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Como citar este capítulo de livro - ABNT

BUENO, José Carlos: Acupuntura na dor crônica em paciente com


Osteogênese Imperfeita (OI): Estudo de caso. In: DICKMANN, Ivanio (org.)
Diálogos. Vol. 2. Chapecó. Livrologia. 2021. p 220-226. Disponível em:
http://www.livrologia.com.br/loja/dialogos-ii
DIÁLOGOS II

ACUPUNTURA NA DOR CRÔNICA EM PACIENTE COM


OSTEOGÊNESE IMPERFEITA (OI): ESTUDO DE CASO

José Carlos Bueno

1. INTRODUÇÃO
A Osteogênese Imperfeita (OI) é considerada uma doença genética
rara, atinge de 6 a 7 indivíduos a cada 100.000 na população (MOLDE-
NHAUER MINILLO et all, 2014). Caracteriza-se por ser um distúrbio gené-
tico que apresenta uma maior fragilidade óssea e baixa massa óssea, e a clas-
sificação mais aceita atualmente em quatro tipos clínicos: Tipo I, é a classifi-
cação onde os indivíduos não apresentam deformidades ósseas. Tipo II, é letal
no período perinatal. Tipo III, é a forma mais grave da doença, em crianças
que sobrevivem ao período neonatal, são pacientes com estatura extrema-
mente baixa e deformidades de membros e coluna, secundárias a múltiplas
fraturas. Tipo IV, são pacientes com deformidade ósseas leves a moderadas e
baixa estatura variável (AL-MOMANI, 2020; RAUCH et all, 2002). Molde-
nhauer Minillo et all em seu trabalho de 2014 complementa ainda, várias ma-
nifestações extra-esqueléticas são apresentadas como: esclerótica azulada,
dentinogênese imperfeita e perda auditiva.
Diversos estudos apontam a dor crônica como um fator comum a to-
das as formas de OI, em adultos e crianças (FABRE e BAGGENSTOSS,
2017; MOLDENHAUER MINILLO et all, 2014; RAUCH et all, 2002;
ZACK et all, 2007). Define-se como dor crônica em OI a dor não relacionadas
a uma fratura aguda, cirurgia ou outra lesão óbvia (ZACK et all, 2007).
Um estudo correlacionou as características da dor por fratura e por não fratura
em crianças com OI e os resultados indicam que a dor é uma ocorrência co-
mum, e é de natureza aguda e crônica, interferindo no cotidiano das mesmas.
A dor associada à OI é complexa e apresenta elementos sindrômicos episódi-
cos e crônicos agudos (ZACK et all, 2007).
Um outro estudo observou uma família com cinco indivíduos porta-
dores de OI durante quatro anos, mesmo estes apresentando aumento da den-
sidade mineral óssea, com o tratamento de bisfosfonatos, cálcio e colecalcife-
rol, todos persistiram com dor crônica, sendo que o grau de intensidade da dor
não se alterou com o tratamento, concluindo que:
Os reais objetivos do tratamento na osteogênese imperfeita não são a
melhora dos parâmetros bioquímicos ou do T-score na densitometria óssea,
mas sim a redução do número de fraturas, o alívio da dor crônica e a melhora
da qualidade de vida do paciente. (FABRE; BAGGENSTOSS, 2017)

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No intuito da melhora da qualidade de vida do paciente, objeto deste


estudo de caso, levando-se em conta os episódios de dor crônica e ou aguda,
mais os sintomas associados, como por exemplo a depressão e a dificuldade
de mobilidade, foi elegido a Acupuntura como forma de tratamento da medi-
cina complementar. Segundo o Ministério da Saúde, a Acupuntura pode ser
de grande ajuda em casos de dor, inclusive outros tipos de dor, por exemplo a
oncológica (BRASIL, 2001)
A acupuntura foi adotada como prática integrativa a partir de 1996
pela 10ª Conferência Nacional de Saúde, que, em seu relatório final, aprovou
a “incorporação ao SUS, em todo o País, de práticas de saúde como a fitote-
rapia, acupuntura e homeopatia, contemplando as terapias alternativas e prá-
ticas populares (BRASIL, 2006).
Segundo a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complemen-
tares (PNPIC) a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é um sistema médico
integral, originado há milhares de anos na China, a qual utiliza uma lingua-
gem que retrata simbolicamente as leis da natureza, valorizando a inter-rela-
ção harmônica entre as partes visando à integridade (BRASIL, 2006).
A Acupuntura, originando-se da MTC traz consigo estes preceitos abordando
de modo integral e dinâmico o processo saúde-doença no ser humano. Pode
ser usada isoladamente ou em conjunto com outras formas terapêuticas (BRA-
SIL, 2006). Medicinas tradicionais como a MTC/acupuntura, entre outras,
são formas naturais de tratamento de saúde que não incorrem em menor pe-
rigo de iatrogenia da medicina convencional e efeitos colaterais (BRASIL,
2006b; COUTINHO, DULCETTI, 2015)
Segundo a MTC, o um indivíduo saudável corresponde a um sujeito
que mantém o equilíbrio entre os cinco elementos e entre os dois aspectos
opostos do Yin e Yang; esse estado harmônico entre corpo, mente e espiritu-
alidade, quando rompidos, são as causas das doenças, comprometendo as fun-
ções do organismo. (CINTRA; PEREIRA, 2012)
Os cinco elementos são constituídos pela Madeira, Fogo, Terra, Me-
tal e Água e representam as qualidades fundamentais de toda a matéria no
universo. A palavra chinesa para elemento é Xing, que significa mover ou an-
dar. O que expressa melhor o sentido do termo. Devemos entender que “Ele-
mento” é um processo, movimento ou uma qualidade do Qi, e não um “bloco
de construção fixado” (HICKS; HICKS, 2007). Este perpétuo movimento sig-
nifica a interdependência dos órgãos e o consequente desequilíbrio na circula-
ção do Qi pelo corpo leva ao adoecimento, segundo a MTC (COLTINHO;
DULCETTI, 2015).

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A estimulação de pontos específicos na superfície corporal com o objetivo


de cura, é utilizado por diversos sistemas terapêuticos tradicionais e diversas
técnicas são empregadas com o propósito de influenciar a capacidade curativa
do corpo, tanto física quanto energética (JARMEY; BOURATINOS, 2010).

2. RELATO DE CASO
Paciente com 58 anos, sexo feminino, caucasiana, fez diagnóstico de
OI aos 9 anos de idade no Hospital das Clínicas em São Paulo, após uma
fratura mais complexa na região da articulação do cotovelo, bilateral, devido
contusão durante brincadeira na infância. A paciente apresentou, em seu his-
tórico, diversas fraturas precoces, a primeira aos 2 anos e meio de idade, no
fêmur esquerdo em dois lugares, durante queda da própria altura, na fase de
aprendizagem da deambulação. Vários episódios posteriores de fraturas es-
pontâneas ajudaram a estabelecer o diagnóstico, além da presença do sinal
patognomônico, esclera azulada, rosto triangular na região do mento e com-
prometimento de tendões e ligamentos. Os episódios de fraturas mais frequen-
tes se sucederam até posterior aos 9 anos de idade, quando na fase de pré-
adolescência, devido ao fator hormonal, houve melhora no quadro clínico
com diminuição das fraturas. Manteve-se o quadro de dor crônica. Exames
posteriores sucessivos, evidenciaram nas radiografias e densitometria óssea,
uma perda importante de massa óssea e rarefação óssea generalizadas, além
de escoliose toroco-lombar.
Ocorrência de gravidez aos 32 anos, em que, no último trimestre de
gestação houve acentuação da perda óssea, intensificada pela amamentação.
Após este período houve o retorno de fraturas espontâneas em costelas e vér-
tebras, torácicas e lombares. A intensificação dos processos dolorosos levou a
utilização de medicação para dor crônica e osteoporose, como por exemplo:
alendronato de sódio, calcitonina de salmão, uso de suplementos para reposi-
ção de cálcio e vitamina D.
Paciente atualmente faz acompanhamento fisioterápico (hidroterapia
e fisioterapia respiratória), e nas clínicas: reumatologia, pneumologia e psico-
terapia. Apresenta comorbidades como ósteo-artrose, hipertensão arterial sis-
têmica, bronquite crônica e bronquectasia, transtorno de ansiedade e depres-
são. Atualmente utiliza o medicamento para dor crônica pregabalina 75mg,
Calcio associado com Vitamina D, K2 e Mg, Denosumabe injetável. Nas agu-
dizações faz uso Ibuprofeno e Tramadol. A polifarmácia levou também a um
quadro de gastrite e esofagite de refluxo e agravação do cólon-irritável.

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3. METODOLOGIA
Foram feitas 20 sessões durante 5 meses, uma vez por semana. Sendo
que, a cada semana eram avaliadas as deficiências energéticas da paciente,
com base no pentagrama dos cinco elementos. Levantou-se o escore de dor e
foi avaliado se havia melhoras quanto à semana anterior, e, posteriormente,
reaplicado os pontos do pentagrama, levando-se em consideração os aspectos
emocionais da semana. Em caso de dor aguda, eram efetuadas varredura com
o equipamento eletromagnético Haihua® na região afetadas, e em algumas
sessões foram efetuadas técnicas como triângulo dos ossos.
Os pontos selecionados estão listados na tabela abaixo (tabela 1), de
acordo com os Meridianos, pontos e números de aplicações (Ap.) e a função
descrita na literatura, segundo Shi-Yin et al, 2013

Meridiano Pontos Ap. Função


Bexiga Hematêmese, epistaxe, hematoquezia, hematúria,
anemia, afecções hemorrágicas, estase do sangue,
B17
anorexia, distensão abdominal, soluços, vômitos,
1 tosse, febre com sudorese noturna, leucopenia
Dor lombar e nas costas, dor na articulação do joe-
B40
5 lho, dor abdominal, vômitos, diarreia
Rigidez de nuca com cefaleia, dor nas costas, ciática,
B60 paralisia dos membros inferiores, dor no calcanhar,
7 vertigem, epistaxe, trabalho de parto difícil
Cefaleia, vertigem, histeria, epilepsia, transtornos
B62
3 mentais, dor nas costas, dor no tornozelo
Posição fetal anormal, trabalho de parto difícil, re-
B67 tenção de placenta, cefaleia, vertigem, dor ocular,
6 obstrução nasal, espermatorreia, anúria
Baço/Pâncreas Dor no estômago, distensão abdominal, vômitos,
BP4 dispepsia, diarreia, disenteria, constipação, neurose,
5 doença mental, hemorroidas, malária, beribéri
Deficiência de Baço-Pâncreas e estômago, borbo-
rigmo e distensão abdominal, irregularidade mens-
trual, metrorragia e metrostaxe, doença gine-
cológica, anemia, prolapso uterino, parto prolon-
BP6 gado, choque pós-parto, loquiação permanente, es-
permatorreia, disfunção erétil, dor no pênis, oligúria,
enurese, edema, beribéri, insônia, hipertensão, ec-
zema, neurodermatite, hemiplegia, síndrome da fa-
1 diga crônica, diabetes
Coração Palpitação intensa, angina, neurastenia, histeria,
C7 insônia, dor no punho, síndrome climatérica, dis-
1 função mínima do cérebro

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Pericárdio Palpitação, dor cardíaca, miocardite, histeria, trans-


CS6 tornos mentais, neurastenia, AVC, convulsão infan-
5 til, soluços, vômitos, tosse, asma
Int. Delgado Rigidez da nuca com cefaleia; doença ocular; opaci-
dade ocular; surdez; zumbido; malária; doença fe-
bril; icterícia; epilepsia; histeria; doença mental; dor
ID3
em cotovelo e braço; dor em região cervical, ombro
e costas; neuralgia intercostal; síndrome climatérica;
3 demência senil; disfunção cerebral mínima
Int. Grosso Dor na garganta, odontalgia, estomatite, parotidite,
IG1
1 surdez, zumbido, coma hiperpirético, choque
Hipertensão; sequela de AVC; furúnculo facial; in-
flamação de olho, nariz, ouvido e garganta; linfade-
nite submandibular; neuralgia do plexo braquial; pe-
IG11
riartrite do ombro; doenças do cotovelo; epicondilite
lateral; doença de pele; alergia; dismenorreia; diabe-
1 tes
Periartrite do ombro, distúrbios do cotovelo, hemi-
IG15 plegia, espondilose cervical, urticária, artrite reuma-
1 toide
Hipertensão, neuralgia do trigêmeo, histeria, neu-
IG18 rose, dor em ombro e braço, doença de pele e hemi-
1 plegia
IG19 1 Rinite, epistaxe, neurite facial, histeria, colapso
Pulmão Dor na garganta, tosse, asma, pleurite, dor torácica,
P1
1 neuralgia intercostal
osse, hemoptise, sensação de plenitude torácica, co-
P9
1 queluche, pneumonia, neuralgia intercostal
Rim edema, ascite, borborigmo, distensão abdominal,
doença febril, anidrótico (sem sudorese), sudorese
R7
noturna, espermatorreia, ejaculação precoce, diabe-
6 tes, dor lombar, dor nos membros inferiores
T. Aquecedor Doença febril, cefaleia, olho vermelho e edemaci-
ado, surdez, zumbido, dor nos hipocôndrios, periar-
TA5 trite do ombro, dor nos dedos, entorpecimento dos
membros superiores, dor articular nos membros su-
2 periores
V. Concepção Tosse, asma, hemoptise, pneumonia, pleurite, neu-
VC17
2 ralgia intercostal, angina, mastite, espasmo cardíaco
V. Governador Cefaleia, vertigem, sequela de AVC, neurose, histe-
ria, epilepsia, prolapso retal, prolapso uterino, obs-
VG20
trução nasal, zumbido, colapso, choque, hiper-
2 tensão, hipotensão

Tabela 1 – Pontos Selecionados.


Fonte: SHI-YIN et al, 2013

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4. DISCUSSÃO
As sessões, quando aplicadas em fase de dor aguda, levavam a uma
melhora do quadro doloroso imediatamente, conforme relatado pela paciente,
inclusive na deambulação, pois muitas vezes a dor impossibilitava o movi-
mento. No decorrer das sessões, percebeu-se, inclusive, um progresso quanto
ao quadro geral, e com a diminuição da dor crônica houve, também, relato de
melhora quanto ao quadro de depressão, e a paciente relata também gradativo
retorno às suas atividades diárias.

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