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DEPARTAMENTO DE CLÍNICAS
CURSO: MEDICINA VETERINÁRIA
Em primeiro lugar aos meus pais, Alfredo Pedro Ussaca (em memória) e Faustina
Francisco Nhabomba, pelo amor, carinho e esforço que fizeram para sustentar meus
estudos durante esta licenciatura.
Aos meus irmãos, pelo carinho e por existirem na minha vida.
Com grande carinho a todos os docentes e funcionários da Faculdade de Veterinária-
UEM, que fizeram parte do quadro de minha licenciatura e em especial a minha
supervisora Profa. Doutora Cesaltina Tchamo, pela oportunidade de estágio, e junto
ao meu co-supervisor Prof. Doutor Cláudio Laisse pela paciência, esforço e
dedicação.
Em especial aos colegas de sala, foram cinco anos de convivência onde houve muitas
alegrias e alguns descontentamentos, no entanto quero que saibam que ficarão guar-
dados no fundo do coração para sempre.
Enfim aos veterinários, funcionários e amigos que fiz durante este estágio na clínica:
Dr. André Nhambir, dra. Fanita Daússe, Simão Jamine, Fernão Salatiel, Felizardo Mu-
lieca, Feliciano Xavier, Alfredo Ordem.
Lista de abreviaturas
2. Objectivos .............................................................................................................. 3
2.1. Geral............................................................................................................... 3
4.4.1.4. Tratamento......................................................................................... 13
7. Conclusão............................................................................................................ 32
8. Recomendações .................................................................................................. 33
1. Introdução
O curso de Licenciatura em Medicina Veterinária oferece amplo conhecimento prático
e teórico nas diversas disciplinas, sendo de extrema relevância para que
desenvolvamos raciocínio crítico e clínico para a tomada de decisões, e assim
possamos chegar a um diagnóstico correcto e instituir terapia da forma mais eficaz
possível. Sendo assim, o objectivo do estágio curricular é de expôr ao estudante a
diferentes rotinas, desenvolver aptidão, assim como aprimorar o raciocínio lógico e
rápido, além de melhorar a comunicação em um ambiente de trabalho.
A escolha da clínica veterinária Pêlos e Patas como local de estágio foi feita,
principalmente, devido a oportunidade e liberdade que este local ofereceu para o
acompanhamento e monitoramento dos casos clínicos, e também por possuir um
quadro técnico experiente, o que foi importantíssimo para o aproveitamento do
estágio supervisionado e para minha própria vida profissional.
Este estágio foi desenvolvido nas áreas de cirurgia, laboratório clínico e clínica
médica de pequenos animais. Ainda, para desenvolver as habilidades para a
pesquisa e redacção de trabalhos científicos, foi desenvolvido um caso clínico, dentre
os vários casos atendidos, que não é comumente diagnosticado na clínica de
pequenos animais, e que despertou interesse.
O edifício principal é constituído por uma recepção, onde o cliente tem o primeiro con-
tacto com a clínica, e onde são expostos os produtos veterinários a venda e a ração
canina; um consultório, onde são feitas vacinações, desparasitações, consultas, trata-
mentos e cirurgias; uma farmácia; um escritório para o sector administrativo e uma
casa de banho (Figura 1).
O ambiente externo é constituído por um pátio relvado onde os cães aguardam para o
atendimento evitando assim aglomeração na recepção, 6 canis para internamento e
hospedagem de cães grandes e 5 para cães pequenos e gatos; um armazém para
rações caninas e outros produtos veterinários, uma casa de banho dos guardas, um
pequeno refeitório.
O quadro técnico da clínica é constituído por três médicos veterinários, três guardas,
dois enfermeiros e duas contabilistas.
2. Objectivos
2.1. Geral
• Desenvolver e aperfeiçoar as habilidades teórico-práticas na área
de clínica veterinária.
2.2. Específicos
• Acompanhar as actividades de rotina, como são os casos clínicos,
cirurgias, bem como realizar análises laboratoriais;
• Seguir detalhadamente e descrever os achados clínicos e patológi-
cos de um caso-estudo, de interesse do ponto de vista clínico.
3. Actividades realizadas
Nos casos cirúrgicos, o estagiário prepara o animal, actividade esta que consiste na
tricotomia, canalização do vaso, antissépsia, e sob supervisão do clínico prepara a
anestesia e faz monitoria da anestesia ao longo da cirurgia ou serve de ajudante ao
cirurgião em algumas delas.
O aproveitamento foi considerado bom, pois durante este período foi possível
acompanhar 32 procedimentos cirúrgicos (Tabela 1), casos clínicos acompanhados
(Tabela 2), e as actividades de rotina (Tabela 3).
Sistema Digestivo
Gastroenterite parasitária Canina 48 28
Parvovirose Canina 56 32,5
Corpo estranho Canina 2 1,2
Gengivite Canina 1 0,6
Sistema Auditivo
Otite Canina 3 1,7
Sistema Respiratório
Espirro reverso (suspeita) Canina 1 0,6
Sistema músculo-esquelético
Fracturas do fémur Canina 3 1,7
Paralisia dos membros Canina 4 2,3
Displasia coxofemural Canina 3 1,7
Sistema hematopoético
Leucemia mieloide aguda Canina 1 0,6
Outros
Intoxicação por organofosforados Canina 5 2,9
Intoxicação por raticidas Canina 2 1,2
Ascite Canina 5 2,9
Mordeduras Canina 3 1,7
Queimaduras Canina 2 1,2
Total 172 100
4. Revisão bibliográfica
.
Figura 2. Representação da medula óssea no interior de um osso longo. Local onde é
realizada a hematopoiese
4.2. Leucemia
As leucemias são neoplasias malignas progressivas com comprometimento generali-
zado da medula óssea e geralmente do sangue periférico que resultam da proliferação
desordenada das células hematopoiéticas, que substituem as células normais da me-
dula óssea (Acosta et al., 2011). A palavra “Leucemia” tem origem do grego, leukos
que significa branco, e haime que significa sangue, referindo-se a aumento das células
leucocitárias (Scott e Stockham, 2011).
Essas neoplasias podem ser originadas em todas as linhagens de células
hematopoiéticas, ou seja, nos linfócitos, eritrócitos, monócitos, granulócitos,
mastócitos e megacariócitos (Ettinger e Feldman, 1995).
A leucemia possui origem em uma única célula, porém o mecanismo molecular é mul-
tifatorial e abrange diversos processos de controlo da multiplicação e do crescimento
celular (Franco et al., 2008).
4.3. Etiologia
A etiologia das leucemias em cães não foi determinada (Ettinger e Feldman, 1995),
porém podem ser citados componentes infecciosos, exposição a contaminantes
ambientais, agentes radioativos, predisposições raciais e hereditariedade (Oliveira,
2011).
Alterações neoplásicas das células que determinam a leucemia estão associadas a
mecanismos moleculares e se desenvolvem como resultado a algumas infecções
virais, alterações genómicas ou causas indefinidas (Maia, 2008).
4.4. Classificação
Na rotina clínica as leucemias são classificadas seguindo dois critérios, o primeiro de-
finido a partir da origem das células, podendo essas serem linfocíticas, com origem
linfóide, ou mielógenas quando sua origem são as células mieloides (Bechtold, 2018).
O grau de diferenciação das células é tido como o segundo critério, onde também leva
em consideração o comportamento biológico, para então defini-las como agudas ou
crônicas (Mcgavin e Zachary, 2013). Nas agudas ocorre proliferação de células pouco
diferenciadas e o curso clínico é rápido e agressivo, nas crônicas a proliferação é bem
diferenciada e o curso é lento (Ettinger e Feldman, 1995).
As leucemias agudas possuem uma predominância de blastos na medula óssea ou
seja, a transformação neoplásica ocorre nas etapas iniciais da hematopoese (Biondo,
2005). No caso de leucemias crônicas essa transformação acontece mais tardiamente
na linhagem celular, através de uma excessiva produção de células maduras e bem
diferenciadas (Franco et al., 2008).
4.4.1.1. Epidemiologia
As leucemias podem ser consideradas raras, pois representam 10% das neoplasias de
origem hematopoiéticas, embora seja difícil obter uma estimação precisa devido à falta
de distinção entre linfoma e leucemia em muitos casos (Maia, 2008), podendo ainda
serem chamadas de leucemias aleucémicas, quando a mesma não apresentar células
neoplásicas na circulação sanguínea periférica (Takahira, 2009). Este tipo de neo-
plasia ocorre mais em cães jovens (Cowell et al. 2009), pode haver uma ligeira predis-
posição sexual no cão, com rácio Macho:Fêmea de 3:2, mas não há evidências de
predisposição racial (Day et al., 2004), porém, cães de raças grandes são as mais
acometidas por este tipo de leucemia. (Ogilvie et al., 2006).
Um cão com LMA, na fase inicial da doença geralmente apresenta uma boa condição
corporal e de pelagem. Com o agravar da condição clínica, apresentam sinais clínicos
inespecíficos tais como epistaxe, perda de peso, fraqueza, anorexia e febre
persistente (Appel, 2015). No exame físico é comum encontrar mucosas hipocoradas,
aumento moderado dos linfonodos e hepatoesplenomegalia. Nas mucosas podem ser
encontradas petéquias que podem chegar a equimoses (Neto e Oliveira, 2020). O
animal pode apresentar quadro ictérico, nos casos em que ocorre uma acentuada
infiltração de células leucémicas no fígado (Bechtold, 2018).
4.4.1.3. Diagnóstico
O diagnóstico de leucemia em cães é realizado através dos sinais clínicos, achados
laboratoriais e confirmado pelo exame da medula óssea, em que se pode observar
alterações neoplásicas em uma ou mais séries de células hematopoiéticas (Dobson e
Morris, 2007).
O primeiro indício importante para estabelecer o diagnóstico da LMA, é um resultado
anormal em um hemograma. Em cerca de 90% dos casos de LMA, o paciente
apresenta anemia em graus variáveis, por conta da falha na produção de hemácias
(Francisco e Muchagata, 2015).
É importante diferenciar entre estes dois distúrbios, porque o prognóstico para cães
com linfoma é consideravelmente, melhor do que para aqueles que possuem leuce-
mia. Estas duas patologias podem ser difíceis de diferenciar com base na informação
clínica, hematológica e citológica obtida, mas as linhas gerais a seguir podem ser usa-
das para tentar estabelecer um diagnóstico definitivo (Maia, 2008):
• Se a linfadenopatia fôr maciça, provavelmente seja um linfoma;
• Se o paciente está sistemicamente doente, provavelmente seja leucemia agu-
da;
• Se houver pancitopenia, leucemia aguda é o diagnóstico mais provável;
• Se a percentagem de linfoblastos na medula óssea estiver acima de 40 a 50%,
o doente mais provavelmente possui LLA;
• Se houver hipercalcemia, o diagnóstico mais provável é linfoma.
Além do linfoma, os diagnósticos diferenciais em doentes com leucemias agudas in-
cluem outros distúrbios do sistema hematopoiético que podem causar os sinais clíni-
cos apresentados por cães acometidos por leucemia. O diagnóstico diferencial deve
incluir patologias tais como a histiocitose maligna ou sistémica, mastocitoma sistémico
(leucemia dos mastocitomas), doenças de armazenamento lisossomal (Couto e Nel-
son, 2006), hemoparasitoses (Neto e Oliveira, 2020), deficiências nutricionais e drogas
como folato e cobalamina, uma vez que estas podem ser responsáveis por alterações
sanguíneas (Biondo, 2005).
4.4.1.4. Tratamento
Muitas vezes não se conhece a causa da leucemia. O objectivo do tratamento da
leucemia é destruir as células leucémicas, para que a medula óssea volte a produzir
células normais (Maia, 2008).
O tratamento para casos relacionados aos precursores mielóides se dá através de
terapia de suporte como fluidoterapia, transfusão sanguínea e antibioticoterapia (Bech-
told, 2018).
A quimioterapia também pode ser usada, e os quimioterápicos mais recomendados
são similares aos recomendados para linfomas, que são a Prednisolona, Mercaptopu-
rina ou Tioguanina, em combinação Citosina-arabinosídeo (Dobson e Morris, 2007), e
é usado também o protocolo CHOP (ciclofosfamida, doxorubicina, vincristina e predni-
solona) (Bichard e Sherding, 2008).
Além disso, a toxicidade dos agentes citotóxicos pode estar exacerbada pela função
hepática e renal comprometida, fazendo com que a maioria dos pacientes tenha uma
sépsis secundária à neutropenia, falha orgânica secundária a infiltração de células
neoplásicas ou congestão intravascular disseminada (Dobson e Morris, 2007).
4.4.1.5. Prognóstico
O prognóstico de animais diagnosticados com alguns distúrbios mieloproliferativo é
mau, sendo que a sobrevida destes pacientes é de poucos dias a meses (Biondo,
2005).
No caso de leucemias agudas o prognóstico é ainda mais desfavorável, pois
tipicamente há uma rápida evolução fatal (Soto-Blanco et al., 2013). Este prognóstico
é mau por consequência de insuficiência hepática ou renal, a qual aumenta os efeitos
citotóxicos das drogas e septicémia secundária à doença ou ao tratamento (Garcia-
Navarro, 2005).
5.1. Resenha
Deu entrada na clínica veterinária Pêlos e Patas no dia 25/05/2021, um cão de nome
Black, raça Doberman, Macho, 2 anos de idade, Preto, com peso vivo de 28 kg, cuja
queixa do dono era falta de apetite, letargia e emagrecimento a aproximadamente uma
semana. Relatou que notou sangramento pelas narinas e palidez das mucosas.
Informou ainda que o cão teria tido o mesmo quadro há um ano, e fora considerado
aspergilose tendo-se efectuado tratamento com Clotrimazol 1% (Candid, Glenmark
Pharmaceuticals Ltd., India), um anti-fúngico de amplo aspectro e transfusão de
sangue inteiro, tendo registado melhoria. O cão tinha a vacinação antirrábica e a
polivalente regularizada, e quanto à desparasitação, foi realizada há 20 dias.
O cão habitualmente alimentava-se de ração de boa qualidade, junto com outros dois
cães da mesma casa, sendo variada entre Fidog e Royal Canin. Estes, durante o dia
ficam trancados em canis diferentes, e durante à noite ficam soltos pelo quintal. Não
tem acesso a lixo, produtos tóxicos ou de limpeza, nem a objectos estranhos.
Parâmetros Resultado
Frequência respiratória (FR) 18 Movimentos respiratórios por minuto,
campos pulmonares com ruídos
Pulso 110 Pulsações por minuto
Nível de consciência Alerta
Tempo de reenchimento capilar (TRC) 2 Segundos
Temperatura retal 39˚C
Mucosas Pálidas, hemorragia nasal
Hidratação 100%
Linfonodos pré-escapulares Reativos
Ao exame físico notou-se ainda que as glândulas perianais estavam impactadas e com
sensibilidade dolorosa à palpação abdominal, e observou-se uma lesão ulcerativa no
membro anterior direito na região do metacarpo.
Referência
Parâmetro Resultado
(Meyer et al., 1992)
Glicose (mmol/L) 3,15 3,3 – 6,0
AST (U/L) 151 10 – 88
ALT (U/L) 112 10 – 88
FA (U/L) 128 20 – 150
CK (U/L) 903 20 – 200
Ureia (mmol/L) 11 4,3 - 8,9
Creatinina (umol/L) 51 35,4 – 133
Proteinas totais g/L 55 54 – 77
Bilirubina total (umol/L) 5.1 1,71 – 10,3
Bilirubina conjugada (umol/L) 2,7 0 – 5,1
Bilirubina não conjugada (umol/L) 2,4 1,71 – 5,1
Cálcio total (mmol/L) 1,98 2,15 – 2,8
AST - Aspartato aminotransferase; ALT - Alanina aminotransferase; FA - Fosfatase alcalina;
CK- Creatina Quinase
5.3.2. Ultrassonografia
Para a realização da ultrassonografia usou-se o ecógrafo da marca SIUI (SIUI,
Shantou institute of ultrassonic instruments Co Ltd, China). Após a realização da
tricotomia da região abdominal, o paciente foi colocado em decúbito dorsal.
Posteriormente foi aplicado o gel na região a explorar e deslizou-se o transdutor sob a
pele para visualização das vísceras abdominais (figura 3).
Patologias Sinais/Semelhanças
Erliquiose Anemia, epistaxe, anorexia, letargia
Anemia, epistaxe, anorexia, letargia e
Anemia hemolítica depressão, leucocitose neutrofílica,
células sanguíneas anormais
Neoplasia Anemia, anorexia, letargia, células
hematopoética sanguíneas anormais
Também foi administrado um suplemento nutricional (Nutrostim gel- Kyron Ltd., South
Africa) específico para animais com inapetência, vitaminas do complexo B (kyrovite B
Co Super- Kyron Ltd., South Africa) na dose de ½ -2 ml.
Três dias depois, decidiu-se fazer transfusão de sangue inteiro fresco de modo a
tentar corrigir a anemia (figura 4). Foi feito primeiramente um teste de compactibilidade
com sangue do cão de um amigo perto para avaliar o grau de reactividade, tendo sido
compatível com o sangue do paciente. De seguida foi calculado o volume de sangue
do dador a administrar ao receptor para elevar o hematócrito (Ht%) pela seguinte
fórmula:
Sendo:
Factor= 80
Peso do paciente = 28 kg
Ht% pretendido= 30
Ht% do paciente = 10,7
Ht% do dador = 35
➢ Cavidade Torácica
• Sistema respiratório
Figura 8. Pulmão não colapsado, com coloração amarelada e áreas com hemorragias
petequiais.
• Sistema cardíaco
A B
Figura 9. Coração com áreas extensas de hemorragias ápice (A), e aurícula direita
aumentada de tamanho e hemorrágica (B).
➢ Cavidade Abdominal
• Sistema digestivo
A B
Figura 10. Linfonodos mesentéricos aumentados de tamanho e hemorrágicos (A);
Fígado aumentado de tamanho, ligeiramente amarelado, hemorrágico (B).
• Sistema urinário
A B
Figura 11. Rins com hemorrágicas petequiais, áreas de infarto no córtex (A); Bexiga
com petéquias mucosa (B).
• Sistema hematopoético
Ao nível do colo do fémur foi feito um corte pra a visualização e colheita da medula
óssea, esta apresentava-se liquefeita e muito avermelhada.
5.7. Histopatologia
• Esófago
Área extensa com necrose do epitélio (figura 13) e deposição de fibrina, tecido
muscular com infiltrado de células mononucleares e focos de hemorragias, infiltrado de
mieloblastos na submucosa.
A B
• Pulmão
Edema alveolar difuso moderado, focos com hemorragia e áreas focais com macrófa-
gos com hemossiderina, vários vasos sanguíneos com trombos de fibrina, áreas de
atelectasias (figura 14).
A B
Figura 14. Pulmão: Edema alveolar difuso moderado, trombos de fibrina (setas), infil-
trado de mieloblastos (cabeça de seta), hemossiderose (seta dupla). HE 20x
• Coração
A B
Figura 15. Coração: Focos de hemorragia (cabeças de setas), infiltrado de mieloblas-
tos (seta). HE A-10x, B-20x
• Fígado
A B
• Rim
Áreas focalmente extensas com necrose do parênquima renal, focos com hemorragias
e hemossiderina, infiltrado de mieloblastos e plasmócitos, necrose dos glomérulos, e
com conteúdo eosinofílico (proteinuria) (figura 17).
A B
Figura 17. Rim: Necrose do parênquima renal (oval), infiltrado difuso de mieloblastos
(cabeça de seta). HE A-10x; B-20x
• Gânglio linfático
Figura 18. Gânglio linfático: área de necrose (cabeça de seta), Proliferação de mie-
loblastos e macrófagos (oval), HE 20x.
• Intestino grosso
• Baço
Áreas com depleção linfoide, infiltrado de mieloblastos, presença de macrófagos com
hemossiderina;
• Pâncreas
6. Discussão
O paciente do presente caso estudo foi apresentado a clínica com fortes indicações de
que pudesse padecer de leucemia mielóide aguda, doença caracterizada por uma
rápida proliferação de mieloblastos na medula óssea, podendo estes estar presentes
na circulação, levando assim a uma leucocitose causada principalmente por
mieloblastos imaturos e anormais (Demetriou e Foale, 2011). Segundo Cowell et al.
(2009), esta ocorre mais em cães jovens, mas pode variar desde o primeiro ano de
idade até aos 12 anos (Maia, 2008), estando o paciente atendido dentro do grupo de
possível acometimento.
A duração dos sinais clínicos em casos de LMA é no geral curta, podendo ir até duas
semanas (Demetriou e Foale, 2011). Como tratamento imediato foi feita a fluidotera-
pia, antibioterapia, uso de anti-inflamatório e vitaminas para controlar o quadro clínico,
e dois dias depois foi feita a transfusão de sangue inteiro. Autores citam que as medi-
das de suporte para a LMA incluem a fluidoterapia para tratar a desidratação, anore-
xia, transfusão sanguínea para as anemias ou trombocitopenias graves, e antibiotera-
pia para tratamento e/ou prevenção de infecções secundárias (Dobson e Morris,
2007). Diante do caso teve-se a eutanásia como melhor opção devido a evolução do
quadro clínico, sendo esta opcção considerada em muitos casos semelhantes, princi-
palmente quando a qualidade de vida do animal estiver muito comprometida (Appel,
2015).
7. Conclusão
O estágio é uma etapa muito importante na vida académica de um estudante uma vez
que facilita a transição entre o mundo universitário e o mundo do trabalho, sendo o
início daquilo que deverá ser uma aprendizagem contínua e um aperfeiçoamento per-
manente por parte do médico veterinário. Através da aplicação prática dos conheci-
mentos teóricos adquiridos ao longo de cinco anos, o estágio transmite novos conhe-
cimentos e consolida os já existentes. A rotina de uma clínica, os desafios e dificulda-
des encontradas, a tomada de decisão, a condução de um caso de maneira ética, lidar
com sentimentos dos proprietários e os próprios sentimentos, fez desenvolver diversas
habilidades.
O pequeno número de relatos de casos de leucemias em cães nos mostra a necessi-
dade de maiores estudos sobre o assunto. A LMA é uma enfermidade com sinais clíni-
cos bastante inespecíficos. Dessa forma, a conduta clínica deve ser direcionada para
os exames complementares, incluindo a avaliação hematológica e, principalmente,
pela citologia da medula óssea para o diagnóstico correcto da doença.
8. Recomendações
O curso de algumas doenças como a LMA, tende a ser rápido, muito agressivo, de
remissão difícil e com baixa resposta ao tratamento. Portanto, é importante o clínico
observar muito bem aos sinais clínicos e aos exames laboratoriais para diagnosticar
os quadros leucémicos o quanto antes.
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