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Aluno da Uniasselvi (Centro Universitário Leonardo da Vinci), Joinville, SC. patrikroger@gmail.com.
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Professora Uniasselvi, Joinville, SC. laudicreia_sanches@hotmail.com.
INTRODUÇÃO
Um professor pede aos seus alunos para fazer uma pesquisa sobre a história de
sua cidade. Não é incomum que eles encontrem facilmente textos prontos na internet
contando como os acontecimentos devem ter se sucedido a nível nacional ou regional.
Já a história local, dependendo do lugar, pode ter maior escassez de textos.
Joinville, por ser sede de instituições de ensino superior, e ter uma rica história,
não é desprovida de estudos sobre sua história. Mas é verdade que um historiador não
deve somente lançar mão de estudos prontos, mas deve ele mesmo estar preparado para
gerar informação.
Também devemos recordar que vivemos em tempos em que a tecnologia
permeia quase tudo em nossa rotina. Pagamento de contas, correspondência, prestação
de contas ao governo, entretenimento... Muitos de nós praticamente não fazemos mais
nada disso sem uso de tecnologias, que muito tem facilitado o acesso a informação (e
até a desinformação). As fontes documentais históricas não deveriam deixar de
aproveitar as facilidades proporcionadas pelo formato digital de documentos.
Ainda assim, parece que estamos mais acostumados a pensar e historiadores
mergulhados em pilhas de documentos de um arquivo municipal. Almeida (2011)
afirma:
Mesmo atualmente, a grande maioria das fontes documentais consagradas no
ofício do historiador ainda encontra sua materialidade no papel:
correspondências, ofícios, requerimentos, atas, inventários, testamentos,
processos, registros paroquiais, periódicos... Existe toda uma tradição
historiográfica baseada nesse suporte específico. Até mesmo o estereótipo do
historiador como “rato de arquivo” não dispensa a alegoria de um cenário de
penumbra, onde um personagem com a postura arqueada e os óculos na ponta
do nariz, analisa papéis amarelados em meio à poeira e ao mofo.
REFERENCIAL TEÓRICO
Durante algum tempo prevaleceu na historiografia a escola positivista, que
apregoava a ideia de que o documento escrito e originado por instituições oficiais era
uma fonte histórica confiável e deveria prevalecer sobre outras evidências. Obviamente,
a humanidade deixa muitos vestígios de suas ações que vão além de documentos
escritos, vestígios que não deveriam ser ignorados na apuração de fatos que auxiliassem
a elucidar questões sobre o passado
A noção de fonte histórica começou a mudar com a tradição dos Annales,
surgida na França do século XX. “[...] segundo os Annales, o historiador pode escolher
o seu objeto de estudo bem como as inúmeras fontes históricas, desde orais,
iconográficas, audiovisuais, musicais, à literatura e outros.” (FRANÇA et al., 1991).
Com isso, a gama de documentos históricos ampliou-se: Marc Bloch relativizou
a importância dos documentos escritos, o que aumentou consideravelmente a gama de
fontes.
Além disso, bem nos recordou Santos et al. (2017, p.50) que “As últimas
décadas do século XIX apresentaram [...] diversas inovações tecnológicas que
permitiram uma relação diferente com as artes, com a memória e com a percepção da
realidade.”
Os autores reforçam os avanços no que se refere à gravação da voz,
mencionando o gramofone, a vitrola, o LP e a fitas K-7, e os Discos Compactos (CDs).
Claro que tudo isso culmina história oral e na possibilidade de registrar e arquivar os
depoimentos.
Os cientistas sociais e historiadores não ficaram insensíveis a esta alteração
na vida cotidiana dos seres humanos no mundo do século XX. Assim, muitos
historiadores passaram a considerar os instrumentos tecnológicos em dois
importantes sentidos. Um primeiro, pelos historiadores das artes, ao
considerar as diferentes expressões de cultura de massa como objeto digno da
pesquisa histórica. Outra e importante visão dos historiadores a respeito foi a
de se utilizar os recursos digitais como fontes para uma melhor compreensão
da realidade. (SANTOS et al. 2017, p.51)
METODOLOGIA
HEMEROTECAS DIGITAIS
A Hemeroteca Digital Catarinense declara em seu site que tem por objetivo
divulgar o acervo documental de publicações periódicas, em especial jornais editados e
publicados em Santa Catarina a partir do século XIX. Ela surgiu de uma uma parceria
realizada entre o Centro de Ciências Humanas e da Educação (FAED), e o IDCH -
Instituto de documentação e Investigação em Ciências Humanas da Universidade do
Estado de Santa Catarina e a Biblioteca Pública de Santa Catarina - Fundação
Catarinense de Cultura.
O que é a história oral? Delgado (2006, p.14) menciona que a própria definição
do que seja a História Oral já se constitui num grande desafio para a comunidade de
historiadores, antropólogos e sociólogos. A própria Delgado (2006, p.15) oferece a
seguinte definição:
A história oral é um procedimento metodológico que busca, pela construção
de fontes e documentos, registrar, através de narrativas induzidas e
estimuladas, testemunhos, versões e interpretações sobre a História em suas
múltiplas dimensões: factuais, temporais, espaciais, conflituosas,
consensuais. Não é, portanto, um comportamento da história vivida, mas,
sim, o registro de depoimentos sobre essa história vivida.
1) Não. Algumas entrevistas possuímos apenas em áudio gravado com suporte digital
ou K7 e documentos conexos (Ficha de Identificação da Entrevista; Termo de Doação
de Entrevista; Biografia; entre outros).
2) A maior parte delas temos as cópias em arquivo digital e impressa, porém antes da
pandemia* estávamos atualizando nossas listagens e acabamos não encontrando todas
digitalizadas, mas posso garantir que são poucas exceções.
3) Não. O LHO trabalha com acesso remoto às transcrições, bem como às entrevistas
(com exceção das entrevistas ainda não transcritas e os áudios ainda não digitalizados).
Além do e-mail, também compartilhamos por meio de ferramentas onlines, tais como
Google Drive, Dropbox, MS Teams, Skype, MediaFire, OneDrive, entre outros
(depende da situação).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo se propôs a analisar facilidades (ou a ausência delas) ao buscar por
fontes historiográficas locais em formatos tecnológicos.
Sobre as hemerotecas digitais, tanto a BDN digital quanto a Catarinense
possuem filtros que permitem ao usuário realizar uma busca por periódicos específicos.
Porém, só a primeira permite uma busca por data.
Há muitas lacunas nos períodos digitalizados. O já citado exemplo do Jornal “A
Notícia”, de Joinville, demonstrou que se o pesquisador regional desejar fazer uma
busca da Joinville pós-Segunda Guerra, vai ter que fazê-lo presencialmente, no acervo
físico doado pelo “A Notícia” à comunidade, conforme noticiado pelo site do jornal
(Redação NSC, 2018).
A Hemeroteca Catarinense complementa a DBN Digital com outros jornais
antigos digitalizados. Claro que o serviço realizado por essas instituições são louváveis.
No entanto, nem uma nem outra hemeroteca digital abrange os primórdios de Joinville
até a época atual. Se desejar realizar uma pesquisa cuidadosa sobre a história local sob a
ótica da imprensa, o pesquisador ainda precisará pesquisar à maneira antiga.
Sobre a História Oral, o LHO (Laboratório de História Oral) surpreendeu
positivamente, ao mencionar que as mesmas são enviadas pela internet ao pesquisador,
se estiverem armazenadas em formato digital, seja o áudio da entrevista, seja a
transcrição. Fica claro que a instituição ainda tem muito trabalho a fazer, tanto na
digitalização de transcrições antigas, quanto na de áudios gravados apenas em mídias
físicas. No entanto, o fato de o historiador não ser obrigado a ir até a Univille para
analisar uma entrevista oral mantida em formato digital vai ao encontro da ideia de
aproveitar as vantagens da tecnologia atual.
A ressalva está no fato de que a descrição acervo não torna claro algumas vezes
de modo mais específico o que os entrevistados abordam em suas declarações. Seria um
problema ouvir uma entrevista toda ou ler toda a sua transcrição para perceber que a
fonte historiográfica não ajudou na pesquisa. Esse é um risco que o historiador
comumente corre, mas que a tecnologia pode amenizar.
Quanto ao Arquivo Histórico de Joinville, a instituição deixou clara a intenção
de colocar seu acervo à disposição na internet, passando os documentos para o formato
tecnológico. A resposta à pergunta nº2 mostrou que inclusive tem sido uma das maiores
demandas que o órgão enfrenta.
Mas ficou evidente de que no momento praticamente nada está “online”, a não
ser uma lista de imigrantes em formato PDF. Nessa lista se pode descobrir quem veio,
quando e em que navio. Então em termos de facilidades pela internet, o AHJ ainda não
oferece facilidades.
Também ficou claro que os passos estão sendo dados, já há muito material
digitalizado, que pode ser obtido por email. Mas para saber da existência desse material,
o pesquisador precisará se deslocar até o instituto.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Fábio Chang de. O historiador e as fontes digitais: uma visão acerca da
internet como fonte primária para pesquisas históricas. AEDOS. Volume 3, número 8,
2011. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/aedos/article/view/16776/11939. Acesso em:
31de março de 2020.
REDAÇÃO NSC. "AN" doa acervo para comunidade de Joinville. NSC Total, Mai.
2018. Disponível em: < https://www.nsctotal.com.br/noticias/an-doa-acervo-para-
comunidade-de-joinville>. Acesso em: 04 mai. 2018.