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CUSTOS E

PLANEJAMENTOS

Gabriel Lima Giambastiani


Orçamento para
pequenas reformas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os diferentes tipos de orçamentos e suas aplicações.


 Descrever as informações relevantes contidas no orçamento.
 Elaborar modelos de orçamento para pequenas reformas.

Introdução
O que torna um projeto bem-sucedido? Quando analisamos projetos
que se tornaram referência no repertório da arquitetura, normal-
mente, nos concentramos nos aspectos formais ou no impacto social
e cultural das edificações. As questões relacionadas ao custo da sua
construção raramente são levantadas ou, quando são, são feitas de
forma tangencial. O custo da construção da casa Farnsworth de Mies
van der Rohe, por exemplo, é menos importante do que a existência
da casa Farnsworth.
Aos olhos do cliente, no entanto, o custo da construção é um dos
principais norteadores das decisões e dos rumos de um projeto. Em
geral, é mais fácil para o profissional justificar suas escolhas com base no
impacto financeiro do que transmitir valores mais sensíveis da arquitetura,
como respeito ao contexto e valores estéticos vigentes.
Neste capítulo, você conhecerá diferentes tipos de orçamentos e
descreverá as suas informações relevantes. Ao final, aprenderá a elaborar
modelos de orçamentos para reformas de pequeno porte.
2 Orçamento para pequenas reformas

Diferentes tipos de orçamentos


Um projeto é uma empreitada temporária levada a cabo para criar um produto,
um serviço ou um resultado exclusivo (LARSON; GRAY, 2016). Parte da tarefa
de execução desse projeto é a apuração do custo da sua realização. A NBR 6492
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994), com relação à
representação de projetos de arquitetura, define orçamento como a avaliação dos
custos dos serviços, dos materiais, da mão de obra e das taxas relativas à obra.
O roteiro para desenvolvimento do projeto de arquitetura da edificação,
elaborado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) (2007), aborda o orça-
mento em duas etapas do projeto. Durante o anteprojeto, chamado de orçamento
estimativo, momento em que se pré-dimensionam as quantidades e os custos de
materiais e serviços necessários para a realização da obra; e o orçamento do
projeto executivo, momento em que se define detalhadamente a quantidade e
os custos de todos os materiais e serviços necessários para a execução da obra.

O verbo “orçar” tem origem no italiano, "orzare" e, no vocabulário náutico, orçar significa
voltar a proa da embarcação para a linha do vento. Das tentativas para essa operação teria
vindo o sentido de "calcular por alto", no sentido de otimizar os esforços para determinado
fim. É com esse significado que orçamento chega até os dias de hoje como uma tentativa
de calcular, de aproximar e de estimar o custo de determinado empreendimento.
O orçamento pode ser visto de duas maneiras: como uma etapa necessária antes
do início da obra; e como ferramenta de projeto, uma vez que o custo de execução
costuma determinar mudanças nos rumos de um projeto antes da sua conclusão.

Para fins didáticos, podemos relacionar esses dois momentos, orçamento pre-
liminar e orçamento final, com sua finalidade, com sua ferramenta e com a etapa
no desenvolvimento do projeto, conforme o Quadro 1, a seguir. É importante
lembrar que essa distinção indica a predominância e não a exclusividade do fim,
uma vez que, mesmo durante a execução da obra, o projeto pode sofrer alterações
em função de uma solução ou de um material se tornar excessivamente oneroso.
Por exemplo, imagine que algum item importado sofra alteração significativa de
preço em função do câmbio naquele período. Se essa nova informação acarretar
na mudança do material especificado, temos um exemplo de orçamento como
ferramenta de modificação do projeto durante a etapa executiva.
Orçamento para pequenas reformas 3

Quadro 1. Esquema das principais funções do orçamento relacionadas com a etapa do


projeto em que ocorre

Orçamento como ferramenta Orçamento como etapa

Orçamento preliminar — feito Orçamento de execução — feito


durante o anteprojeto para investigar antes do início da obra para es-
a viabilidade. timar a necessidade de recursos.
financeiros e humanos, obtenção de
financiamento,etc.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A elaboração de um orçamento para um projeto de construção civil pode


seguir diferentes métodos que variam em forma e em complexidade. O or-
çamento de um projeto é uma etapa tão relevante que constitui atividade
autônoma com profissional dedicado a esse serviço.

O orçamentista avalia os materiais usados na construção e, ao arrolá-los


e precificá-los, prepara um orçamento dos custos do projeto. […] essas
projeções ajudam a elaborar o contrato de construção ou os memoriais
descritivos, que indicam como a edificação deve ser construída. (FAR-
RELLY, 2013, p. 168).

Em geral, esses profissionais se guiam por indicadores de preço desenvol-


vidos pelo mercado, como a tabela do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos
e Índices da Construção Civil (SINAPI).

A tabela SINAPI é mantida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e


pela Caixa Econômica Federal. É muito utilizada para orçamento de obras, sendo de
uso obrigatório para orçamento de obras públicas.
Além dela, existem outras tabelas populares, como a Tabela de Composição de
Preços para Orçamentos (TCPO), iniciativa da Editora Pini, que ganhou muitos
adeptos no Brasil. Ainda assim, existem profissionais que usam sua própria experiência
e conhecimento do mercado local para comporem seus preços, sem recorrer a tabelas
elaboradas por terceiros.
4 Orçamento para pequenas reformas

A existência de um ramo especializado não significa que a orçamentação


de um serviço seja delegada de forma exclusiva a orçamentistas profissionais.
Projetos de menor complexidade ou em que a cadeia de produção envolva
menos pessoas têm seus custos estimados pelos próprios projetistas e/ou
executores.

Informações relevantes para a elaboração


de um orçamento
O orçamento pode ser definido como

[...] um produto definido, informando o valor para a realização de um deter-


minado produto ou serviço, as condições necessárias para a sua realização,
o objeto a ser realizado e o prazo para que este produto ou serviço se realize.
(XAVIER, 2008, p. 5).

Essa definição apresenta uma visão genérica de orçamento, isso ocorre porque
cada tipo de obra tem suas particularidades. O orçamento de um plantão de
vendas é diferente daquele realizado para um edifício de apartamentos. Logo,
é preciso dividir os serviços em categorias mais abrangentes e adequá-las ao
caso específico. A seguir, segue uma lista de quais seriam algumas dessas
categorias.

 Serviços preliminares — nesta categoria, encontram-se serviços


anteriores ao início do projeto, como limpeza do terreno, instalações
provisórias de água e luz.
 Infraestrutura — serviços relacionados à execução da infraestrutura
da edificação, como as fundações,
 Superestrutura — superestrutura é a parte da estrutura que fica acima
do nível do solo; é contraposta à infraestrutura, que fica abaixo. Inclui
formas para concreto, para laje pré-fabricada, para escadas, etc..
 Alvenaria — fechamento da edificação. Por exemplo, blocos de con-
creto, blocos cerâmicos, drywall.
 Esquadrias — compreende portas e janelas.
 Cobertura — tipo de cobertura da edificação, por exemplo, laje im-
permeabilizada, telhado de madeira.
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 Instalações hidráulicas — água fria, água quente, esgoto, instalações


pluviais.
 Instalações elétricas — tomadas, pontos de lógica, eletrodutos.
 Revestimentos — revestimentos de paredes, pisos, pinturas.
 Serviços complementares — serviços realizados após a conclusão
do serviço, como limpeza pós-obra e locação de caminhão basculante
para remoção de entulho.

A ordem da lista apresentada não se confunde com o cronograma da obra,


uma vez que há itens em uma categoria que serão executados de forma con-
comitante aos que constam em outra. Durante a construção de um edifício,
por exemplo, é comum que a execução das alvenarias ocorra em andares mais
baixos enquanto ainda se executa a estrutura dos andares mais altos. Planeja-
mento do cronograma e orçamento são atividades diferentes e complementares.

No link, a seguir, é possível acessar o artigo do Engenheiro Aldo Dórea Mattos em que ele
discute a importância de considerar o orçamento e o planejamento do projeto em paralelo,
pois a decisão sobre a ordem em que os serviços são executados têm impacto nos custos.

https://qrgo.page.link/iHhzu

Há situações em que as categorias dos serviços se mostram muito abran-


gentes para o projeto em questão. Em reformas ou em projetos de arquite-
tura de interiores, pode ser melhor dividir as categorias em serviços ou em
fornecedores necessários, por exemplo: obra civil, marcenaria, serralheria,
mobiliário de varejo (Figura 1). Dependendo do projeto, podem existir serviços
menos frequentes como paisagismo, design gráfico, consultor de tecnologia
da informação (TI). É importante destacar que a estrutura de um orçamento é
algo bastante flexível e deve ser adaptada para cada situação. É fácil encontrar
modelos em sites e em manuais, mas é praticamente impossível encontrar um
modelo que se adapte ao caso em questão.
Neste caso, as categorias correspondem aos serviços que devem ser exe-
cutados e uma correspondente à compra do mobiliário de varejo.
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Figura 1. Tabela de orçamento simplificada para reforma de interior residencial.


Fonte: Elaborada pelo autor.

Modelos de orçamentos para


pequenas reformas
Independentemente da complexidade e do tamanho da empreitada é impres-
cindível que toda obra seja orçada nos mínimos detalhes. É essa precisão que
garantirá o lucro do construtor e a satisfação do cliente final.
Em um orçamento preliminar, é comum utilizar a área de projeto relacio-
nada com algum indicador da construção civil, como o custo unitário básico
(CUB). Para o orçamento definitivo de uma reforma é necessário que você
tenha, inicialmente, um projeto de arquitetura, em que estejam especificados
todos os itens da obra civil, além dos eventuais itens de ambientação, como
mobiliário sob medida, iluminação, etc.. Estes correspondem aos custos
diretos da obra.
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O CUB é um dos principais indicadores utilizados no setor da construção civil. No


seguinte link, o Sindicato da Indústria da Construção Civil (SINDUSCON) do Paraná
explica o que é e como é calculado esse indicador.

https://qrgo.page.link/rkAE9

Os itens de obra civil devem ser especificados no memorial descritivo com


desenhos. Para esses itens, é importante atentar para os quantitativos, tanto
nos materiais brutos e nas tubulações hidrossanitárias e elétricas quanto nos
acabamentos, como revestimentos de piso e de parede.
No memorial descritivo dos acabamentos, é necessário estar atento à pagina-
ção dos revestimentos, uma vez que, dependendo da maneira como o arquiteto
dispor as peças, será necessário cortar os elementos para satisfazer o projeto.
Dessa maneira, a área revestida será, em geral, menor do que a soma das áreas
das peças compradas, conforme a Figura 2, a seguir, que mostra uma parede
de 7,2 m2 que, por causa da paginação com peças de 1,2m por 0,8m, demanda
compra de, no mínimo, 8,64 m2 de revestimento. No entanto, o mais comum
é especificar até 20% a mais de material para eventuais quebras na execução.

Figura 2. Paginação de parede.


Fonte: Elaborada pelo autor.
8 Orçamento para pequenas reformas

Quanto aos itens de ambientação, é prudente orçar com três fornecedores


diferentes para obter a média de preços do mercado. Dessa maneira, você poderá
saber se algum fornecedor está praticando preços muito abaixo ou acima dos
concorrentes, o que geralmente indica algum problema no entendimento do
orçamento.

Quando você faz o orçamento de uma reforma, seu cliente confiará que ele condiz
com o projeto aprovado. Então, é indispensável que seus fornecedores tenham
entendido corretamente sua especificação para evitar surpresas e sobrecustos
durante a execução.

Uma vez orçados detalhadamente os custos com material, você precisa


calcular os custos com a mão de obra, que deve englobar todos os profis-
sionais envolvidos. É recomendado contratar profissionais que cobrem um
valor fechado pelo serviço, evitando contratos por tempo, pois esse método
incentiva a demora na conclusão do trabalho e torna a obra mais cara.
São somados aos custos diretos aqueles que não estão diretamente
ligados à execução, ou benefícios e despesas indiretas (BDI), como são
conhecidos. Esses itens são relativos aos impostos e tributos que devem ser
pagos, ao seguro do canteiro e a outros itens não ligados especificamente
à obra.
Existem várias formas de calcular o BDI na construção civil. A seguir,
apresentamos a fórmula sugerida pelo Instituto Brasileiro de Engenharia de
Custos (IBEC), com base em consenso internacional, para calcular o BDI
de serviços para uma empresa contratante.

BDI = [( 1 + AC + CF +S +G + MI) -1] x 100


1 – (TM + TE +TF +MBC
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Em que:

 AC = administração central — é o rateio do custo da sede entre as obras


da construtora. Varia de 7% a 15% (empresas com grande faturamento
anual) e de 10% a 20% (empresas com pequeno faturamento anual).
 CF = custo financeiro — caberá, principalmente em razão das condições
de medição e de pagamento preconizadas no contrato, bem como de
o programa de desembolso verificar a necessidade de incluir o custo
financeiro.
 S = seguros — representa os custos referentes aos seguros previstos no
contrato ou não, por exemplo, performance bond, garantia de execução
contra terceiros, etc..
 G = garantias — refere-se ao custo para cumprir o contrato oferecendo
as garantias previstas. Podem ser adotadas diversas formas: a caução,
o seguro garantia ou os papéis selecionados.
 MI = margem de incerteza — deve ser levada em conta no cálculo do
BDI apenas por empresas contratantes. Busca melhorar eventuais distor-
ções no valor aproximado pelo cálculo estimado, devido ao seu caráter
genérico adotado pelos contratantes. Em geral, varia de 5% a 10%.
 TM = tributos municipais — são considerados os tributos municipais,
como o Imposto Sobre Serviços (ISS).
 TE = tributos estaduais — são considerados os tributos estaduais, tais
como o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias
e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal
e de Comunicação (ICMS).
 TF = tributos federais — são considerados os tributos federais, tais
como o Programa de Integração Social (PIS), o Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (COFINS), o Imposto de Renda
Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL) e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
 MBC = margem bruta de contribuição (ou lucro bruto previsto) — a
margem bruta de contribuição é um valor aleatório, próprio de cada
empresa ou da proposta de preços, e é baseada principalmente em
função do mercado.
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Com base nos custos diretos e no BDI, você consegue calcular o orçamento
completo. Muitas vezes, os orçamentos para pequenas reformas são encarados
de maneira pouco profissional, o que pode trazer muita dor de cabeça e prejuízo
aos envolvidos. Por isso, mesmo nas menores obras, é importante fazer um
orçamento detalhado para evitar surpresas.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6492: Representação de projetos


de arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT, 1994.
FARRELLY, L. Fundamentos de arquitetura. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
INSTITUTO DOS ARQUITETOS DO BRASIL. Roteiro para desenvolvimento do projeto de
arquitetura da edificação. Flamengo: IAB, 2007. Disponível em: http://www.iab.org.br/
sites/default/files/documentos/roteiro-arquitetonico.pdf. Acesso em: 12 maio 2019.
LARSON, E. W.; GRAY, C. F. Gerenciamento de projetos: o processo gerencial. 6. ed. Porto
Alegre: AMGH2, 2016.
XAVIER, I. Orçamento planejamento e custos de obras. São Paulo: Fupam, 2008.

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