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Escola: NRE NRE: Curitiba


Nome do Professor: Edson André Pegoraro e-mail: equipe.filosofiaedson@gmail.com
Nível de Ensino: Médio
Título: A Busca pelo Conhecimento
Disciplina: Filosofia
Relação Interdisciplinar 1: História Relação Interdisciplinar 2:
Conteúdo Estruturante: Teoria do Conhecimento
Conteúdo Básico: O Problema da Verdade
Conteúdo Específico: O Empirismo

TEORIA DO CONHECIMENTO: EMPIRISMO

O ser humano sempre desejou


conhecer a verdade e, ao longo de sua
história, construiu diversas teorias para
explicar a realidade. Cabe então questionar:
existe de fato um conhecimento que seja
cem por cento verdadeiro? É possível ao
homem se apropriar de um conhecimento
que seja seguro ou que corresponda à
verdade dos fatos?

O CONHECIMENTO EMPÍRICO

Todo saber humano é produzido a


http://jonkeegan.com/images/patents.jpg partir da relação ou contato que o homem
estabelece com os objetos e sua realidade. Somos levados, assim, a formular
conceitos e adquirir novos conhecimentos sobre as coisas. Vivemos num mundo
onde nos encontramos constantemente bombardeados por informações de todos os
lados. Diante de tantos dados, nem sempre somos capazes de discernir quais
destas informações são verdadeiras e quais são falsas. Fazer a verificação das
informações não é uma prática comum em nosso cotidiano, porém, se desejamos
um conhecimento que seja livre de erros ou equívocos, devemos investigar e buscar
dados que sejam mais concretos sobre os fatos em questão. Por exemplo, um
determinado jornal estampa em sua capa a seguinte manchete: “O vinho faz bem
para o coração”. Lendo essa afirmação, certo indivíduo resolveu beber um garrafão
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de cinco litros de vinho e, como resultado, teve um coma alcoólico. Descobriu de


maneira direta e empírica que o anúncio do jornal o induziu ao erro que quase lhe
custou sua vida.
Devemos ter uma visão criteriosa e cuidadosa a respeito das informações
que recebemos. É importante sempre desconfiarmos daquilo que nós é relatado,
pois só uma postura crítica perante ao que nós é apresentado conseguirá assegurar
um conhecimento mais efetivo da realidade. Com certeza você já ouviu a seguinte
afirmativa: “ Errar é humano, persistir no erro é burrice”. Que conclusões podemos
retirar desta afirmação?
Sabemos muito bem que são as experiência pela qual cada pessoa passa ao
longo de sua vida que fornecem a base para a construção de um conhecimento
objetivo ou concreto dos fatos. Por exemplo, quem nunca viveu um amor verdadeiro,
jamais terá condições de falar com pleno domínio de causa sobre o assunto, ou
ainda se analisarmos as sensações que uma dor de cabeça tende a gerar; somente
eu que vivencio esta dor saberei o quanto ela me incomoda, outra pessoa pode até
compreender se algum dia já vivenciou algo semelhante ou pelo menos uma vez
tenha sofrido de tal dor em algum momento de sua vida, poderá ter um
entendimento daquilo que estou sentindo. Mas sua percepção não dará conta de
expressar a totalidade da minha dor.
É na tentativa de explicar como o intelecto humano procede para a
formulação do conhecimento que surgiu na filosofia a teoria do conhecimento, que
se desdobra nas seguintes correntes: o racionalismo, o empirismo, dogmatismo,
criticismo e ceticismo. Todas elas procuram postular sua verdade a respeito do
conhecimento humano.
O nosso propósito aqui será estudar e analisar uma dessas correntes: o
empirismo. Este termo deriva do vocábulo grego “empeiria”, que significa em sua
acepção mais comum, “experiência”. O empirismo se constituiu, a principio, como
uma perspectiva da teoria do conhecimento que valoriza o papel que a experiência
cumpre em nosso relacionamento com as coisas. Por esta razão, o empirismo
desempenhou um grande papel na estruturação e organização da ciência moderna,
contribuindo para a formação de um método científico mais rigoroso para a
aquisição do conhecimento, fato que levou o homem a perceber que toda verdade
por mais científica que seja tem que ser colocada à prova, ou seja, não existe uma
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verdade absoluta. Segundo os empiristas existe, a necessidade contínua de


reavaliar os fatos através da experiência, fazendo uma ligação com os
conhecimentos obtidos e a partir disto projetar os avanços futuros para o
desenvolvimento científico.
O ser humano é impulsionado pelo empirismo a se libertar do dogmatismo
das verdades pré-estabelecidas, sendo levado a assumir uma postura mais
criteriosa em relação ao conhecimento e as informações que lhe são transmitidas.
No Iluminismo, período histórico em que se constrói o pensamento moderno,
a ciência assumiu um papel ímpar no processo de transformação social e do
pensamento humano. Os pensadores do Iluminismo pretendiam levar as pessoas a
buscarem um maior esclarecimento sobre a sua realidade, suas concepções e
verdades, além de procurar remover os preconceitos e os dogmas construídos,
principalmente pela Igreja, durante a idade Média. Para isto, os iluministas
defendiam o emprego da razão como um dos meios mais eficiente para libertar o
homem de sua ignorância e trazê-lo à luz do conhecimento.
Voltaire, um dos grandes pensadores da filosofia moderna, aponta que
somente o uso da razão permite ao homem livrar-se das trevas da falta de
conhecimento e, desta forma, fundamentar-se na luz da ciência. Nesta perspectiva,
abre-se caminho para a construção da ciência moderna e, com o intuito de promover
e incentivar as concepções do conhecimento científico, surgiram neste período
diversas instituições como a Royal Sociciety of Londres for the Promotion of Natural
Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção dos Conhecimentos
Naturais). Isaac Newton, que pertenceu a esta entidade, defendia a seguinte tese:
contra os fatos, experiências ou experimentos, não há possibilidade de dúvida. Um
dos principais objetivos desta instituição era desenvolver e instigar os jovens
estudiosos a desenvolverem pesquisas sobre a natureza, a fim de promover novos
conhecimentos e aprimorar os já existentes.
“A sociedade Real de Londres para a Promoção dos Conhecimentos Naturais (Royal
Society of London for the Promotion of Natural Knowledge) nasce dos encontros que
um grupo de seguradores da nova filosofia ou filosofia experimental (...). O lema da
sociedade Real de Londres foi e continua sendo Nullius in verba, ou seja; não é
preciso jurar sobre as palavras de ninguém. A ciência não encontra o seu fundamento
na autoridade da palavra de algum pensador, mas somente nas provas dos fatos.”
(REALE; ANTISERI, 2005, p. 317-318).

John Locke, outro grande pensador deste momento histórico, procurou


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através do empirismo desenvolver o conhecimento humano na perspectiva de


consolidar e relacionar os conhecimento filosóficos e científicos. O empirismo abre
espaço para uma nova forma de conhecimento denominado de ciência experimental,
que tem seus fundamentos no processo de investigação empírica e demonstração
concreta através de experiências.

ATIVIDADE

1. Qual a importância e a contribuição dada pelo empirismo para a


construção do conhecimento?
2. Qual é a base de sustentação da ciência experimental?
3. Explique por que a experiência é algo tão importante para a formação do
conhecimento humano?

CIÊNCIA X FÉ.

Na busca das respostas aos problemas com


que nos deparamos em nosso cotidiano e de nosso
contato com o meio que vivemos, nos deparamos
com com duas vias que buscam responder a estes
problemas: uma é a ciência e a outra é a fé. A
ciência utiliza-se das concepções da razão e do
empirismo, de onde provém os fundamentos para
http://images.google.com.br/im
gres?imgurl=http://bp0.blogger. explicar os fenômenos naturais. “O processo envolve
com/
hipóteses, repetição de experiências, observações
de novas hipóteses.” (TIPLER; MOSCA, 1990, p.
01). Já a fé se fundamenta nos dogmas ou verdades reveladas, as quais não podem
ser questionadas, cabendo ao sujeito apenas professar sua fé em tal verdade ou
“conhecimento”.
Galileu Galilei, foi um exemplo de como as questões científicas e as questões
de fé (dogmas) acabam entrando em conflitos ou choques de interesses; ao
defender um sistema heliocêntrico, Galileu se opôs ao sistema geocêntrico de
Ptolomeu que era apontado pela igreja católica como a estrutura que melhor
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respondia aos seus interesses e por está razão foi postulada como uma verdade
para época. Ao apresentar o sistema geocêntrico o filósofo italiano Galileu Galilei
apareceu como um grande revolucionário para aquele período histórico, sendo
considerado uma ameaça ao poder da Igreja e, por isso, foi julgado como herege
pela Santa Inquisição em 1633. Foi considerado culpado por divergir das
concepções de mundo defendidas pela Igreja Católica, e para não ser queimado na
fogueira, foi obrigado a renegar suas próprias idéias. A Santa Igreja o forçou, então,
a permanecer confinado em seu lar, próximo a cidade de Florença.
Podemos afirmar que de certo modo Galileu chamou a atenção para os
obstáculos epidemiológicos, ao autoritarismo e as forças políticas e ideológicas que
bloqueiam e impedem o desenvolvimento científico. Galileu representou um marco
para sua época ao pensar em uma autonomia da ciência frente à fé e no combate
a qualquer pretensão de saber dogmático.
“Portanto, na opinião de Galileu, a ciência e a fé são incomensuráveis. E, sendo
incomensuráveis, são compatíveis. Ou seja, não se trata tanto de um ou – ou, mas
muito mais de um e – e. O discurso científico é um discurso empiricamente
controlável, que visa a nos fazer compreender como funciona este mundo, ao passo
que o discurso religioso é o discurso de salvação, que não se preocupa com “o quê”,
mas sim com o “sentido” das coisas e da nossa vida. a ciência é cega para o mundo
dos valores e do sentido da vida, ao passo que a fé é incompetente a respeito de
questões factuais. Ciência e fé tratam cada qual de suas questões próprias: é essa a
razão pela qual se harmonizam. Elas não se contradizem e nem podem se
contradizer, já que são incomensuráveis: a ciência nos diz “como vai o céu” e a fé nos
diz “como se vai ao céu”.”(Reale, Antiseri 2005 p. 265)

É importante lembrar que a idéia de ciência apresentada por Galileu


contribuiu para a ruptura da concepção medieval, na qual a razão tinha que estar a
serviço da fé. Galileu Galilei contribuiu para a fundamentação do método cientifíco,
ao deixar bem claro que a ciência se dedica ao conhecimento objetivo, através das
experiências e da demonstração. “Portanto, a experiência ciência é feita de teorias
que instituem e de fatos que controlam teorias. Existe aí integração recíproca e
relação mútua de correção e aperfeiçoamento”. (Reale / Antiseri. 2005 p. 287).
Conclui-se então que as questões científicas estão sempre abertas a
reformulação e a questionamentos, ações estas que não cabem as questões ligadas
ao processo de fé ou verdades religiosas. Ou seja a ciência busca o novo em
quanto a fé se fundamenta em verdades absolutas e inquestionáveis, pois estas
são reveladas.
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ATIVIDADE

1. A partir das três leis formuladas por Newton a respeito do movimento dos
corpos, identifique em sua vida cotidiana situações em que sofremos a
ação destas Leis.
2. Organize equipes de até 6 pessoas. Cada equipe deverá representar
através de uma pequena encenação as três Leis formuladas por Newton.
3. Com o surgimento da mecânica relativista, observou-se muitas limitações
na mecânica Newtoniana, porém ainda hoje ela continua sendo a teoria
mais coerente para explicar a questão do movimento que ocorre no mundo
macroscópico. Forme grupos de até quatro pessoas e debata com seus
colegas as razões que fazem uma teoria se sustentar ou não enquanto
uma verdade científica.

JOHN LOCKE

Locke apresentou em suas teorias a idéia de


que, quando um ser humano surge, a sua mente se
apresenta como uma “tábua rasa”, ou seja,
nascemos com nossa mente zerada de
conhecimentos, como uma “folha de papel em
branco”, na qual gradativamente inserimos os
conhecimentos que adquirimos a partir do contato
que temos com o meio em que vivemos. Portanto,
http://radiofreephilosophy.com/lock
e.jpg todo nosso conhecimento está fundamentado na
experiências e nas percepções sensoriais (visão,
audição, tato, paladar e olfato), ou como o próprio
Locke afirmava: “nada vem à mente sem antes ter passado pelos sentidos”.
Os sentidos se tornaram o grande alicerce para que o ser humano consiga
adquirir e demonstrar seu conhecimento através da experiência e, deste modo, se
apropriar de um saber sobre um determinado fato ou objeto. Desta maneira
podemos deduzir que as idéias presentes em nossa mente não passam de cópias
que possuímos de nossas impressões, ou seja, as idéias que temos nascem das
nossas experiências cotidianas que representam de certa forma o limite
intransponível de todo o conhecimento possível. Não cabe ao ser humano ter pleno
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conhecimento sobre todas as coisas, mas é fundamental que este busque através
de um método experimental respostas para as questões que dizem respeito às suas
práticas e condutas, construindo desta forma um conhecimento que atenda às
necessidades concretas que se apresentam diariamente em nossas vidas.
Locke estabelece, portanto, uma crítica contundente ao inatismo, contrapondo
as concepções cartesianas e de todos aqueles que de um modo ou outro defendem
a tese de que a mente humana é capaz de formular conhecimento sem a
necessidade da experiência, sendo apenas necessário torná-los vivos e presente em
nosso cotidiano. Segundo Locke, não é possível conceber um conhecimento seguro
e verdadeiro sem que este tenha sido colocado a prova da experiência dos sentidos
humanos.
“O nosso intelecto pode combinar de vários modos as idéias que recebe, mas
não pode de modo algum dar-se a si próprio as idéias simples, como também não
pode, desde que as tenha, destruí-las, aniquilá-las ou apagá-las” (REALE;
ANTISERI, 1990, p. 509-510). Pelas conexões que realizamos através das idéias é
que reuniremos elementos para postular o nosso conhecimento de forma
consistente e sólida. Para gerarmos as idéias, devemos tomar contato com os
objetos para que tenhamos as informações corretas e não corramos o risco de
termos concepções falsas sobre a realidade.

“ Os homens são, portanto, supridos com menos ou mais idéias simples do exterior, à
medida que os objetos com os quais entram em contato oferecem maior ou menor
variedade; estão suprimidos com as operações internas de suas mentes, à medida
que refletem mais ou menos sobre elas; portanto, a menos que dirijam seus
pensamentos para esta via e a considerem atentamente, não terão mais idéias e
distintas de todas as operações de sua mente, e em tudo que puder ser observado
acerca desse assunto, quer tenham todas as idéias particulares de qualquer
paisagem, quer das partes dos movimentos de um relógio, deverão encarar e prestar
atenção a todos os seus promenores.” (LOCKE, 2005, p. 59 -60 ).

O processo de concordância se estabelece pelas idéias que temos por


intuição e pelas evidências imediatas que os objetos ou fatos nos propiciam. Nesta
perspectiva podemos obter o conhecimento de forma imediata como, por exemplo, a
concepção de luz e escuro. O nosso intelecto requer, porém, que estas idéias
passem por um processo de demonstração que permita a existência harmônica
entre as idéias e sua sustentabilidade perante a experiência científica.
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As experiências que temos das coisas se processam de duas formas


distintas: as externas: que são oriundas das nossas sensações, que podem ser
obtidas de forma direta por um único sentido (como a idéia de um determinado
ruído) ou então por um conjunto de sentidos interligados (como por exemplo a idéia
de uma festa); as internas: que advém das nossas reflexões e do conjunto de
percepção que construirmos (como por exemplo a idéia de amor, dor, felicidade,paz,
etc).
É através das relações entre as experiências externas e internas que
desenvolvemos o nosso conhecimento a respeito das coisas ou daquilo que nos
deparamos em nosso cotidiano. Pela interação entre os sentidos externos e internos
asseguramos a construção de um saber pautado em fatos concretos de nossa vida.
Por esta razão, podemos afirmar que Locke se opõe à idéia de um conhecimento
inato que anteceda a experiência. Portanto, o nosso intelecto obtém subsídio
necessário e material para a produção do conhecimento a partir da vivência
humana.

ATIVIDADE

1. Organize grupos de no máximo quatro pessoas, cada equipe deverá


desenvolver uma experiência. Como sugestão recomenda-se fazer uma
mesa redonda ou um circulo, onde os estudantes possam apresentar e
debater seus trabalhos com os colegas. Seria pertinente explorar com cada
estudante as suas percepções sobre a experiência apresentada pelos
colegas.
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DAVID HUME

David Hume afirmava que o nosso


conhecimento se constrói a partir das
percepções que adquirimos dos objetos.
Existem duas maneiras distintas para
chegarmos a este processo: a primeira refere-
se às impressões (que são as nossas
percepções mais vivas e fortes); e as idéias
(que são responsáveis por estabelecer uma
http://markelikalderon.com/wp-
content/uploads/2006/09/hume1.jpg ordenação e sucessão temporal ao
pensamento).
“O pensamento mais vivo é sempre inferior à
sensação mais embaçada. [...] Quando
refletimos sobre nosso pensamento é um reflexo fiel e copia de seus objetos com
veracidade, porém as cores que emprega são fracas e embaçadas em comparação
com aquelas que revestiam nossas percepções originais”. (HUME, 2004, p. 49).

Um dos grandes problemas que encontramos em relação ao conhecimento


humano está na origem de nossas idéias. Segundo Hume, não se pode admitir a
existência de idéias inatas, pois nada vem à mente sem que antes tenhamos feito
uma experiência que nos possibilite uma determinada impressão dos objetos com
que tomamos contato.
As impressões são classificadas em: simples (como a idéias de frio, verde,
molhado, seco, etc.) e são fornecidas pela nossa mente de forma imediata;
complexas (como a idéia de laranja, cavalo alado, relógio, etc.) que permitem ao
nosso intelecto estabeleça associações e múltiplas combinações, pois além da
memória responsável por nossas idéias, temos a capacidade de imaginar, fato que
permite transformar e compor as idéias das mais diferentes formas.

“É evidente que há um princípio de conexão entre os diferentes pensamentos ou


idéias do espírito humano e que, ao se apresentarem a memória ou imaginação, se
introduzem mutuamente com certo método e regularidade. E isto é tão visível em
nossos pensamentos ou conversas mais sérias que qualquer pensamento particular
que interrompe a seqüencia regular ou o entendimento das idéias é imediatamente
notado e rejeitado. Até nos nossos mais desordenados e errantes devaneios, como
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também em nossos sonhos, notaremos, se refletimos, que a imaginação não vagou


inteiramente a esmo, porém havia sempre uma conexão entre as diferentes idéias que
se sucediam” (HUME, 2004, p. 39).

A relação entre causa e efeito, onde se estruturam os raciocínios que se


referem à realidade, constituiu um dos principais focos de discussão para Hume.
Segundo o filósofo escocês, devemos tomar cuidado para não acreditar nas
relações de causa e efeito que enxergamos na realidade pertençam, de fato, aos
fenômenos. As nossas experiências irão nos remeter ao que vivenciamos em nosso
passado por intermédio de nossas sensações e percepções que ficam registradas
em nossa memória e nos asseguram a acumulação de informações e conhecimento
sobre a realidade que nos circunda. É o hábito que criamos em relação às coisas
que nos impulsionam a aventurarmos e arriscarmos em fazer previsões a respeito
de acontecimentos futuros sem termos a absoluta certeza de que eles venham a se
repetir. Portanto, é a partir das associações que faço dos fatos com as minhas
experiências que sou levado a construir um hábito e a esperar que o resultado de
determinada experiência seja sempre o mesmo.

“Em verdade, todos os argumentos derivados da experiência se fundam na


semelhança que constatamos entre objetos naturais e que nos induz a esperar efeitos
semelhantes àqueles que temos visto resultar de tais o objetos. [...] De causa que
parecem semelhante esperamos efeitos semelhantes”. (HUME, 2004, p. 58).

“O costume é, pois, o grande guia da vida humana. É o único principio que


torna útil nossa experiência e nos faz esperar, no futuro, uma série de eventos
semelhantes àqueles que apareceram no passado” (HUME, 2004, p. 63). Hume nos
ensina que a repetição de um fato não nos permite fazer conclusões definitivas ou
absolutas sobre o mesmo, ou seja, não existe uma precisão lógica que assegure
100% a certeza que um determinado fenômeno continue a se repetir da mesma
forma e infinitamente do mesmo modo. Partindo deste ponto de vista, podemos
observar que Hume acaba por revelar um certo ceticismo teórico e recomenda,
assim, que os cientistas ao apresentarem suas teses como probabilidades lógicas e
não como certezas irrefutáveis.
“Embora a experiência seja o nosso único guia no raciocínio sobre as
questões de fato, deve-se reconhecer que este guia não é totalmente infalível e que,
em alguns casos pode conduzir-nos a erros”. (HUME, 2004, p. 111). Podemos
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afirmar que de maneira geral, o ceticismo de Hume pode ser identificado como
ceticismo crítico ou reflexivo. Este posicionamento teórico foi importantíssimo para o
desenvolvimento de um conhecimento filosófico sólido.
O conhecimento científico experimental se torna mais seguro à medida em
que se apresentam mais evidências, determinando as experiências passadas um
grau completo de provas, que permitam esperar o mesmo resultado destes fatos em
eventos futuro. É importante termos bem claro que não existe um conhecimento que
seja cem por cento verdadeiro ou absoluto, que se sustentará eternamente para o
todo o sempre. Cabe a nós, seres humanos, no uso de nossas faculdades mentais,
buscar constantemente um conhecimento que possa reunir em sua fundamentação
elementos consistentes e sustentáveis e formular teorias que permitam uma maior
compreensão da realidade em que vivemos.

ATIVIDADE

1. Forme grupos de até quatro pessoas e crie uma pequena peça teatral na
qual possa se observar a importância dos sentidos no desenvolvimento do
conhecimento humano.

SUGESTÃO DE FILME

1. Assista ao filme Sem Sentido. Procure identificar e analisar como os


sentidos humanos podem interferir no processo de conhecimento e na
percepção da realidade.
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REFERÊNCIAS

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AQUINO, R. S. L. de et al. História das sociedades: Das sociedades modernas

às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1983.

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São Paulo: Editora Moderna, 1994.

COTRIM,G. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Editora Saraiva, 1996.

HOBSBAWM, E. A era dos extremos: O breve século XX. 1914-1991. São Paulo:

Cia das Letras,1995.

HUME, D. Investigação Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova

Cultural, 2004.

LOCKE, John. Ensaio Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova

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LARA, T. A. A Filosofia Ocidental: do Renascimento aos Nossos Dias.

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GOFF, J. Le; NORA, P. História: novos problemas. Rio de Janeiro: Francisco

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MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar

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REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. V. 2. São Paulo: Ed. Paulus, 1990.

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