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CABO FRIO
2009
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Cabo Frio
2009
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Aprovada em ___________.
___________________________________________________
Prof. Fábio Frizzo
___________________________________________________
Prof. João Henrique de Oliveira
___________________________________________________
Profª Vanessa de Oliveira Brunow
Cabo Frio
2009
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AGRADECIMENTOS
Tio Paulinho
Tia Ana Rita
Carol (Caninha)
José Altino (Tino)
Carlos Eduardo (Cadu)
Loez (Loez)
Felipe (22)
Marcelo
Fabiana (Fabi)
Taiana (Tatá)
Preta
Simone Assis (Mãe n° 2)
Regina Rios
Thatiane
Benedita
Renata
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DEDICATÓRIA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................06
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................36
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................38
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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
A ESPANHA ANTES DA GUERRA CIVIL
O fim de 1890 até o inicio de 1920, simbolizou para a Espanha uma fase de
turbulência. Claramente mais contundente nos anos que coincidiram com as revoluções
russa e alemã no final da Primeira Guerra Mundial, como aponta o historiador Antony
Beevor (2007, p.51). Os latifúndios da Andaluzia e da Extremadura, Astúrias e Biscaia
e a Catalunha industrial representavam as principais áreas de atrito entre os donos de
fábricas e um proletariado há muito tempo descontente. Os conflitos muitas vezes se
resumiram à pura e explicita ação violenta da polícia secreta, ou Brigada Social, que
muitas das vezes chegou a contratar bandidos para que dessem fim nos líderes grevistas
anarquistas. Por conseguinte, evidenciaremos a primeira explosão de agitação urbana,
“A Semana Trágica de 1909”, como ficou conhecida, não ocorreu somente devido aos
combates em Barcelona, mas também devido à guerra colonial no Marrocos. Beevor
descreve assim o ocorrido:
Os rifenhos das tribos tinham dizimado uma coluna de soldados
enviados para proteger as concessões de minas compradas pelo conde
de Romanones, um dos conselheiros de Afonso XIII. O governo
convocou os reservistas; os pobres não podiam pagar para se livrarem
do serviço militar e os operários casados foram os mais afetados. Um
forte sentimento antimilitarista crescera nos anos que seguiram ao
desastre cubano, e a reação espontânea em Barcelona à crise no
Marrocos foi súbita e avassaladora (2007, p.51).
A iniciativa dos radicais foi atacar a Igreja, que na visão do povo espanhol,
igualava-se à posição da Guarda Civil como primeiro alvo para um possível levante.
Um massacre foi a resposta do Exército ao agir na repressão dos desordeiros. Depois
deste resultado negativo para o movimento libertário, os mesmos resolveram adotar
uma nova forma de política. Formar-se-iam sindicatos cujo ideário central residia numa
greve geral. Após a greve haveria uma nova formulação da sociedade com base na
autogestão na indústria e na agricultura. Os seguidores da idéia de Bakunin fundaram a
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Sem o apoio político e militar que obtivera no inicio, Primo de Rivera não
encontrou outra saída senão abdicar do poder. O ex-ditador morreu em Paris alguns
meses após sua retirada. O rei ainda tentou manter a ordem do regime monárquico. A
pressão popular pela proclamação da república e as ameaças de novos golpes fizeram
com que o monarca marcasse a data para as eleições constituintes. Em abril de 1931, a
Espanha dava boas vindas a sua segunda república e, sem alternativa, Afonso XIII
abdica e deixa o país rumo ao exílio. A quatorze de abril de 1931, a Espanha
incandescente festejava a queda da Monarquia e o inicio da segunda república no país.
O governo provisório tinha como presidente e chefe de Estado Niceto Alcalá Zamora.
Este político católico ex-monarquista e proprietário de terras em Córdoba era líder do
comitê revolucionário que enfrentou diversos problemas ao tentar construir uma
república voltada para o povo. Inspirada na Constituição de Weimar, a nova república
agiria sobre um regime parlamentarista, com voto universal e liberdade de culto, que
simbolizou grande afronta a Igreja e sua forte influência na vida política e social
espanhola.
Os espanhóis não souberam escolher muito bem o momento para o nascimento
de sua república. Os efeitos da crise de 1929 ainda eram visíveis em todo o mundo, e
não era diferente na Espanha, apesar do país ser tradicionalmente agrícola. Francisco J.
Romero Salvadó, no trecho abaixo, reitera acerca dos problemas inicialmente
encontrados pelo novo governo:
Nesse contexto internacional de radicalismo político e crise
econômica, os novos objetivos modernizadores do regime fomentaram
a polarização do país. Apesar do zelo reformista dos novos ministros,
a impossibilidade de empréstimos de capital do exterior, acrescida da
enorme divida herdada dos anos de gastos abundantes da ditadura,
impedia que o ministério dispusesse de recursos financeiros para
viabilizar muitos de seus projetos. Por conseguinte, como as
crescentes expectativas de grupos tradicionalmente discriminados não
encontravam correspondência na realidade, o desencantamento
popular ganhava força. No entanto, ao mesmo tempo essa mesma
legislação era considerada intolerável pelas classes ricas, na medida
em que, caso totalmente implementada, ameaçava sua hegemonia
econômica e social (SALVADÓ, 2008, p.55).
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Com tempo livre e uma indignação existente, pouco faltava para que em algum
momento, daquele período, outro militar tomasse a frente de suas tropas e obtivesse
apoio do restante do exército para se manifestar contra o governo vigente. Sanjurjo
fracassara, mas nada garantia que outro general tivesse a mesma falta de sorte. O
momento não era aquele e não foi um pronunciamento que tirou o governo reformista
do poder. Suas próprias falhas e as criticas sofridas devido à má administração
colaboraram para que nas eleições de novembro de 1933 a direita saísse vitoriosa.
Aquele ano tinha começado de forma inesperada para Manuel Azaña. Após as
eleições que definiram o rosto do governo reformista, Niceto Alcalá Zamora foi eleito
presidente e deu a tarefa de formar o gabinete do governo a Azaña. Durante os
primeiros anos da República, diversas rebeliões locais tornaram as coisas mais difíceis
para os reformistas. Duas destas, que tiveram forte peso, ocorreram em Castinblanco, na
Extremadura, no ano de 1931; e em Casas Viejas, em Cádiz, no ano de 1933. “[...] Nos
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primeiros dias de janeiro, como parte da constante jacquerie na Andaluzia, uma onda de
violência irrompeu na província de Cádiz [...]” (BEEVOR, 2007, p.68). A Guarda Civil,
juntamente com a Guarda de Asalto – esta segunda criada para proteção dos direitos do
governo republicano – repreenderam violentamente os envolvidos. A direita, outrora
violenta repressora, rapidamente se manifestou jogando a culpa toda em cima de Azaña,
o acusando de ter dado a ordem para as execuções.
Nas Cortes, os deputados de direita argumentaram que os
acontecimentos de Casas Viejas provaram que o problema era a
“rapidez” da mudança social no campo e atacaram as medidas
socialistas do governo no setor industrial. O governo de Azaña sofreu
nas eleições municipais de abril e, em outono, ficou claro que ele e
seus colegas estavam muito enfraquecidos (ibid, p.69).
rápido crescimento da CEDA vindo a ser tornar o mais poderoso partido da Espanha
após as eleições de 1933, Thomas nos apresenta três motivos:
Primeiro, a República concedera pela primeira vez o direito de voto às
mulheres espanholas, e era notório que o sexo feminino votaria
segundo as instruções de seus confessores. E a Igreja, em seu
conjunto, não fazia segredo de seu apoio a CEDA; segundo, havia
uma viagem natural no sentido da direita, após os dois anos de
governo republicano, que podia ter sido prevista; terceiro, enquanto os
partidos tanto de Direita quanto de centro prestavam-se em alianças
eleitorais, os de esquerda estavam em confusão (1964, p.88).
Ministro da Guerra para reprimirem os revoltosos. Beevor, além de Franco cita as ações
do general López Ochoa e do tenente-coronel Yagüe. Estes dois, junto com Franco e as
tropas da Legião Estrangeira espanhola, agiram com extrema violência na repressão. O
autor ainda diz:
A revolução da Astúrias não durou mais que duas semanas, mas
custou cerca de mil vidas e causou enorme prejuízo. Milhares de
trabalhadores foram demitidos por terem participado do levante e
vários milhares foram presos, muitos dos quais libertados em janeiro
de 1935, quando o estado de sítio foi suspenso (2007, p.75).
depois mais um escândalo político veio à tona. Este seria o golpe derradeiro para o
Partido Radical. A aliança, entre a CEDA e os radicais, caiu por terra, e em uma última
tentativa de tomar o poder, Gil Robles retira seu apoio a Chapaprieta. Seu plano não
saiu como o imaginado. Alcalá Zamora nomeou Manuel Portela Valadares, ex-
governador da Catalunha, como novo líder do governo.
Antony Beevor, ao abordar este período que precede as eleições de 1936 e o
início da guerra civil na Espanha, tenta nos fazer compreender como seu deu a formação
da chamada Frente Popular e a atmosfera política dos primeiros dias daquele ano. Tal
atmosfera sombria resultante do crescente sentimento revolucionário da esquerda e de
uma resposta contra-revolucionária da direita. Beevor aponta ainda para o fato das
eleições marcadas para dezesseis de fevereiro serem “[...] as últimas eleições livres
realizadas na Espanha durante quarenta anos [...]” (2007, p.77). O furor das campanhas
eleitorais mostrava um país dividido politicamente ao extremo. As alianças feitas pela
direita e pela esquerda acabaram isolando os partidos de centro. O autor cita:
Toda possibilidade de acordo fora destruída pelo levante
revolucionário da esquerda e pela cruel repressão por parte do exército
e da Guarda Civil. Os sentimentos eram profundo demais dos dois
lados para permitir que a democracia funcionasse. Ambos os lados
usaram linguagem apocalíptica, canalizando as expectativas dos seus
partidários para um resultado violento, não um resultado político
(Idem).
O governo sofreu com o alto índice de violência nos primeiros meses. Parte
deles originados dos conflitos entre socialistas da UGT e anarquistas da CNT.
Entretanto, por mais que fossem sangrentos os conflitos entre as frentes sindicais, quem
mais perturbava o sono do governo era a Falange. Os falangistas direcionavam seus
ataques aos operários, militantes dos partidos de esquerda. Fundada por José Antonio
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CAPÍTULO II
A GUERRA CIVIL EUROPÉIA
O general Goded, que estava à frente das tropas que avançavam em direção a
Barcelona viu-se cercado. Rendeu-se logo em seguida. Após este incidente em
Barcelona, o mesmo se repetiu em Madri. O chefe militar Fanjul vacilou em suas
decisões, possibilitando aos operários se organizarem. Em Guadalajara, Toledo e
Alcalá, colunas improvisadas atacaram os militares, seguindo em direção a Aragão. Em
Málaga e no País Basco não foram diferentes as investidas dos operários contra os
rebeldes. Dessa forma, no dia 20 de julho desmentia-se a idéia da invencibilidade dos
militares. Ficava evidente que dois lados estavam se enfrentando. O país estava daquele
momento em diante, divido em nacionalistas e republicanos. “[...] Da necessidade
nasceu uma virtude. A República promoveria a idéia de que “resistir é vencer”... [...]”
(BEEVOR, 2007, p.103). O Exército, em momento algum, tinha imaginado o
prolongamento do confronto. Não previram a duração de três anos, acreditavam que o
golpe teria sucesso em questão de dias. Não contavam com a resposta defensiva da
República. O governo revidou e a luta fratricida originou a guerra civil em questão.
Muitos dos autores que estudam o conflito analisam a necessidade de armas de ambos
os lados. Salvadó, em seu trabalho, não descarta ser razoável especular que a insurreição
deveria ter sido suprimida em tempo relativamente curto. As duas zonas não possuíam
armas modernas e nenhuma indústria de armamentos importante. A saída foi procurar
apoio diplomático fora do país. Entretanto:
A reação contrastante dos outros países aos apelos da Espanha se
mostrou decisiva. Um golpe de Estado desastroso logo degenerou
numa guerra civil. A Espanha, por sua vez, se transformou no reflexo
distorcido no qual a Europa contemplava uma imagem exagerada de
todas as tensões, paixões e energias dessa era turbulenta (SALVADÓ,
2008, p.95).
Por mais explicito que tenha sido em alguns momentos que os espanhóis
queriam fazer sua própria guerra, “[...] tornou perfeitamente claro que eram os próprios
espanhóis que visavam, e até mesmo imploravam, o auxilio do exterior – e não as
potencias européias que insistiam na intervenção [...]” (THOMAS, 1964, p.253). Assim,
“[...] a guerra civil espanhola foi antes de tudo resultado de ação de idéias e movimentos
europeus na Espanha” (THOMAS, 1964, p.255). Ou seja, “[...] a Espanha tem sido, em
conseqüência, um tubo de ensaio em que as idéias políticas da Europa são testadas”
(THOMAS, 1964, p.256). Em síntese:
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Seguindo a linha de análise de Beevor, Salvadó também atenta para o fato dos
britânicos simpatizarem com os sublevados. O circulo governamental britânico, liderado
por Stanley Baldwin estava impregnado de preconceitos contra o bolchevismo. O
governo espanhol muitas vezes foi comparado ao de Kerenski na Rússia de 1917. “[...]
Desde os primeiros dias, relatórios diplomáticos e de inteligência confirmaram os
sentimentos anti-republicanos já dominantes no governo britânico [...]” (SALVADÓ,
2008, p.98). Com medo do confisco de seus investimentos pelos sindicatos espanhóis,
grande parte dos dirigentes dos círculos econômicos ingleses estavam inclinados a
preferirem uma vitoria da direita, como aponta o autor. Ou seja, os britânicos criaram a
idéia de que na Espanha, os militares estavam lutando contra um regime soviético em
potencial. Em síntese:
O general Franco era visto como o bom oficial, prudente e
conservador, que interveio na política somente para combater o
espectro da revolução social Sua vitória levaria ao estabelecimento de
uma “ditadura liberal” bastante favorável aos interesses do Reino
Unido (SALVADÓ, 2008, p.99).
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Mesmo assim, como se tornou claro, o turbilhão espanhol envolvendo estas duas
potências forjou o que conhecemos de ‘Eixo Roma-Berlim’. Esta expressão foi usada
pela primeira vez em novembro de 1936 por Mussolini.
Inicialmente, os diplomatas nazistas eram contra a ajuda aos nacionalistas. O
governo obtinha informações detalhadas sobre a situação na Espanha e tinham medo de
que a ajuda a Franco provocasse a reação britânica. No dia vinte e dois de julho de
1936, Franco enviou o coronel Beigbeder à Alemanha a fim de requisitar aviões de
transporte. Dias depois, outros emissários de Franco, Bernhardt e Langenheim,
chegaram a Berlim. Inicialmente seus esforços de se encontrarem com membros
importantes do Partido Nazista foram sabotados. Mesmo assim, conseguiram fazer com
que a mensagem de Franco chegasse às mãos de Hitler. Após se reunirem, ficou
estipulado que seriam enviados vinte Junkers 52, seis caça-bombardeiros Heinkel 51,
vinte canhões antiaéreos e equipamentos. “[...] Os Alemães foram mais determinados
em relação ao empreendimento todo do que os italianos [...]” (BEEVOR, 2007, p.211).
Os primeiros carregamentos chegaram à Espanha em agosto, indo diretamente para
Cádiz ou via Lisboa. Foram enviados: o Panzer Mark I, canhões antiaéreos de vinte
milímetros e oitenta e oito milímetros. A ajuda alemã completou-se somente em
novembro de 1936, com a criação da Legião Condor, quando os nacionalistas não
conseguiram dominar Madri. A Legião Condor era formada por pilotos da Luftwaffe, a
força aérea alemã. O Ministério da Aeronáutica viu na Espanha uma oportunidade de
testar sua jovem esquadrilha.
O interesse de Hitler em fornecer apoio militar a Franco pode ser entendido
como estratégico. A idéia de uma Espanha fascista ameaçaria não só a França, como a
rota britânica para o canal de Suez. Outro fator que ficou claro no decorrer do conflito
foi que para Hitler a guerra civil serviu como um laboratório para treinar seus homens e
experimentar táticas e equipamentos. Além de desviar a atenção de sua estratégia
centro-européia de expansão.
Com uma quinzena de rebelião ficara claro que os nacionalistas
receberiam ajuda militar da Alemanha e Itália enquanto as
democracias recusavam armas à República. Esse desequilíbrio foi
aumentado pelo apoio financeiro aos nacionalistas, tão vital numa
guerra prolongada quanto à ajuda militar (BEEVOR, 2007, p.211).
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A historiografia sobre a Guerra Civil Espanhola muitas vezes aponta uma versão
mais favorável à URSS. Os trabalhos colocam os soviéticos como a única potência a ter
abandonado a não-intervenção, a partir do momento que ficou claro que esta não
passava de uma farsa, e ajudado efetivamente a Espanha. Existe uma versão, do Partido
Comunista Espanhol (PCE), que defende a atitude do governo soviético. Entretanto as
tentativas de afirmar a idéia de que a URSS abandonou a política de não-intervenção a
partir do momento que esta se mostrou uma cegueira e colocar os soviéticos como os
ajudantes efetivos dos espanhóis levantaram mais questionamentos.
Em vinte e um de julho de 1936, verificou-se em Moscou uma primeira reação a
crise espanhola, quando o Comintern e o Profintern se reuniram e apoiaram a idéia de
auxílio à República. Mesmo com a forte necessidade de ajuda que os espanhóis
precisavam, Stálin e o Governo Soviético se preocupavam mais com a configuração da
Europa e do mundo caso a guerra saísse do território espanhol e se espalhasse pelo
continente. Em síntese:
A Guerra Civil Espanhola apresentava, desse modo, um dilema para
Stálin. Ele não poderia consentir na destruição da Frente Popular
Espanhola e na subseqüente emergência de outro Estado fascista que
representaria, além do mais, o isolamento de seu aliado, a França. No
entanto, uma vitória republicana que levasse a uma revolução social
na Espanha poderia incentivar os Aliados a se unirem a Alemanha a
União Soviética (SALVADÓ, 2008, p.113).
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Sua ação foi ditada acima de tudo pela questão de como a guerra afetaria sua
política externa. O Governo Soviético receava o crescimento da Alemanha nazista. Uma
vitória nacionalista na Espanha simbolizaria um cerco à França, por três lados e por
países potencialmente hostis – Alemanha, Itália e Japão – e tornaria frágil a retaguarda
soviética caso esta sofresse ataque. “[...] Por causa dessa razão tortuosa o Governo
Soviético tinha grande interesse em prevenir uma vitória nacionalista [...]” (THOMAS,
1964 p.260). Assim, como as outras nações, a URSS também não havia levantado a
hipótese do surgimento de uma guerra generalizada na Espanha. Os soviéticos
acreditavam que o golpe militar seria reprimido em tempo relativamente curto.
Até aquele momento, não havia interesse diplomático entre as duas nações. As
relações políticas entre a Espanha e a URSS eram quase nulas, seja na presença de
diplomatas ou de correspondentes. A situação da URSS tornou-se bastante difícil com a
explosão do conflito. A política de Stálin e dos soviéticos estava focada em uma auto-
proteção, pois havia um terror crescente em relação a Hitler e a Alemanha. Os rumores
acerca da intervenção soviética na Espanha e o apoio material que eles supostamente
teriam concedido aos ‘vermelhos’ apavoraram os dirigentes soviéticos. Eles não
desejavam despertar o ódio das outras potências. De forma alguma queriam que a União
Soviética fosse relacionada a elementos perturbadores da ordem e do statu quo.
Enquanto as atenções estavam voltadas para o Governo Soviético, que se defendia das
acusações sofridas, Alemanha e a Itália continuavam a fornecer armas a Franco. Ficou
notório que Stálin levou tempo demasiadamente longo para se pronunciar ou tomar
qualquer providência. E também ficou evidente que a URSS demorou a perceber o real
perigo que Hitler representava a ela. A manifestação soviética só veio depois de ficar
claro que a França aplicaria a política de não-intervenção. A partir daquele momento,
eles passaram a estudar a hipótese de uma ajuda aos republicanos. Entretanto, notou-se
uma pequena falta de curiosidade e interesse por parte dos soviéticos. A guerra havia
eclodido em dezoito de julho e somente vinte e um dias depois, em oito de agosto, os
soviéticos enviaram um correspondente à Espanha. Era uma virada na atitude soviética,
a partir daquele momento a ajuda seria encaminhada à Espanha. Seria a ajuda que os
republicanos realmente precisavam? Seria a ajuda que mudaria o curso da guerra e
levaria o governo legítimo à vitória? A história nos mostra que não. O apoio soviético
chegou ao território espanhol, como nos mostra Salvadó:
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O apoio aos nacionalistas foi numericamente superior. “[...] A Itália estava em guerra
total com a República [...]” (Idem). E a Alemanha não ficou atrás, disponibilizou grande
efetivo para garantir a vitória de Franco. Analisando as disparidades existentes entre as
duas zonas, Salvadó diz:
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Muitos dos que se engajaram na guerra civil o fizeram por que tal atitude parecia
ser a melhor opção de luta contra o fascismo. Para muitos, a vitória da República
representava o futuro não só do país, mas do mundo. Até hoje, existe o argumento de
que a Segunda Guerra Mundial poderia ter sido evitada com a derrota dos nacionalistas.
Representaria a derrota do fascismo que ascendia na Europa. Tal argumento é valido.
Levantar a tese de que um massacre maior poderia ter sido evitado, com a vitória
republicana, serve para pesar a consciência das potências democráticas.
Mesmo após suscetíveis fracassos, Madri continuou sendo o grande objetivo dos
rebeldes. Três novas tentativas foram feitas em janeiro, fevereiro e março de 1937. “[...]
Se a libertação de Alcázar foi para os insurretos uma vitória psicológica, a resistência de
Madri compensou amplamente esse efeito. Ela se torna o símbolo mundial da luta
contra o fascismo [...]” (ibid, p.51). A primeira tentativa, em janeiro, foi perto de Madri,
onde foi possível estabelecer uma frente ofensiva ao custo de grandes perdas. A
segunda foi em fevereiro, conhecida como batalha de Jarama. Mortífera, porém não tão
decisiva o quanto se esperava. Em março, a batalha de Guadalajara objetivava
conquistar esta cidade a sessenta quilômetros de Madri. Os republicanos mesmo
desgastados com a batalha de Jarama conseguiram resistir ao avanço dos nacionalistas.
E novamente o alvo principal estava a salvo. Por um momento os nacionalistas
deixaram de tentar uma nova ofensiva contra Madri. Desta forma, os nacionalistas
redirecionaram suas ofensivas para outras áreas de grande importância: as Astúrias e o
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País Basco. Acreditava-se que conquistar o Norte seria tão difícil quanto conquistar
Madri. Por terra realmente não seria de toda facilidade, entretanto havia a possibilidade
de uma ação marítima e outra aérea. O general Mola, a trinta e um de março de 1937,
enviou uma mensagem para os bascos. A mensagem foi seguida de uma ofensiva feroz.
Além dos militares carlistas navarros, havia uma divisão italiana e a Legião Condor
alemã. O ataque veio pelo ar atingindo duas cidades bascas: Durango, em trinta e um de
março; e Guernica, em vinte e seis de abril. Sobre Guernica, Vilar levanta tal questão:
Por que a destruição de Guernica tornou-se, por sua vez, um
acontecimento-símbolo? Às vezes se diz que o mundo, desde
Guernica, tem visto coisas piores. Mas Guernica foi a primeira a ser
destruída pelos alemães. O acontecimento tinha tais implicações que
os responsáveis negaram, seus aliados acreditaram e os indecisos
fizeram de conta que acreditavam (1989, p. 53).
nos o questionamento. O que teria mudado? Teria realmente feito a diferença? O que
poderia ter sido evitado?
O inevitável foi a queda do Norte. Após os ataques ao País Basco, foi a vez das
Astúrias. A região sofreu com a ofensiva nacionalista, que cercava os republicanos por
todos os cantos. “[...] Em fins de outubro de 1937 não existe mais a Frente do Norte
[...]” (VILAR, 1989, p.54). Anterior a queda do Norte, houve outras batalhas
importantes que serviram para definir as forças conflituosas. Entre julho e agosto,
ocorreram as duas mais importantes: a batalha de Brunete e a batalha de Belchite.
A batalha de Brunete começou no dia 6 de julho, em um ponto
considerado fraco da frente de Madri. O efeito da surpresa, bem-
sucedido, foi mal explorado. Vinte dias, sob um sol escaldante, a
batalha durou, horrivelmente mortífera. Brunete, pequena localidade
completamente destruída, teve de ser abandonada pelos republicanos,
que só ficaram com alguns vilarejos. Pequeno resultado para grandes
perdas. Mas, durante 20 dias, 30.000 homens, a aviação alemã e todo
um estado maior (mesmo Franco estava presente) tiveram que se
voltar do norte para Brunete (VILAR, 1989, p. 54).
Com o Norte em seu poder, cabia agora a Franco retomar seus planos de
conquistar Madri. Porém, uma ofensiva republicana a Teruel, menor capital da
província de Aragão, fez com que os nacionalistas movessem seu contingente para lá.
Os dois lados sofreram com as condições climáticas da região e com sua geografia
montanhosa. A temperatura girava em torno de 5 a 20°C. As guarnições republicanas
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ficaram isoladas de suas bases. Após combates intensos nas ruas da cidade, Franco
conseguiu conquistar Teruel totalmente somente em vinte e dois de fevereiro de 1938.
Franco abandonou de uma vez por todas a sua permanente cautela e,
na metade de março, lançou um verdadeiro ataque-relâmpago – a
blitzkrieg, tática muitas vezes empreendida pelos oficiais do Eixo –
contra as já batidas tropas republicanas em Aragão. Sob uma cortina
de fogo produzida por mil aviões de caça, carros e tanques blindados
italianos e alemães, mais de 100 mil soldados, com forças italianas e
da elite moura na ponta de lança, elas cruzaram o rio Ebro. Em 15 de
abril tomaram Vinaroz (Castellón), alcançaram o Mediterrâneo e
cortaram a zona republicana em duas. A vitória parecia iminente
(SALVADÓ, 2008, p.199).
O resultado da batalha de Ebro para Franco não poderia ter sido melhor. Ela
representou “[...] o tipo de guerra de aniquilação que ele sempre quisera [...]” (ibid,
p.223). As baixas republicanas ficaram em torno de setenta mil, e dos nacionalistas em
sessenta mil. O desgaste de ambos os lados devido à longa guerra estava estampado no
rosto dos soldados. Fossem republicanos ou nacionalistas. As intensas lutas políticas
internas dos republicanos favoreceram os rebeldes. Em contraponto ao seu inimigo, os
nacionalistas haviam formado um Estado-Maior consistente, auxiliado pelos alemães
que treinaram os oficiais e soldados. O prolongamento do conflito se deu somente pelo
auxilio externo que ambos os lados receberam. A coragem republicana, inflamada pelos
gritos de No pasáran! (Não passarão!) da deputada comunista Dolores Ibárruri,
conhecida como La pasionaria, no inicio do conflito pegou de surpresa os golpistas.
Entretanto, a março de 1939 a vitória já estava nas mãos de Franco. Após conquistar a
Catalunha m janeiro de 1939, em vinte e oito de março as tropas franquistas adentravam
Madri. No dia 1° de abril, o ditador espanhol declarou “A guerra acabou.”
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inventar? Não! Não pretendemos isso. Não nos é permitido e nem temos tal
direito. Não foi do escopo deste trabalho inventar acerca da história da Guerra Civil
Espanhola. O que propusemos foi uma análise sobre conflito, dividindo nosso olhar em
dois momentos. No primeiro, focamos na formação das bases conflituosas do país. Da
formação dos sindicatos (CNT e UGT), dos conflitos entre eles, dos constantes
confrontos contra o governo e o exército. A Monarquia, na figura do Rei Afonso XIII,
já dava sinais de que não duraria muito mais. A impaciência e o descontentamento da
população cresciam a cada dia. Com a queda da Monarquia e a proclamação da
república, acreditou-se que a situação fosse mudar. O que vimos foi sim uma tentativa
de por em prática medidas a fim de melhorar as condições de vida da população e
acabar com certos privilégios dos membros da igreja, do exército e dos grandes
proprietários de terra. Na Espanha, as constantes greves eram fatores de instabilidade
por um lado, enquanto por outro eram a forma como a classe operária tinha de exigir
seus direitos. A Esquerda no poder vacilou, dando oportunidade a direita de ascender ao
poder e retroceder os projetos políticos da esquerda. O que vimos nesses primeiros anos
da década de 1930 na Espanha foi uma polarização já existente. E em 1936, nas
eleições, vimos os sentimentos inflamarem. Após este recorte feito, retratando o período
anterior ao início do conflito, entramos no segundo momento de nosso trabalho.
No segundo momento de nossa pesquisa, procuramos estudar o desenrolar do
conflito e suas proporções internacionais. Uma das principais dificuldades no início da
formulação deste trabalho foi conseguir juntar um bom material de apoio que retratasse
a diplomacia das grandes potências democráticas. Nos últimos anos, com a abertura dos
arquivos soviéticos, novos trabalhos surgiram abordando a guerra civil espanhola. Não
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BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Ângela Mendes de. Revolução e Guerra Civil na Espanha. São Paulo:
Brasiliense, 1981.
BROUÉ, Pierre. A não intervenção da URSS na Espanha (jul. – set. 1936). Revista
Olho da História - UFBa. <Disponível em:
http://www.geocities.com/textosdiversos/russiaeespanha.html> Acessado em
21/05/2009, às 20h40min.
KEEGAN, John. Uma história da guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.