1.1 - INTRODUÇÃO
Sempre que se trabalha com variáveis senoidais em função do tempo, as análises são
facilitadas caso fasores sejam empregados. Considere a tensão senoidal instantânea, v, dada por:
v Vmax sen (t ) 2 V sen (t ) [V] (1.1)
onde:
Vmax 2 V (1.2)
V Vmax / 2 (1.3)
2 f (1.4)
sendo: Vmax = valor máximo ou de pico da onda de tensão senoidal, em volts (V);
V = valor eficaz ou rms da tensão senoidal (valor lido pelo voltímetro CA), em volts (V);
= ângulo de fase da tensão instantânea;
ω = freqüência angular, em rad/s,
f = freqüência, em hertz (Hz).
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 3
expresso nas
Assim, define-se o fasor da tensão v, através do número complexo V
formas exponencial e polar pela equação (1.5):
Ve j V
V (1.5)
Para o circuito RLC série da figura 1.1, excitado por uma fonte de tensão alternada
senoidal em regime permanente, tem-se:
a) A corrente fasorial I é a mesma em todos os elementos
b) As tensões fasoriais obedecem a Lei de Kirchhoff das Tensões (LKT) na sua forma
fasorial, isto é:
V
V V
V
V
e V V
(1.6)
R L C 1 L C
c) Tomando apenas os valores eficazes das tensões (leituras do voltímetro CA), tem-se:
V VR VL VC e V1 VL VC (1.7)
V R jX X R jX
Z (Unidade = ohms ou ) (1.8)
I L C
100 0 o V
V
2
Daí, pode-se obter a corrente nas formas fasorial e instantânea e construir o diagrama
fasorial correspondente:
I V 100 / 2 0 20 53,13o A
o
Z 553,13o 2
i
20 2
2
cos 100t 53,13o 20 cos 100t 53,13o A
Para o circuito RLC paralelo da figura 1.2, quando excitado por uma fonte de tensão
alternada senoidal em regime permanente, e sabendo que G = 1/R = condutância e B = 1/X =
susceptância, tem-se:
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 5
Respostas: a) Z AB 7,5 j2,5 ; ZT 12,5 j2,5 ; YT 0,0769 j0,0154 S
A figura 1.3 mostra uma fonte de tensão monofásica alimentando uma carga de caráter
indutivo.
Figura 1.3 - Carga monofásica indutiva suprida por tensão e corrente senoidais
sendo que Vmax e Imax, V e I, representam, respectivamente, os valores máximos e eficazes (ou
rms) da tensão e corrente, e representa o ângulo de atraso da corrente em relação a tensão ou
ângulo do fator de potência da carga.
p
Vmax I max
cos cos(2t ) V I cos cos(2t )
2
Assim, observa-se que a potência (p) resultante pulsa ou oscila em torno da potência
média V I cos do primeiro termo (que é invariável com o tempo) na freqüência angular dupla
(2ω) do segundo termo, conforme mostrada pela curva tracejada da figura 1.4(a). Nota-se
também, pela mesma figura, que esta potência (p) fica negativa em certos intervalos de tempo,
indicando, nestes casos, que a energia flui no sentido oposto ao indicado pela corrente da figura
1.3.
Figura 1.4 - Curvas de tensão, corrente e potências do circuito monofásico da figura 1.3
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 8
Definindo, então, a potência ativa ou real (P) como o valor médio da componente I de p
(ver figura 1.4), e a potência reativa (Q) como o valor máximo da componente II de p (ver figura
1.4), obtém-se:
P V I cos (1.17)
Q V I sen (1.18)
Também o produto dos valores eficazes (ou rms) da tensão e corrente é denominado de
potência aparente (S), isto é:
S VI (1.20)
S V
I * P jQ (1.21)
Notas:
(a) A potência ativa P é aquela que pode realizar trabalho útil (por ex.: em motores) ou ser
dissipada (por ex.: em resistores), e que depende muito do fator de potência (fp = cos );
(b) A potência reativa Q é aquela incapaz de realizar um trabalho útil, sendo responsável pela
formação de campos magnéticos (no caso de existência de indutores) e campos elétricos
(no caso de existência de capacitores);
(c) A potência aparente S é aquela empregada para dimensionar vários componentes de um
sistema elétrico, tais como os geradores e os transformadores;
(d) Apesar das potências P, Q e S serem originadas da potência instantânea p (unidade =
watts ou W), suas unidades são, respectivamente: W, VAr e VA e seus múltiplos.
Exemplo: Suponha que uma linha monofásica de 13,8 kV alimente uma carga de impedância
80 j60 . Determinar as potências, ativa, reativa e aparente, pelas
constante Z
fórmulas obtidas.
o
I V 13.8000 138 36,87 o A
Z 100 36,87 o
Figura 1.6 - Carga trifásica indutiva suprida por tensões e correntes senoidais equilibradas
A carga trifásica é alimentada por três tensões senoidais fase-neutro, va, vb e vc,
comumente referidas por tensões de fase. Como elas possuem o mesmo valor eficaz e estão
defasadas de 120o, duas a duas, elas formam um sistema trifásico equilibrado, expresso por:
v a 2 V sent (1.23a)
Se a carga trifásica também for equilibrada ou simétrica, as três correntes que surgirão,
denominadas correntes de fase, formarão também um sistema trifásico equilibrado, conforme
mostrado a seguir, com a defasagem entre as tensões e correntes de fase indicada pelo ângulo
(ângulo da impedância da carga indutiva).
i a 2 I sen (t ) (1.24a)
A potência trifásica total transmitida à carga é igual a soma das potências individuais das
fases, isto é:
p 3 v a i a v b i b v c i c (1.25)
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 11
Se a tensão entre duas fases quaisquer, denominada de tensão de linha, ou tensão fase-fase,
abreviada por VL , fosse medida, obteríamos uma relação constante entre sua magnitude e a
magnitude da tensão de fase ( Vf V ) da carga conectada em Y, a qual é expressa por:
VL 3 Vf (1.28)
Entendendo que as correntes de fase que alimentam a carga em Y, através da linha, podem
também ser chamadas de correntes de linha, cujas magnitudes são iguais a I L I , pode-se
escrever a potência trifásica em termos de valores de linha ou de fase, isto é:
S3 3 VL I L 3 Vf I f (1.31)
Notas:
(a) Quando são feitas referências a valores nominais de tensão ou corrente de componentes
trifásicos do sistema, como por exemplo, uma linha de transmissão, um gerador ou um
transformador, adotam-se sempre os valores de linha nominais, isto é, VLnom e I Lnom .
(b) Devido à completa simetria entre as três fases de um sistema trifásico equilibrado, é
suficiente a análise da tensão, corrente e potência em apenas uma fase. Isto porque as
magnitudes das tensões, correntes e potências se repetem nas outras duas fases.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 12
Exemplo:
Suponha que uma linha de transmissão trifásica equilibrada de 138 kV alimente uma indústria
que pode ser representada como uma carga trifásica conectada em Y com uma impedância por
80 j60 . Determinar as potências, ativa, reativa e aparente, absorvidas pela
fase igual a Z
carga trifásica.
I Vf 138 10
f
3
3 0 o
0,7967 36,87 o kA
Z 100 36,87 o
f
Nota: Refaça este exemplo tendo em vista que as potências P, Q e S podem ser
calculadas a partir da potência complexa por fase.
Para a obtenção da condutância shunt (G), não existe nenhuma fórmula confiável, pois
este parâmetro está relacionado com a corrente de dispersão entre cada fase e a terra que varia
com as condições de tempo, umidade e conteúdo de sal no meio. É costume desprezar este
parâmetro nos estudos devido ao seu pequeno efeito em condições normais de funcionamento.
Geralmente se trabalha com a reatância indutiva (XL) em série da linha que é função da
velocidade angular ω (em rad/s) ou da freqüência f (em Hz), sendo expressa por:
X L L (Unidade: Ω) (1.33)
onde
2f (Unidade: rad/s) (1.34)
Exemplo: Seja uma linha aérea de transmissão monofásica de 100 kV e 100 MVA, cujos dados
são: r = 1,27 cm, d = 6,096 m. Determinar a indutância em série e a potência reativa
consumida na condição nominal, ambas por unidade de comprimento.
4 10 7 1 6,096 1 H
Solucão: L ln 4 10 7 ln 480 2,57 10 6
4 0,0127 4 m
X L 2 60 2,57 10 6 0,97 10 3
m
S 100 10 6
I 1000 A
V 100 103
Observe que os elementos em série numa linha, dos quais a indutância L é o principal
parâmetro, limitam a corrente que pode circular e, portanto, a transmissibilidade de potência. Já
no caso dos elementos em paralelo, dos quais a capacitância C é o principal, limitam o caminho
de dispersão para as correntes de linha. Estas correntes de dispersão são proporcionais ao nível
de tensão da linha e, portanto, a importância dos elementos em paralelo cresce com o valor da
tensão utilizada. Para tensões superiores a 300 kV e extensões superiores a 320 km, a
importância desses elementos torna-se fundamental para engenheiros de sistemas.
Geralmente se trabalha com a reatância capacitiva (XC) em paralelo da linha que é função
da velocidade angular ω (em rad/s) ou da freqüência f (em Hz), sendo expressa por:
1
XC (Unidade: Ω) (1.37)
C
A potência reativa gerada de uma LT varia com o quadrado da tensão, de acordo com a
fórmula:
V2
QC V 2 (C) (Unidade: VAr) (1.39)
XC
Exemplo: Seja uma linha aérea de transmissão monofásica de 100 kV e 100 MVA, cujos dados
são: r = 1,27 cm, d = 6,096 m. Determinar a capacitância em paralelo e a potência
reativa gerada, ambas por unidade de comprimento.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 16
(8,854 10 12 ) F
Solucão: C 4,505 10 12
ln(6,096 / 0,0127) m
1
XC 5,888 108 .m
12
2 60 4,505 10
QC
100 103
2
16,98
VAr
16,98
kVAr
8
5,888 10 m km
Para maior facilidade nos cálculos, a maioria dos estudos mencionados é efetuada
pressupondo-se que o sistema elétrico é trifásico (3Φ) balanceado. Para tal, algumas hipóteses
simplificadoras são assumidas:
a) As três fases do sistema são idênticas, ou seja, todos os geradores trifásicos são equilibrados,
as linhas de transmissão são transpostas, os transformadores são simétricos, etc.
b) As cargas, nas três fases, são idênticas.
Muito embora essas hipóteses não sejam totalmente corretas, os estudos mencionados
anteriormente, em geral, podem ser assim realizados, sem maiores conseqüências. A figura 1.8
ilustra um circuito trifásico equilibrado.
Figura 1.8 - Circuito trifásico: gerador trifásico suprindo uma carga trifásica equilibrada, através
de uma linha de transmissão (L.T.)
Nessas condições, o sistema poderá ser também estudado por meio de um circuito
monofásico equivalente, composto por uma das três linhas e pelo neutro.
Freqüentemente, o circuito é ainda mais simplificado, suprimindo-se o neutro (ver figura
1.9). Esta consideração é válida porque, com as hipóteses simplificadoras adotadas, a corrente de
retorno é nula, não havendo queda de tensão no neutro.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 17
As linhas aéreas de transmissão são suspensas por isoladores, que, por sua vez, são
suportados por torres ou postes. As linhas podem ser classificadas em, pelo menos, três
categorias diferentes, dependendo do seu comprimento e do nível de tensão.
Nestas linhas, além da condutância shunt ser insignificante, também a capacitância shunt
para terra (também conhecida por line charging) é pequena e, normalmente, pode ser
desprezada. Assim, o circuito equivalente de uma linha curta (alimentando uma carga) pode ser
representado conforme mostrado na figura 1.11
Figura 1.11 - Representação de uma linha de transmissão curta, alimentando uma carga.
Figura 1.12 - Representações de uma linha de transmissão média, alimentando uma carga
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 19
O circuito é mais usado que o circuito T, uma vez que a localização da capacitância no
meio do trecho acrescenta um nó ao sistema, complicando o problema sob o ponto de vista
matemático.
Tal aspecto pode ser melhor observado através do sistema elétrico de 4 barras ilustrado
usando o modelo T na figura 1.13 e empregando o modelo na figura 1.14.
Em geral, os estudos feitos em computador são realizados através da matriz de
impedância nodal que, conforme mostrado, é de ordem menor para a representação do que para
a representação T.
Figura 1.14 - Sistema elétrico em anel, com 4 barras, representação em e sua simplificação.
Tal circuito possui também uma impedância série e duas admitâncias shunt. Entretanto,
para que uma linha longa seja perfeitamente representada pelo arranjo em , essas grandezas
devem sofrer as devidas correções, em função dos parâmetros Z R jL (em Ω/m) e
G jC (em S/m), obtidos no trecho de comprimento x da linha (em m), isto é:
Y
Z Fator de correção de admitância Z
Z senh( ZY x ) [Ω] (1.40)
Y
Z
O gerador síncrono pode funcionar com uma única carga, ou em paralelo com outros
geradores numa rede maior, o que é mais comum, conforme o arranjo típico mostrado na figura
1.17. Nesta figura estão identificadas as duas entradas da MS da barra k: a corrente de campo
( i F ), controlada pelo regulador de tensão, e o torque mecânico da turbina ( Tm ), controlado pelo
regulador de velocidade.
A figura 1.18 mostra uma bobina com corrente que pode girar livremente sob a ação de
um campo com densidade de fluxo magnético B. A interação entre este campo B e a corrente i da
bobina resulta em duas forças verticais que tendem a movimentar a bobina. Se não houvesse
nenhum conjugado externo aplicado à bobina (a figura mostra um peso no eixo), esta ficaria na
posição de equilíbrio vertical. No caso, a força externa equilibra as forças devidas ao campo
magnético para a posição inclinada da bobina, caracterizada pelo ângulo mostrado. O
conjugado eletromagnético desenvolvido (Te ) é proporcional à densidade de fluxo magnético
(B), a corrente (i), a área do plano da espira (LD) e ao seno do ângulo . ( Te BiLDsen ).
Figura 1.18 - Gerador elementar formado por uma bobina móvel num campo magnético
Antes de se tratar da representação das máquinas síncronas, deve ser ressaltado que:
a) Quando ocorre uma falta num circuito de potência, a corrente que circula é função de:
forças eletromotrizes internas das máquinas do circuito.
impedâncias das máquinas.
impedâncias entre as máquinas e a falta (impedâncias de transformadores e linhas).
b) A corrente que circula em uma máquina síncrona imediatamente após a falta será diferente
daquela que circula alguns poucos ciclos após; bem como daquela que persiste, a qual é
usualmente denominada de corrente de regime permanente.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 23
V
i( t ) m sen(t ) e Rt / L sen( )
Z
(1.43)
onde:
Z R 2 (L) 2
Vm
Z sen(t ) = componente alternada da corrente
Z e
Vm Rt / L
sen( ) = componente contínua da corrente
Nota: A componente contínua da corrente decresce com o tempo. Este decréscimo, também
conhecido por atenuação, ocorrerá mais rapidamente para circuitos que possuírem
grandes resistências elétricas.
Figura 1.20 - Corrente nos primeiros ciclos de energização do circuito da figura 1.19,
quando 0
contínua da corrente terá o seu valor máximo inicial e Rt / L e a corrente total será
Vm
i( t ) [sen(t / 2) e Rt / L ] . Esta condição está ilustrada na figura 1.21.
Z
Figura 1.21 - Corrente nos primeiros ciclos da energização do circuito da figura 1.19,
quando / 2
CONCLUSÃO:
A componente contínua pode ter qualquer valor desde zero até Vm/Z e depende do valor
instantâneo da tensão quando o circuito é fechado e do fator de potência do circuito.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 25
IMPORTANTE:
Os cálculos de curto-circuito em um sistema de potência são efetuados modificando-se as
reatâncias (de eixo direto) das máquinas síncronas, conforme cada um dos seguintes três
possíveis períodos do curto-circuito:
Para aumentar a capacidade de transmissão de potência e redução das perdas nas linhas é
necessário empregar altas tensões nas redes de transmissão (tensões acima de 138 kV), sub-
transmissão (tensões entre 13.8 kV e 138 kV) e distribuição (tensões variando de 220/127 V a
13.8 kV). No entanto, o aumento da espessura da isolação dos condutores das máquinas elétricas
(geradores e motores) com a tensão, torna normalmente impraticável a geração e o consumo em
níveis de tensão superiores a 25 kV. Daí a necessidade de se usar transformadores espalhados
pelo sistema elétrico, sejam estes elevadores, sejam abaixadores de tensão, conforme apropriado.
Todo transformador de força ou de potência é sempre projetado para funcionamento em
baixa freqüência (60 Hz no Brasil), e seu desempenho é baseado na sua confiabilidade (um dano
no transformador leva a interrupção do serviço) e na economia global (as perdas inevitáveis no
núcleo e no cobre devem ser minimizadas pois estas, ao final, significam dinheiro perdido).
Os transformadores de potência empregados no sistema de transmissão trifásico podem
ser construídos empregando dois esquemas diferentes, conforme mostrado nas figuras 1.23 e
1.24. No primeiro caso (figura 1.23), é usado três transformadores monofásicos idênticos e
separados que são ligados para formação do chamado “banco de transformadores”. No segundo
caso (figura 1.24) é utilizado um único núcleo magnético e os enrolamentos são ligados
formando o chamado “transformador trifásico”. Existem vantagens técnicas e econômicas
envolvidas na escolha de um ou outro.
De acordo com a disposição dos enrolamentos por cada fase, os transformadores podem
ser divididos em três grandes grupos, que serão abordados separadamente a seguir:
a) Transformador com dois enrolamentos
b) Autotransformadores
c) Transformador com três enrolamentos
mesmo circuito, porém com todas as reatâncias refletidas ao primário. Considerando-se que
Z e Z1 Z 2 (sendo Z e X m que é a reatância de magnetização), em estudos de curto-
circuito esta impedância shunt pode ser retirada, conforme indicado na figura 1.26(c), onde
Z T R T jX T e X T é a reatância de dispersão total do transformador (geralmente dada em
porcentagem).
B - Auto-transformador
Vamos repetir a interligação dos enrolamentos, porém, como mostra a figura 1.28(b),
mantendo novamente as correntes nos enrolamentos limitadas aos seus valores nominais. Nesta
configuração, obtém-se o autotransformador com uma potência nominal aumentada para 120
kVA, isto é, de 20%, e uma relação de transformação 6:1.
É comum projetar transformadores de potência com mais de dois enrolamentos por fase.
Os diferentes enrolamentos têm diferentes valores nominais de tensão (kV) e potência (MVA) e
permitem a transformação de potência entre mais de dois níveis de tensão. Neste curso, apenas
será considerado o transformador de três enrolamentos por fase, cujas representações unifilares
mais comumente empregadas estão mostradas na figura 1.29.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 31
Tal como para o transformador de 2 enrolamentos, Ze, em geral, possui valor bastante
elevado e o circuito equivalente é simplificado, como indicado na figura 1.32:
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 32
OBSERVAÇÕES:
Considerando apenas a ligação de uma carga ao 2ário, a impedância do transformador
será:
Z12 = z1 + z2 (1.44)
Por outro lado, caso houvesse uma carga conectada no 3ário (e apenas ali):
Z13 = z1 + z3 (1.45)
Existem vários motivos para o uso das unidades das grandezas relativas a impedâncias,
correntes, tensões e potências em valores percentuais ou por unidade ou p.u., ao invés de se
usar ohms, ampéres, volts e MVA (ou MW). São muitas as vantagens do uso do sistema p.u.,
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 33
podendo-se destacar que os dados em p.u. são mais significativos e facilmente correlacionáveis
que os valores reais. Veja estes exemplos:
A resistência de armadura de uma máquina elétrica de 5,3 é grande ou pequena?
Um valor de tensão 95 kV é alto ou baixo?
Exemplo: Obter o valor em p.u. da tensão de 140 kV em um sistema cuja tensão base é 132 kV.
Tensão real 140k
Solução: V(p.u.) 1,06 p.u.
Tensão base 132k
OBSERVAÇÕES:
(a) A escolha dos valores base é arbitrária, mas os valores nominais das grandezas são
preferidos;
(b) Escolhe-se, normalmente, dois valores base para um dado sistema elétrico, geralmente, a
tensão e a potência. A partir destes, calcula-se os valores base da corrente e impedância;
(c) O ângulo de fase não é alterado, quando se usa o sistema p.u.
Então, as bases para a corrente e a impedância podem ser obtidas pelas expressões:
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 34
S
Ib b [A] (1.47)
Vb
Vb Vb V2
Zb b [Ω] (1.48)
I b S b / Vb S b
Z1 Z N2 Z N2 Z N2 Z
Z1 (p.u.) 1 1 1 1 (1.49)
Z 2b V2b V1b N V1b 2 Z1b
.N
I 2b I1b / N I1b
Conclusão:
O valor da impedância do transformador, em p.u., é o mesmo em ambos os lados do
transformador. Assim, quando a rede contém transformadores e, se valores “p.u.” são
utilizados, não há necessidade de se referir todas as impedâncias para um mesmo lado
(primário ou secundário) do transformador: o transformador pode ser tratado como uma
impedância série.
Notas:
1) Quando existe um transformador de dois enrolamentos em um sistema e, se são usados
valores em p.u.:
a) A potência base é a mesma em ambos os enrolamentos primário e secundário.
b) A base de tensão no secundário é dependente da relação de espiras do transformador.
c) Duas redes, acopladas por um transformador de dois enrolamentos (portanto
operando com tensões diferentes), deverão ter bases de tensões (e correntes)
diferentes, que são relacionadas entre si através da relação de espiras do
transformador.
2) As análises e as conclusões anteriores podem ser estendidas para transformadores de
qualquer número de enrolamentos.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 36
Em um sistema trifásico, seja Vb a tensão base entre fases, em volts (V), e Sb a potência
base trifásica, em volt-ampéres (VA). A correspondente corrente base, Ib, em ampéres (A), é
dada por:
Sb
Corrente base: Ib [A] (1.51)
3.Vb
Vb / 3 Vb2
Impedância base: Zb [Ω] (1.52)
S b / 3Vb Sb
MVA b 103
Corrente base: Ib [A] (1.53)
3.kVb
kVb 2
Impedância base: Zb [] (1.54)
MVA b
É geralmente útil saber transformar diretamente uma impedância em p.u., obtida com
bases de tensão e potência antigas ou velhas, para seu novo valor em p.u., com bases de tensão e
potência diferentes ou novas. Sejam dadas:
S base velha e Vbase velha bases do sistema “antigo” ou “velho”
Assim, esta transformação pode ser feita através da equação de “Mudança de bases”, dada
por:
2
Vbase velha S base nova
Z p.u. base nova Z p.u. base velha [p.u.] (1.55)
Vbase nova S base velha
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 37
Essas impedâncias Z12% e Z13% são obtidas através de ensaios em curto, conforme já
mostrado. Entretanto, observando-se bem à figura 1.34, notar-se-á que as impedâncias que são
requeridas ali são z1%, z2% e z3%, as quais devem ser obtidas através de 3 ensaios em curto, da
seguinte maneira:
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 38
Agora a impedância Z23 representa a impedância entre 2ário e o 3ário, referida ao primário,
estando, portanto, nas mesmas bases das impedâncias Z12 e Z13. A terceira equação (em %) pode,
assim, ser montada:
Z23% = z2% + z3% (1.59)
Tem-se, finalmente, 3 equações [(1.56), (1.57) e (1.59)] e 3 incógnitas (z1%, z2% e z3%).
Resolvendo o sistema, chega-se finalmente a:
Z % Z13 % Z 23 %
Z1 % 12 (1.60)
2
Z 23 % Z12 % Z13 %
Z2 % (1.61)
2
Z % Z 23 % Z12 %
Z3 % 13 (1.62)
2