Atividade Avaliativa Final – Estudos Contemporâneos
Filipe Pereira Mauricio – código 837063
INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO
Primeiramente, para compreender o processo de desumanização do
homem e sua substituição de fim por meio, é necessário entender o complexo de ideias que motivaram esses movimentos e o surgimento do sistema econômico capitalista, que hoje intensifica esses problemas como nunca antes se viu. Com o começo do desenvolvimento teórico da física no século XVII com Leibniz e Newton, o homem se maravilha a nova ciência e passa a se dedicar quase que exclusivamente a ela, visto que, a partir dos conhecimentos proporcionados por ela, o homem poderia intervir na Natureza e mudá-la ao seu bel prazer. A sua utilidade prática no domínio sobre a matéria gerou-se o que o filósofo espanhol José Ortega Y Gasset denomina como o “imperialismo da física”. A utilização prática passou a ser norma da verdade, culminando no utilitarismo exacerbado que acompanha o mundo desde o século XVIII até a contemporaneidade. Juntamente à consolidação do utilitarismo ocorre a revolução industrial, que intensifica a produção em massa de produtos e consequentemente o consumo, dando origem ao modelo econômico capitalista. No fim do século XIX, paralelamente a todo esse movimento físico-material, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, em seus escritos de 1885 e 1888 lançados postumamente, começa a elaborar a filosofia que descreverá perfeitamente a desumanização do homem: o niilismo. No entendimento de Nietzsche, o homem de sua época passava por um processo de abandono dos valores supremos e ideais de justiça e bem, de qualquer senso espiritual ou metafísico. Para Nietzsche a única escapatória era o abandono completo de qualquer valor. Porém ele identificava o homem de seu tempo como um niilista incompleto, ou seja, o homem buscava substituições para os valores supremos que foram abandonados. Unindo todo o contexto analisado por Ortega Y Gasset e Nietzsche, o homem colocou como aspiração suprema, no lugar dos valores ideais, o capital e o desenvolvimento material. Contemporaneamente, é possível visualizar o esquecimento completo de sensos de justiça, bem, preservação e dignidade, visto que, com o processo de globalização, o capitalismo industrial atingiu quase todos os cantos do planeta, buscando subjugar tudo e todos visando unicamente o lucro e o desenvolvimento tecnológico exclusivo, que são vistos como progresso.
CONSEQUÊNCIAS DA DESUMANIZAÇÃO
Consequentemente à aspiração suprema do lucro, a humanidade foi posta em
segundo plano, sendo a prioridade o enriquecimento individual e a produção. O homem e tudo que o cerca foi tomado como meio para alcançar o lucro, criando e intensificando diversas anomalias sociais que tomaram proporções catastróficas. Como dito anteriormente, as ciências chamadas humanas perderam espaço para o imperialismo da física, a medicina e a bioengenharia na medida que produzem conhecimento que pode ser vendido, ou seja, o que é considerado “útil” na sociedade. Assim sendo, o investimento público em literatura, história e filosofia foi drasticamente reduzido sob a justificativa de que “não produzem nada de valor”. Percebe-se que a lógica liberal de mercado é aplicada em todas as áreas da vida. Se não há demanda efetiva por conhecimento das humanidades, não há necessidade de investimento. Além disso, como consequência direta desse movimento, pode-se citar a intensificação da pobreza no globo, visto que, com a globalização do capitalismo neoliberal industrial, diversas empresas e corporações passaram a procurar por mão de obra barata, alcançando países já miseráveis visando se aproveitar de sua situação desfavorável. Dessa forma, os países que já se encontravam com problemas sociais graves são submetidos à dependência econômica de megacorporações que pouco se importam com a saúde ou qualidade de vida de seus empregados, os quais são submetidos a situações de emprego análogas à escravidão. Institui-se também, como forma de justificar esse sistema, a ideia de mérito e trabalho duro, que se resumem à meras desculpas fantasiosas para dar validade ao sistema, visto que, dificilmente um indivíduo que nada tem conseguirá sair de uma situação de miséria para uma de grande bonança a partir do trabalho. A realidade nunca foi assim. Ademais, assim como o homem, o meio ambiente também foi transformado em meio para alcançar o lucro. Apreciado pelos homens do passado como manifestação da existência de Deus e sua perfeição, ou como expressão da harmonia do universo regido pelas leis matemáticas, a Natureza hoje é vista apenas como fonte de recursos que poderão ser utilizados para a produção de o que quer que seja. Não há qualquer incentivo pela preservação de oceanos e grandes florestas, visto que isso só traria custos do ponto de vista econômico. Com esse pensamento o homem vai consumindo aquilo que é necessário para a sua própria existência, degradando e destruindo a sua própria habitação buscando riquezas que de nada valerão caso o planeta deixe proporcionar vida.
CONCLUSÃO
A partir do exposto anteriormente, é notável que esse tipo de conjuntura
socioeconômica é maléfica para a própria humanidade como um todo, apesar de existirem poucos que se sobressaem e obtém riquezas absurdas a partir do modelo econômico vigente. A sociedade, ao instituir uma lógica baseada apenas no mercado, perde sua humanidade, degrada o que devia ser preservado e busca como principal aquilo que deveria ser secundário, passando por cima de tudo que há na sua frente em busca do lucro. Dessa forma, para que se compreenda melhor como sair dessa situação, é necessário a re-humanização do homem, colocando-o como fim, e não mais como meio através da compreensão da dignidade natural de todo indivíduo e do estabelecimento de limites para a atividade econômica. REFERÊNCIAS
GASSET, José Ortega y. O que é filosofia? Campinas: Vide Editorial, 2016.