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Lenita Wannmacher
INTRODUÇÃO
A prevalência de diabetes melito continua crescendo rapidamente nos
diferentes países, constituindo-se em permanente desafio para o atendimento médico
e os sistemas de saúde1. Apesar dos novos métodos de prevenção e tratamento,
orientados por extensa pesquisa na área, não há sinais de que a morbidade e a
mortalidade da doença estejam em declínio2. Na verdade, estima-se que o número de
diabéticos (110 milhões em 1994) cresça para 221 milhões em 20103. Para isso
parecem contribuir a alta prevalência de obesidade e a falta de atividade física nas
populações urbanas ocidentais, indubitáveis fatores de risco para o desenvolvimento
de diabetes.
A desigualdade de acesso a tratamento e a inadequada aplicação das medidas
de controle da doença continuam a obstruir o encaminhamento de soluções3.
Aqui serão discutidos os medicamentos indicados para o controle dos quatro
subtipos de diabetes melito: tipo 1 (deficiência absoluta de insulina), tipo 2 (resistência
à insulina, deficiência relativa de insulina ou defeito de secreção de insulina), tipo 3
(defeitos genéticos da função das células beta-pancreáticas ou da ação de insulina e
doenças do pâncreas exócrino) e tipo 4 (diabetes gestacional). Explicitá-los significa
ter alvos mais específicos para os tratamentos, com eventuais melhores desfechos4.
O curso clínico de diabetes mudou dramaticamente nos tempos modernos. O
advento de insulina há oitenta anos e de antibióticos permite hoje quase 100 % de
sobrevivência em 10 anos a partir do estabelecimento do diagnóstico 5. Essa maior
longevidade levou ao aparecimento de complicações crônicas da doença, subdivididas
em macro e microvasculares, imprimindo perfil bem diferente de morbimortalidade.
Problemas cardiovasculares e renais tornaram-se as causas mais freqüentes de
morte. Cegueira e amputação de membros inferiores passaram a determinar a
invalidez de muitos pacientes.
Por isso, o enfoque contemporâneo não se reduz ao controle glicêmico para
obtenção de melhoria dos distúrbios metabólicos que caracterizam a doença. Ao
contrário, estende-se à prevenção primária e secundária das complicações da doença,
avaliando também o diabetes como importante fator de risco para doença
cardiovascular.
Para alcance de tal alvo, tem-se polemizado sobre a necessidade de controle
intenso da glicemia versus o tratamento convencional, bem como sobre a pertinência
de reduzir níveis pressóricos abaixo do habitual em diabéticos hipertensos.
Em relação ao primeiro aspecto, o estudo Diabetes Control and Complications
Trial (DCCT)6 evidenciou o benefício da intervenção no surgimento das complicações
microvasculares em diabéticos tipo 1 (prevenção primária) e na progressão dessas
condições (prevenção secundária). O aumento da longevidade e a melhora da
qualidade de vida suplantaram os mais altos custos desta estratégia e a dificuldade de
seu cumprimento pelos pacientes.
Adesão a tratamento intensivo, necessária e difícil, deve ser estimulada,
mediante técnicas que levem em conta os benefícios de vida, vistos pela óptica do
próprio paciente7.
Manejam-se dieta, atividade física, esquemas flexíveis de administração diária
de insulina e/ou uso de antidiabéticos orais para obter concentrações séricas de
glicose tão próximas quanto possível das encontradas em não-diabéticos8.
Os desfechos de real interesse medidos após variados tratamentos têm sido:
sobrevida, qualidade de vida, resultados agudos (sobre sintomas, hiperglicemia,
cetoacidose, coma hiperosmolar), prevenção e redução na progressão de
complicações clínicas a longo prazo (retinopatia, nefropatia, neuropatia periférica,
neuropatia autonômica, infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico, doença
vascular periférica), minimização de efeitos adversos (hipoglicemia e ganho de peso),
além do impacto físico, emocional e social da doença e do tratamento para o indivíduo
e sua família8.
À luz do conhecimento contemporâneo, serão analisadas e categorizadas as
evidências sobre as intervenções modernas em diabetes melito.
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Benefício definido
Controle glicêmico intensivo versus convencional em diabetes tipo 1 (complicações
microvasculares e neuropáticas) e diabetes tipo 2 (complicações microvasculares, infarto do
miocárdio e morte relacionada ao diabetes)
Controle intensivo versus convencional de pressão arterial em diabetes tipo 2 (complicações
macrovasculares)
Insulinas no tratamento de diferentes tipos de diabetes
Sulfoniluréias de segunda geração no tratamento de diabetes tipo 2
Biguanidas no tratamento de obesos com diabetes tipo 2
Benefício provável
Intervenções não medicamentosas na prevenção primária de diabetes tipo 2
Inibidores da alfa-glicosidase no tratamento de diabetes tipos 1 e 2
Benefício desconhecido
Análogos de insulina no tratamento de diabetes tipo 1
Agentes secretagogos de insulina no tratamento de diabetes tipo 2
Sugerida ineficácia/risco
Associação de insulina a sulfoniluréias em pacientes com diabetes tipo 1
Associação de metformina a sulfoniluréias em pacientes com diabetes tipo 2 não responsivos à
monoterapia
Glitazonas no tratamento de diabetes tipo 2
BENEFÍCIO DEFINIDO
Referências bibliográficas:
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Controle intensivo versus convencional de pressão arterial
No estudo de Parving e colaboradores1 - em 45 diabéticos tipo 1, com
diminuição de filtração glomerular e albuminúria proporcionais à elevação da PA - o
controle da HAS acarretou diminuição da queda mensal de valores de depuração renal
e da taxa de excreção renal de albumina em 50%, conforme visto em seguimento de 6
anos. Seis pacientes foram tratados somente com diuréticos e 36 receberam diuréticos
associados a metoprolol, captopril, metildopa, nifedipina e hidralazina.
Inúmeros estudos apontam para o benefício de inibidores da enzima de
conversão de angiotensina (IECA), independentemente de seu efeito anti-hipertensivo,
o qual foi observado em diabéticos normotensos com aumento na excreção de
albumina e mesmo proteinúria.
Ensaio clínico randomizado2, com duração de 8 anos, confirmou a preservação
da filtração glomerular e a prevenção de nefropatia diabética em pacientes com
diabetes tipo 2 sob uso de captopril.
Lewis e colaboradores3 – em estudo randomizado, duplo-cego, com
acompanhamento de 4 anos, realizado em 409 diabéticos de tipo 1 com proteinúria e
insuficiência renal leve - mostraram que captopril diminuiu o tempo necessário para
dobrar o valor da creatinina sérica em 48% dos pacientes e reduziu desfechos
combinados de morte, diálise e transplante renal em 50%.
Em pessoas com diabetes tipo 2 há maior incidência de doenças
cardiovascular, cerebrovascular e renal do que na população em geral. A hipertensão
arterial é mais comum nos diabéticos, constituindo-se em fator de risco para infarto do
miocárdio e acidente vascular encefálico.
O estudo observacional4, multicêntrico e prospectivo UKPDS de número 36,
realizado em 4801 pacientes com diabetes tipo 2, mostrou que o controle intensivo da
pressão arterial sistólica reduziu o risco de complicações micro e macrovasculares. O
descenso de cada 10 mmHg na pressão sistólica média correspondeu a reduções em
mortalidade (15%), infarto do miocárdio (11%) e complicações microvasculares (13%).
O risco foi mais baixo nos pacientes que atingiram níveis de pressão sistólica
inferiores a 120 mmHg.
O controle sistemático com betabloqueador (atenolol) ou IECA (captopril) –
visando atingir pressão arterial inferior a 150/85 mmHg - reduziu eventos
macrovasculares em diabetes tipo 2 (UKPDS 39)5. Ambos os fármacos diminuíram
similarmente a PA. Mesma proporção de pacientes exigiu o uso de três ou mais
fármacos para controlar a pressão no nível desejado. Após 9 anos, houve deterioração
de retinopatia e aparecimento de albuminúria de forma similar nos grupos tratados
com os dois anti-hipertensivos. Não se confirmou a idéia de que os inibidores da ECA
tenham efeito protetor renal específico.
Uma preocupação pertinente é o acréscimo do custo do tratamento intensivo
versus o convencional. Assim, realizou-se análise de custo-efetividade a respeito do
melhor controle de pressão arterial em diabéticos de tipo 2 (UKPDS 40)6. A análise
levou em conta necessidade de recursos de saúde em cada tipo de abordagem e no
tratamento das complicações, tempo de vida livre de complicações e anos ganhos de
vida. Concluiu-se que o tratamento intensivo reduz o custo das complicações,
aumenta o intervalo sem complicações e a sobrevida e tem custo-efetividade
favorável.
Referências bibliográficas:
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BENEFÍCIO PROVÁVEL
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1679-1714.Associação de metformina a sulfoniluréias em pacientes com diabetes tipo 2
não responsivos à monoterapia
Adicionar biguanida a pacientes não-responsivos a doses máximas de
sulfoniluréias está sob caução, pois o estudo UKPDS 34 demonstrou maior risco de
morte relacionada a diabetes e morte geral1. Entretanto, os pacientes tinham
condições basais mais graves, o que dificulta a interpretação de resultados. Para
melhor avaliação, requerem-se novos estudos.
Referência bibliográfica:
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