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É chamado de Tráfico negreiro o envio arbitrário de negros africanos na condição de

escravos para as Américas e outras colónias de países europeus durante o período


caracterizado como colonialista.

Durante a Idade Moderna, primordialmente depois que se descobriu a América,


intensificou-se o comércio escravo, sem qualquer limite quanto à crueldade praticada,
visava-se somente o lucro que se obteria com a venda de homens, mulheres e
crianças vindas directo da África para as Américas.

A escravidão ocorre desde a origem de nossa história, quando os povos que eram
derrotados em combates entre exércitos ou armadas eram aprisionados e
transformados em escravos por seus dominadores. O povo hebreu é um exemplo
disso, foram comercializados como escravos desde os primórdios da História. Os
escravos eram usados nos trabalhos mais pesados e toscos que se pode imaginar.

A explicação encontrada para o uso da mão-de-obra escrava fazia alusão a questões


religiosas e morais e à suposta preeminência racial e cultural dos europeus.

Os portugueses já utilizavam o negro como escravo desde o ano de 1432, trazido pelo
português Gil Eane, utilizando-os nas ilhas da Madeira, de Açores e Cabo Verde,
anteriormente à efectivação da colonização brasileira.

2.    FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1  A ERA DO TRÁFICO DE ESCRAVOS NEGROS

Nas classes anteriores estudamos os principais Estados e as características gerais


das sociedades africanas no período que vai do século VII ao século XV, que
corresponde à chamada época feudal europeia e, em África, a um período de
desenvolvimento económico, político e cultural em nada inferior ao da Europa. Isto
aplica-se não só às regiões directamente influenciadas pela civilização islâmica (Norte
de África, região sudanesa, costa oriental), mas também às marcadas por uma cultura
negro-africana original (África Subsariana, Central e Meridional).
Antes do tráfico europeu, já os Árabes traficavam escravos africanos. Estes eram há
muito objecto de comércio regular entre o Sara e o oceano índico, que os colocava em
contacto com o exterior. As relações da Arábia com África pelo mar Vermelho e pelo
oceano Índico explicam o papel desempenhado pelos Árabes no tráfico negreiro. Este
comércio iniciou-se em pequena escala, mas depois conheceu grande evolução na
altura da expansão árabe na África do Norte.

Uma das principais vias do tráfico era a que ligava a costa oriental de África com a
Arábia. Os escravos eram uma das mercadorias mais procuradas na Arábia, sendo as
outras o marfim, o ouro e a madeira. Uma segunda via do tráfico unia a Arábia ao
Corno de África, mais precisamente à Abissínia.

A Europa nunca esteve ausente durante as correntes de trocas negreiras anteriores ao


tráfico transatlântico. Inicialmente a sua participação foi menor e indirecta, e fez-se por
intermédio dos seus vizinhos muçulmanos. Porém, a partir do século XIV, os
Europeus, principalmente os da península Ibérica, procuraram a todo o custo abrir vias
ou rotas de trocas directas com a África atlântica.

A princípio, estas trocas acabaram por se concentrar nos escravos como mercadoria
privilegiada, mas os Europeus tornaram-se rapidamente independentes dos Árabes,
pelo que o comércio de escravos praticado pelos Europeus veio a conhecer uma
amplitude sem precedentes.

A escravatura era um estatuto social corrente na Europa medieval. No final da Idade


Média, os escravos que se encontravam na Europa eram na maior parte originários
dos territórios situados nas margens do mar Negro ou do Cáucaso. Os negros de
África constituíam uma excepção. Porém, a introdução destes africanos proveio da
iniciativa dos Árabes, e os próprios Europeus não tardaram a utilizar um número cada
vez mais crescente de escravos negros.

2.2  O TRÁFICO DE ESCRAVOS

A partir do século XVI, o curso da história africana alterou-se brutalmente, quando a


Europa entrou exactamente na mesma época em período de expansão económica e
geográfica, passando a interferir na evolução das sociedades africanas de uma forma
que se foi acentuando nos séculos seguintes. Com os "grandes descobrimentos"
começa uma evolução divergente: civilizações que não sendo semelhantes mas têm
um nível de desenvolvimento equivalente vai distanciar-se de tal maneira que os
Europeus do século XIX, em plena fase de expansão imperialista, acharão normal e
natural apoderar-se gradual e depois totalmente do continente africano.

Do século XVI ao século XVIII, a África foi palco de um dos maiores genocídios da
história da humanidade: milhões de africanos foram arrancados violentamente das
suas terras e do seu meio social ou pereceram para enriquecer uma burguesia
mercantil sedenta de ouro, prata e outros produtos preciosos.

É este período que se designa por "Era do Tráfico", para África, e "Período de
Acumulação Primitiva de Capitais", para a Europa. O tráfico de escravos foi o factor
essencial da história africana durante este período.

2.2.1     Primeiros Contactos

Desde tempos remotos, houve contactos entre África e os países do Mediterrâneo


através das rotas de caravanas transarianas.

As mercadorias do Norte de África, do Próximo Oriente e da Europa (espadas de aço,


ferragens, sedas, tecidos e escravos, entre outros produtos) chegavam até à África
sudanesa para serem trocados por ouro, marfim, sal, pimenta e escravos.

Entre as várias regiões africanas também havia trocas comerciais que permitiam
contactos culturais e relações políticas. Os Estados sudaneses (Gana, Mali, Songhai)
mantinham ligações com o Egipto; havia contactos entre o Senegal e a Somália; entre
o Chade e as cidades do Nilo; das cidades da costa do oceano Índico com os Estados
da bacia do Nilo, e do litoral com o interior.

Até ao século XV, comércio entre a África e a Europa efectuava-se através das rotas
transarianas e da costa do oceano Índico por intermédio de mercadores árabes, que
encaminhavam os produtos para as grandes cidades italianas e ibéricas.

No século XV, tráfico mudou de orientação. O Sara cedeu progressivamente o lugar


ao oceano Atlântico, onde os contactos entre africanos e europeus se multiplicaram
devido às descobertas científicas e técnicas que permitiram uma navegação mais
segura e à grande necessidade que a Europa tinha de ouro e especiarias. Os
primeiros europeus que desembarcaram nas costas africanas foram os Portugueses,
movidos por interesses lucrativos e de aventuras.

2.3  A ÁFRICA DIANTE DO DESAFIO COLONIAL

Na história da África jamais se sucederam tantas e tão rápidas mudanças como


durante o período entre 1880 e 1935. Na verdade, as mudanças mais importantes,
mais espectaculares – e também mais trágicas –, ocorreram num lapso de tempo bem
mais curto, de 1880 a 1910, marcado pela conquista e ocupação de quase todo o
continente africano pelas potências imperialistas e, depois, pela instauração do
sistema colonial. A fase posterior a 1910 caracterizou -se essencialmente pela
consolidação e exploração do sistema.

O desenvolvimento desse drama foi verdadeiramente espantoso, pois até 1880


apenas algumas áreas bastante restritas da África estavam sob a dominação directa
de europeus. Em toda a África ocidental, essa dominação limitava -se às zonas
costeiras e ilhas do Senegal, à cidade de Freetown e seus arredores (que hoje fazem
parte de Serra Leoa), às regiões meridionais da Costa do Ouro (actual Gana), ao litoral
de Abidjan, na Costa do Marfim, e de Porto Novo, no Daomé (actual Benin), e à ilha de
Lagos (no que consiste actualmente a Nigéria). Na África setentrional, em 1880, os
franceses tinham colonizado apenas a Argélia. Da África oriental, nem um só palmo de
terra havia tombado em mãos de qualquer potência europeia, enquanto, na África
central, o poder exercido pelos portugueses restringia -se a algumas faixas costeiras
de Moçambique e Angola. Só na África meridional é que a dominação estrangeira se
achava firmemente implantada, estendendo -se largamente pelo interior da região.

Até 1880, em cerca de 80% do seu território, a África era governada por seus próprios
reis, rainhas, chefes de clãs e de linhagens, em impérios, reinos, comunidades e
unidades políticas de porte e natureza variados. No entanto, nos trinta anos seguintes,
assiste -se a uma transmutação extraordinária, para não dizer radical, dessa situação.
Em 1914, com a única excepção da Etiópia e da Libéria, a África inteira vê -se
submetida à dominação de potências europeias e dividida em colónias de dimensões
diversas, mas de modo geral, muito mais extensas do que as formações políticas
preexistentes e, muitas vezes, com pouca ou nenhuma relação com elas. Nessa
época, aliás, a África não é assaltada apenas na sua soberania e na sua
independência, mas também em seus valores culturais.

A colonização constitui apenas uma empreitada militar e económica, posteriormente


defendida por um regime administrativo apropriado; para os argelinos, contudo, é uma
verdadeira revolução, que vem transtornar todo um antigo mundo de crenças e ideias,
um modo secular de existência. Coloca todo um povo diante de súbita mudança. Uma
nação inteira, sem estar preparada para isso, vê-se obrigada a se adaptar ou, se não,
sucumbir. Tal situação conduz necessariamente a um desequilíbrio moral e material,
cuja esterilidade não está longe da desintegração completa.

Essas observações sobre a natureza do colonialismo valem não só para a colonização


francesa da Argélia mas para toda a colonização europeia da África, sendo as
diferenças de grau e não de género, de forma e não de fundo. Em outras palavras,
durante o período entre 1880 e 1935, a África teve de enfrentar um desafio
particularmente ameaçador: o desafio do colonialismo.

2.3.1     ANGOLA
Era 1483, quando o navegador Diogo Cão, procurando conhecer melhor a costa
africana, chegou à foz do rio Zaire, onde estava estabelecido o poderoso reino do
Kongo. Rapidamente se espalhou entre os habitantes locais a notícia de que barcos
enormes, que mais pareciam pássaros gigantescos, estavam nas proximidades do
reino. A novidade vinda do mar trouxe inquietação. Na região do Kongo-Angola
pensava-se que os europeus vinham de outro mundo, que eram seres sobrenaturais.
Acreditava-se que entre o mundo dos vivos e dos mortos havia uma linha divisória, a
Calunga. Daí que quando alguém morria o seu espírito atravessava a fronteira entre a
vida e a morte navegando numa zona transitória que seria o oceano. Para eles, os
homens brancos que desembarcaram com Diogo Cão podiam ser espíritos de
antepassados voltando para casa.

A recepção aos portugueses foi calorosa. O mani-sônio (ou mani Nsoyo), governante
da província litorânea do reino, os acolheu festivamente. Os navegantes também se
mostraram entusiasmados e curiosos. Queriam conhecer o rei, para quem traziam
presentes. Com tal fim foram enviados alguns mensageiros à cidade real, Mbanza
Kongo. O rei, o manicongo, deve ter ficado bastante surpreendido com a presença
daqueles brancos que diziam ter cruzado o oceano. Talvez por isso, ao invés de
mandá-los de volta a seus navios, os manteve em seu palácio. Assim, os mensageiros
tiveram a oportunidade de saber que o reino do Kongo era uma estrutura político-
administrativa bem complexa e centralizada.

A autoridade máxima era o manicongo, escolhido por um conselho de nobres que


ocupavam os cargos de secretários reais, administradores provinciais, colectores de
impostos, juízes e oficiais militares. Já a economia estava assentada na actividade
agrícola e pastoril, embora houvesse grandes mercados regionais para o comércio de
sal e produtos de ferro, nos quais a moeda usada era um tipo de concha da região da
ilha de Luanda, cuja colecta era monopólio real.

Ao perceber que os mensageiros enviados ao rei tardavam a voltar, Diogo Cão


resolveu tomar quatro reféns e levá-los diante do rei de Portugal, com a promessa de
trazê-los de volta depois de algumas luas. Assim foi feito. Quando retornaram para o
Kongo os quatro africanos estavam vestidos como europeus e falando português. Se
os mensageiros que ficaram na cidade real do Kongo tinham muito para contar a
Diogo Cão, não eram poucas as novidades que os raptados relataram ao manicongo.
Haviam visto muitos outros barcos enormes, armas e riquezas que podiam assegurar
o poderio de quem as possuísse.

Ambicioso, o manicongo Nzinga avaliou que era fundamental firmar acordos com
aqueles viajantes e, em 1489, enviou numa das caravelas de Diogo Cão vários
presentes e uma embaixada ao rei português, d. João II. O objectivo dos
embaixadores era claro: solicitar autorização para que rapazes do reino africano
pudessem ser educados na Europa, conseguir que padres católicos fossem enviados
ao Kongo, assim como mestres no ofício da carpintaria, pedraria e agricultura. O rei
português não tardou a atender aos pedidos. Uma aliança com outro soberano tão
poderoso e disposto a se converter ao catolicismo parecia a oportunidade ideal para
fincar os pés naquela região da África.

Por sua vez, o rei do Kongo visava apropriar-se dos conhecimentos, técnicas e até
hábitos e costumes europeus que pudessem fortalecer ainda mais o seu reino. O
manicongo, uma de suas esposas e um filho foram baptizados numa igreja de pedra e
cal que mandou erguer em 1491. Daquele dia em diante ao rei do Kongo foi dado o
nome de d. João I, a sua mulher, Leonor, e ao seu filho, Afonso. É certo que houve
quem se negasse a aderir ao catolicismo, dentre eles, um outro filho do rei, Mpanzu a
Kitima, mas este foi vencido por Afonso na disputa pela sucessão do trono. Vitória
facilitada pela ajuda militar portuguesa na forma de cavalos e armas.

Além de propagar o catolicismo, d. Afonso sempre se mostrava interessado em


aproximar o Kongo de Portugal também por meio dos costumes, língua, ensino e
conhecimento tecnológico. Contudo, ao fim de décadas de negociação, os
portugueses não tinham honrado o compromisso de ensinar aos congueses como se
construir grandes barcos a vela, tão pouco moinhos e veículos de roda. As novidades
ficaram restritas ao cultivo do milho, da mandioca, batata-doce e amendoim vindos da
América. Em contrapartida, além do auxílio militar, sempre que necessário d. Afonso
contou com os portugueses para incrementar o comércio do cobre, trocado por
mercadorias europeias que, por sua vez, eram repartidas entre os chefes de distritos
do reino. Esses chefes faziam o mesmo com os líderes das aldeias, que por sua vez
também dividiam com os cabeças de grupos familiares. Desse modo estava
assegurada uma rede de lealdade capaz de sustentar o poder do rei, que governou
entre 1506 e 1543.

Mas, aos poucos, o controle dos negócios foi escapando das mãos reais. Burlando a
sua vigilância, administradores provinciais começaram a negociar com os portugueses
sem qualquer intermediação. Ironicamente, quanto mais as elites do Kongo desejavam
os produtos europeus, como queria d. Afonso, mais risco corria o seu reinado. Nas
últimas décadas do século XVI, começava a ruir um dos mais estáveis reinados da
África centro-ocidental. Já a demanda por produtos europeus crescia de tal modo que
cobre e peles já não eram suficientes para saldar as dívidas com os comerciantes
portugueses.

Até então a escravidão no Kongo era do tipo doméstico, embora nas cidades fosse
comum que um número significativo de prisioneiros de guerra estivesse a serviço da
nobreza. Mas, aos poucos, os cativos passaram a ser usados como meio de
conversão da moeda local para a portuguesa, sem o intermédio da nobreza e do rei.
No decorrer do século XVII, mais e mais escravos foram envolvidos nas transacções
entre chefes políticos e mercadores africanos com os portugueses, que os aceitavam
de bom grado. Multiplicaram-se na região as guerras com o único fim de capturar mais
pessoas a serem embarcadas nos navios portugueses.
Ao mesmo tempo, os portugueses intensificavam o comércio de escravos com Ndongo
(Angola), vizinhos e vassalos do Kongo, sem a intermediação de d. Afonso. Eles
imaginavam que encontrariam, naquelas terras, minas de prata. A pretensão
colonialista já era evidente em 1575, quando as terras diante da ilha de Luanda foram
consideradas uma capitania portuguesa. Logo os moradores do lugar entenderam que,
ao construírem casas, igreja e fortificações, os portugueses visavam se fixar na região,
e reagiram. A cada investida portuguesa para o interior do continente correspondiam
ataques de hábeis chefes políticos, a exemplo da rainha Jinga (ou Nzinga). No mais,
ainda existiam outros inimigos bem poderosos: as febres, a escassez de comida, os
insectos, a estiagem e a frustração diante da inexistência de prata e ouro nas
proximidades.

Os portugueses concluiriam, então, que a empreitada conquistadora não valia a pena


e resolveram concentrar suas forças no comércio de escravos, actividade que
seguramente lhes rendia muito lucro e menos trabalho, pois eram os próprios
moradores de Luanda que se lançavam à caça de cativos. Luanda rapidamente se
tornou uma grande feira de comércio de gente. Angola, desde fins do século XVI até a
primeira metade do século XVIII, foi o maior fornecedor de escravos para as Américas
portuguesas e espanhola. Entre 1575 e 1591 foram embarcados da região de Angola
mais de 52 mil africanos para o Brasil.

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