mesmo uma lei, derogando qualificações que resultam os graves abusos que se notam
a competencia da camara nesta parte e passando para o em nossas eleições; na minha provincia e provavelmente em
governo essa attribuição; mas, obrasse leal e legalmente; e todas as outras, não se faz mais caso de qualificação; no dia
não arrancando á competencia municipal uma attribuição da eleição quem tem força faz a eleição, estejam ou não
sua, sob o desairoso pretexto de que ella não tem força qualificados os seus partidarios; e até nem precisa-se mais
moral, ou capacidade de resistir aos pretendentes. de mesa ou juiz de paz.
Portanto, concordando eu com a medida que a O SR. BARROS BARRETO: – A eleição directa tem
camara e o governo se propõe a realisar, de remover o a virtude de acabar com isto?
matadouro de S. Christovão, para ponto mais conveniente, O SR. POMPEU: – Essa medida das turmas de 25,
que ponha a população desta cidade á cobro das epidemias, lembrada pelo nobre ministro, póde ter effeito, pelo menos no
de que dizem que elle é uma das fontes, sómente discordo interior do Brasil? se hoje um chefe de partido apresenta uma
do modo por que o honrado ministro se propõe a pôr em turma de 100 ou 200 homens e não chega a entrar na igreja,
pratica essa idéa, pondo a camara a margem á pretexto de é logo de longe, e as vezes até na vespera, repelido a tiros,
incapacidade. se outro tem força do governo ou da policia; ou são
E, como, Sr. presidente, a honrada commissão acabe violentamente desalojadas as mesas eleitoraes, como se viu
de apresentar sobre esta verba uma emenda para destacal-a em Maranguape, Pacatuba, Aquiraz e Cascavel no Ceará,
do orçamento e convertel-a em projecto especial, espero que quanto mais apresentando-se individuos com 25 homens
o honrado ministro, concordando com esta separação, dê
occasião a que, convertida a emenda em projecto especial,
134 Sessão em 20 de Maio

para votarem! Quando mesmo fosse isso possivel, que A’ provincia de Parahyba Sr. presidente não valeu a
garantia nos dava a nova lei de que os individuos que abstenção do partido liberal do pleito eleitoral, manifestada,
chegavam para votar formando uma turma de um eleitor, não publicada na imprensa, teve, não obstante, de pagar um forte
se apresentassem depois em uma outra, quando o systema tributo de sangue, só em uma freguezia em que concorreu o
de phosphoros aqui mesmo na Côrte é tão dominante? partido liberal, apesar do conselho, expresso no orgão desse
O SR. BARROS BARRETO: – O titulo de qualificação partido, de abstenção geral. A insignificante freguezia de
para que serviria? Cajazeiras, que dá apenas quatro eleitores foi theatro no dia
O SR. POMPEU: – Como verificar esse titulo em uma 18 de Agosto do morticinio de seis pessoas, além de muitos
turma de tantos votantes? Como reconhecer á cada momento ferimentos e dos mais ignobeis attentados. Alli havia um
a identidade de pessoa, a authenticidade do titulo do individuo chamado João Pires Ferreira, de triste nomeada;
portador? Mera illusão, que Deus não permittirá que nos digo, por honra do partido conservador, que não era por elle
venha mais mystificar. considerado pelo partido a que se diz ligado. No dia 18 de
O nobre ministro diz que a condição rendimento de Agosto, esse individuo junto com o delegado, tenente de
100$, que, com razão, reputa a base do direito de votar, não policia João Torquato de Figueiredo, apresentam-se na villa
deve ser permanente, porque nossas circumstancias sociaes de Cazajeiras, tomam conta da igreja, cercam-n’a com uma
teem mudado. Eu concordo com S. Ex. em que a renda liquida força numerosa; ás 8 horas ou mais entra na villa um grupo de
de 100$ é a base do direito de votar, porque é da constituição; cavalleiros á frente do qual vinha o cidadão João Antonio do
entendo, porém, que deve ser permanente, que não se deve, Couto Cartaxo, que ao passar pela frente da matriz foi
e nem se póde por lei ordinaria alterar essa base, porque provocado pela gente do delegado Cartaxo, voltando-se para
affecta á um direito constitucional; somente o que desejara, e elles, disse: meus senhores, eu venho de paz, venho disputar
o que é preciso fazer, é definir o que se entende por 100$ de pacificamente a eleição. Ao voltar, dando de redea ao cavallo
renda liquida, o que até hoje o legislador não fez. Desde que a em direcção á sua casa, deram-lhe uma descarga de tiros, de
lei definir a renda liquida, por um padrão certo e apreciavel, e que elle, um escravo e um vaqueiro, cahiram immediatamente
que, só aquelle que estiver nessas condições, tenha direito de mortos, seguiu-se depois um conflicto desigual com os
votar, segundo a constituição, tem-se dado um grande passo homens que acompanhavam Cartaxo em que cahiram tres
para verificar a verdade da eleição. Então não haverá mortos feitos pela tropa do delegado e de João Pires e outros
inconveniente algum para que a eleição possa ser directa, que muitos feridos de parte a parte.
cada votante nessas condições seja eleitor nato, em vez de Note V. Ex. que os conservadores e liberaes da villa de
procurar um intermedio; ou antes, só o systema directo poderá Cazajeiras tinham accordado em fazerem os quatro eleitores
(não digo que só por si consiga inteiramente) dar um resultado dos dous partidos com animo de votarem na chapa do
approximado á verdade na representação nacional; embora governo, pois, não tinham outros candidatos, não tinham os
esse resultado possa ser um desconhecido do que tanto se liberaes que receiar a aggressão daquelle malvado, que se
arreceia o nobre presidente do conselho. dizia conservador ou governista auxiliado pelo delegado
Avanço estas proposições perfunctoriamente para militar.
acompanhar o relatorio do nobre ministro, e responder ás suas Isto serve para provar ao nobre ministro que o seu
allegações aqui proferidas hontem, reservando-me para systema eleitoral não evita de modo nenhum essas desgraças
discutir essa medida, quando ella vier ao senado, se quando o governo tiver por si delegados e força como estes
porventura passar da outra camara, e estiver ainda na casa. de Cazajeiras. Vou ler alguns documentos que me foram
Como não tenho certeza de ter outra occasião mais opportuna remettidos da provincia da Parahyba acerca desses
em presença do nobre ministro, quero aproveitar esta para lamentaveis acontecimentos, para chamar sobre elles a
declarar minha opinião. attenção do governo e mostrar mais uma pagina negra dessa
Tratando deste assumpto, Sr. presidente, não posso apregoada eleição do anno passado.
deixar de entrar no exame das occurrencias eleitoraes que Talvez tenha occasião de em um debate especial
tiveram logar em algumas provincias. O nobre ministro foi entrar no exame de todas essas peças officiaes, que aqui
muito mal informado á este respeito na exposição que nos fez. tenho e me foram remettidas da Parahyba, contando esses
Basta ler o que S. Ex. fez escrever, ou escreveu em seu deploraveis successos; por ora quero tocar em alguns
relatorio, á respeito dos successos da Côrte tão principaes, sómente, ler algumas peças relativas a essa
differentemente do que publicaram as folhas, para conhecer tragedia e ao resultado das providencias administrativas e
que as informações que S. Ex. teve das provincias deviam ser judiciarias, para mostrar ao honrado ministro como é que se
muito defficientes. Não me occuparei com as occurrencias da fazem as eleições no centro das nossas provincias e como se
Côrte, nem de todas as provincias, porque não quero tomar protegem os assassinos governistas. Eis aqui uma ordem de
tempo ao senado, mesmo porque não tenho informações notificação do subdelegado de policia de Cajazeiras,
sufficientes sobre ellas; mas não deixarei de tomar em mandando rectificar para voltar sob pena de prisão nesses
consideração o que o nobre ministro escreveu a respeito dos termos. E’ um documento authentico; este não se daria ao
successos que tiveram logar na provincia da Parahyba e em trabalho de convidar amigavelmente a sua turma de 25, como
minha provincia. Não quero reviver processo findo; a eleição quer o nobre ministro, manda sob pena, como fazem quasi
está julgada, venceu quem dominou em ultima instancia; é todos os agentes policiaes e farão ainda se passar o systema
sómente para rectificar os factos que foram expostos no de turmas. (Lê.)
relatorio, segundo as informações inexactas que teve o «Subdelegacia da villa de Cajazeiras em 16 de Agosto
governo, factos inveridicos que desabonam a opposição e as de 1872. – Ordeno a Vm. que no domingo 18 do corrente mez,
victimas da prepotencia. pelas 8 horas do dia compareça nesta villa com os votantes
que se acharem em seu quarteirão, notificados
Sessão em 20 de Maio 135

todos por Vm. por ordem desta subdelegacia. Advirto-lhe e com as armas o ultrajavam com palavras injuriosas; só
que todas essas gentes venham armados. Deus guarde a depois, quando o furor de tal gente se havia mitigado,
Vm. – O subdelegado, Manoel Gomes da Silva. porque o seu digno chefe o alferes João Pires Ferreira se
P. S. – Devendo Vm., amanhã 17 do corrente estar havia retirado, é que tiveram os sacerdotes de acudir
aqui pelas 8 horas e aquelle que desobedecer, venha áquelles que ainda estavam com vida, podendo apenas
preso. – Guedes. – Sr. inspector do quarteirão das Almas.» dar a absolvição da hora da morte...
(Estava reconhecido.) Depois de dizermos a V. Ex. que até os padres
Eu quero trazer ao conhecimento do senado eram prohibidos do cumprimento de seus sagrados
documentos authenticos e officiaes porque o nobre deveres, parece-nos escusado accrescentar alguma
presidente do conselho só acredita em informações cousa, mas sempre o dizemos: não estavam seguros os
officiaes menos quando nos cita aqui a correspondencia da representantes de V. Ex. nesta villa; a porta de Claudino
folha do governo. Eis aqui uma representação dirigida ao Dantas de Oliveira, delegado 2º supplente em exercicio, foi
presidente da provincia tambem autentica pelos habitantes cravada de balas; Antonio Alves de Figueiredo, 1º
daquella villa, assignados por liberaes e conservadores. supplente de juiz municipal neste termo; Manoel Guedes
(Lê.) da Silva, subdelegado em exercicio desta villa; Manoel
«Illm. e Exm. Sr. presidente da provincia da João de Miranda, subdelegado de S. José de Piranhas,
Parahyba do Norte. – Perante V. Ex. vem submissamente, eram procurados para ser assassinados e eram
e como opprimidos em seus direitos, todos os habitantes publicamente insultados.
em massa desta florescente villa de Cajazeiras reclamar a Não fallamos, Exm. Sr., em serem procurados para
attenção de V. Ex. para o acto barbaro e inaudito que serem arcabusadas as pessoas mais gradas desta villa,
acaba de ter logar no dia 18 do corrente mez, e como além tanto conservadores, como liberaes, pois, se as vidas dos
do que passam a expôr, pode, como é provavel, ainda empregados publicos estavam em perigo, como não
haver segunda scena, em vista das ameaças que no supra estariam as dos particulares???
mencionado dia se nos fez, vem, como subditos inermes, Não fallamos nos insultos deshonestos dirigidos ás
collocar nas mãos de V. Ex., onde estão as redeas do distinctas cajazerenses; não fallamos nos roubos de
governo, suas vidas, suas propriedades, suas honras e cavallos, roupas, comidas, etc., etc., porque conhece V.
todos os seus direitos finalmente.» Ex. que, accommettendo tal gente a uma inerme villa como
Sim, Exm. Sr., passamos fielmente a fazer a a nossa, não roubam sómente vidas. Cinco foram os que
exposição de todo o occorrido, se não bem ordenada pela morreram victimas dos bacamartes dos Srs. alferes João
dôr que dilacera nossos peitos, ao menos fiel e verdadeira. Pires Ferreira e tentente João Torquato de Figueiredo,
Parte da povoação de Santa Fé, em numero de 400 sendo grande o numero dos feridos; mas nós para não
a 500 pessoas, todas bem armadas, reunidas e faltarmos á verdade não o podemos precisar, affirmando
capitaneadas pelos Srs. alferes João Pires Ferreira e sómente que muito maior não foi pela cautela que tivemos
tenente João Torquato de Figueiredo, então fóra do e de nos trancarmos em nossas casas. Na retirada de taes
exercicio de delegado (se delegado é, pois não consta ter assassinos, a qual teve logar das 4 para as 5 horas da
prestado o devido juramento) e então, ás 7 horas da tarde do mesmo dia, ainda ouvimos alguns tiros na
manhã do dia 18 deste, trazendo no seu seio os distancia de uma legua pouco mais ou menos, não
criminosos da Serra do Bonga, nesta villa, onde apesar do sabemos quaes foram os infelizes pacientes.
grande numero de povo reinava a maior paz e Assim, Exm. Sr., recorremos a V. Ex. como primeira
tranquillidade, porque conservadores e liberaes estavam autoridade da provincia para proteger os nossos direitos,
dispostos a dar a eleição ao governo, como ainda hoje as honras de nossas familias e o futuro desta villa tão
estão, e depois de abarracados no patamar da igreja lisongeira aos olhos de todos, esperamos que as sabias e
matriz, então por elles cercada, a ponto de ser o Revm. justas providencias de V. Ex. livre de lançarmos mãos de
vigario obrigado a ir celebrar a missa parochial em outra extraordinarios recursos, bem como abandonarmos esta
capella, começaram a espingardear-nos. localidade infeliz sómente por estar ao alcance de tigres
Exm. Sr., neste turbulento dia ninguem estava que facilmente, descem de suas furnas na Serra do Bonga
seguro, uns morriam pelo simples facto de passarem por para saciarem sua voraz gulodice nos inermes habitantes
perto de tal barraca, morriam outros pelo prudente facto de desta vila.
correrem para longe, atiravam taes assassinos para todas Não acreditamos, Exm. Sr.. aquillo de que sem pejo
as ruas, calçadas e portas, ficando estas cravadas de se gaba o tenente João Torquato de Figueiredo, isto é, que
balas e chumbo, e com tal furor, que alguns dos que o governo é quem nos manda espingardear; não
infelizmente acompanhavam seus maleficos intentos, acreditamos tambem que os Srs. tenente João Torquato
querendo entrar para o meio delles, foram victimas dos de Figueiredo e alferes João Pires Ferreira, unicos
tiros de seus proprios companheiros, vendo que ninguem responsaveis por tudo, zombem da autoridade de V. Ex. e
lhes offerecia resistencia, pois quasi toda a população das leis que nos regem, apparecendo na presença de V.
cautelosa e prudentemente se tinha trancado em suas Ex. e muito menos que apparecendo elles dê V. Ex. mais
casas, sahiam da barraca pelas ruas disparando tiros em credito a estes dous chefes de bandidos e assassinos do
todas as direcções, tentando até derribar as portas a que á população inteira de uma villa, sem exclusão de
couces de armas e machado de alguns estabelecimentos pessoa alguma, prompta para jurar ser verdade tudo o que
commerciaes. teem a honra de apresentar a V. Ex.
Alguns sacerdotes, querendo acudir aos Concluimos pedindo a V. Ex. licença para levarmos
moribundos com os socorros espirituaes, este lenitivo final ao conhecimento do publico por meio dos jornaes os factos
com que a santa Igreja adoça os rigores da morte, eram mencionados e tambem esta queixa, que temos a honra de
por elles prohibidos, só o podendo fazer por detraz das apresentar a V. Ex., os factos para que o publico
casas; succedendo que um sacerdote quizesse passar de
uma casa para outra á sua vista 20 bocas de armas lhe
impediram a passagem,
136 Sessão em 20 de Maio

conheça de quanto são capazes os Srs. tenente João – Menandro José da Cruz. – Raymundo Bizerra. – Joaquim
Torquato de Figueiredo e alferes João Pires Ferreira, a queixa Alves da Rocha. – Antonio Ferreira Messias. – Manoel Porfirio.
para mostrar que a villa de Cajazeiras confia naquelle em – Manoel João Dantas. – Antonio de Souza Dias Junior. –
cujas mãos estão as redeas do governo da provincia da Raymundo Ferreira de Caldas. – João Antonio de Barros. –
Parahyba. Cajazeiras, 18 de Agosto de 1872. – O padre José José Thimoteo de Souza. – Antonio Alves Bizerra. – Francisco
Alves da Costa Gadêlha. – O bacharel Joaquim Gomes da Ferreira do Nascimento. – Vicente Nunes Pereira. – André
Cunha Beltrão. – Claudino Dantas de Oliveira, delegado em Vidal da Cunha. – José Francisco de Moraes. – Leandro Vieira
exercicio. – Salviano Gonçalves Robim. – Padre Manoel Marcolino, juiz de paz. – Marcolino Duarte de Maria. – Damião
Mariano de Albuquerque. – Alferes Antonio Pedro de Mello, de Souza Rolim. – Narciso da Costa Gadêlha. – David Gomes
juiz de paz. – Gonçalo da Costa Lima. – Estolano Alves dos de Albuquerque. – Mariano Gomes de Albuquerque.» (Estava
Santos. – Balduino Marinho de Carvalho. – Vital de Souza reconhecida.)
Rolim. – Luiz José Limeira. – Pedro Dantas Rothéa. – Manoel Estão assignados cerca de cem moradores daquella
Pereira da Silva. – Luiz Ambrosio Pereira Ponchet. – Virgolino localidade.
Maria de Souza Mangueira. – Domingos Dantas de Oliveira. – Portanto, Sr. presidente, veem S. Ex e o nobre ministro
Antonio Pinto de Souza. – Joaquim Antonio de Couto como naquella infeliz villa de Cajazeiras, na provincia da
Cartacho. – Lino Rodrigues de Figueiredo. – Epiphanio Parahyba, se fez a eleição de 18 de Agosto e que a exposição
Guedes da Silva. – Manoel Rodrigues de Mello. – Alferes José que S. Ex. faz em seu relatorio a este respeito, certamente por
Franco de Albuquerque. – Joaquim Gonçalves da Costa. – informações incompletas, é inexacta.
Antonio de Maria Pereira Brasil. – Domingos Souza Coelho. – Tenho aqui mais dous documentos, um da camara
Serafim Antonio de Couto Cartacho. – Emygdio Emiliano do municipal daquella villa, expondo o mesmo acontecimento ao
Couto Cartacho. – Felismino de Souza Coelho. – Theodoro presidente da provincia e pedindo providencia para a vida de
Gomes da Silva. – Lino José de Souza. – Manoel Vicente seus membros e dos cidadãos daquella localidade, e outro do
Pereira. – Manoel Furtado de Figueiredo. – Manoel Pedro de juiz municipal e outros proprietarios, expondo ao presidente a
Oliveira. – Manoel João da Silva Maria. – Manoel Leandro de protecção de que gosa João Pires, a falta de garantias para
Alencar. – O subdelegado Manoel Guedes da Silva. – João suas pessoas e pedindo quasi pelo amor de Deus que ao
Francisco de Albuquerque, vereador da camara. – Tenente menos os proteja por alguns dias, emquanto arranjam seus
Sabino de Souza Coelho. – Cypriano Lins de Albuquerque. – negocios para mudarem-se de terra. Lendo:
Miguel Gomes Barbosa. – Honorato Antonio da Silva. – «Paço da camara municipal, 15 de Outubro de 1872.»
Nazario de Souza Rolim. – Raymundo Sisnando Coelho. – Illm. e Exm. Sr. – A camara municipal da villa de
Henrique de Souza Coelho. – Hermenegildo de Souza Coelho. Cajazeiras, fiel interprete dos sentimentos de seus municipes,
– Belarmino Gomes de Albuquerque. – Mamede de Souza vêm respeitosamente trazer ao alto conhecimento de V. Ex. os
Rolim. – Salviano Gomes de Albuquerque. – José Antonio de soffrimentos de que elles teem sido victimas e pedir ao mesmo
Albuquerque. – José Vicente de Maria. – Manoel Joaquim de tempo providencias contra seus males passados, presentes e
Sant’Anna. – Francisco Bernardo de Sene. – Bernardo Bento futuros.
Feitosa. – Manoel Simplicio Nogueira. – José Vicente de V. Ex. estará, sem duvida, de passo de dados
Albuquerque. – Emygdio Thomaz de Aquino. – Mariano de sufficientes para, discriminando o falso do verdadeiro, bem
Souza Gomes de Albuquerque. – Manoel Clementino. – ajuizar da horrorosa carnificina de 18 de Agosto do corrente
Hygino Gonçalves Sobreira Rolim. – Bernardino da Costa anno, ordenada pelos sceleratos João Pires Ferreira e João
Gadêlha. – José Bezerra de Souza. – Joaquim Lourenço Torquato de Figueredo, que a presenciaram, e bem assim das
Franco. – Vicente Ferreira Lima. – Custodio Lino Pires, circumstancias que a precederam e que seguiram depois.
portuguez. – José Augusto de Oliveira, portuguez. – O lamentavel acontecimento de 18, Exm. Sr.,
Bernardino José de Maria. – José Gonçalves de Maria. – symbolisa um plano de exterminio contra os pacificos
Amelio Attico de Arantes de Maria. – Manoel Gomes habitantes desta freguezia, de ha muito premeditado, cujos
Benevides. – João Francisco de Lyra. – Francisco Bizerra de autores foram acoroçoados pelo Sr. Dr. Manoel Coelho Cintra
Souza. – Clementino José Trajano de Aragão. – Joaquim José Junior, chefe de policia interino, que, ainda mesmo revestido
de Lyra. – Joaquim Ferreira. – D. Quixote Manoel Ferreira da de tão importante cargo, não soube ou não pôde esquecer
Cruz Junior, portuguez. – João Alves de Oliveira. – João antigos resentimentos e rancores e que com o mais cynico
Martins do Carmo, artista. – Antonio Francisco Alves de dislate dizia que não sabia com que cara esses dragões
Souza, artista. – José Marques do Nascimento. – Antonio vinham á sua casa.
João de Souza. – Alexandre José de Souza. – José Joaquim Esta municipalidade espera que, na sabia
dos Santos. – Antonio Gonçalves de Mello. – Pacifico administração de V. Ex., não passe como verdade o annexim
Lecazião Bizerra da Trindade. – Joaquim Ferreira da Costa. – popular de que em dias de eleição se póde matar sem que se
João Bizerra Leite. – Gonçalo José de Aquino, 1º supplente de commetam crimes.
delegado. – João Rodrigues dos Santos. – Patricio José Foi pela primeira vez que na nossa provincia correu o
Herculano. – Manoel Bento Cordeiro. – Francisco Rodrigues sangue de seus filhos em épocas eleitoraes e com a
do Nascimento. – Valerio Alves de Oliveira. – Bernardino circumstancia aggravante de serem espingardeadas de
Bizerra Leite. – Francisco José de Souza. – Luiz Dias de sorpreza, quando entravam na villa para recolherem-se em
Freire. – José Alves da Costa. – Fancisco José de Oliveira. – suas casas!!
Valdevino José da Costa. – Manoel Isidro de Souza. – Resta agora vêr-se o desolante espectaculo do crime
Alexandre Marques. – Boaventura de Lima Cavalcanti. vencedor, para o que o Sr. Dr. Cintra trabalhou com maximo
empenho, já affrouxando em favor de seus autores as provas
que pedira a testemunhas que são seus verdadeiros
Sessão em 20 de Maio 137

cumplices, e já torcendo os ditos de outras para fazer prova Piranhas o cadaver de um moço, filho de Manoel Francisco,
contra os irmãos, parentes e companheiros das infelizes que morava perto de João Pires, tendo-se ouvido antes alguns
victimas de seu despotismo e perversidade. tiros para aquelle lado, e seus conductores (alguns dos quaes
E’ ainda com profundo pezar que esta municipalidade sicarios de João Pires) disseram que o infeliz moço morrera
supplica a V. Ex. que se digne lançar suas beneficas vistas casualmente, disparando-se uma arma que seu companheiro
sobre a freguezia de S. José de Piranhas, que continúa fóra trazia ao hombro, quando aliás o tiro se empregara no peito.
da lei, e cujos habitantes vivem sobresaltados com a presença E’ para crer-se, Exm. Sr., que essa historia não passa
de João Pires Ferreira e de 30 a 40 criminosos, que o de um invento infeliz: na povoação de Piranhas se diz
acompanham por toda parte, e que protestam assassinar geralmente que o moço fora assassinado, porque suspeitou-
alguns cidadãos, se por ventura forem pronunciados, pelo que se que era espia.
se teem retirado uns para esta villa outros para o termo de Os abaixo assignados teem sido ameaçados por João
Souza e outros, finalmente, para a provincia do Ceará. Pires de que se sahisse processado, elles seriam os primeiros
Nenhum resultado, sequer moral, deixara uma que teriam de morrer, e isso mesmo seus comparsas lhes
diligencia que o Sr. Dr. Cintra mandara áquella freguezia, teem dito por mais de uma vez.
fazendo seguir daqui a força publica em o dia 10 do corrente Se a provincia não dispõe de recursos presentemente
mez; porquanto, João Pires Ferreira e seus sicarios, que se para dispersar tão audazes criminosos, os abaixo assignados
achavam na povoação de Santa Fé, foram logo informados pedem encarecidamente a V. Ex. que se digne de mandar
por Estolano Alves dos Santos, confidente de João Pires e para a freguezia de Piranhas a força de que se possa dispor,
ultimamente do Sr. Dr. Cintra; que seguira á uma hora da emquanto possam concluir alli seus negocios, vender suas
tarde do dito dia em procura daquelle que logo depois da propriedades para assim poderem retirar-se para outro
chegada do Estolano dizia de publico que sua casa Bomfim qualquer termo desta provincia ou do Ceará.
seria cercada a tantas horas, e esta povoação a tantas outras, Villa das Cajazeiras, 13 de Outubro de 1872. – Antonio
como realmente assim succedeu! Alves de Figueiredo, juiz municipal (1º suplente). – Manoel
E’ o quanto esta camara tem a honra de levar ao João de Miranda, proprietario. – Trajano de Paula Gomes,
conhecimento de V. Ex. o que pede desculpa, se mais do que professor publico. – Pedro José Soares, proprietario. – Lino
convinha, occupara a preciosa attenção de V. Ex. José de Miranda, proprietario. – João Luiz de Albuquerque,
Presidente João Franco de Albuquerque. – Antonio proprietario. – Vicente Ferreira Duarte, proprietario.» (Estava
Gomes de Alexandria. – Sabino Evangelista de Albuquerque. reconhecido.)
Ignacio de Souza Rolim. – José Vicente de Albuquerque. A respeitavel viuva D. Anna Josepha de Jesus, mãe do
(Estava reconhecido). infeliz Cartaxo, havia corrido ao presidente apresentando-lhe
«Illm. e Exm. Sr. presidente. – Os cidadãos abaixo uma queixa ou denuncia contra os assassinos de seu filho, e a
assignados, residentes na freguezia de S. José de Piranhas viuva Anna Maria de Jesus tambem dera outra ao chefe de
deste termo de Cajazeiras, vem pedir a V. Ex. providencias, policia interino Dr. Cintra contra os assassinos de seu marido
afim de que com suas familias possam voltar para suas casas Bernardino Evangelista de Senna, as quaes tenho aqui
e encontrar alli garantias de vida.» (mostrando) e não leio para não tomar mais tempo ao senado.
Os abaixo assignados esperam por algum tempo que o Essas desventuradas senhoras acreditavam poder encontrar
Sr. Dr. Manoel Coelho Cintra Junior, chefe de policia interino na autoridade superior mais garantia para suas queixas, mais
desta provincia, providenciasse, senão com o emprego de segura satisfação á justiça contra o potentado assassino, que,
meios energicos, como exigiam as circumstancias, ao menos protegido pela policia local, zombava de suas victimas,
por meios amigaveis, afim de que João Pires Ferreira não ameaçava e sobresaltava os habitantes do logar.
mais ameaçasse seus inimigos. Porém, Sr. presidente, V. Ex. e o senado querem
Infelizmente, o Sr. Dr. Cintra já retirara-se e assim não saber do resultado que tiveram estas denuncias com relação
succedera. E’ de notoriedade publica que, quando em o dia 10 aos criminosos? Senhores, é triste de dizer que a
do corrente mez seguira pela noute a força publica, Estolano administração da provincia da Parahyba foi completamente
Alves dos Santos, intimo amigo de João Pires Ferreira, illudida no empenho que manifestou de perseguir, processar e
residente nesta villa, comparecera a seu chamado em casa do prender a esses criminosos. Nomeou e mandou para aquella
Sr. Dr. Cintra pelas 2 horas da tarde do referido dia, e que localidade o Dr. Manoel Coelho Cintra na qualidade de chefe
logo depois seguira para a povoação de Santa Fé, onde se de policia interino. Este funccionario não correspondeu ás
achava João Pires Ferreira com 30 a 40 de seus comparsas vistas do governo provincial e menos ao santo dever da
bem armados em o casamento dos Barbosas. justiça. Quando chegou a Cajazeiras em 4 de Outubro, já o
Toda diligencia fora baldada; a força publica cercara a processo estava affecto ao juiz municipal, Dr. Manoel
casa de João Pires no districto de Piranhas, em cuja povoação Francisco Xavier de Andrade, que havia devidamente
se demorara até a noute do dia seguinte, voltando João Pires pronunciado os assassinos denunciados, e sua sentença
para sua casa no Bomfim ou para a casa de José Freire, que confirmada pelo juiz de direito da mesma comarca, Dr. José
dista da sua duas leguas. Na noute desse dia parte da força Paulino de Figueiredo, ambos magistrados insuspeitos, pois
chegara até Santa Fé, onde não encontrara mais a ninguem e que são do partido do governo. E não obstante achar-se
nenhuma diligencia tambem fizera. preventa a jurisdicção e ter até já concluido o processo o Dr.
Os abaixo assignados tem motivos para queixarem-se juiz municipal, o chefe de policia interino não duvidou instaurar
a V. Ex. Ante hontem chegara á povoação de S. José de novo processo, fazendo inquerito particular e em segredo, e
mandando escrever o depoimento das testemunhas em
contrario
138 Sessão em 20 de Maio

do que ellas diziam. Tenho aqui os documentos para provar por documentos authenticos, foi ha pouco despachado juiz de
esta asserção. Não quero ler para não cansar o senado, direito! E’ assim que o governo muitas vezes é levado ao erro,
porque são extensos. Mas affianço que está aqui, (mostrando porque repugna ao meu espirito aceitar que o governo
papeis) provado por documentos que esse chefe de policia scientemente faça escolhas semelhantes!
interino, no interesse de proteger os criminosos, fazia escrever Não quero, Sr. presidente, entrar na questão julgada
nos depoimentos o contrario daquillo que depunham as se o governo interveio ou não no processo eleitoral do paiz;
testemunhas. O juiz municipal havia em sua pronuncia deixo á consciencia publica e dos proprios ministros a decisão
confirmada pelo juiz de direito comprehendido os verdadeiros desta questão. Com relação ás occurrencias eleitoraes de
assassinos, autores daquelles morticinios, pelo que estavam minha provincia, que o nobre ministro refere em seu relatorio,
esses juizes ameaçados pelos proprios assassinos, e o chefe noto ainda mais deficiencia ou antes grandes inexactidões.
de policia no seu processo posthumo pronunciou os parentes Não tenho outro remedio senão acompanhar estas
das victimas, segundo diz o Dr. Joaquim do Couto Cartaxo em informações para rectificar ao menos os erros de que o nobre
uma de suas exposições no jornal Despertador, cheio da mais ministro foi involuntariamente victima; mas devo fazel-o para
justa indignação a respeito do resultado da commissão e dar testemunho da verdade, para vingar a causa da justiça e
procedimento do chefe de policia Cintra o, seguinte: da opposição do Ceará tão injustamente apreciada neste
(Lê) ...«e para abafar as vozes dos parentes das documento official, que não deve servir para a historia do paiz.
victimas, foram elles processados ás escondidas e E já que sou forçado por amor da verdade a entrar na
pronunciados com geral indignação dos habitantes de uma apreciação dos factos que perturbaram a eleição de minha
populosa comarca, ao passo que os criminosos foram provincia, não posso deixar de tomar em consideração
acobertados com o manto do poder, dando-se-lhes para sua algumas proposições dos meus honrados collegas senadores
residencia a povoação de Santa Fé, donde elles nos por minha provincia, em relação áquella eleição, quando
ameaçam e aos habitantes da comarca do Jardim no Ceará, discutiram o voto de graças na sessão passada.
que já levaram ao governo geral uma representação; pedindo Os nobres senadores no intuito de justificarem o
garantias para a vida e propriedade ameaçadas por um grupo governo accusaram a coalisão ou liga do partido historico do
de assassinos e malvados. E o que ha de mais sorprendedor Ceará como monstruosa, immoral, nunca vista, que a ella se
em tudo isto é que os juizes de direito e municipal, chefes do deve a derrota da opposição, e que ella fora a causa das
partido conservador, conservem gente armada em suas casas perturbações que se deram na eleição da provincia.
para defendel-os dos assassinos que os ameaçam por terem Sr. presidente, a paixão politica não deve offuscar o
sido por elles pronunciados. Os criminosos contam com a entendimento e nem suffocar a verdade da consciencia do
protecção do governo provincial etc.» homem. Os meus honrados collegas enunciaram proposições
Esse chefe de policia interino, que assim procedia que vão além de seus sentimentos, pois não podem estar em
contra os infelizes parentes das victimas, havia, segundo leio suas consciencias.
neste jornal, em officio á presidencia, affirmado que no dia 18 Senhores, desde quando póde ser chamada immoral,
de Agosto o delegado e tenente de policia João Torquato, monstruosa uma liga politica? Pois não é um facto observado
João Pires Ferreira e sua mulher entraram á frente de 200 a em toda a parte do mundo e de que a historia nos dá
300 homens na villa de Cajazeiras, vindos todos da freguezia constantemente noticia? O fim e os meios que empregam as
de S. José de Pirambar, e que acamparam no patamar da ligas são que podem afferir ou determinar a sua moralidade.
igreja matriz que estava fechada... Mas desde que não se articula nem prova fins immoraes e
Em seguida conta o morticinio feito por essa horda de meios reprovados, está visto que as coalições ou as ligas
canibaes, cuja séde de sangue era tanta que mataram, politicas podem ser e teem sido justificadas e aceitas
segundo o proprio Sr. Cintra, além do desditoso João Cartaxo, geralmente tanto entre nós, como em todos os paizes.
dous do grupo dos assassinos capitaneados por João O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – A priori todos os
Torquato e João Pires.» escriptores as condemnam como immoraes.
E era tal o interesse que esse chefe de policia tinha em O SR. POMPEU: – Ora, Sr. presidente, V. Ex. sabe
tirar esse processo, que nem por achal-o concluido pelo juiz que no velho mundo e entre nós as ligas se fazem todos os
local competente, nem por haver cessado sua jurisdicção em dias e se desfazem. Ainda ha pouco li no Diario Official em
consequencia de haver chegado o chefe effectivo, não uma correspondencia de Paris estas palavras com relação á
duvidou levar por diante esse empenho. liga de dous partidos inteiramente oppostos que hoje dividem
Porquanto, a respeito da competencia deste chefe de a França. (Lendo):
policia para instaurar o processo de Cajazeiras já concluido «Um jornal bonapartista respondia em Junho passado
pelo juiz municipal, occorre ainda esta circumstancia, que elle (1872) sobre a coliação entre os partidos legitimistas e
em 4 de Outubro começava o seu inquerito, quando desde o Fizemos uma alliança como legitimistas; mas fizemo-la
dia 16 de Setembro se achava empossado e em exercicio o francamente, sem reticencias, sem restricções intimas; os
novo chefe de policia, o Dr. Salvador Pires Carneiro; e não legitimistas sabem o que pedimos, o que lhes promettemos, e
obstante a sciencia que tinha do novo chefe de policia o que os concederam. No dia em que a alliança já não tiver
effectivo empossado na capital da Parahyba, entendeu dever razão de ser, separamo-nos com a consciencia tranquilla e
continuar com o seu processo em Cajazeiras, no intuito de cada um de nós conservará a estima um do outro.»
proteger os assassinos, que ainda lá estão, segundo sou Ora, eis aqui uma liga feita com dous partidos
informado, esses assassinos zombando da justiça. diametralmente oppostos para um fim politico que cogitavam,
E entretanto, Sr. presidente, este chefe de policia
interino que assim procedeu, cujos actos estão demonstrados
Sessão em 20 de Maio 139

sem que ninguem acoimasse de immoral, de nunca vista e fez uma liga em 1866, estando em opposição ao governo com
monstruosa. o partido do mesmo governo. O nobre senador 4º secretario
O partido liberal no Ceará se achava proscripto e fóra participou tambem dessa liga ao menos da continuação em
da lei desde a reacção de 1868. Em 1872 a mesma sorte, 1867.
senão na mesma escala, mas proximamente, coube ao partido O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Quando?
conservador, que aliás tinha sido aquelle que tinha feito a O SR. POMPEU: – Quando V. Ex. foi candidato á
reacção. Acharam-se, pois, os dous partidos historicos da senatoria.
minha provincia, liberal e conservador, no campo do exilio, da O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Nunca participei
adversidade, quando occoreu a dissolução da camara de 1872 dessa liga, nem nunca recebi favores do partido liberal.
e teve de proceder-se á eleição geral para a nova camara. O SR. PRESIDENTE: – Attenção!
V. Ex. sabe que a desgraça exerce uma especie de O SR. POMPEU: – Pois, se V. Ex. não participava
attractivo e de sympathia entre os infelizes. Havia, portanto, della, seu nome entrou na lista como candidato á senatoria.
nos dous partidos lançados á proscripção um laço commum O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Não entrei em liga
que os ligava, isto é, a adversidade. Havia mais um interesse alguma com o partido liberal.
legitimo que os convidava a reunir as suas forças para O SR. POMPEU: – Entrou o seu nome na lista
fazerem uma eleição que levasse ao parlamento os seus sextupla da liga que se fez entre a fracção liberal que
candidatos em ordem a opporem-se a este governo, que acompanhava o governo.
proscrevia os partidos historicos. Havia, pois, Sr. presidente, O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Em que anno?
nada mais legitimo, mais natural do que esta liga com o fim O SR. POMPEU: – A eleição foi em 1867.
patriotico de concorrer, quanto de sua parte podesse, para O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Está enganado.
restaurar as condições do systema representativo falseadas O SR. PRESIDENTE: – Attenção!
pelo governo, que dissolvia camara por capricho? O SR. POMPEU: – Appello para o nobre senador seu
De certo que não. O partido conservador dispunha dos collega.
elementos officiaes, isto é, tinha o corpo eleitoral, tinha as O SR. JAGUARIBE: – A eleição foi feita depois do
municipalidades, tinha os juizes de paz e tinha o povo; o rompimento.
partido liberal tinha tambem grande cópia de povo. A liga, O SR. PRESIDENTE: – Attenção!
portanto, não só debaixo do ponto de vista politico, que era O SR. POMPEU: – A eleição primaria foi antes e para
fazer eleger representantes em ordem a oppôr-se á situação esta havia liga. Eu posso mesmo mostrar a folha de V. Ex. que
dominante que os proscrevia, tinha mais uma razão de ser na dava a chapa governista em que vinha o nome do Sr. senador.
conveniencia de ambos os partidos pouparem maiores O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Eu não entrei em liga
esforços para vencer. Ora, os dous partidos unidos, que não nenhuma.
tinham diante de si senão o governo... O SR. POMPEU: – Por consequencia, Sr. presidente,
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Não apoiado; tinham se a liga em 1866 – 1867 feita entre a opposição de então e o
a grande força do partido conservador. governo na parte liberal não foi monstruosa, não foi immoral,
O SR. PRESIDENTE: – Attenção! não foi nunca vista, com maioria de razão a liga feita o anno
O SR. POMPEU: – O governo mesmo, Sr. presidente, passado entre adversarios, sim, mas que estavam ambos na
dizia que não tinha candidatos, que não se apresentava na opposição, devia ser mais aceitavel.
eleição. O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Não entrei em
Por consequencia o concurso dos dous partidos tinha nenhuma; não póde mostrar documento disto; nem nunca
por fim ainda mais debaixo deste ponto de vista fazer uma recebi votos do partido liberal; de amigos liberaes recebi
eleição pacifica, uma eleição menos dispendiosa para elles e alguns, muito poucos aliás.
que evitasse qualquer perturbação da ordem publica. O SR. POMPEU: – Então a liga feita em 1866 – 1867
Disseram, porém, os honrados senadores que a liga não era má, era boa?
era immoral, monstruosa, nunca vista. Mas, Sr. presidente, já O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Nunca houve tal liga.
mostrei que as ligas politicas se fazem em todos os paizes e O SR. POMPEU: – Oh! senhor, o nobre senador seu
em todos os tempos. correligionario não nega: elle já o confessou aqui, e tenho aqui
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Nunca chegam a um documento disso. O que noto é que hoje se ache máo o que
resultado. então se achava bom.
O SR. POMPEU: – A liga de um partido de opposição O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Acho má pela mesma
com o governo dominante póde ser menos confessavel, razão porque achei em 1867.
porque implica com um partido em opposição, receber força e O SR. POMPEU: – Em 1867 V. Ex. entrou na lista
apoio do governo para hostilisar o mesmo governo, e ao sextupla e não desapprovou...
governo receber apoio e força do partido opposto contra a O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Com os meus amigos
mesma opposição. Com effeito, uma liga nestas condições me unicamente.
parece menos confessavel, e o partido liberal do Ceará,
podendo tel-a feito o anno passado, hesitou e não a quiz. Mas
assim mesmo eu não qualificarei, como os honrados
senadores, de immoral e de nunca vista, e isto em respeito a
SS. EExs., porque o meu honrado collega pelo Ceará
140 Sessão em 20 de Maio

O SR. POMPEU: – Mas a eleição primaria foi feita O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Isso é historia antiga.
com o governo. O SR. POMPEU: – A eleição foi vencida pelo
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Que governo? governo...
O SR. POMPEU: – O nobre senador o Sr. Jaguaribe O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Pelos
sabe disto. Nem eu trago este facto para inculpal-os. Refiro conservadores.
somente para mostrar que a liga politica não é uma cousa O SR. POMPEU: – ...mas vencida como? Não entro
monstruosa, immoral e nunca vista, quando ella já foi feita mais nesta apreciação; o nobre senador pela provincia das
pelo nobre senador; com uma differença, porém, Sr. Alagoas já disse aqui como se vencem as eleições na
presidente, que então fazia-se liga com o governo e é mais camara dos Srs. deputados, não pela força da razão, porém
segura, e agora fez-se em campo adverso contra o governo, pelo inverso. Tratarei apenas de retificar a exposição dos
que dispunha de força. successos feita no relatorio do nobre ministro do Imperio.
Disse-se que a liga que se fez o anno passado no Em Maranguape o commandante superior, que era ao
Ceará enfraqueceu ao partido. mesmo tempo juiz de paz, se preparava de longa mão para o
Senhores, é a primeira vez que ouço dizer que dous pleito eleitoral de 18 de Agosto, chamou a guarda nacional
podem menos do que um. Sempre ouvi dizer que nem em numero de 60 homens; mandou fazer notificações pelos
Hercules contra dous. Mas agora estabelece-se uma nova districtos visinhos de Tabatinga, Jubaia e Pitaguary; mandou
theoria: que os dous partidos historicos reunidos fazer cartuxame e ostentara-o em seu balcão. Contra esta
enfraqueceram-se diante de uma fracção do partido ameaça, contra estes preparativos bellicosos varios cidadãos
conservador, que se fez official na provincia do Ceará; tão da localidade levaram ao conhecimento da presidencia uma
poderoso e magico é o nome official! representação que foi lida na camara dos Srs. deputados, de
O SR. JAGUARIBE: – E’ que os dous não ficaram que a presidencia não tomou conhecimento. No dia da
inteiros. eleição amanheceu a igreja cercada pela força da guarda
O SR. POMPEU: – Entretanto, Sr. presidente, é nacional do commandante superior, e quando ás 8 horas
sabido que no Ceará os dous partidos historicos dispõem de entraram da povoação de Pitaguary um grupo de votantes
todos os elementos de força capazes de conseguir uma conservadores, que demandavam a casa do Sr. barão de
victoria completa. Aquiraz, o juiz de paz, commandante superior, mandou
O SR. JAGUARIBE: – Representavam o futuro... intimar-lhes que se dispersassem. Deu-se então um conflicto,
O SR. POMPEU: – Ora, isto não era um partido, era porque o povo continuou seu caminho; a tropa do
um individuo. commandante superior fez fogo sobre o povo que entrava,
O SR. JAGUARIBE: – Era uma grande parte do este reagiu, resistiu aos primeiros tiros de força do
partido liberal. commandante superior, a escolta do subdelegado correu,
O SR. POMPEU: – Não; V. Ex. não está bem deixando algumas armas de que lançaram mão esses
informado. votantes; então a guarda que estava em casa do
Se disse que a liga foi quem perturbou a eleição. commandante superior e na igreja acudiu ao tiroteio e
Senhores, se por esta proposição se quer dizer que a tambem o povo que occupava outros pontos da cidade correu
autoridade, intervindo com força para derrotar a liga, em auxilio aos aggredidos pela força publica, e o conflicto
perturbou a eleição, concordo; mas que a liga em si prolongou-se por algumas horas, resultando retirar-se de sua
perturbasse, quando ella tinha todos os elementos de casa o commandante superior, ficar a igreja sem guarda e
victoria, quando o seu maior interesse era evitar de qualquer tornar-se o povo senhor, não só da igreja, como até do
maneira a perturbação, é não conhecer os factos ou procural- quartel e da casa do commandante superior. Houve nesse
os desconhecer. conflicto cerca de sessenta e tantos ferimentos.
Lavrado este protesto contra as asserções offensivas Ora pergunto eu, Sr. presidente, quem foi que
á moralidade da liga politica, que se fez no Ceará só para a provocou o conflicto, quem foi o autor delle e por conseguinte
eleição do anno passado, e vingada sua reputação, passo a culpado? Foi o povo que entrava de manhã para exercer uma
entrar na rectificação dos factos occorridos na provincia que funcção legal ou foi o commandante superior que o mandou
perturbaram a ordem publica por occasião das eleições e que dispersar?
foram inexactamente referidos no relatório do nobre ministro. O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Isso já foi decidido
S. Ex. começa pela parochia de Maranguape e neste ponto pela camara.
como em todos os outros foi S. Ex. mal informado. O SR. POMPEU: – Não se tirou a moralidade do
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Isso já foi julgado facto.
pela camara dos Srs. deputados. O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Já se tirou.
O SR. POMPEU: – Foi sobre a eleição, e eu trato de O SR. POMPEU: – Quem foi o causador de conflicto
rectificar alguns factos que tendem a macular um partido senão o commandante superior que mandou fazer fogo,
importante na provincia do Ceará. Diz-se que a camara dos tendo previamente feito cartuxames, notificada e armada a
Srs. deputados approvou a eleição; mas o parecer da força até nova ordem do presidente?
commissão que foi approvado não demonstrou os culpados; O SR. JAGUARIBE: – Mandou fazer fogo e a casa
antes implicitamente condemnou a autoridade, porque delle é que ficou baleada...
annullou as eleições, parte dellas, onde a força, não podendo O SR. POMPEU: – E’ porque foi vencido; os
vencer, perturbou... aggredidos repelliram o ataque. E note-se que este conflicto
não se deu com os liberaes; foi entre gente do governo e os
conservadores, que vinham entrando de Pitaguary para o
Sessão em 20 de maio 141

engenho do Sr. barão de Aquiraz; depois é que liberaes e substituto da Pacatuba; é peça official. Desses officios se vê
conservadores da cidade correram em auxilio. que foi a força do governo sob o commando do official da
De posse da igreja os conservadores e liberaes guarda nacional Antonio Joaquim de Siqueira, que
installaram a mesa com o 4º juiz de paz, que é conservador, e accommetteu o povo de ordem do subdelegado. (Lê).
a eleição proseguiu regularmente até 6 horas da tarde, Eis os officios;
quando, terminado o processo eleitoral naquelle dia, lacraram «COPIA. – Substituto do juiz muncipal na povoação da
a urna, fecharam a igreja e puzeram na porta uma guarda. Pacatuba, 18 de Agosto de 1872. – Illm. Sr. – Vou levar ao
Chegou o alferes Ayres do Nascimento, creio que de linha, conhecimento de V. Ex. o triste e lamentavel acontecimento
com uma força de 20 praças e respeitou esse estado de que deu-se hontem nesta povoação por imprudencia do
cousas; porém mais tarde de meia-noute, chegou o chefe de subdelegado de policia e seus directores, como passo a
policia com mais de 20 ou 30 homens, que com o expor.»
destacamento do alferes Ayres, a guarda nacional, elevou a Hontem á tardinha desci á serra com o fim de exercer
mais de 100 praças, mandou cercar diversas casas um dos direitos mais sagrados do cidadão, depositar o meu
particulares, mandou escalar a igreja e arrebentar a urna, voto na urna para eleger 12 eleitores, que teem de dar esta
prendeu alguns individuos, varejou muitas casas e no outro freguezia e por occasião da reunião dos votantes de ambos os
dia installou uma nova mesa eleitoral, que fez uma segunda lados contendores sahiram em passeiata cada um dos lados
eleição, isto é, escreveu algumas actas. acompanhados de uma banda de musica conduzindo o lado
Tudo isso só refiro debaixo do ponto de vista de denominado miudo tres bandeiras, a nacional, uma
rectificar o que se conta no relatoria com relação ao conflicto, representando a agricultura e a outra os artistas, e o outro
porque ambas as eleições, tanto a começada pelos liberaes e lado uma encarnada, outra preta e uma branca.
conservadores e terminada depois, como a que o chefe de Deram-se dous encontros sem que de parte a parte se
policia mandou fazer, foram annulladas pela camara dos Srs. désse a menor alteração apesar do enthusiasmo e exaltação
deputados; e era o que se pretendia: não era tanto vencer, que se notava no grupo denominado graúdo.
pois não tinham com quem, mas inutilisar a victoria da Cheguei a acreditar que passaria todo o pleito sem
opposição. alteração attenda a moderação com que o chefe do 1º grupo
Com relação a Pacatuba tambem o relatorio do nobre empregara durante a passeiata; mas qual não foi a minha
ministro é incompleto e deficiente; faz carga á opposição sorpreza quando ás 10 horas da noute, pouco mais ou menos
conservadora; a lealdade e sentimento de justiça obrigam-me ouvi reboliço entre o povo, e logo bataria de cacetes!
a defender. Na Pacatuba não se deu a liga entre os liberaes e O grupo graúdo, dirigindo-se á casa do major Estevão,
os conservadores, porque não chegaram a um accôrdo a provocou uma luta desgraçada, e o outro collocando-se na
respeito de candidatos ao eleitorado; o partido liberal absteve- defensiva lutaram renhidamente sem que se podesse obstal-o,
se; ficou só a questão entre conservadores puros, de que era e no fim vi e lastimei o resultado; muitos ferimentos, e dizem-
chefe o major Estevão José de Almeida, chefe antigo do me que duas mortes do lado graúdo e uma do outro lado. Sei
partido conservador do logar, e o partido governista. O major com certeza desta por já ter feito o corpo de delicto no
Estevão de Almeida, juiz de paz, estava na noute de 17 de cadaver do infeliz!
Agosto em sua casa com diversos amigos e pessoas de povo, Depois da luta de cacetes o grupo graúdo desfechou
ás 9 horas da noute, quando recebeu uma descarga de alguns tiros de granadeiras sobre o povo, que, agrupado em
fuzilaria de um grupo de capangas graúdos reunidos ás numero muito avultado, admira como não tivemos de lamentar
praças de policia alli destacadas, que deixou moribundo um muitas victimas.
individuo e muitos feridos de bayonetas e de refle. Serenou Da parte da gente do lado miúdo não partiu um só tiro;
esse tumulto, mas algumas horas depois foi atacada de novo mas preparavam-se para uma represalia quando eu e o
sua casa, do que resultou a morte de outro individuo e vigario da freguesia fizemos arredar esse pensamento com a
ferimentos feitos em 14 pessoas. A este respeito, Sr. condição de ambos os lados conter seu povo. Hoje foi a matriz
presidente, eu me reporto aos documentos officiaes que tenho cercada para evitar ou prohibir a entrada do juiz de paz mais
aqui em grande cópia. Meu fim é unicamente rectificar, como votado major Estevão José de Almeida, a quem ameaçavam
tenho dito, os erros que vem no relatorio do nobre ministro com o escandalo de matal-o por meio de uma descarga e
com relação a esses acontecimentos de minha provincia, faziam-se repetidas provocações, para o que armaram a toda
erros que podem causar desar á opposição que pleiteou a a classe baixa que os cercavam, trazendo cada um por
eleição e foi victima no Ceará. distinctivo uma fita verde e tiracol.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): Nestas circumstancias para previnir muitas desgraças
– Eu me servi das communicações officiaes. instei com juiz de paz presidente do collegio, como cidadão
O SR. POMPEU: – Estou certo disso, não accuso a V. prudente, para que fizesse a eleição em uma outra casa
Ex.; mas quero mostrar quanto o governo é illudido e quanto particular com todas as formalidades, que, assim procedendo,
essas informações ás vezes são defeituosas e parciaes ou evitaria muitas victimas de ambas as partes que
como se escreve-se a historia official. Com esta rectificação inevitavelmente se dariam se fosse elle á igreja.
em defeza dos partidos historicos de minha provincia ou não O grupo miúdo a perder de vista era superior em
faço mais do que cumprir um dever, porque a maior parte numero e desarmado, e o outro armado e dirigido pelas
dessa defeza recáe em conservadores meus adversarios autoridades que impunham vergonhosamente e lançavam
politicos, que só accidentalmente estiveram ligados ao mão de todos os meios; sómente depois da chegada a esta
liberaes na época da eleição, e a quem neste momento do povoação de força publica commandada por um alferes do
testemunho de lealdade articulando a verdade a seu favor. Eis batalhão 14º cessaram mais as provocações, e jámais
aqui o que disse o juiz municipal
142 Sessão em 20 de maio

desassombrados julgamo-nos senão garantidos em melhores 4º Finalmente como estava armada essa força.
condições. Em obediencia á ordem de V. Ex. cumpre-me
Deus guarde a V. Ex. – Illm. Exm. Sr. commendador responder, que a força, que á requisição daquelle juiz de paz
João Wilkens de Mattos, muito digno presidente da provincia. lhe prestei, não foi da guarda nacional e nem do corpo de
– O substituto do juiz municipal, José Aquino de Souza. policia.
Disse elle ainda que depois prestou alguma força de Compunha-se de pessoas do povo, que convidei, reuni
paisanos para garantir a pessoa do juiz de paz, e que serviu e puz á disposição do major Estevão José de Almeida para
de garantia e manter a ordem, o que foi estranhado pelo garantirem sua pessa e especialmente para fazerem guarda á
presidente, como se vê dos officiaes seguintes (lendo): urna, como communiquei a V. Ex. em officio de 22.
«Illm. e Exm. Sr. – Em aditamento ao meu officio de 18 Não se tratando, pois, de uma força regular ou
do corrente, em que dei parte a V. Ex. dos lamentaveis arregimentada, mas de paisamos, não podia estar ella á
acontecimentos da noute de 17 do corrente, em que a força minha disposição, por ordem de alguem; reuni 50 homens por
publica dirigida pelo tenente Antonio Joaquim de Siqueira e prestigio proprio.
por ordem do subdelegado de policia Raymundo Fernandes Como autoridade do logar entendi que devia proceder
Corrêa de Araujo, atirou sobre o povo inerme, de que resultou assim, em razão de achar-se perturbada a ordem e
a morte de José Firmino Nogueira, alguns ferimentos graves e tranquillidade publica desde a noute do dia 17, em que o
muitos leves, julgo do meu dever communicar a V. Ex., que á destacamento do corpo de policia e 100 guardas armados,
requisição do 1º juiz de paz, major Estevão José de Almeida, sob o commando do tenente Antonio Joaquim de Siqueira, ás
prestei-lhe para garantia de sua pessoa e especialmente para ordens do subdelegado Raymundo Fernandes Corrêa de
fazer guarda á urna, uma força de 50 homens, que muito Araujo, fizeram fogo sobre o povo, que se reunia para a
contribuiram para a manutenção da ordem publica e eleição, resultando da fuzilaria a morte de José Firmino
regularidade da eleição presidida pelo mesmo juiz de paz, na Noqueira, victima de uma bala de espingarda Minié, e diversos
casa de sua residencia, e concluida hontem.» ferimentos, nos quaes procedi a corpo de delicto, que remetti
«Deus guarde a V. Ex. – Pacatuba, em 22 de Agosto ao Dr. juiz municipal do termo.
de 1872. – Illm. Exm. Sr. commendador João Wilkens de Não estavam armados esses 50 homens, que reuni e
Mattos, presidente da provincia. – O juiz municipal supplente, aos quaes fiz vêr, que só lhe seria licito armar-se e
José Aquino de Souza.» effectivamente o fizessem, como fosse possivel, no caso de se
dirigir qualquer partida da gente da policia contra o major
Palacio de presidencia, 27 de Agosto de 1872. – Estevão para offendel-o ou para apoderar-se da urna, porque
Recebi hoje o officio que Vm. dirigiu-me com data de 22 do neste caso a defeza é um direito, que a nossa legistação
corrente, dando-me parte de ter, á requisição do 1º juiz de paz consagra, e de que o cidadão não deve prescindir, maxime se
dessa parochia, o major Estevão José de Almeida, prestado o ataque é feito pelas autoridades incumbidas de garantir a
para garantir a sua pessoa e para fazer a guarda da urna uma segurança individual e os direitos politicos de todos.
força de 50 homens. Felizmente, como já disse a V. Ex. no citado officio de
Em resposta, ordeno a Vm. que, com urgencia, me 22, essa força de 50 pessoas, que ficaram com o juiz de paz,
informe: não teve necessidade de defendel-o.
1º Que força foi essa que Vm. prestou ao referido juiz Com a sua presença impozeram respeito aos
de paz, se pertencente á guarda nacional ou ao corpo de desordeiros, que haviam matado o infeliz Nogueira, e
policia; contribuiram para o restabelecimento da ordem.
2º Quem poz essa força á disposição de Vm. e desde Deus guarde a V. Ex. – Pacatuba, 31 de Agosto de
quando; 1872. – Illm. Exm. Sr. commendador João Wilkens de Mattos,
3º Em que disposição de lei se fundou Vm. para presidente da provincia. – O 2º substituto do juiz municipal,
prestar ao mesmo juiz de paz a força de que trata: José Aquino de Souza.
4º Como estava armada essa força.
Deus guarde a Vm. – O presidente João Wilkens de Illm. Exm. Sr. – Remetto a V. Ex. as copias das actas
Mattos. – Sr. José Aquino de Souza, 3º supplente do juiz da eleição desta parochia, a que presidi, na qualidade de juiz
municipal do termo de Maranguape com exercicio especial em de paz mais votado do districto.
Pacatuba. Da primeira acta verá V. Ex. que em razão de ter sido
cercada a igreja pelo subdelegado de policia Raymundo
Illm. e Exm. Sr. – Tenho a honra de accusar o Fernandes Corrêa de Araujo com mais de 100 homens entre
recebimento do officio, que V. Ex. me dirigiu em 27 do soldados de policia, da guarda nacional e capangas armados
expirante mez, ordenando-me que informe com urgencia: de clavinotes e granadeiras, fornecidas de Maranguape,
1º Se a força, que prestei ao juiz de paz mais votado, mandei lavrar um edital, convocando as turmas que deviam
major Estevão José de Almeida, foi da guarda nacional ou do organisar a mesa, e os votantes para a casa de minha
corpo de policia. residencia, onde, comparecendo o povo, procedi á eleição
2º Quem poz essa força á minha disposição e desde com toda regularidade e escrupulosa observancia dos
quando. preceitos legaes.
3º Em que disposição de lei me fundei para prestar ao A impossibilidade de verificar-se a eleição na igreja,
mesmo juiz de paz a força de que se trata. donde, desde a vespera, a força, que a cercava, havia atirado
sobre o povo, matando a José Firmino Nogueira e ferindo a
muitos, determinou o meu procedimento de fazer a eleição em
outra parte e teria preferido qualquer edificio publico,
Sessão em 20 de maio 143

se aqui houvesse outra igreja ou casa de camara. Na falta dez praças que então somente tinha á sua disposição;
entendi que devia funccionar na minha propria residencia, effectivamente assim ella amanheceu no dia 18; mas á vista
mas em uma sala espaçosa, em que costumo dar audiencias do juiz de paz, dos eleitores e do povo cedeu desse intento.
e onde tambem as dá o juiz municipal supplente. Entraram o juiz de paz, os eleitores e o povo, formaram a
Correu a eleição regularmente, sendo a urna mesa e principiou a eleição regularmente. Não compareceu
guardada, ás portas abertas, e com a maior publicidade, por mais autoridade nem ninguem por parte do governo, a eleição
uma força de 50 praças, entre guardas nacionaes e pessoas correu placida nos dias 18 e 19 sem que por parte de
do povo, que, á requisição minha, foram prestados pelo juiz intitulado partido governista alguem apparecesse ou
municipal supplente José Aquino de Souza. reclamasse até que no dia 19 uma força militar, que se dizia
A eleição terminou no dia 21 ás 5 horas da tarde. destinada á villa do Cascavel mais adiante chegou da capital
Fazendo a V. Ex. esta communicação, cumpre-me de madrugada; vinda ao destacamento de policia com ella o
accrescentar que as autoridades e a força, que as cercavam, subdelegado dirigiu-se fardado ás 3 horas da madrugada a
notadamente o tenente da guarda nacional Antonio Joaquim igreja, fez abrir as portas, arrombou a urna e inutilisou o
de Siqueira, não só alttentaram de mão armada contra a processo eleitoral. Eis aqui, Sr. presidente a liberdade com
liberdade do voto, como perturbaram a ordem e tranquillidade que foi feita a eleição na minha provincia. Esse facto está
publica, fazendo fogo sobre o povo inerme, matando e tambem consignado em peça official; vou ler um officio
ferindo. dirigido á presidencia, no dia seguinte 20 installado o
Este crime não póde ser posto em duvida: deu-se ao subedelegado com a força na igreja fingindo uma outra mesa
ataque e da descarga de fuzilaria resultou a morte a que me com o juiz de paz do districto diverso, do Monte Mor, vedou o
referi, e muitos ferimentos. ingresso da mesa legal e dos votantes, e concluio ou fingiu
Foi o subdelegado em pessoa quem, de combinação concluir suas actas eleitoraes. Certamente não se pretendia
com o capitão Henrique Gonçalves da Justa, mandou atirar fazer prevalecer essa farça; porém obstar o resultado legal da
sobre o povo, da parte do qual não houve um tiro sequer. eleição opposicionista. Eis a communicação official da mesa
E’, pois, o subdelegado o unico responsavel pela parochial ao presidente da provincia.(Lê).
morte de José Firmino Nogueira: é o seu assassino, e todavia Villa do Aquiraz, 20 de Agosto de 1872. – Illm. e Exm.
não só continúa a exercer o seu cargo, como está Sr. – Sob a mais desagradavel impressão communicamos
continuando nos seus excessos criminosos, apoiado pela com urgencia a V. Ex. que hoje pela 3 1/2 horas da
força publica, que aqui se acha á sua disposição, com pasmo madrugada, o delegado de policia, João José de Medeiros e
de todos. subdelegado Antonio Celeriano Corrêa Lima, certos da
Entre os escandalos que praticaram, consta-me que insignificante minoria dos seus protectores e dos seus
simularam uma eleição feita na igreja, por um juiz de paz asseclas, mandaram que a força publica que para aqui veiu,
intruso, que não podia funccionar senão em meu segundo disse V. Ex., manter a ordem, invadissem a igreja
impedimento, hypothese que não ser verificou. matriz para não consentir que nós os mesarios da assembléa
E’ o que tenho a dizer a V. Ex. a quem Deus guarde. – parochial, continuassemos nos trabalhos eleitoraes com a
Pacatuba, 23 de Agosto de 1872. – O 1º juiz de paz, Estevão regularidade com que marchavamos effectivamente a força
José de Almeida. de tropa de linha e cerca de sessenta pessoas do povo
Vê-se, portanto, Sr. presidente que a disposição das armados com granadeiras pertencentes ao 1º batalhão da
autoridades da Pacatuba é muito differente daquella que o guarda nacional do municipio da capital unidos a uns cem
nobre ministro recebeu e nos transmittiu em seu relatorio. A homens armados com cacetes, a todos os quaes, de
eleição da Pacatuba foi tambem annullada pela camara dos proposito, as referidas autoridades tinham mandado dar
deputados, tanto uma como outra eleição, isto é, a do 1º juiz caxaça, invadiram aceleradamente a igreja matriz, onde
de paz conservador e do partido governista chamado graúdo; achava-se a força de policia, e com estas postaram-se os
o partido do governo ganhava a eleição quando inutilisava a soldados de baionetas caladas, na unica porta aberta da
da opposição. Era este o plano, que sortiu afinal bom effeito. mesma matriz, ficando grande numero das demais pessoas
A respeito de Aquiraz tambem devo referir um facto e mencionadas no recinto da sobredita matriz conjunctamente
comproval-o officialmente, para que o senado e notavelmente com as mencionadas autoridades policiaes, estando o proprio
o nobre ministro do Imperio conheçam a liberdade que reinou delegado fardado com a farda de alferes da guarda nacional e
no processo eleitoral do Ceará e como se procedeu á eleição armado de espada e rewolver.
em grande parte das parochias de minha provincia e se é Feito isto com dissonante voseria e grande ostentação
possivel ainda á S. Ex. conceber a esperança de remover do escandalo com que calcavam aos pés a lei, violada a urna
todos os inconvenientes que resultam do actual processo pelos assaltantes, cercaram a igreja, e conservando-se assim,
eleitoral por meio de seus toques e retoques, grupos de 25 não consentiram que hoje o juiz de paz mais votado Manoel
etc. etc. José de Freitas Ramos presidisse a mesa da assembléa
Tambem no Aquiraz não houve liga, esta villa dista da parochial, obstando por meio da força a entrada delle na
capital 6 ou 7 legoas. Alli os liberaes não chegaram a um matriz, entretanto que criminosamente funccionava uma mesa
accordo com os conservadores relativamente aos candidatos parochial illegalmente constituida, sob a presidencia do 2º juiz
ao eleitorado; abstiveram-se os liberaes; o pleito correu por de paz do districto do Monte Mór, Domingos Carneiro de
conta dos conservadores que tinham todo o collegio eleitoral, Souza, que logo pela madrugada ficou dentro da matriz com
as qualificações, o juizo de paz, todos os elementos de muitas outras pessoas. Ora, como todo este procedimento
victoria desde que não tinham o partido liberal em seja criminoso e attentatorio da liberdade do voto, liberdade
competencia. No dia 17 de Agosto o delegado de policia quiz que o governo do
obstar a eleição cercando a igreja; com as
144 Sessão em 20 de Maio

nosso infeliz paiz prometteu garantir, assim o communicamos No dia 18 os abaixo assignados confiados nas
a S. Ex. para que se sirva dar as providencias que o caso fementidas promessas da parte de V. Ex. em nome do
requer. governo imperial, acceitaram os lugares dos membros da
Concluindo, temos a satisfação de fazer ver a V. Ex. mesa eleitoral para que foram eleitos pelos supplentes e
que a facção aulica só póde vencer eleição nesta parochia eleitores desta parochia e deram principio, sob a presidencia
contando com a impunidade, offendendo a magestade da do 1º juiz de paz Lourenço Ferreira do Valle, aos trabalhos
justiça e empregando, além da corrupção, a violencia e a eleitoraes, não obstante achar-se a matriz occupada por uma
compressão. grande força de linha, policia e guarda nacional, em numero
Deus guarde V. Ex. – Illm. Exm. Sr. commendador de 70 praças sob o commando de um sargento do 14º
João Wilkens de Mattos, presidente da provincia do Ceará. – batalhão e a intervenção directa desta força fazendo votar
Manoel José de Freitas Ramos, juiz de paz presidente. – José individuos não qualificados; todavia os partidos da opposição
Antonio Vianna, secretario. – Manoel Francisco da C. não desanimavam e o pleito eleitoral corria sem outras
Gadelha, mesario. – Simplicio da Costa Gadelha, mesario. irregularidades, quando hoje 23 chegando dessa capital ainda
Neste documento expõe a mesa com escrupulosa um reforço de 9 praças do batalhão 14º sob um novo
exactidão o attentado praticado pelo delegado de policia, o commandante, aquartellou na matriz; as 9 horas os abaixo
celeberrimo João José de Medeiros, que commandou, em assignados apresentaram-se na matriz, onde já encontraram o
pessoa, a assalto a igreja, de que se apoderou, violando a juiz de paz com alguns individuos, foi-lhes facultada a entrada
urna e impedindo que os ditos mesarios continuassem na na igreja e depois de aberta a urna e feito o exame de
eleição. costume convidamos o juiz de paz para continuar os
Foi assim, Sr. presidente, que o governo conseguiu trabalhos, proseguindo na chamada dos votantes.
inutilisar a eleição de Aquiraz, e era meio caminho andado Em resposta intimou-nos o tal juiz, em nome do
para seus fins, para o vencimento da chapa graúda- governo, de quem havia (dizia elle) recebido instrucções, que
governista. A eleição foi annulada, como a governista. nos retirassemos, pois que o governo (textuaes) queria a
Quanto a Cascavel, o facto foi ainda mais eleição fosse como fosse: oppuzemo-nos a tão inqualificavel
escandaloso. Esta villa dista da capital 14 leguas. A principio o absurdo, e continuámos assentados em torno da mesa; vendo
delegado de policia de Cascavel e o commandante superior então o juiz de paz que estavamos resolvidos a não ceder
não tinham força sufficiente para obterem a eleição; mas nossos logares, ordenou a 10 soldados que nos rodeavam
começaram por cercar no dia 18 a igreja com 30 praças; mas armados que á força nos deitassem fóra da igreja, e
os partidos historico-conservador e liberal ahi então reunidos, effectivamente sendo cada um dos abaixo assignados
penetrando o assedio da igreja, constituiram a mesa e fizeram agarrados por dous soldados, fomos conduzidos á força até
a eleição que proseguiu regularmente nos dias 18 até 23, e fóra da igreja.
estava-se na ultima chamada, quando da capital chegando um Qualifique V. Ex. tão inaudita violencia, V. Ex. que foi o
reforço engrossado pelo destacamento de Aquiraz, depois do primeiro a recommendar em peças officiaes a liberdade do
assalto á matriz daquella villa, que reuniu-se ao pequeno voto e a propalar a não intervenção da força armada ao pleito
destacamento que já havia em Cascavel, e decidiu-se da sorte eleitoral, que os abaixo assignados deixam de o fazer
da eleição. A igreja é cercada por maior força ás 10 horas, por respeitando a primeira autoridade da provincia.
ordem do delegado, e quando a mesa começava a funccionar, Os abaixo assignados com o que veem de dizer não
o proprio juiz de paz e delegado intimaram que sahissem os esperam por certo do criminoso a punição do crime, só teem
mesarios, porque o governo queria a eleição. Os mesarios em vista fazer saber ao paiz que continuamos em pleno
tentaram resistir, mas elles lhes disseram: «E’ inutil a despotismo.
resistencia e nos obriga a empregar a força.» Dous soldados Deus guarde a V. Ex. – Illm. Exm. Sr. commendador
travaram dos braços de cada mesario, levaram-os para fóra João Vilkens de Mattos, M. D. presidente. – Os mesarios,
da igreja e assim inutilisou-se a eleição. Eis-aqui o officio de Raymundo Theodorico de Castro Silva. – José Francisco
uma autoridade de Cascavel que refere o facto. Como o nobre Soares Dantas. – Gervasio Chisogno Ribeiro de Assis. – José
presidente do conselho não acredita senão em documentos Cassiano de Castro Silva.
officiaes, eu quero ministrar ao governo estes documentos que Eis os officios do commando superior da guarda
não podem deixar de ser bem aceitos, porque o governo não nacional do Cascavel, que comprehende os termos do Aquiraz
deve ter duas bitolas para aferir as peças officiaes, e Cascavel, desmascarando o trama urdido pela policia e
acreditando sómente as de seus co-religionarios. officiaes subalternos a fim de prestarem força sem audiencia e
Destes officios da mesa e do commandante superior conhecimento do commando superior. O governo veja, o
se vê a violencia de que aquella foi victima para se inutilisar a senado e o publico saibam como correu a eleição do Ceará.
eleição já quasi concluida, e quanto até a desordem e São peças officiaes e de autoridades conservadoras e
indisciplina militar se poz em obra desobedecendo officiaes governistas.
subalternos as ordens do superior. (Lê): N. 1. – 2ª secção. – Copia. – Provincia do Ceará.
Villa do Cascavel, 23 de Agosto de 1872. – Illm. e Palacio da presidencia, 3 de Setembro de 1872. – Illm. Sr. –
Exm. Sr. – Os abaixo assignados membros da mesa eleitoral Haja V. S. de informar-me, com urgencia, ouvindo os
com certo estremecimento de indignação vem levar ao commandantes dos batalhões que lhe são subordinados; 1º
conhecimento de V. Ex., e mesmo protestar contra a violencia qual a autoridade policial do termo do Cascavel, ou do
que em nome do governo se lhes fez hoje na Igreja matriz Aquiraz, que lhe requereu força para manter a ordem publica
desta villa. durante o processo eleitoral que começou no dia 18 de Agosto
proximo passado; 2º quantas praças foram requisitadas, e
quantas effectivamente prestadas, se armadas ou não; 3º que
armamento tem os corpos subordinados a esse commando
superior, ou se existe, e desde quando.
Sessão em 20 de Maio 145

– Deus guarde a V. S. – O presidente, João Wilkens de Confrontados o officio n. 2 com os de ns. 3 e 4 fica
Mattos. – Sr. coronel Luiz Liberato Ribeiro, commandante manifesto, que foram trinta e não treze as parças fornecidas
superior da guarda nacional do Aquiraz. – Conforme, José ao delegado de policia por aquelle commandante.
Francisco Soares Dantas, servindo de capitão secretario. Entretanto posso assegurar a V. Ex. invocando o
testemunho das pessoas mais distinctas do logar, que o
RESPOSTA. numero de guardas nacionaes, que compareceu na matriz, na
occasião em que foi expellida a mesa parochial, excedia
Quartel do commando superior da guarda nacional muito de trinta, todas armadas de granadeiras que vieram de
dos municipios do Aquiraz e Cascavel, em 21 de Setembro de fóra; pois aqui não as tem os corpos da guarda nacional e
1872. – Illm. e Exm. Sr. – Em officio n. 6 de 3 do corrente me nem as autoridades policiaes.
recommenda V. Ex., que, ouvindo os commandantes dos Com relação ao batalhão n. 30, que tambem é
batalhões que me são subordinados, informe com urgencia. subordinado a este commando superior, nada posso dizer de
1º Qual a autoridade policial do termo do Cascavel ou positivo; porque sendo o corpo commandado pelo capitão
do Aquiraz, que requereu força para manter a ordem publica fiscal, Lourenço Ferreira do Valle, que foi o juiz de paz
durante o processo eleitoral; presidente da eleição, este nos officios que me dirigiu, (cópias
2º Quantas praças foram requisitadas e quantas ns. 3 e 6) declara ter passado o commando ao capitão José
effectivamente prestadas, se armadas ou não; Balthasar Augeri de Saboia, que, por sua vez, contesta o
3º Que armamento tem os corpos subordinados a este facto, cópia n. 7.
commando e desde quando. E’ o que tenho a informar a V. Ex. com exactidão. –
Em resposta tenho a honra de transmittir a V. Ex. por Deus guarde a V. Ex. Illm. Exm. Sr. commendador João
cópia authentica os officios que neste sentido recebi dos Wilkens de Mattos, presidente da provincia. O commandante
tenente-coroneis João da Silva Menezes, commandante do superior, Luiz Liberato Ribeiro.
batalhão n. 5 do municipio do Aquiraz e Francisco Xavier de «CÓPIA. – Quartel do 5º batalhão da guarda nacional
Castro e Silva, commandante do batalhão n. 31 do Cascavel. do Aquiraz, 15 de Setembro de 1872. – Illm. Sr. – Em
O primeiro declara (copia n. 1.) que nenhuma resposta ao officio de V. S. de 12 do corrente, hoje por mim
autoridade policial lhe requesitou força, durante o processo recebido, tenho em resposta a dizer a V. S. quanto ao 1º
eleitoral, que começou em 18 de Agosto ultimo; mas que é quesito, que autoridade alguma policial me requisitou força
certo ter-se apresentado na igreja força armada da guarda alguma, durante o processo eleitoral; que começou no dia 18
nacional, sendo o armamento fornecido pelo delegado, visto de Agosto proximo passado; porém, todavia se apresentou
não o ter o referido batalhão. força armada da guarda nacional na igreja; ao 2º fica
O segundo declara (copia n. 2.) que tendo-lhe o respondido pelo primeiro; ao 3º em resposta tenho a dizer que
delegado de policia, em exercicio, requisitado 30 praças, não ha neste commando armamento algum, sendo o
apenas poude apresentar 13, e não armadas, visto não ter armamento ministrado aos guardas nacionaes pelo mesmo
armamento algum no corpo do seu commando. delegado, é pois o que tenho a dizer a V. S.
A este respeito julgo do meu dever levar ao Deus guarde a V. S – Illm. Sr. Luiz Liberato Ribeiro,
conhecimento de V. Ex. para completar esta informação, que dignissimo commandante superior. – O tenente coronel, João
o tenente coronel commandante do batalhão n. 31 não foi da Silva Menezes.»
desta vez, fiel a verdade, como passo a demonstrar. COPIA. – Quartel do commando do batalhão n. 31 da
Da copia n. 3, verá V. Ex., que, em 20 de Agosto, esse guarda nacional da villa do Cascavel, em 14 de Setembro de
official me deu parte, de ter na mesma data, prestado ao 1872. – Illm Sr. – Em observancia ao officio de V. S., datado
delegado de policia, 30 guardas nacionaes que lhe foram de 12 do corrente e recebido hoje, no qual determina com
requisitados, nos termos do decreto n. 1354 de 6 de Abril de urgenia e praso improrogavel de 24 horas, informasse a V. S.:
1854. 1º, qual a autoridade policial do termo desta villa que me
Da copia n. 4, verá tambem V. Ex. que o dito requisitou força para manter a ordem publica durante o
commandante, ás observações que lhe fiz sobre a processo eleitoral, que começou no dia 18 de Agosto do
inconveniencia de prestar a força a autoridade policial não se corrente anno; 2º, quantas praças foram requisitadas e
dando o caso de alteração da ordem publica, me respondeu quantas effectivamente foram prestadas, se armadas ou não;
não só que havia prestado a força requisitada (trinta praças) 3º, que armamento tem o corpo subordinado ao meu
com que não lhe competia duvidar das causas, que para pedir commando, ou se existe e desde quando. Cumpre me
aquella força tivera a autoridade policial, que seria responder: ao 1º, que foi por requisição do delegado de
responsavel, pelo seu acto perante o governo. policia em exercicio neste termo; ao 2º, que foram-me
Cumpre ainda ponderar, que tendo-me conservado na requisitadas 30 praças, porém apenas pude apresentar 13 e
villa de Cascavel, durante o processo eleitoral, não foi regular não armadas; ao 3º, que armamento algum existe no corpo do
o procedimento que teve esse commandante do corpo, de meu commando; julgo ter satisfeito o que por V. S. é exigido.
fornecer a força sem ordem minha, por quanto a disposição Deus guarda a V. S. – Illm. Sr. coronel Luiz Liberato Ribeiro,
do art. 23 do regulamento n. 1354 de 6 de Abril de 1854, em commandante superior do Cascavel e Aquiraz. – O tenente-
que elle pretende apoiar-se, só lhe permitte prestar força, sem coronel commandante, Francisco Xavier de Castro Silva.
intervenção do commandante superior, quando as COPIA. – Quartel do commando do Batalhão n. 31 da
autoridades civis requisitarem auxilio, em casos repentinos ou guarda nacional do Cascavel, 20 de Agosto de 1872. – Illm.
que não admittam demora; hypothese, que não se verificou Sr. – Nesta data prestei 30 guardas nacionaes do
na occasião.
146 Sessão em 20 de Maio

batalhão sob meu commando ao delegado de policia do termo qual affirmava e com V. S. mesmo provava ter eu passado o
desta villa, que me requisitou nos termos do decreto n. 1,354 commando do batalhão ao capitão José Balthazar Augery de
de 6 de Abril de 1854. Deus guarde a V. S. – Illm. Sr. coronel Saboia, de novo V. S. diz-me que não tendo o referido capitão
Luiz Liberato Ribeiro, commandante superior da guarda recebido o officio da minha communicação segundo acabava
nacional. – O tenente-coronel commandante, Francisco de officiar a V. S. e que mui terminantemente ordenava-me
Xavier de Castro Silva. que declarasse o nome do guarda nacional portador do
COPIA. – Quartel do commando do batalhão n. 31 da referido officio ou qualquer documento que comprovasse a
guarda nacional do Cascavel, 12 de Agosto de 1872. – Illm. referida entrega, ficando eu desde já responsavel pela falta
Sr. – Ordena V. S. em officio desta data, que informe se, a que houver. Cumprindo um dever a que sou obrigado, declaro
despeito da ordem contida no seu officio de hontem, em a V. S. que precisamente não me posso recordar qual o
resposta á minha communicação, em que dava sciencia de guarda portador do referido officio do capitão Saboia, o que
haver prestado trinta praças ao delegado de policia, nos estaria fóra de questão se houvesse o costume de exigir
termos do decreto de 6 de Abril de 1854, effectivamente recibo, o que protesto por uma tal necessidade de ora em
prestei essa força, que V. S. julga menos regular, visto não ter diante, que passei o exercicio do commando do batalhão n.
havido rebelião, nem perturbação da ordem publica, unicos 30 ao capitão Saboia, é inegavel e mesmo a V. S. declarei,
casos prescriptos na ordem do dia desse commando superior em 19 de Agosto ultimo, na Igreja matriz por occasião de V.
e portaria da presidencia. Em observancia cumpre-me dizer a S. fazer-me a pergunta se eu não tinha passado o commando
V. S., que de facto prestei immediatamente a força requisitada ao capitão Saboia, ao que respondi que sim, que o capitão
pelo delegado, em face dos termos, em que me foi feita Saboia de 13 de Agosto para cá, tem feito de commandante
aquella requisição, a qual tinha o dever de tomar devida do corpo, é tambem inegavel mandando como mandou
consideração. Pela materia do meu precitado officio, V. S. notificar ou dando ordens para serem notificados guardas
terá comprehendido, que, depois de prestar a força, foi que fiz nacionaes para a guarda da urna no dia 18 de Agosto
a communicação. Parece que a este commando não proximo passando, não posso, pois, comprehender como o
competia duvidar das causas que a autoridade teve para pedir capitão Saboia tenha toda a fé para V. S., e eu a deixe de ter
aquella força; e se a mesma autoridade commetteu um não crendo, pois, que assim seja, só espero justiça. Deus
abuso, o que não posso acreditar, será responsavel pelo seu guarde a V. S. – Illm. Sr. coronel Luiz Liberato Ribeiro, digno
acto perante o governo. – Deus guarde a V. S. – Illm. Sr. commandante superior do Cascavel. – O tenente do batalhão
coronel Luiz Liberato Ribeiro, commandante superior da n. 30, Lourenço Ferreira do Valle.
guarda nacional do Cascavel. – O tenente-coronel
commandante. – Francisco Xavier de Castro Silva. COPIA. – Cascavel, 15 de Setembro de 1872. – Illm.
Sr. – Em resposta ao officio de V. S. datado de hoje, tenho a
COPIA. – Cascavel, 14 de Setembro de 1872. – Illm. dizer que não recebi communicação alguma do fiscal do
Sr. – Nesta data me foi entregue o officio de V. S., com o feixo corpo, para entrar no commando do batalhão n. 30. E’ o que
de 12 do corrente, ordenando-me para informar a V. S. no me cumpre responder a V. S. Deus guarde a V. S. – Illm, Sr.
praso de 24 horas, se passei ou não o exercicio do Luiz Liberato Ribeiro, digno commandante superior da guarda
commando do batalhão n. 30 ao official competente durante o nacional deste municipio e do Aquiraz. – O capitão da 1ª
tempo de meu emprego como juiz de paz no trabalho da companhia, José Balthazar Augery de Saboia.
assembléa parochial, que teve principio no dia 18 de Agosto Esta eleição tambem, creio que foi annulada pela
ultimo, em resposta cumpre-me responder a V. S.: que com camara dos Srs. deputados; era o fim a que se propunha
quanto por força do aviso de n. 300 de 13 de Setembro de então o governo na provincia; onde não podia vencer e podia
1856 podesse accumular ambos os exercicios e como tal inutilizar, inutilisou-se.
tomar parte nos trabalhos eleitoraes, todavia no dia 13 de Por esta occasião, Sr. presidente, não posso deixar de
Agosto ultimo passei o exercicio do commando do batalhão tomar em consideração uma grave accusação produzida aqui
ao capitão José Balthazar Augery de Saboia, como verá V. S., pelo meu illustre collega do Ceará o Sr. senador Jaguaribe,
da copia junta acrescendo que para provar o que acabo de com relação a dous distinctos cearenses, a respeito da
dizer o capitão Saboia no dia 18 de Agosto declarou ao remessa de uma porção de armas do Aracaty para o
delegado de policia desta villa que achava-se no commando Cascavel no mez de Agosto ou Junho.
do batalhão, e como tal já tinha mandado notificar alguns S. Ex., lendo um recibo commercial de uma porção de
guardas nacionaes, para ajudarem a guarda a urna, cujo armas compradas no Aracaty pelo Sr. Dr. Miguel Joaquim
procedimento foi expontaneo de V. S, a confissão feita por V. d’Almeida e Castro, um dos proprietarios mais ricos, das
S. no dia 19, de ter sido notificados os guardas alludidos por pessoas mais distinctas d’aquella cidade, remettidas para
ordem de V. S., em cuja occasião V. S. exigiu saber de mim Cascavel a um negociante d’esta villa o Sr. Aderbal Tito de
se eu tinha passado o commando do batalhão ao que Castro Silva quiz tirar d’este facto inducção de que no
respondi a V. S. que sim, entendo ter assim satisfeito o Cascavel se preparavam com força, e armamento, para
quanto de mim exigiu. – Deus guarde a V. S. – Illm. Sr. fazerem a eleição.
coronel Luiz Liberato Ribeiro, commandante superior do A prova em contrario a esta inducção está no facto de
Cascavel. – O capitão fiscal, Lourenço Ferreira do Valle. que parte da opposição do Cascavel não appareceu nem um
canivete, não houve a menor perturbação; a menor
COPIA. – Villa do Cascavel, 17 de Setembro de 1872. resistencia ás provocações da policia até o ultimo acto da
– Illm. Sr. – Acabo de receber o officio de V. S. desta data, em dispersão a mesa.
resposta ao meu officio de 15 do corrente, no
Sessão em 20 de Maio 147

O SR. JAGUARIBE: – A remessa d’esse armamento Eis o officio do juiz de paz:


com cartuchame, em vesperas de eleição, não quer dizer Illm. e Exm. Sr. presidente. – Participo a V. Ex. que no
nada? dia de hoje, tendo-se reunido dentro da igreja matriz os
O SR. POMPEU: – Mas o facto demonstra que, se eleitores e cidadãos que exercem o direito de votar, que a
essas armas foram para Cascavel, tinha outro fim, como era constituição garante-lhes, ficamos, eu e todos os mais,
natural, porque eram armas finas do commercio. tristemente impressionados pela presença de uma força de
O SR. JAGUARIBE: – E o cartuchame? quarenta praças mais ou menos, de baioneta calada, sob o
O SR. POMPEU: – O que é certo é que em Cascavel commando do commandante do destacamento tenente
da parte da opposição não se apresentou a menor resistencia; Augusto José de Souza, postadas no adro da igreja, segundo
quando os soldados de ordem da policia travaram do braço as ordens do delegado de policia, capitão Candido Carneiro
dos mezarios e levarão-os á força para fora do templo, elles Monteiro Pirão; e tendo eu tomado assento á cabeceira da
não resistiram, nem ninguem por elles; e era tal o espirito da mesa para dar principio aos trabalhos da eleição, por ordem
legalidade que alli reinava, que apesar da eleição estar quasi do delegado a força armada accommetteu a igreja e nas
concluida ao quinto dia e quando se deu a violencia, não pontas das baionetas expelliu o povo e eleitores
foram apurar em outra parte. completamente inermes, dando incontinenti ordem de fogo
Sr. presidente, não me occuparei da eleição de outros não só o delegado de policia já mencionado, como o
pontos, como Aracaty, Vicoza, Ipú, etc, porque, como disse, subdelegado Bonifacio Francisco da Rocha e o commandante
eu não venho julgar um processo findo, e nem quero levar do destacamento.
mais longe esta discussão, venho, repito, só rectificar as Deste conflicto resultou a morte de um homem do povo
imformações que o nobre ministro teve, e em virtude das e de um soldado, além de dez ou doze ferimentos mais ou
quaes escreveu o seu relatorio. menos graves em pessoas do partido conservador, que,
O SR. JAGUARIBE: – Refutou muito mal. apezar de sua superioridade numerica, não dispunha de uma
O SR. POMPEU: – Ah! ainda mesmo com as peças só arma para repellir a aggressão da força publica, que por
officiaes? Quando articulo aqui factos por sciencia propria, por ordem das autoridades policiaes desta cidade foi augmentada
informações particulares, diz-se: é paixão; quando apresento com algumas praças do Pereiro, Lavras e Telha, e soldados
documentos officiaes, de autoridades insuspeitas, diz-se: desertores que estavam aqui presos.
refutou muito mal! O que querem, pois? Podia referir todos Todos estes factos foram praticados publicamente,
estes factos por minha autoridade propria; porque delles sabia havendo a respeito delles innumeras testemunhas de vista.
pelas publicações da imprensa, não quiz fazel-o para que o A força publica, Exm. Sr., que deveria ser arredada da
nobre presidente do conselho não perguntasse, como igreja matriz segundo as ordens de V. Ex., foi o apoio de que
costuma: que é dos documentos? Trago, portanto os serviram-se as autoridades policiaes para provocarem a
documentos authenticos que offereço á consideração do desordem e espingardearem o povo; desde muito que
senado; por elles, e não pelo que diz o relatorio e pela victoria ostensivamente se procuravam armas e munições com
da camara é que a posteridade ha de julgar. ameaças por parte das autoridades policiaes para expellirem
A respeito do Icó, de que se occupa o relatorio, da igreja os conservadores e liberaes que, confiados em
tambem a informação é inteiramente inexacta. No Icó, Sr. palavras e ordens as mais expressas e terminantes de V. Ex.,
presidente, os partidos estavam reunidos; não havia contra se presumiam garantidos para concorrerem ás mesas
opposição senão a autoridade policial. Esta autoridade eleitoraes.
prevaleceu-se do destacamento, de uma força de 40 praças, Eu proprio fui levado até o altar mór, nas pontas das
de linha ou de policia, que se achava na localidade, e a bayonetas, tendo sido ao sahir do templo, desfechados sobre
mandou postar na porta da igreja no dia da eleição. mim diversos tiros da soldadesca açolada pelo delegado de
Começada a eleição, a tropa travou conflicto com alguem do policia e commandante do destacamento.
povo á porta da igreja. Depois do morticinio retiraram-se impunemente os
O SR. JAGUARIBE: – Com um criminoso de morte... assassinos e sendo templo evacuado, continuei no processo
O SR. POMPEU: – Não duvido; mas não sei se... eleitoral, que vae correndo sem mais incidente e de cujo
O SR. JAGUARIBE: – ...que estava de seu lado. resultado darei opportunamente parte a V. Ex. e mais poderes
O SR. POMPEU: – Não sei de que lado estava. Mas competentes. – Deus guarde a V. Ex. – Illm. e Exm. Sr.
por que a policia o deixava livre? A tropa, como dizia, travou commendador João Wilkens de Mattos, M. D. presidente da
conflicto com alguem do povo que estava na porta da igreja; provincia. – Juizo de paz da cidade de Icó em 18 de Agosto de
fez fogo, morreram dous individuos; a eleição foi perturbada 1872. – Manoel Fellippe Bastos, 1º juiz de paz.
por este facto; suspendeu-se a mesa; que continuou no outro
dia. OFFICIO DA CAMARA MUNICIPAL AO PRESIDENTE DA
O SR. JAGUARIBE: – Está muito mal narrado; diga PROVINCIA.
que foi um assassino que matou um soldado, uma sentinella.
O SR. POMPEU: – Eu lerei a peça official; note-se que Illm. e Exm. Sr. presidente da provincia. – A camara
o juiz de paz não é liberal, não póde ser suspeito ao nobre municipal desta cidade, testemunha occular do procedimento
senador, era seu correligionario. Eis o que diz esta autoridade altamente criminoso das autoridades policiaes deste municipio
e tambem a camara toda conservadora.. e do commandante do destacamento tenente Augusto José de
Souza, pelo emprego abusivo da força no pleito eleitoral em
flagrante contravenção ás ordens de V. Ex., vem representar
contra esse mesmo procedimento criminoso, e pedir á V. Ex.
salutares providencias no sentido
148 Sessão em 20 de Maio

de serem severamente punidos os autores de tão gráve e evitando-se qualquer transgressão á lei e violencia a
inaudito attentado contra a liberdade do voto. liberdade do cidadão, que devia ser garantida e que V. Ex.
No dia 18 do corrente mez uma força armada de não toleraria a minima tendencia á fraude e nem a violação
quarenta praças mais ou menos, tendo á sua frente o dos direitos politicos:
commandante do destacamento tenente Augusto José de Tendo mais V. Ex. em sua citada circular sob numero
Souza e por ordem do delegado de policia capitão Candido 3 feito scientificar as autoridades que havia declarado ao Dr.
Francisco Carneiro Monteiro Pirão postou-se no adro da igreja chefe de policia, para os devidos effeitos, que as autoridades
matriz em attitude ameaçadora, e quando tinha de começar o policiaes não interviessem no processo da eleição, sendo seu
processo eleitoral sob a presidencia do 1º juiz de paz capitão unico encargo a manutenção da ordem publica, da liberdade
Manoel Felippe Bastos, foi o templo invadido pela força e segurança individual, fóra das matrizes ou logares onde se
publica que expelliu na ponta dos refles os cidadãos inermes, reunissem as assembléas de parochia; notando V. Ex. que,
dando logo em seguida não só o délegado, como o no caso de transgressão de suas ordens se participasse a V.
subdelegado e o commandante do destacamento ordem de Ex. circumstanciadamente qualquer abuso, violencia, ou
fogo ao destacamento que incontinente cumpriu intervenção praticada pela autoridade policial afim de ser esta
espingardeando o povo completamente desarmado. devidamente punida; e ordenando mais V. Ex. que nenhuma
Desse conflicto resultou a morte de um individuo de força armada se apresentaria nas proximidades das matrizes,
nome Antonio de Barros e de um soldado da força de policia sem que precedesse requisição por escripto da mesa
além de 10 ou 12 ferimentos, tendo miraculosamente parochial, a qual deveria no officio que dirigisse a autoridade
escapado de serem victimas não só da força publica, como de competente, declarar o motivo que a obrigasse a fazer
emboscadas postadas na casa do professor Thomaz Antonio semelhante requisição. – A vista das terminantes ordens de
de Carvalho, e em uma outra que tem alugada o capitão V. Ex. assegurando o fiel cumprimento da lei que garante em
Alexandre Ferreira Caminha, donde se fez logo contra o povo toda sua plenitude ao cidadão o livre exercicio de seus
inerme. direitos politicos; compareceram os cidadãos ao pleito
Esta camara tristemente impresionada leva ao eleitoral de 18 de Agosto na convicção que a lei fosse
conhecimento de V. Ex. tão grave attentado, e o maior abuso respeitada e executada em sua literal disposição e mantidos
que agentes da autoridade publica podiam praticar, quando os direitos dos cidadão. Entretanto deu-se um perfeito
justamente a população do municipio descançava nas contraste.
promessas de V. Ex. em que garantia-lhe plena liberdade do Nunca a autoridade policial armada da força publica
voto, e a mais completa abstenção da autoridade no pleito que pelo governo foi posta as suas ordens, ostentou tanto
eleitoral. Deus guarde a V. Ex. Paço da camara municipal poderio em conculcar a lei, as ordens superiores, e os direitos
desta cidade, em sessão extraordinaria em 19 de Agosto de dos cidadãos da opposição, como esta camara passa a
1872. demonstrar e a descrever com a devida fidelidade as mais
Vê, portanto, o nobre senador que, se a minha que desagradaveis occurencias que tiveram logar na matriz
exposição não é exacta, ella se firma em documento official desta villa. – No dia 18 de Agosto, pelas 9 horas da manhã,
de uma autoridade que não póde ser suspeita, porque não é teve logar o começo do processo eleitoral organisando a
meu correligionario e do juiz de paz da camara municipal, mesa parochial o juiz de paz mais votado desta parochia, na
pessoas mais importantes do Icó de seu lado. conformidade da lei e assim correu a eleição até as 6 ½ horas
Na freguezia de Quixadá, com quanto não houvesse da tarde, sem que se desse a menor occurrencia.
uma desordem lamentavel, deu-se tambem uma intervenção Corria, pois, o processo da eleição com toda
escandalosa da parte da autoridade policial do termo visinho, regularidade, quando no dia 19 chegou a esta villa o delegado
de Quixaradamobim. O delegado de policia deste termo de policia da cidade de Quixeramobim, acompanhado do
chegou a Quixadá, cercou a igreja, impoz a mesa que destacamento daquella cidade e mais alguns individuos
deixasse de continuar a eleição. Este facto consta tambem da armados para auxiliar a força do subdelegado de policia e
peça official, que se acha publicada nesta folha. Peço licença mais gente do lado do governo e por tal fórma assaltar a
ao senado para não a ler, porque estou muito fatigado, mas matriz expellir o juiz de paz presidente da mesa parochial e
como desejo rectificar os factos comcernentes a eleição da mais cidadãos opposicionistas. – Não teve, porém, logar o
mesma provincia em ordem a restabelecer o credito da attentado projectado pelas preditas autoridades por que
opposição, peço tambem licença para publicar no meu reconhecendo seu diminuto numero e disposição em que se
discurso essa peça official que serve de completar o historico achavam seus adversarios, de a todo custo e sacrificio
do processo eleitoral, senão de toda provincia, ao menos de exercerem seus direitos e aggredidos, repellir os aggressores,
algumas de suas freguezias. desistiram de seu premeditado attentado. – No citado dia 19
Eis o officio e os documentos: pelas 9 horas da manhã, não comparecendo os quatro
«Paço da camara municipal da villa do Quixadá em mesarios que pertenciam á parcialidade das autoridades
sessão extraordinaria, 13 de Setembro de 1872. – Illm. Exm. policiaes, o presidente da mesa parochial providenciou na
Sr. – Esta camara julga de seu imperioso dever levar ao fórma da lei e desde então correu o processo da eleição sem
conhecimento de V. Ex. as tropelias e violencias perpetradas que se désse o menor incidente. O facto dos quatro mesarios
pelas autoridades policiaes deste districto e municipio em não terem comparecido no segundo dia dos trabalhos da
monoscabo da lei, da justiça, direitos do cidadão e das ordens eleição foi originado pela certeza que tinham de não obterem
prévias de V. Ex. – Tendo V. Ex. feito sentir a todas as o triumpho da eleição; accrescendo mais a necessidade que
autoridades da provincia, por suas circulares sob ns. 1 e 3 de tinham de assignarem um papel com a denominação de –
Junho e 1º de Julho proximos preteritos, que o processo duplicata – que com muita antecipação haviam forjado nas
eleitoral que devia ter logar no dia 18 de Agosto e 7 de trevas por insinuações de seus directores dessa capital,
Setembro, corresse com a maior regularidade,
Sessão em 20 de Maio 149

segundo já corria de publico, e os jornaes haviam dado e que elle proprio não poderia escapar, teve de recuar de seu
publicidade com muita antecedencia ao dia da eleição. Esta criminoso projecto ordenando a força que lhe confiou o
camara passa agora a referir a V. Ex. as occurrencias que se governo, a retirada para o lado de fóra da matriz e postando-a
déram neste municipio, oito dias antes da eleição de 7 de á porta principal e unica que contém a frente da matriz;
Setembro inclusive o dia da eleição. No ultimo dia do mez de postando tambem sentinellas dobradas ás portas lateraes do
Agosto proximo findo, chegou nesta villa de regresso dessa mesmo templo, para assim inhibir a entrada dos cidadãos da
capital, Arcelino Alves Barreira, 3º substituto do juiz municipal, opposição. Longa e tenaz foi a luta por todo o referido dia em
e incontinenti grassou a noticia de nova autoridade policial, que por diversas vezes alterou a tranquilidade publica e
bem como de mais força publica, vinda da villa de Canindé e eminente o morticinio. A opposição que compõe a quasi
igualmente da cidade de Quixeramobim, que toda reunida a totalidade dos votantes desta parochia, confiando unicamente
força que aqui se achava, faria a eleição, que era do governo, na lei que lhe confere o livre exercicio de seus direitos
que assim o tinha ordenado e succedesse o que succedesse; politicos, conservava-se firme e inabalavel a não ceder aos
que a opposição se ousasse comparecer para pleitear a abusos e attentados da autoridade armada e aggressiva que
eleição, seria expellida pela força publica, é bayoneta, e balla. ostentava affrontar a lei, a justiça e os direitos de seus
– Descrever os terrores que as autoridades empregaram, adversarios, invocando sempre o nome do governo, que,
tropelias e violencias aos individuos que se negavam acceder assoalhavam, os autorisava a assim procederem.
aos convites das autoridades e seus partidarios, é materia Assim pois terminou o indicado dia 7 de Setembro,
assás desagradavel e interminavel. Apenas esta camara sem que o juiz de paz podesse encetar os trabalhos da
precisará um unico facto praticado por Vicente Enéas de eleição, por cujo inconveniente, e preenchidas as horas da lei,
Moraes Monteiro, escrivão interino do 3º substituto do juiz seis e meia da tarde, o juiz de paz procedendo na forma da
municipal de quem é concunhado. Vicente Enéas dirigiu-se á lei, fez publicar e afixar um edital, em que relatando os
serra do Estevão, que demora a quatro leguas desta villa e alli attentados por parte da autoridade publica que tinha motivado
com uma escolta invadiu a casa do cidadão Manoel Thomaz o não ter começo a eleição no dia destinado pela lei, passava
de Aquino, prendendo-o, amarrando-e com relhos, e assim o a communicar officialmente ao governo para que este
conduzindo á prisão desta villa, onde o paciente jazeu tres providenciasse como entendesse e designasse o dia em que
dias com os braços manietados; e fôra solto pelas proprias deveria ter lugar a eleição. – Com a resolução tomada pelo
praças do destacamento, porque a autoridade policial juiz de paz, o povo se retirou sem que occorresse a menor
nenhuma participação havia feito. Tendo porém sciencia novidade.
Vicente Enéas que a sua victima havia sido relaxada da O subdelegado, que tambem se havia retirado com a
prisão, dirigiu-se novamente á dita serra do Estevão com força, depois de fechada a matriz pela autoridade
nova escolta e por alta noite, invade a casa do dito Manoel competente, resolveu-se regressar á matriz pelo melhor das
Thomaz, prende-o, amarra-o e o conduz á cidade de oito horas da noite, e acompanhado de outro individuo, e na
Quixeramobim, onde ainda esteve o paciente cerca de dous hypothese que dentro existiam os livros de actas e da
dias preso. Apos semelhante arbitrariedade que a lei qualificação, violentou a porta principal, apitou pela força e
considera crime, mas que o autor ficará impune, passa esta disparou diversos tiros de rewolver; bradando em altas vozes
camara a inteirar a V. Ex. os factos que se deram no dia 7 de que arrastassem o cadaver para assim aterrorisar e fazer crer
Setembro por occasião da eleição para juizes de paz e que não hesitaria espingardear a aquelles que, porventura
vereadores da camara municipal. – A’s 9 horas da manhã do tentassem desalojal-o de sua conquista.
dia 7 de Setembro, auhando-se presente o juiz de paz mais Por toda noute bradavam as sentinellas álerta e
votado o capitão Thomaz de Magalhães Fontoura e passando prorompiam os vivas da autoridade policial e de seus
este a dar começo aos trabalhos da eleição, apresentou-se na directores pelo triumpho eleitoral que acabavam de obter e
matriz e subdelegado de policia tenente José da Silva Bezerra pela certeza que tinham da approvação do governo.
Leite, fardado e armado, acompanhado de toda força publica Não consta, Exm. Sr., dos annaes eleitoraes do
que havia chegado das localidades de Canindé e Imperio, que em tempo algum a lei, a justiça, os direitos do
Quixeramobim, e de cuja força era elle proprio commandante. cidadão e a moralidade publica fossem tão ostentosamente
– Ao tentar o subdelegado e commandante entrar e invadir o conculcados. Segundo os factos relativos ao pleito eleitoral
corpo da igreja com a força publica embalada e de bayoneta em todas as localidades desta provincia, consta pelos jornaes
callada para expellir o juiz de paz, cidadãos e apossar-se dos e immensas pessoas fidedignas que as autoridades policiaes
livros de actas e de qualificação, foi incontinenti obstado pelo teem, apoiadas na força publica, comprimido o voto livre,
juiz de paz e por mais de mil cidadãos dos dous partidos expellindo as legitimas mesas parochiaes que legalmente
historicos – liberal e conservador que se achavam dentro e funccionavam.
fóra nos corredores da matriz, travando-se uma luta renhida Em outras localidades substituiu o espingardeamento
que ameaçou perigo emminente de haver uma hecatombe, se ao voto livre, em outros pontos, onde a autoridade policial
a força publica ou o seu commandante e subdelegado ou com a força publica não podia assaltar as urnas, recorria-se
qualquer dos seus directores puzesse em execução seus ás fraudes denominadas duplicadas antecipadas, e assim a
attentados de expellir á força bruta o juiz de paz e mais autoridade policial autorisada com poderes descricionarios
cidadãos do seu lado politico e leval-os á bala e a bayoneta, teem impunemente constituido-se os legitimos funccionarios
como bradavam, que era ordens do governo, a quem da eleição, a despeito da lei e ordens superiores.
pertencia o triumpho da eleição. Felizmente o subdelegado Deus guarde a V. Ex. – Illm. e Exm. Sr. João Wilkens
reconhecendo que immensa seriam as desgraças que de Mattos, presidente da provincia do Ceará. – Laurentino
resultariam Belmonte de Queiroz, presidente. – José Pereira Lima. –
150 Sessão em 20 de Maio

Raymundo Joaquim de Almeida. – José Franklim da Silva de seu cargo, e conjunctamente todos os mais cidadãos que
Campos. – Jardilino de Queiroz Barreira. se achavam dentro e fóra da referida matriz, inclusive o
Certifico que em virtude da portaria supra que eram subdelegado de policia e commandante com toda sua força
mais de oito horas da noute do dia de hontem, quando teve publica. O referido é verdade do que dou fé. – Villa do
logar o arrombamento da porta principal e unica da frente da Quixadá, 7 de Setembro de 1872. – O escrivão de paz,
matriz, que fora perpetrado, o mencionado arrombamento pelo Manoel de Lemos de Almeida e Silva.»
subdelegado o commandante da força publica. O referido é Em Maria Pereira a eleição começou regular; durou um
verdade do que dou fé. – Villa do Queixadá, 8 de Setembro de dia; quando chegando o delegado, cercou a igreja, perturbou a
1872. – O escrivão de paz, Manoel de Lemos de Almeida e eleição, impoz a mesa a dispersar, e foi para casa forjar ou
Silva. fingir uma acta que ao menos servisse para neutralisar a da
Certifico que em virtude da portaria supra que o edital eleição verdadeira; o que é certo é que por este modo
de que trata a presente portaria é do teor seguinte: Edital. – O conseguiu que fossem nullas ambas as eleições daquella
capitão Thomaz de Magalhães Fontoura, juiz municipal mais freguezia. Tenho aqui tambem documento official da
votado desta parochia por eleição popular em virtude da lei, autoridade, participando este facto; mas, pela mesma razão
etc. Faço saber a todos os cidadãos desta parochia que não que já dei, não o lerei.
tendo sido possivel ter logar o começo da eleição no dia de Em S. Matheus deu-se cousa identica ou quasi
hoje designado por lei, para juizes de paz e vereadores da identica; o delegado vedou ou procurou por todos os meios
camara municipal em consequencia da luta tenaz e attentados obstar que a igreja matriz se abrisse, que a ella concorressem
perpetrados nesta matriz pela força de tropa do corpo policial, o juiz de paz e eleitores da parochia; mas, não podendo obstar
sob o commando do tenente da guarda nacional e que a igreja se abrisse, que começasse a funccionar a mesa,
subdelegado de policia em exercicio, José da Silva Bezerra tentou perturbal-a, e de tal sorte que afinal conseguiu que a
Leite, o qual desde as 9 horas da manhã até as presentes eleição ficasse nulla. Tenho aqui tambem documentos
horas, 6 1/2 da tarde, tem commettido diversas violencias e officiaes que provam o facto, e que hei de publicar no meu
tentativas para invadir o recinto do corpo da igreja matriz com discurso, deixando de lel-os pela hora já se achar muito
a força publica e assim expellir á força bruta os legitimos adiantada.
funccionarios e mais cidadãos da opposição; tomando os Illm. e Exm. Sr. – A camara municipal desta villa
livros de actas e de qualificação, o que tem dado logar e cumpre um dever que lhe impõe a lei de levar ao
originado bastantes conflictos com imminente perturbação da conhecimento de V. Ex. um acto de prevaricação commettido
ordem publica e perdas de vidas; chegando a mencionada pelo actual delegado desta villa Manoel Leite da Silva.
autoridade a bradar e repetir que a eleição era do governo, Achando-se no domingo passado 18 do corrente mez, dia
fosse como fosse, succedesse o que succedesse. A’ vista da designado para a eleição primaria, fechada a igreja, tendo o
pressão e attentados que acabam de ter logar, passo a respectivo parocho da freguezia cumprido as ordens do
communicar ao Exm. presidente da provincia tão governador do bispado, para abril-a quando fosse celebrar a
desagradaveis occurrencias pelo abuso e despotismo da missa do Espirito Santo e então seguir-se o processo eleitoral,
autoridade policial, afim de que S. Ex. providencie como o delegado referido, acompanhado de varios individuos
entender, e designe o tempo em que deverá ter logar a armados, pela manhã cedo foi arrombar ou quebrar a tranca
referida eleição. E para constar se lavra o presente edital que de uma das portas lateraes da igreja e penetrando nesta,
vai affixado na porta desta matriz. – Matriz da villa do colloca na porta principal da matriz esses homens armados,
Quixandá, 7 de Setembro de 1872, ás 6 1/2 horas da tarde, do conservando as demais portas todas fechadas, com o fim de
que dou fé. – Eu Manoel de Lemos de Almeida e Silva, impedir a entrada na igreja dos eleitores e votantes, e assim
escrivão de paz, o escrevi. – Thomaz de Magalhães Fontoura, obstar o processo da eleição. Effectivamente ás 9 horas,
juiz de paz mais votado. E nada mais se continha em o dito havendo-se dirigido o juiz de paz, eleitores e votantes á
edital, pois conferi e concertei com o proprio original, no qual matriz, ao chegarem alli, acharam a porta principal tomada
puz o meu signal publico. Em fé e testemunho de verdade. – pelos referidos individuos armados, que á ordem do delegado
Manoel de Lemos de Almeida e Silva. que se acha dentro da igreja, prohibiram o ingresso nesta do
Certifico em virtude da portaria supra, que hontem, mesmo juiz de paz, eleitores e mais povo. Em face de
pelas 6 horas 1/2 da tarde, foi por mim lido, publicado e fixado semelhante aggressão inaudita e attentatoria do direito
na porta da matriz o edital, que o Sr. juiz de paz mandou lavrar sagrado do cidadão, qual o de votar, as pessoas mais
pelo respectivo escrivão. O referido é verdade do que dou fé. salientes e conceituadas da multidão que se apresentava a
– Villa do Quixadá, 8 de Setembro de 1872. – O official de exercer esse direito que a lei lhe confere procuraram por
justiça, Joaquim José de Azevedo Sombra. – Reconheço a meios pacificos arredar esta autoridade que commettia um
firma supra ser a propria de Joaquim José de Azevedo desacato semelhante, desacato e crime tanto mais grave,
Sombra, por ter della inteiro conhecimento de outras iguaes quanto eram muito terminantes e expressivas as ordens de V.
em o meu cartorio com as quaes me reporto. O referido é Ex. para completa abstenção da policia, no processo da
verdade do que dou fé. – Villa do Quixadá, 8 de Setembro de eleição. O delegado, porém, a nada attendeu, e cada vez mais
1872. – Em fé e testemunho da verdade. – O tabellião publico. insufflando a esta gente armada, a indignação a acto tão
– Manoel de Lemos de Almeida e Silva. relevante, que immediatamente se manifestou na massa dos
Certifico em virtude da portaria supra que eram 6 1/2 eleitores e votantes reunidos em torno da igreja, levou-os a
horas da tarde do dia de hoje, quando teve logar a sahida do um acto de esforço, arrojando-se elles sob estes mesmos
Sr. juiz de paz da igreja matriz comigo escrivão individuos armados, apoderando-se de suas armas, e
desobstruindo assim a entrada da igreja, na qual penetraram o
juiz de paz e mais povo.
Sessão em 20 de Maio 151

dando-se em seguida começo aos trabalhos eleitoraes, que que dizia a esses individuos, que matassem e não
correram na devida ordem, havendo-se retirado em vista da consentissem ninguem entrar. Apoz algumas reclamações
attitude energica e decidida dos votantes o delegado e sua aconselhadas pela prudencia e consideração de muitos, em
gente. Felizmente neste incidente, que podia acarretar face da tenacidade do mesmo delegado, houve um acto
resultados funestos, não houve caso algum a lamentar-se; expontaneo de energia da parte dos circumstantes, que,
apenas alguns empurrões e soccos houveram. Não contente forçando estes individuos, poderam entrar todos na igreja sem
ainda o delegado com este acto criminoso por elle praticado, que felizmente pela exasperação dos mais importantes
fez espalhar pelas ruas desta villa esta mesma porção de homens da freguezia, se désse facto algum lamentavel como
individuos armados, que em numero mais crescido derigia era de esperar em presença deste acto inqualificavel do
insultos, fazendo provocação de toda casta ostentando delegado de policia. Retirando esta com seu sequito armado,
visivelmente que o fim principal era produzir a desordem e formando-se a mesa, correu o processo eleitoral na devida
assim perturbar os trabalhos eleitoraes. Consta mais a esta ordem; não deixando todavia de correr grande risco a
camara, com todos os indicios de certeza, que para essa tranquillidade publica, porque esse sequito armado por ordem
capital acaba de dirigir-se o mesmo delegado em companhia da policia percorreu em numero maior, durante o resto do dia
do inspector litterario Luiz Pereira Tito Jacome, que aqui se e dia seguinte, as ruas da villa produzindo maior alarma, pelos
achando tomou parte activa neste acto revoltante do delegado insultos e provocações que dirigiam. E’ esta uma verdade,
de policia, levando papeis, simulando a eleição feita aqui sob Exm. Sr. conhecida por toda a população desta villa e termo.
a presidencia de um juiz de paz do districto do Bom Jesus, da Fazendo esta communicação a V. Ex., não póde esta
Telha ou de outro visinho. Se taes actas, a ser exacta a noticia mesa deixar de dizer a V. Ex. que chega ao seu conhecimento
que corre, para fazer crer que houve tal eleição, foram ter partido ha pouco para esta capital o mesmo delegado em
porventura levadas á presença de V. Ex., esta camara desde companhia de Luiz Pereira Tito Jacome, levando papeis
já assegura a V. Ex. sob responsabilidade della que são assignados ou preparados, simulando uma eleição aqui feita
inteiramente falsificadas, forgicadas adrede pelo referido sob a presidencia de um juiz de paz do districto do Bom
delegado e mais outros, representando uma verdadeira farça Jesus, ou de outro visinho. A ser exacto o boato que corre,
eleitoral. A eleição que aqui acaba de haver foi a que presidiu esta mesa protesta perante V. Ex. ao governo imperial, contra
o 2° juiz de paz Joaquim Ferreira de Souza na falta do semelhante acto, que, se fôr verdadeiro, merece a mais
primeiro que não compareceu: e que correu com toda severa punição pela enormidade do attentado, pois nesta villa
regularidade durante estes dias; nenhuma outra houve na a eleição, a unica a que procedeu-se, na forma legal, foi esta
igreja, nem na casa da camara, nem em outro qualquer logar presidida pelo primeiro signatario deste officio, o que V. Ex.
que fosse isso conhecido; portanto, levando os factos poderá perfeitamente saber, se dignando mandar proceder a
ocorridos ao conhecimento de V. Ex., espera ella que se digne uma syndicancia pelas autoridades superiores desta comarca.
providenciar a respeito. Deus guarde a V. Ex. Illmo. e Exm. Sr. commendador
Deus guarde a V. Ex. – Paço da camara municipal de João Wilkens de Mattos, muito digno presidente desta
S. Matheus, em 24 de Agosto de 1872. – Illm. e Exm. Sr. provincia. – Joaquim Ferreira de Souza, presidente. – Gonçalo
commendador João Wilkens de Mattos, muito digno Martins dos Santos, secretario. – Manoel Rodrigues Pereira. –
presidente desta provincia. – Joaquim José Palacio. Joaquim de Paula Vianna Junior.
presidente. – Joaquim Diniz Maciel. – Estevão José da Matta. O SR. JAGUARIBE: – E’ um completo inquerito de
– José Gomes de Souza. – Joaquim Paz Sarrimento. – genere et moribus.
Manoel Ferreira de Souza. – Manoel Gomes de Souza Rocha. O SR. POMPEU: – Tenho por fim restabelecer factos
Mesa parochial da villa de S. Matheus, em 23 de com relação á eleição que se deu em minha provincia; quero
Agosto de 1872. – Illm. e Exm. Sr. – A mesa parochial desta mostrar com documentos officiaes, com provas irrecusaveis
villa leva ao conhecimento de S. Ex. um acto praticado pelo que a liga que se fez no Ceará nem perturbou a eleição em
delegado de policia, tenente Manoel Leite da Silva, com parte alguma, nem deixou de vencer em toda parte, que, se
relação á eleição que ultimamente se procedeu no dia 18 do por ventura em resultado seus esforços não foram coroados
corrente nesta mesma villa. Apesar das positivas em ultima instancia, é porque outra foi a causa que actuou,
recommendações e ordens de V. Ex. á autoridades policiaes para que a apuração se fizesse de modo que o senado sabe.
para que se abstivessem de ingerir-se no pleito eleitoral, salvo Ainda me resta fallar, Sr. presidente, de um facto muito
quando as mesas parochiaes a exigissem, o actual delegado grave, mencionado no relatorio do nobre ministro, que tambem
referido, ao amanhecer o dia mencionado 18, acompanhado vem alterado: um assassinato que se deu na porta da matriz
de varios homens, armados á sua ordem, dirigindo-se á igreja da capital do Ceará na noute de 7 de Setembro. O nobre
matriz que se achava fechada, consegue abrir uma das portas ministro refere este facto, segundo as informações que teve,
do lado da igreja, quebrando uma dobradice, e entrando nesta de um modo muito imcompleteo, muito inexacto.
com os mesmos individuos, os colloca na porta principal, que Principiarei por dizer que a eleição de Setembro não
sómente deixa aberta, conservando as demais trancadas, com foi disputada na capital do Ceará; os partidos da opposição,
ordem expressa de impedir a entrada dos eleitores e votantes. liberal e conservador, estavam muito certos de que era inutil
Na hora approvada pela lei para dar-se principio aos trabalhos toda e qualquer tentativa á vista do exemplo que tinham tido
da eleição, veio o juiz de paz presidente com os mais eleitores em Agosto; portanto, não disputaram a eleição. Tambem o
e votantes para a igreja, onde o facto acharam a porta tomada partido governista não a fez, ou fez de modo porque se
pelos ditos homens armados, impedindo a entrada áquelles, costuma a fazer, isto é, reunir-se a
ouvindo-se a voz do delegado
152 Sessão em 20 de Maio

mesa e fingir escrever actas. Porêm, no dia 7 de Setembro 2º Que tendo sido a dita queixa remettida por cópia
á noute, dia, como V. Ex. sabe, anniversario da ao mesmo 1º supplente, com officio datado do referido dia
independencia do Brasil, alguns artistas dirigidos por um 20 de Setembro, ordenando-lhe que, no praso legal,
cidadão muito distincto do Ceará, o Sr. major Antonio respondesse sobre os factos que lhe eram arguidos;
Bellarmino Bezerra de Menezes, foram com uma banda de 3º Que, tendo sido effectivamente entregue o dito
musica percorrer as ruas. Passando pela porta da igreja, officio pelo continuo da secretaria do governo, como
subiram ao patamar e deram alguns vivas; altercaram consta da declaração por este feita;
alguns artistas com soldados, mas retiraram-se 4º Que, não tendo o referido supplente, Fernandes
immediatamente depois de haverem percorrido uma Bastos, dado sua resposta dentro do praso improrogavel
porção de ruas, ouviu-se um tiro na porta da igreja e de 15 dias, conforme preceitúa o art. 399 do regulamento
soube-se que este tiro matara um infeliz criado de um n. 120 de 31 de Janeiro de 1842, praso que expirou no dia
cidadão do partido governista, chamado João Peuy, era 6 do corrente mez:
um menor; o tiro foi ao pé do ouvido e a victima cahiu Resolve, de conformidade com o art. 5º § 8º da lei
instantaneamente. Levantou-se na capital que o tiro havia de 4 de Outubro de 1834, suspender, como suspende, do
partido dos homens do povo posto que nenhum delles exercicio do cargo de 1º supplente do juiz municipal do
levasse arma, e, quando muito, poderia levar alguma arma termo da Fortaleza ao mencionado bacharel Gonçalo de
occulta, se é que levava e o tiro foi visivelmente de Lagos Fernandes Bastos, por ter incorrido no disposto no
granadeira. art. 154 do codigo criminal, e ordena que se lhe promova o
No dia seguinte, no excesso das paixões, os chefes competente processo de responsabilidade, para o que se
do partido do governo levaram essa pobre victima, que era remetterá cópia desta e dos papeis concernentes ao Dr.
criado de servir e de menor idade, até á altura de um promotor publico.
martyr; fizeram-no sargento da guarda nacional, depois de «Palacio do Ceará, 8 de Outubro de 1872. – João
morto, e deram um enterro pomposo com musica, Wilkens de Mattos.»
percorrendo as ruas para incutir nos animos uma Vê V. Ex. esta nova jurisprudencia de suspender a
impressão mais dolorosa. Como haviam espalhado que o um juiz, porque não quiz, dentro dos 15 dias que a
tiro havia partido de um homem do povo, o Sr. major presidencia lhe marcou, produzir sua defeza. Esta falta,
Bellarmino deu uma denuncia perante o juiz municipal que poderia acarretar o julgamento á revelia do juiz, foi
substituto, o Sr. Dr. Gonçalo de Lago Fernandes Bastos, constituida em crime para dar logar á suspensão. Não
que estava em exercicio, contra o soldado que se commento o acto, deixo ao criterio do senado.
suppunha autor do assassinato. Começado o inquerito, o Porém, voltando á questão do assassinato, a que
juiz municipal requisitou do commandante do 14º batalhão me referia, o juiz municipal pronunciou á vista de cinco
a presença do soldado indicado, o commandante negou- testemunhas de vista, cujos depoimentos se acham aqui
se. Requisitou ao presidente da provincia para elle mandar publicados, e de muitos outros informantes, o anspeçada
o commandante apresentar em audiencia o soldado para do 14º batalhão, que de proposito ou casualmente matou
ser interrogado, o presidente officiou ao commandante, esse infeliz. O processo subiu ao juiz de direito que julgou
este deu uma evasiva e o soldado não pôde ser dever annullal-o por incompetencia do juiz; entendeu que o
apresentado. Continuou o processo; cinco testemunhas de crime era militar, porque tinha sido commettido por uma
vista, que viram o soldado dar o tiro no infeliz, depozeram, sentinella militar. Eu deixo tambem ao criterio do senado
assim como outros muitos informantes. apreciar esta circumstancia, ou esta razão que motivou o
Neste estado, quando o processo estava a findar- despacho do Dr. juiz de direito a invalidar o feito judiciario
se, fizeram com que o soldado désse uma queixa contra o regularmente concluido.
juiz processante ao presidente da provincia por Pois bem; remettido o processo para o conselho de
imcompatibilidade. O presidente mandou ao juiz informar; guerra, composto de officiaes do 14º batalhão, que podiam
entretanto, este concluiu o processo. Mas, como se ter interesse em absolver ou innocentar o soldado, o
demorasse mais de 15 dias em responder á denuncia, que conselho de guerra reconheceu que o anspeçada era o
lhe foi mandada intimar, o presidente o suspendeu. unico criminoso e o pronunciou.
Tenho aqui todo o processo deste soldado; não o Portanto, o nobre ministro do Imperio, apresentando
lerei para não cansar o senado, mas não posso deixar de este facto do modo que expoz no seu relatorio, foi ainda
lêr a portaria da presidencia, suspendendo o juiz municipal uma vez victima de informações inteiramente inexactas,
substituto, o Sr. Dr. Lagos, para o nobre ministro e o lançando á conta da opposição um attentado, de que ella
senado verem a nova jurisprudencia posta em pratica no nem por sombra teve parte.
Ceará; e pergunto ao nobre ministro se está por essa Sr. presidente, desejava occupar-me de muitos
jurisprudencia de suspender-se a um juiz ou a qualquer outros assumptos, de outros serviços, de que trata o
funccionario, quando porventura negligencia ou recusa-se relatorio do nobre ministro; porém a hora está tão
a defender-se de alguma imputação. (Lê). adiantada, e eu tão fatigado que não posso quasi articular
Eis a celebre portaria de suspensão: mais uma palavra; espero fazel-o em outra occasião. Mas
«2ª secção. – O presidente da provincia, ainda vou tentar um esforço para concluir com o resultado
considerando.» da apuração da eleição do Ceará, na camara apuradora de
1º Que, tendo-lhe sido apresentada, no dia 20 de Sobral.
Setembro proximo passado, uma queixa revestida das Em consequencia das muitas perturbações que se
formalidades legaes contra o 1º supplente do juiz municipal deram no processo eleitoral da minha provincia, verificou-
do termo desta capital, bacharel Gonçalo de Lagos se que haviam 23 duplicatas, que, conforme a apuração de
Fernandes Bastos, pela anspeçada do 14º batalhão de umas e de outras, davam resultado differente; em todos os
infanteria, Francisco Luiz Fernandes, por delictos districtos haviam duplicatas; pensou-se na provincia que
commettidos no exercicio de suas funcções;
Sessão em 20 de Maio 153

aquelles candidatos que obtivessem das respectivas camaras os meios de que dispoem sua autoridade e prestigio, de que
apuradoras seus diplomas, seriam reconhecidos. Procurava- gosa, para manutenção da ordem publica, que se pretende
se, desejava-se, como o facto depois demonstrou, que no 2° alterar.
districto, cuja cabeça é a cidade de Sobral, cuja camara aliás A força legal só deixará o campo, depois que os
é só composta de conservadores, tendo como presidente o desordeiros pisarem em seus cadaveres. Espero que V. S.
coronel Joaquim Ribeiro, um dos homens mais notaveis do como magistrado honesto e cumpridor de seus deveres, com
partido conservador do Ceará, procurava-se, digo, que ahi a influencia de que gosa, não consentirá que esta bella cidade
fossem apuradas as duplicatas governistas. Para isto o seja enlutada, pois, V. S. comprehende que não é só a
presidente da provincia mandou a Sobral, em commissão, o canalha que soffre, victimas illustres podem haver, o que
coronel da guarda nacional, escrivão dos feitos da fazenda espero em Deus e no prestigio de V. S., que não acontecerá
José Nunes de Mello, incumbido de fazer o recrutamento geral V. S. é magistrado e tambem entidade de um partido politico,
nesta e nas commarcas proximas, chamando para alli, como e embora tenha um irmão que pretenda um assento (sem ter
centro os destacamentos visinhos, afim de, com esta força, motivos para isso) na camara dos Srs. deputados e que se
incutir terror na camara municipal e obter della a apuração das acha em commum accôrdo com aquelles que se diz, querem
duplicatas. alterar a ordem publica, estou convencido de que procurará
Vou ler ao senado o edital, da propria lettra desse obstar a execução de semelhante plano. Permitta-me V. S.
emissario do governo, affixado na praça publica de Sobral, que, como commissionado nesta comarca pelo Exm. Sr.
quando elle alli chegou nessa commissão. Deste edital resulta presidente da provincia, chame sua attenção para a anarchia
que, antes do praso legal, já o recrutamento se abrira em que se quer plamar nesta cidade.
virtude de ordem do governo, segundo declara o emissario Reitero á V. S. os protestos de minha estima e
recrutador, que, aliás depois de sua campanha na camara, consideração.
deu por finda a missão recrutadora e voltou immediatamente «Deus guarde á V. S. – Illm. Sr. Dr. Vicente Alves de
(lendo). Paula Pessoa, muito digno juiz de direito a comarca. – O
«EDITAL. – O coronel José Nunes de Mello, official da recrutador coronel José Nunes de Mello.»
imperial ordem da Rosa, commandante do 1º batalhão de Este officio, Sr. presidente, é o corpo de delicto não só
fuzileiros da guarda nacional da capital, deputado á desse commissario, como tambem da administração que o
assembléa provincial e recrutador das freguezias de Sobral, mandou nessa commissão, incumbido de fazer pressão sobre
Santa Quiteria, Aracati-assú, Sant'Anna e Acaracú, por a camara municipal aparadora de Sobral. O que tinha elle que
nomeação legal, etc. Faz saber que se acha aberto nesta vêr que a comarca municipal apurasse desta ou daquella
cidade, desde o dia 18 do mez proximo passado, o maneira a actas eleitoraes?
recrutamento forçado para o serviço do exercito e da O digno magistrado a quem foi dirigido esse officio, em
armada.» que se imaginava que seriam victimas não só homens do
Convida a todos aquelles que se quizerem alistar como povo, como da maior graduação, respondeu desta maneira.
voluntarios do exercito, a comparecer em seu quartel, afim de (Lendo):
ter praça. «Ao coronel José Nunes de Mello, recrutador geral da
Os referidos voluntarios perceberão no acto do comarca. »
engajamento 300$ de gratificação, de conformidade com as Em 17 de Outubro de 1872. – (5 horas da tarde).
instrucções em vigor. Acaba de me ser entregue o officio de V. S. de
Os que, porém, já tiverem servido no mesmo exercito, hontem, em que chama muita attenção para a sedição
terão o premio de 400$000. preparada, segundo disse, por parte do coronel Joaquim
«Quartel em 11 de Outubro de 1872. – O recrutador. Ribeiro e outros com o fim de conferir diplomas a individuos,
coronel José Nunes de Mello.» que são por V. S. appellidados de intrusos. Apresso-me em
Era o terror o meio de que usava esse commissario responder, mas antes de tudo permitta que note a
cercado da força publica para impor em Sobral a apuração inconveniencia com que V. S. arrogou o direito de apreciar e
que elle desejava; mas como o commandante superior de julgar da legitimidade da eleição de candidatos por este
Sobral, coronel Joaquim Ribeiro da Silva, naquella comarca districto, e noto ainda com o maior pezar a inconveniencia de
reconhecida influencia do partido conservador, presidente da linguagem, quando trata de cadaveres pisados pelos
camara, não temesse as ameaças desse commissario, desordeiros etc. Sendo V. S. hoje quem dispõe da força
lembrou-se este de, nas vesperas de eleições, dirigir o officio respeitavel existente na cidade, a qual se tem amestrado de
que vou ler ao juiz de direito, responsabilisando-o pela hontem para cá em exercicio de fogo, e até a esta mesma
desordem que elle suppunha imminente a respeito do seu hora, em que ouço denotações, parecia-me que se faria mister
conflicto com a camara municipal (Lendo): que só se tivesse em vista manter a ordem publica, o que
«Quartel, em 16 de Outubro de 1872. – Illm. Sr. – certamente se não deprehende do facto alludido, nem do
Acaba de chegar ao meu conhecimento que o coronel cerco do mercado publico effectuado ante-hontem, e nem das
Joaquim Ribeiro da Silva, Francisco Marçal de Oliveira Gondin expressões ardentes de seu officio e calculadamente
e outros pretendem fazer uma sedição, para o que estão apaixonadas.
reunindo gente armada nas immediações desta cidade, com o Nada sei da sedição, e certamente de V. S. depende a
fim de atacar os cidadãos pacificos, a força publica e obstar o boa ou nenhuma regularidade da camara apuradora. Ordeiro
ingresso, na camara municipal, dos vereadores e dos como sou e como tenho dado sobejas provas, lamento que
verdadeiros eleitores desta parochia, com o fim de expedir esta cidade esteja em estado de irritação que espanta e de um
diplomas áquelles que intrusamente querem representar na modo que ainda se não tinha visto desde 1840, o V. S. não é
camara temporaria como deputados. A V. S., como primeira de todo estranho a isto, quando com
autoridade desta comarca, cumpre envidar
154 Sessão em 20 de Maio

sua voz entre certo numero de pessoas poderia acalmar-lhes Mas, o nobre senador pelo Ceará accrescentou como
os animos. objecto de grave reparo que neste orçamento se incluisse o
Conheço o coronel Joaquim Ribeiro, o capitão Marçal, artigo additivo que o renova para o seguinte exercicio; S. Ex.
sem nos visitarmos, e comprehende o meu acanhamento em viu nisto desacato á prerogativa do poder legislativo, attentado
procural-os; no entretanto eu quizera que V. S. tivesse a contra uma das principaes attribuições, a mais essencial de
bondade, acaso achasse conveniente, de entrar V. S. em todas do parlamento, fixar a despeza e orçar a receita
maiores explicações, e então accordaremos no que publica...
melhormente se poderá fazer no sentido de que a ordem O SR. POMPEU: – Annualmente.
publica não seja perturbada. O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Sr. presidente,
Posso afiançar-lhe que da parte de V. S. e da força este grave reparo seguramente não assenta em razão, desde
publica correm boatos os mais aterradores, e até se diz que que é o mesmo corpo legislativo que vota a autorisação, e
ha projectos, de ha muito premeditados, de assassinatos. Se vota discutindo perfeitamente o mesmo orçamento. Não
V. S., como creio, tem interesse na paz e socego desta proceder deste modo era requerer no caso mais uma
actualmente infeliz cidade, não vacilará em acquiescer ao meu formalidade vã do que a realidade, a substancia desta
convite. importantissima operação de fixar a despeza e receita publica.
«Deus guarde a V. S. – Illm. Sr. coronel José Nunes de O SR. POMPEU: – Annualmente, diz a constituição.
Mello, recrutador geral. – O juiz de direito, Vicente Alves de O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Isto está
Paula Pessoa.» fazendo o senado e acaba de o fazer a camara dos
Estas firmas do edital e officios estão reconhecidas. deputados. Se não foram as circumstancias extraordinarias
Vê-se, portanto, Sr. presidente, que a perturbação do que se deram e que determinaram este retardamento, em
pleito eleitoral no Ceará começou na eleição primaria, que foi circumstancias normaes estariamos discutindo o proprio
perturbada em quasi toda a provincia, proseguiu na orçamento que deve reger nesse exercicio para o qual por
secundaria e finalmente até na apuração das camaras duplicata se discute este.
municipaes. Foi uma campanha que teve tres campos e que S. Ex. notou que havia grande accrescimo de despeza
afinal veio ser decidida no recinto da camara dos deputados. de uma sessão para outra, que alias se ligam com intervallo
Em resultado dessa ameaça o commandante superior de poucos dias, e fez cargo ao governo desse accrescimo de
de Sobral, que era ao mesmo tempo presidente da camara, despeza. Mas tal accrescimo, senhores, foi determinado pelo
consentiu que, no recinto do mesmo edificio della, na occasião voto do corpo legislativo, este voto foi competentemente dado,
em que reunida fazia a apuração das actas, pelo modo que é questão resolvida, e pronunciar-se o nobre senador em
elle entendia, tambem o recrutador fizesse em outra sala outra contrario é como que atacar o vencido; nem se póde renovar
reunião da camara composta de supplentes e obtivesse a discussão a este respeito.
apuração do modo que lhe conveio. O SR. POMPEU: – Quem dirigiu o corpo legislativo?
Isto, Sr. presidente, prova demasiado quanto o actual O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Depois S. Ex.
systema eleitoral está completamente viciado, e é incapaz de trouxe e fez a resenha das reformas indicadas no relatorio
dar qualquer resultado apreciavel. pelo nobre ministro do Imperio, expoz o catalogo dellas em
Sr. presidente, ponho termo aqui ás minhas numero de 13, e ainda desceu a tratar especialmente de
observações, reservando-me para em outra occasião tratar de algumas indicações como se fôra occasião propria de uma
outros negocios concernentes ao mesmo ministerio do discussão especial. E’ visto, senhores, que não posso
Imperio, visto que agora não posso fazer por me achar acompanhar a S. Ex. em sua extemporanea dissertação.
extremamente cansado. Voltou S. Ex. a uma questão especial que já fôra
Tenho concluido. (Muito bem, muito bem). hontem objecto de discussão, e que mereceu ao nobre
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Sr. presidente, senador para Bahia grave reparo e censura: e é o credito
farei mui breves considerações até mesmo para constituir uma aberto ao governo para a mudança do matadouro, como se
compensação ao extenso discurso que o nobre senador acaba fôra o competente para contratar esta obra ou dar-lhe
de proferir. Não devo abusar da attenção do senado já tão andamento, notando o nobre senador que era da exclusiva
exhaurida pelo nobre senador. competencia da Illma. camara, como obra essencialmente
S. Ex., assim como o nobre senador pela Bahia que municipal e que havia da parte do governo invasão e
encetou esta discussão, principiou por fazer com extranheza a prepotencia.
ponderação de que tão tarde viesse este orçamento ao Ora S. Ex. o Sr. ministro do Imperio hontem a este
senado, de sorte que, começando a discussão delle na respeito se explicou com toda a clareza, e por modo que devia
camara dos deputados em 1871, já em terceiro anno aqui dar satisfação ao nobre senador mesmo no seu muito cuidado
chegasse. e zelo pelas prerogativas da municipalidade.
O nobre ministro do Imperio respondeu perfeitamente; Posto que pela lei das camaras municipaes de 1828
fez ver que em 1871 razão especialissima e por de mais determinadamente se lhes negue a faculdade dellas mesmas
notoria tinha determinado não poder o orçamento ser votado determinarem as obras de grande importancia, que devem ser
na camara; que em 1872 deu-se a dissolução; e em 1873, submettidas aos conselhos geraes (hoje assembléas
nesta sessão decorrida, a epidemia, que determinou repetidas provinciaes) nas provincias e ao ministerio do Imperio na
faltas de reunião da camara, naturalmente ainda explicava Côrte, e segundo todos os precedentes, as grandes obras
esta demora: além de que a verificação de poderes em municipaes na Côrte, se tenham successivamente
primeira sessão de nova legislatura era tambem para absorver determinado e executado pela administração geral,
consideravel parte do tempo ordinario. independente da intervenção da Illma. camara, o nobre
ministro não obstante declarou que havia de respeitar todas as
prerogativas
Sessão em 20 de Maio 155

da camara municipal, sua iniciativa, sua proposta e havia de as razões, de convicção intima, e impressões indeleveis desde
dar o andamento preciso de modo a consultar todas as a mais tenra infancia, e pela educação religiosa na casa
conveniencias para acudir a uma tal necessidade hoje paterna e na Serra do Caraça, para prestar na maior extensão
reconhecida por todos, e realmente indeclinavel, que reclama ao primado e unidade catholica a obediencia que todos os
as mais promptas providencias. catholicos devem á Santa Sé vejo com pasmo que o nobre
E’ precisa a disposição da lei do 1º de Outubro de senador extrenuo defensor das prerogativas da Santa Sé, e
1828, art. 47 ultima parte: «E quando as obras forem de distincto campeão do catholicismo, na discussão de tão grave
grande importancia e alguns socios ou pretendentes se questão tem chegado a excessos que em minha opinião não
offerecerem a fazel-as recebendo alguma vantagem para sua admitte a doutrina catholica, e que em grande parte lhe podem
indemnisação, enviarão (as camaras) as propostas aos causar serio detrimento, e sou obrigado a contrarial-o.
conselhos geraes de provincia.» (hoje assembléas provinciaes S. Ex. exprobrava ao governo e especialmente ao
e ministro do Imperio na Côrte.) Este ponto ainda foi nobre presidente do conselho, que elle era a pedra de
ultimamente esclarecido por consulta do conselho de Estado escandalo, que o facto de ser grão-mestre da maçonaria e ao
de que foi relator o nobre visconde de Souza Franco mesmo tempo occupar a posição de presidente do conselho
coherentemente resolvida a respeito das obras de grande constituia mais do que uma incompatibilidade, constituia causa
importancia na Côrte que devem ser decididas pelo governo. prejudicial de qualquer solução satisfactoria, visto como os
Depois o nobre senador deu grande desenvolvimento bispos que guerreavam a maçonaria e esperavam do governo
a seu discurso, voltando ás questões especiaes da sua uma justa decisão, o desaggravo, o apoio, a força que o
provincia em materia eleitoral e a essas continuas governo lhes deve prestar, tinham no governo seu principal
reclamações e declamações que S. Ex. costuma fazer acerca adversario!
dos factos escandalosos do Ceará. O senado ouviu-o com Ora, Sr. presidente, quando de um lado (e isto já era
toda a attenção, mas devo observar ao nobre senador por objecto para séria consideração) a autoridade ecclesiastica
mim e por alguns com quem communiquei, pareceu-me que a exorbita até entender com as irmandades naquillo mesmo em
attenção do senado tambem era alimentada pela esperança que ellas estão fóra da sua jurisdicção, porque nas ordenadas
de ouvir de S. Ex. algumas palavras a respeito da questão exclusões não ha nem a limitação de ser unicamente no que
religiosa que se tem agitado. toca ao culto; e ainda assim quanto ao culto ha uma parte
Esta questão era por certo digna de alguma material, ha uma parte assalariada pelos cofres publicos, pela
contemplação do nobre senador e havia natural interesse em contribuição dos fieis; e em todo caso era muito para se
ouvir a S. Ex. pela posição singular que tem nesta casa... arreceiar desse pronunciamento violento que de repente
O SR. POMPEU: – Não tive tempo. appareceu no paiz, e que ninguem podia conjecturar que
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...tanto mais apparecesse, isto é, que por decisões episcopaes fosse
quanto é conhecido por alguns que o nobre senador não é a considerado o maçon brasileiro incompativel com ser irmão ou
isso indifferente, porque tem tido conferencias com o nobre confrade de uma irmandade religiosa, ou de uma confraria!
senador pelo Espirito Santo, a quem tem fornecido alguns Isto, de um lado; e de outro aqui, no seio da representação
esclarecimentos. (Riso). nacional, na casa do senado um distincto membro, um
O SR. POMPEU: – Isso é malignidade de V. Ex. estadista do paiz, levanta sua voz autorisada e proclama a
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: Exponho com – incompatibilidade de ser o maçon membro do poder executivo!
.verdade o que me consta Tamanhos excessos denunciam falta absoluta de razão da
O SR. POMPEU: – Isso é de máo gosto da parte de V. parte daquelles que articulam taes incompatibilidades.
Ex. S. Ex. não póde deixar de reconhecer as orbitas
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Não tenho distinctas em que gyram o poder espiritual e o poder temporal
intenção de offender o nobre senador, e, visto que reclama, e a sua independencia; não desconhece que não obstante
accrescentarei que na conferencia que teve com o Sr. Jobim... esta independencia e com ella prestam ambos os poderes os
(Continúa a hilaridade)... bons officios, que ha mister que prestem á humanidade e são
O SR. POMPEU: – Não tenho tido conferencias. indispensaveis, sob pena de cahir a sociedade em selvajaria;
O SR. ZACARIAS: – Isso é serio! e destes principios o que se deduz? E’ que quanto áquillo que
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...é natural que entende com o espiritual, visto como pareceu á Santa Sé
sustentasse a doutrina orthodoxa, os sãos principios. anathematisar os maçons, e tendo ella no exercicio de suas
O SR. POMPEU: – Nunca tive conferencias com o Sr. attribuições lançado esse anathema para a consciencia
Jobim, nem para bem, nem para mal. catholica, já era censura por demais pesada; mas em todo
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – E’ o que me caso ao incurso não poderia haver de imputavel senão
consta e o Sr. Jobim o dirá, como ouvi. peccado, crime não; porque na orbita em que gyra o poder
Esta questão, Sr. presidente, que é de summa temporal, e na fórma de governo em que vivemos, não ha
importancia podia mais instruidamente ser tratada pelo nobre crime para a sociedade brasileira senão naquillo que fôr
senador a quem assistem especiaes habilitações, e a determinadamente qualificado como tal por lei anterior; e
autoridade que me falta; mas entendo que é do meu dever de portanto era necessario que o nobre senador primeiramente
politico e de catholico enunciar-me tambem. Quando este demonstrasse que ha disposição de lei, considerando a
objecto se tornou nesta casa assumpto de renhido debate, em maçonaria uma instituição criminosa, e ser maçon um crime.
que se manifestaram opiniões extremas, parece-me que um Não sendo, portanto, crime punivel pela lei civil e ser
homem constituido em certa posição e activo nas discussões, maçon, vir em uma assembléa politica tratar deste assumpto,
com a consciencia dos seus deveres de politico e de catholico
não póde ser indifferente, deve tambem fazer seu protesto, e
eu o farei. Vejo-me, porém, nesta questão constituido em certa
contrariedade, porquanto, tendo todas
156 Sessão em 20 de Maio

como fez o nobre senador, contra os mesmos principios da do interdicto, alias, muito vexatorio, e tal que se for
sã doutrina christã que não permitte fazer escandalo, determinado no empenho de sustentar actos excessivos,
exprobrar na maior publicidade peccados á alguem, quando entendo tambem que não póde faltar á sociedade civil
para isso não havia razão, nem juridica nem politica para se recurso para obviar um mal tão grave; e por certo o governo
chegar a qualquer fim, é proceder tão escusavel como os achará em suas faculdades constitucionaes, além do meio
destituido de razão e muito censuravel. Tanto mais sempre efficaz, quando bem manejado, de negociações com
censuravel quando, attendendo a todas as conveniencias, a Santa Sé, que inteirada da realidade dará uma solução
quer de ordem religiosa, quer de ordem politica e civil, o facil, segura e satisfactoria.
nobre senador não podia desconhecer que nas E’ impossivel, se fôr informada a Santa Sé das
circumstancias em que se acha este Imperio, com a verdadeiras circumstancias da maçonaria do Brasil, que não
maçonaria instituida com ramificações immensas, era da reconheça que não é ella essa sociedade prohibida,
mais alta conveniencia que um homem de grande prestigio, reprovada e profligada pela bulla pontificia. Não é, nem tem
de grande capacidade, interessado na ordem politica, com ella outra solidariedade senão a do nome; a instituição
dirigisse tal associação, tanto mais que a experiencia do dia não é a mesma em essencia; não é o mesmo o seu
estava demonstrando que mesmo aqui na Côrte, onde nem procedimento, seus fins são muito diversos.
toda a corporação maçonica obedece ao illustre Sr. visconde O nobre senador asseverou: a maçonaria é a mesma;
do Rio Branco, seu grão-mestre, aquelles dissidentes, o que falta somente é que cheguem as circumstancias que
dirigidos por outra influencia tem cahido em excessos e determinem que ella tome essa feição má e desenvolva o
chegado a escandalisar o publico com impressões menos terrivel procedimento dos clubs de impios conspiradores, de
edificantes. demolidores do throno e do altar. V. Ex., Sr. presidente, deve
O nobre senador, tão avisado e inteirado das reconhecer que esta observação não é justa nem razoavel,
circumstancias do paiz, não reflecte sobre ellas, não encara a prova demais, como se costuma dizer: o mesmo e com mais
questão por todas as suas faces; e entende que é muito força se póde dizer da imprensa e de todas quantas melhores
conveniente, muito conforme ao seu fim politico (que não instituições possam haver; de tudo se póde abusar; a
póde ser outro senão o bem publico), que é muito corrupção do optimo é o pessimo. Não digo que a maçonaria
consentaneo com os altos interesses do Estado articular conspiradora seja optima; não pertenço a ella, protesto como
semelhantes incompatibilidades, exprobrar ao nobre catholico contra ella.
presidente do conselho o ser maçon e por tal incapaz de O SR. ZACARIAS: – V. Ex. disse que é peccado e
exercer o governo, brandindo assim S. Ex. uma espada, não basta.
de dous, mas de mil gumes, porque não golpeia só ao nobre O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Protesto
presidente do conselho, golpeia a tantos outros homens contra ella, mas digo que a do Brasil não merece a
politicos e ministros, que o foram com a maior distincção do apreciação que V. Ex. della faz, quando diz que só falta que
paiz, de quem se pode dizer, e é cousa notoria, que as circumstancias tragam o ensejo para que a maçonaria
occuparam a mesma posição do nobre presidente do commetta os attentados que soe commetter na Europa. Isto
conselho. Mencionarei tão somente os mortos: os Olinda, os não cabe em razão temer-se da maçonaria do Brasil; seu
Abrantes, os Monte-Alegre, os Uruguay, os Itaborahy, passado, assim como seu presente, protestam contra tal
Clementes Pereiras, Paraná, Furtados, etc., etc.; e vivos apreciação; de longa data existindo nunca se envolveu em
quantos outros!! Que interesse podia haver em tamanho impiedades, ao contrario, á ella se devem obras de caridade,
escandalo? E qual o interesse politico, coherente com a serviços distinctos em bem da patria. Presentemente tem
posição elevada que occupa o nobre senador no arraial dos havido nella um ou outro escandalo, é verdade; deu-se esse
liberaes? de um padre apparecer com phrase tão desattenta para com
E aqui, Sr. presidente, posto que com menos o seu prelado e o ter escandalisado, como escandalisou; mas
competencia posso metter mão temeraria, porque sou isto não é da maçonaria; elle o faria em qualquer outro
estranho, devo mesmo ser suspeito na minha apreciação: a ensejo. O que é fóra de duvida é que ella existe no paiz tão
verdade para mim é que ha gravissima incongruencia, nem é ramificada, pessoas de todas as classes, especialmente das
consoante a doutrina que desenvolveu o nobre senador mais cultas, eminentes e elevadas estão nella por tal modo
arrojadamente com os principios liberaes, nem sei que seja envolvidas, que se póde dizer sem grande inexactidão que
consoante com quaesquer outros principios, porque separa- fazem excepção os homens de certa ordem que não
se absolutamente da razão. pertencem a ella.
Esta questão religiosa, Sr. presidente, sendo O SR. ZACARIAS: – V. Ex, está enganado; ha muita
gravissima, parece-me que tem tambem seu lado facil, se gente que não é maçon; faça a estatistica.
realmente não faltar prudencia, que não tem faltado, ao O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Perdoe-me V.
governo e que devia sobejar nos venerandos bispos. O nobre E., referia-me á classe dos homens de certa intelligencia, de
senador muito bem comprehende as orbitas distinctas e certa cultura, de certo trato social, destes residentes nesta
independentes em que gyram os dous poderes, o temporal e Corte, assim como nas capitaes de provincias, póde-se dizer
espiritual; não póde haver complicação ou conflicto inevitavel talvez sem exageração que o maior numero é de maçons.
desde que não falte prudencia aos agentes do governo civil e Ora, desde que as leis do paiz não prohibiram a
menos deve faltar aos venerandos bispos. Sendo assim, se maçonaria, não a qualificaram de criminosa, não é dado
qualquer requisição, por exemplo, for feita por algum bispo, entender e affirmar que ao governo incumbe profligar a
pedindo a assistencia da força publica, pedindo apoio para maçonaria e perseguil-a, ser o braço forte dos bispos nessa
levar á execução actos que estão fóra da esphera de suas luta.
faculdades espirituaes, é bem de vêr que o governo não deve Faço votos, Sr. presidente, para que, tudo bem
lhes assistir; usem elles embora de suas censuras, de seus esclarecido,
meios que podem chegar ao extremo
Sessão em 20 de Maio 157

chegue á Santa Sé uma verdadeira informação das que fallo, no sentido em que V. Ex. naturalmente dava em
circumstancias reaes do paiz; que as pias intenções do Santo relação ao nobre presidente do conselho; o homem que com
Padre sejam devidamente correspondidas pelos seus as forças de sua razão procura...
agentes com informações exactas e que o zelo esquerdo, O SR. ZACARIAS: – Não é isto; Guizot admitte o
excessivo, que induz em erro, que antes desserve do que sobrenatural.
serve, não vá acoroçoar uma insistencia de perseguição que O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...procura
realmente não póde estar nas pias intenções do Santo Padre conhecer e demonstrar a verdade; reprovo e condemno o
nem cabe em justiça no conceito daquelles que conhecem o racionalismo quanto á prescrutação dos mysterios, que a
que é a real maçonaria do Brasil, que não é, não póde ser e razão não póde comprehender: o dito de Santo Agostinho é
espero não será... verdadeiro: o credo quia absurdum.
O SR. ZACARIAS: – E’ a mesma em toda parte. Tenho dito, Sr. presidente, o que me parece bastante
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...essa a respeito deste assumpto.
maçonaria revolucionaria e conspiradora, demolidora dos Não concluirei sem dizer poucas palavras sobre uma
thronos e dos altares. questão politica que o nobre senador aventou e que me
O nobre senador, no seu zelo excessivo chegou ao pareceu decidir temerariamente. S. Ex. despojou de seus
ponto de condemnar o nobre presidente do conselho por ser direitos o principe Sr. D. Felippe, residente no Imperio.
racionalista, e de sua autoridade o lançou fóra do gremio do Interrogando ao nobre ministro a respeito da questão do dote
catholicismo: não é mais catholico, disse, é refractario ao da princeza a Sra. D. Januaria, ao que o nobre ministro
preceito do chefe da Igreja, é racionalista. respondeu satisfactoriamente, o nobre senador insistiu neste
O SR. ZACARIAS: – Segundo a opinião que emitti. ponto, inquerindo, no caso de ser dado o dote, com que
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Mas perdoe- direitos ficava o principe residente no Imperio. O nobre
me V. Ex.; se se tratasse de applicar a razão... ministro com a circumspecção que o caracterisa, observou
O SR. ZACARIAS: – As emendas da commissão. que a questão era grave, porque entendia com direitos e com
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...na principios constitucionaes, e como que pediu tempo para
explicação e refutação dos mysterios, ser racionalista meditar, mas o nobre senador apressadamente disse: a lei
negando a revelação divina era commetter o maior attentado explicitamente resolve; o principe perde todo o direito.
e ser mais do que heretico, era ser impio, audaz e arrojado O SR. ZACARIAS: – E’ expresso.
que chegava no extremo de impiedade estulta de com a O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – E’ o contrario
razão fragil pretender devassar e negar os mysterios, as que está expresso na constituição pelo modo mais
verdades dogmaticas da revelação; quem o ousasse, teria terminante, sem deixar a menor duvida.
renegado do catholicismo, não tinha mais fé de catholico. Esta especie que se dá com Sua Alteza a Sra.
Mas ser racionalista, mesmo na contemplação da verdade princeza D. Januaria, é anomala no sentido de que
evangelica, é tão adequado que até se póde dizer com propriamente ella não foi prevista pela constituição, tal como
verdade que não teria a Igreja os Agostinhos e os Jeronymos se deu. Quando Sua Alteza casou era princeza imperial e
se não fossem elles grandes racionalistas. nessa qualidade fez-se o contrato; não se considerou uma
Nos tempos presentes ainda floresce um velho na hypothese eventual que devia ser considerada, e era que
Europa, gloria e ornamento das lettras deste seculo que, Sua Magestade Imperial podia ter descendencia propria e
apesar de ser calvinista, está na razão de um padre da igreja assim a condição de princeza imperial podia desapparecer.
christã, pelos serviços que presta á religião do Christo e até Não se curou desta hypothese ao fazer-se o contrato, ou não
ao catholicismo. Refiro-me ao Sr. Guizot. se quiz regular de outro modo. Diz o contrato que se ella fixar
O SR. ZACARIAS: – E’ protestante. residencia no Imperio terá sempre a assistencia da estipulada
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – E’ protestante, pensão, e alimentos para seus filhos como principes da
mas tem prestado serviços que o collocam á igualha dos familia imperial, e assim se fez; se, porém, fixar domicilio no
Agostinhos e dos Jeronymos. estrangeiro, receberia o seu dote e ficava na classe geral de
O SR. ZACARIAS: – Qual igualha! outros principes da casa imperial, debaixo do regimen do art.
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Se florescesse 113 da constituição.
naquelles tempos primitivos, suas obras com que tem servido O SR. ZACARIAS: – Leia a lei de 1862.
os interesses do christianismo e da ordem publica em todo o O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – A lei não póde
mundo civilisado, seriam postas á igualha das desses ser contraria á constituição; ouça-me o nobre senador e verá
grandes doutores da Igreja. Era racionalista um outro autor se tenho ou não razão.
tambem protestante o celebre Abbadie, autor do tratado da Sua Alteza a Sra. princeza D. Januaria fixou sua
Verdade do christianismo, do qual dizia Bossuet: «o grande residencia no Brasil; depois pediu licença para ir em viagem
Abbadie!» e devo dizer que muitas vezes tenho lido esse temporaria á Europa, continuando o seu domicilio de direito
tratado não só pelo merito e interesse do assumpto, como no Imperio. Correram os annos, lapso talvez de 26 annos e
para uma lição pratica de logica; nunca vi raciocinio tão bem sempre tem sido renovada a licença, de modo que tem seu
travado, tanta dialectica na demonstração da verdade do domicilio de direito no Brasil e de facto no estrangeiro. Este
christianismo. O ser racionalista, sem negar os mysterios da domicilio de direito no Brasil tem sido reconhecido por todas
revelação divina por incomprehensiveis, não constitue o as legislaturas e por todos os governos que se teem
antagonista catholico. succedido em um quarto de seculo; seus filhos teem tido
O SR. ZACARIAS: – Guizot não é racionalista. sempre os alimentos; ella a pensão considerada como
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Racionalista princeza domiciliada no Imperio e assim todos no perfeito
elle é...
O SR. ZACARIAS: – Não é.
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...no sentido
em
158 Sessão em 20 de Maio

goso dos direitos activos de principes da familia imperial. O SR. PRESIDENTE: – Não havendo quem queira a
Nestas circumstancias, um dos filhos de Sua Alteza a palavra vou por a votos.
Sra. princeza D. Januaria vem para o Brasil, onde fixa seu O Sr. Zacarias (pela ordem) pergunta se a commissão
domicilio e até assentou praça, e, assim, está effectivamente que apresenta uma serie de emendas, das quaes a principal,
de posse dos alimentos que sempre teve, durante a idade a do matadouro, acabava de ser fortemente impugnada pelo
menor, de 6:000$ e actualmente que chegou a maior idade nobre senador pelo Ceará não oppunha consideração
de 12:000$. Se acontecer agora a circumstancia de sua mãe alguma. O orador tomará, no emtanto, a palavra se o nobre
a Sra. princeza D. Januaria tomar a deliberação de renunciar relator não a pedir.
ao domicilio no Brasil (se continuasse a conservar a O SR. F. OCTAVIANO: – Faz um grande favor: dá
residencia no Imperio, não havia a menor duvida, ficava-se tempo a pensar.
no statu-quo), e receber seu dote, o principe que está O Sr. Zacarias diz ser isso mais uma irregularidade;
effectivamente com domicilio no Brasil e de posse dos fallar um membro da opposição que apresentou algumas
competentes alimentos... emendas, e retirou-as porque a commissão foi além delle...
O SR. ZACARIAS: – Fica sem elles. O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Peço a palavra.
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...porque O Sr. Zacarias agradece-lhe porque quer responder
razão ha de ser privado delles... com pausa ao nobre leader do ministerio e mostrar-lhe que é
O SR. ZACARIAS: – Não apresentassem o artigo. um grande peccador.
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...contra forma O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Relator da
disposição da constituição nos arts. 109 e 113, que resolvem commissão do orçamento, preciso dar ao senado as razões
a questão... porque deixou ella de fazer uma analyse circumstanciada do
O SR. ZACARIAS: – Não resolvem. projecto que hoje se discute.
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...aliás de sua A necessidade de entrar sem perda de tempo o
natureza ponderosissima o que exclue a intelligencia assumpto em discussão, o incommodo que havia soffrido um
odiosa?! dos membros da commissão, e a falta de accordo entre seus
O SR. ZACARIAS: – Veja a lei de 1862. diversos membros, foram motivos que a inhibiram de
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Eis o que diz o apresentar e fundamentar no parecer suas emendas, e
art. 109: «A assembléa geral assignará tambem alimentos ao mesmo de ouvir previamente ao illustre ministro do Imperio.
principe imperial e aos de mais principes desde que Entendemos que na apreciação do orçamento
nascerem. Os alimentos dados aos principes cessarão cumpria pôr de parte quaesquer idéas politica.
somente quando elles sahirem para fóra do Imperio.» O SR. ZACARIAS: – Apoiado.
«Art. 113. Aos principes que se casarem e forem O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – ...e apenas attender
residir fóra do Imperio se entregará por uma vez somente á administração.
uma quantia determinada pela assembléa, com o que O SR. ZACARIAS: – O interesse publico.
cessarão os alimentos que percebiam.» O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Pensando assim, a
Attenda-se, que o principe hoje tem representação commissão, embora desejasse ouvir algumas explicações do
propria; tocou a idade de maioridade e incontestavelmente illustre ministro do Imperio, pois que não podia obtel-as, pela
pertence á categoria dos principes de que trata a constituição falta de tempo, apressou-se a dar seu parecer, como propoz
nos arts. 109 e 113; está residindo no Imperio, com animo de agora algumas emendas, não duvidando, porém, modificar,
não sahir delle; está na posse dos alimentos; está, portanto, se preciso fôr, suas opiniões á vista de quaesquer
no goso a actividade de todos os seus direitos esclarecimentos.
constitucionaes. Estes direitos perfeitos lhe faltarão por um Neste momento, como relator da commissão, o meu
facto circumstancial, porque sua mãe tomou uma certa fim é dar as razões em que ella fundou as emendas, que
deliberação? Qual é, senhores, a razão fundamental desses submetteu á consideração do senado.
artigos? A constituição prescreve e é esta a substancia da O orçamento vem um pouco sobrecarregado de
disposição... despezas, como o senado vê pelo projecto que se acha
O SR. ZACARIAS: – Proponha uma emenda. impresso. Entre a proposta do governo para o anno de 1872
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...que os a 1873 e o projecto ha um accrescimo que sobe quasi a
principes que residirem no Brasil e que forem cidadãos 11,000:000$; e além deste algarismo que representa
activos, com o direito eventual da successão, tenham uma despezas effectivas resultantes quer de leis que as crearam,
decente subsistencia, alimentação garantida. Os principes ou quer de augmentos determinados para outros serviços, ha de
princezas que se casarem, retirando-se do Imperio para o mais autorisações que importam novos despendios e que
estrangeiro, tem de uma só vez o dote ou uma certa quantia devem ainda elevar aquelle algarismo: um tal estado de
bastante para seu estado, não tem mais direito algum a cousas reclama toda a attenção do governo e das camaras.
subsidios. Dirigindo-me ao senado em outra occasião, eu disse
O principe D. Felippe está na razão daquelles que que já tremia quando via saldo em nosso orçamento, porque
teem domicilio no Brasil, continua aqui, está de posse dos era um poderoso incentivo para o augmento de despeza. O
alimentos, que a constituição lhe garantiu. Não é razão, para saldo que se figurava de mais de 8,000:000$ na proposta do
que se lhe negue o direito, a circumstancia eventual de sua orçamento para o anno do 1872 – 1873, já na proposta para
mãe ter tomado a deliberação de se ficar no estrangeiro. o anno de 1874 – 1875 quasi que desapparece,
Esta é a minha opinião que opponho á do nobre
senador.
Tenho concluido. (Muito bem.)
Sessão em 20 de Maio 159

ou reduz-se a mui pouco. Esta consideração justifica, sem que as camaras teem feito, não devendo fazer; mas, posto
duvida, todo e qualquer escrupulo que a commissão tivesse. que eu não visse o contrato, regulando-me por aquillo que foi
Se ella offendeu de qualquer fórma o melindre do proposto aqui, pareceu-me que a despeza não podia orçar
governo ou de algum membro do governo, declaro em menos de 400 a 500:000$. Se o systema é, como
francamente que longe estava isso de sua intenção... supponho, o mesmo proposto aqui, esses 30:000$ são para a
O SR. ZACARIAS: – Ou elle se queixe de si. despeza de um anno, talvez para impressão de um ou dous
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – ...é isto devido á volumes, e os outros iriam continuando: ora, isto não me
pressa, que faz com que não possamos estudar as cousas pareceu muito regular.
convenientemente; a commissão mesmo não dá muito pelo Mas, em todo o caso, as questões reduzem-se a
seu estudo, mas, emfim, faz aquillo que sua consciencia saber se é ou não de immediata utilidade esta despeza, ou
pede. se é dispensavel, se temos obrigação de votar esta quantia e
Quaes são as emendas da commissão? Vejamos se se o senado não póde recusar-lhe o seu voto. A commissão
ellas importam desserviço. entende que o serviço é dispensavel e que o senado póde
Uma dellas, a que se refere á dotação da Imperatriz recusar o seu voto a esta despeza, ainda seguindo-se a
viuva, não carece de justificação; apenas manda eliminar a opinião de que a camara dos deputados a podesse decretar.
parte de despeza que não pode ter logar pelo fallecimento da O SR. ZACARIAS: – E’ verdade.
Sra. duqueza de Bragança. O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Uma outra emenda
O SR. F. OCTAVIANO: – Essa é de redacção. é a que supprime o augmento da congrua dos parochos
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – E' meramente de collados. E’ despeza que augmentava a verba em 421:000$.
redacção. As congruas teem sido augmentadas por mais de uma vez e
Outra emenda supprime 30:000$ annuaes para me parece que não é uma das maiores necessidades do
impressão dos annaes da camara dos deputados anteriores clero o augmento de que se trata. Os parochos teem direito
ao anno de 1857. A respeito desta verba a commissão teve parochiaes e basta que o clero tenha o sufficiente para sua
em vista duas considerações: sustentação. Vejo mesmo que muitos o censuram por ter
A 1ª foi da utilidade immediata da despeza: se não luxo; nosso clero não o tem; mas de certo tem com que
era esta dispensavel, se não podia ser adiada em vista das passe decentemente. Para que, portanto, uma despeza de
necessidades publicas, dos grandes impostos que quatrocentos e tantos contos, quando estamos
sobrecarregam a nossa producção e de outros serviços por sobrecarregados de impostos, temos outros serviços de
ventura mais importantes. Nós entendemos que se póde maior urgencia? A commissão entendeu que era um
prescindir por ora desta despeza. (Apoiados). daquelles assumptos que se poderia adiar, que não havia na
A 2ª consideração referia-se a uma questão de actualidade grande urgencia de augmentar a congrua dos
principios; isto é, se uma das camaras póde decretar parochos, sobre tudo com a tendencia que ha nas
despezas que não sejam de mero expediente, ou relativas a assembléas provinciaes para subdividir freguezias, sendo o
seus empregados, archivo etc., sem o accordo da outra e do governo geral, que paga essas despezas, uma especie de
poder moderador, sem uma lei propriamente dita. A maioria thesouro daquellas assembléas.
ou quasi todos os membros da commissão foram neste ponto Offereceu tambem a commissão uma emenda a
de parecer que na hypothese vertente era indispensavel uma respeito da directoria geral de estatistica. O governo propoz
lei autorisando a despeza; que um dos ramos do poder na proposta de 1872 – 1873 25:000$, reproduziu na proposta
legislativo não póde por si só fazer despezas de certa ordem. de 1873 para 1874 a mesma quantia e em nova proposta de
O SR. ZACARIAS: – Não póde, por exemplo, mandar 1874 – 1875 reproduziu ainda os 25:000$; entretanto uma
fazer um palacio para morar. emenda da camara dos deputados eleva a verba a
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Nem é isto uma 68:000$000
censura á camara temporaria, porque o senado acaba de dar O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
o exemplo em si mesmo reprovando uma idéa indentica, não Imperio): – Vinte e cinco contos eram sómente para o
se julgando autorisado a crear uma despeza desta natureza. pessoal da repartição; agora attende-se a outros serviços.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Pedia-se não só
Conselho): – Mas fazer parte da lei do orçamento era lei de para o pessoal mas tambem para o expediente; a despeza
ambas as camaras, era uma despeza decretada como muitas com papel, pennas, tinta, compra de livros, etc., tambem está
outras. incluida nessa verba, posto que em uma somma menor, isto
O SR. F. OCTAVIANO: – Decretada irregularmente. é em 800$, ao passo que na emenda se pedem para isso
O SR. ZACARIAS: – A camara consignou a quantia 8:000$000.
em virtude de sua resolução de Fevereiro. O augmento de 25 para 68:000$ é justificado pelo
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Não se diz que a seguinte modo: 600$ para um servente, 20:000$ para
quantia é para coordenação e impressão dos annaes, impressão do relatorio annual e trabalhos artisticos (creio que
sujeitando esta resolução ao nosso voto tambem; marca-se são mappas etc), 8:000$ para impressões avulsas e
apenas tanto em virtude da resolução tal; não é mais do que acquisição de livros, 8:880$ para objectos de expediente e
votarmos os fundos. 1:480$ para despezas miudas e eventuaes. De modo que a
Se esta despeza fosse de 30:000$ somente, ainda repartição de estatistica, que é um ramo destacado da
poder-se-hia fechar os olhos, como a muitas outras despezas secretaria do Imperio, vem a ter para expediente e
impressões mais do que a propria secretaria.
Isto não importava, porém, se a despeza tivesse de
verificar-se na realidade. A lei de 9 de Setembro de 1870 que
creou a repartição de estatistica, determinou o seguinte:
160 Sessão em 20 de Maio

«Para as respectivas despezas é concedido ao governo no annos, e que esta reforma, embora executada provisoria-
corrente exercicio o credito de 400:000$ que no caso de mente, seja submettida á approvação do poder legislativo.
insufficiencia poderá ser elevado, mediante a abertura de São dous principios que a commissão quer fixar e que eu
creditos supplementares e realisar-se pelos meios entendo que devem ser fixados. Não consinta o corpo
autorisados na lei do orçamento vigente.» Pareceu, pois, á legislativo que continue (não é deste nem daquelle ministerio,
commissão, na ausencia das informações que não pôde é de todos) a especie de abuso que tem havido na execução
obter do nobre ministro do Imperio, que por esse credito destas autorisações.
especial deviam ter sido feitas as compras de livros, as O SR. F. OCTAVIANO: – Sem tempo.
impressões dos trabalhos estatisticos e outras despezas, que O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Desde que a
pela emenda vinham figurar no orçamento como autorisação conferida ao governo não lhe marca um tempo
permanentes. dentro do qual deva ser executada, dá se o seguinte: que o
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do governo, que aliás diz ser urgente a necessidade, a demora
Imperio): – Permitta-me V. Ex. somente que eu diga que por muito tempo, ou que depois de feita a reforma, julga-se
ninguem exigiu de mim as informações. com o direito de retocal-a, tendo acontecido ás vezes que até
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Não podemos ouvil- dez annos depois de executada uma autorisação, o governo
as pelos motivos que já expuz. entende que póde de novo usar della. Isto é um abuso, e
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do uma alienação do poder legislativo e uma alienação sem
Imperio): – Não me neguei a dar informações. tempo. (Apoiados.)
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Pelo relatorio Ora, em que póde esse principio offender a qualquer
mesmo do nobre ministro, a que recorremos para termos pessoa, a qualquer ministro, a qualquer governo, a qualquer
algum esclarecimento, não podemos chegar a conhecer se partido? Eu entendo que estas regras devem ser adoptadas
esse credito estava esgotado ou não, ou se delle devia ou por todos nós.
não sahir a despeza marcada na emenda. O outro principio é que a reforma seja sujeita á
Ora, se ha um credito para o material da repartição de approvação do poder legislativo. Pergunto eu: esta materia é
estatistica e se essa lei autorisava o governo a abrir creditos ou não da competencia do poder legislativo? O poder
supplementares para qualquer deficiencia que se désse, legislativo delega ao governo, mas delegando, reserve-se a
pareceu á commissão que as despezas mencionadas na approvação daquillo que delegou, aliás não tem meio de
emenda deviam ser incluidas naquelle credito e não no corrigir qualquer defeito.
orçamento do Imperio. Foi por isso que reduzimos a despeza O SR. F. OCTAVIANO: – Diz-se que é lei, porque foi
áquillo que estava na proposta, isto é ao pessoal e ao feito em virtude de uma lei.
expediente ordinario. Póde ser que estejamos enganados, é O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Se se dissesse que
uma questão que depende de esclarecimento. não devesse ter execução a reforma sem approvação do
Passemos agora ás autorisações. corpo legislativo, envolveria isto uma especie de
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Ainda falta uma desconfiança e seria negar ao nobre ministro aquillo que se
despeza. tem concedido a outros; mas desde que se põe em execução
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – E’ de pequena a reforma provisoriamente, o que vem o corpo legislativo a
monta; é a marcada para uma casa de caridade no Ceará. approvar? Os ordenados e aquellas disposições que forem
Entendemos que no orçamento não cabia semelhante legislativas, como direito de aposentadoria etc. Não vejo,
despeza, porque a casa de caridade da cidade de Sobral não pois, nesta emenda nada que não deve merecer a aceitação
está no mesmo caso que o estabelecimento de educandas do senado.
no Pará. A despeza com esse estabelecimento tem origem O SR. F. OCTAVIANO: – Está claro.
muito differente, é apenas uma indemnisação de bens do O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – A outra qual é? E’ a
mesmo recolhimento que o Estado desfructa. suppressão do n. 3 que manda despender a quantia
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – O Estado tomou a si a necessaria com a construcção de um novo matadouro no
casa onde se acha a alfandega. logar mais apropriado, e cobrar para este fim o imposto de
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Vamos ás quatro reis por libra de carne destinada ao consumo,
autorisações. podendo contratar as obras necessarias.
Uma das emendas que a commissão apresentou foi A commissão não desconheceu, nem podia deixar de
ao n. 2 do paragrapho unico que terá de tomar a numeração reconhecer, a grande vantagem, a urgencia que ha em
de 44. Este n. 2 diz assim: (lendo) «Reformar o regulamento remover o matadouro publico do logar em que se acha; é
da secretaria de Estado dos negocios do Imperio, dando a uma medida exigida pela hygiene publica...
esta repartição a organisação que julgar mais conveniente e O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
podendo alterar o numero dos empregados, bem como a Conselho): – Apoiado.
tabella dos seus vencimentos, não havendo, porém, O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – ...é uma medida,
augmento na despeza, que actualmente se faz com a mesma conforme disse o illustre senador pela minha provincia, até
secretaria.» A commissão apresentou uma emenda que exigida pelo decoro publico. Mas, pergunto eu: todos os
somente em dous pontos diverge da autorisação. meios devem ser empregados para a concecussão de um fim
A emenda da commissão concede ao governo a de grande utilidade publica? Não podemos chegar ao mesmo
autorisação de reformar a secretaria do Imperio, e permitte- resultado por meio differente, sem saltar por cima de certos
lhe fazer as alterações precisas, com tanto que não exceda a principios e praticar actos que possam ser reprovados
despeza marcada para essa secretaria, que é justamente o perante o direito, perante a constituição?
que se dava na emenda da camara; accrescentou, porém,
um praso dentro do qual deve ser effectuada a reforma, dous
Sessão em 21 de Maio 161

O que se vê nesta autorisação? Vê-se mas quid inde? Serei vencido desta vez como em outras
primeiramente conceder o corpo legislativo ao governo um tenho sido, e continuarei da mesma forma a prestar-lhes o
credito sem limitação um credito sem limitação; eu entendo meu fraco apoio.
que isto não pode fazer o corpo legislativo. Ficou adiada a discussão pela hora.
O SR. ZACARIAS: – Apoiado. Retirou-se o Sr. ministro com as mesmas
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Em quanto formalidades com que fora recebido.
importa a despeza? Estão feitos os estudos? Então, devo O Sr. Presidente deu a seguinte ordem do dia para
suppor que estão... 21:
O SR. ZACARIAS: – Não estão, disse o Sr. 2ª discussão das proposições da camara dos Srs.
ministro. deputados concedendo licença a diversos empregados
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Qual é o calculo: publicos mencionados no parecer da mesa n. 522.
mil contos, dois mil contos, quatro mil contos? Estou 2ª discussão da proposta de lei do orçamento.
prompto a votal-os, mas é preciso que me digam quanto é Levantou-se a sessão ás 5 horas da tarde.
que hei de votar. (Apoiados) Primeiro ponto.
Segundo ponto: a commissão entendeu que o 14ª SESSÃO EM 21 DE MAIO DE 1873.
imposto de quatro reis por libra de carne, genero de
primeira necessidade para o sustento da população, e que PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ.
já carrega com um preço que não é muito regular, que é
pesado para as pequenas fortunas, não deve ser Summario. – Expediente. – Redação. – Ordem do
approvado assim... Dia. Licenças. – Orçamento do Imperio. – Discursos dos
O SR. SACARIAS: – A falla do throno annuncia Srs. Zacarias, ministro do Imperio, Barão de Cotegipe e
diminuição de impostos. visconde do Rio Branco.
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – ...ao menos sem
ulterior esclarecimento que convencesse de que não havia Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se
outro meio de se obter a quantia, sem lançar essa presentes 41 Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté,
imposição. Almeida e Albuquerque, Dias de Carvalho, Figueira de
Mas a commissão está persuadida de que ha Mello, Paranaguá, marquez de Sapucahy, barão da
outros meios pelos quaes se póde conseguir o mesmo fim Laguna, visconde de Nitherohy, Teixeira Junior, marquez
sem esse imposto. Separando-se esta disposição, nós de S. Vicente, Chichorro, barão de Camargos, Antão,
podemos em muito pouco tempo, fazer passar uma barão de Cotegipe, visconde de Inhomerim, duque de
resolução regulando a materia; por exemplo, (não digo que Caxias, Rio beiro da Luz, visconde de Muritiba, Candido
seja esta a melhor opinião, porque não pensamos ainda) Mendes, barão do Rio-Grande, Barros Barreto, Firmino,
autorisando um emprestimo para o fim de que se trata, Jobim, visconde de Caravellas, Paes de Mendonça,
resgatavel com parte da renda do matadouro e com a visconde de Souza Franco, Junqueira, Leitão da Cunha,
importancia da venda do actual e dos terrenos adjacentes, visconde do Bom Retiro, visconde de Jaguary, Pompeu,
que orçam em muito. Póde-se applicar ao pagamento do visconde de Camaragibe, Uchôa Cavalcanti, Sinimbú,
juro e amortisação desse emprestimo não só a renda da Cunha Figueiredo, barão de Pirapama, Jaguaribe, conde
camara, como a que o thesouro tem do consumo do gado de Baependy, visconde do Rio Branco, Godoy e Zacarias.
e que monta a cento e tantos contos. Deixaram de comparecer com causa participada os
O SR. ZACARIAS: – E’ orçada em 200:000$000. Srs. barão de Mamanguape, Diniz, Nunes Gonçalves,
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Por esse meio Fernandes Braga, barão de Maroim, Paula Pessoa, F.
podiamos obter a mesma vantagem sem sobrecarregar o Octaviano, Silveira Lobo, Mendes dos Santos, Saraiva,
povo com mais esses quatro réis em libra de carne, e com Fernandes da Cunha, Silveira da Motta, Vieira da Silva e
menos gravame do thesouro. E quem sabe, Sr. presidente, Nabuco.
se sem emprestimo se poderá conseguir esse Deixaram de comparecer sem causa participada os
melhoramento? Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de
Eis aqui, senhores, porque a commissão propoz a Suassuna.
separação desse paragrapho. Se passar a emenda da O Sr. presidente abriu a sessão.
commissão segue-se que ficaremos sem ter a obra do Leu-se a acta da sessão antecedente, e não
matadouro? Só se o governo quizer; porque, a não ser havendo quem sobre ella fizesse observações, foi
sobre a questão dos meios, acho que não ha um só approvada.
senador ou deputado que negue seu voto a essa medida. O Sr. 1º Secretario leu o seguinte
Portanto, é uma questão meramente de fórma e não póde
a demora causar prejuizo. EXPEDIENTE.
Eis aqui, senhores, o que eu tinha a dizer a respeito
das emendas propostas pela commissão. Póde ser que Officio de 20 do corrente do 1º secretario da camara
pela constituição do debate ella tenha de modificar o seu dos Srs. deputados, communicando que por officio do
juizo, menos quanto ás questões de principios, porque a ministerio da guerra de 12 do mesmo mez constara á
respeito destas confesso que poderei ser vencido, mas mesma camara ter sido sanccionada a resolução da
não convencido. Qualquer que seja o meu desejo de assembléa geral, autorisando o governo para mandar
concorrer para que a administração dos nobres ministros admittir aos exames das materias da 2ª cadeira do 5º anno
torne-se mais brilhante, recommende-se mais á da escola central ao capitão do 4º batalhão de artilheria do
posteridade, não está em mim dizer que o branco é preto e exercito Diogo Ferreira de Almeida e aos capitães da
o preto é branco. Peço desculpa, se me aparto de suas mesma arma Francisco Raymundo Ewerton Quadros e
opiniões; Saturnino
162 Sessão em 21 de Maio

Ribeiro da Costa Junior, e accusando a recepção do officio de o venerando Sr. marquez de S. Vicente, com quem tive a
15 do corrente mez, em que foi participado a dita camara não honra de servir e a cujos conselhos e animação devo o
ter podido dar o seu consentimento á proposição relativa á conservar-me ainda nesta posição de que mais de uma vez
pretenção dos dous ultimos. – Foi remettido á mesa: desejei retirar-me. E, pois, não me era licito suppôr que
Foi lida, posta em discussão e approvada para ser caracter tão nobre e tão leal praticasse um acto de hostilidade
enviada á outra camara a seguinte. contra mim, sem uma palavra, sem um aviso prévio.
Tenho, Sr. presidente, uma regra: costumo aferir os
REDACÇÃO. sentimentos de outrem para comigo pelo sentimento que nutro
em relação á sua pessoa. Por esta regra, que póde conduzir a
A assembléa geral resolve: erros e decepções, mas que não arrependi-me ainda de ter
Art. 1º E’ o governo autorisado para mandar admittir á adoptado, de ninguem eu poderia esperar maior benevolencia,
matricula do 1º anno da faculdade de direito do Recife o maiores provas de estima e consideração do que do nobre
estudante Vicente Ferrer de Barros Wanderley Araujo. senador pela Bahia, elator da commissão.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. Vejo tambem o nobre senador pelo Rio Grande do
Paço do senado, 21 de Maio de 1873. – Visconde de Norte, meu collega de ministerio, a quem devo reiteradas e
Sapucahy. – Firmino Rodrigues Silva. – Marquez de S. recentes manifestações de apoio e estima pessoal; tambem
Vicente. não poderia eu esperar de S. Ex. um acto de hostilidade que
viesse sorprehender-me, quando as nossas relações eram as
ORDEM DO DIA. melhores.
Não tive, portanto, essa profunda impressão de que o
LICENÇA. nobre senador fallou, nem podia te-la. Quanto aos outros
membros da commissão, não me consta, por nenhum facto
Entraram successivamente em 2ª discussão e anterior, que o nobre senador pelo Amazonas tenha
passaram para a 3ª as proposições da camara dos Srs. disposições hostis contra mim; tendo o prazer de declarar que
deputados, mencionadas no parecer da mesa n. 522, devo á S. Ex. offerecimentos e louvores tão espontaneos e
concedendo licença aos seguintes funccionarios publicos: superiores ao meu merecimento que não posso esquecer-me
Desembargador Viriato Bandeira Duarte, juiz de direito delles, e cada vez mais agradeço. Estou nas melhores
Francisco José de Souza Lopes, juiz municipal José relações com o nobre senador por Minas Geraes. De meus
Rodrigues do Paço Junior, conferente da alfandega José proprios adversarios, membros da commissão, não tenho tido
Ribeiro da Cunha e o fiel do armazem da alfandega Tito da até hoje senão provas da maior benevolencia; com muito
Silva Guimarães. prazer cito o nome do honrado senador pelo Pará, o Sr.
visconde de Souza Franco, de quem em toda minha vida
ORÇAMENTO DO IMPERIO. ministerial não tenho recebido senão demonstrações de
consideração e até de affeição.
Achando-se na sala immediata o Sr. ministro do O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Sempre
Imperio, foram sorteados para a deputação que o devia em opposição, mas sempre dizendo a verdade.
receber os Srs. Cunha Figueiredo, visconde de Nitherohy e O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
barão da Laguna. – Não desconheço a lealdade com que V. Ex. serve, e a
E sendo o mesmo senhor introduzido no salão com as sinceridade de suas convicções.
formalidades do estylo, tomou assento na mesa á direita do Como poderia eu por outro lado considerar as
Sr. presidente. emendas que a nobre commissão apresentou? Exprimem, em
Proseguiu a 2ª discussão com as emendas da relação á camara dos deputados, opinião differente, ou por
commissão do orçamento, do projecto de lei fixando a ventura melhor, que o senado tenha de negocios sujeitos á
despeza e orçando a receita geral do Imperio para o exercicio sua resolução? Cada uma das camaras tem o direito de
de 1872 a 1873 no art. 2º relativo ao ministerio do Imperio. emendar o que a outra faz, e quem usa de seu direito a
O Sr. Zacarias pronunciou um discurso que ninguem offende. Em relação a mim, se por ventura apoiei e
publicaremos no appendice. aceitei as disposições aqui impugnadas, tambem não teria de
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): queixar me porque, senhores, se eu reservo sempre a
– O nobre senador pela Bahia começou o seu discurso liberdade de dizer o que entendo com franqueza e com
referindo-se á apresentação das emendas, á impressão que sinceridade, dou aos meus amigos, dou a todos que comigo
suppoz que ellas causaram em mim e ao movimento que S. tratam, em compensação, uma qualidade, que procuro
Ex. chamou das formigas. Eu declaro que, ao serem lidas as conservar, isto é, a qualidade de soffrido, humilde, e docil em
emendas apresentadas pela honrada commissão, não deixei ouvir conselhos, advertencias e correcções. Ainda quando as
de experimentar alguma sorpreza, porque não tinha sido emendas adoptadas, tivessem como resultado necessario,
ouvido a respeito de nenhuma das disposições do orçamento imposto pela propria dignidade, a minha retirada do ministerio,
que se discute; mas porque deveria eu ficar profundamente se eu entendesse que estava desairado por ellas, já que se
impressionado? Poderia ver nas emendas actos de tem fallado tanto aqui em materia religiosa, peço permissão
hostilidade? Não, de certo; nem fora preciso que o nobre para dizer, como S. Paulo, que o fim da vida dos justos é
senador pela Bahia, digno relator da commissão, o declarasse ganho e interesse, palavras que considero da maior verdade
para que eu como taes não considerasse. em relação á vida ministerial. Nem por esse lado teria eu
Senhores, eu tenho maior prazer e honra em dizer motivo de impressionar-me desagradavelmente.
publicamente que nesta commissão vejo amigos a quem devo Agora, Sr. presidente, considerando as emendas
as maiores attenções e provas de affeição muito sincera. Vejo apresentadas
nella, por exemplo, o nobre senador por S. Paulo,
Sessão em 21 de Maio 163

pela honrada commissão, devo dizer, quanto á primeira, que senador pela provincia do Ceará, o Sr. Pompeu, se eu
nada tenho a oppor; é uma emenda de simples redacção. tomasse a mim a tarefa de defender o acto da camara do
Quanto á segunda, que se refere á dotação de S. M. a deputados.
Imperatriz viuva, tambem me parece que não pode ser Senhores, eu vejo que para a provincia do Pará vota-
impugnada, visto como tem por fim eliminar do orçamento as se a quantia de 2:000$.
quantias que teem sido vencidas do dia em que Sua O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Aluguel de
Magestade falleceu até hoje. um predio que está ao serviço publico.
Quanto á terceira, que manda eliminar a consignação O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
de 30:000$ para pagar a impressão dos Annaes da camara – Perdôe-me V. Ex.; conheço a historia do collegio de Nossa
dos Srs. deputados, devo recordar ao senado que, quando Senhora do Amparo desde a sua origem; sei que foi fundado
tive a honra de fallar aqui pela primeira vez, em resposta ao pelo virtuoso bispo, D. Manoel de Almeida Carvalho, se bem
nobre senador pela Bahia, declarei que achava o trabalho me recordo; sei que esse collegio dispõe de um rendimento
muito util, mas que se o senado entendesse que a despeza superior a 40:000$ e recebe um auxilio de 2:000$ dado pelos
devia ser adiada, nada tinha eu que oppor á sua vontade e cofres geraes. Tem-se dito, que isto é compensação
deliberação. Vejo, porém, senhores, que o nobre senador correspondente ao aluguel da casas em que está a alfandega;
encara a questão por outro lado; censura que a camara dos declaro, porém, que não pude verificar a doação de que se
Srs. deputados constitua-se um pequeno estado, uma especie falla. Tinha-se extincto o convento e hospicio dos Religiosos
de S. Marino, e esteja resolvendo despezas sem o concurso Mercenarios do Pará e o bispo lançou mão do convento em
de outros ramos do poder legislativo. favor do seu instituto de educação; depois, uma lei de 1845,
Eu não dissimulo a minha opinião a este respeito; sem declarar que o convento pertencia ao collegio de Nossa
penso que em geral, as despezas que se fazem em uma e Senhora do Amparo, concedeu a esse estabelecimento a
outra camara devem ser votadas por uma lei que passe por prestação annual de 2.000$ e o dominio e uso de oito
todos os tramites constitucionaes; mas o facto é que cada escravas. Não sei, portanto, em que se funda a allegação de
uma das camaras está no direito de decretar as despezas que que isto é uma compensação dada ao collegio de Nossa
considera necessarias, já para seu regimen interno e direcção Senhora do Amparo.
de seus trabalhos, já mesmo com relação ao material do Eu não desconheço que esse collegio presta muito
edificio em que funcciona. Ora, a camara dos Srs. deputados bons serviços; mas tambem não posso deixar de reconhecer
usou deste direito, que está nos estylos, e parece que que as casas de caridade, educação e instrucção, construidas
procurou resolver a despeza como em muitos outros casos sustentadas e dirigidas pelo zelo infatigavel do virtuoso
não se tem feito, porque, deliberando a publicação dos missionario brasileiro padre Ibiapina, merecem algum auxilio.
Annaes, consignou na lei do orçamento uma quantia que, Não tenho, pois, senão louvores para a iniciativa que se
aceita pelo ramo temporario, veio ao ramo vitalicio, devendo ir manifestou na camara, vindo em auxilio de uma dessas
finalmente á sancção. fundações que tanta honra nos fazem, e nos recommendariam
Creio, pois, que o motivo não foi bem escolhido pelo perante o estrangeiro se fossem conhecidas fôra do paiz;
nobre senador para as censuras que levanta contra a camara creio, porém, que mesmo entre nós não são bem conhecidas.
dos deputados. Desde que a honrada commissão entende que é
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do importante fazer aqui uma economia, ao menos como meio de
Conselho): – Apoiado. evitar que sobrevenham outras despezas de igual natureza,
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): eu não impugnarei a sua emenda. Tenho esperança de que a
– Culto publico. A honrada commissão elimina a despeza que caridade dos cearenses, dos rio-grandenses do Norte, dos
accresceu na camara dos deputados com o augmento das parahybanos, dos pernambucanos, que tem sustentado todas
congruas dos vigarios. Deve declarar ao senado que essa essas casas e fornecido dotes ás meninas que completam sua
idéa não partiu do governo; foi apresentada por um membro educação o acham casamento, continuará a mantêl-as de
da opposição: o governo não se pronunciou contra ella e a mesmo modo.
maioria da camara a aceitou. A respeito desta emenda, eu Directoria geral de estatistica. Creio e peço permissão
penso que os vigarios estão mal retribuidos. para dizêl-o, que a nobre commissão do orçamento laborou
O SR. POMPEU: – Apoiado. em engano. Não ha augmento de vencimentos; não se
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): augmenta um real do que vencem os empregados; elles ficam
– Creio mesmo que o facto de termos paróchias entregues a com o que lhes foi dado pelo decreto que creou a repartição.
vigarios encommendados procede em grande parte da O que se faz é cousa muito differente; é fixar a despeza
deficiencia das congruas; até certo ponto, a elevação proposta annual que o actual ministro do Imperio não quer ter o direito
talvez tivesse o resultado de facilitar a acquisição de bons de fazer discricionariamente, sem limite.
vigarios; por outro lado observo que quasi todas as parochias A repartição tem trabalhos annuaes e permanentes,
estão confiadas a vigarios encommendados e que os bispos organisa quadros, coordena e apura todos os dados
queixam-se da falta de parochos habilitados, e então não me estatisticos recolhidos por diversas repartições, publica um
parece que haja grande inconveniencia em adiar este relatorio, faz um annuario de estatistica e formula planos
augmento de despeza, que para o futuro julgo indispensavel. relativos ás differentes classes de factos.
Supprimiu a honrada commissão uma pequena O primeiro relatorio custou 18:000$; os outros, dado o
disposição, votada em favor de uma casa de caridade na desenvolvimento natural do trabalho, não custarão menos.
cidade de Sobral, provincia do Ceará. Ninguem poderia vir em
meu auxilio mais bem armado nesta questão do que o nobre
164 Sessão em 21 de Maio

E neste ponto, Sr. presidente, peço licença a V. Ex. esses mesmos principios no seu relatorio, e eu estou de
para dizer que esse relatorio, que foi motivo de tantas perfeito accordo com S. Ex. Convem limitar o tempo dentro do
censuras injustas e até calumnias contra mim, foi pago qual possa o governo usar das autorisações legislativas; não
segundo a avaliação feita na typographia nacional, pelo preço tenho a respeito dessa limitação nenhuma duvida em aceital-
dos trabalhos dessa typographia; resultando dahi os ataques a. Parece-me, entretanto, mais conveniente que isto se faça
que me foram dirigidos pelo dono da typographia em que o nas disposições geraes, conservando-se a emenda tal qual
relatorio foi impresso. Aproveito a occasião para declarar ao veio da camara dos deputados.
senado que até hoje não mandei publicar os relatorios da O nobre senador pela Bahia impugnou esta
secretaria do Imperio fóra da typographia nacional. O disposição, dizendo que via ahi interesse de algum desses
contracto para publicação do relatorio da repartição de empregados que procuram aproveitar o mandato popular em
estatistica não foi feito por mim; quando tive conhecimento apoio de suas pretenções individuaes. Assevero ao nobre
delle, declarei immediatamente que não pagaria o trabalho senador que a pessoa a quem estas palavras podiam referir-
sem o mandar avaliar na typographia nacional, e assim o fiz. se...
Ora, digo isto para mostrar que procedi com a maior O SR. ZACARIAS: – Fallei em geral.
economia e que, despendendo com o primeiro relatorio a O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
quantia de 18:000$, não é de crer que com os seguintes se – Bem; então não insisto.
gaste menos. Entendi conveniente fixar as quantias para os Não sei tambem, Sr. presidente, a que veiu a
relatorios em 20:000$, não querendo usar da faculdade que observação do nobre senador de que toda esta fome de
muitos julgam que ha de mandar pagal-os pelo credito votado augmento de vencimentos nascia da revelação de saldos,
para o recenseamento. talvez indiscreta, que fez o honrado presidente do conselho.
Pedem-se 600$ para um servente. Eu creio que este Primeiramente, eu não sei como o ministro da fazenda poderia
accrescimo de despeza não necessita de grande justificação; occultar saldos, do mesmo modo que o avarento occulta seus
em uma repartição, pobre de pessoal, como é aquella, em que thesouros; tinha obrigação de declaral-os. Em segundo logar
ha um grande jogo de papeis, comprehende-se bem que a não sei como esta observação pode ter cabimento a respeito
exigencia de um servente é uma necessidade, e de um de uma disposição do orçamento em que se declara
servente que terá de receber a quantia de 600$000. terminantemente que não haverá augmento de despeza.
Pedem-se mais 8:000$ para impressões avulsas e Resta-me, Sr. presidente, fallar do matadouro.
acquisições de obras. Impressões avulsas fazem-se O SR. ZACARIAS: – Hoc opus.
constantemente pela directoria geral de estatistica; é preciso O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
remetter modelos para mil e quinhentas freguezias que temos; – Espero que será o ponto mais facil.
essas impressões não podem parar; pedi um limite para essa O nobre relator da commissão disse-nos que suas
despeza, assim como para a acquisição de obras. Todos duvidas versavam sobre o credito illimitado e sobre a naturesa
comprehendem que é preciso dotar a repartição de uma do imposto.
livraria propria, onde estejam os trabalhos feitos nas nações Quanto ao credito illimitado, não tenho a menor duvida
mais adiantadas, que possam servir de modelo, de em acceitar, e mais regular me parece; uma limitação.
comparação e mesmo para instruir os empregados. Presumo com bons fundamentos; posso quasi asseverar que
O mais é uma pequena quantia para despezas miudas a obra não excederá de 2,000:000$: se o senado entendesse
e eventuaes que ha em todas as repartições. que devia por um limite neste sentido, eu nada tinha a dizer.
Vê, pois, o senado que eu não peço augmento de A respeito da naturesa do imposto, não serei eu quem
vencimentos; os empregados ficam com o que já teem. Peço o defenda. Parece, com effeito, que, cahindo sobre um genero
uma quantia limitada para as despezas da repartição; quero de consumo de primeira necessidade, seria melhor que elle
sahir do arbitrio, que muitos me concedem de fazer essas fosse trocado por outro qualquer. Neste ponto já entendi-me
despezas como entender conveniente. com diversos membros da commissão e penso que chegámos
O SR. ZACARIAS: – O que autorisa isto? a um accordo satisfactorio. O senado resolverá como entender
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do em sua sabedoria.
Conselho): – Alguns entendem que póde fazer pelo credito Mas, disse o nobre senador, esse imposto não é só
especial. iniquo, é tambem inconstitucional porque, não o poder
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): legislativo, mas o governo sobre proposta da camara
– V. Ex. sabe que a lei de 9 de Setembro de 1870, creando a municipal, é que deve creal-o.
repartição de estatistica, concedeu um credito especial de Senhores, para os que defendem tanto a iniciativa das
400:000$ para despesas de recenseamento e a quantia de camaras municipaes, eu não podia ter procedimento differente
25:000$ para o pessoal. Entendem muitos que estas do que tive. O que está estabelecido pela nossa legislação a
despezas, que desejo vêr limitadas pelo poder legislativo, este respeito é o seguinte: a lei de 1 de Outubro de 1828
podem ser feitas por conta desse credito. mandava que as camaras municipaes propozessem aos
O SR. ZACARIAS: – O limite está na lei. conselhos geraes das provincias o meio de augmentar a sua
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): renda, e ao art. 89, que o nobre senador parece não ter lido,
– Com que se ha de pagar o relatorio que a lei manda publicar desculpe-me dizel-o, dispõe que na provincia onde estiver a
todos os annos? Côrte se devem dirigir ao ministro do Imperio e á assembléa
Quanto á reforma da secretaria, longe de impugnar os geral, nos casos em que nas de mais provincias tivessem de
principios da nobre commissão, não posso deixar de aceital- se dirigir aos conselhos geraes. Veio depois o acto addicional,
os. O nobre presidente do conselho tinha sustentado que, extinguindo os conselhos
Sessão em 21 de Maio 165

geraes das provincias, deu ás assembléas provinciaes as a ceder de uma attribuição que a lei de 1º de Outubro de 1828
attribuições que a elles pertenciam, e fez constitucional que a confere ao ministro do Imperio. A camara municipal indicava o
creação e o augmento de impostos municipaes pertencem á meio de fazer a obra por administração ella propria, e eu
assembléa provincial nas provincias; mas na Côrte a quem entendi que não devia propôr isto ao poder legislativo, isto é,
ficaram pertencendo? ao governo ou a assembléa geral entendi que, em virtude da lei, devia a camara receber as
legislativa? Nunca se entendeu que ao governo. propostas e envial-as ao ministro do Imperio, que resolveria
Primeiro que tudo o acto addicional, que creou o como julgasse melhor.
municipio noutro e nada dispoz a respeito da camara «O imposto pedido não cabe na lei do orçamento.»
municipal deste municipio, deixou em pé o direito existente... Senhores, além dos innumeros precedentes que vem dar-me
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Apoiado. razão neste ponto, parece-me que, sendo a lei do orçamento
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): aquella em que o poder legislativo vota a receita e despeza,
– ...e este direito era que o orçamento municipal, isto é, os nenhuma outra seria mais propria do que esta para receber
meios de provêr as despezas, fosse votado pela assembléa disposições relativas ao orçamento municipal. Para que mais
geral legislativa. Neste sentido ha outras disposições sempre uma lei discutida separadamente com todas as formalidades e
confirmando o que acabo de dizer. perda de tempo, etc? Se tantas outras vezes materias
Em que se funda, pois, o nobre senador para affirmar inteiramente estranhas ao orçamento se introduziram nesta
que ao governo, sobre propostas da camara municipal, cabe lei, como repellir daqui um imposto municipal, materia que por
decretar impostos? Em uma disposição da lei de orçamento sua natureza é tão ligada ao orçamento? Creio que o nobre
de 26 de Março de 1810, que diz: «Fica pertencendo ao senador não tem razão neste ponto.
governo approvar os orçamentos da camara municipal com as Voltou S. Ex. á eleição directa e fez ainda questão das
alterações que entender convenientes.» Mas sempre se palavras da falla do throno, dizendo: Porque é que tendo sido
entendeu que esta approvação do orçamento municipal o projecto apresentado por um deputado, disse o governo na
limitava se á receita já creada por lei (apoiados), autorisar falla do throno que essa reforma é de iniciativa do governo? A’
despezas dentro das forças da receita; nunca se entendeu primeira vez que tive a honra de fallar aqui, disse ao nobre
que o poder legislativo tivesse delegado ao poder executivo a senador que esta questão não valia as honras de uma grande
faculdade de crear impostos, materia cuja iniciativa pertence á discussão. Entendemos, como tive occasião de dizer, que já
camara dos deputados. pela materia do projecto, já em respeito ás opiniões
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Muito bem. manifestadas, devendo o governo deixar mais liberdade neste
O SR. CORREIA DE OLIVEIRA (Ministro do assumpto, porque elle entende com a organisação do
Imperio): – Vê, pois, o nobre senador que eu tinha muita parlamento, não quizemos dar-lhe a fórma de proposta do
razão quando asseverava a S. Ex. que parecia haver engano poder executivo, que é de certo mais obrigatoria para os
da sua parte. amigos do gabinete. Apresentámos a reforma como projecto
Em apoio da opinião que acabo de emittir estão todos de iniciativa de um deputado, mas esse deputado era ministro,
os precedentes; nenhum governo ainda entendeu que tinha estava em accôrdo perfeito com todos os seus collegas, nada
autorisação para crear impostos municipaes. impedia que se dissesse que o projecto provinha dos estudos
Ora, pelas nossas leis as camaras municipaes e da opinião do governo. (Apoiados).
propõem os impostos e o ministro do imperio é o intermediario O SR. ZACARIAS: – Mas não e iniciativa do governo.
que transmitte esta proposta ao poder legislativo; no caso O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
vertente entendeu a Illma, camara municipal da Côrte que, – V. Ex. reduz tudo a uma questão de palavras e de forma...
para realisar a importante obra do matadouro, precisava do O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
imposto de 4 rs por libra de carne; transmitti ao poder Conselho): – Apoiado.
legislativo a proposta da camara municipal, cumpri a minha O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
obrigação. Em parte nenhuma vejo que eu tivesse o direito de – ...ao modo porque o ministro entra na camara para ler sua
recusar in limine a proposta, de estorvar que ella seguisse seu proposta e á cicunstancia de ser esta dirigida a uma
caminho; não me julguei autorisado para proceder assim; o commissão; mas em substancia, um projecto que provem de
mais que eu podia fazer era impugnal-a em minha informação. um ministro de estado com o accordo dos seus collegas não
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Muito bem! se póde dizer que é um projecto de simples iniciativa de um
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): deputado.
– Se o senado entende que esse imposto é vexatorio, iniquo, E a este respeito eu posso ainda apadrinhar-me com a
reconhecendo aliás que a obra deve ser feita, o que parece opinião do Sr. Nabuco de Araujo, que declarou na camara dos
deduzir-se dahi é que se tem de variar do imposto indicado ou deputados que a reforma judiciaria apresentada por elle na
apresentar alguma providencia, para que por outro meio a qualidade de deputado, tambem de Pernambuco, era um
obra se faça. projecto do governo, e disto fez questão.
Disse o nobre senador pela Bahia que eu aproveitei a Senhores, voltou o nobre senador á questão das
proposta na parte relativa ao imposto e recusei-a na parte epidemias. Ante-hontem eu quiz demonstrar que a falla do
relativa ao meio por que entendia a camara que podia realisar throno, acoimada de inexacta pelo nobre senador, referia a
o melhoramento. Senhores, já declarei que cumpri minha verdade, quando em Dezembro do anno passado não
obrigação, transmittindo ao poder legislativo a proposta da mencionava como de grande intensidade a epidemia da febre
camara municipal; quanto ao mais eu não estava disposto amarella; o nobre senador considerou isto materia velha e
166 Sessão em 21 de Maio

eu abstive-me de fallar. Insistiu, porém, S. Ex. em considerar a O SR. ZACARIAS: – Eu não tenho duvida nenhuma.
ultima epidemia como uma das mais mortiferas. Ora, os dados O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
apresentados pelo nobre senador demonstram que mesmo – São estas, Sr. presidente, as considerações que eu tinha a
em nosso paiz duas epidemias teem havido muito mais fazer em relação ao nobre senador pela provincia da Bahia.
mortiferas; e bastava mencionar este facto para autorisar a Ao nobre senador pela provincia do Ceará devo dizer
expressão de que usa a falla do throno, isto é, que a terceira que não me alongarei em uma resposta que a cortezia me
epidemia não foi das mais mortiferas. obriga dar a S. Ex. O nobre senador pela provincia do Rio de
O SR. ZACARIAS: – Esta não está extincta. Janeiro, o Sr. visconde de Nitheroy, já respondeu ao nobre
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): senador, e eu julgo-me dispensado de repetir as mesmas
– E’ questão a parte. considerações. Ha porém um ponto que eu não posso deixar
Além disso, como ha pouco observou o honrado Sr. de assignalar.
presidente do conselho, a falla do throno não se refere O nobre senador declarou que o melhor meio de
sómente ás epidemias do Brasil, mas ás epidemias que tem moralisar a administração provincial, de separar a politica da
invadido outras nações; e debaixo deste ponto de vista mais administração era a escolha de bons presidentes. Senhores,
largo, sem duvida nenhuma o nobre senador não póde se o nobre senador quer julgar pelo que vae em sua provincia,
contestar que a expressão da falla do throno é perfeitamente eu declaro que não sei que governo seria mais feliz, tendo de
exacta. escolher um presidente para a provincia do Ceará. (Apoiados.)
«Não está acabada a epidemia, póde recrudescer.» Quem conhece os precedentes do Sr. Oliveira Maciel,
Perdôe-me o nobre senador, o juizo que considero muito quem conhece seu caracter integerrimo, quem conhece sua
competente do conselheiro José Pereira Rego, o juizo de indepedencia sempre provada, quem conhece seu amor á
medicos notaveis a quem tenho ouvido a respeito da justiça nunca desmentido, quem demais a mais conhece,
constituição medica actual do Rio de Janeiro, é conforme como sabemos, nós de Pernambuco e muitas outras pessoas,
neste ponto; passou o estado epidemico. que o Sr. Oliveira Maciel, arredado das luctas da politica,
O SR. ZACARIAS: – Estão morrendo diariamente de nunca á politica sacrificou um só dos seus deveres (apoiados),
febre amarella 6,8 pessôas. ha de confessar forçosamente que ninguem poderia ser
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): escolhido para presidir a provincia do Ceará com mais aptidão
– Temos casos de febre amarella talvez em maior numero do nas circumstancias actuaes do que esse illustre magistrado.
que ordinariamente se dão; mas não ha mais o caracter (Apoiados.) Creio, pois, que o nobre senador não tem razão,
epidemico dessa enfermidade, e, desde que tenho o juizo queixando-se do governo nesta parte.
competente dos medicos, por maior que seja o respeito que Referiu-se o nobre senador a outras provincias?
tributo ás luzes do nobre senador, não posso reconhecel-o O SR. POMPEU: – Fallei em geral.
como mais competente para interpôr-se opinião contraria. O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
Sr. presidente, insistiu o nobre senador em saber – Não continuou nomes.
minha opinião a respeito do direito de um dos filhos de S. A. a O SR. POMPEU: – Não concordo com o que V. Ex. diz
Sra. princeza D. Januaria, isto é, daquelle que está residindo a respeito do presidente do Ceará; póde ser bom magistrado,
no Brasil. Já tive occasião de declarar ao nobre senador e é; mas administrador, não.
minha opinião a respeito da Sra. condessa d’Aquilla e de seu O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
filho que não se acha no Brasil. Quanto ao Sr. D. Felippe, – Fez o nobre senador uma longa exposição de factos, mas
inclino-me a crer, como pensou o legislador de 1862, que elle não demonstrou a culpa do governo.
não conservará seus direitos de principe brasileiro; mas São estas, Sr. presidente, as observações que eu tinha
continúo a ter as duvidas que manifestei, porque tenho a a fazer e sento-me pedindo desculpa ao senado (Muito bem,
considerar que seus augustos pais mantiveram-se na posição muito bem.)
de principes do Brasil até á maior idade do Sr. D. Felippe; O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Sr. presidente, tenho
seguiu-se a isso o facto da residencia do Sr. D. Felippe no a infelicidade de fallar sempre tarde, o que ainda me é mais
Brasil, e essas circumstancias me parecem que lhe tem dado penoso por estar soffrendo em minha saude.
certo direito a conservar-se aqui. O SR. ZACARIAS: – O que muito sinto...
O SR. ZACARIAS: – Então emendo o art. 18. O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Obrigado a V. Ex...
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): O SR. ZACARIAS: – Se eu fosse medico, dava-lhe
– Não sei em que o art. 18 se oppõe a isso. algum remedio.
O SR. ZACARIAS: – Refere-se á lei que manda isso O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Mesmo sem o ser,
que V. Ex. diz ser contrario ao principe. V. Ex. póde aconselhar-me algum, que não duvidarei
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): experimentar.
– Não duvido da disposição da lei; mas si o nobre senador Devo porém, dizer algumas palavras depois do
quer minha opinião abstrahindo da lei... discurso do illustre ministro do Imperio.
O SR. ZACARIAS: – Não, o que V. Ex. põe em vigor é E’ verdade que a commissão, e já quando a 1ª vez
a lei. fallei fiz esta declaração aliás desnecesaria, apresentando as
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): emendas que se acham sobre a mesa não teve por fim senão
– ...dir-lhe-hei que tenho muita duvida a esse respeito. a conveniencia do serviço publico sem attenção alguma á
considerações politicas.
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Apoiado, e muito menos
de hostilidade ao ministerio neste assumpto.
Sessão em 21 de Maio 167

O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – A sorpreza de que autorisação para reformar a secretaria de Estado com a
se tomou o illustre ministro por não ter sido anteriormente limitação de não poder exceder á despeza, que actualmente
consultado ou ouvido a respeito das emendas... se faz com esse ramo de serviço. A commissão o que fez?
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): Fez o que disse o nobre ministro que era recommendado pelo
– Eu não me queixei. seu collega o Sr. presidente do conselho; limitou o praso
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – A sorpreza de que dentro do qual devia ser effectuada a reforma, e declarou que
se tomou o illustre ministro (eu não disse que se queixou) por esta seria sujeita á approvação do corpo legislativo. São
terem sido apresentadas as emendas sem que o ouvissemos principios inconcursos e que, se alguma vez tem sido
previamente, devia sem duvida desvanecer-se desde que S. esquecidos, nós devemos recommendal-os, avival-os á
Ex. soube, como hontem expliquei, que nós para isso não lembrança do corpo legislativo, para que, por prescripção, não
tivemos tempo. percamos essa attribuição.
Querendo de alguma forma sanar essa falta, si falta De accordo com o illustre ministro, até fomos além
pode considerar-se, alguns membros de commissão em daquillo que a commissão queria; assentámos que melhor
maioria tiveram uma conferencia posterior com o illustre seria que esta restricção fosse posta a todas as autorisações
ministro do Imperio, no intuito de chegar a um accordo a para reforma; que fizesse isso parte de uma disposição geral
respeito da aceitação das mesmas emendas, porque, não confundida nos artigos em que se acha o que se refere ao
havendo espirito de hostilidade nem de um nem de outro lado, ministerio da fazenda e com mais alguma garantia para o
não seria difficil ajustar o que mais conviesse ao serviço do exame e approvação do corpo legislativo.
estado. Assim é que nessa disposição geral nós
Algumas das emendas são tão simples que não vale a determinaremos: 1º o prazo dentro do qual a reforma será
pena que eu insista sobre sua admissão. Não fallarei mais feita, um anno ou dous; 2º que a reforma será sujeita á
dessa razão apresentada em favor de uma das casas de approvação do corpo legislativo na sua proxima reunião; 3º
caridade do Ceará, porque a commissão não olhou para a que, uma vez feita a reforma e sujeita ao corpo legislativo,
importancia da instituição, olhou somente para o exemplo que ainda que este a não tenha approvado, o governo não póde
poderia abrir a porta a outros da mesma natureza em favor de mais tocar nella. Isto são garantias reaes e meios de cortar
outros estabelecimentos que existem não só no Ceará como abusos justamente censurados, pois que differentes
em diversas provincias do Imperio. ministerios, por isso que as reformas não haviam ainda sido
Eu poderia tambem fazer agora uma excursão aos approvadas pelo corpo legislativo, teem-se julgado com
principios economicos e mesmo religiosos para demonstrar direito, depois de 2, 4, 6, 8 e 10 annos, a fazer novos
que não é o melhor meio de caridade o official; mas deixo esta regulamentos, alterar os vencimentos, impôr novas
questão para outra occasião, chegarei ás emendas que tem obrigações, crear empregos etc.
mais alguma importancia. Ora acho que neste caso a commissão alcançou na
A emenda a respeito da directoria da estatistica é de conferencia com o nobre ministro mais do que aquillo a que se
pura fórma, não tem em si essencialmente importancia propunha com a emenda que apresentou.
alguma. A commissão diz: «O governo pelo credito da lei de Passemos á mais importante, que e a do matadouro
1870, está autorisado para as despezas do recenceamento, publico. A’ commissão repugnava com toda a razão, e creio
nós entendemos porém que por este credito devem ir sendo que neste ponto não haveria transacção possivel, votar credito
feitas as despezas de expediente e outras de impressão, até que não fosse limitado.
que conhecendo-se exactamente o quantum dellas se possa As razões nesse sentido expostas calaram, nem
fixal-o no orçamento respectivo.» podiam deixar de calar, no animo do nobre ministro; então
Disse, porém, o illustre ministro do Imperio: «Tenho disse elle que, pelos exames e informações que tinha obtido,
feito as despezas por esse credito, é verdade; mas quero que parecia-lhe que a obra não podia ir além de 2,000:000$. Ora,
se fixe o quantum, abrindo assim mão de um direito se a commissão fixar o quantum da obra, desapparece a
discricionario de que póde haver abuso e a cuja tentação não objecção proposta para que fosse approvada pelo corpo
me quero arriscar.» Ora, considerando a questão em si, quem legislativo a emenda tal qual veiu da camara dos deputados.
aqui propugna mais por uma restricção ao governo é o proprio Não conseguiu a commissão sómente isso; conseguiu
governo; a commissão neste caso poderia ser taxada de dar tambem que o imposto de quatro réis, que necessariamente
ao ministerio mais confiança do que convinha para gastar de devia vir encarecer um dos generos de primeira necessidade,
um credito, que de alguma fórma é illimitado, pois que o desapparecesse igualmente.
governo acha-se pela mesma lei autorisado a abrir creditos O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Apoiado.
supplementares para qualquer despeza extraordinaria, ou que O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Mas, como para a
vá além do credito de 400:000$. Conseguintemente para a realisação de uma obra tão importante, a commissão não
commissão é indifferente; a despeza se ha de fazer; ou se ha podia deixar de dar ao governo meios, desde que lhe tirava
de fazer fixando no orçamento ou pelo credito que o governo aquelle recurso que elle julgava preciso para levar a obra a
tem. Por isso, ou nesta 2ª discussão ou na outra, a effeito, assentou-se que poderiamos autorisar o governo a
commissão se tiver tempo se entenderá, porque não podemos contrahir um emprestimo, ou fazer outra qualquer operação de
nos entender todos, a ver o que é preferivel neste caso. Estou credito para obter as quantias necessarias, na importancia de
que a commissão prefere fixar a quantia no orçamento a 2,000:000$ para mudança do matadouro publico; dar-lhe
deixar aberto o credito. Se, porém, fechar-se agora a como recurso para pagamento dos juros desse emprestimo e
discussão não teremos tempo. amortisação do capital o imposto do gado de consumo, que é
Qual a outra emenda? E’ a da reforma de secretaria. cobrado para o cofre geral e que,
Conservámos aquillo que pede o governo, isto é, damos
168 Sessão em 21 de Maio

pela sua natureza, é applicavel a esse intuito; esse imposto do orçamento, eu tinha dito na camara dos deputados, e tinha
orça de 180 a 200:000$; chega perfeitamente para o serviço dito aqui que respeitaria essas attribuições. Parece-me alias
do pagamento dos juros e mesmo para o da amortisação. Se que nenhuma declaração previa era necessario que eu
não for sufficiente, a commissão lembra que, verificada a fizesse, porque não havia de ter a intenção de commetter uma
mudança do matadouro, o terreno e edifficios em que irregularidade, um crime mesmo, infringindo uma lei, cuja
actualmente elle se acha podem ser transferidos, aforados ou execução era do meu dever.
vendidos, o que dará um producto não menor a 500:000$, que Conversando com o nobre senador, relator da
servirá para amortisação do capital, que se tiver tomado por commissão de orçamento, com o honrado senador marquez
emprestimo, para construcção do novo. Se alguns outros de S. Vicente, com o nobre senador pela provincia do
meios mais forem necessarios, teremos sempre tempo de Amazonas e com o nobre senador pela provincia de Minas
consideral-os. Geraes, eu disse expontaneamente que a condição de serem
A commissão quer que neste negocio o governo preenchidas as formalidades da lei de 1 de Outubro de 1828
attenda ás condições da lei de 1º de Outubro de 1828, podia ser incluida, e suggeri a formula de uma emenda neste
fazendo intervir a municipalidade na fórma porque deve sentido.
intervir em semelhante melhoramento. Repito ao nobre senador que não quiz fazer uma
Entendo que por esta maneira conseguimos todos questão de susceptibilidade; não costumo fazel-a; mas julguei-
aquillo que desejamos: o nobre ministro a realisação de uma me obrigado, para evitar a interpretação que as palavras do
obra tão importante, tão necessaria, tão urgente, a commissão nobre senador (não digo que fosse sua intenção) podiam ter, a
e aquelles que propugnam pelas garantias municipaes, pelas tornar bem saliente aqui que não pedi nem defendi um credito
attribuições das municipalidades, e pelo principio de não illimitado, nem tinha intenção de contrariar por qualquer modo
conceder creditos indefinidos, ficam plenamente satisfeitos. as disposições da lei de 1º de Outubro de 1828.
Mas eu já disse que alguns dos membros da O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Estava persuadido
commissão estão accordes nessa idéa; outros ainda não de que a disposição que se acha no orçamento autorisando o
foram ouvidos por falta de tempo. Dando, porém, estas governo a mudar o matadouro e a cobrar o imposto de 4 rs.,
explicações, espero que todos chegaremos a um accordo e era proposta do governo.
que, se não nesta discussão, poderá a commissão na outra, O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
de conformidade com o que acabo de expender, formular – Não, senhor, é da camara municipal.
outras emendas para serem approvadas pela camara dos Srs. O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Se é da camara
senadores. municipal não é esta a formula porque taes propostas devem
E’ o que tinha a dizer, as explicações que tinha a dar. chegar á camara dos deputados.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): O SR. ZACARIAS: – Apoiado.
– Julgo dever dar uma explicação. O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Se não é proposta
Creio que nunca pedi á commissão nem defendi do governo, se o governo não a defende, voto contra ella
credito illimitado. desde já, porque outra devia ser a forma.
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Está no orçamento. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): Conselho): – O caso é urgente, de qualquer forma deve-se
– Perdoe-me; já disse porque. dar meios.
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – E’ muita O SR. ZACARIAS: – Mas de outro modo.
susceptibilidade. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): Conselho): – V. Ex. está nos aterrando todos os dias com a
– V. Ex. entenderá como quizer; mas penso que explico bem o febre amarela e outras epidemias.
meu procedimento. Não pedi credito illimitado nem o defendi. O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Nós temos exemplo
O que me parece legal, constitucional mesmo, é que o de objecto identico, que nos indica qual o meio proprio para se
imposto proposto pela camara municipal seja transmittido tal levar a effeito essas obras.
qual ella o propoz ao corpo legislativo, o governo não tem que O SR. ZACARIAS: – A proposta da camara
impedir no meio do caminho essa proposta; ella vai ser desapareceu; a idéa é do governo.
resolvida por quem de direito. O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Em 1851, quando se
Além disto pareceu-me, para não levantar uma tratou de construir o matadouro, de cuja remoção nos
questão sobre isto, que quando se cria um imposto de occupamos...
applicação especial, se o serviço é continuo, o imposto o O SR. ZACARIAS: – Já citei isto.
acompanha sem limite; mas quando o imposto de applicação O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – ...a camara dos
especial tem por fim satisfazer a um serviço cujo termo se deputados em lei tambem do orçamento, deliberou o seguinte:
prevê pela satisfação desse serviço limita-se o producto do «A camara municipal da cidade do Rio de Janeiro é autorisada
imposto votado. para cobrar...» (Marcou-lhe os impostos que havia de cobrar e
Mas nunca fiz questão disto, nem farei agora. Permitta a applicação que haviam de ter) «a mesma camara fica
o nobre senador dizer-lhe que não levantei-me para fazer autorisada para contrahir, sob hypotheca de suas rendas e
questão de susceptibilidade; o que não quiz foi que parecesse com a approvação do governo, um
que eu tinha defendido um credito illimitado, e muito menos
pretendido obtel-o.
Quanto ás attribuições da camara municipal, muito
antes de ter a honra de entender-me com a nobre commissão
Sessão em 21 de Maio 169

emprestimo da quantia, que fôr necessaria para conclusão da a camara municipal, como tem feito com muitas outras obras
obra do novo matadouro pela maneira mais vantajosa, a fim municipaes, como por exemplo está ajardinando o Campo.
de que preste os serviços a que é destinado; ficando tambem Acho que na realidade houve susceptibilidade que
dependente da approvação do governo o plano e execução da minhas palavras não autorisavam. Não me parece que
mesma obra...» Depois vem os impostos, etc. alcançamos victoria, fomos ao contrario vencidos, se ha algum
O SR. ZACARIAS: – Esse é o methodo. vencido foi a commissão, porque são as suas emendas, que
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Esse é o methodo estão sobre a mesa, que propõem que se destaque o artigo
que se deve adoptar, é o mais regular. sobre o matadouro. O que se tratava de mostrar é que
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): destacando-se o artigo, ficava-se de accordo com a opinião do
– Onde está estabelecido? governo.
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Está estabelecido na A’ vista disto, porém, já não sei o que heide pensar;
natureza das attribuições municipaes. O governo não póde de até então poderia combinar com meus collegas; o que
por si propôr uma obra municipal, póde fazer obras no havemos de fazer agora? O caso muda de figura; a proposta é
municipio da Côrte, mas não obra meramente municipal. A da camara municipal; não está desenvolvida; a autorisação é
camara municipal, em relação ao corpo legislativo geral está dada ao governo.
na mesma posição que as outras camaras municipaes para as O SR. ZACARIAS: – O meio conciliatorio é separar o
assembléas provinciaes. artigo e depois discutil-o.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Confesso a V. Ex.
– A proposta da camara está no relatorio de 1872. que preciso de tempo para meditar sobre isto, á vista do que
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Póde o corpo disse o nobre ministro; se antes não poderia mandar emendas
legislativo formular uma postura municipal? Ha de esperar que de qualquer correcção, agora muito menos mandaria.
a camara a proponha para approvar ou reprovar, emendar ou O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
substituir, mas não póde de per si tomar a iniciativa. Ora, o Conselho): – Sr. presidente, as questões debatidas entre o
matadouro publico é uma obra municipal; está reconhecida até meu collega Sr. ministro do Imperio e o illustre senador pela
por essa lei de 1851, que mandou fundal-o, que dotou-o de Bahia, relator da commissão do orçamento, ao que me
meios e recursos para poder pagar o emprestimo que parece, estão a caminho de uma solução facil e prompta,
autorisou a camara a contrahir. O que se vê no orçamento é porque o nobre ministro declarou que aceitava algumas das
que fica o governo autorisado a mudar o matadouro, a cobrar emendas da illustrada commissão, e só a respeito de tres fez
o imposto de 4 réis para adjutorio da obra; desapparece observações, que devem ter calado no espirito da mesma
completamente a camara municipal. commissão.
O SR. ZACARIAS: – E’ uma offensa á Illma camara. Eu tive a honra e o prazer de assistir hontem á noute á
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Que ha credito conferencia do Sr. ministro do Imperio com quatro dos
illimitado, não ha duvida; os termos do projecto o dizem. O illustrados membros da commissão, e creio que houve um
nobre ministro diz que não o pedio; quem pedio? accôrdo muito razoavel, porque assentou na verdade dos
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): factos e nos principios que dirigiram a nobre commissão do
– A camara municipal. orçamento. Segundo esse accôrdo, a emenda relativa á
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Agora é que sei. repartição de estatistica deve desapparecer, por força das
O SR. CORREA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): explicações que reciprocamente foram dadas. Como ministro
– Está no relatorio de 1872. da fazenda, eu teria duvida séria em entender e applicar o
O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – E o governo toma a credito especial concedido pela lei de 9 de Setembro de 1870
si essa proposta, apresenta-a como sua, em vez de dizer: «a com a amplitude que teria, se acaso as despezas annuaes da
camara municipal fica autorisada a remover o matadouro, repartição de estatistica fossem levadas á conta desse credito.
contrahindo um emprestimo para construcção de outro, cobrar A lei de 1870 conferiu um credito especial para o
taes e taes impostos, etc., ficando as despezas que se recenseamento da população do Imperio, fixando-o em
fixarem, de conformidade com a lei de 1º de Outubro de 1828, 400:000$, e permittindo, se essa quantia não fosse sufficiente,
sujeitas á approvação e fiscalisação do governo» Eu completal-a por creditos supplementares. Mas o que quer
persuadido de que a proposta não era da camara municipal, dizer recenseamento da população do Imperio? Quer dizer
sem idéa de que o nobre ministro tivesse de ceder, dizia que uma serie de operações determinadas pela natureza desse
para isso conseguissemos, a commissão proposesse uma trabalho; e, pois, o credito não póde ser applicado a despezas
emenda nesse sentido, com a acquiescencia de S. Ex.: não foi de outra especie.
porque o nobre ministro desconhecesse esses principios; tal Creou-se ao mesmo tempo, em virtude da citada lei,
não podia ser a minha intenção, quando não por outro motivo, uma officina publica com o nome de repartição de estatistica,
porque bastava a posição de S. Ex. para que se não pudesse a lei consignou desde logo a quantia necessaria para o
duvidar de que não era alheio a esta materia. O certo é que a pessoal dessa repartição, mas a outra despeza annual, além
camara municipal não era contemplada como devendo ser dessa que é feita com os empregados, deverá sahir do credito
ouvida, nem achar-se de accordo com o governo. Desde que especial, destinado ao recenseamento da população? Creio
o corpo legislativo é o primeiro a dizer que fica o governo que não (Apoiados).
incumbido, qualquer ministro póde fazer a obra sem ouvir Por consequencia, a querermos que os relatorios
annuaes e quaesquer outras impressões periodicas daquella
repartição saiam do credito especial, amplia-se a faculdade
que
170 Sessão em 21 de Maio

a lei dera para um fim certo e determinado; esse credito julgadas urgentes, e sem submetter immediatamente o seu
tornar-se-ia então permanente e illimitado. acto á approvação da assembléa geral.
A principio, como disse o illustrado relator da Que estas idéas da illustre commissão são aceitas por
commissão, não tendo ainda a repartição de estatistica um convicção, o nobre ministro do Imperio o disse, e ha um
logar no orçamento do Imperio, pois fôra creada por lei documento anterior que o confirma, o relatorio do ministro da
especial de Setembro de 1870, de necessidade as primeiras fazenda de Maio do anno passado. Ahi manifestei-me no
impressões deveriam ser feitas por conta do credito especial, mesmo sentido; nunca entendi que taes autorisações
tanto mais que eram em parte attinentes ao recenseamento da pudessem durar como algumas teem durado. Ha necessidade
população; mas não toda a despeza ordinaria da repartição, de pôr um cravo nessa roda, de marcar um limite de tempo
para a qual a lei desde logo consignou a somma de para creações ou reformas de serviços publicos, como já se
25:000$000. fez com os creditos especiaes, que antes andavam
O nobre barão de Cotegipe observou justamente que a inteiramente fóra do orçamento.
commissão daria mais arbitrio ao governo com a sua emenda, A emenda, porém, não estabelece o principio que
porque o pensamento desta é supprimir algumas quantias que inspirou a illustrada commissão do orçamento, não prescreve
ora accrescem no orçamento do Imperio, pela consideração uma regra geral; como está concebida, não póde regular
de que a despeza, a que essas quantias eram destinadas, senão para o caso actual. Parece-me que convém substituil-a
poderá ser feita por conta do referido credito especial. O nobre por uma disposição geral, não pelo receio de que possa vêr-se
ministro, porém, entende, como eu, que o credito especial tem nessa emenda uma singularidade com relação ao actual
applicação restricta, e que a despeza ordinaria da repartição ministro do Imperio, mas porque é preciso que as cousas se
de estatistica, sua despeza annual, deve ser fixada na lei do façam do melhor modo e o legislador exprima claramente o
orçamento. seu pensamento. Adoptemos uma disposição geral, e, a não
Portanto, creio que as idéas estão todas de accôrdo ser assim, penso, como o nobre senador pela Bahia, que hoje
quanto aos fins. E se isto é exacto, se tambem é certo que da fallou, já temos maior restricção no projecto actual. Sim, este
parte do ministerio não ha senão o desejo de proceder do projecto de lei de orçamento já restringe o uso das
modo mais regular e conforme á lei; se não desejamos o autorisações dessa natureza, como se vê do art. 17. Se não é
arbitrio de gastar pelo credito especial, sem quantia fixada, isso bastante, estabeleça-se preceito mais generico, mas de
dando a esse credito caracter permanente e illimitado; se a modo que sirva não só para este como para todos os casos
illustrada commissão o que deseja, não obstante o apoio com semelhantes.
que a sua maioria nos honra e a que temos sempre procurado A illustrada commissão, ou pelo menos os seus dignos
corresponder, é mostrar-se fiscal rigorosa dos dinheiros membros que são nossos co-religionarios politicos e hontem
publicos, parece que o ministerio entra plenamente em suas tiveram a bondade de ouvir-nos, concordam nesta idéa; seu
idéas, pedindo-lhe que antes approve o paragrapho additivo unico desejo é vêr estabelecida uma regra geral. Mas então,
da outra camara do que a suppressão que propoz. porque ha de passar a emenda da commissão, que não
Se convém, como me parece evidente, manter o que estabelece regra geral, apenas se applica ao caso vertente?
veio da outra camara, não fôra curial que o senado Passar a emenda para ser depois inutilisada por uma
approvasse agora a emenda suppressiva da illustrada disposição geral que traga a necessidade de restabelecer o
commissão, para rejeital-a na terceira discussão. Se o que que veio da outra camara, não é curial. Se a illustrada
veio da outra camara é digno de ser approvado, approve-se commissão está nessas idéas, o procedimento logico é retirar
desde já, e não rejeite-se agora para restabelecer depois. desde já a sua emenda e substituil-a pela disposição geral e
Além de não ser este procedimento o mais racional, julgo que permanente em que todos concordamos, nesta ou na 3ª
haveria nisso uma falta de deferencia para com a outra discussão.
camara. Minha norma de proceder nesta casa tem sido sempre
Algumas destas observações, Sr. presidente, se não emendar sem necessidade o que vem da outra camara; e,
applicam exactamente á emenda que se refere á autorisação quando inclino-me a alterar os projectos dessa origem, medito
para reforma da secretaria de estado dos negocios do Imperio. muito, porque a presumpção é que os deputados procedem
A honrada commissão (isto está patente, não eram precisas com reflexão, procuram consultar bem os interesses publicos
explicações; bastava vêr o teor de sua emenda) não quiz e resolver com acerto.
negar um voto de confiança ao nobre ministro, porque o Portanto, se temos de adoptar uma disposição geral,
autorisa a reformar a secretaria do Imperio, sem outra que dispensará esta restricção especial, a emenda da
limitação que não seja a que lhe fôra imposta pelo voto da illustrada commissão deixa de ter razão de ser; releva que
camara dos Srs. deputados, isto é, com a restricção de não subsista o que veio da outra camara, porque a regra geral
ser augmentada a despeza actual. A unica alteração ora suppre tudo, serve agora como em qualquer outro caso futuro.
proposta não versa sobre os limites da faculdade dada ao Pelo que respeita á questão do matadouro, o nobre
governo, mas sobre o praso em que elle deve usar dessa barão de Cotegipe não entendeu bem a observação do meu
autorisação, praso fixado em dous annos pela emenda do honrado collega. Dizendo-se que a autorisação como passara
senado. na outra camara, involve implicitamente a concessão de um
O pensamento da commissão foi que autorisações credito illimitado, o meu nobre collega julgou conveniente
dessa natureza não devem ser permanentes; que o governo declarar ao senado que nunca estivera em seu pensamento o
não possa effectuar reformas para que for autorisado quando pedir um credito illimitado.
e como quizer, considerando sem limitação de tempo O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
autorisações aliás dadas como delegação transitoria, para – Apoiado.
attender-se a necessidades do serviço publico que foram O SR. ZACARIAS: – Mas está no artigo.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
Conselho):
Sessão em 21 de Maio 171

– Havia proposta da camara municipal para construcção valem em relação á importancia dos negocios com que se
de um novo matadouro, pedindo-se como meio de renda deve occupar o senado. O que importa é saber se ha
para essa despeza o imposto de que falla o additivo da necessidade de remover o matadouro. E’ indubitavelmente
camara dos Srs. deputados: o nobre ministro do lmperio uma necessidade e necessidade urgente.
procedeu a todos os exames necessarios, afim de que o O SR. ZACARIAS: – Não é essa a questão.
governo pudesse julgar das melhores condições dessa O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
importante obra, e, bem convencido de sua necessidade e do Conselho): – Importa isso á salubridade publica?
urgencia, propoz que se inserisse no projecto de lei do Importa á decoração desta capital? Então vejamos o
orçamento a idéa do conselho municipal. melhor meio de conseguir o que todos desejamos. A
Disse o nobre barão de Cotegipe: «Mas uma propria camara municipal da Côrte tem instado com o
proposição da camara municipal deve ser apresentada por governo para que isso se faça, é questão que dura ha
outra fórma e seguir outros tramites.» – Note S. Ex. que é muitos annos com descredito nosso e prejuizo da saude
exacto o que lhe ponderou o meu honrado collega, não ha publica. O imposto não convém? Então adopte-se algum
norma legal sobre a fórma das propostas da camara outro recurso. Ha receio de abuso? Estabeleçam-se as
municipal da Côrte, nem tramites especiaes para que restricções que possam evital-o.
sejam approvadas pelo governo ou pela assembléa geral. O SR. ZACARIAS: – Separemos.
O governo, concordando com a camara municipal O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
sobre aquella necessidade, pede á assembléa geral que do Conselho): – Mas separar, sem que o nobre senador
lhe faculte os meios precisos para realisar-se o projectado nos possa garantir que a reclamada providencia passará
melhoramento: dada a autorisação e os meios, o governo em tempo, que não ficará prejudicada por tantas outras
procederá para com a administração do municipio nos que hão de chamar a attenção do senado nesta sessão, é
termos da lei do 1º de Outubro de 1828. ao que não posso annuir.
O SR. ZACARIAS: – Não é o que está no artigo. O SR. ZACARIAS: – E’ serio isso? Pois eu é que
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente devo garantir a V. Ex.? V. Ex. é que ha de dar-me garantia;
do Conselho): – Sr. presidente, esta discussão parecia- faça discutir.
me inteiramente inutil, se o nobre ministro do Imperio O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
annuiu a que se separasse a autorisação de que se trata, do Conselho): – Se o nobre senador não póde dar essa
ao que eu tambem me não opporia, uma vez que a cousa garantia, eu tambem não a posso dar, porque não tenho
se fizesse por outro modo; mas estou combatendo uma poder absoluto sobre as camaras legislativas.
idéa que não julgo legal nem conveniente, a de que não O SR. ZACARIAS: – Eu Ih’a dou pela minha parte.
podemos deliberar a esse respeito, sem que venha Estamos ainda em Maio.
proposta formal da camara municipal. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – O Sr. ministro do do Conselho): – Sr. presidente, não entrarei agora na
Imperio não concorda na separação. questão de poder ou não o governo, sem offensa dos
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente direitos da municipalidade, tomar a si a construcção do
do Conselho): – Mas concorda em que a autorisacão seja matadouro; mas de passagem direi que a assembléa geral
formulada nos termos que parecerem mais convenientes. está em seu direito, se entender que convém entregar
O SR. ZACARIAS: – Perdôe-me, isso não é antes ao governo a construcção de um matadouro.
separação. O SR. ZACARIAS: – Não está em seu direito, só se
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente for o direito do mais forte.
do Conselho): – A illustrada commissão, representada O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
pelos membros que conferenciaram com o nobre ministro do Conselho): – Está em seu direito, como estava quando
do lmperio hontem concordou em que, attenta a urgencia permittiu que o governo mandasse calçar as ruas desta
que ha desta providencia, se formulasse a autorisação cidade; quando entregou ao governo o serviço da
com as clausulas que lhe pareciam mais acertadas. illuminação publica, o do abastecimento d’agua e varios
O SR. ZACARIAS: – V. Ex. está em divergencia outros serviços. O municipio neutro, capital do Imperio,
com o Sr. ministro do Imperio. séde dos poderes geraes, está em circumstancias muito
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente especiaes. Quem pôde commetter, ao governo os serviços
do Conselho): – Suppuz que o nobre ministro do lmperio que enumerei, e a construcção do canal do mangue e o
havia annuido á separação, e eu devia ir com elle. cáes da Gloria, póde tambem commetter-lhe a construcção
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do do novo matadouro, ainda que a lei do 1º de Outubro de
Imperio): – Mas tambem não combati. 1828 entregasse tão importante obra ao juizo exclusivo do
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente conselho municipal. (Apoiados.)
do Conselho): – S. Ex. é mais competente como ministro O que seria inteiramente repugnante com a indole
do Imperio para conhecer desse negocio. da instituição municipal, fôra que o governo tomasse a si a
O SR. ZACARIAS: – V. Ex. é mais competente, administração e serviço do matadouro; a construcção
porque é presidente do conselho. simplesmente, sem nenhuma quebra dos principios que
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente regem a constituição das municipalidades, o governo a
do Conselho): – Não queira o nobre senador fazer póde contratar e dirigir com autorisação da assembléa
tambem disto um caso de excommunhão, não me leve já geral.
para o Syllabus. O SR. ZACARIAS: – Isso é sophisma.
Deixemo-nos de tão pequenas circumstancias, que
nada
172 Sessão em 21 de Maio

O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do veneraveis prelados da communhão catholica, porque não
Conselho): – A palavra sophisma é offensiva, mas, como seguem as idéas ultramontanas e dellas receiam a
parte de um bom catholico, como o nobre senador, que deve perturbação da paz da Igreja e da sociedade civil!
amor entranhado ao seu proximo, e que, portanto não póde As reflexões com que o nobre senador tem pretendido
querer offender-me sem motivo, a deixo passar. demittir-me do cargo de ministro de estado, se fossem
Não estou sophismando, Sr. presidente... procedentes, acabariam com toda a justiça administrativa;
O SR. ZACARIAS: – Digo o artigo. seria preciso revogar a legislação vigente sobre os casos de
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do conflicto entre as autoridades administrativas e judiciarias, e
Conselho): – ...trata-se de uma medida de grande interesse sobre todos os casos de abuso ecclesiastico.
para esta cidade, e creio dizer uma verdade incontestavel, Não é esta a unica hypothese em que se possa dizer
observando que os interesses da capital do Imperio são que o governo é juiz e parte; em quasi todas as questões do
debaixo de certas relações e até certo ponto interesses contencioso administrativo o governo figura como juiz e parte;
geraes, porque é pela capital que o estrangeiro julga da mas a lei tem estabelecido o processo e as formalidades que
civilisação do Brasil (apoiados) é aqui que os estrangeiros garantem o conhecimento da verdade e o maior acerto nas
notaveis recebem suas primeiras impressões quanto ao decisões do governo. Assim é que, ainda quando se tem de
estado de adiantamento moral e material do nosso paiz. conhecer de um acto de qualquer dos ministros, contra o qual
Esta questão, porém, não seria agora opportuna, se o se interpõe recurso, não se póde dizer que a decisão do
senado não quizesse votar a autorisação pedida. Se a governo se resinta de interesse que acaso esse ministro ligue
illustrada commissão do orçamento, attentando na urgencia do á sustentação de seu acto.
negocio, tem descoberto com sua experiencia e luzes algum Na conjunctura actual, Sr. presidente, não se trata de
meio preferivel, para chegarmos ao mesmo resultado, sem decidir se a maçonaria do Brasil é ou não anti-religiosa, se ella
condemnar talvez a um adiamento muito prolongado tão util póde ou não subsistir em face da Igreja Catholica; não se trata
providencia, o governo lhe roga instantemente que proponha disto, mas de uma questão de direito, de competencia.
esse meio. Importa neste caso saber se o Revm. prelado de Pernambuco
A separação eu a admittiria... podia praticar os actos que praticou em relação ás confrarias
O SR. ZACARIAS: – V. Ex. já declarou que admitte. daquella capital e a alguns de seus membros; trata-se ainda
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do de saber se acaso a bulla, com que tanto argumenta o nobre
Conselho): – ...tendo a certeza de que o fim não seria senador, relativa aos maçons, póde ou não considerar-se com
prejudicado; mas essa certeza não ha, ao passo que, se a força de lei no Brasil, porque houvesse recebido para esse fim
providencia passar na lei do orçamento, ficaremos seguros de o beneplacito do poder civil desta nação. São questões de
que este ministerio, ou algum outro mais catholico, a resolverá direito, para as quaes não é preciso apreciar o que é a
promptamente e com grande beneficio para a população da maçonaria no Brasil. Minha qualidade, pois, de maçon não
cidade do Rio de Janeiro. terá influencia que não seja muito legitima na decisão que
Eis aqui, Sr. presidente, as considerações que entendi possa tomar o governo.
conveniente expôr ao esclarecido juizo do nobre senador e da Estou a este respeito mais calmo e mais prudente do
commissão de orçamento. que o nobre senador pela Bahia. Não é o maçon que influe no
O nobre senador pela provincia da Bahia tratou hoje de ministro; é talvez o ministro que influe sobre o cidadão que
tantos outros assumptos, cada qual tão importante, que não pertence a uma associação licita e sempre respeitada, contra
cabe na estreiteza do tempo responder a S. Ex. nem sequer a qual se dirigem tantas censuras, sem que elle se mostre
perfunctoriamente, não procurando attingir os pontos ardente em defendel-a, porque tem sua consciencia tranquilla,
culminantes do seu discurso, porque a isso não me confia na illustração do seu paiz e não lhe parecem
abalançaria, mas procurando acompanhal-o terra á terra, opportunas as discussões que o nobre senador pela Bahia
emquanto andou por este mundo. não cessa de provocar.
Todavia o nobre senador mostrou um empenho que eu Agora mesmo recebeu-se noticia de alguns excessos,
não devia esperar de S. Ex. e a que não posso ser de factos desagradaveis occorridos na provincia de
indifferente: quiz fazer crer a todo este Brasil que eu estou Pernambuco, pelo gráo de incandescencia a que tem chegado
excommungado! Ora, se tenho incorrido em tal pena, não é o essa questão.
nobre senador a autoridade ou juiz que o póde declarar. O SR. POMPEU: – O que houve então?
Não sei, Sr. presidente se o Santissimo Padre, bem O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
inteirado do que é a maçonaria brasileira, a comprehenderia Conselho): – Algumas demonstrações populares por causa
na sua bulla de excommunhão. Mas demos que assim seja, da suspensão do deão da sé de Olinda. Já se vê, portanto,
que o nobre senador esteja muito bem informado para dizer- quanto é mister que nos mostremos prudentes, não lançando
nos que o actual chefe da Igreja Universal julga que essas excommunhões a todos os que não pensam como o nobre
associações brasileiras estão no mesmo caso das sociedades senador a quem me refiro, não maldizendo sem necessidade
secretas da Europa, sobre as quaes recahiu o anathema: é uma associação que vivia tranquilla, e que ainda agora, ao
questão em que o nobre senador não devia entrar como o fez; menos pelo que respeita ao circulo a que pertenço, se tem
deixe que o acto do Summo Pontifice se manifeste e actue mantido com a maior serenidade.
sobre a minha consciencia de catholico; e não pretenda o Não é exacto, senhores, que eu fosse causa, ainda
nobre senador concluir dahi que estou fóra da Igreja, e que já que innocente, dos successos que trouxeram a questão de
não posso ser ministro deste paiz, nas circumstancias alguns dos prelados com a maçonaria. Já o disse em outra
actuaes. Ah! quanto não se tem dito contra occasião: ha muitos annos que a maçonaria existe no Brasil e
era tolerada; se não tinha uma existencia legal, nunca
Sessão em 21 de Maio 173

os nossos prelados entenderam que podiam lançar sobre ella meus conselhos, tão prudentes quanto o dictar minha fraca
o anathema em que incorreram as da Europa. A questão do razão.
Sr. padre Martins já tinha passado; o acto do Revm. bispo do Não ha, o nobre senador deve concordar,
Rio de Janeiro sortiu seus effeitos e foi respeitado, comquanto incompatibilidade alguma, nem legal nem moral, entre a minha
não parecesse justo: ninguem póde responder pela discussão posição official e a particular. E aqui devo accrescentar que o
que travou-se a esse respeito na imprensa; infelizmente illustre prelado de Pernambuco, ao tomar sua resolução a
alguns jornaes religiosos não dão exemplo de moderação e de respeito dos maçons, não teve nenhuma intelligencia prévia
prudencia. A questão actual, pois, não proveio da publica com o governo. O nobre ministro do Imperio não teve noticia
demonstração que a maçonaria do Rio de Janeiro deu do seu da intenção, senão depois do facto. Portanto, o Revm. bispo,
regosijo pelo importante facto da lei de 28 de Setembro de quando assim procedeu, já sabia que fazia parte do governo
1871, que reformou o estado servil no Brasil. do Brasil, senão mais de um, pelo menos um maçon. Ora,
Sr. presidente a maior censura que alguns espiritos quereria o nobre senador que, pela facto de ter o chefe de
nimiamente escrupulosos faziam á maçonaria brasileira era uma de nossas dioceses levantado essa questão inteiramente
que, sendo uma associação beneficente, toda de paz e de nova no Brasil, eu me julgasse incompetente para continuar a
virtude, não trabalhasse senão sob mysterio, a portas exercer o cargo de ministro de Estado?
fechadas. Pois bem, senhores, foi justamente quando a Sr. presidente, se eu aceitasse semelhante demissão,
maçonaria abriu todas as suas portas e mostrou que alli não commetteria, não direi só um grande erro, mas até desar á
havia nada que pudesse aterrar ou ser condemnado, foi desde dignidade do governo do meu paiz. (Apoiados).
então que circularam essas idéas, que fizeram nascer a Adduzirei ainda duas reflexões, e com ellas porei
questão vertente. termo a este discurso. Preciso tranquillisar o nobre senador
Até dá-se presentemente mais uma notavel pela Bahia, porque elle julga-me em estado critico, pensa que
circumstancia, e é que algumas lojas maçonicas teem minha consciencia está abalada, e, como bom catholico que é,
requerido pelo ministerio do Imperio approvação dos seus soffre tambem por minha causa (Riso). Desejo tranquillisar a
estatutos como sociedades de beneficiencia. Pois é quando a S. Ex. no interesse que por mim parece tomar.
maçonaria abre de par em par suas portas, para que se veja A França é uma nação catholica, tem o titulo de
que não ha alli mysterios satanicos; é quando as lojas christianissima; Napoleão III sustentava o poder temporal de
maçonicas começam a pedir approvação dos seus estatutos, Pio IX; entretanto foi sob o Imperio de Napoleão III, que por
como as demais sociedades que se propoem aos mesmos fins um decreto o governo chamou a si a nomeação do grão-
sociaes; é quando já não ha segredo a respeito dos trabalhos mestre do oriente francez. Estabelecido este novo regimen na
dessa associação, que se pretende condemnal-a, não pelo maçonaria franceza, o primeiro nomeado foi o marechal
que fez, mas pelo que póde fazer, não só relativamente á Magnan.
religião, mas até segundo nos disse o nobre senador pela O duque de Persigny, como ministro do interior, dirigiu
Bahia, em relação ao throno? uma circular a todos os prefeitos da França, recommendando-
Senhores, se o nobre senador se informar do que é a lhes que respeitassem as sociedades maçonicas, que, se não
maçonaria do Brasil verá que entre os seus grão-mestres tinham existencia legal, haviam sido e mereciam ser toleradas;
figura o nome do Sr. D. Pedro I, fundador do Imperio, e que a e como nessa circular elle recommendara ao mesmo tempo a
elle succedeu, José Bonifacio de Andrada, um dos patriarchas sociedade de S. Vicente de Paulo e outras congregações
da nossa independencia. religiosas, o bispo de Nimes, assaz notavel por suas opiniões
Não ha razão, senhores, para que o nobre senador extremas sobre o poder espiritual, vendo a maçonaria a par de
nos falle com tanto desdem e até com aversão, e, se, não com corporações religiosas, queixou-se e trouxe a lume tudo
aversão, com tanta desconfiança da maçonaria do Brasil. Ella quanto se tem dito contra a marçonaria, considerando-a
tem sido uma corporação pacifica, respeitadora da religião e tambem como uma caverna na qual se preparam tempestades
util á nossa sociedade. infernaes contra o altar e a ordem social. Mas a circular do
Se a quizerem perseguir, se a quizerem proscrever em duque de Persigny foi executada; e Napoleão III e o duque de
nome da religião, quando sua existencia e fins são puramente Persigny não foram excommungados. Ambos continuaram em
civis, quando não se occupa com os negocios da Igreja, nem boas relações com os prelados e a curia romana. Isto passou
com a politica, então sim, é possivel que ella desvaire e se em 1862.
torne perigosa. Não o será sob minha direcção, porque confio Portanto, o nobre senador deve crer ou pelo menos
muito no triumpho da verdade pelos meios legaes, e porque permittir que eu acredite que não estou excommungado.
não é exacto que eu ambicionasse a posição que me foi (Muito bem, muito bem).
offerecida na maçonaria brasileira; pelo contrario só o Ficou adiada a discussão pela hora.
reconhecimento que devo a muitos cidadãos dignos de estima Retirou-se o Sr. ministro com as mesmas formalidades
me prende a essa posição: e tranquillo como estou em minha com que fora recebido.
consciencia, conhecendo como conheço a injustiça do que se O Sr. presidente deu para ordem do dia para 23;
allega contra a grande maioria dessas corporações, o nobre Continuação da 2ª discussão do projecto de lei do
senador comprehende que não haveria consideração alguma orçamento.
que me obrigasse a abandonar aquelles que me honraram Levantou-se a sessão ás 5 horas e 5 minutos da tarde.
com a sua confiança e amizade, porque ha quem pretenda
expol-os á animadversão publica. Nestes momentos hei de
acompanhar aquelles meus amigos, entre os quaes ha muito
bons catholicos, bons chefes de familia, homens muito
prestantes: hei de acompanhal-os e dar-lhes
174 Sessão em 23 de Maio

15ª SESSÃO EM 29 DE MAIO DE 1873. contra o artigo additivo acerca do matadouro offerecido ao
projecto de lei do orçamento pela camara dos Srs. deputados.
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. O Sr. Presidente disse que ficava sobre a mesa para
ser tomada em consideração com o projecto de lei do
Summario. – Expediente. – Ordem do Dia. – Orçamento orçamento, indo entretanto, a imprimir.
do Imperio. – Representação da IlIma. camara municipal da O Sr. 2º Secretario leu o parecer da mesa n. 523, de
Côrte. – Discurso do Sr. Leitão da Cunha. – Discurso e emenda 23 de Maio de 1873, expondo a materia de uma proposição da
do Sr. Visconde de Nitherohy – Discursos dos Srs. marquez de camara dos Srs. deputados que approva a pensão de 60$
S. Vicente, Leitão da Cunha, visconde do Rio Branco e Pompeu. mensaes sem prejuizo do meio soldo que lhe competir,
concedida por decreto de 30 de Outubro de 1872 a D. Maria
Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se presentes Isidora Barreto Lins, viuva do coronel reformado Bento José
42 Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté, Almeida e Lamenha Lins, bem como outras, concluindo que a proposição
Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de Carvalho, seja approvada.
Figueira de Mello, barão de Cotegipe, Jobim, marquez de Ficou sobre a mesa para ser tomado em consideração
Sapucahy, barão de Camargos, Paranaguá, Pompeu, Godoy, com a proposição a que se refere.
Leitão da Cunha, Chichorro, duque de Caxias, barão de Maroim,
Fernandes Braga, visconde de Nitherohy, Barros Barreto, barão ORDEM DO DIA.
da Laguna, visconde de Souza Franco, Jaguaribe, Candido
Mendes, barão do Rio Grande, Cunha Figueiredo, barão de ORÇAMENTO DO IMPERIO.
Pirapama, Uchoa Cavalcanti, Ribeiro da Luz, marquez de S.
Vicente, Teixeira Junior, visconde de Jaguary, Sinimbú, visconde Achando-se na sala immediata o Sr. do Imperio, foram
de Muritiba, visconde de Camaragibe, visconde do Rio Branco, sorteados para a deputação que o devia receber os Srs.
visconde de Inhomirim, Junqueira, Paes de Mendonça, visconde Leitão da Cunha, Cunha Figueiredo e Godoy, e sendo o
de Caravellas, Antão, Zacarias e conde de Baependy. mesmo senhor introduzido no salão com as formalidades do
Deixaram de comparecer com causa participada os Srs. estylo, tomou assento na mesa á direita do Sr. presidente.
Diniz, Nunes Gonçalves, Firmino, Fernandes da Cunha, F. Prosseguiu a 2ª discussão, com as emendas da
Octaviano, Paula Pessoa, Silveira Lobo, Mendes dos Santos, commissão do orçamento, o projecto de lei, fixando a despeza
Saraiva, Silveira da Motta, visconde do Bom Retiro, Nabuco e e orçando a receita geral do Imperio para o exercicio de 1872
Vieira da Silva. – 1873, no art. 2º relativo ao ministerio do Imperio.
Deixaram de comparecer sem causa participada os Srs. Nesta occasião foi lida a seguinte:
barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de Suassuna. Representação da Illma camara municipal da Côrte,
O Sr. presidente abriu a sessão. Augustos e dignissimos Srs. representantes da nação.
Leu-se a acta da sessão antecedente e, não havendo A camara municipal da muito leal e heroica cidade de S.
quem sobre ella fizesse observações, foi approvada. Sebastião do Rio de Janeiro, usando de um direito que lhe
O Sr. 1º Secretario leu o seguinte confere a constituição do Imperio e confiada nas luzes,
integridade e patriotismo dos augustos e dignissimos Srs.
EXPEDIENTE. representantes da nação, vem respeitosamente impetrar de
sua sabedoria e amor da justiça uma reparação contra o
Dous officios de 10 do corrente mez, do ministerio da esbulho de uma de suas prerogativas que acaba de soffrer da
guerra, remettendo os autographos do decreto da assembléa parte do governo imperial.
geral fixando as forças de terra para o anno financeiro de 1873 – Os matadouros são obras municipaes, assim por sua
1874 e da resolução autorisando o governo a mandar admittir á natureza como por seu destino, e quando podesse haver
matricula do 1º anno da escola central o alumno ouvinte João duvida a semelhante respeito, toda ella se desvaneceria
Pinto de Figueiredo Mendes Antas Junior. – Ao archivo os diante dos §§ 2º e 9º do art. 66 da lei do 1º de Outubro de
autographos, communicando-se á outra camara. 1828.
Dous officios, de 3 e de 12 de Março ultimo, dos Nesse mesmo sentido fallam as leis de 18 de
presidentes das provincias do Maranhão e Bahia, remettendo Setembro de 1845, que autorisa a camara municipal da Côrte
relatorios, o primeiro com que lhe foi passada a administração a contrahir um emprestimo de 300:000$ para construir o nosso
daquella provincia e o segundo com que abriu a assembléa matadouro no local em que ora se acha, e de 17 de Setembro
legislativa da mesma provincia. – Foram remettidos ao archivo. de 1851, que autorisou a mesma camara a contrahir, sob
Dous ditos, de 5 e 25 do mesmo mez, dos presidentes hypotheca de suas rendas, novo emprestimo da quantia que
das provincias das Alagoas e Ceará, remettendo exemplares fosse necessaria para a conclusão daquella obra.
das leis das mesmas provincias. – A' commissão de assembléas Tem-se reconhecido quão grave é para a salubridade
provinciaes. da nossa cidade a collocação do actual matadouro; a camara
Representação de diversos cidadãos moradores na de 1865 a 1868 iniciou trabalhos no sentido de removel-o para
freguezia de S. Gonçalo do municipio da Campanha da provincia longe dos centros da população e a camara de 1869 a 1872,
de Minas Geraes, pedindo a concessão de duas loterias em reconhecendo pelo estudo das propostas que foram
beneficio da conclusão das obras da igreja matriz da dita presentes, que muito ganhava o municipio, sob o ponto de
freguezia. – A’ commissão de fazenda. vista economico, em ser a remoção feita directamente por ella,
Representação da IlIma. camara municipal da Côrte que não por emprehendedores, dirigiu-se
Sessão em 23 de Maio 175

em 15 de Abril de 1872 a S. Ex. o Sr. ministro do Imperio E a camara dos Srs. senadores sabe que, segundo a
propondo-lhe, na falta de recursos ordinarios que obtivesse disposição do artigo invocado, as camaras podem sem
do corpo legislativo, autorisação para perceber um imposto nenhuma dependencia do governo fazer as obras que quizer
de 4 rs. sobre libra de carne pelo tempo e quantia por administração, sendo somente dependente quando as
necessarios á projectada e universalmente reclamada quizer fazer por arrematação.
remoção. Effectivamente, se a camara da Côrte não precisasse
Adoptando o alvitre proposto pela camara, de autorisação legislativa para augmentar o imposto
inquestionavelmente o mais conveniente que se podia tomar, municipal sobre o córte, nenhuma disposição de lei a
o Exm. Sr. ministro do Imperio o apresentou ao corpo obrigava a solicitar licença do governo para construir por
legislativo, a quem recommendou em seu relatorio daquelle administração ou a jornal o seu matadouro.
mesmo anno. A proposta, portanto, que fez a camara e foi
Parecia á camara que seu direito legal e ao mesmo primitivamente tão bem acolhida pelo governo, não cabe na
tempo consuetudinario estava mais que resguardado por disposição da 2ª parte do art. 47 da lei de 1º de Outubro de
essa recommendação feita ao corpo legislativo pelo Sr. 1828 e sim na primeira parte daquelle artigo.
ministro, quando subitamente é sorprendida por um additivo Não se trata de obra por arrematação e sim por
proposto ao orçamento votado na 1ª sessão da presente administração; logo não se lhe póde applicar a disposição
legislatura, em que se concede o imposto pedido pela que rege aquella hypothese; mas sim a que rege esta, a que
camara, mas dá-se ao Sr. ministro a attribuição municipal de claramente define a independencia das camaras.
construir elle o matadouro. Se o governo julgasse inconveniente a concessão
Cogitava a camara no modo como explicar tão pedida do augmento do imposto, podia negal-o; mas nunca
estranho acontecimento, quando, interpellado por um chamar a si o direito de substituir-se á camara, para fazer a
honrado deputado da opposição, o nobre ministro fez a luz obra que ella ia fazer administrativamente.
sobre a questão e tirou-lhe o incommodo de figurar Mas o governo julgou conveniente aquelle imposto, e
hypotheses. tanto que se apossou delle; logo, nenhuma razão o apadrinha
S. Ex. declarou: que a competencia do governo no esbulho que praticou.
consagrada na 2ª parte do art. 47 da lei do 1º de Outubro de Continuando a apreciar as razões allegadas pelo
1828, para decidir sobre as obras que a camara houvesse de honrado ministro do Imperio, a camara municipal da Côrte,
fazer, é que servira de fundamento á recente disposição deparou com uma que não tem resposta, que corta toda a
legislativa, contra a qual se levantara a honrada opposição da questão com a espada de Alexandre.
camara dos Srs. deputados. Diz S. Ex., que uma lei ordinaria, como é a de 1828,
Assim, pois, toda a questão versa sobre a póde ser revogada por outra lei e que assim equivalente é a
interpretação que se dá á 2ª parte do art. 47 alludido. attribuição que lhe conferir esta augusta camara para
Em vista disso a camara municipal da Côrte pede remover o matadouro da camara municipal.
respeitosamente licença para expôr as razões que tem para Vae nisto uma confissão plena da verdade com que
entender aquelle artigo em sentido differente do que lhe esta camara acaba de analysar o disposto na lei da 1828;
emprestou o Exm. Sr. ministro, e, feito isto, para reclamar a pois que se assim não fôra, se aquella lei servisse ás vistas
justa reparação que é devida ao seu direito offendido. do governo, não appellaria elle para uma nova lei que a
O art. 47 diz mui terminantemente que somente serão reformasse.
levadas ao governo as propostas para obras municipaes, E’ verdade o que disse o nobre ministro: a lei de 1828
quando essas obras forem importantes e os é daquellas que podem ser reformadas por uma legislatura
emprehendedores exigirem vantagens para sua ordinaria; e, portanto, o additivo de 1873 corta toda a duvida
indemnisação. e lhe dá direito pleno e indisputavel para apossar-se do
Em primeiro logar, o que é logico, desde que o direito da camara, apossar-se de sua proposta e fazer-se elle
legislador reconhece ás camaras o direito de fazer aquellas mesmo camara, afim de remover o seu matadouro.
obras, é que o governo imperial, nos casos prefixos naquelle Mas haverá nisso alguma vantagem publica?
artigo apenas tem a attribuição de verificar qual a proposta E, principalmente, será justo que se tire á camara um
mais vantajosa e mandar á camara que contrate com seu direito sem que se allegue para isso a mais insignificante
autor. razão?
Outra interpretação não póde ter aquelle artigo, por Sobre a conveniencia esta camara tem certeza e
quanto se o legislador no caso de obras importantes e em póde provar que o matadouro feito por sua administração
que os emprehendedores exigissem indemnisações, custaria menos tempo de imposto do que sendo feito pelo
quizesse que o governo as avocasse a si e as fizesse por si, governo, que o confiará a algum emprehendedor.
declararia: que as camaras somente se encarregariam das E é obvio o que fica exposto desde que a camara não
obras de pouca importancia, ficando as outras a cargo do visando lucros só manteria o imposto pelo tempo necessario
governo. ao pagamento do dinheiro que se gastasse, ao passo que o
Dada esta interpretação, unica que em boa fé e sã emprehendedor mantel-o ha por todo esse tempo, e mais
razão se póde dar ao art. 47, é obvio que chamando o pelo que fôr preciso a realisar o lucro que tenha calculado.
governo a si a construcção do matadouro municipal praticou Sobre a justiça, a camara municipal da Côrte abstem-
um verdadeiro esbulho dos direitos da camara da Côrte, se de fazer qualquer consideração, fallando aos illustres
invocando para isso um artigo de lei cuja genuina intelligencia cidadãos que teem assento na representação nacional.
condemna peremptoriamente semelhante resolução. Melhor é, senhores, que se decrete a extincção das
Entretanto, o caso em questão nem mesmo
apadrinhado póde ser pela interpretação forçada do art. 47,
porquanto versa elle sobre obras que a camara propoz-se
fazer por administração ou a jornal, e não sobre aquellas
para que chamasse concurrencia.
176 Sessão em 23 de Maio

municipalidades do que expôl-as á desconsideração publica. O SR. ZACARIAS: – Está claro.


E é porque esta camara comprehende quanto ha de O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Depois do meu aparte
illustrado, de integro e de patriotico no seio do augusto e da reclamação do nobre ministro do Imperio, foi que V. Ex
senado que descansa na justiça de sua causa e espera que retractou-se e pronunciou-se como acaba de fazer. V. Ex.
se lhe restitua em sua plenitude o direito que lhe foi tirado avançou esta proposição «E’ ao governo indifferente que a
com o additivo proposto á lei de orçamento votado na 1ª autorisação contida na proposta e de que trata a emenda
sessão da presente legislatura: passe na lei do orçamento ou em projecto separado.» Dei
Paço da Illma. camara municipal da Côrte, em 20 de então o seguinte aparte: V. Ex. acha-se em contradicção
Maio de 1873. – Dr. Adolpho Bezerra de Menezes, presidente como seu honrado collega, ministro do Imperio, porque S. Ex.
interino. – Dr. João Fortunato Saldanha da Gama. – João manifestou desejos perante a commissão de que a
Chrysostomo Monteiro. – Manoel Dias da Cruz. – Antonio autorisação continuasse na lei do orçamento. Vi, Sr.
José dos Santos. – André Cordeiro de Araujo Lima. – Dr. presidente que esse meu aparte não fôra bem recebido por
Manoel Thomaz Coelho. S. Ex. o Sr. ministro do Imperio, que depois teve a bondade
Foi em seguida lida, apoiada e posta em discussão de me declarar em particular que nós não tinhamos bem
conjunctamente a seguinte: entendido a este respeito, porquanto S. Ex. tambem não
fizera questão de que a autorisação continuasse na lei do
SUBEMENDA Á DISPOSIÇÃO DO N. 26 DO PARAGRAPHO orçamento ou fizesse objecto de um parecer separado.
UNICO, PARA SER COLLOCADA CONVENIENTEMENTE Sr. presidente, vou mostrar ao senado que se é
PELA COMMISSÃO DE REDACÇÃO. exacto que SS. EExs., o Sr. ministro do Imperio e o Sr.
presidente do conselho, entendem que é indifferente que a
As autorisações para a creação ou reforma de autorisação dada ao governo para a remoção do matadouro
qualquer repartição ou serviço publico não terão vigor por continue na lei do orçamento ou passe a projecto separado,
mais de dous annos a contar da data da promulgação da lei não ha razão para opporem a menor objecção á emenda da
que as decretar. Uma vez realisadas, serão provisoriamente commissão do orçamento.
postas em execução e sujeitas á approvação do corpo O SR. ZACARIAS: – Apoiado.
legislativo na sua primeira reunião, não podendo ser mais O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Senhores, vejamos o
alteradas pelo governo. Esta disposição é permanente. – que diz a emenda da camara dos Srs. deputados: depois
Barão de Cotegipe. – J. L. da Cunha Paranaguá. – Marquez lerei a que diz a da nossa commissão: (lendo) «Fica o
de S. Vicente. – Leitão da Cunha. – Visconde de Souza governo autorisado a despender a quantia necessaria com a
Franco. – Visconde de Inhomirim. – J. Antão. construcção de um novo matadouro no logar mais
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Vou fazer uso da apropriado, e cobrar para este fim o imposto de quatro reis
palavra, que pedi, quando orava na ultima sessão o honrado por libra de carne destinada ao consumo, podendo contratar
presidente do conselho, e só este motivo me obrigaria a as obras necessarias».
tomar agora parte na justificação das emendas da comissão Sendo esta emenda da camara dos Srs. deputados
de orçamento, cuja procedencia fôra tão plenamente sujeitas á apreciação da commissão de orçamento do
demonstrada pelo illustrado e digno relator da commissão. senado, suggeriu-nos a idéa de alteral-a em tres pontos: 1º
E não querendo, Sr. presidente, affastar-me do motivo limitar o credito que se pretendia dar ao governo; 2º tornar
que levou-me então a pedir a palavra, inverterei a ordem das bem clara a participação da camara municipal da Côrte na
emendas e começarei pela que deu motivo ao meu aparte, a obra projectada, e que se commettia ao governo imperial; 3º
que diz respeito ao matadouro. destacar a autorisação da lei do orçamento para formar
S. Ex o nobre presidente do conselho, orando depois projecto separado; porquanto, dizia um dos illustrados
do Sr. ministro do Imperio, na ultima sessão e tratando desta membros da commissão, «o assumpto é por demais grave
emenda, disse que ao governo era indifferente que a para ser tratado como emenda á lei do orçamento; não ha as
autorisação contida na proposta do governo e de que tratava informações necessarias sobre assumpto de tanta monta e
a emenda da commissão, continuasse incluida na lei do portanto é preciso que elle faça objecto de um projecto
orçamento ou passasse a fazer objecto de um projecto separado, afim de que, devidamente apreciado nas tres
separado. discussões do regimento de ambas as camaras, seja
Do meu logar tomei então a liberdade de ponderar a adoptada com pleno conhecimento de causa.» Eis a summa
S. Ex. que se achava em contradicção com o seu digno dos argumentos com que no seio da commissão de
collega do Imperio. orçamento fundamentou sua opinião o illustrado Sr. visconde
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do de Inhomirim que me ouve. Resolvendo então a commissão
Conselho): – Eu disse que seria indifferente ao governo se alterar a emenda da camara dos Srs. deputados no sentido
houvesse esperança de passar a tempo o projecto em da opinião do illustre membro, levantou-se, como o senado
separado. sabe, conceito extranho áquillo que a commissão teve em
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Perdão; V. Ex. disse vista e ao modo porque o proprio governo aceitara as
que era indifferente ao governo que a autorisação passasse emendas por ella propostas. O Sr. ministro do Imperio, Sr.
na lei do orçamento ou em projecto separado, sem a Presidente, já disse no seu discurso quanto basta para
limitação a que ora allude. mostrar que a commissão de orçamento, apresentando as
VOZES: – Disse. emendas que fazem objecto da discussão, não procedeu
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do com espirito de opposição ao ministerio e muito menos com
Conselho): – Comtanto que passasse o projecto. animo de molestal-o, Entretanto, repetirei que para que
semelhantes sentimentos não podessem actuar no animo da
commissão, bastava que
Sessão em 23 de Maio 177

nella estivessem presentes e concordassem em tudo e por para proceder unicamente como membro da commissão de
tudo e sem a minima objecção o honrado Sr. marquez de S. orçamento que com meus honrados collegas só miramos
Vicente... proceder a um exame severo do orçamento.
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Peço a palavra. O Sr. presidente do conselho extranhou que usasse
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...e o honrado Sr. da palavra – pressão –; substituirei a expressão. S. Ex. fez
barão de Cotegipe, quando podesse alguem julgar-se ver mais de uma vez á commissão de orçamento que urgia
autorisado a emprestar aquelle intento, quer aos que ella apresentasse o seu parecer e obrigou-a a apresentar
conservadores que se teem pronunciado contra o gabinete o parecer resumido que está na mesa. Comprehende, porém,
nesta camara e que faziam parte da commissão, quer aos o senado que tendo-se compromettido a commissão a
dous membros liberaes que tambem nella se achavam. apresentar emendas ao orçamento, convinha que essas
Liquidado, portanto, o ponto de que as emendas da emendas não se fizessem esperar, porque dado para a
commissão foram apresentadas sem o minimo espirito de ordem do dia de segunda-feira, como foi dado, o orçamento,
opposição no gabinete e muito menos com animo de não era regular que elle entrasse em discussão, como muito
molestal-o, vejamos, senhores, porque não foi satisfeito bem ponderou o honrado senador pela provincia da Bahia,
desejo que tivera o Sr. ministro do lmperio, segundo aqui nos sem que as emendas da commissão estivessem sobre a
disse de que fosse S. Ex. ouvido antes da apresentação mesa, acompanhando-o desde logo.
destas emendas. Foi, pois, urgente formular as emendas. E quando
Senhores, já o nosso honrado collega, o illustrado estavamos na sala das commissões, conferenciando sobre
relator da commissão, disse, e não é por demais repetil-o, foi ellas, appareceu-nos o honrado Sr. presidente do conselho.
á commissão impossivel ouvir ao Sr. ministro do Imperio Porque, senhores, nessa occasião S. Ex não nos disse o que
sobre o assumpto e se ha algum culpado nisto é sem duvida entendia no sentido de ouvirmos previamente ao governo a
o Sr. presidente do conselho... respeito da apresentação dessas emendas? Quem inhibia a
O SR. ZACARIAS: – Apoiado. S. Ex. de tomar assento e de nos dizer o que lhe parecesse
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...porquanto S. Ex., conveniente naquelle sentido? S. Ex. estava na sala das
fazendo pressão sobre o animo da commissão para que commissões e a commissão redigia as emendas naquella
apresentasse um parecer quanto antes a respeito do projecto occasião. Entretanto S. Ex. entrou e sahiu sem nos dizer
de lei do orçamento que estava sujeito á sua apreciação, palavra.
obrigou-a a apresentar o parecer resumido que O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
apresentamos, e que previamos havia de incorrer nas Conselho): – Ora senhores! Ia começar a sessão, a
censuras do honrado senador pela provincia da Bahia, como commissão estava trabalhando sem que eu fosse previnido e
de facto aconteceu; porquanto, estando até doente em havia de intrometter-me?
Petropolis o illustrado relator da commissão, a nós outros, O SR. ZACARIAS: – O ministro nunca se intromette.
membros tambem desta commissão, não era licito O SR. LEITÃO DA CUNHA: – E' verdade: era ainda
formularmos parecer algum e ainda menos tão desenvolvido, então, occasião de V. Ex. nos dizer: «nós entendemos que
quanto o grave assumpto do projecto da lei do orçamento o devemos ser ouvidos sobre as emendas; os senhores,
exigia. Entretanto, S. Ex. ainda doente em sua casa, mas já ouçam-nos, ou pelo menos ouçam-me, o que será ouvir ao
nesta cidade, teve da assignar o parecer... governo».
O SR. ZACARIAS: – Apoiado. O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Apoiado.
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...que o senado ouviu O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Entretanto, S. Ex. nada
Iêr, parecer resumido sim, mas que deixou bem patente que nos disse.
á commissão tinha merecido serio reparo o projecto de lei do Continuemos: vieram as emendas para a mesa, como
orçamento, vindo da camara dos Srs. deputados. cumpria que viessem, porque o projecto do orçamento já
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do então se discutia, e o Sr. ministro do Imperio nos disse:
Conselho): – Então eu fiz pressão? «extranhei com effeito quando se apresentaram as emendas
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Se a expressão sôa que eu não fosse ouvido previamente.»
mal a V. Ex. retirarei. Mas quero dizer; fez pressão, quanto O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
era possivel fazer, inspirado por sentimentos elevados, Imperio): – Não usei da palavra, extranhei.
porque V. Ex. entendia, e entendia bem, que cumpria que a O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Magnou-me.
lei do orçamento entrasse quanto antes em discussão, visto O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
como o anno financeiro está a findar e era necessario que Imperio): – Não, que causou-me uma certa sorpreza.
ella podesse reger desde logo, o proximo exercicio. Neste O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Bem; seja assim.
sentido é que eu digo; que V. Ex. fazia pressão sobre o Trago isto para mostrar ao senado e ao honrado ministro que
animo da commissão. se houve sorpreza em não ter sido S. Ex. ouvido previamente
Os apartes do Sr. presidente do conselho obrigam-me pela commissão sobre as emendas, deve attribuil-o ao seu
a abrir um parenthesis no meu discurso. Permitta-me o illustre collega, o Sr. presidente do conselho.
senado que o faça. Mas, Sr. presidente, voltemos ao exame comparativo
Eu não estou na obrigação, em que estava na ultima das emendas. Vieram para a mesa as da commissão do
sessão o Sr. barão de Cotegipe. S. Ex. é membro da maioria orçamento. E relativamente á que trata do matadouro, o que
desta casa, apoia o gabinete; eu sou da opposição, como por fizemos? A commissão disse: «Substitua-se a emenda da
mais de uma vez tenho dito. Por consequencia o senado não camara dos Srs. deputados (que já li) pela seguinte:
ha de estranhar a differença da minha linguagem, mais livre supprima-se a emenda para ser considerada em projecto
do que a do nobre barão, posto que neste assumpto eu deixe separado»; e tencionavamos no projecto que se
a minha posição de opposicionista apresentasse, autorisando ao governo para remover o
matadouro,
178 Sessão em 23 de Maio

consignar nossas idéas; isto é, conceder um credito limitado; respeito do que pareça retractação da commissão sem
expressar que cumpriria ao governo proceder de accordo motivo ponderoso...
com a camara municipal; e abrir mão do imposto proposto de O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
quatro réis em libra de carne. lmperio): – Oh! isso ninguem fará.
O Sr. ministro do Imperio, depois da sessão em que O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...e tambem porque
foram lidas as emendas, teve a bondade de manifestar devo justificar o aparte que dei ao Sr. presidente do conselho
desejos de conferenciar com a commissão a respeito das achando-o aqui em contradicção com o Sr. ministro do
mesmas emendas. Não sei se V. Ex. (ao Sr. ministro do Imperio.
imperio) tem alguma objecção a oppor ao que vou dizendo: S. Ex. pareceu-me, repetirei, que fazia questão da
isto tem seu alcance: convém que por dignidade da propria permanencia da autorisação na lei do orçamento e disso sahi
commissão e tambem do governo fiquem bem liquidados convencido da conferencia.
certos pontos. A commissão apresentou as suas emendas Ante-hontem, porém, tratando das emendas, quando
com o proposito de as sustentar e de não voltar atraz sem chegou a este ponto, (ouvi-o com a mais apurada attenção)
motivo muito ponderoso que a obrigasse a retractar-se: e S. Ex. passou por alto na questão da separação.
assim ha de proceder. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
O Sr. ministro do Imperio manifestou, repito, desejos Imperio): – Não senhor, não passei.
de ter uma conferencia com a commissão a respeito das O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Essa questão da
emendas. Eu fui convidado para ella. Compareci com mais separação, senhores, era de grande monta e como não pode
trez collegas, e ahi, em presença de S. Ex., discutimos os e nem deve haver reservas nestes assumptos, direi que era
pontos da emenda da commissão; projecto separado, questão essa da qual não estava resolvido a ceder pelo
limitação de credito audiencia da camara municipal, e menos o honrado Sr. visconde de Inhomirim, membro da
extincção do imposto de quatro reis em libra de carne. commissão do orçamento.
Quanto á limitação de credito, S. Ex. o Sr. ministro do O Sr. ministro do Imperio, porém, pensava
Imperio nenhuma duvida oppôz; disse immediatamente que diversamente e insistia na não separação. Levantou-se,
concordava e que até o desejava. porém, o Sr. presidente do conselho e disse-nos aqui: «ao
Quanto á audiencia da camara municipal, S. Ex. poz governo é indifferente que passe a autorisação na lei do
duvidas, limitando-as depois á forma de expressal-a na lei do orçamento ou em projecto separado». Reclamei logo. O Sr.
orçamento ou no projecto que a commissão houvesse de ministro do Imperio extranhou o meu aparte e teve a bondade
apresentar a respeito do assumpto; tanto que a expressão, de dizer-me posteriormente: «não nos entendemos; eu não
«accordo com a camara municipal», que fôra lembrada por faço questão de que a autorisação continue na lei do
um dos membros da commissão, foi incontinente rejeitada orçamento ou seja objecto de um projecto separado.»
por S. Ex., que então indicou que em vez da palavra O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
«accordo», se dissesse «na conformidade da lei do 1º de Imperio): – V. Ex. então não me entendeu bem.
Outubro de 1828.» Eu ainda ponderei nessa occacião que O SR. LEITÃO DA CUNHA: – V. Ex. não disse isso?
vinha a ser uma e a mesma cousa. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do lmperio): – Disse que defendia a permanencia da disposição
Imperio): – O que se segue é que não fazemos questão. no orçamento por amor da brevidade.
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – A final, por certo que O SR. ZACARIAS: – Oh!
V. Ex. tambem concordou comnosco sobre este ponto. Estou O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Mas todos
expondo ao senado os factos taes quaes elles se passaram, comprehendem que esta condição de brevidade é uma
para que no conceito publico fique bem patente o condição de nonada, desde que o senado e todos no Rio de
procedimento da commissão do orçamento desde a Janeiro estão convencidos da necessidade indeclinavel da
apresentação destas emendas até ao que houver de seguir- remoção do matadouro...
se daqui por diante, porque ainda não sei o que será. O SR. ZACARIAS: – Isso não é questão.
Ficamos, como dizia, de accordo com S. Ex. o Sr. ministro do O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...desde que o nobre
Imperio sobre estes pontos: limitação do credito e audiencia ministro tinha aceitado a limitação do credito e havia
da camara municipal para remoção do matadouro. concordado em que a camara municipal devia ser ouvida...
Quanto, porém, á separação da autorisação para ella, O SR. ZACARIAS: – A separação é indispensavel.
sou obrigado a declarar ao senado, que sahi da conferencia O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...o que obstava que
convencido de que S. Ex. o Sr. ministro do Imperio fazia um projecto se apresentasse e passasse rapidamente nas
questão da permanencia de semelhante autorisação na lei do tres discussões desta casa e fosse remettido á camara dos
orçamento. Eu fiquei convencido disto; póde ser que deputados e tambem alli passasse até antes da lei do
estivesse em erro. orçamento?
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do O SR. ZACARIAS: – E' verdade.
Imperio): – V. Ex. sahiu de perfeita harmonia comigo e O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Portanto, repito, a
asseverando que mantinha o accordo. condição de brevidade é insignificantissima.
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Perdão; e ainda estou Mas continuemos. Desde que, portanto, S. Ex. o Sr.
no proposito de manter aquillo a que me obriguei perante o ministro do lmperio concordou com o seu collega o Sr.
Sr. ministro do Imperio. E é justamente porque estou neste presidente do conselho, uma vez que me disse que o seu
proposito, que quero justificar o meu procedimento no intuito pensamento tinha sido mal interpretado por mim...
de arredar juizos temerarios, que se formem a O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
Imperio): – Como continuo a concordar.
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...pergunto ao senado:
Sessão em 23 de Maio 179

que questão mais póde haver sobre a emenda da O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
commissão? Nenhuma, porque os Srs. ministros, concordando Conselho): – Não senhor; verá pelas notas do tachygrapho.
em que o credito seja limitado... O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Seria então em outro
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): sentido. Fallo agora em retractação da commissão, que
– Isto sim. parece pretender-se.
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...concordando ainda na O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
audiencia da camara municipal, e na extincção do imposto, Conselho): – Já applicou-a a si em primeiro logar.
agora nos declaram ser-lhes indifferente que a autorisação O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Julgando, Sr.
lhes seja dada em projecto separado, com tanto que seja presidente, sufficiente o que acabo de dizer a respeito da
breve, condição sobre que não ha duas opiniões. questão do matadouro, liquidarei um com S. Ex. o Sr. ministro
Penso, portanto, que está plenamente justificada a do Imperio, o seguinte: Por occasião de fallar o illustre relator
emenda da commissão e nos termos de ser approvada, e que da commissão do orçamento e extranhar que o governo
votando eu por ella não saio do accordo a que me obriguei fizesse sua uma proposta que devia ser da camara municipal,
perante S. Ex. o Sr. ministro nos asseverou que o assumpto em questão e
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): que faz objecto da emenda da camara dos deputados era
– Assim sae. proposta da camara municipal da Côrte e que o governo
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Perdão. Desde que a apenas lhe tinha dado a fórma do artigo da proposta. Como
questão está nos termos expostos, penso que sem sahir do concilia, porém, S. Ex. o que asseverou com a representação,
accordo a que me obriguei, repito, perante S. Ex. e para com verdadeiro protesto da Illma. camara municipal da Côrte, que
os collegas da commissão, posso votar pela emenda. acabou de lêr-se? E' uma mera pergunta que faço a S. Ex., da
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Menos eu qual espero resposta, sem fazer commentario sobre a
que não estive presente e não sei nada disto. contradicção que acho entre o que asseverou S. Ex. e o que
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Bem, a maioria. Apesar, acaba de ser lido na representação da camara.
Sr. presidente, do que acabo de dizer não duvidarei chegar a Passarei, Sr. presidente, ás outras emendas da
novo accordo a respeito deste assumpto, uma vez que S. Ex. commissão, acerca de algumas das quaes tenho que adduzir
o Sr. ministro do Imperio nos declare que insiste... considerações ao que disse o honrado relator da commissão
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio): do orçamento.
Eu insisto em que seja votada na lei do orçamento. As duas primeiras emendas são de simples redacção:
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Logo, está em a que se refere á cifra total do artigo e a que diz respeito á
contradicção com seu collega da fazenda. Entretanto, se os dotação de Sua Magestade a Imperatriz viuva, hoje fallecida.
meus honrados collegas da commissão concordarem, não me (Lê).
opporei a que a autorisação fique na lei do orçamento. Mas Camara dos deputados. Diz a proposta: dita dos
desejo que o governo a este respeito seja claro e explicito; deputados 394:400$; e diz a emenda daquella camara:
que diga se insiste, se faz questão em que a autorisação Accrescente-se, sendo 30:000$ para coordenação e
continúe na lei do orçamento, e não nos venha dizer um impressão dos annaes anteriores ao anno de 1857 em
ministro que lhe é indifferente que esteja na lei do orçamento cumprimento da resolução da mesma camara de 21 de
ou passe em projecto separado, outra cousa diversa. O Sr. Fevereiro do corrente anno, e em vez de 394:400$ diga-se
presidente do conselho ha de ter a bondade de retractar-se do 424:400$000.
que disse ante-hontem; ha de dizer-me se prefere que a Por occasião de justificar esta emenda disse aqui o
autorisação fique na lei do orçamento, para que eu concorde honrado ministro do Imperio que as camaras legislativas
com uma alteração na emenda, senão comprehende o senado estavam em seu direito fazendo despezas semelhantes...
que não haveria razão para alterar se a emenda da O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
commissão. – Eu disse apenas que ellas estavam no uso desse direito; dei
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do noticia do facto.
Conselho): – Hoje não se falla senão em retractar-se! Isto se O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...por seu voto
explica por outros termos. exclusivo. Vou mostrar a S. Ex. que não ha tal; que as
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – E' a primeira vez que camaras não teem estado nesse uso nem podem estar no uso
lhe faço este pedido. Demais, V. Ex. não póde levar a questão de semelhante direito.
para este lado, porque se V. Ex. não póde retractar-se, a As camaras estão no uso, Sr. presidente, como V. Ex.
commissão, ou ao menos eu não posso tambem retractar-me. sabe, de fazer despezas com a publicação de seus trabalhos,
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do com o material, etc., dentro, porém, da verba votada pelo
Conselho): – Não trata-se de retractações; trata-se de corpo legislativo para «expediente»; fora dessa verba, é
adoptar o melhor. imprescindivel a concurrencia dos tres ramos do poder
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Assim é: mas V. Ex. legislativo. Sobre isto, sim, nunca houve questão, nem podia
que em outras occasiões é tão conciliador, tão fleugmatico, haver. Fazer, porém, a camara dos deputados um contrato
parece que nesta questão quer sahir fóra de seus habitos; não que importará afinal, por calculo muito modesto, em despendio
se altere, eu lhe peço. de grande monta para o thesouro nacional sem a concurrencia
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do dos outros dous ramos do poder legislativo, sem o voto do
Conselho): – Eu o que estou censurando é a palavra – senado e sancção do Imperador, pareceu á commissão do
retractar-se. orçamento que era extremamente irregular. Foi, portanto, esta
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – E' a primeira vez que a principal razão por que a commissão de que faço parte,
uso della. entendeu que devia propôr a suppressão
180 Sessão em 23 de Maio

dessa emenda. Não foi pela economia dos 30:000$ que Mas, accrescentou S. Ex.; pelo que diz respeito ás attribuições
seriam uma quantia relativamente pequena em consideração do poder temporal é preciso que aquelles que estão na
á uma deliberação da camara dos deputados e a um serviço immediata dependencia de Summo Pontifice conheçam ás leis
realmente proveitoso, mas foi pela offensa ao principio do paiz e obedeçam a ellas como a qualquer outro cidadão.
constitucional. E, pois, senhores, sem sahir destes principios, que me
Não contesto o que disse o honrado ministro do parecem orthodoxos, do nobre senador pela Bahia,
Imperio a respeito da competencia das camaras para fazerem perguntarei ao honrado presidente do conselho: Entende S.
essa despeza, da natureza da emenda; mas, repito, dentro da Ex. que o governo deste paiz não póde, não deve obrigar os
verba do seu expediente; e ninguem dirá que esses 30:000$ bispos do Imperio a cumprirem as leis do paiz?
de que resa a emenda estejam incluidos em semelhante O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Elles não se oppoem
verba. a ellas.
E, senhores, para que não pareça que ha no parecer O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Não se oppoem?
da commissão do senado proposito de negar-se a concordar Oppoem-se manifestamente. Sabe o senado, que a questão
com uma resolução da camara dos deputados já tomada, é levantada actualmente e que já começou a dar seus fructos
preciso ponderar que o senado deu previamente o exemplo de em Pernambuco, e sabe Deus o que dalli resultará, não é com
que respeitava para comsigo mesmo a doutrina que acabo de a maçonaria.
expender, rejeitando, não ha muitos dias, um parecer da A maçonaria é uma causa occasional da questão; a
commissão da mesa para que identico contrato se fizesse com causa efficiente é a luta do poder ecclesiastico, do poder de
outro cidadão. Sabe o senado, que um outro cidadão Roma contra o poder temporal...
differente desse que contratou com a camara dos deputados, O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado.
fez ao senado uma proposta identica e indo essa petição á O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não apoiado.
commissão da mesa, deu esta um parecer que ella fosse O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...é a luta travada entre
autorisada a contratar esse serviço. os bispos do Imperio do Brasil com o governo imperial.
O SR. 1º SECRETARIO: – A’ mesa não, á commissão (Apoiados.) Esta é que é a questão; ao honrado senador que
de fazenda. me contradiz pedirei que me responda simplesmente a uma
O SR. LEITÃO DA CUNHA: Ou á commissão de questão.
fazenda; isso é indifferente. Entrando em discussão esse O honrado senador sabe que pelo alvará de 1881
parecer, foi rejeitado pelo senado e foi rejeitado porque o chamado das faculdades, corre aos bispos a obrigação de
senado entendeu que por seu unico voto não podia fazer um fazer propostas ao padroeiro para provimento das parochias: é
contrato que acarretaria despeza fóra da decretada para seu expressa essa disposição legislativa; pois bem; porque é que
expediente. os Revms. bispos do Brasil não fazem ha muito tempo
A segunda das emendas diz respeito ao culto publico. semelhantes propostas? (Apoiados.) Porque não as tem feito
Eu, Sr. presidente, não me queria metter nesta questão e lançam mão do expediente de proverem as parochias com
religiosa, em primeiro logar porque não estou habilitado para vigarios encommendados não só nacionaes como até
entrar nella... estrangeiros?
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não apoiado. O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Falta de pessoal
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...não tenho feito estudo idoneo.
especial, etc., e em segundo logar declaro sem receio de ser O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Se servem
tido por pussilanime que tenho medo de metter-me nesta para encommendados, servem para collados.
questão; temo serios compromettimentos... Entretanto o O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Sem duvida. Logo, digo
penoso encargo de membro da commissão do orçamento eu, ha uma perfeita rebeldia ecclesiastica contra uma lei
obriga-me a dizer ainda que pouco sobre o assumpto. expressa do paiz.
O meu nobre collega e amigo relator da commissão do O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não é rebeldia, é
orçamento, tratando de justificar esta emenda da commissão, cautela.
encarou-a pelo lado economico unicamente. Disse que os O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Que cautela, meu Deus!
vigarios estavam bem porque tinham outros rendimentos além a cautela poderia dar-se em um ou outro caso, mas cautela
da congrua etc, e que por consequencia podiamos adiar o em procedimento continuado, systematico, permanente? Não,
augmento proposto no projecto de orçamento. Mas eu agora, senhores, aqui ha um proposito feito, ha uma rebeldia contra
Sr. presidente, peço licença para justificar a emenda da as leis do paiz, a ponto de ser até esquecido o preceito do
commissão por outro lado, pelo lado politico; deixarei o lado concilio Tridentino que determina o prompto provimento, por
economico da questão. meio de concurso, dos beneficios ecclesiasticos.
Senhores, o governo entende que na situação actual é O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não ha.
politico, é mesmo razoavel augmentar a congrua dos vigarios? O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Os bispos não fazem
Eu entendo que não, e creio que todos entenderão comigo propostas ao governo imperial porque não as querem fazer;
que é impolitico fazel-o. entendem que não devem cumprir uma lei do paiz, o alvará
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não apoiado. das faculdades, que os obriga a fazer propostas ao padroeiro
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – O honrado senador pela para provimento das parochias. Isto pelo lado dos bispos.
provincia da Bahia, o Sr. Zacarias, tratando ha dias deste Perguntarei agora: porque é que o governo em vez de
assumpto magistralmente, disse que não podia haver duvidas obrigar os bispos a fazerem estas propostas, como os póde
para um catholico apostolico romano sobre as decisões do obrigar...
Summo Pontifice no que dizia respeito ao espiritual; que a
este respeito a palavra de Sua Santidade era a ultima e que a
ella deviam os catholicos curvar a cabeça, obedecer.
Sessão em 23 de Maio 181

O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não póde, não. Creado esse estabelecimento de educandos pelo
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Póde. bispo cujo nome citou o honrado ministro do Imperio... Não
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Póde, sem duvida sei se o bispo foi esse ou se foi frei Caetano Brandão.
alguma. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – O padroeiro que Imperio): – Foi D. Manoel de Almeida.
faça suas nomeações. O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Seria esse. Mas,
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Sem propostas? creado esse estabelecimento, o governo portuguez
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Sim, faça, se é extinguindo o convento dos Mercenarios, mandou-lhe
padroeiro. entregar o edificio que o honrado ministro conhece
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Perguntarei outra vez: perfeitamente, um edificio magnifico. O governo imperial
porque é que o governo em vez de obrigar os bispos a posteriormente tomou esse edificio para estabelecer nelle a
cumprirem seus deveres... alfandega da praça do Pará.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – O governo começa O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
por não cumprir o seu. Imperio): – Mas houve doação? Parece-me que houve
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...lhes vae dando beneficio temporariamente, mas doação nunca achei e
licença para serem providas as parochias com vigarios procurei ver.
estrangeiros? O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Doação perfeita, penso
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Isto mostra que não que houve.
ha nacionaes em numero sufficiente. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Nestas circumstancias, Imperio): – Desejaria que V. Ex. me désse noticia de se acto.
pois, perguntarei ao honrado presidente do conselho: acha S. O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Não posso precisar a
Ex. que a occasião é a mais propria para se augmentar a data.
congrua dos vigarios? O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
A occasião seria, Sr. presidente, antes para diminuir a Imperio): – Logo tambem não assevera...
congrua dos encommendados, dos taes vigarios que os O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Não assevero; tenho
bispos entendem que hão de pôr em logar daquelles que por ouvido dizer tradicionalmente que ha.
direito canonico e civil devem pôr nas parochias, os vigarios Hei de agora pedir que procurem isso.
collados... O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – São provisorios até Imperio): – Eu procurei na secretaria do Pará e não achei.
haver pessoal idoneo. O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Talvez que V. Ex. na
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – ...mas para augmentar secretaria do Imperio ou no archivo publico podesse
as congruas entendo que não: Me parece, pois, que essa encontrar dados precisos.
emenda da camara dos deputados não podia ser adoptada Mas, como eu ia dizendo, o governo imperial para
pelo senado sem grave irreflexão. compensar de alguma fórma a acquisição desse predio para
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – De maneira que o a alfandega, promoveu na assembléa geral e obteve a
clero está fóra da lei. decretação desse subsidio de 2:000$ annuaes, como especie
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – O governo do paiz é, de renda vitalicia do predio occupado.
como acabo de mostrar a V. Ex., quem está fóra da lei para o Já vê o honrado ministro que é ella muito differente da
poder ecclesiastico. dotação para o Sobral, e por isso suscitou-se esta questão no
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Se V. Ex. fosse seio da camara, entendeu-se que, não estando o
ministro do Imperio, como espero que breve seja, havia de estabelecimento do Sobral no caso do Pará e podendo outros
comprehender isso melhor. reclamar favor igual, convinha supprimir essa emenda da
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Quanto a isso póde V. camara dos Srs. deputados.
Ex. estar socegado. Directoria geral de estatistica. A respeito desta
Estabelecimento de educandas no Pará. – Senhores, questão, Sr. presidente, o honrado senador pela provincia da
já tive occasião de dizer nesta casa que sempre applaudi, Bahia, relator da commissão, disse e disse perfeitamente que
sem fazer favor ao Sr. ministro do Imperio, sua administração é ella uma questão de formula. Nós entendemos que o
na minha provincia, e o repito quando é preciso em publico e honrado ministro poderia fazer esta despeza que aqui estava
particular, por concequencia não posso desconhecer que S. (e que, seja dito de passagem, nos pareceu excessiva até
Ex. olharia para esse estabelecimento com as mesmas vistas certo ponto antes de ouvirmos a S. Ex., que depois
de justiça com que olhou para todos os ramos de convenceu nos de que não havia excesso) pelo decreto de
administração daquella provincia; mas por isso mesmo tenho 1870; mas S. Ex. disse: «Não quero este arbitrio, convem
uma queixa de S. Ex.; porque na justificação da emenda da mais que fixeis nas leis annuas a despeza com esta
camara dos deputados, quando não antepondo ao menos repartição.» Mas ainda tenho, Sr. presidente, duvida a oppôr
equiparando a casa das educandas de Sobral á do Pará, a S. Ex.
desconheceu o direito perfeito que esta tem ao subsidio Esta disposição refere-se ao orçamento de 1872 –
decretado. 1873; este anno financeiro concluir-se-ha dentro em pouco, a
Os 2:000$ que todas as leis do orçamento tem 30 de Junho, antes talvez mesmo da promulgação da lei;
mandado dar ao estabelecimento do Pará, é um subsidio de para que quer S. Ex. este credito para a repartição da
natureza diversa da dotação que se pretende dar ao estatistica? Parece-me que é desnecessario.
estabelecimento do Sobral e que se mandaria dar aos de Nem se me diga que o projecto faz extensivo o
outros pontos por identidade de razão. Não é um favor o orçamento de 1872 – 1873 para 1873 – 1874, porque esta
decretado para o Pará, é apenas uma indemnisação de um questão havemos de tratar della no art. 19; mas aqui no
immovel de que o Estado apossou-se e que era de ministerio do Imperio a verba para repartição de estatistica
propriedade daquelle estabelecimento.
182 Sessão em 23 de Maio

é no orçamento para 1872 – 1873, anno financeiro que está a conservemos superiores a esses conceitos, afim de que cada
concluir-se. um cumpra livremente o seu dever, cedendo quando dever
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do ceder.
Conselho): – Desse medo V. Ex. combate todo o orçamento. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Não, senhor. Combato Imperio): – Ninguem duvida da innocencia das intenções de
apenas os augmentos e innovações propostas; limito-me, V. Ex.
porém, a apresentar esta duvida; ouvirei a S. Ex. O SR. LEITÃO DA CUNHA: – O que, portanto,
Já disse que para mim a questão é de fórma: quer se desejamos é a verdade do orçamento, é que usemos com
faça pelo credito de 1870, quer se faça como o nobre ministro toda liberdade da faculdade que tem o senado de esmerilhar
quer, a despeza se ha de fazer, porque emfim está creada a as verbas do orçamento antes de votal-o, porque tem tanto
repartição e é preciso prover as suas necessidades. direito para isto como a camara dos deputados...
Quanto ao praso da reforma da secretaria do Imperio, O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Apoiado.
está sobre a mesa uma subemenda da commissão tornando O SR. LEITÃO DA CUNHA: – E, pois, não deve o
estensivo esse praso a todas as repartições, e direi ao ministerio sorprender-se com as emendas que a commissão
senado os motivos porque nos resolvemos a mandar essa entender a bem mandar á mesa, como parece que
subemenda á emenda da commissão que fôra formulada sorprendeu-se o honrado Sr. ministro do Imperio, porque as
especialmente para o ministerio do Imperio. que estão em discussão não serão provavelmente as unicas,
O pensamento da commissão foi acabar com o abuso visto como as não reservamos para o ministerio do Imperio:
do governo fazer uso indefinido das autorisações que lhe devemos offerecel-as tambem aos outros, se entendermos
dava o corpo legislativo. Não ha muito tempo que esta conveniente, reservando nos reciprocamente, nós e o
questão esteve aqui na téla da discussão e affirmou-se que ministerio, o direito de insistir para sua adopção, ou ceder
com effeito o governo entendia que podia continuar a fazer ante razões que nos pareçam que melhor consultam os
uso de autorisações indefinidamente. O honrado ministro da interesses do paiz (Apoiados).
marinha declarou, é verdade, que elle não esposava Tenho concluido.
semelhante opinião; entretanto citarei um facto para O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Sr. presidente,
demonstrar que razões tinham aquelles que entendiam ser principiarei por oppor algumas ligeiras observações ao que
urgente a limitação contida na subemenda da commissão. acabou de proferir o nobre senador em relação á emenda da
Sabe o senado que o Sr. conselheiro Liberato illustre commissão, acerca do matadouro.
Barroso, ex-ministro do Imperio, reformou os cursos de S. Ex. entrou em grande desenvolvimento a respeito
instrucção superior, de conformidade com uma autorisação das circumstancias que se deram na apresentação das
dada pelo corpo legislativo; posteriormente o Sr. Paulino José emendas da illustre commissão. Parece-me, porém, que não
Soares de Souza, tambem ex-ministro do Imperio, fez novas ha grande interesse em apreciar taes circumstancias, e muito
reformas nesses estudos, em virtude da autorisação de que particularmente em deduzir dellas conceito em sentido mais
já tinha feito uso o Sr. Liberato Barroso, e ainda ou menos odioso no tocante quer ao governo, quer á illustre
posteriormente o actual Sr. ministro do Imperio fez retoques commissão, porque em verdade nenhuma colisão houve, não
na reforma do Sr. Paulino sem nova autorisação. ha antagonismo algum, e as explicações que deu o nobre
Foi, pois, Sr. presidente, para cortar por esse uso que ministro eram e são de natureza a bem demonstrar a perfeita
pareceu á commissão um abuso, que entendemos concordancia que ha no essencial das mesmas emendas.
conveniente limitar o praso das autorisações, e a este O nobre senador manifestou-se opposicionista e
respeito a commissão está hoje apadrinhada com o honrado observou mesmo que sua posição era especial no seio da
presidente do conselho, porque S. Ex. nos leu aqui hontem commissão, que na maioria pertence a amigos do governo.
um topico do seu relatorio em que esposa essa idéa. Fallou, portanto, a tal respeito como opposicionista. O que
Quanto á approvação das reformas autorisadas pelo me parece digno da attenção e resolução do senado é entrar
corpo legislativo, já estava isto na emenda da camara dos no exame da alta conveniencia do objecto, se merece
deputados; não foi innovação da commissão. Como quer que aceitação e como deve ser aceito.
seja, para que não pareça que essas restricções foram O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Isto não é obejcto de
unicamente postas ao ministro do Imperio, a commissão questão.
entendeu que devia mandar uma sub-emenda, generalisando O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – O nobre
as cautelas que tomara a todos os ministerios, subemenda senador disse: é um nonada, a questão de brevidade não
que será collocada nas disposições geraes pela commissão vale nada; eu digo: é sobre tudo importantissimo que se
de redacção, quando fôr approvado o projecto do orçamento. attenda a uma necessidade clamorosa, urgentissima, e,
Justificadas assim as emendas da commissão, direi, portanto, a questão de brevidade é tudo.
porque é preciso que o diga, que errados andam aquelles O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Pelos meios
que entendem serem as emendas apresentadas pela convenientes.
commissão uma hostilidade ao governo, esperando ver pela O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Disse o nobre
votação do senado quem é o vencedor, quem é o vencido, se senador: o principal é a questão de separação; e o que S. Ex.
o governo se a commissão; como as vezes acontece, a devia deduzir coherentemente para convencer-nos da
opinião desvairou-se a este respeito. necessidade da separação não podia ser senão uma razão
Collocada a questão neste terreno, concebe-se que sufficiente que determinasse tal separação; porquanto sem
quer o governo quer a commissão achar-se-ha em serios ella, Sr. presidente, a separação da respectiva emenda da
embaraços, sendo necessario algum esforço para que nos
Sessão em 23 de Maio 183

lei do orçamento até em si mesmo envolvia uma incoherencia interferencia da camara municipal. «A dita despeza poderá
grave; e sobresahia que por condemnação da materia da ser feita por meio de qualquer operação de credito,
emenda mutilava-se a lei como veio da camara dos applicando-se ao juro e a amortisação do emprestimo que for
deputados; mas pôl-a em projecto separado era tambem contrahido o imposto geral do gado do consumo e producto
declarar que não se condemnava a idéa. da venda do edificio e terrenos do actual matadouro.»
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Se o projecto Determina-se bem a legitima interferencia da camara
immediatamente se discutisse. municipal, limita-se o credito para que não haja esse
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Era mister que indefinido e contempla-se como meio mais adequado para
houvesse uma razão sufficiente e positiva que especialmente fazer face á despeza um imposto já creado, o do consumo do
determinasse a separação, ainda reconhecendo-se toda a gado, e não o que fôra da iniciativa da camara municipal de
relevancia e merito da materia. Esta razão não podia quatro reis em libra.
proceder de outro principio que não fosse ou disposição E’ o que me parece bastante dizer a respeito desta
constitucional que inhibisse a inserção de tal assumpto na lei emenda. Quanto ás outras que tambem mereceram a
do orçamento, ou os estylos, os precedentes sempre consideração do nobre senador que procurou justifical-as, S.
seguidos, e que deviam continuar. Mas nem ha preceito Ex. deve reconhecer que em geral ellas aceitas pelo nobre
algum da constituição que o inhiba e de plena conformidade ministro e por si mesmo justificadas. Quanto á da estatistica,
são os precedentes: sempre nos orçamentos se tem inserido a essa limitação de despeza para o expediente ordinario,
materia desta ordem especialmente na lei do orçamento de parece tambem que o nobre relator da commissão tinha
1845 está a autorisação que concedeu os meios para fundar perfeitamente reconhecido que não havia mais razão para se
o actual matadouro. Em varias outras lei do orçamento supprimir a verba, reconheceu mesmo que da parte do nobre
sempre tem vindo materia analoga, a respeito de approvação ministro havia antes desejo de cercear o arbitrio do que de
de impostos, em favor da camara municipal; qual, pois, será dilatal-o no sentido da despeza publica; é, pois, uma verba
a razão para agora, e só agora, determinar-se uma digna de ser confirmada pelo senado.
separação que nunca teve logar? Vós conheceis a O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Para o exercicio de
importancia da materia; confessaes que ella merece ser 1872-1873?
votada pelo senado; não podeis negar a urgencia que ha em O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Quanto a esta
se prover a este respeito, por quanto de mais tem durado questão que S. Ex. aventou e agora me lembra, em seu
esse cancro que afeia a capital (apoiados), em uma quadra áparte, importa sustentar que todo o orçamento é cousa
de epidemias um tal foco de infecções, (e em que logar, escusada, porque naturalmente, póde-se mesmo affirmar
senhores?) Vós sabeis e reconheceis tudo isto; e não ha necessariamente, não poderá ser lei senão já finda a sua
razão para que se tome com presteza e de accordo a pratica quadra de regimen...
constante esta providencia?! O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Não disse, nem podia
Ora, o que foi opposto e digno de consideração contra dizer semelhante cousa.
a autorisação formulada como veio, era que se determinasse O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – V. Ex. fallou, é
um quantum do credito para não ser illimitado, e que não se certo, especialmente a respeito de uma verba, não podia
approvasse a imposição sobre um genero de primeira levar a sua observação a todas sem advertir que não póde
necessidade, base da alimentação publica; a isto o nobre haver razão prejudicial do dever de se fixar a receita e
ministro immediatamente attendeu. O que cumpria mais despeza; e sendo agora fixadas com as respectivas verbas
attender? A’s prerogativas da camara municipal? Ainda hoje especiaes, estas não se limitam a fazer parte do orçamento
foi lida a sua representação que era bem escusada, porque presente, são restabelecidas, renovadas para o exercicio
não faltava no seio do corpo legislativo e no governo quem seguinte; e se não fosse a circumstancia desta renovação,
zelasse essas prerogativas e as disposições da lei. O nobre bem se vê que era escusado que o senado se occupasse
ministro deu disto solemne testemunho quando pela primeira com toda esta discussão, visto que o exercicio está quasi
vez que fallou declarou que havia de respeitar a iniciativa da decorrido.
camara e sua interferencia legal neste assumpto. Ainda se O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Referi-me apenas ao
poderá dizer: não bastam palavras, porque ellas muitas augmento.
vezes não deixam vestigios, nem o nobre ministro póde ter o O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Passarei a
desvanecimento de que será ministro quando se tratar dessa fazer algumas observações em relação ao nobre senador
execução. Portanto, cumpre fixar na mesma decretação pela Bahia, que ainda hontem tomou parte nesta discussão, e
legislativa a devida attenção ás prerogativas da camara. desde logo principiou, na fórma do seu costume, com
E, senhores, parece-me que tudo perfeitamente se reflexões que de algum modo ferem o meu direito de membro
póde conciliar em uma emenda substitutiva; se tiver licença, desta casa, quanto a tomar parte nos debates, seja por quem
merecendo a concordancia dos illustres membros da fôr aventada qualquer questão.
commissão e em geral da maioria do senado, eu apresentaria Senhores, não é provocação e menos attentado que
essa emenda com a qual entendo que tudo se concilia, se qualquer acuda á discussão, que enuncie o seu pensamento,
torna o mais conveniente e regular. dando resposta a outro membro da casa. Ninguem tem
Eis a emenda: privilegio de se resguardar das discussões e, sobretudo, de
«Fica o governo autorisado para despender até a impor de sua autoridade limite ao direito de outrem; não ha
quantia de 2,000:000$ com a acquisição de um novo privilegio do mais alevantado sobre o
matadouro no municipio neutro em logar apropriado,
procedendo para este fim na fórma do art. 47 da lei de 1º de
Outubro de 1828...» Eis aqui devidamente considerada a
184 Sessão em 23 de Maio

mais humilde, como me reconheço; aqui não se póde dizer em disposição de lei, não sendo apadrinhada pelos estylos e
com a phrase da Escriptura: o ultimo será o primeiro; cada um pratica constante, foi repellida magistralmente pelo nobre
é igual, a dignidade do senado requer que todos os seus ministro. As observações de que incluir tal materia no
membros tenham os mesmos direitos. Uso do meu direito em orçamento era um disparate, cousa disconforme, e até uma
que peze ao nobre senador, tanto mais que sou obrigado a inconstitucionalidade, tinham contra si os factos; sempre foi
isto porque tambem nominalmente sou provocado á estylo a inclusão de tal assumpto na lei do orçamento, e até
discussão; e S. Ex. me provocaria mesmo independente identica materia comprehendendo o matadouro actual o foi
dessa nominal chamada, desde que com muita actividade faz pela lei do orçamento de 1845, referendada pelo illustre
opposição a uma administração á qual voto tambem fallecido, de saudosa memoria, o Sr. Manoel Alves Branco. As
activamente minha dedicação e todo meu esforço e apoio. considerações que com fundamento fizera S. Ex. foram logo
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do aceitas, quanto á limitação do credito, quanto á inconveniencia
Conselho): – Muito obrigado. do imposto; e era por certo razão sobeja para que o nobre
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Mas S. Ex. a senador se contentasse e não mais insistisse.
este respeito é inexoravel ainda quanto ás pequenas questões Em relação, Sr. presidente, ao que mais me deve ter
de mera formula, o nobre senador nunca se satisfaz com impressionado no discurso do nobre senador, visto que me foi
explicações as mais formaes; perdoe-me o nobre senador que dirigido pessoalmente, direi que o nobre senador começou por
o considere muito ao opposto de Guizot, de que depois tratarei me dar um amplexo; um verdadeiro abraço, mas de
e cujo merito notado e reconhecido é generalisar as questões, tamanduá. S. Ex. me proclamou naquella discussão seu
tratar qualquer questão especial com proficiencia, á luz dos Ieader, isto para tirar a consequencia de que fôra com elle
grandes principios, de maneira que sempre estabelece solidario nas aggressões e feridas feitas ao nobre presidente
doutrina completa S. Ex., porém, acanha, não direi do conselho; S. Ex. entendeu que eu abundei com elle quanto
amesquinha as questões, constrangendo-as a minucias, á profissão verdadeira da doutrina catholica, e, portanto, não
pondo de parte os grandes principios que deviam ser fiz mais do que seguil-o e contrariar o nobre presidente do
considerados e que mais ou menos entendem com ellas. conselho.
Assim na censura que fazia de contradicção ao O nobre senador, porém, poz de parte, não quiz ver, o
ministerio, porque o nobre ministro do Imperio apresentara na que realmente fôra meu discurso e porque o pronunciei; não
camara dos deputados o projecto de reforma eleitoral, usando foi, Sr. presidente, para vir a esta casa fazer profissão de fé
de sua iniciativa de simples deputado, embora dissesse que o catholica; nem disto se devia tratar no senado por muito
fazia de perfeito accordo com seus collegas do ministerio, excusavel; todos a tem feito e se alguns se desviam com
prescindindo de apresentar o projecto com a solemnidade de palavras contradictorias é para se deplorar. Dizer que, nascido
proposta do poder executivo, por isso que de accordo a de paes catholicos, educado no seio da Igreja, professava
precedentes attendia á natureza da materia que era para ser seus principios santos, não era e não foi o meu proposito e o
considerada na razão daquellas cuja iniciativa pertence objecto do meu discurso.
exclusivamente á camara dos deputados, ao modo do O meu proposito e fim foi demonstrar os excessos e
lançamento de Impostos; o nobre senador, porém, com applicações desviadas da verdade da doutrina catholica, que o
inexoravel reluctancia extranhava a exprobrava a incoherencia nobre senador fez em contradicção ao nobre presidente do
do governo em incluir na falla de abertura a declaração de que conselho; o abuso tremendo, odiosissimo que fizera em
o mesmo governo tinha apresentado a idéa desta reforma. rebaixar uma questão dessa importancia, constituil-a arma de
Ora, tendo o nobre ministro do Imperio dado opposição systematica contra o governo, parecendo que com
explicações tão satisfactorias; e só havendo nisto um ponto de isso procurava de plano minguar, tirar a força moral ao
razão sufficiente para interessar ao nobre senador, que era governo, tão necessaria para que elle possa desempenhar
fixar bem a responsabilidade ministerial nessa proposta para sua missão, cumprir os arduos deveres na conjunctura actual.
que fosse objecto de confiança a sua aceitação ou rejeição, Neste mesmo proposito odioso e com menos preço de
tinha por certo o governo, não só com as declarações questão de tamanha importancia, foi o nobre senador levado
especiaes que fez o nobre ministro perante a camara dos na sua aggressão contra o nobre presidente do conselho ao
deputados, como principalmente pelo facto extraordinaria de ponto de taxal-o de racionalista...
incluir a idéa no programma solemne da falla do throno, fixado A este respeito, Sr. presidente, devo declarar que
sua responsabilidade ministerial, e caracterisado esta questão comprehendi depois que ouvi o novo discurso do nobre
de alta questão de gabinete, mas o nobre senador com senador o sentido em que elle tinha chamado o nobre
abstenção de principios, em contradicção com o seu interesse presidente do conselho racionalista.
politico, insiste nas censuras ao governo por isso mesmo que O SR. ZACARIAS: – Não me referi ao nobre
gravou a responsabilidade ministerial pela proposta quando a presidente do conselho; elle que applique a si.
incluiu na falla da abertura! O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – V. Ex. disse
S. Ex., Sr. presidente, a respeito da questão do que elle estava fóra do gremio da Igreja, e refractario aos
matadouro faltou uma e mais vezes e perdoe-me S. Ex. que preceitos do Pontifice era racionalista! E isto porque o nobre
diga que o matadouro foi-lhe um nome fatal, ou de máo presidente do conselho observara que tinha tranquilla a sua
agouro, porque S. Ex. foi morto pelo nobre ministro nesta consciencia, por estar persuadido que o anathema não lhe
questão. A theoria de que só a camara podia iniciar impostos chegara visto que o maçon no Brasil não era esse adversario
municipaes em seu orçamento, não tendo assento da Igreja, esse conjurado demolidor de altares.
O Sr. Zacarias dá um aparte.
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – V. Ex. o disse:
não podia ostentar essa tranquillidade de consciencia sem
cahir
Sessão em 23 de Maio 185

no racionalismo, e designou-o positivamente racionalista. Ora, devidamente os factos, não se verificaram as suas
Sr. presidente, entendia eu, e era este o sentido que ligava á circumstancias: não era possivel que houvesse um juizo
palavra quando fallei anteriormente, que S. Ex. em assumptos assentado. Ora, em taes, circumstancias negar o uso da
desta ordem prohibia o uso do raciocinio áquelles que de razão, censurar o racionalismo era muito, e era tanto que me
qualquer modo tivessem sido envolvidos em censura da Igreja apressei em oppor que com o racionalismo se praticaram os
ou fosse objecto de um acto partido da Santa Sé; que a grandes serviços prestados ao christianismo em geral e até
obediencia que os catholicos deviam á Santa Sé era tal que mesmo ao catholicismo especialmente.
reduzia o individuo a uma especie de machina, sem raciocinio, O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado.
a um verdadeiro cadaver na phrase jesuitica, para significar O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Estes grandes
que o confrade não tem vontade nem raciocinio. padres da Igreja eram homens de alto raciocinio.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Está muito O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado.
enganado. O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – E para melhor
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Não me refiro á fazer sobresahir o meu asserto produzi autoridade insuspeita
doutrina catholica, fallo da attribuida maxima da Companhia pela falta de preconceitos de seita e sem subserviencia á
de Jesus. Santa Sé; apresentei dous, protestantes como eminentes
A imposição da regra da obediencia a todo o transe servidores do christianismo e ainda mesmo do catholicismo
constitue o filiado um cadaver que se move ao acceno do Trouxe o Sr. Guizot e Abbadie, o antigo autor da verdade do
chefe; não tem vontade propria e renuncia ao raciocinio. Ora, christianismo, tão admirado por Bossuet; e então fiz a
o nobre senador por certo não podia chegar a tanto de querer observação de que os serviços prestados pelo Sr. Guizot ao
reduzir o nobre presidente do conselho a um cadaver; christianismo e ao mesmo catholicismo eram de tal ordem que
censurava-lhe o seu raciocinio, o livre arbitrio de distinguir o punham á igualha dos Agostinhos e Jeronymos.
quando pela obediencia catholica era obrigado a curvar o collo O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Ora!
e aceitar a imposição sem reflexão alguma. Era neste sentido O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Disse-o e
que eu suppunha que o nobre senador se exprimia. Mas elle repito, e vou a dar a razão porque assim penso.
definindo depois o racionalismo a que alludia e era aquelle O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Quaesquer que
que negava o dogma, as verdades sobre humanas da fossem os serviços prestados pelo Sr. Guizot elles nunca o
revelação divina. collocariam a par dos Agostinhos e dos Ambrosios.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Apoiado. O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – V. Ex. ouça-me
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Eu não podia e depois dirá o que entender. Ao nobre senador causou
aceitar neste sentido o epitheto lançado contra o Sr. grande reparo e manifestou-se como o senado ouviu com toda
presidente do conselho, visto como constituiria tão grave attenção merecida ao seu eminente talento.
aggressão como desarrasoada. E o que autorisaria o nobre Note-se que eu não disse que o Sr. Guizot devesse ser
senador a ter o nobre presidente do conselho como um impio, canonisado. Não fallei das virtudes do Sr. Guizot para serem
talvez atheu ou materialista, que nega a revelação divina e devidamente apreciadas no seio da Igreja Catholica.
todas as verdades dogmaticas, todos estes pontos da O SR. ZACARIAS: – Pois podia fallar dellas.
revelação divina que constituem a fé christã? Nada o O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E elle não é
autorisara! racionalista.
O Sr. presidente do conselho limitava-se a oppor: a O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Não é?
maçonaria do Brasil não é associação anti-religiosa; nunca o O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não.
foi. A maçonaria do Brasil não cogita de religião; pelo contrario O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Apresentei-o
rende a devida homenagem á religião; tem recorrido a ella como um eminente racionalista no sentido que já expuz, do
para solemnisar as suas festas e suffragar as almas de seus homem do raciocinio, na mais alta accepção do termo.
irmãos. A maçonaria do Brasil não é um antro de abominação O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado.
de conjurados, de demolidores do altar, de atheus, de O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – E como os
materialistas impios empenhados em proscrever todas as grandes padres da Igreja...
idéas religiosas, em perseguir a Igreja, não foi por certo O SR. ZACARIAS: – Qual padres da Igreja!
comprehendida na bulla da excommunhão. Sustentar isto, Sr. O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...tem praticado
presidente, poderia constituir argumento para a qualificação e continúa a praticar esses feitos que tanto o honram como
de racionalista, no sentido de negar as verdades da fé servem á civilisação moderna e até aos mesmos interesses da
christã?! Igreja Catholica.
Não, não podia conceber que o nobre senador Senhores, os doutores maximos da Igreja a que me
chegasse a tanto. Portanto, limitei-me a entender que elle refiro floresceram nos seculos primitivos da christandade.
negava o exercicio da razão para se fazer qualquer censura Santo Agostinho, Santo Ambrosio e S. Jeronymo eram do IV
razoavel ou ainda uma justa estimação da moralidade das seculo. Nesse tempo todo o mundo sabe as proporções que
censuras da Santa Sé, como faria o nobre presidente do tinha a Igreja Catholica e qual foi a phase natural do seu
conselho e com tanto mais liberdade que não se tratava de primeiro desenvolvimento. Era então a Igreja militante
uma sentença directamente emanada da autoridade do
Summo Pontifice, mas de uma applicação della feita por
bispos e com uma generalidade que realmente em si mesmo
devia contar o erro, in generalibus latet error: não precedeu a
processo algum, não houve devassa, não se estimaram
186 Sessão em 23 de Maio

no periodo de aspero tirocinio. Prestaram valiosissimos e com seus escriptos se fez tanto mais notavel que dá um
serviços estes confessores da fé christã. Foram guardas fieis relevantissimo testemunho insuspeito, sem preconceitos de
das tradicções evangelicas, mantiveram o sentido puro e seita e sem subserviencia á Santa Sé, a muito saber reune um
verdadeiro da doutrina. Em seus escriptos repelliram todos os grande caracter. Para levar ao cabo tamanha empreza, nas
desvarios da razão insensata que procurava corromper a circumstancias dadas, não basta ser um simples theologo; á
verdadeira doutrina do Christo. muita proficiencia das escripturas sagradas, deve juntar a
Mas, Sr. presidente, cumpre muito notar, não havia experiencia do consumado estadista, o prestigio de um
então imprensa. O circulo traçado era muito e muito daquelles nomes que teem tal peso, que quando se
acanhado. Meras cópias, ainda tiradas ás dezenas e centenas apresentam em publico e escrevem, duas vezes
percorriam um numero muito limitado de leitores; embora impressionam o publico com a autoridade da razão e com a
fossem lidas em congregação de fieis e passassem de mão razão da autoridade.
em mão, nunca isto chegava a extensão maior de alguns mil O SR. ZACARIAS: – Pois declaro que não tem
leitores. Estes escriptos quasi sempre de méra doutrina christã autoridade nenhuma.
e exclusivamente theologicos eram para ser lidos quasi O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Sr. presidente,
exclusivamente pelos fieis, e não muito ao alcance da geral o Sr. Guizot é este homem que, apesar de ser protestante,
intelligencia. tem prestado verdadeiros serviços não só em geral ao
Entretanto elaborados como foram pelos guardas fieis christianismo, que professa como calvinista, como ainda ao
da tradicção evangelica grangearam-Ihes este assento que catholicismo porquanto ao mesmo catholicismo tem elle
teem na Igreja como maximos doutores e confessores da fé. rendido a homenagem de seu testemunho pela grande
Depois que os seculos correram e teve o desenvolvimento a instituição da unidade catholica que o philosopho espiritualista
que attingiu a Igreja Christã, de militante que era passou a admira, assim como com superior razão o estadista sustenta o
triumphante. Dominou em todas as nações do mundo direito do Summo Pontifice ao poder temporal por alta
civilisado, quer dizer do mundo christão, porque a verdadeira conveniencia politica e pela congruencia de sua suprema
civilisação está com o christianismo... missão do chefe da Igreja Catholica.
O SR. ZACARIAS: – A Igreja passou a triumphante? Eis o porque, Sr. presidente, dando os devidos
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Denominaram- descontos, não fazendo parallelo impossivel entre os doutores
n'a assim. maximos da Igreja canonisados e o grande homem da politica,
O SR. ZACARIAS: – Ella é sempre militante. da sciencia e da litteratura, protestante, parallelo esse
O SR. POMPEU: – A triumphante está no céo. impossivel entre virtudes e merito, segundo a Igreja, porém
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Aceito a sómente pensando os serviços que, prestados em épocas tão
correcção: designarei neste periodo – a igreja dominante diversas, teem uma equivalencia de valor: áquelles em os
depois de attingir a altura a que chegou ao mundo civilisado, primeiros tempos guardas fieis da tradicção evangelica e
com grande representação e valor politico, encadeando os verdadeira doutrina, e este, a época actual, eminente
seus interesses com os interesses temporaes, cresceram para escriptor, verdadeiro philosopho christão, defende contra a
a Igreja com as regalias immensas difficuldades: com o estado impiedade moderna a verdadeira doutrina do christianismo, e
da maior representação e valor moral e mesmo politico, com ainda quanto á unidade catholica presta valioso testemunho
estas pompas do seculo, habitando o Santo Padre o primeiro de mais que tolerante approvação. E negue o nobre senador
palacio do mundo e constituido soberano da Cidade Eterna, como lhe aprouver o valor da autoridade do Sr. Guizot: o seu
cresceram tanto as difficuldades, com tamanhas glorias, que merito e distincção está acima de impugnações.
os maximos e necessarios direitos e interesses da Igreja em Direi a S. Ex., e nisto dou testemunho de propria
tantas circumstancias foram postos em duvida, e prejudicados, experiencia e pelo que tenho ouvido a outros: a leitura de
já não digo quanto ao estado que entende com a ordem certas obras do Sr. Guizot confirma o catholico na fé. Sr.
temporal, mas ainda quanto áquillo que diz respeito á doutrina, presidente, emquanto me refiro á experiencia alheia, tenho em
a aos principios que devem ser aceitos, venerados em relação lembrança o que ouvi a um prezadissimo amigo de
á crença religiosa. Nestas circumstancias muito mais difficil e saudosissima memoria, o illustre estadista Euzebio de
ponderosa deve ser a acção daquelles que por escriptos, Queiroz; dizia-me elle, alguns dias antes de seu fallecimento.
trabalhos especiaes, teem de concorrer para a defeza não só «Foi a ultima obra que li esta de Guizot e confortou-me o
dos direitos e Iegitimos interesses da Santa Sé, na ordem animo e o espirito nesta phase de minha vida em que vou
temporal como em vingar a verdade da crença evangelica, e tocando o tumulo.»
dos principios dogmaticos do christianismo, defendendo a O SR. ZACARIAS: – Mas não é autoridade
fonte divina, a revelação feita pela proprio Deus feito homem. verdadeiramente catholica.
Por certo muito devem valer aquelles que se O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Apoiado.
distinguem em taes circumstancias; e quando a imprensa, O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Aceite ou não o
estendendo o estadio da discussão, faz surgir tantos e tantos nobre senador o que pela minha parte exponho como razões
concurrentes que só na Allemanha, a terra por excellencia do que me convencem e que levaram-me a pronunciar-me pelo
pensamento, tantas escolas de variada doutrina já com o modo por que o fiz. Se erro, nem por isso deixará S. Ex. de
pensamento hostilisavam a Igreja Catholica, como agora os incorrer em erros de apreciação e em excessos que
seus soberanos por violentas medidas estão completando a verdadeiramente escandalisam, e alguns tanto mais de
obra de hostilidade e perseguição. estranhar, que procedem de quem protesta ser um verdadeiro
O homem que alcançou grande distincção em tal liberal, chefe do partido e até o grande Ieader do partido
concurrencia, liberal!
Sessão em 23 de Maio 187

O senado ouviu S. Ex. dissertar largamente a respeito OS SRS. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
de algumas proposições do Syllabus sobre o que tinha sido do Conselho) E VISCONDE DE SOUZA FRANCO: –
provocado pelo nobre senador pela provincia do Pará; e Apoiado.
confesso, Sr. presidente, que conservando toda a minha fé O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Em todos os
catholica e mantendo intactos os principios politicos que paizes, em todas as seitas e em todos os tempos, o progresso
professo e que não são aquelles que ainda o nobre senador de que se falla, o liberalismo e a civilisação moderna, Sr.
com uma referencia ligeira nesta discussão exprobrou-me, os presidente, é o que nós sabemos.
do direito divino na constituição do poder humano, (e isto em Os tempos teem corrido em relação ao temporal; que
occasião em que elle por sua parte os sustentava!) não está na mesma razão da lei evangelica, cabe e tem
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do havido progresso e aperfeiçoamento de civilisação.
Conselho): – Estava no seu pleno direito. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado.
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – E horrorisei- O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Quando se
me, e entendi que devia fazer um protesto por honra dos trata de liberalismo, respeito e garantia de direito vem logo a
verdadeiros principios e tambem em defeza da grande causa idéa connexa: organisação social, governo, forma de governo.
da religião que é tão compromettida por excessos destes seus Ora, para bem se perceber qual o liberalismo a que o Sylabus
dedicados defensores... faz referencia, cumpre attender qual era a forma de governo
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado. adoptada em Roma e a experiencia que fez desgraçadamente
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...que muitas o Summo Pontifice, de prescindir da antiga organisação e
vezes a prejudicam em vez de servir. attrahir aquillo que lhe trouxe, com a morte do grande ministro
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Rossi, a necessidade de fugir disfarçado de Roma. Então se
Conselho): – Apoiado. transformara a antiga organisação politica de Roma (que não
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – O senado ouviu tinha nada de liberal, era com ella repugnante qualquer
S. Ex., por exemplo, a respeito do ponto: «o Pontifice Romano liberalismo, visto como era um governo theocratico absoluto)
póde e deve reconciliar-se e transigir com o progresso, com o para aquelle governo que viu ou trouxe os movimentos
liberalismo e com a civilisação moderna.» revolucionarios, a morte de Rossi e todos aquelles attentados
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E é uma verdade. que escandalisaram a christandade. Ora, o liberalismo
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – S. Ex. tomou a considerado no Syllabus não podia ser senão o que tão mal
si justificar esta condemnação do progresso da civilisação assignalou a revolução em Roma.
moderna e do liberalismo; e como o explicou, Sr. presidente? Com franqueza exporei: impressionado como foi o
S. Ex. disse: «O progresso aqui se entende restrictamente Santo Padre com os disturbios revolucionarios, os seus
quanto á doutrina evangelica, porque não póde mais ser ministros poderiam confundir o liberalismo com esse fervor
aperfeiçoada.» Ora, senhores, então não ha progresso, não é revolucionario e essa turbulencia terrivel, anarchica, que
mais possivel desde que se reconhece que o progresso não conspurcou Roma. Mas, não é esse o sentido genuino que
póde ter applicação ao texto evangelico, á doutrina tem o liberalismo; não o póde ter, e menos póde negar um
evangelica; e é o grande argumento da sua divindade essa verdadeiro liberal, o chefe e o leader do partido liberal; o
perfeição absoluta. Desde a nascença foi a mesma e liberalismo não é uma palavra symbolica daquillo que é máo e
perfeitissima; os seculos correram, as sciencias progrediram, sempre deve ser repellido com horror.
o espirito humano se desenvolveu e cada vez acha mais razão O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado.
para admirar e exaltar a moral evangelica; é uma obra tão O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – A civilisação
perfeita que só podia ser ditada pela palavra divina. Este é o moderna tambem não. A civilisação moderna, a verdadeira
grande argumento, a fonte divina da doutrina christã, e exclue civilisação é a christã, a civilisação moderna para a qual o
a tal respeito idéa de progresso. vapor e a electricidade e todos estes agentes naturaes
Como, pois, admitir ou suppôr progresso e consideral- prestam seus meios de maior desenvolvimento quanto á parte
o ligado ao liberalismo e á civilisação moderna? O sentido é material e em que o pensamento tambem tanto tem-se
claro, senhores, e se conforma com aquillo que naturalmente avantajado.
era muito para ser o pensamento politico do Vaticano. Mas, O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Bem se vê que V.
será o progresso, civilisação moderna e liberalismo o que Ex. não leu a bulla ahi citada.
definiu o nobre senador chegando a apontar, por exemplo, O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Eu li.
que nesta civilisação moderna o progresso estava nos O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Estou me
romances de Paris, nas turpitudes da Babilonia moderna. Esta referindo ás palavras do nobre senador. Eu por via de regra
não é a civilisação moderna... costumo argumentar com as mesmas premissas que o nobre
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado. senador me fornece em seus discursos. Esta não é a
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...este não é o civilisação moderna para ser condemnada e de que se possa
liberalismo... dizer que a constituem os romances de Paris, os cafés
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Apoiado. cantantes, o can-can, e quantas torpezas a corrupção do
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...são abusos, seculo tem trazido. São miserias da humanidade que o
são indecencias, são torpezas condemnadas sempre por simples bom senso condemna; não constituem a civilisação
todos os homens de bem. moderna, pesam contra e sobre ella. Esta, verdadeira não
pode ser condemnada pela religião.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
Conselho): – E a religião mettendo-se nisto, onde vamos
parar?
188 Sessão em 23 de Maio

O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Agora, a governo mantenha a ordem, faça respeitar e garantir os
respeito da esphera de poder que é exigido, sustentado por direitos de todos e especialmente daquelles que, revestidos
aquelles que entendem que o poder espiritual não tem uma de um caracter especial...
orbita exclusivamente immaterial, o espirito, entendem elles O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Tambem da Igreja.
que assim como a alma está ligada ao corpo e anima o O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – A isto vou
vivente e reciprocamente participa do movimento physico e referir-me.
ha uma actualidade reciproca, assim o poder espiritual é a ...daquelles que, dizia eu, revestidos de um caracter
alma que anima o grande corpo social e exerce e deve especial e tão venerando, como sejam os prelados do Brasil,
exercer uma acção decisiva ainda sobre o mesmo temporal. devem estar a coberto de todos os insultos e livres de
Os que teem esta opinião sujeitam a reparos e graves qualquer violencia ou acção coercitiva. Mas por outro lado
censuras aquelle que nega a supremacia da Santa Sé em tambem deve o governo garantir os direitos de todos os
decidir muitas cousas com a preponderancia que deve ter o subditos do Imperio e pôl-os a coberto de excessos que
chefe da christandade mesmo na ordem temporal. Ora, o serão tanto mais vexatorios quanto forem praticados por
nobre senador a este respeito limitou-se a dizer que a aquelles de quem somente deve partir o conforto, os
pretendida supremacia da Santa Sé se referia unicamente ao conselhos, a direcção caritativa para a tranquillidade de
poder temporal nos estados antigos pontificios; que era um consciencia.
direito seu; (e foi por certo direito perfeito da Santa Sé) que Admira que se queira exagerar a acção episcopal,
era necessaria esta soberania territorial para que o chefe da achando a razão que ella fulmine com uma excommunhão a
Igreja não fosse subdito de ninguem, tivesse a independencia chamada maçonaria do Brasil sem conhecer ao certo quaes
de que ha mister sua alta posição e a missão santa de que sejam os factos caracteristicos dessa maçonaria, e quando
está encarregado. se reconhece que grandissimo, avultadissimo é o numero dos
Mas ainda assim, Sr. presidente, cumpre notar: o chamados maçons, que em regra pertencem ás classes mais
nobre senador que por esta occasião mesmo a mim elevadas, á gente mais culta.
exprobrava os principios do direito divino, os sustentava Se a respeito de verdadeiros crimes, quando o
quanto ao povo romano dos antigos Estados Pontificios: ahi numero da gente compromettida é immenso, ha sempre uma
não admitte, nem reconhece a soberania do povo romano. amnistia, é reconhecida a necessidade de transigir, porque o
Portanto, o liberalismo do nobre senador cae assim em mal do castigo se torna mais grave do que o mal do crime,
syncope, e ainda quando á soberania popular admitte realmente será muito para se deplorar que por um erro de
excepções. E, senhores, quando se trata de sustentar apreciação, por uma applicação tão injusta do anathema do
direitos, uma doutrina que admitte excepções odiosas, a chefe da Igreja lançado sobre os machinadores, sobre os
todos ameaça, porque hoje é a respeito de um, amanhã será abominaveis que tramam contra a verdadeira religião, contra
de cada um. o catholicismo, se offenda a verdadeiros catholicos que
Cahiu elle, pois, na sustentação do direito divino, e nunca pelo pensamento peccaram, que estão firmes em suas
cahiu, Sr. presidente, porque systematicamente tudo exagera crenças e que realmente pertencem a uma sociedade que se
e nos seus excessos compromette o grande principio. A póde dizer não é só tolerada, mas permittida no Brasil e que,
supremacia do chefe da Igreja para ser sobre tudo, para ser nos informou o nobre presidente do conselho, pretende
inatacavel não deve participar do contacto com a esphera regularisar-se pedindo ao poder publico a approvação de
impura do temporal. Os que lhe querem dilatar ou estender a seus estatutos.
esphera da jurisdicção ao mesmo temporal, rebaixam o Que essa perseguição se desenvolva e chegue ao
Santo Padre da altura em que extreme pairar. ponto de haver interdictos vexatorios para tantos fieis e
A religião por si só é uma grande lei, um grande naquillo que ha de mais serio na terra, negando-se-lhes pasto
principio, e aquelle que a mantem e vela na sua guarda e espiritual, sepultura no sagrado e licenças para casamento,
constante applicação, tem um governo e uma tal isto não é possivel!
administração que deve contel-o e retel-o, porque ella é tal Ha mister, portanto, que o governo, usando
que não consente que o seu agente principal declinando da justamente das suas faculdades constitucionaes e de todos
espiritual esphera estenda mão que não seria profana, mas os meios adequados, em que entre principalmente uma
seria mão sagrada na profana. informação completa ao Santo Padre por via das relações
Não póde o poder espiritual ter a faculdade de diplomaticas que o governo entretem com a Santa Sé, e por
dominar em toda a parte e por toda a parte como poder qualquer meio, ainda que seja extraordinario, habilite o Santo
publico além da esphera daquillo que entende com a Padre a attender para esta população que tanto mais merece
consciencia, que fica só na consciencia. de sua solicitude, quanto é de longo tempo muito e muito
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ uma verdade dedicada ao catholicismo. (Muito bem; muito bem.)
tambem. Foi lida, apoiada e posta em discussão
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – E’ o que conjunctamente a seguinte
professo.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Nem o outro invada EMENDA SUBSTITUTIVA.
as attribuições do espiritual como tem invadido.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Ao Fica o governo autorisado para despender até a
contrario. quantia de 2,000:000$ com a acquisição de um novo
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Portanto, matadouro no municipio neutro, em logar apropriado,
continuo na questão especial de que nos occupamos que é procedendo para esse fim na fórma do art. 47 da lei do 1º de
grave, e para a qual o governo deve ter a força moral e apoio outubro de 1228. A dita despeza poderá ser feita por meio de
de todos, sem contradicção de qualquer que tem voz nos qualquer operação de credito, applicando-se do juro e
conselhos da nação. Neste mister é necessario de um lado amortisação do emprestimo que fôr contrahido, o imposto
que o geral do gado de consumo e o producto da venda
Sessão em 23 de Maio 189

do edificio e terrenos do actual matadouro. – Visconde de a uma repartição, e como medida transitoria, era preferivel
Nitherohy. amplial-os, e dar-lhe alêm disso o caracter de permanencia.
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – O nobre relator Em vista dessa observação certamente não havia, por que
da commissão já expoz ao senado o pensamento que a hesitar, a maioria da commissão aceitou a modificação, e
dominou ao formular as emendas que se acham sobre a depois todos os seus membros concordaram, pelo que o
mesa: fel-o com tanta lucidez e exactidão que eu não nobre relator mandou á mesa a competente emenda. A este
repetiria algumas de suas palavras, se ellas não devessem respeito, pois, não póde restar questão.
servir de preliminares para aquillo que tenho de accrescentar. A 2ª duvida versava sobre a repartição da estatistica:
Como disse S. Ex., não foi um pensamento de procurarei esclarecel-a. No apressado exame que a
opposição ao governo quem dictou as emendas; foi sim a commissão fez desta verba de despeza, não teve tempo de
idéa do dever consciencioso da commissão, o intuito de pedir os necessarios esclarecimentos, nem de consultar a lei
preferir os melhores principios, e o maior bem da de 1870, que concedeu credito para um dos seus serviços.
administração, o desejo de seguir essa norma não neste A redacção vinda da camara dos deputados, deixava
caso sómente, sim tambem em todos os outros que alguma duvida se havia ou não angmento de despeza em
occorrerem e forem subordinados ao exame della. relação ao pessoal; assentamos por isso de manter as
Elle disse outrosim que não pudemos ter a satisfação cousas como estavam, e nesse sentido redigirmos a nossa
que desejavamos de previamente ouvir o nobre ministro do emenda.
Imperio, porque a urgencia, a falta de tempo não permittiram; Na conferencia o nobre ministro do Imperio
não houve pois culpa nossa, sim das circumstancias que convenceu perfeitamente pelo menos a mim, de que o bom
privaram nos até mesmo de alguns esclarecimentos. principio estava de sua parte. Demonstrou que não havia
Foi por isso que tratando de fundamentar as augmento algum de despeza com o pessoal, que não podia
emendas, o illustrado relator significou ao senado, e eu prescindir da cifra 38:000$ que pedia para as outras
tambem pedi-lhe isso, que se esclarecimentos posteriores despezas, que a passar a emenda da commissão em vez de
estabelecessem razão bem fundada para algumas restricção dar-se-lhe-ia maior latitude, do que elle desejava,
modificações, não haveria duvida de acceital-as, ou de emfim que não se oppunha, mas que ponderava o
offerecel-as. Disse mui bem S. Ex. que não se dava questão inconveniente.
de vencedor, nem de vencido, pois que as intenções não iam, Com effeito por essa occasião tivemos de reconhecer,
nem vão além daquillo que acabo de expôr. que a pratica actual não era a melhor em face dos principios,
Procedendo consequentemente a maioria da já quanto a fonte de recursos, já quanto a sua amplitude
commissão, teve uma conferência com o nobre ministro do como que illimitada.
Imperio e della resultou o que depois referirei. Direi, porém, A lei de 1870 deu a repartição de estatistica para o
antes, que sentimos que não se reunissem todos os trabalho do recenseamento credito não só de 400:000$, mas
membros da commissão, dous por causa da distancia e um ainda a faculdade de amplial-o sem designação de limite. E’
por incommodo, entretanto, que a falta de tempo não visto que tal credito é destinado ao seu fim especial, e que
permittia addiar o trabalho. em rigor não tem por que ser distrahido d’ elle.
A’ vista destes preliminares e querendo ser conciso A repartição de estatistica tem outros serviços além
direi, que a commissão offereceu sete emendas, que dellas desse, e como não estivesse ainda montada, como não
foram aceitas quatro, tanto no seu fundo como na sua fórma tivesse credito senão para o pessoal, e não devesse ficar
e que por tanto não tenho porque occupar-me destas: inactiva, tem deduzido d’alli o necessario.
observarei sómente que essa aceitação importa uma O illustrado ministro, como já disse ponderou, que
poupança para os cofres publicos de cerca de 500:000$000. semelhante expediente era anormal, que convinha reguarisal-
Tratarei, pois, das outras tres emendas a cujo o, e que esse era o seu unico, e certamente louvavel intuito.
respeito ha alguma dubiedade: Ora desde então em meu pensar, e pelo que toca a
A primeira versava sobre a reorganização da meu voto eu entendi desistir da emenda da commissão, não
secretaria de Estado: informarei, pois que nem um membro proferi isso por delicadeza para com meus collegas ausentes,
da commissão teve a idéa de combater a disposição, que mas não tinha mais porque hesitar, por isso mesmo que não
vinha no projecto, ninguem tratou de diminuir a latitude della se trata de vencedor, nem de vencido.
quanto a organisação nem quanto a alteração do numero dos A unica objecção que por ventura poderia restar seria
empregados, nem quanto a da tabella dos seus vencimentos, de alguma reducção na somma dos 38:000$. A esse respeito
uma vez que não houvesse augmento na despeza actual. porém observarei, que a emenda da commissão não reduzia
O pensamento da commissão era outro, e por quantia alguma e que pelo contrario, como que sanccionando
indicação minha: era de fixar normas proprias do nosso um expediente irregular, poderia dar arbitrio para despeza
systema de governo, que se iam olvidando, ou interpretando ainda maior. Quem opinasse pela reducção deveria mandar
de um modo tão inconveniente, que alienavam o poder emenda nesse sentido.
legislativo perante as mãos do governo. Para estabelecerem- Creio mesmo que tal emenda não seria approvada á
se essas normas, resumiu-se a disposição do paragrapho, e vista do que o nobre ministro ponderou. O relatorio annual da
accrescentou-se o teor dellas. repartição além de ser volumoso compõe-se em grande parte
Na conferencia com o illustrado ministro, ponderou- de mappas, cuja impressão é cara, até mesmo porque
se, que em vez de decretar esses principios em relação demanda trabalhosa revisão. A bibliotheca ainda não está
sómente montada, ha encommendas, que teem de ser pagas no
exercicio de que se trata: talvez que nos futuros exercicios se
possa minorar a despeza.
190 Sessão em 23 de Maio

Resta, pois, senhores, só e unicamente a questão do senão formular a nova emenda, que se fosse necessario a
matadouro, e sobre ella darei as razões, de como tenho de faria minha, que votaria por ella, mas que entretanto
votar. presuppondo mesmo o assentimento de meus collegas
Acabo de ler a emenda que o governo... presentes, teriamos deprocurar o accordo do ausentes.
O SR. ZACARIAS: – Que o governo... Assim é que hoje se o Sr. visconde de Nitherohy não
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Que o Sr. mandasse a emenda que se acaba de ler, eu mandaria a
visconde de Nitherohy... mas por ora seja que o governo. minha como disse.
O SR. ZACARIAS: – São lapsos. O SR. LEITÃO DA CUNHA: – V. Ex. faria a emenda
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – O nobre senador precedendo accordo com a commissão.
ouvirá depois a razão do equivoco, e verá como que é O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Certamente se
satisfactoria. ella concordasse comigo.
Acabo de ler, dizia eu, a emenda, e de confrontal-a O SR. LEITÃO DA CUNHA: – V. Ex. não podia
com a que eu offereci ao nobre ministro na conferencia, a que prescindir desse dever de cortezia.
tenho alludido, vejo que com pequena mudança de redacção, O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Permitta-me V.
em tudo são identicas. Ex. que diga que não tem razão para fazer essa observação.
Consequentemente não tenho porque rejeitar minhas Procurei o accordo em relação a alguns dos meus collegas,
proprias idéas, minha propria emenda, que não foi impugnada que não assistiram á conferencia, não obtive desde logo, o
por nem um dos meus collegas que assistiram a conferencia, tempo não soffria dilação, e creio mesmo que elles tinham
embora ficassemos todos na idéa de ouvir os demais illustres ainda uma outra objecção. Em tal caso, como proceder? Creio
membros da commissão, que não estavam presentes. que, fazendo justiça a todos e entendendo que no caso de
Pelo que toca a meu voto informarei ao senado das divergencia de opiniões cada um tem intelligencia,
razões porque não podia, nem posso aceitar o paragrapho independencia e dignidade para apreciar e decidir-se por si
como veio da camara dos deputados. mesmo.
Impugnei o paragrapho por tres razões a meu ver O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Não o contesto.
vadiosas: 1ª porque nada determinava sobre a questão O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Estando o nobre
eventada de competencia, eu intervenção legal da Illma, senador ao facto de tudo para que pois deu-me o seu aparte?
camara municipal da Côrte; 2ª porque não se designando o O SR. LEITÃO DA CUNHA: – V. Ex. dizia, que
quantum ou ao menos o maximo da despeza, tambem não mandaria a emenda.
ficava designado o maximo dos rercusos, ou fundos O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Sim, senhor,
concedidos, como demandam os bons serviços; 3ª porque eu mandaria.
não podia adoptar o imposto lembrado pela dita camara de O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
quatro reis em libra de carne verde. Conselho): – Estava em seu direito, e S. Ex. já declarou
Julgava, e julgo imposto pesado sobre um genero de tambem, que aceitava a idéa.
primeira necessidade, e já muito tributado; seria um vexame O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Logo não podia mandar
mormente para a classe pobre e por isso mesmo cousa muito a emenda só, havia de mandar com a assignatura de nós
impopular. Accrescia que tendo a commissão economisado quatro.
cerca de 500:000$, bem podia indicar, que se destinasse para O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Creio que agora
o effeito o imposto geral lançado sobre o gado de consumo, entendo o pensamento de S. Ex.; deslindemos o ponto, pois
que se orça por 180:000$, que é muito apropriado, e que pode que desejo ser sempre muito delicado para com os meus
ter semelhante applicação, lucrando ainda o thesouro nobres collegas, é um dever não só de intelligencia, mas
300:000$000. tambem de honra, sem presar os outros cavalheiros, o homem
Em nossa conferencia com o nobre ministro não pôde saber presar-se a si proprio.
reproduzimos isso mesmo, e a final S. Ex. ponderou quanto a Eu era incapaz de offender o melindre de meus
primeira razão que se podia adoptar uma formula, que illustres collegas, que não assistiram á conferencia, e julgava
resalvasse a intervenção municipal, formula que offereceu, e desnecessario acrescentar, que nem tão pouco o melindre dos
se acha na emenda: quanto a segunda expoz que em vista que assistiram.
dos esclarecimentos coligidos embora entendesse, que a Creio que o nobre senador sabe que a maioria da
despeza não chegaria a 2,000:000$, entendia que bastaria commissão depois da conferencia procurou chegar a um
fixar esse maximo, e que assim não restaria questão. accordo geral, e que não se obteve a reunião, nem se póde
Accrescentou que existiam diversos orçamentos, e planos,e si decidir se não do que respeitava a rubrica secretaria de
não me engano, tambem diversas propostas. O assumpto Estado. Era tempo de votar-se, portanto deixemos de parte a
estava pois bem estudado. questão quanto a uma emenda de toda a commissão. Resta
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – E que algumas das pois sómente a questão da assignatura da maioria; isto é dos
propostas subiam a 5.000:000$000. quatro, que assignaram a conferencia. Eu presumia que os
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Sim, senhores, é outros dous senhores estavam na mesma opinião minha,
que todas excediam de dous mil contos. assim como o nobre senador...
Quanto a terceira clausula ou rejeição do novo O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Já o declarei.
imposto, e substituição por outro, isto é, pelo referido imposto O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Mas não
geral S. Ex. reconheceu que a idéa em verdade era preferivel. bastava minha
Em taes termos entendi que, por minha parte não
restava
Sessão em 23 de Maio 191

presumpção, e nem mesmo a certeza dispensar-me-ia do da lei do 1º de Outubro de 1828, a remover para logar mais
dever de delicadeza. Procurei saber de dous membros da conveniente o matadouro publico, podendo para esse fim
maioria o que prefeririam para mandar-se á mesa a emenda, despender até a quantia de 2,000:000$ por via de emprestimo
de que se trata, e que foi indicada por mim, isto é, o ser ella ou de outra qualquer operação de credito. Para amortisação e
assignada só por mim, ou por todos os quatro; comprehendi, juros do dito emprestimo fica applicado o imposto geral do
que preferiam o primeiro expediente. Ora, desde então não gado de consumo, e o producto dos edificios e terrenos do
havia mais emenda dessa maioria, eis a razão porque não me actual matadouro.»
dirigi ao nobre senador. O SR. ZACARIAS: – E’ a mesma emenda do Sr.
Em fim como não mandei emenda, porei de parte este visconde de Nitherohy; a camara fica a margem.
incidente. Nem eu me demoraria tanto tempo com elle se não O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Adivinhou V. Ex.
fosse obrigado pelo aparte de S. Ex., e consequente agora o meu qui pro guo quando disse – a emenda do
necessidade em que fui collocado, a entrar em taes governo – é por que se parecem muito como duas irmãs
pormenores, isto é a dar as razões, porque sendo eu membro germaneas.
da commissão via-me obrigado a proceder separadamente. O SR. ZACARIAS: – Tudo é do governo.
Voltarei ao fio do meu discurso. Dizia eu que desde O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Não senhor a
que as tres objecções minhas, na questão do matadouro minha foi formulada por mim com meus collegas, a outra foi
estavam desfeitas, desde que as tres bases que desejava modelada sobre ella e aceita por um illustre amigo do
eram aceitas, não me restava hesitação alguma, não tinha por governo, pois que alias advinharia. Não façamos porém
que renunciar minhas proprias idéas. questão disso.
Por justiça e em honra de alguns meus collegas devo Quanto á Illma. camara municipal quer uma, quer
declarar, que elles tinham em vista ainda uma outra outra emenda resguarda os direitos que a lei lhe dá.
condicção e que era não obstante a aceitação dessas bases, Os motivos do meu voto ficam pois claramente
a solução deveria ser formulada em separado e não na expostos, e a meu ver são procedentes.
integra da lei do orçamento. Embora eu respeite muito esse Sr. presidente, vou terminar o meu discurso, mas
pensar, todavia não posso julgal-o substancial, não adoptei a antes disso direi em resposta ao nobre senador pelo Pará,
emenda da commissão por esse fundamento, sim pelos que na verdade sou, e honro-me de ser amigo de illustrado
motivos que já enumerei. Sr. ministro do Imperio; foi meu collega no curto ministerio,
Eu disse resumidamente no debate da commissão tive occasião de conhecer seus bellos talentos, e seu honrado
que embora em these reconhecesse, que a lei do orçamento caracter; terei satisfação muito especial sempre que deva
deve limitar-se em uma de suas partes a estabelecer as expressar meus sentimentos a respeito de sua illustre pessoa,
rubricas das despezas, e o quantum dellas, e em outra a e porisso mesmo aproveito a occasião para significal-os desta
designar as vias, e meios; que embora reconhecesse que os tribuna. Não tenho, pois, por que fazer-lhe opposição
serviços publicos deveriam ser organisados ou determinados intencional, pelo contrario lhe offerecerei sempre minha
em resoluções ou leis especiaes, todavia observava que pequena coadjuvação. Semelhantemente, tenho a honra de
estavamos longe dessa marcha normal, e que se ser amigo do illustrado visconde presidente do conselho, por
quizessemos seguil-a em rigor, então teriamos de separar muita confiança nelle concorri nos termos constitucionaes
uma grande parte das disposições do projecto. para que tomasse a direção dos negocios do Estado, porque
Demais, a não ser esse principio, aliás bom, mas por ou para que, pois, uma tal opposição?
ora inaplicavel, qual seria a outra conveniencia da separação? O que me tem sempre dirigido, e hade continuar a
Para minha apreciação bastam as tres bases aceitas, não dirigir, como espero de Deus, é o meu dever, os principios
ouvi ainda nenhuma outra idéa valiosa, então porque demorar rectos, o bem ser do meu paiz, qualquer que seja o governo.
um melhoramento na realidade tão urgente? Se antes de Foi o que observei no tempo em que o nobre senador
votar-se ouvir alguma idéa ponderosa meditarei; aliás seguirei o Sr. conselheiro Zacarias dirigia os negocios do Estado e
o que diversas leis do orçamento tem seguido quanto ao queria retirar-se. Não olhei para a côr dos partidos.
assumpto. Para mim acima destes e das paixões politicas está o
E’ melhoramento sem duvida urgente: ainda hontem serviço, o bem ser do meu paiz. (Apoiados). Os partidos não
vindo da casa de um amigo ás 10 horas da noute, e passando são senão meios, e quando os interesses delles hostilisam os
pelo actual matadouro, reconheci que aquillo é um grande grandes interesses da sociedade são entidades nocivas que
fóco de infecção. se deve rectificar ou combater.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ uma vergonha O justo e o util a nosso paiz deve ser o nosso
para esta cidade. evangelho politico, e desde então que nos importam as
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – E de um fetido diffamações da imprensa, as injustiças dos partidos ou as
insuportavel. opiniões erroneas a nosso respeito? (Muito bem).
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Sobre este ponto não Fallando esta linguagem clara por certo que sou bem
ha duas opiniões, essa não é a questão. positivo, significo o meu pensar, e dou a razão do modo por
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – E’, pois, urgente que tenho de votar. Pôde ser erroneo, mas é consciencioso:
a remoção, e, portanto, é mais uma razão que interessa a seus fundamentos, como fá disse, ficam patentes para a
questão. apreciação.
Eu vou ler a emenda formulada segundo minhas Alguns homens do meu proprio partido autr’ora
idéas, ella é a seguinte: censuraram-me pela maneira porque comportei-me em
«O governo fica autorisado, preenchidas as condições relação ao alludido ministerio do nobre senador pela Bahia,
por isso que não consultei os interesses partidarios. Não me
192 Sessão em 23 de Maio

incommodei, e em identicas circumstancias repetirei o Eis explicado o meu aparte; não o dei porque
mesmo proceder. Creio que o nobre senador reconheceu podesse suppor que S. Ex. procedia com menos lealdade
que essa fôra muito honrosa. para com seus collegas da commissão; como pensou: o
Não foi, pois, o espirito de opposição que me dirigiu que eu disse e repito foi que nós não poderiamos mandar
a indicar ou adoptar as emendas da commissão, tambem á mesa emenda differente da primeira sem ouvirmos os
não é o espirito do partido, nem tão pouco de nossos tres collegas que não estavam presentes; isto
dependencia, ou de servidão ao ministerio, quem me creio que dissemos mesmo na occasião da conferencia.
determina a votar como tenho exposto. Já agora responderei tambem ao nobre senador
Errando ou acertando sigo uma convicção pela Bahia. S. Ex. disse que a emenda mandada á mesa
conscienciosa e julgo-a util ao serviço publico. pelo Sr. visconde de Nitherohy importa na exclusão
Se alguem censurar-me sincera e decentemente completa da camara municipal na obra do matadouro.
usará de um direito, esse é o preço da vida publica: aos Peço licença para dizer-lhe que não ha tal exclusão,
outros direi que eu, e meus collegas embora divergentes porque diga a emenda: «fica o governo autorisado»...
temos independencia e dignidade de sobra e até para dar- O SR. ZACARIAS: – Está excluida.
lhes. O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Peço licença para
Tenho satisfeito o meu dever de expôr ao senado ler a emenda. (Lê): «A camara municipal, pois receberá
os fundamentos do meu voto; páro pois aqui, propostas: informal-as-ha, designará logar etc.; terá emfim
accrescentando sómente a declaração de que sou o toda a participação na obra que fôr compativel com a
primeiro a respeitar a opinião dos que entendem, ou posição de quem não concorrerá com os fundos
entendam, que a questão devia ser discutida em necessarios para a realisação da obra, os quaes sahirão
separado, ou alguma outra emenda sustentada. Cada um do thesouro nacional.»
tem o direito, e não sei mesmo se seria sempre util, que O SR. ZACARIAS: – Leia a lei de 1851 e veja
todos pensassem de um só, ou de um mesmo modo. quem fica autorisado, se o governo, se a camara.
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Levanto-me para O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Eu disse no meu
explicar o aparte que dei ha pouco ao nobre senador, o Sr. primeiro discurso que na solução final desta questão; as
marquez de S. Vicente. mentes imparciaes não veriam nem vencedores, nem
S. Ex., depois de referir o que se tinha passado vencidos, e pois quero tomar a responsabilidade inteira do
entre os quatro membros da commissão e o Sr. ministro meu acto, declarando desde já que hei de votar pela
do Imperio, accrescentou, que havendo-se submettido ao emenda do Sr. visconde de Nitherohy, não porque seja de
accordo a que chegamos, se a commissão não S. Ex., nem porque seja a expressão do pensamento do
concordasse, apresentaria S. Ex. a emenda em que governo, mas porque ella expressa aquillo a que me
assentamos. comprometti em uma conferencia de collegas, perante o
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Por mim. Sr. ministro do Imperio e do Sr. presidente do conselho. O
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Reclamei e continuo Sr. ministro do Imperio allegou então que a autorisação na
a reclamar, dizendo que S. Ex. não podia fazer o que lei do orçamento seria mais acceitavel, seria mais
disse; não podia apresentar a emenda por si, embora os consentanea á urgencia que havia da mudança do
membros dissidentes não annuissem porque o nobre matadouro; nós nos conformamos com S. Ex. que a seu
senador não foi o unico da commissão que entrou em turmo concordou comnosco sobre tres pontos.
semelhante accordo, em presença do Sr. ministro do Quem neste mundo póde, convencido por certas
Imperio. S. Ex. devia, rejeitado o accordo pelos tres razões, deixar de mudar de conceito?
membros da commissão que não estavam presentes na Seremos tambem infalliveis?
conferencia, procurar haver a assignatura dos tres Isto prova, ainda Sr. presidente, a injustiça com que
collegas, que haviam concordado com S. Ex. em mandar aqui se disse que eu fazia e tinha feito sempre questão da
a emenda á mesa. separação do artigo. Não fui eu quem a fez; quem a
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Desejaria; aventou no seio da commissão do orçamento quem
mas não achei disposição em nenhum para isso. continuou, e creio que continua, a sustental-a, foi um outro
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Em mim não achou? membro da mesma commissão. Tambem não teve razão o
Como poderá affirmal-o se nada me disse a respeito? Sr. visconde de Nictherohy, quando estranhou que eu
Nunca faltei aquillo em que tenha concordado, classificasse de insignificante a questão da brevidade,
principalmente em occasião solemne, como a em que nos interpretando mal o que eu disse Senhores, podia eu dizer
achamos em presença do nobre ministro do Imperio e do que não era importante semelhante questão quanto á
nobre presidente do conselho. Se concordamos em urgencia da remoção do foco de miasmas que vemos em
acceitar a idéa do Sr. ministro do Imperio da não S. Christovão? O que eu disse foi que a questão não tinha
separação do artigo da lei do orçamento, como poderia eu importancia, referindo-me a permanencia da autorisação
no dia seguinte negar-me a isso; não prestar a minha no projecto do orçamento, porque em projecto separado
assignatura a emenda combinada? passaria com tanta brevidade com quanto passaria na lei
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Estimo muito do orçamento.
a declaração. Nesse sentido é que disse que a questão de
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Era ella escusada. brevidade allegada pelo governo, era ensignificante,
S. Ex. podia mandar a emenda á mesa, mas havia de porque estava convencido, como continuo a estar, de que
mandal-a com quatro assignaturas, com a sua, com a o projecto separado, desde que não havia duas opiniões
minha e com as de mais dous membros da commissão. sobre a urgencia da mudança do matadouro, passaria no
senado como na
Sessão em 23 de Maio 193

camara dos deputados com a mesma brevidade como ser tão expedita quanto desejara e nós esperavamos de sua
passaria a lei do orçamento. solicitude. O projecto de lei do orçamento foi remettido á
Explicados os pontos em que fui mal comprehendido commissão em 2 do corrente mez...
concluirei declarando que votarei pela emenda do Sr. O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Foi a imprimir e
visconde de Nitherohy, assim como por todos os outros voltou 8 dias depois.
pontos em que concordamos na conferencia que tivemos com SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
o Sr. ministro do imperio. Conselho): – …a nobre commissão apresentou o seu
O SR. MARQUEZ DE S. VICENTE: – Minha parecer no dia 17. Portanto, segundo estas notas que recebi
explicação será pequena. Direi a meu nobre collega, que já da secretaria do senado, decorreram 15 dias entre a remessa
expuz as razões porque embora contra meu desejo a do projecto á commissão e o seu parecer.
emenda, caso fosse apresentada, não poderia figurar como Não quero culpar a nobre commissão, porque nós
offerecida pela commissão, e nem mesmo pela maoria della, sabemos...
e só sim como idéa de um ou mais senadores. O SR. LEITÃO DA CUNHA: – E’ bom que V. Ex.
Foi por isso que não me julguei com direito de pedir a alluda á molestia do nobre relator.
assignatura de S. Ex. apesar de presumir que votaria por ella: O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
todavia se soubesse que o nobre senador queria assignal-a Conselho): – Eu ia accrescentar que todos nós sabemos que
comigo, ambos na qualidade sómente de senadores e não na o illustre relator da commissão esteve por dias doente, outra
de membros da commissão, teria muita satisfação de associar circumstancia que contribuiu tambem para o facto que o
meu nome ao seu. E’ somente o que me resta a dizer para nobre senador pelo Amazonas teve a crueldade querer
não reproduzir palavras sem accrescentar idéas novas. imputar sómente a mim.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Tive a infelicidade de
Conselho): – Sr. presidente, eu preciso explicar algumas encontral-o hoje de máo dia.
circumstancias que me foram lançadas em culpa pelo nobre O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
senador que fallou em primeiro logar, e manifestar de novo o Conselho): – Restabelecida assim a verdade dos factos,
pensamento do governo sobre as questões que as emendas vamos ao essencial.
da illustre commissão suscitaram. O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Não está hoje em sua
O nobre senador pelo Amazonas disse que fui eu o fleugma ordinaria; zanga-se muito sem motivo.
culpado de que a nobre commissão do orçamento não O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
apresentasse desde o principio um parecer motivado, com Conselho): – Não me estou zangando; queixo-me com a
todas as emendas que julgasse convenientes; a culpa veio de maior tranquillidade de espirito. Nós todos estamos mais ou
que eu insistira com alguns de seus dignos membros para menos sensibilisados com estas discussões.
que adiantassem o trabalho, porque o tempo corria e não O SR. ZACARIAS: – Tem sido dia de chôro.
temos lei de orçamento senão até ao ultimo de Junho O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
proximo. Conselho): – Consideremos a questão das emendas.
Sr. presidente, pedindo a alguns de nossos amigos Pelo que respeita á repartição de estatistica, creio
politicos membros da commissão, como pederia mesmo aos que, se não toda a illustre commissão, a maioria de seus
que não estão neste caso e fazem parte da honrada membros reconhece que deve subsistir o que veio da outra
commissão, que apressassem a apresentação de seu camara. Houve idéa, Sr. presidente, de que a quantia votada
parecer, porque o tempo urgia, não fiz mais do que cumprir neste orçamento era dispensavel, porque o governo tinha a
um dever; desse meu pedido, desse cumprimento de dever faculdade de custear o mesmo serviço por conta do credito
não podia resultar para a commissão do orçamento nenhuma especial da lei de 1870. Explicado que não ha essa duplicada
especie de coacção; ella, pela sua parte, devia proceder de despeza, que o credito especial não póde servir senão
livremente, como julgasse melhor desempenhar o mandato para os trabalhos do recenseamento da população, que a
que lhe tinha sido confiado pelo senado. verba do projecto que discutimos trata da despesa ordinaria
A illustrada commissão resolveu espontaneamente ou annual da repartição de estatistica, é claro que o senado
apresentar o parecer nos termos em que elle foi remettido á não póde deixar de approvar a disposição votada pela outra
mesa; eu o li sómente no dia em que os nobres senadores o camara. Só póde haver questão sobre a importancia do
assignaram. Alguem teve a bondade de mostrar-m’o antes de algarismo dessa verba; de outro modo, como já tive occasião
ser lido pelo Sr. 2º secretario; não fiz observação alguma, de notar, tonar-se-hia o credito especial de 1870 permanente
porque vi que de outro modo não teriamos orçamento antes e illimitado, não só para o fim a que a lei o destinou, mas
da terminação do anno financeiro que corre. Creio mesmo tambem para quaesquer outras despezas da repartição de
que a illustrada commissão podia ter tomado outro alvitre, o estatistica.
de offerecer seu trabalho parcialmente, em relação a cada um Eu creio que já não ha divergencia sobre este ponto;
dos ministerios: o desejo de querer apresentar um trabalho e, se não ha divergencia, parece-me que a illustrada
completo, que abrangesse todo o orçamento, deu em commissão do orçamento devia retirar sua emenda. Eu
resultado o parecer que foi apresentado e que vae sendo appello para os nobres membros dessa commissão: se estão
supprido, á medida que corre a discussão, com as emendas concordes em que se deve manter a verba votada pela outra
que os nobres senadores adoptam entre si. camara, porque não cabe aqui o remedio de applicar-se o
Além das observações que acabo de expôr ao credito especial a taes despezas, parece-me que a nobre
senado, releva ainda notar que outras circumstancias
contribuiram para que a nobre commissão do orçamento não
pudesse
194 Sessão em 23 de Maio

commissão deve retirar a emenda, salvo se quer que ella e o Sr. ministro do Imperio, unicamente por esse motivo.
desappareça pela votação do senado. Mas ponderamos que havia uma questão de fórma
Sr. presidente, vem a proposito observar aos nobres importante: tratava-se de estabelecer uma regra geral, e a
membros da commissão, e aos nobres senadores que emenda não a estabelecia, porque só dispunha para o caso
alludiram á divergencia que appareceu entre a mesma actual. O pensamento da commissão seria melhor
commissão e o nobre ministro do imperio, que não ha nada preenchido, como o foi, por disposição que comprehendesse
mais natural do que acontecer que ou o governo, ou a nobre assim este caso como os futuros; e desde que concordamos
commissão do orçamento, modifique suas opiniões á vista em uma disposição generica nestes termos, a 1ª emenda
dos debates e das explicações que de uma e outra parte se ficou prejudicada, sendo que ella não tinha outro fim.
deem. A autorisação que a camara deu ao governo era
Está sujeito ao senado o trabalho da outra camara; é mantida pela nobre commissão com a mesma confiança; o
um projecto de lei, que alli passou tambem pelo cadinho de fim unico da commissão era accrescentar esta idéa, limitar o
uma commissão de orçamento, e que além disto foi praso de autorisação. Ora, desde que se apresenta um
submettido a duas largas discussões; parece, pois, que a additivo ou sub-emenda, estabelecendo como principio geral
deliberação da outra camara deve ter para o senado a aquella limitação, a 1ª emenda está prejudicada.
presumpção de que foi adoptada com bastante fundamento. Parecia-me, pois, que a illustrada commissão devia
Logo, não devemos emendar o seu trabalho sem muita retirar a primeira emenda. Alterar sem necessidade o que veio
reflexão, sem apreciarmos detidamente os motivos que da outra camara, para restabelecer ao depois na 3ª
possam justificar qualquer emenda. discussão, não é curial. Votemos polo que veio da outra
A illustrada commissão de orçamento, trabalhando camara, votemos pelo principio geral que a nobre commissão
com alguma pressa, como ella nol’o tem ponderado, quer estabelecer, mas não pretendamos que o senado rejeite
apresentou varias emendas; demos que houvesse tido tempo a deliberação da camara dos deputados sem necessidade,
para meditar muito antes de formular o seu parecer; segue-se approvando uma emenda que está virtualmente prejudicada.
dahi que fique mal a qualquer dos membros da illustrada Eu, pois, Sr. presidente, peço licença á illustrada commissão
commissão de orçamento, ou a todos elles, o mudar de para observar-lhe que não comprehendo como ella tem
parecer, votar para que se retire alguma ou mesmo todas as difficuldade em retirar a sua primeira emenda a respeito
suas emendas, ou para que ellas sejam modificadas neste ou dessa autorisação.
naquelle sentido? Seguramente não. Senhores, assim como o gabinete, pelo orgão do
A illustrada commissão não nos apresenta o seu nobre ministro do Imperio e pelo orgão do orador, que ora se
parecer como sua ultima palavra e como um voto muito mais dirige ao senado, não duvidou acceitar emendas que lhe
reflectido, muito mais seguro do que o projecto remettido pela pareceram justificadas, sem embargo de que na outra camara
outra camara. Se a illustrada commissão de orçamento não tinhamos acceitado o que alli foi julgado melhor, creio que a
pudesse retrahir-se de qualquer ideia por ella offerecida á illustrada commissão tambem deve ser conciliadora, tolerante
consideração do senado, então qual seria a posição dos por sua parte, não insistindo em manter uma emenda que já
ministros e dos deputados que votaram, depois de maduro não tem objecto, que está prejudicada, unicamente porque
exame e prolongados debates, o projecto ora submettido ao partiu de sua iniciativa.
senado? Em negocio tão melindroso, de tanto interesse para A insistencia, se houver, da parte da illustre
o estado, não deve haver questão de amor proprio, adopte-se commissão em manter uma emenda que não tem mais razão
aquillo que o conhecimento dos factos e a razão nos de ser, e fazer cahir agora o que veiu da outra camara para
aconselhar que é melhor e mais acertado. restabelecel-o em 3ª discussão, não é regular, e não
Creio, pois, que a illustrada commissão ou retirará a podemos deixar de considerar esse voto como não
sua emenda concernente á repartição de estatistica, ou ha de correspondendo ás disposições tão amigaveis que temos
votar comnosco contra essa emenda, porque já terá sempre encontrado da parte de alguns dos nobres senadores
reconhecido que a despeza não póde ser feita pelo credito e de que elles ainda agora nos dão testemunho.
especial. Peço pois, a S. S. Exs. (não me refiro aqui aos
Quanto á reforma da secretaria do Imperio, nunca illustres membros da commissão que são nossos adversarios
houve, Sr. presidente, questão essencial entre o nobre politicos, refiro-me áquelles que não estão em opposição ao
ministro e a commissão do orçamento. A illustrada ministerio); peço a S. S. Exs. que retirem essa emenda, e o
commissão entendeu que devia aproveitar este ensejo para peço tambem ao nobre senador pelo Amazonas, porque elle
estabelecer um principio geral; foi a razão que nos expoz espontaneamente, sem comprometter sua posição ante o
como determinativa da sua emenda. Entendeu que devia gabinete, tinha concordado em que a disposição generica
assentar o principio de que nenhuma autorisação póde sobre autorisações dispensava a 1ª emenda.
vigorar além de dous annos, e que, uma vez feita a reforma, Quanto ao matadouro, Sr. presidente, o nobre senador
cumpre ao governo submettel-a ao conhecimento e pelo Amazonas foi tambem injusto para comigo nesta parte.
approvação da assembléa geral na primeira reunião desta, Pretendeu elle que eu declarára na ultima sessão, na sessão
ficando desde então inhibido de alterar o seu acto. Este de quarta-feira, que era indifferente ao ministerio que a
principio que a nobre commissão do orçamento queria autorisação relativa ao novo matadouro passasse na lei do
estabelecer, era tambem pensamento do ministerio; o mesmo orçamento ou constituisse projecto distincto. O nobre
principio estava indicado como necessario ao relatorio que o senador, cujas intenções respeito, não se recorda bem do que
ministro da fazenda apresentou ás camaras em Maio do anno eu disse. Pensei que o nobre ministro do Imperio tinha
passado; não podia, pois, haver desaccordo entre a declarado que não faria questão da emenda que separava
commissão esta providencia, uma vez que a cousa se fizesse por
Sessão em 23 de Maio 195

outro modo, mas, desde que o nobre senador mesmo em O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
advertiu de que o Sr. ministro do lmperio não tinha enunciado Conselho): – Deixe-me o nobre senador concluir e verá que
essa opinião, immediatamente retrahi-me, porque seguia de tenho na maior consideração os outros membros da mesma
preferencia a opinião por elle enunciada. commissão. Desde que a maioria concordava, estavamos
Retrahi-me, dizendo o seguinte: se o nobre ministro do tranquillos, suppunhamos que não haveria grande embaraço.
Imperio não annue á separação, por minha parte, devo Os nobres senadores disseram logo que teriam de consultar
tambem ponderar ao senado que este negocio é urgente, de os outros membros, de ouvil-os em commissão...
grande necessidade publica, e que os nobres senadores, que O SR. PARANAGUÁ: – E' o que deviamos esperar da
pedem a separação, não pôdem garantir-nos a passagem do lealdade dos honrados membros.
projecto especial na presente sessão. Agora accrescentarei: O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
por que rasão separar da lei do orçamento esta providencia? Conselho): – ...e que, se não fossem demovidos daquellas
Fica ahi disparatada? Seguramente não. A autorisação de idéas, que lhes pareciam muito aceitaveis, apresentariam
1845 onde foi dada? Na lei do orçamento. emenda nesse sentido.
O Sr. Zacarias dá um aparte. No dia seguinte soubemos que não houve tempo para
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do que essa questão fosse bem debatida entre todos os
Conselho): – E’ questão diversa. Os termos, as clausulas, ou membros da commissão, e que o negocio se adiava. Isto não
as condições com que deva ser dada a autorisação são nos pareceu bem, porque é preciso que o senado saiba como
questão distincta de ser ou não a providencia incluida na lei do deve votar nesta 2ª discussão, se deve rejeitar o artigo que
orçamento. O que se fez em 1845, porque não se poderá veio da outra camara, se deve modifical-o ou separal-o para
fazer agora? O melhoramento de que ora se trata é mais constituir projecto distincto, sem saber ainda o que se fará
urgente ainda do que era o de 1845. nesse projecto e quando elle poderia passar.
Consequentemente, na conferencia que o nobre Pedimos pois, aos nobres senadores, que tinham
ministro do Imperio teve, com alguns de nossos amigos concordado naquellas idéas da conferencia, que se
politicos e com o nobre senador pela provincia do Amazonas, entendessem com os seus collegas, que não haviam sido
que, se não é amigo politico, porque está dissidente, é amigo ouvidos, afim de obter deIles que adherissem ao mesmo
particular... pensamento, parecendo-nos tudo conciliavel, uma vez que
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – E sou conservador não se tratava de questão politica, mas de um serviço que tem
como são VV. EEx. caracter muito diverso e cuja necessidade estava fóra de
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do contestação.
Conselho): – ...nessa conferencia concordou-se em que não Só hoje, Sr. presidente, soube que a idéa não era
havia razão para separar o artigo que faz parte deste projecto aceita por todos os membros da commissão, porque nem
de lei, uma vez que se estabelecessem as clausulas que a mesmo hoje foi possivel que a commissão apresentasse nova
commissão julgasse necessarias. emenda.
O nobre senador pelo Amazonas e o nobre senador Então o nobre visconde de Nitherohy tomou a si
por S. Paulo acabam de dizer quaes eram essas clausulas: apresentar uma emenda com as idéas que tinham sido aceitas
limitar ou definir o credito, tornar claro o pensamento, que por quatro membros da commissão do orçamento, e ouvimos
tambem era do governo, de que a camara municipal deve ter ao nobre marquez de S. Vicente e a outros membros da
interferencia na execução dessa providencia. mesma commissão que não teriam duvida em votar de
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – E extinguir o imposto. accôrdo com o ministerio, mas que não apresentavam
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do emenda, pela divergencia que ainda manifestavam alguns de
Conselho): – ...e abrir mão do imposto de 4 rs. em libra de seus collegas.
carne verde, imposto aliás proposto pela camara municipal Sr. presidente, todos reconhecem que a remoção do
Concordamos com os nobres senadores. O nobre matadouro actual é indispensavel e negocio urgente; tambem
ministro do Imperio disse: «Nunca foi minha intenção pedir não póde ser contestado que cabe na lei do orçamento, e
confiança ilimitada; e, como pelas propostas e pelas cabe muito bem, uma providencia desta natureza; as
informações que possue o governo, essa obra não excederá condições offerecidas pela emenda são muito rasoaveis;
de 2,000:000$, limite-se o credito a essa quantia». então, porque não resolver já este negocio?
Accrescentou S. Ex: «Não pretendia o governo pôr de parte a Disse o nobre senador pelo Amazonas: «Talvez que
camara municipal, quando tivesse de executar a autorisação; em separado esta solução corra mais depressa.» Quem,
portanto, proponho que se torne expresso que a camara porém o garante? Não temos muito tempo para os debates a
municipal terá a intervenção de que falla o art. 47 da lei do 1º que é chamado o senado nesta sessão; e sobre tudo, porque
de Outubro de 1828». Ora, desde que quatro membros da separar, rejeitar o que veio da outra camara, e que contém
commissão haviam concordado nestas idéas, que elles uma idéa util e necessaria? O senado tem plena liberdade
mesmos foram suggerindo durante o trabalho da conferencia, para emendar os projectos da outra camara, mas no uso deste
estavamos tranquillos e persuadidos de que esta discussão... direito deve proceder sem a maior reflexão, e até certo ponto
O SR. PARANAGUÁ: – Deviam prescindir dos outros? com deferencia para com a camara dos deputados.
Era melhor que se retirassem. Sr. presidente, os nobres senadores não attenderam
mesmo a uma questão constitucional que offerece a emenda
que separa o additivo da outra camara. V. Ex. tem entendido,
e com incontestavel fundamento, que a separação de artigos
de um projecto vindo da outra camara, para
196 Sessão em 23 de Maio

serem considerados á parte, não é regular; que o projecto de do senado, na parte em que isto era de rigor, indispensavel.
uma das camaras não pode subir á sancção assim mutilado; Senhores, o abuso, se assim podemos chamar, ou
que quando o senado, por exemplo, resolver separar artigos antes a irregularidade, á que alludiu o nobre senador pela
de um projecto da camara dos deputados, a separação deve Bahia, o Sr. conselheiro Zacarias, tem-se dado á respeito de
acompanhar o projecto para a outra camara, sendo formulada casos muito diversos. Eu concordo tambem em que a respeito
como medida suppressiva. Creio que são estes os de creação, vencimentos e aposentações dos empregados
precedentes. das secretarias das camaras não é dado a uma dellas
Portanto, se passasse a emenda que manda supprimir prescindir do concurso dos outros ramos do poder legislativo;
o additivo, nada teriamos adiantado, porque com essa é negocio que depende de lei. Teem havido casos que
emenda seria o projecto devolvido á outra camara; e então incorrem gravemente na censura do nobre senador pela
qual era de facto a questão que se apresentava a esta Bahia, mas este não; aqui não ha senão defeito de fórma, na
camara? Que o senado rejeitava, pura e simplesmente, a idéa referencia á uma resolução da outra camara, que só por si não
de autorisar o governo para a remoção do matadouro actual. teria effeito, porque a publicação dos Annaes não se faria pelo
Não, senhores, o que convem é uma deliberação clara que ella resolveu, mas sim por esta disposição da lei do
e positiva: o senado deve votar a autorisação nos termos em orçamento, para a qual concorria o senado, assim como poder
que a julgue mais conveniente, e não separar o additivo, não moderador.
rejeitar o que veio da outra camara; e elle não faria senão Quando á despeza, concordo em que seja supprimida,
rejeitar a idéa in limine, se adoptasse a separação proposta attenta a insistencia da illustre commissão, mas sem prejuizo
pela illustre commissão. de outra providencia conducente ao mesmo fim, porque a falta
Mais uma vez peço aos nobres senadores membros desses annaes é muito sensivel. E cumpre notar ainda
da commissão do orçamento e a todo o senado que se justificar o procedimento da outra camara, no que respeita á
dignem de attender a estas considerações, e, visto que não ha questão de forma, que nas leis do orçamento já ha
um pensamento de hostilidade, por isso mesmo que não se consignação para esse trabalho. Ha uma consignação de
quer fazer desta pequena questão uma alavanca politica, os 6:000$ para a publicação dos Annaes da outra camara,
nobres senadores e todo o senado devem votar pela emenda anteriores a 1857; este paragrapho não fazia mais do que
que hoje offereceu o nobre visconde de Nitherohi, e á qual já augmentar a consignação annual.
adheriram assim o Sr. marquez de S. Vicente como o nobre Ora, eu concordo com a nobre commissão do
senador pela provincia do Amazonas. orçamento em que uma despeza que póde avultar muito, não
Sr. presidente, resumindo, entendo que a illustrada deve passar em termos tão obscuros, deve ser logo prevista e
commissão seria coherente, nos daria um bom exemplo de regulada. Portanto, annúo á suppressão, votarei por ella, mas
tolerancia, se acaso retirasse a primeira emenda relativa á entendendo que a camara dos deputados não faltou á
secretaria do Imperio, que está prejudicada pela segunda. consideração devida ao senado, não se arrogou uma
Deixar sobre a mesa duas emendas, das quaes uma exclue a attribuição que não tivesse, quando, julgando util a publicação
outra, não me parece curial. dos seus Annaes correspondentes áquelle periodo, pediu na
Entendo tambem que deve retirar a emenda lei do orçamento ao senado que votasse com ella a quantia
concernente á repartição de estatistica, tendo reconhecido que necessaria.
ella assentava sobre base que não era verdadeira. Tenho concluido.
Pelo que toca ao matadouro, a emenda offerecida hoje O SR. POMPEU: – Sr. presidente, volto ao debate
exprime a opinião de quatro membros da commissão, e para continuar as observações que tenho a offerecer ao
parece conciliar os escrupulos que havia em votar pela senado acerca de alguns serviços, que correm pela repartição
autorisação mais resumida, menos explicita que veio da outra do Imperio. Antes, porém, de entrar de novo neste exame,
camara. E desde que se trata de uma obra urgentissima, é de tenho de dizer duas palavras ao nobre senador pelo Rio de
esperar que todo o senado a approve. Janeiro, visconde de Nitherohy, que na sessão ultima me
Sr. presidente, V. Ex. me permittirá que profira ainda provocou.
algumas palavras em defesa da camara dos deputados. Vendo levantar-se o nobre senador pelo Rio de Janeiro
Tem sido censurada aquella camara, porque votou pensei que vinha combater as emendas apresentadas ao
uma quantia para a publicação dos Annaes de suas sessões orçamento pela illustre commissão, para salvar o ministerio,
anteriores ao anno de 1857. Os nobres senadores que fizeram de quem é protector, de algum dezar; nunca esperei que o
esta censura observaram que o paragrapho, que trata desta nobre leader, esse Antheo do ministerio, que se compraz, de
despeza, refere-se á uma resolução tomada pela camara dos cada vez que tem aqui a palavra, em soterrar o nobre senador
deputados, quando elles teem por certo que nenhuma das pela Bahia o Sr. Zacarias dez e vinte braças...
camaras, sobre materia desta natureza, póde deliberar só por O SR. ZACARIAS: – São favas contadas.
si. Pois bem, senhores, não ha aqui senão, quando muito, O SR. POMPEU: – ...não pensei que o gigante da
uma falta de fórma. A camara dos deputados era, sem duvida situação se occupasse com este pigmeu! Entretanto o nobre
alguma, competente para julgar da utilidade dessa publicação, senador, em vez de discutir as emendas ou mesmo de tomar
mas a despeza não cabia na sua competencia exclusiva; para em consideração as minhas humildes observações, dirigiu-se
a despeza carecia ella do concurso do senado, e, portanto, á minha pessoa julgou-se autorisado a exigir que emittisse ao
propoz na lei do orçamento a quantia necessaria. Se esta senado minha opinião acerca da questão debatida religiosa-
consignação passasse, a despeza não se faria unicamente em maçonica e accrescentou uma graçola de máo gosto
virtude da resolução da outra camara, mas em virtude da lei (apoiados)...
do orçamento.
Não se diga, pois, que a camara dos deputados neste
caso quiz deliberar só por si; não, porque ella pede o concurso
Sessão em 23 de Maio 197

O SR. ZACARIAS: – Um insulto. do matadouro do local que occupa, pestiando a cidade.


O SR. POMPEU: – ...dizendo que eu conferenciava Sobre isto não ha duas opiniões; a duvida somente versa
com o nobre senador pela provincia do Espirito Santo, que quanto ao modo, que importa uma questão de principios...
lhe dava as informações que elle tem trazido algumas vezes O SR. ZACARIAS: – Com que não se transige, diz o
ao senado. Sr. Cotegipe.
Quanto á exigencia que o nobre senador fez da minha O SR. POMPEU: – ...uma questão de principios, que
opinião, respondo-lhe que não reconheço-lhe competencia cumpre respeitar, que póde ser conciliada bellamente com a
para fazel-o (apoiados); hei de dar a minha opinião sobre satisfação da necessidade, que todos confessam e desejam
essa materia, quando e como quizer. (Apoiados.) da remoção daquelle fóco de infecção.
O SR. ZACARIAS: – E’ direito que elle pede para si, Ora, a emenda que acaba de ser apresentada pelo
e que ainda agora pediu chorando. nobre senador pelo Rio de Janeiro modifica, com effeito, o
O SR. POMPEU: – Quanto á graçola de máo gosto, que existe no orçamento; porém ainda lá fica o mesmo vicio
com que quiz divertir o senado, eu lh’a devolvo intacta. O que contraria o principio que nós sustentamos da
nobre senador pela provincia do Espirito Santo dirá, por independencia, da autonomia e competencia da camara
honra sua, se algum dia lhe transmitti informações dessa municipal.
natureza. O nobre senador Sr. visconde de Nitherohy, que ha Diz a emenda que o serviço se fará de conformidade
pouco pediu para si tolerancia e respeito de seus collegas, com o art. 47 da lei de 1º de Outubro de 1828. Vejamos o
deve dar esse exemplo para ser attendido. que diz esse artigo. (Lendo).
Entro no debate do orçamento. As emendas «Poderão ajustar de empreitada as obras que se
apresentadas pela nobre commissão cahiram na mesa como houverem de fazer, mettendo-as primeiramente em pregão
um raio! O nobre ministro do Imperio não pôde occultar a sua para preferirem aquelles que se offerecerem por menos
turbação; elle mesmo confessou sua sorpreza. preço, precedendo vistoria legal, publicação do plano e sua
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do avaliação; e na falta de empreiteiros os poderão por jornal. E
Imperio): – Sorpreza sim; alguma. quando as obras forem de grande importancia e alguns
O SR. POMPEU: – Posto que S. Ex. procurasse por socios ou emprehendedores se offerecerem a fazel-as,
palavras cortezes, como costuma, disfarçar o despeito que percebendo algumas vantagens para sua indemnisação,
sentiu com essa apresentação, não pôde de todo occultal-o. enviarão as propostas aos conselhos geraes da provincia.»
Entretanto, pelo debate havido acerca dessas Qual é a conformidade que se quer guardar aqui? A
emendas, e mesmo pelo que ouvi ao honrado ministro, conformidade, a competencia sempre da camara...
parece-me que ellas estão no caso de ser approvadas; S. Ex. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
concordou com quasi todas ellas; eu talvez concorde com Imperio): – Para receber propostas.
menos, porque tenho de me oppôr a duas. Mas quanto O SR. POMPEU: – ...para apresentar as propostas ao
áquella que respeita ao matadouro S. Ex. não tem razão governo sujeitando á sua approvação, ou para que fim? Creio
absolutamente, a menos que não queira nullificar e que se deve proceder agora como se tem feito em tempos
desacreditar a municipalidade; estou com a opinião que anteriores, conservando sua competencia nos serviços de
emittiu hontem o nobre presidente do conselho na primeira sua alçada, somente solicitando approvação para aquellas
parte do seu discurso ate o aparte que lhe deu o nobre obras de maior importancia.
senador pela provincia do Amazonas. S. Ex. dizia então que Aqui está a lei de 18 de Setembro de 1845 que diz no
não havia questão na aceitação da emenda; concordava na art. 49: «A camara municipal do municipio neutro é
separação do artigo para ser este negocio tratado com mais autorisada para contrahir um emprestimo de 300:000$, cujo
espaço e esclarecimentos. producto será exclusivamente empregado na construcção do
E’ verdade que o nobre presidente do conselho, novo matadouro, projectado na chacara denominada do
percebendo que seu honrado collega não concordava com Cortume ou em outro logar mais conveniente, applicando o
essa separação, mudou immediatamente de rumo; lembrou- rendimento do mesmo matadouro e as sobras da receita da
se de que a urgencia da medida era tal, que mesmo dita camara ao pagamento dos juros e amortisação do
separado o artigo em projecto de lei, não haveria mais tempo referido emprestimo.»
para se discutir. Eu entendo que S. Ex. não tem razão de O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
suppor que esta emenda, reduzida a projecto separado, não Imperio): – O caso era differente; a camara usava de seus
passe em tempo de ser levada a effeito essa medida, cuja proprios meios, pelos quaes pagaria o emprestimo.
urgencia só hoje reconheceu-se; até ainda hoje disse que, se O SR. POMPEU: – No caso presente a camara usa
estivesse garantido que, convertida a emenda em projecto de seus proprios meios, porque propõe um imposto para
separado, passaria opportunamente, não poria duvida em cobrir a despeza que tem de fazer com esta obra; mas vê-se
aceital-a. Pois, senhores, quem póde dar garantia nesta casa que em 1845, accedendo-se á proposta da camara, a ella e
ou na outra do parlamento da passagem de qualquer medida não ao governo autorisava-se o emprestimo para a obra.
senão o governo, que dispõe de grande maioria em ambas? Já se citou aqui a lei de 1851 no mesmo sentido
Principalmente o nobre presidente do conselho, a quem nada dessa de 1845; veja-se o que diz essa lei de 17 de Setembro
resiste? de 1851... no art. 45. (Lendo):
Insiste-se, Sr. presidente, a respeito da conveniencia «A mesma camara fica igualmente autorisada para
da medida. Isto está fora de duvida (apoiados); ninguem diz
que não é conveniente, que não é necessária a mudança
198 Sessão em 23 de Maio

contrahir, sobre hypothecas de suas rendas e com que se chega quando se sáe do caminho recto da legalidade.
approvação do governo, um emprestimo da quantia que for O nobre ministro chegaria mais facilmente ao
necessaria para conclusão da obra do novo matadouro pela resultado que nós todos desejamos, porque isto não é
maneira mais vantajosa, afim de que preste o serviço a que é questão de opposição, se aceitasse a emenda da separação
destinado, ficando tambem dependente de approvação do desse artigo. Separado que fosse, entraria em discussão
governo o plano e execução da mesma obra. regularmente a medida...
Da renda que produzir o novo matadouro serão UM SR. SENADOR: – Se faria a mesma questão no
annualmente empregados 25:000$ na amortisação de todo o projecto.
emprestimo contrahido para sua construcção até completa O SR. POMPEU: – Neste caso, não; neste caso
extincção do mesmo emprestimo; e deduzida da restante a ficaria autorisada a camara para realisar essa obra que ella
somma precisa para o pagamento dos juros, a sobra que propõe e que todos desejam, respeitando-se a autonomia, a
houver será annual e exclusivamente applicada ao competencia da municipalidade, como ella acaba de reclamar
calçamento das ruas da capital e á conservação e nessa representação que foi lida na mesa...
melhoramento dellas.» O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Não creio em obra
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do destas feita pela camara; só o governo a póde fazer.
Imperio): – Isto serve para provar o que dizia hontem a O SR. POMPEU: – ...respeitava-se, repito, a
respeito dos impostos. competencia e a autonomia da municipalidade, definia-se o
O SR. POMPEU: – Isto serve para mostrar que até credito, conhecia-se mesmo o orçamento, se é possivel já ter
hoje se ha respeitado o principio da competencia e sido feito, como deve ser, estabelecer-se-hia algum outro
autonomia da camara municipal para o pagamento das obras imposto, se isso é indispensavel, para fazer face á despeza,
que lhe pertencem, somente fazendo dependente a porque realmente o imposto de quatro réis para ser
approvação da proposta do governo e corpo legislativo nos addicionado ao que já soffre a carne verde é
casos previstos no art. 47 da lei de 1º de Outubro de 1828 demasiadamente pesado para a população; e não vejo a
citado; o governo não tomou a si as obras. impossibilidade de que a camara possa realisar essa obra.
Senhores, a obra de que se trata é ou não da alçada Nem o nobre ministro nos sabe dizer, talvez a camara
da municipalidade? Certamente, ninguem poderá dividir, pois mesmo não houvesse ainda calculado ou orçado em quanto
se trata de um objecto que respeita á alimentação e a importa esse imposto de quatro reaes, que se quer
hygiene da cidade; por consequencia, se algumas vezes, o addicionar ao já existente sobre a carne.
que não desconheço, tem o governo tomado a si a O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
construcção de obras municipaes, como o calçamento da Imperio): – Está no relatorio de 1872.
cidade, esse abuso não autorisa a sua continuação. E tanto O SR. POMPEU: – Portanto, sobre esta emenda
mais admira que o nobre ministro assim queira proceder, estou de accôrdo com a nobre commissão; acho conveniente
desautorisando a camara desse direito, quanto S. Ex. em seu separar esse paragrapho do orçamento, convertel-o em
relatorio abunda em considerações muito justas para projecto que siga os tramites que a constituição e o
respeitar a independencia, a autonomia das camaras e a regimento da casa determinam; e então examinaremos com
descentralisação local. Como é, pois, que S. Ex., advogando vagar o negocio, sem prejuizo da urgencia da obra.
tanto em seu relatorio a causa da descentralisação, a Não posso, porém, Sr. presidente, concordar com a
extensão do elemento municipal, é o proprio que quer agora emenda ao § 30, que manda supprimir a verba de 5:000$
usurpar uma attribuição municipal? E’ lamentavel a consignada para uma casa de caridade na cidade de Sobral.
contradição da parte dos orgãos do governo, quando se Sei que o principio geral, que talvez a honrada commissão
comparam suas palavras com seus actos! Não serão queira restabelecer, é que cada localidade sustente as
aquellas sinceras? instituições de caridade que nella estabelecerem-se. Mas, Sr.
Portanto, Sr. presidente, quer o modo porque o presidente, este principio não tem sido observado até hoje ao
governo pretende tomar a si uma obra da municipalidade, menos com este rigor. V. Ex. sabe que para diversas
quer o credito illimitado que pede para essa obra, quer instituições de caridade ou piedade constantemente se tem
finalmente a natureza do imposto que pretende lançar, estão votado loterias que vão auxilial-as.
em opposição ao principio pratico, geralmente seguido, além Ora, hoje as loterias são difficeis, e, para dizer a
de manifestamente contrario á lei organica das verdade, não se concedem senão para o Rio de Janeiro, até
municipalidades. allegam, como razão, que, se é um imposto, deve reverter
Houve proposta da camara municipal? Diz o nobre em beneficio daquelles sobre quem é lançado, que é a
ministro que houve; logo, não podia esta proposta ser população do Rio de Janeiro. Seja esta ou não a razão, o que
convertida em artigo de orçamento geral do Estado é certo é que as loterias não aproveitam ás provincias, bem
desnaturada de sua origem. Se não houve proposta, tão que uma parte dos seus bilhetes são comprados nas
pouco não póde o governo pedir um imposto para fazer uma provincias, por consequencia, o auxilio de 5:000$, que se
obra que não lhe pertence, porque não está na sua alçada, consigna no orçamento para a casa de caridade do Sobral,
propor impostos para occorrer a despezas municipaes. não era uma excepção á regra geral, nem prejudicava de
Mas diz a emenda que se offerece agora, do nobre modo algum as finanças do Estado; era um obulo, como
visconde de Nitherohy, que o governo fica autorisado a fazer tantos outros, que o Estado costuma prestar ás obras de
a obra de conformidade com o art. 47 da lei de 1º de Outubro piedade ou caridade, e até a outra menos santas.
de 1828. Qual é a posição da camara neste caso? Quem faz
a obra? E’ o governo? A camara vae então fiscalisar o
governo. Invertem-se neste caso os papeis, isto é, o governo
abdica o direito que tem de fiscalisar para ser fiscalisado pela
camara! Eis as consequencias absurdas a
Sessão em 23 de Maio 199

Essa casa de caridade do Sobral é uma das bellas totalidade da sua congrua? Creio mesmo que essa distincção
instituições do missionario padre Ibiapina. Faz goste vêr com não passou da mente do legislador, foi uma descoberta do
que zelo, com que religiosidade aquella casa é administrada zelo do thesouro.
e os serviços que tem prestado e continúa, segundo as Assim tambem pergunto ao nobre ministro qual a
proporções que ella já tem. Mas Sobral é uma terra pequena, razão porque não ha mais collação de beneficio no Brasil? O
pouco abastada; a caridade particular tem servido até hoje concilio de Trento, em sua sabedoria, estabeleceu que, vago
para manter o estabelecimento, porém a instituição precisa qualquer beneficio, fosse provido em poucos dias e collado o
de alguma cousa mais que não póde ser fornecida senão beneficiado; de conformidade com o concilio de Trento,
com sacrificio pesado pela cidade. Espero, portanto, que o diversas leis, especialmente o alvará chamado das
senado, attendendo a esta razão, não quererá privar a casa faculdades de 1781, como V. Ex. sabe, determina que os
de caridade do Sobral deste mesquinho obulo. ordinarios dentro de um praso limitado abrirão concurso para
Tambem não concordo com a emenda ao § 21, que os beneficios vagos, para, conhecida a habilitação dos
manda eliminar o augmento de congrua nos parochos. Pois, concurrentes, proporem á Corôa, padroeiro supremo do
quando todas as classes de funccionarios, que recebem Estado, os approvados sob pena de devolver este direito ao
estipendio pelos cofres publicos, recorreram ao parlamento, mesmo padroeiro. Como é, pois, que hoje não ha mais
pedindo augmento de vencimentos e foram attendidos, com collação, porque não ha mais concurso? O governo renuncia
razão certamente essa infeliz classe sacerdotal é que... assim um direito magestatico, o de apresentar, e os
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do beneficiados perdem seu caracter de vitalicidade e
Imperio): – Se V. Ex. e seus amigos votam, póde passar. perpetuidade.
O SR. POMPEU: – Não tenho duvida nenhuma, No bispado de Pernambuco e do Ceará, como
respondo só por mim. deslembrado, delle, creio que ha 16 ou 17 annos, não ha
...ha de ser privada do direito que cabe a todos? concurso. Não sei se nos outros tem havido: as freguezias
Porque razão? Se o Estado dota o clero, se faz ás vezes de estão quasi todas occupadas por parochos interinos.
padroeiro, como incumbe pela constituição á Corôa, convém Disse-se aqui que é por falta de sacerdotes idoneos;
que o faça, como obra com os mais funccionarios. mas, senhores, esta razão não procede, porque o ordinario, o
Digo mesmo que as congruas, elevadas a 900$, são bispo, é obrigado a abrir o concurso dentro do tempo
insufficientes. E' verdade que os parochos teem marcado pelo concilio e pelo alvará; e se não se
emolumentos; mas a este respeito estou de accôrdo com a apresentarem padres habilitados, feche o concurso e diga:
opinião do illustrado Sr. conselheiro Paulino, que dizia em «Ninguem appareceu»; cumpra porém a obrigação canonica
seu relatorio ser conveniente acabar com esses e civil. Segunda razão: não é exacto que não hajam
emolumentos e dar uma congrua sufficiente aos parochos, sacerdotes, porque assim como os ha para occuparem os
porque, senhores, esses emolumentos amesquinham e de logares interinamente tambem haveria para serem collados, e
alguma maneira compromettem o caracter do parocho; com maioria de razão, porque, se hoje ha muitos padres que
quando elles estendem a mão a seus freguezes para pedir não aceitam vigararia, é pela circumstancia de não quererem
uma esportula, de algum modo rebaixam o seu caracter e ficar interinos, precarios, sujeitos á mudança, á demissão etc.
perdem de autoridade e prestigio em prejuizo da propria etc. Essa falta faz com que o governo, que é o padroeiro,
religião, de que são ministros, para com suas proprias perca o direito de apresentação que lhe compete; essa falta
ovelhas ou freguezes. concorre, como já disse, para que os sacerdotes dignos não
Portanto, eu quizera que elles fossem bem se apresentem a disputar os beneficios que lhes podiam
remunerados pelo Estado, como são outros funccionarios caber por via de concurso; e concorre ainda para a não
que não teem igual trabalho e responsabilidade, mas que não observancia do preceito divino, que quer que o pastor
recebessem emolumentos, ao menos pelos actos conheça suas ovelhas e que estas tambem o conheçam.
sacramentaes. Assim ficariam em posição mais elevada, O nobre ministro nada nos disse no seu relatorio
menos dependente de seus freguezes e livres de ultimo acerca da relação ecclesiastica. Só farei a este
contestações com os mesmos. respeito uma reflexão. Entendo que o Imperio tão vasto como
Recordo-me, porém, que o nobre ministro fallou em é não póde ser provido espiritualmente só com um tribunal de
seu relatorio de 1871 em um projecto de emolumentos; 2ª instancia no juizo ecclesiastico; perecem muitos direitos
pergunto a S. Ex. o que é feito desse projecto? Tambem sei importantes para as almas dos fieis nos diversos bispados
que no senado existiam diversas tabellas de emolumentos longinquos, que não podem mandar seus processos á
para differentes bispados. Em todo o caso, de duas uma, Sr. relação metropolitana. Ao nobre ministro, que se propõe a
presidente: ou se elevem as congruas do parocho de sorte diversas reformas, peço que attenda ao estado da divisão
que possam ser dispensados dos beneses e emolumentos, ecclesiatica do Brasil para augmentar os bispados, dando-
ou, do contrario, se o Estado não póde ou não quer satisfazer lhes uma circumscripção mais racional, mais conforme á
a esse dever de justiça, estabeleça-se uma regra para todos extensão e população dos bispados e commodidades dos
os bispados, mas uma regra geral, clara e bem defenida para povos; e que recommende a seus delegados presidentes de
evitar qualquer contestação entre o parocho e suas ovelhas, provincias, que teem tanta interferencia nas assembléas
a continuar o systema dos emolumentos que eu desejava vêr provinciaes, para que as divisões das freguezias sejam feitas
abolido. tambem com mais discrição, de accôrdo sempre com o
Tambem desejava que o honrado ministro me ordinario, porém visando ao interesse espiritual da localidade,
dissesse qual razão da differença entre parochos collados e e não a outros de ordem politica ou partidaria.
interinos com relação á congrua. Pois o serviço que presta Além disso, Sr. presidente, a observação que fez o
um parocho interino não é o mesmo que presta o parocho nobre
collado? Porque se ha de dar a um metade e a outro a
200 Sessão em 23 de Maio

ministro da que são poucos os sacerdotes é de alguma dous sacerdotes; além de outros que conheço, dos mais
maneira contestada pelo seu proprio relatorio. S. Ex. traz em dignos do Brasil?
seu relatorio do anno passado um mappa somente de seis O SR. CANSANSÃO DE SINIMBU’: – Apoiado.
seminarios, isto é, de seis dos nossos 11 bispados, em que O SR. POMPEU: – Um delles, o vigario do Natal,
se acham matriculados 1267 estudantes, e dá noticia da Bartholomeu Fagundes, sacerdote respeitabilissimo, foi
ordenação de clerigos maiores 93 e menores 18; por suspenso de beneficio e ordens, não sei porque motivo.
conseguinte e só em seis seminarios já havia uma ordenação Outro, o conego Faria, deão da sé de Olinda, digo mesmo o
de mais de 100 sacerdotes e um numero de quasi 1,300 mais illustrado sacerdote do bispado de Pernambuco;
aspirantes a ordens, não se póde dizer que ha falta tamanha conheço-o muito de perto, foi meu mestre de theologia; era
de sacerdotes; creio mesmo que nos annos anteriores nunca elle e o finado bispo conde de Irajá as duas luminarias que
houve maior copia. A falta, pois, de concurso e de collação brilhavam no ensino da sã doutrina catholica no seminario de
canonica nos beneficios não é por deficiencia de clerigos. Olinda, quando o meu nobre amigo senador pela Bahia
S. Ex. lamenta em seu relatorio o estado ecclesiastico ensinava tambem no curso juridico essa mesma doutrina,
do Imperio. Eu acompanho de coração ao nobre ministro na que com a mesma coherencia tem sustentado aqui.
manifestação que fez a esse respeito; mas digo que esse Entretanto, Sr. presidente, eu vejo agora suspenso esse
estado que S. Ex. lamenta póde ser modificado se se honrado e digno sacerdote, sob pretexto de haver aceitado a
observarem, não só as leis canonicas como as civis, no que nomeação de regedor do Gymnasio de Pernambuco sem
respeita ao regimen ecclesiastico. Uma das causas da licença da curia! Desde que o acto é de pura consciencia do
decadencia do clero é a não observancia do concilio de prelado, respeito-o, como me cumpre; porém, pede a justiça
Trento e do alvará das faculdades com relação ao concurso que dê aqui testemunho do merito incontestavel de um
dos beneficios; é essa renuncia que vae fazendo o governo sacerdote tão illustre, como o deão Faria, que ainda ha pouco
de seu direito de inspecção e fiscalisação, que lhe compete regeu o bispado duas vezes com applauso geral pela sua
por lei... illustrada prudencia, zelo e moderação. Se um sacerdote,
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do velho e respeitavel por tantos titulos como este, não está livre
Imperio): – V. Ex. está contra a opinião dos bispos neste de um golpe semelhante, que outro poderá contar-se seguro.
ponto. O nobre senador pelo Espirito Santo, que sinto não
O SR. POMPEU: – Não duvido, porque estou com a esteja presente, accusou aqui os frades da Penha, chamados
opinião do concilio, porque antes quero ir com á opinião do capuchinhos; disse que andavam tirando dinheiro da venda
concilio ecumenico do que com alguns bispos, porque estou de rosarios, bentinhos, e não sei que mais. Conheço, Sr.
com a opinião da lei, isto é, com sua lettra, espirito e pratica presidente, os poucos religiosos da Penha, daqui e de
sempre observada; entendo que os padres de Trento tinham Pernambuco, e devo dizer que não conheço sacerdotes mais
mais razão de conhecer a conveniencia da collação do dignos do que esses.
beneficio do que um ou outro bispo; entendo que o governo O SR. ZACARIAS: – Apoiado.
não só abdica seu direito de apresentação, como concorre O SR. POMPEU: – Frei Caetano, que rege aqui o
para um de serviço á Igreja, consentindo nessa infracção dos hospicio da Penha, é um dos sacerdotes que mais serviços
canones e da lei civil. teem feito ao Estado e á religião. (Apoiados.)
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
Imperio): – Resta saber se convem collar o máo vigario. Imperio): – Acompanho o nobre senador com todo o prazer.
O SR. POMPEU: – E’ para evitar isso que se O SR. CANSANSÃO DE SINIMBU’: – Lá e aqui.
estabeleceu o concurso, que não versa só sobre a O SR. POMPEU: – O senado não póde esquecer um
capacidade intellectual, mas tambem sobre a capacidade serviço importante que fez frei Caetano em Pernambuco a
moral. O bispo pelo inquerito muito especial, que faz a esse respeito de um levantamento em 1851.
respeito, póde rejeitar in limine o padre que faça o mais O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
brilhante concurso, que dá a melhor prova intellectual; Imperio): – Por occasião da lei do censo.
portanto, não ha esse perigo; tem o mais amplo e livre direito O SR. POMPEU: – Esse digno sacerdote e seus
de proposta; só proponha os bons; respeite-se o concilio, tambem dignos companheiros, aquelles que conheço, são de
respeite-se a lei, e verá V. Ex. se não terá melhor resultado uma abnegação exemplar. (Apoiados). Se elles teem feito
do que dessa infracção. Não penso que alguns de nossos algumas obras, como esse bello edificio da Penha, que tem
bispos tenham nisso mais saber e prudencia do que os de ornado, é á custa de esmolas que lhes vão offerecer os fieis
Trento, nem o governo actual mais veneração e respeito á e de doações do governo.
Igreja que aquelles que decretam o alvara de 1781. Frei Fidelis, que ainda está no Paraguay, tem
Lamenta o nobre ministro que os nossos moços não prestado alli os maiores serviços.
procurem o sacerdocio; mas, senhores, como hão de Frei Seraphim missionou em minha provincia cerca de
procurar? Um pobre padre é exposto hoje quasi que á risota 10 annos, na Parahyba e no centro de Pernambuco prestou
do povo... que confunde sob o nome da roupeta qualquer os mais relevantes serviços á religião e ao Estado...
individuo de vestia talar. O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
Isto por um lado; por outro está exposto ás injustiças Imperio): – Apoiado.
de seus superiores, que em vez de consideral-os, garantil-os O SR. POMPEU: – ...fundou igrejas e cemiterios, e
ou protegel-os, os desconsideram, censurando-os, não me consta que elle recebesse nunca para si um real.
desprezando-os, até suspendendo-os por qualquer pretexto.
Pois não foram agora suspensos de ordens e do
beneficio
Sessão em 23 de Maio 201

Como, pois, sem ingratidão e grande injustiça póde- Tambem pergunto ao nobre ministro: porque razão
se accusar aqui sacerdotes tão dignos? E’ possivel que haja não tem cuidado da alienação dos immoveis, segundo a lei
um ou outro máo, nessa ordem, que eu não conheço; mas que passou há dous annos, das diversas ordens, ao menos
qual é a classe isenta disso? daquelles, que se estão deteriorando? Seria conveniente que
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Está no Pará um, que o governo attendesse a esta circumstancia. Ha fazendas, ha
prestou importantes serviços á cathechese. terras, ao menos da ordem carmelitana, que hoje depois que
O SR. POMPEU: – Elles são por toda a parte muito foram alforriados todos os escravos, estão-se depreciando, e
respeitados e muito estimados. particulares que teem algumas dessas terras por fôro ou por
Esta materia, Sr. presidente, leva-me a perguntar ao outro titulo estão-se apoderando dellas; por conseguinte seria
honrado ministro que providencias tem S. Ex. tomado acerca conveniente que, antes de apparecerem maiores
da ordem carmelitana, que ha muitos annos está fóra da sua difficuldades, o governo mandasse converter esses immoveis
lei commum, e sujeita a uma visita. Não entro na apreciação em apolices da divida publica segundo a lei, e entregasse á
desse facto de conservar-se uma ordem fóra de sua lei: é um ordem o rendimento das apolices, já que as apolices, creio,
golpe de Estado que ás vezes se dá nomeando-se um ficam inalienaveis.
visitador para examinar e reparar a desordem de alguma Pergunto tambem ao nobre ministro se tem
ordem; mas este golpe de Estado deve ceder desde que se conhecimento do resultado do registro civil que passou em
estabelecem as regras canonicas, de que a ordem podia ter 1870. Não sei se esta lei tem sido observada. Do relatorio de
se desviado. Não entro, porém, nisto: limito-me a fazer uma S. Ex. nada consta.
pergunta com relação á divida, que pesa sobre a ordem do Tem vindo, Sr. presidente, ao senado, e V. Ex. tem
Carmo, e que até hoje não tem sido extincta. por vezes lavrado a este respeito luminosos pareceres,
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do decretos concedendo pensão ou aposentação a parochos;
Imperio): – Tem-se pago muito. pergunto ao nobre ministro: qual a regra que S. Ex. segue a
O SR. POMPEU: – Segundo o ultimo relatorio do este respeito? E’ uma regra geral? Devia ser; mas então
nobre ministro essa divida ainda importava em 70:000$; mas, porque não comprehende tantos outros parochos que estão
e é aqui o ponto essencial para onde chamo a attenção do morrendo invalidos por ahi e as pensões versam só sobre
nobre ministro, vendeu-se bem ou mal no Pará uma fazenda alguns de certa ordem geographica, aqui para o Sul?
importante chamada Pernambuco, não quero saber como O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
vendeu-se nem por quanto, se o governo estava para isso Imperio): – E’ que os outros não teem requerido.
devidamente autorisado, se foi bem ou mal avaliada, etc.; O SR. POMPEU: – Eu entendo que esses decretos
pergunto sómente a S. Ex.; porque razão não manda do governo offendem a tres principios: primeiro, o principio de
entregar á ordem a importancia dessa venda para que ella igualdade, visto como não se estendem a todos; segundo, as
amortise a sua divida? Pois o Estado quer herdar desde já? leis civis e canonicas, porquanto V. Ex. sabe que a materia
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do beneficiaria é mixta, pertence aos dous poderes civil e
Imperio): – Não, senhor; não se trata disso. ecclesiastico. O poder civil, como padroeiro, crea, funda e
O SR. POMPEU: – Mas então porque S. Ex. não dota o beneficio; o poder ecclesiastico propõe e colla o
manda entregar? beneficiado apresentado pelo padroeiro; por conseguinte o
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do beneficiado depende de dous poderes, não póde ser deposto
Imperio): – Depende de averiguações a que se está arbitrariamente do seu beneficio senão por accôrdo dos dous
procedendo; quanto ao modo porque se fez a venda. poderes e mediante processo regular.
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – A venda foi feita ha O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
muito tempo. Imperio): – E’ como sempre se tem feito.
O SR. POMPEU: – Ouvi dizer que o governo tinha O SR. POMPEU: – Perdão, mostrarei logo que não.
duvida a respeito da validade da venda; não sei se o nobre Um parocho, por exemplo, póde inhabilitar se, tornar-se
ministro nutre duvidas a esse respeito. inhabil ou por molestia ou por velhice, ou mesmo
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do moralmente; neste caso segundo os canones recebidos entre
Imperio): – Affirmo ao nobre senador que estou defendendo nós elle póde reservar para si uma porção do seu beneficio
os interesses da ordem. para della viver se não tem outro recurso; porém, como póde
O SR. POMPEU: – Então V. Ex. mais dia menos dia acontecer que o beneficio seja tão mesquinho, que não
manda entregar á ordem a importancia desta venda para que chegue para elle e para seu successor ou coadjutor, que o
ella satisfaça seu debito? bispo deve dar-lhe, então vem o thesouro em auxilio, porque,
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Se julgar a venda como V. Ex. sabe, pelo alvara de 1752 se obrigou o governo
regular. (padroeiro) à dar a congrua aos beneficiados, tomando para
O SR. POMPEU: – Não quero entrar nesta questão si os dizimos que então pertenciam á Igreja; mas note V. Ex.,
da regularidade da venda; minha pergunta é sómente quanto essa quota que se tira do beneficio em favor do beneficiado
ao producto della; se deve ser entregue á ordem para inhabilitado é só no caso em que o beneficio seja insufficiente
amortisar sua divida; como o nobre ministro affirma que está para elle e seu ajudante, e no caso de estar o titular com
nos interesses da ordem, necessariamente fará a justiça de effeito inhabilitado: beneficium propter offitium, dizem os
mandar entregar-lhe o producto dessa venda. canones; emquanto, pois, poder servir ou tiver recursos, os
canones não admittem, nem dispensa nem pensão. Portanto,
se os decretos do governo mandam dar uma pensão ao
parocho, ao beneficiado, sem mais
202 Sessão em 23 de Maio

exame, infringe o preceito canonico e civil, que só quer que o para exacerbar os espiritos e dar-lhe maior latitude, creando
beneficiado receba uma quota do beneficio quando estiver de partidos senão seitas; o que me parece mais conveniente na
todo impossibilitado, e quando não tiver recursos. Por actualidade, isto é, mais prudente, é aplacar, quanto for
conseguinte o beneficiado inhabilitado deve verificar esta possivel, essa agitação, que já passou dos espiritos, já
condição ou premissa perante os dons poderes o passou da tribuna e da imprensa para a praça publica; isto é
ecclesiastico, que conhece do serviço, e o civil (o padroeiro), doloroso.
que dá a congrua, que representa a quota da renda A questão religiosa, tal qual tem sido trazida ao
beneficiaria. senado, tem duas partes: uma doutrinal, outra disciplinar.
Ainda outro principio que se infringe, principio mais Quanto á doutrinal, Sr. presidente, julgo o senado
grave, principio canonico, que envolve uma especie de incompetente de tratal-a, pois o senado não é um synodo ou
simonia convencional, é a condição que se estabelece nos assembléa theologica; entendo que todo catholico verdadeiro
decretos, de que o parocho perceberá a pensão com a não póde seguir outra doutrina differente daquella que é
condição de resignar previamente o beneficio. Sr. presidente, ensinada pelo chefe da Igreja, que só póde ensinar-nos a
V. Ex. sabe o que é simonia convencional; é quando se verdadeira doutrina. Quanto á questão disciplinar, que versa
offerece ao beneficiado certa vantagem material para elle sobre as regras estabelecidas entre o Estado e a Igreja,
renunciar seu beneficio; pois é o que de alguma maneira segundo as concordatas e accôrdos havidos entre os dous
indicam as palavras dos decretos. Não se deve fazer, porque poderes temporal e ecclesiastico, essa póde dar occasião a
o beneficiado está vinculado pela collação ao seu beneficio, duvidas ou conflictos entre os fieis e seus superiores
vinculado espiritualmente; as transferencias, as renuncias, as ecclesiasticos; mas para isto se acham estabelecidos, quer
demissões que são communs, naturaes e sem consequencia nas leis canonicas, quer nas leis civis, entre nós os recursos
na ordem civil, não se podem fazer assim na ordem necessarios.
ecclesiastica, porque, como já disse, ha um vinculo espiritual Ora, em virtude do conflicto suscitado entre o prelado
que liga o beneficiado ao seu beneficio; logo o governo não de Pernambuco, as irmandades do Recife interpozeram este
póde dizer ao beneficiado: «Renuncie previamente o seu recurso para o conselho de Estado; isto é, o bispo suspendeu
beneficio para receber tal pensão que lhe offereço com essa algumas irmandades e estas recorreram; depende, pois, do
condição.» governo a solução desse recurso, autorisado pelo decreto de
Além disso, temos um aviso terminante, o de 23 de 28 de Março de 1857, de actos de abusos ecclesiasticos; e
Maio de 1812, que manda observar as duas regras canonicas por esta occasião não posso deixar de notar que o governo
na concessão das renuncias ecclesiasticas: 1ª, que seja tem sido de alguma maneira culpado pela morosidade da
sempre pura e absoluta, sem condição alguma de qualquer decisão do recurso interposto, que pende de uma decisão ha
natureza; 2ª, que se funde em causa justa sufficientemente tres ou quatro mezes e não posso concordar tambem com o
demonstrada. Ora, isto exige um processo, que deve ser feito que disse o nobre presidente do conselho, quando, referindo-
perante o ordinario, e só depois de verificadas estas se ao recurso disse que tinha sido submettido ao estudo da
condições ou premissas, e tambem pelo governo, é que se secção do conselho de Estado, e que provavelmente iria ao
deve conceder á renuncia. «A ordenação, diz um dos mais conselho de Estado pleno.
distinctos padres que o Brasil tem tido, é uma consagração Ora, senhores, o nobre presidente do conselho
santa e solemne, ligando os clerigos á sua Igreja, a uma parece que não leu o decreto de 28 de Março de 1857, art.
funcção que lhes impõe a lei da estabilidade, porque ella 3º, em virtude do qual é só competente para conhecer de
propria não é só estavel, como immutavel, donde se segue recursos á Corôa o conselho do Estado.
que os beneficiados não podem a seu bel prazer abandonar O SR. ZACARIAS: – Não é negocio de secção.
ou ceder suas igrejas, nem resignal-as ou permutal-as.» O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
E o que admiro mais neste negocio é que os Imperio): – Sempre começou o estudo dessas questões pela
ordinarios, tão ciosos aliás de sua jurisdicção a outros secção.
respeitos, a ponto de fulminarem suspensão a um capitular O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
ou conego por afastar-se uma legua, temporariamente, de Conselho): – Quando se diz conselho de Estado, não se diz
sua cathedral, emquanto exerce uma funcção civil de conselho de Estado pleno.
nomeação do governo, não façam cabedal desses actos (os O SR. POMPEU: – Em todo o caso é
decretos de aposentadorias) do governo, que ferem os necessariamente ouvido o conselho de Estado e não
canonos e atacam a competencia episcopal, emquanto provavelmente. E porque até hoje, ha tres ou quatro mezes
dispensam os bispos de uma intervenção no acto da que se interpoz esse recurso, não houve ainda decisão? A
resignação do beneficiado, mediante uma pensão pecuniaria! falta dessa decisão tem talvez occasionado essa irritação
Sr. presidente, é tão tarde que não posso dizer mais maior, que tem apparecido em algumas partes.
senão poucas palavras quando tenho ainda bastante Em relação á maçonaria, Sr. presidente, eu devo
assumpto para tratar, mas, sempre respeitoso, temo abusar dizer ao senado que ignoro completamente qual a sua
demasiado da bondade de V. Ex., e do senado, prolongando doutrina, porque nunca fui maçon e nem tive curiosidade de
esta discussão além das 5 horas. estudar seus livros. Bem que, quando fui estudante e depois
Agita-se no paiz uma deploravel questão, que tomou me convidassem para entrar nessa sociedade, não quiz, não
o nome de religiosa-maçonica. Eu não quero occupar-me por suppor que contivesse alguma cousa contra a religião;
della presentemente, além da falta de tempo, por duas nesse tempo não se fallava nisto; mas porque sempre fui de
razões: primeiro, porque tem sido já demasiadamente indole opposta a pertencer a associações secretas, cujos fins
discutida aqui e fóra desta casa; segundo, porque é não conhecia; porém devo dizer a V. Ex. que, se a maçonaria
convicção minha que a discussão dessa questão, quer na tem doutrinas oppostas á religião, sendo certo que della
imprensa, quer na tribuna tem de alguma maneira concorrido fazem parte homens muito illustrados, piedosos e
Sessão em 23 de Maio 203

religiosos, então nella estão seguramente de boa fé, mas E por fallar nesses actos, Sr. presidente, devo
tambem, se é certo que commette ou incorre em erro ou recordar a V. Ex. e chamar sobre isto a attenção do nobre
peccado o maçon, como disse aqui o Sr. visconde de ministro que a folha official do Ceará que trago aqui e que
Nitherohy, é fóra de questão que aquelle ou áquelles a quem não leio porque não ha mais luz (riso)...
Jesus Christo incumbiu de prégar toda a verdade, compete O SR. ZACARIAS: – Isto é uma razão peremptoria.
admoestar, ensinar e corrigir aos filhos espirituaes para O SR. POMPEU: – ...ameaça a imprensa
evitarem o erro e o peccado: tem mesmo obrigação de fazel- opposicionista do Ceará com a vingança da boa justiça que
o. se fez na rua do Ouvidor, citando nominalmente o que se fez
Agora, Sr. presidente, quanto ao modo, ou exercicio com o Sr. Bocayuva. Chamo, portanto, a attenção do
desse dever episcopal de ensinar, admoestar e corrigir, ha honrado ministro para essa ameaça que se está fazendo á
muitas gradações que uma virtude, chamada prudencia, imprensa liberal do Ceará, de recorrer-se á boa justiça
muito aconselhada pelo apostolo, manda que se faça policial, como se praticou aqui na rua mais publica contra a
convenientemente. Alguns actos, que teem chegado ao meu imprensa republicana com a tolerancia ou mais alguma cousa
conhecimento de interdicção de irmandades, porque não da policia.
querem eliminar do seu seio suppostos maçons, interdicção Senhores, não se dão certos actos, nem se autorisam
de campo mortuario, de cemiterios, porque nelles tem sido certos factos criminosos sem graves consequencias,
enterrado algum maçon, prohibição de casamento, como principalmente quando são desculpados por quem os devia
agora mandaram-me dizer da Parahyba, que um moço punir. Se o nobre presidente do conselho, que me ouve,
distincto não pôde casar-se por suppor-se que elle era tivesse vindo ao senado estigmatisar o acto vandalico
maçon, prohibição, de que um catholico possa ser padrinho praticado na rua do Ouvidor, como era do seu dever, estou
em baptisado por suppor-se maçon; actos dessa ordem convencido de que nem se praticaria aquillo de que a
revelam que a prudencia, esta virtude tão recommendada por imprensa religiosa de Pernambuco acaba de ser victima, nem
S. Paulo, não tem presidido a esse demasiado zelo se fariam as ameaças que se estão fazendo no Ceará á
empregado por alguns prelados. imprensa liberal na folha official.
E’, pois, para este ponto que chamo a attenção do Sr. presidente tinha ainda uma serie de
governo especialmente, porque, pela posição que occupa na considerações a offerecer ao senado a respeito de alguns
sociedade, director como é della, se entenda com os serviços de que falla o relatorio do nobre ministro; está,
prelados, afim de que, por um zelo exagerado, não levem a porém, tão tarde que receio abusar da bondade dos nobres
população a excessos e prejudiquem assim a causa, que senadores, mas emfim ainda me permittirão poucas palavras,
desejam resalvar. e prometto não chegar até acender-se o gaz.
Desapprovando, porém, Sr. presidente, com a Pergunto ao nobre ministro: o que é feito do seu
isenção que me caracterisa, o demasiado zelo de alguns projecto de universidade, de que S. Ex. nos fallou em seu
prelados a esse respeito, que vão além da prudencia e da relatorio do anno passado? Pois desde então não se tem
moderação, não posso deixar de reprovar esse desacato que podido dar andamento a esse projecto preparado há dous
acaba de praticar uma porção do povo de Pernambuco annos, e depois de tantos mezes de sessão este anno?
contra uma ordem religiosa... e a typographia que publicava o Pergunto tambem ao nobre ministro: que resultado
jornal religioso... tirou S. Ex. da segunda reforma que fez sobre os exames dos
O SR. ZACARIAS: – Boa justiça a da rua do Ouvidor. estudantes das faculdades?
O SR. POMPEU: – Senhores, nós liberaes e todos Segundo tenho ouvido alguns lentes, a reforma do
aquelles que censuram o acto vandalico praticado na rua do nobre ministro empeiorou o resultado dos exames...
Ouvidor em 27 e 28 de Fevereiro ultimo contra uma imprensa O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
livre, acto que foi aqui chamado de boa justiça, não podemos Imperio): – Não dizem isso os mais distinctos lentes das
deixar de reprovar tambem com toda a força a repetição faculdades...
desse attentado praticado agora em Pernambuco com a O SR. POMPEU: – ...porque acontece agora o
imprensa e com uma casa religiosa. (Apoiados.) Não podem seguinte: os lentes não cumprem as prescripções do decreto
mesmo ser desculpados taes excessos por essa irritação de por inexequiveis, e daqui maior facilidade até para os
animos, que se diz produzida em consequencia dos actos do exames, porque os estudantes, querendo, limitam-se a
prelado. E nisso discordo ainda dos ministros, que quizeram estudar os pontos conhecidos.
desculpar o motim da rua do Ouvidor por excesso de O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
indignação contra a Republica. Imperio): – Tenho os juizos mais competentes.
Segundo li no telegramma vindo de Pernambuco, O SR. POMPEU: – Tambem pergunto ao nobre
houve uma manifestação pacifica de cidadãos distinctos á ministro (porque não fez menção em seu relatorio): se o
causa do digno deão da sé, Dr. Faria, hoje regedor do perdão ou a amnistia que o governo deu aos rapazes de S.
Gymnasio de Pernambuco; se o acto popular se limitasse a Paulo comprehende todos ou se algum ficou exceptuado?
essa demonstração de respeito, em que aliás figuram nomes Porque conheço um moço de sobrenome Carvalho que não
respeitaveis, não tinha nada de censuravel; era uma pôde fazer acto do 5º anno ou receber o gráo naquella
homenagem que se rendia áquelle digno sacerdote e faculdade.
implicitamente uma reprovação ao acto que o povo suppõe O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do
injusto do bispo; porém destacar-se dalli uma porção de povo Imperio): – Esse foi submettido a segundo processo por
para commetter os excessos, que hoje foram publicados, é o novas faltas.
que ninguem que preze a ordem e a justiça póde deixar de O SR. POMPEU: – O perdão imperial não acabou
reprovar (Apoiados). com todas as faltas?
204 Sessão em 24 de Maio

O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do A discussão ficou adiada pela hora.


Imperio): – Incorreu em novas. Retirou-se o Sr. ministro com as mesmas
O SR. POMPEU: – Depois? formalidades com que fora recebido.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do O Sr. Presidente deu a ordem do dia para 24:
Imperio): – Sim senhor. 1ª parte:
O SR. POMPEU: – Está bem; eu não sabia desse 3ª discussão da proposição da camara dos Srs.
novo delicto, que me parece inexplicavel por falta de motivo deputados, concedendo licenças a empregados publicos,
para tal. mencionada no parecer da mesa n. 522.
O nobre ministro em seu relatorio de Maio do anno 2ª dita da proposição da mesma camara mencionada
passado se propoz a crear collegios de ensino secundario no parecer da mesa n. 523 sobre pensões.
nas diversas provincias ad instar dos de Pedro II; louvo a Requerimentos adiados a saber: Dos Srs. Pompeu,
idéa do nobre ministro; seria um grande beneficio que faria á Vieira da Silva, Figueira de Mello e visconde de Souza
instrucção das provincias dotando-as de collegios dessa Franco.
ordem; mas no relatorio de Dezembro já S. Ex. modificou a 2ª parte ás 2 horas ou antes:
promessa; quer que haja collegios nas provincias conforme o 2ª discussão do projecto de lei do orçamento.
plano do de Pedro II, porém montados á custa das rendas Levantou-se a sessão ás 5 1/2 horas da tarde.
provinciaes e somente com a garantia ou vantagem de que
seus actos terão os mesmos effeitos que os do collegio de 16ª SESSÃO EM 24 DE MAIO DE 1873.
Pedro II.
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ.
Imperio): – E subvencionados.
O SR. POMPEU: – Parecia-me que V. Ex. tinha Summario. – Expediente. – Pareceres da commissão
retirado a promessa da subvenção. de marinha e guerra. – Ordem do Dia. – Licenças. –
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Negocios do Ceará. – Representações contra os bispos de
Imperio): – Não, senhor. Pernambuco e Pará. – Discurso do Sr. Mendes de Almeida. –
O SR. POMPEU: – Então estou de accôrdo com o Orçamento do Imperio. – Discursos dos Srs. Paranaguá e
nobre ministro. Acho conveniente que se creem collegios nas ministro do Imperio.
provincias; sou tambem de opinião que o governo geral não
está inhibido de parallelamente com as assembléas Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se
provinciaes concorrer para a instrucção publica nas presentes 45 Srs. Senadores, a saber: visconde de Abaeté,
provincias, creando collegios e outras escolas. Mas V. Ex. Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de
está resolvido a isso? Carvalho, Figueira de Mello, barão de Camargos, Paranaguá,
O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Pompeu, Nabuco, Godoy, barão de Cotegipe, Jaguaribe,
Imperio): – Sim, senhor. Chichorro, visconde de Caravellas, Sinimbú, Teixeira Junior,
O SR. POMPEU: – O nobre ministro fallou tambem marquez de Sapucahy, barão de Maroim, Uchôa Cavalcanti,
em crear estabelecimentos de ensino profissional, mas não barão da Laguna, Mendes de Almeida, Ribeiro da Luz, Barros
definiu o que entende por ensino profissional. E’ um termo Barreto, visconde de Muritiba, duque de Caxias, Leitão da
vago que comprehende uma immensidade de industrias. Cunha, barão do Rio Grande, barão de Pirapama, visconde
Ensino profissional temos já no instituto commercial; ensino de Nitherohy, Junqueira, visconde de Camaragibe, Jobim,
profissional de artes temos nos arsenaes em diversas visconde do Bom Retiro, Cunha Figueiredo, Firmino, Paes de
officinas etc., etc.: o que é, pois, que o nobre ministro Mendonça, Antão, visconde de Jaguary, visconde do Rio
entende neste caso por ensino profissional? Seria preciso Branco, Silveira da Motta, visconde de Inhomirim, marquez
definir. de S. Vicente, Zacarias, visconde de Souza Franco e conde
E quer S. Ex. crear esses estabelecimentos não só na de Baependy.
Côrte e capitaes das provincias, como em todos os Deixaram de comparecer com causa participada os
municipios. Ora, Sr. presidente, se o instituto commercial, Srs. Diniz, Nunes Gonçalves, Fernandes Braga, Paula
que é um ensino profissional na Côrte, e bem montado, está Pessoa, F. Octaviano, Silveira Lobo, Mendes dos Santos,
reduzido a 36 alumnos e creio que sómente 16 fizeram Saraiva, Fernandes da Cunha e Vieira da Silva.
exame, como o nobre ministro pretende ou espera melhor Deixaram de comparecer sem causa participada os
resultado de um ensino profissional de outra ordem? Talvez Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de
que com a organisação que o nobre ministro tem de dar-lhe Suassuna.
possa esse ensino aproveitar mais do que tem aproveitado o O Sr. Presidente abriu a sessão.
instituto commercial da Côrte. Em todo o caso é conveniente Leu-se a acta da sessão antecedente, e, não havendo
que S. Ex. nos diga o que entende e pretende fazer a este quem sobre ella fizesse observações, foi approvada.
respeito. O Sr. 1º Secretario leu o seguinte
Sr. presidente, concluo aqui meu discurso; não posso
mais vêr, estamos ás escuras e cumpro minha palavra, não EXPEDIENTE.
permitto que se acenda o gaz por meu respeito. Peço perdão
a V. Ex. e ao senado de ter abusado tanto de sua paciencia e Officio, datado de 21 do corrente, do ministerio dos
bondade. negocios estrangeiros, remettendo um exemplar do relatorio
da repartição a seu cargo, apresentado á assembléa geral na
presente sessão. – A’ commissão de diplomacia.
Sessão em 24 de Maio 205

Outro, de 23, do ministerio da guerra, remettendo substituto da capital da provincia da Bahia, um anno de
tambem um exemplar do relatorio da repartição a seu cargo. – licença com ordenado para tratar de sua saude na Europa,
A’ commissão de marinha e guerra. concluindo que a proposição entre em discussão e não seja
Dez officios, datados de 20, do 1º secretario da approvada, visto achar-se prejudicada pelo fallecimento do
camara dos Srs. deputados, participando que a mesma referido juiz substituto.
camara adoptada as emendas do senado ás proposições N. 525, expondo a materia de uma preposição da
concedendo licenças a empregados publicos, e que as ia camara que approva a pensão de 36$ mensaes concedida a
dirigir á sancção imperial. D. Josepha Carneiro Malheiros, viuva do capitão José Pereira
Malheiros, concluindo que a proposição entre em discussão e
Empregados publicos a que se referem essas proposições. seja approvada.

Desembargador José Pereira da Costa Motta. PARECER DA COMMISSÃO DE MARINHA E GUERRA.


Desembargador Antonio Augusto Pereira da Cunha.
Desembargador Antonio Ladisláo de Figueiredo MATRICULA DE ESTUDANTE.
Rocha.
Desembargador João José de Almeida Couto. A commissão de marinha e guerra examinou a
Desembargador Manoel Joaquim Bahia. resolução da camara dos deputados de 19 do corrente mez,
Bacharel José Luiz da Silva Moura. na qual é autorisado o governo a mandar admittir João
Dr. Manoel Clementino Carneiro da Cunha. Fernandes de Almeida, alummo paisano da escola de
Luiz Carlos Pereira da Costa. marinha; á matricula do 2º anno no corpo de aspirantes da
José Gonçalves Martins. mesma escola, independentemente do exame de inglez, que
Luiz de Carvalho Paes de Andrade. prestará antes do acto das materias do referido anno.
Um dito de 23, do mesmo secretario, communicando Achando-se já o supplicante matriculado na escola,
que por officio do ministerio do Imperio, de 19, constara ter como mostra pelos documentos que apresenta, e querendo
sido sanccionada a resolução da assembléa geral que continuar como aspirante, parece de equidade que se lhe
autorisa a matricula de Joaquim Alves Pinto Guedes Junior, no conceda o que pede, uma vez que não possa ser admittido a
1º anno da faculdade de medicina, e o exame de Henrique exame sem satisfazer o que dispõe o regulamento da escola
Graça das materias do mesmo anno. – Inteirado. de marinha para os aspirantes; e por isso é de parecer que
Dous ditos, de igual data, do mesmo secretario, entre em discussão a resolução e seja adoptada.
remettendo as seguintes proposições: Paço do senado, em 23 de Maio de 1873. – Duque de
A assembléa geral resolve: Caxias. – D. J. N. Jaguaribe. – Muritiba.
Art. 1º E’ autorisado o governo para conceder ao
alferes do 7º batalhão de infanteria Joaquim José de Mello a PARECER DA COMMISSÃO DE MARINHA E GUERRA.
graduação no posto de tenente, com antiguidade a contar do
dia 6 de Outubro de 1870, nos termos do art. 3º da lei n. 1843 MATRICULA DE ESTUDANTE.
de 6 do referido mez e anno.
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. A commissão de marinha e guerra examinou a
Paço da camara dos deputados, em 23 de Maio de resolução vinda da camara dos deputados em 19 do corrente
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr. mez, na qual é o governo autorisado para mandar admittir á
Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e matricula no 1º anno da escola central ao estudante Alfredo
Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de Bernardino Canongia, devendo elle mostrar-se habilitado em
Mello, 2º secretario. geographia antes do exame final das materias do mesmo
A assembléa geral resolve: anno.
Art. 1º E’ autorisado o governo a promover o guarda da O supplicante só allegou para obter esta dispensa o ter
marinha José da Cunha Ribeiro Espindola ao posto de 2º sido reprovado nessa materia, quando foi admittido ao
tenente da armada, contando a mesma antiguidade dos que competente exame. Não parecendo á commissão attendivel
foram promovidos por decreto de 31 de Janeiro de 1873. essa razão, unica que apresenta o supplicante, é de parecer
Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. que entre em discussão a resolução e não seja approvada.
Paço da camara dos deputados, em 23 de Maio de Paço do senado, em 23 de Maio de 1873. – Duque de
1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – Dr. Caxias. – D. J. N. Jaguaribe. – Muritiba.
Joaquim José de Campos da Costa de Medeiros e
Albuquerque, 1º secretario. – Martinho de Freitas Vieira de PARECER DA COMMISSÃO DE MARINHA E GUERRA.
Mello, 2º secretario.
A’ commissão de marinha e guerra. READMISSÃO NO QUADRO EFFECTIVO DO EXERCITO.
O Sr. 2º Secretario leu os pareceres da mesa:
N. 524, expondo a materia de uma proposição da A commissão de marinha e guerra, a quem foi
camara dos Srs. deputados autorisando o governo para remettida a resolução da camara dos deputados de 19 do
conceder ao bacharel Carlos Augusto Autran da Matta Araujo, corrente mez, na qual é autorisado o governo para mandar
juiz admittir no quadro effectivo do exercito ao tenente reformado
José Ignacio Ribeiro Roma, com a condição de ser
considerado o mais moderno no quadro dos tenentes em que
fôr incluido, examinando cuidadosamente todos os
documentos que acompanharam a mencionada resolução, vê
que, tendo o tenente Roma sido reformado por decreto de 17
de Julho de 1868, só em 28 de Julho de 1871 se lembrou de
reclamar contra esse acto do governo, isto é, dous annos
depois de ter gosado dos effeitos da reforma, e um anno
depois de estar concluida a guerra do Paraguay.
206 Sessão em 24 de Maio

A reforma do supplicante foi concedida pelo governo ao illustrado presidente do conselho sobre seu procedimento
por ter elle sido julgado incapaz de todo o serviço pela junta em assumpto tão grave. Mas, Sr. presidente, visto que o meu
de saude que o inspeccionou, em consequencia de ter ficado honrado collega pelo Maranhão tomou o penoso encargo de
aleijado do braço esquerdo, por desastre, que lhe sobreveio fazer este requerimento somente para refutar o meu discurso,
em acto de serviço. vejo-me forçado a defender-me.
Sendo o supplicante ainda moço e vigoroso e tendo O nobre senador pelo Maranhão não se limitou
prestado bons serviços na ultima guerra, como consta de sua sómente a refutar as proposições do meu discurso. No que S.
fé de officio, e podendo bem servir, não obstante o defeito do Ex. proferia para justificar o seu requerimento, levou de
braço, e não prejudicando com a sua reentrada no exercito envolta a Igreja, os bispos e o Santo Padre e tambem a
aos seus camaradas da classe a que pertence, por dever ser Companhia de Jesus, a quem S. Ex. attribue esse movimento
considerado o mais moderno della, como se declara na que tem desenvolvido aqui e em algumas provincias, e que
mencionada resolução, é de parecer que entre em discussão segundo o seu pensar é pavoroso, e resultante do
a resolução e seja adoptada. procedimento pouco prudente dos bispos.
Paço do senado, 23 de Maio de 1873. – Duque de S. Ex. vê as consciencias dos brasileiros em
Caxias. – Domingos José Nogueira Jaguaribe. – Muritiba. difficuldades, as familias aterradas pelo procedimento dos
Ficaram sobre a mesa para serem tomados em bispos, que querem fazer do Santo Padre uma especie de
consideração com as proposições a que se referem. omniarca da terra, o senhor universal do reino espiritual como
do temporal, sendo promotora de tão estupenda pretenção
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA. uma celebre corporação scientifica á cargo de religiosos da
Companhia de Jesus, e não propriamente, segundo S. Ex., a
LICENÇAS. Companhia de Jesus, mas o collegio romano!
Sr. presidente, o conde de Maistre, um dos maiores
Entraram em 3ª discussão e foram approvadas para escriptores, que em defeza da Igreja tem apparecido neste
serem dirigidas á sancção imperial as proposições da camara seculo e verdadeiro genio, diz em uma de suas obras,
dos Srs. deputados, concedendo licenças a diversos tratando de questões religiosas, que nada é mais perigoso do
funccionarios publicos já mencionados. que um bom máo livro escripto por um homem honesto. Eu
applico este conceito ou este juizo do conde de Maistre ao
PENSÕES. procedimento de meu honrado collega: é uma excellente
natureza, um bello talento, fez um notavel discurso, mas por
Seguiu-se em 2ª discussão e passou para 3ª a uma causa que não reputo boa, e, nas condições do nosso
proposição da mesma camara mencionada no parecer da paiz, insustentavel e prejudicial.
mesa n. 523 sobre pensões concedidas a D. Maria Isidora Ha ainda uma circumstancia que eu lamento, Sr.
Barreto Lins e outros. presidente, e é que a causa a que posso attribuir o discurso do
honrado senador pelo Maranhão, e os prejuizos que
NEGOCIOS DO CEARÁ. injustamente nutre contra a religião de seus paes, vem a ser
que S. Ex. foi educado em uma universidade protestante da
Votou-se e não foi approvado o requerimento do Sr. Allemanha, Heidelberg. E lamento, Sr. presidente, porque o
Pompeu, pedindo informações sobre o attentado praticado no exemplo do meu honrado collega recorda o de muitos de
Ipú no Ceará e outros factos. nossos patricios, que, indo á Europa em demanda da sciencia,
perdem a sua fé. Conhecido o estabelecimento onde S. Ex.
REPRESENTAÇÕES CONTRA OS ACTOS DOS BISPOS DE estudou, todos os prejuizos contra a Igreja Catholica que
PERNAMBUCO E PARA’. transudam de seu discurso tem natural explicação, sem
justificar o honrado senador. E note V. Ex. que essa
Seguiu-se a discussão do requerimento do Sr. Vieira universidade é precisamente a de um dos paizes em que o
da Silva sobre informações relativas ás representações contra predominio protestante é o mais intolerante possivel, o grão-
os bispos de Pernambuco e Pará. ducado de Baden. Foi alli onde primeiro se rasgaram as
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não pensava, Sr. concordatas com a Santa Sé pelo celebre ministro Joly. E
presidente, tomar ainda parte na discussão sobre materia então não admira que um moço nascido na religião catholica e
religiosa quando surgiu o requerimento que o illustre 2º educado em semelhante estabelecimento proferisse as
secretario acabou de ler, apresentado pelo meu nobre collega proposições que aqui o senado ouviu, e de que tenho summo
pela minha provincia, que ora se acha ausente, o que muito pezar porquanto entre mim e o honrado senador pelo
sinto. Não me persuadi que depois de haver proferido um Maranhão ha relações de mór importancia ás que tenho com
discurso nesta casa, ha dous mezes, sobre a politica religiosa outros collegas: é não só meu collega, mas representante pela
do ministerio fosse chamado a terreiro, não pelo illustrado mesma provincia; isto explica a razão de meu desprazer.
presidente do conselho, a quem se tinha dirigido toda a Diz S. Ex. começando o seu discurso que a politica
argumentação do meu discurso, mas por um membro desta religiosa dos bispos tinha posto o espirito publico agitado e a
casa, representante por minha provincia. familia brasileira em sobresalto. Mas não produziu S. Ex.
V. Ex. e o senado sabem que não tomei parte naquella prova sufficiente desta asserção. Politica religiosa dos bispos!
discussão senão por haver contrahido um compromisso com o Elles são tão poucos neste paiz em que a educação litteraria é
senado de tratar da politica religiosa do ministerio e tambem toda feita em opposição ás doutrinas catholicas, que não
porque não vi que, membro algum desta casa mais posso comprehender de onde venha essa influencia
competente do que eu, se tivesse adiantado a fazêl-o. Foi,
portanto, por um dever de consciencia que eu, o menos
competente dos membros desta casa (não apoiados),
deliberei fazer algumas pequenas observações
Sessão em 24 de Maio 205

para agitar o espirito publico, e sobresaltar a familia brasileira! para a famosa carta que logo no principio do seu governo
A sociedade brasileira tem sido tão trabalhada neste dirigiu sobre os negocios de Roma a Edgar Ney; basta o
sentido, e de encontro ás doutrinas catholicas, que já duas procedimento que posteriormente teve na Italia de 1859 a
gerações tem sido sacrificadas. Os máos livros percorrem 1868 concorrendo poderosamente para o desmembramento
livremente o nosso paiz, e a mocidade anciosa por illustrar-se, dos Estados da Igreja, fazendo com que o general Cialdini se
engolfa-se nas doutrinas anti-christãs, creando contra a apossasse de grande parte dos mesmos Estados da Igreja,
verdadeira religião indisposição geral. O brasileiro que acaba como succedeu em plena paz, ferindo-se o truculento combate
de se formar em qualquer estabelecimento litterario de nosso de Castelfidardo, exigindo do general italiano que terminasse
paiz, em regra, se não faz por si um estudo especial, sobre tão a questão com rapidez, depressa, depressa, para não haver
ardua materia, mostra-se antipathico á religião de seus paes. remedio e consummar-se o attentado. E’ este ainda o homem
Em geral, desgosta-me dizel-o, quasi todos perdem a fé ainda que, depois de perder vergonhosamente a batalha de Sedan,
que na sociedade conservem uma deferencia facticia por mandou felicitar a Victor Manoel em uma carta só digna delle
aquella instituição. Portanto, Sr. presidente, como é que a pela tomada de Roma; o homem que tinha assignado no anno
familia brasileira está em sobresalto pela politica religiosa dos de 1864 em nome da França o tratado de 15 de Setembro!
bispos? Que politica religiosa é essa? Pois se a familia é Por isto digo eu a todos estes que tanto temem pela sorte da
catholica, pode escandalisar-se do procedimento dos bispos Igreja; a Igreja não precisa dos vossos conselhos e nem se
que é um procedimento legal, de conformidade com as leis da impressiona desses temores; ella tem um solido e
Igreja... indestructivel fundamento nas promessas de Christo: está
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – E as do firmada sobre o rochedo inexpugnavel da Fé. São os homens
Estado? que se affastam da Igreja, que menosprezam suas doutrinas,
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – ...e que se algum que desejam vêr a sua ruina, os mesmos que ousam dar-lhe
defeito se póde notar é, por exemplo, por haver um ou outro conselhos, os que lamentam a sorte da divina filha do Christo!
sido mais positivo no desempenho dos deveres episcopaes Diz ainda o nobre senador continuando o seu discurso:
nesta época de frouxidão religiosa. Mas será um grande «Os bispos das dioceses do Rio de Janeiro, Rio Grande do
defeito o accelerar mais ou menos o movimento no Sul, Pará e Pernambuco, attribuindo ao Soberano Pontifice o
cumprimento dos seus deveres, e deveres tão arduos? Que direito de vigilancia e de reforma sobre todos os actos, sobre
no estado tão pouco lisongeiro de nossa sociedade se taxe de todas as leis e medidas que mesmo indirectamente possam
rigorista o procedimento mais normal, que chame mesmo uma interessar a fé e a moral christã, proclamam a omnipotencia
imprudencia, admitto; mas que cause sobresalto o que os do Soberano Pontifice, tanto no temporal como no espiritual,
bispos fazem á familia que é verdadeiramente catholica, isto na ordem politica, como na religiosa, etc.» Ora se S. Ex. não
não se comprehende e não tem explicação. Mas sobresalto tivesse ido estudar a Heidelberg, e não se achasse tão
em que, se nada ha de extraordinario, se a doutrina é envolvido nas nebulosidades germanicas, não poderia com
perfeita? Os que não seguem a mesma crença, como, que fundamento dizer que executar uma bulla da Santa Sé é
fundamento tem para inquietarem-se? entregar as sociedades temporaes ao governo directo do
Mas deixemos isto. S. Ex. incommodou-se com o Papa. Que omnipotencia tiveram os Papas sobre o poder
futuro da igreja brasileira por causa da condemnação das temporal? Em que tempo? E’ uma these que eu desejava ver
doutrinas de dous jornaes no Pará, facto que apreciarei mais sustentada. Em nenhum tempo. Sempre a Igreja respeitou a
adiante. orbita do poder temporal.
Pelo que o honrado senador expoz, S. Ex. affasta-se O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – No seculo, creio que
inteiramente das doutrinas catholicas. Mas são precisamente XVI.
aquelles que se acham nestas condições que mais se O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Eis aqui como V.
sobresaltam com a sorte da igreja brasileira e portanto da Ex., permitta que lhe diga, se mostra tão atrazado na historia
igreja universal de quem esta é filha. Sobresalto facticio e em da Igreja.
desaccordo com as aspirações que revelam. O terror vem do O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Póde ser...
facto contrario. Assim, por exemplo, Luiz Napoleão, que o O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Pois qual foi o tempo
nobre presidente do conselho aqui apresentou como alliado do em que a Igreja brilhava, não por influencia que ella quizesse
Papa sobresaltava-se com a sorte da igreja universal e com o exercer despoticamente sobre os Reis e sobre os povos, mas
governo do Papa, a quem procurava dar conselhos que não pelas virtudes heroicas daquelles que a dirigiam e a serviam?
eram solicitados e nós vimos a maneira porque elle acabou. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – De
Esse famoso hypocrita, talhado á Juliano, que não sabia Alexandre VII...
governar-se a si e nem ao povo francez, queria dar conselhos O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Em 257 Papas que
ao Papa, e os dava a seu modo: mostrava-se condoido pela tem havido, Sr. senador, encontrar-se-hão quatro ou cinco,
sorte da Igreja e poderosamente concorria para acabar com a uma dezena quando muito, que não tenham merecimento, que
sua existencia na Italia, com o sacrificio do poder temporal. mesmo se macularam com vicios e crimes, mas não ha
Carbonario em 1831, concorria com seu irmão ao cerco de dynastia alguma no mundo que apresente em tanta
Civitta-Castellana. quantidade homens tão dignos e tão respeitaveis.
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Foi como soldado O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – E não
sustentar o Papa. foram infalliveis?
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Pelo contrario: alli
não foi sustentar o Papa, mas atacal-o. Posteriormente se Luiz
Napoleão não governasse um paiz como a França, em que a
influencia catholica é poderosa, por seu gosto não mandaria
para Roma um só soldado. Basta attender-se
208 Sessão em 24 de Maio

O SR. MENDES DE ALMEIDA: – A impeccabilidade senador ausente que o diga, um desconhecimento completo do
nada tem que vêr com a infallibilidade baseada nas promessas que é a excommunhão catholica.
do Redemptor... Senhores, é preciso dizer alguma cousa sobre este
O SR. FIRMINO: – Apoiado. assumpto, que corre o mundo desvirtuado; em prejuizo da
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – ...são cousas verdadeira doutrina. Confunde-se o dogma de unidade da Igreja,
inteiramente differentes. As promessas de Christo foram feitas a não se distinguindo a unidade de fé e a unidade de communhão,
um pobre pescador de tanta fraqueza que o negou trez vezes. O não se descrimina bem o principio de que fóra da Igreja não ha
valor destas promessas repousa na virtude divina que lhe traçou salvação, principio que só tem applicação em certas e
as raias do seu horisonte, mas dista muito do valor, do determinadas circumstancias, Outro tanto se tem feito com a
merecimento do homem ainda o mais virtuoso: por si, por seus censura da excommunhão, entendendo-se que quem a irroga
meritos, o homem pouco vale. decreta deste mundo penas do inferno.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Este Na Igreja, como sabem os nobres senadores, ha tres
pescador começou a valer alguma cousa de então em diante. ordens de bens espirituaes, os quaes são nella communs. Os
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Por certo. Principiou a primeiros são os que procedem do chefe que é Nosso Senhor
valer depois do crucificamento de Christo, quando a verdade Jesus Christo, e cuja distribuição depende absolutamente de sua
triumphou, e o mal foi domado. bondade e misericordia. Destes bens a Igreja não póde privar a
Mas, diz aqui o meu honrado collega (lendo): «O governo fiel algum, nem pela excommunhão, nem por outra fórma.
parece que se acha estupefacto diante de um tão grande Segundo a nossa doutrina, a Igreja suppõe sómente a privação
acontecimento!» Ora, o Sr. presidente do conselho será homem da graça no que por seus peccados mereceu que ella o
para ficar estupefacto e timido por insignificancias desta ordem excluisse, do seu gremio, o excommungasse em summa; de
quando nós o temos visto com tanta pujança sustentar aqui e na modo que se o excommungado não fôr culpado, ou a pena
outra casa tantos combates, e ainda se conserva no governo? E’ assentar em um facto que não é criminoso, fica sem effeito, e o
uma injustiça que eu não posso consentir que se lhe faça. Ahi censurado continúa unido ao corpo da Igreja pela caridade
tomo eu a defeza do honrado presidente do conselho, é commum, e neste estado merece sua salvação, se por outra
valentissimo! circumstancia não perdel-a.
«Intolerancia religiosa dos bispos» accrescenta ainda S. Na segunda classe de bens communs estão os de que a
Ex. Igreja é depositaria como os sacramentos, e de que os fieis que
Intolerancia religiosa dos bispos quando qualquer delles estão em sua communhão podem aproveitar, porque ella é a
antes de tomar uma resolução que interesse a salvação de suas dispensadora, e cuja perda, pela exclusão do gremio, póde
ovelhas, aconselha e manda admoestar o fiel que se affasta do prejudicar a salvação, o que depende da vontade do proprio fiel.
gremio da Igreja, das suas leis para voltar ao aprisco; e esse São estes os bens que provém do corpo da Igreja.
catholico, esse filho da Igreja, surdo a todos os conselhos e Ha ainda em terceiro logar os bens espirituaes que tem
exhortações, resiste pertinazmente a tudo, e a todas as sua fonte nos membros da Igreja, como as orações, os
observações? E’ intolerante quem assim procede? Onde o rigor suffragios e as boas obras de cada christão em particular, que
e o vexame? pelo meio da communhão dos santos aproveita mais ou menos a
Pois se vós não quereis obedecer á Igreja, esgotados cada fiel. Destes bens não póde a censura e a excommunhão
todos os meios de brandura, o pastor não tem outro remedio privar aos fieis.
senão impor-vos uma pena advertindo-vos de vosso dever. Do que fica exposto se conclue que não póde ser
E que pena, Sr. presidente? condemnado pela Igreja o infiel, nem o scismatico, nem o hereje
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – A sahida da que por ignorancia invencivel desconhece a fé; o chefe da Igreja,
irmandade, pena temporal... Christo, póde salval-os, se entender que tem meritos. Suas
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Em que é isto mãos estão perfeitamente livres. Não estão no mesmo caso os
intolerancia? Pois é intolerante o empregado que executa uma que se separam voluntariamente da verdadeira Igreja
lei? E com os temperamentos com que procedem os bispos? (scismaticos), e ainda os que oppoem pertinaz resistencia á uma
Esta expressão intolerancia não é correcta. E’ decisão doutrinal da mesma Igreja (hereges), por quanto
inapplicavel para o caso; o bom senso o está dizendo. excluidos da unidade de fé, e de communhão, fóra do gremio da
«A melhor arma da Igreja, diz S. Ex., é a persuasão.» fé, atiraem as penas que o Salvador decretou, e de que podem
Sem duvida; é o que ella sempre tem feito. Não applica uma libertar-se por facto proprio até os ultimos momentos por um
pena sem primeiro chamar o fiel por meio de extrema brandura simples acto de obediencia.
ao cumprimento do seu dever. E na questão vertente, á despeito E’ por isso, Sr. presidente, que a Igreja incessantemente,
da pertinacia dos infractores, apenas os bispos applicaram a e até o fim de sua carreira neste mundo, chama o fiel refractario
censura do interdicto, que não exclue do seu gremio. e lhe diz:
Mas, accrescenta S. Ex: «O que pretendem, o que «Se não quereis seguir as doutrinas prégadas por Jesus,
querem é, com o terror que porventura possam infundir em e de que sou depositaria, vejo-me forçada a recusar-vos os bens
espiritos fracos, com as penas de inferno decretadas neste de que sou dispensadora.» Isto é, separa-o em ultimo caso da
mundo...» Ora esta!... communhão completa da Igreja; as consequencias deste acto
Se o honrado senador não fosse educado em correm por conta do delinquente, que a todo o momento póde
Heidelberg, eu ficaria ainda mais maravilhado. Pois ha alguem inutilisar a decisão. A Igreja está sempre prompta a acolher o
neste mundo que em nome da Igreja Catholica decrete penas filho transviado.
para se ir soffrer no inferno? Não ha, isto é, perdôe-me o Mas será isto, Sr. presidente, decretar penas para o
honrado
Sessão em 24 de Maio 209

outro mundo? Não, porque o supremo Chefe da Igreja póde palavra imprudente que proferiu é ainda um peccado contra o
absolver aquelle que houver sido injustamente condemnado, Espirito-Santo, e destes que não se perdoam.
pois em materia do facto não ha infallibilidade. Isto é dos O SR. FIRMINO: – Apoiado.
livros, aprende-se em qualquer obra de direito canonico. O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ a presumpção de
Como pois dizer-se que os Papas na Igreja Catholica poder salvar-se sem o mediador estabelecido na Igreja. Póde,
decretam penas para o inferno? O honrado senador é é verdade, o que estiver fóra a Igreja por ignorancia invencivel,
desculpavel por este erro que proferiu, em vista da fonte onde alcançar sua salvação por misericordia divina; mas não pôde
bebeu-o; fez á Igreja uma injustiça que não merecia. ter sahindo deste mundo certeza de sua salvação, como tem
E a este respeito, Sr. presidente, vou citar uma aquelle que vive de conformidade com as leis da Igreja. Ao
anecdota, bem curiosa, que ainda friza melhor a questão. menos o que sae de conformidade com a Igreja leva comsigo
Quando Pio VII se achava em Paris, em 1804, o a consolação de que os seus peccados lhe serão perdoados,
primeiro Napoleão exigiu que todo o funccionalismo lhe fosse mas não aquelle que confia somente em si, no orgulho da sua
render homenagem nas Tulherias onde o Papa residia. Coube razão, e que resiste pertinazmente a todos os conselhos que
a sua vez a M. Marron, que era presidente do consistorio nossa Mãe, a Santa Igreja lhe dá.
calvinista. Elle fez um discurso delicado, e em termos O meu douto collega, Sr. presidente, ainda insiste
convenientes, mas em um dos pontos do discurso disse: que nessa politica e nessa intervenção do poder espiritual sobre o
comquanto na sua qualidade de presidente do consistorio, não temporal. Eu já disse: não ha época alguma desde que a
tivesse direito á benção apostolica do Santo Padre, todavia Igreja foi estabelecida, em que o Santo Padre interviesse
julgava que Sua Santidade era demasiado caritativo para directamente no poder civil de qualquer estado.
expol-o ás penas do inferno, por quanto, Sr. presidente, o O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Chegou a
prejuizo da condemnação ás penas do inferno, decretada depôr principes e reis.
deste mundo é um daquelles que os protestantes, ainda O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Sem duvida, mas
mesmo os mais instruidos, em geral admittem. O Santo Padre vamos examinar reflectidamente a questão, de modo e razão
Pio VII replicou a este cumprimento, e com muito espirito, porque depunham; vamos ao mesmo caso que o nobre
dizendo que não reconhecia nos Papas semelhante senador a quem respondo citou aqui em referencia a S.
attribuição, e mesmo não lhe constava que Papa algum Gregorio VI, que S. Ex. não designou como santo, mas é ao
tivesse uma tal pretenção; e referindo-se a M. Marron, assim proprio S. Gregorio VII cuja festa celebra a Igreja amanhã, 25
respondeu sorrindo: «mas tambem acreditae que, se tivesseis do corrente. E’ o caso de Henrique IV da Allemanha.
a infelicidade de perder-vos, o que Deus não permitta, não me Qual era a lei que regulava o Imperio Germanico?
acharia habilitado para tirar a castanha do fogo.» Como já Nella se dizia que desde que o Imperador se affastasse da
notei o presidente do consistorio calvinista se chámava M. comunhão catholica, a pena seria a deposição. O Imperador
Marron. Fez nesta occasião o Papa um chistoso calembourg. germanico era eleito por varios principes catholicos, tanto
Já se vê, portanto, que os Papas não tem a pretenção, que seculares como ecclesiasticos e essa era lei corrente, aceita e
infundadamente lhes attribue o meu illustre collega, e nem reconhecida por todos.
bispo algum da Igreja Catholica, de mandar para o inferno Quem podia saber se o Imperador era ou não catholico
pessoa alguma, para cumprir penas decretadas neste mundo. para se lhe impôr a pena legal naquelle tempo em que a Igreja
Póde ser que eu esteja enganado. estava intima a perfeitamente ligada com o Imperio? Era sem
Portanto colloquemos a questão no seu verdadeiro pé duvida o Soberano Pontifice.
e saibamos o que é realmente a excommunhão catholica, E como procedeu o Santo Padre nessa occasião? Os
seus effeitos e applicação. Sinto estar fallando desta materia eleitores do Imperio, os principes Saxões e Suabios vieram
diante do meu nobre collega pelo Ceará (O Sr. Pompeu), sem para perto de Roma, em Tibur, congregaram-se e disseram:
duvida mais competente do que eu; peço-lhe mil desculpas e «Henrique IV tem faltado a seus deveres, como Imperador,
a correcção dos meus erros. nós por isso o queremos depôr, porquanto além de muitos
O Sr. Pompeu dá um aparte. crimes que tem praticado, accresce o de apostatar da fé,
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Saibamos, portanto, Henrique não é christão.» Ora, a historia o apresenta como
que excommunhão, ou maior ou menor, é, além de uma um dos peiores principes que tem havido. O que fez o Papa?
advertencia, uma censura, é mesmo uma penalidade para Disse: «E’ melhor esperar mais algum tempo, contemporisar,
obrigar o fiel a entrar no cumprimento dos seus deveres, a a ver se o principe cede de suas desarrasoadas pretenções.»
voltar ao gremio da Igreja. Ao delinquente recusa-se aquelles Resolveram os eleitores congregar a dieta de Augsbourg,
bens que Jesus-Christo confiou á Igreja até que o refractario citando por ella o Imperador, afim de apresentarem suas
arrependido volte. Se elle não volta e pertinazmente resiste, a queixas e defender-se Henrique. O Papa prometteu estar
culpa pelas consequencias não é da Igreja, se no momento presente nessa famosa assembléa, confiando que alli
critico não se der bem lá por cima. terminaria o litigio.
Dirão alguns, como tenho ouvido dizer, e O que fez Henrique IV? Sabendo que seria deposto, e
nomeadamente o Sr. presidente do conselho que não se reconhecendo por outro ser esta doutrina perfeitamente
importam com a excommunhão, porque elles bellamente se regular, porquanto declarou (e não só elle como seu filho e
entedem com Deus (riso), e por consequencia estão muito e seu neto) que se faltasse ao imperante a fidelidade á Igreja
perfeitamente seguros. Lembro sómente a S. Ex. o Sr. era isto motivo sufficiente e legitimo de deposição...
presidente do conselho, cuja sorte muito me interessa, que a O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – A acção
do temporal sobre o espiritual.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Mas não era isto
resultado
210 Sessão em 24 de Maio

da lei ecclesiastica, era o resultado da lei civil do Imperio não só os povos, como a nobreza e o clero, principalmente
Germanico, que todos aceitavam e obedeciam: não ha depois do seu casamento com D. Mecia de Haro. Então os
influencia do espiritual sobre o temporal. Por conseguinte, o povos reclamaram á Santa Sé que como era a suzerana, lhes
que fez Henrique IV? Veio á Italia, entendeu-se com o Papa e désse um successor á corôa do Reino, e os Papas apenas
foi absolvido da accusação de apostasia; mas o Papa ainda deram um regente, que depois passou a reinar. Portanto os
lhe disse: «Apesar de tudo é conveniente que vos defendaes Papas como suzeranos estavam no direito daquella época; é
na dieta de Augsbourg.» Henrique IV julgando-se desobrigado preciso apreciarmos o facto conforme o direito que naquella
de comparecer á dieta pelo facto de sua absolvição, negou-se época existia e era por todos bem aceito. Foi um beneficio
áquella justa exigencia e a questão veio a decidir-se pelas para Portugal a solução dada pelo Pontifice, porquanto,
armas. comparado Sancho II com Affonso III, era seu successor muito
Ora, isto tem alguma cousa com a interferencia do melhor cousa. Isto consta da historia e, com as razões
Papa no dominio temporal? Elle era o juiz bem aceito e produzidas pelos honrados senadores nada se póde allegar
reconhecido por todos. Qual o juiz que naquelle tempo poderia contra o procedimento dos Papas.
dizer se Henrique IV era ou não catholico? Quem é o juiz das Se o Papa, como alguns escriptores dizem, quizesse
controversias entre catholicos! Não ha outro senão o Papa. ser senhor do mundo naquelle tempo, tel-o-hia sido; mas o
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – O nobre Papa não queria isto, outra era a sua missão; limitava-se
senador pelo Maranhão citou a deposição de D. Affonso de quando muito a ser suzerano de alguns estados que
Portugal. solicitavam essa vassallagem por commodidade propria, e
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não foi elle quem mediante o tributo insignificante, como era o de Portugal,
citou, está V. Ex. enganado; quem citou foi o honrado senador quatro onças de ouro. Essa vassallagem era mais facticia que
pelo Espirito Santo, o qual não se referiu a D. Affonso, mas a real, e era unicamente no interesse dos principes e não no do
D. Sancho II, o capello. Direi ainda duas palavras sobre este Papa.
facto; era uma resposta que eu pretendia dar ao honrado O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Governava
senador pelo Espirito Santo. pois no temporal e muito.
D. Affonso Henriques nunca seria Rei de Portugal, se O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Uma das queixas de
não fosse o acolhimento que lhe prestou o Papa, não Machiavel contra os Papas era de não terem creado na Italia
simplesmente como chefe da Igreja, mas pela influencia que um grande estado, em que fossem chefes tanto no temporal
sua alta posição e suas virtudes lhe haviam adquirido. como no espiritual. Nunca os Papas tiveram semelhante
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Então pretenção; tudo quanto lhe assacam neste sentido é
fazia reis e depunha. infundado, não passa de historias dos defensores do
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – São cousas que se cezarismo morarchico, dos homens que se apoiavam no
discriminam perfeitamente, e a antiga sociedade bem o direito romano, e queriam fazer do monarcha christão, um
comprehendia. O Papa não impoz condição alguma ao monarcha cezarista.
nascente Reino de Portugal. D. Affonso Henriques que queria O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado.
ser Rei, passando de vassallo a principe independente, não O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Nunca o poder
tinha forças para resistir a seu competidor e suzerano o Rei de temporal deixou de ser mui acatado pelos Papas dentro de
Leão, precisava de apoio e apoio poderoso, por isso procurou sua orbita, allegar-se o contrario é traduzir mal a historia, é
o Papa e disse: «Quero ser vosso vassallo, ou antes da Santa não aquilatar os factos de conformidade com as doutrinas da
Sé, como era o direito daquella época, vassallagem mais época em que occorreram, ou desejo unicamente de injuriar a
ficticia que real: assim aconteceu na Inglaterra, em Napoles e Santa Sé. Passarei a outro ponto.
outros paizes, mas não era negocio em que a Igreja, como Ha aqui (lendo) um topico a respeito da bulla
poder espiritual, interviesse. Eternipatris, que tambem adduziu em pró de sua these o
Foi porventura no interesse da Igreja que D. Affonso honrado senador pelo Maranhão, mas de que eu prescindo,
Henriques procurou o Papa quando se lhe apresentou e disse: porque magistralmente delle occupou-se o nobre senador pela
«Quero ser vosso vassallo e pagar de tributo quatro onças de Bahia (o Sr. Zacarias). Pela analyse que fez S. Ex. ficou
ouro?» Não foi; D. Affonso procurou a protecção do Papa provado que o honrado senador pelo Maranhão não tinha
como um auxilio para tornar-se independente e consolidar a prestado séria attenção áquelle documento, que não dizia o
revolução que fez, fugindo á vassallagem do seu suzerano. A que S. Ex. enxergava.
de Roma por muitos motivos lhe era mais conveniente. Elle Tratando do concilio do Vaticano que proclamou o
arcava contra o dominio leonez ao Norte e ao Oriente, tinha ao dogma da infallibilidade do Summo Pontifice, assegurou ainda
Sul os musulmanos que o não deixavam parar; mas desde o honrado senador pelo Maranhão que era esse facto tambem
que se declarou vassallo da Santa Sé consolidou a paz com uma prova de que se queria estabelecer o regimen da
Leão, e foi quando muita gente accudiu de diversos pontos da theocracia! Oh! senhores, como de semelhante circumstancia
Hespanha e da Europa, e lhe ajudaram e a seus successores deduzir-se essa conclusão? E’ ainda mais uma nebulosidade
a firmar a nova monarchia. E depois esses reis que recebiam germanica o assegurar-se que o dogma da infallibilidade do
esse notavel beneficio insurrecionaram-se contra os Papas e Papa tinha por fim crear uma theocracia. Pois o Papa não era
tinham legistas para sustentarem estas pretenções! antes infallivel? Quantas vezes não decidiu elle por si só
O que aconteceu com Sancho II? Era um principe que questões de fé? Podia concilio algum ter validade sem que o
se comportara pouco dignamente e contra o qual se Papa o approvasse? Não ha um concilio que não tendo a
indispozeram assignatura do Papa, valesse e fosse considerado ecumenico
e legitimo, essa formalidade era indispensavel. Ora, como é
que mantendo-se
Sessão em 24 de Maio 211

essa situação, nunca houve theocracia antes, e só depois do não existe nem poderia existir, menos lá pela resistencia dos
concilio do Vaticano é que se teme a realisação de racionalistas, porque estes são os maiores theocratas
semelhante systema de governo? E com que meios, Sr. possiveis; estes é que querem a confusão dos poderes, o
presidente, realisar tão insensata empreza? predominio de uma deusa chamada razão e para por ella
(Ha um aparte). governarem os Estados e estabelecerem religiões de
A doutrina da infallibilidade do Papa é uma doutrina conformidade com as suas doutrinas, esses é que querem e
antiquissima, generalisada na Igreja, e de outra sorte nunca tem interesse na confusão dos dous poderes, que Nosso
poderia ser declarada dogma, porque a Igreja não cria Senhor Jesus Christo bem e perfeitamente descriminou.
dogmas, ella define-os, porquanto existem no deposito da fé Queixa-se o nobre senador do que os bispos não
de que a Igreja é o guarda, o fiscal. Esses artigos de fé não reconhecem o placet, mas os bispos não teriam talvez
seriam definidos como dogmas se não tivesse havido quem duvida, de reconhecer o placet, se acaso o § 14 do art. 102
os viesse pôr em duvida. da constituição não fosse entendido de uma maneira
Foram os gallicanos os que levantaram a questão de inteiramente opposta ás doutrinas da Igreja. E' na maneira de
que o concilio era superior ao Papa, e de que este não era apreciar o § 14 que está toda a dissidencia.
infallivel como todos os monumentos da antiga igreja e Desde que o legislador constituinte estabeleceu
posteriormente depunham, e bem o provou Rocaberti no aquella disposição é porque entendia que podia e devia estar
principio do ultimo seculo. Foram elles que sustentaram de accordo com o art. 5º; e não póde ser de outra maneira
essas e outras questões da mesma procedencia que entendida aquella disposição, se se quer que o placet seja
atormentaram a catholicidade nos seculos XVI, XVll e XVlll obedecido em consciencia por todos os catholicos deste
mas a doutrina orthodoxa e corrente em toda a Igreja, lmperio; porquanto, apreciado no sentido opposto de
exclusive a França nessa época, foi sempre essa. Em quererem os fieis reunidos nas duas camaras, no conselho
França, o reforço que os jansenistas prestaram aos de Estado e no ministerio entender o § 14 restrictamente, não
gallicanos, deu a esse erro um grande corpo, maximo pela poderá o governo encontrar a obediencia que todos nós
influencia que esse notavel paiz exercia na Europa, mas devemos á lei com o pleno assenso da consciencia.
mesmo alli a despeito das doutrinas do governo, a boa Entendido no sentido restricto e rigoroso não poderemos
doutrina conservara muitos adherentes, não fallamos hoje. consideral-o como uma disposição justa, entenderemos
Portanto, onde e a que fim vem essa theocracia, cujo sempre que é uma disposição anti-catholica, e mesmo
phantasma é apresentado para aterrar as almas fracas? absurda, attentatoria da liberdade e independencia da Igreja.
E, senhores, fallemos claro, theocracia, se ha, se rege Ora, nós temos na constituição quatro disposições
alguma parte do mundo, é fóra do catholicismo; a doutrina relativas ao assumpto religioso, sendo a principal a do art. 5º,
christã desde que nasceu acabou com o regimen theocratico. das quaes a unica que está em desaccordo é o § 14,
Nem mesmo havia esse regimen nos Estados da Igreja, entendido como quer o nobre senador pelo Maranhão e
porque o Papa não os administrava confundindo a orbita explicado por elle.
temporal com a espiritual. Tudo alli se achava perfeitamente O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Pela
descriminado, os estabelecimentos do regimen ecclesiastico razão.
não se confundiam e misturavam com os civis. O SR. MENDES DE ALMEIDA: – A razão ahi está
Em summa, Sr. presidente, desde que Nosso Senhor fóra. Diga-me S. Ex., que me honra com o seu aparte, se a
Jesus Christo estabeleceu a distincção entre os dous palavra nomear bispos do § 2º art. 102 importa o mesmo que
poderes, nunca mais houve governo theocratico, nomear magistrados?
propriamente tal, entre bons christãos. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Digo que
Os governos theocraticos existiam no antigo sim.
paganismo, onde os dous poderes viviam sempre O SR. ZACARIAS: – Não.
confundidos; e que governo mais theocratico do que o da O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Tanto não é a
antiga Roma, onde não se podia dar um passo na mesma cousa que nunca se executou por essa fórma.
administração publica sem um sacrificio, sem consultar os O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Digo que
deuses e os animaes sagrados? A todo momento havia sim.
sacrificios, havia consultas á divindade. Todos os governos O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Se nomear bispos é
da mythologia antiga eram radicalmente theocraticos; e o mesmo que nomear magistrados, então digo que quem
posteriormente os cultos estranhos á Igreja continuam a sel- nomeia o delegado e o subdelegado é o chefe de policia e
o; sirvam de exemplo os estados mahometanos, o governo não o presidente de provincia.
da Inglaterra em que a Rainha é quem decide do dogma, e O SR. ZACARIAS: – A faculdade de nomear bispos
na Prussia onde o Imperador da Allemanha e Rei daquella não é delegação da nação.
nação é o chefe da religião evangelica. Nesses estados ha O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Insisto nesta
theocracia, porque o chefe do Estado resolve as questões apreciação para mostrar que devemos entender a disposição
tanto no temporal como no espiritual. Governo theocratico é o do art. 102 § 14 da constituição de accordo com o art. 5º. O
do Czar da Russia, é o do Sultão de Constantinopla... art. 5º é que é o regulador. Nomear bispos, tanto não póde o
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – E’ o do Mikado do governo fazer, pois tantas vezes tem apresentado bispos e o
Japão. Papa nomeado. E nomea o governo bispos por ventura
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – ...é o do Imperador porque o povo o autorisasse para isto? Não; nem o povo lhe
da China. No regimen do christianismo não é possivel o poderia dar semelhante direito, porque não o tem.
governo theocratico, ha distincção bem pronunciada dos O nomear aqui, cumpre attender, é o nomear no
dous poderes, e essa distincção se deve a doutrina do Cristo. sentido do nominare latino equivalente a apresentar.
Portanto, esse terror inculcado de theocracia é todo Prover beneficios ecclesiasticos é o mesmo que
imaginario, prover os
212 Sessão em 24 de Maio

empregos civis? Não; e tanto não é, que é necessario materia. Ora a consciencia nos diz, que é demasiado absurdo
apresentar os parochos ao bispo, para o bispo, dar-lhes a que o principe defina se um breve, uma bulla, etc, devam ser
collação, pois sem essa formalidade o parocho é impossivel. declarados nullos ou insubsistentes, mesmo como actos da
Por conseguinte, quando quizermos entender a constituição autoridade ecclesiastica.»
em materia religiosa, o artigo regulador é o 5º. Ora o que diz este notavel escriptor tinha-o
O SR. ZACARIAS: – Apoiado. comprehendido a constituição de 1848 do Piemonte, que hoje
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Então é a constituição do Reino da Italia. O placet entendido como
comprehende-se a razão do placet, o placet neste sentido é querem os que o defendem, rigorosamente, é hoje além de
aceitavel e admissivel porque não nullifica o outro poder, O absurdo, anachronico.
principe ou governo recebe as bullas e as faz publicar para Eis aqui, Sr. presidente, um autor bem liberal, bem
melhor defender a religião que jurou manter. racionalista o que diz a respeito do placet; e o governo
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Sem arrogando-se uma pretenção insustentavel deverá collocar as
exame, sem conhecimento? consciencias dos catholicos na alternativa de obedecer á sua
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Mas que exame, religião ou ás prescripções civis...
que conhecimento? Por ventura já houve da parte da Igreja O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – A
alguma invasão? Não ha exemplo de nenhuma invasão, e constituição o ordena.
nem póde haver, porque a doutrina catholica é invariavel. O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Como ordena no
Essas imaginarias invasões foram creadas pelos defensores caso de nomear bispos, como ordena no caso de prover
do cesarismo monarchico, aproveitadas hoje pelo cesarismo parochos e empregados ecclesiasticos. E' por esta forma que
democratico: essas injuriosas suspeitas contra a Santa Sé a constituição ordena. Não se póde entender a constituição
foram inventadas por elles. em assumpto religioso senão pelo artigo regulador que é o
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Então o art. 5º.
placet é desnecessario. O nobre senador pelo Maranhão tambem tratou da
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ nullo e inefficaz; condemnação de um ou dous jornaes do Pará, o Pelicano, o
mas havia uma inconveniencia aqui, em um paiz catholico, e Santo Officio e não sei qual outro.
é esta: o governo que se obrigou a manter a religião O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – O Liberal.
catholica, deve saber quaes são as peças reaes e O SR. MENDES DE ALMEIDA: – S. Ex. não entrou
authenticas publicadas pela Santa Sé para que todo o povo no exame miudo desta questão, ella foi tratada pelo honrado
as conheça e as respeite; e o governo do Estado mais que senador pelo Pará, o qual nos disse que era um attentado
ninguem dispõe dos maiores meios de publicidade, e contra a liberdade da imprensa a prohibição que o bispo do
interessa em que taes leis sejam bem conhecidas. Pará fez da leitura destes jornaes. A argumentação de S. Ex.
Não é para examinar, porque em materia dogmatica consistia na seguinte: «A constituição permitte a liberdade da
não podemos exercer exame, e para que? imprensa; ora, se não houver quem leia os jornaes, essa
O SR. ZACARIAS: – Que competencia tem o governo liberdade não se torna effectiva; logo a prohibição da leitura
para isso! de um jornal é opposta á liberdade da imprensa. «De maneira
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não tem que conforme a argumentação de S. Ex. o pae de familia que
competencia nenhuma. E ocioso seria um tal exame sem prohibir a leitura de um livro ou jornal a seu filho deverá ser
expôr o paiz a mudar de religião, o que, em vista do art. 5º, punido e ir para a cadêa, porque oppõe-se á liberdade de
não se póde presumir. imprensa; o professor ou director de educação de qualquer
Tanto é exacto o que acabo de dizer a respeito do moço se lhe fizer uma tal prohibição, tambem está no caso
placet que os racionalistas modernos já o abandonaram, do bispo, está exposto á mesma penalidade, deve ir para a
tanto lhe sentiram o absurdo. Peço licença ao senado para cadêa! E’ um novo direito ao trabalho.
lêr uma passagem de um escriptor italiano Boggio, a respeito Mas, diz S. Ex: «E’ um direito que dá a constituição.»
do placet. Esse escriptor que ninguem qualificará de amigo Mas o direito que consagra o legislador não vae ao ponto de
da Igreja, em sua obra a Igreja e o Estado no Piemonte, crear leitores para todas essas peças, que a doutrina
publicada em 1854, emittiu esta opinião sobre o placet (Lê). catholica ou a moral christã repellem. O direito é que
«O exequatur ou placet de nada serve, onde reina a ninguem embarace a qualquer pessoa de escrever o que
liberdade da imprensa. O exequatur tem sobretudo por fim entender em manifestação de suas idéas, porque o Estado
impedir a publicação dos actos do poder ecclesiastico, que não previne os crimes, pune-os; isto eu comprehendo; mas
parecessem ao poder Laical perigosos ou illegitimos.» dahi a crear um viveiro de leitores para quaesquer
«Com a liberdade da imprensa, os jornaes podem dar publicações, immensa é a distancia.
publicidade á bulla ou breve, não obstante não ter o Mas agora digo a S. Ex: o Estado tambem garante a
exequatur. E como não é da fórma da promulgação, mas do religião catholica no art. 5º, os bispos teem a obrigação de
conhecimento que se tem do acto, que deriva para os fieis a affastar suas ovelhas dos máos pastos, e bem se vê que
obrigação de obedecer ás prescripções da autoridade elles não o podem fazer de outra maneira senão dizendo:
ecclesiastica, segue-se que o exequatur é perfeitamente «Isto é máo», ou taes doutrinas são reprovadas.
inutil.» O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Mas não
«Os fieis não podem, nem querem, nem devem prohibindo.
referir-se ás decisões da autoridade politica, para saber se O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Elles teem
devem ou não observar essa prescripção da Igreja, sua jurisdicção para fazel-o; podem impôr essa prohibição,
propria consciencia é o unico juiz competente em semelhante porque é a
Sessão em 24 de Maio 213

sancção do direito que se lhes não contesta de condemnar os que não tiverem confessado e reconciliado com a Igreja,
os máos livros, o que implicitamente é prohibição, o que por que recebendo este sacramento em taes disposições,
toda a parte se tem admittido. commettem uma grave falta diante de Deus».
Temos por consequencia dous direitos em frente um Eis aqui, Sr. presidente, o bispo intolerante que quer
do outro; qual é delles o mais precioso? porquanto não ha avassallar o Estado, e entregal-o de mãos atadas ao Santo
direito contra direito. O mais precioso é sem duvida aquelle Padre!
que tem por fim amparar a liberdade dos fracos e illettrados, Continuando accrescenta o nobre senador: «só terá
garantir a moral publica como fazem os bispos: e tambem sepultura ecclesiastica o maçon que antes de morrer se
ainda por outra razão. Os racionalistas não querem que a reconciliar com o seu bispo, isto é, o que perjurar. Ora, Sr.
Igreja possa funccionar senão dentro da orbita do puramente presidente, a sepultura ecclesiastica é um dos bens de que
espiritual: ora o puramente espiritual é um absurdo, porque a dispõe a Igreja; o fiel transviado que resiste a todas as
Igreja foi feita para este mundo e não para os espiritos, admoestações, que não quer sujeitar-se á lei da Igreja póde
porquanto esses não precisavam do sacrificio de Christo. julgar-se offendido se essa sepultura lhe fôr negada?
Mas admittamos o puramente espiritual por um momento. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – O que é
Neste caso digo eu o bispo, quando lavra essa prohibição, é sepultura ecclesiastica? Não são as dos cemiterios
com destino aos puros espiritos, que estão sob sua municipaes?
inspecção; os corpos entregues ao poder que dispõe da O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Que cemiterios
força, interessa com a leitura dessas boas peças, gosam da municipaes?
mais franca liberdade, não são prejudicados pela pastoral. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Todos
Este argumento lembrado pelo nobre senador pelo são municipaes.
Pará é novo, pois em parte alguma do mundo tem sido O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Todos não; o
lembrado, e os bispos teem usado desse tremendo direito, no mundo catholico tem entendido ao inverso de V. Ex e a prova
parecer de S. Ex. é que em Paris, por excepção unica, ha cemiterios nessas
Continuando na analyse das proposições proferidas condições a que V. Ex. allude, mas em toda a França os
pelo honrado senador pelo Maranhão, farei sobre este topico cemiterios catholicos são separados dos outros. A lei civil
mais uma observação. ainda da época da primeira revolução o tem admittido. Lá o
Accrescenta S. Ex. que quando o illustrado bispo do governo e as municipalidades tiveram o bom senso de
Pará condemnou o Pelicano e outros jornaes, havia dito que mandar crear cemiterios proprios para todos aquelles que
só teria absolvição do sacramento o maçon que fosse não faziam parte da communhão catholica; aqui, pelo
perjuro. Parece-me que um tal modo de expressar-se é contrario, achou-se que era mais expedito e mais commodo
improprio do senado, é mister que nos conservemos no mandar-se profanar os cemiterios para se abrir sepulturas
terreno da exactidão quando fizermos nossas censuras. aos não catholicos, quando a obrigação era não offender os
Quando vimos aqui fazer uma accusação a qualquer direitos e os escrupulos dos catholicos, e mandar-se fazer
individuo, sobretudo a um que se acha na posição de principe cemiterios para os outros religionarios que não commungam
da Igreja, deve-se meditar duas vezes antes de arriscarmos nas mesmas idéas, e não dão ás cerimonias funebres a
uma censura, como a que S. Ex. fez ao bispo do Pará sem importancia que nós damos.
provas. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – E’ deixar
Pois o homem que ouve os conselhos da Igreja é insepultos os cadaveres onde não podesse haver outro
perjuro? O bispo podia dizer isto? Tanto não o podia dizer cemiterio pela pequenez do logar.
que na sua pastoral a respeito da maçonaria lê-se cousa mui O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E a culpa seria da
differente da proposição do honrado senador. Tenho aqui a Igreja?
Boa Nova, onde vem textualmente as declarações do bispo.» O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Sem
«Poderá receber validamente a absolvição duvida.
sacramental todo o membro da maçonaria que fizer O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não, porque a
promessa sincera de abandonar para o futuro, inteiramente e Igreja não póde responder senão pelo que faz; a culpa é do
para sempre esta sociedade. Sem esta promessa fôra nulla a governo civil que opportunamente não providenciou sobre
absolvição, e o penitente commetteria um sacrilegio.» esta necessidade, e cabe a V. Ex. em grande parte, porque
Já se vê pois que não diz o bispo que o maçon seja tem sido ministro mais de uma vez, e nunca se lembrou disto.
perjuro voltando ao gremio de sua Igreja, que aliás, não O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Creio que
permitte taes juramentos. Os que se fizerem, contrarios á sua póde-se enterrar perto uns dos outros sem brigarem, e sem
lei, são radicalmente nullos. que deixem de comparecer no fim do mundo ao juizo final.
Censurando o digno prelado disse mais o nobre O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Até aqui as
senador: «só poderá casar o maçon que perjurar, isto é, que censuras contra o bispo do Pará; vamos examinar as
se reconciliar com o seu bispo.» Uma proposição desta dirigidas ao da diocese do Rio Grande do Sul. O nobre
ordem lançada em um jornal, que não tem a grave senador pelo Maranhão tambem o accommette, e porque?
responsabilidade que tem o senador do lmperio, poderia Eu lerei a accusação (Lê).
passar sem reparo; mas que um senador adopte-a, e aqui «Chamo tambem a attenção do governo para o
reproduza-a, não parece-me regular, conveniente, acho muito procedimento do bispo do Rio Grande do Sul, que sae da sua
improprio. Eis aqui o que diz a pastoral. diocese, abandona o seu rebanho quando e como bem lhe
«Ser-lhe-ha tambem concedido o sacramento do parece, e vae á Europa e provincias do Norte, onde demora-
matrimonio em attenção a outra parte que fica unida á Igreja se o tempo que quer! Julgando-se desligado, pelo facto de
e não perdeu seu direito nos sacramentos. Lembre-se, ser bispo, de seu juramento ao soberano da nação, só se
porém, reconhece subdito do Papa! Se a assembléa provincial
214 Sessão em 24 de Maio

lhe pede informações sobre assumptos de sua competencia, exigia; podia dar algumas dessas informações
elle, fazendo praça do maior desprezo pelos poderes amistosamente, e mais nada. Em vista do requerimento que
constituidos, responde-lhe com descortezia sem igual, dirige- se fez, o presidente da provincia podia prestar algumas ou a
se ao corpo legislativo provincial como de superior para mór parte das informações que pedia a assembléa, a qual as
inferior e com intoleravel sobranceria!» exigiu como que só para se mostrar superior ao bispo. A
Quantas inexactidões e quanta injustiça neste thesouraria de fazenda tinha assentamentos que podiam ser
pequeno trecho! communicados á assembléa acerca do numero de parochos
Este ponto já foi tratado muito bem pelo honrado e despendio que faziam, pois sem necessidade se
senador pela Bahia, o Sr. Zacarias, e, poderia dispensar-me incommodava o bispo. Com uma simples certidão das
de occupar-me delle. Mas sempre direi algumas palavras no repartições civis ficava logo sciente a assembléa de quaes e
empenho de dar, sobre o assumpto, ao senado algumas quantos eram os padres que regiam as freguezias, se eram
informações. Aqui, nesta censura tão ampla, temos duas ou não encommendados, quaes os estrangeiros, etc.
questões: quem é competente para conhecer da residencia Mas o requerimento approvado na assembléa, ia
dos bispos? O bispo não é um empregado publico. muito além, exigia do bispo aquillo para que não tinha
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Eu digo competencia, e o prelado não podia legitimamente satisfazel-
que é funccionario publico. a. Pode-se confrontar os dous documentos.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Na generalidade Eu peço licença ao senado para ler a resposta do
talvez, porque o funccionario da Igreja tambem é funccionario digno prelado do Rio Grande do Sul não á assembléa
publico; mas funccionario temporal, não é. provincial, mas ao presidente da provincia, assim como o
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – E’. requerimento que lhe deu causa (Lê).
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Se é funccionario «Bispado de S. Pedro do Rio Grande do Sul. –
publico que lhe investe as funcções que exerce? Será o Palacio episcopal em Porto-Alegre, 27 de Março de 1873. –
governo? Mas o governo póde fazer bispos? Póde o governo Illm. e Exm. Sr. – Respondendo ao officio de V. Ex. com data
fazer cem magistrados, cem generaes, mas não é capaz de de 24 do corrente, no qual me faz ver que, para poder
fazer um bispo; se não é capaz de fazer um bispo, como é o satisfazer á requisição da assembléa legislativa provincial
bispo empregado publico? Não é, nem em parte alguma do constante do requerimento da mesma assembléa, que se
mundo é assim considerado. Se não fosse a limitação do dignou transmittir-me por cópia, eu houvesse de habilitar a V.
tempo, eu apresentaria provas de um paiz que nesta materia Ex. com os esclarecimentos que entendesse convenientes;
nos dá lições, a França. A magistratura franceza, que não cumpre-me dizer a V. Ex., que, lendo com attenção aquelle
poucas vezes se ha occupado desta materia, tem contestado requerimento, julgo em consciencia não poder, nem dever
aos empregados ecclesiasticos o direito de funccionarios dar execução ao que nelle se exige de mim.
publicos: ainda deste anno poderia citar alguns exemplos «Não escapará, por certo, á elevada intelligencia de
neste sentido, e por toda a parte assim é; só no Brasil é que V. Ex. quanto tem o mencionado requerimento de offensivo á
se pretende que o empregado ecclesiastico seja considerado independencia do poder espiritual...»
empregado publico. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Eis ahi.
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Tem-se O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Isto é
contestado poderem ser accusados sem consentimento do desabrimento?
conselho de Estado e do governo; isto, sim. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – E’
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – V. Ex. está desconhecimento do poder temporal.
enganado. As decisões francezas são as que notei e hoje O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não é
ainda mais força tem esta doutrina, porque a lei que regulava desabrimento e nem desconhecimento do poder temporal; é
essa materia, o art. 75 da constituição do anno VIII, a que V. defender as attribuições episcopaes invadidas pela
Ex. allude em seu aparte, foi revogada. Essa lei era do tempo assembléa provincial V. Ex. bem póde vêr no acto addicional
da Republica, pretendia-se utilisal-a em favor dos art. 10 § 7º um testemunho do que disse, isto é, que o bispo
funccionarios ecclesiasticos, e assim ligal-os ao dominio civil, não está sujeito á assembléa provincial, não é a ella inferior;
mas á essa interpretação sempre resistiu o tribunal de e não era preciso por tanto ir desencavar o direito canonico
Cassação. Ora, no tempo da primeira Republica, e mesmo no para demonstrar esta these. Continúo a ler. (Lendo):
primeiro Imperio, sempre foram os bispos exceptuados da «...de aggressivo ás attribuições episcopaes,
classe dos empregados publicos civis. O mesmo aconteceu inteiramente isentas e fóra da inspecção e exame da
na monarchia bourbonica, quando havia religião de Estado, e assembléa provincial.»
posteriormente. Collocada a questão neste pé, a solução fica «A digna assembléa parece laborar em um falso
bem patente. presupposto, que vem a ser assistir-lhe esse direito de
O bispo do Rio Grande, Sr. presidente, foi accusado inspecção e exame dos actos da administração diocesana.
de tratar com desabrimento e sobranceria a respectiva Esse direito não posso reconhecer-lhe, nem devo acceder e
assembléa provincial em uma resposta que deu. O senado consentir em tão manifesta exorbitancia. De outro modo seria
poderá apreciar a sem razão desta censura no documento trahir os deveres do eminente cargo que exerço e me foi
que aqui tenho e lerei: da sua leitura se verá se houve a imposto, não obstante minha indignidade; seria baratear e
inculcada sobranceria e dessabrimento da parte daquelle menospresar a soberania, direitos e prerogativas do poder
illustre prelado. espiritual, garantido em sua integridade pelo Estado, quando
O bispo não tinha obrigação de prestar informações á em seu pacto fundamental reconheceu como religião do
assembléa provincial e, maxime, da maneira porque se lhe Imperio, a catholica apostolica romana, com a justa e devida
tolerancia ás demais seitas e confissões christãs.
«Esses direitos, soberania e prerogativas eu devo
transmittir
Sessão em 24 de Maio 215

intactas aos meus successores, quaesquer que possam ser diocese de conformidade com os sagrados canones aceitos e
as calamidades que me sobrevenham em seu mantenimento recebidos como leis do Estado.»
e defeza.» «Confio na bondade de V. Ex. que me ha de relevar
Quero poupar ao senado a leitura de todo o officio, não produzir outros motivos de minha recusa, nem fazer
que é longo; transcrevel-o-hei no meu discurso com o consideração alguma sobre o espirito que presidiu á
requerimento. redacção do já mencionado requerimento.»
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – O bispo defendeu-se «Renovo a V. Ex. a segurança de minha perfeita
muito bem. estima e distincta consideração. – Deus guarde a V. Ex. –
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Eis o resto do Illm. e Exm. Sr. Dr. João Pedro Carvalho de Moraes,
officio: «Nenhuma das illustradas assembléas provinciaes do presidente da provincia. – † S. bispo do Rio Grande.»
Imperio, que me conste, em tempo algum, pretendeu Aqui tambem exaro o famoso requerimento que
fiscalisar os actos dos prelados brasileiros no livre exercicio habilitou o bispo do Rio Grande a dar sua judiciosa resposta.
de suas funcções, conservando-se todas dentro dos limites O senado aquilate a pretenção.
de sua competencia. Nenhuma lei que eu saiba confere esse Requeremos que se peça com a maior urgencia ao
odioso direito ás assembléas provinciaes.» Exm. Sr. presidente da provincia, informações sobre os
«Sómente a lei de 12 de Agosto de 1834 declara seguintes pontos:
como legitima a autoridade da assembléa para a divisão 1º Se os sacerdotes estrangeiros empregados nas
territorial ecclesiastica da respectiva provincia. Não se segue, parochias, freguezias, capellas e coadjutorias da provincia
porém, dahi que o bispo, na divisão das parochias, seja estão ligados a ordens religiosas e a quaes dellas.
inferior á assembléa; a sua autoridade é igual á desta, 2º Se nas localidades em que exercem essas
porque, além do poder legislativo, que em geral compete ao funcções não ha sacerdotes brasileiros; se os não haviam ao
bispo a respeito da disciplina em sua diocese, compete-lhe tempo do provimento desses logares.
tambem especialmente o direito de fazer a divisão 3º O numero de sacerdotes dos quaes foram
ecclesiastica da mesma diocese, como é provado pela suspensas as ordens; seu nome, nacionalidade e razão dada
historia, pela legislação e pela logica. Logo a assembléa e o para suspensão, a contar de Janeiro de 1871 até esta data.
bispo são poderes iguaes na materia em questão, como 4º O numero e nome dos sacerdotes que deixaram
ambos legislativos... Se os dous poderes não estão de durante esse mesmo periodo, por demissão, suspensão ou
accordo, a lei não póde existir.» remoção, os logares que occupavam, quer nas localidades
«E' esta a doutrina e praxe seguida, como da provincia, quer no cabido desta capital, e causas dessa
luminosamente explana o Sr. Monte em sua obra de Direito remoção.
Ecclesiastico, aceita no Imperio, tom. 1º tit. 2º cap. 7º § 272 e 5º Cópia da autorisação dada a alguns sacerdotes
seguintes.» pelo Exm. e Revm. bispo diocesano para administrarem o
«E tanto é assim que sem o concurso do diocesano sacramento do chrisma.
nunca a divisão ecclesiastica de uma parochia tem effeito 6º Indicação das representações dirigidas ao Exm. e
civil, muito menos ecclesiastico e espiritual. Só depois de sua Revm. Sr. bispo diocesano contra alguns sacerdotes e a
instituição canonica, que o bispo deve dar, quando para essa favor de outros; indicação de seus fundamentos e qual a
divisão e creação concorreram os dous poderes, ambos solução que tiveram.
legislativos e legitimos, é que uma parochia tem effeitos civis 7º Se não ha sacerdotes brasileiros nas localidades
e espirituaes. Nem jámais poderá o bispo ser constrangido a em que estão vagos os beneficios ecclesiasticos, e se não ha
dar essa instituição quando sem a sua intervenção fôr fóra dellas sacerdotes brasileiros que queiram e possam ir
dividida e creada uma parochia.» occupar aquelles beneficios. Sala das sessões, 15 de Março
«Fóra desta lei, Exm. Sr., nenhuma outra existe que de 1873. – Francisco Antunes Maciel. – Pantaleão Pereira. –
sanccione a intervenção das assembléas provinciaes no que Francisco de Paula Soares»
pertence, e é só da exclusiva jurisdicção dos bispos Eu admiro, Sr. presidente, essa insistencia em querer
diocesanos.» sustentar-se o poder temporal de maneira que se acaso se
«Como bispo catholico e brasileiro sempre serei o trocassem as posições, ninguem admittiria que o Papa
primeiro a respeitar as leis do meu paiz, quando estas não actualmente estivesse no estado em que se achavam outr'ora
sejam promulgadas e se mostrem em declarada opposição Bonifacio Vlll ou Innocencio lV e quizesse tambem usar do
aos direitos imprescriptiveis da Igreja de Deus de que sou jus cavendi e muito menos no caso actual; havia de se dizer:
ministro; porque, segundo o axioma de direito, non est jus «O poder temporal assim é impossivel, o jus cavendi
contra jus; e conforme a sentença dos apostolos, obe dire espiritual lhe é injurioso»; é o mesmo caso do recurso á
oportet Deo magis, quam hominibus.» Corôa que é uma violencia ao poder judiciario da Igreja,
«Respeito e acato como devo a digna e illustrada como o placet é um ataque ao poder legislativo da mesma
assembléa provincial de minha diocese dentro dos limites de Igreja e á sua soberania.»
suas attribuições; e julgo-me com direito a esperar da mesma Ora, Sr. presidente, não ha um só cidadão que tenha
que não fira a autoridade diocesana, a menosprese e amor ao seu paiz que não deseje que o poder espiritual
desacate em suas prerogativas e livres funcções do sagrado esteja de accordo com o temporal e vice-versa, porque é da
ministerio com intervenção indebita nas cousas que são de união desses dous poderes que resulta a paz social, visto
sua competencia e de mais ninguem. Ao contrario disto, o que essas questões são as que excitam mais as paixões e
bispo tem jus a esperar da assembléa, como de um dos sentimentos de todos os cidadãos. Nós vemos que na
poderes constitucionaes, toda coadjuvação e auxilio para que presente época, em que parece se assiste aos preparativos
possa, sem entraves e com fructo, reger sua de uma grande alteração social no mundo civilisado, em toda
a parte a questão religiosa está na ordem do dia e prevalece
á qualquer
216 Sessão em 24 de Maio

outra, e porque está na ordem do dia? Será porque haja da Prussia emquanto houvesse sacerdotes tão dedicados á
desapossado algum principe dos seus estados? Póde ser; causa da Igreja como os jesuitas.
assim o Papa invadiu os estados de Victor Manoel, apossou- Eis pois a razão, Sr. presidente, porque esses
se delles sem preceder luta e contra a fé dos tratados; é, religiosos que por toda a parte eram conhecidos e
portanto, por ser o Papa grande invasor que ainda hoje tira o respeitados por suas virtudes e seu saber, foram de repente
somno a Victor Manoel! elevados á altura do poder invasor, conspirando contra a
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – E' patria, e contra o poder civil que tanto os havia distinguido!
questão que não é para nós. Não fallemos na Hespanha, onde apenas havia um ou
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Perdôe-me o dous collegios desses religiosos que suppriam de
honrado senador, esta questão é para todos os catholicos, missionarios as ilhas Felippinas, e outras colonias desta
porque todo o catholico tem interesse em que o chefe de sua nação.
religião occupe no mundo uma posição independente. Eis aqui as solidas razões em que o nobre senador
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – pelo Pará se firma para dizer e sustentar que os jesuitas
Independente, sim; mas temporal, não. estão invadindo o mundo inteiro; S. Ex. não faz outra cousa
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Sem esse meio não senão repetir os antigos ataques do cesarismo monarchico.
é possivel ter no mundo uma posição independente. Esse Segundo esses apostolos do absolutismo, os jesuitas se
meio é o mais efficaz, pelo menos no mundo não se tem apossam, dominam tudo, fazem, acontecem, e todos vemos
podido descobrir outro. quaes as conquistas que elles realisaram no mundo! E, Sr.
Ponhamos, porém, isto de parte, quero mostrar a S. presidente, se ha um nome que possa trazer odiosidade, aos
Ex. que quem invade não é o poder espiritual, que limita-se a defensores da Igreja empregam-n'o os seus adversarios; mas
viver dentro de sua orbita; por ventura foi o Papa quem constantemente o fazem com o nome de jesuita. Elles muito
invadiu os estados de Victor Manoel?... o apreciam não pelos males phantasticos com que
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Em 1864, sobrecarregam essa congregação, mas pela etymologia, por
quando sahiu o Syllabus e a Encyclica, não estava invadida... que jesuita vem de Jesus, é o nome de Jesus o que odeiam.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Estavam já desde O interesse da causa que defendem exige neste ponto toda a
1869; V. Ex. está esquecendo a historia contemporanea. cautela, e por isso claramente não exhibem todos os seus
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Referia- sentimentos.
me a Roma. O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Scipião
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Haviam sido tambem era o africano e destruiu Carthago.
invadidos os Estados da Igreja, desde aquella época, sem O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Voltemos agora á
que o Papa tivesse dado causa. questão entre o Estado e a Igreja, de que me desviei:
Vejamos a Allemanha: é o Papa quem invade o Existem no mundo dous poderes distinctos, o
Imperio Germanico e promulga leis draconias contra as temporal e o espiritual, poderes que não se confundem, que
corporações civis? na Suissa, onde não ha jesuitas e S. Ex. teem orbitas bem descriminadas, sobretudo quando o
disse que elles lá estavam promovendo desordens, quando temporal quer respeitar os limites do outro, que nunca invade,
elles desappareceram desde o attentado contra o nem tem invadido; e a historia disto nos tem dado claros e
Sonderbund em Lucerna, em 1847, que procedimento teve o irrefragaveis exemplos, porquanto, os factos que se allegam
governo com os bispos de Bale e de Genebra? O bispo de em contrario não são bem aquilatados, a paixão e o interesse
Bale disse a um dos curas de sua diocese que para continuar os maculam, em summa, são apreciados sob essas falsas
na posse do beneficio tinha de conformar-se com as decisões côres.
do ultimo concilio, o do Vaticano; o cura recusou-se Esses dous poderes, que deviam viver mui unidos e
pertinazmente a acceder á tão justa exigencia; não houve ligados em bem da paz social, não poderiam ficar na mesma
meios persuasivos que o obrigassem a aceitar a prescripção posição, iguaes; na ordem hierarchica o poder espiritual é
do seu pastor, que aliás, tantos bispos que contestaram a superior ao poder temporal, não para dominal-o, que não
opportunidade da declaração do dogma da infallibilidade, póde, e não deve, mas só na precedencia.
subscreveram posteriormente. O governo da Suissa, O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Não
heterodoxo, toma o partido do cura e ataca o bispo: eis aqui o admitto.
bispo invadindo o poder temporal da Suissa! O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Isto não é questão
Um caso posto que dissemelhante, mas com o de não admitto, é de logica e de razão, a alma é superior ao
mesmo proposito se deu em Genebra com monsenhor corpo, quer V. Ex. queira quer não, e o poder espiritual
Mermillod, bispo de Hebron, em que se mostra bem patente o occupa-se de cousas que interessam a alma, a directora do
proceder arbitrario do governo desse cantão contra a Igreja. corpo. Não ha nação alguma que possa viver sem religião e
Na Allemanha o que tem feito os jesuitas? Os sem moral; o poder espiritual trata, occupa-se muito de tão
jesuitas, Sr. presidente, condecorados pelo Imperio importantes assumptos, é mesmo sua missão, por
Germanico (eram apenas 200) pelos serviços prestados tanto consequencia a sua preeminencia é evidentissima. Proudhon
na campanha do Holstein, como na da Austria e ultimamente que é muito mais racionalista do que V. Ex., e vae muito
na França, só depois da reunião da Alsacia e da Lorena, é alem...
que fizeram com que o Imperio começasse a temer as O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Em quem
invasões do poder ecclesiastico. O principe de Bismark V. Ex. acredita, e eu não.
receiava não poder harmonisar as populações catholicas O SR. MENDES DE ALMEIDA: – ...não desconhece
dessas duas provincias com os interesses da politica estas verdades. Não acredito em Proudhon, mas valho-me
protestante desse exemplo e de outros da mesma especie para poder
fallar em
Sessão em 24 de Maio 217

uma sociedade de catholicos; onde, taes são as doutrina recorrem para explicar a sua fonte ás leis naturaes á
circumstancias, que só acham conforte em escriptos justiça, a isto chamão alta soberania, differente de outra de
heterodoxos: hontem o nobre senador visconde de Nitherohy que as sociedades humanas tem o exercicio e de onde
assim o disse; portanto, já não procuro, não invoco deduzem o direito de obrigar seus membros e a si proprias; e
autoridades existentes na Igreja, porque tenho medo, porque muito bem demonstra essa these o Sr. Hypolito Passy, em
receio não ser acreditado; vou aos homens do racionalismo, sua obra politica sobre as formas de governo.
do protestantismo: e o Sr. visconde de Nitherohy para provar Não ha invasão do poder espiritual no temporal,
que o catholicismo é uma grande cousa foi se confortar com nunca houve. A igreja tem sempre um guia constante, que
Guizot, com um dos athletas do calvinismo, a quem não deixa variar as doutrinas uma vez proclamadas; são as
comparou a Santo Agostinho e a S. Jeronymo! variações da politica temporal que fazem com que as
E' sómente na hierarchia e no fim a que se propõe verdadeiras doutrinas pareçam estar em desaccordo. Isto é
que o poder espiritual está acima do temporal; governando tanto verdade que, abram se os publicistas do seculo XVI, já
cada um dentro de suas orbitas, são iguaes: é isto doutrina não direi para traz, mas até o meiado do seculo ultimo,
tão corrente, ha tanto tempo, que ninguem duvidou de sua menos a França, nos fins do reinado de Luiz XIV, e ver-se-ha
verdade ao menos entre catholicos; e ainda hoje que todos seguem as doutrinas que sustento; abramos
testemunhamos que o nuncio acreditado em qualquer nação mesmo aquelles que se acham inscriptos no Index, como
precede a todos os embaixadores. Se acaso não lhe Gabriel Pereira de Castro nos preludios da obra – de Manu
reconhecessem esse direito de preeminencia que existe em Regia, e Oliva – de Foro Ecclesiœ, e bem assim Portugal –
todas as nações catholicas, então o diplomata mais antigo de Donationibus, Velasco de Gouvêa – Justa acclamação de
precederia a todos, mas a posição da Igreja é tão superior D. João IV, etc., todos as reconhecem.
que todos os governos, ao menos catholicos, cedem-lhe o Foi sómente depois de Pombal, que adoptou os
passo, E esta pratica se observa com os seus legados ainda principios dos gallicanos de França, que o Rei de Portugal
que seja o mais novo. E tanto reconhecem esta verdade os julgou-se quasi nas condições dos antigos Cesares, e mesmo
governos heterodoxos, que para evitarem essas questões de assim nas nossas leis do ultimo seculo ha alguma cautella
preeminencia, os seus reis e imperadores fazem-se Papas. em deixar posição superior em hierarchia ao Summo
Apossam-se dos dous poderes. Pontifice, comquanto se declarasse que no temporal o rei não
A interferencia indirecta do espiritual sobre o temporal conhecia superioridade.
tambem é evidente e não se póde evitar. O que é politica, Deixemos, porem, este topico de parte. O que quiz
senhores? Uma parte da moral; o que é moral? E' a doutrina somente mostrar, Sr. presidente, é que da Igreja Catholica o
resultante dos dogmas, e tanto mais se conformam estes poder temporal não póde ter o menor receio; ha na Igreja
com a verdade quanto a moral é mais perfeita. Excluidos os mais garantias para sua estabilidade do que nas doutrinas
dogmas catholicos que moral teriamos nós? Em toda a parte racionalistas sobretudo as propagadas pelas associações
é o dogma da religião que faz a moral; não temos, nem secretas. A doutrina da Igreja é permanente, eterna; não
poderiamos ter uma moral fóra ou independente do soffre alteração, não póde ser invertida, pois ainda é a
christianismo. A politica é, póde-se até certo ponto dizer, a mesma do tempo dos apostolos. Hoje sobretudo não ha e
administração domestica em vasta escala, para a politica nem póde haver receios para ninguem; isto não é negocio
como para esse administração é preciso: honestidade e que viva secreto; é publico; todos se podem convencer,
justiça, e como aquilatal-as sem ser por meio de poder examinando-o.
competente, guarda o fiscal dos dogmas, e mantenedor da Mas, Sr. presidente, o meu honrado collega pelo
moral? Maranhão tratando dessa materia deixou-nos envolvidos em
Já se vê, portanto, que ha uma interferencia indirecta, tal nebulosidade, que por minha parte não posso descortinar
mas necessaria do espiritual sobre o temporal quer queiram, o pensamento de S. Ex. por maior que fosse o meu esforço.
quer não, justa e conveniente ao interesse de todos, e em Assim S. Ex. diz: (Lendo).
pról da sociedade. «A respeito das relações entre o Estado e a Igreja, eu
A doutrina catholica respeita perfeitamente a professo opiniões muito differentes das que professa o
soberania temporal, nunca procurou humilhal-a, e sim eleval- distincto senador pela minha provincia. Ou hade dar-se
a: no catholicismo não ha o absurdo do direito divino do unidade entre a Igreja e a Estado, ou a co-existencia destes
gallicanismo; a soberania está no povo embora sujeita as leis dous poderes.»
da rasão e da justiça, e não nos representantes da Tratando a unidade S. Ex. apresenta dous systemas,
communidade, os chefes do Estado. Todos procedemos de um predominando o poder civil que diz prevalecêra na
uma só familia a quem Deus deu a soberania, porque a antiguidade classica; outro em que predominára o inverso
soberania vem de Deus como todo o poder moral; a como nos estados do Oriente. Tratando da co-existencia dos
communidade investida desse direito tem a faculdade de dous poderes, S. Ex. figura subordinados á existencia de
poder organisar-se sob differentes formas conforme a uma religião de Estado tres hypotheses: uma de verdadeiro
conveniencia social de cada paiz. dualismo, em que os dous poderes em posição igual não
A igreja catholica nunca ensinou que o poder dos reis tinham nexo, nem dependencia no caso de conflicto, por isso
provinha immediatamente de Deus; o gallicanismo foi quem que são ambos separados, e independentes. Nas outras, ora
querendo equiparar a autoridade espiritual com a temporal, a supremacia é do poder espiritual, ora do civil ou temporal. A
uma dualidade manicheiana, o sustentou, dizendo: o poder que vem o nexo da religião d'Estado para todos estes casos
dos reis vem directamente de Deus. Não; não vem’ a doutrina não sei. Nos exemplos invocados para o dualismo S. Ex. não
gallicana é falsa. foi feliz, porquanto na Belgica não ha religião d'Estado, e na
Em verdade a origem da soberania é divina, não é de Prussia outr'ora a religião d'Estado era a evangelica, e o rei
fabrica mundana, e aquelles que querem affastar-se dessa era chefe dessa Igreja;
218 Sessão em 24 de Maio

mas depois da constituição de 1850, embora as instituições representado, não pela maçonaria como quer o nobre
repousassem sobre a base christã, não havia religião senador, mas pela sciencia e pela philosophia é um problema
d’Estado. Presentemente ha dominio absoluto sobre as eterno.»
religiões, especialmente sobre a Igreja catholica, que tanto Oh! senhores a religião catholica está em desaccordo
perseguida é. com a sciencia, com a philosophia e com a razão? Nunca
(Ha um aparte). esteve, e a melhor prova que se póde dar é a primeira
Pelo que respeita á segunda hypothese em que o constituição do concilio do Vaticano, de Fide independente do
poder espiritual prevalece entende S. Ex., que neste caso dá- que já está consagrado no Syllabus. A Santa Sé sempre
se theocracia! Assim foram theocraticos os governos de sustentou a importancia da razão; o que condemnou foi a
Portugal, Hespanha, Napoles, Sardenha, Austria, Baviera e a negação da fé; mas nunca contestou o dominio da razão. Tal
França antes de Luiz XIV!... Na terceira em que o predominio proceder seria contradictorio com todo o passado da Igreja,
é do poder civil sobre o ecclesiastico, dá S. Ex. como exemplo que tanto concorreo para a diffusão das luzes.
o gallicanismo; quando o que é corrente nos livros que tratam Mas S. Ex. pelo que aqui revela neste trecho, parece
destas materias o poder do Rei foi equiparado ao dos papas que está persuadido de que a sciencia e a rasão não estão
dando-se o dualismo de que já tratou S. Ex. dentro do catholicismo por quanto diz:
Continuando estabelece o nobre senador uma quarta «Não pela maçonaria como quer o nobre senador, mas
hypothese, a dos Estados-Unidos, em que diz que ha a mais pela sciencia, pela philosophia é um problema eterno.» Não
completa liberdade tanto para a igreja como para o Estado. E’ ha problema se a razão e a sciencia não são representadas
o que acontece na Belgica e acontecia na Prussia. pela maçonaria; a razão concilia-se perfeitamente com o
Depois disto accrescenta S. Ex. que não lhe sobra catholicismo; e senão basta olhar para os grandes homens e
tempo para expor o seu pensamento sobre o assumpto, e eminentes theologos e canonitas que produziu a Igreja; para
conclue por estas notoveis palavras, de que ainda não pude os philosophos, tanto deste seculo, como dos anteriores, já
decifrar a verdadeira e genuina significação (lê): não digo catholicos, porque nesta parte os protestantes estão
«Se os systemas logicos, isto é, aquelles que se comnosco, acreditam na existencia da revelação sem prejuizo
apresentam como conclusões de um pensamento logico, não dos direitos da razão.
podem ser applicados em toda sua originalidade e rigor, o que Não é, pois, um problema eterno; não ha problema
cumpre é examinar se por combinações. excepções, se pela aqui, ha um accordo perfeito a menos que a razão não se
renuncia ás consequencias extremas, póde-se crear o Estado constitua independente e o unico instrumento de certeza. (Lê):
e a Igreja, relações que tenham por base a harmonia, e «Se os racionalistas não admittem que a intervenção
quando ellas não se adaptem perfeitamente ás theorias, trate- divina possa perturbar a regularidade necessaria das leis
se de fazer as corresponder ao desenvolvimento historico, e á naturaes e chegam por este meio á negação da revelação,
variedade da natureza humana.» tambem ha catholicos, Sr. presidente, que temendo a
O certo é, Sr. presidente, que fiquei sabendo que o sciencia, desconfiando da razão, fecham os olhos ás verdades
meu nobre collega não partilhava as minhas opiniões quanto mais evidentes e se fazem scepticos por devoção; para estes
ás relações do Estado com a Igreja, mas em que differiamos o limite entre a razão e a fé não é o symbolo, mas um decreto
ainda ignoro. O nobre senador não diz qual é a sua opinião, e do Index.»
nem a que neste ponto convém ao Brasil. Ao menos o nobre Ninguem sabe ao que o honrado senador se refere
senador pelo Espirito Santo foi mais franco, porque quer poder com estas palavras. O que tem uma cousa com outra; e se ha
civil superior ao espiritual e armado de temporalidades. catholicos que não acreditam na existencia da razão, o que
Ficamos sabendo que neste assumpto existem varias isto importa? Mas estes, Sr. presidente, foram condemnados
soluções, menos qual a melhor e a mais adaptada ao nosso pela Santa Sé; tambem estão no Index. O tradiccionalismo de
paiz. Lammenais e os systemas congeneres de outros philosophos
Continuando no exame do discurso do nobre senador negando a razão soffreram identica pena; estão lá inscriptos.
ausente, noto o seguinte trecho: – «Disse o nobre senador A Santa Sé condemnou não sô aos que admittiam a tradicção
pela minha provincia, quando fallou no voto de graças sobre a como unico instrumento de certeza, como aos que negavam o
politica religiosa do gabinete: «o destino da humanidade é um valor da razão humana. Portanto, estes não podem ser
grande e profundo mysterio; duas doutrinas o explicam: a catholicos, por isso que se affastam dos dictames da Igreja. S.
doutrina catholica e o racionalismo em todas as suas Ex. parece não conhecer bem estas questões, nem quanto a
manifestações, que é a doutrina representada pela sciencia e a humanidade devem á Igreja e á suas sabias
maçonaria.» A que época e a que paiz refere-se o nobre decisões.
senador? A maçonaria do Brazil não conspira nem contra o Mas firmando-se no mesmo preconceito diz: «Ora,
Estado nem contra a Igreja.» senhores, será partilha do catholico a cegueira voluntaria? Se
Ora, Sr. presidente, dizer que a maçonaria segue o não é possivel para poder crer servirmo-nos da razão, onde
racionalismo, não é dizer que ella conspira contra o Estado e está a fé?» Todas estas apreciações são escusadas, por
contra a Igreja. Em verdade das doutrinas racionalistas póde- quanto laboram em um falso supposto, a opposição da Igreja
se chegar a este resultado. Mas o homem póde seguir estas á razão e á sciencia.
doutrinas e ser inconsequente, como felizmente acontece, A Igreja não só condemna aquelles que tornam a
porque se levasse o negocio até os apices chegaria ás razão unico e infallivel instrumento para nos guiar na
consequencias que o honrado senador logo tirou, ao menos comprehensão das verdades religiosas, como tambem
com relação á igreja. (Continua a ler). aquelles que excluem a razão desse encargo e somente
«O accordo da doutrina christã com o racionalismo, acreditam na fé ou na tradição. Portanto não sei a que vem
esta exprobração, porquanto não sustentei doutrina contraria
aos direitos da razão dentro de sua legitima orbita; mas se é
Sessão em 24 de Maio 219

a mim que S. Ex. allude, o que não presumo, então perde o por um acto de fé o edificio da nova philosophia, de que foi o
seu tempo, pois perante o senado que me ouve, tenho revelador Cogito, ergo sum. Penso, logo existo. Como sabe
mostrado o uso que faço de tão precioso instrumento. que pensa? por uma simples affirmação, que a razão não
«Que merito haverá então em crer?» diz continuando demonstrou. Descartes até podia limitar-se a pura conclusão
o honrado senador, cuja ausencia tanto deploro. E faz aqui – existo, e que ainda seria um acto de fé. Eu existo. Os
um trocadilho engraçado: «se creio, não devo raciocinar, se primeiros principios da sciencia, a base da geometria e das
raciocino não creio! A fé neste caso como será uma virtude?» mathematicas prova se por ventura pela razão? Não,
Já se vê que S. Ex. parece laborar em equivoco ou aceitam-se estes principios como certos, como axiomas e de
não sabe o que constitue a fé; pelo menos não mostra ter sua fixidez é que se formam raciocinios de tanta certeza que
conhecimento desta eminente virtude e instrumento de o espirito humano aceita sem reluctancia. E nesta sujeição de
certeza e do modo porque a Igreja admitte-a, por quanto firma o systema perfeito da razão. Portanto o catholico que
mesmo para chegarmos á fé é necessario um principio de tem fé não é inimigo das luzes e nem é opposto á razão,
razão, maxime quando se trata de um individuo que utilisa-se das duas luzes para guiar-se, em logar de uma só.
desconhece a nossa religião. A fé em verdade é a crença, a Ora, o Index não é uma instituição tão somenos que
persuasão, a confiança ha um raciocinio preparatorio sobre o não mereça consideração alguma, como parece deduzir-se
valor e merecimento da pessoa ou entidade em quem das palavras do honrado senador pelo Maranhão; e a prova é
confiamos. Estabelecida esta base da veracidade dessa que o Sr. Cousin, o primeiro philosopho francez deste seculo,
pessoa ou entidade, nós acreditamos em suas palavras por não duvidou escrever, em 1856, uma carta ao Santo Padre
que a julgamos incapaz de nos illudir; esta confiança em para evitar que a sua ultima obra philosophica, que estava
materia religiosa muitas vezes desce ao nosso espirito por escrevendo, não fosse condemnada por aquelle tribunal,
effeito da graça, e é como se explica a aceitação da doutrina como já haviam sido outros trabalhos seus. Nessa carta, o
christã pelas populações á quem os apostolos iam prégar o grande philosopho promette fazer uma obra irreprehensivel,
Evangelho. Essas populações acreditavam na existencia de confessando nutrir pela verdadeira religião os sentimentos da
Deus, e na possibilidade de sua communicação com os maior veneração, assentando suas esperanças no futuro da
homens, o que a razão podia descobrir e sustentar, e por humanidade, no triumpho e propagação do christianismo.
tanto tambem era facil aceitar a revelação christã prégada Essa obra elle não pôde levar a effeito, mas cumpre que o
pelos apostolos, maxime quando por graça especial a honrado senador saiba, Cousin morreu catholico. Portanto, o
doutrina calava no espirito e consciencia dos ouvintes. Index tem algum valor.
Mas, Sr. presidente, é preciso que se acredite na Ha muito quem diga, que uma obra condemnada no
existencia de Deus e na possibilidade da revelação, Index propaga-se ainda mais, tem mais circulação. Não é
conceitos que a razão alcança. Logo que se reconhece a tanto assim. Nos primeiros momentos, algumas vezes assim
existencia de um Deus pessoal e providente, o homem o acontece, se o escriptor é talentoso, e o partido que a
pensador, está preparado para receber a fé. sustenta toma empenho pela propaganda, depois acaba,
O SR. VISCONDE DE SOUZA FRANCO: – Os morre o enthusiasmo e ninguem faz mais caso della. E ha
senhores não querem o racionalismo. autores, como por exemplo, Bouillet, o que escreveu o bem
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Como não o conhecido Diccionario de Historia e de Geographia, trabalho
queremos? O racionalismo é a exageração do valor da razão de não vulgar merecimento, que teve o incommodo de ir em
humana. 1854 á Roma e de sujeitar durante um anno ao minuncioso
Já tenho respondido aqui: a igreja quer a fé e a razão, exame dos membros dessa doutissima congregação cada
e é o que estou neste momento defendendo. Se V. Ex. um dos artigos do seu prestimoso Diccionario para que
tivesse lido o primeiro decreto do concilio do Vaticano de sahisse escoimado de erros e portanto obtivesse a mais larga
Fide, lá veria que aquelles que negam a fé são condemnados circulação, não ficando prejudicado como havia sido nas
como os que negam a razão. Portanto não sei a que vem edições anteriores a 1855. Já se vê portanto que o Index é
este trocadilho: «se creio não devo raciocinar, se raciocino uma instituição que tem merecimento, e grandes serviços
não creio!» tem prestado á causa da verdade apontando e fazendo
Ora, a melhor prova de que a fé tem um valor como a condemnar os erros que tantos males tem causado a
razão e não póde ser desprezada pelos racionalistas está no sociedade. Um tribunal assim organisado em que prejudica á
philosopho Kant, o aliás um dos mais celebrados verdadeira liberdade de consciencia? Haverá porventura
racionalistas dos tempos modernos. Kant na sua Critica da direito de seguir-se o erro?
razão pura, procurou demonstrar que a idéa de Deus e da O nobre senador pelo Maranhão receia pela sorte
immortalidade da alma, verdades incontrastaveis, não se desse direito, não quer que haja um fanal que nos guie,
podiam apreciar pelo instrumento da razão: eram actos da parece que S. Ex. aprecia muito mais a balburdia nas
consciencia, que ella exhibia e affirmava sem dependencia questões litterarias e philosophicas, ninguem podendo
de labor do raciocinio, em summa, um acto de pura fé que entender-se nem mesmo quanto á verdade dos factos
não se demonstrava. O homem acreditava na existencia historicos. A esta confusão que S. Ex. chama independencia
desses factos pelo testemunho da consciencia, unicamente da sciencia, que attribue o privilegio de prestar grandes
pela fé, o que o raciocinio não revelava. E, entretanto, esse serviços á religião e teme demasiado da supremacia da
respeitavel philosopho não é um catholico cégo pela fé, Igreja. Assim, S. Ex. imagina que dada uma tal situação se
prestando fraca attenção ao symbolo e adstricto a um decreto supprimiria o estudo e investigações de ramos inteiros de
do Index. conhecimentos humanos, isto é, S. Ex. attribue a Igreja, que
O mesmo Descartes, o eminente philosopho que fundou
creou a duvida moderna, a duvida methodica e scientifica,
começa
220 Sessão em 24 de Maio

as universidades da Europa, creou por toda a parte tantas e prudentes, não era natural que proferissem uma proposição
escolas, animou por differentes formas o cultivo de todas as de tão pouco senso.
sciencias, o proposito, e crime de extinguir as lettras, matar a Por outro lado, Sr. presidente, os jesuitas hespanhóes
sciencia e deter a civilisação! desterrados na Italia desde 1767, passavam como homens
E que provas, Sr. presidente, adduzio em seu favor o de elevado merecimento, e deixaram discipulos que lhes
honrado senador por minha provincia? S. Ex. disse que os fazem muita honra, como o famoso cardeal Angelo Mai, e o
religiosos da companhia de Jesus tinham querido acabar com não menos celebre Theatino, o Padre Ventura. O collegio do
as mathematicas e com a historia natural em um collegio de Madrid, á que S. Ex. allude, foi entregue ao padre Manoel
Madrid. Quando assim fosse, facto que não quero contrastar Zuniga, que havia sido provincial da Sicilia, sob o titulo de
porque S. Ex. não diz a fonte donde colheu-o a companhia de commissario geral, em 29 de Março de 1816, e na tarde
Jesus constituirá a igreja? E em materia de estudos e cultivo desse mesmo dia, foi o curso dos estudos aberto pelo padre
litterario pode-se seriamente fazer carga a essa illustre Parada, com applauso geral da melhor sociedade de Madrid.
corporação, que em todos os ramos dos conhecimentos Ambos estes religiosos gosavam de muito renome.
humanos deixou largos e luminosos traços de sua Mas, como já notei, diz S. Ex.: «este ha de ser
passagem? E que valor teria essa accusação que lhe fazem sempre o ensino dirigido pelos jesuitas, etc.» Pois o nobre
de tentar o dominio do mundo se ella sómente se occupa de senador pelo Maranhão póde pôr em duvida o valor, o alto
propagar a ignorancia, exibindo a sua incapacidade? Mas merecimento do ensino dos jesuitas? S. Ex. quererá avalial-o
ouçamos a anedocta de S. Ex. (Lê) por essas compilações que por ahi correm, em que a verdade
«Quando, em 1815, Fernando VII restabeleceu em é tão desfigurada e de que aliás tanta gente se serve fazendo
Hespanha a Companhia de Jesus e mandou-lhe entregar praça de grande erudição? Não, não é possivel faço de S.
1816 o collegio de Madrid, o padre jesuita professor de Ex. mais elevado conceito, por isso vou oppor á sua
mathematicas abriu o seu curso com um discurso em que, proposição em demasia injusta e parcial, o testemunho
além de outras cousas, dizia o seguinte: «Todos os males insuspeito de homens que S. Ex. nem o senado recusarão.
que pesão sobre a Europa, ha 30 annos, são principalmente O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – dá um aparte.
devidos á lamentavel instrucção e educação do seculo O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Nesta questão
anterior, que arrastaram os homens á rebellião e a chamo tambem para confortar-me não Guisot, mas
incredulidade. protestantes em iguaes senão melhores condições, como
Parece que até aqui nada ha que dizer, o que diz o Bacon e Leibnitz, e do proprio Voltaire que em uma de suas
professor jesuita he, infelizmente, exacto. Mas continuemos.» cartas intimas elogia, faz justiça aos jesuitas. Este é
«Limitarei, portanto, o meu ensino á arithmetica, insuspeito.
algebra e geometria, visto que infelizmente, os outros ramos O SR. RODRIGUES: – Apoiado.
das mathematicas podem condusir ao materialismo e O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Ha tambem a
atheismo». Eis, diz S. Ex., o que ha de ser sempre o ensino autoridade insuspeita de Lamartine, que como Voltaire,
dirigido por jesuitas e de conformidade com o programma aprendeu nos collegios dos jesuitas. A narrativa que elle faz
ultramontano, consequentemente desde que se der a em suas Confidencias, do collegio de Belley é o testemunho
supremacia a igreja sobre o Estado, uma theocracia.» mais honroso que se póde dar do alto merecimento de tão
Ora, o nobre senador, não addusiu, se quer, uma illustre corporação.
prova authentica deste facto, não indicou a obra e o O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado.
testemunho de escriptor algum sério sustentando a O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Mas como para S.
veracidade, é mister que prestemos fé á sua palavra, o que Ex. o germanismo tem valor elevado que o latinismo,
nestes casos não é sufficiente para muitas razões, pois trata- invocarei uma autoridade que não póde ser suspeita ao
se de um facto de outras eras, e nós sabemos como os nobre senador, a do historiador Ranke, na sua Historia do
jesuitas são tratados por seus adversarios. Mas como se Pontificado nos seculos XVI e XVII. Creio que um protestante
pode suppor que um professor, como os jesuitas possuem, prussiano, professor da universidade de Iena, deve ser bem
exhibisse semelhante proposição quando ensinando aquellas aceito como autoridade nestas materias. Ranke ainda vive e
quatro sciencias, bases das altas mathematicas, facilmente é mui acreditado como historiador.
encaminhavam os alumnos para aquelles de que se Mas antes de exibir estas provas causa-me especie,
pretendia afasta-los? Isto parece um contrasenso. que S. Ex., tão conhecedor da historia comtemporanea, não
Por outro lado não foram os estudos das sciencias visse entre esses jesuitas, tão ignorantes, tão obscurantistas,
exactas que no ultimo seculo concorreram para a o nome eminente, que goza no mundo civilisado o padre
propaganda do materialismo e atheismo, mas os das Secchi, director do observatorio do Collegio Romano, onde é
sciencias philosophicas sobre tudo a doutrina do professor. Esse famoso Collegio Romano de que S. Ex.
sensualismo. Locke, Condillac e Helvecio trabalharam mais constituiu o motor de todas as agitações neste mundo, o
para essa propaganda com Voltaire e Rousseau, do que os invasor de todos os poderes temporaes, tem em seu seio
mathematicos que illustraram o seculo passado; e os jesuitas professores de tanta nomeada como o respeitavel padre
bem conheciam este facto. O que me parece, Sr. presidente, Secchi. Ainda este anno vimos o seu nome figurar com tanta
é que esta anecdota, como tantas outras do mesmo quilate, distincção em um famoso congresso scientifico, de
se não foi narrada a S. Ex. em Heidelberg, acha se nesses preferencia a qualquer outro sabio da Italia regenerada.
arsenaes de erros e subversões da verdade que por ahi Não lerei, Sr. presidente, nem a opinião de Bacon,
abundam em que essa corporação é tão maltratada assim nem a de Leibnitz sobre os jesuitas e seu systema de
como a nossa igreja. Receio muito que a boa fé de S. Ex. não educação, são mui conhecidas e portanto escuso reproduzil-
fosse surprehendida, porquanto passando os jesuitas por as. Mas exhibirei a do litterato mais notavel do ultimo seculo,
homens mui illustrados o racionalista que por si só resume aquella época, Voltaire.
Sessão em 21 de Maio 221

Trata-se de uma carta dirigida a um seu intimo amigo de mais iniquo, de mais vergonhoso para a humanidade, do
Damilaville em 7 de Fevereiro de 1846, é um documento de que accusar de moral relaxada homens que curtem na
summa importancia. Europa a vida mais dura, e que vão procurar a morte nos
Voltaire, Sr. presidente, foi um discipulo dos Jesuitas, confins da Asia e da America.»
como Lamartine, e não sei como estes religiosos não Eis o que diz Voltaire, a personificação racionalista do
poderam fazel-o um fanatico, visto como, segundo a opinião seculo passado, acerca dos jesuitas, que o nobre senador
de seus adversarios, somente ensinam o obscurantismo e a pelo Maranhão assegura, que ensinam o obscurantismo
intolerancia, e não ficou elle proprio um apagador ao espirito propagam a ignorancia e a superstição; e são incapazes do
humano (lê). magisterio!
«Durante sete annos que vivi nos collegios dos Agora vejamos o que diz Ranke na Historia do
Jesuitas, o que observei? A vida a mais laboriosa e a mais Pontificado nos seculos XVl e XVll, e aliás é um decidido
frugal, todas as horas partilhadas entre os cuidados adversario dos jesuitas; é um allemão, prussiano e
comnosco empregados e os exercicios de sua austéra protestante, qualidades indispensaveis para ser entre nós
profissão. Invoco o testemunho de milhares de homens como acreditado: (lê)
eu por elles educados. E' por isso que não deixo de espantar- «Era no aperfeiçoamento das Universidades que
me de que se possa accusal-os de ensinar uma moral muito se empenhavam os jesuitas. Dominava nelles a
corrompida. Como outras ordens monasticas, tiveram épocas ambição de rivalisarem com a celebridade das universidades
obscuras, casuistas que defenderam o pro e o contra em protestantes. Toda a cultura scientifica daquella época
questões hoje esclarecidas ou esquecidas; mas em bôa fé, repousava no estudo das linguas antigas. Elles as cultivaram
será pela satyra engenhosa das Cartas Provinciaes que se com extremo zelo, e em pouco tempo julgou-se que se podia
poderá julgar da sua moral?» comparar os professores jesuitas aos proprios restauradores
Ora, as Cartas Provinciaes, como o senado sabe, são desses estudos. Tambem se applicaram a outras sciencias,
de Pascal, o calumniador de genio, como chama Francisco Koster ensinou em Colonia a astronomia de um
Chateaubriand; e eu direi um calumniador innocente, modo tão agradavel como instructivo.»
porquanto. «Mas as doutrinas theologicas, eram, bem entendido,
O SR. PRESIDENTE: – Peço licença a V. Ex. para o objecto principal de seu ensino; e a isto se entregavam com
dizer que a hora marcada para a primeira parte da ordem do a maior actividade mesmo durante os dias de festa. Os
dia já passou, e que se acha na sala immediata o Sr. ministro jesuitas resuscitaram os exercicios das theses (conclusões),
do Imperio para assistir a discussão do orçamento. sem o que, como elles asseguravam, todo o ensino estava
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Eis uma posição morto; exercicios que tornavam publicos e eram
bem desagradavel nas circumstancias em que me acho! Fui desempenhadas com discrição, polidez, instrucção e os mais
accusado censurado em um longo discurso, por isso tomei brilhantes que jámais se viram. Em breve se reconheceu que,
parte nesta discussão forçado e não posso agora Ingolstadt, a universidade catholica chegou ao ponto, pelo
completamente defender-me; pois talvez não me seja menos em theologia de poder medir-se com qualquer outra
permittida usar mais da palavra, a menos de não levar esta da Allemanha. E na verdade no sentido catholico, Ingolstadt
questão para a discussão da resposta á falla do throno, obteve iufluencia semelhante a que tiveram com a reforma
expediente a que me quisera poupar. Mas como pouco tenho protestante, Wittemberg e Genebra.
a dizer, porque estou quasi no fim da analyse do discurso do «Os jesuitas não se devotavam com menos ardor a
nobre senador pelo Maranhão, espero que V. Ex. me direcção das escolas de latinidade. Um dos principaes
permittirá concluir o meu discurso, tanto mais quanto não pensamentos de Lainez era que convinha dar bons
pretendo ir além. Creio que esta materia, apezar de ser professores as classes inferiores de grammatica; sendo a
objecto de simples requerimento não deixa de ter algum primeira impressão que recebe o homem a mais importante
interesse. (Apoiados) para toda vida. Dotado de uma recta intelligencia, Lainez
O SR. PRESIDENTE: – A minha observação é para procurou homens que dedicados á esta parte do ensino,
que V. Ex. resuma o mais que poder o seu discurso. pensassem em consagrar-lhe toda a sua vida; porquanto he
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E' o que pretendo somente o tempo quem inicia em todas as difficuldades desta
fazer. Eu disse que Pascal era um calumniador innocente, funcção e dá ao mestre a autoridade natural e necessaria. Os
porque os factos de que se serviu em suas Cartas, a mór triumphos dos jesuitas sob esta relação, foram prodigiosos.
parte inexactamente reprodusidos, foram por outros Observou-se que a mocidade aprendia com elles muito mais
compilados. Pascal prestava-lhes fé, não tendo tempo de em seis mezes, do que com os outros em um anno. Os
verificar a veracidade, nem esses eram os seus estudos, o mesmos protestantes tiraram os seus filhos dos gymnasios
que hoje está bem comprovado. Mas voltemos a carta de distantes para confial-os aos jesuitas.»
Voltaire, cuja leitura foi interrompida: (lê) Notando de passagem as maravilhas realisadas por
«E' seguramente pelo padre Bourdaloue, pelo padre esses religiosos na reducção da Allemanha ao catholicismo,
Cheminais, por outros prêgadores e pelos seus missionarios. diz o seguinte:
Ponha-se em parallelo as Cartas Provinciaes e os Sermões «Um tal movimento religioso, é talvez sem exemplo
do padre Bourdaloue; pelos primeiros se aprenderá a arte do na historia do mundo.»
escarneo, a de apresentar as cousas indifferentes com Criticando o systema scientifico adoptado pela
feições criminosas, a de insultar com eloquencia: com o companhia, que julga inferior ao racionalista protestante,
padre Bourdaloue se aprenderá a ser severo comsigo accrescenta:
mesmo; indulgente com os outros. «Nem sua devoção, nem sua sciencia marchavam
«Em taes circumstancias pergunto: de que lado está a nas estradas livres, illimitadas e não batidas; todavia tinham
verdadeira moral, e qual destes dous livros é mais util aos uma qualidade que essencialmente os distinguia. Era um
homens? Eu ouso dizel-o: não ha nada de mais
contradictorio,
222 Sessão em 24 de Maio

methodo severo. Tudo era calculado, porque tinha o mesmo nas sociedades, os mancebos estando em sua companhia
fim. suppunham achar-se em uma illustre academia.»
«Um tal aggregado na mesma corporação de sciencia «Os jesuitas tinham conseguido estabelecer entre os
em gráo sufficiente, de profundez e de zelo infatigavel, de seus alumnos de differentes fortunas uma especie de
trabalho e de persuação, de pompa e mortificação, de padroado que volvia em proveito das sciencias. Estes laços
propagação e unidade systematicas, nunca antes delles contrahidos em época em que o coração se expande em
existio no mundo.» sentimentos generosos, depois não se quebravam; elles
«A doutrina theologica do Pontificado, como já estabeleciam entre o principe e o homem de letras essas
dissemos, não tinha quasi mais sectarios entre nós. Os antigas e nobres relações tão vivases entre os Scipiões e os
jesuitas vieram para restabelecel-a. O que eram estes Lelius».
congregados quando chegaram á Allemanha? Hespanhoes, O honrado senador pela minha provincia, na critica
Italianos, Hollandezes. Por muito tempo ignorou-se o nome de aspera e parcial que faz á Igreja e á companhia de Jesus, que
sua Ordem, chamavam-os padres hespanhoes. Occupavam parece ser o seu duende, assim como receiou pela sorte das
cadeiras e achavam discipulos que abraçavam suas doutrinas. mathematicas, tambem inquieta-se pela da grammatica e
«Dos allemães nada receberam: sua doutrina e sua orthographia, se os jesuitas chegarem a ensinar nos
constituição estavam promptas e formuladas quando entre nós seminarios do Brasil, e fundamenta os seus pavores com
surgiram. Podemos, portanto, considerar o progresso do seu outra anedocta puramente germanica, e naturalmente vulgar
instituto na Allemanha como uma nova intervenção da Europa em Heidelberg. Bem que ainda eu não fosse á Allemanha,
romana na Europa germanica. Elles nos venceram no solo com grande pesar meu, e tão pouco cursasse as aulas da
allemão, arrancando-nos uma porção de nossa patria.» famosa cidadella do Palatinado, parece-me que ha notaveis
Isto, Sr. presidente, é um protestante quem confessa: equivocos na exposição de S. Ex. (lê).
«os jezuitas nos vencerão no solo allemão, arrancando-nos «Na Baviera, o conego Braun, tendo-se feito o reforma
uma porção de nossa patria.» E de feito quando os jesuitas do ensino primario, traduziu para o allemão o evangelho e fel-
chegaram naquelle paiz nove partes eram protestantes e uma o adoptar nas escolas. Zangaram-se com isto os jesuitas não
catholica, elles tiveram a gloria de mudar esta situação só porque o estylo não era barbaro, como estava de accordo
transferindo a maioria para o catholicismo, como ainda hoje com grammatica. Levantaram grande celeuma, declararam
subsiste. heretica a linguagem do livro e lutherana a sua orthographia.»
Não quero invocar mais autoridades porque me falta o «O bispo de Regensburgo que era fanatico pelos
tempo, e não desejo demorar mais esta pequena discussão, jesuitas, chamou á contas o pobre conego, que havia tido a
mas peço permissão ao senado para no discurso impresso audacia de alterar a antiga orthographia e escrever an Gott
contemplar além da opinião de Chateaubriand, a de Royer- glauden em vez de in Gott glauben (in Deum), servindo-se da
Collard, nome muito illustre em França, e outr'ora adversario proposição an e não in! Este ridiculo processo terminou por
dos jezuitas. E' uma pequena carta que em 1844 dirigiu ao P. intervenção da autoridade ecclesiastica superior; porém no
Raviguan, outro convertido que acabou entrando para a eleitorado de Carlos Theodoro em 1780, sendo outra vez a
ordem, sobre a obra deste sacerdote intitulada: Existencia e questão do in Gott glauben decidio-se que se escrevesse
lnstituto dos Jesuitas, solida e eloquente defeza da companhia como os jesuitas escreviam!»
na epocha da famosa agitação promovida contra elles em Agora vejamos as incongruencias desta curiosa
1844 e 1845. anedocta como tantas que quotidianamente por ahi se
«Vossa eloquente defeza do instituto dos jesuitas faz- exhibem contra essa corporação religiosa. Henrique Braun do
me comprehender a energia dessa creação extraordinaria e a que S. Ex. faz um conego, era um simples Benedictino da
influencia que outr'ora exerceu. Tanto quanto é possivel abbadia do Munich e professor de allemão, poesia e
comparar as cousas mais dissemelhantes, poder-se-hia dizer eloquencia na mesma cidade. Em 1717 foi elle encarregado
na distancia da terra ao céu, Lycurgo e Sparta foram o berço da direcção dos lycêos, gymnasios e escolas tanto da Baviéra
de S. Ignacio: Sparta acabou, os jesuitas não acabaram. EIles como do alto Palatinado, onde emprehendeu reformas que
tem um principio de immortalidade no christianismo e nos não poderão ser approvadas. Mas nessa época já eram
sentimentos bellicosos do homem.» Os jesuitas são pois os passados quatro annos apoz a extincção dos jesuitas, que
grandes lidadores da igreja, os que a deffendem com uma como sabe todo o senado succedeu em 1773. A corporação
abnegação heroica. Dahi a odio que lhe votam as sociedades portanto não podia mais influir para praticar o enorme
secretas. attentado contra e a orthographia que tão eloquentemente
Chateaubriand não está no caso de Royer-Collard, lhes exprobou o honrado senador. Os membros dispersos e
sempre foi um amigo da companhia de Jesus, mas sua sob o peso do acto pontifical que influencia, podiam ter nessa
opinião nem por isso deixa de ter um grande, peso, attenta a época?
respeitabilidade do seu caracter e alta posição de homem de A estada de Braun na direcção dos estudos da Baviera
letras. Eis o que elle diz no Genio do Christianismo sobre o não foi além de 1782, quando o sabio Benedictino propôz-se a
merecimento dos jesuitas como educadores da mocidade. fazer, segundo a vulgata, a traducção da Biblia que não pôde
«A Europa illustrada soffreu uma perda irreparavel com levar a effeito por haver fallecido em 1792. Não duvido que a
a suppressão dos jesuitas (refere-se á 1773); a educação questão philosofica do an Gott glauben e in Gott glauben
nunca mais se levantou depois de sua quéda. Como a mór produzisse ardente polemica entre os homens de letras da
parte de seus professores eram homens de letras mui Allemanha, mas não podia ter o desfecho que S. Ex. lhe
procuradas attribue, maxime não dizendo o nobre senador que autoridade
superior foi essa que no Palatinado ou na Baviera era
sustentou Braun, ora abandonou-o; notando-se que Carlos
Theodoro, eleitor Palatino, herdou
Sessão em 24 de Maio 223

o ducado da Baviera em 1777, e governou-o até sua morte em Hyppolito Passy, na camara dos pares por occasião da
1799. agitação que nessa época se promoveu contra o governo de
Não posso, Sr. presidente, apreciar essa questão de Luiz Felippe a pretexto dos jesuitas, em que as sociedades
grammatica ou orthographia germanica, que para nós não tem secretas tomaram muita parte.
interesse, e nem lhe conhecemos os fundamentos, e as A calumnia era demasiado visivel, e
razões dos dous partidos. Mas o que tambem me causa mathematicamente se podia e foi fulminada, confrotando as
especie é o achar-se nella envolvido o bispo de Ratisbona datas. Essa Historia de França foi publicada em 1810, e não ia
(Regensburg) fanatico, como diz S. Ex., protector dos jesuitas, além do reinado de Luiz XVI, quando Bonaparte nenhuma
que chamou a contas o pobre conego! Ratisbena naquella figura fazia naquelle paiz. Mas os adversarios da Igreja
época era uma cidade livre do Imperio Germanico, com colheram todo o fructo dessa abominavel especulação.
governo separado, e não fazia parte do territorio bavaro, como O honrado senador accusa-me de querer um codigo
hoje. Que autoridade tinha o seu bispo sobre um benedictino criminal catholico. Comquanto não exhibisse semelhante
da Baviera para chamal-o a contas? Pela paz de Presburgo desejo entendo que estava no meu direito, por quanto as leis
(1805) foi que Ratisbona perdeu os féros de cidade livre, mas temporaes, civis ou criminaes, devem marchar de accordo
passou para o dominio bavaro em 1810, e portanto não deixa com os principios da religião que o Estado adoptou. E se nisto
de causar especie que em uma questão que se debatia no ha erro porque o nosso codigo não permittiu liberdade
territorio da Baviera podesse envolver-se o bispo de uma completa?
cidade livre da Allemanha, e com a jurisdicção que lhe O SR. RODRIGUES SILVA: – Apoiado.
empresta o nobre senador por minha provincia de condemnar O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Se os dogmas
ou embaraçar uma traducção da Biblia que alli se fazia, e que catholicos não teem direito á protecção do Estado, como os
infelizmente seu autor não pôde concluir? podem ter os maçonicos, e não obstante estes foram
A questão, Sr. presidente, não vale a pena discutir-se, garantidos.
e nem nós poderiamos resolvel-a, mas pelo que tenho Accrescenta ainda S. Ex. que tenho ogerisa aos
observado vê-se que a boa fé do nobre senador pelo symbolos e emblemas maçonicos! De onde deduz S. Ex. esta
Maranhão foi ainda uma vez illaqueada, e que os jesuitas não sua convicção?
são tão hospedes em grammatica e orthographia como S. Ex. Os symbolos e emblemas em si nenhum valor, tem,
quer fazer crer. A anecdota do in gott glauben percorre talvez nem são innocentes nem culpados, servem como de signaes
as universidades germanicas protestantes, sobretudo para designar uma doutrina, uma instituição que delles usam,
Heidelberg, outr’ora capital do Palatinado, para entreter na e são amados ou repellidos segundo o valor moral das
juventude dessa confissão o sentimento do despreso pela doutrinas que representam.
sabia congregação de Jesus. Entretanto, note o honrado Tratando desta materia S. Ex. para endeosar os
senador, nessa época em que Braun traduzia o Evangelho maçons attacou os illuminados e carbornarios por conspirarem
gosava de extensa nomeada o ex-jesuita Bento Stattler, como contra a ordem civil ou religiosa. Felizmente esses sectarios,
theologo, tanto entre catholicos como entre protestantes, mas oriundos da mesma fonte são, conforme o honrado senador,
suas opiniões nem sempre irreprehensiveis, foram adversarios dos jesuitas. Mas das censuras quanto aos
condemnadas em Roma, e suas obras postas no Index sem a symbolos tirou S. Ex. partido por investir contra aquelles
clausula donec corrigantur. religiosos por causa dos ritos Chineses e Malabares, historia
A respeito dessas anecdotas creadas ad hoc com o que S. Ex. não parece conhecer bem, que aliás não desdoura
proposito de excitarem o odio ou o despreso contra os jesuitas os jesuitas como bem o sustentou Leibnitz. O tempo que
na população illetrada que desconhece essa arma de guerra; tenho a dispor he pouco e quero aproveital-o, reservo esta
anecdotas que formigam nessas compilações de mentiras e questão para outra occasião.
calumnias de toda a especie e emprestam uma facil erudição O honrado senador por minha provincia tambem não
a quem as compulsa e de boa fé lhes dá credito, eu poderia se conforma com a intervenção da Igreja nos actos principaes
citar muitas, mais ou menos curiosas, se por ellas se podesse de nossa vida desde o berço até a sepultura. S. Ex. acha que
basear uma solida critica quanto ao merito da Companhia de nisto ha oppressão, e outro nobre senador disse que «o
Jesus. Limito-me, porém, a uma pela celebridade que teve em melhor era termos ficado no céo». Este auxilio que nos presta
França, e não pouco prejudicou o credito dessa eminente a Igreja acompanhando-nos em nossa peregrinação na terra e
congregação divulgada como foi pelo jornalismo que lhe que em geral é applaudido, é o crime ou o defeito de todas as
achou graça e se utilisou como arma de guerra. Entretanto, a religiões. Se ha nisto bem ou mal é questão de largo folego, e
principio passou como méra brincadeira de um jornal adverso, impropria desta casa. Os que recusam ou contestam essa
o Constitucional, mas brincadeira de máo gosto, porque intervenção da Igreja mostram que não querem estar no seu
encerrava uma audaciosa calumnia em damno da reputação gremio; os outros a aceitam e applaudem. Não conhecemos a
de um escriptor e respeitavel religioso o padre Loriquet. razão porque Deus creou o homem; mas o de que temos
Esse jornal lembrou-se um dia de declarar em suas certeza é que o auxilio da Igreja foi-nos prestado para
columnas que um dos professores do collegio de Saint- alcançar o caminho do céo, de onde por culpa de nossos paes
Acheul, o P. Loriquet, havia em uma Historia de França da sua sahimos.
lavra dito que o marquez de Buonaparte fôra lugar-tenente dos O nobre senador a quem respondo, excellente
exercitos de Luiz XVIII. O fim era estragar a opinião mui catholico como se apregoa, atacou ainda a organisação do
favoravel que havia do ensino desse celebre collegio. A clero catholico, sob o pretexto de que fórma uma casta. E’ a
calumnia propagou-se a despeito das reclamações contrarias primeira vez, Sr. presidente, que o celibatario faz casta,
e ainda em 1844 foi reproduzida por M. porquanto a casta presuppõe a familia e a hereditariedade da
profissão. O clero do Indostão, da religião de Brahma, os
antigos sacerdotes egypcios, e na Judéa os levitas formaram
castas.
224 Sessão em 24 de Maio

Mas casta no celibato é um não-senso, e admira como a bella quantas difficuldades a vencer para manter-se intacta a
intelligencia do honrado senador pelo Maranhão o acolhesse; verdade do symbolo?
parece-me ser uma reminiscencia de Heidelberg, que tantos «A corrupção do seculo, diz o mesmo escriptor e
prejuizos incutiu no animo de S. Ex. contra a igreja de nosso eminente catholico, apossa-se todos os dias de certas
paiz, a religião da verdade. expressões, e as estraga para divertir-se. Se a Igreja fallasse
Querendo poupar os poucos minutos que me restam, e nossa lingua, poderia depender de algum bello espirito cynico
cumprir o que prometti a S. Ex. o Sr. presidente, vou tomar um tornar a palavra mais sagrada da liturgia ou ridicula ou
conforto com o calvinista Guizot, que se occupou desta indecente. Debaixo de todas as relações imaginaveis, a lingua
questão e faz justiça ao clero catholico e á Igreja. Invoco essa religiosa deve ficar fóra do dominio do homem.»
autoridade, e á Heidelberg opponho Guizot. O que em relação Este elevado pensamento foi comprehendido por todas
a esta questão diz esse eminente escriptor protestante, na as religiões reveladas.
lição quinta da sua Historia geral da civilisação na Europa, Entretanto o nobre senador julgou que devia
com permissão do senado transcreverei no discurso impresso, condemnar ainda nesta parte o procedimento da Igreja.
por agora me faltar tempo. Sr. presidente, como ainda tenho de tratar do
«Quanto ao modo de formação e de transmissão do assumpto deste requerimento em outras sessões, eu para
poder na igreja, diz Guizot, ha uma expressão, de que muitas obedecer a V. Ex., ponho aqui termo ao meu discurso. Não
vezes se tem abusado fallando do clero christão, e que tenho faltará occasião de discutir as proposições inexactas deste
necessidade de afastal-a, é a de casta. Muitas vezes se tem discurso que restam e merecem reparo, bem como outras do
tratado o corpo dos magistrados ecclesiasticos de casta. Esta mesmo quilate dos discursos proferidos pelo honrado
expressão não é correcta: a idéa de hereditariedade é presidente do conselho e pelos nobres senadores pelo Espirito
inherente á idéa de casta.» Santo e Pará.
«Percorrei o mundo; considerae todos os paizes nos Tenho dito.
quaes o regimen das castas estabeleceu-se, na India, na O SR. ZACARIAS E OUTROS SENHORES: – Muito
Egypto, vereis por toda a parte a casta essencialmente bem.
hereditaria; é a transmissão da mesma situação; do mesmo Ficou adiada a discussão pela hora.
poder de pae a filho. Onde não ha hereditariedade, não ha
casta, ha corporação; o espirito de classe tem seus SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA.
inconvenientes, mas é muito differente do espirito de casta.»
«Não se pode applicar o termo casta á Igreja christã. O ORÇAMENTO DO IMPERIO.
celibato dos padres obstou que o clero christão não
constituisse uma casta.» Escuso accrescentar todo o Achando-se na sala immediata o Sr. ministro do
desenvolvimento que dá á sua these esta grande intelligencia. Imperio, foram sorteados para a deputação que o devia
A lingua especial, a latina, de que usa a nossa igreja receber os Srs. sorteados para a deputação que o devia
tambem é motivo de censura para o honrado senador. receber os Srs. Teixeira Junior, visconde do Bom Retiro e
Em que este facto prejudica as letras e a propagação Paes de Mendonça, e, sendo introduzido no salão com as
da sciencia? Em primeiro logar é uma vantagem conservar formalidades do estylo, tomou assento na mesa á direita do
uma lingua nas condições da latina, e mesmo que haja uma Sr. presidente.
corporação que viva com ella e a mantenha. Ora, a igreja Proseguiu a discussão, com as emendas da
naturalmente e sem esforço proprio, estimou poder usar de commissão do orçamento e do Sr. visconde de Nitherohy, do
uma lingua que não estivesse sujeita a variações como as projecto de lei fixando a despeza orçando a receita geral para
linguas vivas, porquanto a igreja tem sob sua guarda um o exercicio de 1872 – 1873, no art. 2º relativo ao ministerio do
deposito de doutrinas inalteraveis, e então a lingua que não Imperio.
estivesse exposta á variações de locução, era a mais propria, O SR. PARANAGUÁ: – Depois do ultimo discurso do
a mais adaptada para manter a verdade da fé, illeza de nobre presidente do conselho, eu esperava que do seio da
qualquer alteração, como não acontece com outras linguas illustre commissão de orçamento, a que tenho a honra de
que vão constantemente variando com o andar do tempo, pertencer, alguma voz mais autorisada do que a minha se
pelos perigos que dahi resultam. E’ assim que se observa na levantasse para protestar contra uma especie de censura que
igreja grega, na armenia e na cophte, e entre os proprios do discurso de S. Ex. resultou contra a mesma commissão...
Israelitas desde o grande cativeiro de Babylonia, porquanto O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
conservam o texto hebraico antigo com o maior zelo. Conselho): – Não foi minha intenção.
Ha ainda outra vantagem na adopção de uma só O SR. PARANAGUÁ: – ...e tambem para dizer ao
lingua quando se trata de uma igreja como a nossa que é nobre presidente do conselho que os membros dessa
catholica, isto é, universal por excellencia. De um pólo á outro commissão, tendo conferenciado e reflectido, como era de seu
o catholico que entra na igreja do seu rito está como se dever, nobre o objecto das emendas em que assentaram por
estivesse em sua parochia, nada se lhe mostra estranho á accôrdo unanime, é natural que não estejam dispostos, ao
seus olhos. Chegando, como bem diz o conde de Maistre, elle menos pela minha parte posso affirmal-o, a retirar essas
ouve o que ouviu toda a sua vida, póde misturar sua vóz com emendas e ainda menos a votar contra ellas, por mera
a de seus irmãos; elle comprehende e é comprehendido. complacencia.
Sujeito o deposito sagrado á babel das linguas, O nobre presidente do conselho, é certo, declarou que
estava tranquillo depois de ter tido uma conferencia com parte
da commissão, conferencia de que eu não tive noticia senão
depois de realisada, e creio que o mesmo aconteceu
Sessão em 24 de Maio 225

ao nobre senador pelo Rio Grande do Norte e ao nobre do conselho tinha razão, não deviamos votar contra nossas
senador pela provincia do Pará; mas o nobre presidente do emendas, deviamos modifical-os ou retiral-as francamente, e
conselho devia, se pouca conta fez dos membros da jamais condemnal-as por um voto symbolico.
commissão que foram excluidos, fazer grande cabedal e ter Não faço opposição systematica ao nobre presidente
em mais apreço os sentimentos de delicadeza e de lealdade do conselho e tão pouco a seus nobres collegas, o senado
dos membros que conferenciaram com S. Ex. ou com o seu sabe bem; não faço alarde de opposicionista, não preciso
honrado collega, o Sr. ministro do Imperio, e, portanto, devia dizer que estou em opposição aberta e decidida ao ministerio,
entender em termos habeis quaesquer declarações que por minha posição é assaz conhecida para não ter necessidade
ventura elles lhe houvessem feito no sentido dos seus definil-a; isso, porem, não quer dizer que esteja disposto a
desejos, e foi justamente o que resultou da conferencia negar ao ministerio os meios necessarios para viver; não, de
alludida que não podia prejudicar, sem prévia intelligencia, o modo algum. Se o nobre presidente do conselho tivesse
accôrdo... conseguido justificar as suas exigencias e convencer-me de
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do que mal tinhamos feito, eu não duvidaria concordar com os
Conselho): – Para conferenciar com os meus amigos não honrados collegas na retirada das emendas ou na sua
preciso de permissão de ninguem. modificação; mas infelizmente o nobre presidente do conselho
O SR. PARANAGUÁ: – ...que até o presente não foi nada conseguiu a este respeito.
interrompido nas conferencias da commissão; e a este Quanto á emenda da commissão, relativa ao
respeito não posso deixar de mencionar com elogio o augmento de despeza com a repartição de estatistica, eu não
procedimento cavalheiroso do digno relator da commissão e posso deixar de sustentar e de manter a emenda suppressiva.
dos outros honrados membros. Portanto, o nobre presidente A proposta do governo pede para essa verba, directoria geral
do conselho não interpretou devidamente as declarações que da estatistica, 25:000$; a emenda da camara dos deputados
lhe foram feitas por tão distinctos cavalheiros, que não podiam quasi triplica este algarismo, eleva-o a perto de 70:000$. Este
deixar de ouvir-nos antes de resolver definitivamente sobre a augmento é injustificavel, direi mesmo é uma decepção cruel
retirada ou alteração das emendas, em que haviamos para aquelles que ainda ha muito pouco tempo, confiados nas
assentado por accôrdo unanime. A commissão... promessas do governo, de que não haveria augmento com a
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do creação de semelhante repartição, votaram por ella, porque
Conselho): – E' um castello que V. Ex. está levantando. então era o grande argumento: «Não ha augmento de
O SR. PARANAGUÁ: – ...tem estado de perfeito despeza; podeis votar que não excederá tudo a 25:000$».
accôrdo, não só pelo que diz respeito ao orçamento que se Hoje poucos annos são decorridos, aquella repartição está em
discute, senão tambem pelo que toca ao orçamento de outros seu tirocinio, como nos declara em seu relatorio o nobre
ministerios, que examinámos. ministro do Imperio, e já se eleva a despeza com o augmento
A censura que resulta do discurso do nobre presidente de quarenta e tantos contos.
do conselho contra a commissão é de ter havido O SR. CORRÊA DE OLIVEIRA (Ministro do Imperio):
procrastinação ou demora na apresentação do parecer; mas – Não com o pessoal.
tal procrastinação não houve desde que se considera que o O SR. PARANAGUÁ: – Não é com o pessoal, diz o
nobre presidente referiu-se á data da remessa ou distribuição nobre ministro do Imperio; está declarado o destino que tem o
dos papeis á nobre commissão, e nós não podemos ser augmento não é justificavel á luz dos debates. O augmento
responsaveis senão da data da entrega dos mesmos papeis; é votado é para despezas de expediente, publicação de relatorio
dahi que se deve contar o tempo para vêr-se se estamos ou e acquisição de livros; mas não ha repartição nenhuma,
não em móra. mesmo daquellas que teem uma esphera muito mais ampla,
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do que peça tanto por semelhantes objectos. Comparada com a
Conselho): – Não censurei a commissão, referi o facto. mesma repartição, que está debaixo das vistas immediatas do
O SR. PARANAGUÁ: – Assim, é justo que se saiba nobre ministro, resulta que para o expediente da secretaria do
que a commissão de orçamento a que tenho a honra de Imperio não se exige quantia igual senão muito menor.
pertencer, não teve mais do que cinco ou seis dias para Para a impressão do relatorio do Imperio, de lei e
conferenciar e apresentar seu parecer a respeito do decretos e outras despezas de expediente pedem-se 24:000$
orçamento; e ninguem dirá que foi tempo de sobra para a e para a repartição de estatisticas, simplesmente a impressão
commissão que o nobre presidente do conselho entendeu que do relatorio, exigem-se 20:000$ e mais vinte e tantos contos
tinha sido retardataria. para outras despezas, compra de livros etc. Releva notar-se
Tambem no seu discurso o nobre presidente do que as despezas de expediente dessa repartição de estatistica
conselho deixou entrever precipitação senão leviandade da pela lei do orçamento vigente e propostas do governo estão
parte da commissão; de outra sorte, o nobre presidente do calculadas em 880$; igual quantia acha-se contemplada nas
conselho não nos pederia que viessemos agora votar contra o tabellas explicativas dos orçamentos de 1872 – 1873 bem
nosso trabalho ou retiral-o, fazendo uma retractação com tanta como no de 1873 – 1874; e entretanto a emenda da camara
facilidade. eleva essa verba de 880$ a quarenta e tres contos e tanto!!...
Não ha pois, motivo plausivel para censurar-se á o augmento é extraordinario, mesmo comparado com a
illustre commissão de orçamento, nem razão sufficiente para despeza que se faz em outras repartições.
que a commissão venha retractar-se em pleno senado, Não ha repartição que exija uma somma tão avultada
retirando suas emendas ou, o que é peior, votando contra para semelhantes serviços. A repartição da justiça exige
ellas; porquanto, se entendessemos que o nobre presidente
226 Sessão em 24 de Maio

apenas 20:000$, a de estrangeiros 22:500$, E, pois, como esta autorisação involve uma questão de
comprehendendo-se a compra de livros para a sua alta monta, eu entendo que a emenda da commissão, sem
bibliotheca, a marinha 6:200$, a agricultura por impressão do prejulgal-a, separando-a do orçamento, aconselha o alvitre
relatorio, decisões, leis e outras peças officiaes, compra de mais conveniente, para que o senado tome uma resolução
papel, cavalgadura para correios, etc., 31:000$000. acertada. Então examinaremos a questão e procuraremos
Portanto, a repartição de estatistica, que ainda está saber em que baseou-se o nobre senador pelo Rio de Janeiro
fazendo seu tirocinio, como informa o nobre ministro, por esta para dar ao governo um credito de 2,000:000$ em uma
emenda da camara dos Srs. deputados ficará tão largamente emenda que offereceu para substituir a da camara dos Srs.
dotada como não ha exemplo; e eu estou certo de que este deputados.
algarismo de despeza, contemplando uma vez no orçamento, Entendo que estes orçamentos não devem ser
não ha de diminuir mais. Mas quaes foram os dados para o arbitrariamente feitos á vontade de qualquer senador ou
calculo, qual a base que teve a camara dos Srs. deputados? O mesmo do governo; concede-se uma autorisação destas,
relatorio do nobre ministro, as tabellas explicativas do quando se trata de uma obra estudada convenientemente, de
orçamento nada dizem a este respeito; a proposta do governo que deve haver um prospecto, uma planta, um orçamento; isto
tambem não pediu augmento algum. E' que sem duvida, a é indispensavel para o pedido e concessão de credito, porque
repartição de estatistica achou na camara dos Srs. deputados tanto perigo ha em um credito illimitado, como em um credito
pessoa bem informada, e seguramente muito devotada para arbitrario.
promover um augmento não pedido, e que não póde deixar de O SR. ZACARIAS: – Orçamentos improvisados.
causar reparo pela sua exorbitancia; e se isto acontece O SR. PARANAGUÁ: – Não é sobre a perna que
quando a repartição faz apenas o seu tirocinio, o que não será havemos de fazer um orçamento desta ordem, orçar em
quando ella descobrir novos horizontes? tantos mil contos, por um calculo de pouco mais ou menos.
Portanto, não está justificado o augmento; mas o Portanto, a emenda do nobre senador pela provincia
serviço não se fará? Entendo que póde fazer-se pelo credito do Rio de Janeiro me parece que não resolve a questão; se
especial votado... põe um limite, é este arbitrario.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Seria conveniente que ella seguisse a mesma sorte da
Conselho): – Não apoiado. emenda, que separámos, para então ser tomada em
O SR. PARANAGUÁ: – ...para o recenseamento, que consideração pelo senado que decidirá em sua sabedoria
é por onde se tem feito; continue-se e então teremos uma como entender mais justo, mais razoavel.
base para a consignação da despeza ordinaria. E' isto Em todo o caso não se diga que o ministerio obrou de
preferivel ao arbitrio de uma dotação tão larga que accôrdo com a camara municipal; ella protesta e,
seguramente não será restringida nos orçamentos reinvindicando sua prerogativa, reclama uma providencia do
subsequentes. Portanto, mantenho o meu voto a respeito poder legislativo.
desta verba consignada na emenda da commissão. Se a camara municipal não merece a confiança do
A outra emenda impugnada pelo nobre ministro governo, se tem abusado, a questão é outra. Faça o governo
tambem não póde deixar de ser sustentada, a que diz respeito seu dever; quando se trata de uma obra tão importante e que
ao matadouro. Tomámos esta deliberação pensadamente, exige tão avultada despeza, pelo art. 47 da lei de 1828, a
porque entendemos que havia na emenda da camara dos Srs. annuencia do governo é indispensavel, a camara municipal
deputados offensa a um principio. não póde leval-a a effeito senão mediante a sua approvação,
O SR. ZACARIAS: – Apoiado. e foi isto o que pediu a Illma. camara, solicitando autorisação
O SR. PARANAGUA: – A competencia da camara para contratar; a emenda, concedendo ao governo
municipal foi postergada, e admira que o nobre ministro do semelhante autorisação, tráe sua origem, porque o governo
Imperio, que deseja erguer o elemento municipal, que lastima não precisava disso. A autorisação concedida ao governo, nos
a curteza de attribuições das municipalidades, sua falta de termos da emenda do nobre senador pelo Rio de Janeiro, com
iniciativa e de recursos, como declarou no relatorio, venha referencia á lei de 1828, não salva a competencia da Illma.
restringir aquillo que pela lei de 1828 lhes compete e que tem camara municipal. Desde que o governo é quem fica
sido respeitado pelos precedentes do corpo legislativo. autorisado, a concessão ou a referencia que se faz á camara,
Assim se procedeu em 1845; uma disposição do é uma perfeita burla.
orçamento autorisou a Illma. camara para contrahir um O SR. ZACARIAS: – Um escarneo.
emprestimo e levar a effeito a mudança do matadouro; em O SR. PARANAGUÁ: – Portanto, estou disposto a
1851 igual autorisação houve, respeitando-se sempre a manter as emendas que assignei, mediante o accôrdo
competencia da camara, que, afinal achando-se habilitada, unanime dos meus honrados collegas da commissão, e não o
realisou a mudança. Mas o nobre ministro do Imperio faço com animo de hostilisar o gabinete, pois já disse que não
prevaleceu-se agora do pedido da Illma. camara e o converte lhe nego os meios de governar; desejo apenas ser
em proveito do seu ministerio, sequestrando uma attribuição convencido.
que devera manter e respeitar na camara municipal. Nem se O mesmo a respeito da outra emenda que foi
diga que aquella disposição da lei de 1828 podia ser revogada impugnada pelo nobre presidente do conselho, com relação á
por outra; a disposição legislativa subsiste, o nobre ministro o reforma da secretaria do Imperio. Creio que a impugnação de
que quer é uma excepção para o caso vertente. Portanto, a S. Ex. não tem razão de ser, desde que a commissão
Illma. camara municipal muito dignamente reclamou, apresentou uma emenda additiva, tornando geral a disposição
protestando contra o procedimento que com ella se quer ter. a respeito de todas as autorisações para reformas. A emenda
da commissão não fica prejudicada e é preferivel á emenda da
camara dos Srs. deputados, porque esta lembra alguma
cousa, que a emenda da commissão cala,
Sessão em 26 de Maio 227

isto é, alteração das tabellas, augmento de vencimentos, etc. Não foi approvada a emenda suppressiva da
Conceda-se ao nobre ministro autorisação para reformar sua commissão ao n. 3, e sendo este tambem rejeitado, foi
secretaria, que aliás, foi reformada ha pouco, mas não lhe approvada a emenda do Sr. visconde de Nitherohy.
vamos desde já lembrar que deve alterar as tabellas dos Foram approvados finalmente os ns. 4, 5, e 6.
vencimentos do pessoal. Devendo passar-se á discussão do art. 3º relativo ao
Portanto, as emendas estão sufficientemente ministerio da justiça e não estando presente o respectivo
fundamentadas, e a impugnação do nobre presidente do ministro, o Sr. visconde do Rio Branco, presidente do
conselho em nada abalou o voto que, ao menos, eu estou conselho, requereu verbalmente o adiamento da discussão
disposto a manter a respeito dellas. Julguei do meu dever para 26 do corrente.
fazer esta declaração para que o nobre presidente do Posto a votos o requerimento, foi approvado.
conselho não induzisse do meu silencio uma adhesão a seu Esgotada à ordem do dia, o Sr. presidente deu a
pedido, entendendo que quem cala consente. Eu não estou seguinte para 26:
disposto declaro francamente, a annuir ao pedido do nobre 2ª discussão do projecto de lei de orçamento no art. 3º
presidente do conselho; nem nisto enxergue S. Ex. qualquer relativo ao ministerio da justiça.
má vontade que não tenho; ao contrario, nutro muita Levantou-se a sessão ás 4 horas e 10 minutos.
benevolencia para com S. Ex.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do 17ª SESSÃO EM 26 DE MAIO DE 1873.
Conselho): – Agradeço muito.
O Sr. Corrêa de Oliveira (Ministro do Imperio) PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ.
pronunciou um discurso que publicaremos no appendice.
Findo o debate, retirou-se o Sr. ministro com as Summario. – Expediente. – Parecer da commissão de
mesmas formalidades com que fora recebido, e procedeu-se á fazenda. – Parecer da commissão de legislação. –
votação sobre o art. 2º. Observações e requerimento do Sr. Teixeira Junior. – Ordem
Foi approvada a emenda da outra camara «em logar do Dia. – Orçamento da justiça. – Emendas da commissão. –
dos paragraphos» rubricas, e bem assim a emenda da Discursos dos Srs. ministro da justiça, Leitão da Cunha,
commissão. Zacarias e Pompeu.
Foram aprovados successivamente os ns. 1º, 2º, 3º, 4º
e 5º. Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se
Posto a votos o n. 6º, salva a emenda, foi approvado, presentes 39 Srs. senadores, a saber; visconde de Abaeté,
sendo igualmente approvada a emenda da commissão. Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de
Foram approvados os ns. 7º, 8º e 9º. Carvalho, Figueira de Mello, marquez de Sapucahy, Jobim,
Posto a votos o n. 10. salva a emenda, foi approvado e Paranaguá, Barros Barreto, barão de Camargos, Zacarias,
foi tambem approvada a emenda da outra camara. Chichorro, barão de Cotegipe, Firmino, conde de Baependy,
Foram igualmente approvados os ns. 11, 12, 13 e 14. duque de Caxias, Pompeu, visconde de Camaragibe, Antão,
Foi approvado o n. 15, salva a emenda da outra barão do Rio Grande, Teixeira Junior, Godoy, barão da
camara, que tambem foi approvada. Laguna, Junqueira, visconde de Souza Franco, Uchôa
Foi approvado o n. 16 com a emenda da commissão, e Cavalcanti, Sinimbú, visconde de Jaguary, visconde de
com a reducção do algarismo. Muritiba, Candido Mendes, visconde do Bom-Retiro, Paes de
Foram approvados os ns. 17 e 18 sem emenda. Mendonça, Leitão da Cunha, visconde de Inhomirim, Cunha
Foi approvado o n. 19, salvas as emendas, que Figueiredo, Silveira da Motta, barão de Pirapama, marquez de
tambem foram approvadas. S. Vicente e visconde do Rio Branco.
O n. 20 foi approvado; assim como o n. 21 com a Deixaram de comparecer com causa participada os
emenda da commissão. Srs. Diniz, Nunes Gonçalves, Fernandes Braga, Paula
Os ns. 22 23, 24, 25, 26, 27 e 28 foram approvados Pessoa, barão de Maroim, F. Octaviano, Mendes dos Santos,
sem emenda. Saraiva, Silveira Lobo, Ribeiro da Luz, Fernandes da Cunha,
O n. 29 foi approvado e bem assim a respectiva visconde de Caravellas, visconde de Nitherohy, Nabuco, Vieira
emenda da outra camara. da Silva e Jaguaribe.
Foi approvada a emenda de suppressão da Deixaram de comparecer sem causa participada os
commissão de orçamento ao n. 30. Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz, e visconde de
Os ns. 31, 32, 33 e 34 foram approvados sem emenda. Suassuma.
O n. 35 foi approvado e bem assim a emenda da outra O Sr. presidente abriu a sessão.
camara. Leu-se a acta da sessão antecedente, e não havendo
Os ns. 36 até 42 foram approvados sem emenda. quem sobre ella fizesse observações, deu-se por approvada.
Não foi approvada a emenda de suppressão ao n. 43, O Sr. 1º Secretario leu o seguinte:
sendo approvado o dito numero com a emenda da outra
camara. EXPEDIENTE.
O n. 44 foi approvado.
Do paragrapho unico, foi approvado o n. 1; approvado Dous officios, de 21 e 24 do corrente, do ministerio do
o n. 2, e bem assim a segunda emenda da commissão, Imperio, remettendo as actas da installação dos collegios
ficando prejudicada a primeira. eleitoraes da villa de Santo Antonio da Barra e do Capim
Grosso, da provincia da Bahia, para a ultima eleição de um
senador. – A' commissão de constituição.
Officio, de 23 do corrente, o 1º secretario da camara
dos
228 Sessão em 26 de Maio

Srs. deputados, participando ter a mesma camara adoptado a e contêm outras disposições concernentes ao mesmo
emenda do senado á proposição relativa á licença concedida assumpto.
ao juiz de direito Joaquim Tiburcio Ferreira Gomes, a qual vae Sobre ella occorreu á commissão as observações que
ser dirigida á sancção imperial. – Inteirado. passa a expor:
Requerimento dos proprietarios da fabrica de rapé A commodidade dos povos seria melhor attendida se
arêa preta, pedindo que lhes seja concedida isenção de os districtos das relações não acompanhassem com tanta
direitos no caso de ser esse favor concedido a outras fabricas. exactidão os actuaes limites das provincias, como prescreve o
– A' commissão de fazenda. § 1º do art. 1º; mas este defeito tem de desapparecer com
O Sr. 2º Secretario leu o parecer da mesa n. 526, de uma nova divisão das provincias exigida pelas nossas
26 de Maio de 1873, expondo a materia de uma proposição da circumstancias e que deve ser objecto de uma lei especial.
camara dos Srs. deputados que approva as pensões de 36$ Conviria que desde já ficasse determinado o pessoal
mensaes, concedidas a Domingos Leite de Alvarenga, filho do de que se comporão as secretarias das relações, limitando-se
alferes João Baptista Pereira Leite, e a D. Maria Idalina de a disposição do § 10 do mesmo artigo por ser da competencia
Castro, mãe do alferes João Firmo de Castro e concluindo que da assembléa geral a creação dos empregos e o
a proposição entre em discussão e seja approvada. estabelecimento de seus ordenados, se não estivesse
Ficou sobre a mesa para entrar em discussão com a entendido que a autorisação contida no citado § 10 não póde
proposição a que se refere. entender-se á creação de empregos com novas funcções e ao
estabelecimento de ordenados maiores que os fixados na lei
PARECER DA COMMISSÃO DE FAZENDA. vigente. Será de bom effeito esta autorisação se conseguir-se
a diminuição do pessoal designado para as actuaes relações
Isenção de direitos. conforme as circumstancias permittirem.
Diminuindo-se o numero dos membros das relações
A commissão de fazenda examinou por ordem do existentes e compondo-se as novas com pessoal
senado o projecto, approvado pela camara dos Srs. deputados limitadissimo, seria para desejar que a proposição, da outra
autorisando o governo para conceder á companhia de pesca, camara, em bem da prompta e facil administração da justiça,
salga e preparo de peixe, estabelecida nesta Côrte com a estabelecesse providencia mais ampla e efficaz do que a
denominação de Guanabara isenção de direitos de contida no art. 4º, que faz os desembargadores incompativeis
importação. para os cargos de senador, deputado e membros da
A isenção autorisada é para o material fixo e assembléa provincial, no districto de sua jurisdicção.
fluctuante, apparelhos, machinas, ferramentas, combustivel e Parece que se teve em vista somente arredar sua
qualquer outro material que a companhia receber do influencia do processo eleitoral e não se attendeu
estrangeiro para o fim a que se propõe, fixando o governo sufficientemente aos gravissimos inconvenientes que
previamente a quantidade e qualidade dos objectos que resultarão da ausencia dos membros do tribunal distrahidos
houverem de ser despachados com tal isenção. para aquelles mesmos cargos por eleição do outro districto, ou
E considerando a commissão que o corpo legislativo para empregos de nomeação do governo.
tem facultado este favor de isenção de direitos ás emprezas A incompatibilidade dos juizes para outro qualquer
industriaes que estão em casos identicos ao desta, não só cargo é uma providencia imperiosamente reclamada para a
para promover o desenvolvimento das industrias no Imperio, boa administração da justiça; sem elIa será baldado o desejo
como porque nada perde o thesouro com a isenção de direitos de elevar os magistrados á altura que lhes assignou a
sobre objectos que não teriam de ser importados se taes constituição, fazendo-os poder independente, e vã a
emprezas não se organisassem; esperança de colher todos os beneficios de tão util instituição.
Considerando mais que este favor da isenção de Todavia a commissão não propõe emenda no sentido
direitos á companhia de pescaria está consignado no § 3º do de suas idéas; reconhece a necessidade de confiar ao tempo
art. 1º do decreto n. 876 de 1856 e que a companhia a realisação dos melhoramentos de que não se descuida o
Guanabara é a primeira que se organisa e funcciona, tendo já patriotismo do corpo legislativo.
chegado a este porto um dos seus barcos, o Futuro, e estando Em conclusão do exposto, a commissão de legislação
em viagem outros de vapor, denominados Guanabara e é de parecer:
Pescador, e mais um de vela; Que a dita proposição seja adoptada, entrando para
E considerando ainda que a companhia se vae servir isso na ordem dos trabalhos do senado.
de inventos modernos e se dispõe a fornecer aos mercados Sala das commissões, Maio de 1873. – Visconde de
desta Côrte e de Nitherohy vivo o peixe e a preços mais Jaguary. – Zacarias de Góes e Vasconcellos. – Pirapama com
baratos do que os actuaes: restricções.
E' de parecer que o projecto entre em discussão e seja Ficou sobre a mesa para ser tomado em consideração
approvado. com a proposição a que se refere.
Sala das sessões da commissão, 23 de Maio de 1873. O SR. TEIXEIRA JUNIOR: – Sr. presidente, pretendo
– Visconde de Souza Franco. – Visconde de lnhomirim. – J. sujeitar á consideração do senado um requerimento pedindo
J.Teixeira Junior. algumas informações sobre as concessões que se teem feito
na capital do Imperio para exploração de trilhos urbanos
PARECER DA COMMISSÃO DE LEGISLAÇÃO. destinados ao transporte de cargas e passageiros.
O assumpto é por sua natureza importante, porque
Novas relações. trata-se de um serviço que, affectando a commodidade do
publico, prende-se tambem a questões de outra ordem,
A commissão de legislação examinou a proposição da
camara dos deputados que crea mais sete relações no
Imperio
Sessão em 26 de Maio 229

como são: – a da competencia para taes concessões, os Srs. visconde de Inhomirim, Godoy e Paes de Mendonça,
usurpação de prerogativas do governo imperial e da e sendo o mesmo senhor introduzido no salão com as
assembléa geral, garantia dos direitos adquiridos pelos formalidades de estylo tomou assento na mesa á direita do
concessionarios e fiscalisação dos respectivos contratos. Sr. presidente.
O senado sabe qual tem sido o desenvolvimento de Proseguiu em 2ª discussão o projecto de lei do
taes emprezas nesta cidade e a grande concurrencia que tem orçamento no art. 3º relativo ao ministerio da justiça.
havido na solicitação das respectivas concessões, que já Nesta occasião foram lidas, apoiadas e postas em
representam um capital importante e interesses avultados. discussão conjuntamente as seguintes.
O modo, portanto, porque se celebram taes contratos, Emendas da commissão de orçamento ao art. 3º da
as condições impostas, a fiscalisação e moralidade da proposta do governo fixando a despeza do ministerio da
execução, assim como o exame da competencia de taes justiça.
concessões, são assumptos que devem merecer séria Art. 3º Em vez de 4,294:350$530 diga-se: o que
attenção da assembléa legislativa, porque no municipio resultar da votação das emendas abaixo indicadas.
neutro compete á mesma assembléa providenciar a respeito § 5º justiças de 1ª instancia, em vez de 2,007:528$
emquanto não se resolver o contrario; e luminosamente concedidos na emenda da camara dos deputados, diga-se:
demonstra esta competencia o parecer das secções do 1,796:178$, deduzidos 211:360$ contemplados para
conselho de Estado que foram consultadas sobre estas augmento dos vencimentos dos promotores publicos no
questões e que se acha publicado nos jornaes desta manhã. corrente anno financeiro.
E’ um trabalho que honra a illustração dos estadistas que o § 7º Pessoal e material da policia, em vez de
elaboraram e se recommenda á solicitude do governo pela 530:780$750 concedidos na emenda da camara dos
urgencia da solução. deputados, diga-se: 477:589$750, como se acha na proposta
Estou convencido, Sr. presidente, que a decisão do do governo (deduzidos 53:191$ contemplados para
governo imperial não se fará esperar e que ella será tomada augmento dos vencimentos dos carcereiros no corrente anno
com o criterio e severidade que a materia exige. Mas, financeiro).
resolvido a apreciar as diversas questões que se tem Paragrapho unico. Ns. 1º e 2º passem a fazer parte
suscitado neste ramo do serviço publico, estou procedendo a das disposições geraes.
um exame que me habilite a formar juizo seguro, e para este Em 26 de Maio de 1873. – Barão de Cotegipe. – J.
fim preciso de algumas informações que resumo no seguinte Antão. – Visconde de Inhomirim. – Leitão da Cunha. –
requerimento: (lê) Marquez de S. Vicente. – J. L. da C. Paranaguá. – Visconde
de Souza Franco.
REQUERIMENTO. O SR. POMPEU (pela ordem): – Não sei se o nobre
ministro concorda com as emendas que acabam de ser lidas.
Requeiro que por intermedio do ministerio da O Sr. Duarte de Azevedo (Ministro da Justiça) faz
agricultura, commercio e obras publicas se peçam as signal affirmativo.
seguintes informações: O SR. ZACARIAS: – Não ouvi declaração do nobre
1º Copia da portaria expedida por aquelle ministerio, ministro a respeito destas emendas.
em 9 do corrente, á Illma. camara municipal, determinando O SR. PRESIDENTE: – O nobre ministro disse que
que faça sempre subir ao governo imperial todas as concordava.
propostas relativas á concessão de carris de ferro destinados O SR. ZACARIAS: – Concorda com a separação do
ao transporte de passageiros e cargas, porque ao mesmo paragrapho unico e seus dous numeros para as disposições?
governo compete decidir a respeito, quer se trate de O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
privilegio, quer de simples licença. Justiça): – Sim, senhor; é transferencia de despezas de um
2º Se, depois de expedida a referida portaria, foi para outro exercicio.
assignado pela Illma. camara algum contrato sobre este O SR. ZACARIAS: – Não é isto. A questão é se V.
mesmo assumpto, sem prévia autorisação do governo Ex. concorda em que o paragrapho unico fique para ser
imperial. discutido na occasião em que forem discutidos os additivos.
3º Quaes as alterações que se tem feito ás clausulas O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
do contrato da Companhia Locomotora, approvado pelo Justiça): – Não faço questão.
decreto n. 4698 de 20 de Fevereiro de 1871, e especialmente O SR. ZACARIAS: – Não ha emenda neste sentido?
se o governo imperial ampliou ou autorisou a Illma. camara E’ irregular este modo de apresentar emendas no
municipal a ampliar o referido contrato pela fórma prevista na momento em que se discute, por isso o, nobre ministro
segunda parte da clausula 2ª do mesmo contrato. lançaria muita luz sobre a materia dando a sua opinião em
4º Se a mesma companhia tem observado todas as vista das emendas, e estas minhas observações ficarão
condições a que se obrigou pelo contrato de 20 de Fevereiro como dadas pela ordem, porque depois pedirei a palavra.
de 1871. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
Paço do senado, em 26 de Maio de 1873. – J. J Justiça): – Sr. presidente, se bem comprehendo o sentido
Teixeira Junior. das emendas da nobre commissão de orçamento, ellas se
Foi apoiado, posto em discussão e approvado. reduzem a transferir do exercicio de 1872 – 1873

ORDEM DO DIA.

ORÇAMENTO DA JUSTIÇA.

Achando-se na sala immediata o Sr. ministro da


justiça foram sorteados para a deputação que o devia
receber
230 Sessão em 26 de Maio

para o de 1873 – 1874 certas despezas que estavam a cargo do honrado ministro que está presente. Portanto,
englobadas no primeiro exercicio. Assim no § 5º do art. 3º repito: o pensamento da commissão de orçamento, de que
estavam comprehendidas na verba de 2.007:000$ para os tenho a honra de fazer parte, não foi o que suppõe o honrado
juizes de primeira instancia 211.360$ do augmento projectado ministro, isto é, transferir do exercicio de 1872 a 1873 a
nos vencimentos dos promotores publicos; assim no § 7º na importancia destas verbas, e sim eliminal-as do orçamento,
verba de 530:780$750, estão comprehendidos 53:191$ do porquanto, repito, se as deixassemos ficar, estando o
augmento dos vencimentos dos carcereiros; uma e outra exercicio a findar-se, appareceria no exercicio futuro uma
despeza para o corrente anno financeiro que tem de findar no sobra resultante destas verbas, e foi isto o que a commissão
ultimo de Junho. A commissão de orçamento traslada esse teve em vista evitar, com o espirito que a domina de fiscalisar
augmento de despeza para os de que trata o art. 19, ao o orçamento afim de não deixar á disposição do governo uma
exercicio de 1873 – 1874. Com este procedimento em que verba que poderia autorisal-o a fazer uma transferencia de
estou de accordo, porque tive a honra de ser ouvido pela verba no exercicio futuro.
nobre commissão quando tratou de formular estas emendas, Creio que, explicado assim o pensamento da
teve em vista a honrada commissão que não podendo ter commissão, o honrado senador pela provincia da Bahia
logar estes augmentos de despeza no exercicio corrente que poderá convenientemente encaminhar o seu discurso.
está quasi a findar-se, inutil seria consagrar-se no orçamento Este foi o pensamento da commissão.
de 1872 – 1873 medidas que não podiam ser levadas a effeito O Sr. Zacarias pronunciou um discurso que
neste exercicio. Conseguintemente aconselhou a commissão publicaremos no appendice.
que fizesse parte das disposições geraes o paragrapho que O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
trata de taes augmentos, ficando reunidas estas despezas ás – Antes de responder ao discurso do nobre senador pela
mais a que se refere o art. 19. Ora, se o art. 19 é uma Bahia, permitta-me V. Ex., Sr. presidente, que diga alguma
disposição geral que consagra a applicação do orçamento cousa sobre a observação que fez o honrado, senador pela
actual de 1872 – 1873 ao de 1873 – 1874, com certas provincia do Amazonas, declarando que eu me achava em
alterações, não sei porque motivo deixará de fazer parte das contradicção com a illustre commissão do orçamento sobre o
disposições geraes as despezas que se referem aos ns. 1 e 2 modo de entender as emendas por ella apresentadas.
do dito paragrapho. Eu disse, Sr. presidente, que a commissão nada mais
Em resumo, comprehendendo-se no art. 19 despezas tinha feito do que transportar do exercicio de 1872 – 1873 para
que estavam já englobadas nas verbas dos § § 5º e 7º, ou por o de 1873 – 1874 dous augmentos que se propoem nas
outra, não se propõe augmento de despeza das verbas despezas dos §§ 5º e 7º do art. 3º; ou, o que é o mesmo, que
apontadas no orçamento que está a findar-se, mas se eliminara esse augmento de despeza do orçamento relativo
unicamente para o exercicio de 1873 – 1874. ao exercicio que está a findar-se, para ser contemplado no
Neste sentido foram formuladas as emendas da orçamento de 1873 – 1874...
honrada commissão. O SR. LEITÃO DA CUNHA.: – V. Ex. tinha lá
Parece-me que bastam-me essas explicações para augmento igual.
que o nobre senador que acaba de fallar possa fazer as O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
considerações que a sua illustração e proficiencia lhe – ...de modo que a autorisação concedida ao governo pelos
suggerirem. ns. 1º e 2º do paragrapho unico deste artigo não tinha logar no
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – Sr. presidente, penso exercicio de 1872 – 1873, mas ha de prevalecer no proximo
que o nobre ministro da justiça não interpretou exactamente o exercicio de 1873 – 1874. Ora, entendidas as cousas assim,
pensamento da commissão. A idéa da commissão a respeito não ha contradicção na intelligencia que damos á emenda do
do augmento proposto nos ordenados dos promotores senado.
publicos e carcereiros não foi transferir esta verba do exercicio O SR. LEITÃO DA CUNHA: – De certo que não.
de 1872 – 1873 para o de 1873 – 1874, como me parece ter O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
dito o honrado ministro. A idéa da commissão consistiu no – Devo ser mais explicito. Tratando-se do orçamento de 1872
seguinte: que havendo proposta para augmento de despeza – 1873, e suppondo-se que elle podia ser votado em tempo de
no exercicio de 1872 – 1873, e devendo este exercicio findar- aproveitar o augmento de vencimentos propostos para os
se em Junho, entendeu ella conveniente não deixar á promotores publicos e carcereiros, empregados de justiça
disposição do governo as sobras que resultassem desses pessimamente pagos, comprehendeu-se nas respectivas
augmentos afim de evitar que no exercicio futuro podesse verbas o augmento de despeza para taes empregados;
haver transferencia de verba de umas para outras despezas. posteriormente, porém, verificando-se que este orçamento
Assim, no ministerio do Imperio a commissão propoz a podia ou devia ser applicado, salvas algumas modificações,
eliminação de todos os augmentos que diziam respeito ao ao exercicio de 1873 – 1874, não se alteraram as verbas em
exercicio de 1872 – 1873, e não deixou margem para que já estava contemplado o augmento de vencimentos com
transferencias, como pareceu ao honrado ministro. os promotores e carcereiros, e tratou-se apenas daquelles
O Sr. visconde de Nitherohy quando fez umas augmentos que se precisava de votar, no orçamento de 1873
observações por occasião da discussão do orçamento do – 1874. Por esta razão nas emendas apresentadas pela
Imperio disse que a ser exacto o meu raciocinio, todo o camara dos deputados apparecem já elevadas as verbas de §
orçamento de 1872 – 1873 ficaria inutilisado. Mas S. Ex. não 5º e do § 7º com o augmento de vencimentos dos promotores
me comprehendeu. Eu não me referi a todo o orçamento, publicos e dos carcereiros. Hoje, porém, que a honrada
porque seria isso um dislate; referi-me aos augmentos commissão do
propostos no ministerio do Imperio, assim como apparecem
propostas agora no orçamento do ministerio
Sessão em 26 de Maio 231

senado reconhece que não é possivel levar-se a effeito – Não é por essa razão que o orçamento passa
nenhum augmento de despeza no corrente exercicio, porque demoradamente, se não porque de ordinario discutem-se a
está quasi a findar-se, não ha inconveniente em eliminar-se a pretexto dos exames dos recursos economicos de Estado e de
despeza de que se trata no actual para ser consagrada no sua distribuição, materias que não se prendem directamente
exercicio futuro. ao assumpto da receita e despeza publica.
Supponho, pois, que tenho interpretado fielmente o O SR. ZACARIAS: – Perdôe-me, a questão de
parecer da honrada commissão, a que francamente cabotagem mettida no orçamento não é para dar discussão?
subscrevo. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
O SR. LEITÃO DA CUNHA: – As emendas foram até – Se a questão da cabotagem podia ser retirada do
confeccionadas de accordo com V. Ex. orçamento, não o poderia ser com vantagem a de que
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): tratamos, que é de puro augmento de despeza.
– Sim senhor, pelo que sou muito grato á honrada commissão. O SR. ZACARIAS: – Porque motivo apresentaram a
Passo agora, Sr. presidente, ao discurso do nobre parte o melhoramento de vencimentos dos militares e outros?
senador pela Bahia. S. Ex. impugnou o augmento de despeza O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
dos ns. 1º e 2º do paragrapho unico, já por ser augmento de – Por que nessa occasião não estava em discussão a lei do
despeza, já porque este augmento se faz na lei do orçamento. orçamento.
A primeira razão, permitte S. Ex. que lhe diga, não é O SR. ZACARIAS: – Esperasse.
procedente. Se o nobre senador tivesse demonstrado que não O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
é justo o augmento da despeza que se projecta; que estão – Perdoe-me, eu não estou sustentando que só no orçamento
sufficientemente remunerados os promotores publicos, os se deve fazer o augmento de despeza com a melhor
carcereiros, o corpo militar de policia, a guarda urbana e os retribuição dos empregados publicos; mas impugnando a
empregados das secretarias de policia, seria bem cabida a doutrina do nobre senador de que estes augmentos de
sua impugnação, mas desde que S. Ex. não produziu despeza não são proprios da lei do orçamento. Não descubro
argumento algum, nem disse palavra no sentido de mostrar a na natureza da lei do orçamento nada que repugne com este
injustiça desse accrescimo de despeza e quando se tem objecto, á luz dos principios geraes que regem a materia,
tratado de augmentar os vencimentos de outros empregados, devera-se dizer que na mesma occasião se poderia tratar
não póde ser aceito o primeiro fundamento que deu para dessa questão de modo mais pertinente do que na lei do
combater o paragrapho. orçamento.
Um augmento de despeza, é muitas vezes, como no O Sr. Zacarias dá um aparte.
caso vertente, um grande acto de justiça. Só o nobre senador O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
attender que carcereiros ha que tem 2$ mensaes; que os – Perdôe-me V. Ex., não se trata de organisar o serviço, mas
promotores publicos vivem com 600$, 800$ e poucos com simplesmente de tornar mais commodos pelo melhor
1:000$, não fallando dos da capital do Imperio, que vencem estipendio os meios de vida dos empregados, e, se a questão
1:200$; que os officiaes e praças do corpo militar de policia da é puramente de despezas, paramente de orçamento e não de
Côrte tem menos do que os officiaes e praças do corpo policial organisação, porque retiral-a da lei do orçamento, isto é, da lei
da provincia do Rio de Janeiro, onde a vida é mais barata; e que fixa a despeza?
que aquelle corpo está desfalcado de praças justamente pela O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Esse systema ha de
exiguidade de vencimentos, concordará comigo em que o acabar com o orçamento. Para um governo arbitrario a theoria
augmento neste caso é um acto de incontestavel equidade. mais conveniente é essa de V. Ex.
A outra razão, Sr. presidente, não é menos O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
improcedente. Não é a primeira vez que se propõe em uma lei – Mas porque? Não vejo em que possa aproveitar a um
desta o augmento de vencimentos de empregados publicos. governo arbitrario esta theoria. Pois por serem os vencimentos
Fallando só da repartição da justiça, lembro ao nobre senador dos empregados publicos augmentados na lei do orçamento,
que os vencimentos dos ministros do supremo tribunal, dos esta lei deixa de ser discutida? O governo se recusa por
desembargadores, dos juizes de direito e dosjuizes ventura a dar todas as explicações que forem convenientes
municipaes foram augmentados na lei do orçamento para o para que a assembléa geral cumpra com o seu dever?
exercicio de 1870 – 1871. O SR. JUNQUEIRA (Ministro de Guerra): – E os
E, senhores, qualquer que seja a conveniencia de augmentos anteriores que se deram em leis de orçamento?
discutir-se detidamente a despeza publica com o augmento de O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
vencimentos dos funccionarios, poder-se ha dizer que essa – Eu já lembrei o augmento que se fez ha pouco tempo dos
discussão é mais propria de lei especial do que da lei do vencimentos dos juizes municipaes, dos juizes de direito, dos
orçamento? A guiar-me pelos principios geraes, parece-me desembargadores e dos ministros do supremo tribunal de
que justamente no orçamento, quando se trata de determinar justiça.
a despeza publica o de comparal-a com a receita, de O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Contra o que votei.
estabelecer, portanto, o equilibrio entre aquillo que o Estado O SR. ZACARIAS: – E' preciso regenerar isto. Este
cobra e aquillo que despende, que se pode avaliar da orçamento é o mais monstruoso que tem vindo ao senado.
conveniencia de um augmento de vencimentos. Além
O SR. ZACARIAS: – Não, senhor. E' porisso que o
orçamento passa tão demoradamente.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
232 Sessão em 26 de Maio

de tudo mais, o matadouro, 2,000:000$, é um bom bocado. na quantia proposta para a elevação das respectivas verbas,
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Esse orçamento é não ha nada de indefinido. Elevam-se os vencimentos tanto
uma arca de Noé. quanto se augmentam as verbas.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): Assim para o corpo militar de policia pede-se mais
– Permittam os nobres senadores que eu me restrinja á 60;686$. E' verdade que não é expresso no projecto quanto se
discussão encetada. augmenta a cada official e quanto se augmenta a cada uma
O SR. ZACARIAS: – O matadouro não deixa de influir, das praças de pret; mas, se os nobres senadores tiverem a
já são 2,000:000$ votados. bondade de attender que este augmento foi pedido no
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): relatorio para o fim de se equiparar os vencimentos do corpo
– Já foi isso objecto de discussão nesta camara; e para que militar de policia da Côrte com os do corpo de policia do Rio
voltarmos a um debate esgotado, sobre o qual já o senado de Janeiro, verão quaes as bases sobre que o governo tem
proferiu o seu voto? fazer o augmento.
O SR. ZACARIAS: – Não é isso o que digo; é que Da mesma maneira, tratando dos promotores publicos,
tomei nota da quantia votada. se disse nos relatorios que elles deviam ter 800$ de ordenado
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – E' para mostrar a e uma gratificação de 400$ a 800$ de modo que não viessem
consequencia da theoria do nobre ministro. a perceber menos de 1:200$ nem mais de 1:600$; calculou-
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): se, pois, a despeza necessaria, a qual foi orçada pela
– Disse o nobre senador que está fixado o augmento pedido repartição competente em 211:360$. Não ha, portanto, nada
para os vencimentos dos empregados das secretarias de de vago nesta disposição.
policia, o qual, segundo o projecto de orçamento, é de 40%; Com a guarda urbana calculou-se o augmento da
mas que nada se diz sobre o quantum do augmento de despeza em 139:750$, porque o regulamento desse corpo
vencimentos dos demais empregados de que falla o n. 2º do dispõe que seus officiaes terão os mesmos vencimentos que
paragrapho unico, porque acerca da despeza com este os officiaes do corpo militar de policia; ora, se é conhecido o
augmento de vencimentos trata-se apenas no projecto de augmento projectado para os vencimentos do corpo militar de
elevar as respectivas verbas. Direi em resposta ao nobre policia, não póde haver duvida sobre o augmento dos
senador, que o augmento proposto para cada verba é aquelle vencimentos dos officiaes da guarda urbana. Quanto ás
que se julga indispensavel para o augmento de vencimentos praças desse corpo em mais de um relatorio se tem dito que o
dos empregados nella contemplados. augmento é de 50%, isto é, pretende-se elevar de 40$ a 60$
O SR. ZACARIAS: – Não se diz na razão de quanto. mensaes o vencimento dos guardas urbanos.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): Se em um caso se elevam os vencimentos dos
– Perdoe-me, desde que se sabe qual é o numero dos empregados das secretarias de policia determinando-se a
promotores publicos e qual a base do augmento, conhece se a razão do augmento, nos outros casos se dão as bases para o
totalidade da despeza e a sua distribuição. accrescimo de despeza projectado, e faz-se mais, limita-se a
O SR. ZACARIAS: – Não é regular; tem-se marcado despeza, indica-se o quantum com que fica a respectiva verba
sempre tantos por centos, 20, 30 e 40 %. augmentada; não é, portanto, indefinido o augmento de
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Estão-se creando despeza.
comarcas todos os dias. O SR. ZACARIAS: – Se não se indica nenhuma razão
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): de 30 ou 40%.
– Peço aos nobres senadores que tenham paciencia. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
O SR. ZACARIAS: – V. Ex. é que deve tel-a, estamos – V. Ex. não me fez o favor de ouvir; eu já disse quaes as
fazendo o nosso officio. bases que constam dos relatorios e da proposta apresentada
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): pelo governo que se está discutindo.
– Assim ser-me-ha impossivel discutir, tendo de voltar atraz a O SR. ZACARIAS: – Relatorio não obriga, relatorio é
cada passo, com o que perderei tempo e abusarei da bouquet, ou manta de retalhos. Ahi se diz que a verba é tão
paciencia dos nobre senadores. largamente dotada que chega para novas creações de
O SR. ZACARIAS: – Estamos acostumados com isso. comarcas.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
– Queria eu dizer, que os augmentos projectados no n. 2 do – O nobre senador sabe que na verba: justiças de 1º instancia,
paragrapho unico com os vencimentos dos promotores accrescenta-se sempre uma quantia para creação de
publicos, carcereiros, corpo militar de policia da Côrte e comarcas, actos dependente das assembléas provinciaes. Se
guarda urbana, são os referidos no art. 19 do projecto, e mais não se procedesse assim, o governo ficaria inhabilitado para
os comprehendidos na emenda da nobre commissão do satisfazer uma despeza, autorizada em lei.
orçamento, que destaca dos §§ 5º e 7º do art. 3º quantias que Passo agora, Sr. presidente, á parte mais importante
já estavam nestas rubricas englobadas, para o augmento de do discurso do nobre senador, que se refere aos
vencimentos dos promotores publicos e dos carcereiros. Ora, acontecimentos que, segundo a opinião de S. Ex., mais ou
se o aumento de vencimentos consiste menos perturbaram a tranquilidade publica na côrte do Rio de
Janeiro é na cidade do Recife.
Estranhou o nobre senador que sobre os
acontecimentos de 27 e 28 de Fevereiro o governo não
dissesse palavra no relatorio; mas além de que a tranquilidade
publica não foi alterada, ao menos de modo sensivel, pelos
successos da rua do Ouvidor, tantas informações tem tido as
camaras sobre aquelles successos que era escusado
mencional-os
Sessão em 26 de Maio 233

no relatorio. Objecto de interpellações, de requerimentos pouco generoso em insistir tanto sobre a intelligencia que dei
successivos em uma e outra casa do parlamento, para que na outra camara a varios artigos do codigo criminal. Naquella
havia de insistir nelles o governo em uma peça ministerial que occasião não formulei um parecer fundamentado sobre o
só tem por fim dar informações aos representantes da nação? sentido dos arts. 85 e 90 do codigo penal, antes declarei que
O SR. ZACARIAS: – Perdoe-me; a morte da se a minha interpretação não era a mais procedente, eu não
Imperatriz viuva tinha sido muito conhecida e veio na falla do fazia questão della (palavras textuaes do meu discurso),
throno. havendo, entretanto, outros meios de que o governo podia
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): lançar mão para reduzir os recursos de que dispunha a
– Mas disse o nobre senador que diversa tinha sido a Republica. Confirmo, porém, hoje aquella opinião e passo a
apreciação do governo acerca dos acontecimentos da rua do defendel-a, segundo m'o permittem os meus fracos recursos
Ouvidor e dos que deram ultimamente no Recife; que os intellectuaes.
primeiros foram justificados e applaudidos pelo governo, que, Senhores, ou se aprecie o systema geral de nossa
entretanto, reprovara os segundos. Permitta-me S. Ex. dizer- legislação, ou desçamos á analyse dos textos, tudo concorre
lhe que está esquecido da maneira porque eu me pronunciei a para decidir que a publicação de um jornal, que não se limita á
respeito dos acontecimentos da rua de Ouvidor. Nunca discussão de theses politicas sob o ponto de vista doutrinario
applaudi o facto, Sr. presidente; por mais de uma vez o ou scientifico, porém que faz propaganda contra a nossa
reprovei e se tive de entrar na discussão delle, não foi para fórma de governo, tornando-a odiosa e desprezivel na opinião
glorifical-o, mas para o fim de explical-o e de defender a publica, não póde ser sanccionada pela legislação existente. A
policia de uma accusação injusta que se lhe fazia. constituição Imperio, adoptando a fórma de governo que nos
Dizia-se na outra casa do parlamento que os rege, offerece meios pelos quaes se alteram as instituições
acontecimentos da rua do Ouvidor tinham sido preparados constitucionaes, e é bem duvidoso, como já vi a alguem
pela policia, que empregados desta foram os assaltantes da argumentar, que a reforma permittida pela constituição do
typographia da Republica; pretendia-se tornar o governo Imperio possa ir até o ponto de alterar-se a base do nosso
salidario com um acto que me parecia unicamente filho do systema de governo.
espirito da população, bem ou mal dirigido. Não applaudi, O SR. ZACARIAS: – E' questão que não cabe aqui.
antes reprovei aquella luta material, como reprovo todos os O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O Sr.
excessos em que se substitue a discussão pela força; nunca visconde do Bom Retiro é desta opinião.
me pareceu conveniente aferir o valor das idéas pela força das O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
armas ou pela direcção dos projectis; nem com a – Já vi sustentar-se esta opinião e folgo muito de saber que
responsabilidade do governo, nem pela minha indole ella é adoptada pelo honrado senador pelo Rio de Janeiro.
autorisaria um movimento material em defeza de causas, que O SR. ZACARIAS: – Não é disto que se trata aqui.
pelo imperio da razão se decidem. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
A mesma linguagem tive em referencia aos – Mas tiro já daqui um argumento, e é que se a fórma de
acontecimentos de Pernambuco. E' possivel que alguma governo, se a monarchia constitucional representativa, base
desculpa se possa dar aos impetos da opinião mal dirigida do do nosso systema politico, não póde ser alterada nem pelos
povo; não era aquelle, por certo, o meio de fazer vingar meios indicados pela constituição, não poderá de certo
direitos de pessoas que se diziam lesadas pelos actos das promever essa reforma a propaganda da imprensa. No espirito
autoridades ecclesiasticas de Pernambuco; não era, por certo, da lei fundamental, não se podem permittir polemicas que não
penetrando no asylo dos religiosos do Recife, attentando aproveitam para uma reforma, impossivel por meios que a
contra a propriedade e contra as pessoas de religiosos outros respeitos são regulares e mais impossivel ainda por
inoffensivos, que se podiam restaurar direitos ou interesses meios violentos.
offendidos pelo bispo da diocese. E não é só isto. A constituição declara que a pessoa
Declarei, com applauso do nobre senador, que o meio do Imperador é inviolavel e sagrada, e se mantem, como base
unico para liquidarem se essas contas era o recurso á Côroa, fundamental, esse principio que é essencial para o systema
facultando pelas leis, deixando assim claramente manifestada que nos rege, porque eleva o chefe do Estado a regiões
a minha opinião sobre o modo de se proceder. inaccessiveis a toda a discussão, como é possivel suppor se
Mas o nobre senador, sem insistir na maneira porque facto licito, ou conforme ao direito de cada cidadão tratar com
eu apreciava os acontecimentos de 27 e 28 de Fevereiro da menospreço, tornar odioso, calumniar, insultar até o chefe do
rua do Ouvidor e os do mez corrente em Pernambuco, não Estado?
pôde deixar de fazer a mais viva censura pelo modo por que O SR. ZACARIAS: – Calumniar e injuriar são crimes.
me expressei a respeito da abstenção do governo em mandar O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
proceder criminalmente contra os edictores do jornal – Se V. Ex., Sr. presidente, não permittiria que qualquer dos
Republica. membros desta casa censurasse o chefe do Estado, como é
Disse S. Ex. que ou o governo se faz réo de lesa- que o nobre senador permittiria a uma folha publica que
monarchia entendendo que havia crime no procedimento dos reiteradamente fizesse taes censuras e com fundamento de
edictores da Republica e não mandando punir, ou affecta a que é isto o exercicio de um direito individual?
mais inqualificavel complascencia, desde que aquelles O codigo criminal diz positivamente no art. 9º § 3º
edictores, como parece a S. Ex., não incorreram em que não se julgarão criminosos os que fizerem analyses
criminalidade. razoaveis da constituição, não se atacando as suas bases
O dilema do nobre senador não é irrespondivel. Antes,
porém, de entrar na materia devo dizer a S. Ex. que foi
234 Sessão em 26 de Maio

fundamentaes, e das leis existentes, não se provocando a Perdoe-me V. Ex., estamos nos affastando do
desobediencia a ellas. A contrario sensu, é acto criminoso ponto a que queremos chegar; o que digo é que na
fazer analyse da constituição que não for razoavel, ou tentativa ha um crime especial.
fazer analyse da constituição atacando-se as suas bases O SR. ZACARIAS: – Não, senhor; ha o principio de
fundamentaes. um crime.
Senhores, o respeito pelas bases fundamentaes da O SR. DUARTE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
constituição é tamanho que o nobre senador, que foi lente – Ha o principio de um crime, segundo a nossa lei positiva
em uma das faculdades de direito, onde o seu nome é e alguns codigos; em theoria, na tentativa ha um crime
lembrado ainda com as mais honrosas tradicções, sabe com proporções indefinidas...
perfeitamente que não se admitte argumentação entre O SR. ZACARIAS: – E' o contrario disto.
estudantes sobre a constituição do Imperio, é assumpto O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
que não faz objecto de sabbatinas. Entende-se e com Justiça): – Rossi e muitos autores censuram a injustiça de
razão... filiar-se necessariamente a tentativa ao crime do que ella é
O SR. ZACARIAS: – Que tem isto com a principio de execução, porque, dizem elles, as vezes vae
Republica? tal distancia do pensamento criminoso, embora realisado
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da em parte, ao crime consummado que não se póde
Justiça): – ...que este ponto melindroso não póde ser estabelecer proporção de penalidade entre o começo da
objecto de controversias como na religião; o desacato seria execução do crime e a perpretração desse crime.
nella uma inconveniencia. Deixemos, porém, esta questão, puramente
Até aqui, Sr. presidente, temos pelo espirito geral escolastica.
da legislação fundamental e regulamentar que não póde Segundo o art. 85, para que se dê o crime é mister
ser acto licito, que não póde constituir o exercicio de um que haja começo de execução ou tentativa directa por
direito do cidadão, a analyse da constituição do Imperio de factos; a expressão por factos podia ser eliminada sem
modo desarrasoado, a propaganda para o effeito de se sacrificio da clareza do artigo, porque tentar destruir a
alterar a fórma de governo, tornando-se a que existe constituição do Imperio ou a fórma do governo é o mesmo
antipathica ou odiosa. que fazel-o directamente e por factos.
Vou, porém, ao exame dos arts. 85 e 90 do codigo O SR. ZACARIAS: – Não se póde eliminar a
penal, por cuja lettra se verá que a opinião que emitti na palavra factos.
camara dos deputados e que agora defendo, não merece O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
as censuras do nobre senador e que se não fosse esta Justiça): – Seja assim, se o quizer o nobre senador. Mas
divergencia poder-se-hia dizer que a minha opinião era quaes são os factos que constituem o começo de
inexpugavel. execução do delicto neste caso? E' uma questão em que o
O SR. ZACARIAS: – Só eu é que me opponho a nobre senador não entrou, e que não seria destituida de
ella? interesse para a intelligencia do artigo.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Mas a questão importante tem o seu assento no art.
Justiça): – O que quero dizer é que a minha opinião 90 do codigo. Diz o art. 90: «Provocar directamente por
somente se debilita por ter a de V. Ex. por contestação. escriptos impressos, lithographados ou gravados, que se
Diz o art. 85: «Tentar directamente e por factos distribuirem por mais de 15 pessoas, os crimes
destruir a constituição politica do Imperio e a forma de especificados nos arts. 85, 86, etc, penas taes.»
governo estabelecida, penas, etc.» Diz o nobre senador que o art. 90 não tem
Analysando este artigo, o nobre senador pela Bahia applicação ao caso, porque o crime do art. 85 é o de uma
disse que na publicação de um jornal não ha tentativa tentativa directa e por factos; conseguintemente, se o
directa e por factos para destruir-se a constituição politica jornal não prégar a necessidade da tentativa directa ou a
do Imperio ou a forma de governo estabelecida; que no da tentativa por factos para mudar a forma de governo,
artigo exige-se um começo de execução... não se dará o crime do art. 90. E' mister que o jornal
O SR. ZACARIAS: – Factos directos. aconselhe expressamente a pratica dos actos
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da mencionados no art. 85.
Justiça): – ...um acto material, uma revolução violenta, Mas, senhores, um jornal que se publica e se
como a respeito de materia analoga se exprimem alguns distribue por mais de 15 pessoas, que faz propaganda
codigos, creio que os da Baviera, da Austria, o moderno contra a nossa fórma de governo...
codigo criminal da Prussia, e não simplesmente uma O SR. ZACARIAS: – Em summa, que é Republica?
excitação como parece-me que se exprimem os codigos O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
da Hespanha e de Portugal. Justiça): – ...não no sentido de mostrar qual é a melhor
Convenho com o nobre senador que na expressão forma de governo, não por dissertações philosophicas,
tentar directamente e por factos, exige a lei um começo de scientificas ou academicas em que se discuta qual é, em
execução dos actos incriminados, e é este um dos casos abstracto ou em referencia á sociedade actual, o melhor
em que a lei pune a tentativa como crime consumado, systema de instituições constitucionaes, porém que préga
embora não produza os seus effeitos. contra a forma do governo existente no paiz, injuria,
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – E' crime especial. calumnia as autoridades...
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da O SR. ZACARIAS: – São crimes, sem duvida.
Justiça): – Na tentativa ha sempre, segundo os principios O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
de direito, um crime especial, quando ella é perfeitamente Justiça): – ...torná odioso o governo e o chefe do Estado,
caracterisada pelo começo da execução do delicto. os ministros,
(Ha um aparte).
Sessão em 26 de Maio 235

e o mechanismo dos poderes publicos, pretendendo do governo poder ser consequencia da propaganda sediciosa,
convencer a população de pretendidas desgraças oriundas do ha nessa propaganda o crime do art. 90.
systema politico estabelecido; uma folha que faz proselytos, Portanto, vê o nobre senador que o art. 90 póde
que procura adhesões, que reune forças, que apoia reuniões e applicar-se perfeitamente á especie do art. 85 sem que se
clube secretos com o fim determinado de alterar o regimen aconselhe a tentativa directa e por factos, uma vez que em
existente, e não por mero entretenimento litterario ou boa razão a tentativa tenha a possibilidade de ser uma
academico; que busca, não illustrar a opinião, mas excitar os consequencia da provocação. Para que haja provocação
animos para a obra da demolição, um jornal dessa ordem não basta que entre o acto que a constitue e o que com ella se filia
chama e concita a população ou parte della para tentar possa haver a relação da causa para o effeito, e ainda da
destruir a forma do governo? Quaes são os factos a que se simples instigação, posto que a provocação não seja o motivo
refere o art. 90? Qual é a especie de tentativa de que falla? De efficiente do facto, mas circumstancia occasional delle.
que meios se deve usar para se praticar o crime do art. 85? de Portanto, a propaganda de um jornal de idéas politicas
factos, diz o artigo. radicaes, que não se limita a defender sua opinião, mas que
Ora, desde que taes factos não são definidos, podem préga contra a ordem estabelecida para armar a resistencia
ser de natureza varia, e se filiem á propaganda como contra ella...
consequencia della, é manifesto que um jornal nessas O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Radicaes não.
condições, porque não estou applicando o que digo á folha da O SR. DUARTE DE ASEVEDO (Ministro da Justiça):
rua do Ouvidor, que parece agora ser defendida com tanta – (Rindo-se) Perdôe-me V. Ex., se a expressão lá vae ter.
insistencia pelo nobre senador... O SR. ZACARIAS: – V. Ex. está provocando.
O SR. ZACARIAS: – Perdoe-me; defendo um O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
principio; se houve crime, V. Ex. commette outro, poupando-o. – ...Não tive intenção de provocar o nobre senador por Goyaz,
Esta é a minha questão. mas vejo que realmente a expressão o podia provocar.
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Eu estou admirando a O SR. ZACARIAS: E' que não ha aqui talvez 15
insistencia; o governo devia chamar a folha á pessoas.
responsabilidade. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Conselho): – Conte com as galerias.
Conselho): – Está explicando o que disse na outra camara. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da justiça): – Muito mais accentuada é a legislação de outros paizes a
– Desde que a propaganda feita pelo jornal pode produzir os respeito de crimes desta natureza; varios codigos fallam
factos do art. 85, é evidente que um jornal nessas condições... somente em uma excitação contra a fórma de governo
O SR. ZACARIAS: – E' criminoso... estabelecida; nosso codigo é que foi mais cauteloso, exigindo
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Porque não mandou condições para que a propaganda seja uma provocação e
criminar? declarando qual é o crime cuja provocação é punida.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): Mas, disse o nobre senador: por que razão, estando o
– Lá irei. Veja V. Ex. o art. 90, não falla da consummação dos governo convencido disso, não mandou processar os
factos especificados no art. 85; diz apenas que a provocação edictores da Republica...
deve ser de natureza a produzir os factos do art. 85, porque O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – E' o que tenho
exprime-se: «provocar o crime do art. 85.» Ora, o que é curiosidade de ouvir.
provocar um crime? Quando é que se dá a provocação? Esta O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
é a questão. – O nobre senador não devia insistir nesta accusação, porque
Se um acto é de tal natureza que provoca eu mesmo confessei essa falta. Declarei-me culpado,
naturalmente certos factos, ou factos dirigidos a certo fim, procurando a defeza em motivos que deviam ser lisonjeiros
pode-se affirmar que estes são provocados por aquelle acto. aos nobres senadores, membros da opposição. Eu disse que
Portanto, se a propaganda que fazia a Republica podia o grande respeito que entre nós se presta ao principio da
provocar, podia produzir os factos do art. 85, é evidente que o liberdade da enunciação do pensamento tinha sido motivo, da
jornal Republica incorria na sancção penal do art. 90. O nobre minha parte ao menos, para esse acto de moderação
senador, porém, suppõe que sem artigos de jornal em que se relativamente á folha republicana. Estou certo que em outros
aconselhe a pratica de um acto material não se verifica o paizes não se havia de tolerar...
crime do art. 90. O nobre senador mutilla assim o art. 90, que O SR. ZACARIAS: – Talvez na Turquia.
diz simplesmente provocar directamente por escriptos que se O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
commettam os actos do art. 85. Logo, se o escripto é de tal Conselho): – Só na Turquia?
ordem que póde produzir esses actos, sejam de que especie O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
for, este escripto é condemnado por provocar tal crime. Não é – ...nem por parte do governo nem por parte da população um
necessario que no artigo se diga: parte da população deve acto de tanto desrespeito ás instituições juradas; mas o
fazer isto, parte deve fazer aquillo, uns devem atacar o palacio governo entre nós que respeita exageradamente talvez a
do Rei, outros devem assassinar os ministros ou os manifestação livre do pensamento, e que nunca deseja ser
senadores, estes devem se collocar em certo ponto, etc. Não acoimado de violento, ainda naquelles casos em que podesse
é necessario isto; desde que o attentado para mudar-se a ter por si a opinião publica, faz dessas concessões, se são
fórma concessões.
236 Sessão em 26 de Maio

O SR. ZACARIAS: – Faz dessas... jurados, proferiu decisão sobre a intelligencia da lei que
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da rege a materia. O desembargador deixou de aceitar essa
Justiça): – E o nobre senador não tem razão de insistir decisão ou a interpretou a seu modo, não accudiu ao
nisto, porque se não é o governo que dá denuncia e tribunal a que o chamavam seus deveres, incorreu por
processa, em ultima analyse a culpa recahiria sobre a conseguinte em responsabilidade e o governo neste caso
magistratura do paiz, ou sobre o ministerio publico. Desde não podia deixar de mandal-o processar. Mas o governo
que as attribuições estão definidas, não ha fundamento devia necessariamente mandar processar o jornal
para considerar culpado o ministro que não manda punir republicano...
um delicto, sobretudo nas circumstancias de que fallo. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
Poderia ter havido quando muito algum descuido, alguma do Conselho): – E' facto de outra natureza, tem caracter
complacencia, em se não mandar instaurar a denuncia. politico.
O SR. POMPEU: – Como a que foi dada contra o O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
Sr. Magalhães Castro. Justiça): – ...quando considerações de alto interesse
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da politico prendiam, e tal ou qual abstenção era honrosa ao
Justiça): – Para a denuncia dada contra o Sr. governo, para que se não dissesse que os tribunaes eram
desembargador Magalhães Castro outras razões existiam. guiados pela influencia da administração?
O SR. POMPEU: – Então o crime era maior? Já vê V. Ex. que diversa devia ser a norma de
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da proceder do governo em um e outro caso.
Justiça): – Vou a este ponto sem demora, já que o nobre O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
senador me chamou a terreiro. do Conselho): – Estão convencidos disso.
O SR. ZACARIAS: – Provocou... O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): – Perguntou o nobre senador o que eu pensava
Justiça): – V. Ex. provocou-me primeiro e agora o seu do accordão do supremo tribunal de justiça; mas V. Ex. vê
collega pelo Ceará faz-me outra provocação. V. Ex. a inconveniencia que ha em apreciarmos deste logar, e
perguntou qual era a minha opinião sobre o accordão do com o caracter de que estou revestido, uma sentença do
supremo tribunal de justiça; eu poderia pedir tambem a poder judiciario.
opinião de V. Ex. porque é sobre um acto em que o O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
governo não teve parte, e que só póde ter hoje importancia do Conselho): – Apoiado.
quanto ao aspecto juridico. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
O SR. ZACARIAS: – Pois venha para esta cadeira. Justiça): – Convém ás boas normas da administração
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da respeitar os julgados.
Justiça): – Sendo assim, parece-me que tanto direito tem O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
o nobre senador de pedir-me sobre este acto a minha do Conselho): – Havia uma questão de facto que o
opinião, como eu de invocar a sua, sem trocarmos as supremo tribunal apreciou como entendeu.
cadeiras, o que entretanto desejo!... O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Estou certo que Justiça): – Devo dizer, entretanto, ao nobre senador que
elle trocava. do accordão do supremo tribunal de justiça não se póde
O SR. ZACARIAS: – Se elle quer trocar... a de lá inferir que na questão principal estejam em desharmonia o
tem espinhos, a de cá não. tribunal e o governo. O que o tribunal declarou foi que o
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da desembargador Magalhães Castro entendeu as cousas de
Justiça): – Sr. presidente, o facto occorrido com o Sr. um modo, isto é referia-se a um facto que não era aquelle
Magalhães Castro é muito differente; tratava-se de um a que o governo alludia.
empregado publico que o governo entendia culpado por ter O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
deixado de cumprir a lei. do Conselho): – Essa foi a base da decisão.
O SR. ZACARIAS: – V. Ex. podia deixar isso para o O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
fim. Justiça): – O governo tinha declarado que o Sr.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Magalhães Castro procedia mal entendendo que o jury não
Justiça): – E' preciso dar resposta ao nobre senador pelo podia funccionar sem 48 jurados presentes; o tribunal, em
Ceará... virtude das explicações do Sr. Magalhães Castro, decidiu
O SR. SILVEIRA DA MOTA: – Conclua o negocio que este senhor tinha-se referido ao numero de cedulas,
da Republica. que deviam estar na urna e não ao numero de jurados que
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da deviam estar presentes á sessão.
Justiça): – ...e não mais me occuparei com isto. O facto O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – São filagranas da
era muito differente; tratava-se de um empregado publico reforma, que ninguem entende.
que o governo julgava culpado por não ter cumprido com o O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
seu dever. O desembargador Magalhães de Castro deixou Justiça): – Apreciaram-se as questões por faces
de presidir a uma sessão do jury causando com isto differentes e não está portanto o supremo tribunal em
prejuizo ás partes e ao publico em geral; o governo tendo desaccordo com o governo.
recebido representações do promotor publico, do juiz que O governo havia dito, e não podia deixar de dizer,
presidia os trabalhos preliminares da sessão e dos que a sessão podia abrir-se desde que estivessem
proprios sorteados 48
Sessão em 26 de Maio 237

jurados e comparecessem 36 á sessão. O Sr. desembargador O SR. VISCONDE DO RIO-BRANCO (Presidente do


Magalhães Castro entendia a principio que a sessão não Conselho): – Apoiado.
podia abrir-se sem que comparecessem 48 jurados e invocara O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
para isto o art. 314 do codigo do processo, que diz – ...e entretanto por estylo inveterado ouve-se unicamente a
positivamente que a sessão não começará sem que estejam secção respectiva do conselho de Estado. Assim nas leis e
presentes 48 jurados, não advertindo que o art. 107 da lei de 3 regulamentos de fazenda....
de Dezembro modificou o art. 314 do codigo do processo. O O SR. VISCONDE DO RIO-BRANCO (Presidente do
governo declarou em aviso que logo que estivessem Conselho): – Apoiado.
sorteados 48 jurados e seus nomes recolhidos á urna, a O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
sessão podia começar com 36 jurados; á vista disto o Sr. – ...e em outros monumentos da legislação em que se trata de
Magalhães Castro passou a dizer que sua duvida era não materia contenciosa...
quanto ao comparecimento, mas quanto ao sorteamento de 48 O SR. VISCONDE DO RIO-BRANCO (Presidente do
jurados e inclusão dos seus nomes na respectiva urna; o Conselho): – Na fazenda, tratando-se de questões muito
supremo tribunal de justiça aceitou esta defeza do importantes.
desembargador e entendendo que era sincera julgou O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
improcedente a denuncia. Já vê o nobre senador que não ha – ...nas revistas em alguns casos de administração financeira
divergencia na apreciação dos factos e que o governo não ouve-se apenas uma secção do conselho de Estado.
pode ficar em contradicção com o tribunal. Quanto ao mais O SR. ZACARIAS: – Secção não é tribunal.
abstenho-me de qualificar o accordão porque reputo isto O SR. VISCONDE DO RIO-BRANCO (Presidente do
inconveniente. Conselho): – A secção do contencioso em França é tribunal.
Continuando, Sr. presidente, do ponto em que tinha O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
ficado, quando fui provocado a esta digressão pelo nobre – A constituição do Imperio alludia sempre ao conselho de
senador pelo Ceará, tratarei dos acontecimentos de Estado, quando se referia aos actos do poder moderador; ora,
Pernambuco. mesmo a respeito dos actos do poder moderador em que
A respeito destes acontecimentos o nobre senador parece que pelas regras constitucionaes deve ser ouvido o
pela Bahia não pediu explicações nem eu podia dal-as, porque conselho de Estado pleno, sabe o nobre senador que se ouve
já declarei que as informações que temos são as que constam uma das secções sómente.
dos telegrammas publicados por ordem do governo. O SR. ZACARIAS: – Secção não é tribunal.
Agradeço ao nobre senador as manifestações que em O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
meu favor teve a bondade de fazer, alludindo á maneira por – Sei que foi abolido o conselho de Estado da constituição, e
que apreciei as questões religiosas, que infelizmente teem por creado o conselho de Estado de que trata a lei de 23 de
mais tempo do que fora mister attrahido a attenção das duas Novembro de 1841, de audiencia puramente facultativa; mas
casas do parlamento. ainda por esta legislação deixa-se de ouvir o conselho de
O proprio nobre senador concorda em que essas Estado pleno naquelles casos em que se faculta a audiencia
questões devam ser retiradas dos debates, porque não são do conselho de Estado.
objecto de lei e o governo não deve para a decisão de O SR. ZACARIAS: – Quando é recurso das partes é o
recursos que dellas se originaram, ser movido por influencia conselho de Estado.
politica; tudo pois quanto fôr previnir juizos para uma decisão O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
de caracter quasi judiciario, ou eminentemente politico, é da – Perdôe-me V. Ex., em materia de contencioso
maior inconveniencia. Portanto, occupar-me hei somente do administrativo, nos recursos que se interpoem das decisões
ponto a que alludiu o nobre senador em referencia ao honrado do tribunal do thesouro, e em muitos outros, dá-se um
presidente do conselho. verdadeiro recurso, quasi judiciario, e entretanto talvez que
O nobre senador disse que o recurso á Corôa é o com a autoridade mesmo de V. Ex. muitas vezes se tenha
unico meio de restaurar-se o direito das partes lesadas pelos ouvido somente a secção de fazenda e não o conselho de
actos do bispo de Pernambuco, se porventura o foram; mas Estado pleno.
que não teve razão o nobre presidente do conselho quando O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
declarou que tinha sido ouvida a secção do Imperio do Conselho): – Quasi sempre.
conselho de Estado, e que provavelmente o seria o conselho O SR. ZACARIAS: – Em recursos não.
de Estado pleno. No provavelmente achou o nobre senador O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
motivo de censura e defendeu a opinião de que nestes casos Conselho): – Em recursos.
é obrigatoria a audiencia do conselho de Estado pleno. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
Sr. presidente, é verdade que o regulamento de 28 de – Portanto, senhores, concordo com o nobre senador em que
Março de 1857 emprega a expressão conselho de Estado o governo não póde deixar de ouvir em materia de recurso á
quando falla da entidade para a qual são interpostos os Corôa o conselho de Estado.
recursos á Corôa, e dahi infere o nobre senador que, não O SR. ZACARIAS: – Estamos de accordo.
sendo uma das secções do conselho do Estado o conselho de O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
Estado, deve este ser ouvido necessariamente. Mas eu – Nisto estamos de accordo, porém divergimos quanto á
redarguirei ao nobre senador que muitas vezes as leis e
regulamentos do governo empregam a mesma expressão
conselho de Estado...
238 Sessão em 26 de Maio

questão, se deve ser ouvida a secção ou o conselho de é livre a cada um conforme sua consciencia pertencer ou não
Estado pleno. Concordo em que se ouça sempre o conselho ao gremio da Igreja Catholica.
de Estado, não concordo em que necessariamente deva ser Por consequencia, em um caso particular, quando se
ouvido o conselho de Estado pleno. trata de uma pena puramente espiritual, applicavel a esta
O SR. ZACARIAS: – Então não é tribunal de recurso. hypothese, o governo não devia intervir.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Mas o nobre senador acha que a intervenção do
Conselho): – Está ha muito resolvido que seja ouvido o governo não é applicavel ao caso.
conselho de Estado; póde estar tranquillo. O nobre senador reprova que se pronuncie a palavra –
O SR. ZACARIAS: – Não quero a sua promessa, governo – quando se trata desse recurso. Mas é preciso
quero o cumprimento da lei. ponderar que, comquanto seja obrigatoria nos casos de
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do recurso á Corôa, a audiencia do conselho de Estado, é
Conselho): – Não é promessa, é para não perdermos tempo. sempre consultivo o seu voto, porque a decisão é do governo.
O SR. ZACARIAS: – Então porque disse O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Menos quando obra
provavelmente? como tribunal.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
Conselho): – Deixe o meu provavelmente. – Em todos os casos.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Não, senhor.
– Sendo, pois, pratica constante ouvir-se a secção respectiva O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
do conselho de Estado no caso de recursos, entendendo-se – Não ha hypothese alguma em que a decisão seja do
que a expressão, conselho de Estado, se refere á secção do conselho de Estado, porque não ha hypothese em que a
mesmo conselho, e não ao conselho de Estado pleno, não responsabilidade deixe de ser do ministro.
vejo razão para a censura que fez o nobre senador ao O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Como tribunal, elle
provavelmente do nobre presidente do conselho. profere sentença.
Ainda nesta materia do recurso á Corôa fez-me o O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
nobre senador uma censura por occasião do discurso que – Profere o seu voto consultivo, não é elle o tribunal, porque é
proferi na camara dos deputados acerca do facto. Disse S. Ex. o governo quem resolve. E tanto não é tribunal que contra o
que o recurso não era sómente da parte, e que portanto voto unanime da secção e do conselho de Estado póde o
nenhuma razão tinha eu para declarar que desde que a parte governo decidir a questão.
se sujeita á pena de excommunhão, consentindo em ficar fóra O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Isto prova o que estou
do gremio da Igreja, não devia o governo intervir. sempre a dizer contra o conselho de Estado.
Pretendeu o nobre senador rectificar o engano que me O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
attribuiu declarando que em varios casos o procurador da – Vê, portanto, o senado que o recurso é para o governo e do
Corôa interpõe o recurso. governo é a decisão. Se os nobres senadores quizerem que a
Sr. presidente, pela expressão de que usei é manifesto decisão do governo seja de tribunal, não farei questão de
que eu alludia áquelles casos em que o direito offendido era o palavras; examinando-se porém a questão em sua natureza
direito unicamente da parte, e não quando é offendido o direito intima, poderei demonstrar aos nobres senadores que este
da sociedade em geral. Assim é que nos casos dos §§ 1º e 2º recurso não é daquelles que se chamam administrativos, mas
do art. 1º do decreto de 28 de Março de 1857, quando ha politicos...
usurpação de jurisdicção e poder temporal, ou censura contra O SR. ZACARIAS: – Não senhor; ou V. Ex. não tem
empregados civis em razão de seu officio, o procurador da idéa exacta do que seja contencioso administrativo entre nós.
Corôa deve interpôr o recurso, mas nestes casos vê V. Ex. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
que o principal interesse offendido é o da sociedade. – E' apparentemente do contencioso administrativo...
O SR. ZACARIAS: – Entretanto a parte póde interpôr O SR. ZACARIAS: – Não é politico.
o recurso. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): – ...porém na realidade não deixa de ser um recurso sui
– A parte nesse caso póde interpor o recurso, e o procurador generis de caracter politico.
da Corôa deve fazel-o, mas não era este caso que eu O SR. ZACARIAS: – Deixa.
figurava, quando disse na camara dos deputados que desde O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
que a parte se sujeitava a ficar fóra do gremio da igreja o – Perdoe-me V. Ex., alludo á distincção conhecida na escola
governo não devia intervir. entre os actos de natureza administrativa, ou governamental e
O SR. ZACARIAS: – O governo nunca. politica, de que faltam os autores. O governo neste caso não
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): pratica um acto de administração, embora contenciosa,
– Porque razão o governo deve interessar-se em reparar o porque não existem direitos offendidos por acção
gravame que só a parte soffreu e que é propriamente administrativa; o governo obra aqui como zelador dos altos
espiritual? interesses sociaes e attende ás conveniencias politicas
Não tem, pois, fundamento a censura do nobre compromettidas pelos actos da autoridade ecclesiastica;
senador. Não desconheço a existencia do recurso que deve intervem para restabelecer a ordem politica alterada
ser interposto pelo procurador da Corôa; o que eu disse foi
que
Sessão em 26 de Maio 239

pelo procedimento dos prelados, portanto, é um recurso da viagem á capital da provincia e quando não
de natureza governativa ou politica... allegassem isenções.
O SR. ZACARIAS: – Não, senhor, não é politico. O SR. CANSANSÃO DE SINIMBU’: – Sem
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da inspecção?
Justiça): – ...e que tem de ser decidido pelo governo de O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
que o conselho de Estado é mero orgão de consulta, e Justiça): – Não creio que se dispensasse a inspecção de
que se expede por meio de decreto. saude, nem que se tivesse em vista preterir outras
O SR. ZACARIAS: – V. Ex. está radical, inimigo do formalidades admittidas para allegação e prova das
conselho de Estado. isenções. Se, por ventura, o aviso não tem esta
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Pelo menos, está intelligencia, seria conveniente que a respeito delle se
me fazendo um grande favor. expedissem algumas explicações. Estou certo de que já
O SR. ZACARIAS: – E’ assim que o Sr. Silveira da o terá feito o meu nobre collega e amigo, o Sr. ministro da
Motta ataca o conselho do Estado. guerra.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da O SR. POMPEU: – A explicação é revogal-o.
Justiça): – Se o conselho de Estado fosse neste caso um O SR. ZACARIAS: – Elle foi expedido
tribunal, para quem se devesse interpor o recurso; se o reservadamente.
governo não fosse a autoridade encarregada de decidir, O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
sob sua responsabilidade, dos recursos interpostos á Justiça): – Não sei se esse aviso deu causa a algum acto
Corôa, não comprehendo como é que o conselho de em prejuizo do direito de partes?...
Estado não devesse ter um voto efficaz na decisão do O SR. POMPEU: – Muitos.
recurso e, sobretudo, não devesse ter a responsabilidade, O SR. ZACARIAS: – Se foi feito para isso.
não só moral como politica e criminal, pela má decisão do O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
negocio. Justiça): – O que é certo é que em materia de habeas-
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Essa tem. corpus aos recrutas o governo tem expedido muitas
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da decisões para amplial-o.
Justiça): – Como orgão consultivo, apenas poderá ter O SR. ZACARIAS: – Defender esse aviso é peior
responsabilidade moral; por proferir decisão, não, porque que executal-o.
o governo póde apartar-se francamente do conselho O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
dado. Se o governo é que tem a responsabilidade, se sua Justiça): – As decisões que tenho expedido...
decisão se ha de expedir por um decreto, como é que o O SR. POMPEU: – V. Ex., sim.
tribunal não é o governo, como é que o recurso não é O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
interposto para o governo? A consulta é obrigatoria, não Justiça): – ...constantemente nesse assumpto são no
ha duvida, nisto concordo com o nobre senador; mas o sentido de facilitar o habeas-corpus aos recrutados. Não
recurso com quanto o regulamento diga que é interposto ha da parte de governo interesse algum em manter uma
para o conselho de Estado e assim se diz que são intelligencia que é desmentida pela pratica.
interpostos para o conselho de Estado recursos em O SR. ZACARIAS: – V. Ex. escusa um aviso que
materia contenciosa, todavia na realidade das cousas o não tem explicação.
recurso é interposto para o governo, o governo é quem O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
recebe, quem consulta o conselho e Estado, sendo-lhe Justiça): – Não estou escusando o aviso; estou
livre sujeitar-se ou não á consulta e quem decide o explicando seu pensamento, sobretudo tenho me referido
negocio de responsabilidade. ás informações que a respeito delle se deram no senado.
Pouco direi, Sr. presidente, sobre o aviso de 19 de Se o aviso é obscuro, e nisso concordo com o nobre
Abril de 1872, de que tendo copia por obsequio do nobre senador, já invoquei a attenção do nobre ministro da
senador pela Bahia. guerra para esclarecer a intelligencia do aviso; mas não
Creio que a respeito da intelligencia deste aviso já creio que fosse da intenção do nobre ex-ministro, o Sr.
varias informações foram dadas ao senado, não só pelo Jaguaribe, mandar recrutar e sentar praça
meu collega o Sr. ministro da guerra, como pelo nobre ex- immediatamente...
ministro desta repartição no gabinete de 7 de Março. Se O SR. ZACARIAS: – E’ o que elle manda.
não me engano, a intelligencia dada a esse aviso é, que O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
por elle não ficava prejudicado o praso de 8 a 15 dias que Justiça): – ...independente da allegação da parte, das
tem os recrutados para allegarem suas isenções. provas de isenção. Se fosse esta, porém, a doutrina do
O SR. POMPEU: – Então não curava o mal. aviso, então diria francamente que não o podia defender.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
Justiça): – Curava, porque, confiando-se aos do Conselho): – Não é.
recrutadores a faculdade de conferirem praça aos O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
recrutados, o que o aviso alterou foi simplesmente a Justiça): – Não posso crer que seja. O nobre senador
pratica de serem enviados os recrutas para a capital da perguntou-me o que pensava da ultima reforma judiciaria.
provincia para nella terem praça. O que quer o nobre senador que eu lhe diga? Que não
O SR. POMPEU: – E o immediatamente? acho bôa esta reforma...
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da O SR. ZACARIAS: – Deus o livre disto!
Justiça): – O immediatamente quer dizer que deviam ter
praça, independente
240 Sessão em 26 de Maio

O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da E por fallar nestas emendas, fiquei ainda em duvida
Justiça): – ...que foi feita com a minha responsabilidade a respeito da intelligencia que se dá a emenda n. 1 do
tambem? Conhecer a data da reforma é conhecer a minha ultimo paragrapho para alterar a tabella dos vencimentos
opinião, porque ella foi promulgada no ministerio a que dos empregados da secretaria da policia. Não sei se fica
tenho a honra de pertencer desde 7 de Março de 1871. para ser supprimida a emenda da camara, ou se importa
Sobre alguns pontos tenho dado por mais de uma vez a uma transferencia de verba para ter assento em outra
minha opinião em relatorios ainda no deste anno. parte. Parece que, como o execicio está a findar, e
O SR. ZACARIAS: – Sobre a presidencia do jury provavelmente a lei não passará senão no fim delle, a
pelos desembargadores? emenda que consigna vencimentos para estes
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da empregados dentro do exercicio cadente, deve ser
Justiça): – Sobre differentes pontos da reforma tenho eliminada. Não sei, porém, se o nobre ministro concordou
dado minha opinião; especialmente sobre esse que acaba nesta suppressão.
de indicar o nobre senador fui muito explicito. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
O SR. ZACARIAS: – No deste anno? Justiça): – Concordei.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da O SR. POMPEU: – Bom. Impugno, o Sr. presidente,
Justiça): – Sim. a medida que pede o honrado ministro para alterar as
O SR. ZACARIAS: – Agora é que o estou vendo. tabellas dos vencimentos das secretarias da policia em
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da 40%, presa por estes principios: primo, porque estou
Justiça): – Declarei que esta medida é conveniente, convencido de que a lei do orçamento não é o logar onde
porque tende a dar a presidencia do jury a um magistrado se devem fazer alterações de vencimentos; secundo,
que não intervem no summario da culpa, na pronuncia do porque importa uma delegação do poder legislativo, (a
réo, revestindo-se assim o julgamento do plenario de mais quem imcumbe e compette somente, decretando a
imparcialidade; que com a providencia tomada de presidir despeza para o publico serviço, marcar aos funccionarios
ás sessões mensaes um desembargador, ficava quasi publicos seus vencimentos) a governo para exercer uma
inutilisada a censura que se fazia ao inconveniente de funcção legislativa. Ainda me opponho por uma terceira
serem os desembargadores alterados diariamente, e se fôr razão que importa contradicção, o governo, e vem a ser
reduzido, como convém, o numero das sessões do jury, que tendo consentido na outra camara que passasse uma
então de muito menor procedencia se tornará a censura. medida igual, augmentando a congrua dos parochos, aqui,
Entretanto, declarei no meu relatorio que com a creação de V. Ex. se lembrará, concordou o nobre ministro do Imperio
novas relações, a reduccção do pessoal das existentes em que fosse eliminado este augmento pelo fundamento
talvez se faça sentir a conveniencia de reformar-se este que hoje contraria o honrado ministro da justiça, isto é,
artigo da lei... então julgou-se que o orçamento não era o melhor logar
O SR. ZACARIAS: – Que deve acabar. para augmentos de vencimentos, e agora o nobre ministro
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da sustenta o contrario, assegurando que o orçamento é
Justiça): – ...que todavia tem as vantagens que acabei de como outra qualquer lei, que pode conter a despeza do
expender. serviço actual e outras disposições, especie de arca de
O SR. ZACARIAS: – Nenhuma vantagem. Noé, como aqui se tem dito, que pode carregar toda a
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da especie de bixo de alma vivente, por conseguinte todas as
Justiça): – Este ponto está francamente discutido no autorizações ao governo para crear novos funccionarios,
relatorio... marcar-lhes, ou augmentar-lhes vencimentos etc.
O SR. ZACARIAS: – Porque não o mandou hontem Quanto ao n. 2º do § 11 que trata do augmento de
ou antes de hontem? vencimento dos promotores publicos, carcereiros, etc.,
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da tambem não posso concordar, não só pelos principios já
Justiça): – Era esta a resposta que eu devia ao nobre emittidos, como porque importa uma autorisação vaga,
senador pelo Bahia. Outras informações ainda prestarei ao sem exemplo; por quanto até hoje, com quanto se tenha
senado em cumprimento do meu dever, se os honrados concedido ao governo autorisação para augmento de
senadores chamarem-me de novo á discussão. (Muito vencimentos, todavia, sempre marca-se uma base
bem). limitativa até tantos por cento dos vencimentos; entretanto
O SR. POMPEU: – O honrado ministro podia ter que agora se diz que o governo fica autorisado a
voltado hoje mesmo desta casa, levando o seu orçamento augmentar os vencimentos desses empregados, não
votado sem observações por todo senado, se não excedendo a despeza votada na respectiva rubrica desta
continuasse a pratica abusiva, tão defendida pelo nobre lei, Mas qual é a despeza votada? Aqui ha um equivoco,
presidente do conselho, de autorisações de serviços talvez da minha parte por falta de conhecimento do valor
estranhos á lei do orçamento, lei que só deve conter a da expressão «despeza votada.» O que quer dizer
receita e a despeza do serviço publico autorisado em lei despeza votada? Entendo que a palavra despeza ou
anterior: emquanto não reduzirmos o orçamento a seus medida votada significa uma lei; votada por quem? Pelo
verdadeiros termos, sua discussão será prolongada. parlamento? Ora, não ha despeza ainda votada pelo
E' assim, Sr. presidente, que a commissão, aliás parlamento, que importe a verba referida nessa emenda;
composta em sua maioria de amigos do nobre ministro, não ha lei ainda consignado essa quantia de que falla o n.
viu-se obrigada, constrangida mesmo, a apresentar 2º; logo, não posso comprehender o que quer dizer esta
emendas de eliminação de algumas autorisações que vêm restricção «não excedendo a despeza votada.»
addicionadas ao orçamento. Quer saber V. Ex. qual é a despeza votada de que
trata a emenda? E' a do § 5º, que diz: «Justiça de 1ª
instancia
Sessão em 26 de Maio 241

1,023:078$»; esta é a despeza votada consignada em lei, creação de comarcas; as assembléas provinciaes vão
que até hoje rege esse serviço. neste prurido de um modo espantoso; ainda ha pouco
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da crearam-se em minha provincia cinco comarcas, em
Justiça): – Essa é a despeza proposta e não votada. Pernambuco outras cinco, em S. Paulo cinco, em Minas
O SR. POMPEU: – Mas a proposta do nobre não sei quantas. De sorte que se o governo não usar da
ministro funda-se na lei existente; por isso a palavra medida de que outr'ora muito se usou e se abusou,
despeza votada só podia referir-se a esta verba. Mas a recommendando aos presidentes de provincia que não
despeza votada de que entende fallar o paragrapho é a sanccionassem todas as leis de creação de comarcas que
que já está augmentada de 383:460$, simplesmente as assembléas provinciaes decretassem, muitas vezes por
apresentada na outra camara como uma emenda ao motivos menos confessaveis, se não soccorrer-se, digo, a
orçamento, que só por essa apresentação já traz o cunho alguma medida semelhante, não haverá dinheiro possivel,
de despeza votada. ou bastante para a verba de empregados de justiça. Dizem
Ora, neste caso o governo poderia em vez de que o numero das novas comarcas de 1872 para cá já
383:000$ que fez passar na camara dos Srs. deputados sobe a mais de 70; se em dous annos, ou em menos, tem
para esse augmento, pedir e fazer passar dous ou tres mil crescido a esse ponto os logares de juizes e promotores
contos e fazer escrever: despeza votada; e com verba tão etc, o que não será daqui a mais alguns annos?! E por
ampla para dotar os serviços a que se destina, poderia ventura será a necessidade ou a conveniencia da boa
dizer-nos que não passaria dos limites da despeza votada, administração da justiça que tem determinado essas novas
sem que tal despeza houvesse sido ainda consignada em creações, ou o interesse individual, o patronato acobertado
lei. pelo interesse politico?
Eu, Sr. presidente, não me opponho em these que Ha freguezias que teem sido elevadas a comarcas;
as classes de empregados que esta verba vae favorecer pequenos povoados arvorados em villas para augmentar o
sejam com effeito consideradas; mas quizera que o fossem numero dos termos da comarca e justificar a divisão.
em lei especial, que se marcassem os ordenados na O nobre ministro, fallando do motim que
mesma lei, ou ao menos se désse uma base para o infelizmente teve logar agora no Recife, disse que o havia
governo marcal-os dentro deste limite. reprovado (e realmente assim o fez), como reprovara um
Diz aqui o Sr. ministro neste orçamento explicativo motim igual que teve logar nas noutes de 27 e 28 de
da receita e despeza para o exercicio futuro de 1873 – Fevereiro na rua do Ouvidor.
1874, que pretende elevar os ordenados dos promotores a Perdôe-me S. Ex., é certo que desta vez reprovou
1:800$. Pergunto a S. Ex. se esta elevação de ordenados formalmente, como devia, e eu tambem reprovo, o motim
é geral para todos os promotores publicos do Imperio, ou que se deu no Recife contra uma casa religiosa e um
especial com modificações para diversas comarcas. estabelecimento typographico; mas S. Ex. não usou dos
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da mesmos termos, da mesma reprovação, quando se tratou
Justiça): – Quanto a ordenado é geral de 800$; quanto a do motim acontecido na rua do Ouvidor; então S. Ex. disse
gratificação ha de variar de 400$ a 800$000. que era a opinião publica indignada que fazia justiça.
O SR. POMPEU: – Diz-se aqui (lendo): elevação Senhores, estou convencido de que a não
até 1:800$000. reprovação ou antes a animação que o governo e seus
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da amigos deram da tribuna a esse attentado praticado na rua
Justiça): – E’ erro; é 1:600$000. do Ouvidor nas noutes de 27 e 28 de Fevereiro foi que deu
O SR. POMPEU: – Mas o que fica de ordenado causa a esse do Recife (apoiados) e está animando outros
fixo? semelhantes, como acontece no Ceará, onde a folha
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da official, em artigo de fundo ameaça formalmente as
Justiça): – 800$000. typographias da opposição dizendo que sua sorte será
O SR. POMPEU: – A gratificação é variavel... peior do que a do Sr. Bocayuva e da typographia da
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Republica.
Justiça): – De 400$ a 800$000. O SR. ZACARIAS: – Só não ha de haver tanta
O SR. POMPEU: – Como disse, Sr. presidente, o abundancia de chouriços.
honrado senador pela Bahia, o governo fica com duas O SR. POMPEU: – Foi, pois, a imprudencia que
fontes de renda, ou dous creditos para estas despezas; teve o nobre ministro ou seus amigos de chamar boa
não só o credito que se vae votar no seu orçamento, como justiça aos successos da rua do Ouvidor...
o supplementar de que elle poder precisar para pagamento O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
dos novos funccionarios de justiça que forem dentro do Justiça): – Eu não disse que era boa justiça.
exercicio creados por leis provinciaes; porque sabe o O SR. POMPEU: – Disse que era a opinião publica
senado que nas provincias ha agora prurido de creação de e aqui o Sr. visconde de Nitherohy accrescentou que era
comarcas. Ora, pergunto ao honrado ministro, quantas de boa justiça. Foi, pois, esta imprudencia que animou
comarcas tem-se creado depois da nova lei da reforma? esses successos deploraveis do Recife, e Deus queira que
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da não dê ainda outros tristes resultados.
Justiça): – Consta do relatorio. Eu teria de perguntar ao nobre ministro porque
O SR. POMPEU: – Eu tenho aqui uma nota em que razão condemnando, como fez na outra camara e aqui, as
se dá o numero maior do que o nobre ministro apresenta; e doutrinas da Republica como contrarias ás nossas
parece que ainda não estamos no meio desse progresso instituições, como injuriosas e calumniosas á Corôa, queria
de perguntar, digo, como S. Ex., pensando desta maneira,
deixa de cumprir seu dever mandando responsabilisar aos
restos
242 Sessão em 26 de Maio

desses crimes previstos em nosso codigo; mas, como o E' o que tenho dito constantemente no senado e
nobre ministro nos disse que era falta de generosidade de principalmente trazendo os factos dessa ordem contra a
nossa parte tocar nesta especie, não quero que o honrado segurança individual e de propriedade praticados em
ministro, que aliás me conhece ha muito tempo e com minha provincia para chamar sobre elles a attenção do
quem tenho a honra de entreter relações amistosas desde governo; mas desanimo, quando leio o resto do topico do
o Ceará, supponha que falto a esse sentimento que S. Ex. discurso da Corôa. E não é só nos centros dos sertões
invoca. como diz o discurso da Corôa, mesmo nas cidades e
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da capitaes, como sabe o senado, e vou logo provar com um
Justiça): – Não peço isso como caridade. officicio da presidencia de Pernambuco.
O SR. POMPEU: – Como caridade? Não disse eu Ahi se diz: «O remedio radical para esse estado de
tal; mas... cousas depende de communicações mais rapidas e de
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da outras medidas tendentes a melhorar a condição moral
Justiça): – Eu disse ao honrado senador pela Bahia que daquellas regiões.» Oh! senhores, nós então não temos de
não havia insistido em minha opinião, apresentei apenas ver ou de gosar desse melhoramento, porque não será em
de modo fugitivo. nossos dias que taes condições se realisarão, será esse
O SR. POMPEU: – Mas, senhores, o dilemma ficou beneficio para as gerações futuras. Pois o governo
em pé: ou a imprensa republicana pratica um crime desanima e confessa que para o grande numero de
previsto no codigo e um crime grave, segundo S. Ex. assassinatos, de roubos e de crimes de toda a ordem que
expoz, ou não; se pratica, não entendo que o governo se praticam pelo interior das nossas provincias e mesmo
possa ser governo com a opinião publica transigindo a pelas capitaes dellas, não ha outro remedio senão o
respeito de um crime, porque o governo não póde perdoar desenvolvimento de civilisação e das estradas de ferro,
crimes, ou transigir; e se não pratica, o nobre ministro não quando progredirem até o interior do sertão? Então
podia alardear esse favor e dizer: «Não mando percamos a esperança de vêr esse melhoramento, porque
responsabilisar, porque quero ter deferencia com este isso deita para as gerações futuras.
sentimento geral de liberdade de imprensa; porque quero E tenho tanto mais razão de estranhar essa
assim provar que os principios que combate aquella asserção de que o augmento dos attentados é só devido
imprensa não se abalam com sua propaganda.» ao atraso da civilisação e á falta de boas vias de
Sr. presidente, o discurso da Corôa nos disse em communicação, quanto o nobre ministro póde verificar,
um dos seus topicos que a tranquillidade publica não foi comparando a estatistica criminal de certos annos a esta
em parte alguma perturbada; o nobre ministro repetiu isto parte com a estatistica criminal anterior, donde verá o
mesmo em seu relatorio; entretanto que o relatorio do grande incremento que tem havido ultimamente; por
chefe de policia, que já foi lido pelo honrado senador pela conseguinte á proporção que a illustração, civilisação,
Bahia, diz o contrario; confessa que aqui mesmo, á face do communicações augmentarem, o numero de crimes
governo, foi perturbada a tranquillidade publica em dous crescem!... Logo a causa é outra.
dias ou duas noutes na rua mais publica da cidade, O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
perturbação muito séria, posto que diga o chefe de policia Justiça): – O aperfeiçoamento da estatistica póde produzir
que os successos não tiveram maior resultado; mas nem esse resultado.
por isso deixou de haver uma gravissima perturbação de O SR. POMPEU: – Não, senhor ministro, V. Ex. foi
ordem publica... presidente de provincia e ha de bem lembrar-se que nesse
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da tempo naquellas que V. Ex. dignamente presidiu como a
Justiça): – Gravissima, não apoiado. minha...
O SR. POMPEU: – ...e por dous motivos: O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
primeiramente, porque aquelle attentado foi praticado no Justiça): – Muito obrigado.
centro da rua do Ouvidor da cidade do Brasil mais O SR. POMPEU: – ...não se commettia nem a terça
importante; em segundo logar, porque atacava, não só a parte dos delictos que hoje se praticam. E’ porque havia
uma reunião de pessoas respeitaveis, como a um melhor administração, Sr. presidente, mais amor á justiça,
estabelecimento typographico, a um estabelecimento que menos espirito partidario na alta administração.
tem por fim o exercicio legal da liberdade da imprensa, que O SR. CANSANSÃO DE SINIMBÚ: – E sobre tudo
o nobre ministro diz que deve tanto respeitar-se; e ainda melhores executores; elle mesmo o foi.
mais, Sr. presidente, porque os projectis, as armas de que O SR. POMPEU: – O discurso da Corôa elogia a lei
fizeram uso os assaltantes, poderia ter levado o incendio e da reforma judiciaria e o nobre ministro acaba tambem de
a morte, não só á casa do estabelecimento, como ás casas fazer a apologia dessa reforma; mas noto que não pensam
visinhas; por conseguinte foi uma gravissima perturbação assim todos os agentes do governo altamente collocados,
da ordem publica ou pelo menos um grande susto das e vou lêr ao nobre ministro um documento muito
pessoas que estavam neste estabelecimento e nos interessante para mostrar a S. Ex. como os agentes da
visinhos: e todavia se diz que a ordem publica não foi administração da justiça o policia estão discordes sobre a
perturbada, alterada ou ameaçada! bondade da nova reforma judiciaria, attribuindo até á nova
O discurso da Corôa confessa um facto muito lei o augmento dos crimes. Tenho aqui um officio do
grave, quando diz: «E’ porém para lamentar que a presidente da provincia de Pernambuco ao chefe de policia
segurança individual e de propriedade não possa ser daquella provincia consultando-o sobre a causa da
assás protegida em nossos sertões, onde a influencia da frequencia de delictos graves, que se reproduzem naquella
lei não impera ainda de maneira efficaz na prevenção dos provincia e capital, de
delictos.»
Sessão em 26 de Maio 243

modo que espantaram ao mesmo presidente, e a resposta que de policia, cujo corpo, sobre não estar completo, a maxima
lhe deu o chefe de policia lançando a culpa dessa parte se acha destacada no interior da provincia, em serviço
immoralidade á famosa lei aurea e principalmente aos de importancia, donde por isso mesmo não julgo conveniente
preceitos que garantem um pouco mais a liberdade individual. que seja retirada.
Eis o officio do presidente (Lê). E' certo que ha necessidade de mudança de alguns
Secção 2ª – Palacio da presidencia de Pernambuco, 3 agentes de autoridades, mas não me tem sido possivel achar
de Dezembro de 1872. pessoal mais activo que queira aceitar cargos policiaes; é
Illm. Sr. – Chamo a attenção da V. S. para os repetidos essa a razão que me obriga a tolerar a continuação dos que
attentados contra a segurança de propriedade dos habitantes julgo menos aptos para os cargos em que estão: e tão grande
desta capital. falta existe para pessoal idoneo da policia, que o districto de
Raro é o dia em que os jornaes não deem noticia de Beberibe e Jaboatão, por exemplo, se acham acephalos,
um roubo ou de um furto praticado com circumstancias mais como ha pouco tambem se achava o de Nossa Senhora da
ou menos aggravantes. A audacia dos ladrões tem chegado Gloria de Goytá, para onde foi ultimamente nomeado um
ao ponto de não respeitar mais nem os edificios publicos nem subdelegado militar.
as ruas as mais frequentadas e guardadas pela força publica. Uma vez que ha falta de soldados de policia para as
Semelhante estado de cousas, que tanto depõe contra urgencias do serviço, parece-me que deve-se organisar uma
a nossa civilisação e costumes, não póde nem deve continuar companhia de urbanos, (para o que se acha autorisado pela
por mais tempo, e confio que V. S. com o zelo, de que tem assembléa provincial) ou mandar-se aquartelar força
dado sobejas provas no cumprimento de seus deveres, o fará sufficiente da guarda nacional para o serviço das rondas, que
cessar, propondo desde já a esta presidencia as medidas que considero de summa importancia por serem um poderoso
julgar convenientes e acertadas. auxiliar para impedir os furtos e os roubos que se dão nesta
Deus guarde a V. S. – Henrique Pereira de Lucena. – cidade, como já fiz vêr ao antecessor de V. Ex., em officio de
Sr. Dr. chefe de policia. 20 de Agosto e 23 de Outubro, sob ns. 1288 e 1669 sobre
Respondeu o chefe de policia com esta ingenuidade identico assumpto. Vem aqui a proposito lembrar a V. Ex., a
(Lê): conveniencia de serem mandados para o interior da provincia
«Primeira secção. – Secretaria da policia de destacamentos volantes, commandados por officiaes de
Pernambuco, 4 de Dezembro de 1872.» confiança que percorram o centro com o fim de capturar
N. 1922. – Illm. e Exm. Sr. – Accuso o recebimento do criminosos; devendo ser encorporados para esse fim a taes
officio de V. Ex. de hontem datado, em que, chamando a destacamentos aquelles que se acharem em logares onde se
attenção desta chefatura para os repetidos attentados contra a não tornem muito precisos. Taes são as medidas que julgo
segurança de propriedade dos habitantes desta cidade, exige dever apresentar a V. Ex. que resolverá como entender.
ao mesmo tempo que indique medidas para cessão de taes Deus guarde a V. Ex. – lllm. e Exm. Sr. Dr. Henrique
factos. Pereira de Lucena, presidente da provincia. – O chefe de
Semelhantes attentados, para que chamou V. Ex. a policia, Luiz Corrêa de Queiroz Barros.»
attenção desta chefatura, não são estranhos nem passam O SR. ZACARIAS: – Está a lei aurea convertida em lei
desapercebidos della, que tratou sempre e continúa a tratar de ferrea.
evitar sua reproducção. O SR. POMPEU: – Essa lei aurea são proclamada e
Estou profundamente convencido de que o gabada está sendo a causa deste triste successo de que se
apparecimento desses crimes em tão grande escala é devido, queixa a Corôa, e de que se queixa o nobre ministro da justiça
além de outras causas occasionaes que se teem dado de e seu delegado presidente de Pernambuco quanto á
certo tempo para cá, principalmente ao enfraquecimento do reproducção dos crimes em larga escala em todas as
principio da autoridade que veio trazer a lei da novissima provincias.
reforma judiciaria, salutar em muitas de suas partes, mas não O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
em todas.» – Mas contra o enfraquecimento da autoridade policial parece
O SR. ZACARIAS: – Ouçam! que V. Ex. não devia reclamar.
O SR. CANSANSÃO DE SINIMBU’: – Repita esse O SR. POMPEU: – Não reclamo. Eu trouxe estas
periodo. peças officiaes para mostrar ao honrado ministro que os
O SR. POMPEU: – (Depois de repetir a leitura do agentes do governo, notadamente do ministerio da justiça,
periodo, continuando a lêr o officio): estão em formal contradicção com o governo, porque, quando
«Essa lei, a que devo respeito por ser lei do paiz, veio V. Ex. elogia a nova reforma, elles a condemnam como causa
enervar a acção da policia, que dantes era rapida; e dahi a dos males da falta de segurança individual e de propriedade
animação para a reproducção delles. que se accusa no paiz.
Com o actual systema ninguem póde ser preso, Entretanto, Sr. presidente, eu protesto contra essa
mesmo em crimes inafiançaveis a não ser em flagrante imputação, e digo que não foi a lei que trouxe esse mal, tem
delicto, ou precedida autorisação do juiz criminal. Mas quando sido a má execução della; e tanto é assim que nem o recurso
essa autorisação apparece, pelas formalidades que devem de habeas corpus, que a nova lei estendeu até os recrutas
precedel-as, o delinquente já anda longe, e fica illudida assim para o exercito e marinha se tem observado, porque mandou-
a melhor boa vontade dos agentes da autoridade para sua se restringir; e nem tambem se tem feito maior cabedal de
captura. suas prescripções a respeito de outras garantias que ella
A’ isso ajunte-se a falta de força publica que, como já promette ao cidadão; porque por toda a parte os agentes
fiz ver ao antecessor de V. Ex., dá-se nesta cidade, o ponto de policiaes as dispensam, assim como os
faltarem rondas para os tres bairros, conforme sempre
acontece. Apenas a fazem os inspectores de quarteirão,
dirigidos pelos subdelegados, sem auxilio algum da força
244 Sessão em 26 de Maio

recrutadores, fundados ou não em avisos do governo, como o Sem mais commentarios, attendam os leitores para a
reservado do ministro da guerra. seguinte certidão, passada sob requerimento nosso em data
V. Ex. quer vêr um specimen? Aqui está ao acaso uma da 28 de Fevereiro ultimo:
folha de Sergipe que recebi, e contém o facto de maior arbitrio «Certifico em cumprimento do respeitavel despacho do
policial para provar que caso fazem os agentes do governo do Illm. Sr. Dr. chefe de policia exarado no presente
respeito ás garantias dessa pobre lei tão inculpada pelo chefe requerimento, que desta secretaria consta que Antonio
de policia de Pernambuco como causadora do incremento de Francisco Florentino foi preso como desertor do corpo fixo da
crimes naquella provincia, (Lê): provincia do Ceará, á requisição do Dr. chefe de policia
AO EXM. SR. PRESIDENTE DA PROVINCIA: – O daquella provincia e recolhido ao – xadrez militar – no dia 27
subdelegado da freguezia do Gerú Francisco Antonio da de Dezembro do anno passado, para ser remettido
Costa acaba de praticar um acto tão revoltante na opinião opportunamente (??!) ao mesmo Dr. chefe de policia daquella
publica que tem posto em desasocego a população. provincia, e que Antonio Teixeira de Barros, preso e remettido
No dia 4 do mez passado mandou prender Bertolina pelo delegado de policia da villa das Barras como suspeito (!)
Maria de Jesus, mulher de Antonio Joaquim de Sant'Anna, e a de ser desertor da provincia de Pernambuco, foi recolhido ao –
conservou com os dous pés no tronco por espaço de 24 xadrez militar – no dia 6 de Janeiro deste anno e solto no dia
horas, sem que ella tivesse commettido o mais leve crime, 27 do expirante (depois de 53 dias !!!). por se ter verificado (?)
sómente por pedido de Salvador Franklin por ter ella repellido não ser desertor. E' o que consta, etc., etc.»
com energia os desaforos que por elle lhe foram dirigidos. Observação. – Os parenthesis e signaes para chamar
Na occasião da prisão o pobre marido, estando mais a attenção foram postos por nós e não pelo digno Sr.
presentes o professor Joaquim Manoel Esteves e outras secretario da policia, escrupuloso como é no comprimento de
pessoas, offereceu seus pés ao tronco, para salvar sua mulher seus deveres.
e a si proprio daquella vergonha porque iam passar, mas o (Artigo de Noticiario do periodico Oitenta e nove n. 2
subdelegado não o quiz attender e declarou que faria muito de 10 de Março de 1873.)
favor em não mandar mettel-a no tronco de pescoço.
A um homem destes, Exm. Sr., não deve estar PARTIDA DE A. F. FLORENTINO PARA A CAPITAL DO
confiado um cargo tão importante, pois sendo, além de CEARÁ.
ignorante, deshonesto a ponto de ha pouco tempo ter raptado
uma donzella da casa de seus paes, e viver com ella Ante-hotem, 12 do corrente mez de Março, daqui
escandalosamente com desprezo da propria mulher, provoca seguiu para a cidade da Fortaleza, escoltado por soldados, a
as iras de um pobre pae de familia e o arrasta á desgraça. bordo do vapor Piauhy a innocente victima do caprichoso
A V. Ex. recorre-se pedindo providencias para salvar chefe de policia desta provincia Francisco da Paula Lins dos
as pessoas prudentes da freguezia e para dar informações se Guimarães Peixoto cuja prevaricação demonstramos com os
offerecem os Srs. Dr. Guilherme de Souza Campos, Dr. juiz documentos abaixo publicados.
municipal, capitão Antonio Esteves Lima, alferes Vicente O infeliz Florentino foi acompanhado pela sua
Esteves Lima e capitão Francisco da Rocha Mello. desolada esposa e por tres innocentes filhinhas...
Em 3 de Março de 1873. – Um pae de familia. Iniquidade revoltante!
Ora, os subdelegados fazem disto por toda a parte; por Mas refreemos a nossa justa indignação, para dar
conseguinte a novissima lei da reforma que ampliou o habeas- logar aos documentos inconcussos que provam a
corpus e prescreveu outras garantias, não serviu de obstaculo criminalidade do chefe prevaricador. – David M. Caldas.»
para que as autoridades policiaes deixem de continuar a
praticar os maiores excessos contra a segurança individual. PRIMEIRA SERIE DE DOCUMENTOS.
Não ha muito vimos a noticia de um subdelegado de
Pernambuco que prendeu a um pobre almocreve e ameaçava- « lllm. Sr. Dr. chefe de policia. – N. 991. Não tem logar
o de enterral-o se ousasse queixar-se. o que requer, o supplicante tem de ser remettido á requisição
Aqui está outro facto do Piauhy: é um pobre homem da mesmo do Dr. chefe de policia da provincia do Ceará.»
provincia do Ceará, que estando preso no Piauhy por muito Secretaria da policia do Piauhy, 23 de Fevereiro de
tempo e requerendo ao chefe de policia a sua soltura teve a 1873. – Lins Peixoto..
resposta de que era desertor da provincia do Ceará e foi (Sellado com uma estampilha.)
remettido para alli; mas, quando o homem chegou lá «Diz Antonio Francisco Florentino, preso no quartel de
reconheceu-se que elle nunca tinha sido desertor. Diz um linha desta cidade, como suspeito de ser desertor do corpo
avulso impresso em Theresina o seguinte (Lê): fixo da provincia do Ceará, que constando-lhe por carta
Grande attentado commettido pelo chefe de policia da daquella cidade ter o Sr. chefe dalli em resposta a exigencias
provincia do Piauhy Dr. Francisco de P. Lins dos Guimarães de V. S. declarado não ser o supplicante desertor como se lhe
Peixoto. – Attenda o paiz! – Attendam os nossos concidadãos! imputa, a bem de seu direito e justiça, pede a V. S. que lhe
– Attenda a imprensa independente e moralisada! – Attendam mande dar por certidão o teor desse officio que já deve estar
os tribunaes de instancia superior! – E, emfim... attendam os nas mãos de V. S. – E. R. M.
poderes constituidos! Therezina, 28 de Fevereiro de 1873. – Antonio
SYSTEMA DE APODRECIMENTO: – O Sr. Dr. chefe Francisco Florentino.»
de policia vae pondo em pratica um novo systema de
apodrecer creaturas humanas dentro das masmorras de que
dispõe!
Sessão em 26 de Maio 45

«Illm. Sr. Dr. chefe de policia, – N. 996. – Não póde ter de infantaria e como necessite provar esta falsidade, para
logar o que requer. Secretaria da policia da provincia do obter sua liberdade, requer a V. Ex. se digne de mandar que o
Piauhy, 1 de Março de 1873. – Lins Peixoto.» tenente coronel do 14ª batalhão certifique, se effectivamente é
(Sellado com uma estampilha).» ou não o dito Antonio Francisco Florentino ou Raymundo
«Diz Antonio Francisco Florentino, preso no quartel de Gomes praça do referido corpo. Assim pede deferimento e
linha desta cidade, que tendo V. S. se servido declarar em seu justiça.
respeitavel despacho de hontem, que o supplicante tem de ser Fortaleza 10 de Fevereiro de 1873 – O procurador,
remettido para a capital do Ceará, pela requisição do Sr. chefe Joaquim Francisco da Costa.»
de policia daquella provincia, a bem de seu direito e justiça, «João Theodoro de Mello, official da imperial ordem da
pede a V. S. se sirva mandar dar-lhe por certidão o teor Rosa, cavalleiro das de Christo, Rosa e Cruzeiro, e
dessas requisições que já não pódem ser segredos de justiça, condecorado com as medalhas de merito militar, campanha do
attento a que o supplicante se acha preso ha mais de dous Uruguay em 1852 e com a do Paraguay com passador de
mezes, nestes termos – E. R. J. – Theresina, 1º de Março de ouro, tenente-coronel commandante do 14º batalhão de
1873. – Antonio Francisco Florentino.» infanteria por Sua Magestade o Imperador, etc.
Em cumprimento ao despacho retro de S. Ex. o Sr.
SEGUNDA SERIE DE DOCUMENTOS RECEBIDOS NA presidente da provincia certifico que, revendo o archivo do
TARDE DO DIA 13; POR VIA DA PARNAHIBA. (*) batalhão, não foi encontrado documento algum que provasse
ter pertencido ao mesmo praça com os nomes de Antonio
«Illm. e Exm. Sr. Dr. chefe de policia. – Como requer. Francisco Florentino ou Raymundo Gomes; em firmeza do que
Secretaria da policia do Ceará, 10 de Fevereiro de 1873. – mandei passar a presente, que assigno e vae sellada com o
Silva Rego. sinete das armas imperiaes. Quartel do commando do 14.º
(Sellado com uma estampilha) batalhão de infanteria na cidade da Fortaleza, 18 de Fevereiro
« Diz José Antonio de Lemos, negociante residente na de 1873. – João Theodoro Pereira de Mello.» – (Está com o
provincia do Piauhy, que tendo sido preso naquella Antonio sello das armas imperiaes).
Francisco Florentino pelo suposto nome de Raymundo Eis aqui, Sr. presidente, o respeito que teem as
Gomes, por se attribuir ser elle desertor, ou criminoso nesta autoridades pela nova lei ou pelas leis anteriores mesmas;
provincia, e para que possa o dito Antonio Florentino provar quando se quer abusar das garantias da lei, não faltam
essa falsidade, requer a V. Ex. se digno de mandar que seja pretextos.
pelo respectivo empregado certificado se o dito Antonio O nobre ministro já emittiu sua opinião a respeito do
Francisco Florentino, ou Raymundo Gomes, é criminoso, celebre aviso expedido pelo seu ex-collega da guerra; felicito
revendo-se o livro do rol dos culpados; assim pede ao nobre ministro por ter-se desprendido de considerações
deferimento e justiça. Fortaleza, 10 de Fevereiro de 1873. – O que não valia presentemente tel-as, declarando que o aviso
procurador, Joaquim Francisco da Costa.» reservado foi mandado executar pelo presidente do Ceará?
«Em cumprimento do despacho supra, certifico que Vou ler o officio reservado do presidente do Ceará
nesta repartição não consta criminalidade do individuo de que recommendando-o, assim como a copia do mesmo aviso, que
trata o requerente.» o nobre actual ministro da guerra remetteu ao senado a
Secretaria da policia do Ceará, 13 de Fevereiro de requerimento do meu nobre amigo o Sr. Zacarias. (Lendo).
1873. – O amanuense, José da Silveira Dutra. – Desta mil «Cópia. – Reservado. – Provincia do Ceará. – 3ª
réis. – Dutra. secção. – Palacio da presidencia, 7 de Fevereiro de 1873. –
«Illm. e Exm. Sr. presidente da provincia. A' secretaria De conformidade com o aviso reservado do ministerio da
do 14º batalhão de infanteria para certificar o que constar. – guerra de 19 de Abril do anno passado, do qual lhe envio a
Palacio do Ceará, 13 de Fevereiro de 1873. – Oliveira Maciel. inclusa cópia, fica Vm. autorisado a assentar praça
Diz José Antonio de Lemos, negociante residente na immediatamente nos individuos que forem recrutados para o
provincia do Piauhy, que, tendo sido preso naquella provincia serviço do exercito, devendo entretanto, usar desta faculdade
Antonio Francisco Florentino, pelo supposto nome de com prudencia. Deus guarde a Vm. – Francisco de Assis
Raymundo Gomes, por se atribuir ser elle desertor do extincto Oliveira Maciel. – Sr. recrutador do municipio do Crato. – Está
corpo fixo desta provincia, hoje 14º batalhão conforme. – O escrivão interino do jury, José Freire de Castro
__________________ Jeuá.»
(*) Tendo sahido o vapor Piauhy, no qual seguira Antonio F. «Copia. – Reservado. – Ministerio dos negocios da
Florentino, pelas 10 horas da manhã do dia 12, ás 6 horas da tarde guerra. Rio de Janeiro, em 19 de Abril de 1872. – Illm. e Exm.
entrou o vapor Paranaguá, cuja mala do correio trouxe Sr. – Accuso o recebimento do officio reservado que V. Ex.
correspondencia do Ceará: 23 (!) horas depois foi entregue ao capitão
José Antonio de Lemos uma carta registrada do Sr. Adolpho Hoert, a
dirigiu-me em 26 de Março proximo passado, relativamente a
qual encerrava os dous documentos da 2ª serie. actos praticados pelo juiz de direito da comarca do Crato, em
relação ao recrutamento; e em resposta declaro a V. Ex. que
nessa data solicito do Sr. ministro da justiça providencias a
semelhante respeito, parecendo entretanto que fica sanada a
difficuldade de que trata V. Ex., conferindo-se aos
recrutadores autorisação para assentarem praça
immediatamente nos individuos que forem recrutados
246 Sessão em 26 de Maio

para o serviço do exercito. – Deus guarde a V. Ex. – que era elle destinado a curar o grande mal do ex-juiz que
Domingos José Nogueira Jaguaribe. – Sr. presidente da dava habeas-corpus a recrutas?
provincia do Ceará. – Conforme. – O secretario interino, Mas se disse: «Era para assentar praça mesmo nas
Joaquim Mendes da Cruz Guimarães Junior. – Está conforme. localidades sem precisar de ir á capital.» Mas, senhores, como
– O escrivão interino do jury, José Freire de Castro Jeuá.» era que se verificavam então a inspecção de saude e outras
Esta expressão, devendo usar com prudencia, faz-me medidas que se recommendam a respeito de recrutas? Não
lembrar aquelle celebre delegado do Rio de Janeiro há exemplo de alistamento de praça fóra do quartel na capital
ordenando a prisão de um sugeito e declarando que, se antes disso.
resistisse, fosse morto, mas prudente e moderadamente: E’ o E é notavel, Sr. presidente, que, ao passo que se dizia
que acontece no Ceará a respeito do recrutamento: assento- que esse aviso por fim obstar o abuso de habeas-corpus
se praça immediatamente, mas com prudencia, isto é, o infeliz concebido pelo juiz de direito, e por isso se recommenda o
é agarrado, levado ao quartel ou casa do subdelegado, do immediatamente, se allegasse depois que fora tambem para
commandante do destacamento em qualquer povoado e obviar o inconveniente da demora dos recrutas nas
alistado como soldado. localidades centraes tres a quatro mezes até virem para a
Disse o nobre ministro que não foi talvez intenção do capital; logo não era exacto que o juiz do Crato soltava
ministro que expediu o aviso preterir o direito que os incontinenti todos quantos eram recrutados por via do habeas-
recrutados tinham de recorrer dentro de um praso dado. corpus; de sorte que o celebre aviso foi expedido por causas
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): contradictorias, primeiro para obstar que o juiz désse logo
– Não póde ser preterido esse direito. habeas-corpus, segundo porque os recrutas se demoravam no
O SR. POMPEU: – Mas o aviso preteria, e tanto foi Crato e outros pontos tres e quatro mezes presos antes de
esta a intelligencia que lhe deu o proprio presidente do Ceará serem remettidos para a capital! Que aviso milagroso!
e lhe teem dado seus delegados nos districtos, que o ex- Tambem, Sr. presidente, estou convencido de que
presidente Sr. Wilkens de Mattos, que foi quem communicou somente do aperfeiçoamento e melhoramento dos costumes,
ao ministro as dificuldades que encontrava a respeito do das vias ferreas e outras medidas que o progresso de
recrutamento, segundo disse aqui o nobre ministro, não quiz industria e de civilisação vão apresentado e pondo em pratica,
pôr em execução esse aviso por suppol-o excessivo talvez; e não é que ha de vir a repressão dos crimes. Precisa-se
no jornal Futuro, que não é suspeito, de redacção de pessoa principalmente, senhores, de que o governo tenha bastante
da amizade de Sr. Wilkens de Mattos, diz o seguinte (Lendo): força para resistir á pressão dos partidos ou á pressão das
«Esse aviso indigno importa a derogação total do facções que os servem para dar força moral e apoio aos
codigo do processo criminal, da lei de 20 de Setembro de magistrados, que tiverem a coragem do cumprimento dos
1871, na parte relativa ao habeas-corpus, e da lei de 1º de seus deveres.
Março de 1858, quando aos prasos concedidos aos individuos Como é, Sr. presidente, que ha de haver repressão do
recrutados para que possam provar suas isenções. crime, quando o governo não duvida acceder á remoção de
Admira mesmo que elle fosse expedido pelo ministro, magistrados distinctos, que se empenhavam pela repressão
que, quando juiz de direito da Granja, mostrou-se tão do crime, como o juiz de direito do Crato, o do Ipú e o da
decididamente partidario daquelle recurso constitucional, que Imperatriz na provincia das Alagoas? Como é que ha de haver
não trepidou expedir uma ordem a favor de um criminoso repressão do crime, quando seus delegados suspendem
sentenciado pelo jury daquelle termo! juizes municipaes, como o da Imperatriz nas Alagoas e
Estava nesta provincia o commendador Wilkens de demitte o promotor, porque pronunciam criminosos? Como ha
Mattos, quando lhe veio as mãos aquella peça ministerial, que de haver repressão do crime, quando os presidentes de
por si só era motivo sufficiente para que o parlamento provincias demittem promotores, que cumprem seus deveres
decretasse a responsabilidade do ministro que a subscreveu. denunciando os criminosos? Senhores, tenho ainda outras
O commendador Wilkens apesar de não pertencer á considerações a levar ao conhecimento do honrado ministro;
magistratura do paiz, teve a honestidade precisa para não o mas são 5 horas e eu não quero abusar mais da paciencia de
pôr em execução, zelando assim a independencia do poder V. Ex. e do senado; ficará, portanto, para outra occasião o que
judicial, grosseiramente ferida por aquelle acto invasor do ainda tenho que dizer e ponho aqui termo ao meu discurso.
poder executivo. Negou-lhe o seu cumpra se e reflexionou ao Ficou adiada a discussão pela hora.
governo sobre a inconveniencia da medida por elle Retirou-se o Sr. ministro com as mesmas formalidades
aconselhada.» com que fora recebido.
O SR. ZACARIAS: – Ora, se até o Sr. Wilkens de O Sr. presidente deu a ordem do dia para 27:
Mattos recusou e muito bem executar esse aviso, este 3ª discussão da proposição da camara dos deputados,
presidente que o cumpriu não merece o elogio que delle fez o mencionada no parecer da mesa n. 523 sobre pensões.
Sr. visconde de Jaguary... 2ª dita da proposição da mesma camara sobre
O SR. POMPEU: – Vê, portanto, o honrado ministro concessão de licença ao bacharel Carlos Augusto Autran da
que a intelligencia obvia e natural que se deu ao aviso, Matta Albuquerque, com o parecer da mesa n. 521.
determinando «mande assentar praça nas localidades Dita da proposição da mesma camara sobre pensões,
immediatamente» foi que os infelizes recrutados não tivessem mencionada no parecer da mesa n. 525.
tempo de interpôr o recurso que a lei permitta; e do contrario, Dita das proposições da mesma camara, com os
Sr. presidente, de que serviria o tal remedio, visto pareceres da commissão de marinha e guerra, relativas aos
estudantes João Fernandes de Miranda e Alfredo Bernardino
Canongia.
Sessão em 27 de Maio 247

Dita da proposição da mesma camara, com o parecer de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. – Carlos
da commissão de marinha e guerra, autorisando a admissão Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
do tenente reformado José Ignacio Ribeiro Roma no quadro A’ commissão de pensão e ordenados.
effectivo do exercito. A assembléa geral resolve:
Continuação da 2ª discussão do projecto de lei do Art. 1.º E’ autorisado o governo para conceder ao 2º
orçamento no art. 3.º e seguintes. escripturario da thesouraria de fazenda da provincia do
Levantou-se a sessão ás 5 horas e 5 minutos da tarde. Paraná, Phillinto Elisio de Paula, um anno de licença com
ordenado, a fim de tratar de sua saude onde lhe convier.
18ª SESSÃO EM 27 DE MAIO DE 1873. Art. 2.º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Paço da camara dos deputados, em 26 de Maio de
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. –
Summario. – Expediente. – Parecer da commissão de Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
marinha e guerra. – Ordem do Dia. – Pensões. – Licença. – A’ commissão de pensões e ordenados.
Matricula de estudante. – Pretenção de J. I. R. Roma. – A assembléa geral resolve:
Matricula de estudante. – Orçamento da justiça. – Discurso do Art. 1º O governo concederá aos religiosos
Sr. ministro da justiça. – Emenda do Sr. Zacarias. – Discursos capuchinhos da provincia de Pernambuco, isenção de direitos
dos Srs. Candido Mendes, visconde de Nitherohy e Pompeu. de importação para os materiaes destinados á construcção da
igreja da Penha, na cidade do Recife, fixando previamente a
Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se quantidade dos referidos materiaes.
presentes 35 Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté, Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de Paço da camara dos deputados, em 26 de Maio de
Carvalho barão de Camargos, barão da Laguna, Chichorro, 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Firmino, visconde de Muritiba, Junqueira, conde de Baependy, Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario. – Carlos
Barros Barreto, barão do Rio Grande, marquez de S. Vicente, Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
visconde de Camaragibe, Antão, visconde de Jaguary, barão A’ commissão de fazenda.
de Cotegipe, duque de Caxias, visconde de Souza Franco A assembléa geral resolve:
Teixeira Junior, Paes de Mendonça, Cunha Figueiredo, Art. 1º As disposições da lei de 6 de Novembro de
Pompeu, visconde de Nitheroy, Mendes de Almeida, marquez 1827, relativas á concessão de meio soldo, são extensivas ás
de Sapucahy, Jaguaribe, barão de Pirapama, visconde do viuvas, filhos e mães dos officiaes do exercito que fallecerem
Bom Retiro, Sinimbú, Uchôa Cavalcanti, visconde do Rio nos acampamentos, durante as operações de guerra, em
Branco, Silveira da Motta e Zacarias. consequencia de molestia ahi adquirida, e comprovada por
Deixaram de comparecer com causa participada os facultativos do exercito.
Srs. Figueira de Mello, Leitão da Cunha, Nunes Gonçalves, Art. 2º A presente resolução aproveita a D. Rita de
Diniz, Fernandes Braga, barão de Maroim, F. Octaviano, Cassia Alcibiades, para ser contado o meio soldo por inteiro
Mendes dos Santos, Paranaguá Fernandes da Cunha, desde a data do fallecimento de seu filho o capitão José
Nabuco, Ribeiro da Luz, Saraiva, Vieira da Silva, visconde de Alcibiades Carneiro.
Caravellas, Visconde de Inhomerim, Godoy, Paula Pessôa, é Art. 3º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Silveira Lobo e Jobim. Paço da camara dos deputados em 26 de Maio de
Deixaram de comparecer sem causa participada os 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. –
Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz, e visconde de Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino.
Suasuna. Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
O Sr. presidente abriu a sessão. A’ commissão de marinha e guerra.
Leu-se a acta da sessão antecedente, e, não havendo A assemblea geral resolve:
quem sobre ella fizesse observações, deu-se por approvada. Art. 1º A provincia do Pará dará mais tres deputados e
O Sr. 1º secretario leu o seguinte. mais dous senadores.
Art. 2º O governo imperial dividirá a provincia em dous
EXPEDIENTE. districtos eleitoraes.
Art. 3º Cada districto eleitoral dará 15 membros á
Cinco officios de 26 do corrente do 1º secretario da assembléa provincial.
camara dos deputados remettendo as seguintes proposições: Art. 4.º Ficam revogadas as disposições em contrario.
A assembléa geral resolve: Paço da camara dos deputados, em 26 de Maio de
Art. 1º E’ approvada, sem prejuizo do meio soldo que 1873. – Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente.–
competir, a pensão de vinte e quatro mil réis mensaes, Martinho de Freitas Vieira de Mello, 1º secretario interino. –
concedida, por decreto de 21 de Agosto de 1872, a D. Maria Carlos Peixoto de Mello, 2º secretario interino.
Clementina de Vasconcellos de Drummond Villa Forte, mãi do A’ commissão de constituição.
alferes do exercito e tenente de commissão Antonio Luiz Villa O Sr. 2º Secretario leu o seguinte:
Forte, fallecido em consequencia de ferimento recebido em
combate. PARECER DA COMMISSÃO DE MARINHA E GUERRA.
Art. 2º Esta pensão será paga da data do citado
decreto. Pretenção do guarda marinha J. C. R. Espindola
Art. 3º Ficam revogadas as disposições em contrario.
Paço da camara dos deputados, em 26 de Maio de A commissão de marinha e guerra examinou o
1873.– Innocencio Marques de Araujo Góes, presidente. – projecto da resolução enviado pela camara dos deputados,
Martinho que
248 Sessão em 27 de Maio

autorisa o governo a promover ao posto de 2º tenente da de marinha e guerra, sobre dispensa ao estudante João
armada o guarda-marinha José da Cunha Ribeiro Espindola, Fernandes de Almeida.
contando a mesma antiguidade dos que foram promovidos
por decreto de 31 de Janeiro de 1873. PRETENÇÃO DE J. J. R. ROMA.
Consta dos papeis, que acompanharam aquelle
projecto não ter sido o referido guarda-marinha attendido na Seguiu-se em 2ª discussão e passou para a 3ª a
sobredita promoção, por faltar-lhe o anno de embarque proposição da mesma camara mencionada no parecer da
posterior ao exame do 4º anno do curso de marinha. commissão de marinha e guerra, mandando admittir no
Allega porém elle, que por enfermidade não poude quadro effectivo do exercito o tenente reformado José Ignacio
fazer a viagem de instrucção com os seus collegas, mas Ribeiro Roma.
esteve por vezes embarcado, e completou mais tarde o anno
a bordo do navio de instrucção prestando pois o exame MATRICULA DE ESTUDANTE.
competente.
Accrescenta que aos guardas-marinhas de 1862 e Entrou em 2ª discussão e não foi approvada a
1868 se concedeu promoção á 2os tenentes contando-se por proposição da mesma camara mencionada no parecer da
tempo de embarque o que elles fizeram immediatamente ao commissão de marinha e guerra concedendo dispensa ao
seu accesso á guardas-marinhas, seguindo-se o embarque estudante Alfredo Bernardino Canongia.
de instrucção do 4º anno.
A commissão considerando que o actual regulamento ORÇAMENTO DA JUSTIÇA.
da escola exige positivamente que o anno de embarque para
promoção seja posterior ao exame do 4º anno considerando, Achando-se na sala immediata o Sr. ministro da
que esta exigencia é fundada na necessidade de preparar justiça, foram sorteados para a deputação que o devia
convenientemente os guardas marinhas com os precisos receber os Srs. visconde de Nitherohy, visconde de Muritiba
estudos por tornar mais proficuo o embarque que precede a e conde de Baependy, e sendo o mesmo senhor introduzido
obtenção do 1º posto de official da armada. no salão com as formalidades tomou assento na mesa á
Considerando que nenhuma razão de utilidade direita do Sr. presidente.
publica aconselha que se faça excepção á regra geral Proseguiu a 2ª discussão do projecto de lei do
estabelecida para a promoção do guarda marinha a 2º orçamento com as emendas da commissão no art. 3º relativo
tenente. ao ministerio da justiça.
Considerando que os precedentes citados pelo O Sr. Duarte de Azevedo (Ministro da Justiça)
supplicante além de pouco solidos e de serem anteriores ao pronunciou um discurso que publicaremos no appendice.
regulamento novissimo da escola de marinha, de 22 de Abril Foi lida, apoiada, posta em discussão conjunctamente
de 1871, art. 51, contradizem o que a tal respeito passou a seguinte
ultimamente no projecto de lei de promoções, que só espera
a sancção imperial: EMENDA.
E’ de parecer:
Que deve a resolução entrar na ordem dos trabalhos Supprima-se o paragrapho unico. – Zacarias de Goes
e ser rejeitada. e Vasconcellos.
Paço do senado, 27 de Maio de 1873. – Visconde de O Sr. Mendes de Almeida pronunciou um discurso
Muritiba. – Duque de Caxias. – D. J. N. Jaguaribe. que publicaremos no appendice.
Ficou sobre a mesa para ser tomado em O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Sr. presidente,
consideração com a proposição a que se refere. se alguma cousa demonstrou o nobre senador que acaba de
occupar a attenção do senado, foi que, dominado por uma
ORDEM DO DIA. idéa fixa, elle vê por toda a parte a maçonaria autorisada pelo
governo, sendo o nobre presidente do conselho o grão
PENSÕES. mestre da ordem maçonica, ou antes o mesmo governo
inspirado pelo espirito maçonico faltando aos seus deveres,
Entrou em 3ª discussão e foi approvada para ser desatendendo a Igreja, e sendo a verdadeira causa de todos
dirigida á sancção imperial a proposição da camara dos os abusos ou, pelo menos, carregando com inteira
deputados mencionada no parecer da mesa n. 523 sobre responsabilidade de quaesquer attentados que porventura
pensões. surjam contra a ordem religiosa, como por exemplo: o caso
ultimamente acontecido na cidade do Recife. E para que bem
LICENÇA. se reconhecesse que o nobre senador fallou impressionado
por esta idéa fixa bastava agora attender a quanto decahiu
Seguiu-se em 2ª discussão e não foi approvada a da dialectica, da força de argumentação com que sóe haver-
proposição da mesma camara, mencionada no parecer da se nos debates, em vista das contradicções deste seu
mesa n. 524, concedendo licença ao bacharel Carlos discurso:
Augusto Autran da Matta e Albuquerque. Logo, principiou por declarar que não era chegada
ainda a occasião de elle aventar esta questão perante o
PENSÕES. senado por isto que mal tinha chegado por via telegraphica a
noticia dos disturbios de Pernambuco; que elle aguardava
Entrou em 2ª e passou para a 3ª discussão a que viessem as informações e que o governo estivesse
proposição da mesma camara mencionada no parecer da inteirado de tudo, então enterreiraria a discussão. Entretanto,
mesa n. 525, sobre pensões concedidas a Domingos Leite de depois de um tal exordio S. Ex. passou a fazer accusação
Alvãrenga e outro. formal, com asseverações positivas, e tanto mais decididas
em seu
MATRICULA DE ESTUDANTE.

Entrou em 2ª discussão e passou para a 3ª a


proposição da mesma camara mencionada no parecer da
commissão
Sessão em 27 de Maio 249

conceito, quanto era severa accusação que fez dando o e não deu licença alguma para illuminação da casa da
ajuntamento havido na cidade do Recife como tendo sido Republica porque não era objecto de licença. Falla-se em
promovido pelo mesmo presidente da provincia e que a policia autorisara a illuminação dessa casa; não
correndo toda a responsabilidade por conta do governo. autorisou, nem era para autorisar porque não era materia
E em que se fundou o nobre senador para em que coubesse autorisação; Ha inexactidão até porque
asseverar que houve conivencia do presidente da se houvesse tal autorisação, haveria documento della e
provincia? Naquillo justamente que devia demovel-o de os do escriptorio Republica não apresentaram e nem
uma tal conclusão! S. Ex. disse: Assim como na Côrte o podem apresentar documento nesse sentido A policia dá
governo prohibiu a demonstração que o club da Republica sempre as licenças por despacho e nenhum despacho foi
tentára fazer com o passeio pelas ruas com musica e expedido e póde ser apresentado.
alarido de reunião tumultuaria na praça publica, assim Os do escriptorio da Republica, repito, procuraram
(era conclusão logica) naturalmente devia se oppôr a esta o chefe de policia e expuzeram a intenção de fazerem a
reunião tumultuaria e para um fim tanto mais reprovado demonstração com uma passeata pelas ruas, ao que se
quanto até era mais antipathico ao governo. oppôz o chefe de policia; com a illuminação de um
No outretanto serviu tal ponderação de argumento quarteirão da rua do Ouvidor, ao que tambem se oppôz o
para o nobre senador concluir que, como o governo chefe de policia; e quanto á illuminação de casa não era
prohibira aquella reunião na Côrte, consentira em objecto de autorisação por ser direito proprio.
Pernambuco pelo seu delegado!! O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Permittiu a
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Elle é o illuminação.
responsavel pela ordem publica. O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Disse que
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – O nobre não podia inhibir; e se por ventura a policia se excedesse
senador tambem fez grande carga ao presidente da ao ponto de querer dar regras sobre esse festim ou
provincia de Pernambuco, pelo facto de ter nomeado o demonstração caseira os do escriptorio da Republica
deão director do Gymnasio; eis aqui o nobre senador em escarneceriam da pretenção exagerada da policia de
contradicção com a doutrina que professa; entende e intervir e decidir aquillo que era direito delles e em que a
sustenta que a instrucção e educação da mocidade deve policia não tinha nada que ver.
ser principalmente dirigida pelo clero; ora o presidente E, senhores, que analogia ha entre uma e outra
nomeia um dignatario da Igreja um deão director de em reunião para se tirar ácerca dos ultimos acontecimentos
estabelecimento de instrucção publica e isto mesmo do Recife um antecedente co-relacionado com a reunião
constitue argumento para o fim systhematico de arguição da rua do Ouvidor? Aqui os da Republica fizeram sua
ou cargo ao governo do attentado praticado na provincia illuminação e commetteram um excesso muito reprovado
de Pernambuco! no desacato das bandeiras e no distico que illuminaram –
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Por ahi V. Ex. Viva a Republica. Excesso reprehensivel em minha
não o deffenda, não vae bem. opinião, que já tenho manifestado nesta casa, já era
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Ainda a praticado pela mesma existencia da folha, doutrina que
respeito desse facto aggravou a accusação do nobre proclamava e com o fim a que tendia.
senador ao presidente de Pernambuco, com a O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Era – Viva a folha.
observação da incompatibilidade do deão visto que tinha O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Era já uma
elle seu domicilio obrigado na cidade de Olinda. Ora na contravenção das leis do paiz esse jornal constituido
cidade do Recife reside o venerando bispo de como fôra, sendo o fim a que tendia, fazer propaganda no
Pernambuco, tem lá sua séde; e parece que, não só por sentido de combater directamente as bases de nossa
licença explicita ou implicita como ainda pelo exemplo, constituição politica, e trazer uma grande revolução no
autorisava elle a residencia do deão no Recife. paiz. Isto já ia além da liberdade de imprensa que a
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – O bispo não tem constituição e nossas leis admittem e que todos os
residencia obrigada, o bispo é de toda diocese. governos tem sempre e sempre respeitado sem
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Tambem o cabide limitações. Um orgão na imprensa destinado a atacar
é de toda a diocese. positivamente as bases constitucionaes ipso facto do seu
O SR. VISCONDE DE NICTHEROY: – O nobre programma era um acto illicito, um desregramento de
senador entrando na questão e principiando pela reunião liberdade de exprimir o pensamento e caso punivel
da rua do Ouvidor junto ao escriptorio da Republica, foi previsto pelo codigo criminal...
inexacto posto que fizera justiça á decisão do governo ou O SR. MENDES DE ALMEIDA: – V. Ex.
antes da policia que inhibira a passeata pelas ruas pelo condemna assim o procedimento do Sr. ministro da
motivo de que podia determinar perturbação na ordem justiça.
publica. O nobre senador assevera que entretanto o O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...que muito
governo afrouxando, déra consentimento para a precizamente no art. 9º, dando todas as largas a liberdade
illuminação na casa do escriptorio da Republica. Ha de exprimir o pensamento em materia politica, ainda
menos exactidão, Sr. presidente, nesta asserção do nobre quanto aos principios e doutrinas aceitas, e consagradas
senador. na constituição do Imperio poz muito explicita a condição
O que pediram os do escriptorio da Republica era de reserva nas palavras do § 3º Não se julgarão
faculdade para illuminar no quarteirão da rua do Ouvidor criminosos os que fizeram analyse razoavel de
estes arcos que transpoem a rua; e pediram isto para constituição, não se atacando as suas bases
provocar maior concurrencia á demonstração, que fundamentaes, e das leis existentes não se provocando a
pretenderam fazer. A policia prohibiu esta illuminação na desobediencia a ellas. Ora Republica atacou ou não as
rua publica bases fundamentaes de nossa fórma de governo?
Ninguem o negará
250 Sessão em 27 de Maio

O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Mas nem V. Ex. a era por certo para merecer de parte de um agente do
chamou a juizo. governo benevola attenção.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Está fazendo A autoridade superior eclesiastica, usando de sua
opposição ao Sr. ministro da justiça. faculdade, tinha suspendido um membro do cabido, estava
O SR. ZACARIAS: – Apoiado. em seu direito, o presidente não lhe podia tomar contas por
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Si portanto isso, o presidente não podia senão reconhecer nesse acto o
como orgão constituido para contrariar directamente as bases legitimo e competente exercicio da autoridade eclesiastica, e
fundamentaes da constituição do Imperio esse jornal já era portanto essa causa ou pretexto não podia de qualquer modo
em si um desvio das regras, um grave abuso da imprensa influir no presidente da provincia para leval-o a uma
ainda por demais se tornou criminoso com o proposito de dar concessão de licença repugnante em todos os sentidos.
a maior publicidade ao escandalo que já em si envolvia, com Disse o nobre senador. Mas é sabido que o
o distico – Viva a Republica –, e o affrontoso trophéo de presidente é amigo pessoal do deão e explica-se...
bandeiras sobre o abatimento da nacional. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Apesar dessa Conselho): – E estava em boas relações com o prelado.
enormidade o Sr. ministro da justiça não se alterou. O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...a concessão
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – A policia de licença como fineza de amizade segundo explica o nobre
senhores, dando todas as largas, mesmo para cortar senador e nisto fez grande insistencia observando que o
pretextos de reclamações, deixou que os da Republica presidente podia evitar, o desturbio, desde que se servisse
celebrassem seu festim; pretendeu, entretanto, dessas relações de amizade para pedir ao deão que se
cautelosamente previnir alguns desregramentos e por isso puzesse fóra, que se retirasse da cidade, Sr. presidente tudo
obstara a reunião de gente diante do escriptorio da isto é uma conjectura e conjectura temeraria, outras são as
Republica, porém pessôas influentes desse escriptorio, razões que existem que por em quanto nos devem inspirar.
procurando a autoridade policial pediram que não se O presidente da provincia tinha o maximo interesse
embaraçasse o publico de se reunir e assim formou-se essa de mantença da ordem e não é concebivel que quizesse
reunião. preteril-o com a reunião; sendo amigo do deão, estas
Já observei em outra occasião, Sr. presidente, que o relações de amisade eram mais um motivo para ser
facto de algumas pedras arremessadas á casa da Republica cauteloso e reconhecer a conveniencia de por-se a salvo de
e que sómente quebraram uns oito ou nove vidros e alguns qualquer suspeita de conivencia com os desordeiros que
copos da illuminação, naturalmente foi praticado por gente victoriavam o seu amigo. De outro lado o presidente, homem
que não falta em taes reuniões. E’ impossivel que á uma serio, sisudo e grave, não desconheceria que para a pessoa
grande reunião popular não concorram alguns desalmados, do deão seu amigo não era finesa digna, conforme em si e
alguns moços perdidos, e até aquelles de infima classe que aos verdadeiros interesses do deão como ecclesiastico e
entre nós se chamam moleques e que não perdem occasião pessoa de distincção, uma tal manifestação que constitue em
para atirar alguma pedrada. si mesmo um escandalo e iria agravar seu compromettimento
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – V. Ex. me vae perante a autoridade eclesiastica e tornava-o heróe de um
ajudando. facto escandaloso e por certo não é um cidadão em o
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – E os chouriços... caracter de deão de um cabido que faz boa figura em ser a
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Ora, causa primordial de um disturbio semelhante. Por
semelhante incidente, embora provocado, foi uma conseguinte nada autorisa a conjectura temeraria que o
perturbação da ordem, um facto que em si ninguem póde nobre senador fez e sobre a qual assentou as gravissimas
approvar; mas todos o explicam. A autoridade por fim censuras que dirigiu ao governo, quando aliás principiou por
compareceu, prohibiu maior desenvolvimento e pôz termo ao asseverar que não tinha conhecimento inteiro do facto e de
disturbio, resultando de tudo 8 ou 9 vidros quebrados na casa suas circumstancias!
da Republica. Nem esta foi invadida, não foi violada a Por isso mesmo, Sr. presidente, observei que se
typographia, pessoa alguma foi offendida, eis o que se deu alguma cousa demonstrou o nobre senador, foi a
nesta Côrte. preocupação em que está por causa do tal demonio da
Agora se diz: «No Recife houve o attentado maçonaria (Hilaridade). S. Ex. attribue ás tentações deste
tumultuario pelo acoroçoamento procedente da tolerancia demonio, a prejudicialissima influencia delle, tudo quanto de
que o governo manifestou quanto á reunião da rua do máo apparece em nosso paiz e põe o governo de
Ouvidor.» responsavel, visto que o nobre presidente do conselho é um
Sr. presidente, não se sabe ainda como surgiu e dos chefes da maçonaria. A prevenção do nobre senador
desenvolveu-se aquelle facto; é uma noticia telegraphica e o leva-o até a emprestar inspirações bôas, beneficas a chuva,
nobre senador o disse; mas é bem de vêr que a priori negando-as inteiramente ao presidente de Pernambuco, e
sómente por conjectura bem formada, o que se deve deduzir por certo com a mesma força de razão uma e outra cousa
é que o presidente não podia desejar semelhante reunião assevera ou figúra.
não influi para que se realizasse. O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Podia ter dito no
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Não disse isso elle seu telegramma e não o disse.
em seu telegramma. O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Senhores,
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Seria esta questão religiosa é de muita ponderação, entende com
responsabilidade e levava a não querer semelhante reunião; os mais altos interesses da associação brasileira. O governo
não devia autorisal-a, porque Sr. presidente tal reunião tinha pelo simples facto de ser governo, de ter a tremenda
por fim um verdadeiro attentado e a causa ou pretesto della responsabilidade
não
Sessão em 27 de Maio 251

da mantença da ordem e segurança publica, garantia de O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – O que


todos os direitos, principiando pelos direitos de autoridade posso affirmar ao nobre senador e dou testemunho, e o
ecclesiastica e acabando pelos direitos individuaes do meu ex-collega o dirá, é que combinei na providencia de
minimo habitante do Imperio, ha mister de muita força que se fizesse assentar praça na mesma localidade em
moral, de ser corroborado e ajudado. A proposito de uma que fosse recrutado o individuo...
questão desta ordem não se deve de modo algum O SR. JAGUARIBE: – Apoiado.
desmoralisar o governo, pondo-o perante a sociedade O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...porém,
como parte conivente... respeitando-se as isenções legaes. A'quelles que as
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Pelos seus allegassem os prasos haviam de ser dados para
descuidos e imprevidencia. provarem sua asserção...
O SR. VISCONDE DE NITHEROY: – ...A posição O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Eis aqui um
official, o caracter individual dos dignos ministros, seus fanatismo extremo pelo governo.
antecedentes e responsabilidade afiançam toda a boa O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – ...porém
disposição e empenho de prestarem efficaz apoio a áquelles que não allegavam isenções, não havia razão
autoridade ecclesiastica; mas ao mesmo tempo não para conceder-se praso, e podiam logo ser alistados.
podem deixar de considerar muito e muito os direitos Quanto a estes individuos não havia disposição de lei que
individuaes e de garantil-os com efficacia; é esta a grande inhibisse ou de regulamento que embaraçasse o prompto
base sem a qual não é possivel que pousem firmes: se de assentamento de praça.
qualquer modo se demonstrassem descuidosos dos O assentamento de praça immediato, desde que
direitos individuaes, cahiriam em tal falta de popularidade não se allegassem isenções, era por certo boa e cabida
que ainda com o zelo e dedicação do nobre senador não providencia, porisso que cortava a maquinação de se
poderiam servir a causa a que se devota. engenharem escusas para pór fóra do recrutamento
O nobre senador deve convencer-se de que um aquelles que deviam ser recrutados. Ora, quando se
excessivo zelo por exemplo: ao ponto do fanatismo de um demonstrava o proposito acintoso de se inutilisar todo o
Luiz Veillot, em vez de bem servir a religião, recrutamento concedendo a esmo solturas por ordem de
compromette-a. Quando se chega a invectivar o Rvmd. habeas-corpus, era conveniente essa providencia e podia
bispo de Orleans pela sua moderação e justeza de ser tomada sem a menor contraversão das disposições da
pensamento em não ir além de tudo aquillo que não é lei e das garantias estatuidas pelo decreto de 1856.
possivel transpor, toca se a tal excesso com o que Portanto o aviso foi expedido nestas condições e neste
escandelisa-se em vez de edificar, prejudica-se a causa sentido deve ser entendido.
santa a que se devota, em vez de bem servil-a. O SR. ZACARIAS: – Faz o favor de lêr.
(Apoiados.) O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Lerei: (Lê).
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Que tem Luiz O SR. JAGUARIBE: – Combine-se este aviso com
Veillot com esta questão? as antecedentes recommendando aos presidentes toda a
O SR. VISCONDE DE NITHEROY: – Tem alguma moderação.
analogia, e creio que V. Ex. se pensar bem, achará O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Se neste
aproveitavel exemplo. contexto, alguem póde entender na palavra
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Desses eu não immediatamente a revogação das disposições da lei que
recebo. estabelece isenções e do decreto que firma as garantias
O SR. VISCONDE DE NITHEROY: – Sr. para que sejam autorisadas as isenções, ha mister uma
presidente, não estive presente a sessão de hontem; não declaração que restabeleça o verdadeiro sentido; e o
vi como foi enterreirada a discussão pelos nobres nobre ministro da justiça já declarou ao senado que
senadores que tomaram parte nella e a quem ouvi hoje o providencia adequada já foi tomada para que se entenda
nobre ministro responder. esse aviso em termos habeis.
O nobre ministro expôz perfeitamente ao senado a O SR. ZACARIAS: – Ah! termos habeis...
verdadeira doutrina da nossa lei criminal a respeito dos O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Esse
desvios, dos abusos da imprensa, nada tenho que assentamento portanto immediato de praça só se entende
accrescentar a este respeito e bem podia deixar de fazer com aquelles recrutados que não allegarem isenção,
mais alguma observação. porque, desde que não haja allegação de isenções, não
No entretanto ouvi que o nobre senador pela ha praso para a prova dellas, e o aviso encerra em si
provincia da Bahia fizera considerações sobre o aviso que nada que mereça censura, visto como não offende a
fôra expedido pelo meu ex-collega ministro da guerra a legislação, nem fere direitos.
respeito do recrutamento; disseram-me que S. Ex. Tenho concluido.
argumentara com o texto desse aviso, como fôra redigido, O SR. POMPEU: – O nobre ministro respondendo
para deduzir a illação de que o mesmo aviso cortára todas ás observações que hontem offereci á consideração de S.
as garantias quantas eram estatuidas a bem dos direitos Ex. com relação á autorisação que se pede no n. 1
dos recrutados, visto que a ordem era formal para que correspondente ao paragrapho ultimo do art. 3° da
immediatamente todos e quaesquer assentassem praça, proposta augmentando 40% aos empregados da
sendo assim atropellados por modo que não podessem secretaria da policia, disse que era de necessidade e
allegar isenção e menos proval-a. satisfação da justiça esse augmento.
Sr. presidente, não tenho presente o texto do aviso Não contestei ao honrado ministro a conveniencia
nem o vi na occasião em que foi expedido... ou
O SR. ZACARIAS: – Offereço-o e peço ao Sr.
presidente para mandal-o mostrar ao nobre senador.
252 Sessão em 27 de Maio

necessidade desse augmento de vencimentos a esses questão. E por esta occasião pergunto ao honrado ministro
funccionarios; a minha these, ou a minha argumentação é de se não pareceria mais conveniente deixar esta medida para
outra natureza, respeita ao modo. Tem-se dito e sustentado, quando organisar o ministerio publico que S. Ex. tão
e parece que como boa doutrina, que o augmento de competentemente, como costuma sempre escrever e fallar,
vencimentos de quaesquer funccionarios deve ser feito por lei demonstrou no seu relatorio? Achava que tinha então mais
especial, passada em ambas as camaras, que, como poder cabimento. S. Ex. pretende, acha conveniente e justo,
legislativo, teem de verificar a conveniencia da despeza. Esta organisar o ministerio publico; pois bem, fizesse o nobre
razão mesmo foi aqui allegada, discutindo-se o art. 2º, deste ministro o seu serviço, e então era occasião de remunerar
orçamento a respeito do augmento da congrua dos parochos, bem estes funccionarios.
impugnado pela nobre commissão do orçamento e aceita a O nobre ministro respondeu-me á questão
eliminação pelo ministro do Imperio. apresentada como um dilemma com relação ao motim da rua
Ora, não me parece de boa razão que uma doutrina do Ouvidor S. Ex. quiz provar e desenvolveu muita erudição e
seja invocada no parlamento pró e contra o mesmo principio. argumentação para mostrar que o jornal Republica provoca,
Pois, se é verdadeiro o principio, se com effeito parece justo insulta e injuria não só o alto depositario do poder publico,
que os augmentos de vencimentos devam ser secretados por como as bases da constituição; que isto era um crime dos
lei especial, e assim se julgou com relação á specie a que me previstos no nosso codigo criminal. Mas depois confessou
referi; porque razão ha de agora o nobre ministro sustentar, e sua fraqueza ou generosidade para com a manifestação ou
o senado ha de approvar, a autorisação para augmentar liberdade da imprensa, e por isso não mandava
vencimentos por uma emenda collocada no orçamento, responsabilisar os autores deste delicto.
contrariando o principio que hontem prevaleceu para a Não voltarei a esta questão, Sr. presidente, não só
suppressão de semelhante emenda no orçamento do porque ella tem sido já muito discutida, como porque o meu
Imperio! nobre amigo, senador pela Bahia, está incumbido
Esta foi a minha observação. Não digo que estes especialmente de responder ao nobre ministro, neste ponto;
funccionarios não estejam no caso de outros muitos que notarei somente que o nobre senador pela provincia do Rio
precisam de augmento de vencimentos; mas tenham esse de Janeiro que veio em auxilio do governo...
augmento por lei especial. O SR. ZACARIAS: – Sempre; é seu officio.
Com relação á segunda emenda do n. 2, além desta O SR. POMPEU: – ...acabou por accusar ao nobre
mesma razão, de vir em uma emenda no orçamento, de ser ministro, responsabilisando-o por não ter providenciado
uma delegação ao governo para legislar em materia de contra os delinquentes que escrevem taes attentados na
despeza, para augmentar vencimentos, accresce mais o folha Republica. O nobre leader abundou em considerações,
indefinido, porque aqui nem base se marca para esse mostrando que a existencia daquelle jornal, dos seus
augmento. escriptos, era um manifesto attentado, era um crime contra
Mas disse o honrado ministro: a base está na as instituições, contra o chefe da nação; e, todavia, era
limitação da verba. Senhores, este limite da verba não existe tolerado; mas porque? Eu não sei se o nobre leader nesta
de facto; a verba, marcando 2,007:538$ para o serviço da parte quiz auxiliar ao governo ou dar alguns piparotes ao
justiça de primeira instancia, o que exceder desta verba no honrado ministro.
serviço que por ella se faz, será o computo que o nobre O SR. ZACARIAS: – E' leader que dá pão e páo.
ministro terá para distribuir no augmento que vae fazer aos O SR. POMPEU: – Não sei como S. Ex. tomará essa
funccionarios de que trata o numero dous. defeza; eu de certo não a aceitaria como tal, porque o nobre
Porém, note-se que, durante este exercicio, póde leader abundou nas mesmas considerações que fizera o
augmentar-se comarcas, e por conseguinte novos nobre senador pelo Maranhão na parte em que acusou a
funccionarios da ordem judiciaria; portanto, esta verba tem de incuria, ou transacção do governo tolerando o crime, isto é,
alterar-se necessariamente. Eu pergunto ao honrado aquillo que de tal qualifica.
ministro: se por acaso augmentar-se o numero do pessoal da Não quero tambem entrar, senhores, na questão do
justiça de primeira instancia por novas comarcas, novos motim de Pernambuco; não temos esclarecimentos bastantes
juizes, promotores etc., donde vae tirar S. Ex. fundos para o sobre o facto. Por ora, só o encaro debaixo do ponto de vista
pagamento deste serviço? Do credito pedido neste de que elle foi uma filiação do motim da rua do Ouvidor...
orçamento ou do credito supplementar a que tem direito de O SR. ZACARIAS: – Apoiado.
recorrer? Se tira do credito que se vae votar, de 2,007:538$, O SR. POMPEU: – ...responsabilisando ao governo,
de certo que o computo restante para distribuição com com relação a este facto, pela manifestação que os orgãos
promotores e outros funccionarios de que trata o numero do ministerio deram nesta e na outra casa, se não
dous ha de diminuir e por conseguinte restringir a margem approvando, attenuando, desculpando, chamando
para o augmento projectado; se, porém, pretende recorrer ao manifestação da opinião publica e boa justiça.
credito supplementar, póde alargar; porém então S. Ex. não Ora, quando o governo dá o exemplo de desculpar ou
foi explicito. approvar actos desta ordem, certamente tem animado
Esta foi uma das minhas duvidas. Em todo o caso a aquelles que quizerem fazer actos semelhantes.
autorisação fica vaga, sem base, nem limites. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
S. Ex. justificou a necessidade do augmento dos Justiça): – Não approvei.
vencimentos dos promotores publicos, carcereiros e outros O SR. POMPEU: – Desculpou, chamou actos da
funccionarios de justiça muito mal remunerados opinião publica.
presentemente. Estou de accôrdo com o nobre ministro; não
duvido que são muito mal remunerados; concordo
perfeitamente com o augmento que quer fazer; mas não é
esta a minha
Sessão em 27 de Maio 253

O honrado ministro respondendo-me a respeito da adversarios que escaparam ao espingardamento eleitoral.


remoção de dous juizes de direito da minha provincia, disse (Lê):
que havia recebido informações officiaes contra esses dignos «Transcreveremos os documentos abaixo para
magistrados; que o do Crato, além de conceder habeas- darmos uma idéa de como foram arranjados os processos
corpus a recrutas, inutilisava os empregados da comarca clandestinos pelos agentes do Sr. Wilkens, processos em
com processos de responsabilidade. que são pronunciados o professor Catunda, um dos bons
Sr. presidente, eu vejo nesta razão do nobre ministro escriptores da provincia, João de Mendonça Furtado, um dos
um ataque muito directo á independencia do poder judiciario. negociantes mais acreditados do logar e o tenente-coronel
E' o executivo competente para conhecer do uso e abuso que Vicente Gomes, talvez o lavrador mais abastado da comarca.
possam praticar os magistrados no exercicio legitimo do seu As victimas eram intimadas no dia 17 de Outubro para verem
ministerio? jurar testemunhas e uma destas já estava pronunciada desde
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da o dia 15, segundo o mandado expedido para sua prisão.»
Justiça): – E'. Documentos. – «Certifico que em virtude de um
O SR. POMPEU: – Então de que servem as leis que mandado do juiz municipal 1º supplente, notifiquei a Joaquim
estabelecem a responsabilidade dos juizes? de Oliveira Catunda, Dr. Placido de Pinho Pessoa, João Pio
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da de Andrade Pessoa, Manoel de Andrade Pessoa Anta,
Justiça): – O governo póde promovel-a. capitão João de Mendonça Furtado, José Raymundo Ferreira
O SR. POMPEU: – Ou este juiz de direito da comarca Gomes, capitão Miguel do Valle Roris, Francisco Pereira de
do Crato cumpria o seu dever, obrava legalmente, Salles, Raymundo de Souza Martins, Manoel de Pinho
responsabilisando funccionarios prevaricadores, e então, em Junior, João Ribeiro Mourão, João José de Souza,
vez de merecer castigo do governo, devia receber Raymundo Rodrigues Magalhães, para se verem processar
approvação, elogios, ou abusava, e neste caso tinha superior no dia de hoje 17 do corrente mez, por crime denunciado
na mesma ordem judiciaria para o responsabilisar, e o pela promotoria, deixando de notificar ao tenente-coronel
governo podia activar esse superior ao cumprimento desse Vicente Gomes Ferreira Torres e a Joaquim Porfirio de Farias
dever, porém não arvorar-se em tribunal superior para Moço, tambem denunciados pelo mesmo crime por os não ter
castigar o magistrado sem ouvil-o. encontrado. Certifico mais que deixo de passar a contra fé do
Diz o nobre ministro que isto não foi castigo; mas eu mandado por me ter sido este tomado hontem á noute pelo
fallo na hypothese de que o acto do governo teve por fim uma juiz municipal capitão Pedro Ribeiro de Oliveira, sem que eu
repressão ou reprovação do procedimento do juiz. tivesse ainda passado a certidão das notificações. O referido
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da é verdade, do que dou fé. Ipú, 17 de Outubro de 1872. – O
Justiça): – O governo deu-lhe uma collocação melhor. official de justiça, José Raymundo da Costa.»
O SR. POMPEU: – Mas V. Ex. allegou a informação «O capitão Pedro Ribeiro de Oliveira, primeiro
que o governo teve dos actos praticados por esse substituto do juiz municipal em exercicio do termo de Ipú em
magistrado. Ora, V. Ex. não conhece esses processos virtude da lei etc.
instaurados pelo honrado juiz de direito do Crato contra Mando a qualquer official de justiça deste juizo, a
funccionarios da comarca, nem ninguem póde julgar delles a quem fôr este apresentado, indo por mim assignado; que em
priori mas somente á vista dos autos e das provas. O que, seu cumprimentto prenda e recolha á cadêa desta villa a
porém, sustento em these é que se esse magistrado abusava Joaquim de Oliveira Catunda, porque acha-se pronunciado
de sua jurisdicção ou posição de juiz, outro era o meio de no art. 192 do codigo penal. – Cumpra. – Ipú, 15 de Outubro
corrigil-o e não o arbitrio do governo. de 1872. – Eu Joaquim de Sá Cavalcanti Machado de
Com relação ao juiz de direito do Ipú, disse o nobre Albuquerque, escrivão o escrevi. – Oliveira.»
ministro que tambem teve informações de que elle era «Certifico que hoje ás 6 horas da manhã em casa do
partidario, envolvia-se em eleições, que de sua casa se fez professor Joaquim de Oliveira Catunda effectuei a sua prisão
fogo. Sr. presidente, esta acusação é muito grave para ser como foi ordenado no mandado supra. – Ipú, 17 de Outubro
produzida sem a prova competente. Conheço esse digno de 1872. – O official de justiça, João Rodrigues Torres.»
magistrado; elle é incapaz de semelhante procedimento. Para Vê, portanto, o nobre ministro que documentos desta
V. Ex. e o senado verem de que quilate são informações e ordem deviam ter sido levados ao conhecimento do
mesmo depoimentos judiciarios, que possam ter chegado ao presidente da provincia e supponho que o presidente, na
conhecimento do governo contra este juiz, vou apresentar um melhor intenção e boa fé, foi victima desta machinação e
specimen, e é com relação aos negocios de Ipú. assim os transmittiu ao governo imperial. E' porisso que digo,
Naturalmente as informações que teve o presidente do Ceará Sr. presidente, que as informações officiaes de que se serve
foram ministradas pelo juiz municipal supplente do Ipú que, muitas vezes o governo, vindas das provincias, são eivadas
como inimigo do juiz de direito, informava contra elle dando do espirito de partido e talvez até sem intenção do proprio
documentos do quilate deste que vou apresentar. E' uma delegado do governo, illudido pelos seus agentes
ordem antedatada do processo do juiz municipal, mandando secundarios.
prender a alguns cidadãos respeitaveis por crime contra o O nobre ministro voltou ao aviso de 19 de Abril
qual o mesmo juiz devia proceder dous dias depois. Eis aqui expedido pelo nobre ex-ministro da guerra a respeito do
o que se lê na parte de uma publicação que tinha por fim recrutamento, que se manda fazer immediatamente. A razão
demonstrar como se forgicavam no Ipú processos pelo juiz apresentada pelo honrado ministro, e reproduzida pelo nobre
municipal supplente, cercado da força publica, contra os senador do Rio de Janeiro, de que os termos
254 Sessão em 27 de Maio

do aviso se devem entender habilmente, isto é sem restrição Eu tenho aqui esta carta que lerei mais logo, ainda
do tempo legal concedido aos recrutas pela lei de 1 de Maio que não toda, para não tomar mais tempo. Como esse
de 1858, é um expediente triste. Eu estou que o nobre recruta casado, tendo oito filhos, outros o foram no Sobral,
ministro em sua intelligencia e coração reprova in limine este como já referi o caso de dous; mas a circumstancias de ser
aviso, como contrario não só á lei mas tambem á aquelle acompanhado de sua mulher e seus filhos, ver ella
humanidade, que representam essas pobres victimas do embarcar o marido, não lhe concederem passagem na
recrutamento. canôa, e por isso atirar-se ao rio e morrer afogada, deixando
Para mostrar que a explicação não resiste á menor na orphandade os filhos menores que vão talvez ser victima
analyse, a explicação de que o aviso deve ser entendido no da desgraça é uma das muitas consequencias do fatal
caso de que os recrutas não tivessem a allegar isenção immediatamente do aviso do nobre ex-ministro da guerra.
alguma, ahi está o praso semelhante que concedem as leis O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
civis para o recurso e appellação de quaesquer sentenças. Justiça): – Quem é esse recruta?
Se o praso concedido pela lei de 1 de Maio de 1858 se O SR. POMPEU: – Não me recordo agora, mas seu
podesse restringir á vontade, quando a parte não allegasse nome consta dos jornaes e da carta que aqui tenho.
incontinente que tinha recurso a interpor, então o recurso civil O SR. JAGUARIBE: – Será esta historia, como
ou appellação que a lei concede ás partes interpor para juiz muitas outras, inventada.
superior, tambem podia ser restringido, isto é, eliminado o O SR. PAES DE MENDONÇA: – Na Reforma vem
praso quando as partes não allegassem incontinente que este facto narrado.
tinham de interpor appellação ou recurso. Mas o honrado O SR. POMPEU: – O nobre ministro em seu relatorio
ministro nem ninguem será capaz de sustentar que o juiz traz uma organisação da justiça, cheia de considerações que
póde limitar os dez dias da appellação que a lei marca para me pareceram aceitaveis e justas. Entre outras cousas,
esse recurso só porque a parte não tenha dito no momento recommenda o nobre ministro a gerarchia e unidade judiciaria
de ouvir ler a sentença que recorre ou appella della. Se é que S. Ex. qualifica de ideal da constituição, estabelecendo
absurdo, mesmo um crime, restringir o praso legal concedido por magistratura em ordem ascendente o juiz de paz na
pelas leis do processo civil para a interposição dos recursos, parochia, o juiz de direito no termo, ou comarca, e a relação
quando se trata da propriedade, com mais razão deve ser na cabeça da provincia, com unidade de jurisdicção e
quando se trata da liberdade individual. extincção de diversidades de competencias. Neste plano de
Depois, Sr. presidente, como é que um pobre recruta, organisação, que aliás me parece bom, noto uma idéa do
homem do povo, sempre ignorante, que não sabe o que é honrado ministro com que não posso concordar, ou que ao
recurso, um filho familia, e até mesmo póde ser um escravo, menos precisa de explicação. S. Ex. diz que ao governo fica
como é que o individuo nestas condições, preso, algemado, e a competencia de determinar as comarcas sem prejuizo da
amarrado, e as vezes debaixo de páo e da espada, perante o attribuição das assembléas provinciaes.
subdelegado ou commandante recrutador vae allegar que Não sei, Sr. presidente, como o nobre ministro póde
tem recurso? eliminar da competencia das assembléas provinciaes o
Pessoa muito competente por sua posição, illustração direito da divisão judiciaria, da creação, por consequencia, de
e criterio escrevendo de Sobral a 20 de Abril dizia que o comarcas; tenho, portanto, muita duvida a respeito dessa
delegado em um dia assentara praça a dous homens competencia que o nobre ministro quer arrogar-se a si. Vou
casados, tendo um quatro e outro tres filhos. E em outra de ler as palavras do honrado ministro em seu relatorio para o
25 do mesmo mez accrescentava que já se havia riscado do senado apreciar a duvida que suscitou em meu espirito a sua
codigo o habeas corpus, porquanto naquella mesma cidade medida a respeito da creação das comarcas (Lê):
fazem alistar immediatamente os recrutas sem lhes «Supprimindo-se os juizes municipaes, e creando-se um
concederem uma hora para reclamarem, nem lhes despachar logar de juiz de direito em cada comarca ou termo com
as petições, em que instam pelo praso da lei; e o que mais alçada de 500$, nomeado dentre os advogados mais
faz desanimar é que isso se faz de ordem de um presidente, distinctos, que tiverem seis annos pelo menos de pratica do
que aliás é magistrado. fôro, e mostrarem-se habilitados, por concurso perante as
E quer o honrado ministro vêr mais um triste exemplo relações, quando não houverem servido como supplentes ou
consequente deste fatal aviso ou deste recrutamento promotores publicos, obter-se-ha para o julgamento da
violento? Vou mostrar mais um specimen; vou lêr a V. Ex. o generalidade das causas a magistratura vitalicia da
trecho de uma carta sobre o recrutamento, de um pae de constituição, e ficará dependente dos poderes geraes a
familia com oito filhos no Ipú depois que o recurso de habeas creação das comarcas. A assembléa provincial creará a villa;
corpus foi abolido pela espada do commando militar. Esse o governo, porém, a quem compete a creação do termo pelo
homem foi remettido para o Sobral, acompanhado da pobre estabelecimento do fôro civil no municipio, e a creação dos
mulher e dos filhinhos, embarcado em uma jangada ou em logares de juizes lettrados, determinará a existencia da
uma canôa com outros infelizes, porque o rio estava comarca, sem prejuizo da attribuição das assembléas
transbordando; a pobre consorte, que o acompanhava, quiz provinciaes sobre a divisão judiciaria da provincia.»
embarcar com elle, porém negou-se-lhe passagem, assim Não comprehendo isto.
como a seus filhinhos, pelo que essa infeliz, em seu O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – E' reformar o acto
desespero, lançou-se ao rio a nado e morreu afogada á vista addicional.
da escolta que levava seu marido. Comprehende o senado, e
quem tiver um coração sensivel, a dôr profunda dessa victima
vendo sua mulher succumbir á sua vista sem podel-a
soccorrer.
Sessão em 27 de Maio 255

O SR. POMPEU: – Tanto quanto posso entender, districtos de sua jurisdicção, incompatibilise-o
S. Ex. quer tirar esta intervenção das assembléas completamente e com elle todos os magistrados para
provinciaes. ficarem inteiramente independentes.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da O SR. ZACARIAS: – Hão de ser como os
Justiça): – Hoje não é o governo quem crea os termos? presidentes, não saem pela sua provincia, mas vem pelas
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Mas não crea a provincias visinhas.
comarca. O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – E' para as
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da berganhas.
Justiça): – Seja comarca o termo. O SR. POMPEU: – Mas creio que o nobre ministro
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Isso é chicanar a não póde chegar até lá; faço justiça a seus sentimentos.
constituição. O SR. ZACARIAS: – A lei aurea á uma difficuldade
O SR. ZACARIAS: – A assembléa provincial crea invencivel.
a comarca. O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): – Não tem nada com isso.
Justiça): – Crêa o municipio. O SR. ZACARIAS: – E' em outros casos. Eu sei lá
O SR. POMPEU: – A divisão judiciaria que se tem?
compete á assembléa provincial sua provincia o que O SR. POMPEU: – S. Ex. bem quizera fazer uma
importa então? obra completa, esta idéa não podia faltar ao seu juizo,
O SR. ZACARIAS: – A assembléa provincial é inteira independencia dos poderes não só quanto ás
quem crêa a comarca. attribuições como quanto ao pessoal; esta idéa está no
O SR. POMPEU: – Se isso não importa reformar o espirito de S. Ex.. faço-lhe justiça; o bonito artigo que o
acto addicional eu não comprehendo. nobre ministro escreveu sobre esta materia...
O SR. ZACARIAS: – Ora! as assembleás O SR. ZACARIAS: – Bouquet...
provinciaes estão com as municipalidades. Quem se O SR. POMPEU: – ...prova que essa idéa era fixa
importa com estas? em seu juizo, mas S. Ex. não pôde realisar, havia força
O SR. POMPEU: – O nobre ministro advogou na maior que obstava.
outra camara o projecto da creação de novas relações; O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – O lord protector é
isto está de conformidade com suas idéas quanto ao seu muito opposto a isso.
plano de organisação judiciaria; mas sinto que o nobre O SR. ZACARIAS: – O nobre leader não tem
ministro por essa occasião não reorganisasse noticia do tal elogio ao juiz de paz na freguezia.
completamente a judicatura do modo que expendeu em O SR. POMPEU: – Notei, Sr. presidente, no
seu relatorio. relatorio do nobre ministro um mappa da força policial e
O SR. ZACARIAS: – Se o fizesse, acabava com a da guarda nacional destacada que existe na provincia do
lei aurea, porque o juiz de paz da lei aurea é um homem Ceará. S. Ex. accusa 396 praças de policia e 254 guardas
de nonada, a esmo... nacionaes; ora, eu não sei de que data é esse mappa que
O SR. POMPEU: – Tambem sinto que o nobre S. Ex. teve do Ceará, naturalmente ainda é do anno
ministro não aproveitasse a occasião para inserir na nova passado; porque no fim desse anno o corpo de policia foi
lei da creação de relações a incompatibilidade absoluta elevado pela assembléa, a pedido do actual presidente a
dos juizes para quaesquer outras funcções, 600 praças, e creio que esta elevação já está feita ou
especialmente parlamentares. aproximadamente. Mas, ainda assim, como é que o Ceará
Sei que passou a incompatibilidade dos com um corpo de policia de 396 praças, com um corpo de
desembargadores nos districtos da sua relação, mas isto, infanteria de linha de 400 praças, que sommam 796
senhores, não basta, é meio caminho, porque sabe o praças, precisa de mais de 250 guardas nacionaes
nobre ministro como se fazem as baldrocas, como se destacados, ao todo mil e tantos praças?
fazem as permutas. Nunca, Sr. presidente, o Ceará teve tantas forças
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da militares para o serviço de guarnição e de policia. Mesmo
Justiça): – As permutas não teem vingado. durante a guerra do Paraguay, quando sahiu a força de
O SR. POMPEU: – Porque V. Ex. não foi logo pelo linha e o corpo de policia, a provincia não chamou tanta
caminho direito ao objecto? O que o pretende, força da guarda nacional para o serviço de policia quanta
incompatibilisando o magistrado de ter parte nas funcções tem hoje; entretanto, V. Ex. sabe e o senado quanto
do parlamento? Não é que elle fique effectivamente em avulta no Ceará o crime de toda a qualidade; a policia,
seu logar para boa administração da justiça... apesar de ter tanto recurso, tanto meio de repressão, não
O SR. ZACARIAS: – Para aprender direito. tem conseguido diminuir o numero de crimes.
O SR. POMPEU: – ...que não contraia paixões Mas disse o honrado ministro a esse respeito que
partidarias... não se póde saber com certeza se hoje os attentados
O SR. ZACARIAS: – A cousa mais feia e triste que contra a vida e propriedade são em maior numero do que
ha é o magistrado partidario. em annos anteriores por falta de estatistica dos annos
O SR. POMPEU: – ...fique extreme das lutas anteriores; que hoje os meios de verificação são mais
politicas, e sendo o juiz que a constituição teve em completos, e por conseguinte tambem melhor se conhece
mente? Pois então faça o nobre ministro uma obra o numero de crimes
completa; em vez de incompatibilisar o desembargador
somente dentro do
256 Sessão em 27 de Maio

do que antigamente. Peço perdão ao nobre ministro para não bode da Judéa, que responde por tudo, até para justificar o
concordar com S. Ex. maior numero dos attentados dos amigos da situação.
Primeiramente o governo na falla do throno declara (Continuando a lêr):
que comquanto a tranquilidade publica não tenha sido «e natural explosão de regosijo resultante da
perturbada, é porém para lamentar que a segurança mudança operada na administração do paiz...»
individual e de propriedade não possa ser assás protegida Explosão de regosijo matando-se gente para se
nos sertões onde a influencia da civilisação não impera ainda festejar a mudança na administração! (Continuando):
de maneira efficaz da prevenção dos delictos, sendo o «...em contraposição á violencia das paixões que
remedio radical o tempo, que é o nosso cirurgião-mór; logo, a ordinariamente animam aos que são despojados das
falla do throno confessa esse estado deploravel de falta de posições vantajosas, de que gosavam desregradamente; ou
segurança individual e de propriedade em todo o paiz. seja o estado do esgotamento da provincia em relação ao
Tambem o nobre ministro em seu relatorio confessa serviço da guerra e conseguinte repugnancia da população
esse estado deploravel debaixo do titulo «Tranquillidade em sujeitar-se ao recrutamento e designação, de que tem
publica.» (Lê.) resultado não poucos e sanguinolentos conflictos, ou seja
São todos factos muito graves, porém admira que S. outra a razão que o motiva, o certo é que o facto existe.»
Ex. mencionando em seu relatorio esses factos de natureza E' uma verdade ingrata, mas cumpre registral-a para
especial, porque eram attentados de escravos praticados estudar-lhe as causas; ao criterio de V. Ex. ellas não
contra seus senhores, se esquecesse de mencionar tantos escaparão e os cearences tudo esperam de sua illustração e
outros de outra ordem praticados nas provincias. patriotismo.
Mas eu quero contestar a idéa do nobre ministro, de Do relatorio de meu illustrado antecessor verá V. Ex.
que hoje avulta o numero de crimes porque ha mais meios de as provas de que venho de expor; aqui tratarei somente do
verifical-os. Não é isto exacto. que de maior importancia occorreu durante minha
O nobre ministro, Sr. presidente, já presidiu duas administração.»
provincias, e, portanto, conhece bem o estado de moralidade E por aqui vae denunciando uma serie de attentados
dellas nessa parte da administração; sabe que no seu tempo, praticados no pouco tempo de seu governo.
quer no Piauhy, quer no Ceará, não se praticavam tantos Eu quiz somente mostrar com isto, repito, duas
attentados como hoje se teem praticado, e no Ceará S. Ex. cousas: primeiro, que é exacto que os crimes em todo o
não dispunha de tanta força como dispõe o actual presidente. Imperio á vista do que tambem tenho lido a respeito de outras
Quando justificou aqui um requerimento, o honrado provincias, mas especialmente da minha, onde moro, e
senador pela minha provincia o Sr. 4° secretario, contestando estudo o que nella se passa, tem augmentado grandemente
a asserção de que hoje se commettam mais crimes do que nestes ultimos annos, e para isto bastava apresentar como
outr'ora se commettiam no Ceará, asseverou que no Ceará prova os algarismos comparativos e a propria confissão
se pratica menos numero de crimes do que em outras official dos presidentes em seus relatorios...
provincias, questão em que não entro, porque não sei se com O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
effeito em outras provincias abundam mais os delictos do que Justiça): – Isso vem de longa data, porque ha tempos V. Ex.
no Ceará; porém quanto á primeira these, vou demonstrar queixa-se disso.
por documento official, que elle não porá em duvida por ser O SR. POMPEU: – E' exacto, ha muito me queixo
de autoridade da situação: é o relatorio do vice-presidente do disso; e já ao antecessor de V. Ex. eu pedia providencias a
Ceará, o Sr. Joaquim da Cunha Freire, dando conta ao respeito desse estado de cousas. Mas eu quiz provar o que
presidente seu successor do estado de segurança individual já disse, não só pelos algarismos, como tambem pela
e de propriedade da provincia. autoridade desse vice-presidente que não é suspeito; e em 2º
Disse elle o seguinte ao desembargador João de logar queria tirar daqui o argumento de que trazendo esse
Araujo Freitas Henriques passando-lhe a administração da resultado ao conhecimento do senado, chamando sobre elle
provincia. (Lê): a attenção do governo, não entendia nem entendo rebaixar
«Sinto a mais viva satisfação em annunciar-lhe que por isso minha provincia, como não entendeu o governo
durante o bom periodo da minha administração nem um facto quando em seu relatorio denunciou esse lamentavel estado
deu-se que perturbasse a tranquillidade publica... de cousas em todo o paiz, como o não faz o escriptor
...Outro tanto lastimo não poder dizer no que respeita moralista que denuncia o estado de degradação moral em
á segurança individual e de propriedade. que se acham os povos do seu paiz, e como não prejudica ao
O Ceará que nada tinha que receiar sobre este seu doente o medico que assignala a molestia para ser
assumpto com as outras provincias, tem ultimamente curada. Trazendo, Sr. presidente, a noticia dos
offerecido á consideração publica uma estranha anomalia; na acontecimentos que deploro em minha provincia, não tenho
comparação dos dados estatisticos dos annos por fim, repito, senão chamar a attenção do governo para
immediatamente anteriores sobresae uma cifra grandemente uma policia mais regular, mais previdente, porque entendo
desfavoravel aos ultimos 12 mezes.» que essa policia é possivel, e não esperar pelo tempo, pelas
O SR. ZACARIAS: – Eis-ahi; ultimamente. estradas de ferro, crescimento de luzes e melhoria dos
O SR. POMPEU: – Veja V. Ex., é um presidente da costumes para onde nos atira o discurso da Corôa.
situação que diz isto. (Continua a ler): De certo que a apuração dos costumes ha de
«Ou seja o estado de irritação, em que achavam-se contribuir para melhorar nosso estado de moralidade; porém,
os espiritos pela compressão exercida no dominio da politica cruzar os braços e appellar somente para o futuro é
decahida...» condemnar a geração presente a não gosar das vantagens
Ainda uma chicotada á pobre politica liberal especie da civilisação
de
Sessão em 27 de Maio 257

O SR. JAGUARIBE: – Isso é de V. Ex., que não quer Alves, que era indigitado como criminoso; divergindo somente
força publica. da noticia que publicámos, em não ter sido a escolta expedida
O SR. POMPEU: – Quem é que não quer força pelo adjuncto do promotor Reginaldo Alencar e sim pelo 3º
publica? supplente do juiz municipal do termo do Assaré, o celebre
O SR. JAGUARIBE: – V. Ex. há pouco condemnou o Joaquim Paz de Castro.
augmento. Estando o officio em mão do presidente ha muitos
O SR. POMPEU: – Eu não condemnei o augmento, dias, porque não manda S. Ex. publical-o?
disse que havia força sufficiente; isto é condemnar a força? E’ Será porque, segundo se diz, S. Ex. escrevera ao juiz
singular! Eu quiz mostrar que no Ceará existem agora mil e de direito, pedindo para reformar o officio, no sentido de
tantas praças, segundo o relatorio do nobre ministro; que essa innocentar a escolta e attribuir o acontecimento a um acto de
força é sufficiente para policiar a provincia; que nunca o Ceará resistencia do infeliz Antonio Alves?
teve tanta força como tem agora, e todavia nunca lá os crimes «E’ muita miseria!»
tanto abundaram como presentemente. E quer vêr o nobre Vê, portanto o nobre ministro o estado deploravel da
ministro como os crimes lá se multiplicam? Tenho aqui um segurança individual na minha provincia, não obstante as mil e
specimen, é uma folha trazida pelo ultimo paquete, folha duzentas praças que lá estão.
conservadora, não quero citar mais senão testemunhos ex- Tambem pergunto ao nobre ministro, e espero que S.
adverso. Ex. me responda, se a lei de 2 de Julho de 1850 que marca os
O SR. JAGUARIBE: – Porque não diz folha crimes que devem ser processados pelos juizes municipaes e
dissidente? julgados pelos juizes de direito se acha revogada.
O SR. POMPEU: – V. Ex. sabe, Sr. ministro, o que é o O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça):
Pedro II. V. Ex. foi já presidente do Ceará, e sabe que o Pedro – Não, senhor.
II era orgão do partido conservador e folha official que O SR. POMPEU: – Ella diz no art. 1º «Serão
publicava o expediente da administração. processados pelos juizes municipaes até a pronuncia
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Justiça): inclusivamente e julgados pelos juizes de direito os seguintes
– No meu tempo era muito orthodoxo. crimes:
O SR. ZACARIAS: – Orthodoxo desta madre igreja. § 4º A tirada de presos, de que tratam os arts. 120,
O SR. POMPEU: – Eis aqui o que diz essa folha, em 121, 422, 123 e 127 do codigo penal etc., etc.»
um dos seus numeros de Maio, que ainda hoje é o legitimo Portanto, o crime de tirada de presos é daquelles que
orgão do partido conservador. (Lê). a lei de 2 de Julho de 1850 reservou o processo do juiz
ASSASSINATOS: – Pessoa fidedigna informa-nos que municipal e ao conhecimento do juiz de direito. Leio, porém,
no dia 19 do mez passado houveram três assassinatos nas nesta folha, que copio da folha official Constituição do dia 26 o
immediações da villa da Telha para onde foram transportados seguinte extracto do expediente da presidencia em fórma de
os cadaveres em uma carga! sentença do presidente:
O nosso informante que sahiu da Telha no dia desse «Absolvendo os réos João Miguel de Freitas, João
morticinio, não teve tempo de indagar bem o facto; apenas Pereira da Costa, Francisco da Penha, Manoel Antonio do
soube que os assassinos eram membros de uma familia Nascimento, Joaquim Ferreira, Pedro da Penha, Antonio
Galvão, que é governista. Nunes Vieira e liberta Antonia, indiciados por terem tomados
Lá já se faz carga de defuntos e não obstante a presos do poder de uma escolta, no logar Lagoa dos Porcos
provincia está cheia de tropa por toda a parte, com mais de (Aracaty), isto pelas provas juridicas do respectivo depoimento
mil praças para policial-a. das testemunhas...»
Depois passa a mesma folha a referir um crime Pergunto, pois, ao honrado ministro se esses crimes...
praticado por uma autoridade policial, que tinha sido O SR. JAGUARIBE: – E’ tomar do recrutamento, que
contestado no Ceará, pela folha official; ella ratifica. (Lê). é cousa muito differente e pertence ao presidente.
«INFORMAÇÃO INCUBADA: – Em um dos numeros O SR. POMPEU: – E’ da competencia do presidente
do nosso jornal do mez de Março noticiamos o barbaro da provincia? Aqui não se falla em recrutas; diz-se: presos do
assassinato praticado no infeliz Antonio Alves, por uma poder da uma escolta. Como sabe V. Ex. que eram recrutas?!
escolta de soldados de policia e guardas nacionaes, expedida O SR. JAGUARIBE: – Visto que o presidente
pelo adjuncto do promotor do termo do Assaré, capitão interveio, é em virtude da legislação que executa isso.
Reginaldo Alencar. O SR. POMPEU: – Diz-se simplesmente no
Referimos o crime com todas as circumstancias, e expediente da folha official «tomada de presos.»...
estas tão barbaras, que impressionaram vivamente o espirito O SR. JAGUARIBE: – E’ regulamento do Sr.
publico. Clemente Pereira, parece-me: manda julgar
A Constituição, a mandado do Sr. Oliveira Maciel, administrativamente a tomada de recrutas.
disse em contestação, que o facto não lhe parecia verdadeiro O SR. POMPEU: – V. Ex. como sabe que é recruta?
e que aguardava informações officiaes para providenciar a O SR. JAGUARIBE: – Oh! senhor! pela logica. O
respeito. presidente do Ceará é um jurisconsulto.
Pois bem. Informam-nos que o juiz de direito da O SR. ZACARIAS: – Em materia de recrutamento tem
comarca do Saboeiro, Dr. Domingos Antonio Alves Ribeiro, havido muita falta de logica, por exemplo, o aviso do
que não é suspeito para a Constituição, officiara á presidencia immediatamente...
participando o assassinato praticado pela escolta, sem que
tivesse dado a menor resistencia da parte de
258 Sessão em 27 de Maio

O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da levantar sua barraca na cidade de Icó, onde já se tem
Justiça): – O presidente do Ceará é magistrado muito concentrado todas as forças.
illustrado. O fim desse movimento bellicoso é forçar as camaras
O SR. POMPEU: – Tenho insistido com o nobre municipaes a empossarem os phosphoros nomeados
ministro para que tomasse providencias em ordem a revogar vereadores pelo presidente Maciel e fazer a conquista
no centro da minha provincia com a doutrina do aviso do eleitoral naquellas freguezias, cujas eleições foram nullas.
nobre ex-ministro da guerra, porque os agentes policiaes Essas forças por onde passam vão levando a
teem abusado grandemente desse aviso, o que, segundo o pilhagem e a morte. Os vandalos vão assolando tudo,
nobre ex-ministro, não estava em suas intenções. roubando, ferindo e assassinando.
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Em Sobral um soldado feriu de morte a um pobre
Justiça): – Mas V. Ex. reconhece as decisões que tenho homem.
dado sobre esta materia. Em Lavras uma força que alli passava para a Missão
O SR. POMPEU: – Reconheço que as decisões de V. Velha, sob o commando do capitão Rabello foi a um corador
Ex. são diametralmente oppostas ao sentido desse aviso. de roupa e recrutou tudo que encontrou, deixando as pobres
Note V. Ex., presidente, que o nobre ex-ministro foi tanto lavadeiras a ver navios. Um soldado Antonio Pereira; entrou
menos prudente, permitta que o diga, na expedição desse á força em casa de Antonio José; a mulher deste pediu
aviso; coarctando o tempo do recurso do habeas-corpus, soccorro, mas o sicario sabiu levando tudo que encontrou;
quando S. Ex. outr’ora, como chefe de policia, concedeu nesse interim chega-se Antonio José e teve a loucura de
habeas-corpus até a réu condemnado por sentença. pretender defender sua propriedade, porém pagou caro sua
O SR. JAGUARIBE: – Já vê que amo o habeas- ousadia, porque o soldado accommeteu-o de refle em punho
corpus. e deixou-o prostrado, banhado em sangue. Preso o sicario de
O SR. POMPEU: – E’ portanto uma estranha farda, a pedido do commandante da força foi logo posto em
contradicção que hoje apresenta; acredito que o nobre liberdade e seguiu na impunidade e com passe para
senador tivesse outr’ora tão grande amor ao recurso de commetter novos attentados.
habeas-corpus que o concedia até a preso que cumpria Em S. Francisco, uma força de 48 praças que alli se
sentença; entretanto é S. Ex. quem expede agora esse aviso acha á espera que se aproxime o dia da eleição para seguir
em um sentido tal que segundo se estende no Ceará só tem para Sobral, tem commettido os maiores excessos,
por fim agarrar no infeliz homem do povo, ou no adversario prendendo, espancando, cercando e varejando casas alta
politico e fazêl-o assentar praça immediatamente. Da noute, e roubando tudo: porcos, cabras, ovelhas, patos,
intelligencia desse aviso tem resultados abusos clamorosos perus e gallinhas, nada dispensam os larapios do governo.
de que dão noticia as folhas do Ceará e mais ainda, não Em Sobral, onde já existem 39 praças para a
tantos desses abusos como do estado de irritação que reina conquista, teem se dado muitos factos. Por occasião de
na provincia, da falta de boa policia, os crimes avultam de serem presos quatro individuos para recrutas deu-se um
uma maneira espantosa. Peço licença ao nobre ministro para conflicto, resultando varios ferimentos, inclusive em duas
ler-lhe a carta de que fallei no principio do meu discurso. praças da escolta.
O SR. JAGUARIBE: – Era bom sempre citar o nome No Siupé a força á disposição do subdelegado feriu a
do autor. José Candido Fernandes.
O SR. POMPEU: – Para que? Os factos aliás que A cada momento esperam-se noticias contristadoras
narro são tirados das folhas publicas. do Crato, onde os animos se achavam muito exaltados.
O SR. JAGUARIBE: – Para ver a fé que me póde O recrutamento continúa a fazer-se de um modo
merecer. barbaro e horroroso. Não há isenção que aproveite aos
O SR. POMPEU: – Não direi o nome; não quero infelizes e os delegados escudados nas ordens do presidente
comprometter ninguem, alias é igual ou refere os mesmos e do celebre aviso reservado do ex-ministro Jaguaribe,
factos que conta a correspondencia da Reforma. apenas recrutam o individuo deferem-lhe immediatamente o
O SR. ZACARIAS: – Para ver se seccam essa fonte juramento, como do exercito, sem concederem-lhe uma hora
de informações. se quer para allegarem suas isenções.
O SR. POMPEU: – A carta depois de fallar na O delegado do Ipú recrutou um homem casado com
ameaça formal feita á imprensa liberal pelo orgão official, oito filhos, e o de Sobral a outros dous, um com quatro filhos
continua. (Lendo): e outro com tres e a mulher em vespera do quarto.
«A provincia está inundada de bayonetas. Ouça este facto horroroso que se deu em Sobral e
Todos os dias saem fortes destacamentos armados e que impressionou horrivelmente os espiritos:
municiados.» Na occasião que o rio de Sobral enchia
No quartel do 14, acaba de communicar-me um extraordinariamente, ameaçando a cidade, o delegado
official daquelle batalhão, trabalha-se noute e dia em comprazia-se em mandar ajoujar e amarrar os infelizes que
cartuxame. deviam seguir para esta capital.
A conquista é tremenda. Entre esses infelizes vinha o de Ipú, casado e com
Parece que nos achamos em vesperas de uma guerra oito filhos. A sua desolada mulher, no auge do desespero
civil. para acompanhar seu marido atira-se ao rio, tentando
O 3º districto e a cidade de Sobral são os centros de atravessal-o a nado. Sem forças para resistir á corrente das
operações das forças eleitoraes e para onde convergem as aguas, succumbe! Ao mesmo tempo o seu marido e seus
vistas do famoso Atila. companheiros de infortunio debatiam-se com as águas,
Para aquelle acaba de seguir com uma força sendo arrebatada a canoa em que iam, escapando
consideravel o commandante da policia, coronel José Nunes, milagrosamente agarrados a uma carnauba que encontraram
que vae no meio do rio
Sessão em 27 de Maio 259

E as oito crianças lá ficaram orphãs, entregues á miseria de um recem-nascido com o craneo fracturado e ja quasi
e á prostituição! E quem será responsavel por este facto? devorado pelos cães e urubús.
Não será por certo o famigerado major Caldas, que Ahi temos 46 assassinatos em cinco mezes, isto é
recrutando esse infeliz, não fez mais do que, cumprir as de 7 de Dezembro, quando assumiu a administração da
ordens do moderno Caligula, que fatalmente dirige os provincia o Sr. Maciel, a de 7 de Maio!
destinos desta desgraçada terra? No Mulungú tentando alguns individuos tomar um
A Constituição procurou contestar esse facto recruta do poder da escolta, deu-se lucta, havendo dous
publicando o requerimento de duas outras mulheres, ferimentos graves.
pedindo a soltura dos maridos, pretendendo que uma Em S. Francisco houve um conflicto entre diversas
dellas é a que se diz perecerá afogada. Mas é uma pessoas, sahindo feridos gravemente Joaquim de Souza
falsidade como o Cearense de hoje demonstrou. Os dous Brasil, José Joaquim e Justino José Rodrigues.
recrutas de que falta a petição foram presos pelo No logar Caiçára Miguel dos Anjos feriu
delegado de Sobral e os outros pelo do Ipú.» gravemente a seu irmão João Virginio.
Os factos até aqui mencionados são praticados Os capangas de Augusto Castello Branco
pela força publica ou agentes policiais. espancaram cruelmente a Firmino de tal e a José
O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da Castello.
Justiça): – Peço a V. Ex. que faça a publicar esta carta Em Arronches Marcos Fernandes feriu a Antonio
em seu discurso. Soares de Barros.
O SR. POMPEU: – Em outro periodo diz esta carta Nesta capital Raymundo Beato feriu a sua irmã
fallando da eleição de varias freguezias que se vae repetir Maria Felicidade.
sem prévio aviso, e da approvação das actas falsas de No Tamboril o desertor João Pitéo tentou
camaras municipaes. (Lendo). assassinar com um tiro ao criminoso Manoel Ribeiro
«Só agora, nas vesperas, é que a Constituição Mello.
publica a portaria que designou o dia 25 deste mez para Nesta capital Pedro Gomes, um dos capangas
se proceder ás eleições primarias naquellas freguezias graúdos, mandados vir de Pajehú de Flores, feriu
em que se mandou repetil-as. O povo dessas freguezias mortalmente a Rufino Muniz para roubar-lhe 8$000.
ignora ainda isto. Foi uma estrategia para sorprender a Em Lavras Belarmino de tal e Galdino espancaram
opposição.» barbaramente a Victorino do Rego Lima e a uma filha.
Tambem agora é que soubemos, pelo expediente, Na Venda Simplicio Gomes feriu gravemente a
da approvação das farças graúdas de Aracaty, Icó, viuva Maria de Jesus.
Jardim, Viçosa, Jaguaribe-mirim, Telha, Boa Viagem, No Gado Galdino de tal feriu a Luiz de tal.
Quixadá e S. Francisco. Na cadêa de Sobral os presos brigaram,
O juiz de paz de Siupé, ou porque more distante, resultando sahir um ferido, que ficou á morte.
ou porque supponha que pelo seu estado de Em S. Francisco Antonio Alves de Oliveira
desmoralisação não possa ir alli, pediu permissão para esfaqueou a dous irmãos.
dar suas audiencias no districto de S. Gonçalo, e o Como era graúdo, as autoridades para o
presidente não trepidou em consentir nesse absurdo! Lá subtrahirem a um processo o recrutaram.
está o juiz de paz dando audiencias em districto estranho! Na Lapa foi roubado Alexandrino José de Moraes.
Acabam de ser capturados dentro da propria casa Do poder de uma escolta que o conduzia de Maria
do subdelegado da Conceição, Clementino de Hollanda, Pereira para Quixeramobim evadiu-se o facceinoroso
tres criminosos que alli se achavam acoitados. A casa Manoel Vieira da Silva.
desse famoso auxiliar de mãos limpas é um perfeito seio No Jardim foi preso Antonio Leandro de Oliveira,
de Abrahão, para onde correm todos os perseguidos da passando notas falsas do thesouro.
justiça. São deste jaez as autoridades, com auxilio das A peste e a fome estão assolando Acaracú e a
quaes pretende-se a repressão do crime e captura dos cidade de Sobral.
criminosos.» O povo á mingua de recursos, pede pão, pede
Tratando dos attentados commettidos na quizena medicamentos, o presidente Maciel envia-lhes
ultima contra a segurança individual por particulares diz o ambulancias de bayonetas!
seguinte (Lendo): Do poder de outra escolta evadiu-se o criminoso
«E' horroroso o nosso estado de segurança de morte Custodio Carneiro da Silva.
individual. O cidadão continúa sem a menor garantia. «Continúa rigorosissimo o inverno.»
Depois de minha ultima carta de 23 de Abril, a imprensa O SR. JAGUARIBE: – Informações de uma carta
tem registrado os seguintes attentados: anonyma.
Na Telha acaba de haver uma horrivel carnificina. O SR. POMPEU: – E o que tem isto? São factos
Em um conflicto deram-se tres mortes além de tirados das noticias que se publicam nos jornaes.
muitos ferimentos. O SR. JAGUARIBE: – Isto não merece fé desde
Ignora-se o nome das victimas, porque não que não se conhece o autor.
tivemos cartas dalli, porém diz o portador que ao partir O SR. POMPEU: – Pois então os factos
entraram em uma carga os tres cadaveres! denunciados na imprensa não merecem fé? O que é que
No logar Cafundó (Maranguape) um individuo merece então fé e conceito para V. Ex.? Ainda ha pouco o
matou o seu cunhado Severino Alves de Albuquerque. Sr. presidente do conselho não nos leu aqui
Em Mecejana Lourenço de tal assassinou a correspondencias anonymas da folha Nação?
Manoel de tal por causa de duas gallinhas. Vê, pois, o honrado ministro que o estado da
No logar Domingos Lopes, Quixadá, appareceu o minha provincia a respeito da segurança individual e de
cadaver propriedade é bem deploravel.
260 Sessão em 27 de Maio

Li ha pouco nesta carta e no Pedro II que de casa de Logo, se não fosse absurdo, poderia concluir-se a
uma autoridade policial do Baturité foram tirados tres contrario sensu que, á proporção que augmentam esses
criminosos protegidos pela mesma autoridade. elementos da grandeza intellectual, economica de um povo, o
Isto prova que não tem havido da parte da algarismo dos crimes tambem augmenta. Não tiro esta
administração criterio e bastante prudencia na escolha de conclusão, mas parecia deduzir-se dos factos combinados
alguns de seus funccionarios subalternos, pois que alguns com as palavras do discurso da Corôa; pelo que a esperança
dão asylo e protecção a criminosos e dahi a animação para que nos promette não é segura.
os crimes que avultam na provincia. É demais a promessa não é animadora; nós estamos
Trazendo, porém, estes factos ao conhecimento do velhos, eu pelo menos não quero offender os nobres
senado e chamando para elles a attenção do nobre ministro, senadores com esta expressão que parece desagradar a
não entendo rebaixar de maneira nenhuma a moralidade de alguns. Se o remedio para este estado de cousas tão
minha provincia, mas sim designar o cancro para ser deploravel está no tempo, nesse cirurgião mór de nosso paiz,
extirpado. Não estabeleço a este respeito comparação com então elle só aproveitará á geração futura, nós não teremos o
outras provincias, porque esta comparação não aproveita; prazer de o apreciar.
não sei mesmo em que escala se praticam crimes em outras E V. Ex. sabe que é um sentimento egoistico desejar
provincias, sei que o mal infelizmente é geral; mas não posso participar da felicidade que se promette. Portanto, peço ao
comparar o que se passa no Ceará com que se dá no resto nobre ministro que além do tempo, além dos costumes, além
do Imperio, mesmo porque não estou a par dos attentados da instrucção, que depende da universidade e mais
que se commettem nessas provincias e quando estivesse, estabelecimentos, que seu collega do Imperio tem de fundar,
para tirar dahi uma illação apreciavel segundo as leis da faça tambem alguma cousa por parte da policia para que nos
estatistica, seria mister comparar os elementos de uma e toque ainda a dita de viver em um paiz onde haja mais
outras, isto é, a população respectiva das provincias segurança de vida e propriedade.
comparadas. Que no Ceará se pratique mais ou menos Sr. presidente, o nobre ministro não quiz ainda
crimes do que em outras provincias, o que é certo é que resolver de uma maneira clara, que nos leve á convicção, a
nestes ultimos annos, por confissão do proprio vice- questão aqui suscitada por meu nobre amigo e collega o Sr.
presidente que não é suspeito, tem avultado Zacarias a respeito do recurso á Corôa por abuso da
consideravelmente o numero de attentados. autoridade ecclesiastica, isto é, se o recurso tem de ser
Reconheço, Sr. presidente, que o assassino, o ladrão decidido necessariamente pelo conselho de Estado
não é de partido algum politico, nem deve ser; porém constituido um tribunal, ou provavelmente como diz o nobre
infelizmente acontece que nas localidades as influencias e os presidente do conselho, á vontade do governo depois de
agentes policiaes que estão á suas ordens dão mais ou ouvir uma secção desse conselho. Segundo o decreto de 28
menos protecção em favor de algumas familias e de de Março de 1857 os recursos dos actos chamados de abuso
individuos criminosos. Daqui vem que a intenção do governo do poder espiritual para a Corôa são dirigidos ao conselho de
geral, e mesmo do presidente da provincia, é muitas vezes Estado, que os decide em fórma de tribunal, como se vê da
illaqueada. O que convinha era que o governo e os sua disposição.
presidentes fossem prudentes e cautelosos na escolha de Eis o que dispõe a este respeito. (Lê).
seus funccionarios secundarios, principalmente os agentes «Decreto n. 1911 de 28 de Março de 1857.»
policiaes e dos juizes. Regula a competencia, interposição, effeitos e forma
Vi no relatorio do nobre ministro a estatistica dos do julgamento dos recursos á Corôa.
attentados praticados em 11 provincias; faltando ainda seis e Hei por bem, usando da autoridade que me confere o
só relativos ao anno anterior. Orçam elles por estes art. 102 § 12 da constituição, decretar o seguinte:
algarismos, isto desde a data do ultimo relatorio do nobre Art. 1º Dá-se recurso á Corôa:
ministro, até a deste que acaba de apresentar. § 1º Por usurpação de jurisdicção e poder temporal.
§ 2º Por qualquer censura contra empregados civeis
Crimes contra a segurança individual, em razão de seu officio.
comprehendendo homicidios, ferimentos, § 3º Por notoria violencia no exercicio da jurisdicção e
tentativas de homicidio, isto é, crimes da ordem poder espiritual, postergando-se o direito natural, ou os
daquelles que atacam as pessoas...................... 1,593 canones recebidos na igreja brasileira.
Crimes contra a propriedade: roubos, furtos, Art. 2º Não ha recurso á Corôa.
estelionatos....................................................... 492 § 1º Do procedimento dos prelados regulares intra
Sommam estas cathegorias.............. 2,085 claustrum contra seus subditos em materia correccional.
§ 2º Das suspensões e interdictos que os bispos,
Eu creio que em informação anterior official não se extrajudicialmente ou ex-informata conscientia impoem aos
encontra um algarismo tão elevado de crimes dessa ordem. clerigos para sua emenda e correcção.
Por consequencia, o mal progride espantosamente em todo o Art. 3º E’ só competente para conhecer dos recursos
paiz, e a esperança que nos dá o governo no discurso da à Corôa o conselho de Estado. Todavia aos casos do artigo
Coróa, de que só o tempo, civilisação, os caminhos de ferro 1º §§ 1º e 2º podem os presidentes das provincias decidir
hão de melhorar este estado, além de desanimadora, não é provisoriamente as questões suscitadas como decidem os
confirmada pela experiencia até hoje; porque, de certo o conflictos de jurisdicção.
Brasil tem hoje muito maior somma desses elementos de Art. 4º E’ admissivel o recurso á Corôa de quasquer
civilisação do que tinha ha 4, 5 ou 10 annos anteriores, e, actos em que se dê algum dos casos do art. 1º ou seja
todavia nesse tempo o algarismo dos attentados não despacho, sentença, mandamento, pastoral, ou seja
chegava a esta somma. constituição, acto de concilio, provincial, ou de visita.
Sessão em 28 de Maio 261

Art. 5º Não obsta a competencia do recurso que o Desde quantos mezes estão ou está... Não sei se é
gravame seja judicial ou extra judicial: mais de um recurso...
Art. 6º Qualquer que seja a instancia cabe o recurso á O SR. ZACARIAS: – E' um só.
Corôa nos casos do art. 1º §§ 1º e 2º. O SR. POMPEU: – ...desde quando está affecto ao
Art. 7º Não será porém admittido o recurso á Corôa governo e ao conselho de Estado, por conseguinte, o recurso
no caso do art. 1º § 3º, senão quando não houver ou não fôr interposto por uma das irmandades do Recife? Segundo
provido o recurso, que competir para o superior ecclesiastico. tenho ouvido dizer, creio que isso anda por tres ou quatro
Art. 12. E' suspensivo logo que se interpõe nos casos mezes. Ora, agitando-se esta questão todos os dias na
do art. 1º §§ 1º e 2º, imprensa de Pernambuco e na da Côrte, inflamando-se e
Art. 13. E', porém, devolutivo no caso do art. 1º § 3º, irritando-se os espiritos, e o Rev. bispo de Pernambuco, na
se o despacho de que se recorre é interlocutorio, salvo: falta de decisão do governo, continuando a tomar medidas
§ 1º Se o gravame for tal que não possa ser reparado dessa ordem, resulta daqui que essa demora do governo em
pela sentença definitiva. decidir tem contribuido grandemente para augmentar essa
§ 2º Se da sentença definitiva não houver appellação. excitação e talvez para esse motim que infelizmente teve
Art. 14. Tambem não é suspensivo no caso do art. 1º logar em Pernambuco no dia 14 deste mez.
§ 3º dos actos dos bispos em visita, salvo procedendo elles, Nem ao menos o nobre ministro, recebendo de
por via de juizo. Pernambuco esse recurso que lhe foi remettido por via da
Art. 15. O recurso à Corôa deve ser interposto por presidencia, viu que o presidente tinha-se esquecido de
petição documentada perante o ministro da justiça na Côrte, declarar que o recebia no effeito suspensivo, como é
o presidente nas provincias, que decidirão logo as questões expresso no decreto citado. Esta providencia era da
que occorrerem sobre a suspensão dos recursos, e competencia e dever immediato do governo, mandando
rejeitarão aquelles que forem interpostos contra as explicações ao presidente, independente mesmo da solução
disposições deste decreto.» que houvesse de dar á questão sujeita ao conselho de
E' certo que em muitos assumptos o governo tem Estado. Se, pois, o governo ao menos tivesse tomado esta
usado da pratica de ouvir uma das secções do conselho de providencia de mandar declarar que o recurso era com
Estado e resolver; mas esta pratica não o autorisa a proceder suspensão do interdicto, talvez que as cousas não tivessem
de semelhante modo em um caso desta ordem, tão grave chegado ao ponto a que chegaram.
que talvez dá se pela primeira vez depois desse decreto. As Sr. presidente, já é muito tarde creio que a discussão
secções do conselho de Estado são divisões que o governo não poderá mais hoje continuar e ponho termo ao meu
creou para estudo das materias, e informar ao conselho; discurso.
quando se diz decisão do conselho de Estado, entende-se do A discussão ficou adiada pela hora.
conselho pleno e não das secções que a lei não conhece; Retirou-se o Sr. ministro com as mesmas
demais o conselho de Estado pleno, composto das formalidades com que fôra recebido.
illustrações do paiz, deliberando em presença do chefe do O Sr. presidente deu para ordem do dia 28:
Estado, tem uma força de autoridade que difficilmente poderá 3ª discussão da proposição da camara dos Srs.
ser contrariada pelos ministros, que aliás tomam por fim a deputados sobre pensões, mencionadas no parecer da mesa
responsabilidade como agentes do executivo, para dar n. 525.
execução conforme a decisão ou contra... 2ª dita das proposições da mesma camara:
O SR. ZACARIAS: – Mas é preciso que tenham bons Sobre pensões mencionadas no parecer da mesa n.
motivos. 526.
O SR. POMPEU:– Um ministro não se atreverá a Sobre isenção de direitos á Companhia Guanabára
contrariar sem motivo muito justificado uma decisão tomada com o parecer da commissão de fazenda.
sobre um caso grave pelo conselho de Estado pleno em Continuação da discussão do orçamento no art. 3º e
presença do Imperante, naturalmente convencido das rasões seguintes:
produzidas que determinaram a maioria ou totalidade do Levantou-se a sessão ás 5 horas da tarde.
conselho de Estado a decidir; o ministro não se atreverá,
digo, a contrariar essa decisão, porque primeiro 19ª SESSÃO EM 28 DE MAIO DE 1873.
desrespeitaria a opinião publica, segundo ao mesmo
Imperante, terceiro se exporia á responsabilidade de um acto PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ.
tão grave.
Portanto, o nobre presidente do conselho e o honrado Summario. – Expediente. – Ordem do dia. – Pensões.
ministro não teem razão quando entendem que fica livre ao – Isenção de direitos. – Orçamento da justiça. – Discursos
governo ouvir uma das secções, e decidir por si, ou consultar dos Srs. Zacarias, visconde de Muritiba, ministro da justiça e
depois o conselho de Estado pleno nessa materia; e não só Mendes de Almeida.
nessa materia, que é aliás expressa ao decreto citado de
1857 que acabei de citar, como naquelles que o conselho de Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se
Estado decide como tribunal contencioso de fazenda e de presentes 30 Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté,
outros assumptos desta ordem. Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Jobim,
E por fallar ainda neste objecto não posso deixar de barão de Camargos, Jaguaribe, barão da Laguna, duque de
dizer ao honrado ministro que não se justificou por modo Caxias, Chichorro, Pompeu, Barros Barreto, barão do Rio
algum da demora que até hoje tem tido o governo na solução Grande, marquez de Sapucahy, Godoy, Ribeiro da Luz,
dessa importante questão. Junqueira, visconde de Souza Franco; barão de Cotegipe,
visconde de Jaguary, Paranaguá, Firmino, conde de
Baependy,
262 Sessão em 28 de Maio

visconde de Muritiba, Mendes de Almeida, visconde do Bom O SR. ZACARIAS: – Obrigado. Foi uma impertinencia
Retiro, Sinimbú, visconde de Nitherohy, Paes de Mendonça, do Sr. presidente do conselho. Pensa que tenho medo do seu
Teixeira Junior e Zacarias. malhete.
Compareceram depois os Srs. Leitão da Cunha, O SR. PRESIDENTE: – Alguns illustres senadores
visconde de Camaragibe, visconde do Rio Branco, visconde podem entender o contrario, e nesse caso teem elles o direito
de Inhomirim, marquez de S. Vicente, Cunha Figueiredo e de chamar á ordem o orador, e ao presidente compete o de
Uchoa Cavalcanti. resolver a questão. Persuado-me que o orador não fallou fóra
Deixaram de comparecer com causa participada os da ordem, ou da materia, porque entendo que a discussão do
Srs. Dias de Carvalho, Figueira de Mello, Nunes Gonçalves, orçamento não se limita ao exame material dos algarismos,
Diniz, Fernandes Braga, barão de Maroim, Antão, barão de mas comprehende o de cada serviço, e o modo como tem
Pirapama, F. Octaviano, Paula Pessoa, Saraiva, Silveira sido feito, e se póde ser feito melhor, e mais utilmente.
Lobo, Mendes dos Santos, Fernandes da Cunha, Silveira da O SR. VISCONDE DE MURITIBA: – Pretendo tomar
Motta, visconde de Caravellas, Vieira da Silva e Nabuco. breves minutos ao senado; apenas desejo fazer algumas
Deixaram de comparecer sem causa participada os observações a cerca de um acto ultimamente publicado no
Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de Diario Official pelo ministerio da justiça. Confio que o juiz de
Suassuna. direito da 1ª vara, a quem foi dirigido o acto a que me refiro,
O Sr. Presidente abriu a sessão. representará respeitosamente ao honrado ministro a cerca da
Leu-se a acta da sessão antecedente e não havendo sua exorbitancia e illegalidade. Venho pedir a S. Ex. que o
quem sobre ella fizesse observação deu-se por approvada. reconsidere e que se digne providenciar de modo que se
O Sr. 1º Secretario leu o seguinte evitem as consequencias que o mesmo acto póde produzir.
No Diario Official de domingo 25 do corrente mez foi
EXPEDIENTE. publicado em extracto o seguinte aviso: «recommendou-se
ao juiz de direito da 1ª vara civel, para satisfazer á uma
Officio do Sr. barão de Maroim, datado de hoje, solicitação da camara municipal, determinando aos tabelliães
participando que por incommodo na sua saude não tem e escrivães sujeitos ao mesmo juizo que não lavrem
podido comparecer ás sessões, mas que o fará logo que escripturas de venda e hypotheca de predios sem que os
poder. – Ficou o senado inteirado. contratantas provem com certidão da contadoria municipal
Requerimento da empreza do Diario do Rio de que os terrenos onde estão construidos esses predios não
Janeiro, pedindo indemnisação pelos serviços de publicação são foreiros á dita camara.»
dos trabalhos do senado durante as sessões de 1871 a 1873. O regimento de tabelliães de notas contém-se na
– A’ mesa Ordenação do liv. 1º, tit. 78 e nesse regimento só ha dous
casos em que os tabelliães devem recusar-se a prestar ás
ORDEM DO DIA. partes o seu officio para celebrar-se as escripturas que lhe
são incumbidas. Estes dous casos são: 1º, a falta de
PENSÕES. conhecimento de pagamento do que hoje se chama imposto
de transmissão; o 2º caso é quando o tabellião não conhece
Entrou em 3ª discussão e foi approvada para ser as partes contratantes e exige, mas ellas não apresentam,
dirigida á sancção imperial a proposição da camara dos Srs. duas pessoas que attestem conhecer que ellas são as
deputados mencionada no parecer da mesa n. 525 sobre proprias partes contratantes. Ora, sendo isto materia de lei,
pensões. parece me que se não pode accrescentar mediante um
Seguiu-se em 2ª discussão, e passou para a 3ª a simples aviso outro qualquer caso em que os tabelliães não
proposição da mesma camara, mencionada no parecer da devam prestar seu officio ás partes que os procurarem;
mesa n. 526, sobre pensões concedidas a Domingas Leite de entretanto o aviso que acabo de ler ao senado recommenda
Alvarenga e outra. ao juiz da 1ª vara civel que determine aos tabelliães que não
lavrem escripturas não só de compra e venda, mas de
ISENCÃO DE DIREITOS. qualquer outra transmissão de bens de raiz ou mesmo
escripturas de hypothecas se porventura as partes não
Entrou em 2ª discussão e passou para a 3ª a apresentarem certidão da contadoria da camara municipal
proposição da mesma camara com o parecer da commissão em que se declare que esses predios não são foreiros, note o
de fazenda, concedendo isenção de direitos á Companhia senado, á mesma camara.
Guanabara. A pretenção da Illma. camara que deu logar ao aviso
não data de hoje; tem sido por muitas vezes levada ao
ORÇAMENTO DA JUSTIÇA. conhecimento do governo. Ha mais de vinte annos que ella
trabalha por obter esse fim e ainda não o póde conseguir;
Achando-se na sala immediata o Sr. ministro da representou mesmo á assembléa geral legislativa pedindo
justiça, foram sorteadas para a deputação que o devia que se decretasse essa medida e nem ahi pôde obter aquillo
receber os Srs. barão de Laguna, visconde de Souza Franco que requeria. Entretanto, por um simples aviso do nobre
e Pompeu, e sendo o mesmo senhor introduzido no salão ministro, que eu não posso attribuir por maneira alguma
com as formalidades do estylo, tomou assento na mesa á senão ao pouco estudo que se fez da materia, concedeu-se á
direita do Sr. presidente. Illma. camara aquillo que ella com
Proseguiu em 2ª discussão, com as emendas da
commissão e do Sr. Zacarias, o projecto de lei do orçamento,
no art. 3º relativo ao ministerio da justiça.
O Sr. Zacarias pronunciou um discurso que
publicaremos no appendice.
O SR. PRESIDENTE: – Eu entendo que o Sr.
senador estava na ordem.
Sessão em 24 de Maio 263

o trabalho de mais de vinte annos não tinha podido obter, mais alguma cousa a proposito de marinhas, e eu espero
dirigindo-se mesmo á assembléa geral. que S. Ex., reflectindo sobre esse requerimento, não ha
Ora, a camara municipal tem pretenções, bem ou de ser tão facil em deferir ao que a camara municipal pre
mal fundadas, sobre quasi todos os terrenos em que aceitar a proposta pouco conveniente, se não
estão edificadas as casas, não só desta grande cidade, desarrazoada, da mesma camara.
porém, mesmo dos seus arrabaldes, até longa distancia; e Essa concessão do nobre ministro da justiça não
como em consequencia, não sei se de caducidade dos importa menos do que um privilegio que se dá á camara
seus titulos ou da pouca ordem em que estes titulos municipal e ainda por esta razão não podia a concessão
existem, não póde ella obter que os differentes ser feita senão pela autoridade legislativa. Na nossa
proprietarios dos predios a reconheçam como seu antiga legislação, na legislação portugueza, existem actos
senhorio directo, solicitou essa medida indirecta que pelos quaes fôra facultada a certos senhorios directos de
prohibe a transmissão desses predios e até a hypotheca amphyteuses a mesma prohibição para que os tabelliães
delles em quanto os proprietarios não provarem que os de notas não fizessem escripturas relativas ás terras
terrenos em que se acham os mesmos predios não são foreiras sem que se mostrasse primeiro que o fôro estava
foreiros á mesma camara. satisfeito e que os laudemios tinha sido pagos. Ainda que
Notem V. Ex. e o senado que todo o predio ou não se exprima na pretenção da camara o mesmo fim que
terreno por direito se considera livre até que se prove que houve no privilegio a que me refiro, elle, todavia, não tem
por qualquer fórma está onerado; entretanto que esta em vista cousa menor. Mas, senhores, é preciso vermos a
presumpção em favor daquelles que possuem bens de posição em que se acha collocada a camara municipal em
raiz é destruida por essa medida, lançando-se sobre o relação a seus foreiros: não se trata de uma imposição ou
proprietario, a favor de quem a presumpção militava, a tributo que a camara tenha de cobrar; a camara, nesse
obrigação de provar que os terrenos não são foreiros á caso, é uma pessoa civil que tem os mesmos direitos que
Illma. camara. qualquer outro senhorio, não tem absolutamente nenhum
Eu disse que era um meio indirecto de obter que privilegio a esse respeito e se o tem será somente quanto
os proprietarios que precisam vender ou hypothecar seus ao praso da prescripção. Ora, sendo assim e se se não
predios, reconheçam a camara como seu senhorio póde prohibir que os tabelliães lavrem escripturas
directo; porque, como se sabe, na occasião em que teem independentemente de se mostrar por certidão que os
de fazer um contrato dessa ordem, muitas vezes urgidos bens não são foreiros á Illma. camara, é claro que não se
pela necessidade, esses proprietarios não duvidarão lhe póde conceder semelhante privilegio, semelhante
sujeitar-se ao sacrificio de reconhecer o senhorio directo exorbitancia.
da camara, porque de outra maneira não podem fazer o Eu trazia para ler ao senado o trecho de um livro
traspasse de propriedade; elles que nesse caso deviam escripto pelo Sr. Dr. Haddock Lobo a respeito dessa
ser réos, não podem sustentar uma acção para provar mesma questão e peço licença para ler esse mesmo
que os predios não são foreiros á camara municipal. E’, trecho. Tratando os terrenos foreiros, dizia o Sr. Dr.
porém, incontestavel que á camara municipal é que Haddock Lobo. «A camara representou ao corpo
incumbe provar que os terrenos lhe são foreiros. legislativo a necessidade de uma disposição que
Ora isso, além de ser uma ferida, uma violação da prohibisse aos tabelliães passar escripturas de taes
Ordenação do liv. 1º tit. 78 a que já me referi, é tambem terrenos sem que os proprietarios se mostrassem quites
uma violação da lei hypothecaria posta em execução em com o cofre municipal, porém não me consta que esta
1865, porque essa lei não exige que se apresente para representação fosse attendida.» Entretanto, Sr.
escriptura de hypotheca essa ou qualquer outra certidão presidente, um simples aviso determina ao juiz de direito,
da mesma natureza, afim de que a hypotheca possa ser da 1ª vara civel que imponha semelhante obrigação aos
valida, não prohibe que os tabelliães façam as escripturas tabelliães!
independentemente da apresentação destas certidões; Esse aviso, Sr. presidente, não póde deixar de ser
entretanto pelo aviso não se quer que as escripturas reconsiderado, e eu peço ao nobre ministro que de novo o
dessas hypothecas possam ser lavradas se não se tome em attenção, porque os males que dahi se seguem
apresentar a certidão a que tenho alludido, E’ pois, repito, são gravissimos. A camara municipal tem pretenção de
uma violação da lei de hypothecas, é mesmo um sujeitar a fôro e laudemio quasi todos os predios que
embaraço a essa lei, é mais uma difficuldade que se põe existem no municipio neutro, não só dentro da
a que as hypothecas possam ser feitas com promptidão. demarcação da decima, mas muito além até os confins do
Mas ainda, Sr. presidente, esta determinação do mesmo municipio. Segundo este livro, a camara pretende
nobre ministro não sei como não foi desde logo obstada que todo ou quasi todo o terreno do municipio neutro Ihe é
pelo nobre presidente do conselho, ministro da fazenda. foreiro. Perderam-se com effeito os titulos, diz este livro,
Era visto que S. Ex., zeloso como é pela arrecadação das pelos quaes se mostrava o dominio da camara sobre
rendas publicas, não deixasse passar mais um tropeço esses terrenos, mas foi ella procurar um tombamento feito
para que o imposto de transmissão possa ser percebido em 1794 para sobre elle fundar seu direito a todo esse
facilmente. Essa determinação do nobre ministro da terreno. Cumpre, porém notar, 1º que esse tombamento
justiça iria entorpecer todas as transacções de venda ou não comprehende toda a cidade do Rio de Janeiro,
de qualquer alienação, além de causar os males a que me comprehende somente uma pequena parte, e depois que,
tenho referido; era, portanto, muito de esperar que o como a maior parte dos proprietarios desses terrenos os
nobre ministro da fazenda, se porventura viu o acto do tem passado como livres a terceiras pessoas, acontece
seu nobre collega, tivesse feito algum reparo para obstar que os ultimos possuidores delles negam se a pagar o
a que esse acto tivesse effeito. fôro ao que se diz senhorio e teem razão de o fazer,
A Illma. camara municipal não limitou ahi sua porque ha uma prescripção de mais de 40 annos, alguma
pretenção; mesmo ao nobre ministro da fazenda requereu de quasi dous seculos, isso
ella
264 Sessão em 24 de Maio

quando mesmo não fosse contestavel a existencia dos titulos determinadas no decreto. Agora accrescentarei que não só
em que se firma a camara. ha comarcas de tres termos, mas até de quatro; ainda ha
Em vista desta prescripção é certo que a camara pouco a assembléa provincial de S. Paulo decretou que na
municipal, ainda que podesse apresentar titulos legitimos, comarca Casa Branca houvesse mais um municipio, de modo
não podia obrigar esses proprietarios a pagar-lhe fôro e que tem esta comarca quatro termos. Ora, como se póde
laudemios; e é por isso que ella, para evitar que em juizo fazer quatro sessões do jury por anno em cada termo no
competante seja isso liquidado, quer usar desse meio que é espaço de doze mezes? Não póde ser; os mezes não
mais summario, porque enfim depende só della dar ou deixar chegam; seriam precisos dezeseis, e o anno só tem doze.
de dar a certidão. Até, segundo me consta, ella declara que Não concebo como o juiz de direito possa fazer isto!
não leva dinheiro pelas certidões, mas é por que sua E’ preciso tambem notar que o juiz de direito tem
contadoria pode dar ou não dar a certidão conforme for do outras attribuições a exercer, as quaes não póde
seu agrado, ou dar somente áquelles que se conhecerem desempenhar cumulativamente por não haver para isso
naquella occasião que os terrenos são com effeito foreiros á tempo na occasião em que preside ao jury.
camara como tem já acontecido a alguns, não em Não fallarei do grande incommodo para os jurados de
consequencia do aviso do nobre ministro, mas por outros percorrerem grandes distancias, 20 ou 30 leguas, para
motivos. chegar ao logar em que se reune o jury, para vir á cabeça do
Sr. presidente, não me alongarei mais sobre esta termo quatro vezes por anno, deixando suas familias,
materia; como V. Ex. viu, eu dirigi-me ao nobre ministro abandonando suas casas, deixando todos os seus
unicamente para lhe fazer um pedido, afim de que elle interesses, para muitas vezes não ser possivel abrir-se o jury,
reconsidere a materia; por maneira nenhuma desejei ou e mesmo não haver causa que decidir na sessão. Ha um
procurei censural-o. Penso que o aviso foi expedido sem outro inconveniente que se tem manifestado largamente; é o
maior exame do objecto; S. Ex. podia não estar ao facto do que o nobre senador pela Bahia, que occupou ha pouco a
que se tem dado a respeito dessas pretenções da camara tribuna, declarou, isto é, serem tantas as comarcas que se
municipal; poderia mesmo a sua secretaria não lhe dar as creavam actualmente que receiava que se contassem até
convenientes explicações sobre o que tem occorrido. Estou pelas ruas em que se dividissem as cidades.
certo que, se S. Ex. tivesse presente o que tenho expendido, Ora, tudo isto donde provém? Nas comarcas de fóra
se se lhe tivesse dado conta exacta do que tem occorrido, o toma-se por pretexto que os juizes não podem fazer quatro
nobre ministro não se prestaria com tanta benignidade a sessões do jury por anno; por consequencia, é preciso
adherir aos desejos da camara; ao menos, mandaria constituir as comarcas com menos termos, mais restrictas
consultar a secção do conselho de Estado, onde me parece para que elles possam desempenhar suas obrigações.
que esta materia já foi tratada; não o posso asseverar, Como as assembléas provinciaes não pagam os
porque não tive tempo para esse estudo. Hoje pela manhã juizes de direito, e esta despeza corre pelos cofres geraes,
antes de sahir de casa é que pude ler no Diario Official o cream se comarcas ás duzias; ainda ha pouco na provincia
extracto do aviso a que me tenho referido. da Bahia, ouvi dizer, pretendia-se crear ou estavam já
Eu poderia aqui pôr termo ao meu discurso, ou ás creadas nove comarcas alêm das vinte e quatro ou vinte e
breves observações que tenho feito; mas uma vez que S. Ex. cinco que já existiam, a pretexto de que os juizes de direito
tem mostrado benevolencia para comigo com relação ao que não podiam abrir o jury quatro vezes por anno!
disse, espero que a mesma benevolencia terá a respeito do Eu entendo que ha alguma razão para se pôr termo
que vou dizer. ao actual estado de cousas. Desejava que o nobre ministro
Em dias do mez de fevereiro apresentei nesta casa me fizesse a honra de declarar se este estado de cousas
um projecto acerca do numero de sessões de jurados que continuará a subsistir.
deve haver em cada um dos termos das comarcas que não O SR. DUARTE DE AZEVEDO (Ministro da
são especiaes. Procurei dar algumas razões sobre a Justiça): – No relatorio alguma cousa disse a este respeito.
conveniencia da medida que propuz, em vista da difficuldade O SR. VISCONDE DE MURITIBA: – Sei que em mão
que existia, ou antes da illegalidade que se deu na dos presidentes de provincia existem representações de
decretação de um maior numero de sessões dos jurados do juizes de direito, declarando que não podem cumprir
que aquelle que fôra marcado pelo codigo do processo exactamente o decreto de 1872, que não teem para isto
criminal no art. 316 e que nunca tinha sido revogado. tempo; não sei que fim tem levado essas representações, se
Ora, uma das razões que apresentei foi que não era tem sido attendidas pelo governo, ou se faz-se sobre ellas
possivel que em uma comarca de tres termos se podesse qualquer estudo para o governo dar uma decisão. E' certo
fazer no anno doze sessões do jury, visto ser preciso dar que ellas existem; não sei se ainda estão em mão dos
tempo a que o juiz de direito passasse de um a outro dos presidentes de provincia a quem foram dirigidas, ou se elles
termos para presidir o jury em cada um dos logares; porque as encaminharam ao governo; o que affirmo ao nobre
as sessões são periodicas, successivas: não podia ter tempo ministro é que com effeito ellas existem, e no meu entender
para isto. Accrescentei que nem podia ter dinheiro, porque são muito fundadas, muito justas e muito dignas de serem
não é seguramente sem meios sufficientes que se fazem attendidas pelo modo que o nobre ministro julgar mais
doze viagens cada anno, e para isto não bastam os conveniente, no intuito de evitar esses inconvenientes que
minguados 3:600$ que tem o juiz de direito; além de que são notorios.
teem esses magistrados necessidade de abrir em cada um Eu pedi a palavra para estas ligeiras observações;
dos termos uma correição e cada correição deve ser de trinta não pretendo discutir o orçamento da justiça que tem sido
dias. Por consequencia, faltavam-lhe necessariamente tres habilissimamente e com toda a proficiencia examinado pelos
mezes no anno para abrir as correições, se houvesse de abrir nobres oradores que teem tomado parte na discussão. Peço
todas as sessões do jury, desculpa ao senado por ter abusado da sua paciencia
Sessão em 28 de Maio 265

e ao nobre ministro tambem por lhe dar o trabalho de O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Não ha lei
aventurar alguma resposta, de dizer alguma cousa sobre o alguma, nem determinação, nem razão para impôr a
que acabo de expender. residencia do deão junto á Sé, senão pelo motivo de poder
Os Srs. Duarte de Azevedo (Ministro da Justiça) e desempenhar o dever do côro; ora o deão no Recife e com
Mendes de Almeida pronunciaram discursos que publicaremos possibilidade de facil locomoção para Olinda, residia no Recife
no appendice. de conformidade com o bispo, não occorreu em censura
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Direi muito alguma ou extranheza do bispo que teria providenciado com
breves palavras, a hora está concluida. ordens ou admoestações que se não demonstram.
Pasmei com o desabafo do nobre senador e podia com Ora, com todas essas incoherencias e por uma
melhor fundamento dizer que elle perdeu seu francez ou supposição temeraria, julgou-se autorisado o nobre senador a
italiano, com a sua declamação, propondo-se a defender o censurar e aggredir ao governo, e estranha que se lhe
escriptor Luiz Veillot, que fôra por mim apresentado como oppozesse essa mesma sem razão demonstrada no modo
exemplo de exageração prejudicial da causa a que se devota, porque S. Ex. expoz a sua grave censura e aggressão ao
– por excesso de zelo até e fanatismo deixam de ser proficuos governo. Isso devia ser ponderado por qualquer membro que,
os serviços que o imminente talento deste escriptor podia em sentido opposto ao nobre senador, tomasse parte na
prestar. Veio a proposito trazer este exemplo, porque o nobre discussão; e ponderando, portanto, não fiz partes de
senador mostrava cahir em semelhantes excessos, sendo, advogado officioso, usei do bom direito de representante da
não direi fanatico, porém systematico contradictor do governo, nação. Todos desta casa fallam com a mesma autoridade e
pela idéa fixa da maçonaria, só vê no presidente do conselho competencia official de membros do senado. (Apoiados.) Cada
o grão-mestre da ordem. um porém, tem a força moral adequada a seus meios, a seu
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E V. Ex. só vê pelo caracter, a seu procedimento e aos creditos que por ventura
prisma do governo. gosa na sociedade, mas quanto á posição é a mesmissima, e
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Mostrei, pois não é dado qualificar de advogado officioso um membro
senhores, que o nobre senador havia havido em desta casa. Tive mais razão de estranhar tal expressão
contradicções, sendo a primeira dellas confessar que havendo empregada pelo nobre senador do que S. Ex. em me acoimar
somente um telegramma a respeito dos acontecimentos do pelo modo porque o fez.
Recife, que S. Ex. não conhecia todas as circumstancias do Tenho dito.
facto, e não estava ainda habilitado para provocar o debate, e Findo o debate e não havendo quem pedisse a palavra
no entretanto passou a discutir positivamente e fulminou e nem quorum para votar-se, ficou encerrada a discussão.
contra o governo um anathema tão decidido como O SR. PRESIDENTE disse: – «Segundo a minha
necessariamente injusto e infundado. Argumentou com o facto opinião a discussão do orçamento não póde limitar-se ao
da rua do Ouvidor que tinha sentido muito diverso e dahi tirara exame material das rubricas de despeza do projecto de lei do
conclusão contra o governo observando: «O governo pela sua orçamento.»
policia prohibiu na Côrte o ajuntamento e a passeiata pelas A discussão comprehende necessariamente o modo
ruas que pretendera fazer o club da Republica, logo consentira como se faz cada serviço, a que é destinado o dinheiro que se
pelo seu delegado o ajuntamento tumultuario no Recife!» pede aos contribuintes, e se esse serviço póde ser melhor
Ora, o ajuntamento do Recife, (ainda o reconheceu e desempenhado.
declarou o nobre senador) foi capitaneado por desordeiros, Não é facil fixar os limites, dentro dos quaes o debate
por anarchistas, por homens activamente esforçados contra a deve conservar-se.
ordem publica, logo, por inimigos do governo; entretanto, na Entretanto este exame é que pôde ser util, e o que não
opinião do nobre senador, o governo é responsavel por isso! só compete, mas é de rigoroso dever dos membros do
O governo era o primeiro offendido, assim como o mais parlamento no exercicio de sua elevada missão.
interessado em reprimir taes excessos, entretanto o nobre São estes os principios que comecei a aprender no
senador faz ao governo carga desses excessos! E’ realmente parlamento em 1826, isto é, ha pouco menos de meio seculo,
uma injustiça e contrasenso! e são tambem esses principios que me tem regulado na
O facto que articulara o nobre senador do despacho do cadeira que muito immerecidamente occupo nesta camara
deão para director de um estabelecimento de instrucção desde 1861, presidindo aos seus trabalhos.
publica, nada concluia, era uma incoherencia do nobre E’ assim que comprehendo, não direi somente a
senador com o seu principio de que o ensino deve ser liberdade, mas a dignidade da tribuna parlamentar.
principalmente confiado ao clero; entretanto, viu S. Ex. em Posso estar em erro (não o duvido) e não dirigir bem
facto desta natureza acto reprehensivel do presidente da os trabalhos desta camara, como vejo que os não dirijo a
provincia; tanto mais que o deão reside no Recife e não em contente de alguns illustres senadores.
Olinda, onde tem residencia obrigada, quando é certo, Sinto isto deveras; mas quem deve declaral-o
senhores, que o bispo reside no Recife e que o deão tambem opportunamente é o senado, e eu aguardarei tranquillo, como
residindo no Recife póde, sem faltar a nenhum dos seus até agora tenho aguardado, a sua decisão; e qualquer que ella
deveres de cada dia, ir ao côro da Sé, visto que hoje uma seja, saberei acatal-a, porque descanço na minha consciencia,
linha de ferro facilitada esse transito que em 10 minutos se que com relação ao exercicio de minhas funcções ha de
transpõe. (espero em Deus) permittir-me dizer, como muito antes de
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – V. Ex. não leu a mim já alguem disse perante os seus juizes naturaes: «ita et
correspondencia entre o deão e o bispo. vixi et res gessi, ut ca opinione quam vestra sponte conceptam
animis hoberetis facile contentus essem.»
266 Sessão em 26 de Maio

Em seguida o Sr. presidente deu a ordem do dia como presidente della, a dirigir-lhe esta especie de
para 29: admoestação ou o que nome tenha. Tambem ha muitos
1ª parte, até 3 horas. – 2ª discussão da proposição annos que tenho assento no corpo legislativo e não me
da camara dos Srs. deputados mencionada no parecer da lembro de ter visto cousa igual.
mesa n. 526 sobre pensões. Pareceu-me dever fazer esta ponderação para que
2ª discussão do projecto da lei do orçamento, não passasse tal novidade sem ao menos uma qualquer
começando pela votação do art. 3º observação. Desejo saber se daqui por diante será dado
2ª parte, ás 3 horas. – Discussão do projecto de aos membros desta casa requererem a V. Ex. que mande
resposta á falla do throno. incluir na acta as palavras que entenderam dever melhor
Levantou-se a sessão ás 5 horas da tarde. confirmar ou solemnisar...
O SR. PRESIDENTE: – Acho que as palavras
20ª SESSÃO EM 29 DE MAIO DE 1873. transcriptas da acta são taes quaes as proferi hontem no
fim da sessão. A razão porque o fiz, o senado deve
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABETÉ. lembrar-se qual foi; alguns Srs. senadores que na fórma do
regimento teem o direito de chamar á ordem o orador que
Summario. – Observações dos Srs. visconde de julgam estar fóra della, afim de que o presidente em virtude
Nitherohy e presidente. – Expediente. – Parecer da do recurso possa decidir, não o fazem, mas entendem que
commissão de marinha e guerra. – Observações do Sr. podem em apartes mais ou menos vehementes dizer que
Jaguaribe. – Ordem do dia. – Pensões. – Orçamento da tal orador não falla sobre a materia, pondo em duvida o
justiça. – Orçamento de estrangeiros. – Orçamento da direito que o regimento dá ao presidente de fazer esta
marinha. – Discursos dos Srs. Pompeu e ministro da declaração, quando lhe parece necessaria. Tendo-se
marinha. – Orçamento da guerra. – Emendas da passado o incidente que houve, sem grande importancia,
commissão. – Discurso do Sr. Zacarias. – Voto de graças. durante o qual eu disse que entendia que o orador que
– Discursos dos Srs. Pompeu e visconde do Rio Branco. estava fallando não estava fóra da ordem, julguei
conveniente explicar-me no fim da sessão. Se as palavras
Ao meio dia fez-se a chamada, e acharam-se do presidente podem ou não ser transcriptas na acta, os
presentes 31 Srs. senadores, a saber: visconde de Abaeté, precedentes o dizem. Leiam-se as actas e em muitas
Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape, Dias de dellas se hão de encontrar discursos mais ou menos
Carvalho, Figueira de Mello, marquez de Sapucahy, barão breves proferidos pelo presidente a respeito de muitas
de Camargos, duque de Caxias, barão da Laguna, materias.
Chichorro, Paranaguá, Teixeira Junior, Ribeiro da Luz, Portanto, me parece que nem a acta está discorde
Barros Barreto, visconde de Muritiba, Mendes de Almeida, do que se passou, nem tambem está discorde dos
barão do Rio Grande, marquez de S. Vicente, Junqueira, precedentes da casa.
Uchôa Cavalcanti, visconde de Camaragibe, Pompeu, O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Não apoiado
visconde do Rio Branco, visconde de Souza Franco, nesta parte.
Antão, conde de Baependy, Godoy, visconde de Nitherohy, O SR. PRESIDENTE: – Entretanto qualquer Sr.
Jaguaribe, visconde de Jaguary e Zacarias. senador pode fazer a indicação que lhe parecer.
Compareceram depois os Srs. Leitão da Cunha; Não havendo quem faça mais observações sobre a
Paes de Mendonça, barão de Pirapama, Silveira da Motta, acta dá-se por approvada.
barão de Cotegipe, visconde de Inhomirim e Sinimbú. Foi approvada a acta.
Deixaram de comparecer com causa participada os O Sr. 1º Secretario deu conta do seguinte:
Srs. Diniz, Nunes Gonçalves, Fernandes Braga, Paula
Pessôa, barão de Maroim, Fermino, F. Octavianno, EXPEDIENTE.
Mendes dos Santos, Fernandes da Cunha, Saraiva, Cunha
Figueiredo, Jobim, Nabuco, Vieira da Silva, visconde de Dous officios, de 26 do corrente, do ministerio do
Caravellas, visconde do Bom Retiro e Silveira Lobo. lmperio, remettendo os autographos sanccionados das
Deixaram de comparecer sem causa participada os resoluções da assembléa geral que approvam as pensões
Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de concedidas á viscondesa de Itaúna e suas duas filhas, a D.
Suassuna. Josephina Rodrigues de Carvalho, a D. Joaquina Rosa de
O Sr. presidente abriu a sessão. Jesus e outros, e a que autorisa a permuta de um terreno
Leu-se a acta da secção antecendente. da camara municipal de Porto Alegre por um proprio
O SR. VISCONDE DE NITHEROHY: – Sr. nacional. – Ao archivo os autographos, communicando-se
presidente, fiquei sorprendido ao ouvir na leitura da acta as á outra camara.
textuaes palavras que V. Ex. entendeu dever dirigir ao Outro do mesmo ministerio, de 27 do corrente,
senado na sessão de hontem. Perguntarei se é conforme transmittindo um officio do presidente da provincia do Rio
os estylos, se estão nos precedentes e se por ventura de de Janeiro e os papeis relativos á ultima eleição de
qualquer discurso ou de observações feitas por algum eleitores especiaes da freguezia do Santo Antonio do Rio
membro do senado será admissivel a transcripção textual Bonito, do municipio de Valença. – A’ commissão de
na acta, como vejo a desta declaração de V. Ex. No meu constituição.
conceito separa-se tanto dos estylos, que é para causar Officio de 28 do corrente, do 1º secretario da
estranheza uma inserção semelhante. Pelo menos o camara dos Srs. deputados, communicando que constara
publico poderá entender que houve na casa tamanho á mesma camara, por officio do ministerio da fazenda, ter
escandalo que levou a V. Ex., sido sanccionada a resolução da assembléa geral, que
autorisa o governo para conceder isenção de direitos de
importação á
Sessão em 29 de Maio 267

companhia estrada de ferro de Macahé e Campos. – Ficou o Referia-me a um jornal do Ceará desse nome,
senado inteirado. representante do partido liberal, ou pelo menos de uma
O Sr. 2º secretario leu o seguinte: grande parte do partido liberal, declarava que se abstinha da
eleição.
PARECER DA COMMISSÃO DE MARINHA E GUERRA. O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado.
O SR. JAGUARIBE: – E para prova de que digo a
Pretenção do alferes J.J. de Mello. verdade, trago aqui o jornal O Futuro, folha politica que
sustenta as idéas liberaes, como diz em seu frontespicio, de
A’ commissão de guerra e marinha foi presente a que o redactor o Sr. Dr. José Avelino Gurgel do Amaral.
resolução vinda da camara dos deputados, com data de 23 de Foi sómente para esta rectificação que pedi a palavra.
Maio do corrente anno, na qual é autorisado o governo para
conceder ao alferes do 7º batalhão de infanteria Joaquim José PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA.
de Mello a graduação no posto de tenente com antiguidade, a
contar do dia 6 de Outubro de 1870, nos termos do art. 3º da PENSÕES.
lei de 6 do dito mez e anno.
Não julgando a commissão e supplicante Entrou em 3ª discussão, e foi approvada para ser
comprehendido em tal lei, por isso que ella só se referiu aos dirigida á sancção imperial, a proposição da camara dos Srs.
officiaes que, pertencendo já ao quadro effectivo do exercito, deputados, mencionada no parecer da mesa n. 526, sobre
quando obtiveram postos de commissão, nelles se pensões.
conservaram até a terminação da guerra do Paraguay, por
isso que, sendo o supplicante capitão de um corpo de ORÇAMENTO DA JUSTIÇA.
voluntarios da patria pediu e obteve ser passado para o
quadro do exercito como alferes de patente, em consequencia Procedendo-se á votação sobre o art. 3º do orçamento
do que perdeu o posto de commissão que então gosava, e não foi approvado; foi, porém, approvada a emenda da outra
não sendo depois desse facto novamente commissionado, camara menos o algarismo e bem assim foi approvada a
claro está que não póde ser incluido no numero daquelle de emenda da commissão do orçamento.
quem trata o art. 3º da lei de 6 de Outubro de 1870. Não foi approvada a 1ª rubrica da proposta, mas sim a
Accrescendo que no caso do supplicante, e mesmo em da outra camara.
melhores circunstancias, estão muitos officiaes que tendo Foi approvada a 2ª da proposta, ficando incluida a da
pertencido tambem aos corpos de voluntarios da patria, foram, outra camara.
a seu pedido, passados para o quadro do exercito como Não foi approvada a 3ª da proposta, mas sim a da
alferes, e nelle estão servindo, os quaes, ou quasi todos, se outra camara.
julgariam preteridos pelo supplicante; por isso, é a commissão Foi approvada a 4ª da proposta e ficou incluida a da
de parecer que entre a resolução em discussão, mas que não outra camara.
seja approvada. Não foram approvadas a 5ª da proposta e a da
Paço do senado, 28 de Maio de 1873. – Duque de camara, mas sim a emenda da respectiva commissão.
Caxias. – Domingos José Nogueira Jaguaribe. – Muritiba. Foi approvada a 6ª da proposta incluida a da outra
Ficou sobre a mesa para ser tomado em consideração camara.
com a proposição a que se refere. Foi approvada a 7ª da proposta, ficando prejudicada a
O SR. JAGUARIBE: – Sr. presidente, pedi a palavra da outra camara e comprehendida a da commissão.
para fazer uma reclamação acerca de um aparte que dei na Foram successivamente approvadas as 9ª, 10ª, 11ª,
occasião em que orava o nobre senador pela minha provincia, 12ª e 13ª da proposta, ficando incluidas as da outra camara.
o S. Pompeu, em cujo aparte sahiu uma inexactidão, que Não foi approvada a 14ª da proposta, mas sim a da
altera inteiramente o sentido, sem duvida, sem nenhuma culpa outra camara.
de S. Ex. Foi approvada a 15ª da outra camara.
S. Ex. fallava dos dous partidos do Ceará que se Foi rejeitada a emenda suppressiva do Sr. Zacarias ao
ligaram quando eu dei um aparte: paragrapho unico da outra camara, e foi este approvado com
«E’ que os dous não ficaram inteiros.» a emenda da commissão.
Este aparte está tomado exactamente. Continuou S.
Ex.: «Entretanto é sabido que no Ceará os dous partidos ORÇAMENTO DE ESTRANGEIROS.
historicos dispoem de todos os elementos de força capazes de
conseguir uma victoria completa». O SR. PRESIDENTE: – Devia seguir-se a discussão
Aqui agora é que está o aparte, contra cuja inexactidão do art. 4º do projecto de lei do orçamento relativo á despeza
reclamo. do ministerio dos negocios estrangeiros; mas; constando-me
«O SR. JAGUARIBE: – Representavam o futuro.» que o respectivo ministro estava incommodado, e poderia
Isto, se tem alguma significação, não foi o que eu deixar de comparecer, previni hontem ao senado de que
disse, e nem exprime o meu pensamento. Fiz uma pergunta a passaria a discutir-se o art. 5º relativo á despeza do ministerio
que S. Ex. respondeu, e por sua propria resposta vê-se que da marinha, se estivesse presente o ministro desta repartição,
ella não póde corresponder ao aparte, como sahiu no jornal da e, não estando, o art. 6º relativo á despeza do ministerio da
casa. Meu aparte envolvia uma pergunta, e era a seguinte: guerra. Assim, como está presente o Sr. ministro da marinha,
«O que representava O Futuro?» o artigo que agora deve entrar em discussão, é o art. 5º,
relativo á despeza do ministerio da marinha.
268 Sessão em 29 de Maio

ORÇAMENTO DA MARINHA. vae estreitando sua área cada vez mais, difficultando o
fundeadouro aos navios. E com relação ao trafego do
Seguiu-se a discussão do art. 5º relativo ao embarque e desembarque, a difficuldade ainda é maior,
ministerio da marinha. porque, como sabem todos aquelles que teem ido ás
O SR. POMPEU: – A discussão do orçamento da praias do Ceará, a bahia que faz alli o oceano é muito
marinha é para nós uma sorpreza. V. Ex. hontem, ao dar desabrigada e torna difficil o accesso á terra ou ao mar,
a ordem do dia, nos havia previnido de que nem o principalmente quando remam certos ventos. Esta
orçamento do ministerio dos negocios estrangeiro, que se difficuldade não só é grande para as pessoas, como
seguia ao da justiça, e nem provavelmente o da marinha, despendiosissima para o trafego das mercadorias. Não ha
seriam hoje discutidos, aquelle por se achar enfermo o talvez porto algum do Brasil em que o trafego do
ministro dos negocios estrangeiros e este por estar embarque e desembarque seja mais despendioso do que
occupado na outra camara o Sr. ministro da marinha; nos o do Ceará. Entretanto podia-se remediar este defeito
assegurara V. Ex., pois, que entraria então o orçamento com as obras que se tem proposto em diversos pareceres
da guerra. Por consequencia, nem um dos nossos de engenheiros, que teem ido alli estudar, não só por
collegas que se achavam presentes á hora de encerrar-se parte do governo, como alguns particularmente, a respeito
a sessão podia vir previnido para a discussão do do que ha propostas particulares e estudos feitos por
orçamento da marinha e ainda mais quando até hoje não ordem do governo. Eu e todos os cearenses que teem
foi ainda distribuido o relatorio desta repartição, eu pelo assento no parlamento, temos constantemente solicitado
menos não o recebi. do governo geral que tome em consideração áquelle
Feito, portanto, este reparo, vou dizer apenas duas estado de cousas e melhore, ou autorisando a
palavras ao honrado ministro da marinha, pedindo-lhe construcção da obra por conta da publica administração
desculpa de não apreciar seu orçamento pelo motivo ou dando as garantias necessarias para a realisação de
exposto. alguma proposta particular. Eu por minha parte e creio
O SR. PRESIDENTE: – Depois que V. Ex. acabar que pela de meus honrados collegas, pois nenhum de nós
o seu discurso, tenho de fazer uma rectificação: não faz questão quanto ao modo pratico, o que queremos é
desejo interrompel-o. que se faça uma obra util...
O SR. POMPEU: – Vou apenas fazer uma O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Apoiado.
pergunta ao nobre ministro da marinha a respeito de O SR. POMPEU: – ...reclamada pela necessidade
serviços relativos ao porto da capital da minha provincia. e pelo augmento da população e riqueza da capital do
Eu tinha algumas observações a apresentar a este Ceará.
respeito ao nobre ministro; tinha mesmo apontamentos e O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Da provincia.
documentos a produzir no senado para chamar sobre O SR. JAGUARIBE: – Do Imperio todo.
elles a attenção, não só do parlamento como do honrado O SR. POMPEU: – Ora, Sr. presidente, eu tinha
ministro; mas, desprevenido e contando que hoje não bastantes dados estatisticos do movimento do commercio,
entrasse em discussão este orçamento, não trouxe esses da importação e exportação, para provar em como
apontamentos e nem os documentos. Entretanto, qualquer auxilio que o governo désse ou haja de dar
perguntarei sempre ao nobre ministro o que ha a respeito ainda para aquella obra, não seria um sacrificio do
de diversas propostas sobre a construcção de um porto Estado, mas talvez um avanço para crear mais uma fonte
na cidade da Fortaleza, e tambem sobre a intenção do de receita, que deve augmentar a riqueza publica.
governo a respeito de uma emenda que se apresentou na Porém, como disse, não vinha previnido para esta
outra camara, autorisando a despeza de certa quantia, discussão; deixei os meus documentos em casa. Isto não
não me recordo se de 200:000$, para as obras do porto obsta para pedir ao nobre ministro que nos dê
do Ceará, cuja emenda, bem como outras, foi offerecida informações do que houver o governo resolvido a este
ao orçamento e approvada. respeito, principalmente com relação á emenda da
Portanto, a pergunta que dirijo ao nobre ministro é camara dos Srs. deputados, que autorisava uma verba
a seguinte; 1º, o que ha a respeito de algumas propostas para esta despeza por conta da administração. Eu já
de particulares para a construcção do porto do Ceará? O disse: não faço questão que a obra se faça ou por
governo está disposto a aceitar alguma destas propostas empreitada particular mediante as condições que se
ou quer mandar fazer a obra por conta da administração estipular, ou que se faça por administração do governo; o
publica? 2º, a verba votada em uma emenda na camara que desejo é que ella se faça logo, porque a demora já
dos deputados e lá destacada do orçamento tem de vir ao vae sendo muito prejudicial, e obra completa. Mas, como
senado e o governo aceita e se propõe a executar o se tem constantemente preterido esta medida, tem sido
serviço? adiada de orçamento em orçamento, limitando-se os
Sr. presidente, se ha obra da necessidade ministros a fazerem menção disto em seus relatorios, eu
palpitante é certamente o melhoramento do porto da pediria ao nobre ministro que nos désse esclarecimentos
cidade da Fortaleza... e sobretudo a esperança de proxima realisação da obra.
O SR. JAGUARIBE: – Apoiado. Perguntarei mais ao nobre ministro o que ha a
O SR. POMPEU: – ...porque não só o commercio respeito da encommenda que S. Ex. fez do encouraçado
da provincia do Ceará se tem desenvolvido em escala de que nos deu noticia aqui, quando se discutiu a fixação
consideravel e precisa para isso de um porto mais das forças de mar e com o qual se pretendia (creio que se
vantajoso, como, por outro lado, o porto tem-se acanhado usou desta expressão) trancar o Rio da Prata. Este
com as arêas que o vão atterrando em consequencia dos encouraçado já está prompto ou quando ficará prompto e
ventos, correntes maritimas e outros phenomenos quanto se tem despendido com elle?
geologicos, e
Sessão em 29 de Maio 269

Tambem peço ao nobre ministro a explicação do ministerio da marinha depois de concluida a guerra, ha de
augmento consideravel de cerca de 900:000$, que figura verificar que em todos os annos tem sido necessario abrir-se
entre a proposta do governo e a emenda que passou na creditos extraordinarios para occorrer ás despezas da verba,
outra camara, naturalmente de accôrdo com o nobre ministro. arsenaes. O meu fim, pois, pedindo que se elevasse a verba
E' possivel que estas explicações estejam no relatorio; mas a 3,000:000$, foi em primeiro logar para que os serviços que
eu, como já disse, ainda não tive o ultimo relatorio do correm por conta desta verba, ficassem convenientemente
ministerio da marinha e nem sei mesmo se já se distribuiu. consultados, e, em segundo, para evitar que se tenha de
O SR. BARROS BARRETO: – Já. abrir um credito extraordinario de quantia muito elevada,
O SR. POMPEU: – São estas, pois, as observações como tem acontecido.
que de momento posso offerecer ao honrado ministro, Nestes ultimos annos tem-se aberto para esta verba
porque, repito, não sabia que poderia entrar hoje este artigo creditos quasi sempre iguaes á importancia da verba. Noto
do orçamento em discussão. ao nobre senador que no orçamento actualmente em vigor
O SR. RIBEIRO DA LUZ (Ministro da Marinha): – não se pede nesta verba quantia sufficiente para pagar certos
Sr. presidente, respondo ás perguntas que dirigiu-me o serviços, nem tambem para compra de material de
honrado senador pela provincia do Ceará. construcção naval a de machinas, visto como para o arsenal
S. Ex. deseja saber, em 1º lugar, qual a opinião do da Côrte pediu-se para estes fins a insignificante somma de
governo a respeito do melhoramento do porto do Ceará. A 260:000$. Isto consta da demonstração da despeza desta
obra deste porto não corre pelo ministerio da marinha, mas verba apresentada na proposta de orçamento, que foi
sim pelo da agricultura. Houve duas ou tres propostas de presente ao poder legislativo.
particulares para o melhoramento daquelle porto. Em São estas as razões, Sr. presidente, pelas quaes
consequencia disto foram os respectivos papeis remettidos solicitei da camara dos Srs. deputados que elevasse a verba
ao ministerio da agricultura. Quando tomei conta da pasta da de arsenaes de 2,148:726$661 a 3,000:000$, cumprindo-me
marinha, já esta questão estava affecta áquelle ministerio e ponderar que ainda assim não está ella sufficientemente
eu sei das propostas havidas por ter tido occasião de dotada.
informar sobre um aviso que remetteu-me o meu collega, O SR. PRESIDENTE: – Não quiz interromper o
ministro da agricultura. Portanto, nada posso adiantar illustre senador; é agora que me cumpre explicar-me. Em
relativamente ao contrato para o melhoramento do porto do primeiro logar direi que a Mesa deu para a ordem do dia
Ceará. todos os artigos do orçamento, e portanto em caso nenhum
O SR. POMPEU: – Então não póde informar nada a poderia haver sorpreza. Todavia, depois de dar a ordem do
este respeito? dia, ainda accrescentei estas palavras: «Estando doente o Sr.
O SR. RIBEIRO DA LUZ (Ministro da Marinha): – ministro dos negocios estrangeiros e occupado na camara
Nada, porque não corre pelo ministerio da marinha. dos Srs. deputados o Sr. ministro dos negocios da marinha,
Quanto á outra pergunta que fez o nobre senador, se parece-me talvez provavel que amanhã começará a
viria para o senado um additivo apresentado na camara dos discussão pelo art. 6º, relativo ao ministerio da guerra.»
Srs. deputados e se o governo approvava este additivo, devo O SR. POMPEU: – Eu tomei o «provavelmente» de V.
declarar que desde que a questão está affecta ao ministerio Ex. por necessariamente.
da agricultura, porque tratava-se de resolver a quem devia O SR. PRESIDENTE: – Mas estava na ordem do dia,
ser concedida aquella empreza, o governo não pôde aceitar o como á disse, todo o projecto de lei do orçamento.
additivo da camara dos Srs. deputados sem estar resolvida a Findo o debate e encerrado a discussão, procedeu-se
questão de ser feito o melhoramento do porto por empreza á votação.
ou por conta do governo; emquanto não fôr resolvida esta Não foi approvado o art. 5º da proposta, sendo-o,
questão, o governo não poderá tomar a si este melhoramento porém, a emenda da outra camara.
para fazel-o á custa dos cofres publicos. Foram rejeitadas as 1ª, 2ª a 3ª rubricas da proposta e
A' outra pergunta feita pelo honrado senador a approvadas as correspondentes da outra camara.
respeito do encouraçado, nada tenho a dizer senão que, Foi approvada a rubrica 4ª da proposta, ficando
quando aqui fallei sobre esta materia, declarei a época em incluida a da outra camara.
que devia ficar prompto este navio, e só me resta Foram rejeitadas as da proposta 5ª, 6ª, 7ª, 8ª, 9ª e 10ª
accrescentar que as obras continuam a fazer-se com e foram approvadas as correspondentes da outra camara.
empenho, e que é de esperar que no tempo convencionado Foi approvada a 11ª da proposta, ficando incluida a
fique prompto o mesmo navio. da outra camara.
Quanto á verba, arsenaes, o nobre senador estranhou Foram rejeitadas as da proposta 12ª a 22ª inclusive, e
que sendo de 2,148:726$661, passasse a ser de 3,000:000$ approvadas, as correspondentes da outra camara.
Devo declarar a S. Ex. que foi por necessidade do serviço
publico que eu solicitei da camara dos Srs. deputados a ORÇAMENTO DE GUERRA.
elevação desta verba a 3,000:000$. A verba marcada na lei
do orçamento actualmente em vigor está muito áquem das Entrou em discussão o art. 6º relativo, o ministerio da
necessidades do serviço, e por conseguinte da despeza. guerra.
Se o nobre senador examinar o que tem occorrido no Foram lidas, apoiadas e postas em discussão
conjunctamente as seguintes.

EMENDAS DA COMMISSÃO DE ORÇAMENTO AO ART. 6º


DA PROPOSTA DO GOVERNO.

Art. 6º Em vez de 13,664:998$889 diga-se: (o que


resultar da votação das emendas).
270 Sessão em 29 de Maio

§ 14. Obras militares, em vez de 900:000$, diga-se: presidente do conselho, e não tomaria mais a palavra para
835:117$000. discutir objecto politico, porque estou vendo que nossas
§ 15. Diversas despezas e eventuaes, em vez de vozes, ao menos as da opposição liberal, são recebidas
600:000$ diga-se: 550.000$000. como motivo para o governo se tornar mais hostil ao lado
Em 29 de Maio de 1873. – Barão de Cotegipe. – liberal, se não tivesse necessidade de justificar esse
Visconde de Souza Franco. – Marquez de S. Vicente. – J. proposito.
Antão. – Leitão da Cunha. – J. L. da Cunha Paranaguá. – Tenho notado, Sr. presidente, que cada vez que fallo
Visconde de lnhomirim. aqui referindo-me aos negocios da minha infeliz provincia,
O Sr. Zacarias pronunciou um discurso que victima da maior intolerancia partidaria, dou occasião a que
publicaremos no appendice. os nobres ministros se exacerbem contra as victimas da
Ficou adiada a discussão pela hora. intolerancia e teçam elogios ao administrador, de quem aliás
Passou-se á tem a opposição fundadas queixas pelo seu procedimento
parcial no Ceará. Por conseguinte, estou convencido de que
SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA. as nossas reclamações não servem senão de irritar o
governo e enfurecel-o mais contra nós. E como não ha para
VOTO DE GRAÇAS. quem appellar, o silencio seria pelo menos mais prudente.
Tomando, porém, a palavra neste debate sem estar
Entrou em discussão o projecto de resposta á falla do preparado, porque não contava que nenhum dos outros
throno. membros desta casa, muito mais competentes do que eu
O SR. POMPEU: – Sr. presidente, estava quasi a (não apoiados)...
acceder ao desejo do governo e principalmente do nobre O SR. ZACARIAS: – Tem-se mostrado um grande
presidente do conselho, manifestado na outra camara, de parlamentar.
que se votasse silenciosamente e por acclamação a O SR. POMPEU: – ...deixasse occasião tão
homenagem que o parlamento deve depositar nos pés do opportuna de pedir informações ao governo da politica e
throno pela graça de abrir nossos trabalhos legislativos. administração do paiz, vendo que ia-se votar sem discussão
Diz-se na outra camara que esse expediente era uma a resposta ao discurso da Corôa, levantei-me, não tanto para
pratica muito aceita e seguida na Inglaterra, de cujos discutir mais politica ou pedir informações; mas para fazer um
precedentes o nobre presidente do conselho se diz sectario, protesto contra esse abandono do governo, esse desprezo
menos na parte que diz respeito á applicação de saldos. que manifesta pela verdadeira opinião publica, que de todas
Como V. Ex. sabe, na Inglaterra o ministro da fazenda as partes reclama medidas da mais alta importancia, não
entendeu que devia applicar os cinco milhões de libras de satisfeitas até hoje. Principio por fazer algumas observações
saldo em alliviar os impostos que pesavam sobre o povo; mui respeitosas ao discurso da Corôa e da resposta que
aqui o nobre presidente do conselho, aliás tão sectario das formulou a nobre commissão. V. Ex. sabe, Sr. presidente,
praticas britannicas, assentou que era melhor distribuir os que, quando fallamos em discurso da Corôa, referimo-nos a
saldos entre as diversas classes de empregados publico, que uma peça puramente ministerial; portanto, qualquer critica ou
não estavam bem remuneradas. censura vae ao poder responsavel; respeito e homenagem
Mas, dizia eu, quasi estava resolvido a acceder ao ao irresponsavel.
desejo de que passasse silenciosamente a homenagem que Note que o discurso da Corôa, fazendo alarde de
temos de levar á Corôa, se bem que, não pela razão allegada serviços que o governo tem feito ao paiz e de muitos outros
pelo nobre presidente do conselho, comquanto S. Ex. me que pretende ainda fazer, e mencionando alguns
mereça muito respeito por muitos motivos, principalmente por acontecimentos graves ou de certa ordem, esquecesse um
ser autoridade nos estylos parlamentares e constitucionaes, facto da maior importancia. Trata, por exemplo, da febre
mas por outra que me parece mais procedente. Noto, porém, amarella, que diz não ter sido uma das epidemias mais
que na outra camara, ao passo que o governo recommenda o mortiferas...
silencio nas discussões politicas, um honrado ex-collega do O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Queria que fosse
nobre presidente do conselho, que tambem tem muita mais.
autoridade nesta materia, contesta a excellencia do silencio O SR. POMPEU: – ...dá graças a Deus, porque a
parlamentar, ensinando que as palavras, que se proferem no estação benigna veio de alguma maneira acabar com ella;
parlamento e que são tão condemnadas pelo governo como falla do telegrapho transatlantico, que não pertence ao
inuteis, não são destituidas de alguma utilidade, visto que, governo por ser de uma empreza particular, no que o
em sua opinião, o parlamento não é só uma officina de fazer governo não tem intervindo com cousa alguma. Mas guardou
leis, mas tambem um laboratorio de opinião publica e da silencio sobre a grave questão religiosa que agita o paiz;
politica, que póde esclarecer o governo. porque não mereceu consideração essa agitação do espirito
Ora, por esses principios, se elles são verdadeiros, publico...
como parecem, entendo que em verdade as discussões no O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – E' outra febre
parlamento, mesmo a respeito da falla do throno, não são de amarella.
todo inuteis. Attendendo, porém, a que, com effeito, as O SR. POMPEU: – ...que se nota em todo o paiz,
discussões entre nós não teem aproveitado nem para a principalmente em algumas cidades, como o Recife? De
opinião publica, que parece inaccessivel, nem para o serviço certo que até a occasião de confeccionar-se a falla do throno
publico e marcha da administração, visto como o governo se não havia chegando ao conhecimento do governo o ultimo
mostra surdo a todas as reclamações feitas da tribuna, quasi successo de 14 de Maio que temos deplorado; mas haviam
que achava razão no silencio aconselhado pelo nobre outros já bem importantes que attestavam o estado da
Sessão em 29 de Maio 271

agitação, como representações numerosas, recursos por não ter o governo procurado informar-se melhor do
interpostos á Corôa, informações officiaes e confidenciaes facto.
do presidente, em fim prenuncios de tempestade, que um Neste mesmo topico nota-se o seguinte trecho um
governo mais previdente teria previnido, porque, segundo tanto obscuro: «Vae desaparecendo em quasi todas com
se deprehendia das noticias publicadas e das a entrada da nova estação. Para esse resultado muito
communicações particulares, quasi que esse concorreu a caridade da população nacional e
acontecimento era esperado, á vista do que se sabia de estrangeira.»
Pernambuco sobre a agitação do espirito publico. Por esta redacção parece que se quer dizer que a
Como, pois, o governo podia, mencionando no caridade da população nacional e estrangeira concorreu
discurso da Corôa uma serie de outros acontecimentos, para a mudança da estação.
das medidas, que pretende ter dado para o Não comprehendo este texto; dizer-se que a
desenvolvimento moral e material do paiz, omittir o estado estação veio influir na intensidade da febre amarella, bem;
de exaltação do espirito com relação á questão religiosa? mas que para esse resultado muito concorreu a caridade
Por esquecimento? Não posso acreditar. Seria o proposito nacional e estrangeira, é cousa que não se entende, ou é
do nobre presidente do conselho, prudente como é, não má redacção de uma peça muito séria, que exigia mais
dar occasião a debate dessa materia, que S. Ex. quer cuidado.
afastar do parlamento? Isto não obstava, como não tem O nobre presidente do conselho nos explicará
obstado, que tenha sido tão largamente discutida em isso...
ambas as camaras. O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – E’ uma explicação
Teria sido, pois, mais conveniente que a Corôa nos meteorologica.
dissesse em poucas palavras o que havia a esse respeito, O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Na resposta está
e que o nobre ministro do Imperio, ou qualquer outro, a a explicação.
quem incumbisse esse negocio, desenvolvesse-o em seu O SR. POMPEU: – E’ verdade; a commissão em
relatorio, afim de tranquilisar o espirito publico. sua resposta deu um quináo á peça ministerial em materia
Deixando, porém, isso de parte e entrando na de redacção; mas continua o mesmo topico:
apreciação do importante documento, que nos occupa, «Molestias de diverso caracter e consideraveis
observo que o segundo topico da falta do throno diz: inundações teem flagellado algumas localidades, mas
«Graças á Divina Providencia a epidemia que seus estragos não são tão grandes como os que nestes
accommetteu algumas de nossas cidades maritimas não ultimos tempos experimentaram outros povos por effeitos
foi das mais mortiferas, e vae desapparecendo em quasi de causas analogas.»
todas com a entrada da nova estação.» Não comprehendo tambem isto; póde ser uma
A que vem, Sr. presidente, asserção de que não foi consolação para nós o terem outros povos tambem
das mais mortiferas? Para que este consolo? Para os soffrido esses desastres? Então, não nos queixemos
mortos? Não; para estes, as orações e não palavras de tambem mais do governo, porque dir-se-ha: Bismark ou
condoimento; para os vivos? A estes melhor aproveitaria algum Pacháda Turquia é mais absoluto do que o Sr.
que o governo désse providencias reclamadas pela visconde do Rio Branco! Isto não é consolo, salvo pelo
hygiene publica para que as febres não se reproduzam. principio do poeta: solatium est miseris socios habere.
Não comprehendo a razão destas palavras: não foi das Parecia-me pois, que, se a Corôa quizesse fallar
mais mortiferas; antes uma commemoração por alma desses acontecimentos infelizes de que tem sido victima o
daquelles que morreram; aproveitava-lhes mais do que paiz, de inundações e epidemias em diversas provincias,
essa condolencia, que não chega até elles, nem consola bastaria manifestar seu pesar por esses successos e que
os vivos, que sabem do contrario. o governo não tem esquecido seu dever. Não sei se o
Por quanto não é exacto, que não fosse a governo tem dado todas as providencias tendentes a
epidemia das mais mortiferas. Ahi está uma obra soccorrer as victimas desses acontecimentos. Na minha
authentica, a Histotia das epidemias, que acaba de provincia sei que o inverno tem sido desastroso; o Ceará
publicar o illustrado presidente da junta de hygiene tem esse inconveniente; os grandes invernos, como o do
publica, provando com algarismos que a epidemia foi das anno passado, como tem sido o deste anno, equivalem as
mais mortiferas, obra já citada aqui sobre este mesmo seccas, são desastrosos, não só matam a criação, como
objecto pelo nobre senador pela Bahia. A commissão, as plantações e fazem desenvolver em algumas ribeiras
referindo-se a este topico, desviou-se um pouco... epidemias em larga escala. O grande rio Acaracú, que
O SR. ZACARIAS: – Completamente. passa perto da cidade do Sobral, está epidemico de
O SR. POMPEU: – ...da asserção do governo na febres intermittentes que lavram em larga escala, que
falla do throno. Espero que na discussão o governo dará aliás eram alli desconhecidas até certo tempo. Os rios
a razão porque entendeu dizer-nos que não foi das mais Jaguaribe e Acaracú innundaram alguns povoados e
mortiferas; seria para nós que estamos no Rio de Janeiro cidades que banham.
e que presenciamos os estragos que fez na população, Não sei se o governo tem tomado providencias em
principalmente adventicia, ou para o estrangeiro vêr? A relação a essas desgraças; o que sei é que tem mandado
verdade deve preferir a todas as considerações. para alguns desses logares destacamentos.
Parece, pois, que esse topico da falla do throno ou O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Para fazer parar
foi inspirado por erro de apreciação, ou então teve em as aguas?
vista, não dar-nos uma noticia local, em contrario do que O SR. POMPEU: – Se isto é o recurso ou o
todos nós sabemos, mas somente para além mar. Quero remedio mais proprio, não sei.
antes suppor a primeira hypothese, e minha critica é O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Essa receita é
somente boa!
O SR. POMPEU: – Foi para fazer eleições, que se
vão repetir em varias freguezias da provincia.
272 Sessão em 29 de Maio

Observo tambem que o discurso da Corôa, e riqueza. Logo, a proporção do desenvolvimento moral
alardeando serviços do governo, em falta de outros mais não tem acompanhado esse movimento material,
efficazes ou effectivos, menciona, por exemplo, o começo intellectual, economico; do que segue-se que ha outra
das explorações das vias ferreas de Pernambuco, da causa efficiente para esse mal, pelo que a promessa que
Bahia e de S. Paulo, facto de que tinhamos noticia ha nos faz a Corôa mesmo para um futuro remoto não nos
muito tempo e se valesse a pena essa menção, devia ter póde tranquillisar.
sido feita na falla do throno de Dezembro do anno O remedio é outro, Sr. presidente, que o governo
passado, porque eram acontecimentos anteriores a esse não quer vêr, porque não quer usar delle. O remedio está
tempo. na escolha de melhor pessoal para a administração; e se
Ainda menos cabimento tem o que diz o discurso o governo se compenetrasse dessa necessidade, tivesse
da Corôa a respeito da concessão á companhia de sincero e efficaz desejo de combater o mal, iria buscar em
telegrapho transatlantico, com quem nada tem que vér o outra fonte o recurso que o caso reclama; era escolher
governo, isto é, não concorre com fundos, porque é uma para a administração, desde a mais alta até a menor
companhia particular, a qual o governo não dá auxilio. escala, homens que offerecessem garantia pela sua
Entretanto que a respeito de outros assumptos de que imparcialidade, probidade e zelo no serviço publico.
incumbia ao governo dar-nos noticia, dar-nos ao menos Tambem, com relação a outros serviços que o paiz
promessa de remedio efficaz, contenta-se com um reclama, como a educação, a reforma eleitoral, a falla do
enunciado vago ou com uma promessa para gerações throno, apenas tocando nesses assumptos, nos diz que
futuras. serão tomados em consideração. Noto que não é a
Assim, tratando da tranquilidade publica e da primeira vez, que antes algumas fallas do throno esses
segurança individual, diz-se em outro topico: objectos são apresentados como uma necessidade, uma
«E’, porém, para lamentar que a segurança aspiração urgente do paiz e com a promessa de serem
individual e de propriedade não possa ser assaz protegida tomados em consideração, e até hoje não o teem sido.
ainda em nossos sertões, onde a influencia da lei não Dir-se-ha que não tem havido bastante tempo.
impera ainda de maneira efficaz na prevenção dos Mas, senhores, a respeito da sessão actual, o governo
delictos. O remedio radical para esse estado de cousas não tem razão; ha seis mezes que estamos em sessão, e
depende de communicações mais rapidas e de outras durante esse periodo não tem tido o governo tempo, mais
medidas tendentes a melhorar a condição moral daquellas que sufficiente, para apresentar todos os planos de
regiões. Não é obra de um dia, mas revela que reforma, ao menos dessas que servem de chavão
prosigamos nesse empenho com a possivel celebridade.» constante nos discursos da Corôa? A reforma eleitoral, de
Eis ahi o que o governo nos promette em relação a educação, da guarda nacional, recrutamento, etc., já não
um assumpto da maior importancia, que é a garantia dos foram apresentadas em propostas ou projectos; porque
direitos individuaes, de vida e propriedade. Diz que não é não tem o governo feito discutir nas camaras?
obra de um dia, é certo, mas dá-nos a esperança de que E a proposito de guarda nacional, Sr. presidente, a
só, quando as vias ferreas augmentarem quando as luzes que vem a falla do thono lamentar o peso que soffre a
da civilisação e outras condições de desenvolverem, guarda nacional com o serviço que presta, quando é o
melhorará este estado; é dizer-nos: consolem-se; governo o proprio autor desse peso inutil? Vemos no
presentemente esta geração não gosará desse beneficio; relatorio do nobre ministro da justiça o numero crescido
a futura geração é que poderá aprecial-o. de dous mil e tantas praças da guarda nacional
Não é isto o que se devia fazer. O governo devia destacadas em diversas provincias, quando essas
assignalar o facto deploravel, como fez; mas prometter provincias regorgitam de soldados de policia e de linha. O
que empregaria os recursos, que a lei lhe tem dado, para Ceará, por exemplo, em que ha um corpo do exercito de
reprimir e privinir quanto fosse possivel, o crime, quer 400 praças, um de policia de 600, tem mais 250 guardas
contra a vida, quer contra a propriedade dos particulares, nacionaes destacados; para que? De duas, uma: ou o
e não dar-nos somente a esperança do futuro tão governo cesse de fazer essa lamentação constante nos
longinquo, quando se derem condições, que, aliás sem a discursos da Corôa, de serviço pesado que esmaga a
repressão activa da autoridade, podem não aproveitar. E guarda nacional, ou então dê as providencias
note V. Ex. que essa asserção do discurso da Corôa, de necessarias, para obstar esse serviço dispensavel nas
que esse mal reconhecido só póde melhorar com o provincias, porque lamentar e todavia consentir que seus
desenvolvimento da civilisação e o augmento das vias delegados, os presidentes de provincia, chamem
ferreas não é fundado na experiencia. inutilmente a serviço a guarda nacional, é uma cousa que
O senado ouça todos os homens que teem não se comprehende. De que servem os corpos de policia
acompanhado o estado de nossas cousas, o tão numerosos em algumas provincias? De que servem
desenvolvimento moral do paiz e saberá que antigamente os corpos do exercito, que está espalhado por diversas
não haviam tantos crimes; appelle para a estatistica provincias? Só para o serviço de policia em que são
official que vem nos relatorios dos respectivos ministros, empregados por alguns presidentes? Na Bahia, por
estatistica aliás que está bem longe de ser exacta; ella exemplo, diz me aqui o meu honrado collega por Goyaz, o
prova que os crimes anteriormente quando as condições corpo de policia chega a 900 praças e eu creio que lá ha
da sociedade eram inferiores não avultavam em tão larga mais de um batalhão de linha, e, comtudo, a guarda
escala como presentemente, quando temos vias ferreas e nacional está tambem lá em grande numero empregada.
algumas das condições de que falla o topico alludido. Portanto, se é necessario a bem da repressão ou
Logo, ha um defeito, que actúa hoje para augmento prevenção do crime e de fazer policia, que a guarda
desses crimes independente do atraso anterior do paiz, nacional seja sempre occupada nas provincias, não vejo
até porque, Sr. presidente, é innegavel que o paiz tem meio de allivial-a do serviço publico, salvo se se
marchado a um gráo de prosperidade material e augmentar grandemente
intellectual de certo tempo a esta parte, de sorte que em
menos de 30 annos temos duplicado em população,
instrucção
Sessão em 29 de Maio 273

os corpos de policia; do contrario allegarão os presidentes O nobre presidente do conselho julgou então da mais
que não teem força para policiarem as provincias que alta conveniencia introduzir um topico a respeito de saldos,
administram, porque este é o pretexto, quando a verdadeira mas desta vez não nos dá mais noticia de saldos. Naquelle
causa é outra diversa. topico entendia o nobre presidente do conselho que, havendo
E’ certo, Sr. presidente, que na outra camara o nobre saldos, devia-se acudir a diversos serviços; agora não falla
ministro da justiça apresentou uma proposta para reforma da em saldos e recommenda a economia. Qual a causa da
guarda nacional; esta proposta ha de vir ao senado e então mudança que operou-se no espirito do nobre ministro?
haverá logar de aprecial-a. Mas, por ora, permitta-me o nobre O SR. ZACARIAS: – Via a votação das camaras.
presidente do conselho, que hontem levou a mal tratar-se O SR POMPEU: – Que foi feito dos saldos? Em que
desse assumpto, por lhe parecer impertinente, que faça foram absorvidos? Não se precisa mais dotar serviços
somente uma observação, e é que o remedio apresentado publicos?
nessa proposta para alliviar a guarda nacional creio que não Não posso deixar de insistir em uma idéa, que já
produzirá seu effeito, porque nella ha uma valvulasinha por enunciei em outra sessão, e é que o nobre presidente do
onde se póde escapar a intenção do governo de allivial-a do conselho não aproveitasse a occasião dos saldos para alliviar
serviço, que e o caso de sedição, que póde ser tão facilmente os impostos lançados durante a guerra do Paraguay.
encontrado por qualquer subdelegado. O SR. ZACARIAS: – Isso sim.
Sabe V. Ex. que para haver sedição basta a reunião O SR. POMPEU: – E’ uma deslealdade para com
de 20 pessoas; ora bastava que passasse aquelle projecto este pobre povo contribuinte. A necessidade urgente de uma
eleitoral do Sr. ministro do Imperio, para que se podesse guerra em que estavam empenhados nossa honra e altos
considerar sedição cada turma de 25, que se reunissem para interesses de Estado, exigia certamente não só o sacrificio de
dar seu voto a um eleitor, pois já havia gente de mais. sangue, e nós fomos nisto prodigos, como sacrificio de
Portanto, se o governo está sinceramente no dinheiro, e a nação não foi mesquinha; porém era com a
empenho de alliviar a guarda nacional do serviço que a promessa tacita ou explicita...
esmaga, outro é o remedio: acabe com a guarda nacional O SR. ZACARIAS: – Explicita.
completamente (apoiados); acabe com essa pressão não O SR. POMPEU: – ...de que, cessando essa grande
sobre a guarda nacional, mas sobre o povo, porque todo necessidade, deveriamos dispensar o contribuinte desse
povo varão em nossa terra é por via de regra guarda sacrificio; a existencia dos saldos offerecia occasião
nacional. opportuna para o cumprimento dessa promessa.
A guarda nacional, do modo como se acha entre nós, Se porventura nossos recursos fossem exiguos, se
tem chegado a ponto tal que o remedio só se acha nas não chegassem para fazer face á despeza publica ordinaria,
medidas do meu nobre amigo e collega que se acha á minha bem; mas o nobre presidente do conselho annunciou um
esquerda, é radical, é acabar com ella. E, quando muito, saldo de alguns mil contos de réis; era, pois occasião de S.
constituir uma guarda municipal para serviço do municipio, Ex. fazer o mesmo que fez o ministro da fazenda de
mas não esta que existe cheia de galões para uns e de Inglaterra, cujas praticas o nobre presidente do conselho
pressão para outros e como propõe o nobre ministro da deseja seguir.
justiça em sua reforma incompleta. O SR. ZACARIAS: – Aqui quando ha saldos é para
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – O que elle quer é ter augmento de vencimentos.
dragonas para dar. O SR. POMPEU: – Sabe V. Ex. que na Inglaterra
O SR. POMPEU: – Noto ainda em um topico do verificou-se um saldo de 5,000,000 de libras; mas o Sr.
discurso da Corôa que foram trocadas as ratificações sobre Gladstone entendeu que era occasião de alliviar o
os tratados de extradicção com Portugal, com a Grã- contribuinte de certos impostos e pagar a divida; não foi uma
Bretanha e a Italia e a convenção postal com a Republica do senha, como aconteceu aqui, para satisfazer diversas
Perú; mas nada se diz a respeito da convenção de 19 de classes de empregados publicos que se diziam, e eu não
Novembro de 1872. Já foi ratificado esse convenio pelo corpo quero contestar, mal remunerados, mas que talvez podessem
legislativo argentino? Desejaria que o nobre presidente do esperar, emquanto se attendia o cumprimento de dever mais
conselho nos informasse alguma cousa a este respeito e imperioso para com o contribuinte.
porque disso não dá noticia. Entretanto noto que um topico do discurso da Corôa,
E o que nos diz S. Ex. a respeito do estado do fallando das circumstancias prosperas do Brasil, diz:
Paraguay? (Apoiados). «Tão prosperas circumstancias permittirão que
Dizem que houve por lá uma revolução. continuemos a mitigar os onus dos contribuintes, uma vez
O SR. ZACARIAS: – De 20 pessoas? que na decretação de novas despezas, que forem
O SR. POMPEU: – De mais, provavelmente, e o reclamando as mais attendiveis aspirações nacionaes,
governo nos dirá... consideremos sempre aquella necessidade e os pesados
O SR. ZACARIAS: – Havia de ser de pouco mais. encargos que nos legou a ultima guerra.»
O SR. POMPEU: – Como se acham essas relações Mas que onus de contribuintes foram mitigados? Foi
com aquella Republica, que ficou debaixo de nossa tutella? só a ancoragem e não os impostos addicionaes, que se
Essa revisão a que fim tendia ou tende? Tambem, Sr. lançaram durante a guerra do Paraguay, e a respeito dos
presidente, notei no discurso actual da Corôa uma notavel quaes reclamou aqui com tanta elegancia o finado visconde
differença com aquelle que foi proferido em Dezembro do de Itaborahy, accusando o governo de deslealdade. Este
anno passado. topico não exprime exactamente o procedimento do
274 Sessão em 29 de Maio

governo, consentindo no augmento de grandes despezas que podem concorrer para o desenvolvimento de uma
sem attender o onus da ultima guerra. localidade; comprehendo isto; mas então tome o governo
Outro topico do discurso da Corôa diz: «Muito uma medida geral no interesse publico e não por
convém firmar na nossa administração o principio de interesses particulares, como se diz e parece; para se
pessoal menos numeroso, porém melhor retribuido, e fazer deputados e senadores alguns co-religionarios
severamente estimulado no cumprimento dos seus desmembrar-se uma comarca no interior dos sertões e
deveres.» O que se quer dizer com esta arvorar-se em provincia; isto não parece serio, nem digno
recommendação? Pois não vemos todos os dias de figurar, como recommendam, no discurso da Corôa. E
augmentar-se o pessoal da administração? tanto mais notavel é esta medida isolada, quanto o nobre
O SR. ZACARIAS: – Os relatorios teem promessa ministro do Imperio em seu relatorio abundou em
nesse sentido. considerações relativas á organisação do serviço da
O SR. POMPEU: – Não vem aqui orçamento ou administração provincial. Disse elle que quer dividir as
proposta de fazenda, de mar ou de terra, que não traga provincias por uma circumscripção mais racional.
augmento de pessoal das repartições. Semelhante O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Pedacinhos é
recommendação ou não foi tomada ao serio pelo governo, melhor.
ou não tem alcance algum, porquanto as repartições O SR. POMPEU: – Antes de realisar essa medida,
estão cheias de empregados, e constantemente estão-se pretendo crear uma entidade nova, desconhecida até hoje
creando outros, e não só de administração como até do em nossa administração, isto é, sub-presidentes, uma
parlamento, pois crea-se até uma provincia para fazer especie de sub-prefeitos.
deputados e senadores, segundo vejo das discussões de O SR. ZACARIAS: – Prefeito já houve em
outra camara, e augmenta-se a representação de certas Pernambuco.
provincias. O SR. POMPEU: – S. Ex., recordando-se talvez do
O SR. ZACARIAS: – De certas. que houve em Pernambuco, isto é, dos prefeitos e sub-
O SR. POMPEU: – Portanto, essa prefeitos, é verdade que então era só com attribuições
recommendação da Corôa está em opposição com os policiaes, quer crear os sub-presidentes com attribuições
actos do governo, com aquillo que elle consente e até largas respeito da administração. Não sei como o nobre
mesmo pede. Pois quer-se reduzir o pessoal e todos os ministro ha de conciliar esses seus sub-presidentes com
dias os ministros pedem autorisação para augmentar o de os presidentes das provincias.
sua repartição? Quer-se reduzir o pessoal e os nobres Mas fallo nisto sómente por incidente; queria dizer
ministros deixam passar projectos creando provincias e que, quando o governo tem em mente um plano de
augmentando a representação de outras? reorganisação provincial, quando manifesta a opinião da
A proposito de provincias, Sr. presidente, pergunto: necessidade de uma divisão mais regular das provincias,
valia a pena que no discurso da Corôa se como é que vae aconselhar á Corôa a recomendar na
recommendasse especialmente a creação de uma falla que dirigiu ao parlamento a apresentação de um
provincia de iniciativa particular... projecto que alguem devia apresentar, creando uma
O SR. ZACARIAS: – Ainda não conhecida pela provincia no centro da Bahia?
folha da casa. O SR. ZACARIAS: – Não me lembro de um
O SR. POMPEU: – ...de ninguem tinha noticia exemplo igual.
ainda senão os deputados que leram esse projecto... O SR. POMPEU: – Sabe V. Ex. em que tempo, em
O SR. ZACARIAS: – O circulo... que condições foram creadas algumas provincias...
O SR. POMPEU: – ...ou o circulo dentro do qual foi O SR. ZACARIAS: – A do Paraná, por exemplo.
redigido? Como é que a Corôa, digo o governo, adivinhou O SR. POMPEU: – E a do Amazonas; mas nem
que alguem se lembrava de crear uma provincia no centro ellas tiveram a honra da recommendação da Corôa..
da Bahia? O SR. ZACARIAS: – Não foram inspiração de
O SR. ZACARIAS: – E’ que elles leem as provas interesses particulares.
dos jornaes, e eu leio o jornal ás 8 horas do dia. O SR. POMPEU: – ...nem foram objecto de
O SR. POMPEU: – E que grande vantagem para o considerações pessoaes.
paiz dessa creação isolada? O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
O SR. ZACARIAS: – E’ uma cousa caracteristica do Conselho): – Então essa é?
da época. Já assisti á creação de uma provincia, mas em O SR. POMPEU: – Disseram na outra camara; e
condições muito diversas. eu refiro-me ao que la se disse.
O SR. POMPEU: – Não contesto a conveniencia O SR. ZACARIAS: – Se não é, parece.
de fazer-se uma circumscripção das nossas provincias O SR. POMPEU: – As necessidades do serviço
mais racional... publico haviam demonstrado que era conveniente crear
O SR. ZACARIAS: – Apoiado, no interesse geral. uma provincia no Paraná e restaurar a antiga capitania
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – E’ pena que o que existiu no Alto Amazonas: crearam-se essas
ministerio não cuide nisso. provincias, que não sei se tem sido de grande utilidade ao
O SR. POMPEU: – ...attendendo ás condições de publico e a seu desenvolvimento, mas quero suppor...
proporção, de extensão, de commercio e de todos os O SR. ZACARIAS: – São fronteiras.
elementos
Sessão em 29 de Maio 275

O SR. POMPEU: – ...mas havia nisso, além de execução dessa lei, do modo como tem sido recebida, como
motivos especiaes que lá se davam, a circumstancia tem sido executada, e dos seus effeitos.
especiallissima de serem fronteira e estarem em contacto com O ensino profissional é outro chavão que figura na falla
diversos paizes, e dahi resultavam questões de limites, do throno e no relatorio do nobre ministro do Imperio. Nem ao
intervenção de povos visinhos, etc. Mas, de que serve uma menos se nos diz o que se quer comprehender por esse
provincinha, que vae ser suffocada pelo sertão de ensino profissional. O nobre ministro do Imperio quer ensino
Pernambuco, Bahia e Minas Geraes? O que vae ser essa profissional em escolas e estabelecimentos não só nas
provincia? Quanto custará ao thesouro a despeza de seu capitaes das provincias como em todos os municipios sem nos
pessoal official? dizer a que tendem essas escolas ou esses institutos.
Li que alguem na outra camara chamou essa provincia Nós temos aqui ensino profissional, o instituto
burgo podre, desses que havia antigamente na Inglaterra para commercial, e apesar de ser bem dotado pelo governo está
fazer deputados: não sei se será esse o fim verdadeiro dessa todavia em tal estado de decadencia que apenas fazem
creação; porém noto que, se havia alguma necessidade dessa exame meia duzia de alumnos. Temos tambem os institutos
creação, devia-se esperar que as linhas ferreas, que se agricolas creados nas provincias da Bahia e Pernambuco e no
projectam nessa direcção, quer da Côrte por Minas, quer de Rio de Janeiro, e esses institutos são bem dotados, porém
Pernambuco, quer da Bahia se aproximassem a esses seus resultados são nullos. Tivemos uma escola profissional
desertos, mas antes de lá chegarem essas linhas de de agricultura e artes no Juiz de Fóra, de que nos deu noticia
communicação, esse vehiculo da civilisação, o que vão lá com vantagem o Sr. ministro da agricultura e, creio que de
fazer um presidente, um chefe de policia, thesourarias, 1870 ou 1871; mas ouço dizer que está abandonada. Pois, se
secretarias, etc., etc.? Antes um delegado, um agente policial o governo não alimenta o ensino profissional que se acha
para reprimir ou previnir os crimes. creado e bem dotado entre nós, como é que nos falla em
O SR. ZACARIAS: – Ou missionarios. ensino profissional e o nobre ministro do Imperio nos diz que
O SR. POMPEU: – Ou missionarios, se ha quer creal-o em todos os municipios? São promessas vãs.
necessidade de construir templos e fazer cathechese. Estradas de ferro e linhas telegrapicas. Com relação a
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – E’ antes necessario estrada de ferro e telegraphos, a falla do throno, e não sei se
fundir as provincias do que dividil-as. A Bahia, por exemplo, os relatorios, porque não tive tempo de ler os da ultima
devia ser maior do que é. sessão, nem mesmo creio que já se distribuisse o da
O SR. POMPEU: – Diz um outro topico da falla do agricultura, parece-me que só se tem feito contratos para a
trono: «Os interesses economicos do Brasil que cada dia mais exploração das tres linhas ferreas do Rio de Janeiro, Bahia e
avultam, exigem para maior e mais rapido desenvolvimento a Pernambuco, entretanto; Sr. presidente, não é a continuação
acquisição de braços uteis, ensino profissional, estradas e dessas estradas a maior urgencia, que a respeito de vias de
linhas-telegraphicas.» communicação e transporte sente o paiz. E’ negocio passado,
Pergunto ao gabinete, que fez a Corôa lembrar esses é questão vencida, de que não vale a pena fallar, nem fallarei,
serviços aliás tão uteis, em que concordo e applaudo, o que é mas era muito contestavel, ao menos a grande utilidade da
feito da immigração, que se promove ha tanto tempo para o prolongação da via ferrea de Minas até o S. Francisco.
paiz? Entretanto não estão nesta ordem outras estradas é
O SR. ZACARIAS: – Estão voltando para a Inglaterra. que o governo devia ter em vista desenvolver nas provincias.
O SR. POMPEU: – Observo que se tem levantado Minha provincia precisa mais do que nenhuma outra
dentro e fóra do paiz um clamor immenso a respeito do modo de uma estrada de ferro que faça communicar com o centro
como teem sido tratados alguns immigrantes. Creio que tem chamado Cariri, que é um oasis, por assim dizer, collocado no
havido exageração nesse clamor, mas o facto subsiste, isto é, centro dos sertões das provincias do Ceará, Parahyba,
tem-se accusado fortemente o tratamento recebido por Pernambuco e Piauhy, territorio immenso cercado de
immigrantes inglezes. Ainda hoje vi que o Jornal do serranias e cortado de ribeiros; é o solo mais fertil e
Commercio nos dá noticia de que o jornal inglez, o Times, abundante talvez do Brasil e tem população crescida. Alli os
occupou-se desse máo tratamento, que penso ser uma cereaes e todos os generos de agricultura se desenvolvem
exageração da parte do estrangeiro; mas com effeito houve extraordinariamente, porém só para o consumo e exportação
alguma cousa, e os immigrantes voltaram; é assim que se dos districtos visinhos.
quer promover a acquisição de braços? E’ notavel que o Não se póde fazer uma carga de assucar, algodão ou
governo se empenhasse tanto em fazer passar a lei de café do centro do Ceará no Cariri para o littoral, a cento e
emancipação como uma necessidade urgente, e não cuidasse tantas leguas, porque as despezas de conducção absorvem a
immediatamente dos meios de supprir a deficiencia que os importancia ou valor do objecto. Por conseguinte, se ha
braços retirados pela emancipação iam causar á industria do necessidade urgente em nosso paiz a respeito de estrada de
paiz. ferro hoje, é a de abrir uma via de communicação do littoral
Não censuro o nobre ministro pelo seu zelo a respeito com o centro do Ceará, com o Cariri.
da emancipação, antes louvo-o; censuro-o, porém, por ter Parece-me mesmo que seria de muito maior interesse
depois descansado, em vez de tomar providencias no sentido para o desenvolvimento da riqueza publica do paiz essa
de supprir a deficiencia que a emancipação ia causar á nossa communicação do valle do Cariri com o littoral do que a
industria, maxime agricola. prolongação da estrada de ferro da Bahia, de certa altura em
E tambem observo que nem uma palavra, quer na falla diante, até o rio S. Francisco, ou de Pernambuco, e mesmo do
do throno, quer nos relatorios si diz a respeito dos effeitos da Rio de Janeiro, ao S. Francisco. Não quero
lei de emancipação. Valia a pena dar noticia da
276 Sessão em 29 de Maio

dizer que esse rio não seja para o futuro um vehiculo de provincial, querem a garantia do Estado. Posto que os
grandes interesses, mas presentemente o mesmo para a recursos economicos e financeiros da minha provincia (ao
primeira e talvez segunda geração não promette grande menos até sahir do Ceará no fim do anno passado) estejam
utilidade. em boas condições, porque a provincia não devia um real até
O SR. TEIXEIRA JUNIOR: – E a do Rio Grande do então, e, por consequencia, deve inspirar sufficiente credito a
Sul? sua garantia ao premio do capital necessario para essa
O SR. POMPEU: – Não contesto, não tenho bastante empreza da via ferrea, que já existe em construcção, não é
informação do commercio e producção dessa provincia; mas aceita no estrangeiro; e precisa-se de capitaes, porque o
penso que é tambem de grande importancia. Ceará, comquanto disponha de recursos naturaes e de meios
Digo, porém, que com relação ao Ceará uma via de augmentar a riqueza publica, comtudo não tem capitaes; o
ferrea que pozesse em contacto o riquissimo valle do Cariri Norte todo tambem os não tem; creio que disponiveis, só os
com o littoral traria um grande incremento á riqueza publica. ha aqui e talvez para o Sul. Por consequencia, tendo
A população de Cariri é bastante crescida, já abundam alli necessidade de capitaes do estrangeiro, ou da praça do Rio
todos os generos de agricultura, mas, como disse, o de Janeiro, que não confiam em garantia provincial, é preciso
transporte é tão despendioso e demorado que absorve o que o Estado caucione essa garantia, para que haja
valor da mercadoria. Para alli correm dos sertões visinhos de facilidade em levantar os capitaes precisos ou por acções da
Pernambuco, Parahyba, Piauhy, até do rio S. Francisco a empreza ou por emprestimo, a fim de que as obras não
comprarem genero agricola. parem. Nessas garantias, repito, o governo póde ficar a
Na outra camara iniciaram-se medidas em artigos coberto de qualquer perigo se tiver cautela bastante para
additivos ao orçamento, tendentes a favorecer diversos evitar imprudencia da parte dos administradores das
serviços provinciaes. Um delles era a construcção do porto provincias.
do Ceará, para o qual creio que se voltavam 300:000$, mas O nobre senador pelo Maranhão, que me fica em
esse artigo foi separado do orçamento. frente, por duas vezes chamou a attenção do governo para o
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Não era matadouro. desgraçado acontecimento que teve logar em Pernambuco
O SR. POMPEU: – Havia passado tambem uma com relação á questão religiosa; duas vezes S. Ex. levantou-
autorisação ao governo para prestar a garantia do Estado de se e com sua palavra autorisada, com convicção profunda
7% ou caucionar as garantias que as assembléas provinciaes que se lhe reconhece, pedia ao governo informações sobre
tenham dado a emprezas de estradas de ferro das aquelles acontecimentos do dia 14 deste mez no collegio dos
provincias. Tambem penso que esta emenda foi separada. padres jesuitas e typographia da União.
Entretanto, senhores, era uma medida consoante com Não digo, como escapou ao honrado collega, que o
o texto da falla do throno, que recommenda o prolongamento sangue das victimas daquelle successo salpicou o fardão do
de diversas vias ferreas e outras emprezas desta ordem. Já presidente da provincia e o do nobre presidente do conselho;
que o governo não se propõe a fazer por si ou a garantir acho a expressão demasiada exagerada. Quando ouvi o
directamente as emprezas que tentam fazer essas obras nas nobre senador fallar desta maneira, lembrei-me de uma
provincias, porque ao menos não consente que passe a expressão semelhante, que causou dolorosa impressão em
garantia do Estado, caucionando as garantias que as França, por occasião da morte do duque de Berry
provincias dão ao capital das emprezas particulares que Chateaubriand disse então na camara alta, de que era
nellas se iniciam? membro, com relação a esse facto, accusando a M. de
Poderia vir dahi um abuso, concordo; mas, como esse Villele, que então era presidente do conselho de Luiz XVIII,
facto não se poderia dar sem autorisação do presidente da como hoje o Sr. visconde do Rio Branco é aqui, que o
provincia, o governo tem em suas mãos os meios de obstar o ministro havia escorregado no sangue do principe. Essa
abuso. Basta recommendar a seus delegados que não accusação exagerada no parlamento francez por um dos
sanccionem leis dessa ordem, sem estarem bem inteirados homens mais notaveis da França causou uma sensação
de suas vantagens; ou, quando não confiassem inteiramente dolorosa e uma reprovação geral, porque, de facto, M. de
nos presidentes, ordenasse que mandassem directamente ao Villele não tinha sido directa nem indirectamente causa
governo esses projectos, para que este examinasse e désse daquelle attentado, que foi praticado no theatro contra o
se lhe parecesse, o consentimento da garantia ou auxilio herdeiro do throno da dynastia legitima, como tambem creio
pedido. Eis aqui um meio de evitar qualquer abuso ou que o nobre presidente do conselho e mesmo o presidente
facilidade na concessão dessa garantia, que podesse de Pernambuco não teem culpa nessa desgraçada
empenhar imprudentemente o thesouro publico. Deste modo occurrencia até o ponto de suppor-se que sejam
porque se realisaria o voto que faz a Corôa pelo responsaveis pelo sangue que se derramou.
desenvolvimento das vias de communicação no paiz. Não chegando até ahi a minha censura, não posso,
Eu reclamo esta providencia e espero que o nobre todavia, deixar de dizer que a procrastinação que tem havido
presidente do conselho me attenderá. Creio que o artigo na decisão da questão, de alguma maneira concorre para
additivo ha de se converter em projecto na outra camara, e o essa excitação dos animos e excessos criminosos que todos
nobre presidente do conselho não se opporá a essa medida, condemnam. Até ahi levo a minha censura ao governo;
porque é justa, é reclamada por todas as provincias. O perigo quanto ás consequencias desastrosas que teem havido, só
que póde-se receiar com ella evita se pela cautela que poderei avaliar depois da informação dos successos de que
lembro. Na minha provincia, como em algumas outras, ha ainda carecemos.
uma empreza modesta de estrada de ferro, garantida pela Mas não posso deixar de notar que, havendo o nobre
provincia; mas V. Ex. sabe que os capitalistas, principalmente senador por duas vezes insistido em pedir ao governo a sua
estrangeiros, que não conhecem o Brasil, que não conhecem opinião a respeito desses acontecimentos, não se levantasse
as provincias, não sabem o que é a autonomia provincial, não para a dar nem o nobre ministro da justiça, que assistia á
acreditam na garantia
Sessão em 29 de Maio 277

discussão ao lado de V. Ex., Sr. presidente, nem o nobre proposito), que combine com o senado ou com o governo, se
presidente do conselho. fôr possivel, de modo a modificar este trabalho
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Quem respondeu foi excessivamente prolongado.
o oitavo ministro. O SR. ZACARIAS: – Isto foi idéa do governo para nos
O SR. POMPEU: – Espero que o nobre presidente do cansar em 1871.
conselho tome parte na discussão desse objecto. E’ para O SR. POMPEU: – Das 4 horas em diante...
sentir que na falla do throno não se diga uma palavra a O SR. ZACARIAS: – Tive depois o gosto de ouvir o Sr.
respeito da questão religiosa, ao passo que se falla em linhas visconde de Itaborahy queixar-se.
telegraphicas de uma empreza particular, caminhos de ferro, O SR. POMPEU: – ...os Srs. senadores, como eu,
provincia novas de que ninguem tem noticia. fracos e velhos, não digo que todos o sejam, não podem
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do continuar aqui discutindo, senão fazendo grande sacrificio.
Conselho): – V. Ex. foi o primeiro a dar o exemplo do silencio. O SR. ZACARIAS: – Apoiado.
O SR. POMPEU: – E’ a segunda vez que fallo nesta O SR. POMPEU: – Termino, pois, aqui as minhas
materia, e sempre com toda a prudencia e moderação, porém observações por hoje. (Muito bem).
não sou governo. Demais, poderia deixar de fallar, porque não O SR. PRESIDENTE: – Peço licença ao nobre
tenho obrigação de dar noticia de tão grave questão, que agita senador para dizer que me declaro o mais velho desta casa;
os animos, perturba a paz das consciencias e até ameaça a entretanto, não tenho dado parte de fraco e espero em Deus
ordem publica. Mas o governo tinha obrigação de expor ao que não hei de dar.
paiz esse negocio e de solicitar da assembléa medidas, se por O SR. POMPEU: – Nem todos teem a graça do céo,
ventura precisa, para solver a questão de modo a pôr termo a que recebeu V. Ex.
exacerbação dos espiritos. Meu silencio, se por ventura se O SR. PRESIDENTE: – Continúa a discussão.
désse, não podia servir de norma para V. Ex., a quem corre O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
obrigação de pronunciar-se. Conselho): – Uma vez que o nobre senador que acaba de
Noto, Sr. presidente, que apenas são 4 1/2 e o senado fallar, notando que são longas as horas da nossa tarefa diaria,
já se acha deserto... teve tanta falta de compaixão para comigo, fallando desde as
O SR. ZACARIAS: – E’ sempre assim. 3 horas até ás 4 1/2, ao passo que se lamentava das poucas
O SR. POMPEU: – Este facto constantemente repetido forças dos anciãos do senado e do immenso trabalho que está
aqui, quando se discutem propostas do governo, orçamento e pesando sobre todos nós, não tenho remedio senão preencher
o voto de graças, devia convencer o senado, e a mesa o dever de tomar a palavra em hora tão adiantada. Direi muito
especialmente, de que a duração da sessão por cinco horas é pouco, para não abusar da paciencia dos nobres senadores
excessiva. que me ouvem, reservando para outra occasião o que agora
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do não posso expor ao senado.
Conselho): – Está reconhecido que é necessario. Nunca, Sr. presidente, eu disse que a discussão do
O SR. POMPEU: – Nem os amigos dos ministros ficam voto de graças fosse inutil em toda e qualquer conjunctura; se
para acompanhal-os, quando se retiram. alguma vez alludi aos estylos inglezes, foi em sentido diverso
O SR. ZACARIAS: – O outro dia a opposição levou o da opinião que o nobre senador me attribuiu. Na Inglaterra
Sr. ministro da justiça á porta; senão, não sabia. tambem se discute a mensagem da Corôa, quando ha materia
O SR. POMPEU: – Dos tres membros da commissão importante que chame a attenção do parlamento, então o
da resposta á falla do throno só está presente o nobre senador debate versa sobre um ou outro ponto dos que merecem
pelo Rio de Janeiro. especial consideração no momento, e encerra-se. Quando,
O SR. ZACARIAS: – Cousa que nunca faz. porém, não ha motivo para que a mensagem da Corôa passe
O SR. TEIXEIRA JUNIOR: – Quando o nobre senador por um debate mais ou menos longo, mais ou menos
fallou sobre a questão religiosa, outro dia estive aqui até ás 5 animado, entende-se que é acto de cortezia votar
1/2 horas. immediatamente, e passar aos assumptos indicados por
O SR. POMPEU: – O que sei, Sr. presidente, é que o interesses positivos daquella sociedade.
trabalho de cinco horas, como temos tido todos esses dias, No caso actual, Sr. presidente, não seria para admirar
não póde continuar; pelo menos não é para mim; talvez seja que o senado votasse o projecto de resposta á falla do throno
para os moços e fortes, como o nobre presidente do sem debate...
conselho... O SR. POMPEU: – Por acclamação.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
Conselho): – Quem falla como V. Ex., não está velho, nem Conselho): – ...porque este projecto não offerece duvidas,
fraco. não suscita questões que não tenham antes, desde Dezembro
O SR. POMPEU: – ...para aquelles que teem a do anno passado, examinadas e discutidas, cujo exame não
robustez de S. Ex.; mas quem fôr como eu não póde resistir a possa ser continuado por occasião do projecto do orçamento,
um trabalho desta ordem. na discussão da fixação de forças de mar e terra, e quando
Por isto, Sr. presidente, peço a V. Ex. (e se isto não vierem as reformas politicas a que tanto se referem os nobres
cabe nesta discussão, ao menos não é de todo fóra de senadores...
278 Sessão em 29 de Maio

O SR. POMPEU: – V. Ex. impugnou a discussão guarda nacional, e com mais empenho no da reforma
geral por occasião das propostas de fixação de forças. eleitoral. O ministerio não poderia deixar de corresponder
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente a este convite.
do Conselho): – Não impugnei. O SR. ZACARIAS: – Menos o Sr. ministro da
O SR. ZACARIAS: – Disse que só se admittia na agricultura, que votou contra o encerramento.
camara... O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Conselho): – E’ outra cousa.
do Conselho): – ...a discussão de politica geral. Pareceu- O SR. ZACARIAS: – Não é outra cousa, não.
me que eram esses os estylos do senado; mas desde que O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Foi innocencia.
o nobre presidente declarou que nesta casa tambem ha O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
direito de discutir politica geral, quando se trata das forças do Conselho): – Um illustre representante da fracção
de mar e terra, não o contestei. liberal disse por sua vez que seus amigos abriam mão
O SR. PRESIDENTE: – Eu disse que se podia daquella discussão, porque deviam economisar o tempo
discutir com relação ao ministerio respectivo. para outras que estavam no desejo geral.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente Consequentemente, se a discussão do segundo
do Conselho): – E eu não o neguei. voto de graças não teve na outra camara o
(Ha um aparte). desenvolvimento que tivera o primeiro, não foi culpa do
De que sou presentemente accusado? De ministerio; e creio que com isto não perdeu a causa
restringir ou ampliar o debate? publica, porque ha mais de quatro mezes que estamos
O SR. ZACARIAS: – V. Ex. quer dispensal-o no discutindo e rara será a questão que não tenha sido
voto de graças, dizendo que podemos discutir depois aventada e muito delucidada.
politica geral. O nobre senador pelo Ceará não nos disse hoje
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente novidade alguma, pisou sempre sobre o mesmo terreno;
do Conselho): – Sim, visto que o voto de graças não toca nem era possivel que o nobre senador pretendesse
em questões que não tenham sido já muito debatidas, e descobrir colheita nova, por mais que restolhasse, tendo
que não possam ser nas differentes occasiões que ainda sido deligentissimo e inexoravel nos quatro mezes de
se offerecem ao senado. sessão já decorridos.
O SR. ZACARIAS: – Citou as forças de mar e S. Ex. apenas notou defeitos de forma no discurso
terra. da corôa, algumas proposições inexactas, e, além desses
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente senões, a menção de factos que não deviam ahi figurar. A
do Conselho): – Nessas não são permittidas todas as primeira critica do nobre senador recahiu sobre o primeiro
questões, mas são permittidas muitas, como, por periodo desse documento; S. Ex. nos disse com ar de
exemplo, a do porto do Ceará, que póde ser tratada por convicção inabalavel: «A epidemia que flagella a
occasião do ministerio da agricultura, e assim varios população desta Corte, e que não está ainda de toda
outros assumptos com que o nobre senador occupou hoje extincta, foi das mais mortiferas, ao contrario do que
a attenção do senado. affirmou o governo».
Mas, Sr. presidente, eu não sou inimigo da O SR. POMPEU: – Isso já foi aqui provado com
discussão; o pouco que tenho ganho no meu paiz eu o algarismos.
devo á palavra e á penna, ainda que instrumentos muito O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
toscos os de que disponho (não apoiados)... do Conselho): – Sr. presidente, esta questão foi
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Isto é modestia. suscitada pelo nobre senador Sr. conselheiro Zacarias,
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente quando se tratava do orçamento do Imperio, e o meu
do Conselho): – ...mas reconheço que entre nós falla-se nobre collega quiz até com algarismo demonstrar ao
de mais, perde-se muito tempo. nobre senador que sua proposição não era exacta...
O SR. SILVEIRA DA MOTTA: – Ainda hei de O SR. ZACARIAS: – Mas é exactissima.
ouvil-o queixar-se de se fallar de menos. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Conselho): – ...que a epidemia que começou em
do Conselho): – Póde ser, porque ha de tudo, ás vezes Dezembro do anno passado não foi tão intensa como a de
falla-se de mais – outras de menos; provavelmente, terei 1850.
peccado por fallar de menos, mas não assim os nobres O SR. ZACARIAS: – Foi.
senadores que reclamam tanto pela largueza dos O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
debates. do Conselho): – Trata-se da apreciação de um facto, é a
O SR. ZACARIAS: – A opposição está no seu estatistica mortuaria que deve dizer-nos a verdade sobre
officio. esta controversia.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente O SR. POMPEU: – Apoiado, ella mesmo o diz.
do Conselho): – Na camara dos deputados, Sr. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente
presidente, não pedi que se votasse silenciosamente o do Conselho): – A mortandade foi nesta occasião maior
voto de graças; foi um illustre representante da opposição do que em 1850? Affirmo que não.
naquella camara que se levantou para dizer ao ministerio O SR. ZACARIAS: – A de todo o anno de 1850
que prescindia daquelle debate afim de esperar-nos no comparado com a dos cinco mezes deste anno é quasi
terreno da discussão da reforma da igual, e o anno não está acabado.
Sessão em 29 de Maio 279

O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do ella casou em Buenos-Ayres, e em outros paizes, verão que
Conselho): – E’ preciso ver os algarismos e examinar a sua muito devemos no ultimo periodo á protecção divina, todo o
significação. senado convirá comigo em que o nobre senador pelo Ceará
Sr. presidente, a falla do throno não pretendeu dizer não póde censurar-nos, porque não usamos de cores
que a epidemia não fosse um grande mal; mas que não foi sombrias para apresentar o estado do paiz como S. Ex. tem
das mais mortiferas, creio que o disse com propriedade e imaginado que é o da sua provincia.
exactidão. Note o senado que a falla do trono, enunciando O senado reconhecerá que os nobres senadores,
essa proposição, não se referia sómente aos effeitos da aliás tão bons catholicos, que não cessam de invocar a
epidemia no ultimo periodo comparado com os da época questão religiosa no intuito de fazer carga áquelles que não
anterior no Brasil; referia-se tambem aos estragos que a podem aceitar o nobre senador pela provincia do Maranhão
mesma causa tem produzido em outros paizes. Acaso a febre como oraculo da verdadeira doutrina christã...
amarella foi tão assoladora entre nós como na cidade de O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Nunca tive taes
Buenos-Ayres em 1871? Seguramente não. pretenções.
Logo, porque mostram os nobres senadores tanto O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
empenho, Sr. presidente, em aggravar os effeitos dessa Conselho): – ...em suas relações com o espirito da
calamidade entre nós, ou levam tão a mal que a falla do sociedade moderna; o senado ha de reconhecer, digo, que
throno não usasse de expressões mais carregadas, não os nobres senadores mostram-se desta vez menos catholicos
dissesse que a ultima epidemia foi uma das mais mortiferas do que eu...
de que haja noticia? O SR. ZACARIAS: – Isso nunca é possivel.
Sr. presidente, ha muito tempo noto o pessimismo O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
dos nobres senadores, especialmente o do nobre senador Conselho): – ...negando quanto devemos á Divina.
pela provincia do Ceará, que se está tornando extremamente Providencia por não ter sido esse flagello tão cruel como os
amigo do estylo de Shakespeare, não vendo por toda parte nobres senadores querem figural-o, a despeito da estatistica,
senão scenas de horror. Assim como S. Ex. nos tem aqui a despeito do sentimento geral desta população, que
pintado quadros sombrios a aterradores sobre o estado da presenciou os factos; o senado não pódera deixar de dizer
provincia do Ceará, quizera tambem que a falla do throno comsigo que a epidemia de 1873 não foi das mais
descrevesse a capital do Imperio em situação tristissima!... assoladoras, ou recordemos os casos anteriores occorridos
O SR. POMPEU: – Queria que dissesse sómente a no Brasil, ou vamos, para nosso consolo, comparal-a com os
verdade. estragos soffridos por outros povos.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Sr. presidente, nesse mesmo periodo da falla do
Conselho): – ...quando, Sr. presidente, o facto é, felizmente, throno o nobre senador encontrou um defeito de redacção, e
muito differente, quando é certo que sob a acção dessa tal, que creio sem exemplo em nossos annaes
calamidade estiveram as camaras reunidas, fallando-se até parlamentares. Tal censura, critica gramatical como a que fez
ás cinco horas da tarde e ás vezes além dessa hora! Como nobre senador, só é propria da malignidade de uma folha
dizer-se que a epidemia mostrou-se tão calamitosa, tão opposicionista, mas não do discurso de um senador do
destruidora como tem sido em outros paizes, se nossas Imperio, de um varão tão illustrado como S. Ex. Em outro
circunstancias foram taes quaes acabo de descrevel-as? A tempo, Sr. presidente, não se ouvião na discussão do voto de
falla do throno não exagerou, mas tambem não dissimulou a graças censuras dessa natureza, censuras que não podem
verdade, enunciou uma proposição exacta. resistir a menor analyse, e que são puramente escolares.
O SR. ZACARIAS: – Inexacta. O SR. POMPEU: – Eu não censurei, disse que não
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do entendi.
Conselho): – A epidemia que nos flagelou, e que já está O SR. ZACARIAS: – Penso que a camara tambem
quasi extincta, não foi das mais mortiferas. não entendeu.
O SR. ZACARIAS: – Não está extincta. O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do Conselho): – A falla do throno exprime-se nestes termos:
Conselho): – Póde-se dizer extincta, porque tres ou quatro «Graças á Divina Providencia a epidemia que acometteu
casos não constituem epidemia; e com essa sua apreciação algumas das nossas cidades maritimas não foi das mais
o nobre senador poderá dizer que estamos em permanente mortiferas, e vae desapparecendo em quasi todas com a
crise de epidemias de differentes especies. entrada da nova estação. Para esse resultado muito
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Da concorreu a caridade da população nacional e estrangeira.»
phtisica pulmonar, por exemplo. Examinemos grammaticalmente, já que assim o
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do querem, este periodo; suppunhamos que, em vez de sermos
Conselho): – Quando, Sr. presidente, a epidemia está quasi chamados a discutir os grandes interesses deste Imperio, nos
extincta; quando, se os nobres senadores bem compararem temos convertido em conferencia de grammaticos: gramatici
os algarismos de 1873 com os de 1850, o resultado ha de certant.
convencel-os de que não teem razão, de que a Divina O SR. ZACARIAS: – Perfeito grammatico deve ser
Providencia nos protegeu mais nesta occasião do que quem redige uma peça dessas, e quem não sabe grammatica
naquella quadra; quando, Sr. presidente, se os nobres não sabe nada.
senadores compararem os estragos dessa epidemia no Brasil O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente do
aos que Conselho): – Vamos ver se os grammaticos que censuram
teem razão ou torturam a grammatica pelo praser de
censurar.
O SR. POMPEU: – Não censurei, pedi explicação.
280 Sessão em 29 de Maio

O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente da camara dos Srs. deputados sobre a pretenção do
do Conselho): – Ha na primeira parte deste paragrapho estudante João Fernandes de Almeida.
duas proposições; a epidemia não foi das mais mortiferas; Dita da proposição da mesma camara sobre a
a epidemia vae já desaparecendo com a entrada da nova pretenção do tenente reformado José lgnacio Ribeiro
estação. A ultima parte do periodo diz: Para esse Roma.
resultado muito concorreu, etc. De que se falla aqui? O 2ª dita do projecto de lei do orçamento.
não terem sido dos maiores os estragos da epidemia, e a 2ª parte. – Discussão da resposta á falla do throno.
curta duração do flagello, que vae quasi desapparecendo. Levantou-se a sessão ás 5 e 5 minutos da tarde.
Isto é evidente.
O SR. POMPEU: – A commissão não entendeu ACTA EM 30 DE MAIO DE 1873.
assim.
O SR. ZACARIAS: – Não entendeu e por isso PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ.
ladeou.
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente Ao meio-dia fez-se a chamada e acharam-se
do Conselho): – Para que a intensidade não fosse tão presentes 29 Srs. senadores, a saber: visconde de
grande como era de receiar, e como o foi em outras Abaete, Almeida e Albuquerque, barão de Mamanguape,
partes, e para que declinasse tão rapidamente, muito Dias de Carvalho, Figueira de Mello, barão de Cotegipe,
concorreu, diz a falla do throno, a caridade da população Jobim, marquez de Sapucahy, barão de Camargos,
nacional e estrangeira. Esta é a intelligencia litteral e Nabuco, duque de Caxias, Barros Barreto, Antão, conde
grammatical do periodo, mas os nobres senadores, que de Baependy, Uchoa Cavalcanti, Teixeira Junior, visconde
não andam tão tristes como inculcam pelos males que de Camaragibe, visconde de Jaguary, Pompeu,
soffre este paiz... Junqueira, Godoy, visconde de Muritiba, Zacarias,
O SR. ZACARIAS: – Olhe que só fallou um. visconde de Souza Franco, Cunha Figueiredo, Mendes de
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente Almeida, barão de Laguna, visconde de Caravellas e
do Conselho): – ...quizeram, Sr. presidente, gracejar, Leitão da Cunha.
permitta-se-me a expressão, e então perguntaram: «Qual Deixaram de comparecer com causa participada
é o resultado de que falla o discurso da corôa, para o qual os Srs. Diniz, Nunes Gonçalves, Fernandes Braga,
concorresse a caridade popular? Será o começo da nova Chichorro, barão de Maroim, barão de Pirapama barão do
estação? Rio Grande, Vieira da Silva, Jaguaribe, Firmino, F.
O SR. POMPEU: – Foi uma duvida que tive. Octaviano, Paula Pessoa, Silveira Lobo, Mendes dos
O SR. ZACARIAS: – E' duvida de um Santos, Paes de Mendonça, Ribeiro da Luz, Fernandes
opposicionista, e S. Ex. usa do plural. da Cunha, Paranaguá, Saraiva, Silveira da Motta,
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente marquez de S. Vicente, visconde do Bom Retiro, visconde
do Conselho): – Sr. presidente, é tão subtil a critica dos de Inhomirim, Sinimbú, visconde de Nitherohy e visconde
nobres senadores, que difficilmente póde ser do Rio Branco.
comprehendida. As duas idéas capitaes do paragrapho Deixaram de comparecer sem causa participada
citado são as que fielmente enunciei: a peste não foi das os Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de
mais mortiferas, e está quasi extincta, ou durou pouco. Suassuna.
Este feliz sucesso se deve, em primeiro logar, ao O Sr. presidente declarou que não podia haver
Omnipotente, em segundo logar á philantropia do povo sessão por falta de quorum.
brasileiro, que segue a maxima do Divino Mestre: ajuda- O Sr. 2º Secretario leu o seguinte
te, que eu te ajudarei.
O SR. MENDES DE ALMEIDA: – Pensei que V. PARECER DA COMMISSÃO DE FAZENDA.
Ex. referia-se ao supremo architecto (riso.)
O SR. VISCONDE DO RIO BRANCO (Presidente Isenção de direitos.
do Conselho): – Portanto, Sr. presidente, a critica dos
nobres senadores pode ser muito graciosa, mas não tem A commissão de fazenda do senado cumpre o
fundamento não phrases do discurso da corôa, e apenas dever de dar parecer sobre o projecto vindo da camara
serve para distrahir-nos dos lugubres valicinios com que dos Srs. deputados isentando de direitos as diversas
não cessam de assustar-nos. Ao ouvir S. S. Exs., peças e material importados da Europa para o
especialmente ao illustre representante pela provincia do monumento que em commemoração do assignalado feito
Ceará, o Brasil caminha para dias muito tristes; S. S. Exs. da esquadra brasileira em 1865 de pretende erigir na
estão sempre dominados por apprehensões as mais praça Riachuelo da cidade da Bahia.
sinistras; mas, Sr. presidente, quem tem dessas Sendo muito digno de animação o meio de
lembranças não está realmente muito preocupado, não eternisar, ou pelo menos ter sempre presentes á memoria
receia muito pelo futuro da nossa patria. dos povos actos de assignalada bravura e como este de
Por consequencia, eu devo agradecer ao nobre que se trata, tão fertil de consequencias favoraveis ao
senador pelo Ceará a critica que fez áquellas palavras da triumpho na luta, em que a nação se empenhou, a pedida
falla do throno, e a animação que recebo deste facto é tal, isenção dos direitos é justificada e tanto mais quanto nada
que espero poder continuar minha resposta com mais perde o thesouro na isenção de direitos de material para
vigor em outra occasião. A hora está dada, por hoje paro obras, que não seriam levadas a effeito sem ella.
aqui. A commissão julga, porém, necessario acrescentar
Ficou adiada a discussão pela hora. ao projecto a clasula de fiscalisação pelo governo que tem
O Sr. presidente deu a ordem do dia para 30: sido inserta em iguaes projectos de isenção de direitos.
1ª parte até ás 3 horas. – 3ª discussão da E', pois, seu parecer que se approve o projecto com a
proposição seguinte
Sessão em 31 de Maio 281

Emenda additiva. quem sobre ellas fizesse observações, foram dadas por
approvada.
«Fixando o governo préviamente a quantidade e O Sr. 1º Secretario leu o seguinte
qualidade dos objectos que houverem de ser despachados
com tal isenção.» EXPEDIENTE.
Sala das sessões da commissão, 29 de Maio de 1873.
– Visconde de Souza Franco. – Visconde de Inhomirim. – J.J. Officio, de 30 do corrente, do 1º secretario da camara
Teixeira Junior. dos Srs. deputados, communicando que por officio do
Ficou sobre a mesa para ser tomado em consideração ministerio do Imperio, de 26 do corrente, constara á mesma
com a proposição a que se refere. camara haver sido sanccionada a resolução da assembléa
Em seguida o Sr. presidente deu a ordem do dia para geral a qual declara que a pensão concedida a D. Bonifacia
31: Antonia de Miranda deve ser repartida entre ella e sua filha. –
1ª parte, até ás 3 horas. – 3ª discussão da proposição Ficou o senado inteirado.
da camara dos deputados sobre a pretenção do estudante O Sr. 2º secretario leu o seguinte
João Fernandes de Almeida.
Dita da proposição da mesma camara sobre a PARECER DA COMMISSÃO DE MARINHA E GUERRA.
pretenção do tenente reformado José Ignacio Ribeiro Roma.
2ª dita do projecto de lei do orçamento no art. 6º Meio soldo.
relativo ao ministerio da guerra.
Discussão da resposta á falla do throno. Foi presente á commissão de marinha e guerra a
2ª parte, ás 3 horas. – Requerimentos adiados. resolução vinda da camara dos deputados, com data de 26 de
Maio do corrente anno, na qual se declara que as disposições
21ª SESSÃO EM 31 DE MAIO DE 1873. da lei de 6 de Novembro de 1827, relativas á concessão de
meio soldo, são extensivas ás viuvas, filhas e mães dos
PRESIDENCIA DO SR. VISCONDE DE ABAETÉ. officiaes do exercito que fallecerem aos acampamentos,
durante as operações de guerra, em consequencia de
Summario. – Expediente. – Parecer da commissão de molestia ahi adquirida e comprovada por facultativos do
marinha e guerra. – Ordem do Dia: – Matricula de estudante. – mesmo exercito, declarando mais que essa resolução
Observações dos Srs. barão de Cotegipe e Ribeiro da Luz – aproveita a D. Rita de Cassia Alcibiades, para lhe ser contado
Pretenção de J. I. Ribeiro Roma. – Orçamento da guerra. – o meio soldo, a que tem direito, como mãe do capitão José
Discursos dos Srs. visconde de Muritiba, Junqueira e Pompeu. Alcibiades Carneiro desde a data do seu fallecimento.
– Representações contra os bispos de Pernambuco e Pará. – Constando dos documentos que acompanharam a
Estatistica criminal. – Recursos á Corôa. – Discurso do Sr. petição da viuva mãe do capitão Alcibiades, que elle falleceu
Mendes de Almeida. no dia 18 de Julho de 1869, no hospital ambulante que
acompanhava o exercito em operações na guerra do
Ao meio-dia acharam-se presentes 31 Srs. senadores, Paraguay, de molestia adquirida na campanha, julga a
a saber: visconde de Abaeté, Almeida e Albuquerque, barão commissão que nenhuma duvida póde haver em se pagar á
de Mamanguape, Dias de Carvalho, Figueira de Mello, barão supplicante, D. Rita de Cassia Alcibiades, desde essa data o
de Camargos, Chichorro, Jaguaribe, marquez de Sapucahy, meio soldo de seu filho a que tem incontestavelmente direito,
Pompeu, Paranaguá, Uchôa Cavalcanti, visconde de Muritiba, e por isso é de parecer que entre em discussão a resolução e
duque de Caxias, Junqueira, visconde de Caravellas, Barros seja adoptada.
Barreto, barão da Laguna, barão de Cotegipe, barão do Rio Paço do senado 31 de Maio de 1873. – Duque de
Grande, visconde de Camaragibe, Zacarias, Teixeira Junior, Caxias. – Visconde de Muritiba. – Domingos José Nogueira
visconde de Souza Franco, Paes de Mendonça, visconde do Jaguaribe.
Nitherohy, Ribeiro da Luz, Cunha Figueiredo, visconde do Rio Ficou sobre a mesa para ser tomado em consideração
Branco, marquez de S. Vicente e visconde de Inhomirim. com a proposição a que se refere.
Compareceram depois os Srs. visconde do Bom
Retiro, Mendes de Almeida, barão de Pirapama, conde de ORDEM DO DIA.
Baependy e visconde de Jaguary.
Deixaram de comparecer com causa participada os MATRICULA DE ESTUDANTE.
Srs. Leitão da Cunha, Diniz, Nunes Gonçalves, F. Octaviano,
Fernandes Braga, barão de Maroim, Mendes dos Santos, Entrou em 3ª discussão a proposição da camara dos
Firmino, Paula Pessoa, Silveira Lobo, Silveira da Motta, Srs. deputados mencionada no parecer da commissão de
Sinimbú, Antão, Godoy, Fernandes da Cunha, Saraiva, Jobim, marinha e guerra, sobre a pretenção do estudante João
Nabuco e Vieira da Silva. Fernandes de Almeida.
Deixaram de comparecer sem causa participada os O SR. BARÃO DE COTEGIPE: – Parece-me que este
Srs. barão de Antonina, Souza Queiroz e visconde de é o primeiro exemplo que se dá de dispensa do exame de
Suassuna. preparatorios na escola de marinha. Ha poucos dias passou
O Sr. Presidente abriu a sessão. aqui uma resolução mandando que um exame feito na escola
Leram-se as actas de 29 e 30 do corrente, e, não central valesse na de marinha, não obstante ser isto prohibido
havendo pelo regulamento que creou o externato. Já foi um excepção
ao regulamento.
Passou desapercebida esta concessão, aliás eu a teria
impugnado, teria proposto a revogação do artigo em virtude do
qual os exames feitos quer na instrucção publica, quer nas
differentes faculdades são admittidos na escola de marinha.
282 Sessão em 31 de Maio

menos nos dous preparatorios referidos. Agora o caso é mais Volto ainda, Sr. presidente, á promoção do Sr. tenente
grave: concede-se que um, não aspirante, mas paisano que coronel Cardoso, questão sobre que eu suppunha não teria
frequenta a escola de marinha, como tal possa matricular-se que fallar mais nesta casa; parecia-me que era uma questão
no 2º anno da escola, fazendo exame de inglez no fim do finda. Em toda a parte, quando-se agita um assumpto do
anno lectivo. Ora, o regulamento da escola de marinha declara parlamento, os oradores, amigos ou adversarios, fazer ouvir
quaes os casos em que os paisanos podem, depois de feitos suas reflexões pró ou contra, o debate encerra-se, cada um
os estudos, ser incluidos, se não me engano, como aspirantes fórma seu juizo e o publico é quem em ultima instancia profere
a guarda marinha e ha exemplo de que os alumnos paisanos, sua decisão; mas entre nós a discussão renova-se todos os
depois de feitos os estudos respectivos, tenham sido dias sob os mesmos pontos. Força é, portanto, que eu accuda
admittidos como guardas marinha. Mas o caso actual não a essa nova discussão sobre a promoção do Sr. tenente-
comprehende nenhuma destas hypotheses. coronel Cardoso, não pensando, como já disse, ter de fallar
Pedi a palavra, não para me oppôr, mas para provocar mais em semelhante promoção.
explicações que me esclareçam; e como está na casa o O nobre senador que acaba de sentar-se, pareceu-me
illustre Sr. ministro da marinha e elle é o fiscal competente estar dominado de uma idéa capital, e era que o ministro da
destas materias, se S. Ex. se dignar communicar-me a sua guerra havia censurado ao nobre visconde de Muritiba, assim
opinião a respeito da resolução, eu ficaria satisfeito, disposto como ao nobre senador pela provincia do Piauhy, digno
como estou a votar do modo porque S. Ex. entender mais antecessor de S. Ex. Isto, porém, estava muito longe da minha
conveniente. intenção e de minhas palavras.
O SR. RIBEIRO DA LUZ (Ministro da Marinha): – Sr. O senado se recorda de que no correr de toda essa
presidente, o honrado senador pela provincia da Bahia pede a discussão, que occupou uns poucos de dias, não sahiu de
minha opinião a respeito do projecto em discussão. Sr. meus labios uma unica palavra que podesse ser traduzida em
presidente, é uma verdadeira dispensa de lei ter um estudante censura aos dous ministros da guerra dos periodos alludidos
a matricula de aspirante, sem fazer o exame de inglez. Em V. Ex., Sr. presidente, provecto como é na
regra todas estas dispensas me parecem prejudiciaes ao administração, sabe muito bem que, durante o periodo de
ensino publico... duração de um ministerio, pódem dar-se factos que pretiram
O SR. DUQUE DE CAXIAS: – Apoiado. direitos adqueridos por um terceiro, sem que o ministro que
O SR. RIBEIRO DA LUZ (Ministro da Marinha): – ...e está dirigindo a repartição possa ser accusado nem
eu entendo que só se devem conceder dispensas ou no caso levemente; e havia naquella época circumstancias
de prescripção de exame, porque então a habilitação do excepcionaes, reconheço mesmo que havia certa confusão no
estudante está provada e conhecida, ou então de idade; mas modo de fazer as promoções por causa da guerra do
dispensa de um exame quer dizer que o estudante póde Paraguay; era, portanto, muito desculpavel que tivesse
matricular-se sem ter todos os preparatorios exigidos por lei, passado o anno sem que a promoção tivesse sido feita,
ou que tem de passar de um anno para outro sem que importando aliás este facto da administração preterição de um
satisfaça a condição imposta pelo regulamento. direito adquirido por terceiro.
O estudante de que se trata não póde ter a matricula Ora, por essa forma já vê o senado que a
de aspirante sem fazer exame de inglez. Portanto, permittindo- argumentação que se baseara no facto de haver passado um
se que elle tenha esta matricula, ha uma verdadeira dispensa anno e que attribuia ao Sr. tenente-coronel Cardoso o direito
de lei em seu favor. Ora, eu não posso concordar que se de promoção, não podia ser de maneira alguma traduzida
estabeleça semelhante dispensa, porque ella é prejudicial ao como censura ao nobre senador e ao seu digno antecessor.
ensino, desde que não se dá presentemente nenhuma das Mesmo a lei, Sr. presidente, previne esse caso, que
circumstancias que acabei de referir. Bem sei que o senado póde frequentemente dar-se: a lei de promoções determina
tem procedido de modo contrario em relação ás escolas de que quando um official tiver sido preterido, pode usar de seu
medicina e faculdades de direito; mas eu estimaria muito que recurso e ser promovido ao posto a que tinha juz, ficando
não se abrisse este precedente na escola de marinha. aggregado quem o preteriu.
Procedendo-se á votação foi rejeitada a proposição. Por essas reflexões vê o senado que não tive em vista
fazer a menor accusação ao nobre senador, nem pessoa de
PRETENÇÃO DE J. I. RIBEIRO ROMA S. Ex. esteve em litigio em semelhante questão.
O SR. ZACARIAS: – Implicitamente estava; reparação
Seguiu-se em 3ª discussão e foi approvada para ser de injustiça suppõe que for injusto quem não promoveu.
dirigida á sancção imperial a proposição da mesma camara O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Para o
mandando admittir no quadro effectivo do exercito o tenente nobre senador esta circumstancia existia; eis aqui uma latitude
reformado José Ignacio Ribeiro Roma. que determinava uma certa confusão, uma certa dubiedade
nas promoções que se faziam então. A lei que estava
ORÇAMENTO DA GUERRA. estabelecida para tempos ordinarios, tambem podia-se
applicar em tempos de guerra; podia, por isso, haver em uma
Proseguiu a 2ª discussão com as emendas da promoção equivocos da maior importancia.
commissão ao art. 6º do orçamento, relativo ao ministerio da Senhores, volto ainda á questão, porém em termos
guerra. simples; não farei syllogismo nenhum; appello para o bom
O Sr. Visconde de Muritiba pronunciou um discurso senso do senado.
que publicaremos no appendice. De que se trata? Trata-se de verificar se um official, o
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Vou mais antigo da classe, chefe della, deveria ser promovido
responder ao nobre senador que acabou de sentar-se, assim
como ao nobre senador que fallou na ultima sessão.
Sessão em 31 de Maio 283

dentro do anno em que se deu a vaga do posto se trata do direito adquirido por antiguidade, tendo passado
immediatamente superior ao seu. O nobre senador pela Bahia dentro do paiz o anno e dia, para usar desta expressão
diz que de feito em 18 de Janeiro de 1868 deu-se a vaga, pela juridica, pode-se sustentar que havia direito para o Sr.
qual reclamou o Sr. tenente-coronel Cardoso e que no anno tenente-coronel Cardoso; ninguem lhe podera negar a
seguinte, em 20 de Fevereiro de 1869, fez o ministerio da faculdade de pedir e ao governo a competencia de deferir.
guerra uma promoção, referindo se á que foi feita no campo Veja o nobre senador que naquelle periodo, em
pelo Sr. duque de Caxias, que, portanto, pela segunda relação ás promoções feitas no campo, não podia deixar de
promoção feita em campanha pelo Sr. duque de Caxias, haver uma certa confusão. Eu alludi mesmo á promoção
anterior ao dia 18 de Janeiro de 1869, estava cassado confirmada em 20 de Fevereiro de 1869, em que o Sr.
annulado o anno para o qual appella o Sr. tenente-coronel Marques de Sá foi feito tentente coronel quando não havia
Cardoso. vaga, porque a vaga realisou-se em Outubro, quando o nobre
Eis aqui a questão exposta nos termos mais favoraveis senador promoveu o Sr. Resin a coronel. Isto quer dizer que
áquelles que impugnam a promoção do Sr. Cardoso. houve uma duplicata, duplicata explicavel pelas
Mas eu digo, Sr. presidente, argumentando com as circumstancias do momento.
proprias bases que me fornece o nobre senador, que me Agora quer-se dar um effeito retroactivo, de modo que
corroboro na opinião de que o meu acto foi perfeitamente a promoção confirmada em 20 de Fevereiro de 1869, vá
legal, perfeitamente regular. A vaga deu-se em 18 de Janeiro invalidar o direito adquirido por aquelle que esperou o anno
de 1868... inteiro e que o viu ultimar dentro do Imperio, sem que
SR. VISCONDE DE MURITIBA: – Em 30 de Outubro promoção nenhuma se fizesse; só porque houve no Paraguay
de 1868. uma promoção quatro dias antes, dizer-se que elle perdeu o
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Perdôe- direito, e effeito retroactivo que não se póde dar.
me V. Ex.; a vaga pela qual reclama o Sr. Cardoso, segundo O SR. ZACARIAS: – Não é effeito retroactivo; o
os proprios termos expostos, ha pouco por V. Ex., deu-se em general estava autorisado a promover.
18 de Janeiro de 1868. O SR. PARANAGUÁ: – Tanto que o promovido conta
O SR. VISCONDE DE MURITIBA: – Ficou a vaga de sua antiguidade daquella época.
coronel, e não a de tenente coronel. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Disse o
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – nobre senador que eu não examinei bem esta questão. Neste
Exactamente, e a vaga pela qual reclamou o Sr. Cardoso, ponto S. Ex. me fez uma grave injustiça; appellando para a
porque o senado sabe que elle requereu, declarando que, justiça que costumo lhe fazer não devia ter-me irrogado
tendo-se dado uma vaga em 18 de Janeiro de 1868, e, sendo semelhante censura, porque eu examinei bem a questão, e
obrigatoria dentro do anno a promoção, se esta tivesse sido não fui eu só, foram tambem os generaes provectos que
feita até 18 de Janeiro de 1869, ipso facto, o Sr. Cardoso compoem o supremo tribunal de justiça militar que deram seu
devia ter sido promovido, porque era o chefe da classe. parecer em favor do Sr. tenente-coronel Cardoso.
Eis aqui a lealdade com que exponho a questão. Diz o O SR. ZACARIAS: – Em opposição á consulta do
nobre senador que a promoção feita pelo Sr. duque de Caxias conselho de Estado.
e publicada na ordem do dia de 14 de Janeiro de 1869 (estou O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Já vê o
usando dos proprios termos de S. Ex., não se arreceie de que nobre senador que eu examinei detidamente a questão...
me afaste um apice), estava áquem do anno apenas quatro O SR. ZACARIAS: – Não examinou.
dias; é este o argumento a que se soccorreu o nobre senador O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Examinei
para dizer que o anno não estava passado. perfeitamente...
Mas veja o senado que a promoção foi feita quando o O SR. ZACARIAS: – Imperfeitamente.
lapso de tempo devia findar-se dahi a quatro dias, entretanto O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – ...tão
que aqui na Côrte, na séde do governo, ella foi approvada em perfeitamente como o nobre senador é capaz de examinar
20 de Fevereiro. Pergunto: já estava ou não decorrido para o qualquer questão.
individuo que se achava aqui o lapso de tempo legal para se Eu já disse que não fiz arguição alguma; tratei do
considerar o seu direito perfeito? Ninguem dirá que não. facto, do individuo que reclamava; porque o nobre senador,
O SR. ZACARIAS: – Todos dizem que não. naquella occasião, em virtude da guerra, não pôde attender ao
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O nobre Sr. Cardoso, porque esperava promoções, deve o governo
senador para dizer que não, ha de sustentar o systema da cruzar os braços, está inteiramente inhibido de attender a uma
retroactividade nestas disposições para annullar o direito que reclamação que parecer fundada, unicamente porque pode
tivesse sido adquirido por aquelle a quem competia. Ha uma fazer uma censura ao ministro de 1869? Isto é realmente um
grande distincção, para que se possa harmonisar, entre a modo de tolher tudo.
autorisação dada ao general em chefe para promover e os Eu digo e repito, não tive o menor vislumbre de
effeitos da lei ordinaria, que não estavam, nem podiam estar censura a ninguem; é facto de apreciação de direito que
suspensos, quando se tratava de direito de terceiro. Se compete a terceiro. Não se deve deduzir do meu acto esse
tratasse-se de arbitrio do governo, então se podia dizer: não, systema de argumentar; porque o facto se referiu a um certo
não promova dentro do paiz por merecimento, espero as periodo no qual podiam-se dar muitas circumstancia
promoções vindas do campo. Mas quando excepcionaes, segue-se que o governo está inteiramente
tolhido de attender a todo tempo ao direito que lhe fôr provado
e demonstrado? E’ um modo de tolher a acção da justiça,
284 Sessão em 31 de Maio

quando se trata de uma reclamação que parece fundada. todos os nossos corpos á artilheria desta especie,
Por conseguinte, Sr. presidente, sobre esta questão, conservando apenas um regimento de artilheria a cavallo.
quer se considere por esse lado mais desfavoravel pelo qual Precisamos ter alguma artilheria ligeira e é neste sentido que
ella póde ser apresentada, isto é, em relação á promoção feita aceitei a proposta da commissão de marinha e guerra da
depois dos combates gloriosos de Dezembro, ainda assim o camara dos deputados.
senado vê que passou-se mais de um anno, sem que o A respeito da escola militar, tambem em outras vezes
governo imperial tivesse feito promoção, porque a que se fez já tenho apresentado a minha opinião de que é conveniente
no campo veio a ser confirmada um mez e dias depois. elevar aquella escola a um certo gráo de modo que ella possa
O SR. PARANAGUÁ: – Não podia deixar de ser funccionar como uma academia completa, com todos os
confirmada, foi feita com autorisação. conhecimentos de que necessitam os officiaes do exercito,
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Nem o que se destinam a differentes classes scientificas e não
nego; não estou dizendo que não podia ser confirmada no estejam á mercê de passarem para a escola central, onde
mesmo dia; o que estou demonstrando é que pela perdem os habitos de disciplina, que tem sido mais uma
circumstancia excepcional daquella época davam-se esses escola civil do que militar.
factos, mas que elles não tem o poder de invalidar direitos de Posso agora, Sr. presidente, a dar uma reposta, bem
terceiro, que por ventura os tivesse adquirido. que succinta, ao nobre senador pela Bahia que fallou ha dous
O SR. PARANAGUÁ: – O acto invalidado produz dias sobre assumptos do orçamento da guerra.
todos os seus effeitos desde a data em que foi praticado. O nobre senador começou o seu discurso tratando do
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Por estabelecimento do Curtume. Na discussão da fixação de
conseguinte, já vê o nobre senador que não tive em vista forças de terra eu disse que havia de mandar annexar ao
fazer-lhe injustiça nenhuma. Peço a S. Ex. que nesta materia relatorio todos os documentos que existissem sobre
me dispense o mesmo gráo de benevolencia, para não dizer semelhante estabelecimento, afim de que o corpo legislativo
de justiça, a que devo ter direito, porque o que S. Ex. julga que podesse bem apreciar a questão sob todas suas faces. Assim
deve reclamar para si, estou no meu direito exigindo para o fiz.
mim; se ha um acto seu, tambem ha um acto meu; se S. Ex. O nobre senador, lendo esses documentos, pareceu-
defende aquillo que praticou, estou no meu direito defendendo me que ficou convencido de tudo quanto eu tinha avançado
aquillo que pratiquei, apresentando as boas razões em que em outra discussão, porque suas observações limitaram-se a
me fundei. Já declarei que se assim procedi não tive em vista muito pouca cousa, tendo dito, em relação á salubridade do
apresentar ao senado como um acto censuravel a promoção logar, que realmente parece ser o paraiso terreal, visto como a
naquella época de guerra. O nobre senador vê que é quem febre amarella alli não tinha feito estragos.
me falta á justiça que me deve, declarando que quiz censurar De feito, Sr. presidente, entre os annexos se encontra
um acto que não foi trazido para a discussão. o parecer de pessoas competentes declarando que durante a
Sr. presidente, o nobre senador ainda fallou em varias epidemia que ultimamente assolou esta cidade, aquella
questões pertinentes á fixação de forças de terra. Esta localidade foi quasi privilegiada. Ha poucos dias, conversando
discussão foi aqui larga, mas eu direi poucas palavras, eu com o digno commandante do 1º batalhão de artilheria, o
somente em contraposição ao que disse o nobre senador. Sr. coronel Severiano da Fonseca, elle em disse que não só
Quanto á questão da artilheria, no projecto que está aquella localidade era excellente, que os commodos eram
convertido em lei não se declara se é montada ou a cavallo. magnificos e que o estabelecimento parecia ter sido feito de
Do que se trata é de tornar a artilheria ligeira, artilheria em que proposito para quartel, como alli dava-se o facto de que
é uma especie de procedimento barbaro fazer homens apenas tinha nos hospitaes cerca de 30 praças quando antes
arrastar, puchar canhões por caminhos longos além de que é de ler ido para lá constumava ter 100 até 120, E’ um
uma operação difficil e mesmo perigosa diante de inimigo. testemunho eloquente para demonstrar que a salubridade
E' isto que se teve em vista; para esse fim já foram daquelle logar está acima de toda a suspeita.
feitos os calculos de despeza. Não pense, portanto, o nobre Mas uma vez que o nobre senador não insistiu muito
senador que se quer formar regimentos de artilheria em que neste ponto, tambem não insistirei.
todas as praças são montadas. A respeito do palacete censurou o nobre senador que
Já fiz um ensaio disto com duas baterias do 1º o digno quartel mestre general tivesse aventado a idéa de que
batalhão de artilheria, á requisição das autoridades militares, poderia elle servir para hospital, visto como não se tinha
do commandante daquelle corpo, do fallecido ajudante general perguntado isto nos quesitos que foram propostos.
o Sr. Caldwell e do commandante geral desta arma; mas foi Esta objecção cae diante da consideração de que o
uma simples tentativa, um ensaio muito imperfeito. quartel-mestre general é a autoridade superior incumbida de
Trata-se agora de crear dous corpos, reduzindo um velar pelo material que deve pertencer ao exercito, pelas
dos de artilharia a pé. O senado comprehende que ha nisto acommodações, por tudo aquillo que deve servir a bem dos
uma grande vantagem, porque os corpos de artilheria a pé, soldados e dos officiaes. Por consequencia, era do seu dever
como estão constituidos, não teem elemento algum de indicar desde logo ao governo qual a sua opinião sobre a
mobilidade. futura collocação de um hospital militar nesta Côrte; mesmo
O SR. VISCONDE DE MURITIBA: – Servem nas quando não se tratasse de arrasar desde já o morro do
fortalezas. Castello, muitas pessoas poderiam opinar que seria mais
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Mas isto conveniente collocar o hospital fóra daquella eminencia, para
é artilheria propriamente de posição e nós não devemos onde é tão difficil conduzir os doentes.
reduzir
Sessão em 31 de Maio 285

O SR. JAGUARIBE: – Apoiado. como no caso de que se trata, não seria então misterio inserir
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Sobre o especialmente nos estatutos das estradas de ferro.
arrasamento do morro, objecto que pareceu merecer a Mas o nobre senador foi buscar em outra parte um
curiosidade do nobre senador questão; as propostas devem escudo para esta sua opinião, visto que lhe parecia faltar
ser apresentadas e é de esperar que dentro de alguns annos base, argumentando nesse terreno. Disse que essa questão
esta capital possa gosar de semelhante melhoramento. devia ser decidida administrativamente, e que da decisão do
O nobre senador fallou ainda a respeito da arma governo haveria recurso para o conselho de Estado e eu
Comblain; S. Ex. disse que tinha despedido o seu supprimi esse recurso, pelo qual S. Ex. queria obrigar-me a
somnambulo, mas, no entretanto, tinha sabido bastante para que fizesse justiça boa e completa. Veja o nobre senador o
dizer que a arma Comblain encommendada não correspondia equivoco em que labora.
ás vistas do governo. Sr. presidente, de uma decisão qualquer do governo
Já disse em outra occasião que tendo sabido de póde interpor a parte recurso para o conselho de Estado;
alguma censura que se fazia a respeito dessa arma, mandara mas este recurso em que sentido póde ser? Para reformar a
ouvir a commissão de melhoramento. A sua informação já me decisão do governo que indefere, porque se não indeferisse,
chegou ás mãos e eu a enviei com toda urgencia ao illustre a parte não recorreria; portanto, a consequencia indubitavel é
quartel mestre general para que interponha parecer a que o recurso para o conselho de Estado só póde aproveitar
respeito do que deve fazer-se, sobre as providencias que á parte e não á fazenda publica, e, pois, já vê o nobre
devem ser tomadas. senador que daquelle meu acto não resulta menor lesão á
O SR. ZACARIAS: – Mas a arma não veio conforme fazenda publica porque o facto do recurso, se se désse, só
a encommenda. poderia ser aproveitado pela parte interessada, aquella que
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Não litija com o governo. Ora, se isto é assim, porque havemos
estou ainda plenamente habilitado para dizel-o; estão se nós de ser mais solicitos dos interesses pecuniarios das
fazendo estudos; o nobre senador sabe que esta questão partes que litijam com o governo do que as proprias partes?
affecta o caracter de um digno official do exercito, Eis aqui o lado fraco da argumentação do nobre senador. Se
encarregado desta encommenda; portanto, eu seria muito eu tivesse tolhido um recurso que poderia ser favoravel á
leviano se viesse emmittir diante do senado uma opinião que fazenda publica, S. Ex. poder-me-hia censurar; mas neste
não fosse muito fundada; este official, que acaba de chegar a caso não, porque por accordo, por iniciativa das partes, o
esta Côrte, se explicará devidamente e então todos nós recurso que se tolheu só poderia aproveitar á parte
conheceremos se a arma Comblaia está de accordo com as interessada que pedia uma quantia do thesouro publico.
instrucções que foram dadas. Portanto, ainda considerando a questão por este lado,
Em todo caso, digo ao nobre senador que a arma vê o senado que a objecção do illustre membro não tem
Comblain, mesmo sem melhoramento é uma grande arma; é procedencia alguma.
adoptada na Belgica e em outros paizes. Isto, porém, não O SR. ZACARIAS: – Toda a procedencia, o governo
altera o facto a que S. Ex. se referiu e que se trata de não póde transigir.
examinar. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Mesmo
Ainda voltou o nobre senador á questão das neste ponto, tratando das attribuições do thesouro, insistiu S.
reclamações argentinas, adduzindo os argumentos que tinha Ex. na questão da revisão. Eu já declarei nesta casa que só
apresentado quando se tratou da fixação de forças de terra; póde competir para os casos de decisão do ministerio a
quiz demonstrar que o facto de se entregar ao juizo de interposição de recursos.
arbitros esta questão não tinha sido muito regular. O SR. ZACARIAS: – Mas em exercicios findos...
Para que o nobre senador reconheça que toda sua O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): –
argumentação cae, quando S. Ex. afirma que o governo sem Costumo ouvir o nobre senador com religioso silencio; com
lei não póde usar desse recurso, apenas lembrarei que todas dialogos não se póde argumentar, cortando-se o raciocinio a
as questões que o governo tem com estradas de ferro são cada momento.
decididas por um meio igual, e que essas questões podem O SR. ZACARIAS: – Estou lembrando que em
importar, como importam, em sommas muito importantes e exercicios findos sempre ha revisão do thesouro.
valiosas. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Dizia eu,
Além disto lembra S. Ex. que nenhuma lei existe Sr. presidente, que para os casos de revisão de que trata o
autorisando o governo a usar de semelhante meio. Para as art. 51 da lei de 1845, quando se dá uma decisão do
dócas, o nobre senador appella para a lei, sem que este facto ministerio ha recurso para o conselho de Estado.
firme opinião de que o legislador entende aquelle meio O nosso contencioso administrativo estava muito
regular. Nas questões de estradas de ferro, para as quaes acanhado, foi alargado um pouco na reforma de 1859 feita
não existe lei alguma, foi inserida nos estatutos por acto do pelo distincto visconde de Inhomirim, que sempre deixa no
governo... poder traços luminosos de sua passagem.
O SR. ZACARIAS: – Veja o codigo commercial a Mas apesar de tudo quanto se tinha feito até então, o
respeito de todas as companhias anonymas. thesouro do Brasil era uma repartição nimiamente
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Perdoe- centralisadora. Isto mesmo o nobre senador encontrou na
me; o codigo do commercio não póde ser applicado obra do Sr. visconde de Uruguay que S. Ex. tem consultado
restrictamente áquelle caso; se podesse ser applicada essa sobre esta materia. Exercia-se alli uma especie de tutella
disposição, tratando-se de uma questão entre o governo e sobre os actos de todos os ministerios. As contas
uma entidade moral, chame-se essa entidade moral
companhia, chame se sociedade, chame-se socios com
nome collectivo,
286 Sessão em 31 de Maio

eram examinadas, não só arithmeticamente, porém fazia- O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): –
se o exame moral. Mas, mesmo o nobre senador pela Quando discutimos as forças de terra, V. Ex. nunca tratou
provincia da Bahia, quando presidente do conselho do de exercicios findos; ahi estão os seus discursos e os
gabinete de 3 de Agosto, entendeu no principio de 1868 meus em resposta.
dever livrar os outros ministerio desta tutella excessiva O SR. ZACARIAS: – Sempre tratei.
que o thesouro exercia e portanto na sua reforma O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): –
declarou positivamente que não competia mais ao Agora é que V. Ex. aventou este ponto.
thesouro esse exame moral das contas enviadas por O SR. ZACARIAS: – Não, senhor.
outros ministerios. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – As
O SR. ZACARIAS: – Não disse tal. questões argentinas teem um caracter especial; são
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – questões originadas em virtude de reclamações de
Assim, pois, a que fica reduzida a questão da revisão? cidadãos pertencentes a nacionalidades que não a nossa,
salvo se o nobre senador quer agora revogar o que fez com o caracter quasi diplomatico e apoiadas pela legação
em 1868. de Buenos-Ayres nesta Côrte. Estas questões não podem
O SR. ZACARIAS: – O que revoguei é cousa ser aferidas pela mesma medida porque o são aquellas
muito diversa. Appello agora para o Sr. ministro da reclamações que versam sobre exercicios findos de
fazenda; com elle é que hei de discutir esta questão. serviços que estavam decretados. Estas questões
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Eis complexas sobre intelligencia de contratos, sobre
aqui o que diz a reforma do nobre senador (Lê). reclamações por prejuizos originados em acontecimentos
«Art. 6º Na directoria geral da contabilidade serão da guerra. não podem ser equiparadas áquellas que
supprimidos os seguintes serviços: commumente se dão em fornecimentos semelhantes, e,
1º A verificação prévia dos calculos arithmeticos de por isto, tomando um tal caracter, não podiam ser
todos os documentos dos outros ministerios e dos das julgadas pelos meio ordinarios e unicos que a legislação
collectorias e mesas de rendas por occasião da entrega estabelece para que se decidam as questões entre o
da renda mensal ou trimestral.» governo e os seus nacionaes. Dahi aceitou-se o juizo de
O SR. ZACARIAS: – Não tenho nada com as arbitrios como se tem feito sempre em questões que se
collectorias. parecem com esta pela sua especie. Portanto não se trata
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Quasi de realisar um pagamento.
que eu poderia dizer como o grego: dá, mas ouve. Hoje, quando se dá nos differentes ministerios o
O SR. ZACARIAS: – Deixemos a Grecia. reconhecimento de uma divida e se passa um titulo
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – A reconhecendo-a, este documento é enviado ao thesouro
Grecia foi o luzeiro da civilisação e V. Ex. que é um fóco que então exerce ahi uma certa fiscalisação. Mas esta
de luz não pode desconhecer o prestigio da Grecia: dá, tem por fim verificar a legitimidade do titulo, a sua
mas ouve. Foi justamente o que fizestes em 1868: retirar legitimidade, o direito com que foi expedido e muitas
do thesouro o exame moral das despezas. outras circumstancias que o podem tornar validos ou não.
O SR. ZACARIAS: – Não ha tal, não retirei nada. Na questão vertente, não se podem dar todas essas
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Vou hypotheses. Portanto, não se póde-applicar á questão de
tornar a ler. exercicios findos propriamente ditos essa questão.
O SR. ZACARIAS: – Pode reler. Quando o pagamento tiver de realisar-se, o thesouro
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O examinará apenas a sentença, e pedirá o credito, pois se
nobre senador nem quer que eu leia! trata de reclamações com caracter estrangeiro.
O SR. ZACARIAS: – Hei de ventilar esta questão Mas desde o principio a nossa magna questão era
com o Sr. ministro da fazenda. que a revisão do thesouro para o pagamento dos
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – (Lê): differentes ministerios estava hoje extincta, reservando-se
O SR. ZACARIAS: – Mas não ficou supprimida a somente para o caso de interposição de recurso para o
revisão. conselho de Estado. Esta interposição, já o mostrei, na
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – A hypothese vertente não póde interessar senão á parte
revisão é somente para o caso de interposição de adversa, porque para o Estado isto não faria senão
recurso. aggravar o onus da fazenda publica.
O SR. ZACARIAS: – Perdoe-me, para tudo quanto O nobre senador censurou-me por haver aberto
é exercicio findo. em Setembro do anno passado um credito extraordinario,
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Ah! e declarou que este credito tinha sido applicado a
V. Ex. agora está deslocando a nossa questão, que não despezas ordinarias, contempladas nas verbas do
versava sobre exercicio findo. V. Ex. como um habil orçamento, o que era uma illegalidade. Ora, isto é uma
general fez um movimento de flanco; mas eu, se bem que injustiça que fez o nobre senador (já que estamos hoje em
pequenino e sem ter as habilitações do nobre senador, dia de allegações de justiça e injustiças)
hei de acompanhal-o em todos os terrenos. V. Ex. já não O SR. ZACARIAS: – Apoiado.
trata da questão principal, é de exercicios findos! O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Mas
O SR. ZACARIAS: – A questão principal é sobre a eu queria somente que S. Ex. fizesse a graça de ler o
decisão das reclamações argentinas. ultimo mappa annexado ao meu relatorio de Dezembro,
porque ahi S. Ex. descobriria com facilidade os fins para
que foi aberto
Sessão em 31 de Maio 287

semelhante credito, todo de caracter extraordinario que não ficar desarmado; devia ter os meios para collocar o exercito e
teve por fim prover nenhum serviço ordinario. a guarda nacional em posição, pelo menos, de repellir uma
Em Setembro do anno passado, Sr. presidente, primeira aggressão.
existia uma questão que devia chamar o cuidado do governo. Eu digo no meu relatorio deste anno, tratando deste
Nós deviamos procurar armarmo-nos para que não se credito, que esperava que no fim do actual exercicio o credito
dissesse que tinhamos sido capitão que não cuidou. Eu quasi aberto em Setembro do anno passado ficasse quasi que
que posso affirmar ao senado que esta despeza que se fez annullado; e nutro esta esperança, porque julgo que com as
não absorveu o credito extraordinario; entretanto livrou-nos verbas ordinarias vão se pagando certos serviços. Mas nem
de vir a gastar dez ou vinte vezes mais. Em todo o caso não por isto devia deixar de haver naquella occasião o credito que
podia cogitar a questão da cifra. pareceu essencial para occorrer ás necessidades de
Era mister collocar o paiz em um certo pé de momento: eram urgentes e imperiosas, o nobre senador o
respeitabilidade. Nesta circumstancia foi preciso mandar sabe. Depois foi que dissiparam-se as nuvens e tudo entrou
buscar armamento á Europa, porque o que possuiamos não nos seus eixos regulares.
estava mais ao par das descobertas modernas. Na infanteria Sr. presidente, me parece que foram estes os pontos
tinhamos a arma a Minié, considerada magnifica até certa principaes do discurso do nobre senador. A questão da
época mas reputada inferior depois da campanha da autonomia da repartição fiscal já ficou implicitamente
Bohemia. Na artilheria tinhamos tambem peças do systema respondida quando eu me referi á contralisação que o
francez, mas que não podem competir com as modernas, thesouro exercia até certa época, centralisação que o proprio
ultimamente inventadas na Prussia e em outros paizes da Sr. visconde de Uruguay, uma das fontes em que o nobre
Europa. Além disto era mister collocar a guarda nacional do senador tem procurado inspirar-se nesta questão, dizia que
Rio Grande do Sul em circumstancia de poder, de um era superior até a centralisação da administração franceza,
momento para outro, mover-se; e para isto era necessario mas que S. Ex. (eu nisto o louvo muito) procurou diminuir um
dar-lhe os elementos para que ella estivesse fardada, como pouco o rigor dessa centralisação, de modo que hoje já não é
para que tivesse toda a mobilidade necessaria. o thesouro publico nacional aquella repartição de que falla o
Foi preciso fazer encommenda de cavallos. Foi Sr. visconde de Uruguay, mais centralisadora quanto á
preciso mandar apromptar fardamento de provisão para ficar administração de fazenda do que o thesouro francez.
em deposito. Ora, se o nobre senador lêr esta tabella, ha de O Sr. Zacarias dá um aparte.
ver que temos na verba «arsenaes de guerra» 1,983:000$. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Mas V.
Nesta verba está principalmente o armamento. Temos no Ex. prestou um grande serviço com a sua reforma de 1868;
corpo de saude uma verba de 100:000$, na previsão de que collocou os outros ministerios fôra da tutella do thesouro...
fosse mister enviar muitos medicos, ambulancias, etc. O SR. ZACARIAS: – A tutella ficou e devia ficar.
Mandei buscar na Europa até instrumentos cirurgicos que já O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – ...que
chegaram e estão guardados para qualquer emergencia, era pouco digna...
para que não succeda como em 1864 e 1865, que os nossos O SR. ZACARIAS: – Não ha tal, é muita digna.
soldados não podiam ser pensados e curados por falta de O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – ...mas
instrumentos cirurgicos, no começo da guerra do Uruguay e hoje a repartição fiscal da guerra não está no mesmo pé de
Paraguay. subordinação em que antigamente estava para com o
Foi necessario tambem prover de remedio a falta que thesouro.
sentia-se no orçamento da quantia precisa para pagar no O Sr. Zacarias dá um aparte.
semestre ultimo a divisão que estaciona no Paraguay, porque O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Não
o orçamento anterior tinha sido calculado na previsão de que entendo o nobre senador. Se leio o seu regulamento de 1868
esta força já se tivesse recolhido ao Imperio. Estando ella no que acabou com a tutella do thesouro, e se uso de suas
Paraguay, foi mister chamar um numero quasi igual de proprias expressões qualificando até de menos decente essa
guardas nacionaes para fazer o serviço. Por consequencia é tutella, S. Ex. diz: «Não, a tutella é indispensavel.» Portanto,
uma despeza dupla, e a do Paraguay vinha tomar uma eu não sei mesmo se a tutella é boa ou má.
caracter de despeza extraordinaria. Eis aqui, portanto, Julgo, porém, que como estava era demasiada e que
explicado o credito de 3,700:000$, aberto pelo decreto de a reforma de S. Ex, fez as cousas entrarem em seus eixos
Setembro do anno passado, todo elle com destino a serviços regulares. Cada ministerio assume a responsabilidade da
extraordinarios. despeza que faz, cada ministerio é o competente para
Mas, disse o nobre senador: «Não se realisou esta conhecer das verbas votadas pelo corpo legislativo, conhecer
despeza toda, portanto não era urgente e não se dava a dos serviços para que são destinadas, e ordenar as
hypothese da lei de 1850, que, tendo acabado com o despezas, sempre com a responsabilidade, está entendido
transporte de sobras, permittia que o governo abrisse do ministro e dos empregados que concorrem para isto.
creditos supplementares e extraordinarios debaixo de certas Mas dahi a querer tornar o thesouro o arbitro supremo
regras,» e accrescentou: «quanto aos extraordinarios é conhecedor de todas as despezas do modo que mesmo
mister que a occasião seja urgente.» Ora, ninguem negará aquellas que fossem muito regulares, que tivessem o seu
que em Setembro do anno passado tratando-se de assento no orçamento e a verba votada para ella não
armamento, fardamento, da compra de cavallos etc., não se escapasse ao seu exame, isto é o que a boa administração
tratasse de uma cousa urgente. A objecção, portanto, de S. repelle e condemna e isto é o que S. Ex. mesmo repelliu.
Ex. não tem procedencia.
Não se gastou tudo; bem. Não se gastou tudo, porque
as circumstancias mudaram e não foi preciso lançar mão de
todos os recursos. Mas nem por isto o governo devia
288 Sessão em 31 de Maio

Mas hoje, talvez por querer contrariar as minhas palavras, de decisão recorrera a parte prejudicada. O que póde acontecer é
repente salta para o lado opposto e diz que não. que a injustiça ou prejuizo causado não fosse intencional.
O SR. ZACARIAS: – V. Ex. é que está saltitando. Assim, pois, quando um tribunal superior, para o qual se
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Portanto, recorre, dá provimento a um aggravo ou á appellação, repara
aceite S. Ex. os meus louvores pelo seu regulamento de 1868. a injustiça feita pela autoridade que a praticou; isto, porém,
Foi um bom serviço a descentralisação da administração sem não importa dizer que o tribunal inferior, de quem se recorre
que esta perca cousa alguma, porque cada ministro terá na praticara uma injustiça scientemente, podia fazel-o da melhor
sua repartição fiscal os elementos precisos para que as boa fé, ou não intencionalmente.
despezas se façam dentro dos limites do orçamento. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Está
Tenho concluido. claro, ninguem é infallivel.
O SR. POMPEU: – Sr. presidente, quizera felicitar aos O SR. POMPEU: – Pois bem, é o caso que se dá
nobres ministros da marinha e da guerra pela facilidade com presentemente.
que um obteve e o outro vae obtendo a passagem de seus O SR. ZACARIAS: – Ninguem? V. Ex. acredita que
respectivos orçamentos no senado, por virem expurgados dos alguem é infallivel.
additivos estranhos á materia do orçamento conferindo O SR. POMPEU: – Neste caso, se S. Ex. fez justiça
autorisações. Mas agora recordo-me, ou antes, o nobre Sr. como diz, promovendo esse official, os seus antecessores
visconde de Muritiba fez-me recordar, de que as autorisações tambem podiam não ter feito injustiça intencionalmente
de que os nobres ministros dispensaram nos seus orçamentos podiam ter errado, mas em todo o caso fizeram injustiça,
já tinham vindo nas propostas de lei de força de mar e de segundo o nobre ministro, prejudicaram o direito do
terra. recorrente.
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Não são O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Ah!
para este exercicio. Isto é deslocar a discussão. O SR. POMPEU: – Mas é contra isso que reclamou o
O SR. POMPEU: – E por isto pergunto ao nobre nobre visconde de Muritiba. O honrado ministro, respondendo
ministro se aquella clausula que passou no orçamento do ao Sr. visconde de Muritiba a respeito da creação de novas
Imperio limitando o praso das autorisações, comprehende cadeiras na escola militar que o nobre visconde impugnava,
tambem as que já foram votadas? como ao menos presentemente, desnecessarias, abundou em
O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Está considerações que me pareceram justas e nesta parte estou
claro, é regra geral. com o honrado ministro.
O SR. POMPEU: – Então as autorisações conferidas E’ certamente mister completar o plano de estudos da
aos ministros da guerra e marinha findam com o exercicio escola militar com aquelle ensino que lhe falta para preparar
respectivo? O nobre ministro principiou o seu discurso os militares que se dão aos cursos de estado-maior de 1ª
estranhando que fosse reproduzida uma materia já discutida classe e de engenharia militar; e uma vez que aquella escola
em outras occasiões. Pareceu-lhe que esta pratica não devia está, como um internato, separada de communicações do
ser admittida no parlamento porque seria eternisar a resto da cidade, deve conter todo o curso completo para
discussão de uma materia que, uma vez apresentada e preparar estes officiaes, sem dependencia da escola central.
respondida, só o publico tinha de emittir depois juizo definitivo. O que, porém, acho inutil é que só pelo facto de virem estudar
Não sei, Sr. presidente, se esta doutrina do honrado na escola central alguns officiaes, um ou dous annos para
ministro é a mais aceitavel, isto é, de fazermos o publico o juiz completarem seus cursos, esta escola fique sujeita ao regimen
supremo das contestações ou discussões que temos no militar. E’ uma excepção aqui que prevalece sobre a regra
parlamento; elle o é e deve ser sempre debaixo do ponto de geral. A escola é puramente civil, como o nobre ministro acaba
vista de opinião publica, se esta nos governa; mas notei que de dizer.
S. Ex. no correr de seu discurso appellou tambem para a Frequentam-n’a centenas de moços que nada teem
sabedoria do senado. Ora, uma materia póde ser trazida á com o exercito ou milicia; mas porque em dous annos da
discussão uma e mais vezes pelas contestações oppostas, mesma escola frenquentam alguns militares, ella toma o
por argumentos apresentados em virtude de novos caracter militar e está sujeita ao regimen militar. Isto é que não
documentos e observações que o caso póde suggerir por parece justo e que deveria ser reformado afim de que a escola
ventura. Esta que reproduziu o nobre visconde de Muritiba tomasse o caracter puramente civil que lhe compete, e o que
parece que ainda não está de todo elucidada, e tanto que, em succederá agora com a reforma autorisada. Mas concordo
consequencia de sua reproducção na outra camara, o nobre com S. Ex. em completar-se o curso da escola da Praia
visconde correu á tribuna para defender-se e bem assim a seu Vermelha, creando as aulas de que precisam lá os militares
illustre antecessor, o meu nobre amigo, o Sr. Paranaguá, da que vêm estudar na escola central, para o que já se acha o
pecha de injusto. nobre ministro autorisado na lei de força que passou
Disse o nobre ministro que reparando uma injustiça ultimamente.
feita a um official do exercito, não queria dizer com isto que o O honrado ministro respondendo ao meu nobre collega
seu illustre antecessor havido praticado a injustiça. Não pela Bahia a respeito do quartel do Cortume, só tomou
comprehendo, Sr. presidente, como a reparação de uma algumas de suas observações, aquellas relativas á hygiene da
injustiça não importe declaração, ao menos implicita, de que localidade e á capacidade. Faltou, porém, S. Ex. responder a
anteriormente se praticara um mal ou prejuizo de cuja uma parte muito essencial, isto é, ao calculo do valor da
propriedade porque a este respeito ha contestações e o nobre
senador fez reflexões muito importantes que mereciam da
parte do nobre ministro resposta. Talvez S. Ex. se esquecesse
de tomar este ponto em consideração.
Sessão em 31 de Maio 289

A respeito das armas a Comblain, de que fallou aqui se lhe faz de abrir um grande credito extraordinario sem
por occasião da discussão das forças de terra e de que o meu mesmo calcular a necessidade do serviço extraordinario que
nobre collega tambem se occupou dizendo que uma ia fazer, e tirar desse credito sommas consideraveis para
somnambula lhe segredara os defeitos dessa encommenda, supprir a defficiencia de verbas do serviço ordinario, quando
respondeu o honrado ministro que estas armas chegaram, para isto, dando o caso, como acredito que se deu, estava o
mas que ainda não foram examinadas e não podia a este governo autorisado a abrir creditos supplementares.
respeito emittir juizo. Eu tive, Sr. presidente, a respeito das Dirá o nobre ministro: «é indifferente.» Tanto não é
armas a Comblain noticia, não da somnambula, mas de um indifferente que a lei tem estabelecido diverso processo, e, se
discipulo de Marte que me disse que ellas precisavam de é indifferente, acabe-se com essa distincção.
grandes reparos e transformações para prestarem serviços, e O SR. ZACARIAS: – O Sr. ministro da marinha disse
no entretanto o nobre ministro acaba de dizer-nos que não que está acabada.
podia, por emquanto, emittir juizo a respeito, o que me induz a O SR. POMPEU: – Esta theoria, Sr. presidente, de que
acreditar que com effeito a informação que tive era mais ou é indifferente abrir credito extraordinario ou credito
menos exacta, de que a remessa não correspondeu á supplementar para diversos serviços, faz-me recordar o modo
encommenda. O futuro nos revelará a verdade desse negocio. de proceder de certo presidente de provincia que conheci, o
O nobre ministro mesmo voltou á questão debatida qual mandava fazer serviços ora geraes, ora provinciaes por
pelo meu nobre collega da Bahia a respeito do credito qualquer das thesourarias geral ou provincial e, quando os
extraordinario, que S. Ex. abriu para diversos serviços. S. Ex. respectivos inspectores lhe objectavam que o serviço era
parece que não quiz fazer descriminação entre as duas provincial ou geral, elle dizia: O dono de tudo isso é o mesmo,
especies de creditos autorisados para os diversos serviços, ou tanto faz geral como provincial, O nobre senador pela minha
comprehender a verdadeira objecção. Não se contesta que provincia sabe qual é o presidente quem me refiro.
tivesse o nobre ministro necessidade de abrir um credito O SR. JAGUARIBE: – Ouvi fallar nisso.
extraordinario para objecto imprevisto de serviço publico, para O SR. ZACARIAS: – O que importa é o dinheiro...
objecto extraordinario. Diz o nobre ministro que receiava-se O SR. POMPEU: – Porém devo dizer que, segundo a
uma emergencia, talvez uma guerra com o estrangeiro, e não lei, o credito extraordinario tem um fim especial, é autorisado
queria que o Estado fosse apanhado de improviso, para serviço imprevisto, e quando porventura esse credito é
desarmado, bem que seja notavel que o paiz estivesse excedente do serviço a que se destina, o resto se annulla ou
ameaçado de uma guerra externa a ponto de o governo abrir recolhe-se ao thesouro até que o poder competente dê destino
creditos immensos para armamento, para encouraçados etc., a esse saldo; mas passar de lá para objectos ordinarios,
sem que ao menos nos revelasse palavra sobre a imminencia supprimindo verbas defficientes, é o que a lei não tinha
de tão grave successo. cogitado.
E, por essa occasião, sendo com effeito extraordinario O SR. ZACARIAS: – E’ dar ao credito extraordinario
o motivo, abriu um credito extraordinario; mas é o nobre uma qualidade dupla de supplementar e de extraordinario.
ministro que confunde esse caso extraordinario com serviços O SR. POMPEU: – Por conseguinte debaixo, deste
ordinarios, porque o decreto exprime-se desta maneira. (Lê). ponto de vista o honrado ministro não teve razão de abrir este
Decreto n. 5090 de 21 de Setembro de 1872. credito extraordinario para serviços extraordinarios e
Não sendo sufficientes para as depezas ordinarios.
extraordinarias do ministerio da guerra as sommas votadas na O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Não eram
lei n. 1836 de 27 de Setembro de 1870 e mandada vigorar no extraordinarios esses serviços?
corrente semestre pelo decreto n. 2035 de 23 de Setembro do O SR. POMPEU: – Alguns eram, mas basta ler a
anno proximo passado: hei por bem, na conformidade do § 3º tabella para ver que outros não o eram.
do art. 4º da lei n. 589 de 9 de Setembro de 1850, tendo O SR. ZACARIAS: – Basta ler os considerandos, não
ouvido o conselho de ministros, autorisar o credito sendo sufficiente. O caso de insufficiencia está previsto.
extraordinario de 3,735:415$949, distribuido pelas rubricas O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Queriam
mencionadas na tabella junta etc». que se abrisse o credito sem ser pela rubrica do orçamento?
Segue a tabella. O SR. POMPEU: – Queriamos que se abrisse credito
extraordinario para o serviço extraordinario e que no caso de
Arsenaes de guerra etc........................... 1,983:215$949 defficiencia de outras verbas de serviço ordinario, se abrisse
Corpo de saude e hospitaes.................... 100:000$000 credito supplementar, como está determinado em lei. Se a lei
Quadro do exercito.................................. 1,250:000$000 não serve, revogue-se; mas em quanto vigora, observe-se.
Eventuaes............................................... 380:000$000 Não foi sem justo motivo que o legislador decretou duas
Repartições de fazenda........................... 22:200$000 ordens de creditos.
As emendas votadas na outra camara augmentaram a
Ora, só pela declaração de insufficientes as sommas proposta do nobre ministro da guerra em mais 1.500:000$. Sei
votadas, se vê que se tratava de supprir falta. Na tabella que parte desse augmento é devido ao accrescimo do soldo
distribuitiva deste credito o nobre ministro comprehendeu votado para o exercito; mas esse accrescimo não absorve
objectos não só de serviço extraordinario, não previsto, como metade dessa quantia. Pergunto,
de serviço ordinario, como sejam o corpo de saude e os
hospitaes. Ora, para estes objectos de serviço ordinario,
havendo defficiencia, tinha o nobre ministro autorisação em lei
para abrir creditos supplementares; e é esta censura que
290 Sessão em 31 de Maio

pois, ao nobre ministro a que determinou o augmento consideravel dos mesmos, segundo o autor citado, isto é, de que respeita ao
do seu orçamento em 1,500:000$ além do que já sei, isto é, do exercito de terra, acha-se o seguinte (Lendo)
augmento do soldo votado para o exercito?
Ainda mais, na verba arsenaes ha um augmento de Russia............................. 27 frs. e 74 cent. por 100
100:000$; ora se o honrado ministro acabava de abrir um credito Prussia............................ 23 « « 82 « « «
de mais de 3,000:000$ em que comprehendia despezas dessa Wurtemberg.................... 22 « « 29 « « «
ordem, o que motivou agora a necessidade de augmentar em Belgica............................ 21 « « 39 « « «
100:000$ a despeza de arsenaes? Suecia............................. 21 « « 35 « « «
Assim tambem a verba obras militares, que na proposta Austria Transleithana...... 21 « « 12 « « «
constava de 300:000$, foi elevada na camara, naturalmente de França............................. 20 « « 91 « « «
accordo com o nobre ministro, a 900.000$. Parece que a Noruega.......................... 20 « « 33 « « «
necessidade desse augmento de 200% occorreu durante a Austria Cisleithana.......... 18 « « 23 « « «
discussão do orçamento na camara dos deputados; porque, se Inglaterra......................... 16 « « 91 « « «
anteriormente o honrado ministro tivesse necessidade dessa Baviera............................ 16 « « 45 « « «
somma para as obras militares, a teria formulado na sua proposta. Italia................................. 16 « « 25 « « «
Em Dezembro achou o honrado ministro que eram sufficientes Portugal........................... 15 « « 68 « « «
800:000$, para obras militares, entretanto que em Abril votou-se Hespanha........................ 15 « « 47 « « «
900:000$. Naturalmente o nobre ministro terá obras importantes a Dinamarca....................... 14 « « 42 « « «
realisar; não sei se deu conta dellas em seu relatorio; confesso Suissa............................. 13 « « 99 « « «
que não li ainda o ultimo relatorio do honrado ministro; ignoro,
pois, o que determinou o augmento de mais 600:000$ para obras Mas entre nós a despeza de 15,137:782$889 que se faz
militares; espero que S. Ex. nos dirá. Dizem que nessas obras com a repartição da guerra comparada com a renda orçada em
eternas de reparos de fortalezas do porto vae muita cousa que o 100.000:000$, como se acha nesta proposta, corresponde a 6,6
governo ignora... deste orçamento, e por conseguinte a mais de 15%; e se
Noto, Sr. presidente, que a nossa despeza pela repartição comparar-se com o orçamento anterior apresentado o anno
da guerra ou puramente militar é excessiva, não só com relação passado de 86,341:034$542, talvez mais provavel, corresponde a
ao orçamento geral, como ao contribuinte. 20% mais ou menos.
O SR. ZACARIAS: – De certo. E’ onde se póde fazer O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Em todo o
economia e onde não a fazem... caso 20%, isto é menos do que em muitos paizes.
O SR. POMPEU: – E principalmente comparada com o O SR. POMPEU: – Ha paizes na Europa que estão
pequeno exercito que temos. Está aqui orçada em superiores a nós nessa despeza certamente por motivos
15,137:782$889, só a despeza propriamente da guerra, é superior especiaes...
á despeza semelhante que se faz em diversos paizes da Europa. O SR. ZACARIAS: – A Russia, por exemplo.
O SR. ZACARIAS: – Estatistica. O SR. POMPEU: – ...mas digo que alguns paizes da
O SR. POMPEU: – Não ha outro remedio. Eu costumo Europa, que não estão aliás no nosso caso de manter um exercito
consultar, Sr. presidente, o livro, que V. Ex. conhece muito e o modesto, fazem despeza inferior á que fazemos. Não quero dizer
senado, de Mauricio Block. (Europa politica-social) que traz o que a França, a Russia, a Prussia não façam despeza superior,
serviço administrativo de diversos paizes, comparando uns com devem fazer porque para isto teem razão especial.
outros e apresentando dados estatisticos muito importantes. E distribuindo a despeza que nos custa a repartição da
Consultando, pois, este autor, vejo que nos diversos paizes da guerra com os contribuintes...
Europa a despeza com a repartição da guerra está quasi na O SR. ZACARIAS: – E a da marinha.
mesma proporção e em alguns paizes é inferior ao que se faz no O SR. POMPEU: – Fallo só da repartição da guerra; é só
Brasil; mas com esta differença: que a Europa quasi toda tem este serviço que analyso e comparo agora; não comprehendo a
exercitos permanentes e sente necessidades que obrigam seus marinha.
paizes a terem em actividade uma força consideravel; dominam O SR. ZACARIAS: – As duas veja até onde vão.
alli certas idéas, imperam circumstancias e mesmo ha motivos de O SR. POMPEU: – Distribuida pelos contribuintes a
ordem que felizmente não se dão no Brasil. despeza que nos custa a repartição da guerra, vemos que é muito
Nós não temos visinhos bellicosos; estamos defendidos a superior, comparativamente, ao onus que pagam os contribuintes
Leste pelo oceano que nos separa do velho mundo, e ao Oeste da Europa. Eis aqui o que diz o Sr. Mauricio Block, examinando e
pelo deserto; apenas ao Sul e ao Norte estamos em contacto com comparando quanto custa á cada habitante nos diversos paizes
povos que não nos podem incutir receio; logo, não se dá para o europeus a despeza com a repartição da guerra, termo médio, em
Brasil a mesma razão que diversos paizes da Europa teem de tempo de paz. Note-se que o trabalho do Sr. Mauricio Block refere-
possuir um material immenso de guerra para eventualidades muito se ao anno de 1869: (Lendo)
possiveis.
Comparando, pois, a despeza que faz a repartição da Inglaterra........................................ 12 frs. e 23 cent.
guerra dos diversos paizes da Europa com a receita geral França............................................ 10 « « 95 «
Hollanda......................................... 8 « « 46 «
Prussia e Confederação do Norte.. 8 « « 33 «
Sessão em 31 de Maio 291

O SR. POMPEU: – E’ o que acabo de lêr no Jornal


Belgica................................ 7 frs. e 51 cent. do Commercio de hoje, que não é suspeito.
Austria Cisleithana............. 7 « « 48 « O SR. BARROS BARRETO: – E’ preciso lêr tudo;
Russia................................ 7 « « 04 « faça o favor de lêr até o fim.
Hespanha........................... 6 « « 81 « O SR. POMPEU: – Li o Diario de Pernambuco e o
Italia.................................... 6 « « 70 « Jornal do Recife transcriptos no Jornal.
Baviera............................... 6 « « 27 « O SR. BARROS BARRETO: – O chefe de policia
Wurtemberg........................ 5 « « 90 « foi quem fez a intimação.
Dinamarca.......................... 5 « « 55 « O SR. POMPEU: – A sua correspondencia é que é
Bade................................... 4 « « 50 « a verdadeira?
Suecia................................ 3 « « 29 « O SR. BARROS BARRETO: – As noticias
Noruega.............................. 3 « « 27 « particulares dizem a mesma cousa.
Suissa................................. 2 « « 61 « O SR. POMPEU: – Então as noticias particulares é
que devem prevalecer sobre as noticias publicas? O
E como cada familia se compõe de quatro a cinco contrario disto me tem dito muitas vezes os Srs. ministros,
individuos, essas despezas pesam, no minimo, á cada pae sempre que apresento aqui cartas particulares para
de familias na Inglaterra 49 francos e em França 44. comprovar minhas allegações. Por ora só conheço o facto
Entretanto que no Brasil distribuida a quantia de 15, como o referem as folhas de todos os credos politicos de
137:782$889, que é pedida no orçamento para as Pernambuco, transcriptos no Jornal de hoje, e, sendo
despezas da guerra, com uma população livre que, assim, muito depõe contra a disciplina que deve reinar no
segundo os dados officiaes, se calcula em 8,627,164 cabe exercito, principalmente em um official general que,
a cada individuo 1$755; não ha, portanto, paiz algum da desconhecendo as leis de paiz e os direitos de seus
Europa onde o contribuinte, onde o homem do povo, concidadãos, pensa que está em Varsovia ou em algum
pague mais tributo e seja mais onerado do que no Brasil paiz asiatico, onde a vontade do governador da terra é a lei
para esse serviço. suprema; portanto, em vez de esperar que o povo se
E suppondo cada familia tambem composta no retirasse á intimação da autoridade competente que lá não
Brasil de quatro a cinco pessoas, a cada pae de familia no appareceu...
Brasil corresponde essa despeza de 7$ a 8$875. O SR. BARROS BARRETO: – Não apoiado.
Eis, portanto senhores, o que pesa no orçamento O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – O que
deste imperio a despeza determinada para o serviço de tem isso com a força de linha?
guerra, sem contar a marinha de guerra. Parece-me que é O SR. POMPEU: – ...mandou logo carregar de
excessiva em circumstancias de paz e que o governo espada sobre o povo.
poderia muito bem conciliar o serviço publico com outros O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Isso é
interesses sociaes, reduzindo essa despeza, principiando outra questão, não é questão do exercito.
pelo material do exercito e pelo pessoal para alliviar os O SR. POMPEU: – E’ outra questão, certamente,
contribuintes desse excesso de onus ou então dar uma de que não posso agora tratar senão incidentemente para
applicação mais util a tão consideravel somma de modo a mostrar o espirito de pouca disciplina que ha no exercito.
produzir ou augmentar vantagens sociaes. O SR. BARROS BARRETO: – Pois contrario, prova
E por fallar no exercito, Sr. presidente, e em sua disciplina.
disciplina, não posso deixar de tocar, ainda que seja O SR. POMPEU: – Pois a disciplina consiste em
incidentemente, em uma circumstancia que se liga a um desconhecer as leis do paiz, em atropellar o povo, em
facto muito grave que acaba de occorrer na cidade do violar os direitos do cidadão? Não é de janisaros ou
Recife. pretorianos que o exercito de um povo livre deve ser.
Parece, Sr. presidente, que uma parte do nosso O SR. BARROS BARRETO: – Consiste em
exercito não se acha animada do espirito de civismo e de obedecer ás ordens das autoridades constituidas.
obediencia ás leis do paiz e de respeito aos direitos do O SR. POMPEU: – Se o exercito abdica a
cidadão. Noto em algumas partes a facilidade com que faculdade de pensar, para só obedecer à ordem; ainda
soldados e officiaes se transviam dos seus deveres, caprichosa e illegal do superior, se um official general se
desconhecem as leis civis, atacam os cidadãos e ostentam julga autorisado a dispensar a lei, e todos os direitos, então
mesmo desprezo completo á autoridade civil e ás garantias o exercito está forá da lei; é um instrumento de tyrannia.
individuaes do cidadão. O SR. JUNQUEIRA (Ministro da Guerra): – Então
Eu poderia citar, e já o tenho feito, alguns actos quer que o soldado discuta a lei com seu superior?
praticados não só por soldados, como por officiaes que O SR. POMPEU: – Não fallo do soldado, fallo do
desrespeitaram inteiramente as leis e a magistrados na general e quero suppor em abono do credito do presidente
minha provincia, e lá continuam atropelando o povo a da provincia que elle não teria ordenado a perversidade ou
pretexto de recrutamento; porém agora acaba de dar-se no insensatez de mandar praticar aquelle excesso, porque,
Recife o facto gravissimo de um official general, magistrado como é e illustrado, se quizesse mandar
commandante das armas, desconhecer inteiramente o dispersar
nosso codigo e os direitos mais sagrados do cidadão, indo,
posto que com ordem illegal, com um esquadrão de
cavallaria intimar ao povo inerme reunido pacificamente no
exercicio do seu direito que se retire de uma praça publica,
e antes que esse povo tivesse tempo de mover-se, mandar
carregar sobre elle com espadas e sabres, atropellal-o,
pisal-o...
O SR. BARROS BARRETO: – Não apoiado.
292 Sessão em 31 de Maio

o ajuntamento, aliás consentido por elle, teria ordenado isto renda que produz esse estabelecimento e acha-se apenas
de maneira conveniente, como determina a lei, isto é por cerca de 700$. Talvez sómente a esperança de que para o
aquella autoridade a quem compete fazer a intimação, e futuro ella daria resultado que compensasse esse sacrificio;
depois empregaria os meios coercitivos se fosse mas esse futuro, essa esperança tem sido allegada
desobedecido. Portanto, a presença do general constantemente em todos os relatorios anteriores sem chegar
commandante das armas com uma força no logar onde sua realisação.
estava o povo reunido pacificamente exercendo um direito e O nobre ministro poder-nos-hia dizer tambem como
mandando carregar de espada sobre esse povo inerme vão as colonias militares. S. Ex. dá uma triste noticia dellas
revela da parte desse general um desconhecimento completo no seu relatorio, e, estando autorisado para reformar, esse
de nossas leis e dos direitos individuaes e uma propotencia serviço, não sei se já fez essa reforma, não consta do seu
extraordinaria que lamento: isso não é disciplina de um relatorio ultimo, segundo me diz aqui um collega.
official que deve conhecer e respeitar as leis do paiz, para Ora, se as colonias militares estão em estado
cuja defeza se mantem tão caramente o exercito. deploravel, como declara o honrado ministro não seria
O SR. PARANAGUA’: – Dizem que appareceu conveniente reduzil-as, visto como talvez o seu numero
fardado o juiz de paz. crescido obste a que o governo possa exercer a devida
O SR. POMPEU: – Não sei o que é juiz de paz inspecção e fiscalisação em todas ellas por falta de pessoal
fardado. competente? Se não podemos ter dez, doze ou vinte colonias
O SR. BARROS BARRETO: – E’ o mesmo militares, porque não temos com quem povoal-as, nem
commandante das armas. E’ para fazer rir. pessoas de sufficiente capacidade para administral-as, era
O SR. POMPEU: – Não posso discutir essa questão certamente mais conveniente que o governo reduzisse esse
agora, por não caber neste debate e respeitar o regimento, numero á metade, concentrasse mais esses nucleos de
limito-me ás considerações que acabo de fazer para população e escolhesse pessoas mais habilitadas para
demonstrar que, à proporção que despendemos milhares e administral-os.
milhares de contos com o exercito, parece que sua disciplina Não sei qual a reforma que o nobre ministro quer
não é, pelo menos, uma garantia para as liberdades publicas, fazer a este respeito, mas entendo que esta seria uma das
desde que um general, um commandante de armas, se medidas a tomar, isto é, reduzir o seu numero, dotal-as de
arroga o poder discricionario de mandar dispersar á maior população e de pessoas competentes que possam
espadeiradas um ajuntamento licito do povo e a mandar além dirigil-as.
disso arrebentar as portas de um edificio publico onde se Não sei se essas colonias militares que, aliás, pesam
achavam alguns cidadãos respeitaveis que tinham fallado ao ao Estado consideravelmente, teem dado algum lucro, teem
povo, não para prendel-os, mas para espancal-os. Isso só produzido alguma renda. Creio que não, bem que uma das
podem praticar os regulos africanos; mas officiaes de um paiz colonias, a de Itapura, segundo a exposição que della fez o
que se diz constitucional, ou não sabem o que fizeram, ou tenente-coronel Clarindo Queiroz, annexa ao relatorio de
não respeitam as leis, e são por conseguinte uma ameaça Maio do anno passado, se acha em muito boas condições,
para as instituições. dirigida por um habil e digno official. Infelizmente penso que
Vejo, Sr. presidente, uma verba de 48:000$ para as outras não estão nas mesmas condições desta.
fabricas. Não quero, Sr. presidente, tomar mais tempo ao
Pergunto ao honrado ministro se a despeza senado, por isso findo aqui as minhas observações, pedindo
consignada nesta verba tem por fim a fabrica de Ipanema, de desculpa ao honrado ministro por minhas impertinencias.
que falla em seu relatorio anterior; e como S. Ex. nos disse Ficou adiada a discussão pela hora.
quando discutiamos aqui a proposta de fixação de forças que
esperava em pouco receber a noticia de que o ferro jorrava SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA.
naquella fabrica, animo-me a perguntar a S. Ex. se já
recebeu esta grata noticia, se já tem jorrado o ferro e que REPRESENTAÇÃO CONTRA OS BISPOS DE
vantagem se tem colhido dos novos apparelhos de que PERNAMBUCO E PARÁ.
mandou dotar aquella fabrica.
No estado em que se acha a fabrica de Ipanema, Entrou em discussão o requerimento do Sr. Vieira da
depois de ter absorvido sommas tão consideraveis, entendo Silva para pedir-se informações ao governo acerca das
que, com effeito, o governo não pôde hoje abandonal-a; providencias tomadas em razão das representações feitas
porém nem por isto deixo de reconhecer que teria sido da contra alguns actos dos bispos de Pernambuco e Pará.
maior conveniencia passar aquella fabrica, aquella rica mina Ninguem pedindo a palavra e nem havendo quorum
de ferro, á industria particular, mediante as condições que o para votar-se ficou encerrada a discussão.
governo quizesse estipular em bem do serviço publico.
Estou convencido, pois, que aquella fabrica, aquelle ESTATISTICA CRIMINAL.
mineral tão rico explorado pela industria particular, teria ha
muito tempo não só utilisado ao governo ministrando-lhe o Seguiu-se em discussão o requerimento do Sr.
ferro de que precisasse por mais modico preço do que Figueira de Mello para pedir-se ao governo um mappa dos
aquelle que vem do estrangeiro, como ao publico em geral; crimes desde 1867 a 1872.
teria sido tambem uma fonte de renda para o paiz, ao passo O SR. POMPEU: – Sr. presidente, por mais de uma
que, continuando a ser administrada pelo governo, como tem vez tenho tratado dos factos a que se referiu o nobre senador
sido até hoje, vae sendo sempre uma fonte de despeza por minha provincia e mostrado que trazendo esses
improductiva para o Estado. desagradaveis successos ao conhecimento do senado, não
Todos os annos figura no orçamento a fabrica de tinha por fim senão chamar a attenção do governo para a
Ipanema com dezenas de contos de réis; mas procure-se a repressão dos delictos.
O nobre senador, que não está bem informado do que
se passa no Ceará, disse que os crimes não se teem
augmentado ultimamente alli mais do que em época anterior
Sessão em 31 de Maio 293

nem com relação ás outras provincias; entretanto a senador mesmo acaba de declarar que não teve a
minha asserção do incremento espantoso de intenção de ferir-me, deixo de responder-lhe e
attentados é confessada pelo proprio vice- desisto da palavra para que se vote seu
presidente, cujo relatorio já li aqui. requerimento.
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Não havia Ficou encerrada a discussão por não haver
mais crimes no Ceará do que em outras provincias. quorum para votar-se.
O SR. POMPEU: – Ora não contesto essa
these ao nobre senador e por isso não impugno seu RECURSOS Á CORÔA.
requerimento.
O SR. JAGUARIBE:– Já é uma vantagem. Entrou em discussão o requerimento do Sr.
O SR. POMPEU: – Não sei se se tem visconde de Souza Franco para pedir-se
praticado mais crimes no Ceará do que em outras informações ao governo acerca dos recursos á
provincias. Corôa contra as autoridades ecclesiasticas nos
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Em relação annos de 1871,1872 e 1873.
á população. O Sr. Mendes de Almeida pronunciou um
O SR. POMPEU: – Não tenho feito estudos discurso que publicaremos no appendice.
estatisticos, comparando a moralidade das Ficou adiada a discussão pela hora.
provincias quanto aos actos criminosos. O Sr. presidente deu a ordem do dia para 2
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – E’ o que fiz. de Junho:
O SR. POMPEU: – Não sei se em outras 1ª parte, até 3 horas. – 3ª discussão da
provincias o crime é em maior escala do que no proposição da camara dos Srs. deputados
Ceará. E nem esse estudo comparativo aproveita á concedendo isenção de direitos à Companhia
questão de que se trata. Guanabara.
Só quero arredar de mim a pecha que o 2ª ditas da proposição da mesma camara
nobre senador de alguma maneira quiz lançar-me... com os pareceres das respectivas commissões:
O SR. FIGUEIRA DE MELLO: – Até resalvei Autorisando o governo a conceder a
as suas intenções. graduação ao posto de tenente ao alferes Joaquim
O SR. POMPEU: – ...de que, trazendo ao José de Mello.
conhecimento do senado e do governo esses Idem a conceder isenção de direitos para o
factos, de algum modo rebaixava a moralidade do monumento que se pretende erigir na praça
Ceará. Riachuelo na cidade da Bahia.
Por vezes tenho protestado contra tal 2ª discussão do projecto de lei do orçamento.
imputação que só a injusta malevolencia podia 2ª parte, ás 3 horas. – Discussão do projecto
inventar; e como o nobre de resposta á falla do throno.
Levantou-se a sessão às 4 horas e 20
minutos da tarde.

Você também pode gostar