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FÁTIMA, CEM ANOS DE FARSA

Homenagem póstuma à grande amiga Fina d’Armada – (1946 / 2014)

Dedico este trabalho, onde tento revelar todo o ridículo de situações que
envolvem as gentes católicas, ou os simplesmente crentes, à volta de um imaginário que
a Igreja aproveitou e a todos os outros agentes que, como gananciosos proxenetas,
vivem e enriquecem à sua custa e, por outro lado, ao apuramento da realidade, à
memória da grande investigadora e amiga Fina d’Armada, a única pessoa que em 1980
teve a coragem e a ousadia, correndo todos os riscos inerentes, de conseguir penetrar
nos arquivos secretos de Fátima, iludindo os “guardiões” a pretexto de um projecto de
pesquisa sobre o papel das mulheres na primeira república e, assim, ter acesso a toda a
documentação relativa aos eventos de Cova da Iria/1917.
Do vasto espólio, encontravam-se os inquéritos iniciais e muitos outros documentos de
grande importância, para o apuramento do que realmente se havia passado entre 1915 e
1917.
Em posse de todo esse material, rapidamente acabaria por descobrir a verdade dos
factos e com eles denunciá-los em livro, toda essa complexa história.
A publicação desse trabalho literário, em 1980, intitulado “Fátima o que se passou em
1917”, custar-lhe-ia uma carreira académica, que mal começara e alguns amargos
dissabores.
Haveria de dedicar toda a sua vida de investigadora à causa feminina, e em grande parte
à incrível “odisseia” de Fátima.
A verdade descoberta e incomodativa para vários interesses e poderes, haveria de
condicionar a vida desta mulher heróica, até aos derradeiros momentos da sua vida.
Fina d’Armada finou-se em 2014, mas os segredos de Fátima deixaram de o ser, graças
ao seu esforço e obra. Embora quase desconhecidos do grande público, eles (os livros),
repousam nas grandes bibliotecas, esperando que alguém os procure* e com eles
descubra a farsa de um século.

“Se os catraios disseram que tinham visto uma senhora muito bonita e luminosa em
cima de uma azinheira, quem mais poderia ser que nossa Senhora?”

O povo construiu depois uma capelinha no local das aparições, mas exigia a construção
de uma igreja condigna para N. Srª., que já era a Nossa Senhora de Fátima.
A Igreja acabaria por fazer a vontade ao povo!

“Não foi a Igreja que impôs Fátima. Foi Fátima que se impôs à Igreja”

Palavras do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Cerejeira, numa entrevista para a


revista “O Século Ilustrado” (Ano XIV – Nº 720, de 20 de Outubro de 1951-pág. 12),
pela ocasião das celebrações do Ano Santo.

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É no entanto de toda a justiça referir que o vasto trabalho de investigação executado


com todo o rigor e empenho por Fina d’Armada, uma excelente pesquisadora de
“coisas” difíceis, resultou de uma sugestão, que teve como ponto de partida, o então
director do C.E.A.F.I. (Centro de Estudos Astronómicos e Fenómenos Insólitos),
Joaquim Fernandes, o qual a escolheu e convenceu para essa imensa tarefa.
Como homem, essa tentativa de penetrar nos arquivos secretos, não parecia ser a melhor
opção. Uma mulher teria mais possibilidades. Uma presença feminina causa menos
receio e os argumentos apresentados (um trabalho sobre a mulher), foram encarados
com normalidade e as portas abriram-se.
Essa mulher não podia ser outra. Excelente escolha, mérito repartido, mas de
consequências pouco agradáveis para ela.
Joaquim Fernandes, inicialmente na sombra, foi o pivô da história e merece ser
lembrado. Sem ele nada teria acontecido.
A inicial e verdadeira história esgotou-se no tempo e as tentativas de a continuar, têm-se
revelado difíceis de vencer o estabelecido e a força milenar da Igreja. Eis no que
resultou a vertente mariana da estória.

A DISNEYLÂNDIA PORTUGUESA

Pelo ano da graça de 1917, Portugal era quase que uma “selva” perdida no meio da
Europa e o seu povo vivia um quotidiano tolhido de medos, superstições, crenças e
quase nenhuma cultura. Nas cidades, as gentes esgravatavam por ascender à boa vida
enquanto os operários a erguiam passando necessidades. No campo era bastante pior.
Depois das trindades, o povo rural regressava estafado às suas humildes casas e depois
da janta era a hora em que tudo lá fora podia acontecer. O imaginário e as fantasias
tomavam conta dos espíritos ingénuos e os duendes, lobisomens e outras criaturas
fantásticas, dominavam esse período em que as luzes se resumiam à candeia ou à luz da
Lua, quando a havia!
A Europa, embora estivesse sofrendo os horrores de uma guerra devastadora, mantinha-
se afastada mais de meio século, deste país quase que parado no tempo.
Em pleno berço da Civilização Ocidental, Portugal e os portugueses viviam
mergulhados na miséria, no obscurantismo e na desgraça (triste e actual sina).
A pobre aldeola de Fátima e em particular Cova da Iria, eram lugarejos insignificantes e
esquecidos de tudo e de todos.
Depois aconteceram fenómenos extraordinários nesse lugar. Tal como em Lourdes,
Fátima, mercê da vontade do povo extremamente católico e inculto e do natural
aproveitamento religioso e até político, transformou-se completamente.
Do miserável povoado serrano, Fátima metamorfoseou-se em “Altar do Mundo”! Título
pomposo e necessário a essa transformação. Bonito de ouvir, esmagador, poético até.
Um “cabeçalho” à altura dos projectos que já afloravam às cabeças de muita gente.
Os “milagres divinos” existiam, o povo reclamava e assim se ergueu um santo lugar de
culto e de peregrinação.
Foi erigida uma majestosa catedral, graças aos dinheiros públicos e sem ser necessária
muita publicidade. Depressa Fátima se tornou rival de Lourdes e de outros lugares
idênticos.
Vários milhões de pessoas visitam este local anualmente.
“Todos os caminhos vão dar a Fátima”, um slogan por demais difundido e que tem
sempre encontrado eco, principalmente no número crescente de fiéis.
Este e outros cartazes publicitários, cujas origens nos escusamos de comentar, podem
ser vistos e consultados em quaisquer agências de viagens, em diversos roteiros
turísticos, na internet, nas vitrinas de inúmeras paróquias nacionais e estrangeiras, nos
aeroportos e gares marítimas, em jornais, revistas, rádios e televisão etc., etc..
De facto, Fátima está, desde os primeiros tempos, servida por estradas, caminhos-de-
ferro e por serviços de ligação entre os aeroportos nacionais!
A vila prosperou e o circo instalou-se!
Ávidos de lucro fácil, os comerciantes fixaram-se, os feirantes disputam os poucos
espaços a peso de ouro e os mendigos e larápios encontraram ali o paraíso.
Existe tudo para todos, até para aqueles que ali vão apenas por curiosidade.
As indústrias de quinquilharias fazem verdadeiras fortunas, mas o comércio local é que
é a parte visível dessa máquina e os lucros são invejosos.
É um negócio próspero e contínuo, sem muitas quebras, previsível e controlável.
Para receber todo esse mar de gente, existem os serviços necessários. Parques de
estacionamento automóvel, guias e postos de informação, apoios de várias instituições;
Camarários, bombeiros, cruz vermelha, escuteiros e outros de cariz religioso.
São especialmente os bombeiros e os voluntários de diversas origens, que dão apoio aos
peregrinos que se deslocam a pé por essas estradas fora, oriundos de muitos lugares.
Lavam-lhes os pés e tratam-lhes das feridas e moedelas. Os que caminham até Fátima
por estrada, fazem-no por promessa, mas também pelo convívio e pelas comezainas e
outras paródias de grupo. Chegam derreados mas com o sentimento de dever cumprido.
Pés por vezes em chaga, mas isso é por expiação dos pecados.
Para o menos abastados existem parques de campismo e caravanismo, para os restantes
são as pensões, as pousadas e os hotéis de 3 a 5 estrelas, (não as de Belém,
naturalmente).
Curioso e hilariante até, é vermos os nomes da maior parte desses estabelecimentos;
“Virgem Maria”, “Os três pastorinhos”, “Sagrado Coração de Maria”, “Santíssima
Trindade”, etc., etc., etc..
Bares, restaurantes, cafés, pastelarias e outros, utilizam o mesmo estratagema, que não
sabemos se resulta, mas que, no mínimo nos deixa escapar um sorriso de espanto.
As lojas de recordações, dominam em grande escala o comércio local. São realmente
incontáveis, multiplicam-se em cada ruela, em cada esquina, mas naturalmente
controladas pelos poderes instituídos, longe da aparente desordenação.
Vendem o produto da indústria santeira e de outras que nos é difícil adivinhar.
Os artigos religiosos terão, decerto maior procura, mas não se esgota aí o stock!
De entre os santos e santas, destaca-se a figura da “patrona” do lugar, Nª. Senhora de
“Fátima”. Representações de todos os tamanhos e em todos os materiais possíveis:
madeira, porcelana, plástico, metal (vários), vidro, gesso, barro, pedra (várias), cortiça,
cera... Luminosas, com música, e até com odores variados, não esquecendo as que
servem de barómetro, mudando de cor consoante esteja frio, calor, húmido ou chuvoso.
Repousam, esperando os compradores devotos, entre óculos de sol, sapatilhas, lenços e
bonés, juntamente com rosários, sombrinhas, pacotes de batatas fritas, crucifixos, terços
e caixinhas com imagens dos pastorinhos.
Pagelas da Madona confundem-se no meio de outras figuras da família celestial. Jarras
dos mais diversos materiais e estilos, reproduzem cenários diversos da história
santificada do lugar.
Meias, isqueiros, canetas, bolas, relógios, pratos, copos, sacos, quadros, pisa-papéis,
tudo pode ter, e nesse lugar tem obviamente, a marca do “milagre”.
Velas de todos os tamanhos e para todos os gostos, vendem-se em toda a parte, mas o
mais curioso e a acreditar nos seus rótulos, são os frascos e garrafas contendo água,
terra e até ar de Fátima! Receptáculos cabalísticos, relíquias sagradas de um lugar
sagrado!
Para os indecisos ou para os descrentes, também existem artigos sedutores; desde os
emblemas dos principais clubes desportivos do País até livros de banda desenhada.
Tachos e marmitas, porta-chaves e lanternas coabitam com Cristos crucificados, numa
autêntica orgia de paganismo!
Simplesmente medonho e deveras demoníaco, mesmo para os sentidos de um ateu
convicto.
Para todos os outros, este bizarro cenário não os molesta, antes faz parte do ritual.
Estranha forma de se ser peregrino ou de encarar a fé.
Mas Fátima não se resume apenas a isto! Isto é simplesmente um subúrbio de todo um
outro mundo. O mundo mágico que alimenta o imaginário e fortalece as crenças.
Nos dias de peregrinação o calendário é vasto, mas sobretudo a 13 de Maio. Nessa data
mística, são quase um milhão aqueles que ali se dirigem, esperando um milagre, uma
sublime bênção, uma solução para os seus problemas, um conforto de espírito ou
simplesmente um olhar profano e curioso, mas reconfortante.
Poucos são aqueles que ali vão, somente por curiosidade ou em trabalho.
Nesses dias, Fátima apinha-se de gente de todos os cantos do País, mas também de
todos os lugares do mundo Católico!
As ruas da vila enchem-se, o comércio fervilha de excitação em feroz mas ordeira e sã
concorrência. Aproveita-se ao máximo esse maná! Resumindo: ele repete-se numa
constante quase matemática.
Os comerciantes do local sabem bem quanto “devem” a Fátima. A autarquia também e
as finanças do país muito mais, não esquecendo os cofres do Vaticano!
Andando, como já andei, por essas ruas em dias 13, fica-se, (eu naturalmente fiquei)
atónito, espantado e incrédulo com o espectáculo. Confesso que já fui a Fátima por duas
vezes, embora por lá já tenha passado dúzias delas, quando me dirijo a Lisboa e por
força do itinerário dos autocarros que utilizo.
Dessas duas vezes, desloquei-me a Fátima para ver com os meus olhos e restantes
sentidos o que de facto ali se passa.
Qualquer descrição, como a que aqui tento fazer, fica longe de traduzir toda a realidade.
O célebre Walt Disney foi um pobre ingénuo. As suas cidades ou as Disneylândias que
remetem crianças e adultos para um mundo fantástico e sedutor, onde o irresistível
fascínio da fantasia enche o nosso imaginário de reconfortantes sensações, ficam muito
aquém daquilo que ali se pode absorver!
Freiras, gente vulgar, beatos e beatas, místicos, jornalistas, portugueses e estrangeiros,
comungam das mesmas necessidades e trocam, sem reservas favores e ajudas.
Fazem todos a mesma fila para adquirirem o mesmo. Seja um lugar à sombra, um copo
de água ou outro bem essencial. Todos esperam pacientemente, sem queixumes e
normalmente com um falso sorriso nos lábios.
No ar sentem-se vários aromas, o profano, o religioso, o indiferente, o materialista, o
crítico, o completamente adverso e inteiramente receptivo. O do incenso e da cera
derretida, o semblante do cínico e o do iluminado.
Os sons são também diversos e particulares. Desde as rezas e gemidos quase inaudíveis
até aos megafones, anunciando um qualquer evento ou um artigo em promoção, aos
avisos da polícia alertando o mau estacionamento de uma viatura que impede o avanço
dos fiéis em determinada zona.
Essa enorme Disneylândia fervilha de tudo! Tudo pode oferecer!
Nos intervalos de “qualquer coisa”, podem-se visitar as moradas dos videntes. As casas
dos três pastorinhos e os seus quartos, esperam os forasteiros e as suas dádivas, livres de
impostos e recolhidas em períodos de tempo sabiamente calculados.
No museu de cera, os curiosos que ainda possuam algum dinheiro nos bolsos, podem
apreciar as cenas de todo o historial milagreiro.
A especulação e o oportunismo estão patentes em todos os lugares. É o negócio
oportuno a exploração dos inocentes de espírito, o roubo das almas simples e incautas.
Porém, longe está ainda o espectáculo supremo.
O verdadeiro sentido de todo o sacrifício físico e de toda a esperança que até ali levou a
esmagadora maioria das gentes, está no santuário.
Aí é o lugar dos grandes cerimoniais. O ponto alto das cenas que reclamam almas para
engrossarem as fileiras do cristianismo.
Desde muito cedo os peregrinos vão chegando, tomando os lugares mais privilegiados,
dos que já estão ocupados por aqueles que ali chegaram muito antes.
Em simultâneo, outros acendem as suas velas, juntamente a outras quase extintas,
benzem-se e silenciosamente tomam os seus lugares. Outros ainda, em procissão,
passam pelo local das “aparições”. Rezam, dão dinheiro, cordões de ouro ou limitam-se
a orar, sob os olhares atentos de uns bem disfarçados “seguranças” que, de vez em
quando, encerram por momentos esse local, para o esvaziarem das oferendas.
Pelo corredor central que conduz à Basílica, inúmeros fiéis arrastam-se de joelhos, em
sacrifício por promessas atendidas, sob o olhar da populaça indiferente ou crítica.
Alguns, não muitos, rezam por estes, outros vertem lágrimas por adesão.
Sem mãos a medir estão os escuteirinhos e a sempre presente Cruz Vermelha, parecem
verdadeiros autómatos, auxiliando os mais carenciados ou débeis. Quem os vê, nessa
azáfama altruísta, não imagina os seus comentários posteriores!
As virgens Irmãs de uma qualquer organização religiosa, não querendo ficar atrás, vão
prestando algum auxílio, porém com maior recato.
Esse “vaivém” de auxílio, empresta ao acto um clima de segurança e de bem querer, que
acaba por suavizar os “participantes” e os espectadores.
Embora ao ar livre a atmosfera está carregada do cheiro dos milhares de velas e do
incenso que não pára de ser queimado. Lufadas de ar morno entram pelas narinas dos
presentes. Vómitos afloram às gargantas de alguns, para logo se transformarem em
convulsões mal contidas, na tentativa de não serem ridicularizados e, por ventura,
excomungados pela multidão.
Ordens religiosas irrompem por entre os fiéis, ostentam pendões e cantando hinos de
louvor e graças, enquanto alguns beatos circulam por entre eles, baloiçando
queimadores de incenso e mirra.
A grande ocasião, depois de várias horas de espera sob um sol escaldante
(principalmente em Maio), é compensadora. O clero, com as suas pomposas vestes
brancas faz a sua aparição no enorme terraço da basílica. Um bispo rodeado de meninos
com vestes brancas e púrpura, sobe ao púlpito. Começa a missa solene aos doentes, que
em macas ou cadeiras de rodas, aguardam ansiosos por um milagre que ponha termo ao
seu sofrimento.
Rezas e cânticos enchem o recinto, fazendo vibrar os corações e as estruturas do
edifício. Uns caem de joelhos, outros fitam o céu, outros ainda vertem lágrimas e oram
baixinho, muitos ficam apenas hipnotizados pela corrente energética e alguns olham de
boca aberta para tamanho êxtase colectivo, sem encontrarem explicação.
Decerto que a mise-en-scène é perfeita e até comove o coração mais empedernido!
É um facto inegável, que seja difícil ficar indiferente perante tamanha “força”, mesmo
consciente de que tudo não passa de puro teatro!
Nos “bastidores”, onde os responsáveis religiosos se preparam, surgem os gracejos e as
piadas, muitas vezes obscenas, a propósito do que se passa lá em baixo, onde o povo os
aguarda com fervor, mas não os pode escutar.
Serão as “naturais” reacções de quem preferia estar a ver tudo aquilo pela televisão ou
porque satã quis fazer das suas, espicaçando maldosamente os inocentes corações dos
sacerdotes? Quem irá saber?
Poderão até pensar que isto que digo é uma blasfémia, ou uma ignóbil mentira. Não o
poderei provar naturalmente, por nunca ter percorrido esses “bastidores”, mas conheço
quem os tenha palmilhado e me garanta por sua honra que assim é, e que por essa razão
hoje é uma pessoa indiferente a essa “palhaçada”, continuando contudo a ser católico!
Durante o dia sucedem-se as orações interruptamente, à tarde outra missa solene, toma
conta dos fiéis, cada vez em maior número. Esse serviço litúrgico é um dos mais
aguardados, mas longe ainda do sublime. Normalmente este santo ofício é proferido por
uma alta figura da Igreja Católica, um Bispo, um Cardeal e por vezes pelo próprio Papa,
o que efectivamente é raro mas não único. A voz solene do orador electriza a multidão.
Caustica os ouvidos, mas suaviza as almas. O santo sermão tem também o poder
“mágico” de despertar de novo nesse dia os grupos de “santas virgens” e beatos de
várias “ordens”, assim como despertam os escuteirinhos e outros grupos de “jovens
católicos”, um pouco afectados pelo almoço, mas corajosamente prontos a actuar, tal
como os bombeiros voluntários.
Repetem-se algumas procissões espontâneas, mas bem organizadas. De novo os
pendores, as rezas, os olhares vagos, perdidos no espaço e no tempo. De novo as preces,
de novo os pedidos de clemência e de perdão.
Contudo, em cada íntimo existe uma espera. Todos anseiam pela apoteose final, mas
essa só se realizará, quando o Sol tenha desaparecido. Faltam ainda algumas longas
horas.
Neste meio tempo, tal como de uma peça teatral se tratasse, os efeitos luminosos,
odoríferos e sonoros, vão “atingindo” sem misericórdia os sentidos dos espectadores.
Neste caso curioso, os espectadores são também voluntários e activos participantes
(quase todos).
Pompa e circunstância são os pilares de todo o evento.
Os cânticos alternados entre os vários elementos do coro religioso, sabiamente
ensaiados, jogando com as vozes graves e respeitáveis dos adultos, os falsetes dos
jovens tenores e as notas suaves e doces das gargantas infantis, acompanhadas do som
austero do afinadíssimo órgão, compõem uma das “partes” mais importantes. O
objectivo é simples; Todo este fausto e grandiosidade, destinam-se a aniquilar e
subjugar o mais intrépido espectador. Como é possível não nos sentirmos minúsculos,
insignificantes, pecadores e desprezáveis, perante tamanha força!
Literalmente esmagado, submisso e receptor, eis o estado em que estão quase todos os
presentes!
Esta velha “técnica”, utilizada inúmeras vezes pelas forças políticas, sejam quais forem
as ideologias ou os fins, resultam a mais de 95%!
A noite cai sobre a Basílica, ligam-se os holofotes, acendem-se milhares de velas e
espera-se pelo cortejo solene.
Um sem número de religiosos de todas as “categorias”, formam uma longa e
disciplinada procissão. Na frente surge o andor da padroeira do lugar, a Senhora
milagrosa, a Mãe de Jesus Cristo ou a de Fátima, pouco importa, é Ela!
Pequeno e simples, mas sóbrio, como ela própria, iluminado pela tecnologia e pelos
corações dos crentes, entre singelas e brancas flores, o andor percorre pausadamente o
longo corredor.
Este é na verdade o momento alto, um dos objectivos de todas aquelas almas. Todo o
sofrimento físico é insignificante perante esta derradeira cena!
Por fim a imagem da Senhora recolhe ao seu altar. Faz o mesmo caminho, mas em
sentido inverso.
É a “procissão do adeus”. Milhares de lenços brancos surgem nas mãos dos peregrinos e
assim ficam, acenando à Virgem!
Os desejos não contemplados, não serão jamais criticados. Talvez o pecado seja maior
do que a promessa paga!
Todos os fiéis deram por bem empregue o “pequeno” esforço! Para o ano, quem sabe?
Cai o pano!...

EPÍLOGO

Desde que a humanidade ganhou entendimento, os mistérios apareceram. Primeiro,


eram demasiados e o medo instalou-se.
Aos poucos, alguns mistérios foram sendo desvendados, mas outros perduram até aos
nossos dias!
Pode parecer, à primeira vista, que tantos anos volvidos, não se sabe ao certo quantos,
mas são decerto muitos, ainda existam tantos mistérios por esclarecer. Talvez seja bom
que assim se passe. O ser humano necessita sempre de um qualquer mistério por
resolver, senão a vida não teria nenhuma graça!
Alguns mistérios criam crenças e com elas reacendem-se os temores, as lendas, histórias
e superstições.
A ignorância daquilo que está para além do nosso entendimento, leva-nos a criar alguns
mundos de fantasia. Deuses, demónios e naturalmente o “meio” de nos relacionarmos
com essas criaturas inatingíveis e ao mesmo tempo implacáveis. Para muitos de nós,
pobres mortais, tentamos desesperadamente reconciliarmo-nos com elas, para que as
nossas vidas decorram serenas e sem receios de represálias impiedosas.
Os deuses personificam a suprema autoridade na esfera da luz e do bem. Os demónios
são as trevas e o mal. Mas os deuses, também são severos e castigam mais do que os
demónios!
Com uns e outros temos que lidar, com os primeiros estamos mais ou menos seguros,
mas ao menor deslise, já “sabemos” o que nos espera!
Triste sina a que a humanidade tem lutado desde tempos imemoriais.
Todos os povos do mundo respeitam uma determinada filosofia religiosa, a ela são
devotos e crentes e a ela consagram grande parte das suas existências.
Algumas filosofias têm um pouco de lógica, mas outras…
O crer em algo ou alguém, faz parte da nossa condição de humanos insignificantes,
ignorantes e temerosos. Aqueles que em nada acreditam (acreditar e ter fé é aceitar sem
questionar), são os “marginais”, são as ovelhas tresmalhadas do rebanho.
Falar de Fátima, de modo tão directo e frontal, justifica uma visão crítica de um estrato
da população deste Planeta que, embora no seio de uma civilização pretensamente
acima de muitas outras, não passam, também eles, de tristes mortais cercados de medos
e de ignorância que muitos deles ousam combater, na maioria dos casos, sem grande
sucesso. Uma pena!
Neste caso particular, a Igreja Católica Apostólica Romana, faz o seu eterno papel.
Marginaliza-se, continua sinicamente a deixar o tempo apagar memórias e arrecada
milhões de “contos” sem impostos, pela simples razão de que ninguém dá contas a
ninguém e o seu silêncio relativamente à verdadeira verdade é a sua melhor defesa.
Ponto final!
Brevíssima cronologia:

1918-Antes de estar concluída qualquer investigação séria sobre os fenómenos de Fátima, o


Papa Bento XV fazia uma alocução favorável às aparições.

1919-(5 de Abril) -Morre Francisco Marto, um dos pastorinhos/videntes, supostamente vítima


do surto de pneumónica que grassava no país. Tinha nessa altura apenas 11 anos de idade
(Aljustrel).

1919-(28 de Abril) -O pároco da freguesia de Fátima, padre Manuel Marques Ferreira, envia o
seu relatório sobre os eventos ao Patriarcado. Haviam-se passado dois anos.

1920-(20 de Fevereiro) -Morre no hospital de D. Estefânia, em Lisboa, Jacinta Marto a mais


jovem pastorinha/vidente, vítima de insuficiência respiratória. Supostamente, tal como seu
irmão, por via da peste. Tinha apenas 10 anos de idade

Cerca de três anos depois, duas das principais testemunhas dos eventos tinham falecido, e com
isso, jamais existiriam contradições, pois apenas Lúcia dos Santos vivia.

1921-(17 de Junho) -Lúcia dos Santos, a única vidente viva, com apenas 14 anos de idade, é
retirada do seio familiar e enviada, sob pressão da Igreja (especialmente do bispo de Leiria),
para um asilo da Ordem das Religiosas de Santa Doroteia, organização de forte influência
jesuíta, na localidade de Vilar, perto da cidade do Porto. De bolandas, sempre prisioneira e
controlada, entre Espanha e Portugal, inventando segredos e visões, acabaria por morrer em 13
de Fevereiro de 2005. O seu corpo foi levado do Convento das Carmelitas Descalças em
Coimbra, para a sua derradeira morada, levando consigo toda a trama a que havia sido sujeita
durante oitenta e quatro anos de clausura.

Definitivamente, livres da última testemunha manipulada durante todo esse tempo, a Igreja com
todo esse império já montado, respirou de franco alívio.

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Para a Igreja, a Fátima de 1917 é aquilo que o povo deseja que seja e assim será até um dia.
Agora há que festejar os cem anos dessa farsa e fazer votos para que ela continue. Para quem
lhes descobriu a “careca”, que a terra lhe seja leve e que rapidamente caia no esquecimento.
Os dias desta farsa gigantesca, hão de ter um fim, que já tarda!
Para os prezados leitores, confio-lhes o bom senso e o espírito da dúvida e do interesse.

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*- Para os mais curiosos e interessados, informo que as obras literárias mais significativas que
vos poderão responder a todas as dúvidas, se encontram nas principais bibliotecas públicas do
país. As suas referências são:

-D’Armada, Fina, Fátima o que se passou em 1917, Livraria Bertrand, 1980.

-Fernandes, Joaquim/Fina d’Armada, Intervenção Extraterrestre em Fátima - as


Aparições e o Fenómeno Ovni, livraria Bertrand, 1981.
ANEXOS

O documento em anexo a este trabalho, não invalida a consulta às obras atrás citadas.
Ele encontra-se disponível também no site da PUFOI (Portuguese UFO Investigation),
sob o título “Cova da Iria-Fátima” (Ficha do caso).

COVA DA IRIA – FÁTIMA - (ficha do caso)

Ficha do caso: nº. 005 da casuística nacional*


Data/hora: 1917 – (consultar texto)
País: Portugal
Local: Cova da Iria (Serra de Aire), Fátima, concelho de V. N. Ourém, distrito de
Santarém (Leiria)
Localização Geográfica: lat.:39º 36’ N, long.: 08º 36’ W
Altitude: 352 m (acima do nível do mar)
Características geológicas: Terrenos do Jurássico “camadas de Montejunto”,
Oxfordiano. Inúmeras falhas tectónicas estáveis na região da Serra de Aire. Limites de
terrenos Batonianos. Zonas pontuais do Cretácio inferior, perto de Cova da Iria.
Algumas linhas de água importantes, poucas constantes. Nascentes subterrâneas
regulares, grutas de referência na região próxima.
Características gerais: Zona do interior rural. Mini latifúndios; cultivo familiar, gado
bovino, caprino, ovino e suíno, quase que para exclusivo uso doméstico.
Agricultura de subsistência. Escassos recursos.
Fauna/flora indígenas: Espécies cinegéticas Ibéricas, mamíferos, aves e répteis
selvagens; lobos, cabras, furões, magustos, lebres etc., águias, milhafres e outras.
Pinheiro bravo, azinheira e árvores de floresta Europeia. Árvores frutíferas de plantio, e
vastas zonas de pastagem e de cultivo.
Hidrografia: Não significativa.
População: Essencialmente rural. Altos níveis de analfabetismo, crentes, quanto á fé
católica, muito dependentes, escassos recursos. Não existem dados concretos sobre o
exacto número de habitantes locais, mas estimativas apontam para cerca de meio milhar.
Número de testemunhas: Inicialmente 3 (13 de Maio de 1917**), por último cerca de
50 a 70 mil (13 de Outubro de 1917), maioritariamente oriundas de outros locais.
Classificação geral, tipo Hynek: EI-3 segundo estas normas internacionais adoptadas,
mas sem classificação alguma, atribuída pela nossa investigação, dada a diversidade de
factores que compõem este inédito caso.

* Esta compilação inclui as ocorrências apuradas nas ex-colónias Portuguesas, daí o


número 005, atribuido a este caso.

** Não estão aqui consideradas as observações anteriores, porventura efectuadas pelas 3


crianças e outras, entre Abril e Outubro de 1915, na gruta do Outeiro, e cerca de um ano
depois no mesmo local.
Testemunhos directos (ver fotos no fim):

Lúcia de Jesus Santos, nascida a 22 de Março de 1907, filha de Maria Rosa e António
dos Santos, prima de Francisco e Jacinta, por parte de sua mãe que era irmã de Manuel
Pedro Marto, pai dessas crianças. À altura dos acontecimentos de 13 de Maio, Lúcia
tinha 10 anos de idade. Durante quase todo o resto da vida, viveu enclausurada na
ordem religiosa das Carmelitas. Faleceu a 13 de Fevereiro de 2005.

Francisco Marto, irmão de Jacinta e primo de Lúcia, nascido a 11 de Junho 1908, filho
de Olímpia de Jesus e de Manuel Pedro Marto (irmão da mãe de Lúcia). Por seu turno,
Olímpia era irmã do pai de Lúcia. À data dos acontecimentos de 13 de Maio tinha 9
anos. Faleceu a 5 de Abril de 1919.

Jacinta Marto, irmã de Francisco e prima de Lúcia. Nasceu a 11 de Março de 1910. Foi
a vidente mais nova (apenas com 7 anos a 13 de Maio de 1917). Faleceu em 20 de
Fevereiro de 1920.

Testemunhos indirectos/participativos:

Carolina dos Santos Carreira – Chamada 4ª vidente, pela investigadora Fina d’Armada.
Teria observado, juntamente com os três principais garotos, aquilo a que chamaram “os
anjos”. Posteriormente, esteve sempre presente nos dias 13. Era filha de Maria Carreira,
uma mulher que teve um papel muito activo no desenrolar dos acontecimentos. A Drª.
Fina d’Armada entrevistou-a em 28 de Julho de 1978. Carolina Carreira faleceu em
1981 e foi sempre ignorada por todos, principalmente pelos membros da Igreja Católica.

Maria Carreira – Mãe de Carolina, tinha 44 anos de idade à altura dos acontecimentos
(as ditas “aparições). Desde o início acreditou que todos os fenómenos tinham origem
divina e que a criatura que nunca viu, era Nª. Senhora. Muito católica e empreendedora.
Parece ter assistido a parte da primeira “visão” a 13 de Maio, pois referiu ter visto as
ovelhas paralisadas. Esteve presente na segunda aparição em 13 Junho de 1917.
Mandou limpar o local de ervas e pedras e mandou construir um pórtico em madeira em
jeito de capela e uma mesa de madeira em jeito de altar. Fotografias da altura mostram
os videntes e esse cenário. Como começaram a aparecer dádivas em bens e dinheiro,
desde essa altura se prontificou a ser a tesoureira, cargo que exerceu durante quase toda
a vida, com consentimento da Igreja. Era conhecida como a Maria da Capelinha e foi
uma das principais obreiras do que viria a ser o grandioso Santuário ali erguido. O povo
dizia que Maria da Capelinha era a mãe e a tesoureira de Fátima. Faleceu a 21 de Março
de 1949. Depois da sua morte, foi completamente ignorada pela Igreja Católica.

Gilberto Fernandes dos Santos – Jovem comerciante de Torres Vedras e um dos que,
nas últimas aparições, esteve presente na Cova da Iria, muito perto dos três pastorinhos.
Teria tido visões do inferno (?) e apercebeu-se de vários fenómenos adjacentes em
simultâneo com as ditas aparições. Nunca viu nem ouviu nada, mas por estar demasiado
perto dos garotos, referiu que a azinheira estaria envolta em cones de luz. Gilberto dos
Santos acabaria por se tornar no devoto mais importante, ao oferecer uma imagem da
Virgem Maria, comum a tantas outras, mas neste caso, vestida de branco e com alguns
sinais particulares inventados por um santeiro de Braga. Dessa imagem foram feitas
milhares de cópias e ainda hoje se multiplicam. De referir que essa imagem é totalmente
inventada e em nada é semelhante à descrição que Lúcia dos Santos fez nos Inquéritos
Paroquiais, levados a cabo pelo padre Manuel Marques Ferreira. É também de sua
autoria o hino de Fátima, sobejamente conhecido. Tal como os restantes, foi
completamente ignorado pela Igreja Católica.

Outras personalidades directa ou indirectamente ligadas ao caso:

Maria Rosa Matias, Teresa Matias, Maria Justino – Outras crianças que, em 1915,
juntamente com Lúcia de Jesus, observaram, no Outeiro do Cabeço, aquilo que
designaram como algo parecido com uma nuvem, mais branca que a neve, transparente
e de forma humana. A 1ª face das aparições dos “Anjos”.

Manuel Marques Ferreira (Padre) – Foi o pároco da freguesia de Fátima, um pequeno


lugar, por essa altura.
Foi o primeiro a interrogar os três videntes e a elaborar um vasto relatório, apontando a
originalidade dos factos, tal como saíam das bocas das crianças.
Foram os chamados “Inquéritos Paroquiais”, que só em 28 de Abril de 1919 seriam
enviados ao Patriarcado. Abandonou a paróquia de seguida.
O espólio do seu trabalho não foi destruído e encontra-se na posse da Igreja.

José Ferreira Lacerda (Padre) – Soube dos acontecimentos da Cova-da-Iria, mas só


inquiriu os videntes em 19 de Outubro de 1917, cerca de uma semana depois do célebre
13 de Outubro, com o propósito de publicar, em primeira mão, esse extraordinário
evento, no Jornal “O Mensageiro”, do qual era director.
Ao que consta, não fez qualquer relatório, ou algo semelhante. Estava em França como
capelão voluntário do corpo expedicionário português, na primeira grande guerra, desde
2 de Maio de 1917, regressando a Portugal a 25 de Setembro para resolver assuntos
relacionados com Fátima.

Nunes Formigão – Visconde Montelo (Cónego) – Era doutorado e professor do


Seminário de Santarém. Esteve como observador dos eventos de Fátima, possivelmente
a partir de Julho/Agosto. Interrogou várias vezes os videntes, mas não respeitou na
íntegra os factos e a dialéctica utilizada pelas crianças, introduzindo o seu próprio
raciocínio e interpretação, nos textos, artigos e livros.
Usava como pseudónimo o “título” de Visconde Montelo.
Em 13 de Outubro de 1922 funda o jornal “A Voz de Fátima”.
É considerado o primeiro historiador de todos os acontecimentos relativos às aparições.
Escreve diversos livros; talvez o mais conhecido seja “As grandes Maravilhas de
Fátima”, assim como dezenas de artigos jornalísticos.

D. José Alves Correia da Silva – É nomeado em 1920 para, pela primeira vez, ser bispo
da diocese de Leiria, criada propositadamente para dar resposta aos acontecimentos em
curso, relacionados com Fátima.
Todas as acções posteriores, desencadeadas nos anos seguintes, são de sua “directa”
autoria.

Dr. Pereira Gens – Jovem estudante de medicina, haveria de se tornar director dos
Serviços do Hospital do complexo da Cova-da-Iria.
Exerceu, à altura dos eventos finais (possivelmente a partir de Setembro ou Outubro),
grande influência nas famílias dos três videntes.

Avelino de Almeida – Jornalista do jornal “O Século”, um dos maiores jornais diários do


país, com grande expansão. Publica, logo após os acontecimentos de 13 de Outubro de
1917, um artigo, cujo título sugestivo (por ele inventado), se referia a um “Milagre do
Sol”. Tal foi o sucesso, que a sua “invenção” pegou e ainda hoje se fala num “Milagre
do Sol” quando se recorda Fátima.

J. Thedim – Santeiro da Casa Fânzeres. Bracarense; executou, a pedido de Gilberto dos


Santos, uma imagem que este desejava oferecer ao lugar e ao povo da Cova-da-Iria
(uma imagem para o culto já formado).
Sem possuir elementos concretos, inspirou-se numa imagem de Nª Senhora da Lapa; fez
apenas algumas alterações relativamente à cor das vestes, à expressão do rosto e em
alguns símbolos, como a estrela dourada na baínha do vestido.

Artur de Oliveira Santos – Administrador do Município de Vila Nova de Ourém.


Levou para sua casa os três pastorinhos em 13 de Agosto de 1917, na tentativa de
acabar com toda a balbúrdia que se passava na Cova-da-Iria.
Era um republicano e anticlerical convicto, fundador de uma Loja Maçónica e substituto
do Juiz na Comarca.
Foi o “mau da fita” ao tentar saber o que se passava e restabelecer a ordem pública,
completamente incontrolável.
Fez aquilo que qualquer um hoje faria na mesma situação; revelou-se um homem
equilibrado, racional, objectivo e impermeável ao que considerou ser abusivo e fora de
controlo.

Carlos Azevedo Mendes – Jovem advogado de 29 anos, mais tarde deputado à


Assembleia da República, resolveu visitar o local de tão reclamados prodígios. Em
Setembro, foi assistir ao evento e conviveu com os “pastorinhos”. Numa carta que
escreveu à namorada, diz: As crianças dizem sempre que lhes aparece uma Senhora,
mas não sabem quem é. A Senhora só lhes revelará a identidade no dia 13 de Outubro.

Dr. Almeida Garrett – Filho de um catedrático da Universidade de Coimbra, de seu


nome Garrett, que também esteve presente no dia do dito “Milagre do Sol”.
Observou os fenómenos de 13 de Outubro de 1917. Relativamente ao chamado
“Milagre do Sol”, testemunhou o que lhe pareceu, não apontando qualquer relação com
o astro-rei. A sua observação teria durado 10 minutos. Escreveu um trabalho sobre o
evento e a “miraculosa nuvem de fumo” que surgia sobre a azinheira.

Engº Mário Godinho –


Maria Emília V. Barbosa –
Augusto Pereira Reis –
Maria Cândida da Silva –
Júlio Vicente –
Palmira Pinheiro Costa –
Testemunhas idóneas, presentes em 13 de Outubro de 1917, as quais forneceram, com
os seus depoimentos, pistas importantes sobre os fenómenos observados. Pessoas cultas,
eruditas, que deixaram escritas as suas opiniões.
Graças a estes e muitos outros, é possível saltar do imaginário para o real.
Gonçalves (Padre) – Em 1929, foi um dos principais confessores jesuítas de Lúcia.
Figura proeminente na Ordem dos Jesuítas.

Francisco (Padre) – Figura proeminente na Ordem dos Jesuítas.

Rodrigues (Padre) – Figura proeminente na Ordem dos Jesuítas.

Naturalmente que seria impossível incluir neste espaço todos os intervenientes


conhecidos. Estes, serão, porventura, os mais significativos.

Resumo do caso
Corria o ano de 1917, estava-se em Portugal, um País pobre e inculto, que atravessava
uma das maiores crises da sua história. As profundas convulsões políticas a par com o
subdesenvolvimento de uma sociedade essencialmente rural, o poder religioso
debatendo-se entre a incerteza da continuidade, o gigantesco esforço de guerra nas
frentes sangrentas dos campos de batalha franceses, a peste que dizimava o povo, a falta
de recursos e o natural afastamento das realidades sociais e filosóficas desse momento
histórico no resto do Mundo, o isolamento que se vivia a quase todos os níveis, criaram
a vulnerabilidade que iria proporcionar as interpretações surgidas após um conjunto de
fenómenos ocorridos numa zona rural apagada, longe dos centros urbanos sem
quaisquer meios.

Habitada por pacatos aldeões, sem cultura e instrução, profundamente devotos ao


cristianismo, ingénuos e crédulos, dentro da sua simplicidade, num cenário bucólico e
parado num tempo de mudança real. Seria nesse cenário que iria acontecer um dos
factos mais importantes da história das experiências humanas.

Três modestas crianças, filhas daquele mesmo povo e lugar, foram as protagonistas.
Visões de seres angelicais teriam iniciado o que se julga ter sido um pré-contacto. Estes
eventos teriam começado entre Abril e Outubro de 1915, perto da gruta do Outeiro, em
que por três vezes Lúcia dos Santos, seus primos Francisco e Jacinta, juntamente com
outras crianças da mesma idade teriam sido confrontadas com essas criaturas. Na
primavera/verão do ano seguinte (1916), no mesmo local, voltariam a ver esses “anjos”,
tal como foram identificados. Desta vez apenas os três garotos teriam sido
“contactados”. Teria sido na última aparição dessa criatura (nem sempre com o mesmo
aspecto), que esta lhes teria dado por este, substâncias para ingerir.

A Lúcia, nessa data, com a idade de 9 anos, teria ingerido uma substância sólida de cor
esbranquiçada, enquanto que o Francisco (8 anos) e a Jacinta (6 anos), teriam bebido um
líquido de cor vermelha, ao que após essa ingestão ficaram durante algumas horas
prostrados no solo.
Desde o entendimento “verbal” com a criatura, designada como um lindo jovem loiro
com aproximadamente 14/15 anos, até à ingestão dessas substâncias e ao seu efeito,
decorreria cerca de um ano, para acontecer a visualização de uma entidade de aspecto
humano, pairando sobre uma pequena azinheira. Curiosamente, a 7 de Fevereiro desse
ano, mensagens mediúnicas teriam sido captadas por espíritas e posteriormente
divulgadas em vários jornais. Sem se saber ao certo do que se tratava, um dos anúncios
publicado no “Diário de Notícias” de 10 de Março podia ler-se - «13597 Não esqueças o
fia feliz em que findará o nosso martírio. A guerra que nos fazem terminará. A. e C.». a
13 de Maio, no dia da primeira aparição, sai no “Jornal de Notícia”, o seguinte anúncio -
«A guerra e o espiritismo – Revelação sensacional – recebemos ontem um postal, cujo
texto passamos a reproduzir: Porto, 11 de Maio de 1917. Srs. Redactores: Foi
participado pelos Espíritas a diversos grupos espíritas, que no dia treze do corrente há-
de dar-se um facto a respeito da guerra, que impressionará fortemente toda a gente.
Tenho a honra de me subscrever. Espírita e dedicado propagandista da verdade. –
António».

Francamente curioso e difícil de incluir em “manifestações” de cariz divino!

Também curioso foi o facto de no dia 10 desse mês de Maio (três dias antes de Cova-
da-Iria), no lugar chamado Prado na localidade do Barral em Vila Chã, concelho de
Ponte da Barca (arquidiocese de Braga), um jovem pastorinho de nome Severino Alves
de dez anos, ao dirigir-se para o monte pelas oito horas da manhã e ao passar pela
ermida de Santa Marinha, deu-se conta de um relâmpago e da aparição de uma jovem
senhora muito bela, sentada com as mãos postas. O seu rosto era lindo e toda ela coberta
de luz, com um manto azul e um vestido branco. O rapazito teria ficado em choque e
contou a sua história ao pároco da freguesia que o incentivou a ir de novo ao local. No
dia seguinte repetiu-se a situação, mas dessa vez a visão ter-lhe-ia dito:

«Não te assustes, sou eu, menino…» Dir-lhe-ia que a guerra seria aplacada se rezassem
à “Estrella do Ceo” e apontando para uma ramada, teria dito - «Que gomos tão lindos,
que cachos tão bonitos» - e desapareceu.

Este insólito caso nunca conheceu a fama, como em Fátima, embora seja descrito pelo
padre Jacinto dos Reis, no seu livro “Invocações de Nossa Senhora em Portugal de
Aquém e Além-Mar e seu Padroado”, editado em 1967, págs. 85 a 87, no orago a Nossa
Senhora do Barral (?).

A 13 de Maio de 1917, Dar-se-ia a primeira de seis aparições, na Cova-da-Iria, onde a


pequenita Lúcia foi a que “sustentou” e liderou todos os “contactos” com uma
misteriosa personagem que só ela “via” nitidamente.

Essa “criatura” de aspecto humano e feminino, aparentava 12 a 15 anos de idade. Muito


bela e luminosa, apenas era “observada” ao pormenor, por Lúcia. Os seus primos nunca
a teriam “visto” muito bem, nem com ela mantido contacto “verbal” e o povo nunca
nada viu.

Estabeleceu-se com essa entidade uma espécie de diálogo, em que Lúcia fazia perguntas
e a entidade respondia “dentro da sua cabeça”.

“Ela fala, mas eu não a ouço, é dentro da minha cabeça que ouço ela falar”.
De princípio, a pequenita Lúcia julgou tratar-se do diabo em forma de gente.

Desde 13 de Maio de 1917 a 13 de Outubro do mesmo ano, sucederam-se em dias e


horas certas esses contactos, coalhados de episódios extraordinários, onde não faltaram
efeitos secundários, designadamente sonoros, audíveis e visíveis.

Curiosamente, o povo que se juntava para assistir ao fenómeno, nada conseguia ver
sobre a azinheira. A entidade só aparecia a Lúcia e só com esta falava.

Quem se encontrava muito perto dos pequenitos, ouvia a voz de Lúcia e uma espécie de
zumbido.

O natural impacto destes acontecimentos numa sociedade com as características atrás


descritas, teve os seus dividendos.
A incredulidade inicial do povo depressa deu lugar às especulações mais diversas. A
leitura imediata apontava, sem reservas, para um evento Divino.

Durante os cerca de 15 minutos que durava o fenómeno (num total de quase 2 horas),
foram descritos alguns efeitos:

No início de cada “aparição”, o povo descrevia um trovão, tremor de terra ligeiro, uma
espécie de sopro, uma espécie de fumo, diminuição da luz solar e nas aparições finais,
queda de filamentos e sobrevoo de esferinhas luminosas.

Efeitos:

Tal como já foi referido várias vezes, desde a primeira aparição da “entidade”, foram
detectados e observados vários fenómenos na área de contacto, provocando, muitos
deles, efeitos quer no ambiente, na flora e fauna, como nas pessoas. Uns, apenas foram
“observados” ou “sentidos” pelos videntes, outros foram vistos por todos:
- “Flashs” de luz, focos ou luminosidades “compactas” que se moviam; “lá vem ela”…
uma forma luminosa. Muitos extra – videntes aperceberam-se deste fenómeno.
- Diminuição da luz solar, quase sempre detectada pelos videntes e extra – videntes.
- Uma estranha nuvem sobre a azinheira.
- Névoa sobre a copa da azinheira na altura do contacto, nem sempre observada.
- Focos ou cones de luz (energia) sobre a área específica do contacto: Um. Mais
pequeno, que apenas incidia na copa da azinheira, provocando talvez a névoa descria e
outro, maior, que “cobria” a pequena árvore e os videntes. Ninguém, a não ser Gilberto
dos Santos, se apercebeu desses fenómenos.
- Som de zumbido, perceptível pelos extra – videntes muito próximos, quando se
efectuavam os diálogos.
- Estrondo ou som de foguete ou até um silvo quando terminavam os contactos dos
videntes com a “entidade”. Há referências deste ruído também no início.
- Efeitos cromáticos no ambiente envolvente, principalmente no dia 13 de Outubro. As
pessoas e as coisas tomaram mil cores, verde, azul, prateado, etc…
- “Explosões ou tremores de terra”; sons fortes e vibração do solo.
- Efeitos psico – físicos nos videntes, principalmente no período dos pré – contactos.
- Efeitos sobre os animais, domínio psico – somático: pré – contactos.
- Nuvens estranhas e solitárias “movimentando-se” no espaço próximo.
- Objectos luminosos de pequenas dimensões que sobrevoaram a multidão a baixa
altitude. Teriam o tamanho de um ovo ou de um punho. Muitas pessoas viram estes
fenómenos nos dias 13 de Setembro e 13 de Outubro.
- Efeitos caloríficos nas pessoas, provocados pelo objecto observado em 13 de Outubro.
O objecto circular ou discóide desceu sobre as pessoas que estavam encharcadas devido
à chuva e secou-as de imediato.
- Objecto esférico, circular ou discóide observado em 13 de Outubro. Saiu de uma
nuvem e evolucionou durante uns minutos sobre a multidão. Era luminoso e silencioso.
Provocou efeitos cromáticos e caloríficos em seu redor e voltou para a nuvem. Durante
a exibição mudou de cor, espalhou colorações várias, viram-se luzinhas, etc.
Era um objecto de aspecto sólido, que executou manobras de voo inteligentes.
- Figuras dentro do objecto (?). Muitas pessoas, incluindo os videntes, viram figuras
humanas dentro do objecto descrito ou dele projectadas para o espaço muito próximo.
Observaram-se “criaturas” de aspecto masculino e feminino. Também foi observada
uma “criança”. Foram identificados pelos videntes e extra – videntes como a Sagrada
Família: S. José, Nosso Senhor, Nossa Senhora, o Menino Jesus.
Teriam gesticulado para a multidão: “Deram a bênção, acenaram num adeus, saudaram
o povo”.
- Odores diversos, especialmente na observação de Valinho. Cheiros agradáveis foram
detectados nas plantas.
- Avarias mecânicas em viaturas (13 de Outubro): Combustão espontânea do
combustível da viatura, vidros estilhaçados.
- Curas espontâneas (13 de Outubro), quistos, pequenos tumores, alterações cutâneas,
feridas, inchaços, etc.
- Queda de filamentos esbranquiçados e fibrosos sobre a multidão.
- Marcas nas folhas da copa da pequena azinheira, no local da incidência do cone
menor.
- Efeitos psicológicos “mostrando” imagens terríveis: o inferno ou projecção de
imagens restritas, cujo destino seriam as pessoas (videntes e extra – videntes) muito
próximas dos cones de luz/energia, provavelmente “difundidas” a partir da “bola” ou
“coração com espinhos”, detectado na “entidade”. Lúcia deu-se conta e Gilberto dos
Santos também.
Todo este vasto conjunto de anomalias, mesmo nos tempos de hoje, causaria profundas
reacções nas pessoas.

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De toda a série de fenómenos ocorridos durante essas seis intervenções, o mais


espectacular seria o de 13 de Outubro. Nesse dia chuvoso, Cova da Iria tinha ente 50 a
70 mil pessoas esperando um “anunciado milagre”, dado que o povo vinha pedindo a
Lúcia que essa “Nossa Senhora”, para provar ser a Virgem Maria, teria que fazer um
milagre.

De facto, pela hora do costume, meio-dia solar, apareceu um objecto esférico dentro de
uma suposta nuvem, que se movimentou por sobre a multidão. Desceu repentinamente
sobre as pessoas, causando uma “onda de calor”, que secou a roupa molhada dos que
ficaram na trajectória do objecto. Ao mesmo tempo que ali perto, sobre uma azinheira, a
mesma entidade contactava, pela última vez, as três crianças, enquanto toda a atmosfera
próxima foi invadida por estranhas colorações e belos efeitos cromáticos.

“Parecia um disco de prata fosca”, “uma bola com luzinhas à volta”.

A riqueza testemunhal foi enorme e as descrições preciosas.


Depois tudo terminou. Apenas os testemunhos dos videntes referem a entidade
observada. Ninguém mais, a não ser estes, a viram.

A entidade nunca chegou a dizer quem era e mentiu, quando teria dito, “a guerra
termina hoje”, referindo-se a esse mesmo dia, 13 de Outubro de 1917.

De facto, a guerra terminaria um ano mais tarde.

No dia seguinte ao do “milagre”, o jornalista do jornal “O Século”, Avelino de Almeida,


publicava um artigo em primeira página designando o objecto observado, como tendo
sido o Sol. Assim ficou até aos nossos dias., embora fosse o único a referir o nosso astro
rei, que foi observado com normalidade, ao contrário de toda a gente. Houve até quem
visse figuras humanas dentro desse objecto e houve quem o observasse através de
binóculo.

Infelizmente, a doença subtraiu do número dos vivos, duas das três crianças, pouco
tempo depois. Restou apenas Lúcia, a pastorinha analfabeta, inculta mas inteligente.

O primeiro inquiridor dos factos foi o pároco da igreja local, padre Manuel Marques
Ferreira, uma das únicas pessoas cultas do lugar, que ouviu as três crianças, teve o
cuidado de deixar escrito os diversos interrogatórios que fez aos “videntes”, descreveu
com todo o rigor a figura, assinalando o facto de ser uma menina muito bonita, vestida
de branco, saia pelo joelho, aos gomos, com fiozinhos dourados, assim como uma capa,
do mesmo estilo que a saia. Pormenorizou todos os acessórios assim como toda uma
série de pormenores. A descrição da entidade mereceu grande destaque nesse relatório,
dado que o vestuário não podia ser compatível (à altura), com uma possível pessoa de
bom porte, visto que só as prostitutas usariam uma saia pelos joelhos.

Foi graças à detalhada descrição do pároco, que foi possível a Claro Fângio (esposo e
auxiliar da investigadora Fina d’Armada), desenhar a figura que consta do livro e deste
trabalho. Figura feita com todo o rigor documental e posteriormente copiada pelo autor
desta ficha.

Talvez por este facto e outros, este padre, confrontado com a complexidade de toda a
história, cedo se apercebeu que o suporte religioso não serviria de argumento seguro
para credibilizar os factos. Inteligentemente afastou-se do processo, abandonando a
aldeia. Entretanto o povo, por sua própria iniciativa, havia construído uma capela nesse
lugar, já transformado em local de culto. A Igreja acabou por, naturalmente, liderar o
que o povo já impunha. Limitou-se a guardar para si as provas, enclausurar a única
testemunha viva e através dos seus confessores Jesuítas interpretar os factos do ponto de
vista católico.
Nesta perspectiva hermética, o caso ficou encerrado e esclarecido. Porém, a perpetuação
do culto e do lugar, levou, muitos anos depois, a que se olhasse de novo para essa
história, desta vez numa perspectiva isenta, racional, objectiva e científica.
Tudo ficou imediatamente sob suspeita. Apareceram as contradições, as fraudes, as
interpretações gratuitas, os erros, os documentos secretos etc., etc.. Surgiu então uma
hipótese para os factos; racional e lógica, capaz de fornecer luz aos acontecimentos
obscuros.

Uma leitura científica, com todo o suporte histórico inerente. Não teria sido, como
muitos pensam e desejam, Nossa Senhora que ali apareceu. Tudo aponta para um dos
casos ovnilógicos mais importantes do mundo, mas infelizmente ignorado, pela capa do
primitivismo cultural! Um contacto com uma civilização extraterrestre, foi o que, já sem
muitas dúvidas, aconteceu em Fátima no ano de 1917.

Convém aqui salientar que, sessenta anos depois, essa investigação foi feita pela
historiadora, Drª. Fina d’Armada, tal como é conhecida.

Foi um trabalho longo e cheio de perigos, que lhe haviam de custar grandes e graves
problemas como académica.

Conseguiu penetrar nos arquivos secretos de Fátima, consultar documentos em diversas


bibliotecas do país e recuperar escritos e opiniões dispersas pelos jornais da época.
Conseguiu entrevistar algumas testemunhas directas e ainda vivas e por fim, escrever o
primeiro livro realmente importante, sobre o que aconteceu na Cova da Iria – Fátima,
por esses tempos.

O livro, cujo título é: “Fátima, o que se passou em 1917” foi editado pela livraria
Bertrand e apresentado em 1980.

Ler esta obra, é fundamental para se entender o que de facto ali se passou. Seria
inimaginável escrever um relatório sobre este longo e complexo caso.

Seguiram-se outros trabalhos literários de autoria de Fina d’Armada e do jornalista


(agora fundador e investigador do CTEC, da universidade Fernando Pessoa), Joaquim
Fernandes, na altura, director do C.E.A.F.I..

Nota final:

Apuramento do número aproximado de testemunhas presentes em cada uma das


“aparições”:

13 de Maio de 1917 = Apenas as três crianças.

13 de Junho de 1917 = Cerca de 40 pessoas, maioritariamente aldeões.

13 de Julho de 1917 = Entre 4 a 5 mil pessoas.

13 de Agosto de 1917 = Entre 15 a 18 mil pessoas (os videntes não estavam presentes).
13 de Setembro de 1917 = Entre 25 a 30 mil.

13 de Outubro de 1917 = Entre 50 a 70 mil pessoas.

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Fina d’Armada e o seu célebre e incómodo livro

SEGUE-SE A SEQUÊNCIA DE FOTOGRAFIAS

As principais personagens do “dossier” Fátima

Os retratos:

A entidade de Fátima, na interpretação de C. Fângio, segundo a descrição inicial de Lúcia.


Lúcia dos Santos com 9 anos de idade. Lúcia dos Santos com 10 anos, à época das aparições
Nasceu em 22 Março de 1907.
Faleceu em13 de Fevereiro de 2005

Francisco Marto aqui com 9 anos, à época Jacinta Marto, com 7 anos de idade.
das aparições. Nasceu em 11 de Junho 1908. Nasceu a 20 de Março de 1910.
Faleceu a 5 de Abril de 1919. Faleceu a 2 de Fevereiro de 1920.
Jacinta, Francisco, irmãos e primos de Lúcia em 1917. Foto para a imprensa.

Lúcia dos Santos, seus pais e família, pouco antes de, contra sua vontade,
ingressar como noviça, na reclusão de um convento (Ordem das Carmelitas).
Família de Francisco e Jacinta. Estes dois à direita.

Carolina Carreira (4ª vidente), filha de Maria Carreira, a “obreira de Fátima”,


fotografada em 1979, ou 80. Sua mãe havia falecido em 1949.
Casa da família de Lúcia, por esses tempos.

Padre Manuel Marques Ferreira, pároco de Fátima e o primeiro a


inquirir as crianças. São de sua autoria os “Inquéritos Paroquiais”.
Só em 28 de Abril de 1919 é que os enviou para o Patriarcado.
Capela mandada construir exclusivamente pelo povo e a azinheira (25 Abril de 1919).

Avelino de Almeida, do jornal “O Século”, inventor da frase


«Milagre do Sol», relativa ao fenómeno de 13 Outubro 1917.
Joshua Benoliel fotógrafo do jornal “O Século”, que em 13 de Outubro fotografou o fenómeno luminoso
na Cova da Iria.

Foto do fenómeno, cuja autoria e veracidade não é possível identificar e autenticar.

Um modelo como este, teria sido utilizado pelo fotógrafo.


Padre Lacerda, como capelão militar. Padre Lacerda, com meia idade.
Um dos protagonistas menos conhecido dos “fenómenos de Fátima”. Nasceu em Monte
Real, distrito de Leiria, em 23 de Abril de 1881.
Foi capelão militar e jornalista, fundador, em 7 de Outubro de 1914, do jornal “O
Mensageiro”.
De assinalar ainda o facto de, em 19 de Outubro de 1917, ter interrogado Lúcia de Jesus
dos Santos, Francisco e Jacinta para esse semanário. Depois do pároco da aldeia de
Fátima, Padre Manuel Marques Ferreira que foi o primeiro a interrogar as crianças, ele
seria o seguinte.
Foi colaborador do Cónego Formigão, também conhecido como Visconde Montelo
(pseudónimo), que haveria de ser o historiador de Fátima, que dele recolheu
informações a favor da tese religiosa. O padre Lacerda faleceu em 1971 e ficou
conhecido como um dos interrogadores dos “pastorinhos”.

Cónego Formigão (Visconde Montelo – pseudónimo), Considerado o historiador de Fátima. Também ele
teria interrogado os videntes. Na segunda foto, já idoso.
Esclarecimento:
Em 1917 surge em cena a figura do Visconde Montelo. Trata-se, de facto, do Dr.
Manuel Nunes Formigão, professor do Seminário de Santarém. Interrogou várias vezes
os videntes e teve acesso à totalidade da documentação original. Foi o primeiro
historiador de Fátima e escreveu sobre o tema, vários livros. Infelizmente, excluiu dados
importantes, alterou muitas vezes o sentido das afirmações e utilizou uma linguagem
própria, diferente das expressões originais dos videntes. Inseriu em todo o contexto um
cunho católico, muitas vezes contrário à realidade. Carolina Carreira foi também
interrogada pelo cónego Formigão, mas das suas declarações nada se sabe.
Em 1921, o cónego Formigão, escreve um livro assinado com o seu pseudónimo:
Este foi um dos muitos livros escritos por ele, que colecionava tudo o que se relacionasse com Fátima
católica, quer fosse em português (sobretudo noticias escritas), como do estrangeiro. Esteve sempre entre
os que viviam desses eventos. Faleceu em Fátima a 30 de Janeiro de 1958.

Em 1920 é nomeado o primeiro bispo da Diocese de Leiria, D. José Alves Correia da Silva.
Uma das primeiras acções deste bispo foi a compra de todos os terrenos onde tinham
ocorrido toda a série de fenómenos da Cova-da-Iria. Terrenos que pertenciam aos
familiares dos videntes. Foi ele também que insistiu que Lúcia dos Santos ingressasse
num convento em regime de clausura, sem que ela se apercebesse.
Lúcia dos Santos em casa de seus pais, antes de entrar no convento. Na segunda foto, apenas com 14 anos
(17 de Junho de 1921) e já com o uniforme de noviça.

Lúcia com o hábito e o bispo de Leiria D. José Alves Correia da Silva, muito sorridente.
Em 13 de Outubro de 1921 é permitida, pela Igreja Católica, a primeira missa “oficial”
na Capela das Aparições, à qual se junta bastante povo.

Em 6 de Março de 1922, um grupo de anti-católicos deflagra uma bomba na capela,


que é parcialmente destruída, como se vê, como protesto à forma dogmática de tratamento
de um assunto de várias leituras e interpretações. Um ano depois a capela foi reconstruída.

Ainda em 1922, o sempre activo cónego Formigão funda o jornal “A Voz de Fátima”
(13 de Outubro), onde começa uma longa série de artigos de propaganda
católica/fatimista.
DE SALIENTAR:

Papa Bento XV, à altura dos acontecimentos de Fátima.

Ainda em 1918, antes de estar concluída qualquer investigação séria sobre os


fenómenos de Fátima, o Papa Bento XV fazia uma alocução favorável às aparições,
dando prévio aval à tese católica, surgida simplesmente pela vontade do povo.

FIGURAS PROEMINENTES INVISÍVEIS


Infelizmente não existem registos fotográficos destas figuras, pelo menos que sejam
conhecidas.
Maria Carreira - Mãe da chamada 4ª vidente, que foi a impulsionadora de toda essa
confusão/farsa. Mulher extremamente católica e decidida, desde a primeira aparição que
se convenceu que era obra divina e assim reagiu e liderou tudo, até à data da sua morte.
Ela foi a que mandou construir o provisório e inicial altar e que até ao fim da vida
orientou os dinheiros das oferendas, sob o controlo directo e discreto da igreja.

Gilberto dos Santos - Um jovem e bem sucedido comerciante de Torres Vedras é um


dos mais fervorosos peregrinos (esteve presente e junto aos videntes quase desde o
início das visões), faz questão de oferecer uma imagem da Virgem (a primeira) para ser
exposta na Capela das Aparições. Foi ele também o autor da música e da letra do hino
de Fátima. A Igreja nunca lhe deu atenção ou prestou a homenagem devida, por tanto e
desprendido auxílio.
Os três garotinhos (da esq. Para a direita), Francisco Marto, Lúcia dos Sanos, Jacinta Marto e o altar em
forma de capela, idealizado por Maria Carreira, onde as dádivas, em dias 13, se multiplicavam. Dinheiro e
objectos de ouro (anéis, brincos, cordões), enchiam os cofres do “lugar”.

A 13 de Maio de 1928 é lançada a primeira pedra, na construção do que seria o Santuário de Fátima.
O projecto é do arquitecto holandês G. Van Kriecken. A obra conclui-se em 1950.
1949 – Lúcia dos Santos, agora “irmã Lúcia de Jesus”, aqui com 42 anos. Em 1934, 15 anos antes desta
foto, Lúcia dos Santos continuava em Espanha no mesmo local de clausura. Dessa vez, fez votos
perpétuos, assumindo o nome de Irmã Maria das Dores.

Monsenhor Pereira Lopes, confessor de Lúcia.


Padres José Bernardino Gonçalves e José da Silva Aparício, Jesuítas e orientadores espirituais de Lúcia,
durante anos seguidos. Eles haveriam de incutir na reclusa, a ideia dos segredos e das memórias, que têm
influenciado os católicos, sobretudo os mais devotos.

Lúcia dos Santos, fotografada no Carmelo em Coimbra, onde viria a falecer no dia 13* de Fevereiro de
2005, com 97 anos de idade e sofrimento.
*Curiosamente num dia 13 (?)…

De realçar:
No período do Estado Novo, período em que Salazar dominou o país com mão de ferro,
o cardeal Cerejeira (1888/1977), foi apoiante do regime, fundado pelo seu amigo
universitário Oliveira Salazar. Apesar dessa ligação houve grandes tensões na defesa de
cada uma das suas posições: os interesses do Estado, por parte de Salazar e os da Igreja,
por Cerejeira. No entanto, existiu um momento de “lucidez”, no espírito de Cerejeira,
como se irá constactar.
Em meados dos anos 40, é obtida esta fotografia, em que aparece o cardeal Cerejeira (lado esq. de
chapéu), Salazar ao centro e o presidente do país, Óscar Carmona, à direita. É possível ver o clima de
confraternização patente.

Em 1951, dão-se as celebrações do “Ano Santo” e a revista do jornal “O Século”, designada por “O
Século Ilustrado”, faz uma cobertura exaustiva das peregrinações a Fátima e efemérides da sua história.
Nessa edição (nº 72, de 20 de Outubro de 1951), pedem ao cardeal patriarca de Lisboa, Cerejeira, uma
entrevista e ele concedeu-a.
Nela é possível ler a sua opinião:
«Não foi a igreja que impôs Fátima. Foi Fátima que se impôs à Igreja»
Inteligentemente, o cardeal Cerejeira descartou-se do controverso assunto.

Lisboa, largo dos Restauradores, cinema Eden, 1943. Numa das salas de cinema mais emblemáticas da
cidade é apresentado o filme “Fátima”. Estava-se no início da 2ª guerra e a propaganda católica ganhava
muita força.

José Sottomayor – 30 de Janeiro de 2017

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