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Segundafeira, 4 de Junho de 2012.
Pesquisa número: 2
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Expressão de Pesquisa:
saenz surita juca
Bases pesquisadas: Acórdãos
Documento da base: Acórdão
Documentos recuperados: 12
Documento Mostrado: 11
Identificação
Acórdão 7027/2010 Segunda Câmara
Número Interno do Documento
AC702740/102
Grupo/Classe/Colegiado
GRUPO II / CLASSE I / Segunda Câmara
Processo
825.151/19970
Natureza
Recurso de Reconsideração (Tomada de Contas Especial)
Entidade
Entidade: Prefeitura Municipal de Boa Vista RR
Interessados
Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Prefeitura Municipal de Boa Vista RR (05.943.030/000155); Maria
Tereza Saenz Surita Jucá (CPF: 385.344.60191).
3.2. Responsável: Maria Tereza Saenz Surita Jucá (CPF: 385.344.60191)
Sumário
RECURSO DE RECONSIDERAÇÃO. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. RECURSOS
TRANSFERIDOS APLICADOS PARCIALMENTE COM DESVIO DE OBJETO, MAS NÃO COM DESVIO DE
FINALIDADE. CONHECIMENTO. PROVIMENTO PARCIAL. INSUBSISTÊNCIA DO DÉBITO. CIÊNCIA AOS
INTERESSADOS. ARQUIVAMENTO
Assunto
Recurso de Reconsideração (Tomada de Contas Especial)
Ministro Relator
RAIMUNDO CARREIRO
Relator da Deliberação Recorrida
BENJAMIN ZYMLER
Representante do Ministério Público
Procurador Marinus Eduardo de Vries Marsico
contas.tcu.gov.br/portaltextual/MostraDocumento?p=1&doc=11&templ=default&qn=2 1/7
6/4/12 TCU ‑ Portal de Pesquisa Textual
Unidade Técnica
Secretaria de Controle Externo RR (SECEXRR)
Advogado Constituído nos Autos
Antônio Carlos Nantes de Oliveira (OABDF 731A); Roberto Rodrigues (OABDF 2.137
A); Márcio Ricardo Gardiano Rodrigues (OABMS 2.756); Marcos Fernando Galdiano Rodrigues (OAB
SP 165.034); Oscar L. de Morais (OABDF 4.300); Gustavo Souto (OABDF 14.717)
Relatório do Ministro Relator
Tratase do recurso de reconsideração impetrado pela Sra. Maria Tereza Saenz Surita
Jucá, exprefeita de Rio Branco/RR, por intermédio do seu representante devidamente constituído (fls.
1/5, vol. 1), contra o Acórdão nº 76/2001 2ª Câmara, proferido em sessão de 22/2/2001, inserido
na Ata nº 6/20012ªC, que julgou irregulare a Tomada de Contas Especial e imputou débito de CR$
7.425.000,00 (sete milhões quatrocentos e vinte cinco mil cruzeiros reais) à responsável, em
decorrência da não aprovação da prestação de contas dos recursos recebidos por meio da Portaria nº
6/FNS/17.08.1993 do Fundo Nacional de Saúde, com o objetivo de reaparelhar o serviço do Sistema
Único de Saúde (SUS) no Município de Boa Vista no Estado de Roraima (fls. 304/305, vol. principal).
2. Nesta fase, são analisados os novos documentos apresentados espontaneamente
pela recorrente (fls. 37/70, vol. 2) e os documentos apresentados pelo Banco do Brasil (fls. 71/75,
vol. 2) atendendo à diligência promovida em cumprimento ao Acórdão nº 881/2004 2ª Câmara (fls.
31, vol. 2).
Histórico
3. Os fundamentos do Acórdão atacado para o julgamento pela irregularidade das contas
foram (fls. 304, vol. principal):
a) a prestação de contas não comprovou a regular aplicação dos recursos recebidos;
b) os recursos foram administrados em conta corrente diversa da que recebeu o crédito;
c) a responsável não demonstrou a transferência de recursos da conta mencionada na
portaria para a conta que supostamente teria gerenciado os recursos;
d) falta de comprovação de que os materiais apresentados na relação de bens foram
adquiridos com os recursos federais repassados por meio da Portaria nº 6/FNS/93;
e) existem 13 notas fiscais sem identificação do convênio a que se referem;
g) as despesas ocorreram fora do período compreendido entre o recebimento e a
retirada dos recursos da conta corrente 31.6636;
h) houve desvio do objeto previsto no plano de trabalho da referida Portaria;
4. Às fls. 13/17, do volume 2, o Relatório do MinistroRelator transcreve a instrução (fls.
58/64, vol. 1) produzida pela Serur por ocasião da análise de novos elementos de defesa
apresentados pela recorrente (fls. 45/56, vol. 1), que veio a concluir pelo conhecimento e provimento
parcial do recurso, apenas no que tange à exclusão da revelia (art. 12, § 3º da Lei nº 8.443/92)
como um dos fundamentos do Acórdão atacado, mantendose intacto o restante.
5. Com o parecer concordante do Parquet (fls. 66, vol. 1) o processo foi colocado em
pauta à deliberação da Segunda Câmara, em 14/11/2002. Na oportunidade Ministro Valmir Campelo
solicitou vista dos autos e, em seguida, determinou a realização de diligência junto à Divisão de
Auditoria do Escritório de Representação do Ministério da Saúde em Roraima, para que fossem
confirmadas as informações descritas no Relatório de Auditoria Especial, realizada na Prefeitura
Municipal de Boa Vista/RR, no período de 3 a 19/5/1995, principalmente as relativas ao processo nº
25.000.012073/9339 (fls. 83, vol. 1).
5.1. Em atendimento à diligência, após consulta à Coordenação de Prestação de Contas
(CPCONT), o responsável, em relação ao referido convênio, confirmou as informações apresentadas
no referido Relatório e ratificou a não aprovação da respectiva Prestação de Contas, ressaltando as
seguintes irregularidades (fls. 92/100, vol. 1):
a) "despesas pagas com recursos da conta corrente n. 35.8509 BB/AS, quando a
transferência ocorreu na conta n. 31.6636";
b) "todas as despesas tem datas anteriores ou posteriores à vigência do termo";
c) "90% (noventa por cento) dos materiais adquiridos não fazem parte do plano de
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trabalho e não foi apresentada nenhuma solicitação para alteração";
d) "algumas cópias de notas fiscais sem a identificação do convênio".
5.2. Diante desses fatos, o Relator, concordando com a análise da unidade técnica e
com o parecer do Ministério Público, convenceuse de que a recorrente não conseguira esclarecer as
irregularidades pelas quais fora condenada, principalmente, em relação ao débito, "qual seja a falta de
comprovação de que os materiais apresentados na relação de bens foram adquiridos com os recursos
da Portaria 6/FNS/93." Tais irregularidades restaram confirmadas pelas informações e documentos
apresentados em atendimento às diligências feitas à responsável e ao Ministério da Saúde (fls. 19,
vol. 2).
6. Apesar disso, na Sessão de 27/5/2004 da Segunda Câmara, na qual o processo fora
submetido à deliberação, o Ministro Humberto Souto formulou Voto Revisor, que resultou no Acórdão
nº 881/2004 2ª Câmara (fls. 30, vol. 2).
6.1. No Voto que conduziu o citado Acórdão o Ministro Revisor, após minucioso exame
dos autos (fls. 25/29, vol. 2), evidenciou a persistência da seguinte dúvida: "se o resgate dos valores
aplicados em FAF vinculado à conta 31.6636 não teriam sido creditados na conta 35.8509, o que
afastaria a acusação de que a Prefeitura não utilizou os recursos do convênio na aquisição dos
equipamentos." (fls. 28, vol. 2).
6.2. A fim de sanar tal questão, o referido Acórdão determinou à Secex/RR a realização
de diligência ao Banco do Brasil, para que este encaminhasse os extratos bancários que
demonstrassem a movimentação da conta corrente nº 31.6636 nos meses de janeiro a agosto de
1994, inclusive os valores aplicados.
Admissibilidade
7. O exame preliminar de admissibilidade concluiu pela possibilidade de conhecimento do
recurso (fls. 8, vol. 1). O Relator sorteado, Ministro Linconln Magalhães da Rocha, determinou à Serur
a instrução do feito (fls. 10, vol. 1).
7.1. A juntada dos novos documentos apresentados pela recorrente foi autorizada pelo
Relator ad quem (fls. 35, vol. 2).
Mérito
8. A seguir transcrevo, nos termos do art. 1º, § 3º, inciso I, da Lei nº 8.443/92,
excerto da instrução lavrada no âmbito da Serur, contendo o resumo das informações extraídas dos
documentos encaminhados pelo Banco do Brasil (fls. 71/75, vol. 2) e dos apresentados pela
recorrente (fls. 37/70, vol. 2), com as respectivas análises.
"8.1. O extrato da conta 31.6636, referente ao mês de agosto de 1994 registra um
resgate final no dia 18.08.1994, por meio de ordem bancária (código 132), de R$ 22.263,50 (vinte e
dois mil duzentos e sessenta e três reais e cinqüenta centavos fls. 72, vol. 02).
8.1.1. Esses R$ 22.263,50 foram creditados no dia 18.08.1994, por meio de ordem
bancária, na conta n. 35.8509, a qual seria a conta de movimentação da Prefeitura (fls. 45, vol. 02).
Tal depósito está registrado, no mesmo dia, no extrato da referida conta (fls. 70, vol. 02).
8.1.2. A atualização monetária dos recursos, considerando apenas o período da aplicação
financeira (de 03.01.1994 a 18.08.1994) resulta um valor de R$ 23.373,90 (fls. XX, vol. 02). Assim,
há uma defasagem de R$ 1.110,4 entre os recursos inicialmente aplicados e o valor finalmente
sacado (menos de 5%). Essa defasagem poderia ser explicada, em parte, pela falta de aplicação dos
recursos em julho de 1994 (fls. 46, vol. 02).
8.1.3. Às fls. 39, deste, a recorrente apresenta uma relação de pagamentos "referentes
ao convênio", pagos com recursos da conta 35.8509. Como se pode observar, os pagamentos datam
de 25 de fevereiro a 21 de março de 1994. O cômputo desses valores atualizados monetariamente
para a data de 18.08.94 (Sistema Débito) resulta uma soma de R$ 18.284,62.
8.1.4. A soma dos rendimentos das aplicações financeiras da conta 31.6636, de janeiro
até junho de 1994, resulta em CR$ 38.138.637,77, equivalentes à R$ 13.868,53. Estes somados
aos R$ 5.694,92, que renderam em agosto, resultam em R$ 19.563,45. Estes somados ao valor
nominalmente transferido (CR$ 7.425.000,00) convertidos em reais (R$ 2.700,00 Sistema Débito,
fls. XX, vol. 02) somam R$ 22.263,45 (vinte e dois mil duzentos e sessenta e três reais e quarenta e
cinco centavos), isto é, o mesmo valor do saque final (18.08.94). Podese concluir, pelo exposto, que
o saque final é igual ao capital inicialmente aplicado mais a soma dos rendimentos líquidos, sem
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qualquer outra dedução para realização de despesas.
8.1.5. Além das movimentações para aplicação financeira e do saque final, não há, nos
extratos apresentados (fls. 72/75, vol. 02), registros de outras saídas da conta 31.6636 no período
de dezembro de 1993 a agosto de 1994.
8.1.6. Para se confirmar a hipótese aventada no Voto Revisor (item 6.1.), os recursos
da aplicação feita por meio da conta 31.6636 deveriam passar para a conta 35.8509 sem deixar
qualquer vestígio nos extratos da conta original. Além disso, se ao final de pouco mais de 8 meses
quase todo o montante do dinheiro transferido foi sacado da conta original, e se os pagamentos foram
efetuadas nesse mesmo período com a transferência desses recursos, então, para suportar essas
despesas e o saque final (R$ 18.284,62 + R$ 22.263,50 = R$ 40.548,12), a aplicação deveria ter
rendido juros reais de mais de 80% no período (R$ 40.548,12 / R$ 22.263,50 = 1,82).
8.1.7. Como tais circunstâncias, além de extremamente remotas, para não se dizer
inviáveis, não restaram demonstradas nos autos, não há, pois, como vincular as despesas alegadas
pela recorrente aos recursos transferidos pela Portaria.
8.1.8. Diversamente, o que restou sobejamente comprovado nos autos é que os
recursos transferidos não poderiam ter sido utilizados nas alegadas despesas, já que se encontravam
aplicados no mercado financeiro quando da realização das mesmas.
8.1.9. Além disso, como 90% das despesas alegadas não faziam parte do objeto do
convênio, está demonstrado que apenas foram realizadas despesas similares ou do mesmo gênero
das previstas para o objeto do convênio (conforme detalhadas no respectivo plano de trabalho) com
recursos da conta de movimento da Prefeitura. Não há nos autos registro de despesas do Convênio
relacionadas aos recursos federais transferidos pela Portaria n. 06/93/FNS.
8.1.10. Concluise do exposto que somente houve transferência de recursos da conta
original da Portaria (c/c n. 31.6636), para a conta que supostamente teria gerenciado os recursos do
convênio (n. 35.8509), cinco meses após a aquisição dos alegados bens. Logo, estes não foram
adquiridos com os recursos transferidos e, sim, com outros recursos geridos pela Prefeitura.
8.2. Portanto, quanto ao convênio avençado por meio da Portaria n. 06/FNS, concluise
que os materiais relacionadas na prestação de contas não foram adquiridos com os recursos federais
transferidos e que estes, ao final, não foram devolvidos à conta do concedente, em desconformidade
ao previsto nos termos da respectiva Portaria e na legislação aplicável à matéria (INSTN n. 02/93 e a
atual, INSTN n. 01/97; Dec. n. 93.872/86; Declei n. 200/67; Lei n. 8.666/93, art. 116).
8.3. Mantémse, por conseguinte, não só inalterados, mas fortalecidos, os fundamentos
do Acórdão recorrido, a menos quanto à revelia da recorrente, mas principalmente quanto à não
comprovação da regular aplicação dos recursos federais recebidos.
Conclusão
9. Ex positis, concluímos que as alegações trazidas pelo recorrente merecem acolhida
parcial (item 4.). Assim, submetemos os autos à consideração superior, propondo ao Tribunal que:
a) Com fulcro no art. 32, inciso I, e art. 33 da Lei 8.443/92, conheça do presente
recurso, para, no mérito, darlhe provimento parcial, retirando a menção ao "art. 12, § 3º" da Lei n.
8.443/92 do rol de fundamentos do Acórdão n. 076/2001TCU2ª Câmara, mantendose inalterado o
restante.
b) Dê ciência ao recorrente da deliberação que vier a ser proferida, enviandolhe cópia do
Acórdão.
c) Remeta cópia da nova documentação produzida pertinente ao Ministério Público da
União, na forma preconizada no art. 16, § 3º, da Lei n. 8.443/92."
9. O gerente responsável e o titular da unidade técnica (fl. 119, volume 2), assim como
o Ministério Público junto ao Tribunal, representado pelo Procurador Marinus Eduardo de Vries Marsico
(fl. 120, volume 2), anuíram à proposta supra
Voto do Ministro Relator
VOTO
O presente Recurso de Reconsideração merece ser acolhido com fundamento nos arts.
32, inciso I, e 33, da Lei nº 8.443/92, c/c o art. 285 do RI/TCU.
2. Os argumentos apresentados pela recorrente foram tratados por meio da análise
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empreendida pela Secretaria de Recursos, consignada no Relatório precedente. A proposta
apresentada, ratificada pelo MP/TCU, é pelo conhecimento e provimento parcial do recurso em
análise, mantendose o débito e o julgamento pela irregularidade das contas.
3. Os autos evidenciam irregularidades na gestão dos recursos recebidos por força da
Portaria nº Portaria nº 6/FNS, de 17/8/93, que ensejaram o julgamento pela irregularidade das
presentes contas e em débito a Sra. Maria Teresa Saenz Surita Jucá.
4. Posto que não constasse no Plano de Trabalho (fls. 2/5) o número da conta corrente
recebedora dos recursos, uma vez transferidos os valores para uma determinada conta, nesta
deveriam ser movimentados todos os recursos, nos termos do art. 16 da IN nº 2/STN, de 19/4/93,
combinado com o item IV da Portaria nº 6/FNS, de 17/8/93. Como este procedimento não foi
seguido, não foi acatada a justificativa referente às despesas pagas com recursos da conta corrente
nº 35.8509 do Banco do Brasil.
5. Conforme extrato da conta corrente nº 31.6636 (recebedora dos recursos), o valor
de CR$ 7.425.000,00 foi creditado em 14/12/1993 e debitado em 3/1/1994, o que demonstra que
os pagamentos efetuados não foram realizados com recursos recebidos por força da Portaria nº
6/FNS, de 17/8/93, já que ocorreram fora do período em que os recursos foram mantidos na conta
recebedora (14/12/93 a 3/1/94).
6. Importante mencionar que a manutenção de conta única, além de constituir regra
infralegal, possui o condão de permitir o cotejamento dos valores recebidos e pagos, associando, dessa
forma, a realização do objeto ao recurso recebido para esse fim.
7. O Plano de Trabalho (fls. 3/5) previa aquisição de diversos equipamentos para as
unidades de saúde do município de Boa Vista. A vasta documentação carreada aos autos demonstra
que os recursos transferidos pela União para o município foram efetivamente empregados em prol da
sociedade, conforme anotado no próprio Voto condutor da decisão atacada:
"(...)
5. Ainda que a aquisição desses materiais tenhase revertido em prol da comunidade de
Boa Vista, o que poderia ensejar, em tese, o julgamento pela regularidade com ressalva, em
conformidade com a jurisprudência desta Corte, não demonstram os extratos bancários apresentados
(fls. 155/172) que esses materiais foram adquiridos com recursos da Portaria em comento.
(...)
7. A mera existência física de determinados materiais não possui o condão de relacioná
los ao adimplemento do objeto com os recursos recebidos. (...)".
8. Quanto aos dispêndios realizados fora da vigência do ajuste, penso que algumas
circunstâncias fáticas, devem ser consideradas atenuantes das irregularidades cometidas, tendo em
vista, sobretudo, que os recursos em discussão tinham como destinação a área de Saúde, sendo um
dos projetos objetivando o reaparelhamento dos serviços do SUS. Conforme visto, alguns itens foram,
de fato, adquiridos antes da liberação dos recursos. Consoante registrado nos autos, tal fato deuse
em razão da necessidade urgente de algumas unidades de saúde, sendo os itens necessários ao
pronto atendimento da população e com base em informações de que os recursos seriam liberados. Já
os dispêndios efetuados após a vigência do convênio deuse em razão no atraso na operacionalização
dos processos administrativos (fl. 40, volume principal).
9. Não desconheço que, independentemente da demonstração do alcance da finalidade
avençada, é necessário que o responsável comprove o nexo de causalidade entre as despesas
efetuadas com os recursos transferidos pela União e a consecução desse objeto.
10. Entretanto, a análise das despesas inicialmente tidas como irregulares revela que,
embora aqueles valores não tenham sido aplicados no plano de trabalho previsto, destinaramse a
despesas diretamente relacionadas à área da Saúde, razão pela qual o afastamento do débito mostra
se razoável.
11. De fato, verifico que essa foi a proposta inicial da unidade técnica (fls. 261/262,
volume principal), corroborada, à época pelo Ministério Público junto ao Tribunal, representado pela
então Procuradora Maria Alzira Ferreira.
12. Lembro que em diversos julgados, esta Corte de Contas tem afastado a ocorrência
de débito quando a aplicação ocorreu em benefício da comunidade. Nesse sentido estão, por exemplo,
as decisões citadas na instrução (Acórdãos n.ºs 70/2002 e 345/2002, da 2ª Câmara, e Acórdãos nºs
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407/2001 e 700/2001, da 1ª Câmara). Ao meu ver, essa posição é razoavelmente admissível visto
que o objeto que recebeu os recursos guarda afinidade com o objeto do convênio. Nesses casos, pode
se conceber que a alteração do objeto, se requerida, poderia, em tese, ter sido aprovada pelo Órgão
ou Entidade concedente.
13. Sobre o tema, destaco excerto do Voto condutor do Acórdão nº 5.300/2008 2ª
Câmara, cujo o Relator foi o eminente Ministro Benjamin Zymler, in verbis:
"(...)
5. Destaco que, em casos em que o gestor comprova a utilização dos recursos recebidos
em benefício da comunidade, na finalidade conveniada, ainda que o objeto seja diferente daquele
previsto no plano de trabalho, é pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de julgamento das
contas pela regularidade com ressalvas.
(...)"
14. Nessa mesma linha já se pronunciou esta Corte em diversas oportunidades. Cito,
nesse sentido, os Acórdãos nº 2.258/2009 e 3.567/2008, ambos da Segunda Câmara e nº
1.960/2007 Primeira Câmara. No caso em análise, a aplicação dos recursos, embora com desvio do
objeto, não o foi com desvio de finalidade, posto que se deu na mesma natureza daquela inicialmente
acertada, com benefício à comunidade.
15. Em que pese o desvio de objeto na aplicação dos recursos públicos, não é demais
lembrar que o Tribunal tem julgado contas regulares com ressalvas, dando quitação aos responsáveis,
quando constatada a ausência de locupletamento e o efetivo atendimento do interesse da população
local. Nestes casos, esta Corte, diante da idoneidade da documentação, bem como de outros fatores
atenuantes, inclinase no sentido de não considerar o desvio de objeto, como fundamento para a
imputação de débito.
16. Destaco que a análise dos elementos constantes dos autos não aponta para o fato
de que as inconsistências verificadas tenham ocorrido por dolo ou desídia do gestor. Também, não há
elementos que demonstrem desvio de recursos ou locupletamento por parte da responsável
relativamente ao indigitado valor.
17. Sendo assim, considerando que a evolução jurisprudencial desta Corte vem
consolidando o entendimento de que tal prática caracteriza desvio de objeto em benefício da
comunidade, passível de afastar a ocorrência de débito e levando em conta que a análise dos
elementos constantes dos autos não permite concluir que as inconsistências apontadas tenham
ocorrido por dolo ou desídia do gestor, com as vênias de estilo por dissentir do encaminhamento
sugerido pela unidade técnica, julgo adequado acatar os elementos recursais apresentados pela
recorrente, dando provimento ao recurso.
18. Por fim, tendo em vista que o Acórdão atacado determinou ao Fundo Nacional de
Saúde (FNS) que procedesse à inclusão do nome da responsável no Cadin, julgo pertinente que seja
determinado ao FNS que providencie a retirada do nome da recorrente daquele cadastro.
19. Ante o exposto, Voto por que o Tribunal adote a minuta de Acórdão que ora
submeto à apreciação deste Colegiado.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 23 de novembro de
2010.
RAIMUNDO CARREIRO
Relator
Acórdão
VISTOS, relatados e discutidos estes autos em que, nesta fase, apreciase Recurso de
Reconsideração interposto por Maria Tereza Saenz Surita (CPF: 385.344.60191), exprefeita do
Município de Boa Vista no Estado de Roraima, em face do Acórdão nº 76/2001 2ª Câmara, por meio
do qual o Tribunal julgou irregulares as presentes contas e em débito a responsável, pelo valor
histórico de CR$ 7.425.000,00 (sete milhões quatrocentos e vinte cinco mil cruzeiros reais)
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Segunda
Câmara, diante das razões expostas pelo Relator.
9.1. com fundamento nos arts. 32, inciso I, e 33 da Lei nº 8.443, de 1992, conhecer
do presente Recurso de Reconsideração, para, no mérito, darlhe provimento, a fim de tornar
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insubsistente o Acórdão nº 76/2001 2ª Câmara;
9.2. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso II, e 18, da Lei nº 8.443, de 16
de julho de 1992, julgar regulares, com ressalva, as contas da responsável Maria Tereza Saenz Surita
Jucá (CPF: 385.344.60191), exprefeita do Município de Boa Vista no Estado de Roraima, dandolhe
quitação;
9.3. determinar ao Fundo Nacional de Saúde que proceda à retirada do nome da
recorrente Maria Tereza Saenz Surita Jucá (CPF: 385.344.60191) do Cadin, no que tange às
presentes contas;
9.4. encaminhar cópia deste Acórdão, bem como do Relatório e do Voto que o
fundamentam:
9.4.1. ao Ministério da Saúde;
9.4.2. ao Fundo Nacional de Saúde;
9.4.3. à Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR;
9.4.4. à recorrente;
9.5. arquivar os presentes autos
Quorum
13.1. Ministros presentes: Benjamin Zymler (Presidente), Aroldo Cedraz, Raimundo
Carreiro (Relator) e José Jorge.
13.2. Auditores presentes: Augusto Sherman Cavalcanti e André Luís de Carvalho
Publicação
Ata 40/2010 Segunda Câmara
Sessão 23/11/2010
Dou 02/12/2010
Referências (HTML)
Documento(s):AC_7027_40_10_2.doc
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