Textos: Objetos e fenômenos transicionais & A tendência antissocial. Donald Winnicott
Em alguns momentos do desenvolvimento infantil, Privação: experiências de abandono antes de se ter
as crianças podem se apegar a certos objetos, como um EU constitutivo; as consequências desse pelúcias e mantas. Esses objetos normalmente movimento são mecanismos de defesa que podem possuem certas características especificas: eles levar a uma futura psicose. podem ser tratados com carinho ou agressividade, e Deprivação: experiências de abandono após um não devem ser lavados, uma vez que o cheiro bom período de desenvolvimento; o sujeito já também pode ser importante para a criança. desenvolvido culpa o meio por suas frustrações. Mesmo após o período de apego, o objeto não A deprivação geraria, segundo Winnicott, tendências costuma ser esquecido pela crianças, e não há um antissociais. A criança se sente roubada e dirige sua luto por ele. O objeto é apenas desinvestido de valor. agressividade ao meio, querendo que esse devolva o Esse objeto é reconhecido por Donald Winnicott por que lhe foi roubado. objeto transicional. Tais objetos possuem valor Por trás dessas tendências de comportamento, há especial porque permitem que o sujeito realize o uma falha no ambiente em atender as demandas do movimento de transitar de um mundo imaginário sujeito enquanto esses estava em seu para a realidade concreta; de um controle mágico desenvolvimento. para um controle reativo. A criança com tendências antissociais costuma negar O objetivo principal da criança em se agarrar nesses a intenção de seus atos - ao roubar por exemplo, ela objetos é o de auxilio para suas angustias geradas não crê que está roubando, mas apenas pegando pela recente diferenciação da mãe. Por meio da algo que lhe foi tirado anteriormente. posse desse objeto, o bebê continua alimentando sua A criança que apresenta tais condutas, ainda antiga ilusão de onipotência. alimenta a esperança de que o ambiente reconheça o Assim, o objeto protege a criança de suas angustias erro e o repare. do momento de separação; o objeto transicional é criado pelo sujeito e encontrado no ambiente. Poderíamos afirmar que o objeto transicional é um substituto simbólico da mãe. E por isso, quando essa figura está internalizada de modo muito danificado, a criança tem dificuldades para se apegar nesses objetos.
Segundo estudos de Winnicott, a tendência
antissocial se originaria de uma deprivação e expressaria o desejo do sujeito em retornar ao período anterior a sua privação. Para entendermos melhor tais apontamentos, devemos começar diferenciando privação e deprivação.