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MODERNISMO 12
01| UPE “No dia seguinte, Fabiano voltou à cidade, ferentemente dele, que “era bruto”, pois,
mas ao fechar o negócio, notou que as operações também, não sabia ler nem fazer conta,
de Sinhá Vitória, como de costume, diferiam das nunca havia frequentado a escola.
do patrão. Reclamou e obteve a explicação habi-
B Quando o narrador personagem afirma
tual: a diferença era proveniente de juros.
que “O amo abrandou, e Fabiano saiu de
Não se conformou: devia haver engano. Ele era costas, o chapéu varrendo o tijolo,” sig-
bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que nifica que a personagem percebeu que a
era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com cer- altivez era a única arma que possuía para
teza havia um erro no papel do branco. Não se enfrentar o proprietário das terras onde
descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. trabalhava, por isso resolveu camuflar o
Passar a vida inteira assim no toco, entregando orgulho saindo sem dar as costas ao amo.
o que era dele de mão beijada! Estava direito
C No final do segundo parágrafo, quando
aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar
se lê: “Passar a vida inteira assim no toco,
carta de alforria!
entregando o que era dele de mão beija-
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, da! Estava direito aquilo? Trabalhar como
achou bom que o vaqueiro fosse procurar ser- negro e nunca arranjar carta de alforria!”,
viço noutra fazenda. tem-se um discurso direto, pois o narrador
se afasta e deixa Fabiano demonstrar, de
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. forma direta, que tem a consciência da
Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se ha- exploração do patrão quando faz uso dos
via dito palavra à toa, pedia desculpa. [...] verbos no presente.
O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o D Graciliano Ramos cria duas comparações
chapéu varrendo o tijolo. [...] ao usar o vocábulo branco para designar
o patrão e, posteriormente, ao atribuir ao
Sentou-se numa calçada, tirou do bolso o di-
narrador o enunciado: “Trabalhar como
nheiro, examinou-o, procurando adivinhar
negro e nunca arranjar carta de alforria!”
quanto lhe tinham furtado. Não podia dizer
coloca a personagem na condição de sub-
em voz alta que aquilo era um furto, mas era.
misso, tal qual a de um escravo sem direi-
Tomavam-lhe o gado quase de graça e ainda
to à liberdade, o que contraria os princí-
inventavam juro. Que juro! O que havia era sa-
pios do romance regionalista de 1930.
fadeza.”
E Há algumas expressões usadas por Gra-
Sobre o fragmento do capítulo Contas, do ro-
ciliano Ramos que quebram a verossimi-
mance Vidas secas, de Graciliano Ramos, assi-
lhança existente entre a linguagem, a con-
nale a alternativa CORRETA.
dição social e o nível de escolaridade de
A Ao se referir a Sinhá Vitória, Fabiano admite Fabiano, pois são metáforas eruditas, tais
que “a mulher tinha miolo.” Essa afirmação como: “perdeu os estribos”, batendo no
significa que a esposa era inteligente, tinha chão como cascos” e “baixou a pancada e
frequentado escola, sabia fazer conta, di- amunhecou”.
LITERATURA | MODERNISMO 1
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02| PUCRS Leia o excerto do romance Jubiabá, de 03| IMED Leia o fragmento abaixo:
Jorge Amado.
Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cin-
Foi quando o alemão voou para cima dele tilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão
querendo acertar no outro olho de Balduíno. quieta e deserta parecia um cemitério abando-
O negro livrou o corpo com um gesto rápido e nado. Era tanto silêncio e tão leve o ar, que se
como a mola de uma máquina que se houves- alguém aguçasse o ouvido talvez pudesse até
se partido distendeu o braço bem por baixo do escutar o sereno na solidão. Agachado atrás
queixo de Ergin, o alemão. O campeão da Eu- dum muro, José Lírio preparava-se para a últi-
ropa central descreveu uma curva com o corpo ma corrida. Quantos passos dali até a igreja?
e caiu com todo o peso. Talvez uns dez ou doze, bem puxados. Recebera
ordens para revezar o companheiro que estava
A multidão rouca aplaudia em coro: de vigia no alto duma das torres da Matriz.
– BAL-DO... BAL-DO... BAL-DO... O fragmento acima apresenta o Tenente Liroca,
O juiz contava: engajado na revolução como federalista, e se
trata do parágrafo introdutório do primeiro vo-
– Seis... sete... oito... lume da trilogia _______________________,
de __________________________, também
Antônio Balduíno olhava satisfeito o branco es-
tendido aos seus pés. autor de ___________________________,
______________________ e _____________
Com base no diálogo e na obra de Jorge Ama- ______________________.
do, considere as afirmativas.
Assinale a alternativa que preenche, correta e
I. A luta entre Antônio Balduíno e Ergin pode respectivamente, as lacunas do trecho acima.
ser interpretada como uma metáfora dos
conflitos entre o branco europeu e o ne- A O tempo e o vento – Erico Verissimo – Fan-
gro brasileiro. toches – Deus de Caim – Senhora
II. Ao longo dos seus diferentes romances, B A ferro e fogo – Josué Guimarães – Tam-
Jorge Amado constrói um projeto estético bores Silenciosos – Depois do último trem
baseado principalmente na representação – Camilo Mortágua
do intimismo e do lirismo. C O tempo e o vento – Erico Verissimo – Cla-
III. Nos romances Tereza Batista, cansada rissa – Incidente em Antares – O resto é
de guerra e Memorial de Maria Moura, silêncio
o escritor baiano explora basicamente o D A ferro e fogo – Josué Guimarães – Dona
universo erótico feminino em diferentes Anja – Enquanto a noite não chega – Amor
perspectivas sociais. de perdição
IV. O romance Capitães de areia apresenta
E A guerra no Bom Fim – Moacyr Scliar – O
um detalhado quadro da marginalidade
centauro no Jardim – A mulher que escre-
infantil urbana, ao retratar crianças de
veu a Bíblia – Max e os felinos
rua, como Pedro Bala, Sem Pernas e Piruli-
to. 04| UPF Considere as asserções a seguir, em rela-
Está/Estão correta(s) a(s) afirmativa(s) ção aos romances Dom Casmurro, de Machado
de Assis, e São Bernardo, de Graciliano Ramos.
A I, apenas.
I. O narrador-protagonista inicia o romance
B I e IV, apenas. reconstituindo a situação que o levou a es-
crevê-lo.
C II e III, apenas.
II. A análise psicológica, especialmente a que
D I, II e IV, apenas.
o narrador-protagonista faz de si mesmo,
E I, II, III, IV. ocupa papel importante no romance.
2 LITERATURA | MODERNISMO
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III. A ação do romance evolui em torno de um 06| UFSM No romance Noite (1954), de Érico Ve-
triângulo amoroso real ou suposto. ríssimo, o protagonista não é nomeado, rece-
bendo a alcunha de Desconhecido. Pode-se
IV. O narrador-protagonista reconhece, ao fi- entender a ausência do nome próprio do per-
nal do romance, que se deixou cegar pelo
sonagem como
ciúme e que formou um juízo errôneo da
amada. A uma ironia voltada às classes favorecidas
que, assim como o personagem, desco-
É igualmente verdadeiro, em relação aos dois
nhecem a existência precária de grande
romances referidos, apenas o que se afirma em:
parte das populações urbanas.
A I e II.
B um modo de despersonificação, uma vez
B I e III. que o Desconhecido representa a massa
anônima e vacante, que perambula pela
C I, II e III. cidade a qual ele não compreende.
D II e IV. C uma estratégia de despersonalização,
dado o caráter autobiográfico do romance.
E III e IV.
D uma forma de singularização, já que a au-
05| UFRGS Assinale com V (verdadeiro) ou F (fal- sência de nome próprio evidencia a im-
so) as afirmações abaixo, sobre o romance Ter- portância do indivíduo para a dinâmica
ras do sem-fim, de Jorge Amado. urbana.
( ) Lúcia, Violeta e Maria são três irmãs que se E uma forma de padronização, já que, nas
relacionam, respectivamente, com o patrão, o grandes cidades, grande parte da popu-
feitor e um trabalhador da fazenda e que vão lação luta bravamente pela sua sobrevi-
para casa de prostituição: Lúcia e Violeta são vência, à semelhança do que é feito pelo
abandonadas pelos homens já não interessa- Desconhecido.
dos por seus corpos envelhecidos; Maria fica
viúva de seu amor Pedro, que morreu nas plan- 07| UFRGS Leia as seguintes afirmações sobre a
tações de cacau. obra de Graciliano Ramos.
( ) Lúcia, Violeta e Mana aparecem na primeira I. No romance Angústia, Luís da Silva narra
seu dilema de ou casar-se com a vizinha
parte do capítulo Gestação de cidades, iniciado
Marina ou mudar-se para o Rio de Janeiro
pela fórmula “Era uma vez” em clara referên-
para trabalhar como funcionário público.
cia fabular. As personagens de Jorge Amado,
no entanto, têm um destino miserável, muito II. Em São Bernardo, Paulo Honório, narra-
distante do final feliz. dor protagonista, recupera sua trajetória
de sucesso econômico, mas de fracasso
( ) O narrador em terceira pessoa condena a es- afetivo.
colha de Lúcia, Violeta e Maria pela prostitui-
ção. Para ele, elas poderiam tirar seu sustento III. No romance Vidas Secas, é narrada a dura
do trabalho árduo, como fizera a matriarca da trajetória de uma família de retirantes,
família. que luta contra as condições adversas,
tanto naturais como sociais.
A sequência correta de preenchimento dos pa-
rênteses, de cima para baixo é Quais estão corretas?
A F - F - V - F. A Apenas I.
B V - F - F - V. B Apenas II.
C F - V - F - V. C Apenas I e II.
D F - F - V - V. D Apenas II e III.
E V - V - F - F. E I, II e III.
LITERATURA | MODERNISMO 3
MATERIAL DE FÉRIAS PREPARAENEM
vento que o dia e a noite toda pairava na renda fina dos Sete Saltos,
o folheia, e nele se esfola. na serrania mineira,
4 LITERATURA | MODERNISMO
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11| IMED Relacione a Coluna 1 à Coluna 2, asso- 14nada poderia evitar a reincidência daquela
ciando as temáticas e as características abor- cena tantas vezes contada na história do amor,
dadas às obras da geração de escritores do Ro- que é a história do mundo. 10Ela o olhava com
mance de 30. um olhar intenso, onde existia uma incompre-
ensão e um anelo1, 15como a pedir-lhe, ao
Coluna 1 mesmo tempo, que não fosse e que não dei-
1. Universo das classes populares. Romance xasse de ir, por isso que era tudo impossível
“proletário”. entre eles.
LITERATURA | MODERNISMO 5
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12| UERJ No íntimo, preferia não tê-lo feito; (ref. 1) A Ela o olhava com um olhar intenso, (ref.
10)
Embora seja narrada em terceira pessoa, a crô-
nica apresenta ao leitor as sensações do per- B sentindo o pranto formar-se muito longe
sonagem, por meio de termos que remetem à em seu íntimo (ref. 11)
intimidade, como exemplificado acima.
C não lhe dava forças para desprender-se
Dois outros termos, empregados pelo narra- dela. (ref. 12)
dor, que remetem ao universo interior do per-
sonagem são: D De súbito, sentindo que ia explodir em lá-
grimas, (ref. 13)
A sentiu (ref. 2) − imaginá-la (ref. 3)
16| UERJ Uma metáfora pode ser construída pela
B fulguraram (ref. 4) − acariciaram (ref. 5) combinação entre elementos abstratos e con-
cretos.
C Disse-lhe (ref. 6) − abençoara (ref. 7)
No texto, um exemplo de metáfora que se
D Sabia (ref. 8) − distanciar-se (ref. 9) constrói por esse tipo de combinação é:
13| UERJ nada poderia evitar a reincidência da- A como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que
quela cena tantas vezes contada na história não fosse e que não deixasse de ir, (ref. 15)
do amor, que é a história do mundo. (ref. 14)
B o brusco movimento de fechar prendera-
O trecho sublinhado reformula uma expressão -lhe entre as folhas de madeira o espesso
anterior. tecido da vida, (ref. 16)
6 LITERATURA | MODERNISMO
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que não nos entenderemos nunca. E me despre- TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
za... Ou talvez seja eu próprio que me despre-
ze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de Irene no Céu
encará-lo: uma fascinação quase me obriga a Irene preta
pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe Irene boa
a marcha, pelo menos implorar-lhe que suste Irene sempre de bom humor.
a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu
pensava que isso fosse privilégio de alguns san- Imagino Irene entrando no céu:
tos e de navios. Mas não há nenhuma santidade — Licença meu branco!
no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu E São Pedro bonachão:
corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se — Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos
(Manuel Bandeira)
exércitos que não impediram o milagre? Mas
agora vejo que o operário está cansado e que se NEGRA
molhou, não muito, mas se molhou, e peixes es-
A negra para tudo
correm de suas mãos. Vejo-o que se volta e me
dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do a negra para todos
seu rosto são a própria tarde que se decompõe. a negra para capinar plantar
Daqui a um minuto será noite e estaremos irre- regar
mediavelmente separados pelas circunstâncias colher carregar empilhar no paiol
atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio
do mar. Único e precário agente de ligação en- ensacar
tre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa lavar passar remendar costurar
as grandes massas líquidas, choca-se contra as cozinhar rachar lenha
formações salinas, as fortalezas da costa, as me- limpar a bunda dos nhozinhos
dusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto,
trepar.
trazer-me uma esperança de compreensão. Sim,
quem sabe se um dia o compreenderei? A negra para tudo
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo.
nada que não seja tudo tudo tudo
até o minuto de
17| FUVEST Embora o texto de Drummond e o (único trabalho para seu proveito
romance Capitães da Areia, de Jorge Ama-
exclusivo)
do, assemelhem-se na sua especial atenção
às classes populares, um trecho do texto que morrer.
NÃO poderia, sem perda de coerência formal (Carlos Drummond de Andrade)
e ideológica, ser enunciado pelo narrador do
livro de Jorge Amado é, sobretudo, o que está Essa Negra Fulô
em: Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
A “Na rua passa um operário. Como vai fir-
me! Não tem blusa.” no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
B “Esse é um homem comum, apenas mais chamada negra Fulô.
escuro que os outros (...).”
Essa negra Fulô!
C “Não ouve, na Câmara dos Deputados, o
Essa negra Fulô!
líder oposicionista vociferando.”
Ó Fulô! Ó Fulô!
D “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão.
Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, (Era a fala da Sinhá)
que não nos entenderemos nunca.” — Vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos,
E “Mas agora vejo que o operário está can-
sado e que se molhou, não muito, mas se vem ajudar a tirar
molhou, e peixes escorrem de suas mãos.” a minha roupa, Fulô!
LITERATURA | MODERNISMO 7
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pelos figos da figueira 18| UPE Nos três poemas mencionados anterior-
que o Sabiá beliscou.” mente, há um tema em comum, a situação ét-
Essa negra Fulô! nica do negro no Brasil, embora a abordagem
não seja a mesma.
Essa negra Fulô!
A Em Essa Negra Fulô, o uso de expressões
Ó Fulô? Ó Fulô?
próprias da linguagem erudita comprova a
(Era a fala da Sinhá origem humilde de Jorge de Lima. Nascido
Chamando a negra Fulô.) em Alagoas, possui um nível baixo de es-
Cadê meu frasco de cheiro colaridade, aspecto inerente à produção
Que teu Sinhô me mandou? poética do autor.
8 LITERATURA | MODERNISMO
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B A linguagem utilizada nos poemas reflete ( ) Os três poemas, produzidos por nordestinos,
a situação de submissão imposta aos afri- são construídos em linguagem popular entre-
canos que viveram aqui no Brasil. Além meada de palavras eruditas que se constituem
disso, nos três poemas, o eu poético trata, em paradoxo, pois o tema, a ambientação e o
especialmente, da imagem da mulher ne- cenário não estão adequados.
gra, ou como escrava, ou em decorrência A F F V F F
da situação em que viveu no passado.
B F F F V V
C A sensualidade da mulher é o tema de NE-
GRA, de Drummond, expresso de modo ob- C V V V V F
jetivo, claro e contundente no último verso
da primeira estrofe, quando o poeta usa o D F F F F V
verbo “trepar” no sentido denotativo. E V F V F V
D Em Irene no céu, há um tom carinhoso e Texto para a(s) questão(ões) a seguir
meigo, quando o eu poético analisa o com-
Catar Feijão
portamento de Irene e a coloca em um
bom lugar após a morte. Mesmo assim, a 1
concepção de submissão e de irreverência Catar feijão se limita com escrever:
se revela quando São Pedro ordena a Ire- joga-se os grãos na água do alguidar
ne: “Entra, Irene, / você não precisa pedir e as palavras na folha de papel;
licença”.
e depois, joga-se fora o que boiar.
E Há, nos três poemas produzidos por poe- Certo, toda palavra boiará no papel,
tas brancos, certo desprezo pelos negros, água congelada, por chumbo seu verbo:
percebido na linguagem utilizada pelo eu pois para catar esse feijão, soprar nele,
poético de cada um deles e na falta de
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
confiança das sinhás em relação às suas
mucamas. 2
19| UPE Analise as afirmativas abaixo e coloque V Ora, nesse catar feijão entra um risco:
para as verdadeiras e F para as falsas. o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
( ) Essa Negra Fulô é um poema descritivo, pró-
um grão imastigável, de quebrar dente.
prio do Parnasianismo. Nele, a sinhazinha acu-
sa diretamente a personagem negra de ladra Certo não, quando ao catar palavras:
pelo desaparecimento de objetos da Casa- a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
-grande. obstrui a leitura fluviante, flutual,
( ) Fulô é um substantivo erudito que, ao compor o açula a atenção, isca-a como o risco.
título do soneto, denota a preocupação do au- João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra.
LITERATURA | MODERNISMO 9
MATERIAL DE FÉRIAS PREPARAENEM
III. A ideia de se produzir uma obstrução da [III] Incorreta. No romance “Tereza Batista,
leitura como algo positivo participa do ob- cansada de guerra”, publicado em 1972,
jetivo de se romper com os autoritarismos Jorge Amado encarna na personagem Te-
da percepção – desígnio frequente na lite- reza as vítimas de uma sociedade violenta
ratura moderna, inclusive em autores es- e moralista, denunciando, de forma con-
tilisticamente muito diferentes de Cabral, tundente, a complacência do sistema po-
como é o caso de Guimarães Rosa. lítico durante a ditadura militar no Brasil;
a obra “Memorial de Maria Moura” foi es-
Está correto o que se afirma em crita por Rachel de Queiroz;
A I, apenas. Assim, é correta a alternativa [B]: [I] e [IV], apenas.
B II, apenas. 03| C
C II e III, apenas. A referência ao personagem José Lírio no frag-
D I e III, apenas. mento que antecede o enunciado da questão,
assim como a menção à revolução federalista,
E I, II e III. que serve de contexto histórico à obra, permi-
tem inferir que se trata da obra “O tempo e o
vento”, de Erico Veríssimo, autor também de
GABARITO “Clarissa”, “Incidente em Antares” e “O resto é
01| A silêncio”. Assim, é correta a opção [C].
[B] não foi por orgulho nem altivez que Fabia- Em Dom Casmurro, Bento Santiago, narrador
no desistiu de questionar o patrão, mas protagonista, justifica, no início do romance,
a razão que o levou a escrevê-lo: reconstituir
sim por medo de ser mandado embora e,
situações de seu passado para tentar compre-
assim, perder o sustento para si e sua fa-
endê-lo. A angústia de Bento é centralizada em
mília;
torno do suposto triângulo amoroso formado
[C] no excerto citado, configura-se o discurso por ele, sua esposa, Capitu, e seu melhor ami-
indireto-livre, que consiste em mesclar, si- go, Escobar. Sendo Bento bastante ciumento
e levando em conta que só conhecemos seu
multaneamente, o discurso direto da per-
ponto de vista a respeito dos acontecimentos,
sonagem ao indireto do narrador;
seu perfil psicológico se faz imprescindível para
[D] é típico do romance regionalista da déca- a compreensão da trama. No entanto, Bento,
da de 30 denunciar a realidade em que em momento algum, afirma ou demonstra ter
vive grande parte da população brasileira, formado um juízo errôneo de sua amada.
miserável e oprimida; Em São Bernardo, temos também um narrador
[E] as expressões “perdeu os estribos”, “ba- protagonista, Paulo Honório, que escreve com
tendo no chão como cascos” e “baixou a o objetivo de reconstituir seu passado, com a
pancada e amunhecou” reproduzem a lin- clara intenção de compreender a razão do sui-
cídio de sua esposa, Madalena. Paulo Honório
guagem oral da região da caatinga.
revela-se, psicologicamente, um homem bruto
02| B e de um ciúme paranoico em relação à esposa,
que, no entanto, é inocente.
[II] Incorreta. O autor desenvolve temática
social na primeira e segunda fases, segun- 05| E
do os preceitos da estética neorrealista [I] Verdadeiro. Lúcia, Violeta e Maria são ir-
característica da segunda geração do mo- mãs, cujo pai morrera de febre após tra-
dernismo, para, na terceira, dedicar-se a balho forçado prestado ao Coronel Teo-
narrativas classificadas pela crítica como doro. As três envolvem-se com homens, o
crônicas de costumes; que não resulta em destino feliz: Lúcia foi
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abandonada pelo dono da fazenda, Viole- Bernardo, onde trabalhara; porém, o pro-
ta pelo capataz, e Maria ficou viúva; o des- tagonista se revelou uma pessoa ciumenta
tino delas é a casa de prostituição. e paranoica, levando seu relacionamento
com Madalena ao fracasso, marcado pelo
[II] Verdadeiro. Reiteradamente o narrador suicídio da esposa.
cita a locução “era uma vez”, empregada
geralmente para introduzir fábulas cujos [III] Correta. Considerado uma obra de de-
términos são marcados pelo final feliz. No núncia, Vidas Secas é o relato de Fabiano
entanto, este não é o caso das três irmãs, e sua família de retirantes pelo sertão do
que, após o término de seus relaciona- Nordeste, vítimas da marginalização social
mentos, dirigem-se a um prostíbulo. (vale lembrar que os filhos do casal sequer
têm nome) e das condições sociais (a pon-
[III] Falso. A leitura de Gestação de Cidades to de a secura do meio influenciar nas re-
não indica tal posicionamento acusatório lações humanas).
do narrador; sua opção é simplesmente
narrar a história das irmãs. 08| E
[IV] Falso. Frei Bento não condena a ocupação [A] Correta. Os versos “Voz sem saliva da ci-
das irmãs e participa do velório por ser garra, / (…) assim canta o canavial” deixam
pago por essa atividade. nítida a relação entre o som das folhas do
canavial e da cigarra.
06| B
[B] Correta. Os elementos aproximados ao
Até dado momento da narrativa, o Desconhe- som das folhas do canavial indicam a rusti-
cido não se lembra de informações a respei- cidade, elemento típico da poesia de João
to de si. Não consegue se recordar da própria Cabral de Melo Neto: “voz sem saliva”,
identidade e questiona-se assim como qual- “papel seco” e “navalha”.
quer indivíduo: “Quem sou? Onde estou? Que
aconteceu?”. [C] Correta. O poema é composto de apro-
ximações relativas ao som do vento que
Quando a personagem acorda, no dia seguin-
passa pela plantação: “ao vento que por
te, consegue se lembrar do que ocorrera antes
suas folhas, / de navalha a navalha, soa, /
do dia anterior, mas não dos acontecimentos
vento que o dia e a noite toda / o folheia,
da véspera. Uma vez que sua memória não se
completa até o fim da narrativa, sua identida- e nele se esfola”.
de também não se completa; por esse motivo, [D] Correta. A associação é nítida nos versos
é possível interpretar Desconhecido como um “de quando se dobra o jornal: / assim can-
tipo representante das pessoas anônimas, que ta o canavial”.
vagam sem saber o que lhes ocorre.
[E] Incorreta. O vento não corta o canavial;
07| D seu som é que se aproxima de uma na-
[I] Incorreta. A angústia de Luís da Silva está valha: “ao vento que por suas folhas, / de
relacionada ao descontentamento com navalha a navalha, soa”.
sua profissão, com a própria vida, levando- 09| B
-o a assassinar um rico homem que engra-
vidara e abandonara sua ex-noiva, Marina. O romance Incidente em Antares, de Érico
Luís da Silva, para ocultar seu crime, disfar- Veríssimo, é narrado em terceira pessoa por
ça o assassinato em suicídio, pendurando um narrador onisciente. Por isso, é incorreto
o corpo em uma árvore; a angústia decor- o que se afirma na alternativa [B], a narrativa
rente desse ato marca o tom da narrativa. não se estrutura em forma de diário pessoal.
[II] Correta. Paulo Honório é o narrador de 10| A
São Bernardo¸ romance marcado por seu
sucesso econômico – um garoto órfão que Esses versos de Drummond pertencem ao po-
se tornou proprietário da fazenda São ema “Mário de Andrade desce aos infernos”,
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