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PERÍODOS HISTÓRICOS

A evolução da filosofia: da Grécia Antiga à


Contemporaneidade
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A palavra filosofia origina-se de philo (amor) e sophia (sabedoria ou conhecimento).


Filosofar, assim, é amar a sabedoria. A filosofia busca elaborar um discurso racional
(logos) sobre nós e o universo. Mas o que seria “nós e o universo”? De que maneira
podemos pensar corretamente sobre todas as coisas? Até que ponto é possível a
realidade?
A filosofia é um conhecimento que tem como fundamentos a dúvida, a crítica, o
questionamento e o debate. Will Durand, em sua clássica História da Filosofia, lembra
a passagem de Emerson sobre o grande segredo do verdadeiro sábio: “Em todo
homem há algo que eu posso aprender com ele”. Contra todo orgulho, a filosofia exige
olhos, mentes e ouvidos abertos.
O berço da filosofia é a Grécia antiga. Os pensadores que surgiram a partir do século
VI a.C. nas cidade-estado gregas moldaram decisivamente a nossa forma de
compreender o mundo como conhecemos hoje e podem ser considerados
responsáveis pelo que se entende por “civilização ocidental”.
Mas por que a filosofia surgiu na Grécia antiga? São muitas as razões que explicam
por que na Grécia antiga houve as condições necessárias para o desenvolvimento de
um pensamento “filosófico-teorizante”, centrado no logos.
Talvez o mais importante seja o surgimento da pólis a partir do Período Arcaico (entre
os séculos VIII e VI a.C.). Ela pode ser definida como um pequeno Estado soberano,
isto é, autônomo politicamente, que compreende uma cidade, um campo de cultivo ao
redor e alguns povoados urbanos secundários. Sua economia era baseada na
agricultura e no trabalho escravo.
Em 508 a.C, na pólis Atenas, coube ao tirano Clístenes tirar de vez o poder da
aristocracia e, com isso, instaurar a democracia. Democracia, para os gregos, quer
dizer, “poder do povo”, em contraposição ao “poder de um”, a monarquia, e ao “poder
de poucos”, a oligarquia.
A democracia ateniense era direta, isto é, todos os cidadãos podiam participar da
Assembleia, a Eclésia. Ela ficava localizada em um lugar central, uma grande praça
pública, onde se realizavam as reuniões dos cidadãos para discutir assuntos relativos
à política, isto é, à administração da pólis: a Ágora.
Todos os cidadãos, independentemente de sua riqueza, podiam participar da política.
No entanto, é preciso deixar claro: eram cidadãos em Atenas apenas os homens,
adultos (com mais de 18 anos), filhos de pai e mãe atenienses. Escravos, mulheres,
crianças e estrangeiros não eram cidadãos, portanto, não podiam participar da política.
Dessa forma, sem a autoridade de um rei, criou-se uma disputa oratória entre
cidadãos, um combate de argumentos na Ágora. A escrita, por sua vez, não era mais
privilégio de um pequeno grupo. Um mundo permeado pelo debate tornou-se um
ambiente fértil para o surgimento da filosofia. Segundo o historiador francês Jean-
Pierre Vernant, “o que implica o sistema da pólis é uma extraordinária proeminência da
palavra sobre todos os outros instrumentos do poder. A palavra constitui o debate
contraditório, a discussão, a argumentação e a polêmica. Torna-se a regra do jogo
intelectual, assim como do jogo político”.
Além disso, é preciso notar que a filosofia foi, de maneira geral, exclusiva de uma elite
grega. E, como se sabe, a elite grega tinha repulsa por toda forma de trabalho manual,
visto como tarefa de escravos. Sem dúvida, boa parte da riqueza cultural da Grécia
antiga se deve à escravidão, uma vez que ela liberou os gregos do trabalho manual e
permitiu a eles dedicarem enorme tempo à política, aos esportes ou à filosofia. Sendo
assim, a escravidão pode seguramente ser considerada uma das causas do avento da
filosofia no mundo antigo por permitir o “ócio produtivo”, que gerava o conhecimento.
Outro fator importante para o surgimento da filosofia na Grécia antiga diz respeito aos
aspectos geográficos da região, uma vez que as cidade-estado se localizavam em
uma área voltada para o mar, sendo via de comunicação e de comércio com outros
povos. Certamente, a troca de culturas efervescentes na Grécia incentivou a abertura
para a troca de conhecimentos e o florescimento do pensamento filosófico.
Por fim, cabe notar que a cultura grega já era caracterizada por uma valorização do
ser humano, de sua beleza, de suas capacidades, como se nota nas artes. Enquanto
as estátuas egípcias e orientais centravam-se nos deuses, a escultura grega também
tinha o homem no centro de suas preocupações, e caracterizou-se justamente por
representar o movimento, os indivíduos, os músculos de um atleta, buscando a
harmonia e a proporção. A Grécia antiga, portanto, já possuía uma cultura
antropocêntrica, ou seja, que valorava o homem e suas capacidades.

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