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Qualidade e Segurança
em Anestesiologia
SBA
Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Rio de Janeiro
2012
Qualidade e Segurança em Anestesiologia
Copyright© 2012, Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer sistema, sem prévio consentimento da SBA.
Diretoria
José Mariano Soares de Moraes
Airton Bagatini
Ricardo Almeida de Azevedo
Sylvio Valença de Lemos Neto
Oscar César Pires
Antônio Fernando Carneiro
Fábio Maurício Topolski
Comissão de Qualidade e Segurança em Anestesia
Fabiane Cardia Salman
Luis Antonio dos Santos Diego
João Henrique Silva
Capa e diagramação
Marcelo de Azevedo Marinho
Supervisão
Maria de Las Mercedes Gregoria Martin de Azevedo
Revisão Bibliográfica
Teresa Maria Maia Libório
Colaboradores
Maria de Las Mercedes Gregoria Martin de Azevedo
Teresa Maria Maia Libório
Rodrigo Ribeiro Matos
José Bredariol Junior
Simone Soares Nascimento da Gama
Ficha catalográfica
S678q Qualidade e Segurança em Anestesiologia / Editores: Fabiane Cardia Salman, Luis Antonio dos
Santos Diego, João Henrique Silva, José Mariano Soares de Moraes e Antônio Fernando Carneiro
Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Anestesiologia/SBA, 2012.
196 p.; 25cm.; ilust.
ISBN 978-85-98632-16-2
Vários colaboradores.
1. Anestesiologia – Estudo e ensino. I. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. II. Moraes, José
Mariano Soares de. III. Carneiro, Antônio Fernando. IV. Salman, Fabiane Cardia. V. Silva, João
Henrique. VI. Diego, Luis Antonio dos Santos.
CDD - 617-96
AUTORES
Airton Bagatini
•• TSA/SBA
•• Instrutor corresponsável pelo CET SANE
•• Gestor do bloco cirúrgico do Hospital Ernesto Dornelles
Giorgio Pretto
•• TSA/SBA
Marcos Charf
•• Membro do Comitê de Qualidade em Anestesiologia do Hospital Albert Einstein
•• Representante da SBA na ABNT e na ANVISA/MS entre 1996 e 2000
Este livro é de fundamental importância para o anestesiologista, pelo simples fato de que foi
idealizado com o objetivo de se tornar um material de informação e consulta ao profissional da área,
no que se relaciona a segurança e qualidade do ato anestésico.
Um dos elementos que torna essa obra singular é a simplificação e unificação das infor-
mações tidas como essenciais e básicas, fazendo da mesma um “livro de cabeceira” que reafirma
conhecimentos e sana dúvidas com facilidade e rapidez.
A anestesia, desde sua apresentação primeira há mais de um século e meio, ainda é rodeada de
mitos e medos por parte de quem a recebe, e necessita ser apresentada com cuidados especiais para
que o paciente seja efetivamente fator positivo, no conjunto de fatores que torna o ato anestésico e
cirúrgico um sucesso.
Essa trajetória da anestesia vem sendo construída de avanços fantásticos em conhecimento te-
órico, fármacos cada vez mais aprimorados e tecnologia de ponta. Fruto de pesquisas e estudos de
seleto grupo de profissionais de diversas áreas. Esse conjunto de possibilidades subjaz aos procedi-
mentos tornando-os, cada vez mais possíveis e perfeitos.
Todos esses elementos por si só tornam-se inúteis se não agregarmos o mais importante – o
anestesista - que deles fará uso segundo sua maior ou menor competência, responsabilidade pessoal
e social, comprometimento com a formação continuada no campo da teoria e das práticas avança-
das, e principalmente a preocupação com a qualidade e segurança do ato anestésico.
Esperamos que esse trabalho seja aproveitado por todos. Que o divulguem e despertem sobre ele
a curiosidade. Será mais um passo na direção da busca da excelência em nosso cotidiano de trabalho.
Há mais de um século e meio a anestesiologia nasceu e firmou-se como especialidade médica sob
os princípios da qualidade e segurança. Não havia, em seu escopo, o diagnóstico da doença clínica
ou cirúrgica; muito menos a prescrição de algum medicamento ou alguma técnica cirúrgica, mas
sim a determinação de servir ao outro oferecendo o melhor cuidado possível em um dos momentos
de maior fragilidade e solidão que o homem pode se deparar em sua vida. A anestesiologia não nasceu,
portanto, com os anestésicos, pois eles já existiam; nasceu com a segurança ao administrá-los e
assim continua seguindo até nossos dias, conforme constatação expressa pelo Institute of Medicine
da Academia Americana de Ciências em um das publicações mais consagradas das últimas duas
décadas: To Err is Human: Building a Safer Health System*. A anestesiologia moderna atua como
um pivô na práxis interdisciplinar e tornam articuladas diversas engrenagens que antes pareciam
não se tocar. Essa articulação é cada vez mais necessária em função da magnitude de saberes que se
apresentam no cotidiano dos profissionais de saúde na era da informação.
Nessa nova era, a anestesiologia deve revestir sua missão de tornar exequível o projeto humano
de prolongar cada vez mais a vida e mitigar o sofrimento e, superando fronteiras, buscar na trans-
disciplinaridade o caminho da excelência. A Comunicação, a Sociologia, e a Psicologia são algumas
dessas disciplinas que, através de uma profícua e longa integração, têm muito a contribuir. O estudo
cada vez mais aprofundado do Fator Humano como causa de danos evitáveis – independentes da
capacitação técnico-científica do profissional – muito já contribuiu para esse avanço, contudo, muito
ainda há o que se fazer. Esta publicação percorre, em sua sequência de capítulos, os caminhos que
levam a minimizar erros e se “fazer a coisa certa”. Será facilmente percebido que não há atalhos
possíveis e será fundamental ter a resiliência quase que como norma.
Este livro foi idealizado em três partes, sendo que a primeira: “Princípios e Fundamentos da
Qualidade e Segurança” procura situar o leitor sobre os pilares da Qualidade e Segurança, desde a
taxonomia, os indicadores, os registros de eventos adversos, gerenciamento dos riscos e a almejada
cultura da segurança. Também são abordados aspectos relacionados à Organização e Gestão de
serviços de anestesia com foco na qualidade e segurança.
Por fim, na terceira parte, o leitor terá a seu dispor tópicos de reflexão relacionados à já referida
interdisciplinaridade da qualidade e segurança. Sob o entendimento de que a qualidade e a
segurança são sistêmicas e sua manutenção depende da interação dos profissionais de saúde,
inicialmente são apresentados aspectos relacionados à prevenção de erros relacionados a medi-
camentos, controle e prevenção de infecções no paciente cirúrgico, incorporação de tecnologia
e gerenciamento de equipamentos de anestesia, a importância da gestão do risco ocupacional e
programas de acreditação hospitalar.
Prefácio | 11
Aqueles que se dispuserem a lê-lo por inteiro terão ao final, certamente, adquirido uma base
sólida e de grande utilidade na prática do dia a dia como anestesiologista, mas também na vivência
como paciente, familiar ou gestor. A muitos outros, já iniciados, talvez esta singela obra possa
servir como uma consulta rápida sobre um tema específico, permitindo, na consulta às referências
elencadas informação sobre repositórios de Qualidade e Segurança na área da saúde.
* Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson MS, eds. To Err is Human:Building a Safer Health System. Washington,
DC: National Academy Press, 2000.
Qualidade e segurança em
saúde: alguns conceitos e
taxonomia
Luis Antonio dos Santos Diego
Fabiane Cardia Salman
Qualidade e segurança em saúde: alguns
conceitos e taxonomia
Introdução
A figura do médico “autônomo”, aquele que encerrava em si mesmo conhecimento médico, a
prática clínica e abrigava o controle de todos os fatores relativos às suas parcas intervenções, tornou-
-se apenas um arquétipo que, infelizmente, ainda habita o inconsciente de muitos profissionais mo-
dernos. O incrível avanço biopsicos social e tecnológico que a área da saúde experimenta há mais de
um século vem determinando diversas mudanças não só na realidade diária do médico e de outros
profissionais de saúde, mas também na gestão, quer da saúde pública, quer dos estabelecimentos
assistenciais de saúde privados. Foram três os fatores principais: o “empoderamento”, perante a
sociedade, de outras categorias não médicas, determinante para a abordagem multiprofissional; a
rápida geração e difusão do conhecimento científico, razão da especialização; ea consciência de
que a qualidade do diagnóstico e do cuidado prestados, como síntese da competência clínica do
profissional da saúde, não basta para que o paciente obtenha o melhor desfecho possível para o mal
que lhe aflige. Como consequência, a qualidade em serviços e sistemas de saúde tornou-se não só
tema central nas discussões sobre a reforma do sistema de saúde, mas também frequente destaque
na mídia global.
Em outra publicação, também paradigmática – Crossing the Quality Chasm: a New Health System
for the 21st Century12 –, o IOM, ao conceituar “qualidade em saúde”, lançou seu olhar não só para a
pessoa na condição de paciente, mas também para a sociedade (saúde da população). Estabeleceu
que a qualidade evolui conforme o grau com que os serviços de saúde aumentam a probabilidade de
se obter os resultados desejados e afirma que esses resultados devem ser consistentes com o conhe-
cimento profissional corrente. Deixa, assim, explícita sua adesão à medicina baseada em evidências,
apesar de considerar, sobremaneira, o valor da experiência clínica profissional. Complementou este
conceito detalhando as seis dimensões da qualidade inerentes à excelência dos serviços de saúde
(Quadro II12), as quais recomenda como objetivos a serem perseguidos.
Quadro II – Dimensões da Qualidade (IOM)
• Segurança – evitando lesões aos pacientes causadas pela ação do próprio cuidado
• Efetividade – provendo serviços baseados no conhecimento científico a todos aqueles que podem
dele se beneficiar e abstendo-se de praticar serviços naqueles que não se beneficiam (conceito de
underuse e overuse)
• Centrado no paciente – provendo cuidado respeitando as preferências, necessidades e valores dos
pacientes, além de assegurar que seus valores guiarão todas as decisões clínicas
• Oportuna – evitando-se a demora no atendimento e até mesmo retardos que possam causar danos a
ambos, pacientes e aqueles que prestam o cuidado
• Eficiente – evitando-se o desperdício, particularmente de equipamentos, suprimentos, ideias e energia
• Equânime – provendo o cuidado com a mesma qualidade, apesar de características pessoais, como
gênero, etnia, localização geográfica e condição socioeconômica.
Após estas considerações, pode-se melhor compreender o porquê de se referir, com frequência,
à qualidade e à segurança quase como um binômio na sua teorização, muito embora, na prática
Estudos em hospitais de vários países mostram a associação entre a ocorrência de incidentes que
ocasionam danos aos pacientes e o aumento do tempo de permanência 22 , da mortalidade e do gasto
hospitalar. No Brasil, pesquisa recente em três hospitais de ensino do Rio de Janeiro identificou uma
incidência de 7,6% de pacientes com eventos adversos, sendo 66,7% destes considerados evitáveis23.
Apesar de Hipócrates ter afirmado, há mais de dois mil anos, “primeiro, não cause dano”, até
recentemente os eventos adversos, os erros e os incidentes associados à assistência à saúde eram
Qualidade-Segurança e Anestesia
A organização do setor de anestesia em determinado estabelecimento assistencial de saúde tam-
bém não pode prescindir desses conceitos e ferramentas. Como consequência, o anestesiologista
precisa engajar-se na gestão da qualidade da organização para compreender as interações que ocor-
rem no sistema, mas deve também ter um olhar interno para o seu trabalho e procurar saber se está
fazendo o melhor possível 26. A administração de medicamentos é condição obrigatória na prática
do anestesista clínico, mas também fonte de erros com consequências desastrosas. A incidência
presumida de erro de medicamentos é de 1 equívoco de medicação a cada 13.000 administrações27.
Já existem barreiras para esse tipo de erro que podem e devem ser aplicadas cotidianamente nas
salas cirúrgicas, como, por exemplo, a rotulagem adequada das seringas durante o preparo do ato
anestésico. Este tema, de crucial importância para a segurança perioperatória, será abordado em
posterior capítulo nesta publicação.
Do diagnóstico cirúrgico até o final do ato anestésico-cirúrgico, muitas etapas terão de ser vencidas
e muitas outras mais também o serão, se considerarmos o cuidado com o paciente, além da alta hos-
pitalar. Em todas elas, os resultados podem não ocorrer como o esperado e interferir no desfecho
final. Também são muitos os participantes envolvidos nessas tarefas, com formações, habilidades
e competências diversas. Pode-se concluir, portanto, que o ambiente de trabalho do anestesista
é complexo, pois requer a interação com diversos outros profissionais e suas tarefas possuem um
grande potencial de incidentes. A frequência e magnitude desses incidentes podem, entretanto, ser
reduzidas, quando se tem maior atenção à comunicação, num esforço denominado de teamworking.
A anestesia, a exemplo da aviação comercial, vem implementando em alguns serviços o “Controle
de Recursos da Crise em Anestesia (ACRM)”, adaptado inicialmente por Gaba e col.28, com o apoio
da “Anesthesia Patient Safety Foudation” (APSF).
Técnicas de comunicação estruturadas (Quadro IV), algumas delas merecedoras de um capítulo
exclusivo, vêm auxiliando não só o anestesista, mas todo o time cirúrgico a aprimorar a qualidade
e a segurança, assim como consideradas boas práticas e tem recomendação de uso estabelecida na
Resolução CFM 1802/2006. Alguns momentos particulares, como na transferência de informações
entre equipes e setores (handoffs), tem sido objeto de estudo e discussão sobre ferramentas inova-
doras para a melhoria do processo com resultados satisfatórios29,30. Considerando-se o exposto até
o momento, entende-se que a anestesiologia deve pensar, futuramente, em melhorar a segurança
muito além do período intraoperatório31: pensar em como minimizar possíveis complicações das
intervenções que lhe são peculiares utilizando treinamento em simulação realística (vias aéreas,
p.ex.); pensar em como diminuir a ocorrência do erro humano que ocorre por deficiência em com-
petências específicas ou até mesmo violações aos padrões e excelência; pensar em como melhor
Quadro IV
• Ficha de avaliação pré-anestésica
• Ficha de anestesia
• Ficha de recuperação pós-anestésica
• Lista de verificação cirúrgica (Checklist cirurgia segura)
Taxonomia
A Classificação Internacional para a Segurança do Paciente (ICPS)32 foi desenvolvida pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) para facilitar a comparação, medição, análise e inter-
pretação de informações que melhorem o cuidado do paciente, já que o uso inconsistente da
terminologia e a variedade de definições - existem pelo menos 24 diferentes conceitos de erro
e 14 definições de evento adverso dificultam a comparação dos indicadores e resultados entre
as instituições de saúde.
A elaboração de uma taxonomia da área da Segurança do Paciente é fundamental, pois torna
consistente o uso de termos e conceitos e classificações, de forma acessível, compreensível e adaptá-
vel. Dentre os critérios subjacentes à classificação (ICPS), destacam-se a identificação e definição de
conceitos-chave da área de Segurança do Paciente; a adequação linguística e cultural das definições
e a conformidade com outras classificações da OMS.
Os termos mais importantes que são aplicáveis à anestesia e ao período perioperatório são:
Segurança do paciente: redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário
associado ao cuidado de saúde.
Evento: algo que acontece com o paciente ou envolve o paciente.
Incidente: evento ou circunstância que poderia ter resultado, ou resultou, em dano desnecessário
ao paciente. Incidentes podem ser oriundos de atos intencionais ou não intencionais.
Risco: probabilidade de um incidente ocorrer.
Perigo (hazard): circunstância, agente ou ação que pode causar dano.
Erro: definido como uma falha na execução de um plano de ação conforme pretendido ou apli-
cação de um plano incorreto. Pode ocorrer por fazer-se a coisa errada (erro de ação) ou por falhar-se
em fazer a coisa certa (erro de omissão) na fase de planejamento ou na fase de execução. Erros são,
por definição, não intencionais, enquanto violações são intencionais. Tanto erros quanto violações
aumentam o risco, até mesmo se um incidente não ocorre realmente.
Violação: divergência deliberada de um procedimento anestésico, um padrão ou uma regra. Embora
raramente maliciosas, as violações podem se tornar rotineiras e automáticas em certos contextos.
Dano: dano da estrutura ou função do corpo e/ou qualquer efeito deletério dele oriundo. Inclui
doenças, dano ou lesão, sofrimento, incapacidade ou disfunção e morte, e pode, assim, ser física, so-
cial ou psicológica. Dano associado ao cuidado de saúde: dano surgido por ou associado a planos
ou ações realizadas durante o cuidado de saúde, em vez de a uma doença de base ou lesão. Lesão:
dano para os tecidos causado por um agente ou um evento.
Pela ICPS, certas formas de dano, como uma incisão para laparotomia, por exemplo, são necessárias,
não sendo, portanto, consideradas incidentes. Já erros, violações, abusos ao paciente e atos deliberada-
mente inseguros ocorridos no cuidado de saúde são incidentes.
Considerações finais
O caminho da qualidade e segurança em saúde é o caminho correto, justo e necessário. Correto
porque está inserido na essência da medicina – fazer o bem e não causar dano. Justo porque é o que
todos esperam e merecem, tanto do sistema de saúde, quanto dos próprios profissionais que a ele
dedicam suas vidas. Necessário porque sempre haverá o que melhorar na qualidade do servir e na
garantia da segurança das pessoas que se encontram na condição, sempre fragilizada, de paciente.
Quanto aos profissionais de saúde, segundas vítimas do erro35, urge que: estudem, continuamen-
te e sem preconceitos, os princípios desse instigante tema; melhorem a comunicação entre pares,
pacientes, familiares, gestores, etc. e façam bom uso das ferramentas disponíveis para a prevenção
de eventos adversos evitáveis.
Referências bibliográficas:
1. Leape LL, Bennan TA, Laird NM et al. - The nature of adverse events in hospitalized patients. Results of the Harvard Medical
Practice Study II. N Engl J Med, 1991;324:377-384
2. Johnson WG, Brennan TA, Newhouse JP et al. - The economic consequences of medical injuries. Implications for a no-fault
insurance plan. JAMA,1992; 267:2487-2492.
3. Leape LL, Lawthers AG, Brennan TA et al. - Preventing medical injury. QRB Qual Rev Bull, 1993;19:144-149.
4. Institute of Medicine of the National Academies. Disponível em: http://www.iom.edu/About-IOM.aspx. Acesso em:
29/08/2012.
5. World Health Organization. Fifty-Eighth World Health Assembly A58/55. -Revision of the International Health Regulations.
Disponível em: <http://www.searo.who.int/linkfiles/strategic_alliance_ and_partnerships_9c_international_health_regula-
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6. Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson MS - To Err is Human: Building a Safer Health System. Washington, DC: National Academy
Press, 2000.
7. Cohen MM, Duncan PG, Pope WDB et al. - A survey of 112,000 anaesthetics at one teaching hospital (1975–1983). Can Anaesth
Soc J, 1986;33:22-31.
8. Best M, Neuhauser D - Avedis Donabedian: father of quality assurance and poet. Qual Saf Health Care, 2004;13:472-473.
9. Donabedian A - Evaluating the quality of medical care. 1966. Milbank Q , 2005;83:691-729.
10. Donabedian A – The Components of Quality in Health Care, em: Donabedian A – An Introduction to Quality Assurance in
Health Care, 1st Ed, New York, Oxford University Press, 2003;3-28.
11. Donabedian A - The seven pillars of quality. Arch Pathol Lab Med, 1990; 114:1115-1118.
A importância dos
indicadores da qualidade
em anestesia
Airton Bagatini
João Henrique Silva
A importância dos indicadores da
qualidade em anestesia
Introdução
Um sistema de gestão em que as pessoas são consideradas elementos importantes para o sucesso
da empresa, buscando, acima de tudo, a satisfação de seus clientes, através de uma parceria com seus
colaboradores e fornecedores, é denominado Qualidade Total. O princípio básico dos programas de
qualidade é a satisfação de todos: colaboradores, fornecedores e clientes1.
Adotar um programa de qualidade total significa também buscar melhoria contínua no atendimento,
redução de custos, diminuição de prazos e de desperdícios e, consequentemente, eliminação de erros.
A avaliação da qualidade médico-assistencial é feita por meio da vigilância epidemiológica
hospitalar, mediante levantamento de indicadores, e a qualidade do atendimento é avaliada pela
pesquisa de opinião do paciente2 .
Vigilância epidemiológica é a aplicação do método científico para a observação e análise das
múltiplas causas de um problema e a proposição de ações para sua solução. É a observação para
a ação. Foi introduzida em hospitais americanos para controlar doenças diarreicas na década de
1940 e infecções estafilocócicas, na década de 1950, e, a partir da década de 1970, foi adotada nos
hospitais brasileiros2 .
À medida que se desenvolvia o controle das infecções hospitalares, a demanda pela qualidade na
assistência médico-hospitalar abria novas perspectivas para a vigilância epidemiológica. Para che-
gar a uma moderna avaliação da qualidade médico-assistencial, é necessário ampliar o programa
de vigilância epidemiológica das complicações infecciosas hospitalares, incluindo indicadores de
problemas de natureza não infecciosa que comprometem essa assistência3.
Cuidados de saúde ineficientes resultam em expressiva morbidade e mortalidade evitáveis,
gastos adicionais com a manutenção dos sistemas de saúde e representam uma grande preocupa-
ção na atualidade 4.
Estudos em hospitais de vários países mostram uma associação entre a ocorrência de eventos
adversos – incidentes que ocasionam danos aos pacientes5 – e o aumento do tempo de permanência,
da mortalidade e do gasto hospitalar6,7.
A qualidade do cuidado em saúde é definida, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como
“o grau em que os serviços de saúde para indivíduos e população aumentam a probabilidade de
resultados desejados e é consistente com o conhecimento profissional atual”4.
A segurança é uma importante dimensão da qualidade que se refere ao direito das pessoas de
terem o risco de um dano desnecessário associado com o cuidado de saúde reduzido a um mínimo
aceitável. Erros, violações e falhas no processo do cuidado aumentam o risco de incidentes que
causam danos aos pacientes4.
A qualidade é um conceito multidimensional que requer diferentes abordagens para sua ava-
liação. Um indicador de qualidade pode ser definido como uma medida quantitativa sobre algum
aspecto do cuidado do paciente8. Seu uso permite o monitoramento do desempenho dos serviços de
saúde e a programação de ações de melhoria de qualidade e orienta os pacientes para que realizem
escolhas com base em informações fidedignas. A utilidade dos indicadores depende de sua validade,
confiabilidade e viabilidade9,10.
Embora restrito ao âmbito dos hospitais, o conceito de segurança segundo o projeto Performance
Assessment Tool for Quality Improvement in Hospitals (PATH)11 aborda um contexto mais amplo,
Atualidade
Hoje se observa uma verdadeira revolução na área de segurança em anestesia. Alguns fatos são
motivadores para essa ocorrência:
I- a constatação de que, ainda em 2010, existem eventos evitáveis, com morbimortalidade eleva-
da14,15, em hospitalizações, apesar das campanhas paralelas que ocorreram após a publicação
do livro Errar é humano16, em 1999, que apontavam para a necessária mudança de cultura;
II- o aumento dos gastos em saúde no contexto hospitalar e a pressão para diminuir os custos;
III- a campanha da OMS Cirurgias Seguras Salvam Vidas,17 um profundo estudo sobre os riscos
que comprometem os resultados;
IV- a possibilidade, com base na evolução atual da informatização, de se elaborarem bancos de
dados que permitam analisar as estruturas, os processos e os resultados das anestesias;
V- as instituições de acreditação, como a Joint Commission International (JCI)18, que promo-
vem e exigem práticas seguras, com o elenco de algumas tarefas: engajamento das metas
internacionais de segurança da OMS; exercício de utilização de indicadores de qualidade
como ferramenta para implementar melhorias; investigação dos eventos sentinela para
identificar as falhas dos sistemas e construir barreiras para evitá-los;
VI- a sensibilização da comunidade anestésica mundial para as campanhas de práticas seguras,
como a Declaração de Helsinque sobre a Segurança dos Pacientes19;
VII- o desejo de melhoria de nossa atividade, com busca ativa nos bancos de dados de suporte
para decisões clínicas com maior grau de confiança, como a criação do Instituto de
Qualidade em Anestesia (AQI) e o acesso ao Registro Americano de Anestesia (NACOR)20,
que envolve um número crescente de adeptos e, em abril de 2012, obteve 4 milhões de
procedimentos catalogados em seu banco de dados, o Anesthesia Incident Reporting System
(AIRS)21, com o intuito de analisar e sugerir condutas com base em relatos de incidentes
críticos da Sociedade Americana de Anestesia (ASA);
VIII- os movimentos para o “pagamento por performance”, que começaram premiando as ins-
tituições que adotaram condutas que melhoram os resultados, entre elas a administração
profilática de antibiótico e o manejo ativo da hipotermia perioperatória;
IX- a possibilidade de transformar o movimento anterior em punição por má performance
no futuro;
X- os programas de certificação ou recertificação, que necessitam de bancos de dados para
melhor identificar os valores estatísticos de desempenho entre anestesistas, instituindo
os percentuais mínimos desejáveis para a manutenção dos privilégios. O editorial do
Tipos de indicador
Um dos primeiros passos para o entendimento da gestão de processos é o estudo do modelo de
Fleming25. Pode-se observar que os resultados dependem de processos que, inevitavelmente, estão
sujeitos à estrutura e ao meio ambiente.
A estrutura é definida pelos insumos, como área física, recursos materiais (equipamento, fer-
ramenta, instrumental, financiamento, utensílio, tecido, gás, órtese e prótese), recursos humanos
e instrumentos de gestão, incluindo a estrutura organizacional e os modelos teóricos aplicados na
administração da instituição.
Quanto aos processos, eles podem ser definidos como toda tecnologia envolvida nos cuidados
ao paciente. É um conjunto de atividades com uma ou mais espécies de entrada e que cria uma saída
de valor par o cliente25. Eles também podem ser caracterizados como o conjunto de atividades de
trabalho inter-relacionadas que requerer certos insumos e tarefas particulares que implicam em um
valor agregado com vistas a obter resultados26.
Estrutura e processo caracterizam o meio interno da instituição. O meio ambiente, ou o meio
externo, demonstra os inúmeros fatores com suas variáveis que interferem no processo de produção
de programas e serviços27.
Os processos, através dos programas e serviços, necessitam ser avaliados e controlados quanto
a sua efetividade, eficácia, eficiência, produção, produtividade, qualidade e quanto à prevenção e
redução da morbimortalidade, além da imagem que representam para usuários e clientes, por meio
de indicadores que medem aspectos qualitativos e/ou quantitativos relativos ao meio ambiente, à
estrutura, aos processos e aos resultados28.
V- Outros
Existem outros tipos de indicador que podem ser específicos, como os indicadores de negócio
(casos, tipos de serviço, tipos de anestesia, estado físico, local, número de anestesistas, horas,
duração média de uma cirurgia), os indicadores de satisfação (satisfação geral, por serviço,
percentual de náuseas e vômitos, manejo da dor adequado no pós-operatório), os indicadores de
eventos adversos (relatos de eventos em sistemas organizados) e os indicadores de performance
do anestesista (avaliação de burnout).
Atributos
São atributos necessários para a criação dos indicadores29:
I- validade: o grau no qual o indicador cumpre o propósito de identificação de situações em
que a qualidade dos cuidados deve ser melhorada;
II- sensibilidade: o grau no qual o indicador é capaz de identificar todos os casos de cuidados
que apresentam problemas;
III- especificidade: o grau no qual o indicador é capaz de identificar somente aqueles casos que
apresentam problemas;
IV- simplicidade: quanto mais simples buscar, calcular e analisar, maiores são as chances de
oportunidades de utilização;
V- objetividade: todo indicador deve ter um objetivo claro, aumentando a fidedignidade do
que se busca;
VI- baixo custo: indicadores cujo valor financeiro é alto inviabilizam sua utilização rotineira,
sendo deixados de lado.
Montagem
A montagem de indicadores obedece a uma sequência lógica, de acordo com os nove itens seguintes30,31:
• nome do indicador (ou item de controle);
• fórmula (maneira de expressão, dependendo do tipo);
• tipo (taxa, coeficiente, índice, percentual, número absoluto, fato);
• fonte de informação (local de onde será extraída a informação);
Numeradores e denominadores
Em medicina e, especialmente, na anestesia, a confiabilidade da informação é fundamental para
nosso conhecimento. Entretanto, num exame mais acurado, como os dados de mortalidade, obser-
vam-se, nos trabalhos publicados32 , imperfeições, que vão desde a determinação do que realmente
é nexo causal anestésico ou apenas fator contribuinte. Por exemplo, em algumas publicações32 , a
estimativa de mortalidade em anestesia soma 17 milhões de pacientes, com 47 óbitos por 1 milhão,
se a média entre eles fosse contabilizada.
Em geral, no tratamento dos indicadores, o denominador é de fácil identidade, por ser ligado a
dados administrativos; já o numerador depende de um universo complexo. Os indicadores simples,
como a incidência de cefaleia após uma raquianestesia, para ser fiel, necessitam da obsessiva pes-
quisa no pós-operatório e de equipe organizada para a procura ativa dos dados, caso contrário, não
representam a realidade.
A tomada de decisão clínica em anestesia tem angariado suporte importante em outros métodos
que, na prática, têm se revelado poderosos. O Closed Claim Project, da ASA, produz, anualmente,
relatórios que analisam cuidadosamente as possíveis causas de eventos adversos e, com base neles,
são elaboradas medidas práticas para a melhoria do cuidado com o paciente. Por exemplo, casos de
perda de visão após cirurgia de coluna que foram parar no Judiciário em busca da reparação ao dano
têm provocado sugestões de estratégias preventivas.
Os programas de relatos de eventos adversos, em atividade nas diversas sociedades, quando
detectam achados coincidentes em um período curto de tempo, disparam um alerta para os profis-
sionais que, motivados, podem evitar problemas futuros. A Sociedade Brasileira de Anestesiologia
(SBA) projeta, em breve, colocar à disposição semelhante atividade.
Em todos os últimos exemplos, o numerador perde o valor. Entretanto, um evento grave sinaliza-
do e discutido por grupo de experts que buscam fatores determinantes, originando respostas rápidas
em forma de avisos, com orientação de manejo seguro, traz benefício à comunidade anestesiológica.
Na mesma linha de raciocínio estão as guidelines, em que, na maioria das construções, preponde-
ra a opinião de experts, e não o número de casos retirados de trabalhos publicados. O que também
se confirma quando a biblioteca Cochrane, frequentemente, abala paradigmas quando submete à
análise nossas práticas publicadas, colocando inúmeras interrogações.
Indicadores recomendados
Haller e cols. 33 , em revisão sistemática de 108 indicadores utilizados em serviços de aneste-
sia disponíveis em diversas publicações, observaram que a metade deles era relacionada direta-
mente com anestesia; 42% eram relacionados com processos e 57% com resultados. Identifica-
ram que 38% tinham evidência científica alta contra 62% baixa, o que sinaliza as dificuldades
de uniformização.
Coleta de informações
É preciso indicar claramente os dados que serão utilizados para medir o desempenho definido
no objetivo. Também é importante determinar como serão feitos os cálculos para a apuração do
indicador. Para isso, precisa-se de uma fórmula matemática.
Após determinar que dados serão coletados para a apuração do indicador, é preciso saber onde
encontrá-los. Provavelmente existem, na instituição, documentos ou formulários em que esses dados
estão registrados. Caso esses controles não existam, deverão ser criados.
Para completar, deve-se indicar a frequência da coleta dos dados, da apuração e da distribuição dos
resultados. Devem-se identificar as pessoas que vão implantar o indicador. Nesse grupo, deverão
participar pessoas que estejam diretamente envolvidas com o controle e a execução das funções ou
das atividades que serão avaliadas. O responsável pela apuração de um indicador deve ser claramen-
te definido e treinado para exercer a atividade. A metodologia mais simples é o anestesista inserir os
dados manualmente em planilhas, dados estes que serão analisados posteriormente.
É possível constituir projetos com base em amostras julgadas mínimas necessárias que representem
a população. A estatística estabelece o número e estima o erro padrão para o dado, baseado em
estimativa histórica conhecida ou em amostra de estudo-piloto.
Discute-se o instrumento de captura por métodos convencionais, porém, um estudo37 publi-
cado em 200938 mostrou que o preenchimento voluntário dos campos de avaliação da qualidade
pelo próprio anestesista seria sete vezes mais completo se as perguntas fossem dirigidas a eles no
fim da anestesia.
Na prática, inclusive das organizações de acreditação, já é de conhecimento comum que existem
indicadores de fácil reportagem e que são praticamente obrigatórios, porque geralmente implica o
envolvimento de vários atores no contexto, como a queda de um paciente. E outros de difícil sina-
lização, como reportar o uso equivocado de drogas quando este não ocasionou dano aparente ao
paciente, a chamada subnotificação.
O método ideal é um programa eletrônico, de fácil preenchimento, construído de maneira que
impeça que o profissional não forneça todos os dados, diminuindo consideravelmente a subnotificação.
A ASA estimula o credenciamento de empresas que produzem softwares elaborados para a captura
Barreiras
As principais barreiras para a adesão à sistemática de coletar indicadores de eventos adversos são:
I- razões cognitivas e de conduta: pouco conhecimento sobre o que constitui um evento adverso;
receio de problemas legais; vergonha etc.;
II- razões sistemáticas: perda de tempo; dificuldade de acesso; perda do anonimato; estrutura
lenta e desorganizada; interface mal desenhada; perda de feedback e valor não percebível da
necessidade de coletar os dados.
Motivação
Os pontos motivadores para que os anestesistas tenham, culturalmente, o envolvimento desejável
são o desenvolvimento de programas seguros, a facilidade da notificação dos dados, a rapidez, a
acessibilidade em qualquer plataforma eletrônica, a captura em um mesmo formato de indicadores
e eventos, a opção viável de anonimato e a reportagem dos sumários disparados aos membros com
periodicidade programada.
Considerações finais
É necessário enfatizar a importância da utilização de indicadores que meçam a qualidade e a
quantidade do que é realizado em termos de programas e serviços de saúde e que eles cubram todos
os seus componentes, como a estrutura, os processos e os resultados, não esquecendo o meio am-
biente, que ora sofre influência das instituições de saúde, ora as influencia44.
A tarefa básica de um indicador de qualidade é expressar, da forma mais simples possível, de-
terminada situação que se deseja avaliar. O resultado de um indicador é uma fotografia de dado
momento e demonstra, sob uma base de medida, aquilo que está sendo feito ou o que se projeta para
ser feito. Assim, os indicadores são medidores de uma atividade; expressam um número que indica
que elas podem ser medidas e, se podem ser medidas, podem ser comparadas e administradas.
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Gerenciamento
de riscos em um
serviço de anestesia
Elaine Aparecida Felix
Luiz Fernando Ribeiro de Menezes
Gerenciamento de riscos em um serviço de anestesia
Introdução
O risco é definido pela ISO 31000 (2009) como a incerteza de resultados1. Ele pode ser negativo
e causar consequências não desejadas ou pode ser positivo, como, por exemplo, pode correr-se o
risco de ganhar na loteria. Nas organizações de saúde, o gerenciamento de risco é uma metodologia
que facilita a priorização de planos de melhoria e investimentos relativamente recente, empregada
há menos de 10 anos.
A simples notificação de um evento adverso não significa gerenciar riscos. O gerenciamento de
risco em anestesia passa pelo levantamento de eventos adversos, mas está longe de ser a mesma
coisa. A anestesiologia é uma especialidade expert em monitorar a incidência de eventos adversos e
traçar melhorias e é exemplo na literatura, dentre as especialidades médicas, de um modelo no avan-
ço da segurança do paciente no decorrer das últimas três décadas. Isto não significa que não temos
o que avançar, ao contrário. A medida que melhoramos as notificações de eventos adversos e o que
fazemos para preveni-los, juntamente com a inserção do método de gerenciar riscos nas instituições
de saúde, mudamos o panorama de como encará-los e como trabalhar com eles.
O Gerenciamento de Riscos
Todas as circunstâncias do nosso cotidiano envolvem situações de perigo, pois perigo é uma fonte
potencial de dano e pode se tornar um risco. Risco é um valor estimado que leva em consideração a
probabilidade de ocorrência de um dano e a sua gravidade.
Organizações de todos os tipos e tamanhos enfrentam influências e fatores internos e externos
que tornam incerto “se” e “quando” elas atingirão seus objetivos. O efeito que essa incerteza tem
sobre os objetivos da organização é chamado de “risco”. Todas as atividades de uma organização en-
volvem riscos (ISO 3100:2009). Nunca se sabe quando um sistema irá apresentar uma falha assim,
todo risco é uma probabilidade e não uma certeza. Também não é algo para se evitar e sim para se
administrar, identificar pró-ativamente.
Tal definição contempla a generalidade das aplicações do gerenciamento de riscos nas diversas
atividades humanas, dessa forma estendendo a compreensão do evento que pode de alguma for-
ma mudar o resultado de um processo ou produto, dispondo sobre os métodos necessários para
controlá-los, tratá-los ou admiti-los.
A gestão de risco é a aplicação sistêmica e contínua de políticas, procedimentos e condutas, além
de recursos na avaliação e controle de eventos adversos que afetam a segurança, a saúde humana, a
integridade profissional, o meio ambiente e a imagem profissional8.
Os objetivos da gestão de risco passam pelos seguintes pontos:
1) segurança da comunidade usuária
2) redução de perdas
3) preservação da organização
4) atendimento da legislação vigente
5) alinhamento aos padrões para a certificação de qualidade.
A gestão de risco deve estar incorporada a todas as práticas e processos da organização de uma
forma relevante, eficaz e eficiente. Em particular, o gerenciamento de risco deve ser incorporado ao
planejamento de negócios, desenvolvimento estratégico e revisão de políticas e processos de gestão.
Figura 1 - Processo
de gerenciamento de
risco. Fonte: Norma
ISO 31000 de 2009 –
Associação Brasileira
de Normas Técnicas.
Figura 2– Exemplo de uma matriz de risco. Fonte: Gerenciamento de Risco – Programa Sentinela em Ação
03/2011 – Elaine Koda.
4. Tratamento ou Controle de Riscos: o tratamento de riscos envolve a seleção de uma ou mais
opções para modificar os riscos e a implementação dessas opções. O tratamento fornece novos con-
troles ou modifica os existentes. Nesta etapa são planejados e executados os planos de ação para
tratamento/controle dos riscos.
5. Monitoramento e Análise Crítica: a execução de planos de melhoria é uma etapa bastante
desafiante e cria uma forma de monitorar com periodicidade as áreas responsáveis pela execução
A Anestesia e o Risco
A anestesiologia é uma especialidade médica reconhecida por seus riscos associados e pela cons-
tante preocupação com as melhorias no campo da segurança do paciente. Todo paciente anestesiado é
um paciente sob risco, e este reconhecimento leva à adoção de medidas de proteção e mitigação dos
eventos adversos possíveis11.
Dessa forma, o gerenciamento de risco da anestesia deve estar inserido no contexto maior do
programa de qualidade institucional, adotando sua matriz e as ferramentas de análise e estratificação
pertinentes, além disso, deve contribuir para a adequada gestão dos eventos adversos, falhas, quase-
-falhas e erros relacionados à especialidade12 .
A mensuração do risco em anestesia, principalmente aqueles relacionados à mortalidade perma-
necem foco de controvérsia e dificuldades. A taxa de mortalidade estimada em anestesia atualmente
é da ordem de 0,4-0,7: 100.000 em pacientes saudáveis submetidos a procedimentos eletivos12 , tais
números apresentam, nas últimas quatro décadas, uma queda substancial, principalmente quando
comparados aos dados referentes às décadas de 40 e 50 do século passado, podendo, dessa maneira,
comparar a anestesia aos padrões seis sigma de qualidade.
Contudo, cabe destacar que mesmo com taxas tão baixas de mortalidade, as variações metodo-
lógicas utilizadas nos inquéritos epidemiológicos, a inexistência de uma definição uniforme de morte
sob anestesia ou relacionada ao seu cuidado, levam a crer que muitos dados são subestimados.
A importância de ressaltar tal situação se baseia em outros tipos de eventos, cujas ocorrências
são consistentemente maiores, e com repercussões que, muitas vezes, levam ao aumento do tempo
de permanência hospitalar, à incapacidade permanente ou à morte. Esses eventos adversos, em geral
relacionados à morbidade anestésica, podem ser classificados como leves, moderados ou graves, e
suas incidências são de difícil aferição, pois na maioria das vezes, dependem da notificação espontâ-
nea da sua ocorrência pelo próprio executor.
O Erro Humano
O erro humano é um dos maiores fatores de complicações e eventos adversos18,19. A consci-
ência desta realidade nos últimos anos tem modificado a percepção e a condução destes casos.
David Gaba refere que a anestesiologia é a atividade médica que tem mais similaridade com as
indústrias de alto risco como a aviação comercial e usinas de energia nuclear, do que com outros
ramos da medicina. Dentre as características compartilhadas entre estas atividades e a anestesio-
logia podemos destacar: a incerteza, a alta dependência tecnológica, a necessidade de manter um
estado mental permanentemente alerta e atualizado, atores com interesses conflitantes e as horas
de tédio intercaladas com segundos de terror20.
A diferença crucial entre as atividades do anestesiologista e da aviação comercial, por
exemplo, é que no primeiro caso o evento adverso grave fica restrito ao ambiente de ocorrên-
cia e sua consequência se estende em grau máximo a um único indivíduo. Já na queda de um
avião, o impacto social gerado leva a uma série de atos investigativos que culminam com ações
capazes de mudar rotinas e procedimentos e são extensivos a toda a cadeia de ação envolvida
na aviação.
Atualmente, porém, é consenso que as ferramentas utilizadas pelas indústrias de alto risco e
sua especialização na investigação de acidentes podem ser empregadas com objetivo de esclarecer
eventos adversos em anestesia e, dessa forma, além de evitá-los, desenvolver o conhecimento de
segurança sistêmica, através da adoção de condutas e rotinas organizadas, seja por protocolos ou
padrões operacionais com intuito de aumentar a segurança e garantir a melhoria de resultados.
Podemos classificar os tipos de erros na prática clínica da seguinte maneira: por enfoque base-
ado na consequência do erro (não testar o equipamento, incapacidade de intubação, incapacidade
de reconhecer uma intercorrência clínica, etc.) ou pelo enfoque psicológico, onde estão focados os
antecedentes mentais do erro21. A classificação psicológica determina três distinções importantes:
Os resultados obtidos dos levantamentos e as ações corretivas sugeridas pelo COMSEQ devem
servir para a melhoria contínua da estrutura, através do investimento em equipamentos, qualifica-
ção e uso de tecnologia de informação, para a melhoria dos processos do SAMPE com a melhoria da
documentação anestésica, geração de conhecimento e antecipação de riscos e, por fim a melhoria
de resultados através da medida dos indicadores de qualidade e assistenciais com a aferição das
medidas tomadas.
Busca incessante por investimentos e melhorias:
Estrutura – pessoas qualificadas, equipamentos, monitores,
Considerações finais
Gerenciar risco em anestesia é uma tarefa que exige liderança e trabalho de equipe. A equipe
deve ser composta por todas as áreas envolvidas no cuidado perioperatório, pois o resultado no
paciente sofre diversas influências que sobrepõem ao trabalho dos anestesiologistas. Não se pode
falar em risco de forma isolada da técnica de anestesia, de determinado fármaco ou equipamento.
São muitos os elos gerados pelos cuidados assistenciais e técnicos administrativos no paciente
cirúrgico além, obviamente, da variável mais importante neste processo que são as características
e especificidades de cada paciente. Todos estes componentes envolvidos no cuidado ao paciente
cirúrgico interferem nos resultados obtidos no perioperatório, seja em desfechos como a mortalidade
a curto e a longo prazo,como em diferentes graus de morbidade.
Administrar, isto é, ter metas claras do que se aceita ou se deve controlarem riscos presentes
no perioperatório, exige experiência criada dentro da equipe, dentro da cultura organizacional.
Executar planos de melhoria com ações que são aparentemente simples e baratas como, por
exemplo, o treinamento de pessoas e de técnicas de comunicação que podem ser mais desafiantes
por depender de decisões estratégicas da alta direção para execução de ações que demandam
altos investimentos financeiros.
No momento, é necessário que os Serviços de Anestesia se mobilizem, capacitem seus profis-
sionais e dêem início a esse trabalho que não terá fim pois apenas está se organizando o ciclo da
melhoria contínua e da busca da excelência nos cuidados aos pacientes.
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Cultura da segurança
Luis Antonio dos Santos Diego
Cultura da segurança
O termo Cultura da Segurança, já há algum tempo, vem sendo utilizado no ambiente das
organizações denominadas de alta confiabilidade (High-Reliability Organizations – HROs), como
de energia nuclear, por exemplo. Esse tipo de organização é caracterizado1 principalmente por se
preocupar criteriosamente com possíveis falhas; recusar-se à aceitação de interpretações superficiais;
ser sensíveis ao trabalho que está sendo executado; possuir alto coeficiente de resiliência e valorizar,
sobremaneira, as habilidades na execução das tarefas.
O desastre nuclear de Chernobyl, em 1988, foi, sem dúvida, determinante para o desenvolvimento
e difusão do termo e discussão sobre o conceito da “cultura da segurança”, mas pertence a Edgar
Schein2 a conceituação sobre a importância de uma cultura organizacional. Ao apresentá-la como
“um mecanismo de controle social, traduzido por meio das expectativas sobre atitudes e comporta-
mentos apropriados de um grupo”, deixa bem evidente sua natureza construtivista.
Na área da saúde, esse conceito vem criando corpo desde o início da década passada, quando o
Institute of Medicine (IOM) apresentou seu relatório sobre a desmesura dos erros na saúde. Entre-
tanto, o caráter multifacetado também induz a variados significados3. Em recente levantamento da
literatura científica sobre o tema Cultura da Segurança na saúde4, observou-se que existe uma dis-
crepância entre os pesquisadores sobre a definição do termo Cultura da Segurança, suas dimensões,
modos de avaliação e sobre possíveis intervenções para sua mudança. Alguns podem considerá-lo
lugar comum, não mais necessitando de definição, mas isto não parece ser consensual dentre aqueles
que se encontram na prática diária.
Também ocorre certa confusão com o termo Clima de Segurança, o qual, muitas vezes, é empregado
com o mesmo significado de Cultura da Segurança. Halligan e col.3 puderam observar que a maioria
dos autores define Cultura da Segurança como: “o produto dos valores, atitudes, competências e
padrões de comportamento, individuais ou em grupo, que determinam o comprometimento, o estilo e
a facilidade de execução de programas de saúde e segurança organizacionais”. Complementa com a
afirmação de que as organizações com Cultura da Segurança positiva caracterizam-se por apresentarem
um padrão de comunicação firmado na confiança mútua, no compartilhamento da percepção da
relevância da segurança e crença de que medidas preventivas são eficazes5. Essas propriedades são
absolutamente desejáveis no microcosmo do bloco cirúrgico, no qual o anestesista e todos os outros
componentes do time cirúrgico se beneficiam, sobremaneira, da cultura da segurança. A confiança
entre as partes torna-se um patrimônio importante, pois permite que, por exemplo, o anestesista
sinta-se à vontade em solicitar ao cirurgião alguma adequação possível na técnica cirúrgica em fun-
ção da segurança do paciente, sem surgirem sobressaltos. Todo o time cirúrgico, impregnado pela
cultura da segurança, compartilhará as preocupações de modo franco e objetivo ainda que haja
questionamentos técnicos.
O interesse na cultura organizacional possui uma longa história de estudos multidisciplinares6,
cooptando a sociologia, inclusive. Entretanto, na saúde, essa importante questão só vem merecen-
do atenção há pouco mais de uma década7, uma vez que se acredita ter implicações nos processos
e padrões de comunicação8. Na verdade, até então, o pensamento geral era de que tão somente a
abordagem personalista, com foco na mudança comportamental dos colaboradores que atuam nos
estabelecimentos assistenciais de saúde e por meio de iniciativas incrementais em pequena escala,
ao invés de uma concepção mais abrangente e transformadora na organização como um todo9.
O problema que surge é a capacidade em distinguir-se entre uma e outra10. A psicologia, e tam-
bém a sociologia, há muito vem contribuindo, como entendimento da natureza do erro humano,
Liderança
A existência de um bom líder é essencial para a eficiência e o sucesso de qualquer organização. O
líder deve ser capaz de estabelecer uma missão geral que representa a identidade da organização, a
qual passa a ser a base que influencia o nível de interação entre as pessoas, o parâmetro das decisões
que são tomadas e quais competências deverão ser desenvolvidas para o alinhamento dos colabora-
dores àquela missão20. A liderança impõe a demonstração de valores e princípios para os liderados
diretos e indiretos, gerando confiança no líder21. A Joint Commission International (vide capítulo
sobre Programas de Acreditação Hospitalar) estabelece como padrão que a liderança é responsável
por imprimir o tom da comunicação na instituição22 . Seu Manual de Padrões23 possui um capítulo
dedicado tão somente à Governo, Liderança e Direção (GLD)24, no qual deixa claro em sua apre-
sentação, que a excelência do cuidado requer liderança, a qual provém, ainda segundo esse Manual,
de muitas fontes em uma instituição de saúde, incluindo líderes do governo da instituição e outros
que ocupam cargos de liderança, responsabilidade e confiança. Nesse capítulo, o padrão GLD.3 e
os seguintes exigem que os líderes sejam coletivamente responsáveis por definir a missão da ins-
tituição (vide capítulo Organização e Gestão em um Serviço de Anestesiologia) e por elaborar os
planos e políticas necessários ao cumprimento da missão. Em GLD 3.4 lê-se: “Os líderes médicos,
de enfermagem e outros líderes são educados nos conceitos de melhoria da qualidade.” e GLD 4:
“Os líderes médicos, de enfermagem e outros líderes de serviços clínicos planejam e implementam
uma estrutura organizacional efetiva para dar suporte às suas responsabilidades e autoridade”.
Outro capítulo do Manual é exclusivo da Anestesia e Cirurgia 25 e trata de questões específicas
do centro cirúrgico. O segundo padrão deste capítulo (ASC.2) reclama pela existência de um pro-
fissional qualificado e responsável pelo gerenciamento dos serviços de anestesia.
A liderança pode assumir várias formas em diversas situações. Na emergência, a liderança obser-
vada na unidade de internação clínica pode não ser satisfatória. A liderança também não é restrita
a pessoas que detêm cargos designados; atos de liderança podem surgir de qualquer um na organi-
zação, principalmente se a instituição possuir um modelo que enfatiza a responsabilidade de todos.
A Academia da Liderança (centrada no desenvolvimento de liderança e gestão de talentos),
organismo do National Health Service (NHS), do Reino Unido, categoriza a liderança em quatro
Cultura da segurança | 49
diferentes estágios: o primeiro é referente à prática individual e a construção das relações pessoais,
seja com os pacientes e os colegas, seja como parte de um time multidisciplinar e os riscos são de
menor impacto; o segundo estágio já prevê a construção de relações dentro e entre os times, de-
vem reconhecer problemas e resolvê-los, todos precisam ter ciência dos riscos que as suas decisões
podem representar para si e para os outros; o terceiro, abrange todos os serviços e a organização
em nível mais amplo, e já se espera maiores desafios na adequação de soluções para problemas com-
plexos com risco de maior impacto sobre o serviço; o quarto e último estágio ultrapassa a fronteira
organizacional, e, neste nível, se espera que os líderes venham lidar com problemas multifacetados
e cheguem a soluções inovadoras para esses problemas.
Aprendizado organizacional
Chassin e Becher, em seus comentários sobre um “caso clínico” por eles apresentado27, enfatiza
que quaisquer casos em que o paciente errado sofre um procedimento invasivo são preocupantes e
suficientes para indicar uma atenção especial. No entanto, observa que as instituições dificilmente
relatam tais procedimentos, e a literatura médica carece de discussões mais aprofundadas sobre
essas ocorrências. Ao adentrarem-se nas causas subjacentes desses erros, constataram o que cha-
maram de “cultura de baixas expectativas”; isto é, a existência na organização de uma cultura na
qual os participantes acreditam fazer parte da normalidade alguma incompletude na comunicação
de informações. Essa presunção sobrevém à crença que a comunicação, se repetida, é ineficiente e,
portanto, equivocadamente supérflua.
Talvez esse seja o maior desafio na mudança da cultura da segurança 28, porque impõe a mudança
comportamental de todos os profissionais, isto é, deve haver a introjeção de um novo olhar; ao invés
da presunção de conformidade com o esperado e o desejável, apesar de incertezas e incompletudes
na comunicação. Deve-se assumir, então, que a comunicação ou o fato estão errados e, por conse-
guinte, deverão ser investigados, ainda que provoque algum retardo na execução do procedimento.
Em capítulo anterior, sobre a Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica e outras técnicas estruturadas
de comunicação para a segurança do paciente, são apresentadas algumas estratégias para se evitar
erros de comunicação, mas que, se utilizadas de forma apropriada, rotineiramente empregada e
avaliada, transformar-se-ão num marco para a mudança da cultura da segurança na instituição.
O sistema de dupla conferência deve ser compreendido, – e assim absorvido –, não como uma
redundância excessiva e supérflua, mas como um utilíssimo instrumento contra a cultura vigente
de baixa expectativa. O “Gerenciamento de Recursos da Crise em Anestesia (ACRM)”, adaptação
realizada na Universidade de Stanford29 para a anestesia do Crisis Resource Management (CRM) da
prática gerencial focada na tripulação aérea (originalmente cockpit e posteriormente crew) é uma das
Cultura da segurança | 51
modelo, em seu estágio mais avançado (5º estágio) a participação ativa de todos os níveis laborais na
instituição, e a segurança é percebida como parte do “negócio”. Para atingir esse estágio supremo, a
organização deverá escalar desde um estágio “patológico” (1º estágio), no qual se crê que a seguran-
ça é um problema causado exclusivamente por aqueles que estão na linha de frente (sharpend); para
uma condição reativa (2º estágio), na qual já existe alguma participação em relação à segurança,
mas as ações pertinentes só são implementadas em decorrência de incidentes; passando pelo estágio
denominado de cálculo (3º estágio), no qual já se vê implantado um sistema administrativo de aná-
lise de dados, o qual direciona as ações de segurança, ainda que restrito ao nível gerencial; e a fase
proativa (4º estágio), no qual já existe uma participação de colaboradores em melhoria de processos.
Considerações finais
Pode-se concluir, após as considerações até aqui expostas, que criar uma Cultura da Segurança
não é uma tarefa simples para qualquer gestor, não depende tão somente da alta gestão, mas sua
completa aderência é condição sine qua non para que venha a ocorrer. Também não se deve esperar
que se torne realidade de um momento para o outro, há necessidade de certo tempo para se firmar.
“Se os pacientes não puderem estar seguros em qualquer outro ambiente, nós os receberemos e
quando puderem estar em segurança em algum outro lugar, nós os liberaremos...”.
Fred Lee
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Cultura da segurança | 53
Capítulo 05
Organização e gestão
de serviços de anestesia
com foco na qualidade e
segurança
Fabiane Cardia Salman
Enis Donizetti Silva
José Mariano Soares de Moraes
Organização e gestão de serviços
de anestesia com foco na qualidade e segurança
Introdução
Ao longo dos anos a anestesiologia encontrou problemas específicos relacionados à qualidade
e aos padrões de atendimento aos pacientes que são, em parte, devido à prática de gestão e orga-
nização dos serviços e do relacionamento entre hospitais e anestesiologistas e entre os próprios
anestesiologistas. Prestação de cuidados de anestesia com qualidade exige que as práticas médicas
individuais estejam dentro do contexto institucional (o departamento deve estar alinhado aos prin-
cípios organizacionais da instituição em que atua).
Devido à diversidade das condições locais, não existe um quadro único para a organização e
gestão de um departamento de anestesia. O serviço de anestesia deve ser administrado e organi-
zado de uma forma que irá facilitar o acesso do paciente a cuidados de qualidade, assegurando a
disponibilidade onde e quando necessário1.
A organização do departamento de anestesia deve ser coerente com a do hospital e outros ser-
viços clínicos e deve promover o cumprimento eficiente das responsabilidades individuais dos
médicos e da administração do hospital para o paciente e para a comunidade, tendo o cuidado ao
paciente com qualidade e segurança como sua principal meta1.
Gestão e Administração
Pode-se dizer que a administração surgiu da necessidade de esforços organizados e associativos
para um melhor resultado. Os exemplos mais conhecidos são o comércio, grandes construções (das
pirâmides, de jardins suspensos), revolução industrial, e até mesmo da organização das religiões.
Muitos desses objetivos persistem até os tempos atuais.
Inúmeros autores já tentaram definir as reais funções da administração. Ela já foi conceituada
por Mary Parker Follet2 como “a arte de fazer as coisas por meio das pessoas” - ideia que aponta
para o fato de que os administradores conseguiriam alcançar seus objetivos mostrando às pessoas o
caminho a percorrer. A sociedade humana é feita de organizações e essas de pessoas com ideias, sen-
timentos, pensamentos, aspirações e de todo um conjunto de ações que viabilizam a existência da
sociedade; por essa razão as contribuições de várias culturas para a teoria da administração foram e
serão importantes na formação das sociedades moderna e contemporânea.
É a administração que faz as organizações serem capazes de utilizar corretamente seus recur-
sos e atingir seus objetivos. As organizações transformam recursos em produtos e serviços, com o
objetivo de resolver problemas dos seus usuários e das pessoas que as criaram. Conforme a manei-
ra como são administradas, podem ser eficientes e eficazes, mas, quando ineficientes e ineficazes,
criam problemas ao invés de soluções 3 (Figura 1).
Uma definição complexa, porém ainda bastante aceita é: “A administração é o processo de pla-
nejar, organizar, liderar e controlar os esforços realizados pelos membros da organização e o uso de
todos os outros recursos organizacionais para alcançar os objetivos estabelecidos”4. Maximiniano
(2000) define Administração como “o processo de tomar e colocar em prática, decisões sobre obje-
tivos e utilização de recursos” 5.
Para melhor aproveitar a teoria da administração, deve-se pensar em situações práticas em que
haja pessoas utilizando recursos para produzir bens e serviços necessários para manter a operação
da empresa. Um bom exemplo na área da saúde é a assistência anestésica, em que temos profissio-
Figura 1 – Análise da qualidade da utilização dos recursos em relação ao grau de alcance dos objetivos. Fonte:
Chiavenato, 2004 3
Na área da saúde, mudanças significativas têm ocorrido nos últimos anos. A pressão crescente
por melhor gestão de custos associada a um processo de regulamentação e regulação cada vez mais
forte, a demanda cada vez maior e o rápido desenvolvimento e inovação das tecnologias da saúde,
demandam uma necessidade crescente de profissionalização do setor, em busca de melhores níveis
de eficiência e eficácia organizacional, buscando resultados com mais qualidade e segurança6.
As concepções sobre gestão das organizações de saúde sofrem influências decorrentes tanto
do caráter específico da área – particularmente da clínica-, quanto das diversas correntes da
administração. Diferente de outros campos de produção de serviços, o trabalho em saúde e em edu-
cação depende fundamentalmente do recurso humano – por isso, a incorporação de tecnologias, a
automatização e a informatização não têm atenuado a importância do desempenho pessoal e das
equipes. Provavelmente, este fenômeno decorre do fato de que, durante o exercício da clínica, o
profissional desfruta de importante grau de autonomia.
Essa dificuldade em padronizar e regular a medicina e a saúde em geral tem funcionado como
um pesadelo para a cultura gerencial hegemônica. Ao longo do tempo, modelos de gestão, centrados
no controle do trabalho, têm sido buscados na herança weberiana e na tradição taylorista, tanto no
setor público como no privado7. Por outro lado, o raciocínio clínico se aplica a um doente de cada vez
ou, a rigor, a uma comunidade, que no mínimo deveria ter interesse em seguir as condutas sugeridas
pelos profissionais, tomadas em tese em seu interesse. O caminho administrativo, porém, muitas
vezes se volta aos interesses da organização, que pode parecer contrário àquilo que as pessoas que
nela trabalham e desejam, como demissões, padronização e redução de custos.
Planejamento Estratégico
“Uma estratégia sem táticas é o caminho mais lento para a vitória. Táticas sem estratégia representam
o caos que antecede uma derrota”9.
Gestão estratégica é o “processo organizacional para identificar o futuro pretendido e desenvol-
ver guias de decisão para alcançar esse futuro. O resultado do processo de planejamento estratégico
é um plano ou uma estratégia”10. Segundo Michael Porter, “eficácia operacional e estratégia são ambas
essenciais para o desenvolvimento superior... mas funcionam de maneiras muito diferentes”11. A
gestão da estratégia é, portanto, diferente da gestão de operações (de processos), mas ambas são
vitais para a administração e devem ser integradas12 .
O Planejamento Estratégico (PE) é um processo gerencial contínuo e sistemático que diz res-
peito à formulação de objetivos para a seleção de planos de ação e execução, levando em conta as
condições internas e externas. Visa determinar a melhor maneira de aproveitar os recursos disponí-
veis (número de anestesistas, por exemplo) por intermédio de ações programadas (análise prévia da
agenda cirúrgica e de exames com anestesia) buscando maior produtividade e melhor qualidade dos
serviços. Para que sejam alcançados seus objetivos será necessário que todos estejam envolvidos e
Em um plano estratégico, é preciso identificar o que a empresa quer ser e como chegará até lá. O
plano costuma ser dividido da seguinte forma:
a. Missão
A missão é a razão pela qual a empresa existe. A missão organizacional é parte fundamental da
gestão estratégica, isso por que uma missão expressa e facilita o entendimento sobre os rumos pre-
tendidos da organização. Em geral, representa informações como os tipos de produtos ou serviços
que a empresa oferece, quem são os seus clientes e que valores importantes possui.
b. Visão
A visão é o enunciado do que a empresa espera e quer ser no futuro, em determinado período de
tempo. Atua como base para o desenvolvimento de objetivos organizacionais e ajuda a concentrar
esforços em uma direção comum.
c. Valores (Elementos-chaves)
Valores são as qualidades que a empresa apresenta adquiridas com o passar dos anos. São convic-
ções e fundamentos nos quais a empresa acredita. Quando esses valores são determinantes para o
sucesso, são chamados de elementos-chave.
d. Situação e Cenário Atual (Mercado, Concorrência, Dados Gerais) Análise SWOT
A análise do cenário atual é fundamental para um planejamento estratégico, tendo em vista a avalia-
ção do ambiente interno e externo, do mercado e da concorrência. Deve-se buscar o estabelecimento de
uma estratégia em sintonia com as situações atuais e as tendências observadas e desejadas. As análises do
ambiente externo ajudarão a empresa a lidar melhor com suas oportunidades e ameaças, enquanto a aná-
lise interna identificará quais seus pontos fortes e fracos, possibilitando à empresa melhorar ou eliminar
seus pontos fracos e potencializar seus pontos fortes14. A análise ambiental é feita baseada em informa-
ções atuais e precisas do mercado, incluindo diversas variáveis como economia, política, concorrência,
tecnologia, demografia e legislação. Também é necessária uma análise de tendências, não necessaria-
mente para segui-las, mas pelo menos para saber o quanto se está fugindo delas.
Figura 4 – Insumos para elaboração da estratégia empresarial. Fonte: Chiavenato (1999) adaptado 17
Uma abordagem útil para formular uma estratégia de negócios se baseia na “análise compe-
titiva”, de Michael Porter que propôs a análise da competitividade dos mercados baseado num
modelo chamado de 5 forças, que representam a atratividade de um determinado mercado para
seus participantes11. São analisados:
1. Os riscos de novos entrantes/ concorrentes - como é a facilidade/dificuldade para a entra-
da de novos concorrentes nesse mercado? Existem barreiras para isso? Como é aceito um
novo grupo de anestesistas num hospital que já conta com profissionais dessa especialidade?
2. O poder de barganha dos fornecedores - como é a posição desses fornecedores de medica-
mentos e materiais de anestesia, por exemplo? Existem muitos no mercado ou eles possuem
uma posição de monopólio/oligopólio?
A Execução da Estratégia
Em 2008, Kaplan e Norton apresentaram o sistema gerencial para a integração do planejamento
estratégico e a execução operacional. O entendimento é que a formulação e o desenvolvimento da
estratégia por meio de ferramentas como o balanced scorecard e mapas estratégicos são fundamen-
tais para o desempenho das empresas, entretanto ainda falta um framework abrangente para integrar
todas estas ferramentas, alinhando-as e sincronizando-as de maneira adequada12 .
Para a execução da estratégia, são apresentados os seguintes passos:
1. Desenvolvimento da estratégia
2. Planejamento da estratégia
3. Alinhamento das unidades organizacionais e os empregados com a estratégia
Considerações finais
A falta de gerenciamento estratégico formal para conduzir suas atividades tem levado a maioria
das empresas a adotar políticas mal definidas, desfocadas dos valores e critérios valorizados pelos
clientes. Nesse sentido, inicialmente é necessário um esforço para conscientização e sensibilização
da alta direção para a importância do Planejamento Estratégico como ferramenta de auxílio à toma-
da de decisão. A partir das informações levantadas e dos métodos aplicados pode-se perceber quais
ações de melhoria precisam ser priorizadas e realizadas para atender às necessidades e expectativas
de seus clientes.
Um fator importante é executar a estratégia definida no planejamento e continuar a monitorar
os objetivos e metas estratégicas para que a empresa siga o curso desejado.
Todos têm pressupostos e defesas relacionadas à qualidade, mas ainda faltam a disciplina
e a experiência administrativa, a incorporação da metodologia da qualidade no planejamento
estratégico e nas atividades diárias, a educação e o treinamento da organização como um
todo23 . A qualidade e a segurança são atributos que devem ser buscados cada vez mais, porém
de maneira organizada, coletiva e sinérgica, diferentemente do que se observa no cotidiano da
prestação de serviços de saúde, em que cada um faz o que considera mais adequado, mas sem
o resultado desejado24 .
Referências bibliográficas:
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Department. (Approved by the ASA House of Delegates on October 15, 2003 and last amended on October 22, 2008).
2. Graham P - Mary Parker Follett: Profeta do Gerenciamento. Rio de Janeiro, Qualitymark, 1997.
3. Chiavenato I. Comportamento Organizacional: a Dinâmica do Sucesso das Organizações. São Paulo, Pioneira Thomson, 2004.
4. Stoner JAF, Freeman RE - Administração, 5ª Ed, São Paulo, LTC, 1994.
Checklist de segurança
(OMS), CRM e outras
técnicas estruturadas
de comunicação para a
segurança do paciente
Luis Antonio dos Santos Diego
Alexandra Rezende Assad
Checklist de segurança (OMS), CRM e outras técnicas
estruturadas de comunicação para a segurança
do paciente
Introdução
O dia de Aline não parecia diferente de tantos outros dias laborais de uma anestesista expe-
riente em um grande hospital de qualquer grande cidade globalizada. O primeiro “caso” do dia não
apresentava nada de especial, como confirmava o relatório da consulta pré-operatória realizada por
um cardiologista há cerca de um mês. O procedimento também não exigia atenção, em particular,
tantas vezes já fora realizado no hospital com a mesma “equipe” e técnica cirúrgica – artroscopia
cirúrgica de joelho.
Aline, como de habitual, também realizou a visita pré-anestésica bem cedo pela manhã, assim
como do “caso” a seguir, muito semelhante ao primeiro. Na avaliação pré-anestésica preocupo-se
com o histórico patológico pregresso, principalmente a ocorrência anterior de alergia medicamen-
tosa e outros procedimentos cirúrgicos. Examinou as vias aéreas e a coluna lombar. Ao final da
entrevista, antes de obter o consentimento informado, acordou com a paciente e o familiar presente
à entrevista, o planejamento da anestesia – raquianestesia e sedação. A paciente firmou o termo de
consentimento informado da anestesia apresentado por Aline.
O plano da anestesia foi seguido rigorosamente e permitiu que o procedimento fosse satisfatório
em todo o intraoperatório. A remissão do bloqueio motor dos membros inferiores foi observado
ainda na primeira hora do pós-operatório imediato que ocorreu na sala de recuperação anestésica.
Ao final da tarde, Aline pôde, então, visitar a paciente já no quarto e constatar a boa analgesia
que a paciente experimentava. A satisfação com o resultado do ato anestésico foi manifestado pron-
tamente e deixou Aline contente por isso. A surpresa, entretanto, veio com o comentário que se
seguiu: “... mas por que me operaram a perna esquerda, se o joelho que me incomodava era o direito?
O doutor João havia dito que o joelho direito era o que seria operado e não o esquerdo”.
Este sucinto relato imaginário é mais frequente na vida real do que se supõe. Os dados estatísti-
cos publicados pela The Joint Commission1 revelam a ocorrência de 152 eventos adversos evitáveis de
cirurgia em pacientes errados, procedimento errado e local errado da cirurgia tão somente no ano
de 2011. A notificação de eventos sentinela (vide taxonomia no Cap.1) à The Joint Commission repre-
senta apenas uma pequena parcela do que ocorre de fato, pois são números fornecidos e coletados
exclusivamente de instituições já acreditadas.
Retornando ao nosso “relato de caso”, a questão que sobrevém é sobre a responsabilização por
aquele equívoco. A nossa anestesista pode acreditar que a “culpa” foi do cirurgião que não confir-
mou o lado da cirurgia, examinou a tomografia e operou o “joelho” que não apresentava qualquer
problema. Essa conclusão, entretanto, não se ajusta ao conceito de time cirúrgico, conforme re-
comenda o Institute of Medicine (IOM)2 ao apresentar as seis dimensões da qualidade inerentes à
excelência dos serviços de saúde (Cap. I, quadro II)3.
A 55ª Assembleia Mundial da Saúde, reunida em maio de 2002, recomendou à Organização
Mundial da Saúde (OMS) e Estados Membros, por meio de sua Resolução 55.18, que voltassem a
atenção para a questão da segurança do paciente. Em outubro de 2004, a OMS lançou um progra-
ma de segurança do paciente em resposta a essa solicitação e determinou, com a ênfase e as ações
pertinentes, que a segurança do paciente fosse abordado como um problema de saúde global. Em
Comunicação efetiva
São diversas as possibilidades da comunicação humana interpessoal e todas elas se propõem à troca
de informações. São sinais e símbolos dos mais variados e todos eles procuram, sobretudo em tarefas
complexas, refletir o pensamento da forma mais fiel possível. Obviamente, quanto mais complexa a
informação e maior o rigor de adequação ao seu real significado, a comunicação necessita ser mais
criteriosa. São utilizados processos mais refinados tanto na sua elaboração, quanto nas duas etapas
que se seguem: o envio e a recepção. O surgimento de novas tecnologias vem facilitando essas etapas,
entretanto, até mesmo pela velocidade e pela magnitude dessas transformações, algumas práticas de
segurança precisam ser implementadas para que a comunicação ocorra adequadamente5. Deslizes na
comunicação, ainda que aparentemente de pouca importância, podem determinar eventos críticos,
e até incontornáveis. Esses deslizes podem acontecer com quaisquer profissionais, inclusive com
aqueles tecnicamente competentes e judiciosos, determinando aumento da morbimortalidade6,7 com
consequências imprevisíveis para todas as partes interessadas (stakeholders).
O anestesiologista moderno não mais exerce suas competências e habilidades exclusivamente
no centro cirúrgico (Quadro I)8 e, cada vez mais, interage, direta e indiretamente, com diversos
profissionais nas mais diversas circunstâncias. Assim, ainda que ele pertença a alguma equipe
de anestesista (serviço, departamento etc.) irá fazer parte, em determinado momento, de algum
“time cirúrgico” (obstetrícia, geral, hemodinâmica, endoscopia etc.) e nem sempre teve oportu-
nidade de conhecer a todos, suas práticas e peculiaridades. Mais adiante neste capítulo, na apre-
sentação da Lista de Verificação de Segurança cirúrgica, essa condição será abordada na “parada
cirúrgica” (time out).
Handoff e handover são os termos técnicos utilizados no jargão médico da língua inglesa (Estados
Unidos e Inglaterra, respectivamente) para designar a transferência das responsabilidades, parcial
ou na sua integralidade, de aspectos do cuidado ao(s) paciente(s). As transferências de informação
ocorrem entre pessoas ou entre instituições, como por exemplo: na passagem de eventos intraope-
ratórios relevantes e condições clínicas do paciente, entre o anestesista e o intensivista, ou ainda
em transferências entre hospitais (sumário de alta hospitalar, p.ex.). Esse momento crítico é reco-
nhecido internacionalmente e suscita ações globais por parte da OMS9. O período perioperatório
é, portanto, pleno de momentos de handoff, o qual se inicia no diagnóstico cirúrgico, perpassa pela
avaliação clínica pré-operatória, marcação e agendamento cirúrgico, avaliação pré-anestésica, ci-
rurgia e encaminhamento do paciente para a unidade pós-operatória e/ou residência. Em todas
estas etapas, enorme quantidade de informações deverá ser transmitida criteriosamente, tanto em
relação à completude do conteúdo necessário e relevante, quanto na acurácia. Infelizmente, isso
não sucede sempre a contento e falhas de comunicação correspondem à terceira maior causa de
eventos sentinela10.
Dentre os Desafios Globais apresentados pela OMS, a melhoria da segurança cirúrgica, com o
programa “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”, foi efetivada. Destarte, foram realizadas consultas a
cirurgiões, anestesistas, enfermeiros, especialistas em segurança do paciente e os próprios pacientes
em todo o mundo. A preparação do projeto iniciou-se no segundo semestre de 2006 e em janeiro de
2007 houve um encontro de especialistas, do qual surgiram grupos de trabalho. Houve ampla revi-
são da literatura científica, discussões sobre estratégias e aprofundamento da aplicação e validação
da ferramenta. O resultado desse vultoso trabalho foi a elaboração de um manual do projeto, cujas
principais recomendações demandaram a implementação do checklist cirurgia segura globalmente
e o estabelecimento de um processo de vigilância dos resultados cirúrgicos4. Esse Manual também
deixa bem claro que “nenhum progresso na assistência aos pacientes cirúrgicos teve impacto tão
profundo como o avanço das práticas seguras desenvolvidas pela anestesiologia”.
O principal objetivo é, então, a universalização do Checklist. Ele não faz parte de qualquer norma
obrigatória ou reguladora, todavia, deve ser avaliada como uma ferramenta útil, eficaz e com exce-
lente custo-benefício em prol da segurança do paciente. Vale sempre ressaltar, ao se introduzir esse
tema aos profissionais de saúde, que a aplicação da lista é também útil para o próprio profissional e
para a instituição, segundas vítimas de um evento adverso evitável.
A aplicação do Checklist é executada em três momentos específicos no perioperatório: antes da
indução anestésica (também denominado sign in), antes da incisão cirúrgica (time out, ou parada
Originalmente, foi desenvolvida pela Marinha Americana como uma técnica de comunicação que
poderia ser usada nos submarinos nucleares. A SBAR foi introduzida no final de 1990 como parte do
currículo de treinamento do Crew Resource. Desde então, a SBAR tem sido adotada em hospitais ao
redor do mundo como uma forma simples e efetiva de padronizar a comunicação entre os membros da
equipe de saúde. Traz uma solução no hiato que existe na comunicação na transferência de pacientes,
nas conversas telefônicas, mudanças de turno. Ela cria uma expectativa compartilhada entre o recebe-
dor e o fornecedor das informações, especialmente entre médico e enfermeiro30.
Usando o SBAR, os registros e as informações dos pacientes são mais eficientes, consistentes
e precisos. Esse tipo de técnica de comunicação pode ser usada quando: uma enfermeira faz uma
ligação telefônica para o médico, quando as enfermeiras ou os médicos estão passando um caso para
outros, entre turnos no mesmo serviço, transferência de pacientes para outros níveis de cuidado
(enfermaria para o CTI), e nas transferência da instituição.
Esses momentos de passagem de plantão, passagem de paciente entre diferentes unidades ou
times é um momento crítico, bastante vulnerável em que falhas da comunicação são frequentes e
podem ocasionar riscos à segurança dos pacientes com interferência na continuidade do cuidado.
Considerações finais
A comunicação humana promove a troca de informações entre duas ou mais pessoas, as quais
se constituem, obrigatoriamente, em emissor e receptor. A anestesiologia, de maneira diversa do
que pode habitar o imaginário de alguns que creem poderem se esconder atrás do “campo”, é uma
das especialidades médicas que mais utiliza a comunicação interpessoal no seu cotidiano. Mais
ainda, dela necessita com muita precisão e acurácia sob pena de permitir a sobrevinda de situações
desfavoráveis e até mesmo desastrosas. Isto posto, não há mais porque se procrastinar a prática de
ferramentas de comunicação já comprovadas como eficazes na redução de eventos adversos evitá-
veis, principalmente como referendadas por organismos internacionais, como a OMS e nacionais,
como o Ministério da Saúde do Brasil e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, como a Lista de
Verificação Cirúrgica (Checklist Cirurgia Segura).
“...o volume e a complexidade de nossos conhecimentos superam nossa capacidade
individual de aplicar seus benefícios de maneira correta, segura e confiável. O conhecimento
ao mesmo tempo é nossa salvação e nossa perdição.”
Atul Gawande
Checklist de segurança em
anestesia geral
Cláudia Regina Fernandes
Marcos Antonio Costa de Albuquerque
Checklist de Segurança em Anestesia Geral
Introdução
Checklist ou lista de verificação é uma lista de itens considerados necessários; são atividades
a serem executadas; tópicos a serem enfatizados, que é utilizado como forma de lembrança1.
No contexto da assistência ao paciente, são auxiliares cognitivos que funcionam como ano-
tações mentais e protocolos padronizados2 . Induz o executor a uma série de ações para uma
conclusão pré-determinada.
Os checklists reforçam o conhecimento pré-existente, que pode ser obscurecido por fadiga, can-
saço ou excesso de tarefas3-5. A combinação de cansaço e estresse, muito comuns nas salas de ope-
rações, tem sido associada com um declínio no desempenho cognitivo, e representam contribuição
substancial para o mecanismo do erro6,7.
Os objetivos deste capítulo são descrever a importância de um checklist de segurança, demons-
trar os tópicos relacionados à segurança em anestesia geral proposto pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), expor o checklist de segurança em anestesia proposto pela OMS, relatar resultados
após a implantação do checklist de segurança em procedimentos anestésico-cirúrgicos.
Nome do paciente__________________________________________Número_______________
Data do nascimento____________________Procedimento________________________________
Sítio do procedimento____________________________________________________________
Experiências com aplicação do checklist tem sido relatadas com especialidades cirúrgicas que
trabalham com anestesia geral. Por exemplo, a otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça-pescoço,
descreve que após a implantação do checklist no processo de trabalho encontraram alguns aspec-
tos positivos, como o melhor compartilhamento de informações relacionadas ao paciente entre
Considerações finais
O anestesiologista, como membro de uma equipe de atuação interdisciplinar, tem a oportunida-
de de influenciar a segurança e a qualidade do atendimento ao paciente. As conquistas do passado
permitiram que a especialidade buscasse trabalhar com segurança, mas não deve haver espaço para
complacência. Atualmente se depara com pacientes cada vez mais idosos e mais complexos, com vá-
rias morbidades associadas, com intervenções cirúrgicas de maior porte, com situações estressantes
e queda no rendimento, novos fármacos e dispositivos, novos monitores e diferentes equipamentos,
contribuindo para aumentar os riscos na execução do trabalho do anestesiologista. Em resposta a
esse ambiente de trabalho cada vez mais repleto de alternativas e complexo, a adoção de um checklist
tem a finalidade de estabelecer parâmetros protocolares, que deverão ser seguidos antes da realiza-
ção de toda e qualquer anestesia geral, com a finalidade de maximizar a qualidade para minimizar
os riscos, sendo assim, antes de qualquer procedimento anestésico, o anestesiologista responsável
deve realizar o checklist do ambiente, do aparelho de anestesia, dos fármacos, da sala de recuperação
pós-anestésica, da necessidade de hemocomponentes, de terapia intensiva, não se eximindo da
responsabilidade de verificar os dados do paciente, o tipo de cirurgia, o sítio da cirurgia, sempre
estabelecendo um processo de comunicação harmônica, respeitosa e eficaz com os demais membros
da equipe interdisciplinar.
Todas as instituições devem ser encorajadas a adotar um checklist de segurança padronizado
que fique afixado no prontuário do paciente, a fim de que se evitem complicações e óbitos.
Referências bibliográficas:
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6. Arora S, Hull L, Sevdalis N et al. - Factors compromising safety in surgery: stressful events in the operating room. Am J Surg,
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2010; 27:592-597.
Checklist de segurança em
anestesia regional
Erick Freitas Curi
Antônio Fernando Carneiro
Checklist de segurança em anestesia regional
Introdução
O checklist pode ser definido como “Uma lista de todas as coisas que você precisa saber, informações
que precisa encontrar ou coisas que você necessite obter em algum lugar, as quais você faz para garantir
que não se esquecerá de nada” 1.
O checklist está em crescente utilização na área médica e afins. O objetivo do seu emprego é
não esquecer nada que possa comprometer sua execução2 . Na anestesia, de uma forma geral e em
especial na anestesia regional, sua utilização tem um papel importante na segurança e qualidade da
anestesia (vide Capítulo: Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica).
Os profissionais da área de saúde estão sujeitos a cometerem erros que podem levar a con-
sequências graves. Associado a isso, podem sofrer uma inf luência negativa do que pode ser
chamado de “desempenho de conformação de fatores” 2 . Neste item, podemos destacar as do-
enças, o envelhecimento, a fadiga e, em especial, a privação do sono. Esta seria uma importante
contribuição para aumentar os riscos de eventos adversos em anestesia. Segundo Samuel Goro-
vitz e Alasdair MacIntyre, um dos motivos que nos levaria a falhar em tarefas que fazemos seria
a “falibilidade inevitável”, ou seja, algumas coisas que queremos fazer simplesmente estariam
além da nossa capacidade 3,4 .
A World Federation of Societies of Anaesthesiologists (WFSA) publicou em 2010, por meio do seu
Comitê de Qualidade e Segurança o International Standards for a Safe Practice of Anesthesia. Dentre
os padrões definidos, os mais importantes dizem respeito à atuação profissional do anestesiologista.
Equipamentos para monitorização desempenham um papel importante na segurança da anestesia,
mas são considerados extensão dos sentidos humanos e das habilidades clínicas, ao invés de substi-
tutos do profissional 5.
História
Apesar da história nos mostrar que os checklists passaram a ser usados com excelentes resultados
no final da década de 1930 na aviação, levou-se muito tempo para se descobrir sua importância na
medicina. Em 2001, o médico Peter Pronovost utilizou sua vasta experiência em estudos de métodos
de pesquisa clínica no Johns Hopkins Hospital, para elaborar o primeiro checklist6. O objetivo inicial
foi se concentrar em apenas uma das centenas de possíveis tarefas realizadas em pacientes críticos,
exatamente naquela que possuía importante impacto na morbidade e mortalidade de pacientes em
UTI: infecções de cateter venoso central. Peter listou, de um modo simples, em uma folha de papel
as tarefas que deveriam obrigatoriamente ser realizadas para a punção venosa central:
1. Lavar as mãos
2. Limpar a pele do paciente com antisséptico
3. Colocar campos cirúrgicos esterilizados sobre todo o corpo do paciente
4. Usar máscara, touca, avental e luvas
5. Recobrir com bandagem esterilizada a área de inserção após a instalação do cateter venoso central.
Considerações finais
A sala de cirurgia é um ambiente complexo, com múltiplos fatores que interagem entre si, incluindo
o paciente, os profissionais de saúde, os equipamentos, muitos complexos e diversificados, os medica-
mentos e há a possibilidade do erro humano, já que somos todos falíveis. Por mais competentes e de-
dicados que os profissionais possam ser, o problema da segurança tem muito mais a ver com sistemas
absolutamente caóticos, negligentes e desorganizados, sem qualquer sensibilização para a questão da
segurança, do que com as falhas dos profissionais que ali atuam. O checklist parece fornecer proteção
contra falhas. Ele nos lembra das tarefas mínimas necessárias e as tornam explícitas. Não só oferece a
possibilidade de uma verificação como também instila uma espécie de disciplina de alto desempenho.
É o primeiro passo que podemos dar em direção à diminuição das complicações e ao mesmo tempo é
uma demonstração de respeito ao paciente, à técnica e à nossa especialidade.
Referências bibliográficas:
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3. Gorovitz S, MacIntyre A - Toward a theory of medical fallibility. J Med Philos, 1976;1:51-71.
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6. Gawande A - The Checklist. The New Yorker, 2007(Dec 10):87-95.
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Perspectiva. São Paulo, Atheneu, 2010; 363.
A simulação realística em
anestesia: destaque no
ensino-aprendizagem da
segurança
Claudia Marquez Simões
Joaquim Edson Vieira
A simulação realística em anestesia:
destaque no ensino-aprendizagem da segurança
A simulação é utilizada há décadas em diversas áreas que envolvem a segurança, como a aviação
civil e militar, forças armadas e indústrias nucleares. O uso da simulação na área médica é mais
recente e tem a anestesiologia como especialidade pioneira no seu uso1.
A utilização da simulação como metodologia para treinamento e didática na anestesia
foi encarada por muitos anestesistas, nos primórdios, de uma maneira cética, que não agregaria
nenhum valor na retenção da aprendizagem. No entanto, com o desenvolvimento de currícu-
los mais completos, com objetivos de aprendizagem específicos associados à implementação
de uma cultura de segurança, a simulação tem conquistado cada vez mais espaço dentro de
nossa especialidade1-4 .
Na década de 80, um dos pioneiros no uso da simulação, David Gaba, começou a elaborar
cenários de simulação realística com anestesiologistas de diferentes formações e tempo de
experiência. Nestes cenários, falhas de equipamentos eram simuladas e a reação dos anestesio-
logistas era observada e filmada. A partir da análise destes casos iniciais, observou-se que os
anestesiologistas possuíam falhas em sua formação para realizar decisões e atuar em situações
de crise1.
A área médica até então valorizava muito pouco o estudo e desenvolvimento de capacidades
cognitivas e habilidades relacionadas à tomada de decisão, tendo seu foco em cenários estáticos
principalmente relacionados à patologia e radiologia1,5. O ambiente cirúrgico possui uma ampla
gama de fatores dinâmicos que tornam este enfoque demasiadamente simplista para aprimorar a
formação do anestesiologista4. Alguns fundamentos foram buscados na decisão naturalista, que se
baseia em contexto incerto e dinâmico, além de contar com a participação de múltiplos partici-
pantes, pressão constante e objetivos muitas vezes mal definidos, de maneira bem semelhante ao
cenário cirúrgico6.
Estas observações iniciais permitiram a criação de um currículo que guiou o uso da simulação
focado na anestesiologia: ACRM (Anesthesia Crisis Resource Management). A elaboração deste cur-
rículo foi fundamentada em dois pilares: um relacionado à tomada de decisão e cognição e outro
baseado no trabalho em equipe e controle de recursos.
A ideia da criação deste currículo foi derivada da aviação, onde existia um treinamento
nomeado como CRM: “Cockpit” Resource Management, que veio a ser transformado em “Crew”
Resource Management, ou seja, gestão dos recursos da tripulação. O desenvolvimento deste
treinamento padronizado foi fundamentado no grande número de acidentes da aviação civil, a
despeito do treinamento de algumas situações de emergência, como incêndios ou falhas mecâni-
cas. No entanto, notou-se que a maior parte dos acidentes resultava da inabilidade da tripulação
em controlar seus recursos e principalmente, na interação da equipe visando otimizar os níveis
de defesa existentes.
A ideia desta fundamentação veio da chamada teoria do queijo suíço ou modelo de Reason7.
Para Reason, o acidente é resultante da combinação de falhas latentes (aspectos organizacionais)
e falhas ativas (desempenho humano). Na forma de diagrama observamos que cada setor e cada
medida para prevenção de acidentes é uma barreira no sistema organizacional. As barreiras são
sobrepostas, e sendo assim, sempre a barreira seguinte tem a possibilidade de corrigir falhas latentes
das barreiras anteriores (Figura 1).
Levando em conta os diversos aspectos expostos do uso da simulação, podemos concluir que ela
constitui uma metodologia que pode ser um importante instrumento na construção de uma cultura
de qualidade e nos treinamentos para sua manutenção. No entanto, não podemos inferir que ela
será a solução para os problemas relacionados à segurança do paciente, mas pode ser um importante
auxiliar. A maior dificuldade atualmente é como comprovar a efetiva melhora nos desfechos do
paciente e redução de eventos adversos associados ao seu uso. Pela complexidade dos processos do
atendimento ao paciente, é difícil discriminar o impacto desta ação de maneira isolada, no entanto,
observamos o aumento da procura por treinamentos nos centros de simulação e até mesmo a incor-
poração na formação médica, como já acontece hoje em Israel13.
Embora já fundamentada, a simulação ainda tem espaço para pesquisas, notadamente sobre a
transferência dos benefícios desta na prática clínica. Estudo recente abrangendo diversas modalida-
Considerações finais
Quando buscamos evidências para respaldar o uso da simulação, nos deparamos ainda com dados
discordantes. Baseando-se nos resultados e práticas de áreas não médicas, que também lidam com
riscos como a aviação civil, observa-se que a simulação pode, efetivamente, ser uma ferramenta útil.
No entanto, estudos sobre retenção de práticas e atitudes obtidas nos ambientes simulados e seu reco-
nhecimento no ambiente clínico real ainda se fazem necessários. Lembrando a citação de Gaba, o uso
da simulação parece encaixar-se perfeitamente no aprimoramento pela segurança do paciente: “...ne-
nhuma indústria aonde vidas humanas dependem do desempenho do operador duvidou do benefício
do uso da simulação antes de incorporá-la…. A anestesia também não deve duvidar …”3.
Cultura de Segurança é
“Uma coleção de características e atitudes de uma organização, promovidas por seus líderes e internalizadas por
seus membros, que fazem a segurança uma prioridade absoluta”
(Conselho de Investigação de Acidentes da NASA)
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Sistemas informatizados
em anestesiologia e a
interface com o prontuário
eletrônico do paciente
Giorgio Pretto
Maria José Carvalho Carmona
Sistemas informatizados em anestesiologia e a interface
com o prontuário eletrônico do paciente
Introdução
Os prontuários eletrônicos em anestesiologia são conhecidos como Sistemas Informatizados em
Anestesiologia (SIAs)1 e devem compreender todas as possibilidades de inclusão de dados realizadas por
anestesiologistas e não somente no perioperatório. O termo é baseado na definição mais utilizada
na literatura internacional, AIMS (Anesthesia Information Management System).
A anestesiologia sempre buscou melhorar a qualidade de seus registros, relatórios ou fichas de
anestesia, e com a evolução da informática um novo caminho se abriu na tentativa de se obter registros
precisos, confiáveis e padronizados, juntamente com a possibilidade da criação e gerenciamento de
grande quantidade de informações, para pesquisas e futuras análises.
Desde a década de 1980, várias tentativas de informatização da anestesia foram feitas, com vários
avanços, mas até hoje não foi desenvolvido um SIA amplamente aceito. Uma das principais dificul-
dades da área da anestesiologia é a necessidade da apresentação gráfica dos dados, baseados em uma
linha de tempo que apresente grande quantidade de informações em uma só imagem. Essa apre-
sentação diferenciada e específica para a anestesiologia causou grande atraso no desenvolvimento
de softwares específicos. Outras especialidades necessitavam basicamente de campos para digitar
textos e/ou planilhas. Atualmente há muitos programas, aplicativos e plataformas que conseguem
executar esta tarefa, seja vinculada ao prontuário eletrônico da instituição ou como programa espe-
cífico para o registro da anestesiologia, sendo que a implantação de um SIA é principalmente uma
decisão estratégica e não uma deficiência técnica da área de informática. Apesar disso, em várias
instituições, a anestesiologia é a única especialidade que continua a fazer seus registros no papel.
Vários softwares foram desenvolvidos e adequados para a utilização em medicina, mas muitas
novas tecnologias foram incorporadas - tanto na medicina quanto na informática-, gerando novas
necessidades com constantes modificações e reajustes, caracterizando uma área dinâmica e em
contínua transformação.
Acompanhando a evolução da informática, os SIAs estão se transformando em complexas
interfaces de cuidado centrado no paciente, com vários módulos para as diferentes necessidades e
integrando evoluções multiprofissionais, prescrições eletrônicas, gerenciamento de contas e estoques,
exibição de exames laboratoriais e/ou de imagem, automatização de fluxogramas e oferecendo
sistemas de auxílio à decisão e prescrições.
Vários estudos mostraram que o relatório eletrônico da anestesia apresenta registros mais com-
pletos, fidedignos, legíveis, padronizados, com menor perda de informações e prontuários. Também
foi demonstrado que, nos registros manuais, valores de sinais vitais são omitidos, principalmente
os com grandes alterações, ou registrados como limites fisiológicos normais. Registros ilegíveis são
outro grande problema dos prontuários manuais. É importante salientar que após a implantação
dos SIAs, raramente ocorre a volta ao prontuário físico/manual 2 .
Atualmente poucas instituições utilizam SIAs, no Brasil não temos estimativas precisas do uso
de sistemas informatizados em saúde. Em estudo avaliando 140 departamentos acadêmicos
americanos, em 2008, 23% utilizavam alguma plataforma informatizada e 21% das instituições estavam
em processo de implantação de algum tipo de sistema3. Em 2011 foi realizada uma pesquisa por
e-mail para os anestesiologistas da Sociedade Americana de Anestesiologia, com apenas 12,3% de
respostas (615 profissionais), destes, 24% utilizam e 26% estavam instalando ou procurando por
Considerações finais
A implantação do prontuário eletrônico do paciente requer grande esforço institucional e de
todas as equipes envolvidas, necessitando de investimento, planejamento e dedicação, mas pode
significar importante melhora na qualidade do cuidado e na segurança do paciente, dois dos maio-
res objetivos da assistência à saúde.
Referências bibliográficas:
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O termo de consentimento
informado: aspectos
bioéticos e legais
José Mauro Mendes Gifoni
Onofre Alves Neto
O termo de consentimento informado:
aspectos bioéticos e legais
A bioética surgiu no século XX, tendo como foco questões éticas, sociais, filosóficas, legais,
humanísticas, dentre outras relacionadas com a assistência à saúde, sendo fundamental na solução
de conflitos na prática médica diária.
É certo que a indicação de qualquer método diagnóstico ou terapêutico deve ser do médico, que
dispõe do conhecimento científico especializado e necessário, todavia, a sua realização não pode ser
executada, em regra, sem a anuência do paciente, principal interessado1.
Dentre os princípios bioéticos aplicados à medicina, pelo menos quatro, têm aceitação praticamente
universal na sociedade moderna: beneficência, não maleficência, autonomia e justiça.
Com relação à autonomia, ao longo dos tempos, a relação médico-paciente se desenvolveu com
um enorme conteúdo absolutista e paternalista, atribuindo-se ao médico, na maioria dos casos,
amplos poderes para estabelecer sua conduta, na condição de detentor do conhecimento.
Posteriormente, desenvolveu-se a ideia da valorização da dignidade da pessoa humana, princípio este
consolidado na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Constituição Federal (CF) de 1988.
Assim, o termo de consentimento informado (TCI) surgiu como um apanágio deste princípio,
conferindo ao paciente o máximo respeito à sua autodeterminação, na medida em que lhe permite
o direito de consentir ou rejeitar quaisquer indicações técnicas de caráter preventivo, diagnóstico
ou terapêutico que tenham repercussão em sua integridade física, psíquica ou social, nos termos
definidos pela Organização Mundial de Saúde.
No terreno da legalidade e da ética médica, restou definitivamente consolidada a importância do
TCI como um direito inquestionável do paciente.
A CF, em seu Título II, Cap. I, art. 5º, X, tratando dos Direitos e Garantias Fundamentais,
estabeleceu: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, asse-
gurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Já o Código de Ética Médica (C.E.M.) vigente, por sua vez, no Cap. I, dos Princípios Funda-
mentais, inciso XXI, destaca: “No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com
seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes,
relativas aos procedimentos diagnosticados e terapêuticos por ele expressos, desde que adequados
ao caso e cientificamente reconhecidos”.
O Capítulo IV, referente aos Direitos Humanos, veda ao médico: “art. 22 Deixar de obter con-
sentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a
ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte; art. 24. Deixar de garantir ao paciente o
exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua
autoridade para limitá-lo”.
No tocante à relação com pacientes e familiares (Cap. V), é vedado ao médico: art. 31 –
“Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a
execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte”;
art. 34 – “Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do
tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer
a comunicação a seu representante legal”.
É importante ressaltar que em caso de pesquisa científica, a exigência é muito maior, de acordo
com o que preceitua o C.E.M. (art. 101), que torna defeso ao médico: “Deixar de obter do paciente
Considerações finais
Portanto, o termo de consentimento informado é um instrumento da maior relevância no
tocante à qualidade e segurança em anestesia, pois, ao mesmo tempo em que proporciona ao paciente
o pleno esclarecimento de sua condição patológica e dos métodos diagnósticos e terapêuticos aos
quais irá se submeter, em respeito e consideração ao seu direito à informação, também comprova
o caráter ético e técnico correto da atitude médica, cumprindo fielmente o que determina uma
boa relação médico-paciente, quando registra no documento a anuência do doente após devida-
mente cônscio dos riscos e benefícios do procedimento anestésico-cirúrgico programado e de
comum acordo.
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Figura 2: Relação entre erros de medicação e eventos adversos. A prioridade da segurança deve ser a redução
dos eventos adversos, pois os erros são muito comuns e frequentemente são interceptados antes de se
transformarem em evento adverso, isto é causar algum dano ao paciente2 .
Modificado de: Preventing Medication Errors: Quality Chasm Series, 2007.
Etapa Definição
Prescrição fase que envolve a ação de solicitar que um medicamento seja administrado. Pode ser
verbal, escrita ou simplesmente uma intenção mentalizada pelo anestesiologista durante a
realização de um procedimento anestésico.
Transcrição fase relacionada ao processamento da prescrição, seja por meio eletrônico ou manual, que
representa a interface de comunicação entre o profissional que realizou a prescrição e aquele
que tornará o medicamento disponível para uso. Durante anestesia, nessa fase é crucial a
correta comunicação oral com o auxiliar que sairá para trazer o medicamento solicitado.
Dispensação fase que se inicia quando o farmacêutico avalia a prescrição feita e torna o medicamento
disponível para o profissional de saúde que o administrará. As atividades dessa fase incluem
a verificação da prescrição, o transporte do medicamento do local de armazenamento ao
local onde será usado e o preparo efetivo para sua administração ao paciente.
Administração fase que representa a interface entre o medicamento e o paciente. Inclui a verificação, pelo
profissional de saúde, dos 5 acertos: 1) a identidade do paciente, 2) o medicamento que será
administrado, 3) a dose, 4) o horário e 5) a via.
Monitoração fase que envolve a avaliação dos efeitos físicos e psicológicos do medicamento administrado.
Registro fase na qual o profissional de saúde registra o que efetuou e, quando apropriado, a resposta
do paciente ao que foi administrado.
Tabela 3. Classificação dos erros de medicação, conforme o ato observado. (nd – não discriminado)
Categoria
Definição
do Erro
Tabela 4. Classificação dos erros de medicação, quanto aos seus efeitos, segundo a NCC-MERP13.
Obs.: os erros classificados E-I são relacionados com eventos adversos.
Figura 4: Modelo do “queijo suíço” que enfatiza a contribuição de múltiplos fatores do sistema para que
ocorra um evento adverso. Modificado de Reason J12 .
Fatores
• Semelhança entre o tamanho das ampolas
• Desenho e tamanho inadequado do recipiente que contém o medicamento
• Rotulagem deficiente (Figura 5)
• Falta de contraste entre as letras e o fundo (Figura 5)
• Letras de cores iguais
• Tamanho e/ou forma semelhante das letras
• Nomes conflitantes, por vezes parecidos, com seqüências silábicas que acabam incorporando uma
pronúncia errada
• A existência de vários nomes comercias para um mesmo medicamento
• A adoção e imposição de cores e contrastes que atendem mais ao interesse comercial do fabricante,
do que a segurança do paciente
• Erro de comunicação, oral ou escrita, entre a prescrição e a administração
• Falta de padronização, rotulagem e armazenamento levando a mistura sem identificação
• Falta de identificação de seringas
• Falta de identificação em frascos de soluções onde são acondicionados medicamentos
• Deficiência visual do(s) operador(es) do sistema (preparo-administração)
• Cansaço e fadiga do operador
• Ambiente de trabalho inadequado (mal iluminado, muito ruído)
• Pessoal sem qualificação adequada
Tabela 5. Fatores que podem contribuir para a troca de medicamento7,20 .
As ampolas devem ter impressão com tamanho de letra, contraste e negrito que facilitem a leitura.21
A falta de contraste entre as letras impressas nas ampolas e o fundo, infelizmente ainda é observado
nas ampolas de medicamentos disponíveis no mercado brasileiro. Na Figura 5 pode ser vista uma
ampola de atropina identificada com letras impressas na cor branca, que dificulta a leitura do nome
do medicamento. No caso apresentado, foi necessário colocar a ampola contra um fundo azul para
aumentar o contraste e melhorar a visualização do nome do medicamento. (Figura 5)
Troca de medicamentos
Estudo realizado pela Canadian Anesthesiologists Society mostrou que 85% dos anestesiologistas
admitiram que já tiveram alguma experiência com a troca na administração de medicamentos, 98%
com conseqüências mínimas, porém com o relato de quatro óbitos18. Tal incidência pode ser devida
ao fato do anestesiologista ser o especialista mais diretamente envolvido com a utilização de medi-
camentos por via venosa, dentre as especialidades médicas.
Alguns estudos apresentam relatos de trocas de medicamentos por via venosa, a saber: água
destilada por cloreto de potássio, atropina por prostigmina, atropina por adrenalina, Quemicetina®
(cloranfenicol) por Quelicin® (succinilcolina), Wycillin® (benzilpenicilina procaína + potássica)
por Quelicin® (succinilcolina), Aramin® (metaraminol) por Prostigmina® (neostigmina). Algumas
dessas trocas resultaram em danos irreversíveis para o paciente7,15,23,24.
Troca de medicamentos injetados indevidamente no espaço peridural também são relatadas.
Os medicamentos mais frequentemente envolvidos nas trocas foram: cloreto de potássio, tiopental,
metoclopramida e diferentes antibióticos24. Como conseqüência foram observadas dor, paresia,
contrações clônicas, sinais de hiperreatividade autônoma, paraplegia e até morte.
O erro de medicação por administração na via errada é estimado em aproximadamente 1/ 5.000
anestesias. Novos sistemas de conexão entre seringas e cateteres estão sendo desenvolvidos cuida-
dosamente para evitar esse tipo de erro, mas ainda não há aplicação comercial 25.
Envolvendo a realização da raquianestesia foram identificados relatos de troca de lidocaína
hiperbárica por pancurônio e dipirona; de Neocaína® (bupivacaína) por Rapifen® (alfentanila),
Morfina 10 mg.ml-1 por Morfina 1 mg.ml-1 e até injeção de Transamin® (ácido tranexâmico)25-27.
Diante desses relatos, pode-se inferir que o risco da injeção acidental de um medicamento não
desejado está sempre presente em uma anestesia, tendo sido reconhecida como um problema rela-
cionado à qualidade e organização da anestesia3,7.
Os fatores contribuintes mais importantes para a troca de medicamentos durante procedimento
anestésico foram a troca de seringas não rotuladas (70%) e a identificação inadequada do rótulo
da ampola (47%). Para os anestesiologistas envolvidos em erros de medicação, a frequência dos in-
cidentes poderia ser reduzida com a padronização e diferenciação nas etiquetas dos diferentes me-
dicamentos, conforme norma internacional proposta pela International Standards Office (ISO). 28
Como importantes fatores contribuintes ao erro de medicação no ambiente hospitalar, os
processos de trabalho, em geral não são desenhados com barreiras para prevenir erros, ignorando
o fato de que os profissionais, médicos ou não, possam agir automaticamente, reconhecendo
o medicamento pela forma, tamanho e cor da embalagem e das letras, tipo de rótulo e local
de armazenagem7.
Além dos riscos de troca mencionados anteriormente, pode ocorrer falha na identificação da
ampola na hora da aspiração, pelo próprio anestesiologista, por não conferir o medicamento entre-
gue por um auxiliar, pelo hábito de pegar medicamento em uma determinada posição na gaveta de
armazenamento, pela semelhança dos rótulos e embalagens ou pela semelhança dos nomes7. Vários
estudos evidenciam a importância da correta, clara e precisa identificação dos medicamentos como
principal medida para diminuir o risco de administrar o medicamento errado3,20.
Procurando melhorar a qualidade de identificação das ampolas, a Sociedade Brasileira de
Anestesiologia conseguiu a edição de uma norma técnica através da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT): a NBR 14490 “Padronização para drogas usadas em Anestesio-
logia e Terapia Intensiva”, no ano de 2000, revisada em 200529. Entretanto, essa norma foi
cancelada pela ABNT, em dezembro de 2012, pela falta de interesse da indústria farmacêutica
em fazer nova revisão.
Baseada nessa norma, e ainda sob a coordenação da Sociedade Brasileira de Anestesiologia
(SBA), a Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA publicou
a RDC nº 9, de 2 de janeiro de 2001, intitulada “Regulamento Técnico de Soluções Parenterais
de Pequeno Volume”30. Apesar de várias mudanças em sua numeração, essa padronização ainda
é válida.
Essa resolução preconiza que as ampolas devem ser rotuladas, em vez de terem o texto impresso
diretamente no vidro, o que facilita a leitura e fornece outras informações importantes ao aneste-
siologista (Figuras 9 e 10).
Com a padronização temos, além da legibilidade dos rótulos, a utilização de cores para cada
classe de medicamentos, tamanho e proporção das letras e sua disposição no maior eixo das
ampolas. O nome genérico no rótulo serve para diminuir o potencial conflito entre os nomes
comerciais semelhantes.
Infusão venosa
Segundo avaliação do Department of Health - UK, a cada ano cerca de 400 pessoas morrem ou
ficam com graves seqüelas devido a eventos envolvendo equipamentos médicos. 3
Com a disseminação do uso de bombas de infusão nos deparamos com infusão de doses erradas,
decorrentes do uso inadequado ou pouca familiaridade com o equipamento, deficiência no treina-
mento ou falha do equipamento, que permite erros de dose de até 100 vezes o desejado3,23.
Os erros com o uso de bombas de infusão podem ser descritos como3:
• erro na escolha do tamanho e/ou tipo da seringa
• falta de confirmação do tamanho e/ou tipo da seringa
• erro na escolha da dose
• falta de confirmação da dose
• erro na programação da taxa de infusão
• falta de confirmação da taxa de infusão
• não cessar a infusão quando indicado
• permitir que haja livre fluxo pela linha de infusão
• manutenção inadequada
Recomenda-se, para evitar tais problemas, a padronização de um único tipo de bomba em todos
os ambientes do hospital, treinamento antes do início do uso, para permitir a familiarização com o
equipamento, acompanhamento por técnicos nas primeiras semanas de uso, e posteriormente treina-
mentos freqüentes de reforço para sanar possíveis dúvidas que surjam com o seu uso na prática clínica.
Programas de manutenção preventiva visando calibração e testes de funcionamento, gerenciados
pela engenharia clínica do hospital, devem ser adotados de forma periódica. Além disso, todas as
vias de infusão devem ser identificadas claramente32 .
Dose errada
Outro aspecto do erro de medicação é a administração de dose errada do medicamento, que pode
estar relacionada com a dificuldade de leitura do rótulo, falta de informação como concentração ou
quantidade em mg ou erro ao efetuar a diluição.
No atendimento de emergência em ambiente simulado, foi mostrado que a diluição dos medi-
camentos logo antes da administração está associado a retardo no atendimento e maior ocorrência
de erros de diluição importantes. A ocorrência de erros de medicação foi 17 vezes menor quando os
medicamentos foram apresentados já em seringas para pronta administração33.
Apesar de todas as recomendações que procuram evitar os erros de medicação, eles ainda con-
tinuam a ocorrer, e por ser um evento que pode acontecer com qualquer profissional, a discussão
e a notificação desses erros devem fazer parte da educação continuada dos profissionais de saúde.
Mesmo eventos que não resultem em dano devem ser notificados, pois a análise detalhada do
modo como ocorreram e a discussão das causas poderá evitar a ocorrência de outros erros, confor-
me observamos na representação do iceberg do erro de medicação (Figura 3).
Considerações finais
O cumprimento dessas recomendações é fundamental, não somente pelo anestesiologista, mas
também pelos outros profissionais de saúde que interagem durante o atendimento perioperatório e
pelos administradores hospitalares que garantem os recursos materiais necessários para esse cum-
primento e devem priorizar a compra de equipamentos não somente com menor custo de aquisição,
mas também mais seguros. A indústria farmacêutica pode fornecer medicamentos em apresenta-
ções mais seguras e os organismos de acreditação e agências governamentais têm importante papel
na regulamentação e fiscalização, enquanto as instituições financiadoras podem estabelecer me-
canismos de incentivo à adoção dessas práticas e aquisição dos equipamentos necessários, com o
objetivo de aumentar a segurança do processo de uso de medicamento no período perioperatório.
O desafio que atualmente se apresenta é como reduzir a ocorrência de erros, sem restringir in-
suportavelmente a prática anestésica com medidas que precisem ser aplicadas mais de 10 mil vezes
para evitar um único evento adverso grave, que pode marcar irreversivelmente a vida do paciente e
dos profissionais envolvidos45.
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Infecção no paciente
cirúrgico: como podemos
contribuir para a
prevenção?
Florentino Fernandes Mendes
Antônio Fernando Carneiro
Infecção no paciente cirúrgico: como podemos
contribuir para a prevenção?
Introdução e Objetivo
Nós, os seres humanos, somos formados por cerca de 10 trilhões de células e vivemos em simbiose
com aproximadamente 100 trilhões de microorganismos dispostos principalmente na pele, nas vias
aéreas superiores e no trato digestivo. A existência desses microorganismos é essencial para nossa
digestão, metabolismo e imunidade. Quando, por algum motivo, a convivência deixa de ser harmô-
nica, nosso microbiota atua como fonte de infecção e a infecção cirúrgica é apenas uma das muitas
características complexas dessa coexistência1.
A cirurgia, em consequência da lesão que lhe é inerente, é um método potente para a introdução
inevitável de patógenos contaminantes em ambientes normalmente estéreis, como os diferentes
tecidos, o peritônio, o sangue e os pulmões. Para evitar a introdução de microorganismos, técnicas
assépticas devem ser observadas. Principalmente quando consideramos que a infecção cirúrgica
tem implicações sérias que levam a aumento da morbimortalidade precoce e tardia 2 .
Apesar das precauções, o ambiente cirúrgico, a equipe assistencial e o paciente não são estéreis.
Assim, o tipo e o grau de contaminação são importantes e a progressão da contaminação para infecção
clínica é fortemente determinada pela adequação das defesas do hospedeiro3.
A estratégia para prevenir infecção baseia-se em limitar ao máximo as possibilidades de
contaminação e estimular as defesas do hospedeiro contra os microorganismos invasores. A morte
por estresse oxidativo, pela ação dos neutrófilos, é o mecanismo de defesa mais importante contra
infecções4 e, depende da oxigenação do tecido no local da invasão. A pressão parcial de oxigênio
arterial, a perfusão tecidual e a taxa local de extração de oxigênio são os determinantes principais da
oxigenação tecidual5, que é considerada o melhor preditor único de risco de infecção6.
Considerando suas implicações, a infecção cirúrgica causa substancial exigência ao paciente,
ao hospital, aos governos e aos pagadores do sistema de saúde e representa importante problema de
saúde pública e um alvo para melhoria da qualidade do paciente cirúrgico7.
O objetivo desse trabalho é revisar o conhecimento relacionado à infecção do paciente cirúrgico
e as medidas de prevenção.
Biofilmes
Os biofilmes microbacterianos são definidos como comunidades de organismos sésseis caracte-
rizados por células que estão ligadas a um substrato ou interface, ou umas às outras, que são incorporadas
numa matriz hidratada de substâncias poliméricas extracelulares que produzem e que exibem um
fenótipo alterado com respeito à taxa de crescimento e a transcrição do gene, em comparação com
as células em suspensão8 . Trata-se de um agregado de micróbios que produz uma matriz de
carboidratos protetiva9 e que pode conter várias espécies diferentes de bactérias e estruturas com-
plexas como canais específicos em que os nutrientes podem circular. As células em diferentes áreas
do biofilme podem sofrer alterações fenotípicas e modificar o comportamento. Todos esses fatores
ajudam a explicar por que o biofilme pode persitir mesmo num ambiente hostil e não responder ao
tratamento convencional com antibióticos.
De fato, é muito importante entender a bioquímica, a emergência de resistência antimicrobiana
e como se pode efetivamente tratar a infecção para prevenir o crescimento de biofilmes e prevenir
a persistência da infecção10.
Para prevenir a infecção pós-operatória, o Surgical Care Improvement Project (SCIP), criado
pelo Center for Medicare e pelo Medicaid Service, desenvolveu um esforço colaborativo baseado em
quatro orientações básicas:
1. Administração de antibioticoprofilaxia 1 hora antes da incisão (2 horas – vancomicina).
2. Seleção do antibiótico adequado para a cirurgia do paciente.
3. Descontinuação da antibioticoprofilaxia dentro de 24 horas após a cirurgia.
4. Cirurgia Colorretal com normotermia pós-operatória imediata37.
A não complacência com as orientações do SCIP tem consequências significantes. Estudo
prospectivo, com mais de 5.000 pacientes incluídos, realizado em 16 hospitais de Kentucky, de-
b. Relacionados ao anestesista
Em anestesia, a reutilização de dispositivos descartáveis não é recomendada, pois não existem
dados suficientes sobre a segurança desta prática. O processo de desinfecção ou esterilização quími-
ca pode danificar ou alterar as propriedades do equipamento descartável tornando seu uso insegu-
ro. A reutilização também transfere a responsabilidade legal do fabricante para o usuário51.
Estudo multicêntrico randomizado, desenhado para determinar os fatores de risco para con-
taminação da cânula encontrou taxas de contaminação de 23% associada com aumento de mor-
talidade. Nesse estudo, o mais importante fator de risco foi o local do hospital onde foi realizado o
procedimento e o fato de ser o segundo paciente na escala das salas cirúrgicas. Os pacientes foram o
reservatório para Estafilococo aureus meticilina sensíveis e resistentes. As mãos do anestesista foram
a origem da contaminação em 27% dos casos e, o foco mais provável para enterococos vancomicina
resistente. As luvas não foram testadas para existência de microorganismos52 .
Estudo demonstrou, que em 66% dos casos, havia contaminação das mãos dos anestesistas por
1 ou mais patógenos (MRSA, Estafilococo aureos meticilina sensível, enterococos e enterobacteriáceas).
Medidas Farmacológicas
Quatro princípios fundamentais ditam a antibioticoprofilaxia:
1. O uso de antibioticoprofilaxia está indicado para toda cirurgia eletiva realizada em víscera
oca, ou que envolva inserção de dispositivo médico ou prótese intravascular ou articular ou
cirurgia em que a infecção pode ter consequências catastróficas.
2. O agente antimicrobiano deve ser seguro, custo efetivo, bactericida contra os patógenos
esperados para o procedimento cirúrgico específico.
3. O tempo de infusão deve prever a necessidade de obter uma concentração bactericida do
agente no tecido e no sangue no momento da incisão cirúrgica.
4. O nível sanguíneo do agente deve ser mantido durante toda a cirurgia até o fechamento da pele69.
Para satisfação destes princípios:
1. A antibioticoprofilaxia deve ser iniciada uma hora antes da incisão cirúrgica, ou duas horas
antes da incisão, se o paciente recebe vancomicina ou fluoroquinolonas.
2. Os pacientes devem receber a antibioticoprofilaxia adequada para o procedimento específico.
3. A antibioticoprofilaxia deve ser descontinuada dentro de 24 horas da cirurgia (dentro de 48
horas na cirurgia cardiotorácica).
4. Em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, a glicemia pós-operatória deve ser controlada
(200mg.dL -1 ou menos).
5. A remoção de pelos deve ser apropriada para a localização e o procedimento.
6. Pacientes submetidos a cirurgias colorretais devem ser mantidos normotérmicos durante a
realização da cirurgia (36oC ou acima) ou dentro de 15 mim após chegar na SRPA79.
Deve-se considerar o uso do agente apropriado no tempo adequado. Estudo retrospectivo com
cerca de 3.000 pacientes submetidos a vários tipos de cirurgias eletivas demonstrou que ocorreram
menores taxas de infecção no grupo de pacientes que recebeu antibioticoprofilaxia dentro de uma
hora antes da incisão80. Para maximizar os benefícios, a profilaxia antimicrobiana deve ocorrer den-
tro de uma hora antes da incisão cirúrgica (2 horas para vancomicina e fluoroquinolonas). De fato,
estudo observacional prospectivo, com 3.836 pacientes incluídos, verificou que a profilaxia anti-
Antibioticoprofilaxia, Complacência
Metanálises demonstram que a antibioticoprofilaxia é a estratégia mais efetiva para prevenir
infecções em cirurgias de mama103,104, em apendicetomias105,106, e em cirurgias colorretais107,108, mas
não reduz o risco em cirurgias videolaparoscópicas e herniorrafias109,110.
As recomendações para antibioticoprofilaxia foram desenvolvidas em diversos países e por di-
versas organizações (Quadro 4)35.
Recomendação JCAHO SCIP CDC ACS NHS Europa Austrália Canadá
Seleção apropriada
X X X X X X X X
do antibiótico
Antibiótico 1 hora antes
X X - - X X X X
da cirurgia
Descontinuação antibió-
X X - - X X X X
tico: 24 horas
Remoção apropriada
X X X X X - X X
de pelos
Manutenção normoter-
X X - - X - X X
mia (colorretal)
Manutenção glicemia
X X X X X - - -
(cardíaca)
JCAHO – Joint Commission on Accreditation for Healthcare Organizations.
SCIP – Surgical Care Improvement Project.
CDC – Centers for Disease Control and Prevention.
ACS – American College of Surgeons.
Quadro 4 - Recomendações para Controle de Infecção do Sítio Cirúrgico – Consenso
Com evidências mais recentes, outras intervenções que se pensava reduzir a taxa de infecção,
como remoção de anéis e esmalte das unhas foram descontinuadas111.
Em estudo de vigilância realizado na França a falta da redosagem de acordo com a meia vida do
antibiótico e com a duração do procedimento foi a mais importante prática inapropriada/falta de
complacência associada com aumento do risco de infecção (OR 1,8, IC 95% 1,14-2,81)86.
Considerações finais
Em conclusão, o procedimento anestésico-cirúrgico está relacionado com riscos de transmissão
de agentes infecciosos ao paciente, que podem estar relacionados ao próprio paciente, a falhas hu-
manas, aos equipamentos, aos dispositivos e aos insumos utilizados para a execução do ato anestési-
co. O procedimento também pode acarretar risco de contaminação do profissional anestesiologista
por agentes advindos do paciente. A lavagem apropriada das mãos, a utilização de equipamentos de
proteção individual, bem como a educação continuada, adaptando o ambiente de trabalho ao uso
de checklist de segurança, melhora a qualidade e diminui os riscos de infecção tanto para o paciente
quanto para o anestesiologista.
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Incorporação de
tecnologia e gerenciamento
de equipamentos
de anestesia
Fernando Squeff Nora
Neuber Martins Fonseca
Incorporação de tecnologia e gerenciamento de
equipamentos de anestesia
Introdução:
Um padrão pode ser definido com um exemplo do que é aceito sobre alguma coisa e contra a
qual as demais são comparadas ou medidas. Todos nós utilizamos o conceito de uma norma quan-
do tentamos julgar a qualidade de qualquer serviço, mas como saberemos qual é o padrão ideal para
uma dada técnica clínica específica e como saber como este padrão foi construído ou produzido?
É esta aceitação, com base em evidências científicas obtidas a partir de estudos de impacto, um
padrão ou é apenas uma “prática normal” (em oposição à prática inaceitável)?
Se o padrão é um exemplo “aprovado”, deve-se mais uma vez perguntar por quem é aprovado.
Este padrão deverá estabelecer claramente os níveis inequívocos de pessoal e os cuidados que devem
ser atingidos para todas as unidades como um mínimo para fornecer um nível aceitável de cuidado.
Voltando à definição original, uma norma é algo contra o qual os demais conceitos de normalidade
são julgados. Claramente, a primeira opção introduz um elemento da subjetividade e, portanto,
podem estar abertos a preconceito ou confusão na interpretação. A ideia da comparação que está
sendo medida é cientificamente muito mais atraente, mas depende de existência de uma unidade
adequada de medida e uma ferramenta robusta de medição para fornecer a avaliação objetiva neces-
sária. Seja como for, normas constituirão uma parte importante da governança clínica.
A anestesia tem um longo histórico de prestação de serviços de orientação de valor inestimável
que contêm normas claras sobre temas como o monitoramento durante a anestesia e recuperação.
O processo de avaliação, aquisição e incorporação de novos equipamentos não é tarefa simples
uma vez que envolve inúmeros aspectos e interesses. As instituições devem se cercar do máximo de
zelo e critério na aquisição de equipamentos que tenham comprovação e eficácia garantidas através
da literatura médica, bem como avaliadas e aprovadas para utilização pelos órgãos de fiscalização e
regulatórios do governo.
Por um lado, a demanda representada pelos médicos sedentos pelos novos equipamentos, por
outro, há de se ter uma visão global daquilo que é legal e economicamente viável de ser empreendido
em uma instituição, seja ela privada ou pública. Nas instituições públicas, os processos licitatórios
para a aquisição de novos equipamentos costumam ser rigorosos e fazem com que diversos
componentes tenham que ser descritos quando o processo se inicia, por vezes tornando a efetivação
da compra um processo longo, demorado e de grande desgaste.
Este capítulo discorre sobre os aspectos envolvidos na escolha e gerenciamento de novas e anti-
gas tecnologias utilizadas na anestesia, bem como trata de aspectos envolvidos na legislação vigente
sobre o tema proposto.
Figura 1 - Análises das frequências populacionais de pacientes avaliados em uma instituição, de acordo com
o tipo de complexidade e com o tipo de atendimento prestado pela instituição.
A - tipos de pacientes e tipos de atendimentos; B - O grau de complexidade aumenta à medida que aumenta a
demanda pelos serviços mais especializados, geralmente alocados em instituições de ensino.
Sessler e col3 descreveram fatores de risco clínicos e não clínicos associados à avaliação do desfecho
no paciente cirúrgico.
A Figura 2 retrata este modelo que leva em consideração, além dos fatores diretamente relacio-
nados ao risco inerente da patologia de base, toda uma gama de aspectos relacionados à vida médica
pregressa e à qualidade de vida relacionada à saúde relatada pelo paciente. Assim, a avaliação e a
estratificação de risco de patologias específicas e em instituição específicas devem ser realizadas
levando-se em consideração aspectos particulares relacionados aos fatores de risco do paciente, aos
fatores de risco não relacionados ao paciente e à probabilidade aleatória de um procedimento ter
sucesso ou não.
Gerenciamento de equipamentos
Entre as diferentes especialidades médicas, a anestesia é identificada como exemplo em relação ao
avanço no campo de segurança. Este esforço é observado pela redução na mortalidade em 10 vezes
na última década, confirmada por estudos epidemiológicos que indicam como taxa de mortalidade
em países desenvolvidos relacionada à anestesia de 0,55 a 0,8 em 100.000 procedimentos e de 1,8 a
13,7 em 100.000 parcialmente relacionados à anestesia. O mesmo foi apresentado pela ASA (American
Society of Anesthesiologists) com redução do índice de mortalidade em 20 vezes da década de 80 para
a de 20003-5.
Embora as taxas de mortalidade e as complicações relacionadas à anestesia sejam difíceis de
comparar já que a variabilidade de casos é bastante grande, verifica-se que cerca da metade dos
Seção I - Objetivo
Art. 2º Este regulamento possui o objetivo de estabelecer os critérios mínimos, a serem segui-
dos pelos estabelecimentos de saúde, para o gerenciamento de tecnologias em saúde utilizadas na
prestação de serviços de saúde, de modo a garantir a sua rastreabilidade, qualidade, eficácia, efetividade
e segurança e, no que couber, desempenho, desde a entrada no estabelecimento de saúde até seu
destino final, incluindo o planejamento dos recursos físicos, materiais e humanos, bem como, da
capacitação dos profissionais envolvidos no processo destes.
Seção II - abrangência:
Art. 3º - Este Regulamento se aplica às tecnologias em saúde utilizadas na prestação de serviços
de saúde:
I - produtos para saúde, incluindo equipamentos de saúde;
§ 1º - Excluem-se das disposições deste regulamento os equipamentos de saúde definidos como
equipamentos gerais.
§ 2º - A aplicabilidade deste regulamento se restringe aos estabelecimentos de saúde em âmbito
hospitalar, ambulatorial e domiciliar e aqueles que prestam serviços de apoio ao diagnóstico e terapia,
intra ou extra-hospitalar.
Anexo I
As seguintes fichas fazem parte obrigatória da documentação da anestesia:
1. Ficha de avaliação pré-anestésica, incluindo:
a. Identificação do anestesiologista
b. Identificação do paciente
c. Dados antropométricos
d. Antecedentes pessoais e familiares
e. Exame físico, incluindo avaliação das vias aéreas
f. Diagnóstico cirúrgico e doenças associadas
g. Tratamento (incluindo fármacos de uso atual ou recente)
h. Jejum pré-operatório
i. Resultados dos exames complementares eventualmente solicitados e opinião de outros es-
pecialistas, se for o caso
j. Estado físico
k. Prescrição pré-anestésica
l. Consentimento informado específico para a anestesia
2. Ficha de anestesia, incluindo:
a. Identificação do(s) anestesiologista(s) responsável(is) e, se for o caso, registro do momento
de transferência de responsabilidade durante o procedimento
b. Identificação do paciente
c. Início e término do procedimento
d. Técnica de anestesia empregada
e. Recursos de monitoração adotados
f. Registro da oxigenação, gás carbônico expirado final (nas situações onde foi utilizado), pres-
são arterial e freqüência cardíaca a intervalos não superiores a dez minutos
g. Soluções e fármacos administrados (momento de administração, via e dose)
h. Intercorrências e eventos adversos associados ou não à anestesia
3. Ficha de recuperação pós-anestésica, incluindo:
a. Identificação do(s) anestesiologista(s) responsável(is) e, se for o caso, registro do momento de
transferência de responsabilidade durante o internamento na sala de recuperação pós-anestésica
b. Identificação do paciente
Anexo II
Equipamentos básicos para a administração da anestesia e suporte cardiorrespiratório:
1. Em cada sala onde se administra anestesia: secção de fluxo contínuo de gases, sistema respi-
ratório e ventilatório completo e sistema de aspiração.
2. Na unidade onde se administra anestesia: desfibrilador, marca-passo transcutâneo (incluin-
do gerador e cabo).
3. Recomenda-se a monitoração da temperatura e sistemas para aquecimento de pacientes em
anestesia pediátrica e geriátrica, bem como em procedimentos com duração superior a duas
horas, nas demais situações.
4. Recomenda-se a adoção de sistemas automáticos de infusão para administração contínua de
fármacos vasoativos e anestesia intravenosa contínua.
Anexo III
Instrumental e materiais:
1. Máscaras faciais
2. Cânulas oronasofaríngeas
3. Máscaras laríngeas
4. Tubos traqueais e conectores
5. Seringas, agulhas e cateteres venosos descartáveis
6. Laringoscópio (cabos e lâminas)
7. Guia para tubo traqueal e pinça condutora
8. Dispositivo para cricotireostomia
9. Seringas, agulhas e cateteres descartáveis específicos para os diversos bloqueios anestésicos
neuroaxiais e periféricos
Anexo IV
Fármacos:
1. Agentes usados em anestesia, incluindo anestésicos locais, hipnoindutores, bloqueadores
neuromusculares e seus antagonistas, anestésicos inalatórios e dantroleno sódico, opióides
e seus antagonistas, antieméticos, analgésicos não-opioides, corticosteróides, inibidores H 2 ,
efedrina/etilefrina, broncodilatadores, gluconato/cloreto de cálcio.
2. Agentes destinados à ressuscitação cardiopulmonar, incluindo adrenalina, atropina, amio-
darona, sulfato de magnésio, dopamina, dobutamina, noradrenalina, bicarbonato de sódio,
soluções para hidratação e expansores plasmáticos.
Considerações finais
Avançamos, ainda não estamos no patamar que gostaríamos, mas hoje conseguimos determinar
com exatidão e segurança a necessidade de equipamentos indispensáveis à prática segura de anes-
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Risco ocupacional e
segurança do paciente
Gastão Fernandes Duval Neto
Risco ocupacional e segurança do paciente
Introdução
Para o perfeito entendimento do tema “Risco Ocupacional e Segurança do Paciente Cirúrgico”
é necessário iniciar com duas definições: estresse psíquico e fadiga ocupacional.
Estresse é definido como tensão física ou psíquica (emocional), que ocorre durante o momento
em que existe um desequilíbrio entre as demandas exigidas para um ser humano e as condições do
mesmo em suportá-las1.
Fadiga é a sensação subjetiva da necessidade de repouso (dormir) acompanhada de um inten-
so esforço para manutenção de um estado de vigília e de uma significante perda da condição de
cognição psíquica.
A fadiga representa a incapacidade do indivíduo continuar a exercer, de maneira efetiva, as suas
potencialidades mentais e físicas2 . A fadiga tem características individuais e é caracterizada como
um fenômeno difícil de identificar de maneira inequívoca, consequentemente difícil de avaliar e de
abordá-la clinicamente.
Ciclo circadiano - é um ritmo natural do organismo humano que está associado com o fenômeno
de dormir e de despertar do indivíduo. O referido Ciclo envolve um padrão de sono/vigília, um
característico regime de atividade digestiva e secreção humoral, além de um estado de humor que
influencia os níveis de atenção e de performance psíquica e motora (ocupacionais), durante um
período de 24 horas 3 .
Na literatura médica, cresce o número de trabalhos científicos que correlacionam de maneira
substancial as alterações psíquico-patológicas dos médicos, residentes e enfermagem (por exemplo,
o elevado nível de estresse ocupacional e suas consequências) com a potencial geração de incidentes
críticos (erro médico)4-9.
Na atualidade, existe uma concordância na definição de erro médico, sendo o consenso de que se
trata de uma situação na qual o profissional escolhe e adota uma atitude inapropriada e/ou a executa
de maneira incorreta. Dessa forma, o erro médico é descrito como “um erro humano inserido na
abordagem clínica à saúde de pacientes”. Entretanto essa definição é passível de discussão, desde
que existem erros de pequena e grande monta, sendo que o resultado específico dos mesmos é
frequentemente pouco definido.
O Conselho Federal de Medicina, no Brasil, define erro médico como “A conduta profissional
inadequada que supõe uma inobservância técnica, sendo capaz de produzir um dano à vida ou à
saúde de outrem, caracterizada por imperícia, imprudência ou negligência” 10 .
Em 1999, O Institute of Medicine Norte Americano, mostrou, em sua publicação To Err Is Human:
building a safer health system, que mais de 98.000 mortes de pacientes foram causadas por erro
médico, tornando esse tipo de situação a sexta das oito causas mais prevalentes de morte dentro dos
Estados Unidos da América, sendo potencialmente mais letal do que o câncer de mama, AIDS e
mortes por acidentes de tráfego. Dessa forma, esse tipo de situação configura-se como um problema
mundial e não parece ser abordada de maneira efetiva até o momento atual 11.
Dados epidemiológicos
O Institute of Medicine (EUA) publicou em 2006 um trabalho abordando o tema “Sleep disorders
and deprivation: unmet public health problem” concluindo que os defeitos do sono (insônia e/ou
privação de sono) apresentam um efeito cumulativo4.
Abordagens sugeridas pela The Joint Commission – Sentinel Events para o Problema
de Estresse e Fadiga Ocupacional em Medicina
Existem ações, com base em evidências médicas, que podem ser adotadas por provedores de
cuidados à saúde, com o objetivo de diminuir o risco de incidentes críticos médicos relacionados
ao estresse e fadiga de médicos, residentes e enfermagem e, dessa forma, diminuir a incidência de
incidentes evitáveis. Entre as mesmas, a introdução, nas estruturas que promovem a assistência médica,
tal como convênios, sociedades de especialidades, residências médicas (universitárias e/ou privadas),
entidades privadas e/ou governamentais, a noção da estreita correlação entre estresse e fadiga
ocupacionais com a elevação de incidentes médicos, os quais são usualmente evitáveis. Para isso
é necessária a avaliação da correlação entre atividade médica rotineira diária com a concomitante
realização de plantões, corrigindo os excessos de horas trabalhadas em assistência médica.
As considerações emitidas pela Joint Commission em 2011 valorizam os fatores acima citados e
sugerem intervenções sobre os mesmos:
1. Estabelecer regras e regulamentos sobre os regimes de trabalho que ao protegerem o médico,
residente e enfermagem contra as situações de elevado nível de estresse e fadiga ocupacionais,
também protegem os pacientes submetidos a sua atividade clínica (incidentes críticos evitáveis).
2. Criar e implementar programas de constante avaliação dos níveis de estresse e fadiga
ocupacionais nos trabalhadores da área da saúde, desenvolvendo estratégias de abordagem
desses problemas de saúde ocupacional. Por exemplo, manutenção de contato permanente
Considerações finais30
“É preciso entender o problema com grande profundidade”
“É hora de refletir e agir em relação à saúde ocupacional do anestesiologista, principalmente dos
jovens residentes”.
Referências bibliográficas:
1. Baker DB - The study of stress at work. Annu Rev Public Health, 1985; 6:367-381.
2. Murray D, Dodds C - The effects of the sleep disruption on performance of anesthesiologists - a pilot study. Anaesthesia,
2003;58:520-525
3. Yin, L, Wang J, Klein, PS et al. - Nuclear receptor Rev-erbalpha is a critical lithium-sensitive component of the circadian clock.
Science, 2006;311:1002-1005.
4. Colten HR, Altevogt BM - Sleep Disorders and Sleep Deprivation: An Unmet Public Health Problem. Disponível em: <http://
www.iom.edu/Reports/2006/Sleep-Disorders-and-Sleep-Deprivation-An-Unmet-Public-Health-Problem.aspx>. Acessado em
03/05/11.
5. Institute of Medicine - Resident duty hours: enhancing sleep, supervision, and safety [online]. Dec 2008. Disponível em: http://
www.iom.edu/Reports/2008/Resident-Duty-Hours-Enhancing-Sleep-Supervision-and-Safety.aspx. Acessado em: 03/05/11.
6. Institute of Medicine - Keeping patients safe: transforming the work environment of nurses. Washington, National Academy
Press, Nov 2003 [online]. Disponível em: http://iom.edu/Reports/2003/Keeping-Patients-Safe-Transforming-the-Work-Envi-
ronment-of-Nurses.aspx. Acessado em: 03/05/11.
7. Philibert I - Sleep loss and performance in residents and nonphysicians: a meta-analytic examination. Sleep, 2005;28:1392-1402.
8. Levine AC, Adusumilli J, Landrigan CP - Effects of reducing or eliminating resident work shifts over 16 hours: a systematic
review, Sleep, 2010;33:1043-1053.
9. Landrigan CP, Barger LK, Cade BE et al. - Interns’ compliance with accreditation council for graduate medical education work-
-hour limits. JAMA, 2006;296:1063-1070.
10. Kfouri Neto M. Responsabilidade Civil do Médico. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1995.
Programas de
acreditação hospitalar
Roberto Manara Victorio Ferreira
Pablo Braga Gusman
Vinícius Pereira de Souza
Programas de acreditação hospitalar
Suponha a seguinte situação: você está em uma cidade desconhecida e apresenta um quadro
clínico ou cirúrgico agudo, necessitando de atendimento médico em uma instituição de saúde.
Uma rápida pesquisa na internet e o “Dr. Google” lhe informa que existem dois bons hospitais que
atendem o seu plano nesta cidade. O site do primeiro hospital informa que a primeira instituição é
acreditada em nível de excelência (nível III) pela Organização Nacional de Acreditação. Já o site do
segundo hospital nada relata.
Alguns questionamentos se apresentam imediatamente: será que a instituição acreditada tem
estrutura, processos e resultados superiores? A qualidade de atendimento será realmente melhor?
Quais seriam os benefícios que esta certificação confere para a instituição? O que um cliente poderia
esperar de um hospital acreditado? Qual seria a sua escolha?
Este capítulo objetiva discutir alguns dos principais programas de acreditação hospitalar atual-
mente vigentes em nosso país, abordando os seus benefícios e as suas limitações ao longo do tempo
para pacientes, profissionais e instituições hospitalares.
Acreditação Hospitalar
Segundo o manual da Organização Nacional de Acreditação (ONA), a acreditação hospitalar é
um método de avaliação dos recursos institucionais, voluntário, periódico e reservado, que busca
garantir a qualidade da assistência por meio de padrões previamente definidos1. Constitui-se es-
sencialmente em um programa de educação continuada e, jamais, uma forma de fiscalização.Os
padrões estabelecidos referem-se à segurança (estrutura), organização (processos) e excelência na
gestão, juntamente com a análise da adequação e cumprimento da legislação vigente no país para a
assistência médico-hospitalar.
Os programas de acreditação hospitalar diferem de outros programas existentes de certificação
de qualidade como a ISO. Na ISO a certificação pode ser realizada em setores específicos de uma
instituição hospitalar, de forma independente. Por exemplo, o laboratório de um hospital pode ser
certificado pela ISO enquanto o setor de radiologia não, sem comprometer a instituição. Já o processo
de acreditação hospitalar envolve a instituição como um todo, não sendo possível certificar setores
isoladamente dentro de uma mesma organização. É tudo ou nada! Se determinado setor for mal
avaliado, este resultado impactará todo o hospital. Uma das premissas do modelo consiste na inte-
gração dos serviços, fator este essencial para um nível de qualidade superior.
No Brasil, existem várias opções de programas de acreditação hospitalar, destacando-se a
Organização Nacional de Acreditação (ONA), a Joint Commission International (JCI), Accreditation
Canada e a National Integrated for Health Care Organization (NIAHO). O número de instituições
acreditadas nos diversos modelos no Brasil é apresentado na tabela 1 (www.anahp.org.br).
Tabela 1 – Número de hospitais acreditados nos diversos programas de acreditação em 2011
Programa de acreditação hospitalar Número de hospitais Brasil*
Organização Nacional de Acreditação (ONA) 153
Joint Commission International (JCI) 19
Accreditation Canada 15
National Integrated for Healthcare Organizations (NIAHO) 3
Fonte: www.anahp.org.br
*Alguns hospitais apresentam mais de uma certificação
Devemos ter em mente que o médico anestesiologista é um profissional, que ao mesmo tempo
que prescreve, faz a administração de medicamentos (normalmente medicações de alta vigilância
como eletrólitos concentrados ou psicotrópicos). Assim sendo, o serviço de anestesia da institui-
ção hospitalar, deve ter um programa de gestão de risco específico para o erro de medicações,
contendo ações corretivas e preventivas, atitudes a serem tomadas, programas de armazenagem,
etiquetação, treinamento…
Porém, tão importante quanto a gestão de risco, está a notificação dos erros de medicamentos,
devendo o serviço de anestesia apresentar treinamento e formulário ou impresso (pode ser encon-
trado na página da Anvisa – www.anvisa.gov.br/…/erro_de_medicacao.pdf) para a realização
desta prática. Entendemos que a partir da notificação dos erros, podemos conhecer a realidade do
serviço e trabalharmos para que estes não voltem a ocorrer.
b) Cirurgia Correta, Local e Paciente Corretos
A partir de 2008, com a publicação de um artigo na qual foram avaliadas 235 milhões de cirur-
gias no mundo e constatado que isto representava 1 cirurgia para cada 25 pessoas; que o número
de óbitos girava em torno de 2 milhões e o de complicações em torno de 7 milhões, onde 50% eram
consideradas evitáveis7, houve uma grande valorização do checklist cirúrgico.
Este checklist, é composto de três partes:
Sign In: deve ser realizado antes da entrada do paciente ao centro cirúrgico sendo respondidas as
seguintes perguntas: a identificação do paciente está correta, materiais de anestesia estão checados,
oximetria de pulso está funcionante, paciente apresenta alergia, via aérea difícil e perda sanguínea
presumível maior que 500 ml;
Accreditation Canadá
Os centros de assistência à saúde, incluindo clínicas, hospitais e centros hospitalares vêm bus-
cando melhoria na qualidade de sua prestação de serviço e segurança por motivos econômicos,
relacionados à procura do equilíbrio de remuneração e cobertura de despesas assistenciais e inves-
timentos; pela relação médico-paciente, uma vez que esse cliente já tem acesso globalizado à infor-
mação sobre tratamentos disponíveis; e jurídico, onde o paciente tem legislações que garantem seus
direitos. Essas instituições vão de encontro à qualidade, definida por Donabedian15, “... que consiste
na obtenção dos maiores benefícios com os menores riscos para o paciente, e ao menor custo”.
A gestão da qualidade tem o propósito de organizar processos, gerenciar riscos, evitar e reduzir
as probabilidades de eventos indesejados decorrentes da assistência prestada ao cliente/paciente16.
As instituições hospitalares brasileiras se mantem na condição de corresponsáveis pelo exercício
da medicina.
Para uso efetivo de mecanismos que propiciem efetiva avaliação dos serviços de assistência,
criou-se a ideia de se desenvolver programas e sistemas de acreditação. Com os bons resultados
frente à implantação destes programas de qualidade, as instituições de saúde passam a ter maior
credibilidade e visibilidade pelas maiores transparência e eficiência de processos profissional
e assistencial17.
Este novo modelo de se pensar e praticar medicina necessita ser facilitado por metodologias
externas de acreditação nacionais ou internacionais (globalizadas).
O Programa Internacional Canadense de Acreditação, Canadian Council for Healthy Service
Accreditation (CCHSA), tem uma visão holística e centrada no paciente. Para compatibilizar esse
sistema de acreditação com a realidade do sistema brasileiro de saúde, seu representante nacional
vem desenvolvendo esforços no sentido de criar condições necessárias à prestação de cuidados de
saúde. Há que se seguir padrões de qualidade aceitos internacionalmente, mas motivados pela cultura
e prestação de serviço regionais. Desde os anos 80, através de sua divisão internacional, o comitê
gestor tem ajudado sistemas nacionais de saúde no aprimoramento dos processos de segurança do
cuidado aos pacientes, no compartilhamento internacional de boas práticas da assistência e na
melhoria das práticas de gestão institucionais. Um terço dos programas de acreditação desenvolvidos
no mundo foram inspirados e baseados nos critérios do Programa Canadense. O IQG, Instituto
Qualisa de Gestão, através de Joint Venture com o Conselho de Acreditação Canadense, é exclusivo
para implantação desta metodologia no Brasil.
Para todas as instituições brasileiras que aderem a este programa internacional deve haver
implantação de um novo modelo com ajustes de suas práticas de gestão. Os objetivos são focados
no debate, intercâmbio de ideias e ações desenvolvendo boas práticas na assistência com alvo nas
atividades de “segurança do paciente”. O alinhamento com práticas internacionais para melhoria da
Considerações finais
A prestação de serviços em saúde deve ser encarada com profissionalismo. Não há mais espaços
para amadorismos! O processo de acreditação das instituições hospitalares quando bem utilizado
pode fomentar, de maneira organizada, a evolução e o aprimoramento das instituições. Os progra-
mas de acreditação são variados e cabe aos hospitais a escolha do programa mais alinhado à sua
perspectiva de futuro e às suas necessidades.
Agradecimentos
Agradecimentos a Dr. Rubens José Covello, CEO Instituto Qualisa de Gestão, SP e Adriana
Daum Machado, Gerente do Comitê de Qualidade do Hospital Meridional, Cariacica, ES pelo ma-
terial fornecido na confecção do capítulo.
Referências bibliográficas:
1. Organização Nacional de Acreditação – Manual Brasileiro de Acreditação: Organizações Prestadoras de Serviços de Saúde.
Versão 2010.
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