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Graduação em Psicologia
Belo Horizonte
2020
Valquíria Moreira Caetano
Belo Horizonte
2020
LISTA DE TABELA
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 8
4. METODOLOGIA............................................................................................................... 31
4.1. Análise Geral: .................................................................................................................. 31
4.1.1. Participantes................................................................................................................... 31
4.1.2. Instrumento ..................................................................................................................... 31
4.1.3. Síntese das respostas ...................................................................................................... 31
RESUMO
ABSTRACT
Down syndrome is a genetic anomaly that causes intellectual and developmental delays in an
individual to varying degrees, both physical and cognitive. There are several resources for the
treatment of this pathology, including kinotherapy, which is a new therapeutic approach, with
the advantage of using dogs as a co-therapist in the physical, psychic and emotional treatment
of people with special needs. The research was developed with the aim of understanding the
benefits that dogs bring to the stimulation of children with Down syndrome, one of the genetic
abnormalities with the highest incidence worldwide. Therefore, after the bibliographic review
about the use of kinotherapy as a therapeutic resource in people with Down Syndrome,
interviews were conducted with three professionals who work with TAA, in order to analyze
the practice and theory for a better understanding of this therapy. Down syndrome causes
changes in physical characteristics, cognitive and motor delays, requiring extensive stimulation.
From this research, quite significant results were obtained, such as aid in the motor and
cognitive development of these children, as the use of the dog in therapy it provides brain
stimuli and produces physiological responses, with physical, mental and social benefits. It was
also possible to observe that there are many developed projects that use animals as therapeutic
resources and the search for this therapeutic method with the target audience of this research
grows every day.
1. INTRODUÇÃO
down foram usadas as palavras Síndrome de down. Para identificar a Terapia assistida por
animais buscou-se por Terapia assistida por animais. Por fim, para compreender o
desenvolvimento da criança, pesquisou-se Piaget e desenvolvimento da criança,
desenvolvimento infantil.
A segunda etapa deste estudo contou com a pesquisa de campo por meio da entrevista
semiestruturada. A utilização da entrevista semiestruturada se coloca a partir de
questionamentos, um direcionamento para atingir respostas necessárias para a execução da
pesquisa. Para Manzini (1990/1991), a entrevista semiestruturada está focalizada em um
assunto sobre o qual se confecciona um roteiro com perguntas principais, complementadas por
outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, essa
entrevista se baseia nos principais dados necessários para se estabelecer resultados sobre o tema.
Dessa forma, Manzini (2003) salienta que é possível um planejamento da coleta de
informações por meio da elaboração de um roteiro com perguntas que atinjam os objetivos
intentados. Para tanto, foram entrevistadas 3 profissionais que atuam em TAA e somente uma
delas trabalha com crianças com Síndrome de Down, no intuito de compreender melhor os
efeitos desse tipo de terapia no desenvolvimento dessas crianças. Em termos de organização
este trabalho está dividido em tópicos que se iniciam pela fundamentação teórica base das
análises realizadas após a coleta de dados por meio das entrevistas. Em seguida, é apresentado
a metodologia, as análises e discussão das entrevistas e por fim, as considerações finais deste
trabalho.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo Pueschel (1993 apud Paiva; Melo; Frank, 2018), a Síndrome de Down (SD)
também conhecida como trissomia do 21, é uma anomalia genética que causa atrasos intelectual
e no desenvolvimento de um indivíduo. Os primeiros relatos dessa síndrome foram descritos
em 1866 pelo médico inglês, Jonh Langdon Down que é reconhecido pelo seu extenso trabalho
com crianças com deficiência mental. O trabalho do médico descreveu pacientes com um
fenótipo (características observáveis do organismo que resultam da composição genética e
fatores ambientais) clássico: baixa estatura fissura palpebral oblíqua, nariz plano e déficit
intelectual.
De acordo com Serrão (2006), a Síndrome de Down é uma cromossomopatia cujo
quadro clínico é explicado por um desequilíbrio presente na constituição dos cromossomos e,
sua etiologia resulta de um erro na distribuição dos cromossomos. Ao invés de apresentar 46
cromossomos em cada célula (23 da mãe e 23 do pai, que formam 23 pares), o indivíduo
apresenta 47 cromossomos. Desse modo, o elemento extra fica unido ao par número 21, por
isso o nome trissomia do 21.
Além disso, para Freire (2013) a Síndrome de Down compõe o grupo de encefalopatias
(doenças localizadas no cérebro) não progressivas. À medida que o tempo passa não mostra
acentuação da lentidão do desenvolvimento e nem o agente responsável pela causa da síndrome.
No entanto vale destacar que essa síndrome possui tendência para melhoras expressivas e
espontâneas, porque seu sistema nervoso central continua a amadurecer com o tempo.
Ferreira (2008 apud Paiva; Melo; Frank, 2018) aborda que a Síndrome de Down não é
uma doença, mas simplesmente um erro ou acidente biológico, é uma alteração genética que
ocorre no estágio inicial do desenvolvimento do bebê. De acordo com Ministério da Ação Social
(1992), o termo síndrome significa um conjunto de sinais e sintomas.
Segundo Paiva; Melo; Frank, Paes (2018) o diagnóstico pode ser feito também após o
nascimento da criança e inicialmente por parte das características que são muito comuns aos
portadores de Síndrome de Down, como por exemplo, cabeça mais arredondada, olhos puxados,
boca pequena, entre outras. Apesar de não haver cura, pesquisas no mundo todo têm sido
realizadas nesse sentido e a qualidade de vida dessas pessoas tem sido melhorada
significativamente.
De acordo com Paiva; Melo; Frank, Paes (2018), o portador da Síndrome de Down
possui um desenvolvimento da coordenação motora um pouco mais lento e um retardo mental
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de leve a moderado. Esses aspectos clínicos, não são um obstáculo para aprendizagem do
portador da síndrome, é preciso entender que eles irão se desenvolver no tempo deles.
Vale ressaltar também conforme aponta Monducci (2012 apud França; Teixeira; Souza;
Oliveira; Castilho; Lira, 2018) que a Síndrome de Down não se limita a nenhuma raça, cultura,
religião, dieta, comportamento, classe social, clima ou gênero, tipo de alimentação, à poluição
ou a algo que os pais tenham feito e, sobretudo, pode estar presente a todas as etnias e classes
sociais. Em acréscimo, Sica (2012) pondera que ao considerar todas as regiões do mundo, os
dados epidemiológicos demonstram que em média um em cada 700 nascidos vivos
desenvolvem esta síndrome e, estima-se que no Brasil, a prevalência seja de 300 mil pessoas.
Nos EUA – Estados Unidos à organização Nacional Down Síndrome Oscite (NDSS), informa
que a taxa de nascimentos é de um para cada seiscentos e noventa e um bebês, sendo em torno
de quatrocentas mil pessoas com Síndrome de Down.
No que se refere ao desenvolvimento de uma criança, Meneses (2012) relata que no
período inicial do desenvolvimento cognitivo, o estágio sensório-motor, é a raiz para toda a
construção intelectual. Conhecida como inteligência prática, ela é caracterizada pelo contato
direto da criança com objetos e pessoas a partir do qual são construídos os esquemas de ação e
as categorias da realidade, diferenciando-os e integrando-os entre si e separando-se, enquanto
sujeito. A criança se adapta funcionalmente e regula seus atos de acordo com as relações que
estabelece, utilizando as sensações, as percepções e as ações para isso. Dessa forma a
estimulação precoce deve ser visada por todos aqueles que convivem com a criança com SD,
principalmente a família terem a oportunidade de variedades de interações com ambientes,
objetos, sons, posturas e as brincadeiras que são instrumentos fundamentais para o seu
desenvolvimento.
De acordo com Vicari (2006) o desenvolvimento motor da criança com SD tem sido
bastante descrito na literatura, exibindo um perfil de atraso na conquista das habilidades
motoras e do controle postural. Schwartzman (1999 trazido por Bonomo 2010) aponta que a
fase do sentar sem apoio ocorre por volta dos 9 meses, variando de 6-16 meses; a bipedestação
que significa o ato de andar com os dois pés, acontece volta dos 15 meses, variando de 8-26
meses e a marcha será por volta dos 19 meses, variando de 13-48 meses. Já para a criança com
desenvolvimento típico, a média de idade para as mesmas habilidades é de 7 meses, variando
de 5-9 meses para o sentar, para caminhar com os dois pés será de 8 meses variando de 7-12
meses com apoio de alguém e 12 meses para andar, variando de 9-17 meses.
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Para Connolly (2000 apud Bonomo 2010) o comportamento motor na primeira infância
é um importante indicativo do desenvolvimento global da criança. O controle motor se
fundamenta nas informações sensoriais múltiplas, na percepção e na ação, requerendo uma
complexa integração entre o sistema musculoesquelético e o sistema neural, incluindo
processos motores, sensoriais e de integração.
Bonomo (2010) relata que a hipotonia e a fraqueza muscular generalizada encontrada
na síndrome costuma interferir nas aquisições motoras da criança e nas interações com o
ambiente, diminuindo a sua exploração e produzindo déficits de sensações e vivências. Elas
influenciam informações sobre a postura e o movimento e se associam à falta de concentração,
às reações posturais inadequadas e à propriocepção deficitária, levando à lentidão e a menor
eficiência motora.
Gusman e Torre (1999 citado por Bonomo 2010) apontam que na motricidade fina há
diminuição da força de preensão e modificações anatômicas, como mãos pequenas e prega
palmar única, que podem dificultar o ato de manipular, influenciando a exploração dos objetos
e a função relacionada aos membros superiores. Spanò et al (1999 apud Bonomo 2010) fizeram
referências a vários estudos que relataram os déficits supracitados, entre eles destreza manual
pobre, hipotonia e frouxidão ligamentar com equilíbrio anormal, déficits na motricidade grossa
e falhas em aspectos específicos da integração viso-motora, como a coordenação olho-mão.
2.2.1 Desenvolvimento cognitivo da criança com Síndrome de Down
Pueschel (2007 trazido por Queiroz 2019) nos relata que a deficiência mental é um
quadro bastante encontrado e variável nesta síndrome, com uma larga extensão das funções
cognitivas para cada criança. Para a criança pequena, investigar o ambiente é fundamental, mas
as atividades que possibilitam tal exploração poderão surgir com um retardo e com um
repertório de comportamentos desorganizados, dificultando o conhecimento consistente do
meio, o que provoca menos envolvimento nas atividades, menor número de respostas frente aos
estímulos ambientais e fraca iniciativa de ações.
Gusman e Torre (1999, p. 180 apud Bonomo 2010) afirmam que sem mover-se, como
engatinhar ou andar ou arrastar-se, ele perde oportunidades de ir buscar um brinquedo que gosta
que seja colorido e, não sendo capaz de ir pegá-lo embaixo de uma cadeira, ele deixa de
aprender sobre cores, profundidade, altura e o espaço que seu corpo ocupa ao entrar embaixo
desta cadeira.
Schwartzman (1999 apud Bonomo 2010) afirma que as crianças com SD começam a
tentar apanhar um círculo por volta dos 6 meses de idade (variando de 4 à 11 meses), acham
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um objeto escondido por um pano aos 13 meses (variando de 9 à 21 meses), põem três ou mais
objetos dentro de uma xícara aos 19 meses (variando de 12 à 34 meses) e constroem uma torre
com cubos aos 20 meses (variando de 14 à 32 meses).
Flórez e Ruiz (2008) relatam que as alterações do sistema nervoso na SD assumem
papel importante neste atraso cognitivo e na presença de graus variados de deficiência mental,
pois produzem lentidão no processamento, na codificação e na interpretação da informação e
no desenvolvimento e na elaboração das respostas e decisões adequadas. É comum pré-
escolares com a síndrome apresentarem as seguintes características derivadas dos déficits
cognitivos: atraso na conquista das etapas, diferenças qualitativas na sequência das aquisições
cognitivas, resolução de problemas menos organizada, problemas no início da linguagem e
resistência na realização de algumas tarefas.
Mancini (2003) apresentou resultados similares, com um desempenho inferior na função
social dessas crianças, incluindo comunicação expressiva, compreensão, socialização e
resolução de problemas, e concluiu que todas as alterações presentes na SD, de ordem motora
e cognitiva, podem interferir na capacidade destas crianças em desempenhar de forma
independente as várias atividades de vida diária.
Segundo Araújo (2014), a criança com Síndrome de Down como qualquer outra está
apta a aprender ao nascer, seu agravante nesse processo é o atraso do desenvolvimento motor.
Uma estratégia para ampliar essas funções é a brincadeira, pois para Vygotsky (1954 citado por
Zanella 1992), a situação de brincadeira cria uma zona de desenvolvimento proximal que são
aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação,
funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado embrionário, ou seja, o ponto
além do qual um indivíduo não pode funcionar sozinho, mas sim com ajuda do outro.
Segundo Konkiewitz (2013) o crescimento da criança com SD é lento podendo demorar
a sentar, andar, ir ao banheiro. Também podendo apresentar problemas de linguagem, obesidade
e problemas emocionais. No entanto, vale ressaltar que quase todos esses problemas de saúde
citados acima podem ser tratados e a expectativa de vida das pessoas que possuem a síndrome
de down é de aproximadamente 55 anos.
De acordo com Martinho (2011) para as crianças com Síndrome de Down a
comunicação é tão importante como para qualquer criança. No entanto, o facto de ser uma
criança trissómica, constitui por si só, a causa de uma diversidade de características físicas e
cognitivas que facilitam a probabilidade do aparecimento de problemas relacionados com a
Comunicação, Linguagem e Fala. Embora a evolução e o desenvolvimento global possam
seguir os mesmos passos que uma criança com “desenvolvimento normal”, existem diferenças
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Pré-operatório: de 2 a 7 anos
Segundo Piaget (1964 trazido por TERRA, 2006), esse estágio se inicia com a
capacidade do pensamento representativo, ou seja, a criança começa a gerar representações da
realidade no próprio pensamento, o pré-operatório é o aparecimento da função simbólica. É isso
que possibilita a aprendizagem da fala (que começa bem mais cedo, mas se desenvolve mais
rapidamente aqui) e as brincadeiras de “faz de conta”.
De acordo com Meneses (2012) o que marca a passagem do período sensório-motor
para o pré-operatório é o aparecimento da função simbólica, ou seja, é a emergência
da linguagem. Na linha piagetiana, a linguagem é considerada como uma condição necessária,
já que o desenvolvimento da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência. Em
função disso, o desenvolvimento do pensamento ganha celeridade sendo por isso que esta é a
conhecida fase dos famosos “porquês”.
Operatório concreto: de 7 à 11 anos
De acordo com Terra (2006) nessa fase do desenvolvimento, o processo de pensar da
criança alcança a capacidade de operar mentalmente visto que não possuía em função de operar
por representações. Dando continuidade a autora traz que embora a criança consiga operar
mentalmente, essas operações possuem um caráter concreto, ou seja, precisam realizar parte da
tarefa empiricamente, ou com a presença e apoio de suportes de objetos e materiais concretos.
Para a autora, o que marca esta fase do desenvolvimento, seria a organização de esquemas
visando à aquisição dos elementos conceituais, sendo, portanto, sua relação com o mundo muito
mais mediada pelos elementos racionais e muito menos pela assimilação egocêntrica. Nessa
fase do desenvolvimento, se observa na criança uma interação mais genuína e mais efetiva, isso,
tanto com relação aos outros colegas, como com referência aos adultos de sua convivência.
Operatório formal: a partir de 12 anos
Segundo Cavicchia (2010), por volta dos sete anos a atividade cognitiva da criança
torna-se operatória, com a aquisição da reversibilidade lógica. A reversibilidade aparece como
uma propriedade das ações da criança, suscetíveis de se exercerem em pensamento ou
interiormente. O domínio da reversibilidade no plano da representação — a capacidade de se
representar uma ação e a ação inversa ou recíproca que a anula — ajuda na construção de novos
invariantes cognitivos, desta vez de natureza representativa: conservação de comprimento, de
distâncias, de quantidades discretas e contínuas, de quantidades físicas (peso, substância,
volume etc). O equilíbrio das trocas cognitivas entre a criança e a realidade, característico das
estruturas operatórias, é muito mais rico e variado, mais estável, mais sólido e mais aberto
quanto ao seu alcance do que o equilíbrio próprio às estruturas da inteligência sensório-motora.
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Quadro comparativo entre crianças típicas consideradas normais e de crianças com síndrome de down (idade de 4
a 10 anos), segundo autor Holle (1979 apud LARA; RODRIGUES, 2008).
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Segundo Dotti (2014 trazido por Rovaris; Leonel, 2018), a terapia assistida por animais
(TAA) teve seu primeiro registro no ano de 1792, na Inglaterra, em um centro denominado
York Retreat, uma instituição para deficientes mentais, e foi introduzida por William Tuke, um
negociante e filantropo inglês. Seu nome é ligado ao tratamento humanizado dos doentes
mentais, onde os pacientes cuidavam de animais. Em 1830, em um hospital inglês denominado
Betheem, alguns programas de caridade começaram a perceber que os animais proporcionavam
uma atmosfera mais leve para os pacientes com doenças mentais. O autor ainda relata que foi
no ano de 1867 que os animais foram utilizados em uma clínica de pacientes epiléticos em
Bethel, na Alemanha, onde eles auxiliavam no tratamento desses pacientes. Ainda para o autor,
em 1944 a 1945, a Força Aérea Americana utilizou cães, cavalos e animais de fazenda nos
programas terapêuticos para a reabilitação de soldados.
Segundo Althausen (2006), foi Nise da Silveira, psiquiatra brasileira, a percursora da
prática no Brasil. Em 1955, Nise encontrou próximo ao Hospital Psiquiátrico de Engenho de
Dentro uma cadela doente, a quem deu o nome Caralâmpia. Alfredo, um dos clientes de Nise,
dedicou-se a cuidar do animal, que apresentou melhora, assim como o próprio paciente, que se
tornou mais receptivo ao tratamento. A partir desse acontecimento, Nise passou a adotar os
animais abandonados que apareciam no hospital e a designar aos seus pacientes a cuidarem dos
animais, mesmo contrariando a opinião de muitos funcionários do centro psiquiátrico. Essa
experiência fez com que Nise desenvolvesse pesquisas e tratamentos diante da relação dos
internos com os animais, nesse caso seria os cães, que ela definia como um ponto de referência
estável no mundo externo, pois os cães são os únicos que não pedem nada em troca de carinho.
Dando continuidade a história, Teixeira (2015) relata que o psiquiatra Boris Levinson
foi pioneiro na prática da TAA nos Estados Unidos. Percebeu os benefícios do uso de animais
com crianças, e no ano de 1962, escreveu seu primeiro artigo, intitulado “O cão como
coterapêuta”, no qual nos traz o relato da experiência que teve com seu paciente e um cão, nas
seguintes palavras:
Para minha surpresa, a criança não demonstrou medo, ao contrário, envolveu o cão e
começou a acariciá-lo. Os pais queriam separá-los, mas assinalei que deixassem a
criança. Após um tempo a criança perguntou se o cão sempre brincava com as crianças
que vinham ao meu consultório. Tranquilizada diante da minha resposta afirmativa a
criança manifestou o desejo de voltar e brincar com o cão. Alguém poderá adivinhar
o que teria acontecido com a reação da criança se o cão não estivesse presente naquela
manhã? (Teixeira 2015 apud Levinson, 1962, pág. 348)
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De acordo com Costa (2011 apud Mendonça; Silva; Feitosa; Peixoto 2014), a utilização
de animais como uma alternativa de terapia aconteceu no início do século XIX, quando médicos
clínicos gerais perceberam, entre os pacientes com algum tipo de deficiência mental, alguns
benefícios na socialização após o contato com os animais. Em virtude disso, esta terapia
começou a ser mais utilizada e passou a ter mais destaque, sendo a técnica, hoje, identificada
como Terapia Assistida por Animais. Ainda para o autor, a TAA pode abranger diversos
campos, podendo ser utilizada em áreas relacionadas ao desenvolvimento psicomotor e
sensorial, tratamento de distúrbios físicos, transtornos mentais e emocionais.
Althausen (2006) considera que por ser uma prática que relaciona seres humanos e
animais, foi necessária a regulamentação dela; dessa forma, um marco importante para sua
concretização como método científico foi a determinação da nomenclatura correta. Ainda
segundo o autor, atualmente, as nomenclaturas corretas a serem utilizadas são Animal Assisted
Therapy, traduzida no Brasil por Terapia Mediada por Animais ou Terapia Assistida por
Animais, sendo a segunda opção mais utilizada, e Animal Assisted Activity, termo traduzido
para Atividade Mediada por animais, ou Atividade Assistida por Animais. Foi necessária essa
diferenciação e regulamentação pelas confusões com outros termos utilizados, como
Zooterapia, ou pet terapia. Assim, demonstrou-se credibilidade e profissionalismo à realização
das atividades da prática.
Segundo Volpi e Zadrozny (2012), a TAA é especificamente utilizada por profissionais
da saúde, e o animal utilizado será selecionado, treinado e terá rígido controle de saúde. O
profissional que dirige a prática possui um planejamento, um estudo de cada caso, e uma rotina
específica. Nesse sentido, Dotti (2014 apud Rovaris; Leonel, 2018) contribui afirmando que a
TAA envolve serviços de várias áreas, inclusive a médica. Na prática os animais têm o
acompanhamento do proprietário ou condutor, e os mesmos têm objetivos e critérios claros
quanto ao desenvolvimento do trabalho.
Além disso, ainda para Dotti (2014 trazido por Rovaris; Leonel, 2018), a prática da TAA
tem como objetivo a promoção de saúde física, social e emocional e consiste em um processo
com metodologia, documentos, planejamento, e avaliações, e todos os avanços são verificados
para atingir a meta do programa; possui controle, prontuários e relatórios e pode ser
desenvolvida tanto individualmente como em grupos. Para Vivaldini (2011), a terapia assistida
por animais (TAA), vem sendo uma das estratégias utilizadas na reabilitação de crianças,
principalmente no âmbito da reabilitação voltada para crianças com deficiência física e
intelectual, justamente porque a forte ligação afetiva com os animais facilita o alcance dos
objetivos previamente programados pelos terapeutas.
24
Dando continuidade Vivaldini (2011) relata que o trabalho exige uma equipe
multidisciplinar, composta por médicos veterinários, psicólogos, médicos, enfermeiros,
assistentes sociais e terapeutas ocupacionais, capacitados para escolher o método adequado,
acompanhar as atividades e o bem-estar dos animais e dos pacientes. No Brasil, apesar dos
poucos estudos realizados sobre o tema, a utilização de animais na terapia e o interesse da
prática por profissionais de saúde têm aumentado, no entanto, a falta de regulamentação da
prática limita a sua aplicação em alguns ambientes, como clínicas e hospitais. Sobre este
assunto, o Projeto de Lei N° 4.455 de 2012 p. 1 (Brasil, 2012a), “dispõe sobre o uso da TAA
nos hospitais públicos, conveniados e cadastrados no Sistema Único de Saúde”. Fulber (2011
trazido por Carvalho 2014) aponta que o cão é o mais utilizado por causa da afeição natural
pelas pessoas, facilidade de adestramento e por possuir mais reações positivas ao toque.
De acordo com Lima e Souza (2018) o Brasil está em crescimento e a frente desse tipo
de intervenção, conforme estudo realizado por alguns autores. Somente no estado de São Paulo
foram constatados 29 projetos que utilizam a TAA como terapia complementar, utilizando
diversos tipos de animais. Um desses projetos chamado “PetSmile” atua em São Paulo desde
1997 levando animais para visitas em escolas e hospitais. Diante desse contexto, o trabalho
sobre terapia assistida por animais, explicará a prática realizada por cães e animais de raças
pequenas a seguir.
3.1 Cinoterapia
A prática abordada no respectivo trabalho será a Cinoterapia. Esse método utiliza cães
ou outros animais como coterapêuta em sessões de terapia de diversos pacientes. Ela Significa
uma nova abordagem terapêutica onde seu termo é formado pela união do prefixo “cino” (cão)
à radical terapia (tratamento). Fulber (2011 trazido por Carvalho 2014), explica que a
Cinoterapia é uma Terapia Facilitada por Cães, onde o mesmo age como coterapêuta
acompanhado por profissionais de diversas áreas, com finalidade educacional ou terapêutica. É
utilizado um animal treinado individualmente para ajudar na realização de estímulos que
aumentam a autonomia e a funcionalidade da pessoa com necessidades especiais. Auxilia na
melhora dos aspectos emocionais, sociais, físicos e cognitivos, além de proporcionar motivação
para vida e bem-estar do indivíduo. Segundo Albuquerque (2016):
a presença dos cães é universal; estão presentes nas mais diversas culturas e
ocupam uma posição especial na vida humana, as pessoas inclusive se referem a seus
cães como membros da família. Além disso, acredita-se que o cão esteja
especialmente preparado para perceber e interpretar sinais comunicativos do ser
humano e para se comunicar com ele usando seu repertório natural de
comportamentos. Já é sabido que os cães domésticos apresentam uma série de
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Para Ferreira (2012 apud Pereira 2017), a terapia assistida por cães traz benefícios para
pessoas de qualquer idade, mas, ainda assim, é indicada especialmente para crianças, pela
facilidade da inter-relação e da comunicação mútua que permite o desenvolvimento da
autoestima. O tamanho do cão de terapia é variável, desde que sejam dóceis, pacientes, e
possuam reações ao contato com os praticantes, bem como a vacinação e a vermifugação devem
sempre estar em dia, assim como a limpeza geral do animal.
De acordo com Rocha (2016) a avaliação e a seleção dos animais participantes são
essenciais para a segurança de todos os seres envolvidos na prática, assim como um indicador
de sucesso e aproveitamento nas interações. A simples possibilidade de avaliar o temperamento
de um animal, porém, ainda era bastante questionada em meios científicos, apesar de já ser
aplicada de maneira menos objetiva por leigos. Dando continuidade a autora traz que a ideia de
que existiria temperamento ou personalidade em animais eram vistos como cientificamente
irresponsável, seria nada mais do que a projeção antropomórfica de seres humanos sobre os
animais. Pesquisas indicam que existem, sim, diferenças individuais no temperamento de
animais, e estas podem ser medidas com tanta confiança quanto se medem traços de
personalidade em seres humanos. Com especial enfoque para cães de serviço e trabalho,
diversos estudos.
De acordo com Rocha (2016) o teste de temperamento tem como objetivo o
comportamento futuro e auxiliar na seleção do indivíduo mais adequado para as circunstâncias
ou para combinar com o tutor ou condutor, todos fatores principais na seleção e aprovação de
cães terapeutas. A seguir são descritos os tipos de metodologias existentes para testes de
temperamento de cães.
Estados Unidos existem instituições conceituadas que desenvolvem testes apropriados para
conhecer o cão quanto ao seu temperamento e verificar se aquele animal estaria apto para
exercer o papel de coterapeuta numa sessão de Cinoterapia.
TABELA 2 - Testes utilizados para avaliar se o cão está apto para realizar a prática com
os pacientes:
TABELA 2 - Testes utilizados para avaliar se o cão está apto para realizar a prática com os pacientes
Além das informações acima, vale considerar também que o teste é aplicado para
qualquer tipo de cão e para qualquer finalidade, o animal requer ter pelo menos seis meses de
idade para iniciar o treinamento. Outro teste bastante utilizado é o TDI (therapy dogs
international) que avalia o cão no ambiente próprio para a sessão de A/TAA, ou seja, o cão é
provisoriamente um coterapeuta, sendo avaliado em 13 situações-diferentes, quais sejam, (1)
entrada no local de trabalho (área externa); (2) entrada no local de trabalho fora do campo de
visão do condutor; (3) aproximação de várias pessoas; (4) comandos “senta” e “fica” em grupo;
(5) comandos “deita” e “fica” em grupo; (6) ir até a pessoa quando chamado; (7) vontade de
encontro com o paciente e abertura para carinho; (8) situações incomuns (muleta, barulho,
gritos, etc.); (9) comando “deixa” (petisco oferecido por paciente); (10) comando “deixa”
(petisco no chão); (11) encontro com outro cão; (12) entrar pela porta do local da sessão (área
interna); (13) lidar com crianças (sem contato direto).
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Por último outro teste utilizado é o “Pet Partners Program” que seria a junção do CGC
e o TDI, pois avalia as habilidades do cão que está fortemente integrado no CGC e também
avalia o cão no ambiente que irá ser realizada as sessões de A/TAA, denominado de teste de
atitude. São 21 situações diferentes para essa avaliação.
TABELA 3 – Teste Pet Partners Program, que avalia as habilidades do cão e o ambiente
que são realizadas as práticas
Conforme avaliação final desse teste, o cão e seu tutor recebem uma das avaliações a
seguir: (1) não adequado para terapia assistida: por apresentar problemas de agressividade,
medo ou timidez excessivos do cão. Nesse caso, o recomendado é que o tutor não reavalie seu
cão futuramente, pois a razão da sua reprovação já o torna inapropriado para este serviço. (2)
não está pronto, precisa de mais treino e cuidados antes de ser testado novamente: no
momento a dupla não pode ser aprovada, mas tem potencial para o serviço e podem ser
reavaliados novamente. (3) está pronto, mas apenas para alguns tipos de interações em que
as atividades e circunstâncias são consistentes e previsíveis, e com supervisão: o cão e seu
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tutor podem ter se saído bem na presença de idosos, por exemplo, mas não obtiveram bons
resultados ao interagir com crianças ou adultos em hospital e associações em estado mais
delicado. Nesse item, a dupla após realizar mais treinos pode passar novamente pelo teste para
tentar aprovação no nível seguinte. (4) está pronto para trabalhar em atividades com alta
complexidade e potencialmente imprevisíveis e sem maior equipe de supervisão: o cão e o
tutor são aptos a participarem de sessões em hospitais com pacientes em estado clínico grave.
facilita a convivência com outras pessoas e a encarar a vida com otimismo. Carvalho (2014)
explica que a liberação no organismo de endorfina e serotonina, que são hormônios do prazer,
diminuem a sensação de dor e mau humor, aliviando sintomas de estresse e depressão,
proporcionando motivação. Além disso, a liberação do hormônio cortisol é inibida, podendo
ocorrer assim redução da pressão arterial e da frequência cardíaca, bem como estimulação da
memória e do raciocínio.
Segundo Fulber (2011 apud Carvalho 2014), os portadores da Síndrome de Down
podem apresentar alguns problemas de saúde, tais como, deficiência imunológica, problemas
cardíacos, na glândula tireóidea e obesidade, sendo que a cinoterapia também auxilia no
tratamento dessas complicações. O contato físico com o animal acarreta um decréscimo da
tensão arterial, do batimento cardíaco, do ritmo respiratório e no aumento da temperatura das
extremidades do corpo. Além disso, indivíduo que tem contato diário com cães tem menores
níveis de triglicérides e colesterol, assim como fazem menos visitas aos médicos e consomem
menos medicamentos. Ainda segundo o autor, nos traz que a interação entre o homem e o cão
implica positivamente nos níveis de lipídeos no sangue, na glicose, bem como a influência
positiva na produção de substâncias no corpo, que estimula o sistema imunológico e ajudam no
alívio da dor.
Segundo Roma (2016) o foco de qualquer terapia, seja ela conduzida por psicólogos,
terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas ou outro profissional da saúde, é trabalhar em favor do
paciente em todas as etapas que envolvem o planejamento e a execução das sessões. Ao atuar
sozinho, aspectos como a escolha da sala, o intervalo entre as sessões, a escolha do material a
serem utilizados, a definição dos objetivos e os caminhos a seguir no decorrer das sessões são
pensados por cada profissional, de acordo com seu conhecimento teórico e com as experiências
adquiridas ao longo da prática profissional. Introduzir cão e condutor implica compartilhar
essas decisões, que longe de serem simples detalhes são aspectos cruciais que alteram e
possuem efeitos sobre a dinâmica do tratamento, podendo, inclusive, definir o sucesso ou o
fracasso da terapia.
Dando continuidade, a autora traz que ao adotar a Terapia assistida por animais é
importante refletir e criar estratégias para o manejo correto do setting terapêutico, criando
condições favoráveis para o estabelecimento produtivo do vínculo entre todos os envolvidos
nesse contexto. Se por um lado o foco da terapia é o paciente, pode-se dizer que, com suporte
30
do cão, terapeuta e condutor, compõem a díade responsável pela condução do tratamento. Cada
um desses componentes possui funções definidas e complementares que devem dialogar de
forma constante e harmônica substituindo ações fragmentadas por uma intervenção que
privilegie a prática horizontal e integrada na qual seja possível repensar papéis e conceitos
instituídos.
A autora conclui que há várias pesquisas que aponta que a Terapia assistida por animais
pode ser uma modalidade terapêutica efetiva que favorece o desenvolvimento de habilidades
físicas, psicológicas, cognitivas e sociais, porém é importante ressaltar que o cuidado com os
envolvidos no processo terapêutico, é que irá predizer o sucesso ou o fracasso da terapia.
31
4. METODOLOGIA
4.1. Análise Geral:
4.1.1. Participantes
A coleta de dados dessa entrevista foi realizada com 3 (três) profissionais da área de
TAA, todas do sexo feminino, sendo de diferentes regiões brasileiras como Santa Catarina,
Paraíba e São Paulo, com a faixa etária entre 21 a 58 anos. É composto por: Sujeito 1 com 58
anos; Sujeito 2 com 21 anos; Sujeito 3 com 33 anos. O roteiro de entrevista utilizado está
descrito a seguir.
4.1.2. Instrumento
Roteiro de entrevista
1. Como é a formação profissional em TAA?
2. Como é formada a equipe da instituição?
3. Como é a captação e preparação dos animais para fazerem parte da instituição?
4. Existe uma raça (animais) específica que pode fazer parte da prática da instituição?
5. Qual o público que mais procura por TAA?
6. Quanto tempo, em média, dura a TAA com os pacientes? Como é realizado esse
levantamento?
7. Como é o processo da TAA com a família do paciente/criança?
8. Em relação ao público da Síndrome de Down, há uma grande procura/demanda de
atendimentos? Como esses atendimentos são realizados? (Descreva desde o primeiro dia de
atendimento desses pacientes até a finalização do tratamento)
9. Quais são os benefícios da cinoterapia que a equipe consegue identificar durante e após o
tratamento?
4.1.3. Síntese das respostas
No que diz respeito à formação da terapia assistida por animais, os sujeitos realizaram
cursos na área, pois não há formação acadêmica para exercer a prática e sim cursos de
treinamentos e projetos de extensão sobre a TAA. Ao se perguntar sobre como é constituída a
equipe das instituições que os sujeitos trabalham, não houve uma só resposta, o sujeito 1
informou que era bióloga e professora universitária da área, o sujeito 2 relata que é estudante
de terapia ocupacional e faz parte de um projeto de extensão da faculdade aonde estuda junto
com outros estudantes da mesma área, já o sujeito 3 é psicólogo e trabalha em uma instituição
de TAA há mais ou menos 11 anos que faz parcerias com outras instituições como hospitais,
escolas, abrigos e casas de acolhimento e proteção de indivíduos afastados do núcleo familiar.
32
Foi perguntado o tempo em média que se dura a TAA com pacientes, todas responderam
que a duração de uma sessão dura em média 50 minutos e o tempo que se estabelece com cada
paciente é variado, pois são os profissionais da área que verificam a demanda do paciente e
assim determinam quanto tempo mais durará as sessões. Houve um questionamento sobre o
público que as instituições recebem, e o sujeito 1 fala que são pacientes das clínicas escolas das
universidades, usuários do SUS e de instituições que possuem convênio. O sujeito 2 relata que
os pacientes são do hospital universitário internados nas unidades de pediatria e clínica médica
que aceitam a presença dos cães, já o sujeito 3 trabalham especificamente com paciente de
instituições hospitalares, asilos, abrigos e empresas.
Em relação ao processo da TAA com a família do paciente, o sujeito 1 diz que a família
somente assina um termo de consentimento da intervenção antes do trabalho, mas, não relata
se a família participa ou não, o sujeito 2 relata que como a prática acontece em um hospital,
sempre há um acompanhante com o paciente, acontece que acaba acontecendo a interação da
família com a prática do paciente, então há sim uma interação com os animais, o sujeito 3 fala
que a prática acontece em instituições, então geralmente o processo de contrato com a família
acontece diretamente com a instituição, a partir de uma avaliação do paciente pode haver ou
não a participação do familiar ou acompanhante na prática.
Foram questionadas em relação ao público da Síndrome de Down que é o foco desta
pesquisa, somente o sujeito 1 relatou que trabalham com esse público o sujeito 2 informou que
ainda não tiveram com contato com pacientes com Síndrome e o sujeito 3 falou que não
possuem demanda para esse público. Por fim, foi perguntado quais eram os benefícios da
cinoterapia que a equipe conseguia identificar durante e após o tratamento, o sujeito 1 disse que
são muitos, que crianças com TEA aumenta a atenção, vínculo emocional, melhorias físicas e
entre muitas outras, o sujeito 2 chamou a atenção principalmente para pacientes hospitalizados,
pois o foco principal deles é promover um ambiente de benefícios emocionais para os paciente,
reduzir a solidão e ansiedade desses pacientes, sua missão é fazer que a TAA seja reconhecida
e ganhe visibilidade, e principalmente seus valores estão em sintonia com o SUS, buscando
uma atenção a saúde humanizada e que respeita a pessoa em suas variadas dimensões de vida.
Por fim o sujeito 3 relata que os benefícios mais evidentes na TAA são a humanização do setting
terapêutico e diminuição da carga negativa do tratamento, maior motivação e adesão ao
tratamento, vinculação mais rápida e intensa com profissionais.
33
5. ANÁLISE DE DADOS
Os dados analisados a seguir referem-se à terapia assistida por animais. Para melhor
compreensão, estabeleceram-se cinco eixos temáticos, suas categorias e as unidades de
significação, como mostrado a seguir. Foram montados quadros, onde estabeleceram-se os
critérios de agrupamento por eixo, categoria e unidades de significação, utilizando os resultados
das entrevistas, e realizaram-se as transcrições das afirmativas a partir das falas dos
participantes. Essas falas são chamadas de inferências e foram classificadas por categoria.
Os nomes dos participantes foram substituídos por números e o nome da instituição que
trabalham também não foi descrito. Essa ação se fez necessária para preservar a identidade tanto
dos sujeitos participantes da pesquisa quanto da instituição.
1º Eixo Temático
Conforme pesquisas realizadas, não é falado sobre a formação em TAA e sim cursos
sobre a prática. De acordo com Lima e Souza (2016) o Brasil está em crescimento e a frente
34
desse tipo de intervenção, conforme estudo realizado por alguns autores, somente no estado de
São Paulo foram constatados 29 projetos que utilizam a TAA como terapia complementar,
utilizando diversos tipos de animais. Um desses projetos chamado “PetSmile” atua em São
Paulo desde 1997 levando animais para visitas em escolas e hospitais. Conforme respostas dos
sujeitos, todos realizaram um curso específico para a prática.
Dando continuidade Vivaldini (2011) relata que o trabalho exige uma equipe
multidisciplinar, composta por médicos veterinários, psicólogos, médicos, enfermeiros,
assistentes sociais e terapeutas ocupacionais, capacitados para escolher o método adequado,
acompanhar as atividades e o bem-estar dos animais e dos pacientes. O trabalho com TAA não
é somente do paciente e terapeuta, e sim, com toda a equipe da instituição, pois os profissionais
precisam se comunicar em relação ao avanço ou não dos pacientes. Os sujeitos da pesquisa
relataram que há uma equipe em cada instituição, pois haverá a necessidade de vários
profissionais de áreas diferentes para que a prática do paciente com o animal possa acontecer.
35
2º Eixo temático
No segundo eixo temático animais em TAA. Como categorias desse eixo temos:
Captação e preparação dos animais, raça dos animais.
De acordo com Rocha (2016) a avaliação e a seleção dos animais participantes são
essenciais para a segurança de todos os seres envolvidos na prática, assim como um indicador
de sucesso e aproveitamento nas interações. A simples possibilidade de avaliar o temperamento
de um animal, porém, ainda era bastante questionada em meios científicos, apesar de já ser
36
aplicada de maneira menos objetiva por leigos. De acordo com as respostas dos sujeitos, nota-
se que há seleção desses animais para prática, pois há autores que confirmam que a avaliação e
a seleção dos animais são de extrema importância, tanto para a segurança dos praticantes,
quanto para o sucesso dos tratamentos, torna-se imprescindível a realização de testes para
avaliar o comportamento e o temperamento dos animais. Nos Estados Unidos existem
instituições conceituadas que desenvolvem testes apropriados para conhecer o cão quanto ao
seu temperamento e verificar se aquele animal estaria apto para exercer o papel de coterapeuta
numa sessão de Cinoterapia.
Sujeito 3;
Não, é feita uma seleção individual de perfil e aptidão.
Quadro 2 Eixo temático: Animais em TAA
Diante das pesquisas bibliográficas realizadas, não se encontra uma raça específica para
a prática e sim cães que conseguem se adaptar ao praticante que estará ali presente com ele. Os
sujeitos entrevistados mencionam algumas raças que possuem em sua instituição, porém a raça
não é o principal foco deles e sim se o animal se adaptará com o novo cenário e com pessoas
diferentes sempre que estiverem realizando a prática, por isso são feitas seleções de cães para
escolher o perfil certo para realizar a cinoterapia.
3º Eixo temático
No terceiro eixo temático pacientes em TAA. Como categorias desse eixo temos:
Público que mais procura, duração da TAA e participação da família.
37
O Projeto de Lei N° 4.455 de 2012 p. 1 (Brasil, 2012a), “dispõe sobre o uso da TAA
nos hospitais públicos, conveniados e cadastrados no Sistema Único de Saúde”. Para Vivaldini
(2011), a terapia assistida por animais (TAA), vem sendo uma das estratégias utilizadas na
reabilitação de crianças, principalmente no âmbito da reabilitação voltada para crianças com
deficiência física e intelectual, justamente porque a forte ligação afetiva com os animais facilita
o alcance dos objetivos previamente programados pelos terapeutas. No entanto durante a
pesquisa com os sujeitos, não mencionou esse público alvo e sim instituições parceiras aonde
realizam a prática.
De acordo com Volpi e Zadrozny (2012), o profissional que dirige a prática da TAA
possui um planejamento, um estudo de cada caso e uma rotina específica. Em acréscimo, Dotti
(2014 apud por Rovaris; Leonel, 2018), diz que a prática da TAA tem como objetivo a
promoção de saúde física, social e emocional e consiste em um processo com metodologia,
documentos, planejamento, e avaliações, e todos os avanços são verificados para atingir a meta
do programa. Pode-se verificar conforme as respostas dos sujeitos, que a duração e o tempo de
cada tratamento são diferenciados, podendo variar, porém há semelhanças no tempo dos
atendimentos nas instituições que os sujeitos trabalham, as práticas variam de 50 minutos à 1
hora. Nesse sentido, de fato a TAA demanda um planejamento de cada caso conforme a meta
estabelecida, assim como discutido pelos autores Volpi e Zadrozny (2012) e Dotti (2014 apud
por Rovaris; Leonel, 2018).
O foco da pesquisa foi conhecer sobre a prática e o praticante, não foi utilizado
referências bibliográficas para a busca sobre a relação da família com o tratamento, mas é
possível observar com as respostas dos sujeitos que há interação da família com equipe e a
prática. Além disso, vale retomar que segundo Ferreira (2012 apud Pereira 2017), a terapia
assistida por cães traz benefícios para pessoas de qualquer idade, mas, ainda assim, é indicada
especialmente para crianças, pela facilidade da inter-relação e da comunicação mútua que
permite o desenvolvimento da autoestima. Nesse sentido, o acompanhamento da família se faz
necessário justamente por se tratar de menores de idade.
4º Eixo temático
No quarto eixo temático síndrome de Down. Como categorias desse eixo temos:
Demanda e realização dos atendimentos.
Categoria: Demanda
ANÁLISE TEMÁTICA DE CONTEÚDO
EIXO
CATEGORIA UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO
TEMÁTICO
Sujeito 1;
Trabalhamos com 3 crianças com Síndrome de Down
desde o início.
Sujeito 2;
Síndrome de
Demanda Não tivemos contato ainda com pacientes com Síndrome
Down
de down.
Sujeito 3;
Não temos demanda específica para este público, nem no
INATAA nem em consultório particular.
Quadro 1 Eixo temático: Síndrome de Down
Apesar da maioria das instituições não atenderem crianças com Síndrome de Down, há
grande relato bibliográfico sobre a área. De acordo com Paiva; Melo; Frank; Paes (2018), o
portador da Síndrome de Down possui um desenvolvimento da coordenação motora um pouco
40
mais lento e um retardo mental de leve a moderado. Esses aspectos clínicos, não são um
obstáculo para aprendizagem do portador da síndrome, é preciso entender que eles irão se
desenvolver no tempo deles, isso não é um empecilho de que eles não irão se desenvolver e
adquirir capacidade cognitiva e motora para sua aprendizagem.
EIXO
CATEGORIA UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO
TEMÁTICO
Sujeito 1;
Um bebê que resultou num tcc, onde a fisioterapia fazia a
estimulaçao precoce, um adolescente numa casa de
passagem, onde trabalhamos bem no início do trabalho de
TAA aqui na cidade, ele tinha o cognitivo bastante
comprometido, e com uma criança que trabalhamos no
Realização
Síndrome de processo de aprendizagem da língua de sinais. Este tinha
dos
Down também uma deficiência auditiva grave e apresentava
atendimentos
implante coclear.
Sujeito 2;
Não tivemos contato ainda com pacientes com Síndrome
de down.
Sujeito 3;
Não temos demanda específica para este público.
Quadro 2 Eixo temático: Síndrome de Down
Como já mencionado na questão anterior, somente uma instituição atende esse público,
e mencionam aqui um trabalho realizado com um bebê e que resultou inclusive em um TCC.
No que se refere ao desenvolvimento de uma criança, Macedo (2008) relata que no período
inicial do desenvolvimento cognitivo, o estágio sensório-motor, é a raiz para toda a construção
intelectual; conhecida como inteligência prática, ela é caracterizada pelo contato direto da
criança com objetos e pessoas a partir do qual são construídos os esquemas de ação e as
categorias da realidade, diferenciando-os e integrando-os entre si e separando-se, enquanto
sujeito.
5º Eixo temático
No quinto eixo temático resultados da TAA. Como categorias desse eixo têm: Avaliação da
equipe sobre a TAA.
Categoria: Avaliação da equipe sobre a TAA
EIXO
CATEGORIA UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO
TEMÁTICO
Resultados da Avaliação da Sujeito 1;
41
TAA equipe sobre a São muitos, maior adesão ao tratamento, criação de vínculo
TAA emocional, principalmente nos TEA, aumento da atenção,
melhoras físicas mais rápidas que nos tratamentos
convencionais, entre muitas outras.
Sujeito 2;
O projeto oferece uma terapia complementar aos
tratamentos hospitalares, utilizando o cão, como parte
integrante do cuidado em saúde. Ajudando na adesão ao
tratamento, aumentando a interação do paciente com a
equipe de saúde, além de promover um ambiente de lazer,
desconstruindo o clima tenso da rotina hospitalar,
reduzindo a solidão e a ansiedade. Proporcionando aos
pacientes benefícios emocionais e espirituais. Dessa forma,
as visitas dos cães e dos voluntários propõe uma
experiência de alegria e afeto às pessoas que estão no
hospital universitário. A missão é fazer a terapia assistida
por animais ganhar visibilidade, ser reconhecida enquanto
benéfica para o sujeito de diversas formas. Nossos valores
estão em sintonia com o SUS, buscando uma atenção a
saúde humanizada e que respeita a pessoa em suas variadas
dimensões de vida.
Sujeito 3;
Os benefícios mais evidentes da TAA que são comuns em
todos os atendimentos, independente do quadro clínico,
são: humanização do Setting terapêutico e diminuição da
carga negativa do tratamento, maior motivação e adesão ao
tratamento, vinculação mais rápida e intensa com
profissional. Todos esses benefícios favorecem com que os
objetivos sejam atingidos de forma mais rápida.
Quadro 2 Eixo temático: Resultados da TAA
Para Ferreira (2012 apud Pereira 2017), a terapia assistida por cães traz benefícios para
pessoas de qualquer idade, mas, ainda assim, é indicada especialmente para crianças, pela
facilidade da inter-relação e da comunicação mútua que permite o desenvolvimento da
autoestima. É utilizado um animal treinado individualmente para ajudar na realização de
estímulos que aumentam a autonomia e a funcionalidade da pessoa com necessidades especiais.
Auxilia na melhora dos aspectos emocionais, sociais, físicos e cognitivos, além de proporcionar
motivação para vida e bem-estar do indivíduo. Há muitos diversos benefícios percebidos por
toda a equipe e os sujeitos entrevistados relatam isso de forma positiva.
42
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
meio destas a criança encontra uma base de segurança que lhe permite explorar o meio,
sentindo-se apta a enfrentar novos desafios. A vivência das interações dentro do setting
terapêutico possibilita preparar a criança para novas situações de formação e rompimento de
vínculos que serão recorrentes ao longo da história de vida dela. A interação com o cão
coterapeuta é o elo de conexão das experiências dentro do processo terapêutico com as futuras
vivências, fora do setting.
Vale ressaltar, que a TAA pode ser utilizada individualmente em sessões de
psicoterapia, complementando o modelo tradicional, ou também podem ser formulados projetos
de visitações em diversas instituições, como escolas, asilos, hospitais e afins, com um trabalho
multidisciplinar. Deve ser levado em consideração que a TAA em sessões de psicoterapia ainda
não foi regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia. Embora a variedade de locais que
realizam esse tipo de trabalho no Brasil ainda seja limitada, já há instituições que apostam nos
animais como ferramenta de terapias diversas. A inclusão de animais em contextos terapêuticos
traz inúmeros benefícios indiscutíveis, mas, para se pensar no animal como uma ferramenta a
ser adotada pelo psicólogo de forma regular na sua prática clínica, deve-se ficar atentos para
algumas ressalvas, como o cuidado com a saúde do animal, que é um dos principais fatores e
até mesmo seu adestramento correto.
Não foi objetivo esgotar o assunto neste trabalho, mas abrir espaço para a discussão
de um tema de extrema relevância que é a Terapia Assistida por Animais como recurso
terapêutico disponível para o público de todas as idades, até mesmo crianças com síndrome
de down que foi o foco desta pesquisa. A implementação dessa prática como estimulação
precoce pode trazer benefícios que a criança irá adquirir ao longo de sua vida, tais como a
socialização com o meio e o seu desenvolvimento cognitivo e motor que são essenciais para
que ela possa crescer independente e sem muitas dificuldades. Por fim, é possível defender
esse tema a partir da percepção de que essa prática traz benefícios significativos e o contato
com animal traz sensações boas para as crianças, como sentimentos de alegria e prazer de
estar interagindo com um animal.
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