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Superior Tribunal de Justiça

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 111.953 - RS (2010/0079278-2)

RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA


SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA 13A VARA CÍVEL DE PORTO ALEGRE - RS
SUSCITADO : JUÍZO FEDERAL DA VARA DO SISTEMA FINANCEIRO DA
HABITAÇÃO DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTERES. : CELINA DE FÁTIMA TRINDADE DE ÁVILA E OUTROS
ADVOGADO : MÁRIO MARCONDES NASCIMENTO E OUTRO(S)
INTERES. : SUL AMÉRICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS
ADVOGADO : ROSÂNGELA DIAS GUERREIRO DE ALMEIDA E OUTRO(S)
EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA.


JUSTIÇAS ESTADUAL E FEDERAL. JUÍZO FEDERAL QUE DESCUMPRE
DECISÃO DO TRF DA 4ª REGIÃO TRANSITADA EM JULGADO. LEGITIMIDADE
PASSIVA DA CEF FIRMADA EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPETÊNCIA
FEDERAL.
1. O Juízo Federal afastou o interesse da CEF na lide, rejeitando o requerimento
de litisconsórcio passivo necessário. Essa decisão foi reformada por meio de agravo de
instrumento manejado pela Caixa Econômica Federal, tendo o TRF da 4ª Região
decidido que a CEF é litisconsorte passiva necessária, tendo em vista que os imóveis
discutidos na lide têm cobertura pelo FCVS.
2. Inexplicavelmente, o Juízo Federal decidiu não cumprir a decisão tomada na
Corte regional. Assim, citando julgados do STJ e do próprio TRF 4ª Região, declinou da
competência uma vez mais.
3. Certa ou errada a decisão do TRF da 4ª Região, precisa ser cumprida, sob pena
de flagrante desrespeito às decisões judiciais, no caso, por um órgão judicial vinculado à
hierarquia do Juízo prolator da decisão descumprida.
4. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo Federal,
o suscitado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça: "A Seção, por
unanimidade, conheceu do conflito e declarou competente o Juízo Federal da Vara do Sistema
Financeiro da Habitação da Seção Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul, o suscitado nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator." Os Srs. Ministros Arnaldo Esteves Lima, Humberto
Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Cesar Asfor Rocha,
Hamilton Carvalhido e Luiz Fux votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 10 de novembro de 2010(data do julgamento).

Ministro Castro Meira


Relator

Documento: 1020277 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 22/11/2010 Página 1 de 8
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CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 111.953 - RS (2010/0079278-2)

RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA


SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA 13A VARA CÍVEL DE PORTO ALEGRE - RS
SUSCITADO : JUÍZO FEDERAL DA VARA DO SISTEMA FINANCEIRO DA
HABITAÇÃO DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTERES. : CELINA DE FÁTIMA TRINDADE DE ÁVILA E OUTROS
ADVOGADO : MÁRIO MARCONDES NASCIMENTO E OUTRO(S)
INTERES. : SUL AMÉRICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS
ADVOGADO : ROSÂNGELA DIAS GUERREIRO DE ALMEIDA E OUTRO(S)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Cuida-se de conflito de


competência suscitado pelo Juízo de Direito da 13ª Vara Cível de Porto Alegre/RS em face do
Juízo Federal da Vara do Sistema Financeiro da Habitação da Seção Judiciária do Estado do Rio
Grande do Sul, nos autos de ação ordinária de responsabilidade obrigacional securitária movida por
Celina de Fátima Trindade de Ávila e outros contra a Sul América Companhia Nacional de Seguros
Gerais S/A, em que pretendem os autores a condenação da entidade ré ao pagamento de
importância, a ser apurada em perícia, necessária para a recuperação dos imóveis objetos de
sinistro.
A ré postulou o ingresso da Caixa Econômica Federal-CEF como litisconsorte passiva
necessária, o que levou o Juízo estadual a declinar da competência a uma das varas da Justiça
Federal em Porto Alegre. (e-STJ fl. 76)
Manejado o agravo de instrumento, a Corte local negou provimento ao recurso, nos
termos da seguinte ementa:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. SEGUROS. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE


SECURITÁRIA. INTERESSE DA UNIÃO E DA CAIXA ECONÔMICA.
COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL.
1. Compete à Justiça Federal decidir sobre a presença de interesse jurídico no
feito que autorize a participação na causa da União, suas autarquias ou empresas públicas.
Questão processual de ordem pública pacificada, de acordo com a súmula n. 150 do STJ.
2. Assim, no caso em exame, havendo a possibilidade de a demanda envolver
interesse da União e de empresa pública, qual seja, a Caixa Econômica Federal, a remessa
dos autos à Justiça Comum Federal é à medida que se impõe.
3. Ademais, está afeta jurisdição federal definir se há a possibilidade de ser
cindida a responsabilidade do agente financeiro daquela atinente à seguradora, quanto aos
vícios apresentados nos imóveis financiados e garantidos.
Negado seguimento ao agravo de instrumento. (e-STJ fl. 78)

O Juízo Federal afastou o interesse da CEF na lide, rejeitando o requerimento de


litisconsórcio passivo necessário, e determinou o retorno dos autos ao Juízo Estadual. (e-STJ fls.
84-86)
Por meio de agravo manejado pela CEF, o TRF da 4ª Região reformou a decisão
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monocrática, reconhecendo a legitimidade da CEF para figurar no polo passivo da demanda na
condição de litisconsorte passiva necessária.
O aresto ficou assim ementado:

SFH. LEGITIMIDADE DA CAIXA. FCVS.


A Caixa Econômica Federal tem legitimidade para atuar nos feitos em que se
discute contrato com cobertura de FCVS. (e-STJ fl. 91)

O Juízo Federal, sem observar a decisão tomada no agravo pelo TRF da 4ª Região,
novamente declinou da competência, com base em precedentes desta Corte e da própria Corte
regional. (e-STJ fls. 92-95)
O Ministério Público Federal, na pessoa do ilustre Subprocurador-Geral da República
Dr. João Pedro de Saboia bandeira de Mello Filho, opinou pela competência do Juízo de Direito, o
suscitante. (e-STJ fls. 102-106)

É o relatório.

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EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA.


JUSTIÇAS ESTADUAL E FEDERAL. JUÍZO FEDERAL QUE DESCUMPRE
DECISÃO DO TRF DA 4ª REGIÃO TRANSITADA EM JULGADO. LEGITIMIDADE
PASSIVA DA CEF FIRMADA EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPETÊNCIA
FEDERAL.
1. O Juízo Federal afastou o interesse da CEF na lide, rejeitando o requerimento
de litisconsórcio passivo necessário. Essa decisão foi reformada por meio de agravo de
instrumento manejado pela Caixa Econômica Federal, tendo o TRF da 4ª Região
decidido que a CEF é litisconsorte passiva necessária, tendo em vista que os imóveis
discutidos na lide têm cobertura pelo FCVS.
2. Inexplicavelmente, o Juízo Federal decidiu não cumprir a decisão tomada na
Corte regional. Assim, citando julgados do STJ e do próprio TRF 4ª Região, declinou da
competência uma vez mais.
3. Certa ou errada a decisão do TRF da 4ª Região, precisa ser cumprida, sob pena
de flagrante desrespeito às decisões judiciais, no caso, por um órgão judicial vinculado à
hierarquia do Juízo prolator da decisão descumprida.
4. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo Federal,
o suscitado.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Conheço da controvérsia


por tratar-se de conflito de competência a envolver juízos vinculados a tribunais distintos, nos
termos do art. 105, I, "d", da Cf/88.
Noticia os autos que o Juízo Federal afastou o interesse da CEF na lide, rejeitando o
requerimento de litisconsórcio passivo necessário. Essa decisão foi reformada por meio de agravo
manejado pela Caixa Econômica Federal, tendo o TRF da 4ª Região decidido que a CEF é
litisconsorte passiva necessária, tendo em vista que os imóveis discutidos na lide têm cobertura pelo
FCVS.
Para melhor compreensão do que ficou decidido, transcrevo a íntegra do voto condutor
do aresto:

Com razão a parte agravante.


A Caixa Econômica Federal tem legitimidade para atuar nos feitos em que se
discute contrato com cobertura de FCVS.
Nesse sentido o entendimento do E. Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - SISTEMA FINANCEIRO


DE HABITAÇÃO - LEGITIMIDADE PASSIVA DA CEF - LEIS 4.380/64 E
8.100/90 - DUPLO FINANCIAMENTO - COBERTURA PELO FCVS -
QUITAÇÃO DE SALDO DEVEDOR - POSSIBILIDADE - RESPEITO AO
PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DAS LEIS - PRECEDENTES DESTA

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CORTE.
1. Nas causas relativas a contratos do Sistema Financeiro de Habitação -
SFH com cláusula do Fundo de Compensação de Variação Salarial - FCVS, a
Caixa Econômica Federal - CEF passou a gerir o Fundo com a extinção do Banco
Nacional da Habitação - BNH.
2. A disposição contida no art. 9º da Lei. 4.380/64 não afasta a possibilidade
de quitação de um segundo imóvel financiado pelo mutuário, situado na mesma
localidade, utilizando-se os recursos do FCVS, mas apenas impõe o vencimento
antecipado de um dos financiamentos.
3. Além disso, esta Corte Superior, em casos análogos, tem-se posicionado
pela possibilidade da manutenção da cobertura do FCVS, mesmo para aqueles
mutuários que adquiriram mais de um imóvel numa mesma localidade, quando a
celebração do contrato se deu anteriormente à vigência do art. 3º da Lei 8.100/90,
em respeito ao princípio da irretroatividade das leis.
4. A possibilidade de quitação, pelo FCVS, de saldos devedores
remanescentes de financiamentos adquiridos anteriormente a 5 de dezembro de
1990 tornou-se ainda mais evidente com a edição da Lei 10.150/2000, que a
declarou expressamente.
5. Precedentes desta Corte.
6. Recurso especial não provido. (REsp 1044500/BA, Rel. Ministra
ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/06/2008, DJe
22/08/2008)

ADMINISTRATIVO. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO.


LEGITIMIDADE PASSIVA. DUPLO FINANCIAMENTO. COBERTURA DO
SALDO RESIDUAL PELO FCVS. INEXISTÊNCIA DE VEDAÇÃO LEGAL À
ÉPOCA DA CELEBRAÇÃO DOS CONTRATOS DE MÚTUO HIPOTECÁRIO.
1. A Caixa Econômica Federal é parte legítima para integrar o pólo passivo
das ações movidas por mutuários do Sistema Financeiro de Habitação, porque a
ela (CEF) foram transferidos todos os direitos e obrigações do extinto Banco
Nacional da Habitação - BNH.
Entendimento consubstanciado na Súmula 327 do Superior Tribunal de
Justiça.
(...)
4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não-provido.
(REsp 902.117/AL, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado
em 04.09.2007, DJ 01.10.2007 p. 237)

Na espécie, há evidente vinculação do contrato ao FCVS, uma vez que consta do


instrumento contratual, a contribuição ao referido fundo.
Entendo, pois, que é legítima a Caixa Econômica Federal - CEF, como responsável
pela administração do fundo, para figurar como litisconsorte passiva necessária.
Ante o exposto, voto por dar provimento ao agravo de instrumento. (e-STJ fls.
88-89)

Inexplicavelmente, o Juízo Federal decidiu não cumprir a decisão tomada na Corte


regional. Assim, citando julgados do STJ e do próprio TRF 4ª Região, declinou da competência
mais uma vez.
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Os autos retornaram ao Juízo estadual, que suscitou o conflito.
Como se depreende do relato, o Juízo Federal simplesmente ignorou a decisão tomada
pelo TRF da 4ª Região, transitada em julgado, que deu provimento ao agravo manejado pela CEF
para reconhecer o interesse dessa empresa pública em figurar na lide como litisconsorte passiva
necessária.
Certa ou errada a decisão, precisa ser cumprida, sob pena de flagrante desrespeito às
decisões judiciais, no caso, por um órgão judicial vinculado à hierarquia do Juízo prolator da
decisão descumprida.
Ante o exposto, conheço do conflito para declarar competente o Juízo Federal, o
suscitado.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA SEÇÃO

Número Registro: 2010/0079278-2 PROCESSO ELETRÔNICO CC 111.953 / RS

Números Origem: 10702438506 200804000440904 200871000227022 24385011820078210001


70023898737
EM MESA JULGADO: 10/11/2010

Relator
Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MOACIR GUIMARÃES MORAES FILHO
Secretária
Bela. Carolina Véras
AUTUAÇÃO
SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA 13A VARA CÍVEL DE PORTO ALEGRE - RS
SUSCITADO : JUÍZO FEDERAL DA VARA DO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO
DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
INTERES. : CELINA DE FÁTIMA TRINDADE DE ÁVILA E OUTROS
ADVOGADO : MÁRIO MARCONDES NASCIMENTO E OUTRO(S)
INTERES. : SUL AMÉRICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS
ADVOGADO : ROSÂNGELA DIAS GUERREIRO DE ALMEIDA E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Sistema Financeiro da Habitação -
Fundo de Compensação de Variações Salariais - FCVS

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Seção, por unanimidade, conheceu do conflito e declarou competente o Juízo Federal
da Vara do Sistema Financeiro da Habitação da Seção Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul, o
suscitado nos termos do voto do Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Arnaldo Esteves Lima, Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro
Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Cesar Asfor Rocha, Hamilton Carvalhido e Luiz Fux
votaram com o Sr. Ministro Relator.

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Brasília, 10 de novembro de 2010

Carolina Véras
Secretária

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