Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PORTO GONÇALVES
os
(DES)CAMINHOS f)r�o
DO MEIO ��:�!lo� 0
•I<-/ �Ll
I�
AMBIENTE
c .
«!}]
ed itoracontexto
Copyright© 1989 Carlos Walter Porto Gonçalves
Capa
Francis Rodrigues
Revisão
_.. /-:-;: :-.....
... ._ Maria Silvia Gonçalves e Luiz Roberto Malta
/, .,.. ,..;_�' Comr
•nosição
•/ , ,, ·,' \
·· '
.• Veredas Editorial
j _.... , .!l'f�-�· \
1 • • ·: �- :-,;_-.. l
Dados Iq:ternacionais de Catalogação na P ublicação (CIP)
' . �---··-····
-
�
Gon�lves,·,.. arlos Walter Porto.
"•,..._ . _ J)s.(dés)cammhos do meiO ambiente I Carlos Walter Porto
Gonçalves, 14. ed.- São Paulo: Contexto, 2006. (Temas aruais).
Bibliografia.
ISBN 85-85134-40 - 2
89-0131 CDD-30 4 . 2
EDITORA CONTEXTO
Jaime Pinsky
Diretor editorial:
2006
I. Introdução ............,..................... 7
II. O Contexto Histórico-Çultural de onde emerge
o Movimento Ecológico ...................... 10
ill. Lutas Sociais, Lutas Ecológicas . ...... 18 . . . . . . . . . • .
ção operária pode ser observada com razoável grau de nitidez não
só no fluxo diário do "rush" das nossas cidades ou através dos
caminhões de bóias-frias, como também através de seus movimen
tos reivindicativos como greves, "operações-tartaruga", passeatas,
etc...
OS (DES)CAMINHOSDOMEIO AMBIENTE 19
maioria dos outros homens não passa, ela também, de objeto que
pode até ser descartado. A visão tradicional da natureza-objeto
versus homem-sujeito parece ignorar que a palavra sujeito com
porta mais de um significado: ser sujeito quase sempre é ser ativo,
ser dono do seu destino. Mas o termo indica também que podemos
ser ou estar sujeitos - submetidos - a determinadas circunstâncias
e, nesta acepção, a wavra tem conotação negativa. . . Eis aí o para
doxo do humanismo moderno: sua imperiosa necessidade de afrr
mar uma visão de mundo antropocêntrica, onde o homem é o rei de
tudo, o faz esquecer o outro significado do termo "sujeito" - o
sujeito pode ser o que age ou o que se submete. A ação tem a sua
contrapartida na submissão.
Já vimos como em tomo do conceito de natureza se tecem
no dia-a-dia as relações sociais. Talvez seja agora interessante lo
calizar de onde brota essa visão de natureza entre nós.
OS (DES)CAM INHOS DO
CONCEITO DE NATUREZA NO OCIDENTE
maneira em todos os usos para os quais são próprios' ' , como dizia
Descartes. O antropocentrismo e o sentido pragmático-utilitarista
do pensamento cartesiano não podem ser vistos desvinculados do
mercantilismo que se afirmava e já se tornava, com o colonialismo,
senhor e possuidor de todo o mundo. Afmal, na Idade Média, a ri
queza dos senhores feudais e da Igreja advinha da propriedade da
terra e, na verdade, da exploração dos servos que para a utilizarem
pagavam um . tributo ou renda. Com o desenvolvimento mercantil e,
com ele, da burguesia a riqueza passa cada vez mais a depender da
técnica (ver a esse respeito o capítulo sobre produtividade). A
pragmática filosofia cartesiana encontra um terreno fértil para ger
minar. O antropocentrismo consagrará a capacidade humana de
dominar a natureza. Esta, dessacralizada já que não mais povoada
por deuses, pode ser tornada objeto e, já que não tem alma, pode
ser dividida, tal como o corpo já o tinha sido na Idade Média. É
uma natureza-morta, por isso pode ser esquartejada . . . ·
NOTAS
cidadania. Esses homens que nos legaram teses das quais, infelizmente, só
nos chegaram fragmentos num estilo de linguagem para nós pouco fami
liar, têm sido alvo de muitas atenções sobretudo nos últimos anos.
2. Esse marco, apogeu, só tem sentido para nós, porque para os gregos do
século V a.C. aquela época não implicava necessariamente o ápice de um
processo, muito embora fizessem referência aos perigos que rondavam a
democracia grega e que criavam a possibilidade do seu declínio.
A CIÊNCIA DIANTE DA NATUREZA
dizer que o homem não seja um animal social, mas que é social
porque é animal e os animais vivem socialmente. Por outro lado,
essa constatação não autoriza uma interpretação ingênua que redu
ziria o homem ao reino animal sem maiores reflexões. Assim como
entre os animais há diferenças significativas, e homem tem também
as suas especificidades.
Outros auto�s, como Uvi-Strauss , vão tentar distingqir o
homem da natureza pelo fato de os homens estabelecerem interdi
ções ou proibições para o acasalamento. Ou seja, o relacionamento
sexual entre os hwnanos está sujeito a regras arbitrárias, artificiais,
culturais, onde uma série de possibilidades estão int�rditadas. Por
exemplo: irmãos consangüíneos, pai e filha, mãe e filho não podem
casar entre si. Assim, cada cultura teria suas próprias interdições,
seus próprios tabus, e nisso os homens se distinguiriam dos ani
mais, da natureza, onde reinaria a promiscuidade ou, se se preferir,
nenhuma lei existiria regulando os acasalamentos. Essa tese, que
quase levou a que se confundisse o objeto da antropologia com o
estudo das relações de parentesco, trouxe-nos uma série de conhe
cimentos importantes a respeito das relações entre os homens. To
davia, o próprio Uvi-Strauss em prefácio recente a sua antiga obra
Estruturas Elementares do Parentesco reconhece que se houver
separação entre natureza e cultura a linha divisória é extremamente
tênue. E assÍlJ.l afirma em virtude de ter tido acesso a inúmeros tra
balhos rigorosos e científicos que admitem a existência de relações
de parentesco e de interdições entre alguns primatas superiores.
Ironicamente, se a antropologia, com Uvi-Strauss, muito contri
buiu para a compreensão do homem isso se deu apesar e até por
causa da ilusão de ter pensado encontrar o divisor de águas que se
para a natureZa da cultura, isto é, as relações de parentesco...
E poderíamos alongar a lista de tentativas que se fizeram
no Ocidente para afirmar essa separação entre natureza e cultura,
evocando os exemplos em que a linguagem, a técnica e o trabalho
aparecem como a chave da separação.
Tais considerações nos levam a pensar na aparentemente
contraditória dificuldade que nós ocidentais temos para conviver
com a diferença. Se natureza e homem são diferentes e na chamada
i .natureza os seres são diferentes entre si, por que não aceitar com
OS (DES)CAMINHOS DO MEIO AMBIENTE 41
O PARADIGMA ATOMÍSTICO-INDIVIDUALISTA
DA CIÊNCIA MODERNA
O DIA-A-DIA INDIVIDUALISTA
O NATURAL É O JUSTO. É?
que, tenha ele consciência ou não, está inserido numa cultura, num
detenninado momento, com as especificidades individuais psiqui
camente traduzidas em cada um. Quando Gaston Bachelard, físico
e filósofo, diz que o objeto designa o método muito mais que nós o
designamos, uma leitura apressada pode ver um grande objetivismo
nessa formulação. Gostaria de fazer, exatamente, a leitura oposta: é
preciso que estejamos atentos ao objeto, abertos e flexíveis,. para
adequarmos o método de investigação às suas particularidades.
Quem dispõe de . um método a priori e o aplica rigidamente a um
objeto, é exatamente aquele que privilegia o sujeito. Daí decorre o
subjetivismo da análise. Na verdade, não há aí uma relação sujeito
objeto, mas sim uma relação do sujeito consigo mesmo através de
um método geral. Em suma, a relação sujeito-objeto constitui um
diálogo permanente, portanto, o método de investigação terá de ser
constantemente adequado.
O desenvolvimento das práticas científicas, sobretudo no
século XX, tem apontado nessa direção tanto na física, como na
biologia, antropologia, pedagogia, sociologia, história e geografia.
Todavia, o peso da tradição, de uma espécie de condicionamento
histórico, ainda se coloca como obstáculo a uma ação transforma
dora nos lugares onde se desenvolvem as práticas científicas: as
universidades administradas pelo Estado e os centros de pesquisa
das grandes corporações multinacionais. Em virtude de complexas
teias sociais, econômicas, políticas e culturais, os cientistas, em sua
maior parte, têm ficado confmados em seus centros de pesquisa
e laboratórios consagrando, .deste modo, a separação entre trabalho
intelectual e trabalho braçal. Na comunidade acadêmica ainda do
mina a crença de que a ciência é o guia de ação para uma prática
social racional. A tradição racionalista do iluminismo se faz pre
sente entre nós com grande força: mesmo . entre os ecologistas
existem aqueles que acreditam que os técnicos e cientistas devem
orientar as práticas de apropriação da natureza. Ora, a ciência e
a técnica são condições necessárias mas não suficientes para ga
rantir um uso racional dos recursos naturais. Até porque o conhe
cimento científico se desenvolve numa relação sujeito-objeto, en
quanto a prática social se dá numa relação entre sujeitos, onde
o agir racional está condicionado por outras variáveis, sobretudo
OS (DES)CAMINHOS DO MEIO AMBIENTE 57
gistas não têm. Não é aqui o lugar para desenvolver essa tese, mas
creio não ser impossível que a inspiração de Marx consiga nos aju
dar a compreender esses movimentos e outros que se manifestam
particulannente no século XX; contudo, parece-me improvável que
os marxistas o façam.
O ECOSSISTEMA
ANTAGONISMOS E COMPLEMENTARIEDADES
DIVERSIDADE, RESISTÊNCIA
E VITALIDADE ECOSSISTÊMICA
O HOMEM NA NATUREZA
E A NATUREZA DO HOMEM
/
até porque há duas décadas que esse crescimento é negativo (-0, 1%
ao ano). Essa situação aponta p ara o envelhecimento da população
e, salvo novas e possíveis descobertas no campo do rejuvenesci
mento, ameaça o país com a possibilidade de não garantir a sua re
produção demográfica. É claro que essa situação não tem trazido
maiores problemas à Alemanha em virtude: 1) do crescente proces
so de automação de suas empresas' e da conseqüente tendência à
diminuição da demanda de força de trabalho; 2) da enorme liquidez
de capital de que dispõe o país para assegurar um bom sistema de
atendimento à velhice e à saúde em geral; 3) das precárias condi
ções de vida em algumas regiões do Mediterrâneo europeu, no
norte da África . e no Oriente Próximo, sobretudo na Turquia que
geram uma forte emigração de pobres para a Alemanha, garantin
do-lhe o contingente populacional que vai exercer as funções mais
indesejáveis para aquela sociedade, numa versão realista só compa
rável à imaginação de Fritz Lang quando fez seu excelente filme
Metrópolis (1926).
Estas considerações, por outro lado, não autorizam a inter
pretação de que se deveria aplaudir o comportamento demográfico
do povo nigeriano. Estou perfeitamente consciente do que significa
80 CARLOS WALTER P. GONÇALVES
gia e ganhava nesse novo terreno wna validade que talvez não ti
vesse onde originalmente fora pensado e elaborado.
Ora, se as plantas e animais (inclusive o how.em em certas
circunstâncias) extraem do ambiente aquilo que este espontanea
mente oferece, o homem, após o advento da agricultura, interfere
diretamente na produção de alimentos. E aqui devemos sublinhar
cultura na palavra agricultura. Enfini, quando se trata do animal
homem, da espécie humana, devemos ter em conta a sua complexi
dade para não transportarmos "darwin-malthusianamente" para os
homens aquilo que não lhes corresponde. Isto se torna tanto mais
importante quanto sabemos que o pensamento darwin-malthusiano
constitui a fonte liberal-conservadora que ainda domina a ecologia,
a geografia e o movimento ecológico. Malthus encarna bem essa
ideologia: é liberal na medida em que propõe a não intervenção do
Estado no que chama de "leis naturais" e, por outro lado, é con
servador na medida em que argumentando em defesa das "leis na
turais", busca ignorar que a pobreza e a miséria convivem com a
riqueza, o luxo e o desperdício, não sendo, portanto, o problema
/
do descompasso entre popUlação e produção de alimentos uma
questão natural, mas sim uma decorrência do modo como são pro
duzidos, distribuídos e consumidos esses alimentos3. É interessante
observar que a transformação da lei de população de Malthus nwna
mera relação matemática entre PA (progressão aritmética para a
produção de alimentos) e PG (progressão geométrica para o cres
cimento da população) é wna redução simplificadora da sua teoria.
Aí, mais uma vez, constatamos o deslocamento matemático-estatís
tico de modo a escamotear o caráter político-ideológico do con
ceito de população. Tal procedimento, a bem da verdade, foi ado
tado pelos neomalthusianos, sobretudo após a Segunda Guerra
Mundial, quando o Terceiro Mundo começa o seu "grande desper
tar" e a questionar as estruturas mercantis-coloniais atualizadas
pelo imperialismo que os mantêm em situação de profunda miséria
apesar do invejável estado das suas elites que vivem (bem) de ex
portar -alimentos e outras matérias-primas.
Os cientistas que trabalham com o "conceito" de popula
ção abstraem a natureza dos fatos que analisam, considerando-os
exclusivamente do ponto de vista matemático-estatístico. Ora, que
82 CARLOS WALTER P. GONÇALVES
terior. Deste modo, "wna relação cada vez mais intensa e comple
xa vai estabelecendo-se entre o ecossistema e o homfuida. O ecos
sistema para o caçador-caçado é wn emissor de informações múlti
plas que ele saberá decifrar cada vez mais sutilmente; neste aspec
to, o ecossistema é co-produtor e co-organizador da caça, práxis
produtora e organizadora que vai sobreestimular os desenvolvi
mentos físicos, cerebrais, técnicos, cooperativos, sociais" . (Edgar
Morin). Esse ecossistema favorece a seleção de mutações genéticas
que apontam para uma práxis mais complexa.
A Caça Civilizadora
O PATRIMÔNIO CULTURAL
COMO CONDIÇÃO NATURAL DO HOMEM
que será cada vez mais rica. Isso é o mesmo que dizer que
a cultura não constitui um sistema auto-suficiente, já que
precisa de um céreõro desenvolvido, de um ser biologica
mente muito evoluído; neste sentido, o homem não se re
duz à cultura. Todavia, a cultura é indispensável para pro
duzir o homem, isto é, um indivíduo altamente complexo
numa sociedade altamente complexa, a partir de um bípede
nu cuja cabeça se vai dilatar cada vez mais. (Edgar Morin).
NOTAS
afirmar que todos são iguais perante a lei. Nos quadros da socieda
de burguesa, permanece a interrogação acerca de quem vai definir
os limites o que, tal como no mundo grego, coloca-nos no cerne da
política, da arte de definir os limites. Avulta aí a contradição de
muitos ecologistas que querem definir limites mas não querem se
envolver com a política. . . Quanto a ist<y_n:�;.n't�ternativa: a
questão ecológica é essencialmente polítjé�.: IY rundà ',gue encontre
..
mos em nosso país boas razões para terq{g�� ay�� p\;ll(tica, a se
riedade dos problemas que levantamqs· �xj��LJ?!� �so mesmo,
�j .
E continua:
TRABALHO:
DE SO\?RIMENTO A REDENÇÃO DA HUMANIDADE
lho passa
ECONOMIA/ECOLOGIA:
VALOR DE USONALOR DE TROCA
outra relação com a natureza, devemos ter claro que isso implica
uma outra :relação dos homens entre si e, dessa forma, se faz neces
sária muita luta para reverter o quadro atual. Nesse sentido temós
muito a aprender com a luta dos trabalhadores que, a despeito do
discurso dominante, foram os verdadeiros "civilizadores'' do capi
talismo... Como hoje é comum falar-se no Brasil de capitalismo
selvagem, é importante lembrar que inicialmente também na Euro
pa e nos Estados Unidos as condições que o capitalismo .impôs aos
trabalhadores e ao meio ambiente foram extremamente duras. Por
volla de 1 830, a jornada de trabalho era de 14 a 16 horas; começa
va-se a trabalhar aos 6-7 anos de idade, como bem o demonstraram
Charles Dickens, no caso da Inglaterra e Vítor Hugo, para a Fran
ça. Apesar das acusações de desordeiros e subversivos, foram os
trabalhadores com suas lutas que conquistaram a joma�a de traba
lho diária de 8 horas, a semana de 5 dias, as férias remuneradas de
30 dias e limitações adicionais ao trabalho das crianças e das mu
lheres. Em Manchester, por volta de 1840, segundo fontes oficiais
das autoridades britânicas, a expectativa média de vida de um ope
rário ao nascer era de 1 7 anos ! Essas' conquistas efetivamente ate
nuaram as condições de vida . e de trabalho dá grande maioria dá
população. Não nos esqueçamos de que foi a partir dessas con
quistas operárias e populares que o capitalismo desenvolveu a in
dústria de roupas esportivas para o lazer de fim de semana e toda a
"indústria do turismo", passando a mercantilizar o tempo livre do
trabalhador que hoje, indiscutivelmente, é .responsável pela expan
são de empresas capitalistas para novas áreas, levando para regiões
longínquas - com seus hotéis e outras atividádes comerciais - um
sistema de "preços de turista" que a população local desconhecia e
a que tem de se subordinar. Dessa forma, se hoje nosso ambiente
está poluído e nossa qualidade de vida prejudicada, depende de nós
com nossa luta, e sabendo encontrar nossos verdadeiros aliados, a
conquista de um ambiente-sociedade saudável.
A TÉCN ICA, A SOCIEDADE
E A NATUREZA
NOTA
que a idéia de conjunto era uma noção intuitiva. Deste modo, todo
povo-cultura distingue as diferenças macho e fêmea; branco, preto,
amarelo (e as demais cores); criança, adolescente e velho, etc. Po
de-se dizer que toda cultura tem um substrato primário que se
apropria das diferenças da natureza. Entretanto, nem toda cultura
transforma essa diferença em hierarquia, em superior e inferior, em
dominante e dominado, como o faz a nossa, justificando como obra
da natureza aquilo que, na verdade, nela foi instituído ao longo de
tensões e conflitos.
As contradições dessa ideologia dominante, que torna na
turais as suas práticas de dominação, ficam evidentes quando anali
samos seu próprio discurso: sobre os negros e indígenas diz-se que
são indolentes e preguiçosos. Ao mesmo tempo, fala-se que são
povos tecnicamente rudimentares e que por isso passam a maior
parte do seu tempo procurando o alimento. Ora, das duas uma: ou
eles passam u dia todo dormindo, dançando e não trabalhando,
mostrando-se, assim, indolentes e preguiçosos ou passam o dia to
do procurando alimentos e, portanto, trabalhando.
Na verdade o que ocorre é que não se respeitam as dife
renças entre os modos de vida que caracterizam cada povo-cultura.
Os europeus quando impuseram a sua dominação mercantil-colo
nialista, a partir do século XVI, viram-se em contato com outros
povos que tinham uma outra relação com o tempo, o espaço, o tra
balho, a natureza, enfim. Esses povos não aceitaram passivamente
a dominação mercantil-colonial, daí a escravidão que lhes foi im
posta. E foi uma escravidão muito mais cruel do que aquela que os
gregos e romanos conheceram na Antiguidade, em virtude do seu
caráter mercantil. A escravidão grega, por exemplo, definia-se pela
negação à vida pública, considerada atributo e privilégio dos cida
dãos. Escravo, portanto, era aquele que, tal como as mulheres e os
strangeiros, não tinha direito à vida pública. Mesmo a servidão da
Idade Média era mais branda que a escravidão moderna, instituída
pelo mercantilismo colonial. Afmal, o senhor feudal cobrava dos
liCrvos uma determinada renda sob a forma de produto in natura,
ou através de dias de trabalho prestados (corvéia). Ora, se esses
pr dutos eram cobrados in natura, como o trigo, o vinho, etc.,
d 'tia um limite para o seu consumo, que seria maior ou menor em
1 28 CARLOS WALTER P. GONÇALVES
Cap. II
GONÇALVES, C. W. P. Paixão da Tara: Ensaios Críticos de
Geografia e Ecologia, Rio de Janeiro, Rocco/SOCII, 1 984.
---- . "A Geografia está em Crise. Viva a Geografia", in
Boletim Paulista de Geografia, São .Paulo, Associação de
Geógrafos Brasileiros - AGB , 1978.
Cap. III
DANIEL, H. e MICOLIS, L. Jacarés e Lobisomens. Rio de Janei
ro, Achiamé, 1 982.
. CASTORIADIS, C. e COHN-BENDIT, D. Da Ecologia à Auto
nomia. São Paulo, Brasiliense, 1983.
Cap. IV
GONÇALVES , C. W. P. e BARBOSA, J. L. Geografia da Natu
reza, Coleção Geografia Hoje, Rio de Janeiro, Ao Livro
Técnico, 1988.
Cap. VI
BORNHEIM, G. Os Filósofos Pré-Socráticos, São Paulo, Cultrix,
1985.
DESCARTES , R. Discurso sobre o Método, Coleção Os Pensado
res, Ed. Abril, São Paulo.
Cap. VII
GONÇALVES , C. W. P. "Possibilidades. e Limites da Ciência e
da Técnica Diante da Questão Ambiental" , in Anais do IIÇ?
Seminário Universidade e Meio Ambiente, SEMA, Belém,
1987.
MORIN, E. O Enigma do Homem, Rio de Janeiro, Zahar, 1979.
---- . O Método: A Natureza da Natureza, Publicações Eu
ropa-América, Portugal, s/d.
MOSCOVICI, S. A Sociedade Contra a Natureza, Petrópolis, Vo
1 975.
zes,
MARX, K. O Capital, Livro 1 , vol. 2., Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 197 1 .
OS (DES)CAMINHOS DO MEIO AMBIENTE 147
Cap. Vlli
MORIN, E. O Método II: A Vida da Vida, Portugal, Publicações
Europa-América, s/d.
Cap. IX
GONÇALVES , C. W. P. Os Limites do "Limites do Crescimento" :
Contribuição ao Estudo da Relação Natureza e História. Tese
de Mestrado no Programa de Pós-graduação em Geografia da
U.F.R.J., 1 985.
MEADOWS, D. e outro. Os Limites do Crescimento, 2� edição,
São Paulo, Perspectiva, 1 978,
MOSCOVICI, S. Idem.
•r'__...-�·· •..�"- ---. .."!1 -
/
••
MORIN, E. Idem.
\,< ���-�����:��- -· .
---- . A Razão Cativa.
Cap. XI
MUMFORD, L. Tecnica Y Civilizacion, Madri, Alianza Editorial,
1982.
DE DECCA, E. O Nascimento das Fábricas, Coleção Tudo é
História, São Paulo, Brasiliense, 1985, 3� edição.
Cap. Xlll
HABERMAS , J. Idem.
BRESSIANI, M. S. M. Londres e Paris no Século XIX: O Espetá
cu/o da Pobreza. 4� edição. Coleção Tudo é História, São
Paulo, Brasiliense, 1987.
148 · CARLOS WALTER P. GONÇALVES
Cap . XIV
BRAVERMAN, H. Trabalho e Capital Monopolista, Ed. Zahar,
198 1 , 3!! edição.
Rio de Janeiro,
CHAUÍ, M. Confonnisrno e Resistência: aspectos da cultura po
pular no Brasil, São Paulo, Brasiliense, 1986.
Cap. XV
ROUANEf, S. P. Idem.
CASTORIADIS , C. As Encruzilhadas do Labirinto, Rio de Janei
ro, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.