Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da
internet, sem permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998).
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos
da imaginação do autor qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição reservados para a autor.
Sumário
Atraído
Olhares
Chances
Fazendo amor
Para sempre minha
Nível 1 da atração
Nível 2 da atração
Reencontro
Nível 3 da obse... ops, Atração.
Sob pressão
Preciso deixá-la partir? Não!
Nível 4 da atração
Nível 5 da atração
Gosto dela e ela de mim!
Nível 6 da atração
Não fuja, se entregue
Nível 7 da atração
Eu sou o monstro por trás das sombras
Nível 8 da atração
Rato dançante
Nível 9 da atração
Sem ela por perto, enlouqueço!
Sem ela eu não fico
Eu o recebo como meu filho
Os pais dela
Sem limites
Eles são a minha família
Descontrole
Segredos do passado
Momentos desagradáveis
Dúvidas?
Atraído
Esse é o som insuportável de uma buzina.
O idiota não para de buzinar um segundo, meus ouvidos não merecem esse tipo de coisa,
estou cansado, essa viagem a Dubai me deixou extremamente exausto, e como se não bastasse
ainda tive que vir para esse inferno de cidade para encontrar o Alejandro. Tenho que admitir que
o meu irmão mais novo não tem nenhum pouco de criatividade, ele sabe que eu odeio lugares
assim, odeio qualquer coisa que me relacione a outras pessoas, e mais uma vez Alejandro me deu
um cano.
Não teria vindo de não fosse importante!
Ele tocou no nome do nosso pai e pronto, vim imediatamente, nunca faria isso com a
única pessoa no mundo que ainda se importa comigo, sei que ele mente sobre seu estado de
saúde, vim justamente para poder cuidar disso pessoalmente com o meu irmão.
Papai está doente, e se esse merda não para de buzinar vou enfiar a buzina no meio do
rabo dele.
— Olaf não dá para ir mais rápido?
— Senhor estamos no meio do trânsito as coisas não se resolvem assim.
Olaf e sua infinita paciência, ele definitivamente vai entrar para lista das pessoas mais
calmas que eu conheço, se eu pudesse sairia desse carro, daria um jeito de ir até o carro do merda
e faria com que ele se arrependesse por agredir meus tímpanos com essa droga de buzina. Olho
para direita e vejo um desses cassinos idiotas, estamos no meio do quarteirão, três carros na
frente do sinaleiro, estou cansado, irritado, preciso de um daqueles remédios bem fortes para dor
muscular, ficar parado sempre me deixou muito irritado, infelizmente não é algo que eu controle.
Pego a Doroth minha bolinha antiestresse no bolso e começo a apertar com força, Lane a
minha terapeuta acha que assim eu vou acalmar o demônio preso dentro de mim chamado eu
mesmo.
Não acredito nela e claro.
Mas vêm dando certo a mais de dois anos, desde que eu conheci a Lane já fiz muitos
progressos, um deles e tentar não matar o primeiro que fica me olhando demais, fui detectado
com esquizofrenia aguda aos sete anos de idade, depressão e pelo ou menos mais três doença
psicológicas antes de descobrir o que eu realmente tenho.
Escopofobia!
E-S-C-O-P-O-F-O-B-I-A!
Significado: [Medicina] Medo mórbido de ser visto.
Ou como Lane define: Medo Irracional de ser visto.
Ok, já é muito complicado ser eu, melhor nem lembrar disso, só quero chegar logo no
aeroporto e embaraçar para bem longe dessa merda.
O carro anda e isso me alivia, evito olhar para os lados, suo, tremo um pouco.
Queria que as coisas na minha droga de vida fossem um pouco menos complicadas, que
as tudo fosse no mínimo possível só uma vez em — toda a minha existência medíocre —
normais, queria ser normal, mas estou longe disso. Não é uma questão de percepção, não é uma
questão de opinião, eu apenas morro de medo que as pessoas me olhem, e isso é uma porra, na
verdade uma droga.
Passo a mão nos cabelos e tento mais uma vez respirar fundo porque o nosso carro parou
bem diante do sinaleiro, só deu tempo dos outros dois passarem.
INFERNO!
CARALHO!
CACETE!
PORRA!
PORRA!
E eu ainda nem cheguei no meu limite de palavrões permitidos no dia.
Definitivamente nunca, jamais, eu prometo que farei algo estúpido como vir a um
encontro assim com o meu irmão mais novo, e ele que se prepare por que quando eu colocar as
mãos nele...
— Senhor calma!
— Morre Olaf, aproveita e vai para o inferno também!
Meu motorista — e segurança — é manso, ele me conhece, e Deus sabe o quanto me
suporta, olho para cima e o sinal está fechado, odeio isso.
Odeio esperar, odeio ficar parado, odeio esperar, e odeio ficar parado.
Escuto uma gargalhada feminina, estridente, e os meus olhos voltam para faixa, vejo uma
bela morena usando um micro vestido preto que delineia perfeitamente a bunda dela, porra,
gostosa, muito gostosa, ela usa saltos quinze, os cabelos soltos batem na altura da cintura, são
escuros e lisos... meus dedos deslizariam facilmente por esses cabelos, mas nem dá tempo, a
risada não é dela, nem da ruiva que está a sua esquerda, a risada é de uma baixinha.
Ela usa jeans, tênis, e uma camiseta branca, ela se apressa e os meus olhos pousam na
bunda dela, na curva da bunda para ser exato, Olaf vai para frente de olho e eu puxo o ombro
dele para trás — essa não Olaf — porra, essa mulher...
Não dá para ver o rosto dela direito, ela está virada para as outras duas, enquanto anda —
devagar e tranquilamente — a bunda dela balança, os braços se movem, ela é uma morena de cor
mais bronzeada que as outras duas, e o que diferencia ela das outras duas logicamente é o fato de
além de ser mais baixinha é que ela é cheinha, bem cheinha na verdade.
Mas onde interessa.
A morena deixa cair algo, ela gira depressa e abaixa, quando se ergue eu vejo o rosto
iluminado por um sorriso lindo, arregalado e instantâneo, lábios cheios, mas estou hipnotizado
por esse par de olhos incríveis que ela possui, olhos de um tom âmbar claro que tenho certeza
que já vi em algum lugar, mas é rápido, meu coração fica disparando do nada, e eu, aperto o
ombro de Olaf me sentindo um otário, enquanto eu a vejo se afastar seguindo as outras duas.
— Segue ela! — ordeno com firmeza.
— Senhor o sinal...
— Segue ela agora!
Olaf fecha a cara e olha para os lados, depois passa a marcha e acelera, eu nem sei onde
joguei a Doroth, o carro da uma arrancada que quase me joga para trás, me seguro, eu sei como
irritar as pessoas — sou insuportável —, mas é algo do qual não posso deixar passar, inferno,
nem eu sei por que pedi isso!
Ele vira para direita e eu fico abaixado no bando de trás observando as três caminharem
pela calçada, elas conversam e riem, parece espanhol, não tenho certeza — falo espanhol
fluentemente — e sei que não teria dificuldades em conversar com ela.
Não teria, por que eu sei que não há a mínima possibilidade de eu conhecê-la
pessoalmente.
Fico olhando, e olhando, que pena que ela está na outra ponta, mal consigo vê-la
andando, mas os meus olhos se mantêm nela, ou tento.
—Por que não vai até ela?
—Cala a boca Olaf, você não é pago para falar!
—Qualquer dia desses eu me demito.
—Não faria isso comigo, que me protegeria de mim mesmo?
Ele dá uma risadinha no banco da frente.
Fico imaginando onde estaria sem ele hoje... não estaria!
Olaf me salvou quando mais ninguém poderia me salvar, ele me resgatou e foi — ainda é
— uma das únicas pessoas que ainda acredita que eu tenho alguma salvação.
Meu pequeno sonho some ao entrar numa porta ampla e giratória desse lugar que cheira a
"vício", é, eu posso ser tudo, um doido, um merda, um suicida, mas nunca fui chegado em
drogas, bebida e nem em jogo, de todas as merdas que já fiz na vida, isso não!
Suspiro.
—Senhor...
—Já disse para se calar Olaf.
—Ok.
Sei que Olaf não tem nada a ver com os meus picos de estresse, nem ele, nem a Joanne,
nem a Bea, mas eu francamente, pago tão bem que nem me importo, tenho pena dos meus
funcionários, às vezes pago dobrado, ou o triplo, só quero que profundamente eles me tolerem, e
isso, eu sei, que não tem dinheiro no mundo que pague.
Olho para porta giratória.
Seria tão fácil ir até lá e me apresentar, olhar para ela e falar "Oi, tudo bem?" Como seria
dar em cima dela? Será que ela não acharia estranho?
Quem é ela? Por que ela me fez ultrapassar o sinal vermelho? Ela nem é tão bonita assim!
Fico parado olhando para porta giratória, tenho duas opções, morrer de ansiedade aqui,
ou morrer de ansiedade no Hilton, Alejandro não vai dar as caras, ele deve ter brigado com
aquela idiota da namorada dele — pela décima vez — e daqui a pouco eu sei que vou receber
uma porra de uma ligação dele chorando falando que vai sumir, que seu mundo acabou e blá, blá,
blá...
Gosto do meu irmão, quero ele bem e só Deus sabe o quanto é difícil, mas vezes ele me
cansa, me cansa e me irrita profundamente, da vontade de enforcar ele de tanta raiva.
Jogo a bolinha que tinha pegado para longe e me estico no banco, acho que posso ficar
aqui até ela sair, ela não é a primeira mulher no mundo que me desperta curiosidade certo? Teve
aquela em Dubai que ficou me encarando na reunião, ela nem soube disfarçar, mas evitei olhar,
quando eu vejo que alguém me olha demais e encaro a pessoa fico sem graça, é complicado
entender isso...
—Por que não vai até lá e fala com ela?
—O que eu falaria para ela? "Oi, eu te vi atravessando o sinaleiro e quero te comer?"
—Hoje o senhor está com um humor péssimo.
—Enfia a sua opinião no rabo.
—Quer saber, fica ai sozinho!
Irritei ele, pronto, não, feri ele!
Meu relacionamento com Olaf anda uma droga, meus picos de stress só pioram desde que
eu parei de ir a agência definitivamente, é um processo cansativo para mim, também por que
estava acostumado a ter pelo ou menos uma transa fixa por semana, agora tudo o que eu tenho é
a minha mão e vídeos pornô.
Por incrível que pareça quase um ano sem sexo.
Isso pode deixar qualquer um louco, minha sorte é que eu já sou louco, mas tenho certeza
que se continuasse daquela forma eu me destruiria, frequentar a agência foi um dos mais
variados erros que cometi em toda a minha vida.
O lado bom com certeza foi o fato de eu continuar com minhas pequenas práticas que
segundo o meu pai são completamente satânicas, o lado ruim foi que essas "práticas" só me
fizeram piorar um lado no qual eu sempre vinha tentando matar dentro de mim.
Mesmo que não pratique nada mudou, ainda sou o mesmo, ainda quero a mesma coisa e
não sou cínico para negar se arrumar uma corajosa, mas até lá... é punheta e pornô.
Respiro fundo, ficar no carro me deixa claustrofóbico, mais impaciente e mais ansioso, é
pior quando não tenho em quem descontar, Olaf sumiu, aposto que foi fumar em algum lugar
escondido de mim, ele sabe que odeio que ele fume, até isso eu controlo nos meus funcionários
— sim eu sou um completo atormentado — e eu sei como ser intragável quando quero.
Olho pela quinta vez — conto às vezes — para porta giratória, e fico vendo mais pessoas
entrando e saindo e nada da minha garota.
Minha Garota.
Já alto denomino ela assim?
Acho que posso chamar isso de atração, é que quando alguém tira minha concentração ou
me chama atenção eu perco a capacidade de pensar em outras coisas, eu foco mais na pessoa em
si do que tudo, não deveria ser assim, não poderia, mas é assim que eu sou.
Eu sempre fui assim não adianta, sou inquieto demais, grosso demais, nervoso demais,
comigo é dois extremos, ou é oito ou é oitenta, não fico na incerteza, quando quero algo eu vou
lá e faço, quando desejo algo eu consigo, mas quando se trata da doença, me sinto
impossibilitado por muitas coisas.
Mesmo que ela valesse apena, eu não estaria pronto para entrar lá e puxar assunto certo?
O que eu falaria com ela? Que assunto?
Quero muito olhar de perto, sou curioso, esse é um grande mal que faz parte da minha
personalidade, vi a cor dos olhos dela, eram tão... tão familiares!
Não pensaria nela, não seguiria ela se não fosse família, mas, onde foi que eu a vi? Não
me lembro de tê-la visto na empresa — ou em lugar algum — nos últimos meses.
Como se eu vivesse andando ou passeando pelos corredores da BCLT...
Será que eu posso ir até lá e tentar puxar assunto? Porra estou mesmo pensando nisso? Eu
basicamente teria um ataque cardíaco assim que entrasse nesse cassino, sei que está lotado, é
sexta à noite, o mês de férias, como não estaria?
Quero vê-la, tenho que vê-la, mas devo ver? Posso?
—Inferno viu, é bom que essa mulher valer muito apena!
Saio do carro, e minhas pernas estão ficando pesadas conforme caminho até a porta, é
sempre assim, quando crio coragem... ela vai embora, e o medo me toma, e me vejo dando meia
volta e caminhando de novo para o carro, minha mão está prestes a abrir a porta do carro quando
escuto a voz de Olaf.
—Mariquinha! — fala e se encosta no carro de braços cruzados — Se o senhor não for,
outro vai e vai comer ela!
Olho para ele de um jeito tão fulminante que tenho certeza que ele se sente amedrontado,
respiro fundo, e giro, me afasto dele, e conto os passos até a porta giratória, respiro fundo e fecho
os olhos passando pela porta, mas ao invés de seguir reto, eu fico e giro no sentido anti-horário
dando outra volta, estou saindo do cassino sem mal ter entrado.
Logo que vejo Olaf encostado no carro respiro fundo — sem sair da porta — e giro mais
uma vez, e fecho os olhos para entrar.
É agora!
E entro.
Entro no cassino meus dedos formigam, meu estômago embrulha, minha cabeça gira,
odeio aglomerações, não tem jeito.
Nunca estive aqui, mas hoje a casa está cheia, uma garota passa por mim berrando com
fichas azuis na mão, desvio para que não encoste em mim, odeio essas coisas, não entendo por
que Alejandro gosta desse tipo de coisa, o que o excita, o que o motiva a jogar, nunca gostei de
jogos, bem mas como diz o meu pai: depende do jogo.
Observo algumas mulheres se esfregando em caras que parecem importantes e estou
paralisado aqui perto da porta tentando entender por que exatamente passo por isso, por causa de
um rabo que vi no meio da rua...
Um rabo não imbecil, cadê o romantismo?
Quem precisa de romantismo com uma bunda daquelas? Meu Deus!
Preciso Achá-la!
Dou um passo, dois, três, quatro... Eu sempre conto.
Tenho auto confiança sei como me controlar melhor hoje sei como fingir, me tornei um
bom ator com o passar dos anos.
Tento ao máximo não encostar em ninguém, mas isso se torna a algo impossível, as
pessoas buscam esses lugares para encontrar um pouco de diversão, sentido à vida, eu chamo
isso de grande hipocrisia e as ignoro.
Preciso achá-la logo.
Inferno! Ela tinha que se enfiar num cassino? Não poderia ser num café como qualquer
outra mulher comum?
Como se eu saísse com mulheres comuns todos os dias!
Me afasto desse corredor, preciso ficar o mais longe possível disso tudo. Uma ruiva passa
por mim com um sorriso de pura maldade nos lábios, já passei dessa época... hoje não querida!
Não sou tão exigente quando se trata de mulheres não sou santo ah isso não, mas sigo um certo
padrão e não gosto de quebrá-lo, Lane diz que é um tipo de defesa eu a ignoro completamente,
mas me distraio com o jeito insinuativo no qual algumas mulheres me olham.
—Não enche Duda.
Uma brasileira! De onde vem essa voz? Não demora para que eu a localize.
A morena usando o micro vestido preto está se inclinando no rumo da máquina caça-
níqueis e enfiando fichas nela, mas meus olhos não estão mais nela e sim na figura mais baixa
que tenta tomar as fichas da mão dela. A bunda dessa mulher é um imã e me distraio com o
traseiro dela muito fácil. E os meus olhos deslizam pelo jeans colado que ela usa, a camiseta se
ergue mostrando um pouco dos quadris mais largos, uma pequena saliência na barriga e entradas
perfeitas nos quadris.
Minha boca está seca, mas não consigo tirar os olhos dela.
Os cabelos estão presos num coque frouxo e volumoso. São cacheados e grossos ela se
vira comemorando e o meus olhos contemplam um sorriso largo e perfeito que vi a poucos
minutos no sinaleiro.
Fico parado.
Meu corpo está duro.
Meu coração vai disparando freneticamente.
Observo a felicidade dela. Seu sorriso perfeito e analiso a fartura dos seios que ela
provavelmente esconde nessa camiseta sem graça.
—Muito obrigado Sarah.
E ela vai para outra máquina dançando.
Sinto vontade de rir com o jeito desastrado no qual ela quase faz o garçom derramar duas
taças de champanhe que um garçom carrega, ela se desculpa e se vira para máquina a morena
fala algo para ela e se afasta. A morena está indo conversar com um homem.
Me volto para ela.
Preciso saber quem é ela.
A ruiva passa por mim, mas estou ocupado demais me afastando para ela. Fico a certa
distância. Observo, mas não consigo me aproximar muito, estou exposto e odeio isso não quero
que ela me veja.
Não quero que ela me veja!
A voz não para de repetir na minha cabeça, mas afasto o medo. A risada estridente dela
faz isso. Afasta o meu medo e não entendo por que uma estranha faz isso comigo me distrai o
bastante para que eu esqueça desse demônio que me persegue desde sempre. Ela comemora,
pois, acabou de ganhar cinco moedas. Olha para os lados enquanto pega as moedas. Sinto
vontade de rir dessa garota. Quantos anos ela deve ter? Vinte? Vinte e dois? Pelo entusiasmo
vejo de longe que nunca esteve aqui.
Ela gira o corpo no meu rumo abaixo a cabeça para que não me veja.
Ora Jack vamos não seja um merda!
É o que eu mais quero.
Olho com o canto do olho ela se afastar no rumo do bar, meus olhos não saem dela, eu
não consigo. Isso nunca me ocorreu antes.
Sempre que saio—MUITO RARAMENTE APENAS A NEGÓCIOS OU ALGO BEM
RESERVADO ONDE EU ESTEJA ABSOLUTAMENTE SÓ — tento não me apegar muito ao
exterior das pessoas nem a aparência por que sei que isso seria bem mais complicado e difícil do
que realmente é. As minhas limitações me impedem de me aproximar demais das outras pessoas
e isso não é algo que eu possa controlar.
Vou atrás dela.
Droga o que eu estou fazendo?
Ela estende uma nota de dólar para o barman, não para de sorrir, lê o que parece ser um
dicionário, faz o pedido. Ela se encosta no bar e fico atrás dela, dela minhas mãos soam, sinto o
aperto esquisito no peito. Respiro fundo.
Você consegue!
Ergo a mão — propositalmente — e nesse momento ela gira com a garrafa d'água, fico
parado, ela fica me encarando aterrorizada, eu estou aterrorizado.
—Aí meu Deus me desculpe.
Faço que sim com a cabeça não consigo falar a voz está presa dentro de mim a angústia
familiar me queima meu coração está dando pulos absurdos, fico agoniado, ela fica me olhando e
me olhando. Os olhos dela são de um mel claro muito bonito, âmbar claro, a boca dela e cor de
rosa e mais carnuda, maçãs do rosto mais cheias, sobrancelhas grossas e escuras, os cabelos dela
são castanho claros, mas não dá para ver muito bem a cor por que parecem estar entupidos de
gel, aos poucos ela parece voltar a si.
Sei que estou vermelho, me movo.
— Sinto muito.
E me afasto. Cada músculo do meu corpo dói, se contrai e sinto tanto medo que vou
ficando de novo claustrofóbico, mal consigo respirar, preciso respirar mas estou disposto a
desistir assim tão fácil?
Não quero.
Giro os calcanhares os dedos dos meus pés estão fazendo força mordo meus lábios
constantemente enquanto volto, não é difícil achá-la.
Bingo!
Fico ao lado dela e analiso sua figura pequena e tão diferente da maioria das mulheres
que conheço.
Quero gritar.
Minhas mãos soam dentro do meu casaco, não sei se ela me ignora ou se não me vê e não
entendo por que voltei — é na maioria das vezes eu sou uma confusão ambulante e indefinida —
e u não deveria voltar, deveria partir, sempre faço isso, sou bom nisso. De repente ela se vira
para mim e fica me olhando, não esconde sua surpresa em me ver, falo a primeira coisa que me
vem à mente.
—Você molhou os meus sapatos.
Começou bem idiota, a Melhor desculpa do mundo!
—Eu ia me desculpar, mas você saiu correndo.
Ela se endireita e cruza os braços. Essa não é uma mulher da qual estou acostumado a
lidar, ela é diferente.
—Você é português?
—Isso não é da sua conta.
Fica vermelha como uma pimenta, umedece os lábios e ela não sabe realmente o tamanho
da tormenta que se assola dentro de mim com isso. Sou um caçador e eu não consigo controlar
isso quando começo, gostaria de poder controlar, mas não consigo, eu quero essa mulher. Ela
não pode me olhar assim. Fico sem ar, parado, agoniado com o olhar dela, ela se vira muito
devagar e coloca mais fichas na máquina caça-níqueis, me ignora, prefiro assim. Ao menos que
não me encare tanto.
—O seu nome...
—Não falo com estranhos.
E puxa a alavanca. Quero rir.
Estou tão nervoso e eu não sou sempre assim, tento ficar imune a isso quando saio em
público, mesmo que me deixe aterrorizado sempre melhorei com os anos. Faz um tempo que
alguém não faz com que eu perca a minha blindagem dessa forma.
—Me deixe adivinhar... Você está bravo por causa dos seus sapatinhos.
—Me fale o seu nome!
Ela gira para mim com uma cara de tédio que me irrita, depois fala:
—Acontece que eu não sou obrigada a falar o meu nome para você!
—Não é muito educado!
—Ai me poupe!
E revira os olhos, e faz tão pouco caso de mim que me irrito, acontece que eu não estou
acostumado a ser desprezado, bem, estou, pela minha família, mas não é todos os dias que uma
mulher me trata desse jeito, se bem que não posso falar muito, o fodão aqui nunca deu em cima
de uma garota de verdade, não sei como agir, as mulher conhecem no escuro, elas estão
habituadas a isso, talvez por isso eu não me sinta desprezado, é a minha condição, é o meu preço,
essa mulher está me conhecendo no claro, quem eu realmente sou — nesse sentindo.
—Esse sapato é caro!
Ela se vira para mim com cara de deboche, enfia a mão no bolso do jeans e retira de lá
uma tirinha de goma de mascar, um clips, e duas moedas, depois ela segura a minha mão — a
mão dela é quente e pequena, unhas cortadas e perfeitinhas — coloca essas coisas na minha mão,
depois a fecha e da duas batidas firmes no meu ombro.
—Dívida paga.
Logo em seguida ela começa a se afastar.
Porra, que fora!
Eu não saí do carro para ser tratado assim, eu não enfrentei o meu medo para levar um
fora e ir embora, essa mulher tem que aprender o lugar dela. Me vejo indo atrás dela, os dedos
dos meus pés se encolhem dentro do sapato assim que a minha mão pousa em seu ombro, ela se
vira, tento sorrir.
—Você não quer beber algo comigo?
—Eu não bebo!
Caralho!
—Nem água?
Ela cruza os braços, poxa, que mulher brava, eu realmente a irritei, bem, não se
exatamente porque, eu apenas fiz aquilo para ter uma boa desculpa, se bem, que brava ela fica
até mais sexy... bonita.
—É, eu acho que aceito, só pela grosseria de me cobrar os seus sapatos, foi sem querer.
—Ok, vamos!
Pego a mão dela — eu não sei por que fiz isso — e de repente me sinto seguro, nem sei
por que, mas me sinto seguro, as batidas do meu coração ainda estão na garganta, e o meu medo
só cresce, o tumulto dentro de mim é estabelecido a anos e não passa, eu sou assim, tenho medo
de ser visto, mas ela segura a minha mão e eu tenho plena certeza de que posso fazer isso.
—Sua mão é gelada!
—É assim mesmo — falo para morena. — Seu nome?
—Maria — fala olhando para baixo. — E o seu?
—Jack!
—Muito prazer!
—É, prazer.
Ao menos assim espero...
Olhares
Maria não me olha muito e isso é reconfortante, ou ao menos dentro do possível me alivia,
estamos no bar do cassino, ainda sinto como se quisesse matar alguém, minhas mãos soam, meus
pés estão gelados, e o meu estômago gira a todo momento, calafrios, e todos os sintomas que
sempre sinto quando fico em algum lugar cheio, faz um bom tempo que não faço isso, então, é
pior ter que suportar a situação.
Ela também não falou nada desde que nos sentamos, enfiou o indicador três vezes no
copo de bebida que pedi para nós dois, pedi cerveja, não tenho o hábito de beber, eu realmente
nem posso beber com muita frequência devido a uma série de coisas, mas enfim, eu a convidei
para beber algo, então...
—Você não fala Jack? — pergunta ela, e enfia o dedo mais uma vez na cerveja mexendo
a bebida com gestos circulares.
Acho que isso não deveria ser tão sexy, ela faz isso, e enfia o dedo na boca, e essa já é a
quarta vez seguida que ela chupa o indicador desse jeito que me deixa com a calça cheia, deve
ser a falta de sexo, não é possível, bem, algo tenho que reconhecer, apesar dela não ter uma
beleza convencional — na qual estou acostumado — ela tem sua beleza, assim de perto ela é
mais bonita, mesmo que seja rechonchuda, o rosto dela é bonito.
—Falo — respondo tentando não gaguejar. — Apenas estou... estou... Cansado.
Cansado... bela colocação.
Ela se vira para mim, mas permaneço duro em meu banco, me sinto, realmente
incomodado quando ela me olha, mas afinal de contas, eu vim atrás dela certo? Não sei por que,
nem entendo bem o que acontece comigo, mas vim atrás dela, e aqui estou ao lado dela,
sobrevivendo a exatos trinta e dois minutos e sete segundos ao terror que está sendo permanecer
aqui.
—Você é um vampiro?
Sinto que minha garganta arde e oprimo a extrema vontade que sinto de rir, rir, e rir
muito, e bastante devagar me viro para o rumo dela, eu a olho, e Maria está me mirando seus
olhos cor de âmbar estreitos e irritados para mim.
—Tenho que te avisar que se você for um vampiro...
—Eu não sou um vampiro! — esclareço, e considero essa mulher uma louca. — De onde
tirou que sou um vampiro?
—Bem — Maria se endireita cheia de petulância. — Você é branco demais e sua mão é
gelada.
—Que falta de criatividade — respondo com bastante sarcasmo, é, esse é o meu tom
habitual de conversar com as pessoas.
—É mesmo? — seus olhos se estreitam ainda mais para mim, e me sinto intimidado. —
Pois eu saberia reconhecer um vampiro se visse.
Eu não acredito que ela ficou bêbada com apenas três copos de cerveja!
Ainda existem mulheres assim?
—Você está bêbada? — questiono, o meu português não é muito bom, raramente coloco
em prática.
—Mas que ofensa! — reclama bastante séria. — É óbvio que não!
Acho o sotaque dela bem interessante, na verdade, o jeito como a boca dela se estreita
quando ela fala é curiosamente intrigante.
—Acho que já vou...
Ela começa a se erguer, mais imediatamente eu a seguro pelo braço, Maria me fita, e vejo
em seus olhos que não gostou disso, parece que ela tem... medo. Subitamente ela se solta da
minha mão, então também me levanto, farei o que devo fazer, levarei ela para onde ela está
hospedada, ao menos para que chegue bem.
—Eu te levo.
—Não precisa, eu pago um táxi.
Enfia a mão no bolso e retira de lá algumas notas de dólar do bolso, pego a carteira no
bolso, e antes que ela coloque as notas amassadas no balcão, coloco as minhas, Maria fecha a
cara para mim, ignoro, ainda não sou um completo canalha, apesar de todos os pesares o meu pai
sempre me ensinou que quando saísse com uma dama, eu pagasse a conta.
—Tá legal. — Ela volta se sentar. — Então, você quer pagar?
Essa mulher não é normal, qual o problema dela?
—Sim?
—São as minhas primeiras férias em anos — fala ela e acena para o barman. — Eu quero
beber todas.
—Todas — repito e quero rir, ela não sobreviverá nem a um copo de uísque inteiro.
—É, todas — repete e se apoia no balcão — Poderia pedir tequila?
Ela quer beber tequila!
—Claro — concordo com o absurdo.
—Pode pedir limão e sal também — Maria bate com os dedos no balcão, visivelmente
ansiosa. — Você vai beber comigo?
—Talvez um pouco.
—Ótimo.
Tenho a impressão de que ela é daquelas mulheres bem certinhas que nunca saem e
vivem dando lição de moral nos outros, apenas pela postura dela, pelo jeito como fica passando a
mão nos cabelos da frente, olhando envolta, algumas vezes ela olha para os lados, Maria é uma
mulher certinha!
Chamo o barman, peço uma garrafa de tequila, sal e limão, e nem eu mesmo sei porque
faço isso, talvez amanhã essa mulher acorde com muita, muita raiva da minha cara por conta
disso, mas... eu quero ver até onde ela vai, quero ver até onde ela chega.
Vim atrás dela então farei com que a noite valia apena.
Ainda sinto medo, ainda estou apavorado, enjoado, e me tremo todo por dentro, mas já
estou aqui aproveitarei, eu nunca tive um porre, nunca tive uma ressaca, muitas que não
presenciei, não vivi em minha adolescência, essa foi uma delas.
O barman nos serve a nossa primeira dose, ela coloca sal nas costas da mão e pega uma
rodela de limão, pego a minha e ela me estende o sal, não lavei nem as mãos...
—Vai, você lambe o sal, toma a tequila e chupa o limão.
—Ok.
—No três.
Faço que sim, coloco um pouco do sal nas costas da mão direita, e deixo a rodela de
limão separada, Maria conta até três e bebemos juntos, Sal, tequila, limão...
Caralho!
Ela começa a rir fazendo uma careta feia, caramba, nunca bebi tequila em toda a minha
vida, isso queima, queima para cacete.
—Definitivamente um vampiro não teria tanta expressão — fala sorridente. — Respira!
—Isso é uma droga! — reclamo, e ela faz que sim dando uma risada alta e alegre. — Não
tem graça.
—Eu sei que não, eu também nunca bebi tequila sem mistura.
Acabo rindo, Maria nos serve outra dose.
—Dizem que depois da terceira a garganta fica dormente.
—Espero que sim.
Bebemos uma, duas, três doses seguidas, e realmente na quarta, a coisa já não queima
tanto nem é tão desagradável, a cada dose rimos, e eu realmente não sei por que eu rio tanto, me
sinto um merdinha feliz, acho que o sorriso dela faz com que eu acabe sorrindo também.
—Então, o que você faz Jack sapatos molhados?
Acho muito engraçado o jeito como ela me ignora, Maria se apoia nos cotovelos virada
para frente, a bebida esquenta meu estômago, mas não afasta o nervosismo.
—Bem, eu trabalho.
—Legal, eu também, você é um vampiro executivo?
—Não, e você?
—Eu não sou uma vampira executiva.
Sorrio, e ela volta a nos servir mais uma dose de tequila, bebemos, e os meus olhos não
saem dela.
Ela umedece os lábios várias vezes depois que bebe essa dose, e enfia uma rodela de
limão na boca, seus gestos não são nada meigos ou delicados, pelo contrário, ela está sentada de
perna aberta no banco e se curva toda parecendo não se importar muito com etiqueta ou com
modos.
—Eu ainda tenho dinheiro, você quer jogar? — convida ela de supetão.
Dou um pulo no meu acento, meu coração dispara, e ela coça a nuca ficando vermelha.
—Olha, seja o que for que procura eu não sou a pessoa certa.
—Talvez seja—respondo concreto.
—Você parece um morto vivo — Maria sorri de lado. — Você é um zumbi?
E dessa vez não consigo resistir, acabo dando uma gargalhada alta, ela sorri de forma
mansa, os olhos estão em mim, mas pela primeira vez desde que entrei nesse lugar eu não me
importo.
Não me importo!
—Não, eu não sou um zumbi — afirmo.
—Se for deve ser muito atraente. — Ela fala e revira os olhos. — Metade das mulheres
daqui querem você "boy".
—É? — pigarreio ignorando o medo. — Pena que eu não quero a atenção delas.
—Cantada não funciona com essa garota senhor sapatos molhados.
Estou rindo a todo momento com a sequência de foras que levo dessa estranha, em algum
dado momento, acho que no primeiro insulto perderia a paciência e deixaria ela para trás, eu não
costumo ser insultado, pelo contrário, as poucas pessoas do meu convívio sabem do meu mal
gênio, do meu jeitinho "grosso e impaciente" de ser, outra pessoa se quer se atreveria a falar
assim comigo, mas essa garota... essa garota ela é diferente.
—E então sua idade garota, vinte? vinte e dois?
Ela me olha de lado e nos serve mais uma dose.
—Eu sou maior, obrigado — responde. — Não te disseram que é indelicado perguntar a
idade de uma dama?
—Eu também — falo e respiro fundo. — Não quer sair daqui?
—E se você for um molestador?
Rio e afundo as mãos nas faces, escuto sua risada ecoando em meus ouvidos, é uma
risada rasgada e... gostosa!
—Ou Jack o estripador...
—Ah sem sombra de dúvidas, eu vivi a centenas de anos atrás e voltei do passado para
estripar pessoas em um cassino — afirmo depressa e ela gargalha, eu nunca fiz ninguém rir
assim, porra, um choque bom percorre o meu corpo. — Com certeza eu sou um estripador.
—Eu assisto CSI — garante risonha e bebe sua dose, bebo a minha, fazemos caretas. —
E NCYS.
—Não vejo muita tv — confesso. — Que tipo de música você ouve?
—Indie.
Indie... Francamente.
—E Damien Rice, Rice com certeza.
—Não gosta de MPB?
—Amo, você é brasileiro?
—Mais ou menos.
—Não tem como ser mais ou menos brasileiro, ou você é ou não é.
—Talvez metade vampiro zumbi, metade brasileiro, que tal?
Maria gargalha mais uma vez, seus dentes não são muito brancos, mas são alinhados,
meio arredondados, e sua boca fica ainda mais rosada quando ela ri, as bochechas vermelhas, ela
ri tanto que olha para o teto.
Sorrio, me viro para ela novamente, e ela para mim, agora eu sirvo mais uma dose de
tequila, não gosto daqui, mas isolo o medo dentro de mim o máximo que posso, mas gosto de sua
companhia, me deixa bem menos agitado do que sou.
—Onde mora no Brasil?
—Na Cidade Maravilhosa!
Rio... Lar!
—Mesmo? E gosta?
—Gosto, eu gosto de morar na baixada, moro com a minha família, um cachorro, essas
coisas.
Coisas que eu nunca tive...
—Moro sozinho.
—Você parece jovem, bem jovem na verdade.
—Não sou, acho que devemos ter a mesma idade.
—Acredite, não temos a mesma idade, acho que eu sou uns sete anos mais velha que
você.
—Eu não tenho quatorze anos Maria.
—Hummm...— Ela suspira. — Você quer ir jogar?
—Claro, por que não?
E ela sorri, e eu fico analisando o jeito tímido no qual ela puxa as barras da camisa para
baixo, me levanto do banco e Maria levanta, mas logo em seguida eu a vejo cair feito um saco de
batatas no chão, toda mole, oprimo a vontade de rir e abaixo, posso escutar as risadas de uma
dezena de pessoas a nossa volta, ela realmente é, muito fraca para bebida.
—Eu consigo sozinha, pode deixar — reclama. — Ah Deus... tudo gira!
Ela está desnorteada, rio e seguro seus pulsos, me ergo puxando-a para cima, sua pele é
lisa e quente, diferente da minha, ela não tem muitos pelos nos braços, são quase transparentes, e
nesse momento, sinto uma pequena corrente percorrer o meu corpo.
—Consegue ficar de pé sozinha? — pergunto segurando-a pelos braços.
—Sim — fala concreta e se solta. — Eu apenas escorreguei e cai.
—Ok!
Ela pega a garrafa de tequila, deixo o dinheiro no balcão e sigo ela, passamos por entre
algumas pessoas do lugar, tento não encostar em ninguém e o meu medo está ressurgindo dentro
de mim como o acender de uma vela, mas fria, e dolorosa.
—Vamos jogar!— fala e paramos diante de uma máquina caça-níqueis. — Pega, bebe,
melhora essa cara de defunto.
E me entrega a garrafa, respiro fundo e gargalo quatro goles modestos da tequila, queima
e me esquenta por dentro, me conforta.
Maria é péssima no jogo, mas ela se diverte para caramba apenas em puxar a alavanca, às
vezes dá vontade de rir de seu entusiasmo, sua pequena empolgação em ganhar nada, apenas pela
diversão do jogo.
Dividimos a garrafa, algumas vezes ela bebe, outras eu, na quarta rodada ela comemora
pois acaba de ganhar cinco moedas — dá para acreditar? — e fica tão feliz que pula batendo
palmas, nunca vi, alguém tão feliz com algo tão pequeno, pouco, talvez não dê nem dois dólares
de moeda.
—Agora sim, é hora de ir — afirma ela sorridente.
Mas já?
—Claro — falo. — O meu carro está ali fora, eu te levo.
—É, eu estou meio alta então sim, obrigado.
Realmente, até eu estou meio tonto depois de tanto álcool, porra, as coisas estão um
pouco turvas, e estou sem meus óculos, isso torna as coisas um pouco complicadas, mas ainda
tenho plena consciência.
Analiso seu perfil, e por alguns instantes, ela me olha estreitando os olhos e estica a mão,
depois segura a minha mão com firmeza e vai me puxando para fora do cassino, me apresso pois
para mim, é o que mais quero desde que entrei, esqueci de contar quanto tempo estou aqui, eu
sempre conto quanto tempo passo nos lugares, por que tempo é algo do qual não ando tendo a
um bom tempo, e também porque eu sou um louco neurótico que fica contando em silêncio
dezenas de coisas, é automático, algo que desenvolvi desde que percebi que gostava muito de
números.
Passamos pela porta giratória e é como se apenas o ar de fora desobstruísse minha
garganta, afrouxo a gravata, e jogo a garrafa de tequila num lixeiro aqui do lado, está vazia, mas
não me importo muito, em seguida sinto dois braços quentes me abraçando por trás, o calor me
reveste todo de cima abaixo, e me arrepio com esse abraço.
—Você cheira a madeira velha.
Começo a rir, e ela me libera, me viro e novamente ganho um abraço, logicamente que as
minhas intenções ao vir atrás dela não era ganhar esse tipo de abraço, apenas quando a vi foi
como se não conseguisse ver nada além dela, e eu ainda a quero, mas enquanto me abraça agora,
não consigo vê-la de outra forma.
—É um cheiro muito bom. — Ela cheira a minha gravata. — Como quando a gente
ganha um caderno novo que cheira a chiclete.
E eu com a minha estranheza e loucura.
Se afasta e seguro sua mão, não consigo imaginar porque faço isso, odeio ter contato
pessoal demais com desconhecidos, é apavorante para mim, às vezes me sinto enjoado perto de
muitas pessoas, mas com ela, é algo natural, espontâneo.
—Hora de ir vampiro dos sapatos molhados!
—É — suspiro e vejo Olaf estacionando o carro no acostamento, algo em mim fica
doloroso e falo com desgosto: hora de ir!
Chances
Entramos no carro.
Olaf nos olha e sorri, mas não vejo graça alguma, mostro o dedo do meio para ele
disfarçadamente, ele para de sorrir e liga o carro.
Maria me olha com um sorriso vasto nos lábios, seus olhos brilham mais que tudo, ela
parece muito, muito doce enquanto sorri assim para mim, meu estômago se revira todo.
—O seu carro cheira a menta.
No banco da frente o responsável pelo meu carro cheirar a cigarro de menta dirige pelas
ruas de Las Vegas como se nada estivesse acontecendo.
Isso me irrita.
Me irrita o fato dele não me escutar, não me obedecer, gosto quando as pessoas me
obedecem, isso é algo que faz parte do que eu chamo de "ambiente seguro", desenvolvi isso
depois da morte da minha mãe, e prefiro pensar que é muito melhor mandar do que obedecer...
obedecer apenas nos momentos devidos e pelos motivos adequados, mas até lá, eu mando.
Não me considero controlador, eu apenas sou dono de mim e de tudo o que possuo, vivo
uma vida confortável, trabalho muito para conseguir tudo o que tenho, e gosto disso.
—Não nos veremos depois de hoje?
Que pergunta interessante, eu poderia levá-la nesse exato momento para o Hilton, mas
não posso afirmar que nós veremos depois de hoje, não há a possibilidade dela me ver em algum
dia próximo.
—Não! — Ela conclui e suspira. — O meu hotel fica a três quarteirões daqui, se chama
"Prazeres."
Ela olha pela janela, recostada no banco, estico a mão e toco a dela com a ponta do
indicador, ela não recua, gostaria de poder vê-la amanhã, mas isso é algo distante e impossível
para mim, implicaria numa série de fatores obscuros e dificultosos demais para mim e ela.
Olaf para o carro no sinaleiro, e essa avenida está lotada de barulho, mas tudo o que
tenho é a visão de uma estranha olhando pela janela do meu carro prendendo a minha atenção.
O que ela tem de diferente? O que me atrai a essa mulher?
A atração nem sempre é algo explicável panaca, você sempre foi chegado num belo rabo,
deve ser isso...
—Nossa!
E depois que fala isso, escuto o som da porta sendo aberta, e eu a vejo pulando para fora
do carro, Olaf me olha apavorado, e Maria passa pela frente do nosso carro correndo, eu olho
para o meu motorista e fico parado sentindo novamente a onda de pavor me tomar todo.
Devo deixá-la ir, devo deixá-la partir, é o melhor para nós dois! É o melhor para mim, e é
na melhor de todas as hipóteses a melhor coisa que posso fazer por ela.
—Vai atrás dela — Olaf fala do banco da frente.
—Não tem a mínima chance...
—Talvez algum carro a atropele, talvez algum molestador abuse dela...
—Seu merda babaca!
Acho que enlouqueci de vez.
Abro a porta do carro, e dou um pulo apressado para fora, ela não está muito longe, bato
a porta do carro e começo a correr por entre os carros observando a mulher correndo mais à
frente na calçada toda sorridente, e uma corrente de empolgação me percorre todo enquanto tento
alcançá-la, nunca corri atrás de ninguém na minha vida.
NUNCA.
E estou, em plena sexta feira a noite, com milhares de coisas para fazer, trabalho, projetos
acumulados, correndo atrás de uma estranha pelas ruas de Las Vegas, e rindo, rindo à beça.
—Peguei! — berro e consigo agarrar ela.
Maria ri alto e sua risada faz bem, muito bem, como algo que se instala dentro de mim e
me traz conforto, abraçá-la é... é indescritível, essa coisa que eu sinto quando a abraço... é forte e
único, nunca me senti assim abraçando ninguém.
Estamos arfantes, acho que ela não tem o hábito de correr com frequência, eu já tenho
mais o hábito, corro todos os dias, eu a libero e ela se vira para mim.
—Estava tentando fazer isso de uma forma fácil para nós dois. — Ela fala cheia de
acusação, mal consegue respirar.
—Desculpe—falo sem ar também, meu coração está disparado e começo a soar, por que
percebo, só agora que tem dezenas de pessoas andando pela calçada. —Não posso deixar você
assim.
—Por que não? — questiona. — Eu sei cuidar de mim mesma.
—Você está bêbada.
—Você também.
Eu a encaro e ambos começamos a rir, Maria olha para o lado e seus olhos brilham,
acompanho seu olhar e vejo, as luzinhas cor de rosa brilhando em forma de coração, uma dessas
capelas que realizam casamentos em Las Vegas, as luzes mais acima brilham piscando com o
nome de "Capela do Amor".
—Nunca entrei numa. — Ela fala toda alegre. — Quer ver?
Também nunca entrei numa dessas capelas em Las Vegas.
—Claro — confirmo. — Vamos.
É muito melhor do que ficar aqui fora com essas pessoas me olhando. Qualquer coisa é
melhor do que ter pessoas me olhando, analisando, qualquer coisa.
Entramos e logo de cara vejo um casal perto do altar, é uma pequena capela com bancos
velhos de madeira dos dois lados e um tapete vermelho até o altar que não é lá essas coisas, a
pintura nas paredes parece velha e está aos pedaços, o carpete é de cor cinza mas tem manchas
diversas, o padre... bem o padre é um homem vestido de Elvis Presley que soluça enquanto fala.
Quero rir.
Maria segura o meu braço e me puxa para esquerda, acabo me sentando num banco ao
lado dela e vejo as duas figuras semi nuas rindo sem parar com as palavras do padre Elvis
falando, eles estão usando fantasias, a mulher de Eva com uma saia fajuta de tecido verde e um
top curto da mesma cor e o homem de Adão com uma sunga verde cheio de folhas de
samambaias de plástico, ambos usam também coroas de flores, o homem é peludo e eu tenho
certeza que ele está mais bêbado que nunca e a mulher não para de rir um segundo já até troca os
olhos de tão bêbada que está.
—Você pensa em se casar?
Se eu penso em casar... bem, penso, é algo do qual penso bastante, mas não é algo do
qual priorizo, as coisas que eu gosto nenhuma mulher normal pode gostar, e o prazer que procuro
poucas mulheres são dispostas realmente a proporcionar a um homem então, não sei se quero
casar, mas a pergunta não foi essa...
—Sim — digo sincero. — E você?
—Não. — Ela dá de ombros, mas seus olhos não saem do casal no pequeno altar. — A
não ser que seja com o senhor Darcy.
Senhor Darcy!
—Darcy... o do livro?
—É, ele é o homem dos meus sonhos.
Ele é o homem dos sonhos de qualquer garota de quinze anos que adora uma mentira.
—Não me olhe como se isso fosse uma grande droga, eu sei que um Darcy me espera em
algum lugar do mundo. — Ela fala, os lábios já estão vermelhos de tanto ela umedecer, me tremo
com isso. — Ele apenas não me encontrou.
Sorrio, eu não acredito que estou escutando isso de uma mulher adulta e que eu tenho
absoluta certeza que é inteligente, apenas por sua audácia.
—Querida Darcy não existe.
—Deve ter alguém parecido com ele em algum lugar do mundo.
—Tá, mas não existe.
—Pois se existir eu me caso com ele.
Quero rir, ela soa muito doce falando sobre Darcy.
—O que ele tem de especial?
—Ele é um homem bom e ele ama Elizabeth ardentemente em segredo.
—Talvez alguém te ame assim também.
—Você me amaria ardentemente Jack?
Fico sem resposta, sei que ela está bêbada, mas ela é tão direta e enfática, será que
quando está sóbria Maria coloca as pessoas contra a parede dessa forma?
—Eu não sei — falo — Amor é algo muito valioso Maria.
—Eu amaria você ardentemente se não fosse um vampiro.
Rio, ela seca a testa e funga, depois se abana.
—Poxa, esse lugar está quente!
Não sinto diferença, mas apenas em estar longe dos olhares das pessoas já me sinto
melhor, não tem mais ninguém aqui além de nós dois, os noivos e o Padre Elvis.
—Você quer me chamar o taxi agora? Eu não trouxe bolsa.
Acontece que eu não quero que você vá embora assim, não antes de me dar mais
lembranças dessa noite, não antes de me dar boas razões pelas quais eu ter vindo atrás de você
tenha sido algo que valeu apena amanhã.
—Não deveria ter vindo atrás de mim...
—Casa comigo!
Maria me fita, mas estou longe de me sentir nervoso, acabei de pedir uma completa
estranha em casamento, e apesar de eu saber que estou sob o efeito do álcool eu ainda sei muito
bem o que faço, e foi o que eu acabei de fazer, pedi ela em casamento. Ela fica calada me
olhando, seus imensos olhos cor de âmbar brilhando para mim, ela tem os olhos mais lindos que
eu já vi na minha vida, estou tão nervoso, estendo a mão e toco sua face, e com o polegar seus
lábios, não permitirei que ela saia assim da minha vida sem me dar bons motivos dos quais possa
recordar-me dela... ainda não.
—Eu não acho que seja boa ideia. — Ela fala bem devagar e se inclina na minha direção,
me inclino. — Eu estou bêbada.
Sorrio.
—Eu também estou bêbado — não é uma completa mentira, ela começa a rir.
—Eu acho que não é uma ideia tão ruim não é mesmo? Esses casamentos nem são de
verdade — fala ela se afastando um pouco. — Adão e Eva daqui a pouco conheceram o paraíso.
—Eu quero conhecer o paraíso essa noite com você — falo e estou sendo muito franco.
—Isso foi nojento — reclama.
Começamos a rir, Adão e Eva olham para trás e ficamos calados, olho para o lado,
realmente, estou alto, eu nunca, em hipótese alguma na minha vida me portaria assim em
público.
—Sério que você quer transar comigo? — sussurra ela baixinho. — Isso é errado.
—Por quê? — pergunto no mesmo tom e a olho.
—Achei que fosse gay!
Eu? Gay?
Eu a fuzilo com o olhar, mas depois ela ri e é como se isso fosse a coisa mais irrelevante
que alguém falou no mundo, não gosto que brinquem comigo, ainda mais sobre esse tipo de
coisa, por que sinceramente me ofende, e motivos —passados — é o que não me faltam.
—Ok, eu me caso, mas eu não vou transar com você.
Duvido que ela seja virgem, não é possível, eu também não iria roubar a honra assim de
uma moça jovem e tão ingênua, eu posso ser, o pior merda da face da terra, mas nunca faria isso
com alguém sem que antes desse alguma segurança, mesmo que eu deseje ela na minha cama
ainda essa noite, não pretendo tirar algo assim valioso como um ladrão.
Talvez se eu me casar com ela pareça bem pior amanhã caso ela seja virgem, é eu estou
sendo um grande puto egoísta, mas eu jamais transaria com ela por transar sendo virgem... talvez
nem transe, apenas quero desfrutar mais de sua companhia.
Deixa-me me enganar!
Adão e Eva se pegam e o Adão está bem ascesinho, Maria ri tanto que se segura na
barriga, eu também, as samambaias não impedem que vejamos a empolgação dura do "primeiro
homem" ali mais a frente, eles dois se beijam com as bocas abertas e as línguas... ah,
francamente!
—Isso é nojento — falo baixo e não paro de rir.
—Por favor nunca me beije assim Darcy — pede ela gargalhando. — Parece que ele está
tentando ressuscitar ela.
Gargalho alto, e isso traz a atenção dos pombinhos para nós, me abaixo assim como
Maria e rimos o mais baixo que conseguimos, depois o casal passa por nós dois fazendo cara
feia, mas não dou a mínima.
—Vocês são os próximos? — Padre Elvis berra. — Vamos que eu ainda tenho que ir a
um batizado amanhã cedo.
Padre Elvis — assim como prefiro chamar — mal consegue ficar em pé, junto a força nas
pernas e me sinto mais leve, Maria segura a minha mão e nos aproximamos do altar.
—Tem roupas ali no canto, podem escolher suas fantasias, um dólar pelo aluguel incluso
— Padre Elvis fala com a voz arrastada. — Andem logo que hoje estou sem tempo ok?
—Ok — Maria me puxa. — Eu quero um vestido tradicional senhor Darcy.
—Está bem — um dólar por aluguel de roupa, se brincar até um mendigo se casa nessa
espelunca e veste essas roupas...
Entramos num pequeno corredor atrás da parede falsa da Capela, e encontramos dois
cabideiros com várias fantasias, Maria logo de cara escolhe a dela.
—Um vestido de bailarina! — falo com pouco humor. — Eu não vou me casar com
alguém vestida de bailarina.
—Não enche. — Ela reclama e não dá a mínima para o que eu acabei de falar.
—Esse vestido não te serve — falo por que parece menor do que ela.
—Serve sim, senta-se aí e fica na sua...
—Experimente ao menos outros.
—Não quero demorar, é um casamento de mentira Jack, pelo Amor de Deus!
Suspiro, não sei por que fico nervoso, ela tem razão, me sento no pequeno sofá, mas bem
no canto, porque o sofá parece manchado... vômito ou bebida.
Maria vai para o vestíbulo alto de madeira mais afastado e eu a vejo jogar a camiseta por
cima da madeira que impede que eu veja mais—quero ver mais, muito mais — e ela logo em
seguida sai arrumando as alças do vestido no corpo, tenta fechar o zíper lateral do vestido que
ficou apertado.
—Eu disse...
—Quem se importa?
Os seios dela ficaram exprimidos no decote do vestido sem graça, a saia esvoaçada
mostra claramente o jeans por baixo, e o colo dela é muito mais encantador sem aquela camiseta
sem graça que ela usa, posso ver uma cintura e quadris, mesmo que ela esteja acima do peso para
mim ela está simplesmente—e estupidamente — sexy nessa coisa, ao menos da cintura para
cima.
—Pelo ou menos os meus peitos couberam!
Começo a rir enquanto me levanto, demoro um pouco para me situar pois tudo gira, tiro o
terno e jogo ao lado da camiseta dela, me aproximo, a pele dela é de uma cor dourada fascinante,
mas na região dos seios esbranquiçada, as marquinhas deixadas pelo sol subindo para os ombros,
sinto vontade de beijar o local, mesmo que não deva, puxo ela pelo braço e as minhas mãos
deslizam pelos seus ombros, toco seu pescoço e é como se tocasse seda pura, é lisa e fina, a pele
dessa mulher, e me inclino, beijo a curva de seu pescoço e cheiro, as sensações dentro de mim só
aumentam proliferando o meu desejo.
Estou atraído.
Estou encantado.
E não faço a mínima ideia do porquê.
—Quero te comer — falo baixo, minha voz é pesada e profunda. — Muito.
—Isso não foi romântico. — Ela não se afasta.
Cheiro toda a extensão de seu ombro e chego ao pescoço delicado, minha mão toca o
outro lado, quero impressões dessa mulher no meu corpo, na minha vida.
—Eu não sou romântico — sussurro em seu ouvido.
—Meu Darcy. — Ela respira fundo, e cheira a curva do meu pescoço. —Cheira a madeira
velha e é um extremo grosso... estranho.
Rio, por mais que isso pareça muito romântico, não sei se é, não quero perder tempo,
tenho apenas essa noite com ela, foda-se minha doença, foda-se meu bom senso, foda-se tudo, eu
quero Maria, e eu a terei!
Afasto-me e saio puxando ela para fora do vestíbulo, quase caímos quando nos
aproximamos do altar, estou realmente tonto, a bebida está agindo bem rápido em meu
organismo, acho também por que andei tomando alguns remédios para dormir ontem, ainda
nenhum hoje, por isso estava tão estressado mais cedo com o sumiço de Alejandro.
Aquele merda...
—Pronto. — Ela fala assim que ficamos diante do padre Elvis. — Tem alguém para
filmar?
Ela quer filmar?
—Tem o próximo casal, podem pedir para eles filmarem, mas a minha câmera está
quebrada — o padre soluça. —Opa.
Rimos, e enfio a mão no bolso retirando o celular, o Padre chama o casal e a moça se
habilita para filmar, e eu não sei quem de nós está mais bêbado, ligo a câmera do meu iphone e
entrego para ela, a moça fica primeiro ao nosso lado e o "noivo" dela fica por perto sorrindo feito
um idiota, acho que ele foi bem além da bebida.
—Nomes — o Padre tem um livro e caneta fajuta. — Por favor aproximem-se filhos.
Nós olhamos e rimos, não sei bem como me sinto sobre isso, apenas quero mantê-la perto
de mim o quanto eu puder, nos aproximamos, então falo meu nome, e ela o dela.
—Maria Eduarda Barbosa — fala e me olha. — Eu sou filha de mãe solteira.
—Não mora com os seus pais?
—Vamos deixar esse assunto para um outro momento.
Faço que sim, não me importo com isso também, o padre Elvis começa a "celebrar" o
casamento, que tecnicamente parece católico, eu sou católico praticante, mesmo que eu não vá a
igrejas lotadas regularmente me confesso todo mês, e é um conforto, fui criado nessa religião e é
algo que amo e respeito.
Ele fala palavras de conforto e fé — estou surpreso em ouvir um padre falso vestido de
Elvis falando sobre Deus num lugar profano como este — e alguns versículos da bíblia, Maria
não solta a minha mão, ela está tão ou mais concentrada que eu.
—As alianças por favor!
Alianças? Alianças!
Eu não tenho Alianças!
—Eu tenho — Maria retira um pequeno anel preto do dedo e puxa a minha mão — Não
tem problema ele não ter?
—Se não se oporem!
—Ótimo.
Ela enfia o anel no meu dedo mendinho, obviamente que não entra nos outros dedos, não
tinha reparado esse anel antes, é de bambu e preto.
—Para lembrar dias cheios de esperança — Maria diz e me sorri cheia de timidez.
Fico sem reação, e o meu coração dispara fortemente.
—Pelo poder em mim investido, pode beijar a noiva.
Me inclino e beijo a cabeça dela respeitosamente é claro, Maria vem e pula em cima de
mim dando um grito feliz que nunca ouvi na vida, depois nos afastamos, e a noiva bêbada me
entrega o celular, desligo a gravação.
O Padre Elvis nos faz assinar a "certidão" e logo em seguida nos entrega o papel, dobro e
coloco no bolso, então ela me cobra a taxa de duzentos dólares pelo casamento, dou trezentos,
ele agradece todo feliz e nos orienta a pegar no freezer uma garrafa de espumante de brinde,
voltamos logo para o vestíbulo, me sento no sofá e Maria fica se olhando num espelho velho no
canto da parede, ela tenta fechar o zíper do vestido.
Pego o celular novamente e começo a filmar ela, gosto de ver ela em ação, e preciso de
muito disso, de lembranças, sei que talvez amanhã quando eu acordar da loucura eu não me
lembre, também por que eu sempre registro muitos momentos de minha vida, sou fotógrafo
amador nas horas vagas, ou quando viajo, é um excelente passatempo.
—Ficou perfeita — falo vendo-a prender o ar para fechar o vestido. — Para uma garota
gordinha, eu não gosto muito de garotas gordinhas... só as vezes.
Ela não parece ofendida, ela não se importa, eu também não, nem sei por que falei essa
merda.
—Mesmo? Por que não fecha—reclama sem ar.
E eu começo a rir muito dela, Maria gargalha.
—Ficou perfeita — insisto, quero me redimir pela merda que acabei de falar.
—Cala a boca seu hipócrita, disse que não gosta de meninas gordas —reclama e os
ombros caem.
—Somos casados a cinco minutos então tecnicamente eu gosto de meninas gordas —
replico.
Maria mostra o dedo do meio para mim e eu rio à beça com isso, inverto a posição da
câmera para mim, e mostro o mendinho com o meu novo anel fajuto de bambu.
—Você me deu um anel, não se esqueça disso — respondo.
—E você não me deu nada — retruca.
Estou diante de uma mulher que tem resposta para tudo.
—Meu anel — faço pouco dela. — Meu precioso.
E beijo o anel que ganhei dela, Maria volta a gargalhar alto, ela vai para o vestíbulo e
logo joga o vestido por cima do separador e veste a camiseta, me levanto e vou até o freezer,
ganhamos uma garrafa, então eu a pego, e minha bêbada esposa se aproxima com o meu terno e
a minha gravata, porra, nem vi que tirei a gravata.
Ela se aproxima e passa o braço envolta da minha cintura, saímos do vestíbulo e estou
tentando abrir a garrafa, mal acredito que quero beber mais, nunca fiz essas coisas na minha vida,
não esse tipo de loucura.
Não consigo ver o carro a nossa espera, também não me importo, chamo um táxi, abro a
garrafa e bebo uns cinco goles da bebida, é doce e não muito forte, estendo para ela e bebemos,
mas antes que entremos no carro que parou o Padre Elvis se aproxima correndo e nos entrega
uma grade de cervejas.
—Cortesia da casa!
—Obrigado — falo surpreso — Saúde Padre!
—Saúde jovens!
Rimos porque a peruca dele está caindo da careca enquanto ele se afasta, passo o braço
envolta dos ombros dela e beijo sua cabeça.
—Vamos para o Hilton querida.
—Uhhh...
E entramos no táxi, Maria abre uma cerveja e volto a pegar o celular, aponto para ela com
a câmera ligada.
—Quando vai me beijar? — pergunto a primeira coisa que me vem na cabeça.
Ela já abriu uma cerveja, e basicamente bebê toda a cerveja de uma só vez, depois me
olha e arrota, arrota bem alto, fico sem ação, depois ela começa a rir, e inverto a câmera.
—Bela resposta — faço uma careta.
Maria gargalha e me aconchego.
—Qual o destino? — pergunta o taxista tirando o carro da vaga.
—Hilton! — falo e puxo ela para o meu colo. — E dessa vez a senhora não vai fugir de
mim.
—Parece que não senhor Jack pés molhados.
Fazendo amor
Paguei o táxi, logo em seguida nós entramos na recepção, mal acredito que não estou tão
nervoso quanto deveria, Maria está me abraçando, ela não me larga e eu gosto disso, a
recepcionista fica me olhando de um jeito estranho, sempre que me hospedo Joanne ou Bea
cuidam de tudo, hoje eu mesmo tive que cuidar da reserva, eu não pretendia me hospedar na
cidade, só vim mesmo por que Alejandro pediu que fosse aqui, estava de partida, sempre tenho
reserva antecipada no Hilton. Peço a mesma suíte de sempre, entrego o cartão e a moça passa,
olho para Maria, ela parece meio sem jeito, disse que sentia frio então coloquei meu terno nela,
nós dois basicamente bebemos tudo a caminho daqui.
—O que é? — pergunto incerto.
—É que eu vi um mendigo lá de fora, você não viu?
Não, eu não prestei atenção.
—Será que poderíamos dar comida para ele?
—Bem... eu não sei querida.
—Acho que tenho dinheiro no bolso, eu vou levar para ele e já volto.
Ela me solta e se afasta, espero pela chave começando a me irritar com a demora, olho
para recepcionista e ela está parada feito uma estátua me olhando com o cartão na mão.
—O que foi? Não passou? — questiono e pego a carteira. — Tenho dinheiro.
—Passou. — Ela sacode a cabeça, é uma loira de olhos verdes chamativos, peituda. — A
reserva está feita.
—Obrigado — falo e pego o cartão e o cartão do quarto, sorrio e enfio no bolso.
—O senhor tem certeza de que aquela moça está com o senhor?
—Claro, ela é a minha esposa.
Me viro e procuro Maria, daqui, vejo por entre a porta giratória, ela abaixada
conversando com um mendigo, olho para recepcionista.
—Talvez ela esteja se aproveitando do seu estado senhor Carsson.
—Ela não faria isso.
—Por que não?
—Porque ela está bêbada, e eu estou apenas fingindo —, mas não tenho certeza disso.
A moça começa a rir, logo vejo Maria se erguer e vir acenando novamente para dentro do
hotel, ela sorri de ponta a ponta, logo que se aproxima nos abraçamos.
—Eu dei dezessete dólares para ele.
—É um bom dinheiro.
—E a goma de mascar que você não quis.
—Dava para matar alguém com aquela coisa e um clips.
Rimos, ela me beija na face e passo o braço envolta de sua cintura novamente, eu a
conduzo para o elevador, e ficamos abraçados enquanto sobe para o andar do meu quarto, é
muito bom tê-la perto de mim, estranhamente isso me passa segurança.
Maria faz com que eu me sinta seguro.
Coisa que sinto muito dificilmente, sou complicado, e prefiro que ela não saiba disso,
quero viver apenas o momento, e esse é o momento, eu nunca fui de fazer essas coisas, uma vez
na vida não pode ser algo tão ruim.
Chegamos!
Saímos do elevador abraçados, e logo achamos o meu quarto, passo o cartão então
entramos na suíte, Maria se solta e vai olhando tudo envolta tão fascinada que isso me cativa,
seus olhos brilham e ela sorri, como uma criança que acabou de ganhar uma boneca muito cara
ou coisa assim.
Acho que ela nunca esteve num quarto da franquia Hilton, bem, acho que ela nunca
esteve num quarto de hotel decente...
—Quer ver a sacada? — pergunto e ela me olha, seus olhos vividos e brilhantes me
cativam.
—Aham!
Aproximo-me e seguro sua mão, depois eu a puxo para o rumo da porta da sacada da
sala, Maria fica assim bem encantada logo que saímos, a cidade é barulhenta e o vento está um
pouco mais frio, andamos até as colunas grossas da sacada, ela olha envolta, e eu a pego no colo,
Maria solta um grito alto acompanhado de uma risada feliz, nunca em toda a minha vida alguém
pareceu tão feliz em estar perto de mim, em minha companhia, eu a carrego até as colunas e a
coloco sentada de frente para mim, abro suas pernas e seguro seus quadris, ela fica basicamente a
minha altura, seus olhos cor de âmbar estão me fitando de um jeito diferente e único, nunca
nenhuma mulher me olhou assim... porra, uma sequência de vários "nuncas" e "jamais" em
minha vida.
Os braços dela estão em meus ombros se segurando em mim, olho para sua boca, minhas
mãos acariciam seus quadris por cima da camiseta é muito bom tocar alguém depois de quase um
ano sem ao menos um contato mais íntimo com alguma mulher.
Beijo a extensão de seu pescoço e sua garganta, minhas mãos apertam seus quadris e
quero mais, Maria enlaça minha cintura com as pernas me puxando para o meio de suas pernas e
a boca dela pousa em meu ombro, e o primeiro contato me esquenta todo, ela me apertando...
isso é tão delicioso. Desço e subo me esfregando nela, o círculo de suas pernas é quente, gostoso,
ela emite um gemido baixo e sensual, e as minhas mãos descem para as suas coxas, gosto de
coisas palpáveis e essa mulher tem tudo o que eu adoro apalpar, mas esse jeans atrapalha.
Meu corpo todo está quente.
—Espera!
E paro, demoro para obedecer o que a cabeça manda—me afastar—por que a cabeça de
baixo já está pronta para agir e está me deixando realmente louco, me afasto um pouco, eu a fito.
—Aquilo ali é uma piscina?
Olho para outra extensão da sacada e vejo a piscina e as espreguiçadeiras, faço que sim, e
dois segundos depois Maria dá um pulo e sai correndo, eu a vejo logo em seguida pular dentro da
piscina dando um grito alto. Seu salto faz água ir para todo lado, sorrio, e logo me vejo rindo
enquanto esvazio os bolsos da calça, jogo tudo no chão perto dos meus sapatos e corro no rumo
da piscina.
Pulo e afundo na água.
Me sinto tão... tão... ridiculamente livre, leve!
Subo e ela me abraça por trás, rio tão alto que duvido que ninguém escute minhas risadas,
Maria me agarra pelo pescoço e me beija a face, ela me libera e vem para minha frente, depois
mergulha, e eu vou junto ela ri embaixo d'água, a piscina é iluminada a noite, a água aquecida,
vou em sua direção e fico a apenas centímetros de seus lábios, ela faz que não com o indicador e
recua.
Quero beijá-la, quero transar com ela, quero tudo com ela!
Não acredito que estou casado com essa mulher e até agora não consegui dar um beijo
nela.
Ela nada até a borda e sai da piscina, Maria ri bastante e eu vejo muito mais do que devo
nessa camisa colada no corpo dela, o sutiã preto e uma cintura fina, os quadris largos, eu saio
também e sigo ela, Maria se aproxima novamente dos pilares da sacada e fica olhando envolta,
um sorriso enorme em seus lábios, e eu estou duro, apenas com a visão da bunda dela nesse jeans
pregado em seu corpo, a curva da bunda, seus seios são fartos e parecem apertados no sutiã, o
tecido emoldura seus quadris e sua cintura que mais parece um violão.
Fico ao seu lado e apoio minhas mãos no parapeito, resisto a vontade que tenho de atacar
ela, porque sei que talvez isso a assuste muito.
—Essa é a noite mais fantástica da minha vida — Maria fala olhando envolta. — Estou
tão feliz.
Meu coração dispara, não sei por que, estico a mão e toco a dela.
—Que bom que eu me casei com você — fala baixo e seu polegar acaricia minha mão
com suavidade. —Mesmo que de mentira é claro.
—Não é de mentira — falo com esforço. — Não será se não desejar é claro.
Acho que a bebida está me fazendo falar coisas que não devo, mas já cheguei num ponto
em que talvez isso soe bem mais real do que apenas palavras de um bêbado, eu não estou bêbado
ainda a esse ponto.
—Então...
Ela solta a minha mão e tira o tênis, joga para longe, e vejo o tênis voando para fora da
sacada, rio, puxo ela para mim e aperto a mulher, eu a quero e eu a terei, sendo esse casamento
de verdade ou mentira, Maria será minha.
Mordisco seu queixo e beijo seu pescoço, ela começa a puxar a minha camisa para fora
da calça e tenho absoluta certeza de que esse é o sinal que eu esperava para continuar com o que
eu quero, ela também quer!
Dane-se todo o resto!
Pressiono seu corpo contra os pilares do parapeito e puxo sua camiseta para cima, Maria
ergue os braços e jogo o tecido molhado para longe, observo seus seios apertados no sutiã e eu os
aperto, meus dedos queimam em contato com sua pele, ela está desabotoando a minha camisa.
Desabotoo a calça dela, e Maria tira o tênis, logo em seguida puxo o jeans para baixo
levando com ele a calcinha, meus olhos queimam diante a pele clara e lisa dela, não penso duas
vezes antes de abocanhar ela, Maria geme alto e percebo sua surpresa com o meu pequeno
ataque, é que simplesmente não consigo mais me controlar, por mais que seja íntimo e rápido
demais eu sei os meus limites, e agora já não consigo mais controlá-los, sou homem, e preciso
muito disso, preciso trepar!
Desculpe Lane, acho que não poderei mais manter o regime, a minha carne é fraca.
Ela é todinha depilada... Como eu gosto.
Tiro a calça junto da peça íntima e jogo para longe, afasto as pernas dela e fico de
joelhos, volto a beijar a carne quente e úmida dela, ela é fina e tem um gosto delicioso, minhas
mãos deslizam para bunda e quando aperto sinto um tesão tão forte que me machuca o cacete.
Abro a calça e tiro ele para fora, me masturbo enquanto chupo ela, Maria se segura no
parapeito parecendo não se aguentar por mais um segundo em pé, ela está com os olhos
fechados, sua respiração acelerada, suas faces vermelhas, seus olhos fechados e sua boca forma
um "o" pequeno que me enche de vontade de me enfiar nela.
Me ergo e tiro o sutiã dela, eu a faço ficar de costas para mim e puxo seus quadris, seguro
ele e com cuidado o conduzo para o meio de suas pernas, me sinto tenso por alguns instantes,
quando a cabeça do cacete encosta na entrada dela me arrepio todo, por que está muito, muito
quente.
—Jack... devagar!
—Não sei se consigo...
—Nunca fiz amor com ninguém.
Porra!
Ela é virgem!
Me afasto por alguns segundos, e a vontade que sinto é de dar umas boas palmadas nesse
belo rabo.
—Não... — Ela toma ar e me fita. — Desculpe, acho que não sou a melhor pessoa para
você.
Fico paralisado vendo-a recolher suas roupas, Maria está envergonhada, e eu estou
chocado demais para reagir, ela começa a se afastar levando consigo sua roupa e seu par de tênis,
devo deixá-la ir? Posso? É o certo! Mas..., mas não é o que eu quero...
Inferno!
Estou mais confuso e louco do que já sou.
Vou atrás dela, tomo sua frente assim que a alcanço, e tiro minha camisa.
—Você é exatamente a melhor pessoa para mim, e o que eu mais quero.
Não espero por resposta, avanço para cima dela, Maria larga as roupas e me abraça
pulando em cima de mim, procuro a parede mais próxima, seguro sua bunda, e a minha boca está
chupando a pele delicada de seus seios, toco suas coxas e sua cintura com minha necessidade
explodindo em mim.
—Talvez isso doa querida... doa muito.
—É o que eu quero, me torne sua Jack.
Que súplica deliciosa.
Mas preciso primeiro tomar cuidado, não posso ser um completo bruto com ela.
Caminho com ela pelo quarto e eu a deposito na cama, tiro o sutiã e toco seus seios com
força, solto seus cabelos desse coque sem graça e eles caem úmidos em suas costas, seguro sua
nuca e a puxo para perto, mas não a beijo, beijo seu queixo, ela não quer ser beijada — não sei
por que — e vou respeitar isso, não quero forçá-la a nada, beijo seu pescoço e faço com que ela
se deite, me ajoelho separando suas pernas e começo a chupá-la vendo-a se contorcer na cama.
Gemo em sentir o calor de sua carne trêmula em minha boca, e me masturbo com calma
por que não quero antecipar nada, com a mão livre massageio seu seio com lentidão, puxo o
biquinho e aperto, ela se contraí na minha boca e sinto o líquido viscoso com gosto dela em
minha boca, lambo toda ela e brinco com seu clitóris ouvindo-a gritar, nesse momento ela segura
a minha cabeça, ela está adorando.
Gosto de dar prazer, gosto de sentir que ela chega ao seu limite, faço isso com todas... só
que com ela é diferente, porque simplesmente não sei se conseguirei segurar muito.
Maria é virgem... só pode ser, ela deve ser, e eu sei que vou adorar cada segundo com ela
essa noite, mas de nenhuma forma quero machucá-la, fazê-la se sentir mal, quero dar uma noite
digna e prazerosa.
Puxo a calça para baixo e me ergo tirando o resto, me deito sobre ela e seu toque me
esquenta muito mais que qualquer outro, suas mãos percorrem minhas costas com carinho, toco
seus cabelos e puxo uma perna para cima, abaixo e subo me enfiando nela bem devagar, colo
minha testa na dela e seus olhos estão nos meus, sua boca está a apenas centímetros da minha,
posso sentir as batidas descompassadas de seu coração, sua respiração forte, ver seus olhos
lindos me fitando... ela é linda!
—Você é linda!
Beijo a pontinha do seu nariz e me apoio nas mãos, entrar dentro dela é indescritível, ela
é quente e está toda molhada por dentro, sinto uma vontade animalesca de meter com força, mas
sei que não posso, ela também é extremamente apertada.
Fecho os olhos movendo meus quadris para os dela, e vou entrando devagar e saindo,
sinto uma pressão forte dentro dela, quente, ela geme e isso é doloroso, suas mãos escorregam
para os lados do meu corpo e puxo sua outra perna para cima, ela geme e geme e isso só aumenta
o meu tesão, mas os meus movimentos são lentos e mais calmos, acho que isso é o que as
pessoas chamam de fazer amor... essa é a primeira vez que eu faço amor com uma mulher... amor
de verdade.
Coloco a boca em seu seio farto e chupo me movendo nela, a sensação de penetra-la é
diferente de toda e qualquer experiência que eu tenha tido com outras mulheres, está tão
lubrificada que o meu cacete desliza fácil nela, ao mesmo tempo que tão apertada... me controlo
para não gozar antes do tempo.
Mantenho a calma, afundo nela, ela grita, e beijo seu pescoço sentindo a ponta dele
romper algo, suas unhas cravam em minhas costas e ela está tensa se encolhendo embaixo de
mim.
Virgem!
—Está doendo!
—Calma querida.
—Você é muito grande.
Eu a fito, está soada e ofegante, cheiro o seu nariz, e me apoio no cotovelo me movendo
o mais devagar que posso, toco sua perna e seu seio, a minha boca está no outro, nunca fiz amor
com uma mulher virgem na minha vida, não posso estragar essa noite, não por mim, mas por ela.
Estímulo ela a se mover comigo segurando seus quadris, beijo seu pescoço, seus ombros,
junto toda a minha força de vontade e faço devagar, não consigo entrar muito, nem metade, mas
a sensação é maravilhosa, me ergo e subo me controlando ao máximo.
Sua boca está em meu peito, ela chupa o meu mamilo enquanto tento entrar mais dentro
dela, respiro fundo diante de sua inexperiência, suas mãos deslizam até a minha bunda e ela me
aperta para ela, sei que dou muito mais prazer que dor, ela está começando a gostar mais, eu
sinto.
Eu a preencho e seu grito é alto, doloroso e agudo, abaixo os quadris e me ajoelho na
cama, estou muito sensível, a ponta do cacete lateja e pula, a mulher é tão quente que me matar,
seguro seus quadris e a puxo para cima, ela se agarra a mim e me movo assim com ela, Maria
sobe e desce comigo mexendo toda nele, afasto seus cabelos para trás fitando-a, beijo seu queixo
e ela beija o meu tão ou mais envolvida no nosso momento.
Delícia!
Ela se entrega movendo os quadris com os meus, entro e saio com mais facilidade,
mesmo que ainda a sinta tensa, suas contrações são muito gostosas, o cacete dói porque me
esforço para não gozar.
Eu a solto e Maria se esparrama na cama toda aberta para mim, puxo seus quadris para
mim e meto com lentidão vendo-a afundar a cabeça na cama, cada centímetro do meu corpo se
excita com essa mulher, e me arrepio todo ao vê-la se contorcer em seu primeiro orgasmo, gemo
e entro todo nela sem conseguir prender mais, rápido, bem rápido gozo acompanhando seu gozo,
é involuntário e algo do qual não consigo controlar.
Me inclino sob ela e colo a testa na sua, eu a fito, gemo, e me esvazio todo nela, o prazer
é intenso e demorado para nós dois, meu clímax nunca foi tão denso, salivo franzindo a testa, ela
geme alto e aperta a minha bunda cravando as unhas nela, meto mais uma vez ficando totalmente
dentro dela, e a sensação percorre todo o meu corpo me enlouquecendo.
Sorrio e ela também sorri, depois caio em cima dela estremecendo um pouco ainda
devido ao prazer, não consigo parar de sorrir, me sinto tão... tão... idiota!
Ficamos quietos, e a mão dela está enfiando-se na minha nuca, acho que nunca deixei que
ninguém me tocasse dessa forma, nunca permiti que mulher nenhuma me tocasse em nenhum
sentido, nem físico, nem emocional, eu não sou assim... bem, teve uma, mas não sei se posso
contar... não, não posso, absolutamente não!
E nesse momento simplesmente chuto o balde, quero que ela me toque, quero que Maria
seja minha, estou encantado com ela, e ridiculamente orgulhoso e honrado por ela me permitir
ser seu primeiro, mesmo que não deva, eu não devo, mas aqui estou, tendo a primeira noite mais
normal da minha vida com alguém comum e isso está sendo incrível e fantástico, não quero
estragar o momento me privando de nada, afinal de contas, temos apenas essa noite.
—Obrigado —falo baixinho, e os meus dedos estão se entrelaçando nos dela. — Essa
noite é a melhor da minha vida.
—Da minha também!
Posso estar meio bêbado, também nunca fui romântico, mas quero me permitir, quero ser
tudo o que nunca fui ao menos uma vez na vida. Seu toque em minha nuca é relaxante e
maravilhoso, Maria beija a minha testa e meu estômago se enche de uma sensação fria...
borbulhas.
—Você é linda — ergo a cabeça e me apoio no cotovelo. — Eu quero você... todos os
dias.
—Hummm — Ela sorri e isso faz o meu coração disparar. — Acho que estou com fome.
—Você é sempre romântica assim ou só está falando essas coisas lindas para me iludir?
—Acho que os dois!
Rimos, coloco um beijo em sua testa e vou para o lado, me ergo e me sento, sinto um
pouco de tontura, realmente, o efeito da bebida com os remédios que eu tomo não são dos
melhores, mas consigo ficar de pé, apenas a sensação de que tudo está um pouco turvo e balança.
Visto minha cueca.
E antes de sair para sacada eu a observo por alguns instantes, os cabelos espalhados pela
cama, seu corpo nu de bruços, Maria abraça um travesseiro, ela me olha com um sorriso relaxado
nos lábios.
—Não saia daí morena.
—Por que sairia? — insinua maliciosa. — Você está com o meu anel!
Sorrio e me afasto, nego com a cabeça, toco o anel no meu dedo mendinho, e acho, que
não vou querer tirar esse anel do dedo nem tão cedo.
Para sempre minha
O serviço de quarto não demora.
Trouxeram frutas e bebida, agora nós dois estamos sentados na cama comendo morangos,
uva, bebendo champanhe, trocando olhares silenciosos, Maria parece mais situada, ela está toda
enrolada no lençol de cama, tem vergonha de mim, não sei por quê.
Toco sua face, me inclino e cheiro seu nariz, ela sorri, tão tímida, seus olhos estão em
mim, depois de alguns instantes ela se aconchega e fica mais próxima, passo o braço envolta dela
e beijo sua cabeça, quero que ela se sinta bem e confortável comigo, quero tratá-la como ela
merece, tenho absoluta certeza de que eu não a mereço, mas eu a quero, bem mais do que devo,
para o inferno também, quero ela e vou ficar com ela, mesmo que não saiba nada sobre sua vida,
seu passado, e mesmo que o meu passado provavelmente a afaste um dia de mim, Maria será
minha custe o que custar.
—Quer que eu vá para o meu hotel?
Eu a olho bem mais que sério.
—Por que iria?
—Bem, sei lá, os homens não gostam de mulheres assim...
—Estamos casados, é diferente, e mesmo que não estivéssemos ainda iria querer você
bem aqui, onde está.
Do meu lado.
—Acho que se eu contar essa história um dia para minha mãe ela provavelmente vai me
matar, depois ela vai jogar os meus restos mortais para os tubarões.
—Ela é muito rígida?
—Digamos que eu e ela temos um caso de amor e ódio.
—Você não me disse a sua idade.
—Nem você a sua, não é um barato?
Acabo rindo, ela faz uma cara de cínica incrível, beijo sua face, Maria enfia um pedaço
de morango na boca e ver ela mastigando é algo que atrai bastante atenção, a boca dela é mais
carnuda e ela faz um biquinho enquanto mastiga e sorri, lambe as pontas dos dedos assim tão
naturalmente, ela não é uma mulher cheia de frescuras, nem dessas nas quais eu estou
acostumado, ou estava.
Agora, segundo a minha terapeuta, sou um "novo homem" — tá bom! — e não preciso
desse tipo de serviço da Agência, então, teria que hipoteticamente me manter bem longe do sexo
oposto para ser feliz.
Precisava me conformar, mas... não deu, e tenho absoluta certeza de que com essa mulher
por perto eu não vou conseguir me manter firme ou longe de uma boa trepada, ou algo assim.
—Acho que já superamos essa coisa de saber mais um do outro, não hoje — determina e
se ergue pegando a bandeja. — Acho que preciso de mais sexo selvagem.
—Você é sempre tão direta?
—Não quer?
Ela está de costas para mim, saindo da cama, como ela me faz uma pergunta dessas?
Fecho os olhos e respiro fundo pois enquanto se afasta o lençol vai caído de seu corpo, puta que
pariu com esse rabo!
—Você pode me falar como faz com as suas namoradas!
—Não tenho namoradas.
—Ah não?
—Não.
—Tá bem então!
Ela vai caminhando para sacada assim naturalmente, vou seguindo-a, depois de alguns
instantes eu a vejo entrar na piscina e afundar, tiro a cueca e entro também, não me importo com
mais nada.
Mergulho e alcanço ela, me aproximo e fico diante de Maria, ela sorri, algo doce e
esplêndido, ela é tão natural, eu adoro isso nela, estico a mão e toco sua face, ela vem e me
abraça, parece tão feliz apenas com isso, me encho mais e mais desse sentimento novo que surge
com sua presença, seu toque.
—Você está excitado?
Estou duro.
—É!... por quê?
—Isso não é nada romântico.
—Não dá para ser romântico olhando para esse rabo.
—Hum...
Ela me enlaça pelas pernas, estou andando com ela para o lado raso da piscina, eu a quero
novamente, e sei que nada irá diminuir isso, quero novamente me esvaziar dentro dela.
—Ainda não cowboy!
E se afasta de mim, vai nadando para borda, afundo na água e nado atrás dela, Maria sobe
e se senta, fico em pé na piscina de forma que estou de frente para ela, seus olhos cor de âmbar
imploram por mim, sei que sim.
Toco seus joelhos e eu os afasto lentamente, meus olhos não saem dos dela, me sinto
hipnotizado por ela, me aproximo mais e abro as pernas dela puxando-a mais para beira da
borda, coloco suas pernas em meus ombros e mergulho no meio de suas pernas procurando pela
carne quente e úmida, minha boca a toma com força e ela pula soltando um gemido gostoso.
Ela geme alto quando os meus lábios atingem seus pequenos lábios e isso demonstra sua
excitação total com isso, adoro chupar, não adianta eu tentar mudar nada em mim por que sei que
não vou mudar, isso é algo que desenvolvi ainda na adolescência com um outro alguém que
prefiro não lembrar, pratiquei tanto que aprendi a gostar mas com Maria... não satisfaz apenas
ela, me satisfaz acima de tudo.
Puxo mais as pernas dela e suspendo a bunda beijando como gosto, ela treme na minha
boca e se apoia com as mãos na borda com a boca entre aberta, quero me enfiar nessa boca
também, quero todo o corpo dessa mulher de todas as formas em meu corpo, e isso é
inexplicável, insano, a meses não me sentia assim, ela desperta em mim um animal que escondo
de mim mesmo a meses, talvez anos, um instinto dominador que eu bani já a um tempo da minha
vida.
Quando eu a vejo se deleitando imagino cordas, muitas cordas, vibradores, e uma dezena
de outras coisinhas que adoro usar com as minhas...namoradas? Ou seja, lá o que aquelas
mulheres foram para mim.
Ela se contorce e eu a seguro com mais firmeza mantendo-a em minha boca como quero,
minha língua lambe ela de cima abaixo, ela é lisa e quente, mordisco a região dos grandes lábios
e ela pula se tremendo toda, demonstra sua inexperiência apenas com reflexos do corpo, Maria é
sensível e quente.
Chupo mais em cima e ela grita se entregando ao primeiro orgasmo, mas não perco a
paciência, eu a libero e a puxo para baixo, eu a seguro em meu colo e levo Maria para escada da
piscina, tomo um dos seus seios com força e solto ela, subimos juntos e ela se deita na borda,
seus olhos estão em mim mas nunca estive tão à vontade com uma mulher em toda a minha
vida... ou qualquer outra pessoa, ela me passa tanta... confiança.
Me deito ao seu lado, toco seu corpo, e puxo ela fazendo com que fique deitada de
bruços, Maria se apoia nos cotovelos e me dá uma vontade louca de morder a bunda dela, é
volumosa e carnuda, adoro esse rabo.
Monto em cima dela e me inclino lambendo toda a extensão de suas costas, afasto os
cabelos para o lado subindo até seu ombro, a curva do pescoço dela é delicada e tem marcas do
sol, mordisco seu ombro e abaixo os quadris, subo penetrando ela, ela sobe comigo, seus olhos
estão fechados e ela morde a boca, quero morder essa boca.
—Me deixa te beijar!
—Não.
Me enfio todo nela, é apertada e molhada, mais molhadinha agora, ela gozou para mim a
pouco, tão quente... salivo e engulo a saliva me movendo nela, é muito bom comer essa mulher,
sensação igual nunca provei, fecho os olhos e mordisco seu ombro me apoiando nas mãos, Maria
abaixa a cabeça e beijo suas costas sem parar de me mover, ela é deliciosa até a tampa, caralho!
Toco seu pescoço e seus seios com a mão livre, a pele dela é tão macia, seus seios fartos
enchem a minha mão, os biquinhos estão duros implorando por minha boca, fecho os olhos me
controlando ao máximo, Maria geme alto e cada gemido ela me causa sensações diferentes no
corpo, sinto pontadas na virilha bem mais intensas, minhas bolas estão duras e o pau também,
meto mais rápido pois não consigo resistir.
—Ai... ai... aiieeee!
Meto com força e ela goza me apertando todo em sua carne, gozo também, e o meu
prazer com o dela se tornam um apenas.
—Vem para cama — chamo no pé do ouvido dela. — Quero você somente para mim por
toda essa noite.
Sua resposta não é diferente.
—Sim.
Voltamos para o quarto, e vamos direto para cama, ligo o celular, e já estamos deitados
na cama, quero gravar cada mínimo detalhe dessa noite com ela, para guardar de lembrança ao
menos até que eu volte, Maria está deitada ao meu lado coberta até o pescoço pelos lençóis de
cama, a pouca luminosidade do quarto não ajuda muito a gravação mas ela está sorrindo.
—Para de me filmar — ordena, mas ignoro.
—Preciso de lembranças — respondo sincero.
—Já te dei muitas — retruca estreitando os olhos para mim.
Os nossos corpos molharam a colcha toda, mas não me importo muito com isso, os
cabelos dela se espalham pelos travesseiros, depois dessa transa na piscina preciso de mais um
tempinho para tentar saber mais sobre a minha nova esposinha misteriosa.
Vamos ver até onde posso ir com isso... ou melhor, até onde ela aguenta.
—Você é perfeita sabia? — não minto também.
—Estou longe disso Jack — responde num tom bem franco.
—Estou muito feliz—confesso baixinho.
—Eu também estou muito feliz. — Ela sorri e o meu coração se acelera.
—Adoro você — nunca disse isso para ninguém.
Ela não responde, mas sorri e isso é o bastante para mim por enquanto.
—Fale algo — exijo mais sério.
—Essa é a melhor noite da minha vida! — berra meio alto.
Rio alto, derrubo o celular na cama e ela vem para cima de mim, se deita de costas em
cima de mim, eu a abraço e beijo sua bochecha, pego o celular e ergo, estamos sorrindo.
—Diga oi para o seu marido querida — peço, nunca agi dessa forma em toda a minha
vida.
—Oi marido!
Rimos, beijo sua bochecha, ela suspira toda cheia de resignação.
—Quero que você venha para casa comigo Vida — falo como quero com ela — Quero
que você tenha tudo, eu falo com a seus pais, trazemos seu cachorro, tudo o que quiser.
—Quero você. — Ela responde.
Meu coração fica se acelerando todo, olho para tela do celular e ela move as sobrancelhas
rapidamente de um modo pitoresco, rio, não dá para ficar perto dessa mulher e não rir, ela faz
com me sinta ridiculamente tão feliz com pequenas coisas, não quero que isso acabe.
—Para sempre vida — aperto ela, e espero que Maria leve bem a sério as minhas
palavras, ela sorri. — Quando eu voltar de viagem você virá para minha casa, pode trazer seus
pais, sua irmã, eu não me importo, eu estou muito feliz.
—Eu também.
Ela também quer isso... e eu não consigo me sentir diferente de feliz com sua resposta,
espero que ela permaneça com o mesmo pensamento amanhã, quem sabe ela e eu... não, bem,
talvez seja cedo, mas quem sabe não fiquemos mesmo juntos? Eu a quero e só sei que quando eu
a tenho não consigo descrever como me sinto.
Eu quero Maria e eu a terei de qualquer forma, só me convenço disso a cada segundo
desde que a conheci.
Desligo a câmera do celular e abraço ela com força.
—Você é minha, para sempre minha!
—Para sempre!
Me sinto esperançoso e feliz.
Estamos deitados na cama acabamos de ter uma transa rápida, pego o celular e ligo
novamente a câmera, mas de uma forma que ela não perceba que eu a filmo, suas faces estão
vermelhas, ela está soada e abraça um dos travesseiros da nossa cama.
Amarrei Maria e chupei ela até cansar, depois disso transamos bem rápido, foi delicioso e
complicado ter que ter paciência para não dar uma palmadas na bunda dela durante o sexo oral,
ela não tem experiência alguma e isso dificulta mais, amarrei ela justamente para que ficasse
quieta, mas ela foi ótima em todos os sentidos, acredito que talvez depois de algumas vezes ela
aprenda a se controlar mais.
Eu a filmo e ela está completamente relaxada, minha morena sorri e isso mexe comigo,
mexe muito mais do que deveria mexer, o efeito da bebida está passando em meu organismo no
dela, no entanto faz efeito bem rápido, mas não quero que ela durma, não agora.
—Você é linda sabia? — pergunto e toco sua face.
—Não inventa — Maria sorri bem devagar.
Nunca fui tão sincero em toda a minha vida com uma mulher, toco sua face.
—Quero você para sempre Maria — confesso baixinho.
—Você mal me conhece — responde ela, e parece um pouco descrente ou coisa assim.
—Conheço o bastante — replico.
Ela sorri e beija a minha mão.
—Foi perfeito.
—Doeu um pouco?
—Não era virgem Jack.
Meu corpo todo se arrepia com essas hipóteses, mas acredito que ela esteja mentindo, ela
era virgem sim, eu senti, talvez esteja com vergonha.
—Mas parecia.
Ela se ergue, seus olhos estão longe.
—Queria que fosse especial, para você talvez seja só mais uma, mas para mim as coisas
não são assim.
—Pode não parecer, mas para mim foi muito especial.
—Foi?
—Sim, você é maravilhosa.
—Quando eu acordar amanhã, por favor, esteja aqui.
—Eu estarei.
Vou manter a minha promessa, deixo o meu celular de lado e vou para os braços da
minha morena, quero desfrutar com ela de mais alguns momentos deliciosos e prazerosos,
amanhã será um novo dia, um dia feliz assim espero.
Nível 1 da atração
Acordo.
Minha cabeça pesa e demoro um pouco para conseguir abrir os olhos, apesar do quarto
estar ainda um pouco escuro lá fora amanhece vagarosamente em mais uma manhã em Vegas.
Vegas!
Casamento!
Maria!
Me ergo abrindo os olhos, e eu a vejo abraçada a um travesseiro completa e totalmente
nua, seus cachos se espalham por seu rosto e ombros, e em suas feições relaxadas vejo um
pequeno sorriso enquanto ela dorme.
Eu a vejo dormir por alguns momentos, fico parado com a cena, não estou tão bêbado e
não me sinto tão tonto, mas a minha cabeça lateja e dói para caralho.
Ela é uma bela mulher, preciso admitir, e apenas em olhar para curva de sua cintura eu
começo a me sentir absolutamente excitado, os seios dela estão espremidos pelo travesseiro e
uma das pernas dela está em cima dele fazendo a minha imaginação criar asas com a entradinha
perfeita dos quadris dela.
Vou esperar ela acordar, pedir o nosso café, eu... eu quero muito isso, pela primeira vez
na vida sinto que estou realmente pronto para alguém, e esse alguém é ela, ela também irá me
querer, me quis ontem, vai me querer hoje.
Pego o meu celular, ligo a câmera e tiro algumas fotos, ela não precisa saber disso, será
que eu posso acordar ela com beijos? Será que ela prefere que eu traga o café na cama para ela?
O que ela gosta de comer no desjejum?
Preciso saber mais sobre ela, preciso saber sobre sua família, quem é Maria Eduarda
Barbosa?
—Quem é você?
Por mais curioso e intrigante que seja tenho absoluta certeza que em algum momento da
minha vida eu a vi, eu tenho isso forte dentro de mim, é intacta a sensação de que ela não me é
estranha, desde que a vi no sinaleiro já tinha essa familiaridade com ela.
—Maria, de onde é que eu te conheço?
Ela não se move, respira devagar e está presa a um sono pesado, chego logo à conclusão
que mais nada importa, ela está aqui comigo e isso é o mais importante, que ela fique comigo.
Estamos casados!
Olho para o anelzinho de coco no meu dedo mendinho e sorrio, me inclino e beijo sua
bochecha, ela se encolhe e desejo mais uma vez procurar seu corpo, sua carne, é estranho, mas
nunca desejei tanto uma mulher em minha vida também nem mesmo...
Meu celular toca interrompendo a sequência dos meus pensamentos, atendo na hora, não
quero que ela acorde agora, não assim, também preciso estar bem para quando ela acordar, isso
exigirá bastante esforço da minha parte, eu sei, eu sou um completo imbecil medroso mas enfim,
esperando que a mesma coragem de ontem retorne para mim.
Me afasto e saio do quarto, fecho a porta que separa da sala e atendo querendo
amaldiçoar quem quer que seja por isso.
—Carsson!
—Luck, onde você está? você sumiu!
Eu nunca sumo!
A voz dela é irritante e gasguita, eu odeio quando Condessa começa com essas paranoias,
bem, na verdade no geral eu detesto quando ela me liga querendo me cobrar qualquer coisa que
seja, e por mais inacreditável isso acontece com mais frequência do que eu poderia imaginar, eu
e condessa conversamos basicamente todos os dias por celular ou via mensagem, foi algo que
não mudou nem mesmo com o casamento dela com o merda do Ray nem com o passar dos anos.
—Eu estou em Nevada, bom dia querida!
Ela suspira do outro lado da linha, está irritada, conheço não é de hoje.
—Fiquei preocupada.
Gostaria que ela não se preocupasse tanto comigo, mas sei que isso é algo que não vai
mudar.
—Imagino.
—O que faz em Nevada?
—Alejandro me ligou, e você?
—Vim para o Japão ora, você não vai vir para cá?
Japão... Filial... Fodeu!
—Luck, você não esqueceu que depois amanhã é a abertura da BCLT aqui, não é?
Esqueci, porra, eu nunca esqueceria algo assim, mas esqueci, completamente!
—Vou pedir que o Olaf arrume o avião.
—Você está estranho.
—É que eu dormi demais.
—Ah, então, estarei te esperando.
—O merda foi com você?
—Não, ele foi para Londres com o cachorro.
Cachorro... Não sabia que Ray e Soraya estavam com um novo passatempo, isso deve
explicar por que ela está com tempo de sobra e ele sumiu, ela está bem irritada.
—Ok, eu saio daqui em uma hora, chegando aí te ligo.
—Tá, beijo, te amo.
Desligo, não amo Condessa, mas desenvolvemos essa coisa de "amizade" já a algum
tempo.
Volto para o quarto e fico olhando para Maria por alguns momentos, me sinto de repente
frustrado, não poderei ficar, inferno, eu terei que ir embora, e se eu... e se eu levasse ela? Será
que ela aceitaria vir comigo?
Meu Deus, o que eu estou pensando? Nos conhecemos ontem!
Como posso pedir que ela venha para o outro lado do mundo comigo?
Mesmo que tenhamos algo assinado — e que tecnicamente nos prende um ao outro —
não sei nada sobre ela além do que me disse, ela está de férias, ela está com amigas, ela mora no
Brasil e não sei que dia retorna, e eu tenho uma vida aqui na América, eu tenho negócios, eu
tenho a minha empresa e um peso nas costas que às vezes nem sei se consigo sustentar, como
posso pedir para ela que venha sem compromisso algum? E se ela souber do meu passado e não
me aceitar? Pior, e se ela acordar e recusar a mim?
Minha cabeça dói mais uma vez e decido por não acordá-la, melhor não, e melhor não
fazer isso agora, não sei como ela irá reagir sóbria, sei sobre mim, e sei sobre o que sinto por ela,
é novo e forte, mas e se não for o mesmo o que ela sente por mim ficarei... ficarei destruído.
Não darei um adeus definitivo para ela, ainda não.
Preciso saber o território onde estou pisando.
Nunca fui impulsivo assim em relação as minhas limitações e medos, mas também não
me arrependo de nada.
Aproximo-me da cama, sei que ela não queria que eu a beijasse, mas... não posso ir sem
ao menos lhe dar um beijo.
Me sento e afasto algumas madeixas para trás das faces dela, sinto vontade de afagar seus
cabelos e torná-la minha uma última vez, mas não posso, me inclino e eu beijo seus lábios com
carinho, apenas um selinho leve, ela se move e coça o nariz no travesseiro depois sorri.
—Eu prometo que volto em dois dias!
Beijos sua testa e crio coragem para partir, eu espero que quando retornar ela realmente
esteja disposta a prosseguir com isso, levanto e vou para sacada, vou recolhendo minhas roupas,
tudo ainda úmido, me visto depressa e pego as roupas dela, confiro minha carteira e a pequena
certidão de casamento que assinamos ontem, entro novamente no quarto, lanço um último olhar
para cama antes de ir para sala.
—Nos vemos em dois dias Vida!
E vou embora, deixo Maria dormindo nesse quarto de hotel e sinto como se algo dentro
de mim ficasse para trás...
Um pedaço de gelo talvez... um pequeno fragmento do meu coração.
Tomei alguns analgésicos e acabei vomitando bastante durante o voo até Vancouver,
também tomei remédios para dormir, e consegui, dormi tanto que acordei com a cara amassada,
fui avisado por Trace, a minha comissária de bordo que aterrissamos a dez minutos.
Faremos essa parada em Vancouver, e eu pegarei um outro avião meu de porte menor
para ir para o Japão, o avião fica no outro aeroporto, a tripulação me encontrará lá em no
máximo quarenta minutos.
Precisava dormir depois da merda a ressaca.
Acordei bem melhor, aquela dor de cabeça foi realmente péssima, na verdade nunca me
senti tão mal em minha vida, nunca fui realmente chegado em bebida, não nasci para essas
coisas, uma vez eu também tentei cheirar pó, mas a sensação foi tão ruim que nunca mais tentei
algo do tipo, na época estava tão depressivo que a única coisa que me ocorria era deixar a dor de
lado, idiotice, na verdade um grande erro como metade da metade da metade de um terço dos
erros que eu já cometi em toda a minha vida.
Cheirar pó foi apenas um equívoco.
Deixo o pensamento de lado e checo o celular, ligo os dados móveis, confiro as
mensagens de Alejandro, deixei tudo na mão dele antes de viajar, o merdinha apareceu mais
cedo com uma cara de arrependido que até satanás duvidava, ele me disse que acabou se
"enrolando" por causa da namorada e por isso não pode vir me encontrar, estava tão apressado
que sincera e francamente não liguei, meu voo saiu as dez em ponto, Alejandro e eu
conversamos durante dez minutos no restaurante do hotel, eu ainda estava zonzo e com a dor de
cabeça infernal então pedi que chamasse o professor e que eles conversassem com Maria,
explicassem que não pude ficar, um choque de ansiedade me atinge assim que vejo a mensagem
de voz na minha caixa postal, já estou ouvindo o beep.
—Senhor Carsson, acredito que não tenha pensado nas consequências da noite de farras,
a garota e você não usaram camisinha presumi então como sou seu advogado tomei a liberdade
de conversar com ela sobre isso, me ligue assim que ouvir.
Meus dedos começam a tremer, em nenhum segundo depois que sai do quarto pensei
isso... não usei camisinha!
C-A-R-A-L-H-O!
Meu pau!
Meu pau!
Já estou ligando para Denzel—Alejandro—enquanto coloco a carteira no bolso e o
relógio no pulso, minha mão treme um pouco, puxo as mangas da camisa para cima e visto a
calça jeans, calço os sapatos, parece que esse filho da...
Respiro fundo.
Parece que esse filho da minha querida e abençoada mãe está fazendo de propósito em
demorar para atender.
—Oi!
—Por que não atendeu antes?
—Jack...
—Vai para o inferno Denzel!
—Você ouviu...
—Claro que ouvi!
Estou entrando em um colapso nervoso, claro que ainda meio tonto devido aos remédios
para dormir, mas o choque de realidade me percorrendo todo, eu havia me esquecido
absolutamente que eu e ela transamos sem camisinha a noite toda, caralho, como não me
lembrei? Como não me lembrei?
—Como você... porque você... eu te odeio!
Estou sufocado, porra, nem sei o que falar.
Saio da cabine, aceno para o comandante enquanto desço pela escadinha lateral do avião,
estou absolutamente transtornado demais para falar com quem quer que seja agora, Olaf não veio
comigo, mas o meu carro já me espera não muito longe daqui, Joanne sempre contrata alguém
para me pegar nos lugares quando Olaf está ocupado resolvendo algo para mim, isso acontece
raramente, mas ele teve que ficar em Vegas de olho em Maria.
—Você transou com a mulher a noite toda sem camisinha e eu sou o culpado? —
questiona ele irritado.
Respiro fundo, entro no carro, e tento raciocinar direito.
—Como chegou a essa conclusão?
—Você estava bêbado, e ela não lembra de nada!
Levar um tapa na cara seria bem melhor do que ouvir isso do meu irmão.
—Ela parecia nem fazer ideia do que aconteceu, ela me passou alguns dados sobre ela,
quer saber ou não?
Irritei ele, ótimo, assim é mais eficiente!
—Apenas o necessário.
—Ela tem 28 anos, era solteira quando assinaram os papéis, trabalha numa empresa no
Brasil, mas ela não pareceu querer falar nada além disso.
—28, tem certeza?
—Ela não aparenta, mas pelo o que vi na identidade dela confere.
Tento respirar fundo.
—Calma Jack, o que foi feito, está feito.
—O que está insinuando? Ela era virgem!
—O que acontece quando um esperma fecunda o óvulo de uma mulher Einstein?
Coço a nuca e paraliso no banco, posso escutar a risada cínica do meu irmão de longe.
—V-você acha que...
—Nunca se sabe, eu já pedi exames de sangue e ela não se recusou em fazê-los, fique
tranquilo.
—Tranquilo?
—Jack você... ouça, nunca te vi tão feliz como ontem ok? Você nunca deixa ninguém se
aproximar, essa garota fez você sair em público e ter ao menos uma noite mais ou menos normal
em toda a sua vida!
Não tenho resposta, em outras circunstâncias eu teria esganado Denzel por ele não ter ido
me encontrar, ontem eu estava apressado e feliz, talvez se eu tivesse ido encontrar ele não tivesse
conhecido Maria.
Não teria!
—Já mandei um celular que para vocês se comunicarem e o número via mensagem para
você, vê se não estraga tudo fodão!
E desliga.
Realmente irritei ele, Denzel cuida de tudo para mim quando eu preciso, realmente acho
que feri seus sentimentos, ele é o mais novo dos homens, mas ele é um bom rapaz, eu sei que ele
verdadeiramente quer me ver feliz, ele não é como Jonas e Ph, nós dois temos mais contato pois
somos filhos do mesmo pai e moramos juntos durante um tempo da infância, ligo de novo para
ele, mas o telefone dá ocupado, vou no chat e pego o número dela, no instante seguinte está
chamando, preciso conversar com ela, preciso saber como ela está, minha cabeça está a mil com
tudo isso.
Ela demora para atender e isso só aumenta a minha ansiedade, coloco os fones e vou
lendo as mensagens do dia, sou bom em fazer muitas coisas ao mesmo tempo, e-mails,
mensagens, arquivos...
Ela atende, falo imediatamente.
—Senhorita Barbosa!
Inferno, me sinto nervoso com isso, mas preciso encarar isso de frente, não é do meu
feitio fugir de algum tipo de responsabilidade, e desde ontem, Maria é a minha principal
responsabilidade.
—Não falo português tão bem — digo em português, falo bem, mas estou nervoso, sai
meio torto. — Recebeu o meu presente pelo visto.
—Quero devolver. — Ela fala, sua voz está abafada.
Suspiro, não esperava por isso quando deixei ela dormindo hoje cedo na cama do Hilton.
—Sem devoluções — respondo escolhendo bem as palavras. — Tive que viajar para o
Japão, desculpe, os rapazes te trataram bem?
Novamente ela não responde, isso me irrita.
ELA NÃO QUER FALAR COMIGO... MAS VAI FALAR!
—Você está bem Maria? — pergunto com firmeza.
E mais silêncio, decido ignorar.
—Precisamos dar um jeito nisso — digo — O meu irmão te tratou com educação?
—Irmão? — questiona.
Até que enfim!
—Alejandro... Denzel! — explico.
Silêncio, outra vez me irrito, odeio ficar no vácuo.
ODEIO!
—Converse comigo Maria, por Deus! — exijo irritado.
Ela não responde de novo, tento me acalmar, minhas mãos soam tanto que o celular
escorrega na minha mão, se já estou assim por telefone, não quero nem imaginar como seria se
eu tivesse ficado... é, foi uma loucura... que acabou!
—Maria? — chamo, minha voz é suplicante.
—Por favor não me procure mais, vou devolver o celular assim que possível — a voz
dela está diferente, aguda.
—Por quê? — preciso compreender sua rejeição repentina, isso me agonia.
—Mandou seu irmão advogado e um tradutor conversar comigo sobre a nossa noite de
ontem.
Seco a testa, ela está magoada por eu ter ido embora, é isso!
—Não vi outra forma, o meu irmão é de confiança e não fala português muito bem —
replico sincero.
—Foi constrangedor.
A voz dela é arrastada e baixa, como se... ela está chorando!
—Está chorando?
—Não.
—Não quer que eu te procure mais?
E fica calada, funga, realmente chorando, sinto um aperto no peito, mas tenho que ser
firme, não posso deixá-la partir assim, ainda tem um pequeno detalhe que Denzel não deixou
passar despercebido.
—Até os exames de gravidez ficarem prontos não posso me dar ao luxo de que se afaste
— digo — Não tenho tempo para essas coisas, como foi o seu dia?
Ela insiste em permanecer calada.
—Fale comigo! — ordeno e novamente estou basicamente explodindo por dentro de
tanta agonia.
—Esse não é o tipo de conversa que eu queira ter por telefone. — Ela fala baixo, a voz
falha.
—Entendo, vamos jantar em breve.
Mais uma vez estou falando sozinho, contínuo.
—Amanhã Olaf irá buscá-la.
—Talvez eu não possa ir senhor Carsson.
—Mas vai!
—Transamos uma vez e acha que manda em mim?
Não gosto desse "transamos" que ela acabou de falar, as coisas não foram bem assim,
também nos casamos e tivemos uma noite fantástica e divertida... Mas ela não lembra de nada,
nem do nosso casamento, não sei por que isso me machuca um pouco.
Esperava ao menos que ela se lembrasse de tudo, que encarasse nossa noite como algo
especial, não sou uma figurinha batida de romance nem nada, mas essa garota foi absolutamente
diferente de tudo o que conheci, ela é, e isso me frustra profundamente, ela não se recordar de
nada.
—Querida eu mando em tudo o que tenho.
—Não sou sua posse—retruca irritada.
—Não perguntei se era, esteja pronta as sete.
Desligo!
Respiro fundo, já chegamos no aeroporto, sinto vontade de jogar o celular no chão e
quebrar, mas tudo o que faço é gravar no celular o número dela e abrir o WhatsApp, suspiro, não
digito, bloqueio o celular e saio do carro, estou enfezado.
—Hora de voltar para vida real Jack! — arrumo minha camisa. — Onde você é o cara
cheio da grana, solitário e bipolar.
Isso não é nada animador... Pelo Contrário.
Entro no quarto.
E a primeira coisa que sinto é o cheiro adocicado do perfume dela.
CONDESSA!
Deixo a mochila no canto e vou tirando os sapatos, não consigo sorrir, mas também não
estou completamente irritado, tomei os meus remédios para ansiedade, eles me acalmaram
durante o voo, não consegui comer nada também, estava a todo momento me lembrando dela,
fechava os olhos e seu sorriso estava diante de mim, seus lábios rosados, queria sentir seu corpo
no meu e tudo o que tinha eram recusas via mensagens, resistência... e amnésia, principalmente
isso.
Maria Eduarda Barbosa ainda não me conhece o suficiente para saber que eu não sei e
não gosto de lidar com negativas, quando quero algo eu tenho e fim, ótimo para mim e eu vivo
feliz para sempre do jeito que eu quero.
—Olá senhor Carsson!
Ergo o olhar e vejo, Soraya se aproximando, ela usa apenas uma calcinha de rendas, os
cabelos dourados caem em seus ombros, ela provavelmente acordou agora, ou já deveria estar
deitada.
Acho que qualquer cara normal no mundo provavelmente me mataria se soubesse que eu
não consigo se quer sentir uma ereção em ver essa belíssima loira se aproximando de mim
seminua.
No começo isso ainda mexia muito comigo... Condessa, hoje para mim é algo bem
comum e banal, ela se sente à vontade para andar nua perto de mim quando quer quando estamos
juntos, ela foi a minha primeira mulher e primeira amante, diria que em todos os sentidos no
começo ela foi minha, mas hoje eu a vejo apenas como alguém a quem quero bem, alguém que
precisa realmente de um pouco de atenção, Soraya tem alguns problemas quanto a si mesma e
também alguns distúrbios psicológicos.
—Oi!
Ela me abraça e devolvo o abraço, sempre, depois que consegui entender bem o que
vivemos, que eu a abraço eu sinto como se abraçasse a Júlia, a minha irmã mais nova, Soraya faz
com que eu a veja dessa forma já faz um tempo.
Muitas pessoas não entenderiam se eu tentasse explicar, mas desenvolvemos isso, ela é a
minha única amiga e eu sou seu único amigo, mas também fomos amantes, submissos,
dominadores um do outro, e de outras pessoas... como costumo pensar — de um jeito cínico é
claro — o que somos hoje é algo parecido com uma amizade colorida mas sem sexo ou coisas
que sejam mais sérias que um beijo.
Ela me puxa para baixo e aproxima, não recuo, é sempre um beijo superficial, não sinto
nada, é um pensamento singular... já tivemos tantas coisas juntos, o que antes para mim era algo
precioso se tornou algo insignificante, como apertar a mão de alguém, Apenas um beijo leve,
mas dentro de mim não consigo, quando seus lábios quase encostam nos meus algo me deixa
meio angustiado, então desvio a boca e beijo sua face.
Nunca fiz isso antes, sempre permito que ela me beije, mas hoje... de hoje em diante acho
que as coisas não serão assim!
Condessa me olha meio surpresa, conheço ela muito bem, e justamente por isso pretendo
conversar com ela sobre tudo o que aconteceu em Vegas, deixo a minha mochila de lado, tiro o
sapato e vou para o sofá.
—O que foi Luck? Sabia que estava diferente!
Ela me conhece profundamente, Soraya foi e é a única mulher na qual eu converso sobre
tudo, no começo quando ela decidiu se casar com Ray foi um duro golpe, tão duro quanto a
minha tentativa de suicídio logo em seguida, mas depois fui me acostumando com isso, achava
que não sobreviveria, achava que ela era o meu mundo, até que um dia percebi que realmente
não valia apena continuar com o sentimento, não era amor, não era afeição, era medo e carência,
medo de continuar sozinho e sentia-me carente pois ela me deu muitas coisas que nunca tive com
nenhuma mulher em minha vida.
—Vista algo, quero conversar!
—Tá.
E eu sei que ela não vai gostar nenhum pouco do que vai ouvir.
Soraya volta para o quarto, enfio a mão no bolso e pego o anelzinho preto, analiso por
alguns momentos, me lembro dela... acho que não posso continuar a ver Soraya desse jeito agora,
bem, eu não quero ter que afastá-la mas... como Maria reagiria se soubesse que estou aqui com
uma mulher? Uma ex minha?
Isso seria uma espécie de traição também certo?
Guardo o anel no meu bolso e checo as mensagens no celular na expectativa, nenhuma
dela.
Fico sentido, é da minha personalidade, é o meu jeito, muitas vezes sou duro demais em
alguns sentidos da vida e em outros eu absolutamente me firo muito fácil, sou alguém difícil de
lidar num geral, é da minha pessoa ser assim.
—Pronto!
Ela volta usando um vestido folgado de cor preta, os cabelos loiros presos num rabo de
cavalo, não sei se ela reagirá bem, acho que nem ela nem ninguém da minha família espera isso
de mim, venho a anos evitando-os justamente por conta disso.
—O que é querido? algum problema com o Denzel?
—Eu me casei!
Nunca fui de fazer rodeios, Soraya fica assim com os olhos claros me encarando
totalmente chocada, acho que se alguém me falasse eu mesmo não acreditaria, depois de alguns
instantes ela começa a rir, sempre gostei de ver ela sorrindo, ela fica simplesmente linda
sorrindo, mas seu sorriso não é espontâneo, é forçado.
—É mesmo?
—Sim.
Ela não acredita, respiro fundo juntando até a última gota de paciência que possuo, ela
pigarreia parando de rir, mas ainda manter o bom humor no semblante.
—E... quem é a sortuda?
—Não importa.
—Jack você não sabe mentir.
—Acontece que eu não estou mentindo.
Soraya se estica e tenta me abraçar me levanto, eu odeio quando ela faz isso, faz pouco
de mim depois vem me adular, me afasto.
—Não está falando sério está?
—Como nunca!
Reconheço esse tom irritante na voz dela, Soraya meio que pensa que manda em mim, ela
gosta que eu a consulte e tal, mas acontece que eu não sou mais seu submisso e não me sinto na
obrigação de falar qualquer coisa que seja para ela.
—Como assim? — berra exasperada. — Como... por que... com alguma garota da
agência?
—Não — respondo e eu a fito. — Foi com uma garota que eu conheci em Las Vegas.
Soraya está boquiaberta, não me sinto arrependido ou envergonhado, eu já esperava por
essa reação da parte dela.
—Conheceu em Vegas? Da empresa?
—Não Soraya eu a conheci num cassino, nos casamos logo em seguida.
—Do nada? — Ela está gritando, já de pé andando de um lado para o outro. — Como...
—Olha, eu estou te comunicando...
—Não tem esse direito!
Me sinto ofendido.
—Por que não? Você não se casou com Ray?
—Isso é diferente, você... você... vai anular esse casamento agora mesmo entendeu?
Eu a encaro, Soraya está fora de si, vejo algo misturado a fúria e angustia em seus olhos,
um sentimento de pura mágoa, e por mais que eu tente não consigo entender, será que ela achou
que nunca alguém fosse me querer? que eu nunca fosse encontrar alguém para minha vida?
—Não sou mais seu submisso Soraya, sou adulto, obrigado!
—Ela só quer seu dinheiro!
—Ela se quer sabe quem sou eu.
—Colocou venda nela?
—Isso não vem ao caso.
Desvio o olhar, ela está furiosa, sei que sim, respiro fundo, não quero brigar, já estou bem
cheio de tudo, da rejeição de Maria e da resistência dela, agora além disso tenho que lidar com a
minha ex...
—Luck...
—Não adianta o que você faça ou diga, eu vou ficar com ela, preciso de um banho e de
dormir, vou para o meu quarto, não quero ser incomodado, com licença.
Pego a minha mochila e vou para o quarto, sempre me hospedo nessa franquia de hotéis
quando venho ao Japão, tranco a porta assim que entro, sei que nesse momento ela não vai
insistir no assunto, me conhece bem, se ela vier vai ter.
Vou para o banheiro, levo o celular comigo, enquanto tomo banho eu fico olhando as
fotos que tirei de Maria, os vídeos que gravei dela... eu a quero!
Eu a quero e ela será minha.
—A todo custo e de todas as formas!
Por mais que de todas as formas possíveis eu tente, Maria Eduarda não sai dos meus
pensamentos, não consegui dormir — nem a base de remédios — e não consigo fazer nada, andei
pelo quarto basicamente por horas e horas.
Tive que dobrar nos remédios, faço isso quando estou basicamente surtando, não é algo
que eu queira, mas me alivia um pouco em momentos de tensão, são remédios homeopáticos
receitados pela Lane para dormir, para ansiedade, e eu tenho algumas vitaminas para repor cálcio
e ferro, não como carne desde criança, não é um hábito muito saudável segundo os meus
médicos, mas também não é algo que me faz mal.
Consigo dormir.
E o meu corpo afunda na cama com um peso imenso, aos poucos meu corpo se transporta
para um quarto que já conheço bem, e de repente eu estou sentado numa cadeira de brinquedo
cor de rosa, minhas mãos são pequenas e magras e guardam nelas pequenas marcas
avermelhadas, causadas por um cinto, ou uma fivela.
Vou congelando com o sonho... outro pesadelo.
Estou ciente a todo momento, mas não consigo sair disso, às vezes quando entro demoro
para acordar, e como dobrei as receitas eu sei que vai demorar, meu estômago embrulha quando
sinto o gosto ruim na boca, as sensações vem e são presentes no meu corpo... na minha alma.
Sinto uma dor psicológica imensa quando me lembro disso, o monstro está com a
braguilha da calça aberta e agora ele se senta diante de mim com o cinto na mão.
Me arrepio todo.
Me esfrio mais.
Parece que tem um peso forte no meu corpo que me prende a cama, é como uma
alucinação, ou algo assim, estou dentro do pesadelo e não estou, pior sensação do mundo.
"Você tem que aprender a me respeitar querido"
Eu odeio quando me lembro que ele me chamava assim.
Olho para baixo, estou usando um vestido vermelho de menina, choro bastante, com
medo, tanto medo de que mal consigo raciocinar direito, escuto o som de passos, e o meu
coração se acelera, lembro desses momentos com água.
Batidas na porta.
"O que é Clair?"
"Já acabou o tempo"
Ela determinava o tempo para as torturas.
Ela o deixava fazer isso comigo, e eu nunca perdoarei ela por isso.
O monstro me olha com raiva e do nada me dá um soco no rosto, a dor lateja e com ela
acordo, sem ar, soado, completamente frio... frio, como me sinto a anos, apenas alguém... morto.
Coço os olhos afastando o sono que os remédios me causam.
—Inferno!
Também estou chorando.
As sensações demoram para abandonar o meu corpo, a dor física se junta a dor emocional
e causa uma confusão mental enorme em mim, meu estômago está embrulhando, sempre
embrulha quando lembro do que ele me obrigava a fazer, corro para o banheiro e vomito na pia
do lavatório, não como a quase dois dias, então apenas a água amarelada que sai, aperto os olhos
e me olho no espelho.
Desvio o olhar.
A figura de um homem moreno de olhos verdes me causa repulsa, nojo, porque assim era
o meu agressor, sempre que me olho no espelho ou me olho demais é como se eu o visse e sinto
nojo disso.
Lane já tentou me explicar mas é algo que não entra na minha cabeça, apenas criei uma
repulsa enorme a respeito de mim mesmo e nojo, muito nojo de me sentir observado com o
passar dos anos, acho que é por que o monstro me olhava demais, por que ele me observava e
isso me dava medo, mas a Escopofobia é, para mim, um mistério sem solução.
Não tenho resposta para tudo.
—Você não é Deus Jack!
Há medo em mim, há dúvidas, mas também há alguém que nunca se permite sentir essas
coisas, eu sei que se eu cair em depressão eu vou cometer o pior erro da minha vida, é difícil
lidar com o trauma, principalmente por que as pessoas que o cometeram são pessoas das quais
terei que lidar o resto da vida, não posso mudar isso, mas é o que eu tenho feito durante todos
esses anos.
Escovo os dentes e tomo um banho quente, me esfrego todo, não gosto de sentir o cheiro
do suor que fica no meu corpo quando eu tenho esses pesadelos com o monstro, é nojento...
inexplicavelmente nojento como ele era.
Visto uma calça limpa, e vou rezar.
É UMA CURA INSTANTÂNEA PARA MIM!
Sempre que rezo é como se dentro de mim a porta aberta se fechasse novamente, não tem
psicólogo, não tem conversa, não tem família que me cure, mas quando eu rezo... isso exerce
uma força implausível dentro de mim.
É algo do qual preso muito, gosto, a minha fé não é inabalável, tem momentos em minha
vida que me questiono muito sobre isso, mas é algo do qual me sustenta e me dá forças para
prosseguir.
Essas coisas do meu passado são coisas das quais gostaria de apagar da minha vida, mas
infelizmente eu não consigo, e parece que quanto mais eu busco algum tipo de solução ou
felicidade mais os meus bloqueios crescem e me machucam.
Termino com as minhas orações, guardo o meu terço e leio um pouco da bíblia, quando
acabo aciono o serviço de quarto, vou para sala então encontro vestígio algum de Soraya, tenho
absoluta certeza que ela saiu para algum lugar para fazer compras, para ela ou para os meninos,
ela sempre faz isso quando está frustrada.
Já é noite, provavelmente manhã em Las Vegas, volto para o quarto, acho que se eu não
mandar ao menos um "oi" para ela, vai parecer que não me importo e eu me importo muito mais
do que deveria com Maria, gostaria de ser diferente mas não consigo, sei que se houvesse
acontecido algo com ela Olaf me falaria, ele ficou por conta dela, mas quero saber como ela está,
o que está fazendo, onde está, espero que ela seja mais amistosa.
Digito a mensagem enquanto volto para o banheiro, preciso pegar uma camisa.
"Bom dia querida, dormiu bem? Tenha um ótimo dia, Jack!"
Para variar Maria apenas visualiza, preciso ser firme com ela.
Droga!
—Ainda está brava? — pergunto através de um áudio e envio, ela também ouve e não
responde.
Respiro fundo.
Ligo para Maria, uma, duas, três, e assim vou contando, ela não atende as minhas
chamadas, isso é muito chato, ninguém nunca não me atende, nunca tive que esperar para falar
com ninguém, ela realmente está decidida a me ignorar, a esquecer a nossa noite, nosso
casamento mas eu... eu não.
Possivelmente ela está grávida, isso me assombra, ela continua a demorar, decido
continuar com o que queria falar
—Você realmente não está levando a sério tudo isso!
Enquanto esse carrega vou enviando os outros.
—Sei que talvez eu pareça um saco, mas isso é para o nosso bem querida, antes de ontem
você estava super a vontade comigo, conversamos, temos química na cama, trepamos gostoso,
se lembra disso?
Sei que irrito ela com as minhas insinuações, Maria não é do tipo de mulher que gosta de
falar abertamente nesses termos, eu sei que não, mas estou começando a ficar chateado com a
rejeição dela, então, se não consigo de uma forma cordial, vou tentar da forma na qual me
sobressaio, no atrito.
Ela se quer ouve os meus áudios, fico inquieto andando de um lado para o outro no
quarto, da vontade de quebrar alguma coisa de tanta raiva.
Sou muito melhor em ser alguém ruim e desprezível do que tentando bancar o carinha
legal como os meus irmãos fazem.
Demora mais ou menos uns dez minutos para que ela visualize minhas últimas
mensagens e mais uns cinco para ela ouvi-las.
—Não fique magoada, esse é o meu jeito, não sou muito do tipo sentimental, gostou das
flores? Por favor, responda!
"Não vai falar?"
Ela está digitando, paro, vou para cama e me sento, fico esperando-a acabar de digitar.
"Gostei das flores, obrigada"
Brincadeira, só isso?
Obrigado pelas flores, gostei?
"Que bom que gostou, acostume-se, gosto das minhas garotas bem tratadas"
Isso não é bem uma mentira, sempre tratei as garotas da agência muito bem, me chamem
de canalha, mas enfim, sempre agradei minhas amantes imensamente.
"Senhor Carsson não sou sua garota, não me trate como uma posse"
Respondo, impaciente, e quando já vi enviei.
"Querida Maria acho que a trepada de ante ontem falou mais sobre você do que imagina
então sim, considero-a minha.
Ela vai ficar puta de raiva... e é justamente isso que eu quero, para que ela saiba o quanto
é ruim as raivas que ela me passa desde ontem.
"Senhor Carsson, uma trepada não diz nada sobre ninguém"
"Fale por você querida, eu me garanto"
"Trepadas não são o meu foco nesse momento Senhor Carsson, o nome desse filme não é
cinquenta tons de cinza não banque o Senhor Grey comigo, foi um erro."
Achei uma teimosa como eu...
"Sádico? "
"Você se lembra de tudo não é mesmo?"
"De cada uma das três trepa... digo, que termo uso para nossa noite?"
"Nenhum termo, me esqueça senhor Carsson"
"Querida já expliquei que não sou do tipo que ignora nenhuma amante"
"Não sou sua amante"
Mando um áudio.
—É sim.
Ela está gravando um áudio e já me preparo, estou diante de alguém que sabe muito bem
o que quer, se posicionar, resistente, o áudio carrega e eu o escuto.
—Senhor Carsson agradeço por toda atenção, mas peço que esqueça essa loucura, foi
um erro, preciso que entenda que não posso mais vê-lo, não insista, se eu por um infeliz acaso
estiver grávida garanto que não irei perturbá-lo, garanto que dou um fim ao bebê, espero que
fique bem, obrigado pelas flores, deixarei o celular na portaria do Hilton, até nunca!
Fico por alguns momentos sem reação.
Não ligo para ela e nem envio mensagem, porque nesse momento Soraya está entrando
no quarto cheia de sacolas, ela usa um vestido curto cor de rosa, os cabelos num penteado
chique, ela cheira a esmalte e laquê de cabelo, está como sempre absolutamente linda.
Mas para mim isso já não surte nenhum efeito.
—Melhorou?
Eu a olho e reviro os olhos, odeio quando ela finge que nada aconteceu, as vezes eu e
Soraya discutimos muito, e teve algumas vezes que ficamos semanas sem nos falar, ela tem um
temperamento dócil e bondoso, porém quando ela quer brigar... ela é complicada.
—Olha Luck eu entendo...
—Eu não devo satisfações da minha vida para você — corto, e ela me conhece, fica
calada me olhando como se quisesse me matar. — E francamente só contei por que sei que você
vai acabar dando um jeito de descobrir.
—Não tenho segredos com você — responde bastante séria.
—Eu sei que não Soraya, apenas estou deixando claro que eu encontrei alguém especial.
—Você mal conhece essa garota, como pode saber que ela é especial?
—Ela é diferente.
—Por quê? O que ela tem que as garotas da agência não tem? Como pode se casar com
alguém por atração? Você já pensou nas consequências disso? Ela tem direito aos seus bens
Luck, tem muita gente oportunista por aí.
Nesse sentido ela tem razão, ao menos quanto ao quesito financeiro, mas eu não me
importo, tenho a forte impressão de que Maria não é dessas, ela não é!
—É um ato irresponsável Luck!
—Eu gosto dela.
—Conheceu ela ontem!
O mais surpreendente é que Soraya reage ao meu novo... digamos assim relacionamento
como se isso fosse o fim do mundo, tenho a impressão que ela achou mesmo que eu nunca fosse
encontrar alguém para mim, que a minha doença me impedisse de achar uma mulher normal
como qualquer outra para ficar ao meu lado, também pensava assim mas... estávamos
equivocados.
—Agora só falta me dizer que foi amor à primeira vista!
Ela deixa as sacolas num canto do quarto e tira os sapatos, me levanto, não sei bem o que
foi, só sei que ficar longe dela me agonia bem mais do que já estou acostumado, não quero mais
ficar longe dela, e acho que não vou.
—Então... você realmente gosta dela?
—Sim.
—Talvez ela não aceite um relacionamento sob as suas condições Luck... — Ela se senta
na cama e me olha de um jeito sugestivo. — Sua doença.
Devolvo o mesmo olhar cínico para ela e sorrio comigo mesmo.
—Vou resolver umas coisas Soraya, depois nos falamos.
—Você tem certeza de que quer prosseguir com essa loucura?
—Como você chama é apenas uma atração querida.
E saio do quarto escutando um grunhido de pura birra, não me importo, preciso correr,
meu tempo aqui será bem curto, espero tão pouco resolver tudo voltar logo para Vegas, mal vejo
a hora de voltar!
—Para minha querida e adorável Esposa.
Estou sendo cínico, não me importo, mas quem sabe um dia ela não se torne isso não é
mesmo?
—Veremos Jack... Veremos!
Nível 2 da atração
Não consegui dormir então fiz o que sempre faço em dias assim... trabalho.
Fiquei o máximo de tempo que podia na empresa, a filial é pequena e começo com
apenas duzentos funcionários aqui, mas já é o suficiente, ao menos para atender os meus clientes
desse lado do mundo.
A todo momento Maria não saiu e nem sai dos meus pensamentos, já é manhã aqui, eu já
verifiquei o celular umas quarenta e sete vezes para ver se ela me responde, mas nada, ela
simplesmente está me ignorando, mas isso está bem perto de acabar.
Acredito que não consiga mais ficar aqui sabendo que ela está em Las Vegas ou em
qualquer lugar do mundo longe de mim, isso me afeta de tal forma que mal consigo explicar, já
nasci ansioso então não é algo do qual eu controle.
Já me comuniquei com Olaf, localizei o iphone de Maria no Hilton, isso explica muito o
fato dela não ter me enviado mensagens a algumas horas, ela é definitivamente a mulher mais
teimosa que eu já conheci em toda a minha vida.
Gosto disso, e ao mesmo tempo odeio isso.
Olaf me manda a mensagem confirmando o contato, respiro fundo, acho que chegou o
momento de mostrar para ela que eu não estou disposto a perdê-la, que eu não vou desistir.
Logo que ele atende depois de alguns momentos escuto alguns protestos dela.
"Diga que não vou."
Ou algo assim, Olaf entra na linha e fala:
—Resistência chefe.
—Mande a resistência dela ir a merda, quero falar com ela agora.
Não entendo bem o que Olaf fala e só me resta esperar, já estou estressado só com o fato
de não ter dormido ontem, agora de novo — e novamente — a minha brilhante, memorável e
sagaz esposa não quer conversar comigo.
Escuto o som arfante de sua respiração, me apresso.
—Querida!
Ela não responde, obviamente que se assustou com o meu grito.
—Bebê, vamos vai ser divertido — adoro manter o cinismo nas minhas conversas com
Maria, mesmo que isso seja um pouco desagradável, não é como eu deveria ser, mas ela está
pedindo isso.
—Me deixe em paz — ordena irritada.
—Não vai doer nem machucar, prometo, Olaf irá levá-la, você passou o dia bem meu
bebê? — questiono ignorando a ordem.
—Vai para o inferno! — manda.
—Querida facilite as coisas, não dificulte, reservei uma mesa no meu restaurante
predileto, estou te esperando, e se não for eu mesmo irei buscá-la.
Desligo a ligação em seguida.
Sempre sou muito direto em tudo o que quero, no que faço, odeio mentira, mas ela está
resistindo muito.
Conto os minutos enquanto procuro nos armários as coisas para preparar um café, Joanne
costuma cuidar disso quando vem comigo mas nessa missão eu vim sozinho, infelizmente a
desvantagem de não ter vários empregados a minha disposição é essa, mas não acho ruim,
sempre fui só e sei me virar muito bem em qualquer tipo de situação.
Faço um café, pego cereal, leite, nada do qual estou acostumado pela manhã, mas não
quero incomodar ninguém as cinco da manhã, acho que nem a moça do café chegou ainda, a
minha sala não é tão grande, mas tem tudo o que eu preciso.
Levo tudo para minha mesa, recebo a confirmação no computador que o celular dela já
está ligado, envio a primeira mensagem.
"Não aceito devoluções lembra?"
Ela apenas visualiza como de praxe.
"Querida, quanto menos resistir melhor para nós dois, antes de ontem estava sem
resistências"
Ela começa a digitar e fico agitado, esse inferno de ansiedade não me deixa ser diferente,
bebo um pouco de café, leio sua mensagem.
"Senhor Carsson, não me disse o que faz da vida além de trepar com garotas bêbadas"
Respondo.
" :( "
Ao menos está falando comigo.
"Eu sou desenvolvedor de sistemas"
"Isso quer dizer que você é nerd"
"Mais ou menos isso"
Vou enviando as mensagens.
"Moro no Vale do silício"
"É uma comunidade cheia de cabras?"
Começo a rir, droga, ela me faz rir, nunca ninguém me fez rir tanto em toda a minha vida
quanto Maria, isso é cativante.
" :) não querida, é uma cidade onde fica o Google, Microsoft... nunca ouviu falar?"
"Desculpe, não moro nos EUA, mas vou pesquisar"
"Ah, esqueci, onde mora é mais legal"
"Senhor Carsson, qual a sua idade?"
"Curiosa ;)"
Não posso contar a minha idade verdadeira, tenho absoluta certeza de que ela não vai
aceitar bem isso.
"33 anos, por quê? Sou velho para você querida?"
"Eu tenho 28, só para saber mesmo"
"Eu sei. Você está assustada?"
"Com você?"
"Também?"
Envio emojis para ela, Maria responde.
"Não"
"Sou meio invasivo as vezes, mas é o meu jeito"
"Por que?"
"Não sei, não gosto de dividir o que é meu, me chame de egoísta"
Isso é verdade, absolutamente egoísta, admito, o que é meu, é meu, e Maria é minha,
apenas e somente minha.
Minha!
"Você acha que eu sou sua por que passamos uma noite juntos?"
"Acho que você é minha por muitos motivos"
Motivos dos quais ela não saberá nesse momento.
"É bonito pelo menos?"
Não resisto.
Quero puni-la por ter me esquecido, esquecido de nossa noite, como ela pode
esquecer?
"Não sei, não lembra?"
"Não lembro, um ponto para o senhor"
Não gosto dessa formalidade no tom dela ao se referir a minha pessoa também.
"Me trate por você"
"O que vou ganhar em troca? Um iphone 9?"
"Ainda estamos trabalhando no oito, mas se quiser faço um protótipo só para você
querida"
Não espero que ela esteja surpresa também, ela digita.
"Você gosta de montar coisas Senhor Carsson?"
"Desde criança, e você?
"Acho que sabe muito sobre mim"
E ela não está disposta a se abrir comigo pelo visto... melhor mudar de tática, ao menos
ela está me respondendo.
"Sei que mora com seus pais, tem um cachorro, uma irmã e que esta em Vegas de férias
acertei?"
"Sim, ah, lembro que mandou Denzel perguntar sobre a minha formação?"
"Sim, sei que é esperta e inteligente, só queria saber o que faz, saber mais ao seu
respeito"
"Ele já disse que sou atendente de call center?"
—Sério?
Fico olhando para tela do celular e relendo essa última resposta, Maria é atendente de call
center? Alguém tão sagaz e inteligente... Me sinto meio preconceituoso, não conheço muito
desse mundo, mas alguém como ela deveria no mínimo trabalhar em algo melhor para sua vida.
—Casado com uma telefonista — concluo e dou de ombros. — Nada mal Jack!
Decido mentir, não lembro do que Denzel falou sobre isso, lembro da palavra
telecomunicações, mas não call center, isso importa?
"Sim, ele disse! Gosta de trabalhar nessa área?"
"Sim, eu gosto"
Estou mais e mais curioso sobre ela.
"Que tipo de pessoas atende?"
"Todas"
"O que os seus pais fazem?"
"Não conheço meu pai e a minha mãe é cozinheira"
Cozinheira... Mais dez pontos no ranking Jack!
Talvez papai ache tudo isso engraçado, eu sei que ele não vai se opor, ele muitas vezes
me criticou pelas escolhas que eu fiz na vida, mas não sobre isso, afinal de contas, sou fruto das
puladas de cerca da herdeira rica com o jardineiro, posso me sentir inferiorizado por ter casado
com alguém comum? Acho que estou apenas bastante surpreso em descobrir mais sobre ela,
contudo sei, que Maria está fazendo de tudo, de uma forma apelativa e franca demais para me
afastar, mas isso não vai funcionar comigo.
"Nunca tive uma sogra cozinheira, isso é empolgante"
Acho que estou sendo rude, mas também sou franco.
"Me orgulho da profissão da minha mãe Senhor Carsson, e da minha também, desculpe
se não estou a sua altura no Vale do Precipício".
"Querida, estava brincando"
"Não gosto das suas brincadeiras"
Imediatamente digito:
"Desculpe "
"Não"
Magoei ela.
—Merda Jack, você não sabe ceder?
Começo a digitar tudo o que me vem pela mente de um jeito apelativo, mas sincero.
"Não quis ofender sua mãe"
"Gosto de sogras cozinheiras"
"Minha última sogra era dentista"
"Maria não sei lidar com desprezo, fale comigo"
Ela não responde.
Ficou brava.
Suspiro tomado por uma impaciência gritante e sufocante, parece que quanto mais tento
me aproximar dela de alguma forma Maria me escapa, ela também é uma caixinha de surpresas,
e quanto mais sei sobre ela mais me sinto atraído.
Por sua vida simples.
Sua forma engraçada de vê-la.
Mas principalmente pelo modo como ela se mostrou uma pessoa diferente de tudo o que
conheci.
Eu a quero de volta.
Ando de um lado para o outo, Olaf também não está online, eles já devem ter chegado ao
restaurante, fiz tudo da melhor maneira para que ela se sinta bem, sei que ela irá ficar furiosa
quando souber que eu não estarei lá fisicamente, mas no momento é tudo o que posso oferecer.
A distância.
Ao menos por hoje é claro.
Os minutos se transcorrem até o momento em que ela volta a digitar no watts, digito
primeiro, apressado.
"Ainda bem que voltou, já estava ficando um tédio sem você para brigar comigo"
"Onde você está?"
"Aqui, com você ora"
Em seguida recebo uma foto do Olaf, visualizo, meu coração fica disparando, ela está de
jeans e tênis, camiseta, os braços apoiados na mesa mexendo no celular, desconfiada, os cabelos
em cachos que caem de um coque mal feito, me sento novamente e analiso a foto dessa estranha,
estamos casados e não há nada em seu dedo que demonstre isso, ela me deixou marcas invisíveis
e eternas no meu corpo, estou caído por essa mulher.
"Não consigo te achar"
"Bem, estou aqui ora"
"Mentiu para mim"
"Querida não menti, ainda em Tókio, mas isso não me impede de comer com você"
"Você está de sacanagem com a minha cara né?"
"Não"
Sei que nesse momento ela está absolutamente furiosa, mas é o que posso oferecer no
momento, volto a digitar.
"Peça um tinto"
"Vou embora"
Estou alarmado.
"Olaf não tem ordens para levá-la"
"Ah bem, existem carros amarelos aqui que se chamam táxis"
"Ou você pode aproveitar e jantar comigo"
Insisto, sou bom nisso.
"Peça um tinto"
—Muito bom! — mas não estou sorrindo, ela ficará para um jantar a distância comigo, e
Deus sabe o quanto gostaria que fosse algo mais pessoal, mas não posso.
"Peça um 1879 tinto"
Ela torna a demorar, envio um áudio.
—Vai gostar daqui, é um bom lugar.
Ela responde da mesma forma.
—Senhor Carsson por que esse medo de voltar a me ver?
Tenho medo de que me veja...
—Não tenho medo querida.
—Então...
Tenho uma excelente desculpa, também bem conveniente.
—Negócios!
—Por que fala português tão bem?
—Tive uma namorada portuguesa.
Na verdade, o meu pai biológico era brasileiro, mas você não precisa saber disso
agora.
Quero saber mais sobre ela.
—Você teve muitos namorados no Brasil?
—Pensei que tivesse falado da minha vida para você.
—Só o básico, você e eu temos muito incomum apesar de achar que não.
—Como por exemplo...
—Gosto musical.
—Quem montou o set list? O Olaf?
"rsrsrsrsrsrs "
Mando outro áudio, gosto de ouvir a voz dela, faz com que me sinta próximo dela.
—Não.
"Só não consigo entender a parte em que você um cara super gato e inteligente me quis"
"Rolou"
Estou sorrindo feito um idiota da minha resposta, me acomodo na poltrona e me sirvo de
mais um pouco de café.
"Não?"
"Vou te chamar de Mister "M""
"Você não reclamou"
"Eu não me lembro disso"
"Quer detalhes?"
"Sim"
"Quero algo em troca"
"Uma foto da comida?"
"rsrsrsrs uma foto sua"
—Ela não vai enviar Jack... Essa mulher é cabeça dura como uma rocha!
"Acho que não quero mais saber de nada"
—Viu? Eu não disse?
"Querida só para recordação"
"Já teve mais que uma foto"
Envio a foto que tirei dela dormindo, na manhã de ontem no hotel, só de rever a foto já
me sinto intensamente alterado.
"Quero uma de agora para minha coleção"
"Tem mais?"
"Sim"
E pelo o que conheço já imagino que a essas alturas ela deve estar surtando, Maria tem
um senso de pudor muito forte, gosto disso nela, mas é um pouco chato falar com alguém tão
diferente de mim nesse sentido, ela ao efeito de Álcool é mais solta e transigente, assim, como
ela está agora, vejo que ela é meio cheia de "mi mi mi" odeio isso, porém acho que porque nunca
sai com uma mulher assim como ela, a timidez me cativa fácil, me seduz, é charmoso, mas toda
essa bolha de conservadorismo na qual ela se enfia é chata.
"Gosto de tirar fotos, já disse que sou fotógrafo amador?"
Ela não responde, e sei que está muito brava, mas ignoro.
"Não fique brava"
"Imagina isso acontece comigo sempre"
Agora eu me irrito.
"Então pode me mandar uma foto sua?"
"Me manda uma sua"
Sou notificado por Olaf a todo momento de tudo o que acontece no restaurante, quero que
Maria seja bem tratada e que tudo saia perfeito.
Não tenho paciência mesmo, mas se ela insiste em prosseguir com a pirraça, sou
excelente pirracento. Posiciono o iphone e tiro uma foto da minha boca com o meu melhor
sorriso, envio, daria tudo para ver a reação dela agora.
"Agora você" —Exijo.
"Eu não gosto de tirar fotos, também quem me garante que essa boca é sua? Pode ser de
qualquer um"
"Você prometeu"
"Você já tem muitas Senhor Carsson"
"Uma a mais para minha coleção"
Ela não responde, suspiro, paciência, paciência, cadê você?
"Vamos, não dói"
Demora um pouco até que ela me envie a foto, carrega rápido, e fico observando os
lábios dela assim meio surpreso.
Ela realmente está começando a me ouvir.
"Que lábios!"
"O senhor que o diga senhor Carsson"
"Você"
"Isso não soa nenhum pouco formal"
"Não preciso de uma namorada que me trate com tanta formalidade"
"Não sou sua namorada"
"Tem razão você é mais que isso"
"Você é muito bom na cantada para um nerd senhor Carsson"
"Hey, algo contra os nerds?"
"Não em absoluto"
Ela continua a digitar.
"Você é muito rico?"
"O que você entende por ser rico?"
"Tem pessoas que o servem sempre"
"Vivo bem, trabalho bastante para ter uma vida confortável, se isso é ser rico para você
querida então eu sou"
Estou surpreso com sua curiosidade nesse sentido, Olaf me avisa sobre terem servido o
vinho para ela.
"Querida?"
"O que você faz exatamente?"
"Digamos que eu compro computadores velhos e os transformo em coisas úteis, não
quero te entediar com isso, como está o vinho?"
"Está bom, mas já sabe disso"
"Não beba muito, tomei a liberdade de escolher o nosso jantar"
"Por que isso não me surpreende senhor Carsson?"
"Não ando dispondo de muito tempo, estou implantando negócios aqui no Japão"
"Que horas são ai?"
"Seis da manhã"
"Sempre acorda tão cedo?"
"É a hora que eu estou correndo normalmente, mas sim, acordo cedo, e você?"
"Levanto as cinco"
Cinco? Cinco é bem cedo para uma mulher acordar todos os dias...
"Tão cedo?"
"Não sou rica, não tenho uma vida confortável, não corro, mas eu trabalho"
Não merecia essa, mas novamente há um sorriso em meus lábios.
"Ai"
Ela demora um pouco para voltar a digitar.
"Meus detalhes"
"Gosto da sua curiosidade"
"Foi por isso que dormiu comigo Carmen San Diego?"
"Oh não, uma viciada em desenhos como eu!"
Caramba, uma mulher que gosta desenho.
"Hoje sou mais eclético"
"Meus detalhes"
"Pergunte"
"Eu... bem... eu fiz sexo oral em você?"
Olho para baixo e estou rindo caralho, ela realmente quer saber o que aconteceu?
"Não"
"Você fez em mim?"
" :) sim"
Daria tudo para ver a cara dela.
"Eu gostei"
Ela provavelmente está morta de vergonha, eu não, só de lembrar o papai já fica todo
duro, apelido o meu cacete assim.
"Você está brava por isso?"
"Não"
"Gosto da intimidade que compartilhamos"
Gosto de você!
"Você é linda"
—Estou conversando com você coisas que nunca disse para mulher alguma na minha
vida, não conto com Soraya, ela não foi bem minha mulher... acho bom valer apena.
"Conversamos sobre muitas coisas, fizemos apostas juntos, depois bebemos, subimos
para o quarto e depois você disse que era a melhor noite da sua vida"
Continuo a digitar.
"Nos divertimos muito"
Ela enfim envia uma mensagem.
"Você gostou?"
Quero mais.
"Sim"
"Fui tipo romântica?"
"Não, por quê? Você tem um lado romântico?"
"Não"
"Você é ótima"
"Está me agradecendo por ter feito sexo com você senhor Carsson?"
"Não :) "
Sou avisado que estão servindo a salada dela.
Envio um áudio.
—Essa salada é servida com queijo de búfala, está embaixo dela.
"Boa salada senhor Carsson"
"Boa salada querida"
Como o meu cereal, e fico olhando para tela do celular esperando... não resisto, ligo para
ela, Maria demora, demora, mas atende.
—Senhor Carsson.
—Está apreciando o nosso jantar?
—Pensei que fosse me mandar mensagens!
—Cansei de digitar.
—Hum.
—O que está usando?
—Fala sério?
—Dim.
—Tênis, jeans e camiseta, e você?
Sorrio.
—Calça, camisa e tênis, não sou muito formal.
—Nerds... all star?
—Garota esperta!
Ela ri, isso me faz muito bem.
—O que foi?
—Seu sotaque, é engraçado!
—Você precisa aprender inglês.
—Para falar com você?
—Por que não?
—Não vamos ter contato quando eu voltar para o Brasil.
Você que pensa...
—Talvez tenhamos — falo — Espero que goste de tofu com verduras ao vapor, já disse
que sou vegetariano?
—Corre... não come carne... conserta computadores resultado do teste: bom partido!
—Eu gosto do meu estilo de vida, eu também faço aula de judô e você?
—Sua salada é bem barulhenta!
—Desculpe — peço — Estávamos falando dos seus esportes prediletos.
—Eu gosto dos jogos de inverno na tv e de seriados de tv, ultimamente meu esporte
predileto é ver se consigo apertar o botão do controle mais rápido possível.
—Nada de programas ao ar livre?
—Às vezes a minha mãe nos obriga a fazer trilha por causa do meu padrasto, ele quem
curte correr e tal.
—E você não curte?
—Na verdade eu nado, isso não é bem um esporte.
—Seu padrasto é atleta?
—Ele é personal, ele tem trinta e sete, mamãe quarenta e seis.
—Sua mãe é muito jovem.
—Ela me teve com 18 anos.
—Você não pensa em se formar?
—Você é formado?
—Sim, eu sou formado em física!
Ou seja, para uma mulher: Tédio!
—Isso te surpreende?
—Pensei que mexesse com blocos e lego!
—em parte sim, eu não exerço, mas me ajuda muito no meu trabalho.
—Entendo.
—É importante estudar.
Não sei por que estou falando isso a todo momento, inferno, e daí se ela trabalha num call
center e não é formada?
—Eu estudo!
—Mesmo?
—Sim, eu estudo a noite, não precisa me dar sermão.
—Não estou passando sermão, é que sempre falo isso para todos que conheço —
pigarreio — Ok, estou sem assunto.
Fico sem graça.
—O que você faz?
—Direito.
—Poxa.
Me acomodo na poltrona, realmente agora impressionado, já deveria saber que ela tinha
formação, ela é inteligente, me recordo de algo.
—Denzel não gostou de você, ele reconhece um advogado de longe.
—Também não gostei dele.
—Não? Mas pensou que ele fosse eu.
—Bem, o que esperava? Você sumiu, Olaf disse que me levaria para falar com o patrão
dele, achei que ele fosse você.
—Denzel prefere meninas populares.
Fico curioso quanto a algo.
—Achou ele bonito?
—Que pergunta idiota.
—Responda!
—Um pouco, ele não é tão legal como você.
—Denzel é mais novo que eu, tem vinte e três anos, gosta de sair.
—Você não?
—Já tive a minha fase, hoje sou mais quieto.
—Bem, você é jovem.
—Não penso dessa forma, quando eu tinha a idade dele já tinha parado de sair a um
bom tempo... ok eu nunca fui de sair.
Ela ri do outro lado da linha, coço a cabeça, porra, a risada é como um choque bom que
percorre o meu corpo.
—E você?
—Eu não gosto de sair Senhor Carsson.
—Você não gosta de sair no Rio?
—Não tenho tempo, ultimamente ando muito envolvida na faculdade, e o meu trabalho é
de período integral.
—Gosta de ler?
—Muito.
—Percebi, você ficou falando toda hora sobre o Senhor Darcy.
Bebo mais um gole de café.
—O cara perfeito... não sei o que as mulheres veem nele.
Eu sei...
—Gosto do livro, eu gosto de literatura.
—E por que fez direito?
—Por que não tem esse curso no Brasil.
—Não pensa em exercer?
—Claro que sim eu amo o meu curso, vou prestar concurso assim que pegar a minha
licença.
—Já tirou a licença da ordem?
—Sim, eu fiz antes.
Estou impressionado.
—Garota esperta!
—É um elogio?
—Uma observação, gosto de mulheres inteligentes.
—Gosto de cenoura cozida.
Rio.
—Não precisa ficar na defensiva querida.
—Eu não estou.
Fico em silêncio porque nesse exato momento vejo Bea entrando pela porta da frente do
escritório, faço um gesto com a mão.
—Preciso desligar.
—Ok, tchau.
E nem faz cerimônia, ela desliga.
Olho para minha prima, ela sorri, os olhos azuis do meu tio no qual chamo de pai desde
criança, cabelos escuros como os dele, ela usa franja e os cabelos negros caem em ondas pesadas
na altura dos ombros, mesmo com sua beleza clássica e estonteante eu jamais consegui vê-la de
uma forma diferente desde que começou a trabalhar para mim, Bea é linda.
Bea se aproxima com as pastas, ela nunca mede esforços para me ajudar, nem ela, nem
Joanne nem Helena, minhas três primas, as únicas que considero realmente, por mais que nosso
entrosamento seja mais profissional que pessoal.
—O avião já te espera.
Sorrio e me levanto, bebo o resto do café, Bea sorri.
—Pode ir despreocupado.
—Obrigado Bea.
Pego as minhas coisas no sofá e guardo meu note e objetos pessoais na mochila.
—Humm. — Ela pigarreia, eu a olho. — E se a senhora Soraya procurar pelo senhor?
—Diga para ela que eu precisei ver a minha namorada.
Bea arregala os olhos, sorrio, sei que ela acha que eu e Soraya temos um caso, mas
realmente não é o caso, nunca foi.
—Nos vemos em Nova York em alguns dias, obrigado Bea, boa inauguração.
Ela faz que sim, me aproximo dela e beijo sua cabeça.
—Se cuide.
—Sim senhor.
Ela está vermelha como um pimentão, Bea é para mim como a Júlia, a minha irmã mais
nova, as três são, me afasto e coloco a mochila de lado.
—Estou no celular qualquer coisa Bea, mais uma vez obrigado.
—De nada.
Deixo Bea sozinha na sala e pego o meu elevador privativo, tenho um em cada uma das
minhas empresas, é exigência minha em todo e qualquer prédio onde monto um negócio, seja ele
da BCLT ou negócio próprio meu.
Privacidade! Chego o celular e estou novamente olhando para foto dos lábios de Maria,
sorrio.
—Em algumas horas estaremos juntos querida... Não adianta resistir!
Reencontro
Estou nervoso.
Acabei de chegar e não fui para o hotel, estava a todo momento me preparando para
quando ela viesse vir me ver, até então me sentia um pouco seguro, me sentia... Até o pavor me
tomar por completo, agora o meu carro está estacionado no pátio pequeno do hotel onde Maria
está hospedada, e eu realmente não sei como farei tudo.
Não foi uma escolha, não tive alternativas, Olaf já foi, e está sob minhas ordens, ele irá
trazer ela, e nos reencontraremos depois desses dias afastados.
Quer Maria queira ou não.
Antes de decidir fiquei basicamente uma hora segurando a máscara na mão, sempre uso
uma dessas com as mulheres com quem saio, e nunca foi tão difícil tomar uma decisão em toda a
minha vida, sei que ela não irá aceitar isso, sei que ela irá ficar furiosa com isso, mas é o máximo
que eu consigo nesse momento, não estou pronto para que ela me veja.
Me sinto um covarde... um lixo.
Como posso pedir algo assim? Onde está toda a coragem que eu tinha até três dias atrás?
O que está acontecendo comigo?
Estava tão determinado em tê-la, em revê-la!
Em parte tento culpar o fato dela não se lembrar de mim, a péssima reação que Maria
vem tendo com tudo, sua rejeição, mas no fundo eu sei que tudo o que eu decidir de hoje em
diante será unicamente em função dos meus medos, da minha fobia, mas principalmente do que é
o melhor para mim... para ela. O celular chama e escuto uma pequena discussão familiar, ela está
de novo brigando com Olaf, expulsando-o, sei que ela está próxima do celular por conta de sua
respiração.
—Bom dia!
Gostaria de não soar com tanto sarcasmo, não estou feliz, bem, estou um pouco satisfeito
por ter voltado, mas já me preparo para tudo o que ela irá falar sobre isso, tão logo ela descubra o
que a aguarda.
—O que você quer?
Ela reage tão mal que acabo rindo, a contra gosto é claro, como não gosto de enrolação já
vou direto ao ponto.
—Já cheguei em Vegas.
Escuto o som de alguém chamando por ela, depois Maria fala:
—Ah, um momento!
Ela demora, demora, e começo a soar dentro do terno, ouço sua respiração e é ofegante.
—Acho que já viu Olaf, ele veio buscá-la.
—Não vou!
Nenhuma novidade!
—Justamente quando acabei de chegar à cidade e quero te ver? — questiono e não
escondo minha irritação.
—Sim.
Mas que mulher teimosa...
—Mas você vai!
—Não vou.
—Não me obrigue a buscá-la.
—Não caio nessa!
—Maria viajei mais de doze horas para vir te ver, estou exausto, por favor, não faça isso.
Logo de cara ela responde:
—Não posso ir.
—Sei que pode—insisto.
—Não quero te ver.
—Mas vai.
—Por quê?
—Porque eu quero!
—Como você é arrogante!
—Olaf tem ordens para trazê-la em dez minutos, até mais—Desligo.
E agora me resta esperar, ter fé para que ela venha, se ela não vier não medirei esforços,
apenas não sei se conseguirei chegar no andar onde ela está hospedada ao menos bem, mas eu
irei atrás dela.
Estou cansado disso.
Não consigo dormir, não consigo comer, e como se não bastassem todos os meus
problemas a única pessoa a quem eu dedico algum do meu tempo me rejeita.
Isso realmente me magoa.
Não deveria, nem poderia, afinal ela é uma pequena estranha para mim, mas estamos
casados e eu quis isso, ainda quero, então farei o possível e o impossível para tê-la ao meu lado.
Espero... e espero... e espero...
Não sou bom nisso, começo a ficar inquieto quando alguns carros entram e saem do
estacionamento, o hotel não é dos melhores e é bem movimentado, eu acho que perdi a Doroth
então não tenho em quem descontar o meu estresse, passo as mãos nos cabelos umas três vezes
seguidas, meus pés batem no chão do carro impacientemente, e minhas mãos tremem um pouco.
Sintomas de Escopofóbicos, basta saber que tem pessoas por perto e eu já fico assim, a
beira de um ataque de nervos.
Então a porta do carro se abre, e em menos de quatro segundos depois ela cai por cima de
mim, ela tenta se ajeitar, mas eu consigo pegá-la pelos braços, sua respiração é rápida, ela está
assustada.
—Cuidado! — é o que eu consigo falar.
Parece tolice... é tolice, ela está vendada! E eu mal acredito que ela concordou em usar a
máscara de dormir.
Olaf fecha a porta e assume o volante, seco as mãos na calça e seguro a mão dela, beijo
seu pulso, essa é a minha primeira vontade, Maria ainda parece completamente confusa.
—Que bom que veio — falo, e estou sendo absolutamente sincero.
—Hum, é?
Ela Pigarreia.
—Por que a essa máscara de dormir?
—Você está bem? — não gostaria de tentar explicar isso para ela nesse momento.
—Acabei de acordar — responde e parece nervosa.
Não resisto.
—Por isso está irritada?
—Não exatamente, minha amiga levou o...o... namorado dela para o quarto da gente, e
quando acordei... você sabe!
Mantenho as mãos em cima das dela, eu a olho, e a olho, e apesar de me sentir
desconfortável estou aliviado.
—Vou dar um jeito nisso — garanto.
—Hum, mesmo?
—Sim, mesmo — reafirmo — Quantos dias até suas férias acabarem?
—Três — a voz dela é mais cordial.
—Ótimo — digo — Não mereço um beijo?
Ela está apavorada, Olaf já está dando ré com o carro.
—Não?
—Não escovei os dentes.
Sorrio, a desculpa dela não me convence.
—Não me importo.
—E se eu não quiser?
—Por quê?
—Você pergunta demais senhor Carsson.
—Não vejo problema em nos beijarmos.
—Você acha tudo isso tão normal né?
—Sim por que não? Pessoas se beijam todos os dias.
—Eu não.
—Terá que adquirir ao hábito!
—Como consegue ser tão pedante?
—Minha mãe me criou assim.
Entrelaço os dedos nos dela e a puxo para perto, não penso duas vezes antes de colar um
beijo leve em seus lábios, apenas um selinho, sentir essa maciez inesperada é maravilhoso, Maria
umedeci os lábios e isso é bem mais tentador, tento me conformar.
—Viu? Não doeu.
Ela fica parada feito uma estátua, em silêncio, tenho absoluta certeza de que não gostou,
isso me deixa triste.
—Não fique brava — falo — Estou tentando consertar tudo.
Mais silêncio, e no lugar da raiva tudo o que começo a sentir é decepção, vê-la usando a
máscara é... deprimente, simplesmente não era algo que eu queria ou planejava, ter a memória de
Maria sorridente e com seus lindos olhos brilhando para mim é muito melhor do que ter isso...
seu silêncio, sua rejeição e uma venda em seus olhos.
—Vamos para minha suíte, você poderá ficar comigo lá...
—Jack por que você acha que eu quero participar disso?
—Ótimo, você voltou a me tratar normalmente.
Ela se endireita, assim, movendo os ombros para trás, faz isso quando parece querer falar
algo, mas guarda para si, toma cuidado...
—Eu não sou obrigada a ficar com você depois que nós dormimos!
—Fala mais devagar, não entendo quando fala muito rápido.
Também não gostou do meu pedido.
—Eu não vou ficar com v-o-c-ê!
Quero rir do jeito como ela falou a última palavra.
—Querida já estamos juntos.
E sorrio quando ela começa a fechar a cara.
—Sobre a máscara de dormir, prefiro que seja assim.
—Por quê?
—Por que sim.
—Porque sim não é resposta.
Boa!
—Vai se acostumar com esse porquê sim, pelo menos por enquanto.
A boca dela treme, desvio o olhar para o lado.
—Eu não quero encontros a cegas — Maria faz uma pequena pausa — Por que isso?
—Vai saber na hora certa.
—Você é tipo o cara do Fantasma da Opera?
—Talvez eu seja — faço uma voz agourenta.
—Você adora essa situação, não é?
—Cada segundo querida!
Ela ergue a mão para o rumo da máscara de repente, me assusto e seguro sua mão com
rapidez impedindo-a de tirar a máscara.
—Não — digo desesperado. — Não faça isso entendeu? Nunca!
Ela arfa assustada, e percebo tarde que a força que dedico em sua mão é bruta, Maria
geme, algo doloroso e muito baixo, imediatamente solto sua mão, e eu a vejo recuar para outra
ponta do banco como um animal assustado e sentido, ela aperta a mão que acabei de machucar
com o meu "momento de fúria". Eu a vejo agora com medo de mim e mais uma vez sinto que
devo deixá-la partir, eu tenho que deixá-la partir, mesmo que não queira, estou machucando-a, eu
nunca a machucaria de nenhuma forma, nunca!
Mas o meu medo fez isso, o meu medo está atropelando toda e qualquer coisa que eu
venha a sentir por ela, querer com ela, fazer com ela.
—Me desculpe — peço, minha voz está presa em minha garganta, os lábios dela tremem,
ela quer chorar.
—Não.
Ela se encolhe agarrada a mão que apertei, sei que não medi a força, eu não vi, e não foi
intencional, não foi!
—Me deixe...
—Não toque em mim!
Maria está confusa, com medo, triste.
Não devo continuar com isso devo?
Ela não me quer!
—Poderia esquecer tudo... me deixar em paz.
Simplesmente não devo, mas também eu não posso, temos um laço mais forte que apenas
uma noite em Las Vegas.
—Não posso!
Penso bem no que vou falar para ela, ao menos por agora.
—Temos que ficar juntos — digo sincero. — Vai entender na hora certa.
Ela novamente me dá o que mais detesto... seu silêncio.
—Ouça, não faça tantas perguntas, podemos tomar café juntos?
Já sei qual é a resposta.
—Tenho escolha?
—Mínimas.
—Chegamos! — Olaf comunica. — O Senhor Denzel já o espera.
—Ótimo! — falo. — Preciso resolver algumas coisas com ele, Olaf leve-a para o meu
quarto e peça que sirvam o café para Senhorita Barbosa.
Eu a vejo lentamente sorrir, acho tão estranho as reações que Maria tem a mim, parece
que hora me odeia, hora ela até me acha engraçado... E mesmo que ela não queira — e nem
aceite — seguro sua mão e a beijo, minha forma de me desculpar pelo o que fiz a pouco, posso
não ser o mais cordial e doce dos homens, — doce jamais — mas eu também não sou um bruto
completamente.
—Você e eu já nos falamos bebê.
Analiso-a mais uma vez e saio do carro.
Me afasto e vou para o restaurante do hotel pelo caminho que sempre uso, passagens de
funcionários, é menos movimentado e discreto, Alejandro me espera com o mesmo semblante
fechado de sempre numa das mesas privativas do lugar, logo que me sento ele me lança um olhar
bastante sério, não tenho tido contato direto com os meus irmãos a anos, o meu mais estreito
contato é com ele e com Júlia, são mais novos, e também ele é meio problemático.
As vezes quando eu olho para minha vida e penso que ela é uma droga lembro das vidas
dos meus irmãos e me sinto muito melhor.
Não deveria, e pensar dessa forma cínica é algo errado, mas é verdade, Alejandro tem
Depressão, Jonas é gay, Ph um covarde e fútil e Júlia volátil e infantil... com irmãos assim quem
precisa ir ao circo?
—Eu li o contrato e já fiz algumas formulações com cláusulas...
—Resumindo...
—É válido!
Não me incomodo com isso, já sabia que era válido, mesmo que não fosse um contrato de
casamento formal e adequado, eu e Maria estamos casados e eu sou bem ciente disso.
—Você sabe que ela tem direito a metade de tudo o que é seu certo?
Suspiro, coço a nuca, mas não é exatamente isso o que me preocupa.
—Ela pode anular o casamento?
Alejandro me olha como se a minha pergunta fosse algo absurdo demais.
—Você está de sacanagem certo? — questiona boquiaberto. — Acabei de falar que ela
pode te tomar metade de toda a sua fortuna e você está preocupado se ela pode ou não anular o
casamento?
—Eu quero ficar com ela — respondo e dou de ombros, Alejandro me fita como se eu
estivesse louco, olho para o lado. — Gosto dela.
—Gosta? —berra.
As vezes ele também é exagerado, é mal de família, contudo preciso deixar bem claro
que não pretendo me divorciar de Maria ou anular o casamento —mesmo que seja o mais sensato
e o prudente a fazer — tão cedo, ao menos não por enquanto.
—Jack... — Alejandro respira fundo e analisa alguns papéis. — Bem, primeiro vamos lá,
segundo o seu último extrato bancário, você tem uma movimentação mensal em suas contas
particulares de aproximadamente cem milhões de dólares, isso quer dizer que tecnicamente,
desse dinheiro, e eu ainda não estou falando nem sobre o patrimônio líquido da BCLT e das suas
outras microempresas na Europa e Reino Unido, você teria que ceder aproximadamente para ela
cinquenta milhões de dólares...
—Resumindo, eu vou ficar com ela e você não pode fazer nada sobre isso — corto e
Alejandro fica me encarando abismado.
—Entendo que essa garota tenha te dado uma noite...
—Não se refira a ela como alguém fútil ou vazia porque ela não é — interrompo
novamente.
O garçom se aproxima e nos serve café, o meu bem forte e sem açúcar, o de Alejandro
com várias colheres de açúcar, eu e ele nos encaramos sempre de igual para igual, deve ser
porque somos filhos do mesmo pai, dois topetudos que adoram uma briga, o meu irmão também
não é flor que se cheire, tem um gênio do cão, e nesse sentido creio que sejamos todos nós, eu
ele e os outros três, o garçom sai.
—Papai vai saber disso!
—Pensei que você já tinha contado para ele — insinuo indiferente. — Você adora uma
fofoca.
—Jack ela talvez seja uma golpista!
Eu sei disso..., Mas Maria não sabe quem sou eu, ela não se lembra, e acho bem
impossível que esteja fingindo não gostar de mim.
—Você tem que se situar, você é um cara inteligente e...
—Está insultando a minha inteligência justamente com o fato de insinuar que eu não
tenho maturidade o suficiente para lidar com as minhas escolhas Alejandro — respondo e bebo
um gole do meu café. — Ela é uma mulher comum e ela não vai me dar um golpe.
—Você está apaixonado por ela?
—Ela é diferente!
—A pergunta não foi essa!
—E se eu estiver?
—Jack... isso não combina com você.
—O que não combina comigo?
—Gostar de alguém, querer casar.
Isso realmente me ofende.
Claro que não pensava em casar, mas será que a minha família achava que eu nunca
procuraria alguém para mim?
Talvez a pergunta seja: Será que eles achavam que nunca ninguém fosse me querer?
—Você sempre foi só, você é diferente...
—Quem se importa? — questiono e me levanto, bebo o resto o café. — Você vai
registrar devidamente esse contrato de casamento no cartório.
Alejandro fica de pé e calado faz um breve assentir com a cabeça, ele já entendeu que eu
não vou mudar de ideia, ele recolhe os papéis e vamos juntos para o elevador, Olaf me avisa que
já está subindo com ela via chat, então eu e o meu irmão esperamos o elevador.
—Você vai se arrepender de ter se casado com ela.
Olho para ele e sorrio de lado.
—Que pena que não é você, ou do contrário, teria que pular de uma ponte de tanta
indecisão não é mesmo irmãozinho?
Alejandro bufa de raiva, sei como provocar ele, como irritar.
As portas do elevador se abrem e entramos, logo depois se fecham, Maria está cabisbaixa
com os lábios trêmulos, ela chora, sei que sim, e se encolhe novamente com medo.
—Ela nem é lá essas coisas — provoca Alejandro. — Parece um bicho assustado.
Ela se encolhe mais ainda apertando o braço envolta do de Olaf.
—É o meu irmão — explico depressa. — Não se preocupe.
O elevador vai subindo lentamente e os meus olhos estão em Maria, escuto o som do
celular dela tocando, Spice Girls, Alejandro sorri com cara de deboche e ignoro, eu a vejo
apressada enfiar a mão na bolsa e pegar o celular, é daqueles antigos com flip.
—Oi! — soa ela. — Tenho que resolver algumas coisas...sim... sim eu vou, só preciso
resolver e depois volto para o hotel... Gina levou um cara para o quarto isso é contra as regras...
não Sah! — faz uma pequena pausa. — Sah, faz assim, quando eu estiver saindo daqui eu te ligo
tá? Você me busca?
Maria faz mais uma longa pausa.
—Nando?
Nando? Quem é Nando?
—Falei com ele... por quê? — Ela soa irritada. — Ele te contou isso?... Vergonha de
mim?... Não entendo que ele não queria falar isso para mim? Eu converso sobre tudo com ele.
Quem é NANDO?
—Não por ele não falar, mas por que ele me omitiu isso, não entendo... entendo, nos
vemos mais tarde então? Beijoca — e desliga.
—Quem era? — quero saber, exijo, quem é Nando?
—Minha amiga.
—Quem é Nando?
Maria treme ou coisa assim, parece com medo, depois respira fundo e fala:
—Fernando é o meu filho.
—Tem um filho? — questiono incrédulo.
Meu estômago gela, e fecho os pulsos, sou pego por uma surpresa ruim e ao mesmo
tempo forte demais, parece que alguém acabou de me golpear a barriga com um soco.
Maria tem um Filho!
—Foi o que eu acabei de falar.
Fico calado absorvendo-a quieta, Alejandro engole um sorriso de pura convicção e
maldade, eu sei, ele está adorando cada segundo.
—Quantos anos ele tem? — ouso perguntar.
—Dez anos.
—Dez anos?
Caralho, dez anos?
—Deveria ter me dito — protesto e tento me acalmar ao máximo.
—Pensei que soubesse de tudo senhor Carsson — retruca com sarcasmo.
Não tenho resposta, obviamente que estou pego por uma surpresa abrupta e forte, porque
para mim, não entra na cabeça que Maria não era virgem, ela era virgem, eu senti, eu sei que sim,
como ela pode ter um filho sendo virgem?
As portas do elevador se abrem, Olaf a libera, ele e Alejandro saem do elevador, meu
irmão sorrindo feito um imbecil — ele é um imbecil — ela ergue a mão e coloca sob a máscara,
seguro seu pulso depois com cuidado deslizo a mão até a dela, não quero machucá-la.
—Por que você teima tanto? — me irrito, mas não resisto. — Quero outro beijo.
—Estamos sozinhos? — a voz dela é baixa e ainda receosa.
—Sim.
O Elevador volta a subir, Maria toma fôlego me aproximo e beijo ela, não penso, tento
não pensar, passo os braços envolta de seu corpo quente, corpo que foi o meu refúgio a alguns
dias, meus lábios se fecham no lábio inferior dela e eu chupo sem me importar com mais nada,
da vontade de morder, e essa boca... ah eu quero mais dessa boca.
—Não resista! — me afasto um pouco.
Ela respira com força, parece tremer.
—Posso tocar o seu traseiro? — é a primeira coisa que me vem à cabeça.
Silêncio.
—Deixa — peço, parece que me humilho... não acredito que estou pedindo isso para uma
mulher.
—Você o tocou naquela noite? — pergunta baixinho.
—Sim — respondo, muito mais que isso. — Gosto disso, deixa?
Suspiro, estou sendo tolo, não devo, mas falo o que realmente sinto nesse momento.
—Você faz com que eu me sinta vivo... como nunca.
—Hum. — Ela pigarreia. — Posso saber por quê?
—Não sei.
Beijo a boca que desejo, um beijo leve, mas os lábios dela estão semi fechados, Maria
resiste.
—Não resista — peço.
Estou quase implorando por um beijo seu!
—Já disse isso!
—Então...
—Precisamos conversar as coisas não são assim.
—No meu mundo são.
—No seu mundo pessoas normais não conversam?
Me afasto, o meu grande problema talvez seja esse: não sou bom em conversar.
—Conversam — falo. — Você é muito impaciente!
—Nunca me levaram para passear sem a focinheira senhor Carsson — sua voz está
magoada.
—Está se comparando a um cachorro? — me sinto ofendido.
—Um cachorro ao menos teria a dignidade de ver algo.
—Maria... apenas entenda que por enquanto eu quero que as coisas sejam assim.
Chegamos ao meu andar, seguro seu braço e eu a puxo para fora do elevador, realmente
não gostaria que fosse assim, Maria vem a força, eu sei que ela prefere estar em qualquer lugar
menos aqui, mas a partir de hoje esse é o seu lugar, ao meu lado.
Depois que entramos puxo ela para mim, eu a aperto, é um contato que eu preciso, eu
quero, Maria coloca as mãos no meu peito pega de surpresa, quero muito mais que apenas
abraços e beijos.
—Eu sinto se isso está te ofendendo de alguma forma — digo. —, mas eu sou assim, é o
meu mundo.
Abaixa a cabeça, respiro fundo.
—Maria?
—Já posso ir embora?
Estou decepcionado, nem sei porque, ela se solta dos meus braços e se afasta esticando as
mãos no ar, sorrio do jeito como ela anda, pernas abertas, braços vasculhando o ar, me aproximo
e passo o braço envolta dela, e a puxo novamente e vamos para o quarto, nos aproximamos da
cama e eu a pego em meu colo, a deposito na cama, e eu a vejo se ajeitar no colchão toda sem
graça.
—Vamos conversar — falo e me afasto. — Vou pedir um café para nós dois, o que quer
comer?
—Estou sem fome obrigado.
—Um sanduíche de queijo quente então.
Não espero por resposta, vou para sala da suíte e faço o pedido via mensagem, resisto a
vontade de voltar para o quarto, e espero, impaciente — para variar — pelo serviço de quarto,
preciso fazê-la entender que deve ficar comigo, Maria tem que ficar comigo.
Depois de quinze minutos o serviço de quarto aparece, a moça deixa tudo no carrinho e
questiona se quero algo mais, digo que não e agradeço, depois que ela sai pego a bandeja com os
mistos num prato e o café numa caneca e levo para ela, coloco a bandeja diante dela e entrego a
caneca em sua mão com cuidado, beijo sua cabeça, gostaria muito que ela não parece ter medo
disso... mal sabe ela que eu tenho muito mais medo disso do que ela.
—Coma! — seguro sua outra mão e coloco o sanduíche nesta, pego um sanduíche para
mim e mordo.
Ela demora um pouco mas bebe um gole do café.
—Coma, por favor — peço.
Me obedece a força é claro, suspirando e fazendo cara de birra.
—Como é a vida no Brasil? — pergunto, não sou bom em puxar assunto, e quero evitar
ao máximo perguntas sobre a máscara.
—É boa.
—Você vai muito a praia?
—Às vezes, não muito.
—Não seja vaga — falo. — Eu não vou à praia.
—Que pena.
—O que faz nos dias de folga?
—Durmo, vejo tv, leio, essas coisas que todo mundo faz.
—Não sai para correr?
—Não gosto.
—Não é saudável.
—Senhor Carsson eu não gosto, e também, eu organizo a minha casa.
—Não mora com sua mãe?
—Eu moro no andar de cima.
—Qual a sua cor favorita?
Que pergunta estranha!
—Azul.
—Azul... celeste?
—É. — Ela concorda.
—Tudo bem — levanto-me. — Fique aí.
Eu a deixo comendo, saio do quarto pois meu celular vibra, dou uma breve olhada,
papai... ignoro a chamada e retorno para o quarto, agora não tenho tempo para atender ele.
—Me fale mais do Brasil.
—O que quer saber?
—Sobre onde mora, seus pais, sua infância.
—Não tenho muitas coisas para falar, eu sou um tédio, moro com meus pais, meu filho,
minha irmã e um cachorro, minha infância foi... normal.
—Gosta da sua vida?
Quero saber mais e mais sobre ela.
—Gosto.
—Quem paga os seus estudos? — deixo o meu meio sanduíche de lado.
—Acho que já deve ter percebido que eu não sou rica.
—É? nem tinha passado pela minha cabecinha difícil.
Sorrio, mas não por querer, as respostas dela são evasivas e curtas, mas não exercem
efeito algum sobre mim, mas o que realmente me encanta na minha querida e geniosa esposa é
sua teimosia.
—Quem Maria?
—Eu pago.
—Você?
Isso definitivamente me surpreende.
—Tenho vinte e oito anos, acho que já posso pagar as minhas contas Senhor Carsson.
—Bem, é que os pais costumam fazer isso pelos filhos.
—Seus pais são ricos.
—Eu não tenho pais.
É algo bem espontâneo
—Fui criado pelo meu tio, meus pais morreram quando eu tinha sete anos, eu e os meus
quatro irmãos fomos criados por ele.
—Sinto muito.
Ela é tão sincera... me sinto cativado.
—Eu fui para universidade com bolsa de estudos.
—Que bom, eu não consegui, na época o Fernando só tinha seis anos, não tive tempo
para estudar para um vestibular decente.
—E o pai dele?
Toco suas mãos e as acaricio com cuidado, gostaria de não a ter machucado mais cedo no
carro.
—O pai dele e eu não temos contato, ele é casado e tem dois filhos com ela.
—Ele a ajuda com a criança?
—Não e eu prefiro assim.
—Por quê?
E abaixa a cabeça.
—Prefiro não falar.
—Quero saber.
—Por quê?
—É importante saber sobre você.
—Minha vida não é interessante.
—Por que acha isso?
—Eu sou normal e sem graça.
—Maria eu nunca conheci alguém tão engraçada e divertida quanto você em toda minha
vida — faço uma pequena pausa. — Você é muito teimosa...fale!
—Eu não gosto dele, é simples, nós nos envolvemos quando eu tinha dezessete, depois eu
fiquei gravida e tive o Fernando, ele nunca gostou do meu filho.
—Como assim não gostou?
—Não gostou! Ele não tem sentimentos por ele, ou você acha que todo pai quer um filho
assim como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo?
Me deito e puxo ela para o meu lado, tiro os sapatos, eu jamais trataria um filho meu
dessa forma, pelo contrário, tudo o que vivi... jamais faria isso com uma criança, tão pouco
rejeitá-la, o mínimo que poderia dar a um filho é o meu amor.
—Não parece ter tido um filho — em nenhum sentido. — Ele não queria que ficasse
grávida?
—Na verdade foi tudo... complicado.
—Por quê?
—Bem, acho que na época eu era muito ingênua, e o Senhor?
—Preciso dizer que eu não tenho filhos!
—Nunca deixa suas namoradas te verem?
—Só me envolvo com pessoas que tem os mesmos gostos que eu — não minto em
nenhum sentido em relação a isso.
—Como funciona isso?
—Eu decido que quero que seja assim, a pessoa concorda e pronto!
—Por quê?
—Porque eu quero.
—Nossa, tanta humildade que eu estou até contagiada.
Começo a rir, quero tocá-la, beijá-la... quero tantas coisas com essa estranha com quem
me casei, mesmo que ela não queira, mesmo que ela não entenda.
—Sou uma pessoa pública — relativamente sim.
—E acha que eu quero que as pessoas saibam que dormi com você?
—Na verdade me preocupo mais com as chances de você acabar sendo perseguida por
alguém por minha culpa.
—Sei.
Ela faz pouco caso de mim, e eu continuo a sorrir feito um idiota por conta disso.
—Digamos que isso é um... fetiche.
Parece surpresa, gosto quando Maria demonstra reações diferentes porque isso significa
que ela se importa... ao menos um pouco.
—Não gosta de fetiches?
—Não tenho nada disso, eu acho que ainda prefiro as minhas pantufas do Mickey.
—Gosta do Mickey?
—Sah me deu elas de presente, eu gosto.
—Quem é Sah?
—Minha melhor amiga.
—Ah, a morena!
—Voltando ao fetiche, você gosta que não te vejam?
—Mais ou menos, se me visse não teria graça.
—Te vi a dois dias.
—Mas não lembra.
—Talvez me lembre de algumas coisas.
—E gosta do que lembra?
Seguro sua mão e a puxo, beijo seu pulso novamente, já que não me deixa beijar a boca,
posso beijar em outros lugares... por enquanto.
—Não me apego as aparências.
—Não? — acaricio sua mão, é difícil acreditar, mas sei que ela não mente — Talvez não
goste do que venha a ver.
—Talvez eu não me importe com isso.
—E se eu for... deformado?
Maria imediatamente se solta da minha mão e se ergue, essa pergunta magoou ela e não
sei por que... para mim ela ainda é um grande Mistério!
—Acho que quero ir embora, agora é sério, preciso encontrar minhas amigas!
—Por que está magoada?
—Por favor, eu estou pedindo que me deixe ir.
Ela está implorando, e isso é muito doloroso, não sei... Mas não posso prendê-la, ao
menos por agora, seu tom de voz me diz claramente que por hoje já deu.
—Tudo bem — levanto e me afasto mais uma vez.
Novamente, papai torna a me ligar, acho que não posso ignorar, a essas alturas Alejandro
já deve ter fofocado para ele sobre os meus planos, Maria já calçou as pantufas do Mickey, deixo
o celular na cama e me aproximo dela novamente, eu a pego pelo braço e a puxo mais para perto,
a olho.
—Nos vemos a noite então — falo concreto.
Meus olhos estão em seus lábios mas resisto, beijo sua cabeça, cheira a algo doce... o
cheiro dela, depois Olaf já está entrando no quarto e eu a entrego para ele, eles se afastam e eu
vejo meu pequeno sonho entrar no elevador, demoro um pouco para me mover mas retorno para
cama e pego o celular, está tocando incansavelmente, eu já sei quem é e sei o que me espera,
atendo.
—Jack — papai chama do outro lado da linha muito antes que eu fale qualquer coisa. —
Que bom filho que se casou!
Surpreendentemente, mesmo que Maria não esteja aqui no quarto, me vejo, mais uma vez
sorrindo.
Nível 3 da obse... ops, Atração.
Ela não tem jeito!
Estou andando de um lado para o outro, preocupado, desorientado, acho que já liguei
para o Olaf pelo ou menos quarenta vezes seguidas, mandei mensagem, meu corpo todo se agita.
Maria Sumiu!
Ela simplesmente desligou o celular e desapareceu, e eu não faço ideia de onde ela esteja,
já tentei localizá-la de todas as formas, mas no momento não consigo, nem mesmo depois de
entrar em contato com a apple eu não consegui rastrear o celular dela, eu não sei o que foi que
ela fez, mas o celular não consegue ter sinal fixo, sou notificado algumas vezes de onde ele está,
onde ela deve estar, mas ela absolutamente sumiu.
Não entendo qual é o problema dela, porque ela faz isso, essa mulher é uma terrorista!
Mais uma vez mando mensagem para o Olaf e... Nada!
Ele está desde cedo na cola dela, não sei em qual momento a perdeu de vista, fico
nervoso só de pensar que Maria deve ter percebido que ele a segue, que ele a vigia, mas não
posso me dar ao luxo de deixá-la sem segurança alguma, eu não sai do hotel para nada, nem vou
sair.
Logo que ela partiu tive uma conversa de horas com papai, foi uma conversa tranquila e
muito boa, me sentia mais calmo, pronto para começar a colocar algumas coisas em prática de
acordo com alguns conselhos que ele me deu, tomei um banho, estava até mais conformado
mesmo que Maria me despreze, tomei alguns remédios e dormi, o máximo que consegui foram
três horas, logo que despertei liguei para ela e o celular já estava desligado, quando liguei para o
Olaf ele tentou me explicar que perdeu ela de vista durante o horário de almoço, Maria saiu do
hotel e ele não viu.
Como ele não viu? Ele é um merda de um segurança!
Depois de xingar ele e basicamente acabar com a vida dele por uns dez minutos seguidos
— e definitivamente esgotar a minha média de palavrões diárias — eu comecei a minha busca
via localização, sem sucesso, não consegui e nem consigo encontrar ela.
Ironia, ser dono de uma empresa de ponta em questões de Software de todas as formas e
não conseguir localizar se quer o celular da própria mulher.
Milhões de coisas já se passaram pela minha cabeça, mas a primeira coisa na qual fiz —
depois de surtar — foi ligar no hotel e chegar se ela já deu baixa nos registros, ela e as amigas
ainda estão registradas até esse momento, inclusive já fui notificado sobre as saídas de Sarah
Mello duas vezes, a outra não saiu, também sei quem entra e quem sai, e a única que saiu hoje e
não voltou foi Maria.
Essa mulher me tira do sério.
Essa mulher me tira de órbita.
Ela simples e absolutamente me enlouquece de todas as melhores e piores formas
possíveis.
Me questiono sobre seu atrevimento, sobre sua ousadia, por que ela não avisou? Por que
ela faz isso? Eu não posso ser a pior pessoa do mundo para não merecer ao menos algum tipo de
satisfação certo?
Afinal de contas somos casados... Mas ela não lembra disso também!
INFERNO!
CARALHO!
CACETE!
Ando de um lado para o outro, não consigo ficar quieto, o dia já se passou e a tarde já
está se esvaindo, e nada, nenhuma notícia dela.
Maria desapareceu.
Meu celular toca e quando vejo já atendi.
—Achei!
Meu corpo parece receber um choque de alívio, passo a mão nos cabelos e solto o ar dos
pulmões apressadamente.
—Onde ela está?
—No shopping, Center 345, com a Watson...
—Estou indo para ai agora, não perca ela de vista.
—Sim senhor.
A voz dele está cansada, desligo, não tenho tempo para me desculpar agora, se é que
devo, porra, ele achou ela, também deve ter ficado tão desorientado que deve ter caçado ele por
pura e espontânea pressão.
Pego o meu terno, não tinha pretensão de sair hoje, mas não posso simplesmente ignorar
isso, sei que ela vai resistir em vir me encontrar, ela faz isso muito bem. Desço no elevador
privativo, pego um dos carros que sempre ficam a minha disposição no estacionamento, as
chaves estão no porta luvas, logo me vejo dirigindo pelas ruas movimentadas de Las Vegas,
estou tão apressado para revê-la que nada mais me ocorre, só quero poder vê-la bem e segura,
apenas isso.
Esse shopping não fica tão longe do hotel, em vinte minutos estou estacionando numa das
vagas do estacionamento, permaneço com os vidros do carro fechados, nesse instante ligo para
Olaf.
Ele atende, e logo escuto a mesma discussão de sempre, vozes no fundo, o meu coração
está disparando tanto que parece que vai sair pela garganta.
—Pegue!
—Eu não...
—Senhorita, por favor!
Ouço sua respiração e já pergunto logo:
—Onde você está?
Pergunta idiota, eu sei que ela está aqui, estou nervoso, minhas mãos até tremem.
—Eu saí para dar uma volta.
—Por que não levou o celular?
—Esqueci.
—Quero te ver.
Ela não responde, também não espero, desligo, e fico olhando para o volante do carro em
silêncio, da vontade de quebrar alguma coisa, vou para o banco de trás, envio a mensagem para o
Olaf avisando que estou no carro do hotel e espero, tento respirar fundo e me acalmar, sei que
não é o momento para brigar, sei que se eu brigar só vai ser mais um motivo para ela querer
sumir, se isolar novamente.
Por hoje já deu.
Parece uma eternidade... até que eu os vejo se aproximando do carro, Maria já com a
máscara nos olhos, respiro fundo, Olaf está soado e com o semblante fechado, sei que apelei com
ele, falei coisas que não devia, novamente eu o magoei, ele abre a porta para que Maria entre.
—Fez compras! — falo tentando me manter calmo.
—Sim, boa noite senhor Carsson.
Olaf fecha a porta sem ao menos olhar na minha cara, me arrependo, mas na hora não
pensei direito, eu nunca penso direito quando estou sob forte estresse.
—Apreciou o passeio?
—Sim, foi muito agradável.
O nariz dela está avermelhado, Maria está como sempre, jeans, camiseta e tênis, é o que
ela parece gostar de vestir, os cabelos presos por um coque no meio da cabeça, ela não usa
maquiagem, não é muito o estilo dela.
—O que comprou? — vejo daqui que são livros.
—Livros.
—Nenhuma roupa?
—Não gosto das roupas daqui, são muito... coloridas.
Passo o braço envolta de sua cintura e puxo ela para perto, coloco um beijo suave em
seus lábios, eu a olho, ela andou chorando, sei que sim.
—Pensou sobre nós dois?
—É, acho que sim.
—Se acalmou?
—Um pouco.
—Vamos para o meu quarto, podemos jantar, quero que durma comigo hoje.
Olaf já dirige o percurso de volta para o Hilton.
—Eu não quero dormir... preciso conversar com as minhas amigas.
—Ligue para ela — coloco um beijo em sua bochecha. — Por favor.
Larga as sacolas no chão do carro, depois pega o celular dentro da bolsa.
—Ligue do meu!—sugiro apressado.
—Senhor Carsson não tem como eu digitar sem ver.
—Eu digito, fale o número.
Ela fala os números, depois quando coloco para chamar entrego o celular, me mantenho
bem perto dela, meu braço envolta de seu corpo.
—Sou eu. — Ela fala. — Eu sei, desculpa...estava no shopping, agora eu vou para o
Hilton...não dá, estou indo para lá, te ligo depois, amo você, beijo.
E desliga, me estende o celular.
—Você já jantou?
—Estou sem fome.
—Comeu?
—Não.
—Nem almoçou?
—Por que essa preocupação?
—Eu não quero que fique sem se alimentar.
Meus olhos estão nela, em seus lábios, por mais que tenha me enfurecido a pouco meus
sentidos estão voltados para ela.
—Quero te dar algo, acho que vai gostar.
—Não sei se posso aceitar.
—Mas vai.
Seguro sua mão e coloco em seu dedo a joia que foi da minha avó, papai já havia me
enviado ontem, me avisou hoje durante nossa conversa, não sei como ele fica sabendo de tudo
tão rápido.
—Quando chegarmos ao hotel e se trocar poderá ver—beijo sua mão e seu pulso com
suavidade. — Espero que goste.
—Jack... por que me deu um anel?
—Porque eu quero.
—Dá anéis para as suas amantes?
—Não!
Seguro seus quadris com firmeza e puxo ela de forma que se senta em meu colo, eu a
olho, Maria está dura.
—Você não é minha amante — falo com cautela.
Quero que ela pare com isso, a pouco quase tive um acesso de loucura com seu sumiço,
não sabe o quanto estou aliviado, tê-la por perto me alivia, seguro sua face e beijo seus lábios, e
mais uma vez ela permanece sem reação.
—Não resista!
—Não precisa ficar repetindo.
—Então o que é?
Ela não responde, mas sua boca está na minha, minhas mãos querem tocá-la muito mais
agora sei que assustaria ela — como vem sendo desde que nos reencontramos — seguro sua face
e beijo sua boca como sempre quis desde que a conheci, tomo a boca com força bruta, estou
tão... nervoso, beijo com intensidade, mas ela não corresponde, isso me irrita, ela perde o ar com
facilidade e me afasto também por que estou ofegante, porra!
—O que foi? — abraço ela — Maria, eu sei que não sou o maior exemplo de
romantismo, mas poderia ao menos fingir que me tolera?
—Não, eu realmente não fingiria isso — faz que não com a cabeça. — Eu apenas não sou
boa com essas coisas.
—Que coisa?
—Essas coisas... que fazemos.
—Não?
—Não!
Maria é um pequeno enigma que se forma em minha cabeça, eu definitivamente não
entendo ela, como uma mulher que tem um filho de dez anos pode ser virgem? Não ter
experiência alguma com homens? Antes de saber disso eu imaginava que ela era mais inocente
nesse sentido, mas daí agora ela vem com essa conversa de que tem uma criança e embaralha
tudo em minha mente.
Parece que ela não me corresponde por medo, por inexperiência e não por raiva, mas
como pode ser inexperiente se ela já teve um relacionamento?
Ela se afasta, vai para ponta do banco e coloca o cinto, percebo que suas mãos tremem,
seus lábios ainda estão úmidos pelo meu beijo.
—Sua timidez me cativa — falo chateado.
Maria se fecha... ela não quer falar.
—Quanto menos souber sobre mim melhor Maria, pelo ou menos por enquanto.
—Eu não me importo mais, faça o que quiser.
Ela também me magoa com essas insinuações, ela acha que faço tudo isso por querer, ela
acha que eu gosto dessa situação.
Perco a paciência que venho tentando ter a dias, puxo a máscara para cima e eu a tiro de
sua face, pego sua mão e coloco a máscara nela, estou a ponto de explodir com isso.
—Sua escolha então, vire se quiser.
Fico me preparando, ela vai virar, ela vai me ver, e isso está me deixando absolutamente
APAVORADO.
Mas não demora, ela se move e fecho os olhos com força, minha boca está seca e estou
soando frio, logo que abro os olhos espero pelo olhar dela, mas o que vejo é Maria novamente
com a máscara de dormir no rosto, meu coração está tão disparado que sinto que vai sair pela
boca.
Demoro alguns minutos para me recuperar disso.
Não acredito que ela não quis me ver! Não Acredito!
O carro para no estacionamento do Hilton, balanço a cabeça, e sei que algo dentro de
mim se dissipa... meu coração.
—Chegamos, quer ir para o seu hotel?
Minhas faces estão úmidas e não por mim, nem por querer, eu as seco rapidamente com
as costas das mãos, e me sinto grato por ela não poder me ver agora, estou chorando.
—Eu prefiro... é o melhor.
—Gostaria muito que ficasse comigo — seguro sua mão. — Por favor.
Ela abaixa a cabeça, depois lentamente faz um sinal positivo.
Meu celular vibra no bolso, verifico a mensagem, havia me esquecido disso também.
—Ótimo, Olaf vai levá-la para minha suíte, preciso resolver algumas coisas.
—Aqui no hotel?
—É, no restaurante com alguns sócios.
Maria umedece os lábios e prendo dentro de mim a vontade de me aproximar mais, não
posso, tenho medo disso por que sinto que é forte, muito forte, intenso, saio do carro e enquanto
me afasto tento respirar com mais calma, o tumulto estabelecido dentro do meu peito se alivia, e
já estou bem mais calmo quando chego no restaurante do hotel.
Meu assunto com Alejandro é curto, eu não sei por que ele ainda não foi embora, eu não
pedi para ele ficar aqui, um dos procuradores dele poderiam muito bem resolver isso para mim,
mas já tínhamos hora marcada.
Entro na sala privativa e ele já me espera muito bem sentado à mesa, acho que ele pensou
que papai rejeitaria os meus planos, o fato de que quero continuar com Maria, parece que mesmo
depois de anos ele não vê que papai é diferente de todas as pessoas dessa raça ruim que
chamamos de família, ou que ele chama, eu nunca fui e nunca serei um Carsson de verdade,
carrego apenas o sobrenome.
Me sento, o garçom trás dois cafés, Alejandro não fala nada, abre as pastas e indica os
papéis para que eu assine,
—Essa talvez seja a pior decisão que já tomou na vida Jack!
Eu o olho e assino a última folha, depois me levanto.
—Você não sabe o quanto estou feliz por essa péssima decisão Alejandro.
E saio da sala, nesse momento, tudo o que quero é apenas estar com Maria, nada além
disso.
Bato na porta.
Olaf a pouco me avisou que deixou ela no banheiro, ele se quer olhou na minha cara,
obviamente chateado, mas depois eu terei um tempo para falar com ele, sei que devo desculpas.
—S-sim? — Maria responde.
—Sou eu — aviso. — Já está com a máscara?
Ela demora para responder.
—N-não!
—Então coloque, preciso de um banho!
Preciso me acostumar com o ritmo dela, ter paciência, saber esperar... tantas coisas das
quais não estou acostumado, comigo as coisas são mais rápidas, ágeis, eu sou assim, mas para
Maria tudo é um processo mais lento, mesmo que ela esteja começando a se permitir ficar perto
as coisas para ela são bem diferentes também, preciso saber entender isso, por que sei que não é
qualquer mulher que aceitaria a minha pequena "proposta".
—Posso?
—Sim.
Abro a porta, e fico por alguns momentos observando-a dentro da banheira, os cabelos
soltos, a máscara de dormir no rosto, Maria abraça as pernas com força, incomodada
evidentemente, mas apenas essa visão é o suficiente para me deixar excitado, na verdade bem
excitado.
Vai com calma papai!
—Gostou da água? — me esforço para perguntar.
—É, e a reunião?
—Foi rápida — tiro os sapatos e começo a me despir. — Posso entrar?
—Na banheira?
O jeito assustado como responde me faz sorrir, as vezes ela é tão alarmada, exagerada
até.
—Melhor não então.
Entro no box, tiro o relógio e ligo o chuveiro, ligo o reprodutor do meu celular, sei que a
visão dela bem mais a frente não me ajuda nenhum pouco, preciso ao menos tentar relaxar,
mesmo que pareça impossível.
Radiohead ecoa pelo banheiro, e vejo através do box transparente Maria ainda parada, a
água não permite que eu veja muito além dos ombros dela, a banheira está cheia, tem espuma,
pedi via mensagem que preparassem esse banho para ela, quero que ela esteja sempre bem, se
sinta bem, também pedi uma camisola, mas isso foi bem mais cedo, antes de eu descobrir que ela
havia fugido.
—Tem que andar com o celular — puxo assunto. — Não pode ficar por aí sem ele,
precisamos nos comunicar querida.
—Sei — soa ela despreocupada.
—É sério — sei que ela faz pouco caso disso. — Fiquei preocupado.
—É? Com medo de alguém me embebedar e me levar para um hotel cinco estrelas?
—Não te embebedei — esclareço chateado.
Ela não responde, está com o queixo apoiado nos joelhos juntos, as mãos para baixo
d'água, ela não quer conversar...
—Você fica bem com o cabelo solto!
Ela toca os cabelos, parece envergonhada, nunca sai com uma morena como Maria, ela é
muito diferente das mulheres que conheci na agência, de Soraya, de tudo, em todos os sentidos.
—Não vejo nada de especial em mim, você... deve ser bonito.
—Por que acha isso?
—Sua boca... é bonita!
Estou surpreso.
—Isso importa?
—Na verdade eu não estou numa posição de escolha. — Ela toca os joelhos parece
pensativa. — Acho que eu não sou muito do tipo que ficaria com alguém pela aparência.
—Gosta de homens inteligentes?
—Claro, por que ficaria com alguém pela beleza? Um dia a pessoa ficará velha, a beleza
vai embora, isso é muito fútil.
Realmente não esperava por essa resposta, mas quero continuar o assunto.
—O pai do seu filho... ele é bonito?
—Bem, dizem que ele é bonito.
Estou incomodado.
—Mas o que você acha? — desligo o chuveiro.
—Não acho ele bonito, ele é muito arrogante.
—Ele tem dinheiro?
—Acho que já percebeu que eu não me hospedo no Hilton todas as vezes que viajo.
—Não ficaria com alguém por dinheiro também — eu sei que não.
—Acho que não combino muito com esse tipo de coisa.
—Então, o que te motivaria a ficar com alguém?
—Eu não sei, talvez a personalidade da pessoa.
—Sou explosivo.
—Eu já percebi.
Saio do box, pego a toalha na pedra do lavatório seco o rosto, e os meus olhos estão nela.
—Não sou bom, na verdade eu não presto, sou bem sincero quanto as chances disso dar
certo — vou para o lavatório e me encosto, cruzo os braços e analiso suas reações. — Mas por
que não judiar um pouco mais de você?
Ela não esboça se quer uma mudança depois disso.
—Você é ingênua — provoco. — Não a culpo por ter caído na minha lábia.
—Não o culpo por ter ficado bêbada e transado a noite toda com você —fala meio tímida
e começo a sorrir. — Isso não é engraçado senhor Carsson.
—É engraçado — me aproximo da banheira, ela parece novamente ter medo. — Quer
ajuda para sair da banheira?
Gostaria que ela tivesse uma reação diferente de "medo" ou "raiva" por mim.
—Eu quero ficar um pouco mais aqui.
Quer me evitar, mas não quero discussão.
—Te espero no quarto, vista o que eu comprei para você! — pego as roupas íntimas dela
e analiso a calcinha de algodão de cor branca, é enorme, quero rir.
Que tipo de mulher usa uma calcinha dessas? Parece um paraquedas!
—Não vamos fazer sexo!
Começo a rir, mas prefiro não responder, não sei se não vou tentar, estou tão confuso
com todas essas coisas que veem acontecendo desde que a conheci que prefiro não misturar isso
com sexo agora, acho que isso pioraria tudo, mesmo que eu saiba que não precise de muito
esforço para fazê-la ficar na cama comigo.
Maria é minha esposa e isso está se tornando uma tarefa complicada e difícil desde que
eu decidi que prosseguiria com essa decisão, tinha o intuito de tê-la comigo apenas uma noite,
mas então agora eu a quero em minha vida e isso é algo muito complexo para mim.
Toda essa coisa de relacionamento foi algo que eu sempre bani da minha vida.
A Atração é evidente, me sinto atraído por ela, mas não é apenas isso, mesmo que atração
que queime em mim seja muito forte, já me senti atraído por outras mulheres antes, também já
me envolvi em muitos jogos sexuais com elas, mas nenhuma delas mexeu tanto comigo. Essa
mulher não mexe comigo, ela me desmonta e sabe como fazer isso muito bem.
Visto uma calça de pijama, peço o jantar, e espero o tempo dela, fico sentado na cama do
quarto olhando para porta do banheiro a cada três segundos, e parece que ela demora muito mais
do que já é de hábito.
Depois de dez minutos — contados — vou até a porta e bato.
—Maria...nosso jantar.
—Já estou indo.
—Maria!
—Eu já disse que estou indo.
Envio uma mensagem para o serviço de quarto avisando sobre a roupa suja, deixei as
roupas íntimas dela junto com as minhas roupas numa das poltronas da sala, só de lembrar o
tamanho da calcinha quero rir.
—Se é que pode chamar aquilo de calcinha!
Não acredito que estou saindo com uma mulher que gosta de calcinhas grandes... melhor,
casado!
Ela abre a porta, a máscara já em seu rosto, e eu a observo na camisola de seda que pedi
para ela, a cor combinou perfeitamente com sua cor dourada, os seios dela são maiores e os
quadris mais largos... mas porra, não consigo tirar os olhos dessa mulher, ela está com os ombros
caídos, retraída como sempre.
—Ficou perfeito em você.
Não responde, mas faz cara de pouco caso, observo a mudança em seus gestos, seus
lábios...
—Vou te alimentar bem querida — coloco as mãos em seus ombros, é muito bom tocar
ela. — Você se importa de comer algo mais leve?
—Por mim tudo bem.
Toco seus braços, e ergo sua face, beijo-a levemente, isso me acalma.
—Vamos, você gostou do anel?
—É bonito.
Mas não mostra empolgação, a resposta é apenas neutra, não esperava nada demais, o
anel tem um significado muito grande para minha família... mas em breve colocarei o meu anel
no dedo dela.
—Que bom que gostou, minha irmã escolheu.
—Disse que daria a uma das suas amantes?
—Não fico dando satisfação da minha vida para minha irmã de dezoito anos Maria —
seguro sua mão e a conduzo para o rumo da cama — E eu já disse que não é minha amante
querida —faço ela ficar de costas para cama e com que se sente. — Nossa cama.
Maria fica calada.
—Gosta de alface?
—Eu como qualquer coisa.
Vou até o carrinho que deixaram com a salada que pedi, pego um dos pratos, é uma
salada comum com algumas frutas, não sei ainda do que ela gosta, mas vou descobrir, volto para
cama e me sento ao seu lado.
—Abra a boca!
Ela aceita a garfada de salada, eu a observo mastigar devagar, a boca se movendo do jeito
que eu gosto, cheia e linda... ela é muito sexy mastigando... ah, acho que estou mesmo ficando
muito pior do que sou com fetiches.
—Gosta da sua vida no Brasil? Se importa se eu comer com você?
—É normal.
Mais uma garfada de salada, sei que ela não comeu nada hoje, Maria não pode se
negligenciar assim.
—Eu morei no Brasil um tempo.
—Por isso fala bem português.
—É, e porque o meu tio não queria que eu crescesse sem aprender o idioma, meu pai era
brasileiro.
Posso falar também... ao menos o suficiente.
—Mas meu pai mudou para América muito pequeno, cresceu falando os dois idiomas.
—Entendo.
—Meu tio pagou aulas com um professor brasileiro por anos.
—Ah, entendo.
—Gosto do seu sotaque.
Maria parece se esforçar para não rir, mas estou sendo sincero em todos os sentidos.
—Acho atraente — confesso. — Você ainda está brava por hoje cedo?
—Na verdade eu tenho que pensar em tudo...tudo isso foi muito... rápido.
—Fala sobre não ter que me ver? Acredite, não vai querer me ver.
—Por quê? — Ela tem receio de perguntar.
—Eu não quero falar disso.
—Mas se eu te vi e não senti medo...
—Não provoco medo nas pessoas Maria, eu sou perfeitamente normal.
Sou confuso...
—Então...
—Apenas não gosto que me vejam, sou complicado.
Não quero falar sobre isso... Não posso falar disso...
—Podemos fazer amor hoje?
Maria se engasga.
—Estou brincando — rio.
—É sempre assim com as suas... namoradas?
—Já me fez essa pergunta, e eu já disse que não, isso depende muito da pessoa com quem
eu saio.
—É como um jogo?
—Não, é como algo que eu prefiro as vezes.
—Isso te... excita?
—Não da forma como você pensa, eu apenas não quero que me veja.
—Por quê?
—Talvez se apaixone pela minha beleza e eu não quero isso.
Ela ri com deboche, sei que faz pouco caso do que acabei de falar, mas bem, esse sou eu
sendo eu, ou seja, falando a verdade... e a verdade as vezes é algo que parece muito grosseiro, em
outras engraçado.
—Gosto quando sorri — toco sua face. — Você não acredita, não é?
—Que seja bonito sim, mas que seja ao ponto de alguém se apaixonar por você apenas
por isso não. — Ela ainda ri à beça, passo o polegar nos meus lábios cheios e lindos.
—Algumas pessoas já se apaixonaram pela minha aparência — volto a alimentar ela. —
E não foi tão agradável quanto eu imaginei.
—Também se apaixonou pela aparência delas?
—Na verdade eu não busco o amor de ninguém, e você?
—Não me imagino casando nem nada, estou velha demais para essas coisas. — Ela dá de
ombros e mastiga e sei que é bem sincera.
—Velha? — repito e isso vai muito além da minha surpresa.
—Faço trinta ano que vem, não sou tão jovem, homens preferem garotas novas.
—Confesso que preferia, mas nunca parei para pensar direito sobre isso.
—Entendo, acho que já estou satisfeita, obrigado.
—Você mal comeu — beijo sua bochecha. — Coma mais um pouco.
—Estou meio sem fome.
Suspiro, e é difícil ter paciência com essa mulher, me levanto e levo o prato para o
carrinho, estou sem fome também, fecho a porta do quarto e ligo o ar condicionado, volto para
cama.
—Vem!
Faço com que ela se deite, gentilmente pelos ombros empurro ela, Maria engatinha para
trás se deitando ao meu lado, o belo corpo emoldurado por essa camisola, ela ficou sexy nessa
camisola, não tem como resistir e fingir que é imune a algo assim.
—Gosto do seu cheiro — digo, e me deito em cima dela.
Sentir o corpo dela no meu é maravilhoso, a sensação dos seios nos meus me trazem
recordações eróticas da nossa noite louca, eu a olho.
—Pode me abraçar se quiser — sei que estou basicamente implorando um pouco de
atenção da parte dela. — Eu não mordo Maria.
—Aham. — Ela passa os braços envolta do meu corpo — Assim?
—Não como um robô — replico olhando para sua boca. — Obrigado por ter ficado.
—Sem problema.
Não resisto, não consigo resistir, eu a beijo, a boca dela é macia e quente, e tento ao
máximo ter cuidado, porém não é algo que controle, a minha língua quer a dela, quero a boca
dela correspondendo a minha, mas ela não se move.
—Não resista! — falo. — Por favor.
—Você é muito agressivo. — Ela está sem ar. — E está me deixando sem ar.
—Ah — vou para o lado, mas puxo ela para perto, colo nossos corpos. — Assim é
melhor?
—Sim. — Ela respira com força. — Por que é tão pesado? Nem parece gordo.
—Eu sou alto — rio — Tenho 1,87 de altura.
—E você tipo... faz exercício?
—Faço, eu disse isso quando nos conhecemos.
—Ah é, desculpe.
Ela está nervosa.
—Você é muito bonita Maria — toco sua face, seu pescoço, minhas mãos não conseguem
se manter quietas com ela por perto. — Em dois meses tudo vai ficar bem.
—Dois meses? — repete. — Está sugerindo que fiquemos juntos dois meses? Eu estou de
férias!
—Posso ir te visitar no Brasil...eu vou.
Estou com muitos planos, e a ideia fixa não sai da minha mente.
Quero Maria e terei ela!
—Posso conhecer o seu filho até lá — sugiro. — Me beije.
—Te beijar? — sua voz é sufocada.
—Disse que sou possessivo, então me mostre como gosta de ser beijada.
Novamente fica calada.
—Me beije — sou mais firme.
É uma ordem!
—Me beije Maria! — repito.
—Espera, eu preciso pensar se isso é o melhor para mim.
—É o melhor — seguro sua mão e beijo-a de leve. — É muito simples, você é minha e
pronto.
Ela se inclina e me dá um selinho.
—Pronto — e se afasta.
—Isso não foi beijo — quero rir. — De novo.
Suspira e toca a minha face, e ela não sabe o quanto isso é bom para mim... ser tocado
por ela.
—Maria...
—Eu nunca beijei ninguém na minha vida!
—Nunca? —estou novamente confuso e pasmo.
—Só você.
Só Eu?
Ela começa a se erguer eu a seguro pelo pulso.
—Volta aqui! Disse que tem um filho!
—Ele não me beijou no momento em que estava fazendo. — Ela está ficando com as
bochechas vermelhas.
—Não? E quanto a outros namorados?
—Que namorados Jack? Eu nunca tive namorados, isso já foi bem longe.
Pandora... Maria é uma caixa de Pandora! É isso, eu nunca conseguirei entender o
que essa mulher quer falar.
Nunca namorou, mas teve um namorado que nunca beijou e com ele teve um filho?
Ela se ergue e eu também, fico atrás dela, tento me convencer dessa desordem que a
mulher estabelece em mim, mas depois de tudo não consigo acreditar que ela esteja mentindo
para mim, não está.
—Não foi — me inclino e cheiro seu pescoço. — Venha para nossa cama.
Afasto os cabelos dela para o lado, e toco a pele fina e lisa de seus braços, afasto as
alcinhas da camisola para baixo, beijo sua nuca e vou descendo por suas costas, tenho uma
mulher só minha, apenas minha de mais ninguém, não importa seu passado, não importa nada
além disso, se ela fala que eu fui o primeiro a beijá-la acredito, tenho que acreditar ou do
contrário o que explicaria suas reações?
Meus lábios queimam de encontro a pele macia, ela se arrepia e isso me deixa tentado,
toco seus braços, e ela se enche de suspiros e arrepios, sinto vontade arranhar... de morder...
—Sua pele é divina — cheiro suas costas de ponta a ponta e toco seus ombros.
—Você está me vendo nua — sua voz faz esforço e ela puxa a camisola para cima.
Suspiro, puxo ela para mim e abraço ela por trás, acho que não posso prosseguir com
isso, ainda não é o momento, por hoje já deu.
—Viajo para o Egito amanhã cedo, e só retorno em cinco dias — falo. — Nós veremos
no Brasil em breve.
Beijo seu pescoço e permito que ela repouse em meus braços, tê-la aqui é mais seguro, é
o que me faz bem... o que me estranhamente me dá paz.
Ela se move, tenho o sono leve acordo, mas Maria está agitada.
—Durma.
—Estou com dor.
—Dor? — repito em alerta — Dor! Onde?
—De cabeça — responde ela e parece chateada.
—Espere que vou providenciar um remédio, sempre ando com remédios na minha bolsa.
Me ergo afastando o resto de sono que me perturba, alguns remédios as vezes me deixam
bem lento, por isso eu nem sempre os tomo, ligo o abajur, vou até a minha mochila, pego um dos
meus analgésicos para dor de cabeça, também uma garrafa d'água no carrinho, despejo num copo
despejo umas gotas do remédio, é líquido, não coloco muito, volto para cama.
—Aqui!
Coloco o copo na boca dela, Maria bebe e faz careta.
—Vai ficar bem — falo e coloco o copo no criado, desligo o abajur, me enfio debaixo
das cobertas. — Vem.
Ela se deita ao meu lado, e algo me ocorre.
—Isso está te apertando? — toco o lado da liga da máscara de dormir, eu a tiro. — Agora
está melhor?
—Sim, obrigada.
Eu a abraço e Maria se acomoda, nunca dormi com nenhuma mulher assim antes, acho
que se dormi muito foi pouco mais de uma hora depois que ela adormeceu, fiquei muito
pensativo depois disso, vendo ela dormir, pensei em tantas coisas...
—Não é saudável dormir com os cabelos úmidos — toco sua cintura, sua barriga. — Por
que não secou seus cabelos?
—Não pensei nisso.
—Hum — beijo o ombro dela. — Durma querida.
—Eu não consigo — replica.
—Por quê? — abraço ela com força. — Durma, agora!
Ela está dura e assim é impossível dormir juntinho... Me sinto idiota.
—O que quer para dormir?
—Por que se importa? Estou em silencio!
—Você fica tensa e dura quando está acordada.
—Quer que eu saia da cama?
—Quero que durma.
—Eu estou com dor de cabeça.
—Por quê?
—Porque existe um ser chamado Deus que permite que eu sinta.
Ela perdeu a paciência comigo, e eu estou rindo muito disso.
—Hum — gosto de apertar ela, é quente e macia, tem onde apertar. — Vem cá, você
precisa de um beijo para ficar calma.
Eu a viro para mim e beijo ela, colo nossos corpos e avanço, mas com calma, enfio a
língua, mas ela não me corresponde...
—Apenas mova a boca com a minha, como fez no carro hoje.
—E se eu te morder?
—Não vai.
Ela suspira e quando volto a beijá-la me corresponde, a inexperiência dela é cativante,
mas ignoro todas as dúvidas que possuo em relação a isso, nossas línguas se confundem no
entanto ela começa a se entregar devagar, exploro sua boca mantendo a mão em suas costas,
sinto sua tensão, seu receio, ela tem medo de se entregar por completo.
Se afasta, mas prendo seus lábios com o beijo, sua mão toca o meu pescoço e sobe para
minha nuca, e seus lábios me correspondem agora com mais segurança, eles tremem na minha
boca, sua língua procura a minha boca e começamos a nos beijar com mais calma, ela suspira e
me afasto um pouco.
—Agora já está mais calma — toco suas costas. — Não está?
—Sim.
—Gosto quando me toca aí.
Dou uns beijinhos leves nela, e quero mais, minha boca novamente invade a dela como
quero, mas dessa vez ela tenta resistir.
—Não adianta resistir querida — abraço ela. — Você quer.
—Não quero — se esforça para falar.
—Quer — falo e toco sua face. — Apenas precisa se acostumar comigo.
—Por que faria isso?
—Por que não?
—Não pertencemos ao mesmo mundo, nem ao mesmo país, e pelo o que entendi você
não quer que eu o veja.
—Isso é importante para você?
—Bem, eu nunca sai com alguém às escuras.
—É o meu jeito, gostaria que respeitasse.
—Não entendo.
—O meu jeito?
—É, é complicado.
—Tudo o que é diferente assusta as pessoas.
Escuto o silêncio no quarto por alguns minutos, a respiração dela está mais calma e Maria
mais relaxada em meus braços, mas dentro de mim nada se dissipa dessa vez, odeio falar sobre
isso, tentar explicar, não tem como explicar.
—Você tem Escopofobia?
Minha garganta se fecha e fico abalado com a pergunta.
Nunca imaginei que ela chegasse a essa conclusão sozinha.
Abraço ela e não consigo falar, demoro, fico agoniado.
—Isso seria um problema para você? — consigo perguntar.
Silêncio.
E mais e mais silêncio.
Pretendia contar, mas não agora, pretendia tentar explicar, mas não tão rápido, e
ela... ela descobriu!
—Não sei, mas você é muito rude, poderia ter dito desde o começo.
—Acharia ridículo.
—Por quê?
—Todos acham.
—Todos?
—Sim.
—Eu não me chamo todos.
Porra!
—Não sou bom em dar explicações, sempre fui muito independente — toco sua face. —
Você se importa se eu for?
—Isso significaria que eu nunca poderia saber quem é você?
—Talvez por um tempo... até eu perder o medo.
—É assim com as outras pessoas?
—Algumas sim, outras não.
—Estranhos?
—Não, apenas pessoas do meu convívio.
—Por quê?
—Eu não sei, é mais fácil quando não sabem que eu sou assim, quando são pessoas que
conheço elas frequentemente ficam me observando, elas se questionam por que eu sou... isolado.
—Você é?
—Sim, eu não gosto de convivo social.
—Você disse que é uma pessoa pública.
—Sim, mas ninguém sabe quem eu sou.
—Como... 007?
Rio de repente da comparação, 007?
—Mais ou menos, eu apenas evito algumas coisas, sou muito recluso.
—Você é muito jovem para isso não acha?
—Preciso rever os meus conceitos?
—Talvez precise de um psicólogo.
—Já tenho uma... agora durma.
Aperto ela, Maria quer continuar com a discussão, mas não pretendo tentar explicar para
ela isso agora, tem coisas das quais nunca contarei para ela, outras prefiro nem tocar no assunto,
simplesmente é algo que me tornei, algo que sou, e algo que talvez nunca mude.
Nunca vai mudar!
Ela adormece e fecho os olhos, tenho um pouco de esperança de que amanhã algo
melhore... ou apenas mude, como vem sendo nesses últimos dias.
Sob pressão
Estou no banho quando escuto o grito.
Desligo o chuveiro e pego a primeira toalha que vejo pela frente, entro no quarto, e fico
inerte, Maria está chorando, seca as faces com força, os olhos fechados — e quase não acredito
quando vejo isso — apalpa a cama em busca de algo.
—Minha máscara, onde está? — pergunta com a voz abafada.
—O que foi? — me aproximo, me sinto ligeiramente seguro, sei que ela não vai abrir os
olhos.
Seguro sua mão.
—Você está chorando? — que pergunta idiota, claro que está!
—Não foi nada — responde nervosa. — Onde está a minha máscara?
—Não está com ela! — falo quase sem voz pois ela mantém os olhos fechados.
—Não, eu estou com os olhos fechados, não consigo achar.
Ela se estica na cama procurando a máscara, está abalada.
—Você não está bem — reclamo, mas também estou duro, mesmo que próximo. — Por
que está chorando?
—Foi apenas um sonho ruim. — Ela acha a máscara embaixo de um dos travesseiros, e a
coloca muito depressa.
—Eu já volto, fique ai!
Me afasto para o banheiro me secando, tento não demorar muito, escovo os dentes, já
havia pedido o café, simplesmente acordei a pouco e cancelei a viagem.
Não, não é a coisa mais sensata que eu poderia ter feito nesse momento, e não, eu não me
importo, mas não posso ignorar o fato de que ela ficará aqui mais dois três dias e eu não vou
deixá-la sozinha esses dias... Não mesmo!
Bea foi no meu lugar, e dessa vez ela nem reclamou, não costumo dar satisfação mesmo,
mas sei que muitas das vezes as minhas secretárias adoram as viagens nas quais tem que ir em
nome da empresa, eu também dei bandeira branca para ela comprar com o cartão corporativo, ela
agradeceu e desligou quando notifiquei-a de que não iria.
Volto para o quarto, ela está sentada com a máscara no rosto, a camisola com uma das
alcinhas caindo do ombro, salivo, da vontade abocanhar o seio dela apenas em ver a carne
saliente do decote...
—Pedi o nosso café — aviso. — Eu cancelei a viagem.
Me sento de frente para ela e seguro suas faces, Maria coloca as mãos sob as minhas, e
ver o anel da minha avó em seu dedo de alguma forma me enche de um orgulho idiota.
—Estou nas suas mãos hoje — dou um selinho nela. — Pode me levar para onde quiser.
—Acho que não vou conseguir sem enxergar — retruca. — Jack precisamos conversar...
—Eu comecei com o pé esquerdo, eu sei, mas vou mudar essa primeira péssima
impressão — corto depressa. — Por favor, não resista, eu não vou desistir de você.
—Por que insiste nisso? — pergunta com voz incerta.
—Eu quero — deslizo as mãos até seus ombros. — Você está tensa, precisa de uma
massagem.
—Eu estou bem — abaixa a cabeça. — E se eu não quiser ser sua amante?
—Em algum momento precisará ser minha amante, eu espero, não vejo problema nisso
— replico com sinceridade. — Eu não sou muito de ficar fazendo sexo com qualquer uma.
Ela respira fundo e isso a tranquiliza, relativamente é verdade, sempre soube selecionar as
garotas com quem queria sair na agência.
—Eu sou muito... meticuloso quando se trata de escolher as minhas namoradas.
—E sempre é assim?
—Não, já disse, você se esquece muito fácil.
—É que quando você fica muito perto eu não consigo pensar direito.
—Sente medo? — é a minha conclusão.
—Fico nervosa, isso é estranho.
—É por que você gosta de mim?
E fica calada, por dentro espanto a onda de decepção, ela não se lembra de mim, ela não
me quer por perto... logicamente que ela não gosta de mim, por que gostaria de um estranho no
qual ela se quer se lembra? Ainda mais eu... o cara mais estranho na face da terra.
—Maria eu sei que sou intimidador, e todo o resto, mas é o meu jeito.
—Também tem medo de ser observado.
—Você não tem medo de nada?
—Tenho medo disso o que está acontecendo. — Ela diz e respiro fundo —É algum
trauma de infância?
—Podemos não falar disso? — tento não me irritar.
—Está bem.
—Vou me vestir, não saia daí.
—Não posso me vestir também?
—Tenho planos para o nosso dia.
Ela sorri, mas não gosta disso, ignoro esse "não gostar" dela, me afasto para o banheiro
novamente, coloco uma calça de moletom e uma camisa qualquer, enquanto me barbeio tenho a
impressão que escuto os passos de alguém, mas uso a maquininha então acho que provavelmente
deve ser o serviço de quarto na antessala.
Termino e me barbear o mais rápido que consigo, vou mostrar para ela que posso ser
tolerável, que posso ser alguém ao menos normal dentro do possível, vou passar essa manhã com
Maria, à tarde, esses dias...
Volto para o quarto e fico duro quando vejo a minha irmã mais nova parada perto da
cama, ela usa saltos e um vestido cor de rosa de alcinhas, a bolsa do lado, os cabelos presos num
coque, ela olha para Maria como se estivesse vidrada.
—Júlia o que faz aqui? — pergunto em inglês.
—Queria conhecê-la — Júlia responde saindo do transe, sacode a cabeça para os lados
confusa.
Essa situação é embaraçosa e complicada.
—Eu disse para não vir — aviso com irritação na voz.
Não queria sujeitar Maria a isso com ninguém além de Olaf por perto, apenas eu e ele,
ninguém mais precisa saber disso.
Como em fração de segundos Maria cai na cama, ela desmaia, Júlia leva as mãos a boca
totalmente apavorada, me aproximo da cama e sacudo ela, ela está mole e fria, sou tomado por
uma súbita ponta de medo, sacudo mais uma vez e ela parece reagir do mal estar.
—Maria... Maria!
Ela demora, mas volta, da vontade de dar uns tapas na minha irmã.
—Oi — a voz dela está arrastada.
—Você está bem? — que pergunta mais idiota, claro que ela não está bem seu panaca!
—Sim. — Ela começa a se erguer.
Eu a seguro pelos cotovelos pois ainda parece tonta, mole, ela respira fundo, soa, está
fria, minha preocupação só cresce, isso me afeta.
—Oi Maria — Júlia fala e eu a encaro com cara feia.
—É a minha irmã mais nova — não consigo esconder a raiva. — Ela queria muito te
conhecer.
—Ah — Maria ainda está aérea.
—Muito prazer — Júlia fala sorridente. — Eu sou Júlia.
—Maria—diz com dificuldade.
—Não precisa ter vergonha — Júlia se aproxima. — Todos nós sabemos das... limitações
do nosso irmão.
Sabem mesmo? Sei que Júlia ignora os meus olhares de raiva, ela ignorou o meu pedido,
ela veio sem ao menos avisar, claro que quando me ligou ontem ela já sabia, eu mesmo havia
dito para ela dois dias, Júlia ainda é a única pessoa na família da qual eu nutro afeto, ela e
Alejandro, e papai naturalmente.
—Você não deveria estar na faculdade? — seguro sua mão, e puxo Maria para o meu
colo, não queria que ela passasse por isso, mesmo que eu saiba que Júlia não se importe.
—Desculpa, mas é que eu queria muito ver ela — se explica Júlia em nosso idioma
costumeiro e faz cara de choro. — Ela é linda! Você vai me deixar ao menos ficar um pouco
aqui? por favor!
—Júlia...
—Eu sei que agi errado, mas... não pode me proibir de conhecê-la!
Tento juntar paciência, olho para Maria, mais uma vez ela parece um bicho acanhado e
com medo.
—Júlia vai nos acompanhar no café — explico já em português. — Tudo bem por você?
Ela faz que sim, Júlia sorri abertamente e se afasta, abraço Maria.
—Vou te levar ao banheiro.
—Tá.
—Vai se acostumar.
Ela sai do meu colo, levanta-se, eu a analiso e me ergo enlaçando-a pela cintura, conduzo
ela para o banheiro, paro logo que chegamos diante da porta e abro, Maria estende a mão e toca a
soleira, beijo seu pescoço e ela se afasta.
—Não demore.
—Tá bem.
—Não precisa ter medo, Júlia é minha irmã.
—Isso é constrangedor.
—Não é, ela não se importa.
—Claro, já deve estar acostumada.
—Com o que?
—Você... vive apresentando suas namoradas para ela.
—Minha irmã nunca conheceu nenhuma namorada minha Maria.
Rio.
—Vou te esperar aqui.
—Tá bem, não demoro.
Não demora... Sei!
Escuto o som dela falando algo, mas não sei bem o que, ela fala baixo, bem baixo, fico
ansioso a cada instante, a chegada a Júlia com certeza a intimidou, tenho tantos planos para o dia
de hoje, para todos os dias a partir de hoje... quero tudo com ela.
Sei que ela vai entender e se acostumar, é apenas uma questão de tempo, de adaptação,
quando me sentir realmente seguro eu vou permitir que ela novamente me veja, só preciso de um
pouco mais de confiança, até lá, o que posso oferecer é isso.
Maria não demora tanto quanto esperado, mas demora, e eu odeio esperar.
—Maria!
Eu sei que sou um puto de um chato insistente.
—Eu já vou!
Ainda demora alguns minutos, três para ser exato, olho no meu celular, ela abre a porta e
não resisto.
—Com quem estava falando?
—A Sah.
—Sua amiga!
—É, ela tem medo de que eu me perca ou algo assim.
—Estava chorando!
—Não é sua culpa.
—Então...
—É coisa minha com ela, somos como irmãs, ela fala demais às vezes.
Passo o braço envolta de sua cintura, gosto de sentir ela perto de mim.
—Ela a magoou?
—Um pouco, ela às vezes age de um jeito muito... possessivo.
—Como eu!
—Acho que ela tem medo de eu morrer do nada e ficar sem alguém para conversar.
—Por que ela teria esse medo?
—Tive câncer com dez anos de idade.
Um abalo instantâneo me toma.
—Câncer?
—É, de medula.
Ela seca as mãos no jeans enquanto a conduzo para o rumo da sacada.
—Mas não existe nenhuma possibilidade...
—Nunca se sabe, estou completamente curada, eu sempre faço exames, mas os médicos
dizem que há noventa e nove vírgula nove por cento de eu não ter mais, fiz transplante, minha
mãe era compatível.
—Você é saudável? — quero saber, preciso saber.
—Sim.
—Vamos fazer exames mais detalhados o mais rápido possível.
Quero me assegurar que ela fique bem, porra... Maria já teve câncer!
C-Â-N-C-E-R!
Tento voltar para realidade, em minha mente isso é uma coisa de alta gravidade, sacudo a
cabeça afastando o mal pensamento.
—Júlia é uma boa garota — mudo de assunto.
—Ela entende as suas limitações, sabe da sua Escopofobia.
—Sim — afirmo. — Ela entende, todos os meus irmãos entendem.
Não entendem, mas sabem, mas Maria não precisa saber o quão a minha família é
complicada, não, ainda não.
—Disse que são quatro.
—Somos cinco, um inclusive já tem uma filha.
—Hum, são próximos?
—Não muito, Júlia é mais próxima assim como Alejandro.
—Alejandro é o advogado.
—É!
—É um nome muito bonito.
Sei que ela se esforça para lidar com isso, é algo que me conforta, apesar de não
concordar ela está aqui.
—Cuidado com o degrau.
Já estamos saindo para sacada, a vista aqui é muito bonita, mas meus olhos estão em
Maria, quando ela está por perto tudo muda e não consigo ver nada além dela. Júlia já está aqui,
ela organiza a mesa, está posta para três e com comida o bastante para várias pessoas, a minha
irmã sabe como recepcionar pessoas, claro, foi educada para isso, criada para ser uma dama da
sociedade, educação hipócrita que o dinheiro de Flora pode pagar, mas não a culpo, Júlia é a
mais nova dos filhos de Denzel Carsson com mamãe, ela não conheceu nossa mãe nem o pai
dela, e sei o quanto ela sofreu e sofre com isso.
Sempre que olho para ela é como se visse uma versão mais nova de mamãe, mas ao
mesmo tempo vejo bastante de Denzel nela, os cabelos são loiros como os de mamãe e os olhos
azuis como os de todo o Clã dos Carsson, como os olhos de Flora a avó dela... aquela bruxa que
eu tenho que — infelizmente — chamar de vó.
Olhos azuis, nariz fino e pequeno, maçãs do rosto delineadas, Júlia não é muito alta,
mamãe não era também, me lembro bem dela, minha irmã é magra, diria bem mais que isso, e é
uma moça muito bonita, na verdade ela é linda e jovem.
Com cuidado faço com que Maria se sente, ela parece mais situada agora, vestida, o
semblante fechado... voltando a normalidade.
—Precisava te conhecer — Júlia fala em português, ela é péssima em português.
—Deveria ter avisado que viria — reclamo e me sento ao lado de Maria. — O que quer
comer?
—Eu? — questiona ela surpresa.
—Claro que é você quem mais seria?
As vezes ela faz umas perguntas óbvias demais, me irrito com muita facilidade.
—Não estou com fome. — Ela está magoada. — É sério, eu não estou com fome.
—Mas vai comer — retruco — Julia pode servir café para ela, torrada, queijo... suco é
muito bom.
Maria coça a nuca fazendo uma careta que já conheço, careta de "quem comeu e não
gostou", e eu sutilmente ignoro, minha irmã está nos servindo toda sorridente, não sei para que,
ela realmente não deveria ter vindo.
Júlia segura a mão dela e entrega uma xícara com café, me sinto meio tirano em querer
expulsá-la daqui, Júlia é cheia de boas e puras intenções, eu diria que de toda aquela família a
única pessoa pura e verdadeiramente boa é a minha irmã mais nova, ela não se infesta com a
soberba do Ph nem com a luxúria que Jonas possuí, ou melhor, a ignorância de Mirna, a esposa
do meu pai—tio—que eu nem sei como a tolera.
—Você está gostando de Las Vegas, Maria? — Júlia fará de tudo para cativá-la, tenho
absoluta certeza disso.
—Sim — Maria responde — Estou, obrigado por perguntar, é uma cidade alegre.
—Fico feliz que Jack tenha encontrado alguém que goste dele de verdade.
—Maria é advogada — explico e me sinto orgulhoso disso.
—Por isso o Alejandro não gostou dela — Júlia ri. — Ele conhece de longe.
—Na verdade ainda não me formei. —Ela retruca se endireitando na cadeira. —Eu
trabalho num call center, tenho um filho de dez anos e moro com a minha mãe, ah e eu ganho um
salário mínimo.
Estreito os olhos para ela, só pode estar mesmo de sacanagem comigo...
—Sempre imaginei o Jack com alguém honesta e muito simpática — minha irmã fala
com um enorme sorriso. — Você nem parece ter um filho com essa idade.
—Fui mãe aos dezoito anos.
—Como ele se chama?
—Fernando — ao dizer o nome dele ela prende um sorriso.
Gostaria que ela sorrisse assim quando se referisse a mim ao menos uma vez na vida... sei
que isso nunca vai acontecer.
—É um belo nome.
—Tem sobrenome? — começo a comer o meu cereal de castanha com linhaça e granola
matinal.
—Se chama Louis Fernando, e o meu sobrenome.
—E o sobrenome do pai?
—Ele não registrou, eu o registrei sozinha.
Isso me deixa intrigado... o que aconteceu que ela não quer me falar?
—Por quê?
—Porque achei melhor na época.
Essa é a primeira vez que eu sinto como se Maria mentisse para mim... Me irrito.
—Ele não quis assumir?
—Não, e eu também não iria querer.
—Por quê?
—Porque ele me estuprou.
Mantenho-me parado, e todos os meus nervos do corpo se enrijecem, ainda impactado
com a resposta, Júlia está pálida.
—Eu preciso ir, vou tirar a máscara e vou embora, por favor não tente me impedir.
Permaneço tenso, vejo-a girar o corpo e levantar, ela tira a máscara, meu coração salta
com violência.
—Não pode ir embora — falo por que ela começa a andar para longe da mesa.
—Eu já estou indo!
—Não vai!
—Eu já disse que estou indo e não tente...
Preciso impedi-la, preciso Para-la, Agora!
—Maria nós dois estamos casados!
Ela respira com tanta força que os ombros sobem e descem, fecha os punhos, parada por
alguns segundos, o meu coração não para de saltar, então Maria continua a dar os passos para
longe de mim, escuto os soluços logo que ela acelera, ela está indo embora.
Eu a faço sofrer... Eu lhe causo dor... Eu não sirvo para essa mulher!
Tenho que deixá-la ir!
Meu primeiro pensamento é forte, mais forte que eu, mas Júlia se levanta e vai correndo
atrás dela, depois me levanto e me vejo indo atrás dela também... tento, mas não consigo, não
posso permitir que Maria saia assim da minha vida.
Não o meu Sonho... Não ESSE Sonho!
Estou tão desnorteado que não consigo achá-la, mas escuto o som abafado da voz de Júlia
vindo do corredor da que dá para outra sala.
—Achei ela!
Me aproximo e nada mais importa, meu medo, essa rixa, os meus receios, porém nesse
instante, Maria cai e desmaia, Júlia se ajoelha diante dela, pego o celular no bolso da calça, ligo
para primeira pessoa que me vem à cabeça.
—Olaf... rápido, um médico!
—O que foi senhor?
—Por favor, só me arruma um médico está bem?
—Sim senhor.
Me ajoelho e eu a olho desfalecida, olho para Júlia e estou frustrado, Maria está fria,
muito fria, me tremo enquanto toco sua face, Júlia segura a minha mão.
—Calma, ela vai ficar bem Jack!
Eu a ergo em meu colo e não tenho nada a falar nesse momento com Júlia, não consigo,
vou para o sofá mais próximo e me sento com ela em meu colo, não consigo largá-la, ela está
mole.
—Jack Calma...
—Sai daqui — berro, está entalado na minha garganta, Júlia dá um pulo assustado.
É ISSO O QUE EU FAÇO, É NISSO QUE EU SOU BOM, MAGOAR AS
PESSOAS E AFASTÁ-LAS DE MIM!
—Vou ligar para uma enfermeira muito boa — Júlia fala baixo, medrosa e começa a se
afastar. — Eu não vou embora!
Toco a face de Maria, ela soa, pálida, fria.
—Você vai ficar bem — digo para mulher desacordada em meus braços. — Eu prometo!
Preciso deixá-la partir? Não!
Júlia Telefonou para as amigas dela.
Júlia arrumou uma enfermeira.
E Olaf apareceu com um médico.
O homem examinou Maria e a medicou a alguns momentos, consegui reservar o avião.
Vou para Malibu.
Gil está lá para uma convenção e acredito que lá seja um lugar melhor para resolver
minhas diferenças com Maria, longe do barulho da cidade, de toda a confusão, de tudo e de
todos.
Resolverei minhas diferenças com ela.
O médico disse que ela teve um pico de pressão e estres, sedou ela, recomendou repouso
total, e eu sei que fui o único responsável por isso.
Júlia ficou encarregada de organizar a questão dos passaportes juntamente com Olaf, já
dei os contatos, nesse instante eu e Maria estamos indo para o avião, o médico arrumou uma
ambulância, e ela ainda está sedada e no soro.
Tive que desligar o celular.
Nunca desligo o meu celular, em hipótese alguma posso me dar a esse luxo, mas hoje
absolutamente não me sinto no direito de pensar em nada além dela.
Causei isso em Maria, eu provoquei esse mal estar nela, e nunca pensei que fosse
conseguir me preocupar com outra pessoa na face da terra, nesse momento ela dorme na maca, a
ambulância já entrou no aeroporto, antes, estávamos no hotel esperando tudo ficar pronto para o
nosso embarque.
A ambulância para e os enfermeiros juntamente do médico saem do banco da frente, o
doutor Singer é um grande colega do meu pai, trabalha em um dos hospitais filiados ao dele, foi
aluno de papai em Harvard, logo que saio vejo os enfermeiros indo para o rumo da escadinha do
avião, o doutor me olha, mas estranhamente isso não surge efeito algum em mim, só estou
preocupado demais com Maria para me importar com o resto do mundo.
—Ela ficará bem, a enfermeira vai cuidar dela até o destino do senhor, fique calmo.
—Sim senhor, muito obrigado Doutor Singer.
Aperto a mão dele, o médico assente e me afasto para o rumo do avião, já passa do meio
dia, passo a mão nos cabelos e os meus ombros doem, estou sob forte pressão desde cedo, mas
não é muito pior do que vê-la assim por minha culpa.
Entro no avião e a comissária me cumprimenta, os enfermeiros estão na cabine
acomodando Maria, faço um breve assentir com a cabeça e vou para cabine, acho que em alguns
minutos Júlia aparece com as amigas dela, não ligo, desde que Maria fique bem.
Os enfermeiros vão embora e ela está deitada em minha cama dormindo, tem uma bolsa
de soro do lado da cama, meu coração começa a doer em vê-la assim, me sento e toco sua face,
ela dorme e já não está tão fria, mas visivelmente dopada.
—Boa tarde, meu nome é Tracy, vou cuidar da senhora Carsson!
A moça é jovem e sorridente, ela entra na cabine com uma malinha de mão e uma
mochila, usa uniforme branco, faço que sim e me levanto, lanço um último olhar para Maria que
dorme e saio da cabine, acho que dentro de minutos poderei ficar com ela, estou inquieto.
Me aproximo dos brancos do meio do avião, aqui tem uma pequena mesa onde sempre
uso para trabalho e para fazer refeições, me sento e a comissária me serve água e um chá,
agradeço, e fico olhando pela janela os outros aviões levantarem voo.
Não demora muito e vejo Júlia entrando no avião, ela está com uma cara de quem comeu
e não gostou, logo atrás dela, a morena... Sarah, e a ruiva alta e magra... essa eu ainda não sei o
nome, mas tenho quase certeza que se chama Gina, ouvi Maria falando seu nome ontem ao
telefone ou antes de ontem, estou com a cabeça quente que isso realmente não faz diferença
alguma.
—Chegamos! —Júlia avisa e coloca a pequena mala no compartimento da outra fileira.
— Essas são Sarah e Gina, as amigas da Maria.
Me levanto, Gina sorri e fica me olhando como se fosse uma lesada e Sarah me olha de
cima abaixo com uma cara de quem realmente está impressionada, ignoro, e novamente não
consigo sentir o mesmo pavor que sentia quando me submetia a conhecer pessoas novas, não é o
que acontece quando tenho que ir a alguma reunião da empresa com fornecedores e investidores,
eu nunca consigo me sentir mais do que "incomodado" com os olhares das pessoas quando estou
na BCLT, isso acontece mais quando são pessoas que realmente farão parte do meu convívio.
É como um bloqueio!
Mas nesse momento nem isso consigo sentir, só estou estressado e aflito em ver Maria
doente, sedada, odeio vê-la assim.
—Jack Carsson! — estendo a mão para Sarah. — Muito prazer.
—Prazer — Sarah fala e aperta a minha mão, me dá um sorriso bem surpreso. — Sarah
Mello, essa é a Virginiana, mas pode chamar ela de Gina!
Que tipo de pessoa coloca o nome de Virginiana em um ser humano?
Olho para Gina, ela é ruiva e tem cabelos lisos, é branca e tem sardas no rosto, olhos mais
claros, os dentes dela parecem de coelho, aperto sua mão e ela não fala nada, apenas sorri e faz
que sim, me volto para Sarah, ela tem cabelos escuros compridos, olhos castanhos mais claros, e
é uma bela morena, mas para mim isso não surte efeito algum, já tinha visto as duas no sinaleiro
a algumas noites atrás com menos roupas que essas.
—Então... você é o namorado da Duda...
Duda!
—É — afirmo e indico os bancos de frente para o meu. — Júlia providencie um café para
as amigas da Maria.
—Já vamos decolar — avisa a comissária de bordo. — Por favor, coloquem os cintos, eu
retorno com o café senhor Carsson.
Júlia se senta ao meu lado e puxa o cinto, também coloco, a outra comissária guarda as
bagagens das amigas de Maria, minhas mãos estão soando um pouco, o pequeno terror dentro de
mim não foi embora, mas não é tão ruim.
Suportável.
Somos avisados pelo comandante que iremos decolar, para mim é um processo comum,
viajo sempre de avião, pelo ou menos uma vez por semana, é algo normal, as outras duas
também parecem não ter problemas, nem a Júlia, logo que o avião decola e adquire estabilidade a
comissária volta com o carrinho, bebo um pouco do meu chá.
—Você trabalha para companhia aérea? — Sarah pergunta quebrando o silêncio.
—Não — respondo meio confuso. — Por quê?
—Ué... o avião está... vazio —Sarah fala e aceita o café que a comissária serve.
—Isso é por que ele é... meu? — concluo um pouco incerto, não sei onde ela quer chegar.
Sarah se engasga com o café, ela tosse e Gina permanece me olhando como se eu fosse
um fantasma ou algo assim, olho para Júlia, ela já está mexendo no celular.
—Já falou com a Gil?
—Sim, ela está indo para casa agora, Olaf deve estar com o piloto.
—Ele adora voar.
Olaf sempre aproveita para conversar com a tripulação, o comandante, ele gosta de
aviões, ele também é o meu piloto quando viajo sozinho, foi algo que exigi a um tempo para
poupar tempo.
—A Duda não disse que você tem um avião.
Ela ainda nem sabe que eu tenho um avião.
—Ela está bem? — Gina pergunta agora já situada.
—Sim, ela passou um pouco mal, mas a enfermeira já cuida dela, Júlia avisou sobre o
nosso destino?
—Sim — Sarah responde. — Por que estamos indo para Malibu?
—Porque acho que seja melhor para Maria descansar — digo. — Ela precisa relaxar
mais, Las Vegas é muito barulhento.
—Entendo. — Ela bebe mais um pouco do café. — Estou surpresa, ela não me avisou
nada.
—Nós combinamos hoje cedo — odeio mentir. —, mas a casa lá é boa, dá para vocês
aproveitarem bastante o fim das férias.
—Nós não temos autorização para viajar...
—Já resolvemos isso com a embaixada, fique tranquila — Júlia assegura. — Os gastos no
hotel também foram pagos.
Sarah é desconfiada, ela me olha como se tentasse muito me desvendar, eu sei também
que ela está encantada comigo, é uma ordem natural das mulheres... ou o que elas acham pelo ou
menos quando me veem, ela e Gina nem disfarçam.
Me sinto nu.
Imediatamente me levanto, a sensação é de desconforto.
—Eu vou verificar se ela está bem, com licença.
E me afasto, nervoso, trêmulo... melhor ficar bem longe de pessoas nesse momento,
melhor cuidar de Maria.
Maria desperta.
E imediatamente ela faz menção de levantar-se, coloco a mão em seu ombro impedindo-a
de se erguer, estou a duas horas esperando por esse momento, a enfermeira avisou que a qualquer
momento ela poderia acordar, enfim, acordou.
Coloquei a máscara nela a alguns momentos atrás.
—O médico disse que você está com pressão alta — falo por que ela parece desnorteada
ou coisa assim.
Está confusa é claro, ainda sob o efeito dos remédios, mas graças a Deus ela está bem, a
pressão abaixou.
—Ele colheu sangue — completo.
—Não precisava.
Ela toca a outra mão e faz uma careta,
—Onde estamos?
—No meu avião.
Ela parece se recuperar de um pequeno choque.
—Não tinha o direito de fazer isso.
—Sou seu marido, tenho direitos sobre você.
—Como pode...
—Eu trouxe suas amigas, vão passar os últimos três dias na minha casa, elas estão com a
Júlia.
E umedece os lábios, ela está ainda tonta.
—Ele te deu um sedativo e te colocou no soro, uma enfermeira está cuidando de tudo.
—E espera que eu concorde com isso?
—Não preciso que concorde, você é minha esposa e vou cuidar de você.
Maria respira fundo, preciso deixá-la ciente de uma coisa.
—Tente não ficar agindo como uma louca perto da minha irmã, mentindo para nos
assustar.
Ela se revira na cama, está magoada com o que acabei de falar, me sento na cama
tentando compreender as reações adversas dela, coloco a mão em seu ombro.
—Maria por favor, entenda!
—Você é tão bipolar.
Eu sei disso.
—Temperamental — tento corrigir.
—É, inconstante também.
—Não queria ter agido daquela forma com você, mas você fica resistindo.
—Não sou omissa.
—Queria que ao menos tentasse aceitar o meu jeito.
Me deito ao seu lado, abraço ela, abraçá-la é um conforto maravilhoso, a mesma onda de
tranquilidade me toma quando estou perto dela, quando mantenho esse contato, o corpo quente e
macio de Maria me dá tanto... descanso... beijo sua nuca, encontro meu repouso sempre ao seu
lado.
—Você vai se acostumar.
—Por que quer isso? Você não é obrigado a ficar comigo Jack.
—Eu quero ficar com você.
Aperto ela com gentileza.
—Sei que você não é assim, sei que só está assustada, mas vai aprender a lidar comigo —
beijo seu pescoço. — Vou cuidar de você.
—Eu não sou de louça, é apenas o estresse — replica com solidez.
—Vai relaxar — falo. — Por que não vem aqui e me deixa eu te dar um beijo?
—Não — diz imediatamente. — Eu não escovei os dentes.
Rio mesmo com tudo... ainda rio.
—Eu não me importo. — Eu a viro para mim e beijo sua bochecha. — Vem cá.
Ela se enche de suspiros longos.
—Vou te ensinar a beijar!
—Você está me deixando envergonhada, eu não vou mais te beijar.
—Gosto quando fica constrangida.
Não espero que ela responda, eu a beijo.
Os lábios macios e quentes, sinto as batidas fortes do meu coração se espalharem pelo
meu corpo me proporcionando a sensação de paz e ao mesmo tempo algo forte me toma todo,
toco seu pescoço e enfio a mão em seus cabelos, exploro sua boca como quero, como gosto,
provo a mesma inexperiência que me fascina, que me prende.
Maria não resiste.
Me corresponde lentamente, a boca provando da minha também, explorando a minha
também, e isso é maravilhoso, os lábios dela são carnudos, e da vontade de morder, mas oprimo.
—Você está indo muito bem — beijo o cantinho de sua boca. — Continue querida.
Ela se encolhe e meus dedos tocam seu couro cabeludo e lentamente sua boca vem para
minha, a língua dela é tão gostosa... tão tentadora... estou preso aos seus lábios, eu olho para
boca e chupo a língua e mordisco ela, Maria oprime um sorriso.
—Quer que eu pare? — Ela também parece meio irritada.
—Não — estou sorrindo. — Queria seu sorriso.
Continua com os lábios semi cerrados oprimindo o sorriso.
—Ele é lindo, não é? — questiono.
—Eu não acho, nada em mim é bonito — responde.
—Talvez você precise do seu óculos.
—Quando enxergar o erro que cometeu vai saber que essa não foi a melhor decisão da
sua vida.
—Você é uma excelente decisão.
E ela enfim me dá esse sorriso lindo e formidável.
—Você é uma mulher incrível Maria, apenas não percebe.
—Vai anular o casamento, não é?
Meu estômago se revira, mas permaneço calmo, não devo perder a calma.
—Não! Por favor... estou cansado.
Maria da outro suspiro resignado e me abraça, tiro os sapatos e puxo os lençóis da cama
para cima cobrindo os nossos corpos, toco sua face com carinho.
—Quero você — confesso sussurrando. — Quero te dar tudo, te levar para viajar, quero
te mostrar o meu mundo.
Eu a observo, os lábios dela tremem, resisto em beijá-la.
—Você se acostuma depois com isso.
—Sua doença?
—É, eu ando trabalhando nisso a um tempo com a Lane, mas não é tão fácil quanto
parece.
—Lane é...
—Minha psicóloga — faço uma pequena pausa. — Eu gostaria que respeitasse Maria,
pelo ou menos até eu estar pronto para que me veja.
—E quando seria isso?
—Eu não sei.
—Como espera que eu aceite... isso por tempo indeterminado?
—É como viver no escuro — falo e estou concreto do que peço.
—Isso não é tão legal quanto parece — faz que não com a cabeça. — Eu odeio não ter a
noção das coisas.
—Vai aprender a ter — beijo-lhe a cabeça. — Depois vai ser bem mais fácil quando
estiver acostumada.
—Eu nunca vou me acostumar.
—Claro que vai.
Estou concreto disso também, beijo sua cabeça e seus olhos por cima da máscara, quero
que ela entenda o meu mundo, minha realidade é diferente, mas estou disposto a tudo por ela,
para que fique... em minha vida.
—Logo vai perceber que é apenas um estilo de vida.
Abaixo é beijo ela.
Beijo devagar, beijo lentamente e vou para direita, ao mesmo tempo que vou Maria
também vai, logo em seguida ela fica dura como se houvesse feito algo muito grave, rio e a beijo
novamente, com intensidade agora, novamente ela perde o ar com facilidade, me afasto um
pouco.
—Maria quero ter uma vida conjugal normal — confesso e beijo sua bochecha, seu
pescoço. — Quero muito te ter de novo.
—Morreria de vergonha — fala envergonhada. — Não sei se consigo, é muito para mim.
—O que é muito para você querida? Fizemos amor várias vezes na noite de sábado, foi
ótimo.
—É, mas você ficou jogando na minha cara que foi apenas sexo.
—Estava bravo.
—Não tem o direito de ficar bravo, eu tenho.
Maria fica parada, acaricio seu pescoço devagar, toco sua face, ela parece estar muito
longe daqui.
—Eu nunca senti como se fizesse algo certo na vida, também não estou pedindo que você
faça nada extremo, quero que respeite o casamento porque é importante para mim.
—Por quê? — sua voz tem uma incerteza profunda.
—Porque eu prometi para o meu tio que um dia se casasse não jogaria isso fora como eu
fiz com todas as outras coisas na minha vida, ele é velho, não aceita que me divorcie.
—O casamento é válido?
—Claro que é Maria!
—Isso não vai dar certo, olhe para nós dois, somos dois estranhos.
—Não somos mais, com o tempo se acostuma, vai vir ficar comigo pelo menos duas
vezes no mês, eu vou te visitar, vou cuidar de tudo.
Suspiros e mais suspiros, ela tem medo disso, sei que sim, preciso convencê-la do
contrário.
—Estamos casados e é um fato Maria — coloco um beijo em seu queixo. — E eu ainda
quero você.
—O que viu em mim? Você queria isso?
—Eu não sei, apenas nos conhecemos, você é a pessoa mais sincera que eu já conheci —
seguro sua face com cuidado. — Não mereço você, eu sei disso, você é muito especial.
—Parece amargurado, o que foi?
—Não queria sentir como se te forçasse a nada, sábado você estava feliz, sorridente, não
parava de repetir que foi o melhor momento da sua vida, agora você me odeia, me rejeita e não
me quer por perto.
Acho que nunca fui tão sincero com alguém em toda a minha vida, é assim que me sinto
em relação a ela.
—Queria um novo recomeço, uma nova vida... com você — confesso observando-a. —
Sei que parece loucura, mas você é a pessoa que eu quero ao meu lado, por favor aceite isso.
Sem resposta.
—Maria?
—Estou pensando!
—É boa nisso.
—Não quando está com perto, me força a ser precitada.
—Quer espaço?
—Quero sumir.
A descoberta disso não só assusta ela, mas também a deixa incerta, sei que isso tudo é
muito novo para ela tanto quanto é para mim, ela se encolhe entre os meus braços e eu a agarro
com mais firmeza junto ao meu corpo.
—Deveria me afastar de você, mas eu não quero — beijo sua testa.
—Não tem obrigações...
—Acho que não está entendendo bem o que eu disse, disse que eu não quero, não
envolve obrigações — coloco um beijo carinhoso em sua face. — Se não resistisse tanto.
—Você deveria ter dito no começo.
—Iria falar, mas você reagiu mal a tudo, pensei que se contasse imediatamente fugiria de
mim.
—Não consigo fugir de você Jack, você sempre me acha.
—Deu trabalho para Olaf ontem.
—Colocou ele para me vigiar?
—Claro, ele faz isso desde que te deixou no hotel a três dias.
Ela se irrita, sei que sim.
—Não gosto de mentiras, não quero que fique chateada com isso.
Novamente ela não responde, é difícil tentar ficar adivinhando o que Maria pensa,
cansativo.
—Sua irmã... minha irmã também se chama Júlia!
—É? — colo a testa na dela, fecho os olhos. — Talvez não tenhamos tantas diferenças
assim.
Quero tantas coisas com ela...
—Maria!
—Sim.
—Não fique triste, sinto muito se isso não é grande coisa para você.
—Isso... nosso casamento?
—É, é importante para mim.
—Já disse isso.
—É para que não se esqueça que mesmo eu sendo um doente maluco eu me importo com
você, você é importante para mim.
Não me importo que ela não se sinta assim, não me importo que ela não goste de mim,
vou ensiná-la a se afeiçoar por mim, a gostar de mim, que se acostume, ela vai entender que tudo
o que quero é o melhor para ela, para nós.
—Tem que comer alguma coisa...
—Não. — Ela me abraça e fico surpreso com isso. — Fique comigo, por favor, cuide de
mim, é isso o que você quer fazer, não é?
—Sim — beijo-a de leve. — Descanse.
Ela respira fundo, eu a abraço e faço carinho em sua cabeça, e lentamente ela vai ficando
mais relaxada.
—Você não usa aliança... usa?
—Não, ainda não parei para pensar nisso—preciso resolver isso também.
—E nos casamos assim... sem nada?
—Você enfiou um anel preto...
—O meu anel de coquinho — conclui. — Está com ele?
—Sim, e não vou devolver. — Ele me servirá para outras coisas também. — Disse que
era para lembrar dias cobertos de esperança.
Maria ergue a cabeça, sei que ela faz isso como reflexo, como se quisesse parecer que me
olha.
—Ele está em segurança — falo. — Até a sua aliança de casamento ficar pronta.
—Você vai usar?
—Sim, por que não usaria? — olho para o nariz dela e para sua boca —Maria vamos nos
casar no civil o mais rápido possível.
Os lábios dela tremem e ela suspira, ela não tem resposta, mas eu já sei qual é, ignoro.
—Descanse! — sugiro
Maria encosta a cabeça em meu braço e repousa, toco sua face e seu pescoço, ela coloca a
mão na minha nuca e acaricia em silêncio, fecho os olhos, não quero pensar em nada, aqui
também encontro meu repouso, talvez eu consiga dormir agora, ao menos relaxar um pouco,
mais tarde eu e ela podemos continuar com a conversa, sei que talvez não seja tão favorável
quanto agora, mas farei o possível para que tudo se encaixe, para que Maria definitivamente
fique ao meu lado.
Nível 4 da atração
Sarah entra no meu escritório, fico duro, ela se quer bateu para entrar, bloqueio o note e
arrumo meu óculos no rosto, ela se senta diante da minha mesa e cruza as pernas com um olhar
bem sério.
—Então, o que você quer com a Duda?
Percebo em Sarah uma mulher completamente diferente da Maria, ela possui um classe
natural, é bastante educada e ela também é uma mulher além de muito bonita, bastante sexy...
mas nunca, jamais eu me envolveria com alguém assim, ela simplesmente tem algo que eu
detesto em mulheres: é intrometida.
No avião escutei ela uma ou duas vezes interrogando Júlia, ela também ficou meio que
falando mal a respeito da aparência da Maria e eu não gostei disso, não sei que tipo de vínculo as
duas possuem, mas não gosto de pensar que Maria considera alguém assim sua amiga.
Porém Sarah é muito preocupada com Maria, logo que sai da cabine ela ficou com Maria
até aterrissarmos, a todo instante eu a via com cara de choro na ambulância, tentei encarar as
"críticas" de uma forma construtiva.
—Eu já entendi que se interessa por ela, e sei que se envolveram...
—Estamos casados Sarah — falo e ela arregala os olhos para mim, novamente reações do
tipo "absurdo" depois que dou a notícia. — Algum problema nisso?
—Não — Sarah fala depressa. — É que ela não me contou nada.
—É, nós estamos arrumando algumas coisas primeiro — desvio o olhar para o lado,
odeio quando ficam me encarando demais. — Ela ficará bem, a casa é de livre acesso, pode ficar
à vontade, se sinta na liberdade de sair e entrar na hora que quiser, o meu motorista está por sua
conta se precisar sair.
—Tudo bem.
—Se precisar de dinheiro não hesite em pedir, Olaf tem cartão de crédito também para
usar quando necessário.
Sarah sorri, mas isso não parece algo bom, pelo contrário, não esperava por reação
diferente, ela provavelmente acha isso rápido demais, mas eu não devo me preocupar com seu
"achismo".
—Você gosta dela?
Enxergo uma sinceridade forte no olhar de Sarah, e vejo uma preocupação verdadeira e
imensa para com Maria em sua forma de falar.
—Sim — respondo e aperto os braços da poltrona. — Por quê?
—Não quero que ela se magoe — Sarah diz e eu a fito. —Talvez a Duda não seja a
mulher certa para você Jack, você parece alguém importante.
—Acredito que ela seja muito mais importante para mim do que o meu grau de
importância para o que as pessoas pensaram sobre isso — indago.
—O que eu estou querendo falar é que a Duda já sofreu muito na vida, ela merece alguém
legal e bondoso.
Não sou nem possuo nenhum dos dois requisitos!
—Eu sei...
—Sabe mesmo?
—Sim, eu sei.
—Não mágoa ela está bem?
—Por que acha que eu vou fazer isso?
—Olha, a Duda é super pilhada e conservadora, ela é perfeccionista, mas ela é a pessoa
mais adulta e madura que eu conheço, só estou dizendo que... não magoe ela, ela é especial e
uma garota diferente talvez do que esteja acostumado.
E você nem imagina o quanto...
Sarah levanta e me lança um olhar mais sério ainda, é difícil para mim manter o olhar,
tenho medo dele... Merda!
—Olha, eu posso não ser a melhor pessoa do mundo nem a melhor amiga e tal, mas não
vou permitir que você a magoe, a Duda merece ser feliz.
—Eu sei Sarah.
—Que bom que sabe.
Ela vira as costas e sai andando, e eu já faço uma ideia do porquê ela está assim,
provavelmente me culpa por Maria estar mal.
Olho pela porta da sacada, já é tarde da noite, chegamos por volta das oito, falei para
Júlia jantar com as duas amigas de Maria, Mirna está aí...e eu ainda estou em claro, não consigo
pensar em dormir, preciso vê-la.
Saio do escritório e vou para o quarto, logo que entro analiso a imagem da mulher
dormindo na minha cama... e apenas isso me basta.
Me aproximo da cama e toco sua cabeça com cuidado, mesmo que eu saiba que ela não
acordara.
—Vou cuidar de você Maria, eu juro.
Ela Acordou.
Demoro um pouco para tentar criar coragem.
Analiso as duas joias dentro da caixinha, e acho que chegou a hora.
Já faz uma eternidade que ela conversa com Sarah, Gina e Júlia, não faço a menor ideia
de como Maria acordou, mas Mirna já veio aqui e me disse que ela despertou, agora tudo o que
posso fazer é ir lá e enfrentá-la, tentar convencê-la mais uma vez de que os meus planos são as
melhores escolhas que ela pode fazer no momento, para vida dela... para minha vida.
Não consegui dormir muito ontem, na verdade quase nada.
Me recordo mais uma vez de ontem, fico estressado só de lembrar.
Já havia uma ambulância, Gil estava no aeroporto com tudo pronto para nossa chegada,
depois que chegamos ela foi trazida para o meu quarto, a casa está bem cuidada, como sempre
tudo no lugar, Mirna a esposa do meu pai já havia chegado, claro que ela jamais deixaria Júlia
sozinha perto de mim por muito tempo.
Deixei Maria sob os cuidados de Gil, como mexi em todo o meu cronograma — que para
mim é sagrado já faz um tempo — eu vim para o escritório, desde então estou em telefonemas,
no note, no celular, sempre fui bom em resolver coisas, solucionar problemas, por isso talvez
embarcar nessa área não tenha sido a coisa mais complicada da minha vida.
Também sou curioso, isso ajuda bastante.
Olho através da janela e vejo as ondas quebrando as rochas desse lado da casa, comprei a
alguns anos, vim poucas vezes desde então, é onde gosto de estar, me isolo bastante então
sempre procuro lugares silenciosos, sem movimentos, Mali é um desses lugares, também um
pequeno esconderijo para que eu possa refletir.
Estou decidido, eu vou ficar com Maria e nem nada nem ninguém vai me impedir disso,
papai me apoia, e isso é o que me basta.
Falei com Soraya mais cedo e não tivemos o que posso chamar de conversa amistosa, na
verdade eu não troquei mais de uma palavra com ela, lembro de sua voz irritante e magoada por
eu ter vindo e deixado ela em Tóquio, logo que atendi ela disse:
"Qual o seu problema Luck? Quando vai largar essa cachorra?"
Me irritei e respondi um simples:
"Nunca"
E desliguei, logo em seguida ela tornou a me ligar e não atendi, não me sinto na
obrigação de dar satisfações de minha vida, ela não sabe onde estou e a anos eu jamais me senti
tão bem por isso, Condessa precisa saber entender os limites, e eu preciso estabelecê-los, eu sei
que agora a minha vida não será a mesma, e espero que quando Maria souber sobre ela isso não
seja mais um grande motivo para que ela me dê um pé na bunda.
Saio do escritório, escuto os sons dos passos descendo os degraus da escada e sei que ela
já está sozinha, me aproximo da porta e respiro fundo, a tensão não abandona o meu corpo, estar
perto de Maria me deixa assim, extremamente tenso.
Ela simplesmente age de um jeito do qual não estou acostumado: inesperadamente.
Ela é o meu inesperado.
—Idiota! — sussurro para mim mesmo, encosto a testa na porta do quarto. — Seja firme
Jack, você está no controle, essa mulher é sua e ela continuará sendo sua.
Bato na porta, escuto um pequeno "entre" e abro a porta, a imagem dela sentada na cama
com a máscara de dormir me causa um reboliço forte dentro de mim.
Quero compensá-la por isso, sei que Maria não merece isso, ela não!
Me aproximo da cama depressa, me inclino e a beijo com a vontade que oprimo desde
que ela dormiu em meus braços, toco sua nuca, sua boca está na minha, provo de sua inocência,
de sua inexperiência, ela é doce e cativante, me afasto e toco a pele macia de seu pescoço, da
vontade de morder, e chupar... de fazer coisas em toda ela.
—Que bom que acordou — digo me sentando diante dela. — Desculpe o mal jeito,
precisava disso.
—Tudo bem — sua voz está baixa... rouca.
—Como se sente? — toco sua face com carinho. — Mirna trouxe seu almoço, eu mesmo
quero dar para você.
—Posso comer sozinha...
—Está fraca, é uma sopa bem forte com fatias de frango, sua amiga Sarah disse que você
gosta, vai te ajudar a ficar mais revigorada — me levanto.
Quero que Maria sare, quero que ela fique bem pois sei que provoquei isso nela, e essa
não era a minha intenção, não mesmo em nenhuma ocasião ou hipótese, tudo o que queria e
ainda quero é apenas que ela entenda tudo isso, que ela aceite.
Pego o prato de sopa, me sento novamente diante dela, pedi a Mirna que preparasse, acho
que faz uns dez anos que eu não falo com ela, mas de repente ela estava aqui e Gil estava
cuidando para que Maria ficasse bem instalada, examinando ela, sei que a mulher do meu pai —
tio por parte de mãe — me detesta, ela simplesmente não aceita o fato de eu não ser um dos
filhos de Denzel Carsson o marido da minha mãe — pai de Ph, Jonas e Júlia.
Sou o filho bastardo, o filho do jardineiro pobre morto de fome, eu e Alejandro.
Maria abre a boca e dou a primeira colherada, ela não rejeita, acho que Sarah deu a
receita correta para Mirna, a sopa parece boa, cheira a frango com ervas, mas não sinto fome.
—Precisa tomar um banho, a enfermeira virá em meia hora para ajudá-la — falo.
—Não sou inválida — replica.
Parece que por mais que eu tente cuidar dela Maria insiste em dizer que não precisa,
mesmo doente, mesmo visivelmente abatida, ela não quer "precisar" de mim para nada, admiro
sua resistência, mas odiaria se isso fosse por orgulho ou medo, mesmo que saiba em meu íntimo
que provavelmente não é por isso.
—Mas precisa ficar quieta e repousar, abra a boca.
Ela obedece, analiso seus lábios esbranquiçados se movendo, o rosto pálido, ela ainda
está com a mesma roupa de cedo, ela basicamente dormiu o dia todo, e percebo que Maria só
está envergonhada com tudo isso, talvez a situação a irrite profundamente por conta das minhas
limitações, da Escopofobia, mas quero mudar isso.
—Você ainda está brava? — questiono.
—Não — soa sincera. — Apenas pensando nas chances de acordar a tempo do sonho.
—Isso não é muito romântico — toco sua mão, está fria. — Fique tranquila.
—Eu estou... e então, o que achou da Sah?
Não sei bem o que achar de Sarah Mello, ela parece ser uma mulher audaciosa e bem
esperta, também não nos falamos depois do desembarque, mas logo que chegamos aqui ontem a
noite Sarah me encheu de perguntas, tivemos aquela conversa, bem, acho que não a conheço o
suficiente, mas sei que quer muito proteger a Maria.
—Ela é muito curiosa e meio super protetora demais, entendo ela — alimento Maria. —
Ama você e quer você segura.
—Sua irmã é muito jovem... me desculpe, realmente assustei ela... eu acho.
—Ela não se importa — Beijo ela de leve.
—Onde estamos exatamente?
—Malibu, Califórnia, já ouviu falar?
—Malibu?
—Não gosta?
Não sei por que ela sempre se mostra tão surpresa.
—Tenho essa casa aqui, não venho a anos, pareceu boa ideia te trazer para que descanse,
eu comprei as alianças.
Pedi a Joanne os contatos do designe de joias que ela conhece, esse trabalha para família
a anos, depois de uma troca rápida de e-mails ontem Olaf foi buscar para mim, são alianças
bonitas, porém simples. Acho que essa é a grande vantagem de se ter dinheiro, não importa onde,
quando e como, basta que se pague e a pessoa estará lá a sua disposição do jeito que você quer,
quando você quiser, apenas pelo fato de que você tem dinheiro para pagá-las.
—Quer vê-las? Se não se agradar posso escolher outras.
—Jack eu não...
—Maria já falamos sobre isso, não resista.
—Não quero prosseguir com o casamento, foi um erro...
—Besteira, vai se acostumar comigo, é apenas questão de tempo.
Ela solta a minha mão, estou irritado e nem sei por que me passou pela cabeça que ela
aceitaria, que seria diferente, isso me... feri.
—Desculpe, eu realmente te assustei, mas quero ser diferente, vou fazer com que se
apegue a mim.
—As coisas não são assim.
Eu sei, já estou acostumado com um mundo vazio e cheio de impossibilidades, mas
apenas uma vez na vida gostaria que tudo fosse um pouco diferente, ou apenas melhor.
—São, é apenas um ponto de vista, quer ver ou não?
Ela está indecisa, morde o lábio inferior.
—Sim.
—Quando acabar de comer vou ao banheiro, tem cinco minutos.
Maria ergue a mão tateando o ar, depois toca o meu ombro, desliza a mão até meu
pescoço e a enfia na nuca, um choque lento de calma me toma, e a raiva vai se esvaindo do meu
corpo.
—Não fique bravo Jack.
—Você não me entende.
—Porque você é complicado, sabe que isso é difícil, e eu não quero o casamento, estou
tentando absorver tudo com o máximo de paciência.
—Estamos casados.
—Eu sei, e eu lamento se te irritei com isso.
—Não sabe o quanto significa para mim Maria.
Os lábios dela tremem, e sinto que dentro de mim algo desaparece... meu bom senso,
estou sendo romântico, nunca fui, e tolo também, me expondo, mesmo que saiba que não deva,
mas é assim que me sinto.
—Criou expectativas?
—Você não me conhece.
—Realmente.
Eu a beijo, não preciso de mais alguém na minha vida falando que eu não conseguirei
algo que quero, cresci cercado de pessoas assim, pessoas que não me queriam por perto, é isso o
que mais detesto, ser rejeitado, simplesmente é algo que não cabe dentro de minha cabeça, Maria
tem que me aceitar desse jeito.
Ela toca a minha nuca e me corresponde, isso aumenta mais a minha vontade, minha
língua explora sua boca até que ela fique sem ar, e me afasto para que ela tome fôlego, deixo o
prato no criado e me inclino sob ela beijando-a com a mesma intensidade na qual gosto, me deito
sob seu corpo e isso é muito bom, nosso beijo se torna lento, mas o clima é interrompido, o corpo
dela endurece e logo Maria parece tornar para a mesma zona de defesa.
—Não — indago. — Não faça isso!
Ela suspira.
—Maria me deixe ter um pouco de você sim? Haja como se isso fosse normal pelo ou
menos uma vez na vida.
Beijo novamente os lábios que me fazem perder a linha, toco seus cabelos me apoiando
nos cotovelos, depois de alguns instantes permito que ela me beije, a boca dela explora a minha
intensamente.
—Ótimo — mordisco seu lábio. — Você não gosta, não é?
—No início não muito, você sabe...
—Disse que te ensinaria!
—Como você é convencido.
Não entendo por que ela tem tanta vergonha assim de tudo o que fazemos e se mostra
sempre diferente da mulher que conheci em Las Vegas, eu sei que aquela mulher existe dentro
dela em algum lugar, ela apenas não quer se mostrar de novo para mim.
Sorrio, tenho um pouco de esperanças, ela toca o meu rosto e fecho os olhos entregue a
sensação maravilhosa, gosto quando ela me toca.
—Quando... quando vou vê-lo?
Agora eu fico duro, eu a olho.
—Já falamos sobre isso — vou para o lado. — Por favor, não tente forçar nada, seria
péssimo ter que afastá-la de mim.
—Sério? quantas foram antes de mim? Sempre faz isso ou é só por diversão?
—Não, não é por diversão, e não, eu nunca fiz isso, eu não faço essas idiotices sempre.
Tem muitas coisas que ela não sabe sobre mim, mas tem algo que Maria já deve entender
sobre a minha pessoa, eu sou um grosso impaciente, vejo em seu semblante algo amargo, os
lábios dela tremem e eu sei que a magoei profundamente, ela se levanta e sai andando pelo
quarto tateando o ar, estou irritado demais com a insinuação também, eu jamais faria isso com
ela por diversão, não com ela!
—Não seja idiota! — me levanto e me aproximo dela.
—Não ouse se aproximar de mim! — fala com voz abafada. — Seu estúpido!
—Maria...
—Saia — ordena. — Estou cansada desse seu joguinho, você é louco!
As coisas não deveriam ser assim.
Eu a vejo e tenho nítida certeza de que mais uma vez fiz uma grande merda, e esse sou eu
tentando não destruir o meu primeiro relacionamento sério em toda a minha vida... magoando a
única pessoa na qual parece tentar se adaptar a minha loucura.
Essa PORRA de doença!
—Sinto muito — falo. — Apenas é o meu jeito.
—É? seu jeito machuca as pessoas.
Eu sei, mais que qualquer outra pessoa na face da terra disso.
—Eu não queria estragar tudo, sinto muito — digo. — Por favor, volte para cama, está
doente.
Ela chora, as mãos tremem... novamente culpado por isso.
Sou um Lixo mesmo!
—Vamos.
Me aproximo mais e a pego no colo, sei que a última coisa que ela precisa é disso, tenho
que manter a calma, não posso encarar isso de frente e levar tudo o que ela fala ao pé da letra,
nem bater de frente com Maria. Coloco ela na cama, ela se encolhe feito criança medrosa.
—Me desculpe!
—Não, não desculpo.
—Você me irrita.
Estou sendo mais franco que tudo, é isso, ela me irrita e batemos de frente, porém Maria
demonstra tranquilamente como se sente e eu guardo isso para mim.
—Então por que casou comigo? Por que não se livra de mim? Eu assino o divórcio —
apela magoada. — Por favor, não nos sujeite a isso.
—Minha personalidade é difícil — estou sentado olhando para ela. —, mas você é muito
especial para mim.
—Não adianta ficar me ferindo e em seguida ficar assim, faz parecer que você mente, não
preciso de nada disso.
—Eu preciso... preciso de você!
Quero tocá-la, quero mostrar para ela o quanto estou sendo sincero, mas apenas o meu
jeito e a minha personalidade não permitem isso, ergo a mão, mas desisto de tocá-la.
—Para fazer sexo?
—Isso seria fácil, teria feito e deixado você no hotel, simples, acho que você não entende
o grau de importância que tem na minha vida.
—Que importância Jack? Você só sabe me obrigar as coisas desde que te conheci.
—Não pensei que fosse reagir tão mal ao nosso envolvimento, você me enganou!
—Jack qual a sua idade?
23!
Relativamente incapaz segundo os laudos médicos, alguém que já tentou se matar,
que cometeu uma centena de erros um atrás do outro na adolescência, que é um puto de
um medroso, mas que nesse momento não dá a mínima para isso.
—Não tem a ver com idade Maria, só que... se me conhecesse profundamente saberia que
eu nunca faria algo assim, me enchi de esperanças pela primeira vez na vida, sabe, você não me
entende!
—Como posso entender? — Ela se levanta. — Você é muito obtuso, grosso e bipolar.
Ela deveria falar algo que eu não sei.
—É? não diga.
—E sarcástico!
—É o que tem para hoje.
Agora vejo fúria em suas reações.
—Talvez quando for me conhecendo se acostume comigo, meu jeito, eu já disse que não
sou bom, essa coisa de casamento me deixa irritado.
—É? e por que mantém?
—Acho que já deveria ter percebido que tenho sentimentos por você Maria, mas se
prefere que eu diga... — crio coragem. — Eu- gosto- muito -de -você!
Em minha mente tudo flui perfeitamente, gosto dela e ponto!
Ela está apavorada com isso... ela não quer isso, mas quer saber? Foda-se o que ela quer,
é como me sinto, sei exatamente o que se passa em sua mente: um louco perseguidor que gosta
dela...
—Entendeu ou quer que eu repita? — pergunto bastante sério.
—Quando vou te ver?
Sufoco com a pergunta.
—Isso é injusto — reclamo nervoso, não dá para manter a calma quando Maria está por
perto, ela está fazendo isso de pirraça, só pode ser.
Nunca disse para ninguém algo assim... bem, para Condessa, mas não conto com aquela
vez, eu e ela não éramos para ser e não seremos, eu e Maria devemos ser!
—Eu só vou concordar em manter o casamento se me falar quando vou te ver.
—Por que isso é importante? — pergunto, da vontade de quebrar alguma coisa. — Já
disse sobre a doença...
—Ela não pode durar para sempre, quero te ver, sou sua mulher... como faremos quando
for conhecer minha família? Meu filho?
Essas perguntas me deixam desnorteado, não pensei nisso ainda!
—Eu ainda estou pensando nisso!
—Quer que eu fique vendada diante da minha família?
—Maria por favor, não faça isso!
Ela quer usar isso de artifício para me assustar, para me afastar.
—Vou dar um jeito — farei isso. —, mas por favor não... não use isso para me afastar.
—Disse que vai se afastar de qualquer forma — retruca apressada. — É isso o que quer?
Se livrar de mim, mas não tem coragem, tem pena de mim.
Não entendo essa mulher, estou sinceramente confuso.
—Por que teria pena?
—Porque sou feia e gorda!
Começo a sorrir, francamente!
Feia? Gorda?
Bem, talvez um pouquinho acima do peso, isso pode ser resolvido, mas nem mesmo eu
sei se quero que ela mude... não quero!
—É impossível ir contra o que eu quero Maria eu sou assim, é o meu jeito, não sabe o
quanto é difícil para eu mesmo ter que lidar com isso...
—Mas é só comigo, não é?
—Não se sinta especial, até quatro dias atrás não falava com os meus irmãos a uns cinco
anos.
—Os outros irmãos? — questiona surpresa.
—Sim, Júlia disse para todos que me casei, se assustaram e ficaram me ligando... tive que
explicar que estou bem.
—Eles se preocupam com você.
—Se preocupam com um possível golpe — revelo sincero.
—Acham que eu quero o seu dinheiro!
—Não querem que eu me machuque, apenas isso.
É Isso o que o Alejandro mais teme, por que ele sabe que eu não fico fazendo cu doce,
quando eu quero algo eu faço, simples, e o que ele mais teme é que se eu me magoar muito com
Maria eu conclua o que não consegui a alguns anos atrás, o que ele me impediu de concluir, ele e
Olaf.
—Como se você fosse uma criança.
—É, são mais velhos que eu, Jonas tem trinta e sete, e Phelipe trinta e quatro, eu sou o
terceiro mais velho da família.
Maria pondera, e quero saber o que ela pensa a respeito.
—O que pensa sobre isso?
—O que?
Tenho receio acima de tudo.
—Meu dinheiro.
—Por quê?
—Você sabe que eu tenho condições...
—E daí? eu também tenho condições. — Ela se ofendeu. —Realmente você acha que eu
dormiria com você por dinheiro?
—Não!
—Não dormiria com você nem a base de morfina. — Ela cruza os braços. — Que insulto,
eu tenho dinheiro, ou você acha que vir a Las Vegas é coisa de gente pobre?
Começo a rir, eu a observo fazer uma cara irritada, coisa que me deixa balançado e não
resisto, eu a abraço.
—Eu tenho um trabalho Jack, claro que não dá para comprar um avião com meu salário,
mas... eu nunca dormiria com ninguém por dinheiro — suspira. — Ainda mais um louco como
você.
—Pare de me chamar de louco — me ajeito na cama. — Cuide de mim, estou cansado.
—Estou doente — argumenta.
—Preciso de carinho, atenção — coloco a cabeça em sua coxa e me estico na cama.
—Sua psicóloga?
—Ela mora em Nova York onde eu mantenho residência fixa!
Eu a olho.
—Ainda quer ver as alianças?
—Não sei — responde.
Maria e sua infinita incerteza...
Mas eu sei o que eu quero!
Retiro do bolso a caixinha, abro e pego a aliança, puxo sua mão esquerda e enfio a
aliança em seu dedo, seguro sua mão e coloco a minha aliança.
—Sua vez! — falo ansioso.
—Grosso!
—Vamos, coloque.
Ela apalpa os meus dedos até achar o anelar, estou um pouco nervoso com tudo, gostaria
muito de ser um cara normal, de não obrigá-la a isso, de que nós fizéssemos isso de uma forma
diferente, mas tudo o que sou é isso, da desgosto dentro de mim, mas tenho fé de que mudarei
isso logo, eu quero mudar por ela, por nosso casamento, e em breve quem sabe não possa
oferecer algo mais concreto? Ou próximo da realidade ao menos?
A mão dela treme enquanto fia a aliança no meu dedo, eu a puxo e a beijo logo que
coloca.
—Bizarro — fala baixinho.
Rio, não resisto as coisas que ela fala, Maria é uma mulher engraçada!
—Tenho a impressão de que se esconde de mim e aos poucos vai retornando ao que foi
naquela noite — toco sua nuca. — Me beije!
Maria se acomoda e me beija, seguro sua não esquerda e entrelaço os dedos nos dela,
correspondo devagar, ela é minha!
—Pode colocar um biquíni e ir ficar com suas amigas se preferir, Julia está adorando-as
— sugiro.
—Não uso biquíni, posso descer de roupa mesmo.
—Não precisa descer de roupa, arrumo um maiô para você então — puxo sua mão e beijo
seu pulso. — Mirna traz para você.
—E... e você?
—Preciso trabalhar — demais. —, mas a noite nós ficaremos juntos.
—No seu quarto?
—Este é o meu quarto.
—Cheio de flores?
—Pedi que colocassem para você.
Pedi a Olaf que trouxesse algumas orquídeas e flores do centro quando foi buscar as
alianças.
—O que foi? Não gostou?
—As meninas não trouxeram meu buquê.
—Que buquê? Quem te deu um buquê? — só de pensar meu sangue esquenta nas veias.
— Fale quem te deu um buquê?
—Você! — as bochechas dela estão vermelhas. — O que me deu, de rosas brancas, elas
devem ter deixado no hotel.
Solto o ar, porra, que susto!
—Pelo ou menos trouxeram o seu Darcy.
Não quero nenhum outro homem perto dela.
—Tem uma porta para o meu escritório, estarei lá, desça, fique com elas, mas mantenha
repouso — me ergo— A enfermeira virá para te ajudar com o banho.
—Jack, me desculpe pela forma como falei com você, mas as vezes você me deixa
furiosa com o seu jeito.
—Vai se acostumar — tem que se acostumar.
—Posso... pode ficar um pouco mais comigo? Como no avião?
Estou realmente incrédulo com o pedido, ela quer que eu fique com ela?
—Sim, claro — até demoro para responder.
—Obrigada.
Ela se deita e me deito ao seu lado abraçando-a, Maria passa o braço envolta do meu
corpo e estou olhando-a mais uma vez admirado.
—Gosto muito de você Maria — beijo sua testa. — Gosto muito.
Ela se encolhe, toco sua nuca e o corpo dela fica mais mole entre os meus braços, ela
ergue a cabeça e me beija de repente de um jeito muito carinhoso, meu coração se acelera com o
beijo, mas não recuo, pelo contrário, quero mais que um beijo carinhoso, o beijo agora se torna
longo e forte... quero beijá-la do meu jeito sempre, mas isso desperta em mim algo do qual sei
que não posso querer dela nesse momento, me afasto, por que ela não tem resistência.
—Melhor parar por aqui — eu a solto. — Estarei no escritório.
—Tá. — Ela tenta recuperar o ar. — Bom... trabalho.
Sorrio observando a boca vermelha e trêmula, beijo sua cabeça, me afasto e abro a porta
que dá para o escritório, eu a olho uma última vez antes de trancá-la, deixo com ela sentimentos
dos quais ainda são novos para mim, guardo dentro de mim a imagem da mulher vendada
sentada na cama... Minha mulher!
Em breve muito mais que isso, assim espero.
Nível 5 da atração
Demoro um pouco com alguns e-mails no escritório, Júlia me envia a mensagem
avisando que Maria já está na varanda, gostaria de poder ir até lá e ficar um pouco com ela...,
mas eu não sou assim, eu não consigo, sou ainda um grande covarde. Me sinto medroso e
exposto, ao mesmo tempo é como se a presença dela me trouxesse uma enorme tranquilidade.
Saio na sacada suspensa, vejo as ondas quebrando nas rochas do lado e me viro, e daqui
eu a vejo sentada no sofá da varanda olhando para as ondas do mar mais a frente, Maria não me
vê, estou mais alto que ela, o máximo que pode ver é as minhas pernas, ela também está muito
distraída, os cabelos úmidos caem em suas costas, ela ainda está abatida, os lábios
esbranquiçados novamente, está realmente com o semblante de alguém fragilizado.
Pego o celular no bolso e ligo para ela, depois do terceiro toque ela atende.
—Gostou? — questiono.
—É perfeito — responde. — Gostaria de poder descer.
—Deixe para amanhã — falo analisando-a. — Suas amigas estão na cozinha com Júlia,
elas estão preparando sanduíches.
—Ah!
Gil está com ela, vai alimentá-la, Maria fecha a cara para Gil assim tão séria que até eu
teria medo, ela odeia esse tipo de coisa pelo visto.
—Como se explica em inglês para sua enfermeira que eu não quero que ela aja como
você?
—Ela é paga para isso, coma!
—Onde está Olaf? — pergunta.
—Dei folga para ele descansar esses dias, por quê?
—Ele não está me vigiando nem nada.
—Tenho mais gente agora.
Quase vejo um pequeno sorriso em seus lábios.
—É claro, sua "mordoma" parece uma mão de ferro.
—Ela não é uma "mordoma", ela é a esposa do meu tio.
Os traços de sorriso desaparecem de suas feições.
—Ela entende...
—Absolutamente não, ela sempre vem com a Júlia, ela tem medo de que eu a desvie para
o caminho do mal.
—Desculpe, ela é muito séria.
—É o jeito dela, nada parecida com meu tio, ele é mais simpático.
Ela começa a aceitar a comida que Gil oferece, se inclina e paga uma torrada, olha
fixamente para o mar, e os meus olhos estão nela... não consigo ser diferente disso.
—Preciso ligar para o Nando — fala vagamente.
—Sarah disse que ligou ontem à noite, ele está bem, descanse depois ligue para ele.
Sarah me disse isso mais cedo, também estou um pouco incerto sobre isso, Maria tem
uma criança de dez anos, algo que prefiro não entender simplesmente por que ela era virgem, eu
sei que sim, mas é algo que não se explica.
—Se importa se eu usar o seu celular?
Maria e seu orgulho que não me serve para nada, mas ainda continua sendo até que
cativante esse lado dela.
—Ele é seu!
—Vou devolver.
—Não vai não, Maria não comece.
—Está no escritório?
—Sim — respondo. — Queria que estivesse aí com você?
—Queria dar uma volta na praia, parece perfeito.
—Faremos isso amanhã então.
—Tá bem.
Não sei o que falar exatamente, ela também não fala nada.
—Nos vemos mais tarde.
—É, nos vemos mais tarde — repito e suspiro. — Um beijo.
Rio e desligo e depois de alguns instantes eu a vejo sorrir olhando para tela do celular.
—Acho que não vou conseguir esperar até mais tarde querida...
—Maria?
Ela não demora para responder.
—Sim?
—Coloque a máscara.
—Ela não está aqui.
—Embaixo do travesseiro.
Vejo pela frecha da porta ela pegando a máscara e logo em seguida colocando-a, nem
espero, saio do escritório e caminho para o rumo da cama, Maria usa um maiô e short, eu a
observo enquanto subo na cama, ela está com as mãos juntas e dobradas sob as pernas, não
parece tão confusa quanto das primeiras vezes.
—Oi.
—Oi — sua voz é baixa.
—Eu... eu tirei o dia de folga, para ficar com você — declaro com um receio inicial cheio
de medo.
—Deve ser difícil para alguém como você tirar uma folga, não precisava se dar ao
trabalho.
É, mas não gostaria que você pensasse que te troco pelo meu trabalho...
simplesmente é a única pessoa na face da terra por quem faço algo assim e você me dá um
fora...
Mas respondo apenas:
—Precisava.
Seguro sua mão.
—Gostou da vista?
—Sim, é perfeita.
Me deito a sua esquerda, Maria vai escorregando até que esteja completamente deitada,
volto a tocar sua mão, observo-a, eu nunca pensei que ela fosse realmente aceitar — de verdade
— o que eu propus.
Sei que ainda com resistência ela aceita, e se depender de mim continuará aceitando.
—Como é a sua vida no Brasil? — seguro sua mão e acaricio com cuidado.
—É normal, meio caótica, eu não tenho muito tempo também, eu trabalho em período
integral e estudo a noite, folgo aos fins de semana.
—E o seu filho?
Estou curioso sobre Fernando, não sei muito além do que Maria falou, conheço ele
apenas pelo nome, mas entendo sua posição, não me importo, acho que só me assustei muito no
início quando ela falou.
—Ele fica com a Júlia, ela me ajuda com ele agora que já cresceu, eu o levo para escola
de manhã, ela o busca depois da aula, eu o vejo basicamente só quando chego da aula.
—Não vai em casa durante o dia?
—Não dá tempo, eu almoço no trabalho e de lá já vou para faculdade.
—De carro?
Maria sufoca um sorriso e fico sem entender.
—Nada de carro, eu só ando de ônibus. — Ela sorri abertamente. — Pelo ou menos eu
tenho um motorista.
Estou rindo com esse último comentário, porra, ainda fazem mulheres assim? Fico
maravilhado, Maria é uma mulher batalhadora, nunca pensei que sairia com alguém assim, a
maioria das mulheres com quem saio não precisam pegar ônibus para viver, são mulheres
formadas em administração, em engenharia, e até médicas, mas nunca alguém como ela... ela é
diferente.
—Eu nunca andei de ônibus — puxo ela para junto do meu corpo. — É bom?
—Sério? — estou em pânico.
—Ônibus corporativo vale?
—Tipo de empresas?
—É, da minha empresa, mas eu já andei de trem muitas vezes na França e em Londres.
—Você nunca andou de ônibus?
—Não, mais por minha condição, eu tento viajar sempre com os mesmos funcionários.
—Tem sorte.
Acho que as vezes assusto Maria com essas pequenas revelações, mas bem, não minto,
jamais me arriscaria a me expor a esse ponto, não gosto nem de imaginar quantas pessoas
ficariam me olhando dentro de um ônibus lotado.
—Você mora perto da praia, não é?
—Uma hora de ônibus, mas a Sah sempre me busca lá em casa, vou aos domingos as
vezes.
—Eu não venho aqui a quase seis anos, foi sugestão da sua amiga, ela falou que você
adora o mar — Júlia havia me falado via mensagem, Mali foi meu primeiro impulso.
—É, eu gosto.
—Podemos vir aqui mais vezes se desejar.
Ela fica dura entre meus braços.
—Eu tenho o Nando e ele está acima de qualquer coisa ou pessoa Jack.
—Quando disse podemos estava incluindo ele — esclareço.
—Ah — seus lábios escondem novamente um sorriso. — Gosta de crianças?
—Não convivo muito com crianças, mas posso conhecê-lo — preciso descobrir de onde
conheço Maria, preciso lembrar, isso também não me sai da mente. — Antes de me conhecer... já
tinha conhecido algum americano antes?
—Teve um garoto no terceiro ano, eu tinha dezenove anos, tive que repetir porque eu
engravidei do Nando — Maria não quer falar disso, ela se encolhe. — Acho que era de fora.
—Hum — puxo-a para meu corpo, Maria fica por cima. — Mais alguém?
—Não, acho que não. — Ela fala desconfortável. — Melhor eu...
—Não, pode sossegar aí — suspiro. — Nenhum mesmo?
—Você — fala e me sinto meio idiota. — Como você é?
—Normal — falo. — Você se importa demais com isso Maria, esqueça por um momento
minha aparência.
—Não é pela sua aparência, é a situação — reclama. — Jack você tem medo de mim,
mas das outras pessoas você não tem.
—De algumas sim — toco suas costas. — Nenhuma delas tem tanta importância para
mim é claro.
—Então me fale de alguém.
—Talvez não seja boa ideia.
—Acho que posso suportar.
—Todas as minhas amantes.
Ela fica calada, não estou envergonhado, mas sinceramente já deveria imaginar que
Maria ficaria ao menos brava comigo por isso, porém eu prefiro ser verdadeiro com ela a ser algo
que eu não sou.
—Diga algo.
Novamente silêncio.
Já sei o que ela pensa.
—Se sente enojada?
—Apenas surpresa, você sempre... dorme com elas antes?
—Não, e nenhuma delas me conhecem pessoalmente como foi com você, eu disse que
não me envolvo com qualquer uma assim por causa disso, nem todas as minhas amantes sabiam
das minhas limitações desde o começo.
—E depois elas aceitavam tranquilamente?
—Nem todas.
—Mas disse que teve algumas...
Condessa... Mas não quero falar sobre ela agora, já me bastam os problemas que tenho
pela doença, falar dela agora só arruinaria tudo o que consegui até esse momento de Maria, ao
menos que ela entenda primeiro minhas limitações para depois saber do meu passado.
—Uma apenas, não quero falar disso.
Não quero falar de Condessa.
—Durma um pouco.
—Estou sem sono, acabei de acordar.
—Então o que quer fazer?
—Você não dormiu... Sah me falou.
—Não preciso dormir.
Beijo-lhe a cabeça, o coração dela dispara.
—Dormi no avião com você, calma.
—É culpa sua — acusa séria.
—Minha culpa? — sorrio. — Fica assim sempre que um homem se aproxima de você?
—Nenhum homem se aproxima de mim Jack, olhe para mim...que homem iria me
querer?
Porra.
Essa mulher realmente está me perguntando isso?
Ela vai para o lado, percebo que Maria tem uma percepção péssima a respeito de si
mesma, ela é uma mulher muito bonita, ao menos para mim, apenas sinto que ela se esconde por
trás de um certo... desleixo.
—Bem, eu não sei por que você está falando essas coisas — reclamo. — Você se
menospreza assim mesmo ou está fazendo isso para me afastar? Porque não funciona, nada vai
me afastar de você Maria.
—É? — se irrita — Pois bem, deixe que me conheça de verdade, não vai querer ficar
comigo nem por mais de cinco minutos.
—Até lá, eu estarei aqui pacientemente esperando pela minha esposa.
Abraço ela novamente, a cabeça dela está em meu peito, aperto Maria, senti-la comigo
é... muito bom.
—Maria.
—Hum.
—Você me acha estranho?
—Não você, mas a sua doença, não consigo entender.
—Não precisa, é complicado, eu sou assim.
—Entendo que seja difícil, só não entendo por que com suas... amantes.
—Elas ficam bem mais próximas de mim do que as outras pessoas, Lane fala isso.
—Por serem próximas de você acaba ficando de alguma forma suscetível é isso?
—Mais ou menos, é ruim falar disso, mas sei que você não aceita então quero tentar
explicar.
—Mas se mostrou para mim no cassino, nos casamos.
—É, foi... diferente, você é diferente... — penso por alguns instantes — Gostaria que
entendesse isso, aceitasse.
Beijo seu ombro.
—Você não é carinhoso.
—Não, não sou, mas você me deixa assim.
—Era assim com as outras?
Nunca fui assim com nenhuma delas... com ninguém.
—Por que se preocupa? Não estou casado com nenhuma delas.
—Aham, claro, e depois eu sou a vilã da história.
—Gosto quando fica magoada, você fica toda dramática.
—Você não me conhece Jack!
—Então me mostre quem é você, nos dê uma chance.
Estou basicamente implorando para que Maria me aceite, que ela me entenda e que ela
aceite as condições de nosso casamento ela, no entanto não quer isso.
—Desse jeito?
—É tudo o que tenho para oferecer.
Ela permanece dura em cima de mim feito uma tábua, acho que devo me acostumar com
isso.
—Não quer tirar esse maiô? — percebo que ela está desconfortável com esse maiô.
Já sei a resposta.
—Não.
—Ele é desconfortável, tire!
—Jack eu não vou ficar nua para você.
—Mais cedo ou mais tarde isso acontecerá... de novo.
Ela cora e eu quero muito rir disso.
—Não vou tirar.
—Quero que fique à vontade.
—Estou à vontade.
—Não está, ficaria melhor de biquíni.
—Para você ficar olhando para o meu corpo feio e sem graça... eu não combino com
essas coisas.
—Então o que sugere?
—Que eu continue assim.
—Não está relaxada.
—Para você é mais importante que me sinta relaxada á bem?
—Tire o maiô Maria, vai se sentir melhor — ordeno com mais firmeza, não me importo...
bem, na verdade não me importo nenhum pouco de vê-la nua.
—Não quero tirar, você quer começar a brigar de novo?
—Não, mas ele a incomoda.
Ela se irrita.
—Estou bem assim.
—Não está.
—Jack o que você quer? Transar?
—Se quisesse já teria feito sem nenhum esforço, acredite, tire o maiô.
Maria parece horrorizada, estou sendo rude, mas para ser sincero realmente vejo que o
maiô a incomoda, ela se ergue e se senta na cama, levanto também e vou trancar a porta, retorno.
—Quer ajuda? — pergunto me inclinando em sua direção.
Se torna um pouquinho fascinante vê-la vendada, simplesmente por significar que confia
em mim o suficiente para isso e isso vai muito além da minha doença.
—Não quero tirar, não me obrigue. — Ela está novamente nervosa.
—Quero te ver — insisto e percebo novamente que Maria se exalta por minha culpa,
inferno! Tem hora que ser eu mesmo é difícil até para mim, mas não consigo ser diferente disso
que sou.
—Isso é injusto — berra furiosa. — Quer me ver? E eu não posso te ver.
—Estamos casados — determino. — Tire o maiô, pode usar minha camisa, eu saio para
que se dispa, tem dois minutos.
Tiro a camisa, coloco na mão dela e vou para o escritório, espero impaciente que ela se
troque, conto dois minutos no relógio e aviso:
—Já estou indo.
Ela está bufando quando retorno ao quarto.
—Acho que não se importa se o seu marido ficar só de cueca não é mesmo?
—Não. — Ela é sutil.
—Vem, deita comigo.
Tiro o a calça, ela vai se deitando e desvio o olhar das pernas dela, as coxas mais grossas
e morenas, minha camisa ficou grande para ela, mas dá para ver suas pernas e os biquinhos dos
seios dela, respiro fundo e subo na cama, me deito em cima dela e a beijo tentando ter calma mas
não consigo, ela me corresponde, e mesmo que queira muito mais que isso é o que me basta por
agora.
Gosto dela e ela de mim!
Maria está agarrada a mim, deitada sob as minhas costas, ela está absolutamente tensa,
por isso percebo que acordou pois enquanto dormia ela simplesmente havia abandonado o peso
de seu corpo no meu, e mesmo quieta percebi que ela acordou algumas vezes durante a tarde,
cochilei mas não consegui dormir, a todo momento refletia sobre ela, sobre nosso casamento...
escolhas.
Também pensei bastante nas possibilidades disso dar certo, em todas as poucas chances ,
tenho os pés no chão, sei que se amanhã ela acordar e não decidir continuar sob as minhas
condições ela o fará e não poderei impedi-la, mas posso muito bem tentar convencê-la de que o
que temos por enquanto é o melhor.
Milhões de coisas sobre minha família, papai, meus irmãos, sobre Condessa e o que
vivemos, mas também sobre o novo... o agora, Maria.
Me questionei sobre nosso casamento, sobre como será dezenas de vezes, e nada me
vinha a cabeça, preciso me esquivar do pessimismo para prosseguir, dentro de mim tudo diz
claramente "não vai dar certo", "ela vai te abandonar", mas eu não vou permitir que isso me
derrube, nunca deixei, eu nunca desisto de algo que realmente quero.
Por isso cada dia que se passa concluo que nunca amei Condessa, tudo o que senti por ela
foi uma espécie de doença que se alastrou por mim, tudo o que havia dentro de mim por ela
acabou tão logo eu percebi que não ficaríamos juntos, eu desisti dela.
Mas com Maria não será assim.
Seguro sua mão, quero tanto que isso dê certo, talvez essa seja a minha única chance de
ter alguém ao meu lado para sempre, até que um dia estejamos velhos e essas coisas, eu não
encaro isso de uma forma banal apesar de tudo, em sua totalidade os acontecimentos com Maria
apesar de me estressarem também em contra partida me acalmam, e isso é a coisa mais esquisita
que já me aconteceu na vida.
Ela me irrita, me tira do sério, mas em outros momentos estou absolutamente em paz em
tê-la por perto, não quero que Maria seja o cano de escape para os meus problemas, e não é isso,
ela apenas cativa em mim um lado que eu nunca possuí, um lado em que me faz querer esperar...
Estou ainda confuso.
Tudo isso foi bem rápido para mim também.
—Acho que está na hora de você sair da cama mocinha — beijo sua mão.
Ela tem mãos bonitas apesar de não ter unhas pintadas, os dedos dela são pequenos e
compridos, as palmas das mãos avermelhadas e lisinhas, tem mãos delicadas.
—Não — replica com a voz baixa e sonolenta.
—Não? — sorrio surpreso. — E quer ficar aqui?
—Sim. — Ela cheira o meu pescoço, isso me provoca arrepios por todo o corpo. — Seu
cheiro é tão bom.
—É? — me encolho com o arrepio.
—É, estou explorando meus sentidos, quero aprender a identificar quando você estiver
por perto.
—Isso quer dizer que...
—Não se empolgue tanto — interrompe novamente rígida. — Apenas até você decidir
me dar o divórcio.
—Tenho que avisar que talvez isso nunca aconteça.
Suspira e o calor de seu hálito em minha nuca me causa novamente arrepios bons por
todo o corpo, Maria enfia a mão nos meus cabelos e cheira minha nuca mais uma vez
proporcionando essa onda gostosa que se espalha pelo meu corpo, fecho os olhos, e ela cheira o
meu pescoço, estou começando a ficar duro, me estico, e ela rola para o lado, ao mesmo
momento que escuto o grito e me apavoro ao extremo, me apresso e os reflexos falam mais alto,
seguro ela impedindo-a de cair no chão.
—Cuidado — e prendo seu peso com meu braço na cama, puxo ela pela cintura e Maria
tenta apalpar a cama apavorada. — Tudo bem?
Ela está realmente assustada, também estou, mas acho que para ela é muito pior.
—S-sim — fala com a voz trêmula. — Você é muito forte.
—É impressão sua.
Ela arrisca um sorriso e de novo me vem essa sensação estranha de arrependimento, toco
sua face com carinho.
—Me desculpe por te submeter a isso.
Nada além do que penso me assusta mais que a hipótese dela querer ir embora, devo
obrigá-la a ficar? Devo continuar com isso? Mesmo que queira muito sei que as chances de
Maria me odiar por isso são de cem em cem, mesmo que eu não queira desistir preciso saber
dela.
—Você quer desistir — afirmo. — Eu só te forço as coisas.
—Algumas não são tão ruins, acho que a melhor foi me trazer para cá —abaixa a cabeça
e parece pensar muito bem antes de falar: você não é tão sensível.
—Se tentasse me conhecer ao menos...
—Não quero sair, podemos comer aqui então. — Ela segura a minha mão. —Está bem?
—Você quer a minha companhia?
Estou realmente incrédulo diante disso.
—Sim — fala. — Você não fala muito, nem eu, é bom assim.
Eu a beijo ansiando por mais, Maria não sabe o quanto isso realmente significa para mim,
o grau de relevância que essas pequenas respostas me causam, eu a puxo e ela se deita em cima
de mim, suas mãos se enfiam na minha nuca me proporcionando as melhores sensações
novamente, seu corpo no meu desperta em mim desejos profanos... intensos e me controlo muito
para não acabar fazendo merda.
Com ela tudo é um pouco mais devagar.
Me adapto ao seu mundo, também nunca vivi isso com mulher alguma, o fato de ser algo
espontâneo da parte dela me deslumbra bastante. Toco suas costas, anseio seu toque, mesmo que
sua boca já seja minha quero muito além do beijo, quero que ela me corresponda por inteiro, sem
medo, sem receio, inverto as posições, fico por cima seguro suas mãos e as coloco em minhas
costas.
—Me toque também — estimulo.
Beijo-a novamente, nosso beijo é barulhento, mas não me importo, a mão dela sobe para
minha nuca novamente, e minha língua se enrosca na dela com perfeição, a boca dela é quente,
os lábios macios, sinto seu toque firme no meio das minhas costas, Maria me molda-se ao meu
corpo perfeitamente.
Ela é perfeita para mim.
—Jack...
Já entendi.
—Tá — vou para o lado, tento respirar fundo. — Desculpe por isso.
—Não é você...
—Eu sei.
Eu a olho, sua boca avermelhada implora por mais beijos, sei que sim, Maria quer isso,
ela apenas tem um pouco de medo do que ofereço, ela puxa a camisa mais para baixo
constrangida.
—É difícil ser homem perto de você Maria, quando estamos juntos me sinto numa
montanha russa.
—Bem-vindo ao meu mundo, pelo ou menos pode ter a percepção que quer, ver minhas
reações, meus sorrisos, e quando estou brava.
Ela quer ver as minhas reações... meus sorrisos... me sinto consternado.
—Quer ver meu sorriso?
—Se não fosse tão presunçoso.
Sinto que ela esconde algo por trás de todos esses foras... preciso me arriscar mais, não
posso ter medo de sua rejeição também, por mais que as vezes isso me deixe decepcionado.
—Gosta de mim? — questiono guardando para mim o medo da resposta.
—E muito convencido.
Ela não quer admitir, mas vai!
—Gosta! — concluo com firmeza.
—Você está rindo de mim, não é? — pergunta mais séria.
—Você não sabe mentir — acuso desprovido de humor, mas ao mesmo tempo muito...
feliz?
Ela Gosta de Mim!
—Diga — peço me sentindo um imbecil.
—Jack você é louco, obsessivo e doentio — fala apressadamente. —, mas eu gosto de
você.
Maria gosta de mim!
PORRA!
CACETE!
CARALHO!
Tudo dentro de mim parece se misturar e meu estômago está revirando, solto o ar
lentamente, pois estava na expectativa.
—Só precisa se acostumar comigo agora — falo e estou sorrindo. — Vou buscar nosso
jantar, Gil virá te examinar.
—Quero uma calcinha — fala em tom de ordem.
Ela se irritou com a minha conclusão, mas não dou a mínima.
Gosta e pronto, se não gostasse por que se submeteria? Por que ela aceitaria a minha
condição? Por mais que eu me imponha e queira obrigá-la Maria poderia muito bem ter ido
embora nas vezes em que permiti, como naquele dia do carro...
—Vou pedir a sua amiga que te traga uma, ela está com sua bagagem —beijo ela com
carinho. — Gosta de mim!
Ela morde a minha boca e isso me machuca, não me importo, na verdade da vontade de
morder de volta, mas ainda não.
—Hum... de novo!
—Você parece um adolescente apaixonado Jack — Maria reclama. — É isso? Pedante
também?
—Sou, eu disse, basta me conhecer, vai ver que eu sou ruim, mas não tanto — dou um
selinho. — Já volto.
—Tá, eu posso tirar a máscara?
—Sim, quando eu estiver vindo eu aviso, fique atenta ao celular, só vou colocar uma
camisa e saio.
Saio da cama, vou para o closet e os meus olhos não saem dela, novamente me sinto tão
tolo por estar feliz com isso, com essa conclusão, mesmo que ela não admita realmente o que
sente por mim sei que não é um simples "gostar", porra, adoro essa mulher, e isso ainda é
conflitante dentro de mim, mas ao mesmo tempo unitário, é um sentimento forte e indescritível, a
atração é evidente claro, mas bem mais forte do que qualquer outra coisa que já senti em toda a
minha vida.
Visto uma camisa, passo pelo quarto de novo e resisto em ir a cama, sei que se eu voltar
lá talvez eu não saia de lá, talvez eu cometa uma loucura, saio do quarto e a deixo sentada na
cama com a máscara.
Desço, logo que me vê entrando na sala Sarah levanta e vem para o rumo da escada.
—Maria precisa de roupas íntimas — digo rapidamente. — Por favor, entregue algo para
ela.
—Sim, claro!
Sarah sorri e vai subindo os degraus toda apressada, sei que vai conversar com Maria
também, saber se ela está bem, Gina e Júlia estão jogando cartas no chão da sala, minha irmã se
identificou muito com as amigas de Maria, vou para cozinha onde encontro Gil sentada a mesa
de refeições, ela sorri logo que me vê.
—Oi Jack!
—Oi.
Mirna não está aqui, mas tem comida pronta no fogão.
—Ela está bem?
—Sim, dormiu bastante a tarde.
Gil é a minha ex cunhada, ela e o Ph foram casados por anos, é uma pena que o merda
não soube dar valor a brilhante mulher que tinha, ele abandonou Gil simplesmente pelo fato de
que ela não poderia ter filhos, ela é enfermeira num dos hospitais do meu pai, claro que não
possuímos um vínculo ou uma intimidade muito profunda, mas não pensaria em pedir a uma
estranha para cuidar de Maria, Júlia fez certo em ligar para ela.
—Você parece... bem!
Me sento de frente para Gil, ela me serve um café, depois serve para si própria, usa
roupas de enfermeira, e eu nem sei por que, mesmo que esteja em trabalho não gosto dessas
coisas, na verdade não me importo, contudo sei que não temos assim tanta intimidade para falar
sobre o que quer que seja.
—Fazia tempo que eu não te via Jack — Gil pondera. — Você se tornou um homem.
Fico constrangido.
—Ainda não.
—E essa aliança no dedo? Ela... ela reagiu bem a sua doença?
—Mais ou menos.
—Ela parece uma boa moça, apenas um pouco... ranzinza.
—Maria é arisca.
Gil sorri, não me importo, não me sinto incomodado com seus olhares, ainda é
confortável sentir os olhares de quem conheço de quem não conheço, mas as vezes nem sempre
consigo permitir que as pessoas da minha família se aproximem dessa forma de mim, na verdade
nunca.
—O seu pai me contou — Gil sorri, mas sinto que não por julgamento ou ironia, coisa
que os meus irmãos sempre fizeram bem, ela realmente está feliz por mim. — Vocês vão
conseguir Jack.
—Espero que sim — digo. — Obrigada pelo apoio Gil.
—Não se importe com o que as outras pessoas pensam Jack, viva a sua vida, você é um
jovem brilhante e inteligente, seus irmãos não sabem nem o que é bom para eles quanto mais
para você.
Isso é verdade, ao menos sobre os meus irmãos.
—Eu não me importo.
Gil olha o relógio de pulso.
—Daqui a pouco preciso examinar ela.
—Onde está a bruxa?
Ela olha para os lados e começa a rir, não me importo, Mirna sabe que odeio ela e é
recíproco, não dou a mínima.
—Ela está na varanda bordando, fez o jantar com uma cara feia...
—Imagino, ela odeia a situação... eu a odeio.
—Mirna é uma mão de ferro.
—Você não sabe do que se livrou.
—Realmente.
Acabo rindo, bebo um pouco do café, escuto o som do carro e imagino que seja Olaf.
—Você vê muito o Ph?
—Às vezes, eu fui transferida de setor, ele também quase não vai ao hospital, só para o
controle de infecções.
—Papai sabe que não pode abrir mão de nenhum dos dois.
—Eu e Ph não temos mais nada incomum, o que aconteceu ficou em nosso passado, não
julgo ele, não seria feliz também ao lado de alguém com um objetivo de vida tão diferente do
meu.
—Ele é um merda idiota.
—Nisso concordamos.
—Eu preparei o jantar — Júlia fala entrando na cozinha. — Eu e mamãe, estou
colocando a mesa para que possamos jantar juntos, todos nós.
Júlia vai aos armários e pega o aparelho de jantar, Gina logo atrás dela, fica me olhando e
sorrindo, me sinto constrangido com tudo, não olho para Gina.
Sorrio, depois escuto um berro vindo da sala.
—Alejandro... volta aqui...
Alejandro?
Me ergo, ao mesmo tempo que estou me apressando para sair da cozinha Gil vem atrás de
mim, passo pela sala feito um foguete, mas quando entro no quarto já é tarde demais.
—Alejandro...
Ele está dentro do meu quarto, Sarah e Maria sentadas na cama, me enfureço, não dei o
direito dele entrar no meu quarto assim, Maria tampa os olhos, ela está muito vermelha, meu
irmão me olha de repente apavorado.
Inferno.
—Gil está aqui querida — Sah fala calmamente e me olha. — Ela precisa te examinar.
Droga, mil vezes droga, que situação mais constrangedora, pior, não sei se para mim ou
se para Maria.
—Tá — Maria pega a máscara de dormir embaixo do travesseiro. — Desculpe Sah.
—Tudo bem — Sarah se levanta. — Estou aqui.
Gil começa a fazer os exames em Maria, Alejandro está olhando fixamente para Sarah,
me aproximo dele e cruzo os braços tentando ao máximo manter-me paciente diante disso.
—Então... como eu estava te falando, o Nando me contou a história da menina — Sarah
se senta novamente a cama, elas falam português é claro. — Acredita que ele disse que está afim
dela?
Maria está dura e imóvel, elas falam de Fernando seu filho.
—E o que ela tem de especial?
—Ele disse que ela é linda, assim, loirinha dos olhos claros e tudo — Sarah sorri. —
Você está com ciúmes?
—Estou preocupada — reclama Maria imediatamente. — Ele só tem dez anos.
—Ele está crescendo — sua amiga fala baixo em defesa de Fernando.
O filho de Maria já é grande o suficiente para namorar?
—Ele é uma criança — rebate. — E quando eu chegar em casa vou conversar com ele
sobre isso, eu é que não vou ser avó antes dos sessenta.
—Mas você é muito ciumenta!
Não sabia que Maria é ciumenta, ela se quer parece se importar comigo direito, a pouco
disse que gosta de mim, tem tantas coisas sobre ela que eu não sei, quero saber absolutamente
tudo sobre ela.
—Não sou, apenas me preocupo, se fosse seu filho reagiria da mesma forma.
—É verdade, quando eu tiver filhos vou ser uma mãe super despreocupada e liberal.
—Claro, por que afinal de contas sou eu que fico mexendo no celular dele não é mesmo?
—É diferente.
—Claro, claro!
Maria parece querer rir, Sarah acaba de beliscar seu pé, mesmo tenso eu quero sorrir em
vê-la sorrindo.
—Ela está bem e a pressão normal — Gil diz depois de verificar seus sinais vitais — Só
precisa se alimentar e de repouso.
—Sua pressão já está normal — explico em português. — Sua amiga...
—Ela sabe que eu estou com enxaqueca — Maria fala. — Meus olhos ardem com a
claridade.
Ela está mentindo, sei que sim, mas talvez Sarah não saiba de toda a verdade afinal,
porque isso seria complicado para se explicar com alguém desconhecido. Ter minha mulher
vendada numa cama, todos podem me ver e ela não...
—É, ela já estava assim quando eu cheguei — Sarah fala. — Quando ela tem dor de
cabeça não suporta a claridade.
—Ela vai ficar bem — falo. — Meu irmão Alejandro, Denzel essa é a amiga da minha
esposa, ela se chama Sarah.
—Jack se você quiser eu posso cuidar dela para se resolver com o seu irmão — Sarah
sugere apenas num tom despreocupado.
Nada me ocorre, Alejandro chegou e não tem como eu fazer isso com tantas pessoas aqui,
como posso explicar isso para Gina? Para Sarah? Submeter Maria a essa humilhação? Não!
—Pensei que poderíamos comer juntos, Gina e Julia nos esperam para o jantar lá
embaixo — falo a força. — Maria pode esperar aqui no quarto já que não se sente bem.
Sarah me olha de um jeito detestável, sei que ela odiou a ideia, Gil sai do quarto sem
nada dizer assim como Alejandro, ele sabe que estou cheio de raiva, ódio eu diria.
—Tudo bem Sah — Maria fala. — Desça, fique com as meninas, jantem, eu vou
descansar mais um pouco.
Sarah fecha a cara para mim e beija cabeça dela, logo em seguida ela está saindo do
quarto, sou o último a sair, e agora, tudo o que vejo é uma mulher encolhida em uma cama
chorando, isso não só me machuca, isso me destrói, mais uma vez magoei Maria.
Nível 6 da atração
Sei que ela já acordou, e sei que Maria vai me evitar... muito mais do que já estava
evitando, logo agora que estávamos começando a nos acertar aconteceu aquilo, e eu fiquei tão
sem saída que não soube como resolver o inconveniente de uma outra forma.
Apenas não quis submetê-la aquilo, não mais do que Maria já estava exposta.
—Maria!
Ela não responde.
—Maria... por favor!
De novo ela fica calada.
—Era o único jeito delas não saberem, por favor Maria, entenda!
Mais uma vez silêncio.
Não consegui dormir direito ontem, durante o jantar sentia que todos estavam
visivelmente incomodados com a ausência de Maria, Alejandro estava com medo e Júlia com
desgosto, não disse nada para ele, e por mais que tenha se desculpado comigo após o jantar tudo
o que dei a ele foi meu silêncio, não poderia falar nada, nem fazer nada, eu sabia que se
explodisse com ele — como faço as vezes — eu só pioraria as coisas, Júlia e sua ideia idiota de
querer que todos jantassem juntos... como poderia jantar com Maria e pedir para ela se submeter
a isso?
A ideia é ridícula e deprimente... e por minha culpa acabei magoando-a mais uma vez.
—Por favor não faça isso! — toco seu ombro. — Fale comigo.
—Não quero, me deixe quieta. — Ela vai para frente chateada. — Por favor não insista,
não me magoe mais.
—Não era minha intenção, não sabe o quanto é árduo para mim também, isso é muito
ruim Maria, não gostaria de se sentir assim, acredite.
Não sei explicar o que acontece comigo quando a doença não me permite ir muito além
do que já vou, apenas ignoro o medo perto dessas pessoas, mas quando se trata de Maria... dá
vontade de me esconder em um lugar muito longe dela, não quero que ela me veja, não assim, eu
não consigo me compreender... eu não me entendo quando se trata disso.
—Você mentiu sobre sua idade — sua voz é acusadora.
—É — digo, mas não me importo muito — seria mais um motivo para me afastar.
—Você é mais novo que eu.
Eu mais que todo mundo sei disso, já não basta me sentir ridículo por tudo ainda sou
quase seis anos mais novo que a minha própria mulher... não preciso que ela fale isso para mim.
—Besteira Maria, são apenas dois anos, nem isso, sua amiga falou?
Ela também não vai saber que são seis anos, basta que pense que tenho 26.
—O que importa é que mentiu! — replica. — Por que não vai trabalhar?
—Não quer que eu fique com você?
Eu nem sei por que pergunto, já sei a resposta.
—Você espera que eu reaja bem a tudo isso do dia para noite? Não sabe o quanto me
senti mal ontem.
Estendo a mão e quero tocá-la, mas desisto, me sinto realmente idiota por ontem.
—Sei como se sente, e sinto por isso, mas eu não conseguiria... por favor apenas entenda.
—Jack eu não posso fazer isso, eu não sei como fazer isso, você entende que da mesma
forma que é difícil para você é para mim?
—Sim, eu entendo — as palavras saem sufocadas. —, mas teria se sujeitado a descer com
a máscara de dormir?
—É uma condição que é imposta devido a sua doença — responde — Isso o impedia de
vir e jantar comigo?
—Não, mas não queria parecer mal educado, e Júlia insistiu muito para que jantássemos
juntos, ela ficou triste por você não poder descer, depois percebeu o que fez e me pediu
desculpas, quando desci ela já havia arrumado tudo, até convidou Alejandro sem me avisar.
Eu a observo de costas para mim, e esse sentimento queima no meu peito me
machucando mais e mais sempre, quero tantas coisas com Maria, coisas das quais não posso
fazer agora, talvez nunca consiga, mas tê-la por perto, apenas isso já é o suficiente para mim.
—Disse que me levaria para passear na praia hoje.
Melhor não.
—De que adianta? Não vai poder ver!
Realmente me sinto mal, mais pela minha condição que tudo, e tudo o que eu mais quero
é poder ter um pouco de coragem para fazer isso, permitir que ela me veja novamente mas... eu
não CONSIGO, por mais que eu queria e tente o medo me toma apenas de pensar em permitir
isso. O medo é desleal, forte e frio, e isso é demais para mim. Me levanto da cama, eu a observo
encolhida na cama com a máscara de dormir, meu coração fica se contraindo e me sinto tão...
fraco.
—Jack...
—Só pedi que me aceitasse, apenas isso, você acha que eu quero essa situação? Eu pensei
que você aceitaria, entenderia, ontem você estava cordial e mais calma.
—Não espera que seja tão rápido espera? — ela se ergue. — As coisas não são assim.
—Não, mas poderia se esforçar.
—Acredite Jack, eu estou me esforçando, eu já passei por coisas muito ruins na minha
vida e já fui submetida a coisas bem piores que isso, só que você não ajuda.
—Como quer que eu ajude? — pergunto irritado, mas comigo mesmo.
—Me falando sobre você.
—Sou parecido com Alejandro, o que mais quer saber? A cor da minha cueca?
—Grosso!
Eu sei disso.
Porra, estou agoniado!
Por que estou agoniado? O que é isso que sinto dentro de mim que me frustra? Nunca
senti essa coisa, me corrói e me machuca.
Sofro... Sofro em vê-la infeliz, é isso!
Maria se levanta e vai caminhando lentamente até a porta, trinco o maxilar limpando as
minhas faces, inferno, estou chorando... de novo.
—Para onde pensa que vai?
—Passear na praia!
—Vai cair no primeiro degrau — digo chateado — Me espere aí, vou pegar um casaco
para você, ainda é muito cedo.
Vou até o closet, visto uma camisa de mangas qualquer, pego qualquer casaco meu no
armário, volto e ajudo Maria a vestir, abotoo o casaco quando sinto seu toque em meus braços,
fecho os olhos e respiro fundo, gosto muito quando ela me toca, alcança os ombros e depois me
puxa pelo pescoço, ela me beija o queixo depois sua boca está colada na minha num beijo muito
lento e carinhoso, eu a beijo de volta.
—Me desculpe — falo sincero. — Não tenho palavras para me desculpar.
—Vamos logo — fala — Que horas são?
—Espere, vou pegar meu relógio, nossos celulares.
Me afasto, talvez papai me ligue ou Joanne, Bea... nunca se sabe, coloco o relógio de
pulso, pego os celulares e enfio nos bolsos da minha calça.
—Me atrapalho com o relógio as vezes — me aproximo. — Desculpe.
Eu também fico muito confuso quando se trata de qualquer coisa relacionada a
sentimentos, costumo ser racional na maioria das vezes, Maria não me deixa ser racional, ela
desperta em mim um lado a muitos anos adormecido, um lado que ignoro na maioria das vezes.
—Tudo bem.
Seguro sua mão entrelaçando os dedos nos dela, depois eu a conduzo para fora do quarto,
quando chegamos a escada aviso sobre os degraus, ela está muito melhor que ontem saímos, o
vento sopra bastante frio, pois ainda é muito cedo, meus olhos estão nela.
—Quer tirar a máscara e dar uma volta sozinha?
—Não, vamos assim mesmo.
—Tem certeza?
—Absoluta.
Aviso sobre os degraus da varanda, sei que ela ama praia, apenas vejo em seu semblante
um sorriso contido, o rosto suavizado, eu não posso pedir para ela isso posso? Caminho com ela
até o mar, e paro depois, a espuma das ondas molhando nossos pés.
—Estou atrás de você.
Solto sua mão, e tiro a máscara de sua face ficando atrás dela, minhas mãos tremem um
pouco, Maria permanece imóvel, os cabelos voando para trás esvoaçados e bagunçados, olho
para baixo, me sinto covarde.
—Pode olhar, estou atrás de você.
—Obrigada, não vou olhar para trás eu prometo.
—Sei que não.
Toco seu ombro, Maria coloca a mão sob a minha e fala:
—Me dê a máscara Jack.
Acho que é isso, Maria sempre, sempre me surpreende, ela nunca é óbvia, por mais que
muitas vezes eu saiba sobre suas recusas em outras quando ela fala sim eu fico surpreso com
isso, ela se recusa a muitas coisas, mas quando se trata de estar ao meu lado ultimamente ela tem
me dito muito "sim".
—Eu...
—Tudo bem, eu entendo, para mim já é o suficiente, não preciso ver, eu vou ver mais
tarde.
—Me desculpe, acho que estraguei tudo.
—Não estragou.
Coloco a máscara em sua face, e eu a abraço demonstrando através disso um pouco do
sentimento que guardo dentro de mim, mas não é alívio, nem gratidão por seu gesto de
compreensão, apenas é tão forte que mal consigo pensar em descrever.
—Sinto muito.
—Não precisa sentir, acho que você tem razão, está frio, vamos voltar.
—Quer um café?
—Seria ótimo.
—Vou preparar o seu café.
Maria está começando a se acostumar comigo, eu sei que sim, por mais que ela não
admita.
—Te deixo no quarto, você lava os pés no banheiro, quando eu subir te aviso.
—Tá.
Voltamos para casa, aviso novamente sobre os degraus, seguro sua mão, logo que
ficamos diante da porta do quarto puxo ela para dentro com muita gentileza, beijo sua cabeça e
saio, deixo-a no quarto sozinha, e desço para cozinha.
Logo que entro na cozinha Mirna já está organizando tudo, ela me olha com o mesmo
jeito opressor de sempre, a mulher do meu tio muitas vezes é alguém apática demais, eu sei que
ela não gosta de mim e eu não gosto dela também, mas não gosto de sentir que maltrato ela sem
motivo, mesmo que ela me deteste, Mirna é a mãe que os meus irmãos não tiveram e a mãe que
eu nunca vou querer ter.
—Ela já acordou?
—Sim.
Ela não jantou conosco ontem, apenas estava na varanda fazendo tricô.
—Pode deixar que eu preparo o café dela.
Mirna não é minha empregada, ela não se opõe, pego pão de forma na geladeira e ligo a
torradeira, tem salada de frutas, Mirna já colocou a chaleira do café no fogo.
—Os seus irmãos estão preocupados — comenta Mirna enquanto separo os ingredientes
do café. — Eles temem que essa mulher te dê um golpe.
—Ela não vai fazer isso — respondo.
—Ela é mais velha que você Jack, ela só quer o seu dinheiro, ela se quer pertencer a
mesma classe que você.
—Que classe? — pergunto fingindo indiferença, hoje definitivamente não é para ser o
meu dia. — Esqueceu que eu sou filho do jardineiro? O bastardo?
Mirna fica vermelha feito um pimentão, ela é uma mulher loira de cabelos curtos, não é
muito alta e acho que já tem seus quarenta e tantos anos, ela e papai são casados a anos, mas ela
é bem mais nova que ele.
—Insisto que ela não serve para você.
—Eu não sou obrigado a concordar com você, você para mim e nada é a mesma coisa,
por que afinal de contas se eu não servi para ser seu filho quando era pequeno, não sirvo para ser
nada seu agora depois de grande.
Ela abaixa a cabeça, fica calada, sem argumento é claro, talvez isso faça ela entender que
eu não preciso de ninguém querendo me dar sermão, nem conselhos, se não quiseram ser a
minha família antes porque isso mudaria agora.
—Ela não é bonita quanto sua antiga namorada.
Despejo a água quente no suporte da garrafa, já coando o café, as torradas estão prontas,
coloco a salada de fruta na taça, ergo a cabeça e olho no fundo dos olhos dela.
—Nunca te pedi nada Mirna, por favor, não se refira mais assim a minha mulher, gosto
dela, ela é a única pessoa que ao menos tenta me entender, já não basta o que você fez comigo
quando eu era criança? Todo o desprezo?
Mirna não fala nada, tento sorrir, mas isso é muito doloroso.
—Não se meta na minha vida, você nem ninguém tem o direito de falar da Maria, ela é a
única coisa que me deu um pouco de felicidade na vida, então não estrague o pingo de respeito
que ainda tenho por você.
—Só estava querendo dizer que talvez seja um equívoco.
—Não é, ela é a minha mulher, me desculpe se não é o suficiente para vocês, mas é a
minha escolha, mereço um pouco de respeito, não precisa gostar de mim, nem precisa fingir que
aceita.
—Se apaixonou por essa mulher Jack? — Alejandro entra na cozinha. —Você
enlouqueceu.
Coloco as coisas numa bandeja, olho para o meu irmão, sinto desgosto disso, pensei que
ao menos ele me apoiaria, mas pelo visto já fizeram a cabeça dele.
—Você não é assim Jack... você está sendo estúpido.
—Ela vai me aceitar, ela gosta de mim...
—Jack não se iluda!
—Estou decepcionado com você.
—Ela só quer seu dinheiro.
Pego a bandeja, olho para o meu irmão, sinto dentro de mim um desgosto tão forte... me
controlo para não fazer merda.
—Acho que esse não é um problema seu.
—Jack...
E saio da cozinha.
Melhor não discutir, não quero brigar, não quero isso, hoje não.
Subo levando a bandeja que preparei para ela, é muito duro ouvir seu irmão falando
coisas assim sobre alguém que você gosta, ele sabe que tem sorte que esses dias não estou no
meu estado normal, mas mais tarde...
—Maria? — chamo, pois estou diante da porta.
—Já vou!
Júlia aparece no corredor, faz gesto de silêncio, ela me abraça pelo tronco e pega a
bandeja da minha mão, Maria abre a porta com a máscara no rosto, de repente ela dá um passo e
tromba em mim, Júlia sorri e fecho a cara segurando Maria pelos ombros, ela já usa a máscara de
dormir.
—Desculpe — fala desnorteada. — Achei que estava no quarto.
—Fiz café e torradas, tem salada de frutas — passo o braço envolta de sua cintura —
Mirna já está acordada.
—Não tem empregados aqui?
Observo minha irmã ir de fininho até o criado e colocar a bandeja lá, me sinto grato, Júlia
sai pisando nas pontas dos pés e puxa a porta ao passar por nós dois.
—Prefiro a privacidade, seria incômodo para você, para mim, tenho um funcionário que
vem cuidar da casa uma vez por semana, mas ele apenas verifica se a casa está em segurança.
—A Gil...
—Ela é de confiança, trabalha para o meu tio, é chefe das enfermeiras dele.
—Seu tio é doente?
—Não, ele é dono de um hospital.
Maria fica sem reação.
—E o que os seus irmãos fazem?
—Eles têm as empresas deles, um é médico, o outro veterinário, Alejandro é advogado, e
Júlia está fazendo faculdade de administração.
—Que bom.
—Você não gosta disso, não é?
Tenho certeza disso.
—São pessoas importantes.
—Você também é importante.
Me sento na cama fazendo com que ela fique de frente para mim.
—Maria, quero que saiba que eu nunca me casaria com alguém que se interessa mais pelo
meu dinheiro do que pela minha pessoa.
Tenho absoluta certeza de que ela não é assim.
Pego uma xícara e bebo um pouco do meu café.
—Eu nunca me casaria com alguém rico.
Me engasgo, começo a tossir, porra!
—Abra a boca!
Maria abre a boca e começo a alimentá-la ainda incrédulo diante de sua afirmação, ela se
mostra contrária cada vez mais quanto ao que a minha família pensa dela.
—Só para saber... por que nunca se casaria com alguém rico? — pigarreio.
Ella mastiga... e mastiga... dá vontade de morder a boca dela.
—Não gosto da ideia de ter um ego ao invés de um relacionamento. — Ela abre a boca de
novo.
—Eu não sou egocêntrico sou? — dou mais salada de frutas.
—Tem todo um contexto social, eu não sou rica, eu não ganho o suficiente para ter essa
casa, nem essa vida, seria constrangedor ter alguém me sustentando sozinho, sem falar que o que
eu tenho a oferecer para pessoa além da minha personalidade "incrível" é um sobrado com um
banheiro minúsculo e minha família louca no andar de baixo brigando o dia todo.
Rio, nunca me imaginei casado com alguém tão... comum.
—Eu adoraria conhecer sua família — essa é a coisa mais controversa que eu farei na
minha vida.
Tenho medo de pessoas e terei que conhecê-las... Por Maria apenas!
—Vai por mim, eles não são normais, me matariam de vergonha na primeira chance.
—Mas você é louca por eles, são unidos, me disse que é apaixonada pela sua mãe e
fazem tudo juntas.
—É, porque até minha adolescência éramos eu e ela, aí ela conheceu aquele animal e
tudo mudou entre agente.
Novamente ela me arranca risadas, Maria sempre me faz rir, pois ela nem sempre pensa
quando quer falar algo que pensa.
—Não sou próximo da minha família — dou mais uma colherada da salada de frutas. —
Odeio ter que dar satisfação da minha vida para os meus irmãos, mas eu sou muito unido com o
meu tio, ele é muito bom para mim, foi generoso comigo sempre, me ensinou tudo o que sabe,
me acolheu quando ninguém me queria.
—Ninguém... te queria?
Abaixo a cabeça, não é fácil falar disso com ninguém, mas sei que Maria precisa saber
mais sobre mim, isso talvez faça ela entender um pouco sobre minha doença.
—É, eu sou filho de fora do casamento Maria, minha mãe conheceu o meu pai e fugiu de
casa, engravidou do meu pai que era brasileiro e eu sou fruto da traição, na verdade eu e o
Alejandro.
E acima de tudo preciso saber algo dela.
—Isso a enoja?
Sempre senti como se todos que me cercam sentissem nojo de mim, essa é a pior coisa
que a família da minha mãe cultivou em mim nesses anos, eles nunca me quiseram, nunca me
aceitaram, eles tinham nojo de mim... ainda tem.
—Que ideia — fala com pavor. — Por que me sentiria enojada?
—O marido dela foi buscá-la no Brasil, convenceu ela a voltar para casa, ela nos trouxe,
meu tio diz que alguns meses depois meu pai se suicidou, o marido da minha mãe não era má
pessoa, ele nos abraçou como a dois filhos, mas ele não entendia que a minha mãe não o amava.
Olho para Maria, sua face inexpressível, contínuo.
—Quando eu tinha oito anos eles dois foram viajar, o avião em que estavam caiu, Júlia
ainda era recém nascida, fruto do primeiro casamento é claro, então meu tio me adotou, ao
menos é tio por parte de mãe — por enquanto é o que ela deve saber.
—Seus irmãos o rejeitavam?
—Sim, eles rejeitavam a mim e a Alejandro, eles não gostavam da gente, por serem mais
velhos não se sentiam obrigados a isso, até hoje na família nós dois somos vistos como os vilões.
—Por quê? Eram apenas crianças? Como podem ser culpados?
—A família é bem tradicional, todos tentam apagar esse "erro" da minha mãe, por isso
Alejandro é mais próximo, somos filhos do mesmo pai.
—Havia entendido que ele era irmão do seu tio.
—É, eu minto as vezes, não quero estragar a reputação da minha mãe, cansei de ouvir as
minhas tias chamarem-na de puta na frente de toda a família nos natais em que passei com eles.
E isso foi o de menos... odeio os Carsson. Odeio eles mais que tudo!
—Desculpe, acho que te assustei com a minha história de família.
—Eu nunca conheci o meu pai, ele abandonou minha mãe quando ela ficou grávida.
—Não sente falta dele?
—Na realidade quando eu era criança não entendia, hoje eu prefiro acreditar que é melhor
assim, melhor do que ele viver preso a uma família que não queria.
—E sua mãe nunca te falou quem é ele?
Maria também está se abrindo comigo, sinto um pequeno avanço entre nós.
—Não, ela disse que hoje ele é casado, tem família, mas que prefere não perturbar ele
com isso, é tão a cara da minha mãe se sacrificar até por quem não merece.
—Você fica muito bonita quando fica brava.
—Ninguém nunca me disse isso, é estranho porque quando eu fico irritada a maioria das
pessoas ficam com medo de mim, principalmente o meu filho e a Júlia.
Dou mais uma colherada de salada, Maria estende a mão e toca o meu braço.
—Não se sinta mal por isso Jack, você e o seu irmão não tem culpa, vocês eram apenas
crianças, seus irmãos deveriam se envergonhar.
Não penso dessa forma, gostaria, mas não consigo, acho que nunca conseguirei me sentir
bem perto de ninguém daquela família.
—Hoje eles são diferentes, percebem que acabaram fazendo nos afastarmos deles, mas já
é tarde para isso, trabalhei muito duro também para passar na cara deles que não preciso deles
para nada.
—Você parece muito jovem para ter tanto dinheiro.
—É? eu me esforço muito para isso.
—Para provar algo inútil.
Realmente me irrito com o comentário.
—Você não sabe o que está falando.
—Acho que dinheiro não o torna melhor que ninguém, se quiser provar algo para os seus
irmãos de a eles tudo o que eles nunca deram para você, assim vai provar seus valores.
—É muito fácil falar — digo — Café?
—A salada já acabou?
—Ela te deixa muito intrometida.
—Tá, me dê um café bem amargo, como você.
—Não seria justo que provasse uma dose da minha amargura querida —retruco com
firmeza — E, eu nunca conseguiria fingir que me importo com eles, não dou a mínima.
—Isso não é da minha conta também.
Ela se magoou com isso? Pode?
—Você realmente acha que eu faria isso?
—Faça o que quiser Jack.
Agora ela está sendo ignorante, tanto ou quanto eu.
—Maria você não ajuda.
—Falei minha opinião e me chamou de intrometida.
—Foi por impulso.
—Claro, parte da sua personalidade de fogo, você é um marido de ouro.
—Me desculpe.
—Que seja.
Não tenho nada a falar sei que é uma discussão inútil, mas apenas ninguém esteve ou está
em minha pele para saber como as coisas funcionam em meu mundo nesses anos, eu acho que já
sofri tanto por causa dos Carsson que é exatamente isso que me faz ficar com o pé atrás em
relação a tudo na minha vida.
—Nunca contei isso para ninguém, apenas Lane sabe da minha vida — consigo falar.
—Isso não é uma vantagem Jack, depois de dez anos eu tive uma bela noite de bebedeira,
transei com um estranho a noite toda e me casei com ele e advinha? Ninguém além dele sabe
disso — reclama.
—Não sabia que não tinha relações a dez anos.
Isso explica algumas coisas..., mas não sai da minha cabeça que ela era virgem, meus
nervos tremem só de imaginar alguém tocando num fio se quer dos cabelos de Maria.
—Eu também não bebo, e eu não saio casando com estranhos assim — fica vermelha. —
Acha que eu minto sobre beijar? Sobre a minha vida? Eu não sou assim.
—Eu sei que não — toco sua face. — Você é especial, já disse, diferente.
—Você não — fala — Me pede para aceitar tudo isso, mas não parece abrir mão de nada.
—Sou novo nisso Maria, também nunca me casei, ou me senti tão próximo de alguém.
—E as outras?
—Era apenas sexo.
—Fútil.
—Sou homem, o que esperava? Um príncipe num cavalo?
—Com certeza não o cavalo em si.
Ela cruza os braços irritada, gargalho com essa suposição, a mulher me chamou de
cavalo?!
—Então você me acha grosso, imagine o que as minhas secretárias devem pensar.
—Realmente, não imagino, me dê a salada, consigo comer sozinha.
—Quero dividir, quem sabe eu não adoço a minha amargura?
—É, quem sabe, posso ouvir uma música no celular?
—Claro, basta falar.
—Você não sabe a senha.
—Pode ouvir no meu, o seu descarregou — pego os aparelhos no meu bolso, depois
rapidamente desbloqueio o meu. — Fale o nome da música.
—Talvez não goste.
—Fale!
—É inglês...
—Hum, eu acho que falo inglês querida.
—Deixa para lá.
—Maria!
—Fragments — esbraveja — Jaymes Young.
Meu dispositivo localiza a música e o driver começa a reproduzir, Jaymes Young... algo
que nunca ouvi na vida, mas a música é até... legal... apesar de meio depressiva... ou sei lá.
Talvez seja assim como eu me sinto... dividido em pequenos fragmentos quando se trata dela,
alguém que quer muito fazer tudo certo, mas que não é a pessoa certa para fazer isso contudo não
desiste...
—Gosta desse tipo de música?
—Sim, as letras dele são maravilhosas.
—Não tem graça.
—Vamos lá — ela está de novo irritada comigo — Eu gosto, ponto, não tem que
questionar isso.
—Está fazendo de novo — rio, adoro vê-la fazendo essa cara de birra. — Meu Deus
como você é bonitinha quando fica brava.
Ela fecha a cara.
—É sempre o que você quer não é Maria? Sua vida, suas regras — insinuo, mas estou
concreto dentro de mim que é isso, ela é tão... durona.
—Não preciso de ninguém querendo mandar em mim.
—É, realmente eu gosto de mandar em você, mas isso para mim é uma forma de deixar
claro que você é minha.
—Que diferença isso vai fazer para o mundo?
Seguro sua mão e coloco a caneca de café que trouxe para ela, Maria segura a alça da
caneca.
—Toda diferença.
—Você não mijou na porta da casa?
—Achei melhor foder com você.
Estou rindo, mas a muito contra gosto, eu gosto de dar más respostas às vezes nas
pessoas, mas com ela... começo a ficar com a consciência pesada.
—Quer mesmo falar disso Jack? Devo lembrá-lo que eu não me recordo de nada, estava
tão bêbada.
Me canso as vezes de bater boca com Maria, mas gosto de ver até onde ela vai com essas
pirracinhas dela.
—Mas estava lá — mordo um pedaço da torrada. — E como estava.
—Devo ser boa. — Ela quer me xingar.
—Não sabe o quanto — me inclino e fico apenas a centímetros de sua boca, da vontade
de morder a boca dessa teimosa. — Vamos repetir em breve.
—Mesmo? — Ela inclina a cabeça para o lado e ergue a caneca de café. — Não me diga!
Mas que mulher mais impossível!
Começo a rir novamente e não resisto, beijo ela como quero, ela não resiste, a boca
adocicada e quente também me corresponde, e por alguns momentos a tensão se alivia entre nós
dois, mas então ela se afasta e bebe um pouco de seu café, deixa claro que as coisas não serão
assim tão fáceis.
—Você tem medo é isso?
—Não, só não acho que devemos — fala cheia de incerteza.
—Não gosta quando te beijo? — por favor, fala que não é isso.
—Não, não é isso, sabe Jack eu não quero me apegar muito é isso, eu sempre fui só e isso
é novo para mim, você entende?
—Sim, também é novo para mim, mas acho que já sabe disso.
—Sei?
—É, nunca fui casado, toda essa coisa... o que quero dizer é que eu nunca compartilhei
momentos assim com ninguém.
Já percebo a tensão em seu corpo todo.
—Eu não sou bom em relacionamentos — confesso. — Sempre me envolvi com
mulheres que sabem que não quero ser visto.
—Mas elas não sabiam os motivos? — pergunta e sinto seu receio.
—Não... você não sabe quantas pessoas como eu existem... o que quero dizer é que tem
pessoas como eu que procuram descrição — falo nervoso.
Ela fica calada e não vejo outra forma de explicar isso para ela.
—Funciona como uma agência, eles localizam pessoas que se envolvam com pessoas
como eu... sem fazer questionamentos ou coisas assim — falo e Maria está novamente nervosa.
— Eles contratam acompanhantes para pessoas que tem Escopofobia.
—Como... garotas de programa?
—Não exatamente, é como uma rede de relacionamento, as pessoas buscam diversão e
prazer, a agência só serve para nos apresentar — seguro sua mão. — Desculpe não deveria falar
isso.
—Tudo bem, quer dizer que sempre se envolveu com pessoas arranjadas por essa
agência?
—Sim.
—E elas nunca souberam de sua doença!
—Não, não são informadas de nada, para elas é como um fetiche, costumam ser garotas
ou mulheres que gostam de curtir a vida.
Meus olhos estão nela, minha mão em sua mão, não tem como não ficar nervoso, sei que
ela não irá reagir bem a isso.
—Todos os meus relacionamentos foram arrumados por essa agência—confesso. — Já
havia desistido.
—De que? — pigarreia ela.
—Encontrar a mulher certa — digo olhando fixamente para ela. — Alguém que vai me
dar filhos e um lar.
Estou me abrindo com ela, sendo eu mesmo, talvez isso funcione, talvez Maria me
entenda.
—Isso é muito insignificante para você, não é? — me sinto tão estúpido, mas é como me
sinto. — Eu... eu... eu escolhi você!
Preciso que ela me aceite, que me entenda... Preciso de Maria ao meu lado.
—É difícil aceitar, eu sei, mas não quero mais ninguém, sei que é você — ergo a mão e
toco a máscara de dormir, me preparo. — Quer me ver agora?
—Melhor não...Jack qual o problema?
Não?
—Se me ver vai parar de me rejeitar!
—Não te rejeito, apenas tudo é muito novo, foi muito rápido, você sabe que sim.
—Não para mim, claro, o casamento sim, mas você é a melhor coisa que me aconteceu
na vida.
Gostaria que ela entendesse isso também, gostaria que Maria aceitasse tudo o que tenho a
oferecer, mesmo que isso signifique que durante um tempo ela conviva com a minha doença,
mas que ela perceba que mesmo com tudo, com todos os defeitos eu não me arrependo de nada,
absolutamente nada. Ela Se levanta e se afasta da cama, eu a vejo caminhar apressadamente para
porta, meu coração começa realmente a doer com isso... ela não aceita... ela não quer!
—Maria não fique fugindo — falo. — Estou sendo sincero.
—Eu sei, estou nervosa.
—Eu também, mas é como eu me sinto, você é muito especial para mim, e eu não quero
que fique longe de mim.
Congelo.
—Quero dizer que quero você perto de mim, trazer seu filho, uma família.
Ela abaixa a cabeça muito descrente, me ergo e vou em sua direção, abraço-a e beijo ela,
eu a quero mais que tudo.
—Não agora, logo que você se formar, podem vir para Nova York?
Ela tem que aceitar, tem que vir!
—Não sei, você está bem?
—Não, claro que não, em dois dias você vai embora — beijo sua testa. — Eu não quero
ficar longe.
—Hum, vamos... ver?
Faço que sim, e sei que ela não me vê, calado eu a observo, sua reação é tão apavorante
diante da minha proposta, ela não esperava por isso.
—Tá bem — acabo por dizer — quer ficar sozinha?
—Não! — responde. — Quero ficar com você.
—Isso é deprimente.
—Não quer ficar?
—Estou falando sobre a máscara, deve ser péssimo...
—Tudo bem, eu não me importo, podemos terminar o nosso café?
—Sim, depois ficaremos aqui tudo bem para você?
—Tá.
Eu a beijo e vamos de mãos dadas para cama, acho que por enquanto já deixei claro
minhas intenções para com ela, quero Maria e ela já é minha, agora ela só precisa perceber isso.
Sou avisado por Olaf que eles já chegaram com ela, ao mesmo tempo que me sinto
nervoso me empolgo com a possibilidade de Maria estar aqui, me levanto imediatamente e envio
mensagens para ela, mas ela se quer visualiza, fico bem mais que ansioso com isso.
"Querida você já chegou"
Estou feliz de saber que ela já chegou também, admito.
"Você está demorando"
Entro no elevador, parece que faz uma eternidade que eu não a vejo, contei quase vinte e
dois minutos depois que ela me respondeu a última mensagem, ela sabe como eu sou, por que ela
não responde as minhas mensagens?
"Maria Eduarda fale comigo".
Mando dois áudios e nada.
Decido ligar para ela, mas em nenhuma das vezes Maria atende.
"Atende"
Mas ela não atende, envio outra mensagem.
"Duda, por favor atende"
E nada.
Automaticamente ligo para Olaf, preocupado, entro no elevador.
—Senhor...
—Onde ela está?
—Aqui, ela está... difícil.
—Passe para ela!
Fico nervoso com a possibilidade de Maria estar resistindo novamente e não entendo por
que ela está assim, pensei que finalmente estivéssemos nos entendendo, na linha dois ligo para
ela, mas não atende também, retorno para chamada de Olaf, espero alguns momentos e logo em
seguida escuto um furioso:
—Não! — o berro é irritado... magoado — Diz para ele que eu não quero falar com ele.
Logo em seguida desligo a chamada, espero que o elevador desça sem ter um pingo de
paciência com isso, novamente irritado apenas com a intenção de que ela esteja brava comigo, o
que eu fiz novamente? O que fiz de errado? Eu estou tentando ser a pessoa mais paciente do
mundo, ao menos dentro de minhas condições, das minhas limitações.
O elevador para no térreo, e logo em seguida todos entram, Olaf me olha com cara de
cachorro medroso, ao mesmo tempo que Gina faz a mesma cara de retardada e suspira Sarah me
lança um olhar mortal...
Ela está brava... e Maria... Maria parece realmente magoada, reconheceria em qualquer
canto do mundo esse olhar zangado, ela respira fundo, seus olhos estão cobertos por uma camada
fina de lágrimas, ela cruza os braços, realmente está muito zangada... e linda.
—Não entendo por que você não me atende! — falo tentando conter a minha própria
irritação com isso.
Maria dá um pulo e parece bem surpresa, mas ela não se move além disso, permanece
cabisbaixa.
—Não ouvi o celular — Maria mexe no celular, assim bem zangada.
Ela deve ter visto minhas mensagens agora, ela não fez de propósito, não é possível, me
sinto um perfeito imbecil neurótico, talvez Maria não tenha feito por mal, talvez seja algo com
Sarah, afinal de contas eu não fiz nada de errado.
—Aconteceu algo? — pergunto incerto.
—Não.
Sarah entende o meu olhar e vai para o outro canto do elevador com cara de bosta, me
aproximo de Maria e seguro sua mão, entrelaço os dedos nos dela.
—Reservei uma mesa para nós dois num canto mais discreto — aviso.
Chegamos ao andar do baile, seguro sua mão com firmeza, pego seu celular e entrego
para Olaf, olho para o funcionário do hotel, um senhor de boina que fica no elevador e apenas
aponto para o andar do terraço, ele faz que sim e sorri, todos saem do elevador, as portas
começam a se fechar e eu a puxo para mim, abraço Maria com força, não suporto a ideia de que
ela queira desistir de ficar comigo, me sinto até sufocado só de pensar isso.
—Tenho um presente para você, na verdade três — falo e tiro a máscara, enfio no bolso.
Ela suspira, passo o braço envolta de sua cintura e a conduzo para fora do elevador.
—Cuidado com os degraus.
Ela mantém os olhos bem fechados enquanto subimos os degraus que dão para o terraço,
tão logo saímos e já me sinto aliviado em respirar ar puro, em estar longe das outras pessoas,
Maria se arrepia toda, eu a puxo e fico atrás dela, toco seu belo e gracioso pescoço, a pele dela é
divina e morena, meus dedos deslizam pela pele sedosa e beijo sua nuca, seu cheiro é doce
divino, pego o presente e cuidadosamente coloco em seu pescoço.
Fica perfeito nela, escolhi juntamente com o anel, toco seus ombros e resisto a vontade
que sinto de acabar fazendo uma grande merda com ela nesse terraço, eu a viro para mim e a
observo, seus lábios avermelhados, o decote perfeito apertando seus seios fartos, ela respira de
forma acelerada, bem, talvez ela não seja tão imune assim a mim, pego sua máscara de dormir e
coloco em seus olhos, toco seus lábios com o polegar.
—Te trouxe aqui para falar como nos conhecemos — toco sua bochecha e Maria segura a
minha mão, sei que ela quer muito isso, foi algo que decidi desde ontem, ela precisa disso,
mesmo que eu prefira que ela se lembre sozinha, mas pelo visto vai demorar então... — E quero
te contar como foi, para que não fique tentando falar sobre sexo perto da minha irmã.
Ela fica vermelha e rio.
—Não vou entrar em muitos detalhes e esse é o meu segundo presente, tem direito a duas
perguntas.
—Três — exige.
—Duas.
—Três!
—O que eu ganho com isso?
—Hum... um presente em troca.
Sorrio ainda mais com isso... muito irresistível... um presente, não posso recusar!
—Feito.
O vento sopra, mas não sinto frio, percebo o entusiasmo em seu semblante, com ou sem a
máscara Maria é ainda mais linda, vejo suas sobrancelhas arqueadas, a maquiagem leve que Júlia
provavelmente fez nela, as bochechas cheias, os lábios carnudos e bonitos, ela tem uma boca
maravilhosa.
—Como nos conhecemos? — soa ela com riso na voz, um sorriso imenso se abre.
—Eu passo essa — respondo.
Automaticamente ela para de sorrir e seus ombros caem, aquela sobrancelha dela cheia de
autoridade se ergue e não resisto, rio à beça com isso, Maria ainda vendada, com os olhos longe
de mim, ainda confiando plenamente no cara mais louco da face da terra se endireita toda cheia
de raiva e coloca as mãos na cintura, realmente ela me dá um pouquinho de medo quando fica
assim... furiosa.
—Foi no cassino — respondo e envolvo novamente sua cintura, puxo ela para perto dos
pilares de proteção do terraço do hotel, a noite está simplesmente linda, e eu mal consigo olhar
para nada envolta além dela...—Sente frio?
—Não, continue!
—Você estava apostando numa máquina caça-níqueis.
—Eu dei em cima de você?
Nem precisaria.
—Não, as coisas foram bem mais românticas.
—Já sei, derramei bebida em você.
—Água, no meu sapato.
Ela cobre as faces como se isso fosse completa e totalmente constrangedor, rio muito,
pois não quero imaginar como ela ficaria se soubesse das loucuras que fizemos naquela noite...
muito pior, que filmei tudo.
—Não foi sua culpa, você comprou a água no bar, eu estava no bar — Localizo a cadeira
que pedi que colocassem aqui para mim, eu a puxo e faço com que se sente em meu colo de lado.
— Estava bebendo, quando me virei você estava abrindo a água, você derramou a água nos meus
pés.
—Nada romântico — replica calmamente.
—Você me pediu desculpas, acho que a Sarah te chamou e você se afastou, o cassino
estava lotado.
Ela ouve com atenção.
—Te segui a noite toda, dava para ver de longe que você não é acostumada com bebida.
Verdades... Verdades...
—Por que me perseguiu?
—Você molhou o meu melhor sapato, tinha que te fazer pagar por isso — insinuo.
Ela sorri e não resisto, eu a beijo, e sei que o clima entre nós melhora com isso, seja qual
for o motivo que a deixou nervosa para não me atender ou responder as minhas mensagens.
—Qual é a sua última pergunta?
Maria parece pensar bastante.
—Você disse que nos conhecemos na máquina depois no bar?
Bingo.
Porra... que mulher Esperta.
Suspiro.
—Te vi na máquina, pronto, te persegui a noite toda, fiz você derramar água em mim e
depois usei isso como motivo para puxar assunto.
—Sabe que isso é doentio não sabe?
Sim.
—Não me importo, deu certo.
—Qual é o meu terceiro presente?
—Uma dança.
Ela faz cara de quem comeu e não gostou, como se isso fosse muito, muito absurdo.
—Vamos, no baile — convido.
Acho que essa é a primeira vez na vida que ajo normalmente com uma mulher, sem
querer trepar ela na primeira chance ou sem desejar muito que ela me dê umas chicotadas... a
segunda na verdade, Vegas foi a primeira.
—Eu não sei dançar.
—Claro que sabe, você dançou para mim no hotel.
Maria está chocada, me sinto sem graça, falei demais, eu a ergo no colo, Maria se segura
em mim e grita, um grito cheio de medo.
—Podemos citar Jane Austin agora?
—Por quê?
—O tema do baile é Orgulho e Preconceito.
Giro com ela no lugar, ela se segura em mim com força, gargalha enquanto rodopio com
ela no terraço, também sorrio, também me encho de felicidade com sua risada... e pela primeira
vez na vida me sinto verdadeiramente próximo do que posso chamar de alegre.
—Tem muitos Darcy's lá embaixo, não me confunda com nenhum deles querida.
—O meu Darcy é diferente.
Carrego ela novamente para dentro do hotel, desço as escadas com cuidado, Maria ainda
sorri muito para mim.
—Por que ele é diferente?
—Ele gosta de "WhatsApp".
Rio, beijo ela, Maria morde a minha boca e o latejar automático explode na minha virilha,
a minha boca se torna feroz e a minha mente fervilha, cheio de desejo por ela, cheio de vontade
de tê-la, provo de seus lábios e os beijos fazem estalos, ela me corresponde da mesma forma,
tento e quero resistir, mas não consigo.
—Quero um pouco de você — fala entre o beijo.
—Quer? —desço os últimos degraus com pressa. — Vai ter.
Abro a primeira porta que vejo pela frente, é o armário do zelador, a coloco no chão e a
empurro contra a parede oposta ao armário, volto a beijá-la com vontade, explorando sua boca,
minhas mãos descendo pela pele macia de seus ombros, sua boca rendida a minha, perco o ar por
que fico afoito enquanto a beijo.
Me inclino e minha língua esbarra na dela com facilidade, sua boca é quente e úmida e
sua língua se enfia em minha boca proporcionando tantas sensações gostosas... tenho vontade,
vontade imensa de me enfiar em suas pernas, nas cavidades mais profundas dela, me enfiar e
meter... meter até que eu fique sem forças.
Como foi em Vegas ou até pior que aquilo... pior não, melhor.
Quero prazer e quero dar prazer.
Maria me empurra com força, sua sede é evidente em seus atos, rio e ela me puxa para
baixo beijando novamente a minha boca, me esfrego nela, mesmo que esse bocado de merda de
tecidos separem nossos corpos sinto sua quentura, meu corpo todo pede por ela e o dela implora
por mim, mesmo que nunca admita Maria Eduarda me quer.
Minha boca e a dela não se desgrudam e se movem em sincronia perfeita, roubo o ar de
seus pulmões e ela o meu, é como se disputássemos por isso, puxo ela para cima e ela se segura
em mim, acho que derrubamos um bocado de coisas, não me importo, ela ri à beça e voltamos a
nos beijar em meio a suas risadas, simplesmente queremos muito isso... Ela está atraída, e eu...
eu estou louco!
—Onde estamos?
—Onde o zelador guarda as coisas.
—Jack!
—Amor, tudo do que precisamos é de um pouco de descrição.
Beijo sua boca, e ela me puxa para baixo oferecendo um pouco mais... seu pescoço tem
gosto doce, e sinto sua agitação, sua inquietação, pois os beijos já não são suficientes, Maria quer
muito além disso, eu também, desço mais atendendo a suplica de seus impulsos, estou tão duro
dentro da porra da calça que parece que o meu pau vai explodir.
Beijo seus seios por cima do decote, ela se inclina para trás e a seguro enchendo o local
de beijos, quero chupar seus seios, quero mordê-los, estão duros e espremidos no decote, ela
desliza para o chão e eu a viro, Maria fica de costas para mim, abaixo e subo me esfregando nela,
ela arfa sentindo minha vontade na bunda, seu gemido é voluntário e agudo... aperto os olhos
tentando ao máximo me conter.
—Ah, você quer!
Quer metida...
Passo o braço envolta de seu corpo, minha mão toca seu pescoço, me esfrego nela
lentamente saciando a pequena ponta de desejo que sinto, minha boca agarra sua orelha, e
mordisco com cuidado, ela respira com dificuldade, seu coração pula, me controlo.
—Mas vamos deixar esse momento para uma outra oportunidade — sussurro em seu
ouvido.
—Aham — Maria concorda.
Não agora... Não assim...
Ela merece algo melhor, algo digno, por mais que queiramos... desejemos... e só de saber
que Maria também está bem mais que atraída já me é suficiente, me contento com a ideia de que
quando eu pegar ela de novo... nem quero pensar!
Me afasto, Maria se endireita, arrumo o terno no corpo arrumo o negócio dentro da calça,
não ajuda usar algo assim meio justo nesse local, abro a porta e quando saímos ela está
novamente arrumando sua máscara no rosto, se endireitando, no armário do zelador a luz estava
completamente apagada, seguro sua mão.
—Você está linda por acaso — falo sincero.
Ela está vermelha, a boca vermelha, e tem algo incomum em suas feições... o calor do
momento... duvido que ela não esteja molhada...
Pare Jack, Pare!
—O senhor é muito gentil.
E novamente ela parece estar fechada, me inclino e beijo o lado de sua cabeça,
provavelmente ela está envergonhada pelo o que fizemos a pouco... eu não!
Puxo ela e vamos em silêncio para o rumo do elevador, aperto o botão e analiso a minha
pequena e corada esposa ao meu lado, sorrio a todo momento, me sinto tão idiota em estar
satisfeito apenas com o fato de que ela também me quer, que não me rejeita...
O elevador chega e ela abaixa a cabeça, esse elevador é muito melhor que o outro com
certeza, e veio sem ninguém, pedi que deixassem a minha disposição por essas horas, acho que já
entenderam o recado, depois pago uma boa gorjeta para o funcionário exclusivo que a Soraya me
arrumou.
—É o elevador de serviço, estamos a sós — falo cheio de malícia, mas também para que
ela não se sinta tão mal.
—Aham.
—Não precisa ter vergonha.
—Nunca fiz isso com um homem na vida.
Você realmente me confunde Maria... Como nunca partilhou de algo assim se já tem um
filho?
Bem, mas a julgar pela pouca experiência que ela tinha até alguns dias atrás quando eu a
beijei não duvido, sei que ela não mente para mim, Maria nunca mentiria sobre algo para mim.
Entramos, aperto o botão do andar, eu a abraço, Maria cheira o meu peito, suas mãos
pousadas bem aqui.
—Jack você é um gentleman.
—Ah, eu sei.
Acabo rindo, ela também, abraço ela com mais força.
O elevador para um andar antes do andar do salão de festas, aperto o botão do andar
novamente.
—É o momento em que nos despedimos, nos vemos na dança.
Beijo sua cabeça me contendo, me afasto, saio do elevador e vejo as portas se fechando,
tão logo se fecham faço um gesto feliz de isso com a mão, o punho fechado.
—Isso!
Vou para as escadas da saída de incêndio, e rapidamente coloco minha máscara no rosto,
tão logo entro no salão meus olhos já vasculham o lugar atrás de Maria, acho que ainda nem deu
tempo dela descer.
Fico olhando para o rumo do elevador feito um cão de guarda, no entanto do nada a
figura pequena e esbelta toma a minha, e ao mesmo tempo que fico espantado com sua ousadia
me irrito com o pequeno sorriso modesto que vejo em seus lábios... como eu pensei que ela não
me acharia?
—Boa noite Luck!
—Boa noite senhora Raymound.
Tento soar muito formal, desvio o olhar em ver a surpresa estampada nos olhos dela,
logicamente que acreditou até o último segundo que eu não viria, bem, feliz ou infelizmente eu
vim.
—Que bom que veio.
—Pensou que eu não viria?
—Absolutamente.
Ela sorri, algo cheio de um tipo de estranheza, eu a olho de cima abaixo mas sua beleza já
não surte efeito algum em mim, ela usa um vestido preto de época, usa uma máscara preta toda
rendada, Condessa... Soraya é uma belíssima mulher, mas nesse exato momento uma outra toma
toda a minha atenção enquanto entra no salão, olho rapidamente para minha mulher, logo em
seguida olho para Condessa.
—Ela chegou?
—Sim.
—E vocês vieram juntos?
—Claro — falo. — Ela é a minha esposa Soraya.
—Até quando vai persistir nisso Luck?
Ela não aceita, ela não apoia, e eu não dou a mínima para isso.
—Eu a amo! — é tudo o que falo.
Soraya fica me olhando assim boquiaberta, com certeza ela imaginou que eu nunca me
apaixonaria de verdade por outra pessoa, bem, ou por alguém, não posso chamar o que eu sentia
por ela de amor, não aquilo.
—Acha que ama ela... essa vadia oportunista...
—Eu preciso ir.
—Eu quero conhecê-la.
—Não cabe a você decidir isso Soraya, você e eu não somos nada um do outro.
Lhe dou as costas e me afasto.
—Quando isso acabar você vai me pedir perdão por me trocar por essa vadia.
—Isso nunca, nunca irá acabar Soraya, cresça.
E me afasto, passo por algumas pessoas e me mantenho o mais frio possível, parece que
jogaram um balde gelado em cima de mim, ainda a pouco eu estava tão... extasiado.
Ao mesmo tempo que tento observar uma Maria mascarada indo para mesa reservada
para nós digo para eu mesmo que não importa o que Soraya pense ou deixe de pensar, eu sei que
ela é a garota certa, sei que Maria gosta de mim de verdade, apenas falta um pouco de paciência
comigo, e cabe somente a mim conseguir reverter essa situação pois eu a criei.
Envio uma mensagem, Maria olha envolta assim tão maravilhada com tudo que isso de
alguma forma me contagia, sei que ela gostou, sei que sim, e apenas em vê-la contente me sinto
contente, acho que Olaf já devolveu o celular para ela, acredito que ela nem tenha dado por falta
do aparelho, Maria não é muito ligada nessas coisas.
"Oi amor"
Tão logo envio ela está mexendo no celular, olhando envolta... me caçando, depois meu
celular vibra:
"Onde você está?"
"Descubra"
Ela ri, Olaf indica a cadeira onde ela deve se sentar, suas amigas já se sentaram a mesa
juntamente com a minha irmã.
"Amor?"
"Pedante"
Sou mesmo.
"Seria bom ir treinando, para os dias difíceis"
"Você é difícil"
"Não estrague o momento querida"
";)"
Percebo que Sarah está como sempre fuçando... olhando para o celular dela enquanto
conversamos.
"Sua amiga é muito curiosa"
"Não tenho segredos com ela"
Sarah beija a face dela logo em seguida sorrindo de ponta a ponta, me vejo revirando os
olhos.
"Nenhum mesmo?"
"Jack onde você está?"
"Sou o rato na história"
Estreito os olhos para o celular e envio a seguinte mensagem:
"Isso faz de você a gata, minha gata"
Ela está rindo.
"Isso é tão clichê"
"Você gostou do colar?"
Em seguida eu a vejo tocando o colar, seus dedos pequenos acariciam a joia com
cuidado, ela fala algo para Sarah, sorri e sorri, Júlia lhe entrega algo... um espelho acredito, logo
Maria está suspirando e sorrindo enquanto analisa o colar, é um colar de diamantes.
—Ela gostou!—falo comigo mesmo e estou sorrindo feito um otário.
"É perfeita Jack, muito obrigada"
Percebo que Sarah e Gina olham para joia no pescoço dela, mas tudo o que vejo é o seu
sorriso.
"Que bom que gostou"
Alejandro se aproxima, me irrito, logo eu o vejo sentar-se à mesa, ele tá tão ou mais
apático que eu quando quer e sabe muito bem ser uma pedrinha no sapato de alguém quando
deseja, logo que se senta percebo seus olhares para Sarah, esta que se quer parece notar sua
presença, desconfio que Alejandro esteja mentindo para mim, afinal de contas, o meu irmão não
é um homem feio, mas ele é muito jovem para ela.
"Sarah não gosta de Alejandro"
Maria olha envolta, me escondo atrás de um dos pilares, caminho por entre as pessoas
observando-a de longe, ela realmente quer saber onde estou.
"Amor?"
"Acho que ele deve ter dito algo que a magoou"
"Alejandro é jovem, não tem paciência com certos tipos de coisas"
"Que coisas?"
"Sarah deu em cima dele"
Maria vai se encolhendo na cadeira, quero rir.
"Não precisa sumir de vista"
"Preciso de um buraco"
"Alejandro não está acostumado a ser cortejado por mulheres como ela"
"E por que ele veio?"
"Eu não sei"
"Ele é muito fechado"
"Você não conhece o meu irmão"
"Ainda bem"
"Ele apenas é na dele"
"Entendo"
"Internato, lembra?"
Maria olha longamente para Alejandro e isso me irrita, não quero que ela fique olhando
para homem algum nesse lugar, não olhar para mim ok, mas não precisa ficar secando o meu
irmão assim.
"Gosta do que vê?"
"Bem, se for parecido com ele dá para o gasto"
Mordo meus lábios de tanta raiva.
"Tire os olhos do meu irmão"
"Quando vou te ver?"
"amor, não vamos começar de novo certo?"
"Tá :("
Suspiro, vejo seus ombros caindo, um tipo de decepção nela.
"Vamos tratar de negócios"
"Temos negócios?"
"Claro que sim amor, Joseph dará aulas de inglês a partir de amanhã, durante essa
semana terá aulas com ele"
Eu já imagino a resistência, a teimosia, mas decidi isso e não há volta.
"Ele dará aulas durante a tarde, como está de férias não vejo problemas nisso"
"Talvez eu não queira"
"Querida é necessário"
"É? Sah pode me dar aulas"
"A resposta é não"
"Jack não quero que pague aulas para mim, ele vai mudar para o Brasil? E se ele não
der conta? Isso não será estranho para ele?"
"Ele é brasileiro, não insulte o meu professor Maria, ele é um bilíngue perfeito, formado
em Cambridge"
Ok, a parte do Brasileiro não é completamente verdade, o professor é um homem genial,
ele também é meu primo, mas por parte de mãe, contudo ele fala português muito melhor do que
qualquer outra pessoa que eu conheço.
"Não quero"
"Ele irá todos os dias as duas, das duas as sete"
"Poxa, cinco horas? e a minha vida?"
"Ela poderá esperar"
"Posso pagar"
Orgulhosa.
Da vontade de rir em pensar que os meus irmãos e Condessa pensam que Maria quer o
meu dinheiro, ela se quer me permite pagar uma aula de inglês para ela, quanto mais querer
minha fortuna, por bem ou por mal com ou sem venda Maria não faz ideia de quem eu seja, de
quantos milhões de milhares de dólares eu ganho nesse exato momento, mas sei que mesmo que
ela tenha alguma noção ela não faz questão disso em nada.
"Não"
Ela bebe água mais uma vez, a todo momento fica pegando na taça, irritada é claro.
"Vida, não fique irritada"
Mas ela está.
"Durante a manhã...
"O que é isso? Uma agenda?"
"Pela manhã você terá que fazer exercícios"
"Por que?"
"Gil disse que as suas taxas de colesterol estão um pouco alteradas"
Isso é mais ou menos verdade... também não quero os meus irmãos chamando-a de gorda
como foi hoje mais cedo... eu quero que Maria se sinta bem, esteja saudável e bonita, para ela
mesma, sei que faço o certo mesmo que motivado por um pouco de egoísmo.
"Em decorrência disso tomei a liberdade de contratar uma amiga para te ajudar a se
exercitar, ela irá todos os dias as oito da manhã"
Não é bem minha amiga, mas tecnicamente sim, envio uma mensagem para Alejandro,
ele começa a se erguer, envio a mensagem para ela.
"Vamos dançar"
Respiro fundo e enquanto meu irmão passa por entre as mesas com ela no rumo da pista
de dança me encho de ansiedade, digo uma dezena de vezes para eu mesmo que estou pronto,
que eu consigo, eu vou dançar com Maria, eu quero que ela se sinta bem, quero que nosso
envolvimento seja na melhor das possíveis hipóteses um pouco mais normal, hoje é a minha
última noite com ela antes que ela volte para o Brasil, tem que ser especial para ela.
Me aproximo pela direita, e eu os vejo a apenas alguns metros de mim, estamos perto da
pista de dança quando Alejandro fala:
—Ela está entregue!
Maria se mantém cabisbaixa, sinto por isso um peso enorme na consciência, no coração,
e eu definitivamente decido algo.
Tomo sua mão com a minha e digo:
—Venha querida!
Crio coragem e falo:
—Pode olhar se desejar.
Eu a conduzo para pista de dança, enquanto andamos Maria tropeça, visivelmente
nervosa, seguro sua mão com firmeza, ela arfa e tão logo se recompõe tropeça de novo, seguro
sua mão com cuidado para que não caia, adentramos na pista de dança.
—Basta apenas me acompanhar.
Ficamos na pista e eu a conduzo de forma que ela fica de frente para mim, logo em
seguida La Traviata se inicia, a puxo para mim nesse exato momento e início a valsa com Maria,
ela está arfante, mas eu me mantenho o máximo que posso muito mais frio do que sempre
realmente sou quando estou diante de pessoas, se ela soubesse de como o medo percorre minhas
veias agora ela provavelmente não estaria tão nervosa, ao mesmo tempo que tenho esse medo
devastador tê-la entre meus braços me dá confiança, a força disso me mantém aqui, vim apenas
por Maria.
Valseamos pelo salão e tento me manter neutro enquanto as pessoas aplaudem, com
certeza já comunicaram que o anfitrião chegou, não faço uma aparição assim a anos, as últimas
que fiz foi a quase quatro anos, não lembro, aos poucos ela parece pegar o ritmo da dança, mas
estou muito mais preocupado com toda a exposição na qual me sujeito, na qual sujeito Maria.
—Disse que não era difícil.
—É mesmo.
Maria se esforça para me acompanhar.
—Gire!
Giramos juntos pela pista de dança, quando eu a puxo de novo nossos passos são mais
largos e ela se mantém mais elegante, logo que percebo a música se encerra e eu a solto, me
afasto sumindo na multidão que se aglomera na pista, tento respirar, por dentro do terno estou
completamente soado, fico a distância perto de um outro pilar, respiro fundo e aceito uma taça de
champanhe que me oferecem, vejo minha esposa dançando com um careca baixinho, bebo dois
goles da bebida de uma só vez e estou analisando a cena.
—O segundo round é daqui a pouco Jack, Rato Dançante — bebo o resto da bebida. — E
a noite só está começando.
Nível 9 da atração
Dancei com Maria e trocamos, eu a observo logo em seguida dançar com um senhor de
idade todo alegre, ela sorri e faz cara de quem está realmente um pouco mais empolgada com
tudo.
Maria mal se deu conta de que era eu, ela realmente está tão concentrada em me achar
que não percebeu que já dancei com ela algumas vezes desde que trocamos da primeira vez.
Uma senhora de idade e eu dançamos agora, analiso o semblante alegre dela e tento sorrir
de volta, estar mascarado é um consolo que recebo muito melhor do que não estar mascarado.
Nesse momento observo minha mulher sorrir abertamente para o velho desdentado, ergo
as mãos da senhora para troca de pares, beijo as mãos dela e me curvo, ela se enche de suspiros e
me afasto até Maria, me apresso.
—Não sorria assim para o idoso, ele poderá ter um enfarte senhora Carsson.
E eu a puxo para mim, um imbecil que vinha para o rumo dela desiste e acha outro par,
me irrita o jeito como os homens daqui a olham, mesmo que ainda não façam ideia de quem ela
é, Maria não é magra como metade das mulheres aqui, mas os homens não estão focados
exatamente nesse detalhe, eles não tiram os olhos do rabo dela.
—Gostou de dançar com os outros três idiotas?
—Mais ou menos.
Também não quero mais ficar aqui, estou ficando claustrofóbico e impaciente de novo,
esse é o momento de irmos.
—Vamos tomar um ar.
Seguro sua mão e a conduzo tento não parecer muito apressado, Maria fica olhando para
o chão fixamente, isso de alguma forma me incomoda, eu tenho absoluta certeza do que quero,
mesmo que ela não entenda e nunca consiga falar com minhas palavras como as coisas
funcionam dentro de mim, agora muito mais que antes quero que as coisas ao menos sejam
normais entre eu e ela, e eu preciso que Maria saiba que nada para mim é mais importante do que
ela... nem o meu medo.
—Pode olhar Maria.
Tento juntar minha confiança, minha força, mesmo que isso me mate aos poucos, me
corroa, devo permitir que ela me veja.
—Melhor não.
—Por que não?
—Não quero.
Entrelaço os dedos nos dela, um pouco incerto sobre sua resposta, sei que Maria quer me
ver, mas acho que amedrontei ela com o meu jeito e não sei se no momento ela vai mudar de
ideia só que isso não me conforta nenhum pouco.
—Você não está nervoso nem nada.
—É?
Sei que estou sendo rude.
Depois de alguns instantes avisto Soraya do outro lado do salão rodeada das amigas dela
da alta sociedade, sua irmã Anne também está por perto, eu imagino que seja muito pedir isso
para Maria, mas também não quero que ela pense que eu escondo muito mais do que guardo para
mim sobre Condessa.
—Quero que conheça a Soraya.
Os ombros dela sobem e descem e percebo sua irritação através disso... Maria sabe que
eu e Soraya já estivemos juntos!
—Por que está irritada? — pergunto ignorando o receio do que isso pode causar no nosso
relacionamento.
—Não estou.
Mentirosa!
Mas melhor não, Júlia já deve ter falado para ela sobre meu "noivado" com Soraya, ao
menos para toda a família foi isso o que Condessa significou para mim, uma namorada na qual
me recusou no momento mais importante da minha vida, de qualquer forma é mais ou menos
isso o que aconteceu.
Estava louco pela Condessa e essa loucura quase me matou quando ela não me quis mais,
porém isso é passado, ela tem uma nova vida, e eu a minha nova vida... Maria.
Eu a conduzo para o rumo da saída, vejo Olaf parado perto da porta da entrada do salão,
ele está olhando para os peitos de uma mulher loira que parece chamar muito atenção, logo que
me vê ele enrijece, gostaria que Olaf não sentisse tanto medo de mim, mas eu simplesmente não
sei ser diferente do que sempre sou quando se trata dele ou dos outros.
—Cuide para que elas fiquem bem, não quero que "ela" saiba onde estou entende?
Trouxe as coisas dela?
Ele faz que sim com a cabeça, me afasto puxando Maria.
—Pedi para que trouxessem as coisas de vocês para esse hotel, passaram a última noite
aqui.
—Claro.
—Vamos subir para o nosso quarto.
Ela permanece em silêncio, sei que realmente ela está irritada, mas também surpresa,
quero que essa noite seja apenas nossa.
—Você embarca amanhã, o meu piloto levara vocês em segurança para o Brasil.
—Já tenho passagens compradas de volta.
—Vai no meu avião, é mais confortável e seguro.
—Não vai usar para ir para Paris?
—Tenho outro.
Ela também não responde e tenho a nítida impressão de que Maria não gosta disso, ela
não gosta do fato de que eu pague as coisas para ela, que dê as coisas para ela, mas sou seu
marido e deixarei bem claro que a partir do momento em que a conheci eu farei o papel integral
de marido dela.
—Não quer falar o que foi? — insisto.
—Prefiro fazer cara de bosta até que descubra.
Beijo a cabeça dela abafando o sorriso, porque até irritada Maria ainda me arranca
risadas, acho que é principalmente isso o que eu mais amo nela, ela me faz sorrir!
—Podemos descer daqui a pouco para o baile, vamos conversar novamente — sugiro.
—Na cobertura? — questiona.
—No nosso quarto — afirmo.
Maria suspira, ainda continua contrariada, eu tenho absoluta certeza que ela jamais
trocaria uma noite em Mali por uma noite em qualquer hotel do mundo, me apaixonei por uma
mulher apaixonada pelo mar, mas não é apenas isso, ela se mantém séria enquanto nós entramos
do elevador, dura, parece preocupada, me contrário.
—O que foi Maria?
—Esqueci de ligar para casa, para o Nando.
Os ombros dela caem e sei que esse lado de Maria jamais vai mudar, ela tem um filho e
recebo isso até bem, dentro do que posso aceito o menino mesmo que ainda não o conheça, não
posso mudar isso e nem quero, ainda que seja chocante saber disso, enquanto o elevador sobe
não conversamos, vou ficando mais e mais ansioso, mas sei que ficar nervoso com ela nesse
momento não vai resolver nada.
Acho que só estou com muito medo porque ela vai embora.
Acho que só tenho muito medo de que ela não me queira mais.
Acho... Inferno, eu tenho absoluta certeza que é apenas isso: Maria partirá amanhã e eu
estou completamente apavorado com isso.
Eu a puxo logo que as portas do elevador se abrem, vamos em silêncio para o quarto,
meu celular começa a vibrar no bolso, mas ignoro, seja quem for ficará esperando.
—Já disse que pode olhar querida.
—E eu já disse que não quero.
Então assim do nada ela saca a máscara de dormir do decote e coloca, paro e seguro sua
mão analisando seus lábios avermelhados e carnudos, meu coração fica cheio desse sentimento
que me esquenta, me envolve todo, me sinto bobo.
—Você me surpreende a cada instante querida.
Ergo sua mão e a beijo levemente, Maria permanece em silêncio, depois de alguns
instantes pergunta:
—Para onde vamos tem comida?
—Tem, nosso jantar será servido lá.
—Acho que não voltaremos para o baile certo?
Me decido.
—Acho que não.
Maria está sentada na cama enquanto chequei o serviço de quarto, ela está vendada,
umedeci os lábios a cada segundo parecendo muito ansiosa, eu também estou ansioso, tiro a
minha fantasia ridícula de Darcy, depois de alguns momentos vou a antessala e pego o carrinho
com o nosso jantar, quando retorno ela está visivelmente incomodada, acho que com o vestido.
—Quer tirar o vestido?
—Não, tudo bem.
—Eu já me despi.
Estou a alguns metros da cama observando-a fazer uma careta.
—Ajudo com o vestido, já separei uma camisa minha para você.
—Não quero ficar nua na sua frente.
Como se isso fosse alguma novidade...
—Não torne as coisas difíceis, você está sem calcinha de novo?
—Não — Maria cora. — Posso me trocar no banheiro.
—Sou mais rápido, vamos.
Me aproximo, Maria se ergue a contra gosto e fica de costas para mim, abro o laço do
vestido e desabotoo a parte das costas, Maria parece se aliviar enquanto os botões se abrem,
observo sua pele morena, macia, e salivo enquanto o tecido se abre exibindo mais e mais a pele
macia de suas costas.
Não dá para resistir a essa mulher 24 horas por dia!
Me inclino e beijo seu pescoço, provo da pele quente com sabor doce, puxo as mangas do
vestido para baixo adorando tocar seus braços, a respiração dela se acelera e me esquento por
que sei que Maria não é mais tão imune ao meu toque, aos meus beijos, quando eu desde o início
me entreguei a ela completamente, Maria se entregou a mim a apenas alguns dias...
—Não sabe o quanto eu a desejo — sinto a pele ouriçada nas pontas dos dedos.
Ela suspira, quando seu peito se incha vejo os seios perfeitos no decote do vestido, quero
abocanhá-los, quero tocá-los, eu a quero em mim... em meu corpo, toda e absolutamente minha
mais uma vez.
—Diga por que está brava comigo.
—Não estou brava.
—Então o que é?
—Sua indiferença.
—Não é indiferença.
—Bem, pareceu.
Toco seus ombros e aperto ela, não quero tornar nossa última noite ruim, não quero
novamente estragar tudo com minha insistência, senti-la junto de mim é o que eu mais quero
agora, verei Maria em duas semanas, e já estou absolutamente inconformado com isso.
—Não é indiferença, por favor, me desculpe se pareceu isso — peço.
Apenas não sei agir normalmente em sociedade, não sei disfarçar tão bem meu
nervosismo então me fecho, hoje foi mais uma noite que prefiro chamar cinicamente de "vitória",
absolutamente pois não saia para um evento social a anos.
—Tá.
—Vou te alimentar agora vida.
Maria se afasta um pouco segurando o decote do vestido, se senta na cama, ligo o
pequeno aparelho de som conectado a um ipad na escrivaninha do quarto, ela parece realmente
indecisa.
—Você não vai tirar o vestido?
Sai mais como uma insinuação.
Ela morde o lábio inferior, de uma forma espontânea completo:
—Te ajudo com a camisa amor.
—Prometo que não vou olhar.
—Aham, tá, me dá logo a camisa bebezão.
Rio e pego uma camisa da minha mochila, as nossas coisas estão aqui nessa suíte,
analiso-a de perfil enquanto me aproximo, Maria está vermelha, eu sei que ela não resistiria se eu
tentasse o que quer que fosse, mas a nossa noite tomara um rumo muito diferente do que eu
quero, realmente por que eu jamais me dei a chance de ter uma mulher, uma namorada, uma
amante, e quero tudo isso em Maria, não apenas alguém com quem eu possa me deitar ou trepar
a noite toda, bem, quero, mas não hoje.
Hoje não papai!
Olho para ele e depois para ela e estendo a camisa.
—Não precisa ter vergonha de mim vida.
Quero rir com a cara feia que ela faz, Maria abre a camisa, depois ela parece realmente
irritada, me viro de costas por que sei que de alguma forma isso é culpa minha, me sinto idiota
por que rio silenciosamente, é engraçado, não a situação, mas a raiva dela, o jeito como ela se
contraria com tudo.
Quando me viro novamente ela já está sentada na cama de costas para mim, com a minha
camisa, os cabelos soltos, ela observa as joias que lhe dei de presente esta noite, me aproximo da
cama.
—E o meu presente?
Ela nega com a cabeça, e não resisto, adoro enfezar ela, vê-la vermelha, sem jeito, sem
resposta.
—Não quer me dar agora?
—Receberá o seu presente na hora certa Jack, não seja ansioso.
—Está bem.
Subo na cama e beijo seu pescoço, prometi para mim mesmo que não faria isso, mas não
resisto...
—Jack...
—Venha para Paris comigo sim? — minha voz está implorando por um sim.
—Não posso. — Ela está angustiada. — Desculpe, mas preciso pensar.
—Em me largar—puxo ela pelo braço, Maria se esparrama na cama e subo em cima dela,
quando me abraça fico feliz com seu toque. — Você gosta de mim não gosta?
—Gosto.
Eu a beijo cheio de amor, ela gosta de mim e eu a amo, e isso me basta, sinto que mesmo
a distância não conseguirá afastá-la de mim, eu sei que neste momento tudo o que tenho com
Maria é apenas uma noite louca de sexo em Las Vegas, brigas, discussões, desentendimentos e
segredos... meu passado, mas é justamente isso o que eu tenho com ela que faz com que eu a
ame, tudo o que tenho com ela parece tão pouco para prosseguir mas para mim já é muito.
Ela toca minhas costas enquanto nos beijamos, tento ser carinhoso algo que nunca fui
com ninguém, descubro também esse lado com ela, Maria também é carinhosa comigo... quando
quer.
—Vou sentir sua falta vida — confesso baixinho.
Colo a testa na dela.
—Pedante, já entendi.
Tenho vontade de falar tantas outras coisas mas estou preso a esse receio inicial por que
sei que Maria não me ama, talvez se sinta afeiçoada por mim, mas amor... amor é o que eu sinto
por ela, essa coisa que me tortura, que me machuca, mas que me faz sentir leveza e peso ao
mesmo tempo, quando me esquento até o último fio de cabelo meu estômago gela... é isso o que
sinto por ela, e é isso o que eu nunca senti e nem sentirei por nenhuma outra.
Estou ferrado, fodido, estou apaixonado!
Caralho!
Porra!
Merda!
—Volta aqui — Maria repentinamente vem para cima de mim. — Eu não falei para você
sair seu carente.
Me ergo, meus olhos estão em seus lábios, me sinto preso a eles, tento respirar fundo
enquanto puxo suas pernas e aconchego seu corpo ao meu, o calor dela me reveste
absolutamente.
Maria ergue as mãos e toca minhas faces, seus olhos estão fechados, seus lábios
semicerrados, seus dedos tocam minhas sobrancelhas, minhas pálpebras, meu nariz, sorrio e seus
dedos tocam meu sorriso, fecho os olhos ao ser tocado por ela, sinto o peso emocional disso em
meu coração, e a desejo absolutamente para mim, puxo-a pelos quadris e mantenho nossos
corpos juntos, Maria me enlaça pela cintura e me abraça, sufoco a imensa vontade de chorar que
sinto.
—Não me largue — peço muito mais que sincero, profundamente envolvido por esse
sentimento.
Maria me abraça com força, e eu sei que ela também gosta muito de mim, a sua forma,
mas gosta, ela me aceita, ela tenta me entender, enquanto sinto seus lábios me beijando o
pescoço eu a aperto com força guardando dentro de mim algo precioso... as memórias que seu
corpo deixam novamente no meu, as suas impressões.
—Precisa comer — falo depois de alguns momentos.
—Não quero comer.
—Eu quero!
Maria sorri, acabo rindo da indireta... direta na verdade!
—Você não presta Jack.
—É, eu não presto vida.
—Vida!
—Amor?
Sei que sou sarcástico, não importa a ocasião, meu humor como ela diz de "ouro" mais
uma vez dando as caras, não consigo ser diferente, esse sou eu.
—Não combina com você.
—Por que não? Eu sou um cara legal.
—Ah é!
Acabamos rindo, aperto ela e Maria me aperta, o calor novamente invade o meu peito, e
queima, queima muito.
—Então vamos comer assim vida.
—O que é o nosso jantar vida?
Fico meio surpreso por esse "vida"...
Porra! Meu coração está pulando! Não dá para controlar essa droga?
—Hum, desculpe?
—Não, pode me chamar assim, eu gosto.
—Tá, só não fica me olhando com essa cara.
—Como pode saber com que cara eu te olho?
—Não sei, essa cara!
Rio ela também sorri, Maria se agarra a mim e eu a seguro pelo tronco do corpo, suas
pernas me envolvem com mais firmeza mas não é algo sexual, fico de pé e vou com ela agarrada
em mim até o carrinho de comida, ela beija o meu pescoço e me sinto tolo por ainda estar
sorrindo.
—Temos frutas, salada, suco de hortelã com água de coco, e de sobremesa morango —
analiso as bandejas.
—Eu quero uma porção de frutas, por favor e o suco.
—Uvas?
—Sim, por favor.
Ela me beija, coloco suas frutas num pequeno prato de sobremesa enquanto cheiro seu
pescoço, me sinto tão... querido!
Nunca me senti assim antes na vida em relação a ninguém, apenas como se alguém
realmente estivesse em meu mundo, como diz Alejandro "na minha", Maria está na minha.
—Quando você volta de Paris?
—Na sexta.
Ela suspira e temo que isso não seja algo bom.
—Queria mais dias para pensar?
—Queria que voltasse logo.
Depois de Paris eu tenho muitas coisas a resolver, mas nenhuma delas é tão interessante
quanto estar com você Maria...
Quero novamente sorrir.
—Posso tentar fazer o possível.
—Não quero que cancele.
—Não posso cancelar, Gates me mataria.
—Quem é Gates?
—Bill... nunca ouviu falar?
—Bem — fala. — Então é melhor você ir mesmo.
—É, mas na sexta mesmo tentarei estar no Brasil, avise para o seu padrasto estar de
camisa.
Ela ri, coloco uma uva em sua boca e volto para cama, me ajeito e Maria fica sentada em
minhas pernas de frente para mim, deixo o prato de lado e toco suas faces.
—Minha máscara Senhor Carsson.
—Maria?
—Sim?
—Pode abrir os olhos!
Ela não gostou do que acabei de falar... fico chocado com isso.
Maria não quer abrir os olhos, ela definitivamente não quer isso!
—Podemos não falar sobre isso?
—Por que não quer? Era o que mais queria no começo.
—Jack se...—Ela respira fundo. — Se estar com você significar não poder te ver tudo
bem, eu entendo, não faz mal, quando você estiver realmente pronto eu o verei.
Meu coração dispara e fico por alguns instantes olhando para essa preciosa Mulher.
Pego a máscara em cima da cama e mal espero ela colocar, eu a puxo e a beijo, espero ter
muita força amanhã cedo quando sair desse quarto, mas prefiro não pensar nisso, agora estou
profundamente concentrado em minha preciosa esposa, feliz e completa e totalmente ferrado de
amor por ela.
Sem ela por perto, enlouqueço!
Eu a analiso antes de partir, depois de alguns instantes saio do quarto desejando
profundamente ficar, acordá-la... torná-la minha... Não Posso.
Saio do quarto torturado, frustrado, e sinceramente muito triste.
Me apeguei muito a Maria.
Me apaixonei muito por ela.
E para mim muito pior do que lidar com isso e ter que deixá-la aqui e ficar longe.
Parece que acabo de levar uma merda de uma surra.
Sem ela por perto enlouqueço... muito mais do que já sou louco!
Respiro fundo saindo da suíte, eu sei que ela ficará bem, eu sei que ela irá me esperar,
mas não me conformo com o fato de que ela ficará muito longe de mim, não me conformo com o
fato de que não possa vir comigo, mesmo que não tenha o direito de pedir isso.
Entro no carro, Olaf fica olhando através do retrovisor, mas nada fala, desvio o olhar para
o lado, mal percebi o percurso, mas vim pelo elevador de serviço, estou cego por esse sentimento
angustiante chamado "distância".
Meu peito arde e sufoco, preso a tudo o que construí com aquela mulher nesses dias, tudo
desde a nossa primeira noite.
—Ela vai ficar bem chefe, calma.
—Eu estou calmo Olaf.
Acho que sou tão perturbador que quando fico quieto demais ele desconfia, Olaf me
conhece, ele sabe que eu sou um pé no saco.
Olho o relógio de pulso umas dez vezes... onze enquanto o carro se afasta do hotel, meu
coração fica disparando conforme a distância aumenta, e tento realmente me conformar com isso.
Maria quer tempo... Maria quer ficar longe... Maria quer espaço.
Eu quero Maria, só para começar... Quero ela perto... Quero ela junto...
Ela não entende isso, mesmo que comece a aceitar, mas também há outra coisa, o filho
dela, o menino, ela não disse, mas sei que se sentiria mal em vir para Paris comigo e deixá-lo no
Brasil assim sem sua presença machucaria ela imensamente.
Não sou pai... ou fui pai.
Me lembro daquela gravidez na qual Soraya deu fim e me sinto ainda pior, não quero
pensar nisso, mas uma coisa puxa a outra.
Soraya e eu nunca poderemos chamar aquilo de relacionamento, mas em dado momento
do nosso envolvimento houve uma criança, na qual só tive conhecimento de sua morte meses
após ser feito o aborto, foi algo que me abalou muito, Soraya ficou grávida, não me disse e
viajou para cidade natal de seus pais, não lembro qual, depois de alguns meses ela voltou como
se nada tivesse acontecido e durante uma das nossas discussões confessou que viajara para tirar a
criança, para mim foi um duro golpe, foi a alguns anos atrás e me dói até hoje saber o que ela fez
com o bebê, como é formada em medicina ela usou de seus métodos próprios...
Enfim, não era para ser.
Depois desse tempo todo eu ainda imagino ás vezes como minha vida teria sido infernal
se houvéssemos tido um filho juntos, a criança não seria feliz, eu era jovem demais e Soraya
ainda é a pessoa mais egoísta que eu conheço na face da terra, contudo ainda alimento dentro de
mim um imenso sonho de ter filhos... uma família.
Pessoas das quais me faram e me darão motivos para prosseguir, coisa que nunca tive
com ninguém além do meu tio.
Talvez eu possa ser um bom pai para o filho da Maria!
—Olaf!
—Senhor?
—Acha que eu vou ser um bom pai?
—Bem o quebra cabeça já é um começo certo?
Pedi que Olaf comprasse um quebra cabeças para o garoto, eu sei que não é um presente
ideal para um menino de nove anos ,mas nada me ocorreu, ainda não conheço o filho de Maria,
Sarah também não foi das mais amistosas quando telefonei para o quarto dela hoje cedo, parecia
irritada ou coisa assim, apenas informei que partiria em meia hora e trocamos curtas palavras
sobre os passaportes e as documentações, horários de voo, Sarah não é muito acessível, e acho
incrível o senso de superioridade dela.
Encontrei alguém mais ou tão arrogante que eu!
—Conversou com Alejandro?
—Sim senhor, acho que em alguns minutos ele irá acordar a senhorita Sarah.
—Ele quer comer ela!
—Mil dólares como ele não consegue.
—Dois mil!
—Feito!
Olaf nega olhando para auto estrada, estamos indo rumo ao aeroporto.
—Fico feliz pelo senhor chefe.
—Acha que ela gosta de mim Olaf?
Me sinto imaturo, infantil, como alguém muito jovem que quer muito alguém mas sei que
posso confiar em Olaf, ele me conhece.
—Ela é diferente senhor, é... indomável... como uma onça.
—É, ela é brava!
—Como o senhor!
Fico surpreso.
—A mulher é teimosa, admito, mas acho que ela entende a doença do senhor.
—Acha que ela vai aceitar Olaf?
—Precisa ser cego para não ver que ela gosta do senhor, mas essa é brava, precisava ver a
crise de ciúmes que ela deu no estacionamento do hotel ontem... a tal da Sarah é outra, fica
atiçando, já percebi que Sarah tem inveja dela.
Olaf parece aquelas tias fofoqueiras... mas ele tem toda razão.
—Mas são mulheres, elas são assim, sempre querem estar uma na frente das outras,
competindo em tudo.
—Sarah não tem só inveja de Maria, Sarah tem ciúmes de Maria —analiso —Eu percebo
que a Sarah é muito apegada a ela, talvez também só esteja com medo de que Maria se afaste
dela.
—Acho que é por que a senhora Maria é uma moça muito diferente dela fisicamente e
Sarah está muito mal acostumada, parece ser daquelas mulheres que sempre tem do bom e do
melhor e que não consegue ficar feliz por ninguém quando a pessoa se dá bem tanto ou quanto
ela.
—Seria um erro tentar colocar Maria contra ela... alertá-la?
—Nem deve senhor, talvez a senhora pense que quer afastá-la de Sarah.
Também havia percebido isso.
—Tem razão.
—Deixe que a senhora perceba sozinha que Sarah tem inveja dela, mas não sinto que isso
prejudique a senhora pois Sarah também é uma boa amiga, mesmo com esses defeitos ela é
alguém boa para senhora.
Isso era verdade, Júlia falou que Sarah ajudava Maria financeiramente com o filho dela,
Júlia antes de embarcar para Nova York hoje muito cedo mandou mensagens falando um pouco
sobre Sarah, o baile de ontem, algumas coisas, minha irmã só reforçara o que já imaginava a
alguns dias atrás, algumas coisas sobre Maria, sua vida no Brasil entre outras coisas.
—Obrigado Olaf.
—De nada senhor.
Melhor mandar uma mensagem para Maria, quero que ela entenda meus sentimentos por
ela, seu significado na minha vida.
"Bom dia vida"
"Bom dia"
Ela é tão rápida que me assusto, ao mesmo tempo que me vejo sorrindo.
"Não quis te acordar"
"Tudo bem"
Seria péssimo acordá-la... ontem à noite foi difícil, nem quero imaginar o sofrimento que
seria me despedir dela, ao menos para mim.
"Alejandro levará vocês para o aeroporto, deixei um presente para o seu filho, espero
que ele goste"
"Não precisava de presente"
"Quero deixar boas impressões"
Ela visualiza.
"Se comporte no Brasil"
"Você também em Paris"
"Quando aterrissar me avise"
"Tá"
"Nos vemos em breve"
"Em breve"
Tenho Esperanças de que esses dias passem voando... Espero cumprir com a minha
promessa.
Não sou muito sociável, mas quando encontro pessoas como Gates... francamente, sou
um poço de ideias.
Conversamos muito, eu, ele e mais dois do ramo, principalmente porque quero fechar
alguns negócios importantes com a Microsoft, infelizmente fomos pegos por uma nevasca e
tivemos que desembarcar em Londres.
Estou numa das salas vip dessas que tem em aeroportos, logo que peço um café ligo meu
celular... nenhuma mensagem dela, acho que porque Maria ainda está voando, ainda não deu
tempo dela chegar.
Mas antes que eu mande mensagens chego minha caixa de e-mails, mesmo muito ansioso
para falar com ela, ou ter alguma esperança de que me responda, aqui tem vários e-mails das
minhas secretárias, inclusive de Mandy, de São Francisco, analiso cada uma delas rapidamente,
porém mal entro no chat meu celular toca.
Condessa.
Não atendo, logo em seguida um DDD do Brasil é acionado no meu celular, esse atendo
com pressa, meu coração até dispara com a possibilidade de ser algo sobre o voo... será que
aconteceu alguma coisa? Granth é o meu melhor piloto!
—Oi, eu quero falar com o senhor Carsson, é a Sandy!
Sandy...
Me alívio imediatamente.
—Sim, ele!
—Sandy... sua prima, do Brasil.
Descobri que por parte de pai tenho uma prima, seu nome é Sandy, demorei anos para
achá-la, faz algumas semanas que a Joanne se comunica com ela por e-mail, jamais pensei que
ela passaria o meu número pessoal para Sandy, inclusive será Sandy que dará aulas para Maria,
ela é personal pelo o que soube, como uma forma de "aproximação" pedi para Joanne pedir para
ela dar aulas para Maria, também por alguns outros motivos.
—Oi Sandy... então... você já falou com a Joanne?
—Sim, ela contou, eu moro na Tijuca, eu já tenho o endereço da sua namorada.
—PE esposa.
—Ah, meus parabéns.
Não tenho assunto com Sandy, para mim ela ainda é uma estranha.
—Ela precisa perder peso — falo e me sinto estranho. — Se sentir bonita, essas coisas.
—Tá, eu vou fazer o meu melhor — a voz de Sandy e meio forçada. — Então tchau
primo.
—Até mais, obrigado senhorita Bezerra.
E desligo, me oferecem um café, me afasto para perto das vidraças transparentes, daqui
dá para ver todo aeroporto coberto de neve, o tempo fechado, os aviões estacionados mais
adiante numa fileira...
Gostaria de não ter que fazer isso mas senti muita raiva pelo o que o Jonas falou sobre
Maria naquele dia, nem lembro se foi ele ou o Ph, mas não quero que eles se sintam na liberdade
de falar sobre o peso dela, é muito constrangedor ter pessoas falando sobre a aparência da sua
mulher... também sinto que ela não é feliz com seu peso, mesmo que eu esteja sendo egoísta —
eu sou — penso que seja o melhor para ela. Também não gostaria de ver uma foto dela numa
coluna social — e eu sei que isso acontecerá em algum momento por conta do nome da família
Carsson — e algumas pessoas de alguma forma tirassem sarro dela porque ela está acima do
peso me sinto mal de pensar assim, mas acho que ela seria a mais magoada em todos os sentidos.
Entro para o chat e começo a enviar as mensagens para ela, não tenho paciência de
esperar mesmo.
"Espero que esteja tudo bem"
"Tivemos que parar em Londres, Nevasca"
Tiro uma foto da pista de voo e envio, Maria está offline.
"Queria que estivesse aqui comigo para ver isso"
"Vida"
"Sei que não pode responder, mas estou ansioso, Bill aqui comigo"
Novamente, tiro outra foto, está de Gates conversando com Hill e Graham dois de seus
melhores parceiros na área de desenvolvimento de projetos.
"Sua semana da reflexão, minha semana do trabalho"
"Tédio"
"Sinto sua falta"
—Você não imagina o quanto Maria.
Meu coração se acelera.
—Carsson, vamos! — berra Gates acenando para mim.
—Ok — faço que sim com a cabeça, envio as últimas mensagens rapidamente.
"Vou embarcar"
Mas não desligo o celular, enfio no bolso do casaco, me aproximo e Gates me dá um
sorriso estranho.
—Encontrou a garota certa?
—Ela é problemática como eu!
Gates é muito discreto, mas acho que ele e os demais já viram o objeto não identificado
no meu dedo, já tive o prazer de trabalhar em alguns projetos dele e ir a algumas apresentações,
Workshop restritos e inclusive a ter o privilégio de conhecer a empresa, admiro Gates em muitos
sentidos, não apenas como um grande profissional mas também por que ele é um imenso
humanista.
—Ela também é anti social e tudo mais?
—Digamos que ela é um pouco melhor que eu nesse sentido.
Arrumo o óculos no rosto, saímos para pista e atravessamos depressa, não neva mais com
tanta força, mas já me habituei a viajar de avião em tempos até piores, logo que entramos no
avião sou avisado que posso usar o celular, me recolho em minha cabine e tomo meus remédios,
não conseguir dormir, também não tenho fome, mas decido que talvez ficar enviando tantas
mensagens assim para Maria talvez seja muito sufocante, mais do que já sou pessoalmente.
Tento ficar por alguns momentos quieto, já tirei o casaco, os sapatos, abro o note e tento
profundamente me concentrar no trabalho acumulado, nos arquivos que tenho que ler, os
projetos nos quais tenho que trabalhar, mas não consigo, o máximo que aguento é quarenta e dois
minutos e dois segundos.
—Só mais algumas, ela nem vai ler agora mesmo!
"Espero que chegue logo, Jack"
"Sei que sabe que sou eu, é só que... deixa"
"Podemos mudar para amor?"
Decido mandar uns áudios.
—Obrigado por ontem, foi uma noite maravilhosa querida.
—Estou muito feliz que você ao menos me entende.
—Gosto muito de você.
—Eu não gosto de gravar áudio só para constar.
—Querida você está demorando demais.
Depois que me irrito me agito, desligo o celular me sentindo grudento, parte da minha
bipolaridade incrível e perfeita, então acabo por dormir.
—Como você é sem criatividade Jack!
Quando acordo estou abraçado ao meu note, tem alguém batendo na porta da cabine,
acho que o efeito dos remédios perdurou, pois estava de barriga vazia.
—Desembarque senhor Carsson.
—Eu já vou!
Parece que nem a minha agenda eu consigo mais fazer com que funcione, o primeiro
impulso que tenho — ainda grogue — é ligar o celular, depois de alguns instantes pego as
minhas coisas e visto o casaco, em minha mente vem apenas Maria, nossos dias juntos, Maria,
nossa noite juntos após o baile, Maria, nossa noite em Vegas... Ela não me sai da mente, nem do
coração, não deveria estar assim, mas... enfim, sou eu! Eu sou assim!
Desembarcamos e decido que não posso deixar Maria de lado, nem permitir que ela saia
de meus pensamentos mas também não posso permitir que sua ausência me deixe assim ao ponto
de não saber lidar com nada, posso trabalhar o mais rápido que puder, resolver tudo e quem sabe
convencer ela a desistir desse "tempo?"
Saímos do avião e entro direto no carro que me espera, Gates e os outros dois vão num
carro maior, nos encontraremos na central da Microsoft para resolver alguns negócios sobre a
implantação de sistemas novos na empresa dele, Olaf já está no volante, ele se manteve mais
com o piloto que tudo, quando voamos ele gosta de assumir o papel de copiloto.
Pego meu celular, chego algumas informações, olho para Olaf e fico preocupado.
—Granth deu notícias do pouso?
—Ainda não?
Checo relógio de pulso, depois me apavoro.
—Mas ela já deveria ter chegado!
—Senhor...
—Ligue agora para ele, cacete!
Começo a mandar mensagens para ela.
"Onde você está? Já deveria ter chegado"
"Duda estou ficando preocupado"
Maria não responde nenhuma, enquanto manobra o carro para longe da pista, Olaf está
falando ao celular, meu coração começa a disparar, minhas mãos soam, eu suo, rapidamente um
choque de adrenalina percorre o meu corpo e estou totalmente em pânico... o avião não pousou...
o avião pode ter... Não, Não, Mil vezes Não!
"Cinco minutos"
"Dez minutos"
"Por favor responda"
—Desembarcaram a pouco senhor, poxa — Olaf fala num berro, está apavorado—que
susto!
Solto a respiração lentamente.
INFERNO DE PARANOIA.
Ela volta a digitar e isso é muito mais tranquilizador, meu coração está na garganta.
"Estou aqui"
"Eu sei, já consegui contato com o Granth"
Solto o ar, Olaf também se apavorou.
"Desculpa"
"Eu peço desculpas, fiquei preocupado, você está bem?"
"Sim, e você?"
"Bem, já em Paris, muito trabalho"
"Vai dar tudo certo"
"Você ao menos pensou em mim?"
Por Favor diga que Sim!
"Claro, estou com saudade"
Sorrio feito um otário.
"Eu também"
"Pensei muito sobre ontem, obrigado, mesmo, foi uma noite perfeita"
"Mal aproveitou o baile"
"Estava com você, isso já está bom"
Te Amo Maria... Te Amo!
"Queria que estivesse aqui comigo vida"
Meu celular começa a tocar, Joanne.
"Preciso sair, nos falamos em duas horas"
"Tá, beijos"
"Beijos"
Estou Aliviado, ao mesmo tempo um pouco feliz, mas lotado de trabalho, melhor me
concentrar, agora mais do que nunca, se eu quiser vê-la em breve terei que correr com o serviço,
ao menos para que diminua os meus dias aqui em Paris.
Vai dar certo!
Acho que esse é o primeiro pensamento positivo que eu tenho em toda a minha vida.
Sem ela eu não fico
Estou um pouco melhor do banho, dos remédios, meu primeiro quase dia em Paris é
lotado de reuniões e reuniões, minha mente se concentrou bastante no trabalho logo que demos
entrada no hotel, estava tentando resolver tudo o mais rápido possível e focar no serviço
acumulado devido aos meus dias em Mali, mas Maria não saia da minha mente.
Ela grudou dentro de mim e não sai!
Conforme as horas foram se passando me sentia de volta para o meu mundo onde eu
coloco o trabalho acima de tudo e todos, novamente Condessa me ligou, mas não atendi,
decidimos fazer uma pausa de meia hora para o lanche, aproveito agora e mando uma mensagem
para Maria, deveria ligar para Joanne, para Bea, para papai, para Júlia ou Alejandro, mas só
alguém me vem à mente... Maria.
—Oi... em Paris, já chegou em casa? — enquanto falo digito, depois apago — estou
agindo como um adolescente idiota. Ah, mas quer saber, para o inferno, eu sou assim e ela me
aceita assim, melhor mandar áudio.
—Desculpe a demora, fiquei preso numa reunião.
Depois envio uma sequência de áudios.
—Você já chegou em casa?
—Vida, me responde!
—Tá, parei.
—É que gosto de te chamar assim às vezes.
—Vida!
—Estou ficando preocupado de novo.
—Sinto sua falta.
—Responde!
Envio alguns emojis e suspiro, como ela não responde e demora me irrito.
—Tá parei, fala comigo agora!
Envio, logo em seguida Maria começa a digitar, depois ela grava um áudio, parece que
leva uma eternidade para ela terminar de gravar, depois escuto o começo do áudio, a voz do
garoto parece um trovão, ele está empolgado.
—Um quebra cabeça!
É A VOZ DO FILHO DELA!
—Você gostou amor?
A voz de Maria está coberta de carinho... algo que nunca vi em minha vida.
Ela é carinhosa!
—Sim, claro que sim, mais de doze mil peças — o menino parece rasgar algo do outro
lado da linha — Mamãe eu gostei muito, quero escrever uma carta agradecendo ao seu amigo
da América, poxa, um quebra cabeça novinho.
—Que bom que gostou — responde Maria ainda com a voz derretida.
—Eu quero começar amanhã, acho que até semana que vem eu termino.
—Você é esperto, do que é?
—De Las Vegas — responde o garoto — Poxa vida mamãe, é perfeito.
—É, é perfeito!
Depois disso o áudio acaba, automaticamente me sinto irritado, Maria se referiu a mim
para seu filho como "amigo", ela não contou para ele que sou seu marido, que estamos juntos, o
que eu realmente significo para ela, ligo para ela.
—Onde você está? — pergunto mesmo sabendo exatamente onde ela está — Maria
responda!
—Em casa.
—Quando eu chamar é para responder.
—Desculpe.
—Amigo né?
Ela demora para voltar a falar, está surpresa com a minha indagação.
—Desculpe, ele só tem dez anos...
—Eu não sou seu amigo — corto impaciente. — Eu sou o seu marido, inferno!
Passo a mão nos cabelos nervosamente, a verdade é que eu não gostaria que as coisas
fossem assim, estar longe dela para mim é sacrificante, e me irrito muito facilmente com
qualquer outra coisa, essa é uma delas.
—Ouça...
—Eu preciso desligar Jack, nos falamos depois, tchau.
No final da ligação a voz dela é de choro, Maria desliga e eu novamente disco o número
dela no celular, nenhuma das vezes seguidas que eu ligo ela atende, isso vai lentamente me
corroendo por dentro, milhões de coisas se passam na minha cabeça quando volto para pequena
sala de reuniões, estamos numa das empresas da Microsoft, apenas eu, Gates e mais dois
funcionários dele, ele sabe que eu não gosto de lugares lotados, respeita isso, acho meu lugar a
mesa, depois começo a pegar as minhas coisas.
—Carsson? — pergunta Gates surpreso.
—Desculpe, eu preciso resolver algumas coisas particulares — falo abafando qualquer
vacilo na minha voz, parece que a minha garganta irá explodir.
—É algo grave?
—Minha esposa!
—Ah, então pode ficar tranquilo Carsson, te envio tudo por e-mail.
—Me desculpe, eu realmente gostaria de ficar.
—Fique tranquilo, me avise qualquer coisa não hesite em me ligar rapaz.
Faço que sim, enfio tudo na minha pasta e comprimento os outros dois funcionários de
Gates com um breve aperto de mão, enquanto saio da sala ligo para Olaf, o prédio fica no centro
da cidade, é grande, mas isso nem me ocorre, logo que entro no elevador continuo tentando ligar
para Maria, me sinto sufocado por tudo, principalmente por que sei que a magoei com o meu
pequeno ataque de estresse.
Antes que eu chegue ao carro meu celular toca, atendo imediatamente.
—Carsson!
—Você pretende ficar me ignorando pelo resto da sua vida por conta dessa zinha?
—Não tenho tempo para você Condessa.
—Não?
—Não, eu estou em Paris resolvendo negócios.
—Luck o que está acontecendo com você?
—Nada, apenas estou fechando negócios importantes na França.
—Ela fez uma lavagem cerebral em você.
Me aproximo do carro e Olaf já me aguarda, ele abre a porta para que eu entre, jogo a
pasta dentro do carro e me sento no banco traseiro, afrouxo a gravata.
—Não tenho tempo para crises de ciúmes Condessa.
—Ela está ai?
—Não, ela não está, por favor, não fique me ligando desnecessariamente.
—Você me ignorou na festa.
—Soraya eu estou casado.
—Espere até ela saber sobre seu passado... suas amantes, a agência!
Não tenho resposta.
—Ela não te conhece Luck, ela não sabe o quanto você pode fazer mal para ela, por que
insiste nisso? Por que você quer fazer essa pobre coitada sofrer?
—Eu a amo!
Silêncio total na linha.
Pego minha bolinha antiestresse e começo a apertar com força, acho que Condessa já está
indo longe demais com isso.
—Você não sabe o que é amor Luck!
—Tão pouco você Condessa.
—Você vai se machucar e machucar ela.
—E você não tem nada a ver com isso, não me ligue mais, estou muito ocupado.
—Não ouse...
Desligo a ligação, tento respirar fundo, tiro o terno, Olaf me olha através do retrovisor
percebendo minha tensão.
—Senhor?
—Peça a Graham que prepare o avião.
—Brasil?
Respiro fundo e respondo:
—Brasil!
Casa... Lar... Maria!
Toco a campainha.
O bairro é movimentado e cheio de crianças correndo no meio da rua, parece ser um
lugar bom para se morar, mas me sinto incomodado com o jeito como as pessoas me olham, os
vizinhos dela são bem curiosos, ao mesmo tempo prefiro culpar a escopofobia por tudo, minha
ansiedade, tudo acontece bem mais rapidamente em meu mundo, estou inquieto, quero me
resolver com Maria por tudo o que houve, pela forma como a tratei, sei que mais uma vez fiz
merda.
Já queria vir e isso só reforçou as minhas vontades.
Depois de alguns instantes Sarah abre o portão para mim, fica com cara de taxo me
olhando, ignoro-a completamente.
—Onde ela está?
—Na casa dela ora!
—Quero vê-la.
—Que humor.
Não consigo dormir, não consigo comer, não consigo trabalhar, desliguei o meu celular,
apenas isso e vim, acho que é justificável, quero estar perto de Maria, quero vê-la, saber que ela
está bem, tê-la apenas para mim.
Seguimos por um corredor extenso e analiso as janelas laterais da casa, passamos por
uma segunda porta lateral e vejo uma garota morena sentada a mesa mexendo em um celular, ela
me olha e parece surpresa, tem cabelos cacheados e olhos escuros, usa pijama ainda, Sarah usa
short e uma blusa de mangas.
Chegamos a escada e subimos a sequência de degraus até o sobrado, Sarah abre a
pequena porta e entramos no lugar que eu tenho certeza que Maria chama de lar a algum tempo,
parece um pequeno apartamento, é humilde, mas tudo está no lugar, a cozinha e a sala são
conjugadas, sinto o cheiro de café, aos mesmo tempo que escuto alguém reclamando,
Logo em seguida uma mulher que não deve ter nem seus quarenta anos completos se
aproxima segurando uma cesta de roupas, ela usa uma faixa colorida na cabeça e os cabelos
curtos estão soltos, é morena, baixinha, Sarah se aproxima dela.
—Pode ir tia — Sarah está basicamente empurrando a mulher para fora do lugar.
—Mas... mas...
—É coisa minha —Sarah explica ainda em português. — Daqui a pouco te falo.
—Tá bem.
Sinto que não posso conversar com a mãe de Maria agora, primeiro quero me resolver
com ela para depois ter alguma coragem para me apresentar para sua mãe, Olaf vai para os sofás
da pequena sala, sei que ele está cansado, olho mais uma vez envolta enquanto Sarah cochicha
com a mãe de Maria, logo que a mulher saí ela fecha a porta do lugar e estende a mão para mim,
Sarah sabe como as coisas funcionam.
—Melhor não ter feito merda Carsson!
Não falo nada por que sei que fiz, ela se afasta, Olaf olha envolta e parece até ter gostado
do lugar, também gosto, é simples, tem muitos porta-retratos espalhados pelo lugar, no centro
entre os sofás, nas paredes, numa estante, mas a todo momento só quero poder vê-la, Maria é
como um calmante para mim, olho para o corredor por onde Sarah entrou e depois olho para
Olaf.
—O que está esperando chefe?
Respiro fundo e vou, estou sem paciência, ansioso, repetidas vezes pensei no que dizer e
como me desculpar por tudo, meu coração se acelera quando passo por um dos quartos do
corredor e vejo uma cama de solteiro bagunçada, a pequena mesa está com as peças de quebra
cabeças jogadas lá, mas vejo bem rápido, a outra porta se abre e , entro no quarto sentindo uma
tensão fora do comum me tomando.
Meus olhos estão nela no segundo seguinte, Maria está vendada, segura um cobertor
pesado envolta do corpo, está sentada na cama e com os cabelos nas alturas, Sarah passa por
mim fazendo cara feia e fecha a porta atrás de mim, mas não consigo olhar para nada a minha
volta, perceber nada além dela... minha mulher.
Quero tantas coisas com Maria que o sentimento me sufoca, por que por mais que eu
tente entendê-lo não consigo, o amor é forte demais e me impede o raciocínio, e logo eu que
sempre fui tão prudente acabei me enfiando nisso, me permitindo isso, e é algo que sai fora do
controle cada segundo desde que descobri os meus sentimentos por ela.
É algo meu, o que eu sou, sempre que começo algo até o fim eu me empenho muito, e
com ela não será diferente, o único e maior problema é a minha personalidade, o meu jeito e faz
com que eu veja que cada dia com ela será uma intensa luta e dificuldade.
Me aproximo e paro, quero tocar ela, senti-la, quero que Maria entenda mais uma vez que
sou louco por ela, que ela aceite isso e fique ao meu lado, sei que talvez ela não me compreenda
nunca — eu mesmo não consigo me compreender —, mas que se permita conviver comigo, pelo
o que sinto por ela, e pelo o que ela começa a sentir por mim.
—Você desligou o celular.
Os ombros dela sobem lentamente, ela também está tensa, e sei que por baixo desse
cobertor não tem nada que cobre ela, mas me controlo, fecho os punhos, espero por sua resposta.
—Deve ter descarregado.
Eu mesmo não acredito que ela esteja fazendo tão pouco caso, viajei horas para estar aqui
e ela no entanto me trata mal... mas também a tratei mal, não deveria ter gritado com ela ao
telefone, deveria entender ela, ao menos conversar com ela, mas no momento me irritei tanto...
—Eu... eu... você está bem?
—Sim.
—Maria você me irrita.
—Eu sei.
—Não consigo fazer nada.
É a mais pura verdade.
—Vim para ficar com você.
—De Paris?
—Sim.
Ela morde o lábio inferior e desvio o olhar, odeio quando ela faz isso, me frustra, da
vontade de comer ela toda... O pensamento profano sempre me vem à mente... e não devo fazer
isso!
—Ouça, sei que fui grosso.
—Você foi estúpido.
—Sim.
—Precipitado.
—Completamente.
—E bipolar.
—Também.
Me aproximo mais, ela é absolutamente tudo o que mais quero, não canso de pensar
nisso, não canso de pensar nela, apenas nela.
—Pode me perdoar?
Nunca, nunca me desculpo, mas sei que ando fazendo muita merda com essa garota,
que ela não merece isso.
—Maria eu... eu não quero um tempo, por favor, eu não consigo ficar longe, sabe que
não.
Ela permanece calada, escuto passos no corredor, mas ignoro.
—Eu gosto de você, somos casados, que sentido vê nisso?
—Muito, preciso pensar.
—Pode pensar ao meu lado.
—Seria fácil.
—Por quê?
—Escolheria você.
Maria me escolheria... Ela escolheria a mim!
Mesmo louco.
Mesmo escopofóbico.
Mesmo sabendo que eu jamais serei um cara bom ou normal, ela me escolheria!
—Me escolheria?
—Por alguns motivos sim, por outros não.
—Desculpe, fui grosso, eu perdi a paciência, gostaria muito que não falasse para o seu
filho que sou seu amigo.
—Gostaria que você fosse mais meu amigo ao invés de marido, que fosse mais
compreensivo e paciente.
—Eu estou tentando.
—Por que veio?
—Porque queria me desculpar.
—Poderia ter ligado.
—Você desligou o celular.
—Você entendeu.
—Queria te ver por que não suporto ficar longe de você.
Ela abaixa a cabeça, não fala nada, talvez Maria não saiba, não faça ideia, mas isso foi a
coisa mais importante que alguém me falou em toda a minha vida, alguém me quer, alguém
realmente me quer por quem eu sou.
—Eu... eu... quer que eu vá embora?
—Você veio só?
—Sim.
—Quando vai embora?
—Não quero ir sem você.
—E o seu trabalho?
—Não importa.
—Jack seu emprego...
—Não preciso de dinheiro, tenho o bastante, você!
—Pare de falar essas coisas.
—É a verdade.
Estendo a mão e toco sua face, Maria permanece cabisbaixa, o semblante quieto demais.
—Não vou embora sem você.
—Não pode me pedir para escolher entre você e a minha família.
—Mas posso pedir que ao menos pense.
Ergo sua face com cuidado, seus lábios tremem, ela está querendo chorar, me inclino e eu
a beijo, estou angustiado com toda a situação, frustrado com a hipótese dela não querer vir, dela
não querer ficar ao meu lado, mordo seus lábios e escuto um gemido baixo, Maria toca minha
nuca e enfia a mão nos meus cabelos, também puxa com força e o meu corpo todo reage ao seu
toque.
Eu a empurro contra a cama, e ela rasteja para trás, me deito em seu corpo e a beijo
novamente, meu corpo todo entra num frenesi forte de alívio e desejo, quando ela me
corresponde sinto-me ainda mais atiçado.
—Duda!
Dura pouco, paro tentando respirar.
—Sim? —Maria também está arfante.
—É a tia Fran, ela quer conversar com você.
Vou para o lado, Maria se ergue e parece apavorada.
—Posso falar com ela — digo e tento não ficar nervoso.
—Não quero que fale com ela, ela é a minha mãe!
—E eu sou o seu marido.
—Não quero que ela saiba assim.
—Ela terá que saber de qualquer Jeito.
—Você é sempre tão insuportável?
—Somos casados e isso é um fato.
—O fato de que eu nunca trouxe um homem a essa casa colabora para que ela ache que
eu não tenho namorados e isso é ótimo porque para ela eu pareço responsável.
—Eu falo com ela, peço sua mão.
—Você está sendo inadequado.
—Estou fazendo o que é certo, fique ai, eu falo com ela.
—Jack não...
Saio da cama, nunca tive tanta coragem em minha vida, saio do quarto me preparando
para essa conversa, farei isso, resolverei isso, e quando menos Maria perceber ela estará comigo
novamente onde deve estar, ocupando seu lugar de direito, de minha esposa, minha amante,
minha mulher!
Eu o recebo como meu filho
—Com licença!
Entro na sala, a mãe de Maria está cochichando com Sarah, não sei exatamente o que
falar, a mãe dela é uma mulher jovem e séria, me aproximo e estico a mão, ela me dá uma olhada
bem séria, depois aceita o meu cumprimento fazendo cara feia.
—Eu e Maria iremos nos casar... em breve, meu nome é Jack, Jack Carsson.
—Francesca. — Ela diz e fica me olhando com cara de quem comeu e não gostou. —
Barbosa.
—Que tal você descer tia — Sarah dá uma risadinha forçada.
Francesca nem fala nada, ela vira as costas e sai andando, pisando com força, isso eu já
conheço de um certo alguém, a mulher parece o diabo soprando fumaça pelo nariz enquanto se
afasta, tento respirar fundo, estou calmo, mas ao mesmo tempo sinto como se isso fosse a coisa
mais importante que tenho que fazer na vida.
—Você não deveria ter dito isso — Sarah reclama.
—Não sou de rodeios Sarah — respondo e enfio as mãos na calça.
Ela também não gostou, mas não sinto que esteja errado, só que eu nunca tive que passar
por algo assim na vida então é complicado.
Depois de alguns instantes um menino pequeno entra no sobrado correndo, ele para de
correr assim que me vê, parece que tropeça ou coisa assim, mas logo que percebo seu andar mais
vagaroso vejo que o garoto manca em uma perna.
Ele tem os olhos vividos, um sorriso cheio de dentes que me lembra algo doce que nunca
vi em alguma criança antes, seus cabelos são encaracolados e ele é mais magro, um pouco
pequeno para idade, usa um pijama branco com estampas de carrinhos, ele tem os olhos dela...
este é o filho de Maria.
—Oi — o garoto fala apressado e o meu coração se acelera. — Tia Sah você não vem
tomar café com a gente?
—A tia precisa conversar com você.
—Tá, oi, eu sou o Louis Fernando, muito prazer!
O garoto sorri e estende a mão para mim todo empolgado, aperto sua mão ainda
paralisado com sua presença, meu coração fica disparando e eu fico vendo Sarah se afastar com o
garoto para o rumo da cozinha, seu olhar é cativante.
—Chefe — Olaf chama discretamente. — Posso ir?
—Sim — digo e vou para o sofá.
—Ele parece ser um garoto muito bom — Olaf fala com paciência. — Não gostei da
velha.
—Nem eu — respondo e passo a mão no cabelo, Olaf parece querer muito rir. — O que é
hein?
—Não imaginava que fosse gostar de uma moça tão simples chefe.
—Não gosto dela — reclamo indiferente. — Eu a amo.
Olaf me dá um meio abraço e me irrito, ele sabe que odeio esse tipo de coisa, acho que
em anos essa é a primeira vez que ele demonstra se afeiçoar realmente por mim, Olaf é como um
irmão mais velho, bem paciente.
Ele dá dois tapinhas nas minhas costas e sei que ele está exausto, ele é normal, não é
apavorado como eu, nem doente mental, pessoas normais dormem, não tem problemas de
insônia, nem paranoia, elas querem descanso, meu organismo não é assim.
Se levanta e vai embora, Sarah e o menino se aproximam, o garoto vem mais devagar,
uma das pernas é mais curta que a outra, isso dentro de mim de alguma forma me machuca, o
filho dela tem deficiência, e Maria nunca me disse isso.
—Você é o namorado da mamãe!
—Ainda.
Fernando sorri.
—Seu sotaque é engraçado.
—É mesmo?
—Sim, parece Dom Pedro.
—O imperador!
—Sim, eu li um livro sobre Dom Pedro, vi um filme também, mas a mamãe me proibiu.
Sua mãe adora proibir as pessoas!
—Bom.
Ficamos em silêncio, Sarah sumiu, estou começando a ficar realmente nervoso.
—Você é muito branco — o menino fala vagamente e fica me olhando, os olhos
castanhos arregalados. — Parece um vampiro.
Me viro para frente em silêncio, me recordo de Maria na noite em que nos conhecemos
em Las Vegas... ela falou exatamente isso, sinto vontade de rir, ao mesmo tempo que o
nervosismo me toma.
—Mãe que legal!
Me levanto, eu a vejo entrando na sala ao lado de Sarah, Maria está vendada, vestida, os
cabelos presos no mesmo coque de sempre, tento afastar o nervosismo, apenas nunca tive a
chance de ter uma namorada... noiva, ou até mesmo esposa com um lar, filhos, tudo para mim
também é um pouco novo.
—A tia Sarah me contou que você está fazendo uma brincadeira para o seu trabalho — o
garoto está sorrindo de ponta a ponta. —É uma coisa que sua chefe mandou.
—É — Maria está tensa, conheço.
—Eu prometo que vou te ajudar em tudo, deve ser difícil ser como um cego.
Nem eu entendo o que Sarah disse para o garoto, mas só de pensar que ele aceita é
aliviante, as pessoas jamais entenderiam se parássemos para explicar e mesmo que em outras
ocasiões tenha permitido e até pedido que Maria me visse eu simplesmente não quero imaginar
como seria...
—Sofá — Sara fala. — Vou preparar um café, Jack está a sua direita, Nando a sua
esquerda.
—Tá! — Maria se senta mais situada.
—Posso falar para ele que gostei do quebra cabeças?
Sarah provavelmente explicou para o menino que sou namorado de sua mãe.
—C-claro — Maria está realmente nervosa — Nando esse é o Jack.
—Aham, vocês estão namorando. — Fernando sobe na mãe como se isso fosse muito
comum. — Oi Jack seja bem-vindo a nossa família.
Eu sou bem vindo...
Essa cena... ele abraçando-a... Tenho dentro de mim que sempre quero isso.
Maria tem um filho, um menino que precisa dela, e não importa a forma como ele
foi concebido nem minhas concepções, o menino é filho dela, ela é minha esposa, então ele
também será o meu filho... Eu o Recebo em minha vida como meu filho!
—Muito prazer — consigo falar.
—Você vai se casar com a minha mãe?
—Sim.
Não tenho por que esconder nem dele nem de ninguém.
—Mamãe.
—Sim.
—Você tá bem?
—Sim, claro.
Ela não está, naturalmente tanto quanto eu, ela se incomoda com a situação.
—A tia Sah disse que você vai ficar vendada algumas vezes no dia, por causa da sua
chefe.
—É, eu havia me esquecido, é um trabalho para as férias.
Sarah é realmente boa em criar desculpas... ela tem mesmo cara de ser muito esperta,
deve ser daquelas que adora mentir para as pessoas para esconder os podres.
—E como funciona?
—É para testar os sentidos.
Maria não gosta de mentir já percebi.
—Como trocar de lugar com um cego.
Ela demora um pouco para responder, também penso que seja difícil para ela, eu sei que
é, o menino não tem nada a ver com a minha loucura, com os meus complexos, todavia Maria se
sujeita a isso, por que ela gosta de mim, eu sei que se ela não gostasse não iria fazer algo assim...
nunca.
Isso mexe absolutamente comigo.
—Sim. — Ela toca a face dele com cuidado. — Você está mesmo bem?
—Estou surpreso, mas to bem — o garoto toca a máscara sorrindo. — Que legal, posso
fingir que sou cego também?
Fernando é inocente, ele não é como as outras crianças de sua idade, ele realmente
acredita em sua mãe, em sua tia Sarah, ele é uma criança pura e de coração bom, isso me
deixa atônito, ao mesmo tempo admirado.
—Não — Maria diz. — Ainda está de pijama?
—Claro, eu fiquei montando meu novo quebra cabeças — Fernando aperta as bochechas
dela. — Mamãe você está fria.
—É? por que você não vai colocar uma roupa espertão? — Ela aperta as bochechas dele,
ele ri. — Não quero você descalço.
—Não quero usar a bota em casa, Claus está carente, ele não sai do meu quarto.
—Ele ama você.
—Você mal olhou para ele.
—Então por que você não vai colocar sua roupa e traz ele aqui?
—Tá, mamãe, posso continuar com o meu quebra cabeças?
Maria junta paciência, mas com o menino ela parece ter muita, suspira, cola a testa na
dele, Fernando abraça a mãe meio de lado, seus olhos cor de mel são grandes, cílios compridos
como os dela.
—Depois do almoço.
—Mas agora eu não tenho nada para fazer.
—Claro que tem, tem que arrumar o seu quarto, e ajudar a tia Sah com a louça do café.
—Ah vó trouxe bolo, ela fez um banquete, o vovô — diz Fernando. — Comprou pão
quentinho cedo, mas não quis te acordar.
—Tem certeza de que não tem veneno nesses pães?
—Mãe!
O menino ri... eu quero rir.
—Coloque a bota, não pode ficar sem ela.
—Tá, posso...
—Fernando não!
Maria é muito mandona, firme, dura... eu achava que ela era assim só comigo!
—Eu já volto então.
—Tá, tome um banho.
—Ai mãe eu não estou sujo.
—Louis Fernando...
—Tá, já entendi, eu tinha feito uma carta de agradecimento — Fernando me olha depois
olha para mãe. — Posso entregar para o seu namorado?
—Claro, se ele quiser é claro.
—Eu quero — digo sem jeito.
—Tá, já trago.
Fernando sai da sala, Maria seca a testa, passa as mãos no jeans que usa, Sarah não nos
dá trégua, se aproxima toda apressada, vem da cozinha.
—Vocês foram bem — especula Sarah. — A tia Fran está ligando para o Van.
Provavelmente se assustou com o meu pequeno aviso... acho que não soube me
interpretar bem, mas estamos casados... contudo eles não sabem disso, eu deveria ter me
apresentado como namorado de Maria assim como Sarah contou para o Fernando.
—Então... férias... Jack?
Ela me entrega uma xícara de café e coloca outra na mão de Maria.
—Sim — falo. — Aqui.
—Eu também — Sarah se senta no sofá menor de frente para nós. — E... a Júlia?
—Na faculdade — assim espero — Vocês tinham planos para essa semana?
—Vim ficar com a Duda, ajudar ela com o Nando — responde vagamente. — E vocês...
vão... ficar juntos... daqui para frente?
—Espero que sim — me incomodo com os olhares de Sarah, já é muito difícil para mim
ter conhecido tantas pessoas num só dia assim do nada. — Poderia não...
—Ah, tá, claro — Sarah olha para o lado.
—Pedi que ela não ficasse olhando para mim — toco o braço dela, sinto que devo lhe
contar sobre o que fiz a pouco—desculpe, acho que assustei a sua mãe.
—Como assim?
—Ele pediu sua mão em casamento Duda — Sarah ri. — Disse que estão juntos e que
vão se casar, a tia Fran ficou olhando para ele feito uma retardada.
Ela fica calada, impactada com isso.
—Jack você sabe que não tem volta certo?
Tenho certeza do que quero!
—Sim, eu sei.
—E sabe que a Duda tem a família dela e tudo mais...
—Não vou afastá-la deles, nem de você, não é minha intenção, todavia não vou me
afastar dela.
—Vai vir morar aqui?
—Se for preciso sim.
—Gosta dela.
—Claro que gosto, ela é a minha mulher.
—Você sabe que ela é uma moça de família...
—Tá, já chega — Maria se levanta exaltada. — Isso é muito esquisito, qual é o problema
de vocês?
—Nenhum — Sarah reage tão bem a tudo que até estranho. — Nossa que estresse.
—Você acha isso normal?
—Não, mas você é a minha melhor amiga e eu te amo, não quero que sofra, sabemos que
não vai ficar bem longe dele.
Apesar de ser invejosa concordo com Olaf de que ela realmente gosta de Maria.
—Sério? — Maria se irrita, coça a nuca, ela faz isso as vezes quando está irritada. —
Acha normal tudo isso?
Me magoo com a pergunta dela, mas enfim, não posso mudar quem eu sou em dois
segundos assim do nada.
—O que importa é que se gostam, pelo ou menos uma vez na sua vida pare de ser
pessimista.
Seguro sua mão e a puxo, ela se senta, e entrelaço nossos dedos, os meus nos dela, a mão
dela está gelada, minha mão treme, bebo o café todo num gole apenas.
—Sah poderia...
—Claro, eu vou preparar o quarto do Nando, já vi que vou ter que ficar por lá, e também,
eu estando por aqui você vai ter alguma ajuda.
—Tá.
—Podemos almoçar fora.
—Não tem como.
—Claro que tem, relaxa.
Não tem como relaxar mas se já cheguei aqui vou continuar, pego a xícara da mão dela,
coloco sob o centro da sala, seguro sua outra mão e a observo, não sei bem o que falar, vim
apenas por ela, por que a quero, por que a desejo, mas principalmente por que a amo, mas falar
um "eu te amo" ainda é muito complexo para mim, complicado, talvez eu diga e Maria me
recuse, talvez seja ainda muito cedo para dizer isso.
—Você tem um cachorro!
Boa Jack!
Belo jeito que arrumar uma boa desculpa para justificar sua chegada.
Por que simplesmente não explica seus sentimentos por ela?
Se fosse tão fácil seria muito bom!
—É — afirma. — Você não gosta?
—Nunca tive um. — Ela está carrancuda. — Está brava.
—Um pouco!
Me inclino e a beijo, e ela me beija, sei que errei, sei que fui estúpido, Maria não precisa
me falar, apenas fui pela milésima vez um animal com ela, senti tanta falta dos lábios dela, eles
são carinhosos comigo, lentos, eu a adoro.
—Quero a minha semana. — Ela se afasta bruscamente.
—Quero você — estou falando com o coração. — Não vou sem você.
—Jack você é dono da sua empresa e ela precisa de você.
—Eu já disse para não se preocupar com isso.
—Por que não?
—Deixei Alejandro cuidando de tudo, ele entende das coisas.
—Ele o incentivou a vir?
Me lembro de ter vagamente ligado para Alejandro antes de embarcar, dele ter me dito
que apoiava minha vinda, mas eu acho que ele começa a perceber que não adianta muito nem ele
nem a família quererem que me separe de Maria, isso simplesmente não vai acontecer.
—Sim, claro, estava atormentado depois que desligou o celular, fico insuportável.
—Como encontrou meu endereço?
—Acho que você já percebeu que encontrá-la não é um problema para mim.
—Não, você é um perseguidor.
—Não vou permitir que se afaste.
—Você me afasta.
—Desculpe, é algo que eu estou tentando melhorar a um tempo já.
—Não deveria ter vindo.
—Quer que eu vá embora?
Não espero por resposta.
—Desculpe Maria eu não vou.
—Você não me esperou responder.
—Então responda!
—Como você é impaciente.
—Por favor.
—Não, não quero, já está aqui, podemos tentar resolver as coisas.
—Estou ansioso.
—É, eu já percebi.
—O seu filho parece um bom menino—a coloco sentada em meu colo—ele reagiu bem.
Sentir ela junto a mim me deixa não somente calmo, mas tranquilo.
—Ele é muito... doce.
—É.
—Se parece com você.
Maria fica calada.
—Você não me disse que ele tem um problema na perna.
Tento ser cauteloso, talvez esse problema que o garoto tem possa ser resolvido através de
uma cirurgia.
—Ele precisa de alguma coisa?
—Não, não tem cura, é um problema na perna dele, já está bem melhor, passou por
quatro cirurgias, os médicos falam que é de nascença e o que poderia ser feito já foi feito.
—Ele vai a um especialista.
—Você está me consultando ou determinando?
—Determinando?
—Resposta errada!
—É o que tem que ser feito.
Ela não responde de propósito.
—Não me ignore! — ordeno.
—Enfim, cadê o robô?
—Ele não veio — prefiro que pense que vim sozinho, isso é algo que eu e ela devemos
resolver. — Eu vim só.
—Seu tio...
—Não, ninguém sabe, não quero que saibam, não duvido que os meus irmãos dariam um
jeito de intervir nisso.
—Você pode ficar num hotel.
—A resposta é não, e não, não é uma opção.
—Do que tem medo?
Eu a abraço.
Meu maior medo é te perder Maria!
—Não sentiu minha falta?
—Estava com você a dois dias.
—Não?
Preciso dela, preciso de Maria comigo, de nossas conversas, de nosso mundo, apenas eu e
ela, nada nem ninguém para nos atrapalhar, toco sua face com carinho, olho para sua boca
carnuda, úmida, seus lábios tremem e parecem implorar um beijo meu.
—Todos tem defeitos — digo.
—Sim, mas talvez eu não seja o suficiente.
—Você é bem mais que isso.
Ela não sabe o que diz... Mas eu sei o que eu sinto.
—Não sentiu minha falta?
Quero que ela fale!
—Senti.
Eu a beijo novamente, o calor de seus lábios me enche de um sentimento puro e bom,
amo ela, eu a amo, ela é tudo o que eu mais desejo, este o único pensamento que me vem à
mente desde que saiu daquele carro em Las Vegas.
—Vida!
Maria suspira.
—Obrigado por me deixar ficar.
—Eu não deixei você ficar.
—Estamos casados, tudo o que é seu é meu.
Ela me abraça escondendo um sorriso.
—Odeio você.
—Entrou numa fila bem extensa senhora Carsson — minha voz é embargada de uma
amargura sincera.
—Jack isso não vai dar certo.
—Quero tentar.
—Por quê?
—Já falamos sobre isso.
—Eu não tenho muito a te oferecer além disso.
—Acho que é o suficiente.
—Eu também não tenho uma suíte nem suco de coco com hortelã.
—Água serve.
Maria sorri.
—Mais alguma observação senhora Carsson?
—Por enquanto não senhor Carsson.
Melhor assim!
Os pais dela
Eu a abraço e encontro nisso meu repouso, minha tranquilidade, meu coração bate mais
lentamente por que sei que agora tudo está em seu lugar, e o lugar dela é ao meu lado.
Toco suas costas e Maria respira profundamente com o rosto colado em meu peito,
gostaria de não ser tão dependente dela, mas simplesmente não consigo.
—Duda!
Maria dá um pulo, a mãe dela está batendo a porta com firmeza.
—Duda precisamos conversar.
—Eu já vou — Maria sai do meu colo. — Você vai para o meu quarto tá bem?
—Por quê?
Não entendo, ela aponta para máscara de dormir toda irritada, quero rir.
—Não é difícil encontrar — replico — Entre no corredor, vire a esquerda e siga reto, tem
um banheiro lá, pode ficar à vontade.
—Tá bem, levo minha mochila então.
—Vai logo.
Me afasto depois da ordem, sei que talvez ela prefira explicar isso para sua mãe a sua
forma, do jeito dela, pego a minha mochila, meu casaco e vou para o quarto de Maria, logo que
entro tranco a porta e olho envolta.
O quarto dela é simples, tem uma cama com dois criados, um guarda roupa mediano, um
tapete colorido e redondo perto da cama, uma janela de madeira dupla e uma pequena mesa com
cadeira, tudo está em seu perfeito lugar.
Observo os porta-retratos no criado, Maria é daquelas pessoas que guarda memórias em
fotos, me sento na cama e pego este porta retrato do criado, aqui tem uma foto dela com um bebê
todo sujo de chocolate, ela está descabelada, parece ainda muito jovem, ela era muito jovem
quando ele nasceu, uma adolescente, havia um sorriso lindo nos lábios dela nessa foto, e um
brilho intenso em seu olhar, ela ergue o menino pelado como um troféu, Fernando era magro e
comprido, um bebê muito bonito, sorrio e toco a foto, meu coração se enchendo...
Gostaria de ter visto isso... gostaria de ter participado disto... Gostaria de ser o sortudo
que arrancou o sorriso dessa mulher, gostaria de ser o homem que ela deseja ter para sempre ao
seu lado.
Deixo este no mesmo lugar e pego o outro, neste Maria está com Sarah pendurada em
suas costas, Sarah e ela usam shorts e camisetas leves, o cenário é lindo, parece uma serra, ambas
usam óculos de sol, Sarah beija a face de Maria e ela mostra o dedo do meio para quem
fotografa.
—Muito criativa.
Me vejo rindo.
Nas outras duas fotos Maria aparece sentada numa mesa de restaurante ao lado de
Fernando e Sarah, em ocasiões diferentes, caminho pelo quarto olhando envolta e estou bem
surpreso em ver numa pequena estante grudada na parede direita do quarto uma fileira de livros
de capa preta, livros de direito, vários exemplares de livros doutrinários, e logo a direita dezenas
de romances desses usados de capas diversas.
—Ora, ora, ela gosta de romances!
Romances de todos os tipos, mas os de época são os que mais possui, caminho pelo
quarto e pego minha mochila, tenho a impressão de que ouvi um berro e paro, espero alguns
instantes e nada, acho que deve ser da rua, aqui é muito movimentado.
Entro no banheiro e tranco a porta, é simples, tem um lavatório pequeno, um espelho, um
vazo e um pequeno e estreito box, na parte de dentro vários ganchos com peças de roupas...
sutiãs!
Maria usa desse sem graça, mas acho até interessante esse lado meio conservador dela,
ela é meio antiquada com essas coisas, prova viva disso é o fato de banir ou querer banir a
atração que sente por mim.
Me dispo e deixo tudo dobrado na pedra do lavatório, não ligo o celular, não quero me
preocupar com isso agora, mas pego meu ipod, coloco uma música e entro no chuveiro, a água
está morna e gostosa.
Fico por alguns momentos deixando a água cair na cabeça, tentando me lembrar da
última vez que sumi, acho que foi quando eu decidi esquecer Condessa, quando ela decidiu viver
a vida dela, não me importa, é passado, eu e ela não temos mais nada, sei que Maria jamais
aceitaria a situação, mas não é isso, eu apenas estou muito cansado de lidar com ela.
Em minha vida hoje tenho outras prioridades, e a minha maior prioridade é Maria, sua
vida, seu filho, mergulhei nisso de cabeça por que sei que é o que na melhor das hipóteses me
fará sofrer menos, mas principalmente por que lidar com os sentimentos é algo complicado
comigo, prefiro aceitá-los agora e não pensar no sofrimento do passado, em tudo o que vivi,
papai sempre me disse para prosseguir, acho que esse será o meu jeito de seguir em frente afinal
de contas.
Termino meu banho, perco um pouco da noção do tempo, estou bem cansado, me seco,
meus ombros estão duros, minha cabeça começa a doer um pouco, mas me nego a tomar os
remédios, quero estar inteiro para Maria, quero estar bem, e os remédios me deixam meio mole.
Me seco com uma toalha cor de rosa que concluo ser dela, pego minha escova de dentes
na mochila e uso o creme dental que está no lavatório, visto um jeans que havia enfiado na
mochila, juntamente com uma camisa que também coloquei, conto as mudas de roupas, quatro,
achei que era o suficiente no dia, não pensei direito, mas acho que ainda dá, mesmo que ainda
não saiba quantos dias ficarei ao certo.
Seco bem meus cabelos e saio do banheiro, deixo minhas coisas em um canto do quarto
dela, logo que saio do quarto sou pego de surpresa pela presença de Fernando diante da porta do
quarto, ele usa um calção vermelho de tecido e uma camiseta sem mangas, ele também tomou
banho, segura um papel dobrado na mão, e está com uma bota daquelas ortopédicas na perna.
—Sua carta!
Parece meio tímido, fico um pouco sem graça e aceito a carta.
—Vem cá cara, eu já montei quase a metade da metade.
Faço que sim, eu o sigo até seu quarto, ao mesmo tempo que isolo o sentimento de
compaixão em vê-lo arrastar uma perninha, Fernando sorri indicando sua mesa, o quebra cabeças
está realmente sendo montado mas tem centenas de peças espalhadas num canto da mesa, ele se
senta na cadeira e indica a cama ao lado para que eu me sente, seu quarto é simples, organizado,
não tem muitas coisas, nem brinquedos, apenas o guarda roupas, a cama e a mesa, bem
semelhante ao de sua mãe, com a única diferença de que a cama dele é de solteiro, imagino que
Maria se esforce muito para criar o filho sozinha, para lhe dar as coisas, ela é uma daquelas mães
solteiras que fazem de tudo para dar o melhor para o seu filho... e eu só consigo me sentir
admirado mais e mais em relação a isto.
—A minha vó não gosta de você — Fernando fala, mas está sorrindo. — Mas quem se
importa não é mesmo?
Ele também é bem inteligente, faço que sim com a cabeça, abro a carta e leio em silêncio.
“Oi muito obrigado pelo quebra cabeças espero que um dia a mamãe me leve a América
para te conhecer, você é amigo dela, pode vir aqui nos visitar um dia também, muito obrigado,
Louis Fernando.”
Ele desenhou um garoto segurando uma pipa, olho para o desenho e depois para ele.
—Este é você? — que pergunta mais idiota.
—Não, é você! — Fernando explica.
—Eu não sou tão magro assim.
—A minha mãe diz que o que vale é a intenção.
—Obrigado Louis Fernando.
—De nada.
Fico olhando para ele e me sentindo meio estranho, Fernando sorri meio assim, dobro a
carta e me levanto.
—Então, eu vou falar com a sua mãe.
—Tá, se quiser podemos ver tv juntos cara.
Cara!
—Claro, com licença.
Ele faz que sim com a cabeça, saio do quarto enfiando a carta no bolso, não preciso dizer
que jamais ganhei carta de ninguém, exceto o meu tio é claro que me escrevia sempre quando eu
estava no internato, esse garoto é especial. Me aproximo da sala e avisto Maria e Sarah sentadas
na pequena mesa da cozinha.
—Maria!
Ela parece abalada ou coisa assim, Sara não está diferente.
—Estava com o seu filho, tomei banho, espero que não se importe.
Fecha os olhos, mas suas faces estão avermelhadas assim como seu nariz.
—Tudo bem por aqui?
—Sim, você quer comer alguma coisa? — Maria pega a máscara no bolso e coloca
rápido. — Acho que eu e Sah podemos preparar alguma coisa.
—Seria ótimo — me aproximo da mesa. — O que foi? Você está chorando.
—Ah minha mãe — o sorriso dela não disfarça. — Discutimos.
—Por minha causa? — me contrário.
—Porque ele é cabeça dura.
Sarah levanta da cadeira, ela já percebeu que eu e Maria precisamos conversar, mas só de
pensar que a mãe dela tenha magoado ou dito algo para ela por minha culpa já me sinto péssimo,
Maria se levanta e passo o braço envolta dela, meio que me abraça.
—Duda — Sarah fala. — Acho que vou sair para fazer algumas compras.
—Eu vou pegar...
—Não ouse — interrompe Sarah. — Aproveito e compro o nosso sorvete, Jack a sua
mulher adora sorvete de chocolate.
—Você vem comigo.
Eu a ergo no colo, Maria sorri meio assustada e se segura em mim, toca meu pescoço,
começo a traçar o caminho de volta para o quarto.
—Vida?
—Sim?
—Gostei do seu chuveiro.
—A água esquentou?
—Sim.
Eu a beijo, nada mais importa, passo pelo corredor depressa, entro no quarto dela e a levo
para cama, a coloco aqui e volto, fecho a porta, eu a observo por alguns instantes, me aproximo,
Maria tenta me tocar, mas não sabe onde estou exatamente, acaba apalpando o ar, rio de sua
vergonha e seguro suas mãos, me ajoelho e me aproximo mais dela, separo as coxas dela e me
enfio no meio de suas pernas, toco onde quero em suas coxas.
—Vamos tirar essa calça apertada?
—Não.
—A blusa?
—Ainda não.
Nem sei por que eu espero que ela me dê outras respostas, essa mulher é difícil demais.
Ela toca meus ombros, estou sorrindo, ela sorri, mas algo tão amargo...
—O que foi?
—Mamãe disse que você é bonito demais para mim.
Que tipo de mãe é essa?
Fico vermelho, isso não é verdade!
—Sou?
—Pelo o que falam, acho que sim... Jack, o que você viu em mim?
—Muitas coisas.
—Você já estava bêbado quando nos conhecemos?
—Nenhum de nós dois estávamos bêbados quando nos conhecemos, ficamos bêbados
depois.
—Então...
—Maria você é linda — toco sua face, estou sendo sincero. — Tudo em você me atrai,
seu sorriso, seu corpo, sua personalidade, não desejo mais ninguém além de você.
Quero que ela pare com isso, e é justamente por isso que quero que Maria tenha a Sandy
ao lado dela, ela precisa mudar essa imagem que tem sobre seu corpo, parar de ter medo do
julgamento das pessoas, isso para mim é apenas um ponto de vista, eu a amo, eu a adoro, do jeito
que ela é, e para mim Maria Eduarda é uma mulher linda.
—Eu a desejo — beijo-a, não quero falar disso. — Ardentemente.
Ela sorri, fico feliz em ter arrancado um sorriso dela, também estou rindo.
—Não tente imitar o meu Darcy.
—Seu Darcy! — não sei por que me irrito, estou com ciúmes de um personagem de livro.
—É, o meu homem!
—E eu sou o que?
—Você é o meu boy magia!
Rio, sou um boy Magia!
O que é isso?
—O que seria isso? algum personagem de Harry Potter?
—Gosta de HP?
—Júlia gosta, ela é apaixonada, por que? Você gosta? — preciso saber tudo sobre ela,
temos tanto a nos conhecer.
—Eu tenho todos os livros digitais no meu computador, vou dar de presente para o
Nando de aniversário.
—Quando é o aniversário dele?
—Agosto.
—Hum — olho para boca dela. — Acho que essa calça te aperta.
—Ah e você está muito preocupado.
O falso cinismo de Maria me encanta, ela é tão ousada as vezes, pena que usa essa
ousadia para me atingir... por enquanto.
—Ah muito — digo baixo. — Prefiro que fique do jeito que estava quando eu cheguei.
Ela cora, rio e cubro seus lábios com os meus, quero muito essa mulher e não sei se
consigo mais segurar isso, a dias não temos intimidade alguma, sou homem, em minhas veias
corre sangue quente agora, eu a puxo e ela vem ficando pendurada em mim, eu a seguro pelas
pernas depois a libero subindo com ela na cama, me perco por alguns momentos, o desejo fala
muito mais alto que o bom senso, mas o bom senso ainda fala.
Droga, não pode ser assim!
—Não é o momento certo. — Ela está entregue ao meu beijo.
—Não mesmo — chupa a minha língua e gemo. — O que sente quando está comigo?
—Nunca fui bom com sentimentos — eu a olho. — Você é diferente, apenas isso.
—Diferente em que sentido?
—Todos.
—Por quê?
—Você me aceita, tenta me entender, faz com que eu queira ser alguém melhor para mim
mesmo, minha irmã e irmão, meu tio.
Olho para boca e quero mordê-la, me detenho.
—Como se sente em relação a mim Maria?
—Gosto quando me obedece.
Rio, e dessa vez mordo a boca dela, pelo atrevimento, pela ousadia, por que quero,
consigo sentir tantas coisas diferentes por Maria que se eu começar a tentar explicar terminarei
no dia da minha morte, lambo seu lábio inferior e ela novamente me provoca segurando minha
língua, chupando-a... quero chupar outra coisa.
Vou para o lado, tento manter a calma, seguro sua face, ela esfrega a face na minha mão e
parece de repente triste, beija minha mão.
—O que foi?
—Nada, desculpe pelo mal jeito, minha casa é pequena...
—Deixe de besteira, eu gostei da sua casa.
—Nada com o que esteja acostumado aposto.
—Maria não!
Ela quer me afastar, ela quer ter desculpas, isso não vai acontecer, ela fecha a cara e eu
rio, consegui!
—Você sempre faz isso com as pessoas que te cercam?
—Só com os homens teimosos é claro.
—Ah, entendi — lhe dou outro beijo. — Vida!
—Você é muito meloso. — Ela tenta, não desiste, mas sua voz está derretida.
Me ergo, ela também, ficamos sentados um de frente para o outro.
—Eu não sou meloso vida — argumento. — Vou conversar com a sua mãe, ela vai
acabar entendendo.
Já imagino o que aconteceu.
—Ela não aceitou bem não foi?
—Ela nunca me apoia em nada.
—Brigaram!
—Discutimos, ela trouxe o meu padrasto para me passar lição de moral, cínica.
—E o que ele disse?
—Me apoiou — Maria dobra as pernas em posição de ioga. — Não entendo por que ele
me apoiou, ele nunca fala nada.
—Ele não deve lhe querer mal.
Três batidas na porta.
—Sim?
—Estou indo no mercado com o Nando, você quer alguma coisa?
—Sah passa na farmácia e traz uns remédios tarja preta.
Maria me faz rir, odeio me sentir tão impulsivo, mas é assim que eu sou, novamente a
empurro e me deito em cima dela, não resisto, o calor do corpo feminino me agrada, cheiro seu
pescoço, sua pele é tão gostosa e quente... como ela é.
—Volto em uma hora — Sarah avisa.
—Tá.
Beijo seu pescoço, seu ombro.
—Posso te fazer uma massagem?
—Preciso da sua ex cunhada, ela não tiraria proveito de mim.
—Eu aproveitaria cada segundo.
Novamente a beijo, Maria me toca e sei que ela também quer, novamente abafo a voz que
me diz para parar, e intensifico o beijo, as mãos dela estão se enfiando dentro da minha camisa,
puxando-a para cima, tocando minha pele, sentir seu toque é um consolo maravilhoso, ela me
aperta as costas com força e me sinto duro, a pontada familiar na virilha.
Me ergo impaciente e jogo a minha camisa para longe, fico ajoelhado na cama, seguro
suas mãos e as ergo, Maria não me vê, mas isso não impede que ela me toque, que saiba como
realmente me sinto, seu toque mexe tanto comigo...
Coloco suas mãos em meu abdômen, permito que ela me toque como nenhuma outra me
tocou, não é algo apenas carnal, pois se não tivesse sentimentos por ela jamais permitiria que me
tocasse dessa forma, ela toca meu peito e a ponta de sua língua umedece a boca, me inclino por
que quero essa língua para mim, enquanto ela me corresponde abre as pernas e se esfrega em
mim, arfo entre o beijo, eu a quero, eu a desejo.
Aperto seu quadril e puxo na direção dos meus, ela se contrai toda apertando as pernas
envolta de mim, puxo a camiseta dela para cima e Maria se ergue levantando os braços,
facilitando para que eu tire a camisa, jogo para longe e olho para os seios cheios e maiores, eles
são perfeitos.
—Você é linda.
Ela sorri, não acredita em mim, eu a beijo e isso faz estalos pelo quarto, meu corpo todo
treme de desejo pela mulher.
—Duda!
Maria se afasta e me assusto com o chamado, é a mãe dela.
Ela tateia o tecido da cama em busca da camisa, começo a ficar nervoso com essa gente,
eles não sabem respeitar o espaço de Maria, a todo momento ficam indo e vindo como se essa
casa não fosse dela, não gosto disso, seguro as mãos dela.
—Duda preciso falar com você! — chama novamente Francesca.
—Converso com ela — pego a camisa dela e enfio em sua cabeça. — Posso me
desculpar.
—Não é sua culpa Jack — Maria veste a camisa. — Vou resolver isso, já estou cansada
dela.
—Duda — soa uma voz masculina do lado de fora do quarto. — Abra a porta.
—Eu já vou — Maria também se irrita. — Jack fique aqui.
—Não — visto a minha camisa saindo da cama. — Já coloquei a camisa, vamos.
—Não vai dar certo. — Ela se levanta. — Por favor, fique aqui.
Respiro fundo, me irrito com essa teimosia.
—Maria eu sou homem não me ofenda eu falo com os seus pais.
—Não posso ficar vendada perto deles.
—Não pode me impedir de falar com eles.
—Jack não...
—Eu vou.
Estou determinado, eu quero deixar bem claro para mãe dela qual a minha intenção.
—Fique longe — ordena secamente. — E não fale nada.
—Não vai olhar?
—Não.
Sua resposta é concreta, Maria se vira para o rumo da porta e tira a máscara de dormir,
abre a porta.
—Sua mãe quer conversar.
—Minhas chaves — a voz dela está coberta de mágoa. — Por favor.
Depois ela sai do quarto, não olha para trás, vou até minha mochila e rapidamente pego o
que trouxe para ela, sabia que em algum momento eu iria ter que fazer isso diante de seus pais,
enfio no bolso e saio do quarto, analiso de longe quando entro na sala, Maria de braços cruzados
perto dos sofás, sua mãe e seu jovem padrasto diante dela, ela estão tão... tão... magoada.
—Fala o que você quer.
—Me desculpar—Francesca responde—Duda...
—Tá mãe tem algo mais que queira falar?
—Me desculpe.
—Tudo bem.
Mas isso está mais para: Tanto faz.
—O que a sua mãe quer dizer é que ela se arrepende muito por tudo o que ela falou — o
tal Van me olha. — Seu namorado?
Tento guardar o nervosismo dentro de mim, não precisamos disso agora.
—É — Maria olha para o lado da cozinha. — Jack esse é o Vandersson, o meu padrasto,
minha mãe Francesca.
Me aproximo, aperto primeiro a mão de Van, depois a mão de Francesca, sei que ela não
vai com a minha cara, mas a última coisa que preciso agora é causar más impressões nos pais
dela.
—Seja bem-vindo — Van fala com um sorriso sincero. — Muito prazer.
—O prazer é meu—tento sorrir.
—Ele é americano?
—Não, sou brasileiro, mas me naturalizei americano minha mãe era americana —
novamente isolando o medo, tento parecer neutro. — Morei aqui no Rio até os seis anos.
—Ah — Van vai se sentar num dos sofás. — Eduarda pode nos servir um café?
Maria não gosta do padrasto, os ombros dela sobem e descem, conheço, está irritada.
—Eu sirvo — Francesca diz indo para cozinha — Maria podemos conversar um pouco lá
em casa?
—Não — responde ela. — Depois tá bem?
Vou para o sofá oposto ao do padrasto de Maria, fico vendo suas oscilações de humor e
mágoa enquanto olha para longe de mim, ela realmente se esforça.
—Não quis falar aquelas coisas para você me descontrolei.
—Tá mãe tudo bem — Maria chora e isso me machuca, com certeza a discussão entre
elas foi feia. — Ainda quer que eu saia?
—Não.
Não entendo o que falam, falam em voz baixa, logo elas começam a cochichar na
cozinha, ao mesmo tempo que fico vendo o padrasto de Maria me encarando como se eu fosse
um fantasma ou algo assim fico constrangido com isso, Van é um homem forte, alto, tem cabelos
escuros e olhos escuros também, ele usa calção, chinelas e uma camisa daquelas de academia da
nike, não parece má pessoa, mas eu não costumo julgar ninguém apenas pela aparência.
Percebo que elas se resolvem em dado momento pois se abraçam, me alívio, não quero
que Maria se desentenda com sua família por minha culpa.
—Então... Jack, o que faz da vida?
—Trabalho.
—Já te disseram que você é muito branco?
—Parece que é o maior hobby das pessoas dessa família, o segundo é acharem que sou
um... vampiro.
Van dá uma risada alta, fico constrangido, nunca ninguém ri perto de mim, não estou
acostumado com pessoas tão simples a minha volta.
—Acredita que foi justamente isso o que eu pensei?
—Não duvido.
Olho para Maria mais uma vez, ela anda pela cozinha com sua mãe, não é difícil me
imaginar por mais alguns dias aqui, ao menos até convencê-la de que ela deve vir comigo para os
Estados Unidos.
Sem limites
O Padrasto dela é um fanático por futebol...
Diria que eu não sou o melhor exemplo do mundo, mas tenho meu time, brasileiro e
internacional, sempre quis saber coisas que me lembravam o meu pais natal e essa é uma delas,
Olaf é mais chegado no assunto mas isso não significa que eu não saiba também.
Van é um homem simpático, confesso, alguém do qual eu tenho absoluta certeza que não
faz mal nem a uma formiga, algumas vezes me vejo olhando para o rumo da cozinha e Maria
está com sua mãe trocando palavras das quais não ouço, parecem realmente mais calmas, me
alívio em vê-la mais calma também.
O Padrasto dela é bom de papo, muito tranquilo, receptivo, também descubro que ele é
bem chegado em coisas que eu gosto, Van já pulou de paraquedas, algo que faço quando tenho
tempo, também fez escalada, pratica esportes radicais, coisa que faço sempre por recomendação
da Lane, também por que gosto, claro que os meus passeios são solos, eu sempre vou sozinho e
Olaf vem como o bom vigia que é sob as ordens de poder maior, segundo ele sua missão de vida
é me proteger de mim mesmo, enfim, funciona bem.
Tenho um instrutor exclusivo que me acompanha quando quero saltar, quando quero
fazer trilha, já viajei diversas vezes para alguns bons lugares no mundo para praticar remo,
obviamente que com a expansão da BCLT não tenho tido tempo, funciona como uma terapia
alternativa para que eu me ocupe.
—Jack você come pão francês? — Maria berra da cozinha.
—Sim, por favor — respondo.
—Quer café?
—Sim.
Maria não tem frescura, não tem meio termo, ela está sendo ela mesma comigo, perto de
sua família... mesmo que evite me olhar, em nenhuma das vezes que olhei em seu rumo ela me
olhava, pelo contrário, evitava me olhar a todo custo, isso só reforça tudo o que sinto dentro de
mim, devo livrá-la da obrigação de usar a máscara, devo livrá-la de minha doença... e tão logo eu
consiga quero que Maria viva algo dentro do possível normal comigo..
Depois de alguns instantes vejo o cachorro entrar no lugar latindo, Sarah logo atrás com
várias sacolas nas mãos e Fernando também, Maria se abaixa para abraçar seu cachorro toda
carinhosa, é um cachorro Beagle de cor marrom, pequeno de orelhas compridas, ela parece
gostar muito de Claus... nunca tive filhotes... quem sabe, não possa adotar um também quando
eles dois vierem morar comigo?
Fernando deixa as sacolas na mesa e vem correndo para o colo de Van, se vê de longe
que ele gosta do padrasto de Maria, Van também parece gostar do menino... quem não gostaria
de Fernando? Ele é cativante!
—Vô, eu ganhei um quebra cabeças do namorado da mamãe, não é legal?
—Comprei açaí — Sarah fala — Você... está... bem?
—Sim.
A mãe de Maria se aproxima carregando uma bandeia lotada de quitutes, abaixo a cabeça,
me sinto constrangido de repente, novamente o medo me toma, a casa está se enchendo.
—Amiga eu preciso te contar uma coisa — Sarah diz. — Vem comigo no seu quarto,
algo sobre o cachorro do Gabriel.
Sarah vai puxando Maria que cabisbaixa a segue em silêncio para o rumo da sala,
endureço, mas sei que Maria não olha, ela parece meio travada ou algo assim, mas como deveria
ser? Ela deveria achar tudo isso normal? Estou pedindo que venha para o meu mundo e que me
encaixe no seu, e somos de mundos tão diferentes!
De repente a mãe de Maria a puxa pelo braço, e a conduz novamente para o meio dos
sofás, Maria se senta basicamente obrigada e percebo suas reais intenções, ela queria fugir daqui,
provavelmente queria conversar com Sarah a sós sobre algo, ela respira fundo encolhendo os
ombros.
—Vó a mamãe está fazendo um trabalho legal para chefe dela.
—É mesmo tia.
E Sarah começa a narrar sobre o novo desafio que a patroa de Maria lhe impôs para as
férias, algo sobre um novo experimento em empresas de todo o mundo, já ouvi falar de tudo, mas
a ideia de Sarah confesso quase me faz rir, ela é uma excelente mentirosa, se eu não soubesse a
verdade até acreditaria, Maria está dura e sentada ao meu lado olhando fixamente para frente,
Sua mãe ouve Sarah com atenção, assim como seu padrasto Van, ela me serve café e biscoitos,
não sei se consigo engolir nada, meu estômago gela a cada segundo, luto contra a tremedeira,
tento dizer para eu mesmo que ninguém me olha, Sarah é o centro das atenções.
—Então é um projeto para que você se sinta como os deficientes visuais da Meta?
—É mãe—Maria diz muito naturalmente, mas se incomoda no fundo. — Eu tenho que
usar em horas alternadas do dia.
—E não pode ver nada?
—Nada.
—Que sentido vê nisso?
—É um método avançado de humanização — eu também sei mentir. — É usado em
países como Rússia e Japão com o intuito de fazer os funcionários interagirem mais com os que
são deficientes visuais.
—E você faz o que exatamente Jack? Sua família é daqui mesmo?
—Eu me graduei em física a algum tempo, meu pai era brasileiro, mas não tenho parentes
aqui — mordo um biscoito. — Isso é bom.
—E o que você faz mesmo?
—Eu trabalho montando sistemas para algumas empresas.
—Ah, como os amigos da Duda — Van fala com naturalidade. — Nossa menina já foi
promovida várias vezes no trabalho dela.
Ele gosta da Maria, parece gostar, acho que só ela que não percebe isso pois deixa claro
sua apatia pelo padrasto.
—Ela não me falou muito a respeito — estou surpreso.
—A Duda é muito esperta — Francesca sorri orgulhosa. — Se forma ano que vem.
Estou casada com uma moça de família que quando bebe age como uma adolescente
louca, tal pensamento me faz querer rir, algo me vem à mente.
—E a formatura?
—Não vou fazer festa — Maria responde imediatamente.
—Mas é um momento importante.
Imagino que principalmente para ela que é esforçada, é alguém que batalha muito para
conseguir tudo.
—Nada será mais importante que pegar o meu diploma.
—Por que não vai participar da sua formatura?
—Prefiro guardar para alguma viagem importante, queria levar o Nando para... Disney.
— Ela morde os lábios—um dia, e também, a formatura ficou muito cara.
—Você pode descer depois para gente tomar uma gelada — sugere Van do nada.
Não sei dizer não para esse cara, ninguém nunca foi tão legal comigo assim, ou eu
simplesmente nunca permiti que ninguém conversasse comigo para eu perceber que ainda
existem pessoas humildes na face da terra dispostas a nos receber de braços abertos, longe
daquela alcateia de lobos que chamo de família.
—Claro.
—Mãe vou ver tv—Fernando anuncia e se aproxima da tv todo animado.
—Preciso preparar o almoço — Francisca se ajoelha diante da filha—Duda sei que está
brava, mas não precisa agir como um robô.
Ela não age como um robô, ela só está evitando me ver, para que vocês não percebam
que eu sou um louco doente mental!
—Sei que é esquisito para você trazer seu namoradinho.
Namoradinho...
Maria fica muito, muito vermelha, eu quero rir, de repente porque a mãe a trata como a
uma menina pequena.
—Você não precisa ter vergonha dessa situação.
—Mãe!
—Tá, entendi, hora de ir, Sarah por que não ensina a sua amiga a ficar bonita, ser mais
vaidosa? Agora ela está namorando, deveria no mínimo ficar mais bonita para o noivo.
Maria esconde o rosto nas mãos, visivelmente constrangida, a mãe dela se ergue assim
como seu padrasto se levanta do sofá.
—Então depois nos falamos, muito prazer cara, e desculpe ai qualquer coisa.
Levanto e aperto a mão do Padrasto de Maria, Sarah se afasta acompanhando os pais
dela, Fernando liga a tv, e volto a me sentar, Maria pega a máscara e rapidamente a coloca no
rosto, toda envergonhada, eu a olho e sinto vontade de dar um apertão nela.
—Ele é flamenguista — falo e começo a rir, quero que ela sorria também. — Tenho pena
dele.
Maria acaba por rir, mesmo que não tenha sido a coisa mais interessante que eu já falei
em minha vida, toco meu bolso e acho que tenho que esperar mais um pouco, se me precipitar
talvez assuste eles... só mais um pouco
A hora da aventura.
Nunca ouvi falar nesse desenho, mas o filho dela não desgruda os olhos da tv, hora sorri,
hora está completamente concentrado, Fernando realmente não aparenta ter a idade que tem, não
apenas pelo porte mais miúdo, mas também pela inocência que ele possui.
Sarah está na cozinha mexendo nos armários, guardando a comida, se vê de longe que é
algo que ela não gosta, estamos em silêncio na sala, Maria mal se mexe, ela ainda continua tensa
após o café com os pais dela.
—ele gosta mesmo desse desenho, está vidrado.
Me sinto curioso quanto ao Fernando.
—Ele faz outras coisas durante a semana?
—Sim, ele tem natação aos sábados e pela tarde ele tem aulas de inglês.
—Ele fala inglês?
—Acho que um pouco, ele faz desde os oito anos.
—E você não?
—Ele precisa de alguém que pague.
Não gosto disso, mas não falo nada, Maria não é rica, ela tem gastos como qualquer
pessoa classe baixa que mora aqui, a casa não é dela, ela é assalariada, passa dificuldades como
qualquer outro ser humano no mundo, eu tenho a honra e o privilégio de ter tudo o que quero na
hora que quero, isso me faz sentir um pouco de culpa, mas em breve a realidade dela não será
esta, farei o possível para que eles tenham no mínimo conforto.
—Ele é um menino muito vivido.
—Sah me ajuda com ele, ela faz questão de pagar a natação dele e as sessões de
fisioterapia.
—Sua casa é bem decorada.
Acho que o que mais gosto aqui é o fato de ser muito diferente do que eu sempre tive, a
casa de Maria parece um verdadeiro lar.
—É um lar.
—É, a nossa família vem crescendo bastante, adotamos a Sah a algum tempo, ela
obedece às vezes.
—Eu já decidi — Sarah parece chegar a uma conclusão importante. — Vou comprar
Subway, que tal?
Fernando solta um berro alegre, também me apeteço da ideia.
—Acho boa ideia... quero um vegetariano.
—Claro — Maria diz. — Eu quero o meu de frango.
—Ótimo — Sarah comemora — Eu compro então depois das sete, Nando, vamos para o
quebra-cabeças?
Fernando desliga a tv e sai correndo para o rumo do quarto, Sarah atrás, admito, é
invejosa, mas os ama.
—E vocês dois nada de ficar se pegando no sofá—avisa antes de sumir para o corredor
dos quartos.
Espero ela entrar no quarto.
—Sarah iria passar o resto das férias com você?
—Essa semana, ela não quis viajar para praia.
Maria realmente tiraria essa semana para pensar sobre "nós".
—Disse que me levaria a um lugar aqui no Brasil, onde fica?
—No litoral, você... ainda quer ir?
Ela coça o pescoço, mas acho que posso falar com Granth, ele está hospedado em algum
hotel do Rio, quero levar ela numa praia que vi a algum tempo em um comercial de tv, fica no
litoral.
—Não sei ainda, você vai ficar a semana inteira?
—Já disse que ficarei o tempo necessário.
—Quanto a sua empresa?
—Não se preocupe.
—Mas Jack você precisa trabalhar...
—Maria eu ganho o suficiente para não precisar trabalhar tão cedo, por favor, não se
preocupe com isso.
Ela realmente não entende que o meu problema nunca foi dinheiro, em diversas fases da
minha vida o dinheiro me acolheu muito bem, mas era só, a doença é algo que o dinheiro não
cura, amigos, família, nada disso, se fosse, eu seria cheio de parentes a minha volta e amigos, ao
invés disso sou excluso e distante de tudo e de todos, grande coisa ter dinheiro, tenho dinheiro
mas não tenho nada, acho que é isso o que as pessoas que não tem dinheiro não conseguem
entender, ele deve funcionar como um auxilio e não como um objeto de atenção, também sei que
tenho muito mas que isso pode acabar um dia então não, dinheiro para mim não é tudo, ele não
dura para sempre, ele não é inesgotável, é algo que hoje tenho amanhã talvez não tenha.
—Quero descansar também, conhecer mais sua família, parecem pessoas boas.
—Sério?
—Sim, seu padrasto é bem jovem.
—É, eu superei isso a um tempo.
—Ele parece um bom homem.
—Você viu todos aqueles músculos?
Rio, ela também ri, gosta de tirar sarro do Van.
—Pelo menos ele não estava sem camisa — insinuo segurando sua mão. — Você ainda
está brava?
—Não.
Ela fica calada, acho que agora é o momento certo para ficarmos um pouco a sós, eu a
puxo e passo o braço envolta dela.
—Estou um pouco cansado, não dormi na viagem até aqui, posso dormir um pouco?
—Sim, claro.
Vamos para o quarto e ela está novamente reflexiva, mas não quero que Maria pense
muito, quero que ela aja, eu quero agir, eu a quero para mim em todos os sentidos, logo que
entramos no quarto eu a beijo, chuto a porta e ela me enlaça o pescoço correspondendo, acho que
não preciso dizer o quanto quero isso.
—Quero você — digo beijando-a com força. — Eu não me importo com mais nada.
Maria puxa minha camisa para cima, ergo os braços e tiro a camisa, as mãos dela estão
nos meus ombros, ela os aperta com força e seu toque me desperta sensações fortes, são macias e
lisas, as mãos da minha mulher, a boca dela me beija o peito e respiro fundo, fecho os olhos, por
alguns segundos sentido a umidade de seus lábios se espalhando em pequenos beijos em meu
peito, puxo a camiseta dela para cima e ela também ergue os braços para que eu a tire, seus seios
saltam para fora do tecido e estão ouriçados, os bicos durinhos.
—Se alguém bater na porta não sei se conseguirei parar — falo baixo, minha voz está
embargada por um desejo estranho e forte.
—Eu não quero que você pare!
A voz dela tem quentura deliciosa, eu a observo e minhas mãos se enfiam no cós do jeans
dela, abro o botão e seus lábios macios me beijam a garganta com carinho, suas mãos tocam
meus braços lentamente, as sensações se afloram pelo meu corpo trazendo de dentro de mim a
atração ferina que sinto por essa mulher desde que a vi pela primeira vez, desde que a possui pela
primeira vez, ela arfa com dificuldade para respirar, e abro o zíper do jeans dela, a boca de Maria
forma aquele "o" obsceno no qual desejei ter nas partes íntimas do meu corpo, e basta apenas
isso para que o meu pau fique latejando feito louco.
Minhas mãos sobem e toco seus quadris, Maria aperta os meus ombros como se quisesse
realmente ter provas de que isso acontece, a todo momento ela não vê, me abaixo e coloco a
língua para fora, enfio na boca dela puxando o jeans para baixo, ela suga minha boca meio
atordoada, sei que me quer, sei que me deseja.
Maria tira os pés de dentro da calça e observo sua calcinha de algodão meio transparente,
minhas mãos não estão mais sob meu controle, conforme observo toco a bunda dela e as enfio
dentro da calcinha apertando o lugar que gosto, ela respira com dificuldade, arfa, desejosa,
confusa, sei que este momento para Maria está sendo uma nova redescoberta, ela não se recorda
do que vivemos em Vegas, então lhe darei novas boas memórias para que não esqueça de mim.
Vou puxando a calcinha dela para baixo, Devo ter cautela... é difícil!
Puxo a calcinha até a altura dos joelhos e observo a trilha perfeita e depilada que se forma
"nela", Maria junta as pernas e a calcinha cai, toco sua barriga, me admiro com sua beleza, com
sua esplêndida beleza, ela é perfeita.
Eu a empurro e Maria cai toda sem jeito na cama, ela se ergue, mas não dou tempo para
pensar, sei que se ela começar a pensar vai desistir, não tenho paciência também, mesmo que
saiba que devo ter.
Abocanho ela com força, mordo sua carne e ela dá um pulo, eu a observo se apoiar nos
cotovelos, morde a boca, faz uma cara de safada...
Gosto de chupar ela, Maria se encolhe e sinto ela retraindo na minha boca, quando geme
isso me enche de tesão.
—Hum — lambo ela de cima abaixo. — Você é muito gostosa.
Gosto de ver...
Subo para o ponto sensível dela e chupo vagarosamente, minhas mãos sobem tocando a
pele quente e lisa de sua barriga, toco seus seios com gentileza, ela se encolhe e seguro sua
barriga, ela começa a se remexer lentamente.
Chupo devagar sua intimidade e minha língua sobe para o pequeno botão dela, Maria
arfa, seus quadris se movendo para cima e para baixo, seu prazer é evidente, o gosto dela é
maravilhosos, ela está viscosa, quente, do jeito que eu quero, beijo como se beijasse sua boca,
minha língua está no controle, Maria se contorce em um pequeno e languido orgasmo, eu a
seguro subindo seus quadris para cima em minha boca, a prendo, seu prazer explodindo em
minha boca, eu a libero e dou um tapa bem servido nela, Maria se treme toda oprimindo o grito,
apenas isso é o suficiente para que eu me sinta um pouco satisfeito.
Rio da reação intensa dela, é obvio que não tem experiência, abaixo sem resistir, vou
tirando o jeans enquanto chupo ela de novo, ela puxa os meus cabelos pedindo mais, esfregando
a buceta na minha boca, adoro isso.
Porra, ela está mesmo gostando! Ela quer mais!
Separo suas pernas e as seguro na cama chupando-a mais rápido, Maria ergue os quadris
num orgasmo mais forte, ela soluça baixinho.
—Goze para mim.
Estremece com força descontrolada, e sugo seu gozo delicioso, pego a camisinha no
bolso do jeans, lambo a ponta dos dedos e me masturbo, puxo suas pernas para beira da cama e a
viro de costas.
—Tente ficar de pé.
Ela sai da cama e as pernas tremem, do jeito que eu gosto, fica de costas com o rabo para
cima, se apoia na cama, coloco a camisinha enquanto ela se ajeita, empurro seu corpo para frente
e puxo os quadris para trás, da vontade de dar um tapão nesse rabo mas me detenho.
—Jack, o que está fazendo?
—Amor.
Me ajoelho e fico de frente para o seu corpo, entre ela e a cama, me sento no chão e
minha boca a toma de novo, toco suas pernas enquanto sugo ela devagar, quero que Maria sinta
muito prazer comigo, ela está completa e totalmente úmida.
—Não quer fazer amor comigo de verdade? — questiona arfante.
—Já estamos fazendo amor vida — explico.
—Não consigo ficar em pé.
—Você é muito sensível.
—É, acho que sim.
—Tente aguentar um pouco mais querida, isso pode ser fantástico.
Maria aperta a colcha da cama com força, e desço até sua entrada deliciosa, aos poucos
ela volta a sentir mais e mais prazer, as pernas dela tremem com mais um pequeno orgasmo, toco
suas coxas, sua bunda, depois começo a me masturbar devagar tentando não me apressar muito.
Seguro seus quadris e ela solta o ar lentamente, os biquinhos dos seios dela estão duros,
ela está arrepiada dos pés à cabeça, ela geme tão baixo que duvido que alguém ouça, quando está
prestes a explodir eu lambo mais uma vez sua entrada, a puxo para baixo e ela se segura em
meus ombros.
Eu a conduzo para o meu pau devagar, ela desliza deliciosamente por ele até o fim, meu
encaixe, minha forma, ela é absolutamente feita sob medida para mim, eu a beijo e ela toca as
minhas faces correspondendo, ela é quente demais, úmida demais, viscosa demais, senti falta de
seu corpo... de sua carne.
A atração me queima como um fogo que se acende muito fácil, seguro seus quadris e a
movo devagar no meu pau, latejo, e as pontadas na minha virilha se tornam frequentes, a tensão
me toma todo, ela desliza nele muito facilmente. Maria apoia os pés no chão subindo e descendo
no pau devagar, ela toca minha face, e me abraça com força.
—O que foi? — pergunto, e de repente me sinto meio inadequado.
—Nada.
—Vamos para cama.
—Sim.
Ela se ergue, beijo ela com carinho, Maria sobe na cama e mal espero, deito-me em cima
dela puxando sua perna, abrindo-a para mim, estou ansioso por isso, esperei demais por isso, eu a
penetro devagar e novamente.
—Você quer parar?
—Não.
—Está triste.
—Não.
Ela me beija, me apoio nas mãos e me movo devagar, por mais que deseje muito fazer
muitas coisas com ela sei que devo ir devagar, Maria não é assim, talvez ao efeito de bebida, mas
na realidade ela é uma mulher tímida, com seus conceitos próprios e seus medos e incertezas
como qualquer outra no mundo.
Enquanto me movo os quadris dela sobem e descem com os meus, ela se habitua ao meu
ritmo, me da mais confiança e liberdade para que eu faça como gosto, começo a acelerar mais, é
muito gostoso meter nela, nunca experimentei nenhuma mulher como ela em nenhum sentido,
começo a meter com força sentindo que o meu pau pula espalhando o prazer por todo o meu
corpo.
Maria goza mais uma vez, me abaixo e lambo seu gozo ouvindo-a gemer mais alto, seus
quadris tremem de prazer.
—Gosto quando goza para mim vida.
—É?
—Adoro seu gosto.
Com ela não conheço limites, com ela desconheço o raciocínio, com ela não consigo
pensar em mais nada. Subo e beijo sua boca, penetro ela de novo e de novo, e Maria se segura
em mim recebendo as metidas, adorando elas, também adoro meter com ela, o calor que sua
carne me transmite é inconfundivelmente forte, ela me reveste todo, me aperta, ela é apertada.
—Mais — pede — Forte.
—Onde?
—Aqui.
—Aqui onde vida?
—Ande está.
Maria está arfando, ela aperta as pernas envolta dos meus quadris despertando em mim
algo que tento guardar dela com todas as forças, estou rindo, mas meto devagar.
—Fale sim? — peço colando a testa dela. — Fale onde sim?
—Na minha vagina.
—Não pondere comigo amor, gosto de sexo bem sujo.
—Fala com palavrões?
—Não apenas isso, mas por enquanto está ótimo, fale, na sua buceta.
Afundo mais nela.
—Fale.
—Na minha... minha... buceta!
Preencho ela com força, Maria sorri cheia de fogo, sei que ela gosta, ela apenas tem
medo, eu a vejo subir e descer comigo assim bem gostoso, seguro seu quadril e volto a meter
rapidinho nela, seus seios sobem e descem com as investidas, ela soluça apertando minha nuca, e
acelero me entregando ao prazer que ela me dá, lambo seu pescoço atravessado por todo o seu
prazer revestindo o meu.
—Merda.
Maria aperta a minha bunda, trinca os dentes se contorcendo comigo, explodo dentro dela
uma última vez, o clímax tão forte que me toma o corpo todo da cabeça aos pés, desejo
imensamente que ela me fite nesse momento, mas tudo o que temos é o prazer, e por enquanto
isso é o suficiente.
Eles são a minha família
Ela está calada.
Seu corpo repousa no meu e estamos completa e totalmente soados, meus olhos não saem
de seu corpo, Maria fica me apertando a todo momento, faz com que eu me sinta querido,
desejado, com ela as coisas são muito diferentes e maravilhosas.
Maria coloca um beijo suave em meu peito e esfrega o nariz aqui com carinho, beijo sua
cabeça, o local da máscara, me sinto preso e ao mesmo tempo livre, como um pássaro que é
criado numa gaiola que quando sai quer voltar, os sentimentos me prendem a ela de tal forma
que mal sei descrever, são tão fortes que meu peito arde com seus beijos, seu toque é tão bom.
E eu a amo.
—Você é ótima.
Fazer sexo com Maria sob qualquer circunstância é ótimo, mas minha colocação não
parece agradar ela.
—O que foi?
—Nada.
—Você não gostou?
—Gostei.
Mas não acredito muito nela.
—Maria?
—É o meu jeito, estou bem.
—Machuquei você?
—Não.
—Então o que é?
Ela respira fundo se afastando de mim, eu a vejo se sentar na cama, ela parece triste ou
algo assim, dentro de mim tudo começa novamente a desmoronar, quando penso que estamos
nos acertando Maria de repente dá sinais de que as coisas não serão como planejo, isso me
frustra.
—Você se arrependeu?
Por favor, diga que não!
—Ainda não.
Ela abraça as pernas ainda assim não me convenço.
—Eu gosto muito de você Jack, bem mais do que deveria.
Isso significa muito para mim, que ao menos goste de mim, mas ela diz de um jeito triste,
e logo imagino que seja por conta da venda, por que Maria com certeza gostaria que as coisas
fossem diferentes entre nós, eu também, contudo a máscara é algo que faz parte de tudo o que
temos, de algo do qual tento, mas não consigo mudar, minha doença.
—Também gosto de você — digo baixo, minha garganta dói, quero chorar, inferno! —
Muito.
—Prefiro que fale isso a me achar ótima — replica. — Eu nunca tive um namorado,
quanto mais um marido, espero um pouco de paciência.
—Eu também — toco suas costas. — Eu já tive uma noiva.
—Você a amava?
Acredito que o que senti por Soraya na época era mais ou menos isso.
—Sim.
Maria abaixa a cabeça, os lábios dela tremem, me dou conta tarde de que este não é o
assunto que quero ter com ela, estou tão suscetível!
—Como se conheceram?
—Na faculdade, não te falaram dela?
—Quem falaria?
—Júlia, a irmã dela é a melhor amiga de Júlia.
—Fomos noivos um tempo, mas não deu certo, hoje é casada com outro homem, somos
amigos.
—entendo.
Já sabia que isso seria complicado de explicar então não vejo necessidade de falar o que
quer que seja nesse momento para Maria, não agora.
—Não quero que fique irritada, nem eu mesmo entendo por que falei sobre isso.
—Por que eu sou especial?
Rio deliberadamente.
—Não?
—Claro que é.
Beijo o ombro dela, eu a puxo para mim e Maria sobe em meu corpo mais relaxada, eu a
abraço e sinto um carinho imenso por essa mulher, ela é simplesmente tudo o que mais quero na
face da terra, se soubesse disso não seria tão desconcertada e incerta sobre nosso relacionamento.
—Preciso ligar o ar.
—Senhora Carsson você tem um ar?
Ela oprime o sorriso — como sempre faz quando quer rir de alguma piada sem graça
minha — mas desta vez nem me importo.
—O Van que instalou por causa do Fernando.
—Onde fica?
—Na tomada perto da porta.
Ela vai para o lado, me levanto, Maria se encolhe toda se emborcando na cama, encontro
a tomada e ligo o ar, volto logo para cama e me deito em cima da minha vida.
—Não precisa ter vergonha.
—Hum.
—Obrigado.
Quero falar tantas coisas, mas me detenho... talvez isso a assuste muito mais do que já
vive assustada.
—Vida.
—Você gostou?
—Se eu gostei?
A mulher quase me deixou doido da cabeça — muito além do que sou — e está me
perguntando se eu gostei?
Estou beijando o ombro dela.
—Quero que se sinta bem comigo.
—Por quê?
—Você não pode me ver.
—Estou bem.
Ela é sincera, isso me tranquiliza, vou para o lado e puxo ela, Maria vem e fica desta vez
deitada de costas em cima de mim, toco sua barriguinha, ela se esparrama em cima de mim bem
mais calma que de costume, ela gosta que eu a toque, eu sei que ela gostou, se não gostasse não
estaria sendo tão cordial, mas é uma pena que ela não se recorde da nossa primeira vez em
Vegas.
—Você está muito calada.
—Eu sou assim.
—Eu já percebi.
Mordisco seu ombro, ela sorri, escuto três batidas na porta, estava muito bom para ser
verdade...
—Eu já voltei, trouxe comida.
—Tá Sah, nos já vamos.
Maria não parece se preocupar, eu vejo seus lábios pequenos e suas bochechas rosadas,
me sinto tão bobo por sorrir a todo momento, como na noite em Vegas, e hoje eu não bebi, não
precisei disso para ter coragem, percebo que Maria causa essas reações maravilhosas e felizes em
mim.
—Que horas são?
Pego meu celular no criado, verifico a hora.
—Sete e meia.
—Pode me ajudar a colocar minhas roupas?
—Claro.
A hora voou, Maria sai de cima de mim e fica sentada na cama, pego minhas roupas e me
visto, ela fica parada me esperando, vou para o banheiro, descarto a camisinha e me limpo com
papel higiênico, lavo meu rosto rapidamente e seco arrumando os cabelos para trás, volto para o
quarto me aproximo e seguro seu braço, eu a puxo e Maria fica de pé, oriento ela para que
coloque os pés dentro da calcinha, depois que lhe visto a camisa eu a beijo, gostaria de jogar ela
nesta cama e ficar grudado nela a noite toda, e fazendo outras coisas também, mas Maria tem
uma vida fora desse quarto, um filho, uma família, coisa na qual tenho que entender e me
sujeitar, pois eu quero entrar em seu mundo, em sua vida.
—Desculpe por parecer invasivo sempre.
—Tudo bem.
—Não quero ficar longe de você, quero que você seja só minha.
Maria me dá um meio sorriso cheio de incerteza que quero afastar de seus lábios.
—Vida?
—Também quero que você fique comigo.
—De verdade?
—Sim.
Ela me abraça, faz com que eu me sinta tão feliz com isso, ela quer que eu fique, ela me
quer realmente em sua vida.
—Você não quer vestir algo mais confortável?
—Tudo bem essa calça.
Eu a beijo novamente e ajudo-a a vestir o jeans, logo que ela está recomposta eu a pego
pela cintura e a conduzo para fora do quarto, ela vai prendendo os cabelos, calada, mordendo a
boca... a boca que eu quero morder.
—Compramos Subway! — Fernando vem correndo e pula em cima da mãe abraçando-a
meu coração se acelera com a cena. — Você tá bem né?
—Claro que estou—Maria o coloca no chão depois de abraçá-lo rapidamente—então...
hoje temos Subway!
—É — o garoto se afasta mancando um pouco. — A tia Sah pediu um de trinta para o seu
namorado, acha que ele consegue?
—Com certeza — aperto o quadril e beijo a cabeça dela.
—Então quero contar as novidades...
Sarah está falando tão rápido que eu não consigo acompanhar, ao mesmo tempo que eu e
Maria vamos para pequena cozinha o filho dela se senta na cadeira a esquerda dela, ela se inclina
e beija a cabeça do garoto com carinho, vejo em Maria alguém muito carinhosa e atenciosa com
sua criança, eu sei e não duvido que ela seja a melhor mãe do mundo para o garoto, e este é um
laço tão forte que não me sinto no direito de se quer pensar em quebrar, jamais afastarei ela do
menino, eles se amam e eu... eu a amo e começo a gostar muito desse pequeno.
Me sento a direita dela, Sarah está se sentando na frente e rasgando os papeis dos
sanduíches, Fernando parece tão feliz com o sanduíche, nunca vi uma criança tão alegre em
comer algo tão comum, ele é daquelas crianças que se conformam com pouco, que tudo o que
você dá está muito bom, ele é um menino humilde, conformado com a realidade que sua mãe
oferece.
Eu o observo abrir o papel do pão para mãe e seguro as mãos dela para que ele coloque o
sanduíche lá, abro o meu vegetariano e a observo comer muito conformada, a situação é tão
estranha, mas para Fernando e Sarah é comum, eles também comem seus sanduíches muito
conformados, mesmo que Maria esteja usando uma máscara de dormir, mesmo que isso tudo seja
uma grande loucura minha.
—Eu pedi duplo cheddar para você Duda — Sarah parece não se importar de falar de
boca cheia. — Aquela azeda caprichou, acho que reclamei tanto que ela acabou colocando a
mais.
—A tia Sah é muito barraqueira — diz o Fernando.
Nunca jantei com pessoas assim, nunca tive uma família para dividir a refeição, mesmo
que ainda eu tivesse em todos os lugares para onde fui e aonde morei banquetes e comidas de
todos os tipos, nunca um Subway pareceu tão gostoso, a companhia das pessoas tão agradável
para mim.
O menino sorri para mim e me sinto lotado de um sentimento puro de carinho, olho para
mãe dele que ri enquanto mastiga um pedaço de seu próprio sanduíche, e Sarah revira os olhos
parecendo não ligar muito para o que o Fernando disse, rio, por que agora o que o menino falou
faz sentido, e realmente concordo, Sarah é bem dessas escandalosas quando quer.
—Eu não sou barraqueira querido — e estala os dedos como se fosse a dona da verdade.
— Me poupe!
Ela estreita os olhos para Maria e mordo meu sanduíche vendo Maria fazer uma meia
cara de deboche, as sobrancelhas subindo para cima da máscara.
—Nós vamos tomar açaí de sobremesa — Fernando está contente. — Mamãe você tá
muito calada hoje.
—É — Maria confessa —, mas eu estou bem!
Sei que ela sente vergonha pela situação, por mim, por tudo e me sinto culpado...
—Já arrumei o meu colchão no quarto do Nando — Sarah diz me tirando dos
pensamentos.
Uma mulher tão bonita não deveria ser tão... vulgar.
—Mãe podemos ver um filme juntos? Todos nós?
—Claro amor.
—Vocês veem filmes juntos? — não escondo minha surpresa.
—Toda sexta desde que tínhamos uns cinco anos, quer dizer, eu tinha cinco anos, a Duda
tinha oito — Sarah abre a latinha coca. — Ela cuida de mim tão bem.
—Nós — Fernando fica sério. — Você quase morreu afogada daquela vez em Angra
lembra? Se não fosse por mim teria morrido.
Sarah quase morreu afogada? Ora, ora, então ela e o Alejandro não são tão diferentes,
acho que a única mudança é que o meu irmão nunca pula num rio fundo o suficiente.
—Só você para me salvar mesmo meu Chuchuzinho!
Sarah ama o menino, ama Maria...
—Que tipo de filme vocês veem? — questiono.
—Clássicos da Disney — Maria fala — Sah acha que é a Branca de Neve.
—Pelo menos eu não sou a Mulan.
—O que vai ser mãe? — Fernando enfia um punhado de Doritos na boca — Compramos
Doritos, como está sendo a cegueira?
Não encaro isso como falta de educação, ele me estende um pouco e aceito, mesmo que
não coma essas porcarias com tanta frequência, como um pouco, não é ruim.
—Está sendo... diferente, e hoje nós vamos assistir... A Pequena Sereia.
—Ah não mãe...
—Procurando Nemo?
—Ainda não?
—Monstros S.A?
—Tá frio.
Maria morde o sanduíche, ela realmente quer agradar o filho, não sei por que começo a
me entusiasmar com a ideia de ver um filme em família... nunca vi tv com ninguém, sempre que
tenho a chance de assistir algo é no computador, quando na tv estou só.
—Ah! — Ela pensa. — Os Vingadores?
—Acertou — Fernando pula dançando na cadeira — Bate aqui mamãe.
Maria estende a mão e tateia o ar num cumprimento solo, tento não rir, mas Sarah e
Fernando nem disfarçam, o garoto segura o pulso dela e bate na mão da mãe, Maria fecha o
punho devolvendo o cumprimento.
—Mãe, eu coloquei o seu celular para carregar, não me disse que comprou um novo.
—Não comprei, Jack me deu.
—Hum... ele é legal.
Olho para Fernando, ele parece meio amedrontado ou coisa assim.
—Você colocou senha.
—É, coloquei,
—Eu acho que bloqueei ele tentando desbloquear a tela, desculpe.
Ele coça a cabeleira cacheada, os olhos desgostosos por sua proeza.
—Posso dar uma olhada depois — enfio um Doritos na boca — Sarah poderia por favor
me dar um pouco de água?
—Não quer um suco?
—Eu não bebo suco de lata, faz mal para saúde, apenas a água, por favor!
Sarah vai a geladeira e pega uma garrafa de água de vidro, me serve de um copo e se
senta, meu tio sempre insistiu para que mantivesse bons hábitos, eu e os meus irmãos, acho que o
fato dele ser médico com certeza o influenciou para isso, e é algo que observo que Maria não
mantém na vida dela, mesmo que agora não dê a mínima para isso não quero vê-la doente.
—Você faz dieta? — Maria questiona virando o rosto para mim.
—Não, mas eu sou vegetariano Vida.
Ela fica vermelha.
—Uhu... a mamãe tem um namorado!
Ela se vira para o rumo do menino tão irritada que até eu me surpreendo, Sarah ri e ainda
não consigo entender o porquê dela estar tão brava.
—Mãe, relaxa, eu já conversei com o Jack, eu deixo.
Rio da audácia do menino, mas rio muito mais da cara que ela faz de brava por isso.
—Então — Fernando pigarreia — Desculpa?
—É bom mesmo — vira para frente toda séria e volta a comer seu sanduíche.
—Mãe não fica com vergonha — Fernando está constrangido pela bronca. — Só quero
que a senhora fique bem.
Ela suspira, ela sabe que não precisa agir assim com o menino, sei que a situação não é
das mais agradáveis — nunca será —, mas Fernando realmente se preocupa com ela, ele a quer
bem e feliz.
—A senhora nunca teve namorados, não quero que a senhora fique sozinha para sempre.
—Não vou ficar — replica abraçando-o. — Fofinho.
—Eu sou um cavalheiro.
—Das trevas.
Fernando dá uma gargalhada alta, e olho para Maria, quero beijá-la mas me detenho,
estou muito feliz de estar aqui com ela, com seu filho... um novo recomeço na minha vida, uma
nova família para mim.
Fico Esperando, meu coração disparando novamente com a expectativa, ela não demora
para responder.
—Entendo.
Me ergo e eu a olho, vejo seus ombros arqueados, ela está tão tensa quanto eu,
obviamente que não esperava que aceitasse normalmente isso, mas gostaria muito que mesmo ela
sabendo que sou um louco sua reação não fosse tão péssima a tudo isso.
—Entende mesmo?
Ela está pálida, parece que vai desmaiar a qualquer momento.
—Acho que sim.
Olho para o chão do banheiro, sinto desgosto e vergonha de ter que falar isso para mulher
com quem me casei, mas era tão... ingênuo na época, tão suscetível, não que hoje não seja, mas
jamais me submeteria a algo assim para ficar com uma mulher, talvez a alguns caprichos, mas
não a algo que fosse tão constrangedor.
Claro que aprendi a gostar da coisa e isso me envergonha muito mais, é difícil de
entender quando você aprende a gostar de algo e se acostuma com aquilo, é muito mais fácil
lidar com aquilo, no meu caso é algo que prefiro não contar para Maria agora, mas vinha
funcionando muito bem para tentar lidar com todos os meus problemas.
—Fale alguma coisa.
Maria abaixa a cabeça.
—Vocês dois eram aqueles casais que praticam surras e essas coisas?
Nos tornamos depois...
—Não, nós éramos os submissos, os que... eram açoitados.
—E você gostava disso?
—Foi a melhor maneira que encontrei de mantê-la comigo.
Ela não gostou de ouvir isso.
—Soraya?
—Sim, ela gostava.
Começo a me secar, estou nervoso, ainda que Maria não me olhe nos olhos, apenas em
falar com ela sobre isso estou apavorado.
—Não prático mais, pode ficar tranquila.
Ao menos a alguns meses não.
—Era bom?
—Era suportável.
—Você parece inteligente demais para isso.
O Pior é saber que isso é verdade, mas infelizmente a dependência era emocional, muito
mais forte do que eu pensava na época, contudo ela não precisa saber disso agora.
Pego minha roupa, começo a me vestir.
—Ficaria surpresa com o que pessoas mais inteligentes que eu fazem por um pouco de
distração.
—Distração?
—Maria, as coisas não são assim, não como você pensa.
—Eu abomino essas coisas.
—Desculpe, mas esse sou eu, pediu que eu falasse.
O semblante dela se fecha, ficou brava com a minha resposta.
—Eu não sabia bem qual era a minha posição na vida Maria, isso foi a alguns anos já,
hoje eu não penso mais assim.
—E tentou se matar por causa disso?
—Não, eu tentei o suicídio por que Soraya me trocou pelo Dominador dela, ele largou a
esposa e os filhos e se casou com ela, a mulher bebeu veneno e morreu, eu tentei me enforcar,
mas infelizmente Alejandro me encontrou com vida.
Ela respira fundo, gotículas de suor se formam na testa dela, eu beijo o lugar não sei o
que fazer para que ela entenda que não posso mudar o que fiz, quem eu fui, e que hoje estou
tentando fortemente mudar quem me tornei apenas por ela.
—Isso tem a ver com a sua doença?
—Também.
—Em que sentido?
—Achava que ninguém mais fosse me aceitar por quem eu era, que mulher suportaria
alguém escopofóbico?
—Não tinha que se submeter a isso Jack, ninguém precisa ser suportado, você só precisa
que as pessoas te amem.
—É? Bem, acho que ninguém nunca me amou.
Ela toca a minha face com carinho, me abraça, cobre meu peito de beijos, e ela não sabe o
quanto é reconfortante ter um pouco de carinho vindo dela.
—Não tenha medo disso — peço, mas sei que é muito difícil para ela.
—Não sinto tanto medo assim Jack, é que tudo isso me deixa um pouco com pé atrás,
tem que admitir que é tudo bem... diferente.
—Sim, me desculpe por isso.
—Melhor irmos.
—Sim.
Fico aliviado em ver que ela não quer mais falar do assunto, começo a vestir ela, primeiro
a calcinha, depois o sutiã, estou convicto de que ela vai ao menos me ouvir, tentar me entender
mais a partir de hoje, ainda que não me ame ela gosta de mim, está se colocando no meu lugar,
me ouvindo e também Maria não me recrimina, apesar dela não concordar ela está sendo bem
compreensiva.
—Você usa vestidos assim?
Ela se espanta.
—Minha máscara por favor.
Ela odeia vestido, já imaginava.
Coloco a máscara seca em seus olhos com cuidado.
Eu a beijo por que aprendi a adorar essa mulher estranha em apenas dias, quando ela me
abraça sinto que as coisas entre nós dois vão se normalizando, ela toca minhas costas e já me
sinto tentado, sua boca é deliciosa e macia, tão carinhosa comigo, toco seus quadris e a abraço
com mais força.
—É um vestido cheio de rosinhas, você ficará muito bem nele vida.
Não gostou, mas também não fala nada, ergue os braços e coloco o vestido em seu corpo,
a viro de costas para mim e Maria puxa os cabelos úmidos para frente, lhe estendo uma toalha e
enquanto fecho o zíper do vestido ela seca o cabelo.
—Ficou perfeito.
—É, eu sei, eu sou maravilhosa.
Faz um gestinho de "tanto faz" com a mão e acabo rindo.
—Não ligue para o que eles falam tá bem?
—Tá.
—E não precisa ficar nervoso, você é bonito.
—Precisa de um secador.
Não quero que ela adoeça, saímos do banheiro em silêncio, vamos para sala, logo de cara
vejo uma garota morena de short jeans e um top curto sentada no sofá da sala, ela é muito bonita,
tem olhos da cor dos de Maria e cabelos cacheados como os dela, a cor dourada, essa deve ser a
Júlia irmã mais nova da minha esposa.
—Uau!
Seguro sua mão e sei que estou novamente começando a ficar nervoso, não aparento é
claro.
—Bom dia Duda.
—Oi mãe.
O Padrasto dela se aproxima estendendo a mão.
—Nós viemos convidar vocês para almoçar lá em casa — fala e aperta a minha mão, Van
sorri para nós dois. — Bom dia cara.
—Bom dia — falo e tento sorrir, a família dela gosta de mim, ao menos o padrasto.
—Você está mesmo levando a sério esse negócio da empresa — a mãe dela a abraça toda
zelosa. — Você está linda com o vestido que eu te dei ano passado.
—Obrigada mãe — fala ela, mas apenas cuidadosa demais. — Tudo bem?
—Tudo — Fran beija a face de Maria. — Eu quero conversar com vocês sobre algumas
coisas.
Ela não gostou disso.
—Tudo bem por mim — posso fazer isso por nós dois, afinal, são os pais dela. — A
senhora quer conversar aqui? Eduarda me falou muito bem da sua comida.
Fran sorri, nunca tive que conhecer profundamente outras famílias, nunca tive namoradas
para saber como é passar por todo o processo, bem, Maria tem uma família, um filho, uma
melhor amiga e um cachorro e preciso saber lidar com isso, enfrentar meus medos nunca foi tão
difícil em toda a minha vida, meu estômago está gelando enquanto a irmã dela fica em
analisando, odeio quando me olham assim... odeio.
—Então nós podemos descer — Van está animado. — Eu comprei a cerveja.
—Bom.
Ao menos ele parece gostar de mim.
—Vó eu ganhei uma coleção do HP do Jack — Fernando vem do quarto pulando todo
feliz. — Nossa, mãe, não é natal, você usando vestido?
Acabo sorrindo, minha mulher não gosta de vestidos, e o mais engraçado é que todos já a
conhecem o suficiente para saber disso, inclusive eu.
—Vó vem ver!
Fernando vai puxando a mãe dela para dentro do quarto, Sarah se aproxima toda feliz, dá
um beijo modesto na bochecha dela.
—Preciso te contar uma coisa — fala para Maria. — Jack posso roubar essa ceguinha por
uns minutos?
—Claro — solto a mão dela. — Senhor Vandersson, podemos descer então.
—Não precisa chamar de senhor rapaz!
Van gosta de futebol, Sarah e ela vão na frente e eu ao lado do padrasto dela as seguimos,
ele começa a falar de futebol, confesso que tenho meu time, mas não sou tão obcecado, a irmã de
Maria vem atrás suspirando, não sei por que.
Entramos na casa da Senhora Fran, acredito que posso me referir a ela assim, o cachorro
vai correndo para cima de Maria, ela tem um carinho enorme por ele, minha esposa conhece bem
o lugar, ainda que vendada ela conhece a sala, se senta no sofá, a decoração é simples, mas tudo
está limpo, a casa organizada, tem dezenas de porta retratos nas paredes, inclusive fotos de Maria
e sua mãe, com a irmã, muitas fotos de Fernando com Van pescando.
E assim do nada eu vejo meus irmãos entrando na casa dos pais de Maria, fico nervoso
com o fato de Alejandro não ter me obedecido, e ele ainda trouxe a Júlia e a Gil, olho para Olaf e
sinto o sangue subindo a cabeça, mas sei que não foi ele, ainda não acredito que eles descobriram
que eu estou aqui, olho para minha esposa por que sei que isso não é educado, Júlia pulou em
cima dela feito um bichinho carente.
—Me desculpe por isso Maria.
Maria dá as costas para mim, me sinto de repente acuado e nervoso.
—Então! — Sarah também está nervosa. — Sejam bem vindos ao Rio?
—Obrigada—Júlia abraça minha esposa por trás. — Estou muito feliz em te ver.
Logicamente que Maria jamais a trataria mal, sei que não, ela adora a minha irmã, mas
isso não é culpa de Júlia, tenho certeza que não.
—Alejandro — chamo, ele vai me explicar por que fez isso.
—Jack tudo bem, vamos todos nos sentar — Maria replica imediatamente.
Meu irmão sabe que odeio esse tipo de coisa, essa invasão, odeio.
—Trouxe a Gil, Mirna não queria me deixar vir só — Júlia se senta ao lado de Sarah fala
português muito mal. — Você está muito peituda!
Fico vermelho, mas como culpar Júlia? Todos começam a rir, minha irmã coitada não
sabe o que acabou de falar, mas ri também, exceto pela irmã de Maria que ficou de repente
emburrada.
—Então — fala a senhora Fran. — Mais gente que fala torto.
—Me desculpe senhora — falo por que sei que essa chegada repentina dos meus irmãos
não é das melhores, isso é muito pouco educado.
—Sem problemas, são seus...
—Irmãos — respondo e me aproximo de Maria. — Júlia e Alejandro, minha ex cunhada
Gil Carter, e esse é o meu funcionário.
—Muito prazer — Júlia sorri cumprimentando os pais de Maria.
—Estes são os pais de Maria e sua irmã, e este é o Fernando filho dela — explico
juntando paciência. — Francesca, Vanderson e Júlia.
Maria se levanta.
—Então, mãe o que você queria falar para gente?
—É bom que a família toda esteja aqui, pelo ou menos quero saber quais são as intenções
dele.
Intenções!
—São as melhores é claro — Sarah responde. — Tia isso não é meio ultrapassado?
—Maria Eduarda é uma moça de família Sarah.
Não sei se me apavoro mais ou se me sinto honrado com isso, Maria é uma moça de
família e a mãe só quer preservá-la.
—Pretendemos nos casar o mais rápido possível—falo bem sério.
—E mudar para cá?
Olho para Alejandro e sei que ele não gosta, mas ele não tem que gostar, já que veio vai
me servir de alguma coisa.
—Mãe isso... pelo amor de Deus eu tenho vinte e oito anos, não é uma conversa para ter
no meio de visitas...
—Eu venho, se ela quiser, eu não me importo — Maria já se sentou e me sento ao lado
dela. — Eu gosto muito dela.
—Mas mal se conhecem.
—Isso não é verdade — Sarah mente que é uma beleza. — Eles já estão juntos a um
tempo.
—Estão?
—Sim, a um tempo — Maria mantém a mentira. — Mãe podemos falar disso depois tá?
Só nós quatro.
—Está bem então — a mãe dela se convenceu... por enquanto.
Seguro a mão da minha esposa, ela se encosta em mim e tento dizer para eu mesmo que
preciso ficar calmo, talvez mais tarde quando eu conversar com o meu irmão eu possa chutar o
balde, mas nesse momento tudo o que posso fazer é ter paciência, coisa que raramente tinha e
venho tendo constantemente.
Por mim, por Maria, por nosso casamento.
Momentos desagradáveis
Este é um dos maiores e piores momentos da minha vida.
Estamos na sala, todos sentados nos olhando, exceto por Maria, os olhares de todos
decaem sob mim e ela, mas esses olhares para mim são mais como ofensores, algo que parece a
cada segundo me consumir, tento me manter firme o máximo que posso mas me sinto
absolutamente... nu.
O silêncio não é pior do que os olhares, desejo acima de tudo que não continuem me
encarando dessa forma, dentro de mim a ansiedade é cortante, a cada olhar sinto como se algo
me espetasse, me ferisse, e sei que as minhas faces estão vermelhas de vergonha, me sinto
desconfortável, eu estou me controlando muito para não acabar saindo correndo dessa sala.
Alejandro sabe, Júlia sabe, por que eles vieram? Por que eles fizeram isso comigo? Eles
me sujeitam a esta situação! A Maria, para mim é muito mais humilhante vê-la assim, vendada,
absolutamente suscetível ao ridículo.
—E então... vocês chegaram hoje? — Sara pergunta puxando assunto.
A situação é estranha, e se não fosse essa desculpa que Sara deu para o padrasto dela e
para mãe não sei como seria, Maria está vendada numa sala cheia de gente, está expondo-se ao
ridículo por minha causa, por causa da minha doença estranha, e eu tenho absoluta certeza de que
ela jamais precisaria passar por isso se estivesse namorando qualquer outro homem no mundo,
eu já havia me questionado muitas vezes sobre isso, sobre como faríamos—ainda me questiono
—contudo eu nunca pensei que vê-la realmente assim diante de mais pessoas me afetaria tanto.
Meu coração fica acelerando a todo momento, pela vergonha, minha vergonha, mas pelo
o que sujeito ela.
Isso desperta dentro de mim tantas dúvidas!
Quero mesmo que Maria viva isso comigo? Conseguirei algum dia vencer o medo?
Conseguirei mantê-la sempre por perto com tantas pessoas que a cercam?
—Sim — Alejandro responde. — Hoje senhorita Mello.
Sarah não gosta de Alejandro, ela deixa bem claro sua apatia por meu irmão, eu mesmo
não sei se depois de hoje conseguirei olhar na cara dele tão cedo.
—Que legal — Sarah se vira para o rumo de Maria. — Então como eu tinha te dito
conversei com ele.
—E o que decidiram? — Maria pergunta muito tranquila.
Maria parece relevar a situação, ignorar, ainda que eu saiba que ela não gosta, por mais
que se sujeite eu tenho certeza de que ela não irá querer viver sempre isso ao meu lado, para mim
é uma tortura imaginar que sempre que nossas famílias estiverem por perto eu terei que me
sujeitar aos olhares deles, para ela com certeza é se sujeitar a máscara.
—Ele me convidou para o casamento dele.
—Cachorro — Maria xinga.
Não sei de quem falam, mas acredito que seja algum ex namorado de Sarah.
—Fiquei feliz com o convite, aprecio muito a educação em um homem —Sarah joga os
cabelos para o lado. — Teve sorte de encontrar alguém tão gentil e educado com você como
Jack.
Isso não soa tão falso quanto parece, é mais uma indireta para o Alejandro, o meu irmão
fica olhando para Sarah com uma cara de deboche... esse é pior do que eu quando quer!
Fernando vem em seus passos tropeços, ele sorri de ponta a ponta, isso de alguma forma
me tranquiliza um pouco.
—Mãe — Fernando pula no colo dela. — Posso te pedir uma coisa?
—Claro meu amor.
—Eu posso começar a ler o meu livro?
—Pode, mas sabe as regras, e o quebra cabeças?
—Vou revezar — Fernando sorri ainda mais
Acho tão incrível a humildade dele, ele é uma criança que me faz sentir felicidade
apenas em vê-lo feliz!
—Tá bem, Juh, pega os óculos do Nando lá em casa.
—Aff — A irmã dela se levanta com cara de quem comeu e não gostou. — Que livro?
—Minha nova saga de Hp, a Pedra Filosofal, por favor tia.
Júlia desfaz a carranca apenas com um sorriso do garoto e o pega no colo, Fernando é um
pouco menor do que as crianças de sua idade, mas sua risada é contagiante e o torna muito maior
do que qualquer outra criança dentro do possível normal.
—Quem vai casar? — pergunta Dona Francesca da cozinha.
—O "G" — Sarah e Maria respondem em Uníssimo.
—E não é com a Sarah? — Dona Francesca parece estranhar.
—Não! — Sarah parece não se importar com a pergunta, mas só parece.
—Esse mundo virou de cabeça para baixo.
Realmente! Penso eu, ao olhar envolta e perceber a situação constrangedora na qual
submeto a minha mulher.
—E a moça é de família?
—É, conheço ela, é boa gente tia, por falar em boa família, Duda eu andei dando uma
olhada numa nova casa com o meu pai em Angra, mamãe vendeu aquela antiga e eles dividiram,
agora papai quer comprar uma nova, me levou para dar uma olhada.
Sarah também não parece se importar com a situação, acho que para ela toda essa coisa é
meio que comum, ao menos ela não parece reagir mal com tudo, ou então está tentando fazer
parecer algo normal para que Gil, Júlia e Alejandro não se sintam incomodados com isso.
—Achei uma ótima, aquela aonde fomos no natal lembra? Na casa da Janaína Farias.
—Eles estão vendendo?
Maria tem interesse... ela gosta de praia!
—Aham, Janaína vai se casar ano que vem e como a casa é dela ela quer pegar o dinheiro
para viajar para Alemanha.
—Aquela ilha é perfeita.
—Você amou não é?
—É perfeita para mergulho.
—Só tem duas casas naquela ilha, acho que o meu pai vai desembolsar um bom dinheiro,
mas eu vou obrigar ele a comprar para mim, ai a gente combina um fim de semana só nosso.
—Aham.
Ela demonstra um pouco de empolgação, claro, porque ela ama mar, algo me vem à
mente, mas guardo para mim.
—O que o seu pai faz Sarah? — pergunto por que quero que Maria se sinta o mínimo
possível incomodada com tudo.
—Ele é dono da empresa dele, ou melhor, onde eu trabalho, uma agência de viagens, a
minha mãe é dona de uma grife de roupas no centro.
—Você gosta da sua área? — questiono tentando esconder meu nervosismo, odeio sentir
como se tivesse uma plateia a minha volta.
—Aham, eu adoro viajar, eu já fui comissária de bordo um tempo.
—Emprego perigoso — o Padrasto de Maria retorna. — Poderia estar ganhando muito
mais dinheiro trabalhando comigo.
—Ah é claro, pelejando com aquelas suas alunas preguiçosas.
Van e Sarah não se dão bem, na verdade acho que a rixinha entre Maria e Van se
estendeu a Sarah também, e acho bastante curioso que eles se comportem assim, uma família que
adora bater boca, discutir, e ficar disputando quem tem a razão... quero rir, pois nunca presenciei
isso nos poucos momentos em que estive com a família do meu pai.
—Sarah não fale mal das minhas alunas, elas são muito motivadas, e não compare elas
com você.
—Eu não estou comparando.
—Claro que está.
—Sah, hoje não — Maria pede baixinho,
—Tá bem — Sarah mostra a língua para Van. —, mas você viu que foi ele quem
começou.
—Eu sei — Maria fecha a cara. — Van?
—Tá me desculpe — o padrasto dela realmente parece sem jeito.
—Sah?
—Me desculpe Van.
—Viu? Não doeu.
Não acredito que ela fez ambos se desculparem!
—Você tem que ficar com esse negócio o tempo todo? — Van questiona e me sinto
tenso.
—É parte do acordo, depois eu vou escrever como foi o meu dia, é uma ótima terapia.
Mentirosa.
—Vocês não vão trabalhar? — Maria pergunta apenas neutra.
—Ficamos por conta, sua mãe está com medo de você fugir de casa com o seu namorado.
Não é uma má ideia, nesse momento eu poderia pegar ela e sair correndo daqui para um
lugar bem longe de tudo e todos, um lugar seguro onde eu estaria longe dos olhares das pessoas,
seus julgamentos... meus demônios... meus medos...
—Não é isso — Dona Francesca responde da cozinha. — De qualquer forma nós temos
que conversar com eles.
Não Precisava de uma plateia...
—Estou surpresa com a recuperação dela — Gil fala com um sorriso simpático para mim.
— Que bom que vocês estão bem Jack!
—Gil está surpresa em te ver tão bem — explico para Maria em português.
Seguro sua mão, a minha mão na dela soa, ela também está um pouquinho nervosa, eu sei
que sim.
—Acho que podem esperar na casa de Maria — falo olhando para os meus irmãos e
percebo que disse em português, Alejandro parece entender, mas Júlia e Gil... nada! — Não era
para vocês terem vindo! — completo em inglês.
—Não precisava nos expulsar Jack, só queríamos saber se vocês estavam bem! — Júlia
fala com cara de choro e se levanta, depois começa a se afastar para o rumo da porta.
Trinco o maxilar com força, ela não sabe que eu não queria ser assim, que eu gostaria que
as coisas fossem diferentes, mas eu não consigo, Alejandro levanta assim como Gil, eles
começam a segui-la.
—O que disse para ela? — Maria se preocupa.
—Que não era para eles terem vindo, ela ficou magoada.
—Claro Jack, não pode falar assim com os seus irmãos, são sua família.
Que Família Legal! Só aparecem nos momentos que não devem, me apoiam tanto que
pelo meu irmão eu já estaria divorciado de você!
—Por favor, voltem — Maria pede.
—Duda nos desculpe pela invasão — Júlia fala tudo torto, sua voz é de choro.
Eu a magoei... Inferno!
—Júlia vocês não estão invadindo nada, por favor, fiquem, a minha mãe está preparando
bastante comida, ela se sentirá mal se forem.
—Tem certeza de que não incomodamos?
—Não, podem ficar.
—Está bem, eu sinto muito por isso.
Maria fica parada, a cabeça voltada para mim, ela se irritou com o fato de ter dito para
eles irem embora.
—Sinto muito — falo sincero.
—Eu estou bem.
—Chegamos — Júlia a irmã de Maria entra correndo na sala com Fernando atrás. —
Duda, preciso falar com você.
—Pode falar Juh.
—Acho melhor deixar para uma outra hora, ou se quiser, pode vir no meu quarto.
—Vamos.
—Eu também vou — Sarah conduz Maria para fora da sala e ambas somem num
corredor.
Olho para os meus irmãos, Júlia abaixa a cabeça e Alejandro fica em silêncio assim como
Gil, gostaria de não tê-los assustado com o meu jeito, minha grosseria, mas infelizmente eu sou
assim, e acho que nunca vou mudar, contudo, sei que os meus irmãos também erraram de vir sem
me avisar, é uma surpresa desagradável.
—Jack vocês querem ver desenho comigo? — Fernando pergunta.
O senhor Van já retornou à cozinha.
Fernando se aproxima e se senta ao meu lado com seu novo livro de HP na mão, ele sorri
e seus olhinhos brilham, ele é como ela quando raramente sorri.
—Tudo bem cara?
—Sim, claro!
Logo ele se senta ao meu lado no sofá, analiso a tv ligada na estante, a sala em completo
silêncio, depois disso ele se vira para mim e fala:
—Eu gosto desse desenho, a minha mãe assiste ele sempre — faz uma pequena pausa. —
Jack você gosta da minha mãe?
—Sim — admito sincero. — Ela é muito importante para mim.
—E eu?
—Você também é muito importante para mim.
—Você é legal.
—É... talvez eu seja legal.
Depois que falo Maria aparece e se senta ao meu lado, segura a minha mão, isso me passa
mais confiança, só espero melhorar até o fim do almoço.
Dúvidas?
Dona Francesca anuncia o almoço.
Todos se sentam a mesa, eu ao lado de Maria e Sarah no outro lado, a mulher fez um
banquete para mim e meus irmãos, me sinto acima de tudo envergonhado pela situação, mas não
me sinto como se tivesse alguma opção.
—Quanta comida — a irmã dela fala surpresa. — Duda você está muito calada.
—É, eu deixo essa parte para o falante da família.
Quem anda fazendo ao menos a situação parecer um pouco comum é o Fernando, ele
conversa com todos e nos faz rir.
—Eu faço a oração — Fernando berra feliz. — Deus muito obrigado pela comida, pelos
livros e pelo quebra-cabeças...
—E pela tia Sah—Sarah completa toda engraçadinha. — Amém, vamos comer!
Eu costumo rezar antes das minhas refeições, meus olhos estão fixados no prato que
Dona Francesca colocou na mesa, me sinto frustrado e zangado, apesar de querer abafar tudo
dentro de mim, olho para Maria e ela está sorrindo parecendo tão... alegre.
Meu coração fica apertado com a cena, esta mulher está sorrindo, tentando se adequar a
tudo, recebendo minha família e se sujeitando ao ridículo, tanto para sua família quanto para
minha, até para sua amiga e seu filho apenas por causa do meu medo idiota, por mim!
—Temos omelete, bife bem passado, maionese que eu vou querer, arroz...— Sarah fala e
coloco a mão sob a coxa de Maria.
Quero dizer o quanto sinto por isso.
Quero dizer o quanto a amo.
Quero agradecê-la por isso.
Mas também sei que se eu falar tudo isso, eu sei que terei que sujeitá-la a situações
até piores... Maria está preparada?
—Prove da maionese — Maria fala para mim. — Acho que ela cozinhou brócolis.
—Sim.
Tento controlar a tremedeira na minha mão, me sirvo e ela toca a mão que coloquei em
sua coxa, tento me sentir forte, mas não consigo, amo Maria, mas não quero sujeitá-la a isso
nunca mais na minha vida, beijo-lhe a cabeça, e rezo para que ela não perceba meu pavor com a
situação.
—Uhu — a irmã dela soa e seu padrasto ri, logo toda a família está rindo.
Como se toda essa porra fosse muito normal!
A mãe dela entra na sala de jantar e se senta na ponta da mesa, nos olha com um sorriso
apenas discreto, eu sei que a família de Maria não esperava por isso, eu mesmo não esperava por
algo assim, mas eles são daqueles tipos de famílias bem unidos, se preocupam com ela, ao menos
aparentam, apesar dela me falar dos problemas que tem com a mãe e o padrasto.
—Então, como eu estava falando, Jack, com o que você trabalha mesmo? Você tem uma
casa aqui no Rio?
—Eu trabalho com algumas outras pessoas, sim senhora eu tenho uma casa aqui no Rio
— respondo escolhendo bem as palavras. — Na verdade um apartamento.
—Onde?
—Copacabana.
Não quero sentir que escondo mais segredos dos que eu guardo, não quero inimizade com
os pais dela, eu quero parecer no mínimo possível... normal, coisa que nunca serei na minha vida.
O Senhor Van começa a tossir, meus irmãos comem em silêncio, acho que ele se engasgou ou
coisa assim, Maria tenta soltar a minha mão, mas não permito, eu quero alimentá-la, seria bem
pior se ela tentasse sozinha.
—Coma.
Coloquei comida no meu prato, mas não sinto fome, coloquei salada e um pouco de
comida na dela, alimentarei ela. Dou-lhe salada na boca.
—Um apartamento lá é um pouco caro — Dona Francesca fala e parece não ter gostado
muito do que eu falei.
A mão de Maria está inquieta na minha, me irrito.
—Foi presente do meu tio — respondo. — Vida você quer tentar comer sozinha?
—S-sim.
Talvez ela se sinta mais constrangida em eu ter que alimentá-la na frente de tanta gente,
lhe entrego o garfo, e percebo seu real nervosismo, mas engulo minha angústia com tudo, ela
começa a comer sozinha.
—Você pretende levar a minha filha para esse apartamento?
—Mãe, agora não, por favor! — Maria responde imediatamente.
—Tá, desculpa, só queria saber.
—Vai saber no momento em que nós decidirmos.
Maria não gosta de ter mais ninguém se metendo em sua vida, nesse sentido, me sinto
identificado com ela, por que eu também odeio esse tipo de coisa.
Ela volta a comer.
E tudo o que escuto é o silêncio esquisito que se forma com a situação.
A vontade que sinto é de sair logo daqui, que a tortura acabe, mas quanto mais eu fico
ansioso mais parece que os segundos de silêncio não acabam.
Parece demorar uma eternidade até que todos comam, Gil nos olha e as vezes percebo
pequenos sorrisos, Júlia tem medo de mim, e Alejandro fica espiando Sarah a cada dois
segundos, ela o ignora, e me pergunto se ela realmente faz isso por que o odeio ou se não está
fazendo isso justamente pelo contrário.
—E a sua família Jack? — o Senhor Van pergunta, mas parece vago.
—Meu irmão é advogado e a minha irmã está na faculdade — olho para Alejandro depois
para Júlia, os orgulhos de papai e Mirna.
—Que bom, você é centrado então.
—Sim, eu tento, quero oferecer algo bom para Maria, e o senhor?
—Eu tenho a minha academia, sou formado em educação física.
Vejo orgulho nos olhos do meu... sogro? Acho que posso chamá-lo assim, tento me
distrair com a conversa, não quero parecer mais estranho do que já sou diante da família da
minha mulher, sou bom em fingir as vezes, principalmente na empresa, tenho que encarar isso
com frieza.
—Temos bolo de chocolate de sobremesa.
Maria sorri.
Ela gosta de chocolate.
—Acho que uma formiguinha está bem alegrinha pelo bolo.
Formiguinha!
—Pudim também.
Da para entender o apelido que ela tem, só de ver o semblante de Maria ao ouvir a
palavra: doce!
—E manjar!
Minha Sogra aparece com pratos de sobremesa, Júlia a irmã de Maria ajuda a colocar as
sobremesas na mesa, tudo é bonito e bem feito, quase não consegui comer a pouco, meus irmãos
são servidos a vontade dos doces, a mãe de Maria a serve do bolo de chocolate, Fernando sorri
de ponta a ponta só de ter pego um pequeno pedaço de pudim, entrego o garfinho de sobremesa
para Maria e ela começa a comer toda empolgada.
—Pensei em te levar na Tijuca na sexta — Sarah se serviu do doce branco. — Para você
pegar um sol, sei lá dar uma desligada.
—Aham — Maria diz—hum... Você guardou a minha parafina?
Ela surfa?
—Claro, a Tê quase jogou fora esses dias.
—E o que vocês duas estão tramando aí hein? — a irmã dela pergunta. —Ei Duda levei o
Nando para o shopping e ele amou.
—Piscina de bolinhas — Fernando se enche de suspiros. — Mãe lembra da última vez
que nos quatro fomos?
Sarah começa a rir e a irmã de Maria gargalha, a mulher ao meu lado por sua vez está
ruborizada, me sinto... curioso.
—Eu vou te processar mano você me paga — A irmã dela fala com voz grossa, Fernando
e Sarah riem à beça. — Eu não admito que me tratem assim.
—Ah é! — Maria parece se irritar profundamente. — Pelo menos eu não fiquei presa no
tobogã.
—Uou — Fernando diz, e todos na mesa começam a rir, inclusive meus irmãos. — Tia?
—Tem razão Duda fiquei presa no tobogã, mas você saiu presa pelos seguranças.
—Não vamos nos esquecer do momento épico em que a minha mãe ficou correndo
dentro da piscina — Fernando funga. — E os seguranças ficaram correndo atrás dela.
—Eu não sabia — Maria se defende chateada.
Ela fica vermelha, percebo que Alejandro explica para Gil e Júlia tudo em inglês e ambas
começam a rir.
—A Duda sempre foi muito engraçada, mas ela e muito na dela — meu sogro diz
pensativo.
Ele não odeia a Maria... se odiasse não se referiria a ela de uma forma tão natural.
—Ela sempre foi muito engraçada — Minha sogra fala com carinho na voz. — O Nando
saiu a ela nesse sentido.
—Essa história da piscina — comento fingindo desinteresse. — O que aconteceu?
—Eu conto...
Fernando começa a narrar o acontecido rindo muito, todos riem, mas Maria não e sua
irritação é engraçada, Maria entrou numa piscina de bolinhas infantil e não queria sair, quando se
recusou a sair, os seguranças tiveram que tirá-la a força, começo a imaginá-la correndo dentro de
um shopping fugindo de seguranças por ter ido para um brinquedo infantil, ainda existem
mulheres assim?!
Existe, minha mulher é assim!
E se já bem conheço a teimosia...
—Pegue o álbum de fotografias Júlia, para mostrar para o marido da Duda.
—Mãe melhor não...
—Eu pego o álbum vó.
—Maria já passou por muitas coisas na vida, a leucemia foi o pior delas, eu pensei que a
minha menina não iria resistir, quase morri junto...
Olho para Maria, ela não responde ao que a mãe fala, ela não gosta da situação, eu odeio,
mas acho que agora tudo ficará ao menos um pouco suportável, precisarei conhecer sua família,
quero saber mais sobre ela, sobre sua infância, e mesmo que isso me custe paciência e força para
enfrentar meu medo eu acho que é um bom preço a ser pago.