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Capítulo I

ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA

1.1 - INTRODUÇÃO

O presente capítulo objetiva revisar os vários conceitos fundamentais para a


representação e análise de um sistema elétrico e seus componentes. Todo o conhecimento a ser
adquirido aqui tem também a finalidade de criar uma base sólida para que o engenheiro ou
técnico de sistemas de energia elétrica possa realizar os diversos tipos de estudos computacionais
no seu sistema elétrico, com entendimento necessário para avaliar os resultados obtidos e tomar
as decisões cabíveis.

1.2 - TIPOS DE ESTUDOS COMPUTACIONAIS

É importante que sejam conhecidas as diversas ferramentas computacionais disponíveis


para o planejamento da operação, o aperfeiçoamento e a expansão de um sistema de energia
elétrica. Assim, uma ou mais das seguintes análises são normalmente exigidas:
a) Estudos de fluxo de carga (também conhecidos como “Load Flow Studies”)
Objetivo: Para determinar as correntes e potências transferidas ao longo do sistema, e as
magnitudes das tensões em todas as barras do sistema em uma dada condição operativa.
b) Cálculos de curto-circuitos
Objetivo: Para assegurar que os equipamentos não serão danificados devido às solicitações
de correntes de curto-circuito e para auxiliar na regulagem de relés.
c) Estudos de estabilidade
Objetivo: Para verificar se as máquinas rotativas conectadas ao sistema permanecerão
estáveis, sincronizadas em operação, após ocorrerem perturbações ou falhas no sistema.
d) Estudos de transitórios eletromagnéticos
Objetivo: Para analisar, por exemplo, os efeitos causados por descargas atmosféricas e por
chaveamentos nos elementos componentes do sistema elétrico.
e) Estudos de fluxo harmônico
Objetivo: Para analisar os efeitos das correntes e tensões harmônicas ao longo de um sistema
elétrico, a medida que cresce o uso dos tiristores em conversores, inversores, etc.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 2

O engenheiro ou técnico eletricista que trabalha em empresas concessionárias de energia


elétrica ou em grandes indústrias, necessita conhecer os métodos para realizar os estudos
anteriormente mencionados. Ele deveria, também, saber manusear os respectivos programas
digitais e analisar os resultados de tais estudos.
Cada tipo de estudo (fluxo de carga, curto-circuito, transitórios, estabilidade, harmônicos,
etc.) requer uma representação mais adequada para os elementos elétricos constituintes do
sistema (geradores, motores, transformadores, linhas, etc.). Assim, uma linha de transmissão,
para um estudo de curto-circuito, poderá ter suas capacitâncias shunt omitidas, sem que o
resultado final seja significantemente alterado. Por outro lado, para um estudo de fluxo de carga,
essas mesmas capacitâncias devem ser incluídas, sob pena de o resultado final ser bastante
impreciso.

1.3 - FASORES, IMPEDÂNCIAS E ADMITÂNCIAS

1.3.1 - Grandeza fasorial ou fasor

Sempre que se trabalha com variáveis senoidais em função do tempo, as análises são
facilitadas caso fasores sejam empregados. Considere a tensão senoidal instantânea, v, dada por:
v  Vmax sen (t  )  2 V sen (t  ) [V] (1.1)

onde:
Vmax  2 V (1.2)

V  Vmax / 2 (1.3)

  2 f (1.4)

sendo: Vmax = valor máximo ou de pico da onda de tensão senoidal, em volts (V);
V = valor eficaz ou rms da tensão senoidal (valor lido pelo voltímetro CA), em volts (V);
 = ângulo de fase da tensão instantânea;
ω = freqüência angular, em rad/s,
f = freqüência, em hertz (Hz).
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 3

 expresso nas
Assim, define-se o fasor da tensão v, através do número complexo V
formas exponencial e polar pela equação (1.5):
  Ve j  V
V (1.5)

Pode-se observar o seguinte sobre o fasor ou a grandeza fasorial:


(a) É uma grandeza complexa representada com uma letra maiúscula e um ponto logo acima;
(b) O módulo do fasor é o valor eficaz da grandeza instantânea original (tensão ou corrente);
(c) A fase (ou ângulo) do fasor é o próprio ângulo de fase da grandeza instantânea original;
(d) No fasor omite-se a freqüência ω que deve ser recuperada ao voltar à grandeza original.

1.3.2 - Impedância Complexa

Para o circuito RLC série da figura 1.1, excitado por uma fonte de tensão alternada
senoidal em regime permanente, tem-se:
a) A corrente fasorial I é a mesma em todos os elementos
b) As tensões fasoriais obedecem a Lei de Kirchhoff das Tensões (LKT) na sua forma
fasorial, isto é:
 V
V  V
 V
  V
e V  V
 (1.6)
R L C 1 L C

c) Tomando apenas os valores eficazes das tensões (leituras do voltímetro CA), tem-se:
V  VR  VL  VC e V1  VL  VC (1.7)

Figura 1.1 - Circuito RLC série e impedância complexa

 e a corrente fasorial I (Lei de Ohm) resulta numa


A razão entre a tensão fasorial V
grandeza complexa chamada de “impedância” ( Z ) total do circuito, expressa por:
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  V  R  jX  X   R  jX
Z (Unidade = ohms ou ) (1.8)
I L C

sendo X L  L e X C  1 / C chamadas de reatância indutiva e reatância capacitiva,


respectivamente.

Exemplo: Para o circuito RL dado, com R 3 e


L  0,04 H , determinar a corrente instantânea i(t )
para uma tensão v  100 cos100t . Utilizar o conceito
de fasores e construir o diagrama fasorial.

Solução: Primeiro calcula-se a impedância complexa e o fasor tensão:


  R  jL  3  j100  0,04  3  j4  553,13 o 
Z

  100 0 o V
V
2
Daí, pode-se obter a corrente nas formas fasorial e instantânea e construir o diagrama
fasorial correspondente:
  
I  V  100 / 2 0  20   53,13o A
o

Z 553,13o 2

i
20 2
2
  
cos 100t  53,13o  20 cos 100t  53,13o A

Exercício: Num circuito RC série, com R = 10 , C = 1 F, é aplicada um tensão eficaz de 10


V. Sabendo que a freqüência é 10 kHz, determinar a impedância total, os fasores de
tensão e corrente e fazer o diagrama fasorial correspondente.

Resposta: Z  10  j15,92  18,80   57 ,87 o ; V


  10 0 o V; I  0,532   57,87 o A.

1.3.3 - Admitância Complexa

Para o circuito RLC paralelo da figura 1.2, quando excitado por uma fonte de tensão
alternada senoidal em regime permanente, e sabendo que G = 1/R = condutância e B = 1/X =
susceptância, tem-se:
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 é a mesma em todos os elementos.


a) A tensão V
b) As correntes obedecem a Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC) na sua forma
fasorial, isto é:
I  I  I  I e I  I  I (1.9)
G L C 1 L C

c) Tomando apenas os valores eficazes das correntes (leituras de amperímetros CA),


tem-se:
I  I G  I L  I C e I1  I L  I C (1.10)

Figura 1.2 - Circuito RLC paralelo e admitância complexa

A razão entre a corrente fasorial I e a tensão fasorial V


 resulta numa grandeza complexa
chamada de “admitância” total do circuito ( Y ), expressa por:

  I  G  jB  B   G  jB
Y (Unidade = Siemens ou S) (1.11)
 C L
V

Exercício: Dado o circuito ao lado, determinar:


a) A impedância equivalente entre os nós A e B
 
Z AB , a impedância total ZT e admitância
 do circuito;
total YT
 (e a tensão instantânea
b) A tensão eficaz total VT

total v T ) aplicada ao circuito;


c) As correntes eficazes (e as instantâneas) que
passam pelo capacitor I C e pelo indutor I L .

  
Respostas: a) Z AB  7,5  j2,5  ; ZT  12,5  j2,5  ; YT  0,0769  j0,0154 S

  127 ,48  11,31o


b) V V ; v T  127 ,48 2 cos(10 t  11,31o ) V
T

c) I C  15,8171,565 o A ; I L  15,81  71,565 o A

i C  15,81 2 cos(10 t  71,565 o ) A; i L  15,81 2 cos(10 t  71,565 o ) A


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1.4 - POTÊNCIAS ATIVA, REATIVA E APARENTE

1.4.1 - Potências em um Sistema Monofásico

A figura 1.3 mostra uma fonte de tensão monofásica alimentando uma carga de caráter
indutivo.

Figura 1.3 - Carga monofásica indutiva suprida por tensão e corrente senoidais

Suponha que a tensão e a corrente senoidais sejam expressas por:


v  Vmax sent  2 V sent (1.12)

i  I max sen (t  )  2 I sen (t  ) (1.13)

sendo que Vmax e Imax, V e I, representam, respectivamente, os valores máximos e eficazes (ou
rms) da tensão e corrente, e  representa o ângulo de atraso da corrente em relação a tensão ou
ângulo do fator de potência da carga.

A potência (p) transmitida à carga é obtida do produto das expressões de v e i, isto é:


p  vi (Unidade: watts ou W) (1.14)

Substituindo (1.12) e (1.13) em (1.14):


p  Vmax I max sent sen(t  )  2V I sent sen(t  )

p
Vmax I max
cos   cos(2t  )  V I cos   cos(2t  )
2

Trabalhando apenas com os valores eficazes, obtém-se 2 termos no segundo membro:


p  V I cos   VI cos(2t  ) (1.15)
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Assim, observa-se que a potência (p) resultante pulsa ou oscila em torno da potência
média V I cos  do primeiro termo (que é invariável com o tempo) na freqüência angular dupla
(2ω) do segundo termo, conforme mostrada pela curva tracejada da figura 1.4(a). Nota-se
também, pela mesma figura, que esta potência (p) fica negativa em certos intervalos de tempo,
indicando, nestes casos, que a energia flui no sentido oposto ao indicado pela corrente da figura
1.3.

Desenvolvendo o termo em coseno da equação (1.15), a equação de (p) é reescrita,


identificando-se dois componentes (I e II) no segundo membro, conforme a equação (1.16).
p  V I cos  (1  cos 2t )  V I sen sen2t (1.16)
   Componente I      Componente II 

O componente I de p pulsa ou oscila com freqüência 2ω em torno do mesmo valor médio


V I cos  , porém nunca fica negativo. O componente II de p também pulsa com freqüência 2ω,
porém tem valor médio sempre nulo, ficando ora positivo, ora negativo, e valor máximo
V Isen . Na figura 1.4(b) são mostrados os gráficos da potência ativa p e dos componentes I e II
de p.

Figura 1.4 - Curvas de tensão, corrente e potências do circuito monofásico da figura 1.3
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Definindo, então, a potência ativa ou real (P) como o valor médio da componente I de p
(ver figura 1.4), e a potência reativa (Q) como o valor máximo da componente II de p (ver figura
1.4), obtém-se:
P  V I cos  (1.17)
Q  V I sen (1.18)

Substituindo (1.17) e (1.18) em (1.16), obtém-se:


p  P (1  cos 2t )  Q sen2t (1.19)

Também o produto dos valores eficazes (ou rms) da tensão e corrente é denominado de
potência aparente (S), isto é:
S  VI (1.20)

A potência aparente S pode ser obtida através do triângulo de potências mostrado na


figura 1.5. Adotando como convenção que a potência reativa Q é positiva para uma carga
indutiva e negativa para uma carga capacitiva, pode-se definir uma potência complexa dada por:

S  V
 I *  P  jQ (1.21)

 e I os fasores da tensão e corrente ( I * = complexo conjugado de I ).


sendo V

Figura 1.5 - Triângulo de potências para definição da potência complexa

Do triângulo de potências tem-se: P  V I cos   S cos  e Q  V I sen   S sen  .

Daí, pode-se definir o fator de potência da carga pela expressão:


P
cos   (1.22)
S
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Notas:
(a) A potência ativa P é aquela que pode realizar trabalho útil (por ex.: em motores) ou ser
dissipada (por ex.: em resistores), e que depende muito do fator de potência (fp = cos  );
(b) A potência reativa Q é aquela incapaz de realizar um trabalho útil, sendo responsável pela
formação de campos magnéticos (no caso de existência de indutores) e campos elétricos
(no caso de existência de capacitores);
(c) A potência aparente S é aquela empregada para dimensionar vários componentes de um
sistema elétrico, tais como os geradores e os transformadores;
(d) Apesar das potências P, Q e S serem originadas da potência instantânea p (unidade =
watts ou W), suas unidades são, respectivamente: W, VAr e VA e seus múltiplos.

Exemplo: Suponha que uma linha monofásica de 13,8 kV alimente uma carga de impedância
  80  j60  . Determinar as potências, ativa, reativa e aparente, pelas
constante Z
fórmulas obtidas.

Solucão: Z  80  j60  100   36,87 o 

 o
I  V  13.8000  138  36,87 o A
Z 100  36,87 o

Logo, cos   cos 36,87 o  0,80 e sen  0,60

P  V I cos   13,8  10 3  138  0,80  1,523 MW

Q  V I sen  13,8  10 3  138  0,60  1,143 MVAr

S  V I  13,8  10 3  138  1,904 MVA (ou S  P 2  Q 2 )


Nota: Refaça este exemplo tendo em vista que as potências P, Q e S são
relacionadas diretamente com os parâmetros R, X e Z, respectivamente.
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1.4.2 - Potências em um Sistema Trifásico

Objetivando o cálculo das potências, toma-se agora o caso de um circuito trifásico


equilibrado alimentando uma carga (também trifásica equilibrada) de caráter indutiva, como
mostra a figura 1.6.

Figura 1.6 - Carga trifásica indutiva suprida por tensões e correntes senoidais equilibradas

A carga trifásica é alimentada por três tensões senoidais fase-neutro, va, vb e vc,
comumente referidas por tensões de fase. Como elas possuem o mesmo valor eficaz e estão
defasadas de 120o, duas a duas, elas formam um sistema trifásico equilibrado, expresso por:
v a  2 V sent (1.23a)

v b  2 V sen (t  120 o ) (1.23b)

v c  2 V sen (t  240 o ) (1.23c)

Se a carga trifásica também for equilibrada ou simétrica, as três correntes que surgirão,
denominadas correntes de fase, formarão também um sistema trifásico equilibrado, conforme
mostrado a seguir, com a defasagem entre as tensões e correntes de fase indicada pelo ângulo 
(ângulo da impedância da carga indutiva).
i a  2 I sen (t  ) (1.24a)

i b  2 I sen (t  120 o  ) (1. 24b)

i c  2 I sen (t  240 o  ) (1. 24c)

A potência trifásica total transmitida à carga é igual a soma das potências individuais das
fases, isto é:
p 3  v a i a  v b i b  v c i c (1.25)
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 11

Substituindo as equações (1.23) e (1.24) em (1.25), obtém-se, após algumas manipulações:


p 3  3 V I cos  (1.26)

Observe que a potência total trifásica instantânea é constante (independente do tempo),


podendo, assim, ser escrita com letra maiúscula. Esta potência vale o triplo da potência ativa por
fase P, ou seja:
P3  3 P (1.27)

Se a tensão entre duas fases quaisquer, denominada de tensão de linha, ou tensão fase-fase,
abreviada por VL , fosse medida, obteríamos uma relação constante entre sua magnitude e a
magnitude da tensão de fase ( Vf  V ) da carga conectada em Y, a qual é expressa por:

VL  3 Vf (1.28)
Entendendo que as correntes de fase que alimentam a carga em Y, através da linha, podem
também ser chamadas de correntes de linha, cujas magnitudes são iguais a I L  I , pode-se
escrever a potência trifásica em termos de valores de linha ou de fase, isto é:

P3  3 VL I L cos   3 Vf I f cos  (1.29)

Semelhantemente, pode-se obter fórmulas para a potência reativa trifásica ( Q 3 ) e a

potência aparente trifásica ( S3 ):

Q 3  3 VL I L sen  3 Vf I f sen (1.30)

S3  3 VL I L  3 Vf I f (1.31)

Notas:
(a) Quando são feitas referências a valores nominais de tensão ou corrente de componentes
trifásicos do sistema, como por exemplo, uma linha de transmissão, um gerador ou um
transformador, adotam-se sempre os valores de linha nominais, isto é, VLnom e I Lnom .
(b) Devido à completa simetria entre as três fases de um sistema trifásico equilibrado, é
suficiente a análise da tensão, corrente e potência em apenas uma fase. Isto porque as
magnitudes das tensões, correntes e potências se repetem nas outras duas fases.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 12

Exemplo:
Suponha que uma linha de transmissão trifásica equilibrada de 138 kV alimente uma indústria
que pode ser representada como uma carga trifásica conectada em Y com uma impedância por
  80  j60  . Determinar as potências, ativa, reativa e aparente, absorvidas pela
fase igual a Z
carga trifásica.

Solucão: Z  80  j60  100   36,87 o  e VL  138 kV


I  Vf  138  10
f
 3

3 0 o
 0,7967  36,87 o kA
Z 100  36,87 o
f

Logo, cos   cos 36,87 o  0,80 e sen  0,60 , e I L  I f  0,797 A

P3  3VL I L cos   3  138  103  0,7967  103  0,80  152,35 MW

Q 3  3VL I L sen  3  138  103  0,7967  103  0,60  114,26 MVAr

S3  3VL I L  3  138  103  0,7967  103  190,44 MVA

Nota: Refaça este exemplo tendo em vista que as potências P, Q e S podem ser
calculadas a partir da potência complexa por fase.

1.5 - PARÂMETROS CARACTERÍSTICOS DAS LINHAS

O desempenho das linhas de corrente alternada (CA) de um sistema de energia elétrica


podem ser expressas em função dos quatro parâmetros característicos mostrados na figura 1.7:
R - Resistência em série da linha - Unidade de R: ohms ou Ω;
L - Indutância em série da linha - Unidade de L: henrys ou H;
G - Condutância em paralelo (shunt) da linha - Unidade de G: siemens ou S;
C - Capacitância em paralelo (shunt) da linha - Unidade de C: farads ou F.

Figura 1.7 - Parâmetros característicos de uma linha de transmissão CA.


Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 13

Ordenando estes parâmetros de linha, de acordo com suas importâncias práticas no


sistema elétrico, obtém-se: L, C, R e G. Observe que na maioria dos casos reais eles serão dados
por unidade de comprimento (metros ou m, ou, km) e por fase da linha de transmissão.
A resistência (R) e a indutância (L) da linha de transmissão são os elementos que formam
a impedância em série ( Z ) da linha, figura 1.7(a), cuja unidade é ohms ou Ω. Já a condutância
 ) da linha, figura 1.7(b), cuja
(G) e a capacitância (C) formam a admitância em paralelo ( Y
unidade é siemens ou S.

1.5.1 - Resistência em Série e Condutância em Paralelo das Linhas

Os parâmetros R e G quase não afetam a capacidade de transmissão, porém determinam


completamente as perdas ativas das linhas de transmissão, devendo ser considerados quando a
preocupação é a redução destas (economia).

Perdas ativas  RI 2  GV 2 (Unidade: watts ou W)

A resistência em série, por unidade de comprimento da linha, pode ser determinada em


função da área da seção reta do condutor (A) e de sua condutividade (σ), sendo expressa por:
1
R (Unidade: Ω/m) (1.32)
A

Para a obtenção da condutância shunt (G), não existe nenhuma fórmula confiável, pois
este parâmetro está relacionado com a corrente de dispersão entre cada fase e a terra que varia
com as condições de tempo, umidade e conteúdo de sal no meio. É costume desprezar este
parâmetro nos estudos devido ao seu pequeno efeito em condições normais de funcionamento.

1.5.2 - Indutância em Série das Linhas

A indutância em série (L) é, sem sombra de dúvida, o parâmetro mais importante da


linha, principalmente em níveis de tensão de transmissão mais elevados, onde a reatância em
série da linha (ωL) é muito maior que sua resistência em série (R). Será visto posteriormente que
a indutância em série afeta diretamente a capacidade de transmissão de uma linha, a qual
aumenta à medida que L diminui.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 14

Geralmente se trabalha com a reatância indutiva (XL) em série da linha que é função da
velocidade angular ω (em rad/s) ou da freqüência f (em Hz), sendo expressa por:
X L  L (Unidade: Ω) (1.33)

onde
  2f (Unidade: rad/s) (1.34)

A potência reativa consumida na reatância indutiva em série de uma LT varia com o


quadrado da corrente de suprimento, de acordo com a fórmula:

Q L  X L I 2  (L)I 2 (Unidade: VAr) (1.35)

A expressão para o cálculo da indutância em série, por unidade de comprimento, de uma


linha aérea de transmissão monofásica a dois condutores, de raios iguais a r, e distância entre
estes condutores igual a d (com r << d), é indicada abaixo:
  d
L  0  R  ln  (Unidade: H/m) (1.36)
  4 r
Sendo:

 0  4  10 7 H / m = permeabilidade magnética do vácuo

 R = permeabilidade magnética relativa do meio (Considerar  R =1 para o ar)

Exemplo: Seja uma linha aérea de transmissão monofásica de 100 kV e 100 MVA, cujos dados
são: r = 1,27 cm, d = 6,096 m. Determinar a indutância em série e a potência reativa
consumida na condição nominal, ambas por unidade de comprimento.

4  10 7 1 6,096  1  H
Solucão: L    ln   4  10  7   ln 480   2,57  10  6
 4 0,0127  4  m

X L  2  60  2,57  10  6  0,97  10  3
m

S 100  10 6
I   1000 A
V 100  103

Q L  0,97  10  3 10002  970


VAr kVAr
 970
m km
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 15

1.5.3 - Capacitância em Paralelo das Linhas

Observe que os elementos em série numa linha, dos quais a indutância L é o principal
parâmetro, limitam a corrente que pode circular e, portanto, a transmissibilidade de potência. Já
no caso dos elementos em paralelo, dos quais a capacitância C é o principal, limitam o caminho
de dispersão para as correntes de linha. Estas correntes de dispersão são proporcionais ao nível
de tensão da linha e, portanto, a importância dos elementos em paralelo cresce com o valor da
tensão utilizada. Para tensões superiores a 300 kV e extensões superiores a 320 km, a
importância desses elementos torna-se fundamental para engenheiros de sistemas.

Geralmente se trabalha com a reatância capacitiva (XC) em paralelo da linha que é função
da velocidade angular ω (em rad/s) ou da freqüência f (em Hz), sendo expressa por:
1
XC  (Unidade: Ω) (1.37)
C

A expressão para o cálculo da capacitância em paralelo, por unidade de comprimento, de


uma linha aérea de transmissão monofásica a dois condutores, de raios iguais a r, e distância
entre estes condutores igual a d (com r << d), é indicada abaixo:
 R  0
C (Unidade: F/m) (1.38)
ln d r 
Sendo:

 0  8,854  10 12 F / m = permissividade elétrica do vácuo

 R = permissividade elétrica relativa do meio (Considerar  R =1 para o ar)

A potência reativa gerada de uma LT varia com o quadrado da tensão, de acordo com a
fórmula:

V2
QC   V 2 (C) (Unidade: VAr) (1.39)
XC

Exemplo: Seja uma linha aérea de transmissão monofásica de 100 kV e 100 MVA, cujos dados
são: r = 1,27 cm, d = 6,096 m. Determinar a capacitância em paralelo e a potência
reativa gerada, ambas por unidade de comprimento.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 16

(8,854  10 12 ) F
Solucão: C   4,505  10 12
ln(6,096 / 0,0127) m
1
XC   5,888  108 .m
12
2  60  4,505  10

QC 

100  103 
2
 16,98
VAr
 16,98
kVAr
8
5,888  10 m km

1.6 - DIAGRAMA UNIFILAR

Para maior facilidade nos cálculos, a maioria dos estudos mencionados é efetuada
pressupondo-se que o sistema elétrico é trifásico (3Φ) balanceado. Para tal, algumas hipóteses
simplificadoras são assumidas:
a) As três fases do sistema são idênticas, ou seja, todos os geradores trifásicos são equilibrados,
as linhas de transmissão são transpostas, os transformadores são simétricos, etc.
b) As cargas, nas três fases, são idênticas.

Muito embora essas hipóteses não sejam totalmente corretas, os estudos mencionados
anteriormente, em geral, podem ser assim realizados, sem maiores conseqüências. A figura 1.8
ilustra um circuito trifásico equilibrado.

Figura 1.8 - Circuito trifásico: gerador trifásico suprindo uma carga trifásica equilibrada, através
de uma linha de transmissão (L.T.)

Nessas condições, o sistema poderá ser também estudado por meio de um circuito
monofásico equivalente, composto por uma das três linhas e pelo neutro.
Freqüentemente, o circuito é ainda mais simplificado, suprimindo-se o neutro (ver figura
1.9). Esta consideração é válida porque, com as hipóteses simplificadoras adotadas, a corrente de
retorno é nula, não havendo queda de tensão no neutro.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 17

Ao diagrama resultante dessa simplificação, denomina-se diagrama unifilar.

Figura 1.9 - Diagrama unifilar do circuito equivalente monofásico da figura 1.8.

Para geradores ou cargas conectadas em , a representação unifilar pode ser também


utilizada, bastando que toda conexão em  seja substituída pela conexão equivalente em Y
(através de uma transformação   Y).

1.7 - REPRESENTAÇÕES DE COMPONENTES DO SISTEMA ELÉTRICO

A figura 1.10 exemplifica a estrutura de um sistema de energia elétrica, evidenciando os


principais componentes (geradores, transformadores, linhas e cargas) e a simbologia utilizada.
Todos estes serão abordados separadamente a seguir, exceto a carga elétrica que será tratada no
próximo capítulo.

Figura 1.10 - Estrutura de um sistema de energia elétrica.


Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 18

1.7.1 - Linhas Aéreas de Transmissão

As linhas aéreas de transmissão são suspensas por isoladores, que, por sua vez, são
suportados por torres ou postes. As linhas podem ser classificadas em, pelo menos, três
categorias diferentes, dependendo do seu comprimento e do nível de tensão.

A - Linhas com comprimentos até 80 km - Linhas curtas

Nestas linhas, além da condutância shunt ser insignificante, também a capacitância shunt
para terra (também conhecida por line charging) é pequena e, normalmente, pode ser
desprezada. Assim, o circuito equivalente de uma linha curta (alimentando uma carga) pode ser
representado conforme mostrado na figura 1.11

Figura 1.11 - Representação de uma linha de transmissão curta, alimentando uma carga.

B - Linhas com comprimentos entre 80 e 250 km - Linhas médias

A figura 1.12 ilustra os dois modos usuais de representação de linhas de transmissão de


porte médio, que são os tipos T nominal e  nominal, onde o efeito capacitivo shunt foi agora
 ) devido ao aumento do comprimento da linha
considerado (através de Y

Figura 1.12 - Representações de uma linha de transmissão média, alimentando uma carga
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 19

O circuito  é mais usado que o circuito T, uma vez que a localização da capacitância no
meio do trecho acrescenta um nó ao sistema, complicando o problema sob o ponto de vista
matemático.
Tal aspecto pode ser melhor observado através do sistema elétrico de 4 barras ilustrado
usando o modelo T na figura 1.13 e empregando o modelo  na figura 1.14.
Em geral, os estudos feitos em computador são realizados através da matriz de
impedância nodal que, conforme mostrado, é de ordem menor para a representação  do que para
a representação T.

Figura 1.13 - Sistema elétrico em anel, com 4 barras, representação em T.

Figura 1.14 - Sistema elétrico em anel, com 4 barras, representação em  e sua simplificação.

C - Linhas com comprimentos acima de 250 km - Linhas longas

Ainda que os modelos  ou T não representem precisamente o fenômeno elétrico, a


maioria dos programas de computador adota o modelo , para estudos de fluxo de potência,
curto-circuito ou estabilidade, mesmo para linhas longas. Nestas ocasiões, para manter-se a
precisão, adota-se o circuito -equivalente que está mostrado na figura 1.15.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 20

Figura 1.15 - Circuito -equivalente

Tal circuito possui também uma impedância série e duas admitâncias shunt. Entretanto,
para que uma linha longa seja perfeitamente representada pelo arranjo em , essas grandezas
devem sofrer as devidas correções, em função dos parâmetros Z  R  jL (em Ω/m) e
  G  jC (em S/m), obtidos no trecho de comprimento x da linha (em m), isto é:
Y

Z  Fator de correção de admitância   Z
  Z  senh( ZY x ) [Ω] (1.40)
Y
Z 

Analogamente, para a admitância:



Y  Fator de correção de admitância   Y
Y  tgh ( ZY x / 2) [S] (1.41)
Z Y
 /2

1.7.2 - Cabos Subterrâneos

As capacitâncias dos cabos subterrâneos, para um mesmo comprimento de condutor, são


maiores do que aquelas das linhas aéreas. Assim, exceto para estudos de curto-circuito, mesmo
um cabo curto deve ter sua representação feita através do modelo .

1.7.3 - Máquinas Síncronas

O gerador síncrono, o transformador trifásico e a linha de transmissão de alta energia


constituem os componentes básicos de um sistema de energia elétrica. Apesar das respectivas
teorias já terem, sem dúvida, sido estudadas em cursos anteriores, é importante lembrar que a
máquina síncrona não é um equipamento simples. A existência de muitos enrolamentos, todos
caracterizados por indutâncias próprias e mútuas, variáveis com o tempo, tende a complicar e
obscurecer o seu comportamento.
A figura 1.16 mostra uma representação esquemática de uma máquina síncrona trifásica,
mostrando o enrolamento da armadura ou do estator (apenas a fase a é mostrada) colocado em
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 21

ranhuras na superfície interna do estator, e disposto de modo a formar regiões simétricas


correspondentes às fases. A intensidade do campo magnético pode ser controlada por meio da
corrente contínua que circula no enrolamento de campo ou de rotor.

Figura 1.16 - Representação esquemática de uma máquina síncrona trifásica de 2 pólos

O gerador síncrono pode funcionar com uma única carga, ou em paralelo com outros
geradores numa rede maior, o que é mais comum, conforme o arranjo típico mostrado na figura
1.17. Nesta figura estão identificadas as duas entradas da MS da barra k: a corrente de campo
( i F ), controlada pelo regulador de tensão, e o torque mecânico da turbina ( Tm ), controlado pelo
regulador de velocidade.

Figura 1.17 - Esquema de funcionamento de geradores em paralelo


Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 22

A figura 1.18 mostra uma bobina com corrente que pode girar livremente sob a ação de
um campo com densidade de fluxo magnético B. A interação entre este campo B e a corrente i da
bobina resulta em duas forças verticais que tendem a movimentar a bobina. Se não houvesse
nenhum conjugado externo aplicado à bobina (a figura mostra um peso no eixo), esta ficaria na
posição de equilíbrio vertical. No caso, a força externa equilibra as forças devidas ao campo
magnético para a posição inclinada da bobina, caracterizada pelo ângulo  mostrado. O
conjugado eletromagnético desenvolvido (Te ) é proporcional à densidade de fluxo magnético

(B), a corrente (i), a área do plano da espira (LD) e ao seno do ângulo . ( Te  BiLDsen ).

Figura 1.18 - Gerador elementar formado por uma bobina móvel num campo magnético

Antes de se tratar da representação das máquinas síncronas, deve ser ressaltado que:
a) Quando ocorre uma falta num circuito de potência, a corrente que circula é função de:
 forças eletromotrizes internas das máquinas do circuito.
 impedâncias das máquinas.
 impedâncias entre as máquinas e a falta (impedâncias de transformadores e linhas).
b) A corrente que circula em uma máquina síncrona imediatamente após a falta será diferente
daquela que circula alguns poucos ciclos após; bem como daquela que persiste, a qual é
usualmente denominada de corrente de regime permanente.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 23

A - Transitórios em Circuitos R.L. série


Seja v(t )  Vmsen(t  ) a tensão aplicada a um circuito RL, que terá seu disjuntor
fechado, conforme indicado na figura 1.19.

Figura 1.19 - Circuito elétrico RL, antes de sua energização.

A equação diferencial que descreve este evento é:


di
v( t )  Vm sen(t  )  Ri  L (1.42)
dt
cuja solução será:

V 

i( t )   m  sen(t    )  e  Rt / L sen(  )
 Z 
 (1.43)

onde:

Z  R 2  (L) 2

  tg 1 L / R  = ângulo do fator de potência do circuito

 Vm 
 Z  sen(t    ) = componente alternada da corrente
 

 Z e
 

 Vm   Rt / L

sen(  ) = componente contínua da corrente

Nota: A componente contínua da corrente decresce com o tempo. Este decréscimo, também
conhecido por atenuação, ocorrerá mais rapidamente para circuitos que possuírem
grandes resistências elétricas.

O fenômeno da presença da componente contínua surge sempre que, em um circuito RL,


houver uma variação brusca da corrente. Assim, também na eventualidade da ocorrência de um
curto-circuito, a componente contínua também surgirá. O valor da componente contínua
dependerá também do instante  da energização e do fator de potencia  do circuito.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 24

A figura 1.20, mostra o comportamento da corrente, ao longo do tempo, na condição


Vm
ideal de     0 . Nestas condições, i( t )  sent , ou seja, a componente contínua da
Z
corrente i(t) não existirá.

Figura 1.20 - Corrente nos primeiros ciclos de energização do circuito da figura 1.19,
quando     0

No entanto, para a situação, bastante desfavorável, de      / 2 , a componente

contínua da corrente terá o seu valor máximo inicial e  Rt / L e a corrente total será
Vm
i( t )  [sen(t   / 2)  e  Rt / L ] . Esta condição está ilustrada na figura 1.21.
Z

Figura 1.21 - Corrente nos primeiros ciclos da energização do circuito da figura 1.19,
quando      / 2

CONCLUSÃO:
A componente contínua pode ter qualquer valor desde zero até Vm/Z e depende do valor
instantâneo da tensão quando o circuito é fechado e do fator de potência do circuito.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 25

B - Corrente de Curto-Circuito e Reatâncias de Máquinas Síncronas

A figura 1.20 representa a corrente senoidal de um circuito RL comum, onde apenas


resistências e indutâncias estáticas estão presentes, na condição ideal de total ausência da
componente contínua. Por outro lado se o circuito elétrico possuir não apenas uma reatância
indutiva estática, mas também, por exemplo, uma máquina síncrona, a corrente será do tipo
daquela ilustrada na figura 1.22 e não mais como na figura 1.20. Isso ocorre porque, no instante
do curto, o fluxo no entreferro é muito grande. Após alguns ciclos do surgimento do curto, há
uma redução de fluxo causada pela força eletromotriz da corrente na armadura, comumente
denominada de reação de armadura que fará com que a corrente resultante neste novo circuito
RL, seja do tipo daquela representada pela figura 1.22.
Ressalta-se aqui que a figura 1.22 é uma hipótese ideal, que não inclui o efeito da
componente contínua. Incluindo-se o efeito da componente contínua ter-se-á a curva da figura
1.22, porém assimétrica em relação ao eixo da abscissa (como na figura 1.21).

Figura 1.22 - Corrente em uma máquina síncrona, em curto,


eliminando-se a componente contínua.

IMPORTANTE:
Os cálculos de curto-circuito em um sistema de potência são efetuados modificando-se as
reatâncias (de eixo direto) das máquinas síncronas, conforme cada um dos seguintes três
possíveis períodos do curto-circuito:

a) Período de regime sub-transitório: por suas reatâncias subtransitórias X "d .

b) Período de regime transitório: por suas reatâncias transitórias X 'd .

c) Período de regime permanente: por suas reatâncias síncronas X d .


Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 26

1.7.4 - Transformadores de Potência

Para aumentar a capacidade de transmissão de potência e redução das perdas nas linhas é
necessário empregar altas tensões nas redes de transmissão (tensões acima de 138 kV), sub-
transmissão (tensões entre 13.8 kV e 138 kV) e distribuição (tensões variando de 220/127 V a
13.8 kV). No entanto, o aumento da espessura da isolação dos condutores das máquinas elétricas
(geradores e motores) com a tensão, torna normalmente impraticável a geração e o consumo em
níveis de tensão superiores a 25 kV. Daí a necessidade de se usar transformadores espalhados
pelo sistema elétrico, sejam estes elevadores, sejam abaixadores de tensão, conforme apropriado.
Todo transformador de força ou de potência é sempre projetado para funcionamento em
baixa freqüência (60 Hz no Brasil), e seu desempenho é baseado na sua confiabilidade (um dano
no transformador leva a interrupção do serviço) e na economia global (as perdas inevitáveis no
núcleo e no cobre devem ser minimizadas pois estas, ao final, significam dinheiro perdido).
Os transformadores de potência empregados no sistema de transmissão trifásico podem
ser construídos empregando dois esquemas diferentes, conforme mostrado nas figuras 1.23 e
1.24. No primeiro caso (figura 1.23), é usado três transformadores monofásicos idênticos e
separados que são ligados para formação do chamado “banco de transformadores”. No segundo
caso (figura 1.24) é utilizado um único núcleo magnético e os enrolamentos são ligados
formando o chamado “transformador trifásico”. Existem vantagens técnicas e econômicas
envolvidas na escolha de um ou outro.

Figura 1.23 - Transformação trifásica com um banco de transformadores


Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 27

Figura 1.24 - Transformação trifásica com um tranformador trifásico

De acordo com a disposição dos enrolamentos por cada fase, os transformadores podem
ser divididos em três grandes grupos, que serão abordados separadamente a seguir:
a) Transformador com dois enrolamentos
b) Autotransformadores
c) Transformador com três enrolamentos

A - Transformador com dois enrolamentos

A figura 1.25 mostra um esquema de montagem de um transformador de dois


enrolamentos, sendo que neste caso o enrolamento primário é o de alta tensão (AT) e o
enrolamento secundário é o de baixa tensão (BT), configurando um transformador abaixador.

Figura 1.25 - Transformador de dois enrolamentos (100 kVA, 1000/200 V)

A figura 1.26(a) mostra o circuito equivalente de um transformador de dois


enrolamentos, quando a relação de espiras, N1/N2 é de 1/N. A figura 1.26(b) representa o
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 28

mesmo circuito, porém com todas as reatâncias refletidas ao primário. Considerando-se que
Z e  Z1  Z 2 (sendo Z e  X m que é a reatância de magnetização), em estudos de curto-

circuito esta impedância shunt pode ser retirada, conforme indicado na figura 1.26(c), onde
Z T  R T  jX T e X T é a reatância de dispersão total do transformador (geralmente dada em
porcentagem).

Figura 1.26 - Circuitos equivalentes para transformadores de dois enrolamentos.

B - Auto-transformador

Seja o transformador monofásico de dois enrolamentos apresentado no item anterior e


mostrado novamente na figura 1.27(a) abaixo. Sua potência nominal é de 100 kVA, suas tensões
e correntes nominais no primário e secundário valem, respectivamente, 1000/200 V e 100/500 A.
Vamos agora interligar os enrolamentos, primeiramente como mostra a figura 1.27(b).
Observe que isto somente poderá ser feito se as correntes nos enrolamentos ficarem limitadas aos
seus valores nominais, mantendo as perdas no núcleo e no cobre inalteradas com este
procedimento. Assim, obtém-se o autotransformador, com uma potência nominal aumentada
para 600 kVA, isto é, de 600%, e uma relação de transformação 1,2:1.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 29

Figura 1.27 - Conversão de transformador de 100 kVA em autotransformador de 600 kVA

Vamos repetir a interligação dos enrolamentos, porém, como mostra a figura 1.28(b),
mantendo novamente as correntes nos enrolamentos limitadas aos seus valores nominais. Nesta
configuração, obtém-se o autotransformador com uma potência nominal aumentada para 120
kVA, isto é, de 20%, e uma relação de transformação 6:1.

Figura 1.28 - Conversão de transformador de 100 kVA em autotransformador de 120 kVA

Qual das duas configurações de um autotransformador é mais interessante? Do ponto de


vista da capacidade nominal, a primeira é mais vantajosa. Porém, deve-se analisar o efeito que a
conexão dos dois enrolamentos produz na impedância e na corrente de curto-circuito. Assim,
suponha que o transformador de dois enrolamentos original tenha um valor típico de impedância
de 6%. Portanto, um curto-circuito em seus terminais exigirá uma corrente de 1/0,06 = 16,7 p.u.
Se o curto ocorrer no secundário de 1000 V da primeira configuração de
autotransformador, uma tensão de 1200 V será aplicada ao enrolamento de 200 V. Como a
impedância não mudou e a tensão aumentou 6 vezes (1200/200 = 6), também a corrente de curto
aumentará 6 vezes o valor anteriormente obtido, isto é, para 100 p.u., ou seja, 100 vezes o valor
nominal. Já no caso da segunda configuração, este problema é bastante minimizado (por quê?).
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 30

Este aumento na corrente de curto-circuito, aliado a facilidade de transmissão de


sobretensões pelos autotransformadores devido à ligação metálica entre o primário e secundário,
tem restringido a aplicação destes equipamentos a somente situações onde a relação de
transformação entre a AT e BT do autotransformador resultante seja de, no máximo, 2:1.
Portanto, se a relação de tensões ficar na faixa exigida, o autotransformador tende a ser menor e
mais barato que o correspondente transformador de mesma potência nominal.

Exemplo: Veja o quadro abaixo para conversão de um transformador em um autotransformador:


Tipo de transformador e Potência nominal Impedância em p.u.
relação de tensões (MVA) dos valores nominais
De 2 enrolamentos
Relação: a : 1 S Z
Autotransformador
a 1 a  1S 1
Z
Relação: :1 a 1
a
Autotransformador  a  1 a
 S Z
Relação: a  1 : 1  a  a 1

O circuito equivalente de um autotransformador, com as grandezas referidas ao primário,


é semelhante ao mostrado na figura 1.26(b), para o transformador de dois enrolamentos
Normalmente, o valor da impedância shunt do autotransformador é bastante elevado,
razão pela qual ele não é levado em consideração em muitos estudos (como nos estudos de curto-
circuitos). Nestas condições, o circuito equivalente pode também ser simplificado, ficando
semelhante ao mostrado na figura 1.26(c), para transformador de dois enrolamentos.

C - Transformador de três enrolamentos

É comum projetar transformadores de potência com mais de dois enrolamentos por fase.
Os diferentes enrolamentos têm diferentes valores nominais de tensão (kV) e potência (MVA) e
permitem a transformação de potência entre mais de dois níveis de tensão. Neste curso, apenas
será considerado o transformador de três enrolamentos por fase, cujas representações unifilares
mais comumente empregadas estão mostradas na figura 1.29.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 31

Figura 1.29 - Representações usuais para transformador de 3 enrolamentos

Para obter o circuito equivalente do transformador de 3 enrolamentos apropriado para os


estudos computacionais, é interessante recordar primeiramente o procedimento empregado para
o transformador de 2 enrolamentos, mostrado na figura 1.30, onde sua impedância de dispersão
em % ou p.u. é obtida em função das impedâncias do primário e secundário (em % ou p.u.), isto
é, Z% = Z1% + Z2%:

Figura 1.30 - Circuito equivalente de transformador de 2 enrolamentos

Seja, então, o diagrama esquemático que representa o circuito equivalente de um


transformador de 3 enrolamentos mostrado na figura 1.31. onde aparece a impedância shunt do
primário, Ze.

Figura 1.31 - Circuito equivalente de transformador de 3 enrolamentos

Tal como para o transformador de 2 enrolamentos, Ze, em geral, possui valor bastante
elevado e o circuito equivalente é simplificado, como indicado na figura 1.32:
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 32

(a) Modelo geral

(b) Modelo com todas as impedâncias referidas ao primário

Figura 1.32 - Circuitos equivalentes simplificados para o transformador de 3 enrolamentos

OBSERVAÇÕES:
Considerando apenas a ligação de uma carga ao 2ário, a impedância do transformador
será:
Z12 = z1 + z2 (1.44)
Por outro lado, caso houvesse uma carga conectada no 3ário (e apenas ali):
Z13 = z1 + z3 (1.45)

Posteriormente, será mostrada a maneira de se obter as impedâncias Z1 , Z2 e Z3 , todas


em p.u.

1.8 - QUANTIDADES “POR UNIDADE” OU P.U.

1.8.1 - Justificativas para emprego do sistema p.u.

Existem vários motivos para o uso das unidades das grandezas relativas a impedâncias,
correntes, tensões e potências em valores percentuais ou por unidade ou p.u., ao invés de se
usar ohms, ampéres, volts e MVA (ou MW). São muitas as vantagens do uso do sistema p.u.,
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 33

podendo-se destacar que os dados em p.u. são mais significativos e facilmente correlacionáveis
que os valores reais. Veja estes exemplos:
 A resistência de armadura de uma máquina elétrica de 5,3  é grande ou pequena?
 Um valor de tensão 95 kV é alto ou baixo?

Se esses valores fossem dados em p.u., ter-se-ia mais “visão” do “tamanho” da


resistência de 5,3 , ou da tensão de 95 kV, conforme será visto em seguida.

1.8.2 - Valores base e valores em p.u.

O valor em p.u. de qualquer grandeza é definido por:


Valor real da grandeza
Valor " por unidade"  (1.46)
Valor base (ou de referência)

sendo ambos os valores real e base medidos na mesma unidade.

Exemplo: Obter o valor em p.u. da tensão de 140 kV em um sistema cuja tensão base é 132 kV.
Tensão real 140k
Solução: V(p.u.)    1,06 p.u.
Tensão base 132k

OBSERVAÇÕES:
(a) A escolha dos valores base é arbitrária, mas os valores nominais das grandezas são
preferidos;
(b) Escolhe-se, normalmente, dois valores base para um dado sistema elétrico, geralmente, a
tensão e a potência. A partir destes, calcula-se os valores base da corrente e impedância;
(c) O ângulo de fase não é alterado, quando se usa o sistema p.u.

Sejam os seguintes valores bases de um sistema monofásico:


Potência (aparente) base: S b [VA]

Tensão base: Vb [V]

Então, as bases para a corrente e a impedância podem ser obtidas pelas expressões:
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 34

S
Ib  b [A] (1.47)
Vb

Vb Vb V2
Zb    b [Ω] (1.48)
I b S b / Vb S b

1.8.3 - Efeito do uso do sistema p.u. em um transformador monofásico

A figura 1.33 mostra o circuito equivalente de um transformador de dois enrolamentos.

Figura 1.33 - Circuito equivalente de um transformador de dois enrolamentos

Para o transformador de dois enrolamentos da figura 1.33, usando os valores nominais


como base, tem-se:
Relação de espiras do primário para o secundário: 1/N
Tensão base do primário: V1b = V1
Tensão base do secundário: V2b = V1b N
Corrente base do primário: I1b = I1
Corrente base do secundário: I2b = I1b / N

A partir dessas informações, pode-se obter o seguinte:


 Potência base no primário: S1b  V1b I1b
 I1b 
 Potência base no secundário: S2b  V2b I 2b  V1b N    V1b I1b
 N 

 Impedância base do primário: Z1b  V1b / I1b

 Impedância base do secundário: Z 2b  V2b / I 2b

 Impedância primária referida ao secundário: Z1  Z1 N 2 [Ω]


 Impedância primária referida ao secundário em p.u.:
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 35

Z1 Z N2 Z N2 Z N2 Z
Z1 (p.u.)   1  1  1  1 (1.49)
Z 2b V2b V1b N V1b 2 Z1b
.N
I 2b I1b / N I1b

Por outro lado, sabe-se que a impedância primária, em p.u.é:


Z1
Z1 (p.u.)  (1.50)
Z1b

Comparando as expressões (1.50) e (1.49), de Z1(p.u.) e Z’1 (p.u.), tem-se que:

Z1 (p.u.)  Z1 (p.u.) (1.60)

Conclusão:
O valor da impedância do transformador, em p.u., é o mesmo em ambos os lados do
transformador. Assim, quando a rede contém transformadores e, se valores “p.u.” são
utilizados, não há necessidade de se referir todas as impedâncias para um mesmo lado
(primário ou secundário) do transformador: o transformador pode ser tratado como uma
impedância série.

Notas:
1) Quando existe um transformador de dois enrolamentos em um sistema e, se são usados
valores em p.u.:
a) A potência base é a mesma em ambos os enrolamentos primário e secundário.
b) A base de tensão no secundário é dependente da relação de espiras do transformador.
c) Duas redes, acopladas por um transformador de dois enrolamentos (portanto
operando com tensões diferentes), deverão ter bases de tensões (e correntes)
diferentes, que são relacionadas entre si através da relação de espiras do
transformador.
2) As análises e as conclusões anteriores podem ser estendidas para transformadores de
qualquer número de enrolamentos.
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 36

1.8.4 - Valores base de um sistema trifásico

Em um sistema trifásico, seja Vb a tensão base entre fases, em volts (V), e Sb a potência
base trifásica, em volt-ampéres (VA). A correspondente corrente base, Ib, em ampéres (A), é
dada por:
Sb
Corrente base: Ib  [A] (1.51)
3.Vb

Vb / 3 Vb2
Impedância base: Zb   [Ω] (1.52)
S b / 3Vb Sb

Normalmente se trabalha com a potência em MVA ou MW e a tensão em kV. Assim,


considerando a potência trifásica em MVA expressa por MVA b , e a tensão fase-fase em kV

expressa por kVb , as seguintes expressões também podem ser usadas:

MVA b  103
Corrente base: Ib  [A] (1.53)
3.kVb 

kVb 2
Impedância base: Zb  [] (1.54)
MVA b

É geralmente útil saber transformar diretamente uma impedância em p.u., obtida com
bases de tensão e potência antigas ou velhas, para seu novo valor em p.u., com bases de tensão e
potência diferentes ou novas. Sejam dadas:
S base velha e Vbase velha  bases do sistema “antigo” ou “velho”

S base nova e Vbase nova  bases do sistema “novo”

Assim, esta transformação pode ser feita através da equação de “Mudança de bases”, dada
por:
2
 Vbase velha   S base nova 
Z p.u. base nova  Z p.u. base velha     [p.u.] (1.55)
 Vbase nova   S base velha 
   
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 37

1.8.5 - Impedâncias em p.u. de transformadores de 3 enrolamentos

Ao contrário dos transformadores de 2 enrolamentos, onde as potências fornecidas ao 1ário


e entregue ao 2ário, são praticamente iguais, nos transformadores de 3 enrolamentos, a potência
fornecida ao 1ário corresponde aproximadamente à soma vetorial, das potências entregues ao 2ário
e 3ário.”
Assim sendo, o enrolamento 1ário pode ter uma potência diferente daquela do 2ário ou 3ário.
Devido a esta particularidade, os valores em pu das impedâncias do transformador de 3
enrolamentos, ao contrário do que ocorre com os transformadores de 2 enrolamentos (quando
z’2 % = z2 %), são diferentes para cada um dos três enrolamentos.

A figura 1.34 apresenta o circuito equivalente final de um transformador de 3


enrolamentos, onde as impedâncias Z2% e Z3% estão referidas ao 1ário.

Figura 1.34 - Circuito equivalente do transformador de 3 enrolamentos, referido ao primário

Alimentando-se o 1ário de um transformador com 3 enrolamentos, pode-se conectar cargas


no 2ário, 3ário ou em ambos. Considere-se, inicialmente, que esse transformador possua apenas
uma carga conectada ao 2ário, enquanto que o 3ário está a vazio. Desta forma, esse transformador
se comportará como se possuísse apenas dois enrolamentos:
Z12% = z1% + z2%. (1.56)

Por outro lado, caso houvesse carga conectada apenas ao 3ário :


Z13% = z1% + z3%. (1.57)

Essas impedâncias Z12% e Z13% são obtidas através de ensaios em curto, conforme já
mostrado. Entretanto, observando-se bem à figura 1.34, notar-se-á que as impedâncias que são
requeridas ali são z1%, z2% e z3%, as quais devem ser obtidas através de 3 ensaios em curto, da
seguinte maneira:
Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 38

I) Alimentando o primário, curto-circuitando o 2ário, com o 3ário em aberto:


O ensaio é realizado do mesmo modo que nos transformadores de dois enrolamentos,
observando a figura 1.35. Isto é, determina-se a impedância percentual Z12% que, como citado, é
equivalente a soma das impedâncias do primário e do secundário, como na equação (1.56).

Figura 1.35 - Ensaio para determinação da impedância percentual Z12%

Nota: Se os instrumentos são colocados no 1ário, as impedâncias calculadas estarão referidas a


esse enrolamento.

II) Alimentando o 1ário e curto-circuitando o 3ário, com o 2ário em aberto.


O esquema é semelhante ao anterior, invertendo-se as condições do 2ário com o 3ário, como
na figura 1.36. Assim, obtém-se a impedância percentual Z13%, que, como citado, é equivalente
a soma das impedâncias do primário e do terciário, como na equação (1.57)

Figura 1.36 - Ensaio para determinação da impedância percentual Z13%

III) Alimentando o 2ário, curto-circuitando o 3ário, com o 1ário em aberto.


A figura 1.37 ilustra esse arranjo. Pela localização dos instrumentos, a impedância obtida
é Z’23% = z’2 % + z’3%, referida ao secundário.

Figura 1.37 - Ensaio para determinação da impedância percentual Z’23%


Capítulo I - ANÁLISE DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA 39

Portanto, para se obter o circuito equivalente, mostrado antes, torna-se necessário


corrigir a impedância Z’23, que está referida ao 2ário, referindo-a ao 1ário. Isso pode ser feito
utilizando-se da equação de “Mudança de bases”, mostrada anteriormente, que fornecerá:
2
V   S1b 
Z 23  Z23  2b    [pu] (1.58)
 V1b   S 2b 

Agora a impedância Z23 representa a impedância entre 2ário e o 3ário, referida ao primário,
estando, portanto, nas mesmas bases das impedâncias Z12 e Z13. A terceira equação (em %) pode,
assim, ser montada:
Z23% = z2% + z3% (1.59)

Tem-se, finalmente, 3 equações [(1.56), (1.57) e (1.59)] e 3 incógnitas (z1%, z2% e z3%).
Resolvendo o sistema, chega-se finalmente a:
Z %  Z13 %  Z 23 %
Z1 %  12 (1.60)
2
Z 23 %  Z12 %  Z13 %
Z2 %  (1.61)
2
Z %  Z 23 %  Z12 %
Z3 %  13 (1.62)
2

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