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(Presidente da APEI) N.º de registo: ERC: 112028 Depósito legal: 12929/86
ISSN: 2182-8369
Os artigos assinados não exprimem necessariamente o ponto de vista da Direção.
Capa . João e Noa, Escola João do Arco/Ajuda de Mãe 38 Artigo . Vânia Beliz
A Educação Sexual na Educação de Infância
1 Editorial . Luís Ribeiro
42 À descoberta . Rosário Leote de Carvalho
2 Artigo. Andreia Lima Lei da ação - reação
A documentação pedagógica como alicerce
da planificação solidária e da avaliação
das aprendizagens 43 Notícias da Direção
Eleições para os órgãos sociais da APEI ,
Programa de candidatura quadriénio 2019 - 2023
9 Artigo. Sílvia Barros, Joana Cadima, Manuela Pessanha,
Carla Peixoto, Vera Coelho, Ana Isabel Pinto, Donna M. Bryan
Transição de bebés para a creche: contributos
da investigação para a prática
46 Divulgação
Operação Nariz Vermelho
Estatuto Editorial Os Cadernos de Educação de Infância, fundados em 1987, são uma revista quadrimestral, independente e livre, especializada no campo da educação de infância, que pretende contribuir,
através da divulgação de artigos concetuais e de práticas educativas de qualidade, para a discussão da pedagogia e da educação e para o aprofundamento da compreensão da infância. As suas opções
editoriais são orientadas por critérios de qualidade, rigor e criatividade editorial, estabelecidas sem qualquer dependência de ordem ideológica, corporativa, política, social ou económica, valorizando a
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e assumida no seio da comunidade da informação, de âmbito nacional ou internacional.
A APEI é apoiada pelo Ministério de Educação no âmbito do protocolo de afetação de recursos humanos
# 116
: EDITORIAL
Luís Ribeiro . Presidente da APEI
Cumprindo-se as disposições estatutárias, efetuam no respeito e em concorrência com um conjunto de conferencistas nacionais
em 2019, ocorreu a eleição dos órgãos sociais as especificidades de cada região. e internacionais de relevo e um conjunto
da APEI, desta vez para um ciclo de quatro Neste sentido, quer a dinâmica ligada ao alargado de workshops, garantindo dois dias
anos (até 2023), na sequência da alteração Centro de Formação da APEI (desde janeiro que certamente serão significativos na vida
dos Estatutos ocorrida em 2018. até maio, já se concretizaram 85 ações por dos participantes.
Os mandatos de quatro anos, período todo o país), quer o Ciclo de Seminários
de tempo mais comum nas organizações que anualmente a APEI promove em todos Umas excelentes leituras e até 6 de julho em
escolares, visam dar maior estabilidade à os distritos (em 2018/2019, serão realizados Guimarães!!
dinâmica da Associação, permitindo um 26 Encontros Regionais/Ser Bebé) procuram
planeamento estratégico a médio prazo e a garantir que a educação de infância tem
operacionalização de ações que se possam um espaço próprio em que as questões
articular melhor ao longo do tempo e específicas da pedagogia e educação na
corresponder às necessidades e expetativas infância são discutidas e em que se promove
dos seus associados e dos profissionais de a necessária dialética entre a investigação e a
educação de infância em geral. prática educativa, motor para um verdadeiro
Pela primeira vez, na sua já longa história, desenvolvimento profissional.
foi possível constituir uma lista em que No final deste ano escolar, teremos mais
todas as regiões estão representadas nos um momento que se pretende marcante
órgãos sociais, representatividade geográfica na educação de infância em Portugal: a
particularmente evidente na Direção, realização do XVI Encontro Nacional da
composta por onze elementos, cinco dos APEI, nos dias 6 e 7 de julho, promovido
quais eleitos diretamente e os restantes em parceria com a Câmara Municipal de
seis (Delegados Regionais do Norte, Centro, Guimarães e a Escola Secundária Francisco
Alentejo, Algarve, Madeira e Açores) por de Holanda, subordinado à temática A
inerência de funções. Educação Artística na Educação de Infância.
Outra das alterações estatutárias diz respeito Este Encontro, na sequência das iniciativas
à figura dos Delegados Locais, uma rede de dos dois anos anteriores, decorrerá num
representantes da APEI, de base distrital sábado e domingo, permitindo que os
ou concelhia, que abrange todo o país e profissionais de educação de infância
que procura garantir que o planeamento ligados às redes privada e solidária possam
e a operacionalização de ações locais se participar sem constrangimentos, e reunirá
Introdução nos manuais escolares, que constituem o ambiente educativo e as aprendizagens das
O presente artigo resulta de um estudo mais material de instrução. crianças, famílias e profissionais. Orientam
aprofundado intitulado: “Uma narrativa de O modo de fazer pedagogia participativa faz o profissional no seu pensar, documentar,
transformação da práxis: um estudo de caso uma desconstrução do modo transmissivo. planificar e avaliar as aprendizagens [3] [4].
no âmbito da pedagogia-em-participação”, Esta desconstrução foi uma das grandes
realizado no âmbito do mestrado em heranças da pedagogia do século XX [7]. Os eixos de intencionalidade educativa:
Educação de Infância – Estudos Avançados.1 As pedagogias participativas partem do uma bússola para o pensar e fazer
A investigação situa-se na pedagogia-em- pressuposto de que o conhecimento é uma pedagogia
-participação [1] [2] [3] [4], a perspetiva construção conjunta na ação contextualizada Para os autores Júlia Oliveira-Formosinho
pedagógica da Associação Criança, e e que a práxis pedagógica é a construção e João Formosinho [3], pensar o ambiente
centra-se na análise reflexiva e crítica de conjunta de processos e realizações por meio educativo é um processo em progresso
um processo de renovação do modo de de métodos participativos [8]. A pedagogia porque criar ambientes educativos é uma
documentar, planificar e avaliar processos e participativa é, na essência, a “criação de constante experiência democrática. Isto
realizações das aprendizagens das crianças. espaços-tempos onde as interações e é, criar um ambiente educativo é antes de
Júlia Oliveira-Formosinho e João Formosinho relações sustentam atividades e projetos mais pensar na inclusão de todas as vozes
[3], inspirados em Edgar Morin, afirmam que a que permitem às crianças coconstruir a sua e dar respostas a todas e a cada uma
herança pedagógica dos dois últimos séculos aprendizagem com o professor e celebrar as delas [9]. Esta compreensão requer que a
permite apontar que não existem modos suas realizações” [3]. organização do contexto atenda a todas
neutros de fazer pedagogia, pelo contrário, É neste último modo que se enquadra a e cada uma das crianças, que promova a
existem essencialmente dois modos de fazer pedagogia-em-participação pertencente participação, que seja responsivo, desafiante
pedagogia: o modo da transmissão e o modo à família das pedagogias participativas. e celebre a participação entre crianças,
da participação. Adotar de forma assumida, Esta perspetiva educativa, como outras famílias e profissionais na coconstrução da
explícita, um ou outro, apela à desconstrução pedagogias participativas, faz uma rutura aprendizagem [3] [4].
e à reconstrução de imagens, através de com a pedagogia transmissiva para promover Uma das primeiras preocupações dos autores
uma análise reflexiva das suas características outra visão do processo de aprendizagem João Formosinho e Júlia Oliveira-Formosinho
contrastantes. e ensino e do ofício de aluno e professor. [1] foi criar os eixos de intencionalidade
O modo de fazer pedagogia da transmissão Parte de uma visão de mundo progressista, educativa como âncoras para desenvolver o
parte de um conteúdo pré-definido onde os democrática e participativa. Oliveira- ambiente educativo e criar aprendizagem para
propósitos da criança têm pouco espaço, Formosinho e Formosinho [3] defendem todos: crianças, famílias e profissionais.
porque tem por base um currículo pronto- que ter por base uma visão humanista da Os autores definem como primeiro eixo ser-
-a-vestir tamanho único [5]. Este currículo sociedade e do homem apela ao espírito estar. Este remete para as identidades, define
uniforme conduz a uma pedagogia uniforme reflexivo para criar as condições para que os como foco para o ato educativo a promoção
através da mera acumulação de diferentes seres humanos, tanto crianças como adultos, de identidades plurais que partilham
disciplinas, independentemente das efetivas possam exercer as capacidades de que semelhanças e diferenças que devem
diferenças, necessidades e ritmos existentes dispõem como seres livres e com direitos. ser respeitadas na criação de contextos
entre as crianças e os educadores. Dewey [6] Neste sentido, torna-se indispensável que e dos processos educativos. O segundo
refere que o principal objetivo da pedagogia para pensar e fazer pedagogia no quotidiano eixo, pertencer-participar, remete para a
tradicional é preparar o jovem para as suas se organize criteriosamente um ambiente participação e resulta da vivência do respeito
futuras responsabilidades e para o sucesso democrático, inclusivo e plural, com vivências e do bem-estar, já focado no primeiro eixo.
na vida, por meio do conteúdo existente múltiplas de espaços e tempos, vivências As crianças e adultos que experienciam
de diversidade de relações e interações respeito e bem-estar num clima social positivo
1 A frequência e a conclusão do mestrado em Educação [3]. Para a construção e desenvolvimento desenvolvem um sentimento de pertença e,
de Infância decorreu da bolsa de estudos concedida deste ambiente educativo, a pedagogia-em- por sua vez, criam um impulso para participar
pela Fundação Aga Khan, que tive o privilégio de usu-
fruir, a quem deixo, mais uma vez, uma palavra de re- -participação dispõe de eixos definidores nos seus contextos de vida e aprendizagem.
conhecimento. O mestrado teve a orientação de Júlia de intencionalidade educativa. Estes O terceiro eixo, explorar-comunicar,
Oliveira-Formosinho e foi defendido na Universidade são âncoras para pensar, refletir sobre o remete para a exploração e aponta para a
Católica Portuguesa.
gens e da investigação praxiológica [15]. o quotidiano e a minha ação: “As crianças truímos casas, selvas, quintas. […]; na área da
sentem-se bem no ambiente educativo? As expressão plástica, desenhamos com muitos
O processo de renovação do pensar e do crianças têm real participação, todas e cada materiais […] e na área do faz de conta […] via-
fazer pedagógico na minha sala uma? Qual o seu espaço de participação?” jamos para muitos sítios: para a praia, à selva,
Os eixos pedagógicos de intencionalidade Este questionamento leva-me a criar um foco ao jardim zoológico” (voz de uma criança).
educativa são uma bússola para o meu pen- de análise e reflexão, o ambiente educativo. Ao vivenciar o espaço e materiais depressa
sar, fazer documentar e avaliar o processo de A documentação pedagógica constitui um identifico a necessidade premente de refletir
aprendizagem e ensino. Estes eixos desafiam instrumento relevante na procura da com- sobre como se conceptualiza a organização
à negociação permanente com as crianças preensão do ambiente educativo, no papel do tempo pedagógico, que é rotineiro, pouco
para a criação de situações educativas in- das crianças nas várias dimensões da peda- dinâmico e pouco desafiador. A voz de uma
clusivas que apoiem o desenvolvimento de gogia. Começo por documentar o espaço e os criança revela a importância de refletir em
identidades sócio-histórico-culturais [3]. materiais pedagógicos. As vozes das crianças torno deste tempo: “No tempo de conselho
As vivências diárias do ambiente educativo, devolvem os ecos da participação vivida na nós falamos sempre sobre o nosso dia, o que
num contexto específico, no Centro Infantil organização do espaço da sala de atividades fizemos, o que conseguimos acabar, de que
Olivais Sul, gerido pela Fundação Aga Khan, e na seleção dos materiais: gostamos e de que não gostamos. É sempre
numa sala da educação pré-escolar, consti- “Na área da biblioteca, toco músicas com os a mesma coisa. […] Não gosto assim muito do
tuída por vinte e cinco crianças com idades instrumentos e canto para os fantoches. Leio conselho” (voz de uma criança). Perante esta
heterogéneas, por mim, educadora, e por histórias e o meu portfólio; na área dos jogos, constatação, reflito se este tempo está a ser
duas auxiliares da ação educativa, provocam- […] contamos e escrevemos letras, números, dinamizador da continuidade e da interativi-
-me inquietações que me levam a questionar palavras. […]; na área das construções, cons- dade das aprendizagens para o dia seguinte
Convido as famílias a partilharem fotografias, papa” (voz do Miguel). a criação de condições para que as crianças
histórias, objetos dos seus filhos enquanto “O meu pai cantou a música do Sabiá” (voz expressem o que pensam sobre as questões
bebés. As famílias aderem com entusiasmo. da Carlota). formuladas. Penso quais os tempos da rotina
Organizo a rotina de vários dias para poder “A minha mãe trouxe uma manta dos manos em que se pode desenvolver o trabalho, sele-
acolher todas as famílias. As famílias vêm à e depois foi minha” (voz da Íris). ciono materiais, organizo grupos de trabalho.
sala em diferentes tempos da rotina diária. “A mãe trouxe uma fotografia comigo na bar- As crianças representam as suas ideias atra-
A Mafalda, na companhia da mãe, partilha fo- riga” (voz da Constança). vés da expressão plástica, da expressão cor-
tografias e alguns objetos mais significativos “Por onde saímos quando estamos dentro da poral e oral; fazem pesquisas, os pais vieram à
de quando era bebé. A mãe diz: barriga da mãe?” (voz da Nádia). sala, outros enviaram enciclopédias e também
“A Mafalda, quando nasceu, tinha muito ca- “Pelo umbigo! Pela barriga! Vem por aí acima fomos à biblioteca local.
belo. O cabelo da Mafalda estava sempre em e sobe! Pela cabeça!” (vozes do Gustavo, da Após a representação gráfica, a Mafalda par-
pé. Só quando tomava banho é que o cabelo Íris, da Mafalda e da Beatriz). tilha o seguinte:
baixava. Mas quando estava seco voltava a A conversa em conselho provocou interroga- “É a mamã e eu. O saco gestacional rebentou,
ficar em pé.” ções que se transformaram em novas inten- saiu o líquido amniótico e eu nasci depois e
“Eu não tinha pouco cabelo como os meninos. cionalidades educativas. Pergunto-lhes: “Que- vim com o cordão umbilical. O médico corta o
Tinha muito, já era crescida” (voz da Mafalda). rem saber por onde saímos quando estamos cordão umbilical.”
“Ela tinha esta roupa quando nasceu. Ago- dentro da barriga da mãe?” Novamente reunidos, em tempo de conselho,
ra não lhe serve porque já cresceu. Já só dá As crianças respondem afirmativamente. As- as crianças, apoiadas na documentação peda-
para vestir aos bebés do faz-de-conta” (voz sumo com elas este compromisso como pla- gógica, revisitam e narram o roteiro da apren-
da mãe). nificação para o dia seguinte. Assumo tam- dizagem experiencial desenvolvido ao longo
No final do dia, no tempo de conselho, anali- bém o compromisso de falar com as famílias do projeto. Verifica-se se se alcançaram as
samos as experiências anteriores: sobre esta questão sensível em torno de por respostas para as perguntas de que partimos.
“Quando eu era bebé bebia leite e comia onde saem os bebés. Este compromisso exige Uma criança diz: “Aprendemos que afinal os
bebés
podem
s a i r
p e l a bar-
riga.” A voz
d e s t a criança é elucida-
tiva sobre o desenvolvimento de uma
jornada de aprendizagem experiencial
negociada, que assume compro-
A transição para a creche é um período ração dos pais ou de outros adultos familia- a desempenhar com sucesso a sua atividade
complexo durante o qual famílias, crianças e res, estabelecer relações com novos adultos profissional, sentindo que o bebé está bem.
profissionais enfrentam múltiplos desafios, quando ainda estão a construir relações na Como pode depreender-se, há uma circulari-
sentimentos profundos e algumas incertezas família, sendo que é em relação que cons- dade entre o bem-estar do bebé e o dos pais
[1, 2, 3, 4]. Envolve mudanças em vários as- troem o seu sentido do eu, adaptar-se a no- [16]. Uma boa parceria entre a creche e a fa-
petos, como nos espaços, nas rotinas, nas vos espaços, adaptar-se a rotinas diferentes, mília também pode facilitar a adaptação das
pessoas com quem se contacta e nas rela- exprimir as suas emoções de forma a encon- famílias nesta nova fase da sua vida [17, 18].
ções. Efetivamente, uma das dimensões cen- trarem apoio ou reconhecimento [1, 4, 10]. E Se, por um lado, a transição é desafiante
trais neste período é a construção de novas tudo isto em contexto de grupo! A maioria para bebés e famílias, não podemos es-
relações entre crianças, pais e profissionais dos bebés passa de um ambiente em que é a quecer que a transição ou, melhor ainda, as
de educação de infância, havendo evidências única criança, ou em que contacta com pou- transições também não são fáceis para as
de que a qualidade das interações em creche quíssimas crianças, para um ambiente em creches, pois é necessário: estabelecer uma
é importante para o desenvolvimento social, que quase tudo acontece em grupo. Durante relação segura, sensível e apoiante com cada
emocional e cognitivo das crianças [e.g., 5, este período de transição, os bebés, assim “novo bebé”, assegurando uma prestação
6, 7, 8]. Assim, se a entrada na creche traz como as crianças de 1 ou 2 anos, poderão de cuidados e educação individualizadas aos
muitos desafios, pode trazer também muitas expressar as suas emoções através de afas- outros bebés da sala, uma vez que cada um
oportunidades. As transições fazem parte da tamento, maior irritabilidade, choro, mais tem necessidades, temperamentos, ritmos,
vida de todas as pessoas, estando presentes “birras”, comportamentos agressivos, mani- rotinas familiares diferentes; estabelecer re-
em diversas fases do ciclo vital. Apoiar pais e festações de incómodo durante as rotinas lações de confiança com os pais, com expec-
filhos, em algumas delas, faz parte do quoti- de cuidados pessoais [11]. Mas nem todos os tativas, crenças e valores diversos; assegurar
diano das creches e dos jardins de infância e bebés reagem da mesma forma, ou seja, ob- uma boa partilha de informação; proporcio-
é uma das premissas da educação e de cui- servam-se muitas diferenças individuais [11]. nar a continuidade na prestação de cuidados
dados de elevada qualidade [e.g., 9]. Cuidar estas primeiras transições prepara a ao bebé, com base numa boa comunicação
Neste artigo, refletimos acerca da transição criança para lidar melhor com outras transi- com as famílias; refletir acerca da transição,
de crianças para a creche, particularmente ções, que são muitas e variadas ao longo da enquanto profissional, apesar da regularida-
durante o seu primeiro ano de vida, e apre- vida. A mera aprendizagem de que é possível de com que tem de lidar com (novas) transi-
sentamos o projeto “Transição dos bebés fazer despedidas saudáveis, e que estas fa- ções [1, 4, 10]. Simultaneamente, também na
para a creche: comunicação família-creche, zem parte de separações temporárias, é algo forma como se lida com a transição dos be-
qualidade dos contextos e adaptação do que a criança levará consigo ao longo do seu bés/crianças está presente a intencionalida-
bebé” (FCOMP010124FEDER029509; FCT crescimento. Deste modo, recomenda-se
PTDC/MHCCED/4007/2012). uma boa preparação da transição do bebé
do contexto familiar para a creche [1, 12, 13],
Transição de bebés para a creche: desafios para facilitar a sua adaptação e o seu bem-
ou oportunidades? -estar, considerando que o bem-estar emo-
Para o bebé, a transição para a creche impli- cional é um dos indicadores da forma como
ca, entre outros aspetos, lidar com a sepa- a criança está a adaptar-se às mudanças [14].
Para as famílias dos bebés, esta é uma fase
1 Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico
do Porto. com vários desafios: estabelecer relações de
2 Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da confiança com os profissionais da creche,
Universidade do Porto. tendo também a necessidade de serem vis-
3 Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico
do Porto. tos como “bons pais”; sentir que optaram
4 Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico por um contexto de cuidados e educação
do Porto e Instituto Superior da Maia. de boa qualidade; manter um diálogo con-
5 Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto. tínuo e aberto com a creche; participar nas
6 Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da atividades e rotinas do seu bebé na creche
Universidade do Porto. [1, 10, 15]; regressar ao trabalho e continuar
7 Frank Porter Graham Child Development Institute.
de educativa. De facto, e tendo em conta a ao ambiente familiar e à comunicação pais- Quais as principais implicações destes re-
importância de uma boa adaptação à creche, -profissionais, tendo em consideração deter- sultados?
entidades com responsabilidades na área da minadas características da criança, como a Os resultados sistematizados neste artigo
educação e investigadores [e.g., 1, 12, 13] têm idade e o temperamento. indicam algumas pistas para reflexão e para
vindo a recomendar que se prepare bem a a modificação de algumas políticas e práticas
transição do contexto familiar para a creche, Como tentamos responder a estes objeti- educativas.
envolvendo ativamente as famílias desde os vos de investigação? Ficou clara, nesta investigação, a tendência
primeiros contactos com a creche. Para concretizar estes objetivos, foram envol- para os bebés revelarem um maior bem-estar
Apesar destas considerações relevantes, vidos no projeto 90 bebés e respetivas famí- emocional (captado quer pelas famílias, quer
pouco se sabe sobre as práticas de transi- lias e creches (da grande área metropolitana pelas profissionais das creches) quando são
ção das creches portuguesas e sobre como, do Porto). Foi obtido o consentimento infor- utilizadas várias e diversificadas práticas de
de uma forma mais global, práticas de qua- mado das famílias e profissionais das creches, transição, a nível do apoio ao bebé, mas
lidade nesse período se associam a níveis de tendo a Comissão Nacional de Proteção de também às famílias. Assim, este deve conti-
bem-estar das crianças e das suas famílias. Dados aprovado previamente todos os pro- nuar a ser um aspeto valorizado nas creches,
Assim, este projeto partiu do reconheci- cedimentos. mantendo as práticas que já ocorrem com
mento de que a transição para a creche é Com recurso a questionários e a instrumentos bastante frequência (por exemplo, o incen-
um período importante para bebés, famílias de observação, foram recolhidos dados em tivo para que haja uma transição gradual,
e creches e do facto de em Portugal ser es- três momentos: antes da entrada do bebé realizar reuniões com as famílias antes da
casso o estudo do tema, apesar de a creche para a creche (em contexto familiar), no pri- ida do bebé para a creche) e dando especial
ser uma das respostas sociais mais utilizadas meiro mês de frequência da creche e 5 a 6 atenção às práticas que ainda não ocorrem
pelas famílias com crianças de idade inferior meses depois (em contexto de creche). Os de forma tão generalizada (por exemplo,
a 3 anos (a taxa de cobertura média das cre- questionários foram preenchidos predomi- permitir e incentivar a permanência das fa-
ches e amas oficiais situa-se nos 50,3% em nantemente pelas mães (por opção das famí- mílias na sala durante um período de tempo
Portugal Continental) [19]. lias) e pelas profissionais da creche indicadas que seja confortável para todos; convidar as
como responsáveis pela educação e cuidados famílias para uma reunião após as primeiras
O projeto “Transição dos bebés para a cre- nas salas para bebés (em 31% das salas foi semanas do bebé na creche para conversar
che: comunicação família-creche, qualida- indicada como profissional responsável uma sobre a adaptação). A comunicação família-
de dos contextos e adaptação do bebé” educadora de infância; nas restantes, foi in- -creche revelou ser importante neste estudo,
Quais os nossos objetivos? dicada outra profissional, isto é, auxiliar/aju- pelo que se recomenda que continue a estar
Este projeto foi desenvolvido com a finalida- dante de ação educativa). Foram realizadas muito presente e, se possível, de forma mais
de de investigar a transição do bebé para a observações no contexto familiar e na creche, frequente, intensa e que envolva os pais de
creche durante o primeiro ano de vida, exa- para se estudarem aspetos variados, como, forma mais ativa. Uma atenção redobrada
minando em que medida as características da por exemplo, as características do ambiente parece ser necessária no caso dos bebés que
família, da creche e a comunicação pais-pro- familiar, as práticas de transição, a qualidade passam mais horas nas creches.
fissionais influenciam a adaptação do bebé global das salas de creche e a qualidade das Uma das principais implicações deste projeto
ao longo dos primeiros 6 meses na creche interações, o envolvimento e o desenvolvi- refere-se à formação dos profissionais, pois
(i.e., manutenção das rotinas, envolvimento mento da criança. as análises efetuadas, reforçando estudos
na creche, comportamento adaptativo). Es- anteriores, apontaram para a necessidade
pecificamente, pretendia-se: (a) descrever as Quais os principais resultados obtidos? de um maior investimento neste domínio.
experiências na creche durante o período de Este projeto de investigação originou vários Recorde-se que, em Portugal, a legislação em
transição, a nível da qualidade e das práti- artigos científicos, que incluem informação vigor (Portaria n.º 262/2011, de 31 de agosto)
cas de transição; (b) analisar a comunicação detalhada sobre o respetivo enquadramento, não define a necessidade de haver profissio-
pais-cuidadores e a sua associação à adap- o método, os resultados e as possíveis impli- nais com formação superior em educação de
tação da criança ao longo do tempo; e (c) cações dos resultados obtidos. De seguida, infância nas salas de berçário. Efetivamente,
verificar se a adaptação da criança à creche sistematizamos as principais conclusões des- esta investigação voltou a indicar que ter
está associada às características da creche, ses estudos mais específicos. educadores de infância qualificados é uma
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outro lado, e não sendo a medida anterior guage, and task-related behaviours at 18 months: An Development and Care, s/n: 1-15. doi: 10.1080/0300443
viável, parece ser necessário refletir sobre English study. The British Journal of Developmental 0.2018.1439940
Psychology, 29(1), 18-45. doi:10.1348/026 151010X533229. 22.Grande, C., Nunes, I., Coelho, V., Cadima, J., & Barros,
outras estratégias a adotar, sabendo que a 9.Adams, E. J., & Parlakian, R. (2010). Movin’ on: Suppor- S. (2017). A experiência do bebé na creche: perceções de
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maior. 10.Daniel, J., & Shapiro, J. (1996). Infant transitions: I., Pessanha, M., & Peixoto, C. (2016). Infant child care
Todas estas reflexões entroncam na impor- Home to center-based child care. Child & Youth Care quality in Portugal: Associations with structural charac-
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A nível nacional e internacional, tem havido ching, and Learning. (n.d.). Supporting transitions: Using 24.Barros, S., Cadima, J., Pinto, A. I., Bryant, D. M., Pes-
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13.Segurança Social (Ed.) (2010). Manual de processos- A. I., Coelho, V., & Bryant, D. (2017). Stability and chan-
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passa, por exemplo, pela criação de relações che_processos-chave org/10.1016/j.ecresq.2016.10.003
14.Skouteris, H., McNaught, S., & Dissanayake, C. 26.Pinto, A.I., Cadima, J., Coelho, V., Bryant, D., Barros,
positivas, sensíveis e apoiantes, pela expan- (2007). Mothers’ transition back to work and infants’ S., Peixoto, C., Pessanha, M., & Burchinal, M. R. (2019).
são das experiências das crianças, pelo apoio transition to child care: Does work-based child care Quality of infant childcare and early infant development
da sua comunicação e da linguagem. make a difference?. Child Care in Practice, 13(1), 33-47. in Portuguese childcare centers. Early Childhood Resear-
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15.Peixoto, C., Coelho, V., Pinto, A. I., Cadima, J., Barros,
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3.Merril, S. (2010). Child Care: It’s a transition for parents 17.Elicker, J., Noppe, I. C., Noppe, L. D., & Fornter-Wood,
Nota pessoal Quem somos? Toda a equipa tem realizado inúmeros esfor-
Tinham passado 10 anos desde a última A Associação Gerações – associação de ços para aprofundar conhecimentos na área
oportunidade como educadora de infância educação, solidariedade e serviços, é uma da pedagogia, pela busca de novas abor-
em contexto de sala a tempo inteiro. Seria a Instituição Particular de Solidariedade Social dagens e enquadramentos conceptuais; na
primeira vez como educadora de infância de (IPSS) com sede no Norte do País, em Vila área da psicologia da infância, para melhor
uma sala de berçário, um desejo há muito am- Nova de Famalicão, que presta serviços na compreender o desenvolvimento de cada
bicionado. área da educação e solidariedade, através criança e assim as nossas propostas se ade-
Na verdade, como diretora técnica e pedagó- das respostas sociais e educativas de creche, quarem às necessidades individuais de cada
gica da creche e jardim de infância da Associa- educação pré-escolar e centro comunitário. uma; na área da sociologia, com especial des-
ção Gerações e pelo trabalho em equipa que É missão da Associação Gerações assumir taque para a sociologia da infância, que nos
existe com a equipa educativa, são várias as um papel dinamizador na criação e presta- tem possibilitado olhar a criança nas suas
oportunidades que tenho para voltar ao con- ção de serviços sociais, educativos, lúdicos infâncias e com um olhar sempre dedicado
texto de sala. No entanto, são oportunidades e culturais. Para tal, tem em funcionamento aos direitos da criança que nos tem levado
pontuais, não aquilo que descrevo como ser duas salas de jardim de infância e três salas a refletir sobre ser criança, em contrapartida
educadora de infância a tempo inteiro. de creche, acolhendo bebés a partir dos 4 ao ofício de ser aluno; na área da inovação
É assim que começa a partilha que apre- meses de idade. Para além destes serviços, curricular, refletindo diariamente sobre a or-
sento de seguida. Uma oportunidade única a Gerações desenvolve inúmeras iniciativas ganização curricular pré-escolarizante que se
para voltar à sala, para realizar o sonho de no âmbito do centro comunitário, nomeada- quer instalar na vida das nossas instituições
ser educadora de um grupo de bebés, uma mente o clube sénior, o centro educativo e e procurando incessantemente uma aborda-
oportunidade única para trabalhar com pais os programas de ludoférias.
de crianças tão pequeninas, um contexto para Destaco como valores basilares do trabalho
mim muito especial, uma verdadeira oportu- na nossa instituição a qualidade, o capital
nidade de levar à prática tudo aquilo em que humano, a educação, a cultura de parcerias,
acredito e que tenho estudado ao longo dos o profissionalismo, o desenvolvimento inter-
últimos anos, inspirando-me em pedagogias geracional e a inovação, valores que estão
que acredito serem referências nacionais e patentes nas práticas partilhadas.
internacionais e inspirando-me muito de per- A Associação Gerações é acima de tudo um
to na equipa de educadoras com que tenho lugar de encontro que procura garantir a par-
trabalhado ao longo dos últimos anos e que ticipação de todos (crianças, pais, profissio-
reconheço como profissionais de mérito, que nais, comunidade, parceiros e outros utentes
diariamente dão o seu melhor pelas crianças e da instituição) e reconhece o direito à edu-
famílias com quem trabalham, que estudam e cação desde o nascimento; por isso, temos
refletem as suas práticas e conceções, que se educadora de infância em permanência na
questionam sempre em busca da superação. sala do berçário desde 2007.
As práticas que partilho de seguida foram vi-
vidas na primeira pessoa, mas são acima de Enquadramento
tudo sentidas por mim, pela equipa de sala, Começo por partilhar que na Gerações pro-
pelas crianças, pelas famílias e por toda a co- curamos diariamente construir as nossas
munidade educativa que foi envolvida nestas práticas de forma reflexiva e crítica, assente
vivências, práticas que representam a minha em diferentes saberes. Práticas que assen-
forma de ser, estar e sentir a educação de in- tam num conhecimento construído ao longo
fância, uma perspetiva de educação enquanto dos anos e que resulta de um forte investi-
direito, que começa desde que o bebé nasce. mento na formação contínua em diferentes
Direito a uma educação de qualidade, direito áreas do saber, subjacente àquilo que ainda
à educação ao longo de toda a vida. hoje gostamos de chamar educação de in-
fância.
que compreendessem a organização e reor- tros se encontram enrolados, amassados, das folhas das árvores e descobriam os fru-
ganização de cada cenário pedagógico que pendurados e alguns até escondidos dentro tos escondidos no meio das folhas.
era proposto e até dar as suas sugestões de pequenas caixas de cartão. Este mesmo espaço esteve sujeito a várias
para a sua melhoria. Por exemplo, era fre- Conforme as crianças foram chegando à sala, mudanças, adequando-se à vida do grupo
quente conversarmos sobre a arrumação e fomos recebendo cada uma e sentando-as de crianças do berçário e, mais tarde, quando
reorganização dos materiais, para que se en- ou deitando-as (consoante o desenvolvi- surgiu a reunião de final do ano letivo, quise-
contrassem organizados de forma coerente mento motor) no chão, permitindo que ex- mos romper com as tradicionais reuniões den-
e as crianças fossem percebendo onde os plorassem livre e autonomamente os recur- tro da sala, pensamos nesta reunião como um
podiam "sempre" encontrar e reorganizar. sos disponíveis. lugar de encontro com as famílias e, após um
Acredito que as práticas coerentes necessi- Com esta proposta pedagógica, procuramos momento de encontro dentro da sala para vi-
tam, antes de tudo, de equipas coerentes e possibilitar aos bebés um tempo de brincar sualização de um filme com os melhores mo-
em sintonia e, para tal, a partilha, o diálogo e autónomo, livre para explorar, experimentar mento do ano letivo, todas as famílias foram
o respeito são fundamentais. e se descobrirem como indivíduos e como convidadas para estarem juntas no exterior.
A organização do ambiente educativo é uma grupo. Pretendemos assegurar a possibili- A organização do ambiente educativo nunca
das principais dimensões a ter em conside- dade de descobrir, aperfeiçoar competên- está terminada, exige de nós uma dedicação
ração pelo educador de infância, pela ação e cias e viver em cada etapa as suas próprias e esforço constantes, para que este se ade-
oportunidade de aprendizagem que possibi- posturas e movimentos. Esforçamo-nos por que e responda diariamente às necessidade
lita. Recordando as palavras de Dewey, que respeitar (numa atitude paciente) o tempo e e interesses das crianças, exige um educador
já nos falava do "currículo que se constrói o ritmo da criança, não interrompendo a sua atento, cuidador, capaz de olhar, escutar e
com base na experiência", este é para mim ação, não interferindo nos seus movimentos atuar.
um princípio fundamental da ação pedagó- (não substituindo a criança numa exploração
gica em creche. que é sua, não tentando “ensinar”). Rotinas e cuidados
Partilho de seguida uma proposta pedagó- Uma vez mais, o ambiente educativo falou A máxima prioridade do berçário passa, a
gica. como terceiro educador e possibilitou o sur- meu ver, pelo respeito pelas necessidades
Diariamente era possível observar o interesse gimento de um currículo que se deseja emer- de cada bebé, logo importa, acima de tudo,
dos bebés em agarrar o papel da área dos gente e contextual. respeitar as rotinas individuais, numa postu-
cuidados de higiene pessoal. Os bebés agar- E assim fui projetando o espaço da sala, con- ra valorizadora dos tempos de cuidados de
ravam o papel, amassavam-no, rasgavam-no, cebendo-o sempre como um terceiro educa- um para um.
levavam-no à boca. Dia após dia observámos dor. Mas o berçário não se cinge a uma sala, É fundamental que a rotina seja organizada
este interesse e, partindo dele, decidimos a criança tem direito a brincar, estar, ser e de forma consistente, continuada e previsí-
preparar a proposta pedagógica do "ateliê de sentir dentro e fora da sala e, para tal, um vel. Desta forma, as crianças aprendem que
papel", através da organização do ambiente desafio que desde logo assumi foi possibili- são atendidas, que têm resposta às suas ne-
educativo. tar aos bebés sair da sala. cessidades, mesmo que tenham de esperar
Procurei chegar à sala antes das crianças, Comecei então a estudar as possibilidades enquanto o educador está com outra crian-
organizei o espaço e coloquei os materiais do espaço exterior, dentro e fora da insti- ça. As crianças sabem (numa rotina que é
previamente selecionados e preparados ao tuição. consistente e previsível) quando chega a sua
seu dispor. Quanto aos espaços exteriores, a sala tem vez, que o educador lhes dará uma atenção
No cenário proposto pusemos à disposição acesso direto ao exterior, mas o espaço não individualizada e que cuidará de cada uma de
das crianças papéis de diferentes cores, for- estava ainda adequado para receber os be- modo respeitoso e sem pressas.
matos, texturas, pesos. Por exemplo, inten- bés, foi preciso olhar o potencial do mesmo Não podemos continuar a ter o tempo das
cionalmente, colocámos alguns papéis em e criar um novo cenário. rotinas em oposição ao tempo das ativi-
cima de um puf que existia na sala (subir, Assim que nos dirigimos ao exterior, logo dades. Na minha perspetiva, existe um só
trepar, escorregar), utilizámos uma cartolina as crianças iniciaram as explorações e des- tempo, o tempo da criança, porque os cui-
para esconder o pequeno aquário da sala cobertas e enquanto umas apreciavam o dados têm de ser vistos como uma atividade
(permanência do objeto), alguns materiais desafio de tentar subir o vaso para brincar humana, como um momento privilegiado de
foram colocados estendidos, enquanto ou- na terra, outras contemplavam o movimento toque, de diálogo, de estar com o outro, têm
ceria ativa;
• Observar e aguardar a resposta da
criança, estando atento aos seus sinais
(comunicação);
• Ver a criança como um ser ativo, um
sujeito participativo no seu desenvol-
vimento;
• Fazer com o bebé e não para o bebé;
• Encorajar a criança através do olhar, da
palavra e do gesto, oferecer escolhas
simples, desde tenra idade;
• Observar e acompanhar (e até contem-
plar) cada pequena descoberta, con-
quista, surpresa ou admiração.
• Ao aprofundar os nossos conhecimen-
tos no âmbito da abordagem de Emmi
Pikler, passámos a dar uma importância
crescente ao momento dos cuidados,
dando sentido à perspetiva de que a texto relacional, parece-nos crucial que esta mações importantes sobre a criança
criança constrói a imagem de si mesma encontre espaço e tempo para apoiar não só que vai entrar para a creche: especifici-
a partir da forma como é tratada, como as suas crianças, mas também, e em simultâ- dades do desenvolvimento, rotinas de
lhe tocamos, como lhe falamos, o que neo, as suas famílias. Uma criança não chega casa, alimentação, cuidados de higiene
exige de nós uma grande responsabili- sozinha à creche, consigo traz uma família e conforto, entre outros. Também nes-
dade face a estes momentos. e uma história de vida. Esta família e esta te primeiro encontro, a educadora de
história de vida não podem, jamais, ser igno- infância explica aos pais como será o
Acolher cada bebé e cada família radas, têm de ser integradas e incluídas na processo de adaptação e sensibiliza-os
Um dos aspetos primordiais do trabalho com vida da creche. para todas as reações mais comuns da
famílias e crianças pequenas é, sem dúvida, Por outro lado, por vezes, as prioridades das criança durante esta fase. Sugere-se
o acolhimento destas nas nossas instituições famílias e dos profissionais podem estar de- aos pais que, tanto quanto possível,
educativas: como se acolhe? Como e de que sencontradas. É preciso criar pontes, aproxi- durante o período de adaptação, o
forma são recebidos? Como é feita a adapta- mar as famílias e os profissionais, procurar tempo de permanência da criança na
ção dos bebés à creche? Estas e outras ques- novas formas de fazer o nosso trabalho, de instituição deverá ser reduzido, sendo
tões são debatidas diariamente, uma vez que levar o nosso trabalho até ao outro (criar gradualmente aumentado em função
acreditamos que da resposta às mesmas de- alianças). do bem-estar e conforto demonstra-
corre o sucesso da integração da criança e O acolhimento das famílias e dos bebés é dos pela criança (e disponibilidade das
da família, delas decorre o sucesso de um feito de forma gradual e passa pelas seguin- famílias).
processo que se deseja assente na confiança tes fases: • A adaptação progressiva decorre ao
e segurança emocional da família. • O momento de inscrição é antecedido longo pelo menos de uma semana e, a
Na verdade, e assumindo as palavras de Ga- de uma visita às instalações e partilha cada dia, aumentamos gradualmente o
briela Portugal (2012: 13), acredito que “tra- de várias informações relativas ao fun- tempo de permanência da criança até
balhar de forma qualitativamente superior cionamento estrutural e pedagógico; alcançar o período de tempo que será
em creche (…) requer atitudes de respeito, • Na altura da admissão (ainda durante a o tempo de permanência da criança na
compreensão e empatia, muita flexibilida- licença de parentalidade, normalmente creche;
de para responder às necessidades de cada no último mês desta licença), a educa- • A educadora de infância e/ou auxiliar
criança e família”. dora de infância reúne individualmente de ação educativa responsável por aco-
Se perspetivamos a creche enquanto con- com os pais, no sentido de obter infor- lher cada criança e família neste perío-
Penso que o diagrama seguinte representa riamente procuravam alcançar o papel de no exterior com as taças de inox que temos
(em síntese) algumas das ideias que partilhei proteção do colchão. Depois de realizarmos na sala e uma delas caiu no chão. Perante
até ao momento: a proposta na sala, consideramos que seria todos os elementos de distração que exis-
positivo diversificar a oferta, realizando a tiam à sua volta, o D. manteve-se atento e
Documentação pedagógica: dando visibi- proposta também no exterior (novo poten- concentrado e continuou à procura da taça
lidade ao ciclo observar-planificar-avaliar cial de cor, luz, sombra, contraste). que tinha caído (olhar focado na taça, corpo
O ciclo observar-planear-avaliar está presen- A documentação pedagógica está sempre dobrado e em esforço para alcançar a taça;
te em todos os momentos da ação pedagó- inerente ao processo de observação, plani- observação por 3 minutos)."
gica. ficação e avaliação e, como tal, partilhamos Nas propostas pedagógicas que apresen-
Observando a ação da criança, planeei o tra- de seguida alguns registos deste processo. támos ao grupo procurámos sempre partir
balho diário, a prática educativa e pedagó- "Disponibilizámos às crianças a oportunida- dos registos de observação. Eles são a nossa
gica olhada de forma intencional e partindo de de brincar com terra, tocar e sentir a terra base de ação. Os materiais são organizados
sempre dos interesses e necessidades das com todos os sentidos. Desde que brinca- e colocados à disposição das crianças, pro-
crianças. De igual modo, e através da docu- mos no exterior a C. demonstrou o seu inte- curando promover a exploração livre e au-
mentação pedagógica, a minha observação resse pela terra, aproximando-se sempre dos tónoma, numa permanente valorização do
ganha visibilidade e dá visibilidade ao currí- vasos que a apoiam na subida e a ajudam na brincar.
culo na educação de infância, um currículo aquisição de novas posturas corporais. A C. Neste processo de pensar a ação pedagó-
emergente e contextualizado. A observação gosta de manipular a terra, de mexer e fazer gica, as relações sociais são uma dimensão
que provoca o nosso questionamento e re- buracos na terra, de apanhar a terra que cai crucial do nosso trabalho, assim como a rela-
flexão e, simultaneamente, alimenta a práti- no chão e esfregar as mãos uma na outra, ção com a cidade. Para tal, desenvolvi alguns
ca e a documentação. sentindo a textura da terra." projetos dos quais destaco:
A imagens que apresentamos na pág.14 "O D. é um bebé atento e concentrado nas • Projeto "Hoje vamos brincar juntos",
documentam uma proposta pedagógica, "o suas explorações. Escolhemos a presente que procurava promover o brincar
ateliê de papel", realizada no exterior. Esta fotografia para partilhar, porque ela retrata intergeracional, entre os bebés e as
proposta nasceu da observação dos bebés um momento de envolvimento e concentra- crianças mais velhas e ainda com os
no momento de higiene pessoal que dia- ção do D. No dia 20 de junho, o D. brincava seniores que frequentam a institui-
“Porque eu sou do tamanho daquilo que vejo crianças estão atentas porque a educadora discurso oral foram alguns dos objetivos es-
e não do tamanho da minha altura”. apresentou quatro imagens fora do vulgar, to- colhidos para esta atividade, que também de-
(Fernando Pessoa) das elas obras de artistas famosos, pelo menos senvolve o encadeamento de ideias, ajudando
para nós, os adultos. a estruturar o pensamento.
Este artigo tem como princípio partilhar uma Cada criança recebeu uma obra e pôde olhar “É evidente a importância da apropriação da
série de atividades realizadas na educação para ela até se sentir preparada para a comen- funcionalidade da escrita pois, sem saber para
pré-escolar, inseridas em diferentes áreas de tar. As suas narrativas, na maioria das vezes, que serve nem em que circunstâncias e com
aprendizagem e que têm como ponto de par- advêm de vivências marcantes ou de um pas- que objetivos se pode usar, a criança não se
tida a expressão artística como promotora da sado recente. A educadora ouve e regista, à envolverá na sua exploração, compreensão
melhoria da qualidade da educação, proporcio- frente da criança, tudo o que ela diz, fazendo e utilização. Para além disso, a investigação
nando uma aprendizagem lúdica, inspiradora e assim que esta se aproprie de mais um sentido tem demonstrado que o facto de as crianças
centrada na criança, transmitindo cultura, va- da aprendizagem relacionado com o código de terem algum conhecimento e compreensão
lores e variadas maneiras de ver e viver a arte. escrita. No fim, lê e pergunta se a criança que- sobre as funções da leitura e da escrita antes
ria acrescentar mais alguma coisa. de iniciarem a escolaridade obrigatória parece
Auto-retrato A capacidade de observar, a concentração, a facilitar a aprendizagem, refletindo-se no seu
Educadora: O que é um autorretrato? criatividade, a imaginação, o investimento no desempenho” (OCEPE, 2016, p. 67).
Criança: É quando nos pintamos a nós pró-
prios.
A resposta estava na ponta da língua. Talvez
por já termos conversado sobre o tema em
momentos informais de partilha.
Este projeto surge com o intuito de permitir
que as crianças observem a sua própria ima-
gem ao espelho, aumentando o seu autoco-
nhecimento e ampliando a noção de corpo
(organização espacial/esquema corporal). Tam-
bém fizemos comparações sobre as diferentes
características das crianças e adultos da sala,
dando ênfase à riqueza da diferença, contri-
buindo para um aumento da autoestima e do
sentimento de pertença ao grupo.
Após analisarem alguns autorretratos pintados
pela mexicana Frida Kahlo, as crianças que
quiseram puderam brincar com a sua própria
imagem decorando o seu autorretrato como
se fossem a própria pintora.
“A forma como o/a educador/a está atento/a
e se relaciona com as crianças, apoia as inte-
rações e relações no grupo, contribui para o
desenvolvimento da autoestima e de um sen-
timento de pertença que permite às crianças
tomar consciência de si mesmas na relação
com outros” (OCEPE, 2016, p. 25).
Descrição oral de imagem/ação
A conversa começa em grande grupo e as
centração, memória, organização espacial e som de “Nessum Dorma” (interpretado por Lu-
treino motor. ciano Pavarotti), com vestimentas retiradas da
Após uma visita de estudo onde pudemos ver área da expressão dramática, e foi um sucesso.
algumas obras de Vincent Van Gogh projeta- “O apoio do/a educador/a ao jogo dramático
das, fomos a votos e decidimos realizar uma da iniciativa da criança permite ampliar as suas
pintura à vista coletiva. Escolheram o tipo de propostas, de modo a criar novas situações de
papel e o tamanho, as cores, os materiais e comunicação, através de uma melhor caracte-
quem iria fazer o quê. Não foi fácil entrar em rização dos papéis que está a desempenhar,
acordo, mas pouco a pouco elas conseguiram das ações a desenvolver, permitindo alargar o
chegar a um consenso e iniciar a atividade tempo de envolvimento da criança e a sua ex-
onde foi reproduzida a obra Noite Estrelada. pressão verbal. Dialogar com as crianças sobre
Joan Miró, por ter um estilo de pintura muito qual o material necessário, como o adaptar e
similar ao desenho infantil, é sempre uma boa transformar e o que acrescentar para corres-
opção para a realização inicial deste tipo de ponder aos seus interesses são ainda meios
atividade. de enriquecer as situações de jogo dramático”
Também recriámos a obra da Tarsila do Amaral: (OCEPE, 2016, p. 52).
“A Cuca” utilizando desenho, pintura e cola- Após esse momento, algumas crianças mani-
gem. festaram interesse em realizar pintura à vista,
A área da expressão artística em sala privilegia mas agora com uma visão enriquecida e am-
que as crianças desenvolvam atividades deste pliada sobre a plenitude do quadro. Certamen-
género de forma autónoma. te o projeto ficou mais enriquecido.
“Importa que, também no jardim de infância,
haja imagens de obras de arte à disposição das As emoções
crianças, que as poderão rever e utilizar para Incentivar as crianças a exteriorizarem o que
recriar as suas produções, dialogar em grupo sentem ajuda-nos a compreendê-las melhor,
sobre elas, partilhando as suas descobertas e para além de fazer que tomem consciência,
interpretações, de modo a que sejam um meio identificando e interpretando os seus senti-
de alargamento e enriquecimento cultural e de mentos, procurando encontrar sempre alter-
desenvolvimento da apreciação crítica” (OCE- nativas de lidar de forma assertiva com eles.
PE, 2016, p. 50). Treinar a capacidade de gerir emoções, de to-
lerância à frustração e de ser empático é hoje
Música e dança uma das mais importantes missões dos edu-
Desta vez, a obra abordada foi As bailarinas, cadores de infância, para além de transmitir
de Edgar Degas. Uma criança da sala trouxe que cada criança é importante e valorizar as
um livro que falava sobre esse quadro. Primei- suas conquistas e os seus progressos.
ramente, a ideia era realizar pintura à vista, Educadora: Qual das imagens representa a
mas algumas crianças do grupo, que tinham tristeza?
aulas de ballet (fora da escola), quiseram par- As crianças apontam.
tilhar com os amigos o que já sabiam fazer. O Educadora: Por que acham que ela está tris-
entusiasmo foi tanto que rapidamente outras te?
crianças também se predispuseram a partici- As crianças enumeram uma série de situações
par. Claro que não poderíamos deixar passar quase sempre relacionadas com as vivências/
esse momento em que a atividade parte do preocupações gerais da infância.
interesse das crianças. Educadora: O que podemos fazer para ajudá-
Foram então preparar a apresentação, no meio -la a não ficar triste?
do improviso, de alguns passos de ballet ao As crianças voltam a dar sugestões e assim,
de um modo não direcionado, estão a ajudar- “Na educação artística, a intencionalidade como se estivessem num museu.
-se umas às outras, sempre com a orientação do/a educador/a é essencial para o desen-
do adulto. volvimento da criatividade das crianças, alar- Suporte fotográfico Suporte de papel
O mesmo acontece com a alegria, com o medo gando e enriquecendo a sua representação “A compreensão dos meios tecnológicos impli-
e com outras emoções que possam ser suge- simbólica e o seu sentido estético, através ca que a criança não seja apenas consumidora
ridas pelas crianças no momento de partilha. do contacto com diversas manifestações (consultar, ver filmes, etc.), mas também pro-
Educadora: E vocês, o que vos deixa triste? artísticas de diversas épocas, culturas e es- dutora (fotografar, registar, etc.), alargando,
As crianças que quiseram puderam partilhar tilos, de modo a incentivar o seu espírito deste modo, os seus conhecimentos e pers-
com os amigos os seus sentimentos. Os adul- crítico perante diferentes visões do mundo” petivas sobre a realidade” (OCEPE, 2016, p. 93).
tos também participaram, reforçando que to- (OCEPE, 2016, p. 47).
dos podemos sentir diferentes emoções. Também pudemos conhecer e por em práti- Visitas a museus
“A construção da identidade passa pelo re- ca a técnica de Pollock, brincando no jardim Os museus são os espaços onde podemos
conhecimento das características individuais com os salpicos de tinta. encontrar em maior quantidade obras de arte
e pela compreensão das capacidades e difi- nas mais variadas formas, de artistas concei-
culdades próprias de cada um, quaisquer que Arte fotografada tuados.
estas sejam” (OCEPE, 2016, p. 34). Desenvolvemos um projeto todo inspirado no Sempre que possível, realizamos visitas a mu-
Conseguir falar das suas emoções e sentimen- artista gráfico holandês Escher. seus para promover o contacto com a arte
tos é um passo muito importante para a cons- Primeiramente, as crianças foram conhecer e diversificar conhecimentos, promovendo
trução da identidade e autoconhecimento, que as suas obras e tentar dar-lhes significado. momentos de interação e troca de saberes,
nem todas as crianças estão preparadas para Partimos então para o jardim porque o tempo alargando assim os conhecimentos, as expe-
dar. Por isso, devemos respeitar a individuali- estava mesmo convidativo e é sempre uma riências culturais e o convívio das crianças para
dade de cada uma e contemplar com alguma ótima escolha realizar as nossas atividades além do espaço de escola.
regularidade atividades sobre este tema (ou no exterior. “A área do Conhecimento do Mundo enraíza-
então apostar numa abordagem individual). Em pequenos grupos, as crianças desenha- -se na curiosidade natural da criança e no seu
ram com marcadores pretos as suas linhas desejo de saber e compreender porquê. Esta
Diversificar técnicas (treino grafo-motor) e de seguida pintaram sua curiosidade é fomentada e alargada na
A pergunta do projeto: Como conseguem os livremente. educação pré-escolar através de oportunida-
peixes respirar debaixo de água? Sabemos que um projeto está a ter um im- des para aprofundar, relacionar e comunicar
Após investigação e obtenção da resposta, pacto positivo quando as crianças que estão o que já conhece, bem como pelo contacto
as crianças juntaram as informações e ilus- a brincar vêm ter connosco e perguntam: “Eu com novas situações que suscitam a sua curio-
traram um painel tendo como inspiração a ainda não fiz, quando é a minha vez?” Foi tal sidade e o interesse por explorar, questionar
técnica de Romero Britto e feito a partir da e qual o que aconteceu! descobrir e compreender. A criança deve ser
utilização de aguarelas, para de seguida irem Pinturas prontas, foi então altura de as foto- encorajada a construir as suas teorias e co-
comunicar ao grupo de outra sala as suas grafar. Cada criança fotografou a sua pintura, nhecimento acerca do mundo que a rodeia”
descobertas. pois queriam que fossem expostas tal e qual (OCEPE, 2016, p. 85).
ver a sua expressividade e sentido crítico. Este Todas as criações das crianças são apresen-
A visita de um artista plástico diálogo desperta na criança o desejo de querer tadas/comunicadas por elas para o grupo/
Tivemos o privilégio de receber o artista plás- ver mais e de descobrir novos elementos, po- comunidade escolar.
tico português Pedro Calapez. tenciando o estabelecimento de relações en- Por vezes estamos tão envolvidos nos projetos
As crianças ficaram verdadeiramente entusias- tre as suas vivências e novos conhecimentos, que torna-se impensável parar para fotografar
madas com o facto de conhecerem o autor levando-a a descrever, analisar e refletir sobre o processo e por isso a maioria das fotos são
por detrás da obra. Era a primeira vez que o o que olha e vê” (OCEPE, 2016, p. 49). referentes já ao produto final.
iriam fazer. Realizámos atividades inspiradas nas suas A expressão artística possibilita que a criança
Para acolhermos alguém tão importante, ti- obras como forma de dar a conhecer outras possa criar, expressar sentimentos e emoções,
vemos de preparar-nos. Através da pesquisa, visões artísticas. consolidar aquisições motoras, realizar expe-
conhecemos um pouco da sua vida e obra. A intenção de receber um artista plástico foi rimentações sensoriais prazerosas, aumentar
Criámos um espaço para debate de ideias e transmitir às crianças a valorização das produ- a sua autoestima, descobrir a matemática e
opiniões sobre as características visuais do seu ções artísticas nacionais. fazer que o mundo caiba numa folha de papel.
trabalho. As crianças puderam desenvolver a Arte em família Na construção deste artigo podia ter recorrido
organização de ideias, a capacidade imaginati- “Os pais/famílias e o estabelecimento de edu- a vários autores de referência para fundamen-
va e argumentativa. cação pré-escolar são dois contextos sociais tação teórica e prática destas atividades, no
Fizemos uma lista de perguntas sobre curiosi- que contribuem para a educação da criança; entanto, propositadamente, recorri às OCEPE,
dades relacionadas com o Pedro Calapez, que importa, por isso, que haja uma relação entre uma vez que é uma ferramenta ao alcance de
de uma forma muito afável respondeu a todas. estes dois sistemas” (OCEPE, 2016, p. 28). todos os educadores de infância.
“As explorações e o diálogo entre crianças e A escola envolve e integra as famílias no pro- Espero com este artigo ter podido inspirar fu-
com o/a educador/a sobre estes elementos cesso de aprendizagem, estreitando a relação turas práticas, salientando que aprender/ensi-
visuais e a sua representação em diferentes de confiança e proporcionando um desenvol- nar não precisa de ser aborrecido e a partilha
formas visuais constituem meios de desenvol- vimento saudável às crianças. é sempre uma nova forma de olhar para aquilo
Ao longo do ano são desenvolvidas várias ati- que por vezes parece ser sempre igual. Tal co-
vidades dinamizadas pelas famílias em parceria mo as crianças mudam, as suas necessidades
com a escola. e forma de aprender também mudam e deve-
“A colaboração dos pais/famílias e também de mos acompanhar essas mudanças apostando
outros membros da comunidade, o contributo na nossa formação contínua.
dos seus saberes e competências para o traba- A expressão artística fornece um horizonte de
lho educativo a desenvolver com as crianças é possibilidades e o educador deve instruir-se de
um meio de alargar e enriquecer as situações forma a poder fornecer às crianças variadas
de aprendizagem.” (OCEPE, 2016, p. 30). modalidades para que cada uma tenha a hipó-
A pintura continuada foi uma atividade reali- tese de se rever e escolher a que gosta mais.
zada entre mães, pais e filhos que receberam Poder acompanhar a evolução do processo
um cartão com uma obra de arte em miniatura de aprendizagem e o desenvolvimento dessas
colada no centro. Utilizaram toda a sua inspi- crianças deixa-me cheia de orgulho.
ração e capacidade criativa para dar continui- 2016, p.25)
dade àquela obra sem dissociar a nova criação
da criação de base. Foi um grande momento
de diversão em família na escola.
Para finalizARTE
A capacidade imaginativa e criativa, tal como
o brincar, são características ligadas à infância.
Por isso, devemos investir e estimular ações
que surjam nesse sentido.
“É a partir dessa observação, e da escuta importante observar e escutar a criança e O Miguel acrescentou: “É mesmo boa
das opiniões e sugestões das crianças (…) necessário construir formas colaborativas de ideia, mas depois temos de as lavar.” A
que a organização do ambiente educativo pensar o quotidiano das salas de atividades, Beatriz continua: “Sabes Nuno, a minha
vai sendo melhorada e ajustada…” de maneira a reconhecer às crianças a mãe também tem na cozinha um quadro
(Silva, 2016, p. 17) sua agência. A Beatriz perseguia os seus muito grande que ficava bem na nossa
objetivos na brincadeira e partilhava os seus cozinha.” Respondo que é boa ideia pedir
A criança é vista, cada vez mais, como um desejos e os seus saberes. A observação e a ajuda aos pais, mas que podíamos pensar
ser autónomo, sujeito e participante ativo escuta ajudam-me a ficar mais desperto para em ir ao mercado comprar. O João disse:
no seu processo de ensino-aprendizagem, os interesses das crianças, preocupando- “Eu acho boa ideia… E também compramos
competente, ativo na construção do me com os processos de construção de um quadro igual ao da casa da Beatriz?” A
conhecimento, com voz própria, com significado. Beatriz responde prontamente: “É muito
iniciativa, cooperativo, crítico, criativo, A Beatriz brincava com o Miguel e a grande e temos que ter muito dinheiro, tem
investigador e interventivo nas tomadas de Carolina na área da casinha. As crianças um vidro, podemos partir, mas eu sei fazer.”
decisões. A relevância dada aos direitos e à representavam uma família: o pai, a mãe e A organização do espaço resulta de uma
voz das crianças constitui uma das principais a filha. ação coletiva. É importante percebermos o
mudanças ocorridas na educação em geral e Oiço a Beatriz a dizer: “Eu sou a mãe, faz de que as crianças pensam sobre os espaços
na educação de infância em particular. conta que esta panela é verdadeira como a e materiais. Os projetos emergem da
Vamos iniciar os passos da aventura… da minha mãe e este prato é a frigideira e escuta como um mundo de possibilidades,
Quando observava a Beatriz, com 3 anos tem lá arroz para a filha comer.” Sentei-me abertos e flexíveis. O interesse da Beatriz
de idade, com a sua mania saudável que junto à mesa para conversar com as crianças. espalhou-se ao grupo e durante toda a
caracteriza as crianças, independentemente Falámos dos materiais da área da casinha e semana enriquecemos o espaço com alguns
da faixa etária, de inventar, recriar e a Beatriz disse: “Eu vou trazer as panelas materiais que em conjunto consideramos que
imaginar, reforcei a ideia de quanto é da minha mãe para os meninos brincarem.” poderiam fazer parte das suas brincadeiras.
verdadeiro sentido observacional da palavra, O entusiasmo das crianças leva-as a ver coisas bonitas” (João). “A arte são as
a vontade, o interesse, a necessidade querer construir um grande ateliê na sala: coisas bonitas das pessoas” (Pedro). “A cor
da criança e do grupo e, como escribas, “Podíamos fazer na nossa sala aquilo igual dá alegria, os quadros têm cores primárias
tornamo-los concretos. ao Nadir onde ele pintava com muitas tintas e depois misturam-se e ficam as outras”
Resguardo-me para observar e documentar. e coisas para pintarmos e fazermos aqueles (Ricardo).
A Matilde observa-me e diz: “Estás a escrever quadrados, círculos e desenhos e depois o Durante as descobertas as crianças fizeram
que queremos ir àquelas pinturas do Nadir Nadir vinha ver” (João). Documento, recolho aprendizagens curriculares integradas,
Afonso?”, referindo-se à exposição de Nadir dados e interpreto-os para, na prática, tentar atendendo a todas as áreas de conteúdo e
Afonso na Biblioteca Municipal de que já criar o respeito pelos direitos das crianças. respetivos domínios.
tínhamos falado. “A Emoção da Geometria.” A sala vai-se alterando e recriam-se novas O Ricardo descobre algo muito importante e
A atividade que planificámos em conjunto situações de aprendizagem. Transformar partilha-o com o grupo “Sabem, meninos, a
foi visitar a exposição patente na Biblioteca o espaço pedagógico num lugar onde minha mãe trabalha na Escola Nadir Afonso.”
Municipal. A criança solicita um olhar se experimentam interesses e múltiplos Apaixonante é a tarefa do educador de
enquanto ser ativo, competente e com significados implica o compromisso de todos. pegar nas palavras, nas emoções das
direitos. A sua escuta leva-nos a sair do Os grupos organizaram-se para pesquisar, crianças e intensificá-las, potencializá-las.
jardim de infância para a comunidade. distribuem-se tarefas, delegam-se Com cuidados mil, a novidade do Ricardo foi
Durante a visita à exposição, as crianças responsabilidades… Algumas crianças escrita diante do grupo. Depois de saboreado
observam os quadros. Falam, mostram procuram respostas para as perguntas o momento, a notícia mereceu destaque e a
o seu contentamento. De súbito, uma através da pintura e instrumentos associados visita à Escola Nadir Afonso foi planificada.
pergunta surge em voz alta: “Ó Nuno, o à fala. O acesso das crianças à cultura e “A Escola Nadir Afonso é dos meninos
Nadir é pequenino? Ele também pinta riscos” arte, às fontes de comunicação, motiva-as grandes” (Constança). “Nós também vamos
(Bárbara). para a reprodução dos quadros, num clima ser grandes e vamos para a escola do Nadir
Esta questão levou-nos a conhecer o pintor relacional muito positivo. “O Nadir Afonso Afonso” (Ricardo). “O Nadir está naquela
e os quadros; exploram-se conhecimentos fazia arte e a arte faz-se com tinta, com escola?” (Francisco)
prévios, ideias, fazem-se pesquisas. os dedos” (Amanda). “É mexer na tinta e Com as múltiplas linguagens de que
dispõem e criadas as condições para ter
voz, as crianças comunicam o que sabem,
estabelecem relações, colocam hipóteses.
O contacto das crianças com a Escola Nadir
Afonso permitiu a cada criança desmontar
aprendizagens prévias e complexificar e criar
novos conhecimentos. Assim se reconstrói e
recria a importância do mestre Nadir Afonso.
Na mesma linha de pensamento visitamos
a casa onde viveu Nadir Afonso. “A casa do
Nadir é escondidinha, agora ele já não está
aqui”(Beatriz). “Estas letras dizem que o pai
Artur viveu aqui” (João).
Esta visita adquire um sentido relevante no
contacto direto com a casa onde viveu Nadir
Afonso, como condição fundamental na
perceção do pintor como personagem real.
E no culminar de um caminho percorrido,
motivado nos processos de pesquisa
colaborativa, nas leituras, nas observações,
nas visitas guiadas, no diálogo com a
BIBLIOGRAFIA
ou emoções; e estas limitações podem e gravidez. Determinadas investigações educação sexista, em que é notória a
ter como base o tipo de educação sexual referem um dado importante: alguns pais e diferença de género na educação das crianças
recebida, já que é comummente referido mães abordam exclusivamente estes temas como, de resto, é o caso de as meninas
que foi inexistente ou que esta se com as meninas, pois consideram que receberem mais informação no sentido de
restringiu a questões biológicas focadas na necessitam de mais proteção, o que coloca cuidarem do seu corpo restringindo certos
adolescência. Mais, poucas referiram ter em risco os meninos. Outro tema referido comportamentos para protegê-lo. Sem
recebido informação na infância, até aos pelos pais e pelas mães como prioritário nos apercebermos, começamos, desde
5 anos. Muitas famílias apontam que os é a autoestima, que consideram muito muito cedo, a educar as nossas crianças
temas foram dominados por ideias antigas importante para o bem-estar dos filhos diferenciando-as pelo seu sexo e pelo
e de caráter religioso, sendo apresentada a e das filhas, bem como as questões dos seu género. Quando se espera um bebé,
existência de medo e proibições. Muitos pais valores e da relação da sexualidade com os as famílias mostram rapidamente a sua
referem a descoberta da sua sexualidade afetos. No que diz respeito às dificuldades curiosidade em relação ao sexo, referindo
através dos pares/amigos, o que resultou de em relação à educação sexual das filhas que desta forma terão a possibilidade de
uma abordagem natural e espontânea, mas e dos filhos, as famílias apontam como criar uma identidade mais precisa, reforçando
em geral incorreta e imprecisa. principais obstáculos o desconhecimento assim os vínculos com o bebé. Quando
Talvez por terem tido esta experiência, a do tema, que parece potenciar insegurança observamos o comportamento das famílias,
maior parte dos pais e das mães não valoriza no momento de abordar as temáticas com temos a oportunidade de perceber como o
o início da educação sexual em idade de as crianças, o facto de não saberem em sexo e o género do bebé/criança influencia o
creche ou pré-escolar, por considerarem que idades devem abordar determinadas comportamento dos progenitores.
que as crianças são muito pequenas e, temáticas, ou de como fazê-lo, e o As diferenças de género também são
eventualmente, por sentirem insegurança na sentimento de vergonha. notórias na principal atividade das crianças,
sua abordagem. A maior parte das famílias, na hora de falar brincar. Numa investigação com o objetivo
A maior parte das famílias aborda as questões sobre o assunto, assume recorrer a livros e de aferir os pontos de vista das crianças nas
relacionadas com a higiene, com o corpo e à Internet e, nalguns casos, referem mesmo categorizações sexuadas de brinquedos em
com proteção (perante os outros) referindo ter participado em formações ou ações contexto (pré-)escolar, observou-se que a
maior dificuldade em temas relacionados sobre a temática. maioria categoriza os brinquedos a partir
com a expressão dos afetos, relação coital A pesquisa revela que existe ainda uma dos estereótipos associados aos géneros
Lei da ação-reação
Rosário Leote de Carvalho . Licenciada em Química
Isaac Newton nasceu em 1643 e morreu em sua superfície (ou próximo da sua superfície),
1727. Foi um astrónomo, alquimista, filósofo da mesma forma que os corpos atraem a Materiais necessários
natural, teólogo e cientista inglês, embora seja Terra com a mesma intensidade e sentido Fio
mais conhecido como matemático e físico. oposto. Mais uma vez, como as forças são Fita-cola
Dos seus inúmeros trabalhos destacam-se aplicadas em corpos diferentes, estes sofrem Balão
três leis, conhecidas como leis de Newton: efeitos diferentes. Palhinha
primeira lei de Newton, inércia; segunda lei de Nesta atividade, o balão inicialmente cheio de Fita métrica
Newton, dinâmica e terceira lei de Newton, ar movimenta-se para a frente (lado oposto
ação e reação. ao da abertura) quando se deixa sair o ar. Procedimento
Nesta experiência vamos utilizar a terceira; lei Quando se largou o balão, o ar é expelido Mostrar o fio
de Newton para movimentar um balão através para trás, reage, de acordo com a terceira lei Questionar as crianças sobre as propriedades
de um fio usando apenas o ar nele contido. de Newton, exercendo sobre o balão uma do mesmo.
Na terceira lei, Newton afirma que para cada força que o impele para a frente. O facto de Cortar o fio (2 m ou outra medida)
ação existe uma reação de igual intensidade e estar preso à palhinha colocada no fio faz que Discuta qual é o material adequado para esta
de sentido contrário. Newton rejeita a ideia de a trajetória do balão seja retilínea. medição e que este depende da medida.
força individual. As forças manifestam-se em Deve notar-se que, apesar das inúmeras Enfiar uma ponta do fio na palhinha
pares, assim se o corpo A exerce uma força “receitas” disponíveis, não existe a “receita” Explicar que desta forma a palhinha se pode
sobre o corpo B, este, por seu lado, reagirá com certa para nenhuma atividade experimental. movimentar pelo fio.
outra força com a mesma intensidade, a mesma Todas devem ser adaptadas às condições Pedir a duas crianças que segurem o fio bem
direção e sentido contrário. Não existe ação físicas e humanas disponíveis. Cabe ao esticado.
sem reação. Todas as vezes que interagimos educador escolher o momento adequado Puxar a palhinha para uma das pontas.
com o ambiente que nos rodeia podemos para a realização da atividade, assim como Encher o balão e segurar com os dedos para
pensar na terceira lei: quando chutamos uma os materiais a utilizar, não esquecendo que não sair o ar.
bola, esta reage e devolve, instantaneamente, normalmente temos todo o equipamento Prender o balão à palhinha com fita-cola
uma força para o nosso pé. essencial ao nosso dispor, só que por vezes Pedir às crianças que prevejam o que vai
No entanto, o efeito de cada uma dessas temos de o adaptar às necessidades. No acontecer.
forças é diferente consoante o corpo onde entanto, estas atividades devem ser planeadas Largar o balão
atua. No caso da bola, esta movimenta- e testadas antes de serem realizadas em sala Observar
se numa dada trajetória; já o nosso pé fica de atividades. E tão importante como a própria Pedir que descrevam o que estão a observar.
praticamente parado. experiência são as questões orientadoras, que Comparar o resultado com as previsões.
Outro exemplo é a força de atração que a permitem guiar as crianças no decorrer da
Terra exerce em todos os corpos que estão à atividade. Explicar o resultado
Não termine aqui a atividade. As crianças
devem fazer o registo das suas observações
da forma que achar mais conveniente
(desenhos, textos, oralmente, etc.). Promova
a discussão sobre estes resultados ao longo
do ano. Esta pequena experiência pode dar
origem a muitas outras.
Pode tornar esta atividade numa pequena
investigação, desde que altere uma variável,
por exemplo a inclinação do fio ou o seu
comprimento.
Órgãos Sociais
e Programa - 2019-2023
Numa Assembleia Geral muito participada, Na sequência das alterações estatutárias, XIX, constituem-se como organizações
no passado dia 6 de abril tomaram posse os os órgãos sociais passam a ser eleitos pelo representativas duma classe profissional cuja
novos órgãos sociais da APEI, uma equipa período de quatro anos, pelo que irão estar principal missão será a da salvaguarda de
com uma representação geográfica muito em funções no quadriénio 2019-2023. uma identidade profissional específica e da
alargada que, pela primeira vez, abrange As associações profissionais em Portugal, defesa de um espaço próprio de intervenção.
todo o território nacional. cuja génese ocorreu no início no século Criada há praticamente quarenta anos, a
APEI é, neste momento, uma associação de
referência para os educadores no contexto
nacional, assumindo como principal missão
“(…) contribuir para a formação e informação
na área da educação de infância, para a
identidade e o desenvolvimento profissional
e ético, para a inovação nas práticas
educativas e nas políticas educativas para
crianças dos 0 aos 6 anos, obtendo a
confiança e o compromisso dos nossos
associados, colaboradores e parceiros,
criando valor para os associados e para o País,
(…) organizar e realizar serviços de formação
contínua e informação, participando no
debate, assegurando consultoria, em todo
o País, ser reconhecida pela sua qualidade,
criatividade e eficácia”.
A presente candidatura pretende dar
continuidade ao trabalho de qualidade De Quê? e o livro Brincar em todo o lado, às propostas desses contextos;
promovido pelas anteriores direções que, da autoria de Carlos Neto e Frederico Lopes. • Criar mais delegados locais onde e sem-
desde 1981, foram o rosto visível desta Para os próximos quatro anos, irá procurar pre que se justifique, ampliando a rede
associação e lhe conferiram o prestígio que manter-se o essencial desta dinâmica, que existente numa malha cada vez mais
atualmente possui. tem dado excelentes resultados, acentuando fina;
A estratégia seguida pela APEI desde 2016 o trabalho articulado com a rede de • Reforçar os níveis de participação dos
tem sido a de promoção da educação delegados locais, que se pretende alargar associados na vida da associação, parti-
de infância em todo o contexto nacional na construção duma malha cada vez mais cularmente através de ações locais que,
(incluindo as regiões autónomas) fina, de modo a promover iniciativas de simultaneamente, respondam às neces-
procurando, desse modo, cumprir com âmbito local, articuladas com os interesses sidades dos educadores e promovam a
os princípios orientadores da sua ação e expetativas dos respetivos profissionais de imagem da APEI no terreno;
enquanto associação profissional, bem como educação de infância. • Monitorizar sistematicamente as ade-
desenvolver uma ação consentânea com Há, no entanto, três iniciativas/atividades sões e desvinculações na APEI e a
o estatuto de utilidade pública que lhe foi que, pelo seu impacto, poderão ser distribuição geográfica dos associados
conferido desde 2007. consideradas como os três grandes objetivos pelo território nacional;
Os últimos anos foram marcados por um a atingir no período 2019-2023: a criação • Manter e melhorar os canais de comu-
crescimento exponencial da associação, e promoção da nova página da APEI, com nicação com os associados através do
quer por via do número crescente de outro visual mais apelativo, com serviços sítio na net, do Facebook, correio ele-
iniciativas que promoveu, quer pelo aumento integrados e mais conteúdos dinâmicos, trónico e restantes plataformas físicas
significativo do número de associados que funcione como um verdadeiro portal ou virtuais;
(superior a um milhar), quebrando o ciclo da educação de infância em Portugal; a • Substituir o sítio da APEI na web, crian-
anterior que, neste aspeto, tinha sido muito comemoração dos 40 anos da APEI, em 2021, do um site responsivo e melhorando os
penalizador para a APEI. um marco histórico que importa assinalar conteúdos existentes e/ou adicionando
Nesse sentido, quer em 2016/2017, quando com um conjunto de iniciativas em todo o outras áreas relevantes, nomeadamen-
promoveu, em parceria com a Direção-Geral território nacional; e, num plano mais político, te informações de natureza pedagógica
de Educação, vinte e um seminários por todo a inclusão dos 0-3 anos na Lei de Bases do úteis aos profissionais de educação de
o País para apresentação e discussão das Sistema Educativo, cuja ausência constitui infância ou a outros públicos (encarre-
Orientações Curriculares para a Educação um handicap de enorme magnitude que tem gados de educação, assistentes ope-
Pré-Escolar, que abrangeu cerca de 5000 coartado o direito (e o acesso) à educação racionais…), disponibilizando o site nas
profissionais de educação de infância, quer a todas as crianças desde o seu nascimento versões inglesa e espanhola;
em 2017/2018, quando realizou 11 encontros e criando situações de enorme injustiça nas • Continuar a consolidar os instrumentos
regionais e Encontros Ser Bebé e abrangeu condições de trabalho dos educadores de de gestão financeira e orçamental da
cerca de 2500 profissionais, quer no ciclo de infância que trabalham em creche. associação, melhorando os níveis de
seminários que atualmente ocorre, onde se Para 2019-2023, o conjunto de ações e eficiência.
prevê abranger mais de 4000 profissionais, iniciativas a promover são as seguintes:
criou uma dinâmica nacional que passou a 2. Grupos de trabalho/partilhA
fazer parte do universo profissional dos 1. Vida associativa, gestão e comunicação • Manter os grupos de trabalho existen-
educadores de infância, um espaço de • Continuar as estratégias promotoras do tes, em particular o Grupo da Creche e
pertença e de reflexão à volta das questões aumento significativo e sustentado do o Grupo de Partilha, reforçando a sua
da educação. número de associados, através de ini- dinâmica designadamente no apoio à
Os últimos anos foram também marcados ciativas que promovam a APEI em todo conceção dos programas dos Encon-
pelo crescimento, em número e diversidade o território nacional, procurando ultra- tros Ser Bebé e na criação de conteú-
geográfica, das ações de formação passar a meta dos 4000 associados dos e arquitetura do separador 0-3
promovidas através do Centro de Formação e atingir o rácio de 1/4 (um associado anos no portal da APEI;
da APEI, um crescimento de quase 300% que para cada quatro educadores); • Criar todos os grupos de trabalho/par-
abrangeu mais de cinco mil formandos e um • Reforçar a ligação entre a direção da tilha que se julguem pertinentes e/ou
reforço significativo na área editorial, quer APEI, os delegados regionais e os de- para os quais haja educadores disponí-
pela reedição de livros do seu catálogo de legados locais, criando uma verdadeira veis para a sua gestão.
edições, quer por novas edições, das quais rede que dê resposta às necessidades
se destaca o primeiro livro infantil À Procura locais e assegure uma resposta eficaz
Um abraço de palhaço,
A Operação Nariz Vermelho
XVI
NDA
FRANCISCO DE HOLA
ENCONTRO NACIONAL
A EDUCAÇÃO ARTÍS
TICA
FÂNCIA
NA EDUCAÇÃO DE IN
6 julho 17:30 Inauguração da exposição “A Beleza das Coisas” -
Centro Internacional das Artes José de Guimarães
08:30 Abertura do secretariado (apresentação de Nuno Faria, Diretor Artístico do
09:15 Sessão de abertura CIAJG)* a confirmar
INSCRIÇÕES: WWW.APEI.PT