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ENSAIO SOBRE A

PRODUTIVIDADE

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Escrito por Luciano Pires
a partir dos roteiros do Podcast Café Brasil
O Brasil continua repleto de problemas, não é? É. Mas há um que, de certa forma,
engloba todos os outros. A produtividade. Somos sofríveis em produtividade, e você
já deve ter ouvido comentários sobre isso em todos os segmentos da sociedade. Bem,
hoje vamos entrar nessa. Mas só um pouquinho.

Abro com um texto chamado “O POBLEMA”, que publiquei em meu livro “Brasileiros
Pocotó”, lançado em 2004:

Era 1976. Eu estudava no Mackenzie e estava passando um mês na região de Irecê, na


Bahia, fazendo parte do Projeto Rondon, um programa que durante anos levou
estudantes do Sudeste do Brasil para conhecer as realidades do Norte e Nordeste do
país. Talvez esta tenha sido a principal experiência que tive durante a faculdade. Uma
lição de vida que não há o que pague.
Conheci lugares abandonados pela sorte, onde fui recebido como se fosse um
missionário dos deuses. Alguns de meus colegas, também estudantes, eram médicos
ou dentistas. A chegada “dos Rondon” nas vilas era uma festa. Atendíamos filas e filas
de pessoas que jamais haviam consultado um médico ou ido a um dentista. Eram
histórias de cortar o coração e que me ensinaram a ver um outro lado do Brasil.

Um dia, visitando um dos lugarejos castigados pela seca e pela miséria, entramos numa
sala de aula. Havia umas 20 crianças e uma professorinha, que devia ter seus 18 ou 20
anos. Escritas no quadro-negro estavam as frases que as crianças copiavam. E, no meio
das frases, palavras como “poblema”, “visinho” e “fauta”. Erros de português gritantes.
Escritos pela professorinha. Nunca me saiu da cabeça que aquelas 20 crianças
seguiriam pela vida escrevendo “poblema”.

Entendi, ali, no meio do nada, a importância do ensino, ao ver algo básico como a
alfabetização sendo feito de forma, . digamos, . errada, no mínimo.

Aquela professora deve ter aprendido o “poblema” com outra professora. E, como ela,
outras 20 ou mais professorinhas da sua turma deviam estar ensinando outras 400
crianças a escrever “poblema”. E no ano que vem serão outras 400!. E assim vai...
Mas antes escrever “poblema” do que ser um iletrado ignorante, não é? A
professorinha era a única pessoa que aceitava dedicar seu tempo às crianças
recebendo um salário que, na época, devia ser equivalente a 30 reais por mês...

Pois é.

Pouco tempo atrás contratei um pessoal para fazer um serviço de pintura em minha
casa. Comecei a conversar com o chefe deles sobre outros problemas...

— “Preciso dar um jeito nesta porta.”

— “Eu faço serviço de marceneiro!”

— “Tenho que instalar um ventilador de teto.”

— “Eu faço serviço de eletricista!”

— “Naquele banheiro tem um vazamento.”

— “Eu faço serviço de encanador”!

— “Pô, mas você não é o pintor?”

— “Sou, mas faço de tudo um pouco.”

Não precisei de muito tempo para descobrir que realmente ele conhecia um pouco de
cada coisa. Um pouco. A pintura ficou um horror. O ventilador ficou torto. A porta ficou
uma merda.. E o vazamento voltou. Ele sabia, sim, de tudo um pouco. Só um pouco...
Imaginei-o aprendendo seu ofício da mesma forma como aquelas crianças aprendiam
a escrever naquele fim de mundo de meus tempos do Rondon. Aprendendo com alguém
que sabia um pouco também e que foi ensinando um pouco.

Era evidente que ele não fizera um curso ou que não tinha tido a prática com um pintor,
um eletricista, um marceneiro, um encanador de verdade. Era tudo meia-boca. Dava
pro gasto. Ou dava pra enganar o “bacana”. Ele pensava que resolvia problemas, mas
só causava “poblemas”. E o conserto custou mais caro. Incomodou mais. Tive de
chamar outro profissional... E logo me vi refletindo sobre aquele microcosmo da minha
casa.

Aquilo era uma versão reduzida do Brasil. Um sujeito que aprendeu mal, fazendo o
serviço mal, estragando o que estava mais ou menos, tendo de fazer de novo, causando
gastos maiores, levando mais tempo, incomodando toda a família... Igualzinho àquela
empresa aérea cujo check-in leva mais tempo do que deveria, diz que não tem lugar e
o avião decola metade vazio, vende um mesmo assento para duas pessoas... Ou
idêntico à transportadora que diz que a encomenda está liberada às sete, mas só abre
as portas às oito e te segura lá até as nove, pois não acha o pacote... Ou o automóvel
recém-lançado, com toda tecnologia, que solta pedaços de plástico na sua mão ou tem
um acabamento porco, para dizer o mínimo... Ou...

Por todo lado temos gente mal preparada, fazendo tarefas que necessitam de um
mínimo de apuro técnico. Ou que aprendeu processos errados, ensinados por alguém
tão ou mais ignorante do que ele ou ela. E dessa sucessão de erros emerge um Brasil
difícil, pouco competitivo. Um Brasil que exige o microgerenciamento, já que mesmo
as tarefas mais básicas podem estar sendo mal executadas.

E dá-lhes cursos e treinamentos que exigem investimentos de milhões de reais por


parte das empresas que precisam qualificar seu pessoal. Mas quem qualifica as pessoas
que qualificam as pessoas? E quantas professorinhas não existirão por aí espalhando
os “poblemas” pelas empresas? O preço a pagar é a falta de eficiência, de processos
confiáveis, de inteligência, de competitividade.

Interessa-me que as professorinhas que têm em suas mãos a alfabetização das


crianças sejam tratadas como os profissionais mais importantes da nação. Elas estão
atuando no momento chave da formação cultural de nossos filhos: no início. É nas
mãos delas que está o poder de dar às crianças o gosto pelo aprendizado, pela leitura,
pelo PENSAR! É das mãos delas que sairão crianças com repertório para começar a
exercer o senso crítico, para perceber as relações de causa e efeito. Elas são os agentes
capazes de frutificar ou assassinar nos pequenos o gosto pelo pensar. Talvez as
professorinhas mal alfabetizadas sejam tudo que podemos ter nos vilarejos perdidos
do país. Talvez uma daquelas 20 crianças tenha a sorte de encontrar um caminho com
perspectivas pela frente, continuando seus estudos e transformando-se num
profissional bem-sucedido. Mas, enquanto o Brasil contar com o “talvez” para traçar o
caminho de seu futuro, vamos continuar andando para trás.
Que tal começarmos tratando de quem tem a missão mais nobre, mais importante,
mais estratégica de uma nação? Das pessoas que têm a missão de ensinar as crianças
a ler, a escrever? Enquanto continuarmos pagando-lhes R$ 30, tratando-as como
repetidoras de fórmulas prontas, o máximo que vamos ter é gente com “poblemas”
para ensinar.

O que fazer então?

Podemos começar por nós mesmos, jamais parando de estudar. E estudar pode ser ler
um bom livro, assinar uma revista inteligente, participar de eventos, assistir a uma boa
peça ou filme, conversar sobre assuntos que exijam raciocínio.

O que é que você anda estudando ultimamente?

E podemos também estender esta prática a nossos filhos, apresentando-lhes a boa


Música Popular Brasileira, os livros de Monteiro Lobato, revistas com conteúdo, filmes
com qualidade, programas de televisão que exercitem o pensar. Enfim, há um sem-
número de opções neste sentido.

Vamos lá: qual foi o último desafio intelectual que você lançou para seus filhos?

Também podemos exercer nosso papel de formadores de opinião, divulgando aquilo


que encontramos de bom, que achamos que vale a pena, e manifestando nossa
discordância com aquilo que julgamos medíocre, vazio e pobre de espírito, não
merecedor de nossa atenção.

Quantas pessoas você influenciou nos últimos três meses, por exemplo?
Também podemos exercer nosso direito de não aceitar a mediocridade. Exigir o mínimo
de inteligência ou de conhecimento do profissional que nos atende, compreender que
conhecimento é valor e que devemos pagar por isso, aceitar que quem estudou para
ser um profissional qualificado merece ser valorizado diante dos aventureiros que
sabem um pouquinho de tudo...

Qual foi a última vez que você aceitou pagar mais por algo que trazia um valor
intangível embutido?

É duro, né?

Quase 30 anos depois daquela minha experiência no sertão da Bahia, descubro que
cruzo todo dia com alunos daquela professorinha. Todos sabendo ler e escrever. Um
pouco. Todos treinados em seus ofícios. Um pouco. Passam por mim sorridentes, me
atendem simpáticos, cumprem suas tarefas com zelo. Mas escrevem “poblema”. Por
essas e outras é que temos que nos conformar.

O Brasil anda para a frente, sim.

Mas com um “poblema”: aos poucos.

Muito bem, este texto foi escrito em 2002 ou 2003 e publicado em forma de livro em
2004. Usei-o, atualizado, na abertura deste ensaio para lançar uma provocação: o que
é que mudou de lá para cá?

Qualquer pessoa que já tentou reformar a casa sabe o inferno que é. Se você já passou
por isso, então teve o exemplo do que é baixa produtividade. Tudo tem de ser refeito,
tudo é meia boca, as coisas não se encaixam, o tom da tinta é diferente, o documento
tem que ser autenticado no cartório, o carro tem que voltar para a oficina, o bolo não
ficou pronto na hora combinada, o caminhão não fez a entrega quando devia, a peça
de reposição não é encontrada à venda, o voo muda quatro vezes de portão de
embarque e sai atrasado, o exame não pode ser feito pois o equipamento está
quebrado e não avisaram, os móveis que deviam chegar na quarta não chegam, o
instalador da tevê a cabo que combinou na segunda-feira não aparece e não dá
satisfação, a conexão banda larga de 30 mega só entrega um mega e dane-se, a conta
do telefone celular chega errada e você é que tem que ficar pendurado no telefone
por horas para resolver… Oo que mais que você quer colocar na lista?

Muito bem: produtividade é a soma de efetividade, que é fazer a coisa certa, com
eficiência, que é fazer certo a coisa. Entendeu? Produtividade é a soma de efetividade
com eficiência. Ou, como diria meu avô lá em Bauru, produtividade é fazer a coisa certa
do jeito certo, pô.

Quem faz a coisa certa do jeito errado não é produtivo. O vidraceiro que coloca o vidro
na janela e destrói a pintura da parede não é produtivo. O mecânico que conserta seu
carro e obriga você a retornar para a oficina dois dias depois não é produtivo.

E quem faz a coisa errada do jeito certo também não é produtivo! Exemplo? Quando
terminaram as obras da casa onde morei por 16 anos, fui tomar meu primeiro banho
na baita banheira de hidromassagem que foi impecavelmente instalada no meu
banheiro. Ficou uma semana cheia de água para termos a certeza de que não haveriaa
vazamentos. E eu descobri, depois de pronta, que o encanador ligou os canos de forma
invertida. Eu teria que quebrar o banheiro inteiro para arrumar a cagada. É claro que
não fiz isso, a banheira está lá até hoje e não serve para nada.

Produtividade é fazer a coisa certa do jeito certo.

Mas por que a produtividade é tão importante, tão valorizada? Ouça isto que legal:
algumas estatísticas realizadas nos Estados Unidos demonstram que um trabalhador
nos dias de hoje tem que trabalhar apenas 11 horas para produzir o mesmo que um
trabalhador levava 50 horas para produzir em 1950. A evolução tecnológica, tanto nas
técnicas de produção quanto nos equipamentos, proporcionou esse ganho de
produtividade fenomenal. No entanto, nenhum de nós trabalha menos do que nossos
pais ou avós trabalhavam em 1950, não é mesmo?
Isso quer dizer que poderíamos trabalhar metade do que trabalhamos hoje para
manter o mesmo padrão de vida que a turma mantinha em 1950! Mas quem é que
quer manter o padrão de vida de 60 anos atrás? Acho que ninguém, concorda?
Queremos mais conforto, mais lazer, mais curtição… E para isso nos matamos!

Esta é a história da humanidade: a gente evolui. As conquistas de uma geração são


atropeladas pelas da próxima geração, exigindo sempre mais esforço, mais trabalho,
mais dedicação. Há quem chame isso de “Ciclo de Destruição Criativa”.

Cerca de seiscentos anos atrás, os poucos livros que existiam eram produzidos por
monges que pacientemente escreviam um a um, à mão, num processo penoso,
caríssimo e demorado. Então o alemão Gutenberg inventou a prensa tipográfica, que
atropelou os monges e mudou a história da humanidade. Aquela indústria artesanal
dos monges, que criava riqueza cultural, foi destruída pela nova tecnologia, que reinou
por quase 300 anos. Até um outro alemão, Ottmar Mergenthaler, inventar o linotipo,
uma máquina maluca que atropelou o processo manual de Gutenberg. E aquela
indústria tipográfica manual de Gutenberg perdeu a capacidade de gerar riqueza,
atropelada pela nova tecnologia. No começo do século passado surge o processo de
impressão offset, que aos poucos destrói a capacidade de gerar riqueza do sistema da
linotipia. E então surgem as impressoras digitais. E hoje… Bem, hoje…

Eu acabo de voltar de um almoço com um amigo que me recomendou um livro


interessante. Imediatamente, tirei meu celular do bolso, entrei na Amazon e em 3
minutos o livro estava comprado e baixado para meu celular, computador e iPad. Os
monges, Gutenberg, Mergenthaler e mais um monte de gente se revirou no túmulo.

É assim que funciona, percebeu? Cada sistema que surge com a evolução tecnológica
destrói automaticamente a capacidade do sistema anterior de gerar riqueza, amplia
enormemente a produtividade e exige novas habilidades e conhecimentos dos
operadores. Pense na secretária eletrônica, depois no voicemail e agora olha o
WhatsApp aí no seu celular.
É preciso manter um ganho contínuo de produtividade para continuarmos a criar
riqueza.
E como é que isso se traduz para suas ações? Bem, você vive pressionado a
desempenhar cada vez mais com aquilo que empenha.

Deixe-me melhorar essa afirmação acima, olha só.

Empenhar é algo de fora para dentro. Você está empenhando quando está estudando,
praticando, treinando, obtendo experiência, desenvolvendo habilidades. E você faz
isso o tempo todo, buscando recursos. Matricula-se num curso, compra um livro, ouve
um podcast, assiste a uma palestra, faz um estágio, assina o Café Brasil Premium...
Com tudo isso, você está empenhando conhecimento e experiência.

Até que em algum momento você vai resgatar o que foi empenhado. É o momento do
desempenho. Des-empenho. Teoricamente, quanto mais você empenhou, mais você
teria para desempenhar. Quanto mais experiência, maior a chance de ter um excelente
desempenho.

Produtividade é isso: aumentar constantemente a qualidade e a quantidade de seu


desempenho em relação ao que foi empenhado. Sacou?

E para ficar na moda: produtividade é conseguir obter cada vez mais com menos…
Já ouviu isso antes?

Por isso é fundamental que, se você está preocupado com sua produtividade, foque
no resultado que você quer obter e não nas horas que você trabalhou. Qual é o
resultado que o encanador, o pedreiro, o vidraceiro, o eletricista e o mecânico querem
obter? Deveria ser fazer a instalação ou o conserto da forma mais correta possível no
menor tempo possível, sem ter que voltar para corrigir o estrago, não é? Assim eles
podem partir para um novo trabalho. Dizer que trabalhou 40, 60, 120 horas em algum
projeto não significa r nada! Dizer que fez benfeito, na primeira vez, da forma mais
rápida possível é que é o bicho.

Produtividade então é isso: fazer benfeito, com a melhor qualidade, no menor tempo
possível, acertando logo na primeira vez.
Quanto vale isso?

Quantas histórias você conhece de quem escolheu o mais baratinho, o mais


simplesinho, o mais rapidinho e depois teve que pagar para desfazer e fazer tudo outra
vez?

O DRAMA DO BRASIL: PRODUTIVIDADE


Nossa produtividade é vergonhosa por causa de vários fatores.

BUROCRACIA: Somos escravos de uma burocracia burra, que aumenta prazos, dificulta
os processos e encarece as coisas.

PLANEJAMENTO: Somos muito ruins em planejamento. Veja o exemplo da Copa do


Mundo: sete anos para fazer e deixamos tudo para a última hora, pagando muito mais
caro e fazendo quase tudo no improviso. .

DISCIPLINA: Somos horríveis em cumprir prazos, em entregar o que prometemos, em


assumir compromissos. E fica por isso mesmo.

IGNORÂNCIA: Não precisamos falar muito sobre isso, não é? Desde a educação formal
até a educação informal, somos horrorosos. E, para piorar ainda mais, não temos
parâmetros. Não conhecemos o que é a verdadeira produtividade. Não sabemos o que
é um serviço de telefonia celular que funciona para valer, o que é uma estrada sem
buracos, o que é um serviço público sem burocracia, o que é um compromisso
assumido e resolvido no prazo e com as qualidades prometidos. Sem termos com que
comparar, nos habituamos a conviver com o mais ou o menos.

BURRICE: Que é muito diferente de ignorância. Ignorância é desconhecimento, já


burrice é a incapacidade de juntar lé com lé e cré com cré. É a incapacidade de
interpretar as relações de causa e efeito, de fazer uma jogada à frente, de calcular um
prejuízo futuro, de dar valor às coisas intangíveis. É a maldita incapacidade de pensar
no futuro, de querer tudo aqui e agora, a qualquer custo.

PERCEPÇÃO DE VALOR: Somos péssimos nisso. Aceitamos pagar três ou quatro vezes
o preço de um bem, desde que cada uma das 354 parcelas caiba no nosso orçamento
mensal. Recusamo-nos a pagar mais caro por um produto de melhor qualidade. Só
vemos o aqui e agora. E depois, hein? Ah, depois a gente se vira…

COITADISMO: Isso é a morte! Fui jantar em uma de minhas viagens. No final pedi um
sorvete. Três bolas. O garçom me disse os sabores e eu pedi: uma de creme, uma de
chocolate e uma de flocos. Cinco minutos depois chega o garçom com uma de
chocolate, uma de creme e uma de morango. E o que eu fiz? “Escuta, pedi flocos e não
pedi morango.” O garçom então fez aquela expressão bem brasileira: “Ah…”. E eu
disse: “Tudo bem, vai, deixa assim”. Afinal de contas, coitadinho, é um pobre garçom…
E assim coloquei mais um tijolinho na mediocridade que assola o país.

Morremos de pena dos coitadinhos, mesmo daqueles que ganham para fazer uma
tarefa, são treinados para isso, só fazem isso e fazem malfeito. Se forem humildes
trabalhadores, são coitadinhos, e continuarão a fazer malfeito. Estenda esse raciocínio
para todas as esferas de negócios que você conhece.

CONFORMISMO: Primo do coitadismo. Conformamo-nos com o que é mais ou menos,


meia boca, baratinho… E também nos conformamos com o quase. “Quase deu… quase
foi… quase serve… quase bom…”.

GRAÇAS A DEUS: Tudo aqui é “se Deus quiser”, “Deus é quem sabe”, “foi obra de
Deus”. Existe sempre uma entidade inimputável, intocável, irrepreensível, na qual
tendemos a jogar a culpa e de quem pretendemos obter uma justificativa. O indivíduo
é apenas um objeto de uma vontade maior.

O ESTADO: “Me ajude, prefeito”, “o governador não fez”, “a praça não é minha”,
“nossos políticos sempre foram e sempre serão assim”... e assim vai…
Olha, dava para ficar aqui algumas horas escrevendo sobre as razões da baixa
produtividade no Brasil, mas a intenção agora é apenas introduzir o assunto. Este tema
abre espaço para discussões sobre capacidade de julgamento e tomada de decisão,
sobre ética, sobre justiça, sobre inteligência, sobre iniciativa individual, sobre
liderança, sobre os grandes temas que estão aí, flutuando à nossa volta.

Mas, afinal, quando falamos em produtividade, estamos falando do quê? Bom, como
eu já disse há pouco, basicamente da capacidade de produzir cada vez mais riqueza
em relação ao total de recursos que investimos.

Um exemplo excelente de produtividade no Brasil é o agronegócio. Com o


desenvolvimento de novas técnicas e culturas, de novos equipamentos e processos, a
produtividade agropecuária, por exemplo, cresceu entre 4 e 5% por ano entre 1990 e
2003. Enquanto isso, a área do território nacional ocupada pelo agronegócio caiu de
25,5% para 18,9% no mesmo período.

Reduz-se a área e aumentam-se os resultados:, isso aí é pura produtividade.

Pois é, mas o agronegócio é o exemplo bom! Ele é hoje responsável por quase um
quarto do total do PIB brasileiro e chega perto de um terço dos empregos gerados no
país. É referência mundial em termos de produtividade, é prova de que nós, brasileiros,
podemos ser produtivos sim, senhor… Mas então onde é que o bicho pega?

Bom, o agronegócio é só um quarto da equação do PIB. É nos outros três quartos que
a coisa pega.

Entre 2000 e 2009, por exemplo, as taxas de crescimento da produtividade do Brasil


ficaram em média em 1%. Enquanto isso, as taxas de crescimento do PIB per capita
alcançaram 2%, 2,5%. As taxas de crescimento do PIB são duas a duas vezes e meio
maiores do que a produtividade, o que significa ampliação do mercado de trabalho,
mas também significa que tem muito mais gente produzindo a mesma coisa.

A consultoria McKinsey & Company fez um estudo que demonstrou que a


produtividade teve efeito negativo no crescimento brasileiro nos últimos vinte anos. A
expansão do PIB entre 1990 e 2010 poderia ter sido 45% maior não fosse o efeito
negativo da produtividade, que puxou o resultado para baixo.

Ao longo dos últimos 25 anos, a produtividade do trabalhador brasileiro cresceu, em


média, 1% ao ano, nos cálculos da McKinsey. Vale lembrar que a da agropecuária
cresceu entre 4 e 5%. Pois é! Este 1% é um resultado muito inferior ao registrado por
outros países em desenvolvimento, incluindo nações latino-americanas como o Peru e
o Chile. E está abaixo do avanço dos Estados Unidos, que operam historicamente em
níveis mais elevados do que os brasileiros.
Segundo estudo da consultoria, o valor gerado pelo trabalhador americano por hora
de trabalho está próximo de 35 dólares, enquanto a contribuição do brasileiro é de
cerca de 5 dólares.

Vou repetir.

O valor gerado pelo trabalhador americano por hora de trabalho está próximo de 35
dólares. O valor gerado pelo trabalhador brasileiro é de cerca de 5 dólares… Que tal?

A evolução da produtividade do trabalhador peruano, por exemplo, foi mais de três


vezes superior à do trabalhador brasileiro, entre 1988 e 2012. A produção do
trabalhador peruano em dólar encostou no resultado brasileiro.

Quando falamos dos problemas de produtividade brasileiros, saltam aos olhos as


deficiências em infraestrutura, em especial em logística. O custo logístico do Brasil –
que inclui os gastos com transporte, estoque e armazenagem – é de 12,5% do PIB. É
40% mais caro do que o norte-americano, que está em 8% do PIB. Batemos
sistematicamente os recordes nas safras de grãos, mas não temos estradas,
caminhões, ferrovias, portos e aeroportos para escoar a produção. E nem silos para
guardar o excedente. Dizem os especialistas que precisamos investir mais de 600
bilhões de dólares nessa área, só para termos uma estrutura comparável à do Chile,
por exemplo.

Investimentos! É aí que a ideologia começa a atrapalhar… Para conseguirmos uma


expansão rápida na infraestrutura, é preciso pri-va-ti-zar, esta palavrinha que a
ignorância transformou em palavrão nos últimos 20 anos. É o repasse dos
investimentos à iniciativa privada, que já deu certo no passado, a solução para grande
parte dos problemas. Veja só o setor de telecomunicações, por exemplo, que cresceu
3.600% desde 1998. 3.600%… Dá para acreditar? Bem, é só olhar para seu smartphone.

O governo é ruim em produtividade, tem muitos problemas na área de gestão e usa


75% do orçamento para pagar salários e benefícios sociais. Não sobra dinheiro para
investir. E quando sobra, você sabe como é aplicado. O setor privado tem dinheiro,
porque investidores do mundo inteiro têm interesse em bons projetos de
infraestrutura. E investidor não dá moleza para incompetência, para corrupção.
Investidores demandam eficiência e produtividade, coisa que o Estado não faz.

Mas o discurso…

A revista inglesa Economist publicou uma reportagem com o título “O cochilo de 50


anos”, falando – mal – da produtividade do brasileiro. A revista disse que o trabalhador
brasileiro precisa sair da “letargia” para a economia crescer. “A produtividade do
trabalhador brasileiro está estagnada há mais de 50 anos, e o país precisa ser mais ágil
e mais produtivo para voltar a crescer.” A reportagem, ilustrada com a foto de uma
pessoa descansando em uma rede na praia, aponta, entre outros fatores para a baixa
produtividade, o que diz serem traços culturais do brasileiro.

”...poucas culturas oferecem uma receita melhor para curtir a vida”, afirma a revista,
após citar empresários que relataram ter enfrentado dificuldades para contratar
funcionários.

Um deles teria contratado 20 trabalhadores temporários para atuar em suas barracas


de fast food no festival Lollapalooza, em São Paulo, mas apenas dez apareceram. A
Economist lembra que o fator de produtividade no Brasil, que mede a eficiência do
trabalho e do capital, é hoje pior do que o dos anos 1960. O semanário também
compara o país a outras economias emergentes.

Enquanto a produtividade do trabalho foi responsável por 91% da expansão do PIB


chinês entre 1990 e 2012 e por 67% do PIB indiano, no Brasil esse índice foi de apenas
40%, segundo estudo da consultoria McKinsey. Entre as razões listadas pela revista
para explicar a baixa produtividade do Brasil estão os poucos investimentos em
infraestrutura e a educação de baixa qualidade, problemas que já conhecemos, não
é? A revista também cita o mau gerenciamento e a ineficiência das empresas – muitas
delas acostumadas ao protecionismo do Estado. A revista diz assim: “ao invés de
quebrarem, empresas frágeis sobrevivem graças a várias formas de proteção estatal,
que acabam protegendo-as da competição”.
Pois é. Quem ler a reportagem da Economist de forma superficial vai crer que eles
acham que a produtividade é baixa porque o brasileiro é preguiçoso. Mas eu conheço
um pouco de outros países, viu?

E eu posso garantir que o brasileiro trabalha, sim, muito mais que os americanos, que
os ingleses, que os franceses, que os italianos… Coloque aí quem você quiser.
Trabalhamos muito! Mas, lembra o que eu disse no programa passado? Horas
trabalhadas querem dizer muito pouco quando se fala em produtividade. A
contribuição que você dá não é o tempo que você gasta, mas os resultados que você
obtém. E isso é difícil de ser compreendido pelos brasileiros…

Bem, os problemas todo mundo já sabe, não é? As soluções também, só os teimosos,


ignorantes e cegos por ideologias jurássicas não querem ver. Mas o que me interessa
neste ensaio não é tratar da produtividade macro. Quero a micro. A que tem a ver
comigo e com você aí. Para isso vou apresentar uma ferramenta que desenvolvi e que
vai nos ajudar: “O Olhar Produtivo”.

É A PRODUTIVIDADE, ESTÚPIDO!
Uma palhinha para o meu jabá: este ensaio nasceu de uma palestra que primeiro
chamei de “É a Produtividade, Estúpido”, inspirado pela frase “É a economia,
estúpido”, que o estrategista político James Carville usou para focar nos reais
problemas dos Estados Unidos quando foi um dos coordenadores da vitoriosa
campanha presidencial de Bill Clinton em 1992. Com esta frase, “é a economia,
estúpido“, James definiu onde focar as energias: na economia. Pois eu acho que o que
o Brasil precisa no momento é disso: foco. E acreditoque, ao menos no mundo dos
negócios, o foco tem que ser na pro-du-ti-vi-da-de. Mas logo percebi que aquele
“estúpido” do título estava sendo intimidador para os talibãs que cuidam das empresas
que poderiam contratar a palestra. Essa gente tem medo de provocação, de gente
incisiva.

Então mudei o título da palestra para “O Olhar Produtivo”, tratando da consciência dos
compromissos assumidos, da capacidade de aprender com os erros, da obsessão pela
qualidade, do inconformismo com a repetição das velhas fórmulas do “sempre foi
assim”. E, de quebra, falando de propósito, mindset e meritocracia. Dinamite pura!

“O Olhar Produtivo” é uma forma de pensar a realidade, de até mesmo


inconscientemente juntar eficiência com eficácia.

Na palestra, comento que nossa produtividade é vergonhosa por causa de vários


fatores que parecem que trabalham para nos prejudicar, aqueles mesmos que já
enumerei ali atrás. E denomino esses fatores de demônios, aplicando o que chamo de
“olhar produtivo” em cada um.

O DEMÔNIO DA BUROCRACIA: “O Olhar Produtivo” é inimigo da burocracia, está


sempre buscando formas de agilizar os processos sem comprometer a segurança.

O DEMÔNIO DO PLANEJAMENTO: “O Olhar Produtivo” faz com que a gente entenda


que, antes de sair fazendo, é preciso parar para pensar, analisar, imaginar cenários,
colocar as coisas no papel, orçar, ordenar, priorizar. Brasileiro odeia isso, ele quer é
mergulhar na ação. “O Olhar Produtivo” não deixa. Ação? Só depois do plano.

O DEMÔNIO DA DISCIPLINA: “O Olhar Produtivo” faz com que compreendamos que


compromissos assumidos são sagrados. Prometeu? Tem que cumprir! Como é que
dizem os caras lá da tropa de elite? Assim: missão dada é missão cumprida. Pois é…
O DEMÔNIO DA IGNORÂNCIA: “O Olhar Produtivo” faz com que nos dediquemos ao
preparo. Parece óbvio não é? Mas basta olhar em volta e você verá a quantidade de
gente que não sabe fazer, fazendo. “O Olhar Produtivo” não deixa.

O DEMÔNIO DA BURRICE: “O Olhar Produtivo” prega o estudo constante, em todas as


frentes, como forma de enriquecer sua capacidade de discernimento, julgamento e
tomada de decisão. Prega o famoso PDCA: planejar, fazer, checar e agir. Combater o
demônio da burrice, só checando e aprendendo com os erros, para não os repetir num
primeiro momento e preveni-los num segundo. O burro erra de novo. Sempre.

O DEMÔNIO DA PERCEPÇÃO DE VALOR: “O Olhar Produtivo” propõe uma análise de


valor antes de cada tomada de decisão, buscando entender não o preço das coisas,
mas sim os ganhos a serem obtidos a curto, médio e longo prazos.

O DEMÔNIO DO COITADISMO: “O Olhar Produtivo” prega não condescender com a


mediocridade. Não aceitar o malfeito. . Não achar que a ignorância, a pobreza, a falta
de oportunidades sejam desculpas para os malfeitos.

O DEMÔNIO DO CONFORMISMO: “O Olhar Produtivo” prega o contrário: o


inconformismo. Não vou me conformar com o “meio bom”, não vou me conformar com
a “burrocracia”, não vou me conformar com o “sempre foi assim”. Se eu for obrigado
a engolir o sapo, posso até engolir, mas na primeira oportunidade vou botar para fora.

E, por fim, O DEMÔNIO DO DEUS ESTADO, DEUS SANTO: “O Olhar Produtivo” acredita
que está nas mãos dos indivíduos as escolhas sobre seu futuro. É minha a
responsabilidade pelo que farei de minha vida. Não vou esperar o chefe, o fornecedor,
o amigo, o prefeito, o primo rico… Eu não vou esperar que Deus me dê o futuro de
presente. Vou sair atrás, tomar a atitude, fazer acontecer.

Não tem jeito. É o “Olhar Produtivo” que levará o Brasil para o futuro.
O OLHAR PRODUTIVO
Brasil, praia de Copacabana, 16 de fevereiro de 2006. Um milhão e meio de pessoas
assistem àquele que pode ter sido o maior show de rock da história. Os Rolling Stones
botam fogo na moçada num evento de arrepiar! Que maravilha… Eu também fico
arrepiado sempre que assisto ao vídeo daquele show, que foi maravilhoso. Tudo saiu
direito, nenhum incidente, organização impecável, todo mundo ficou feliz. E sabe da
maior? Aconteceu, como todos sabemos, no Brasil!

Muito bem.

Mas, na palestra, volto uma semana antes do evento. Existe um documentário sobre
a montagem daquele show que é imperdível. O documentário mostra a construção do
gigantesco palco na praia de Copacabana e os problemas de produção para que tudo
saísse nos conformes. O momento mais impactante é quando entrevistam Ian
Kinnersley o responsável pela construção do palco, que diz que a construção da
estrutura estava atrasada, mas que ele pouco podia fazer. Os 160 operários brasileiros
eram mais lerdos que os operários com os quais ele lidara nos Estados Unidos e na
Europa, tinham um ritmo próprio e, por mais que ele quisesse, não conseguia mudar
isso. E ele diz:

- Temos que nos adaptar ao ritmo deles.

E as imagens do documentário vão se sucedendo com os vários operários pendurados


na estrutura do palco e um brasileiro, que fala muito bem inglês, eu acho que um dos
coordenadores brasileiros, diz assim:

- Você sabe o que acontece? Todos estão trabalhando rapidamente, eficientemente,


quando, olha só: você olha para trás e vê uma linda mulher com uma grande, uma
maravilhosabunda! Olha o nome: bunda! Esse nome, bunda, diz tudo…

Rarará, é muito engraçado. O nome “bunda” diz tudo!E os operários param de


trabalhar para apreciar a passagem daquela coisa sagrada, aquele ícone da brasilidade,
aquele monumento à beleza da mulher brasileira, aquele ícone de nossa falta de
produtividade: a bunda. E depois retomam a obra. E assim vão: bunda-para-retoma-
bunda-para-retoma... A explicação para a baixa produtividade dos brasileiros, que o
gringo lá chamava de ritmo próprio, está ali, explícita: a bunda que passa, cheia de
graça, num doce balanço, a caminho do mar…

É, a gente brinca, mas aquele documentário do show dos Stones vai direto ao ponto:
talvez o maior problema da produtividade dos brasileiros seja não propriamente a
bunda, mas o foco em tudo aquilo que “a bunda” representa. Brasileiros são
desfocados. Tiram a atenção do que estão fazendo por qualquer motivo. E agora, com
os smartphones, os Facebooks, os Podcasts da vida, a coisa fica ainda mais complicada.
Quando você não tem foco, meu caro, a produtividade só permanece se você for uma
engrenagem dentro de uma máquina. Se sua função é burra, mecânica. E mesmo
assim, sem foco, você corre o risco de cometer erros primários que impactam
diretamente na produtividade.

Bem, aí é que entra o tal “O Olhar Produtivo”, uma busca sistemática, organizada e
contínua por novas oportunidades para aumentar a produtividade. Reparou que eu
disse “busca”? Significa então que “O Olhar Produtivo” é um processo, um jeito de
olhar o mundo. É uma forma de inquietação que faz com que eu esteja sempre,
sempre, buscando um modo mais produtivo de fazer as coisas que eu faço.

Para começar a discutir aqui alguns atributos que compõem o que chamo de “O Olhar
Produtivo”, eu vou direto a um dos principais: o FOCO.

FOCO
Vamos lá. Estudos indicam que 95% do que realizamos ao longo do dia é feito no
“piloto automático”, com base em nossos hábitos. Deixamos de prestar atenção a
detalhes, ouvimos seletivamente e colocamos o foco em outros lugares. Nesta
sociedade onde somos bombardeados por distrações todo o tempo, manter o foco
onde interessa passa a ser primordial. A forma como gerenciamos nossa atenção é
fator crítico para qualquer conversa que envolva “produtividade”. Quem para o que
está fazendo para olhar cada bunda que passa, certamente, está jogando sua
produtividade para baixo.

Veja bem, não é que não devamos olhar para as bundas que passam… Mas sabe como
é, né?

Somos constantemente distraídos por acontecimentos ao nosso redor. E damos


espaço cada vez maior a esses “ladrões de atenção”. É o aviso sonoro que indica que
entrou uma mensagem no WhatsApp… É o aviso que indica que chegou um novo e-
mail… É a tentação insuportável de dar uma olhadinha no Facebook… É o colega ao
lado que chama para ver o novo vídeo do Porta dos Fundos…

Bem, aquilo em que você foca é o que é importante para você. Essa é a mensagem.
Por isso você fica alucinado quando está conversando com seu filho, sua filha, seu
namorado, sua namorada e ele ou ela está digitando mensagens no WhatsApp. A
mensagem ali é a seguinte: “você não é tão importante para mim”.

Quando você interrompe o que está fazendo para olhar a bunda que passa, a
mensagem é: “a bunda é importante para mim”. Mais que construir o palco para os
Rolling Stones. Quando o Brasil para com o objetivo de assistir ao jogo da Copa, a
mensagem clara é: o jogo é mais importante que qualquer outra coisa.

Sem colocar o foco no que realmente importa, você não pode liderar coisa alguma. Já
imaginou o Tite respondendo a mensagens no WhatsApp durante um jogo? Aqueles
90 minutos são sagrados, exigem concentração total, foco total. Ou a produtividade
cai…

Onde você põe seu foco mostra o que é importante para você. E quando o assunto é
produtividade, foco é fundamental. Então vamos a umas dicas.

E atenção! O que vai a seguir é apenas uma reflexão, não é receita de bolo, não são os
sete hábitos mais eficazes de manter o foco, não é cagação de regras. É uma re-fle-
xão. Faça com ela o que você quiser.
Ao longo do dia, enquanto você estiver mergulhado naquele trabalho insano, na hora
que você der aquela paradinha para refrescar a cabeça, experimente fazer umas
perguntinhas para você mesmo. Por exemplo:

Pergunte-se primeiro “o que que eu estou pensando?”


Em segundo, “o que que eu estou sentindo?”
Em terceiro, “o que eu quero obter desta situação?”
Em quarto, “como estou mantendo as coisas nos trilhos do meu jeito?”
Em quinto, “o que preciso fazer diferente neste momento?”

Passou rápido, né? Eu vou repetir:

Pergunte-se primeiro “o que estou pensando?”. O que passa pela minha cabeça
enquanto estou envolvido naquele trabalho insano?

Em segundo, “o que estou sentindo?” Qual é a sensação. É prazer? É ódio? É horror?


O que que é?

Em terceiro: “o que quero obter desta situação?” Para que serve o que eu estou
fazendo? Qual resultado final estou buscando?

Em quarto, “como estou mantendo as coisas nos trilhos do meu jeito?” Hum... Ou
será que é do jeito dos outros?

Em quinto, “o que preciso fazer diferente neste momento?” Se eu quiser mudar


alguma coisa, o que é que eu tenho que fazer de diferente?

Estas cinco perguntinhas são uma espécie de auditoria emocional. E você percebeu
como são simples? O que que eu estou pensando, o que que eu estou sentindo, o que
que eu quero, como estou mantendo a situação sob controle e o que preciso fazer para
obter um resultado melhor… Simples questões que ajudam você a perceber quando
as coisas estão saindo dos trilhos. Que auxiliam você a prestar atenção. Enfim, que
ajudam você a manter o foco!
PRIORIZAÇÃO
Mas vamos lá a outro ponto importante para quem quer manter o foco: priorize. Volto
ao exemplo dos Rolling Stones. O que acontece com os operários brasileiros é a
constante troca de prioridades. Agora é montar o palco. Agora é olhar para a bunda.
Agora é montar o palco. Agora é a bunda de novo… Sacou como é complicado? Esse
vaivém é um assassino da produtividade. E se você examinar como é a nossa vida
multitarefas, perceberá como temos dificuldades em priorizar nossas atividades,
mandando a produtividade para o brejo.

Priorizar não é algo simples não, viu? Exige entender novas ideias, tomar decisões,
lembrar de fatos, relacionar causa com consequência e muito, muito mais. Eu costumo
logo de manhã escrever a minha lista de ações para o dia. E reescrevo a lista todo dia.
Reescrevê-la exige que eu reflita sobre cada ação e priorize-as.

Priorizar é facilitado quando simplificamos as coisas. Um processo complicado só anda


quando o simplificamos, dividindo-o em uma porção de pequenas ações, todas com
hora para começar e terminar. A soma dessas pequenas ações será o grande projeto
complicado. Tenho obsessão por dividir um conceito ou uma ideia complexa em cinco
ou seis pontos principais. Essa aparente “redução” ajuda a arranjar os conceitos em
minha mente e a determinar as prioridades.

Priorizar é mais fácil quando provocamos nossas mentes com novidades, quando
aprendemos em que hora do dia estamos mais alertas, quando visualizamos nossos
medos e ações antes que eles aconteçam. Esses pequenos truques são uma espécie de
indutores que provocam ações químicas no cérebro. Sabe? Transformam o “célebro”
em cérebro… Pois é. Isso é neurociência, meu caro…

Mas essa simplificação a que me refiro não é a redução ao mínimo divisor comum, não
é a estupidificação dos conceitos, não é o emburrecimento. É a forma de tornar algo
complexo mais simples de ser compreendido e, portanto, priorizado.
Priorizar é focar no que realmente importa. Para alguns é construir o palco. Para outros
é a bunda. Mas quem escolhe a bunda não está sabendo o que realmente importa
naquele contexto. Ou então não está preocupado com produtividade.

ORGANIZAÇÃO
Para manter o foco é fundamental que você tenha um mínimo de organização. Não
importa seu ambiente de trabalho. Há quem recomende que você limpe sua mesa,
deixando à vista apenas o que você precisa para a tarefa que vai executar. Bem, então
eu sou um desastre. Minha mesa é uma zona, sempre foi uma zona, e só fiquei
tranquilo quando vi uma foto da mesa de Albert Einstein no dia seguinte à sua morte.
Era uma zona pior que a minha!

Mas há certas coisas que são importantes, sim: desligue todos os alarmes de seu
celular. Eu, além de fazer isso, coloco o celular sempre com a tela virada para baixo,
assim não serei atraído pelos avisos que aparecem.

Elabore uma listinha de coisas a fazer. É simples e é muito eficiente. Há quem separe
as coisas por fazer hoje, na semana, no mês. Há quem monte a lista por prioridades,
deixando as coisas mais fáceis para o final da lista e começando o dia com as pedreiras.
E há quem monte uma lista com coisas legais e gostosas no meio, criando paradas para
relaxar. É um método. Minha lista não tem nada disso, é apenas uma lista que eu
priorizo mentalmente. É uma delícia olhar para a lista e ir riscando as coisas feitas, dá
uma sensação de vitória bem gostosa. E mantém o foco!

Gerencie o seu tempo. Ah, isso é complicado, viu? Mas também é uma questão de
hábito. Se você não priorizou as coisas, se não sabe por que está fazendo as coisas, se
não planejou, seu tempo será consumido ou pelas coisas que você gosta de fazer, pelos
amigos que gostam de interromper e pelas bundas... Sobre gerenciamento de tempo
há milhões de dicas na internet. Procure. Vá lá.

E, por fim, uma mania esquisita, mas que sempre dá certo. Quando tenho uma tarefa
na qual tenho que focar e me concentrar grandemente em cada passo, costumo
instruir a mim mesmo em voz alta. Vou repetindo em voz alta: faça isto. Faça aquilo.
Pinte aqui. Cole ali. Ter que raciocinar sobre o que dizer e colocar em palavras a ação
a ser feita me concentra 100% na atividade. E pronto! É claro que só uso esse método
para atividades curtas e mesmo assim só no momento chave. Mas é fantástico. Um
grande instrumento de foco. Experimente.

Quando se fala em produtividade, foco é a alma do negócio.

O PORQUÊ E O APRENDER
Para tratar do que realmente importa, é preciso falar dos “porquês”. Saber por que
você está fazendo uma coisa – qualquer coisa – ajuda a dar a essa coisa um significado,
a motivar, a abrir seu coração para aquela ação. Mas essa pergunta – por quê? – nem
sempre é fácil de ser respondida. Experimente se perguntar: por que você faz isso ou
aquilo? Depois pergunte para um amigo, um colega, a mesma coisa e compare as
respostas. Provavelmente surgirão porquês diferentes, muitas vezes até
contraditórios. Num ambiente profissional, repleto de “eus” que formam o “nós”,
entender por que fazemos o que fazemos é fundamental para ajudar a focar em nossas
tarefas. E é aí que começa a encrenca.

Quando vejo alguém fazendo alguma coisa, tomando uma decisão ou realizando uma
escolha, ou quando essa pessoa me pede alguma coisa, e eu não sei os “porquês” da
pessoa, imediatamente forma-se uma suspeita dentro de mim, causada normalmente
por falta de informação. A menos que os movimentos da outra pessoa estejam
alinhados às minhas preferências, essa suspeita vai crescer, ampliando a desconfiança.
Pense na última vez em que você marcou algo com uma pessoa e ela não apareceu.
Você ficou irritado, não ficou? Até a pessoa explicar as razões do atraso e sua irritação
desaparecer. Acontece sempre.

Mas quando lidamos com brasileiros, a gente já vai preparado, sabendo que essa
“explicação” é relativa. Provavelmente será uma daquelas mentirinhas de todo dia…
Quando não sabemos os porquês das outras pessoas, tendemos a preencher a lacuna
com o porquê que imaginamos. Criamos nossas próprias histórias, baseados em nossas
expectativas e naquele velho instinto de preservação. E pouquíssimas pessoas
conseguem colocar a presunção de inocência do outro em primeiro lugar. Puxa, a
pessoa não veio, pois teve um problema! Isso sempre perde para “essa desgraçada
saiu atrasada, esqueceu o compromisso, é uma irresponsável”. Fala a verdade, não é
sempre assim? Quando não conhecemos os “porquês” da outra pessoa, tendemos a
desumanizá-la: ela fez isso ou aquilo por s ser incompetente, é irresponsável, é má, é
fascista, é elite exploradora… Isso é familiar a você? Pois saiba que na maioria das vezes
essa conclusão vem da ignorância dos porquês do outro.

Agora traga isso para o ambiente do trabalho e imagine o impacto na questão da


produtividade. É necessário saber por que você faz o que faz, e por que seus colegas
fazem o que fazem. Quando entendemos a razão lógica por trás de uma decisão, um
pedido, uma escolha, temos mais chances de compreender, confiar e colaborar,
focando naquilo que é essencial: fazer benfeito o que se espera que façamos.

O que eu acabo de descrever é um processo chamado de empatia.

“O Olhar Produtivo” prevê que fique claro por que fazemos o que fazemos. Ele implica
em você disponibilizar seus porquês de forma clara para outras pessoas, sem esperar
que elas perguntem… Se você pede algo, diga claramente por que está pedindo. Assim
você ajuda o outro a tornar mais fácil a decisão de lhe ajudar. E, compreendendo suas
razões, o outro pode até a sugerir estratégias alternativas que tornem mais fácil,
eficiente e eficaz a resolução de seu problema.

Se sua posição é de liderança então, disponibilizar os porquês é fundamental.


Especialmente quando sua decisão impactará de forma negativa outras pessoas. O
líder nutritivo sabe que precisa ajudar as pessoas a fazer as conexões entre a decisão
tomada, o porquê da decisão e como essa decisão contribuirá para o “eu” e para o
“nós”. Quando isso não acontece, não existe comprometimento. Não existe
engajamento.

Lembre-se: raramente as pessoas perguntam o “porquê”, e é isso que cria os


ambientes de confronto, de conflito e, especialmente, a má vontade. É então que a
produtividade vai pro brejo.
O problema é que, quase sempre, perguntar o porquê pode ser entendido como um
ato de acusação, de crítica, de desconfiança. E neste Brasil que anda com os nervos à
flor da pele, então… Perguntar o porquê a um coitadinho pode acabar em processo.
Então a dica pode ser: ao perguntar o porquê, explique antes o seu porquê. Diga a
razão de você precisar saber o porquê. Se vai perguntar a seu chefe, pode ser algo
assim como:

- Chefe, tenho sido questionado pelas pessoas de minha área sobre esse assunto e por
isso preciso ter todas as informações possíveis, será que o senhor...

Se é para um subordinado seu, pode ser:

- Não sei muito bem como isto pode impactar o projeto no qual estamos envolvidos,
preciso me assegurar de que vamos conseguir colaborar de forma eficiente, por isso,
eu gostaria que você...

E se for pro seu filho “aborrescente”? Pode ser algo como:

- Preciso aprender como podemos chegar a um entendimento que funcione para nós
dois, por isso…
Não é lindo? Se o “aborrescente” parar de gritar e escutar, talvez funcione...

Isso só não funciona mesmo é com políticos. Se você perguntar para aquele candidato
a um cargo político algo como:

- Eu preciso tirar algumas dúvidas para decidir se voto ou não em você, portanto,
gostaria de saber isso ou aquilo...

O que virá será uma aula de propaganda e promoção com as mentiras de praxe. Mas
você já sabe os porquês dele, não é?

Sei que não é tão fácil, mas mantenha isso em perspectiva: deixe claros os seus
porquês antes de a pessoa perguntar por quê.
Meu, tive de pegar uma gramática para escrever tanto por quê. Por que usar o porquê
faz a gente se perguntar por quê? Porque é complicado.

APRENDIZADO
Muito bem. Vamos a mais um atributo do “O Olhar Produtivo”? O aprendizado. A
capacidade de aprender com os erros e de não repetir a cagada. Esse me parece um
dos grandes problemas brasileiros: incapacidade de aprender com os erros. A
repetição sistemática dos mesmos problemas, o erro de sempre, que acabam criando
aquela nossa maldita postura conformista do “sempre foi assim”, ou “esperava o quê?
Isto aqui é o Brasil…”.
Isso não o incomoda?

Quantas vezes você vê as pessoas repetindo o mesmo erro outra vez e outra vez?
Parece que não aprendem, não é? Aliás, o jornalista Ivan Lessa, já falecido, tinha uma
frase lapidar:

“No Brasil, a cada quinze anos esquecemos tudo que aconteceu nos quinze anos
anteriores”.

Mas o mais assustador é imaginar que essas pessoas possam estar ensinando outras
pessoasque perpetuarão a espiral do erro.

Bem, a primeira coisa para “aprender a aprender” com os erros é ter sempre em mente
que não dá para consertar o passado. O que passou, passou. Só podemos aprender
com o passado a não repetir os mesmos erros, e – eu repito – esse é um dos pontos
principais quando se fala em produtividade: aprender com os erros passados e não
repeti-los.
Como “O Olhar Produtivo” pode ensinar a escapar dessa armadilha?

Primeiro aprendendo a lidar com o passado. Veja só: qualquer coisa que você fizer
não mudará o fato de que, o que foi feito, feito está. Dá para compensar, suavizar os
efeitos, mas não dá para desfazer o que foi feito sem impactar tremendamente na
produtividade. Portanto – e lá vem o foco de novo –, o foco no presente e no futuro é
fundamental se quisermos melhorar sempre. O foco constante no passado só serve
para trazer os sofrimentos ao presente, criar conflitos e queimar a energia que deveria
estar sendo usada para construir o futuro. Foco no passado, só se for pra aprender
com ele.

Costumo dizer que quem fica focado no passado sofre três vezes. Sofre no passado,
quando aconteceu o problema, sofre no presente, quando se lembra do problema, e
sofre no futuro com as consequências de continuar sofrendo com o passado. O
passado tem que ser seu professor, mas só professor.

“O Olhar Produtivo” prega assim: nunca é fácil admitir que você cometeu um erro,
mas você só pode aprender com um erro se admitir tê-lo cometido. Assim que você
começa a acusar outras pessoas, o prefeito, o governador, o presidente ou o Universo,
você se afasta de qualquer aprendizado possível para não repetir o erro. Admitir,
mesmo que só para si mesmo, que cometeu o erro desloca sua energia do mimimi e
da acusação a terceiros para a compreensão do acontecido. Gente inteligente admite
o erro prontamente e parte para outra. Rápido!

A incapacidade de admitir erros é outro imenso problema dos brasileiros. A culpa é


sempre, sempre, de um terceiro. Pode reparar. E na semana que vem o erro estará lá,
outra vez… E sabe de uma coisa? Eu acho que brasileiro não reconhece erros
principalmente por orgulho. O brasileiro é um camarada orgulhoso, sempre sabe de
tudo, e, se não sabe, chuta. Afinal, Deus vai dar uma mãozinha, não é? E se Deus não
ajudar, sempre dá pra dar um jeitinho… E adeus produtividade...

Quem não admite que errou por orgulho é burro. Esse não tem conserto. Mas quem
não admite que errou por vergonha, ou quem nem mesmo se permite errar por
vergonha, esse tem conserto, sim.
Quem tem “O Olhar Produtivo” não considera erros motivos de vergonha.
Aprendemos na escola e com a família a nos sentir culpados com o fracasso e a fazer
todo o possível para evitar os erros, mas isso vai na contramão de um mundo que exige
sempre experimentar coisas novas.

Quem não erra é porque não faz. Não realiza.

Mas até aí está errando...

Para aprender com os erros é preciso fazer coisas inteligentes. Primeiro: coloque-se
em situações nas quais você possa cometer erros interessantes. Erros que ensinam,
percebe? Errar porque esqueceu a carteira em casa, porque e deixou de desligar o
fogão, porque não salvou a planilha, são erros estúpidos, que pouco ensinam.
Exponha-se a erros que ensinam.

Os tipos de erros que você cometedefinem quem você é. Gostou dessa? Vou repetir:
os tipos de erros que você comete definem quem você é. No popular: as cagadas que
você faz definem quem você é…

Trabalhe sua consciência para admiti-los assim que tomar consciência dos erros. O erro
é seu? Admita! E tenha a coragem de promover mudanças. Reparou? Coloque-se na
posição de lidar com erros que ensinam, admita-os assim que percebeu que os
cometeu e mude o que for preciso para que não aconteçam mais.

Parece fácil, não é? Não, não é.

Admitir o erro e mudar exige humildade, disciplina e uma infinita vontade de aprender.
E quem age assim não tem muito tempo para ficar vendo as bundas das moças
enquanto o prazo termina.

Bem, por fim, para lidar com os erros é fundamental a sua capacidade de recuperação.
Uma vez que você comete um erro que afeta todo o grupo, é natural que fique
apreensivo sobre a próxima vez.
Lembra-se do Roberto Baggio, o craque da seleção italiana de futebol que chutou fora
aquele pênalti que deu ao Brasil a Copa do Mundo de 1994? Já pensou a cabeça desse
sujeito quando teve que bater outro pênalti num outro jogo? Se ele não tivesse
confiança em si mesmo, jamais se recuperaria.

Estude o passado, pratique tendo em vista novas situações que você espera realizar e
volte para o jogo, com o compromisso de não cometer novamente a mesma
trapalhada. Errar não é motivo de vergonha. Mas cometer o mesmo erro duas vezes
é.

Bem, então vamos relembrar o que já vimos sobre os atributos do “O Olhar


Produtivo?”

1. Foco na atividade que você está desempenhando..


2. O porquê de você estar fazendo essa atividade.
3. A capacidade de aprender com os erros e não repeti-los.

Focar, entender, aprender. Não é simples?


FOI MAL

Quando comecei a migrar meus livros para e-


books, busquei informações e disseram que eu mesmo poderia fazê-lo. Mas diante do
primeiro “tutorial” eu desisti. É preciso ter uma lesão mental para conviver com
tutoriais escritos pelos caras de TI. Procurei então várias alternativas de fornecedores
para realizar o trabalho e fui soterrado por toneladas de “veja bem”, “pode ser”,
“talvez”… De cada lado uma informação diferente, sem contar os irritantes “ah, mas é
tão fácil!”. Pedi orçamentos, recebi loucuras. Sem contar as ameaças do tipo “olha, se
não fizer assim e assado, você será pirateado, sucateado, incompatibilizado”. Seis
meses depois eu estava no mesmo ponto zero.

Parti então para o plano B: fornecedores de fora do Brasil. Num blog dos Estados
Unidos encontrei dicas, mandei um e-mail para o primeiro indicado e recebi em
algumas horas uma resposta: “não posso fazer por ser em português, mas eu conheço
quem faz”. Em minutos, eu estava em contato com outro fornecedor, que respondeu
com uma rapidez e praticidade chocantes: dá para fazer, é assim que funciona, leva
dez dias e custa entre 150 e 400 dólares. E fazendo para o Kindle, você leva também a
versão ePub, os dois sistemas de leitores eletrônicos mais populares.

Mandei os arquivos, e algumas horas depois recebi por e-mail um orçamento


inteligente. A cada aba, uma instrução, um download, uma explicação. Preço: 340
dólares, menos da metade do que haviam me pedido aqui no Brasil. Bem, encurtando
o assunto: duas semanas depois, o e-book estava praticamente pronto, sem estresse,
sem chororô, sem desculpas.

Refleti sobre a diferença entre fazer negócios com os fornecedores brasileiros e com o
norte-americano e descobri que o que mais me chamou a atenção foi algo prosaico:
– Ele acreditou em mim!

Sim. Credibilidade. O fornecedor dos EUA acreditou em tudo que eu disse e cumpriu
tudo o que prometeu, fazendo com que eu acreditasse nele. Não teve “caiu o sistema”,
“o correio entrou em greve”, “fiquei sem internet”, “faltou um funcionário”, “subiu o
dólar” ou “o trânsito estava lento”. Não teve “não aceito PDF”, “não pode usar cores”,
“foi feriado”, “me manda por motoboy” ou “não aceito cartão de crédito”… Não teve
nada disso.

Sem desculpas. Dá para fazer, é assim que se faz, custa tanto e pronto!

Meu interlocutor sabia o que estava falando, me orientou com precisão, ofereceu
todos os meios de acesso, respondeu a todas as perguntas imediatamente e quando
achou que não dava disse: “Não dá”.

Sem “talvez”, “vou ver”, “liga mais tarde”.

No Brasil, acostumados a não acreditar nos outros, sempre deixamos um colchão


enorme nas negociações. Já esperamos pelo atraso, pelos problemas de qualidade,
pela entrega diferente da prometida, pelas exceções que são regras, pelo chute do
especialista e pelas desculpas, as desculpas, ah, as desculpas…

Quando eu era diretor de uma multinacional, vivi uma experiência interessante. Uns
documentos pessoais importantes desapareceram. Foram enviados para mim por
motoboy. Chegaram à portaria da empresa no final da tarde e ninguém soube,
ninguém viu. O comprovante de recebimento estava lá, assinado. E o dono da
assinatura me procurou para dizer que recebeu e colocou na caixa de entrada. Dali
para a frente, ele disse, não se responsabilizava mais.

– Não fui eu.


Busco o responsável pela área de trânsito de documentos que, todo solícito, se propõe
a procurar. Algumas horas depois ele telefona sugerindo que eu tire segunda via…
Ninguém soube, ninguém viu. E argumenta:

– Seu Luciano, não fui eu.

Protestei, indignado. E recebi a resposta definitiva:

– Foi mal…

Então o piscineiro faz o seu trabalho semanal lá em casa. E vai embora largando um
registro aberto. Inunda a casa de máquinas. O motor vai pro brejo. Protestei, e a
resposta foi imediata:

– Não fui eu.

Diante da impossibilidade de sustentar a inocência, a frase definitiva:

– Foi mal…

No estacionamento, o manobrista me entrega o carro com um lindo risco na lateral.

– Já estava assim. Não fui eu.

Chamo o gerente, que dá a resposta definitiva:

– Foi mal…

Eu pensei em dar aqui um exemplo de companhia aérea, mas nem precisa, né?

– Foi mal. Foi mal. Foi mal…

Pois é. Esta é a grande encrenca da prestação de serviços. Você só sabe se o serviço é


bom depois que recebe. Não dá para ver antes, para cheirar, experimentar, saber que
peso tem, de que tamanho é… É preciso encomendar e torcer para receber algo que
preste. Sempre que pago serviço meia boca com dinheiro bom, eu me sinto um trouxa.
E a dor de cabeça para corrigir a incompetência? Não há dinheiro que pague, não é?

Pois o leitor Caio Márcio Rodrigues me escreveu contando sua experiência, que acho
que você já viveu:

“Outro dia, o dono da empresa que trocou o telhado de minha casa, ao terminar a
labuta de uns 15 dias, tascou:

– Então, seu Caio, desculpe alguma coisa, tá?

– Ué, mas se você fez algo para se desculpar, vai lá e arruma, né? … Ainda dá tempo!
Não deu tempo: em vez de me pegar pelo braço e mostrar orgulhosamente sua obra,
as qualidades, o modo de usar, tecer comparações entre o prometido e o realizado, ele
entrou no carro e se mandou. Aí eu fiquei pensando: já ouvi essa frase algumas vezes
nos últimos tempos. Parece que ela está ficando comum. Vai desculpando alguma
coisa, viu? No Brasil, em vez de fazer o serviço direito, o sujeito faz de qualquer jeito e
então pede desculpas por alguma coisa”.

– Foi mal. Foi mal. Foi mal…

E se você decidir ir mais fundo para saber a razão do “foi mal”, ouvirá coisas como “eu
tou atolado em trabalho”, “não tenho os recursos”, “faltou o fulano”, “minha avó está
no hospital”, “caiu o sistema”, “estou esperando o sicrano”, “no Brasil é assim”, “o
trânsito está ruim”, “choveu”, “o motoqueiro foi roubado”, “ah, esse Joesley” e mais
um milhão de desculpas padrão, que fazem a delícia do “ser brasileiro”.

Desculpas. Pô, meu, muda esse choro…

Bem, não me interessa aqui discutir a desculpa do sem-vergonha, do vagabundo. Essa


não tem perdão, tem é que botar na rua mesmo. Quero discutir as desculpas que são
ferramentas para nos ajudar a escapar de coisas das quais não gostamos ou temos
medo. Essas é que nos atrapalham a vida e acabam com a produtividade.
Por exemplo, chegou o dia daquela festa de final de ano na firma. Você sabe que será
um saco! O que é que você faz? Primeiro você diz para você mesmo:

– Pô, outra vez aquele mico, aquela turma bebendo, falando abobrinha, aquela comida
sem graça, aquela hipocrisia… Cara, não aguento isso!

Então você diz para a moça do RH:

– Fulana, puxa, que pena! Exatamente no dia da festa, a minha tia de 86 anos vai
chegar ao aeroporto e terei que buscá-la para levá-la r até Itaquaquecetuba…

Esse é o processo chamado de “duas desculpas”. Uma para você, outra para a outra
pessoa. Na primeira desculpa, para você mesmo, você generaliza, cria o pior cenário
possível, já antecipando coisas que pode até ser que não aconteçam.
Na segunda desculpa, para a moça do RH, você usa um argumento que preservará sua
imagem, afinal você trocou a festa por uma boa ação, o sobrinho pródigo!

Mas se você não tivesse dado a primeira desculpa para você mesmo, não teria que dar
a segunda para a moça do RH…

O mesmo vale para as


coisas das quais temos medo. Procure se lembrar aí das situações em que você se viu
com medo. Medo de pedir aumento, medo de falar em público, medo de aparecer
num evento social, medo de andar de avião… Procure se lembrar também das duas
desculpas que você usou para escapar da situação… Viu só?
A questão é saber o que é que existe por trás dessas desculpas. Normalmente é um
tipo de ansiedade social, veja só:

Primeiro, você sente medo de uma situação. E o “medo” aqui pode ser medo de passar
vergonha, de se machucar, de perder o emprego, de pagar um mico, de se entediar.
Esse medo traz ansiedade. Aliás, leu o “Ensaio sobre o Cagaço”?

Em seguida, você procura uma justificativa, criando em sua mente todo tipo de
obstáculo. Ah, é longe, é caro, é alto, é velho, é duro, é frio… sei lá.

Depois, você maquina uma desculpa que lhe dê uma saída socialmente aceita. Como
aquela da sua tia velha. Ou da tinta que acabou. Ou do fornecedor que não respondeu.
Ou do motoboy que atrasou, ou, sei lá …

E então, exceto em ocasiões das quais seja impossível escapar, você repete o padrão.
E assim você vai procrastinando prazos, decisões, atitudes e ações. É assim com você?
Pois é. É assim com o Brasil.

“O Olhar Produtivo” ensina a enxergar aquilo que é realmente importante e a não se


utilizar das velhas, malditas e sempre presentes desculpas.
“O Olhar Produtivo” ensina a ter consciência sobre o processo. Você sabe que vem
pela frente alguma coisa que você se sente desconfortável de fazer. Você tem a
solução, mas espera até que algo aconteça. Mas esse algo que você espera que
aconteça não acontece. Você continua se enganando, até que o prazo termina, não há
mais escapatória, não há mais espaço para manobra, não há mais o que fazer a não ser
sofrer fazendo. E agora sem tempo. Ou então você perde a oportunidade. Ou você
produz menos… Ou repete os mesmos erros…

“O Olhar Produtivo” ensina você a ficar de olho nas desculpas, refletindo sobre o seu
comportamento e o comportamento dos outros até aprender a identificar as razões
da procrastinação. Você aprende a identificar reações, a entender a razão delas, a usar
melhor aquele tempo que foi gasto com o blá-blá-blá das desculpas e do autoengano.
Você aprende a recusar as desculpas.
Mas fique certo de uma coisa: quando você destruir uma desculpa, outras surgirão. É
assim que funciona. E você precisa combater a segunda. E a terceira. E a quarta
desculpa… Mas como num treinamento esportivo, você perceberá que, quanto mais
combate, melhor você fica. E vai se perceber produzindo mais, desculpando-se menos,
vivendo menos estresse e sendo uma pessoa produtiva.

O URGENTE E O IMPORTANTE
Você certamente já lidou com a velha questão da diferença entre o que é urgente e o
que é importante, não é mesmo? Esta é uma questão básica com a qual lidamos,
especialmente quando entramos no mundo profissional.

Algumas pessoas definem liderança, administração e gerenciamento como a


habilidade de distinguir entre o que é importante e o que é urgente. Muitas pessoas
tendem a pensar que importante e urgente são sinônimos. Mas não são.

Coisas importantes são as que têm grande peso na nossa capacidade de atingir nossos
objetivos. Coisas urgentes são as que necessitam de atenção imediata, pois provocam
consequências imediatas.

Normalmente, concentramos nossas energias e atenção nas coisas que julgamos


urgentes. Quem já estudou administração do tempo sabe que existem vários métodos
para separar o que é importante do que é urgente. E podemos separar as coisas em
quatro grupos:

1. Coisas que são importantes e urgentes ao mesmo tempo.


2. Coisas que são importantes, mas não são urgentes.
3. Coisas que não são importantes, mas são urgentes.
4. Coisas que não são importantes nem urgentes.
As coisas que são importantes e urgentes são as que provocam crises. São as que têm
que ser resolvidas imediatamente, e o melhor seria que você nunca deixasse nada
chegar a essa situação. Tente evitar ao máximo que as coisas se tornem importantes
e urgentes ao mesmo tempo. Quando isso acontece, tem que chamar os bombeiros…

É nas coisas importantes, mas que não são urgentes, que devemos focar nossas
energias. Se você deixar para trás coisas importantes que não são urgentes, elas vão
se tornar urgentes em algum momento, e aí você cai na situação do importante que é
urgente. Isso tem um nome: crise. E tem que chamar os bombeiros novamente.

Quando lidamos com coisas urgentes, mas que não são importantes, estamos diante
das armadilhas que consomem nosso tempo, recurso e energia e dão pouco ou
nenhum retorno.

Urgente sem ser importante… Por exemplo, se você está trabalhando em algo que é
urgente e importante, e é interrompido por um telefonema de um colega que quer
que você o ajude a resolver algo que é importante e urgente para ele, mas não é para
você, você cai numa armadilha. Lembre-se sempre de que a falta de planejamento dos
outros não deve criar uma emergência para você. Ou não deveria, pelo menos…

E as coisas que não são nem importantes nem urgentes? Bom, essas são as assassinas
do tempo. E, hoje em dia, estamos rodeados de sistemas que parecem que foram
desenhados para isso. Estamos rodeados de coisas legais de fazer, mas que apenas
consomem nosso tempo. O Facebook, por exemplo… Já reparou como ele come o seu
tempo e traz pouquíssimos resultados?

Muitas pessoas costumam planejar suas atividades definindo, por exemplo, as cinco
prioridades da semana. Alguns líderes fazem disso sua missão principal: manter a
equipe focada num número definido de prioridades. Mas eu já encontrei gente que
prefere eleger uma, e uma só, prioridade e dedicar a ela 100% da sua energia. Em vez
de focar em cinco ou três coisas, focam em uma só. Eu já experimentei fazer isso e é
fantástico, cara, mas exige uma disciplina quase impossível, pois manter o foco com
dezenas de atividades acontecendo ao seu redor, interrupções e ladrões de tempo é
coisa para superdotados.

A MATRIZ CARVER
Existem diversos métodos que ajudam a definir o que deve ser prioridade. Vou buscar
inspiração nos militares. O exército dos Estados Unidos tem o que eles chamam de
CARVER Matrix.

O “carver” é formado com as primeiras letras de Criticidade, Acessibilidade, Retorno,


Vulnerabilidade, Efeito e Reconhecimento. Eles analisam os alvos sob o ponto de vista
de cada um dos fatores CARVER, dando a eles uma nota de 1 (mais baixa) a 5 (mais
alta), e dessa forma calculando uma matriz de prioridades. Quanto mais alta for a
pontuação CARVER do alvo, mais importante ele se torna.

Vamos ver como isso funciona, fazendo de conta que somos políticos interessados no
bem-estar da população:

Criticidade: quão crítico é o problema, o alvo em relação à capacidade de proporcionar


o bem-estar da população? Projetos que têm baixa criticidade, como plebiscitos,
podem ser legais ou fáceis de fazer, mas no final representam muito pouco na nossa
capacidade de atingir o objetivo principal.

Acessibilidade: qual o grau de facilidade para atingirmos o alvo? É um objetivo muito


fácil de acessar ou vai precisar de recursos que não temos?

Retorno: qual o impacto na capacidade do inimigo de se recuperar após a destruição


do alvo? Qual retorno teremos do investimento de recursos no ataque ao alvo? Se o
inimigo se recupera rapidamente, talvez seja perda de tempo atacá-lo. .
Vulnerabilidade: qual a vulnerabilidade do alvo? Quanto recurso é necessário para
atingi-lo? É caro ou barato destruir aquele alvo? Se for caro, talvez não valha a pena.

Efeito: qual a consequência da destruição do alvo? Se atingirmos nosso objetivo, qual


a consequência em nossas vidas e na vida dos outros?

Reconhecimento: o alvo pode ser visto com facilidade ou está bem camuflado? É fácil
reconhecermos os passos necessários para atingi-lo? É algo familiar ou vamos ter que
começar do zero?

Se você montar uma Matriz Carver, lançando nela alguns dos principais problemas de
sua organização e calcular a pontuação, lembrando que as notas para cada atributo
devem levar em consideração o resultado que você busca, concluirá quais são os alvos
mais importantes e que deveriam ser atacados já!

Parece fácil, não é? E é. Mas o problema é que existem outros interesses em jogo…

É claro que os instrumentos que o governo utiliza para determinar as prioridades de


investimentos e ações não são necessariamente aqueles que têm foco no bem-estar
da população. Políticos querem saber das ações que dão mais visibilidade e,
consequentemente, mais votos. O resto fica para o discurso.

Mas como eu não sou governo, e acho que você também não é, vamos ao que nos
interessa.

Você, como eu, tem objetivos que são importantes e também problemas diários que
necessitam de soluções urgentes. Como ficar focado nos objetivos de longo prazo, sem
ter a atenção desviada para as coisas urgentes, mas não importantes? Quando
deixamos que as coisas urgentes consumam nosso tempo, não conseguimos progredir
naquilo que é importante. Vamos então a algumas considerações que podem nos
ajudar no processo de definir o que é importante e o que é urgente.

Primeiro: priorize e reconheça aquilo que não é importante. Quando você faz uma lista
reunindo as quatro ou cinco coisas que considera as mais importantes, você também
está definindo aquilo que não é importante. Se aparecer algo urgente que não faça
parte de sua lista de prioridades, você deveria deixar para lá. É claro que nem sempre
isso é possível, mas você ficará surpreso com a quantidade de energia que é gasta com
itens que estão fora de sua lista de prioridades.

Segundo: se é inevitável, liquide as providências urgentes assim que elas surgirem.


Isole-as, vá para cima delas e resolva. Temos a tendência de mergulhar em conflitos e
problemas, assim que eles surgem, e, quando isso acontece, desviamos nosso foco da
resolução das questões urgentes para podermos retornar logo aos assuntos
importantes. Quando se deparar com o assunto urgente, resolva-o de uma vez.

Terceiro: não acumule as providências urgentes. Temos a tendência de pensar que


coisas que são urgentes e fáceis de resolver podemos realizá-las r num instante. Sempre
que possível, tente delegar as providências urgentes para outras pessoas.

Quarto: aproveite os momentos de menos agitação. Alguns horários, como tarde da


noite ou logo pela manhã, são ideais para progredirmos nas ações importantes. Nesses
horários, é menos provável que surjam assuntos urgentes para desviar nossa atenção.

Existem centenas de métodos e dicas para você aprender a priorizar melhor suas
atividades. Entre no Google e digite “administração de tempo” ou coisa parecida. Você
vai se divertir, com certeza.

Eu tento há anos botar ordem no galinheiro, já usei várias técnicas e repito a seguir
aquela que já citei anteriormente: minha lista de coisas a fazer:

Costumo escrever as atividades que tenho que realizar numa agenda. Sem ordem de
importância, apenas relacionando o que preciso fazer. E no final do dia dou uma olhada
na lista, riscando fora o que eu consegui fazer e incluindo o que aparecer de novo. Na
manhã seguinte, passo a lista a limpo, à mão mesmo, num processo que me
proporciona revisar as necessidades e estabelecer r uma prioridade. Ao bater o olho
na lista, já sei o que é importante e parto para a briga. Não é um método científico,
mas me ajuda sobremaneira. . E eu já percebi que aos poucos vou deixando de lado as
coisas importantes que são chatas de fazer, até o dia em que elas se aproximam
perigosamente do status de urgentes. Aí tenho que tapar o nariz e mergulhar no
problema. Não é o melhor método, mas é o que mais me ajudou até hoje. Sinto-me
bem com ele. Como é o seu?

Muito bem. Defina o que é importante e o que é urgente e mergulhe fundo. Crie seu
método para fazer isso. O fundamental é que você não fique ao sabor do vento e,
principalmente, lembre-se de uma frase que Steve Jobs dizia:

– Seu tempo é limitado, portanto, não o gaste vivendo a vida de outra pessoa.

Muito bem, e agora voltando a meu caso com o fornecedor de e-books que encontrei
nos Estados Unidos. Livre da teia de desculpas que caracteriza os negócios no Brasil,
fiquei, como a gente dizia lá em Bauru, encafifado. Senti uma sensação estranha,
agradável, que me deixou curioso: o que será, hein?
Era profissionalismo. Simples assim.

EMPENHO E DESEMPENHO

Produtividade é a relação entre os


resultados gerados por um sistema e os recursos usados para obter aquele resultado.
Os recursos para obter o resultado podem ser o dinheiro que eu tenho que investir, as
horas que eu tenho que trabalhar, as máquinas e equipamentos que eu preciso usar,
a energia que eu tenho que gastar, entre outros. Os resultados podem ser a
quantidade de produtos fabricados, o volume de vendas, o faturamento, a
lucratividade, e assim vai...

Por exemplo: quando foi anunciado que o Brasil sediaria a Copa do Mundo em 2007,
foi dito que o investimento nos 12 estádios seria de 2,6 bilhões de reais. Temos então
a produtividade de 4,6. Para cada bilhão de reais investidos, teríamos 4,6 estádios
construídos. Passados sete anos, aqueles 2,6 bilhões se transformaram em 9 bilhões.
A produtividade que era de 4,6 estádios para cada bilhão investido caiu para 1,33
estádio. Sacou? Gastamos muito mais dinheiro para fazer os mesmos 12 estádios. Se
tivéssemos gastado menos dinheiro ou feito mais estádios, a produtividade teria
melhorado.

Essa é uma das formas de medir produtividade.


Mas essa medida é só quantitativa. Para medir com precisão a produtividade, temos
que olhar outros indicadores. Temos que olhar a eficiência com que usamos os
recursos de que dispomos, temos que olhar a eficácia com que obtemos os resultados,
temos que olhar a qualidade do produto ou do serviço entregues, temos que olhar
nossa capacidade de inovação, e a lista segue. Voltando ao exemplo da Copa do
Mundo, na definição da produtividade, quando trabalhamos com os milhões
investidos e o número de estádios construídos, onde entram os operários que
morreram durante as obras?

E eu quero aqui propor uma outra reflexão. Já toquei de leve nela ali atrás: a
produtividade como razão entre o que empenhamos e o nosso desempenho.

Empenho é a dedicação, a aplicação com diligência, o interesse no êxito de alguma


coisa, o investimento que fazemos. Um músico, por exemplo, se empenha como louco:
seis, sete, oito ou mais horas por dia treinando, ensaiando, adquirindo habilidade,
experimentando acordes, compondo, até o dia do… Desempenho!

Desempenho é o resgate do que estava empenhado, cumprimento de uma obrigação


ou promessa. Um dia o artista está lá no estúdio, pronto para a gravação. É naquele
momento que todo o empenho no período do aprendizado, dos ensaios, dos treinos
vai ser utilizado. É quando ele mostrará quão produtivo é.
Muito bem. Agora pense em você aí, que não é nenhum músico profissional. Pense no
seu empenho. Mas eu quero que você pense também no seu empenho intelectual. No
que você está aprendendo, no que está lendo, quanto está investindo na construção
de um repertório, quantas experiências está tendo, quanto de musculatura intelectual
está juntando para poder usar no momento do desempenho. Para utilizar um exemplo
do mundo dos esportes, eu quero lembrar aqui uma história.

Tempos atrás fiz alguns trabalhos com a Hortência, nossa rainha do basquete. E ela me
dizia que, no final da carreira, fazia a mesma quantidade de pontos de quando estava
no auge, mas terminava a partida muito menos desgastada fisicamente do que quando
era jovem. Toda a experiência e toda a sabedoria adquiridas nos anos de basquete
faziam com que ela antecipasse as jogadas, se colocasse melhor em quadra. Ela
precisava se esforçar muito menos para obter o mesmo resultado. Com o tempo,
Hortência melhorou a produtividade.

E você? Está investindo o que intelectualmente? Bem, se está lendo este ensaio já é
um começo, concorda?

Quem não se preocupa em ampliar o repertório com a musculação intelectual vai


sofrer com “O Olhar Produtivo”. Vai apresentar umas “doenças”. Quer ver?
Vai ter a MIOPIA PRODUTIVA: de quem não enxerga de longe. Quem não tem
planejamento, não tem comprometimento.

Vai ter a HIPERMETROPIA PRODUTIVA: de quem não enxerga de perto. Não sabe os
porquês de fazer o que faz, não conhece seu papel dentro da empresa, dentro do
processo.

Pode ter a CATARATA PRODUTIVA: enxerga tudo embaçado. Tem conhecimento


superficial sobre as coisas, adora arranjar desculpas. É a turminha do “foi mal”, sabe
como é?
Também pode sofrer do ESTRABISMO PRODUTIVO: o vesgo. Olha para um lado e
enxerga o outro. Essa gente tem um problema sério de foco! Não consegue focar no
que é realmente importante.

E ainda pode ter a PRESBIOPIA PRODUTIVA: a vista cansada. Acomete os profissionais


mais velhos, a turma do “sempre foi assim”, “tenho trinta anos de experiência”, a
turma que não percebe que o mundo muda todo dia. Mas acomete também uma
garotada aí que tem uma preguiça…

Há também o TERÇOL PRODUTIVO: o olhar irritante, infeccioso. Aquela gente que


contamina os outros com seu pessimismo, derrotismo, com o tal “outra vez é”? “Não
vai dar certo”? Sabe como é?

E, por fim, temos a CEGUEIRA PRODUTIVA. Gente que simplesmente não enxerga.
Gente que não tem consciência do impacto e influência que exerce nas pessoas, nos
processos. E, principalmente, gente que não aprende com os erros, e amanhã vai
cometer a cagada outra vez.

Viu só quanta doença pode ser relacionada à produtividade? Ou à falta dela? Dá até
medo, não é mesmo?

É aí que entra novamente “O Olhar Produtivo”, que me obriga a uma série de


reflexões, que eu as relaciono assim. Preste atenção.

Os porquês do que faço. Qual é o objetivo de meu trabalho? Em que ponto do processo
eu me incluo? Qual é o papel de meu trabalho no resultado final?

A importância do que eu faço. Que impacto eu causo no processo e nas pessoas? Que
influência eu exerço sobre as pessoas?

Os compromissos que assumo quando faço o que faço. Que urgência devo ter em meu
trabalho? Que expectativas eu crio? Que responsabilidades eu assumo?
A priorização do que faço. O que é importante no meu trabalho? O que é urgente no
meu trabalho? Ou você ainda acha que urgente e importante são a mesma coisa?
Os recursos para fazer o que faço. De que recursos materiais e humanos disponho? São
suficientes?

As reflexões sobre o que faço. Como estou fazendo meu trabalho? Com que eficiência
utilizo os recursos de que disponho? Com que eficácia obtenho o resultado final?

E, por fim, as melhorias do que faço. Como é que faço para conseguir obter mais com
menos? Como melhorar continuamente?

Percebeu?

“O Olhar Produtivo” me ajuda a enxergar claramente os porquês de fazer o que faço,


a importância do que faço, os compromissos que assumo, as prioridades s
necessárias, os recursos necessários, a competência com que utilizo os recursos e
obtenho resultados e o que preciso fazer para melhorar sempre.

Putz! Quem tem “O Olhar Produtivo” é um super-herói! “O Olhar Produtivo” é, no


final das contas, uma ATITUDE. Uma atitude que, se praticamos com frequência, vira
hábito. O hábito de ser uma pessoa produtiva.

O que mais você pode querer?

Então, no final das contas, agora mergulhando dentro de você, sabe do que estou
falando? De fazer a coisa certa do jeito certo. É só isso. E se partirmos para nosso
mundo pessoal, estou falando de gastar menos do que ganho e investir o que sobrar.
É o jeito certo de lidar com finanças.

Estou falando de manter-me sadio e, se adoecer, ter meios dignos de buscar a cura. O
modo certo de lidar com saúde.

Estou falando em aprender sempre, mais e com mais qualidade. O jeito certo de lidar
com educação.
Estou falando de garantir a minha propriedade e sobrevivência. O jeito certo de lidar
com segurança. Estou falando de melhorar o lugar onde vivo. A maneira certa de lidar
com moradia. Estou falando de impedir a corrupção, o roubo. O jeito certo de lidar
com ética. Estou falando de melhorar a vida das pessoas a meu redor. O procedimento
certo de lidar com aquela palavrinha que anda muito em baixa: o respeito.

Viu só? Estou falando aqui de outro tipo de produtividade: a PRODUTIVIDADE MORAL.
Putz, isso dá mais uns 50 ensaios…

Muito bem. Se você acha que eu acabo de tratar das suas grandes questões pessoais
que podem levar o Brasil para o futuro, parabéns, você entendeu o nome do jogo.

É a produtividade, estúpido.
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Este ensaio sobre a produtividade nasceu da palestra “O Olhar Produtivo”. Se você


ficou interessado, entre em contato. Quem sabe levo até sua empresa e ajudo a
quebrar tudo.

Este texto é de autoria de Luciano Pires, foi preparado a partir do conteúdo dos
Podcasts Café Brasil e faz parte do Café Brasil Premium, que você acessa em
www.cafebrasilpremium.com.br

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