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6/4/12 TCU ‑ Portal de Pesquisa Textual

Segunda­feira, 4 de Junho de 2012. 

Pesquisa número: 2
Pesquisa refinada: {tagRefQ}
Pesquisa em formulário ­ argumentos livres: Maria teresa
Expressão de Pesquisa:
saenz surita juca
Bases pesquisadas: Acórdãos
Documento da base: Acórdão
Documentos recuperados: 12
Documento Mostrado: 11
 
 

Identificação
Acórdão 7027/2010 ­ Segunda Câmara

Número Interno do Documento
AC­7027­40/10­2

Grupo/Classe/Colegiado
GRUPO II / CLASSE I / Segunda Câmara

Processo
825.151/1997­0 

Natureza
Recurso de Reconsideração (Tomada de Contas Especial)

Entidade
Entidade: Prefeitura Municipal de Boa Vista ­ RR

Interessados
Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Prefeitura Municipal de Boa Vista ­ RR (05.943.030/0001­55); Maria
Tereza Saenz Surita Jucá (CPF: 385.344.601­91).
3.2. Responsável: Maria Tereza Saenz Surita Jucá (CPF: 385.344.601­91)

Sumário
RECURSO  DE  RECONSIDERAÇÃO.  TOMADA  DE  CONTAS  ESPECIAL.  RECURSOS
TRANSFERIDOS  APLICADOS  PARCIALMENTE  COM  DESVIO  DE  OBJETO,  MAS  NÃO  COM  DESVIO  DE
FINALIDADE. CONHECIMENTO. PROVIMENTO PARCIAL. INSUBSISTÊNCIA DO DÉBITO. CIÊNCIA AOS
INTERESSADOS. ARQUIVAMENTO

Assunto
Recurso de Reconsideração (Tomada de Contas Especial)

Ministro Relator
RAIMUNDO CARREIRO

Relator da Deliberação Recorrida
BENJAMIN ZYMLER

Representante do Ministério Público
Procurador Marinus Eduardo de Vries Marsico

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Unidade Técnica
Secretaria de Controle Externo ­ RR (SECEX­RR)

Advogado Constituído nos Autos
Antônio Carlos Nantes de Oliveira (OAB­DF 731­A); Roberto Rodrigues (OAB­DF 2.137­
A); Márcio Ricardo Gardiano Rodrigues (OAB­MS 2.756); Marcos Fernando Galdiano Rodrigues (OAB­
SP 165.034); Oscar L. de Morais (OAB­DF 4.300); Gustavo Souto (OAB­DF 14.717)

Relatório do Ministro Relator
Trata­se  do  recurso  de  reconsideração  impetrado  pela  Sra.  Maria  Tereza  Saenz  Surita
Jucá, ex­prefeita de Rio Branco/RR, por intermédio do seu representante devidamente constituído (fls.
1/5, vol. 1), contra o Acórdão nº 76/2001 ­ 2ª Câmara, proferido em sessão de 22/2/2001, inserido
na Ata nº 6/2001­2ªC, que julgou irregulare a Tomada de Contas Especial e imputou débito de CR$
7.425.000,00  (sete  milhões  quatrocentos  e  vinte  cinco  mil  cruzeiros  reais)  à  responsável,  em
decorrência da não aprovação da prestação de contas dos recursos recebidos por meio da Portaria nº
6/FNS/17.08.1993 do Fundo Nacional de Saúde, com o objetivo de reaparelhar o serviço do Sistema
Único de Saúde (SUS) no Município de Boa Vista no Estado de Roraima (fls. 304/305, vol. principal).
2.  Nesta  fase,  são  analisados  os  novos  documentos  apresentados  espontaneamente
pela  recorrente  (fls.  37/70,  vol.  2)  e  os  documentos  apresentados  pelo  Banco  do  Brasil  (fls.  71/75,
vol. 2) atendendo à diligência promovida em cumprimento ao Acórdão nº 881/2004 ­ 2ª Câmara (fls.
31, vol. 2).
Histórico
3. Os fundamentos do Acórdão atacado para o julgamento pela irregularidade das contas
foram (fls. 304, vol. principal):
a) a prestação de contas não comprovou a regular aplicação dos recursos recebidos;
b) os recursos foram administrados em conta corrente diversa da que recebeu o crédito;
c) a responsável não demonstrou a transferência de recursos da conta mencionada na
portaria para a conta que supostamente teria gerenciado os recursos;
d)  falta  de  comprovação  de  que  os  materiais  apresentados  na  relação  de  bens  foram
adquiridos com os recursos federais repassados por meio da Portaria nº 6/FNS/93;
e) existem 13 notas fiscais sem identificação do convênio a que se referem;
g)  as  despesas  ocorreram  fora  do  período  compreendido  entre  o  recebimento  e  a
retirada dos recursos da conta corrente 31.663­6;
h) houve desvio do objeto previsto no plano de trabalho da referida Portaria;
4. Às fls. 13/17, do volume 2, o Relatório do Ministro­Relator transcreve a instrução (fls.
58/64,  vol.  1)  produzida  pela  Serur  por  ocasião  da  análise  de  novos  elementos  de  defesa
apresentados pela recorrente (fls. 45/56, vol. 1), que veio a concluir pelo conhecimento e provimento
parcial  do  recurso,  apenas  no  que  tange  à  exclusão  da  revelia  (art.  12,  §  3º  da  Lei  nº  8.443/92)
como um dos fundamentos do Acórdão atacado, mantendo­se intacto o restante.
5.  Com  o  parecer  concordante  do  Parquet  (fls.  66,  vol.  1)  o  processo  foi  colocado  em
pauta à deliberação da Segunda Câmara, em 14/11/2002. Na oportunidade Ministro Valmir Campelo
solicitou  vista  dos  autos  e,  em  seguida,  determinou  a  realização  de  diligência  junto  à  Divisão  de
Auditoria  do  Escritório  de  Representação  do  Ministério  da  Saúde  em  Roraima,  para  que  fossem
confirmadas  as  informações  descritas  no  Relatório  de  Auditoria  Especial,  realizada  na  Prefeitura
Municipal de Boa Vista/RR, no período de 3 a 19/5/1995, principalmente as relativas ao processo nº
25.000.012073/93­39 (fls. 83, vol. 1).
5.1. Em atendimento à diligência, após consulta à Coordenação de Prestação de Contas
(CPCONT),  o  responsável,  em  relação  ao  referido  convênio,  confirmou  as  informações  apresentadas
no  referido  Relatório  e  ratificou  a  não  aprovação  da  respectiva  Prestação  de  Contas,  ressaltando  as
seguintes irregularidades (fls. 92/100, vol. 1):
a)  "despesas  pagas  com  recursos  da  conta  corrente  n.  35.850­9  BB/AS,  quando  a
transferência ocorreu na conta n. 31.663­6";
b) "todas as despesas tem datas anteriores ou posteriores à vigência do termo";
c)  "90%  (noventa  por  cento)  dos  materiais  adquiridos  não  fazem  parte  do  plano  de

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trabalho e não foi apresentada nenhuma solicitação para alteração";
d) "algumas cópias de notas fiscais sem a identificação do convênio".
5.2.  Diante  desses  fatos,  o  Relator,  concordando  com  a  análise  da  unidade  técnica  e
com o parecer do Ministério Público, convenceu­se de que a recorrente não conseguira esclarecer as
irregularidades pelas quais fora condenada, principalmente, em relação ao débito, "qual seja a falta de
comprovação de que os materiais apresentados na relação de bens foram adquiridos com os recursos
da  Portaria  6/FNS/93."  Tais  irregularidades  restaram  confirmadas  pelas  informações  e  documentos
apresentados  em  atendimento  às  diligências  feitas  à  responsável  e  ao  Ministério  da  Saúde  (fls.  19,
vol. 2).
6. Apesar disso, na Sessão de 27/5/2004 da Segunda Câmara, na qual o processo fora
submetido à deliberação, o Ministro Humberto Souto formulou Voto Revisor, que resultou no Acórdão
nº 881/2004 ­ 2ª Câmara (fls. 30, vol. 2).
6.1. No Voto que conduziu o citado Acórdão o Ministro Revisor, após minucioso exame
dos autos (fls. 25/29, vol. 2), evidenciou a persistência da seguinte dúvida: "se o resgate dos valores
aplicados em FAF vinculado à conta 31.663­6 não teriam sido creditados na conta 35.850­9, o que
afastaria  a  acusação  de  que  a  Prefeitura  não  utilizou  os  recursos  do  convênio  na  aquisição  dos
equipamentos." (fls. 28, vol. 2).
6.2. A fim de sanar tal questão, o referido Acórdão determinou à Secex/RR a realização
de  diligência  ao  Banco  do  Brasil,  para  que  este  encaminhasse  os  extratos  bancários  que
demonstrassem a movimentação da conta corrente nº 31.663­6 nos meses de janeiro a agosto de
1994, inclusive os valores aplicados.
Admissibilidade
7. O exame preliminar de admissibilidade concluiu pela possibilidade de conhecimento do
recurso (fls. 8, vol. 1). O Relator sorteado, Ministro Linconln Magalhães da Rocha, determinou à Serur
a instrução do feito (fls. 10, vol. 1).
7.1. A juntada dos novos documentos apresentados pela recorrente foi autorizada pelo
Relator ad quem (fls. 35, vol. 2).
Mérito
8.  A  seguir  transcrevo,  nos  termos  do  art.  1º,  §  3º,  inciso  I,  da  Lei  nº  8.443/92,
excerto da instrução lavrada no âmbito da Serur, contendo o resumo das informações extraídas dos
documentos  encaminhados  pelo  Banco  do  Brasil  (fls.  71/75,  vol.  2)  e  dos  apresentados  pela
recorrente (fls. 37/70, vol. 2), com as respectivas análises.
"8.1.  O  extrato  da  conta  31.663­6,  referente  ao  mês  de  agosto  de  1994  registra  um
resgate final no dia 18.08.1994, por meio de ordem bancária (código 132), de R$ 22.263,50 (vinte e
dois mil duzentos e sessenta e três reais e cinqüenta centavos ­ fls. 72, vol. 02).
8.1.1.  Esses  R$  22.263,50  foram  creditados  no  dia  18.08.1994,  por  meio  de  ordem
bancária, na conta n. 35.850­9, a qual seria a conta de movimentação da Prefeitura (fls. 45, vol. 02).
Tal depósito está registrado, no mesmo dia, no extrato da referida conta (fls. 70, vol. 02).
8.1.2. A atualização monetária dos recursos, considerando apenas o período da aplicação
financeira (de 03.01.1994 a 18.08.1994) resulta um valor de R$ 23.373,90 (fls. XX, vol. 02). Assim,
há  uma  defasagem  de  R$  1.110,4  entre  os  recursos  inicialmente  aplicados  e  o  valor  finalmente
sacado (menos de 5%). Essa defasagem poderia ser explicada, em parte, pela falta de aplicação dos
recursos em julho de 1994 (fls. 46, vol. 02).
8.1.3. Às fls. 39, deste, a recorrente apresenta uma relação de pagamentos "referentes
ao convênio", pagos com recursos da conta 35.850­9. Como se pode observar, os pagamentos datam
de 25 de fevereiro a 21 de março de 1994. O cômputo desses valores atualizados monetariamente
para a data de 18.08.94 (Sistema Débito) resulta uma soma de R$ 18.284,62.
8.1.4. A soma dos rendimentos das aplicações financeiras da conta 31.663­6, de janeiro
até  junho  de  1994,  resulta  em  CR$  38.138.637,77,  equivalentes  à  R$  13.868,53.  Estes  somados
aos  R$  5.694,92,  que  renderam  em  agosto,  resultam  em  R$  19.563,45.  Estes  somados  ao  valor
nominalmente transferido (CR$ 7.425.000,00) convertidos em reais (R$ 2.700,00 ­ Sistema Débito,
fls. XX, vol. 02) somam R$ 22.263,45 (vinte e dois mil duzentos e sessenta e três reais e quarenta e
cinco centavos), isto é, o mesmo valor do saque final (18.08.94). Pode­se concluir, pelo exposto, que
o  saque  final  é  igual  ao  capital  inicialmente  aplicado  mais  a  soma  dos  rendimentos  líquidos,  sem

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qualquer outra dedução para realização de despesas.
8.1.5. Além das movimentações para aplicação financeira e do saque final, não há, nos
extratos apresentados (fls. 72/75, vol. 02), registros de outras saídas da conta 31.663­6 no período
de dezembro de 1993 a agosto de 1994.
8.1.6. Para se confirmar a hipótese aventada no Voto Revisor (item 6.1.), os recursos
da  aplicação  feita  por  meio  da  conta  31.663­6  deveriam  passar  para  a  conta  35.850­9  sem  deixar
qualquer  vestígio  nos  extratos  da  conta  original.  Além  disso,  se  ao  final  de  pouco  mais  de  8  meses
quase todo o montante do dinheiro transferido foi sacado da conta original, e se os pagamentos foram
efetuadas  nesse  mesmo  período  com  a  transferência  desses  recursos,  então,  para  suportar  essas
despesas e o saque final (R$ 18.284,62 + R$ 22.263,50 = R$ 40.548,12), a aplicação deveria ter
rendido juros reais de mais de 80% no período (R$ 40.548,12 / R$ 22.263,50 = 1,82).
8.1.7.  Como  tais  circunstâncias,  além  de  extremamente  remotas,  para  não  se  dizer
inviáveis, não restaram demonstradas nos autos, não há, pois, como vincular as despesas alegadas
pela recorrente aos recursos transferidos pela Portaria.
8.1.8.  Diversamente,  o  que  restou  sobejamente  comprovado  nos  autos  é  que  os
recursos transferidos não poderiam ter sido utilizados nas alegadas despesas, já que se encontravam
aplicados no mercado financeiro quando da realização das mesmas.
8.1.9.  Além  disso,  como  90%  das  despesas  alegadas  não  faziam  parte  do  objeto  do
convênio,  está  demonstrado  que  apenas  foram  realizadas  despesas  similares  ou  do  mesmo  gênero
das previstas para o objeto do convênio (conforme detalhadas no respectivo plano de trabalho) com
recursos da conta de movimento da Prefeitura. Não há nos autos registro de despesas do Convênio
relacionadas aos recursos federais transferidos pela Portaria n. 06/93/FNS.
8.1.10.  Conclui­se  do  exposto  que  somente  houve  transferência  de  recursos  da  conta
original da Portaria (c/c n. 31.663­6), para a conta que supostamente teria gerenciado os recursos do
convênio  (n.  35.850­9),  cinco  meses  após  a  aquisição  dos  alegados  bens.  Logo,  estes  não  foram
adquiridos com os recursos transferidos e, sim, com outros recursos geridos pela Prefeitura.
8.2. Portanto, quanto ao convênio avençado por meio da Portaria n. 06/FNS, conclui­se
que os materiais relacionadas na prestação de contas não foram adquiridos com os recursos federais
transferidos e que estes, ao final, não foram devolvidos à conta do concedente, em desconformidade
ao previsto nos termos da respectiva Portaria e na legislação aplicável à matéria (IN­STN n. 02/93 e a
atual, IN­STN n. 01/97; Dec. n. 93.872/86; Dec­lei n. 200/67; Lei n. 8.666/93, art. 116).
8.3. Mantém­se, por conseguinte, não só inalterados, mas fortalecidos, os fundamentos
do  Acórdão  recorrido,  a  menos  quanto  à  revelia  da  recorrente,  mas  principalmente  quanto  à  não
comprovação da regular aplicação dos recursos federais recebidos.
Conclusão
9.  Ex  positis,  concluímos  que  as  alegações  trazidas  pelo  recorrente  merecem  acolhida
parcial (item 4.). Assim, submetemos os autos à consideração superior, propondo ao Tribunal que:
a)  Com  fulcro  no  art.  32,  inciso  I,  e  art.  33  da  Lei  8.443/92,  conheça  do  presente
recurso, para, no mérito, dar­lhe provimento parcial, retirando a menção ao "art. 12, § 3º" da Lei n.
8.443/92 do rol de fundamentos do Acórdão n. 076/2001­TCU­2ª Câmara, mantendo­se inalterado o
restante.
b) Dê ciência ao recorrente da deliberação que vier a ser proferida, enviando­lhe cópia do
Acórdão.
c)  Remeta  cópia  da  nova  documentação  produzida  pertinente  ao  Ministério  Público  da
União, na forma preconizada no art. 16, § 3º, da Lei n. 8.443/92."
9. O gerente responsável e o titular da unidade técnica (fl. 119, volume 2), assim como
o Ministério Público junto ao Tribunal, representado pelo Procurador Marinus Eduardo de Vries Marsico
(fl. 120, volume 2), anuíram à proposta supra

Voto do Ministro Relator
VOTO
O presente Recurso de Reconsideração merece ser acolhido com fundamento nos arts.
32, inciso I, e 33, da Lei nº 8.443/92, c/c o art. 285 do RI/TCU.
2.  Os  argumentos  apresentados  pela  recorrente  foram  tratados  por  meio  da  análise

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empreendida  pela  Secretaria  de  Recursos,  consignada  no  Relatório  precedente.  A  proposta
apresentada,  ratificada  pelo  MP/TCU,  é  pelo  conhecimento  e  provimento  parcial  do  recurso  em
análise, mantendo­se o débito e o julgamento pela irregularidade das contas.
3.  Os  autos  evidenciam  irregularidades  na  gestão  dos  recursos  recebidos  por  força  da
Portaria  nº  Portaria  nº  6/FNS,  de  17/8/93,  que  ensejaram  o  julgamento  pela  irregularidade  das
presentes contas e em débito a Sra. Maria Teresa Saenz Surita Jucá.
4. Posto que não constasse no Plano de Trabalho (fls. 2/5) o número da conta corrente
recebedora  dos  recursos,  uma  vez  transferidos  os  valores  para  uma  determinada  conta,  nesta
deveriam ser movimentados todos os recursos, nos termos do art. 16 da IN nº 2/STN, de 19/4/93,
combinado  com  o  item  IV  da  Portaria  nº  6/FNS,  de  17/8/93.  Como  este  procedimento  não  foi
seguido, não foi acatada a justificativa referente às despesas pagas com recursos da conta corrente
nº 35.850­9 do Banco do Brasil.
5. Conforme extrato da conta corrente nº 31.663­6 (recebedora dos recursos), o valor
de CR$ 7.425.000,00 foi creditado em 14/12/1993 e debitado em 3/1/1994, o que demonstra que
os  pagamentos  efetuados  não  foram  realizados  com  recursos  recebidos  por  força  da  Portaria  nº
6/FNS, de 17/8/93, já que ocorreram fora do período em que os recursos foram mantidos na conta
recebedora (14/12/93 a 3/1/94).
6.  Importante  mencionar  que  a  manutenção  de  conta  única,  além  de  constituir  regra
infralegal, possui o condão de permitir o cotejamento dos valores recebidos e pagos, associando, dessa
forma, a realização do objeto ao recurso recebido para esse fim.
7.  O  Plano  de  Trabalho  (fls.  3/5)  previa  aquisição  de  diversos  equipamentos  para  as
unidades de saúde do município de Boa Vista. A vasta documentação carreada aos autos demonstra
que os recursos transferidos pela União para o município foram efetivamente empregados em prol da
sociedade, conforme anotado no próprio Voto condutor da decisão atacada:
"(...)
5. Ainda que a aquisição desses materiais tenha­se revertido em prol da comunidade de
Boa  Vista,  o  que  poderia  ensejar,  em  tese,  o  julgamento  pela  regularidade  com  ressalva,  em
conformidade com a jurisprudência desta Corte, não demonstram os extratos bancários apresentados
(fls. 155/172) que esses materiais foram adquiridos com recursos da Portaria em comento.
(...)
7. A mera existência física de determinados materiais não possui o condão de relacioná­
los ao adimplemento do objeto com os recursos recebidos. (...)".
8.  Quanto  aos  dispêndios  realizados  fora  da  vigência  do  ajuste,  penso  que  algumas
circunstâncias fáticas, devem ser consideradas atenuantes das irregularidades cometidas, tendo em
vista, sobretudo, que os recursos em discussão tinham como destinação a área de Saúde, sendo um
dos projetos objetivando o reaparelhamento dos serviços do SUS. Conforme visto, alguns itens foram,
de fato, adquiridos antes da liberação dos recursos. Consoante registrado nos autos, tal fato deu­se
em  razão  da  necessidade  urgente  de  algumas  unidades  de  saúde,  sendo  os  itens  necessários  ao
pronto atendimento da população e com base em informações de que os recursos seriam liberados. Já
os dispêndios efetuados após a vigência do convênio deu­se em razão no atraso na operacionalização
dos processos administrativos (fl. 40, volume principal).
9. Não desconheço que, independentemente da demonstração do alcance da finalidade
avençada,  é  necessário  que  o  responsável  comprove  o  nexo  de  causalidade  entre  as  despesas
efetuadas com os recursos transferidos pela União e a consecução desse objeto.
10. Entretanto, a análise das despesas inicialmente tidas como irregulares revela que,
embora  aqueles  valores  não  tenham  sido  aplicados  no  plano  de  trabalho  previsto,  destinaram­se  a
despesas diretamente relacionadas à área da Saúde, razão pela qual o afastamento do débito mostra­
se razoável.
11.  De  fato,  verifico  que  essa  foi  a  proposta  inicial  da  unidade  técnica  (fls.  261/262,
volume  principal),  corroborada,  à  época  pelo  Ministério  Público  junto  ao  Tribunal,  representado  pela
então Procuradora Maria Alzira Ferreira.
12. Lembro que em diversos julgados, esta Corte de Contas tem afastado a ocorrência
de débito quando a aplicação ocorreu em benefício da comunidade. Nesse sentido estão, por exemplo,
as decisões citadas na instrução (Acórdãos n.ºs 70/2002 e 345/2002, da 2ª Câmara, e Acórdãos nºs

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407/2001 e 700/2001, da 1ª Câmara). Ao meu ver, essa posição é razoavelmente admissível visto
que o objeto que recebeu os recursos guarda afinidade com o objeto do convênio. Nesses casos, pode­
se conceber que a alteração do objeto, se requerida, poderia, em tese, ter sido aprovada pelo Órgão
ou Entidade concedente.
13.  Sobre  o  tema,  destaco  excerto  do  Voto  condutor  do  Acórdão  nº  5.300/2008  ­  2ª
Câmara, cujo o Relator foi o eminente Ministro Benjamin Zymler, in verbis:
"(...)
5. Destaco que, em casos em que o gestor comprova a utilização dos recursos recebidos
em  benefício  da  comunidade,  na  finalidade  conveniada,  ainda  que  o  objeto  seja  diferente  daquele
previsto no plano de trabalho, é pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de julgamento das
contas pela regularidade com ressalvas.
(...)"
14.  Nessa  mesma  linha  já  se  pronunciou  esta  Corte  em  diversas  oportunidades.  Cito,
nesse  sentido,  os  Acórdãos  nº  2.258/2009  e  3.567/2008,  ambos  da  Segunda  Câmara  e  nº
1.960/2007 ­ Primeira Câmara. No caso em análise, a aplicação dos recursos, embora com desvio do
objeto, não o foi com desvio de finalidade, posto que se deu na mesma natureza daquela inicialmente
acertada, com benefício à comunidade.
15.  Em  que  pese  o  desvio  de  objeto  na  aplicação  dos  recursos  públicos,  não  é  demais
lembrar que o Tribunal tem julgado contas regulares com ressalvas, dando quitação aos responsáveis,
quando constatada a ausência de locupletamento e o efetivo atendimento do interesse da população
local. Nestes casos, esta Corte, diante da idoneidade da documentação, bem como de outros fatores
atenuantes,  inclina­se  no  sentido  de  não  considerar  o  desvio  de  objeto,  como  fundamento  para  a
imputação de débito.
16. Destaco que a análise dos elementos constantes dos autos não aponta para o fato
de que as inconsistências verificadas tenham ocorrido por dolo ou desídia do gestor. Também, não há
elementos  que  demonstrem  desvio  de  recursos  ou  locupletamento  por  parte  da  responsável
relativamente ao indigitado valor.
17.  Sendo  assim,  considerando  que  a  evolução  jurisprudencial  desta  Corte  vem
consolidando  o  entendimento  de  que  tal  prática  caracteriza  desvio  de  objeto  em  benefício  da
comunidade,  passível  de  afastar  a  ocorrência  de  débito  e  levando  em  conta  que  a  análise  dos
elementos  constantes  dos  autos  não  permite  concluir  que  as  inconsistências  apontadas  tenham
ocorrido  por  dolo  ou  desídia  do  gestor,  com  as  vênias  de  estilo  por  dissentir  do  encaminhamento
sugerido  pela  unidade  técnica,  julgo  adequado  acatar  os  elementos  recursais  apresentados  pela
recorrente, dando provimento ao recurso.
18.  Por  fim,  tendo  em  vista  que  o  Acórdão  atacado  determinou  ao  Fundo  Nacional  de
Saúde (FNS) que procedesse à inclusão do nome da responsável no Cadin, julgo pertinente que seja
determinado ao FNS que providencie a retirada do nome da recorrente daquele cadastro.
19.  Ante  o  exposto,  Voto  por  que  o  Tribunal  adote  a  minuta  de  Acórdão  que  ora
submeto à apreciação deste Colegiado.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 23 de novembro de
2010.
RAIMUNDO CARREIRO
Relator

Acórdão
VISTOS,  relatados  e  discutidos  estes  autos  em  que,  nesta  fase,  aprecia­se  Recurso  de
Reconsideração  interposto  por  Maria  Tereza  Saenz  Surita  (CPF:  385.344.601­91),  ex­prefeita  do
Município de Boa Vista no Estado de Roraima, em face do Acórdão nº 76/2001 ­ 2ª Câmara, por meio
do  qual  o  Tribunal  julgou  irregulares  as  presentes  contas  e  em  débito  a  responsável,  pelo  valor
histórico de CR$ 7.425.000,00 (sete milhões quatrocentos e vinte cinco mil cruzeiros reais)
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Segunda
Câmara, diante das razões expostas pelo Relator.
9.1. com fundamento nos arts. 32, inciso I, e 33 da Lei nº 8.443, de 1992, conhecer
do  presente  Recurso  de  Reconsideração,  para,  no  mérito,  dar­lhe  provimento,  a  fim  de  tornar

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insubsistente o Acórdão nº 76/2001 ­ 2ª Câmara;
9.2. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso II, e 18, da Lei nº 8.443, de 16
de julho de 1992, julgar regulares, com ressalva, as contas da responsável Maria Tereza Saenz Surita
Jucá (CPF: 385.344.601­91), ex­prefeita do Município de Boa Vista no Estado de Roraima, dando­lhe
quitação;
9.3.  determinar  ao  Fundo  Nacional  de  Saúde  que  proceda  à  retirada  do  nome  da
recorrente  Maria  Tereza  Saenz  Surita  Jucá  (CPF:  385.344.601­91)  do  Cadin,  no  que  tange  às
presentes contas;
9.4.  encaminhar  cópia  deste  Acórdão,  bem  como  do  Relatório  e  do  Voto  que  o
fundamentam:
9.4.1. ao Ministério da Saúde;
9.4.2. ao Fundo Nacional de Saúde;
9.4.3. à Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR;
9.4.4. à recorrente;
9.5. arquivar os presentes autos

Quorum
13.1.  Ministros  presentes:  Benjamin  Zymler  (Presidente),  Aroldo  Cedraz,  Raimundo
Carreiro (Relator) e José Jorge.
13.2. Auditores presentes: Augusto Sherman Cavalcanti e André Luís de Carvalho

Publicação
Ata 40/2010 ­ Segunda Câmara
Sessão 23/11/2010
Dou 02/12/2010

Referências (HTML)
Documento(s):AC_7027_40_10_2.doc
 
 

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