Epistemologia
A epistemologia ou teoria do conhecimento é a área da filosofia que investiga a possibilidade,
a origem e a natureza do conhecimento. Tenta responder às seguintes questões: O que é o
conhecimento? O que podemos conhecer? Como alcançamos o conhecimento? Como
distinguimos o conhecimento de uma mera crença? Será o conhecimento possível?
Tipos de conhecimento
Conhecimento por contacto: O João conhece o jogo do xadrez
O conhecimento em causa é um conhecimento muitas vezes dito por contacto. O
mesmo acontece ao afirmar-se que alguém conhece uma determinada cidade ou país.
Conhecimento por familiaridade: distinguir e identificar um entre vários objetos.
Segundo esta teoria, para haver conhecimento é necessário seguir as seguintes etapas:
1. O sujeito tem de acreditar que a relação sujeito-objeto é possível, acreditar na
proposição P
2. P tem de ser verdadeira
3. O sujeito tem de apresentar justificações para provar a veracidade da proposição P
Concluindo, segundo esta teoria, são precisas três condições para provar que há
conhecimento: tem de haver uma crença (1), essa crença tem de ser verdade (2) e
posteriormente justificada (3).
Desta forma uma crença verdadeira não é por si só prova de conhecimento, é
necessário que essa crença verdadeira seja justificada.
Contraexemplos de Gettier:
O filósofo coloca a hipótese de o conhecimento assentar numa falsidade (pode ser
verdade apenas em parte) em que as nossas justificações podem enfermar de erro levando a
que o sujeito esteja errado, mas convencido que está certo. Defende por isso que as três
condições podem não ser suficientes para termos o verdadeiro conhecimento e apresenta a
hipótese da necessidade de uma eventual condição extra para haver conhecimento: a crença
verdadeira não pode ser negável; a justificação da nossa crença não pode ser obtida por sorte,
tem de ter fundamentos. Esta condição extra é de natureza exterior à crença.
O que é necessário para que uma crença seja aceite, contida por todos e verdadeira?
Necessidade lógica
Validade universal
Argumentos:
- Rigor e valor universal do conhecimento matemático
- Tudo o que não passar pela razão é falível, errado ou erróneo, por isso quando a razão julga
os dados postos à sua consideração ela conclui que os mesmos só podem ser de uma forma e
não de outra.
Argumentos céticos
Argumento da ilusão: os sentidos são enganosos, podem nos induzir em erro.
Argumento da divergência de opiniões: se uma crença estivesse devidamente justificada não
havia razões para que alguém duvidasse dela
Argumento da regressão infinita: toda a crença verdadeira de uma forma mais ou menos
direta baseia-se ou busca informações a crenças anteriores. Se nunca conseguirmos chegar à
crença original, nunca vamos verificar a veracidade da nossa crença
Método de Descartes
O filósofo cria um método cujo cumprimento nos permite obter um conhecimento
verdadeiro e indubitável. Alcançar o conhecimento através do seguimento destas regras é
fácil:
Evidência: nunca deveremos aceitar como verdadeiro aquilo que não se apresente como claro
e distinto. Tudo aquilo que se apresente com a mínima dúvida e sem clareza deve ser
rejeitado. Tudo deve ser claro e distinto.
Síntese/Ordem: devemos conduzir a nossa razão partindo dos aspetos mais simples e fáceis de
conhecer e subir gradativamente para os mais complexos. Se não o fizermos iremos dificultar o
processo.
Enumeração: devemos fazer enumerações tão completas e revisões tão gerais quanto possível
para ter a certeza que não fica nada de fora. Nenhum elemento deve ser excluído.
Mundo físico: coloca em causa a existência do mundo físico, dizendo que nós só sabemos
desta existência devido aos nossos sentidos por isso podemos estar a ser induzidos em erro.
Apresenta também a hipótese de tudo ser um sonho. Segundo Descartes, há acontecimentos
que vividos durante o sonho, são vividos com tanta intensidade como quando estamos
acordados. Se é assim, não há maneira de distinguir o sonho da realidade, pode surgir a
suspeita que aquilo que é considerado real não passa de um sonho: Argumento das ilusões
dos sonhos
Conhecimento matemático: Descartes repara que já viu Homens a errarem nas áreas que
considerava estarem dotadas com poder absoluto e indubitável e então suspende o valor da
razão e coloca em causa aquilo que até então considerava o modelo do conhecimento
verdadeiro, o conhecimento matemático, para que não seja induzido, ele também, em erro.
Deus: supõe que não há um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte da verdade, mas
certo génio maligno, não menos enganador do que poderoso, que empregou toda a sua
indústria em enganar-me: Argumento do Deus enganador. Descartes duvida de Deus para
reforçar a evidência do cogito.
O cogito é o alicerce inabalável que Descartes queria encontrar. Ninguém pode duvidar
que pensa, ao fazê-lo já está a pensar ou até mesmo a formulação de um raciocínio falso é
uma prova que o sujeito em causa pensa. Foi obtido sem nenhuma mediação, sem
intermediários.
Há coisas que a dúvida não consegue pôr em causa ou declarar como falsas tais como
o pensamento, o facto de Descartes ser um ser pensante e, por consequência, existir.
A dúvida inicial que Descartes tinha em relação à sua existência é substituída pelo
cogito (caráter provisório da dúvida).
Características do cogito:
Primeira verdade
Verdade racional e universal
Verdade a priori
Verdade indubitável
Evidente (ideia clara e distinta)
Deus é perfeito.
Logo, não é um génio maligno, ou estaria a negar as suas características e qualidades.
Se eu duvido de tudo, como posso ter a certeza que o cogito não me engana?
Deus está por detrás desta minha evidência.
Logo, Deus é critério e garantia de todo o meu conhecimento.
Tipos de ideias
Segundo Descartes as ideias que cada indivíduo pode ter em si podem ser:
Ideias inatas: ideias que, desde sempre, residem no nosso espírito. Sementes de verdade que
Deus colocou no nosso espírito. (cogito, Deus, conhecimento matemático)
- Garantem inequivocamente um conhecimento seguro
- Ideias mais fiáveis
- Não são produto da experiência
Mas se este cogito, que é suportado por Deus, me conduz à verdade absoluta, como é
possível o erro?
O erro consiste numa situação onde a razão não foi capaz de conceber de forma
verdadeiramente clara e distinta o conhecimento em causa e, segundo Descartes, o erro vem
do uso descontrolado da vontade, quando as nossas paixões da alma se sobrepõem à razão,
por exemplo preguiça intelectual que pode levar a falsas deduções; cobiça, quando não
cumprimos cuidadosamente as quatro regras do método; precipitação ou do livre arbítrio: se
eu sou capaz de escolher a minha opção de escolha pode não ser segura mesmo se feita
racionalmente A linguagem de descartes tem obrigatoriamente cariz religioso e Deus nunca é a
causa de erro, sou sempre eu mesmo (as minhas paixões da alma/estados de espírito ou livre-
arbítrio).
Dogmatismo: crença num dogma que vem da razão (algo irrefutável), infalível quando
suportado por Deus. Assume uma crença plena no poder da razão que, segundo Descartes, por
si só, se acompanhada por Deus e suportada num bom método, é proibida de falhar. Se todo o
saber é fundamentado em Deus, tem todo o cenário para germinar. Se tudo reside no cogito e
em deus e o cogito é meu e Deus permanente, o conhecimento é ilimitado e variável.
Tipos de perceções
Impressões Ideias
Sensações mais vivas Impressões menos intensas
Quando ouvimos, vemos, amamos, odiamos, Cópia de uma impressão
desejamos, queremos. Resulta diretamente O que reside na nossa mente
da nossa experiência; recolhemos Reflexo da nossa impressão: nunca é o
diretamente dos nossos sentidos original, mas depende da impressão
Por mais fiável que seja a impressão que se Só são fiáveis na medida em que são cópias
retira da experiência, não passa de uma das impressões
impressão sensorial É o princípio da cópia que está na origem
As impressões são o ato originário do das nossas ideias.
conhecimento. Armazenam o conhecimento na nossa
mente
Ideia que retemos em nós relativamente a
uma experiência. As ideias vão se apagando,
perdendo a força. A memória perde eficácia
Nem mesmo assim a associação de ideias é 100% segura; não são garantia do conhecimento
Tipos de conhecimento
Conhecimento de ideias Conhecimento de factos
Natureza dedutiva. Remete-nos para um A posteriori. O seu valor de verdade
conhecimento que assenta num raciocínio depende do teste empírico. Verdades
dedutivo e apresenta-nos verdades dotadas relativas e contingentes. Questões
diretamente ligadas com a realidade. Único
de necessidade lógica conhecimento que nos explica questões
Constituído por proposições que apenas acerca do mundo. Verdades sintéticas. As
relacionam ideias e são de natureza lógica- proposições que netram na composição
matemática. Intuitiva e demonstrativamente deste conhecimento referem-se a factos que
certas cuja negação conduz a uma visam dar-nos conhecimento sobre o que
contradição a impossibilidade lógica. acontece no mundo. Não se revestem de
Absolutas. Verdades que, apesar de terem necessidade lógica. A sua eventual negação
necessidade lógica, nada nos dizem acerca não revela a mesma contradição
do mundo. A razão por si só é incapaz de /impossibilidade lógica que verificamos
explicar fenómenos. Fornece-nos verdades anteriormente. Permite-nos estabelecer
dotadas de possibilidade lógica uma melhor ligação com o mundo
Efetivamente seguro: absoluto Aquele que nos aproxima do mundo
Resulta em proposições que não podem ser Pessoal, subjetivo, contingente
negadas As suas proposições exigem sempre uma
Não nos dizem nada sobre o mundo demonstração empírica
Exemplo: Doze é o triplo de quatro Não se revestem de necessidade lógica
Estamos na nossa relação com o mundo dependentes de duas ideias: causalidade e indução.
Refuta a noção de causalidade e a ideia de indução. Segundo David Hume, é verdade que
todos os raciocínios sobre as questões de facto se baseiam na causalidade e efeitos e limita-se
às impressões atuais e recorre às recordações de impressões passadas. Porém, nós
formulamos juízos que vão para lá da experiência presente /passada, como formular um
raciocínio precipitado, algo que é contingente; verdades que pretendem explicar como as
coisas irão acontecer. A certeza e a verdade das premissas não garantem a verdade da
conclusão.
Por maior suporte a priori que uma crença tenha, só podemos que se aplica a posteriori. A
causalidade só pode ser conhecida a posteriori. Sem impressão não há conhecimento.
Causalidade: ideia que usamos para nos melhor relacionarmos com o mundo.
Para haver uma regularidade tem de haver uma repetição. Nem sempre A provoca B, até
porque podem ter natureza distinta. A ideia da causalidade é ficção, é uma ideia subjetiva.
David Hume não se segue pela uniformidade da natureza, só podemos obter conhecimentos a
posteriori, a indução é posta de parte. Se a uniformidade da natureza existe, nós somos
legitimados a precipitarmo-nos nos nossos raciocínios. David Hume questiona o fundamento
lógico da indução e conclui que aquilo que nós fazemos é confundido: a expectativa
psicológica retirada das impressões passadas com a incerteza lógica que as coisas vão ser
assim no futuro.
Reconhece o papel da causalidade. Nega as bases do conhecimento tradicional,
comprometendo a possibilidade de conhecimento – conduz-nos a um ceticismo. Para
Descartes, Deus é a base do conhecimento, o cogito precisa de Deus para o suportar. Para
David Hume, Deus é fruto da nossa imaginação, Descartes deu um salto demasiado grande da
lógica para a ontologia.